funcionamento e aplicação de células fotovoltaicas de...

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Departamento de Engenharia Electrotécnica Funcionamento e Aplicação de Células Fotovoltaicas de Terceira Geração Trabalho de Projecto apresentada para a obtenção do grau de Mestre em Automação e Comunicações em Sistemas de Energia Autor Jorge Miguel Torrado de Sousa Orientadores Doutor Adelino Pereira Instituto Superior de Engenharia de Coimbra Coimbra, Dezembro, 2011

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Departamento

de Engenharia Electrotécnica

Funcionamento e Aplicação de Células

Fotovoltaicas de Terceira Geração

Trabalho de Projecto apresentada para a obtenção do grau de Mestre em

Automação e Comunicações em Sistemas de Energia

Autor

Jorge Miguel Torrado de Sousa

Orientadores

Doutor Adelino Pereira

Instituto Superior de Engenharia de Coimbra

Coimbra, Dezembro, 2011

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Instituto Politécnico de Coimbra

Instituto Superior de Engenharia

Funcionamento e Aplicação de Células Fotovoltaicas de Terceira Geração

Orientador(es):

Adelino Jorge Coelho Pereira

Professor Doutor, ISEC

Jorge Miguel Torrado de Sousa

Projecto para obtenção do Grau de Mestre em

Automação e Comunicações em Sistemas de Energia

COIMBRA

Dezembro 2011

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iii

Agradecimentos

Agradeço aos meus Pais,

Sr. Carlos Jorge Séneca de Sousa.

Srª. Dª. Ana Maria Pinto Torrado Séneca de Sousa.

À minha restante e curta, mas a melhor Família, Tios, Tias, Primas e Primos.

Em segundo, a todas as Pessoas que apareceram no meu caminho e me marcaram das mais

variadas formas.

Aos meus Amigos agradeço tudo e peço perdão pelos meus dias maus.

Um muito obrigado ao meu orientador, Professor. Adelino Pereira por toda a ajuda dada,

dinamismo e contribuição essencial.

Ao ISEC, que a alguns de nós, os “Zés” e as “Marias” nos fez, ensinou e preparou, e nos deu,

ainda que indirectamente, a oportunidade de nos conhecermos e aproveitarmos uma vida na

companhia uns dos outros.

A vós agradeço.

- As horas difíceis são as horas das grandes Almas.

Srª. Dª. Irene

Muito Bem – Hajam,

Jorge Torrado.

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Resumo

A Energia Solar tende a ser um substituto viável às fontes energéticas derivadas de

combustíveis fósseis devido à sua abundância. A sua versatilidade, abundância e facto de ser

uma fonte energética “amiga do ambiente”, tornam-na numa alternativa com grande potencial

em termos de fonte energética renovável.

As Células Fotovoltaicas convertem a energia solar em energia eléctrica dando origem a um

grande número de aplicações. Desde sempre que o aumento dos índices de eficiência e a

redução de custos têm sido uma das fontes de pesquisas por parte da comunidade científica,

tendo sido realizados estudos sobre os princípios físicos que envolvem o funcionamento das

Células Fotovoltaicas de forma a melhorar os seus índices de eficiência.

Neste trabalho foi simulada uma Célula Solar Fotovoltaica de Terceira Geração utilizando um

software específico que faz uso do Método dos Elementos Finitos, FEM (Finite Element

Method). Foi escolhida uma combinação específica de materiais semicondutores e obtidas as

características específicas referentes ao funcionamento da Célula Solar Fotovoltaica de Terceira

Geração. As características obtidas definem o seu funcionamento em condições de equilíbrio e

desequilibrio térmico, isto é sem energia óptica incidente e com energia óptica incidente.

Palavras – Chave: Energia Solar, Células Fotovoltaicas de Terceira Geração, Método dos

Elementos Finitos

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vii

Abstract

Solar Energy tends to be a viable substitute to energy sources derived from fossil fuels due to

its abundance. Its versatility, abundance, and that it is a source of energy "environmentally

friendly", they make it an alternative with great potential for renewable energy source.

Photovoltaic cells that convert solar energy into electrical energy giving rise to a large

number of applications. The increased levels of efficiency and cost reduction have been a

source of research by the scientific community, having been carried out studies on the physical

principles that involve the operation of photovoltaic cells in order to improve efficiency.

In this work, is simulated a Third Generation Solar Cell using a specific software tool that

makes use of mathematical tool, FEM (Finite Element Method). Has been chosen a specific

combination of semiconductor materials and obtained specific features relating to the

operation of the Solar Cell. The characteristics obtained define its operation under conditions

of thermal equilibrium and disequilibrium, i.e., no optical energy applied and optical energy

applied.

Keywords: Solar Energy, Third Generation Solar Cells, FEM Finite Element Method

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Índice

Agradecimentos.......................................................................................................................... iii Resumo............................................................................................................................. .......... v

Abstract................................................................................................................................................... vii Índice ............................................................................................................................. ............ ix

Lista de Figuras ...................................................................................................................................... xi Lista de Tabelas ...................................................................................................................................... xv

Nomenclatura ............................................................................................................................. ............ xvi

CAPÍTULOI Introdução ..................................................................................................................... 1

1.1. Energias Renováveis ....................................................................................................................... 1 1.2. Tendências ............................................................................................................................. .......... 3

1.3. Importância e Estrutura da Dissertação ........................................................................................... 4

CAPÍTULO II Energia Solar .............................................................................................................. 7

2.1. Conversão de Energia Solar em Electricidade ................................................................................ 7 2.2. Novas Gerações de Células Fotovoltaicas ...................................................................................... 8

2.3. Posição Nacional face às Energias Renováveis .............................................................................. 12 2.3.1. Posição Nacional face à Energia Solar ..................................................................................... 13

CAPÍTULO III Células Solares .......................................................................................................... 18 3.1. Funcionamento de Células Fotovoltaicas de Junção p-n Simples ................................................... 18

3.2. Tipos de Células Fotovoltaicas no Mercado ................................................................................... 20

CAPÍTULO IV Células Solares de Terceira Geração ...................................................................... 23

4.1. Células Solares de Terceira Geração, Generalizações .................................................................... 23 4.1.1. Termodinâmica de uma Célula Fotovoltaica de Junção p - n Simples .................................... 23

4.2. Tecnologias de Terceira Geração .................................................................................................... 30 4.2.1. Divisão Espectral, Pilhas de Células ........................................................................................ 30

4.2.1.1. Células de Divisão Espectral ............................................................................................. 31 4.2.1.2. Pilhas de Células ............................................................................................................... 31

4.3. Multijunções .................................................................................................................................... 33 4.3.1. Escolha dos Materiais ............................................................................................................... 35

4.3.2. Constituição, Estrutura ............................................................................................................. 40 4.3.2.1. Contactos Metálicos .......................................................................................................... 40

4.3.2.2. Película Anti Reflexo ........................................................................................................ 41 4.3.2.3. Junções de Passagem ........................................................................................................ 42

4.3.2.4. Janela de Passagem e BSF (Back Surface Field) .............................................................. 46 4.3.2.5. Característica J – V ........................................................................................................... 48

4.3.3. Recombinação ......................................................................................................................... 50 4.3.3.1. Processos de Recombinação ............................................................................................. 51

4.3.4. Modelos Matemáticos .............................................................................................................. 54 4.3.4.1. Condições de Desequilíbrios Térmicos ............................................................................. 55

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x

4.3.4.2. Modelo Matemático Considerado pelo Simulador ............................................................... 63

CAPÍTULO V Aplicação ........................................................................................................................ 67 5.1. Apresentação do Software .................................................................................................................. 67

5.2. Simulações Efectuadas ....................................................................................................................... 72 5.3. Resultados a Obter ............................................................................................................................. . 83

5.3.1. Dados Usados na Simulação ....................................................................................................... 84 5.3.2. Situação de Equilíbrio Térmico ................................................................................................... 85

5.3.3. Situação de Desequilíbrio Térmico ............................................................................................. 89

CAPÍTULO VI Conclusões e Trabalho Futuro .................................................................................... 95

6.1. Conclusões .......................................................................................................................................... 95 6.2. Trabalhos Futuros e Projectos ............................................................................................................ 96

REFERÊNCIAS ............................................................................................................................. .......... 97

ANEXO 1 .................................................................................................................................................. 99

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Lista de Figuras

Figura 1.1.Produção anual de Petróleo ................................................................................................................ 2 Figura 1.2.Energia Fotovoltaica por país, Perspectivas de crescimento da Energia Fotovoltaica ...................... 2

Figura 1.3. Energia Solar Fotovoltaica e Perspectivas de crescimento 2009 – 2020 ..................................... 3 Figura 1.4.Eficiência e projecções de custos para as três gerações (I, II, III) (painéis, filmes finos, e Filmes finos de terceira geração, Respectivamente ...................................................................... 4 Figura 2.1.Estruturas físicas de uma junção p-n simples (diagrama energético) (cima à esquerda),

aspecto real de uma célula fotovoltaica (baixo), Distribuição de electrões, buracos na estrutura sob iluminação (direita em baixo)………………………………………….…........ 7

Figura 2.2.Eficiências de células fotovoltaicas testadas em laboratório………………………………........ 8 Figura 2.3.Células, painéis solares de 1ª Geração…………………………….………………….…... ..... 9 Figura 2.4.Camadas de uma célula solar de 2ª Geração (esquerda), Descrição dos materiais constituintes (meio), Aspecto final de uma célula CIGS, para aplicações espaciais (direita) ........ 10 Figura 2.5. Aspecto de célula solar de terceira geração……………………………………..................... 10

Figura 2.6.Eficiências de células fotovoltaicas de 1ª, 2ª e 3ª Geração, Respectivamente ……...................... 11 Figura 2.7.Dependência face ao Petróleo da Europa dos 25……………………………………............... 12

Figura 2.8. Níveis de Insolação por metro quadrado ……………………………………………............. 13 Figura 3.1.Estrutura de um cristal de silício (c - Si) sem elementos dopantes (esquerda), estrutura sujeita a dopagem tipo n (elemento dopante: Strômbio) (meio), estrutura sujeita a dopagem tipo p (elemento dopante: Alumínio) (direita)……………..…..... 18 Figura 3.2. A junção p-n e formas de onda características (esquerda) junção p-n iluminada (meio) contactos metálicos superiores………………………………………...... 19 Figura 3.3. Circuito eléctrico real equivalente de uma célula fotovoltaica, sem díodo de estabilização

de curva (esquerda), circuito eléctrico real equivalente de célula fotovoltaica com díodo de estabilização de curva (direita)………………………………………………................ 19

Figura 3.4.Circuito eléctrico real equivalente de uma célula fotovoltaica, sem díodo de estabilização de curva (esquerda), circuito eléctrico real equivalente de célula fotovoltaica com díodo de estabilização de curva (direita)………….…………………………………........ 20 Figura 3.5. Quotas de mercado das diferentes tecnologias (esquerda), Rendimento real de células fotovoltaicas Si amorfo, Si monocristalino, Si policristalino Respectivamente ........... 21

Figura 4.1.Três células multijunção com diferentes combinações de materiais e diferentes rendimentos (simulações laboratoriais)…………………………………………............... 24

Figura 4.2. Perdas numa célula solar de primeira geração………………………………………........... 25 Figura 4.3. Sistema considerado para o cálculo do rendimento de Carnot.……………...………............ 26

Figura 4.4. Sistema considerado para o cálculo do rendimento de Landsberg ........................................ 28 Figura 4.5. Entropia produzida no processo de emissão (esquerda), Entropia produzida no processo de absorção (direita)………………………………………............. 30 Figura 4.6. Conceito de Multijunção, divisão espectral, filtragem (esquerda), pilha de células (direita)……………………………………………………………….............. 30 Figura 4.7. Interacção entre células em pilha sem filtros (direita), interacção entre células em pilha com filtros (esquerda)…………………………………..……………..... 33 Figura 4.8.Célula multijunção em pilha com junções p-n compostas condutoras ligadas em série com dois contactos metálicos (esquerda), célula multijunção com junções p-n compostas condutoras separadas fisicamente com múltiplos contactos…………………....... 34

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Figura 4.9.Célula solar multijunção InGaP/InGaAs/Ge, Espectro Electromagnético com eficiências máximas de cada junção...………………………………………….….... 36 Figura 4.10.Diagramas energéticos de uma célula de multijunção constituída por um semicondutor A do tipo n e um semicondutor B do tipo p, com níveis Energéticos intrínsecos dos materiais Vbi (A) e Vbi (B) ……………………………….….... 37

Figura 4.11. Descontinuidade das bandas de condução e a diferença entre afinidades electrónicas entre as diferentes multijunções………………………..……………….…...... 37

Figura 4.12. Junção de duas camadas, 1 x xSi Ge-

e substrato de Si com respectiva

deslocação de rede (esquerda) plano a três dimensões da deslocação de rede em causa com as duas deslocações de elos de ligação para cada deslocação de rede (direita)….... 38

Figura 4.13.Célula Multijunção de substrato de Germânio (cima), Célula multijunção de substrato de GaAs (baixo)…………………………………………………………………............. 39 Figura 4.14. Célula de multijunção InGaP/GaAs/InGaAs…………………………………………......... 40

Figura 4.15. Diagramas energéticos de um metal e de um semicondutor antes (esquerda) e após contacto (direita)…………………………………………………......... 40 Figura 4.16. Espectro Electromagnético…………………………………………………………......... 41

Figura 4.17. Célula Fotovoltaica com pormenor de película anti – reflexo com a respectiva disposição em forma de pirâmides invertidas………………………………........ 42 Figura 4.18. Esquema de um díodo de passagem (esquerda) Díodo de junção 1N3716………………....... 42 Figura 4.19. Junção p-n antes da difusão (esquerda, em cima), concentração de electrões e buracos, densidades de carga (direita, segundo gráfico), campo eléctrico (terceiro gráfico), potencial eléctrico (último gráfico)…………………………………..................…............ 43 Figura 4.20. Estrutura de uma célula de dupla junção (esquerda), Perfil característico dos níveis de dopagem ……………………………………………….....…………......... 44 Figura 4.21. Diagrama energético com pormenor relativo à passagem de portadores de carga pela respectiva junção…………………………………………………..…........ 45

Figura 4.22. Característica J-V de uma junção de passagem, valores simulados e ideais ............................ 46 Figura 4.23. Junção p-n composta com camada BSF (esquerda), Junção p-n composta sem camada

BSF (direita) ………….............................................……………….……………........ 47 Figura 4.24. Camadas e diagrama energético de uma janela de passagem, a Recombinação superficial

é reduzida (esquerda), Camadas e diagrama energético de uma BSF, a dispersão de portadores é reduzida (direita)………………………………………………………........... 47 Figura 4.25.Eficiência Quântica Interna e Externa e Índice de Reflectância de uma célula de silício

(direita), Eficiência Quântica de uma célula de silício com base nas tabelas AM1.5 medida acima dos 350 nm (esquerda)………………………………………………......... 50

Figura 4.26. Célula de dupla junção InGaP/GaAs com substrato de GaAs e respectiva EQE para as duas junções………………………………………………………………………..... 50

Figura 4.27. Diagrama com os processos de Recombinação Nuclear……………………………….......... 53 Figura 4.28. Cubo, sistema de eixos a três dimensões …………............................................................ 58

Figura 4.29. Cargas dentro de uma superfície limitada por S………………………………………......... 59 Figura4.30. Diagrama de blocos descritivo do processo encadeado relativo às Equações de Continuidade............................................................................................. 61

Figura 5.1. Janela Principal de Edição de Materiais……………………................................................ 69 Figura 5.2. Pilha de junções p-n compostas 2D à esquerda e 3D à direita……………………………........ 71

Figura 5.3. Editor com características das camadas…………………………………...…………........... 73 Figura 5.4.CélulaInGaP/GaAs/InGaAs………………………………………….…........................…........... 75 Figura 5.5. Propriedades Eléctricas, Físicas e Químicas da junção p-n composta condutora InGaAs ........................................................................................................................... 77

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Figura 5.6. Fluxograma referente à inicialização do editor PS_Design Studio............................................ 78

Figura 5.7. Janela Principal do editor PS_Design Studio…………………………………….................... 79 Figura 5.8. Janela de Edição de camadas…………………………………………………....................... 80

Figura 5.9. Janela de Edição das Ionizações de Impacto de Camadas ……………………………............. 81 Figura 5.10. Janela de Edição de Níveis de Absorção………………………………………………........ 82

Figura 5.11. Espectro Solar ASTM G173-03……………………………………………………......... 85 Figura 5.12. Selecção de Curvas Características………………………………………………………………. 85

Figura 5.13.Célula de InGaP/GaAs/InGaAs editada em APDStudio. Perspectiva 2D (esquerda), Perspectiva 3D (direita)……………………………………………………………......... 86

Figura 5.14. Magnitude da Corrente……………………………………………………………………….…... 87 Figura 5.15. Diagrama Energético em Equilíbrio Térmico…………………………………………........ 88

Figura 5.16. Concentração de Portadores positivos e Negativos……………………………………......... 89 Figura 5.17. Potencial em Equilíbrio (esquerda) e Desequilíbrio Térmico (direita)……………………...... 90

Figura 5.18. Magnitude de Corrente segundo eixo dos x, 2D e 3D (cima), Magnitude de corrente segundo eixo dos y, 2D e 3D, Desequilíbrio Térmico……….………………..... 91 Figura 5.19. Diagrama Energético em DesequilibrioTérmico..................................................................... 92

Figura 5.20. Densidade Energética, Espectro (esquerda), 3D (direita)………………………………......... 93 Figura 5.21. EQE (External Quantum Efficiency) para as três junções p-n compostas condutoras................. 94

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Lista de Tabelas

Tabela 1. Propriedades dos Principais Semicondutores com Aplicações Fotovoltaicas .................................... 22 Tabela 2. Eficiências e Gap Energéticos para um Dado Número de Células ..................................................... 32 Tabela 3. Elementos Formadores dos Compostos Semicondutores ................................................................... 35 Tabela 4. Funções Aplicáveis a Células Fotovoltaicas ....................................................................................... 68

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Nomenclatura

Abreviaturas

TW Terawatt

MW Megawatt

kWh Kilowatt hora

US$ US dólar

Si Silício

a : Si Silício Amorfo

µ Si Silício Microcratalino

CdTe Telúrio de Cádmio

CIGS Copper Indium Gallium Arsenide

FER Fontes de Energia Renováveis

I&D Investigação & Desenvolvimento

c-Si Cristal de Silício

GaAs Índio Fósforo

CuInSe Cobre Índio Selénio

Ge Germânio

AM Air Mass

2D Duas Dimensões

3D Três Dimensões

SiO2 Dióxido de Silício

TiO2 Dióxido de Titânio

WKB Wentger – Kramers – Brillouin

QE (λ ) Eficiência Quântica

EQE Eficiência Quântica Externa

IQE Eficiência Quântica Interna

SRH Shockley – Read – Hall

ARC Anti Reflective Coating

CM Contacto Metélico

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LIFO Last In First Out

Letras e símbolos

€ Euro

ch Constante de Planck, 6.6260676.10^-34

Eg Gap Energético (eV)

Rs Resistência Série (Ω )

Rp Resistência Paralelo (Ω )

Iph Corrente Incidência Solar (A)

V Tensão Eléctrica ou Diferença de Potencial (V)

I Corrente de Carga (A)

T Temperatura (Kelvin)

01I Corrente Eléctrica do Primeiro Díodo (A)

02I Corrente Eléctrica do Segundo Díodo (A)

Es Fluxo Energético no Interior do Sol (Joule)

Ss Radiação Solar (Joule)

Ts Temperatura da Fotosfera Solar (considerada 6000ºK)

Wuur

Trabalho Útil (Joule)

Qur

Energia Radiada para o Ambiente (Joule)

Tauur

Temperatura Ambiente (ºK)

Sguur

Fluxo de Entropia

Tc Temperatura do Painel (ºK)

Ec Fluxo Energético do Painel

Scuur

Fluxo de Entropia rejeitada para o Ambiente

f c Factor de Proporcionalidade

Eguuur

Energia Gerada (Joule)

q Carga do Electrão 1.602176462.10E-19

GeSuuur

Entropia Gerada no Processo de Emissão

GaS

uuur Entropia Gerada no Processo de Absorção

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GnE Energia Reflectida pela Célula Fotovoltaica (n) (Joule)

( 1)G nE + Energia Reflectida pela Célula Fotovoltaica (n+1)

(Joule)

( )Vbi A Potencial Intrínseco ao Material A (V)

( )Vbi B Potencial Intrínseco ao Material B (V)

E/F Campo Eléctrico (V/m)

Ec∆ Descontinuidade Energia da Banda de Condução

(Joule)

Ev∆ Descontinuidade Energia da Banda de Valência

(Joule)

∈ Permeabilidade do Vazio ( 128,854.10 /F m− ),

xb, xa Afinidades Electrónicas dos Semicondutores b e

a Respectivamente

T Coeficiente Transmissão Energética

L1, L2 Camadas Superior e Inferior numa Junção p-n

Composta

nL1, nL2 Espessuras das Camadas L1 e L2 ( mµ )

p, n Camadas Positiva e Negativa Respectivamente de

uma Junção p-n composta, nº de Buracos e

Electrões, Respectivamente

Idep Corrente de Depleção (A)

NA, ND Níveis de Concentração para Aceitadores e

Dadores, Respectivamente

J Densidade de Corrente 2( / )A m

Jp Valor Máximo para Densidade de Corrente na

Junção de Passagem 2( / )A m

D Probabilidade de Passagem de Portadores de

Carga na Junção de Passagem

Jt Corrente na Junção de Passagem 2( / )A m

Fc, Fv Níveis de Condução e de Valência,

Respectivamente

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Egtunnel Gap Energético da Junção de Passagem (eV)

Egmiddlecell Gap Energético da Junção p-n Central (eV)

Jsc Corrente Total que Circula na Célula Fotovoltaica

de Terceira Geração 2( / )A m

Jsc1, Jcs2, Jsc3 Corrente que Circula nas Junções p-n 1, 2 , 3,

Respectivamente 2( / )A m

Di Espessura da Junção p-n Composta ( mµ )

Vi Diferença de Potencial da Junção i (V)

Voc Diferença de Potencial em Circuito Aberto (V

k Constante de Boltzman 1.3806503.10E-16

Un Recombinação Portadores Negativos

Rn Nível de Recombinação para Cargas Negativas

Rp Nível de Recombinação para Cargas Negativas

Gn Nível de Geração de Cargas Negativas 3( / )cm s

Gp Nível de Geração de Cargas Negativas 3( / )cm s

np, ne Número de Buracos, Electrões Respectivamente

np0, ne0 Número de Buracos, Electrões em Equilíbrio,

Respectivamente

t Quantidade de Tempo depois da qual uma Quantidade

excessiva de Portadores minoritários Efectua

Recombinação

Ub-b Recombinação Nível - a – Nível

b Constante de Recombinação Nível - a – Nível

2ni Produto de n por p

UAuger Recombinação de Auger

USRH Recombinação de Shocley – Read – Hall

S Velocidade de Recombinação Superficial

N Concentração de Elementos Dopantes

, ,Jc Jp JTuur uur uur

Densidade de Corrente de Electrões, Buracos e Total,

Respectivamente 2( / )A m

Eur

Vector Campo Eléctrico (V/m)

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xx

Dn, Dp Constantes de Difusão de Electrões e Buracos

Ei Campo Eléctrico Intrínseco ao Próprio Material (V/m)

Fn, Fp Níveis de Fermi para Electrões e Buracos,

Respectivamente

ND+, NA+ Número de Dadores e Aceitadores, Respectivamente

0nuur

Vector Normal ao Vector Campo Eléctrico

S Área S ( 2m )

rr Vector Posição

Dv Versor Unitário para a Área

Gn, Gp Rácios de Geração de Cargas Negativas e

Positivas, Respectivamente 3( / )cm s

Rn, Rp Níveis de Recombinação para Electrões e

Buracos, Respectivamente

NA, ND Concentração de Aceitadores e Dadores,

Respectivamente 3( / )cm s

fa, fd Frequências de Ocupação para Aceitadores e

Dadores, Respectivamente

Ntj Densidade da “Armadilha” numa Camada

Condutora

thj “Profundidade” da “Armadilha” ( mµ )

Rsp, Rst, Rau Recombinações Espontânea, Estimulada e de

Auger, Respectivamente

vsn, vsp Velocidades de Saturação para Electrões e

Buracos (m/s)

Caracteres gregos

nµ Distribuição de Cargas Negativas por Unidade de

Potencial Eléctrico ( 2m /Vs)

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xxi

pµ Distribuição de Cargas Positivas por Unidade de

Potencial Eléctrico ( 2m /Vs)

ρ Densidade da Carga

( )rρr

Distribuição de Cargas Contínuas

0ε Permeabilidade do Vazio 8.854187817.10E-34

,e sµ Potencial Químico

gε Quantum, Unidade Indivisível de Luz

, ,F v cε ε ε Níveis Energéticos de Fermi, Valência e

Condução, Respectivamente

0 , , ,p n F

φ φ φ φ

Potenciais em Equilíbrio Térmico, para Buracos,

para Electrões e para o Nível Fermi

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1

CAPÍTULO 1 - Introdução

1.1. Energias Renováveis

O Sol disponibiliza grandes quantidades de energia, sendo a principal fonte de vida do

planeta. Dinamiza correntes marítimas e o ciclo de evaporação de águas, definindo cursos de

rios, provocando tornados e furacões.

O terramoto de São Francisco de 1906, de magnitude 7,8 na escala de Richter, libertou uma

quantidade de energia estimada em 1710 Joules de energia, energia equivalente à

disponibilizada pelo Sol num segundo [1]. As reservas de petróleo estão estimadas em 3

triliões de barris, estando avaliados em 221,7.10 Joules, sendo esta a quantidade de energia

produzida pelo Sol num dia e meio. Anualmente, a população mundial gasta um valor que

anda por volta dos 204,6.10 Joule, valor que o Sol disponibiliza numa hora.

Tudo isto para dizer que o Sol, disponibilizando continuamente 251,2.10 TW, produz muito

mais energia que todas as outras fontes energéticas juntas, quer sejam renováveis ou não. É

uma quantidade de energia muito superior à requerida pela população mundial, que se situa na

ordem dos 13 TW [1]. Cobrindo 0.16% da superfície terrestre, com painéis solares

fotovoltaicos com uma eficiência de 10%, teríamos disponíveis 20 TW de energia, cerca do

dobro do consumo actual de combustíveis fósseis, incluindo também numerosas centrais de

fissão nuclear [1]. Ainda assim, apenas uma pequena parte da energia solar disponível é

utilizada directamente nos requisitos energéticos diários. Cerca de 80% - 85% da energia

utilizada diariamente provêm de fontes não renováveis [1]. As ameaças ao clima e à qualidade

de vida são as principais preocupações e razões para o desenvolvimento de alternativas

viáveis e concretas. O crescimento exponencial e desenvolvimento incessante da sociedade já

não se coadunam com apenas fontes energéticas não renováveis. Necessitamos de

alternativas, não só para coadjuvar as fontes tradicionais, mas também para induzir uma

substituição gradual das mesmas.

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Existem diversas alternativas mas, ainda assim, a energia solar representa a parcela mais

proeminente, devido à sua versatilidade, e a todo o conjunto de características que a tornam

“amiga do ambiente”. A figura 1.1 apresenta a produção anual de petróleo, assim como a

percentagem de crescimento anual e as perspectivas de declínio futuras.

Figura 1.1. Produção anual de Petróleo [1]

Portugal apresenta um elevado potencial solar, sendo um dos países da Europa com maior

disponibilidade de radiação solar anual, variando entre 2200 horas e 3000 horas por ano, mas

em certos países de menor potencial, no que toca ao aproveitamento de energia solar, como por

exemplo a Alemanha (varia entre 1200 e 1700 horas), tem-se, ainda assim, uma política de

aproveitamento de energias limpas muito superior ao nosso país como apresenta a figura 1.2.

Figura 1.2. Energia Fotovoltaica por país, Perspectivas de crescimento da energia fotovoltaica [2]

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O “Plano de Acção Nacional para as Energias Renováveis em Portugal” apresenta uma clara

aposta no desenvolvimento da energia solar no nosso país para a produção de electricidade,

(apresentando a vantagem de ser gerada nas horas de maior consumo) [2]. O incremento da

capacidade instalada em energia solar eléctrica (para 1100 MW, em 2020), terá de ser

acompanhada de avanços tecnológicos e ganhos em eficiência que resultem na redução dos

custos das tecnologias associadas a esta fonte de energia.

Cada watt de potência eléctrica fotovoltaica instalada em Portugal produziria cerca de 1,5

kWh/ano. Admitindo uma vida útil de 30 anos para os painéis fotovoltaicos, a energia total

produzida por 1W de potência instalada será de 45 kWh, admitindo condições óptimas. Se

atribuirmos ao quilowatt hora (kWh) produzido um valor de €0,10, o valor total da energia

produzida será 4,5 euros para o tempo de vida útil [3], a figura 1.3 apresenta a previsão das

perspectivas de crescimento em 11 anos, de 2009 até 2020.

Figura 1.3. Energia Solar Fotovoltaica e Perspectivas de crescimento 2009 – 2020 [2]

1.2. Tendências

Os custos de produção e eficiência de conversão são ainda os principais pontos fracos, tendo

em vista a introdução massiva da tecnologia e a adopção como principal fonte energética.

Grande parte da investigação dedicada a esta área tem atingido resultados animadores e com

perspectivas de futuro realistas. Novos métodos de captura e melhor aproveitamento do

comprimento de onda do espectro de radiação solar, células de multijunção, novos materiais

compostos, estão na base, e irão servir de rampa de lançamento a uma economia de escala,

num futuro próximo. Teoricamente, o limite máximo para conversão energética nas células p-

n de junção simples tem potencial para atingir 33% de eficiência, valor que se prevê a ser

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atingido rapidamente. As figuras 2.3, 2.4 e 2.5 apresentam o aspecto final das células

fotovoltaicas de primeira, segunda e terceira gerações respectivamente.

A dita nova abordagem terá um impacto enorme na economia mundial, se forem

desenvolvidos novos conceitos e novos métodos de fabrico, mais baratos e mais simples,

tornando a tecnologia fotovoltaica uma das opções mais baratas e fiáveis na produção de

energia limpa.

A figura 1.4 ilustra os custos de produção por unidade de área das diferentes tecnologias,

evidenciando o limite das eficiências de conversão das três gerações de células fotovoltaicas. A

“primeira geração” de células fotovoltaicas é caracterizada pelos painéis solares de grandes

dimensões, eficiências moderadas e custos que rondam os US$150/ 2m (valor em dólares norte

americanos referentes ao ano 2003), rondando os 20% de eficiência [4]. A “segunda geração”

de células, vulgarmente conhecida pelo nome dado à estrutura aplicável, os chamados filmes

finos, apresentam custos de produção mais modestos, sendo cerca de US$30/ 2m , mas ainda

com rendimentos diminutos (atinge-se hoje 5 – 10%).

Figura 1.4. Eficiência e projecções de custos para as três gerações (I, II, III) (painéis, filmes

finos, e filmes finos de terceira geração, respectivamente) [5]

1.3. Importância e Estrutura da Dissertação

O processo natural em todas as áreas da ciência tem como objectivos principais o

desenvolvimento de novas técnicas e a descoberta de processos mais rentáveis, não só a nível

de melhoramentos técnicos mas também em termos de materiais utilizados. O mercado dos

materiais essenciais ao desenvolvimento de células fotovoltaicas de terceira geração, tal como

todos os equipamentos associados ao funcionamento da tecnologia, assim como de outras

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fontes energéticas renováveis, pode vir a representar uma parcela importante na economia

nacional.

O objectivo deste projecto é explorar os conceitos teóricos que sustentam a mecânica de

funcionamento de células fotovoltaicas de terceira geração assim como a simulação de uma

célula fotovoltaica de multijunção, utilizando-se para isso um software dedicado. A célula

fotovoltaica simulada será constituída por uma combinação de materiais específica de forma a

ser comparada com células disponíveis para aplicações práticas.

No segundo capítulo é feita uma abordagem ao estado-da-arte da tecnologia solar em

Portugal, sendo identificadas algumas empresas da área com bons resultados no que toca à

instalação de tecnologias solares. Ainda não existem pólos de desenvolvimento e produção

massiva de painéis fotovoltaicos em território nacional.

No terceiro capítulo aborda-se a temática que envolve o princípio-base de funcionamento de

uma junção p-n simples, incidindo-se também nos tipos de células fotovoltaicas disponíveis

no mercado da especialidade.

No capítulo quatro, aborda-se detalhadamente toda a mecânica de funcionamento de células

fotovoltaicas de terceira geração, dando especial atenção aos fenómenos termodinâmicos

inerentes à transformação de energia solar em energia eléctrica, e à constituição e

funcionamento de uma célula solar de tripla junção. O capítulo termina com a abordagem aos

modelos matemáticos que descrevem o funcionamento de dispositivos semicondutores e que

definem o seu comportamento em situações de equilíbrio e desequilíbrio térmico.

No capítulo cinco são apresentadas as aplicações práticas e a modelização de uma célula solar

de tripla junção, utilizando um software especializado, obtendo várias curvas características

que descrevem o funcionamento de uma determinada célula de tripla junção.

Finalmente no capítulo seis são apresentadas as principais conclusões e perspectivas de

trabalhos futuros.

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CAPÍTULO 2 – Energia Solar

2.1. Conversão de Energia Solar em Electricidade

Chama-se efeito fotovoltaico ao processo de conversão de energia solar em energia eléctrica.

Esta conversão consiste em duas fases principais. A geração de um par electrão-buraco advém

da absorção de luz solar; o electrão e o buraco são separados pela estrutura da junção; os

electrões são atraídos para o lado negativo da estrutura e os buracos para o positivo, criando,

desta forma, um campo eléctrico, o que origina uma diferença de potencial. A figura 2.1

mostra três esquemas que apresentam a estrutura física de uma junção p-n simples quando

submetida a iluminação, e onde é possível observar-se o fluxo e distribuição de portadores de

carga. Apresenta-se também o aspecto real de uma célula solar, e os diagramas energéticos

característicos do funcionamento da célula em equilíbrio térmico (no escuro) e desequilíbrio

térmico (iluminada). Este processo irá ser analisado com maior detalhe no capítulo cinco.

Figura 2.1 Estruturas físicas de uma junção p-n simples (diagrama energético) (cima à esquerda), aspecto real de uma célula fotovoltaica (baixo), Distribuição de electrões, buracos

na estrutura sob iluminação (direita em baixo)

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2.2. Novas Gerações de Células Fotovoltaicas, Generalizações

Ainda assim, do ponto de vista da engenharia, o melhoramento dos índices de eficiência é um

dos principais desafios e fontes de pesquisa. Actualmente, grande parte da investigação é

direccionada a aumentar os níveis de eficiência, desde o aparecimento e descoberta de formas

inovadoras de aproveitamento mais eficaz do espectro electromagnético, a partir das células

de multijunção, até à adopção de novos materiais. Tudo são caminhos a seguir, de forma a dar

à energia solar um lugar de maior destaque como fonte de energia.

Figura 2.2. Eficiências de células fotovoltaicas testadas em laboratório [1]

As células fotovoltaicas estão divididas em três grandes grupos, três gerações, de acordo com

a sua eficiência. Estão a ser realizados esforços para melhorar a sua eficiência, enquanto a

primeira geração de células fotovoltaicas domina a produção comercial, com cerca de 89,7%

em 2007 [1]. A construção baseada na junção p-n simples de silício, painel colector montado

numa estrutura metálica, com rendimentos de conversão que rondam os 20% são as

características principais dos painéis solares de primeira geração e, apesar dos custos de

produção ainda serem bastante elevados, não se prevê um abrandamento na sua

comercialização, sendo que o próximo desafio se prende com a simplificação a partir de

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métodos de fabrico mais rentáveis de todos os sistemas de apoio à instalação e montagem dos

painéis.

Figura 2.3. Células, painéis solares de 1ª Geração [10]

Um caminho encontrado para contornar a problemática dos custos de produção passa por

avançar com uma tecnologia que dispense toda a estrutura de apoio e o próprio painel rígido.

Com isto, entra-se na chamada “segunda geração” que, segundo os especialistas, estava

previsto assumir um lugar de destaque na economia da área. Do desenvolvimento dos filmes

finos, é esperada uma aproximação à primeira geração, em termos de rendimento [1]. Os

materiais utilizados nesta tecnologia são CdTe (Telúrio de Cádmio), CIGS (copper indium

gallium arsenide), a:Si (Silício amorfo) e μSi (Silício microcristalino), sendo os limites de

rendimento de conversão 13%, 16% e 19% para a:Si, CdTe e CIGS respectivamente [6, 7].

Estes materiais reduzem significativamente o peso do produto final, e como consequência os

custos inerentes ao suporte de toda estrutura final, sendo criados através da deposição química

de materiais semicondutores. Ainda assim a tecnologia de filmes finos tarda a impor-se no

mercado muito por causa do rendimento de conversão ser muito baixo, comparativamente ao

rendimento de células de primeira geração. A figura 2.4, da esquerda para a direita, representa

a estrutura em termos de camadas de materiais semicondutores de uma célula de segunda

geração, com uma descrição dos elementos que a constituem e finalmente o aspecto real de

uma célula CIGS para aplicações espaciais. Contudo, com o avanço da engenharia de

materiais, e descoberta de novas composições esta é, uma tecnologia promissora

representando uma grande esperança num futuro próximo.

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10

Figura 2.4. Camadas de uma célula solar de 2ª Geração (esquerda), Descrição dos materiais constituintes (meio), Aspecto final de uma célula CIGS, para aplicações

espaciais (direita) [11]

Tem sido levado a cabo esforços com vista a melhorar a eficiência celular, levando os índices

de rendimento a aproximarem-se dos limites impostos pelas Leis da Termodinâmica. Esta

limitação levou ao desenvolvimento de um novo conceito de células fotovoltaicas, que vem

romper com conceitos em termos de construção aplicados nas duas primeiras gerações de

células fotovoltaicas. A sua estrutura é completamente diferente das estruturas que constituem

os painéis e os filmes finos de deposição química, nem se baseiam no princípio de

funcionamento da junção p-n condutora simples.

Figura 2.5. Aspecto de célula solar de terceira geração [11]

A figura 2.6 expõe graficamente as eficiências de conversão (valores teóricos) para as três

gerações de células fotovoltaicas.

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11

Figura 2.6. Eficiências de células fotovoltaicas de 1ª, 2a e 3a Geração, Respectivamente [6]

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12

2.3. Posição nacional face às Energias Renováveis

A posição assumida por Portugal em relação à energia eléctrica tem vindo a sofrer alterações

significativas nos últimos anos. Isto deve-se não só ao facto de o planeta estar a atravessar

uma crise energética e ambiental mas também pela ênfase dada às energias renováveis pela

União Europeia mas principalmente, em relação à posição privilegiada e às excelentes

condições que o nosso país apresenta para a exploração de energias renováveis, mas também,

pela grave situação em se encontra Portugal em termos de dependência energética.

Portugal encontra-se numa situação aflitiva, não explorando quaisquer recursos energéticos

fósseis no seu território continental desde 1995 (quando deixou de extrair carvão) [12]. Em

2009, Portugal importou 14.8 milhões de toneladas de petróleo, a um custo total de 4.8 mil

milhões de euros. O valor das importações de petróleo corresponde a cerca de 27% do défice

da balança comercial portuguesa [13]. E, ainda assim, é preciso ter em conta, e como já foi

referido, que o nosso país está fortemente dependente da energia hídrica, variável de ano para

ano, dependente dos níveis de pluviosidade (em 2003 a pluviosidade, permitiu uma subida até

aos 16,5%) [12].

Observando a figura 2.7, conclui-se que Portugal se encontra numa posição desfavorável em

termos de dependência de petróleo, colocando-nos em segundo lugar logo após o

Luxemburgo.

Figura 2.7. Dependência face ao Petróleo da Europa dos 25 [13]

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13

2.3.1. Posição nacional face à Energia Solar

O tema das Energias Renováveis têm vindo a assumir um papel cada vez mais importante no

discurso político nacional. Os compromissos assumidos pelo País a nível internacional,

fixaram metas bastante ambiciosas de incorporação de FER (Fontes Energéticas Renováveis)

no sistema energético nacional, atraindo investidores dispostos a investir na exploração dos

recursos nacionais e a tirar partido das condições favoráveis que o nosso país oferece.

Portugal é o país da União Europeia com maiores níveis de insolação de toda a Europa dos 15

(o Chipre é a única excepção), atingindo valores 70% superiores em comparação com a

Alemanha [12]. Quando se estabelece um paralelo com a Alemanha, estes valores permitem

uma redução em cerca de 40% do custo de energia eléctrica sob as mesmas condições.

Figura 2.8. Níveis de Insolação por metro quadrado [2]

Mais uma vez, é de referir que o nosso país tem um potencial enorme em termos de

aproveitamento de energia solar, envolvendo um grande número de intervenientes. Estes

podem ser classificados nas mais diversas áreas: ao nível do conhecimento e técnica,

envolvendo os Institutos e Universidades, pondo em evidência investigadores, formadores e

até curiosos sobre a área, a indústria do ramo, elevando todos os órgãos envolvidos na

produção de componentes, passando pelos serviços, como os responsáveis pelas actividades

de serviço relacionadas, desde financiadores a projectistas passando por instaladores e

distribuidores, e finalmente a entidade responsável pela exploração eléctrica [12].

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14

Em Portugal temos os pólos universitários que se dedicam ao estudo da tecnologia solar,

estando entre eles a Universidade de Coimbra, de Aveiro e do Minho, e ainda que estejam

desactivadas desde 1995, a Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Nova de

Lisboa e o Instituto Superior Técnico [12]. As áreas de estudo concentram-se principalmente

no desenvolvimento do silício amorfo e monocristalino. O grande trunfo de Portugal está ao

nível da indústria: possuímos várias minas, entre elas, as minas de Trás-os-Montes, que

abasteceram a indústria electrónica durante muito tempo com silício de alta qualidade [12].

De momento estão desactivadas, mas da forma dinâmica em que se encontra o mercado da

área, e com o aumento do preço da matéria-prima, a sua reactivação deve ser alvo de estudo

sério, de forma a rentabilizar este recurso nacional. Como já seria de esperar, toda cadeia

empresarial relativa à energia solar é bastante débil. Não produzimos células de qualquer tipo

nem painéis de silício (painéis rígidos). Após a concepção de células e painéis, existe a fase

da montagem e instalação, sendo esta a fase menos exigente, entenda-se, fase mais fácil de

todo o processo, desde a concepção até à instalação final. Logicamente é esta a fracção de

mercado que apresenta o maior número de ofertas.

A LoboSolar é uma empresa portuguesa sediada em Évora que se dedica exclusivamente á

comercialização, projecto e instalação de sistemas fotovoltaicos [14]. Duas novas entidades

privadas estão em fase de desenvolvimento: A EarthLife, participada da Enervento, e a

SolarPlus, que se dedica á produção, comercialização e desenvolvimento de módulos solares

fotovoltaicos de Silício Amorfo (a-Si), estando a unidade fabril, e centro de investigação e

desenvolvimento, localizadas na zona industrial de Oliveira do Bairro sendo a primeira

unidade fabril em Portugal a produzir integralmente módulos solares fotovoltaicos de película

fina (Thin Film)., possuindo uma capacidade de produção instalada de 7 MW, estando

previsto o aumento dessa capacidade para 20 MW até 2011. A Energia solar fotovoltaica é

líder quando comparada com outras fontes energéticas renováveis.

No que respeita a energia eólica, constata-se que esta é a energia renovável com maior

capacidade de produção, apresentando um crescimento de 40% face ao ano de 2006. No

entanto, foi o solar fotovoltaico com ligação à rede eléctrica, o líder em termos de

crescimento, entre 2006 e 2007 expandiu-se 50%. Cerca de 1,5 milhões de habitações

obtiveram energia solar através dos seus telhados [15]. De acordo com as estimativas da

REN21 as energias renováveis produzem uma quantidade de electricidade correspondente a

um quarto da electricidade produzida nas centrais nucleares espalhadas pelo mundo, isto ainda

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sem levar em conta as grandes centrais hidroeléctricas [15]. Cerca de 1,5 milhões de

habitações obtiveram energia solar a partir das instalações fotovoltaicas caseiras, e de acordo

com as estimativas da REN21, se estas forem incluídas, a electricidade produzida por fontes

endógenas ultrapassa a das centrais atómicas.

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CAPÍTULO 3 – Células Fotovoltaicas

Antes de ser iniciado estudo ao funcionamento de células fotovoltaicas de terceira geração, é

abordado em primeiro lugar de forma mais aprofundada o princípio de funcionamento de

células fotovoltaicas de junção p-n simples.

3.1. Funcionamento de células fotovoltaicas de junção p-n simples

Em equilíbrio térmico, sem energia óptica incidente, um átomo de silício possui catorze

electrões e catorze protões, e na banda de valência possui quatro electrões. Ao ser constituído

um cristal de silício (c-Si), é formada uma estrutura, formando quatro ligações covalentes com

quatro átomos vizinhos [10].

Através da técnica conhecida como dopagem, podemos alterar as propriedades eléctricas do

composto, introduzindo elementos que permitam criar duas regiões distintas, uma região tipo

p e uma região tipo n, em função dos elementos dopantes, estas regiões, possuem

respectivamente um excesso de buracos (holes), e um excesso de electrões. A figura 3.1

apresenta um exemplo do funcionamento e aplicação desta técnica.

Figura 3.1. Estrutura de um cristal de silício (c - Si) sem elementos dopantes (esquerda), Estrutura sujeita a dopagem tipo n (elemento dopante: Strômbio) (meio), Estrutura sujeita a

dopagem tipo p (elemento dopante: Alumínio) (direita) [16]

Nesta altura a estrutura cristalina está em perfeito equilíbrio, e para os electrões se

deslocarem, necessitam de um nível mínimo de energia, gap energético, que no caso do silício

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anda por volta dos 1,12 eV. Quando uma partícula indivisível de luz (fotão) com energia

suficiente atinge um electrão da banda de valência, este move-se para a banda de condução,

deixando um buraco no seu lugar (carga positiva). Este processo é definido pela expressão

(1), que relaciona a energia mínima necessária ao movimento de cargas na estrutura, com os

valores de frequência do espectro electromagnético através da constante de Planck.

g cE h λ= (1)

A variável gE representa uma unidade indivisível de luz (quantum), ch , é a constante de

Planck 1 e λ representa a frequência do espectro electromagnético e é neste momento que o

fotão criou um par electrão-buraco. Desta forma, uma célula fotovoltaica constituída por

cristais de silício puro não produziria energia eléctrica. Os electrões passariam para a banda

de condução mas acabariam por se recombinar com os buracos, entrando em equilíbrio, não

criando qualquer diferença de potencial utilizável. Na região onde os dois materiais se

encontram (zona de depleção), é criado um campo eléctrico, separando os portadores de carga

segundo a seguinte sequência: os electrões, da banda de valência animados por energia

suficiente para se moverem para a banda de condução, são orientados para o terminal

negativo, ao passo que os buracos são orientados para o terminal positivo, e assim ligando os

terminais a uma carga circulará uma corrente eléctrica utilizável. A figura 3.2 à esquerda

representa uma junção p-n simples e cinco formas de onda que definem o seu funcionamento,

o primeiro gráfico mostra o perfil da concentração de elementos dopantes, o segundo

representa o diagrama energético da junção, o terceiro a densidade de carga, o quarto define o

perfil do campo eléctrico produzido e finalmente o último o potencial electroestático. De

notar que a linha a tracejado representa a curva ideal para cada um dos perfis das

características apresentadas sendo que a linha a cheio é a representação real. Nas figuras do

centro estão as representações de uma célula de junção p-n simples sujeita a iluminação e à

direita vê-se o pormenor da construção dos contactos metálicos superiores e das camadas

positiva e negativa, assim como o substrato e a película anti-reflexo.

___________________________________________________________________________

1

Constante de Planck: 6,62606876.1034−

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Figura 3.2. A junção p-n e formas de onda características (esquerda) junção p-n iluminada (meio) contactos metálicos superiores [6, 10, 17]

Na análise ao circuito real, á direita (são tidas em conta as linhas a tracejado) é considerado um

modelo com dois díodos em paralelo, onde são tidas em consideração quedas de tensão no circuito

até aos contactos exteriores, sendo estas representadas por uma resistência em série sR . De forma

semelhante, também são consideradas correntes de fuga, representadas por uma resistência em

paralelo pR , o circuito equivalente é o apresentado na figura 3.3.

Figura 3.3. Circuito eléctrico real equivalente de uma célula fotovoltaica, sem díodo de estabilização de curva (esquerda), circuito eléctrico real equivalente de célula fotovoltaica com

díodo de estabilização de curva (direita) [10, 16]

Das duas representações aceites para os circuitos de células fotovoltaicas de junção simples,

considerando o circuito da direita, com díodo de estabilização de curva. Desta forma, a

corrente de carga do circuito é representada pela expressão (2).

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20

201 021 1

t s t s

b b

V R T V R T

K T K T sph

p

V R II I I e I e

R

+ = − − − − −

(2)

A corrente de carga I resulta da diferença entre a corrente gerada pela incidência de energia

solar ( phI ) e as correntes 01I e 02I que definem as correntes que atravessam os díodos, onde

tV representa o potencial térmico, T a temperatura da célula,

bK a constante de Boltzman, sR

representa a resistência provocada quedas de tensão no circuito até aos contactos exteriores.

De forma semelhante, também são consideradas correntes de fuga, representadas por uma

resistência em paralelo pR . A corrente gerada pela incidência de energia solar ( phI ), pode em

algumas circunstâncias depender da diferença de potencial. Este facto é notado, tendo em

consideração as linhas a tracejado do circuito apresentado na figura 3.3 à direita. Os efeitos do

segundo díodo e das resistências em paralelo e em série, na característica I-V da célula solar,

são apresentados na figura 3.4.

Figura 3.4. Principio da sobreposição nas células fotovoltaicas (esquerda), característica I-V de uma célula solar com dois díodos (meio), característica de célula solar de dois díodos com

resistência em série, resistência em paralelo (direita) [10]

3.2. Tipos de células fotovoltaicas no mercado

O silício monocristalino é o material mais utilizado no fabrico de células fotovoltaicas

atingindo uma quota de mercado de cerca de 60% [10]. A uniformidade da estrutura

molecular é ideal para potenciar o efeito fotovoltaico. Em testes laboratoriais, o rendimento

máximo atinge os 24%, sendo que em utilizações práticas, este valor desce para os 15% [10].

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O processo de fabrico destas células é complexo e caro, é necessária uma grande quantidade

de energia no seu processo de fabrico, devido à necessidade de se utilizarem materiais em

estados de pureza bastante elevados. O silício policristalino possui um número elevado de

ligações cristalinas, representa cerca de 30% no mercado da área. Ainda assim as

descontinuidades na sua estrutura molecular dificultam o fluxo de electrões, promovendo a

recombinação com as cargas positivas, reduzindo significativamente a potência de saída. Esta

forma, em testes laboratoriais, e na prática estes valores não passam dos 18% e 12%,

respectivamente [10]. Finalmente, o silício amorfo (células de segunda geração), não possui

uma estrutura cristalina, possuído um rendimento inferior quando comparada com as duas

tecnologias descritas anteriormente, 8% na prática, e aproximadamente 13% em laboratório.

Contudo, o silício amorfo apresenta algumas vantagens tanto nas propriedades físicas, como

no processo de fabrico.

Figura 3.5.Quotas de mercado das diferentes tecnologias (esquerda), Rendimento laboratório V.S. Rendimento em aplicações práticas (direita), aspecto real de células fotovoltaicas Si amorfo, Si monocristalino, Si policristalino Respectivamente [10]

São propostos uma série de materiais semicondutores a aplicar no desenvolvimento de células

fotovoltaicas. No caso de células com tecnologia monocristalina, apenas Si (Silício), GaAs

(junção de Gálio e Arsénio), InP (junção de Índio e Fósforo), CdTe (junção de Cádmio e

Telúrio) e finalmente CuInSe (junção de Cobre Índio e Selénio), são utilizados com o

objectivo de se atingirem rendimentos de conversão superiores a 10%, e destes apenas Si e

GaAs, juntamente com soluções sólidas baseados nestes compostos, são seriamente tidos em

conta para aplicações em sistemas terrestres, entenda-se, sistemas que excluam aplicações

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22

espaciais: satélites, veículos espaciais. A tabela 1 apresenta algumas propriedades dos

compostos semicondutores para aplicações fotovoltaica.

Tabela 1. Propriedades dos principais semicondutores com aplicações fotovoltaicas (300ºK)

Grupo Material Eg (eV) μn (m2/Vs) μp (m2/Vs) Lattice paramenter nl transportadores/m3

14 Si 1,100 0,135 0,048 5,431 1,5.10^16

Ge 0,670 0,390 0,190 5,257 2,4.10^19

13-15 GaP 2,250 0,030 0,015 5,450

GaAs 1,470 0,720 0,020 5,653 1,4.10^12

GaSb 0,680 0,500 0,100 6,096

InP 1,270 0,460 0,010 5,869

InAs 0,360 3,300 0,045 6,058

InSb 0,170 8,000 0,045 6,479 1,35.10^22

12-16 ZnSe 2,670 0,053 0,002 5,669

ZnTe 2,260 0,053 0,090 6,104

CdSe 2,590 0,034 0,002 5,820

CdTe 1,500 0,070 0,007 6,481

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23

CAPÍTULO 4 – Células Fotovoltaicas de Terceira

Geração

4.1. Células Fotovoltaicas de Terceira Geração, Generalizações

Actualmente, o mercado da energia solar é dominado pela tecnologia de primeira geração.

Nos últimos 15 anos, a indústria ligada à energia solar têm vindo a promover a tecnologia

solar de segunda geração, ainda que com resultados muito aquém do esperado devido a

rendimentos diminutos e aplicação prática indicada para pequenas potências.

Em termos de eficiência, a segunda geração ainda apresenta resultados desanimadores quando

comparada com a primeira geração. No entanto, com o tempo e uma aposta forte na parte de

investigação e desenvolvimento, parece haver razões suficientes para se continuar na procura

de uma forma de mitigar a diferença observada.

A energia disponibilizada pelo Sol, e com aproveitamento prático para aplicações terrestres,

tem como bases, as Leis da Termodinâmica, concretamente o Limite de Carnot, tendo o valor

de 95%. Pode comparar-se este valor com o valor fixado para o rendimento teórico de uma

célula fotovoltaica de junção simples que ronda os 40.7 %. Estes valores sugerem que a

performance pode ser melhorada de forma significativa, dando origem a novos conceitos

construtivos, e a novas estruturas, utilizados para produzir uma terceira geração de células

fotovoltaicas, com altos desempenhos, e custos de produção mais baixos. Isto iria causar um

impacto significativo na economia especializada tornando, a longo prazo a energia solar

fotovoltaica um nicho de mercado com impacto significativo no desenvolvimento do sector

das energias renováveis, concretamente a energia solar fotovoltaica.

Os novos conceitos de estruturas multijunção apresentam quatro características importantes,

que como se espera, serão responsáveis pela revolução na área da energia solar fotovoltaica, e

que são:

• Implementação em filmes finos;

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24

• Matérias-primas abundantes;

• Não toxicidade dos materiais;

• Altas eficiências, por volta dos 35, 40 %.

Na caracterização do conceito de células de multijunção, sendo que o princípio de

funcionamento se baseia em múltiplas camadas com diferentes níveis energéticos, são

enunciados dois princípios que definem a mecânica de funcionamento e exploram os

princípios da Terceira Geração de células fotovoltaicas, e que são [5]:

1. Utilização de múltiplas camadas de materiais semicondutores. Devido à natureza de

multijunção da célula, cada junção p-n composta condutora actua sob diferentes

valores do espectro electromagnético. A figura 4.1 representa três células de tripla

junção com junções p-n compostas distintas com as diferentes sensibilidades em

relação ao espectro electromagnético.

Figura 4.1. Três células multijunção com diferentes combinações de materiais e diferentes rendimentos (simulações laboratoriais) [19]

2. Manipulações químicas do ponto de vista térmico, de forma a alterar características

internas dos materiais semicondutores de onde posteriormente é extraída energia.

4.1.1. Termodinâmica de uma célula de junção simples

As quebras de rendimento energético e o baixo índice de aproveitamento das células de

primeira geração são parte essencial no desenvolvimento de novas técnicas e dispositivos. Na

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25

figura 4.2 estão representadas as perdas por não absorção de fotões com níveis energéticos

inferiores ao nível energético do gap energético (1), perdas térmicas devido ao parâmetro de

rede cristalina característica intrínseca ao material (2), perdas relativas à junção das zonas

positiva e negativa (3), perdas devido a quedas de tensão (4), e finalmente perdas relativas aos

processos de recombinação característicos (5).

Figura 4.2. Perdas numa célula solar de primeira geração [20]

Os dispositivos de Terceira Geração têm como objectivo mitigar as perdas por não absorção

de fotões com nível energético inferior ao nível do gap energético e as perdas devido à não

compatibilidade dos parâmetros de rede, sendo que as duas juntas perfazem mais de 50% das

perdas totais numa célula solar de junção simples, existindo assim um potencial enorme para

melhorar a eficiência total [5].

Como foi anteriormente mencionado, as perdas térmicas devido à geração de pares electrão –

buraco gerados acima do gap energético, são a grande fonte de perdas e consequente

decremento de potência de saída em células de junção simples, este fenómeno está

directamente relacionado com a alta geração de entropia [3].

Entropia é um conceito associado a desordem ou “dispersão”. Quanto menos significativa a

desordem e menor a dispersão, menor a entropia. Clausius mostrou que a entropia pode ser

expressa como o quociente entre calor produzido por um determinado corpo e temperatura ao

qual o mesmo está sujeito.

A transferência de uma pequena quantidade de calor de um corpo quente para um corpo frio

provoca uma maior alteração na entropia do corpo frio do que na entropia de um corpo

quente. Em sistemas de conversão de energia solar são analisadas duas situações distintas: o

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26

estado de equilíbrio térmico e os limites de eficiência máxima dos sistemas fotovoltaicos

quando submetidos a desequilíbrios térmicos.

O limite de eficiência aplicado a sistemas fotovoltaicos é definido como Limite de Carnot,

representado na figura 4.3, que tem como variáveis de entrada sE , que descreve o fluxo

energético no interior do Sol até à subsequente emissão de radiação e sS , que corresponde ao

fluxo de entropia. O fluxo de entropia é determinado através da expressão (3) em que sT é a

temperatura da fotosfera solar, assumida como 6000 ºK.

/s sE T (3)

No que diz respeito às variáveis de saída em condições de equilíbrio, é considerado o fluxo

energético em forma de trabalho útil Wuur

, com valor de entropia associada ao processo nula, e

com uma parcela de energia rejeitada para o ambiente, Qur

, tendo esta parcela um valor de

entropia associada definida por / aQ Tur

, onde aT representa a temperatura ambiente assumida

como 300 ºK. É também considerada outra variável de entrada definida como “fluxo de

entropia gerada”, gSuur

, associada ao processo de conversão energética. [3]. Incluindo as

igualdades anteriormente descritas, as primeiras e segundas Leis da Termodinâmica podem

ser enunciadas através das expressões (4) e (5).

sE W Q= +

uur uur ur (4)

s g

a

QS S

T+ =

uruur uur

(5)

Figura 4.3. Sistema considerado para o cálculo do rendimento de Carnot [3]

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27

Analisando as equações anteriores, conclui-se que a variável Qur

é comum, assim resolvendo

as expressões (4) e (5) em ordem a Qur

, obtém-se:

( )s a s gE W T S S= + +uur uur uur uur

(6)

Originando:

( )/ 1 / /s a s a g sW E T T T S Eη = = − −uur uur uur uur

(7)

O rendimento tem o seu valor máximo fixado em 95%, quando gSuur

tem o seu valor mínimo

fixado em zero, correspondendo à eficiência de Carnot para conversões de calor fornecido

pela fotosfera solar em electricidade, ou noutra forma de trabalho útil.

Os problemas surgem quando, no sistema de Carnot e tendo em atenção o conversor utilizado,

exige-se que não exista geração de entropia durante a transmissão, absorção ou conversão de

luz solar, algo difícil de se implementar mesmo que conceptualmente [4].

Para aproximações mais detalhadas sobre sistemas de conversão de energia solar, o sistema

de Carnot deixa de apresentar resultados precisos o que implica que, para sistemas reais,

adopta-se o Limite de Landsberg, que considera um sistema de conversão mais restrito, mais

preciso, onde as variáveis de entrada são a energia radiada pelo Sol e a respectiva entropia,

mais a entropia gerada nos processos de absorção e conversão, e uma vez mais, as variáveis

de saída voltam a ser o trabalho, o fluxo de calor e o fluxo de entropia associado ao conversor.

Neste sistema são considerados dois vectores que definem a energia radiada pelo conversor e

o fluxo de entropia associado, resultando na expressão (8) que define o rendimento de um

sistema de conversão de energia solar aplicando o princípio do Limite de Landsberg.

( ) ( )/ 1 / 1 / / /s a s s a c c c s a g sW E T S E T S E E E T S Eη = = − − − −uur uur uur uur uur uur uur uur uur uur

(8)

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28

Figura 4.4. Sistema considerado para o cálculo do rendimento de Landsberg [4]

Neste ponto, e incluindo todas as variáveis que dizem respeito à energia radiada pelo Sol, o

fluxo de entropia aumenta 4

/3 s sE Tuur

. Assim, substituindo a expressão da entropia na equação

(7), obtém-se [4]:

4 44 4/ 1 / 1 / / /

3 3s a s c a c s a g sW E T T T T T T T S Eη = = − − − −

uur uur uur uur (9)

Se for assumido que gSuur

atinge o seu mínimo quando for zero, esta expressão atinge o seu

valor máximo quando c aT T= , resultando no Limite de Landsberg, correspondendo a um

rendimento máximo de 93,3% [4]:

4 44 11 / /

3 3l a s a sT T T Tη = − + (10)

A partir da expressão (10), as Leis da Termodinâmica irão ser reformuladas, sendo definidas

pelas expressões (11) e (12):

s cE E W Q= + +uur uur uur ur

(11)

/s g c aS S S Q T= + +uur uur uur ur

(12)

Resolvendo as equações em ordem a Qur

, tem-se:

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29

( )s c a s c gW E E T S S S= − − − +uur uur uur uur uur uur

(13)

Os termos aT e cE

uur serão usados como referência para o cálculo da energia gerada gE

uur

até ao

infinito, sendo multiplicados pelo correspondente factor de proporcionalidade cf , assumindo

uma temperatura celular de 300º K, obtém-se:

( ), , ,c c g aE f E E qV T= ∞uur ur

(14)

Nos casos, em que as células emitem ou absorvem luz, a entropia considerada é expressa

através de balanços energéticos que envolvem variáveis distintas para os dois casos. A figura

4.6 representa os balanços de entropia, aqui é levado em linha de conta o caso em que a

entropia associada, com a interacção de partículas devido à natureza finita do potencial

químico da luz qVµ = associado com os fotões, interagindo com os electrões e buracos no

material semicondutor, têm-se GeS

uuur como entropia produzida no processo de emissão, e

GaSuuur

como entropia produzida no processo de absorção [4].

( ) /Ge c c c cS S E N Tµ= − −uuur uur uur uur

(15)

( ) /Ga s s c sS E N T Sµ= − −uuur uur uur uur

(16)

Substituindo na expressão (13), e com a cT T= , fica:

( ) ( )' 's c s s c c a s c ag gW E E E N E N T S N N T Sµ µ µ= − − − − + − = − −

uur uur uur uur uur uur uur uur uur uur (17)

Tendo em atenção as expressões anteriores, compreende-se facilmente que as maiores perdas

em termos de geração de entropia advêm do fenómeno de absorção, representada pela

expressão (16).

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30

Figura 4.5. Entropia produzida no processo de emissão (esquerda), Entropia produzida no processo de absorção (direita) [4]

4.2. Tecnologias de Terceira Geração

4.2.1. Divisão Espectral, e Pilhas de Células

Uma das maiores fontes de perdas energéticas está associada às perdas térmicas devido às

gerações de vários pares electrão - buraco animados de valores de energia acima do gap

energético (processo 1 da Figura 4.1). Estas perdas estão relacionadas com a alta geração de

entropia na absorção de luz.

Figura 4.6. Conceito de Multijunção, divisão espectral, filtragem (esquerda), pilha de células (direita) [4, 22]

Uma forma de reduzir esta perda passa por dividir o espectro de radiação electromagnética em

vários intervalos de radiação, com diferentes comprimentos de onda e níveis energéticos,

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31

convertendo essa energia através de células independentes, obtendo para cada uma um gap

energético com potência útil.

Assim surgiu a ideia da massificação de sistemas deste tipo, onde os grandes índices de

eficiência seriam o ponto principal a considerar, sendo perceptível desde início que a

filtragem espectral poderia ser conseguida com resultados a ter em conta, simplesmente

empilhando células, com a célula de maior gap energético no topo da pilha [4].

4.2.1.1.Células de Divisão Espectral

Na mecânica de funcionamento de divisão espectral, (Fig. 4.6, esquerda), cada célula funciona

de forma isolada em relação ao resto do sistema, e pode ser analisada de uma forma muito

simples a partir de uma extensão da aproximação aplicada a células de junção simples.

Assume-se à partida o pressuposto de que os reflectores são ideais, ou seja, possuem um

índice de reflexão perfeito, reflectindo a luz directamente em cada célula desde o gap

energético GnE , da célula n, até ao maior gap energético da última célula ( )1G nE +

, sendo a

relação ideal entre a diferença de potencial e corrente para cada célula, definida pela

expressão (18) [4]:

( ) ( )( ) ( ) ( )( )

( )( )1 1

1

/ , ,0, , ,0,

, , ,

c

c

n s Gn s c s GnG n G n

c Gn nG n

I qA f N E E T f f N E E T

f N E E qV T

+ +

+

= + −

uur uur

uur (18)

Na tabela 2 apresenta-se o resultado de vários ensaios com várias células em termos de

eficiências. As eficiências das configurações estão classificadas como “difusa, sem barreiras”

e “directa, sem barreiras”. Desta forma, fotões com altos índices energéticos são absorvidos

pela junção com maior gap energético e fotões com menores índices energéticos são

absorvidos pela junção com menor gap energético.

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32

Tabela 2. Eficiências e gap energéticos para um dado número de células [4]

Nº de células Descrição gaps energéticos optimizados (eV) η %

E1 E2 E3 E4 E5 E6

1 Difuso; Directo 1.31;

1.11

31; 40.8

2

Difuso, ligação série; Difuso,

desimpedido; Directo, ligação

série; Directo, desimpedido

0.97;

0.98;

0.77;

0.77

1.70;

1.87;

1.55;

1.70

1.95;

2.26;

1.82;

2.10

42.5; 42.9; 55.5; 55.9

3

Difuso, ligação série; Difuso,

desimpedido; Directo, ligação

série; Directo, desimpedido

0.82;

0.82;

0.61;

0.62

1.10;

1.21;

0.94;

1.03

1.53;

1.77;

1.39;

1.61

2.14;

2.55;

2.02;

2.41

52.5; 53.3; 67.9; 68.8

4

Difuso, ligação série; Difuso,

desimpedido; Directo, ligação

série; Directo, desimpedido

0.72;

0.72;

0.51;

0.52

1.10;

1.21;

0.94;

1.03

1.53;

1.77;

1.39;

1.61

2.14;

2.55;

2.02;

2.41

52.5; 53.3; 67.9; 68.8

5

Difuso, ligação série; Difuso,

desimpedido; Directo, ligação

série; Directo, desimpedido

0.66;

0.66;

0.44;

0.45

0.97;

1.07;

0.81;

0.88

1.30;

1.50;

1.16;

1.34

1.70;

2.03;

1.58;

1.88

2.29;

2.79;

2.18;

2.66

55.1; 56.0; 71.1; 72.0

6

Difuso, ligação série; Difuso,

desimpedido; Directo, ligação

série; Directo, desimpedido

0.61;

0.61;

0.38;

0,40

0.89;

0.96;

0.71;

0.78

1.16;

1.33;

1.01;

1.17

1.46;

1.74;

1.33;

1.60

1.84;

2.26;

1.72;

2.12

2.41;

3.00;

2.31;

2.87

57.0; 58.0; 73.4; 74.4

8

Difuso (desimpedido, ligação

série, 2 terminais); Directo

(desimpedido, ligação série)

68.2; 86.8

4.2.1.2. Pilhas de Células

No caso das pilhas de células, (Fig. 4.6, direita), existe uma interacção entre células. Tendo

em atenção a figura 4.7 à esquerda, a célula (n) recebe luz solar com fotões de nível

energético absorvidos pelas células (n+1) e (n-1), emitindo ainda luz por ambas as faces para

as mesmas células. Na figura 4.7 à direita foram instalados filtros de comprimento de onda,

que previnem a emissão de luz para células com gap energético inferior, com o objectivo de

compensar a desvantagem de não poderem ser emitidos fotões com níveis energéticos

superiores para células com gap energéticos superiores.

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33

Figura 4.7. Interacção entre células em pilha sem filtros (direita), interacção entre células em pilha com filtros (esquerda) [4]

O processo de “economia de fotões” encerra o conceito de “reciclagem” de energia solar.

Obviamente, este processo introduz novos termos às equações características da performance

de cada célula, e a todas do sistema, tanto as células adjacentes como subjacentes. Isto pode

ser conseguido, filtrando o comprimento de onda das radiações electromagnéticas instalando

filtros de comprimento de onda montados entre as células da pilha, como mostra figura 4.7 à

direita. Na prática, o melhoramento da performance de cada célula é algo irrisório (alguns

pontos percentuais, na melhor das hipóteses). Ainda assim a estrutura final é de ter em conta,

uma vez que oferece a possibilidade de se atingir valores de performance elevados. Têm ainda

a vantagem de a análise matemática ser relativamente simples de formular, à medida que o

número de células aumenta, a diferença entre as duas montagens diminui, aproximando-se,

ambas dos mesmos valores de eficiência enquanto o número de células se aproxima do

infinito [4].

4.3. Multijunções

As multijunções representam uma oportunidade a explorar, no que toca à concepção de

células fotovoltaicas mais eficientes a partir de materiais com índices altos de sensibilidade

espectral e absorção sem perdas significativas [23]. Actualmente representam uma posição de

liderança em termos de eficiência, sendo utilizados em satélites [24]. Em 2003, uma célula

multijunção constituída por três junções p-n compostas condutoras, InGaP/GaAs/Ge (a

primeira junção p-n composta constituída por InGaP, Índio/Gálio/Fósforo, a segunda por

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GaAs, Gálio/Arsénio, e finalmente a terceira por Ge, Germânio), atingiu o valor de 36% de

eficiência (sob AM 1,5 Air Mass 1,5) [3].

Os primeiros passos no desenvolvimento e concepção destas células começaram, inicialmente

com uma célula constituída por duas junções: GaAs como a célula inferior e AlGaAs ou

InGaP como a junção p-n composta superior.

Existem dois métodos distintos de combinar as células: um deles consiste na separação física

das três junções p-n compostas condutoras utilizando um par de contactos por junção p-n

composta condutora, enquanto o segundo método junta as células em série numa pilha,

constituindo um bloco maciço separando-as através, entre outros dispositivos, de junções p-n

compostas altamente dopadas, junções de passagem (tunnel junctions) com o objectivo de

maximizar aproveitamentos energéticos).

A figura 4.8 ilustra duas células de multijunção, à esquerda está a montagem em que a célula

é constituída pelas junções p-n compostas ligadas em série, separadas por junções de

passagem (tunnel junctions), possuindo dois contactos metálicos (inferior e superior) para

ligação, enquanto a célula da direita tem as junções p-n compostas condutoras fisicamente

separadas usando para isso um par de contactos metálicos por cada junção p-n composta.

Figura 4.8. Célula multijunção em pilha com junções p-n compostas condutoras ligadas em série, com dois contactos metálicos (esquerda), célula multijunção com junções p-n compostas condutoras

separadas fisicamente com múltiplos contactos. [24]

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35

4.3.1. Escolha de Materiais

Os materiais utilizados no fabrico de células fotovoltaicas, são predominantemente da família

de compostos dos grupos III e V da tabela periódica. Possuem grandes vantagens em termos

de gap energético e compatibilidade de parâmetros de rede. A tabela 3 apresenta os elementos

formadores dos compostos semicondutores, fazendo a separação por grupo, símbolo, nome e

número atómico.

Tabela 3. Elementos formadores dos compostos semicondutores

II B (12) III A (13) IV A (14) V A (15) VI A (16)

B Boro 15 C Carbono 6 N Nitrogénio 7 O Oxigénio 8

Al Alumínio 5 Si Silício 14 P Fósforo 15 S Enxofre 16

Zn Zinco 30 Ga Gálio 31 Ge Germânio 32 As Arsénio 33 Se Selénio 34

Cd Cádmio 48 In Índio 49 Sn Estanho 50 Sb Antimónio 51 Te Telúrio 52

Hg Mercúrio 80 Tl Tálio 81 Pb Chumbo 82 Bi Bismuto 83 Po Polónio 84

Na fase de desenvolvimento de uma célula fotovoltaica de multijunção, a escolha dos

compostos que a constituem, é determinada pelos requisitos mínimos das seguintes variáveis:

Coerência dos parâmetros de rede, coerência entre os valores de corrente de saída, e coerência

entre as propriedades ópticas Uma vez que as junções p-n compostas condutoras estão ligadas

em série, a corrente que circula na célula multijunção tem o mesmo valor. Os materiais estão

empilhados por ordem decrescente de gap energético, gE , permitindo a transmissão de

energia para as células com gap energético inferior, respeitando a seguinte relação:

/g cE e h λ> .

Na figura 4.9 está representada uma célula solar de tripla junção constituída por

InGaP/InGaAs/Ge (Índio, Gálio, Fósforo/Índio, Gálio, Arsénio/Germânio), estando empilhada

por ordem decrescente de gap energético, sendo visíveis as eficiências máximas de cada

junção p-n composta condutora, utilizando como referência o Espectro Electromagnético de

radiação solar incidente AM 1,5Global. Em termos de valores de gap energético, a junção p-n

composta InGaP como a célula do topo da pilha, funciona num intervalo de valores de gap

energético entre 1,8 < gE <1,9 eV, InGaAs no meio da pilha com valores de gap energético

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36

gE = 1,4 eV, e finalmente Ge como a última célula com gE = 0,67 eV. O uso do Germânio

como última célula da junção advém da sua grande robustez, baixo custo, abundância, fácil

tratamento industrial, e principalmente devido à compatibilidade do parâmetro da rede

cristalina, (lattice parameter), com o dos outros compostos.

Figura 4.9. Célula solar multijunção InGaP/InGaAs/Ge, Espectro Electromagnético com eficiências máximas de cada junção. [24]

De forma semelhante às junções p-n simples, os potenciais intrínsecos aos próprios materiais

Vbi(A) e Vbi(B) em ambos os lados da junção podem ser determinados pela equação de

Poisson, Eρ

ε∇ = em que E representa o campo eléctrico, ρ a densidade de carga e ε a

permeabilidade do vazio. Na figura 4.10 estão representadas as descontinuidades das bandas

energéticas Ec∆ (descontinuidade energética da banda de condução) e Ev∆ (descontinuidade

energética da banda de valência). Tomando como exemplo, a descontinuidade da banda

energética Ec∆ é definida pela expressão (19).

b aEc x x∆ = − (19)

Onde bx e ax representam as afinidades electrónicas que são definidas como a energia mínima

para remover um electrão e gerar um buraco, dos semicondutores b e a respectivamente.

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37

Figura 4.10. Diagramas energéticos de uma célula de multijunção constituída por um semicondutor A do tipo n e um semicondutor B do tipo p, com níveis energéticos intrínsecos

dos materiais Vbi(A) e Vbi(B). [6]

Figura 4.11. Descontinuidade das bandas de condução e a diferença entre afinidades electrónicas entre as diferentes multijunções [6]

A tripla junção InGaP/GaAs/Ge é muito eficiente uma vez que as três junções p-n compostas

condutoras têm parâmetros de rede cristalina 2 muito semelhantes, maximizando o output de

potência disponível. Células multijunção montadas em pilha de junções p-n compostas

condutoras (ligação série, figura 4.9 à esquerda), possuem uma desvantagem em termos de

corrente debitada, sendo limitada ao menor valor disponível das três junções p-n compostas.

Nesta junção, a junção p-n composta (substrato) de Germânio (Ge) produz excesso de

corrente que não é aproveitado, diminuindo o gap energético disponível. Adicionando Índio à

junção p-n composta condutora central (InGaAs), o gap energético iria aumentar

consideravelmente sendo alcançado um maior valor de potência útil, contudo com a adição de

Índio à estrutura, irá ocorrer uma alteração da estrutura cristalina, nomeadamente no

parâmetro da rede, provocando deslocações da rede (misfit dislocations) entre a sobreposição

de camadas.

________________________________________________________________________

2Parâmetro da rede do cristal descreve as dimensões de um elemento base do cristal. Cada elemento base, ou unidade celular

de um cristal consiste numa estrutura atómica organizada de uma forma específica. A organização e tamanho dos átomos

definem o tamanho da célula

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38

Deslocações de rede podem ser definidas como falta de um elo de ligação ou um elo fragilizado

entre duas camadas distintas com parâmetros de rede diferentes, havendo para cada deslocação

de rede duas deslocações de elos de ligação entre camadas na última fila da rede de cada

camada. Na figura 4.12 à direita pode observar-se a representação de duas deslocações de elos

referentes a uma deslocação de rede numa célula de 1 x xSi Ge− em cima de um substrato

composto por 1 xSi − .

Figura 4.12. Junção de duas camadas, 1 x xSi Ge− e substrato de Si com respectiva deslocação de

rede (esquerda) plano a três dimensões da deslocação de rede em causa com as duas deslocações de elos de ligação para cada deslocação de rede (direita)

Para resolver o problema do excesso de corrente, são consideradas formas de limitar a

corrente desperdiçada e aumentar o gap energético, passando por sobrepor camadas com

parâmetros de rede diferentes em cima do substrato de Germânio, de forma a reduzir o

excesso de corrente, assim como remover o substrato de Germânio, e substituí-lo por outro

semicondutor com gap energético superior. Na figura 4.14, são montadas duas camadas de

GaAs e InGaP compatíveis em termos de parâmetro de rede em cima do substrato de GaAs

seguido de camadas de 1 x xIn Ga P− e finalmente 1x xIn Ga As− .

InGaP 1,8<Eg <1,9 (eV)

(+-In) GaAs Eg = 1,4 (eV)

Subs. Ge Eg = 0,67 (eV)

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39

InGaP

GaAs/InGaP

Subs. GaAs Figura 4.13.Célula Multijunção de substrato de Germânio (cima), Célula Multijunção de

substrato de GaAs (baixo).

De seguida o substrato de GaAs é removido e a estrutura é invertida dando origem a uma

junção p-n composta, constituída por 0,3 0,7In Ga As . A grande vantagem desta técnica está

associada com a alteração da amplitude do gap energético, atingindo 1,0 eV, que reduz o

excesso de corrente gerado pela célula inferior aumentando a tensão de saída.

InGaP

GaAs

InGaP

Subs. GaAs

Subs. GaAs

InGaP base

GaAs base

GaxIn1-xP

Transparência

In0,3Ga0,7As

Figura 4.14. Célula de multijunção InGaP/GaAs/InGaAs

A técnica de inversão de camadas oferece vantagens em termos de problemas associados às

deslocações de rede criadas na camada 0,3 0,7In Ga As , enquanto preserva altos valores de

eficiência nas camadas superiores (GaAs base e InGaP base).

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40

4.3.2. Constituição e Estrutura de uma Célula Fotovoltaica de

Terceira Geração

4.3.2.1. Contactos metálicos

Os contactos metálicos permitem a ligação dos materiais semicondutores às cargas. Existem

contactos em ambas as faces da estrutura, sendo que o contacto inferior consiste numa placa

que cobre por completo a face inferior, o que não acontece na face que está exposta à radiação

solar, que apenas possui terminais de forma a não ocupar a superfície colectora de energia. A

figura 4.15 mostra dois materiais, um semicondutor e outro metálico, antes do contacto e após

o contacto entre ambos

O metal é caracterizado pelo potencial químico ,e sµ dos electrões que nele circulam, ao passo

que o potencial químico Vε diz respeito aos electrões que circulam no material semicondutor,

o seu valor absoluto é função das características do metal utilizado no contacto. Os níveis

energéticos considerados são o nível energético de condução cε , o nível energético de Fermi

Fε , finalmente o nível energético que define a banda de valência Vε [25].

Figura 4.15. Diagramas energéticos de um metal e de um semicondutor antes (esquerda) e após contacto (direita) [25]

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41

4.3.2.2. Película anti – reflexo

A película anti – reflexo, instalada após os contactos metálicos superiores é constituída por

várias camadas. Normalmente a primeira camada da película possui uma superfície porosa em

forma de pirâmides invertidas, com o objectivo de maximizar o coeficiente de transmissão

energética T, assim como o mecanismo de aprisionamento de luz, dificultando o processo de

reflexão de energia óptica na superfície celular e consequente diminuição do output de

potência. Nas montagens com duas camadas, L1 (camada superior, normalmente SiO2) e L2

(camada inferior TiO2) respeitam a relação 2 1L AlInP Ln n n= no caso de terem o mesmo valor

de amplitude de energia reflectida e 1 min1 4Ln dL λ= , 2 min2 1/ 4Ln dL λ= para amplitudes

energéticas de fases opostas. A espessura da película anti – reflexo é desenhada e escolhida de

forma a minimizar o índice de reflexão nos comprimentos de onda em que a corrente gerada a

partir da energia luminosa é menos significativa, e como resultado final, aumenta a corrente

de saída da montagem combinando a corrente de saída de todas as três junções p-n compostas

condutoras da célula. Como exemplo, a última junção tem o intervalo de funcionamento na

zona dos infravermelhos (λ 410− m), sendo que a sua espessura é ajustada para funcionar

nessa zona do espectro electromagnético uma vez que é a junção que está sujeita à maior

degradação em termos de energia aproveitada e finalmente, a primeira junção da célula, está

sujeita à zona das radiações ultravioleta (λ 610− m) e, sendo a primeira junção p-n composta

as películas anti – reflexo são ajustadas de forma a tirar o maior partido possível desta zona do

espectro.

Figura 4.16. Espectro Electromagnético [26]

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Figura 4.17. Célula Fotovoltaica com pormenor de película anti – reflexo com a respectiva disposição em forma de pirâmides invertidas [28]

Concluindo, a película anti - reflexo é de uma importância vital, na medida em que tira todo o

potencial de energia disponível dos comprimentos de onda mais reduzidos, já que sem eles o

coeficiente de transmissão T seria reduzido até aos 70%.

4.3.2.3. Junções de Passagem

O objectivo das junções de passagem é fornecer uma baixa resistência eléctrica e óptica entre

a ligação de duas junções p-n compostas condutoras de materiais diferentes. Sem as junções

de passagem, a região com dopagem positiva da junção p-n superior estaria directamente

ligada à região com dopagem negativa da junção p-n central, apareceria assim entre a junção

superior e a junção central uma junção p-n com uma diferença de potencial com sentido

oposto ao das outras junções. Como consequência o output de potência resultante de toda a

estrutura diminuiria drasticamente (sem aplicação deste díodo), para mitigar este fenómeno, é

utilizada uma junção de passagem que não é mais que uma junção p-n (díodo de passagem)

altamente dopada. Um díodo de passagem é um dispositivo com características especiais.

Funciona na zona das microondas (λ 210− m). A junção p-n é altamente dopada, tendo uma

espessura muito reduzida, na ordem dos 10 nm de espessura.

Figura 4.18. Esquema de um díodo de passagem (esquerda) Díodo de junção 1N3716 [29]

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Desta forma, quanto maior for o nível de dopagem das respectivas zonas p e n, menor será a

amplitude da zona de depleção que entenda-se, é a zona que se forma instantaneamente entre

as zonas p e n de uma junção p-n simples, desta forma, quando uma região dopada

negativamente e outra dopada positivamente se juntam, os electrões movem-se para o lado

positivo e os buracos para o lado negativo, sendo acumulados numa zona especifica de um

dos lados de cada junção antes de entrar na região adjacente. A figura 4.19 exemplifica este

fenómeno, podendo observar-se na figura da esquerda uma junção p-n simples e os

respectivos fluxos de portadores de carga positivos (buracos) e portadores de carga negativos

(electrões), antes e após difusão, criando-se um campo eléctrico utilizável, enquanto na figura

à direita se podem ver as características referentes aos perfis das cargas em termos de valores

absolutos, o perfil do campo eléctrico gerado e a respectiva diferença de potencial criada.

Figura 4.19. Junção p-n antes da difusão (esquerda, em cima), concentração de electrões e buracos, densidades de carga (direita, segundo gráfico), campo eléctrico (terceiro gráfico),

potencial eléctrico (último gráfico) [6]

Assim, nas zonas de junção, quanto maior for o nível da dopagem, menor é a interferência da

zona de depleção, já que à medida que o nível de dopagem aumenta, a zona de depleção

diminui, sendo expressa pela relação (20):

( )2 o A d

depl

A d

V N NI

q N N

∈ Φ − +=

(20)

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Onde AN representa o nível de concentração de aceitadores e dN representa o nível de

concentração de dadores, q representa a carga do electrão, V a diferença de potencial

aplicada, ∈ a permeabilidade do vazio ( 128,854.10 /F m− ), e oΦ o potencial em condições de

equilíbrio. Na figura 4.20 à esquerda está representada a estrutura de uma célula de dupla

junção constituída por InGaP/GaAs, onde se podem ver as janelas de passagem (exploradas

no ponto seguinte) e as junções de passagem altamente dopadas representadas por InGaP

(p++, dopagem positiva) e InGaP (n++, dopagem negativa) com as respectivas

compatibilidades em termos de tipo de dopagem entre as janelas de passagem, junções de

passagem e as junções p-n compostas, correspondendo em termos energéticos aos perfis

representados.

O perfil característico dos níveis de dopagem está representado no gráfico da direita, onde se

podem ver os níveis de concentração de elementos dopantes em função da espessura das

camadas das junções p-n.

Figura 4.20. Estrutura de uma célula de dupla junção (esquerda), Perfil característico dos níveis de dopagem [19]

A partir do momento em que os electrões atravessam a junção de passagem, a análise à

característica J-V (densidade de corrente - tensão) passa a ser de importância vital, uma vez

que permite analisar as características da zona de junção, particularmente a sua baixa

resistência eléctrica. Na figura 4.20 podem observar-se as três regiões distintas: a região de

passagem, a região altamente dopada, onde a concentração de elementos dopantes nas junções

p e n é de tal forma acentuada chegando ao ponto onde a tensão inversa de saturação se anula

e o díodo de junção fica inversamente polarizado, e finalmente a região de difusão de

portadores de carga.

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A zona onde os electrões passam através da barreira, chama-se zona de passagem, aqui a

diferença de potencial deve ser baixa e como resultado a densidade de corrente assume um

valor máximo de Jp. No ponto junto à origem, a resistência é extremamente baixa, fazendo

com que a tensão também o seja, sendo esta a característica que torna as junções de passagem

o mecanismo ideal na ligação de materiais estruturalmente diferentes sem provocar uma

grande queda de tensão. Na figura 4.21 é apresentado outro diagrama energético, onde

baseado na aproximação WKB 3 , a expressão 21 define a probabilidade de passagem de

portadores de carga na junção de passagem e a expressão 22 permite calcular a corrente de

passagem da junção.

Figura 4.21. Diagrama energético com pormenor relativo à passagem de portadores de carga pela respectiva junção [19]

( )2

12

x

xk x dx

D e

− ∫

= (21)

( ) ( ) ( )

Ev

t c vEc

J Fc Fv Dn E n E dE= −∫ (22)

A figura 4.22 apresenta a característica J-V da junção de passagem, apresenta-se no mesmo

referencial a característica ideal da junção e a característica obtida através da simulação.

__________________________________________________________________________

3Em Física, a aproximação WKB, ou método WKB, é utilizado com vista à determinação de soluções aproximadas de equações lineares

com coeficientes variáveis no espaço

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46

Figura 4.22. Característica J-V de uma junção de passagem, valores simulados e ideais

[19]

Concluindo, de forma a evitar uma diminuição de desempenho, as junções de passagem

devem possuir características de transparência no que toca aos comprimentos de onda

absorvidos pelas células adjacentes, respeitando a condição (23):

gTunnel gMiddleCellE E> (23)

Onde o gap energético da junção de passagem tem de ter um valor superior ao do gap

energético da junção p-n composta precedente.

4.3.2.4. Janela de Passagem e BSF (Back - Surface

Field)

As janelas de passagem são junções p-n que permitem a redução da velocidade de

recombinação S à superfície da junção p-n composta condutor constituinte da célula de

multijunção sendo instaladas no topo das mesmas, desta forma, a recombinação à superfície

pode ter um impacto enorme, tanto na corrente de curto – circuito como na tensão de circuito

aberto. Debaixo dos contactos superiores o efeito da recombinação superficial pode ser

minimizado aumentando o nível de dopagem da multijunção.

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47

De forma semelhante, é aplicada à face posterior da célula uma camada com o objectivo de

minimizar o impacto da recombinação de alta velocidade na face posterior. A camada BSF

consiste numa multijunção altamente dopada na face posterior da célula. A figura 4.23 ilustra

o efeito da camada BSF (linha a vermelho) que impede a recombinação de alta velocidade

contrapondo com a representação à direita onde não existe uma BSF instalada na parte

posterior da junção p-n composta, estando sujeita à recombinação de alta velocidade (circulo

vermelho) de portadores de carga.

Figura 4.23. Junção p-n composta com camada BSF (esquerda), Junção p-n composta sem camada BSF (direita) [19]

A interacção entre camadas muito, e pouco dopadas têm um funcionamento semelhante a uma

junção p-n simples, sendo formado um campo como mostra a figura 4.23 à direita.

Apesar da acumulação de portadores (electrões e buracos), e do campo criado (Ed), estes não

podem “saltar” acima da barreira formada pela multijunção porque não estão animados de

energia suficiente, não podendo assim haver recombinação entre electrões e buracos. As

janelas de passagem devem ser completamente transparentes aos comprimentos de onda

absorvidos pela junção posterior respeitando as condições: window emitterEg Eg> e

BSF emitterEg Eg> .

Figura 4.24. Camadas e diagrama energético de uma janela de passagem, a recombinação superficial é reduzida (esquerda), Camadas e diagrama energético de uma BSF, a dispersão de

portadores é reduzida (direita) [19]

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4.3.2.5. Característica J-V

Para se atingirem eficiências máximas, cada junção p-n composta condutora da célula tem de

funcionar sob condições óptimas em termos de característica J-V. A característica J-V assume

valores distintos para cada junção p-n composta condutora não sendo igual em todas as

junções da célula. Numa célula de multijunção, neste caso constituída por três junções p-n

compostas condutoras, a corrente total que circula através da estrutura assume como valor de

corrente o mais baixo das três, no caso de uma célula de tripla junção. Aproximadamente,

resulta: ( )1 2 3min ; ;Jsc Jsc Jsc Jsc= , onde ( )iJsc λ representa a densidade de corrente de curto

– circuito para um dado valor de comprimento de onda λ . Dada a impossibilidade de se obter

iJsc ( )1, 2, 3i = directamente a partir da característica J-V, é utilizada a noção de eficiência

quântica ( )QE λ .

Eficiência Quântica (QE) é quociente entre a quantidade de portadores (pares electrão -

buraco) criados, e a quantidade de fotões incidentes numa célula solar num dado comprimento

de onda λ . A eficiência quântica diz respeito à resposta da célula solar aos diferentes

comprimentos de onda do espectro incidente. O quociente atinge o seu valor máximo, 1

quando todos os fotões de um certo valor de comprimento de onda são completamente

absorvidos e os portadores minoritários (electrões na zona positiva de um dado material) são

considerados no output de potência. O valor de eficiência quântica para fotões com energia

abaixo do gap energético é zero. Na modulação matemática, ( )iγ λ representa o fluxo de

fotões correspondente à luz incidente na célula considerada (i) e ( )iQE λ é a eficiência

quântica da célula i, dada pela expressão (24).

( )( )

( ) ( ) ( )2

0

sci

i sci i i

i

JQE J q QE d

q

λλλ φ λ λ λ

φ λ= ⇒ = ∫ (24)

O valor aproximado de ( )QE λ obtém-se através da sua relação com o coeficiente de absorção

( )λ ou seja, o número de fotões absorvidos por unidade de área do material. Assumindo que

cada fotão absorvido origina um par electrão – buraco (aproximação), obtém-se:

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( ) ( )1 di

iQE eα λ

λ−= − (25)

Onde di representa a espessura da célula considerada, ( )dieα λ−

representa a percentagem de luz

incidente que não é absorvida pela célula i, dando origem á expressão (26) que define o

somatório das tensões de cada junção p-n composta condutora para uma célula solar de

terceira geração constituída por três junções p-n compostas condutoras:

3

1i

V Vi=

=∑ (26)

Que simplificado, fica:

3

1oc oc

i

V V i=

=∑ (27)

Sendo os valores de ocV dados pela característica J-V de um díodo, resultando:

1 lnqV

sciKTi oi sci oc

oi

JKTJ J e J V

q J

= − − ⇒ ≈

(28)

Nesta análise, são considerados dois tipos de eficiência quântica, são eles: Eficiência Quântica

Externa (EQE), definido pelo quociente entre o número de portadores de carga absorvido pela

superfície celular e o número de fotões com um determinado nível energético incidente na

superfície celular, e Eficiência Quântica Interna (EQI) definido pelo quociente entre o número

de portadores de carga absorvidos pela superfície celular e o número de fotões com um

determinado nível energético incidentes na superfície celular (fotões incidentes) e a

quantidade de fotões efectivamente absorvidos. A EQI é sempre superior à EQE, um baixo

valor de EQI indica que a camada activa (exposta directamente à radiação) faz um mau

aproveitamento energético. Um baixo valor para a EQE é um indicador de que uma grande

parte da energia radiada é reflectida, sendo definida através da expressão (29):

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50

( ) ( )/ sec /1 arg

/ / 1

electrons current e ch eEQE

photons s totalpowerofphotons energyof e

−= = (29)

Figura 4.25. Eficiência Quântica Interna e Externa e Índice de Reflectância de uma célula de silício (direita), Eficiência Quântica de uma célula de silício com base nas tabelas AM1.5

medida acima dos 350 nm (esquerda) [19]

A figura 4.26 apresenta o exemplo de uma célula de dupla junção onde pode ver-se a

Eficiência Quântica em função do comprimento de onda para cada junção p-n composta

condutora.

Figura 4.26. Célula de dupla junção InGaP/GaAs com substrato de GaAs e respectiva EQE para as duas junções [19]

4.3.3. Recombinação

Dentro dos princípios físicos que governam o funcionamento dos materiais semicondutores,

os processos de geração e recombinação de portadores de carga encerram o fenómeno de

criação e eliminação de pares electrão - buraco. Os processos de geração e recombinação de

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51

portadores são fundamentais no processo de funcionamento de muitos dispositivos

semicondutores, tais como fotodíodos, LED e díodos laser.

A mecânica de funcionamento que envolve os pares electrão - buraco, representa um passo

fundamental na geração e recombinação correspondendo de uma forma muito simples, à

transição de um portador de carga negativa entre a banda de valência e a banda de condução.

4.3.3.1. Processos de recombinação

O processo de recombinação está associado à interacção entre electrões com outros portadores

de carga e até com o parâmetro de rede do material. No movimento de electrões de uma banda

energética para outra, é “ganha” ou “desperdiçada” uma porção de energia sendo

transformada noutra forma de energia, sendo esta energia transformada definida como

Processos de Recombinação.

O modelo simplificado que define modelos de recombinação/geração incide na condição de

que a mecânica de recombinação é proporcional à quantidade de luz incidente na célula

fotovoltaica considerada, portanto em condições de desequilíbrio térmico. A expressão

resultante para a recombinação de portadores negativos na zona positiva de um semicondutor

é a representada pela expressão (30):

0p p

n

n nUn Rn Gn

t

−= − = (30)

Da mesma forma, para a recombinação de portadores positivos, na zona negativa de um

semicondutor utiliza-se a expressão (31):

0n n

p

p pUp Rp Gp

t

−= − = (31)

O parâmetro t é interpretado como a quantidade de tempo depois da qual uma quantidade

excessiva de portadores minoritários efectua o processo de recombinação. Em sistemas onde o

processo de recombinação na região de depleção, e em situações onde a concentração de

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52

buracos e electrões é semelhante, não podem ser descritos com o modelo simplificado mas

sim com expressões mais elaboradas e especificas descritas nos pontos seguintes.

• Recombinação Nuclear, que compreende Recombinação de Auger,

Recombinação nível a nível e Recombinação por defeito do material;

1. Recombinação Nível a Nível

Acontece quando um portador de energia passa da banda de condução para a banda de

valência. Em equilíbrio térmico, o rácio de recombinação é igual ao da geração desde que não

haja recombinação ou geração na rede. Uma vez em equilíbrio térmico, o produto de n e p é

igual a 2in , assim:

( )2b b iU b np n− = − (32)

Onde b representa a constante de recombinação referente à estrutura química dos materiais e

b bU − representa o valor da recombinação nível - a - nível.

2. Recombinação de Auger

O processo de Recombinação de Auger compreende o fenómeno onde um electrão e um

buraco (par electrão - buraco), portador de carga negativa e positiva respectivamente se

recombinam numa transição nível a nível, sendo a energia resultante da transição dada a outro

electrão ou buraco. A inclusão de uma terceira partícula afecta o processo de recombinação,

sendo necessário aplicar um modelo matemático diferente do modelo aplicado à

recombinação nível a nível.

A expressão (33) permite determinar o valor da recombinação de Auger, onde n e p

representam o número de electrões e buracos respectivamente, sendo que em equilíbrio

térmico o seu produto é representado por 2in .

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53

( ) ( )2 2Auger n i p iU n np n p np n= Γ − +Γ − (33)

3. Recombinação por defeito do material

O fenómeno da recombinação por defeito do material semicondutor acontece quando um

portador de carga negativa fica “preso” num defeito do material, num nível de energia situado

dentro do gap energético. O defeito uma vez ocupado deixa de poder aceitar outro portador de

carga. Um portador de carga negativa numa segunda fase pode libertar-se e passar para a

banda de valência, completando o processo de recombinação. Este processo é conhecido

como Shockley – Read – Hall (SRH), definida pela equação (34).

( ) ( )

2

1 1

iSHR

p n

np nU

n n p pτ τ

−=

+ + +

(34)

Em que pτ

e nτ são parâmetros, proporcionais à concentração de defeitos no material Nt,

característica intrínseca do nível energético considerado.

Na figura 4.27 estão representados os três processos de recombinação nuclear com os

respectivos níveis energéticos considerados no cálculo dos valores de cada um dos fenómenos

de recombinação, Et representa a energia presente no ponto específico de defeito do material,

Ec representa a energia presente na banda de condução e Ev representa a energia presente na

banda de valência.

Figura 4.27. Diagrama com os processos de Recombinação Nuclear [28]

_______________________________________________________________________ 4 ( ) ( ) ( )1

0, 0x t

x t e dt x∞ − −Γ = >∫

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54

• Recombinação Superficial;

O processo de recombinação superficial nas superfícies tem um impacto muito significativo

no comportamento dos dispositivos. Isto deve-se ao facto de que as superfícies contêm um

grande número de pontos a explorar em termos de recombinação, muito por causa das

terminações das próprias camadas dos semicondutores, já que possuem uma grande

percentagem de elos de ligação. Em relação a isto, as superfícies têm mais probabilidades de

conter defeitos e impurezas uma vez que estão expostos durante o processo de fabrico.

Desta forma, para se obter resultados satisfatórios, a recombinação superficial como já foi

analisado no ponto 4.3.2.1 é reduzida pelas janelas de passagem que evitam que os portadores

minoritários (buracos) atingem a superfície das camadas. A deposição de uma janela de

passagem de GaAlAs numa camada de GaAs é um exemplo disto mesmo. Na concepção de

células de multijunção são utilizadas as relações entre a velocidade de recombinação

superficial (S) e a concentração de elementos dopantes (N).

S = 70 cm/s com N < 17 37.10 cm− (35)

S = 70177.10

N

cm/s com N > 17 37.10 cm− (36)

Nas células de GaAs, a velocidade de recombinação superficial é muito alta, atingindo valores

na ordem dos 610 /cm s , no entanto a deposição de uma janela de passagem de GaAlAs, reduz

a velocidade de recombinação para 310 10 /cm s− .

4.3.4. Modelos Matemáticos para descrição de comportamento

de dispositivos semicondutores

As equações básicas de um dispositivo semicondutor descrevem o comportamento estático e

dinâmico dos mesmos, sob influência de campos externos que causam alterações ao equilíbrio

térmico.

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55

4.3.4.1. Condições de Desequilíbrios Térmicos

As condições de desequilíbrio térmico são classificadas em três grupos:

I. Equações de densidade de corrente;

n n nJ q nE qD nµ= + ∇uur ur ur

(37)

p p pJ q pE qD pµ= − ∇uur ur ur

(38)

T p nJ J J= +uur uur uur

(39)

As variáveis pJuur

, nJ

uur,

TJuur

, representam a densidade de corrente de portadores positivos, a

densidade de corrente de portadores negativos e a densidade de corrente total

respectivamente. Eur

, representa o campo eléctrico, pD e nD são as constantes de difusão

para electrões e buracos respectivamente, n e p representam as concentrações de portadores de

carga negativa e positiva e pµ , nµ representam respectivamente a mobilidade de electrões e

buracos num dado espaço.

De uma forma geral o valor para as mobilidades de electrões e buracos nµ e pµ são dadas em

função da concentração de impurezas e temperatura. As constantes de difusão nD e pD estão

relacionadas com as mobilidades segundo a relação (40):

pn

n p

DD KT

qµ µ= =

(40)

De uma forma geral, as concentrações de portadores de carga são definidas pelas expressões

(41) e (42).

n iF E

KT

in n e

− = (41)

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56

I PE F

KT

ip p e

− = (42)

Onde nF , pF , iE , são respectivamente o nível Fermi para electrões, o nível Fermi para

buracos e o campo eléctrico intrínseco, ou seja o nível energético intrínseco ao próprio

material, sendo estes níveis energéticos dados pelas relações 43 e 44:

n nF qφ= − (43)

p pF qφ= − (44)

Onde pφ e nφ representam os potenciais das cargas positivas e negativas respectivamente. Para

aplicação às equações 41 e 42 é tida em conta a relação entre o campo eléctrico intrínseco iE e o

potencial electrostático V, vindo:

iE qV= − (46)

Substituindo as equações (43), (44) e (45) nas expressões (41) e (42), teremos:

( )n i n

n

F E q qV qV

KT KT KT

i i in n e n n e n n e

φφ

− − + − = ⇔ = ⇔ = (47)

( )i p p

p

E F qV q qV

KT KT KTi i ip p e p p e p p e

φφ

− − + − = ⇔ = ⇔ = (48)

Em cima, as equações (47) e (48) descrevem o processo de análise que envolve o processo de

transporte de cargas através de materiais semicondutores.

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57

De seguida serão abordados os pontos de equilíbrio e subsequente desequilíbrio térmico. Em

equilíbrio térmico p n Fφ φ φ= = , onde Fφ é o potencial de Fermi, que obviamente em equilíbrio

térmico é negativo para materiais tipo n e positivo para material tipo p, sendo logicamente nulo

nas regiões neutras.

Tendo em conta as equações (46) e (47), fazendo as devidas substituições, obtém-se:

( )1 1F F n i

qq F E

KT KT KTφ φ

− = − = −

(49)

( )1 1F F i p

qq E F

KT KT KTφ φ

= = −

(50)

Fora do equilíbrio térmico os potenciais pφ , nφ e V variam com as posições, logo são

necessárias equações auxiliares para determinar a concentração de portadores e posteriormente

a densidade de corrente.

II. Equação de Poisson;

O segundo grupo de equações faz referência à equação de Poisson, onde são determinados

níveis energéticos dos materiais que influem na difusão de portadores de carga e potenciais de

difusão dependentes da temperatura que perturbam o equilíbrio térmico dando origem ao

movimento de cargas produzindo energia útil. Define-se a equação de Poisson aplicável a

sistemas que incluem dispositivos semicondutores como:

2

0 s

ε ε∇ = − (51)

Com:

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58

; ;f f f

x y z

∂ ∂ ∂∇ =

∂ ∂ ∂ (52)

Onde 0ε e sε representam a permeabilidade do vazio e a constante do dieléctrico, ρ

representa a densidade da carga e V a diferença de potencial electrostático. O operador

gradiente ∇ define o conjunto de derivadas parciais num volume, sendo elevado ao quadrado

de forma a definir um sistema de eixos de 3 dimensões com os respectivos eixos negativos da

variável V, vem assim:

2 2 2

2 2 20 s

V V V

x y z

ρ

ε ε

∂ ∂ ∂+ + = −

∂ ∂ ∂ (53)

Figura 4.28. Cubo, sistema de eixos a três dimensões. [28]

ρ representa a densidade da rede de cargas, e é dada pela expressão (54):

( )D Aq N N p nρ + −= − + − (54)

Aqui Nd + e Na− representam o número de dadores e de aceitadores respectivamente, p e n

são dados pelas equações 47 e 48, e a partir da relação entre o campo eléctrico Eur

e o

potencial electrostático, vem:

V V V

E V Ex y z

∂ ∂ ∂= −∇ ⇔ = − + +

∂ ∂ ∂

ur ur ur

(55)

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59

Logo, pode escrever-se:

0 s

ε ε∇ =ur ur (56)

A equação de Poisson permite relacionar a presença de cargas em rede com o campo e a

variação de potencial. É uma das equações mais importantes de um sistema com dispositivos

com materiais semicondutores, porque com o conhecimento da distribuição de potencial

electrostático V é determinado o campo eléctrico (equação 54), para as equações de densidade

de corrente de electrões, buracos (equações 37 e 38) e para a concentração de portadores

(equações 46 e 47). A equação de Poisson, obtida através da expressão diferencial de Gauss,

que exprime que uma determinada linha de fluxo do campo eléctrico que atravesse uma

superfície fechada é dada pelo valor da carga presente dentro da mesma superfície.

Figura 4.29. Cargas dentro de uma superfície limitada por S [28]

0

0

1

isS

fluxo E n ds qiε ε

= = ∑∫uurur (57)

Onde 0nuur

representa o vector normal (referência) ao campo eléctrico Eur

e i

qi∑ representa o

somatório de cargas dentro de uma superfície fechada. Para uma distribuição de cargas

contínua ( )rρr

dentro de uma área limitada por S, têm-se:

( )i V

qi r dvρ→∑ ∫r

(58)

Na equação 58, rr

representa o vector posição e dv o versor unitário para a área. Usando o

teorema da divergência 5 , têm-se:

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60

0

0

1

isS

E n ds qiε ε

= ∑∫uurur (59)

Com:

0 s

ε ε∇ =ur ur (60)

Vindo:

0

s V

E n ds EdV= ∇∫ ∫uurur ur ur (61)

Fazendo nova aplicação do teorema da divergência, a partir das equações 57 e 58, teremos:

( )0

0

1

sS V

E n s r Vρε ε

∂ = ∂∫ ∫uurur r (62)

Transportando para um volume, virá:

0

S V

E n s volume E V∂ → → ∇ ∂∫ ∫uurur ur ur (63)

E com a equação 56, é finalmente chamada a Equação de Poisson.

________________________________________________________________________________

5O Teorema da Divergência postula que o fluxo exterior tangente à superfície de um campo de vectores através de uma superfície fechada é igual ao

volume do integral das divergências da região contida na superfície considerada. Intuitivamente entende-se como a soma de todas as fontes menos a

soma de todos os escoamentos resultando, então no fluxo exterior à região considerada. Exposição Matemática: Supondo que V é um subespaço de

n (n=3, V representa um volume num espaço 3D), composto com linha de fronteira. Se F é um campo de vectores continuamente diferenciável

definido numa vizinhança de V, têm-se:

( ) ( )V S

F V F n S∇ ∂ = ∂∫∫∫ ∫∫

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61

III. Equação de continuidade;

Aqui nG e pG representam o rácio de geração de cargas negativas e positivas em cm 3 /s

causado por factores externos, tais como excitação óptica ou incidência de energia luminosa.

nR e pR representam os rácios de recombinação para electrões e buracos respectivamente.

1n n n

nJ G R

t q

∂= ∇ + −

ur uur (64)

1p p p

pJ G R

t q

∂= − ∇ + −

ur uur (65)

As equações de continuidade expressam o princípio da conservação de cargas, e relacionam a

variação temporal dos electrões e buracos com a variação espacial da densidade de corrente.

A figura 4.29 representa o diagrama de blocos que descreve o processo descrito em cima.

Figura 4.30. Diagrama de blocos descritivo do processo encadeado relativo às Equações de Continuidade

As equações 64 e 65 centram-se no princípio que define duas relações suplementares, que

implicitamente determinam nφ e pφ .

Em situações de equilíbrio térmico, verifica-se a condição (66):

0n p

t t

∂ ∂= =

∂ ∂ (66)

Se

EQUAÇÕES DE

CONTINUIDADE EXPRESSAM

PRÍNCIPIO DA CONSERVAÇÃO DE

CARGAS

VARIAÇÃO NO TEMPO DE

CARGAS

VARIAÇÃO ESPACIAL DA

DENSIDADE DE CORRENTE

COM RELACIONAM

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62

n nG R= (67)

E

p pG R= (68)

As equações de continuidade são reduzidas a:

0nJ∇ =uruur

(69)

0pJ∇ =uruur

(70)

Vindo assim, para uma variável x:

0pnJJ

x x

∂∂= =

∂ ∂ (71)

Que significa que nJ e pJ são uniformes e constantes. Isto define o princípio da conservação

da corrente.

Em aplicação a problemas de transporte de cargas, o conjunto das equações básicas (38, 39,

40, 51, 64, 65), com as relações 47, 48 e 56, têm de ser resolvidas simultaneamente sob

condições de fronteira em termos de V , Eur

, nφ e pφ . No entanto não existem soluções gerais

para estas equações. Cada problema de transporte de cargas tem de ser encarado e resolvido

como um caso específico. Os casos reais podem apenas ser resolvidos numericamente.

Teremos como variáveis de entrada nµ , pµ , T + (solução da relação 42), AN , BN , GE , sε ,

nG nR , pR .

E como variáveis de saída, teremos ( )V rr

, ( )E rur r

, ( )n rr

, ( )p rr

, ( )n rφr

, ( )p rφr

, ( )nJ rr

, ( )pJ rr

( )tJ rr

.

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63

4.3.4.2. Modelo considerado pelo simulador

A aplicação prática deste trabalho foi baseada numa licença especial do software APSYS,

Crosslight que simula o comportamento de dispositivos semicondutores compostos, resolve as

equações de Poisson, nomeadamente as equações que definem o comportamento dos

dispositivos semicondutores em situações de equilíbrio e desequilíbrio térmico, as equações

de difusão de portadores de carga (electrões e buracos).

Faz uso da análise de elementos finitos (FEM, Finite Element Method6 ), ferramenta utilizada

para efectuar aproximações de características dinâmicas estruturais de sistemas sujeitos a

perturbações exteriores, tais como a incidência luminosa numa superfície e a consequente

variação de temperatura.

O simulador oferece a possibilidade de modelização 2D/3D de dispositivos semicondutores

constituintes de uma célula de tripla junção, tais como junções de passagem, janelas de

passagem, BSF. Permite resolver as equações de Poisson, concretamente as equações que

definem o comportamento dos dispositivos semicondutores em situações de equilíbrio e

desequilíbrio térmico, as equações de difusão de portadores de carga.

A equação de Poisson é definida pela expressão (72).

( ) ( )0 1dcD D A A tj j tj

j

V n p N f N f Nq

ε εδ δ

−∇ ∇ = − + + − − + −

∑ (72)

Onde 0ε representa a constante do dieléctrico no vazio, dcε a constante DC, q a carga do

electrão, V o potencial eléctrico, n e p as concentrações de electrões e buracos

respectivamente DN e AN as densidades de dadores e aceitadores respectivamente, Df e Af

os níveis de ocupação de dadores e aceitadores respectivamente.

_____________________________________________________________________________

6O Método dos Elementos Finitos FEM (Finite Element Method) (aplicação prática conhecida como análise de elementos finitos) é uma

técnica numérica para encontrar aproximações de soluções para equações parciais. Permite uma visualização detalhada de pontos críticos em

estruturas (tensões, distorções) e indica a distribuição espacial de pontos de stresse e roturas estruturais.

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64

Na última parcela, são consideradas as características dos materiais que fazem referência à

mecânica de aprisionamento de luz, assim tjN é a densidade de “armadilha” com thj de

profundidade, tjδ representa o nível de ocupação da “armadilha de aprisionamento de luz”

com thj de profundidade, e finalmente jδ é um (1) quando as armadilhas são dadores e zero

(0) quando as armadilhas são do tipo aceitadores. Após a definição geral da aplicação da

equação de Poisson baseados na análise dos elementos finitos, são também representadas

pelas equações 73 e 74 os fluxos de corrente para portadores de carga negativos e positivos

respectivamente.

( )tj fD

n n sp st au opt D

j

nJ R R R R G t N

t t

∂∂∇ − − − − + = +

∂ ∂∑ (73)

( )tj fA

p p sp st au opt A

j

pJ R R R R G t N

t t

∂∂∇ + + + + − = − +

∂ ∂∑ (74)

Onde nJ e pJ são os fluxos de electrões e buracos respectivamente em A/cm 3 , numa análise a

3 dimensões, os primeiros termos dos somatórios são as recombinações por unidade de

volume à profundidade thj , ( )optG t a geração óptica em W/m 2 , a quantidade de luz incidente

numa superfície, e finalmente as recombinações spR , stR , auR são a recombinação

espontânea, a recombinação estimulada, e a recombinação de Auger respectivamente.

As equações 72, 73 e 74 definem o comportamento eléctrico, em termos de característica J-V

de um dispositivo semicondutor.

Na situação de desequilíbrio térmico, o simulador tem como base um modelo óptico

especifico definido pelas equações 75 e 76 definidas por constantes e variáveis dependentes

do campo eléctrico criado através da exposição óptica. As equações 75 e 76 representam o

modelo adoptado pelo simulador para a mobilidade de portadores de carga (electrões e

buracos).

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65

( )

1

0

01 /

nn n

n

n snF vβ

β

µµ

µ−=

+

(75)

( )

1

0

01 /

p

p pp

p spF v

ββ

µµ

µ

−= +

(76)

Onde F representa o campo eléctrico, snv e sp

v representam as velocidades de saturação para

electrões (portadores de carga negativa) e buracos (portadores de carga positiva)

respectivamente, 0nµ e 0 pµ representam as mobilidades de electrões e buracos sob a

influência de campos energéticos de baixa amplitude e finalmente nβ e pβ definem-se como

constantes características dos portadores de carga negativa e positiva respectivamente.

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67

CAPÍTULO 5 – Aplicação

5.1. Apresentação do Software

A aplicação prática deste trabalho teve como base uma licença especial do software Crosslight

APSYS, que utiliza a análise de elementos finitos. Esta ferramenta matemática permite obter

uma aproximação das características dinâmicas estruturais de sistemas constituídos por

dispositivos semicondutores sujeitos a perturbações exteriores, tais como a incidência

luminosa numa superfície e a consequente variação de temperatura. Contudo, existem outros

simuladores de estruturas constituídas por materiais semicondutores que não foram escolhidos

para este trabalho, uma vez que o software adoptado é o mais avançado e o que oferece uma

maior quantidade de funções e materiais.

APSYS é uma ferramenta de modelização 2D/3D que permite simular o comportamento de

dispositivos constituídos por semicondutores, baseados em silício e elementos semicondutores

compostos, gerando um grupo muito alargado de outputs e características de funcionamento

em equilíbrio e desequilíbrio térmico.

O software possui um conjunto alargado de bibliotecas de macros com as características

eléctricas, físicas e químicas dos materiais semicondutores constituintes dos dispositivos a

simular. Em particular, em relação à simulação de células fotovoltaicas compostas, o

simulador disponibiliza um conjunto de características específicas para as simulações de

dispositivos semicondutores de terceira geração.

A tabela 5.1 expõe os Modelos e Aplicações específicos e que caracterizam o funcionamento

de células fotovoltaicas de terceira geração.

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68

Tabela 5. Funções aplicáveis a células fotovoltaicas [19]

Modelos e Aplicações

Mecânica das “armadilhas”

Modelização 2D/3D

Estados físicos e Recombinação

Modelos de mobilidade e interacção com campos energéticos

Densidade da dopagem

Junções de passagem

Absorção Espectral

Grande número de modelos e materiais

Na modelização de células fotovoltaicas de terceira geração, todas as funções características

estão localizadas nas bibliotecas de macros, como fórmulas executáveis escritas em

C/FORTRAN podendo, na versão completa do software serem alteradas pelo utilizador, e

novos materiais serem programados de forma a preencher os requisitos das simulações a

realizar.

Na simulação de células fotovoltaicas de terceira geração é efectuada não só a modelização

das próprias junções p-n constituídas por materiais semicondutores compostos, assim como

todos os dispositivos que permitem maximizar o rendimento final da célula. Será apesentado

na sequência deste trabalho que, a simulação tem inicio no editor principal, PS Studio e

abrindo o separador File, temos acesso a várias opções tais como Set New 3D Device, Set New

2D Device, onde será escolhida a opção de edição Set New 2D Device, devido a estarmos a

trabalhar numa training version do software e não na sua versão completa.

Após a selecção da opção Set New 2D Device tem-se acesso a uma janela principal de edição,

Input PS – 2D Parameters, onde são inseridas todas as informações relativas à constituição e

parâmetros exteriores tais como o comprimento de onda ( )mµ , Potência Incidente pré –

definida (W/m), tensão de trabalho (Volt) e tipo de corrente (Dark Current, que se define

como corrente parasita de baixo valor que circula em todos os dispositivos semicondutores ou

Photo Current, definida como a corrente que circula num dispositivo semicondutor). Depois

de serem inseridas todas as informações e corrida a simulação são gerados quatro ficheiros

principais com os outputs, resultados e características da estrutura simulada.

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69

Tem-se acesso a um ficheiro com extensão .cds (nome_da_simulação.cds) que permite o

acesso à janela de edição principal (Input PS – 2D Parameters), a um ficheiro com extensão

.std (nome_da_simulação.std) que no dará acesso ao conjunto de curvas características e

perspectivas 2D/3D relativas à constituição da célula solar de terceira geração. Teremos

ainda acesso a um ficheiro com extensão .sol que será analisado na sequência deste trabalho,

que será acessível através de outro editor do software, e finalmente um ficheiro .txt, ficheiro

de texto com o relatório completo relativo a todos os dados inseridos no simulador, assim

como todos os resultados da simulação em condições de equilíbrio e desequilíbrio térmico, e

por fim um relatório com os erros, caso os haja, de inserção de valores de entrada ou a sua

incompatibilidade e consequente interrupção e não obtenção de outputs correctos e a

considerar. A figura 5.1 apresenta a janela de edição principal com todas as janelas referentes

à edição das características da célula solar de terceira geração. Todas as janelas de edição

serão analisadas detalhadamente nos pontos seguintes deste trabalho.

Figura 5.1. Janela Principal de Edição de Materiais

Após a inserção de todos os dados relativos à célula solar de terceira geração a simular e de

todas as variáveis exteriores (Potência, comprimento de onda, tensão de serviço e tipo de

corrente) na janela de edição principal, fazendo “OK” irá correr o ficheiro .cds, gerando um

ficheiro .std, um ficheiro .sol e o ficheiro .txt com o relatório da simulação.

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70

Ao abrir o ficheiro .std, que será do tipo: nome_da_simulação.std0001, tem-se acesso às

curvas características da simulação em condições de equilíbrio térmico, ou seja sem energia

luminosa incidente, o que fará com que as curvas características representadas pelas figuras

5.14 e 5.15, dependentes da energia luminosa incidente sejam nulos, tais como a corrente e a

variação dos níveis energéticos dependentes da energia incidente.

Tem-se acesso ao ficheiro .std referente à simulação com valores de energia óptica incidente

correspondendo ao valor inserido no editor principal para o comprimento de onda a considerar

(wavelenght ( )mµ ). Este ficheiro torna-se acessível depois de se correr o ficheiro .batch

presente na directoria onde se instalou o simulador. Abrindo o ficheiro:

nome_do_ficheiro.std0002 teremos acesso às características da célula solar de terceira

geração sob o efeito do valor para o comprimento de onda inserido no editor principal para os

parâmetros exteriores tendo como base o espectro electromagnético ASTM G73-03, AM1.5

Direct, representado na figura 5.11.

Nesta situação iremos obter as curvas características referentes à célula solar simulada sob os

efeitos provocados pela energia solar incidente provocando o aparecimento de uma diferença

de potencial aos terminais da célula e subsequente corrente eléctrica originada pelo

movimento de portadores de carga na estrutura e a consequente variação dos níveis

energéticos dependentes da energia solar incidente.

Relativamente ao ficheiro .sol, este será aberto com o editor Layer 3D, onde teremos acesso à

representação da estrutura da célula solar de terceira geração na forma de uma pilha de

camadas. A figura 5.2 mostra o aspecto da célula solar de terceira geração simulada neste

trabalho, sendo detalhada na continuação deste capítulo, em que se pode observar, à esquerda

a pilha de camadas, onde estão representados as junções p-n compostas condutoras e todos os

dispositivos que visam maximizar rendimentos, ou seja: uma camada para cada junção p-n

composta, junções p-n compostas condutoras e dispositivos de maximização de rendimentos e

finalmente os contactos metálicos (inferior com cor preta e superior, à esquerda em cima da

primeira junção p-n também a preto).

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71

Figura 5.2. Pilha de junções p-n compostas 2D à esquerda e 3D à direita

Seleccionando uma das camadas teremos acesso a um editor chamado Modify Layer onde se

obtém toda a informação referente às constituições físicas e químicas das junções p-n

compostas. A figura 5.3 faz referência a este editor onde se podem ver os separadores

referentes às dimensões, tipo de material da composição das junções, nível e tipo de dopagem,

e tipo de contacto metálico. Pode ainda ver-se na imagem ao centro, as informações relativas

à camada número 13, onde estão descriminados o tipo de material utilizado a espessura da

camada, a posição dos contactos metálicos da estrutura, a largura das camadas e número das

colunas e as dimensões (estas últimas representadas nas cinco primeiras entradas das lista, são

informações gerais e comuns a todas as camadas, a todas as junções p-n compostas).

Figura 5.3. Editor com características das camadas.

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72

Finalmente, o ficheiro.txt, apresenta um relatório completo com todas as características que

envolvem os materiais e as estruturas simuladas, assim como a indicação referente à presença

de erros na modelização da estrutura, onde são dadas indicações de possíveis erros na

modelização da estrutura. Este ficheiro irá fazer parte dos anexos, onde inserido na íntegra a

partir do ficheiro .txt original gerado após a simulação da estrutura simulada.

5.2. Simulações Efectuadas

Nas secções seguintes são exploradas as informações específicas sobre a estrutura da célula

solar de terceira geração, simulada neste trabalho. Serão abordados todos os pontos que

constituem e que são essenciais à modelização de uma célula solar de tripla junção. A célula

solar simulada será constituída por três camadas, três junções p-n compostas condutoras e

todos os dispositivos que visam maximizar rendimentos e aproveitamentos.

Os materiais adoptados para a simulação da célula solar foram escolhidos numa combinação

diferente das apresentadas na bibliografia consultada, com o objectivo de, da minha parte,

ganhar competências e chegar a um resultado distinto em termos de EQE.

Os parâmetros referentes às constituições das junções p-n são diferentes de forma a permitir

comparar resultados de EQE com outras células fotovoltaicas constituídas por outros

materiais permitindo concluir qual a combinação mais eficiente em termos de energia

transformada, e também da minha parte concluir e entender se a simulação efectuada poderá

mais tarde servir de base para trabalhos futuros com as respectivas alterações a serem

efectuadas consoante os objectivos a atingir. Os materiais utilizados foram escolhidos de

acordo com a coerência e compatibilidades dos seus parâmetros físicos, químicos e eléctricos,

tais como: coerência dos parâmetros de rede, coerência entre valores de corrente de saída de

cada junção p-n composta e finalmente coerência entre as propriedades ópticas de cada

material constituinte das junções p-n.

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73

Como já foi referido, a modelização de células fotovoltaicas de tripla junção envolve a

simulação, não só de três junções p-n de materiais semicondutores compostos, mas também

de mecanismos que têm como objectivo maximizar o aproveitamento energético, para desta

forma elevar o rendimento energético. Para além das três junções p-n de materiais

semicondutores compostos são simulados os seguintes dispositivos:

- Contactos metálicos superiores.

- ARC (Anti Reflective Coating).

- Janela de passagem.

- Junções p-n dos compostos semicondutores.

- BSF (Back Surface Field).

- Junções de passagem (Tunnel Junctions).

A célula solar de terceira geração simulada neste trabalho será constituída por

InGaP/GaAs/InGaAs, três junções p-n compostas condutoras, constituídas por elementos

com propriedades características dos semicondutores, pertencendo aos grupos III e V da

tabela periódica, mais concretamente In (Índio) e Ga (Gálio) pertencem ao grupo III e As

(Arsénio) e P (Fósforo) pertencem ao grupo V.

As três junções p-n compostas condutoras terão a elas ligadas duas camadas, as janelas de

passagem na parte superior, e o BSF na parte inferior, sendo cada junção p-n será constituída

por: janela de passagem, junção p-n de materiais semicondutores compostos condutoras e os

respectivos BSF. As janelas de passagem (Windows) assim como os BSF tem uma

constituição em termos de materiais de forma a tirar o melhor partido em termos de

compatibilidade física, química e eléctrica da junção p-n composta condutora

As três junções p-n compostas (nome dado à junção p-n composta condutora mais os

dispositivos de maximização energética) são separadas pelas junções de passagem (Tunnel

Junctions) que têm como finalidade preservar características em termos de espectro

electromagnético, para desta forma cada superfície de cada junção p-n composta poder estar

sujeita a valores de comprimento de onda o menos degradado possível.

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74

A figura 5.4 apresenta a estrutura da célula solar de terceira geração simulada, onde cada

rectângulo representa uma camada de material semicondutor, identificando o tipo de junção,

os materiais utilizados, o nome da camada, o tipo de dopagem e finalmente do lado esquerdo

a referência ao gap energético de cada junção p-n composta. As letras n e p representam o

tipo de dopagem, assim n indica dopagem negativa (inserção de portadores de carga negativa

na estrutura química do material) e p, dopagem positiva (inserção de portadores de carga

positiva na estrutura química do material).

Os sinais + e – referem-se à quantidade de elementos dopantes na estrutura química das

camadas, isto é, camadas com sinal de dopagem tipo n/p indicam dopagem com portadores de

carga negativa/positiva na ordem da unidade com expoente 24 da mesma forma camadas com

sinal de dopagem tipo n-/p- indicam dopagem com portadores de carga negativa/positiva na

ordem da unidade com expoente igual ou inferior a 23 e finalmente dopagem tipo n+/p+

indicam dopagem com portadores de carga negativa/positiva na ordem da unidade com

expoente igual ou superior a 25. Observando a figura 5.4, conclui-se que as junções p-n

compostas condutoras possuem um emissor (camada negativa) com dopagem na ordem da

unidade com expoente 24 e dopagem positiva na ordem da unidade com expoente igual ou

inferior de 23 para a base (camada positiva) ao passo que as junções de passagem possuem

concentração de dopantes na ordem da unidade com expoente igual ou superior a 25 (alta

concentração de elementos dopantes) de forma a maximizar as características em termos de

valores energéticos do espectro electromagnético que passam de junção p-n composta em

junção p-n composta.

Como já foi referido anteriormente, as sequências de camadas semicondutoras obedece a uma

ordem específica em termos de tipo de dopagem, sendo que cada camada com dopagem

positiva, seja qual for a concentração, tem de estar imediatamente ligada a uma camada com o

mesmo tipo de dopagem de forma a evitar junções com campos eléctricos de sentidos

contrários, originando quedas de tensão entre camadas penalizando gravemente o rendimento

final da estrutura.

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75

CM

InGaAlP window

n

InGaP emissor

n

InGaP base

p-

InGaAlP BSF

p

AlGaAs T.J.

p+

AlGaAs T.J.

n+

InGaP window

n

GaAs emissor

n

GaAs base

p-

GaInP BSF

p

AlGaAs T.J.

p+

AlGaAs T.J.

n+

InGaP window

n

InGaAs emissor

n

InGaAs base/subs.

p-

Contacto Metálico

Figura 5.4. Célula InGaP/GaAs/InGaAs

Primeira Junção p – n, gap energético = 1.8eV

Segunda Junção p – n, gap energético = 1.4eV

Terceira Junção p – n, gap energético = 1.0eV

Primeira junção de passagem

Segunda junção de passagem

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Na edição das camadas semicondutoras, foram consideradas as características dos materiais

escolhidos com base nas compatibilidades em termos de parâmetro de rede (propriedade

óptica própria de cada material semicondutor) e corrente de saída, de notar que os valores

considerados para o gap energético são valores teóricos, calculados com base em óptimas

condições de energia solar incidente e máximo aproveitamento energético por parte da célula

solar de terceira geração.

Abrindo o editor Layer 3D, e seleccionando uma das camadas aleatoriamente termos acesso à

janela de edição principal, Modify Layer, e abrindo o separador Material, termos acesso às

listas de materiais guardados e definidos na biblioteca de macros do simulador, ao

seleccionarmos um material aleatoriamente, e pressionando o botão Set Macro Parameter,

terão acesso ao seu relatório completo em termos de características físicas, químicas,

eléctricas. Na figura 5.5 está apresentada uma imagem referente ao relatório de características

da junção p-n composta condutora InGaAs onde, entre outras pode ver-se o tipo de

compatibilidade com outros materiais, neste caso InGaAs é compatível com a junção p-n

composta condutora GaAs, não é compatível com materiais compostos por InP.

É no editor Layer 3D que se define o valor para o parâmetro de rede cristalina da junção p-n

composta condutora, como foi referido no ponto 4.3.1, e para o caso da junção InGaAs,

define-se como 1x xIn Ga As− , onde x representa a distância atómica ( mµ ) do composto.

Foi escolhido o valor 0.3 para o parâmetro de rede atendendo à bibliografia consultada,

podendo ser alterado em função dos objectivos a atingir, tendo sido este o valor escolhido de

forma a satisfazer os requisitos em termos energéticos e em termos de simulação e

compatibilidade de características das outras junções p-n compostas.

Cada junção p-n composta da célula solar de terceira geração simulada (junções p-n

compostas condutoras, janelas de passagem, junções de passagem, BSF) permite o acesso ao

seu relatório através do editor Layer 3D, podendo os valores assumidos para o parâmetro de

rede serem alterados consoante os objectivos a atingir.

É de grande importância a consulta deste relatório, uma vez que fornece informação

importante sobre cada junção p-n composta envolvendo compatibilidades com outras junções

de materiais e intervalos recomendados de funcionamento para variáveis como temperatura e

parâmetro de rede cristalina.

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77

Figura 5.5. Propriedade Eléctricas, Físicas e Químicas da junção p-n composta condutora InGaAs

A figura 5.6 é uma representação esquemática dos passos a seguir para a modelização de uma

célula solar de terceira geração com o editor PS_Design Studio desde a abertura do simulador

até à inserção de todas as informações necessárias à simulação.

Vai ser apresentada uma lista com todos os passos a seguir para simulação de uma célula solar

de terceira geração, onde a figura 5.6 serve de apoio ao processo de inserção de dados.

1 – Abrir o editor PS_Design Studio;

2 – Seleccionar File (F), Setup 2D CDS_File na barra de acções;

3 – Janela de edição principal Input PS_2D Parameters;

4 – Três janelas de edição de Células fotovoltaicas;

§ Referente às camadas, Layers;

§ Referente às características que envolvem impacto energético com a

superfície celular, Impact Ionization;

§ Referente aos níveis de absorção energética das superfícies celulares,

Absorption.

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5 – Uma janela de edição de variáveis externas;

§ Comprimento de onda assumido, Wavelenght ( mµ );

§ Potência Incidente, Incident Power (MW);

§ Tensão de serviço, Voltage Bias (V);

§ Tipo de corrente, Current Type (A).

6 – Editor de dimensões da estrutura e inserção de contactos, Basic structure

Unit;

§ Largura das colunas, Column width ( mµ );

§ Posição Contacto Superior, Top Contact Location ( mµ );

§ Posição Contacto Inferior, Bottom Contact ( mµ ).

Figura 5.6. Fluxograma referente à inicialização do editor PS_Design Studio

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A figura 5.7 é uma representação do aspecto gráfico do editor principal. É através deste editor

que vão ser preenchidos todos os campos referentes à constituição da célula solar assim com

as referências energéticas consideradas. Desta forma, a primeira acção a tomar será a de

atribuir a largura desejada para a célula (width ( )mµ ), já que a altura será definida pelas

espessuras das camadas de materiais semicondutores compostos (junções p-n compostas

condutoras, janelas de passagem, BSF, e junções de passagem). Mais uma vez, os valores

assumidos para a o comprimento de onda, a potência incidente e a tensão de serviço, são

valores padrão, presentes na bibliografia consultada no desenvolvimento deste trabalho,

podendo ser alterados em função do tipo de simulação a efectuar.

Figura 5.7. Janela Principal do editor PS_Design Studio

A primeira acção a tomar consiste em editar cada camada da célula solar independentemente e

na sequência desejada (pilha, LIFO Last In First Out). Analisando a figura 5.8, pode ver-se

que já estão definidas 16 camadas da célula, 16 junções p-n compostas, estando a junção p-n

inferior seleccionada e com a janela de edição de camadas aberta.

A janela de edição de camadas, Input Layer, possui 6 campos a preencher (material, x from…

to, thickness, n_doping ou p_dopind, Layer Type).

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Quanto ao primeiro campo a preencher, constituição da camada, (material), será inserido o

formato da camada a simular, com definição da estrutura da rede cristalina da camada, neste

caso: 1x xIn Ga As− , de seguida o valor para o parâmetro de rede, sendo x = 0.3 neste caso, a

espessura da camada, o tipo de dopagem da camada, aqui dopagem positiva com o valor de

1E18, e finalmente Bulk Layer, núcleo da camada activa, o tipo de camada escolhida, uma vez

que Active Layer diz respeito apenas à superfície da camada, não incluindo toda a sua

espessura, sendo indicada no caso de ser a primeira camada da pilha, apenas se não houver

nenhum mecanismo (contacto metálico ou dispositivo de maximização de aproveitamento

energético).

Figura 5.8. Janela de Edição de camadas

A segunda acção a tomar será definir as ionizações de impacto onde são definidas as

características que envolvem a radiação solar nas camadas semicondutoras.

A janela de edição de camadas, Input Impact Ionization, possui 10 campos a preencher

(material, x from… to, AlphaN (1/m), AlphaP (1/m), Fcn (V/m), Fcp (V/m), Kn, Kp,

Elect_num, Hole_num).

É de notar que na edição de camadas da célula solar há materiais repetidos, com

características semelhantes por razões de constituição da própria célula e de compatibilidades

entre dispositivos auxiliares que separam as junções p-n compostas condutoras, no entanto

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neste editor não se irão repetir materiais iguais uma vez que cada ionização de impacto

(excitação óptica de portadores de carga) dirá respeito apenas a cada camada distinta. É mais

uma vez definido a natureza da camada em termos de materiais, material, neste caso:

1x xIn Ga As− de novo o valor para o parâmetro de rede, x = 0.3, AlphaN (1/m), AlphaP (1/m)

são variáveis que estão relacionadas com campos eléctricos de baixa amplitude para electrões

e buracos respectivamente, tendo sido assumidos nulos de forma a interferir ao mínimo no

resultado final, uma vez que penalizam o rendimento final, Fcn (V/m) e Fcp (V/m)

representam respectivamente os campos eléctricos assumidos com valor de 1000 V/m, sendo

este valor, mais uma vez assumido com base na bibliografia consultada, já que são os valores

mais indicados para a simulação a efectuar, Kn, Kp são as constantes referentes a electrões e

buracos respectivamente e finalmente os campos referentes ao número de electrões e buracos

excitados por cada fotão incidente, Elect_num, Hole_num respectivamente, terão o valor 1, já

que na simulação foi assumido o principio de que cada fotão apenas excita um par electrão –

buraco.

Figura 5.9. Janela de Edição das Ionizações de Impacto de Camadas

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O último editor a definir diz respeito aos níveis de absorção de cada camada. A janela de

edição de camadas, Import Absorption, possui 3 campos a preencher (material, x from… to,

Value (1/m). Define-se uma vez mais a constituição da camada como 1x xIn Ga As− , o valor

para o parâmetro de rede, x = 0.3 e o nível de absorção da camada (valor por cada metro de

material) definido como 1000, uma vez mais o valor recomendado para uma simulação com

estas características.

Figura 5.10. Janela de Edição de Níveis de Absorção

Concluindo, quanto às características físicas da célula solar de terceira geração, dimensões,

posição dos contactos metálicos, e às características externas como valor para o Comprimento

de Onda, Potência Incidente, Tensão de Serviço e Tipo de Corrente, atendendo à figura 5.8,

pode ver-se que quanto às dimensões e posições dos contactos metálicos teremos o Editor

Basic Structure Unit, tendo os campos: Column width ( mµ ), para a largura da célula solar,

onde se escolheu o valor 500 mµ , Top Contact para a posição do contacto superior que será

localizado no inicio da célula solar, nos pontos definidos por: Location (x2) ( mµ ) = 0 mµ e

largura width = 1 mµ , já para a posição do contacto inferior Bottom Contact, uma vez que irá

ocupar toda a superfície inferior da célula, terá como ponto inicial 0 mµ e largura 500 mµ .

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Com estas informações inseridas no editor principal, estamos em condições de correr o

ficheiro .cds, para obtermos os ficheiros com as respectivas saídas, nome_do_ficheiro.std0001

para situação de equilíbrio térmico e nome_do_ficheiro.std0002 para a situação de

desequilíbrio térmico.

Os pontos seguintes dizem respeito aos resultados obtidos a partir da inserção dos valores

descritos em cima no que toca às características físicas, químicas e eléctricas da célula solar

de terceira geração a simular e aos valores para as características externas (Potência Incidente,

valor de Comprimento de Onda sob o qual a simulação se irá basear, Tensão de Serviço e

finalmente Photo Current, definida como a corrente que circula num dispositivo

semicondutor).

5.3. Resultados a obter

Na simulação foram obtidas e analisadas oito características que definem o funcionamento da

célula solar de terceira geração constituída por InGaP/GaAs/InGaAs.

Os resultados da primeira análise serão obtidos sob condições de equilíbrio térmico, sem

energia óptica incidente na superfície da célula solar, enquanto a segunda análise é assumindo

um valor para o comprimento de onda wavelenght ( )mµ tendo como base a referência

espectral do simulador, mostrado na figura 5.11, Espectro solar ASTM G173-03, AM1.5

Direct.

As oito características analisadas nas duas situações de equilíbrio e desequilíbrio térmico

são:

- Estrutura das camadas de materiais/junções semicondutoras.

- Magnitude da corrente 3D.

- Diagrama Energético.

- Concentração de portadores positivos e negativos.

- Potencial em equilíbrio e desequilíbrio térmico.

- Densidade Energética.

- EQE (External Quantum Energy).

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A primeira característica analisada refere-se ao perfil da célula em termos de pilha de

camadas de junções p-n compostas, será uma característica física e estrutural da célula. A

segunda característica representa o perfil da corrente (mA) que atravessa a célula solar. O

Diagrama Energético relaciona a variação dos níveis energéticos das zonas chave de cada

junção p-n composta condutora, nível energético da zona de valência, nível energético da

zona de condução e nível energético da zona correspondente ao potencial de Fermi. A

Concentração de Portadores de carga positiva e negativa representa os perfis de distribuição

de electrões e buracos nas junções p-n compostas da célula solar de terceira geração. O

Potencial Eléctrico em equilíbrio e desequilíbrio térmico traduz o perfil do potencial eléctrico

utilizável da célula solar na situação de equilíbrio térmico, sem energia incidente e em

desequilíbrio térmico, com energia óptica incidente segundo o perfil definido no editor

principal. A curva característica relativa ao perfil da Densidade Energética revela a

capacidade da célula solar de produzir energia e não perder capacidades em termos de

aproveitamento energético nas junções p-n que constituem os dispositivos de apoio entre

junções p-n compostas condutoras. Finalmente, a última característica, EQE (External

Quantum Energy) é representada num referencial de duas dimensões onde se tem a EQE em

função de um conjunto de valores para o comprimento de onda, valores esses inseridos no

Editor SimuApsys2010, e como mostra a figura 4.10, cada junção p-n composta condutora tem

um valor de comprimento de onda dedicado onde as suas capacidades de aproveitamento

energético são maximizadas.

5.3.1.Dados usados na simulação

A figura 5.11 representa o espectro solar utilizado na simulação. Podem observar-se três

características distintas, sendo que a adoptada na simulação, isto é, a característica à qual se

tem acesso após a activação do ficheiro .batch é a característica a vermelho, AMST D173

AM1.5 Direct.

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Figura 5.11. Espectro Solar ASTM G173-03

Após a activação do ficheiro nome_do_ficheiro.cds, tem-se acesso aos ficheiros

nome_do_ficheiro.std0001 ou nome_do_ficheiro.std0002, consoante o tipo de características

a obter (em equilíbrio ou desequilibrio térmico), teremos acesso à janela de escolha de

características que definem o funcionamento da célula solar de terceira geração. A figura 5.12

diz respeito aos botões de selecção de curvas características de funcionamento da célula solar

simulada, estando já pré seleccionada a característica que mostra a estrutura das camadas de

materiais da célula solar simulada.

Figura 5.12. Selecção de Curvas Características

5.3.2. Situação de equilíbrio térmico

Abrindo o ficheiro. std0001 com o editor PS_Design Studio, temos acesso às características

da célula sob condições de equilíbrio térmico. Na situação de equilíbrio térmico irão ser

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analisadas cinco características servindo depois de comparação para a situação de

desequilibrio térmico, e que são:

§ Estrutura das camadas de materiais/junções semicondutoras;

§ Magnitude da corrente;

§ Diagrama Energético;

§ Concentração de Portadores Positivos e Negativos.

1.Estrutura das camadas de materiais/junções semicondutoras;

Observando a figura 5.13, em especial a perspectiva 2D, é perceptível a natureza estrutural da

célula solar de tripla junção simulada, onde são vistas todas as camadas, desde as junções p –

compostas condutoras aos dispositivos de maximização de potência, tendo ao lado uma barra

com uma escala de cores onde cada cor se refere a uma junção p-n, onde é perceptível o facto

da não repetição de camadas com constituições semelhantes. Observa-se as junções p-n

compostas distintas, distribuídas uniformemente segundo a escala do eixo vertical y, onde a

altura total advêm da soma das espessuras de todas as camadas constituintes da célula.

Figura 5.13. Célula de InGaP/GaAs/InGaAs editada em APDStudio. Perspectiva 2D

(esquerda), Perspectiva 3D (direita)

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2.Magnitude da Corrente;

A Figura 5.14, Magnitude Total da Corrente com escala definida como: Total Current

Magnitude ( 2/A cm ). Representa a amplitude da corrente eléctrica gerada pela célula solar de

terceira geração quando exposta a radiação solar.

Esta característica diz respeito à situação de equilíbrio térmico, ou seja, sem energia incidente

na superfície da célula, logo a amplitude da corrente eléctrica produzida é nula.

Figura 5.14. Magnitude da Corrente.

3. Diagrama Energético

Na figura 5.15 está representado o diagrama energético referente à célula solar de terceira

geração. Foi tratado num referencial x/y onde, no eixo das ordenadas estão representados os

valores para o gap energético e no eixo das abcissas estão representados os valores para a

escala para a espessura da célula solar. Estão representados na figura 5.15 cada um dos

intervalos referentes a cada uma das junções p-n compostas condutoras.

Pode observar-se como o gap energético varia o longo da espessura da célula, desde a junção

p-n do topo da célula solar InGaAs, passando pela junção p - n intermédia GaAs, a de maior

espessura, até à junção p-n do fundo da célula InGaP. Conclui-se que a célula está em

equilíbrio térmico observando o perfil da onda legendada como Ef (Fermi Energy Level),

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88

(característica a verde) sendo nulo indica que a célula solar está em equilíbrio térmico, sem

energia óptica incidente com valores de energia com amplitude suficiente para provocar

movimento de portadores de carga de forma a gerar energia útil.

O nível energético de Fermi entende-se como a energia tomada pela banda de valência no

ponto em está altamente preenchida por portadores de carga, isto é, em termos temporais,

pode corresponder ao momento exactamente antes em que o dispositivo semicondutor começa

a conduzir energia eléctrica.

Figura 5.15. Diagrama Energético em Equilíbrio Térmico

Concluindo, os valores para os gap energético, representados pela característica referente à

Energia de Condução Ec (característica a vermelho), são valores próximos dos valores

assumidos teoricamente e disponíveis na bibliografia recomendada.

4.Concentração de portadores positivos e negativos;

Na figura 5.16 apresentam-se os perfis das características que definem as concentrações de

portadores de carga positiva e negativa respectivamente.

As concentrações de portadores de carga, correspondem aos níveis de dopagem de cada

camada. Comparando as duas características, à esquerda a concentração de portadores de

carga positiva e à direita os portadores de carga negativa, conclui-se que o nível de elementos

dopantes negativos é superior aos níveis de dopantes positivos, uma vez que a concentração

InGaP GaAs InGaA

s

LUZ

2ª Junção de Passagem

1ª Junção de

Passagem

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de portadores de cargas negativas é muito mais intensa na banda de valência quando se faz a

comparação com os portadores de cargas positivas.

As concentrações vêm definidas segundo uma escala logarítmica, já que se tratam de valores

altíssimos, como se pode analisar no ponto 5.2.

Figura 5.16. Concentração de Portadores positivos e Negativos.

5.3.3. Situação de desequilíbrio térmico

Seguindo os mesmos passos, mas agora abrindo o ficheiro. std0002 com o editor PS_Design

Studio, temos acesso às características da célula sob condições em desequilíbrio térmico.

Na situação de desequilíbrio térmico irão ser analisadas cinco características servindo depois

de comparação para a situação de desequilibrio térmico, são elas: Potencial em Equilíbrio

Térmico e Desequilibrio Térmico, Magnitude da Corrente, Diagrama Energético, Densidade

Energética e EQE.

1.Potencial em equilíbrio e desequilíbrio térmico;

Na figura 5.17 à esquerda é apresentada a característica referente ao potencial eléctrico em

equilíbrio térmico. Percebe-se, a partir da observação dos perfis das características que, em

equilíbrio o potencial sofre pequenas alterações à medida que se entra em profundidade na

célula, mantendo ainda assim devido aos dispositivos instalados entre as junções (Junções de

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passagem, BSF, Janelas de passagem), valores de potência bastante semelhantes de forma a

ser obtido o melhor valor de rendimento possível.

Este facto e em situação de equilíbrio térmico deve-se apenas à constituição específica de

cada uma das junções p-n compostas da célula solar de terceira geração.

Figura 5.17. Potencial em Equilíbrio (esquerda) e Desequilíbrio Térmico (direita).

Concluindo, os valores obtidos para o potencial máximo da célula solar de terceira geração

em desequilibrio térmico, em funcionamento, estão muito próximos dos valores inseridos para

a tensão de serviço (5V), tensão para qual a célula solar é regulada, atingindo um máximo de

4.2842V devido a quedas de tensão, obviamente e como seria de esperar, pela natureza

construtiva da própria célula e por toda a problemática já explicada que envolve todo o

processo e mecânica de funcionamento de todos os mecanismos maximizadores de potência

instalados entre as junções p-n compostas condutoras.

Em desequilíbrio térmico, são aproveitadas todas as capacidades em termos de output de

potência de cada uma das junções p-n compostas, uma vez mais levada ao máximo pelos

dispositivos de maximização de potência instalados entre as três junções p-n compostas

condutoras.

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91

2.Magnitude da corrente;

Numa multijunção constituída por junções p-n compostas diferentes, a corrente total que

circula através da estrutura assume como valor de corrente o mais baixo das três, no caso de

uma tripla junção.

Observando a figura 5.18, e como seria de esperar, os valores da corrente assumem valores

muito baixos, devido às suas dimensões e também aos valores inseridos para o comprimento

de onda de funcionamento, tensão de serviço e potência incidente.

Conclui-se com facilidade que a corrente eléctrica assume valores elevados exactamente no

ponto onde está instalado o contacto metálico superior.

Mais uma vez é de notar, que na edição de valores de entrada de funcionamento podem ser

feitas alterações de forma a obter valores de saída adequados e de acordo com os objectivos

definidos.

Figura 5.18. Magnitude de Corrente segundo eixo dos x, 2D e 3D (cima), Magnitude de Corrente segundo eixo dos y, 2D e 3D, Desequilíbrio Térmico.

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92

3.Diagrama Energético;

Na figura 5.19 pode observar-se como o perfil da célula em desequilíbrio térmico se comporta

com energia solar incidente com valores característicos de potência e comprimento de onda

assumidos e inseridos no editor.

Com a superfície da célula solar submetida a valores de energia óptica incidente com

amplitude suficiente para provocar movimento de portadores de carga gerando energia útil,

origina uma variação da Energia de Fermi com perfil semelhante à diferença entre o perfil da

Energia presente na banda de Valência (nível energético imediatamente abaixo do nível

mínimo de condução, característica a azul) e o perfil da Energia presente na banda de

condução (nível energético mínimo onde ocorre condução e movimentação de portadores de

carga, característica a vermelho), gerando energia útil e consequente diferença de potencial

utilizável.

Figura 5.19. Diagrama Energético em Desequilibrio Térmico

4.Densidade Energética;

A característica relativa ao perfil da Densidade Energética tem o aspecto esperado, tendo uma

depressão. Como seria de esperar na zona onde está instalado o contacto metálico superior,

sendo que a partir desse ponto assume uma forma aproximadamente constante ao longo da

espessura da célula, tendo obviamente quedas de tensão nas zonas onde as junções p-n

InGaAs

GaAs

InGaP

LUZ

2ª Junção de Passagem

1ª Junção de

Passagem

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93

compostas condutoras se juntam, notando-se facilmente o efeito dos dispositivos que visam a

maximização de potência.

Figura 5.20. Densidade Energética, Espectro (esquerda), 3D (direita)

Concluindo, o papel dos dispositivos de maximização de potência é de vital importância,

permitindo a propagação da energia óptica relativa ao espectro electromagnético incidente,

com o mínimo de degradação possível, ainda assim e observando as depressões presentes na

característica da esquerda, conclui-se com facilidade que podem ser levadas a cabo

melhoramentos ao nível de combinação de materiais e ordem na pilha de forma a obter

melhores resultados.

5.EQE (External Quantum Energy);

A eficiência quântica (%) diz respeito à resposta da célula solar aos diferentes comprimentos

de onda do espectro electromagnético incidente. Atinge o seu valor máximo 1, quando todos

os fotões de um certo valor de comprimento de onda são completamente absorvidos e os

portadores minoritários (electrões na zona positiva de um dado material) são considerados no

e contribuem para o output de potência sendo a contribuição final em termos de potência. A

EQE é representada num referencial de dois eixos onde se tem a EQE (%) em função de um

intervalo de valores para o comprimento de onda.

Criando uma série de valores para o comprimento de onda no simulador SimuAPSYS 2010,

inserindo uma lista de 10 valores para o comprimento de onda ( )mµ , obteve-se os valores

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esperados para a eficiência quântica, observando a figura 5.21, percebe-se que os pontos onde

existem quebras de eficiência de absorção na célula solar de terceira geração são os pontos de

junção das camadas semicondutoras, para valores de comprimento de onda que andam por

volta dos 0.65 mµ e dos 0.75 mµ .

Conclui-se então, que é exactamente nos pontos de união das camadas semicondutoras que

existem quebras de rendimento da célula solar de terceira geração, nos pontos onde as junções

p-n compostas de terceira geração de sobrepõem. Apesar de todos os dispositivos instalados

de forma a maximizar o aproveitamento (Janelas de Passagem, Junções de Passagem e BSF)

em termos energia útil proveniente da energia óptica incidente, ainda existem quebras de

rendimento significativas. Uma das soluções, de forma a melhorar o aproveitamento

energético nos pontos de junção das junções p-n condutoras passa por criar novas

combinações de materiais semicondutores ou adicionando-lhes outros materiais com

características próprias dos elementos químicos semicondutores, indicados e compatíveis com

a estrutura química dos dispositivos de maximização energética, de forma a aumentar a

capacidade em termos de absorção fotónica e consequente aproveitamento energético.

Figura 5.21. EQE (External Quantum Efficiency) para as três junções p-n compostas condutoras

Como conclusão final, e já aqui referido é sabido que uma baixa EQE é um indicador de que

uma grande parte da energia incidente na superfície celular é reflectida, analisando a figura

5.21 concluiu-se que as três junções p - n compostas condutoras apresentam valores bastante

aceitáveis de absorção energética para os valores de comprimento de onda considerados.

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95

CAPÍTULO 6 – Conclusões e Trabalho Futuro

6.1. Conclusões

Este capítulo agrupa os pontos-chave deste trabalho e os resultados obtidos, sendo seguido de

um plano para projectos futuros. No trabalho desenvolvido, o Método dos Elementos Finitos é

o método intrínseco ao software, permitindo encontrar resultados para as equações que

definem o funcionamento de dispositivos constituídos por materiais semicondutores,

nomeadamente as equações de densidade de corrente (eqs. 38 e 39) e a equação de Poisson

(eq. 51), apresentadas no ponto 4.3.4.1. A distribuição de cargas e a distribuição de potencial

(eqs. 42, 43 e 46) são solucionadas com a aplicação da equação de Poisson aplicada a

sistemas que incluam dispositivos semicondutores.

Foi simulada uma célula solar de terceira geração de junção tripla, possuindo dois contactos

metálicos (inferior e superior).

Pode ver-se a partir das figuras 5.15, 5.18 e 5.19 os perfis da concentração de portadores de

carga e o diagrama energético, que existe circulação de portadores de carga levando ao

aparecimento de uma diferença de potencial.

Em termos eficiência, observando a figura 5.21 conclui-se que a grande quebra em termos de

eficiência se situa nos dois pontos de junção das três junções p-n compostas, sendo aqui que

devem ser concentrados esforços de forma a idealizar combinações de materiais compostos

que garantam um aumento no índice de eficiência dos dispositivos de maximização de

rendimento.

Com esta combinação de materiais foram obtidos valores de EQE (%) aceitáveis para os

diferentes comprimentos de onda considerados, quando comparados com outras células

fotovoltaicas com outras combinações de materiais distintas.

Finalmente, com esta simulação, é proposta uma célula fotovoltaica de tripla junção

constituída por materiais distintos das células existentes de forma a servir de comparação com

as demais.

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6.2. Trabalhos Futuros e Projectos

Este trabalho numa primeira fase incidiu numa abordagem teórica aos pontos que envolvem a

mecânica de funcionamento de células fotovoltaicas de terceira geração ou células

fotovoltaicas de tripla junção e na segunda fase incidiu na simulação de uma célula

fotovoltaica de terceira geração, com a ajuda de um software especializado.

Um dos aspectos em que há necessidade de continuar a realizar investigação, reside na

descoberta de combinações mais eficientes de materiais semicondutores com o objectivo de

ultrapassar a problemática que envolve os pontos de união das junções p-n compostas

condutoras.

Existem entidades que se dedicam ao desenvolvimento e fabrico de células fotovoltaicas de

multijunção com aplicações práticas á industria espacial. Os equipamentos de exploração

espacial, desde sondas, satélites a veículos terrestres de exploração são equipados com esta

tecnologia. Em termos de aplicações domésticas, ainda existem vários entraves quanto á

proliferação desta tecnologia, muito provocados pela problemática que envolve o processo de

fabrico, sendo ainda demasiado dispendiosa devido á complexidade dos processos de fabrico

e á necessidade de pessoal especializado.

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97

Referências

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Apresentação, 2009.

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[11] Poortmans Jeff, Arkhipov Vladimir, “Thin Film Solar Cells Fabrications´,

Characterization and Applications”, 2006.

[12] Proença, Emanuel, “A Energia Solar Fotovoltaica em Portugal, Estado – da – Arte e

Perspectivas de Desenvolvimento”, Dissertação de Mestrado, 2007.

[13] http://resistir.info/peak_oil/ve_petroleo.html

[14]http://www.lobosolar.com/index.php?option=com_content&task=view&id=33&Itemid=3

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[15]http://www.lobosolar.com/index.php?option=com_content&task=view&id=46&Itemid=2

[16] Morais Josué, “Sistemas Fotovoltaicos, da Teoria à Prática”, 2009.

[17] Markvart Tom, Castañer Luis, “Practical Handbook of Photovoltaics, Fundamentals &

Applications”, 2003.

[18] Olsen Jeremy D., “Novel Photovoltaics: an introduction to basic characterization”,

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[21] Sorensen, Bent, “Renewable Energy, Physics Engineering, Environmental, Impacts,

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[22] Conibeer Gavin, Third Generation Photovoltaics: Silicon Nanostructure & Hot Carrier

Solar Cells, GCEP Symposium, 2nd. October, 2008

[23] Markvart Tom, Castañer Luis, “Solar Cells, Materials, Manufacture & Operation”,

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[24] Brown Gregory, Wu Junqiao “Laser & Photon”, 2009.

[25] Wurfel Peter, “Physics of Solar Cells, From Principles to New Concepts” 2007

[26] http://educar.sc.usp.br/licenciatura/2003/rx/index.html

[27] Basic equations for semiconductor devices

[28] N.P. Kherani, R.B. Gangadhar, S. Zukotynsti, “Photovoltaics: The next Generation”,

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[29] http://www.physik.uni-augsburg.de/exp6/imagegallery/samples/samples_e.shtml

[30] http://ecee.colorado.edu/~bart/book/book/chapter2/ch2_8.htm

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Anexo 1

Código para ficheiros .sol

begin

3d_solution_method 3d_flow=no

z_structure uniform_zseg_from=0 uniform_zseg_to=0 zseg_num=1

load_mesh mesh_inf=INVerted_100000_L36.msh zseg_num=1

output sol_outf=INVerted_100000_L36.out zseg_num=1

begin_zmater zseg_num=1

include file=INVerted_100000_L36.mater

include file=INVerted_100000_L36.doping

end_zmater

impact_chynoweth elec_set1=(0 1000 5) && hole_set1=(0 1000 5) && elec_setnum=1 hole_setnum=1 mater=1

impact_chynoweth elec_set1=(0 1000 5) && hole_set1=(0 1000 5) && elec_setnum=1 hole_setnum=1 mater=2

impact_chynoweth elec_set1=(0 1000 5) && hole_set1=(0 1000 5) && elec_setnum=1 hole_setnum=1 mater=3

impact_chynoweth elec_set1=(0 1000 5) && hole_set1=(0 1000 5) && elec_setnum=1 hole_setnum=1 mater=4

impact_chynoweth elec_set1=(0 1000 5) && hole_set1=(0 1000 5) && elec_setnum=1 hole_setnum=1 mater=5

impact_chynoweth elec_set1=(0 1000 5) && hole_set1=(0 1000 5) && elec_setnum=1 hole_setnum=1 mater=6

impact_chynoweth elec_set1=(0 1000 5) && hole_set1=(0 1000 5) && elec_setnum=1 hole_setnum=1 mater=7

impact_chynoweth elec_set1=(0 1000 5) && hole_set1=(0 1000 5) && elec_setnum=1 hole_setnum=1 mater=8

impact_chynoweth elec_set1=(0 1000 5) && hole_set1=(0 1000 5) && elec_setnum=1 hole_setnum=1 mater=9

absorption value=1000 mater=1

absorption value=1000 mater=2

absorption value=1000 mater=3

absorption value=1000 mater=4

absorption value=1000 mater=5

absorption value=1000 mater=6

absorption value=1000 mater=7

absorption value=1000 mater=8

absorption value=1000 mater=9

absorption value=1000 mater=10

absorption value=1000 mater=11

absorption value=1000 mater=12

absorption value=1000 mater=13

absorption value=1000 mater=14

absorption value=1000 mater=15

absorption value=1000 mater=16

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100

light_power wavelength=0.500000 incident_power=1000

newton_par damping_step=3. var_tol=1.e-9 res_tol=1.e-9 && max_iter=100 opt_iter=15 stop_iter=80

print_flag=3

equilibrium bandgap_reduction=0.2

newton_par damping_step=3. var_tol=0.1 res_tol=1.e-2 && max_iter=50 opt_iter=25 stop_iter=10 print_

flag=3

scan var=voltage_1 value_to=2.5 && print_step=100. init_step=0.2 min_step=0.01 max_step=0.5

scan var= bandgap_reduction value_to=0. && print_step=50. init_step=0.001 min_step=1.e-15 max_step=3.

outfile_label=v1

scan var=light value_to=1. && print_step=1. init_step=1.e-6 min_step=1.e-9 max_step=0.5 infile_label=v1

scan var=voltage_1 value_to=5.000000 && print_step=100. init_step=0.05 min_step=0.01 max_step=0.05

end

Código para ficheiros .layer

$begin_layer

column column_num=1 w=500.000000 mesh_num=50 r=1.

top_contact column_num=1 from=0.000000 to=0 contact_num=2

bottom_contact column_num=1 from=0.000000 to=500.000000 contact_num=1

layer_mater macro_name=ingaas column_num=1 var_symbol1=x var1=0.3

layer d=2.900000 n=10 r=1

layer_mater macro_name=ingaas column_num=1 var_symbol1=x var1=0.3 && n_doping=2.e+20

layer d=0.1 n=10 r=1

layer_mater macro_name=ingap column_num=1 var_symbol1=x var1=0.3 && n_doping=7.e+19

layer d=0.05 n=10 r=1

layer_mater macro_name=ingap column_num=1 var_symbol1=x grade_from=0.51 && grade_to=0.22

grade_var=1 n_doping=1.e+18

layer d=2. n=10 r=1

layer_mater macro_name=algaas column_num=1 var_symbol1=x var1=0.01 && n_doping=2.e+20

layer d=0.01 n=10 r=1

layer_mater macro_name=algaas column_num=1 var_symbol1=x var1=0.3

layer d=0.010000 n=10 r=1

layer_mater macro_name=ingap column_num=1 var_symbol1=x var1=0.51

layer d=0.070000 n=10 r=1

layer_mater macro_name=gaas column_num=1

layer d=2.500000 n=10 r=1

layer_mater macro_name=gaas column_num=1 n_doping=2.e+19

layer d=0.1 n=10 r=1

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layer_mater macro_name=ingap column_num=1 var_symbol1=x var1=0.51 && n_doping=1.e+20

layer d=0.05 n=50 r=1

layer_mater macro_name=algaas column_num=1 var_symbol1=x var1=0.01 && n_doping=2.e+20

layer d=0.01 n=50 r=1

layer_mater macro_name=algaas column_num=1 var_symbol1=x var1=0.01

layer d=0.010000 n=50 r=1

layer_mater macro_name=ingaalp_xyt column_num=1 var_symbol1=x var1=0.5 && var_symbol2=y var2=0

layer d=0.050000 n=50 r=1

layer_mater macro_name=ingap column_num=1 var_symbol1=x var1=0.51

layer d=0.900000 n=50 r=1

layer_mater macro_name=ingap column_num=1 var_symbol1=x var1=0.51 && n_doping=2.e+19

layer d=0.1 n=50 r=1

end_layer

$xrange 0.000000 500.000000

$yrange 0.000000 8.860002

Código para ficheiros .dop

$x_range= 0.000000000000E+000 0.500000000000E+003

$y_range= 0.000000000000E+000 0.887000000000E+001

$ Wave boundary is used only when optical modes are solved

wave_boundary point_ll=[ 0.000000000000E+000 0.000000000000E+000] &&

point_ur=[ 0.500000000000E+003 0.887000000000E+001]

doping charge_type=donor &&

max_conc= 0.000000000000E+000 shape=polygon &&

edge1_prof=[ 0.00000000000E+000 0.00000000000E+000 0.10000000000E-002] &&

edge2_prof=[ 0.50000000000E+003 0.00000000000E+000 0.10000000000E-002] &&

edge3_prof=[ 0.50000000000E+003 0.29000000000E+001 0.10000000000E-002] &&

edge4_prof=[ 0.00000000000E+000 0.29000000000E+001 0.10000000000E-002]

doping charge_type=acceptor &&

max_conc= 0.100000000000E+019 shape=polygon &&

edge1_prof=[ 0.00000000000E+000 0.00000000000E+000 0.10000000000E-002] &&

edge2_prof=[ 0.50000000000E+003 0.00000000000E+000 0.10000000000E-002] &&

edge3_prof=[ 0.50000000000E+003 0.29000000000E+001 0.10000000000E-002] &&

edge4_prof=[ 0.00000000000E+000 0.29000000000E+001 0.10000000000E-002]

doping charge_type=donor && max_conc= 0.200000000000E+021 shape=polygon &&

edge1_prof=[ 0.00000000000E+000 0.29000000000E+001 0.10000000000E-002] &&

edge2_prof=[ 0.50000000000E+003 0.29000000000E+001 0.10000000000E-002] &&

edge3_prof=[ 0.50000000000E+003 0.30000000000E+001 0.10000000000E-002] &&

edge4_prof=[ 0.00000000000E+000 0.30000000000E+001 0.10000000000E-002]

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102

doping charge_type=acceptor &&

max_conc= 0.000000000000E+000 shape=polygon &&

edge1_prof=[ 0.00000000000E+000 0.29000000000E+001 0.10000000000E-002] &&

edge2_prof=[ 0.50000000000E+003 0.29000000000E+001 0.10000000000E-002] &&

edge3_prof=[ 0.50000000000E+003 0.30000000000E+001 0.10000000000E-002] &&

edge4_prof=[ 0.00000000000E+000 0.30000000000E+001 0.10000000000E-002]

doping charge_type=donor &&

max_conc= 0.700000000000E+020 shape=polygon &&

edge1_prof=[ 0.00000000000E+000 0.30000000000E+001 0.10000000000E-002] &&

edge2_prof=[ 0.50000000000E+003 0.30000000000E+001 0.10000000000E-002] &&

edge3_prof=[ 0.50000000000E+003 0.30500000000E+001 0.10000000000E-002] &&

edge4_prof=[ 0.00000000000E+000 0.30500000000E+001 0.10000000000E-002]

doping charge_type=acceptor &&

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103

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104

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105

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106

max_conc= 0.195000000000E+019 shape=polygon &&

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