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ESTRATÉGIA PARA CRESCE R Lições de países que incluem o empreendedorismo e as micro e pequenas empresas na agenda do desenvolvimento

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  • ESTRATGIA PARA

    CRESCERLies de pases

    que incluem oempreendedorismo

    e as micro epequenas empresas

    na agenda dodesenvolvimento

  • ESTRATGIA PARA

    CRESCERLies de pases

    que incluem oempreendedorismo

    e as micro epequenas empresas

    na agenda dodesenvolvimento

    Organizado por Eloi Zanetti

  • ESTRATGIA PARA

    CRESCERLies de pases

    que incluem oempreendedorismo

    e as micro epequenas empresas

    na agenda dodesenvolvimento

    Organizado por Eloi Zanetti

    Autores:

    Agnaldo Gerson CastanharoAlba Silva Anastacio Soares

    Allan Marcelo de Campos CostaClaudio Eduardo de Assis

    Fabio Hideki OnoHeverson Feliciano

    Joailson Antonio AgostinhoJose Gava Neto

    Jose Ricardo Castelo CamposJulio Cezar AgostiniLuiz Carlos da Silva

    Marcos Aurlio de LimaOrestes Hotz

    Rainer JungesRenata Borges Todescato

    Vitor Roberto Tioqueta

    Braslia, DF 2014

    Organizado por Eloi Zanetti

  • 2014. Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas Sebrae

    Todos os direitos reservados.

    Nenhuma parte desta publicao poder ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrnico ou mecnico, incluindo fotocpia, gravao ou qualquer outro tipo de sistema e armazenamento e transmisso de informao, sem prvia autorizao, por escrito do Sebrae. A

    reproduo no autorizada desta publicao, no todo ou em parte, constitui violao dos direitos autorais (Lei n. 9.610/1998).

    SEBRAE NACIONAL

    Presidente do Conselho Deliberativo Nacional

    Roberto Simes

    Diretor Presidente

    Luiz Eduardo Pereira Barretto Filho

    Diretor Tcnico

    Carlos Alberto dos Santos

    Diretor de Administrao e Finanas

    Jos Claudio dos Santos

    Gerente da Universidade Corporativa Sebrae

    Alzira de Ftima Vieira

    SEBRAE PARAN

    Presidente do Conselho Deliberativo Estadual

    Joo Paulo Koslovski

    Diretor Superintendente

    Vitor Roberto Tioqueta

    Diretor de Operaes

    Julio Cezar Agostini

    Diretor de Administrao e Finanas

    Jos Gava Neto

    Gerente da Unidade de Gesto Estratgica

    Fabio Hideki Ono

    Conselho Editorial e Coordenao Tcnica

    Raquel Cardoso Bentes

    Leandro DonattiFabio Hideki Ono

    Textos produzidos e organizados por: Eloi Zanetti

    Entrevistas com: Agnaldo Castanharo, Alba Anastcio Soares, Allan Marcelo de Campos

    Costa, Cludio Assis, Fabio Hideki Ono, Heverson Feliciano, Joailson Agostinho, Jos Gava

    Neto, Jos Ricardo Castelo Campos, Julio Cezar Agostini, Luiz Carlos da Silva, Marcos Aurlio Lima, Orestes Hotz, Rainer Junges, Renata Todescato e Vitor Roberto Tioqueta

    Reviso de contedos: Elisa Marlia Carneiro, Fabio Hideki Ono, Leandro Donatti

    Fotos: produzidas pelos integrantes das misses

    Todos os textos so fruto da percepo e anlise colhidas durante trs misses

    internacionais realizadas por diretores e gerentes do Sebrae/PR em 2012, para Coreia

    do Sul, Tailndia, Malsia e Cingapura; Dinamarca, Sucia, Noruega, Finlndia e Rssia; e ndia (Mumbai, Bangalore, Nova Deli), Hong Kong, Taiwan e China.

    Diagramao e editorao: iComunicao

    Informaes e ContatoSebrae Nacional

    SGAS 605 Conj. A Asa Sul 70200-904 Braslia/DF

    Telefone: (61) 3348-7100

    Sebrae Paran

    Rua Caet, 150 - Prado Velho Curitiba/PRTelefone: (41) 3330-5800

    www.sebrae.com.br

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)Bibliotecria responsvel: Jaciara Coelho P. de Oliveira

    E82Estratgia para crescer : lies de pases que incluem o empreendedorismo e as micro e pequenas empresas na agenda do desenvolvimento. / Eloi Zanetti (org.). Braslia : Sebrae, 2014.

    164 p.ISBN (impresso) 978-85-7333-626-9ISBN (eletrnico) 978-85-7333-625-2

    1.Benchmarking internacional 2. Pequenos negcios 3. sia I. Zanetti, Eloi (org.) II. Sebrae

    CDU 005.642.1

  • Viajar s tem vantagens: se formos

    para pases melhores, podemos

    aprender a melhorar o nosso.

    Se pararmos em pases piores,

    podemos passar a apreciar o nosso

    Samuel JohnsonEscritor ingls

  • Experincia global, atuao local

    O Sebrae uma empresa de conhecimento, de saberes e boas prticas. Aprendemos mais a cada dia e disseminamos as nossas experincias para realizarmos um atendimento mais qualificado aos nossos clientes, afinal somos especialistas em pequenos negcios.

    Anualmente, preparamos as altas e mdias lideranas do Sebrae dentro de parcerias da Universidade Corporativa com renomadas instituies de ensino nacionais e internacionais. O objetivo trazer a experincia global para a atuao local. Com isso, buscamos atualizar os conhecimentos e construir um modelo de liderana que reflita os objetivos e as diretrizes estratgicas do Sebrae.

    Este livro fruto da experincia de lderes do Sebrae que participaram de trs misses internacionais ao Sudeste Asitico, Rssia e Escandinvia e ao Leste Asitico. uma forma de disseminar o conhecimento adquirido.

    As escolhas dos pases visitados levaram em conta o relatrio Doing Business do Banco Mundial os melhores lugares do mundo para se fazer negcio. Os grupos formados pelo Sebrae no Paran optaram por regies consideradas competitivas, modernas e que esto bem inseridas no novo mundo globalizado.

    A publicao apresenta o resultado e o aprendizado dos grupos em cada instituio visitada universidades, agncias de fomento, parques tecnolgicos, bancos e incubadoras para aplicar localmente essas boas prticas.

    Dessa forma, temos na Universidade Corporativa Sebrae uma importante aliada na gesto do conhecimento de todo o Sistema. Esse tipo de investimento gera uma rica experincia e eleva o nvel de inovao e de atuao do Sebrae, alm de aperfeioar o nosso trabalho.

    Recomendo que aproveite esta oportunidade de aprendizado.

    Jos Claudio dos Santos

    Diretor de Administrao e Finanas

    Sebrae Nacional

  • Uma viagem rumo ao desenvolvimento

    A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltar ao seu tamanho original. A frase, eternizada pelo fsico e humanista alemo Albert Einstein, revela o poder do conhecimento e sua capacidade de transformar pessoas e realidades. O desconhecido, que em via de regra provoca indagaes e conduz a reflexes, gera tambm aprendizados importantes na esfera dos negcios e nas instituies que o representam.

    Este livro, Estratgia para crescer - Lies de pases que incluem o empreendedorismo e as micro e pequenas empresas na agenda do desenvolvimento, um exemplo disso. O Sebrae do Paran, representado por seus diretores e gerentes, realizou em 2012 trs misses tcnicas rumo ao desconhecido, para pases que, segundo o Banco Mundial, tornaram-se os melhores lugares do mundo para se fazer negcios.

    Na bagagem dos exploradores, a curiosidade pelo novo e o desejo de uma equipe jovem em conhecer modelos de desenvolvimento, marcados pela incluso dos pequenos negcios, bandeira do Sebrae tambm no Brasil. Conhecimento que tem sido aplicado pelo Sebrae no Paran na sua reinveno, com foco em 2022, quando a entidade comemorar 50 anos de existncia como servio de apoio s micro e pequenas empresas.

    Passados dois anos da experincia, e absorvidas as principais lies aprendidas com gigantes como Cingapura, Coreia do Sul, Dinamarca, Sucia, Noruega, Hong Kong e China, hora de compartilhar. Que este livro, uma iniciativa acolhida e estimulada pelo meu antecessor na Presidncia do Conselho Deliberativo, Jefferson Nogaroli, possa despertar a curiosidade de quem acredita no empreendedorismo, alm de tambm servir de subsdio para a busca permanente pela melhoria da gesto, criatividade e superao dos desafios que os micro e pequenos empresrios enfrentam todos os dias.

    Curiosidade que leva ao desconhecido, que gera conhecimento, que amplia a mente e que promove transformaes! Compartilhemos o aprendizado do Sebrae no Paran revelado nesta obra e planejemos o desenvolvimento do nosso Pas!

    Joo Paulo Koslovski

    Presidente do Conselho Deliberativo

    Sebrae no Paran

  • Lio que nos faz olhar para o futuro

    O Sebrae comeou a escrever uma nova pgina da sua histria no Paran. Em 2011, uma profunda discusso sobre o seu papel, misso e viso em longo prazo, no apoio ao empreendedorismo e aos pequenos negcios, comeou a ser trilhada, com o olhar voltado para 2022, quando o Sebrae completar 50 anos e precisar dialogar com novos cenrios.

    Esse trabalho, iniciado pela Diretoria Executiva do Sebrae no Estado, que tinha poca Allan Marcelo de Campos Costa, como ento diretor-superintendente; Julio Cezar Agostini, diretor de Operaes; e Vitor Roberto Tioqueta, ento diretor de Gesto e Produo, nasceu de uma necessidade da instituio em se consolidar como servio de apoio aos pequenos negcios. Com base nos anseios dos empreendedores, empresrios, representantes de entidades empresariais e sociedade paranaense, e de olho no futuro, a instituio sentiu a necessidade de conhecer experincias exitosas para melhor atender e enfrentar os desafios permanentes impostos ao empreendedorismo.

    As trs misses tcnicas aos pases considerados os que oferecem melhor ambiente para se fazer negcios, tema deste livro, foram minuciosamente estudadas para contribuir na construo dessa nova estratgia, que hoje j uma realidade. Aprendizado que incorporamos no planejamento que vai orientar o Sebrae dos prximos anos e que balizar a sua atuao no Paran. Uma experincia marcada pelo conhecimento a partir de boas prticas. Em cada visita, novas descobertas e tambm constataes de que o Sebrae, como instituio de apoio e articulao, est no caminho certo, quando defende a ideia de que as micro e pequenas empresas so a melhor alternativa para o desenvolvimento do pas.

    O principal ensinamento, que nos levar mais fortes para 2022, foi perceber que boa parte dos pases que atingiram maturidade no estmulo aos negcios prosperou graas a uma conjugao de interesses comuns, dos cidados s foras polticas, aliada a planejamento, foco e muito trabalho. Atitude que ajudou na superao de adversidades e tem servido de amlgama para o desenvolvimento. Exemplos que inspiraram e ainda vo inspirar muito o Sebrae do Paran.

    Agradecemos ao Sebrae Nacional pela oportunidade de materializar, por meio deste livro, o conhecimento gerado com as misses, que tm nos ajudado muito nessa jornada. E assim provocar, e estimular, a discusso sobre a necessidade de uma

  • estratgia para crescer de fato, que leve em considerao os pequenos negcios, como propulsores de empregos e renda, e a sua representatividade na economia e na vida das pessoas.

    Vitor Roberto Tioqueta

    Diretor Superintendente do Sebrae no Paran

    Julio Cezar Agostini

    Diretor de Operaes do Sebrae no Paran

    Jos Gava Neto

    Diretor de Administrao e Finanas do Sebrae no Paran

  • SumrioPREFCIO

    Otaviano Canuto

    APRESENTAO

    MISSO SUDESTE ASITICO

    Coreia do Sul, Tailndia, Malsia e Cingapura

    MISSO RSSIA-ESCANDINVIADinamarca, Sucia, Noruega, Finlndia e Rssia

    MISSO LESTE ASITICO

    ndia, Hong Kong, Taiwan e China

    AS LIES APRENDIDAS

    As opinies dos grupos

    PALAVRAS FINAIS

    ANEXOS

    15

    21

    27

    51

    79

    121

    129

    135

  • Prefcio

  • Prefcio

  • Reflexes para uma agenda de desenvolvimento

    Crescimento e desenvolvimento econmico so temas que h muito tempo despertam o interesse de economistas. Quais fatores levaram alguns pases a crescer e a se desenvolver mais rapidamente do que outros? Que medidas pases e regies emergentes poderiam tomar para acelerar o seu desenvolvimento de forma sustentvel? H uma mirade de teorias e modelos que visam a responder perguntas como essas.

    Inegavelmente, variveis macroeconmicas, como investimento, taxas de cmbio, de juros, dentre outras, so determinantes para o crescimento e competitividade dos pases. Contudo, muitos fatores de competitividade so determinados no nvel micro, das pessoas, dos empreendedores e das pequenas empresas, e influenciados pelo ambiente regulatrio para os negcios.

    A competio no ocorre somente entre empresas, mas tambm entre cidades e naes. O relatrio Doing Business, publicado anualmente pelo Banco Mundial, traz uma base de comparao entre os ambientes de negcios do mundo e visa oferecer referncias objetivas para melhorias. Trata-se, portanto, de um importante referencial para reformas e para que pases em pior classificao possam tomar lies daqueles melhor qualificados. Conhecer as melhores prticas internacionais e adapt-las s realidades locais uma forma de catalisar o processo de desenvolvimento.

    Nesse sentido, considero louvvel a iniciativa do Sebrae, de buscar as boas prticas internacionais de fomento ao empreendedorismo e ao desenvolvimento dos pequenos negcios.

    Por meio de visitas in loco, a equipe do Sebrae do Paran conheceu experincias de pessoas e de instituies presentes em pases com nveis distintos de desenvolvimento e de eficincia de seus ambientes regulatrios. As condies apresentadas em Cingapura, pas em melhor posio no ranking Doing Business, so bastante distintas de outros

  • pases visitados, como Rssia, China e ndia, que, juntos com o Brasil, compem o BRICS. Essa diversidade muito rica em qualquer processo de benchmarking e o livro traz uma importante consolidao desse conhecimento. Traz ainda um conjunto de lies aprendidas, muitas das quais o Sebrae j incorporou em seu planejamento estratgico, conforme apresentado no anexo.

    Considerando os desafios atuais da economia brasileira, no que diz respeito ao aumento da produtividade e das condies de competitividade, muito salutar que se compartilhem as boas referncias internacionais. As lies apresentadas pela equipe do Sebrae trazem importantes reflexes para uma agenda de desenvolvimento no somente do prprio Sebrae, como para outras instituies.

    Parabns ao Sebrae por trazer esse conhecimento a pblico.

    Otaviano CanutoConselheiro Snior do Banco Mundial para Economia BRICS

  • Apresentao

  • Apresentao

  • 23

    APRESENTAO

    Quando um grupo de tcnicos, gerentes e diretores do Servio de Apoio s Micro e Pequenas

    Empresas do Estado do Paran (Sebrae PR) comeou a pensar, em 2011, na estratgia da instituio,

    com vistas a um perodo de dez anos, esbarrou com os seguintes questionamentos: e o Brasil? E as

    nossas empresas? E o nosso povo? E os nossos sistemas de apoio aos novos empreendedores? Ser

    que conseguiremos em 2022, quando a instituio completar 50 anos de existncia, encontrar um

    pas altamente competitivo no mercado internacional ou ainda estaremos restritos ao fornecimento

    de commodities, como sempre fizemos? As primeiras reflexes levaram a outro questionamento:

    podemos, sim, pensar em ns mesmos como instituio para dali a dez anos. Mas o que poderamos

    fazer para colaborar tambm com um futuro melhor para todos aqueles que esto nossa volta?

    Afinal, o primeiro compromisso do Sebrae com a sociedade deix-la sempre melhor.

    Foi ento que surgiu a ideia de procurar, dentre os inmeros pases que esto

    fazendo os seus deveres de casa bem, alguns que nos servissem de espelho. No seriam

    apenas estudos baseados em material j publicado em revistas e jornais de negcios

    e em informaes disponveis na internet. Todo mundo sabe como a Coreia do Sul, a

    China e a Noruega trabalham e disputam mercado. A ideia inicial foi ver in loco, sob

    o olhar aguado do prprio Sebrae PR, por tcnicos que conhecem como ningum

    o dia a dia dos empresrios de micro e pequenas empresas e os meandros da nossa

    legislao comercial. S assim, poderamos comparar e tirar a melhor lio de cada pas

    a ser observado e aplicar esse aprendizado aqui mesmo no Brasil. Por que comear da

    estaca zero, se podemos encurtar caminhos e aprender com a experincia de outras

    pessoas e instituies? Buscamos assim retirar dessa experincia a essncia de cada

    instituio visitada: universidades, agncias de fomento, parques tecnolgicos, bancos

    e incubadoras e apresent-las aos nossos clientes, polticos, autoridades e parceiros

    sob as mais diversas formas: publicaes, palestras, seminrios e um livro este livro.

    Em um mundo dito globalizado, interligado por comunicaes instantneas que

    aproximam pases e povos antes to distantes e diferentes, buscar essas informaes,

    vivenci-las de perto e reparti-las no seria tarefa fcil. O primeiro objetivo foi definir

    o que queramos saber. Depois, em que lugar realmente encontraramos essas

    informaes, uma vez que a mdia corporativa fala delas todos os dias, mas, muitas

  • 24

    ESTRATGIA PARA CRESCER

    vezes, de forma dispersa, desorganizada e at como lenda urbana. A pergunta lanada

    como desafio foi: Ser que o povo, as leis, a competncia, a qualidade das indstrias e

    a velocidade desses pases em fabricar, vender, estruturar e entregar os produtos que

    vendem so to competentes como parecem ser? Na realidade, carecia ver de perto, e

    em grupos diferentes, para se ter vises distintas e compreender o que o mundo est

    fazendo de inusitado e o que ele pode nos ensinar. A equipe entusiasmou-se com a

    ideia de mapear as prticas, conversar com especialistas, buscar e aprender os processos

    inovadores que fizeram com que o ambiente de negcios para pequenas empresas se

    tornasse mais favorvel nesses pases. Foi dado um passo frente com a ideia surgiu

    o Projeto Misses Sebrae PR.

    E O PRIMEIRO DESAFIO FOI DESCOBRIR COMO SE FAZ UM BENCHMARKING DE PASES;

    E O PRPRIO RANKING DO BANCO MUNDIAL DEU AS COORDENADAS COM UMA

    DIVISO GEOGRFICA QUE FIZESSE SENTIDO.

    Aprovada a ideia de buscar informaes em pases que estavam fazendo a

    diferena no mundo, nossos olhos dirigiram-se ao relatrio Doing Business do Banco

    Mundial Os melhores lugares do mundo para se fazer negcios. No queramos

    olhar para naes j h muito desenvolvidas e estabilizadas, como Alemanha, Frana e

    Estados Unidos. Nossos espelhos seriam as regies recm-expostas mdia mundial

    como agressivas, competitivas, modernas e que esto bem-inseridas no novo mundo

    globalizado. Por exemplo, sabamos pouco sobre o Leste Asitico, no conhecamos

    quase nada da sua histria, cultura e as trajetrias que o levaram ao topo do ranking

    do Banco Mundial. Ver, tocar, conversar, olhar de perto e debater o que poderamos

    observar, de forma organizada e sistemtica, em grupo, nos prprios locais de

    observao, nos dariam lies valiosas, prticas e rpidas sobre esses pases. Assim

    seria mais fcil e produtivo a sua disseminao e aplicao aqui no Brasil.

    Ajudou-nos na jornada a criao de um manual que contivesse todo o processo

    de benchmarking, fornecendo-nos informaes sobre roteiros, lugares, instituies,

    modo de vida e de se fazer negcios, dados econmicos, culturais e histricos locais.

    Ganhamos em economia de tempo e praticidade de viagem. Para alguns de ns,

    certos pases eram desconhecidos, pois s tnhamos vagas referncias. As pesquisas

  • 25

    APRESENTAO

    prvias e as informaes disponveis nesse manual nos prepararam para um olhar mais

    acurado e nos ajudaram na elaborao de perguntas mais pertinentes a nossa meta de

    trabalho. Tambm ficou acertado que cada um de ns, em cada uma das trs misses,

    ficasse de estudar a fundo um determinado pas. Depois, deveria repartir com o restante

    o que aprendera. Assim, partiramos melhor preparados.

    Montar o planejamento da viagem nos ajudou e nos guiou por todo o caminho.

    Nosso objetivo era importar os processos e os instrumentos que esses povos usam

    para incentivar o progresso dos seus empreendedores. Saber o que fazem para

    justificar tanto sucesso comercial. Sabamos que lidaramos com culturas diversas de

    povos milenares que pensam de forma diferente de ns e, apesar da sua proximidade

    geogrfica, at entre eles.

    DEPOIS DE UM EXTENUANTE DIA DE VISITAS MAIS REUNIES

    Ao final de cada dia, nos hotis, nos reunamos para trocar impresses e repartir

    o que cada um havia visto de interessante, que pudesse ser til aos empreendedores

    do nosso pas. A disciplina imposta era frrea. Mesmo cansados, ouvamos uns aos

    outros, falando sobre o que foi percebido. Aps as explanaes, trocvamos percepes

    e anotvamos numa espcie de dirio de viagem.

    Esses encontros dirios nos ajudavam a organizar as informaes ainda frescas

    sobre o que havamos visto durante o dia. Em viagens a vrios lugares ao mesmo

    tempo, o nosso crebro processa muitos dados, e a tendncia final misturar tudo e

    esquecer assuntos importantes.

    Alm disso, esse sistema nos ajudou a comparar, da melhor forma, tudo o que

    cada um havia visto. Ao mesmo tempo, um resumo da conversa ia para um blog que,

    alimentado passo a passo, servia de canal de informao para todos aqueles que

    quisessem dispor das notcias. Uma curiosidade: o blog1 nasceu no aeroporto de partida,

    na espera em Cumbica.

    1 http://pelaasia.blogspot.com.br/http://escandinaviaerussia.blogspot.com.br/http://missaolesteasiatico.blogspot.in/

  • Misso Sudeste Asitico

  • OPINIO DOS PARTICIPANTES:

    Allan Marcelo de Campos Costa,Allan Marcelo de Campos Costa,Fabio Hideki Ono,

    Heverson Feliciano,Rainer Junges e

    Renata Borges Todescato Renata Borges Todescato

    Coreia do Sul, Tailndia, Malsia e Cingapura

    Misso Sudeste Asitico

  • 28

    ESTRATGIA PARA CRESCER

    Em todos os pases que visitamos, encontramos uma dstica, um pensamento nico, expressado

    por todos: polticos, empresrios, lderes dos diferentes setores e pelo mais humilde cidado.

    Ouvamos esse mantra ser repetido por atendentes nos hotis e pelos taxistas que nos levavam

    para alguma reunio ao saberem quais os nossos interesses em seus pases. O credo das populaes

    visitadas reza:

    Temos que investir e trabalhar unidos a fim de tornar o nosso pas um lugar

    super competitivo para se fazer negcios o adjetivo necessrio, porque isso

    mesmo. Vamos facilitar ao mximo a execuo dos trabalhos dos nossos parceiros

    empresrios e empreendedores locais e internacionais. Estamos sempre investindo

    em logstica, tornando nosso sistema de transporte estradas, terminais, portos e

    aeroportos mais eficiente e econmico para quem o usa. Lutamos constantemente

    contra a burocracia, retirando leis que no servem para nada. Acreditamos que estamos

    no caminho certo, pois os resultados esto aparecendo a olhos vistos.

    Coreia do SulSonhos compartilhados

    Priorizamos a educao, porque ela nos ajuda a realizar nosso maior objetivo como

    nao: ser competitivos. Depoimento de um taxista.

    H trs dcadas, o pensamento dos coreanos foi claro: Para que possamos ser

    um pas exportador de alta tecnologia agregada em produtos manufaturados de alto

    valor, teremos que investir maciamente em educao. Portanto, quando se fala que

  • 29

    MISSO SUDESTE ASITICO

    a Coreia do Sul investe muito em educao porque esta a base dos seus planos de

    negcios: a necessidade de preparar, a mdio e longo prazos, bons tcnicos, cientistas,

    pesquisadores, homens de negcio e mo de obra qualificada para as atividades de

    produo, comrcio e exportao.

    A equao coreana simples mdias empresas, altamente competitivas, atreladas

    a grandes conglomerados para lhes dar suporte e torn-los agressivos no mercado

    internacional. Essas empresas so hoje as grandes alavancadoras do processo de

    inovao da Coreia do Sul. um pouco diferente do modelo brasileiro, temos bons

    sistemas de apoio s nossas micro e pequenas empresas, facilitamos o crdito aos

    grandes conglomerados e quase nos esquecemos de apoiar as mdias empresas,

    justamente as que precisam de ateno nos seus perodos de crescimento. Usando

    uma metfora: somos bons pediatras e sabemos tratar os adultos, mas no exercemos

    nada de puericultura. Fica uma reflexo: por que no ampliamos os programas de apoio

    s mdias empresas brasileiras?

    O sistema coreano, de privilegiar mdias e grandes empresas, faz com que o

    sonho de todo jovem local seja o de se trabalhar nelas. Quase ningum sonha em ser

    empreendedor ou pequeno empresrio. H um respeito muito grande pela hierarquia

    no pas e uma espcie de resignao sobre o lugar de cada um na cadeia produtiva,

    pois o pas foi criado para isso.

    O papel do governo coreano no induzir ou ensinar o empreendedorismo

    individual, mas sim tirar os obstculos do caminho para quem queira crescer e tornar-

    se competitivo no mercado mundial.

    Em termos de qualidade de vida, os coreanos esto muito bem no sentido

    material, com acesso a bens de consumo, estrutura de cidades e apoio educao e

    sade. Por outro lado, h um estresse constante, motivado pela ameaa do vizinho

    do norte, sempre em posio beligerante. Essa tenso faz parte do cotidiano local

    e comum ver avies de caa sul-coreanos patrulhando o espao areo do pas de

    forma permanente a cada hora poder cair uma bomba em suas cabeas. Viver sob a

    ameaa de uma espada de Dmocles no nada confortvel. Outro fator de estresse

    o medo de perder as condies econmicas conquistadas, uma vez que o coreano

    muito consumista. Somam-se a isso as exigncias do trabalho rduo, competitivo,

  • 30

    ESTRATGIA PARA CRESCER

    a concorrncia brutal entre si e o sistema escolar com muitas horas de estudo oito

    horas por dia so obrigatrias e pouco tempo de lazer para jovens e crianas. fcil

    e difcil viver na Coreia do Sul nada perfeito.

    Enxergamos a Coreia do Sul como um sonho de consumo, um Brasil para daqui

    duas dcadas. Se o nosso pas fizer o que tem de ser feito: facilitar a vida dos seus

    empresrios, retirar o excesso de leis, promover uma reforma fiscal, simplificar o

    recolhimento dos impostos e privilegiar a educao de qualidade, com o potencial que

    temos, seremos muito mais do que a Coreia hoje.

    COMPETITIVIDADE EMPRESARIAL EM SINTONIA COM A POLTICA DE ESTADO

    O Korea Eximbank o banco de exportao e importao local. Atualmente,

    desenvolve um programa chamado Hidden Champions, que se dedica a fazer com que

    em dez anos um grupo de 100 mdias empresas cresa e consiga 8,1% de participao

    nas exportaes do pas e, com isso, responder por 80% dos empregos da populao

    jovem e acrescentar 2 bilhes de dlares ao PIB coreano.

    O Eximbank teve um papel fundamental nos planos da Coreia do Sul, pois, durante 11

    anos, focou no financiamento para a melhoria da infraestrutura; nos 12 anos seguintes,

    no fomento globalizao da economia e das exportaes. E atualmente, ltimos 12

    anos, na busca do desenvolvimento e na sofisticao das solues financeiras a serem

    colocadas disposio das empresas locais.

    A opo pela competitividade empresarial est sempre em sintonia com a poltica

    de Estado. uma funo estratgica, visto que o pas pobre em recursos naturais

    e tem de lutar para agregar valor s suas exportaes. Qualquer escolha, para apoio

    a alguma empresa, deve seguir nessa direo, no desenvolvimento tecnolgico e ter

    potencial para crescimento agressivo.

    Em 2011, a instituio atendeu 26.148 pequenas empresas em processo de expanso

    e consolidao, mais 16.944 em projetos de inovao tecnolgica. O financiamento para

    pequenas e mdias empresas na Coreia, em 2011, contou com recursos na ordem de 70

    bilhes de dlares, oriundos do governo, e 443 bilhes de dlares, de bancos privados.

  • 31

    MISSO SUDESTE ASITICO

    Percebemos que o conceito de pequena empresa para os coreanos relativo. As

    grandes empresas so entendidas como os grandes conglomerados Samsung ou LG

    abaixo desses esto as empresas que tm potencial de faturamento entre 500 milhes

    e 1 bilho de dlares/ano. Ou seja, bem distantes da realidade das pequenas empresas

    brasileiras. Mas ainda assim, alguns aprendizados destacam-se e o mais relevante, a

    nosso ver, so as iniciativas com foco claramente definido.

    Uma das estratgias mais utilizadas financiar compradores dos produtos coreanos.

    Caso um grande comprador estrangeiro tenha a inteno de adquirir grandes volumes

    de uma empresa local, o banco financia a compra e paga empresa coreana com o

    prprio dinheiro coreano. Em resumo, faz com que o recurso retorne ao prprio pas.

    Esse banco teve papel preponderante durante a crise asitica de 1997 dando

    suporte aos bancos privados e s empresas locais, para que pudessem resistir

    instabilidade econmica. O oramento dessa instituio de 1,9 bilho de dlares,

    para as atividades operacionais, e de mais 6 bilhes, para fundos de financiamento.

    As empresas candidatam-se aos recursos e somente as que tm melhores condies

    de prosperar so aceitas. uma espcie de seleo natural Coreia do Sul onde os

    fracos no tm vez.

    Nos ltimos anos, o Eximbank tem aumentado seu foco em pequenas empresas,

    a fim de reduzir a dependncia dos grandes conglomerados coreanos. Tivemos a

    oportunidade de assistir a uma conferncia promovida pelo SBC Small Business

    Corporation, com a participao dos pases da APEC Asia-Pacific Economic

    Cooperation, que tratou de temas relacionados s pequenas empresas e startups.

    As instituies que oferecem estrutura de suporte s pequenas e mdias empresas

    na Coreia tm responsabilidade concreta no cumprimento das metas e estas esto

    relacionadas participao daquelas no PIB do pas, nas exportaes e na gerao de

    empregos. Ou seja, os resultados no se medem pelo nmero de empresas atendidas,

    mas sim por aquilo que foi gerado com o trabalho realizado. Se comparados com o

    Brasil, os indicadores de resultado so completamente diferentes. A viso de longo

    prazo, nada imediatista.

    Visitamos o SMBA Small and Business Association, a instituio mais importante

    de toda a estrutura de apoio s pequenas empresas. Concentra sete grandes entidades

  • 32

    ESTRATGIA PARA CRESCER

    sob seu guarda-chuva, tem oramento de 1,9 bilho de dlares para operaes, mais 6

    bilhes de dlares para fundos de financiamento. Cada instituio tem bem-definido

    o seu trabalho e no h sobreposio de tarefas, cada uma sabe o que a outra faz e

    cuida bem da sua parte.

    SBC Small and Medium Business Corporation

    Treinamento para CEO e gesto dos fundos para apoio s pequenas empresas.

    TIPA Korean Technology and Information Promotion Agency for SMEs Desenvolvimento e informao.

    SBDC Small Business Distribution Center Distribuio de produtos para pequenas e mdias empresas.

    KISED Korean Institute of Startups and Entrepreneurship Development Startups.

    KVIC Korean Venture Investment Corp Venture Capital.

    SEDA Small Enterprise Development Agency Microempresas.

    KOSBI Korean Small Business Institute Pesquisa e formulao das polticas.

    Os critrios para classificar pequenas empresas:

    rea industrial Com menos de 300 empregados Capital inferior a 6,8 milhes de dlares

    reas da minerao, construo e transporte

    Com menos de 300 empregados

    Capital inferior a 2,5 milhes de dlares

    rea do varejo Com menos de 200 empregadosFaturamento inferior a 20 milhes de dlares/ano

    Para os coreanos, microempresas possuem menos de dez empregados. Para essas,

    existem programas de educao a distncia, via e-learning e um canal de tev voltado

    educao da sua fora de trabalho. Tambm dispem de programas de reformulao

    de lojas, ampliao e melhoria no atendimento. Para suprir a carncia de mo de obra

  • 33

    MISSO SUDESTE ASITICO

    tcnica, as escolas de formao tecnolgica tentam atrair os estudantes, tirando-os

    das escolas de formao genrica. Existe um desencontro entre as vagas disponveis

    em pequenas empresas e o nmero de jovens procura de emprego nos grandes

    conglomerados.

    Atualmente, a Coreia do Sul interpreta de forma muito clara a percepo de

    que preciso diversificar a economia para reduzir a dependncia dos grandes

    conglomerados que, por causa da sofisticao dos processos industriais, esto

    empregando cada vez menos.

    Por isso, buscam apoiar mais os pequenos negcios. Fazem isso da maneira

    coreana, nada de aes massificadas com milhares de pequenas aes pontuais

    de efetividade questionvel. Mas com programas de mdio e longo prazos, com

    responsabilidade conjunta pelo desenvolvimento das empresas que apoiam e estas,

    com muita competitividade, visando sempre ao mercado internacional.

    DA POBREZA RIQUEZA ENTRE AS NAES EM POUCAS DCADAS

    Aps a Segunda Guerra Mundial e a guerra entre as Coreias, a Coreia do Sul era um

    dos pases mais pobres da sia e do mundo. Seus dirigentes, ao analisar a realidade do

    pas, concluram que no tinham muitas alternativas o pas pequeno e sem recursos

    naturais. Portanto, a nica sada seria importar insumos, recursos e matria-prima e

    process-los, agregando valor por meio de alta tecnologia. As expertises deveriam ser

    aprendidas em outras naes e incorporadas s suas indstrias.

    Em outras palavras, era preciso transformar a Coreia do Sul em um pas exportador.

    O resultado, todos conhecemos. Vimos uma beira de rio, onde, h 20 anos, no havia

    absolutamente nada, ser hoje a regio mais prspera de Seul o seu centro financeiro.

    Na Coreia do Sul, tudo se constri com rapidez, porque no h burocracia nem entraves

    legais para atrapalhar a vida de quem quer crescer e desenvolver-se.

  • 34

    ESTRATGIA PARA CRESCER

    A ACADEMIA S TRABALHA EM FUNO DAS NECESSIDADES INDUSTRIAIS TUDO

    PARA CUMPRIR AS METAS DO PAS

    O Center Seoul Technopolis Seoul Tech faz a integrao das necessidades das

    indstrias com o meio acadmico. A universidade existe para servir as necessidades

    industriais. Currculos so alterados, para suprir as necessidades das empresas

    e prioridades de desenvolvimento do pas; laboratrios so usados para ajudar

    no desenvolvimento de novos produtos e dar apoio a projetos competitivos. As

    incubadoras so voltadas instalao de empresas com potencial inovador, que

    trabalham de braos dados com os pesquisadores. Professores e cientistas trabalham

    com entusiasmo, atendendo essas necessidades, pois assim, atendem ao pas.

    UMA NOVA CIDADE NASCE EM UM ESTURIO

    Num brao de mar, que alagava com a mar cheia, os coreanos esto construindo, desde

    2003, uma cidade modelo para abrigar 600 mil habitantes a Incheon Free Economic Zone.

    um projeto de 20 anos, com trmino previsto para 2023. Como os coreanos impem

    metas concretas para tudo, a Incheon Free Economic Zone, que, atualmente, ocupa a 221

    posio no ranking do Banco Mundial entre as cidades, quer ser a 10 colocada em 2023.

    A construo dessa cidade est calcada em alguns conceitos-chave:

    z compacta tudo deve estar mo, num raio de cinco quilmetros ou a cinco minutos de carro;

    z autossuficiente no depender de Seul para nada;

    z inteligente conceito just plug in;

    z verde 32% da sua rea deve ser ocupada por reas verdes;

    z limpa as indstrias devero ser limpas.

    Alm de uma fortssima poltica de incentivos fiscais e para investimentos diretos,

    foi realizado um trabalho de atrao de universidades de ponta. A agressividade

    tanta que escolas internacionais de primeiro time podem candidatar-se a receber

    incentivos de at 1 milho de dlares por ano, durante cinco anos.

  • 35

    MISSO SUDESTE ASITICO

    J passados nove anos, a cidade abriga o prdio mais alto da Coreia do Sul e uma ponte

    com 21,3 quilmetros, que liga seu aeroporto ao de Seul, considerado um dos aeroportos

    mais eficientes do mundo. Alm disso, est em construo um porto gigantesco.

    A cidade toda monitorada por cmeras, o que d segurana quase total aos seus

    habitantes. Todos tm acesso educao de primeira linha, transporte fcil e barato,

    atividades culturais e de lazer e, claro, facilidades para realizar negcios, servios

    financeiros e sistema de sade.

    Como exemplo, podemos citar que o John Hopkins o candidato a administrar o

    hospital local, pelo visto um estado da arte em instalao hospitalar.

    TailndiaE o caminho do meio

    Na Tailndia, a impresso de que se trabalha para a economia da suficincia no

    existe entre seu povo aquilo que chamamos de ganncia desmedida. Os tailandeses, por

    serem budistas, seguem o princpio de consumir apenas o que suficiente. Esse modo

    de viver at ensinado em sua escola de negcios, sob o ttulo de Sufficiency Economy

    Philosophy. Essa doutrina propalada pelo rei e usada como base dos outros cursos

    lecionados na escola. Ela enfatiza o caminho do meio, como um princpio de conduta

    apropriado, que deve ser predominante em todos os nveis da sociedade. Acreditam

    que, por seguirem essa diretriz, o pas tenha superado bem a crise que abalou a sia

    em 1997. Porm, quando questionamos sobre detalhes da aplicao dessa norma de

    conduta e seus benefcios, algumas pessoas nos deram a entender, nas entrelinhas,

  • 36

    ESTRATGIA PARA CRESCER

    que j no bem assim, que o esprito competitivo e os hbitos do consumo ocidentais

    esto batendo porta dos tailandeses.

    A indstria mais desenvolvida na Tailndia a do turismo, seguida de uma forte

    agricultura. O pas no tem indstrias inovadoras, o que h so empresas estrangeiras

    que l se instalam por causa dos baixos custos de mo de obra. Elas se posicionam,

    como eixo central no relacionamento, com os vizinhos notadamente os mais

    pobres como Myanmar, Filipinas, Laos, Camboja e Vietn. Por enquanto, a mo de

    obra tailandesa barata e muitos trabalhadores so contratados para montar peas

    das indstrias coreana e japonesa. O custo de um operrio tailands de 10 dlares

    ao dia, mas em Myanmar, pas vizinho, de apenas 2,5 dlares, porm a instabilidade

    jurdica e a interferncia dos militares dificultam a execuo de negcios neste pas.

    Nos ltimos tempos, tanto a Tailndia quanto a Malsia no tm mais pessoas para

    inserir no mercado de trabalho. Em funo disso, est sendo montada a AFTA Asean

    Free Trade Area, que dever entrar em operao em 2015 e cujo objetivo zerar as tarifas

    e liberar o trfego de profissionais qualificados entre dez pases asiticos. Essa nova

    estrutura promete movimentar o comrcio mundial, aumentando a competitividade

    e atraindo mais investimentos para os pases do bloco.

    Vimos que, em termos de infraestrutura, os tailandeses esto bem avanados,

    apesar do seu aspecto terceiro mundista, muito semelhante ao Brasil. H um grande e

    novo aeroporto, estradas largas com vrias faixas de rolagem e asfalto perfeito quase

    todas cobram pedgio.

    Em termos de desenvolvimento econmico, os tailandeses consideram a Coreia

    do Sul como um exemplo a ser seguido. Na Tailndia, as polticas pblicas de apoio s

    pequenas empresas so assistencialistas. Ao comparar os dois pases, perguntamos:

    devemos nos espelhar na Coreia do Sul ou na Tailndia? Se continuarmos da forma

    que atuamos hoje, estaremos muito prximos da Tailndia. Se quisermos mudar

    completamente, e nos aproximar de um pas competitivo, devemos nos espelhar na

    Coreia do Sul.

  • 37

    MISSO SUDESTE ASITICO

    MalsiaO pas mais prximo da nossa maneira de ser

    A grande surpresa nessa viagem foi a Malsia, parecia que estvamos em casa.

    O malaio tem um comportamento quase latino, muito parecido com o do brasileiro.

    Gosta de bater um bom papo, antes das reunies, enturma-se com facilidade com

    gente desconhecida e fala de amenidades. Em resumo: so extremamente informais

    e agradveis. O curioso que, mesmo tendo momentos de informalidade antes das

    reunies, quando os trabalhos so abertos tudo fica na mais rgida formalidade e as

    apresentaes ocorrem como se a gente nunca tivesse se visto ou conversado.

    Com respeito ao apoio s empresas, costumam dizer que gostam de apostar em

    cavalo que ganha preo. Na poca, estavam apoiando aproximadamente 400 empresas

    de tamanho mdio para grande com 100 milhes de dlares de faturamento ano.

    Como em outros pases visitados, o apoio vai at a abertura de capital na Bolsa de

    Valores. quando do a misso de apoio como finda. Sabem em quem apostar, porque

    o pensamento geral cumprir a estratgia de ser um pas competitivo.

    A expresso usada para esse tipo de apoio financeiro e tcnico hand-holding,

    literalmente, pegar pela mo uma empresa, ajud-la em seu processo evolutivo,

    caminhando sempre juntos. Em suma, assumir tambm a responsabilidade pelo seu

    sucesso no mercado.

    Visitamos o SME Bank, o banco malaio para apoio aos pequenos negcios. Esse

    banco comeou o seu trabalho em 1974 e, de incio, teve forte inclinao assistencialista,

    ajudando pequenas empresas independentemente do seu setor de atividade ou

    condio de competitividade. Com o tempo, o papel transformou-se e agora est mais

    focado em apoiar empresas realmente competitivas com forte potencial exportador.

    Tambm aprenderam que os bancos de desenvolvimento devem ser divididos por

    funes: comrcio, agricultura e pequenas empresas. Cada um mantm o foco na sua

    atividade principal, agem com extrema preciso e evitam a sobreposio de trabalho.

    Todos ganham com isso.

  • 38

    ESTRATGIA PARA CRESCER

    Bancos em todo o mundo so criados para oferecer resultados financeiros, isto ,

    dar lucro. Na Malsia, essa tambm a meta, porm no a sua prioridade. O principal

    papel desse tipo de banco ajudar a desenvolver a economia, apoiando o crescimento

    das pequenas empresas. Se uma delas no tem condies de pagar pelo que emprestou,

    a primeira preocupao do banco no recuperar os recursos, mas sim, recuperar a

    empresa, dando-lhe todo tipo de apoio. Procuram saber por que o financiamento no

    pode ser pago, para, a sim, pensar na questo financeira.

    O crdito fornecido pelo banco est sempre acoplado consultoria e capacitao

    na aplicao do recurso empregado. Talvez, isso ajude a explicar a baixa taxa de

    insucesso das empresas atendidas pelo banco. Embora as estatsticas no sejam

    precisas, estima-se que apenas 10% das empresas assistidas acabem morrendo no

    mdio prazo.

    As incubadoras esto ligadas aos grandes bancos que as criaram e oferecem

    mecanismos de incentivo, injetando capital nas empresas mais promissoras, alm de

    acompanhar o seu desenvolvimento. Por serem muulmanos, no aceitam a usura,

    ou seja, no se pode cobrar juros sobre emprstimos, mas os bancos, com certeza,

    encontram uma forma de se ressarcir desses investimentos.

    O SME Bank mantm uma espcie de incubadora, a Entrepreneur Premise Bank, com

    estrutura prpria de condomnios, para alojar pequenas empresas que ficam entre cinco

    e nove anos pagando aluguel amigvel e aplicando o recurso fornecido pelo banco na

    forma de emprstimos. As empresas incubadas contam com assessoria permanente do

    banco e tambm da SME Corp. Malaysia, uma agncia dedicada formulao de polticas

    e estratgias globais, que concentra, desde outubro de 2009, servios de informao e

    consultorias para o segmento. Algumas incubadoras desse tipo possuem espao para

    abrigar mais de 400 empresas simultaneamente e espalhadas em vrios pontos do pas.

    Na Malsia, a competitividade no se mede pelo nvel de inovao decorrente de

    automao ou coisa do gnero. Visitamos uma dessas instalaes e conversamos com

    um empresrio que compra kits de avies de lazer dos Estados Unidos, monta-os e

    vende toda sua produo para a Austrlia. Outra empresria produz biscoitos e cookies

    de forma absolutamente artesanal para os padres convencionais. Todo o processo de

    embalagem feito de forma manual. Apesar disso, a empresria que possui certificao

  • 39

    MISSO SUDESTE ASITICO

    Halal necessria para vender alimentos para mercados muulmanos exporta 70%

    da sua produo para a China e j foi vtima de pirataria por uma empresa chinesa.

    Visitamos tambm o MPC Malaysia Productivity Center, que similar nossa

    Fundao Nacional da Qualidade (FNQ), cuja finalidade impulsionar a competitividade

    das empresas malaias por meio da melhoria de processos. O foco dessa instituio

    tambm evoluiu ao longo dos ltimos anos.

    Anos 1960 Treinamento em gesto e servios de aconselhamento

    Anos 1990 Pesquisas e desenvolvimento de sistemas produtivos

    1995 2000 Produtividade e aumento de eficincia

    Incio ano 2000 Benchmark e melhores prticas

    2005 2010 Competitividade e inovao

    2010 2015 Alto impacto, produtividade e drivers de inovao

    A Malsia formada por vrias etnias que, no seu dia a dia, no se misturam, porm,

    quando se encontram no ambiente corporativo, convivem de forma harmoniosa. O

    que os une o foco em prol de um objetivo comum construir um pas desenvolvido.

    Ouvimos de um malaio:

    Temos que ser um pas competitivo no mercado internacional e o

    esforo de todos necessrio. Trabalhar juntos, no nos importando

    se fulano desta ou daquela etnia, est ajudando a criar uma nova

    identidade e um novo pas.

    Em alguns pases, as mulheres ainda so segregadas por motivos religiosos. Na

    Malsia, elas tm a maior fora. Muitos dos altos cargos nas empresas, inclusive os de

    CEO, so de responsabilidade delas.

    Ao contrrio da Coreia do Sul, onde os jovens so formados para trabalhar em

    grandes empresas, a Malsia os prepara para serem empreendedores. grande o

  • 40

    ESTRATGIA PARA CRESCER

    nmero de startups e a concorrncia entre eles violenta. Para ilustrar o quanto gostam

    de competies, chegaram a contratar o Japo e a Coreia do Sul para construir duas

    torres idnticas as Petronas uma ao lado da outra havia uma premiao para quem

    entregasse o trabalho primeiro a Coreia do Sul foi a vencedora.

    Com um oramento bastante modesto, se comparado ao das instituies brasileiras

    similares, a Matrade Malaysia External Trade Development Corporation executa aes

    concretas para ajudar as empresas locais a venderem seus produtos no mercado externo.

    Como sempre, destaca-se o foco na atividade principal. No h desvio de caminho. A

    Matrade mantm um showroom permanente com mais de 400 empresas, cada uma

    pagando uma taxa de 400 dlares anuais para manter seus produtos em exposio.

    At agora, os pases visitados nos mostram que, no Brasil, possumos uma rede

    de suporte aos pequenos negcios de primeira linha. No vimos nenhuma instituio

    com a abrangncia e o formato do Sebrae. Observamos tambm que nossos produtos

    no so ruins para disputar o mercado internacional, se comparados aos que eles

    produzem, mas temos um srio pecado: o de querer reinventar a roda o tempo inteiro.

    Parece que o nosso povo tem uma obsesso por grandes nmeros, pela complexidade

    e pela tendncia de achar que tudo est obsoleto e que temos que fazer algo novo

    sempre. Isso nos tira o foco e dispersa os esforos. Essa eterna busca do brasileiro,

    por novos produtos e solues, torna difcil fazer comparativos histricos para poder

    investir mais tempo e recursos na evoluo das empresas que atendemos. Buscamos

    uma sofisticao da qual no precisamos. Est a um bom assunto para refletir.

  • 41

    MISSO SUDESTE ASITICO

    CingapuraA nmero 1 no ranking do Banco Mundial

    UM PAS-EMPRESA UMA CIDADE-ESTADO

    Cingapura leva to a srio a sua vocao para negcios que seu povo chama o seu

    presidente de CEO. E, como todo presidente de empresa, tem metas claras a cumprir.

    Administram o pas, que um pouco maior do que a cidade de Campinas/SP, como

    se fosse uma grande empresa. Seu crescimento geogrfico est no limite, s pode

    crescer construindo aterros no mar. Nos ltimos dez anos, aumentaram de 650 km

    para 710 km.

    Focados assim, transformaram o seu porto e aeroporto entre os mais eficientes

    do mundo e conseguiram chegar ao topo do ranking Doing Business publicado

    anualmente pelo Banco Mundial como o melhor pas do mundo em facilidades para

    se fazer negcios. Quando lembramos, poca da misso, que o Brasil estava no 121

    e pulamos para o 128 neste ranking pudemos ento perceber o quanto ainda temos

    para escalar.

    Tamanhos parte, pois no d para compar-los com o nosso pas, o que temos

    de aprender com eles manter-nos no foco dos negcios estratgicos e no deixar

    a poltica governamental relegar, a segundo plano, aes de melhoria mercantis e

    econmicas.

    SE NO FORMOS RICOS, SUMIREMOS DO MAPA

    Cingapura tem uma das cinco maiores rendas per capita do mundo, porm h 40

    anos, ao se separar da Malsia, de onde foram praticamente expulsos, era um pas

    pauprrimo, sem recursos e com o PIB inferior aos pases mais miserveis do planeta.

    Contando apenas com uma localizao geogrfica privilegiada, o desafio, na poca,

  • 42

    ESTRATGIA PARA CRESCER

    era gerar emprego para uma populao de miserveis. O foco ento foi transformar

    o pas em uma economia criativa e inovadora, com altos ndices de produtividade e

    um polo de atrao de talentos e empresas. Deu to certo que hoje exibe menos de

    3% de desemprego.

    A Spring Singapore Standards, Productivity and Innovation for Growth foi criada

    para fomentar o desenvolvimento econmico do pas e tambm responsvel pelas

    pequenas e mdias empresas. Ela diferencia-se do modelo de outras congneres,

    porque, alm de ajudar nos programas de gesto e apoio, tambm estabelece os

    padres e certificaes das pequenas empresas, a fim de assegurar que as empresas

    tenham nveis de competitividade internacional.

    Os cingapurianos ficaram impressionados com o nosso propsito, o do Sebrae

    PR, em atender milhares de micro e pequenas empresas. Ao serem informados de

    como trabalhamos, disseram que ns fazemos um trabalho social, que, enquanto

    eles apoiam o crescimento, parece que apoiamos a subsistncia. Para eles,

    pequenas empresas so lojinhas e chegaram a nos dizer que a padaria da esquina

    vai sobreviver ou no, independente do apoio de algum. Colocam o modelo

    empresarial acima da poltica partidria. O importante fazer negcios e o que vai

    mudar o seu pas so as grandes empresas. As pequenas empresas esto sempre

    aliadas s estratgias das maiores.

    A ASME Association of Small and Medium Enterprises uma espcie de brao

    da Spring, que financia em grande parte as suas operaes, para trabalhar s com

    microempresas. Enquanto a Spring concentra-se em empresas competitivas, inovadoras

    e de potencial exportador, a ASME cuida dos microempresrios.

    Em Cingapura, pelas instituies que conhecemos, est presente na cabea de

    todos, e de forma bastante forte, a ideia do mito fundador. Todas as instituies

    explicaram seus papis com base na histria do desenvolvimento econmico, desde a

    sua independncia em 1965.

    A evoluo do pas percorreu o seguinte caminho:

  • 43

    MISSO SUDESTE ASITICO

    De 1967 a 1978 Foco em exportao.

    De 1979 a 1985 Reestruturao da indstria.

    De 1986 a 1997 Capacitao das empresas e diversificao econmica.

    De 1998 at hoje Transformao de Cingapura em uma economia do conhecimento.

    No caso de outra instituio visitada, a Economic Development Board (EDB), essa

    histria fica mais ou menos assim:

    Anos 1960 Desenvolvimento de economia intensiva em mo de obra.

    Anos 1970 Intensiva em habilidades do trabalhador.

    Anos 1980 Intensiva em capital.

    Anos 1990 Intensiva em tecnologia e servio.

    Anos 2000 Intensiva em inovao e talento.

    Essas mudanas de foco, em cada uma das agncias, esto sempre conectadas ao

    momento econmico e ao plano de desenvolvimento do pas.

    A National University of Singapore produz pesquisas de altssimo nvel, para dar

    total apoio s indstrias. Os pesquisadores tm recursos disponveis vontade, desde

    que expliquem como pensam que os produtos da sua pesquisa sero comercializados.

    Enviam estudantes para programas de intercmbio, de seis meses a um ano aos

    Estados Unidos, principalmente ao Vale do Silcio, no s para estudar suas matrias

    acadmicas, mas para ficar imersos em alguma empresa startup, sob a mentoria de

    empreendedores experientes. A velha mxima me ajuda, que eu fao sozinho vale

    perfeitamente aqui.

    Visitamos uma empresa tocada por trs jovens que produzem software para

    interpretao semntica, cujo mercado principal os Estados Unidos. Dois deles j

    haviam participado de estgios no Vale do Silcio.

  • 44

    ESTRATGIA PARA CRESCER

    INFRAESTRUTURA E NOVAS IDEIAS, ALIADAS DO DESENVOLVIMENTO

    Ser expulso da Malsia, mas ficar com a melhor localizao geogrfica que um

    porto pode oferecer a melhor rota de passagem entre o Ocidente e o Extremo

    Oriente ajudou muito o desenvolvimento local. O Porto de Cingapura o segundo

    maior do mundo em movimentao de contineres e dez vezes maior do que o

    nosso Porto de Santos. No se v um nico estivador, toda a movimentao de

    contineres feita de forma centralizada e automatizada. H dez anos, implantou um

    conceito, na poca inexistente em outros portos, de single window, onde qualquer

    continer liberado em minutos a partir de um nico local. Quando vemos o quanto

    se arrastam os nossos pobres portos em greves, ameaas, problemas crnicos de

    infraestrutura, leis ambientais e intervenes polticas e sindicais de toda ordem,

    vemos o quanto estamos longe da eficincia exigida pela nova ordem global.

    Cingapura tem menos de 6 milhes de habitantes e todos falam ingls com fluncia,

    aprendem na escola como primeira lngua, o que facilita, em muito, suas investidas no

    mercado internacional. Vimos uma estudante local, em uma incubadora, trabalhando

    com outros jovens uma sueca, um australiano e um finlands para desenvolverem,

    juntos, uma luva com um dispositivo que permite o touch dos novos aparelhos celulares

    e telas de smartphones para uso em lugares de muito frio. O usurio no precisa mais

    tirar a luva para acessar seus aparelhos. um belo exemplo de uma empresa em um

    pas tropical desenvolvendo um produto para ser usado em regies geladas. Isso

    globalizao, pois a luva jamais ser usada em Cingapura.

    LEIS, NORMAS E REGULAMENTOS, SE NO SERVEM PARA NADA, TIRA-SE DO CAMINHO

    Ao se determinar por ser o melhor lugar do mundo para se fazer negcios, decidiu-

    se tambm limpar todos os entraves burocrticos. Foi feita nos ltimos cinco anos

    uma limpeza geral sob a ordem: Se no serve para nada, tira-se do caminho. Mais de

    duas mil leis, normas e regulamentos foram extirpados. A busca pela simplicidade nas

    relaes comerciais total. Tornar o pas competitivo uma questo de sobrevivncia,

    ele no tem fontes de energia, nem gua potvel em quantidade suficiente para

    abastecer a populao. Uma curiosidade: ter um carro em Cingapura no fcil, pois

    no basta compr-lo, tem de ir a um leilo de placas que chegam a custar 75 mil dlares.

  • 45

    MISSO SUDESTE ASITICO

    O nmero de veculos controlado pelo governo e, a cada dez anos, o proprietrio tem

    de revalidar a placa no total, o pas possui aproximadamente 600 mil veculos. Essa

    dificuldade de locomoo fez o transporte pblico supereficiente, tudo funciona. Por

    exemplo, o tempo de uma mala sair de um avio que pousa e ir at a esteira de no

    mximo 12 minutos para a primeira e at 25 para a ltima.

    CORRUPO QUASE ZERO

    Em Cingapura, o combate corrupo levado a srio. Existe uma agncia anticorrupo

    ligada diretamente ao presidente. , talvez, o pas que mais respeita as leis de direitos

    autorais e a propriedade intelectual. Andar com mercadoria falsificada ou pirata d cadeia.

    A transparncia total e, ao contrrio de muitos pases, no se rasgam contratos. Tudo pela

    competitividade nos negcios, mas de forma transparente.

    AGNCIAS DE FOMENTO, BANCOS E INCUBADORAS CADA UMA FAZ A SUA PARTE

    z A Spring Singapore Standards, Productivity and Innovation for Growth concentra-se nas pequenas empresas competitivas, inovadoras e de

    potencial exportador.

    z A EDB Singapore Economic Development Board cuida de levar empresas para fora de Cingapura.

    z A ASME Association of Small and Medium Enterprises um brao da Spring, que se responsabiliza pelos microempresrios, desde a sua formao

    tcnica at a atrao de talentos para essa causa.

    z A IE Singapore tem papel fundamental na economia externa de Cingapura e promove a exportao de bens e servios. Tambm cuida de atrair

    comerciantes de commodities globais para estabelecer sua base global,

    ou asitica, no pas. Para tanto, montou um ecossistema completo para

    os setores da energia, agro commodities, metais, minerais e aglomerados

    comerciais.

    z A National University of Singapore produz pesquisas de altssimo nvel, para dar total apoio aos interesses industriais e comerciais do pas.

  • 46

    ESTRATGIA PARA CRESCER

    NINGUM FAZ UMA REVOLUO SOZINHO

    Nos pases que visitamos, ficou claro que as mudanas no foram realizadas pelo

    estmulo de um grande lder ou instituio o sonho coletivo. Escutvamos, de todos,

    o mesmo discurso. Dividiam o mesmo mito fundador. Cada um realizava seu papel

    na sociedade.

    OFERECER AS FERRAMENTAS E NO IMPOR AS SOLUES

    Essa observao nos fez lembrar o livro de James Collins e Jerry Porras, Feitas

    para durar, no qual discorrem que o crucial para o sucesso de empresas visionrias

    est em: As empresas visionrias tornaram-se lderes de mercado, porque seus lderes

    preocupam-se com o futuro das empresas e a viso delas, no com eles mesmos.

    A POBREZA FSICA DECORRENTE DA POBREZA MENTAL

    A cultura do empreendedorismo no privilgio de poucos centros de excelncia,

    nos pases que visitamos. Percebe-se o esprito de grandeza presente em todos os

    nveis da sociedade. Em contraponto ao que acontece aqui, criamos tambm bons

    centros de excelncia, porm levantamos barreiras e fechamos os olhos para o que

    ocorre ao nosso redor. Temos algumas das melhores escolas do mundo, porm a maior

    parte do ensino de pas subdesenvolvido. Temos hospitais que so referncia mundial,

    e a nossa sade pblica padece. No somos contra centros de excelncia, porm o que

    percebemos que s se muda uma realidade quando o acesso a servios e padres de

    excelncia for do alcance de todos.

    AH! ESSA TAL DE ZONA DE CONFORTO

    Cingapura no tem gua e pouqussimos recursos naturais. A Coreia do Sul,

    por no ter tambm recursos naturais, concluiu que a sua nica opo para sair da

    pobreza seria import-los, agregar valor a eles e export-los. Em algumas dcadas,

    saiu da extrema pobreza para ter um PIB superior ao nosso.

  • 47

    MISSO SUDESTE ASITICO

    LIBERDADE ECONMICA A CRIAO DE FACILIDADES PARA SE FAZER NEGCIOS

    Todos os governos so pr-business e tm seu desempenho medido por indicadores

    de facilidade de negcios doing business. As aes governamentais so guiadas a

    remover empecilhos e a facilitar o curso da economia e no interferir no seu processo.

    Em Cingapura, a sociedade expe ao governo as suas dificuldades e esse governo

    no pode sustentar a manuteno de uma lei ou regra que atrapalha a realizao

    de negcios deve retir-la imediatamente. Quanta diferena com o nosso regime

    cartorial, burocrtico, fiscalizador e controlador, em que, para se abrir uma empresa

    ou movimentar uma carga em um porto, passam-se dias e at meses.

    INVESTIMENTOS PESADOS EM INFRAESTRUTURA

    To make money you have to spend money em todos os pases visitados

    predomina essa conscincia bsica: para se fazer dinheiro, necessrio investir. A nossa

    viso de curto prazo acredita que remendar asfalto, tapar buracos, dar uma maquiada,

    e contar isso na televiso, investimento em infraestrutura.

    COMO LIDAMOS COM A CORRUPO

    A agncia anticorrupo de Cingapura tem fora total de ao. Um taxista nos

    relatou o caso de um poltico que fora flagrado envolvido em corrupo e este teve

    que deixar o pas, pois no havia mais possibilidade de convivncia. Todas as portas

    se fecharam para ele.

    A GENTE J FAZ MUITA COISA E, EM CERTOS ASPECTOS, MELHOR QUE ELES

    Nossos produtos no so ruins ou desatualizados, se comparados aos que eles

    utilizam. Idem sobre os processos que usamos para dar apoio s empresas. Na Malsia,

    utiliza-se como ferramenta para medir competitividade das micro e pequenas empresas

    uma metodologia muito prxima da que j utilizvamos h muitos anos, que o

    diagnstico de competitividade que mais tarde inspirou a criao do sistema de

    diagnstico do Varejo Mais, do Sistema Fecomrcio e Sebrae PR.

  • 48

    ESTRATGIA PARA CRESCER

    Os instrumentos de capacitao e consultoria no so muito diferentes dos que

    utilizamos aqui, o que muda a estratgia de aplicao, o foco, comprometimento com

    resultado e persistncia constncia.

    SE VOC CONSTRUIR, ELES VIRO.

    No filme Campo dos Sonhos, o personagem, interpretado pelo ator Kevin Costner,

    tem uma viso e constri um campo de beisebol no meio de um milharal e atrai, de

    forma espiritual, os melhores jogadores de todos os tempos. Nesse filme, uma voz

    sempre lhe dizia... if you build it, they will come se voc construir, eles viro. Essa

    metfora aplica-se muito bem ao que descobrimos nessa misso: preciso, antes de

    tudo, ter uma viso, depois acreditar que possvel, planejar e executar. Se criarmos

    as oportunidades e as condies para a atrao de negcios, eles viro. No h limites

    para o empreendedorismo e para a transformao de uma sociedade e de um pas.

    A TESE DA MALDIO DOS RECURSOS NATURAIS

    Na dcada de 1990, desenvolveu-se uma tese nos meios acadmicos de economia

    sobre a maldio dos recursos naturais. Essa tese estava amparada em evidncias

    empricas de que pases com uma abundncia em recursos naturais (sobretudo petrleo)

    tenderiam a crescer de forma mais lenta que pases com recursos mais escassos. Coreia

    e Cingapura suportam essa evidncia.

    O ESTADO PR-BUSINESS

    Todos os governos desses pases esto voltados facilitao dos negcios e a no

    criar regras, leis e normativas para atrapalh-los. E no so, necessariamente, liberais.

    Chegam a ser fortes e at intervencionistas. Negcios modernos e agressivos fazem

    parte da estratgia de desenvolvimento desses pases.

    Cmbio de 2011 1 real = 0,51161 dlar

  • Misso Rssia-

    Escandinvia

  • OPINIO DOS PARTICIPANTES:

    Agnaldo Gerson Castanharo, Agnaldo Gerson Castanharo, Jos Gava Neto,

    Jos Ricardo Castelo Campos,Jos Ricardo Castelo Campos,Julio Cezar Agostini,

    Luiz Carlos da Silva eOrestes Hotz

    Dinamarca, Sucia, Noruega, Finlndia e Rssia

    Misso Rssia-

    Escandinvia

    .

  • 52

    ESTRATGIA PARA CRESCER

    Trabalhar de forma sistemtica, com objetivos de longo prazo, pensando de forma global,

    abertos para o mundo, e muito focados nas resolues dos seus problemas, so alguns dos

    aprendizados que o grupo trouxe desse trabalho de observao em terras escandinavas.

    No existe tempo ruim, existe roupa inadequada. Essa frase reflete bem o

    comportamento e as atitudes do povo escandinavo frente aos problemas que

    enfrentam no seu dia a dia. Submetidos inclemncia de um clima na maior parte

    do ano gelado, chuvoso e com temperaturas abaixo de zero, eles no se entregam s

    lamentaes. Nada de dar desculpas para no fazer o que tem que ser feito: No fui,

    porque estava chovendo, No fiz, porque era feriado, No fui, por causa do trnsito,

    No fao o curso, porque estou muito velho, porque sou moo, porque sou mulher,

    porque, porque, porque. Ao contrrio dos nossos compatriotas que do desculpas

    para no fazer o que precisam fazer, os escandinavos focam na soluo dos seus

    problemas e tentam resolv-los da melhor forma possvel. Choradeiras, lamentaes,

    ficar esperando por solues milagrosas, ou por promessas de polticos e governantes,

    no fazem parte do seu repertrio. Foco na soluo dos problemas, sim.

    DinamarcaO melhor pas em quase tudo

    A Dinamarca possui o mais alto nvel de igualdade de riqueza do mundo e o melhor

    clima para se fazer negcios, segundo a Revista Forbes. Com base em normas de

    sade, assistncia social e educao, foi classificada como o lugar mais feliz do

    planeta, entre 2006 e 2008. considerado o segundo pas mais pacfico do mundo

  • 53

    MISSO RSSIA-

    ESCANDINVIA

    e o menos corrupto de todos. Sua capital, Copenhagen, altamente especializada

    em indstrias criativas e inovadoras.

    O pas ocupa o primeiro lugar no mundo em tecnologia verde, assunto que

    leva muito a srio na Dinamarca, o discurso ecolgico no s da boca para fora,

    pratica-se a sustentabilidade mesmo. Recicla-se 90% do lixo e o que no pode ser

    reaproveitado vira aterro. Existe, por toda parte, uma preocupao muito forte

    entre a relao sustentabilidade/qualidade de vida. O que fez, ao longo do tempo,

    principalmente o setor da construo civil, tomar iniciativas prticas, inovadoras

    e eficientes no uso das energias naturais renovveis. Conjuntos de escritrios e

    habitacionais so construdos dentro de normas que devam atender aos mnimos

    detalhes da sustentabilidade. Uma construo em forma de oito permite que todos

    os apartamentos recebam boa claridade, farta exposio ao sol e ampla visibilidade

    ao mesmo tempo. tudo to bem calculado que at o acesso para os moradores

    que usam bicicleta foi facilitado. Os benefcios da face sul para eles norte para

    ns brasileiros nesse tipo de arquitetura vm de todos os lados.

    O meio de transporte mais utilizado pelos dinamarqueses a velha, boa e no

    poluente bicicleta, veculo que faz parte do cenrio local, ocupando, em alguns

    lugares, estacionamentos maiores do que os dedicados aos automveis. Ela

    usada como meio de transporte por todas as pessoas, de todas as idades e classes

    sociais inclusive pelo alto escalo do governo. O veculo colocado disposio

    das autoridades no um automvel de luxo, mas uma magrela. Assim, no h

    custos com motoristas, licenciamentos, manuteno, seguros, dentre outros. O

    bom cuidado com os bens pblicos cultural.

    O EMPREENDEDORISMO PRECISA SER ENSINADO DE NOVO

    A situao da populao dinamarquesa sempre foi to confortvel nas ltimas

    dcadas que ningum mais se lembrava de como era ser um empreendedor. A

    Copenhagen Business School CBS uma escola financiada pelo Estado, que

    procura criar sinergia entre seus professores capacitados para o ensino e a

    difuso do empreendedorismo e os jovens. Para cumprir sua meta, usa programas

  • 54

    ESTRATGIA PARA CRESCER

    especficos, aes de treinamento e a difuso de histrias de sucesso. O foco

    principal atuar com as startups locais, dispondo de uma incubadora. Atualmente,

    a CBS abriga uma carteira de 50 novas empresas.

    A CLARA DEFINIO DOS PAPIS FACILITA NEGCIOS A DISTNCIA

    Apresentaram-nos uma empresa incubada que atua no mercado brasileiro, a

    ChefClub, cujo modelo de negcio oferecer aos seus associados a possibilidade de

    se alimentar em uma rede de restaurantes credenciados. Ela cobra uma taxa anual

    de manuteno, disponibiliza ofertas e promoes em compras coletivas e trabalha

    duro na fidelizao dos seus associados. Os restaurantes, por sua vez, ganham em

    volume de clientes que iro tambm consumir bebidas, as quais no esto na taxa de

    desconto oferecida. Os estabelecimentos parceiros podem usar o banco de dados dos

    consumidores e os seus perfis detalhados, o que permite a elaborao de campanhas

    especficas para pblico-alvo segmentado. O desafio de gerenciar um negcio de to

    longe, com scios oriundos de diferentes culturas e experincias, vencido pela clara

    definio dos papeis de cada um.

    A Vksthus, cujo significado casa de crescimento e casa verde, tambm

    financiada pelo governo. Existe h cinco anos e seu foco so as empresas com

    grande potencial e ambio para crescimento. Para isso, tem um comportamento

    proativo na busca de novos clientes. Uma equipe de consultores experientes d

    apoio aos empreendedores, para o melhor desenvolvimento das suas ideias e

    negcios, alm de disponibilizar aos boas e modernas ferramentas de gesto. Cada

    empresrio tem no mnimo 25 e no mximo 100 horas de atendimento e todos os

    servios so gratuitos. Alm do diagnstico inicial, uma eficiente ferramenta de

    planejamento permite empresa incubada ter sua viso e misso desdobradas em

    aes ao longo do tempo curto e longo prazos.

    O EMPREENDEDORISMO NA SALA DE AULA

    A Foundation for Entrepreneurship and Young Enterprise uma fundao que

    trabalha exclusivamente no desenvolvimento da cultura empreendedora junto ao

  • 55

    MISSO RSSIA-

    ESCANDINVIA

    sistema de ensino dinamarqus, do pr-escolar ao superior, uma verdadeira cadeia

    de valor do ensino. Os professores da Copenhagen Business School CBS j haviam

    nos relatado as dificuldades de se mudar a mentalidade do jovem dinamarqus

    sobre o assunto. Dcadas de boas leis sociais, perspectivas de trabalho em grandes

    corporaes e em estatais embotaram o esprito empreendedor. O que sobra de

    gente querendo empreender no Brasil falta na Dinamarca. A carncia de esprito

    empreendedor entre os jovens dinamarqueses comeou a ser percebida com a crise

    de 2008. Hoje, so incentivados, por meio de bolsas, a sair da casa dos pais e a

    se incorporarem ao mercado de trabalho, tanto como empregados quanto como

    empreendedores. Na linha oposta das leis brasileiras, em que o trabalho do menor

    cerceado por normas e regulamentos, os escandinavos incentivam seus adolescentes

    a ir cedo para o trabalho, a fim de aprender uma profisso, seus valores e os sentidos

    da economia e da poupana.

    As expectativas e o trabalho dessa Fundao so convergentes com o que o Sebrae

    PR planeja e almeja para 2022.

    ESTRATGIA FOCADA NA COMPETITIVIDADE

    Entidade governamental encarregada de coordenar as aes relacionadas ao

    desenvolvimento da inovao, a Dasti Danish Agency for Science Technology

    and Innovation quem define as linhas de pesquisas e as financia, por meio das

    incubadoras, todas de alta base tecnolgica e voltadas, atualmente, para os temas

    sade e meio ambiente. Dispe de 320 milhes de euros/ano equivalentes a 415

    milhes de dlares/ano para serem investidos de forma estratgica na elevao

    da competitividade das empresas dinamarquesas. praticamente um misto de

    BNDES, CNPq e Finep.

    SE A IDEIA BOA, VAMOS ARRISCAR

    A Vkstfonde uma instituio pblica que atua onde e quando o mercado

    financeiro tem dvidas. Investe em fundos de capital de risco por meio da garantia

    de crdito e emprstimo. Quando h possibilidade, torna-se parceira da iniciativa

  • 56

    ESTRATGIA PARA CRESCER

    privada. O pblico-alvo segmentado em empresas locais, regionais e internacionais,

    sendo que, para cada um desses tomadores de crdito, h produtos bem definidos.

    Alm de trabalhar com empresas j sedimentadas, apresenta linhas especficas para

    as iniciantes.

    Em parceria com os bancos locais, empresta at 230 mil dlares, garantindo 75%

    do valor. Desde 2005, realizou aproximadamente 1,2 mil operaes. Seus dirigentes

    dizem que correm o risco mesmo em se tratando de dinheiro pblico, porque se a ideia

    for boa, e o empreendimento der certo, o lucro volta na forma de benefcios para a

    sociedade: mais empregos, realizao pessoal dos empreendedores, recolhimento de

    impostos, dentre outros. Calcula-se que para cada processo de garantia de crdito so

    criados cinco novos empregos. O modelo de ao dessa instituio muito parecido

    com o nosso BNDES.

    SuciaA grande lio: desenvolvimento de forma cooperada e estratgica

    Viso compartilhada, polticas e estratgias bem definidas alavancam o

    desenvolvimento da Sucia. So claros os papis de cada um no processo: governo,

    instituies, agncias regionais de negcios e desenvolvimento, empresrios e

    universidades. Todos agem de forma integrada e com foco nos objetivos traados para

    o pas. Isso facilita o trabalho, no h sobreposio de atividades e cada um sabe o que

    tem que fazer e o faz bem.

    Pesquisas acadmicas so focadas na resoluo de problemas prticos e

    globais, tudo o que incomoda o ser humano interessa a um pesquisador sueco. Nas

  • 57

    MISSO RSSIA-

    ESCANDINVIA

    universidades, so raros os trabalhos de interesse individual ou segmentado, a viso

    tem que ser global. Por inventar e abrigar a realizao do Prmio Nobel, do qual a Sucia

    j foi contemplada com sete distines, a populao respira a atmosfera do Prmio e

    tudo o que o cerca, isto , o povo sueco est sempre no centro do que se produz de

    inovador e de bom no mundo. uma espcie de DNA da excelncia das realizaes

    humanas. Essa viso globalizada e natural j vem de tempos, pois a Sucia foi um dos

    grandes atores do mercantilismo. A cada Prmio Nobel, a excelncia do que melhor

    se est fazendo no mundo vem at ns. frase de um taxista sueco.

    GOTEMBURGO A AMEAA ASITICA FEZ NASCER UM NOVO POLO INDUSTRIAL

    Nos anos 1960 e 1970, a cidade comportava grandes estaleiros, fruto de uma

    expertise histrica acumulada por sculos de tradio na arte da construo

    naval. A ameaa econmica veio na forma do aumento da competitividade global,

    principalmente dos pases asiticos. Com o tempo, a cidade viu suas plataformas

    industriais navais sucateadas e a maior parte das indstrias deixar o local. No ano

    2000, foi criado o Business Region Gotemburg, com a finalidade de pensar o futuro,

    atrair investimentos, criar novas empresas e apoiar as j existentes. Em consequncia,

    gerar novos empregos. uma instituio sem fins lucrativos, que segue o modelo da

    parceria pblico-privada. Conta com 80 colaboradores e j, h muito, deixou de atender

    somente Gotemburgo, para dar assistncia a mais 13 municpios que desenvolvem

    clusters com interesses comuns e especficos.

    Trs parques tecnolgicos desenvolvem pesquisa aplicada nas reas biomdicas,

    automotiva, meio ambiente, transporte inteligente e cincias da vida. Isso faz com que

    populao de Gotemburgo, que de aproximadamente 500 mil habitantes, movimente

    70 mil estudantes/ano.

    A entidade atua dentro de trs estratgias:

    z apoio aos empreendedores com boas ideias, mas sem condies financeiras para coloc-las em prtica. Nesse caso, entra com assessoria comercial e

    financiamento;

  • 58

    ESTRATGIA PARA CRESCER

    z faz o mesmo, auxiliando empresas existentes e com potencial de crescimento;

    z d apoio s empresas em crise. O ndice de efetividade para esse tipo de ao chega a 67%.

    UM EXEMPLO DE COOPERAO QUE D CERTO

    Sahlgrenska Science Park um complexo e gigantesco parque que cuida da

    cincia da vida, concentrando-se nos ramos farmacutico, alimentos funcionais,

    biomedicina, diagnsticos, servios/logstica/comunicao e tecnologia mdica.

    Recebe apoio tcnico, logstico e intelectual de um grande hospital, uma incubadora

    e duas universidades, cujo arranjo territorial realizado de uma forma inteligente e

    prtica: de um lado o hospital, do outro as universidades e no meio a incubadora. Sua

    sustentao provm da cooperao entre a Universidade de Gotemburgo, o Instituto

    Superior Tecnolgico, o Business Region Gotembourg e a Provncia o equivalente ao

    nosso conceito de Estado. Atualmente, mantm 50 projetos de startups incubados e

    outros 40 em fase de averiguao, isto , na fila para entrar na incubadora. Entre 2007

    e 2008, 26 novas empresas de biomedicina lanaram-se no mercado.

    Os aprendizados desta visita so: encontre seu foco e permanea nele, e preciso

    uma aproximao ntima entre a prtica acadmica e o setor privado. Esse tipo de

    associao salutar, entre o mundo acadmico e o empresarial, encontrado em quase

    todos os pases que visitamos.

    SUCIA, CATALISADORA DE INVESTIMENTOS

    A Invest Sweden uma instituio oficial do governo, que facilita os

    investimentos estrangeiros no pas. E eles so muito bons nisso, pois 67% das

    empresas estrangeiras que investem nos pases nrdicos esto na Sucia, o que

    demonstra efetivamente a abertura da economia local a investimentos externos.

    A estratgia abrangente, sobretudo em relao s empresas em fase inicial. Alm de

    receber investimentos, nascem fortalecidas, pensam de forma global e com conhecimento

    e network internacional.

  • 59

    MISSO RSSIA-

    ESCANDINVIA

    A Sucia procura atrair, desenvolver e reter empresas diversificadas e inovadoras

    onde quer que elas estejam. Elas so fortalecidas pelos diversos tipos de apoio e

    cooperao e com isso criam um grande diferencial competitivo. Aes que fazem com

    que a economia sueca tenha aproximadamente 50% do seu PIB oriundo da exportao

    de produtos com alto valor agregado.

    Abrir uma empresa na Sucia fcil. Em uma semana, j est totalmente legalizada,

    mesmo que seja de porte internacional, e so necessrios 10 mil euros, cerca de 13 mil

    dlares de capital inicial.

    Atualmente, o governo sueco canaliza esforos para atrair investimentos de

    seis pases considerados como potenciais, dentre os quais o Brasil, onde mantm

    um escritrio de negcios em So Paulo, que a segunda cidade do mundo com o

    maior nmero de trabalhadores em empresas suecas.

    ESTMULO INOVAO

    A Vinnova uma agncia de governo fundada em 2000, que conta com 200

    colaboradores, na sua maioria PhD, alm de um oramento anual de 200 milhes de

    euros ou 260 milhes de dlares. Sua funo investir em pesquisa, desenvolvimento e

    inovao nas empresas suecas, principalmente nas reas da sade, transporte, servios

    e manufaturados.

    APOIO A REAS SELECIONADAS E ESTRATGICAS PARA A ECONOMIA SUECA

    A Tillvaxt Verket tambm uma agncia de governo com foco no apoio ao

    empreendedorismo e desenvolvimento regional. Procura acelerar o crescimento das

    empresas com alto potencial e que atendam as estratgias econmicas do pas. A

    instituio atua preferencialmente com empresas que tenham capacidade contnua

    de inovao e atualizao, de acordo com as tendncias mundiais e, claro, que

    gerem empregos. A Tillvaxt Verket trabalha com fundos estruturais, que possibilitam

    operaes subsidiadas e emprstimos financeiros para o desenvolvimento de negcios

    e d apoio de capital. Seu oramento de aproximadamente 3,7 bilhes de coroas ou

    479 milhes de dlares. Tem um quadro de 350 colaboradores e est presente nas nove

    regies da Sucia. Faz o seu trabalho em completa sinergia com outras instituies.

  • 60

    ESTRATGIA PARA CRESCER

    NA HORA DO CAFEZINHO, A CRIATIVIDADE APARECE

    O povo sueco toma caf o tempo inteiro e sempre junto aos amigos, colegas

    de trabalho e vizinhos. Esta socializao proposital e favorece a troca de ideias e

    as inovaes. Nas empresas, em intervalos definidos, existe o momento do fico,

    uma parada de cinco minutos, a cada duas horas de trabalho, para tomar um caf e

    conversar. uma forma de incentivar o ambiente criativo, pois so nesses momentos

    de descontrao que as boas ideias florescem. Em todas as instituies visitadas, vimos

    ambientes preparados e estruturados como forma de incentivar essa prtica. A Sucia

    o segundo maior consumidor de caf do mundo e um dos mais criativos e inovadores

    tambm. na hora do cafezinho, e na carona para casa, que a verdadeira comunicao

    se processa na minha empresa, nos disse um empresrio.

    A LICENA-MATERNIDADE PODE CHEGAR A 16 MESES

    A licena maternidade das mulheres suecas pode ser de at 16 meses, caso os

    maridos concedam os meses a que tambm tm direito s suas esposas.

    O salrio mdio de 25 mil coroas equivalentes a 3.500 dlares/ms.

    O inverno vai do final de outubro a maio do ano seguinte nesse perodo, tem-

    se apenas quatro ou cinco horas dirias de claridade e, em certos dias chuvosos, a

    escurido perdura o dia todo. O comrcio abre por volta das 10 horas e fecha s 17

    horas, com um intervalo para almoo de 30 minutos. So 10 milhes de habitantes,

    sendo 2 milhes em Estocolmo, uma cidade formada por 14 ilhas interligadas por

    pontes e tneis.

    Estocolmo tem dois parlamentos: o primeiro vinculado ao poder local, em que

    no existe a figura do prefeito, ficando a administrao a cargo de oito vereadores

    que cuidam, entre outras atribuies, da sade, do transporte pblico e da segurana.

    O poder decisrio realizado por 101 vereadores, que definem as polticas que

    atendero s necessidades da sociedade. O segundo parlamento o federal, que

    estabelece leis nacionais.

  • 61

    MISSO RSSIA-

    ESCANDINVIA

    NoruegaMais de 140 empresas norueguesas j se instalaram no Brasil para aproveitar as oportunidades do pr-sal

    Aqui se v o modelo social dos pases escandinavos aplicado em sua totalidade:

    sade universal, ensino superior subsidiado e abrangncia na previdncia social.

    Os noruegueses vivem no melhor pas do mundo em desenvolvimento humano

    classificao em todos os relatrios da Organizao das Naes Unidas ONU, desde

    2001. Em 2009, foi considerado o melhor pas do mundo para se viver e, em 2007,

    como o lugar mais pacfico.

    A partir da dcada de 1970, com a descoberta de grandes jazidas de petrleo

    no Mar do Norte e no Mar da Noruega, aconteceu o desenvolvimento natural da

    indstria petrolfera, em consequncia, a moeda fortaleceu, permitindo pesados

    investimentos em polticas de bem-estar social. O pas possui recursos naturais

    na forma de gs, hidroeletricidade, pesca, servios florestais e riquezas minerais.

    Alm de uma atividade martima mercante bastante robusta a sexta maior frota

    do mundo. Possui indstrias pesadas nas reas de processamento de alimentos,

    metais, produtos qumicos, minerao, pesca e produo de papel. A estratgia do

    pas bastante definida e intensiva quanto inovao constante dos seus produtos

    e servios e busca pela internacionalizao das suas empresas.

    DO NASCIMENTO DA EMPRESA AO MERCADO

    Criada em 2003 para o desenvolvimento e inovao das empresas norueguesas, a

    Innovation Norway conta com 700 colaboradores e est presente nas 17 provncias

    estados. Dispe de representaes em 30 pases, na maioria das vezes junto s

    embaixadas/consulados. No Brasil, mantm um brao no Rio de Janeiro, onde d apoio

    a cerca de 140 empresas norueguesas, principalmente as do setor petrolfero e de gs.

  • 62

    ESTRATGIA PARA CRESCER

    Forma aliana estratgica com a Petrobras, por meio do desenvolvimento conjunto

    e fornecimento de tecnologias para a explorao de petrleo em guas profundas.

    Prioridades:

    z energia;

    z sade;

    z agricultura;

    z navegao e atividades marinhas;

    z petrleo;

    z turismo.

    Sua atuao vai desde as fases iniciais do empreendimento classificao das

    ideias ao desenvolvimento e preparao da empresa para o mercado. Oferece,

    como apoio, 25 servios relacionados a negcios internacionais: consultoria,

    estudos de mercado, identificao de parcerias estratgicas, ajuda na elaborao de

    contratos internacionais e entendimento de regulamentos aduaneiros, mentoring,

    posicionamento estratgico, marketing e design, entre outros. Os servios so

    subsidiados e vo de 0 a 50%, dependendo da maturidade do projeto. O objetivo

    muito claro: agregar valor aos produtos e servios dos seus clientes, tornando-os

    competitivos, inovadores e com pensamento globalizado.

    A entidade atende em mdia 10.000 empresas/ano. Dispe de oramento anual

    de 40 bilhes de coroas ou 7,12 bilhes de dlares, considerando os financiamentos

    alavancados pelas empresas e indstrias atendidas. Resumindo, praticamente uma

    empresa privada que presta servios de consultoria ao governo noruegus para facilitar

    a vida das empresas instaladas no Brasil.

    A Innovation Norway transformou a Noruega, que por muito tempo era conhecida

    apenas como fornecedora de matria-prima, em um dos pases mais inovadores do

    mundo, reconhecido por ter um dos melhores ambientes para negcios.

  • 63

    MISSO RSSIA-

    ESCANDINVIA

    A BUSCA PELA EXCELNCIA O MODELO VEIO DE FORA

    A Universidade de Oslo desenvolveu o seu centro de empreendedorismo baseado

    na estada de um dos seus professores 1997/1998 na Universidade de Stanford, na

    Califrnia. No ano seguinte, lanou um programa para que estudantes noruegueses

    passassem a fazer estgios em universidades de excelncia em empreendedorismo. Os

    exemplos vieram de Berkeley, Boston, Houston e da NUS de Cingapura. A colaborao

    de diversas universidades norueguesas proporciona ao pas manter em mdia 140

    estudantes por ano, estudando empreendedorismo fora da Noruega. As reas so

    escolhidas, de acordo com os setores prioritrios da Innovation.

    Os critrios de escolha para estes estgios so: notas, currculo escolar e,

    principalmente, a motivao pessoal do candidato. Trezentos e cinquenta estudantes

    disputam a cada ano as 140 vagas disponveis.

    O Siva um organismo de desenvolvimento industrial, criado pelo governo

    noruegus em 1968, para contribuir para o crescimento e o desenvolvimento industrial

    em reas mais distantes da capital. Objetiva promover ambientes inovadores e

    sustentveis.

    A histria, aqui, tambm comeou quando as plataformas da indstria naval

    comearam a ser desativadas, frente predatria concorrncia internacional eles

    de novo, os asiticos. A economia norueguesa ficou em situao complicada, pois a

    indstria naval era um dos setores mais fortes do pas. A partir de ento, os esforos

    foram direcionados para a criao de ambientes inovadores parques cientficos e

    desenvolvimento de clusters 23 unidades atualmente. O Siva participa de forma

    direta, contribuindo com at 80% nas propriedades que so os bens imveis onde

    se localizam os parques e com participao direta (entre 22% e 33%) nas empresas

    estabelecidas.

    O Siva cria e faz a gesto dos chamados Jardins Empresariais, presentes em

    55 cidades e desenvolvidos a partir do final da dcada de 1990. Essa geografia

    empresarial voltada para o apoio s pequenas empresas. Na poca, percebeu-

    se que as cidades menores, onde no havia universidades, necessitavam de uma

    estrutura que incentivasse, permitisse e proporcionasse o empreendedorismo e o

    desenvolvimento dos negcios locais. Essa estrutura fsica um mundo