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45 ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL DA BAHIA Nas últimas décadas, a Bahia passou por importantes transformações que resultaram na consolidação de uma matriz industrial, baseada na produção de matérias-primas e bens intermediários. Mais recente- mente, vem emergindo um novo perfil industrial, onde a produção de bens finais assume ainda de forma incipiente maior importância, sendo a implantação do complexo automobilístico sua face mais visível. Já no setor agropecuário, verifica-se a expansão de uma agricultura moderna, mais capitalizada, e a implan- tação de unidades agroindustriais. Destacam-se, aqui, a produção de grãos no Oeste, a fruticultura no vale do São Francisco e o segmento de celulose no Extremo-Sul. Como resultado destas transformações, a Bahia apre- sentou em 2006, segundo a SEI, um PIB de R$ 103 bi- lhões, o sexto maior do país. O Estado ocupava, ainda, em 2005, a sexta colocação em termos de produção industrial, superando o estado de Santa Catarina. No que pese o seu potencial econômico e os avanços verificados, o Estado não tem conseguido transformar este desempenho em melhoria das condições de vida de sua população. Assim, o desempenho social do Estado, traduzido em variáveis e indicadores como renda e escolaridade, tem se mostrado muito aquém do que poderia ser obtido a partir do seu potencial econômico e dos investimentos públicos realizados. O modelo econômico que se consolidou na Bahia, decorrente não apenas da própria dinâmica do proces- so de expansão do capital, mas, também, das diversas opções de política econômica adotadas no Estado, inclusive a política de incentivos fiscais, terminou por privilegiar uma indústria do tipo intensiva em capital, com efeitos limitados sobre a geração de empregos. Já o micro e pequeno empreendedor e a agricultura familiar não receberam os apoios adequados para que pudessem desenvolver todo o seu potencial de gera- ção de renda e de ocupação da força de trabalho. Ocorreram iniciativas nesta direção por parte de administrações anteriores, entretanto, os resultados alcançados também ficaram muito aquém do espera- do. Este fenômeno evidencia que ao apostar nos grandes empreendimentos, o Governo do Estado ne- gligenciou os pequenos negócios, considerando-os ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL DA BAHIA

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ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL DA BAHIA

Nas últimas décadas, a Bahia passou por importantes

transformações que resultaram na consolidação de

uma matriz industrial, baseada na produção de

matérias-primas e bens intermediários. Mais recente-

mente, vem emergindo um novo perfil industrial, onde

a produção de bens finais assume ainda de forma

incipiente maior importância, sendo a implantação do

complexo automobilístico sua face mais visível. Já no

setor agropecuário, verifica-se a expansão de uma

agricultura moderna, mais capitalizada, e a implan-

tação de unidades agroindustriais. Destacam-se, aqui,

a produção de grãos no Oeste, a fruticultura no vale

do São Francisco e o segmento de celulose no

Extremo-Sul.

Como resultado destas transformações, a Bahia apre-

sentou em 2006, segundo a SEI, um PIB de R$ 103 bi-

lhões, o sexto maior do país. O Estado ocupava, ainda,

em 2005, a sexta colocação em termos de produção

industrial, superando o estado de Santa Catarina.

No que pese o seu potencial econômico e os avanços

verificados, o Estado não tem conseguido transformar

este desempenho em melhoria das condições de vida

de sua população. Assim, o desempenho social do

Estado, traduzido em variáveis e indicadores como

renda e escolaridade, tem se mostrado muito aquém

do que poderia ser obtido a partir do seu potencial

econômico e dos investimentos públicos realizados.

O modelo econômico que se consolidou na Bahia,

decorrente não apenas da própria dinâmica do proces-

so de expansão do capital, mas, também, das diversas

opções de política econômica adotadas no Estado,

inclusive a política de incentivos fiscais, terminou por

privilegiar uma indústria do tipo intensiva em capital,

com efeitos limitados sobre a geração de empregos.

Já o micro e pequeno empreendedor e a agricultura

familiar não receberam os apoios adequados para que

pudessem desenvolver todo o seu potencial de gera-

ção de renda e de ocupação da força de trabalho.

Ocorreram iniciativas nesta direção por parte de

administrações anteriores, entretanto, os resultados

alcançados também ficaram muito aquém do espera-

do. Este fenômeno evidencia que ao apostar nos

grandes empreendimentos, o Governo do Estado ne-

gligenciou os pequenos negócios, considerando-os

ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL DA BAHIA

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efetivamente incapazes de contribuir para um proces-

so de desenvolvimento sustentável. Isso se traduziu em

recursos insuficientes aplicados no apoio a micros e

pequenos empreendimentos e na agricultura familiar,

e pouca ênfase à formulação e implementação de

modelos de gestão capazes de assegurar a efetividade

de tais programas.

Esta realidade aponta os limites e características do

modelo de desenvolvimento que orientou os investi-

mentos produtivos no Estado e o modelo de gestão

adotado pela administração pública estadual.

Superar tais limitações do processo do desenvolvimen-

to da Bahia, fazendo com que os frutos do crescimen-

to econômico alcancem a todos os baianos, não sig-

nifica promover meros ajustes na estrutura econômica

do Estado, bem como na forma de promover a gestão

pública, mas implica implementar um novo modelo de

desenvolvimento, construído a partir de um novo para-

digma, em que tenham espaço e oportunidade não

apenas as grandes empresas, mas, igualmente, os

pequenos empreendedores. Neste novo modelo, bus-

cam-se formas de potencializar a pequena produção,

assim como criar os canais adequados de inserção de

sua produção no mercado. Tal visão permitirá que

todo o potencial da economia baiana seja aproveitado,

de modo que o desenvolvimento econômico inclua a

todos os baianos. Nestas condições, o processo de

inserção da Bahia no mercado nacional e global, ao

invés de se constituir uma ameaça, poderá ser uma

efetiva oportunidade para alavancar todas as formas

de produção e promover a inclusão social de sua po-

pulação.

A implementação da Estratégia de Desenvolvimento

da Bahia dependerá da articulação de interesses diver-

sos, muitas vezes conflitantes. Será através da articu-

lação destes interesses, da identificação dos elementos

de convergência, do estabelecimento de negociações

sobre os pontos de divergência e da construção de

consensos que a estratégia de desenvolvimento se

tornará efetivamente um elemento orientador da

tomada de decisões, constituindo-se em balizador do

processo de mudanças que, efetivamente, já está em

curso.

Elementos Estruturantes da Estratégia de

Desenvolvimento

Na área econômica, é necessário assegurar o desen-

cadeamento de um processo de crescimento econômi-

co envolvendo todos os segmentos da economia,

aproveitando as oportunidades potenciais existentes,

tanto para os projetos de grande porte, de escala

nacional ou global, quanto para os micros e pequenos

empreendimentos. A valorização das políticas capazes

de gerar emprego e renda é elemento essencial da

estratégia, com destaque àquelas voltadas para a agri-

cultura familiar, ciência e tecnologia, reforma agrária,

crédito e as infra-estruturas econômico-sociais.

Ao lado das políticas de crescimento econômico, com

foco na geração de empregos e distribuição da renda,

serão implementadas políticas sociais que promovam

maior equidade no acesso aos serviços públicos e bens

de uso coletivo, promovendo a melhoria da qualidade

de vida. As prioridades neste campo serão a educação,

formando massa de competência na população eco-

nomicamente ativa, tornando-as capaz de atender aos

níveis de sofisticação do mercado de trabalho, e a

saúde, respaldada em ações preventivas, tais como

habitação e saneamento básico.

PLANO PLURIANUAL – PPA 2008-2011

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ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL DA BAHIA

A busca de uma situação de equilíbrio social e étnico

qualifica e especifica o tipo de desenvolvimento e de

sociedade que se almeja. Além de introduzir, na for-

mulação de todas as políticas, o corte de etnia, raça e

gênero, serão implementadas políticas específicas,

tanto de caráter reparatório ou afirmativo, como

voltadas para combater as causas mais profundas e

reprimir atitudes e comportamentos discriminatórios.

Por fim, o processo de desenvolvimento deve per-

seguir a redução das desigualdades regionais, através

do estímulo ao desenvolvimento local e da priorização

das áreas e regiões mais deprimidas e carentes na dis-

tribuição dos investimentos públicos, e também asse-

gurar a preservação e recuperação dos recursos ambi-

entais, de modo que o atendimento às necessidades

da presente geração não comprometa o bem-estar das

gerações futuras.

Desenvolvimento Econômico Sustentável

Este conjunto de proposições conforma o conceito de

Desenvolvimento Econômico Sustentável, que expressa

o objetivo maior a ser alcançado e a estratégia adotada

para tal. Promover um processo de Desenvolvimento

Econômico Sustentável significa articular projetos estru-

turantes, assim como uma rede de sustentação e apoio

a empreendimentos de pequeno e médio porte, sobre-

tudo aqueles com maior capacidade de gerar oportu-

nidades de negócio, postos de trabalho e distribuição

de renda. Desta forma, através de uma adequada arti-

culação entre políticas econômicas e políticas sociais,

territoriais e ambientais, é possível promover a melhoria

sustentável da qualidade de vida da população, diminuir

as diferenças de gênero, etnia e raça, promover o equi-

líbrio sócio-territorial inter e intra-regional e assegurar a

sustentabilidade ambiental.

Macro-objetivos

O conceito de Desenvolvimento Econômico

Sustentável sintetiza a Visão de Futuro e operacional-

mente se desdobra em macro-objetivos, que expres-

sam de forma quantificável os resultados esperados e

que serão alcançados com a aplicação e concretização

do Plano de Governo. Os macro-objetivos são

"Crescimento Econômico"; "Crescimento dos Peque-

nos Empreendimentos"; "Emprego e Distribuição de

Renda"; "Qualidade de Vida"; "Equilíbrio Social, de

Gênero, Étnico e Racial"; "Equilíbrio Sócio-territorial";

e "Fortalecimento das Identidades Culturais". Como

resultado da condensação de todos estes macro-obje-

tivos, emerge o conceito de Desenvolvimento

Econômico Sustentável.

Crescimento Econômico

Elemento essencial para alcançar a visão de futuro pro-

posta pela Estratégia de Desenvolvimento Econômico

Sustentável é a dinamização da capacidade de geração

de bens e serviços, agregando valor no território

baiano, propiciando as condições para geração de

emprego e renda e a distribuição dessa renda. A políti-

ca econômica adotada deve assegurar a criação de um

ambiente propício ao desenvolvimento, capaz de pro-

mover a atração e instalação de novos empreendimen-

tos econômicos, a implantação de novos segmentos

dinâmicos e o adensamento da cadeia produtiva. A

política de atração de investimentos baseados em

renúncia fiscal, amplamente usada pela Bahia, já deu

sinais de esgotamento. Ainda que não seja totalmente

descartada, a sua utilização deve ser limitada a casos

específicos, compatíveis com a capacidade financeira

do Estado, com ampla demonstração dos benefícios a

serem gerados, acompanhada de uma pauta de com-

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promissos das empresas beneficiadas e garantindo

que as empresas a serem instaladas não promovam

competição desleal com aquelas já instaladas no ter-

ritório baiano. Desenvolvimento Econômico Susten-

tável é, também, o oposto ao enclave, situação ca-

racterizada por uma grande empresa instalada num

território, quer seja ela industrial ou hotel, e que não

insume bens e serviços oriundos do território onde se

encontra inserida.

Outros mecanismos de atração devem ser oferecidos

aos investidores. Instrumento importante de atração e

dinamização da economia é a implantação de uma efi-

ciente estrutura logística, incluindo transporte de car-

gas e pessoas, e as tecnologias de informação e comu-

nicação, que conectem a Bahia aos mercados nacional

e global. A posição privilegiada da Bahia no Brasil e na

América do Sul permite antever o Estado como um

portal logístico do continente, território privilegiado

para os fluxos comerciais e para a instalação de novos

empreendimentos e suas unidades gerenciais. Para

que esta pretensão se torne realidade será necessária

uma eficiente articulação política com o Governo

Federal e com o setor empresarial, de modo a viabilizar

o conjunto de projetos e obras que já constam no

Plano de Aceleração do Crescimento – PAC e a incor-

poração aos planos de obra das alternativas de traça-

dos e de modais de transporte que melhor atendam

aos interesses da Bahia.

Outra política que poderá elevar o potencial da Bahia

na competição econômica é a existência de uma força

de trabalho altamente qualificável e maleável, o que

só poderá ser obtida com melhoria da qualidade do

ensino, aumento da escolaridade e expansão do ensi-

no técnico e superior.

Crescimento dos Pequenos Empreendimentos

Um dos elementos limitantes do Modelo de Desenvol-

vimento até então vigente foi a concentração dos

esforços nos grandes empreendimentos que geram

renda, mas poucos empregos, e freqüentemente

escassa internalização da cadeia produtiva. Ultrapas-

sando esta limitação, emerge como característica

essencial da Estratégia de Desenvolvimento da Bahia o

apoio aos pequenos e médios empreendimentos. Por

este motivo é que a Estratégia apresenta este macro-

objetivo, evidenciando o absoluto compromisso do

Governo com o pequeno empresário, o micro-

empreendedor e com a formação de uma rede de

economia solidária articulada com a totalidade do sis-

tema produtivo.

Dentro desta ótica, o Governo do Estado investirá

fortemente na formação de uma rede de articulação

produtiva, empreendimentos e empreendedores de

pequeno porte, maiores ofertantes de emprego em

relação ao capital empregado, capazes de promover

inclusão econômica e prosperidade com maior equi-

líbrio social.

Emprego e Distribuição de Renda

Os macro-objetivos "Crescimento Econômico" e

"Crescimento dos Pequenos Empreendimentos" estão

fortemente associados ao macro-objetivo "Emprego e

Distribuição de Renda". Assim, ao lado do crescimen-

to econômico, é necessário alcançar indicadores ade-

quados de empregabilidade e de desconcentração da

renda territorial, domiciliar e pessoal. A estratégia de

desenvolvimento adotada não visa apenas gerar

riqueza e crescimento econômico, mas estimular todas

as oportunidades de geração de renda, inclusive os

PLANO PLURIANUAL – PPA 2008-2011

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ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL DA BAHIA

pequenos empreendimentos. Da mesma forma, não

pretende apenas gerar empregos, mas empregos e

ocupações de qualidade, gerando, assim, não apenas

riquezas, mas ocupação da mão-de-obra e inclusão

social. Para isto, é fundamental identificar os segmen-

tos que utilizam recursos humanos de forma intensiva,

nos limites de capacidade de inserção na rede de dis-

tribuição e viabilidade econômica.

Para elevar o potencial de empregabilidade da

economia baiana buscar-se-á o fortalecimento das

atividades econômicas de todos os tipos, o fortale-

cimento das cadeias produtivas dos pequenos negó-

cios, o apoio à criação de cooperativas e ao micro e

pequeno empreendedor, à economia solidária, ao

trabalhador autônomo e à agricultura familiar.

Importante também é o estímulo aos novos segmen-

tos da economia, como informática, call centers,

prestação de serviços contábeis e administrativos

online, serviços superiores de saúde e educação,

núcleos de excelência atendendo demanda externa

à região, capaz de gerar um grande número de pos-

tos de trabalho e rendimentos acima das médias do

mercado. A estratégia para fortalecer e assegurar o

crescimento da empregabilidade do trabalhador

baiano incluirá também ações de qualificação profis-

sional e gerencial, oferta de crédito, especialmente

micro-crédito, organização dos produtores, criação

de canais de comercialização e garantia de colo-

cação dos produtos etc. Esse incentivo à expansão

das atividades do chamado Terciário Superior, articu-

lado à qualificação e formação de mão-de-obra,

contribuirá para a expansão da oferta de trabalho e

emprego.

Necessário sublinhar que o apoio aos pequenos e

médios empreendimentos tem como horizonte a

superação da condição de sobrevivência, posto que é

preciso garantir a todas as famílias qualidade de vida

em níveis da civilização contemporânea. Assim, o obje-

tivo é o de que cada família tenha condições de gerar

recursos para sua auto-sustentação, bem como reser-

vas suficientes para acumular capital e usufruir o con-

forto da vida moderna, mesmo que considerando

padrões mínimos de consumo.

Qualidade de Vida

O alcance deste objetivo, em última instância,

depende do sucesso do conjunto de intervenções que

compõem o Plano. Enquanto os macro-objetivos

"Crescimento Econômico", "Crescimento dos Peque-

nos Empreendimentos" e "Emprego e Distribuição de

Renda" asseguram as bases do desenvolvimento,

resultando em melhorias nas condições de vida obti-

das diretamente através do mercado, o macro-objeti-

vo "Qualidade de Vida" busca assegurar o acesso de

toda a população a serviços de infra-estrutura e

serviços públicos, como educação, saúde, segurança,

cidadania, identidade cultural, saneamento básico,

infra-estrutura urbana e habitabilidade, mobilidade e

acessibilidade, qualidade ambiental entre outros.

Muitos desses serviços, como educação básica, saúde

e segurança pública são direitos da cidadania, tendo o

Estado de assegurar a sua fruição a toda a população.

Outros, como o acesso a serviços de saneamento,

ainda que seja um serviço adquirido através do merca-

do, só pode ser disponibilizado através da oferta públi-

ca. A adequada oferta desses bens e serviços, seja

diretamente pelo Estado, seja através de concessão

pública, é essencial para assegurar qualidade de vida

da população, inclusive corrigindo e minorando as dis-

torções do mercado.

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Equilíbrio Social, de Gênero, Étnico e Racial

A sociedade baiana, tal qual a brasileira, é extrema-

mente desigual, fruto do seu processo histórico e da sua

formação socioeconômica. O perfil de distribuição de

renda e educação, por exemplo, evidencia as marcantes

desigualdades sociais. Desigualdades essas que se acen-

tuam quando se considera raça, etnia e gênero. A

pobreza e a deficiência de acesso a bens acentuam-se

ainda mais quando se trata de negros, indígenas e mu-

lheres. Mesmo quando se trata de acesso aos serviços

públicos, verifica-se desigualdade de acesso e mesmo

de tratamento, como resultado de comportamentos

fortemente arraigados, nem sempre percebidos. A

Bahia investirá recursos e esforços para reduzir as

desigualdades sociais e eliminar as barreiras e práticas

que geram discriminação de gênero e raça e acentuam

as discriminações sociais. Para atacar esse problema,

será adotado um leque diversificado de estratégias. Os

programas e ações governamentais serão formulados e

implementados de forma a incorporar componentes de

gênero e raça/etnia. Na sua implementação, procurar-

se-á privilegiar as áreas e territórios onde haja grande

predominância de populações tradicionais, como afro-

descendentes, quilombolas e aldeamentos indígenas,

por exemplo. Ações afirmativas serão desenvolvidas,

garantindo-se o acesso dos afro-descendentes, através

da política de cotas. Por fim, se travará um combate

sem trégua às manifestações de discriminação racial e

de gênero, tanto através de campanhas educativas nos

meios de comunicação, nas escolas, nos serviços públi-

cos, como por meios das medidas legais cabíveis, no

âmbito policial e da justiça.

Equilíbrio Sócio-territorial

As desigualdades no acesso à renda e outros atributos

também podem ser verificadas quando se observam os

diversos territórios do Estado. Os investimentos

econômicos tendem a se concentrar nas regiões mais

dinâmicas, mantendo e aprofundando as desigual-

dades regionais. Cabe ao Estado promover políticas de

desenvolvimento territorial capazes de reverter essa

tendência natural do mercado e aproveitar as poten-

cialidade regionais e locais, promovendo um maior

equilíbrio sócio-territorial. Sem desconsiderar as neces-

sidades e demandas das áreas mais dinâmicas, o Estado

deverá prover os investimentos em infra-estrutura

econômica e social necessários para melhorar as

condições de vida da população e apoiar os processos

de desenvolvimento e inserção econômica das áreas

mais pobres. Investimentos públicos estruturantes,

como hospitais regionais, unidades de ensino superior

e profissionalizante, melhorias do sistema de transporte

e comunicação, fomento a projetos de desenvolvimen-

to local e arranjos sócio-produtivos locais e apoio à

organização territorial através da constituição de fóruns

de desenvolvimento regional são as estratégias através

das quais será alçando este macro-objetivo.

Fortalecimento das Identidades Culturais

A política cultural do Estado tendeu a se concentrar

nas manifestações do Recôncavo e da Região

Metropolitana. Além disso, a submissão da política

cultural aos ditames da indústria do turismo estreitou

ainda mais o leque de intervenções. A Estratégia de

Desenvolvimento valoriza a diversidade cultural da

Bahia e busca fortalecer e difundir todas as suas mani-

festações. Esta orientação não contrasta, de forma

alguma, com os objetivos de utilizar as manifestações

culturais do povo baiano como fator de atração e

dinamização do turismo. Ao contrário, entende-se que

o apoio, valorização e difusão das diversas manifes-

PLANO PLURIANUAL – PPA 2008-2011

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ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL DA BAHIA

tações culturais existentes no território baiano poderão

ampliar ainda mais a oferta de produtos e pacotes colo-

cados à disposição do turismo, fortalecendo e amplian-

do o segmento, inclusive com sua interiorização. Esta

mudança de foco, sem afetar as possibilidades de gera-

ção de renda e trabalho oferecidas pela exploração das

manifestações culturais, em especial pelas indústrias

criativas, coloca como centro da ação o sujeito autor e

fruidor das manifestações culturais. Porém, o mais sig-

nificativo é que o resgate da identidade cultural no seu

sentido lato permite à comunidade reconstruir suas

relações sociais, institucionais e produtivas, resgatando

sua história e a transformando.

Eixos de Desenvolvimento

As prioridades de governo estão expressas nos Eixos

de Desenvolvimento apresentados e aprovados na

campanha eleitoral do ano de 2006. Parte-se do pres-

suposto que concentrar as energias nos Eixos de

Desenvolvimento, pela sua centralidade, fortalecerá a

capacidade do Governo em alcançar o conjunto dos

seus objetivos estratégicos. Os Eixos de Desenvolvi-

mento são: "Desenvolvimento Social focando Educa-

ção e Saúde e com Equidade" e "Crescimento Econô-

mico com Geração de Emprego e Distribuição de

Renda". Através destes eixos é possível ter uma visão

clara e estruturalmente compreensível das prioridades

do Plano de Governo e de seus objetivos estratégicos.

Desenvolvimento Social focando Educação e Saúde

e com Eqüidade

Através deste eixo, se oferta aos cidadãos os bens e

serviços que melhoram imediatamente a sua quali-

dade de vida, promovem os processos de inserção e

inclusão social, além de assegurar o acesso aos co-

nhecimentos e habilidades que propiciam uma melhor

condição para o ingresso no mercado de trabalho e

para o exercício pleno da sua cidadania.

A baixa escolarização da população baiana, o baixo

rendimento do ensino ofertado e as fragilidades na

formação técnica de sua força de trabalho, bem

como oferta inadequada de infra-estrutura social,

como saúde e saneamento, equipamentos urbanos,

são fatores restritivos ao processo de desenvolvimen-

to. Esta situação decorre, em grande medida, da

inadequação ou baixa efetivadade das políticas públi-

cas e programas que vinham sendo implementados

nos governos anteriores. Concentrar recursos e ener-

gia na oferta de serviços com qualidade nestas áreas

potencializará todo o esforço de desenvolvimento

que se faz necessário à melhoria da qualidade de

vida, lato sensu, do baiano, tanto em termos da edu-

cação e da saúde básica, quanto na oferta de alter-

nativas de ponta e serviços superiores nestes mesmos

setores. Da mesma forma, a melhoria da qualidade

de vida da população baiana terminará por impactar

positivamente no próprio processo de desenvolvi-

mento.

Crescimento Econômico com Geração de Emprego

e Distribuição de Renda

O segundo eixo prioritário de desenvolvimento da

Bahia volta-se à dinamização da produção de bens e

serviços, agregando valor no território baiano para

permitir a geração de emprego, renda, repartição

desta renda em termos sociais e territoriais, priorizan-

do as soluções micro-econômicas típicas da produção

organizada sob a forma de agricultura familiar, co-

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operativas, associações, micro-empresas, buscando

incentivar a economia solidária, sem prejuízo do incen-

tivo que se faz necessário à produção empresarial de

todos os portes. Serão priorizados os projetos estrutu-

rantes capazes de garantir um desenvolvimento da

rede produtiva com repercussões sociais.

A adequada oferta de infra-estrutura e logística são

elementos essenciais para a viabilização das atividades

econômicas. A dinamização da integração econômica

da Bahia depende da existência de canais de comer-

cialização e distribuição adequados, que permitam

ampliar a sua participação no comércio com o exterior

e com as demais regiões do país. No modelo de desen-

volvimento proposto, é essencial conciliar os objetivos

de desenvolvimento econômico com a preocupação

ambiental. Assim, uma política que assegure a pro-

teção da riqueza ambiental e promova a sua utilização

sustentável é parte integrante do modelo de desen-

volvimento que se pretende implantar.

Como a promoção de um crescimento econômico

sustentável e uma boa administração dos setores

produtivos não garante, por si só, a adequada repar-

tição de seus resultados, faz-se necessário promover

ações que propiciem a desconcentração de renda,

distribuindo os resultados entre as classes e regiões

menos favorecidas.

A Bahia tem uma estrutura produtiva baseada, em

grande parte, em projetos de uso intensivo de capital.

Sem desmerecer a importância destes empreendimen-

tos, que podem multiplicar-se, é preciso um esforço

que garanta empregar a maior parte da população em

idade ativa que deseja trabalhar. Para isso, é preciso

todo um esforço na identificação das melhores alter-

nativas para que se alcance este objetivo.

DIRETRIZES ESTRATÉGICAS

Os Eixos de Desenvolvimento, entretanto, não esgotam

o conjunto de objetivos que compõem o Programa de

Governo. Este universo de intervenções, incluindo, obvia-

mente, as suas prioridades estratégicas, consubstancia-

se nas Diretrizes Estratégicas de Implantação dos

Princípios de Gestão, nas Diretrizes Estratégicas Territo-

riais e nas Diretrizes Estratégicas Socioeconômicas. É

através delas que os macro-objetivos da Estratégia de

Desenvolvimento da Bahia são estabelecidos opera-

cionalmente e permitem definir o conjunto de progra-

mas e ações que lhe darão corpo e materialidade.

É a partir das Diretrizes Estratégicas que é organizada

a estrutura programática do Plano Plurianual

2008/2011 e é possível a construção dos Programas.

Estes, derivados diretamente das Diretrizes Estra-

tégicas, constituem-se num conjunto articulado de

Ações capazes de transformar a realidade através da

oferta de produtos, bens e serviços diretamente à

comunidade, ou, indiretamente, viabilizando e assegu-

rando o funcionamento do próprio aparelho adminis-

trativo do Estado.

Diretrizes Estratégicas de Gestão

As Diretrizes Estratégicas de Gestão traduzem as pre-

missas de um Novo Modelo de Desenvolvimento,

baseado na Governança Solidária, que tem como ele-

mentos centrais os seguintes princípios: a Ética no

tratamento das questões públicas; a Democracia per-

meando a relação entre governo e sociedade; a

Transparência e o Controle Social das ações de gover-

no, especialmente através dos conselhos de políticas

públicas e dos fóruns territoriais; a Participação Cidadã

PLANO PLURIANUAL – PPA 2008-2011

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ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL DA BAHIA

na formulação e implementação das políticas públicas;

o compromisso com a Efetividade e a Territorialização

das ações e, por fim, a Transversalidade e a Descentra-

lização administrativa.

Para assegurar a efetivação das Diretrizes Estratégicas

de Gestão é essencial promover a utilização das mais

modernas metodologias e ferramentas de gestão, que

permitam aos gestores identificar e fortalecer as

relações de intersetorialidade entre Programas e

Ações, monitorar e avaliar, a cada momento, a exe-

cução das metas e aplicação dos recursos e verificar se,

efetivamente, os resultados e impactos pretendidos

estão sendo alcançados, ou seja, em que medida o

impacto dessas ações contribuiu para uma mudança

efetiva na melhoria das condições socioeconômicas,

políticas e ambientais da população baiana, que deve

se constituir no objeto último das políticas públicas.

A participação da sociedade na gestão do Plano de

Governo se dará através da constante prestação de

contas das ações de governo à sociedade, através dos

diversos conselhos de políticas públicas, do Fórum de

Acompanhamento do PPA e de outros mecanismos e

instrumentos. Assim, será possível envolver a

sociedade na gestão das ações, aumentando o con-

trole social. Outro instrumento de envolvimento da

sociedade na gestão do PPA será a disponibilização

dos relatórios de execução físico-financeira dos orça-

mentos anuais, que poderão ser acessados pela inter-

net sem necessidade de senhas.

No que se refere à estrutura da administração estadual,

o acompanhamento e controle da gestão pública con-

tarão com a Controladoria-Geral do Estado da Bahia –

CGE. Com status de Secretaria, o órgão será criado

observando-se uma estrutura gerencial que opere como

um Sistema de Prevenção e Combate à Corrupção e de

Incremento da Transparência da Gestão.

A atuação da CGE terá como linhas fundamentais: a)

articulação de suas unidades internas, garantindo-se a

integração entre as funções de controle interno, cor-

reição, transparência e ouvidoria, prevenção e com-

bate à corrupção; b) articulação com os outros órgãos

de controle e defesa do Estado, como os Tribunais de

Contas, Ministério Público e Polícia Civil, entre outros;

c) estímulo à participação cidadã e ao controle social,

com a ampliação dos espaços de interlocução Estado-

Sociedade e disponibilização de informações sobre o

destino e a execução dos recursos públicos, além dos

resultados obtidos.

O modelo conceitual da Estratégia de Desenvolvi-

mento da Bahia está traduzido de forma sintética no

Mapa Estratégico, apresentado a seguir, onde é possí-

vel visualizar a Visão do Futuro, os Macro-Objetivos, os

Eixos de Desenvolvimento, as Diretrizes Estratégicas

Socioeconômicas, as Diretrizes Estratégicas Territoriais

e as Diretrizes Estratégicas de Gestão.

Diretrizes Estratégicas Territoriais

Para a formulação e implementação das ações que

integram o Plano de Governo, adotou-se a priori o

conceito de Território de Identidade utilizado pela

Coordenação dos Territórios e Movimento da Agri-

cultura Familiar e MDA, onde o sentimento de

pertença da população, associado a características

socioeconômicas, políticas, culturais e geo-ambientais

de cada espaço, constituiu um elemento essencial para

a definição e delimitação dos 26 territórios baianos. A

utilização do conceito de Território de Identidade facil-

itará a articulação entre as ações desenvolvidas pelo

54

PLANO PLURIANUAL – PPA 2008-2011

55

ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL DA BAHIA

Governo do Estado e os programas federais, com

rebatimento no território baiano, bem como a diretriz

da integração entre governo e sociedade.

Como esses territórios foram originalmente delineados

para atender a um Programa específico do Ministério do

Desenvolvimento Agrário (MDA) cujo foco era a

Agricultura Familiar, para que se defina e utilize os Ter-

ritórios de Identidade como unidade de planejamento e

de intervenção de políticas públicas é fundamental que

se amplie e se aprofunde com as populações envolvidas

a diversidade e a dinâmica econômica dos espaços

rurais e urbanos em sua totalidade.

Uma das prioridades do atual governo da Bahia é a

redução das disparidades socioeconômicas e da

pobreza que atinge de forma e com intensidade dife-

renciadas os diversos territórios do Estado. Daí a ne-

cessidade de se incorporar na formulação e na imple-

mentação do Plano de Governo uma estratégia de

desenvolvimento que inclua a dimensão territorial, na

qual a ação multi-setorial precise acontecer de forma

coordenada. Assim, os 26 Territórios de Identidade

baianos requerem estratégias diferenciadas de inter-

venção, que respondam adequadamente aos seus

problemas, necessidades e potencialidades.

O planejamento governamental pretende, em longo

prazo, ser capaz de atender aos princípios de gover-

nança e sustentabilidade ampla, contemplando as

condicionantes sociais, econômicas, políticas e ambi-

entais do desenvolvimento.

Um dos objetivos específicos da estratégia do governo

visa estabelecer o debate permanente e participativo

entre o poder público e os vários segmentos da

sociedade (organizada) acerca de suas reais necessi-

dades, assim como das perspectivas do planejamento

e desenvolvimento territorial e do Estado. Possibili-

tando dessa forma, ordenar o investimento público

segundo os critérios de prioridades como, também,

estabelecer as estratégias de desenvolvimento regional

em cada um dos macro-territórios.

Nesse sentido, as Diretrizes Estratégicas Territoriais

definidas pelo Governo do Estado visam: a) "Desen-

volver o Semi-Árido Baiano", b) "Consolidar a Região

Metropolitana de Salvador (RMS) como Pólo

Metropolitano de Serviços", c) "Dinamizar a Região

Cacaueira" e d) "Dinamizar as Diferentes Regiões do

Estado da Bahia".

a) Desenvolver o Semi-Árido Baiano

A extrema pobreza e desigualdade socioeconômica da

região Semi-Árida, ao lado de outros fatores, cons-

tituem-se em grande obstáculo para que se possa des-

encadear processos de desenvolvimento sustentável.

Essa característica é um poderoso obstáculo para o

desencadeamento de um processo de desenvolvimen-

to sustentável na região que concentre metade da

população baiana e dois terços de seu território. Por

esse motivo, o Semi-Árido se constitui em prioridade

absoluta do Governo da Bahia.

Devido a grande heterogeneidade dessa região, para

cada um dos seus subespaços é necessário formular

políticas próprias de desenvolvimento, que levem em

conta suas necessidades e potencialidades.

Nesse contexto, os esforços para promover o desen-

volvimento das diversas sub-regiões que integram o

Semi-Árido prevêem, entre outras ações, Arranjos

Sócio-Produtivos com oferta hídrica para consumo

56

humano e produtivo, o apoio ao produtor com oferta de

crédito e fortalecimento das cadeias produtivas, o estí-

mulo à implantação de unidades de beneficiamento da

produção e de empreendimentos não-agrícolas, o fomen-

to à pesquisa, a difusão de conhecimentos, de informa-

ções e de tecnologias adaptadas ao semi-árido, articu-

lando aquelas ações que garantam a sustentabilidade am-

biental. A integração e articulação destas ações em Planos

de Desenvolvimento Territorial se constituem em elemen-

tos essenciais para assegurar o sucesso das iniciativas.

b) Consolidar a RMS como Pólo Metropolitano de

Serviços

No caso da Região Metropolitana de Salvador, trata-se

de consolidar o seu papel como pólo prestador de

serviços e estimular o seu potencial de aglutinador da

oferta de serviços superiores. A qualificação dos serviços

de hotelaria, gastronomia, entretenimento, saúde, edu-

cação, cultura, receptividade, e a criação de roteiros

turísticos são essenciais para promover a expansão do

turismo. Outro segmento a ser desenvolvido é o da

Economia do Mar, com a exploração do potencial da

baía de Todos os Santos para a navegação, pesca de

linha e submarina, esportes náuticos e indústria náutica,

dentre outras atividades. No que diz respeito às oportu-

nidades da economia do Século XXI é fundamental a

implantação do parque tecnológico/tecnovia.

O desenvolvimento e fortalecimento dos serviços que

complementam a atividade empresarial se constituem

em outro nicho de oportunidades para a economia da

Região Metropolitana, que tem capacidade de sediar a

produção e oferta de serviços superiores de saúde e

educação, com elevada capacidade de geração de

renda e ocupação. O conjunto de atividades e serviços

empresariais que podem ser dinamizados na Região

Metropolitana de Salvador tem potencial para trans-

formar essa região em Portal Nacional e Internacional

de articulação com a economia global, tornando-se

um espaço privilegiado de articulação da economia do

interior do continente sul-americano com o mercado

global. Evidentemente que os investimentos neces-

sários para tal, ultrapassam o espaço regional e mes-

mo estadual, constituindo-se, assim, em elemento da

inserção da Bahia em um projeto nacional.

c) Dinamizar a Região Cacaueira

Retomar, em novas bases o dinamismo da Região

Cacaueira prevê, além da retomada da produção do

cacau, a diversificação das atividades produtivas, o

apoio à expansão de agroindústrias e a atração de

novos empreendimentos para a região, ampliando sua

pauta produtiva e dinamizando o seu potencial para as

atividades do turismo. A região deverá deixar de ser

apenas produtora de bens primários e deverá agregar

valor aos seus produtos, entre eles o cacau, promoven-

do a expansão do emprego e da renda. Para dar

suporte e esse projeto, além das ações de assistência

técnica, crédito e pesquisa agrícola, o Governo inves-

tirá em obras de infra-estrutura e apoiará o processo

de renegociação das dívidas dos produtores rurais.

d) Dinamizar as Diferentes Regiões do Estado da

Bahia

A priorização da Região Metropolitana de Salvador, do

Semi-Árido e da Região Cacaueira significa que, devi-

do a problemas específicos, elas merecem uma

atenção especial na formulação da estratégia de

desenvolvimento e da ação do Governo. Não obs-

tante, os demais subespaços estaduais também se

constituirão em objetos de intervenção do Estado,

com o suprimento de suas carências de infra-estrutura

PLANO PLURIANUAL – PPA 2008-2011

57

ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL DA BAHIA

social e econômica e identificação e fomento de suas

potencialidades econômicas.

Política de Desenvolvimento Territorial

A evolução da economia baiana gerou uma extrema

concentração dos investimentos em poucos pontos do

seu território, notadamente na sua Região Metropo-

litana. De fato, no exíguo território da RMS, que re-

presenta 0,48% do território baiano, residia, em 2005,

quase 1/4 da população do Estado e foram gerados,

segundo estimativas de 2004 realizadas pela SEI, 43%

do PIB estadual.

A geração de riqueza tem se concentrado na RMS, na

faixa litorânea, nos municípios de Feira de Santana e

Vitória da Conquista, em municípios da região Oeste,

sobretudo Barreiras, Luís Eduardo e São Desidério, e do

Extremo-Sul, como Mucuri, e, mais recentemente, em

torno de Juazeiro. No grande miolo da Bahia, constituí-

do pela Região Semi-Árida, concentram-se os piores

indicadores sociais do Estado, sendo que a exploração e

promoção de atividades produtivas enfrentam não ape-

nas os obstáculos das restrições hídricas, mas também

de uma estrutura fundiária extremamente concentrada e

da fragilidade do capital humano. Este contexto dificulta

a introdução, junto aos pequenos produtores rurais, de

novas tecnologias adaptadas ao Semi-Árido, assim como,

de novas formas de acesso aos mercados.

Para assegurar o desenvolvimento sustentável do Estado

e a redução das desigualdades verificadas no espaço

baiano tanto em termos econômicos quanto sociais é

necessário que se adote a metodologia do planejamen-

to territorial, capaz de se adequar a cada situação especí-

fica e responder com efetividade aos desafios do desen-

volvimento do vasto território baiano.

Sendo a agropecuária a principal atividade da maio-

ria dos municípios do Semi-Árido, a política de

desenvolvimento dará especial atenção à oferta hídri-

ca para consumo humano, animal e agrícola e ao

apoio e fortalecimento dos arranjos sócio-produtivos

locais. Através do Programa Água para Todos, em

seus diversos subcomponentes, o Governo do Estado

desenvolverá, de forma articulada, um conjunto de

ações voltadas para a gestão da política hídrica e

para a oferta de água e saneamento básico em todo

o território baiano, em especial nas áreas rurais do

Semi-Árido. Nesse sentido, a ampliação da infra-

estrutura logística, constitui-se em um elemento

importante da estratégia, fundamental para o desen-

volvimento das atividades econômicas.

Nesse contexto, o governo pretende também diversi-

ficar a malha produtiva do Semi-Árido e investir em

alternativas de exploração socioeconômica desse ter-

ritório, pesquisando e ou adaptando experiências exi-

tosas desenvolvidas em outros estados que abranjam

regiões semi-áridas.

Ao assumir como elemento essencial da Estratégia de

Desenvolvimento a incorporação da dimensão territorial

na formulação e implementação do Plano de Governo,

o Governo Estadual adotou o conceito de Território de

Identidade para promover a organização territorial do

Estado. Esta decisão reflete a busca de uma metodologia

adequada para assegurar a efetividade do planejamento

territorial. A gestão social dos territórios se dará através

da constituição dos Fóruns de Desenvolvimento

Territorial, espaços da sociedade civil onde são possíveis

a articulação dos interesses dos diversos atores, a inter-

locução com o Poder Público e o monitoramento das

políticas públicas incidentes no território.

58

O conceito de Território de Identidade surgiu a partir

dos movimentos sociais ligados à agricultura familiar e

à reforma agrária, sendo posteriormente adotado pelo

Ministério de Desenvolvimento Agrário para a formu-

lação do seu planejamento. O Ministério de Desen-

volvimento Agrário define o Território de Identidade

"como um espaço físico, geograficamente definido,

não necessariamente contínuo, caracterizado por

critérios multidimensionais, tais como o ambiente, a

economia, a sociedade, a cultura, a política e as insti-

tuições, e uma população, como grupos sociais relati-

vamente distintos, que se relacionam interna e exter-

namente por meio de processos específicos, onde se

pode distinguir um ou mais elementos que indicam

identidade e coesão social, cultural e territorial".

Elemento essencial para a construção do território é o

sentimento de pertencimento, não havendo território

PLANO PLURIANUAL – PPA 2008-2011

Mapa 1 – Territórios de Identidade

59

ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL DA BAHIA

se as pessoas que nele vivem não se sentirem incluí-

das. Esta visão foi adotada pelo MDA na construção

dos Territórios Rurais, cuja delimitação levou em con-

sideração os dados secundários, geopolíticos e

demográficos do IBGE; a identificação dos aglomera-

dos municipais urbanos, intermediários e rurais; o foco

na agricultura familiar; e o ordenamento para o diálo-

go e seleção nos estados, considerando o capital

social, a convergência dos interesses institucionais

públicos e das organizações sociais, a existência de

áreas prioritárias de ação do Governo Federal nos

Estados e a incidência de programas, planos e projetos

de desenvolvimento de caráter regional. Fator crítico

que permeia todo o processo é a ampla participação

da sociedade para que os municípios se pronunciem

sobre em que território estão incluídas, a partir de seu

sentimento de pertença e da teia de relações sociais

estabelecidas.

Uma vez que na aplicação do conceito de Território de

Identidade, o MDA teve como foco e privilegiou o uni-

verso rural, a adoção dos Territórios de Identidade

como instrumento de planejamento do Governo do

Estado requereu ajustes conceituais e metodológicos

para que pudesse se constituir em instrumento efeti-

vamente útil para a formulação do planejamento em

todas as suas dimensões, incluindo a realidade urbana

e as atividades dos setores econômicos secundário e

terciário. Estes ajustes, que incluem a ampliação da

representação social nos Fóruns de Desenvolvimento

Territorial, estão em curso e, ao se completarem, am-

pliarão e assegurarão maior aderência à realidade e

efetividade do instrumento original, mesmo quando se

operar no campo da agricultura familiar.

A adoção do conceito de Território de Identidade propi-

ciará, também, uma melhor articulação entre as ações

do Governo do Estado e as desenvolvidas pelo

Governo Federal, em especial pelo MDA, no território

baiano. A utilização de conceitos e de bases territoriais

de planejamento comuns permitirá integrar as progra-

mações dessas duas esferas de poder, com óbvios

resultados sobre a qualidade das ações propostas e

sua efetividade.

A implementação de um processo de desenvolvimento

territorial pressupõe o desencadeamento de ações de

caráter estratégico: gestão social dos territórios; fortale-

cimento das redes sociais de cooperação; dinamização

da economia; e articulação interinstitucional.

Para que haja uma efetiva gestão social do território

faz-se necessário fortalecer a capacidade de nego-

ciação, regulação e articulação das ações do Estado

com as iniciativas locais. Este processo fortalece o

desenvolvimento do capital humano e do capital social

local, na medida em que cria ou aprofunda saberes e

cria ou consolida as redes sociais de cooperação. A

partir desta base, torna-se mais fácil promover o

aproveitamento das potencialidades locais e formular

e implementar um processo de desenvolvimento sus-

tentável que inclua todos os atores do território. Por

fim, o estabelecimento de parcerias entre os atores do

território e o poder público suscita novas formas de

implementação das políticas públicas, em que o clien-

telismo, o fisiologismo e o corporativismo podem ser

efetivamente combatidos, emergindo em seu lugar a

participação social e mecanismos de controle social.

Com vistas ao desenvolvimento territorial o Poder

Público prestará apoio aos Conselhos de Desenvolvi-

mento Territorial já existente e fomentará a sua criação

nos demais territórios. Este apoio se dará através de pro-

gramas de capacitação dos atores locais e membros dos

60

Conselhos, do suporte às atividades dos Conselhos e

da elaboração, em parceria com as diversas instâncias

de representação territorial e a participação da popu-

lação, dos Planos de Desenvolvimento Territorial.

A elaboração das Plenárias do PPA Participativo em

todos os 26 Territórios já deu início a esse processo. A

experiência inédita no Estado resultou no levantamen-

to das demandas e formulação de propostas de políti-

cas públicas, através de discussões em grupos de tra-

balho e no coletivo presente nas plenárias, e no início

de construção dos instrumentos de controle social na

gestão do PPA 2008-2011.

No nível institucional pretende-se implantar nos Ter-

ritórios e municípios as Casa de Governo, uma instân-

cia que oferecerá um espaço comum para que todas

as representações locais e regionais do Governo

Estadual interajam. Esta instância que será viabilizada

com os recursos humanos e materiais já existentes em

cada agência local terá como objetivo articular e inte-

grar a oferta pública de políticas, programas e ações

no local, buscando obter sinergias e garantir a eficiên-

cia, eficácia e efetividade das mesmas.

Integra também a estratégia de desenvolvimento terri-

torial o fortalecimento de uma rede de cidades de

porte médio em todos os Territórios, cidades estas que

se constituirão em pólos de serviços e de apoio às ativi-

dade produtivas. Assim, está previsto o fortalecimento

dos serviços públicos nas áreas de saúde e educação,

como o oferecimento de serviços de maior complexi-

dade. Se de um lado a oferta desses serviços contribui

para melhorar as condições de vida da população,

também produzirá importantes impactos sobre a

economia local, gerando rendas a serem despendidas

localmente, atraindo novas iniciativas.

A convicção de que o desenvolvimento sustentável

requer que o planejamento inclua a dimensão territo-

rial na sua formulação e implementação orientou a

elaboração do PPA 2008-2011. Esta diretriz determi-

nou que os investimentos incluídos no PPA fossem

sempre desdobrados por Território, exceto naquelas

situações em que não era ainda possível a distribuição

nos diversos Territórios das metas físicas e financeiras

programadas para cada ação. Ainda assim, nestas

exceções, a execução das ações deverá necessaria-

mente ser territorializada.

Os indicadores apresentados a seguir e os perfis terri-

toriais, em anexo, evidenciam que a pobreza e a

desigualdade estão presentes e se distribuem de forma

bastante diversificada em toda a Bahia.

PLANO PLURIANUAL – PPA 2008-2011

61

ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL DA BAHIA

Indicadores Territoriais

Indicadores dePobreza (2000)

Famílias FamíliasDensidade PIB com renda com renda

Território Demográfica Taxa de per capita per capita per capitaPopulação 2006 analfabetismo 2004 até 1/4 até 1/2

2006 (hab/km2) (%) 2000 (R$ 1,00) S.M.* S.M.*

01. Irecê 391.303 14,64 25,3 2.297,57 35,58 58,78

02. Velho Chico 366.188 7,90 31,1 2.405,81 42,76 64,80

03. Chapada Diamantina 359.277 11,80 29,0 2.640,14 32,37 56,55

04. Sisal 570.061 27,87 34,2 2.350,74 38,90 62,79

05. Litoral Sul 845.192 55,77 25,4 4.935,70 27,08 51,78

06. Baixo Sul 316.932 44,38 33,9 3.109,23 32,68 58,42

07. Extremo Sul 761.799 24,86 26,2 5.547,54 22,74 45,85

08. Itapetinga 262.740 22,00 31,7 3.637,09 26,64 55,22

09. Vale do Jequiriçá 335.580 27,03 32,3 2.447,65 27,63 54,77

10. Sertão do São Francisco 496.307 8,04 27,8 4.304,63 30,66 54,72

11. Oeste Baiano 349.147 4,63 26,4 9.706,20 30,77 50,81

12. Bacia do Paramirim 167.056 16,46 34,5 2.017,11 37,76 59,81

13. Sertão Produtivo 441.282 18,74 25,4 3.071,26 31,00 54,04

14. Piemonte do Paraguaçu 285.151 14,84 28,7 2.354,24 33,87 58,57

15. Bacia do Jacuípe 219.316 20,68 32,0 2.229,75 33,55 58,38

16. Piemonte da Diamantina 196.007 19,13 29,6 2.396,94 33,37 56,59

17. Semi-Árido Nordeste II 417.686 25,50 40,1 2.182,48 35,56 59,96

18. Agreste de Alagoinhas/Litoral Norte 613.643 42,68 27,5 7.317,64 30,78 53,76

19. Portal do Sertão 843.058 145,44 18,6 4.220,34 22,64 44,73

20. Vitória da Conquista 769.056 28,69 30,6 2.650,58 27,09 51,24

21. Recôncavo 575.935 109,69 23,3 19.454,12 25,77 49,85

22. Médio Rio de Contas 388.675 38,74 29,7 3.467,15 31,76 57,53

23. Bacia do Rio Corrente 201.746 4,46 31,9 3.977,82 38,77 60,84

24. Itaparica 163.150 13,40 26,5 9.149,75 28,32 49,56

25. Piemonte Norte do Itapicuru 225.104 16,35 28,3 3.794,30 35,71 58,06

26. Metropolitano de Salvador 3.388.755 1246,41 10,7 11.303,39 15,18 30,32

Bahia 13.950.146 24,70 20,4 6.350,06 26,59 48,21

Fonte: IBGE; SEI; cálculos SEPLAN* Inclusive famílias sem rendimento