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ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL DA BAHIA
Nas últimas décadas, a Bahia passou por importantes
transformações que resultaram na consolidação de
uma matriz industrial, baseada na produção de
matérias-primas e bens intermediários. Mais recente-
mente, vem emergindo um novo perfil industrial, onde
a produção de bens finais assume ainda de forma
incipiente maior importância, sendo a implantação do
complexo automobilístico sua face mais visível. Já no
setor agropecuário, verifica-se a expansão de uma
agricultura moderna, mais capitalizada, e a implan-
tação de unidades agroindustriais. Destacam-se, aqui,
a produção de grãos no Oeste, a fruticultura no vale
do São Francisco e o segmento de celulose no
Extremo-Sul.
Como resultado destas transformações, a Bahia apre-
sentou em 2006, segundo a SEI, um PIB de R$ 103 bi-
lhões, o sexto maior do país. O Estado ocupava, ainda,
em 2005, a sexta colocação em termos de produção
industrial, superando o estado de Santa Catarina.
No que pese o seu potencial econômico e os avanços
verificados, o Estado não tem conseguido transformar
este desempenho em melhoria das condições de vida
de sua população. Assim, o desempenho social do
Estado, traduzido em variáveis e indicadores como
renda e escolaridade, tem se mostrado muito aquém
do que poderia ser obtido a partir do seu potencial
econômico e dos investimentos públicos realizados.
O modelo econômico que se consolidou na Bahia,
decorrente não apenas da própria dinâmica do proces-
so de expansão do capital, mas, também, das diversas
opções de política econômica adotadas no Estado,
inclusive a política de incentivos fiscais, terminou por
privilegiar uma indústria do tipo intensiva em capital,
com efeitos limitados sobre a geração de empregos.
Já o micro e pequeno empreendedor e a agricultura
familiar não receberam os apoios adequados para que
pudessem desenvolver todo o seu potencial de gera-
ção de renda e de ocupação da força de trabalho.
Ocorreram iniciativas nesta direção por parte de
administrações anteriores, entretanto, os resultados
alcançados também ficaram muito aquém do espera-
do. Este fenômeno evidencia que ao apostar nos
grandes empreendimentos, o Governo do Estado ne-
gligenciou os pequenos negócios, considerando-os
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efetivamente incapazes de contribuir para um proces-
so de desenvolvimento sustentável. Isso se traduziu em
recursos insuficientes aplicados no apoio a micros e
pequenos empreendimentos e na agricultura familiar,
e pouca ênfase à formulação e implementação de
modelos de gestão capazes de assegurar a efetividade
de tais programas.
Esta realidade aponta os limites e características do
modelo de desenvolvimento que orientou os investi-
mentos produtivos no Estado e o modelo de gestão
adotado pela administração pública estadual.
Superar tais limitações do processo do desenvolvimen-
to da Bahia, fazendo com que os frutos do crescimen-
to econômico alcancem a todos os baianos, não sig-
nifica promover meros ajustes na estrutura econômica
do Estado, bem como na forma de promover a gestão
pública, mas implica implementar um novo modelo de
desenvolvimento, construído a partir de um novo para-
digma, em que tenham espaço e oportunidade não
apenas as grandes empresas, mas, igualmente, os
pequenos empreendedores. Neste novo modelo, bus-
cam-se formas de potencializar a pequena produção,
assim como criar os canais adequados de inserção de
sua produção no mercado. Tal visão permitirá que
todo o potencial da economia baiana seja aproveitado,
de modo que o desenvolvimento econômico inclua a
todos os baianos. Nestas condições, o processo de
inserção da Bahia no mercado nacional e global, ao
invés de se constituir uma ameaça, poderá ser uma
efetiva oportunidade para alavancar todas as formas
de produção e promover a inclusão social de sua po-
pulação.
A implementação da Estratégia de Desenvolvimento
da Bahia dependerá da articulação de interesses diver-
sos, muitas vezes conflitantes. Será através da articu-
lação destes interesses, da identificação dos elementos
de convergência, do estabelecimento de negociações
sobre os pontos de divergência e da construção de
consensos que a estratégia de desenvolvimento se
tornará efetivamente um elemento orientador da
tomada de decisões, constituindo-se em balizador do
processo de mudanças que, efetivamente, já está em
curso.
Elementos Estruturantes da Estratégia de
Desenvolvimento
Na área econômica, é necessário assegurar o desen-
cadeamento de um processo de crescimento econômi-
co envolvendo todos os segmentos da economia,
aproveitando as oportunidades potenciais existentes,
tanto para os projetos de grande porte, de escala
nacional ou global, quanto para os micros e pequenos
empreendimentos. A valorização das políticas capazes
de gerar emprego e renda é elemento essencial da
estratégia, com destaque àquelas voltadas para a agri-
cultura familiar, ciência e tecnologia, reforma agrária,
crédito e as infra-estruturas econômico-sociais.
Ao lado das políticas de crescimento econômico, com
foco na geração de empregos e distribuição da renda,
serão implementadas políticas sociais que promovam
maior equidade no acesso aos serviços públicos e bens
de uso coletivo, promovendo a melhoria da qualidade
de vida. As prioridades neste campo serão a educação,
formando massa de competência na população eco-
nomicamente ativa, tornando-as capaz de atender aos
níveis de sofisticação do mercado de trabalho, e a
saúde, respaldada em ações preventivas, tais como
habitação e saneamento básico.
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ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL DA BAHIA
A busca de uma situação de equilíbrio social e étnico
qualifica e especifica o tipo de desenvolvimento e de
sociedade que se almeja. Além de introduzir, na for-
mulação de todas as políticas, o corte de etnia, raça e
gênero, serão implementadas políticas específicas,
tanto de caráter reparatório ou afirmativo, como
voltadas para combater as causas mais profundas e
reprimir atitudes e comportamentos discriminatórios.
Por fim, o processo de desenvolvimento deve per-
seguir a redução das desigualdades regionais, através
do estímulo ao desenvolvimento local e da priorização
das áreas e regiões mais deprimidas e carentes na dis-
tribuição dos investimentos públicos, e também asse-
gurar a preservação e recuperação dos recursos ambi-
entais, de modo que o atendimento às necessidades
da presente geração não comprometa o bem-estar das
gerações futuras.
Desenvolvimento Econômico Sustentável
Este conjunto de proposições conforma o conceito de
Desenvolvimento Econômico Sustentável, que expressa
o objetivo maior a ser alcançado e a estratégia adotada
para tal. Promover um processo de Desenvolvimento
Econômico Sustentável significa articular projetos estru-
turantes, assim como uma rede de sustentação e apoio
a empreendimentos de pequeno e médio porte, sobre-
tudo aqueles com maior capacidade de gerar oportu-
nidades de negócio, postos de trabalho e distribuição
de renda. Desta forma, através de uma adequada arti-
culação entre políticas econômicas e políticas sociais,
territoriais e ambientais, é possível promover a melhoria
sustentável da qualidade de vida da população, diminuir
as diferenças de gênero, etnia e raça, promover o equi-
líbrio sócio-territorial inter e intra-regional e assegurar a
sustentabilidade ambiental.
Macro-objetivos
O conceito de Desenvolvimento Econômico
Sustentável sintetiza a Visão de Futuro e operacional-
mente se desdobra em macro-objetivos, que expres-
sam de forma quantificável os resultados esperados e
que serão alcançados com a aplicação e concretização
do Plano de Governo. Os macro-objetivos são
"Crescimento Econômico"; "Crescimento dos Peque-
nos Empreendimentos"; "Emprego e Distribuição de
Renda"; "Qualidade de Vida"; "Equilíbrio Social, de
Gênero, Étnico e Racial"; "Equilíbrio Sócio-territorial";
e "Fortalecimento das Identidades Culturais". Como
resultado da condensação de todos estes macro-obje-
tivos, emerge o conceito de Desenvolvimento
Econômico Sustentável.
Crescimento Econômico
Elemento essencial para alcançar a visão de futuro pro-
posta pela Estratégia de Desenvolvimento Econômico
Sustentável é a dinamização da capacidade de geração
de bens e serviços, agregando valor no território
baiano, propiciando as condições para geração de
emprego e renda e a distribuição dessa renda. A políti-
ca econômica adotada deve assegurar a criação de um
ambiente propício ao desenvolvimento, capaz de pro-
mover a atração e instalação de novos empreendimen-
tos econômicos, a implantação de novos segmentos
dinâmicos e o adensamento da cadeia produtiva. A
política de atração de investimentos baseados em
renúncia fiscal, amplamente usada pela Bahia, já deu
sinais de esgotamento. Ainda que não seja totalmente
descartada, a sua utilização deve ser limitada a casos
específicos, compatíveis com a capacidade financeira
do Estado, com ampla demonstração dos benefícios a
serem gerados, acompanhada de uma pauta de com-
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promissos das empresas beneficiadas e garantindo
que as empresas a serem instaladas não promovam
competição desleal com aquelas já instaladas no ter-
ritório baiano. Desenvolvimento Econômico Susten-
tável é, também, o oposto ao enclave, situação ca-
racterizada por uma grande empresa instalada num
território, quer seja ela industrial ou hotel, e que não
insume bens e serviços oriundos do território onde se
encontra inserida.
Outros mecanismos de atração devem ser oferecidos
aos investidores. Instrumento importante de atração e
dinamização da economia é a implantação de uma efi-
ciente estrutura logística, incluindo transporte de car-
gas e pessoas, e as tecnologias de informação e comu-
nicação, que conectem a Bahia aos mercados nacional
e global. A posição privilegiada da Bahia no Brasil e na
América do Sul permite antever o Estado como um
portal logístico do continente, território privilegiado
para os fluxos comerciais e para a instalação de novos
empreendimentos e suas unidades gerenciais. Para
que esta pretensão se torne realidade será necessária
uma eficiente articulação política com o Governo
Federal e com o setor empresarial, de modo a viabilizar
o conjunto de projetos e obras que já constam no
Plano de Aceleração do Crescimento – PAC e a incor-
poração aos planos de obra das alternativas de traça-
dos e de modais de transporte que melhor atendam
aos interesses da Bahia.
Outra política que poderá elevar o potencial da Bahia
na competição econômica é a existência de uma força
de trabalho altamente qualificável e maleável, o que
só poderá ser obtida com melhoria da qualidade do
ensino, aumento da escolaridade e expansão do ensi-
no técnico e superior.
Crescimento dos Pequenos Empreendimentos
Um dos elementos limitantes do Modelo de Desenvol-
vimento até então vigente foi a concentração dos
esforços nos grandes empreendimentos que geram
renda, mas poucos empregos, e freqüentemente
escassa internalização da cadeia produtiva. Ultrapas-
sando esta limitação, emerge como característica
essencial da Estratégia de Desenvolvimento da Bahia o
apoio aos pequenos e médios empreendimentos. Por
este motivo é que a Estratégia apresenta este macro-
objetivo, evidenciando o absoluto compromisso do
Governo com o pequeno empresário, o micro-
empreendedor e com a formação de uma rede de
economia solidária articulada com a totalidade do sis-
tema produtivo.
Dentro desta ótica, o Governo do Estado investirá
fortemente na formação de uma rede de articulação
produtiva, empreendimentos e empreendedores de
pequeno porte, maiores ofertantes de emprego em
relação ao capital empregado, capazes de promover
inclusão econômica e prosperidade com maior equi-
líbrio social.
Emprego e Distribuição de Renda
Os macro-objetivos "Crescimento Econômico" e
"Crescimento dos Pequenos Empreendimentos" estão
fortemente associados ao macro-objetivo "Emprego e
Distribuição de Renda". Assim, ao lado do crescimen-
to econômico, é necessário alcançar indicadores ade-
quados de empregabilidade e de desconcentração da
renda territorial, domiciliar e pessoal. A estratégia de
desenvolvimento adotada não visa apenas gerar
riqueza e crescimento econômico, mas estimular todas
as oportunidades de geração de renda, inclusive os
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ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL DA BAHIA
pequenos empreendimentos. Da mesma forma, não
pretende apenas gerar empregos, mas empregos e
ocupações de qualidade, gerando, assim, não apenas
riquezas, mas ocupação da mão-de-obra e inclusão
social. Para isto, é fundamental identificar os segmen-
tos que utilizam recursos humanos de forma intensiva,
nos limites de capacidade de inserção na rede de dis-
tribuição e viabilidade econômica.
Para elevar o potencial de empregabilidade da
economia baiana buscar-se-á o fortalecimento das
atividades econômicas de todos os tipos, o fortale-
cimento das cadeias produtivas dos pequenos negó-
cios, o apoio à criação de cooperativas e ao micro e
pequeno empreendedor, à economia solidária, ao
trabalhador autônomo e à agricultura familiar.
Importante também é o estímulo aos novos segmen-
tos da economia, como informática, call centers,
prestação de serviços contábeis e administrativos
online, serviços superiores de saúde e educação,
núcleos de excelência atendendo demanda externa
à região, capaz de gerar um grande número de pos-
tos de trabalho e rendimentos acima das médias do
mercado. A estratégia para fortalecer e assegurar o
crescimento da empregabilidade do trabalhador
baiano incluirá também ações de qualificação profis-
sional e gerencial, oferta de crédito, especialmente
micro-crédito, organização dos produtores, criação
de canais de comercialização e garantia de colo-
cação dos produtos etc. Esse incentivo à expansão
das atividades do chamado Terciário Superior, articu-
lado à qualificação e formação de mão-de-obra,
contribuirá para a expansão da oferta de trabalho e
emprego.
Necessário sublinhar que o apoio aos pequenos e
médios empreendimentos tem como horizonte a
superação da condição de sobrevivência, posto que é
preciso garantir a todas as famílias qualidade de vida
em níveis da civilização contemporânea. Assim, o obje-
tivo é o de que cada família tenha condições de gerar
recursos para sua auto-sustentação, bem como reser-
vas suficientes para acumular capital e usufruir o con-
forto da vida moderna, mesmo que considerando
padrões mínimos de consumo.
Qualidade de Vida
O alcance deste objetivo, em última instância,
depende do sucesso do conjunto de intervenções que
compõem o Plano. Enquanto os macro-objetivos
"Crescimento Econômico", "Crescimento dos Peque-
nos Empreendimentos" e "Emprego e Distribuição de
Renda" asseguram as bases do desenvolvimento,
resultando em melhorias nas condições de vida obti-
das diretamente através do mercado, o macro-objeti-
vo "Qualidade de Vida" busca assegurar o acesso de
toda a população a serviços de infra-estrutura e
serviços públicos, como educação, saúde, segurança,
cidadania, identidade cultural, saneamento básico,
infra-estrutura urbana e habitabilidade, mobilidade e
acessibilidade, qualidade ambiental entre outros.
Muitos desses serviços, como educação básica, saúde
e segurança pública são direitos da cidadania, tendo o
Estado de assegurar a sua fruição a toda a população.
Outros, como o acesso a serviços de saneamento,
ainda que seja um serviço adquirido através do merca-
do, só pode ser disponibilizado através da oferta públi-
ca. A adequada oferta desses bens e serviços, seja
diretamente pelo Estado, seja através de concessão
pública, é essencial para assegurar qualidade de vida
da população, inclusive corrigindo e minorando as dis-
torções do mercado.
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Equilíbrio Social, de Gênero, Étnico e Racial
A sociedade baiana, tal qual a brasileira, é extrema-
mente desigual, fruto do seu processo histórico e da sua
formação socioeconômica. O perfil de distribuição de
renda e educação, por exemplo, evidencia as marcantes
desigualdades sociais. Desigualdades essas que se acen-
tuam quando se considera raça, etnia e gênero. A
pobreza e a deficiência de acesso a bens acentuam-se
ainda mais quando se trata de negros, indígenas e mu-
lheres. Mesmo quando se trata de acesso aos serviços
públicos, verifica-se desigualdade de acesso e mesmo
de tratamento, como resultado de comportamentos
fortemente arraigados, nem sempre percebidos. A
Bahia investirá recursos e esforços para reduzir as
desigualdades sociais e eliminar as barreiras e práticas
que geram discriminação de gênero e raça e acentuam
as discriminações sociais. Para atacar esse problema,
será adotado um leque diversificado de estratégias. Os
programas e ações governamentais serão formulados e
implementados de forma a incorporar componentes de
gênero e raça/etnia. Na sua implementação, procurar-
se-á privilegiar as áreas e territórios onde haja grande
predominância de populações tradicionais, como afro-
descendentes, quilombolas e aldeamentos indígenas,
por exemplo. Ações afirmativas serão desenvolvidas,
garantindo-se o acesso dos afro-descendentes, através
da política de cotas. Por fim, se travará um combate
sem trégua às manifestações de discriminação racial e
de gênero, tanto através de campanhas educativas nos
meios de comunicação, nas escolas, nos serviços públi-
cos, como por meios das medidas legais cabíveis, no
âmbito policial e da justiça.
Equilíbrio Sócio-territorial
As desigualdades no acesso à renda e outros atributos
também podem ser verificadas quando se observam os
diversos territórios do Estado. Os investimentos
econômicos tendem a se concentrar nas regiões mais
dinâmicas, mantendo e aprofundando as desigual-
dades regionais. Cabe ao Estado promover políticas de
desenvolvimento territorial capazes de reverter essa
tendência natural do mercado e aproveitar as poten-
cialidade regionais e locais, promovendo um maior
equilíbrio sócio-territorial. Sem desconsiderar as neces-
sidades e demandas das áreas mais dinâmicas, o Estado
deverá prover os investimentos em infra-estrutura
econômica e social necessários para melhorar as
condições de vida da população e apoiar os processos
de desenvolvimento e inserção econômica das áreas
mais pobres. Investimentos públicos estruturantes,
como hospitais regionais, unidades de ensino superior
e profissionalizante, melhorias do sistema de transporte
e comunicação, fomento a projetos de desenvolvimen-
to local e arranjos sócio-produtivos locais e apoio à
organização territorial através da constituição de fóruns
de desenvolvimento regional são as estratégias através
das quais será alçando este macro-objetivo.
Fortalecimento das Identidades Culturais
A política cultural do Estado tendeu a se concentrar
nas manifestações do Recôncavo e da Região
Metropolitana. Além disso, a submissão da política
cultural aos ditames da indústria do turismo estreitou
ainda mais o leque de intervenções. A Estratégia de
Desenvolvimento valoriza a diversidade cultural da
Bahia e busca fortalecer e difundir todas as suas mani-
festações. Esta orientação não contrasta, de forma
alguma, com os objetivos de utilizar as manifestações
culturais do povo baiano como fator de atração e
dinamização do turismo. Ao contrário, entende-se que
o apoio, valorização e difusão das diversas manifes-
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ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL DA BAHIA
tações culturais existentes no território baiano poderão
ampliar ainda mais a oferta de produtos e pacotes colo-
cados à disposição do turismo, fortalecendo e amplian-
do o segmento, inclusive com sua interiorização. Esta
mudança de foco, sem afetar as possibilidades de gera-
ção de renda e trabalho oferecidas pela exploração das
manifestações culturais, em especial pelas indústrias
criativas, coloca como centro da ação o sujeito autor e
fruidor das manifestações culturais. Porém, o mais sig-
nificativo é que o resgate da identidade cultural no seu
sentido lato permite à comunidade reconstruir suas
relações sociais, institucionais e produtivas, resgatando
sua história e a transformando.
Eixos de Desenvolvimento
As prioridades de governo estão expressas nos Eixos
de Desenvolvimento apresentados e aprovados na
campanha eleitoral do ano de 2006. Parte-se do pres-
suposto que concentrar as energias nos Eixos de
Desenvolvimento, pela sua centralidade, fortalecerá a
capacidade do Governo em alcançar o conjunto dos
seus objetivos estratégicos. Os Eixos de Desenvolvi-
mento são: "Desenvolvimento Social focando Educa-
ção e Saúde e com Equidade" e "Crescimento Econô-
mico com Geração de Emprego e Distribuição de
Renda". Através destes eixos é possível ter uma visão
clara e estruturalmente compreensível das prioridades
do Plano de Governo e de seus objetivos estratégicos.
Desenvolvimento Social focando Educação e Saúde
e com Eqüidade
Através deste eixo, se oferta aos cidadãos os bens e
serviços que melhoram imediatamente a sua quali-
dade de vida, promovem os processos de inserção e
inclusão social, além de assegurar o acesso aos co-
nhecimentos e habilidades que propiciam uma melhor
condição para o ingresso no mercado de trabalho e
para o exercício pleno da sua cidadania.
A baixa escolarização da população baiana, o baixo
rendimento do ensino ofertado e as fragilidades na
formação técnica de sua força de trabalho, bem
como oferta inadequada de infra-estrutura social,
como saúde e saneamento, equipamentos urbanos,
são fatores restritivos ao processo de desenvolvimen-
to. Esta situação decorre, em grande medida, da
inadequação ou baixa efetivadade das políticas públi-
cas e programas que vinham sendo implementados
nos governos anteriores. Concentrar recursos e ener-
gia na oferta de serviços com qualidade nestas áreas
potencializará todo o esforço de desenvolvimento
que se faz necessário à melhoria da qualidade de
vida, lato sensu, do baiano, tanto em termos da edu-
cação e da saúde básica, quanto na oferta de alter-
nativas de ponta e serviços superiores nestes mesmos
setores. Da mesma forma, a melhoria da qualidade
de vida da população baiana terminará por impactar
positivamente no próprio processo de desenvolvi-
mento.
Crescimento Econômico com Geração de Emprego
e Distribuição de Renda
O segundo eixo prioritário de desenvolvimento da
Bahia volta-se à dinamização da produção de bens e
serviços, agregando valor no território baiano para
permitir a geração de emprego, renda, repartição
desta renda em termos sociais e territoriais, priorizan-
do as soluções micro-econômicas típicas da produção
organizada sob a forma de agricultura familiar, co-
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operativas, associações, micro-empresas, buscando
incentivar a economia solidária, sem prejuízo do incen-
tivo que se faz necessário à produção empresarial de
todos os portes. Serão priorizados os projetos estrutu-
rantes capazes de garantir um desenvolvimento da
rede produtiva com repercussões sociais.
A adequada oferta de infra-estrutura e logística são
elementos essenciais para a viabilização das atividades
econômicas. A dinamização da integração econômica
da Bahia depende da existência de canais de comer-
cialização e distribuição adequados, que permitam
ampliar a sua participação no comércio com o exterior
e com as demais regiões do país. No modelo de desen-
volvimento proposto, é essencial conciliar os objetivos
de desenvolvimento econômico com a preocupação
ambiental. Assim, uma política que assegure a pro-
teção da riqueza ambiental e promova a sua utilização
sustentável é parte integrante do modelo de desen-
volvimento que se pretende implantar.
Como a promoção de um crescimento econômico
sustentável e uma boa administração dos setores
produtivos não garante, por si só, a adequada repar-
tição de seus resultados, faz-se necessário promover
ações que propiciem a desconcentração de renda,
distribuindo os resultados entre as classes e regiões
menos favorecidas.
A Bahia tem uma estrutura produtiva baseada, em
grande parte, em projetos de uso intensivo de capital.
Sem desmerecer a importância destes empreendimen-
tos, que podem multiplicar-se, é preciso um esforço
que garanta empregar a maior parte da população em
idade ativa que deseja trabalhar. Para isso, é preciso
todo um esforço na identificação das melhores alter-
nativas para que se alcance este objetivo.
DIRETRIZES ESTRATÉGICAS
Os Eixos de Desenvolvimento, entretanto, não esgotam
o conjunto de objetivos que compõem o Programa de
Governo. Este universo de intervenções, incluindo, obvia-
mente, as suas prioridades estratégicas, consubstancia-
se nas Diretrizes Estratégicas de Implantação dos
Princípios de Gestão, nas Diretrizes Estratégicas Territo-
riais e nas Diretrizes Estratégicas Socioeconômicas. É
através delas que os macro-objetivos da Estratégia de
Desenvolvimento da Bahia são estabelecidos opera-
cionalmente e permitem definir o conjunto de progra-
mas e ações que lhe darão corpo e materialidade.
É a partir das Diretrizes Estratégicas que é organizada
a estrutura programática do Plano Plurianual
2008/2011 e é possível a construção dos Programas.
Estes, derivados diretamente das Diretrizes Estra-
tégicas, constituem-se num conjunto articulado de
Ações capazes de transformar a realidade através da
oferta de produtos, bens e serviços diretamente à
comunidade, ou, indiretamente, viabilizando e assegu-
rando o funcionamento do próprio aparelho adminis-
trativo do Estado.
Diretrizes Estratégicas de Gestão
As Diretrizes Estratégicas de Gestão traduzem as pre-
missas de um Novo Modelo de Desenvolvimento,
baseado na Governança Solidária, que tem como ele-
mentos centrais os seguintes princípios: a Ética no
tratamento das questões públicas; a Democracia per-
meando a relação entre governo e sociedade; a
Transparência e o Controle Social das ações de gover-
no, especialmente através dos conselhos de políticas
públicas e dos fóruns territoriais; a Participação Cidadã
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ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL DA BAHIA
na formulação e implementação das políticas públicas;
o compromisso com a Efetividade e a Territorialização
das ações e, por fim, a Transversalidade e a Descentra-
lização administrativa.
Para assegurar a efetivação das Diretrizes Estratégicas
de Gestão é essencial promover a utilização das mais
modernas metodologias e ferramentas de gestão, que
permitam aos gestores identificar e fortalecer as
relações de intersetorialidade entre Programas e
Ações, monitorar e avaliar, a cada momento, a exe-
cução das metas e aplicação dos recursos e verificar se,
efetivamente, os resultados e impactos pretendidos
estão sendo alcançados, ou seja, em que medida o
impacto dessas ações contribuiu para uma mudança
efetiva na melhoria das condições socioeconômicas,
políticas e ambientais da população baiana, que deve
se constituir no objeto último das políticas públicas.
A participação da sociedade na gestão do Plano de
Governo se dará através da constante prestação de
contas das ações de governo à sociedade, através dos
diversos conselhos de políticas públicas, do Fórum de
Acompanhamento do PPA e de outros mecanismos e
instrumentos. Assim, será possível envolver a
sociedade na gestão das ações, aumentando o con-
trole social. Outro instrumento de envolvimento da
sociedade na gestão do PPA será a disponibilização
dos relatórios de execução físico-financeira dos orça-
mentos anuais, que poderão ser acessados pela inter-
net sem necessidade de senhas.
No que se refere à estrutura da administração estadual,
o acompanhamento e controle da gestão pública con-
tarão com a Controladoria-Geral do Estado da Bahia –
CGE. Com status de Secretaria, o órgão será criado
observando-se uma estrutura gerencial que opere como
um Sistema de Prevenção e Combate à Corrupção e de
Incremento da Transparência da Gestão.
A atuação da CGE terá como linhas fundamentais: a)
articulação de suas unidades internas, garantindo-se a
integração entre as funções de controle interno, cor-
reição, transparência e ouvidoria, prevenção e com-
bate à corrupção; b) articulação com os outros órgãos
de controle e defesa do Estado, como os Tribunais de
Contas, Ministério Público e Polícia Civil, entre outros;
c) estímulo à participação cidadã e ao controle social,
com a ampliação dos espaços de interlocução Estado-
Sociedade e disponibilização de informações sobre o
destino e a execução dos recursos públicos, além dos
resultados obtidos.
O modelo conceitual da Estratégia de Desenvolvi-
mento da Bahia está traduzido de forma sintética no
Mapa Estratégico, apresentado a seguir, onde é possí-
vel visualizar a Visão do Futuro, os Macro-Objetivos, os
Eixos de Desenvolvimento, as Diretrizes Estratégicas
Socioeconômicas, as Diretrizes Estratégicas Territoriais
e as Diretrizes Estratégicas de Gestão.
Diretrizes Estratégicas Territoriais
Para a formulação e implementação das ações que
integram o Plano de Governo, adotou-se a priori o
conceito de Território de Identidade utilizado pela
Coordenação dos Territórios e Movimento da Agri-
cultura Familiar e MDA, onde o sentimento de
pertença da população, associado a características
socioeconômicas, políticas, culturais e geo-ambientais
de cada espaço, constituiu um elemento essencial para
a definição e delimitação dos 26 territórios baianos. A
utilização do conceito de Território de Identidade facil-
itará a articulação entre as ações desenvolvidas pelo
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ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL DA BAHIA
Governo do Estado e os programas federais, com
rebatimento no território baiano, bem como a diretriz
da integração entre governo e sociedade.
Como esses territórios foram originalmente delineados
para atender a um Programa específico do Ministério do
Desenvolvimento Agrário (MDA) cujo foco era a
Agricultura Familiar, para que se defina e utilize os Ter-
ritórios de Identidade como unidade de planejamento e
de intervenção de políticas públicas é fundamental que
se amplie e se aprofunde com as populações envolvidas
a diversidade e a dinâmica econômica dos espaços
rurais e urbanos em sua totalidade.
Uma das prioridades do atual governo da Bahia é a
redução das disparidades socioeconômicas e da
pobreza que atinge de forma e com intensidade dife-
renciadas os diversos territórios do Estado. Daí a ne-
cessidade de se incorporar na formulação e na imple-
mentação do Plano de Governo uma estratégia de
desenvolvimento que inclua a dimensão territorial, na
qual a ação multi-setorial precise acontecer de forma
coordenada. Assim, os 26 Territórios de Identidade
baianos requerem estratégias diferenciadas de inter-
venção, que respondam adequadamente aos seus
problemas, necessidades e potencialidades.
O planejamento governamental pretende, em longo
prazo, ser capaz de atender aos princípios de gover-
nança e sustentabilidade ampla, contemplando as
condicionantes sociais, econômicas, políticas e ambi-
entais do desenvolvimento.
Um dos objetivos específicos da estratégia do governo
visa estabelecer o debate permanente e participativo
entre o poder público e os vários segmentos da
sociedade (organizada) acerca de suas reais necessi-
dades, assim como das perspectivas do planejamento
e desenvolvimento territorial e do Estado. Possibili-
tando dessa forma, ordenar o investimento público
segundo os critérios de prioridades como, também,
estabelecer as estratégias de desenvolvimento regional
em cada um dos macro-territórios.
Nesse sentido, as Diretrizes Estratégicas Territoriais
definidas pelo Governo do Estado visam: a) "Desen-
volver o Semi-Árido Baiano", b) "Consolidar a Região
Metropolitana de Salvador (RMS) como Pólo
Metropolitano de Serviços", c) "Dinamizar a Região
Cacaueira" e d) "Dinamizar as Diferentes Regiões do
Estado da Bahia".
a) Desenvolver o Semi-Árido Baiano
A extrema pobreza e desigualdade socioeconômica da
região Semi-Árida, ao lado de outros fatores, cons-
tituem-se em grande obstáculo para que se possa des-
encadear processos de desenvolvimento sustentável.
Essa característica é um poderoso obstáculo para o
desencadeamento de um processo de desenvolvimen-
to sustentável na região que concentre metade da
população baiana e dois terços de seu território. Por
esse motivo, o Semi-Árido se constitui em prioridade
absoluta do Governo da Bahia.
Devido a grande heterogeneidade dessa região, para
cada um dos seus subespaços é necessário formular
políticas próprias de desenvolvimento, que levem em
conta suas necessidades e potencialidades.
Nesse contexto, os esforços para promover o desen-
volvimento das diversas sub-regiões que integram o
Semi-Árido prevêem, entre outras ações, Arranjos
Sócio-Produtivos com oferta hídrica para consumo
56
humano e produtivo, o apoio ao produtor com oferta de
crédito e fortalecimento das cadeias produtivas, o estí-
mulo à implantação de unidades de beneficiamento da
produção e de empreendimentos não-agrícolas, o fomen-
to à pesquisa, a difusão de conhecimentos, de informa-
ções e de tecnologias adaptadas ao semi-árido, articu-
lando aquelas ações que garantam a sustentabilidade am-
biental. A integração e articulação destas ações em Planos
de Desenvolvimento Territorial se constituem em elemen-
tos essenciais para assegurar o sucesso das iniciativas.
b) Consolidar a RMS como Pólo Metropolitano de
Serviços
No caso da Região Metropolitana de Salvador, trata-se
de consolidar o seu papel como pólo prestador de
serviços e estimular o seu potencial de aglutinador da
oferta de serviços superiores. A qualificação dos serviços
de hotelaria, gastronomia, entretenimento, saúde, edu-
cação, cultura, receptividade, e a criação de roteiros
turísticos são essenciais para promover a expansão do
turismo. Outro segmento a ser desenvolvido é o da
Economia do Mar, com a exploração do potencial da
baía de Todos os Santos para a navegação, pesca de
linha e submarina, esportes náuticos e indústria náutica,
dentre outras atividades. No que diz respeito às oportu-
nidades da economia do Século XXI é fundamental a
implantação do parque tecnológico/tecnovia.
O desenvolvimento e fortalecimento dos serviços que
complementam a atividade empresarial se constituem
em outro nicho de oportunidades para a economia da
Região Metropolitana, que tem capacidade de sediar a
produção e oferta de serviços superiores de saúde e
educação, com elevada capacidade de geração de
renda e ocupação. O conjunto de atividades e serviços
empresariais que podem ser dinamizados na Região
Metropolitana de Salvador tem potencial para trans-
formar essa região em Portal Nacional e Internacional
de articulação com a economia global, tornando-se
um espaço privilegiado de articulação da economia do
interior do continente sul-americano com o mercado
global. Evidentemente que os investimentos neces-
sários para tal, ultrapassam o espaço regional e mes-
mo estadual, constituindo-se, assim, em elemento da
inserção da Bahia em um projeto nacional.
c) Dinamizar a Região Cacaueira
Retomar, em novas bases o dinamismo da Região
Cacaueira prevê, além da retomada da produção do
cacau, a diversificação das atividades produtivas, o
apoio à expansão de agroindústrias e a atração de
novos empreendimentos para a região, ampliando sua
pauta produtiva e dinamizando o seu potencial para as
atividades do turismo. A região deverá deixar de ser
apenas produtora de bens primários e deverá agregar
valor aos seus produtos, entre eles o cacau, promoven-
do a expansão do emprego e da renda. Para dar
suporte e esse projeto, além das ações de assistência
técnica, crédito e pesquisa agrícola, o Governo inves-
tirá em obras de infra-estrutura e apoiará o processo
de renegociação das dívidas dos produtores rurais.
d) Dinamizar as Diferentes Regiões do Estado da
Bahia
A priorização da Região Metropolitana de Salvador, do
Semi-Árido e da Região Cacaueira significa que, devi-
do a problemas específicos, elas merecem uma
atenção especial na formulação da estratégia de
desenvolvimento e da ação do Governo. Não obs-
tante, os demais subespaços estaduais também se
constituirão em objetos de intervenção do Estado,
com o suprimento de suas carências de infra-estrutura
PLANO PLURIANUAL – PPA 2008-2011
57
ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL DA BAHIA
social e econômica e identificação e fomento de suas
potencialidades econômicas.
Política de Desenvolvimento Territorial
A evolução da economia baiana gerou uma extrema
concentração dos investimentos em poucos pontos do
seu território, notadamente na sua Região Metropo-
litana. De fato, no exíguo território da RMS, que re-
presenta 0,48% do território baiano, residia, em 2005,
quase 1/4 da população do Estado e foram gerados,
segundo estimativas de 2004 realizadas pela SEI, 43%
do PIB estadual.
A geração de riqueza tem se concentrado na RMS, na
faixa litorânea, nos municípios de Feira de Santana e
Vitória da Conquista, em municípios da região Oeste,
sobretudo Barreiras, Luís Eduardo e São Desidério, e do
Extremo-Sul, como Mucuri, e, mais recentemente, em
torno de Juazeiro. No grande miolo da Bahia, constituí-
do pela Região Semi-Árida, concentram-se os piores
indicadores sociais do Estado, sendo que a exploração e
promoção de atividades produtivas enfrentam não ape-
nas os obstáculos das restrições hídricas, mas também
de uma estrutura fundiária extremamente concentrada e
da fragilidade do capital humano. Este contexto dificulta
a introdução, junto aos pequenos produtores rurais, de
novas tecnologias adaptadas ao Semi-Árido, assim como,
de novas formas de acesso aos mercados.
Para assegurar o desenvolvimento sustentável do Estado
e a redução das desigualdades verificadas no espaço
baiano tanto em termos econômicos quanto sociais é
necessário que se adote a metodologia do planejamen-
to territorial, capaz de se adequar a cada situação especí-
fica e responder com efetividade aos desafios do desen-
volvimento do vasto território baiano.
Sendo a agropecuária a principal atividade da maio-
ria dos municípios do Semi-Árido, a política de
desenvolvimento dará especial atenção à oferta hídri-
ca para consumo humano, animal e agrícola e ao
apoio e fortalecimento dos arranjos sócio-produtivos
locais. Através do Programa Água para Todos, em
seus diversos subcomponentes, o Governo do Estado
desenvolverá, de forma articulada, um conjunto de
ações voltadas para a gestão da política hídrica e
para a oferta de água e saneamento básico em todo
o território baiano, em especial nas áreas rurais do
Semi-Árido. Nesse sentido, a ampliação da infra-
estrutura logística, constitui-se em um elemento
importante da estratégia, fundamental para o desen-
volvimento das atividades econômicas.
Nesse contexto, o governo pretende também diversi-
ficar a malha produtiva do Semi-Árido e investir em
alternativas de exploração socioeconômica desse ter-
ritório, pesquisando e ou adaptando experiências exi-
tosas desenvolvidas em outros estados que abranjam
regiões semi-áridas.
Ao assumir como elemento essencial da Estratégia de
Desenvolvimento a incorporação da dimensão territorial
na formulação e implementação do Plano de Governo,
o Governo Estadual adotou o conceito de Território de
Identidade para promover a organização territorial do
Estado. Esta decisão reflete a busca de uma metodologia
adequada para assegurar a efetividade do planejamento
territorial. A gestão social dos territórios se dará através
da constituição dos Fóruns de Desenvolvimento
Territorial, espaços da sociedade civil onde são possíveis
a articulação dos interesses dos diversos atores, a inter-
locução com o Poder Público e o monitoramento das
políticas públicas incidentes no território.
58
O conceito de Território de Identidade surgiu a partir
dos movimentos sociais ligados à agricultura familiar e
à reforma agrária, sendo posteriormente adotado pelo
Ministério de Desenvolvimento Agrário para a formu-
lação do seu planejamento. O Ministério de Desen-
volvimento Agrário define o Território de Identidade
"como um espaço físico, geograficamente definido,
não necessariamente contínuo, caracterizado por
critérios multidimensionais, tais como o ambiente, a
economia, a sociedade, a cultura, a política e as insti-
tuições, e uma população, como grupos sociais relati-
vamente distintos, que se relacionam interna e exter-
namente por meio de processos específicos, onde se
pode distinguir um ou mais elementos que indicam
identidade e coesão social, cultural e territorial".
Elemento essencial para a construção do território é o
sentimento de pertencimento, não havendo território
PLANO PLURIANUAL – PPA 2008-2011
Mapa 1 – Territórios de Identidade
59
ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL DA BAHIA
se as pessoas que nele vivem não se sentirem incluí-
das. Esta visão foi adotada pelo MDA na construção
dos Territórios Rurais, cuja delimitação levou em con-
sideração os dados secundários, geopolíticos e
demográficos do IBGE; a identificação dos aglomera-
dos municipais urbanos, intermediários e rurais; o foco
na agricultura familiar; e o ordenamento para o diálo-
go e seleção nos estados, considerando o capital
social, a convergência dos interesses institucionais
públicos e das organizações sociais, a existência de
áreas prioritárias de ação do Governo Federal nos
Estados e a incidência de programas, planos e projetos
de desenvolvimento de caráter regional. Fator crítico
que permeia todo o processo é a ampla participação
da sociedade para que os municípios se pronunciem
sobre em que território estão incluídas, a partir de seu
sentimento de pertença e da teia de relações sociais
estabelecidas.
Uma vez que na aplicação do conceito de Território de
Identidade, o MDA teve como foco e privilegiou o uni-
verso rural, a adoção dos Territórios de Identidade
como instrumento de planejamento do Governo do
Estado requereu ajustes conceituais e metodológicos
para que pudesse se constituir em instrumento efeti-
vamente útil para a formulação do planejamento em
todas as suas dimensões, incluindo a realidade urbana
e as atividades dos setores econômicos secundário e
terciário. Estes ajustes, que incluem a ampliação da
representação social nos Fóruns de Desenvolvimento
Territorial, estão em curso e, ao se completarem, am-
pliarão e assegurarão maior aderência à realidade e
efetividade do instrumento original, mesmo quando se
operar no campo da agricultura familiar.
A adoção do conceito de Território de Identidade propi-
ciará, também, uma melhor articulação entre as ações
do Governo do Estado e as desenvolvidas pelo
Governo Federal, em especial pelo MDA, no território
baiano. A utilização de conceitos e de bases territoriais
de planejamento comuns permitirá integrar as progra-
mações dessas duas esferas de poder, com óbvios
resultados sobre a qualidade das ações propostas e
sua efetividade.
A implementação de um processo de desenvolvimento
territorial pressupõe o desencadeamento de ações de
caráter estratégico: gestão social dos territórios; fortale-
cimento das redes sociais de cooperação; dinamização
da economia; e articulação interinstitucional.
Para que haja uma efetiva gestão social do território
faz-se necessário fortalecer a capacidade de nego-
ciação, regulação e articulação das ações do Estado
com as iniciativas locais. Este processo fortalece o
desenvolvimento do capital humano e do capital social
local, na medida em que cria ou aprofunda saberes e
cria ou consolida as redes sociais de cooperação. A
partir desta base, torna-se mais fácil promover o
aproveitamento das potencialidades locais e formular
e implementar um processo de desenvolvimento sus-
tentável que inclua todos os atores do território. Por
fim, o estabelecimento de parcerias entre os atores do
território e o poder público suscita novas formas de
implementação das políticas públicas, em que o clien-
telismo, o fisiologismo e o corporativismo podem ser
efetivamente combatidos, emergindo em seu lugar a
participação social e mecanismos de controle social.
Com vistas ao desenvolvimento territorial o Poder
Público prestará apoio aos Conselhos de Desenvolvi-
mento Territorial já existente e fomentará a sua criação
nos demais territórios. Este apoio se dará através de pro-
gramas de capacitação dos atores locais e membros dos
60
Conselhos, do suporte às atividades dos Conselhos e
da elaboração, em parceria com as diversas instâncias
de representação territorial e a participação da popu-
lação, dos Planos de Desenvolvimento Territorial.
A elaboração das Plenárias do PPA Participativo em
todos os 26 Territórios já deu início a esse processo. A
experiência inédita no Estado resultou no levantamen-
to das demandas e formulação de propostas de políti-
cas públicas, através de discussões em grupos de tra-
balho e no coletivo presente nas plenárias, e no início
de construção dos instrumentos de controle social na
gestão do PPA 2008-2011.
No nível institucional pretende-se implantar nos Ter-
ritórios e municípios as Casa de Governo, uma instân-
cia que oferecerá um espaço comum para que todas
as representações locais e regionais do Governo
Estadual interajam. Esta instância que será viabilizada
com os recursos humanos e materiais já existentes em
cada agência local terá como objetivo articular e inte-
grar a oferta pública de políticas, programas e ações
no local, buscando obter sinergias e garantir a eficiên-
cia, eficácia e efetividade das mesmas.
Integra também a estratégia de desenvolvimento terri-
torial o fortalecimento de uma rede de cidades de
porte médio em todos os Territórios, cidades estas que
se constituirão em pólos de serviços e de apoio às ativi-
dade produtivas. Assim, está previsto o fortalecimento
dos serviços públicos nas áreas de saúde e educação,
como o oferecimento de serviços de maior complexi-
dade. Se de um lado a oferta desses serviços contribui
para melhorar as condições de vida da população,
também produzirá importantes impactos sobre a
economia local, gerando rendas a serem despendidas
localmente, atraindo novas iniciativas.
A convicção de que o desenvolvimento sustentável
requer que o planejamento inclua a dimensão territo-
rial na sua formulação e implementação orientou a
elaboração do PPA 2008-2011. Esta diretriz determi-
nou que os investimentos incluídos no PPA fossem
sempre desdobrados por Território, exceto naquelas
situações em que não era ainda possível a distribuição
nos diversos Territórios das metas físicas e financeiras
programadas para cada ação. Ainda assim, nestas
exceções, a execução das ações deverá necessaria-
mente ser territorializada.
Os indicadores apresentados a seguir e os perfis terri-
toriais, em anexo, evidenciam que a pobreza e a
desigualdade estão presentes e se distribuem de forma
bastante diversificada em toda a Bahia.
PLANO PLURIANUAL – PPA 2008-2011
61
ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL DA BAHIA
Indicadores Territoriais
Indicadores dePobreza (2000)
Famílias FamíliasDensidade PIB com renda com renda
Território Demográfica Taxa de per capita per capita per capitaPopulação 2006 analfabetismo 2004 até 1/4 até 1/2
2006 (hab/km2) (%) 2000 (R$ 1,00) S.M.* S.M.*
01. Irecê 391.303 14,64 25,3 2.297,57 35,58 58,78
02. Velho Chico 366.188 7,90 31,1 2.405,81 42,76 64,80
03. Chapada Diamantina 359.277 11,80 29,0 2.640,14 32,37 56,55
04. Sisal 570.061 27,87 34,2 2.350,74 38,90 62,79
05. Litoral Sul 845.192 55,77 25,4 4.935,70 27,08 51,78
06. Baixo Sul 316.932 44,38 33,9 3.109,23 32,68 58,42
07. Extremo Sul 761.799 24,86 26,2 5.547,54 22,74 45,85
08. Itapetinga 262.740 22,00 31,7 3.637,09 26,64 55,22
09. Vale do Jequiriçá 335.580 27,03 32,3 2.447,65 27,63 54,77
10. Sertão do São Francisco 496.307 8,04 27,8 4.304,63 30,66 54,72
11. Oeste Baiano 349.147 4,63 26,4 9.706,20 30,77 50,81
12. Bacia do Paramirim 167.056 16,46 34,5 2.017,11 37,76 59,81
13. Sertão Produtivo 441.282 18,74 25,4 3.071,26 31,00 54,04
14. Piemonte do Paraguaçu 285.151 14,84 28,7 2.354,24 33,87 58,57
15. Bacia do Jacuípe 219.316 20,68 32,0 2.229,75 33,55 58,38
16. Piemonte da Diamantina 196.007 19,13 29,6 2.396,94 33,37 56,59
17. Semi-Árido Nordeste II 417.686 25,50 40,1 2.182,48 35,56 59,96
18. Agreste de Alagoinhas/Litoral Norte 613.643 42,68 27,5 7.317,64 30,78 53,76
19. Portal do Sertão 843.058 145,44 18,6 4.220,34 22,64 44,73
20. Vitória da Conquista 769.056 28,69 30,6 2.650,58 27,09 51,24
21. Recôncavo 575.935 109,69 23,3 19.454,12 25,77 49,85
22. Médio Rio de Contas 388.675 38,74 29,7 3.467,15 31,76 57,53
23. Bacia do Rio Corrente 201.746 4,46 31,9 3.977,82 38,77 60,84
24. Itaparica 163.150 13,40 26,5 9.149,75 28,32 49,56
25. Piemonte Norte do Itapicuru 225.104 16,35 28,3 3.794,30 35,71 58,06
26. Metropolitano de Salvador 3.388.755 1246,41 10,7 11.303,39 15,18 30,32
Bahia 13.950.146 24,70 20,4 6.350,06 26,59 48,21
Fonte: IBGE; SEI; cálculos SEPLAN* Inclusive famílias sem rendimento