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ESTATUTO DA METRÓPOLE Resumo das Oficinas Temáticas (Primeira versão 05.05.17 Marcos e Bárbara) Número de inscrições via site 1. Planejamento e Desenvolvimento Econômico = 11 2. Habitação e Desenvolvimento Urbano = 21 3. Mobilidade e Logística =24 4. Saneamento e Meio Ambiente = 36 5. Políticas Sociais = 36 Obs.: O total de inscrições por oficina (128) difere do número de pessoas que fizeram inscrição (82), porque houve quem se inscreveu em mais de um debate e até para os cinco encontros. Com relação ao município de origem dos inscritos (via site), apenas Bertioga não registrou inscrição. Número de inscritos por município: Santos (49), São Vicente (13), Peruíbe (7), Cubatão (5), Guarujá (3), Praia Grande (2), Itanhaém (2), Mongaguá (1). Porém, 201 pessoas (total das cinco oficinas) participaram das discussões, de acordo com registros feitos no momento do debate. AS OFICINAS ´Planejamento e Desenvolvimento Econômico` (25 de abril/manhã) Jorge Manuel Ferreira de Souza Professor de Economia da Universidade Santa Cecília (UniSanta): Falou sobre os impactos da conjuntura nacional nas atividades econômicas da Região Metropolitana da Baixada Santista. Fez uma síntese do cenário macroeconômico juros altos, inflação crescente e Produto Interno Bruto (PIB) em queda, além da centralização de recursos com a União , para justificar a queda de receita nos municípios e o aumento do déficit público. A receita dos nove municípios não acompanhou a inflação. Ou seja, em média, a região perdeu R$ 66,3 milhões, de 2014 para 2015. Em 2015, se projetarmos a inflação para 2016, a perda regional foi maior, R$ 688,2 milhões. Praia Grande não perdeu, porque o perfil da receita é diferente, a maior parte vem do IPTU. Já Santos perdeu cerca de R$ 255,5 milhões, pois tem como maior fonte de arrecadação o ISS e a atividade portuária, que caiu. Isso faz muita diferença. Para Jorge Manuel, a crise fez a região retroceder dez anos. Por esse motivo, a importância do planejamento e da gestão públicos torna-se cada vez maior. “É necessário acabar com o déficit público. Não há perspectiva com o déficit. Vamos conseguir melhorar um pouco a economia este ano, dependendo muito do que acontecer no Congresso Nacional. Em 2018, vamos amassar um pouco de barro e, em 2019, começamos a fazer a correção de rumo”, concluiu. José dos Santos Martins Diretor do Sindicato dos Operadores Portuários do Estado (Sopesp): Ratificou a fala do professor Jorge Manuel, ao destacar as dificuldades impostas pela crise econômica, política, moral e ética. Destacou a questão da acessibilidade, principalmente no modal rodoferroviário, como o “maior problema” da Baixada Santista. Ressaltou que se discute há anos a questão do acesso rodoviário, hidroviário, ferroviário, dragagem. Considerou o fato “uma vergonha.

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ESTATUTO DA METRÓPOLE

Resumo das Oficinas Temáticas (Primeira versão – 05.05.17 – Marcos e Bárbara)

Número de inscrições via site

1. Planejamento e Desenvolvimento Econômico = 11

2. Habitação e Desenvolvimento Urbano = 21

3. Mobilidade e Logística =24

4. Saneamento e Meio Ambiente = 36

5. Políticas Sociais = 36

Obs.: O total de inscrições por oficina (128) difere do número de pessoas que fizeram inscrição (82), porque houve quem se inscreveu em mais de um debate – e até para os cinco encontros. Com relação ao município de origem dos inscritos (via site), apenas Bertioga não registrou inscrição. Número de inscritos por município: Santos (49), São Vicente (13), Peruíbe (7), Cubatão (5), Guarujá (3), Praia Grande (2), Itanhaém (2), Mongaguá (1). Porém, 201 pessoas (total das cinco oficinas) participaram das discussões, de acordo com registros feitos no momento do debate.

AS OFICINAS

´Planejamento e Desenvolvimento Econômico` (25 de abril/manhã)

Jorge Manuel Ferreira de Souza – Professor de Economia da Universidade Santa Cecília (UniSanta):

Falou sobre os impactos da conjuntura nacional nas atividades econômicas da Região Metropolitana da Baixada Santista.

Fez uma síntese do cenário macroeconômico – juros altos, inflação crescente e Produto Interno Bruto (PIB) em queda, além da centralização de recursos com a União –, para justificar a queda de receita nos municípios e o aumento do déficit público.

A receita dos nove municípios não acompanhou a inflação.

Ou seja, em média, a região perdeu R$ 66,3 milhões, de 2014 para 2015.

Em 2015, se projetarmos a inflação para 2016, a perda regional foi maior, R$ 688,2 milhões.

Praia Grande não perdeu, porque o perfil da receita é diferente, a maior parte vem do IPTU.

Já Santos perdeu cerca de R$ 255,5 milhões, pois tem como maior fonte de arrecadação o ISS e a atividade portuária, que caiu. Isso faz muita diferença.

Para Jorge Manuel, a crise fez a região retroceder dez anos.

Por esse motivo, a importância do planejamento e da gestão públicos torna-se cada vez maior.

“É necessário acabar com o déficit público. Não há perspectiva com o déficit. Vamos conseguir melhorar um pouco a economia este ano, dependendo muito do que acontecer no Congresso Nacional. Em 2018, vamos amassar um pouco de barro e, em 2019, começamos a fazer a correção de rumo”, concluiu.

José dos Santos Martins – Diretor do Sindicato dos Operadores Portuários do Estado (Sopesp):

Ratificou a fala do professor Jorge Manuel, ao destacar as dificuldades impostas pela crise econômica, política, “moral e ética”.

Destacou a questão da acessibilidade, principalmente no modal rodoferroviário, como o “maior problema” da Baixada Santista.

Ressaltou que se discute há anos a questão do acesso rodoviário, hidroviário, ferroviário, dragagem.

Considerou o fato “uma vergonha”.

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ESTATUTO DA METRÓPOLE

O problema é político, porque somos o maior Porto da América Latina, com influência no PIB, e não vemos, por parte do governo federal, qualquer tipo de ação.

Disse que o Porto contribui com 62% do PIB – levando-se em conta as atividades afins, chega a quase 70% do PIB.

Apesar da importância, é um porto esquecido pelo governo federal

É importante também para as receitas das prefeituras, geração de emprego e renda

O Porto mais que duplicou sua produtividade e volume, nos últimos 15 anos, em razão dos investimentos feitos pelo capital privado.

“Há mais de 20 anos o governo federal coloca pouco – ou quase nada – de investimento, principalmente naquilo que chamamos, em planejamento, infraestrutura”.

É inadmissível imaginar que não haja planejamento para um complexo dessa magnitude.

Citou a importância do agronegócio e o impacto para a economia do país e da região.

“O Porto recebe 14/15 mil caminhões carregados com soja e outros, que têm como principal acesso uma rodovia, a Anchieta, construída em 1947”, afirmou.

“É vergonhoso que nesses 20 anos que, em qualquer lugar do país, quando se privatiza, em qualquer setor, é preciso dar infraestrutura necessária para que o empresário possa desenvolver sua atividade como deve”.

Para ele, além da falência política, falta visão de planejamento, que é fundamental.

Falou de iniciativa do governo federal que centraliza em Brasília todas as decisões.

“Quando o mundo descentraliza, para que haja agilidade na tomada de decisão, o nosso governo federal edita a lei 12.815, que centraliza em Brasília todas as atividades que eram da Codesp, entre elas, a dragagem”.

Em sete anos, passaram sete ministros na Secretaria Especial dos Portos (SEP).

Já discutiu-se planejamento do Porto de Santos com várias pessoas, até ser extinta, e falou-se até em recriá-la.

Não há continuidade: “A gente já não sabe nem quem procurar”.

Só a redução do calado do Porto, hoje restrito aos seus quatro trechos com 13,2 metros, causou um prejuízo de mais de 100 milhões de dólares.

O então ministro da SEP veio e prometeu que, em dezembro passado, teríamos até 15 metros de profundidade, porque a dragagem estava sendo feita.

Então, foram contratados navios de maior porte.

A dragagem foi interrompida e o que acontece hoje, não só no Porto de Santos, navios de maior capacidade têm que sair com volume menor de carga.

Você paga uma “praça morta” desse navio – dinheiro jogado fora, porque vai para o bolso do armador no exterior.

Até hoje continuamos a discutir dragagem, que é um “crime” que se comete contra os operadores portuários. Quanto menos calado, menos produção.

Falou do programa Santos 17, criado pelo Sopesp: para criar a possibilidade de, em 2017, termos o Porto com calado de 15 metros, porque sairíamos do navio padrão (de 270/280 metros) para um navio de até 336 metros.

Recebemos navios de porte maior, mas levando carga menor.

“Planejar é o início de tudo. É simples, nada se faz, sem que se tenha objetivos e metas.”

Em razão da importância que deu ao planejamento, como instrumento “primordial” para o desenvolvimento econômico e social, José Martins destacou a importância dos debates e dos trabalhos desenvolvidos pela Agência Metropolitana (Agem).

“Agem é o fator principal para concentrar e desenvolver teses.”

Os nossos políticos deveriam ter interesse maior na questão da infraestrutura do Porto.

Com o deputado Papa, levou o assunto à Comissão, porque o governo federal tinha que colocar R$ 400 milhões para acessibilidade. O ministro da SEP prometeu o dinheiro, mas foi trocado logo depois

O governo estadual iria estender o contrato da DERSA/Ecovias e a Prefeitura de Santos tinha o seu projeto. “Mas não saímos do zero.”

Falou do PDZ e da importância da participação da Agem na discussão.

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ESTATUTO DA METRÓPOLE

Mediador: José Luiz Pedretti – Presidente da Empresa Paulista de Planejamento (Emplasa), José Luiz Pedretti

Resumiu as apresentações em dois pontos:

Planejamento – Quem tem competência para planejar, o Estado ou o Município?

Reforma constitucional – Precisamos de uma nova assembleia constituinte, para descentralizar os recursos e garantir compartilhamento das responsabilidades.

Erro primordial é a nossa federação. Brasil copiou modelo americano. Mas lá as colônias eram independentes. As nossas províncias não eram independentes.

Federalismo unitário: a União é a grande controladora e isso afeta finanças municipais.

Contemplar as RMs como ente federativo. A Constituição de 1988 não conseguiu contemplar esse ente.

E os tributos metropolitanos? Onde estão os recursos, como são distribuídos. A arrecadação do Porto beneficia dois ou três municípios, mas tem impacto na região.

Temos que ficar pedindo favor, se geramos recursos.

Problema se resume a um Estado falido, em termos de federação e de competência.

Deve ser uma construção paulatina, porque há interesses divergentes, mas temos que praticar o que a Constituição fala do federalismo de cooperação, que não existe, pois é o federalismo unitário.

O Plano Metropolitano (PDUI) já é um avanço, porque ganha caráter de lei – diretrizes para uma região, relacionadas às funções de interesse comum.

O município é o fiel depositário da crise.

Carência do planejamento, a diferença entre a autoridade e a competência para realizar esse planejamento.

Novo princípio de governança metropolitana, estamos construindo esse modelo metropolitano de planejamento participativo, com a sociedade civil e os poderes públicos.

Participações

Fernanda Meneghello (diretora-adjunta Técnica da Agem) – Fez breve apresentação a respeito do Estatuto da Metrópole e do processo de discussão, com base no Plano Metropolitano de Desenvolvimento Estratégico (PMDE-Bs), entregue pela Agem em 2014, e a elaboração da minuta do projeto de lei, visando à adequação da região à lei federal.

Márcio Quedinho (coordenador da área de TI da Agem) – Intervenção a respeito do geoprocessamento. “Com relação a esse trabalho do Estatuto da Metrópole, a base de dados georreferenciadas que o PMDE-BS gerou, não adianta a gente pensar essas informações, regionalmente, se a gente não tem a atualização por parte dos municípios. A gente está trabalhando bastante aqui também para apoiar e ajudar os municípios a construírem sua base de dados georreferenciadas.” Márcio citou os workshops de geoprocessamento, realizados para subsidiar o trabalho dos técnicos municipais. Foi questionado sobre o que será feito para garantir dados locais considerados sigilosos pelas prefeituras. Respondeu que a Agem pensa nos dados ´macro´ e é o município que deve definir o que deve ou não ser disponibilizar.

Eliana Farias (Praia Grande) – Acho que esse trabalho geometropolitano será muito importante para monitoramento das funções públicas, que estarão na minuta do projeto de lei do PDUI. É importantem juntamente com o sistema de monitoramento, e a gente está pensando em colocar na minuta do PL, com levantamentos fotogramétricos, tudo ligado às funções públicas. Quanto à CT de Planejamento, a gente conta com a presença e participação de todos para ajudar no debate sobre este plano, porque a tarefa é complexa, não há modelo, temos muitas dúvidas e precisamos da experiência e apoio de todos.

Adilson () – Falou sobre a preocupação sobre o uso e ocupação do solo na região: “Foi colocado que já está resolvida a questão do Zoneamento Econômico Ecológico do Estado, especificamente da Baixada. Esse decreto é de 2013. A legislação para uso e ocupação de solo de Santos, para a área continental, que ainda não está em revisão, mas deverá ser revisada, é de 2011. E a legislação de Santos conversa muito bem com a estadual, porém, recentemente, tivemos um sinal de alerta, de preocupação, porque existe uma lei (Lei da Mata Atlântica, que é de 2006) que diz que, enquanto o mapeamento dos municípios são específicos, mostram as áreas para expansão urbana, portuária,

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retroportuária etc... temos nessa Leia da Mata Atlântica, um grande mapa da que aponta toda a região, desde o Paraná até a Bahia, como uma grande mancha verde. Alguns juristas estão interpretando que aquilo tudo não pode ser mexido, apesar do que preveem as legislações municipais. Pediu que a Agem verifique se há algum tipo de conflito, para que a gente esteja preparado para contra argumentar, caso alguém venha apresentar a Lei da Mata Atlântica contra o Macrozoneamento regional.

Bechara (Santos) – Acredito que há uma falta de informação nesse processo. A Lei da Mata Atlântica é de 2006 e o gerenciamento costeiro é posterior. Em tese, esses juristas que estariam vendo conflito entre as legislações, ela já existiria na origem, no momento da aprovação, o que não aconteceu. Lamento que, quando isso foi discutido com o Ministério Público, não pegaram ninguém que estivesse envolvido com a proposta. Então, sempre vai haver o conflito. É importante o grupo setorial (CT) estar ligado a esta questão que o Adilson colocou, para que possa efetivamente participar das discussões. Lembro que, no momento em que construímos a lei da área continental de Santos, que é uma reprodução idêntica do que foi proposto pelo ZEE (era a mesma equipe), sempre houve a contestação (o Gaema nos chamou, levantando a mesma coisa, o conflito das leis). Conseguimos mostrar ao MP, uma série de informações que esclareciam dúvidas sobre o que estava sendo levando. Comprovamos que o zoneamento é um instrumento de planejamento, não licencia nada, é simplesmente uma fase no processo de licenciamento. As questões precisam ser esclarecidas ao MP por quem, realmente, conhece o assunto. Lembro que o MP que está contestando, agora, é o federal, não o estadual, que já recebeu os devidos esclarecimentos.

Maria Emília (Cetesb) – Lembrou que a questão seria discutida em oficina no dia 4 de maio, ressaltando que houve um atraso, mas o gerenciamento costeiro está sendo retomado.

Eliana Farias (Praia Grande) – É Zoneamento Econômico Ecológico (ZEE), não trata só da questão ambiental. Discutimos muito no grupo setorial sobre trazer esse debate, também, para o âmbito do planejamento e do desenvolvimento econômico. No ZEE se discutiu o equilíbrio entre ocupação e preservação e é muito importante, também, discutir nessas outras esferas. O ZEE foi criado por um decreto do governador, um instrumento realizado com ampla participação da população. Foram 14 anos de discussão, pelo menos, com inúmeras audiências públicas – no processo final, foram oito audiências –, passou pelo MP, pela Procuradoria Geral... questionamentos sempre vão existir. Esse decreto trata de zoneamento, portanto, são áreas passíveis de ocupação, porém não priva a necessidade do licenciamento ambiental e a Lei da Mata Atlântica, que trata da preservação. A Lei da Mata Atlântica não vai tratar de zoneamento ou de uma área, mas da vegetação. Trazer o ZEE para um plano regional busca o fortalecimento esse documento. Uma vez que existe um zoneamento discutido há tanto tempo, com o qual os planos diretores dos municípios foram compatibilizados, a gente tem que tentar fortalecer esse instrumento, não criar outros. Foi uma decisão muito acertada trazer esse debate para o planejamento, uma proposta da Agem, que a CT concordou.

Lúcia Helena (Guarujá) – Em 2016, recebi como incumbência a secretaria de Meio Ambiente, no ano em que se perdeu a eleição dentro do município, que tem um déficit de receita – não significa que a gente não tenha feito a gestão do que recebemos. Tudo acontece é no município. Como gestor municipal, onde batem na porta todas as questões e dificuldades, recebíamos, por mês (2015-2016), por orientação do TCE... Tivemos um perda de receita, mesmo, houve mês que chegou a 19% de recebimento. Fizemos a gestão pública: diminuímos os gastos, mas não o investimento, porque gasto, no setor público, ele é excessivo, sempre. Por exemplo: assinávamos A Tribuna, mas todos os secretários só leem notícias pelos celulares e, aí, o jornal ficava enrolado no saco ou ia para a zoonose. Então, cortamos a assinatura. Pode achar que é uma coisa muito ridícula, perto dos bilhões que o Porto gera. Não é ridícula, pois conseguimos economizar R$ 35 mil e pudemos pagar três pessoas para trabalhar e produzir mais para o município. É do mínimo que você tem os exemplos e as atitudes das pessoas. Outro exemplo: pagávamos quatro botijões de gás, sem utilizar nenhum fogão, porque havia uma cotização para pagar para todo o andar. Não. Vamos cortar, ninguém toma café, aqui. Acharam ridículo, também. Mas, se você perguntar para o Mourão, aposto que ele sabe quanto gasta com café. Por isso, que a gestão dele é uma gestão que todo mundo louva, e com razão. O que aconteceu foi o seguinte: investimos aquilo que recebemos. Infelizmente, tivemos R$ 160 milhões de negativo, tivemos que reduzir e conseguimos. Deixamos uma proposta de ação para essa gestão, na qual continuo. O olhar é: você tem condição de ter essa estrutura, você tem papel e certificado, porque você teve gente com competência para fazer essa gestão. Politicamente, não sei te dizer se esse foi o resultado, porque a população, hoje, não sabe dizer o que quer. Tivemos uma reunião dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS – ONU), em SP, e querem que a gente crie indicadores e

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metas e a gente não sabe nem o que quer. Aí, você tem que trabalhar com indicadores de 2010. Nos últimos dois anos, esse país é outro, a Baixada é outra e o PMDE tem que ser revisto – estamos revendo todos os nossos planos de ação no município. Então, na gestão pública, conseguimos trabalhar, mesmo com déficit, justamente porque não trabalhamos com o déficit, mas com a receita que tivemos. Com relação ao Porto, fui a uma reunião do PAM, no segundo semestre de 2016, só havia representante das grandes empresas. E a discussão, que fazia três meses que vinha acontecendo, era para comprar um kit, para caso acontecesse algum acidente. As empresas estavam discutindo se aceitariam pagar um kit para uniformizar os procedimentos, em razão do que aconteceu na Localfrio – na Ultracargo ninguém pensou. Custava R$ 16 mil um kit. Eu levantei e fui embora. Disse: vocês não chamaram a secretária de Meio Ambiente de uma cidade que não recebe nem um centavo com o Porto e é o lugar que tem para expandir, para dizer que não têm R$ 16 mil. É para vocês entenderem, também, como funciona o olhar do empresário. Bom: precisamos saber o que a metrópole quer de prioridade – não sabemos se a gente quer o turismo ou é a pesca, o Porto, qualquer tipo de urbanização. Já tem um plano, vamos reavaliar. Por que ficou 14 anos discutindo zoneamento ecológico? Porque cada mudança de governo a visão é outra. Então, ou senta todo mundo, não importa a cor da camiseta, e resolve uma situação, ou a gente entra no caos. Preocupa muito, quando a gente vê, ainda, o Porto como principal atividade econômica, sendo que vivemos hoje de IPTU (falo do Guarujá). E o IPTU, no último ano de governo, tem uma queda muito acentuada, até porque, quem não paga são os grandes proprietários, que sabem que, quando vem o próximo governo, desesperadamente, o cara faz uma negociação e se paga irrisório valores. Isso acontece no Guarujá. E o nosso déficit é muito grande.

Adilson dos Santos (Santos) – As cidades se importam, sim, com as questões portuárias. Tanto que a Prefeitura de Santos criou a Secretaria de Assuntos Portuários, a do Guarujá também tem uma secretaria para isso. E quando a gente fala do Porto, não é só de Santos, Guarujá e Cubatão, fala das outras cidades que são impactadas, principalmente, no caso da acessibilidade. A gente só tem o Sistema Anchieta-Imigrantes (SAI) para chegar ao Porto e esses gargalos afetam toda Baixada Santista. Outra coisa: a ação política das prefeituras existe, porém, temos limitações políticas. Quais são? Hidrovia, se for rio regional, é atribuição do Estado; se houver rio federal ou mar, é atribuição do governo federal. No caso das ferrovias, as concessões são federais. As rodovias são federais ou estaduais. As prefeituras não têm capacidade de investimento para esse tipo de infraestrutura. Normalmente, a gente colhe o ônus do tráfego de veículos na zona urbana. Professor Jorge, além de perdermos essa parcela grande, em função da redução da atividade econômica, a gente também perdeu em ICMS, que deixou de ser recolhido na região e passou a ser recolhido na origem. A nossa ação foi tão forte, que chegamos até o Superior Tribunal Federal com a questão da lei de uso e ocupação do solo. Todos conhecem o que aconteceu na Ponta da Praia. Nós temos uma legislação, que segundo o Estatuto da Cidade é atribuição do Município, e nós não fomos ouvido quando estavam sendo feitos os blocos de plano mestre na Ponta da Praia e em outros locais. A Prefeitura de Santos não foi ouvida e nós criamos uma lei, tornando o uso desconforme, era o último limite. Isso foi parar no STF e até hoje não foi julgado o mérito. Ou seja, tem gente que fala que, na área portuária, quem legisla é o governo federal; área municipal, o Município. Então, temos um conflito de gestão, não podemos interferir na área portuária. Recentemente, tivemos uma notícia de que nós teríamos conseguido cobrar IPTU de áreas federais. Isso pode beneficiar todas as cidades que têm porto organizado no Brasil. A ação política das cidades existe, dentro dos limites que a gente pode fazer. Não podemos chegar em Brasília e dizer, por exemplo: Não façam a lei 12.815, nem a MP 595, que a antecedeu, porque isso vai tirar a autonomia dos conselhos de autoridade portuária, vai terminar aquelas decisões que, entre 1993 e 2013, fizeram com que o porto mais que duplicasse sua capacidade produtiva, com decisões regionais e todos os atores participando. O que fez o governo federal? Fez uma medida que centralizou tudo em Brasília. Esse problema de dragagem, por exemplo, poderia estar sendo resolvido aqui e regionalmente – aqui é bom lembrar, também: todos os melhores portos do mundo são regionais, não são centralizados no governo federal. Se na Holanda, Roterdã é um porto regional, qual o sentido de ter um porto como o de Santos com a gestão centralizada em Brasília. Inclusive, com essa centralização, às vezes tomando decisões que são contra os interesses da região. É fundamental que a gente volte a ter esse Conselho de Autoridade Portuária (CAP), com maior autonomia e maior participação dos municípios, dos operadores, dos usuários e dos trabalhadores nas decisões. Nós perdemos dois anos de evolução na história portuária, por conta dessa lei 12.815, nesse sentido – trouxe vantagens em algumas áreas, mas nesse caso foi um claro retrocesso, como reconheceu até a Agência Nacional de Transportes Aquaviários. Com relação à acessibilidade: a parte rodoviária, como já falamos, envolve os governos estadual e federal; o segundo acesso ao Porto de Santos está sendo discutido entre o Estado e a União, a Prefeitura está executando

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a parte para a qual ela conseguiu a verba e tem projeto para executar. Com relação à ferrovia, já existem iniciativas da Rumo e da MRS, para aumentar a capacidade dos sistemas. O nosso grande gargalo, depois disso, vai ser na malha interna do Porto de Santos, esta, sim, tem de ser analisada. E quem faz isso? O governo federal. O que a Prefeitura de Santos faz, especificamente? Nós incentivamos a mudança da matriz de transporte no porto: o incremento da ferrovia e hidrovia. Hoje, temos 24-25% do transporte ferroviário, 5% do dutoviário e o resto rodoviário. Se a gente tiver a implantação do PNLT (Plano Nacional de Logística de Transporte) no Porto de Santos, aumentaríamos a ferrovia para 35%. Só que precisaríamos de, no mínimo, de 55% de transportes ferroviário para fazer frente ao crescimento da safra que se espera. Outra coisa: quando a gente fala em hidrovia, o governo federal, finalmente, resolveu estudar o transporte de carga por hidrovia no Porto de Santos. E recebemos com muito prazer a intenção manifestada pelo presidente do Condesb, prefeito de Praia Grande, Alberto Mourão, de criar lixões na região sul e norte, porque isso vai ser perfeito. Hoje o nosso grande gargalo para fazer hidrovia de cargas no Porto de Santos é o Sistema Anchieta-Imigrantes, é a ponte dos Barreiros, porque ali você tem obstáculos á passagem de barcaças. A hora que fizer um lixão ao sul e ao norte, a gente pode pensar em transportar lixo por barcaças, uma solução metropolitana. E a gente espera que isso vingue dentro da Agem. Com relação ao plano mestre, graças a uma briga (no bom sentido, com discussão, argumentos), conseguimos que o governo federal incluísse os municípios portuários na discussão dos planos mestres. Hoje, Guarujá e Santos fazem parte da história. Então, hoje, estamos discutindo, como vamos resolver a questão da acessibilidade, ambiental, da expansão etc., inclusive, com uma novidade. Em 2015, houve o primeiro plano mestre e ninguém perguntou para as prefeituras, para o Sopesp, nem para a Codesp. Não perguntaram para ninguém. O processo foi feito pela Universidade Federal de Santa Catarina – tudo bem, Santa Catarina tem cinco portos, mas somados, não dão o Porto do Rio de Janeiro, até dá, mais não chega perto do Porto de Santos. Tudo bem é uma universidade federal, que foi contratada pelo governo federal, mas a gente brigou e escreveu 36 páginas de críticas a esse plano. Quando ele chegou e foi parar lá no Tribunal de Contas da União, partiu do próprio TCU a orientação para que aquele estudo fosse abandonado e as cidades portuárias fossem consultadas. Com relação ao que nós queremos para a região, o Porto – pelo menos para Cubatão, Santos e Guarujá, diretamente, mas também com influência direta para outras cidades, porque moradores de Praia Grande, São Vicente, Bertioga etc. também trabalham no porto – tem que ser tratado com uma questão regional, porque vaio continuar a ser a principal atividade econômica da região. Mas precisamos pensar na diversificação. É um absurdo, termos um porto do tamanho do nosso e não termos indústria instaladas para atender esse porto – indústria de baixo impacto ambiental, sustentável. Essa diversificação tem que ser pensada, para que a gente agregue ao turismo, agregue à atividade portuária, novas formas de ter receita econômica e de fixar as pessoas na região. Temos 8, 9, 10 universidades na região e os formados têm que sair, porque aqui não têm emprego. A gente precisa, também, gerar empregos de qualidade. Nesse sentido, essa discussão é importante. Tudo o que foi apresentado aqui deve contribuir para que a gente tenha, realmente, um plano regional, um plano que, de fato, precisar ser revisado, porque esses dois últimos anos são totalmente diferentes. E que a gente trace, sim, perspectivas para novas atividades econômicas e não apenas para manutenção e incremento das atividades existentes.

Alexandre Nunes (Santos) – Lamento que o setor de turismo não esteja presente de maneira mais acintosa, aqui, quando se fala de desenvolvimento econômico. O PMDE tem lá quatro pilares, um deles Desenvolvimento Econômico, que conta, como um dos viés, o turismo. A atividade turística é muito mais que o lazer. Aqui houve uma preocupação primária, na fala da Fernanda: Onde vocês fazem lazer? Há uma pequena miopia de enxergar turismo, apenas como atividade de sol, guarda-sol e praia. Quando chove, como é que faz? Se pegar a área continental de Santos e Bertioga, então, são mais de 220 dias de densidade pluviométrica/ano. Por isso, não dá para discutir turismo de sol e praia, somente. A gente sabe da importância indubitável da atividade portuária e da retroportuária, não para o município de Santos, Guarujá e Cubatão; sabemos da importância do Polo Industrial de Cubatão para toda a região. Mas os terminais portuárias, o polo industrial, por conta da crise econômica, estão numa situação de demissão em massa. A retomada do crescimento irá acontecer, claro, e já sinto isso, porque minha atividade é sensível a essa retomada: sou consultor e ninguém depende ou morre por não ter consultoria, mas quando você precisa de auxílio, vai lá e pensa na consultoria. Com a retomada econômica, óbvio que vamos ter geração de emprego e renda, porém, jamais, na mesma quantidade das demissões. É natural que, com o advento tecnológico, tanto no porto quanto em Cubatão, ou em qualquer outra macro atividade econômica, utilizam as ferramentas tecnológicas para gerar empregos de qualidade, de incremento na área universitária... Você tem a tecnologia gerando a necessidade de mão de obra mais qualificada. Ou seja, qualidade, não quantidade. Neste ponto, eu gostaria que os senhores percebessem a importância da atividade turística. Esta atividade usa, basicamente, aquilo

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que os municípios possuem, a matéria-prima básica está na cultura, no esporte, no meio ambiente, no uso adequado e racional dos recursos naturais. Outra coisa, o turismo está listado na questão do Desenvolvimento atrelado a uma cadeia de petróleo e gás. Sabemos que as redes hoteleiras (Accor, Mercure, Ibis...) que se instalaram na região vieram atraídas pelo petróleo e gás. Os investimentos em construção – as torres construídas em Santos e no Guarujá – vieram atrelados ao petróleo e gás. No entanto, hotel não tem rodinha: nasce e morre no mesmo lugar. Se a cadeia do petróleo e gás já não é mais como aquela que foi prometida, temos hotéis aqui que nos permitem consagrar a atividade turística sob um outro olhar. Afinal, está no segmento de negócios e eventos a sustentação da cadeia produtiva da área de hospitalidade em qualquer lugar do planeta. Nós, na nossa Região Metropolitana, exploramos muito mal a nossa imagem e como destino turístico, tanto para o mercado doméstico quanto para o internacional, sobretudo o da América Latina. É um problema sério, porque trabalhamos de maneira isolada. Eu comentava sobre o Plano de Desenvolvimento Turístico, que é de 2002, e, passados 15 anos, ainda discutimos um selo metropolitano, uma solução apontada lá atrás. Passados 15 anos, para eu tirar um ônibus de turistas de Bertioga e levar para Peruíbe, seu eu quiser visitar as nove cidades, são R$ 3,2 mil em taxas. Todos nós aqui viajamos (viagens curtas ou longas) e nunca ficamos num único município, sempre buscamos identificar o que há no município vizinho, quais são as características locais, para que eu possa aproveitar. E quanto mais descubro o que tem, mais tempo eu fico. Como turista a gente gasta dinheiro com qualquer negócio, compra até aquilo que sabe que não vai usar. Um exemplo é comprar berimbau, em Salvador: você compra e nem tocar sabe. Partindo dessa analogia, impactar 65 segmentos da atividade econômica é a cadeia produtiva do turismo, economia criativa. Mais que isso, o turismo se apropria da cultura local e regional, dos serviços, e aí está a importância que o turismo tem, porque é gente atendendo gente. Óbvio que tenho o uso da tecnologia a favor da hospitalidade, tenho aqui um aplicativo grátis (Costa da Mata Atlântica) para conhecer as nove cidades da região. É fato que tenho um sistema hoteleiro que facilita o check-in e check-out. Hoje, em qualquer restaurante, o garçom usa aplicativo de smart phone para comandar a cozinha. Mas tudo isso é gente, atendendo gente. Enquanto a gente não compreender que a atividade turística não está circunscrita a lazer, sol e praia (somente a três meses ao ano) e entender que turismo é concebido como agente de desenvolvido econômico e social, tal como preconiza o artigo 180 da Constituição Federal (governos federal, estaduais e municipais promoverão o turismo como agente de desenvolvimento econômico e social)... É nesse aspecto que temos que entender o turismo, entender que temos, nas nove cidades, uma capacidade singular de atrair turistas, seja pelo meio ambiente, ecoturismo, esportes, atividades náuticas – trazer gente para cá, 365 dias por ano. Peço uma reflexão para que compreendam o fenômeno turístico com outro olhar. São 12 meses ao ano e qualquer empresário do meu setor sabe que a conta tem que fechar, de janeiro a dezembro, e não apenas de dezembro a fevereiro. Turismo tem que estar na pauta do desenvolvimento econômico e acho, sim, que precisamos nos aprofundar na revisão do Plano e incorporar, de maneira mais contumaz o significado da cadeia produtiva do turismo, pois para o governo do Estado de São Paulo e para o Ministério do Turismo, somos a Costa da Mata Atlântica. Represento um entidade que mexe com a atividade empresarial, sim, mas carecemos de uma parceria com o poder público. Precisamos unir forças para ter, de fato, o desenvolvimento econômico que desejamos. A cadeia produtiva do turismo é extremamente ampla, dinâmica e sustentável. Tivemos aqui uma temporada boa, traduzida em números, com 85% da capacidade hoteleira, sobretudo reflexo da crise – tá difícil viajar para o exterior, sim. Porém, todos querem viajar, para relaxar e a atividade do turismo é todo dia. São Paulo tem um evento acontecendo a cada seis minutos. E o brasileiro gosta de gastar dinheiro, principalmente no exterior: gastamos mais de R$ 1,4 bilhão, só neste primeiro trimestre, crescimento de 12%, em relação ao que os estrangeiros gastaram aqui. Por isso, temos que pensar o turismo de maneira metropolitana. Lamento que muita coisa que está pensada no Plano Turístico de 2002 não tenha saído do papel, não avançamos, sequer, 10%.

Rui Smith (Praia Grande) – Participou da elaboração do Plano e reforçou o lamento do Alexandre, ratificando que é necessária a revisão. Falou que está faltando foco na Câmara Temática de Turismo e não se chega a resultados concretos. Concordou com o Alexandre sobre o tempo perdido discutindo o selo de turismo. O Plano Diretor tem que ser revisado.

Ana Lúcia (Guarujá) – Lembrou que o Guarujá tem o selo da bandeira azul – a praia do Tombo, pela sétima certificação, é a única na América Latina que tem isso. Falou também que há empresários que não querem compartilhar seus sucessos e ideias, citando como exemplo uma Marina que se recusou a receber visitantes de outro estado que queriam conhecer a experiência desenvolvida ali. Falou que o brasileiro não está preparado para receber o turista, pelo menos no Guarujá. Lembrou da legislação que proíbe pisar na grama. Mas os estrangeiros vêm, por conta da bandeira azul (o estrangeiro se

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importa com a questão do certificado), aí não pode sentar na grama, não pode estacionar o trailer, porque os moradores reclamam. No exterior ele está acostumado a usar a grama, a responsabilidade é do gestor de manter a grama em boas condições. As legislações que a gente tem, que permeiam os espaços públicos, são sempre feitas para evitar o empenho, o desempenho e a obrigação do gestor público, nunca para o uso correto. Não posso mais discutir desenvolvimento sem pensar nessas questões e inserir o turismo, como o Alexandre bem colocou.

Hélio Hamilton Vieira Jr. (diretor-executivo da Agem) – Encerrou o evento, destacando a importância do debate e de um esforço conjunto, fundamentais para garantir não apenas o planejamento integrado, como prevê o Estatuto da Metrópole, mas, principalmente, que as soluções propostas no plano sejam, de fato, realizadas.

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´Habitação e Desenvolvimento Urbano` (25 de abril/tarde)

Ricardo de Souza Moretti – Universidade Federal do ABC (UFABC)

Falou sobre vulnerabilidade e risco.

É preciso levar em conta o contexto de desigualdade no país, porque uma política pública de habitação não pode estar dissociada da atenção em assistência social, por exemplo.

É preciso incluir todos e os segmentos vulneráveis devem ter prioridade.

Um plano regional de habitação deve prever a construção de unidades, obviamente, mas esta não pode ser esta a única solução, ela é parte de um leque de ações.

Há uma necessidade urgente de trabalhar para fazer com que os planos regionais, ao se transformarem em lei, ajudem a mudar, de fato, a realidade local.

“Um plano é a construção de compromisso coletivo, sendo assim, é necessário definir metas claras, a partir de compromisso dos interlocutores.”

Tem que haver proposta de prioridades baseada em compromissos coletivos, que representem algo possível de ser feito, a partir da articulação daqueles que podem desencadear a ação.

Tem que haver é o comprometimento dos interlocutores. E não pode ter apenas conteúdo genérico, precisa prever coisas mais ´pé no chão`.

Se eu tenho metas demais, não consigo nem medir se elas estão sendo atendidas.

Outra questão que considerou inquietante: “Várias políticas públicas são trabalhadas na média. É aquela coisa: põe a cabeça no forno e o pé no freezer, então, na média, está bom. E tendemos a achar que isso representa o coletivo. Trabalhamos muito pouco com os extremos da sociedade”, declarou.

O professor destaca que prever, por exemplo, a produção de unidades na escala da demanda deve ser uma meta geral – é importante, mas de longo prazo, porque não há recursos hoje.

“É preciso pensar no curto prazo: qual será, onde estão as prioridades, por onde começar, quem são os interlocutores para assumir tais compromissos e as fontes de recursos? Por isso, junto com o geral, é preciso estabelecer as metas prioritárias.”

Ao tratar do perfil dos municípios brasileiros, das ações habitacionais, aspectos dos planos regionais e em que medida as desigualdades sociais afetam qualquer tipo de planejamento, o professor da UFABC chamou a atenção para a maneira como costumamos enxergar o processo de urbanização no Brasil.

“Tendemos a achar que nós, nas grandes metrópoles, somos o mundo. Temos 78 milhões de pessoas morando em 15 grandes metrópoles, que têm mais de dois milhões de habitantes cada: são 39 milhões só em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Há outros cerca de 30 milhões de habitantes só em aglomerados populacionais que têm caráter metropolitano. Mas o país tem 96 milhões de pessoas morando em pequenas cidades, municípios com menos de 20 mil habitantes, porém, alguns deles com extensão territorial maior até que países da Europa. A parcela de brasileiros que vive em áreas rurais ou que vive, predominantemente, com características rurais, é muito grande. É preciso levar em conta essa complexidade e as diversidades.”

No caso da Baixada Santista, especificamente, o professor fez algumas sugestões: “A terra é cara, mas há áreas como as do Serviço do Patrimônio da União. Então, o SPU é um importante interlocutor, com o qual é preciso dialogar, tem que participar. É preciso ter claramente identificadas as áreas de vulnerabilidade, pois elas geram riscos, que, por sua vez, geram vulnerabilidades.”

José Marcos Cunha – Demógrafo e pesquisador do Núcleo de Estudos de População (NEPO/Unicamp)

Desde a década de 1990, estuda os fluxos de migração na Baixada Santista, pesquisa que vem atualizando, em conjunto com os alunos que orienta nos cursos de mestrado e doutorado da instituição.

Falou sobre dinâmica demográfica da região, ressaltando que o grupo de estudo está finalizando o atlas sócio demográfico da Baixada Santista.

“A gente vem trabalhando, desde os anos 90, com a ideia de cidadão metropolitano, porque não dá para pensar uma aglomeração urbana, seja na Baixada, na Capital ou em Campinas, de maneira isolada. Fico feliz em ver que a Agência Metropolitana (Agem) trabalha, também, para consolidar essa noção de cidadania, porque não dá mais para cada prefeito pensar apenas no seu território, sobretudo, nesta região.”

Aglomerações urbanas e regiões metropolitanas passam por um processo denominado ´potencial endógeno`.

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“Elas crescem em velocidade menor do que no passado, no entanto, possuem um grande potencial redistributivo da sua população, em função das altas concentrações de densidade de algumas áreas, o que exige atenção.”

A Baixada Santista vem crescendo lentamente, desde os anos 90.

“Mas isso não quer dizer que não existam municípios que cresçam de forma acelerada. Bertioga, por exemplo, é uma área com alta capacidade de expansão. A população não encontra espaço na ilha de São Vicente e vai se expandindo para as áreas mais ao norte e ao sul da região.”

Temos de ter clareza do comportamento municipal, mas não podemos perder a noção de que o crescimento territorial na Baixada Santista tem que ser pensado de forma metropolitana.

A dinâmica demográfica na região é resultado, ainda, do impacto da relação com o planalto.

“A Baixada Santista está muito conectada com a Região Metropolitana de São Paulo e isso gera impactos. Por exemplo, em São Vicente, a maior parte da migração é de origem ´intrametropolitana` – ou seja, movimentação entre cidades da Baixada. Já em Praia Grande, Mongaguá e Bertioga, essa ocorrência é, também, intraestadual (principalmente com a Capital).”

Esse potencial endógeno nos permite ver o peso que a imigração tem no crescimento dos municípios.

Em Praia Grande, por exemplo, este crescimento está relacionado tanto à ligação com São Paulo, quanto com a Ilha de São Vicente.

Mongaguá também cresce da mesma forma.

A dinâmica demográfica dos municípios mais ao sul da região tem muita ligação com Capital.

José Marcos mostrou que Santos vem perdendo peso relativo, em função do seu “esgotamento” (não tem mais para onde crescer).

Em contrapartida, Praia Grande, desde os anos 1980, ganha peso relativo com a imigração, com “uma heterogeneidade sócio econômica muito grande”.

Ele chama a atenção para outro aspecto que considera interessante: “Temos notado que o crescimento do número de domicílios não significa o crescimento da densidade de ocupação, principalmente na Ilha de São Vicente, porque há muitos imóveis de uso ocasional.”

José Marcos aponta a precariedade de infraestrutura como um grande problema na região.

Destaca, principalmente, a necessidade de saneamento e o crescimento de ocupações irregulares.

“A cidade formal e informal são muito diferente. Há elitização de uma área de expansão, ao mesmo tempo em que há grandes áreas de ocupação irregular e de concentração de pobreza. Então, a questão da regularização, assim como a implantação de infraestrutura são questões muito importante e não podem ser discutidas de maneira isolada.”

Mediador – Rafael Redó Garcia, diretor regional da CDHU.

Fez apenas alguns comentários sobre as questões apresentadas e abriu os debates.

Participações

Fernanda Meneghello (diretora-adjunta Técnica da Agem) – Fez breve apresentação a respeito do Estatuto da Metrópole e do processo de discussão, com base no Plano Metropolitano de Desenvolvimento Estratégico (PMDE-Bs), entregue pela Agem em 2014, e a elaboração da minuta do projeto de lei, visando à adequação da região à lei federal.

Sânia Dias Batista (Emplasa/Agem) – Falou sobre a criação do Estatuto da Metrópole (lei federal 13.089/2015), que estabeleceu uma série de diretrizes para as regiões metropolitanas, instituindo, basicamente, a gestão plena. Nesse resumo que a Fernanda traz, mostramos o que a gente já tem: temos dois planos (um em 2002 e outro em 2014), entendemos que temos uma lei de macrozoneamento, que é o ZEE, que cumpre essa função de macrozoneamento regional, estamos trabalhando em alguns planos setoriais: CTs elaboraram Termo de Referência para um Plano de Mobilidade, a Agem contratou o IPT, com recursos do Fehidro, para elaboração do Plano Regional de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, que está em andamento. Também temos planos mais antigos, como o Cicloviário (2007) e o de Turismo (2002). E a gente tem o grande desafio de fazer com que os planos sejam mais que o papel, para que eles virarem realidade. O PMDE, de 2014, prevê um Sistema de Monitoramento das ações previstas. Chegamos a fazer o documento para licitação deste Sistema, mas não tivemos autorização para contrato. Porém, não adianta termos apenas os sistemas, precisamos trabalhar para aperfeiçoar os indicadores, saber o que precisamos medir, o que queremos,

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o que precisamos divulgar... Para isso, estamos buscando a ajuda das universidades e estamos firmando termos de cooperação com outras entidades regionais: com o gerenciamento costeiro e com o Comitê de Bacias Hidrográficas, tanto que já temos um trabalho comum (contratação, com Fehidro, do IPT. O que a gente não tem, mas está previsto na lei: nossos planos nunca foram aprovados por lei – o Estatuto agora diz que o plano regional precisa ser aprovado como lei estadual. Então, precisamos discutir o que de um plano merece estar numa lei estadual. Esta é a fase em que a gente está: junto com a Câmara Temática de Planejamento, coordenada pela arquiteta Eliana, de Praia Grande, estamos trabalhando nisso e vamos fazer audiências públicas para redigir este projeto de lei. Alguns outros instrumentos são possibilidades. A lei federal diz que qualquer instrumento previsto no Estatuto da Cidade pode ser aplicado de forma interfederativa. Por exemplo, já discutimos a possibilidade de operações urbanas consorciadas, com Estado e municípios. Por que não pensar em algo no eixo do VLT, por exemplo. Consórcios, contratos, parcerias, compensação por serviços ambientais... tudo isso são possibilidades que a lei do Estatuto da Metrópole nos apresenta e precisamos decidir se vamos usar, o que vamos usar e como fazer isso. Outra coisa é o aperfeiçoamento dos nossos instrumentos de governança, aumentar o controle social do planejamento e da execução das funções de interesse comum. Estamos fazendo isso através da CT de Planejamento, que também acompanhou a execução do PMDE.

José Marques Carriço (Santos) – Cumprimentou os palestrantes pela qualidade e aprofundamento dos temas. Destacou a fala do professor Moretti, sobre a necessidade de se considerar estratégias para manutenção e assistência técnica, sobretudo, das unidades ´autoconstruídas` que a gente tem em todo o Brasil, e aqui na região não é diferente. Até mesmo em áreas de palafitas, onde é muito difícil pensar em recuperar esse estoque, a gente encontra um número significativo de alvenarias que há previsão de manutenção, nos programas habitacionais, nos programas oficiais. No entanto, não há nenhuma proposta concreta, embora a gente tenha até uma lei municipal de assistência técnica, no sentido de possibilitar que essas unidades tenham uma regularização edilícia, ao fim do processo de regularização fundiária. É necessário que se pense nisso. Nas áreas dos morros, também é possível imaginar que a gente tenha um estoque grande de unidades que podem ser regularizadas, desde que você tenha um programa robusto de assistência técnica. A gente tem lei para isso, sabe que existe, mas não temos recursos, e temos um Fundo de Habitação, precisamos cavar um espaço neste Fundo, para isso. Quanto à dinâmica demográfica, acho fundamental a questão da formação líquida de domicílios, é importantíssima para se imaginar o desafio que a gente tem em termos de demanda. Temos uma tendência, quando reflete sobre demanda ou déficit, que é considerar as projeções de crescimento demográfico. Mas na verdade, o que cobra ações é o crescimento de domicílios, a geração de novos domicílios, que se prende a um crescimento demográfico que aconteceu há 25-30 anos. Portanto, o crescimento demográfico que estamos assistindo hoje, vai gerar demanda de novos domicílios daqui a 25-30 anos, provavelmente de forma diferente do que ocorre hoje, porque há mudanças na estrutura da sociedade – a tendência atual é de redução do número de membros na família, famílias que se separam, pessoas residindo sozinhas etc. Essa dinâmica de hoje, provavelmente, não irá ocorrer daqui a 25-30 anos, quando os municípios forem formados por essas pessoas que estão nascendo agora. Para formular uma política habitacional que contemple essa demanda, a gente tem que ter uma fotografia do que acontecia, demograficamente, 25-30 anos atrás. E pensar na demanda por novos domicílios que está acontecendo hoje. O exemplo de Santos, acho que é fundamental: era para ficarmos mais tranquilo, porque temos um crescimento quase zerado há várias décadas, no entanto, há uma demanda, sim, por novos domicílios, a despeito desse crescimento demográfico baixo. Qual a situação daqui a uma década ou mais? É preciso se pensar nisso. Essa questão metodológica que ficou bem clarificada com a exposição do professor Zé Marcos é de fundamental importância para os desafios que a gente tem hoje.

Mônica (UniSantos) – Na exposição, principalmente do Moretti, ele coloca a irregularidade na região, principalmente, em relação à regularização fundiária. Eu queria saber a posição de vocês em relação a essa questão, que é gritante na região, e com relação à Medida Provisória 759, de regularização fundiária, que traz uma série de mudanças que colocam em risco uma série de conquistas nesta área. Lembro que a política da Habitação não se esgota no município, ela é uma questão metropolitana.

Ricardo Moretti – Essa questão da irregularidade é um assunto apaixonante e delicadíssimo. O Celso Carvalho, que trabalha em Santos, lembrou que algumas informações são ruins de ter a partir do Censo. A questão das drogas ou da opção sexual, por exemplo, e eu quisesse entrevistar as pessoas, face a todo um histórico que a gente tem, ninguém responderia. Da mesma forma como falou o Zé Marcos: você pergunta, qual a situação da sua casa? A resposta é: Regular. Então, os dados de

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regularidade, a partir do Censo, saem profundamente mascarados. Tanto é que a Fundação João Pinheiro, de Minas Gerais, um época definiu um déficit habitacional qualitativo de regularidade que era absolutamente ridículo. Para se ter uma ideia, a Fundação Seade fez uma pesquisa sobre a tipologia das casas na Região Metropolitana de São Paulo: classificavam em ´casa isolada`, ´prédio de apartamentos´, ´casa de frente e fundos` (o puxadinho), ´favela` e ´cortiço`. Houve época em que a solução habitacional mais comum de moradia era o puxadinho (36%). No último levantamento, de 2003, a casa individual passou à frente (42%). Só que a casa de frente e fundos é completamente irregular, do ponto de vista legal. Mesma que eu consiga ter regularidade edilícia, que eu regularize, não consigo fazer matrícula no cartório de imóveis. Então, é uma coisa curiosa, porque a solução habitacional que chega a ser a mais comum em alguns momentos é completamente irregular. Quando quem está dentro da lei é minoria, está na hora de se perguntar quem está errado: quem descumpre a lei ou é a própria lei? A gente fez uma lei no país a fora que simplesmente não é cumprida, porque ignora a realidade do país. Então, se alguém for estudar irregularidade, tem que fazer um ´degrade`, porque eu diria que o percentual de pessoas que têm a situação fundiária 100% regular é minoria. A gente teria um degrade: minha situação fundiária é mais ou menos, de zero a 100, eu estou ali no 70, por exemplo. Depende do que se falar, pois tem desde a situação em que o loto não está regularizado, o cara não tem nenhum documento, até aquele que fez uma reforma, aprovou na prefeitura, mas não averbou no Cartório de Imóveis. Qual é o grau de regularidade? Então, tem um problema de raiz que, na minha opinião, toda a nossa legislação urbanística está completamente equivocada. A Lei de Zoneamento, por exemplo: houve um certo momento que alguém em São Paulo falou que 80% dos estabelecimentos comerciais não tinham licença de funcionamento. Eu tenho uma pessoa que me deu um depoimento, dizendo que faz 20 anos que ele tenta obter licença de funcionamento do estabelecimento lá no Brás. Ele chegou outro dia e falou: “Não há como obter”. Nós, arquitetos, engenheiros, urbanistas, criamos uma legislação urbanística que é completamente fora da realidade. Primeiro, a gente deveria fazer um sério esforço para dar assistência a esse patrimônio construído, de promover um sério programa de regularização – e não só na prefeitura, mas junto aos cartórios. Depois, como você falou, Mônica, esse projeto de lei (refere-se à MP 759) vem totalmente na contramão de tudo isso. Todo mundo que eu conheço, que estuda regularização fundiária, falou que esse processo é autoritário e um retrocesso. Não sou estudioso no assunto, ao ponto de ter opinião balizada, mas li uma dezenas de pontos mostrando que é um atraso. Na linha das demandas, a gente tem feito uma defesa que são das soluções de média densidade populacional. Um exemplo: você pegar um terreno e construir três quatro casas, formando um pequeno aglomerado (condomínio) horizontal, como se fosse uma vilinha. Santo André tem uma lei que autoriza a fazer prédios de baixa altura (até 9m de altura – o térreo é vazado e você tem mais dois andares) e facilita muito produzir esses prédios. O uso de terreno para essas tipologias é na faixa de 35-45 metros quadrados por unidade. Quando você um ´predião´ desses, ele tem 20 metros quadrados por unidade. Então, a proposta do pequeno prédio é uma solução muito mais densa do que a unifamiliar, mas sem o impacto que causa o ´predião´. A gente precisa avançar numa regulação urbanística que permita e estimule a média densidade populacional. Há várias soluções para atender essa nova demanda. É lógico que em Santos talvez isso fique mais difícil. Mas em toda essa área de expansão, tínhamos que rever o conceito. A gente não pode ter lotes de 150 metros quadrados como padrão urbanístico. Temos que ter soluções com densidades maiores, mas para isso, precisamos mexer na legislação. Voltando ao começo: a nossa legislação é feita para a Suécia. É um erro, a abordagem e nós, arquitetos e urbanistas, fazemos de conta que a lei é de verdade. O mundo informal está completamente estruturado. A gente faz umas leis que não são adequadas e fica arrepiado com a bagunça. Temos que cair na real. Temos que mudar a estrutura de regulação das cidades. Se você fosse aplicar a legislação ambiental ao pé da letra, o meu bairro tinha que ser demolido. Meu bairro inteiro é uma área de preservação permanente. Agora, se eu tento regularizar uma APP em favela, parece que alguém viu o bicho. Eu moro no Sumaré, do lado da av. Pompéia, aí lá, de APP não se fala. Então, há uma hipocrisia que nós, engenheiros e arquitetos, temos que parar. Chega de hipocrisia! Se quisermos ter uma produção nova e de boa qualidade, precisamos de novas regras. Se a gente quiser regularizar, temos que ter novas leis. Tenta regularizar uma casa de frente e fundos, um puxadinho. Sabe como funciona? Você tem que fazer convenção de condomínio, tem que ir no cartório registrar como se fosse um prédio. Por exemplo, você tem duas casas, uma em cima da outra, e quer deixar uma para cada filha, com documentação em ordem. Não tem problema, a gente faz como se fosse um prédio de apartamento. Só que, na hora de registrar no cartório de imóveis, pode ser que o escrivão não tope, porque ele não está acostumado, pois não é um condomínio normal. Ah, gente, vamos parar com isso: 36% das moradias em São Paulo são casas de frente e fundos e eu não tenho como regularizar, porque o sistema não permite. Então, nós estamos discutindo planos e lei, mas nós tínhamos que

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chegar com uma terapia de choque, porque estamos bancando os bobos – pensamos em uma Suécia, enquanto há a Índia comendo pelas bordas o tempo todo.

Rafael Redó (Diretor-executivo da CDHU) – Vale ressaltar para a professora Mônica, também, que a CT de Habitação fez reuniões e a gente convocou o pessoal do Programa Cidade Legal, do SPU, do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU-SP) e técnicos das prefeituras, justamente para discutir a MP 759/2015, as emendas (um calhamaço) e prazos.

Hélio Vieira (Diretor-executivo da Agem) – Desse grupo que debateu a MP, saíram propostas de alterações na lei, como se fossem nossas emendas. Enviamos isso a deputados e senadores do estado de São Paulo. Enfim, as propostas estão lá e é importante que a gente possa participar desse debate na UniSantos.

Lúcia Helena (Guarujá) – Temos tentado, no Guarujá, enquanto gestor público, fazer alguma ação junto às universidades, para que a gente comece a discutir, dentro da universidade, o papel do profissional. Isso é fundamental, porque, quando a gente se apresenta, não se apresenta como arquiteto e urbanista. É sempre: “sou arquiteto”. Se eu não for urbanista, em primeiro lugar, não consigo ser o arquiteto que resolva. A gente tem debatido isso muito, inclusive com o pessoal da Unifesp, que tem nos ajudado a estudar uma forma de fazer com que as faculdades de arquitetura comecem a participar de uma discussão com a visão de munícipe, para entender qual é o papel do profissional que ela está formando. As universidades auxiliam, numa grandeza fantástica, nos números, temos parcerias com várias delas, dentro da Secretaria de Meio Ambiente, mas não conseguimos fazer com que elas comecem a discutir essa questão com a visão do poder público. Essa habitação que estamos discutindo aqui, hoje, é papel do gestor público arquiteto trabalhar. As secretarias de Planejamento precisam ter o entendimento de que os profissionais não estão no seu escritório, que chega às cinco da tarde, ele vai embora e aquele projeto que foi demandado para ele, que vai ajudar uma população carente, que está passando fome ou outra dificuldade, demora anos. De repente, ele tem que entender que, quando se propõe a ser urbanista, ou tem um olhar mais amplo, para depois chegar à edificação, ou não consegue viabilizar uma mudança efetiva, espacial, que é onde eu induzo o caminhar. Já conversei com o pessoal do CAU, Cláudio Mazetti, a esposa dele, que é arquiteta e está tentando fazer uma discussão nesse sentido... Tentei fazer uma mobilização dentro do CAU no Guarujá, porque é necessário que a gente coloque este debate nas universidades. Se você for arquiteto e urbanista”, pela resolução 51, você não pode mais (e não deve) trabalhar sem essa noção do seu papel. Por exemplo: cabe a um arquiteto urbanista coordenar estudos de impacto de vizinhança. Então, os escritórios de engenharia e consultoria de meio ambiente, que têm por aí, precisam ter uma arquiteto dentro da sua composição de grupo interdisciplinar. Faço uma apelo para que o CAU leve essa discussão e que os arquitetos venham para cá, com a missão de contribuir com a Agem, porque os gestores e os órgãos públicos não têm recursos, têm um quadro mínimo de técnicos, e precisamos que as universidades nos auxiliem, mas com esse olhar. Que venham para cá debater como a gente muda essa realidade.

Eliana Farias – Considero muito importante a participação das universidades e que venham a campo, porque olhando os dados do IBGE, os dados estatísticos, a gente precisa chegar no território e ver o que está acontecendo ali. Como disse o professor, no caso da irregularidade dos imóveis, a gente tem um caso emblemático – e todas as vezes que encontro o pessoal do IBGE eles reclamam –, porque eles perguntam para a população se tem esgotamento sanitário. Todos respondem que sim, porque têm lá um vaso sanitário, mesmo em lugares onde não há rede, nem previsão de instalação de rede de saneamento. O entendimento que o entrevistado tem é diferente do que existe de fato. Essa confrontação da realidade com a pesquisa é mais do que necessária. No Brasil, houve um distanciamento do mundo acadêmico da rua e já passou da hora de ter uma reaproximação. Isso vai enriquecer muito o trabalho das prefeituras, do Estado e das universidades. A população pode ganhar muito com isso.

Professor José Marcos – Com relação à fala da Eliana, acho, sim, que os dados são falhos, mas é o que a gente tem. O que a gente não pode é acreditar e tem uma frase que uso muito: a gente tem que dominar os dados e não ser dominado por eles. Bem, é bom deixar claro que nenhum dado é neutro, não existe informação seja neutra, até mesmo com relação a sexo, por exemplo, pois só classificamos como seno ´Homem` e ´Mulher`. E os dados que são colhidos hoje, sobre infraestrutura domiciliar, na maior parte das vezes coletados por informações de qualquer pesquisa, são justamente para encobrir a desigualdade. Foi citado a questão do esgoto sanitário, mas podemos falar de várias outras. Nenhum dos dados sobre infraestrutura domiciliar que você pega hoje são robusto o suficiente para mostrar

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aquilo que você enxerga no dia a dia. Agora, nem tudo é passível de ser coletado. Exemplo: na questão do esgotamento sanitário, não é que o IBGE faz mal; a pessoa diz que tem e para comprovar o pesquisador precisaria ir na prefeitura, ou seja, para saber se há realmente rede de esgoto, não é uma coisa simples. Agora, esses novos dados que o IBGE lançou em 2010, sobre o entorno, que é uma ação do entrevistador e não só uma resposta do entrevistado, traz informações importantíssimas. Mas isso está sendo pouquíssimo usado. É um dado riquíssimo, porque revela a desigualdade que há. O estado de São Paulo, por exemplo, sempre se gabou por ter uma capilaridade das políticas públicas. Mas quando você vai ver como se dá essa capilaridade... Por exemplo: o William (pesquisador do NEPO) está fazendo um estudo sobre segregação e educação – e os estudos que a gente já tem, principalmente lá para Campinas e região, mostram claramente que onde a pessoa mora faz uma diferença tremenda no seu acesso à educação, à saúde etc. A gente precisa por o dedo nessa ferida. Às vezes os dados não ajudam, mas também, muitas vezes os dados são mal utilizados. Na questão da produção e do direito à cidade, acho que há um peso político muito grande, é eminentemente político. Não basta termos os melhores técnicos, os melhores arquitetos e urbanistas, se lá na Câmara Municipal, se no arranjo entre Legislativo e Executivo, a coisa não funciona. Vou dar um exemplo de Campinas: conheço colegas muito desanimados com o Plano Diretor de Campinas, porque foi, teoricamente, tão bem feito, mas na hora de implantar está sendo destruído, por conta de interesses imobiliários. Sei que os técnicos das prefeituras sofrem muito com isso. A injunção política pela cidade é tão forte que, se a academia ajuda em alguma, não é na análise que a gente faz, é na liberdade que a gente tem para denunciar essas coisas. A questão política é uma questão central. Campinas, por exemplo, tem umas áreas que deveriam ser ZEIS e viraram assentamento de classe média alta. Aquelas áreas super precarizadas, com ruas estreitinhas, com pouca infraestrutura, o cara deve ter vendido a preço de banana e o metro quadrado, hoje, vale uma fortuna. Tem que ter vontade política. Quem sabe, pensando ´metropolitanamente`, a gente consegue unir os prefeitos para focar nisso.

Ricardo Moretti – A gente tem feito leis urbanísticas complexas. A lei de zoneamento de São Paulo tinha 1.100 páginas. Aí, você praticamente não divulga. Tem uma estrutura de fiscalização, mas você não fiscaliza. Depois, a quem descumpre, não acontece nada. Aí, a gente chega e fala que no Brasil tem lei que pega e lei que não pega. Como que uma lei, que você não pensa em divulga, não pensa em fiscalizar, não tem estrutura de gestão, é super complexa para entender... aí, você fica espantado porque ela não é cumprida? Se vocês quiserem, a gente passa algum tempo, discutindo como faz para as leis acontecerem. Por isso que falei, nós estamos fazendo leis fora da realidade, estamos sendo ingênuos e injustos. Com relação à presença da universidade: nós temos lá um curso de ´Urbanização insurgente`, que é para tentar aproximar os alunos da outra cidade, que é maior que a cidade formal. A cidade que nem dá bola para esses documentos que a gente prepara é muito maior do que a cidade que dá bola. Posso assegurar para vocês que o número de domicílios, radicalmente irregular – não é irregular naquele degrade do qual falei, é quando o cara não tem nenhum documento –, é maioria. Os nossos estudantes não conhecem essa realidade. Agora, por exemplo, vai ter o Encontro de Planejamento Urbano, em São Paulo, a gente propôs uma oficina que é o seguinte: no final de semana que antecede o encontro, as pessoas inscritas deem um giro pela cidade real ou informal (vai visitar loteamento, ocupação, favela etc., um tour miséria), para discutir o que é isso. É o que dá para a gente fazer. Agora, as escolas, por mais que você insista, seguem com um pensamento de uma cidade nova, em um padrão... quer dizer, a gente continua delirando. Temos que tentar aproximar, claro, mas concordo com o Zé Marcos, é uma coisa essencialmente política. Se eu tivesse na prefeitura, não sei o que faria, acho que entrava em pânico e chorava. A lei a ruim, irreal, o que eu faço? Cabe a nós falar que está tudo furado, estamos bancando os ingênuos.

Renata (Santos) – Acho que esse tipo de encontro, como o de hoje, quando a gente trabalha nesse eixo habitação, nossa visão tem que ser sistêmica. Temos que parar de achar que esses números, o déficit (faltam tantas moradias), é o eixo do nosso trabalho. Acho que precisamos encarar essa questão política, porque, enquanto acharmos que, sem enfrentar a questão política, vamos conseguir dar conta, a gente está se enganando. A gente está cansado de ver planos e leis e leis que, em questão de horas são desfeitos por uma figura que chega do além e desfaz tudo numa sessão de Câmara ou com uma assinatura, enfim, um gesto que leva alguns minutos. Então, precisamos encarar isso de frente. Isso pode nos ajudar agora, no PDUI, para elaborar uma coisa mais madura, mais pé no chão.

Sânia Dias – Quero falar como arquiteta e urbanista, não como agente representante do governo. Falar dessa questão política, de como as leis são feitas, principalmente as de zoneamento e as edilícias, também. Dizem que, quando obrigaram todo mundo a colocar calha, em São Paulo, era para vender folhas de flandres. Bem, em São Paulo, a gente ficou décadas e décadas sem plano diretor,

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com uma lei de uso do solo, um zoneamento, que podia mudar uma vez por ano e a gente tinha um leilão na Câmara Municipal. Vem a questão política: era uma festa e fazia-se a mudança, todo ano. Então, quem fazia as leis era quem tinha interesse. É por isso que a lei é difícil. Ela tem que ser assim, para ninguém entender. Para ficar fácil ir lá e comprar uma emenda, uma mudança, na lei de zoneamento. É nossa obrigação, decodificar essa linguagem difícil e traduzir para todo mundo. Para quem está lá, no movimento por moradia, compreender que esse tipo de lei afeta o custo da terra e te faz sair da periferia de Santos e ir para muito mais longe, para um lugar que você vai conseguir pagar. É uma questão política sim, e nós temos que discutir isso. Agora, professores universitários, concordo com vocês: na minha escola, eu pouco andei na rua. Aprendi muito, trabalhando e fazendo os dois trabalhos, o de compreender a fontes secundárias, olhando censo, dados das prefeituras, mas também saindo para o campo. Vamos procurar olhar e compreender o que a gente está pretendendo com esse cruzamento estatístico. Os dados secundários está cada vez melhor (eu me formei em 1973 e a gente trabalhava com dados péssimos), as informações melhoraram muito, mas sempre a gente tem que fazer essa relação, que quanto mais a gente fizer, melhor vamos fazer nossa interpretação e conhecer mais. Então, o trabalho de inteligência de vocês tem que ajudar a gente a compreender mais. Por mais que a gente ande, nunca estamos em vários lugares ao mesmo tempo. Então, quanto mais pistas vocês nos dão, melhor. E, vice-versa, a gente colabora para afinar os trabalhos que vocês fazem. Quanto à questão da lei, que nós temos obrigação de fazer, no final desse processo, ela tem que ser simples, clara, curta.

Zé Marcos – Acho que a gente está esquecendo de um protagonismo que não tem, mas temos que impor, que é o protagonismo dos movimentos sociais. A gente tem que investir nisso, porque é daí que vai surgir a pressão. Não é dos escritórios, dos técnicos. Agora, com o protagonismo que os movimentos sociais devem ter, aí sim a gente pode mudar alguma coisa. Para isso, você falou uma palavra que é decodificar. Temos que decodificar e instrumentalizar, também, e nisso o papel da academia é importante, assim como de quem milita nessa questão, somos cidadãos. Estou cada vez mais convencido de que um caminho que a gente deve trilhar é o de fortalecer os movimentos sociais, dar elementos, informações, para poderem pressionar, sobretudo, na Câmara de Vereadores, que é lá que eles precisam de votos. A Agem pode ter um papel importante nisso, também.

Rafael Redó – Interessante a participação dos movimentos por moradia e hoje temos aqui representantes de Santos, Praia Grande e Peruíbe. É importante para que vocês possam ver como é a questão técnica, que muitas vezes esbarra na burocracia, na questão jurídica, nas características da região de área – quando você acha um terreno do SPU, há uma burocracia para se construir nele ou mesmo para saber se há a matrícula para fazer regularização. Além disso, há os atendimentos às demandas da Justiça, que impõe a quem as prefeituras tem que dar prioridades no atendimento da demanda (muitas vezes, áreas de risco e de invasões). Ou seja, a oferta é sempre menor que a demanda. Vivenciamos isso na CDHU. E a CDHU é uma empresa que ela subsidia as casas para construir e todo ano fecha no vermelho. Ou seja, põe mais dinheiro do que arrecada. Mas não para, continua fazendo, tanto que só na nossa região, até 2018, entre o que está em construção, em aprovação e em fase de licitação, chegaremos a quase 4 mil unidades, nas nove cidades. O déficit é muito maior, a demanda é muito maior e a gente verifica essa impossibilidade de construir ou regularizar, reestruturar, reformar, readequar aquilo que a gente já tem do nosso passivo, porque estaremos sempre esbarrando na questão majoritária, que é falta de recursos financeiros.

Hélio Vieira – Fez as considerações finais: Temos que ficar atentos na nossa região ao número crescente de moradias subnormais. Talvez ainda não possamos ter um registro muito claro, mas do IBGE de 2010 para aquela atualização de 2015, os saltos na região, cidades de traço em subnormalidade passaram a ter 6%. Então, estamos falando de cerca de 100 mil famílias em situação subnormal e isso envolve o risco social, geológico, ambiental e o custo do aluguel. Nós temos área na região? Temos. O custo é alto? É. Mas nós temos os instrumentos, as cidades têm instrumentos adequados, porém, quem utilizou? Se não tomarmos medidas urgentes para consolidação, urbanização de algumas dessas áreas, naturalmente, vamos perder esse processo. Nós não estamos conseguindo consolidar nem urbanizar aquilo que é possível, não conseguimos controlar a expansão da ocupação irregular e com uma produção ainda muito pequena para responder à necessidade da região. Falta o recurso para isso. Além da lei, ou pior do que a legislação, é o que vem depois, que são as instruções, resoluções e normativas, que você olha e vê que não é para usar o dinheiro, porque há um calhamaço de exigências. Um exemplo que uso sempre é o da construção de casas do Minha Casa, Minha Vida com exigência de entrada e saída para a máquina de lavar. E era uma briga enorme dos secretários dizendo que não ia gastar dinheiro. Mas a regra tal exigia isso. Por conta dessas

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questões, ao final de 2014, nós tínhamos cerca de 800 mil unidades do Minha Casa, Minha Vida com obras paralisadas. Temos que ter uma diretriz, dentro do nosso plano, prevendo algo entre essa situação de irregularidade e aquilo que é possível regularizar. Definir algo, para que a gente possa buscar recursos para aquilo que é passível de regularização. Outra coisa é que nós não temos nenhuma punição para quem não utiliza os instrumentos do Estatuto. Outra questão é referente aos Fundos de Habitação de Interesse Social – fica claro que ninguém quer utilizar o fundo, porque, em tese, ele te dá autonomia, você não precisa ir até Brasília. Mas o Fundo Nacional tem lá um real, porque não é utilizado. O do Estado também não é utilizado e o mesmo acontece com os municípios. Isso tudo para você responder a normativas e regras inviáveis: não é possível moradia com comércio, não é possível mix de faixas de renda... Essa é a parte mais política para se trabalhar. Nós aqui temos que pensar é como se transfere essas questões para um texto de diretrizes, uma proposta de lei, para que pudéssemos confrontar o problema ou dar um caminho para que a gente possa prosperar nessa área.

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´Mobilidade e Logística` (27 de abril/tarde)

Caio Fernando Fontana – Universidade Federal Paulista (Unifesp)

Apontou como principal problema da Baixada Santista o fato de, embora seja uma região dividida em vários municípios, tem uma única malha viária.

“Quando se analisa essa questão isoladamente, não parece ser um problema grande, porém, quando você junta os municípios e a forte ligação entre eles, essa questão toma outra dimensão.”

Propôs uma “nova abordagem”: criar uma ferramenta que permita análise contínua desse fluxo.

Disse que esse instrumento de monitoramento precisa levar em consideração a interligação entre diferentes modais de transportes.

“É necessário considerar, sobretudo, os modais alternativos: andar a pé ou de bicicleta, principalmente a inclusão da bicicleta com a troca do modal, não isoladamente. Por exemplo, a pessoa pedala para ir até o VLT e vai de VLT para o trabalho.”

Disse que as análises e planejamento devem considerar, também, a existência de serviços e infraestrutura: hospital, novos empreendimentos, hipermercados etc.

“Tudo isso gera fluxo de pessoas.”

Citando como referência modelos existentes em Londres ou numa cidade como Lion, na França, o professor mostra que há outra maneira de encarar o transporte e a mobilidade urbana.

Ao mostrar um mapa da capital inglesa, do século XIX, ele explica que o conceito de planejamento das linhas de transporte já aparece bem definido: “Você tem o favorecimento da diluição dos centros comerciais pelos bairros. Há um misto de planejamento e desenvolvimento urbano com planejamento dos transportes.”

Em contrapartida, em São Paulo, o sistema de transporte expande sua capilaridade, mas o centro comercial é o mesmo.

“Então, você tem, por exemplo, cerca de 4,5 milhões de pessoas se deslocando, diariamente, da Zona Leste para a região central.”

Para ele, é fundamental pensar como se “redesenha a cidade, a partir do modelo de transporte”.

O professor acredita que Santos e São Vicente irão “vivenciar” esse fator, a partir da implantação do Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT).

“Haverá, naturalmente, uma aproximação da parte comercial para o entorno do VLT.”

Alertou que esses impactos precisam ser tratados com enfoque dinâmico.

“Por exemplo, a malha rodoviária para São Vicente passa pela Zona Noroeste: como isso afeta o sistema de mobilidade naquela região? Como inserir meios alternativos e convencer as pessoas a deixarem o carro em casa?”

A resposta, diz ele, está em uma malha viária de qualidade, confortável, segura e pontual.

“Aí entra a importância do planejamento e gerenciamento de um sistema integrado”, conclui. Diego Conti - Professor do Programa de Mestrado em Cidades Inteligentes e Sustentáveis, da Uninove

O uso da tecnologia pelos municípios deve estar relacionado à melhoria dos seus processos e à qualidade de vida da população.

Não bastam os tecnicismos.

Para que a cidade funcione de forma inteligente, é preciso trabalhar o aspecto social, o cidadão é o ponto principal.

Por exemplo, na questão da gestão de resíduos: a gente pode melhorar a infraestrutura, colocar tecnologia, processo de reciclagem etc. Contudo, se o cidadão, que é o primeiro passo desse processo, não tiver a consciência da importância da separação de recicláveis, o sistema inteiro colapsa.

A grande questão é: como se consegue fazer essa articulação para termos uma cidade melhor para viver?

Diego afirma que há diversas práticas isoladas acontecendo no Brasil, porém, não dá para citar uma cidade que, de fato, possa ser considerada ´smart city`, como há na Europa, Estados Unidos.

O Rio de Janeiro tem um dos centros mais avançados para prever catástrofes climáticas, mas tem a baia da Guanabara extremamente poluída.

Palmas, no Tocantins, foi a primeira cidade brasileira que deu condições tributárias para empreendimentos de energia renovável.

Mas são práticas isoladas, não têm um planejamento sistêmico.

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De acordo com o especialista, a discussão ainda é muito conceitual: o que fazer, como fazer, qual o custo para tornar a cidade inteligente e sustentável, que é alto.

“Para a nossa realidade, por exemplo, o fato de uma cidade oferecer de internet sem fio é uma evolução, porque oferece uma série de possibilidades para uma cidade se desenvolver, com acesso a informação e conhecimento. A internet é um ponto fundamental, certamente, mas é um passo, porque é preciso pensar na rede de infraestrutura (água, energia, saneamento etc.), também.”

Com relação à região metropolitana, Diego afirma que é preciso trabalhar para conscientizar as pessoas de que são cidadãos regionais e adotar a tecnologia para garantir melhoria e qualidade dos serviços oferecidos, consequentemente, possibilitar melhores condições de vida.

“A Baixada Santista precisa trabalhar com visão de futuro, com planos de longo prazo (10, 20, 30 anos). Porém, visão de futuro há várias, nenhuma é verdadeira ou falsa; e não se pode deixar de agir no curto prazo.”

É preciso pensar na governança como um sistema de articulação de interesses ligado às políticas públicas: monitoramento das ações, gestão de recursos, combate à corrupção, participação da sociedade, transparência etc.

Citou o dado da Organização Mundial da Saúde (OMS): cada R$ 1 investido em saneamento básico significa R$ 4 economizados no setor da saúde.

O poder municipal é fundamental para a vida das pessoas.

Diego sugere a criação de um comitê de gestão técnica, com quatro ou cinco pessoas, dentro da prefeitura, para fazer levantamento de indicadores da cidade, um diagnóstico de quais são os pontos prioritários.

“Há várias ferramentas gratuitas para ajudar nisso: o PNUD tem o Atlas Brasil, há o Programa Cidades Sustentáveis, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) também oferece sistemas de indicadores, entre outras. Assim, consigo ter uma gestão mais profissional de curto prazo e também criar um plano de longo prazo.”

Outro ponto que Diego Conti destacou é a necessidade de os prefeitos se unirem para lutar para que o recurso arrecadado no município fique ali – novamente a questão da reforma fiscal ou novo pacto federativo.

“Hoje, a gente tem um grande problema fiscal, para alimentar a máquina do governo federal, porque a maior parte dos recursos vai para Brasília, entra nos ministérios e eles é que decidem quais cidades receberão”.

Mediador – José Marques Carriço, arquiteto, urbanista e professor da UniSantos.

Destacou especificidades da região que impactam na questão da mobilidade e previsão ser tratadas de forma muito particular.

Uma delas é de natureza geográfica, questão morfológica: moramos numa região cumprida e estreita – longilínea, que lembra a situação do Chile. O fato dessa região longilínea estar no litoral traz algumas questões em termos de mobilidade, uma delas é o fato de sermos uma região portuária, a mais importante do país.

Outra coisa é ter se instalado aqui, principalmente na segunda metade do século passado, o turismo balneário, mas em condições muito diferentes do que na Europa, por exemplo. Na Europa, você vai para a praia de trem, inclusive, com trens passando pela orla marítima. Aqui, temos o hábito de milhões de pessoas descerem a serra com seus carros ou de ônibus.

Outra questão que diz respeito ao futuro imediato da nossa região é o fato de estar inserida na cadeia de petróleo e gás, com impactos efetivos nos municípios que recebem royalties e em Itanhaém (base para funcionários, em razão do aeroporto).

Essas condições afetam os movimentos diários dentro da região e para fora da região.

Falou da necessidade de haver uma verticalização das políticas setoriais, especificamente, da Política Nacional de Mobilidade Urbana.

Destacou a Lei 12.587, de 2012, que estabelece princípios e diretrizes em nível nacional para que os estados e municípios implementem as políticas locais de mobilidade urbana. Isso tem que ser trazido para o Plano de Desenvolvimento Integrado da região.

Desafio é articular no nível interno da região o entendimento e estratégias de cada município, para contemplar a Política Nacional de Mobilidade Urbana, que traz alguns conceitos de extrema importância.

Destacou a questão da equidade, que diz respeito à inclusão e a um princípio constitucional, que é o direito à cidade.

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Tanto a questão da mobilidade urbana quanto a da sustentabilidade das cidades estão relacionadas à inclusão social.

“Não há cidade inteligente ou sustentável, se não houver inclusão. O cidadão que mora na área continental de São Vicente tem que ter facilidades, serviços, para poder frequentar a praia, por exemplo.”

Outra face da mesma moeda, é a necessidade de se reduzir a quantidade de viagens, o que tem muito a ver com o planejamento urbano.

São Paulo é uma das cidades brasileiras com maior tradição na área de planejamento urbano. A tragédia da mobilidade urbana, na capital e regional, tem a ver não com a falta de planejamento, mas com o planejamento feito de maneira equivocada. As decisões que selaram o destino da cidade foram tomadas na época do Prestes Maia, quando se decidiu tomar o modelo radioconcêntrico (um centro de onde partem diferentes raios ou segmentos e um ou mais círculos concêntricos que cruzam esses segmentos), que acaba concentrando as viagens em direção à área central.

Até mesmo antes de Prestes Maia, São Paulo não tinha um desenho urbano muito favorável a uma forma mais democrática de deslocamento.

Há uma discussão importante, a partir da década de 1980, no urbanismo, que é a morfologia urbana.

O desenho das cidades diz respeito, mais ou menos, à forma democrática com que as pessoas se deslocam. Os cidadãos têm direito, more onde morar, de acessar os benefícios que a cidade e a região lhe oferecem (ou devem oferecer).

Os desenhos mais ortogonais (malhas ortogonais - que se intercepta ou se posiciona em ângulo reto; perpendicular.) favorecem uma fluidez mais democrática nas cidades. É um modelo que já se consagrou na antiguidade greco-romana.

Um dos princípios é o deslocamento com rapidez e todas as quadras têm uma noção de equidade. Rompe com a noção de centro.

É preciso romper com a visão de centro, pois a cidade concêntrica hierarquiza o seu uso, o deslocamento no espaço.

Como fazer na Baixada, onde você já tem um desenho basicamente consolidado. Santos tem um desenho ortogonal. Mas você pega algumas áreas de São Vicente, por exemplo, a leitura é diferente.

A questão da permeabilidade também é importante. Se a gente está tratando de deslocamento, tem que pensa na permeabilidade do tecido urbano: quadras muito extensas são inibidoras do caminhar, induzem as pessoas a usarem automóvel. Como resolver isso em uma cidade consolidada?

Na Europa, você tem uma quantidade imensa de passagens intraquadras. Por que não começar a cobrar, nos empreendimentos imobiliários, a necessária reserva desse tipo de espaço, para reduzir as necessidades de deslocamentos motorizados?

Por que não cobrar uma ampliação do espaço para o pedestre na face da quadra? Em algumas cidades norte-americanas, destacou Nova Iorque, que desde 1961 tem legislação que estimula que, nos grandes empreendimentos imobiliários, você reserve grandes espaços livres, privados, mas de uso público.

Em Santos, temos exemplos disso. As galerias do Gonzaga (Ipiranga, cine Atlântica) foram produzidas por conta da legislação urbanística. Havia uma provisão, na legislação, que obrigava o empreendedor deixasse espaço para que o pedestre pudesse caminhar sob as marquises, que estão virando estacionamento de motos, lamentavelmente.

É preciso ter estratégias de compartilhamento do espaço do sistema viário. A conversão modal está prevista na Política Nacional de Mobilidade. Ou seja, é preciso criar condições de as pessoas que estejam usando apenas o automóvel, possam compartilhar o deslocamento com outro tipo de transporte.

Em Santos, temos uma companhia de engenharia de trânsito de automóveis, deveríamos ter uma de pedestres: semáforos com maior tempo para atravessar a rua, rotatórias sem faixa de pedestre, falta de estímulo para andar a pé ou de bicicleta etc.

Conversão modal diz respeito a muda o desenho das vias. O pedestre, a bicicleta e o transporte coletivo precisam ter mais espaço na via. O carro tem que ser enfartado – a estratégia nova-iorquina de fazer o trânsito parar, é assim mesmo.

Outra questão é a do uso do solo. Como foi comentado sobre o VLT, é fato que haverá transformações ao longo do trajeto do VLT e a mais importante será em relação ao uso do solo. A tendência é haver concentração de terciário, principalmente, ao redor das estações do VLT.

Como vamos fazer a gestão desse uso do solo? Vamos pela inércia? Vamos deixar as área supervalorizarem e expulsarem populações para mais longe e aí o sistema tem que se prolongar cada vez mais?

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Como a gente vai fazer para usar essa baita oportunidade que nos está sendo oferecida (VLT) para melhorar as condições, inclusive, de habitabilidade na área central?

É importante discutir, inclusive, como romper com a monofuncionalidade que temos aqui: o centro de Santos é absolutamente mono-funcional. Na década de 1950, tínhamos cerca de 40 mil habitantes, hoje, temos cerca de 10% desse total. Hoje o centro de Santos, que é uma baita centralidade (Vila Mathias até o Valongo), onde as pessoas não moram nessa área, mas trabalham ali. Não é muito mais racional que as pessoas morem e trabalhem na região?

O revés disso são áreas como Zona Noroeste de Santos e o Jóquei, em São Vicente, que são monofuncionais ao contrário: as pessoas só moram, há muito pouco terciário nessas áreas.

É preciso criar estratégias para estimular base econômica.

Necessária, também, integração tarifária e modal: barca com ônibus, com VLT; bicicleta com VLT, com barca...

Participações Mauro Haddad (Secretário de Meio Ambiente, Cubatão) – Citou trabalho de mestrado que fez, sobre autonomia das cidades nas regiões metropolitanas. Sentiu falta da participação dos técnicos das áreas de trânsito e transportes e do debate sobre o transporte hidroviário – fala-se muito, mas não há prosseguimento. A gente precisa pensar essas coisas em conjunto, porque a região passa por um momento de transformação. Temos três grandes atividades na região – Porto, Polo de Cubatão e turismo – que vêm mudando: crescimento no turismo, indústria em crise e transformação acelerada e porto batendo recorde. Como pensar isso para daqui a 10 anos? São polos geradores de tráfico, movimentação na região. Como lidar com isso, inclusive, utilizando as facilidades da tecnologia. José Resende (Santos) – Destacou importância da hidrovia. Antes, deu um panorama da região, citando questões como as dos resíduos, do trânsito e das bicicletas. Disse: movimentamos mais de 1,5 mil toneladas de lixo, por dia; no verão, a gente dobra e até triplica esse volume. Isso dá cerca de 300 viagens de caminhão, diariamente, nas estradas. No verão, chega a 900 viagens. Soma-se mais os carros dos turistas... Veja a complicação que isso causa nas estradas. Então, há uma ideia que vem sendo estudada e apoiada pelo prefeito Mourão, presidente do Condesb, que é colocar duas bases na região para destinação do nosso resíduo sólido urbano, e tentar pensar numa solução que seja boa para todos. Em outros países, resíduo sólido urbano dá dinheiro. Em São Paulo, há pessoas montando oficina de bicicletas próximos a metrô, com café, vestiário e chuveiro. Então, o cara vem de bicicleta, tem um lugar seguro para guardar e onde se arrumar. Hoje, não temos como fazer isso com o VLT, por exemplo, nem com qualquer outro meio de transporte. Por que não se faz concessão para oficinas de bicicletas, com a condição que o cara mantenha ali bicicletário, vestiário e segurança, enquanto a pessoa trabalha. Precisamos pensar que as cidades não tem dinheiro. O que devemos pensar é em como sermos atrativos para investimentos. Temos que ter um plano de negócio para que o investidor veja que vale a pena colocar dinheiro aqui. Dinheiro não vai para onde há muito risco. Precisamos dar garantir jurídica. Por exemplo: VLT até Peruíbe, é viável? Sem atrair investimentos, não vamos conseguir ampliar a linha do VLT para o Sul, dragar para fazer hidrovia, implantar sistemas para resíduos sólidos etc. Em caso de PPP, se duas cidades estiverem juntas, já conseguem recursos federais. Temos nove cidades, na região. Caio Fontana – Com relação às bicicletas, o modelo mais utilizado no mundo é o da gratuidade. O cidadão pega a bicicleta num local, usa por determinado tempo e deixa em outro local, como tem aqui em Santos. Mas há iniciativas que podem ser tomadas pelas prefeituras que não custam nada, basta um decreto. Você tem um estacionamento de automóveis, quantas vagas são? Obrigue-os a manter o mesmo número de vagas para bicicletas. Carriço – Lembrou que há uma lei, com mais de dez anos, que novos estacionamentos comerciais deveriam reservar um percentual para vagas de bicicletas. Bechara Abdala – Acredito que estamos vivendo uma fase muito especial em termos de mobilidade. Uma vez implantada a primeira fase do VLT, ainda que muitos critiquem, porque atende apenas duas cidades. Os projetos têm que começar por algum ponto e já foi verificado que mais de 70% dessa pendularidade casa-trabalho está entre as cidades de Santos e São Vicente, então isso se justifica. Acredito que, principalmente, na segunda fase do VLT, vamos poder ter ganhos significativos com relação à indução de melhorias em determinadas regiões da cidade como, por exemplo, o centro histórico de Santos. Vale dizer que, por uma decisão equivocada, há cerca de 30 anos, a região do centro expandido proibiu residências, o que criou mais

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uma pendularidade (trabalha no centro e mora na orla ou na ZN). Acredito que o VLT trará um impulso para a região do centro. Conheci outras experiências europeias com relação ao VLT e não é muito diferente do que aconteceu aqui em Santos: houve críticas, população reticente etc. Mas o ganho foi grande. Destacou a questão portuária, porque participou, durante cinco anos do Conselho de Autoridade Portuária (CAP) do Porto de Santos (foi presidente do CAP), e acredita que a atividade portuária vai crescer ainda mais, mesmo em tempo de crise. O que preocupa, na logística para chegada da carga aqui, é que o assunto é muito complexo. No planejamento estratégico que a autoridade portuária fez, há mais de dez anos, quando era ainda um órgão deliberativo (perdeu poder em 2013 – é só consultivo, agora), já mostrávamos a necessidade de investimentos em ferrovia, hidrovia e até a criação de pátios reguladores na região da Baixada. Temos que trabalhar mais forte com relação ao agendamento de cargas, pois conseguimos implantar uma parte do sistema, em 2013 e a coisa fluiu. Tivemos uma melhoria significativa na chegada da carga, no fluxo de caminhões, sem precisar fazer obras, apenas com o planejamento e a gestão do sistema. Fez duas propostas: 1. Aproveitar o eixo do VLT para provocar o planejamento regional. 2. Lutar pelo aumento da participação de outros modais (hidroviário e ferroviário), mas também fazer valer a lei de mais de 10 anos, do pátio regulador, com fiscalização mais forte no agendamento de carga – fez um apelo à secretaria de Portos da Prefeitura. Diego Conti – Para a cidade de Santos, principalmente no caso do Porto, se aprofundar em sistemas de cidades inteligentes é um bom caminho. No porto de Hamburgo, na Alemanha, por exemplo, um dos elementos que estudei foi essa questão da carga e descarga. Um caminhão demorava, em média, dois ou três dias para descarregar no porto de Hamburgo. Hoje, demora 5 minutos. Como conseguiram chegar a esse ponto? O caminhão, quando está na estrada, já sabe o dia da semana e o horário que vai poder chegar para carga ou descarga. Eles criaram um sistema de integração com todos os caminhões que atuam no complexo portuário. O aplicativo do celular do motorista já indica se ele deve fazer uma parada em tal ponto da estrada – há áreas de descanso em vários pontos. E ele para, porque sabe que não adianta chegar no Porto, não vai descarregar. Eles fizeram um programa de revitalização da área do porto, que agora é a mais cara da cidade. Criaram uma estratégia para atrair turista. No Brasil, tem o escritório de uma organização da Alemanha que trata de mobilidade sustentável, GIZ, para divulgar essas práticas. Não sei se eles têm dinheiro para financiar projetos para outros países. Mas vocês podem tentar um diálogo. Iris – Retomou a questão das políticas públicas, destacando a importância dos pedestres. Os passeios públicos são mal cuidados, principalmente numa cidade que está com população envelhecendo. Outra questão é o foco cultural: interessante que haja uma padronização, mas pode ter um foco mais atraente, com identidade cultural dos bairros. O passeio também como referência histórica do bairro, da cidade. Na questão da bicicleta, o bicicletário faz muita falta. Não tem vagão especial para bicicletas no VLT, precisa organizar isso, nem que seja em horários específicos. Zé Tarcísio (Economista, ex-conferente e consultor portuário) – Falou do longo tempo de trabalho no Porto. Citou livro do Prestes Maia, de 1947, que falava sobre o futuro do desenvolvimento de Santos: como tem que ser a entrada da cidade, a ocupação da área do lado do Guarujá, a ligação com Santos etc. Há muita coisa que é pensada, mas não aplicamos. Lembrou que também participou do CAP, uma autoridade que tem em todos os portos. Quem controla Nova Iorque é a autoridade portuária. O CAP não pensa mais o Porto, é consultivo. Por que não se faz o controle do trajeto? Aqui são dez municípios, porque além das nove prefeituras, tem Brasília (o Porto faz e desfaz). Aí, a gente tem conflitos. Maravilhoso que a gente tenha nesta oficina a Agem, os especialistas, técnicos das prefeituras e as universidades. É preciso pensar a região, mas fazer com que o que for pensado saia do papel. Maria do Rosário – O Estatuto da Metrópole inscreve, em definitivo, a participação da sociedade civil. Estas oficinas temáticas são um exemplo e, depois, as audiências públicas confirmarão este caráter participativo. Com relação a esta questão, dá para entender que há setorizações, temos aqui os eixos de discussões, mas esses temas são indissociáveis. Pensar a totalidade de uma região metropolitana é pensar que políticas sociais implica em tudo o que vem sendo discutido: mobilidade, saneamento, meio ambiente, habitação, desenvolvimento econômico etc. Discutir mobilidade tem sua dimensão social. O desafio é ultrapassar essas setorizações e alcançar estratégias de planejamento que articulem essas diferentes políticas públicas. Pensar na totalidade da RMBS é pensar que a falta de dinheiro nos municípios e repensar a governança interfederativa, porque, afinal, somos uma federação e a Constituição estabelece responsabilidades aos municípios, mas também a corresponsabilidade dos Estados e da própria União. Então é preciso pensar em como cobrar e exercer essa corresponsabilidade em casos, por exemplo, como habitação. Não é uma questão só técnica. É, sim, política, também, porque se trata de uma opção política. Há que se considerar, também, a questão da segregação sócio-espacial, que passa pela questão da mobilidade, pela habitação, saneamento básico, pelas políticas sociais. Para além de uma gestão eficiente, para se pensar uma RM inteligente passa pelo

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enfrentamento das desigualdades sociais, que atingem o direito de ir e vir, da mobilidade. Enfrentar o “exílio das pessoas nas periferias” (referência ao geógrafo Milton Santos). Diego Conti – Trouxe uma publicação, que também está online, o Atlas Brasil, do PNUD e uma das coisas que me preocupou, quando vi o mapa da Baixada Santista, foi justamente as variações que há em relação ao desenvolvimento humano. Então, o importante, quando a gente faz o planejamento do transporte ou da cidade, é considerar as variáveis sociais. As pessoas precisam estar integradas aos benefícios da cidade. Foi citado aqui o planejamento urbano de Nova Iorque, pois ele começou por uma questão de saúde: o nova-iorquino estava apresentando muita doença cardiovascular e diabetes, porque não andava mais. Com base nos índices de saúde, eles refizeram todo o planejamento da parte de mobilidade da cidade. Então, não podemos olhar as coisas de forma unidimensional. A gente precisa ter uma visão bastante sistêmica para poder fazer o planejamento. Lenimar Rios (Arquiteta e professora universitária) – Eu senti falta, aqui, de se falar dos municípios que estão fora dessa região central, como Bertioga, Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe, que têm problemas graves de mobilidade, embora sejam problemas de ordem diferente do que há aqui, na área mais central da região. Padecem de enormes problemas de mobilidade, em razão de uma ocupação fragmentada. Na universidade, os alunos fazem pesquisa nos municípios e a queixa mais presente é a qualidade do transporte, que é ruim e caro para as condições de vida dessas pessoas. É um transporte privado que tem de atender uma horizontalidade extremamente fragmentada, há áreas de baixa demanda e tudo isso influencia no preço da tarifa e na qualidade dos veículos, também. Daí derivam outros problemas. Outro problema gravíssimo: fluxos longitudinais, entre os municípios da região, especialmente nos períodos de temporada. Até há pouco tempo, o governo do Estado disponibilizava helicóptero, na temporada, para os atendimentos de emergência, porque os municípios ficavam travados com tanto trânsito. Faz falta discutir essa questão dos municípios mais nos extremos da região. Renato Donato (Assessor do deputado Caio França) – Moro em Mongaguá, estudei em Santos e trabalhei no presídio em São Vicente. Um impacto dessa questão da mobilidade, temos apenas um IML que atende a região, para onde todas as ocorrências têm que ir para lá. Imagina como é estar transportando presos e ficar parado no trânsito. Maurício Maranhão (Arquiteto de Peruíbe) – Agradeceu a Lenimar pela referência aos municípios foram da região central e citou o exemplo de uma estagiária, que o acompanhava: ela paga um valor bastante alto de transporte universitário para vir estudar em Santos ou depende de subsídio da Prefeitura e quando esse subsídio não é repassado, o custo vai direto para os estudantes. Enfim, esse é um fator de exclusão social grande. Outro assunto que a gente tem de incluir na ´Mobilidade` é a drenagem, porque afeta diretamente os deslocamentos e é um problema muito sério que a gente tem. Eliana Farias (Praia Grande) – Solidarizou-se com o Maurício. Destacou que a CT de Planejamento do Condesb tem discutido, frequentemente, a necessidade de que os investimentos sejam descentralizados na região – não estamos na região metropolitana da Santos, mas da Baixada. Falou da incoerência que se vive no Brasil, que publica uma Política Nacional de Mobilidade Urbana determinando que a prioridade é do pedestre e, ao mesmo tempo, dá incentivos à produção de veículos motorizados, por meio da redução de IPI. A gente fala de um país que publica a lei de inclusão e determina que temos de ter acessibilidade nas calçadas – lei muito bem feita –, mas não há linha de recursos para a recomposição ou construção de calçadas, apenas para vias de veículos (rodovias, ruas e avenidas). Então, o planejamento fala uma coisa e a execução, outra. E eu pergunto se teremos de esperar chegar ao colapso total, ou à beira do colapso, como aconteceu na Europa, onde as soluções foram dadas quando já não havia outra alternativa. A gente já houve falar que a Holanda está próxima de um colapso no sistema cicloviário e nós não conseguimos convencer os gestores públicos de que a calçada é importante, o pedestre é importante, o transporte público precisa ser melhorado, com integração. Precisa acontecer a mudança de paradigma de que o carro é o principal vetor de transporte. Romper esse paradigma é o principal desafio do planejador. Este momento de discussão é interessante, porque a gente precisa unir esforços para enfrentar os desafios. Renata (Santos) – Pensar de uma forma sistêmica. Isso significa pensar, também, que não há dinheiro mesmo e que o planejamento sistêmico deve ser dar pela gestão (enfrentar o problema). Porém, o gestor não é mais um indivíduo, e sim a sociedade. Com relação à criatividade para captar recursos, a gente vai ter que romper paradigmas, como parar de pensar no lucro e pensar em diminuir prejuízos. Por exemplo, em Santos, não temos dinheiro, mas temos, para 2018, uma estimativa de R$ 11 milhões de arrecadação de IPTU de empresas que ocupam áreas portuárias, são 59 empresas – o total, de acordo com o Supremo, ultrapassa R$ 800

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milhões, se considerado desde o ano 2000. Há outras alternativas, então. Outra coisa é a dragagem, é uma necessidade para trazer lucros para o Porto. Sim, mas também pode causar prejuízos como, por exemplo, o impacto na alteração da paisagem na Ponta da Praia (erosão, avanço do mar). Hélio Vieira – Agradecimentos e considerações finais. Falou, também, do estudo para o transporte hidroviário. “Um dos aspectos importantes que a gente considera no atendimento à lei do Estatuto da Metrópole é a participação da sociedade civil. Outro aspecto é justamente essa questão da gestão interfederativa, porque nós temos de fato o décimo município, que é o Porto. Nós trabalhos ainda nessa relação com variações de humor, de acordo com o dirigente que está na Codesp – há momentos em que se consegue conversar. Parece que a autonomia tende a voltar, com a mudança de legislação, isso será importante. Mas, de qualquer maneira, precisamos institucionalizar e formalizar essa relação. Importante, também, dizer que as Câmaras Temáticas possibilitam a participação dos setores organizados da sociedade.”

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´Saneamento e Meio Ambiente` (04 de maio/manhã)

Edson Ricardo Saleme – Professor do Programa de Pós-Graduação em Direito da UniSantos.

Falou sobre Direito Urbanístico e Ambiental

Dificuldade na interpretação das leis, que começam como boas intenções e vão se tornando uma colcha de retalhos.

Citou a Lei Complementar 14, de 1973, que criou nove regiões metropolitanas.

Na época, os militares queriam a uniformização do território.

A “integração” do território brasileiro facilitaria o controle

Citou o professor Alaor Café Alves.

Com a Constituição de 1988, de acordo com o IBGE, o Brasil passa a ter 42 RMs.

Ficam mais evidentes as disparidades do território brasileiro e começam a surgir conceitos mais complexos, como metropolização, aglomerados etc.

Há RM com 1 milhão de pessoas, como a de Florianópolis. E outra como a de Porto Alegre, com 4 milhões.

O que é governança interfederativa? Como distinguir a descontinuidade do território?

Difícil. Por isso, a importância da metropolização.

O professor deu exemplos, sem entrar em detalhes, de metropolização em outros países: a Colômbia “é um exemplo de situação favorável”, já no México, “não deu certo”. No Chile, há experiências boas e más.

Para Saleme, é fundamental que a população da RM tenham voz, participe e possa influenciar nas decisões regionais.

Saleme afirma que seria ótimo se a Região Metropolitana exercesse, de fato, uma nova forma de administração.

Para isso, entre outras coisas, é importante que a lei regional (PDUI) deixe bem claro quais são as funções de interesse comum, porque os municípios não querem abrir mão de suas prerrogativas.

É preciso definir: quais são os serviços comuns.

O compartilhamento de responsabilidades com o Estado é “imperioso”.

Saleme disse que a governança interfederativa enfrenta dificuldades de coordenação, gerenciamento de recursos e para atrair a parceria da iniciativa privada.

Por isso, é preciso que haja uma agenda bem definida e previamente acordada – “contratos e programas que resultem de consenso”.

Mostrou dois modelos d governança: Monista (gestão municipal supranacional) e Dualista (mais correto, com criação de entidade supramunicipal e auxílio da iniciativa privada).

Reiterou que a governança regional carece de autoridade e deu como alternativa a criação de agências públicas metropolitanas para tratar de assuntos determinados (uso do solo, transportes, saúde etc.).

Quanto aos desafios para a elaboração do plano de desenvolvimento integrado, Saleme disse ser fundamental criar um macrozoneamento.

Disse que o PDUI deve ser a base para futuros planos diretores dos municípios e para maior participação da população nas decisões.

Saleme falou, também, do RQMA (Relatório de Qualidade de Meio Ambiente do Brasil) Alexandra Sampaio – Professora e coordenadora do Núcleo de Pesquisas Hidrodinâmicas da Universidade Santa Cecília (Unisanta).

Falou da qualidade das águas estuarinas da Baixada Santista, com base em dados do trabalho ´Evolução da cobertura sanitária e da qualidade microbiológica na Bacia Hidrográfica do Sistema Estuarino de Santos-São Vicente`, desenvolvido pela Unisanta e Sabesp, com recurso do Fehidro.

O laboratório que coordena tem 20 ano de atuação.

O grande desafio é estabelecer correlações de causa e efeito no ambiente, porque o município é heterogêneo, temos áreas que possuem uma melhor cobertura e outra, não.

Afirmou que a evolução da cobertura da rede de abastecimento e coleta na região não garantiu a qualidade microbiológica da Bacia Hidrográfica.

Não se pode olhar a questão ambiental apenas na perspectiva municipal. É preciso considerar a situação do ponto de vista da Bacia Hidrográfica, que abrange cinco municípios da região, e mais dez

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sub-bacias: Cubatão, Mogi, Quilombo, Jurubatuba, Cabuçu, Ilha de Santo Amaro, Ilha de São Vicente, Paçabuçu, Mariana e Boturoca.

Em cada área dessas sub-bacias, eu tenho drenagens que afetam a qualidade estuarina.

Nós temos sub-bacias com apenas um município atuando sobre ela, e sub-bacias com até três municípios impactando.

Deste ponto de vista, avaliar a qualidade ambiental já é uma ação metropolitana.

As sub-bacias que mais registraram crescimento foram a do Piaçabuçu (divisa Praia Grande e São Vicente), depois, as dos rios Boturoca e Mariana.

Concentramos os estudos em apenas cinco municípios (Cubatão, Guarujá, Praia Grande, Santos e São Vicente), porque é uma área que abriga 75% da população da Região Metropolina.

Temos Santos e São Vicente com vetor de crescimento da população muito pequeno, menos de 1%, mas em S.Vicente, se dá mais na área continental, mais carente de serviços e moradias.

O ambiente é metropolitano; não existe a divisão municipal.

Cruzando dados do IBGE (houve 8% de aumento da população, em uma década – 2000/2010), da Sabesp, das prefeituras, entre outros órgãos, vê-se que a poluição é difusa na região.

Com base em dados da Sabesp, de 2004 a 2014, avaliamos a evolução da cobertura da rede de esgoto.

Fizemos levantamento das moradias precárias por sub-bacias, com base em dados do IBGE: há uma diminuição de pessoas vivendo de forma irregular, tanto na Ilha de São Vicente quanto na Ilha de Santo Amaro, respectivamente, 28% e 35%; já na sub-bacia do Boturoca, quase duplicou o número de pessoas vivendo em moradias subnormais, assim como cresceu o número na sub-bacia de Piaçabuçu.

Na sub-bacia do Boturoca, são três municípios: Praia Grande, São Vicente e Cubatão.

Na Piaçabuçu, temos Praia Grande e São Vicente.

Outro dado importante é que cerca de 60% da população de Praia Grande vive nas áreas das sub-bacias do Boturoca e Piaçabuçu.

Estudando a sub-bacia do rio Cubatão, a maior da região, também foi possível verificar que, apesar de todo o esforço do Estado para remoção da população, ainda há muita gente vivendo em condições subnormais nessa área.

Mesmo em área de boa qualidade de coleta de esgoto, há problemas com agentes contaminadores.

Além da questão do saneamento (ou falta de), é preciso considerar o volume pluviométrico – a chuva pode aumentar a concentração de contaminantes.

Drenagem e rede de esgoto não podem ser tratadas de maneiras diferentes.

Um exemplo: Por que os investimentos no programa Onda Limpa não refletiram tanto na qualidade ambiental? Porque há ambientes distintos, dinâmico – o ambiente costeiro é considerado um dos mais complexos do mundo.

Então, precisa aliar ferramentas que permitam analisar o espaço, para a gente poder entender o ambiente.

Os maiores valores de concentração de contaminação estão na Piaçabuçu, no Santo Amaro (parte que drena para o estuário do Guarujá).

Aquelas com resultados mais positivos foram as do Cubatão e Bertioga.

Na região de Santos, São Vicente e Cubatão, por exemplo, notam-se os maiores índices de contaminação microbiológica, ainda que haja uma evolução na coleta de esgoto.

Isso se deve, também, à questão da maré e das ocupações irregulares, por exemplo.

Conclusão: a evolução da cobertura da rede de coleta é positiva. Mas não há universalização, sobretudo, se levarmos em consideração as áreas não regulares.

Há 40% da população da região vivendo de forma irregular.

A professora falou da criação do Sistema de Monitoramento e Previsão da Qualidade da Água por Meio de Modelagem Númerica Ambiental e Desenvolvimento de Base de Dados na Bacia Hidrográfica do Estuário de Santos, com recursos do Fundo de Recursos Hídricos do Estado (Fehidro).

O trabalho da Unisanta conta com a parceria da Praticagem do Porto de Santos, Sabesp, Cetesb, Prefeitura de Santos – ferramentas com base de dados.

O sistema de monitoramento integra informações: dados externos (Estação da Praticagem), dados meteorológicos (Base Aérea), modelos numéricos do CPTEC, modelos globais e hidrodinâmicos, Sabep (dados de descarga de esgoto), Cetesb, além de contato com as equipes de Defesa Civil. Sistema com grande base de dados.

“Gestão balnear é importante, mas não podemos tratar só com balneabilidade, só com a análise local. É preciso levar em conta outros fatores, como chuva e maré, que podem influenciar na qualidade da

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água. A gestão tem que trabalhar com dados coletados e previsões. Ambiente costeiro dinâmico e modelos matemáticos permitem conhecer melhor.”

Alexandra comentou sobre análise microbiológica feita no Canal 4, em dias de chuva, antes e depois da abertura das comportas, e sem chuva.

“Antes da chuva, contaminação baixa. Depois da abertura das comportas, contaminação aumentou. Depois de 48 horas, a situação era melhor, por causa da diluição.”

“Nível de comprometimento da rede de drenagem influencia na qualidade da água. A maré funciona como barreira na drenagem. É preciso fazer gestão da rede, para minimizar impacto.

Alexandra informou que, como parte do sistema de monitoramento, estão sendo instaladas três estações pluviométrica e fluviométrica, nos rios: Cubatão, Mogi e Itapanhaú.

Mediador – Eduardo Trani, da Secretaria de Estado do Meio Ambiente.

A Baixada é a que mais desenvolveu todos os mecanismos de governança – um aprendizado lento e complexo.

Não há uma formulação única, mas a Baixada tem um papel importante e é o melhor terreno nessa questão de governança interfederativa.

Temos que achar o modelo que melhor se adapta.

Os elementos estão aí.

Avançados, também, na questão ambiental, por conta de termos um regramento ambiental que foi, de certo modo, resultado de consenso dos nove municípios.

O ZEE – 2013, a região teve um certo acordo sobre essas metas e diretrizes.

Falou da conclusão, em dezembro, do gerenciamento costeiro do Litoral Norte, depois de seis anos.

É uma coisa boa que a gente fez e precisamos rever, pensando no aspecto dessa nova lei metropolitana.

Lembrou fala do Saleme, sobre o RQMA, para dizer que em São Paulo há esse sistema, implantado pelo governo do Estado, em 2007, e acabamos de aprovar o relatório de 2016 – está no ar.

Um relatório bastante importante, no qual a gente mostra as nossas mazelas e avanços. Em nível nacional, ainda não é feito, mas aqui em São Paulo, a gente cumpre a legislação e publica, anualmente, no Consema.

O Estado também fez a melhor lição: “Estamos com 96% das propriedades rurais todas registradas no estado”. O CAR (Cadastro Ambiental Rural) está disponível em sistema online (Data Geo).

Citou o trabalho que começa a ser feito na Baixada Santista.

Qual o impacto do gerenciamento costeiro (Gerco) na região da Baixada Santista?

Como o Gerco vai impactar na dinâmica econômica e ambiental da região.

Propôs, para junho (“talvez”), um seminário sobre o assunto.

Participações Eliana Farias (Praia Grande - Coordenadora da CT de Planejamento do Condesb) – Convênio para o sistema de monitoramento do PMDE. Superar a ideia de saneamento como investimento político. Pensar do ponto de vista técnico e de necessidade. Maurício Maranhão (Peruíbe) – Definir o nível de detalhamento da formatação da lei estadual, tendo em vista a dificuldade de aprovar na Assembleia Legislativa. Sânia Batista (Emplasa/Agem) – Pensar na lei em um modelo dinâmico escalar. Colocar na lei como os acordos devem funcionar para que sejam permanentemente atualizados com dados, de modo que reforce as estruturas já existentes. Carlos Vicente (Engenheiro da secretaria de meio ambiente de Praia Grande) – Importância de monitorar pontos nos canais para onde tem mais concentração de indicadores. Marcelo (Associação dos Catadores – Guarujá) – Necessidade de fazer uma parceria com universidades para encurtar a distância do estudo acadêmico e colocar as leis em prática. Por exemplo, no caso resíduos sólidos e o trabalho dos catadores, que muitas vezes não têm conhecimento tecnológico para realizar o trabalho.

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Eduardo Trani (Cetesb) – Modernizar as legislações ambientais. A lei das metrópoles não empodera as regiões metropolitanas com todos os seus instrumentos. Uma solução seria estabelecer instrumentos inovadores sobre formas organizacionais público privados. Criar empresas e instituições mistas de caráter regional. Edson Ricardo Saleme – Formatar a lei de forma que a revisão seja mínima. Ter um comitê central, que criaria os comitês gestores e colocar as temáticas mais fundamentais como: constituição de leis, análise de constitucionalidade e verificação da pertinência orçamentária. Estabelecer a participação popular, ainda que seja de forma virtual. Não há uma sessão de questões metropolitanas na Assembleia Legislativa, o que seria importante. Compete aos municípios e ao Estado dar o primeiro passo para a criação de entidades mistas para prestação de serviços de esgotamento sanitário e distribuição de água. Alexandra Sampaio – Ter um novo olhar para o meio ambiente e saneamento, deixando de lado as questões políticas e buscando resultados. O desafio é como conseguir que essa ação tenha desdobramentos através dos investimentos na região. Balneabilidade não está só associada a praia. Nem toda a população residente frequenta as praias. No sistema estuarino, não há qualidade e as crianças nadam diariamente ali. Com relação aos resíduos sólidos, há catadores que fazem coleta seletiva de caiaque no estuário. Eles são pioneiros e impulsionam a vertente da economia da reciclagem. Através do trabalho deles é possível encontrar fontes de resíduos, áreas mais críticas, etc. O desafio da universidade é encontrar dentro dos municípios quais gestores precisam de informações.

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´Políticas Sociais´ (04 de maio/tarde)

Maria do Rosário Correa Sales Gomes – Professora da Unifesp

Falou sobre garantia de direitos

Política econômica e social vinculam-se a acumulação do capital, ou seja, elas estão na base da

formação da sociedade

Há um predomínio sobre a política economia sobre a política social. É Necessária equidade de

importância entre essas duas áreas

Entender que há uma história nas políticas sociais brasileiras na qual elas são uma das estratégias de

mediação entre o Estado e a Sociedade para responder as demandas postas pela desigualdade que

são proporcionais a capacidade de inserção pelas forças sociais e não na base da universalização de

cidadania.

O estado, enquanto instancia de poder, tem que responder pelas políticas sociais. É uma

responsabilidade intransferível.

As políticas sociais públicas resultam de um processo histórico político.

Na medida em que as demandas se referem a coletivos é que começam a se configurar as políticas

sociais

Um traço histórico que temos nas nossas políticas sociais são as práticas clientelistas que refletem na

aceitação e acepção de direitos.

Os programas de políticas sociais no brasil até a Constituição de 88 eram seletivos, não universais, de

baixa cobertura. Com função de controlar as possíveis ações advindas das desigualdades.

Políticas sociais devem ter uma dimensão de proteção social sem que isso significa assistencialismo

e tutela.

Proteção social não está vinculada aos grupos mais desfavorecidos. Significa a ação coletiva de

proteger os indivíduos de riscos inerentes da vida humana.

Necessidade de existir sistemas de proteção social que resultam da ação pública que visa

resguardar a sociedade dos efeitos dos riscos (doenças, invalidez, infância, velhice, desemprego,

exclusão social).

Proteção social não é segmentação de pobreza, mas a necessidade pensar nos mais diferentes

ângulos a Região Metropolitana da Baixada Santista

A esfera pública se confunde com a esfera privada.

Tendência de ter programas sociais provisórios que ameaçam sistemas de políticas sociais

permanentes.

Concepção de cidadania invertida (atestado de pobreza) para o trabalhador informal.

Rovena Negreiros – Diretora-adjunta de Análise e Disseminação de Informações da Fundação Seade.

Falou sobre Estratégias de integração dos eixos sociais junto ao Sistema de Monitoramento e

Avaliação do PMDE-BS.

Fez sua abordagem a partir do aspecto demográfico, que ela julga ser um dos mais importantes para

pensar políticas sociais.

A partir do recorte, do perfil demográfico na Baixada Santista, falou das políticas que absorvem muitos

recursos, mas não refletem grandes resultados em políticas sociais.

Pirâmide etária da Baixada Santista – Importante pensar para quem vou planejar as políticas públicas

nos próximos 13 anos.

Faixa etárias maiores indicam menor pressão no ensino fundamental e médio (até 19 anos), até 2030.

Pensar Educação é olhar para esse dado.

Seade fez estudo até 2050, mas está divulgado até 2030.

Recuo na população em idade ativa: entrantes no mercado de trabalho também diminuíram.

Crescimento da população idosa, principalmente, mulheres. Serão os grandes demandantes.

Pensar planejamento e políticas sociais é levar em conta isso, olhar composição etária da população.

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ESTATUTO DA METRÓPOLE

Para quem se está planejando?

13 anos é tempo muito pequeno, são mais ou menos três PPAs.

Com exceção das políticas sociais para Educação e Saúde, que recebem muitos recursos, as demais

têm pouco dinheiro.

A população não vai crescer – crescimento vegetativo, até 2030, 176 mil pessoas, na Baixada.

Crescimento populacional: Praia Grande e Bertioga cresceram acima de 1%.

Os demais não irão crescer e o Fundo de Repasse dos Municípios têm um impacto enorme, quando

os municípios não cresce.

Índice de envelhecimento é relação quantidade de pessoas com mais de 60 anos, comparando com a

faixa das pessoas com mais de 20: de 15 a 20% da população serão de idosos.

Em Santos, serão mais de 20% de idosos.

Pensar política social é pensar a quem se dirige.

Exemplo: no caso da habitação, tem que pensar o tipo de moradia deve levar em conta esse

envelhecimento e um número menor de pessoas por moradia.

A média é de três pessoas.

Planos deve ser pensados, no mínimo, para 10 anos e, no máximo, para 15 anos. Os ciclos econômicos

são muito curtos e não dá para se fazer planejamento muito longo.

Problema da mortalidade infantil: alta na região, 14,5/mil nascidos, a maior entre as regiões

administrativas.

É inadmissível que, em uma região tão próxima da Capital, as crianças ainda morrem nos primeiros

meses de vida.

Faixa de neonatal (0 a 27 dias) se estabilizou, mas ainda é alta.

Falta UTI neonatal, assistência à gestante, falha no atendimento ao recém-nascido.

Isso tem impacto no índice de envelhecimento.

O atendimento não é falho em todos os municípios: Guarujá, Cubatão e Peruíbe têm as taxas mais

elevadas.

O enfrentamento tem que ser regional. Não é para cada município ter uma hospital, mas é preciso que

o sistema de atendimento funcione, realmente, como um sistema.

Vulnerabilidade social: onde está? quais são as políticas para enfrentar essa questão?

Renda per capita baixa – dados de 2010, quando se tinha um ciclo econômico ascendente.

Dados de 2010 – com exceção de Santos, nenhum outro município tem renda per capita de 1 salário

mínimo.

Programas Bolsa Família: Peruíbe, Itanhaém e Mongaguá são os grandes beneficiários do programa

– mais de 20% da população de cada município recebem Bolsa Família.

Peruíbe e Guarujá, mais de 20%.

Bertioga, 10% recebem Bolsa Família.

Educação: a taxa de analfabetismo vem caindo na população até 15 anos, mas ainda há mais de 6%,

em média.

A alfabetização ainda é política relevante.

Pensar política de educação com política de transporte, por exemplo, é primordial, sobretudo, nesses

municípios que têm 100% de matriculados no ensino fundamental, porque pode estar havendo troca

de municípios.

No ensino médio, todos estão no próprio município.

Taxa de aprovação nos anos iniciais é satisfatória (cerca de 90%), assim como nos anos finais.

O número de evasão, provavelmente, se dá por causa da relação (distorção) série-idade.

Provavelmente, o menino mais velho fica numa série, onde há crianças mais novas, e ele desiste.

O tamanho da exclusão social, a partir do perfil da ocupação da Baixada Santista: há 423 mil pessoas

em assentamentos precários (cerca de 20% do total de domicílios, considerando que serão mais de

700 mil em 2030; são 500 e poucos, em 2017, em áreas precárias).

São 371 áreas de risco mapeadas (Emplasa, a pedido do CDHU), com cerca de 10 mil domicílios.

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ESTATUTO DA METRÓPOLE

Produção da CDHU ao longo de oito anos: considerando a produção (“baixíssima”) de moradias (220

unidades/ano), num período de crescimento econômico.

Enfrentar o problema dos assentamentos precários é muito mais inclusivo, do ponto de vista social, do

que áreas de risco, que é um problema social e ambiental.

Outra questão importante: quanto tempo vou levar para zerar a ocupação de área de risco?

O PDUI deve ter escolhas claras. Não existe dinheiro para construção de unidades para zerar o déficit

em 13 anos.

Remover essa população tem um custo alto (construção) e no ritmo dos oito anos, levaremos 50 anos,

mais ou menos.

Já a regularização de assentamentos precários, há as concessionárias de infraestrutura, que têm

obrigação de fornecer e universalizar os serviços terão de ter prioridade

Isso, de certa forma, beneficiará um terço da população da Baixada.

As escolhas são de vocês, que são gestores públicos, lembrando que vocês têm que alocar recursos

em programas que devem ser integrados.

Infraestrutura urbana é parte da política social.

Deu um exemplo de Campinas, onde o Minha Casa, Minha Vida produziu 10 mil unidades. Em

contrapartida, dos oito mil domicílios em áreas de risco, nenhum foi removido. Isso mostra que, se a

política é clientelista, ela vai atender aquele cliente, que é o mercado imobiliário, e não o da área de

risco.

Os municípios têm até 31 de agosto para conclusão do PPA. Devem pensar o programa, tratado de

forma intersetorial.

Sem política social, a chance de se perder o patrimônio ambiental é grande, na Baixada Santista.

As escolhas são de vocês, prefeituras e sociedade, porque não tem dinheiro para fazer tudo.

Trabalhar no PPA políticas sobre as quais haja consenso.

Os prefeitos têm que estar em sintonia.

Mediadora – Andréa Ribeiro Gomes – Pós-doutoranda do Núcleo de Planejamento e Gestão do Território da

UFABC

Não fez comentários, apenas destacou pontos colocados pelos palestrantes.

Participações

Eustázio Pereira (presidente da previdência municipal, ex-vice-prefeito de Santos) – Parabenizou a Agem pela

iniciativa da Oficina Temática, pois foi elucidativa e “levou a reflexão aos que têm a responsabilidade de tentar

melhorar as condições nas políticas sociais”. Destacou dois pontos como prioridade: o pacto federativo tem

que ser mudado, porque sobrecarrega os municípios, e a necessidade de trabalhar as políticas públicas de

forma conjunta e metropolitana.

Rovena – Sugeriu fazer vinculação do PPA com as metas do desenvolvimento sustentável. Recomendação

de trabalhar nos PPA’s dos municípios algumas políticas que já estão traçadas no PMDE-BS.

Mônica Viana (professora de Arquitetura da UniSantos) – Destacou a importância de compreender os aspectos

da pobreza e desigualdade no território. Fazer políticas públicas de universalização. Terceirização dos serviços

e o papel do terceiro setor são importantes, mas não dão conta da desigualdade. Relacionar os indicadores de

forma que saiam da média e trabalhar os dados de forma censitária. Como exemplo, falou dos índices de

mortalidade infantil: só uma questão de saúde ou também está relacionada a urbanidade? É também falta de

regularização fundiária, saneamento etc. Saber como aplicar os investimentos para diminuir a desigualdade.

Projeto Água Limpa, da Sabesp, se reflete quase nada na expansão de infraestrutura urbana de saneamento

básico para áreas de assentamento precário. “Eu estudo a Baixada Santista há 20 anos e o que se percebe é

a reaplicação dos investimentos nas áreas mais nobres e mais valorizadas. Não é à toa que o metro quadrado

em Santos está na faixa dos R$ 6 mil reais, é um dos mais altos do Brasil.”

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ESTATUTO DA METRÓPOLE

Maurício (Santos) – Pensar o território do ponto de vista da produção e circulação de capital. Com relação a

esse aspecto, também já há um histórico de segregação de espaços na Baixada Santista. Apresentar no plano

diretor de Santos a inclusão social e pobreza como uma interface de todos os aspectos do desenvolvimento.

Um exemplo de indicador na economia do turismo é a base econômica dos empreendimentos de hospedagem

e alimentação. Há uma distribuição pulverizada de micro e pequenas empresas na cidade, mas são mais

concentradas na Orla. Enquanto na Zona Noroeste, por exemplo, a quantidade é menor. “Essas mini e

pequenas empresas têm potencial de empregabilidade muito grande, são de base doméstica e ocorrem nas

áreas valorizadas do território. Fazer política pública de qualificação da força de trabalho é necessário para

democratizar o território em Santos.”

Wellington Araújo (Santos) – Maior desafio é saber como aglutinar as diferentes políticas públicas das 10

Câmaras Temáticas do Eixo Políticas Sociais, sendo que cada uma tem pautas específicas.

Augusto Schell (Praia Grande) – Falou da evasão no ensino médio: “Há uma crise de perspectiva da juventude

de forma regional. Não afeta só aqueles que estão em situações de vulnerabilidade.” Afirmou que é preciso

promover ações de incentivo a educação de forma regional.

Mauricio Maranhão (Peruíbe) – Em função de dados mostrados pela Rovena, questionou que os dados na

Baixada Santista são muito “inconstantes”. Citou como exemplo, a questão da mortalidade infantil.

Rovena – Federalismo cooperou para a descentralização e redistribuição da arrecadação, trazendo uma

corresponsabilidade entre União, Estado e Munícipios nas respostas que são necessárias para as cidades. O

exercício da regionalização é que traz muito mais o Estado para sua responsabilidade. A Lei da primeira

infância não pode se sobrepor naquilo que já está no Estatuto. Tomar cuidado com o ´gerencialismo`. As

políticas sociais não se desassociam da política. Envolvem o poder do Estado e o pacto federativo.