estabilidade de preços e moeda

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  • 8/3/2019 Estabilidade de preos e moeda

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    Banco Central Europeu, 2005

    MoradaKaiserstrasse 2960311 Frankfurt am MainAlemanha

    Endereo postalPostfach 16 03 1960066 Frankfurt am MainAlemanha

    Telefone+49 69 1344 0

    Websitehttp://www.ecb.int

    Fax

    +49 69 1344 6000

    AutorDieter Gerdesmeier

    Composio grficaMEDIA CONSULTA Advertising GmbHWassergasse 310179 BerlimAlemanha

    Crditos fotogrficosAndreas Pangerl (p. 15)Corbis (pp 23, 35)Banco Central Europeu (pp. 1, 6, 9, 49, 52, 53, 73, 92)Image Source (p. 13)Photos.com (pp. 10, 11, 14, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 24, 29, 30, 34, 36,45, 46, 57, 58, 60, 64, 74, 75, 77, 78, 81, 82, 83, 85, 87, 89, 90, 91)

    Todos os direitos reservados. A reproduo para

    fins pedaggicos e no comerciais permitida,

    desde que a fonte esteja identificada.

    ISBN (online) 92-9181-782-1

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    A estabilidadede preos importante

    porqu?Livro do professor

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    ndice

    Prefcio 6

    Sumrio 9

    Captulo 1 Introduo 13

    Captulo 2 Breve histria da moeda 152.1 As funes da moeda 162.2. As formas de moeda 18

    Captulo 3 A importncia da estabilidade de preos 233.1 O que a estabilidade de preos? 24

    3.2 A medio da inflao 243.3 Os benefcios da estabilidade de preos 29

    Captulo 4 Os factores que determinam a evoluo dos preos 354.1. Breve panormica do que a poltica monetria

    pode e no pode fazer 364.2 A moeda e as taxas de juro como que a

    poltica monetria pode influenciar as taxas de juro? 38

    4.3 Como que as variaes nas taxas de juro afectam asdecises de despesa dos consumidores e das empresas? 404.4 Os factores subjacentes evoluo dos preos em horizontes

    temporais a mais curto prazo 454.5 Os factores subjacentes evoluo dos preos em

    horizontes temporais a mais longo prazo 47

    Captulo 5 A poltica monetria do BCE 495.1 Breve panormica histrica 505.2 O quadro institucional 535.3 A estratgia de poltica monetria do BCE 585.4 Panormica do quadro operacional do Eurosistema 74

    4

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    Glossrio 77

    Anexo 1: O impacto da inflao alguns exemplos quantitativos 79

    Anexo 2: Exerccios 81

    Bibliografia 89

    Caixas

    Caixa 3.1 A medio da inflao um exemplo simples 25

    Caixa 3.2 A relao entre a inflao esperada e as taxas de juro o chamado efeito de Fisher 28

    Caixa 3.3 A hiperinflao 31

    Caixa 3.4 A procura de moeda 33

    Caixa 4.1 Porque que os bancos centrais podeminfluenciar as taxas de juro reais (ex ante)?O papel dos preos viscosos 39

    Caixa 4.2 Como que as variaes na procura agregadaafectam a actividade econmica e a evoluo dos preos? 40

    Caixa 4.3 A teoria quantitativa da moeda 48

    Caixa 5.1 O percurso da moeda nica, o euro 50

    Caixa 5.2 Critrios de convergncia 54

    Caixa 5.3 Compilao e caractersticas do IHPC 61

    Caixa 5.4 Uma margem de segurana contra a deflao 62

    Caixa 5.5 A orientao de mdio prazo da poltica monetria do BCE 63

    Caixa 5.6 Indicadores econmicos e financeiros reais 65

    Caixa 5.7 Projeces macroeconmicas para a rea do euro 68

    Caixa 5.8 Agregados monetrios 69

    Caixa 5.9 O valor de referncia do BCE para o crescimento monetrio 70

    5

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    Jean-Claude Trichet

    6 Prefcio

    Mais de 300 milhes de pessoas em

    12 pases europeus partilham o euro

    como a sua moeda. O Conselho

    do Banco Central Europeu (BCE)

    responsvel pela poltica monetria

    nica desses pases, colectivamente

    conhecidos como a rea do euro.

    O mandato atribudo pelo Tratado que institui a

    Comunidade Europeia ao Eurosistema, que compreende

    o BCE e os bancos centrais nacionais (BCN) da rea do

    euro, claro: o seu objectivo primordial a manuteno

    da estabilidade de preos na rea do euro. Por outras

    palavras, a misso do Conselho do BCE consiste em

    preservar o poder de compra do euro, o que reflecte o

    consenso generalizado da sociedade de que, mantendo

    a estabilidade de preos, a poltica monetria contribui

    significativamente para um crescimento sustentvel e

    para o bem-estar econmico, ajudando tambm a gerarmais emprego.

    O Eurosistema foi dotado de independncia a fim de

    poder cumprir as suas atribuies. Alm disso, o Conselho

    do BCE seleccionou e deu a conhecer ao pblico a sua

    estratgia de poltica monetria com vista a manter a

    estabilidade de preos e, na conduo da sua poltica

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    Jean-Claude Trichet

    Presidente do Banco Central Europeu

    monetria, utiliza um quadro operacional eficiente e

    que funciona bem. Resumindo, o Eurosistema tem a

    capacidade e as ferramentas necessrias para conduzir

    com xito a poltica monetria nica.

    Como qualquer outra instituio de relevo e independente

    da sociedade moderna, o Eurosistema precisa de estar

    prximo do pblico em geral e de ser compreendido pelos

    cidados da Europa. Por conseguinte, importante que

    o seu mandato e poltica sejam explicados a um grande

    nmero de pessoas. O presente livro visa fornecer uma

    panormica abrangente mas acessvel das razes pelas

    quais a estabilidade de preos to importante paragarantir uma prosperidade sustentada e de como a

    poltica monetria do BCE orientada para a realizao

    deste objectivo primordial.

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    Agradecimentos

    Este livro beneficiou imenso com os numerososcomentrios e sugestes editoriais dos meus colegas

    do BCE, aos quais estou extremamente agradecido.

    Gostaria tambm de exprimir a minha gratido aos

    membros do Comit de Comunicao Externa do

    Sistema Europeu de Bancos Centrais (SEBC) e da

    Comisso de Especialistas, aos colegas da Diviso de

    Servios Lingusticos e da Diviso de Traduo do BCE,

    e a H. Ahnert, J. Ahonen, W. Bier, D. Blenck, E. Bracke,

    D. Clarke, J. Cuvry, G. Deschamps, L. Dragomir,

    S. Ejerskov, G. Fagan, A. Ferrando, L. Ferrara,

    S. Keuning, H. J. Klckers, Prof. Dr. D. Lindenlaub,

    K. Masuch, W. Modery, P. Moutot, H. Pill, C. Pronk,

    P. Rispal, B. Roffi a, C. Rogers, P. Sandars, Prof. Dr. H. J.

    Schlsser, R. K. Schller, A. Spivack, G. Vitale, C. Zilioli.

    Dieter Gerdesmeier

    Frankfurt am Main, Novembro de 2005

    8

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    Sumrio

    A estabilidade de preos importante porqu?

    SumrioO Tratado que institui a Comunidade Europeia atribui ao Eurosistema 1 constitudopelo Banco Central Europeu (BCE) e pelos os bancos centrais nacionais (BCN) dos pasesque adoptaram o euro como a sua moeda o mandato primordial de manuteno daestabilidade de preos. Esse mandato considerado o principal objectivo do Eurosistemapor boas razes econmicas. Reflecte as lies aprendidas com anteriores experincias e apoiado pela teoria econmica e por estudos empricos que indicam que, mantendo a

    estabilidade de preos, a poltica monetria contribuir significativamente para o bem--estar geral, incluindo nveis elevados de actividade econmica e de emprego.

    Dado o reconhecimento generalizado dos benefcios da estabilidade de preos,consideramos fundamental explicar, sobretudo aos jovens, a importncia da estabilidadede preos, a forma como esta pode ser alcanada e como que a sua manutenocontribui para os objectivos econmicos mais gerais da Unio Europeia.

    Os benefcios da estabilidade de preos, bem como os custos associados inflaoou deflao, esto estreitamente associados moeda e s suas funes. O captulo2 , por conseguinte, dedicado histria e s funes da moeda. Explica-se que nummundo sem moeda, ou seja, numa economia de troca directa, os custos associados

    troca de bens e servios, tais como os custos de informao, de procura e de transporte,seriam muito elevados. Exemplifica-se igualmente que a moeda permite trocar bensde modo mais eficiente, melhorando assim o bem-estar de todos os cidados. Depoisdestas consideraes, segue-se uma anlise mais pormenorizada do papel da moedae das suas trs funes bsicas. A moeda utilizada como meio de troca, reserva devalor e unidade de conta. As formas especficas de moeda utilizadas em diferentessociedades foram mudando ao longo dos tempos. So particularmente de destacara moeda-mercadoria, o dinheiro metlico, o papel-moeda e a moeda electrnica. Osprincipais desenvolvimentos na histria da moeda so revistos e explicados de modosucinto.

    O captulo 3 centra-se em mais pormenor sobre a importncia da estabilidade depreos. Expe-se que a inflao e a deflao so fenmenos econmicos que podem tergraves consequncias negativas para a economia. O captulo comea por definir os doisconceitos. A inflao define-se, em princpio, como sendo um aumento geral dos preosdos bens e dos servios ao longo de um perodo de tempo prolongado que resultanum decrscimo do valor da moeda e, consequentemente, do seu poder de compra. Adeflao consiste, por seu lado, numa descida do nvel geral de preos ao longo de umperodo prolongado.

    O Banco CentralEuropeu

    1 O termo Eurosistema no figura como tal no Tratado que institui a Comunidade Europeia, nem nos Estatutos doSEBC e do BCE, os quais referem os objectivos e atribuies do SEBC, que compreende o BCE e os BCN de todos

    os Estados-Membros da Unio Europeia. Contudo, enquanto houver pases que no tenham adoptado o euro, asdisposies relativas aos objectivos e atribuies do SEBC no so aplicveis a todos os Estados-Membros. Assim,neste contexto, passou a ser comum utilizar o termo Eurosistema para designar o BCE e os BCN dos Estados--Membros que adoptaram o euro, sendo a utilizao do termo encorajada tambm pelo Conselho do BCE.

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    Sumrio

    Aps uma breve ilustrao de alguns dos problemas associados medio da inflao,o captulo prossegue com uma descrio dos benefcios da estabilidade de preos. Aestabilidade de preos contribui para um nvel de vida mais elevado ao reduzir a incertezaacerca da evoluo geral dos preos, tornando mais transparente o funcionamento domecanismo de preos. Permite aos consumidores e s empresas identificarem maisfacilmente as variaes de preos que no so comuns a todos os bens (as designadas

    variaes dos preos relativos). Alm disso, a estabilidade de preos contribui para obem-estar geral ao reduzir os prmios de risco de inflao das taxas de juro, ao tornaras actividades de cobertura de risco desnecessrias e ao reduzir os efeitos de distorodos sistemas de tributao e de segurana social. Por ltimo, a estabilidade de preosimpede a distribuio arbitrria da riqueza e dos rendimentos associada, por exemplo, eroso do valor real de activos nominais (poupanas sob a forma de depsitos bancrios,obrigaes do Tesouro, salrios nominais) decorrente da inflao. Eroses considerveisda riqueza e dos rendimentos reais devido a uma inflao elevada podem ser umafonte de perturbaes sociais e de instabilidade poltica. Resumindo, ao manterem aestabilidade de preos, os bancos centrais permitem que sejam alcanados objectivoseconmicos mais amplos, contribuindo, assim, para a estabilidade poltica geral.

    O captulo 4 debrua-se sobre os factores que determinam a evoluo dos preos.Comeando por apresentar uma breve panormica do papel e das limitaes da polticamonetria, em seguida explica a forma como um banco central pode influenciar as taxasde juro de curto prazo. O banco central o fornecedor monopolista (ou seja, o nicofornecedor) de notas de banco e de depsitos no banco central. Dado que necessitam denotas para os seus clientes e so obrigados a cumprir o regime de reservas mnimas (ouseja, proceder a depsitos no banco central), normalmente, os bancos solicitam crdito

    junto do banco central. Este ltimo estabelece a taxa de juro dos seus emprstimos aosbancos, a qual, por sua vez, influencia as outras taxas de juro do mercado.

    As variaes das taxas de juro do mercado afectam as decises de despesa das famlias e

    das empresas e, consequentemente, acabam tambm por ter efeitos sobre a actividadeeconmica e a inflao. Por exemplo, com taxas de juro mais elevadas mais caroinvestir e, por conseguinte, a tendncia para cortar nas despesas de investimento. Poroutro lado, a poupana torna-se mais atractiva e a procura de bens de consumo tendea diminuir. Assim, em circunstncias normais, previsvel que um aumento das taxasde juro conduza a um decrscimo do consumo e do investimento, o que com tudo oresto constante dever, em ltima instncia, reduzir as presses inflacionistas. Emboraa poltica monetria possa ter algum impacto na actividade real, esse efeito temporrioe no permanente. No entanto, a poltica monetria tem um impacto duradouro naevoluo dos preos e, como resultado, na inflao.

    Este captulo analisa em pormenor os factores que determinam o processo inflacionistaem horizontes a mais curto prazo. Tal como ilustrado atravs de um modelo bastantesimplificado que descreve os conceitos de procura e oferta agregadas, diversos factoreseconmicos podem dar origem a movimentos nos nveis de preos no curto prazo,por exemplo, aumentos do consumo e do investimento, agravamentos dos dficesoramentais das administraes pblicas e exportaes lquidas mais elevadas. Almdisso, custos mais elevados dos factores de produo (por exemplo, devido a umasubida dos preos dos produtos energticos) ou aumentos salariais no acompanhadosde ganhos de produtividade podem gerar presses em sentido ascendente sobre ainflao.

    Neste contexto, salienta-se o facto de a poltica monetria no poder controlartotalmente a evoluo dos preos no curto prazo. Contudo, explica-se tambm que,numa perspectiva a mais longo prazo, a inflao um fenmeno monetrio. , portanto,

    Each month, ahost of price

    surveyors checkson the prices ofthese items invarious shops

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    De acordo com aestratgia do BCE,as decises depoltica monetriafundamentam-senuma anliseabrangente dosriscos para aestabilidade depreos.

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    Sumrio

    indiscutvel que, ao fazer face a riscos para a estabilidade de preos, a poltica monetriapode controlar a inflao a mdio e a longo prazo.

    O captulo final descreve sucintamente a poltica monetria do BCE. Comea por umadescrio pormenorizada do processo conducente criao da Unio Econmicae Monetria e, nas seces subsequentes, aborda o quadro institucional da poltica

    monetria nica, a estratgia de poltica monetria do BCE e os instrumentos de polticamonetria utilizados pelo Eurosistema. A fim de precisar o objectivo do Eurosistema de,tal como estabelecido pelo Tratado, manter a estabilidade de preos, o Conselho do BCEforneceu, em 1998, a seguinte definio quantitativa: A estabilidade de preos ser definidacomo um aumento homlogo do ndice Harmonizado de Preos no Consumidor (IHPC) paraa rea do euro inferior a 2 %. A estabilidade de preos dever ser mantida a mdio prazo.Alm disso, em Maio de 2003, clarificou que, no mbito desta definio, visa manter astaxas de inflao num nvel inferior mas prximo de 2 % no mdio prazo.

    Em conformidade com a estratgia do BCE, as decises de poltica monetriafundamentam-se numa anlise abrangente dos riscos para a estabilidade de preos.

    Essa anlise levada a cabo recorrendo a duas perspectivas complementares comvista a determinar a evoluo dos preos. A primeira visa avaliar os determinantes decurto a mdio prazo da evoluo dos preos, centrando-se na actividade econmicareal e nas condies financeiras da economia. Tem em considerao o facto de, nesseshorizontes, a evoluo dos preos ser extremamente influenciada pela interaco entrea oferta e a procura nos mercados de bens, de servios e dos factores de produo (ouseja, os mercados de trabalho e de capitais). O BCE designa esta abordagem a anliseeconmica. A segunda perspectiva, designada a anlise monetria, incide sobre umhorizonte a mais longo prazo, explorando a relao de longo prazo entre a quantidadede moeda em circulao e os preos. A anlise monetria destina-se principalmente aservir de meio de verificao cruzada, numa perspectiva de mdio a longo prazo, dasinformaes de curto a mdio prazo importantes para a poltica monetria fornecidas

    pela anlise econmica.

    Com base nesta avaliao, o Conselho do BCE decide sobre o nvel das taxas de jurode curto prazo para assegurar que as presses inflacionistas e deflacionistas sejamcontrariadas e que a estabilidade de preos seja mantida a mdio prazo.

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    Captulo 1

    IntroduoQuando interrogados em sondagens sobre as condies

    econmicas gerais, os cidados europeus expressam

    habitualmente o desejo de viverem numa conjuntura

    sem inflao nem deflao. O Tratado que institui a

    Comunidade Europeia atribui ao Eurosistema o mandatode manter a estabilidade de preos, o que tem perfeito

    sentido em termos econmicos. Reflecte as lies da

    histria e corroborado pela teoria econmica e por

    estudos empricos que sugerem que, mantendo a

    estabilidade de preos, a poltica monetria contribuir

    consideravelmente para o bem-estar econmico geral,

    incluindo nveis elevados de actividade econmica e deemprego.

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    Introduo

    O presente livro composto por

    vrios captulos,que forneceminformao bsica

    e que podem serconsultados

    separadamente,como e quando

    necessrio.

    Dado o reconhecimento generalizado dos benefcios da estabilidade de preos, importante que todos, sobretudo os jovens, compreendam a relevncia da mesma,como que esta pode ser alcanada e como que a manuteno de preos estveiscontribui para os objectivos econmicos mais gerais da Comunidade.

    O presente livro composto por vrios captulos, que fornecem informao bsica

    e que podem ser consultados separadamente, como e quando necessrio. O graude complexidade dos captulos 4 e 5 , porm, mais elevado do que o dos primeiroscaptulos. Para um perfeito entendimento do captulo 5, necessrio ler cuidadosamenteo captulo 3 e, em particular, o captulo 4. O livro inclui tambm caixas que abordam emmais pormenor algumas questes especficas.

    Os benefcios da estabilidade de preos ou, por outro lado, os custos associados inflao ou deflao, esto estreitamente relacionados com a moeda e as suas funes.O captulo 2 , por conseguinte, dedicado histria e s funes da moeda. Explica--se que num mundo sem moeda, ou seja, numa economia de troca directa, os custosassociados troca de bens e servios seriam muito elevados. Ilustra-se, igualmente,

    que a moeda permite uma troca de bens e servios mais eficiente, o que, por seu lado,contribui para um aumento do bem-estar dos consumidores. A estas consideraessegue-se, na seco 2.1, uma anlise mais pormenorizada do papel da moeda e das suasfunes bsicas. As formas de moeda utilizadas pelas sociedades foram mudando aolongo dos tempos, pelo que os principais desenvolvimentos histricos so revistos eexplicados, de forma sinttica, na seco 2.2.

    O captulo 3 centra-se na importncia da estabilidade de preos. Primeiro, so definidosos conceitos de inflao e de deflao (seco 3.1). Em seguida, aps uma breve ilustraode algumas questes de medio (seco 3.2), descreve-se em pormenor os benefciosda estabilidade de preos e, por oposio, as consequncias negativas da inflao e dadeflao (seco 3.3).

    O captulo 4 debrua-se sobre os factores que determinam a evoluo dos preos.Comea por fornecer uma breve panormica (seco 4.1), analisando depois a influnciada poltica monetria sobre as taxas de juro (seco 4.2). Subsequentemente, ilustra osefeitos das variaes das taxas de juro sobre as decises de despesa das famlias e dasempresas (seco 4.3). Na seco seguinte, feita uma anlise dos factores subjacentesao processo inflacionista em horizontes temporais a mais curto prazo (seco 4.4). dado especial realce ao facto de a poltica monetria no poder, por si s, controlar aevoluo dos preos no curto prazo, visto vrios outros factores econmicos podereminfluenciar a inflao nesse espao de tempo. Contudo, reconhece-se que a polticamonetria controla a inflao em horizontes a mais longo prazo (seco 4.5).

    O captulo final descreve sucintamente a poltica monetria do BCE. Inicia por umadescrio pormenorizada do processo conducente criao da Unio Econmica eMonetria (seco 5.1) e, nas seces seguintes, aborda o quadro institucional da polticamonetria nica (seco 5.2), a estratgia de poltica monetria do BCE (seco 5.3) e oenquadramento operacional do Eurosistema (seco 5.4).

    Para mais informaes, consultar o glossrio e a bibliografia fornecidos no final do livro.

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    Captulo 2

    Breve histriada moeda

    Seco 2.1explica as funes da moeda.

    Seco 2.2refere os vrios bens que,

    no passado, foram utilizados

    como moeda.

    Na vida moderna, o dinheiro, ou seja a moeda,

    indispensvel. Este captulo procura responder a questes

    como: o que o dinheiro, porque precisamos dele, porque razo aceite e h quanto tempo existe.

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    Breve histriada moeda

    A palavra moedavem do latim

    moneta.

    2.1 As funes da moeda

    A histria da palavra moedaO dinheiro, ou seja a moeda, desempenha um papel fundamental nas economias actuais.

    No nenhum exagero dizer que o dinheiro faz girar o mundo e que as economiasmodernas no funcionariam sem ele. A palavra moeda vem do latim moneta. NaRoma antiga, contudo, o termo monetor ou moneta significava conselheiro/a,no sentido de uma pessoa que aconselha ou previne. Segundo alguns historiadores,o significado da palavra remonta a um acontecimento-chave da histria romana. Em390 a. C., durante uma invaso gaulesa, os grasnos de um bando de gansos residentenum templo da deusa Juno no Monte Capitolino alertaram os Romanos para o ataqueeminente, salvando-os de uma derrota. Em agradecimento, os Romanos construram umnovo templo dedicado a Juno Moneta, a deusa que previne e aconselha. A primeiracasa da moeda romana foi construda em 289 a. C., nesse templo ou muito perto, tendocomeado por produzir moedas em bronze, e mais tarde em prata. Na face de muitas

    dessas moedas era cunhada a efgie de Juno Moneta. Da terem surgido os termosmoeda e casa da moeda.

    As funes da moedaO que constitui uma moeda ou, por outras palavras, o que o dinheiro? Hoje em dia, paradefinirmos o termo moeda ou dinheiro, primeiro pensamos em notas e moedas. Estesactivos so considerados dinheiro por serem lquidos, ou seja, por serem geralmenteaceites e encontrarem-se disponveis a qualquer momento para fins de pagamento.Embora seja incontestvel que as notas e as moedas cumprem esse fim, actualmenteexiste uma srie de outros tipos de activos que so muito lquidos e que podem ser

    facilmente convertidos em dinheiro efectivo ou que, por um custo muito baixo, podemser utilizados para efectuar pagamentos. o caso, por exemplo, dos depsitos ordem 2e de outros tipos de depsito em bancos. Consequentemente, estes instrumentos soincludos nas definies de moeda frequentemente designadas moeda em sentidolato ou agregado monetrio largo.

    As vrias formas de moeda foram variando consideravelmente ao longo do tempo. Opapel-moeda e os depsitos bancrios no existem desde sempre, pelo que til definiro conceito de moeda em termos mais gerais. A moeda pode ser vista como um bemmuito especial que desempenha determinadas funes bsicas. Mais especificamente,funciona como meio de troca, reserva de valor e unidade de conta. Por essa razo se diz,

    muitas vezes, que o dinheiro o que o dinheiro faz.

    Para ilustrar melhor estas funes, basta analisar a forma como as pessoas realizavamas suas transaces antes de a moeda existir. Sem dinheiro, as pessoas eram foradasa trocar bens e servios directamente por outros bens e servios. Apesar de umaeconomia de troca directa permitir alguma diviso de trabalho, existem limitaes emtermos prticos e os chamados custos de transaco so substanciais.

    O problema mais evidente deste tipo de economia o facto de as pessoas terem deencontrar quem queira exactamente o bem ou servio que oferecem e que tenha o queprocuram em troca. Por outras palavras: uma troca directa bem sucedida requer que

    2 Os depsitos ordem so fundos que esto imediatamente disponveis para efeitos de transaco. Note-se quenos depsitos ordem se inclui tambm a moeda electrnica sob a forma de cartes pr-pagos.

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    17

    Breve histriada moeda

    exista uma dupla coincidncia de vontades. Um padeiro que, por exemplo, desejasse umcorte de cabelo em troca de alguns pes teria que encontrar um barbeiro disposto aaceitar esses pes pelo seu servio. Contudo, se por seu lado o barbeiro precisasse deum par de sapatos, teria de esperar at que o dono de uma loja de sapatos desejasseum corte de cabelo em troca. Uma economia de troca directa implicaria, assim, custossubstanciais em termos de tempo, identificao da contraparte apropriada para a

    transaco e acumulao de bens.

    A moeda como meio de trocaUma forma de evitar os inconvenientes associados a uma economia de troca directa seriautilizar um bem como meio de troca. Esse bem funcionaria como um tipo rudimentarde moeda para transaces, passando assim a ser o que se designa moeda-mercadoria. primeira vista, poder parecer que transaccionar um bem ou um servio por moedae depois a moeda por outro bem ou servio complicar ainda mais as transaces.Porm, pensando bem, torna-se evidente que a utilizao de um bem como meio de

    troca facilita consideravelmente todo o processo, visto deixar de ser necessrio queexista uma dupla coincidncia de vontades para que uma troca de bens e/ou servios serealize. Obviamente que um pr-requisito para o bem escolhido poder funcionar comomoeda que seja aceite em toda a economia como meio de troca, seja por tradio,conveno informal ou lei.

    Simultaneamente, claro que os bens utilizados como meio de troca devem terdeterminadas caractersticas tcnicas. Devem, em particular, ser fceis de transportar, serdurveis e divisveis, e a sua qualidade fcil de verificar. Num sentido mais econmico, bvio que a moeda deve ser um bem raro, j que s os bens raros tm um valorpositivo.

    A moeda como reserva de valorSe o bem utilizado como moeda mantm o seu valor ao longo do tempo, pode serguardado durante perodos mais prolongados. Tal particularmente til, visto permitirque o acto de venda seja separado do acto de compra. Neste caso, a moeda desempenhaa importante funo de reserva de valor.

    por estas razes que os bens que servem igualmente como reserva de valor sopreferveis aos que servem apenas como meio de troca. Por exemplo, bens como asflores ou as mas poderiam, em princpio, servir como meio de troca. No entanto, no

    seriam utilizveis como reserva de valor e, por conseguinte, no poderiam ser utilizadoscomo moeda. Assim, se este papel da moeda no for desempenhado devidamente (porexemplo, se o bem utilizado como moeda perde valor com o tempo), as pessoas utilizarooutros bens ou activos como reserva de valor ou, em casos extremos, recorrero de novo troca directa.

    A moeda como unidade de contaIgualmente importante a funo da moeda como unidade de conta, para a qual oexemplo anterior serve tambm de ilustrao. Mesmo que as dificuldades em obteruma dupla coincidncia de vontades sejam ultrapassadas, continuaria a ser necessrioencontrar o rcio de troca exacto entre, por exemplo, pes e cortes de cabelo ou cortesde cabelo e pares de sapatos. Esses rcios de troca ou seja, por exemplo, o nmerode pes equivalente em valor a um corte de cabelo so denominados preo relativos

    A moeda utilizada comomeio de troca,reserva de valor eunidade de conta.

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    ou termos de troca. Ter-se-ia de determinar no mercado o preo relativo de cada parde bens e servios e, obviamente, todas as pessoas envolvidas nas transaces teriamde ter toda a informao sobre os termos de troca entre todos os bens e servios. fcil demonstrar que, para dois bens, existe apenas um preo relativo, ao passo quepara trs bens existem trs preos relativos (nomeadamente, pes em relao a cortesde cabelo, cortes de cabelo em relao a sapatos, e pes em relao a sapatos). No

    caso de dez bens, porm, os preos relativos seriam j 45, e com 100 bens o nmerode preos relativos ascenderia a 4950 3. Por conseguinte, quanto maior for o nmerode bens transaccionados, mais difcil se torna obter toda a informao sobre todas astaxas de cmbio possveis. Consequentemente, obter e memorizar toda a informaosobre os termos de troca acarreta custos elevados para os participantes numa economiade troca directa e esses custos aumentam desproporcionadamente com o nmero debens transaccionados. Esses recursos poderiam ser empregues mais eficientemente deoutras formas, se um dos bens fosse utilizado como unidade de conta. O valor de todosos bens passaria a ser expresso nessa unidade monetria e o nmero de preos queos consumidores teriam de identificar diminuiria significativamente 4. Assim, se todos ospreos fossem fixados em termos monetrios, as transaces tornar-se-iam muito mais

    fceis. De um modo geral, no s os preos dos bens podem ser expressos em termosmonetrios, como tambm o preo de qualquer activo. Todos os agentes econmicosde uma zona monetria passariam ento a calcular custos, preos, salrios, rendimentos,etc. na mesma unidade monetria. Tal como acontece relativamente s funes damoeda atrs referidas, quanto menos estvel e fivel o valor da moeda, mais difcil para essa moeda desempenhar esta importante funo. Uma unidade de conta fivel egeralmente aceite constitui, por conseguinte, uma base slida para o clculo de preose custos, o que aumenta a transparncia e a fiabilidade.

    2.2. As formas de moedaAo longo dos tempos, a natureza dos bens utilizados como moeda foi variando. generalizadamente aceite que o que, por vezes, se tornou na funo primria dessesbens no coincidia, frequentemente, com o seu fim inicial. Aparentemente, certos benseram escolhidos como moeda porque podiam, como era conveniente, ser armazenadossem dificuldade, tinham um valor elevado e, em termos comparativos, um pesoreduzido, e porque eram fceis de transportar e durveis. Esses bens muito desejadoseram transaccionados com facilidade e, por conseguinte, passaram a ser aceites comodinheiro. Concluindo, a evoluo da moeda depende de vrios factores, tais como aimportncia relativa do comrcio e o estdio de desenvolvimento da economia.

    A moeda-mercadoriaA natureza da moeda-mercadoria tem sido variada, incluindo desde contas feitasde conchas (wampum), utilizadas pelos ndios norte-americanos, a caurins (conchascoloridas) na ndia, dentes de baleia nas Ilhas Fiji, tabaco nas primeiras colnias daAmrica do Norte, grandes discos de pedra na Ilha Yap, no Pacfico, e cigarros e bebidasalcolicas na Alemanha do ps-Segunda Guerra Mundial.

    3 Em termos mais gerais, para n bens, existem n (n1) preos relativos.2

    4

    Mais especificamente, passaria a ser n1 preos absolutos.

    A natureza damoeda-mercadoria

    tem sido variada,incluindo, porexemplo, conchas

    coloridas.

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    O dinheiro metlicoA introduo do dinheiro metlico foi a maneira que as sociedades da antiguidadeencontraram para resolver os problemas associados utilizao de bens perecveis comomoeda para transaces. No se sabe exactamente onde e quando o dinheiro metlicosurgiu pela primeira vez. Sabe-se, no entanto, que era utilizado cerca de 2000 a. C. na sia,

    se bem que nessa poca, aparentemente, o seu peso no era uniforme, nem o seu valorcertificado pelos soberanos. Utilizavam-se pepitas ou barras de ouro e de prata comomoeda-mercadoria porque eram fceis de transportar, no eram perecveis e eram maisou menos facilmente divisveis. Alm disso, podiam ser fundidos para produzir jias.

    As moedas metlicasOs Europeus foram dos primeiros a produzir moedas metlicas uniformizadas ecertificadas. Os Gregos introduziram moedas de prata cerca de 700 a. C.; Egina (595 a. C.),Atenas (575 a. C.) e Corinto (570 a. C.) foram as primeiras cidades-estado gregas a

    cunharem as suas prprias moedas. O contedo em prata das moedas de dracmaatenienses, famosas por exibirem a lendria coruja, permaneceu estvel durante cercade 400 anos. As moedas gregas eram, por conseguinte, muito utilizadas (tendo o seuuso sido expandido ainda mais por Alexandre, o Grande) e os arquelogos tm vindoa descobri-las numa rea geogrfica que se estende desde Espanha ndia actual. OsRomanos, que anteriormente tinham utilizado como moeda pesadas barras de bronze,designadas aes signatum, seguiram a inovao dos Gregos de utilizarem moedasoficiais e foram os primeiros a introduzir um sistema monetrio bimetlico, (ou seja, obimetalismo) em que eram utilizados tanto denarius de prata, como aureus de ouro.

    Na poca do Imperador Nero, no sculo I d. C., o contedo de metal precioso dasmoedas comeou a diminuir medida que as casas da moeda imperiais iam cada vez

    mais substituindo o ouro e a prata por ligas metlicas para financiarem o gigantescodfice do imprio. Com o valor intrnseco das moedas a decrescer, os preos dos bense dos servios comearam a subir, tendo-se seguido um aumento geral dos preos, oqual poder ter contribudo para a queda do Imprio Romano do Ocidente. O solidusdo Imprio Romano do Oriente, introduzido por Constantino, o Grande, no sculoIV d. C., manteve o peso e contedo de metal precioso originais at meados do sculo XI,adquirindo, assim, a reputao que fez dele a moeda mais importante no comrciointernacional durante mais de cinco sculos. As moedas bizantinas eram utilizadas comomoeda internacional e foram descobertas por arquelogos em zonas to remotas comoos Montes Altai, na Monglia. Em meados do sculo XI, porm, a economia monetriabizantina ruiu e foi substituda por um novo sistema que durou ao longo do sculo XII

    at conquista de Constantinopla pelos Cruzados em 1204, que determinaria o fim dahistria da moeda greco-romana.

    Os Gregos e os Romanos espalharam o costume da utilizao de moedas metlicas eos conhecimentos tcnicos sobre a sua cunhagem por uma vasta regio geogrfica.Durante a maior parte da Idade Mdia, o meio de pagamento dominante era as moedasde ouro e de prata cunhadas localmente, se bem que cada vez mais fossem usadasmoedas de cobre. Em 793 d. C., Carlos Magno procedeu reforma e uniformizao dosistema monetrio franco, introduzindo uma norma monetria segundo a qual uma librade prata franca (408 g) equivalia a 20 xelins ou 240 pence norma essa que permaneceuem vigor no Reino Unido e na Irlanda at 1971.

    Aps a queda de Constantinopla, as cidades-estado mercantis italianas de Gnova eFlorena introduziram em 1252, respectivamente, as moedas de genoin e de fiorina (ouflorim) em ouro, as quais foram substitudas no sculo XV pelo ducato veneziano.

    Os Chinesescomearam autilizar o papel--moeda cerca de800 d. C. eutilizaram-nodurante vriascentenas de anos.

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    O papel-moedaOs Chineses comearam a utilizar o papel-moeda cerca de 800 d. C., na poca doImperador Hien Tsung, e utilizaram-no durante vrias centenas de anos. Este papel-moedano tinha qualquer valor como mercadoria e constitua uma forma de dinheiro apenaspor decreto imperial, sendo o que se designa moeda fiduciria (ou seja, dinheiro sem

    valor intrnseco). O uso do papel-moeda teve o seu apogeu na China em torno de1000 d. C., mas foi abandonado por volta de 1500 quando a sociedade chinesa entrouem declnio aps a Conquista Mongol.

    As obrigaesComo a reserva de valor s era possvel sob a forma de mercadorias ou moedas metlicas,era, por conseguinte, difcil conduzir transaces comerciais a grandes distncias. Ascidades-estado italianas foram, assim, as primeiras a introduzir os certificados de dvida(obrigaes ou letras de cmbio) como meio de pagamento.

    Para reduzir o risco de roubo durante as viagens, os mercadores levavam consigo essasobrigaes. O devedor e o credor eram mencionados nos certificados, bem como adata de pagamento e o montante de ouro ou prata. Rapidamente, essas obrigaescomearam a ser transaccionadas pelos banqueiros. A primeira evidncia de um contratodo tipo remonta a 1156.

    As obrigaes continuaram a ser sobretudo utilizadas pelos mercadores italianos,tendo o sistema bimetlico predominado at Guerra dos 30 Anos. Devido instabilidade econmica criada pela guerra, governantes, como, por exemplo, os reissuecos, comearam a ter preferncia pelo papel-moeda, o qual foi subsequentementeintroduzido, em Inglaterra, pelo Bank of England em 1694 e, em Frana, pelo Banque

    gnrale em 1716. O advento do papel-moeda fiducirio na Europa marcou o incio deuma nova fase na evoluo da moeda. A criao e regulamentao do sistema de moedafiduciria num pas continuou a ser da responsabilidade dos governantes, mas outrasinstituies pblicas e privadas, tais como os bancos centrais e o sistema financeiro,passaram a desempenhar um papel cada vez mais crucial para o xito das unidadesmonetrias nacionais.

    O padro-ouroDesde a adopo da moeda fiduciria, h cerca de dois sculos, o sistema monetrio

    sofreu grandes alteraes. O papel-moeda tinha, e continua a ter, curso legal apenas aoabrigo de uma lei emitida pela autoridade competente. Emitido em unidades monetriasnacionais fixas, tinha um valor nominal claramente definido. Durante bastante tempo, osestados-nao mantinham reservas de ouro nos seus bancos centrais para assegurar acredibilidade da sua moeda um sistema conhecido como o padro-ouro. As unidadesmonetrias sob a forma de moedas metlicas e papel fiducirio podiam ser convertidasem ouro a uma paridade fixa. A Gr-Bretanha foi o primeiro pas que, de facto, estabeleceuum padro-ouro em 1816, tendo a taxa de cmbio da libra em ouro sido determinadaem 1717, por Isaac Newton, como sendo 3,811 libras esterlinas por ona.

    Com o incio da Primeira Guerra Mundial, muitos pases comearam a imprimir cada vezmais papel-moeda para financiarem os custos do conflito. Na Alemanha, por exemplo,o nmero de notas emitidas pelo Reichbank subiu de 2 593 milhes, em 1913, para umtotal de 92 844 720,7 mil milhes de notas em circulao, em 18 de Novembro de 1923,

    Os estados-naomantinham

    reservas de ouronos seus bancoscentrais para

    assegurar acredibilidade das

    suas moedas.

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    Breve histriada moeda

    o que acabou por dar origem a uma hiperinflao 5. Com mais dinheiro efectivo emcirculao, a maioria dos pases suspendeu a convertibilidade da sua moeda em ouro,visto a sua quantidade ter cessado de corresponder s respectivas reservas de ouro.

    O padro divisas-ouroO colapso do padro-ouro britnico deu-se em 1931, mas o sistema foi restabelecido em1944, na conferncia internacional que teve lugar em Bretton Woods, no New Hampshire,nos Estados Unidos. O acordo ento alcanado quanto ao padro-ouro revisto foi de queas taxas de cmbio das moedas nacionais das principais potncias econmicas mundiaisseriam ligadas ao dlar e de que o dlar seria convertvel em ouro a um preo fixo de 35dlares por ona. O sistema monetrio de Bretton Woods , por conseguinte, s vezesdesignado padro divisas-ouro. Os bancos centrais prontificavam-se a fornecer dlaresem troca das suas moedas nacionais e vice-versa.

    O sistema monetrio de Bretton Woods foi abandonado em 1971 e desde ento as

    unidades monetrias das principais economias mundiais passaram a ser exclusivamentemoeda fiduciria. Alm disso, a maioria dos pases passou a permitir a flutuao dastaxas de cmbio da sua moeda.

    A evoluo da moeda ainda no cessou. Nos ltimos tempos, surgiram vrios tiposde moeda intangvel, por exemplo a designada moeda electrnica um meio depagamento electrnico desenvolvido na ltima dcada do sculo XX. Este tipo de moedapode ser utilizado para o pagamento de bens e servios na Internet ou atravs de outrosmeios electrnicos. Ao receber a autorizao de pagamento do comprador, o vendedorcontacta o banco emitente e a transferncia de fundos realizada. Presentemente naEuropa, existem vrios sistemas de moeda electrnica baseados em cartes, operadosem geral por instituies financeiras.

    Nos ltimostempos, surgiramvrios tipos demoeda intangvel,por exemplo adesignada moedaelectrnica.

    5 Ver Davies (1994, p. 573), para uma anlise mais pormenorizada.

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    Captulo 3

    A importnciada estabilidadede preos

    Seco 3.1explica alguns termoseconmicos bsicos, como,

    por exemplo, os conceitos de

    inflao, deflao e estabilidade

    de preos.

    Seco 3.2foca os problemas associados

    medio da inflao.

    Seco 3.3fornece uma panormica geral

    dos benefcios da estabilidade

    de preos.

    Este captulo contm informao mais pormenorizada

    sobre questes como: o que a estabilidade de preos,

    a inflao e a deflao, como medida a inflao, qual

    a diferena entre taxas de juro nominais e rendimento

    real, e quais so os benefcios da estabilidade de preos

    ou, por outras palavras, porque importante os bancoscentrais assegurem a estabilidade de preos.

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    A importnciada estabilidade

    de preos

    3.1 O que a estabilidade de preos?

    A inflao e a deflaoA inflao e a deflao so fenmenos econmicos importantes com consequncias

    negativas para a economia. Basicamente, a inflao define-se como sendo um aumentogeral, ou abrangente, dos preos dos bens e dos servios ao longo de um perodo detempo prolongado que resulta num decrscimo do valor da moeda e, consequentemente,do seu poder de compra.

    A deflao muitas vezes definida como sendo o oposto da inflao, isto , como umasituao em que o nvel geral de preos desce ao longo de um perodo prolongado.

    Quando no existe inflao, nem deflao, pode dizer-se que existe estabilidade depreos, se, em mdia, os preos no sobem, nem descem, e permanecem estveis aolongo do tempo. Se, por exemplo, com 100 euros se compra o mesmo cabaz de bens

    que, digamos, h um ou dois anos, ento pode dizer-se que existe uma situao deestabilidade de preos absoluta.

    Movimentos em preos especficos e nonvel geral de preos

    importante fazer uma distino entre os movimentos nos preos de um bem ouservio especfico e movimentos no nvel geral de preos. Variaes frequentes empreos especficos so relativamente normais nas economias de mercado, mesmoque, no geral, exista estabilidade de preos. As alteraes nas condies de procura

    e/ou de oferta de bens ou servios especficos geram, inevitavelmente, variaesnos respectivos preos. Por exemplo, nos ltimos anos observaram-se decrscimosconsiderveis nos preos dos computadores e dos telemveis, decorrentes sobretudodos rpidos progressos tecnolgicos. Todavia, desde o incio de 1999 a 2005, os preosdo petrleo e de outros produtos energticos aumentaram, por um lado, devido apreocupaes relacionadas com o futuro dos recursos energticos e, por outro lado,como resultado do aumento da procura de produtos energticos, particularmentenas economias em rpido crescimento. No conjunto, a inflao nos pases maisindustrializados permaneceu baixa e estvel a estabilidade do nvel geral de preos possvel, mesmo com alteraes substanciais em preos especficos, desde que assubidas e descidas de preos se compensem entre si e o nvel geral de preos no se

    altere.

    3.2 A medio da inflao

    Questes de medioComo medir a inflao? Existem milhes de preos especficos numa economia. Essespreos esto sujeitos a movimentos contnuos que, basicamente, reflectem as variaesna oferta e na procura de bens e de servios especficos e, por conseguinte, proporcionamuma indicao da relativa escassez dos respectivos bens e servios. Obviamente queno nem vivel, nem conveniente, ter todos estes preos em considerao, mas, ao

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    A importnciada estabilidadede preos

    mesmo tempo, tambm no apropriado analisar apenas alguns deles, dado quepodem no ser representativos do nvel geral de preos.

    ndice de Preos no Consumidor

    A maior parte dos pases adoptou uma abordagem simples e sensata de medio dainflao, utilizando o denominado ndice de Preos no Consumidor (IPC)6. Para oefeito, os padres de compra dos consumidores so analisados com vista a determinarquais so os bens e os servios habitualmente adquiridos pelos consumidores, que, porconseguinte, podem ser considerados representativos do consumidor mdio de umaeconomia. Enquanto tal, incluem no s o que os consumidores compram numa basediria (por exemplo, po e fruta), mas tambm aquisies de bens duradouros (taiscomo automveis, computadores, mquinas de lavar, etc.) e transaces frequentes (porexemplo, pagamento de rendas). A elaborao desta lista de compras e a ponderaodo peso de cada uma das suas componentes em funo da sua importncia nosoramentos dos consumidores resulta no que se designa como um cabaz de compras7.

    Todos os meses, um grupo de auditores de preos visita vrios estabelecimentos everifica os preos dos produtos includos no cabaz. Subsequentemente, os custos docabaz so comparados ao longo do tempo, sendo determinada ento a srie do ndice depreos. A taxa de inflao anual pode ser calculada apresentando a variao dos custosdo cabaz de compras corrente como uma percentagem dos custos, no ano anterior, deum cabaz de compras idntico.

    Contudo, a evoluo do nvel de preos revelada por esse cabaz de compras reflecteapenas a situao de um consumidor mdio ou representativo. Se os hbitos deconsumo de um indivduo so substancialmente diferentes do padro de consumomdio e, por conseguinte, do cabaz de compras em que o ndice se baseia, a alterao nocusto de vida sentida por esse indivduo poder ser distinta da evidenciada pelo ndice.

    Assim, haver sempre algumas pessoas para quem a taxa de inflao do seu cabaz decompras especfico ser mais elevada e outras para quem ser mais baixa. Por outraspalavras, o clculo da inflao atravs do ndice apenas uma medida aproximada dasituao mdia da economia e no corresponde exactamente totalidade das variaesde preos que afectam cada um dos consumidores.

    6 Na realidade, o ndice de Preos no Consumidor, que mede as variaes nos preos dos bens de consumo e dosservios, no o nico ndice de preos de uma economia. Outro ndice com uma importncia idntica em termoseconmicos o ndice de Preos no Produtor, que mede as alteraes feitas pelos produtores nacionais de bens eservios nos preos de venda ao longo do tempo.

    7 Mais concretamente, estes bens so ponderados segundo as parcelas de despesa final, em unidades monetrias,das famlias. Na prtica, os pesos das componentes do cabaz so revistos periodicamente tendo em consideraoas alteraes no comportamento dos consumidores.

    Para ilustrar as consideraes atrs tecidas sob a forma de um exemplo numricosimples, suponha-se que um cabaz de compras representativo da despesa anual dosadolescentes corresponde a: 100 sandes, 50 refrigerantes, dez bebidas energticase uma bicicleta de montanha.

    Caixa 3.1 A medio da inflao um

    exemplo simples

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    A importnciada estabilidade

    de preos

    Problemas de medioPor vrias razes, qualquer tentativa de exprimir a variao global dos preos como umnmero apresenta algumas dificuldades.

    Primeiro, com o tempo, um determinado cabaz de compras torna-se cada vez menosrepresentativo, visto os consumidores irem substituindo, de forma crescente, os bensmais caros pelos mais baratos. Por exemplo, preos da gasolina mais elevados podemlevar algumas pessoas a optarem por conduzir menos e comprar quantidades maioresde outros bens. Por conseguinte, se os pesos no forem ajustados, a variao no ndicepoder sobrestimar ligeiramente os aumentos reais de preos. Segundo, as variaesna qualidade so por vezes difceis de incluir num ndice de preos. Se, com o tempo, aqualidade de um produto aumenta e o preo tambm sobe, parte da variao do preodeve-se melhor qualidade. Aumentos de preos resultantes de variaes na qualidadeno podem ser considerados como geradores de inflao, j que no reduzem o poderde compra da moeda. As variaes na qualidade so comuns em perodos prolongados.Por exemplo, os automveis de hoje diferem consideravelmente dos fabricados nadcada de setenta do sculo passado, os quais, por seu turno, eram muito diferentesdos da dcada de cinquenta. Os institutos de estatstica dedicam uma grande parte do

    Quantidade Preo (ano 1) Preo (ano 2) Preo (ano 3)

    Sandes 100 EUR 1,00 EUR 1,20 EUR 0,90Refrigerantes 50 EUR 0,50 EUR 0,40 EUR 0,70Bebidas

    energticas 10 EUR 1,50 EUR 1,70 EUR 1,20Bicicleta de

    montanha 1 EUR 160,00 EUR 173,00 EUR 223,00Custo do cabaz

    de compras EUR 300,00 EUR 330,00 EUR 360,00ndice de preos 100,00 110,00 120,00

    O custo total do cabaz pode ento ser calculado multiplicando as quantidadespelos respectivos preos e somando tudo. fcil de ver que entre o primeiro e osegundo ano, o custo do cabaz de compras aumentou de 300 para 330 euros, ouseja, aumentou 10 %. Do primeiro para o terceiro ano, o custo aumentou de 300

    para 360 euros, isto , o equivalente a 20 %.

    Outra forma de ilustrar estas variaes atravs de um ndice de preos. Para calcularo ndice de preos, o custo do cabaz de compras em dado perodo dividido pelocusto do cabaz de compras no perodo-base e o resultado multiplicado por 100.Na tabela acima, o ano 1 constitui o perodo-base. Por conseguinte, o ndice depreos para o ano 3 :

    ndice de preos = (P3/P

    1) 100 = (360/300) 100 = 120,00

    O ndice de preos procura fornecer uma perspectiva geral do que est a acontecercom a grande maioria dos preos. Como o exemplo demonstra, o ndice de preos

    pode subir mesmo que alguns preos, na realidade, baixem.

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    A importnciada estabilidadede preos

    seu tempo realizao de ajustamentos em funo de variaes na qualidade, as quaispela sua natureza no so fceis de estimar.

    Para alm de novas variedades de bens j existentes (por exemplo, o lanamento nomercado de um novo tipo de cereal para o pequeno-almoo), outro aspecto importantee difcil a incluso de novos produtos. Por exemplo, quando os leitores de DVD

    surgiram no mercado, levou inevitavelmente algum tempo at que pudessem sercaptados pelas estatsticas de preos, visto ser necessrio informao sobre as quotasde mercado, os principais canais de distribuio, as marcas mais populares, etc. Porm,se demorar demasiado a incorporar os novos produtos no ndice de preos, este ltimocessa de reflectir, na ntegra, as variaes mdias de preos que de facto afectam osconsumidores.

    No passado, vrios estudos econmicos identificaram um enviesamento reduzido, maspositivo, na medio dos ndices de preos no consumidor nacionais, o que sugere queuma taxa de inflao medida, digamos, inferior a ponto percentual poder, de facto,estar em conformidade com uma estabilidade de preos real. Para a rea do euro (isto

    , os pases da UE que adoptaram o euro como a sua moeda), no existem estimativasprecisas de um enviesamento de medida semelhante. Todavia, de esperar que adimenso de um possvel enviesamento do tipo seja bastante reduzida por duas razes.Primeiro, o ndice Harmonizado de Preos no Consumidor (IHPC) o IPC harmonizadopara todos os pases da rea do euro um conceito relativamente recente. Segundo,o Eurostat o organismo da Comisso Europeia responsvel por estas estatsticas aonvel da UE procurou evitar um enviesamento de medida no IHPC, definindo normasestatsticas adequadas.

    Variveis nominais e reais

    Como atrs explicado, quando existe inflao, determinado montante de dinheiropermite comprar uma quantidade cada vez menor de bens, o que o mesmo que dizer quese observa uma descida do valor da moeda ou um decrscimo do seu poder de compra.Esta constatao remete-nos para outra questo econmica importante: a diferenaentre variveis nominais e reais. As variveis nominais so medidas a preos correntes.Normalmente, os seus movimentos acompanham o nvel de preos e, por conseguinte, ainflao. Por outras palavras, no so tomados em considerao os efeitos da inflao. Porseu lado, as variveis reais, tais como o rendimento real e os salrios reais, so variveiss quais so deduzidos ou retirados os efeitos da inflao.

    Suponha-se que, por ano, os rendimentos de um trabalhador aumentam 3 % em

    termos nominais (isto , em termos monetrios) ou, por outras palavras, que os seusrendimentos aumentam de 2000 para 2060 euros. Se, para alm disso, se partir tambmdo pressuposto de que o nvel geral de preos ir aumentar cerca de 1,5 % ao longo domesmo perodo o que equivale a dizer que a taxa de inflao igual a 1,5 % por ano ento o aumento do salrio real ((103/101,5)1) 100 1,48 % (ou, aproximadamente,3 % 1,5 %=1,5 %). Assim, com determinado aumento do salrio nominal, quanto maiorfor a taxa de inflao, menos sero os bens que o trabalhador poder adquirir.

    Outra distino importante entre taxas de juro nominais e reais (ver tambm a caixa aseguir). A ttulo de exemplo, suponha-se que se compra uma obrigao com um prazode um ano e um valor facial que rende 4 % no final do ano. Se no incio do ano se paga100 euros, no final do ano obter-se- 104. A obrigao rende, assim, uma taxa de juronominal de 4 %. De notar que, salvo indicao em contrrio, o termo taxa de juro utilizado no sentido de taxa de juro nominal.

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    A importnciada estabilidade

    de preos

    Agora suponha-se que, para esse ano, a taxa de inflao outra vez 1,5 %, o que equivalea dizer que, actualmente, o cabaz de compras custa 100 euros ou, que no prximo ano,custar 101,50. Se compramos uma obrigao, com uma taxa de juro nominal de 4 %,por 100 euros e a vendemos um ano depois por 104, adquirindo ento um cabaz debens por 101,5 euros, sobrar-nos- 2,5 euros. Assim, depois de contabilizada a inflao,o rendimento real da obrigao de 100 euros 2,5 euros, o que o mesmo que dizer

    que a taxa de juro real cerca de 2,5 %. bvio que, se a inflao positiva, ento a taxade juro real inferior taxa de juro nominal.

    Os economistas designam a taxa de juro que um banco paga (ou que uma obrigaonormal rende) como a taxa de juro nominal. A taxa de juro real definida comosendo o aumento do poder de compra obtido com o investimento em questo. Seidenota a taxa de juro nominal, ra taxa de juro real e a taxa de inflao, ento arelao entre estas trs variveis pode ser representada como se segue8:

    r = i

    Assim, a taxa de juro real a diferena entre a taxa de juro nominal e a taxa deinflao. Reorganizando a equao, fcil ver que a taxa de juro nominal igual soma da taxa de juro real e da taxa de inflao:

    i = r +

    O que que esta equao diz, ento, sobre os factores determinantes das taxas de juro nominais?

    Quando um muturio (por exemplo, algum que deseja comprar um carro novo) eum mutuante (um banco, por exemplo) decidem sobre uma taxa de juro nominal,no sabem exactamente qual ser a taxa de inflao durante o perodo doemprstimo. Por essa razo, importante distinguir entre dois conceitos da taxade juro real: a taxa de juro real que o muturio e o mutuante esperam aquandodo emprstimo, a designada taxa de juro real ex ante (r*), e a taxa de juro real

    efectivamente verificada, designada taxa de juro real ex post(r).

    Se bem que os muturios e os mutuantes no possam prever com exactido ainflao futura, muito plausvel que tenham algumas expectativas quanto taxade inflao no futuro. Sendo a inflao de facto observada e e a expectativaquanto a essa taxa de inflao, a taxa de juro real ex ante i e e a taxa de juroreal ex post i . As duas taxas de juro diferem quando a inflao observada diferente da inflao esperada. evidente que a taxa de juro nominal no pode ter

    Caixa 3.2 A relao entre a inflaoesperada e as taxas de juro o chamado efeito de Fisher

    8 De notar que esta relao apenas uma aproximao, sendo razoavelmente precisa s quando r, i e sorelativamente reduzidas. De facto, possvel demonstrar que 1 + r= (1 + i) (1 + ) ou r= i r . Naturalmenteque, para nveis baixos de re , o termo r torna-se negligencivel e, da, ser utilizada a aproximao r= i .

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    A importnciada estabilidadede preos

    3.3 Os benefcios da estabilidade de preos

    A estabilidade de preos contribui para amelhoria do nvel de vida ao ajudar a

    A informao precedente explica porque a inflao e a deflao so geralmente

    fenmenos indesejveis. De facto, as desvantagens e os custos associados inflaoe deflao so considerveis. A estabilidade de preos evita que esses custos sematerializem e traz importantes benefcios para todos os cidados. Existem vrias formasde a estabilidade de preos contribuir para que sejam alcanados nveis elevados debem-estar econmico, por exemplo, sob a forma de um nvel elevado de emprego.

    reduzir a incerteza quanto evoluogeral dos preos, aumentando, assim, atransparncia dos preos relativos

    Primeiro, a estabilidade de preos torna mais fcil para as pessoas identificarem asvariaes nos preos dos bens expressos em termos de outros bens (ou seja, nos preos

    A estabilidade depreos torna maisfcil para aspessoasidentificarem asvariaes nospreos dos bens.

    em conta a inflao observada futura, pela simples razo de que na altura em que definida ainda no se sabe qual ser a taxa de inflao no futuro. A taxa de juronominal s pode ter em conta a inflao esperada.

    i = r* + e

    Assim expressa, a equao identificada com o nome do economista Irving Fisher(18671947) e designa-se equao de Fisher. Demonstra, simplesmente, que ataxa de juro nominal pode variar por duas razes: variaes na taxa de juro realesperada (r*) e variaes na taxa de inflao esperada (e). Mais precisamente, aequao postula que, em virtude da taxa de juro real ex ante, os movimentos nataxa de juro nominal i acompanham as variaes na inflao esperada e. Estarelao de um para um entre a taxa de inflao esperada e a taxa de juro nominal designada de efeito de Fisher, isto , uma inflao mais elevada gera taxas de

    juro nominais mais altas.

    O nvel elevado da taxa de juro nominal de um depsito bancrio ou de umaobrigao de dvida pblica pode, por conseguinte, ser um mero reflexo deexpectativas de uma inflao elevada e no necessariamente uma indicao de quese espera que os rendimentos reais desse investimento tambm sejam elevados.Este conceito importante para todas as pessoas que pedem dinheiro emprestadoou que o emprestam.

    de salientar igualmente que, em determinadas circunstncias, as taxas de juropodem incluir prmios de risco, que abrangem, normalmente, o risco (de incerteza)da inflao, o risco cambial e o risco de incumprimento.

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    A importnciada estabilidade

    de preos

    relativos), dado que essas variaes deixam de ser ocultadas por flutuaes no nvelgeral de preos. Por exemplo, suponha-se que o preo de determinado produto aumenta3 %. Se o nvel geral de preos permanece estvel, os consumidores sabem que o preorelativo desse bem aumentou e podero, por conseguinte, decidir comprar menos desseproduto. Porm, se a inflao for elevada e instvel, mais difcil saber qual o preorelativo, que poder mesmo ter baixado. Nas circunstncias, poder ser melhor para os

    consumidores comprarem uma quantidade relativamente maior do produto cujo preoaumentou apenas 3 %.

    Numa situao de deflao geral, os consumidores podero no se dar conta do factode que uma queda no nvel de preos de um nico produto reflecte, simplesmente,a evoluo geral dos preos e no uma descida do preo relativo desse bem. Comoresultado, podero cometer o erro de comprarem demasiado desse produto.

    Consequentemente, se os preos permanecem estveis, as empresas e os consumidoresno correm o risco de interpretarem mal as variaes no nvel geral de preos comovariaes nos preos relativos e podem tomar decises de consumo e investimento mais

    informadas.

    A incerteza quanto taxa de inflao pode igualmente levar as empresas a tomaremas decises erradas no que respeita ao emprego. A ttulo de exemplo, suponha-se que,num contexto de inflao elevada, uma empresa interpreta erroneamente um aumentode, digamos, 5 % nos preos de mercado dos seus bens como uma descida dos preosrelativos, visto no se dar conta de que a taxa de inflao baixou recentemente de,por exemplo, 6 % para 4 %. A empresa poder ento decidir investir menos e despedirtrabalhadores para reduzir a sua capacidade produtiva, dado que, devido percepode um decrscimo nos preos relativos dos seus bens, espera registar uma perda, seassim no proceder. No entanto, essa deciso estaria, em ltima anlise, errada, j que,devido a uma inflao mais baixa, o aumento dos salrios nominais dos empregados

    pode ser menor do que o pressuposto pela empresa. Os economistas descreveriamuma tal situao como uma afectao inadequada de recursos, no sentido de que,essencialmente, seriam desperdiados recursos (capital, trabalho, etc.), visto algunstrabalhadores serem despedidos em virtude da evoluo instvel dos preos.

    Um desperdcio de recursos idntico ocorreria se os trabalhadores e os sindicatosrevelassem incerteza quanto inflao futura e, por conseguinte, exigissem um aumentorelativamente elevado dos salrios nominais, para evitarem decrscimos significativosdos salrios reais decorrentes de uma inflao elevada no futuro. Se nessa situao, asexpectativas de inflao das empresas fossem mais baixas do que as dos trabalhadores/sindicatos, as empresas considerariam um dado aumento dos salrios nominais como

    um aumento relativamente elevado dos salrios reais e poderiam, por conseguinte,decidir reduzir a sua mo-de-obra ou, como mnimo, contratar menos trabalhadores doque fariam se o aumento esperado dos salrios reais no fosse elevado.

    A estabilidade de preos reduz a incerteza quanto inflao e, por conseguinte, ajudaa evitar a afectao inadequada de recursos atrs descrita. Ao ajudar os mercados acanalizarem os recursos para onde podem ser utilizados mais produtivamente, umaestabilidade de preos duradoura aumenta a eficincia da economia e, por conseguinte,o bem-estar das famlias.

    Uma estabilidadede preos

    duradouraaumenta aeficincia da

    economia e, porconseguinte, obem-estar das

    famlias.

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    A importnciada estabilidadede preos

    reduzir o prmio de risco de inflaodas taxas de juro

    Segundo, se os credores estiverem seguros de que os preos permanecero estveisno futuro, no exigiro uma remunerao adicional (o que se designa prmio de risco

    de inflao) para compensar os riscos de inflao associados deteno de activosnominais num prazo mais alargado (para mais informao, consultar a caixa 3.2). Aoreduzir tais prmios de risco, gerando desse modo taxas de juro nominais mais baixas, aestabilidade de preos contribui para a eficincia dos mercados de capitais na afectaode recursos e, por conseguinte, aumenta os incentivos ao investimento. Tal, por seu lado,fomenta a criao de emprego e, em termos mais gerais, o bem-estar econmico.

    tornar desnecessrias actividades decobertura de risco

    Terceiro, a manuteno da estabilidade de preos de uma forma credvel faz, tambm,com que seja menos provvel que os indivduos e as empresas deixem de utilizarrecursos para fins produtivos de modo a protegerem-se (ou seja, terem cobertura)contra a inflao ou a deflao, por exemplo, indexando os contratos nominais evoluo dos preos. Dado a indexao total no ser possvel ou ser demasiadodispendiosa, os incentivos acumulao de bens reais aumentam num contexto deinflao elevada, visto que, nas circunstncias, esses bens retm melhor o seu valordo que a moeda ou certos activos financeiros. Contudo, uma acumulao excessiva debens no claramente uma deciso de investimento eficiente e prejudica o crescimentoeconmico e do rendimento real.

    reduzir os efeitos de distoro dossistemas fiscais e de segurana social

    Quarto, os sistemas fiscais e de segurana social podem criar incentivos que distorcemo comportamento econmico. Em muitos casos, essas distores so exacerbadas pelainflao ou deflao, dado os sistemas fiscais, normalmente, no permitirem a indexaodas taxas dos impostos e das contribuies para a segurana social taxa de inflao.Por exemplo, aumentos salariais destinados a compensar os trabalhadores pela evoluoinflacionista podem levar a que os empregados estejam sujeitos a uma taxa de imposto

    mais alta um fenmeno conhecido como progresso a frio. A estabilidade de preosreduz estes efeitos de distoro associados ao impacto de uma evoluo inflacionista oudeflacionista nos sistemas fiscais e de segurana social.

    Uma situao em que a taxa de inflao muito elevada e/ou aumentaconstantemente e sobre a qual se acaba por no ter qualquer controlo chamadahiperinflao. Em termos sociais, a hiperinflao um fenmeno destrutivo comconsequncias graves para os indivduos e a sociedade em geral. Embora no existauma definio geralmente aceite de hiperinflao, a maior parte dos economistas

    Caixa 3.3 A hiperinflao

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    A importnciada estabilidade

    de preos

    concordaria que uma situao em que a taxa de inflao mensal ultrapassa 50 %pode ser descrita como hiperinflao.

    Ao longo do sculo XX, verificaram-se vrias vezes perodos de hiperinflao e deinflao muito elevada. A seguir so apresentados alguns exemplos de pases que

    observaram taxas anuais de inflao elevadas, sendo fornecidos os respectivosvalores para os anos indicados.

    1922 Alemanha 5 000 %1985 Bolvia mais de 10 000 %1989 Argentina 3 100 %1990 Peru 7 500 %1993 Brasil 2 100 %1993 Ucrnia 5 000 %

    Para ilustrar resumidamente as consequncias de tal fenmeno: uma taxa de

    inflao de 50 % por ms implica um aumento de mais de 100 vezes do nvel depreos ao longo de um ano e um aumento de mais de dois milhes de vezes emtrs anos. No h qualquer dvida que semelhantes taxas de inflao colocam umpeso enorme sobre a sociedade.

    De facto, na Alemanha, a hiperinflao que se seguiu Primeira Guerra Mundial eque atingiu o seu nvel mximo em 1923 teve consequncias econmicas, sociais e como generalizadamente aceite polticas devastadoras.

    Como muitas pessoas perderam as suas poupanas, houve uma perda substancialde riqueza em grandes segmentos da populao. A constatao de que os preosestavam continuamente a aumentar gerou um crculo vicioso. As pessoas exigiam,

    naturalmente, salrios mais altos, antecipando nveis de preos mais elevados nofuturo. Essas expectativas tornavam-se realidade, visto que os salrios mais altosgeravam custos de produo mais elevados, os quais, por seu lado, resultavam numnovo aumento dos preos. Na mesma linha, as pessoas comearam a desfazer-sedo seu dinheiro que perdia valor gastando-o cada vez mais rapidamente.

    O governo reagiu ao decrscimo do valor da moeda adicionando mais e maiszeros ao papel-moeda, mas, com o tempo, tornou-se impossvel acompanhar asubida explosiva do nvel de preos, tendo os custos da hiperinflao acabadopor se tornarem insustentveis. Com o tempo, a moeda deixou completamentede desempenhar o seu papel como reserva de valor, unidade de conta e meio

    de troca. A troca directa tornou-se cada vez mais comum e moedas-mercadoriano oficiais, como, por exemplo, os cigarros, que no perdiam o seu valor com ainflao, comearam a substituir o papel-moeda oficial.

    aumentar os benefcios dadeteno de moeda

    Quinto, a inflao pode ser interpretada como um imposto oculto sobre a detenode moeda. Por outras palavras, quando o nvel de preos sobe, as pessoas na posse denumerrio (ou depsitos que no so remunerados a taxas de mercado) observam uma

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    A importnciada estabilidadede preos

    reduo nos seus saldos monetrios reais e, consequentemente, na sua riqueza financeirareal, como se parte do seu dinheiro lhe tivesse sido retirada a ttulo de tributao. Assim,quanto maior for a taxa de inflao esperada (e, por conseguinte, quanto mais elevadasforem as taxas de juro nominais ver a caixa 3.2), mais baixa ser a procura de liquidezpor parte das famlias (a caixa 3.4 explica por que razo as taxas de juro nominaismais elevadas implicam uma reduo na procura de moeda (no remunerada)). Tal

    acontece, mesmo que a inflao no seja incerta, isto , mesmo que seja totalmenteesperada. Consequentemente, se as pessoas tm na sua posse quantidades menores denumerrio, precisam de ir com mais frequncia ao banco para levantarem dinheiro. Osinconvenientes e custos associados deteno de quantidades reduzidas de numerrioso muitas vezes descritos metaforicamente como os custos de sola dos sapatos (doingls, shoe-leather costs) da inflao, porque com as deslocaes ao banco a sola dossapatos gasta-se mais depressa. Em termos mais gerais, pode dizer-se que a detenode menores quantidades de numerrio acarreta custos de transaco mais elevados.

    evitar a distribuio arbitrria dariqueza e dos rendimentos

    Sexto, a manuteno da estabilidade de preos evita que surjam os considerveisproblemas econmicos, sociais e polticos relacionados com a redistribuio arbitrria dariqueza e dos rendimentos observada em perodos de inflao e de deflao. Tal verifica-

    Devido sua liquidez, o dinheiro torna as transaces mais fceis para quem o detm.Se no fosse esse o caso, obviamente que as pessoas no teriam qualquer incentivoem deterem moeda que no remunerada. Ao deterem numerrio, as pessoas estosujeitas aos designados custos de oportunidade, dado que perdem a taxa de juropositiva que os activos alternativos rendem. Assim, a expectativa de um nvel maiselevado de inflao e, por conseguinte, de uma taxa de juro nominal mais alta (ver acaixa 3.2) tem, geralmente, um impacto negativo na procura de moeda.

    Considere-se, por exemplo, uma situao em que a taxa de juro de curto prazo do

    mercado paga sobre depsitos bancrios ou obrigaes de dvida pblica apenas2 %. Nesse caso, a deteno de 1000 euros em notas implica uma perda de 20 eurospor ano. A taxa de juro das oportunidades de investimento alternativas o custode oportunidade da deteno de notas.

    Agora, suponha-se que, devido a uma inflao mais elevada, as taxas de juro nominaisaumentam e que o juro recebido por uma conta bancria 10 %, em vez de 2 %. Secontinuarmos a deter 1000 euros em numerrio, os custos de oportunidade seriam100 euros por ano, ou seja, cerca de 2 euros por semana. Neste caso, poderamosdecidir reduzir as nossas detenes de numerrio em, digamos, 500 euros e, porconseguinte, aumentar os nossos rendimentos decorrentes de juros em cerca de

    1 euro por semana, isto , 50 euros por ano. Por outras palavras, quanto maior fora taxa de juro, menor ser a procura de notas. Da os economistas afirmarem que aprocura de moeda elstica em relao taxa de juro.

    Caixa 3.4 A procura de moeda

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    No longo prazo,economias com

    uma inflao maisbaixa parecem,em mdia, crescermais rapidamenteem termos reais.

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    A importnciada estabilidade

    de preos

    -se, sobretudo, se as variaes no nvel de preos so difceis de prever e em relao aosgrupos da sociedade com maiores dificuldades para protegerem os seus activos nominaisface inflao. Por exemplo, se a inflao sobe inesperadamente, todas as pessoas comactivos nominais, por exemplo, sob a forma de contratos salariais, depsitos bancriosou obrigaes de dvida pblica a mais longo prazo, registam perdas no valor real dessesactivos. A riqueza assim transferida de modo arbitrrio dos mutuantes (ou aforradores)

    para os muturios, uma vez que, em ltima instncia, o dinheiro da amortizao doemprstimo permite comprar menos bens do que o esperado quando o emprstimo foiconcedido.

    Se, inesperadamente, se verificar uma deflao, as pessoas que detm activos nominaisficaro a ganhar, dado que o valor real dos seus activos (por exemplo, salrios, depsitos)aumenta. Todavia, em perodos de deflao, os muturios ou devedores deixam muitasvezes de poder pagar a sua dvida e podem mesmo ir falncia, o que pode prejudicaro conjunto da sociedade e, em particular, aqueles que detm activos das empresas queentram em falncia ou que trabalham para as mesmas.

    Por norma, os grupos mais desfavorecidos da sociedade so os que, frequentemente,mais sofrem com a inflao ou a deflao, dado que as possibilidades que tm parase protegerem so limitadas. Preos estveis contribuem, assim, para a manuteno dacoeso e estabilidade sociais. Como demonstrado em determinadas alturas ao longo dosculo XX, taxas de inflao elevadas geram, muitas vezes, instabilidade social e poltica,porque os grupos que ficam a perder devido inflao sentem-se ludibriados se umainflao (inesperada) tributa consideravelmente as suas economias.

    contribuir para a estabilidade financeiraStimo, reavaliaes sbitas de activos, devido a variaes inesperadas na inflao,

    podem afectar a solidez do balano de um banco. Por exemplo, suponha-se que umbanco concede emprstimos de longo prazo a taxa fixa que so financiados por depsitosde curto prazo. Se, inesperadamente, se verifica uma inflao elevada, tal ir provocaruma descida do valor real dos activos. Subsequentemente, o banco poder enfrentarproblemas de solvncia, passveis de gerar efeitos em cadeia negativos. Se a polticamonetria mantiver a estabilidade de preos, os choques inflacionistas ou deflacionistassobre o valor real dos activos nominais so evitados e a estabilidade financeira , dessemodo, tambm reforada.

    Ao manterem a estabilidade de preos,

    os bancos centrais contribuem paraobjectivos econmicos mais gerais

    Todos estes argumentos sugerem que um banco central que mantm a estabilidade depreos contribui substancialmente para a concretizao de objectivos econmicos maisgerais, tais como nveis de vida mais altos e nveis elevados e mais estveis de actividadeeconmica e emprego. Esta concluso corroborada pela evidncia econmica, a qual para uma grande variedade de pases, metodologias e perodos demonstra que, nolongo prazo, economias com uma inflao mais baixa parecem, em mdia, crescer maisrapidamente em termos reais.

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    Captulo 4Os factores quedeterminam aevoluo dos preos

    Seco 4.1fornece uma panormica breve

    do que a poltica monetria

    pode e no pode fazer.

    Seco 4.2debrua-se sobre a questo de

    como a poltica monetria podeinfluenciar as taxas de juro.

    Seco 4.3ilustra os efeitos das variaes

    das taxas de juro sobre as

    decises de despesa das famlias

    e das empresas.

    Seco 4.4analisa os factores subjacentes

    evoluo dos preos emhorizontes temporais a mais

    curto prazo.

    Seco 4.5debrua-se sobre os factores

    que determinam a evoluo

    dos preos a mdio e a mais

    longo prazo e explica que, para

    estes horizontes temporais, e

    a poltica monetria tem os

    instrumentos apropriados para

    influenciar os preos, sendo, por

    conseguinte, responsvel pelas

    tendncias da inflao.

    Este captulo fornece informaes mais pormenorizadas

    para ajudar a responder a questes como: o que determinao nvel geral de preos, quais so os factores subjacentes

    inflao, como um banco central, ou mais especificamente

    a poltica monetria, consegue assegurar a estabilidade

    de preos, qual o papel da poltica oramental, e deve a

    poltica monetria centra-se directamente na melhoria do

    crescimento real ou na reduo do desemprego, ou, por

    outras palavras, o que pode e no pode fazer a polticamonetria.

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    Os factoresque determinam

    a evoluo dospreos

    Uma polticamonetria que

    mantm aestabilidade depreos de formacredvel tem um

    impactosignificativo no

    bem-estar.

    Nas seces anteriores, analisam-se questes associadas medio da inflao e asvantagens da estabilidade de preos. No entanto, no abordado directamente o quedetermina a evoluo geral dos preos. As seces que se seguem centram-se nascausas da inflao que definida como um aumento geral, ou abrangente, dos preosdos bens e dos servios, equivalendo a uma reduo do poder de compra da moeda.Antes de se passar ao pormenor, fornece-se um resumo do papel e efeitos da poltica

    monetria, para ajudar a relativizar outros factores.

    4.1. Breve panormica do que a polticamonetria pode e no pode fazer

    Como que a poltica monetria pode influenciar o nvel de preos? Esta questoincide sobre o que os economistas geralmente descrevem como sendo o mecanismo

    de transmisso, ou seja, o processo atravs do qual as medidas do banco central sotransmitidas economia, repercutindo-se, em ltima instncia, nos preos. Emboraeste processo seja na essncia extremamente complexo, pois varia com o tempo e diferente nas vrias economias, em tal medida que, mesmo hoje em dia, no sototalmente conhecidos todos os pormenores, as suas caractersticas bsicas so bemcompreendidas. A forma como a poltica monetria exerce a sua influncia sobre aeconomia pode ser explicada do seguinte modo: o banco central o nico emitente denotas e de reservas bancrias, ou seja, o fornecedor monopolista da designada basemonetria. Em virtude desse monoplio, o banco central est em posio de influenciaras condies no mercado monetrio e orientar as taxas de juro de curto prazo.

    No curto prazo, o banco central podeinfluenciar a evoluo econmica real

    No curto prazo, uma alterao nas taxas de juro do mercado monetrio (isto , de curtoprazo) induzida pelo banco central acciona uma srie de mecanismos, sobretudo porqueessa alterao tem um impacto nas decises de despesa e de poupana das famlias edas empresas. Por exemplo, taxas de juro mais elevadas iro, com tudo o resto constante,tornar menos atractivo para as famlias e as empresas recorrerem a emprstimos parafinanciarem o seu consumo ou investimento. Tornam, pelo contrrio, mais interessantepara as famlias pouparem os seus rendimentos correntes em vez de os gastarem. Por

    ltimo, variaes nas taxas de juro oficiais podem igualmente afectar a oferta de crdito.Por seu lado, estes desenvolvimentos influenciam, com algum desfasamento, a evoluode variveis econmicas reais, como, por exemplo, o produto.

    No longo prazo, variaes na oferta demoeda iro afectar o nvel geral depreos

    Os processos dinmicos atrs descritos em linhas gerais envolvem uma srie de diferentesmecanismos e medidas tomadas por vrios agentes econmicos em distintas fases doprocesso. Alm disso, a dimenso e magnitude dos diversos efeitos podem variar emfuno do estado da economia. Como resultado, o tempo que a poltica monetria leva

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    Os factoresque determinama evoluo dospreos

    a afectar a evoluo dos preos considervel. No entanto, entre os economistas, geralmente aceite que, no longo prazo, isto , aps ocorridos todos os ajustamentos naeconomia, uma alterao na quantidade de moeda cedida pelo banco central (com tudoo resto constante) apenas se reflectir numa variao do nvel geral de preos e noprovocar alteraes permanentes em variveis reais, como, por exemplo, o produtoreal ou o desemprego. Uma alterao na quantidade de moeda em circulao induzida

    pelo banco central , em ltima instncia, equivalente a uma alterao na unidade deconta (e, por conseguinte, no nvel geral de preos), que deixa todas as outras variveisestveis, do mesmo modo que a alterao da unidade-padro utilizada para medirdistncias (por exemplo, uma mudana de quilmetros para milhas) no altera, em si, adistncia entre dois locais.

    mas no afecta o nvel do rendimentoreal ou do emprego

    Este princpio geral, conhecido como a neutralidade da moeda no longo prazo,encontra-se subjacente a todas as teorias macroeconmicas convencionais. Como atrsmencionado, uma poltica monetria que mantm a estabilidade de preos de formacredvel tem um impacto significativo no bem-estar e na actividade real. Para alm desteimpacto positivo da estabilidade de preos, o rendimento real ou o nvel de emprego daeconomia so, no longo prazo, essencialmente determinados por factores reais (do ladoda oferta) 9, pelo que uma poltica monetria expansionista no pode contribuir para asua melhoria.

    Os principais determinantes a longo prazo do emprego e do rendimento real so atecnologia, o crescimento da populao e todos os aspectos do quadro institucionalda economia (nomeadamente, direitos de propriedade, poltica fiscal, polticas sociais

    e outros regulamentos que determinam a flexibilidade dos mercados e os incentivos oferta de trabalho e de capital e ao investimento em recursos humanos).

    A inflao fundamentalmente umfenmeno monetrio

    A inflao fundamentalmente um fenmeno monetrio. Como confirmado porvrios estudos empricos, perodos prolongados de inflao elevada esto tipicamenteassociados a um crescimento monetrio elevado (ver o grfico que se segue). Embora

    outros factores (tais como variaes na procura agregada, alteraes tecnolgicas ouchoques dos preos das matrias-primas) possam influenciar a evoluo dos preos emhorizontes mais curtos, os seus efeitos podem ser compensados, ao longo do tempo,por um certo grau de ajustamento da poltica monetria. Neste sentido, as tendnciasde mais longo prazo dos preos ou da inflao podem ser controladas pelos bancoscentrais.

    9 Factores do lado da oferta so factores que determinam a oferta de bens e servios numa economia, sobretudo aquantidade e a qualidade do capital e do trabalho, bem como o progresso tecnolgico e as polticas estruturais.

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    Os factoresque determinam

    a evoluo dospreos

    Nesta breve descrio, foram abordados vrios pontos que podero requerer explicaesadicionais. Como a inflao fundamentalmente um fenmeno monetrio, necessrioexplicar em maior pormenor como a poltica monetria afecta a economia e, em ltimainstncia, a evoluo dos preos. A melhor forma de o fazer em trs passos.

    Em primeiro lugar, na seco 4.2 discute-se porqu e como a poltica monetriapode influenciar as taxas de juro. Em segundo lugar, na seco 4.3 analisa-se como asvariaes nas taxas de juro podem afectar as decises de despesa dos consumidores edas empresas. Por ltimo, aborda-se como as variaes na procura agregada afectama evoluo dos preos. Neste contexto, so igualmente debatidos outros factores (isto

    , factores no-monetrios ou reais), passveis de afectar a evoluo dos preos a maiscurto prazo. Poder ser til compreender a oferta e procura globais ou agregadas debens numa economia (ver a caixa 4.2) e distinguir entre efeitos de curto e de longoprazo (seces 4.4 e 4.5).

    4.2 A moeda e as taxas de juro como quea poltica monetria pode influenciar as

    taxas de juro?Um banco central pode determinar as taxas de juro nominais de curto prazo que osbancos pagam para obterem crdito do banco central. Os bancos precisam de recorrerao crdito do banco central porque necessitam de notas para os seus clientes e tm decumprir os requisitos de reservas mnimas sob a forma de depsitos no banco central.

    Dado que os bancos centrais so as nicas instituies autorizadas a emitir notas (ereservas bancrias), ou seja, so os fornecedores monopolistas da base monetria,podem determinar as taxas de juro directoras, isto , a taxa de juro nominal de curtoprazo, sobre os emprstimos concedidos aos bancos. As expectativas quanto evoluofutura das taxas directoras influenciam, por seu lado, uma grande variedade de taxas de

    juro bancrias e de mercado de mais longo prazo.

    Grfico: Moeda e inflao

    Fonte: McCandless e Weber (1995)

    20

    40

    60

    80

    100

    20 40 60 80

    %Infao

    Crescimento monetrio

    %

    45

    0 100

    Taxas mdias anuais de crescimentodo M2 e dos preos no consumidorde 1960 a 1990 em 110 pases.

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    Os factoresque determinama evoluo dospreos

    10 excepo dos preos administrados, cujas variaes so raras.

    Caixa 4.1 Porque que os bancos centraispodem influenciar as taxas dejuro reais (ex ante)? O papel dos

    preos viscososComo explicado em mais pormenor na caixa 3.2, a taxa de juro real ex ante aremunerao real esperada de determinado activo financeiro. Corresponde taxade juro nominal menos a inflao esperada durante o prazo para o qual a taxa de

    juro fixada. O impacto da poltica monetria nas taxas de juro reais de curto prazoest associado a dois factores: a poltica monetria controla a taxa de juro nominalde curto prazo e os preos so viscosos (ou, como tambm se diz, rgidos) nocurto prazo.

    O que significa preos viscosos? A evidncia emprica revela que a maioria

    dos preos fixa por algum tempo; muitas vezes as empresas no ajustamimediatamente os preos que cobram em resposta a variaes na oferta ou naprocura. Na realidade, alguns preos so ajustados muito frequentemente (porexemplo, os preos da gasolina), ao passo que outros so ajustados apenas uma vezpor ms ou por ano. As razes so vrias. Primeiro, os preos so por vezes fixadospor contratos de longo prazo entre as empresas e os seus clientes para reduzir aincerteza e os custos associados a negociaes frequentes. Segundo, as empresaspodero manter os preos constantes para no irritarem os seus clientes regularescom frequentes alteraes de preos. Terceiro, alguns preos so viscosos devido forma como os mercados esto estruturados; depois de uma empresa ter impressoe distribudo um catlogo ou uma lista de preos, torna-se dispendioso alterar ospreos. Por ltimo, o clculo dos novos preos tambm acarreta custos.

    No longo prazo, porm, os preos ajustam-se s novas condies da oferta e daprocura. Por outras palavras, os preos so totalmente flexveis no longo prazo 10.

    Agora, suponha-se que o banco central aumenta a oferta de moeda. Porexemplo, imprime mais notas e adquire obrigaes de dvida pblica. As pessoass esto dispostas a deter maiores quantidades de moeda e a reduzir as suasdisponibilidades em obrigaes se a remunerao destas ltimas, isto , a taxa de

    juro, baixar. Assim, se o banco central aumenta a oferta de moeda, a taxa de juronominal tem de descer para induzir as pessoas a deterem mais moeda. Como ospreos so viscosos no curto prazo, tal implica que as expectativas de inflao

    de curto prazo permanecem, em grande medida, inalteradas. Como consequncia,uma alterao nas taxas de juro nominais de curto prazo traduz-se numa alteraona taxa de juro real esperada ex ante (ver tambm a caixa 3.2). Por conseguinte, apoltica monetria pode influenciar as taxas de juro reais ex ante ou esperadas dosinstrumentos de curto prazo.

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    Os factoresque determinam

    a evoluo dospreos

    4.3 Como que as variaes nas taxas de juroafectam as decises de despesa dosconsumidores e das empresas?

    Na perspectiva de uma famlia especfica, uma taxa de juro real mais elevada torna apoupana mais atractiva, pois o rendimento em termos de consumo futuro mais elevado.Assim, taxas de juro reais mais altas conduzem habitualmente a uma reduo do consumocorrente e a um aumento da poupana. Do ponto de vista de uma empresa, desde quetodas as outras variveis permaneam constantes, uma taxa de juro real mais elevadarefreia o seu investimento, dado serem menos os projectos de investimento disponveiscom um rendimento suficiente para cobrir os custos mais elevados do capital.

    Resumindo, uma subida da taxa de juro torna o consumo corrente menos desejvelpara as famlias e desencoraja o investimento corrente das empresas. Os efeitossobre as famlias e as empresas demonstram que um aumento das taxas de juro reais

    induzido pela poltica monetria gera uma reduo da despesa corrente no conjunto daeconomia (se as outras variveis permanecerem constantes). Os economistas defendemque este tipo de alterao de poltica provoca uma queda da procura agregada, sendo,por conseguinte, muitas vezes descrito como um aumento da restritividade da polticamonetria.

    importante compreender que existem desfasamentos no processo. Poder, facilmente,levar meses at que um novo plano