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MARÇO E ABRIL 2011 | N.º 8 | 2ª SÉRIE EDITORIAL • As Normas Contabilísticas para Microentidades e para as Entidades do Sector não Lucrativo ENTREVISTA • Carlos Alberto Baptista da Costa – ROC e Director da Revista de Contabilidade & Finanças ARTIGOS • Contabilidade vs Fiscalidade no âmbito do SNC – casamento com divórcio à vista? • A declaração de rendimentos modelo 22 do IRC e o SNC • Municípios e comboios: a entidade • Reflexões sobre o “accrual” • De que falamos quando falamos de Contabilidade dos Recursos Humanos? • Empresas Familiares • Ética, Deontologia e Responsabilidade Social OUTROS DESTAQUES • Informação Empresarial Simplificada (IES) • Casos Práticos n.os 8, 9 e 10 – Acontecimentos subsequentes CONTABILIDADE & EMPRESAS

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MARÇO E ABRIL 2011 | N.º 8 | 2ª SÉRIE

EDITORIAL• AsNormasContabilísticasparaMicroentidadeseparaasEntidadesdoSectornãoLucrativo

ENTREVISTA• CarlosAlbertoBaptistadaCosta–ROCeDirectordaRevistadeContabilidade&Finanças

ARTIGOS• ContabilidadevsFiscalidadenoâmbitodoSNC–casamentocomdivórcioàvista?

• Adeclaraçãoderendimentosmodelo22doIRCeoSNC• Municípiosecomboios:aentidade• Reflexõessobreo“accrual”• DequefalamosquandofalamosdeContabilidadedosRecursosHumanos?

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Contabilidade& EmprEsas

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autor: Joaquim F. Cunha Guimarãespags. 736 pVp: 36 A

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"O meu bem-haja ao autor do livro, meu amigo Joaquim Guimarães, pois só a sua persistência, dedicação à causa e gosto pela profissão tornaram possível construir a presente obra que, não tenho dúvidas, para além do relato factual das situações passadas, constituirá a memória viva do futuro do que foi a profissão e o associativismo da contabilidade, de que ele tem sido um destacado obreiro, sabendo por experiência de vida que a memória dos homens é tradicionalmente curta para lembrar estes e outros feitos que ocorreram na nossa profissão".

in prefácio por antónio domingues de azevedo (presidente da direcção da CtOC).

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Guimarães

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“Um livro cuja referência vai perdurar e que certamente

fará parte dos livros que os contabilistas vão considerar

essenciais nas suas bibliotecas.”

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3CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

As NormAs CoNtAbilístiCAs pArA miCroeNtidAdese pArA As eNtidAdes do seCtor Não luCrAtivo

O Decreto-Lei n.º 36-A/2011, de 9 de Março, aprovou o regime de normalização contabilística para microentidades (NCM) e o regime de normalização contabilística para as entidades do sector não lucrativo (NC-ESNL).

De acordo com o preâmbulo do diploma, além dessas duas medidas, são aprovadas mais duas: a consa-gração de regras que dispensem, em certos casos, a apresentação de contas consolidadas por empresas-mãe e a alteração do prazo para entrega dos pedidos de reembolso do IVA por sujeitos passivos não estabelecidos no Estado membro de reembolso, referentes aos perío-dos de imposto do ano de 2009.

Relativamente à NCM e à NC-ESNL divulgamos dois textos baseados nos projectos de normalização aprovados pela CNC e disponibilizados no seu sítio.

Também merece destaque o texto anexo relativo à notícia do término da pu-blicação da revista de contabilidade mais antiga de Portugal em actividade – a Re-vista de Contabilidade e Comércio (RCC) –, cujo primeiro número foi publicado há 78 anos, em Janeiro de 1933, tendo o seu último número (240) sido publicado em Janeiro de 2011 (ver figura da capa).

No Editorial, sob o título “Carta aos Leitores e Autores”, o Director, Hernâni O. Carqueja, começa por afirmar “Este é o número do ADEUS” e destaca cinco períodos importantes na história da revista (1933, 1974, 1979, 1991 e 2005-2008), bem como os seus outros três directores, por ordem cronológica do exercí-cio dessas funções, Francisco Caetano Dias, José Henriques Garcia e Almiro de Oliveira.

Em 2009 elaborámos um artigo de homenagem à RCC sob o título “Revista de Contabilidade e Comércio – 76 Anos (1933-2009) ao Serviço da Contabilidade”, publicado na revista TOC n.º 113, de Agosto de 2009, pp. 43-50, no qual já antecipávamos este momento.

Todos os profissionais de contabilidade (TOC, ROC, docentes) e alunos estão muito gratos à RCC, que continuará, certamente, a ser uma das principais fontes de investigação e consulta para a elaboração de trabalhos (v.g. teses, dissertações, trabalhos de fim de curso) e resolução de casos teórico-práticos.

Finalmente, destaco a entrevista ao Professor Doutor Carlos Alberto Baptista da Costa, ROC, Docen-te do Ensino Superior e Director da Revista de Contabilidade & Finanças da Associação Portuguesa de Peritos Contabilistas (APPC), na qual se refere a alguns aspectos da evolução histórica e actual do ensino superior da contabilidade e da profissão de contabilista.

Joaquim CuNHaGuimarães

[email protected]

Editorial

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4 CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

OPINIÃONo limite do comportável, por Guilherme Osswald .................................................... 5

ENTREVISTACarlos Alberto Baptista da Costa, ROC, docente aposentado do ISCAL e Director da Revista Contabilidade & Finanças ........................................................................... 6

CONTABILIDADE Reflexões sobre o SNC, por Joaquim Fernando da Cunha Guimarães ..................... 12

VII – Contabilidade vs Fiscalidade no âmbito do SNC – casamento com divórcio à vista? ................................................................................. 12

VIII – A declaração de rendimentos modelo 22 do IRC e o SNC ................ 14Municípios e comboios: a entidade, por Hernâni O. Carqueja ............................... 16Reflexões sobre o “accrual”, por Rodrigo Antônio Chaves da Silva ........................... 19De que falamos quando falamos de Contabilidade dos Recursos Humanos?, por Cláudio Correia e Miguel Gonçalves. ..................................................................... 20Conceito de justo valor tem que ser aperfeiçoado ................................................. 26Publicado o último número (240) da Revista de Contabilidadee Comércio (1922-2011) ..................................................................................... 27

NORMALIZAÇÃO CONTABILÍSTICA Normalização Contabilística para Microentidades ................................................ 29Normalização Contabilística para Entidades do Sector Não Lucrativo .................. 31Limites fixados para o reconhecimento das microentidades são desajustados ......... 34

FISCALIDADE Informação Empresarial Simplificada ................................................................... 35STA profere decisão sobre derrama nos grupos de sociedades................................ 35SNC obriga a alteração do dossier fiscal ............................................................... 36Formar uma empresa é agora mais fácil ................................................................ 36Empresas exportadoras contam com benefícios em sede fiscal ............................... 37Arbitragem tributária pretende acelerar resolução de litígios ................................. 38Portugal não aplica regras de IVA no que respeita a agências de viagem ................ 39Residentes não habituais têm nova declaração de IRS ........................................... 40Impostos especiais de consumo com ferramenta de combate à fraude ................... 40Administração fiscal insere mais 970 contribuintes na lista de devedores ............... 41

AUDITORIA Conclusões do X Congresso dos ROC ................................................................. 42Livro Verde sobre Auditoria ................................................................................. 45Congresso dos Revisores Oficiais de Contas (Rectificação).................................... 45

GESTÃO E FINANÇAS Empresas Familiares, por Paulo Moura Castro ....................................................... 46

ASSOCIATIVISMO Ordem dos ROC garante apoio à sustentabilidade das empresas ........................... 48Bastonário da OTOC defende eliminação das zonas francas ................................. 49OTOC esclarece novas regras impostas pelo Código Contributivo ........................ 50

SECTORES Actividade seguradora é sujeita a vários tributos parafiscais ................................... 52

PROFISSÃO Ética, Deontologia e Responsabilidade Social, por António da Silva Rocha ............ 53

CASOS PRÁTICOS Casos Práticos nºs 8, 9 e 10 – Acontecimentos subsequentes ................................ 56

DIVERSOS Palavras Cruzadas ................................................................................................ 57

LIVROS Manual de Prestação de Contas nas Sociedades Comerciais .................................. 58Código Contributivo – Anotado e Comentado .................................................... 58Reabilitação Urbana ............................................................................................ 58

Sumário

propriedAdeVida Económica - Editorial S. A.

direCtorJoaquim Fernando da Cunha Guimarães

ColAborAdores permANeNtesAgostinho Manuel dos Santos CostaGuilherme OsswaldJoaquim Fernando da Cunha GuimarãesJosé Alberto Pinheiro PintoMaria José FernandesMário da Cunha GuimarãesPaulo Moura Castro

ColAborAdores Neste NúmeroAntónio da Silva RochaCarlos Alberto Baptista da CostaCláudio CorreiaGuilherme OsswaldHernâni O. CarquejaJoaquim Fernando da Cunha GuimarãesMiguel GonçalvesPaulo Moura CastroRodrigo Antônio Chaves da Silva

O conteúdo dos artigos é da exclusivaresponsabilidade dos autores

pAGiNAÇãoJosé Barbosa

redACÇão e AdmiNistrAÇão R. Gonçalo Cristóvão, 1116º Esq. 4049-037 Porto Telef.: 223 399 400Fax: 222 058 098E-mail: [email protected]

deleGAÇão em lisboAAv. Fontes Pereira de Melo, nº 61069-106 Lisboa Telef.: 217 937 747Fax: 217 937 748

impressãoUniarte Gráfica - Porto

Registo nº 108640 no ICS

Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

Assinatura anual: 64 euros

Março/Abril 2011 – Este suplemento faz parte integrante da Vida Económica nº 1389, de 01.04.2011

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5CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

OPINIÃO

burocraciaRecorrer aos apoios implica uma teia burocrática para que a maioria das empresas não está preparada

consciência fiscal diferente, o que não impede que perante o apertar do cerco a níveis incomportáveis muitas empresas tenham que encontrar al-ternativas.

A situação não é mais animado-ra no que toca aos privados. O fisco decidiu cortar a direito. As penhoras tornaram-se a palavra de ordem, sem apelo nem agravo. Em qualquer país civilizado, a administração fiscal está pronta a negociar, face a situações imprevisíveis e que podem aconte-cer a qualquer um de nós. Por cá, a justiça fiscal não é equitativa. São por demais evidentes os sinais que existem contribuintes de primeira e segunda. Os indefesos fazem parte desta segunda casta. É sabido que tem que haver bom senso e que só assim é possível continuar a arreca-dar receita. Afinal, mais vale pouco de cada vez do que nenhuma receita.

*Editor

No limite do comportável

*Guilherme Osswald

Têm razão as empresas e os par-ticulares ao afirmarem que as obri-gações fiscais estão no limite do comportável. Em nome da receita e do controlo do défice público, o país está em vias de entrar em re-cessão. Naturalmente, a partir desse momento será impossível ao Estado continuar a garantir os actuais níveis de receita. A questão que se coloca é se Portugal ainda vai a tempo de cumprir as metas de défice estabele-cidas para o ano em curso.

Começando pelas empresas, estas estão entre a espada e a parede. A li-quidez financeira é quase impossível de obter, o que torna o seu investi-mento inviável. A consequência mais directa é a redução da respectiva competitividade. Mas não é só a car-ga fiscal que está na base do proble-ma. A recuperação do IVA continua a ser um problema e as empresas aca-bam por ser obrigadas a contraírem empréstimos para salvaguardarem os seus compromissos. E garantir a so-brevivência também implica baixar salários e, em última análise, recorrer ao despedimento.

Como se não bastasse toda esta pressão fiscal, há que contar com a burocracia, um apanágio de que o nosso país parece não querer abrir mão. Recorrer aos apoios impli-ca uma teia burocrática para que a maioria das empresas não está pre-parada. Parece evidente que, num momento como o actual, o Governo deveria ter em conta cada sector de actividade per si. Nem tudo cabe no mesmo saco. Neste âmbito, como não nos cansamos de referir, os téc-

nicos oficiais de contas têm respon-sabilidades acrescidas. No entanto, a administração fiscal continua a ver nestes profissionais uma extensão do seu braço fiscalizador e não se tem coibido em proceder à sua margina-lização. Tudo em nome do conceito de “oficial”.

A legislação mais recente não dei-xa margens para dúvidas. A preocu-pação é só uma: garantir o máximo possível de receita fiscal. O Governo tem mesmo contrariado os conse-lhos de muitos fiscalistas. Voltámos alguns anos atrás e as empresas são encaradas como potenciais entidades preocupadas em fugir aos seus deve-res fiscais. Na verdade, existe uma

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6 CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

Contabilidade & empresas – depois de uma época em que a investigação a nível de doutoramento na área de Contabilidade era praticamente inexistente (a primeira tese é de 1932), assistimos, a partir da última década do século passado, a um incremento significativo do número de doutores e mestres em Contabilidade. Como interpreta esta situação?

Carlos baptista da Costa - Antes de começar a res-ponder a esta entrevista escrita, gostaria de felicitar o Dr. Joaquim Cunha Guimarães por, há pouco mais de um ano, ter sido convidado para assumir as funções de direc-tor da revista “Contabilidade & Empresas”.

Respondendo à primeira questão que me é colocada, de facto, até ao 25 de Abril apenas houve quatro douto-ramentos no nosso país cujas teses tiveram por base temas contabilísticos. Isto deveu-se, na minha opinião, à forma como até então se encarava a Contabilidade e, sobretudo, os Contabilistas.

Felizmente após 1974 os sucessivos governos passa-ram a dar maior atenção a esta área do conhecimento. Cito alguns exemplos. Logo em 1975 foi aprovado um decreto-lei que equiparou a bacharéis os diplomados com o curso de Contabilista dos Institutos Comerciais (IC), uma vez que, segundo o respectivo preâmbulo, “não se justificava a discriminação profissional e social de que eram objecto os diplomados destes institutos que, depois de cumprirem um programa de estudos cor-respondentes, na prática, a um bacharelato, não tinham acesso a este grau académico”.

No ano seguinte, sendo Ministro da Educação e Inves-tigação Científica o recentemente falecido Coronel Vitor Alves, foi aprovado o diploma que reconverteu os quatro IC então existentes em Institutos Superiores de Contabi-lidade e Administração (ISCA), escolas estas que podiam conferir “os graus de bacharelato, licenciatura e doutora-mento” em Contabilidade. Com a posterior integração no ensino superior politécnico, os ISCA apenas podem conceder os graus de licenciado e de mestre.

De salientar também o importante papel desempe-

ENTREVISTA

Entrevista ao Professor Doutor Carlos Alberto Baptista da Costa

o ensino da Contabilidade foi deixando, progressivamente, de se debruçar apenas sobre os aspectos da escrituração (...)

o professor doutor Carlos Albertobaptista da Costa, revisor oficialde Contas e docente aposentado do isCAl apresenta alguns factos históricos da evolução do ensino superior da Contabilidade e refere-seà situação actual, nomeadamenteapós o processo de bolonha

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7CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

nhado pela Universidade Aberta que, em 1994, deu iní-cio, em parceria com o ISCA de Aveiro, então sob a di-recção do Dr. Joaquim José da Cunha, ao primeiro curso de mestrado em Contabilidade e Finanças Empresariais.

Por outro lado, o primeiro programa de doutoramen-to com especialização em Contabilidade teve o seu início em 2001 no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa – Instituto Universitário de Lisboa.

É também de referir que, com a entrada em vigor do Processo de Bolonha, passaram a existir, após 2007, vários cursos de mestrado e alguns de doutoramento nesta área em diversos Politécnicos e Universidades do nosso país.

Finalmente, saliento ainda o significativo contributo dado por diversas universidades públicas espanholas as quais, a partir do início da década de 90 do século pas-sado, acolheram vários professores portugueses empenha-dos em obter o grau de doutor na área da Contabilidade, à data inexistente no nosso país.

É pois natural que, até por via das novas exigências constantes dos estatutos das carreiras docentes dos ensinos universitário e politécnico, o número de mestres e de dou-tores na referida área do conhecimento tenha aumentado significativamente nos últimos anos.

C&e - Na sua qualidade de docentede Contabilidade e Auditoria no ensino superior (isCAl) como analisa a evoluçãodo ensino nessas áreas?

CbC - A evolução tem sido bastante positiva, sobretu-do desde 1977, ano em que foi aprovado o primeiro Plano Oficial de Contabilidade (POC).

O ensino da Contabilidade foi deixando, progressiva-mente, de se debruçar apenas sobre os aspectos da Escritu-ração para passar a preocupar-se não só com a problemá-tica do reconhecimento e da mensuração dos elementos das demonstrações financeiras como também do relato financeiro (apresentação e divulgação). Isto para além do estudo das diversas estruturas conceptuais e dos enormes avanços que se deram no que se refere à Contabilidade de Custos e de Gestão.

Neste contexto, deve salientar-se o importante papel desempenhado, sobretudo, pelo ISCA de Lisboa que, em 1976, deu início ao bacharelato em Contabilidade cujo plano de curso tomou como base o estudo elaborado em 1971 pela Comissão Organizadora do Sindicato Nacio-nal dos Contabilistas, intitulado “Subsídio para a reforma do ensino da Contabilidade: bacharelato e licenciatura”,

o qual, por seu lado, se baseou, entre outros, nos estudos nessa época existentes da autoria da American Accoun-ting Association. Tais trabalhos, estando na posse da As-sociação Portuguesa de Contabilistas (APC/APPC), cuja génese fora a referida Comissão, permitiu que alguns dos seus membros os adaptassem na leccionação de diversas disciplinas que foram então convidados a ministrar.

No que respeita à Auditoria, o seu estudo começou, na década de 60 do século passado, no Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras, actual Instituto Superior de Economia e Gestão, onde existia a disciplina Verificação de Contas que era semestral e opcional. Tam-bém neste aspecto o ISCA de Lisboa foi precursor uma vez que do referido bacharelato constava a disciplina Re-visão Contabilística (Auditoria) de frequência obrigatória e com a duração de um ano lectivo.

Hoje em dia é pois normal verificar-se que dos pro-gramas das referidas disciplinas existentes em muitas escolas universitárias e politécnicas faz parte, como não podia deixar de ser, o estudo aprofundado das respecti-vas normas internacionais do International Accounting Standards Board (IASB) e da International Federation of Accountants (IFAC).

C&e - No contexto do processo de bolonha existem muitas vozes sublinhando que o mesmo foi prejudicial para o ensino superior. Concorda? e no caso das áreasda Contabilidade e Auditoria?

CbC - Não me parece que o Processo de Bolonha tenha sido prejudicial para o ensino superior, em particular no que se refere à Contabilidade e à Auditoria. O que é im-portante salientar é que o referido Processo é bastante mais exigente no que se refere ao trabalho a desenvolver pelos docentes e pelos discentes. Note-se, por exemplo, que, rela-tivamente aos alunos e de acordo com a legislação vigente, “o trabalho de um ano curricular realizado a tempo inteiro situa-se entre 1.500 e 1.680 horas e é cumprido num pe-ríodo de 36 a 40 semanas”. Penso que se este preceito for cumprido, se os planos de curso forem adequados e se às instituições de ensino superior forem proporcionadas boas instalações, equipamentos e condições para prestarem um

ENTREVISTA

AuditoriaNo que respeita à Auditoria, o seu estudo começou,na década de 60 do século passado, no Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras.

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8 CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

bom apoio pedagógico aos seus alunos, os diplomados dos 1º e 2º ciclos estarão em condições de enfrentar com con-fiança o mercado de trabalho. Neste contexto, um aspecto importante que tem de ser resolvido com urgência prende-se com a necessidade de se criar um modelo que permita aos trabalhadores estudantes integrarem-se de forma har-moniosa no mencionado Processo.

C&e - Como revisor oficial de Contas (roC) tem assumido algumas posições críticas relativamente a alguns aspectos estatutários e nomeadamente quanto à própria designação da profissão, defendendo a de “auditor” em vez de roC. Quais as suas principais razões e divergências?

CbC - Efectivamente desde há muitos anos que me tenho manifestado publicamente contra a designação de “revisor oficial de contas”, sobretudo pelo signifi-cado que cada uma destas palavras encerra. De facto, “revisor” transmite a ideia de aquele que revê; “oficial” relaciona-se com autoridade/governo; “contas” é dema-siado redutor. Nas versões em inglês e em espanhol da Directiva 2006/43/CE adopta-se, respectivamente, as expressões “statutory auditor” e “auditor legal”. Embora seja do meu conhecimento que nas versões em francês e em italiano da mesma Directiva se usa “controleur légal des comptes” e “revisori legali”, defendo que em Portugal se devia adoptar “auditor certificado” ou sim-plesmente “auditor”, ou seja, aquele que expressa uma opinião profissional e independente sobre as demons-trações financeiras de uma empresa ou entidade. Aliás, a nossa entidade reguladora do mercado de capitais utiliza a expressão “auditor registado na CMVM”. Note-se que no Brasil, Cabo Verde e Moçambique, as designações adoptadas são, respectivamente, “auditor independen-te”, “auditor certificado” e “auditor”.

Um outro aspecto relacionado com a profissão de ROC (auditor) que há muitos anos tenho criticado é o da sua inclusão nos órgãos de fiscalização das sociedades anónimas. Foi pois com grande satisfação que anotei o facto de o Decreto-Lei nº 225/2008, de 20 de Novem-bro, estabelecer que nas entidades de interesse público, além de outras, o ROC não integra o respectivo órgão de fiscalização. Aliás, um primeiro passo neste sentido já tinha sido dado em 2006 com as alterações introduzidas no Código das Sociedades Comerciais relacionadas com os modelos de governação das sociedades anónimas.

C&e - o estatuto da ordem dos roC, aprovado pelo decreto-lei n.º 487/99, de 16 de Novembro, foi alterado pelo decreto-lei n. 224/2008, de 20 de Novembro, tendo este reforçado a designação de “Auditoria”, nomeadamente o art.º 41.º “Auditoria” que a classifica em três áreas: revisão legal de contas, auditoria às contas e serviços relacionados. Concorda com esta alteração?

CbC - Na minha opinião, não faz qualquer sentido fa-zer a distinção entre “revisão legal de contas” e “auditoria às contas”. Na realidade, tecnicamente estamos perante o mesmo trabalho sendo que o que os diferencia é o facto de o primeiro resultar do “cumprimento de disposição legal e no contexto dos mecanismos de fiscalização das entidades ou empresas objecto de revisão em que se impõe a desig-nação de um ROC” e o segundo ser efectuado “em cum-primento de disposição legal, estatutária ou contratual”. Esta distinção só serve para baralhar os destinatários dos respectivos relatórios, razão pela qual utilizo geralmente a palavra auditoria para significar revisão legal de contas.

E, pior ainda, é a designação dada ao relatório resul-tante do primeiro dos referidos trabalhos: “certificação le-gal das contas”. Deveria intitular-se, tal como acontece na outra situação, “relatório de auditoria”.

C&e - sendo um dos roC com maior número de artigos e de obras publicadas sobre a revisão/auditoria às contas e considerando a circunstância de ser director da “revista de Contabilidade e Finanças” da Associação portuguesa de peritos Contabilistas (AppC), qual a sua opinião sobre o que se escreve em portugal sobre Contabilidade e Auditoria? Não acha que, especialmente os docentes nessas áreas, escrevem e publicam muito pouco em revistas nacionais e internacionais?

CbC - As causas da questão que me é colocada têm sobretudo a ver com as razões que expus nas respostas que dei às primeira e segunda perguntas. Mas é um facto in-

ENTREVISTA

Auditor vs roCDefendo que em Portugal se devia adoptar“auditor certificado” ou simplesmente “auditor”.

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9CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

ENTREVISTA

desmentível que a situação actual alterou-se substancial-mente (para melhor) em relação ao que acontecia há 30 anos. Veja-se, por exemplo, que uma das mais prestigiadas revistas europeias da especialidade com “referee” – a Eu-ropean Accounting Review – já publicou alguns artigos de autores portugueses sobre matérias contabilísticas e afins. Por outro lado, tem vindo a aumentar de forma muito significativa a apresentação de comunicações por colegas em congressos internacionais, como sejam, os da AECA (Asociación Española de Contabilidad y Administración de Empresas) e da EAA (European Accounting Associa-tion). Aliás, penso que a realização do 30º Congresso anual desta entidade, realizado em Lisboa em 2007, con-tribuiu também, de forma decisiva, para a actual situação.

C&e - o seu livro “Auditoria Financeira– teoria e prática” é um best sellerdas publicações de Auditoria em portugal, sendo uma das principais referências bibliográficas das disciplinas de Auditoria do ensino superior. A sua 9.ª edição foi publicada recentemente (outubro de 2010). A que se deve este êxito?

CbC - É um facto a boa aceitação que o meu livro tem tido desde que, em 1985, foi publicada a primeira edição. De algumas das nove edições fizeram-se reimpres-sões (14 no total) o que, no seu conjunto e atendendo à dimensão do nosso mercado, significa um número muito apreciável de livros. Penso que os leitores estarão em me-lhor situação para responder à sua questão. No entanto, admito que uma das razões seja o esforço que tenho feito no sentido de cada nova edição se apresentar devidamente actualizada face aos normativos nacionais e internacionais que vão sendo emitidos. A componente prática do livro é também, um aspecto importante a ter em conta.

C&e - o que pensa do futuro da profissão de roC em portugal e na europa, tendo em conta, nomeadamente, a publicação do livro verde sobre Auditoria pela ue, e, em particular, a Auditoria das microentidades?

CbC - Começando pela parte final da sua questão, sou de opinião que não faz qualquer sentido falar-se em “audi-toria das microentidades”, cujo número estimo que este-ja compreendido entre 80% e 85% do total das empresas portuguesas. De facto, não vejo qual é a necessidade que as

microempresas (que de acordo com a Lei nº 35/2010, de 2 de Setembro e com o Decreto-Lei nº 36-A/2011, de 9 de Março, são aquelas que não ultrapassam dois dos três limi-tes seguintes: total do balanço – 500.000 euros; volume de negócios – 500.000 euros e número de trabalhadores – 5) têm em ser auditadas uma vez que, a não ser em casos mui-to excepcionais, não têm responsabilidade pública nem as suas demonstrações financeiras são de grande interesse para os utilizadores externos, sobretudo financiadores.

Relativamente ao Livro Verde prevê-se que a Comissão Europeia, depois de ponderar as respostas que obteve à res-pectiva consulta pública e cujo resumo foi divulgado no passado dia 4 de Fevereiro, venha a adoptar até ao final deste ano algumas das medidas nele constantes. E não há dúvida que o referido documento aborda temas muitíssimo importantes relacionados com a profissão de auditor, como sejam: nomeação, remuneração, rotação, controlo de quali-dade e supervisão. Isto para além das situações relacionadas com a prestação, ao mesmo cliente que está a ser auditado, de serviços distintos dos de auditoria e com a excessiva con-centração do mercado de auditoria, onde se verifica que, a nível mundial, quase 70% dos honorários totais são factu-rados por apenas quatro firmas, as chamadas "big four" que há alguns anos atrás era "big nine". Todos estes aspectos terão, necessariamente, um forte impacto no nosso país.

C&e - o novo modelo contabilístico nacional, sistema de Normalização Contabilística (sNC), constitui uma significativa melhoria dos aspectos conceptuais relativamente ao “modelo poC”. Concorda?

CbC - Estou apenas parcialmente de acordo com a afirmação, uma vez que entendo que o POC, comple-mentado com as Directrizes Contabilísticas (DC), era um bom referencial contabilístico no nosso país, sobretudo no que se refere às PME.

Aliás, sou de opinião que o que deveríamos ter feito era aplicar as IAS/IFRS, tal como adoptadas na União Eu-ropeia, às empresas ou entidades de maior dimensão (por exemplo: com volume de negócios superior a 5 milhões de euros, que no seu conjunto deverão rondar as 10.000, ou seja, cerca de 3% do total) e adoptar um conjunto de normas contabilísticas muito simplificadas naquelas em que o mesmo indicador fosse inferior a 150.000 euros (que estimo sejam cerca de 60% do total). Às restantes de-veriam aplicar um “POC/DC” actualizados com base nos normativos que estiveram em vigor até ao final de 2009.

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ENTREVISTA

É importante não esquecer, ao contrário do que alguns tentam fazer crer, que em termos teóricos quer o POC quer as subsequentes DC seguiram de perto os normati-vos do IASB então vigentes.

C&e - Num seminário um colega referiu que teme que a “cultura nacional” se sobreponha à “cultura do sNC”. será que a aplicação prática do sNC melhorará relativamente ao poC? será que a Contabilidade se desligará definitivamente da Fiscalidade (em sede de irC)?

CbC - Estou pessimista quanto à adequada aplica-ção do SNC por parte das empresas a quem o mesmo se aplica excepto, talvez por razões óbvias, no que se refere às empresas/entidades sujeitas a auditoria. E note-se que, por via do disposto na já referida Lei nº 35/2010, o SNC vai aplicar-se, presumo, a menos de 20% das empresas portuguesas. Infelizmente também penso que, retirando as excepções acima mencionadas, a Contabilidade não se vai desligar da Fiscalidade, uma vez que a maior parte dos preparadores da informação contabilística continuarão a seguir estritamente as disposições do Código do IRC.

C&e - A profissão de Contabilistaem portugal é representada pela ordemdos técnicos oficiais de Contas (otoC). embora o professor distinga as designaçõesde “Contabilista” e de “toC”, que pensado estado actual da profissão em portugale na europa?

CbC - A profissão de Contabilista não está regulada em Portugal, nem deve estar, uma vez que abrange um conjunto diversificado de actividades. Penso que no caso dos TOC, a sua actividade foi regulada, sobretudo, por razões fiscais, ou seja, para serem os interlocutores entre as empresas e as autoridades fiscais.

Em termos internacionais, entende-se que a profissão contabilística engloba não só os contabilistas como tam-bém os auditores.

A nível da União Europeia, apenas a actividade de auditoria (statutory audit) está oficialmente regulada há quase 30 anos sendo actualmente regida pela Directiva 2006/43/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 17 de Maio de 2006. E, compreende-se que assim seja devido ao importante papel que, como profissionais inde-pendentes, os auditores desempenham perante os investi-

dores dos mercados de capitais quando estes tomam deci-sões económicas com base em demonstrações financeiras apresentadas pelas empresas e auditadas por aqueles.

Já no que se refere aos Contabilistas, entendidos como preparadores de informação contabilística em sentido lato, a sua profissão, tanto quanto é do meu conhecimento, não se encontra regulada na União Europeia. De facto, o órgão de gestão de cada empresa é responsável não só pela apre-sentação das demonstrações financeiras aos seus diversos stakeholders (accionistas, financiadores, potenciais investi-dores, administração fiscal, etc.) como também, e sobretu-do, pelas asserções que estão subjacentes a tais documentos.

Isto não significa, obviamente, que as empresas não tenham de ter nos seus próprios quadros (ou socorrendo-se de profissionais liberais ou de empresas de prestação de serviços) um ou mais profissionais que assegurem quer a preparação e a tempestiva divulgação da informação con-tabilística, financeira, fiscal, laboral, etc., quer o cumpri-mento das inerentes obrigações legais.

Face ao referido, a questão que tenho colocado a mim próprio é a de saber se a profissão de Contabilista deve ser regulada tal como é a de Auditor. Em Portugal, o legisla-dor entendeu regulamentar a actividade de TOC o que, conforme já referi, é uma originalidade a nível da União Europeia. Entendo pois que, tal como acontece noutros países, os Contabilistas deviam exercer a sua profissão depois de serem admitidos em associações de sua livre escolha, mas obviamente sujeitas a rigorosos critérios de constituição, admissão e auto regulação.

C&e - Ainda sobre a designação da profissão de contabilista em portugal, a AppC alterou a sua denominação substituindo a palavra “Contabilistas” por “peritos Contabilistas”. Quais as razões dessa mutação?

CbC - Efectivamente a APC alterou, em Dezembro de 1997, a sua designação para APPC. Devo dizer que na altura expressei algumas dúvidas quanto às vantagens de se adoptar uma nova denominação embora reconheça que em vários países europeus se utiliza expressões equi-valentes (que se podem traduzir por “perito contabilista”)

sNC – Contabilidade vs FiscalidadeA Contabilidade não se vai desligar da Fiscalidade, uma vez que a maior parte dos preparadores da informação contabilística continuarão a seguir estritamente as disposições do Código do IRC.

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ENTREVISTA

para designar o profissional equiparável ao que em Por-tugal é responsável pela informação contabilística e que possui formação académica de nível superior. Contudo, o significado da palavra “perito” aproxima mais aquela designação da de auditor, ou seja aquele que examina as demonstrações financeiras e a informação contabilística em geral.

Penso que nada impede que este seja um assunto a ser cuidadosamente revisto no futuro.

C&e - A profissão de “perito Contabilista” em portugal não tem um estatuto profissional próprio, como, por exemplo, os toC e os roC, sendo que estes poderão desempenhar essas funções no âmbito dos respectivos estatutos. Qual a sua visão sobre esta problemática?

CbC - Como já referi, e exceptuando o caso concre-to dos ROC (Auditores) pelas razões aduzidas e também pelo facto de os seus relatórios serem dotados de fé públi-ca, não defendo a regulação da profissão de Contabilista, ou de Perito Contabilista como está na pergunta. Daí o considerar que tal profissão não tenha um estatuto pro-fissional próprio se este for entendido como sinónimo de um estatuto aprovado pelo Governo através de legislação específica.

Em Portugal existem, pelo menos, duas associações que, através de inscrição livre, integram no seu seio profis-sionais que se dedicam à preparação de informação conta-bilística. São elas a APPC (criada em 1975) e a APOTEC – Associação Portuguesa de Técnicos de Contabilidade (criada em 1977). Quer uma, quer outra, têm prestado relevantes serviços à Contabilidade e, no caso da segunda, também à Fiscalidade.

Relativamente à primeira, que conheço melhor, a ideia da sua criação remonta aos anos 40 do século passado e ganhou um novo fôlego nos finais dos anos 60 quando se tentou criar um Sindicato que defendesse os interesses dos Contabilistas diplomados pelos Institutos Comer-ciais, e que julgo não se ter concretizado por entretan-to ter ocorrido o 25 de Abril. Foi tal grupo de pessoas que ajudou a constituir, em 1975, a APC (hoje APPC) a qual participou activamente em diversas acções, das quais saliento: a reforma do ensino da Contabilidade, quer a nível secundário quer a nível superior; a regulamentação da actividade de ROC; a normalização contabilística e a regulamentação da actividade de TOC.

Face ao seu historial, e sendo um organismo indepen-dente em relação aos poderes políticos e económicos, a APPC tem todas as condições e massa crítica para ajudar ao desenvolvimento harmonioso da Contabilidade no nosso país.

C&e - o professor e a AppC têm sido críticos relativamente à actual estruturada Comissão executiva e do Conselho Geral da Comissão de Normalização Contabilística (CNC). porquê?

CbC - Penso que não são só a APPC e eu que temos sido críticos relativamente à actual estrutura da CNC. Muitas outras entidades o têm feito. Por exemplo, o an-tigo Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Dr. Rogé-rio Manuel Fernandes Ferreira, afirmou há tempos exis-tir “falta de democraticidade na (actual) composição da CNC”. De entre as críticas que aponto, ressalto as seguin-tes: reforço da ingerência do Estado na CNC; exclusão de associações de profissionais da Contabilidade; muito insuficiente representação das escolas superiores de Con-tabilidade e inclusão de membros que nada têm a ver com a normalização contabilística.

C&e - Como membro da Associaçãode docentes de Contabilidade do ensino superior (AdCes), como analisaa sua actual situação de impasse?

CbC - É simplesmente lamentável o que se passa com a ADCES, que é uma associação constituída em 1994 e que tem como objectivo contribuir para o desenvolvi-mento da Contabilidade através, não só da difusão e in-tercâmbio de conhecimentos e experiências, mas também a nível da investigação.

A actual Direcção, que foi eleita há dois anos, não rea-lizou qualquer actividade nem prestou contas aos seus as-sociados, o que é muito grave. Custa-me a entender como é que professores de Contabilidade que se apresentam disponíveis para integrar uma lista para dirigir os destinos da sua Associação a abandonam logo de seguida. Faz-me lembrar o que se passou há alguns anos com a vetusta So-ciedade Portuguesa de Contabilidade. Infelizmente estes são exemplos (não tão poucos como se possa pensar) de cidadãos que só estão disponíveis para trabalhar em prol da comunidade em que se inserem quando vêem nisso vantagens imediatas e pessoais.

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CONTABILIDADE

A V Conferência Internacional OTOC/IDEFF/DGCI, sob o tema geral “A Influência da Contabilida-de na Fiscalidade Portuguesa”, realizada nos dias 8 e 9 de Outubro de 2010, no Centro de Congressos de Lisboa e no Porto, respectivamente, e co-organizada por aquelas três instituições, constituiu mais um importante evento para promover a reflexão sobre aquelas duas importantes áreas do conhecimento.

A revista TOC n.º 127, de Outubro de 2010, pp. 14-25, divulga um resumo das comunicações, destacando algumas frases dos conferencistas, nomeadamente as seguintes:- “A possibilidade de a contabilidade desaparecer das micro-

entidades seria “caótico, tremendamente nefasto e levaria à implementação do sistema de tributação mais injusto que existe”;

- “Há um grupo de países que defende a eliminação da Con-tabilidade como forma de reduzir custos administrativos, uma vez que fornecem informação pouco relevante para os utilizadores”;

- “A contabilidade, para além da prática de uma técnica, é também uma regulação. Não podemos permitir uma desregulação da contabilidade uma vez que o seu impacto sobre a fiscalidade seria enorme”;

- “O lucro tributável tem uma base contabilística, o que signi-fica que, ressalvadas as correcções previstas na lei, é o resul-tado contabilístico que se toma para efeitos de tributação”;

- “A definição de activo é um conceito limitado e ambíguo que não resolve as questões da Contabilidade”;

- “Apesar de as normas contabilísticas terem todas uma leitu-ra fiscal, não foi bom que se tivessem tornado sobrepostas às normas fiscais”;

- “Com o SNC a Contabilidade assumiu, claramente, que não admite intromissões do regime fiscal”;

- “Fará todo o sentido os fiscalistas juntarem-se aos contabilistas para resolver os inúmeros problemas que vão aparecendo”.A revista apresenta o título “Casamento com divórcio

à vista?”1, que serve de mote ao título do presente artigo e que deverá ser interpretado no contexto do actual modelo

1 Sobre esta temática elaborámos um artigo sob o título “O Casamento entre a Contabilidade e a Fiscalidade”, Revista Fiscal n.º 2, de Fevereiro de 2007, pp. 7-10, e disponível para download no menu “Actividades Pessoais/Artigos (Download)/Por Título/N.º 205.

de normalização contabilística – Sistema de Normaliza-ção Contabilística (SNC), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de Julho.

Com efeito, diversos especialistas têm defendido que, com o SNC, a Contabilidade está, cada vez mais, inde-pendente da Fiscalidade (leia-se, em sede de impostos so-bre o rendimento, e, em particular, o IRC). Veja-se, por exemplo, a frase atrás transcrita relativa à referência de que com o SNC a Contabilidade não admite intromissões do regime fiscal.

Na verdade, com a entrada em vigor do SNC, tor-nou-se necessário efectuar alterações ao Código do IRC, concretizadas no Decreto-Lei n.º 159/2009, de 13 de Julho, em regime das depreciações e amortizações, pelo Decreto-Regulamentar n.º 25/2009, de 14 de Setembro2, adaptando-os não só à nova terminologia (léxico) conta-bilística do SNC, mas também à aceitação de certas polí-ticas contabilísticas para efeitos de apuramento do lucro tributável em sede de IRC.

Parece-nos, no entanto, que esse distanciamento (di-vórcio?) entre a Contabilidade (com o SNC) e a Fiscalida-de (em sede de IRC), não é tão significativo ao ponto de se apelar a uma independência entre as duas disciplinas, pois, em nossa opinião e salvo melhor, trata-se meramente de uma aproximação em algumas matérias contabilísticas e fiscais. Ou seja, numa linguagem “casamenteira”, dire-mos que essas mutações não passaram de simples “inter-venções cirúrgicas em alguns órgãos do casal” que não interferiram com a sua identidade própria. Note-se, aliás, que algumas dessas alterações até já eram permitidas pelo “modelo POC”, como é o caso do tratamento contabilís-tico das “garantias a clientes” previsto na Directriz Con-tabilística n.º 3 “Tratamento contabilístico dos contratos de construção”.

É neste contexto que, nos últimos tempos, temos refe-rido em intervenções públicas (v.g. seminários, aulas) que se a separação (divórcio) entre a Contabilidade (com o SNC) e a Fiscalidade (em sede de IRC) não fosse efecti-va, o denominado “Quadro 07 da declaração modelo 22

2 Revogou o anterior regime das amortizações e reintegrações previsto no Decreto-Regulamentar n.º 2/90, de 12 de Janeiro.

reflexões sobre o sNC

vii - Contabilidade vs Fiscalidade no âmbito do sNC – casamentocom divórcio à vista?

JOaquim FernandO da Cunha Guimarães*

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do IRC” (Q07/DR22)3 deveria “emagrecer”, i. e., deveria passar a incluir menos rubricas (campos), o que, na verda-de, não se verifica pois o novo Q07/DR224 é significativa-mente mais extenso do que o anterior, o que, apenas nesta perspectiva simplicista, indicia que, afinal, aumentaram as diferenças entre as duas disciplinas.

Deste modo, encontra-se justificado o título “Casa-mento com divórcio à vista?”, cujo ponto de interrogação deverá ser interpretado como uma manutenção do casa-mento, sendo que as alterações provocadas pelo SNC não passam de meros e quiçá saudáveis “arrufos”.

A este propósito, no nosso artigo atrás referido5 abor-dámos alguns aspectos concretos desta problemática, dos quais destacamos os seguintes comentários:“O casamento entre duas pessoas deve ser o corolário (embora

nem sempre seja assim) de uma relação pré-matrimonial que conduz a esse passo “final” (pelo menos enquanto se mantiver), pressupondo um conhecimento mútuo que tem por base uma cedência/troca da personalidade de cada um, visando a consolidação da relação. Ou seja, há como que uma “transferência de personalidade” entre os membros do casal para que a coabitação seja possível.

Refira-se, no entanto, que tal relacionamento não deve des-caracterizar a personalidade individual de cada um dos membros do casal. Ou seja, essa “transferência de perso-nalidade” deve resguardar a identidade de cada membro, na convicção de que esta nem sempre é equilibrada, dado que a influência de cada um dos membros sobre o outro é diferente, pendendo, quase sempre, para um dos lados.

Julgamos que esta análise metafórica se poderá aplicar, com as devidas nuances, às relações entre a Contabilidade e a Fiscalidade (esta mais no âmbito dos Códigos do IRC e do IRS – Categoria B, dado que são os impostos onde tal relação é mais concreta e evidenciada).

Com efeito, devemos analisar a relação entre a Contabilida-de e a Fiscalidade, nas cédulas fiscais indicadas, numa perspectiva de complementaridade, mas sempre no pres-suposto de que perseguem objectivos necessariamente di-ferentes e, como tal, salvaguardando-se a identidade de cada uma.”.Pese embora estas características de relacionamento

entre as duas disciplinas, é óbvio que defendemos a aplica-

3 Regista extra-contabilisticamente as diferenças entre as políticas conta-bilísticas e fiscais, partindo do resultado contabilístico (“resultado liquido do período” no SNC) para o resultado fiscal (lucro tributável/prejuízo para efeitos fiscais), conforme dispõe o art.º 17.º do CIRC.4 Os modelos da DR22, instruções de preenchimento e os Anexos A, B e C foram aprovados pela Declaração n.º 245/2010, publicada no D.R., 2.ª Série, n.º 252, de 30 de Dezembro de 2010.5 Conforme rodapé n.º 1 deste artigo.

ção teórica e prática da Contabilidade e, no caso concreto, do SNC, sem interferência da Fiscalidade. Porém, não po-demos deixar de nos interrogar: será que a Contabilidade conseguirá ficar indiferente à utilidade que os diversos utentes (stakeholders) lhe conferem, e particularmente, os que exercem mais pressão sobre ela (v.g. órgão de gestão, Fisco, entidades financiadoras)? Será que a Contabilidade consegue viver sem essas pressões dos utentes das demons-trações financeiras? Será que o “paradigma da utilidade” da Contabilidade também está em crise?

O saudoso Professor Doutor Rogério Fernandes Fer-reira, sublinhou6:“Hoje as decisões são ao valor real actual e aqui a Conta-

bilidade não chega, não resolve, e se pretender resolver afunda-se de todo!

…/…O problema essencial é que está a pedir-se à contabilidade

mais do que pode e deve dar.”.Voltando à análise do tema geral do Congresso “A

Influência da Contabilidade na Fiscalidade Portugue-sa”, diremos, em primeiro lugar, que talvez fizesse mais sentido inverter o título, pois, efectivamente, parece-nos mais pertinente abordarmos a influência da Fiscalidade na Contabilidade do que o inverso.

Admitimos, porém, que a intenção dos organizado-res do evento foi a de relevar as alterações fiscais em sede de IRC provocadas pelo SNC, daí que seja aceitável essa opção.

Neste sentido, não resistimos a fazer uma referência histórica à normalização contabilística nacional e à fis-calidade7. Com efeito, lembramos que foi precisamente o Código antecessor do Código do IRC – o Código da Contribuição Industrial (CCI) – o verdadeiro “motor” da normalização contabilística em Portugal, uma medida em que continha diversas disposições sobre a Contabilidade, das quais destacamos o art.º 22.º que apelava à obediên-cia a “sãos princípios contabilísticos” e, ainda, o facto do lucro tributável do CCI se reportar ao saldo revelado pela conta de resultados do exercício ou de ganhos e perdas (…).

De notar que o CCI foi publicado pelo Decreto-Lei n.º 45103, de 1 de Julho de 1963, e que o primeiro POC (POC/77) foi aprovado catorze anos mais tarde pelo De-creto-Lei n.º 47/77, de 7 de Fevereiro. Ou seja, na altura

6 Em escrito particular que nos enviou.7 Esta temática é desenvolvida no nosso artigo “História da Normaliza-ção Contabilística em Portugal”, TOC n.º 127, de Outubro de 2010, pp. 35-48, disponível para download no menu “Actividades Pessoais/ Artigos (Download)/ n.º 294” do nosso Portal INFOCONTAB

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em que ainda não existia um normativo contabilístico le-gal, já o CCI fazia alusão à normalização contabilística.

Em suma, também a história portuguesa da Contabi-lidade e da Fiscalidade justificaria a inversão do título do evento.

Uma reflexão final para registar que temos consciência

que alguns dos comentários aqui expressos poderão ser considerados como “não politicamente correctos”, face ao “novo elan” do SNC, e que são, no mínimo, polémicos e discutíveis. Porém, como se diz na gíria popular, “da discussão nasce luz”, pelo que esperamos ter contribuído para o debate.

viii - A Nova declaração mod. 22 do irC e o sNCA Declaração n.º 245/2010, de 29 de Novembro, do Ga-

binete do Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais (despa-cho n.º 938/2010 – XVIII, de 29 de Dezembro), publicada no D.R., 2.ª série, n.º 252, de 30 de Dezembro de 2010, aprovou o novo modelo da Declaração de Rendimentos Mo-delo 22 do IRC (DR22), os seus Anexos A, B e C, bem como as instruções de todos esses impressos, face ao disposto no n.º 2 do art.º 117.º do Código do IRC (CIRC).

As alterações resultaram da publicação do Decreto-Lei n.º 159/2009, de 13 de Julho, que procedeu à adapta-ção do CIRC ao Sistema de Normalização Contabilística (SNC), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de Julho, e que entrou em vigor em 1 de Janeiro de 2010.

De registar que, desde a entrada em vigor do CIRC (1 de Janeiro de 1989), essas alterações foram, indiscutivelmente, as de maior número verificadas apenas num exercício.

É óbvio que as principais alterações ocorreram no Quadro 07 da DR22 que releva extracontabilisticamente1 as diferenças entre o resultado líquido do período (campo 701) e o resultado fiscal (campo 777 – prejuízos para efei-tos fiscais ou campo 778 – lucro tributável), ou, por ou-tras palavras, as diferenças entre a Contabilidade (SNC) e a Fiscalidade (Código do IRC), pelo que é esse quadro que destacamos neste breve apontamento.

Na hipótese de não existir qualquer correcção extra-contabilística, o resultado líquido do período (campo 701) coincidirá com o resultado fiscal (campos 777 ou 778), e, fazendo, uma interpretação restritiva, diremos que a aproximação entre os dois resultados (contabilístico e fiscal) é total, ou seja, serão coincidentes.

Este comentário surge a propósito das invocações de que com o SNC se verifica uma maior aproximação entre a Contabilidade (SNC) e a Fiscalidade (CIRC) e que “O SNC não admite interferências da Fiscalidade”.

Analisemos algumas referências transcritas do preâm-bulo do já referido Decreto-Lei n.º 159/2009, de 13 de Julho (sublinhados da nossa autoria):

1 Significa que não há lugar a qualquer assento contabilístico, mas apenas a operações de soma e subtracção para efeitos de apuramento do lucro tri-butável.

“Considerando que a estrutura actual do Código do IRC se mostra, em geral, adequada ao acolhimento do novo refe-rencial contabilístico, manteve -se a estreita ligação entre contabilidade e fiscalidade (…)

A manutenção do modelo de dependência parcial determi-na, desde logo, que, sempre que não estejam estabelecidas regras fiscais próprias, se verifica o acolhimento do trata-mento contabilístico decorrente das novas normas.

Ainda no domínio da aproximação entre contabilidade e fis-calidade, é aceite a aplicação do modelo do justo valor em instrumentos financeiros, cuja contrapartida seja re-conhecida através de resultados, mas apenas nos casos em que a fiabilidade da determinação do justo valor esteja em princípio assegurada. (…)

…/…Esta convergência entre contabilidade e fiscalidade (…).”

A ligação entre a contabilidade e a fiscalidade tem sido uma das nossas principais motivações de escrita, sendo, in-clusive, objecto da nossa dissertação de Mestrado em Con-tabilidade e Auditoria da Universidade do Minho, defen-dida em 26 de Julho de 2000, e publicada no livro sob o título “O Sistema Contabilístico e Fiscal Português – Uma Abordagem aos Relatórios e Contas das Empresas” (Ed. Vislis Editores, Novembro de 2000, com 280 páginas).

Um dos artigos em que analisamos, metaforicamente, as relações entre as estas duas áreas do conhecimento intitula-se “O ‘Casamento’ entre a Contabilidade e a Fiscalidade”2.

Num outro artigo mais recente, sob o título “Conta-bilidade e Fiscalidade (SNC) – Casamento com Divórcio à Vista?”3, retomámos o tema e antecipámos alguns dos aspectos descritos no presente artigo.

Na verdade, se fizermos uma análise simplista e redu-tora do conteúdo do novo Q07/DR22 concluiremos que, contrariamente ao que se poderia esperar, face às frases

2 Publicado na Revista Fiscal n.º 2, de Fevereiro de 2007, pp. 7-10 e dispo-nível para download no menu “Actividades Pessoais/Artigos (Download)/Por Título/N.º 205” do Portal INFOCONTAB.3 Baseado na V Conferência Internacional OTOC/IDEFF/DGCI, or-ganizado pela Ordem dos TOC, nos dias 8 e 9 de Outubro de 2010 e a disponibilizar para download no nosso Portal INFOCONTAB no menu “Actividades Pessoais/Artigos (Download) /Por Título/N.º329”.

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CONTABILIDADE

*Licenciado em Gestão de Empresas e Mestreem Contabilidade e Auditoria, ambos pela Universidade do Minho,

ROC, TOC, Docente do Ensino Superior e Director da C&[email protected]

atrás transcritas, aumentaram as divergências entre a Con-tabilidade (SNC) e a Fiscalidade (Código do IRC), justi-ficado pelo incremento do número de campos e acrescer ao lucro tributável (de 34 campos da DR22/2009 para 44 campos da DR22/2010) e a deduzir (de 13 campos da DR22/2009 para 22 campos da DR22/2010).

Assim, e apenas nesta perspectiva, se a aproximação entre as duas disciplinas fosse efectiva, seria natural que

existissem menos divergências, pelo que também deve-riam existir menos campos para registar essas diferenças, o que, repetimos, não se verifica. Ou seja, o Q07/DR22 “engordou” em vez de “emagrecer”, como descrevemos no quadro seguinte em que apresentamos apenas os “novos campos” do Q07/DR22, no total de 23 (10 a acrescer, 9 a deduzir, 2 de novas variações patrimoniais positivas e 2 de novas variações patrimoniais negativas):

07 aPurameNTo Do LuCro TriBuTÁVeL

Descrição Campo

Variações patrimoniais positivas não reflectidas no resultado líquido do período (art.º 21.º) e quota-parte do subsídio respeitante a activos fixos tangíveis não depreciáveis e activos intangíveis com vida útil indefinida [art.º 22.º n.º 1, al. b)] 702

Variações patrimoniais positivas (regime transitório previsto no art.º 5.º, n.ºs 1, 5 e 6 do DL 159/2009, de 13/7) 703

Alteração do regime fiscal dos contratos de construção (correcções positivas) 706

Alteração do regime fiscal dos contratos de construção (correcções negativas) 707

a aCresCer

Vendas e prestações de serviços com pagamento diferido: diferença entre a quantia nominal da contraprestação e o justo valor (art.º 18.º, n.º 5) 711

Ajustamentos não dedutíveis decorrentes da aplicação do justo valor (art.º 18.º, n.º 9) 713

Pagamentos com base em acções (art.º 18.º, n.º 11) 714Gastos de benefícios de cessação de emprego, benefícios de reforma e outros benefícios pós emprego ou a longo prazo dos empregados (art.º 18.º, n.º 12) 715

Créditos incobráveis não aceites como gastos (art.º 41.º) 722

Gastos não dedutíveis relativos à participação nos lucros por membros dos órgãos sociais [art.º 45.º, n.º 1, al. n)] 735

50% de outras perdas relativas a partes de capital ou outras componentes do capital próprio (art.º 45.º, n.º 3, parte final) 737Mais-valia fiscal resultante de mudanças no modelo de valorização [art.º 46.º, n.º 5, al. b)] 738

Correcções relativas a instrumentos financeiros derivados (art.º 49.º) 743

Correcções resultantes da opção pelo regime especial aplicável às fusões, cisões, entradas de activos e permutas de partes sociais (art.os 74.º , 76.º e 77.º) 750

a DeDuZir

Despesas ou encargos de projecção económica plurianual contabilizados como gasto na vigência do POC e ainda não aceites fiscalmente [art.º 22.º al. f) do D.R 25/2009, de 14/9] 754

Vendas e prestações de serviços com pagamento diferido: rédito de juros (art.º 18.º, n.º 5) 757

Ajustamentos não tributáveis decorrentes da aplicação do justo valor (art.º 18.º, n.º 9) 759

Pagamentos com base em acções (art.º 18.º, n.º 11) 760

Pagamento ou colocação à disposição dos beneficiários de benefícios de cessação de emprego, benefícios de reforma e outros benefícios pós emprego ou a longo prazo dos empregados (art.º 18.º, n.º 12) 761

Depreciações e amortizações tributadas em períodos de tributação anteriores (art.º 20.º do D.R. 25/2009, de 14/9) e dedução da quota-parte das perdas por imparidade de activos depreciáveis ou amortizáveis não aceites fiscalmente como desvalorizações excepcionais (art.º 35.º, n.º 4)

763

50% da menos-valia fiscal resultante de mudanças no modelo de valorização [art.º 46.º, n.º 5.º, al. b) e art.º 45.º, n.º 3, parte final] e 50% da diferença negativa entre as mais e as menos-valias fiscais de partes de capital ou outras componentes do capital próprio (art.º 45.º, n.º 3, 1.ª parte)

768

Correcções relativas a instrumentos financeiros derivados (art.º 49.º) 770

Correcção pelo adquirente do imóvel quando adopta o valor patrimonial tributário definitivo para a determinação do resultado tributável na respectiva transmissão [art.º 64.º, n.º 3, al. b)] 772

Porém, não poderemos deixar de admitir que a Fiscali-dade (em IRC) passou, efectivamente, a aceitar, em casos pontuais, as políticas contabilísticas previstas no SNC e nas NCRF (v.g. contratos de construção).

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16 CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

CONTABILIDADE

hernâni O. CarqueJa*

Com o patrocínio da OTOC, do Tribunal de Contas, do IPCA e da Universidade do Minho, foi editado pela OTOC o “Anuário Financeiro dos municípios portugueses — 2008”. Esta publicação proporciona informação sobre a nos-sa realidade que representa um contributo muito importan-te: oferece uma perspectiva de conjunto e, simultaneamente, cotejos que escapam à comunicação social, impressa ou di-fundida pela rádio, televisão ou redes. Também contém es-clarecimentos sobre sistema que está em vigor. Por exemplo, consta do “Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses 2008” à pág. 33, que devem ser implementados três sistemas contabilísticos: Contabilidade Orçamental, Contabilidade Patrimonial e Contabilidade de Custos.

Sobre a contabilidade patrimonial esclarece “Contabilida-de Patrimonial, elaborada na base do acréscimo (accrual basis), onde se registam todos os acontecimentos que implicam uma al-teração, em termos quantitativos ou qualitativos, do património de uma entidade pública obtendo-se, deste modo, informação da situação patrimonial e financeira dessa mesma entidade. O Ba-lanço e a Demonstração de Resultados por natureza constituem os principais mapas deste subsistema contabilístico;”

Dado que o Anuário não inclui informação agrupada por concelho, e estando interessado em apreciar a solução tal como existe, procurei na internet exemplo de balanço tradu-tor da situação patrimonial e financeira de um município.

Calhou encontrar informação respeitante ao município de Benavente para os anos de 2005 a 2009. O balanço, para o ano de 2006 indica o total de activo líquido de 59 639 601,39 euros, do qual fazem parte bens do domínio público com o valor líquido de 23 045 656,19 euros. O financiamento corresponde a passivo, no valor de 14 468 958.72 euros e a fundos próprios, no total de 38 386 655,80 euros, a que corresponde a seguinte discriminação:

Fundos próprios e passivo exercício de 2006FuNDos PrÓPrios

51 Património 32 303 268,3456 Reservas de reavaliação 1 014 116,63

571 Reservas legais 291 877,86576 Doações 139 931,46

578 Cedências para o domínio público municipal 2 974 816,14

59 Resultados transitados 236 267,47 88 Resultado líquido do exercício 1 426 377,80

38 386 655.70Passivo (não transcrito)

No total de 38 386 65,70 euros compreendem-se 23 045 656,19 euros referentes a bens do domínio público incluídos no activo indicado em balanço, são “património da entidade pública designada município”.

Como é possível não estar reconhecida no patrimó-nio a especial situação jurídica dos bens do domínio público, embora evidenciados no activo, totalizando 23 045 656,19 euros?

A solução agora adoptada tem exigências em concei-tos e classificações. Em especial impõe que o legislador, ou a doutrina, esclareçam o que representa cada “ balanço” da situação ou da actividade da entidade “município”. Que se entende por activo, passivo e situação líquida (fundos próprios) de um município? Qual o sentido de “resultado económico”, quando nem é claro o conceito de situação líquida (fundos próprios)? As dificuldades começam com a afectação de bens, com as fronteiras da realidade a re-presentar.

Por exemplo: em gestão normal pode a Câmara Muni-cipal do Porto vender a estátua de D. Pedro IV? Ou a de Lisboa vender a estátua do Marquês?

Relativamente aos dados transcritos, quais os contor-nos do património encabeçado pelo Governo do Municí-pio de Benavente e quais os correspondentes à entidade “município”?

A entidade município pode ser vista como um ter-ritório delimitado, com habitantes sempre a entrar e a sair, que são os principais beneficiados quando o gover-no do município, que é “outra entidade” executa bem as suas funções. A estrada ou o fontanário pertencem à entidade “município” e a mesa de trabalho do presidente da Câmara pertence à entidade “governo do município”. Os patrimónios não se confundem, podem corresponder a prestações de contas separadas, e há que esclarecer quan-do a prestação de contas respeitar às duas realidades.

Entretanto há outras dificuldades adicionais que não têm sido adequadamente publicitadas na contabilidade relativa às autarquias locais. Uma delas é a atribuição de valor, que é problema com contornos muito especiais. os bens, ou talvez melhor, as “coisas” públicas, dado que por conceito não são apropriáveis pelo sector priva-do, têm um regime jurídico que dificulta a valoriza-ção. Dado o condicionalismo que as qualifica, não sendo

municípios e comboios: a entidade

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CONTABILIDADE

partidas dobradas

Ao longo de dois séculos e meios últimos,foram muitas as tentativas de transpor a utilizaçãodas partidas dobradas para o sector público.

apropriáveis, a não ser dentro do sector público, as coisas públicas não têm um mercado privado, embora possam ser transferidas entre entidades públicas.

Acresce outra dificuldade. A entidade governo autár-quico, mesmo quando assume encargos respeitantes ao respectivo funcionamento, pode estar a condicionar receitas futuras que poderiam, em alternativa, beneficiar a entidade município. Receitas utilizadas para compra de um automóvel deixam de estar disponíveis para aplicação em coisas públicas. O recurso a um empréstimo bancário por um governo autárquico compromete a afectação de receitas futuras, que tanto podem ser impostos ou ta-xas a cobrar no futuro pelo município, como serviços a prestar.

A afectação de patrimónios e serviços próprios do go-verno autárquico a empresas municipais, pode clarificar a responsabilidade mais imediata pela liquidação dos cré-ditos dos fornecedores e pela facturação de produtos ou serviços, mas também pode ser um veículo de “engenharia financeira”, para mascarar a realidade.

No Anuário distribuído não é fornecido o total em débito por empresas e serviços municipais, embora o en-dividamento e condições de reembolso sejam informações indispensáveis em qualquer apreciação.

É frequente ouvir referências a fundações sem fundos e dependentes de dotações; são frutos da engenharia fi-nanceira, que pode resultar de iniciativa municipal. A falta de dados sobre o orçamento destas entidades é uma limitação muito grande à apreciação da situação financei-ra dos municípios que as alimentam.

Ao longo dos últimos dois séculos e meio, foram muitas as tentativas de transpor a utilização das par-tidas dobradas para o sector público. Rodrigues de Freitas, a quem o Porto recorda na denominação de um Liceu e também de uma avenida, em 1882 (pg. VII), nos seus “Elementos de Escrituração Mercantil” já destacava, a Lei de 22 de Dezembro de 1761, o Decreto de 12 de Junho de 1835, e a Lei de 25 de Junho de 1881. Nas últimas duas décadas, Portugal, como outros países, re-tomou este objectivo, algumas vezes sem adequada aná-lise do insucesso das intentonas. Mesmo reconhecen-do que o actual modelo da contabilidade empresarial, ao incluir representação dos fluxo de fundos, facilita a transposição das partidas dobradas para o sector públi-co, devem ser consideradas as diferenças relativamente à natureza de algumas realidades. Por exemplo quais as “coisas” que podem ser penhoradas quando uma dívida da entidade “governo municipal” deixa de ser cumprida

em tempo? E se a dívida respeitar à entidade autarquia, portanto à mesma entidade a que são atribuídos estradas e fontanários?

Considerando alteração, em termos quantitativos ou qualitativos, do património de uma entidade pública, o de-vir típico de um município, são muitas as hipóteses de transformação de valores financeiros recebidos pelo “Go-verno do Município” em valores correspondentes a bens de domínio público no património municipal. A repre-sentação não pode ignorar as diferentes possibilidades de utilização de recursos classificados como bens de domínio público. Valores onde se misturam bens de domínio pú-blico, cuja afectação é limitada às hipóteses legais, com bens ao dispor do município nos termos do direito priva-do, não são facilmente descodificados.

O alcance do controlo por uma entidade define o perímetro do património que lhe corresponde, mas a representação contabilística não pode ignorar as restri-ções à utilização dos valores controlados. No Anuário já citado, a pág. 122 anota-se, e muito bem, que, quan-do o passivo inclua proveitos diferidos, que não são fundos alheios, a diferença entre activo e passivo de facto não corresponde a fundos próprios. Qual é, então, o significado de fundos próprios como título de uma classe?

Para dificultar mais a interpretação por leitores não iniciados acontece que, mesmo sem destaque do valor dos fundos correspondentes a bens do domínio publico, existem municípios em que os fundos próprios corres-pondem a valores negativos. É então evidente que estão comprometidas receitas futuras. Se os fundos próprios fossem adequadamente representados, discriminando os correspondentes a património do domínio público, seria mais conseguida a percepção pública do peso da dívida existente.

Em pano de fundo das dificuldades está a falta de adequados conceitos do património e da “entidade” a que respeitam as contas.

Muito se tem escrito e falado na hipótese de uma linha de TGV, um comboio em projecto. As dificuldades de equacionar custos e benefícios são acentuadas não só porque o futuro é incerto, mas também porque é de di-

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CONTABILIDADE

fícil caracterização a entidade contabilística que lhe corresponde. para efeitos contabilísticos, o que é o tGv?

Mesmo que exista uma linha e existam máquinas e carruagens, pode não existir linha de comboio. Mesmo uma máquina e carruagens em movimento sobre uma linha podem não corresponder a uma linha de com-boio. esta implica uma organização, a utilização de li-nhas material rolante, estações com serviços adequados, horários, todo um conjunto que legitime a expectativa do transporte de mercadorias e de passageiros num certo condicionalismo, o do tGv.

Como delimitar o património a afectar a uma li-nha de comboio ainda em projecto? Mesmo quando o comboio já existe, podem coexistir bases para diferen-tes interpretações da realidade. A diferente organização dos mercados da oferta e da procura de transporte, ou da exploração das linhas, ou dos serviços das estações, ou do material rolante, conduzirá a diferentes repre-sentações.

Como orçar os custos e proveitos correspondentes ao projecto TGV? Se existirem três entidades diferentes, uma controla a linha, outra o material rolante e outra a organização, a necessária negociação entre elas fixando critérios de repartição de custos e proveitos pode resultar em lucros de uma entidade em correspondência com per-das numa outra entidade.

mas se o objectivo for equacionar a resultante so-cial, o problema é muito mais complicado pois devem ser considerados os efeitos directos e indirectos da utilização prevista. Devem ser consideradas as qualidades e quanti-dades de energias consumidas, as economias e gastos adi-cionais resultantes da alteração não só de tempo de viagem como mesmo da decisão sobre a viagem ou o transporte. A identificação da entidade, cujos custos e proveitos se pretendem cotejar, condiciona todo o equacionamen-to. Em nota à margem registe-se que mesmo depois de feita esta identificação, que é um problema contabilístico, fica a dificuldade do equacionamento económico: à preca-riedade das previsões acresce a dos parâmetros definidores do modelo de apreciação.

As contas dos municípios, e o equacionamento em-presarial e social dos custos e proveitos a atribuir a uma li-nha de comboio TGV, evidenciam que a entidade, como referência da informação contabilística, corresponde a um perímetro delimitador do controlo acessível, quer se pretenda informação sobre situação patrimonial ou finan-ceira, ou de interesses, ou quando se pretenda equaciona-

mento de custos e proveitos. Evidenciam ainda que nem o conceito de personalidade jurídica nem o de unidade económica, respectivamente do direito e da economia, são operacionais em contabilidade.

A chamada contabilidade “camaral” divulgada na Eu-ropa a partir da Áustria e governo de Maria Teresa, as-sentava no reconhecimento do papel desempenhado no sector público pelos orçamentos, base do controlo da aplicação de fundos e despesa. O princípio da “unici-dade” orçamental é estruturante nesse modelo; a desorça-mentação, entendida como não inclusão no orçamento, é um pecado capital.

O modelo da contabilidade empresarial pode acolher o orçamento, embora este não faça parte das suas bases estruturantes, mas abre as portas a soluções de “engenha-ria financeira”. A falta de um conceito claro e preciso da unidade económica, ou seja da entidade a que res-peitem as contas dos municípios, e singularidade da informação relativa ao valor dos bens públicos, preju-dica muito a boa interpretação das contas apresentadas. As “partidas dobradas” assentam num sistema de contas fechado capaz de representar o património e opera-ções de uma “entidade”. Quando há falta de clarificação de conceitos, quer do património quer da actividade, por virtude da imprecisão das fronteiras da entidade, abrem-se portas a soluções de representação que poderiam, e deveriam, ser evitadas. A contabilidade “camaral”, a da “burocracia” de Maria Teresa, colocava mais entraves à “contabilidade criativa”.

Os problemas de representação contabilística impli-cam a possibilidade de demarcar o perímetro delimitador do universo objecto da informação, um património ou um feixe de interesses, em correspondência com uma en-tidade. As dificuldades começam ao identificar a “en-tidade”.

*Revisor Oficial de Contas nr 1 - act susp, ex docente da FEP

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19CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

CONTABILIDADE

rOdriGO antôniO Chaves da silva*

A doutrina norte-americana, embora saibamos do seu forte apego ao empirismo, e na absorção de conceitos que segue uma outra via que não a filosófica, às vezes fornece pontos a serem discutidos, e de certa importância para a contabilidade científica.

Um deles é o que se refere ao “Accrual”.O “accrual” é na verdade todo aquele valor provindo dos

lucros, porém, que não se transforma em liquidez imediata. É como se fosse a relação das disponibilidades produzidas pelos lucros.

Como é normal a empresa vender e receber os seus preços a dinheiro, é lógico que a tendência do caixa será de aumen-to. Porém, às vezes, o dinheiro que era para ser realizado em bens pecuniários, transforma-se em crédito, é o “accrual” de que trata a doutrina americana, e que alguns pesquisadores brasileiros assim apelidam (no entanto, a interpretação literal do verbete não é essa, ou seja, apropriaram uma palavra, sinó-nimo de uma coisa, para a significação de outra).

A palavra “Accrual” quer dizer em nossa língua “acrés-cimo”.

Para a doutrina norte-americana é como se fosse um fenómeno da não-tendência dos lucros se transformarem diretamente em numerários.

Ainda consideram o “accrual” como activo e passivo (como dissemos, modificando a sua interpretação literal).

Como são relativos a dinheiro, é óbvio que este elemento exige, e se movimenta, pelas entradas que lhe dão acrésci-mos, e pelas saídas que lhe provocam decréscimos. No caso do passivo, percebe-se tais fenómenos no prazo em que não exige a retirada imediata (como é o caso dos fornecedores) de numerário.

Numa linguagem doutrinal brasileira e européia, estes eventos são designados doutrinariamente por fornecedores, e créditos a receber; são elementos que alteram frequente-mente o caixa da empresa.

Se toda a venda é recebível a dinheiro, seria óbvio que todo o valor do lucro seria igual ao disponível, porém, em diversas ocasiões, as vendas são a crédito: ou a disponibili-dade do lucro é concedida por um prazo, e mesmo sendo recebido, ela serviria para pagar as despesas e gastos ime-diatos da empresa, em compensação os valores a se pagar “paralisados” são aqueles fornecidos por prazos, contudo, existem aqueles à vista que exigem uma saída imediata de numerário.

Em diversos casos, a empresa também possui uma reser-va de caixa, ou seja, um volume mínimo para a manutenção do seu ciclo operacional, pela compra de estoques, ou para quaisquer dívidas eventuais.

Muitas vezes, os valores do caixa são movimentados para outros fins, como os de pagamento de debêntures, di-videndos, doações, portanto, nem sempre a origem para tais movimentos estará no mesmo acréscimo dos lucros. Poderá, também, advir de descontos comerciais, juros financeiros de aplicações bancárias, que o aumentarão, e embora, façam parte do sistema reditual, não provém, diretamente das ven-das da empresa, ou da sua receita operacional.

Então o valor dos lucros nem sempre será igual à dispo-nibilidade da empresa. Isto num aspecto nominal.

Os problemas dos créditos e débitos de funcionamento são aceitáveis, mas, talvez, a forma de se abordar sobre os mesmos, pela teoria norte-americana, seja tanto quanto incoerente.

Isso devido à confusão do conceito de lucro com o fluxo de caixa. Quase todos os tratadistas norte-americanos, ou ao menos os brasileiros que tentam imitá-los, mencionam o fluxo de caixa, e analisam o rédito da empresa, como se fosse a única base para manter este potencial de numerário, a nível presente e futuro. Se assim fosse, seria desnecessário analisar a rentabilidade dos recursos fixos investidos, pois, tudo se observaria na massa circulante.

Na teoria da dimensão substancial, não se pode con-fundir a massa do lucro com a disponibilidade, apesar de possuírem uma interligação, gerando a “disponibilidade do lucro”. Também não se pode aceitar o fluxo de caixa apenas como o único aceitável, para os estudos redituais. Isso é menosprezar a relatividade sistemática como um produto da interação dos mesmos componentes patrimoniais.

Entender como funciona o fluxo de numerário, com o exercício reditual sempre será plausível e necessário para atender os interesses do capital organizado. Ou seja, a rela-ção “lucro-disponibilidade” é aceitável e aconselhável.

Apenas confundir conceitos não adianta, para favorecer as conclusões.

Embora, as teses norte-americanas mencionam proble-mas já ressaltados há décadas na contabilidade, as questões em torno dos créditos e débitos de funcionamento favorecem os estudos do capital, embora, se tenha uma visão distorcida dos conceitos axiomáticos, derivados por um critério de juízo da ciência do património.

*Contador e Neopatrimonialista

reflexões sobre o “accrual”

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20 CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

resumoO artigo procura dar a conhecer os principais concei-

tos e objectivos associados à temática da Contabilidade dos Recursos Humanos, através de uma revisão da litera-tura dos autores mais respeitados da área. Complementar-mente, numa vertente mais prática, examinam-se alguns modelos de avaliação dos recursos humanos de uma enti-dade. Espera-se despertar a atenção dos leitores para uma questão ainda não resolvida pela Contabilidade, estimu-lando-os a partir em busca de mais informação.

1. introdução

O artigo visa contribuir para o aumento do conhe-cimento associado ao campo da Contabilidade dos Re-cursos Humanos (CRH) por parte dos profissionais da Contabilidade.

As pessoas geram capital para a entidade através da sua competência, da sua atitude e da sua capacidade para ino-var. As competências incluem as habilidades, o talento e a educação e a atitude refere-se às condutas dos indivíduos. A capacidade de inovar traduz-se no arrojo da tomada de posição e na crença de que as ideias podem funcionar.

A literatura designa por capital intelectual (ou huma-no) o conhecimento acumulado; a habilidade e a experi-ência dos funcionários para realizar as tarefas organiza-cionais quotidianas; os valores; a cultura e a filosofia da entidade (Machado, 2001; Rodrigues e Oliveira, 2001; Rodrigues e Ribeiro, 2003; Gonçalves, 2003, 2007) Nes-ta linha de argumentação, as pessoas, representando acti-vos da organização, constituirão uma estratégia da entida-de no sentido desta atrair, reter, desenvolver e aproveitar eficazmente o capital intelectual (humano), em ordem ao estabelecimento de vantagens competitivas duradouras.

Nestes termos, a Contabilidade têm evoluído com o objectivo das demonstrações financeiras incorporarem elementos de carácter intangível e de natureza humana, numa tentativa de reflectirem a desejada true and fair view das operações da entidade. De igual modo, o capital humano representa um dos intangíveis mais importantes que as organizações têm, sendo crucial no desempenho das sociedades do conhecimento (Brás, 2007).

Neste trabalho, a abordagem metodológica ao objecto de estudo respeitou o seguinte protocolo, segundo Raupp e Beuren (2006): (1) quanto aos objectivos – descritiva, uma vez que simplesmente procedemos à inventariação de factos, deixando-os falar por si mesmos, privilegiando desta forma a resposta à questão ‘como’; (2) quanto aos procedimentos – bibliográfica; e (3) quanto à abordagem do fenómeno de estudo – qualitativa, pois não foi usado nenhum instrumento estatístico (Vieira et al., 2009). Para a recolha de dados e geração de informação foram utiliza-das apenas fontes secundárias.

Para a concretização do objectivo inicial enunciado, para além da introdução, o trabalho está estruturado em mais quatro secções. De seguida, tecem-se considerações a propósito da génese e evolução do tema que aqui nos ocupa. Na oportunidade da terceira secção, enunciam-se os principais objectivos da Contabilidade dos Recursos Humanos, para, na quarta secção, serem expostos alguns modelos de avaliação de recursos humanos desenvolvidos por reputados académicos da especialidade. Por último, são apresentadas as conclusões, as limitações e as reco-mendações essenciais do trabalho.

2. surgimento e evolução do conceito

De acordo com Tinoco (1996), terá sido Likert (1967) o autor que primeiramente utilizou a expressão Contabi-lidade de Recursos Humana para enfatizar a debilidade da estrutura tradicional da Contabilidade no (não) reconhe-cimento dos recursos humanos no balanço das organi-zações. Desde então, vários investigadores procederam a uma tentativa de enriquecimento desta última acepção, participando quer na construção de modelos para men-

CONTABILIDADE

Capital intelectual

A literatura designa por capital intelectual (ou humano) o conhecimento acumulado; a habilidade e a experiência dos funcionários para realizar as tarefas organizacionais quotidianas; os valores; a cultura e a filosofia da entidade.

de que falamos quando falamosde Contabilidade dos recursos Humanos?CláudiO COrreia*miGuel GOnçalves**

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21CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

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surar os recursos humanos, quer no estabelecimento da utilidade da CRH (Almeida e Carvalho, 1996).

Sob outro prisma, pode examinar-se a CRH à luz de duas perspectivas diferentes: (i) por um lado, aquela que se prende com o investimento em recursos humanos; e, (ii) por outro, a que se filia no valor desses mesmos recursos. No que tange a este último aspecto, o modelo do gasto de oportunidade de Hekimian e Jones (1967) forneceu as ba-ses para a avaliação do gasto de oportunidade dos emprega-dos, chave para a base quantitativa, planeamento e controle do funcionamento das actividades dos recursos humanos.

Já Hermanson (1964) propôs um modelo ajustado do valor actual, quantificando o valor do capital humano de uma entidade. De acordo com o autor, o valor dos salá-rios futuros pagáveis representam uma responsabilidade actual para a organização e devem, em consequência, ser incluídos na contabilidade da entidade. Da mesma forma, também Lev e Schwartz (1971) avaliaram o capital huma-no como sinónimo do valor actual do salário futuro dos colaboradores até à sua aposentação.

Em continuação, verifica-se assim que há já mais de quarenta anos que se procura dar relevância contabilísti-ca a este recurso intangível (Almeida e Carvalho, 1996), seja designando-o inicialmente como recursos humanos apenas, seja como capital humano (Brás, 2007), uma ter-minologia mais contemporânea.

Mais recentemente, tem-se reconhecido que as en-tidades prestam-se a um certo grau de responsabilidade social que excede a clássica maximização da sua perfor-mance económica e financeira, pelo que actualmente o capital humano não é interpretado de forma isolada, mas sim inserido numa lógica de activos intangíveis - o capital intelectual.

Considerando o exposto, fazemo-nos valer da argu-mentação de Sousa (1997) para definir CRH como uma ferramenta de mensuração dos recursos humanos de uma entidade, que apresenta como principal objectivo reco-lher, tratar, interpretar e fornecer informação a todos os que presumivelmente nela estão interessados, sejam uti-lizadores internos ou externos à entidade. Neste exacto sentido, as linhas que se seguem procuram aclarar o signi-ficado desta última asserção.

3. principais objectivos da Contabilidadede recursos Humanos

Atrás comentámos já que a CRH partilha o objectivo magno da Contabilidade, ou seja, pretendem ambas ofe-

recer dados que facilitem a adopção e validação de de-cisões de forma mais sustentada e racional. Porém, tem predominado a percepção de que é no âmbito das deci-sões internas que a CRH está destinada a desempenhar o seu papel fundamental. Um trabalho que contribuiu para esta concepção terá sido o de Flamholtz (1973), o qual defende que o objectivo fundamental da CRH é facilitar as decisões internas da entidade, uma vez que está preparada para ajudar os gestores a utilizar de forma eficaz e eficiente os recursos humanos de uma organiza-ção, tendo em vista fornecer informação necessária para adquirir, desenvolver, conservar, utilizar, avaliar e com-pensar os recursos humanos.

Num outro ponto de vista, a literatura coloca em re-levo também a utilidade da CRH no âmbito da tomada de decisões pelos utilizadores externos, pelo que para esta corrente o objectivo da CRH passa por melhorar a quali-dade das decisões financeiras respeitantes a uma entidade, incluindo tanto as decisões tomadas a nível interno como as exercidas por usuários externos. A terminologia utili-zada por Marqués (1974), considerando que a CRH está destinada tanto a facilitar decisões internas como exter-nas, aponta no mesmo sentido.

Na expressão do autor que aqui seguimos - Marqués (1974) - os objectivos que se visam conseguir com a valo-rização do capital humano podem ser sintetizados como segue: (1) oferecer informação contabilística e financeira que possa ser incluída nos relatórios anuais da entidade, pelo que desta forma os accionistas e credores da entidade estarão informados sobre o capital humano da entidade; e (2) proporcionar uma base de maior racionalidade econó-mica para a gestão da entidade, ao facilitar-se uma ferra-menta que antes se não possuía.

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22 CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

CONTABILIDADE

Por sua vez, Bouzada (1977) entende que a CRH é um termo genérico que abarca diversas técnicas de mensura-ção e de informação com o objectivo de obter informação precisa e tempestiva para tomar todas as medidas apro-priadas para a concretização dos objectivos da entidade. Parker et al. (1989) defendem que o objectivo da CRH é melhorar a qualidade das decisões financeiras, toma-das tanto por partes internas como externas da entidade, ao introduzir variáveis de capital humano na tradicional gama de variáveis para a tomada de decisões por parte da gestão.

Em síntese, vale a pena concluir, em linha com o ex-posto, que a literatura faz corresponder a CRH a um con-junto de ferramentas utilizadas para a obtenção de dados quantitativos e qualitativos (monetários e não monetá-rios) dos recursos humanos que prestam serviços a uma entidade, com vista a melhorar a qualidade das decisões, tanto internas como externas, com o duplo objectivo de; (i) permitir avaliar a importância do pessoal; e (ii) facilitar o desenvolvimento e evolução das políticas de pessoal se-guidas pelas entidades.

De seguida, a exposição versará sobre uma componen-te mais prática atinente a esta temática, na medida em que enuncia exemplos de abordagens que permitem a men-suração da componente humana que aqui nos preenche.

4. modelos de avaliação dos recursos humanos

Dada a singularidade dos recursos humanos como ele-mentos intangíveis das entidades, o avaliador pode eleger entre diferentes atributos, variáveis ou características na altura da elaboração das métricas representativas daquilo que se pretende medir ou quantificar.

No que concerne a métodos de avaliação da compo-nente em título, Amaral e Pedro (2004) informam-nos que neste particular identificam na literatura mais de uma vintena de abordagens. Todavia, seguiremos de perto a taxionomia proposta por Sackmann et al. (1989), a qual classifica em três grupos distintos esta questão, a saber: (1) modelo dos gastos; (2) modelo do valor; e (3) modelo de ênfase monetária.

Na opinião de Edvinsson e Malone (1997), trata-se de uma tipologia que merece destaque na literatura, porque as suas premissas de base têm sido discutidas em relevan-tes estudos académicos da nossa disciplina. Disto mesmo procuraremos de seguida dar conta, designadamente pela descrição dos principais traços de trabalhos de alguns au-tores de destaque cujas características permitem a sua ca-

talogação dentro da tipificação sugerida por Sackmann et al. (1989).

4.1 modelo dos gastos

Os recursos humanos utilizados numa entidade para a produção de bens e/ou serviços são o significado de uma participação activa no processo de criação de valor. Este valor criado pela entidade deriva da conciliação entre os meios humanos utilizados e os materiais. Neste processo de criação de valor surgem diversos tipos de gastos, que geralmente se encontram agrupados em três categorias: gastos de matéria-prima; mão obra directa e gastos gerais de fabrico.

No que se relaciona com os gastos dos recursos hu-manos utilizados, um dos primeiros problemas que se co-locam, na óptica de Hekimian e Jones (1967), é o de sa-ber que valor aplicar aos recursos humanos, uma vez que existem diversas alternativas possíveis de aplicação. Nesta linha, seguidamente analisamos as diferentes opções sus-tentadas por Hekimian e Jones (1967).

4.1.1 Modelo do gasto histórico

A sua característica crucial respeita à circunstância de tomar em consideração os gastos de aquisição dos recursos humanos, de que constituem exemplos os gastos com o recrutamento, selecção e de colocação, e ainda os gastos de aprendizagem e formação, promoção e aperfeiçoamen-to.

“A R. G. Barry Corporation of Columbus, de Ohio, nos EUA, a primeira empresa a possuir um sistema de CRH, na qual vários autores puderam desenvolver o seu traba-lho de investigação” (Brás, 2007: p. 308), concebeu um modelo que diferenciava os gastos dos recursos humanos em gastos produtores de benefícios no exercício corrente, e gastos indutores de benefícios que se repercutem por vários exercícios. Em consequência, o modelo classifica como investimento os gastos com recursos humanos que originam benefícios futuros, pelo que se torna fundamen-tal a identificação de elementos entre gastos do exercício ou componentes representativas de investimento. Neste contexto, Brummet et al. (1968) noticiam-nos que a cita-da companhia estabeleceu como opção a capitalização dos gastos com recrutamento, aquisição, formação e desen-volvimento dos recursos humanos, para, de forma consis-tente, proceder à amortização do valor reconhecido como activo humano ao longo da vida útil esperada do activo.

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23CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

CONTABILIDADE

Porém, como se antevê, a metodologia apresenta al-gumas limitações, de entre as quais destacamos a facto do valor económico da activo nem sempre corresponder ao valor do gasto histórico e ainda a circunstância de o re-conhecimento e sequente amortização corresponderem a variáveis subjectivas, sucedendo que pode não conseguir estabelecer-se uma relação coerente entre o que se registou como activo e o que o colaborador representa em termos efectivos de produtividade na entidade.

4.1.2 Modelo do gasto de substituição/reposição

Este método de valorização pretende corrigir as defi-ciências daquele que o antecedeu nesta exposição. Assim, baseia-se essencialmente no valor dos gastos necessários para substituir um elemento humano ou grupo de ele-mentos que a entidade possui, por outros com igual nível de habilidade e familiaridade com a entidade, como é o caso dos gastos originados pela saída acrescidos dos gastos anteriormente mencionados.

Neste modelo estimam-se os gastos de substituição de um recurso humano. Estes gastos são compostos por gas-tos de recrutamento, selecção e contratação dos substitu-tos; pelo tempo despendido na substituição do funcioná-rio; pelos gastos de aprendizagem para que o funcionário adquira o nível de produtividade requerido para o posto de trabalho; e ainda pelos gastos da saída do funcioná-rio, ou seja, os mesmos gastos que compõem o gasto de aquisição valorizados a preços correntes, mais os gastos da saída, que incluem os gastos derivados da saída do fun-cionário da entidade, entre os quais se incluem a perda de produtividade (tanto pela existência de um posto vago, como pelo decréscimo de produtividade associado ao pe-ríodo que precede o abandono/saída do empregado).

Flamholtz (1973) procurou desenvolver um modelo tendo em contas os gastos de reposição num dado mo-mento, como se de um activo fixo se tratasse. Para tanto, a mensuração do seu novo activo, ou seja, o seu gasto de reposição, equivaleria ao somatório de todos os gastos di-rectos e indirectos relativos aos novos gastos de aquisição, aprendizagem e separação. O autor retirou a conclusão de que o gasto de reposição incorrido hoje representaria o sacrifício que a entidade assumiria para possuir um activo em condições idênticas.

A maior limitação do modelo do gasto de substitui-ção/reposição consiste no facto de poder não existir um sucedâneo de características similares para um activo humano. Afinal não falamos aqui de simples existências

(inventários, agora). Na verdade, revela-se uma tarefa bastante difícil e assaz subjectiva a de estimar o gasto de substituição completo de um recurso humano. Em com-plemento, a entidade pode reconhecer que o valor de um recurso humano em particular poderá ser maior do que o seu gasto de substituição/reposição.

4.1.3 Modelo do gasto de oportunidade

O método assenta na suposição de que distintos de-partamentos da entidade estão interessados em obter os serviços de certos empregados que são considerados re-cursos escassos, na medida em que não podem ser con-tratados imediatamente ao exterior. No seguimento, cada director de departamento oferece um preço por esses co-laboradores e o preço mais alto passaria a fazer parte do valor de investimento desse departamento.

Hekimian e Jones (1967) defendem este modelo, ao considerarem que o valor do recurso humano deve ser fi-xado através de um processo de oferta competitiva dentro da entidade, tendo por base a definição do gasto de opor-tunidade. No seu ponto de vista, um activo humano terá valor se for um recurso escasso ou, por outras palavras, quando o seu emprego num departamento impedisse a sua contratação por outro.

Este modelo apresenta algumas deficiências entre as quais destacamos o facto de poder ser interpretado como sendo discriminatório, na medida em que só considera os recursos escassos e ainda o facto de os sectores da en-tidade menos rentáveis poderem ser penalizados pela sua impossibilidade de concorrer com sectores mais rentáveis na obtenção de melhores recursos humanos.

4.2 modelo do valor

Outras teorias foram desenvolvidas no sentido de ten-tar determinar o valor de cada indivíduo para a entidade, conciliando comportamentos não monetários com com-portamentos monetários, tendo no entanto em considera-ção que o valor total do capital humano de uma entidade não é igual à soma dos valores individuais (Sackmann et al., 1989). Por este motivo, vários autores consideram que

Criação de valor

Os recursos humanos utilizados numa entidade para a produção de bens e/ou serviços são o significado de uma participação activa no processo de criação de valor.

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CONTABILIDADE

o cálculo do valor dos recursos humanos deve correspon-der ao grupo e não a um indivíduo isoladamente consi-derado.

Esta óptica, com base na perspectiva do valor dos ac-tivos humanos, vem defendida por Likert (1967) e Fla-mholtz (1972). Segundo o modelo de Likert (1967), a Contabilidade deve ser entendida como um projecto inter-disciplinar, logo o valor do capital humano deve ser calcu-lado levando em linha de conta todas as variáveis que, de maneira directa ou indirecta, tenham influência na mensu-ração desse valor. Assim, o autor defende que a mensuração não deve ser efectuada para um recurso humano individual mas sim para o seu conjunto agregado, a fim da gestão da empresa ser mais correcta e eficaz. Por sua vez, Flamholtz (1972) advoga que é impossível prever hoje com exactidão os benefícios esperados no futuro de um recurso humano. Consequentemente, deve-se ter em conta o tempo previsto em que determinado recurso humano consegue produzir determinado bem/serviço, assim como a probabilidade dos benefícios futuros virem a ser obtidos. A figura 1 sintetiza o seu pensamento, tal como segue:

Figura 1moDeLo De meNsuração De FLamHoLTZ (1972)

Fonte: Flamholtz (1972)

O comentário que a figura 1 nos merece é o de que se trata de um modelo quantitativo, complexo, no qual a subjectividade ligada ao conceito matemático de pro-babilidade o desloca da realidade empresarial, podendo ser facilmente manipulável e levando, inclusive, a factores susceptíveis de criar algum desconforto entre os colabo-radores, nomeadamente pela constatação das crenças (ou descrenças) futuras que a entidade neles deposita apoiadas em indicadores numéricos de difícil explicação aos pró-prios intervenientes no sistema.

4.3 modelo de ênfase monetária

Fruto das próprias limitações dos modelos expostos, e dos mesmos não transmitirem um consenso generaliza-do entre os académicos destas temáticas, outros modelos

foram sendo desenvolvidos, não tanto numa lógica dos gastos históricos mas sim numa óptica meramente mo-netária, procurando-se nestes modelos o cálculo de esti-mativas descontadas dos rendimentos futuros ou até dos salários futuros.

Na construção do seu modelo para a mensuração dos recursos humanos, Hermanson (1964) defende já uma noção de activo muito aproximada da actual, ou seja, par-te do pressuposto que os activos têm de ser reconhecidos no balanço pelo valor actual dos futuros fluxos de caixa, sendo a variação positiva ou negativa do activo ajustada a esse mesmo activo (actual conceito de revalorização ou imparidade de activos).

Tendo ainda como premissa a ênfase monetária, o mo-delo inicial de Flamholtz (1972) iniciado nos anos 70 foi sendo desenvolvido pelo autor. Assim, segundo Moreno Campos e Sierra Molina (2002), Flamholtz, em 1987, de-senvolveu um modelo mais completo do que o anterior, porque além de considerar o “valor económico esperado”, também tem em linha de conta o “valor realizável espe-rado” dos recursos humanos, dado que calcula os rendi-mentos que se obtêm pelo facto dos recursos humanos permanecerem na entidade. Este método confere ênfase à relação directa entre o valor atribuído a determinada pessoa e a sua qualificação e desempenho em determina-da entidade, ou seja, um indivíduo não é valorizado para uma qualquer entidade, mas sim em relação aos postos de trabalho que potencialmente pode e deseja ocupar. Ainda de acordo com Moreno Campos e Sierra Molina (2002), o autor que vimos a considerar (Flamholtz, 1987) propõe a seguinte metodologia (figura 2):

Figura 2moDeLo De meNsuração De FLamHoLTZ (1987)

Fonte: Flamholtz (1987)

n E (S) = Σ S i P (S i)

i = 1

E (S) = Valor do capital humano total de um indivíduo S i = Quantidade de serviço esperado P (S i) = Probabilidade dos serviços esperados serem obtidos

T E (CV) = Σ E (CV) t ( 1 + i ) t-y

t = yE (CV) = É o valor condicional esperado no tempo t (1+ i)t-y = É a taxa de desconto, sendo i a taxa de juro e t é o tempo decorrido desde y

tomada de decisão

A génese da CRH filia-se no reconhecimentoda necessidade de medição dos activos humanospara a tomada de decisão.

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CONTABILIDADE

Moreno Campos e Sierra Molina (2002) afirmam que o autor considera duas vertentes para o “valor realizável esperado”:

- “Valor condicional”, integrando três componentes: a produtividade; a transferibilidade (trabalho espera-do de um indivíduo) e a promocibilidade (possibili-dade de desempenho de um indivíduo perante uma subida hierárquica);

- “Probabilidade de permanência”, que equivale aos rendimentos que se podem obter com a permanên-cia desse recurso na entidade.

Por último, gostaríamos ainda de frisar um outro modelo proposto por Friedman e Lev (1974). Os auto-res sustentam o seu modelo ao afirmarem que os recursos humanos são activos da entidade e que, como tal, deve-se determinar os futuros fluxos de caixa descontados que estes conseguem gerar para a entidade. A novidade deste modelo prende-se com o facto de nos seus cálculos os au-tores tomarem em consideração o valor actual (desconta-do/ajustado) e o valor de mercado dos salários, afirmando que o valor do investimento em recursos humanos corres-ponderá à diferença entre ambos.

5. Conclusões

A génese da CRH filia-se no reconhecimento da ne-cessidade de medição dos activos humanos para a tomada de decisão.

A partir dos anos sessenta verificou-se um grande desenvolvimento da CRH, procurando-se o aperfeiçoa-mento de modelos de mensuração do valor dos recursos humanos.

Uma resultante dos trabalhos sobre a Contabilidade e os Recursos Humanos consistiu na obrigatoriedade de apresentação do balanço social em França (1979). Em Portugal esta matéria veio regulada pela Lei n.º 141/85, de 14 de Novembro, sendo obrigatório para entidades privadas com mais de 100 trabalhadores, e imposto ac-tualmente a entidades com mais de 10 trabalhadores, por via da Lei n.º 35/04 de 29 de Julho, muito embora este diploma não esteja a ser respeitado integralmente.

Importa também retirar deste estudo que são várias as condicionantes que devemos ter em conta quando se pre-tende mensurar os recursos humanos, pelo que se conclui que todos os aspectos devem ser tidos em linha de con-ta, quer os internos quer os externos, na medida em que provocam alterações no indivíduo e consequentemente na sua mensuração.

Vale a pena concluir dizendo que este tema constitui um promissor campo de pesquisa futura, em virtude de o considerarmos, a par do goodwill gerado internamente, os dois principais problemas que a Contabilidade e os profis-sionais ainda não conseguiram solucionar.

Referências bibliográficas: Podem ser solicitadas aos autores ou ao Director da C&E.

*Docente da escola superior de Tecnologia e Gestãode oliveira do Hospital - instituto Politécnico de Coimbra

Licenciado em Gestão de Empresas (ISCA de Coimbra).Mestre em Contabilidade e Auditoria (Universidade de Aveiro).

Doutorando em Contabilidade pela Universidade do [email protected]

**Docente do isCa de CoimBra - instituto Politécnico de CoimbraLicenciado em Organização e Gestão de Empresas (Universidade

de Coimbra). Pós-Graduado em Economia (Universidade de Coimbra).Mestre em Contabilidade e Auditoria (Universidade de Aveiro).

Doutorando em Contabilidade pela Universidade do [email protected]

T E (CV) = Σ E (CV) t ( 1 + i ) t-y

t = y

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26 CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

CONTABILIDADE

O conceito de justo valor ainda necessita de passar por aperfeiçoamentos. Trata-se de um tema que está em cons-tante mudança, mas que passou a fazer parte dos critérios contabilísticos. Quanto à actual crise, esta pouco tem a ver com a aplicação das normas contabilísticas. Estas as princi-pais conclusões que se podem retirar de uma entrevista con-cedida por Leandro Cañibano, presidente da Associação Espanhola de Contabilidade e Administração de Empresas (AECA), à revista TOC e publicada em Dezembro passado.

A questão do justo valor mereceu especial destaque, considerando aquele dirigente associativo que o problema do justo valor é que as mudanças surgidas não tiveram lu-gar na melhor altura. Afinal, uma parte do que se entendia por justo valor (em Espanha utiliza-se a expressão “valor razonable”) já se aplicava. “Quando o custo da aquisição não era recuperável, porque a cotação de mercado era in-ferior, tínhamos de reconhecer as perdas. O valor razo-nable funciona desta maneira, mas também em sentido contrário, permitindo reconhecer os incrementos de va-lor. Antes, quem tinha um título, tinha que vendê-lo para que se reconhecesse o ganho. Agora, tal já não seria neces-sário. Primeiro reconheceram-se os incrementos e com a crise tiveram de ser reconhecidas as perdas, o que levou a algumas resistências.”

Considera que é curioso verificar que se criticou muito a contabilidade por utilizar o custo histórico, um valor do passado. “Agora que adoptamos o presente, para uma parte, as críticas continuam, porque tal método também não é conveniente para todos. Este é um tema que está em constante revisão, porque a própria União Europeia introduziu alterações nas normas internacionais para que o impacto não fosse tão grande. É um tema que, nos pró-ximos anos, continuará a merecer afinações.”

Leandro Cañibano rejeita a ideia que foi transmitida à opinião pública de que as normas contabilísticas estive-ram na base da crise que se atravessa actualmente. As cri-ses não foram provocadas por se utilizar determinado cri-tério contabilístico. Qualquer que ele seja tem que existir sempre uma base real. A crise terá revelado fraquezas das normas contabilísticas e problemas na sua aplicação, mas tais problemas foram levantados sobretudo em relação à

norma relacionada com os instrumentos financeiros. “Era necessário modificá-la no capítulo referente ao tratamen-to dos activos. Foi uma posição de cautela, porque havia algo que estava incompleto.”

A crise tem mais a ver com a falta de ética, na óp-tica do presidente da AECA. Houve uma tendência de enriquecimento súbito, sem olhar para o lado. Essa forma de actuar, naturalmente, não conduz a parte alguma. “É precisa uma certa ética e ser-se responsável. A responsabi-lidade é algo que é voluntário.”

Convergência contabilística ainda tem longo caminho a percorrer

O dirigente associativo defende a convergência das normas contabilísticas. No entanto, admite que ainda há um longo caminho a percorrer. Seja como for, está-se no bom caminho, sobretudo no que respeita às empresas glo-bais. No entanto, esta é uma realidade, outra é que esses critérios possam servir para uma pequena ou média em-presa, condicionada por regulações de cada país. Pelo que a globalização tem de entender as várias especificidades. É fundamental que, em termos globais, exista a máxima confiança quanto às contas de uma qualquer empresa.

A posição relativamente à introdução das novas tecno-logias na área contabilística é de agrado por parte daquele profissional. Adianta a este propósito: “As novas tecno-logias que hoje se utilizam para efectuar a contabilidade levaram a uma melhoria em muitas empresas, sobretudo nas pequenas. Hoje, estas entidades, se o desejarem, po-dem externalizar esses serviços e ter acesso, quase em tem-po real, aos dados sobre o seu negócio, sem necessidade de incorrerem noutros gastos. A contabilidade é informação. Na medida em que essa informação pode ser elaborada de forma mais rápida e eficiente, pressupõe possibilidades de reacção que antes não existiam.”

Leandro Cañibano, presidente da AECA, considera

Conceito de justo valortem que ser aperfeiçoado

mudanças

O problema do justo valor é que as mudanças surgidas não tiveram lugar na melhor altura.

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27CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

CONTABILIDADE

No passado dia 25 de Janeiro, o Director da Revis-ta de Contabilidade e Comércio (RCC), Professor Dr. Hernâni O. Carqueja, teve a amabilidade de me entre-gar pessoalmente no meu escritório o último número, n.º 240, de Janeiro de 2011 (Fig. 1) da RCC, facto este que me tinha comunicado dias antes. A RCC foi publi-cada desde 1933, sendo a revista mais antiga em activi-dade na área da contabilidade (Fig. 2 – Capa do n.º 1, de Janeiro/Março de 1933).

Há cerca de seis anos, o Professor Carqueja convi-dou-me para o “substituir” como Director da RCC, o que recusei com a argumentação de que essa decisão po-deria não ser bem interpretada pelos leitores, pois, infe-lizmente, vivemos num mundo de inveja. No entanto, não deixei de lhe manifestar o meu agradecimento por tal deferência.

No seu “Editorial/Carta aos Leitores e Autores”, o Professor inicia com a frase “Este é o número do ADEUS” e presta homenagem aos seus outros três Di-rectores (Franscisco Caetano Dias, José Henriques Gar-cia e Almiro de Oliveira).

No parágrafo que a seguir transcrevemos, o Professor aponta as razões que o levaram a um período de reflexão de três anos:“Em 2008, a progressiva alteração do enquadramen-

to associativo e profissional de parte significativa dos assinantes, as alterações no interesse dos autores pela publicação em especial quanto a acreditação acadé-mica, a informatização da composição tipográfica, em especial da montagem em folha dos fotolitos, o salto tecnológico na distribuição da informação profissional possibilitada pela INTERNET, justificaram reflexão sobre a missão e organização desta revista no novo con-texto.”.Desta forma, a RCC termina a sua publicação com

dignidade e nas mãos de um dos Professores de Conta-bilidade mais conceituados em Portugal, nomeadamen-te na teoria e na história da contabilidade.

De notar que, em Agosto de 2009, elaborei um arti-

go de homenagem à RCC sob o título “Revista de Con-tabilidade e Comércio - 76 Anos (1933-2009) ao Servi-ço da Contabilidade”1, revisto pelo Professor Carqueja, no qual já me referia a esta situação.

Pese embora as razões apresentadas pelo Professor Carqueja, não poderei deixar de manifestar a minha tris-teza, pois a RCC foi, indiscutivelmente, ao longo destes 78 anos de actividade, a maior referência para a con-tablidade portuguesa, promovendo uma ligação regular e equilibrada entre a teoria e a prática contabilísticas e àreas conexas (v.g., gestão, fiscalidade, auditoria, infor-mática).

1 Publicado na revista TOC n.º 113, de Agosto de 2009, pp. 43-50 e dispo-nível para download nos menus “Actividades Pessoais/Artigos (Download)/Por Título/N.º 272” e “Revistas/Em Actividade/ Revista de Contabilidade e Comércio (EDICONTA) (1933/...)” do Portal INFOCONTAB. Já antes tinha elaborado um outro sob o título “70.º Aniversário (1933 - 2003) da Revista de Contabilidade e Comércio”, publicado na revista TOC n.º 44, de Novembro de 2003, pp. 33-4 e disponível para download nos menus “Actividades Pessoais/Artigos (Download)/Por Título/N.º 112” e “Revis-tas/Em Actividade/ Revista de Contabilidade e Comércio (EDICONTA) (1933/...)” do Portal INFOCONTAB.

publicado o último número (240)da revista de Contabilidadee Comércio (1933-2011)

Fig. 1 Fig. 2

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28 CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

CONTABILIDADE

Registo a “coincidência” de a RCC terminar a sua publicação seis meses após o falecimento de dois dos seus principais articulistas: António Lopes de Sá (em 7 de Junho de 2010) e Rogério Fernandes Ferreira (12 de Julho de 2010).

Como sublinhei no artigo “Uma Estranha e Infeliz Coincidência em 2010 (!) – As NIC/SNC e o faleci-mento dos Professores António Lopes de Sá e Rogério Fernandes Ferreira”, direi que nesse contexto este facto constitui mais um infortúnio.

Agradeço ao Professor a deferência de ter publicado no último número o meu artigo “A Profissão de Conta-bilista em Portugal” (pp. 731-83).

Com o último número, foram também distribuídas duas separatas: “A Gestão como Factor de Competitivi-dade”, da autoria de Almiro de Oliveira (Fig. 3) e “Pro-blemática Contabilística (nas Unidades Produtivas)”, de José António Sarmento (Fig. 4).

A RCC é um património contabilístico histórico nacional e, certamente, continuará a ser uma das prin-cipais bases de consulta para a resolução dos problemas teóricos e práticos que se colocam aos profissionais, pro-fessores e alunos de contabilidade e áreas conexas. Esta é, indiscutivelmente, a melhor homenagem que pode-mos fazer à RCC.

património histórico

A RCC é um património contabilístico histórico nacional, e certamente, continuará a ser umadas principais bases de consulta para a resoluçãodos problemas teóricos e práticos que se colocamaos profissionais, professores e alunosde contabilidade e áreas conexas.

Fig. 3 Fig. 4

No menu “Revistas/Fora de Actividade/Revista de Contabilidade e Comércio (1933-2011)” dos meus Por-tais INFOCONTAB e INFOCONTAB-HISTÓRIA, manterei informações sobre a revista, nomeadamente o menu “Pesquisa” que permite múltiplas pesquisas por “título do artigo”, “autor” e “n.º da revista”.

À RCC, aos seus anteriores Directores e, em parti-cular, ao Professor Hernâni Carqueja o nosso MUITO OBRIGADO.

ÍNDiCe Do ÚLTimo NÚmero

“Adeus” já é saudade ................................................... 660Carta aos Leitores ....................................................... 661Em Fecho ... da última lição ......................................... 664

Normas Internacionais de ContabilidadeRogério Fernandes Ferreira ............................................. 665

Nuevas Normas, Nuevos ConceptosJorge Tua Pereda ........................................................... 681

A Não Aceitação de Custos em IRCJosé Alberto Pinheiro Pinto ............................................ 717

A Profissão de Contabilista em PortugalJoaquim Fernando da Cunha Guimarães ........................ 731

Os Grandes Temas e Debates Políticos do Ensino Comercial até Finais do Séc. XIX.José Manuel Pereira ....................................................... 785

Polémica Suscitada pelos Diferentes Intervenientesno Projecto de Norma “Agricultura”Graça Maria do Carmo Azevedo .................................... 815

Problemática Contabilística (Nas Unidades Produtivas)José António Sarmento .............................................Separata

A Gestão como Factor de CompetitividadeAdmiro de Oliveira ................................................Separata

o Director da C&eJoaquim da Cunha Guimarães

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29CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

NORMALIZAÇÃO CONTABILÍSTICA

iNtroduÇão

Na sequência da Lei n.º 35/2010, de 2 de Setembro, sob o título “Simplificação das normas e informações contabilísticas das microentidades”1, o Conselho Geral da Comissão de Normalização Contabilística (CNC), apro-vou, em reunião de 29 de Setembro de 2010, o projecto do modelo de “Normalização Contabilística para Micro-entidades” (NCM).

A NCM poderá ser considerada um “sub-produto” contabilístico do Sistema de Normalização Contabilística (SNC), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de Julho, correspondendo, como veremos, a um terceiro nível de normalização contabilística.

Este texto visa, essencialmente, destacar alguns aspec-tos do projecto de NCM.

1. os iNstrumeNtos do NCm

Os documentos e respectivos instrumentos legais que constituem a NCM serão os seguintes:

Descrição instrumento legal a publicar

Bases para Apresentação de Demonstrações Financeiras (BADF)

Decreto-Leie Anexo

Modelos de Demonstrações Financeiras (MDF)– Balanço;– Demonstração dos Resultados por Naturezas;– Anexo.

Portaria

Código de Contas (CC) que inclui:– Quadro Síntese de Contas;– Código de Contas;– Notas de Enquadramento.

Portaria

Norma Contabilística para Microentidades (NC-ME) Aviso

Normas Interpretativas (NI) Aviso

1 O art.º 2.º da Lei apresenta o seguinte “Conceito de microentidades”:“Para efeitos da presente lei, consideram-se microentidades as empresas que, à data do balanço, não ultrapassem dois dos três limites seguintes:a) Total do balanço - (euro) 500 000;b) Volume de negócios líquido - (euro) 500 000;c) Número médio de empregados durante o exercício - cinco.”.

A estrutura conceptual do SNC, constante do aviso n.º 15652/2009, de 7 de Setembro, constitui a base de referência para a NCM.

2. A desiGNAÇão de “NCm”

A estrutura da NCM é idêntica à do SNC, pelo que poderíamos designar este modelo de “Sistema de Norma-lização Contabilística-Microentidades” (SNC-ME), no contexto da designação SNC-PE.

Parece que a opção pela designação NCM, em detri-mento da SNC-ME, que, em nossa opinião, estaria mais enquadrada no SNC, se deverá a razões de ordem política, pois não podemos esquecer que esta norma foi concebida precisamente pela pressão do poder político.

Não é que a interferência da política/políticos na contabilidade seja nova com o SNC, pois não podemos esquecer que as normas contabilísticas, desde o “modelo POC”, são aprovadas por diplomas legais (v.g. Decreto-Lei). Além disso, salientamos a dependência política do próprio organismo de normalização contabilística nacio-nal (CNC).

3. trÊs Níveis do sNC

Até à data existiam dois níveis/modelos de normaliza-ção contabilística do SNC. Um modelo geral, constituí-do por 28 Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro (NCRF)2, e um modelo aplicável às Pequenas Entidades (PE), definidas no âmbito do art.º 9.º do Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de Julho, que aprovou o SNC, constituído por uma única norma designada de “Norma Contabi-lística e de Relato Financeiro para Pequenas Entidades” (NCRF-PE).

2 Aprovadas pelo Aviso n.º 15655/2009, de 7 de Setembro e as duas Nor-mas Interpretativas seguintes:– N.º 1 - Consolidação — Entidades de Finalidades Especiais;– N.º 2 - Uso de Técnicas de Valor Presente para Mensurar o Valor de Uso.

Normalização Contabilísticapara microentidades

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30 CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

NORMALIZAÇÃO CONTABILÍSTICA

A NCM, ou, como preferimos, o SNC-ME, passa a constituir o terceiro nível de normalização contabilística do SNC, como resumimos no ESQUEMA seguinte:

Três NÍVeis Do sNC

De notar que os 2.º (NCRF-PE) e 3.º níveis (NCM ou SNC-ME) são opcionais relativamente ao 1.º nível (28 NCRF) e para as entidades que se incluam dentro dos limites dos articulados mencionados no lado direito do esquema.

Assim, se determinada entidade estiver nas condições de optar pelo 3.º nível poderá, em alternativa, exercer a opção pelo 2.º nível (NCRF-PE), ou, ainda, pelo 1.º ní-vel (Modelo Geral), sendo que, neste caso, deverá utilizar todo o normativo contabilístico associado aos 1.º e 2.º níveis, conforme opção.

Da mesma forma, uma entidade abrangida pelos limites do 2.º nível (NCRF-PE) poderá optar também pelo 1.º nível (28 NCRF), nas mesmas condições de acesso atrás citadas.

Este mecanismo da “subida de nível” designa-se por “intercomunicabilidade vertical” e pode ser analisado no lado esquerdo do esquema.

4. demoNstrAÇÕes FiNANCeirAs

Como já referimos, as DF da NCM são apenas o ba-lanço, a demonstração dos resultados por natureza e o anexo, cujos modelos são ainda mais reduzidos do que os das DF do 2.º nível (NCRF-PE).

Além disso, tal como acontece com o 2.º nível, não se exige a apresentação da demonstração dos fluxos de caixa e da demonstração das alterações no capital próprio (DACP).

No quadro seguinte, resumimos as DF exigidas nos três níveis/modelos do SNC:

Demonstração Financeira 1.º Nível (Geral)

2.º Nível (NCrF-Pe)

3.º Nível (NCm)

Balanço X X(a) X(a)

Demonstração dos resultados por naturezas X X(a) X(a)

Demonstração dos resultados por funções X(b) ---(c) ---(c)

Demonstração dos fluxos de caixa X ---(c) ---(c)

Demonstração das alterações no capital próprio X ---(c) ---(c)

Anexo X X(a) X(a)

(a) Modelos reduzidos (abreviados).(b) Facultativa, conforme dispõe o n.º 3 do art.º 9.º do Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de Julho.(c) Não exigido.

A NCM e a NCRF-PE têm os seguintes capítulos:

Capítulo N.º Descrição

Parágrafos

NCm NCrF-Pe

1 Objectivo 1.1 1.1

2 Âmbito e conceitos 2.1 e 2.2 2.1 a 2.3

3 Considerações gerais sobre reconhecimento 3.1 a 3.6 3.1 a 3.6

4 Estrutura e conteúdo das demonstrações financeiras 4.1 a 4.17 4.1 a 4.19

5 Adopção pela primeira vez 5.1 a 5.4 5.1 a 5.5

6 Políticas contabilísticas, alterações nas estimativas contabilísticas e erros 6.1 a 6.8 6.1 a 6.10

7 Activos fixos tangíveis 7.1 a 7.18 7.1 a 7.29

8 Activos intangíveis 8.1 a 8.19 8.1 a 8.27

9 Locações 9.1 a 9.14 9.1 a 9.18

10 Custos de empréstimos obtidos 10.1 e 10.2 10.1 e 10.13

11 Inventários 11.1 a 11.11 11.1 a 11.22

12 Rédito 12.1 a 12.8 12.1 a 12.12

13 Provisões, passivos contingentes e activos contingentes 13.1 a 13.7 13.1 a 13.33

14 Subsídios do Governo 14.1 a 14.9 14.1 a 14.14

15 Os efeitos de alterações em taxas de câmbio 15.1 a 15.5 15.1 a 15.6

16 Impostos sobre o rendimento 16.1 a 16.6 16.1 a 16.8

17 Instrumentos financeiros 17.1 a 17.8 17.1 a 17.25

18 Benefícios dos empregados 18.1 a 18.7 18.1 a 18.15

19 Data de eficácia ---- 19.1

Como podemos verificar no quadro, a NCM apresen-ta um número de normas (itens) inferior à NCRF-ME.

5. CoNClusÕes

A NCM corresponde ao terceiro nível do SNC, sendo que o 1.º e 2.º nível referem-se às 28 NCRF e à NCRF-PE.

A NCM foi criada por exigência do poder político como forma de aceder às exigências da União Europeia no que tange à redução dos custos administrativos (cus-tos de contexto) das ME.

Estritamente do ponto de vista da normalização contabilística, somos de opinião que a NCM seria dispensável, pois, na verdade, as diferenças para a NCRF-PE não são significativas. Ou seja, a NCRF-PE responderia às necessidades de relato financeiro das ME.

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31CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

NORMALIZAÇÃO CONTABILÍSTICA

Normalização Contabilísticapara entidades do sector Não lucrativo

No fim do ano transacto, a Comissão de Normaliza-ção Contabilística (CNC) disponibilizou no seu sítio o projecto de modelo de normalização contabilística para Entidades do Sector Não Lucrativo (NC-ESNL), apro-vado no Conselho Geral da CNC de 29 de Setembro de 2011, que aguarda promulgação do respectivo diploma legal pelo Presidente da República.

Como é referido no preâmbulo do projecto do Decre-to-Lei, a NC-ESNL surge na sequência do n.º 2 do art.º 3.º do Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de Julho, que aprovou o SNC, prevendo:“2 - Até que sejam publicadas normas para as entidades sem

fins lucrativos, são abrangidas pelo SNC outras entida-des que, por legislação específica, se encontrem sujeitas ao Plano Oficial de Contabilidade, doravante designado POC, ou venham a estar sujeitas ao SNC.”.De acordo com o item 1.2 do SNC-ESNL, anexo

ao projecto de Decreto-Lei, os documentos e os ins-trumentos legais que constituem a NC-ESNL são os seguintes:

DesCrição instrumento legal a publicar

Bases para a Apresentação das Demonstrações Financeiras (BADF) Decreto-Lei

Modelos de Demonstrações Financeiras (MDF)– Balanço;– Demonstração dos Resultados por Naturezas;– Demonstração dos Resultados por Funções;– Demonstração das Alterações nos Fundos Patrimoniais;– Demonstração dos Fluxos de Caixa;– Anexo

Portaria

Código de Contas (CC)– Quadro Síntese de Contas;– Código de Contas;– Notas de Enquadramento.

Portaria

Mapas para Entidades Sujeitas ao Regime de Caixa– Mapa de Recebimentos e Pagamentos;– Mapa de Património Fixo;– Mapa de Direitos e Compromissos Futuros.

Portaria

Norma Contabilística e de Relato Financeiro para Entidades do Sector Não Lucrativo (NCRF-ESNL) Aviso

Normas Interpretativas Aviso

1 Elaborado pelo grupo de trabalho, coordenado pelo presidente da CNC, Domingos Cravo, constituído por Despacho n.º 9292 – A/2010, de 25 de Maio, do Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais.

Como podemos verificar, a estrutura da NC-ESNL é idêntica à do SNC, registando-se apenas uma diferença significativa referente aos mapas para as entidades sujeitas ao regime de caixa.

O item 2.2 do SNC – ESNL estabelece que as ESNL apresentam três características básicas distintivas relativa-mente às entidades com finalidades lucrativas:

a) O seu financiamento pode resultar do seu próprio património ou de recursos atribuídos por pessoas singulares ou colectivas. Em caso algum os recursos atribuídos estão sujeitos ou condicionados a contra-prestações derivadas da obtenção de benefícios por parte da entidade;

b) Respondem a finalidades de interesse geral que transcendem a actividade produtiva e a venda de produtos ou prestação de serviços, o que se traduz numa interpretação não económica do conceito “be-nefício”;

c) Ausência de títulos de propriedade-controlo que possam ser comprados, cedidos, trocados, ou de que se espere algum tipo de contraprestação económica no caso de a entidade cessar as suas actividades e ser objecto de liquidação.

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32 CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

NORMALIZAÇÃO CONTABILÍSTICA

Acresce que, estas entidades contam, com frequên-cia, com o trabalho de voluntários, sem que, por esse facto, surja qualquer relação laboral entre eles e a en-tidade.

Desta forma, como é clarificado no art.º 1.º “Objecto” do projecto de DL, a NC–ESNL faz parte integrante do SNC.

A NC-ESNL visa contribuir para uma indispensável gestão transparente e no relacionamento das entidades com o Estado.

No que concerne ao âmbito, o n.º 1 do art.º 3.º do projecto de DL prevê que a NC–ESNL se aplica às enti-dades que não prossigam a título principal, fins lucrativos e que não possam distribuir aos seus membros ou contri-buintes qualquer ganho económico ou financeiro directo, designadamente associações, pessoas colectivas públicas de tipo associativo, fundações, clubes, federações e con-federações2.

O n.º 2 do mesmo articulado exceptua as cooperativas e as entidades abrangidas pelos art.os 4.º (aplicação das normas internacionais de contabilidade) e 5.º (competên-cia das entidades de supervisão do sector financeiro).

De notar que, tal como as entidades do SNC, também as ESNL poderão ser obrigadas a elaborar contas consoli-dadas nas condições definidas nos art.os 6.º a 9.º do pro-jecto de DL.

O art.º 12.º do projecto de DL estabelece que a NC-ESNL se aplica a partir do exercício que se inicia e ou após 1 de Janeiro de 2012, sem prejuízo da opção pela sua aplicação no exercício que se inicia em ou após 1 de Janeiro de 2011.

Tal como no SNC e visando o enforcement da sua aplicação, estão também previstos ilícitos de mera orde-nação social (art.º 12.º).

De notar, ainda, que o art.º 11.º “Certificação Legal de Contas” determina que ficam sujeitas anualmente a Certificação Legal de Contas as demonstrações financeiras das entidades que apresentem contas consolidadas e, bem assim, as que ultrapassem os limites previstos no artigo 262.º do Código das Sociedades Comerciais3.

A NC-esNl

Como já referimos, NC-ESNL é apresentada como anexo projecto de diploma, com o título “Sistema de

2 Em nosso entender enquadram-se também as ordens profissionais.3 Os limites actuais do art.º 262.º do CSC são: – Total do balanço: 1.500.000 euros; – Total das vendas líquidas e outros proveitos: 3.000.000 euros; – Número de trabalhadores empregados em média durante o exercício: 50.

Normalização Contabilística para Entidades do Sector não Lucrativo”, que se encontra dividido nos seguintes capítulos:

1. Apresentação;2. Características Específicas das Entidades do Sector

não Lucrativo;3. Bases para a Apresentação das Demonstrações Fi-

nanceiras (BADF);4. Modelos de Demonstrações Financeiras (MDF);5. Código de Contas (CC);6. Norma contabilística e de Relato Financeiro para

Entidades Sem Fins Lucrativos (NCRF-ESNL);7. Normas Interpretativas (NI).

modelos de demoNstrAÇÕes FiNANCeirAs (mdF)

De acordo com o art.º 10.º do projecto de DL, os MDF são os mesmos dos aplicáveis à generalidade das empresas abrangidas pelo primeiro nível do SNC.

Dos MDF relevam a alteração da designação da “Demonstração das Alterações nos Capitais Próprios” (DACP) no SNC para “Demonstração das Alterações Fundos Patrimoniais” (DAFP), i. e., a expressão “Capital Próprio” é substituída pela de “Fundos Patrimoniais”4, o que se justifica pela natureza jurídica das ESNL. Além disso, a DAFP poderá ser apresentada por opção ou por exigência das entidades públicas financiadores (art.º 10.º do projecto de DL).

Relativamente ao anexo-ESNL não é apresentada uma descrição exaustiva das notas, pois, salvo algumas alterações sublinhadas no documento, deve ser seguido o modelo do anexo do SNC, como, aliás, é esclarecido no preâmbulo que transcrevemos: “As divulgações a efectuar pelas ESNL correspondem às pu-

blicadas através da Portaria n.º 986/2009, de 07/09-Ane-xo 10, constando do presente documento apenas as altera-ções que decorrem das especificidades das ESNL.

4 O art.º 1.º do Projecto de Portaria que aprovará os MDF utiliza a designa-ção “Demonstração das Alterações nos Fundos de Capital”, i.e., em vez da expressão “Fundos Patrimoniais” é usada a de “Fundos de Capital”, o que certamente será corrigido aquando da publicação da Portaria.

estrutura e NC-esNl

Como podemos verificar, a estrutura da NC-ESNLé idêntica à do SNC, registando-se apenasuma diferença significativa referente aos mapaspara as entidades sujeitas ao regime de caixa.

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33CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

NORMALIZAÇÃO CONTABILÍSTICA

As matérias a divulgar correspondem aos capítulos a seguir indicados, sem prejuízo de outras divulgações que sejam consideradas pertinentes:

INDICE1. Identificação da entidade2. Referencial contabilístico de preparação das demonstrações

financeiras3. Principais políticas contabilísticas4. Políticas contabilísticas, alterações nas estimativas conta-

bilísticas e erros5. Activos fixos tangíveis6. Activos intangíveis7. Locações8. Custos de empréstimos obtidos9. Inventários10. Rédito11. Provisões, passivos contingentes e activos contingentes12. Subsídios e outros apoios13. Efeitos de alterações em taxas de câmbio14. Impostos sobre o rendimento15. Instrumentos financeiros16. Benefícios dos empregados17. Divulgações exigidas por outros diplomas legais18. Outras informações.”.

Relativamente às Demonstrações dos Resultados é re-ferido que poderá ser apresentada a “Demonstração dos Resultados por Naturezas” (DRN) ou a “Demonstração dos Resultados por Funções (DRF)”, o que não está de acordo com o SNC que prevê a DRN como obrigatória e a DRF como facultativa (n.º 3 do art.º 9.º do Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de Julho).

Além dos MDF, estão previstos os mencionados três modelos de mapas financeiros (não são MDF) para as en-tidades sujeitas ao regime de caixa:

– Mapa de Recebimentos e Pagamentos;– Mapa de Património Fixo;– Mapa de Direitos e Compromissos Futuros.

A NCrF-esNl

O projecto de NCRF-ESNL segue a mesma estrutura da NCRF-PE e da NCM, encontrando-se dividida nos 18 capítulos atrás mencionados, dos quais 15 referem-se a matérias contabilísticas das NCRF susceptíveis de apli-cação às ESNL5.

5 Os primeiros três capítulos são: Objecto, Âmbito e Considerações Gerais Sobre o Reconhecimento.

CoNClusÕes

A NC-ESNL surge na sequência do n.º 3 do art.º 2.º do Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de Julho, que apro-vou o SNC, que prevê a publicação de um modelo conta-bilístico aplicável às ESNL.

A NC-ESNL aplicar-se-á nomeadamente às entidades que não prossigam, a título principal, fins lucrativos e que não possam distribuir aos seus membros ou contribuin-tes qualquer ganho económico ou financeiro directo, de-signadamente associações, pessoas colectivas públicas de tipo associativo (inclui ordens profissionais), fundações, clubes, federações e confederações (n.º 1 do art.º 3.º do projecto de DL).

A NC-ESNL pode ser considerada um “sub-produto” do SNC, na medida em que as suas estruturas são seme-lhantes, aproximando-se também, desta forma, do nor-mativo contabilístico das NIC/NIRF do IASB, no qual o SNC se baseou com as devidas adaptações.

No que tange aos modelos de demonstrações finan-ceiras (MDF), constatamos que a NC-ESNL prevê as quatro principais DF incluídas no SNC, i.e., o Balanço, a Demonstração dos Resultados por Naturezas ou por Funções, a Demonstração dos Fluxos de Caixa e o Anexo. A Demonstração das Alterações nos Fundos Patrimoniais poderá ser elaborada por opção ou por exigência de enti-dades públicas financiadoras.

Além disso, as ESNL sujeitas ao regime de caixa terão de apresentar três mapas financeiros (não são DF): Mapa de Recebimentos e Pagamentos, Mapa de Património Fixo e Mapa de Direitos e Compromissos Futuros.

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34 CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

A Lei nº 35/2010 determinou a criação de normas contabilísticas sim-plificadas para microentidades. O que, em princípio, é correcto. No entanto, os limites fixados para o reconhecimento das mi-croentidades foram desajustados da realidade empresarial nacional, como explica um trabalho de vários autores publicado na Revista de Con-tabilidade & Finanças, da responsa-bilidade da Associação Portuguesa de Peritos Contabilistas (APPC).

A legislação em causa implicou que um grande número de empresas nacionais deixasse de estar obrigado a aplicar o Sistema de Normalização Contabilística (SNC) e passasse a ter de aplicar um normativo próprio. A referida lei caracteriza as empresas que são classificadas como micro-entidades e determina orientações para a elaboração do que designa por normas contabilísticas simpli-ficadas aplicáveis àquelas empresas. Importa notar que ao longo do tra-balho em análise, sob a designação “Contributo para a normalização contabilística das microentidades”, está subjacente a ideia que “qualquer informação contabilística adequada e qualitativamente ajustada serve to-das as necessidades de qualquer tipo de utilizador que conheça as suas ne-cessidades de informação financeira e saiba interpretar tal informação”.

Os autores chamam a atenção para o facto de, com os limites fixados, as microentidades são um universo que integra, do ponto de vista financeiro, económico, organizacional e social,

NORMALIZAÇÃO CONTABILÍSTICA

Face à realidade empresarial nacional

limites fixados para o reconhecimento das microentidades são desajustados

sNC

As microentidades são um universo que integra, do ponto de vista financeiro, económico, organizacional e social, realidades muito diversas em termos de necessidades de informação financeira.

realidades muito diversas em termos de necessidades de informação finan-ceira. “A criação das normas simplifi-cadas – que a legislação prevê – exige uma ponderação cuidada, pois está condicionada pela referida diversida-des”, adianta aquele trabalho. Assim, as normas contabilísticas simplifi-cadas têm que ser flexíveis para se adaptarem, de forma útil e realista, à diversidade das microentidades.

A necessidade de simplificação

Adianta ainda o trabalho que o normativo deve facilitar a circulação das entidades entre as duas normali-zações contabilísticas (Decreto-Lei nº 158/2009 e Lei nº 35/2010), tendo em conta o mínimo de problemas

técnicos e de custos de transição. “Para que a circulação se possa dar,

os dois normativos têm que se basear no tecnicamente mais perfeito, o Sistema de Norma-lização Contabilística.”

Apesar das normas simplifi-cadas para as microentidades de-

verem ter por base o SNC, deve ser feita uma simplificação muito signi-ficativa e, ainda, a compatibilização, em alternativa, dos dois regimes, isto é, acréscimo ou caixa. E apesar da existência dos dois regimes, cada microentidade deverá optar expres-samente por um e por um período previamente estabelecido. “Existin-do no normativo os dois regimes, devem ser criados conjuntos sim-plificados de documentos normali-zados de relato financeiro para cada um deles.”

Por último, o trabalho conclui que na normalização devem ser pre-cisados, de forma clara, os conceitos fundamentais de reconhecimento e de mensuração. Convém ter tam-bém em conta que, para além das normas contabilísticas simplificadas, deve ser considerada a ligação destas com o Código de IRC, tendo em conta o conteúdo do Decreto-Lei nº 159/2009. Este introduziu uma alte-ração importante, tendo o apuramen-to da matéria colectável em várias situações passado a estar suportada na aplicação do SNC, sendo mesmo exigida a integração no dossier fiscal de documentação comprovativa, pre-parada de acordo com o estabelecido no SNC.

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35CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

FISCALIDADE

informação empresarial simplificada

stA profere decisão sobre derramanos grupos de sociedades

A Informação Empresarial Simplificada (IES) foi cria-da pelo Decreto-Lei n.º 8/2007, de 17 de Janeiro, e agrega, num único acto, o cumprimento das seguintes obrigações:

– Entrega da declaração anual de informação contabi-lística e fiscal prevista na alínea c) do n.º 1 do artigo 117.º e 121.º do CIRC e no n.º 1 do artigo 113.º do CIRS, quando respeite a pessoas singulares titulares de estabelecimentos individuais de responsabilidade limitada (EIRL);

– Prestação de informação relativa a dados conta-bilísticos anuais para fins estatísticos ao Banco de Portugal (artigo 13.º da Lei Orgânica do Banco de Portugal).

– Registo da prestação de contas junto das conserva-tórias do registo comercial (n.º 1 do artigo 15.º do código do Registo comercial);

– Prestação de informação de natureza estatística ao Instituto Nacional de Estatística (n.º 1 do artigo 6.º da Lei do Sistema Estatístico Nacional);

O cumprimento das obrigações legais previstas na IES é efectuado obrigatoriamente através do envio da respectiva informação para o Ministério das Finanças (DGCI), por transmissão electrónica de dados (inter-net), através do endereço www.portaldasfinanças.gov.pt,

sendo essa tarefa efectuada pelo Técnico Oficial de Con-tas (TOC), no cumprimento das suas funções e respon-sabilidades previstas no art.º 6.º do respectivo estatuto profissional.

Para o envio da IES devem ser observadas as normas definidas na Portaria n.º 499/2007, de 30 de Abril, e na Portaria n.º 1339/2005, de 30 de Dezembro.

A IES deve ser enviada até 15 de Julho, independente-mente de esse dia ser ou não útil. Para os sujeitos passivos do IRC que adoptem um período de tributação diferente do ano civil, deverá ser apresentada até ao 15.º dia do 7.º mês posterior à data do termo desse período, independen-temente de esse dia ser útil ou não útil, reportando-se a in-formação ao período de tributação para efeitos dos anexos de IRC e anexos estatísticos e, para efeitos dos anexos do IVA e do Imposto do Selo ao ano civil cujo termo naquele período se inclua.

A Portaria n.º 64 – A/2011, de 3 de Fevereiro, publi-cada no D.R., 1.ª série de 3 de Fevereiro, aprovou os no-vos modelos de informações relativas a anexos que fazem parte integrante do modelo da IES, os quais já se encon-tram adaptados ao novo modelo contabilístico – Sistema de Normalização Contabilística (SNC) –, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de Julho.

O Supremo Tribunal Administrativo tomou a primei-ra decisão no âmbito do cálculo da derrama no Regime Especial de Tributação dos Grupos de Sociedades (RE-TGS). A decisão, não obstante a publicação da Lei das Finanças Locais – que alterou a metodologia de cálculo da derrama – considera que a receita municipal deverá continuar a depender do imposto principal, o IRC.

De acordo com o acórdão proferido, em caso de tri-butação no âmbito do RETGS, a derrama deverá incidir, à semelhança do que sucede para efeitos de IRC, sobre o lucro que releva para efeitos do RETGS. Isto é, o lucro que resulta da soma dos lucros tributáveis e dos prejuí-

zos fiscais apurados individualmente. Confirma-se que o entendimento veiculado pelo ofício-circulado nº 20 132, de 14 de Abril de 2008 não se encontra conforme a lei. O imposto pago indevidamente, em resultado desta in-terpretação da administração tributária, poderá vir a ser objecto de reembolso.

tributação

A derrama deverá incidir, à semelhança do que sucede para efeitos de IRC, sobre o lucro que releva para efeitos do RETGS.

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36 CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

FISCALIDADE

sNC obriga a alterações no dossier fiscal

Formar uma empresa é agora mais fácil

Foi publicada no Diário da República nº 41, Série I de 28 de Fevereiro de 2011, a Portaria nº 92-A/2011 que define os elementos que integram o dossier fiscal, aprova novos mapas de modelo oficial e revoga a Portaria nº 359/2000, de 20 de Junho. A constituição do dossier fiscal, nos termos previstos na presente portaria, aplica-se aos períodos de tributação iniciados em, ou após, 1 de Janeiro de 2010.

No âmbito dos códigos de IRS e IRC, os contri-buintes estão obrigados a constituírem e a manterem um processo de documentação fiscal (dossier fiscal), o qual deve conter os elementos definidos por portaria do membro do Governo responsável pela área das finan-ças. A entrada em vigor do Sistema de Normalização Contabilística (SNC) exigiu a adaptação da legislação fiscal, sendo que as alterações introduzidas implicam a revisão de modelos de impressos e a necessidade de novos elementos que passam a integrar o processo de documentação fiscal.

A portaria reformula o conjunto de documentos que passam a integrar o dossier fiscal e são aprovados novos mapas de modelo oficial, tendo em conta as actuais re-gras de determinação de mais e menos-valias fiscais, bem como os gastos respeitantes a provisões, perdas por im-paridade, ajustamentos em inventários, amortizações e depreciações. O processo de documentação fiscal, a que se referem os artigos 129º e 130º dos códigos de IRS e

IRC, respectivamente, é constituído pelos documentos identificados no anexo à portaria.

O dossier fiscal pode ainda integrar o ficheiro SAF-T (PT), relativo à contabilidade, extraído após o encerra-mento de contas, gravado em suporte digital não regravá-vel e assinado através de aplicação informática disponibi-lizada para o efeito no sítio da DGCI. Neste último caso, os documentos que integram o dossier fiscal são manti-dos em suporte papel ou em suporte digital. A sua entre-ga pode efectuar-se nos dois modelos. O ficheiro SAF e os mapas de modelo oficial, quando processados informati-camente, devem ser remetidos em suporte digital.

Foram ainda aprovados os modelos de mapas e as res-pectivas instruções (constantes num anexo à portaria), designadamente o Modelo 30, de que consta o mapa de provisões, perdas por imparidades em créditos e ajusta-mentos em inventários. O Modelo 31 respeita ao mapa de mais e menos-valias e o Modelo 32 refere-se ao mapa de depreciações e amortizações. Mantêm-se em vigor os modelos de mapas de reintegrações de elementos do acti-vo reavaliados ao abrigo da legislação fiscal.

O Governo aprovou um decreto-lei que tem como principais objectivos facilitar a constituição de empre-sas e reduzir os custos de contexto. Trata-se do De-creto-Lei nº 33/2011, de 7 de Março, o qual adopta medidas de simplificação dos processos de constituição de sociedades por quotas e unipessoais por quotas, pas-sando o capital social a ser definido livremente pelos sócios. Até agora o capital social mínimo era de cinco mil euros.

Do diploma consta ainda a possibilidade dos só-cios destas sociedades procederem à entrega das suas

entradas até ao final do primeiro exercício económico da sociedade. Refere o diploma: “Estas medidas visam fomentar o empreendedorismo, reduzir os custos de contexto e de encargos administrativos para as em-presas e assegurar uma maior transparência das suas contas.” Neste último caso, é evidente que um capital social elevado não conduz necessariamente à conclusão de que uma empresa goza de boa situação financeira. “O capital é um valor lançado no contrato social, en-quanto o património é um conjunto de bens, direitos e obrigações de uma sociedade.”

dossierNo âmbito dos códigos de IRS e IRC,os contribuintes estão obrigados a constituíreme a manterem um processo de documentação fiscal.

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37CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

Custos

O Governo adianta que se pretende, deste modo, dar sequência a uma das linhas de intervenção da iniciativa para a Competitividade e o Emprego e reduzir os custos administrativos das empresas exportadoras.

FISCALIDADE

Legislação procura alavancar competitividade empresarial

empresas exportadorascontam com benefícios em sede fiscal

O Conselho de Ministros de 10 de Fevereiro aprovou um conjunto de medidas de apoio às empresas expor-tadoras. Destaque para a proposta de lei que, no âmbito da iniciativa para a Competitividade e o Emprego, atri-bui às empresas exportadoras a majo-ração, em sede de IRC, de 120% dos seus custos com trabalhadores deslo-cados no estrangeiro para os próximos três anos.

As empresas nacionais vão poder aceder, naquele período de tempo, à referida majoração para efeitos de de-terminação do lucro tributável. Os en-cargos em causa referem-se a despesas, por período não inferior a três meses, escrituradas a título de remunerações, ordenados ou salários, fixando-se o montante máximo da majoração anual por trabalhador, num valor equivalen-te a 14 vezes de retribuição mínima mensal garantida. O montante global das majorações por entidade benefici-ária não pode ultrapassar os limites re-sultantes das regras comunitárias apli-cáveis aos auxílios de “minimis”.

O Governo adianta que se preten-de, deste modo, dar sequência a uma das linhas de intervenção da iniciativa para a Competitividade e o Emprego e reduzir os custos administrativos das empresas exportadoras, com o objec-tivo de estimular a competitividade da economia e apoiar as exportações, bem como a internacionalização das empresas nacionais.

Esta iniciativa legislativa é adop-tada pelo Governo num momento em que o Conselho de Ministros de-cidiu também avançar com diversas

medidas de simplificação dos proces-sos administrativos e financeiros das empresas exportadoras, desta feita no âmbito do programa Simplex expor-tações.

três medidas de simplificação

Uma das medidas de simplifica-ção respeita à emissão electrónica do Certificado Comprovativo de Expor-tação. Este visa a emissão electrónica daquele certificado, o que possibilita simplificar e acelerar o pedido de isen-ção de IVA relativo à venda de bens efectuada pelos fornecedores aos ex-portadores nacionais. Outra medida é a simplificação do procedimento de emissão do exemplar 3 da declaração de exportação para efeitos de isenção de IVA.

Neste caso, o objectivo passa por uma maior celeridade na disponibili-zação à empresa exportadora do exem-plar 3 da declaração de exportação para efeitos de isenção de IVA, através da interconexão dos sistemas de dados re-levantes, designadamente o sistema de tratamento automático da Declaração Aduaneira de Exportação e o sistema de controlo automático dos meios de transporte e das mercadorias.

A terceira medida incide sobre a simplificação do procedimento de emissão da Declaração de Exportação para efeitos do Imposto Especial sobre o Consumo. Pretende-se uma maior celeridade no processamento da decla-ração de exportação e da operação rela-tiva ao Imposto Especial sobre o Con-sumo, para efeitos das operações de exportação de produtos sujeitos àquele tipo de imposto, através da intercone-xão dos sistemas de dados relevantes (sistema de tratamento automático da declaração aduaneira de exportação e sistema de Impostos Especiais sobre o Consumo – União Europeia).

Está ainda operacional a totalida-de dos seguros de crédito comercial de apoio à exportação para dentro e fora dos países da OCDE – na ordem dos três mil milhões de euros – garantin-do às empresas que o seu dinheiro está seguro, no caso do comprador não pa-gar e também que a nova linha mista crédito seguro, no valor de 275 mi-lhões de euros e destinada a garantir o recebimento antecipado, evitando as-sim problemas de tesouraria às empre-sas com os ciclos longos de produção e facturação, estará operacional.

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38 CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

FISCALIDADE

Arbitragem tributária pretende acelerar resolução de litígios

Foi aprovado o regime que regula a arbitragem em matéria tributária. O Decreto-Lei nº 10/2011, de 20 de Janeiro, representa uma alternativa à resolução de litígios, através de uma figura que se pretende imparcial e efi-caz, o árbitro. Vários objectivos estão inerentes a este diploma, como maior rapidez processual, aliviar os tribu-nais judiciais e maior flexibilidade em termos processuais. A decisão do tribunal arbitral tem o mesmo valor das decisões judiciais, ainda que exis-tam possibilidades de recurso.

Sem dúvida que um dos grandes objectivos deste diploma passa por uma maior celeridade processual, sabendo-se quão demorada é a apli-cação da justiça no país. Assim, os árbitros terão um prazo de seis me-ses para emitirem a decisão arbitral, sendo possível a sua prorrogação por mais meio ano. Apenas podem pro-ferir decisão arbitral os tribunais que estão sob a responsabilidade do Cen-tro de Arbitragem Administrativa (CAAD), entidade criada há cerca de dois anos e que funciona sob a égide do conselho superior dos tribunais administrativos e fiscais.

O tribunal arbitral pode pronun-ciar-se sobre várias matérias, como são os casos da declaração da ilegali-dade de liquidação de tributos, reten-ção na fonte e pagamentos por conta, actos de fixação de valores patrimo-niais e de determinação da matéria colectável, entre várias outras.

A composição do tribunal arbi-tral depende, em primeira instância, da eventual designação de um árbitro por parte do contribuinte. Se assim

suceder, o tribunal funcionará em colectivo de três árbitros. Se o contri-buinte não proceder a essa nomeação e o valor da causa for inferior a 60 mil euros, então o tribunal funciona com apenas um árbitro. Mas se a cau-sa for superior àquele valor, então o tribunal funciona com um colectivo de três árbitros. A sua designação será sempre da responsabilidade do Cen-tro Deontológico do CAAD.

É importante notar que as senten-ças proferidas terão o mesmo valor e efeitos jurídicos daquelas proferidas pelos tribunais administrativos e fis-cais. Caso a administração tributária incorra em incumprimento, os con-tribuintes podem apelar aos meios de execução de julgados previstos. O diploma prevê ainda um regime transitório que possibilita aos contri-buintes com processos pendentes nos tribunais tributários há mais de dois anos apelarem para o tribunal tribu-tário, sem que seja necessário pagar custas adicionais. É uma forma de re-solver causas que estão pendentes há bastante tempo e sem solução à vista.

recurso é possível

O diploma estabelece que não se pode recorrer das decisões proferidas

pelos tribunais arbitrais. No entan-to, há excepções à regra. Pode haver recurso para o Tribunal Constitu-cional nos casos em que a sentença arbitral em que a sentença arbitral rejeite a aplicação de qualquer nor-ma, com fundamento na sua incons-titucionalidade ou seja aplicada uma norma cuja cuja constitucionalidade tenha sido suscitada. Também há recurso ao Supremo Tribunal Admi-nistrativo quando a decisão arbitral for contra a questão fundamental de direito, com acórdão proferido pelo Tribunal Central Administrativo ou pelo Supremo Tribunal Administra-tivo.

Há ainda outras situações de re-curso. A decisão pode ser anulada pelo Tribunal Central Administrati-vo, desde que com fundamento na não especificação dos fundamentos de facto e de direito que sustentam a respectiva decisão. E pode ainda ha-ver lugar ao reenvio prejudicial para o Tribunal de Justiça da União Euro-peia quando suscitada no tribunal ar-bitral uma questão sobre a interpreta-ção dos Tratados da União Europeia, bem como sobre a validade dos actos adoptados por instituições ou órgãos comunitários.

Os árbitros podem ser juristas com, pelo menos, dez anos de experi-ência, ou licenciados em economia e gestão. Neste último caso, apenas no que respeita a questões de uma área não jurídica. Têm que ser pessoas com capacidade técnica comprovada e sentido de interesse público, tam-bém com dez anos de experiência profissional.

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39CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

FISCALIDADE

A Comissão Europeia decidiu remeter Portugal, entre outros países, para o Tribunal de Justiça da União Euro-peia por não aplicar correctamente as regras comunitárias relativas ao IVA, no caso concreto das agências de viagem.

De facto, a Directiva 2006/112/CE – relativa ao IVA, contém disposições especiais, o chamado “regime especial da margem da lucro”, para as agências de viagem quan-do vendem pacotes de férias a viajantes. Acontece que, segundo a Comissão Europeia, Portugal terá aplicado in-correctamente as referidas disposições especiais, “induzin-do distorções de concorrência entre agências de viagem”.Foi dada a oportunidade para que o Governo português tomasse medidas no sentido de alterar a actual situação, o que acabou por não suceder. Como é normal, Bruxe-las remete agora o processo para o Tribunal de Justiça da União Europeia.

O “regime especial de margem de lucro” foi incluído na directiva para simplificar a aplicação das regras do IVA às agências de viagem, uma vez que os elementos dos pa-cotes que vendem podem estar localizados em países dife-rentes e, como tal, ser sujeitos a regras de IVA distintas. As agências de viagem podem beneficiar do regime especial de margem de lucro quando vendem pacotes de férias aos viajantes. Todavia, o regime não se aplica a agências de viagens que vendem pacotes de férias a outras entidades, em especial a outras agências de viagem para efeitos de revenda.

Os oito Estados-membros – República Checa, Finlân-dia, França, Grécia, Itália, Polónia, Portugal e Espanha – remetidos para o tribunal por estes motivos não estão a implementar o regime correctamente, aplicando-o, muitas vezes, às vendas entre agências de viagem. Ora, de acordo com Bruxelas, esta é uma situação que gera distor-ções de concorrência entre as agências de viagem, fazendo com que umas suportem uma carga fiscal mais importan-te do que outras.

Há cinco anos, a Comissão analisou a aplicação do regime especial da margem de lucro na União Europeia e chegou à conclusão que 13 Estados-membros o aplicavam incorrectamente. Desde então, o Chipre, a Hungria, a Le-tónia, a Holanda e o Reino Unido alteraram as respectivas legislações para se harmonizarem com as disposições da

UE, o que não sucedeu com os restantes países, pelo que a decisão de os remeter para o Tribunal de Justiça.

discriminação e dupla tributação

Ainda no que se refere à Comissão Europeia, esta ins-tituição continua a revelar fortes preocupações no que respeita ao combate aos problemas fiscais transfronteiri-ços, pelo que decidiu lançar uma consulta pública sobre a tributação de dividendos. A cobrança e o crédito de re-tenções na fonte sobre o pagamento de dividendos a não residentes e investidores individuais da União Europeia pode, por vezes, ser realizado de forma discriminatória. As retenções na fonte podem conduzir a uma dupla tribu-tação não dedutível, distorcendo o bom funcionamento do mercado interno. Como a discriminação e a dupla tri-butação são indesejáveis no mercado interno, a Comissão Europeia está convencida que é necessário investigar com maior detalhe os problemas de retenção na fonte trans-fronteiriços enfrentados por não residentes e investidores individuais na União Europeia e explorar quaisquer solu-ções possíveis.

Entretanto, no âmbito do IVA, o Comité de Assuntos Fiscais da OCDE fez um convite público a todos os inte-ressados para formulares as suas observações ao projecto de orientações sobre a neutralidade do IVA. Este projecto considera os princípios de neutralidade no contexto do comércio internacional. Confirma que o encargo do IVA não deveria recair nas empresas contribuintes e que as empresas estrangeiras não deveriam ser discriminadas em jurisdições onde não estão estabelecidas ou registadas para efeitos de IVA.

portugal não aplica regras de ivAno que respeita a agências de viagem

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40 CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

FISCALIDADE

Foi publicada a portaria nº 1303/2010 que actualiza a declaração de Modelo 3 de IRS, respectivos anexos e instruções de preenchimento, no âmbito do novo regime de tributação dos residentes não habituais. A declaração aplica-se aos rendimentos de 2010, declarados no pre-sente exercício fiscal.

A declaração inclui um Anexo L – Residente não habitual – para declarar os rendimentos obtidos por residentes não habituais em território nacional, em ac-tividades de elevado valor acrescentado, com carácter científico, artístico ou técnico. O anexo terá que ser apresentado individualmente por cada titular de rendi-mentos que se encontre registado como residente não habitual para efeitos fiscais. E deverá ser entregue, obri-gatoriamente, por transmissão electrónica de dados. Quando apenas aufira rendimentos do trabalho depen-dente e/ou pensões, o residente não habitual entrega a declaração em Abril, nos restantes casos durante o mês de Maio.

Poderá, ainda, o residente habitual exercer as opções

que o regime prevê quanto aos rendimentos decorren-tes de actividades de valor acrescentado. Isto é, pode optar pela tributação autónoma de 20% ou pelas taxas progressivas de IRS, até uma taxa máxima de 45,88%. Existe ainda a opção da isenção, na eliminação da dupla tributação dos rendimentos obtidos no estrangeiro, des-de que estejam reunidas as necessárias condições alterna-tivas, que os rendimentos possam ser tributados no outro Estado contratante, no âmbito da eliminação da dupla tributação, ou possam ser tributados de acordo com o modelo de convenção fiscal sobre o rendimento e o pa-trimónio da OCDE.

Está em funcionamento um novo sistema informatizado de gestão e con-trolo em tempo real dos movimentos de produtos sujeitos a impostos espe-ciais de consumo. Para o Ministério das Finanças, o EMCS (“Excise Mo-vement and Control System”) é um mecanismo de combate à fraude e que permite simplificar todo o processo, já que o registo de expedição, circulação e recepção dos produtos é feito integralmente em supor-te electrónico.

Com este sistema, em aplicação em toda a União Eu-

ropeia, a administração fiscal passa a acompanhar, em tempo real, os movi-mentos de álcool e bebidas alcoólicas, tabacos e produtos energéticos, rela-tivamente aos quais os impostos têm que ser pagos no estado-membro de consumo. Passam a estar envolvidos neste sistema cerca de 100 mil ope-radores económicos ao nível da UE e mais de 4,5 milhões de remessas de

produtos. Do lado das autoridades aduaneiras o EMCS permite melhores ferramentas para combater a fraude aos impostos especiais de consumo.

residentes não habituaistêm nova declaração de irs

impostos especiais de consumocom ferramenta de combate à fraude

residentes

A declaração inclui um Anexo L “Residente não habitual” para declarar os rendimentos obtidos por residentes não habituais em território nacional, em actividades de elevado valor acrescentado, com carácter científico, artístico ou técnico.

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41CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

responsalização

Quase metade dos devedores agora publicitados respeita a administradores e gerentes de empresas.

FISCALIDADE

Fisco já recuperou mais de 1,3 mil milhões por esta via

Administração fiscal insere mais 970 contribuintes na lista de devedores

Mais 970 novos devedores foram inseridos pela Direc-ção-Geral dos Impostos (DGCI) na lista de devedores ao fisco, a qual é publicitada na internet. Por esta via, os co-fres do Estado já recuperaram mais de 1,3 mil milhões de euros, desde a criação do sistema. A administração fiscal considera que a publicitação desta lista tem representado um importante instrumento de indução ao pagamento das dívidas.

Quanto aos devedores agora publicitados, cerca de 45% dizem respeito a administradores e gerentes que fo-ram responsabilizados pessoalmente pelo pagamento das dívidas das respectivas empresas. Isto tendo em conta a sua culpa na insuficiência do património das mesmas para o pagamento dos impostos em falta. Até ao momento, foram publicitados na lista de devedores 39 457 contri-buintes, dos quais 26 281 efectuaram pagamentos. Neste momento, estão publicitados 26 351 devedores. No ano passado, foram recuperados mais de 318,4 milhões de eu-ros em dívida.

A administração fiscal lembra que a divulgação do nome de um devedor na lista segue-se a um procedimen-to legal, determinado e aprovado pela Comissão Nacional de Protecção de Dados. Todos os devedores seleccionados já tinham sido citados no âmbito do processo de execução fiscal, de modo a efectuarem o pagamento das dívidas ou exercerem os direitos que lhe são atribuídos por lei. Para além de ter sido assegurada a sua participação no proce-dimento de publicitação, através do exercício do direito de audição prévia, tendo sido emitidas cerca de 128 200 notificações.

O Ministério das Finanças garante que – na actuali-zação agora realizada e nas que se seguirão – serão man-tidos todos os procedimentos de controlo e certificação, de modo a salvaguardar os direitos dos contribuintes. Da análise da cobrança mensal do ano passado, conclui-se os meses de Outubro e Dezembro foram aqueles em que os valores foram mais elevados. O que significa que houve a vontade de muitos devedores regularizarem a sua situação de incumprimento fiscal até ao final do ano.

aCTuaLiZação DiÁria Da LisTa

A administração fiscal refere que a actualização da lista com as saídas de devedores acontece diariamente. São excluídos da lista os devedores à medida que as suas dívidas são pagas. No que se refere às entradas, as mesmas têm lugar só depois de estarem concluídos todos os procedimentos legais e por decisão dos serviços centrais. Não existe qualquer periodicidade previamente definida.Ainda no início do ano foram alterados os critérios de selecção dos contribuintes, tendo passado a ser abrangidos todos os que possuem dívidas fiscais ao Estado, as quais foram instauradas até ao fim de Junho do ano passado. A lista de devedores pode ser consultada em www.portaldasfinancas.gov.pt. A ferramenta assume especial importância tendo em conta a necessidade de conhecer a situação fiscal de um eventual parceiro de negócios. É também um modo de garantir uma maior transparência no que respeita à actividade empresarial.

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42 CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

AUDITORIA

Conclusões do X Congresso dos roCA revista Revisores Ǝ Auditores n.º 51, de Outubro/

Dezembro de 2010, pp. 10-3, apresenta o discurso de en-cerramento e as conclusões do X Congresso dos ROC, estas últimas, pela sua importância, transcrevemos de seguida.

• A profissão é permanentemente essencial à credibili-dade da informação financeira.

• A informação financeira é um elemento muito im-portante na recuperação, no desenvolvimento e na sustentabilidade do mercado de capitais e na econo-mia em geral.

• Na revisão de contas tem de adoptar-se uma atitude de percepção do risco e de apurado cepticismo pro-fissional para além, naturalmente, da aplicação de co-nhecimentos técnicos suficientes, de rigor e, acima de tudo, de independência.

• A independência na revisão de contas é factor supre-mo de trabalho.

• Independentemente de sabermos exactamente em que consiste a ética, todos temos um conceito geral ou universal profundo que nos deve pautar os com-portamentos.

• O comportamento não tem de respeitar apenas di-tames formais, designadamente escritos, mas tem de obedecer a princípios de intuição geral.

• O revisor oficial de contas desempenha um papel de grande relevância no contexto da regulação e supervi-são para o sector segurador e fundos de pensões.

• A obrigatoriedade legal da certificação de contas é complementada pela exigência de uma auditoria in-dependente a vários aspectos da actividade das em-presas de seguros e da gestão de fundos de pensões.

• A cooperação estreita com as autoridades de super-visão, bem como com as estruturas relevantes das entidades auditadas, em particular com a auditoria interna, é muito importante.

• No que respeita ao sector segurador, especialmente no contexto de preparação para o regime Solvência II, importa assegurar que a actuação dos revisores seja caracterizada cada vez mais pelo enfoque na óptica baseada nos riscos, bem como na aplicação do princí-pio do primado da substância sobre a forma.

• Relativamente à actual crise financeira, têm sido apresentadas várias soluções para, designadamente, aumentar as responsabilidades e a solidez das insti-tuições financeiras e a protecção dos consumidores

financeiros e para reforçar a eficácia da actuação das autoridades de supervisão.

• Relativamente, ainda, à crise financeira, apontam-se várias lições e desafios para a supervisão: restabelecer incentivos apropriados no sistema financeiro, super-visão macro prudencial (monitorização da estabilida-de financeira), reforço da regulação e supervisão do risco de liquidez, mais e melhor capital, revisão da abordagem de supervisão, reforço do papel dos ban-cos centrais na supervisão, redefinição do âmbito e da abrangência da supervisão, reforço da coordenação internacional na regulação e supervisão, regulação dos mercados de derivados, importância da literacia financeira.

• Na actuação do revisor de contas não pode haver dú-vidas quanto à objectividade e transparência, deven-do ser analisados o risco de familiaridade, o risco de dependência financeira, e os riscos associados à pres-tação simultânea da revisão e de consultaria.

• Dado que as empresas cotadas se financiam através da negociação de produtos financeiros cada vez mais sofisticados, exige-se dos revisores de contas o co-nhecimento profundo dos respectivos instrumentos financeiros, complexos, sendo, para tanto, necessários a formação constante e capacidade de adaptação ao ritmo da inovação e os meios tecnológicos eficazes na valoração dos novos activos financeiros.

• Sem ética e transparência não existe confiança e sem esta não existem mercados eficientes.

• A transparência assume-se como condição do desen-volvimento do mercado de valores mobiliários.

• A ética assume-se como factor-chave da consolidação dos mercados.

• A ética é imprescindível no desenvolvimento susten-tável da excelência empresarial, sendo o respeito pelos valores universais uma relevante componente.

• A governação das empresas tem de basear-se no cum-primento de normas éticas e de responsabilidade de elevado grau.

• Os revisores de contas devem adoptar na sua organi-zação normas de governação que possibilitem a ob-tenção de transparência e ética.

• A simples implantação de um código de comporta-mento não assegura que se apreciem e se pratiquem os valores e normas que nele se estabelecem - o código

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43CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

AUDITORIA

de conduta é algo que se pode aprender, enquanto a rectidão moral e a competência profissional se ad-quirem com esforço, dentro de uma comunidade de aprendizagem e graças a contínuos exercícios de en-saio e erro, de equívocos e melhorias.

• Não há código — novo ou velho – nem manual de boas práticas que possa substituir o carácter.

• A moralização da actividade económica só se pode conseguir através da moralização dos indivíduos que nela actuam - o mercado dá o que se pede.

• Ser ético significa fazer a coisa certa com base nos motivos certos, contudo, sabemos que a conduta dos revisores é objecto de avaliação permanente por ter-ceiros, por isso, agir com ética, significa ter um com-portamento que os outros julgam como correcto.

• O revisor, além do dever de agir de acordo com a sua consciência profissional, deve cumprir com as regras e normas profissionais aprovadas pelos reguladores da sua actividade.

• Os documentos de certificação emitidos no âmbito das funções de interesse público devem cumprir, em substância e não apenas na forma, com os requisitos legais e normativos aplicáveis e, por isso, dão resposta às expectativas do público em geral.

• A importância de uma conduta ética irrepreensível não pode, assim, ser menosprezada pelo revisor, em particular no exercício das funções de interesse pú-blico.

• A sustentabilidade da profissão, também depende da sua capacidade para atrair os novos melhores profis-sionais, isso só será possível se os revisores de hoje conseguirem, através da sua conduta profissional, ele-var o nível e o prestígio já alcançado pela profissão.

• A ética, no que diz respeito à nossa profissão, tem de ser uma relação recíproca entre os revisores de contas entre si, entre os revisores de contas e os seus clientes e entre os revisores de contas e a comunidade, dado o interesse público da profissão.

• Os revisores de contas devem cumprir e fazer cum-prir nas suas equipas os requisitos éticos através da adopção de um conjunto de regras preferencialmente escritas mas, principalmente, manter uma conduta que sirva de exemplo, sempre complementados por formação e educação profissional sobre a matéria.

• O cumprimento das normas de auditoria, sejam elas quais forem, é condição sem a qual não pode ser ga-rantido o cumprimento dos requisitos éticos.

• Há que reconhecer a mais valia do trabalho do revisor

para encontrar soluções para os verdadeiros proble-mas empresariais, ao invés de apressar confrontos e precipitar crises que é possível evitar.

• A criação de confiança recíproca tornou-se um factor de competitividade decisivo.

• A face mais visível da criação de confiança passa por adoptar perante a sociedade, práticas de ética e práti-cas socialmente responsáveis.

• O Governo das sociedades não se resume a uma ques-tão de regras e princípios; é principalmente, uma exi-gência de procedimentos e condutas.

• As actuais medidas de consolidação orçamental exi-gem um aprofundamento das boas práticas empre-sariais, designadamente ao nível da maximização dos resultados financeiros, do reforço do acompa-nhamento e controlo financeiro das empresas e do alargamento do âmbito das empresas com gestão por objectivos contratualizados.

• Se é certo que muitas empresas, especialmente PME, olham ainda para a designação de Revisores Oficiais de Contas como consequência de uma imposição le-gal, a visão externa desta profissão deve ser, funda-mentalmente, a dos benefícios que cada empresa e todos os seus stakehoders obtêm de uma maior con-fiança relativamente à informação por si prestada – confiança proporcionada por uma profissão que, para além da reconhecida qualificação técnica dos seus membros, se rege por elevados padrões de ética e res-ponsabilidade.

• São conhecidas a economia, a situação financeira, os méritos e as carências das empresas, situação típica de tantas PME – isto cria uma responsabilidade acres-cida aos revisores de contas, cuja missão se vê assim alargada a uma verdadeira função pedagógica, que deve ser cada vez mais exercida junto das empresas, quer do ponto de vista puramente técnico, quer de demonstração da necessidade e vantagem de produzi-rem uma informação rigorosa e respeitante dos nor-mativos em vigor, que permita a todos os que com ela se relacionam, e aos seus próprios detentores, o co-nhecimento da sua real situação, em cada momento.

• É cada vez mais relevante a responsabilidade social das empresas, não na sua versão mais tradicional de prestação de serviços de carácter social aos seus tra-balhadores e de cooperação com o meio local en-volvente, mas na vertente fundamental, que é a da responsabilidade da própria empresa assegurar, numa perspectiva de longo prazo, a sua sustentabilidade

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44 CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

AUDITORIA

económica visando a sua perenidade e a manutenção e subsistência dos seus postos de trabalho.

• Não se pode confundir auditoria com investigação de fraudes, nem podem ser imputadas aos revisores de contas responsabilidades por infracções culposas co-metidas por terceiros e importa distinguir entre erro técnico na detecção de situações irregulares e cum-plicidade voluntária, mas a ética e responsabilidade inerentes à profissão de revisor de contas implicam a responsabilização dos profissionais quando se de-tectam casos, de negligência ou de dolo, que consti-tuam, de facto, manifesto incumprimento dos seus deveres profissionais.

• Muitos dos problemas que vivemos estão relaciona-dos com a capacidade de liderança dos dirigentes, em que ser líder é sinónimo de servir e ao mesmo tempo criar valor. Um líder exerce a sua actividade orientado para os resultados.

• O revisor de contas também pode ser um líder, um revisor, um influenciador, um agente de mudança, um desafiador, um provocador, um solucionador - O revisor oficial de contas é um agente estrategicamente colocado, como influenciador da mudança, que está na primeira linha.

• Entre os atributos das suas funções dos revisores de contas colocam-se hoje desafios mais ousados, a quem por força de uma função de auditor e fiscalizador cap-ta informação, sensibilidades, tendências, a partir das quais pode contemplar por evidência, nos seus relató-rios e reuniões, componentes precisas de soluções e de desafios responsáveis às administrações e accionistas.

• O papel dos ROC nas contas públicas – participa-ção no processo de consolidação das contas ainda a iniciar; Participação na adaptação do POCP e outros planos sectoriais ao SNC e/ou NICSP; maior forma-ção dos ROC nomeadamente em questões de contra-tação pública e finanças públicas; participação activa no controlo das dívidas dos municípios, das empresas municipais e Sector Empresarial do Estado e Mais ROC na Administração Pública.

• Reforço da necessidade de um Sistema de Supervisão Pública independente e credível.

• Assegurar uma profissão que deve assentar nos mais exigentes padrões éticos.

• Reforço na supervisão no âmbito do cumprimento dos deveres profissionais dos auditores.

• Prevalência da “substância sobre a forma” no julga-mento do auditor.

• Evolução do actual modelo de supervisão de auditoria ao nível nacional através da reorganização do modelo de supervisão financeira.

• A sustentabilidade da profissão passa por uma estru-tura e dimensão que respondam às novas exigências de mercado.

• Passa ainda por a equipa apresentar níveis de com-petência e multidisciplinaridade que lhe confirmem vantagens competitivas.

• Passa ainda por ter uma visão global e não doméstica do exercício da actividade, trabalhando em rede e me-lhorando o seu nível de oferta.

• Na sequência da crise financeira e subsequente re-forma regulatória, a Comissão Europeia apresentou recentemente um documento para consulta pública intitulado “AuditPolicy: Lessons from the Crisis”, es-tando os temas em debate.

• O referido documento está relacionado com a su-pervisão dos auditores e respectivas Networks, a criação do mercado único de auditoria, a simplifi-cação de regras para as Pequenas e Médias Empresas e Pequenas e Médias Firmas de Auditoria, a confi-guração do mercado de auditoria, a independência e governação das firmas de auditoria e o futuro pa-pel do auditor.

• Embora a publicação deste documento não ponha em causa a sustentabilidade da profissão, os temas em debate e as eventuais mudanças daí decorrentes com maior impacto e no seu desenvolvimento estarão as-sociados às alterações ao actual quadro regulatório e de supervisão da actividade de auditoria, à criação de um mercado único de auditoria e respectiva configu-ração, à propriedade, estrutura e forma de governa-ção das firmas de auditoria, à revisão e adopção das Normas Internacionais de Auditoria e à melhoria da comunicação por parte da profissão.

• Os novos projectos da IFAC vão centrar-se na área dos conflitos de interesse, na resposta à fraude e actos ilegais e na convergência internacional do Código de Etica da IFAC.

• A crise financeira veio demonstrar a importância da disponibilidade pública de informação fiável sobre a situação económica e financeira das empresas e veio demonstrar a relevância da função da auditoria exter-na / revisão legal da contas na criação de um clima de confiança por parte de todos os agentes de mercado e do público em geral.

• A natureza sistémica das instituições financeiras e o

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45CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

AUDITORIA

impacto sobre estas da saúde económica e financeira das empresas veio demonstrar que a função de Audi-toria/Revisão externa é de interesse público e portan-to deve preencher critérios e requisitos de o desempe-nho de uma função de interesse geral.

• Ao mesmo tempo, a crise financeira e em particular as falhas de algumas instituições de natureza sistémica veio pôr em evidência o desencontro entre os parece-res que tinham sido emitidos pelos auditores sobre essas empresas imediatamente antes da crise e os ris-cos que essas instituições evidenciaram, que colocou na ordem do dia a revisão dos métodos dos princípios e dos objectivos do exercício da função de auditor/revisor externo.

• O interesse publico da função e a as falhas constatadas durante a crise impõem uma reflexão sobre as práticas e objectivos da revisão e auditoria externa, tanto ao nível dos profissionais do sector, como ao nível dos quadros regulamentares que se lhes aplicam.

• O que significa que a revisão dos quadros regulamen-tares e dos princípios de auto-disciplina da profissão tem que ser paralelos, têm que resultar de uma re-flexão convergente de todos os stakeholders bene-ficiários do serviço prestado pelo auditor/revisor e deve ter como primeiro objectivo repor a confiança na informação prestada e no caso das instituições fi-nanceiras contribuir para o reforço da estabilidade do sistema financeiro.

• Os conceitos morais podem ser comparados com os achados arqueológicos: constituem algumas das camadas sobre as quais caminhamos na nossa vida quotidiana e, ao mesmo tempo, revelam as origens de alguns dos nossos comportamentos, crenças ou procedimentos.

• Parafraseando Rabelais, “o trabalho sem consciência é a perdição da alma”. É regenerador parar para pensar, por vezes, nas implicações morais do trabalho de cada um.

Terminou, no passado dia 8 de Dezembro, o prazo para envio de comentários à Consulta Pública da Comis-são Europeia sobre o Livro Verde de Auditoria. A Ordem, diversos membros da Ordem e o CNSA contribuíram com os seus comentários que serão publicados, assim como o sumário dos resultados à consulta, no site da Co-missão Europeia em meados de Fevereiro.

Nos passados dias 9 e 10 de Fevereiro, a Comissão Europeia organizou a conferência supra sobre matérias de contabilidade e auditoria.

(Revisores Ǝ Auditores n.º 51,de Outubro/Dezembro de 2010, p. 68)

reCTiFiCação

Congresso dos revisores oficiais de ContasNa revista nº 6 – 2ª série da “Contabilidade & Em-

presas”, no trabalho a propósito do Congresso dos Re-visores Oficiais de Contas, onde é referido “bastonário

da OTOC” deveria aparecer “bastonário da OROC”. Pelo lapso, pedimos as nossas mais sinceras desculpas aos visados e aos nossos leitores.

livro verde sobre Auditoria

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46 CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

importância na economia

As empresas familiares constituem, no mundo em ge-ral, e em Portugal em particular, os verdadeiros alicerces da economia, seja pela riqueza que geram, seja pelo emprego que criam. De acordo com dados da Associação Portugue-sa das Empresas Familiares (APEF), estima-se que mais de 80% do tecido empresarial nacional seja composto por empresas detidas e geridas por famílias, sendo a sua con-tribuição para o PIB de cerca de 60%.

Apesar desta importância, um elevado número de em-presas familiares desaparece todos os anos, essencialmente por falta de preparação adequada do processo de sucessão.

desafios do Crescimento

Quase todas as empresas começam como negócios fa-miliares, mas apenas as que conseguem superar os desafios intrínsecos a este modelo societário sobrevivem e prospe-ram ao longo de gerações.

O crescimento dos negócios familiares implica desafios de performance e governabilidade muito particulares. À medida que o número de accionistas aumenta exponen-cialmente geração após geração (passando pelas fases de controlo pelo fundador, para sociedade entre irmãos e pos-teriormente para sociedade entre primos) mas com poucos deles a trabalharem efectivamente no negócio, o compro-misso evidenciado pela primeira geração vai-se diluindo. De facto, estatísticas mostram que apenas 30% das em-presas familiares sobrevivem na segunda geração, e ape-nas apenas 15% continuam activas na terceira geração.

Ciclo de vida e sucessão

A sucessão é, provavelmente, o principal problema que surge nas empresas de cariz familiar, independente-mente da sua dimensão ou sector em que estão inseridas, sendo que a maior parte das empresas não sobrevive a este obstáculo.

De facto, o ciclo de vida da empresa familiar não di-fere muito do ciclo de vida das empresas não familiares. No entanto, a introdução do elemento família e, concre-tamente, da sucessão, traduz-se num “índice de mortali-dade” mais elevado.

Não obstante estes dados, o facto é que a maioria dos empresários não dedica o tempo suficiente a preparar a sucessão, o que pode ser justificado por:

• Dificuldade em aceitar o momento adequado para a sucessão;

• Dificuldade em encontrar um sucessor no seio da família;

• Conflitos de interesse entre os diferentes actores da empresa familiar.

A dependência da empresa de uma única pessoa pode, no entanto, acarretar graves consequências, ao precipitar uma crise na sua ausência, podendo mesmo obrigar o negócio a encerrar ou ser vendido a um preço abaixo do mercado.

empresas familiaresPaulO mOura CastrO*

GESTÃO E FINANÇAS

1 Lodi, J., (1987), Sucessão e Conflito na Empresa Familiar, Biblioteca Pio-neira de Administração e Negócios.

Fonte: Lodi, J., (1987)

Fonte: Elaboração própria

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47CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

GESTÃO E FINANÇAS

relações e Conflitos de interessena empresa Familiar

Muitos dilemas de sucessão nas empresas familiares, sobretudo a partir da segunda ou terceira gerações, estão nos conflitos entre o controlo de capital e o controlo da gestão, ilustrados no modelo conceptual dos três cír-culos (Gersick et al.2):

Este modelo permite identificar as fontes de conflito interpessoal, os dilemas, as prioridades e as fronteiras da família. Vejamos os seguintes exemplos:

• Área 1: - Membros da família que não têm capital nem

trabalham na empresa- Principal interesse: que as pessoas da família te-

nham oportunidade de trabalhar na empresa.• Área 2:

- Empregados que não são membros da família;- Principal interesse: que as pessoas da família se-

jam tratadas como qualquer outro empregado, em função da competência e desempenho.

• intersecção 3: - Familiares que trabalham em cargos elevados

da empresa mas que ainda não têm capital na mesma;

- Principal interesse: retenção de lucros para ex-pansão e carreira profissional.

• intersecção 4: - Familiares com participação no capital da em-

presa mas que não trabalham na mesma;- Principal interesse: obtenção de dividendos.

O planeamento atempado e a utilização de mecanismos que permitam regular as relações entre a família e a empresa (ex.: Protocolo Familiar), representadas no modelo anterior, são o principal factor para um processo de sucessão eficaz.

protocolo Familiar

Para que o processo de transmissão geracional da em-presas familiares seja bem sucedido, tanto em termos de propriedade como de gestão, importa estruturar o proces-so, prestando especial atenção:

• Aos requisitos de ingresso dos membros das segun-da e terceira gerações, bem como às necessidades de formação, motivação e compromisso dos mesmos;

• Ao modelo de organização futuro, nomeadamente em termos de governabilidade e gestão;

• À profissionalização das estruturas directivas das em-presas.

Neste contexto, o protocolo familiar surge como um veí-culo para preparar e encaminhar a continuidade da empre-sa familiar, mediante um compromisso de todos os membros da família sobre qual o futuro que se pretende para o negócio.

De uma forma simples, trata-se de um acordo escrito, consensual entre todos os membros da família que sejam proprietários, onde se fixa o que deverá ser um guia de conduta da família relativamente à empresa. Entre ou-tros, o protocolo deve cobrir os seguintes capítulos:

• Definição de missão, visão e valores da família;• Definição de mecanismos que garantam a manuten-

ção de boas relações entre familiares e a resolução de conflitos;

• Definição de regras de abertura ou restrições à entra-da na empresa de novos membros familiares;

• Enquadramento da participação da família na direc-ção e controle da empresa;

• Definição de canais de comunicação entre família e empresa;

• Estabelecimento da política de remuneração da famí-lia, quer ao nível de ordenados dos que trabalham na empresa, quer em termos de distribuição de lucros;

• Definição de planos de formação das gerações futuras.Em resumo, e como Peter Drucker3 afirmou, «tanto a

empresa como a família apenas conseguirão sobreviver se a família servir a empresa. Nenhuma das duas funcio-nará se a empresa for gerida de forma a servir a família. A palavra determinante em empresa familiar não é fa-miliar. Tem de ser empresa.»

*Licenciado em Gestão de Empresas pela U. Minhoe Pós-Graduado em Finanças e em Controlo Empresariais

e Especialização em Corporate Finance ambos pelo ISCTE.Sócio-administrador da PARTNERtoPARTNER

– Consultores de Gestão, S.A.www.p2p.com.pt

2 Gersick, K., Davis J., Hampton M. e Lansberg I. (1997), Generation to Generation, Harvard Business School Press, 3th Edition

3 Drucker, Peter F. (1994), How to Save the Family Business, The Wall Street Journal

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48 CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

Código de Ética e deontologia

A OROC pretende ainda que seja concluídaa revisão do Código de Ética e Deontologia,passando depois à sua aprovação.

ASSOCIATIVISMO

Os revisores oficiais de contas estão conscientes que se-rão obrigados a reforçar o seu papel no âmbito do apoio à gestão e à inovação, contribuindo para a sustentabilidade das empresas existentes e para o lançamento de novas ini-ciativas. Estas preocupações estão plasmadas no Plano de Actividades e Orçamento da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas para o presente exercício.

Tendo em conta a necessidade de acompanhar as necessi-dades do mercado e numa perspectiva de transparência perante os agentes económicas e as entidades públicas, a Ordem selec-cionou sete prioridades. Desde logo, acompanhar a evolução internacional da profissão e, em particular, os desenvolvimen-tos que tenham lugar ao nível da União Europeia e relativa-mente ao Livro Verde. Um outro aspecto importante prende-se com a necessidade de promover o debate sobre a evolução da profissão em Portugal, antecipando as perspectivas da evolução futura, bem como incentivar acções para reforçar a sustentabi-lidade da actividade profissional.

A OROC pretende ainda que seja concluída a revisão do Código de Ética e Deontologia, passando depois à sua apro-vação. Também será feito o acompanhamento do projecto de simplificação da Comissão Europeia, promovidas acções para a melhoria da qualidade das auditorias e desenvolvida a parti-cipação nas actividades do Conselho Nacional de Supervisão de Auditoria (CNSA). Importa ter em atenção aquelas ma-térias que mais peso têm na actividade da OROC, enquanto entidade reguladora, de fiscalização e formadora.

A área técnica continua a ter uma importância funda-mental para os profissionais, pelo que é dada continuidade a um grande número de iniciativas começadas no ano passado. São os casos das acções prioritárias e de carácter continuado. Vai manter-se o curso de preparação para candidatos a ROC, com uma carga horária total de 256 horas. Por outro lado, a Ordem vai continuar a desenvolver acções de formação nas diversas áreas relevantes para os respectivos membros. A Co-missão de Inscrição manterá as suas atribuições relacionadas com os processos de registo dos ROC a título individual e das sociedades de revisores oficiais de contas.

Quanto ao exame, serão realizadas as provas escritas e orais de candidatos que tenham concluído, com sucesso, as provas escritas durante o ano ou em anos anteriores, de acordo com as datas de finalização das respectivas provas

escritas. Serão ainda realizados os sorteios dos temas das provas orais a realizar. Ao nível de estágio, o plano prevê a coordenação dos estágios realizados ao abrigo do actual regime, em cumprimento do Sistema de Acompanhamento e Avaliação. Realizar-se-ão as provas de avaliação final de estágio.

Uma outra preocupação da OROC prende-se com o controlo da qualidade. Assim, serão executados os contro-los da actividade relativamente à actividade exercida no ano passado e concluídas as actividades de controlo em curso. Entre outros aspectos, a Ordem vai ainda promover a reali-zação de controlos de qualidade a trabalhos efectuados por ROC, no âmbito do POE e do QREN e ao abrigo de dis-posições legais, como fusões e entrada em espécie. É ainda tido como fundamental acompanhar a evolução dos siste-mas de controlo de qualidade adoptados nos vários países europeus, de modo a identificar as melhores práticas.

Quanto à supervisão, a OROC destaca a cooperação com o CNSA, assumindo-se como o seu principal interlo-cutor, a promoção de auditorias internas aos procedimen-tos relacionados com a qualificação profissional, inscrição, registos de actividade e formação profissional. Vai proceder à análise da actividade profissional reportada pelos revisores e da sua exactidão, assim como prevenir eventuais incum-primentos ou infracções de disposições legais ou regula-mentares, mediante uma actuação mais proactiva junto dos profissionais.

Entretanto, a Ordem vai continuar a adoptar uma po-lítica de contenção de gastos e de valorização dos recursos materiais e humanos. Fica a garantia de um controlo per-manente dos gastos operacionais, bem como o planeamen-to e a gestão de tesouraria, no sentido da melhor aplicação possível dos meios existentes. Mantém-se o plano de acções de formação interna, no sentido de serem melhoradas as qualificações técnicas dos colaboradores.

No âmbito do seu Plano de Actividades

ordem dos roC garante apoioà sustentabilidade das empresas

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49CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

ASSOCIATIVISMO

Madeira não seria excepção

bastonário da otoCdefende eliminação das zonas francas

Domingues de Azevedo defende que as zo-nas francas se proporcionam à fraude e à evasão fiscal.

O bastonário da Ordem dos Téc-nicos Oficiais de Contas (OTOC), Domingues de Azevedo, defende a eliminação de todas as zonas francas ou praças financeiras com vantagens fiscais, o que inclui a Zona Franca da Madeira. Uma posição contro-versa assumida numa entrevista concedida pelo bastonário ao “Diá-rio de Notícias da Madeira”.

Domingues de Azevedo justifica esta sua posição com o facto das zo-nas francas serem mais usadas “para fraude e e evasão fiscais do que real-mente para o desenvolvimento dos territórios onde são criados. Têm-se constituído mais como refúgios de fraudes complexas do que como factores de desenvolvimento das regiões onde são criadas”. Quanto à Madeira, está convicto de que se a região deixasse de ser uma zona franca os reflexos seriam nenhuns no desenvolvimento da economia. E adianta: “As zonas francas fun-cionam muito mais como paraísos fiscais – em situações que nada têm a ver com essas regiões – do que em investimentos que venham a ajudar. Eu acabava com todos os paraísos fiscais que existem na comunidade europeia.”

Ainda relativamente à Madeira, o bastonário da OTOC interroga-se se se é possível e sustentável baixar impostos. É uma decisão que po-derá trazer problemas mais graves no futuro. “Se for consequência de disponibilidade económica, é ópti-mo que se faça, dentro do risco con-trolável. Mas temo de ver até onde

se vai e qual será o seu custo no fu-turo.” O que está, afinal, em causa é que o país tem vivido claramente acima das suas possibilidades, sendo fundamental avaliar se poderemos pagar a factura no futuro. O que significa que a Madeira é um caso paradigmático nesta matéria, con-clui-se das suas declarações.

Em declarações polémicas, criti-ca a “imoralidade” das contas da PT, empresa que lucrou seis mil milhões de euros e “não pagou nem um tos-tão de mais-valias, aproveitando um subterfúgio da lei”. Não sendo uma situação ilegal, não deixa de ser imo-ral, na sua opinião.

profissionais marginalizados

O responsável da OTOC apro-veitou a ocasião para manifestar a sua posição relativamente à situa-ção dos técnicos oficiais de contas. “Desde há muito tempo que têm sido uma espécie de profissionais ostracizados, relativamente à im-portância e às potencialidades que têm de poderem resolver, de uma

forma simples, o que sendo resolvi-do no tempo certo é simples, mas que não o sendo torna-se complexo e difícil.”

Faz notar que os TOC são profis-sionais imprescindíveis e inevitáveis para o bom funcionamento das em-presas e da sociedade, “daí o interesse público em reconhecer o seu papel”. Domingues de Azevedo defende que os governos e as entidades públicas devem ter uma função reguladora quanto ao papel das empresas na sociedade, “à qual os TOC desem-penham um papel de interpretação dos dados e de aconselhadores para a melhor gestão das empresas, uma vez que os empresários, na sua maioria, não têm conhecimento aprofundado da legislação”.

Para o bastonário da OTOC sempre houve uma conceptualiza-ção errada que as empresas eram pertença dos seus donos e, portanto, a sua gestão ou a importância da sua sobrevivência dizia respeito a estes e não, propriamente, a uma concerta-ção ou equilíbrio social necessários. “Hoje, as pessoas têm a consciência mais aprofundada de que, surgindo da iniciativa dos empresários e com o objectivo de garantir a rentabilida-de dos seus donos, as empresas são elementos sociais de grande riqueza no que toca à estabilidade social e de criação de riqueza nacional. Por isso, depois de criadas, as empresas deixam de ter um interesse exclusi-vamente particular dos seus proprie-tários e passam a ter associado um interesse de natureza pública.”

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50 CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

ASSOCIATIVISMO

otoC esclarece novas regras impostas pelo Código Contributivo

O Código Contributivo da Segurança Social suscitou uma série de dúvidas por parte dos profissionais. A Or-dem dos Técnicos Oficiais de Contas (OTOC) elencou aqueles esclarecimentos que toma como mais importan-tes, neste âmbito. Os diplomas a ter em conta são a Lei nº 110/2009, de 16 de Setembro, alterado pela Lei nº 119/2009, de 30 de Dezembro, e pela Lei nº 55A/2010, de 31 de Dezembro, e ainda o Decreto Regulamentar nº 1-A/2011, de 3 de Janeiro.

Quanto ao trabalhador independente, este ano a de-claração de valor de actividade ainda não será feita. Es-tes trabalhadores terão de declarar à Segurança Social os valores que usufruíram até 15 de Fevereiro de 2012, referente ao ano civil de 2011 e através da internet. Os trabalhadores independentes pagarão pelo escalão que têm pago até Setembro de 2011 – apenas diferente pelo ajustamento da taxa – altura em que se fará o apuramento e começarão a pagar pelo escalão devido a partir de Ou-tubro deste exercício.

Esclarece a OTOC também sobre a continuação do direito de isenção do pagamento de contribuições por parte do trabalhador independente. Após os 12 meses de isenção do pagamento de contribuições, se um trabalha-dor independente não tiver durante o ano de 210 rendi-mentos brutos superiores a seis vezes IAS, então terá de ir à Segurança Social e declarar esse facto por escrito. Pode-rá ter direito a isenção do pagamento das contribuições até Outubro de 2011, altura em que será reposicionado no escalão de acordo com o rendimento relevante. Se ti-ver apresentado em 2010 rendimentos brutos superiores a seis vezes IAS, será enquadrado no primeiro escalão, ficando a pagar 29,6% sobre uma vez IAS até ao próximo mês de Outubro.

A entidade contratante, se vier a apurar que o tra-balhador tem 80% ou mais de recibos verdes emitidos a esta, pagará 5% sobre o seu valor total. Esta situação só se verificará em 2012, depois de ser notificada pela Segurança Social, devendo o seu pagamento ocorrer até ao dia 20 do mês seguinte ao da emissão do documento de cobrança. Importa notar o que está previsto no que toca à isenção da obrigação de contribuição por parte do trabalhador independente. O beneficiário só estará isento

como independente se em simultâneo estiver a descontar para um regime de protecção social obrigatório e estive-rem verificados os demais requisitos cumulativos previs-tos na lei.

base de incidência contributiva

São abrangidos pelo regime geral os trabalhadores que acumulem trabalho por conta de outrem com acti-vidade profissional independente para a mesma empresa ou para empresa do mesmo agrupamento empresarial. A base de incidência contributiva corresponde ao montan-te ilíquido dos honorários devidos pelo seu exercício e a taxa contributiva aplicável ao contrato de trabalho por conta de outrem, aplicando-se a taxa global de 34,75%, sendo a contribuição a cargo da entidade empregadora de 23,75% e a quotização relativa ao trabalhador de 11%.

Nesta situação, a base de incidência contributiva referente à actividade profissional independente corres-ponde ao montante ilíquido dos honorários devidos pelo seu exercício. Se for TCO ou MOE de uma empresa e aí prestar serviços tem que passar a constar na declaração de rendimentos mensal, com o código P (remuneração) e com H (honorários), na mesma declaração remunerações e com a mesma taxa. Se o TCO ou MOE prestar serviços à empresa do grupo, essa empresa terá que prestar DR autónomas com o código H (honorários) e sem nº de dias. A questão dos 5%, para a entidade contratante, não se coloca nestes prestadores de serviços, já que passam a estar suspensos do regime de independentes, enquanto se verificar simultaneidade com o regime geral.

A Ordem chama a atenção que se a prestação de serviços for a outra empresa que não a do grupo em-presarial, o enquadramento no regime dos indepen-

base de incidência

São abrangidos pelo regime geral os trabalhadoresque acumulem trabalho por conta de outremcom actividade profissional independentepara a mesma empresa ou para empresado mesmo agrupamento empresarial.

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51CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

ASSOCIATIVISMO

dentes mantém-se em aberto (activo) e o profissional livre, como independente, pode beneficiar da isenção e liberta a entidade contratante da obrigação contributiva dos 5%.

Relativamente ao tópico das sociedades de transpa-rência fiscal, independentemente de estarem ou não en-quadradas como MOE e de terem uma remuneração atri-buída, doravante, em termos de Segurança Social, passam a descontar como trabalhadores independentes pelo valor dos seus resultados apurados, relativamente a cada sócio da sociedade de profissionais, pelo que se devem enqua-drar todos os sócios, mesmo aqueles que apresentem con-dições de isenção, no regime dos trabalhadores indepen-dentes. Esta situação tem a ver apenas com a Segurança Social, mantendo-se o que está definido para efeito de enquadramento fiscal.

regime de transparência fiscal

O sócio-gerente de uma empresa unipessoal por quotas, enquadrada no regime de transparência fiscal, tendo em conta que se tratava de uma empresa unipes-soal, o enquadramento estava a ser feito no regime geral e na situação de gerente. Face à actual legislação, passa a ser enquadrada no regime dos trabalhadores indepen-dentes. Quanto à questão de comprovar se os MOE são ou não remunerados, têm de apresentar à Segurança Social cópia da acta da assembleia-geral registada que comprove que não são remunerados. No caso de passa-

rem a ser remunerados – que passam a receber por essa actividade – têm de apresentar à Segurança Social cópia da acta da assembleia-geral registada que comprove essa alteração.

Para se comprovar que um MOE já desconta para ou-tra entidade tem de ser apresentada a declaração da enti-dade empregadora ou do serviço público de que depende. Para comprovar que é pensionista tem de apresentar à Segurança Social comprovativo em como é pensionista de outro sistema de protecção social obrigatório que não a Segurança Social e que trabalha na empresa em que é MOE. Os pensionistas da Segurança Social não necessi-tam de o comprovar, já que é do conhecimento dos servi-ços da Segurança Social.

Quanto aos trabalhadores agrícolas, a partir de Janei-ro tinham que proceder à elaboração de três declarações de remunerações autónomas, considerando as taxas de 32,5%, 29% e de 33%. Na prática só são aplicadas as no-vas condições para os trabalhadores de actividades agrí-colas que tenham entrado no regime em Janeiro passado. Assim, existem três taxas contributivas para este tipo de trabalhadores. Os novos trabalhadores agrícolas a partir de 1 de Janeiro têm taxa de 33,3% (22,3% da entidade empregadora e 11% do trabalhador), os trabalhadores agrícolas diferenciados em 31 de Dezembro último têm taxa de 32,5% (23% da entidade empregadora e 9,5% do trabalhador) e trabalhadores agrícolas indiferenciados em Dezembro, com uma taxa de 29% (21% da entidade empregadora e 8% do trabalhador).

Importa ainda referir as situações que não integram a base de incidência contributiva dos trabalhadores depen-dentes. Esta situação aplica-se aos subsídios concedidos aos trabalhadores para compensação de encargos familia-res. O mesmo se aplica aos subsídios eventuais destinados ao pagamento de despesas com assistência médica e me-dicamentosa do trabalhador e seus familiares.

No que respeita aos limites com estes encargos ou subsídios, o Código Contributivo não impõe qualquer tecto máximo ou mínimo, pelo que tais limites devem ser determinados nas regras internas de cada empresa na qualidade de entidade entidade empregadora, devendo existir um critério uniforme quanto à sua atribuição. E no que concerne ao documento a apresentar, deverá ser o trabalhador a diligenciar na obtenção desse mesmo docu-mento junto das respectivas entidades, no qual é exigível que evidencie a identificação da pessoa, relativamente à qual incide esse subsídio, bem como o valor face ao en-cargo da mesma.

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52 CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

SECTORES

Foi publicada a portaria que fixa para este ano o montante da taxa devida ao Instituto de Seguros de Portugal (ISP) pelas empresas de seguros a operarem em território nacional. “Torna-se legítima a dú-vida sobre se os tributos são mes-mo taxas ou verdadeiros impostos, aplicados para benefício geral, não sendo os segurados ou as segura-doras quem aproveita as prestações administrativas que permitem”, re-fere a análise da sociedade de advo-gados A. M. Pereira, Sáragga Leal, Oliveira Martins, Júdice e asso-ciados (PLMJ) sobre a Portaria nº 40/2011, de 19 de Janeiro.

A referida taxa é calculada com base na totalidade da receita proces-sada – líquida de estornos e anula-ções – relativa aos prémios de seguro directamente subscritos pelas em-presas de seguro, sendo fixadas anu-almente pelo ministro das Finanças e nunca excedendo o limite máximo de 0,75%. Refere a PLMJ a este pro-pósito que “o Estado português tem criado por decreto, mero despacho ou portaria ministerial outras taxas a cargo das seguradoras e dos próprios tomadores do seguro e a receita ge-rada com a cobrança destes tributos tem permitido financiar uma multi-plicidade de entidades públicas”.

Estes tributos são aplicados so-bre os prémios de seguro dos con-tratos que cobrem riscos situados em território nacional ou em que Portugal é o Estado-membro onde o tomador do seguro reside habitual-mente ou, ainda, onde está situado o estabelecimento da pessoa colec-tiva a que o contrato ou a operação

respeitam, independentemente da lei aplicável ao mesmo. O gabinete de advogados chama a atenção para o facto de para além da taxa a fa-vor do ISP, “existem outros tributos parafiscais, definidos em função da entidade em cujo proveito foram estabelecidas”.

Não obstante a vertente mar-cadamente económica e social da maioria das taxas – e apesar de de-vidamente identificadas as atribui-ções e missões de cada uma das en-tidades públicas que as cobram – a verdade é que o benefício decorren-te do exercício das suas funções ou da realização das suas prestações é, por um lado, um benefício de um grupo de pessoas criteriosamente destacado e não da pessoa singular (segurado) ou colectiva (segurado-ra), que as suporta, directa ou indi-rectamente. “Esta questão torna-se tanto mais pertinente quanto é a dificuldade em determinar a presta-ção concreta e individualizada que tais tributos visam compensar.”

legislador não refere consignação objectiva da receita

A PLMJ refere que ao passo que

as “contribuições” para o Fundo de Garantia Automóvel (FGA) visam possibilitar o ressarcimento dos da-nos resultantes de acidentes rodo-viários, quando o responsável não beneficie de seguro obrigatório de responsabilidade civil automóvel válido ou eficaz, já a taxa a favor do ISP pretende contrabalançar os custos decorrentes de operações de fiscalização e regulação do mercado dos seguros e que são impossíveis ou difíceis de individualizar.

“Na maioria dos casos, o legis-lador não se pronuncia quanto à consignação objectiva da receita ar-recadada com a cobrança das referi-das taxas, limitando-se a identificar a entidade pública que dela beneficia o o título que integra o respectivo orçamento. Visando a generalidade das taxas compensar prestações con-cretas dirigidas ao contribuinte, fa-cilmente se percebe, porém, a neces-sidade de as identificar com precisão e clareza”, explica a PLMJ sobre esta matéria.

Apesar da grande maioria das taxas cobradas e/ou consignadas a essas entidades públicas servir o mero propósito de angariação de receita para fazer face aos encargos de inúmeros serviços confiados às mesmas, “a verdade é que, muitas vezes, são outros, em geral, a be-neficiarem dos referidos serviços”. É dado o exemplo daquela taxa a favor do INEM, suportada directa-mente pelos tomadores de seguros, mas contribuindo para o financia-mento dos serviços de urgência ou emergência prestados e acedidos por todos.

Actividade seguradora é sujeitaa vários tributos parafiscais

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53CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

PROFISSÃO

Nos dias de hoje, em quase todas as conversas, emergem aspectos relacionados com a ética, a deontologia e a respon-sabilidade social. Acontece à medida que surge qualquer crise. Não há vida sem crises. Existe uma multiplicidade de crises e de éticas que se misturam e confundem consoante a religião, a civilização, os usos e costumes, a geografia: éti-ca empresarial, ambiental, social… e, depois, muito se fala daquilo que nem sempre verdadeiramente se sente, pratica, respeita e reconhece.

Ao longo de todo o livro evidenciamos o que só agora alguns identificam e classificam como o âmago de todas as crises – a exploração e o desemprego.

O Homem é o responsável máximo por tudo o que o rodeia, a sustentabilidade, a evolução do mundo e o futuro da história. O Homem é a causa e a solução de todos os problemas económicos, sociais e políticos.

É tudo uma questão de organização social em que a fronteira entre o bem e o mal se estreita ou alarga em função dos interesses – por vezes de falsa virtude – em que os ar-gumentos da solidariedade e da subsidiariedade são usados como instrumentos.

Também se afirma que a crise económica fez emergir um novo tipo de capitalismo que torna a ética profissional, empresarial e a responsabilidade social dos gestores e das empresas mais crescente e pertinente. No que concerne às empresas, a opinião pública, mais esclarecida, exige novos valores, pelo que já não basta a uma empresa ser economi-camente forte.

Os sistemas de educação/ensino, com todas as suas virtu-des e defeitos, representam, mesmo assim, uma das grandes conquistas quanto à regeneração da ética. A Escola é o futuro. A pobreza que em muito ultrapassa o nosso campo de visão, “o flagelo dos novos pobres”, terá de ser combatida.

As crises fazem parte da vida. A inovação faz a diferença. O Homem e os seus valores irão reorganizar-se. Existe a necessidade de mudança e até os mais cépticos acabarão por colocar o BEM COMUM acima dos próprios interesses. Pressionada pela opinião pública, haverá uma nova ordem (global) de valores.

A necessidade de repor a ética, deontologia e responsa-bilidade social no ensino é reclamada pelos diversos sectores

de actividade e documentos oficiais, confrontados com o meio em mutação no âmbito da globalização, com reflexos em valores económicos directos.

Todos somos, de alguma maneira, partes interessadas e desejamos melhores práticas sobretudo no que concerne à igualdade de oportunidades, inclusão social e desenvolvi-mento sustentável.

O comportamento dos mercados nem sempre cumpre as diversas iniciativas levadas a cabo pela UN Global Com-pact (2000), a Tripartite Declaration on Multinational En-terprises and Social Policy da OIT (1998), as Guidelines for Multinational Enterprises da OCDE (2000) que, embora não sendo vinculativas em termos jurídicos, mereceram o compromisso por parte dos governos e interessam não só às multinacionais como às PME.

No que concerne à dimensão humana abrem-se novas perspectivas relativamente à saúde e segurança no traba-lho, adaptação à mudança, impacto ambiental e recursos naturais. Porém, a responsabilidade social das organiza-ções abarca toda uma dimensão externa, envolvendo co-munidades locais, parceiros comerciais, fornecedores, consumidores, direitos humanos e, preocupações ambien-tais globais.

Em consequência, surgiram novos aspectos e abordagens relacionadas com relatórios e auditorias em matéria de res-ponsabilidade social, qualidade no trabalho, rótulos sociais e ecológicos, investimentos socialmente responsáveis, etc.

A todas estas iniciativas juntam-se outros agentes e par-tes interessadas sendo de destacar a UE, ONG, empresas, parceiros sociais e autoridades públicas. O Livro Verde, apresentado pela Comissão das Comunidades Europeias de 18.07.2001, COM (2001) 366 final, é disso, um bom exemplo.

A Aliança Europeia para a Responsabilidade Social pro-põe uma maior investigação interdisciplinar, em particular

Ética, deontologiae responsabilidade socialantÓniO da silva rOCha*

Homem

O Homem é o responsável máximo por tudoo que o rodeia, a sustentabilidade, a evoluçãodo mundo e o futuro da história.

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54 CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

PROFISSÃO

no que respeita a conexões a nível macro e mesoeconómi-co; competitividade e desenvolvimento sustentável; eficácia para alcançar objectivos sociais e ambientais; inovação; go-verno das sociedades; relações laborais; e, cadeia de abaste-cimento.

Para a Comissão Europeia, a responsabilidade social das empresas, tal como praticada pelas PME é, por si só, um tema de investigação importante. Porém, considera que a investigação também se deve reflectir, de forma adequada, noutras áreas como o impacto social do ciclo de vida dos processos, produtos e serviços, possibilidades que pretende explorar e apoiar em termos suplementares.

E para que a responsabilidade social das empresas se tor-ne uma prática corrente, a Comissão Europeia, reconhece a necessidade de se desenvolver conhecimentos e compe-tências certas entre os futuros empresários, líderes empre-sariais, gestores, e trabalhadores. Muito concretamente, a responsabilidade social das empresas constitui matéria da formação contínua. E é por isso que convida as escolas de gestão, as universidades e outros estabelecimentos de ensino a incorporar a RSE nos programas de ensino, como matéria transversal, em particular nos currículos dos futuros gesto-res e licenciaturas similares.

Tornou-se particularmente importante um compro-misso, firme, das empresas com a responsabilidade so-cial, bem como um papel de apoio total das entidades públicas para o respeito dos direitos do Homem e do Estado de direito para o funcionamento sustentável da democracia e da economia de mercado, seja à escala lo-cal, nacional, europeia ou mundial.

Para se conseguir um modelo económico bem suce-dido, a economia de mercado tem de assentar em alguns pré-requisitos essenciais, designadamente, um quadro le-gislativo e normativo eficaz e coerente, uma autolimita-ção e autocontrolo, e, um clima de dinâmica empresarial, de inovação, equidade e confiança. Todos estes elemen-tos são imprescindíveis para combinar níveis elevados de êxito económico, de protecção do ambiente, de coesão social e de bem-estar.

As principais empresas nacionais, europeias e inter-nacionais estão, mais que nunca, a passar por um pro-cesso de investigação, aprendizagem e inovação no que diz respeito ao seu governo, gestão, diálogo com as partes interessadas e desenvolvimento de produtos, fazendo da responsabilidade das empresas e da responsabilidade pe-los produtos, uma parte natural da sua prática comercial e da sua competitividade diárias.

As pequenas empresas, apesar de adoptarem frequen-temente uma abordagem mais informal e intuitiva da

responsabilidade social, têm tanto para oferecer como as grandes empresas.

O diálogo com as partes interessadas ajuda a prever e a resolver questões sociais e ambientais que possam afectar a competitividade futura. Estas parcerias respon-dem, desta forma, aos crescentes desafios da concorrên-cia mundial, das tendências demográficas e de um futuro sustentável.

O presente livro reveste a natureza de um manual para quem tem interesse nesta matéria e, por isso, elege-mos profissionais e alunos que, como actores, nela estão ou virão a estar directa e/ou indirectamente envolvidos. Está dividido em duas Partes e em sete Capítulos, obede-cendo a uma sistematização que consideramos ideal para os objectivos pretendidos.

O primeiro Capítulo refere-se à Ética em geral. Parte da evolução do conceito de Ética, Costumes e Moral, desde a Antiguidade Oriental, até à multiplicidade de Éticas dos nossos dias. Referir as diversas ideologias, ao longo dos tempos é, em certa medida, pôr em relevo o vínculo existente entre as ideias e a base social que as con-dicionaram e a influência que as mesmas tiveram sobre a economia; investigar as suas relações com as teorias polí-ticas, concepções jurídicas, filosóficas, religiosas etc. To-das estas concepções não podem ser analisadas como algo eterno e imutável, mas em renovação e desenvolvimento contínuos. O desenvolvimento do pensamento político e social sempre esteve condicionado pelo desenvolvimento económico da sociedade. As mesmas ideias têm um valor progressista numa época e reaccionário noutra. Achamos interessante abordar, também, as concepções de empresa, desde a concepção liberal do Século XIX até à concepção liberal e democrática. Concluímos o Capítulo sem deixar de abordar aspectos relacionados com a Ética, consumo e sustentabilidade (ética empresarial, ética sustentável, ética e cultura de empresa, e, ética e publicidade) bem como fundamentos éticos da globalização e empresas e códigos de ética.

O segundo Capítulo aborda os aspectos, essenciais, da deontologia em geral. A responsabilidade social das empresas constitui o terceiro Capítulo onde se incluem as estratégias europeia e nacional de desenvolvimento sustentável, a responsabilidade social das empresas, a avaliação do seu desempenho, as normas portuguesas de responsabilidade social e ética, dando alguns exemplos de iniciativas a nível nacional e europeu.

O quarto Capítulo foi reservado às práticas de res-ponsabilidade social com enfoque para as energias reno-váveis, o dumping social e de preços, as pessoas versus

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55CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

PROFISSÃO

organizações, o suborno e corrupção, o combate à dis-criminação de pessoas com deficiência, a igualdade de oportunidades entre homens e mulheres, o direito à pri-vacidade, o assédio moral no trabalho, a qualidade to-tal, as economias fundadas no conhecimento, os fundos socialmente responsáveis, a banca e seguros e, por fim, a contabilidade ambiental – revelação no relato financeiro.

O quinto Capítulo aborda a responsabilidade social na administração pública e, tendo em consideração uma parte importante do público-alvo, reservamos o sexto Capítulo para a responsabilidade social no ensino supe-rior: desafios e responsabilidade social na investigação e no ensino.

O Capítulo VII é um compêndio de documentos éti-cos. 1,2

A Parte II do Capítulo VII (Disponível em: http://livraria.vidaeconomica.pt/livro/etica-anexo) contém, para estudo e consulta:

1. Código de Ética para Contabilistas Profissionais [International Federation of Accountants (IFAC)]

2. Estatuto dos Revisores Oficiais de Contas (Decreto-Lei n.º 487/99, de 16 de Novembro)(Republicação do Decreto-Lei n.º 487/99, de 16 de

Novembro)

3. Conselho Nacional de Supervisão de Auditoria (CNSA)

(Decreto-Lei n.º 225/2008 de 20 de Novembro)

4. Estatuto do Conselho Nacional de Supervisão de Au-ditoria (CNSA)

5. Código de Ética e Deontologia Profissional dos Revi-sores Oficiais de Contas

(Publicado no Diário da República, III Série, n.º 297, de 26 de Dezembro de 2001)

6. Regulamento do Controlo de Qualidade da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas

(Artigo 68.º do Decreto-Lei n.º 487/99, de 16 de No-vembro)

1 - Em virtude da extensão dos documentos optou-se por integrar muitos deles numa Parte II (anexo à presente obra) disponível em suporte electró-nico.2 - Os documentos elencados na Parte II são de acesso livre no endereço de Internet: http://livraria.vidaeconomica.pt/livro/etica-anexo

*Doutor em Direito e Doutor Europeu, pela Faculdade de Direitoda Universidade de Santiago de Compostela. Pós-graduado e Mestre

em Relações Internacionais pela Universidade Portucalense – Infante D. Henrique. D.E.A. em Investigação em Direito Público Especial pela Universidade de Santiago de Compostela. Contabilista, Licenciado em

Auditoria, Licenciado em Gestão Financeira pelo ISCAP – IPPe Licenciado em Ciências Económicas e Empresariais (em equivalência)

pela Universidade de Compostela.Este texto foi extraído do livro com o mesmo titulado.

7. Estatuto da Ordem Técnicos Oficiais de Contas(Decreto-Lei n.º 310/2009, de 26 de Outubro)

8. Código Deontológico dos Técnicos Oficiais de Con-tas

9. Regulamento do Controlo de Qualidade(Anúncio n. 131/2004 - 2.ª Série)

10. Regras para Inscrição na ex-Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas

11. Associação Portuguesa de Peritos Contabilistas

12. Associação Portuguesa de Técnicos de Contabilidade

13. Instituto Português de Auditores Internos

14. Certified Internal Auditor (CIA)

15. The IIA’S Code of Ethics

16. Associação Portuguesa de Auditores

17. Outras Associações

18. Auditores & Revisores(Artigo de opinião)

Por fim, e à laia de conclusões, apresenta-se um artigo de opinião com as principais diferenças entre Auditores e Revisores, seguindo-se a bibliografia.3

3 - Os documentos éticos disponíveis on-line em http://livraria.vidaecono-mica.pt/livro/etica-anexo fazem parte integrante da presente edição e serão alvo de actualizações sempre que tal se justifique. Caso o leitor queira sugerir a inclusão de outros documentos éticos relevantes poderá efectuar o pedido para o endereço de e-mail: apoioaoclientevidaeconomica.pt

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56 CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

CASOS PRÁTICOS

Acontecimentos subsequentes1

CAsos prÁtiCos Nos 8, 9 e 10

Caso prático n.º 8

Uma empresa possui activos importantes no Brasil. No dia 5 de Janeiro do ano N, o Governo brasileiro procedeu a

uma grande desvalorização da sua moeda, a qual provocou uma importante redução no valor em euros dos activos da

empresa no Brasil. Essa perda deve ser reflectida nas demonstrações financeiras do exercício findo em 31 de Dezembro

de N-1, tendo em conta o facto de que as demonstrações financeiras serão apenas aprovadas pelo órgão de gestão em 15

de Março do ano N?

solução

Não. Trata-se de um evento novo. A razão para a perda apenas ocorreu no ano N. No entanto, este evento subsequen-

te deve ser divulgado no Anexo, quantificando-se o referido efeito.

Caso prático n.º 9

Uma empresa possui um investimento de tesouraria num título cotado na bolsa de valores, o qual se encontra con-

tabilizado pelo valor da cotação na data do balanço. Na data de aprovação das contas pelo órgão de gestão, a cotação do

título é substancialmente inferior ao valor da cotação na data do balanço. A perda deve ser reconhecida?

solução

Não. A perda ocorreu após a data do balanço. Trata-se de um investimento valorizado pela cotação na data do balan-

ço, pelo que variações subsequentes na cotação do título não são eventos ajustáveis.

Caso prático n.º 10

Uma empresa possui Activos por Impostos Diferidos relativos a prejuízos fiscais disponíveis para utilização mensura-

dos através da aplicação de uma taxa de IRC de 30%. No dia 1 de Fevereiro do ano seguinte, a taxa de IRC foi aumentada

com efeitos imediatos para 35%. Não tendo o órgão de gestão ainda aprovado as demonstrações financeiras, deverão ser

ajustados os Activos por Impostos Diferidos?

solução

Não. Trata-se de um evento não ajustável, uma vez que a nova taxa de IRC apenas foi anunciada e promulgada após

a data do balanço. No entanto, caso o efeito seja material, deve-se divulgar no Anexo o efeito decorrente desta alteração

de taxa.

1 Extraídos do livro “Sistema de Normalização Contabilística Explicado”, da autoria de João Rodrigues, 2.ª edição, actualizada e ampliada, Porto Editora, Porto, p. 873

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57CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

DIVERSOS

PaLaVras CruZaDas - CoNTaBiLiDaDe*

1 2 3 4 5 6 7 8 9 101  

2  

3  

4        

5    

6        

7      

8    

9    

10      

HoriZoNTais:1 - Pertence a ‘Meios Financeiros Líquidos’ (plural); o primeiro era de 1977. 2 - É dos americanos (sigla); ordena cronologicamente. 3 - Todas as contas abertas o têm (plural); negativo (invertido). 4 - Símbolo gráfico da conta; lá são 230 (sigla); ela mudou o mundo; é uma consoante. 5 - Vinham antes das amortizações (sigla); usa-se depois da(s) conta(s) que se debita(m); significado português da expressão “a true and fair view“ contida na IV Directiva 78/660/CEE, de 25 de Julho de 1978 (sigla). 6 - Quociente entre o perímetro e o diâmetro de uma moeda de um euro; é vogal; a ela pertencem as ‘Despesas de Representação’ (sigla). 7 - Um cento para os romanos; uma das componentes do activo (singular); o seu ex-líder tem nome de bebida estimulante. 8 - Contrário de vir; é uma consoante; faz parte do saldo de caixa (singular). 9 - Em Espanha diz-se ‘Libro Mayor’; o FASB é daqui (sigla). 10 - Eram os dálmatas (num. romana); costumava assistir aos exames da Aula de Comércio; denominação jurídica comercial (sigla).

VerTiCais:1 - Na vigência do POC influenciava negativamente o resultado; uma das especialidades do saudoso Professor Saldanha Sanches (sigla). 2 - Faz parte do avião; riqueza de uma empresa (sigla); sobre eles incide a taxa de imposto (sigla). 3 - Quatrocentos e cinquenta e um para os antigos (invertido); produção total de bens e serviços realizada num dado país num determinado período de tempo; é a última. 4 – Símbolo matemático; é afluente do Mondego; trata as águas (sigla). 5 - Pneu (invertido); oferece o primeiro Doutoramento em Contabilidade do país (sigla); documento financeiro que mostra as receitas e despesas de uma nação (sigla). 6 - Dizem que é secreto; é a primeira; mil para os romanos; um para os mesmos. 7 - Utiliza-se no Diário; usa-se no razão esquemático; é consoante; partícula de disjunção. 8 - Contabilizavam-se em homenagem ao Princípio Contabilístico da Prudência antes da publicação do Decreto-Lei n.º 35/2005. 9 - Pertence a Oliveira do Bairro; é a primeira nos ‘Rendimentos’. 10 - Gonçalves da Silva, no ‘Contabilidade Geral’, costumava defini-la como o “conjunto de elementos patrimoniais comuns expresso em unidades de valor”; o Presidente da Comissão de Normalização Contabilístiica é aqui professor (sigla); artigo definido.

*MIGUEL GONÇALVES - Docente do ISCAC

Obs.: A solução será apresentada no próximo número

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58 CONTABILIDADE & Empresas | Mar/abr 2011 | nº 8 - 2ª série

Este é um manual de boas práticas na pres-tação de contas das sociedades comerciais e que contribui para a disciplina e a cultura da boa prestação de contas em Portugal. O livro repre-senta uma referência para a teoria e a prática da prestação de contas no nosso país.

Da autoria de Duarte Nuno Araújo, Patrí-cia Cardoso e José Novais, é uma obra que vai contribuir para a compreensão da estrutura e dos conteúdos de relato prescritos pelo Siste-ma de Normalização Contabilística, com especial enfoque para as divulgações exigidas para o anexo e ajudar na leitu-

ra dos documentos que materializam a presta-ção de contas. Destina-se sobretudo a gerentes, administradores, directores financeiros, TOC, ROC e consultores.

A obra está estruturada em prestação de contas, os referenciais contabilísticos vigentes, as demonstrações financeiras do SNC e a di-vulgações do anexo no SNC. Inclui ainda o projecto da Normalização Contabilística para Microentidades. Trata-se de uma edição do

grupo editorial Vida Económica, tem 296 páginas e está disponível por 22 euros.

A atenção que é dada à reabilitação urbana justificou a publicação de um diploma, o qual aposta num quadro legislativo integrador para apoiar a tarefa da reabilitação urbana. Mais do que um livro jurídico, “Reabilitação urbana” é uma obra de reflexão de mercado que ajuda a compreender este tema à luz da nova legis-lação.

A Vida Imobiliária, no âmbito da nova rea-lidade legislativa, acabou por desenvolver mais do que um livro de compilação de legislação, em cola-boração com a sociedade de advogados Uría Menéndez

– Proença de Carvalho, pelo que organizou um ciclo de conferências dedicado exclusivamente à reabilitação urbana e que reuniu em debate e reflexão mais de 200 profissionais.

Quanto à estrutura da obra, na primeira parte é dada a opinião e feita uma análise jurí-dica do diploma. A segunda parte incide sobre o regime jurídico da reabilitação urbana. A ter-ceira parte está disponível online e diz respei-to a várias leis. Esta é mais uma publicação do

grupo editorial Vida Económica. O livro tem 304 páginas e está disponível ao público por 24 euros.

A principal novidade deste Código Contri-butivo, da autoria de Cristina Kellem S. C. Fer-nandes, é a possibilidade de se encontrar num único diploma resposta às dúvidas relativas à relação contributiva para com o sistema de Se-gurança Social.

Até agora, a matéria contida nesta obra es-tava dispersa em vários diplomas. O livro con-tém comentários e notas ao texto da lei, que possibilitam uma leitura e uma compreensão mais claras, constituindo uma obra de consulta para to-dos os profissionais que lidam com esta temática. Inclui o Código dos Regimes Contributivos do Sistema Previ-

dencial de Segurança Social, o Regulamento do Código Contributivo, o regime processual aplicável às contra-ordenações laborais e de Segurança Social, bem como anotações e es-clarecimentos práticos e quadros-resumo de aplicação prática.

Trata-se de um livro que é da responsabili-dade editorial do grupo Vida Económica, com 232 páginas e um preço de 22 euros. Cada um dos temas abordado está divido em vários capí-

tulos, sendo que se optou por uma estrutura que facilita a consulta dos vários pontos tratados. Houve a preocupação de facilitar o processo de busca.

manual de prestação de contas nas sociedades comerciais

reabilitação urbana

Código Contributivo anotado e comentado

LIVROS

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"O meu bem-haja ao autor do livro, meu amigo Joaquim Guimarães, pois só a sua persistência, dedicação à causa e gosto pela profissão tornaram possível construir a presente obra que, não tenho dúvidas, para além do relato factual das situações passadas, constituirá a memória viva do futuro do que foi a profissão e o associativismo da contabilidade, de que ele tem sido um destacado obreiro, sabendo por experiência de vida que a memória dos homens é tradicionalmente curta para lembrar estes e outros feitos que ocorreram na nossa profissão".

in prefácio por antónio domingues de azevedo (presidente da direcção da CtOC).

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MARÇO E ABRIL 2011 | N.º 8 | 2ª SÉRIE

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ARTIGOS• ContabilidadevsFiscalidadenoâmbitodoSNC–casamentocomdivórcioàvista?

• Adeclaraçãoderendimentosmodelo22doIRCeoSNC• Municípiosecomboios:aentidade• Reflexõessobreo“accrual”• DequefalamosquandofalamosdeContabilidadedosRecursosHumanos?

• EmpresasFamiliares• Ética,DeontologiaeResponsabilidadeSocial

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