1.7 novais f - tráfico in portugal e brasil

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FERNANDO A. NO VAIS Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial ( 1777 - 1808 ) Quinla edição EDITORA HUCLTEC São Paulo, 1989

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  • FERNANDO A. NO VAIS

    Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial

    (1777- 1808)

    Quinla edio

    EDITORA HUCLTEC So Paulo, 1989

  • Direitosaulorais 1979 de Fernando A. Novais. Dircilos de publicao reservados pela Editora dc H u m an ism o, CinciaeTccnologia IIucitecLtda., RuaGergia, 51 -04559 So Paulo, Brasil. Telefone: (011 )241-0858.

    ISBN 85-271-0126-2 Foi feito o depsito legal.

    1* edio; 1979 2* edio; 1981 1' reimpresso: 1983 3 edio: 1985 4* edio: 1986 5* edio: J9B9

  • mo metropolitano do comrcio colonial constituiu-se, ao longo dos sculos XVI, XVII e XVIII, no mecanismo atravs do qual sc processava a apropriao, por parte dos mercadores das metrpoles, dos lucros excedentes gerados nas economias coloniais; assim, pois, o sistema colonial em funconamenro, configurava uma pea da acumulao primitiva de capitais nos quadros do desenvolvimento do capitalismo mercantil europeu. Com tal mecanismo, o sistema colonial ajustava, pois, a colonizao ao seu sentido na histria da economia e da sociedade modernas.

    c) Escravido e trfico negreiro

    A anlise que vimos esboando do Antigo Sistema Colonial no se completa sem o estudo, sumrio embora, do tipo de economia que se organiza nas colnias. J vimos que a indicao das grandes linhas da estrutura scio-econmica colonial indispensvel para se compreenderem inclusive os mecanismos da explorao ultramarina; veremos adiante que somente depois dessa anlise poderemos tentar caracterizar globalmente a dinmica do sistema colonial.

    O ponto de partida para a caracterizao da economia colonial o sentido mais profundo da colonizao e o mecanismo de base das relaes metrpole-colnia. Efetivamente, em funu daquele sentido bsico que se processa a expanso europia, t se organizam as atividades produtivas no Novo Mundo. Ocupao, povoamento e valorizao econmica das novas reas se desenvolvem nos quadros do capitalismo comercial do Antigo Regime, em funo dos mecanismos e ajustamentos dessa fase da formao do capitalismo moderno; no fundo e no essencial, a expanso europia, mercantil e colonial, processava-se segundo um impulso fundamental, gerado nas tenses oriundas na transio para o capitalismo industrial: acelerar a primitiva acumulao capitalista pois o sentido do movimento, no presente em todas as suas manifestaes, mas imanente em todo o processo.

    Neste sentido, a produo colonial orienta-se necessariamente para aqueles produtos que possam preencher a funo do sistema de colonizao no contexto do capitalismo mercantil; mercadorias co- mercializveis na economia central, com procura manifesta ou latente na sociedade europia. So,sobretudo, os produtos tropicais: acar, tabaco, algodo, cacau, anil; matrias primas, como peles para as vestimentas de luxo, madeiras tintoriais, etc. Para alem, natural

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  • mente, metais nobres, para que a expanso da economia de mercado se no travasse por escassez de numerrio.

    O primeiro ensaio colonizador, nas ilhas atlnticas, comeou muito cedo(92)i sob o estmulo direto do Infante D. Henrique, que para l enviou os primeiros povoadores. A idia inicial parece ter sido a de povoar para manter a posse das estratgicas ilhas, ao mesmo tempo em que se procurava guardai segredo das rotas e dos descobrimentos. Organizava-se assim uma economia mais voltada para o consumo dos pioneiros, posto que com pequena exportao de cereais para a metrpole, j carente deles. No tardou porm que a economia insulina se voltasse para o mercado externo, visando a Portugal e logo a seguir ao mercado europeu em geral; a introduo da agroindstria do acar nas ilhas, especialmente na Madeira, sua rpida difuso^93), ajustaram a pouco e pouco as atividades produtivas s linhas comerciais da economia europia em expanso. Com o desenvolvimento da economia aucareira no Brasil, foi a viticultura que, a partir do fim do sculo XVI, passou a dominar a produo da Madeira.

    No Brasil, igualmente, a colonizao propriamente dita (ocupao, povoamento, valorizao) obedeceu de incio a preocupaes antes de tudo polticas: visava-se, atravs do povoamento, preservar a posse j ento disputada pelos corsrios holandeses, ingleses e franceses^). As sugestes nesse sentido feitas a el-Rei D. Joo III (entre outros, por Dogo de Gouveia) j apontam contudo pata o exemplo das Ilhas Atlnticas^95). Quando enfim se enceta a colonizao, a agricultura que visivelmente se tem em mira nas cartas de doao das capitanias, onde o donatrio recebe privilgio de fabricar e possuir engenhos dgua e moendas96). Destarte, a colonizao da Amrica Portuguesa organizava-se desde o incio em funo da produo aucareira, para o mercado europeu, e assim desenvolveu-se ao longo do sculo XVI.

    Joel Serro - Na alvorada do mundo atlntico, in O Sculo dos Descobrimentos. So Paulo, 1961, pp. 141-157.

    V. Magalhes-Godinho - A Economia dos Descobrimentos Henriquinos. Lisboa, 1962, pp. 165-176.

    (v4)C r Celso Furtado - Formao Econmica do brasil, pp. 14-15.('^Cf. Lcio de Azevedo pocas de Portugal Econmico, 2* edio pp. 233-235.

    Vide a carta de Joo de Melo Cmara, in Histria da Colonizao Portuguesa da Brasil, t. III, pp. 83-91-

    J6>Cf. Lcio de Azevedo, op. cit.. p. 240. R. Simonsen, op. cit., p. 83-

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  • Quando as naes ibricas perdem sua posio privilegiada no Ultramar e a concorrncia colonial se generaliza, assistimos ao mesmo ajustamento da expanso colonial s linhas de funcionamento do sistema. O assalto holands, ingls e francs s Antilhas de Castela, j o vimos, vifcou de incio ao estabelecimento dc cabeas de ponte para melhor atuar sobre o sistema colonial de Espanha. O meado do sculo porm marca al tambm a mudana de rumo; com a introduo da economia aucareira, as ilhas do mediterrneo americano organizavam-se em produtoras dos mercados europeus^97).

    Os espanhis, por seu turno, defrontaram, nas reas do Novo Mundo, que lhes ficaram reservadas pelas prioridades dos descobrimentos e pelos ajustes pontifcios, com populaes mais densamente concentradas e dc nvel cultural mais elevado. A acumulao prvia de riqueza bem como as dificuldades de entabular-se uma explorao puramente comercial, levou ali a uma terceira alternativa: a conquista, isto , o saque das riquezas acumuladas e a dominao dos aborgenes, com desmantelamento direto de suas estruturas polticas tradicionais. A conquista espanhola pe a nu as linhas de fora da colonizao moderna. Passada csra fase, a colonizao se organizava em torno da minerao da prata e do ouro, que o seu eixo ccntral, em torno do qual, tudo o mais girava 9^8): tambm neste caso, portanto, a produo para o mercado europeu que domina o processo colonizador.

    Na Amrica Setentrional, finalmente, assistimos ainda uma vez ao mesmo movimento. Colonizadas a partir de 1607 (settlement da Virgnia), a emigrao para essas reas tem conotao diferente. Embora estejam presentes os impulsos mais fundamentais da expanso europia, na sua verso inglesa, outros componentes interferiam, matizando os resultados. A emigrao para vrias colnias americanas organizou-se mediante companhias, que engajavam trabalhadores para a explorao da Amrica norrc-adntica, visando a lucros coloniais; outras vezes, tratava-se da emigrao espontnea de grupos perseguidos pelas reviravoltas polticas e religiosas da Inglaterra, na fase de organizao do estado moderno. O sistema das companhias funcionou via de regra mal; financeiramente, quase todas fracassaram. As dificuldades de organizar uma produo complementar

    ty7>Cf. Celso Furtado, Op. cit., pp. 37-44.CJ8)Cf. Cspedes dei Castillo - La sociedade colonial americana en los siglos XVI y

    XVII, in Historia socialy economica de Espanay Amrica, dii. J . Vicens-Vives, t. IIJ, p. 470.

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  • metropolitana foi um dos fatores; outros sero examinados adiante, no devido lugar. No fim do sculo porm, a expanso do consumo europeu do tabaco abriu para as colnias inglesas ao sul do Delaware a possibilidade de se entrosarem nas linhas do comrcio europeu; sobretudo na Virgnia, processou-se rapidamente a transformao de uma colnia de povoamento, organizada base da pequena e mdia propriedade com uma produo diversificada, para uma colnia de explorao organizada em grandes propriedades escravistas produzindo para o mercado externo^9). Somente naquelas reas mais setentrionais, especialmente na Nova Inglaterra, situadas em zona geogrfica de clima temperado, onde a possibilidade de montagem de uma economia complementar ficava muito reduzida pelo quadro natural ou mesmo impossibilitada, persistiam as antigas estruturas das colnias de povoamento. A constituio ao sul, no Continente e nas Ilhas antilhanas,de plantaes especializadas em produtos de exportao e pois carentes de produtos alimentares e manufaturados, abria para essas colnias setentrionais a possibilidade de um mercado externo para madeiras, cereais, manufaturas, etc. A proximidade dos dois tipos de colnias, estruturalmente divergentes, criava pois uma situao inteiramente nova, particularmente favorvel s colnias de povoamento do Hemisfrio Norte. Por estas interessava-se menos a metrpole, pois elas no podiam fornecer seno produtos similares aos europeus, e portanto no se podiam configurar em economias ancilares. A economia diversificada de subsistncia, voltada para o consumo interno, que caracterizava essas colnias tinha poucas condies de desenvolver um alto nvel de produtividade e de renda, at que se lhes abrissem mercados externos; o que e fundamental destacar, porm, que esses mercados, quando se abrem, so de natureza essencialmente diversa do mercado externo comum s demais colnias. O mercado externo das colnias, no sistema colonial, o mercado metropolitano; a vnculao se d atravs do regime do exclusivo que promove uma explorao da colnia pela metrpole. Aqui, no caso da Nova Inglaterra, o mercado externo eram outras colnias, inglesas, francesas, holandesas, espanholas. Quer dizer, a relao que se estabeleceu no se firmava nos mecanismos do sistema; assim, as rendas geradas nessa relao no se carreavam (como era regra na relao metrpole-colnia) para fora mas concentra-

    (

  • vam-se na economia exportadora. Este o ponto fundamental para se entender o desenvolvimento posterior dessas colnias, de todo cm todo surpreendente nos quadros do sistema coloniaK100) Formam uma exceo, so colnias apenas no estatuto poltico nominal, no so a rigor, estruturalmente, colnias. Mas, veja-se bem, a partir do sistema colonial que se podem entender, inclusive na sua ati- picidade.

    No conjunto, portanto, possvel divisar o movimento geral que caracteriza a montagem da colonizao moderna dentro dos mecanismos do sistema colonial: povoamento inicial, com produo para o consumo local; em seguida, entrosamento nas linhas do comrcio europeu, e pois nos mecanismos da economia reprodutiva europia. Ao passarem a produzir para o mercado externo, articulavam-se no sistema pois o regime desse comrcio como j vimos o nervo do sistema. Destarte, ajusta-se a colonizao ao sentido do sistema colonial do capitalismo mercantil: atravs da explorao das reas ultramarinas promovia-se a originria acumulao capitalista na economia europia.

    E no s a produo, mas o ritmo dela teve tambm de ajustar-se ao sistema; em ltima instncia o mercado europeu, a flutuao da procura europia dos produtos ultramarinos (Kolonialivaren) que define a maior ou menor extenso da produo colonial. E claro que ao lado dessa produo essencial para o mercado europeu, organizava-se nas colnias todo um setor, dependente do primeiro, da produo que visava a suprir a subsistncia interna, daquilo que no podia ser aprovisionado pela metrpole^101). Mas, ainda aqui, so os mecanismos do sistema colonial que definem o conjunto e imprimem o ritmo em que se movimenta a produo. Nos perodos em que a procura exttfrna sc retraia, isto , quando baixavam os preos europeus dos produtos coloniais, as unidades produtoras na colnia tendiam a deslocar fatores para a produo de subsistncia, pois diminua sua capacidade de importar, quando, ao contrrio, ampliava-se a procura externa, as unidades produtivas coloniais tendiam a mobilizar todos os fatores na produo exportadora; abria-se, ento, economia colonial de subsistncia a possibilidade de desenvolver-se autonomamente. Era pois o setor de exportao que comandava o processo produtivo no seu conjunto.

    (ioo)f Celso Furtado - Op. cit., pp. 37-44.Cf. Caio Prado Jnior - Formao do Brasil contemporneo. 4 1 ed., So Pau

    lo, 1953, p. 13-26, 114-123, 151-153.

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  • Vistas pois em conjunto, as economias coloniais perifricas configuram setores especializados na produo de determinadas mercadorias para o mercado europeu. Produo mercantil, portanto, e aqui reaparece o elo profundo que liga a expanso colonial com o desenvolvimento econmico europeu na fase do capitalismo comercial: a expanso ultramarina resultou, como antes procuramos explicar, do esforo de superao dos obstculos que a economia mercantil europia encontrava para manter seu ritmo de crescimento. As economias coloniais, em que resulta afinal a expanso ultramarina, acabam por configurar, encaradas globalmente no contexto da economia mundial, setores produtivos especializados, enquadrados nas grandes rotas comerciais, e pois mercados consumidores em expanso. Neste sentido, significa ampliao da economia de mercado, respondendo assim s necessidades do capitalismo em formao.

    Mais ainda, toda a estruturao das atividades econmicas coloniais, bem como a formao social a que servem de base, definem-se nas linhas de fora do sistema colonial mercantilista, isto , nas suas conexes com o capitalismo comercial. E de fato, no s a concentrao dos fatores produtivos no fabrico das mercadorias-chave, nem apenas o volume e o ritmo em que eram produzidas, mas tambm o prprio modo de sua produo define-se nos mecanismos do sistema colonial. E aqui tocamos no ponto nevrlgico; a colonizao, segundo a anlise que estamos tentando, organiza-se no sentido de promover a primitiva acumulao capitalista nos quadros da economia europia, ou noutros termos, estimular o progresso burgus nos quadros da sociedade ocidental. esse sentido profundo que articula todas as peas do sistema: assim em primeiro lugar, o regime do comrcio se desenvolve nos quadros do exclusivo metropolitano; da, a fffoduo colonial orientar-se para aqueles produtos indispensveis ou complementares s economias centrais; enfim, a produo se organiza de molde a permitir o funcionamento global do sistema. Em outras palavras: no bastava produzir os produtos com procura crescente nos mercados europeus, era indispensvel produz-los de modo a que a sua comercializao promovesse estmulos acumulao burguesa nas economias europias. No se tratava apenas de produzir para o comrcio, mas para uma forma especial de comrcio o comrcio colonial; , mais uma vez, o sentido ltimo (acelerao da acumulao primitiva de capital), que comanda todo o processo da colonizao. Ora, isto obrigava as economias coloniais a se organizarem de molde a permitir o funcionamento do sistema de explorao

    9 7

  • colonial, o que impunha a adoo de formas de trabalho compuls- rto ou na sua forma limite, o escravismo.

    E assim a Europa pde contemplar o espetculo deveras edificante do renascimento da escravido, quando a civilizao ocidental dava exatamente os passos decisivos para a supresso do trabalho compulsrio, e para a difuso do trabalho livre, isto , assalariado. Assim, enquanto na Europa dos sculos XVI, XVII e XVIII transitava-se da servido feudal para o trabalho assalariado, que passou a dominar as relaes de produo a partir da revoluo industrial, no Ultramar, isto , no cenrio da europeizao do mundo, o monstro da escravido mais crua reaparecia com uma intensidade e desenvolvimento inditos. Bem certo que a perplexidade criada por tal situao na consciecia crist deu lugar, de um lado, a Uma vigorosa linhagem de publicistas que sem contemplao denunciaram os horrores do escra- vismo moderno, e de outro, a notveis contores mentais para racionalizar a escravido, compaginando-a moral crist*1^ . Bem verdade, tambm, que Marx dizia que as colnias acabam por revelar o segredo da sociedade capitalista...

    Vejamos pois de mais perto esse ponto, fundamental para a compreenso do conjunto do sistema que vimos analisando. A escravido foi o regime de trabalho preponderante na colonizao do Novo Mundo; o trfico negreiro que a alimentou, um dos setores mais rentveis do comrcio colonial. Se escravido africana acrescermos as vrias formas de trabalho compulsrio, servil e semi-^ervil, enco- mienda, mita, indentured, etc. resulta que estreitssima era a faixa que restava, no conjunto do mundo colonial, ao trabalho livre. A colonizao do Antigo Regime foi, pois, o universo paradisaco do trabalho no-livre, o eldorado enriquecedor da Europa. A explicao desse fato tem tocado -revezes o pitoresco. Assim, argumentava-se, por exemplo, que os europeus haviam recorrido ao trabalho africano porque escasseava populao na me-ptria com que povoar o Novo Mundo. A afirmao refere-se naturalmente a situaes como a que sc configurava entre o Brasil e Portugal; se invertermos as situaes, por exemplo, a metrpole francesa em face das ilhas anti- Ihanas, o argumento no faz sentido, alis iniciou-se uma colonizao de povoamento, que depois deu lugar ao escravismo. Por outro lado, em determinadas reas prevaleceu o povoamento. Ademais, isso s

    " " - 'C f . David Brion Davis - The Problem o f Slavery in Western Culture, Ithaca, New York, 1970, especialmente pp. 108-111.

    98

  • provaria que os europeus ou que as metrpoles europias nao dispunham de contingentes demogrficos para povoar a Amrica, e que apelaram ento para a frica... Nada explica, nesse argumento, que o tal apelo envolvesse nada menos que a escravizaro dos negros' o que se tem de explicar, de fato. o regime escravista dc trabalho.

    Tratava-se, porm, essencialmente, de povoar? Nos quadros do sistema colonial, tratava-se, na essncia, de explorar as novas reas de modo a promover a primitiva acumulao capitalista nas metrpoles; isto envolvia naturalmente montagem de um aparato produtivo, e pois ocupao e povoamento, mas o essencial era a explorao. Da a ocupao, isto , a expanso geogrfica visar a certas reas (o Intertrpico) preferentemente, e o povoamento se organizar atravs do engajamento de trabalhadores (europeus, aborgenes ou africanos, conforme o caso) por parte dos colonos dirigentes da empresa colonial. O regime de trabalho as vrias formas de trabalho compulsrio - entretanto fica ainda por explicar.

    Ora, a produo colonial era, basicamente, como j vimos, produo para o mercado metropolitano, isto , produo mercantil. Na economia de mercado, contudo, o salanato o regime mais rentvel; as formas de trabalho compulsrio, por seu lado, vinculam-se (escra- vismo antigo, e sobretudo a servido feudal) a economias pr- mercantis (a economia dominial fechada da Idade Mdia); exatamente, a emergncia da economia mercantil (o desenvolvimento do ;omrcio) tende a promover o desatamento dos laos servis, criando lentamente condies para a expanso do trabalho livre - - era o processo em curso na Europa da poca Moderna. Neste sentido, o regime de trabalho prevalescente no mundo ultramarino do Antigo Reg me se apresenta como um umtra-senso. E de fato. como j procuramos indicar, a mercantilizao da produo s pode generalizar - se, dominando as relaes sociais, quando a fora produtiva do trabalho se torna cia prpria mercadoria, isto , quando a economia mer- ; auil se integra em.capitalista. Nessa estrutura, o processo produtivo sc inicia u>m uma inverso de capital (esse quantum de valor) rta sua ouginal foi (vendidas) no mercado restitui ao capital sua forma dinheiro originai, acrescida da valorizao (mais-valia), que remunera assim os fatores ( juros, lucros, rendas, salrios) e permite a rein-

    yy

  • verso num nvel mais elevado. Assim se amplia a produo capitalista, auto-estimulando-se. Cada vez que o capital volta a sua primitiva forma, permitindo a reinverso alargada, completa-se uma rotao. Ora, evidente que s o trabalho assalariado permite tal funcionamento; se escravista o regime, trava-se a rotao, pois o pagamento do fator trabalho se tem de adiantar em pane (compra do escravo) enquanto no salariado s depois de consumida a mercadoria trabalho ela remunerada no prprio processo produtivo, e noutra parte a manuteno da mercadoria-escravo distende a rotao (o tempo de vida do escravo), emperrando o sistema. Ademais, toda a extraordinria flexibilidade da economia capitalista fica bloqueada: a produo no se pode ajustar s flutuaes da procura, pois impossvel dispensar o fator trabalho engajado de uma vez por todasW). E pois menos rentvel o trabalho escravo para a produo mercantil, trabalho oneroso, e como tal absurda instituio foi o escravismo considerado por Adam Smith^10^ , fruto do orgulho e do amor dominao dos senhores de escravos.

    E no entanto o escravismo (ou as outras formas de trabalho compulsrio) que dominou o panorama da economia colonial do mercantilismo. No ter naturalmente isto ocorrido por estupidez dos empresrios coloniais, nem por suas taras dominadoras. que a anlise do problema no se pode limitar quele plano lgico-formal. Examinado em si mesmo, o funcionamento da produo mercantil torna naturalmente impossvel o emprego de escravos na produo para o mercado. Karl Marx, porm, que analisou a sociedade burguesa numa perspectiva ao mesmo tempo lgica e histrica, isto , explicando simultaneamente a mecnica do seu funcionamento e as condies de sua instaurao, no perde de vista que a formao do capitalismo se fez desintegrando a estrutura feudal-servil e artesanal (de produtores independentes) pr-existente; e pois, o desenvolvimento das relaes mercantis ao desorganizar a antiga estrutura, aprofundando a diviso social do trabalho e a especializao da produo, ia criando mercado e portanto permitindo o impulsionamen- to do processo. No passo mais decisivo, de constituio do capitalismo propriamente dito, a dissoluo dos laos sociais tradicionais pro-

    ,I3'Sobre as contradies da produo escravista para o mercado, Cf. Fernando Henrique Cardoso - Capitalismo e Escravido no Brasil Meridional, So Paulo, 1962, pp. 186 segs. Octvio lanni - As metamorfoses do Escravo, S Pauto, 1962, pp. 80 segs. E. Genovesc - The PoliticalEconomy o f Slavery, New York, 1967, pp. 41-106.

    (io4)cf Adam Smith - The Wealth ofNations. Ed. Cannan, pp. 364-366.

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  • move a expanso da forma assalariada do regime de trabalho: processo que pressupe de um lado a libertao do trabalhador de todas as prestaes servis, mas de outro lado, ao mesmo tempo, dissociao entre o produtor e seus instrumentos produtivos, ficando privado de quaisquer fatores dc produo que no a fora de seu trabalho^105). No seu processo histrico, portanto, o desenvolvimento do trabalho livre, isto , assalariado, envolveu de uma parte, a superao dos laos servis (prestaes, banalidades, etc.). de outra, a separao entre os produtores-diretos e todos os demais fatores de produo (direitos que os camponeses-servos tinham sobre as terras, instrumentos com que produziam sua subsistncia, ou a dissoluo da produo artesanal de produtores independentes). No cabe aqui, naturalmente , estudar esse longo processo histrico de formao do regime assalariado dc trabalho^106*. Atravs dele contudo que a fora do trabalho emerge na sua pureza, compelida a trocar-se no mercado; se ligada a outros meios de produo, ao invs de alugar seu trabalhoso produtor utilizaria esses fatores, vendendo mercadorias como produtor autnomo, e o capitalista no teria lugar ao sol: isolada dos demais componentes do processo produtivo, a fora de trabalho transforma-se em mercadoria, com o que se integra o modo capitalista de produo. Como sc sabe, somente a partir da Revoluo Industrial que esse processo de constituio do capitalismo adquire uma irreversvel fora dc autopromoo. Na conscincia burguesa, claro, o que se viu nesse longo processo histrico de formao do assalariado foi a libertao do trabalho das injunes servis, barbaris- mo antigo, exatamente porque na economia capitalista as relaes mercantis do regime de trabalho velavam a nova forma de explorao (valorizao atravs da gestao da mais-valia). O mesmo Marx, porm, implacvel analista do mundo burgus, precisamente por ter levado sua anlise para alm de todas mistificaes da realidade, pde constatar com nitidez que nas colnias eram desfavorveis as condies dc constituio do regime de trabalho livre, sempre havendo a possibilidade de o produtor-direto assalariado, apropriando-se de uma gleba de terra despovoada, transformar-se em produtor independente. Assim, enquanto na Europa moderna o desenvolvimento capitalista libertava os produtores diretos da servido medieval e integrava-os como assalariados na nova estrutura de produo que destarte camuflava a explorao do trabalho, as economias

    ('u^)Karl Marx - Capital (trad. esp. Mxico, 1946), vol. I, f>p. 184-188, 801 segs.Marx - Capital, vol. 1, pp. 801 segs.

    101

  • coloniais perifricas, montadas exatamente como alavancas do crescimento do capitalismo e integradas nas suas linhas de fora, punham a nu essa mesma explorao na sua crueza mais negra... As colnias timbravam em revelar as entranhas da Europa.

    Eric Williams10?), que retoma as anlises marxistas para estudar a gnese do moderno escravismo, nota com muita razo que a implantao do escravismo colonial, longe de ter sido uma opo (salariato, escravismo), foi uma imposio das condies histrico-econmicas. E aqui nos reencontramos com o sentido profundo da colonizao e os mecanismos do Antigo Sistema Colonial, tocando agora no ponto essencial de sua compreenso. Eferivamente, nas condies histricas em que se processa a colonizao da Amrica, a implantao de fo rmai compulsrias de trabalho decorria fundamentalmente da necessria adequao da empresa colonizadora aos mecanismos do Antigo Sistema Colonial, tendente a promover a primitiva acumulao capitalista na economia europia; do contrrio, dada a abundncia de um fator de produo {a terra), o resultado seria a constituio no Ultramar de ncleos europeus de povoamento, desenvolvendo uma economia de subsistncia voltada para o seu prprio consumo, sem vin- culao econmica efetiva com os centros dinmicos metropolitanos. Isto, entretanto, ficava fora dos impulsos expansionistas do capitalismo mercantil europeu, no respondia s suas necessidades. Em tese, pois, no ficaria vedada a possibilidade de uma colonizao no seu sentido mais lato de ocupao, povoamento e valorizao de novas regies. Tratava-se, porm, naquele momento da histria do Ocidente, de colonizar para o capitalismo, isto , segundo os mecanismos do sistema colonial, e isto impunha o trabalho compulsrio. A colonizao da poca mercantilista conforma-se ao sentido profundo inscrito nos impulsos da expanso, ou seja, o elemento mercantilista quer dizer, mercantil-escravista que comanda todo o movimento colonizador. Produzir para o mercado europeu nos quadros do comrcio colonial tendentes a promover a acumulao primitiva de capital nas economias europias exigia formas compulsrias de trabalho, pois do contrrio, ou no se produziria para o mercado europeu (os colonos povoadores desenvolveriam uma economia voltada para o prprio consumo), ou se se imaginasse uma produo exportadora organizada por empresrios que assalariassem trabalho, os custos da produo seriam tais que impediriam a explorao colo-

    (!07)cf Eric Williams - Capitaiism & Slavery. 2a ed., N. York, 1961, pp. 3-7,

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  • mal. e pois a funo da colonizao no desenvolvimento do capitalismo europeu (os salrios dos produtores diretos tinham de ser de tal nvel que compensassem a alternativa de eles se tornarem produtores autnomos de sua subsistncia evadindo-se do salanato: como poderiam, ento, funcionar 05 mecanismos do exclusivo comercial?).

    Por outro lado, a produo colonial exportadora, no volume e no ritmo definido pelos mercados europeus, atendendo pois s necessidades do desenvolvimento capitalista, s se.podia ajustar ao sistema colonial organizando-se como produo em larga escala, o que pressupunha amplos investimentos iniciais; com isto ficava tambm excluda a possibilidade de uma produo organizada base de pequenos proprietrios autnomos, que produzissem sua subsistncia, exportando o pequeno excedente. Se podemos, contudo, examinar analiticamente a impossibilidade dessas alternativas, aos homens do incio dos Tempos Modernos, que montaram a colonizao capitalista, a produo escravista (ou para-escravista) devia apresentar-se, como observou E. Williams, quase como natural, tal o condicionalis- mo hisLunco-econmico em que se movia a expanso europia.

    Assim, desenvolveu-se a colonizao do Novo Mundo centrada na produo de mercadorias-chaves destinadas ao mercado europeu, produo assente sobre formas vrias de compulso do trabalho no limite, o escravismo; e a explorao colonial significava, em sua ltima instncia, explorao do trabalho escravo. Assim tambm os colonos metamorfosearam-se cm senhores de escravos, assumindo a personagem que lhes destinara o grande teatro do mundo; nem para admirar que desenvolvessem aquela volpia pela dominao de outros homens era apenas a misria da condio humana prsa s malhas do sistema.

    Efetivamente, a escravizao do negro remonta ao incio mesmo da expanso ultramarina; e Zurara descreveu em pgina notvel a chegada dos primeiros escravos Europa c r i s t ^ A s primeiras levas da mercadoria-escravo destinavam-se ao consumo na prpria Europa, numa tase dc expanso comercial, pr-colonizadora. No teve grande extenso essa insero do trabalho escravo em meio a uma economia capitalista-mercantil em expanso; c no mundo colonial ultramarino que encontrar, pelos condicionamentos j apontados, o seu campo de desenvolvimento. Nas ilhas atlnticas, primeiro

    111,hlCl . Gomes Eant-s dc Zurara - Crnica feitus J j Lutn. 1 ,ip X X I V 1 . A j . Dias Dims. Lisboa. 1M-1,), pp. 122-123.

    !(

  • ensaio colonizador moderno, na medida mesma em que o povoamento inicial de economia diversificada mais consuntiva se transformava em produo especializada para o mercado metropolitano, enrijecia o regime de trabalho; no passo seguinte, introduziu-se a escravido africana: estendeu-se a cultura a um mundo novo; prosperou, e entretanto era a frica despojada de seus filhos selvagens, para que tivessem os civilizados um barato jantar(I09).

    Transplantada a agro-indstria para o Brasil, numa fase em que o consumo se disseminava em ampla escala e os preos voltavam a su- bir 1^10), na fase da implantao compeliu-se o indgena ao rduo trabalho do cultivo da cana e fabrico do acar. A expanso da produo, consumindo cada vez mais a fora de trabalho escravizada, deu lugar ao trfico negreiro para o Novo Mundo. indubitvel, diz Lcio de Azevedo, que ao acar se deve o desenvolvimento da escravatura no seio da civilizao moderna^111) o que talvez um modo exageradamente sinttico de dizer as coisas; toda a complexa urdidura do sistema colonial fica conotada na palavra acar*. Sobre essa base escravista desenvolveu-se pois a colonizao da Amrica portuguesa, e a sociedade colonial foi sendo moldada sobre essa ba sc( 112) j o pe. Manuel da Nbrega notava, nos primrdios da colo- nizao1^), que os homens que para aqui vm no acham outro modo seno viver do trabalho dos escravos. A introduo do escravo africano tem sido explicada de um lado, curiosamente, pela inadaptao do ndio lavoura, de outro, pela oposio jesutica es- cravizao do aborgene. No resta dvida que a pregao inaciana ter pesado na defesa dos indgenas, embora seja de notar, de passagem, que no conseguiu salvaguard-los de todo: sempre que escas- seavam os africanos (dificuldade de navegao no Atlntico, pela concorrncia colonial, por exemplo) recorreu-se inapelavelmente compulso dos naturais*n4 ,^ tambm verdade que os negros no contaram com a mesma defesa, e os argumentos justificadores de tal discrepncia eram deveras edificantes, mas no nos cabe aqui entrar

    (lty))Lcio dc Azevedo - pocas de Portugal Econmico, p. 228. m o ic f Celso Furiado - Formao Econmica do Brasil, pp. 18-21.1111 'Lcio dc Azevedo - Op. cit. , p. 228.1112 'Cf, Eugene D. Genovese - The World lhe Slaveholders Made. N. York. 1969.

    sobretudo pp. 118 segs.,ll5>Cf. Cartas Jesuticas. Ed. da Academia Brasileira (Rio de Janeiro, 1931). vol.

    I, p. 110.n 14 iC f Roberto Simonsen - Histna Econmica do Brasil, pp. 209-222.

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  • em questes teolgicas. O que nos parece porm indiscutvel que os indgenas foram tambm utilizados em determinados momentos, e sobretudo na fase inicial; nem se podia colocar problema nenhum de maior ou melhor aptido ao trabalho escravo, que disso que se tratava. O que talvez tenha importado a rarefao demogrfica dos aborgenes, e as dificuldades de seu apresamento, transporte, etc. Mas na preferncia pelo africanol1 !5) revela-se, cremos, mais uma vez, a engrenagem do sistema mercantilista de colonizao; esta se processa, repitamo-lo tantas vezes quantas necessrio, num sistema dc relaes tendentes a promover a acumulao primitiva na metrpole; ora, o trfico negreiro, isto , o abastecimento das colnias com escravos, abria um novo c importante setor do comrcio colonial, enquanto o apresamento dos indgenas era um negcio interno da colnia. Assim, os ganhos comerciais resultantes da preao dos aborgenes mantinham-se na colnia, com os colonos empenhados nesse gnero de vida; a acumulao gerada no comrcio de africanos, entretanto, fluia para a metrpole, realizavam-na os mercadores metropolitanos, engajados no abastecimento dessa mercadoria. Esse talvez seja o segredo da melhor adaptao do negro lavoura... escravista. Paradoxalmente, a partir do trfico negreiro que se pode entender a escravido africana colonial, e no o contrrio.

    Nas ndias de Castela, nas colnias inglesas, francesas ou holandesas, variam regionalmente as incidncias do fenmeno (no cabe aqui uma anlise pormenorizada de todas as suas manifesta- es116), mas o pano de fundo se mantm: formas vrias dc tra-

    (H^Segundo as estimativas de Maurcio Goulart, teriam sido introduzidos no Brasil, at o fim do sculo XVIII, crca de 2.200.000 africanos. Cf. A Escravido Africana no Brasil. So Paulo, 1950, p. 217.

    (|16>Cf. para a Amrica Espanhola: Cspedes dei Castillo - Las ndias en el Reinado de los Reyes Catlicos, Histria Socialy Economica de Espanay Amrica, dir. J . Vicens-Vives, t. II, pp. 549-547 e La Sociedad Colonial Americana en los Siglos XVI y XVII. Op. cit., t. III, pp. J.M . Ots Capdequi - El Estado Espanol en las ndias. 2? ed. Mxico, 1946, pp. 34-47.Para a Amrica inglesa: Cf. H.U. Faulkner - American Economic History (N. York, 1960), p. 70-78. F.A. Shannon - America's Economic Growth (N. York, 958), p. 14-20. E. Kirkland - Historia Economica de Los Estados Unidos, trad. esp. (Mxico, 1947), p. 35-39, 70-78. R. Robertson - Histria da Economia Americana, Trad. port. {Rio de Janeiro, 1967), p. 65-68. Para a Amrica Francesa: Gaston-Martin - Histoire de l Esclavage dans les Colomes Franaises, Paris, 1948. L re des Ngriers. Paris, 1931. Para o conjunto: E. Williams - Capitalism & Slavery, 1961. D. A, Farnie - The commercial empires of the Atlantic, 1607-1783. Econ. Hist. Rev., XV, 1962, 205-218.

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  • balho compulsrio, servis ou semi-servis, escravismo em sua maior extenso, dominam a produo ultramarina da poca mercantilista, e articulam a estrutura da sociedade colonial.2) A Crise do colonialismo mercantilista

    Tais as peas do sistema, e os mecanismos de seu funcionamento; dispomos agora dos elementos com que podemos analisar a sua crise. Pois que se pensamos em crise do sistema, do seu prprio funcionamento que ela tem que provir, e no de fatores exgenos. Noutros termos, ao se desenvolver, o sistema colonial do Antigo Regime promove ao mesmo tempo os fatores de sua superao117).

    E de fato: nos quadros do Antigo Sistema Colonial, a colonizao da poca mercantilista se desenvolveu nas suas grandes linhas promovendo a acumulao primitiva de capitais nas economias centrais europias; para tanto, porm, isto , para que a explorao colonial sc. possa processar, ia se engendrando no mundo ultramarino o universo da sociedade senhorial escravista^ cu jas inter-relaes e valores se antepe cada vez mais aos da sociedade burguesa em ascenso na Europa. Detenhamo-nos, portanto, ainda por um momento, nas implicaes do escravismo para a economia e sociedade coloniais.

    Em primeiro lugar, no piado da produo, distinguem-se imediatamente dois setores bsicos 1^19); um, de exportao organizado em grandes unidades funcionando base do trabalho escravo, centrado na produo de mercadorias para o consumo europeu, o setor primordial, que responde razo mesma da colonizao capitalista; outro, subordinado e dependente do primeiro, de subsistncia, para atender ao consumo local naquilo que se no importa da metrpole, no qual cabe a pequena propriedade e o trabalho independente, que se organiza para permitir o funcionamento do primeiro. A dinmica do conjunto da economia colonial definida pelo setor exportador; em certas circunstncias e reas determinadas, o setor subsistncia pode adquirir certo vulto, como no caso da pecuria, e ento se organiza em grandes

    ' 11 !0 desenvolvimento contraditrio parece inerente s vrias etapas de explorao colonial do capitalismo. Vejam-se, para o sculo X IX , as anlises de Marx sobre a dominao britnica na ndia. Cf. K. Marx e F. Engels - Sobre el colonialismo, Crdoba, lv73, Cadernos de P'asado y presente, n 37-

    (,Ih)Cf. a anlise de E. Genovese - The World the Slaverholders Nade. N. York, 1969, pp. 118 segs.

    (lll,)Cf. .aio Prado jnior - Formao do Brasil Contemporneo- 4 J ed. pp. 13- 26. 113-123. 1^1-153

    !()(,