essencis é destaque na revista química e derivados

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Tecnolo gia ambiental 36 Química e Derivados - outubro - 2013 ecnologia ambiental consagrada mundialmente – ganhou ainda mais força no país com as determi- nações previstas na Política Nacional de Resíduos Sólidos: fechar lixões até 2014 e eleger a disposição em aterros como última alternativa para resíduos –, o coprocessamento em fornos de cimento continua a crescer de forma considerável. Levantamento da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), entidade que congrega as principais cimenteiras do país, registrou em 2012 aumento de 25% no volume de resíduos coprocessados – como substituto de combustível ou de matéria-prima –, o que totalizou 1,45 milhão de toneladas, contra o montante de 1,16 milhão de t atingido em 2011. Desse total, 951 mil toneladas (66%) substituíram a energia térmica de combustíveis fósseis, em específico o coque de petróleo utilizado pelos fornos de clínquer das cimenteiras. Já os 34% restantes, 499 mil t, entraram nos sistemas como substitutos de matérias-primas do cimento, por contarem com calcário e argila. O crescimento do mercado é visível já há alguns anos, em virtude das vantagens ambientais e da disponibilidade de oferta. Solução que efetivamente destrói o resíduo nos fornos, que operam a cerca de 1.200ºC, queimando-o como combustível ou incorporando-o ao cimento, o coprocessa- mento paulatinamente vem ocupando a capacidade total instalada de 2,5 milhões de t. Das 51 fábricas integradas de cimento do país, 36 delas estão licenciadas para a atividade, sendo 17 no Sudeste. Em 2010, foram coprocessadas 870 mil to- neladas, número que foi aumentado em 25% no ano seguinte, coincidindo com a época em que o boom da construção civil atingiu de forma muito positiva a indústria de cimento. O ritmo de crescimento, em 2013, segundo revelou o gerente de tecnologia da ABCP, Yushiro Kihara, deve continuar a ser acima de 10%, não no mesmo ní- vel registrado nos últimos dois anos, mas de forma consistente. Embora o cenário seja favorável, o potencial de uso da tecnologia é muito maior, na opinião do gerente da associação. Como comparação, na Alemanha, cerca de 70% Coprocessamento Marcelo Furtado T do combustível utilizado pelas cimenteiras tem origem residual, enquanto, no Brasil, em 2012, esse percentual foi de apenas 10%. “Ou seja, a indústria ainda é muito dependente do coque de petróleo”, disse. Aliás, o Brasil não é autossuficiente nesse combustível residual do refino petroquímico. Nos últimos cinco anos, o déficit comercial foi de US$ 2,2 bilhões, o equivalente a cerca de 19,7 milhões de toneladas. Pode duplicar Caso a procura aumente, o Brasil tem condições de duplicar sua capacidade de coprocessamento apenas com modificações nos fornos já licenciados, sem precisar recorrer a mais unidades. Porém, quando houver a necessidade de ampliação para além dos fornos atualmente licenciados, o mercado precisará vencer três barreiras: 1) Há regiões no país com indisponibilidade de resíduos com poder calorífico suficiente para entrar nos fornos; 2) O investimento para controle de emissões atmosféricas, que permite o coprocessamento, é muito alto; e 3) O processo de licenciamento é burocrático e rigoroso. Para ser apto ao coprocessamento, o resíduo precisa ter poder calorífico de no mínimo 2.900 kcal/kg, para agregar capacidade térmica no processo de combustão acostumado a operar com o coque de petróleo, com 9 mil kcal/kg. “A partir daí ele passa a ser interessante para a cimenteira”, disse Kihara. Mesmo assim, isso não significa que a cimen- teira pague pelo combustível, pelo contrário, ela recebe Nassau Itabira (Cachoeira de Itapemirim-ES) Holcim (Cantagalo-RJ) Lafarge (Cantagalo-RJ) Votorantim Rio Branco (Cantagalo-RJ) Votorantim Rio Branco (Salto de Pirapora-SP) CP Cimento Ribeirão (Ribeirão Grande-SP) Cimpor (Cajati-SP) CIMENTEIRAS LICENCIADAS PARA COPROCESSAMENTO (35 unidades*) Nassau Itautinga (Manaus-AM) Votorantim Tocantins (Nobres -MT) Votorantim Tocantins (Sobradinho-DF) Cimpor (Cezarina-GO) Votorantim Itaú (Corumbá-MS) InterCement (Bodoquena-MS) * Algumas são licenciadas apenas para pneus Fonte: ABCP e Abetre 2011 Cimpor (São Miguel dos Campos-AL) Cimpor (Campo Formoso-BA) Votorantim Itaú (Itaú de Minas-MG) Lafarge (Arcos-MG) Lafarge (Matozinhos-MG) Holcim (Pedro Leopoldo-MG) InterCement (Pedro Leopoldo-MG) Liz (Vespasiano-MG) InterCement (Ijaci-MG) CP Cimento Tupi (Carandaí-MG) Holcim (Barroso-MG) Nassau Cibrasa (Capaema-PA) Votorantim Poty (Sobral-CE) Nassau Itapetinga (Mossoró-RN) Cimpor (João Pessoa-PB) Eco-Processa /Lafarge (Caaporã-PB) Votorantim Poty (Caaporã-PB) Nassau Itapessoca (Goiana-PE) Votorantim Rio Branco (Rio Branco do Sul-PR) Itambé (Balsa Nova-PR) Votorantim Rio Branco (Pinheiro Machado-RS) Cimpor (Candota-RS) USO DE RESÍDUOS EM FORNOS DE CIMENTO CRESCE 25%

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Edição de Outubro 2013

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Tecnologia ambiental

36 Química e Derivados - outubro - 2013

ecnologia ambiental consagrada mundialmente – ganhou ainda mais força no país com as determi-nações previstas na Política Nacional de Resíduos Sólidos: fechar lixões até 2014 e eleger a disposição em aterros como última alternativa para resíduos –,

o coprocessamento em fornos de cimento continua a crescer de forma considerável.

Levantamento da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), entidade que congrega as principais cimenteiras do país, registrou em 2012 aumento de 25% no volume de resíduos coprocessados – como substituto de combustível ou de matéria-prima –, o que totalizou 1,45 milhão de toneladas, contra o montante de 1,16 milhão de t atingido em 2011. Desse total, 951 mil toneladas (66%) substituíram a energia térmica de combustíveis fósseis, em específico o coque de petróleo utilizado pelos fornos de clínquer das cimenteiras. Já os 34% restantes, 499 mil t, entraram nos sistemas como substitutos de matérias-primas do cimento, por contarem com calcário e argila.

O crescimento do mercado é visível já há alguns anos, em virtude das vantagens ambientais e da disponibilidade de oferta. Solução que efetivamente destrói o resíduo nos fornos, que operam a cerca de 1.200ºC, queimando-o como combustível ou incorporando-o ao cimento, o coprocessa-mento paulatinamente vem ocupando a capacidade total instalada de 2,5 milhões de t. Das 51 fábricas integradas de cimento do país, 36 delas estão licenciadas para a atividade, sendo 17 no Sudeste. Em 2010, foram coprocessadas 870 mil to-neladas, número que foi aumentado em 25% no ano seguinte, coincidindo com a época em que o boom da construção civil atingiu de forma muito positiva a indústria de cimento. O ritmo de crescimento, em 2013, segundo revelou o gerente de tecnologia da ABCP, Yushiro Kihara, deve continuar a ser acima de 10%, não no mesmo ní-vel registrado nos últimos dois anos, mas de forma consistente.

Embora o cenário seja favorável, o potencial de uso da tecnologia é muito maior, na opinião do gerente da associação. Como comparação, na Alemanha, cerca de 70%

Cop

roce

ssam

ento

Marcelo Furtado

Tdo combustível utilizado pelas cimenteiras tem origem residual, enquanto, no Brasil, em 2012, esse percentual foi de apenas 10%. “Ou seja, a indústria ainda é muito dependente do coque de petróleo”, disse. Aliás, o Brasil não é autossuficiente nesse combustível residual do refino petroquímico. Nos últimos cinco anos, o déficit comercial foi de US$ 2,2 bilhões, o equivalente a cerca de 19,7 milhões de toneladas.

Pode duplicar – Caso a procura aumente, o Brasil tem condições de duplicar sua capacidade de coprocessamento apenas com modificações nos fornos já licenciados, sem precisar recorrer a mais unidades. Porém, quando houver a necessidade de ampliação para além dos fornos atualmente licenciados, o mercado precisará vencer três barreiras: 1) Há regiões no país com indisponibilidade de resíduos com poder calorífico suficiente para entrar nos fornos; 2) O investimento para controle de emissões atmosféricas, que permite o coprocessamento, é muito alto; e 3) O processo de licenciamento é burocrático e rigoroso.

Para ser apto ao coprocessamento, o resíduo precisa ter poder calorífico de no mínimo 2.900 kcal/kg, para agregar capacidade térmica no processo de combustão acostumado a operar com o coque de petróleo, com 9 mil kcal/kg. “A partir daí ele passa a ser interessante para a cimenteira”, disse Kihara. Mesmo assim, isso não significa que a cimen-teira pague pelo combustível, pelo contrário, ela recebe

Nassau Itabira (Cachoeira de Itapemirim-ES)

Holcim (Cantagalo-RJ)

Lafarge (Cantagalo-RJ)

Votorantim Rio Branco (Cantagalo-RJ)

Votorantim Rio Branco (Salto de Pirapora-SP)

CP Cimento Ribeirão (Ribeirão Grande-SP)

Cimpor (Cajati-SP)

C I M E N T E I R A S L I C E N C I A D A S PA R A C O P R O C E S S A M E N T O ( 3 5 u n i d a d e s * )

Nassau Itautinga (Manaus-AM)Votorantim Tocantins (Nobres -MT)Votorantim Tocantins (Sobradinho-DF)Cimpor (Cezarina-GO)Votorantim Itaú (Corumbá-MS)InterCement (Bodoquena-MS)

* Algumas são licenciadas apenas para pneusFonte: ABCP e Abetre 2011

Cimpor (São Miguel dos Campos-AL)

Cimpor (Campo Formoso-BA)

Votorantim Itaú (Itaú de Minas-MG)Lafarge (Arcos-MG)Lafarge (Matozinhos-MG)Holcim (Pedro Leopoldo-MG)InterCement (Pedro Leopoldo-MG)Liz (Vespasiano-MG)InterCement (Ijaci-MG)CP Cimento Tupi (Carandaí-MG)Holcim (Barroso-MG)

Nassau Cibrasa (Capaema-PA)Votorantim Poty (Sobral-CE)

Nassau Itapetinga (Mossoró-RN)Cimpor (João Pessoa-PB)

Eco-Processa /Lafarge (Caaporã-PB)Votorantim Poty (Caaporã-PB)

Nassau Itapessoca (Goiana-PE)

Votorantim Rio Branco (Rio Branco do Sul-PR)Itambé (Balsa Nova-PR)

Votorantim Rio Branco (Pinheiro Machado-RS)Cimpor (Candota-RS)

U S O D E R E S Í D U O S E M F O R N O S D E C I M E N T O C R E S C E 2 5 %

372013 - outubro - Química e Derivados

Divulgação

um valor para incluí-lo no forno, em uma faixa de preço mínima de R$ 250,00/t.

E o resíduo ainda precisa ter sido preparado por uni-dades de blendagem (mistura) que aglomeram e trituram resíduos líquidos, sólidos e pastosos, na granulometria certa. Há várias no país, nas mãos de empresas de geren-ciamento ambiental, que se responsabilizam por resíduos industriais de terceiros.

As unidades de blendagem misturam e trituram (em granulometria menor do que 50 mm) os rejeitos indus-triais sólidos e também os deixam impregnados de outros resíduos líquidos e pastosos com poder calorífico. Os mais comuns são: solventes, borras oleosas, equipamentos de proteção individual usados, papéis, madeiras e solos con-taminados. Um outro exemplo de material que também está sendo muito utilizado como combustível alternativo são os pneus, cujo poder calorífico é alto, de até 8 mil kcal/kg.

A destruição de pneus em fornos de cimento se mantém estável no Brasil. O levantamento da ABCP aponta que em 2012 foram destruídas 228 mil t de pneus inservíveis (cerca de 70% do total), contra 220 mil t de 2011. Trata-se de uma média de 45 milhões de pneus, um volume não muito aquém em relação aos países desenvolvidos. Com a mesma tecnologia, na União Europeia anualmente são destruídos 110 milhões; nos Estados Unidos, 62 milhões; e, no Japão, 38 milhões de pneus.

Bom futuro – O menor poder calorífico dos blends de resídu-os industriais faz as cimenteiras cobrarem para coprocessar resíduos gerenciados por empresas de serviços ambientais, que se responsabilizam pela destinação de rejeitos de seus clientes. A tecnologia compete com a destinação em ater-ros, cujo preço médio de destinação oscila entre R$ 50 e R$ 150/t, mas tem a vantagem de destruir definitivamente os resíduos, sem gerar subprodutos.

37

Entrada de forno da Lafarge: 20% de resíduos

Tecnologia ambiental

38 Química e Derivados - outubro - 2013

No longo prazo, a estimativa é favorável. A opção tende a crescer com as determinações da Política Nacional de Resíduos Sólidos de desestimular a destinação de resíduos em aterros, inclusive os domésticos, que já começam a ser destruídos em fornos de cimento, como ocorre em Cantagalo (RJ), na cimenteira Lafarge, que coprocessa o lixo da cidade fluminense.

No município, onde a cimenteira conta com forno de clínquer, uma parceria com a prefeitura faz com que a uni-dade produtiva de cimento receba desde 2009 por volta de 40 toneladas mensais da parte não reciclável do lixo doméstico. Para tornar viável o procedimento, há um sistema de coleta seletiva que separa o lixo seco (vidro, papel, papelão, plástico etc.) do molhado (orgânico, como os restos de alimentos).

O coprocessamento é utilizado no Brasil desde o início da década de 90. A solução ambiental faz uso dos resíduos em substituição parcial ao combustível empregado para ali-mentar as chamas dos fornos, que transformam calcário e argila em clínquer, matéria-prima do cimento. A queima se realiza em condi-ções controladas, dentro do marco regulador existente, de acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos aprovada em 2010.

A combustão é a reação principal do pro-cesso de fabricação do cimento. A temperatura da chama, o tempo de residência dos gases e a turbulência no interior do forno de cimento são ideais aos padrões exigidos para a destruição de resíduos perigosos. No Brasil, é proibido o coprocessamento de contaminantes com organoclorados, para prevenir a formação de dioxinas, em virtude do cloro. Mas a ex-

periência técnica diz o contrário, já que a temperatura da queima é superior àquela que normalmente forma esses contaminantes atmosféricos (1.200ºC contra 800ºC). Tanto é assim que na Europa os fornos de cimento recebem resíduos organoclorados.

Blendagem – Segundo levantamento da Associação Brasileira das Empresas de Tratamento de Resíduos (Abetre), há no país 19 unidades de blendagem (mistura e preparação) de resíduos. Muitas delas pertencem a empre-sas criadas pelas próprias cimenteiras, que ou realmente fazem o preparo dos resíduos com instalações próprias ou intermedeiam a entrada dos pedidos com empresas especializadas em tratamento de resíduos.

Há grupos fortes da área de re-síduos com unidades de blendagem espalhadas pelo país e que apostam no crescimento do mercado fazen-do investimentos. Um exemplo é a Essencis, com atuação ampla em ge-renciamento de resíduos domésticos e industriais, com aterros, soluções térmicas, de manufatura reversa e com três unidades de valorização de resíduos para coprocessamento: em Curitiba-PR, Magé-RJ e em Betim-MG.

A unidade mineira é a mais nova e foi inaugurada há dois meses, atuando em acordo com a cimenteira Lafarge (e sua divisão de coproces-samento Ecoprocessa). A Essencis faz questão de chamar suas unidades de UVE (Unidades de Valorização Energética), porque elas têm a função de transformar uma série de resíduos de seus clientes em um combustível auxiliar, como ocorre nos fornos da Lafarge licenciados em Minas Fonte: Abetre 2013

* Indústria cimenteira

U N I D A D E S D E B L E N D A G E M PA R A C O P R O C E S S A M E N T O ( 1 9 u n i d a d e s )

Momento (Blumenau-SC)

Clean (Belém-PA)

Cetrel Lumina (Mossoró-RN)

Ecoblending (Cezarina-GO)

Cetrel Lumina (Camaçari-BA)Recitec (Pedro Leopoldo-MG)Holcim *(Pedro Leopoldo-MG)

Vitória Ambiental (Serra-ES)

Holcim (Cantagalo-RJ)Essensis (Magé-RJ)Haztec Plastimassa (Magé-RJ)

Resicontrol (Sorocaba-SP)Silcom (Juquiá-SP)Nova Ambiental (Itapevi-SP)

Essensis (Curitiba-PR)Resicontrol (Balsa Nova-PR)Ambiental (Balsa Nova-PR)Revalore (Balsa Nova-PR)

Proamb (Nova Santa Rita-RS)

Divulgação

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Unidade em Arcos recebe blends com alto poder calorífico

392013 - outubro - Química e Derivados

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Gerais (Arcos, Matozinhos e Montes Claros), que recebem por tonelada para coprocessá-los.

“Deixamos o blend com poder calorí-fico entre 3.500 e 4.500 kcal/kg e granulo-metria menor do que 50 mm, os padrões exigidos pela cimenteira”, disse o analista de negócios estratégicos da Essencis, Pedro Carsalade. “E o diferencial é que o suprimento é muito homogêneo, sem as muitas variações que normalmente ocorrem no mercado”, completou.

A Essencis divide seus blends em duas linhas de produtos: os impregnados e os triturados. A primeira linha, com umidade maior e serragem agregada no preparo, produz substitutos energéticos (normalmente oriundos de borras oleosas) com granulometria definida, tendo opção para diversos diâmetros, por meio do ajuste da peneira rotativa. Inicialmente, o produto final será de 50 mm, para alimentação do pré-calcinador, e terá capacidade de produção de 25 m³/hora.

Já a segunda linha recebe resíduos que passaram pelos processos de estruturação/desidratação (retirada da umida-de) e inertização do material, buscando as especificações para o coprocessamento. A unidade de processamento

tem capacidade de 300 toneladas/dia de recebimento. Até o momento já foram en-viadas cerca de 700 toneladas de resíduos de mais de 30 clientes da Essencis. A Fiat, de Betim, é uma das empresas com con-trato para enviar todo o seu resíduo para o coprocessamento.

Com a implementação da unidade e de outros projetos na área, a expectativa é a de que, até 2017, 53% dos resíduos industriais atualmente destinados em aterros pela empresa sejam utilizados como matriz de valorização. Segundo o diretor da Essencis

Minas Gerais, Aluísio Peres, o projeto na unidade, além de aumentar o teor de combustíveis alternativos para a Lafarge, vai permitir que a empresa caminhe para mudar um paradigma do coprocessamento. Isso porque a parceria com a Lafarge contempla o melhoramento contínuo dos blends, principalmente no que diz respeito ao seu poder calorífico.

“A tendência, que no próximo ano deve ficar mais nítida, é o blend ganhar valor, tornando-se um combustível alternativo muito interessante para a cimenteira”, disse. Em outras palavras, essa tendência significa que as empresas de gerenciamento ambiental e geradores caminharão para pagar menos para as cimenteiras destruírem seus resíduos.

Divulgação

Bernadete: Holcim tem unidadespróprias de blendagem

Tecnologia ambiental

40 Química e Derivados - outubro - 2013

E não será surpresa, na opinião de Peres, se os papéis se inverterem, ou seja, que eles vendam os blends para as cimenteiras. O laboratório da Essencis, explica Peres, encaminha suas pesquisas nesse sentido, aliás, com a anuência da Lafarge, que tem como meta chegar em 2020 com 50% dos seus fornos alimentados por combustíveis de resíduos.

Lixo doméstico – Para a Lafarge, mesmo já trabalhando com o coprocessamento há al-guns anos, o nível de preparação dos blen-ds alcançado no projeto com a Essencis é considerado inédito, por conseguir aumen-tar a substituição de combustível na matriz energética. De acordo com o seu gerente de ecologia industrial, Roberto Mendes, a empresa tem a expectativa de estender a experiência para as outras unidades do grupo francês no país.

De acordo com Mendes, dependendo da qualidade e do tipo de forno, pode ser alcançada uma substituição térmica de 50% do calor necessário. “Como cada forno tem a sua capacidade de produção, o parâmetro de avaliação é a substituição térmica”, disse. Segundo ele, a média em

volume pode ser estimada em aproximadamente 35 mil t por ano de resíduos em um forno. Atualmente a Lafarge Brasil substitui 20% da demanda de combustível nos seus fornos com combustível de resíduos. Mas a meta é até 2020 elevar essa participação para 50%.

Quarto maior grupo cimenteiro do país (a empresa também produz concreto e outros materiais de construção), hoje quatro unidades de produção de cimento da Lafarge são licenciadas para o coprocessamento: Cantagalo-RJ e as existentes nas cidades mineiras de Arcos, Matozinhos e Montes Claros. Em Minas Gerais, o projeto com a Essencis contempla o consumo mensal de 1.500 t até o final de 2014. Os resíduos são usados somente como substituto térmico, com granulometria de 25 a 50 mm e um poder calorífico médio de 3.000 kcal/kg. Além da Essencis, a Lafarge tem contratos para receber blends de empresas como Recitec, Renova, Haztec e Resicontrol.

Em Cantagalo, o coprocessamento é inédito no país por ser uma parceria com a prefeitura local para destruir termicamente os resíduos urbanos inorgânicos. Todo o lixo doméstico coletado no município passa por um processo de triagem em usina da prefeitura. Neste local, o material reciclável é separado para destino adequado. O restante, não reciclável, passa então por compostagem, após a qual a parte fina (orgânica) resulta em um adubo natural fornecido de forma gratuita a agricultores da região. A fração grossa (inorgânica) do material, cujo único destino possível antes da parceria era o depósito em aterros, é então destruída no coprocessamento no forno da Lafarge de Cantagalo. Das 350 toneladas de lixo descartadas no município, 15% são aproveitadas no processo produtivo. Segundo a Lafarge, processos similares serão replicados no médio prazo em outras cidades, mas por questões de mercado os detalhes não podem ser revelados.

Tratamento próprio – Algumas cimenteiras contam com suas próprias unidades de preparação de resíduos, integra-das às suas fábricas. Este é o caso do grupo Holcim Brasil, que tem a divisão Resotec, cujas centrais de blendagem ficam nas unidades cimenteiras de Cantagalo-RJ, Barroso-

Tecnologia Unidades existentes Associadas

Aterros para resíduos classe II A 79 29

Aterros para resíduos classe I 16 10

Incineradores industriais 23 3

Unidades de blendagem para coprocessamento 19 7

Cimenteiras licenciadas para coprocessamento 35 13

Tratamento de resíduos eletroeletrônicos (REE) 36 4

Outras tecnologias 59 4

Total 267 70

U N I D A D E S D E S T I N A D O R A S D E R E S Í D U O S – E M P R E S A S P R I v A D A S

Fonte: Abetre 2013

40

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412013 - outubro - Química e Derivados 41

41

MG e Pedro Leopoldo-MG.Segundo a supervisora de vendas da Resotec, Bernadete

Carvalho, as unidades trituram e misturam resíduos in-dustriais líquidos, sólidos e pastosos, como equipamentos

Fonte: Abetre 2013

Em média: disposição em aterro 76% coprocessamento 18% incineração e outros tratamentos térmicos 3% tratamentos biológicos e outros 3%

9

6

3

02004 2005 2006 2007 2008

Aterros (classe I, II A e II B) Coprocessamento em fornos de clínquerIncineração e outros tratamentos térmicosTratamentos biológicos e outras tecnologias

RI - por tecnologia de tratamento

Quan

tidad

e (M

t)R E S Í D U O S I N D U S T R I A I S

Quantidades processadas - por tecnologia de tratamento

2,9 3,2

4,5

6,0

7,1

17% 22%

18%

16%

14%

79% 73% 78%

75%

78%

de proteção individual usados, pneus, papéis, plásticos e solos contaminados, para que tenham poder calorífico de no mínimo 2.000 kcal/kg. “Quando entram para substituir matéria-prima, levamos em conta a quantidade de argila e calcário”, disse Bernadete.

Com 157 fábricas em 70 países, o grupo suíço utiliza o coprocessamento em 40 desses países, desde meados dos anos 1980, em escala industrial. Em 2008, obteve uma taxa de substituição térmica (TSR) de combustíveis fósseis de 12,2%. Mundialmente, cerca de 80% dos materiais co-processados pela Holcim são resíduos de óleos e resíduos não perigosos, como pneus, plástico, madeira, água de esgoto etc. Segundo Bernadete, no Brasil, assim como nas outras unidades pelo mundo, aproximadamente 80% dos resíduos entram como substituto de combustíveis e 20% como matéria-prima.

Em agosto de 2012, a empresa anunciou investimentos de R$ 1,4 bilhão na expansão da fábrica de Barroso. A capacidade de produção passará dos atuais 1,2 milhão de toneladas de cimento por ano para 3,6 milhões de tone-ladas/ano. Com a meta de atender à forte demanda por cimento no mercado brasileiro, a empresa prevê concluir as obras e iniciar a operação da fábrica no final de 2014. Os investimentos em coprocessamento nessa expansão serão proporcionais à nova capacidade dos fornos.

Tecnologia ambiental

42 Química e Derivados - outubro - 2013

Os principais resíduos recebidos pela Holcim são: subs-tâncias oleosas; catalisadores usados; resinas, colas e látex; pneus e emborrachados; solventes; borras ácidas; lodos de

Not

ícia

s

Pelo menos em termos de legislação, o estado de São Paulo já conta com os instrumentos para combater um de seus principais problemas: a contaminação do solo e das águas subterrâneas. Isso porque recentemente foi regula-mentada pelo decreto 59.263 a lei estadual 13.577, de julho de 2009, composta por 103 artigos que dispõem sobre as diretrizes e procedimentos para a proteção da qualidade do solo e das águas subterrâneas, para prevenção e correção das 4.572 áreas oficialmente consideradas contaminadas.

Com o decreto, segundo explicou o gerente da Cetesb, Alfredo Rocca, o estado operacionaliza uma série de modernizações que, apenas com a lei de 2009, ainda não podiam ser, de fato, aplicadas. Para começar, passa a ser mandatória uma hierarquia de medidas para as áreas contaminadas. Em primeiro lugar, a fonte de contaminação precisa ser removida. Em segundo, o contaminante precisa ser tratado para reduzir seu impacto. E, em terceiro, não havendo como se remover a fonte ou tratar de imediato a fonte, ela precisa ser confinada.

São muitas outras as melhorias na gestão de áreas contaminadas depois da assinatura do decreto pelo governador do estado. Por exemplo: a obrigatorieda-de da averbação da informação sobre a contaminação identificada na área na respectiva matrícula do imó-vel. E a instituição do seguro ambiental, um contrato de seguro que contenha cobertura para assegurar a execução do plano de intervenção aprovado pela agência ambiental no valor mínimo de 125% do custo estimado da remediação.

Um aspecto muito importante e que finalmente passa a valer é a estruturação do Fundo Estadual para Prevenção e Remediação de Áreas Contaminadas (Feprac). Trata-se de fundo destinado à identifi-cação e remediação de áreas que tenham pessoas expostas às contaminações ou cujos responsáveis retardam a remediação com processos judiciais. As receitas do fundo virão de dotações ou de créditos específicos, consignados no orçamento estadual, de transferências de outros fundos estaduais, da União, dos estados e dos municípios e também de recursos provenientes de ajuda e cooperação internacional. Além disso, recursos de compensações ambientais e de multas aplicadas por danos ambientais podem ser incluídos no fundo.

Para Alfredo Rocca, o Feprac, que será gerido pela Cetesb, pode ser utilizado pelo empreendedor como uma linha de financiamento comum ou então pode ser acessado pelo próprio poder público. “Se for necessária e urgente uma intervenção, e não houver

n D E C R E T O M O D E R N I Z A G E S T Ã O D E Á R E A S C O N TA M I N A D A S E M S Ã O PA U L O

como acionar o responsável, a própria Cetesb pode abrir uma concorrência para contratar uma empresa de remediação para despoluir a área”, disse Rocca.

As mudanças também incluem penalidades maio-res aos responsáveis pelas contaminações, desde advertências, multas simples, multas diárias, embar-gos, demolição até a suspensão de financiamento e de benefícios fiscais aos responsáveis pelas áreas. As multas podem chegar a 4 milhões de vezes o valor da Unidade Fiscal do Estado de São Paulo – Ufesp.

A previsão é de que até 2014 o fundo passe a ter recursos e de que as outras medidas comecem a valer no estado, na avaliação de Rocca. A Cetesb, segundo o gerente, está em fase de adaptação aos procedimentos administrativos para atender às exi-gências do decreto.

Problemões – A importância da nova regulamentação é a possibilidade de ela solucionar problemas gravíssimos de contaminação em São Paulo. Um exemplo é a região do Jurubatuba, na zona sul paulistana, com uma área de 31,57 km2, considerada seriamente degradada, com 84 áreas declaradas contaminadas pela Cetesb, 14 delas por etenos clorados (EEC) ou etanos clorados (EAC), substâncias alta-mente tóxicas e originárias de contaminações por indústrias metalúrgicas e químicas instaladas há mais de 40 anos no local (muitas delas não mais existentes). Os EECs e os EACs atingiram 46 poços de produção de água, sendo que em 31 deles ocorreram em concentrações acima do tolerável.

Nessa área, que foi estudada por encomenda do Departamento de Águas e Esgotos de São Paulo (DAAE), há 513 poços outorgados – avalia-se a existência de mais de mil poços clandestinos –, com estimativa de produção superior a 150 mil m³/dia. Cerca de 90 deles, por estarem em locais de alta contaminação, estão lacrados e muitos precisam ser automonitorados sob a supervisão do DAAE. Apesar de no início o DAAE ter restringido o uso de poços na área total de 31,7 km2, pelo estudo, feito pela consultoria Servmar, há cerca de cinco anos, essa área foi diminuída para 10,75 km2. Mas o pior é que o principal sistema aquífe-ro local, o Cristalino, possui porosidade que pode favorecer a propagação de uma contaminação a longas distâncias, por caminhos preferenciais, o que torna o local mais suscetível às movimentações da água subterrânea.

Apesar deste megaproblema e da evidência de contami-nações que afloraram em vários locais, apenas medidas de remediação foram tomadas de forma isolada por algumas empresas. Mas a interligação dos contaminantes no solo por toda a região não favorece remediações de forma independente. É unânime entre os especialistas que a única

tratamentos; terras contaminadas; revestimentos de cubas de alumínio; papel e papelão contaminados; e resíduos não perigosos, como pneus, plástico, madeira e água de esgoto.n

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intervenção possível na região precisaria ser sistêmica, em conjunto com todos os envolvidos.

De acordo com o gerente da Cetesb, Alfredo Rocca, a extensão da contaminação na área de Jurubatuba é tão grande e complexa que levará vários anos para ser solu-cionada. “As fontes secundárias de contaminação no solo e nas águas subterrâneas já estão identificadas e dentro do

n P UROLITE INA UGUR A L ABOR ATÓRIO DE APL ICAÇÃO PAR A RESINA S DE TROCA IÔNICAA produtora de resinas de troca iônica Purolite começou

a operar em São Paulo um laboratório para desenvolvi-mento de aplicações de resinas de troca iônica, utilizadas para desmineralização de água e para remoção seletiva de substâncias.

Segundo o diretor da Purolite, Fábio Sousa, o investi-mento visa a aproveitar o portfólio de mais de 200 resinas da empresa norte-americana, adequando-as às necessidades dos clientes. Um primeiro teste de aplicação, por exemplo, objetiva remover metais de ácido acético para um cliente. “Estamos testando uma resina seletiva para remoção de metais, a S930-Plus, que remove principalmente o ferro, o contaminante mais evitado nessas aplicações”, disse.

Outra vertente de pesquisa já iniciada é para remover flúor de água de poço, aplicação para a qual está em testes uma

resina aniônica, que precisa contar com regeneração rápida, e ser ativada com cálcio na resina para complexar o fluoreto. Por enquanto, essa resina SST60, ativada com cálcio, só teve aplicação na Índia para tratar efluentes. Os poços, em São Paulo, em média, contam com 6 ppm de flúor. A resina pode reduzir para menos de 1.5 ppm.

A Purolite fatura mundialmente US$ 300 milhões ao ano. Segundo Fábio Sousa, a empresa destina 5% do seu faturamen-to anual para pesquisa e desenvolvimento e detém hoje cerca de 30% do mercado mundial. A estimativa é a de que a Purolite detenha 25% do mercado sul-americano e 40% do brasileiro.

Desde 1999 no Brasil, o investimento no laboratório em São Paulo superou US$ 100 mil. Atualmente há mais de 50 resi-nas de seu portfólio mundial em comercialização no Brasil. No mercado latino, a Purolite possui cerca de 3.000 clientes.MRF

possível exigimos intervenções”, disse. A própria atual política de lacrar poços da região, na sua opinião, não deve ser definitiva. “A tecnologia vai mudando e portanto podemos no futuro exigir que mesmo contaminações no aquífero profundo sejam remediadas”, afirmou. Na região há registros de contaminantes a 250 metros de profundida-de, no Aquífero Cristalino. MRF