especial 311 anos de castro

7
CASTRO-PR, QUINTA-FEIRA, 19 DE MARÇO DE 2015 * ANO XXV * Nº 2744 * ESPECIAL DE ANIVERSÁRIO www.paginaum.com DISTRIBUIÇÃO GRATUÍTA DIRETOR / EDITOR: SANDRO ADRIANO CARRILHO DR. JORGE XAVIER DA SILVA Rua das Tropas será revitalizada 19 DE MARÇO Data de aniversário foi mudada REDE HOTELEIRA Castro não comporta turistas Um dos setores que vem sentindo na pele a intensa movimentação causada pela vinda de grandes empresas e indústrias a Castro é o de hotéis. Falta leitos e um atendi- mento receptivo de qualidade. página 7 A já lendária rua Dr. Jorge Xavier da Silva, conhecida como a Rua das Tropas, será revitalizada. Com o novo pro- jeto, ela deixará de ser preferencial, e ganhará modernidade com a tubulação subterrânea. página 3 Qual é a data correta para se comemorar o aniversário de uma cidade? Aquela em que é lembrado o primeiro registro histórico? Aquela que relembra a elevação à categoria de vila? Ou o dia em que tornou-se cidade? página 2 Uma identidade multifacetada, devido às várias etnias e fases de imigração que tiveram início na cidade a partir da década de 1870 e também às mudanças históricas de paradigmas de desenvolvimento que ocorreram principal- mente ao longo do século 20. Essa é, em linhas gerais, a “cara” contemporânea de Castro, que vem passando – pelo menos de quatro anos para cá – por um avassa- lador processo de transformação social, econômico e cultural em decorrência da instalação da biorrefinaria da Cargill Agrícola S/A e da Evonik Industries, e também da construção de um frigorífico de abate de suínos pela Cooperativa Castrolanda. O contraponto disso é que, muito embora o atual momento de Castro aponte para um futuro bem próximo e bastante promissor em termos de desenvolvimento econômico, é completamente incerto o caminho que essa identidade irá tomar. página 6 E Dom Pedro II, quem diria, veio parar em Castro MAIO DE 1880 Castro busca sua identidade 311 ANOS Em sua história mais que tricentenária, Castro pode orgulhar-se de ter sido uma das nove cidades paranaenses que tiveram o privilégio de receber a visita de um imperador. Foi durante a vinda de Dom Pedro II à então Província do Pa- raná, em maio de 1880, acompanhado da imperatriz Dona Teresa Cristina, para inaugurar os trabalhos de construção da Estrada de Ferro Paranaguá-Curitiba. páginas 4 e 5 Chácara Bailly mantém viva a história da vinda de Dom Pedro II a Castro, através de objetos antigos que se misturam com o novo Divulgação / Local Divulgação Divulgação

Upload: pagina-um-jornal

Post on 08-Apr-2016

223 views

Category:

Documents


6 download

DESCRIPTION

Jornal Página Um Caderno Especial Edição 2744

TRANSCRIPT

Page 1: Especial 311 Anos de castro

Castro-Pr, Quinta-feira, 19 de Março de 2015 * ano XXV * nº 2744 * esPeCial de aniVersário www.paginaum.com

distribuição gratuíta

Diretor / eDitor: SanDro aDriano Carrilho

dr. jorge xavier da silvaRua das Tropas será revitalizada

19 de marçoData de aniversário foi mudada

rede hoteleiraCastro não comporta turistas

Um dos setores que vem sentindo na pele a intensa movimentação causada pela vinda de grandes empresas e indústrias a Castro é o de hotéis. Falta leitos e um atendi-mento receptivo de qualidade. página 7

A já lendária rua Dr. Jorge Xavier da Silva, conhecida como a Rua das Tropas, será revitalizada. Com o novo pro-jeto, ela deixará de ser preferencial, e ganhará modernidade com a tubulação subterrânea. página 3

Qual é a data correta para se comemorar o aniversário de uma cidade? Aquela em que é lembrado o primeiro registro histórico? Aquela que relembra a elevação à categoria de vila? Ou o dia em que tornou-se cidade? página 2

Uma identidade multifacetada, devido às várias etnias e fases de imigração que tiveram início na cidade a partir da década de 1870 e também às mudanças históricas de paradigmas de desenvolvimento que ocorreram principal-mente ao longo do século 20. Essa é, em linhas gerais, a “cara” contemporânea de Castro, que vem passando – pelo menos de quatro anos para cá – por um avassa-lador processo de transformação social, econômico e cultural em decorrência da instalação da biorrefinaria da Cargill Agrícola S/A e da Evonik Industries, e também da construção de um frigorífico de abate de suínos pela Cooperativa Castrolanda. O contraponto disso é que, muito embora o atual momento de Castro aponte para um futuro bem próximo e bastante promissor em termos de desenvolvimento econômico, é completamente incerto o caminho que essa identidade irá tomar. página 6

e dom Pedro ii, quem diria, veio parar em CastroMAIO DE 1880

Castro busca sua identidade

311 anos

Em sua história mais que tricentenária, Castro pode orgulhar-se de ter sido uma das nove cidades paranaenses que tiveram o privilégio de receber a visita de um imperador. Foi durante a vinda de Dom Pedro II à então Província do Pa-raná, em maio de 1880, acompanhado da imperatriz Dona Teresa Cristina, para inaugurar os trabalhos de construção da Estrada de Ferro Paranaguá-Curitiba. páginas 4 e 5

Chácara Bailly mantém viva a

história da vinda de Dom Pedro II a Castro, através

de objetos antigos que se misturam

com o novo

Divulgação / Local Divulgação

Divulgação

Page 2: Especial 311 Anos de castro

2 QUINTA-FEIRA, 19 DE MARÇO DE 2015 Especial Castro

Página Um Jornais e Publicações Ltda

CNPJ 81.405.763/0001-14Fundado em 1º de outubro de 1.989Diário desde 19/01/2005

www.paginaum.com

Redação e AdministraçãoBenjamin Constant, 490

Tel. (42) 3232-5148CEP 84.165-220 - Castro - PR

Diretor-EditorSANDRO ADRIANO CARRILHO

Reg. Prof. nº 2447/10/[email protected]

EDIÇÃO ESPECIAL 311 ANOS DE CASTRO

HELCIO KOVALESKI

ESPECIAL PARA O PÁGINA UM

Qual é a data correta para se comemorar o aniversário de uma cidade? Aquela em que é lembrado o primeiro registro histórico da então localidade? Aquela que relembra da eleva-ção à categoria de vila ou à de freguesia? Ou, por fim, o dia em que se comemora o título de ele-vação a cidade?

Salvo engano, é bem possí-vel que não haja cidade, nem no Brasil, nem pelo mundo afora, na qual a escolha da data para a comemoração do seu aniver-sário não tenha sido cercada de polêmicas e debates infindáveis até um projeto de lei ser apro-vado na Câmara de Vereado-res. Enquanto há aqueles que defendem que o primeiro regis-tro histórico é o correto, pois marca uma espécie de “certi-dão de nascimento” da cidade, outros defendem a legitimidade de quando foi estabelecida, de forma definitiva, a condição de fato e de direito de uma cidade – ou, para fechar o raciocínio, quando ela conquista o seu “registro de identidade”.

Com Castro não foi dife-rente. Já em 2004, durante a segunda gestão do atual prefeito Reinaldo Cardoso (então no PDT e hoje no PPS), que ele mesmo resolveu pôr a mão no vespeiro. Mas foi em 2010, no segundo ano da segunda gestão do então prefeito Moacyr Elias Fadel Junior (PMDB), que a polêmica se resolveu. Mais exa-tamente no dia 22 de março, quando, por unanimidade, a Câmara de Vereadores apro-vou, durante sessão ordinária, em segunda votação, o Projeto de Lei 06/2010, de autoria do Executivo, que reconhecia 19 de

março de 1704 como a data de fundação da cidade.

Naquele ano, demorou pouco mais de um mês e meio para que a matéria fosse discu-tida, inclusive com a realização de uma audiência pública, no dia 17 de março (ironicamente, dois dias antes da efeméride), e, enfim, aprovada. Assim, a partir do ano seguinte, 2011, Cas-tro passou a comemorar o seu feriado municipal oficial em 19 de março.

Exatamente um mês depois da aprovação do projeto de lei, em 22 de abril de 2010, Moacyr Fadel sancionou a Lei Muni-cipal 2155/2010, que “altera dispositivos da Lei 10/1949, reconhecendo 19 de março de 1704 como data de fundação e aniversário da cidade de Castro - PR, e dá outras providências”. A principal justificativa para a escolha de 19 de março de 1704 como data de fundação de Castro é porque foi nesse dia que “se estabeleceu o primeiro povoado às margens esquer-das do rio Iapó, junto à capela existente, do qual se originou, conforme história relatada em obras de diversos autores, e que passará a ser observada como feriado municipal e, em consequência, para as come-morações festivas de aniversá-rio da cidade”. O artigo 2° da Lei Municipal revoga parte do

artigo 1° da Lei 10, de 23 de agosto de 1949, na disposição que trata o dia 20 de janeiro como feriado municipal. A san-ção assinada por Moacyr foi publicada no Diário Oficial do Município no dia seguinte, 23 de abril de 2010.]

‘Benéfica’Passados quase cinco anos

da aprovação do projeto de lei e da sanção da lei, na avaliação tanto do atual quanto do ex-prefeito, a mudança da data foi benéfica para a cidade. “Acho que a mudança foi boa porque essa data se refere ao primeiro documento da existência de Castro, e também porque, em março, a população pode par-ticipar mais da festa”, afirma Reinaldo Cardoso. “Em 21 de janeiro, data da elevação de Castro a vila [em 1789], ainda é período de férias e está todo mundo viajando. Já em março, a população aproveita mais. É uma data mais comemorativa”, complementa.

Moacyr Fadel relembra que a principal justificativa para a mudança da data foi de que 19 de março de 1704 “é a data mais antiga que temos de regis-tro da cidade”. “Além disso, era sempre difícil para a Prefeitura fazer qualquer coisa em 20 de janeiro, em pleno período de férias escolares coletivas dos

servidores. E ainda tínhamos a dificuldade de licitar a realização da festa, porque esse é um perí-odo em que ainda não se iniciou o ano fiscal. Para fazer a festa, o ideal era a gente licitar no ano anterior, mas há impedimentos legais para isso”, afirma.

Por seu turno, o atual presi-dente da Câmara, vereador Ger-son Sutil (PSB) – que, na época da aprovação do projeto de lei, era primeiro-secretário – afirma que não consegue “visualizar o benefício que a mudança da data trouxe para a população”. “Há quem diga que, ao contrário de quando a comemoração da data caía durante o período de férias, agora, os alunos perdem um dia de aula e, consequente-mente, conteúdo”, argumenta. “E quando calha de cair em um dia próximo ao final da semana, como neste ano, que o dia 19 será numa quinta, aí são dois dias per-didos. Afora isso, sinceramente, não vejo qual o benefício que essa mudança trouxe”, diz.

Ex-prefeito Moacyr Fadel

Aprovação do feriado em 19 de março foi conturbada

Divulgação

Nova data começou a vigorar em 2011EM MEIO A POLÊMICAS E DEBATES

Prefeito Reinaldo Cardoso Presidente Gerson Sutil

A sessão ordinária de 22 de março de 2010, na Câmara Municipal de Castro, quando foi aprovado o Projeto de Lei sobre a proposta de mudança de data, coroou uma série de momentos peculiares das discussões em torno da mudança.

Durante a palavra livre, já no final do expediente, o então vere-ador Luiz Carlos Flugel (PMDB) manifestou-se dizendo que gosta-ria que constasse em ata os nomes dos vereadores que votaram contra o projeto de alteração da data. Zé da Cuia (PP), um dos que votaram contra, respondeu dizendo que, num primeiro momento, foi con-tra o projeto, sim, mas que, diante da opinião da “maioria” durante a audiência, respeitou esse fato e aca-bou votando a favor. “Fiz isso por respeito às pessoas. Aliás, aqui [na Câmara], temos que nos respeitar mais e trabalhar mais pelo povo, ao invés de fazer chacotas”, disse. Zé Aparecido (PMDB), na sequência, foi na mesma linha. “Eu sempre respeitei [os demais vereadores], e não admito chacota”, afirmou.

DevoluçãoO Projeto de Lei havia sido

apresentado na sessão de 24 de fevereiro de 2010. Mas, na ses-são seguinte, em 3 de março, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) decidiu devolvê-lo à Prefei-tura devido à necessidade de se realizar mais debates por se tratar de “assunto de interesse público”.

Na mesma sessão, inclusive, por sugestão do então presidente

da Casa, Antonio Levi Napoli Pinheiro (que ainda estava no PMDB, mas que depois passou para o PSD), foi aprovada por unanimidade a realização de uma audiência pública, pela Câmara, para discutir com a população a alteração da data. “Parabenizo a CCJ pelo parecer contrário ao referido projeto por se tratar de assunto complicado. Há mais assuntos prioritários do que discu-tir a data de aniversário da cidade, como alagamentos, por exemplo. Infelizmente, o que nós vereadores podemos fazer são requerimen-tos”, disse Levi. O então vereador também lembrou que o dia 19 de março deveria ser lembrado como uma “data triste”, e não come-morativa, por causa da tragédia ocorrida em 2009: a morte de Bruno Ramon Pereira no brin-quedo conhecido como Kamikaze, durante a comemoração do aniver-sário da cidade.

AudiênciaVeio, enfim, o dia da audiência,

que, claro, deu o que falar. O grupo “pró-19 de março de 1704”, for-mado principalmente por represen-tantes da Prefeitura, ganhou com vantagem. Entre os vereadores, o placar foi de seis votos a favor do projeto (ou seja, a favor da mudança de data) e três contra – de Zé da Cuia, Zé Aparecido e de Flavio de Albuquerque (DEM). Da parte do público presente, deu 28 a 11. O resultado geral foi que, de todas as 48 pessoas que votaram, 34 foram a favor e 14 contra.

Discussão na Câmara teve momentos ‘peculiares’

AGRADECIMENTOSA direção do Página

Um agradece a todos que participaram direta e indi-retamente na elaboração do caderno 311 Anos de Castro. Em especial aten-ção ao jornalista Hélcio Kovaleski, estagiária de fotografia Salem Ferreira Testa, arte finalista Cris-tian Bauer Tabor, e Maira Fonseca Sferra. O mesmo se estende para os entre-vistados, que dedicaram seu tempo e paciência na elebo-ração das reportagens.

Page 3: Especial 311 Anos de castro

QUINTA-FEIRA, 19 DE MARÇO DE 2015 3Especial Castro

HELCIO KOVALESKI

ESPECIAL PARA O PÁGINA UM

A linguagem cinematográfica pode ser um ótimo instrumento para se ter ao menos uma noção de como a paisagem urbana pode passar por inúmeras transfor-mações ao longo do tempo. E uma figura de linguagem muito utilizada no cinema – a elipse – pode ajudar nisso. Segundo a gramática, elipse “é a supressão de um termo que pode ser facil-mente subentendido pelo con-texto linguístico ou pela situação” (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, ed. Objetiva, Rio de Janeiro, 2004). No cinema, a elipse é largamente usada para passagens rápidas de tempo.

Um exemplo? A já lendária rua Dr. Jorge Xavier da Silva, localizada no Centro de Castro. A proposta é a seguinte. Imagine que você está nessa rua. Feche os olhos e tente visualizá-la ainda ao tempo em que ela se chamava “Rua das Tropas”, nalgum ano do longínquo século 19. Imediata-mente, abra os olhos e constate a transformação. Pronto. A elipse aconteceu.

Agora, tente fazer a mesma coisa imaginando como essa rua ficará até o final de 2015. Só que, desta vez, sem elipse, pois você, castrense, terá a oportunidade de acompanhar pari passu as mudanças que estão por vir nessa importante via comercial em que se transformou a Dr. Jorge – como a rua é carinhosamente chamada pela população.

É que está em curso a ver-são atualizada do “Programa de Desenvolvimento de Espaços Comerciais da Rua Dr. Jorge Xavier da Silva”, também conhe-cido como “Doutor Jorge em Ação”. As obras desse projeto estarão a cargo da Prefeitura, através das secretarias de Obras e Serviços Públicos, que execu-tará as mudanças na rua, e de Indústria, Comércio e Turismo, que financiará o projeto, por meio de repasses do governo federal via Caixa Econômica Federal. O pro-jeto ainda conta com o apoio da Associação Comercial e Empre-sarial de Castro (Acecastro), Sindicato do Comércio Varejista de Castro (Sindicastro), Sistema Fecomércio e Câmara da Mulher Empreendedora e Gestora de Negócios de Castro.

De acordo com Neide Wata-nabe, secretária municipal de Obras e Serviços Públicos, o pro-jeto de revitalização da Dr. Jorge já passou pelo Conselho Estadual do Patrimônio Histórico e Artís-tico, órgão ligado à Secretaria de Estado da Cultura do Paraná, e, atualmente, encontra-se em aná-lise pela Caixa. “Assim que rece-bermos a aprovação do projeto pelo banco, já poderemos iniciar o processo licitatório”, afirma.

O motivo de o projeto ter passado pelo crivo do Conselho Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico é que a Dr. Jorge é uma

rua “em estudo de tombamento”. “O interesse é justamente por-que ela já foi a Rua das Tropas”, explica Neide.

PrazoO projeto está orçado em R$

2,3 milhões. A intenção do pre-feito Reinaldo Cardoso (PPS) é iniciar as obras entre abril e maio deste ano, com prazo de execução entre 90 e 120 dias. “Queremos que, até o final deste ano, a Dr. Jorge esteja revitalizada”, afirma.

Neide Watanabe, no entanto, prefere não fixar data e dizer que as obras “serão concluídas durante este ano”. “É difícil falar em prazo porque não depende da gente”, observa a secretária, lem-brando que a demora da execução do projeto ocorreu porque houve inúmeras alterações na versão ori-ginal. “A maioria dos comercian-tes não concordou com o projeto anterior, que previa, por exemplo, que o estacionamento dos carros, ao longo da via, fosse em sentido longitudinal, e não transversal, como é hoje. Também havia difi-culdade em relação à acessibili-dade”, explica a secretária. Para essa questão específica, a Pre-feitura contou com o auxílio da Associação de Deficientes Físicos de Castro (ADF-Castro).

EstratégiasPor conta dessa demora,

diversos pontos do projeto origi-nal tiveram de ser revistos – como a mudança da fiação da rede elé-trica (e também de telefonia e transmissão de dados) de postes para dutos subterrâneos. Segundo Neide, houve novo processo licita-tório para esse serviço e o menor orçamento apresentado foi o da Companhia Paranaense de Ener-gia (Copel), “que também teve de fazer alterações no projeto anterior”. “Os orçamentos para a fiação subterrânea da rede elé-trica foram maiores do que o que a Copel nos apresentou”, observa a secretária.

Mas há quem veja nessa demora algo de positivo. É o caso do secretário municipal de Indústria, Comércio e Turismo, Rodrigo Morais da Silva. Ele também lembra que o atraso foi motivado principalmente porque a proposta de uma nova forma de estacionamento não caiu no gosto da maioria dos comercian-tes. “Ocorre que tudo isso acabou por gerar um amadurecimento por parte desses comerciantes, que se articularam e criaram uma política de atuação com estraté-gias próprias para o uso da rua”, observa. Hoje, eles mantêm reu-niões regulares, sob orientação do Serviço de Apoio às Micro e

Pequenas Empresas do Paraná (Sebrae/PR), em Ponta Grossa, para divulgar a rua. “Isso foi, sem dúvida, uma motivação para eles”, diz Rodrigo. “Na Dr. Jorge, esse grupo de comerciantes já promoveu desfiles de moda a céu aberto e festa junina, entre outros eventos”, completa.

AlteraçõesEm toda a sua extensão, a

rua Dr. Jorge mede 600 metros. São, ao todo, cinco quadras. A via começa na praça Souza Naves, passa pelas ruas Antônio Rolim de Moura, General Osório, General Câmara, Padre Damaso, Benjamin Constant e termina na Major Otávio Novaes, onde está instalado o semáforo.

Conforme o projeto, a rua deixará de ser preferencial. “O objetivo é para que se diminua a velocidade média dos carros. Mas ela continuará de mão única, sentido Prefeitura-Rodoviária”, explica a secretária Neide Wata-nabe. No entanto, todas as ruas transversais à Dr. Jorge é que se tornarão preferenciais.

Além da tubulação subterrânea para as redes de energia elétrica, de telefonia e de transmissão de dados, o atual pavimento de petit pavet será substituído por paver. Serão feitas obras de paisagismo, com colocação de floreiras, plantio de árvores e instalação de bancos, e sinalização de trânsito vertical e horizontal. Haverá mudanças na iluminação pública e, em toda a extensão da via, serão instaladas lajotas “podotátcil” (para sinali-zação de piso) e rampas de aces-sibilidade em todas as esquinas para portadores de deficiência. Também será feita a drenagem de águas pluviais.

Neide lembra que, em 2009, houve o início das obras da revi-talização da rua a partir da praça Souza Naves, onde está locali-zada a Prefeitura. “Ocorre que a construtora da época [Chammas Construções Civis Ltda.] abando-nou as obras”, relata.

Nessa praça, foram retirados bancos, floreiras e pavimento e foi construído um micromercado, que, de acordo com Rodrigo Morais da Silva, é um espaço multiuso des-tinado a entidades sociais. Uma delas é a Amizade Animal (AMA), que trabalha em parceria com a Prefeitura para orientar a popula-ção sobre animais soltos nas ruas. Outra é a Rede Feminina de Com-bate ao Câncer (RFCC). “Atu-almente, em frente ao local, está estacionado o ônibus do Odonto Sesc [Serviço Social do Comér-cio]. O espaço foi otimizado para servir como ponto de apoio a essas entidades”, explica.

Dr. Jorge Xavier da Silva dos idos tempos

Obras de revitalização estão previstas para iniciar no mês de abril

Divulgação / Local

De Rua das Tropas à fiação subterrâneaDR. JORGE XAVIER DA SILVA

Com um projeto dessa enver-gadura em curso na rua Dr Jorge Xavier da Silva, era previsível que houvesse divergências e choque de pontos de vista por parte dos comerciantes, principais afetados pelas mudanças. Além dos obstá-culos relatados pelos secretários Neide Watanabe, de Obras e Ser-viços Públicos, e Rodrigo Morais da Silva, de Indústria e Comércio e Turismo, a maioria relacionada à primeira proposta de disposição dos automóveis estacionados ao longo da via, há outros aspectos apontados por alguns comercian-tes que mostram que, se há um sentimento geral de que ao final das obras os benefícios serão com-pensados pelos transtornos causa-dos por elas, também há críticas de alguns aspectos do projeto.

‘Reforma’Segundo um antigo comer-

ciante da rua, cujo comércio tem quase 40 anos, e que pediu para não ser identificado, é necessária não uma revitalização, mas sim uma reforma. “É um projeto bem antigo e que ainda não foi colocado em prática. No tempo do [ex-pre-feito] Moacyr, [Elias Fadel Junior, PMDB, que governou o municí-pio em duas gestões – de 2005 a 2008 e de 2009 a 2012], foi reformada a praça Souza Naves, só que estreitaram o estaciona-mento. De 30 carros que cabiam

estacionados perto da praça, hoje só cabem cinco”, reclama. “O que falta, mesmo, é uma reforma, por-que está tudo deteriorado. Falta arrumar as calçadas. Quando chove, vira uma piscina com as pedras soltas, é difícil para um pedestre andar. Precisa de um zelo maior pela rua. Além disso, tem que ver uma prioridade. Um pro-jeto com um valor desse para arru-mar uma rua numa cidade onde não existe hospital é meio demais, não é?”, questiona.

“Estão querendo fazer um cal-çadão em toda a extensão da rua, mas isso iria matar o comércio”, continua o comerciante. Essa mudança, no entanto, não consta do projeto, segundo informa Neide Watanabe.

Sem aumentoO comerciante Fausi Fadel,

proprietário da loja A Itamaraty Confecções, localizada no número 140 da rua Dr. Jorge, reclama que as obras “vêm se arrastando”. Ele conta que, em novembro de 2014, durante reunião com o prefeito Reinaldo Cardoso (PPS), a promessa era de que as obras iniciariam em fevereiro deste ano, “com a fiação subterrânea e a melhoria nas calçadas”.

A expectativa de Fausi em relação ao aumento das vendas, após o término das obras, não é das melhores. “As vendas não vão

aumentar com essa revitalização. Aliás, em 2015, o comércio vai ser um desastre”, sentencia. E por que? “Vi uma matéria, hoje [terça, 17], que mais de 60% dos consumidores estão endividados devido a compras com cartão de crédito, e que os juros já subiram 345% ao ano”, explica.

“Por que não fecha a rua e faz só para pedestre? Em todo lugar tem calçadão, mas em Castro, não. Em Ponta Grossa, por exem-plo, aumentaram as vendas com o calçadão [da rua Cel. Claudio, no Centro].

Segundo Fausi, “na minha mão”, A Itamaraty completará 40 anos no próximo dia 2 de maio. Mas ela já existe desde 1965, quando o proprietário era Omar Chaek.

Compensação“Para todo benefício tem

um transtorno. Mas o benefício é só depois de [o projeto estar] pronto”, avalia Marlene da Silva Teleginski, gerente da loja cas-trense da Pernambucanas, que está no cargo desde setembro de 2011. A Pernambucanas é uma das lojas mais antigas de Castro. Ela está na cidade há 74 anos, e sempre na Dr. Jorge. De acordo com Marlene, primeiro, a loja ficava no número 231. “Em maio deste ano, fará cinco anos que a Pernambucanas está situada no número 123”, informa.

“Nova cara’Para o comerciante Augusto

Beck, socioproprietário da Casas Gerson, loja de calçados e con-fecções localizada no número 93 da rua Dr. Jorge, a expectativa em relação à revitalização “é muito boa”. Vão manter o esta-cionamento, melhorar a estética e colocar placas de trânsito. Isso é melhoria, é progresso. E nós somos favoráveis ao progresso”, avalia. “Com as melhorias, Cas-tro vai ter uma nova cara”, diz.

Opiniões de comerciantes se divergem

Pesquisa realizada em 2010 pelo Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa do Paraná (Sebrae/PR), em Ponta Grossa, apontou que a rua Dr. Jorge Xavier da Silva concentrava, naquele ano, mais de 100 empresas de diversos ramos de atividade. No levantamento, 43% dos entrevistados responderam que circulam pela rua porque

trabalham perto; 20%, só para fazer compras; 16%, porque moram perto da via; e 15%, por causa dos serviços de banco e de correio.

A pesquisa mostrou tam-bém que 34% dos entrevista-dos passam diariamente pela rua Dr. Jorge; 19%, de três a quatro vezes por semana; e 23%, de uma a duas vezes por semana. Um dado interessante

do levantamento foi de que 74% dos que passam pela rua são mulheres, com faixa etária de 26 a 40 anos; 77% delas possuem renda familiar mensal de até R$ 2 mil. Em um terço do público aferido, 42% dos que mais gastam têm renda mensal acima de R$ 3 mil, sendo que 53% são comer-ciantes e empresários e 50% têm curso superior completo.

Fausi Fadel, d’A Itamaraty Confecções: “As vendas não vão aumentar com a revitalização”

Augusto Beck, da Casas Gerson: “Isso é melhoria, é progresso”

Fotos: Divulgação

A mais importante rua de Castro terá cara nova em breve

74% dos pedestres da Dr. Jorge são mulheres

Divulgação

Page 4: Especial 311 Anos de castro

HELCIO KOVALESKI

ESPECIAL PARA O PÁGINA UM

Em sua história mais que tri-centenária, Castro pode orgu-lhar-se de ter sido uma das nove cidades paranaenses que tiveram o privilégio de receber a visita de um imperador. Foi durante a vinda de Dom Pedro II à então Provín-cia do Paraná, em maio de 1880, acompanhado da imperatriz Dona Teresa Cristina, para inaugurar os trabalhos de construção da Estrada de Ferro Paranaguá-Curitiba.

A comitiva imperial chegou a Castro em 28 de maio e permane-ceu na cidade até o dia 30. Relatos da época, publicados no Jornal do Commercio, dão conta que Dom Pedro II foi recebido pelo juiz Dr. Manuel da Cunha Lopes Vascon-celos e passou pela Chácara Bailly – que sedia uma imponente casa originalmente feita de taipa, cons-truída em 1870, hoje localizada no Jardim das Nações.

Segundo conta Rosa Ribeiro, médica oftalmologista e historia-dora autodidata, que colheu infor-mações da visita de D. Pedro II a Castro em jornais da época e no diário do monarca, publicado no Anuário do Museu Imperial de Petrópolis (RJ), em 28 de maio a comitiva imperial saiu de Ponta Grossa com direção a Castro. A baronesa de Tibagi de Palmeira colocou à disposição do imperador e da imperatriz “grande berlinda puxada por quatro cavalos”.

É o próprio Dom Pedro II quem relata como foi a viagem do trecho

Ponta Grossa-Castro. “Almocei às 06 e meia, e às sete horas partimos de Ponta Grossa para Castro. O caminho é bonito. O major Agnez deu à Imperatriz duas flores de campo muito bonitas. A aproxima-ção de Castro me agradou. Colina com árvores e algumas bonitas, grande açude ao lado da estrada. Atravessamos diversos lajeados”, relata o imperador.

A comitiva chegou a Castro “à uma hora da tarde”. Conforme conta Rosa Ribeiro, o imperador e a imperatriz foram recebidos na entrada da cidade “por uma comi-tiva de homens ilustres, entre eles o comendador Manoel Inácio do Canto e Silva, neto do sargento-mor José Felix da Silva, aquele do ‘Drama da Fazenda Fortaleza’”, e ficaram hospedados na casa do juiz Manuel da Cunha Lopes Vasconce-los, “que tem uma livraria pública em sua casa com boas obras que empresta a pedido por escrito”.

Segundo o Jornal do Commer-cio noticiou à época, “em Castro se acham as maiores fortunas da

província”. “A exportação de Cas-tro consiste em erva-mate, gado para Curitiba e para o litoral e principalmente para a Fera de Sorocaba [SP]”.

DoaçãoDurante sua estada na cidade,

Dom Pedro II fez uma doação de 1,5 mil réis, sendo 500 para a igreja-matriz; 500 para as obras de uma escola primária; 300 para esmolas; e 200 para a Vila de Tibagi. O imperador doou também um jogo métrico de pesos e medi-das, e a imperatriz doou paramen-tos à igreja. Segundo Rosa Ribeiro, esses objetos encontram-se, atual-mente, no Museu do Tropeiro.

No dia da sua chegada a Castro, Dom Pedro II conta que ganhou “do Firmiano velas de cera muito bem feitas, ele cria abelhas [sic]”. O jantar foi servido “às 03 horas” e, depois, o imperador visi-tou “a igreja que está em reforma, antiga matriz que grande ficará muito decente”, e a Câmara Muni-cipal, que “com a cadeia embaixo não é má”. Em seguida, o passeio estendeu-se ao rio Iapó, onde Dom Pedro II notou que “a ponte de madeira está em mau estado e é caminho para São Paulo”. “O rio é piscoso e ao jantar me serviram o peixe tabarana. No passeio entrei no jardim onde vi uma bela figueira do antigo vigário Padre Damaso”, relata.

Chácara BaillyEm seu diário, Dom Pedro II

conta que conversou com “o fran-cês José Bailly”, que lhe pareceu “conhecedor de agricultura”. “Ofereceu-me uma bandeira cuja haste é dos produtos vegetais de sua plantação como centeio, cevada, trigo, aveia, vinha, batata, etc. Deu-me duas garrafas de vinho feito por ele com dois cachos de uva americana. Talvez Bailly seja aproveitável, mandei-o ao minis-tro”, relata.

A visita à chácara Bailly acon-teceu no sábado, 29 de maio. “Cinco horas. Acordei. O presi-dente informou-me bem do Bailly. Às 07 horas fui à sua propriedade, que veio com outros encontrar-me no caminho, que é mau nalguns lugares. Mostrou-me a aveia que colheu e a plantada está bem ver-dinha. Possui vacas e cento e tan-tos carneiros. Disse-me que são necessários 150 carneiros para estrumarem 01 acre. Quer vender a terra. Faz selas e tem 03 filhos”, diz Dom Pedro II. “Ouvi que a

cidade tem duas bandas de musica [sic]. Castro tem ruas largas e direitas. Disseram-me que cai bastante geada aqui, mas o dia de ontem teve manhã fresca”, relata o imperador.

Estrada de ferroO livro “D. Pedro II na Provín-

cia do Paraná, 1880”, do escritor David Carneiro (Jornal Diário dos Campos, 15 jun. 1971, Acervo Casa da Memória), citado pela historiadora Isolde Maria Wal-dmann em seu blog (isoldema-riawaldmann.blogspot.com.br), baseia-se em relatos de jornalis-tas que acompanharam a comitiva imperial durante a viagem. Conta o livro que a construção da estrada de ferro ligando Curitiba ao Porto de Paranaguá “era essencial para o desenvolvimento da Província e, desde 1865, falava-se na sua construção”. “Em junho de 1871, finalmente um contrato foi firmado entre o Barão de Mauá e conces-sionários para estudo da constru-ção da aludida estrada. A notícia da presença do Imperador e da Imperatriz na Província do Paraná provocou um grande movimento nos preparativos de vestes de gala e vestidos para tão importante visita. Na época, era presidente da Província o Dr. Manoel Pinto de Souza Dantas Filho, baiano de nascimento e deputado provincial por várias vezes”, narra o livro.

Segundo historiadores, por influência do Barão de Mauá, em 1871, Dom Pedro II interessou-se pelo projeto da ferrovia. Dois anos depois, a obra entre Paranaguá e Morretes foi iniciada. Na sequên-cia, representantes da Compagnie Génerale Chemins de Fér Brési-lien, concessionária da ferrovia, convenceram Dom Pedro II a via-jar ao Paraná para a inauguração,

4 QUINTA-FEIRA, 19 DE MARÇO DE 2015 Especial Castro QUINTA-FEIRA, 19 DE MARÇO DE 2015 5Especial Castro

E Dom Pedro II, quem diria, foi parar em CastroMAIO DE 1880

Vista geral da Chácara Bailly, que recebeua visita de Dom Pedro II, em maio de 1880

Casa da Chácara Bailly, recebeu a visita do imperador

Conforme narra David Car-neiro no livro “D. Pedro II na Província do Paraná, 1880”, a comitiva liderada pelo impera-dor permaneceu na Província do Paraná durante 20 dias, onde ele fez questão de visitar escolas, comerciantes, beneficiadoras de erva-mate e artesãos. Para des-locar-se pela província, muitas carruagens foram emprestadas à comitiva imperial pela nobreza local.

O embarque no Rio de Janeiro – então capital federal – foi em 17 de maio, a bordo do paquete Rio Grande, comandado pelo capitão-de-fragata José Alvim. Faziam parte da comitiva, além de Dom Pedro II e da imperatriz Dona Teresa Cristina, a baronesa da Fonseca Costa; o camarista Visconde de Tamandaré; o vere-ador-conselheiro José Caetano de Andrade Pinto; o médico Barão de Maceió; o conselheiro Buarque de Macedo, ministro da Agricul-tura; o deputado Antônio Alves de Araújo; a dama da Imperatriz, D. Leopoldina Werna de Magalhães Barbosa; e os “representantes da imprensa” J. Tinoco, do Jornal do Commercio; José Carlos de Car-valho, da Gazeta de Notícias; e Ernesto Matoso, do Cruzeiro.

A chegada a Paranaguá foi às 6 horas do dia 18 de maio, “com ruidosas manifestações de alegria por parte de mais de mil pessoas presentes no ato de desembarque”. O programa defi-nitivo e o itinerário foram publi-cados pela Gazeta de Notícias e previa o seguinte trajeto: dia 19, em Paranaguá; 20, em Antonina; 21, saída para Curitiba; 22, visi-tas aos principais estabelecimen-tos da capital, Museu Chácara Capanema e inauguração do novo hospital; e 23, visitas às colônias dos arredores de Curitiba.

A data de partida para a região dos Campos Gerais estava pre-vista para o dia 24, com pernoite em Campo Largo. O almoço, no dia 25, deveria ser em São Luiz do Purunã ou na ponte do Rio dos Papagaios, com pernoite em Pal-meira. “A chegada na [sic] cidade de Ponta Grossa estava prevista para dia 26, com visita às colônias russo-alemãs no dia 27. Dia 28 seguiriam até a cidade de Castro. [...] Dia 30 iniciarão a viagem de retorno para Paranaguá, através de Palmeira, Lapa e Curitiba”, relata o livro.

Imperador ficou 20 dias no Paraná

POR ONDE DOM PEDRO II PASSOU NO PR

17 de maio – saída do Rio de Janeiro18 de maio – chegada a Paranaguá20 de maio – viagem a Antonina21 de maio – chegada a Curitiba24 de maio – visita a Campo Largo25 de maio – visita a Palmeira26 de maio – viagem para Ponta Grossa28 de maio – chegada a Castro1 de junho – visita à Lapa2 de junho – passagem por Araucária (na época, chamada de “Tindiquera”)7 de junho – retorno para o Rio de Janeiro

(Fonte: Universidade Federal do Rio de Janeiro [UFRJ])

que deveria ocorrer na chegada do imperador a Paranaguá. No entanto, houve mudança na programação e a data foi transferida para 5 de junho, já no retorno da viagem.

Conforme o relato de Rosa Ribeiro, o convite para a inaugura-ção dos trabalhos da ferrovia tinha

o seguinte texto: “A Compagnie Génerale Chemins de Fér Brési-lien tem a honra de convidar a V. Excia. e sua Exma. família para assistir a [sic] inauguração dos trabalhos da Estrada de Ferro de Paranaguá a Curitiba que terá lugar nesta cidade, na Augusta presença

de SS.MM. Imperiais, e ao mesmo tempo assistir ao copo d’água que a companhia terá a honra de ofe-recer. Paranaguá, 17 de maio de 1880”. A ferrovia propriamente dita, no entanto, só foi inaugurada em 1885, com a presença da prin-cesa Isabel, filha do imperador.

Em 222 anos, Baily teve 15 donosQuando o imperador Dom

Pedro II passou por Castro, no final de maio de 1880, a Chá-cara Bailly já era uma proprie-dade quase centenária. Foi em 1º de abril de 1793 que a Câmara Municipal de Castro concedeu a Francisco Antonio de Menezes 50 braças de terra no Rocio da então Vila Nova de Castro. Nas-cia, assim, a história daquele pedaço de terra encravado na região central de Castro e que chega, hoje, a impressionantes 222 anos de idade com muita história para contar.

Conforme o relato da médica oftalmologista e historiadora autodidata Rosa Ribeiro, con-clui-se que a Chácara Bailly teve, até agora, 15 proprietários. Depois de Francisco Antonio de Menezes, seguiram-se: padre José Loureiro de Almeida (em 1802); padre José Loureiro da Silva (1813); Antonio Vicente da Cruz (1820); José Bernardo (data não precisa); José Joaquim Marques e Souza (1840); Dr. Feliciano Nepomuceno Prates (1850); e o comendador Joaquim Américo Guimarães, que vendeu o terreno ao imigrante francês José Bailly, conforme escritura lavrada em 1869.

Em 1884, quatro anos depois da visita de Dom Pedro II ao local, José Bailly vendeu a propriedade a Antonio Duarte de Camargo. Depois deste, foram donos da terra Veríssimo Duarte de Camargo e Maria Duarte de

Camargo, que, por fim, vendeu-a a Alberto Sleutjes.

Segundo conta a agente de viagens Camila Fiorillo Fernan-des, uma das atuais proprietárias da Chácara Bailly, foi seu avô materno, José Fiorillo, que com-prou a propriedade de Alberto Sleutjes, em 1973. Ela conta que a família morava no Rio de Janeiro (RJ) quando a sua mãe, Josema Fiorillo Fernandes, her-dou o terreno de seu pai. Mas a propriedade, que antes media 33 alqueires, acabou resumindo-se a uma área de um hectare. “É que, com o tempo, a gente foi dividindo, ou para vender, ou para lotear entre familiares”, diz Camila.

Vértebra de baleiaA reportagem do Página

Um esteve na Chácara Bailly, no início deste mês. O que chama a atenção é a preservação da casa principal, construída original-mente com taipa (técnica pela qual o barro é aglutinado hori-zontalmente em um trançado de madeira para formar a parede, com o auxílio de formas e pilões), e a conservação da mobília, que conta com móveis vindos da Fazenda Capão Alto – uma vez que, segundo Camila, ela é her-deira de três tias que eram donas daquela propriedade.

Em cada lado da porta prin-cipal, sob a varanda com pé-di-reito de mais de dois metros de altura, estão duas vértebras de baleia em formato de banquinho.

Diz a lenda que, em uma delas, muito provavelmente Dom Pedro II sentou-se.

A madeira dos batentes das portas é falquejada. Entre o asso-alho e o chão de terra batida, há um respiro de 90 cm. Na sala, quartos, copa e cozinha, há mui-tos móveis que vieram da fazenda Capão Alto. Na sala, em cima da cômoda, foi montado um oratório com várias imagens de santos, a maioria originária da Bahia. Tam-bém há uma pinha de madeira, oriunda do interior de São Paulo.

Os quartos são interligados. Em um deles, há uma cômoda e um guarda-roupa com quase 200 anos de idade, ambos da Capão Alto. Na copa, sobre uma enorme mesa, há dois castiçais que vieram da capela da Capão Alto e um guarda-louças, origi-nário daquela fazenda. Na cozi-nha, há uma enorme mesa de jacarandá, que também veio da Bahia. Próximo à cozinha, em um local de passagem, há um lavabo com uma pia inglesa, também da Capão Alto, que muito provavel-mente tem mais de cem anos de idade. Na parede, azulejos ingle-ses vindos de uma demolição de Parati (RJ). Num dos cantos da copa, há uma roca e um pilão.

Visitas monitoradasCamila relata que a proprie-

dade ainda está fechada para visi-tação, mas a intenção é abri-la ao público a partir do próximo dia 1° de maio. “Serão visitas monitora-das, com hora marcada, para, no máximo, dez pessoas, destinadas ao público em geral, principal-mente turistas”, explica.

A ideia é abrir a chácara para visitações: com base na história do próprio local; na histórica visita de Dom Pedro II à pro-priedade; e na venda de produ-tos em uma boutique que Camila pretende instalar ao lado da casa principal.

Lavatório da época

Móveis antigos

Fotos: Divulgação /Local

As duas vértebras de baleia na entradaprincipal da casa da Chácara Bailly; segundo alenda, o imperador teria se sentado em uma delas

Page 5: Especial 311 Anos de castro

6 QUINTA-FEIRA, 19 DE MARÇO DE 2015 Especial Castro

HELCIO KOVALESKI

ESPECIAL PARA O PÁGINA UM

Uma identidade multiface-tada, devido às várias etnias e fases de imigração que tiveram início na cidade a partir da década de 1870 e também às mudan-ças históricas de paradigmas de desenvolvimento que ocorreram principalmente ao longo do século 20. Essa é, em linhas gerais, a “cara” contemporânea de Castro, que vem passando – pelo menos de quatro anos para cá – por um avassalador processo de transfor-mação social, econômico e cultural em decorrência da instalação da biorrefinaria da Cargill Agrícola S/A e da Evonik Industries – a primeira das empresas-satélite do complexo localizado na região do Cruzo – e também da construção de um frigorífico de abate de suí-nos pela Cooperativa Castrolanda (em parceria com a Capal, de Arapoti, e a Batavo, de Caram-beí). O contraponto disso é que, muito embora o atual momento de Castro aponte para um futuro bem próximo e bastante promis-sor em termos de desenvolvimento econômico, embalado por uma redefinição do setor de turismo e do gradativo aumento da oferta de serviços, é completamente incerto o caminho que essa identidade irá tomar – mesmo que amalgamada ao longo de décadas.

Essa é a síntese da análise de um dos mais argutos observado-res da história de Castro – a de passado remoto e a contempo-rânea –, e que pela terceira vez integra o primeiro escalão da Prefeitura: o arquiteto e urbanista Jaime Pusch, que desde janeiro de 2013 está à frente da Secretaria

de Desenvolvimento Urbano.A discussão sobre a identi-

dade de Castro vem bem a calhar neste mês em que a cidade come-mora 311 anos. Foi em 19 de março de 1704 que o capitão-mor Pedro Taques de Almeida e sua família notabilizaram-se por terem sido os primeiros a pedir a doação de terras à Coroa Portu-guesa para colonização. “Nessas terras, iniciou-se a construção de uma capelinha, hoje a atual Igreja-Matriz Senhora Sant’Ana”, informa o site da Prefeitura (www.castro.pr.gov.br).

Jaime Pusch vai direto ao ponto: “Eu acredito que Castro é uma cidade que está procurando sua identidade. Mas não a iden-tidade perdida, a velha Castro das barrancas do rio Iapó, dos bancos de areia”. E, diferente do que afirmam historiadores, Jaime

tem outra visão do tropeirismo Segundo ele, essa atividade itine-rante desenvolvida por grupos de tropeiros durante a época do Bra-sil Colônia não foi um ciclo econô-mico, mas uma atividade paralela. “O tropeiro em si é tratado como uma figura meio épica. Mas ele foi um comerciante rural que se movimentava para transportar algum tipo de mercadoria. No nosso caso, aqui, eles transpor-tavam mulas. Compravam esses animais na região de Viamão [no Rio Grande do Sul] e vendiam-nos em Sorocaba [em São Paulo, na chamada ‘Feira de Muares’]”, relembra. “Acontece que eles eram nômades, e o nomadismo não faz cidade. Logo, Castro não pode ser associada ao surgimento de uma cidade, de uma cultura como iden-tidade, por um nômade”, argu-menta.

Na visão de Jaime, foi o comércio o agente fundador de Castro “Quando as pessoas se estabelecem para fomentar as tro-cas é que começam as cidades. E Castro não é diferente de cidade nenhuma do mundo. O funda-mento é o centro comercial, onde as pessoas se encontram, onde promovem as suas trocas e as dos seus descendentes”, afirma.

Jaime lembra que a primeira ocupação da região de Castro é oriunda do Vale da Ribeira, principalmente das cidades de Cananeia e Iguape, inicialmente à procura de minerais – ouro na Ribeira e diamante no Vale do Tibagi. “Posteriormente é que se começou a usar esses caminhos como trânsito de cargas e mer-cadorias”, explica. “Eu acho que a identidade inicial de Castro é essa: um pequeno polo comercial à beira de um rio formoso, que enchia, e por onde passavam tro-peiros”, diz.

Jaime conta que a primeira grande transformação de Castro aconteceu entre meados de 1870 e meados de 1880. “O primeiro grande passo de transformação

da economia local e das rela-ções comerciais como um todo foi a chegada dos imigrantes euro-peus – inicialmente, poloneses e, depois, lituanos, ucranianos, russos, alemães, boêmios (aus-tríacos) e dinamarqueses, segui-dos dos italianos e libaneses. Eles fizeram a nossa identidade, construíram a nossa região. E, nesse período, Castro começou a experimentar o desenvolvimento industrial, porque esse pessoal era laborioso”, explica.

Essa primeira leva de imi-grantes vai até a Segunda Guerra Mundial. Castro abandona esse ciclo de industrialização em mea-dos do século 20. “Nos anos 1940 já declina isso e, nos anos 1950, Castro experimenta uma retomada da agricultura, só que com uma nova visão”, diz. Foi a segunda onda de imigrantes que a cidade teve, de holandeses vin-dos direto da Holanda e de japo-neses transferidos de São Paulo para cá. “Os holandeses vieram a Castro com uma nova visão de agricultura: uma visão comercial. Devemos essa mentalidade do agronegócio em grande parte aos holandeses, e também aos japo-neses. Nós não tínhamos essa dimensão da nossa agricultura e da nossa pecuária. Ela não era ‘empresariada’, e sim ‘fazen-dada’. E eles abriram espaço para o aporte de tecnologia”, afirma.

Para Jaime, agora que Castro está retomando o perfil econô-mico de identidade industrial, a cidade terá algumas “mazelas” para enfrentar. A primeira delas é que o processo de industriali-zação está sendo muito rápido, “e a cidade não está suportando acompanhar isso”. “Está doendo.

Por isso, temos que fazer pla-nos estratégicos para enfrentar a mutação imediata”, diz. Como exemplo, ele cita o sistema viá-rio local: em 20 anos, o número de veículos na cidade aumentou de 12 mil para 35 mil. “E nesse mesmo período, não se aumentou um metro de rua. Estamos com as mesmas ruas de 20 anos atrás”, observa. Para ele, esse “quase boom” ainda está cabendo na cidade. “Daqui a pouco, não cabe mais. Agora, para uma cidade do porte de Castro absorver, sozi-nha, empresas como a Cargill e a Evonik é um parto a fórceps. Porque é pesado, oneroso. Mas o município precisa disso. Tem que aceitar essa realidade porque é uma perspectiva de redenção, no entendimento comum. Então, tem aquela história do ‘oba-oba’, e do outro lado, do ‘epa-epa’”.

Conforme a análise de Jaime, o que está acontecendo em Cas-tro não uma revolução, mas uma transformação cultural. “Eu não sei com que resultados. Não acredito muito nessa história de vocação. Acho que existem as condições objetivas para que determinada coisa”, conclui.

Apenas para acrescentar outro aspecto à discussão. Já é de conhecimento até do mundo geológico da cidade que uma das origens do seu nome é uma homenagem a Martinho de Melo e Castro, ministro dos Negócios Ultramarinos de Portugal entre 1785 e 1790. No entanto, é a outra origem etimológica da pala-vra “Castro” que interessa aqui: em latim, “castru” significa “forta-leza”. Se a identidade castrense vai seguir esse sentido da palavra, só o tempo vai dizer.

Jaime Pusch: “Tem aquela história do ‘oba-oba’, e do outro lado, do ‘epa-epa’”

Agora que Castro está retomando perfil econômico de identidade industrial, terá de enfrentar algumas ‘mazelas’

Identidade multifacetada, mas incertaCOM OS OLHOS PARA O FUTURO

“Acontece que eles [os tropeiros] eram nômades, e o nomadismo não faz cidade

Page 6: Especial 311 Anos de castro

QUINTA-FEIRA, 19 DE MARÇO DE 2015 7Especial Castro

HELCIO KOVALESKI

ESPECIAL PARA O PÁGINA UM

Um dos setores que vem sentindo na pele a intensa movi-mentação causada pela vinda de grandes empresas e indústrias a Castro é o de hotéis. Não somente devido à necessidade de mais leitos, mas também à carên-cia de um atendimento receptivo de qualidade aos turistas que chegam à cidade. A percepção geral é de que a atual rede hote-leira não está mais comportando o afluxo de turistas que chegam ao município. Já são corriqueiros casos de pessoas de fora que che-gam aqui e têm de hospedar-se em municípios vizinhos porque a ocupação nos hotéis em Castro está lotada.

De acordo com o Setor de Tributação da Prefeitura, exis-tem hoje em Castro 15 empre-endimentos hoteleiros – nove hotéis, cinco pousadas e um hotel-fazenda. Um estudo feito em 2013 pelo Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa do Paraná (Sebrae/PR) aponta que há três mil leitos, atualmente, no município.

O secretário municipal de Indústria, Comércio e Turismo, Rodrigo Morais da Silva, conta que os hotéis de Castro estão trabalhando em “carga máxima”. Segundo ele, entre segunda e sexta-feira a ocupa-ção passa dos 90%. “E o grande responsável por isso é o turismo de três modalidades: técnico, de negócios e de eventos. São pessoas de fora, principalmente da Cargill [Agrícola S/A], da Evonik [Industries] e da [Pin-céis] Tigre [S/A], além de empresários, produtores rurais, engenheiros agrônomos e vete-rinários ligados à Castrolanda [Cooperativa Agroindustrial] e à Fundação ABC e gente que procura a Prefeitura de Castro”, afirma.

A turismóloga Zulmeia Fer-reira Pinheiro é mais categórica. “A atual rede hoteleira de Cas-tro não comporta a demanda de turistas, de qualquer natureza, que a cidade vem recebendo nos últimos anos”, diz. Essa constatação é reforçada pela experiência de Zulmeia, que é consultora de desenvolvimento setorial e planejamento estra-tégico do Serviço de Apoio à Micro e Pequena Empresa do Paraná (Sebrae/PR), em Curi-tiba. “Além de trabalhar na área, posso ser considerada como

uma ‘turista de negócios’, pois tenho vindo a Castro com muita frequência desde, pelo menos, abril de 2013”, conta. “E posso garantir que, antes mesmo dessa movimentação causada pela vinda de grandes empresas, já existia na cidade um ‘estado de coisas’, com a afluência de profissionais em visita à Cal-par [Calcário Agrícola S/A], à Castrolanda, à Fundação ABC e à Tigre”, complementa. O que vem acontecendo nos últimos anos, segundo ela, é uma “inten-sificação” dessa movimentação, com a instalação da Cargill e da Evonik e a construção do frigo-rífico da Castrolanda.

O arquiteto e urbanista Jaime Pusch, secretário municipal de Desenvolvimento Urbano, é mais categórico, ainda. Segundo ele, em Castro está havendo um descompasso entre os locais de hospedagem e os centros de atração turística. “Também não temos uma politica de turismo receptivo”, afirma. “É fato que a rede hoteleira não comporta a quantidade de turistas que vêm pra cá, mas eu não sei quantos leitos seriam necessários para suprir isso”, diz.

Jaime aponta para a necessi-dade de se promover o turismo não eventual, não sazonal, no qual o turista fique na cidade por um período superior a meio-dia – tempo médio de permanência do turista em Castro, hoje. “Ele dá uma passeadinha e tchau. É ruim para quem? Então, o empresário que se equipar para ter oferta suficiente para suprir a demanda somente no pico, ficará o resto do ano com uma taxa de lotação muito baixa, o que não é lucrativo”, argumenta. “Tem gente que, durante o Agroleite, se hospeda em Ponta Grossa, em Piraí do Sul. Usa a capacidade dessas cidades para se hospedar”, observa.

Vanderlei de Araújo, pro-prietário do Hotel-Fazenda das 100 Árvores e presidente da Associação das Empresas de Turismo de Castro (Castrotur), confirma que os hotéis castren-ses operam com um índice de mais de 90% de ocupação entre segunda e sexta-feira. Segundo ele, com a vinda de novas empre-sas à cidade, o que houve foi um aumento da capacidade física da rede hoteleira na ordem de 30%. “O faturamento também aumentou, na faixa entre 30% e 40%”, observa. Ele lembra que, pelo fato de a demanda em alguns hotéis ser de mão de obra técnica, a procura é mais por pernoite. “Trata-se de gente que só vem à cidade para pres-tar serviço por um período de tempo muito pequeno”, explica. Ele observa, no entanto, que o aumento da quantidade de leitos é mais necessário na região cen-tral da cidade. “As regiões mais afastadas do Centro estão bem contempladas”, explica.

Zulmeia Pinheiro concorda em parte com essa afirmação. “Tudo depende do motivo que traz o turista à cidade”, diz. Para Thaisa Cunninghan, turis-móloga da Secretaria Munici-

pal de Indústria, Comércio e Turismo, “a procura dos turis-tas é por lugares onde haja mais equipamentos, como lojas, res-taurantes e bares”.

“Eu não tenho condição de dizer se essa afirmação está cor-reta ou não”, diz Jaime Pusch. “Temos alguns meios de hos-pedagens tradicionais aqui no Centro, que de certa forma suprem essa demanda perma-nente. Mas, nos picos, ela não suporta”, afirma. “Faltam mais leitos, sim, porém, não temos um inventário, o que deverá acontecer até o final do ano”, garante.

ReservasO empresário Arent Slomp,

proprietário do Grande Hotel, localizado no Centro e que está no ramo há 28 anos, tem uma

avaliação um pouco diferente da de Vanderlei. Segundo ele, a rede hoteleira de Castro chega a dar conta do afluxo de turistas porque sempre há alguns leitos sobrando devido ao fato de que muitos turistas fazem a reserva, mas acabam não vindo à cidade. “No meu hotel, sempre tem duas ou três camas sobrando porque algum cliente não veio. E isso é algo que acontece também em outros hotéis”, observa.

‘Customização’A empresária Valdemara

Seifarth, sócia-proprietária do Hotel-Pousada Rio Iapó, loca-lizado na Colônia Santa Clara, relata que 90% da ocupação em seu estabelecimento é formada por turistas de negócios – fun-cionários de uma empresa de Santa Catarina que estão em Castro por conta do frigorífico de abate de suínos que está sendo construído pela Cas-trolanda, em parceria com a Capal, de Arapoti, e Batavo, de Carambeí. “Os 10 % restantes

são formados por turistas que vêm à cidade para descanso e lazer, vindas de Goiás e São Paulo com direção a Santa Catarina e Rio Grande do Sul”, conta.

Sobre a necessidade de a cidade ter mais leitos para dar conta da demanda, Mara pon-dera que isso já foi mais forte quando da vinda de muita gente de fora para trabalhar na constru-ção da unidade da Cargill. “Mas o que se percebeu, depois, é que, devido ao aumento do preço das diárias em alguns hotéis, as empresas preferiram alugar resi-dências para seus funcionários”, explica.

Novo hotelUm dos hotéis castrenses

que terá sua capacidade física aumentada é o Buganville, loca-lizado na praça Manoel Ribas. “O que me levou a aumentar a capacidade física do hotel foi intenção de atender a um mer-cado altamente competitivo, mas carente de espaços”, explica o empresário Claudio Kugler, pro-prietário do Buganville. Segundo ele, entre 2013 e 2014 houve uma ocupação muito alta da rede hoteleira de Castro.

Em um prazo de 60 dias, a atual capacidade do Buganville passará de 65 quartos para 144 – um aumento de mais de 100%. O investimento total é de R$ 6,5 milhões; 60% desse valor será financiado pelo Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo-Sul (BRDE).

Com relação à avaliação de Vanderlei de Araújo, Kugler diz que não concorda. “O empresá-rio tem que ter liberdade de abrir seu empreendimento onde ele quiser”, avalia.

Grande Hotel está localizado no centro de Castro

Em Castro são quinze empresas do setor hoteleiro

Divulgação

Castro não comporta afluxo de turistasREDE HOTELEIRA

Thaisa Cunninghan, turismóloga da Secretaria Municipal de Indústria, Comércio e Turismo

“Procura dos turistas é por lugares onde haja mais equipamentos, como lojas, restaurantese bares

Page 7: Especial 311 Anos de castro

8 Quinta-Feira, 19 de Março de 2015 Especial Castro