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A inexistência de obrigação tributária de recolhimento da contribuição social de 10% incidente sobre o saldo do FGTS * Por: Dra. Lirian Cavalhero NO ANO DE 2001, AS EMPRESAS (POR MEIO DE suas representações sindicais nacionais), foram chamadas pelo Poder Executivo a participar da negociação de um acordo nacional com os trabalhadores e o governo, para solucionar a questão dos resíduos inflacionários ou expurgos advindos dos Planos Econômicos, denominados de Plano Verão e Plano Collor, declarados devidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Após acirradas negociações, com apelos do go- verno alegando que não havia disponibilidade finan- ceira para o pagamento, tanto os empresários quanto os trabalhadores resolveram colaborar e aí foi fechado um acordo nacional, com as representações dos trabalhado- res concordando em receber tal correção em parcelas, e com as empresas concordando em fazer contribuições temporárias e excepcionais, até que o governo terminasse de cumprir o acordo de parcelamento. Com base nesse acordo nacional e tripartite, a União apresentou um projeto que resultou na Lei Complementar (LC) n.º 110/2001, que estabeleceu uma contribuição de 10% em caso de despedida do empregado sem justa causa, e a contribuição de 0,5% sobre a folha de pagamento por 60 meses, conforme cálculos do governo, com a finalidade específica de cobrir as despesas com os expurgos inflacionários decorrentes dos citados planos econômicos. Essa LC prevê que o prazo de duração dos recolhimentos da contribuição de 0,5% seria de 60 meses (forma de lei temporária – prazo já expirado). Já a contribuição de 10% também se encerrou em julho de 2012. Embora previsto na LC que as despesas com os Termos de Adesão poderiam ser diferidas contabilmente pelo prazo de até 15 anos, o Agente Gestor do FGTS – Caixa Econômica Federal, no Ofício nº 102/2013 enviado ao Ministro da Fazenda, Guido Mantega, em 8 de maio de 2013, informa que “(...) de fato encerrou-se em julho/2012 os reflexos patrimoniais provenientes do diferimento de que trata o art. 9º da Lei Complementar nº 110/2001”. Ocorre que mesmo tendo se exaurido a finalidade, a cobrança da referida Contribuição Social perdura de forma totalmente irregular e ilegal. A vinculação da criação da contribuição de 10%, elevando a condição desta LC a de uma lei excepcional e, portanto, sem efeitos após exauridos os motivos de sua edição, consta de confissão escrita dos ministros do Trabalho e Emprego e da Fazenda, juntamente com o Presidente da República (à época, Fernando Henrique Cardoso), bem como do Presidente do Senado, e confirmado pelo Supremo Tribunal Federal, em mensagem datada de 29 de março de 2001. Constam ainda nos autos da ADI 2.556-DF registros do relator, ministro Moreira Alves, sobre a finalidade das 8 HIGIPLUS | 4º TRIMESTRE/2014 ESPAÇO JURÍDICO

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Page 1: ESPAÇO JURÍDICO A inexistência de obrigação tributária de ... · Supremo Tribunal Federal (STF). Após acirradas negociações, com apelos do go- ... o Agente Gestor do FGTS

A inexistência de obrigação tributária de recolhimento da contribuição social de 10% incidente sobre o saldo do FGTS

* Por: Dra. Lirian Cavalhero

NO ANO DE 2001, AS EMPRESAS (POR MEIO DE

suas representações sindicais nacionais), foram chamadas

pelo Poder Executivo a participar da negociação de um

acordo nacional com os trabalhadores e o governo, para

solucionar a questão dos resíduos inflacionários ou

expurgos advindos dos Planos Econômicos, denominados

de Plano Verão e Plano Collor, declarados devidos pelo

Supremo Tribunal Federal (STF).

Após acirradas negociações, com apelos do go-

verno alegando que não havia disponibilidade finan-

ceira para o pagamento, tanto os empresários quanto os

trabalhadores resolveram colaborar e aí foi fechado um

acordo nacional, com as representações dos trabalhado-

res concordando em receber tal correção em parcelas, e

com as empresas concordando em fazer contribuições

temporárias e excepcionais, até que o governo terminasse

de cumprir o acordo de parcelamento.

Com base nesse acordo nacional e tripartite,

a União apresentou um projeto que resultou na Lei

Complementar (LC) n.º 110/2001, que estabeleceu uma

contribuição de 10% em caso de despedida do empregado

sem justa causa, e a contribuição de 0,5% sobre a folha de

pagamento por 60 meses, conforme cálculos do governo,

com a finalidade específica de cobrir as despesas com os

expurgos inflacionários decorrentes dos citados planos

econômicos.

Essa LC prevê que o prazo de duração dos

recolhimentos da contribuição de 0,5% seria de 60

meses (forma de lei temporária – prazo já expirado). Já

a contribuição de 10% também se encerrou em julho de

2012. Embora previsto na LC que as despesas com os

Termos de Adesão poderiam ser diferidas contabilmente

pelo prazo de até 15 anos, o Agente Gestor do FGTS –

Caixa Econômica Federal, no Ofício nº 102/2013 enviado

ao Ministro da Fazenda, Guido Mantega, em 8 de maio de

2013, informa que “(...) de fato encerrou-se em julho/2012

os reflexos patrimoniais provenientes do diferimento de

que trata o art. 9º da Lei Complementar nº 110/2001”.

Ocorre que mesmo tendo se exaurido a

finalidade, a cobrança da referida Contribuição

Social perdura de forma totalmente irregular e ilegal.

A vinculação da criação da contribuição de

10%, elevando a condição desta LC a de uma lei

excepcional e, portanto, sem efeitos após exauridos

os motivos de sua edição, consta de confissão escrita

dos ministros do Trabalho e Emprego e da Fazenda,

juntamente com o Presidente da República (à época,

Fernando Henrique Cardoso), bem como do Presidente

do Senado, e confirmado pelo Supremo Tribunal

Federal, em mensagem datada de 29 de março de 2001.

Constam ainda nos autos da ADI 2.556-DF registros do

relator, ministro Moreira Alves, sobre a finalidade das

8 HIGIPLUS | 4º TRIMESTRE/2014

ESPAÇO JURÍDICO