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1 PROJETO DE LEITURA Autor: Toni Brandão Título: Televizinhos Ilustrador: Adão Iturrusgarai Formato: 13,5 x 20,5 cm N o de páginas: 128 Gênero: novela Elaboração: Shirley Bragança : Ficha Palavras-chave: vizinhos, ado- lescentes, solidariedade, respeito mútuo Temas transversais: pluralidade cultural; ética; orientação sexual. Interdisciplinaridade: Língua Portuguesa, Filosofia, Geografia, História, Artes, Matemática, Ciências, Educação Física e Língua Estrangeira Quadro sinóptico P P PR R RO O OJ J JE E ET T T O O O D D DE E E L L LE E EI I IT T TU U UR R RA A A Toni Brandão, autor já consagrado na ficção juvenil, pertence à linha- gem dos que, atentos ao real concreto e aos temas contemporâneos ou atraídos pelo registro realista da aventura hu- mana, vão além do imediato. De espírito inquieto e criador, Toni Bran- dão tem marcado presença na litera- tura com obras publicadas pela Edito- ra Melhoramentos – Televizinhos, Foi Ela/Ele Que Começou, Falando Sozi- nha, Guerra na Casa do João, A Pre- ferida do Rei, Como as Cabras Foram Domesticadas e Nzuá e a Cabeça, en- tre outros (alguns adaptados para CD- -ROM e audiolivros). Além disso, ele está presente, de maneira dinâmica, na área artística, desenvolvendo atividades corre- latas como roteiros para TV e adaptações de textos para CD-ROM e escrevendo es- petáculos para teatro, que já lhe rende- ram prêmios como APCA e Mambembe. É autor também de duas novelas de sus- pense e de mistério para a internet, am- bas veiculadas pelo site Terra: Crimes no Parque e Táxi. O autor Televizinhos – Toni Brandão Seu Raí é porteiro de prédio. Certo dia, é flagrado por dona Margarida, a síndica, assistindo à TV na portaria em companhia de alguns pré-adolescentes que moram no edifício. Esse aconteci- mento é suficiente para dona Marga- rida querer demiti-lo. Os amigos Kiko, Clara, Rita e Tuto entram em ação para convencer os moradores a impedir a de- missão. Com isso, acabam conhecendo melhor seus vizinhos e, nas conversas, entram em contato com assuntos muito importantes: paz, guerra, drogas, ética, sexo, meios de comunicação, migração e outros. Resenha A fragmentação da formação do ci- dadão preocupa educadores há algum tempo. Recentes apelos para reforma educacional focalizam a necessidade de se desenvolverem currículos que enfati- zem não só a aprendizagem conceitual, como também a prática social. A convicção entre os educadores é de que as experiências educacionais são mais autênticas e de maior valor para os alu- nos quando as leituras refletem a vida real, que é multifacetada – e não organizada em pacotes de assuntos arrumados. Na proposta a ser apresentada a se- guir, a leitura é a atividade que propi- Conversa com o professor >> 12 anos INDICAÇÃO: leitor crítico: ensino fundamental a partir de

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PRO

JETO

DE

LEIT

URA Autor:

Toni Brandão

Título: Televizinhos

Ilustrador: Adão Iturrusgarai

Formato: 13,5 x 20,5 cm

No de páginas: 128

Gênero: novela

Elaboração: Shirley Bragança

:

Ficha

Palavras-chave: vizinhos, ado-lescentes, solidariedade, respeito mútuo

Temas transversais: pluralidade cultural; ética; orientação sexual.

Interdisciplinaridade: Língua Portuguesa, Filosofi a, Geografi a, História, Artes, Matemática, Ciências, Educação Física e Língua Estrangeira

Quadro sinóptico

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Toni Brandão, autor já consagrado na fi cção juvenil, pertence à linha-gem dos que, atentos ao real concreto e aos temas contemporâneos ou atraídos pelo registro realista da aventura hu-mana, vão além do imediato.De espírito inquieto e criador, Toni Bran-dão tem marcado presença na litera-tura com obras publicadas pela Edito-ra Melhoramentos – Televizinhos, Foi Ela/Ele Que Começou, Falando Sozi-nha, Guerra na Casa do João, A Pre-ferida do Rei, Como as Cabras Foram Domesticadas e Nzuá e a Cabeça, en-tre outros (alguns adaptados para CD--ROM e audiolivros). Além disso, ele está presente, de maneira dinâmica, na área artística, desenvolvendo atividades corre-latas como roteiros para TV e adaptações de textos para CD-ROM e escrevendo es-petáculos para teatro, que já lhe rende-ram prêmios como APCA e Mambembe.É autor também de duas novelas de sus-pense e de mistério para a internet, am-bas veiculadas pelo site Terra: Crimes no Parque e Táxi.

O autor Televizinhos – Toni BrandãoSeu Raí é porteiro de prédio. Certo

dia, é fl agrado por dona Margarida, a síndica, assistindo à TV na portaria em companhia de alguns pré-adolescentes que moram no edifício. Esse aconteci-mento é sufi ciente para dona Marga-rida querer demiti-lo. Os amigos Kiko, Clara, Rita e Tuto entram em ação para convencer os moradores a impedir a de-missão. Com isso, acabam conhecendo melhor seus vizinhos e, nas conversas, entram em contato com assuntos muito importantes: paz, guerra, drogas, ética, sexo, meios de comunicação, migração e outros.

Resenha

A fragmentação da formação do ci-dadão preocupa educadores há algum tempo. Recentes apelos para reforma educacional focalizam a necessidade de se desenvolverem currículos que enfati-zem não só a aprendizagem conceitual, como também a prática social.

A convicção entre os educadores é de que as experiências educacionais são mais autênticas e de maior valor para os alu-nos quando as leituras refl etem a vida real, que é multifacetada – e não organizada em pacotes de assuntos arrumados.

Na proposta a ser apresentada a se-guir, a leitura é a atividade que propi-

Conversa com o professor

>>12anos

INDICAÇÃO:

leitor crítico:

ensinofundamental

a partir de

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Objetivos

ciará a integração de novas informações aos conhecimentos e experiências ante-riores na construção de signifi cados. A boa escrita e o pensamento cuidado-so e criativo andam juntos. Todo leitor que foi tocado por um texto conhece o prazer de uma nova realização, que faz com que ele reorganize, enriqueça ou reconstrua um conceito anterior.

Ler e escrever sobre determinado tema são atividades que permitem pu-xar os fi os, que um tratamento do tema pode deixar escapar, e tecer os pontos ou nós, necessários para entrelaçar no-vos fi os, ou seja, outros temas, a ser in-terligados à rede em construção.

Este suplemento oferece sugestões de projetos pedagógicos interdisciplinares para o livro Televizinhos, de Toni Bran-dão, unindo diversas áreas do conhe-cimento e formando uma grande rede por meio da conexão temática.

Os projetos propostos têm como base os temas apresentados no livro e são diri-gidos a alunos do 6o ao 9o ano. Fica a cri-tério do professor aproveitar as atividades para outros projetos ou adaptá-las ao per-fi l da turma.

Acreditamos que o novo papel que a escola deve assumir para minimizar a fragmentação dos saberes, reduzir o

j

– Integrar várias áreas do conhecimento humano por meio da obra Televizinhos, de Toni Brandão (Melhoramentos).

Preparando a leitura

Sugere-se que as questões propostas sejam trabalhadas em sala de aula, co-mentando-se as respostas, já que, mui-tas vezes, questões interpretativas admi-tem respostas divergentes. Estas, aliás, são bastante proveitosas em relação à análise e à avaliação. Para tanto, é neces-sário que seja instaurado em sala de aula um clima de cooperação e interação.

O professor poderá fazer a atividade de “Compreensão e Expressão” com todos os capítulos, ou simplesmente es-colher os que abordam temas pertinen-tes ao que ele quer trabalhar.

Portaria

Trabalhando a leitura

a) O título do primeiro capítulo é “Portaria”.

• Chame a atenção dos alunos para os títulos dos outros capítulos. De que forma a associação dos nomes dos capítulos aos lugares onde residem os moradores do Edifício XXI facilita a compreen-são/organização do texto? >>

distanciamento entre eles e fortalecer sua prática social tem suscitado, em to-dos os que se preocupam com a educa-ção, uma mudança de postura em bus-ca de uma aprendizagem signifi cativa.

Nesse contexto, o papel do professor passa a ser o de mediar a construção de redes de conhecimentos. Para isso, ele precisa valorizar a experiência prévia dos alunos, incentivá-los a descobrir no-vos fatos, a relacioná-los, a servir-se dos conhecimentos já estruturados como ponto de partida para novos conheci-mentos, possibilitando o desenvolvi-mento das diferentes habilidades – con-ceituais, atitudinais e procedimentais.

Propomos, então, um trabalho de lei-tura do livro Televizinhos, de Toni Bran-dão, pois, com essa obra, é possível en-gajar o aluno em diversas práticas sociais de leitura, segundo as perspectivas das diferentes disciplinas, numa proposta in-terdisciplinar. Assim, a valorização da lei-tura será mais facilmente incorporada ao conjunto de atitudes do aluno, se todo professor valorizar essa atividade, tornan-do-a parte central da aula.

– Desenvolver atividades de práticas de leitura e escrita por meio de projetos interdisciplinares.

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sões coloquiais são utilizadas pelos personagens, por exemplo:

“– Já tá no máximo que a síndica do prédio deixa! Se aumentar mais, vai sujar pro Seu Raí.” (p. 8)

“– Se liga, Kiko! O que tá atrapalhan-do é essa sua voz de taquara racha-da!” (p. 9)

Após a identifi cação dessas expres-sões, proponha (individualmente ou em dupla) as seguintes questões:• Por que, em sua opinião, alguns per-

sonagens, em determinadas situa-ções, utilizam essas expressões?

• Você(s) acha(m) que essas expressões coloquiais poderiam ser utilizadas em qualquer situação? Comente.

• Faça(m) um levantamento de algu-mas gírias e expressões coloquiais que aparecem no texto. Em seguida, procure substituir essas expressões por outras de linguagem formal, sem alterar o sentido.

Apartamento 53a) “Começamos tocando a campainha

do apartamento 53, onde o Fernan-do, um jornalista que escreve sobre esporte, mora sozinho.” (p. 17)

• Peça aos alunos que, em grupo, re-leiam trechos do livro e analisem:

• Há alguma relação entre a estru-tura da obra e o enredo do livro Televizinhos? Discuta com a clas-se a opção do autor.

b) ...reparem no garoto de camiseta vermelha listrada, no canto esquerdo do seu vídeo. Mesmo sendo um pou-co gordo, ele consegue pular igual às outras crianças! (p. 10)

• Pergunte aos alunos se eles perce-beram/entenderam a razão pela qual foi empregada diferente ti-pologia de letra (outra fonte) em alguns trechos deste capítulo.

• Traga algumas histórias em qua-drinhos para a sala de aula e tra-balhe os recursos gráfi cos e o for-mato dos balões utilizados pelos artistas gráfi cos.

• Em seguida, incentive os alunos a estabelecer conexão entre as diferentes formas gráfi co-visuais usadas nos quadrinhos e no texto Televizinhos.

c) Muitas expressões utilizadas pelos personagens são do registro colo-quial, ou seja, são expressões com vocabulário e sintaxe muito próximos da linguagem cotidiana.

Com os alunos, localize no texto al-gumas frases em que gírias e expres-

– o ângulo de visão utilizado pelo autor para dispor a ação e os per-sonagens na narrativa;

– a pessoa do discurso que con-duz a história.

Em seguida, incentive os grupos a apresentar suas conclusões.

b) O fato de o autor Toni Brandão en-focar a diversidade dos temas com linguagem acessível estimula a parti-cipação mais afetiva do estudante.

• Como um dos personagens do livro é jornalista esportivo, procure explorar, com os alunos, a produção desse pro-fi ssional. Incentive-os a trazer “cader-nos de esporte” de diversos jornais e observar a estrutura de uma notícia esportiva. Peça que comparem a re-dação da notícia nos vários jornais e, em seguida, proponha que, em gru-po, elaborem notícias esportivas da escola ou do bairro.

• Convide os alunos para assistirem a um espetáculo esportivo pela TV e a comparar a estrutura da notícia es-portiva impressa com a da televisiva.

• Segundo a maioria dos críticos, as no-vas tecnologias de comunicação es-petacularizaram ainda mais o futebol. Eliminou-se a necessidade de desloca-mento ao estádio; estes foram trans-

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portados para todos os pontos do pla-neta por meio de imensos telões. As tecnologias, portanto, construíram um novo olhar, uma nova forma de apre-ciar o espetáculo. Tornou-se indispen-sável uma quantidade imensa de esta-tísticas para descrever cada partida:

– Quantos chutes a gol? – Quantas faltas? – Qual a velocidade média dos jo-

gadores de cada equipe? – Qual a velocidade atingida pela

bola em certa cobrança de falta? Essa descrição do futebol em suas

partes estatísticas corresponde também a uma simplifi cação do ato de apreciar o esporte, em vá-rios sentidos:

– Como fi ca a arte do jogador, aquilo que há de mais subjetivo, mais individual, menos apto ao enquadramento numa classifi ca-ção tecnicista?

– Os critérios comparativos utiliza-dos pelos técnicos da mídia, ba-seando-se no confronto entre os objetivos pretendidos e os resul-tados alcançados, desencadeiam ou não turbulência emocional e afetiva nos jogadores?

• Leia para os alunos a opinião abai-xo sobre o assunto. Pergunte se eles concordam com o argumento de Ciro Marcondes Filho. Por quê?

• Faça uma sessão de música dessa cantora e estimule uma conversa sobre o estilo musical da artista. Explique o que é estilo musical.

A espetacularização do jogo de fute-bol cria outro jogo, quase que montado nos estúdios da emissora de televisão, ao qual o telespectador jamais assistirá no campo. O futebol no campo torna--se algo menos interessante, e isso, as-sociado a outros fatores de desestímulo da ida aos estádios – o aumento da vio-lência, o declinante hábito de concentra-ções públicas, as difi culdades de estacio-namento, o preço dos ingressos, estádios lotados, trânsito engarrafado –, faz com que a assistência tradicional ao esporte, a plateia, deixe de ser algo necessário. O jogo existe independentemente do pú-blico, e este, encerrado em sua casa, as-siste a um espetáculo construído só para câmeras de TV, como um jogo imaginá-rio, realizado nas gramas de plástico dos cenários televisivos.

(FILHO, Ciro Marcondes. Televisão. São Paulo: Scipione. p. 70.)

Observação: Caso exista interesse emsaber mais sobre a artista Cássia Eller, os alunos podem acessar o site www.cliquemusic.uol.com.br/artistas/cassia-eller.asp.

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c) “... Não estava muito alta, mas pare-cia que era de Cássia Eller”.

• Pergunte aos alunos se eles co-nhecem alguma música de Cássia Eller.

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Apartamento 121“– A senhora acha que o problema é

porque o Cris é o único gay do prédio?De novo, sem aparecer, o Cris falou:– O único gay assumido, você quer di-

zer, né?” (p. 31)• Observar como o autor conduziu o

assunto homossexualismo:– E os meios de comunicação, como

conduzem o assunto?– De acordo com o personagem Cris, a

televisão mostra gays cheios de tre-jeitos, com voz fi na, sempre ridicula-rizando-os, ou seja, apresenta seres estereotipados (superfi ciais e equi-vocados). Você(s) concorda(m) com essa opinião?

– Que outros estereótipos são apresen-tados pelos meios de comunicação?

• Proponha a produção de um painel fotográfi co de personagens estereoti-pados na mídia impressa e televisiva.

• Leia, no boxe ao lado, a opinião do professor Ciro Marcondes Filho sobre os estereótipos na TV. Depois, ana-lise: você concorda com o ponto de vista dele? Incentive a turma a criar um programa de humor nos moldes contemporâneos.

Na TV da era eletrônica, os modelos da primeira fase tornaram-se inviáveis para a es-trutura do humor, principalmente porque eram marcados pela noção de diferença: o rico e o pobre, o feio e o bonito, o bom e o mau, o baixo e o alto, o gordo e o magro, o cai-pira e o urbano, o culto e o ignorante. Em suma, os contrastes compunham o lado irô-nico dos fatos, exatamente porque partiam de um certo modelo de sociedade em que determinadas características destacavam-se como desejadas ou preferenciais, e outras, como negativas, que deveriam ser excluídas ou, no mínimo, ridicularizadas. O branco, alto, heterossexual, magro, moreno ou loiro, rico, culto, compunha uma espécie de mo-delo ideal de indivíduo, em relação ao qual todos os destoantes funcionavam como ob-jetos da pilhéria e do humor.

O negro, o homossexual, vez por outra a mulher, o pobre, o estrangeiro sempre foram objetos preferenciais dos programas humorísticos. Ocorre que nesse meio-tempo acon-teceram alterações na forma como a sociedade estrutura seus valores e seus graus de prestígio, de tal maneira que essas dualidades não conseguem mais provocar o mesmo tipo de gargalhada. (...)

O humor atual difere do antigo exatamente pela ausência do negativo, do indivíduo es-tereotipadamente ridicularizado e pela colocação de situações absolutamente corriquei-ras, normais, cotidianas de vida como fatos humorísticos. Sob o rótulo de humor apare-cem cenas que fazem parte do nosso dia a dia, da nossa política, e das quais rimos dian-te da televisão. Nesse sentido, a política, a economia, o esporte, a vida no trabalho, no lazer são fatos a ser humorizados – talvez por vivermos, sem o sentirmos nitidamente, em meio a um mundo, em essência, absurdo – devido ao desaparecimento da fronteira entre o que é seriedade e o que é humor.

(FILHO, Ciro Marcondes. Televisão. São Paulo: Scipione. p. 72-74.) >>

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“– Os garotos e garotas da idade de vocês estão crescendo, graças à televisão, só com banalidades na cabeça. Os pro-gramas da moda, esses reality shows, que dizem imitar a vida real, mas só mostram o que a vida tem de banal, não valorizam nunca as atividades que precisam de cérebro (...).” (p. 55)

“– ...A televisão mudou a humanidade para melhor! O século passado, o sé-culo XX, foi, sem dúvida, o século da informação... Há quem ache a televi-são um meio de comunicação alienan-te, erotizante, que só estimula o con-sumo e a superfi cialidade...“ (p. 66)

“– O telejornal é um outro exemplo! Em um país como o Brasil, onde quem tem dinheiro pra comprar jornais e revistas é uma parte muito pequena da população, como é que as pesso-as vão se informar, senão pelos tele-jornais?” (p. 67)

• Reúna-se com seus colegas para discu-tir as afi rmações abaixo:

– Em sua primeira fase, a televisão era caracterizada como um meio de comunicação em que as pes-soas viam o mundo. Usava-se a metáfora da janela: a televisão era uma janela aberta para o mundo.

– O que marca a segunda fase da televisão é o fato de sua transpa-rência desaparecer. Ela se torna opaca. Aquela janela que nos pos-sibilitava ver os mundos lá fora, de repente, é encoberta; surge em seu lugar todo um conjunto de programas que passa a simular o mundo.

• Observe que o autor do livro aponta divergências sobre a TV por meio dos argumentos da professora Teresa e do publicitário Eduardo, mostrando que o tema gera opiniões e sentimentos ambivalentes e contraditórios.

– Após o debate do tema, propo-nha que todos se envolvam num Júri Simulado: “TV, janela aberta para o mundo ou uma grande fábrica de produção de fantasias?”

A metáfora da teia de aranha pode ser usada para ilustrar a obra Televizinhos, de Toni Brandão, pois, nessa obra, as conexões são inúmeras, criando-se no processo um emaranhado de linhas cuja organização criativa do autor conduz o leitor por toda a trama do enredo.

O objetivo desta proposta é mostrar alguns exemplos de projetos interdisci-plinares que respondem a problemas lo-cais e tentam manter a integridade do conteúdo das disciplinas, estabelecen-do, ao mesmo tempo, conexões signifi -cativas entre elas.

Orientações geraisO processo de construção do projeto

pedagógico é fruto do trabalho coletivo que, ao mesmo tempo, organiza, articu-la e valoriza o trabalho individual. “Por-tanto, a proposta pedagógica da esco-la deve ser um esforço de construção coletiva envolvendo equipe de direção, professores, funcionários, alunos e pais; deve também favorecer a realização dos projetos individuais dos seus membros junto ao projeto coletivo da escola; deve ser construído num clima de diálogo e abertura e deve ser fl exível o sufi ciente para favorecer sua própria renovação.” (Kleiman, Ângela B.)

É importante que os alunos participem da discussão de questões relativas à or-

Explorando a leitura

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Apartamentos 32 e 141 Por dentro das opiniões...

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ganização e implementação do proje-to. Fazem parte dessas questões:

– decidir em quanto tempo, aproxi-madamente, cada etapa do projeto se desenvolverá e destinar certo tempo por semana para seu desenvolvimento;

– determinar o formato do produto fi nal (relatório de pesquisa, pinturas ou cartazes, maquetes, campanha de mobilização da escola, feira, livro etc.) e as formas de divulgação dos resultados (artigos no mural ou no jornal da escola, palestras, cartas à comunidade, notícia no rádio ou TV local etc.);

– elaborar um plano para atingir os resultados e um cronograma aproxi-mado para a realização;

– discutir os critérios que serão utili-zados na avaliação.

Levando em consideração as questões abordadas no livro Televizinhos, apre-sentaremos duas sugestões de organi-zação temática:

1. Pluralidade culturalO livro de Toni Brandão apresenta ao leitor referências culturais voltadas para a plura-

lidade, característica do Brasil como forma da ampliação de horizontes, valorizando o convívio pacífi co e criativo dos diferentes componentes da diversidade cultural. No apar-tamento 151, Dona Sarah, judia, ouve Ofra Haza; a moradora do 101, Dona Azize, é li-banesa; no 81, Sr. Rodrigo, de família negra, ouve Bob Marley; e a Sra. Robson, da co-bertura 2, sonha em voltar para a América.

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Expressões cultu-rais diversas. Mú-sica popular bra-sileira. Artes apli-cadas, em sua ex-pressão e em seu uso indumentário, utensílios, decora-ção de moradias.

Vivências socioculturais – brincadeiras, festas, celebrações sociais.

Diferentes formas de habitação/orga-nização espacial.

Relação e cuidados com o corpo em diferentes cul-turas: princípios alimentares, o que é bom de co-mer, o que se come, tradições culinárias, prepara-ção do corpo para práticas socioculturais.

Papel unifi cador da Língua Portuguesa.

A existência de cen-tenas de línguas di-ferentes no Brasil.

Diferentes culturas; Declaração do Di-reito da Pessoa Hu-mana.

Diferentes formas de organiza-ção político-social e econômica; Grupos sociais brasileiros.

Educação Física

Educação Artística

Geografi a

Ciências Língua Portuguesa

Filosofi a

História

PLURALIDADE CULTURAL

Língua Estrangeira

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2. MigraçãoA relevância do tema para a construção de uma identidade coletiva em relação ao

mundo e à globalização das relações é proporcional à sua relevância para a manutenção de valores e para o respeito mútuo de grupos diferentes numa sociedade em que gran-des levas de indivíduos veem-se constantemente forçadas a migrar de uma região para outra no país ou para longe de sua terra natal.

A obra Televizinhos aborda o tema migração com o personagem “Seu Raí”. Sua vida é desestruturada, em suas redes sociais, seus valores, suas formas de trabalho e de compor-tamento; por isso, seu “sonho” é retornar a sua cidadezinha, “lá no sertão da Bahia”.

1. Geografi a – De onde vêm e para onde vão as populações que migram? Onde se estabelecem? Quais fatores infl uenciaram a migração: ambientais, políticos, religiosos etc.?

Leitura cartográfi ca (mapa e atlas): lo-calizar as regiões brasileiras que mais enviam força de trabalho para fora do país ou mesmo para outros Estados brasileiros. Como vive essa população nos grandes centros urbanos?

2. Língua Portuguesa – Qual a língua falada no Brasil? Em sua opinião, há uma língua brasileira? Existem varia-ções entre o português falado no Sul do país e o falado no Nordeste? A lín-gua portuguesa, assim como qualquer língua, está sujeita a modifi cações, por causa de infl uências que podem ser linguísticas, ambientais, culturais e so-cioeconômicas. Na sua comunidade, ocorrem variações linguísticas entre os falantes? Há predomínio de qual nor-ma: culta ou popular? E os migrantes, utilizam as variedades regionais?

3. Literatura – Trabalhe textos po-éticos e narrativos sobre o tema. Por exemplo, fragmentos de Vidas Secas, de Graciliano Ramos.

4. História – Quais os motivos do êxo-do no Brasil e no mundo? Quais os pro-blemas das minorias no Brasil? Como

Educação Física

Migração/Imigração

Educação Artística

Geografi a Língua Portuguesa

Matemática

Ciências

História

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a migração afeta costumes e religiões? Que povos imigraram para o Brasil? Por quê?

O livro faz referência a Abraão. A que povo ele pertence? Por que razão eles precisaram migrar? Narre a história de Abraão e seu povo.

5. Educação Artística – Músicas (su-gestão: Brejo da Cruz, de Chico Bu-arque); fotos de Sebastião Salgado, que retratam as migrações pelo mun-do todo; pinturas (sugestão: A série Os Retirantes, de Portinari).

6. Ciências – Quais são as causas (ali-mentares, climáticas) das grandes mi-grações? Quais os fatores ambientais que propiciam a migração? Por que ra-zão os nordestinos deixam sua região? Fome? Falta de alimentos? Se a ener-gia dos alimentos vem do sol, por que é que no Nordeste faltam alimentos?

7. Matemática – Realizar um censo para verifi car taxas de imigração, re-presentação gráfi ca do número de imi-grantes em cada ano no país.

8. Educação Física – O professor Ni-colau Sevcenko, ao enfocar os grandes deslocamentos do início do século XX, afi rma: “Populações eram deslocadas rumo aos novos centros de produção, fazendo brotar cidades imensas da

noite para o dia. Nessas cidades, nin-guém tinha raízes ou tradições, todos vinham de diferentes partes do país ou do mundo. Na busca de novos tra-ços de identidade e de solidariedade, de novas bases emocionais de coesão que substituíssem as comunidades que cada um deixou, essas pessoas se veem dragadas para a paixão futebolística, que irmana estranhos, os faz comun-gar sonhos, consolida gigantescas fa-mílias vestindo as mesmas cores”.

Qual o papel do futebol na vida dos imigrantes que vieram para o Brasil? Quais times eles fundaram? Faça uma pesquisa sobre a origem de alguns ti-mes, seus hinos e escudos (por exem-plo, Palmeiras – Palestra Itália).

QUER SABER MAIS?Para um trabalho mais aprofundado

sobre “Projeto interdisciplinar” e os te-mas abordados na obra Televizinhos, de Toni Brandão, consulte as obras:

ARBEX, José. O Poder da TV. São Pau-lo: Scipione, 1995.

CHAUÍ, M. Conformismo e Resistên-cia. – Aspectos da cultura popular no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1986.

FILHO, Ciro M. Televisão. São Paulo: Scipione, 1994.

KLEIMAN, Ângela B. Leitura e Inter-disciplinaridade: – Tecendo redes nos projetos da escola. Campinas: Merca-do de Letras, 1999.

MORAN, J. M. Como Ver Televisão: – Leitura crítica dos meios de comuni-cação. São Paulo: Paulinas, 1991.

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Metodologia da InterpretaçãoVivemos em uma sociedade grafocêntrica, embora se saiba que essa posição conferida à palavra escrita não signifi ca exclusividade; não só porque há culturas que dela prescindem, mas também porque, na atualidade, confere-se à imagem uma nova dimensão. Mas isso não impede que nos aproximemos da escrita informativa ou poética – com certo respeito.Com o objetivo de possibilitar a construção da compreensão de diferentes textos, que abordam dos fatos mais simples aos mais complexos, dos mais concretos aos mais abstratos, valemo-nos da metodologia dos três olhares – Metodologia da Interpreta-ção – para auxiliar o ato da leitura. Essa metodologia tem sido vista como uma uni-dade tripartida em compreensão, interpre-tação e aplicação.

Assim, o primeiro momento, o da compre-ensão, quando se faz o primeiro contato com o texto e a apreensão dos seus refe-renciais, corresponderia ao nosso nível de leitura literal, no qual o aluno deverá reco-nhecer os elementos da superfície do texto, como personagens, espaço, tempo. Para isso, faz-se necessário, evidentemente, ter domínio do código da língua portuguesa.

O segundo momento, o da interpretação, quando o aluno, pelo exercício da herme-nêutica, dialoga com o texto, dá-se pela concretização de uma leitura mais apura-da, tendo por base o horizonte de expec-tativa da primeira leitura. Esse momento corresponde, para nós, ao nível da leitura

contextualizada, no qual o aluno deverá interpretar o texto narrativo.

O terceiro momento, o da aplicação, for-mado pelos dois precedentes, é o da re-cepção efetiva do texto, quando há forma-ção de julgamento estético e, com ele, a atualização do texto. Esse momento abar-ca dois níveis de leitura: o nível da leitura crítica, no qual o aluno deverá apreender o discurso temático e ampliar o seu hori-zonte de expectativa, dialogando com ou-tros textos, formadores de sua história de leituras e que abordem o mesmo tema, e o nível da metaleitura, no qual o aluno de-verá ter o domínio do conhecimento, pela apropriação do discurso metalinguístico.

Conceitos e teoria dessa metodologia po-dem ser aplicados à leitura do texto verbal e não verbal, uma vez que ela admite a inter-textualidade e a interdisciplinaridade; enfi m, o dialogismo entre textos de áreas diferen-tes, mas de conteúdos complementares.

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MOMENTOS DO OLHAR

1o MOMENTOOlhar receptivo

2o MOMENTOOlhar mediador

3o MOMENTOOlhar ativo

O que acontece Encontro do leitor com um mundo que não conhece

Encontro do leitor com o mundo signifi cativo

Encontro do leitor com o mundo

novo que agora conhece

O que faz

Uma leitura que apanha os elementos signifi cativos,

sinais, referentes

Uma leitura de diálogo com o texto, por meio

da pergunta e da resposta

Uma leitura de cruzamento do ver e do sentir, do exterior e do interior, ou seja,

cruzar experiências

Como faz Olha e vê Olha, vê, interroga e busca

Olha, encontra, associa, reúne,

interioriza, vê e lê

O que importa

Reconhecer os elementos signifi cativos,

sinais, referentes

O exame da realidade

representada, por meio do

questionamento da busca dos porquês, causas e motivos

A integração do novo que se vê e do antigo que é a experiência

do já visto, fusão de horizontes, ampliação de conhecimento

O que resultaCompreensão

VER-POR--CONHECER

InterpretaçãoVER-E-PENSAR

AplicaçãoVER-PENSAR-LER

Bibliografi a

JAUSS, H. R. A História da Literatura como Provocação à Teoria Literária. São Paulo: Ática, 1994.LONTRA, Hilda Orquídea Hartmann (org.) Leitura e Literatura Infantil - Questão do ser, do fazer e do sentir. Ofi cina Editorial do Instituto de Letras da UnB: FINATEC, 2000.ZILBERMAN, Regina (org.). Leitura - Pers-pectivas Interdisciplinares. São Paulo: Áti-ca, 1988.

Método dos três olhares à luz da estética da recepção apresentado no quadro a seguir:

Este projeto de leitura está com a Nova Ortografi a conforme o Acordo Ortográfi co da Língua Portuguesa