espaço farmacêutico - edição 15

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Revista do Conselho Regional de Farmácia do Estado de Santa Catarina Edição 15 - Ano 04 - Julho de 2014 A aprovação da Lei que define a Farmácia Estabelecimento de Saúde gera uma nova era para a profissão farmacêutica no Brasil. Os impactos serão sentidos ao longo dos próximos 5 anos, nas gestões públicas e privadas, nas universidades, nas farmácias e drogarias, hospitais e distribuidoras, indústrias e laboratórios. Veja, nessa edição, como esta história está sendo construída. E como você participou dela.

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Espaço Farmacêutico - Edição 15

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Page 1: Espaço Farmacêutico - Edição 15

1JULHO 2014ESPAÇO FARMACÊUTICO

Revista do Conselho Regional de Farmácia do Estado de Santa CatarinaEdição 15 - Ano 04 - Julho de 2014

A aprovação da Lei que define a Farmácia Estabelecimento de

Saúde gera uma nova era para a profissão

farmacêutica no Brasil. Os impactos serão sentidos ao longo

dos próximos 5 anos, nas gestões públicas

e privadas, nas universidades, nas

farmácias e drogarias, hospitais e distribuidoras, indústrias e laboratórios. Veja, nessa edição, como esta história está sendo

construída. E como você participou dela.

Page 2: Espaço Farmacêutico - Edição 15

2 JULHO 2014ESPAÇO FARMACÊUTICO

SIM, VOCÊ

MUDOU O MUNDO

Farmacêuticos, Conselhos Regionais, Sindicatos e Fenafar,

e todas entidades representativas da

categoria e acadêmicos de Farmácia agiram,

se mobilizaram e apresentaram

propostas concretas à nação para melhorar o acesso e a qualidade

da saúde pública brasileira. Depois de 20 anos de perseverança,

interferimos diretamente na realidade,

transformando nossa profissão e o país.

A Farmácia é Estabelecimento de

Saúde, no Brasil.Todos nós somos pais

desta revolução.O CRF-SC expressa

sua gratidão a todos farmacêuticos

brasileiros que fizeram história.

Page 3: Espaço Farmacêutico - Edição 15

3JULHO 2014ESPAÇO FARMACÊUTICO

EDITORIAL

A FARMÁCIA BRASILEIRA CHEGA

AO SÉCULO XXI

HORTÊNCIA SALETT MÜLLER TIERLINGPRESIDENTE DO CRF-SC

SILVANA NAIR LEITEVICE-PRESIDENTE DO CRF-SC

PAULO SÉRGIO TEIXEIRA DE ARAÚJOTESOUREIRO E SECRETÁRIO GERAL DO CRF-SC

O dia 02 de julho entra para a his-tória da profissão farmacêutica com a aprovação, na Câmara dos Depu-tados, da subemenda substitutiva ao PL 4385/94 que alça a farmácia ao status de estabelecimento de saúde. E o dia 16 de julho pela ratificação desta lei no Senado Federal.

“Foi um passo fundamental para o Brasil efetivar o direito da popu-lação à Assistência Farmacêutica, ao reconhecer o farmacêutico como o profissional qualificado para prestar a orientação sobre o uso adequado do medicamento nas farmácias e drogarias. Com a aprovação deste projeto, o Congresso atende à de-manda da sociedade que hoje vê o medicamento não mais como uma mercadoria, mas como um insumo de saúde”, declara a presidente do CRF-SC, Hortência Tierling.

Ainda na década de 90, o ab-surdo e miopia do projeto de lei apresentado pela então senadora Marluce Pinto, que isentava esta-belecimentos farmacêuticos da pre-sença do profissional farmacêutico, ia na contramão das demandas brasileiras de saúde pública. Me-dicamentos falsos ou com desvios de qualidade chegaram a ser vendi-dos em estabelecimentos privados ou postos púbicos sem a presença

obrigatória de farmacêuticos res-ponsáveis, apontando claramente o rumo de caos na saúde pública que tal situação agravaria.

Foram necessárias duas décadas de construção científica, sanitária e política para reverter esta realidade social, e afirmar que o medicamen-to não é um produto qualquer, a farmácia é um Estabelecimento de Saúde e o farmacêutico, um profis-sional de saúde.

Duas décadas de trabalho para fa-zer uma atualização do substitutivo global do deputado Ivan Valente, em uma síntese que, na linguagem legislativa, chama-se “subemenda aglutinativa”.

Os efeitos sociais da Lei, depois que for sancionada pela Presidência da República, - serão sentidos ime-diatamente.

Em Santa Catarina, a Lei acabará com a dúvida sobre a presença far-macêutica em farmácias hospitala-res, por exemplo – se tem farmácia tem que ter farmacêutico respon-sável e ponto final. E indica que, como Estabelecimentos de Saúde, as farmácias podem se integrar às redes de vacinação.

A lei assegura um direito que a Constituição insinuava em seu es-pírito, mas não impunha expres-

samente, do cidadão brasileiro à Assistência Farmacêutica, zelando pela produção, manipulação, trans-porte, armazenamento e dispensa-ção de medicamentos.

Trata-se, portanto, de um instan-te redefinidor da própria categoria, que irá ensejar mudanças profundas em grades curriculares, e na presta-ção de serviços farmacêuticos. Para o usuário, o cidadão brasileiro, o farmacêutico Norberto Rech, asses-sor da Presidência da Anvisa decla-ra que se estabelece um direito de cidadania essencial para ampliação dos direitos de acesso à atenção qualificada à saúde.

Para o deputado Ivan Valente (PSol-SP), “esta é uma vitória de uma visão de saúde pública, que combate uma visão mercadológica de saúde. Nós estamos atendendo a um direito cidadão do brasileiro de ter assistência farmacêutica inte-gral. Estamos criando um concei-to que cria novas exigências para a dinâmica de funcionamento destes estabelecimentos comerciais, que devem passar a combater a auto-medicação e a prática da empurro-terapia e que passarão a qualificar o atendimento através da presença, em tempo integral, do profissional farmacêutico habilitado”.

Page 4: Espaço Farmacêutico - Edição 15

4 JULHO 2014ESPAÇO FARMACÊUTICO

DIAGNÓSTICODA FARMÁCIA HOSPITALARA aplicação de fichas de verificação de orientação das condições do exercício profissional nos hospitais estaduais vai colaborar para mapear os níveis de complexidade nos ambientes hospitalares, orientando, assim, na definição do número de farmacêuticos necessários para garantir a segurança dos pacientes.

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5JULHO 2014ESPAÇO FARMACÊUTICO

Autoridade em medicamento: a aprovação do Projeto de Lei que institui a Farmácia como Estabelecimento de Saúde também reafirma o óbvio: o farmacêutico, e apenas ele, é autoridade em medicamentos, e por isso a Assistência Farmacêutica deve orientar a dispensação nos hospitais.recém-instalada Co-

missão de Farmá-cia Hospitalar do CRF-SC estabeleceu

como foco de trabalho a segurança dos pacientes hospitalares no acesso a medicamentos dispensados e ma-nipulados.

“Hospitais sem farmacêuticos como responsáveis técnicos correm riscos inaceitáveis, como receber lo-tes de medicamentos falsificados ou adulterados, ou produzir interna-mente medicamentos oncológicos, por exemplo, sem o devido conhe-cimento técnico, o que pode resul-tar em ineficácia ou até toxicologia do fármaco”, alerta o presidente da Comissão Júnior André da Rosa.

“A partir da aplicação das fichas para o mapeamento das condições dos ambientes hospitalares, o CRF-SC espera que esta Comissão Asses-sora auxilie a Diretoria do Conselho a agir estratégica e politicamente para assegurar a prestação de Assistência Farmacêutica aos pacientes de hos-pitais”, afirma a presidente do Con-selho, Hortência Tierling. “Uma sen-tença judicial transitada em julgado em 2001 barrou durante muitos anos a atuação do CRF-SC na fiscalização das farmácias hospitalares de até 200 leitos. Só depois da publicação da

Portaria 4283/10 do Departamento da Assistência Farmacêutica do Mi-nistério da Saúde, que reforça a obri-gatoriedade da presença de farma-cêuticos em hospitais, e nova decisão judicial emanada do Superior Tribu-nal de Justiça (STJ), foi que voltamos a fiscalizar as unidades hospitalares privadas com menos de 200 leitos”, diz a presidente do CRF-SC.

“Esta Comissão de Farmácia Hos-pitalar vai fazer um trabalho con-sistente e metódico, um trabalho de formiguinha, de esclarecimento e diálogo com gestores públicos e privados, para explicar a necessida-

de de Responsabilidade Técnica na compra e manutenção de estoques, verificação de validade e procedên-cia dos lotes, cuidados de armaze-namento e precisão na dispensação dos medicamentos das farmácias hospitalares”, explica Luiz Henri-que Costa, membro da Comissão.

Andiara Neuiwem, presidente da Regional SC da Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar e Serviços de Saúde ( Sbrafh) adianta que o CRF-SC vai realizar uma capacita-ção dos fiscais para que eles possam aplicar uma ficha de verificação e

orientação do exercício profissional dos farmacêuticos dentro dos hospi-tais. “Queremos que a presença dos farmacêuticos nos hospitais corres-ponda à complexidade do serviço a ser realizado. Hospitais de alta complexidade com 20 leitos de UTI podem depender dramaticamente de mais farmacêuticos do que hos-pitais de baixa complexidade com 50 leitos”, diz Andiara. “Portanto, é a complexidade do serviço, e não a quantidade de leitos, é o que deve orientar o número e a qualificação do profissional farmacêutico pre-sente”, conclui Hortência.

Page 6: Espaço Farmacêutico - Edição 15

6 JULHO 2014ESPAÇO FARMACÊUTICO

SBRAFH SC É INSTITUÍDA DURANTE O I FÓRUM CATARINENSE DE SERVIÇOS

EM FARMÁCIA HOSPITALAR

Da esquerda para a direita: Júnior André da Rosa, Andiara Neuwiem, Márcia Manfredi e Luiz Henrique Costa, que integram a Comissão de Farmácia Hospitalar do CRF-SC, juntamente com Noemia Liege Bernardo (ausente na foto).

O I Fórum Catarinense de Ser-viços em Farmácia Hospitalar, que reuniu cerca de cem profissionais, farmacêuticos e acadêmicos, deba-teu sobre as principais dificuldades do setor, e propôs ações com po-tencial para alavancar a farmácia hospitalar em Santa Catarina. A meta é auxiliar na valorização do farmacêutico, por meio do reconhe-cimento da importância de seu tra-balho por empregadores, gestores e por toda a sociedade.

No evento, foram empossados os membros da regional catarinense da Sociedade Brasileira de Farmá-cia Hospitalar e Serviços de Saúde (Sbrafh), e também apresentados os membros da Comissão de Farmácia Hospitalar do CRF-SC, instituída em abril deste ano durante plenária do Conselho em Florianópolis.

A programação teve início com a apresentação de Margaret Grando,

do Centro de Informações Toxi-cológicas de Santa Catarina (CIT-SC), que falou sobre a Política de Antídotos no estado. A garantia de assistência ao paciente intoxicado, na rede de Atenção às Urgências e Emergências, é uma conquista da saúde pública inaugurada por far-macêuticos. O colega Illton Willri-ch foi o primeiro diretor. A atual, Marlene, destacou que os farma-cêuticos hospitalares devem cobrar das instituições para que tenham antídotos nas unidades prestadoras de serviços de saúde, como é o caso da Farmácia Hospitalar.

Após debate e perguntas dos participantes aos palestrantes, foi aberto oficialmente o Fórum, com composição da mesa de autorida-des organizadoras e presentes no evento: Luiz Henrique Costa, re-presentando o Ministério da Saú-de; Marcelo Polacow Bisson, pre-

sidente da Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar e Serviços de Saúde (Sbrafh); Hortência Müller Tierling, presidente do CRF-SC; Anna Paula Batschauer, conselheira federal suplente do CRF-SC, que também representou o presidente do CFF, Walter Jorge João; Ronald Ferreira dos Santos, presidente da Federação Nacional dos Farmacêu-ticos (Fenafar); Cláudio Guima-rães, diretor do Centro de Ciências da Saúde da FURB; Nevoni Goret-ti Damo, coordenadora do curso de Farmácia da FURB; Corina Keller, representando a Vigilância Sanitá-ria do Estado de Santa Catarina; Andiara Neuwiem, representando os farmacêuticos hospitalares parti-cipantes no Fórum; Tércio Kasten, presidente da Federação dos Hospi-tais de Santa Catarina (FEHOESC) e Karina Luiza Luckmann, repre-sentando o SindFar-SC.

Page 7: Espaço Farmacêutico - Edição 15

7JULHO 2014ESPAÇO FARMACÊUTICO

Da esquerda para a direita: Hécio Kasten, do Censelho Nacional de Saúde; Karina Luiza Luckmann, Diretora do SINDFAR; Luiz Henrique Costa, do Ministério da Saúde; Marcelo Polacow Bisson, presidente da Sbrafh; Cláudio Guimarães, diretor do Centro de Ciências da Saúde da FURB e Hortência Müller Tierling, presidente do CRF-SC, dentre demais autoridades presentes na abertura oficial do Fórum

Cláudio Guimarães e Nevoni Damo, da FURB, ressaltaram a sa-tisfação em receber o evento, coin-cidindo no mesmo momento do aniversário de 50 anos da institui-ção, e falaram sobre a importância da participação de acadêmicos, para conhecerem, desde a graduação, a realidade do setor da farmácia hos-pitalar, e assim, atuarem mais prepa-rados no mercado de trabalho e mais conscientes de seu papel social.

Ronald, da Fenafar, destacou a capacidade técnica e profissional que Santa Catarina possui na área de Farmácia Hospitalar e lembrou a liderança do estado na conceituação da Farmácia como Estabelecimento de Saúde. “A assistência farmacêu-tica avançou muito no Brasil, mas ainda há muito a ser conquistado. Precisamos mostrar que não somos comerciantes, somos profissionais de saúde. Que medicamento não é um produto qualquer, é um insu-mo que garante o direito à saúde”, salientou.

A presidente do CRF-SC, Hor-tência Müller Tierling, agradeceu a parceria e o apoio de todas as enti-dades e profissionais envolvidos na organização do Fórum e destacou que, apesar do grande potencial já existente no estado, ainda há muito a ser melhorado na Farmácia Hos-pitalar. “Há muito a avançar, seja na inclusão de profissionais farma-cêuticos, seja na visão dos gestores e das instituições e no reconhecimen-to da sociedade. O CRF-SC somos todos nós, por isso é importante a participação de todos vocês nesse debate”, alertou.

O SindFar-SC, por meio da re-presentante Karina Luiza Luck-mann, conclamou os profissionais a procurarem o sindicato para relatar as dificuldades e para alinhar es-tratégias de articulação para novas conquistas.

A programação do primeiro dia terminou com a palestra do presi-dente da Sbrafh, Marcelo Polacow Bisson, que apresentou o histórico da profissão farmacêutica no mundo e no Brasil, relatando que o entendi-mento da Farmácia com foco no pa-ciente é bastante recente no país.

Polacow também informou sobre a formação da Sbrafh Regional de Santa Catarina, que será a 10ª no país. “A Sbrafh acredita que é fun-damental entender as realidades locais e regionais, para representar-mos os profissionais de forma mais eficaz e para articularmos de perto as mudanças necessárias”, explicou.

A Comissão de Farmácia Hospi-talar do CRF-SC foi instituída em reunião plenária do conselho em abril deste ano, e tem como objetivos realizar um diagnóstico do setor em Santa Catarina e propor uma polí-tica para qualificação e inclusão dos serviços farmacêuticos hospitalares

no estado. “É importante que todos os profissionais que tenham inte-resse em participar e em apresentar sugestões para a melhoria do setor, nos procurem, entrem em contato conosco”, salientou o farmacêutico Júnior André da Rosa.

A farmacêutica Silvana Maria de Almeida, apresentou a palestra “Ex-periência do Hospital Albert Eins-tein com a organização do serviço farmacêutico hospitalar”, relatando que diferentes tipos de dispensação convivem juntos no hospital, devido à sua dimensão e grande número de pacientes atendidos. Silvana tam-bém comentou sobre a acreditação

em qualidade médico-hospitalar da Joint Comission Internacional (JCI) que o Albert Einstein con-quistou em 1999 e contribui, junto com a busca pela segurança do pa-ciente, para estimular as equipes a evoluírem e buscar a modernização de procedimentos.

Page 8: Espaço Farmacêutico - Edição 15

8 JULHO 2014ESPAÇO FARMACÊUTICO

Corina Keller, representando a Vigilância Sanitária do Estado, apre-sentou resoluções e aspectos impor-tantes da legislação quanto à fiscali-zação de unidades hospitalares.

Hortência Tierling apresentou o contexto judiciário sobre a questão da exigência de farmacêuticos em hospitais: a Súmula 140 do Tribunal Federal de Recursos (TFR) conside-rava como “pequena unidade hospi-talar ou equivalente” as unidades com até duzentos leitos, amparada pela Portaria 316 de 26/08/1977, do Ministério da Saúde.

Com base nessa Súmula, a Asso-ciação dos Hospitais do Estado de Santa Catarina (AHESC) e a Fe-deração dos Hospitais e Estabele-cimentos de Serviços de Saúde do Estado de Santa Catarina (FEHO-ESC), haviam ingressado com mandado de segurança a fim de desobrigar os hospitais associados a realizarem registro junto ao CRF-SC e de desobrigar a contratação de farmacêutico responsável nos dis-pensários de medicamentos.

Com isso, o CRF-SC estava im-pedido de fiscalizar e exigir a con-tratação de farmacêuticos em hos-pitais de até 200 leitos. 17% dos hospitais catarinenses não têm farmacêuticos

como RT: segurança e saúde dos pacientes em risco.

Porém, a Portaria 316 foi revogada pela Portaria 4.283, de 30/12/2010, e atualmente a classificação dos hospitais é de que são “de pequeno porte” o “hospital cuja capacidade é de até 50 leitos”.

Com a nova portaria do Ministé-rio da Saúde, o CRF-SC retomou as ações de fiscalização de forma sistemática, exigindo a presença do profissional farmacêutico como nas unidades hospitalares com mais de 50 leitos.

“Precisamos divulgar o enten-dimento de que o trabalho farma-cêutico não é um gasto, e sim um

investimento que colabora para a segurança dos pacientes”.

A presidente do CRF-SC também opinou sobre a polêmica que rodeia a questão legal da presença de far-macêuticos em hospitais: “Pensar só em número de leitos para definir a presença ou não de farmacêuticos em hospitais é uma visão muito re-ducionista. É preciso que o número de farmacêuticos necessários seja definido conforme a complexidade dos serviços de saúde prestados”, defendeu Hortência.

“Estamos vivendo um novo mo-mento da Farmácia Hospitalar ca-tarinense e espero que com a nossa Comissão, com apoio da Sbrafh, SindFar-SC, Fenafar, e demais en-tidades, possamos conseguir os avanços necessários no estado com a inclusão de mais profissionais farma-cêuticos nos nossos hospitais. Como vimos aqui no evento, cerca de 17% dos hospitais catarinenses não pos-suem nenhum profissional farma-cêutico como responsável técnico perante o CRF-SC. E hospitais com serviços complexos possuem um nú-mero reduzido de farmacêuticos, o que pode comprometer a segurança dos pacientes internados nessas insti-tuições”, disse Luiz Henrique Costa.

Primeira reunião da Comissão Assessora de Farmácia Hospitalar aconteceu no final de junho na sede do CRF-SC

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9JULHO 2014ESPAÇO FARMACÊUTICO

ARTIGO TÉCNICO ANFARMAG

SIGA OSRASTROS

A Rastreabilidade do Processo Magistral. Artigo de Vagner Miguel, Gerente Técnico e de Assuntos

Regulatórios Anfarmag e Maria Aparecida Ferreira Soares, Farmacêutica do Serviço de Atendimento ao Associado

Anfarmag, editado pelo jornalismo do CRF-SC.

rastreabilidade é um conceito que surgiu devido à ne-cessidade de saber

em que local um produto se encon-tra na cadeia logística, sendo tam-bém muito usado em controle de qualidade.

Este conceito representa a capaci-dade de traçar o caminho da histó-ria, aplicação, uso e localização de uma mercadoria individual ou de um conjunto de características de mercadorias, através da impressão de números de identificação. Ou seja, a habilidade de se poder sa-ber através de um código numérico qual a identidade de uma mercado-ria e as suas origens.

Com isto em vista, a definição de rastreamento exige três dados básicos:

O produto necessita estar identifi-•cado - o que se está rastreando,

A origem deve ser conhecida - de •onde vem o produto que se está rastreando, eO destino deve estar definido - •para onde este produto será em-barcado/enviado.O sistema de rastreabilidade,

numa cadeia de produção, é base-ado no conjunto de documentos eletrônicos ou físicos, ordenados cronologicamente, demonstrando o recebimento/aquisição, posse, controle, transferência e disposição de um produto - o que permite a recuperação de todo seu histórico, assegurando a efetividade da gestão considerada ideal pela organização.

É fato que a rastreabilidade por si só não resolve todos os problemas da cadeia de valor, mas sem dúvida, estabelece a transparência necessária às medidas de controle, resgatando a confiança de consumidores e clientes

- um valor agregado que incorpora-do ao produto lhe confere diferen-ciação. Afinal, um sistema eficiente de rastreabilidade, junto aos atuais sistemas de monitoramento, políti-cas sustentáveis, e investimentos em tecnologias atrelados às ideias de de-senvolvimento sustentável, podem apresentar resultados consistentes no mercado global.

O rastreamento é um instrumen-to fundamental tendo em vista que, hoje, a identificação da origem das matérias-primas e das circunstân-cias em que se realiza a produção dos alimentos é bastante complexa. Esta indicação permite, ainda, no caso de surgir um problema de saú-de pública, identificar todo o lote contaminado e, se necessário, reti-rá-lo do mercado, bem como definir a responsabilidade de cada um dos intervenientes na produção.

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10 JULHO 2014ESPAÇO FARMACÊUTICO

CAPÍTULO V - CONDIÇÕES GERAIS

5.19. Todo o processo de mani-pulação deve ser documentado, com procedimentos escritos que definam a especificidade das operações e permitam o rastre-amento dos produtos.5.19.1. Os documentos normati-vos e os registros das preparações magistrais e oficinais são de pro-priedade exclusiva da farmácia e devem ser apresentados à autori-dade sanitária, quando solicita-dos.5.19.2. Quando solicitado pe-los órgãos de vigilância sanitária competentes, devem os estabele-

cimentos prestar as informações e/ou proceder à entrega de docu-mentos, nos prazos fixados a fim de não obstarem a ação de vigi-lância e as medidas que se fizerem necessárias.

CAPÍTULO VIII - DA MANIPULAÇÃO

Devem existir procedimentos operacionais escritos para ma-nipulação das diferentes formas farmacêuticas preparadas na far-mácia.8.1. A farmácia deve garantir que todos os produtos manipulados sejam rastreáveis.

CAPÍTULO XV - DA GARANTIA DA QUALIDADE

15.5. Documentação.A documentação constitui parte essencial do Sistema de Garantia da Qualidade.15.5.4. A documentação deve possibilitar o rastreamento de informações para investigação de qualquer suspeita de desvio de qualidade.15.5.7. Os documentos referen-tes à manipulação de fórmulas devem ser arquivados durante 6 (seis) meses após o vencimento do prazo de validade do produto manipulado.

ANEXO I

O processo magistral possui peculiaridades que devem ser registradas em cada fase de forma a garantir a qualidade do mesmo através do controle dos seus insumos ativos, dos insumos inertes e do processo com todas as etapas rastreáveis.

Permite, assim, uma intervenção rápida por parte das autoridades competentes. No caso do produto magistral, por ser individualizado e único, permite pesquisar e sa-ber, com precisão, se o processo utilizado e seu respectivo monito-ramento foram eficientes para as-segurar a qualidade preconizada do produto.

A Rastreabilidade, segundo pa-drões internacionais (ISO 8402

- 1994), é definida como a ca-pacidade de traçar o histórico, a aplicação ou a localização de um produto, através de informações previamente registradas. Rastrear é manter os registros necessários para identificar e informar os da-dos relativos à origem e ao desti-no de um produto.

Através do esforço organizado e documentado dentro da empresa, o processo rastreável garante as carac-

terísticas do produto, de modo que cada unidade do mesmo esteja de acordo com suas especificações.

A Rastreabilidade do processo é uma exigência Sanitária. A Reso-lução RDC 67, de 8 de outubro de 2007 (dispõe sobre Boas Prá-ticas de Manipulação de Prepara-ções Magistrais e Oficinais para Uso Humano em farmácias) traz as seguintes diretrizes em relação à rastreabilidade do processo:

ARTIGO TÉCNICO ANFARMAG

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11JULHO 2014ESPAÇO FARMACÊUTICO

A farmacotécnica magistral possui especificidades no seu processo que envolvem a utilização de doses mínimas de princípios ativos diversos, associados ou não, podendo haver diluições dos ativos, condições adequadas de homogeneização destes com os excipientes e cuidados em boas práticas, entre outras. Esta peculiaridade demanda o controle analítico do produto acabado e, dependendo do caso, o monitoramento do processo e sua consequente rastreabilidade.

A inclusão na rotina de vários procedimentos, registros, ordens de manipulação, fichas de especifica-ção, de referência e de análise pode se apresentar como um entrave ao processo e muitas vezes um blo-queio para a sua aplicação.

Contudo, considerando a impor-tância da rastreabilidade dentro do processo da Garantia da Qualida-de do medicamento magistral, é fundamental que o farmacêutico estabeleça os processos dentro do fluxograma do receituário da sua farmácia a aplique os controles e re-gistros necessários que viabilizam a rastreabilidade.

Os documentos de registro dos processos e procedimentos devem estar articulados entre si, em que cada documento possui informações específicas e não repetitivas em rela-ção aos documentos de interface.

Toda a sistemática de documen-tação também assegurará à farmá-cia a comprovação de sua qualidade quando necessário for para defesa perante inspeções sanitárias, denún-cias ou simplesmente para levanta-mento de possíveis não conformi-dades ante reclamações de clientes/usuários de preparações magistrais.

Certamente, o responsável pela Garantia da Qualidade da farmácia é o melhor profissional para con-

Preferencialmente, toda a documentação utilizada para registro de processos e procedimentos, bem como os documentos que descrevem tais ações devem possuir uma codificação estabelecida pela farmácia, obedecendo a um sequenciamento ou numeração ordenada e versão atualizada. É desta forma que a farmácia controlará o sistema documental e o atualizará sempre que necessário, sem perder o histórico dos registros anteriores.

Referência bibliográficaBRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC 67, de 8 de outubro de 2007Dispõe sobre Boas Práticas de Manipulação de Preparações Magistrais e Oficinais para Uso Humano em farmácias.

trolar todo o sistema documental farmacêutico, bem como atender às necessidades declaradas no parágra-fo anterior, acompanhar inspeções sanitárias, auditorias farmacêuticas, autoinspeções ou simplesmente efe-tuar correções contínuas e coerentes com os procedimentos da farmácia, os quais se alteram com o tempo e o

espaço, com os profissionais envolvi-dos e sua qualificação e com as neces-sidades de otimização dos processos internos do estabelecimento.

Assim, da qualificação dos forne-cedores à entrega das preparações magistrais finais ao cliente/usuário, é mister manter o acervo documen-tal correto, preciso e conciso.

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12 JULHO 2014ESPAÇO FARMACÊUTICO

O TRABALHO PENSADO SOB

A ÓTICA DO TRABALHADORAs conferências de saúde do trabalhador (macrorregionais, estaduais e nacional) representam oportunidades para a conquista de avanços

nas questões vinculadas à segurança, à saúde e à qualidade de vida do trabalhador. Por isso, a participação organizada e qualificada da categoria farmacêutica será definidora das condições de trabalho nos próximos anos.

Page 13: Espaço Farmacêutico - Edição 15

13JULHO 2014ESPAÇO FARMACÊUTICO

professor Cleidson Valgas é coordena-dor, em Santa Catari-na, das etapas estadu-

ais de conferências que precedem a 4ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador. Valgas avalia que, após a implantação do SUS, fica-ram estabelecidas a relevância e a significância do trabalho de equipes multiprofissionais. “Contudo, esse modelo de sistema de saúde trouxe com ele a necessidade de se redefinir os papéis de cada profissão. As fun-ções e atribuições do farmacêutico,

dentro desse contexto, estão sendo amplamente discutidas de forma a criar políticas que direcionem esse processo, a exemplo da Política Na-cional de Medicamentos e da Polí-tica Nacional de Assistência Farma-cêutica”, salientou Vargas.

Essa reconfiguração das equipes de saúde acarretou mudanças nas con-dições e nas relações de trabalho, e a Conferência é o fórum adequado para aparar as arestas e promover a prestação de serviços de qualidade à população com a garantia de segu-rança, de saúde, de bem-estar e de

qualidade de vida para o trabalhador.“Nesse sentido, as conferências

de saúde do trabalhador podem servir como espaços para ampliar essa discussão e definir encaminha-mentos importantes”, argumenta Cleidson Valgas.

A abordagem multiprofissional para aperfeiçoar a segurança e a saú-de do trabalhador deve contemplar os saberes técnicos, com a concor-rência de diferentes áreas do conhe-cimento e, fundamentalmente, o saber dos trabalhadores necessários para o desenvolvimento da ação.

Todos por um: equipes multidisciplinares são o futuro do trabalho em saúde.

A 4ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador e da Traba-lhadora –4ª CNSTT, deve propor diretrizes para a implementação da Política Nacional de Saúde do Tra-balhador.

“Considerando que a formulação e a implementação de uma política pública representam passos essen-ciais para o processo de transfor-mação de demandas sociais em

escolhas políticas, torna-se vital a participação dos trabalhadores nas conferências macrorregionais, es-taduais e nacional, mas essa parti-cipação deve ser qualificada, isto é, os trabalhadores precisam estar organizados e terem claramente de-finidas quais são as suas demandas”, sustenta Cleidson Valgas.

Nesse contexto, a complexidade da interrogação implícita é: quais

são as principais demandas dos trabalhadores brasileiros na atu-alidade? E quais são as deman-das específicas da categoria far-macêutica? Mais: quais possíveis contribuições dos profissionais farmacêuticos para as outras cate-gorias profissionais? O que pode auxiliar a segurança, a saúde e a qualidade de vida dos demais tra-balhadores?

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14 JULHO 2014ESPAÇO FARMACÊUTICO

Postas essas questões, convém ter em mente que os dados sobre aci-dentes de trabalho e doenças ocupa-cionais divulgadas com maior regu-laridade no Brasil são provenientes do Instituto Nacional de Previdên-cia Social (INSS). Essas informa-ções, naturalmente, cobrem apenas parte do universo atendido pelo SUS, e revelam apenas a realidade da parte formalizada da população trabalhadora de interesse para a vi-gilância epidemiológica em saúde do trabalhador.

No mundo e no Brasil, os números referentes à morbimortalidade por causas externas (vio-lências e acidentes, incluído os aciden-tes de trabalho) são preocupantes. De acordo com o Ministério da Saúde (MS) as despesas geradas para tratamento de saúde ou paga-mento de benefí-cios aos acidentados chegam a cerca de R$ 70 bilhões/ano.

Em média, cerca de 700 mil acidentes de trabalho são registrados no páis no país todos os anos, sendo 3 mil fatais (Ministério da Previdência). O Brasil ocupa a quarta colocação no mundo em mortes por acidente de trabalho (RENAST, 2013)

Em Santa Catarina, as causas ex-ternas foram, proporcionalmente, a terceira causa mais importante de óbito, contribuindo com 12,35%

do total, sendo a primeira causa na faixa etária mais jovem (entre 20 e 49 anos), tornando esses agravos um importante problema que pode ser evitado no âmbito da saúde pública.

Apesar dos avanços do SUS na disponibilização de informações na área da saúde do trabalhador, ainda persistem, especialmente nesta área,

fragilidades na qualidade dos da-dos, que dificultam a produção de informações precisas e úteis para a ação. “O resultado disso é a falta de definição de prioridades para aloca-ção de recursos e do planejamento e execução das atividades necessárias para a superação dos principais pro-blemas de saúde do trabalhador”,

pondera o coordenador estadual da 4ª Conferência.

A garantia da segurança e da saú-de do trabalhador somente é alcan-çada com a adoção de um conjunto de ações projetadas para eliminar e/ou reduzir o impacto dos riscos sobre a saúde do trabalhador, além de diminuir as condições insalubres

de trabalho e monitorar os ambientes, reduzindo,

consequentemen-te, as licenças

para tratamento de saúde e prevenindo

acidentes em serviço e doen-ças ocupacionais.

“Uma cultura de trabalho seguro e saudável começa com o compro-metimento efetivo dos empresários e gestores”, afirma Cleidson Valgas. “É preciso investir nesse campo com o mesmo empenho com que se investe na qualidade dos produtos ou no controle financeiro”.

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15JULHO 2014ESPAÇO FARMACÊUTICO

Trabalho do farmacêutico industrial: mudanças de matérias-primas, tecnologias e processos organizacionais para prevenir acidentes de trabalho.

As Conferências trabalham com a premissa de que a maioria dos problemas de saúde decorrentes do trabalho são potencialmente pre-veníveis. Mas a redução dos riscos depende de fomentar a substituição de matérias primas, de tecnologias e de processos organizacionais preju-diciais por substâncias, produtos e processos menos nocivos. As práti-cas de intervenção devem orientar-se pela priorização de medidas de controle dos riscos na origem e de proteção coletiva.

Reconhecer os riscos ocupacio-nais, portanto, é o primeiro passo para elaborar e implementar pro-gramas de segurança do trabalho e redução de riscos com o intuito de manter a qualidade de vida dos trabalhadores, especialmente os que atuam em locais insalubres.

A adoção de medidas preventivas é outro passo crucial para eliminar os riscos impostos aos trabalhadores. Consideram-se riscos ambientais de origem ocupacional os agentes físicos, químicos, biológicos, er-

gonômicos e mecânicos existen-tes em ambientes de trabalho que, em função de sua natureza, con-centração ou intensidade e tempo

de exposição, são capazes de causar danos à saúde do trabalhador.

“Além disso, existem os riscos so-ciais e psicológicos”, analisa Ronald Ferreira dos Santos, presidente da Fe-nafar e assessor técnico do CRF-SC.

Assim, as condições de traba-lho que incluem as características físicas da edificação e do ambiente (ventilação, temperatura, umida-de, mobílias, materiais utilizados), processo de trabalho, tipo de má-quinas e ferramentas, relações com chefia e colegas, tipos de proteções existentes, condições sanitárias, de refeições, de descanso, de lazer, en-tre outras, são determinantes para a garantia da segurança e saúde do trabalhador.

O conselheiro e coordenador da Conferência, Cleidson Valgas, e o presidente da Fenafar, Ronald Fer-reira dos Santos, propõem algumas perguntas ao mesmo tempo óbvias e inquietantes para reflexão:

Quanto vale o trabalho?: É preciso investir neste campo com o mesmo empenho que se investe na qualidade dos produtos.

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16 JULHO 2014ESPAÇO FARMACÊUTICO

Os riscos ocupacionais estão eli-minados ou pelo menos minimiza-dos? Todos os farmacêuticos têm a sua disposição Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e Equi-pamentos de Proteção Coletiva (EPC) adequados? Quais têm sido as estratégias utilizadas pelas far-mácias, laboratórios, indústrias e outros estabelecimentos de atuação do farmacêutico para prevenir os acidentes? Quantos farmacêuticos sofreram acidentes de trabalho em Santa Catarina em 2013? Quais foram os principais acidentes de trabalho e suas causas? Quantos farmacêuticos foram afastados do trabalho devido à ocorrência de acidente? Os acidentes de trabalho estão sendo notificados por meio da

Ronald Ferreira dos Santos, da Fenafar, e Cleidson Valgas, coordenador da etapa estadual da Conferência: muitas perguntas sem resposta no ambiente de trabalho.

e o seu ritmo de trabalho diário? Os equipamentos utilizados não são ultrapassados? O mobiliá-rio é adequado?

Cada vez mais vêm apa-recendo ou vêm sendo reconhecidas doenças re-lacionadas ao trabalho, principalmente aquelas que têm como fator de risco as condições ergo-nômicas, tipo postura no trabalho, movimentos repeti-tivos ou pressões por produção, potenciais geradores de adoeci-mento mental agravado ou desenca-deado pelo trabalho.

“O trabalhador precisa ter orgu-lho do que faz, sentir-se valoriza-do, para ganhar qualidade de vida

e bem-estar, não doenças. Tenho conversado com os colegas farma-cêuticos e percebo a falta de entu-siasmo em muitos deles em rela-ção à nossa profissão. Precisamos alcançar os patamares mínimos de trabalho decente, com jornadas de trabalho adequadas, remuneração justa, tratamento humano e risco muito baixo de acidentes e doenças, mas para isso, é fundamental união, organização, esforço e boas estraté-gias”, enumera Valgas.

A participação nas conferências de saúde do trabalhador represen-

CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho)? Quantos colegas foram incapacitados em decorrência de acidente de trabalho? A Comissão Interna de Prevenção de Acidente (CIPA) está estruturada na sua em-presa? Qual tem sido a efetividade da CIPA? A sua empresa tem pro-porcionado aos membros da CIPA os meios necessários ao desempe-nho de suas atribuições, garantin-do tempo suficiente à realização de tarefas? Não existe cobrança exage-rada por parte dos empregadores? Como tem sido a sua carga horária

ta um bom começo para construir esse caminho.

Segundo a presidente do Conselho de Saúde Nacional, Maria do Socor-ro, o momento é de disputa política em todos os espaços – no Legislati-vo, no Judiciário, no próprio gover-no – e esta disputa só pode ser feita com a participação de todos os ato-res. O tema central da Conferência, “SAÚDE DO TRABALHADOR E DA TRABALHADORA, DI-REITO DE TODOS E TODAS E DEVER DO ESTADO” irá orien-tar as discussões em todas as etapas, que ainda serão guiadas pelo Eixo Principal “A Implementação da Po-lítica Nacional de Saúde do Traba-lhador e Trabalhadora”.

A Lei n° 8.142/90, em seu artigo 1º, § 1,estabelece que as Conferên-cias de Saúde, serão realizadas a cada quatro anos com a representação dos vários segmentos sociais, para avaliar a situação de saúde e propor as dire-trizes para a formulação da política de saúde nos níveis correspondentes, convocada pelo Poder Executivo ou, extraordinariamente, por esta ou pelo Conselho de Saúde.

Zen?: Condições psicológicas de trabalho interferem na saúde do farmacêutico.

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17JULHO 2014ESPAÇO FARMACÊUTICO

CRF-SC HOMENAGEIA LACEN

ela primeira vez em 50 anos de história, o CRF-SC realizou uma sessão plenária nas ins-

talações estaduais do Lacen – La-boratório Central de Saúde Pública de Santa Catarina. Durante a 626ª Reunião Plenária, o Conselho Re-gional de Farmácia de Santa Cata-rina prestou uma homenagem ao Lacen, entregando uma placa com o seguinte texto:

“O Conselho Regional de Far-mácia do Estado de Santa Catarina presta esta justa homenagem ao La-boratório Central de Saúde Pública de Santa Catarina pela celebração dos 63 anos de existência e trabalho em favor da Saúde Pública Catari-nense, e pela atuação qualificada no suporte laboratorial às diferentes ações de Vigilância em Saúde, nas áreas de biologia médica, produtos, água e meio ambiente.

Diretoria e Conselheiros do CRF-SC.”

O diretor do Lacen, Gilberto Alves, destacou que o laboratório atende a todos os 295 municípios

Gilberto Alves, diretor do Lacen-SC, recebe do CRF-SC placa celebrativa dos 63 anos do Laboratório

do Estado, com serviços de média e alta complexidade, que em geral não são atendidos pelos laborató-rios comuns, como por exemplo a análise da água para as indústrias de medicamentos e de alimentos. Também informou que estão sen-do ampliados os investimentos em tecnologia no laboratório - os lau-dos entregues aos programas mu-

nicipais já são disponibilizados via sistema online.

“Durante a Plenária, foi lançado o Fórum de Valorização Farma-cêutica em Santa Catarina, com o objetivo de fortalecer as reivindica-ções da categoria, com a união de diversas entidades e ações”, informa Hortência Tierling, presidente do CRF-SC.

LABORATÓRIO CENTRAL DE SANTA CATARINA É RESPONSÁVEL PELO SUPORTE LABORATORIAL ÀS DIFERENTES AÇÕES DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE

Objetividade, agilidade e confiança: farmacêuticos e equipe do Lacen são estrutura fundamental da saúde pública catarinense.

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18 JULHO 2014ESPAÇO FARMACÊUTICO

A VITÓRIA DA SAÚDE QUALIFICADA

BIG BANGUm novo mundo está sendo criado com a aprovação, no Congresso Nacional, da lei que define a Farmácia como Estabelecimento de Saúde.Está nas mãos dos farmacêuticos explorar as possibilidades que se abrem para se consolidar como profissional de saúde a serviço do cidadão brasileiro.

20 anos de construção política para transmutar o paradigma comercial que regia estabelecimentos farmacêuticos em uma lógica de atenção e cuidado à saúde do povo brasileiro. É uma vitória da categoria farmacêutica, mas sobretudo um avanço de cidadania, que amplia o acesso do povo à saúde e valoriza a ciência dos farmacêuticos brasileiros.

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19JULHO 2014ESPAÇO FARMACÊUTICO

História: O Projeto de Lei n° 4385/1994, da ex-senadora Marluce Pinto, ficou em tramitação por 20 anos. O relator, deputado Ivan Valente, fez alterações importantes, mas, em função de já tramitar há duas décadas, a matéria ainda continha pontos discrepantes em relação à realidade atual da Saúde.Criado em fevereiro com o objetivo de unificar a luta das entidades representativas da Farmácia, o Fórum Nacional de Luta pela Valorização da Profissão Farmacêutica estabeleceu, como prioridade, o estudo aprofundado do projeto. Ao final dos trabalhos, propôs, aos parlamentares, a sua atualização por meio de uma espécie de colagem dos principais conceitos desenvolvidos ao longo de vinte anos, num texto que, em juridiquês, chama-se subemenda aglutinativa. A proposta foi acatada e, finalmente, o projeto foi votado em Plenário. Duas semanas mais tarde o Plenário do Senado igualmente aprovou a lei. “Aos 18 minutos do segundo tempo da prorrogação com uma votação unânime e simbólica de todos os 16 blocos da Casa”, como descreve Ronald Ferreira dos Santos, presidente da Federação Nacional dos Farmacêuticos.

“Primeiro eles te ignoram, depois riem de você, depois brigam, e en-tão você vence”, sintetizou o líder espiritual e político indiano Mahat-ma Ghandi. E foi cumprindo essas fases de suportar o desdém, ilumi-nar a ignorância, confrontar dire-tamente o poder econômico, que os farmacêuticos alcançaram uma vitória almejada há 20 anos.

Primeiro, queriam nos ignorar. Sob a força da ótica varejista e co-mercial, em 1994 surgiu um projeto de lei desprezando a importância da responsabilidade técnica dos farmacêuticos em estabelecimentos ligados à cadeia produtiva dos fár-macos – indústria, distribuidoras, farmácias, drogarias, postos de saú-de públicos, e por aí adiante.

Por vinte anos a profissão far-macêutica avançou lentamente em território sombrio, com pressões desfavoráveis à Assistência Farma-cêutica vindas do judiciário, dos gestores públicos e privados, do

comércio varejista, que ora mini-mizavam a relevância da ciência farmacêutica, ora tentavam supri-mir abertamente, expondo a saúde dos cidadãos brasileiros a riscos que nem podiam supor.

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20 JULHO 2014ESPAÇO FARMACÊUTICO

No dia dois de julho de 2014, os farmacêuticos em todo o país puderam comemorar a aprovação da subemenda aglutinativa ao PL 4385/94 que estabelece que a farmá-cia tem status de estabelecimento de saúde, portanto, atua na assistência à saúde. As farmácias agora são obri-gadas a manter um farmacêutico presente no local durante todo o seu funcionamento, e tanto o proprietá-rio quanto o farmacêutico respon-dem por eventuais irregularidades na farmácia. A lei determina que os profissionais deverão agir sempre de forma solidária para promover o uso racional dos medicamentos. E o proprietário não deverá desautorizar ou desconsiderar as orientações téc-nicas do farmacêutico. Ficou defini-do, ainda, que as farmácias deverão estar situadas em local adequado, sob o aspecto sanitário, ter equipa-mentos necessários à conservação adequada de produtos, como vaci-nas, seguindo exigências da vigi-lância sanitária, que também valem para as farmácias instaladas em uni-dades hospitalares.

Em caso de demissão ou desliga-mento do profissional, o estabeleci-mento deverá contratar um outro

“A farmácia estabelecimento de saúde ganha, primeiramente,

porque deixa de estar vinculada ao comércio e passa a estar vinculada

ao segmento de saúde. A relação do farmacêutico com a saúde se identifica mais. Abre nichos para as farmácias e farmacêuticos se inserirem em programas de saúde do governo, com muito mais credibilidade e valorização, principalmente

por identificar a farmácia como estabelecimento de saúde, e não comércio. A farmácia já estava inserida ao SUS com

o Farmácia Popular do Brasil. AGORA, não mais o Conselho Nacional do Comércio, mas o Conselho Nacional de Saúde está vinculado às farmácias”.

Laércio Batista Júnior - Vice-Presidente Associação Brasileira dos Farmacêuticos Proprietários de Farmácias

no prazo máximo de 30 dias. Já o farmacêutico terá a responsabilida-de de seguir procedimentos como o de notificar os demais profissionais de saúde, órgãos sanitários compe-tentes e laboratório industrial os

União histórica: todas entidades representativas dos farmacêuticos entraram em consenso para a aprovação da lei na Câmara dos Deputados.

Em 2008, ainda como acadêmica do curso de

farmácia, estive em Brasília numa passeata que lutava para aprovação da Farmácia como

estabelecimento de saúde!O nosso lema era: “Farmácia

não é um simples comércio: Sua vida não tem preço! Fazer da farmácia estabelecimento de saúde é de interesse público!”Hoje, dia 16 de julho de 2014, vejo a concretização destes

anos de luta dos profissionais farmacêuticos e acadêmicos do curso de farmácia de todo país.

Aline Teixeira Macedo - Farmaceutica Joinville

efeitos colaterais, as reações adver-sas e intoxicações decorrentes do uso de determinado medicamento. Ele terão também que acompanhar a farmacoterapia dos pacientes, in-ternados ou não, em estabelecimen-tos hospitalares ou ambulatoriais.

A lei decreta que a fiscalização nos estabelecimentos farmacêuticos de-verá ser feita por fiscal farmacêutico, e a este fiscal está vedada participa-ção em outras atividades de sua pro-fissão, como ser responsável técnico por farmácias, proprietário ou sócio.

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21JULHO 2014ESPAÇO FARMACÊUTICO

“Ao longo desses anos de trabalho e luta, tiramos qualquer caráter cor-porativo do projeto. É um projeto de saúde pública, que vai atender a um direito do cidadão brasileiro de ter assistência farmacêutica in-tegral”, ressaltou com veemência o deputado Ivan Valente, que tam-bém agradeceu às entidades que se mobilizaram para a aprovação do projeto durante todos esses anos – diversas entidades representativas dos profissionais farmacêuticos em 745 âmbitos de atuação, Fenafar, Conselho Federal de Farmácia e Conselhos Regionais de Farmácia, farmacêuticos e acadêmicos. Tam-bém citou parlamentares envolvidos na luta e nos acordos para o enca-minhamento do projeto (Alice Por-tugal, Leonardo Quintão, Roberto Santiago, o presidente da Câmara Henrique Alves, dentre outros).

O projeto agora segue para apre-ciação no Senado, onde originou-se em 1994, e posterior sanção presi-

Vitória: protagonismo da Fenafar, CFF, CRF-SC na articulação política.

dencial. “É uma vitória que só foi possível com a união das entidades, dos colegas e acadêmicos que luta-ram sem desanimar. O momento é de comemorar, mas precisamos continuar unidos, porque assim mostramos nossa força e nossa po-sição”, destaca Hortência Müller Tierling, presidente do CRF-SC.

Corpo a corpo: duas décadas de trabalho com parlamentares nos corredores do Congresso.

Esta vitória da categoria se con-funde com a própria história da Federação Nacional dos Farmacêu-ticos, que neste ano completa 40 anos. “Desde que o projeto da en-tão senadora Marluce Pinto chegou à Câmara dos Deputados, no final de 1994, a Fenafar se mobilizou para reverter o retrocesso que aque-

la proposta significava para a categoria, para a Saúde e para a sociedade. Envida-mos todos os esforços para construir uma alternativa àquele projeto que ataca-va a própria existência da nossa profissão. Realiza-mos grandes manifestações e articulamos com vários atores políticos a elabora-ção do substitutivo, que foi apresentado pelo depu-tado Ivan Valente. Desde então, temos trabalhado incansavelmente pela sua aprovação. Desenvolvemos

As mudanças que possivelmente ocorrerão com a farmácia se tornando um estabelecimento de saúde é que esses estabelecimentos não serão mais reconhecidos pela sociedade somente como um lugar onde se comercializam medicamentos. Agora, a sociedade entenderá farmácia como um lugar especializado em saúde para as pessoas, enquanto o profissional farmacêutico certamente deixará de ser visto como vendedor de remédios para finalmente ser reconhecido como prestador de assistência farmacêutica e consequentemente um profissional de saúde. Muitas portas deverão ser abertas com esta mudança, mas a principal delas é a inclusão do farmacêutico em equipes multidisciplinares do setor de saúde.

Rodrigo Michels da Rocha – Pres. Anfarmag/SC

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22 JULHO 2014ESPAÇO FARMACÊUTICO

“A nova Lei encerra um embate jurídico que se arrasta por décadas, em razão de interpretações equivocadas do antigo

marco legal. Por todo o país, o poder judiciário tendia a se ater à letra fria da legislação em vigor – sem considerar seu espírito de cuidado à saúde – e sentenciar favoravelmente ao pleito de técnicos com formação de segundo grau que queriam assumir

a responsabilidade técnica de drogarias, onde ocorre 70% das dispensações de medicamentos realizadas no Brasil. Ao

eliminar a necessidade de um profissional farmacêutico como Responsável Técnico destes estabelecimentos, devidamente

capacitado, credenciado, sujeito à um rigoroso código de ética, as decisões dos tribunais impunham à população riscos inaceitáveis à saúde pública, em razão da complexa logística de verificação de procedência dos medicamentos, avaliação de validade dos lotes, correto armazenamento e dispensação

de acordo com o Uso Racional de Medicamentos”.

Paulo Sérgio de Teixeira Araújo

a campanha Farmácia Estabele-cimento de Saúde em torno desta proposta, realizamos centenas de debates ao longo destes anos” come-mora o presidente da Fenafar e um dos líderes desse processo histórico, Ronald Ferreira dos Santos.

Ao alterar a visão que a sociedade tem da farmácia e do medicamen-to, a Lei consolidará um conceito de estabelecimento farmacêutico integrado com o cuidado e com a Saúde. A aprovação deste projeto é o coroamento deste longo processo de luta. “A democracia ganhou e a população ganhou com a qualifica-ção de um estabelecimento que traz a farmácia para o século XXI”, co-memora Ronald.

Para o deputado Ivan Valente (PSSOL-SP), “esta é uma visão de saúde pública que combate uma visão mercadológica de saúde. Nós estamos atendendo a um direito cidadão do brasileiro de ter assis-tência farmacêutica integral. Esta-mos criando um conceito de que toda drogaria ou farmácia passe a se chamar farmácia, que será um es-tabelecimento onde se pratica saú-de. Isso cria novas exigências para a dinâmica de funcionamento destes estabelecimentos comerciais, que devem passar a combater a auto-medicação e a prática da empurro-terapia , para começar a qualificar o atendimento através da presença, em tempo integral, do profissional farmacêutico habilitado. Este proje-to cria a responsabilidade solidária entre o estabelecimento sanitário e o profissional farmacêutico e espe-ramos que, com a sua aprovação, nós tenhamos uma qualificação do atendimento e que a farmácia seja um estabelecimento sanitário e que se distinga de um empório ou de um supermercado”.

Paulo Sérgio Teixeira de Araú-jo, membro da Comissão Parla-mentar do Conselho Federal de Farmácia, é um dos articulado-res políticos que, com a união dos colegas farmacêuticos cata-rinenses, desde o começo des-

te século, vem negociando no Congresso Nacional a aprovação do Projeto de Lei que estabelece a Farmácia Estabelecimento de Saúde. Abaixo, ele analisa um dos aspectos da Lei que terá efei-to concreto sobre a profissão.

Corredores do Congresso: visita ao senador catarinense Casildo Maldaner, grande apoiador das causas farmacêuticas e, ao lado, visita ao deputado federal Jorginho Mello.

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23JULHO 2014ESPAÇO FARMACÊUTICO

“Foram anos perambulando nos corredores do Congresso, em um trabalho exaustivo e interminável de orientação e convencimento dos parlamentares. A cada eleição,

com renovação de parte dos deputados e senadores, era preciso recomeçar esta caminhada do início. Apresentar os conceitos, mostrar a importância de se ter a farmácia interligada prioritariamente às redes de atenção à saúde, explicar a dimensão da ciência farmacêutica em toda a

cadeia produtiva até o usuário final, e ainda depois, com a farmacovigilância e farmacoterapia. Essa foi a verdadeira

maratona farmacêutica, o nosso Iron Man. Todos que a cumpriram, mesmo dando força em uma parte do trajeto, estão de parabéns, devem ser reconhecidos. Construíram um novo momento para a saúde pública

brasileira, e os farmacêuticos agora são protagonistas”

José Miguel do Nascimento Júnior, conselheiro do CRF-SC, diretor do Departamento de Assistência

Farmacêutica do Ministério da Saúde e um dos formuladores conceituais da Farmácia Estabelecimento

de Saúde, que ajudou a redigir o Projeto de Lei substitutivo global do deputado Ivan Valente, em 1994.

A coordenadora da Frente Parla-mentar em Defesa da Assistência Farmacêutica, deputada Alice Por-tugal (PCdoB/BA) declarou que “finalmente a milenar profissão far-macêutica sai dos bastidores e passa a configurar nos fazeres formais da saúde, garantindo que nas farmácias esteja um farmacêutico 24 horas orientando o uso do medicamento. Há dados que indicam que mais de 80% dos casos de intoxicação no país se dão por drogas lícitas, dentre os quais estão os medicamentos. A presença do farmacêutico nas far-mácias concorrerá de maneira deci-siva para garantir o uso racional do medicamento”.

para a nossa profissão, porque foi possível construir em todo o país um sentimento de união na catego-ria. Caminhamos unidos, Fenafar, CFF, Feifar, Enefar, e outras entida-des. Esse trabalho que foi constru-ído com essa perspectiva que pos-sibilitou essa grande vitória. Que deixa claro que com a união vamos avançar cada vez mais”.

Um dos participantes do gru-po que elaborou a primeira versão do substitutivo apresentado pelo deputado Ivan Valente, em 1997, o ex-presidente da Fenafar e atu-al gerente-geral de medicamentos da Anvisa, Norberto Rech destaca

que “a definição da farmácia como estabelecimento prestador de um serviço de saúde é não apenas um conceito: é uma definição cuja im-plementação resume grande parte da luta política que nós tivemos nas últimas décadas. Porque as políticas públicas nesta área exigem que este estabelecimento – onde se dá o pro-cesso de atenção à saúde pelo pro-fissional farmacêutico – efetive na prática cotidiana das pessoas, todas as políticas públicas no campo da Assistência Farmacêutica das últi-mas décadas”.

Norberto Rech considera a aprova-ção da lei um passo gigantesco não

A aprovação deste projeto de lei é um marco

importante, pois haverá um incremento na confiabilidade

e na credibilidade para a farmácia e para os

profissionais farmacêuticos comprometidos com a sociedade, já que

as pessoas hoje vêm procurar a orientação do farmacêutico na farmácia.

Com a confirmação da farmácia como

estabelecimento de saúde, tornamo-nos capazes de atuar verdadeiramente

como mais um pilar para auxiliar o Estado na

implementação de diversas políticas de orientação,

prevenção e recuperação da saúde da população.

Wagner Moresco – pres. Associação dos

Farmacêuticos do Alto Vale do Rio do Peixe

O presidente do Conselho Fede-ral de Farmácia, Walter Jorge João, avalia que “passa a haver um reco-nhecimento do farmacêutico e da sua importância como profissional de saúde. Portanto, é um marco

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24 JULHO 2014ESPAÇO FARMACÊUTICO

A construção do acordo foi co-ordenada pelo Fórum Nacional de Luta pela Valorização da Profissão Farmacêutica – CFF, Fenafar, Fei-far, Abef e Enefar –, mas contou com a participação de conselheiros federais e lideranças da Farmácia nos estados. “O consenso na elabo-ração da emenda já foi uma vitória, porque foram preservadas todas as prerrogativas defendidas pelos far-macêuticos em favor de uma prática farmacêutica de qualidade e tam-bém da saúde da população”, ava-lia o Conselheiro Federal por Santa Catarina, Paulo Boff.

Maurício Zardo, vice-presi-dente da Associação dos Far-macêuticos do Ato Uruguai catarinense afirma que “os CRFs e CFF estão fazendo a sua parte, estão abrindo o caminho dos serviços far-macêuticos, da garantia da assistência técnica integral e sem ressalvas; a presença cada vez maior no SUS, pois novas vagas serão necessárias, o caminho da dispensação de vacinas, que tí-nhamos perdido, o caminho da far-mácia hospitalar”, diz Paulo Boff.

Zardo no entanto, alerta que “se-remos valorizados se fizermos a di-

ferença dentro do estabelecimento; a lei não garante a valorização efeti-vamente. Fazer a diferença é arrega-çar as mangas e posicionar-se como o responsável técnico, e fazer dos serviços farmacêuticos uma meta, amparada por lei, e também – por que não? - um serviço remunerado”. Zardo crê que a valorização finan-ceira do farmacêutico será o resul-tado da equação “custo percebido X benefício recebido”.

para o direito dos farmacêuticos, e sim na garantia das responsabili-dades dos farmacêuticos e, princi-palmente, do direito da sociedade a atenção à saúde, na qual está inserida a Assistência Farmacêutica. “Porque, a partir disso, as políticas públicas terão que considerar que o mercado

farmacêutico não pode ser visto ape-nas como um varejo farmacêutico. Este mercado privado terá que ter impacto de políticas públicas para que esta qualificação legal da farmá-cia como estabelecimento de saúde se concretize no cotidiano das pessoas”, sintetiza o gerente-geral da Anvisa.

Ao entrar em vigor, a lei determi-nará que os postos farmacêuticos, devidamente licenciados, terão um ano após a publicação da nova lei para se adequarem às regras atua-lizadas. Do contrário o registro de funcionamento será cancelado au-tomaticamente.

A fiscalização das farmácias vai ser exclusiva de farmacêuticos. Isso é importante. Hoje, recebo um fiscal que é veterinário e - sem demérito - não possui todo o conhecimento técnico para fiscalizar farmácias. Agora a fiscalização, por força de lei, valoriza o farmacêutico como profissional que, por excelência, é autoridade em medicamento”.

João Jorge Geleski – Pres. Associação de Farmacêuticos Lages e região

“Da mesma forma no SUS – pon-tua Zardo - quando os gestores per-ceberem que o profissional compe-tente economiza recurso público, a valorização virá, lembrando que eco-nomizar pode ser usar medicamento racionalmente, e no manejo adequa-do da patologia. Por exemplo: come-çar a fazer a farmacovigilância com os usuários ajuda a tornar-se uma referência para o paciente quando o assunto for efeitos adversos e quali-dade de medicamentos”.

Fernanda Mazzini, presidente do Sindfar/SC, avalia que se abre um espaço estratégico para o farmacêu-tico nas áreas de atuação do serviço público e nos hospitais. “Nas farmá-cias, as vacinas serão um horizonte a

ser explorado. Os serviços far-macêuticos precisam amadu-recer, e os Conselhos Regio-nais e as universidades podem ter grande importância neste processo”, diz Fernanda.

“O que foi aprovado no Congresso tem a dimensão de um reposicionamento de nossa profis-são: uma grande parte do que estu-damos por décadas na universidade e que soava como utopia, começa tornar-se realidade”, diz a presiden-te do Sindfar, Fernanda Mazzini.

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25JULHO 2014ESPAÇO FARMACÊUTICO

AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS DA LEI FARMÁCIA ESTABELECIMENTO DE SAÚDE

POR RONALD FERREIRA DOS SANTOS, PRESIDENTE DA FENAFAR

A farmácia brasileira se reinven-ta. Trata-se de uma atividade com mais de 175 anos de vida acadê-mica e que mais uma vez marca um momento da sua história, da sua contribuição para o país, para a saúde pública brasileira e para o desenvolvimento do país. O proje-to coloca em um patamar superior a utilização desta tecnologia cha-mada medicamento, qualificando o estabelecimento que desenvolve a atividade econômica relacionada ao produto. É uma virada impor-tante que vai colocar a farmácia em um rumo de garantia da saú-de enquanto direito. Se a saúde

é um direito garantido do povo brasileiro, a farmácia, que é uma atividade econômica que trabalha como tecnologia garantidora des-se direito, tem que estar associada a essa atividade de saúde.

O texto apresentado e aprova-do no Congresso Nacional foi elaborado por todos os atores que se envolvem nessa atividade econômica, seja o governo, sejam os proprietários de pequenas e grandes farmácias, sejam todas as entidades que representam os far-macêuticos, que foram avançando progressivamente, construindo um entendimento até chegar em

um texto que é consenso, uma vitória para o povo brasileiro e a saúde pública. Por isso, na vota-ção todos votaram sim. Todos os 16 blocos partidários aprovaram.

Para nós, farmacêuticos, medi-camento não é só uma caixinha que vem da fábrica, com o aval de um farmacêutico, pronta para o comércio. Trata-se de um produto diferenciado, que precisa ser qua-lificado cujo ponto de venda tem que ser um estabelecimento de saúde, prestador de serviço. E foi essa a tese que saiu vitoriosa,

Com entrevista de Deborah Moreira / Imprensa SEESP

O ARTICULADOR DOS BASTIDORES

Paulo Boff é Conselheiro Federal do CFF por Santa Catarina. Desde o começo da década, empenhou-se em costurar alianças políticas em Brasília que pudessem unir enti-dades farmacêuticas que divergiam sobre pontos fundamentais da pro-fissão – e por isso apresentavam plei-tos separadamente aos parlamenta-res, sem coesão nem força política. “Temos que unir os divergentes para fazer frente aos antagonistas” virou um lema de trabalho de Pau-lo Boff, referindo-se ao fato de que todas as entidades farmacêuticas, apesar de suas diferenças, buscavam a valorização da categoria – porém continuava a vigorar o paradigma antagônico de não reconhecer ple-namente a farmácia como estabele-cimento de saúde e o farmacêutico

Pais fundadores: a quebra do paradigma da farmácia como comercio começou ainda na década de 90 com personalidades como Paulo Boff.

como um profissional interligado a toda política de saúde brasileira.

Abaixo, seguem as ponderações de Paulo Boff sobre as mudanças que ainda serão provocadas quando a nova Lei entrar em pleno vigor.

“O Projeto de Lei aprovado é re-sultado de uma mudança de postu-ra da nossa categoria, sobretudo das nossas entidades representativas. O Fórum Nacional de Luta pela Va-lorização da Profissão Farmacêutica conseguiu algo inédito em nossa história: uniu em um bloco coeso as mais importantes entidades – Conselho Federal de Farmácia e to-dos Conselhos Regionais, Fenafar, Enefar, Feifar, ABEF – representan-do mais de 180 mil farmacêuticos brasileiros. O acordo foi construído com o consenso da ABCFarma, a

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26 JULHO 2014ESPAÇO FARMACÊUTICO

Associação Brasileira de Comércio Farmacêutico, que, pela própria na-tureza comercial, defendia os inte-resses varejistas nessa luta política.

Para conseguir essa união foi preciso, antes de tudo, reconstruir a liderança e o protagonismo do Conselho Federal de Farmácia nes-se processo. Santa Catarina teve um papel preponderante ao propor, mi-litar e auxiliar a eleger o presidente Walter Jorge João, que se destacava como uma liderança aberta ao diá-logo e à agregação das forças far-macêuticas então dispersas. Meu

trabalho como Conselheiro Federal por Santa Catarina no CFF foi arti-cular esse passo, o primeiro e funda-mental, pois realinhou o Conselho Federal de Farmácia com as demais entidades que estavam dispersas. A Fenafar, por exemplo, estava prati-camente sozinha nessa luta no Con-gresso Nacional.

A aprovação do PL 4385/94 no Congresso Nacional vai certamente mudar a história da profissão. Sig-nifica o fim de uma era e começo de outra. Uma atividade profissio-nal que estava sob a égide da lógica comercial agora atua sob o paradig-ma da Atenção à Saúde. Eu destaco especialmente a atuação magistral do presidente da Fenafar, Ronald Ferreira dos Santos, que foi um lí-der. É importante os farmacêuticos brasileiros saberem disso, terem essa

go marco legal, o de dispensário, para evitar contratar farmacêuti-cos como Responsáveis Técnicos de Farmácias públicas e postos de saúde. Agora, isso deixa de existir. Onde se dispensa medicamento é farmácia, e onde tem farmácia é preciso ter um farmacêutico assu-mindo a RT. Antes, essa concei-tuação jurídica não estava expres-sa, literalmente, no texto legal, o que dava margem a interpretações equivocadas ou claramente de má-fé.

Então, após os três anos de tran-sição delimitados pela Lei, essas mudanças vão ocorrer em sua pleni-tude, transformando a realidade da saúde pública brasileira e valorizan-do o farmacêutico como nunca na história da profissão no Brasil.

Significa futuro. Visão de que vamos continuar

trabalhando. Vai ser preciso o farmacêutico estudar continuamente, vão se

abrir campos de mercado, e de pesquisas em saúde.

Marisa Damo – Presidente Associação de Farmacêuticos de

Chapecó e região

noção histórica, de perspectiva so-bre quem e como se lutou para con-quistar este avanço.

Na condição do farmacêutico como profissional de saúde, a cate-goria terá condições de interferir na realidade das políticas de saúde com maior representatividade e força, e a sociedade brasileira vai se benefi-ciar muito com isso, ao poder ver o medicamento como uma tecnologia poderosa que deve ser usada racio-nalmente, com acompanhamento farmacoterapêutico, monitorando resultados.

Os farmacêuticos vão poder exer-citar tudo aquilo que vinha sendo defendido há décadas nas universi-dades, do ponto de vista teórico, mas não encontrava respaldo na prática da atividade produtiva comercial di-

Tropa de Elite: uma força tarefa política, técnica e jurídica forjou um avanço conceitual para a saúde pública brasileira. A farmácia estabelecimento de saúde capilariza e amplia as políticas de atenção e cuidado.

ária das farmácias e drogarias.No setor público, igualmente, a

presença do farmacêutico é sem-pre muito restritiva, porque os gestores públicos – por questões de suposta economia – procura-vam utilizar um conceito do anti-

Nosso desafio, como categoria, é estar preparada para isso. Ter a for-mação, a capacitação, a qualidade, o conhecimento para prestar o ser-viço farmacêutico a que o cidadão brasileiro tem direito, agora assegu-rado por lei.

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27JULHO 2014ESPAÇO FARMACÊUTICO

indústria catarinense de produtos para a saúde registrou nos últimos anos cresci-

mento superior à média nacional, mas o setor precisa de correções para se-guir competitivo nos mercados nacio-nal e internacional. Esta foi uma das constatações dos 60 participantes (es-pecialistas da saúde e empresários) do painel “ROTAS ESTRATÉGICAS

SETORIASIS 2022 – SAÚDE” rea-lizado pela Federação das Indústrias de Santa Catarina (FIESC) em Flo-rianópolis, no início de junho.

Esse evento faz parte do Progra-ma de Desenvolvimento Industrial Catarinense Competitividade com Sustentabilidade (PDIC 2022) da FIESC e tem como objetivo a mu-dança de patamar da (Indústria da) Saúde em SC.

A FIESC estabeleceu para a Saúde quatro setores prioritários a saber: cosméticos, perfumaria e higiene pessoal; farmoquímicos e farma-cêuticos; aparelhos eletromédicos; e instrumentos, utensílios e materiais e para cada um foi estabelecido um trabalho de levantamento da Situa-ção Atual, Visão de Futuro, Barrei-ras e Fatores Críticos de Sucesso e Proposição de ações.

TEMPOS MODERNOS

Não basta mais executar. A indústria farmacêutica catarinense precisa de pensadores, articuladores e formadores de políticas

públicas para se consolidar estrategicamente e produzir inovação. Ações nesse sentido estão sendo propostas em um ambiente

colaborativo na internet, intermediado pela FIESC, criado após um painel sobre rotas estratégicas na Federação das Indústrias.

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28 JULHO 2014ESPAÇO FARMACÊUTICO

Comissão da Indústria do CRF-SC em reunião de trabalho: desenvolvimento de cadeia produtiva e fortalecimento do mercado interno.

Painel Rotas Estratégicas: a poderosa Fiesc, que representa30% do PIB catarinense, está ouvindo os farmacêuticos para compor agendas políticas públicas e privadas na indústria farmacêutica.

O CRF-SC esteve presente no evento através de sua presiden-te Hortência Müller Tierling, do conselheiro federal Paulo Boff, dos membros de sua Comissão de In-dústria e da assessora técnica Elaine Cristina Huber.

As dificuldades relatadas como empecilhos ao desenvolvimento do setor farmacêutico são, na escala de importância, os altos custos e a morosidade dos processos de regis-tro de produtos e patentes; licenças ambientais e o CEGEN; divergên-cia entre o foco da academia e o da indústria; morte das pequenas e médias empresas; e principalmen-te a falta de política pública para a saúde pelo Estado.

A Comissão de Indústria do CRF-SC elaborou um estudo com dados atualizados da indústria far-macêutica catarinense, apontando os principais gargalos e potenciais de crescimento. “Precisamos desen-volver a cadeia produtiva de fárma-cos e medicamentos em Santa Ca-tarina; fortalecer o mercado interno e a produção farmacêutica local; estabelecer interlocução entre a in-

dústria farmacêutica catarinense, Governo do Estado e gestões mu-nicipais; alinhar estratégias e polí-ticas no campo farmacêutico com as demais diretrizes intersetoriais e criar um polo farmacêutico indus-trial em Santa Catarina”, sintetiza Adolfo Moacir Cabral Filho, far-macêutico e membro da Comissão da Indústria do CRF-SC.

A presidente do Conselho Regio-nal de Farmácia Hortência Tierling sustenta que a indústria farmacêu-tica é estratégica para o estado e o país. Está ligada à própria noção de soberania nacional e prosperidade e deve merecer uma atenção conti-nuada das diversas esferas de poder: “Temos florestas com infinita biodi-versidade inexplorada, com agentes biológicos e químicos a serem pes-quisados, sintetizados, transforma-dos em produtos de saúde pública. Precisamos de uma indústria forte no setor farmacêutico, com base financeira suficientemente estável para desenvolver linhas de pesquisa, apostar em inovação, consolidar-se como potência em âmbito local, nacional e mundial”, diz Hortência Tierling.

“Por isso a Comissão de Indústria do CRF-SC tem esta importância na definição de nossas ações polí-ticas e técnicas. Conta com parti-cipantes da estatura científica de Norberto Rech, assessor especial da presidência da Anvisa”, explica a presidente do CRF-SC.

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29JULHO 2014ESPAÇO FARMACÊUTICO

Primeiro, planejar: o pensamento precede a ação, e os farmacêuticos estão sendo chamados a formular a política brasileira para os diversos âmbitos de atuação.

Na definição da visão de futuro do setor em Santa Catarina, os de-bates giraram em torno da integra-ção entre as empresas, do investi-mento em pesquisa e inovação e da sustentabilidade.

Como resultado dos debates fo-ram elencados quatro principais fatores críticos de sucesso: Política de Desenvolvimento (de Estado); Recursos Humanos, PD⁢ e In-tegração e Produtividade.

Ao final do evento ficou estabele-cido como principal proposição de ações a “Criação de uma Câmara Setorial (pela FIESC) para esti-mular e orientar a criação de uma Política de Desenvolvimento (de Estado) para a Saúde (integrando a indústria, o setor acadêmico, o governo e a sociedade)”.

O debate continua na internet,

A FIESC priorizou quatro segmentos do setor da saúde na indústria catarinense: cosméticos, perfumaria e higiene pessoal; farmoquímicos e farmacêuticos; aparelhos eletromédicos; e instrumentos, utensílios e materiais. Entre 2007 e 2011, o crescimento da produção do setor foi de 41% no Brasil e de 64% em Santa Catarina. As maiores concentrações de indústrias estão em Joinville, Blumenau e Florianópolis. Entre 2008 e 2011, as exportações catarinenses de produtos de saúde recuaram 20%, enquanto as importações subiram 110%

Chaplin, em seu clássico, como referência cultural para esta matéria: A imagem que abre esta matéria é uma referência a Charles Chaplin e seu filme “Modern Times”, de 1936, em que o seu famoso personagem “O Vagabundo” (The Tramp) tenta sobreviver em meio ao mundo moderno e industrializado, no qual a máquina substitui o homem. É uma forte crítica ao liberalismo descontrolado, e uma reflexão sobre o papel do pensamento humano na História.

onde foi lançado um ambiente co-laborativo. Nele, as demais empre-sas do setor podem participar da troca de experiências e ajudar na

construção do conhecimento. Os interessados devem acessar o ende-reço http://www4.fiescnet.com.br/pt/homepdic

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30 JULHO 2014ESPAÇO FARMACÊUTICO

A FOGUEIRA DAS VALIDADESEm uma iniciativa louvável, a farmacêutica Maristela Lorencetti desenvolveu um programa de Descarte Racional de Medicamentos no município de São Bernardino, com o apoio da prefeitura local, para incinerar fármacos conforme as boas práticas. É um trabalho de formiguinha, porém. A logística reversa de medicamentos é uma fogueira de vaidades na cadeia produtiva do medicamento, que necessita de estratégias conjuntas com governos, prefeituras, farmácias, transportadoras e indústrias. E é preciso ratear a conta, a que poucos se apresentam para assumir.

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31JULHO 2014ESPAÇO FARMACÊUTICO

elos dados do últi-mo senso do IBGE, o município de São Bernardino, no oeste

catarinense, tem menos de 3 mil habitantes. Há condomínios na ca-pital com mais moradores. Mas São Bernardino está mais avançada que a maior parte do estado no conceito ecológico e industrial da logística reversa de medicamentos.

Há sete anos no serviço público municipal, a farmacêutica Mariste-la Lorencetti percebeu ocorrências recorrentes de contaminação do meio ambiente por medicamentos. Estudos ambientais identificaram presença de fármacos nas águas e no solo, o que era previsível, pois os medicamentos encontram-se inseri-dos em praticamente todas as esfe-ras de atenção à saúde. A utilização inadequada – assim como o descar-te - constitui um sério problema de saúde pública.

A secretaria municipal de saúde de São Bernardino compreendeu o dilema apresentado pelo depar-tamento de Assistência Farmacêu-tica e Maristela Lorencetti recebeu recursos e autorização para lançar a campanha “Coleta de sobras de me-dicamentos para descarte ecologica-mente correto”.

A farmacêutica municipal desen-volveu uma metodologia integra-da que procura contribuir com a preservação do meio ambiente e a promoção do uso racional de medi-camentos - reduzindo a automedi-cação e os riscos de intoxicação me-dicamentosa, ao mesmo tempo que orienta sobre o descarte correto.

“Para isso, disponibilizamos um ponto de coleta na unidade de saú-de. Todo medicamento descartado será incinerado de acordo com o Programa de Gerenciamento de Re-síduos de Saúde da Unidade Básica de Saúde”, explica Maristela.

Medicamentos descartados: coleta e destinação conforme programa de gerenciamento de resíduos, e apoio da comunidade ao programa.

“O projeto busca conscientizar a população quanto aos riscos hu-manos e ambientais do descarte de medicamentos vencidos e sobras nos esgotos e lixos domésticos e a importância de adotar uma atitude correta”.

A importância social, econômica e sanitária desta iniciativa da prefei-tura de São Bernardino e do depar-tamento de Assistência Farmacêuti-ca pode ser melhor compreendida quando inserida no contexto da

cultura de relacionamento da po-pulação brasileira com os fármacos. No microcosmos de São Bernardi-no, até por causa da população exí-gua onde todo mundo se conhece, ela fica evidente.

Esclarece Maristela: “os medica-mentos vencidos, ou as sobras de medicamentos não utilizadas ao final do tratamento, se tornam um perigo em potencial quando descar-tados de forma incorreta. Normal-mente, esses resíduos são jogados no lixo comum ou na rede de esgotos, e - dependendo das características físico-quimicas dos medicamentos descartados -a população pode so-frer as consequências indiretas da agressão ao meio ambiente, como a contaminação de produtos alimen-tícios, do ar, água, solo, animais e até de crianças carentes que acabam reutilizando” observa a farmacêu-tica. Além disso, foi comprovado também o uso desses medicamen-tos “sobrados” para tratamentos, indicados por familiares, vizinhos ou amigos.

“Essas indicações acarretam no uso inadequado, podendo causar reações adversas, intoxicação, e potencializar o risco de resistência bacteriana pelo descarte de antimi-crobianos”, alerta Maristela.

Maristela, de São Bernardino: proatividade, busca de recursos e campanha educacional sobre logística reversa de medicamentos. Louvável e uma honra para a categoria farmacêutica. Mas andorinha só não faz verão.

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32 JULHO 2014ESPAÇO FARMACÊUTICO

O CRF-SC tem postulado que a indústria farmacêutica desenvolva linhas de medicamentos fracioná-veis sempre que possível. “É evidente que isso não se aplica a pomadas ou xaropes. Mas produtos que possam ser dispensados na quantidade exata para o tratamento medicamentoso ajudariam a combater o uso irra-cional de medicamentos. E, como não sobraria a famosa ‘farmacinha’ dentro de casa, também evitaria a automedicação, outro hábito brasi-leiro”, sustenta Hortência Tierling, presidente do CRF-SC.

O volume de novos fár-macos lançados no mer-cado tem crescido, as-sim como a presença de seus resíduos no ecossistema. Em-bora fundamentais para a prevenção

Cadeia logística reversa: envolve farmácias, drogarias, órgãos públicos, e também distribuidoras e indústrias. Todos têm que pagar uma parte da conta, mas como fazer isso sem onerar clientes e usuários?

e tratamento de várias patologias, têm potencial nocivo sobre o que, tecnicamente, é chamado de orga-nismos não-alvo (aquáticos e ter-restres), alterando a atividade e o equilíbrio dos ecossistemas (PIN-TO, 2011).

“Não parece correto ou justo que só a farmácia e drogaria – ou mes-mo, no caso de São Bernardino, a prefeitura - arquem com os custos do descarte ecologicamente correto previsto na logística reversa. Sim, isso tem que ser feito, porém as

indústrias e as distribuidoras, que fazem parte da cadeia

logística do medicamen-to, precisam se envolver e assumir responsabili-

dades neste processo do descarte, que é oneroso e delicado”, posiciona-se a pre-

sidente do CRF-SC, Hortência Tierling.

Incinerar medicamentos descartados, no entanto, é uma logística reversa complexa e cara. É responsabilidade dos municípios, sim, mas não somente. Todas esferas de poder público e toda a cadeia produtiva de medicamentos estão nessa fogueira, cuja faísca inicial se acende lá no setor produtivo.

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33JULHO 2014ESPAÇO FARMACÊUTICO

FIQUE EM DIA COM A CONTRIBUIÇÃO SINDICAL

Todo profissional com CRF ativo precisa pagar a contribuição sindical para poder exercer regularmente a profissão, mas passados seis meses do prazo, muitos

farmacêuticos ainda estão em débito com a taxa. Isso por que muitas empresas não fizeram o desconto obrigatória na folha de pagamento ou não repassaram o comprovante ao SindFar. Saiba como verificar se a sua situação está regular.

A contribuição sindical foi criada na década de 40 para fortalecer o movimento sindical e, conforme prevê a Consolidação das Leis Tra-balhistas (CLT), é obrigatória a to-das as categorias de trabalhadores. Por essa legislação, as empresas de-verão descontar o imposto sindical correspondente a um dia de traba-lho no mês de março.

Os farmacêuticos são classificados pelo Ministério do Trabalho e Em-prego (MTE) como profissionais liberais e, desta maneira, também tem a opção de pagar taxa através de guia emitida pelo sindicato no mês de fevereiro. Para os farmacêuticos

proprietários de estabelecimentos com CRF ativo, esta é uma obri-gatoriedade. A taxa é enviada pelo SindFar via correio. Quem quitá-la, além de garantir que o benefício chegará ao sindicato que, de fato e de direito, representa os farmacêu-ticos, fica isento de outra taxa: a contribuição negocial, prevista nas convenções da categoria. A partir de agosto, o SindFar publicará em seu site a lista dos profissionais em dia com o pagamento obrigatório e a guia atualizada que deve ser im-pressa e paga por quem ainda não quitou a taxa.

Atualmente, os recursos da con-

tribuição sindical são distribuídos da seguinte forma: 60% para os sin-dicatos, 15% para as respectivas fe-derações, 5% para as confederações e 10% para a chamada “conta es-pecial emprego e salário”, adminis-trada pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Uma das entidades que recebem recursos da conta especial é o Fundo de Amparo do Trabalha-dor (FAT), que custeia programas de seguro-desemprego, abono sala-rial, financiamento de ações para o desenvolvimento econômico e gera-ção de trabalho, emprego e renda. Os 10% que restam são direciona-dos às Centrais Sindicais.

TIRE SUAS DÚVIDAS:Por que tenho que pagar a contri-buição sindical para o SindFar e não para outro sindicato?

Por que é o SindFar a pessoa ju-rídica que representa os profissio-nais farmacêuticos no estado de Santa Catarina. Há casos em que o empregador efetua o desconto em benefício de outros sindicatos que não representam o trabalhador far-macêutico. Portanto, fique atento e cobre da sua empresa o destino cor-reto da sua contribuição sindical.

Minha empresa efetuou o descon-to em folha, mas meu nome não

consta na lista. O que devo fazer?

Verifique junto ao empregador se o desconto foi feito em nome do SindFar e se enviou o comunicado ao sindicato. Se ele não o fez, deve enviar o comprovante junto com o nome do(s) empregado(s) beneficia-dos para [email protected]

Fui admitido depois de março (mês de recolhimento da taxa) e não tive o desconto na minha folha de pa-gamento. Como devo proceder?

O farmacêutico que não estiver trabalhando no mês do recolhi-

mento somente precisa pagar a taxa quando for admitido em um novo emprego. Neste caso, deve quitar a guia (que pode ser impressa através do site) e entregar cópia do boleto pago junto com o restante da do-cumentação ao empregador na hora da contratação. Não esqueça de guardar cópia do documento.

Como é definido o valor da contri-buição sindical do farmacêutico?

O valor da guia da contribui-ção sindical do farmacêutico (R$ 130,00) é o definido pelas assem-bleias da categoria.

SINDFAR

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34 JULHO 2014ESPAÇO FARMACÊUTICO

MICROCOSMO DINÂMICOCongresso da SBAC e Fórum de Análises Clínicas apontam diretrizes para a formulação de política nacional para o setor, impondo um ritmo dinâmico a um dos mais tradicionais âmbitos de atuação farmacêutica

orto Alegre sediou este ano o 41º Congresso Brasileiro de Análi-ses Clínicas, realizado

pela Sociedade Brasileira de Aná-lises Clínicas (SBAC). O CRF-SC participou do evento com a presi-dente Hortência Müller Tierling, o

diretor Paulo Araújo, a conselheira federal suplente Anna Paula Bats-chauer e membros da Comissão de Análises Clínicas. O farmacêutico Rafael Marin, também membro da Comissão de Análises Clínicas do CRF-SC e do Grupo Reação, par-ticipou de uma mesa redonda sobre

Maria Elisabeth Menezes, conselheira do CRF-SC e vice-presidente eleita da SBAC: “Ganhamos visibilidade internacional ao fazer parcerias com outras sociedades científicas na América Latina e Europa”.

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35JULHO 2014ESPAÇO FARMACÊUTICO

Acreditação: 90% de laboratórios catarinenses são propriedade ou de Responsabilidade Técnica de farmacêuticos, assegurando precisão e segurança nos laudos que orientam diagnósticos e tratamentos.

Da esquerda para a direita: José Carlos Mamprim (Grupo Reação); Hortência Müller Tierling (presidente CRF-SC); Marisol Muro Dominguez (diretora CRF-PR) e Rafael Marin (Grupo Reação).

associativismo laboratorial, apresen-tando um case de sucesso no qual a redução no custo das compras pode chegar a até 40%.

Com o objetivo de fortalecer o Grupo Técnico de Análises Clíni-cas do Conselho Federal de Farmá-cia, os Conselhos Regionais de Far-mácia do Sul indicaram a diretora do CRF-PR, Marisol Muro, para representar as posições técnicas e políticas dos Conselhos do Sul nes-te grupo do CFF.

A representatividade catarinense no setor de Análises Clínicas foi for-talecida com a eleição da conselheira do CRF-SC, Maria Elisabeth Mene-zes, como vice-presidente da Socie-dade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC) para o biênio 2015-2016.

A SBAC mantém o Programa Na-cional de Controle de Qualidade, o Sistema Nacional de Acreditação, o

Centro de Educação Continuada e a Revista Brasileira de Análises Clí-nicas. É integrada por 12 mil asso-ciados que atuam na área laborato-rial. O foco atual da entidade está na condução científica, difusão de conhecimento e metodologias.

Durante o Congresso, os três Con-selhos da região Sul encaminharam os temas que serão discutidos no 3º Fórum Sul Brasileiro de Análises Clínicas, que acontecerá no dia 16 de agosto em Florianópolis, no Ho-tel Baía Norte. Um dos principais objetivos do evento é construir uma política nacional para as Análises Clínicas. A programação já tem duas mesas confirmadas: Segurança do paciente nos testes rápidos e Atu-ação das Análises Clínicas na Políti-ca Nacional de Saúde. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas pelo site www.crfsc.org.br

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EXPEDIENTE

Espaço FarmacêuticoPublicação do Conselho Regional

de Farmácia de Santa CatarinaISSN 2175 - 134X

Travessa Olindina Alves Pereira, 35 - CentroFlorianópolis - SC

Cx Postal 472CEP 88020-100

Fone: (48) 3222.4702Website: www.crfsc.org.brE-mail: [email protected]

DIRETORIAPresidente: Hortência S. Müller Tierling

Vice-presidente: Silvana Nair LeiteSecretário-Geral e Tesoureiro:

Paulo Sérgio Teixeira de Araújo

CONSELHEIROSAna Cláudia Scherer Monteiro, Indianara

Toretti, Marco Aurélio Thiesen Koerich, José Miguel do Nascimento Júnior, Luiz Henrique da Costa, Laércio Batista Júnior, Silvana Nair

Leite, Maria Elisabeth Menezes, Karen Berenice Denez, Hortência Tierling, Tércio Egon Paulo

Kasten e Paulo Sérgio Teixeira de Araújo.Suplentes: Carlos Roberto Merlin, Sara Rauen.

Conselheiro Federal: Paulo Roberto Boff, Anna Paula de Borba Batschauer.

ASSESSORIA TÉCNICARonald Ferreira dos Santos

Elaine Cristina Huber

JORNALISTA RESPONSÁVELIuri Luconi Grechi

Mtb 7491- RS

TIRAGEM9.000 exemplares

PROJETO GRÁFICO E EDITORAÇÃOCriacom Publicidade e Propaganda

O 3º Fórum Sul Brasileiro de Análises Clínicas acontecerá no dia 16 de agosto deste ano em Florianópolis, com realização dos Conselhos Regionais de Farmácia dos Estados do Para-ná, Santa Catarina e Rio Gran-de do Sul, por meio de suas Co-missões de Análises Clínicas.

No evento também será debati-da a necessidade da construção de uma política nacional para as Análises Clínicas.

O evento começará a partir das 8h30, com credenciamento dos inscritos. Em seguida have-rá duas mesas, com os seguin-tes temas:

Segurança do paciente nos testes rápidosAtuação das Análises Clínicas na

Política Nacional de Saúde