cofa - revista espaço farmacêutico

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Revista do Conselho Regional de Farmácia do Estado de Santa Catarina Edição 06 Ano 02 abril de 2012 No turbilhão das manifestações múltiplas da personalidade, os Florais prometem um portal para a essência serena de cada um. Reconhecidos pela Organização Mundial de Saúde desde a década de 1950, convalidados nas Práticas Integrativas Complementares, os florais permanecem, no entanto, sendo uma terapia misteriosa para a maioria dos farmacêuticos. Entenda com as flores sobre como ir além das aparências. Nessa edição de Espaço Farmacêutico. AS INTERFACES DO SER FECHAMENTO AUTORIZADO, PODE SER ABERTO PELA ECT 1 ABRIL 2012 ESPAÇO FARMACÊUTICO

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Edição 06, Ano 02

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Revista do Conselho Regional de Farmácia do Estado de Santa CatarinaEdição 06 – Ano 02 – abril de 2012

No turbilhão das manifestações múltiplas da personalidade, os Florais prometem um portal para a essência serena de cada um. Reconhecidos pela Organização Mundial de Saúde desde a década de 1950, convalidados nas Práticas Integrativas Complementares, os florais permanecem, no entanto, sendo uma terapia misteriosa para a maioria dos farmacêuticos. Entenda com as flores sobre como ir além das

aparências. Nessa edição de Espaço Farmacêutico.

AS INTERFACES DO SER

FECHAMENTO AUTORIZADO, PODE SER ABERTO PELA ECTFECHAMENTO AUTORIZADO, PODE SER ABERTO PELA ECT

1ABRIL 2012ESPAÇO FARMACÊUTICO

SUMÁRIO

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19A BUSCA DO REALINHAMENTOENTRE CFF E CRF-SC

E SE O MEDICAMENTO FOR PIRATA?

AVANÇO NO SETOR MAGISTRAL

AS FLORES DA RESTAURAÇÃO INTERIOR

AUMENTO DO PISO

ILHA DA MAGIA FARMACÊUTICA

OS PRÓXIMOS PASSOS DA AF

ESTAMOS DE OLHO NA VERTICALIZAÇÃO

A visita do recém-empossado presidente do Conselho Federal de Farmácia, Walter da Silva Jorge João, marca um novo momento nas relações com o órgão mais representativo dos farmacêuticos.

CRF-SC promove série de palestras sobre a responsabilidade dos farmacêuticos no combate à pirataria de medicamentos, considerada o crime do século XXI.

A Associação Comercial e Indus-trial de Florianópolis, através de seu Núcleo Setorial de Farmácias Magistrais, acaba de lançar uma revista voltada para o público con-sumidor e para os farmacêuticos prescritores.

A Associação Comercial e Indus-trial de Florianópolis, através de seu Núcleo Setorial de Farmácias Magistrais, acaba de lançar uma revista voltada para o público con-sumidor e para os farmacêuticos prescritores.

Florianópolis vai sediar, em agosto, o Congresso da Fenafar, que reúne delegados de todo Brasil e na edição 2012 adota uma linha de argumento centrada no Fazer Farmacêutico.

Os farmacêuticos de Itajaí e região vão receber no mínimo R$2.330,00.

A Assistência Farmacêutica no novo marco regulatório foi o tema do VI Fórum Nacional de Assistência Farmacêutica, onde foram debatidas as ações da Assistência Farmacêutica em um contexto das novas regulamentações do Sistema Único de Saúde (SUS).

O descredenciamento de laboratórios imposto pela Unimed em Chapecó, após a construção de seu próprio laboratório na cidade, emite um sinal de alerta a respeito de como a verticalização pode redundar em um monopólio da prestação de serviços de saúde. O que não é permitido por lei.

CONGRESSODA FENAFAR

VALORIZAR O TRABALHO DO FARMACÊUTICO CONTRIBUI PARA A SAÚDE E O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

Realização:

Apoio:

Federação Nacionaldos Farmacêuticos

Hotel Sesc Cacupé - SC

9, 10 e 11de agosto de 2012

SEDE DA FENAFARRua: Barão de Itapetininga,255, 11º andar - Conjunto 1105 - CEP 01042-001 -

Centro - São Paulo - SP - Fones/Fax: (11) 3259-1191 - 3257-9126

www.fenafar.org.br

Rua Haroldo Soares Glavan, 1670 - Florianópolis - SC

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ABRIL 20122ESPAÇO FARMACÊUTICO

HORTÊNCIA SALETT MÜLLER TIERLINGPRESIDENTE DO CRF-SC

SILVANA NAIR LEITEVICE-PRESIDENTE DO CRF-SC

LAÉRCIO BATISTA JÚNIORSECRETÁRIO-GERAL DO CRF-SC

PAULO SÉRGIO TEIXEIRA DE ARAÚJOTESOUREIRO DO CRF-SC

DA ESQUERDA PARA A DIREITA:

A DIRETORIA

“Compreender que há outros pontos de vista é o início da sabedoria”, pontificou Joseph Campbell, estudioso ame-ricano de mitologia e religião comparada. Mas conciliar pontos de vista divergentes não é tarefa para amadores. “Ideias não são metais que se fundem”, declarou Leonel Brizola, político gaúcho exilado pelo regime militar. É por isso que essa edição da revista do CRF-SC reserva um espaço para compreender a importância histórica da reunião de trabalho em Florianópolis que reaproximou o Conselho Regional de Farmácia de Santa Catarina e o Conselho Federal de Farmácia. Durante 14 anos, essas duas instituições mantiveram um distanciamento crítico. Valores, teses e posições políticas arduamente conquistadas e defendidas pelos farmacêuticos catarinenses pareciam não encontrar ressonância e apoio no CFF, a maior estrutura institucional do Brasil de representação dos profissionais farmacêuticos. “O CFF está sem oxigênio, ele praticamente parou de respirar e precisa ser reanimado”, reconhece o atual presidente do Conselho Federal de Farmácia, Walter Jorge João, que assumiu a cadeira em janeiro deste ano.

Walter João foi eleito com o apoio e a articulação política de Paulo Boff, Conselheiro Federal por Santa Catarina e um dos 27 eleitores no pleito que define a diretoria do CFF. A posse do novo presidente marcou a retomada do diálogo entre o CFF e o CRF-SC. Winston Churchill, estadista inglês que levou o Reino Unido à vitória na Se-gunda Guerra, definiu que “fanático é alguém que não muda de ideia e não muda de assunto”. Ao reconsiderar suas posições, aceitar críticas e buscar consenso com o pensamento que emana dos farmacêuticos catarinenses, o novo presidente do CFF relegou ao passado uma postura fundamentalista que impedia o diálogo. Mudou de ideia e de assunto. Não basta, porém, dirigir-se ao rio com a

EDITORIAL

intenção de pescar peixes; é preciso levar também a rede, reza um provérbio chinês – e os farmacêuticos de Santa Catarina esperam que essa alteração no panorama político do CFF permaneça e produza resultados mais eficazes que nos últimos anos.

Pois o CRF-SC entende que esse é um momento decisivo para a categoria, que precisa de toda a união possível para redesenhar sua posição na sociedade brasileira, e realizar o serviço que lhe foi delegado.

Os farmacêuticos catarinenses têm demonstrado de inúmeras formas qual a identidade profissional que pre-tendem expressar e qual o espaço que almejam usufruir na estrutura de saúde pública do país. O privilégio de toda uma vida é ser aquele que nascemos para ser. Os farmacêuticos sustentam que são profissionais de saúde, a Farmácia é um Estabelecimento de Saúde, e a presença de farmacêuticos em todas as esferas do SUS representa economia para a sociedade e valorização da saúde pública.

Os farmacêuticos já foram detentores de um símbolo social que os distinguia: eram uma referência de saúde para o cidadão, primeira e mais acessível fonte de informações fidedignas sobre terapias medicamentosas, consultados antes e após a visita ao médico. Essa distinção social perdeu-se no tempo e na distância, esmagada por pressões comer-ciais e financeiras. O CRF-SC luta pela recuperação desse símbolo inerente aos farmacêuticos, não por vaidade ou busca fútil de status social, mas porque todo símbolo é, de alguma forma, uma linguagem cifrada das aspirações e dos ideais humanos. Manifesta e alimenta o respeito – e, ao elevar o farmacêutico à sua verdadeira condição de profissional de saúde, se traduz em bem-estar e segurança sanitária para o povo brasileiro.

O SÍMBOLO PERDIDO

3ABRIL 2012ESPAÇO FARMACÊUTICO

3ABRIL 2012ESPAÇO FARMACÊUTICO

A BUSCA DO REALINHAMENTOENTRE CFF E CRF-SCA visita do recém-empossado presidente do Conselho Federal de Farmácia, Walter da Silva Jorge João, marca um novo momento nas relações com o órgão mais representativo dos farmacêuticos.

Mais aberto ao pensamento vanguardista que emana das ações científicas, técnicas, políticas e educacionais dos farmacêuticos catarinenses, o novo presidente do CFF afirma que sua gestão

será sustentada pela transparência e união com todas as entidades que representam a categoria. Essa é uma postura que o CRF-SC defende. E aplaudirá – se for posta em prática.

No mês de novembro, a reu-nião plenária do Conselho Federal de Farmácia será re-alizada em Florianópolis, e

discussões importantes sobre os rumos da profissão farmacêutica ocorrerão próximas dos colegas catarinenses, que poderão participar e opinar. Essa ple-nária do CFF é emblemática porque representa uma aproximação histórica, ao menos nesse século, entre o pensa-mento dos farmacêuticos catarinenses e a entidade que possui a maior es-

A retomada da sintonia nos âmbi-tos técnicos, científicos, educacionais e políticos começou a ser alcançada com a eleição, no plano federal, do farmacêutico Walter da Silva Jorge João para a presidência do CFF. Recém--empossado, ele visitou a Diretoria do CRF-SC em fevereiro, apresentando sua plataforma de atuação à frente do Conselho Federal.

“Nossa intenção é reaproximar o CFF

trutura institucional de representação da categoria.

dos Conselhos Regionais que estão na linha de frente, no contato direto com a categoria em todo o Brasil”, expressou Walter João. Em sua análise, o CFF precisa urgentemente voltar os seus olhos para as demandas urgentes, de condições de trabalho e valorização salarial dos farmacêuticos. “Temos uma série de desafios, porque o Conselho Federal de Farmácia quase parou de respirar, precisamos reoxigenar nossa atuação. Temos 145 mil farmacêuticos brasileiros e já encontramos gente jo-

ABRIL 20124ESPAÇO FARMACÊUTICO

A BUSCA DO REALINHAMENTOENTRE CFF E CRF-SC

vem e desestimulada com a profissão, gente desencantada, o que é lamentável não só para a categoria, mas para a saúde pública do Brasil”, pontuou o presidente do CFF.

Na reunião com a diretoria do CRF--SC, Walter João sinalizou que pretende elaborar linhas de ação que ajudem a fortalecer os sindicatos. “Percebemos que há uma grande dificuldade de homologar acordos salariais vantajo-sos, e entendo que há necessidade de aprimorar a defesa jurídica de nossos interesses. O CFF precisa investir nisso, para ter uma força jurídica grande nas negociações”.

A presidente do CRF-SC, Hortên-cia Tierling, avalia que essa foi “uma reunião de trabalho importante, e histórica, com o presidente do CFF e sua assessoria, para ouvir o resultado de nosso trabalho frente ao CRF-SC e junto às demais entidades representa-tivas da nossa categoria. Estamos soli-citando formalmente o apoio do CFF nas lutas que travamos pela valorização social e salarial do profissional farma-cêutico. Pois a valorização tem que se manifestar em melhor remuneração e condições de trabalho em todas as áreas de atuação”.

Para o CFF compreender a dimensão do trabalho desenvolvido pelo CRF--SC, foram apresentadas estatísticas reveladoras: Nos últimos 9 anos, o

“Temos um projeto de piso salarial no Congresso Nacional, mas será que o Congresso vai querer legislar sobre o piso específico de uma categoria? Tenho minhas dúvidas, pois a atribui-ção legislativa é com o piso nacional de salário mínimo”.Walter João, presidente do CFF.

índice de Assistência Farmacêutica em Santa Catarina subiu de 40% para 85% durante todo o horário de funcionamento. Essa marca inédita só foi alcançada como consequência do trabalho de fiscalização perpetrado pelo Conselho nos sábados, domingos, feriados e madrugadas. “Essa é uma postura distintiva de Santa Catarina: o CRF-SC visita os estabelecimentos farmacêuticos em todos os horários de funcionamento, inclusive os não--comerciais, como madrugadas e fe-riados, para fazer cumprir a lei que determina a presença do profissional farmacêutico”, esclareceu Hortência Tierling, que também presidente a Comissão de Fiscalização do CRF-SC.

Em 2011, foram realizadas 22.347 visitas, com 200 autos de in-

145 mil farmacêuticos representados pelo CFF: os colegas catarinenses estabeleceram como prioridades a Farmácia Estabelecimento de Saúde e a jornada de 30 horas, e agora que-rem o apoio do Conselho Federal.

5ABRIL 2012ESPAÇO FARMACÊUTICO

fração por falta de RT, 61 autos por falta de inscrição no CRF-SC, 353 por ausência do Responsável Técnico, 321 por irregularidades no cumprimento da carga horária. Outras 36 empresas foram denunciadas ao MP ou Visa. A consolidação da política gestora públi-ca que reconhece a necessidade social do farmacêutico continua a ser desen-volvida pelo CRF-SC, com ações de inclusão dos farmacêuticos no SUS. “O número de prefeituras registradas no CRF com farmacêuticos contratados

“Não posso iniciar meu mandato pensando em me perpetuar. Que-remos piso salarial, prescrição far-macêutica, redução da jornada. Foi isso que nos levou a provocar essa mudança no CFF, são essas as nossas intenções”.Presidente do CFF.

subiu de 36 para mais de 240 entre o final da década passada e o começo dessa. É um índice ímpar no país, fruto de um trabalho que gostaríamos de compartilhar com o CFF”, comentou a presidente do Conselho Regional de Farmácia de Santa Catarina.

Para Paulo Boff, Conselheiro Federal por Santa Catarina, que contribuiu para articular politicamente a mudan-ça de comando no CFF, o momento é auspicioso porque volta-se a abrir um espaço para a implementação de pensamentos de vanguarda no Con-selho Federal. “Estamos apresentando as reivindicações do Estado, os anseios de nossos colegas catarinenses. Estes anseios passam, por exemplo, por um enfrentamento político corajoso para implantar a jornada de 30 horas de trabalho para os farmacêuticos”. Paulo Boff discorreu sobre os pontos rela-cionados às questões profissionais que precisam ser discutidos e enfrentados pelo CFF, como por exemplo nas ques-tões relacionadas à educação, com duas entidades com a mesma função, duas federações de farmacêuticos, etc.“É pela convergência que a gente atua. Então, precisamos nos debruçar sobre os pro-blemas, sobre as diferenças históricas e encontrar os pontos de consenso, para neles centrar o foco”, analisa o Conselheiro Federal por SC.

O protagonismo político na defesa dos interesses dos farmacêuticos ca-tarinenses tem sido desempenhado por um grupo de profissionais que, desde a década de 1980, vem desen-volvendo teses e propondo rumos para a categoria. Este grupo, naturalmente, é ampliado e renovado ao longo dos anos. Novas gerações somam-se aos pioneiros, e os próprios fundadores são estimulados a revoluções em seus raciocínios e premissas, num virtuoso circuito de troca de ideias. Mas o fun-damento da atuação técnica, científica, social e política desse grupo permanece inalterado ao longo das décadas. Em síntese, esse movimento dos farma-cêuticos defende que a Farmácia é um Estabelecimento de Saúde, e os farmacêuticos são profissionais de saúde com a autoridade máxima no assunto medicamento.

UM POUCO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

O movimento que dá origem e sus-tentação política a esse grupo nasceu nos anos 1980. Forjada nos vibrantes núcleos de Diretórios Acadêmicos, ga-nhou força ao chegar no movimento sindical. Na década de 80, o Sindicato dos Farmacêuticos de Santa Catarina estava, para todos os efeitos práticos, desaparecido. Não tinha representativi-dade nem força para agir em favor dos farmacêuticos. Ex-presidente do DCE no curso de Farmácia, Luiz Henrique Costa, junto com Norberto Rech, li-derou o movimento Avanço na Luta, que propôs mudanças bem-sucedidas na luta sindical em favor de melhores condições de trabalho.

No final da década, integrantes desse movimento começaram a sugerir no-vas políticas de gestão também para o Conselho Regional de Farmácia de Santa Catarina. José Miguel do Nasci-

Paulo Boff, Conselheiro Federal por SC: articulação política em Brasília para promover alternância de poder no CFF e costurar uma nova aliança com os farmacêuticos catarinenses.

ABRIL 20126ESPAÇO FARMACÊUTICO

mento Júnior, José Amazonas Gaspar e Norberto Rech lideravam o grupo de formuladores políticos e articuladores de teses e conceitos que poderiam sig-nificar avanços no Fazer Farmacêutico e valorização do profissional na socie-dade. Esses conceitos têm expressão em melhores condições de trabalho, mas também se expressam em doutrinas de política pública sobre saúde. Para atuar nessa última área, a da política pública, era necessário que o grupo originalmente formado no Sindfar também encontrasse espaços de arti-culação dentro do Conselho Regional de Farmácia de Santa Catarina.

E m 1997, José Miguel vence as eleições para a presidên-cia do CRF-SC, tendo Hortência Tierling como vice. A diretoria eleita, no entanto, não consegue assu-

mir a gestão do Conselho. Um gru-po político adversário, alegando que um dos diretores não havia se elegido conselheiro, solicita a intervenção do Conselho Federal de Farmácia, que retira do comando os representantes democraticamente eleitos pela categoria e impõe interventores. Isso provoca um aprofundamento da crise de relações entre os farmacêuticos catarinenses e o CFF. Isolados do sistema de Conselhos, os colegas catarinenses demonstraram uma capacidade incomum para o en-frentamento de ideias, liderando a linha de frente de proposições que avançam, e até subvertem, o establishment im-posto pelo CFF - um pensamento hegemônico que não admite críticas ou controvérsias.

Desde as eleições de 2003, o grupo que havia sido solapado pela trucu-lência do CFF em 1997 têm tido reconhecimento dos colegas na defesa de teses e posições técnicas e científicas - referentes a formação do farmacêutico, atribuições da categoria, importância da fiscalização, inclusão de farmacêuti-cos no SUS e demais demandas – têm sido aprovadas com estratosféricos ín-

dices de 86% de votos favoráveis nos últimos pleitos. O movimento origi-nal de colegas se espalhou por outras entidades, e hoje também defende a categoria em espaços importantes como a Farma & Farma, o Sindilab, o Sin-dfar-SC, a Abenfar, Anfarmag, SBAC, Fenafar, Enafar, ACCAS, Associação de Farmacêuticos e Bioquímicos da Amures, Associação de Farmacêuticos e Bioquímicos de Chapecó, Associação Catarinense de Farmacêuticos Home-opatas e até mesmo no Sindicato do Comércio Varejista do Vale do Itajaí, onde o piso da categoria é o mais alto do estado.

Ao longo da primeira década do sé-culo XXI, os colegas catarinenses que participam desse movimento passam a assumir o protagonismo científico e político em outras esferas que não a do CFF. Norberto Rech torna-se um dos assessores da presidência da Anvisa. Luiz Henrique Costa vai tra-balhar na Organização Panamericana de Saúde (OPAS), José Miguel do Nascimento Júnior assu-me o Departamento de Assistência

Solidez e credibilidade: CRF-SC conquistou espaços políticos de di-álogo e construção de políticas em entidades e órgãos que, ao longo da última década, foram ignorados pelo órgão máximo de representação da categoria. Agora, busca- se um realinhamento possível de juntar as experiências.

José Miguel Nascimento Júnior: protagonismo político em âmbito estadual e federal, na valorização dos farmacêuticos catarinenses.

7ABRIL 2012ESPAÇO FARMACÊUTICO

Farmacêutica do Ministério da Saú-de, Ronald Ferreira dos Santos passa a defender a categoria como diretor da Fenafar e Hortência Tierling co-manda a gestão do CRF-SC. Dentro do Conselho Federal de Farmácia, o conselheiro federal por Santa Catarina lidera um movimento de oposição à gestão do CFF, ao defender doutrinas alternativas à plataforma de atuação do Conselho Federal.

Paulo Boff sustenta as posições de fortalecimento da presença dos farma-cêuticos no SUS, da Farmácia Estabe-lecimento de Saúde, de alterações nas diretrizes curriculares, da consolidação da necessidade social do farmacêutico na farmácia, e da expansão de políticas farmacêuticas nos Conselhos estaduais e municipais de Saúde. “ Produzimos nesses anos todos um avivamento dos debates, mas não pelo prazer do con-

fronto, e sim para derrubar o mito do pensamento hegemônico, de que só o que está aí é possível”, enfatiza Paulo Boff. “E nossa relação com o Conselho Federal, por mais distante que ficasse nos enfrentamentos, sempre foi com o intuito de voltar, de reaproximar, de torná-lo um espaço onde a plu-ralidade de ideias pudesse vigorar, o que passa a ser possível agora”. Paulo Boff liderou a articulação política que,

junto com colegas de outros estados, levou à vitória a chapa encabeçada por Water Jorge João, que se contrapôs à chapa do ex- presidente que buscava a reeleição.

A visita do presidente do CFF à dire-toria do CRF-SC, portanto, é revestida dessa importância histórica de reapro-ximação dos farmacêuticos catarinenses com a maior estrutura institucional de representação da categoria, como

explica o vice-presidente do Sindfar e assessor técnico do CRF-SC, Ro-nald Ferreira dos Santos: “ a eleição para o CFF, nosso órgão máximo, é indireta, e ocorre apenas com 27 vo-tos de conselheiros federais. Há 14 anos vinha se reelegendo um grupo de dirigentes com grande dificuldade de unificar a categoria farmacêutica. Entre os problemas na gestão, ressaltava-se uma grande centralização de poder e

um afastamento, ao longo da última década, dos espaços onde se define os rumos da saúde pública brasileira”. Conforme a análise de Ronald Ferreira dos Santos, essa situação gerou uma dificuldade de interlocução unitária no processo de formação profissional. “Quando os farmacêuticos de Santa Catarina perceberam que, pelo CFF, não conseguiam avançar na agenda central da categoria – aquela que re-

Reunião de trabalho histórica: após 14 anos, CRF-SC e CFF reencontram bases para um diálogo convergente, com agendas políticas de consenso para a valorização dos farmacêuticos.

ABRIL 20128ESPAÇO FARMACÊUTICO

sulta em emprego, visibilidade social, melhoria salarial e entendimento claro do seu papel na estrutura da saúde pública do país – foi necessário buscar outras alianças, no Ministério Público, Polícia Federal, Sindicatos, Federações, Anfarmag, Sbac, e principalmente o Sindicato dos Farmacêuticos de Santa Catarina, que assumiu um papel prota-gonista na condução dessas questões”.

Walter Jorge João está há cerca de três meses no comando do CFF, e tem uma gestão de 2 anos pela frente. “Confesso que fico aflito pensando em tudo o que tem que fazer. Vejo que o CFF ficou sem fôlego e precisa de oxigênio. Vamos dar nova vida para o Conselho Federal a partir do diálogo com toda a categoria, em todas as instâncias”, diz o novo presidente. Essas conversas já

começaram. Na visita à Santa Cata-rina, Walter João teve um dia intenso de trabalho com os representantes dos farmacêuticos catarinenses. Ouviu mais do que falou. Anotou as demandas, anseios e visões políticas e técnicas dos colegas. Agora é hora de alinhar os pensamentos convergentes e ver quais resultados são possíveis de obter com essa nova estrutura do CFF.

RECONEXÃO?: duas cabeças pensam melhor que uma, desde que pensem no mesmo sentido.

9ABRIL 2012ESPAÇO FARMACÊUTICO

PROCEDIMENTO DE DILUIÇÃO GEOMÉTRICA DE FÁRMACOS

A diluição geométrica é um méto- do oficial de manipu-lação de fárma- cos potentes com o objetivo de facili- tar

e aumentar a segurança e a preci- são da operação farmacêutica de pe- sagem de pequenas quantidades de fármacos potentes para sua manipu- lação. Esse procedimento é emprega- do na ma-nipulação e na manufatura de subs-

[Stoklosa e Ansel, idem].Faixas de diluições sugeridas de acor-

do com a dosagem posológica usual para fármacos de índice terapêu- tico estreito:

Até 0,5 mg – diluição 1:1000 De 0,5 – 5,0 mg – diluição 1:100 De 5,0 mg – 50 mg – diluição 1:10

A Associação Comercial e Industrial de Florianópolis, através de seu Núcleo Setorial de Farmácias Magistrais, acaba de lançar uma revista voltada para o público consumidor e para os profis-sionais prescritores. A revista Magistral traz matérias e esclarecimentos nas di-versas áreas: medicamentos alopáticos e homeopáticos, cosméticos, plantas medicinais, bem como os dados ne-cessários que devem constar na pres-crição e na rotulagem dos produtos manipulados.

A iniciativa tem o apoio do CRF--SC “pois reafirma a importância do profissional farmacêutico enquanto profissional de saúde em uma área que é privativa do nosso âmbito pro-fissional”, diz a presidente do CRF-SC, Hortência Tierling.

Ainda nessa área da atividade profis-sional, em maio a Anfarmag/SC, em parceria com a Anfarmag Nacional e o Conselho Regional de Farmácia do Estado de Santa Catarina (CRF-SC), promoverá o Fórum PROCESSO MA-GISTRAL – MONITORAMENTO E CONTROLE, que tem como objetivo a exposição e debate sobre as especifi-cidades do processo de manipulação magistral e os indicadores de qualidade para a obtenção de produtos seguros e eficazes.

"Esse Fórum abordará a rotina da farmácia e do farmacêutico magistral, os pontos críticos da atividade, da pro-fissão e dos fármacos, os procedimentos de segurança para obtenção de produ-tos eficientes e eficazes e a responsabi-lidade do profissional e da equipe que

atua em farmácia magistral", anuncia o presidente da Anfarmag/SC, Rodrigo Michels Rocha.

Para as palestras que antecedem o debate, nomes importantes do setor magistral nacional trarão suas apresen-tações que refletem as conclusões de seus estudos, pesquisas e visões sobre a atividade magistral, valorizando a proposta de um debate amplo, claro, aberto e necessário para o desenvolvi-mento do segmento e conscientização dos profissionais envolvidos. O público alvo é de farmacêuticos magistrais, as-sociados ou não da Anfarmag e demais farmacêuticos interessados no processo magistral. Um exemplo de informação relevante a ser tratado no Fórum é o processo de diluição descrito abaixo, em artigo técnico da Anfarmag.

tâncias medicinais [Remington in The Science and Practice of Phar- macy, cap.11, pág.118, 20a edição, edi- tora Lippincott Williams & Wilkins, 2000 e Stoklosa Ansel in Pharmaceu- tical Calculations, cap. 8, páginas 144 e 145, 11a edição, editora Lippincott Williams & Wilkins,2001].

Em diluições de sólidos, o diluente freqüentemente utilizado é a lactose

Artigo técnico Anfarmag

AVANÇOS NO SETOR MAGISTRAL

ABRIL 201210ESPAÇO FARMACÊUTICO

PROCESSO DE DILUIÇÃO GEOMÉTRICA:

O farmacêutico, após receber a ma- téria-prima já analisada e aprovada pelo Laboratório de Controle de Qualida- de, calcula (conforme os itens a, b, c abaixo), a quantidade do princípio ativo e do excipiente que serão utili-zados e registra os dados na ficha de diluição.

O processo de diluição deve ser rea-lizado conforme descrição abaixo, de acordo com a diluição desejada:

A. Diluição Geométrica (1:100 ou 1%) - 1g do fármaco + 99g de diluen- te (excipiente)

Etapas EXEMPLO DE UMA FICHA DE DILUIÇÃO:

Fármaco diluição 1:100 (1%) Fator de correção: 100 Lote no:

Nome do fármaco:1g

Lote/Fornecedor

Diluente utilizado: 99 g

Lote/Fornecedor

Peso final após diluição: 100g

Assinatura do técnico responsável pela diluição:

Assinatura do farmacêutico res-ponsável:

Data da diluição:

Nota: Escrever as etapas da diluição geométrica e assinalar a cada pesagem, registrando o que já foi pesado.

Nota: Para diluições líquidas devem ser utilizadas as mesmas proporções, utilizando como di-luente um veículo compatível e totalmente solúvel.

· Pesar 1g do fármaco, vertendo-o em um gral de porcelana;

· Adicionar 1g do diluente no gral, homogeneizar e observar a homoge-neização; · Adicionar 2g do diluente no gral, homogeneizar e observar a homo-geneização; Adicionar 4g do di-luente no gral, homogeneizar e assim sucessivamen- te, 8g – 16g – 32g, até completar as 100g da diluição;

· Efetuar a tamisação da mistura dos pós, preferencialmente em tamis de ma-lha compreendida entre 50 a 100 mesh;

· Transferir a mistura tamisada para um novo gral limpo e sanitizado;

· Misturar o pó no gral com pistilo, revolver o pó no fundo e laterais do gral,

bem como o pó aderido no pistilo; · Embalar e armazenar a diluição em

frasco de vidro âmbar adequado para armazenamento de matérias-primas, protegido do calor, devidamente iden- tificado com a especificação da diluição realizada, fator de correção da diluição e assinatura do responsável pela dilui- ção (veja modelo de ficha de diluição).

B. Diluição Geométrica (1:10 ou 10%): segue o mesmo procedimento anterior, com a diferença que neste caso considera-se 1g do fármaco + 9g do diluente.

C. Diluição Geométrica (1:1000):mesmo procedimento anterior, com

a diferença que neste caso, considera-se 1g do fármaco + 999g do diluente.

11ABRIL 2012ESPAÇO FARMACÊUTICO

ILHA DA MAGIA FARMACÊUTICAFlorianópolis vai sediar, em agosto, o Congresso da Fenafar, que reúne delegados de todo Brasil e

na edição 2012 adota uma linha de argumento centrada no Fazer Farmacêutico.

V alorizar o trabalho do far-macêutico contribui para a saúde e o desenvolvimento do Brasil”. Dificilmente se

poderia deixar mais clara ou sucinta a lógica que determina o centro das atenção no próximo Congresso da Fenafar. “Não é que das outras vezes não estivéssemos focados no nosso Fazer”, esclarece Célia Chaves, pre-sidente da Fenafar. “Mas nesa edição decidimos externar explicitamente à sociedade que a qualidade da saúde pública brasileira não pode prescindir da valorização do trabalho do farma-cêutico”.

O Congresso ocorre em agosto, dias 9, 10 e 11, no hotel Sesc Cacupé, em Florianópolis, com a participação de mais de 200 delegados de todas as regiões do Brasil. A Fenafar, tra-dicionalmente, delineia três grandes

temas de debate. O primeiro sempre tem enfoque político. “Temos de fazer um esforço sistemático para levar à categoria a compreensão de que todas as questões políticas maiores, inclusi-ve de caráter internacional, têm uma repercussão direta no nosso trabalho”, diz Célia Chaves.

Um exemplo recente e bem-acabado disso são as consequências da crise econômica mundial no mercado de trabalho. “O que está acontecendo?”, pergunta a presidente da Fenafar. “Es-tamos vendo trabalhadores da Europa vindo para o Brasil em busca de opor-tunidades, pois o desemprego chega a alcançar 25% da população em países como a Espanha. Daqui a pouco isso certamente terá um impacto no nos-so mercado de trabalho, e precisamos decidir como acolher nossos colegas de outros países sem gerar uma crise interna”.

O segundo tema do Congresso costu-ma ser de ordem sindical, referendado no mundo do trabalho. “Os delegados são responsáveis por formular soluções que respondam aos anseios da categoria por melhores relações de trabalho e condições de trabalho. Isso é próprio da organização sindical”, explica Célia Chaves.

O último tema é focado nas ques-tões de saúde, mais propriamente da Assistência Farmacêutica, já que esse é, propriamente, o Fazer Farmacêutico. “São temas que sempre estão presentes no Congresso, as questões políticas, trabalhistas e da saúde – tudo isso estará presente também no Seminário que ocorre paralelamente ao Congresso, promovido pela Enafar, presididida pela Silvana Nair Leite”, relata Célia Chaves.

ABRIL 201212ESPAÇO FARMACÊUTICO

CONGRESSODA FENAFAR

VALORIZAR O TRABALHO DO FARMACÊUTICO CONTRIBUI PARA A SAÚDE E O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

Realização:

Apoio:

Federação Nacionaldos Farmacêuticos

Hotel Sesc Cacupé - SC

9, 10 e 11de agosto de 2012

SEDE DA FENAFARRua: Barão de Itapetininga,255, 11º andar - Conjunto 1105 - CEP 01042-001 -

Centro - São Paulo - SP - Fones/Fax: (11) 3259-1191 - 3257-9126

www.fenafar.org.br

Rua Haroldo Soares Glavan, 1670 - Florianópolis - SC

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cartaz.pdf 1 27/02/12 17:33

Eleições no SindFarA escolha de rumos para a categoria

Os farmacêuticos escolhem em abril a nova direção do SindFar para o pe-ríodo 2012/2015. A votação aconte-cerá pela via postal e acaba no dia 11 de abril, quando também é possível votar na sede do sindicato. Além de cumprir o papel burocrático de obe-decer ao estatuto do sindicato com a substituição do mandato, a eleição também é momento do profissional filiado refletir sobre os rumos que deseja para a luta da categoria.

Dentre os compromissos da nova diretoria, que tem à frente a atual diretora financeira Fernanda Mazzini, está a aproximação da base dos farma-cêuticos para a construção coletiva do sindicato para lutar pela valorização do trabalho farmacêutico. “Deseja-mos que a valorização do trabalho Farmacêutico seja o centro dos nossos esforços políticos, seja no setor privado ou no público. O foco principal do

SindFar não pode ser a Farmácia ou o Laboratório, mas o farmacêutico”, afirma a candidata.

Quem pode votar:Podem votar todos os farmacêuticos

inscritos no CRF/SC e filiados ao Sin-dFar em dia com a anuidade do sin-dicato. Até 27 de março, conforme determina o estatuto, o SindFar de-verá publicar no site a relação dos associados aptos a votar.

Como votar:Os filiados receberão

a cédula pelo correio e deverão remeter ao SindFar pela mesma via preferencialmente com uma semana de antece-

dência do fim do prazo para garantir que o voto chegue a tempo e seja considerado válido (até 04 de abril).

Quanto votar:Pelo correio, postando o voto até

04 de abril ou na sede do sindicato em 11 de abril, entre as 12h e as 18h.

Chapa “Superação e Trabalho”

Presidente: Fernanda MazziniVice Presidente: Cleidson ValgasSecretário Geral: Isabel Arena de Kami1º secretário: Luciane PereiraTesoureiro geral: Caroline Junkes da Silva1º tesoureiro: Anna Paula de Borba BatschauerDiretor de Comunicação: Ronald Ferreira dos SantosDiretor de Assuntos Sociais: Karina Luiza LuckmannDiretor de Assuntos Jurídicos: Fernanda ManziniDiretor de Formação Sind. e Estudos Sócio-Econômicos: Luciano SoaresDiretor de Saúde do Trabalhador: Hortência Salett Muller TierlingDiretor Administrativo: Deise Cristina da SilvaDiretor de Relações Inter Sindicais: Silvana Nair LeiteConselho Fiscal: membro titular: Paulo Sergio Teixeira de AraujoMembro titular: Luiz Henrique CostaMembro titular: Paulo Roberto BoffMembro suplente: Norberto Rech

Congresso da Fenafar, em Florianópolis:Enfoques políticos, trabalhistas, e nas questões de saúde. Em paralelo, um seminário promovido pela Enafar.

13ABRIL 2012ESPAÇO FARMACÊUTICO

OS PRÓXIMOS PASSOS DA AF

A Assistência Farmacêutica no novo marco regulatório foi o tema do VI Fórum Nacional de Assistência Farmacêutica, onde foram debatidas as ações da Assistência Farmacêutica em um

contexto das novas regulamentações do Sistema Único de Saúde (SUS).

Realizado pelo Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos da Secretaria de Ciência, Tec-

nologia e Insumos Estratégicos do Mi-nistério da Saúde (DAF/SCTIE/MS), o VI fórum “é o momento que as três instâncias gestoras, União, estados e municípios, podem trocar informações para definir diretrizes de ação”, explica

Lore Lamb, farmacêutica responsável pelo núcleo de assistência farmacêutica do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS). Dois temas es-tiveram em pauta: o primeiro foi a implementação do Decreto 7508/11 e as diretrizes da Relação Nacional de Medicamentos (RENAME). “Projeta-mos a nova RENAME nas premissas do novo decreto. Participaram desta

discussão o CONASS, CONASEMS e diversas áreas da saúde. O elenco de medicamentos dela está em processo de pactuação e deve ser discutida e pactuada na Comissão Intergestores Tripartite (CIT)”, afirmou o coorde-nador do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica (DAF/SCTIE/MS), Rodrigo Fernandes Alexandre.

ABRIL 201214ESPAÇO FARMACÊUTICO

O segundo tema tratou dos desafios da Assistência Farmacêutica no Com-plexo Econômico - Industrial da Saúde. “São objetivos fortalecer o Comple-xo Produtivo e de inovação em saúde como vetor estruturante da Agenda Na-cional de Desenvolvimento; articular o uso do poder de compra do Estado para alcançar as metas prioritárias de acesso com qualidade; priorização da produção no país que gera renda, em-prego e conhecimento; uso estratégico da regulação para o acesso, a inovação e a produção local e a implementação de uma estrutura de financiamento à inovação não fragmentada e que induza fortemente o sistema produtivo para as necessidades de saúde”, explicou o secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE/MS), Carlos Gadelha.

As Redes de Atenção à Saúde (RAS) e a inserção da assistência farmacêutica e o Sistema Hórus como estratégia para a qualificação da assistência farmacêutica

Complexo produtivo: fortalecer a inovação é estratégico para o país.

no SUS também foram debatidos no Fórum, e apresentadas as diretrizes norteadoras para a organização do sis-tema de assistência farmacêutica nas redes de atenção à saúde e pontuadas observações sobre a saúde do brasileiro na atualidade.

No segundo dia do evento, os te-mas tratados foram o Programa Far-mácia Popular e o plano de ações de enfrentamentos às doenças crônicas não transmissíveis; os arranjos produtivos locais como tecnologia social para o de-senvolvimento do Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos e as ações de educação permanente em assistência farmacêutica. “A Farmácia Popular é parte integrante da assistên-cia farmacêutica e participa do Plano Brasil Sem Miséria, cujo objetivo é o de contribuir para erradicar a extrema pobreza no país. São 962 municípios que estão inseridos no Plano e que são atendidos pela Farmácia Popular. E a nossa meta é a inserção do Programa

nas Redes de Atenção à Saúde”, con-ceitua o Coordenador-Geral de Gestão (DAF/SCTIE/MS), responsável pelo Programa Farmácia Popular do Brasil, Marco Aurélio Pereira.

A fragmentação da Farmácia nas últi-mas décadas, bem como o afastamento

Educação continuada: atenção farma-cêutica depende de profissionais com-prometidos.

15ABRIL 2012ESPAÇO FARMACÊUTICO

Eixo 3 – Educação permanente: considerando que a prática da atenção farmacêutica depende, sobretudo, de que haja profissionais comprometidos e capacitados para o desenvolvimento desta prática, é fundamental discutir que competências são necessárias para esta prática, como subsídio para de-lineamento de estratégias adequadas de ensino e processos de formação de multiplicadores, na perspectiva da educação permanente. Esta questão é fundamental no momento em que se discute a implementação das diretrizes curriculares de Farmácia nas escolas e também começam a surgir vários cursos de aperfeiçoamento e pós-graduação em atenção farmacêutica, com dife-rentes referenciais e enfoques.

do farmacêutico do objeto principal de sua existência profissional – o ser humano – vêm expondo hoje, com maior intensidade, os seus reflexos negativos, os quais não mais podem ser negligenciados. Assim, a Assistência Farmacêutica insere-se em alguns eixos a serem aprimorados:

Eixo 1 - A filosofia da prática: tendo em vista que a atenção farmacêutica é concebida como uma prática do far-macêutico, faz-se necessário discutir, de forma mais ampliada, como sua fi-losofia, encarada como base conceitual, deve nortear esta prática. Pretende-se discutir a adequação, clareza e aplica-bilidade da proposta de Consenso à realidade brasileira, considerando, é claro, possível particularidade e dife-rença regional.

Eixo 2 - Viabilização de estratégias de ação: a promoção da prática da atenção pressupõe a viabilização de estratégias nos âmbitos político, econômico, de organização, educação e pesquisa e le-gislação e regulamentação. Durante a realização da oficina de trabalho e reu-niões complementares foram propostas várias estratégias (anexo 1), que po-dem ser revistas e acrescidas de outras estratégias, estabelecidas prioridades e propostas articulações e ações para sua viabilização.

Acesso e uso racional: a busca de estratégiasABRIL 201216

ESPAÇO FARMACÊUTICO

O Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos (DAF) do Ministério da Saúde (MS), responsável pela implantação, monito-ramento e avaliação das Políticas Nacio-nais de Medicamentos e de Assistência Farmacêutica no Brasil, tem buscado desenvolver várias estratégias para am-pliar o acesso e fortalecer a promoção do uso racional dos medicamentos no país, como exemplo:

por Karen Sarmento Costa*

FÓRUM NACIONAL DE ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA:

a) Organização e regulamentação do financiamento público para ga-rantia da disponibilidade dos me-dicamentos nos serviços de saúde;

b) Elaboração de documentos téc-nicos, como: a Relação Nacional de Medicamentos Essenciais – RENA-ME; o Formulário Terapêutico Na-cional – FTN; Temas Selecionados para o Uso Racional de Medicamen-tos; as Diretrizes para a Estruturação de Farmácias no âmbito do SUS, dentre outros.

c) Implantação de cursos de educa-ção para qualificação dos farmacêu-ticos na gestão e no cuidado;

d) Desenvolvimento de instrumen-tos tecnológicos, como o Sistema Nacional de Gestão da Assistência Farmacêutica – Hórus.

No entanto, apesar dos avanços ob-servados desde 2003 na organização dessa Política e no seu financiamento, reconhece-se a necessidade de superar o entendimento da Assistência Farma-cêutica, com foco no medicamento para o cuidado com as pessoas.

Para isso, é imprescindível a discus-são desse cenário com os diferentes atores da sociedade brasileira, com a perspectiva de analisar as práticas nos serviços e propor estratégias in-terfederativas para a qualificação da Assistência Farmacêutica no Sistema Único de Saúde (SUS).

Com esse propósito, o DAF tem re-alizado anualmente o Fórum Nacional de Assistência Farmacêutica que reúne representantes da OPAS/OMS, das três esferas de gestão (CONASS, CONA-SEMS, COSEMS), as instituições de ensino superior, as entidades represen-tantes dos farmacêuticos (FENAFAR, ABENFAR, CRF e Sindicatos), entre outros.

No ano de 2011, com o tema As-sistência Farmacêutica no novo marco regulatório, foram apresentadas e dis-cutidas as mudanças no SUS a partir da publicação do Decreto no 7.508/2011 e as relações com o campo das Polí-ticas Farmacêuticas, dentre as quais destaca-se a publicação das Diretrizes Nacionais da Relação Nacional de Me-dicamentos Essenciais (RENAME).

UMA REFLEXÃO SOBRE AS PERSPECTIVAS NACIONAIS

17ABRIL 2012ESPAÇO FARMACÊUTICO

Contudo, a agenda central dos gestores de saúde no século XXI, está voltada para a discussão do enfren-tamento das condições de saúde das populações, com predominância das condições crônicas, e a superação da fragmentação dos sistemas de saúde.

É nesse contexto, que propõem como estratégias a organização dos sistemas por meio de Redes de Atenção a Saúde (RAS), que devem ser coordenadas e orientadas pela atenção básica, com o objetivo de integração sistêmica de ações e serviços de saúde, promovendo uma atenção contínua, integral, de qua-lidade e humanizada, além de aumentar o desempenho do Sistema, em termos de acesso, equidade, eficácia clínica e sanitária e eficiência econômica.

Nesse momento, torna-se funda-mental a discussão do papel da Assis-tência Farmacêutica no atual estágio de desenvolvimento no SUS e como avançar conjuntamente na perspectiva das RAS que busca responder de forma organizada e integrada as necessidades de saúde da população brasileira.

Avalia-se que o modelo vigente no campo da Assistência Farmacêutica que ainda valoriza a disponibilidade do me-dicamento não atende as necessidades propostas pelas RAS. Assim, durante o Fórum foi lançado nacionalmente as proposições das diretrizes nortea-doras para a inserção da Assistência Farmacêutica nas RAS, iniciando a discussão na agenda nacional com o público do evento;

(Disponível em:www.saude.gov.br).Reconhece-se como diretriz para in-

serção da Assistência Farmacêutica nas RAS, a atividade clínica do profissional farmacêutico, que deve envolver uma construção de vínculo entre o profis-sional e o usuário, objetivando atingir os objetivos terapêuticos desejados.

Porém, as diversas mudanças neces-sárias para superar o modelo vigente, exigirá uma pactuação coletiva com a

sociedade brasileira. Os princípios e as diretrizes do SUS não poderão ser concretizados, na prática dos serviços, sem a inserção efetiva da Assistência Farmacêutica como uma ação e uma Política Pública de Saúde. Para isso, a sua estruturação torna-se um grande desafio para os gestores e profissionais de saúde.

*KAREN SARMENTO COSTA é Farmacêutica graduada pela Pon-tifíca Universidade Católica de Campinas. Especialista em Saúde Pública -UNESP/Araraquara. Mestre e Doutoranda em Saúde Coletiva/Epidemio-logia - FCM/DMPS/UNICAMP- trabalhando com Inquérito de Saúde, com ênfase na utilização de medicamentos e os fatores determinantes do uso nas populações. Experiência na gestão da Assistência Farmacêutica na Secretaria de Municipal de Saúde de Campinas. Atualmente Coordenadora Geral de Assistência Farmacêutica Básica, no Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde.

Sendo assim, conclui-se como po-sitiva as perspectivas de avanços na Assistência Farmacêutica no SUS nos próximos anos, com o reconhecimento do profissional farmacêutico nesse ce-nário, e a importância dos espaços de discussão e construção coletiva, como o Fórum Nacional de Assistência Far-macêutica.

Luís Henrique Costa: contribuição no Fórum para o desenvolvimento de Redes de Atenção

ABRIL 201218ESPAÇO FARMACÊUTICO

ESTAMOS DE OLHO NA VERTICALIZAÇÃOO descredenciamento de laboratórios imposto pela Unimed em Chapecó, após a construção de seu

próprio laboratório na cidade, emite um sinal de alerta a respeito de como a verticalização pode redundar em um monopólio da prestação de serviços de saúde. O que não é permitido por lei.

Recentemente, a cooperativa Unimed, que detém mais de 80% do mercado de saúde suplementar em Santa Ca-

tarina, descredenciou três laboratórios de análises clínicas em Chapecó. O rompimento entre a contratante e os prestadores de serviço ocorreu depois que a Unimed inaugurou um labora-tório próprio na cidade para atender o oeste catarinense. Não houve qualquer irregularidade no descredenciamen-to – ele estava previsto nas cláusulas contratuais. Mas há irregularidades, e até ilegalidades, que resultam da concentração do mercado nas mãos de só um agente privado ou público. A isso se chama monopólio, e é passível de punição pelo CADE, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica.

Desde 1995 o processo de vertica-lização vem se acentuando em todo o território nacional, com operadoras de planos de saúde construindo clínicas e hospitais próprios – e agora também laboratórios. Para o acadêmico e autor do livro Repensando a Saúde, Michael Porter, a verticalização leva ao con-trole absoluto do mercado. “Há um princípio legal e ético segundo o qual o médico não pode gerar demanda para o seu próprio serviço, e algumas interpretações sugerem que isso vem ocorrendo quando a Unimed – uma cooperativa de médicos – exige que

exames sejam feitos nos seus laborató-rios próprios”, pontua Marcos Koerich, conselheiro do CRF-SC.

Em Joaçaba, onde a Unimed também descredenciou um laboratório, o Sin-dlab foi chamado por proprietários de outros estabelecimentos prestadores de saúde. Segundo a narrativa deles, repre-sentantes da Unimed teriam convocado a todos para uma reunião, e informado que dali por diante todos os exames ter-ceirizados teriam de ser enviados para o laboratório da Unimed. Como sabe todo farmacêutico que já trabalhou em laboratório, é uma rotina enviar certos exames para outros laboratórios, por questões de custo ou de tecnologia. “Nós orientamos nossos associados a não se submeterem a essa imposição da Unimed, pois os laboratórios têm a liberdade de terceirizar seus exames da forma que melhor lhes convier”, informa o diretor do Sindlab, Tércio Egon Paulo Kasten. “Caso a Unimed insista nesse assunto, o melhor a fazer é solicitar que o plano de saúde envie por escrito essa determinação, pois assim teremos um documento que pode ser contestado judicialmente”, explica Tércio.

Marcos Koerich ainda pondera que o convênio não pode forçar o prestador a fazer algo que não é permitido por lei. “Vamos manter em mente o princípio de que o farmacêutico-bioquímico tem

relação direta com o paciente e é o res-ponsável pela sua segurança, portanto é quem tem o poder decisório em todas essas questões”, avalia Marcos Koerich.

Entre os estabelecimentos de saúde é dado como inexorável o fato de que a sociedade brasileira precisa definir a abrangência e os limites da vertica-lização na saúde privada, bem como quais órgãos farão a regulação, pois está se chegando a um ponto em que esta onda começa a comprometer a sobrevivência das instituições de saúde independentes. Nesse momento em que os laboratórios se sentem ameaça-dos, Tércio Egon Paulo Kasten dá dois conselhos: 1) não aceite normas por imposição verbal, exija tudo por escrito, para haver documentação que possa servir de base para autos processuais. 2) O convênio não pode estabelecer normas que não existam em contrato. O Sindlab e o CRF-SC podem ser consultados em casos de conflito, com pareceres dos departamentos jurídicos.

Exames da discórdia: farmacêutico--bioquímico é responsável pela segu-rança do paciente e não deve aceitar imposições verbais da contratante.

19ABRIL 2012ESPAÇO FARMACÊUTICO

E SE O MEDICAMENTO FOR

ABRIL 201220ESPAÇO FARMACÊUTICO

E SE O MEDICAMENTO FORPIRATA?CRF-SC promove série de palestras sobre a responsabilidade dos farmacêuticos no

combate à pirataria de medicamentos, considerada o crime do século XXI. O problema é mais pronunciado em países onde a fabricação, importação, distribuição, fornecimento e

venda de medicamentos são menos regulados e a fiscalização é deficiente.

Desde fevereiro, o CRF-SC vem promovendo pales-tras gratuitas para os far-macêuticos catarinenses a

respeito do drama da falsificação de medicamentos, e a responsabilidade profissional da categoria no combate à pirataria. Para tratar do assunto, o CRF-SC convidou o renomado dele-gado de Polícia Federal e ex-assessor--chefe de segurança institucional da

ANVISA, Adílson Batista Bezerra, que tem viajado pelas diversas regi-ões catarinenses proferindo palestras sobre o tema. “São palestras gratuitas de orientação, que o CRF-SC oferece aos farmacêuticos catarinenses com o objetivo de alertar sobre suas responsa-bilidades civis, éticas e criminais, para que eles não venham a ter produtos irregulares nas prateleiras, pois a Responsabilidade Técnica abrange

seus próprios atos, e daqueles que são por eles supervisionados, inclusive do proprietário da farmácia”, explica a presidente do CRF-SC, Hortência Tierling.

Entre 2009 e 2010, a apreensão de medicamentos falsificados no país aumentou 500%. Só no ano passado,foram descobertos 18 milhões de medicamentos irregulares no Brasil. Até agora, os medicamentos falsifica-

21ABRIL 2012ESPAÇO FARMACÊUTICO

dos que foram descobertos raramente fazem efeito e, em muitos casos, têm sido perigosos e prejudiciais à saúde pública. “Nos últimos 4 anos, apreen-demos 400 toneladas de medicamen-tos falsos e efetuamos 700 prisões em flagrante”, afirma o delegado Adílson Batista Bezerra.

Medicamentos falsificados são aque-les deliberada e fraudulentamente rotu-lados de forma incorreta com relação à identificação e/ou fonte. A falsificação pode se aplicar tanto a produtos de marca quanto a genéricos, sendo que os mesmos podem incluir produtos com os princípio corretos ou incorretos, sem

Contrabando: medicamentos piratas entram pelas fronteiras e são comercializados sem qualquer garantia de proce-dência ou qualidade. Um crime contra a saúde pública que ocorre principalmente em farmácias sem farmacêuticos.

princípios ativos, com princípios ativos insuficientes ou com embalagem falsa.

Nos países ricos, a falsificação en-volve "hormônios caros, esteroides, medicamentos anticâncer e produtos farmacêuticos relacionados ao estilo de vida", conforme relatório da Or-ganização Mundial da Saúde (OMS).

Já nos países em desenvolvimento, es-pecialmente na África, medicamentos falsificados costumam estar disponíveis para o tratamento de doenças graves como malária, tuberculose e Aids. No Brasil, sobressai-se a pirataria de produtos para disfunção erétil (como Viagra) , para tratamento de câncer,

antibióticos e vacinas contra a gripe. O índice de utilização de medicamentos falsos está entre um dos maiores do mundo. A falsificação de medicamen-tos é considerada crime hediondo e o farmacêutico envolvido pode ser preso e enquadrado por tráfico de drogas.

Cada vez mais, esse tipo de pirataria

conta com a estrutura do crime orga-nizado, principalmente a do tráfico de drogas. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a maioria desses medicamentos é fabricada em países do Sudeste Asiático.

“Verificamos na mídia nacional que colegas foram presos e enquadrados

ABRIL 201222ESPAÇO FARMACÊUTICO

Traficante?: sim, a legislação equipara a venda de medicamento falso ao tráfico de droga, e pune com o mesmo rigor, de 10 a 15 anos de detenção.

por tráfico de drogas porque possuiam medicamentos falsificados em farmá-cias nas quais exerciam a RT. Então, começamos o trabalho de orientação da categoria, para que possa auxiliar as autoridades sanitárias e policiais no combate à pirataria de medicamentos”, diz Hortência Tierling, presidente do

CRF-SC.A OMS prevê que cerca de 25%

dos medicamentos utilizados em países em desenvolvimento, como Brasil, Ín-dia, Rússia e Turquia, são contrafeitos ou de qualidade ruim. Apenas em 2010, mais de 16% das comercializa-ções teriam sido de produtos ilícitos.

Segundo as estimativas, isso representa um prejuízo de US$ 75 bilhões no faturamento da cadeia farmacêutica mundial. Dados do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (Etco) revelam que a informalidade corresponde hoje a pelo menos 30% do setor. Apenas com a sonegação fiscal de medicamen-

médico grego Dioscorides identificou tais produtos e forneceu orientações sobre a sua detecção. Apesar de todos os avanços ocorridos ao longo dos anos, essa preocupação não desapareceu. No passado mais recente, a proliferação não regularizada de indústrias e produtos farmacêuticos trouxe consigo muitos

tos, o Brasil acumula um prejuízo de R$ 2 bilhões a R$ 3 bilhões, por ano.

O interesse pela qualidade dos me-dicamentos é tão antigo quanto os medicamentos propriamente ditos. Escritos datados do século IV a.C. advertem sobre os perigos de medi-camentos adulterados e, no século I, o

Por um punhado de dólares: A Anvisa prendeu, no RJ, uma quadrilha que falsificava medica-mentos de combate à neoplasia. Cada ampola custava R$ 4 mil. O medicamento era tóxico e inócuo no combate à doença. Crianças com esperança de cura morriam durante o tratamento.

23ABRIL 2012ESPAÇO FARMACÊUTICO

e diversificados problemas de variada magnitude. A falsificação é apenas um exemplo.

A penalidade aos estabelecimentos que possuirem medicamentos piratas varia desde o pagamento de multa até a cassação definitiva da ordem para funcionar. A fiscalização das farmácias e drogarias pelo sistema de Vigilân-cia Sanitária e Conselhos Regionais de Farmácia é a ferramenta principal para autuar e penalizar as empresas que comercializem medicamentos alterados, falsificados, adulterados ou fraudados, previsto na legislação. Na esfera criminal, é preciso avaliar cada caso. O Código Penal estabelece que a venda, comercialização, exposição, manutenção e estoque de medicamen-tos falsificados é um crime classificado como hediondo, um crime contra a saúde pública, que tem uma pena mí-nima estabelecida de 10 anos.

ADILSON: foi em 1999, antes da

Espaço Farmacêutico: quando foi o auge da falsificação de medicamentos no Brasil?

Espaço Farmacêutico: quais as modalidades de pirataria de medi-camentos?

Delegado da Polícia Federal

ENTREVISTA: ADILSON BATISTA BEZERRA

O Brasil produz, distribui e comercializa anu-almente, mais de 1 bilhão de medicamentos e o segmento nacional ocupa a nona colocação no mercado mundial. Mas, devido à falta de uma legislação vigente, o número de apreen-sões de medicamentos adulterados, somente nos anos de 2008 e 2009, aumentou 730%.

criação da Anvisa. Havia uma grande operação criminosa de falsificação dos medicamentos mais rentáveis, como os destinados ao combate da neopla-sia. O poder público respondeu a essa demanda com a criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, e o crime migrou para a falsificação de drogas de estilo de vida, como nós costumamos chamar. Hoje os medi-camentos mais falsificados no Brasil

são o Viagra e o Ciallis, facilitadores de ereção; a Durateston, Deca Durabolin e Hemogenin, hormônios chamados de “ampliadores de performance” e usados por atletas e fisioculturistas.

ADILSON: existem os medicamen-tos falsificados, adulterados ou altera-

Medicamentos apreendidos: incidência de crime em farmácias nas quais não há farmacêuticos presentes

Medicamentos apreendidos:

ABRIL 201224ESPAÇO FARMACÊUTICO

Espaço Farmacêutico: qual a res-ponsabilidade criminal do farmacêu-tico que dispensa produtos piratas, mesmo inadvertidamente?

Espaço Farmacêutico: como o farmacêutico pode se precaver para não ter medicamentos pirateados nas prateleiras?

dos. Esses geralmente têm o princípio ativo, porém misturado em propor-ções erradas, e contaminado por outras substâncias. Podem ser um sério perigo para a saúde pública. Um antibiótico com menos princípio ativo acaba por não eliminar a bactéria que se propõe a combater; ao contrário, promove a resistência bacteriana. Existem aqueles medicamentos que não têm registro na Anvisa, como é o caso das anfetaminas para emagrecer. Outra forma de pira-taria é o contrabando ou descaminho. E ainda outra são os medicamentos de procedência ignorada, geralmente fruto de desvios do SUS ou de roubos de cargas.

ADILSON: é muito difícil um farmacêutico reconhecer um medi-camento pirateado. Os criminosos sofisticaram a produção de embalagens, quase igualando às originais, inclusive nos detalhes, e existem mais de 200 mil embalagens diferentes no Brasil, seria desumano exigir o conhecimento de todas. A única forma de evitar o crime é qualificando os fornecedores. O farmacêutico tem que conhecer a distribuidora, que precisa ter a Autori-zação de Funcionamento de Empresa expedida pela Anvisa. Na nota fiscal de compra deve estar escrito o lote do medicamento, e o profissional de saúde tem a obrigação de conferir isso no momento de entrega do material na farmácia ou drogaria. Não pode delegar a outro profissional, porque isso é de-ver do farmacêutico. A pirataria pode ocorrer não durante a fabricação, mas durante o transporte. O farmacêutico

ADILSON: é enorme e grave. O profissional farmacêutico é o único responsável perante a lei pela distri-buição, transporte ou dispensação do medicamento. Sobre a venda do medi-camento pirata não incide o princípio legal da insignificância, de tal forma

que dispensar um comprimido ou um lote inteiro do medicamento falsificado redunda na mesma pena. De acordo com o artigo 273 do Código Penal Brasileiro, a pena de reclusão é de 10 a 15 anos sobre o Responsável Técnico onde o medicamento falso for encon-

trado, e o crime considerado hediondo. De acordo com a portaria 344/98 do Ministério da Saúde, a venda clandesti-na de produtos sob controle especial é equiparada ao tráfico de drogas. Então, a pena é igual ao do sujeito que vende cocaína.

ainda deve conferir, diariamente, o site da Anvisa sobre a retirada de produtos piratas do mercado.

Hediondo: piratear medicamentos é considerado um crime inafiançável, com pena de até 15 anos de reclusão, porque é um crime contra a vida – rouba a esperança de cura do usuário.

25ABRIL 2012ESPAÇO FARMACÊUTICO

AS FLORES DA RESTAURAÇÃO INTERIORFerimentos internos e invisíveis na psique e na alma são a causa de doenças manifestadas no corpo

físico. Este é o conceito cristalino que Dr. Edward Bach sustentou ao propagar seus Florais como terapias complementares na busca da saúde.

Não são alopatia. Não são homeopatia. Não são fitoterapia.

ABRIL 201226ESPAÇO FARMACÊUTICO

AS FLORES DA RESTAURAÇÃO INTERIORFerimentos internos e invisíveis na psique e na alma são a causa de doenças manifestadas no corpo

físico. Este é o conceito cristalino que Dr. Edward Bach sustentou ao propagar seus Florais como terapias complementares na busca da saúde.

Não são alopatia. Não são homeopatia. Não são fitoterapia.

Para tentar ter um vislumbre da complexidade dos con-ceitos inerentes aos Florais, vamos começar dando um

um rápido passeio intelectual pelas bordas da Física Quântica e do Uni-verso Sub-atômico. Em 1983, um dos mais respeitados físicos do século XX publicou um livro chamado “O Ponto de Mutação”. O nome do livro foi extraído de um hexagrama do I-Ching.

No livro, Fritjof Capra compara o pensamento cartesiano ao paradigma emergente no século XX. Diz o físico em seu prefácio: “Meu principal inte-resse profi ssional durante a década de 70 concentrou-se na drástica mudança de conceitos e ideias que ocorreu na física durante os primeiros trinta anos do século e que ainda está sendo elabo-rada nas atuais teorias da matéria. Os novos conceitos em física provocaram uma profunda mudança em nossa visão do mundo, passou-se da concepção mecanicista de Descartes e Newton para uma visão holística e ecológica, que reputo semelhante às visões dos místicos de todas as épocas e tradições”.

Capra lembra que a nova concepção do universo físico não foi facilmente aceita, em absoluto, pelos cientistas do começo do século: “a exploração do mundo atômico e subatômico colocou--os em contato com uma estranha e inesperada realidade que parecia desa-fi ar qualquer descrição coerente. Em seu esforço de apreensão dessa nova realidade, os cientistas tornaram-se ir-remediavelmente conscientes de que seus conceitos básicos, sua linguagem e todo o seu modo de pensar eram inadequados para descrever fenômenos atômicos. Seus problemas não eram meramente intelectuais; remontavam ao signifi cado de uma intensa crise emocional e, poderíamos dizer, até mesmo existencial. Foi preciso muito tempo para que superassem essa crise, mas, no fi nal, foram recompensados por profundos insights sobre a natureza da matéria e sua relação com a mente humana”.

Um desses insights contemplou o médico inglês Edward Bach. Em 1926, ele desenvolveu um método que pro-

O termo "holístico", do grego "holos", "totalidade": refere-se a uma compreensão da realidade em função de totalidades integradas cujas propriedades não podem ser reduzidas a unidades menores.

Hexagrama do I-Ching: “ao tér-mino de um período de decadência sobre vêm o ponto de mutação. A luz poderosa que fora banida ressur-ge. Há movimento, mas este não é gerado pela força... O movimento é natural, surge espontaneamente. Por essa razão, a transformação do antigo torna-se fácil. O velho é des-cartado, e o novo é introduzido”.

 

27ABRIL 2012ESPAÇO FARMACÊUTICO

curava retirar a energia do ambiente e colocá-la nas flores. Para Bach "os remédios elevam nossas vibrações e abrem nossos canais para a recupe-ração do Eu espiritual". A cura se dá não pelo combate à doença, mas pe-las sublimes vibrações captadas pelo remédio de floral na natureza. Bach acreditava "que não há cura autênti-ca, sem que exista uma mudança de perspectiva, uma serenidade mental e uma felicidade interna".

Isso representa exatamente o tipo de quebra de paradigma de pensamento provocado pela realidade da Física Quântica que Fritjof Capra iria estu-dar e explicar quase 60 anos depois. E, ainda hoje, provoca o mesmo tipo de polêmica nos meios científicos que as descobertas recentes do universo sub--atômico provocaram nos pesquisado-res cartesianos. Os Florais de Bach são

Foi Isaac Newton, na verdade, que concretizou esse conceito, que o transformou em teoria científi-ca, em poder. Veneravam Newton quase como a um Deus, reduzindo todo fenômeno físico ao movimento de partículas causado pela força da gravidade. Ele conseguia descrever o efeito exato da gravidade em qual-quer objeto, com equações precisas. Chamadas de Leis do Movimento, elas são o maior feito da ciência no século XVII.

Bem, nas mãos certas, ou melhor, nas mentes certas tais equações fun-cionavam lindamente. Poderia-se usar as leis de Newton para explicar cada movimento. Era um feito tão incrível

 

reputados como eficientes em diversos estudos, porém nenhum método tradi-cional de validação científica conseguiu provar seu mecanismo de ação. Mas esse conflito na Ciência não é novo. O trecho de texto que será reproduzido a seguir vai conduzir você à essência desse debate intelectual, conforme de-fendido pelo físico Fritoj Capra. E, ao mesmo tempo, vai introduzir as bases conceituais que, de certa maneira, fazem parte da filosofia dos Florais:

“Perdoem-me, mas vocês, po-líticos, dificultam as coisas. As ideias da maioria de vocês, de direita ou de esquerda, parecem-me antiquadas e mecânicas como um relógio. Para me explicar, eu preciso retroceder até Des-cartes, que foi o primeiro arquiteto da visão do mundo como relógio. Uma visão mecanicista que ainda domina especialmente vocês. É como se a na-tureza funcionasse feito um relógio. Vocês a desmontam, a reduzem a um monte de peças simples e fáceis de entender, analisam-nas e, aí, pensam que passam a entender o todo.

Mas não foi sempre assim. Não antes de Descartes. Quando ele introduziu isso, provocou uma ruptura revolucio-nária com a Igreja. Descartes queria saber como o mundo funcionava sem a ajuda do Papa, pois para ele, o mundo era só uma máquina. Aí Descartes ficou fascinado pela máquina do relógio e fez dele a sua principal metáfora: ‘vejo o corpo como nada mais que uma máqui-na’. Um homem saudável é um relógio bem-feito, e um doente, um relógio malfeito. E a analogia funciona tão bem que os cientistas passaram a acreditar que todos os seres vivos, plantas, ani-mais, nós, não passamos de máquinas, e isto é falso. Isto tomou conta de tudo: arte, política, economia, etc.

 

BACH, 1926: inconformado com com os tratamentos paliativos que seus colegas trabalhadores recebiam, acreditava haver um meio de curar realmente, inclusive as doenças tidas como incuráveis.

René Descartes ( 31 de março de 1596 – Estocolmo, 11 de fevereiro de 1650 ): “vejo o corpo como uma máquina”. E a metáfora se espalhou para todas as áreas da ciência como se fosse a única verdade. Mas não era, como se descobriu mais tarde, com a Física Quântica.

ABRIL 201228ESPAÇO FARMACÊUTICO

Essa mudança de pensamento induzi-da pelas descobertas do Universo Sub--Atômico exigiu uma nova maneira de entender a vida. A ciência, sem querer, ultrapassou o pensamento mecanicis-ta. Mas toda a sociedade, em todas as suas áreas, da política à educação, ainda tem essa máquina dentro de suas cabeças.Todas essas novas tecnologias,

para a época, que essas leis logo foram adoradas como a teoria correta da realidade, as leis finais da natureza!

O sonho cartesiano do mundo como uma máquina perfeita tornara--se um fato consumado. Isto trouxe inúmeros benefícios às pessoas. Elas podiam fazer coisas com as quais nem sonhavam antes. Era irresistível e, claro, a velha noção do mundo como um ser vivo, sumiu do mapa.

Lembrem-se de que todos os con-ceitos newtonianos baseavam-se em coisas que podiam ser vistas ou ao menos visualizadas. Mas então come-çaram as pesquisas atômicas, e sub--atômicas, o universo dos prótons, dos neutrôns e dos quantus - e o que estavam descobrindo neste mundo estranho e novo eram conceitos que

não podiam mais ser visualizados.Ao se depararem com os absur-

dos fenômenos da física atômica, os cientistas tiveram de admitir que não tinham uma linguagem, nem mesmo uma forma adequada de pensar nas novas descobertas. Foram obrigados a pensar em conceitos radicalmente novos. Para entender porque a ma-téria é tão sólida precisavam desafiar até as ideias convencionais sobre a

existência da matéria, e após muitos anos de frustrações tiveram de ad-mitir que a matéria não existe com certeza e em lugares definidos, mas sim, mostra tendência a existir. Em linguagem científica, não falamos em tendências, falamos em probabilida-des. Todas as partículas subatômicas, elétrons, prótons e nêutrons, mani-

FÍSICA QUÂNTICA: a ma-téria não existe com certeza e em lugares definidos, mas sim, mostra tendência a existir. No nível subatômico não há objetos sólidos. Portanto o que toma a rocha sólida vai além do poder da nossa imaginação.

festam essa estranha existência entre potencialidade e realidade. Então, no nível subatômico não há obje-tos sólidos. Portanto o que toma a rocha sólida, vai além do poder da nossa imaginação. Não posso explicar isto visualmente a vocês, e sim usar equações. Não há metáforas possí-veis. ‘Se as portas da percepção se abrissem , tudo pareceria como é’, disse William Blake.”

29ABRIL 2012ESPAÇO FARMACÊUTICO

 

comunicações e banco de dados causam mais problemas do que os resolvem. A medicina, por exemplo, avançou es-pantosamente em tecnologia, mas o seu custo subiu igualmente. Tornou-se medicina para ricos”, escreve Fritjof Capra.

Ainda em 1926, o médico Edward Bach realizava estudos paralelos aos da Física Quântica, porém na área da saúde. Bach, trabalhando inicialmente como médico alopata, depois homeo-pata especializado na pesquisa em bac-teriologia no Hospital Homeopático de Londres, concluiu que a origem de qualquer doença deve ser investigada no âmbito das manifestações emocio-nais prévias. Para o Dr. Edward Bach, deveria ser tratada a personalidade da pessoa e não a doença. A doença seria o resultado do conflito da alma (Eu Superior - a parte mais perfeita do Ser) e da personalidade (Eu Inferior - o que nós somos, no nosso dia a dia). Ele dizia: "O sofrimento é mensageiro de uma lição, a alma envia a doen-ça para nos corrigir e nos colocar no nosso caminho novamente. O mal nada mais é do que o bem fora do lugar". É um conceito que nada tem de mecanicista, e por isso mesmo confrontou a percepção de realida-de que havia entronizado na época. Mantidas as devidas proporções, a proposição do Dr. Bach equivalia a Galileu afirmando ao Papa que o mundo gira em torno do sol, e não o contrário. Em uma comunidade científica dominada pelo pensamento cartesiano, as ideias de Bach seguiram um caminho já conhecido de tudo o que está além do seu tempo: primeiro é ignorado, depois ridicularizado,

e finalmente aceito. O crescimento da demanda por florais é acentua-damente marcado por usuários bem informados. “São aquelas pessoas que costumam ter mais cuidado em usar medicamentos de forma racional, e muitas vezes são precavidas em re-lação aos medicamentos alopáticos, como antibióticos. São usuários que preferem manter a saúde e preservar o bem estar do que combater doen-ças”, descreve Karen Denez, farma-cêutica homeopática e conselheira do CRF-SC.

A doença como um conflito da alma: a personalidade em guerra com o Eu Superior produz o sofrimento.

A comercialização dos florais tem sua regulamentação na legislação de Boas Práticas em Farmácia, e é de-finida nessa norma como floralte-rapia. "O Manual de Boas Práticas em Essências Florais, elaborado pela ABFH (Associação Brasileira de Far-macêuticos Homeopatas), recomen-da a qualificação e certificação dos fornecedores como uma importante garantia de que as essências teham sido prepardas seguindo os preceitos idealizados pelo DR. Edward Bach", lembra Karen Denez.

ABRIL 201230ESPAÇO FARMACÊUTICO

A SINTONIA DOS FLORAISOs Remédios Florais de Bach

(RFB), constituem um método al-ternativo de tratamento usado hoje largamente na terapêutica de várias patologias em muitos países do mun-do. Os RFB são reconhecidos como tratamento natural pela Organização Mundial da Saúde desde 1956. Em-bora o mecanismo de ação dos Florais ainda não tenha sido elucidado pela ciência newtoniana, eles vêm sendo indicados para o tratamento de várias doenças neuropsiquiátricas. Os es-tudos científicos sobre o assunto são escassos na literatura. Os poucos que existem e, que foram publicados em revistas indexadas, recebem críticas ferrenhas enfatizando um possível efeito placebo.

Como os remédios homeopáticos, os Florais sofrem intenso processo de diluição. Eles são usualmente produ-zidos por gotejamento de essência de flores frescas em água, formando uma solução a qual é subsequentemente adicionado o brandy, originando a "tintura mãe". O brandy tem função preservativa do floral, para ser usado posteriormente. Não foram encon-trados ainda na literatura quaisquer indícios de que os Florais possuam substâncias químicas provenientes das plantas que os originam, que explicassem seus efeitos terapêuticos. Os proponentes para este tratamento afirmam que seu modo de ação não depende de mecanismos moleculares comparáveis a terapêutica conven-cional. Assim como os remédios ho-

meopáticos, eles exercem sua ação através da "energia" que é transmitida das flores para o remédio. Como essa "energia" é de difícil quantificação, muitos críticos ao tratamento argu-mentam que os Florais de Bach (e

todos os outros atualmente utilizados terapeuticamente) são na realidade simplesmente placebos. Além disso, trabalhos utilizando a metodologia científica com o intuito de estudar mais profundamente a eficácia dos RFB são bastante escassos.

Por outro lado, em espécies onde

os florais são utilizados com êxito (os animais na clínica veterinária), o efeito placebo é descartado uma vez que os mesmos são desprovidos de elementos neurofisiológicos res-ponsáveis pela auto-sugestão (Chan-

cellor, 2000). Desta forma, o efeito terapêutico dos Florais ainda não foi esclarecido, mas é passível de comprovação científica através de conceitos e métodos transversais, como os utilizados, por exemplo, para detectar buracos negros na ga-láxia.

Quem sou?: usados na clínica neuropsiquiátrica, os florais têm demonstrado eficácia no tratamento de depressões, causadas por conflitos interiores.

31ABRIL 2012ESPAÇO FARMACÊUTICO

Buraco Negro é uma região do es-paço onde o campo gravitacional é tão forte que nada sai dessa região, nem a luz; daí vermos negro naquela região. Matéria (massa) é que "pro-duz" campo gravitacional a sua volta. Um campo gravitacional forte o sufi-ciente para impedir que a luz escape pode ser produzido, teoricamente, por grandes quantidades de matéria ou matéria em altíssimas densidades. Uma vez que nada sai de um buraco negro, nada de um buraco negro chega até nós. Resta-nos então observá-lo indiretamente, através de sua ação sobre sua vizinhança. "Vemos" um buraco negro observando "coisas" que o rodeiam sob a ação do seu campo gravitacional ou então que "caem" em sua direção, também sob a ação desse mesmo campo gravitacional. Essa observação indireta também é usada como método científico para

estudar os Florais. Os resultados obtidos mos-

tram que, após o tratamento agudo com os Florais de Bach, os efeitos centrais podem ser detectados através de diversos modelos farmacológicos.

Pesquisadoras do Núcleo de Inves-tigações Químico Farmacêuticas, do Centro de Ciências da Saúde, Uni-versidade do Vale do Itajaí, Márcia M. De-SouzaI, Milene GarbelotoI; Karen Denez; e Iriane Eger-MangrichI fizeram um trabalho intitulado “Ava-liação dos efeitos centrais dos florais de Bach em camundongos através de modelos farmacológicos específicos”. Segundo as pesquisadoras, “entre as anomalias do sono, a insônia é uma das que mais acomete a população, atualmente. A insônia prejudica o desempenho do indivíduo, princi-palmente por interferir nos proces-sos de atenção, humor, cognição e

memória (Benca et al., 1997; Roth; Costa e Silva; Chase, 2001; Jessup et al., 2004; Mazza et al., 2004). Para o tratamento da insônia utilizam-se agentes hipnóticos (Maher, 2004). Uma substância com propriedades hipnóticas é aquela que diminui a latência para o sono e aumenta seu tempo total (Norup, 2002). Desta forma, em modelos farmacológicos de sono, o composto que interfere nesses dois parâmetros de forma significativa, possui efeito hipnótico. Com relação a esse efeito, o conjunto de florais utilizado neste trabalho (White ches-tnut, Agrymony e Vervain), produziu de forma significativa [(F = 10,30) p < 0,05] a redução da latência (Figura 2A) e, simultaneamente aumentou o tempo total de sono (Figura 2B) [(F = 10,40) p < 0,05], sugerindo, por-tanto, o efeito hipnótico dos florais avaliados.”

ABRIL 201232ESPAÇO FARMACÊUTICO

Efeito do conjunto de florais Whi-te chestnut Agrymony, Vervain e brand sobre a latência (painel A) e o tempo total de sono (painel B) induzido por pentobarbital sódico em camundongos. Cada coluna re-presenta a média dos experimentos e, as barras verticais indicam os E.P.M. Asterísticos denotam diferenças sig-nificantes (***p 0,001) quando comparados com o veículos.

//

A produção dos florais de Bach é feita de duas maneiras:

O método do sol As flores são colhidas no verão, em

dia de sol e no período de sol a pino. As flores são colocadas em frasco com água colhida na primavera, no mes-mo local. O frasco permanece ao sol por 2 a 4 horas. Bach acreditava que desta maneira, o sol transfere as suas vibrações às flores, tornando-as ener-geticamente impregnadas. As flores são então removidas dessa solução e misturadas ao álcool em porções iguais para a sua preservação. Bach utilizava "brandy" ou "whisky". O líquido é guardado em garrafas.No tratamento a medicação é diluída em água.

Cozimento ou fervuraO outro método é o do cozimento

ou fervura, sendo utilizado para as

flores que não são colhidas ao sol. As flores são fervidas, filtradas e também conservadas em álcool. O floral é administrado por via oral, em gotas.A essência é usada em gotas colocadas em água pura. A dose varia em cada situação, sendo utilizada em geral quatro gotas quatro vezes ao dia.

Os estados emocionais mais im-portantes são o medo, a incerteza, a insegurança, desinteresse, solidão, hipersensibilidade a influências ex-ternas, desespero, cuidado excessivo com outras pessoas.

As essências florais não são nem

Existem 38 Essências Florais de Bach: preparadas a partir dos florais, cada uma para um estado emocional específico. Existe uma combinação de cinco florais de Bach designados para situações difíceis denominada "Rescue Remedy".

alopatia, nem homeopatia, nem fi-toterapia. São compostos energéti-cos cujos princípios ativos não são químicos, mas eletromagnéticos. Sua proposta é predominantemente preventiva e atuam através das ques-tões emocionais. “Os florais atuam precisamente naquelas barreiras ar-raigadas, que a pessoa não consegue transpor sozinha até porque não tem uma consciência latente delas”, asse-gura Karen Denez, também uma das autoras do estudo que comprovou a eficácia dos florais em casos de depressão.

33ABRIL 2012ESPAÇO FARMACÊUTICO

Cada essência trabalha um arquétipo da pessoa, ou seja, as impressões que se tem sobre algo. Carl Jung usava o termo com o significado de estrutu-ras inatas que servem de matriz para desenvolvimento da expressão da psique. São tendências estruturantes que caracterizam um ser. O arquétipo simboliza uma imagem que repre-senta as atitudes conscientes de um sujeito. Desta forma, por exemplo, dr. Edward Bach sintonizou o floral Gorse para os desesperançados:

13-GORSE( Ulex europaeus /Ttojo )Gorse é utilizado quando a pessoa já

perdeu todas as esperanças e desistiu de lutar. Quando se acredita que não há mais nada o que se fazer, por isso é melhor desistir mesmo. Para os re-signados, entregues, pessoas em que a

AS FLORES COMO ESPADA

falta de expectativa de vida dá lugar à desesperança. Para pessoas apáticas e incrédulas. Quando se fica estagnado num processo de cura.

Ou, considerando o arquétipo, Dr. Bach sintonizou a essência Hornbeam para os desanimados:

17-HORNBEAM( Carpinus betulus / Carpino )É o floral para a sensação de “Se-

gunda-feira de manhã”. A pessoa sente-se farta de levantar-se todas as manhãs para dar início à rotina. É um cansaço por esgotamento devido ao excesso de desgaste mental. Para pessoas que vivem adiando, que acham difícil começar. Sensação de peso na cabeça. Pessoas estressadas, que ficam irritadas por estarem cansadas. Para pessoas que, por acumular estímu-los mentais demais, não conseguem

digeri-los, e que se sentem tão confusas que não conseguem se levantar pela manhã. Sentem falta de energia física e mental, sentem que não tem força para agüentar o dia-a-dia devido ao cansaço.

Além dos Florais sintonizados ini-cialmente por Edward Bach, existem hoje sistemas florais desenvolvidos de acordo com as potencialidades naturais das regiões do planeta, que atendem a outras demandas específicas emocionais e de cura das pessoas. Os sistemas mais conhecidos, conceituados e utilizados são: Alaska, Austrália, Califórnia, Dan-cing Light Orchid, Filhas de Gaia, Havaí, Mata Atlântica, Minas, Pacífico, Saint Germain, RAFF.

Pesquisadores do Institut fur Umweltmendizin und Krankenhushy-giene Universitatsklinikum (Freiburg,

ABRIL 201234ESPAÇO FARMACÊUTICO

mais adequado. Os florais têm sido usados por psicólogos, por exemplo, como uma prática integrativa com-plementar. “Costumamos receber na farmácia os pedidos de psicólogos que, em conversa com o farmacêuticos, dizem que precisam catalisar no pa-ciente um determinado processo, para acessar nichos da consciência de forma mais rápida. É aí que entra a ciência farmacêutica, atuando em conjunto com outros profissionais de saúde, para elaborar o composto Floral”, explica Karen Denez.

Não há uma regulamentação no Brasil sobre quem pode prescrever. “Creio, no entanto, que os farmacêu-ticos têm uma grande oportunidade de aprimoramento profissional no conhecimento e manipulação dos sistemas florais, ao serem introduzidos nesses conceitos que quebram para-digmas”, diz a conselheira do CRF--SC. “Percebemos que a indicação dos sistemas florais podem se constituir num serviço auxiliar da Assistência Farmacêutica”.

Recentemente, a indicação de Flo-rais tem sido estudada sob novas pers-pectivas de anamnese. Uma das mais conhecidas é a de Rajan Sankaran, que introduziu uma nova abordagem ao estudo do sintoma psicológico do delírio, um sintoma que consta no repertório de todos os homeopatas.Ele acreditava que os delírios não são exclusivos dos esquizofrênicos, mas sim que cada um de nós tem uma ilusão pessoal da realidade: cada um de nós apreende a realidade a partir do seu próprio ponto de vista. Segundo esta abordagem, o terapeuta procura descobrir a forma particular como cada doente apreende a realidade.

Ao recolher o histórico do doente, o terapeuta não se limita a registar os sintomas do doente, procura a forma distinta e subjacente como este ou esta vive a realidade. O método de ensino da matéria médica de Sanka-ran é coerente com estes princípios. Descreve os medicamentos em termos de formas diferentes de apreender a realidade.

O principal objetivo dessa abor-dagem é compreender cada doente individual em vez de simplesmente os classificar segundo os medicamen-tos polivalentes existentes. Há muitos casos de doentes que não podem ser categorizados numa classe conhecida de medicamentos, e para os quais é óbvio que um medicamento que te-nha em consideração o seu sistema de crenças específico se revela muito

 

O GRITO, DE EDVARD MUNCH: cada um de nós tem uma ilusão pessoal da realidade, pois cada um de nós apreende a realidade a partir do seu próprio ponto de vista.

" A mente que se abre a uma nova

ideia jamais voltará ao seu tamanho

original"Albert Einstein

Alemanha, 2001) estudaram a eficácia de uma combinação de essências flo-rais de Bach no tratamento de pesso-as portadoras de ansiedade mediante uma investigação randomizada, con-trolada por placebo, usando-se duplo cego, cruzamento de dados e grupos paralelos. A ansiedade foi monitora-da empregando-se um questionário padronizado e validado para testes de ansiedade (uma versão germânica do TAI: Test Anxiety Inventory). Cin-quenta e cinco pessoas completaram o período de estudo e seus dados foram analisados e considerados válidos.

Não houve diferenças significativas entre os grupos, porém observou-se um decréscimo marcante nos escores dos testes de ansiedade em todos os grupos. Os autores concluíram que embora diferenças estatisticamente

significativas não tenham sido rela-tadas em comparação com o placebo, a mistura de essências florais mostrou-se marcadamente eficaz na redução da ansiedade, mesmo sem apresentar efei-tos específicos (Walach et al., Journal of Anxiety Disorders, 2001).

Muito mais que uma máquina: a concepção holística sustenta que a vida só pode ser compreendida em sua totalidade. Estudos indicam que os Florais teriam a capacidade de integrar a soma das partes a esse Todo, produzindo saúde, bem-estar e consciência.

35ABRIL 2012ESPAÇO FARMACÊUTICO

Espaço Farmacêutico Publicação do Conselho Regional de

Farmácia de Santa CatarinaISSN 2175 - 134X

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DIRETORIAPresidente: Hortência S. Müller Tierling

Vice-presidente: Silvana Nair Leite Secretário Geral: Laércio Batista Júnior.

Tesoureiro: Paulo Sérgio Teixeira de Araújo.

CONSELHEIROSAna Cláudia Scherer Monteiro, Indianara

Toretti, Marco Aurélio Thiesen Koerich, José Miguel do Nascimento Júnior, Luiz Henrique

da Costa, Laércio Batista Júnior, Silvana Nair Leite, Maria Elisabeth Menezes,

Karen Berenice Denez, Hortência Tierling, Tércio Egon Paulo Kasten e Paulo Sérgio

Teixeira de Araújo.Suplentes: Álvaro Luiz Parente, Carlos

Roberto Merlin, Sara Rauen.Conselheiro Federal: Paulo Roberto Boff,

Anna Paula de Borba Batschauer.

ASSESSORIA TÉCNICARonald Ferreira dos Santos

JORNALISTA RESPONSáVELIuri Luconi Grechi

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ghana BrandingAv. Engenheiro Max de

Souza n94 - sl. 702(48) 3248 9003

EXPEDIENTE

Mais uma vez, o sindicato patronal da região de Itajaí sai na frente com a proposta salarial dos farmacêuticos. O piso dos profissionais dos municípios abrangidos pela região (veja relação abaixo) aumentará para R$ 2.330,00.

Desde o início da negociação, a di-reção do sindicato patronal declarou que as empresas não poderiam cumprir o piso proposto pelo sindicato (R$ 2.600,00), mas que se esforçaria para buscar o maior reajuste possível. O novo salário totaliza 10,47% de au-mento (5% de ganho real além do índice do INPC - 5,47%).

A presidente do SindFar Caroline

Junckes avalia esse índice com uma conquista para os profissionais da re-gião. "Sabemos que o valor do salário ainda está aquém do que o nosso traba-lho vale, mas é preciso reconhecer que 5% de ganho real é algo que poucas categorias conseguiram nos últimos anos. Outras categorias do serviço público sequer conseguiram a repo-sição de inflação (INPC)", observa. Para Caroline, o histórico das últimas negociações com o patronal de Itajaí estão contribuindo para a elevação gradativa do salário do farmacêutico. O auxílio-creche também aumentou de R$ 85,00 para R$ 94,00.

MUNICÍPIOS ABRANGIDOS PELA REGIÃO DE ITAJAÍ Balneário Camboriú, Balneário Piçarras, Brusque, Camboriú, Canelinha, Guabiruba,

Ilhota, Itajaí, Itapema, Luiz Alves, Major Gercino, Navegantes, Nova Trento, Penha, Porto Belo, São João Batista e Tijucas.

Acompanhe todas as informações no Blog da Negociação no site do SindFar (www.sindfar.org.br)

Piso do farmacêutico da região de Itajaí sobe para R$ 2.330,00

ABRIL 201236ESPAÇO FARMACÊUTICO