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Envelhecimento da Sociedade Portuguesa Fausto Correia Coimbra 2012

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Envelhecimento da Sociedade Portuguesa

Fausto Correia

Coimbra 2012

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Fontes de Informação Sociológica 2012

  

Faculdade de Economia

Universidade de Coimbra

Envelhecimento da Sociedade Portuguesa

Trabalho realizado no âmbito da unidade curricular de

Fontes de Informação Sociológica

Docente: Paulo Peixoto

Ano lectivo 2012-2013

Fausto Correia

Coimbra 2012

Foto capa:

http://www.google.pt/imgres?imgurl=http://www.informenoticia1.com/wp-content/uploads/2010/04/idoso.jpg&imgrefurl=http://blogs.estadao.com.br/dicas-de-saude/page/3/&h=362&w=500&sz=90&tbnid=MVat0lQRn59WCM:&tbnh=90&tbnw=124&prev=/search?q=imagens+envelhecimento+idoso&tbm=isch&tbo=u&zoom=1&q=imagens+envelhecimento+idoso&usg=__ixOasa50FGV85D7dLuEmpGnJ1tY=&docid=ucz8PvfdXDbvGM&hl=pt-PT&sa=X&ei=i5XIUJ3IIY64hAe6wYCIAQ&ved=0CDkQ9QEwAw&dur=6687

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ÍNDICE

1. Introdução………………………………………………………………………… 1

2. Envelhecimentos………………………………………………………………… 2

2.1. Representação de Índices………………………………………………… 2

2.2. Razões de Envelhecimento da Sociedade Portuguesa……………….. 5

2.3. Representação de Pirâmides Etárias……………………………………. 8

2.4. Renovação de Gerações………………………………………………….. 9

2.5. O Envelhecimento e a Produtividade……………………………………. 11

2.6. Para Uma Sociedade mais Inteligente…………………………………... 13

3. A Pesquisa……………………………………………………………………….. 15

4. A Avaliação de Página da Internet…………………………………………….. 16

5. Ficha de Leitura………………………………………………………………….. 18

5.1. Conceitos de Envelhecimento……………………………………………. 19

5.2. Envelhecimento Individual………………………………………………… 19

5.3. Envelhecimento Colectivo………………………………………………… 19

5.4. Traços e Factores de Envelhecimento Demográfico…………………... 20

5.5. Envelhecimento Demográfico, Renovação de Gerações,

Produtividade, Segurança Social e Reformas………………………….. 22

5.6. Para Uma Sociedade Mais Inteligente, Novo Paradigma de Ciclo de

Vida, Situação no Trabalho……………………………………………….. 25

5.7. Síntese………………………………………………………………………. 26

6. Conclusão………………………………………………………………………… 27

7. Referências Bibliográficas……………………………………………………… 28

Anexo A: Obra que serviu de suporte à ficha de leitura.

Anexo B: Página da internet avaliada

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1 Introdução

O tema, envelhecimento da população, tem suscitado em mim um particular interesse, desde há alguns anos. Penso que a fase da idade em que me encontro possa também contribuir para esse interesse e para alguma reflexão que tenho vindo a fazer. Não ponho de parte também o facto de ir perdendo as pessoas que sempre me foram mais queridas, os pais, os avós e outros familiares mais próximos. A minha aldeia, da qual nunca estive completamente afastado, faz parte também dessa reflexão. Há muitas casas vazias, (a começar pela onde sempre vivi), há idosos, não há jovens, muito menos crianças, a minha escola primária fechou. Não há crianças aos ninhos, a jogar à barra, ao espeta pau ou às escondidas, nas ruas, nas varandas e noutros locais menos convencionais.

Confesso, todavia que, nunca como agora, pensei que esta realidade me impressionasse tanto. O interesse pela informação que vai sendo disponibilizada. A leitura mais atenta sobre a realidade do envelhecimento, não só em Portugal. A abordagem deste tema em unidades curriculares de sociologia, como demografia e família, contribuíram para que este passasse a ser um assunto quase nuclear.

Quando alguém, das minhas relações, me perguntou, mostrando mais estupefação do que interesse, do “porquê eu ter com esta idade resolvido fazer uma licenciatura e em sociologia”, a minha resposta foi: “ estar mais preparado para compreender a sociedade e melhor preparado para poder contribuir para ajudar em algumas soluções”. Toda a minha argumentação mental passava, como já deixei expresso noutra altura, por uma preocupação e uma vontade de poder ser mais útil na sociedade em que me insiro.

Para poder fazê-lo melhor, nada como conhecer bem quais são as problemáticas que estão associadas ao envelhecimento. O livro de Maria João Valente Rosa, “ O Envelhecimento da Sociedade Portuguesa”, foi sem dúvida o clic despertador para este trabalho e também para uma melhor compreensão de problemas que estão adjacentes ao envelhecimento.

É o que procurarei fazer com este trabalho.

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2 Envelhecimentos

 

O termo envelhecimento nunca me foi estranho. Já o mesmo não posso dizer em relação a outras expressões como, envelhecimento individual, envelhecimento colectivo, pirâmides etárias, envelhecimento demográfico, só para citar alguns, que não eram expressões do meu quotidiano, nem às quais atribuísse um significado preciso.

Não deixa de ser interessante poder analisar o envelhecimento sobre perspectivas diversas. Por exemplo, quando estamos a invocar o nosso percurso de vida e nos estamos a referir ao nosso envelhecimento individual. Ou, por outro lado, se nos estamos a remeter para uma sociedade como um todo e queremos avaliar o envelhecimento da população, e aqui estamos a referir-nos ao envelhecimento demográfico. Ou ainda se nos queremos referir à sociedade, e estamos neste caso a reportar-nos ao envelhecimento societal.

Para compreender melhor como se fundamenta uma pirâmide demográfica, cremos não ser descabido alargarmos o nosso estudo à caracterização das estruturas demográficas por que são constituídas. “ Uma vez decomposta uma estrutura demográfica em grupos funcionais podemos proceder à sua manipulação, no sentido de os transformar em indicadores que resumam a abundância de informação existente numa repartição por sexos e idades: são os índices – resumo”. (NAZARETH 2009;p115).

Não querendo ser exaustivos, apresentamos os principais índices resumo das estruturas demográficas:

2.1 Representação de Índices

Percentagem de «Jovens»

Fórmula: (População com 0-14 anos / População Total) x 100

Definição: Divide-se a população com menos de 14 anos pela população total e obtém-se o indicador que mede a importância da juventude na população. É também um indicador da medida do «envelhecimento demográfico «na base da pirâmide das idades.

Percentagem de «Potencialmente Activos»

Fórmula: (População com 15-64 anos / População Total) x 100 Definição: Divide-se a população «potencialmente activa», ou seja, a que se situa entre o fim da escolaridade obrigatória e o início da «reforma» pela população total e obtém-se um indicador do potencial demográfico dos activos.

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Percentagem de «Idosos»

Fórmula: População com 65 e + anos / População Total) x 100

Definição: Divide-se a população idosa com mais de 65 anos pela população total e obtém-se um indicador que mede a importância dos idosos na sociedade, sendo também um indicador de medida do «envelhecimento demográfico» no topo da pirâmide de idades.

Índice de Juventude

Fórmula: População com 0-14 anos / População com 65 e + anos) x 100

Definição: Compara directamente a população jovem com a população idosa. Por cada 100 idosos existem x jovens. É também um indicador utilizado na medida do «envelhecimento demográfico. Índice de Envelhecimento ou Índice de Vitalidade Fórmula: População com 65 e + anos /População com 0-14 anos) x 100 Definição: Tem a lógica inversa do índice anterior, ou seja, compara directamente a população idosa com a população jovem. Por cada 100 jovens existem x idosos. É também um indicador utilizado na medida do «envelhecimento demográfico». Índice de Longevidade Fórmula: População com 75 e + anos / População com 65 e + anos) x 100 Definição: Compara o peso dos idosos mais jovens com o peso dos idosos menos jovens. É também um indicador de medida do «envelhecimento demográfico». Índice de Dependência dos Jovens

Fórmula: (População com 0-14 anos / População com 15-64 anos) x 100 Definição: Compara o peso dos jovens com o peso da população potencialmente activa. Por cada 100 potencialmente activos existem x jovens.

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Índice de Dependência dos Idosos Fórmula: (População com 65 e + anos / População 15-64 anos) x 100 Definição: Compara o peso dos idosos com o peso da população potencialmente activa. Por cada 100 potencialmente activos existem x idosos. Índice de Dependência Total Fórmula: População com 0-14 anos + 65 e + anos x 100 População com 15-64 anos Mede o peso conjunto dos jovens e dos idosos na população potencialmente activa. Por cada 100 potencialmente activos existem x jovens e idosos. É a soma dos índices anteriores 8 Índice de dependência dos Jovens + Índice de Dependência dos Idosos). Índice da Juventude da População Activa Fórmula: (População com 15-39 anos / População com 40-64 anos) x 100 Mede o grau de envelhecimento da população potencialmente activa. Relaciona a metade mais jovem da população potencialmente activa com a metade mais velha. Índice de Renovação da População Activa Fórmula: (População com 20-29 anos / População com 55-64 anos) x 100 Definição: Relaciona o volume potencial da população que está a entrar em actividade com o volume potencial da população que está a sair da actividade. Índice de maternidade Fórmula: (População com 0-14 anos / População com 15-49 anos) x 100 Definição: É um indicador que relaciona a população com menos de 5 anos de idade com a população feminina em período fértil. Funciona como indicador da evolução da fecundidade quando não dispomos de informação sobre os nascimentos.

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Índice de Tendência Fórmula: (População com 0-4 anos / População com5-9 anos) x 100 Definição: É um indicador de tendência da dinâmica demográfica de uma população. Quando apresenta valores inferiores a 100 significa que está em curso um processo de declínio da natalidade e de envelhecimento. Índice de Potencialidade Fórmula: (População com 20-34 anos / População com 35-49 anos) x 100 Definição: É um indicador que relaciona as duas metades da população feminina no período fértil onde, em princípio, ocorrem mais nascimentos. (Fonte: Demografia a Ciência da População, J. Manuel Nazareth, 2009)

2.2 Razões de Envelhecimento da Sociedade Portuguesa.

O envelhecimento da sociedade, acontece por duas razões fundamentais. Um declínio muito importante na mortalidade infantil e um aumento significativo da esperança média de vida.

Para além destes factores, há também uma outra razão que contribui para o envelhecimento da sociedade portuguesa. O número de nascimentos por mulher em idade fértil deixou de ser suficiente para garantir a renovação de gerações. Os quadros abaixo, mostra-nos realmente as duas afirmações por nós produzidas. Relativamente à taxa de mortalidade, podemos verificar que a mortalidade total se mantém praticamente estável desde 1960, (10,7 por mil, para 9,7), enquanto a mortalidade infantil desceu de 77,5 em 1960, para apenas 3,1 em 2010, sendo um dos valores mais baixos do mundo.

Gráfico 1

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Já no que diz respeito à renovação das gerações, é considerado que para que exista é necessário que cada mulher em idade fértil tenha pelo menos 2,1 filhos. Em Portugal, desde 1982 que esse valor não é atingido, situando-se neste momento em 1,3. Mostramos também um gráfico com o índice de fecundidade. O índice de fecundidade é o número médio de crianças vivas nascidas por mulher em idade fértil (dos 15 aos 49 anos de idade), admitindo que as mulheres estariam submetidas às taxas de fecundidade observadas no momento. Valor resultante da soma das taxas de fecundidade por idades, ano a ano ou grupos quinquenais, entre os 15 e os 49 anos, observadas num determinado período (habitualmente um ano civil).

Gráfico 2

Como corolário do que temos vindo a afirmar, o abaixamento, por um lado, do índice de fecundidade e, por outro, uma redução da taxa bruta de reprodução, acabam por traduzir-se no quadro que apresentamos a seguir. O número de nascimentos em Portugal apresenta um declínio permanente desde 1960, com um único período de excepção, entre 1990 e 2000. Não deixa de ser preocupante, já que o quadro apresentava o ano de 2010 com um valor ainda de estimativa. Agora podemos afirmar já que, o valor de nascimentos em 2011 foi de apenas, 97.112 bebés, menos 4.269 do que em 2010. Para 2012 prevê-se que este número seja ainda inferior, já que nos seis primeiros meses do ano nasceram menos 4.000 bebés do que em igual período de 2011. Fonte:  http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=514171&tm=8&layout=122&visual=61: Reportagem RTP.

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Gráfico 3

Temos vindo a mostrar um conjunto de indicadores de envelhecimento da sociedade portuguesa. Uma das formas como a demografia mostra bem o comportamento das sociedades é através das pirâmides de idades. As pirâmides de idades são representações gráficas que permitem ter uma visão de conjunto da repartição por sexo e idades.

Se a primeira pirâmide (gráfico 4), nos apresenta a situação real da população portuguesa, residente, em 2010. A segunda (gráfico 5), apresenta-nos uma projecção do que será a realidade portuguesa em 2020. Aquilo que é mais visível nos dois gráficos é que no quadro de 2020 há um estreitamente na base e um alargamento no topo. O que isto nos quer dizer, é que vai continuar a haver um envelhecimento da sociedade portuguesa.

No seu livro “ Demografia a Ciência da População”, J. Manuel Nazareth, (2009) sobre a forma das pirâmides diz;” No entanto em relação à forma, os dois grandes tipos de pirâmides de idades que são utilizados como referência são os seguintes:

• Pirâmide em acento circunflexo__ é uma pirâmide de idades típica dos países em desenvolvimento, das populações do Antigo regime ou das sociedades tradicionais; a natalidade e a mortalidade são muito elevadas configurando uma forma que dá à pirâmide uma base muito larga (elevadas proporções de jovens) e um topo da pirâmide com efectivos reduzidos (diminutas proporções de pessoas idosas…

• Pirâmide em urna__ é uma pirâmide típica dos países desenvolvidos, que se encontram na última fase da transição demográfica; os níveis de natalidade e de mortalidade são muito baixos, o que implica a existência de uma pirâmide de idades com uma base muito reduzida (baixas proporções de jovens) e um topo bastante empolado (elevadas proporções de pessoas idosas). (Nazareth, 2009; pp109-110).

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Fontes de Informação Sociológica 2012

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Para alterar esta situação, não bastam medidas paliativas, como por exemplo premiar casais que optem pela natalidade dupla ou tripla, ou ainda criar mais creches, ou até criar condições de excepção para pais e/ou mães nos seu percursos profissionais, de molde a incentivar a natalidade. As sociedades desenvolvidas confrontam-se, na sua maior parte, com este flagelo. Envelhecem, num mundo que vai continuar a crescer em termos populacionais. Conforme refere Maria João Valente Rosa (2012), na sua obra, a sociedade alterou-se muito significativamente, gerando um novo perfil de sociedade, podendo mesmo ser apelidada de sociedade «4-2-1» (quatro avós, dois pais e um filho), em substituição da sociedade passada, apelidada de» 1,2,4» (um avô, dois pais e quatro filhos).

2.3 Representação de Pirâmides Etárias

Gráfico 4

Fonte Pordata

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Gráfico 5

 

Fonte Pordata 

 

Há um papel importante a desempenhar pelas migrações, na equação demográfica do envelhecimento populacional. A imigração de índole económica, que concentra fluxos em idades activas, pode atenuar o envelhecimento, actuando sobre os nascimentos. De salientar que, por exemplo em Portugal, a população imigrante residente, que equivale a 4% do total, já é responsável por uma parcela significativa dos nascimentos ocorridos no nosso país, (segundo dados recentes em 13% dos nados vivos pelo menos um dos pais tem nacionalidade estrangeira). Mas para que estes fluxos conseguissem ter um papel de inversão significativa nos níveis de envelhecimento da sociedade portuguesa eles tinham que ter uma ordem de grandeza duas ou três vezes superiores aos que se registaram em 2001 e 2002, anos em que estes valores apresentaram saldos excepcionalmente altos. Significa isto que a população portuguesa, agora muito mais envelhecida do que em 2001, vai continuar a envelhecer, pelo menos no médio prazo.

2.4 Renovação de Gerações

 

Para que possa haver uma renovação de gerações, é preciso acima de tudo que haja um valor de nascimentos superior ao valor de óbitos. Ora, em Portugal, durante o século XX, já se registaram valores de óbitos superiores aos nascimentos em pelo menos quatro anos, 1918, 2007, 2009 e 2010. Se exceptuarmos o ano de 1918, que foi marcado por uma grande crise de mortalidade, provocada pela epidemia de gripe pneumónica, nos anos mais recentes, o défice de nascimentos em relação aos óbitos é uma manifestação clara de uma diminuição dos níveis de fecundidade. Para além da relação nascimento/óbitos, a ciência

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Fontes de Informação Sociológica 2012

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demográfica diz-nos que para haver uma renovação assegurada, cada mulher em idade fértil deve gerar pelo menos 2,1 filhos. Como vemos no quadro abaixo Portugal está bem longe desse valor.

Gráfico 6

 

Fonte: http://www.indexmundi.com/g/g.aspx?c=po&v=31&l=pt 

 

No que concerne à taxa de mortalidade, porque cada vez há mais pessoas idosas , ela tem tendência para aumentar, embora, como o quadro abaixo mostra, desde o ano 2000, a sua variação não tem sido muito significativa.

Gráfico 7

 

 

Fonte: http://www.indexmundi.com/g/g.aspx?v=26&c=po&l=pt 

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São os países desenvolvidos e, principalmente, a Europa, que apresentam sinais de um envelhecimento mais consistente e uma cada vez menor capacidade de inverter esta tendência. A renovação de gerações nestes países só vai ser possível pela via das migrações. A entrada cada vez mais massiva de população de outras partes do mundo em franco crescimento demográfico, como é o caso de África, Ásia e América do Sul. Só que este movimento carrega consigo um conjunto de receios e “ameaças”, aos olhos das populações autóctones, já que se verão no futuro a perder protagonismo e a recearem que os seus valores culturais sejam postos em causa. O grande problema da Europa no futuro, pela perda de protagonismo não assenta em razões económicas por uma entrada maciça de imigrantes, mas sim em receios essencialmente de ordem cultural.

Como diz Maria João Valente Rosa, “ Em resumo, a primeira grande ameaça que paira sobre nós, associada ao envelhecimento progressivo da população, é a da descaracterização do nosso modo de viver e da eventual alteração dos valores civilizacionais que nos habituámos a respeitar” (2012;p39).

 

2.5 O Envelhecimento e a Produtividade

 

Portugal já era um país de fraca produtividade antes de entrar no processo acelerado de envelhecimento. Podemos, pois, concluir que envelhecimento e produtividade podem não estar directamente associados. O que está convencionado como período da idade activa situa-se entre os 15 e os 64 anos. A evolução que se verificou na sociedade tem hoje tendência para alterar estes dados. Primeiro porque os jovens envolvidos em processos educacionais e escolares mais longos, entram mais tarde no mercado do trabalho. Por outro lado, há um conjunto de actividades que podem ser exercidas com elevados desempenhos por pessoas com mais de 65 anos. Não devemos ignorar também que a esperança de vida é hoje bem diferente daquela que se verificava ainda há relativamente poucos anos.

Começamos pois a perceber que há um desajustamento, entre a sociedade actual e a forma como são aproveitados os recursos humanos por parte dessa mesma sociedade. Podemos começar por referir dois ou três pontos que nos parecem elucidativos para a nossa justificação. A idade da reforma em Portugal está estabelecida para os 65 anos. Entretanto a idade média da reforma é hoje de 62,5 anos. A taxa de actividade de pessoas no grupo de 55-64 anos é hoje em Portugal de apenas 55%, enquanto no escalão anterior (45-54 anos), é de 85%. Mesmo dentro da idade activa há uma clara distinção em preferir, para ocupar postos de trabalho, pessoas com menos idade. A partir de uma certa idade, que cada vez tem tendência para ser menor, deixam de ser admitidos para início ou reinício de actividades laborais. A reforma acontece muitas vezes mesmo antes de se ter atingido a idade estatutária para a ela se ter direito. As empresas aproveitam as reestruturações para se libertarem de trabalhadores mais antigos, ou utilizando o expediente das pré-reformas, ou o expediente do desaparecimento da actividade que justificava os postos de trabalho, para assim poderem justificar despedimentos, sem que esse procedimento seja penalizado.

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Os activos mais velhos são assim dispensados e atirados para uma situação de reforma inactiva, num período em que ainda reuniam condições físicas e intelectuais, para continuarem a dar um contributo valioso à sociedade, quer em termos económicos, quer mesmo em termos sociais

Maria João Valente Rosa (2012;p44) sintetiza de forma muito assertiva todas as contradições que são vivenciadas nesta sociedade tão contraditória. “ Em suma, são inúmeros os receios que associam o envelhecimento da população à produtividade. Mas, porventura, não é a produtividade que está em causa, mas a necessidade de uma profunda mudança na forma da organização da sociedade, questionando certos direitos que defendemos por adquiridos. É essa provavelmente, a verdadeira fonte de tais receios”.

Pelo quadro que apresentamos abaixo, podemos verificar que, os grupos de idades que mais são penalizados com a situação de desemprego, são os jovens até aos vinte cinco anos. Os restantes grupos etários repartem entre si valores muito semelhantes.

Gráfico 8

Porém já o quadro que é apresentado a seguir, mostra-nos o total da população desempregada, pelos vários grupos de idades. Podemos verificar que, em 2011, para uma população total de desempregados de 703.200 indivíduos, o grupo dos 25-54 anos, representava 500.000, aproximadamente. O grupo até aos 25 anos, cerca de 130.00 indivíduos e o grupo de 55-64, à volta de 70.000. Hoje, estes números já estão desactualizados, por defeito, já que a situação tem vindo a degradar-se a um ritmo muito preocupante.

Gráfico 9

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Tudo em demografia é longo. A saída dos idosos do mercado de trabalho não tem criado lugar para os mais novos.

2.6 Para Uma Sociedade mais Inteligente

 

O problema do envelhecimento existe porque a sociedade não se consegue, ou pelo menos não tem conseguido, adaptar-se à nova realidade que ela própria criou. Continuamos a olhar a idade como um marcador de papel na sociedade.

Muitas vezes definimos uma mesma situação com pareceres ou opiniões díspares. Assim, ao olharmos para um copo com água, esse copo para um olhar pode estar meio vazio, e para outro olhar ele pode estar meio cheio. São dois pensamentos, duas formas de análise diferentes. É um pensar diferente.

É este desafio que está colocado à sociedade para que, com um pensar diferente, que conduza a um agir diferente, se possa organizar para aproveitar no seu seio todas as capacidades que podem ser geradas pelo envelhecimento. Parece-nos oportuno reproduzir uma parte do texto de Maria João Valente Rosa, que temos vindo a analisar, referindo-se aos dessafios que são colocados à sociedade pelo inexorável envelhecimento da população.” Por isso, justifica-se que se pergunte: porque não aceitar uma revisão dessas lógicas á luz dos desafios que se colocam ás sociedades actuais, em vez de perpetuarmos a sua reprodução de modo acrítico? Porque não tomar consciência de que esses modelos nos foram transmitidos _ durante séculos, provavelmente – por uma tradição cultural dependente de acontecimentos, de homens, de organizações, de movimentos com os quais já não temos qualquer afinidade? Numa palavra, porque não aceitamos o facto simples de que poderíamos, hoje, ser diferentes do que somo se o que somos, ou como nos organizamos em sociedade, nos está a conduzir a um impasse?” (2012;p51).

Todos os valores que hoje são transmitidos, como símbolos de uma sociedade que se “alienou”, são os de juventude, de moda, de bem-estar, de movimento, de independência, de individualismo, de prazer. Nestes conceitos, o envelhecimento demográfico é visto como um excesso, já que a sociedade precisa de jovens activos, irreverentes e que são cada vez mais insuficientes. Esta mesma sociedade, que se diz e quer livre, que se reclama do conhecimento e que se identifica como global, deve reflectir sobre as razões por que se torna tão premente reservar uma considerável parte das suas energias ao envelhecimento demográfico. Parece-nos evidente que, a autora da obra que tem servido de suporte para o n osso trabalho, não tem dúvidas quanto à existência de condições para que a sociedade responda de uma forma humana aos desafios que são colocados resultantes dos avanços, quer de ordem científica, quer de ordem material, económica ou cultural, que permitiram que a vida seja cada vez mais prolongada e preservada.

Maria João Valente Rosa, defende um modelo de interligação, entre aquilo a que chama “ vantagens na coexistência entre juniores e seniores”, como uma resposta mais qualitativa à ocupação de pessoas em ciclos mais avançados de idade. Neste campo avança com duas ideias que nos parecem chave: o conhecimento como factor de competitividade e a meritocracia.

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É um dado adquirido que a população portuguesa continuará a envelhecer

Fonte: http://www.vfbm.com/jmf/090‐099/097/97‐4344.pdf: Médico de Família

Os desafios que são lançados devem ser respondidos e apreendidos por toda a sociedade, na qual se devem integrar os idosos, mas também o Estado e todas as estruturas sociais. Do modelo de partição, que caracteriza a sociedade de hoje, como refere Maria João V. Rosa, deve passar-se para um modelo de interligação. Significa que os mecanismos de protecção do Estado Social terão que vir a reflectir estas mudanças. Por exemplo, se, como sugere Maria João V. Rosa, for interrompida a actividade laboral para estudar e mudar de rumo profissional, como se processa o cálculo do período e do valor da reforma por idade? É possível antecipar algum desse valor/direito sobre o futuro para pagar esses estudos? Em que moldes e limites? Abandona-se completamente a lógica de repartição, em que os trabalhadores de hoje pagam as reformas dos trabalhadores de ontem (reformados de hoje), já que a distinção entre reformado e trabalhador poderá fazer muito menos sentido?

São interrogações que devemos colocar, estas e outras, para que seja possível obter uma resposta para um problema que nos vai tocar, no futuro mais, do que no presente, mas que nos obriga a prepararmos as respostas necessárias hoje.

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3 A Pesquisa

 

Para a realização do presente trabalho, para além do recurso à obra de Maria João Valente Rosa, já atrás citada, baseámos as pesquisas com consultas ao sítio da Pordata e ao sítio do INE. Recorremos também a outros sítios, com a preocupação de reunir um maior número de informação, que pudesse servir de suporte à argumentação que sustentámos.

Para além dos recursos utilizados nas pesquisas que efectuámos, salientamos também as obras: Demografia a Ciência da População, de J. Manuel Fernandes, da Editorial Presença; Demografia, Objecto, Teorias e Métodos, de Mário Leston Bandeira, da Escolar Editora e Discriminação da Terceira Idade, de Sibila Marques, da Fundação Francisco Manuel dos Santos.

Já tivemos oportunidade de referir o interesse que nos merece o tema “ envelhecimento”. A abordagem de que tem sido alvo nos meios de comunicação social só veio ajudar a reforçar a importância de que se reveste. Como meio de pesquisa também não devemos ignorar todo um conjunto de outros suportes proporcionados por outras unidades curriculares, que têm dado ao envelhecimento um tratamento preferencial e actual.

A responsabilidade pela execução do presente trabalho, constituiu também um factor para realçar pormenores sobre o envelhecimento que podiam passar mais despercebidos em circunstâncias normais. Resulta também como um dado interessante e que não deixo de assinalar a possibilidade da realização de um trabalho com as Instituições de Coimbra; Associação das Cozinhas Económicas Rainha Santa Isabel e Centro de Acolhimento João Paulo II, para avaliar a possibilidade de constituir um refeitório solidário, numa IPSS á qual estou ligado. As condições que venham a ser encontradas para a concretização do projecto, passarão a objecto de uma intervenção no âmbito dos alunos de Sociologia que desejem aceitar esse desafio.

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4 Avaliação de Página da Internet

A página da internet que escolhemos para avaliação está também relacionada com o envelhecimento. http://www.envelhecimentoativo.pt/conteudo.asp?tit=0.http://www.envelhecimentoativo.pt/default.asp

Ano Europeu – Portugal  

Congratulando a decisão do Parlamento Europeu e do Conselho da União Europeia, de proclamar 2012 como o “Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e da Solidariedade entre as Gerações”, Portugal compromete-se a desenvolver iniciativas que estimulem o debate construtivo, o intercâmbio de boas práticas e a sensibilização social para a mudança cultural perante o envelhecimento e aintergeracionalidade. De facto, NUNCA É TARDE DEMAIS para partilhar experiências, iniciar uma carreira, dedicar-se a uma boa causa, fazer novos amigos, decidir por si, divertir-se, ampliar horizontes, unir forças, cuidar dos outros, ter um espírito aberto e viver intensamente a vida. Se saber «dar anos à vida e dar vida aos anos» é uma vocação individual, poder envelhecer bem exige o acesso à saúde, segurança e outras condições de vida tornando-se assim, também uma missão política.

• Sugerimos que veja aqui o vídeo promocional oficial do Ano Europeu do Envelhecimento Activo e da Solidariedade entre Gerações 2012 | "O primeiro passo para mudar mentalidades" (1'00|  Jan 2012). 

Trata-se de uma página que tem a ver com o Ano Europeu do envelhecimento Activo. O seu conteúdo pareceu-nos adequado, para além de ser muito informativa, bem delineada e de fácil consulta. O seu título “ Ano Europeu do Envelhecimento Activo e da solidariedade entre gerações 2012”. Apresenta depois um conjunto de sete janelas: Ano Europeu-Portugal; Iniciativas; Parcerias; Testemunhos; Recursos; Notícias; Ligações.

A Resolução do Conselho de Ministros nº 61/2011, de 22 de dezembro institui o Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e da Solidariedade entre as Gerações, designado por AEEASG, em Portugal no ano de 2012. Trata-se, conforme é divulgado na página, de um organismo transversal na sociedade portuguesa e que se propõe elaborar e coordenar as acções a desenvolver no âmbito do Ano Europeu do envelhecimento activo em Portugal e que inclui as seguintes entidades:

A Coordenação do AEEASG é apoiada por uma EO, com responsabilidade pela elaboração e coordenação do programa nacional do Ano Europeu, que inclui as seguintes entidades: a) Instituto da Segurança Social, I.P.; b) Instituto de Emprego e Formação Profissional, I.P.;

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c) Direção-Geral da Educação; d) Direção-Geral de Saúde; e) Instituto Nacional de Reabilitação, I. P.; f) Instituto Português do Desporto e Juventude, I. P..

Iniciativas

• Emprego, Trabalho e Aprendizagem ao Longo da Vida • Vida Autónoma (Saúde, Bem-estar e Condições de Vida) • Participação na Sociedade (Solidariedade e Diálogo Intergeracional; Voluntariado e

Participação Cívica)

Parceiros

 

Possui uma variedade enorme de parceiros, desde Câmaras Municipais a Fundações, a ministérios, a Institutos politécnicos, a Empresas.

Recursos  

Agir sob o paradigma do "envelhecimento ativo", numa sociedade que prime pela igualdade e solidariedade entre gerações, pode ganhar maior expressão se sustentado em recursos, entre outros, éticos, científicos, metodológicos, tecnológicos e expressivos.

Esta é uma área, em permanente construção, com espaço para incluir recursos como:

• Dados sócio-demográficos • Doc. técnicos&Publicações • Apoios financeiros • Multimédia • Logos e material promocional

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5 Ficha de Leitura

 

A partir do tema “ Envelhecimento e Discriminação Social”, escolhi para o meu trabalho a obra “O ENVELHECIMENTO da Sociedade Portuguesa” Trata-se de uma obra de Maria João Valente Rosa, integrada na colecção de ensaios da Fundação Francisco Manuel dos Santos, com coordenação editorial Relógio D’Água, Editores, em Maio de 2012.

Maria Valente João Rosa, é professora da Universidade Nova de Lisboa. Licenciada em sociologia e doutorada em Sociologia (especialidade Demografia). Autora e coordenadora de inúmeros estudos publicados sobre a demografia portuguesa, designadamente relacionados com a temática do envelhecimento. Está, desde 2009, a dirigir a Pordata – Base de Dados Portugal Contemporâneo, projecto da Fundação Francisco Manuel dos Santos.

A Fundação Francisco Manuel dos Santos, justifica a inclusão desta obra nos “ Ensaios da fundação”, com o texto que vai reproduzido:

“ Todos envelhecemos, por isso o envelhecimento individual (de cada um de nós) faz parte do nosso quotidiano. Porém, começámos recentemente a ser confrontados com um outro envelhecimento, de tipo colectivo: o envelhecimento da população em geral.

A população envelhece porque a Humanidade cresceu em conhecimento técnico-científico e as condições de vida das populações melhoraram. Mas apesar de o envelhecimento populacional poder ser percebido como uma verdadeira ameaça ao futuro da sociedade em que vivemos.

Este ensaio começa por falar das razões que conduziram à situação demográfica em que nos encontramos. Argumenta, em seguida, que a aflição com o envelhecimento da população é muito explicada por um outro envelhecimento mais profundo: a incapacidade de a sociedade adaptar as suas estruturas sociais e mentais à evolução dos factos. Propõe, por fim, um rumo alternativo de organização social sintonizado com as realidades sociodemográficas em curso”.

Trata-se de um ensaio com um total de 86 páginas, em que o assunto principal é o envelhecimento e no qual podemos incluir como palavras;-chave, envelhecimento, envelhecimento demográfico e envelhecimento da população.É um trabalho que pode ser incluído nas áreas científicas da gerontologia e da demografia. Maria João Valente Rosa, propõe-nos a divisão do trabalho em quatro temas ou abordagens.

1__ Conceitos de envelhecimento.

2__ Traços e factores de envelhecimento demográfico.

3__ Envelhecimento demográfico, renovação de gerações, produtividade, segurança social e reformas.

4__ Para uma sociedade mais inteligente, novo paradigma de ciclo de vida, situação no trabalho.

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5.1 Conceitos de Envelhecimento

Cada vez se torna mais usual falarmos de envelhecimento. Seja porque o tema merece mais atenção, seja porque o “ser velho” é uma realidade cada vez mais presente na nossa sociedade. Mas sempre se envelheceu, embora fosse mais corrente usarmos este termo para caracterizar o envelhecimento individual. Mais recentemente, começou também a falar-se no envelhecimento colectivo. Embora com características comuns, são termos com significados diferentes.

5.2 Envelhecimento Individual

Surgem assim duas situações para caracterizar o envelhecimento individual. Uma mais ligada ao envelhecimento cronológico e outra ao envelhecimento biopsicológico. Uma mais ligada à idade, vamos envelhecendo por um processo natural ao longo da vida. A outra, embora reflexo do envelhecimento cronológico, não é tão linear, não é tão fixo em termos de idade, porque cada pessoa envelhece de maneira diferente. Cada um de nós apresenta de forma diferente e em diferentes períodos da sua vida sinais de envelhecimento, mas que nos acabam de conduzir para a velhice.

“E embora não saibamos exactamente quem são os velhos, ou se já o somos, a verdade é que ninguém resiste a falar da velhice, umas vezes enaltecendo-a, outras repudiando-a. A velhice tem, com efeito, despertado valores diferentes consoante as pessoas e as sociedades.”(M. J.V. Rosa, 2012;p 20).

Podemos concluir, resumindo que, sendo a idade cronológica um facto intrínseco e indiscutível, a velhice não o é. Trata-se de um período menos rigoroso, porque mais heterogéneo, que é experienciado e percepcionado de forma diversa. Levando ao enaltecimento por uns, e ao repúdio de outros.

5.3 Envelhecimento Colectivo.

Tal como já referimos, para o envelhecimento individual, também o envelhecimento colectivo comporta duas formas para ser abordado: envelhecimento demográfico (ou da população) e envelhecimento societal (ou da sociedade).

“Para compreender o envelhecimento demográfico, é necessário ter presentes que existem idades, consensualmente aceites, a partir das quais, para lá dos atributos pessoais (classe social de pertença, qualificações e competências, capacidades, estado de saúde, vivências anteriores, idade exacta, etc.), todos os indivíduos são classificados indistintamente em categorias fixas. Estas categorias etárias são, por facilidade e

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simplificação, usualmente referidas como as idades jovem, activas e idosa.” (M.J.V. Rosa 2012; pp22,23)

Numa abordagem mais exaustiva (estado das artes), retomaremos este tema com maior profundidade. Agora interessa-nos compreender que, para a identificação clara das idades que estão associadas às três categorias acima mencionadas, em Demografia, consideram-se essas fronteiras, a partir de marcadores administrativos. Sempre que estamos a utilizar, em relação à vida ou à idade, valores que possam ser arbitrários, eles são ao mesmo tempo precisos.

“Esses marcadores correspondem às principais fases do ciclo de vida: até aos 15 anos, antes da entrada na idade em que é possível ser-se activo, os jovens; entre os 15 e os 64 anos, a idade activa; com 65 e mais anos, ou seja, a partir da idade «normal» de reforma, os idosos, também referidos como «terceira idade».” (M. J.V. Rosa 2012; p 23).

Podemos partir destas categorias etárias para desenvolver o conceito de envelhecimento demográfico. É também a partir da composição etária da população que podemos construir a pirâmide etária, e qual a sua configuração.

“As pirâmides de idades são gráficos que permitem ter uma visão de conjunto da repartição da população por sexos e idades. As idades são representadas no eixo vertical. Os efectivos são representados em dois semi-eixos horizontais (o da esquerda é reservado aos efectivos masculinos e o da direita é reservado aos efectivos femininos).” (Nazareth,2009;p109).

Normalmente, aferimos o envelhecimento demográfico, através de indicadores sintéticos, sejam eles o aumento da «idade média» da população, do aumento do número de pessoas com 65 ou mais anos por cada 100 pessoas com menos de 15 anos (índice de envelhecimento). Trataremos este assunto com recurso a outra informação no decurso de outro trabalho. Ficamos para já com a ideia de que a população envelhece sempre que a população com mais idade passa a valer mais em termos estatísticos.

5.4 Traços e Factores de Envelhecimento Demográfico.

A população portuguesa está muito mais envelhecida. Neste aspecto, acompanhou a tendência que se verifica, principalmente a partir da segunda metade do século XX, nas sociedades europeias. Quando estas começaram a confrontar-se com o factor que se designa por “duplo envelhecimento”, envelhecimento na base e topo da pirâmide etária.

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“Segundo dados disponibilizados pelas Nações Unidas, a idade média da população no mundo e na Europa passou respectivamente de 24 e 30 anos, em meados do século XX, para 27 e 38 anos, em 2000, e estima-se que seja de 29 anos e de 40 anos em 2010, podendo atingir, em 2050, os 38 anos no mundo e os 47 anos na Europa. Em Portugal, essa evolução foi ainda mais forte que na Europa, passando a idade média da população de 26 anos, em 1950, para os 38 anos, em 2000, e para os 41 anos, em 2010, podendo a idade média da população chegar aos 50 anos em 2050, segundo as previsões das Nações Unidas.” (in, M.J.V.Rosa 2012;pp26-27).

Verificamos que, o envelhecimento demográfico é uma realidade que atinge todo o mundo, embora apresente proporções bem mais fortes na Europa. Em Portugal este processo apresenta um ritmo bem mais acelerado, influenciado também pela baixa dos níveis de mortalidade e de fecundidade.

Comparativamente, com os anos 80, em que Portugal apresentava uma população menos envelhecida do que a média da UE27, somos hoje um dos países mais envelhecidos da Europa e consequentemente do mundo.

Para ilustrarmos este quadro com números, diremos que, entre 1960 e a actualidade, Portugal perdeu um milhão de jovens (que representavam 29% da população e agora representam 15%), tendo o número de idosos aumentado 1,3 milhões (representavam então 8% da população e agora representam 19%). Em Portugal, o grupo de pessoas com «65 e mais anos» tem mais pessoas que o grupo de jovens, situação que acontece pela primeira vez na história de Portugal no ano 2000.

Verifica-se ainda que a parcela de idosos mais velhos (com 80 e mais anos), que Maria João Valente Rosa, qualifica como a «quarta idade», tem vindo a reforçar o seu peso estatístico, representando já quase meio milhão, tendo o seu número quase quadruplicado em Portugal, desde 1971.

A leitura destes números não é nada animadora para o futuro de Portugal. Portugal vai continuar a envelhecer.

“Os resultados prospectivos do Instituto Nacional de Estatística, não deixam grandes margens param dúvidas a este propósito. A população portuguesa deverá continuar a envelhecer e poderá continuar a fazê-lo de modo particularmente intenso. Mesmo que os níveis de fecundidade aumentem ligeiramente e que os saldos migratórios continuem positivos no futuro, em 2060, a população de Portugal poderá continuar próxima dos dez milhões de pessoas, mas será bem mais envelhecida do que hoje: o número de pessoas com 65 e mais anos poderá ser quase o triplo do número de jovens (índice de envelhecimento 271); um em cada três residentes em Portugal (32%) poderá ter 65 ou mais anos (actualmente o valor é de 19%, portanto menos de um em cada cinco); a população com 80 e mais anos de idade poderá equivaler a 1,4 milhões de pessoas e representar cerca de 13% da população residente em Portugal; o número de pessoas em idade activa por pessoa em idade idosa, actualmente um pouco superior a três, poderá ser inferior a dois; a população em idade activa com menos de 40 anos poderá diminuir, aumentando, em contrapartida, o número de indivíduos nas idades activas superiores (especialmente com 55 e mais anos.” (M. J.V. Rosa, 2012;pp28-29).

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Os factores que a ciência demográfica mais tem identificado como as causas para o processo do envelhecimento da população são dois; a redução da mortalidade e a redução da fecundidade.

Todos nós aceitamos com o indesmentível que hoje se vive mais anos do que num passado bem recente. A esperança de vida à nascença tem tido progressos muito assinaláveis. Basta dizer que, no que toca a Portugal, por exemplo, em 1920, os homens tinham uma esperança de vida de cerca de 36 anos. Em 1960 esta já atingia os 60 anos. Em 2010 a esperança de vida dos portugueses à nascença é de cerca de 76 anos. Progresso extraordinário.

Mas será que a estes avanços têm correspondido respostas eficazes, capazes de acompanhar os progressos obtidos e que se traduzam num equilíbrio geracional que não dramatize ainda mais a condição do envelhecimento?

Para além de outros factores, um dos que mais contribui para o envelhecimento da população tem a ver com os baixos níveis de fecundidade. Trataremos com mais detalhe no “estado das artes” este tema, mas não podemos passar sem o referir ainda que superficialmente. Portugal tinha em 1960 um dos valores mais elevados na Europa, de filhos por mulher, superior a três. Hoje esse valor situa-se em 1,4 filhos por mulher, sendo um dos mais baixos da Europa e do mundo. Convém referir, que para haver renovação geracional é necessário que cada mulher em idade fértil tenha 2,1 filhos.

Todo este conjunto de dados, vai forçosamente conduzir-nos para que tenhamos receios quando nos debruçamos sobre as questões do envelhecimento demográfico no futuro.

5.5 Envelhecimento Demográfico, Renovação de Gerações, Produtividade, Segurança

Social e Reformas.

O envelhecimento da população, que se traduz num cada vez maior número de pessoas idosas, tem reflexos muito significativos sobre todo o universo social. São maiores as necessidades e a procura de cuidados de saúde. Doenças do foro degenerativo como; tumores, diabetes, doenças cardiovasculares, alzheimer. As dificuldades de visão de mobilidade, são também responsáveis por perdas significativas de autonomia e por uma maior dependência de apoio, seja ele familiar ou social.

A vida moderna, associada à mobilidade imposta pelas condições de trabalho, conduz a que o apoio geracional que sempre esteve associado à nossa forma de viver, no passado, se tenha alterado radicalmente. A inexistência de infraestruturas suficientes para dar resposta ao envelhecimento e às consequências que daí advêm geram situações dramáticas.

As famílias monoparentais, que nos idosos representam um valor muito elevado, por morte de um dos cônjuges, são causa de solidão, isolamento e receio. Esta realidade está associada a uma parcela muito elevada dos agregados familiares de idosos em Portugal.

As precárias condições de habitações, principalmente nos grandes centros populacionais, onde residem a maioria das pessoas com 65 ou mais anos, aliada a bolsas de pobreza, constituem por si só receios fundados, face ao envelhecimento da população em Portugal.

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Maria João valente Rosa, sobre os múltiplos receios face ao envelhecimento da população, refere três ideias, que lhe parecem mais habituais quando se alude ao tema. Para a autora o envelhecimento é mau porque: a população estagna e não há renovação de gerações; a produtividade diminui; põe em risco a sustentabilidade da Segurança Social

É necessário renovar as gerações. Verifiquemos, mesmo que de forma algo superficial o que se passa em Portugal. O número de óbitos tem-se mantido estacionário (cerca de 100.000 por ano), comum número de nascimentos em decréscimo, o saldo natural (nascimentos menos óbitos), aproxima-se de zero ou até de valores negativos. Significa isto que a população tenderá a diminuir pela via natural, por existirem mais óbitos que nascimentos.

Uma forma de obstar a que esta situação se materialize tem a ver com as migrações. Portugal depois de ter sido um país com inequívoca tendência para a emigração, sentiu desde a década de oitenta um surto de imigração que contribuiu para atenuar a nossa calamidade demográfica. Com efeito, a imigração de cidadãos brasileiros e, de uma forma muito significativa, de todos os países com os quais partilhamos a língua e temos uma relação de grande proximidade histórica e afectiva, contribuiu para tornar menos dolorosa a nossa ameaça demográfica. Mais recentemente, outras nacionalidades, principalmente de países do Leste europeu têm também contribuído para aumentar o fluxo da imigração.

Nem sempre são pacíficos ou pelo menos ausentes de receios estes movimentos. Os imigrantes são confrontados muitas vezes com notícias ou referências que pouco dignificam a presença destes grupos, sendo que o contrário não é tão frequente.

Deveremos reconhecer todavia que as sociedades envelhecidas e com fracos crescimentos demográficos com estas opções: ou estão sujeitas a uma forte imigração, que seja superior a emigração, ou a uma fraca imigração. Em qualquer dos casos uma certeza deve ser reconhecida, a população autóctone irá progressivamente diminuindo em comparação com a de outros territórios, no caso de a imigração ser fraca, ou diminuirá dentro do próprio território caso a imigração seja forte.

Devemos aceitar que a globalização acontecerá também nos fluxos migratórios que se farão sentir, cada vez com mais intensidade, e cada vez provenientes de locais do mundo que apresentam índices de crescimento demográfico muito superiores aos verificados no Ocidente.

Como refere Maria João Valente Rosa “a primeira ameaça que paira sobre nós, associada ao envelhecimento progressivo da população, é a da descaracterização do nosso modo de viver e da eventual alteração dos valores civilizacionais que nos habituámos a respeitar” (2012;p39).

Portugal, nunca acompanhou os ciclos de industrialização e de desenvolvimento que foram acontecendo ao longo da História no mundo e que por esse facto nunca desfrutou de índices de produtividade que o aproximasse dos países desenvolvidos da Europa.

Agora que o nosso envelhecimento é particularmente acelerado, é mais um entrave à produtividade. Somos levados a admitir que, ao envelhecer, um indivíduo produza menos. Mas produzir menos não é o mesmo que deixar de produzir. Subsistem contudo contradições que importa realçar. O tempo de vida que é dedicado à produção tende a diminuir, o que parece um paradoxo com o aumento da esperança de vida.

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O aumento do tempo de escolaridade, que empurra os jovens para a entrada no trabalho para idades mais tardias, ao mesmo tempo que os de idade mais avançada são empurrados muitas vezes para reformas antecipadas, fazendo com que o seu ciclo produtivo termine muitas vezes antes de atingir os 65 anos.

Não existe uma sintonia real, entre o que está estabelecido como sendo a idade activa e o que acontece na realidade.

 

“A confirmá-lo, está a diminuição, em Portugal, das taxas de actividade até aos 25 anos, entre 1983 e 2010: passaram de quase 70% para menos de 40%. Quer isto dizer que, até aos 25 anos, são cada vez menos os jovens que integram o grupo da população activa, ou seja, que se encontram em situação de empregado ou de desempregado.” (M.J.V. Rosa 2012;pp40-41).

São vários os processos e situações que concorrem para que possamos observar a realidade que já apontámos. A idade da reforma em Portugal é hoje inferior a 62,5 anos, apesar da idade estabelecida por lei se situar nos 65 anos. Já se olharmos para as taxas de actividade observadas actualmente no grupo etário 55-64 anos, elas situam-se próximo dos 55%, enquanto as taxas de actividade do grupo etário imediatamente anterior, dos 45-54 anos, ficam próximo dos 85%.

Numa sociedade que envelhece como a nossa, ganhos de produtividade poderiam estar associados à utilização de imigrantes que nos procuram com elevadas qualificações. Tal não tem acontecido, principalmente com muitos imigrantes oriundos dos países da Europa de Leste, com níveis de qualificação muito elevados, mas que não são colocados em sectores mais competitivos da economia. Vemos sim, licenciados ou mesmo doutorados em tarefas de construção civil ou para trabalhos em que o seu potencial foi completamente desbaratado.

Quando falamos do envelhecimento da população, associamo-lo sempre ao agravamento das despesas sociais, como a protecção social e as pensões de velhice.

O permanente agravamento destas despesas, coloca uma incerteza permanente na sustentabilidade do sistema de Segurança Social e para o aumento progressivo do esforço contributivo.

Em Portugal, um número muito significativo de pessoas desconhece na realidade, em que base assenta o princípio da fórmula redistributiva das pensões. O modelo baseia-se no princípio da solidariedade geracional. Isto estabelece que, as gerações activas, trabalhadores e empregadores, ao descontarem, financiam as reformas dos actuais reformados, pressupondo-se que estas mesmas gerações, quando atingirem a idade de reforma, tenham alguém que financie as suas reformas.

Só que o número de activos, por pessoas reformadas, tem vindo a diminuir, o que põe em risco a sustentabilidade futura do sistema, não garantido que o mesmo se mantenha nos moldes em que hoje se encontra.

Maria João Valente Rosa identifica um conjunto muito alargado de constrangimentos que põem em causa a solidariedade geracional e que são propiciadores para o aparecimento de graves conflitos e atropelos ao modelo de financiamento da Segurança Social. No seu entender a verdadeira razão dos problemas sociais está, antes, na inadequação de que dá

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mostras a sociedade ao curso dos factos. Houve uma mudança significativa no seu «corpo populacional», mas não mudaram os modelos e sistemas que a organizam.

“Logo, o problema não pode ser imputado à alteração do corpo populacional, mas às adaptações, que abrangem múltiplas dimensões (como a relação com o trabalho, com a formação, com os outros – conhecidos ou estranhos, com o lazer), obrigam a pensar de forma diferente” (M. J. V. Rosa 2012;p49).

5.6 Para uma Sociedade Mais Inteligente, Novo Paradigma de Ciclo de Vida, Situação no Trabalho.

Há sempre formas diversas de olharmos para um assunto que carece de resolução. Podemos invocar o exemplo do copo meio cheio ou meio vazio, conforme se pretende valorizar uma ou outra perspectiva. Nos dias de hoje, ouvimos com frequência a expressão «transformar as ameaças em oportunidades», estas expressões e atitudes estão mais ligadas ao mundo empresarial, mas não deixam de se revestir de interesse, quando temos pela frente, uma necessidade urgente de pensar a sociedade de um modo diferente.

As sociedades têm mostrado sempre alguma resistência na aceitação de novas formas de pensar. Apesar de tudo e talvez devido aos avanços alcançados nas áreas das novas tecnologias, assistimos hoje a uma maior permeabilização à ideia de mudança.

É sobre esta janela de oportunidade que devemos centrar a nossa atenção e o nosso empenho. Tal como refere Maria João Valente Rosa, as sociedades envelhecidas convivem muito mal com o envelhecimento da população e pouco têm aproveitado este processo demográfico para reverem alguns dos seus princípios, dos seus modelos, os quais se têm revelado úteis em outras circunstâncias passadas embora diversas da realidade actual.

“Estamos no ponto em que o envelhecimento demográfico não desperta sentimentos positivos. As pessoas idosas são referidas como sendo em excesso, os jovens como estando em falha e as pessoas em idade activa como um grupo etário cada vez mais insuficiente. A questão que então se suscita é a de saber se tal categorização terá de necessariamente ser tão rígida. E, para isso, voltamos aos receios colectivos, que em pouco resultam do envelhecimento demográfico, mas que lhe dão a tal forma muito desagradável que temos vindo a descrever.” (M. J. V. Rosa 2012;p 51).

Apesar de esta sociedade se assumir como supostamente livre, baseada em atributos de mérito de igualdade e de solidariedade, o valor de cada indivíduo não está apenas relacionado em função das suas competências, mas em função de outras atribuições externas e que nada estão relacionadas com as competências intrínsecas de cada um.

Este comportamento ou esta lógica provocam um elevado desperdício de capital humano, já que consideramos que é no conhecimento que está a chave para o desenvolvimento das sociedades.

A autora aborda sobre este assunto uma nova teorização sobre um modelo alternativo para a classificação da sociedade, a que chama “lógica da interligação”, em confronto ou oposição com o modelo actual de partição da sociedade. Abordaremos este tema com maior profundidade, na realização do estado das artes.

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Como já vimos em referências anteriores, a sociedade olha para o idoso de maneiras muito diversas. Mas há sempre determinados estereótipos que retratam estes tratamentos com uma marca definida. A autora apresenta dois ou três casos que ilustram bem essa carga de pré-definição, como lhe chama, referindo-se a notícias veiculadas sobre pessoas idosas: «idoso atropelado», «idoso assaltado»; «idoso há cinco dias desaparecido». E questiona de seguida se faria algum sentido que, em vez da palavra «idoso», estivesse a palavra «adulto», ou «activo».

Aparece associado ao ciclo de vida o termo idadismo, que não poucas vezes sugere uma classificação negativa não muito diferente das expressões utilizadas para o racismo ou para a classificação de minorias étnicas.

As novas sociedades não carecem mais de uma mão-de-obra assente no esforço físico e, portanto, na utilização de uma mão-de-obra assente em indivíduos apenas em idades activas pujantes. Um conjunto muito alargado de ocupações de grande prestígio, podem perfeitamente ser exercidas, com vantagem, por pessoas, que estão já, por imperativos legais, fora do mercado de trabalho, por terem atingido o limite de idade.

O ciclo de vida, tal como temos vindo a referir, não pode continuar associado a uma sociedade que já não existe. São diferentes as idades com que hoje se iniciam as carreiras profissionais, são diferentes os percursos profissionais que hoje se estabelecem. A formação já não acontece num período específico da vida, mas tem que ser uma constante. A produção também não está hoje associada a uma única arreia ou percurso.

Todas estas alterações tendem a que sejamos desafiados a encontrar novas soluções que compatibilizem, formação, trabalho, lazer, vidas mais longas e usufruto de bem-estar.

5.7 Síntese

Talvez por me encontrar num período da minha vida que me aproxima muito do tema desta obra, ela me tem despertado tanto interesse e tenha sido alvo da minha escolha.

Há alguns anos atrás, no exercício das funções que então desempenhava nos corpos gerentes de uma Associação da aldeia onde vivo e a propósito de dotar a referida associação de outras valências de que ainda não dispunha, fui muito criticado por ter defendido que o foco principal de via estar assente na protecção à «terceira idade». Numa altura em que só se pensava em jardins-de-infância, os meus argumentos caíram muito mal. Apesar de tudo, não vislumbrava já que a dimensão do problema tomasse as proporções que hoje tem e em tão pouco espaço de tempo.

O desafio que retenho também desta obra, pela sua objectividade, fácil leitura, e quantidade de informação disponibilizada, também se coloca no patamar de uma melhor compreensão e preparação para poder agir e participar em acções de variado tipo e a variados níveis, por forma a contribuir para que os problemas do envelhecimento, na sociedade portuguesa, possam ser minorados.

A dimensão deste ensaio não o obriga a uma abordagem transversal do problema do envelhecimento da sociedade portuguesa. Daí compreender que a autora não se tenha referido ao problema das infraestruturas, ou da ausência delas, que são absolutamente fundamentais para a evolução do envelhecimento da sociedade portuguesa.

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6 Conclusão

 

O tema “ Envelhecimento da Sociedade Portuguesa”, ganhou uma relevância pouco habitual, com o contributo da obra de Maria João Valente Rosa. Numa pesquisa simples, na internet sobre; “o envelhecimento da sociedade portuguesa”, verificamos 285.000 resultados. Mostramos abaixo alguns exemplos dos meios envolvidos na divulgação do tema.

                      

 

Esta visibilidade é benéfica para o problema do envelhecimento da população portuguesa e para o processo demográfico que lhe está subadjacente. Esta visibilidade permite que cada um de nós possa reflectir com um maior conhecimento do que está em causa e assim poder dar um contributo mais adequado e mais empenhado.

O momento que vive a sociedade portuguesa não é o mais propício para este tipo de reflexão. Os problemas sociais que vivemos no dia-a-dia podem distanciar-nos dessa reflexão necessária. Mas hoje quando assistimos às notícias que nos informam e mostram a degradação cada vez mais acentuada das condições de vida de faixas da população, que até há pouco pensávamos completamente imunes, podemos mais facilmente antever e compreender o que nos espera o futuro.

Se esta obra contribuir para esse debate e essa reflexão, é também um contributo importante da Sociologia Portuguesa, para o trabalho de terreno que é necessário implementar.

Terminamos este trabalho com uma frase com que Maria João Valente Rosa inicia a sua obra.

“ O principal problema das sociedades modernas não é o futuro, é o passado”

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7 Referências Bibliográficas

 

Nazareth, J. Manuel. “As estruturas demográficas‐ As pirâmides de idades.” In Demografia a Ciência da População, de J. Manuel Nazareth, 109. Lisboa: Editorial Presença, 2009. 

Rosa, Maria João Valente. O Envelheciemnto da Sociedade portuguesa. Lisboa: Relógio D'Água, 2012. 

—. O Envelhecimento da Sociedade Portuguesa. Lisboa: Relógio D'Água, 2012. 

Rosa, Maria João Valente. O Envelhecimento da Sociedade Portuguesa. Lisboa: Relógio D'Água, 2012. 

—. O Envelhecimento da Sociedade Portuguesa. Lisboa: Relógio D'Água, 2012. 

—. O Envelhecimento da Sociedade Portuguesa. Lisboa: Relógio D'Água, 2012. 

 

 

Texto escrito de acordo com a antiga ortografia.

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Anexo A

 

 

 

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Anexo B

http://www.envelhecimentoativo.pt/conteudo.asp?tit=0

  

 

 

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