entrevista de freud

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  • 8/12/2019 Entrevista de Freud

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    ACulturadPsicnlise

    . SrvuloA. Figuera

    Freud, Pensador da CultuRenato Mezan

    No Prinpio e o AmorJula Krsteva

    A Ordem Mdicean Clavreul

    A Razo CaivaSrgo Paulo Rouanet

    Tempo do DesejoHelosa Ferandes ( org.)

    A Vngan da EsfngeRenato Mezan

    Coleo Primeiros Passos

    O que PsicnliseFabo Herrman

    O que Psicnlse 2 visoO. Cesarotto/M Leite

    A sair:

    De Clausu do Fo ao Fora dClausuPeter Pl Pelba

    Feud e NietzsePaul-Laurent Assoun

    SIGMUNDFREUD

    &

    OGABINETEDODR. LACAN

    Ensaios dePETERGAYPHILIPRIEFFRICHARDWOLLHEIM

    Artigosde

    JNMAUGMARILENECARONEPAULOCSARSOUZA (org.)

    Trauo/s M o

    Paulo Cr Souza

    editorabrasiliense

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    O VALOR DA VIDA

    Uma entrevisa rara de Freud *

    Stnta anos nsinaramm a acitar a ia com srnaumila

    Qum fala o profssor Sigmun Fru o gran xplora-or a alma. cnrio a nossa conrsa foi uma casa ro no Smmring uma montana nos Alps austracos.

    Eu tina isto o pai a psicanlis pla tima z m suacasa mosta na capital austraca. s poucos anos ntr mi-

    na ltima isita a atual multiplicaram as rugas na sua front. Intnsicaram a sua paliz sio. Sua fac staa tn-sa como s sniss or. Sua mnt staa alrta su spritofrm sua cortsia impcl como smpr ms um igiroimpimnto a fala m assustou.

    Parc qu um tumor maligno no mxilar suprior ncssitou sr oprao. Ds nto Fru usa uma prts pra lcausa constant irritao

    Dtsto o mu mxilar mcnico porqu a uta com oaparlo m consom tanta nrgia p rciosa. Mas prro um

    Concedda a George Sylvester Vierek em 1926.

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    118 SIGMUND FUD

    maxilarmenico amaxilar nenhum. Anda prefroa existn-cia extino.Talvez os deuses sejam gentis conosco, tornan-do avida mais desagradvel medidaqueenvelhecemos. Porm, aortenos parecemenosintolerveldo que o fardo que

    carregamos.

    Freudse recusaaadmitirque odestino lhereserva algo especial.

    Por quedisse calmamentedeveriaeu esperarumtratameno especial? Avelhice, com suas agruras, chegaparatodos. Atingeumapessoaaqui, outra ali Seusgolpes semprealcanam umponto vital. A vitria nal pertence aoVermeConquistador.

    ''Out- ou are the lights- out aAnd over each quiveng form

    The curtain a funereal paComes down with the sh of a storm

    And the angels, a palid and wanUping unveing, afrm

    That the play is the tragedy Man,And its he the Conqueror Wo.

    ("Apagamse, apagamseas luzes todas! / Esobre cadaformatrmula/ Caia cortina, umpanomorturio/ Com um

    mpetodetempestade/ Eos anjos, plidose lnguidos, I Er-

    guendose, desvelandse, armam/ Queapeaa tragdia

    Homem'I

    Eo seu heri, oVerme Conquistador." )"Eunomerebelocontraa ordemuniversal. Anal, vivimais desetenta os.Tive obatantepara comer. Apreciei

    muitacoisa a companhiademinhamulher, meus flhos,

    oprdosol. Observei aplantascresceremna primavera. De

    vezemquandotiveumamoamigaparaapertar. Vezou ou-tra encontrei um ser humano que quae me compreendeu.Quemais possoquerer? "

    O senhortevea fama disseeu. Suaobrainui naliteratura decadapas. O homemolha a vida e a si mesmocom outros olhos, por causado senhor. E recentemente, no

    seuseptuagsimoaniversrio, omundoseuniu para homena-gelo-com exceo dasua prpria universidade!

    O VALOR DA VDA 119

    Se a Universidade de Viena me demonstrasse reconheciento eu caria embaraado. No h razo por que deve-riam aceitar a mim e a minha obra porue tenho setentaanos. Eu no atribuo importncia insensata aos decimais. Afamachega apenas quando morremos e francamente, o que

    vem depois no me interessa No aspiro glria pstuma.Minha modstia no virtude.

    No significa nada o fato de ue o seu nome vai viver?Absolutamente nada mesmo que ele viva o que no

    certo. Estou bem mais preocupado com o destino de meus -lhos. Espero que a vida deles no venha a ser difcil No pos-so ajudlos muito. A guerra praticamente liquidou com minhas posses o que havia poupado durante a vida. Mas possomedar por satisfeito. O trabalho minha fortuna.

    Estvamos subindo e descendo uma pequena trilha no jar-im da casa Freud acariciou ternamente um arbusto que o-a.

    Estou muito mais interessado neste boto do que noque possa me acontecer depois de morto.

    Ento o senhor afinal de conta um profundo pessi-mista?

    No no sou. No permito que nenhuma reexo filo-sca estrague a minha fruio das coisas simples davida.

    O senhor acredita na persistncia da personalidade apsamorte de alguma forma que seja?

    No pens nisso. Tudo o que vive perece. Por que deve-riao homem constituir ma exceo? Gostaria de retornar em alguma forma de ser resgatado

    do p? O senhor no tem em outras palavras desejo deimortalidade?

    Sinceramente no. Se reconhecemos os motivos egostas por trs de toda conduta humana no temos o mnimodesejo de voltar. A vida movendose num crculo seria aindaa mesma. Alm disso mesmo se o eterno retorno das coisasparausar a expresso de Nietzsche nos doasse novamente donosso invlucro carnal para ue serviria isso sem memria?

    Nohaveria elo entre passado e turo Pelo que me toca es-tou perfeitamente satisfeito em saber que o eterno aborreci

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    12 SGMUND FUD

    mento de vver fnalmente assar Nossa vda necessara-mente uma sre de comprossos, uma luta ntermnvel entre o ego e seu ambent O desejo de prolongar a vda exces-svamente me parece absurdo

    O snhor desaprova a tentatva de se colega Ste-

    nach, de prolongar o cclo da exstnca humana?- Stenach no tenta prolongar a vda Ele apenascombate a velhce Recorrendo ao reservatro de energa em nossoprpo corpo, ele ajuda os tecdos a resstr doena ope-rao de Stenach detm acdentes bolgcos m olestos, comoo cncer em seus estgos ncas Toa a vda mas vvelno a torna mas dgna de ser vvda No h motvo para de-sejar vver mas longamente. Mas h todo motvo para desejarvver cm o menor desgosto possvel. Eu sou razoavelmentefelz, porque sou grato pela ausnca de dor e pelos pequenosprazeres da vda, pelos meus lhos e por mnhas ores

    Bernard Shaw sustenta que vvemos muto pouco dsse eu Ele acha que o homem pode prolongar a vda, seassm desejar , levando sua vontade a atuar sobre as foras daevoluo. Ele cr que a humandade pode reaver a longevdade dos patrarcas.

    possvel, respondeu Freud, que a morte em s no sejauma necessdade bolgca. Talvez morramos porque deseja-mos morrer Ass como amor e do por algum habtamnosso peto ao mesmo tempo, assm tambm toda vda conju-ga o desejo de manterse e um anseo pela prpra destuoDo mesmo modo como um pequeno elstco estcado tende aassumr a forma orgnal, assm tambm toda matra vva,conscente ou nconscentemente, busca readqurr a completa e absoluta nrca da exstnca norgnca O mpulso devda e o mpulso de morte(-wh and dah-wh) habtamlado a lado dentro de ns.

    A Morte a companhera do Amor prosseguuFreud. Juntos eles regem o mundo Isso o que dz meu l-vroAm do P.ncio do Pz No comeo a pscanlse sups que o Amor tnha toda a mportnca Agora sabemosque a Morte gualmente mportante .Bologcamente, todo ser vvo, no mporta quo ntensa-mente a vda queme denro dele, ansea pelo Nrvana, pela

    O VALOR DA VDA

    cessao da febre chamada vver, ansea pAbrao. O desejo pode ser encoberto por dgresses No otante, o objetvo derradero da vda a sua prpra extno.'

    Isso exclame a losoa da autodestruo Elajustca o autoextermno. Levara logcamente ao sucdo

    unversal magnado por Eduard von HartmannA humandade no escolhe o sucdo, porque a le doseu ser desaprova a va dreta para o seu m A vda tem quecompletar o seu cclo de exstnca. Em todo ser normal, o m-pulso de vda forte o bastante para contrabalanar o mpulsoda morte, embora no nal esta resulte mas forte. Podemosentreter a fantasa de que a Morte nos vem por nssa prpravontade. Sera possvel que pudssemos vencer a Morte, nofosse por seu alado dentro de ns

    Neste sentdo" , acrescentou Freud com um sorrso, pode ser justfcado dzer que toda morte sucdo dsfarado"

    Estava cando fro no jardm Prossegumos a conversa nogabneteV uma plha de manuscrtos sobre a mesa, com a calgra

    clara de FreudEm que o senhor est trabalhando?Estou escrevendo uma defesa da anlse lega, da psca

    nlse pratcada por legos. Os doutores quere tornar a an-lse legal para os nomdcos. A Hstra, essa velha plagadoa, repetese aps cada descobeta. Os doutores combatemcada nova verdade no comeo; depos procuram monoolz-la.

    O senhor teve apoo dos legos?Alguns dos meus melhores dscpulos so legosO senhor est pratcando mu a pscanlse?Certamente Nesse momento estou trabalhando num

    caso muto dfcl, tentando desatar os contos psqucos deum nteressante novo pacente. Mnha lha tambm psca-nalsta, como voc v...

    Nesse ponto apareceu Mss Anna Fred acompanhada porseu pacente, um gaoto de onze anos, de fees nconndvelente anglosaxs

    O senhor j analsou a s mesmo?Certamete O pscanalsta deve constantemente anal

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    24 SIGMUND UD

    nlidd dividid d dsintgro do go qu rsult dtnttiv do homm d dptrs pdrs d civilizodmido vdos pro su mcnismo intlctul psquico. slvgm como o niml cru ms no tm mldd do homm civilizdo A mldd vingn dohomm contr socidd ps rstris qu imp. Asmis dsgrdvis crctrstics do homm so grds orss ustmnto prcrio um civilizo compicd E orsultdo do conito ntr nossos instintos noss cutur.Muito mis grdvis so s mos simps dirts umco o blnr cud ou o ltir xprssndo su dspr-zr. As mos do co crscntou Frud pnstivmntlmrmnos os hris d Antiguidd. Tvz s ss rzo por qu inconscintmnt dmos nossos cs nomsd hris ntigos como Aquils Hitor.

    Mu cchorro diss u um dobrmn pinschrchmdo Ax.Frud sorriuFico contnt d qu no poss lr E crtmnt sri

    um mmbro mnos qurido d c s pudss ltir su opi-nio sobr os trums psquicos o complxo d dipo!

    Msmo o snhor profssor ch xistnci complxdmis No ntnto prcm qu o snhor m prt rs-ponsvl pl complxidds d civilizo modrn Antsqu o snhor invntss psicnis no sbmos qu nossprsonlidd domind por um host bligrnt d complxos muito qustionvis A psicnis fz d vid um qubrcbs complicdo

    D mnir lgum rspondu Frud. A psicnlis torn vid mis simpls. Adquirmos um nov sntsdpois d nlis A psicnlis rordn um mrnhdo dimpulsos disprsos procur nrolos m torno do sucrrtl. u modificndo mtfor l fornc o oqu conduz psso pr for do lbirinto do su inconsnt.

    Ao mnos n supfci porm vid humn nunc

    foi mis complx . E cd di lgum nov idi propostplo snhor ou por sus discpuos torn o probm d condut humn mis intrignt mis contrditrio.

    O VAOR DA VIDA 25

    A psicanlise, pelomenos, jamaisfecha a porta auma

    nova verdade. Alguns dosseusdiscpulos, maisortodoxosdoqueose-

    nhor, apegamseacadapronunciamentoquesaidasuaboca

    Avidamuda Apsicanlise tambmmudaobservou

    Freud.Estamosapenas nocomeodeuma nova cinciaAestruturacientcaque osenhorergueumepareceser

    muito elaborada Seusfundamentos, ateoria do"desoca-

    mento', dasexualidadeinfantil'', dosimbolismodosso-

    nhos'' etc., parecempermanentesEurepito, porm, que ns estamos apenas noincio

    Souapenas umniciadorConseguidesencavarmonumentos

    soterradosnos substratosdamente Masaliondeeudescobri

    agunstemplos, outrospoderodescobrir continentes.

    O senhor ainda coloca nfasesobretudo no sexo?

    Respondo comas palavras do seu prprio poeta, Walt

    Whitman: Mas tudofaltaria, se faltasseo sexo ("Ye a

    were lacking, t/sex werelacking). Entretanto, jlheexpli

    quei que agora coloco nfase quase igual naquilo que est

    alm" do prazer, a morte, a negaodavidaEssedesejo

    explicaporquealgunsomensamam ador, comoumpasso

    para o aniquilamento! Explica por que todos buscamodes-

    canso, por queos poetas agradecem a

    "Whav gods h b

    ha no f vs fovha no vs fovAnd vn h as v

    Winds somh saf o sa'

    (Quaisquer deuses queexistam/ Que vida nenuma viva

    parasempreI QueosmortosjamaisselevantemI Etamb o

    riomais cansadoI Desagetranqilonomar'')

    Shaw, comoosenhor, no deseja viver para sempre

    comentei , mas, ao contrriodosenhor, eleconsidera ose-

    o dsintrssnt.ShawrespondeuFreudsorrindonocompreende

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    6 SGMDUD

    o sxo El no tm mis rmot concpo do mor Noh m vrddiro cso moroo m qqr d ss ps.El ridicriz o mor d Jio Csr tvz mior pixod histri. Dlibrdmnt tlvz miciosmnt l ds-p Clptr d tod grndz rdzindo insigni-cnt grot A rzo pr strnh titd d Shw dint do mor pr s ngo do mv d tods s coiss h-mn q tir d ss ps o plo nivrsl psr do snorm lcnc intlctl inrnt s psicoogi. Emm d ss prfcios l msmo nftiz o tro sctico dos tmprmnto. E posso tr rrdo m mit coiss mssto crto d q no rri o nftiz importnci do instinto sl. Por sr to fort s choc smpr com s con-vns slvgrds d civilizo A hmnidd mm spci d todfs pocr ngr s importnci

    S voc rrnhr m rsso diz o provrbio prc o ttrosob pl. Anlis qlqr moo hmn no importqo distnt st d sfr d sxlidd voc crt-mnt ncontrr ss implso primordi o q prprivid dv rpto.

    snhor sm dvid foi bm scdido m trnsmitirss ponto d vist os scritors drnos A psicnlisd novs intnsidds itrtr.

    Tmbm rcb mito d itrtr d oso.Nitzsch fo m dos primiros sicnlists srprndntt q ponto s intio prnnci s nosss dscobrts.Ningm s prcb mis profndmnt dos motivosdis d condt hmn d insistnci do princpio doprzr m prdominr indnidmnt. s Zrtstrdiz:

    ' dorG: Vai!Mas o prazer quer eteidadePura, profunda etermade '.

    A psicnlis pod sr mnos mplmnt disctid n s-

    tri n Amnh q nos Estdos Unidos s inncin litrtr imns porm. Thoms Mnn Hgo vonHofmnnsthl mito dvm ns Schnitzlr prcorr m

    O VALOR DA VIDA 7

    vi q m rg mdid prll o m p rprio dsnvolvimnto. El xprss poticmnt o q tnto com-nicr cintificmnt. Ms o dr. Schnitzr no pns mpot tmbm m cintist.

    snhor rpliqi no pns m cintist

    ms tmbm m pot. A litrtr mricn contini st imprgnd d psicnlis. prt Hghs Hrvy'Higgins otros fzms d ss intrprts. qs impossvl brir m novo romnc sm ncontrr rfrnci psicnlis. Entr os drmtrgos Egn Nill SydnyHowrd tm prond dvid pr com o snhor. The StlverCord, por x

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