freud trama de conceitos

6
lrRtiUD: A TRAìÍA DOS CONCI]TTos acesso às fantasias, para poder inscri-las no sonho manifesto? Deixare- , farçal o.seu sentido rcal. ou acordar, frustrando o dcscjo de dormiÍ e obírgJnclo o ego a um dispéndio superior de energia para mant€r reprimrdos rais conteúdos_. que poderìam ï;;;ì;" ;;';;: pressao tDocua no sonho. E por esta Íaza-o que FÍeud escÍevc: _ . O sonho c o €uâriliâo do rono. não o s(.u p.rturbrdoÍ (..., O de\(,o íl| s( âÌu\rou o cgo conscicntc. c quc juntdment(, com , ,."n.u,, e com a elJboraça:o secundária coníirui sua contribuição para o.onho.;;;; rnprc çcr lcvJdo cm conrd como morivo dc tormaçio'ão i"^ì,". rãiïi*r,ì quc se dcscnvolve com ôxiro é umâ rcalizaçâ-o dcstc d;scjo2a. . (-onludo. as considcraçòes eco ômicas quc dcscnvolvcntus Dara c)iPltcrr J tnclusio dc Írr)lJsi s incorìscicntcs no sonllo rìtuìlf;sto, por ,bra e grrça tlo pró-conscier)lc. não sâo su ficiclt ", ;;" ;;; ;;;;; uc um outro problema. betn rnais Sírio: como o pré-conscienle lem mos esta questão em suspcnso até examinarmos o modelo do apareliro psíqfto construído por Freud no capítulo aa hteq;e;fiì íà Dado €ste pÍocesso de pÍodução do soúo, a ..inteÍpÍelacão..vai ser concebrda como o percurso inverso, isto é, como tra-balho de des- constÍuçâo da elaboraçâo oniÍica. parlindo do conteúdo manifesto. a rÌlcrfìrctução pr.ocuralii dcscobrir o conleúdo lalcDle, atla"ó, d;;;r.;: ciações do paciente. Esta técnica exclui du.. o"truri" io."iãïo ".n_ eúdo manifesto como algo coeÍente poÍ si ,o, ""paz portunio ã" ,"ì tÍaduzido teÍmo a teÍmo por outro cõnteúdo, como l"re i., ""* ì, sonhos do Faraó; e a forma simétrica de ..interpreta;-;, q*;;^; em tomaÍ cada significação do sonho e traduzi-la por ouiri, ,". "t"n- .,."^t, t1r1 i coerência. do..todo, tal como se nos livros púfr", á, cnaves para os sonhos". A associaçâo parte de cada fiagmento do sonno porque esic é concebido como um de signiÍcacões. orodu- zido.pela operação conjunta da condensação, a" ï"rr"-ã" ,1rïà,ï ::::ld"r:.çâ" .trla .reprcscnrabilidade e áa elaboração ."";;;;;; sobÍe a "matéria-prima" do sonho, que sâo os pensamenros tatenies. :-l-:r,*,uo destes pensamentos _ que na verdade sâo desejos e fan- rasns que contere ao sonho o seu sentido. A interpretaóão- oois é. necessária pela simptes razão de que o a"r"l. ,. dïã'rãJl'i,ìl rem.se dlz mascaÍado_pela (epressão: nat-o no soúo, *^ tuÍn'úÍn no slntoma. no ato lalho e na frase de espÍrito. ou seja, na séÍie das foÍmações- de compromisso que a psicanâise d"r";"'d" ;;;';;;: sações de forças. . Freud. finaliza o capítulo Vl do livÍo sobre os sonhos com a oDseÍ açao de que 24. I. D,, S.E., lV, pp. 233-234. 25. /.D, S.8., V, p.507. OS DEMONIOS DA ALM o tÍabalho do sonho está muito mais distante do padÍão do pensamcnto desperto do que supuseÍem mesmo os mais decididos detratores da atividâde psíquica na foÌmaça:o dos sonhos. Não que sejâ mais incoÍÍeto, mais ncgli- gente, mais incomplcto, mais pÍopenso ao esquecimento do que o pensâmento desperto; do ponto de vista quâlitativo, é algo completamente diferente do pensamento despeÌto, e na:o pode seÍ comparado com ê1e25. Este parcce-nos ser o principal resultado do estüdo sobre os sorúos para a elucidação dos processos inconscientes de pensamento: estes nada têm a ver com a cogitação consciente, e se reguÌam por leis qualitativamente diferentes das que vigoram no campo da consciência. 0 sonho e o sintoma são produzidos mediante estes processos, dos quâis a condensação c o doslocanìento se rcvclíun os mais frcqücntcs e eficazes, dando oÍigem aos demais membÍos da série de foÍmações de compromisso. A descoberta destes mecanismos, porém, deu-se no estudo dos sonhos, e por esta razão FÍeud jamais deixou de conside- Íar a sua inteÍpretaçâo como a "estrada real" para o conlìecimento do inconsciente. 3. A GËOGRAFIA DA MENTE A descobeÍa das regras que goveÍnam o pensamento incons- ciente abÍe uma série de novas questões. Se a defoÍmação oníÍica submete os pensamentos latentes a tal grau de distorção, se o mateÍial dos sonhos reside fundamentalmente na vida infantil, se a repressão atua de forma tão intensa mesmo em indivíduos considerados "nor- mais", é pÍeciso que uma teoria abrangente dos processos psíquicos conta destes fenômenos suÍpreendentes. A psicologia cuja cons- trução Freud se impunha como tarefa desde a époc^ do hojeto não poderia ser mais adiada, sob pena de as revolucionárias descobeÍtas da investigação sobre os sonhos pe[naneceÍem sem vinculação com a teoÍia das neuÍos€s e mesmo sem conexão entrc si. Esta ó â mcta do capítulo fjl\al da Llterryetação tlos Sorrhos, capítulo que F'rcud batizaÍa de "filosófico" na caÍta I 15 a Fliess, mas que na edição im- pÍessâ tlaz simplesmente o lít.ulo de A Psìcologia dos Processos Oní- nZi?J. Aqui Freud empreende a primeira construção do aparelho psí- quico, a chamada "primeira tópica", e para cuja formulação se serve extensamente dos seus conhecimeltos sobre as neuÍoses. A investigação precedente conduzira aos seguintes Íesultados: o sonho um ato psíquico de extrema importância;repÍcsenta a reali- zaçÍo de um desejo pungente, cujo Íeconltecimento é dificultado pelo trabalho da censura, de onde sua aparência de estraúeza; em , i i, I ' li ill iil ]li il 11i ll rl lf ill

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7/24/2019 Freud trama de conceitos

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lrRtiUD:

A TRAìÍA

DOS

CONCI]TTos

acesso

às

fantasias,

para

poder

inscri-las

no

sonho

manifesto?

Deixare-

,

farçal

o.seu

sentido

rcal.

ou

acordar,

frustrando

o

dcscjo

de

dormiÍ

e

obírgJnclo

o ego

a

um

dispéndio

superior

de

energia

para

mant€r

reprimrdos

rais

conteúdos_.

que

poderìam

"n"ontrr,

ï;;;ì;"

;;';;:

pressao

tDocua

no

sonho.

E

por

esta

Íaza-o que

FÍeud

escÍevc:

_

.

O

sonho

c o

€uâriliâo

do

rono.

não

o s(.u

p.rturbrdoÍ

(...,

O

de\(,o íl|

s( âÌu\rou

o

cgo conscicntc.

c

quc juntdment(,

com

,

,."n.u,,e

com

a

elJboraça:o

secundária

coníirui

sua

contribuição

para

o.onho.;;;;

rnprc

çcr

lcvJdo

cm

conrd

como

morivo

dc tormaçio'ão

i"^ì,".

rãiïi*r,ì

quc

se dcscnvolve

com

ôxiro

é umâ

rcalizaçâ-o

dcstc

d;scjo2a.

.

(-onludo.

as

considcraçòes

eco

ômicas

quc

dcscnvolvcntus

Dara

c)iPltcrr

J tnclusio

dc

Írr)lJsi s

incorìscicntcs

no

sonllo

rìtuìlf;sto,

por

,bra

e

grrça

tlo

pró-conscier)lc.

não

sâo

su

ficiclt

",

;;"

;;;

;;;;;

uc

um

outro problema.

betn

rnais

Sírio:

como

o

pré-conscienle

lem

mos esta

questão

em

suspcnso

até

examinarmos

o

modelo

do

apareliro

psíqfto

construído

por

Freud

no

capítulo

v|

aa

hteq;e;fiì

íÃ

Dado

€ste pÍocesso

de pÍodução

do

soúo,

a

..inteÍpÍelacão..vai

ser

concebrda

como

o

percurso

inverso,

isto é, como

tra-balho

de

des-

constÍuçâo

da

elaboraçâo

oniÍica.

parlindo

do

conteúdo

manifesto.

a

rÌlcrfìrctução

pr.ocuralii

dcscobrir

o conleúdo

lalcDle,

atla"ó,

d;;;r.;:

ciações

do paciente.

Esta

técnica

exclui

du..

o"truri"

io."iãïo

".n_

eúdo

manifesto

como

algo

coeÍente

poÍ

si

,o,

""paz

portunio

ã"

,"ì

tÍaduzido

teÍmo

a

teÍmo

por

outro

cõnteúdo,

como

l"re

i.,

""*

ì,

sonhos

do

Faraó;

e

a forma

simétrica

de

..interpreta;-;,

q*;;^;

em

tomaÍ

cada

significação

do

sonho

e

traduzi-la

por

ouiri,

,".

"t"n-

.,."^t,

t1r1 i

coerência.

do..todo,

tal

como

se

nos

livros púfr",

á,

cnaves

para

os

sonhos".

A associaçâo

parte

de

cada fiagmento

do

sonno porque

esic

é

concebido

como

um

de

signiÍcacões.

orodu-

zido.pela

operação

conjunta

da

condensação,

a"

ï"rr"-ã"

,1rïà,ï

::::ld"r:.çâ" .trla .reprcscnrabilidade

e

áa

elaboração

."";;;;;;

sobÍe

a

"matéria-prima"

do

sonho,

que

sâo

os

pensamenros

tatenies.

:-l-:r,*,uo

destes pensamentos

_

que na

verdade sâo desejos e

fan-

rasns

que

contere

ao

sonho

o

seu

sentido.

A

interpretaóão-

oois

é.

necessária

pela

simptes

razão

de

que

o a"r"l.

,.

dïã'rãJl'i,ìl

rem.se

dlz mascaÍado_pela (epressão:

nat-o

no

soúo,

*^

tuÍn'úÍn

no

slntoma.

no

ato lalho

e

na

frase

de

espÍrito.

ou

seja, na

séÍie

das

foÍmações-

de

compromisso

que

a

psicanâise

d"r";"'d"

;;;';;;:

sações

de forças.

.

Freud.

finaliza

o

capítulo Vl

do

livÍo

sobre

os

sonhos

com

a

oDseÍ açao

de

que

24.

I. D,,

S.E., lV,

pp.

233-234.

25.

/.D,

S.8.,

V,

p.507.

OS

DEMONIOS

DA

ALMÂ

o

tÍabalho do

sonho

está

muito mais

distante

do

padÍão

do

pensamcnto

desperto do

que

supuseÍem mesmo

os mais decididos detratores

da atividâde

psíquica

na foÌmaça:o

dos

sonhos. Não

que

sejâ mais incoÍÍeto, mais ncgli-

gente,

mais

incomplcto,

mais

pÍopenso

ao esquecimento

do

que

o

pensâmento

desperto; do

ponto

de

vista quâlitativo,

é

algo completamente

diferente do

pensamento

despeÌto, e

na:o

pode

seÍ

comparado com ê1e25.

Este

parcce-nos

ser

o

principal

resultado

do

estüdo sobre

os

sorúos

para

a

elucidação

dos

processos

inconscientes de

pensamento:

estes nada

têm

a

ver

com a cogitação consciente, e

se

reguÌam por

leis

qualitativamente

diferentes

das

que

vigoram no

campo da consciência.

0

sonho

e

o sintoma são

produzidos

mediante estes

processos,

dos

quâis

a

condensação c

o

doslocanìento

se

rcvclíun

os mais

frcqücntcs

e eficazes, dando

oÍigem aos demais

membÍos

da

série

de foÍmações

de compromisso. A

descoberta

destes

mecanismos,

porém,

deu-se no

estudo

dos

sonhos,

e

por

esta

razão

FÍeud

jamais

deixou de conside-

Íar a

sua

inteÍpretaçâo

como

a

"estrada

real"

para

o conlìecimento

do

inconsciente.

3.

A

GËOGRAFIA DA MENTE

A

descobeÍa

das regras

que

goveÍnam

o

pensamento

incons-

ciente

abÍe uma

série

de

novas

questões.

Se

a

defoÍmação

oníÍica

submete os

pensamentos

latentes a tal

grau

de distorção,

se

o mateÍial

dos

sonhos reside fundamentalmente na

vida

infantil,

se

a repressão

atua de

forma

tão

intensa mesmo em indivíduos

considerados

"nor-

mais",

é

pÍeciso

que

uma teoria

abrangente dos

processos psíquicos

conta

destes

fenômenos

suÍpreendentes.

A

psicologia

cuja

cons-

trução

Freud

se impunha como

tarefa

desde

a

époc^

do

hojeto

não

poderia

ser mais adiada,

sob

pena

de as revolucionárias

descobeÍtas

da investigação

sobre os sonhos

pe[naneceÍem

sem

vinculação

com

a

teoÍia

das neuÍos€s

e

mesmo

sem conexão entrc

si.

Esta ó

â mcta

do

capítulo

fjl\al

da

Llterryetação

tlos Sorrhos,

capítulo

que

F'rcud

batizaÍa de

"filosófico"

na

caÍta

I

15

a

Fliess,

mas

que

na edição im-

pÍessâ

tlaz

simplesmente

o lít.ulo

de A Psìcologia

dos

Processos

Oní-

nZi?J. Aqui Freud empreende

a

primeira

construção

do aparelho

psí-

quico,

a

chamada

"primeira tópica",

e para

cuja formulação

se

serve

extensamente dos

seus

conhecimeltos

sobre

as

neuÍoses.

A

investigação

precedente

conduzira

aos seguintes Íesultados:

o

sonho

é

um

ato

psíquico

de extrema

importância;repÍcsenta

a reali-

zaçÍo

de um

desejo

pungente,

cujo

Íeconltecimento

é dificultado

pelo

trabalho da

censura,

de onde

sua

aparência

de estraúeza;

em

i

i,

I

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11

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Page 2: Freud trama de conceitos

7/24/2019 Freud trama de conceitos

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FRIUDi

A

TRAMÂ

DOS

CONCtrITOS

sua

formação,

coopeÍam os mecanismos

da

condensação,

do

desloca-

mento,

da

consideração

pela

representabilidade

e da

elaboração

secun-

dária.

A

paÌtiÍ

de cada uma destas

proposições,

âbre-se um

caminho

que

conduz

a suposiç6es

e

postulados

psicológicos.

Assim,

torna-se necessáÍio

investigar

ât

Íelâções existentes €ntre

o

estado de desejo e

as

quatro coÍdições

mecionâdas,

bem como

as relações recíprocas entÌ€

estas condições. O

sonho tem

que

ser

inserido no

conjunto de nossa.vida

psíquicâ26-

Freud

parte

da obs€rvação

citada de

Fechner,

segundo a

qual

"o

sonho tem

por palco

oütra

região". AgoÍa, ele

a inteÌpreta como

a

sugestão da existência

de localidades

psíquicas,

embora

sem

quâlquer

relação com

a anatomia

cerebnl,

como indiçamos mais

atrás. O apa-

relho

psíquico

é imaginado

como uma

sucessão orientada de rcgiões,

à

semelhança

de

um

telescópio

ou

microscópio,

que

a excitação

atra-

vessa numa direção

definida. O modelo do

alco ÍefÌexo sugeÍe

que

esta

direção

é

a

que

conduz

do

"pôlo

perceptivo"

ao

"pólo motor".

Con-

tudo, a

imensa

complexidade

da vida

psíquica

não podeÍiâ

ser redu-

zida

a

üma

composição

de atos Íeflexos; o âparelho

sofre uma

pri-

meira

difeÍençiação

na

extremidade perceptiva,

para

dar conta

da

existência da memória. Freud

argumenta

que

a

memória

e a

peÍcep-

ção

devem

s€r

atÍibuídas

a

sistemas diferentes,

porque

os

traços

mnêmicos das

percepções

efetuam

uma modificaçâ'o

permânente

nos

elementos

do

"sistema-memória",

que

pertuÌbaria

a Íecepção

de

novas

imagens no

"sistema-percepção",

caso as duas funções estives-

sem localizadas na

mesma região

psíquica.

O mesmo argumento

sewe

para

concebe a associaçío

como

função

do

"sistema-memória",

que

ela

se

estabelece

coúo conseqüência

da

diminuição

de resis-

tências

entÍe

os

vários traços

ÍÌn6micos,

fazendo

com

que

a

exci-

tação

se tÍansrÌìita

preferencialmente

de

um

traço

A

para

um

traço

B,

e

não

para

um

traço

C.

Estas

primeiras

foÍmulações

recordam

a

Ìinha

de

raciocínio do

hoieto, mas

com

a

difeÍença essencial

ile

que

ali

tratava de conjuntos de neüÌônios

suscetíveis

de serem locâli.

zados

no sistema nervoso,

enquanto

neste caso

a

"excitação"

deve

se tomada num sentido

psicoÌógico,

sem

qualquer

referência

à ana-

tomia.

A

refeÉnciâ

às

"resistências"

fica

üm

tanto

obscura,

que

as

baneiras

de contato

nvocadas

no

Projeto

dificilmente podem

ser

atribuídas

às idéias

cujos

rastos

constituem

os tÍaços mÍlêmicos em

questã'o.

O

estudo

dos sohhos fornece

a indicação da existência de

duas

outras

regiões no aparelho

psíquico:

a

instância crítica e

a instância

criticada,

Freud

chama

à

primeüa

"pÍé-consciente"

e à

segunda

"in-

coÍrsciente", e

localiza

o

pré-consciente

ao

lado do

pólo

motoí,

que

ele representa

a agência

que

controla nosa vida

despeÍta e nossas

26.

Lr.,

S.E.,V,

p.

533.

OS DI]MÔNIOS DA

ALMA

ações voluntáÍias.

A

base

para

estas

hipóteses

é

proporcionada

pelo

fenômeno da

elaboração secundária,

pois

a exigência de inteligibili

dade

que

ela impõe ao sonlìo só

pode provìr

do nosso

pensamento

normal. O

que

caractedza

o

inconsciente,

nesta

primeiÍa

formulação,

é

que

seu

conteúdo só

pode

aceder

à consciência

por

intermédio

do

pré-consciente,

enquaÍtto

os

conteúdos deste

último

têm

direto

acesso

à

consci6ncia,

desde

que

dotados

de

intensìdade

suficiente

€ beneÍìciados

com uma certa cota de atenção.

Os

impulsos

para

a

formação

do

sonho

provêm

do inconsciente

e tentam

atingiÍ

a consciência através

do

pÍe-consci€nte. A

resistência

da censura

os impede de realizar

este percuÍso durante

o

dia, mas à

noìte ele

se

torna

prâticável.

O simples

enfraquecimento da censuÍa

durante

o

sono

não

basta

para

explicar este fenômeno,

pois

as idéias

inconscientes nâ'o

possuem

caráter

alucinatôrio.

Para

dar

conta da

pÍodução

de

imagens

que

caÉcteÍiza o sonho,

Freud

sugeÍe

que

a

excitação

psíquica

segue um

cuÍso

ÍegÍessivo,

retoÍnando

às

pegadas

das

imagens

impressas

na memória,

e

desta

formâ

atingindo

o pólo

perceptivo. A explicação mais convincent€

para este

curso

regressivo

consiste no

fato de

que

as ineÍvações

que

conduzem

à

motilidade

estão

bloqueadas

durante

o

sono: mas

tal

explicaçÍo não é

suficiente

para

cobrir todo

o

campo

dos

fenômenos

regressivos.

Com efeito,

a rcgressão

se

verifica

também

duÍante

o

pÍocesso

de

recordação

consciente,

quando procuramos

rememoÌar

uma

cena,

e em

outras

atividades

da cogitação

normal; contudo, a

Íegressão

se interíompe,

nestes

casos.

na altura

das imagens mnêmicas, sem

atingií

a

repÍo-

dução

das imagens

alucinatórias

cancteÍístìcâs do

sonho.

Este passo

suplementar requer

uma

intensificâção dos investimentos

energé-

ticos

que

"ocupam"

as idéias; isto

pode

ser

atÍibuído ao

p.ocesso

de

condensação,

que,

ao compÍimir

o materiaÌ oníÍico

em

algumas

poucas

idéias,

aumenta

a

cârga energética destas idéias,

fornecendo-

Jhes a

energia

necessária

pam

pÍopelir-se

até o

pôlo

rec€ptivo.

Toda-

üa,

o

fenômeno

da regressão

não

se

restringe

aos sonhos,

ocorrendo

igualmente

em

estados

mórbidos

como

as

alucinações

da

histeÍia

e

da

paranóia.

Deste

fato,

Freud

concÌui

que

"somente

pensamentos

intimâmente

vinculados

a

recordações

repÍimidas

ou

inconscientes

podem

sofrer

esta

tÌansformação

(...).

Tais recoÍdações são

geÍal-

mente

de caÍáter

infantil"2?.

Desta

forma, à

Íegrcssão tópica

repÍe-

sentada

pelo

fluxo invertido

da excitação

-

do

pré-conscìente para

o

pôlo peÍceptivo

-

acrescenta-se

a

regressão

crooológica

-

do

presente

para

o

passado.

Este

passo,

justifìcado

pela pútica

clínica,

permite

considerar a

condensação

como um dos

mecanisÍnos

ativos

na foÍ-

mação

dos sintomas,

enquânto explìca tâmbém o

fato

de

que

as re-

cordações

iÍfantis

possam emergir

no

sonho. O

mecanismo deste

pÍo-

cesso

é

descÍito

como

uma

"atÍação"

exercida

peÌa

recordaçÍo

psiqui'

camente

existente no modo visual

-

que

originalrnente

corres'

2?.

Ìr.,

S.tr.,

V,

p.544.

Page 3: Freud trama de conceitos

7/24/2019 Freud trama de conceitos

http://slidepdf.com/reader/full/freud-trama-de-conceitos 3/5

F-REUD:

A TRAMA

DOS

CONCtrtToS

pondeu

a

uma

percepçâo

_

sobre

o

rutam

por

expressar-;"'

;;,""é;ã;J;,ï,ïïïll,lï

jljïiìï,j"

l"Ì;3ï:

sificação

dos

invesrimenros

*,

iaei.i

ç.

"íi't"#;;::ffi;Ë:i:

:T.

t" to:n....r

atração

das imagens

mnêmicas

infantis,

processo

iuio

l,-ï1,^l

T.ylll'":d*

permite

satisfazer

.

i,"p"rr"

ã.-ãii,ã"e"iì"iã

:::."i,q,*,,:

oaquetas.

r.

por

isso que

Freud

pode

iaracterizar

o

w,u,u

rullro

um

suÌ)strtuto

para

a

cena

infantil,

modificada

por

uma

transteréncia

efctuada

para

um

malerial

**"tÉ"r;lS.

ìï

J.*r,irrl

antis

estiverem reforçadas

por

fantasias

a""u*iO"r-"".

*",

"fr'-

entos,

o

somatóÌio

atingiÍá

um

valor

maior

ainaa,

fa"tlli;";";;;-

pressão

dos

con-teúdos

Ìeprimidos.

o r"t.

a"

"

"i"üà.ffi:;;ár;

ervir-se

destas

fantisias.

que

mencionamos,

"."trib;l;;;

Ã;ìì;;;

 

acesso

de

Íodo

o

matcrial

onÍrico

à

consciéncia;

;;-";;#;

empo

auxilia

o Ìrabalho

da

censura.

mascarando

o verd"a"iro

a"nüão

dcsles

pensamenlos

e

recorthçoes.

n"i.

,"-"*pii""

ï,*;'ï;;

oeìxalno.s

cm

suspenso

mais

aÌÍás,

acerca

do problema

envolvido

pela

utilizaçâo

de

um

material

jnionsciente

p,j.

p*l'iã

rtii"*i

ré-consciente.

A

âlraçio

dos

pcnsamentos

in-conscientes

pelas

recordações

:1,-,fï

ggd",t"--bjÌn

cxplicar

o

reÍcerro

mecarÌismo

do

tÍabalho

do

:;lli"

,"'r

c.

a

consrderâção

pela

repÍesentabilidade,.,

enlre

cujos

erelÌos

se

contava

a

climinacão

das rel6çfiss

tOgl"u,

enir"

os

pãi,rl-mcnÍos

latentes.

Este

rercei;o

tipo

de

regressãã,

a"

urn"

r"a."

lãì_

rdua

uc

anlcutaçoes

ideacionais piuâ

os

elementos

isolados

oue

a

:lTp9:rn,

é

denominado

.,r"gràsao

formal,-.,

'

,;b;t,dà"tï;

mas

oe

ÍepÍesenlaça-o

mais

elahoradas

por

outras

."i, pri*itiuãr.

ï::.,,:","r::nlu

FÍeud.

estes

très

ripos

di

,"gr"su-o

so

b;;.;;';

_ucrucos.

pols^o

que

é

mais

antigo

do

ponto

de vista

temporaj

é

ao

mesmo

tcmpo

Íormalmente

primitivo

e.

na

topografia

psiqi.,ica,

m;;

Ì:9It

T:

_d"

póto

pcrccptivoi.zr.

À

primeira

"i Ë

;rì;

;"ü;;Ë;';ï:

oerll

parecer

paradoxal:

pois.

se

é

concebível

que

as

primeiras

percep

çòes

seja

formaimente

grosseiÍas.

não

motivo

p.à

rupo,

qì"

.iã,

ïïï:çï

p]óximas.ao

pólo

peÍceptivo;

p"t;

.o"r;;;,-;

ì,l

ressocs

mats

Íecentcs

é que

deveriam

ocupaÍ

esla posição

no

sistemâ

da.memóÍia.

Mas

Freud

concebe

a

região

da

.."ìOrij

"à_.ïr""f"

ada

em graus

de

complexidade,

e

é neste

sentido

que

p"d;;;;;_

pÍeender o

texto

em

questão.

Devcmo.s

assumir

que

a

mesmâ

cxcitação

transmitida

pelos

elementos

,p^:',,.-ptl].:t

_*ti"

uma

Íixaçio

diversificada.

O

primciro

sistem;

rn"1.r"".""]

r,d

c ,,^avao

qas

assocraçoes

por

simultâneidade,

cnquanio

nos

outÍos,

loc;:

dos

mars parâ

o intcÌioÍ

do

àparclho

Dsí(

;aao

scgunaá

ourns

ior;;;

ãi.#;b"íjlB:'co'

o

mesmo

matcriâr

seÍá

aÍran'

28. ,tD,

S.8.,

V,

p.

546.

ogt,,g

íD,

s E,

v,

p

548

[ste

pârígraro

dâtâ

3?

edição

obra

30.

tD.

S.E.. V,

t

539.

Esta

Dass

incn.onâ

os

..\isremas

d"

,,"",.,,rr..,

u;,

,"ltoìir,fg.

oo,

o.'"

d

cârr.,

s8.

qüc

OS DEMÔNIOS

DA ÂLMA

Ou

seja, s€ figurarmos

o apaÍèlho psíquico

como

um

sistema

linear, as formas

mais

complexas

de memória estarão póximas

do

pré-consciente,

que

as

utiliza

para

a

recordação

intencional, para

as

associações

imaginativas

conscientes,

etc.

Asiim,

no

"urso

du^rrg."r-

são os

pensamentos

inconscientes

atravessam

o

aparelho

psíquico

em

sentjdo

invelso

ao

da

cogitação

consciente;

à

medida

que

sô aproxi-

-

mam

do pôlo

perceptivo,

vão

sendo

desvestidos

das

relações

mais

I

complexas,

isto é,

mais

semelhantes às

da atividade

mental

desperta.

.

lsto

confirma

as hipôteses

relativas

aos efeitos

da

,,consideÍaçã;

pela

representabilidade",

e

ao mesmo

tempo

elucida

o caráter

aparÀte-

ment€ enigmático

da

coincidência

entre

os

tÍês tipos

de regressão.

Dos tÍês,

o mais

importante

é

o

que

se

caracterizou

como

a

Íegressão cÍonolôgica,

que

ela

permite

estabeleceÍ

uma

ponte

com

a

hipótese

de

que

apenas

um

desejo, c

nenhuma

outri

formação

psíquica,

pode

suscita[

a

atividade

onírica. Freud

distingue

úôs

tipos

de

desejos:

os

que

foram pÍovocados

durante

o

dia,

ionside_

Íados aceitáveis

e

não-Íealizados

por qualquer

circunstânciâ

aciden-

tal;

os

que

foram

provocados

durante

o diâ,

mâs

rcjeìtados pela

cons_

ciência e

atirados para

o inconsciente;

os

que

nada

têm

a

vet

com

os acontecimentos

do

dia,

mas

permanecem

ativos no

inconsciente

duÍante

toda

a

vida

do indivíduo.

Em

termos topográficos,

os desejos

do primeiÍo

tipo

permanecerem

no

pré-consciente,

os

do

segunìo

foram

reprimidos pâra

o

inconsciente

e

os do

terceiro

jamais'ultra-

passaÍam

a

ba[eira, habitando

exclusivarnente

o inconsciente.

Ora,

se

a

regrcssão

só atinge

os

conteúdos

Íeprimidos,

cuja

forma

de ex-

pressão

nos indivíduos

normais

é a

alucinação

onírica,

segue-se

que

somente

os desejos

do

terceiÍo

tipo

possuem

a força

necessáÍia para

prcvocaÍ

um

sonho.

Os

desejos pré-conscientes

contÍibuem paÍa

o

soúo

sob a forma

de

um

estímulo,

mas

sozinhos não

sâo

cãpazes

de engendrá-lo.

É o

dedocamento

que

transfere

a

energia

do

dìsejo

jnconsciente

para

o

pÍé-consciente,

quanto

a

condensação

unifiòa

os

dois

num

elem€nto

de

suficiente

intensidade

para

forçar

a bar-

Ìeira

da

percepção,

medÌante

a atração

pelas

recordações

visuais

in-

fantis

cujo

mecanismo

acabamos

de

descÍeveÍ.

A

fôrmula

freudiana

declara:

.

o

desejo manifestado

pelo

sonho devc

seÍ

u,n

dcsejo

infantil

(.

. .) o itc_

sejo conscienlc

só cxcila

a

pÌoduçato

de um

sont,o

se

conscsuir

dcsDcrrar

urn

descjo

inconsciente

semeìhante.

capaz

de refor(álo3l.

Da mesma

forma,

as imprcssões

diurnas, os

probÌemas

não resol-

vidos-,

e outras

experiências

recentes,

serão aproveitadas pelo

traba-

lho

do

sonho

se associaÍem

ao desejo

infantil, que

podemãs

caracte-

..

rizar

ainda

como inconsciente

e

reprimido;

do

ponto

de vista

deste

desejo,

a

existência

de

tais

experiências

inocentes

é

vantajosa para

31. Ír,

S.f.,

v,

p.55r.

,

)

rrii

Page 4: Freud trama de conceitos

7/24/2019 Freud trama de conceitos

http://slidepdf.com/reader/full/freud-trama-de-conceitos 4/5

FRIUD:

A

TRAMA

DOS

CONCEITOS

iludir

a

censura, através

dos deslocamentos

e

condensações

pertinen-

tes.

Freud

se serue de uma metáfoÍa

excelente:

a impressão

Íecente

é comparada

a um empresáÍio que

tem

uma

boa

idéìa,

mas

que,

para

tomá-lo

industÍialmente

viável,

necessita

do

capital

fomecido pelo

desejo

infantil.

S€,

contudo,

mesnÌo depois

de disfarçado

sob a más-

caÉ inocente

da

experiência

recente, o

desejo aindà

se

revelar

como

perigoso

para o ego, este

se

defenderá

de vátias

formas,

a

mais

extrema

das quais

é

a

liberação

da angustia que

caÍacteÍiza

o

pesadelo

e nor-

malmente

conduz

ao

fim

do

sonho. Os

sonhos de

punìção,

que

tam-

bém

se apresentam

como

dolorosos,

podem

ser

incluídos na

teolia,

se s€ levü com

conta

que

a

punição

corresponde

a

um

desejo inçons-

ciente: o

des€jo

de

ser

castigado

por

abÌigaÍ

impulsos

perversos,

proi.

bidos

e portanto

reprimidos.

A

teoria

que

somente

um desejo

pode

produzir

o

soúo.

porém,

falta

ainda um

elemento essencial.

Freud

tem

que

definir

o

que

entende

por

"desejo",

e

o faz retomando

os

conceitos desen-

volvidos no Projetoi

o aparelho

psíquico

tende

a

manter

tão

baixo

quando

possível

o nível de estimulação,

desenvolvendo

paÌa

este

lìm

o

esquema

do

arco

teflexo,

que permite

descarfegar

insìantanea-

mente

a excitação

sensoÍial recebida

do

mundo

ext€rioÍ.

Contudo,

as exigências

da vida,

que

aparecem

no

modo

das

necessidades

fí-

sicas,

conduzem à

ação

específica

(o

exemplo é

novamente

o

da

cri-

ança

famintã que

chora) capaz de

produzir

uma modificação

no

mundo

exterior,

que

aplaca

a

necessidade:

eis

a

expe

ência

de

sa.

tisfação,

mediante

a

qual

a imagem

perceptiva

de um objeto

grati

ficante

se

associa à excitação

interna

nascida da necessidade.

Segue-se

o

protótipo

alucinatório,

mediaote

o

qual

o impulso

psíquico

pro

cura

estabelecer

uma identidade perceptiva

com

o

objeto da

pri-

meira

satisfação:

€ste

impulso é o

que

chamamos

um d€s€jo; â

reapariça:o

ala

peÍcepção

constitui a realizaçâ_o

do

desejo, e

o

investimento

completo

da

peÍcetça:o,

p;la

excitaçi'o

brotadâ da

necessidade, constitui

o caminho

mais curto

parà

a rèaü-

zaçâo

do

desejo32.

O

fracasso

da

alucinação

deteÌmina

o âparecimento

da

pÍova

de realidade,

que

suspende

a

regressão

quândo

esta atinge

as

ÍecoÍda-

ções

visuais,

desviando

a eneÍgia

que

se

encamiúava

para

a

Íevives-

cência

alucinatólia

ru_mo

à

produçâo

da identidade

requerida

a

partiÍ

do

mundo exteÍioÍ. E

nesle

contexto que

apsrece o

pensâmento.

que

consiste

simplesnente

na realização

do

desejo

por

um

desvio

mais

longo,

porém

mais

eficaz.

.

Nada, exceto

um

desejo,

pode

iÍnpelir

à

âtividade

nosso aparelho

psí-

qÌrico (.

. .); o sonho,

que

r€aliza o

desejo

pclo

caminho

mais

curto

da

regresião,

simplesmente pÍeserva

para

nós um exemplo

do

modo

..pÍimliÍio"

de operaçdo

lt, S.E.,

V,

p.

566.

OS

DEMÕNIOS

DA

ALMA

do

nosso

âparcÌho

psíquico,

que

foi âbandonado

na vidr

rcal

por

s€r

inade'

O

sonho

é

sempre

uma

realização

de desejo

pelo

simples

motivo

de

que

é uma

função do

inconsciente,

o

qual

não

possui

outro

obje-

tivo

a

não ser a

realização

de

desejos,

e

que

dispõe

das

forças repre-

sentadas pelos

impulsos

de desejo.

Esta extraordinária

definiçaio

da es$ncia

do

sisiema

incons'

ciente

é

imediatamente

transferida

pam

a

teoÍia das

neuloses.

O

sin'

tomâ

hisléÍico também

Íeplesentâ

a

realização de

um

desejo

incons-

ciente, contÍabaÌançado

por

uma

formação Íeativa

que

se

opõe

a

ele,

e

que

contudo

tambóm

replesenta

um

desejo,

desta

vez oÍiginâdo

do

pré-consciente:

um

sintoma

histórico

se origina apenâs

qDando

duâs realizaçõès

de de'

rejo

opostas,

cuja

fonte

se

€ncontra

€m dois

sistemas

psíquicos

diierentes'

são

capazes

de

combinar-se

nüÍnâ

cxpressa:o única34

Urna formulação

mais

explícita

desta idéia se

€ncontra na

cartâ

105

a

Flies

(19.02.1899),

em

que

Freud

descreve

a difeÍença

entÍe o

sonho e

o

sintoma do

mesmo

ponto

de

vista. O sonho

reaÌiza

apenas

o

deseìo

inconsciente,

porque

jamais

chegará

a

se

expÍessaÍ na

vidâ

Íeal;

o sintoma,

imerso

na

realidade

da

vida,

deve

representaÍ

taÍnbém

o

pensamento

repressor.

O sintoma,

pois,

surge

quando

o

pensâmento

Íeprimido

e

o

pensâmenlo

repressor

coincidem

na

mesma reaüzação

de desejo.

O sintoma

é

a

realizaçâo

do desejo do

pensamento

Íepressor na medida

em

que

implica,

por

exemplo' um

castigo,

umâ

âuto'punição35.

O

exemplo

é

o

mesmo

que

oçoÍÍe

Aa

Interprctaçdo dos

Sonhos:

uma

paciente

sofre

de

vômitos histéricos,

que

significam

ao

mesmo

tempo seu

desejo de

estât

$áúda

e

seu

desejo de

adoecer,

tornando-se

Íepulsiva

aos

homens

e

poÍtanto

jamais

engravidar. Não

é

difícil

Íeco-

úecêÍ

nos

sonhos

de

puniçâo uma

lotmâ

atenuada

deste

gêneÍo

de

sintomâ,

de

modo que

a

série

poderia

ser,

em grau

decrescente de

8Ía'

údade, constituída

da

seguinte

maneila: sintoma

-

soúos

de

Puni.

ção

-

sonhos

de

angustia

sonhos de

realização dislarçada

de

desejos

(a

maioÍia

dos soúhos

peÍtence a esta

câtegoria)

-

sonhos

de realiza-

çâo

evidente de

desejos

(caso

dos

sonhos

da criaíça).

A

série, con-

tudo,

é

cortada

de

forma

inequívoca

entrc o terceiÍo

e

o

quüto

com'

ponentes,

que,

nos

sonhos

usuais,

o desejo

tepÍessor

não

se

faz

sentiÍ. O

que

o

substitui

é

o desejo

pÍé-consciente

de

dormir,

que

encontÍamos

váÍias vezes

no

decoÍÍer

deste estudo.

A

conjunção dos

33.

LD., S.8.,

V,

p.

567.

34.

LD,

S.D.,

v,

p.

569.

35.

AP,

caÍra 105,

p.

3618.

Page 5: Freud trama de conceitos

7/24/2019 Freud trama de conceitos

http://slidepdf.com/reader/full/freud-trama-de-conceitos 5/5

ITRLUD:

A

I-RAM^

DOS

CONCEITOS

do.rs

dcscjos

o

infaníil

e

o

de

continuar

adormecido

_

é

suficiente-

Ìenre

ccrxcteÍizada.

mediante

o

trâbalho

,"iri;","

o";ï:ì;i;,.;

onho

na

série

das

formacôes

de

cr

podc

se

aplicar

"

o"r,"iiàï

o.*.i-pÍomissos

pois'

/,tu

sezsa

â êle

emnÍìndos'd;doìs-;isï;ï;,ìïl::ïï,'r:,,"","1;lï,:;ì:1ilïïi;

expressa-o

única.

A

distincâo

relevante

é

q""

"

d"r"j.-l;

;;;;;r'";;':

ropriamente

oposto

ao

deseio

i

apenas

"diferente"

dele.

Foi

e.sra

1l:ll"'

q*

suscita

o

sonho.

mas

,

ò''.,r ia,

i

"

"'i

o,

ï

;;

;

;:

ï;i

J,i::ï,ïff

;l

ï:

"'

"ïJï;i':ï.

Tendo

definido

o

dcseio

cr

uma

satisfaç5o

p;;;ì;";

;

rJnï,j":o

o

impulso

para

recncontraÍ

csr

a

sa

r i

s Íaçâo.'

d

"ì;;

;

;

;"'

;

;;

:ïï'JË#

ï:#lïi1.1..",:iï

odc

agora

descrever

o

toÍtuoso

trr

rc r r

r o

isÍq

u

ic

o. N

",ì"-

p"

-",ìàì

;,:ï::,1ï:ï

f,

J ï"i::'

T.i,ï

rìconscicntc

se

arcora

em

materia

iÌrrngrr

ir

conscióncia,

rrravés

do

",1

1::"-"1"

e

inofensivo.

e procu"ra

srrra.

quc

llc

;";;;

;'ï;ì#J;c-conscren

te:

mas

enconÍta

a

cen'

s,,,rro.

Encon

rran à

J;".;;;'ï;".

caÍacterísricas

do

rrabarho

.rô

:l:1.:,,o.,,",",,.r."ri**.,ii.ì"ï,:,Lï;yl:;r"1rrj:::ï:,1ï"r:ï,x:

l):rgcrs

mrernicas:

torna.sc

rcpresentávcl

"m

iìug"ns

"

;;;Ë#;:

r(t.locs

suplemcn

tares

pelo

mecanis

ü,,

ìonrro

arirìgem

assim

a

inten.iaÏl

da

condensação.

As

imâgens

bidi,s

pcra

.";.;;;*r,.

""';;;"ì;"j:

?:9"':á:i".

f

ara

seÍem

perce-

::,11,,1,,:

"",,

orgio

ae

pirclli,io";ï;ï,

."ïïloâ.:il,ïïl

ïïï:

cl)la

dc

prssagcm

que

a introduci

.ìcr)cH

assunrir

tarnbém

o

puo"r

o"b^,11-

lilsngem

permite

à

cons-

u,)s

|Í,)ccssos

de

pensamcnto.

orini-:l81o

sensorial

paÍâ

uma-parte

nÌciu

dcs

Í

"g""a

J .",

".i"riììi",";ïii"_::,.1:

p'ê"onscien

re.

É

por

,Jc pasrr

pe

ri

;i;";;-;';;;;il'"co^nscrencia

que

o

soúo.

depois

ri c

frzcr

se

p"r."b.,

'""",ro'ïoï;':,^"oj-'"9*

atrair

a

arençâo

paÍa

m a,

i

rcs

I

o

d

o

son

ho,

J

;;,;

ï'

;ïï,:dï

"T*J,ïl;."rì

:

;:1..,,,.ï

ìtcnte

o

rclata.

caso

a

resistõncia

.li

-sc

d-erc

hot

as

j";;l;

;"

ìô:ì;

::illá,:ï:ii.

ï,":

;,,i"ff:::ï

::ï:

ilïLrl,rll"tt"tt'"".

a

segunda

rcgrcssiva

e

u

,"r""iru

n'oì'u."iii

Cabe

perguntar,

a

eslJ

altura

Dl

,.

u,n

proË"r.ã

t""

i".rir."j""

#ira

que

Íinalidade

serve

o

sonlo.

rrvocâ

aqui

outro

concciro

orisinr,r;

,lt]o"l

I

.sua

elaboraçâo.

Freud

e

"risado"

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do

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de um

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o período

do

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o

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OS DEMONIOS

DA

ALMA

sua

c\citaçâo,

e

ao

mesmo

tempo,

mediânte

um

pequ€no

dispêndio

de

ativi

dãd€

"d€sperta", assegüra

o

sono

do

pré,consciente36.

Mas por que

é

pÍeciso

manteÍ o

inconsciente,

por

assim

dizeÍ,

consta[temente

sob

a

mira do fuzil? É

que,

se

o

movimento

de idéias

desencadeado

no

sistema

inconsciente

pudesse

seguiÍ seu câminho

sem

maiores obstáculos,

ele

provocaria

o

surgimento

de

um

afeto

orjginal-

mente

agradável,

mas

que,

em

virtude

do

proc€sso

de repÍessâo,

pas_

saria a ser

sentido

como

portador

de

desprazer. E

desta

forma,

ao

completar o estudo

do

sonho,

Freud

se vê

novamente

ante o

pÍoblema

cenÍal da

sua

teoria

psicológica:

a questão

da repressão.

A

seça:o E

do capítulo

VII

da

Irterüetaçdo

dot So

hos,

intitulada

,.Os

proéessos

Primário

e

Secundário:

A Repressão",

tenta mais

uma vez

daÍ conta

deste mecanismo essencial,

agora

à luz

do

modelo do aparelho psí-

quico

construído

a

partir

da descoberta

dos

pÍocessos

oníricos.

E

este rctoÍno

não

se

deve

ao

acaso:

as estÍanhas

operações

descÍitas

sob a rubÍica

do

"trabalho

do sonho" devem

ser

questionadas

quanto

à sua origem,

e,

como

veÍcmos agora,

esta

se

encontta

intimamente

vinculada

à repressão.

4. PROCESSO

PRIÀ4ÁRIO,

SEXUALIDADE

E REPRNSSÃO

A análise

dos pensamentos

do

sonho nÌostra

que,

em

si mesmos,

eles nada

posuem

que.

em

lese,

os

impedisse

de aceder

à

consciência.

Se

isto

não

ocorÍe,

e

se,

ao contrário,

tais

pensamentos

são

subme-

tidos

a uma

elaboração

que

se

afasta

tanto

das condições

normais

de raciocínio,

algo

deve

ter ocorrido

com eles.

Várias possibilidades

s€ aprcsentam:

ou a

atenção

consciente

não

chegou

a iluminálos.

ou o

curso

do

pensaÍnento

conduziu

a

uma

idéia criticável

e foi

abandonado, podendo

ser retomado

duÍante

a

noite,

FÍeud

introduz

o

conceito

dc eneryia psíquica

para

explicar

estes

movimentos

do

pensamento:

_

Acrediiamo\

que

umã

ceÌta

quantidade

dc

excitaçâo. que

dcnominamos

"encÍgiâ

de investimento",

é desloca.la

dc

uma

iddja

intencional

para

as

vras

arsociâtìvas

-s€lecionadas

poÍ

esta

idéiâ

diretom.

Uma cadeia

de

pcnsarnento

"despÍezadâ"

na:o

Íecebeu

este

investimento;

este,

por

sua vez,

ioi

retirado

dc

uma câdeiâ

' suprimida

'

ou

Ìejeitada";

ambas

foram

asrim âbandonadrs

às

sìras

própÍi.as

excitâções37.

Pode

ocorrer

que

estas

cadeias

de

pensamento

sejam

atÍaídas

por

outrasJ pÍesentes

naquele

momento

no

pÍé-consciente,

mas

cuja

origem

se

encontra

no

inconsciente.

Ncstc

caso,

estabclecer-sc_á

36.

lr.,

S.0.,

v,

p.579.

'

3't.

1.D.,

S.8., V,

p.

594.

i.

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