engenharia militar brasileira: tendências e cenários futuros

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Engenharia Militar do Exército Brasileiro: tendências e cenários futuros. “Só existe uma coisa mais difícil do que pôr na cabeça de um militar uma idéia nova, é tirar a antiga”. Liddel Hart 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS A Engenharia Militar, como Arma do Exército Brasileiro, foi estabelecida pelo Decreto N° 6971, de 04 de janeiro de 1908. Porém o seu nascimento remonta à Guerra da Tríplice Aliança, ocorrida na segunda metade do século XIX. Sua estrutura e organização foram sendo aperfeiçoadas ao longo do século passado, sob influência da Missão Militar Francesa, da Doutrina Alemã, com os “Jovens Turcos” e, por fim, da Doutrina Americana, após a Segunda Guerra Mundial (II GM). Do amalgama e da combinação dessas influências, formou-se o quadro que dispomos hoje para a Engenharia Militar do Exército Brasileiro (EB). Uma Engenharia que dispõe de duas vertentes: a Engenharia de Combate e a de Construção. Alguns acreditam que essa separação é uma dicotomia que deveria desaparecer. Essa questão vem sendo discutida no âmbito no mais alto escalão de Engenharia da Força Terrestre do Exército: Departamento de Engenharia e Construção (DEC). É possível que isso seja uma tendência, uma vez que vêm sendo verificadas modificações que induzem a pensar que há uma transformação ocorrendo de forma natural no Sistema Engenharia. Como exemplo, pode- se citar a modificação organizacional do DEC e as alterações efetuadas nos Grupamento de Engenharia, que serão exploradas adiante. O assunto é tão importante para a Força Terrestre que, no dia 28 de fevereiro de 2011, o Comando do Exército publicou, na Portaria nº 15-EME, a criação do Vetor de Transformação da Engenharia. 2 INTRODUÇÃO O tema é de extrema relevância para o Ministério da Defesa e, particularmente, para Exército, haja vista que o mesmo vem sendo discutido em seminários e, também, pelo Alto- Comando da Força Terrestre. Recentemente, sinalizando a possibilidade de mudanças na modelagem atual do Sistema Engenharia Militar, o Comando do Exército baixou portaria alterando a designação dos mais elevados níveis de Engenharia do EB. O DEC, que gerenciava apenas a vertente Construção da Engenharia, sofreu reestruturação, passando a ser designado Departamento de Engenharia e Construção (DEC), corrigindo um erro que induzia a uma interpretação enganosa de que o DEC gerenciava apenas a Eng de construção. Do mesmo modo, os Grupamentos de Engenharia de Construção (GEC) sofreram modificações, passando a integrar não somente Batalhões de Engenharia de Construção (BEC), como também os Batalhões de Engenharia de Combate (BE Cmb), sendo agora denominados de Grupamentos de Engenharia (Gpt E). Por outro lado, a unificação da Engenharia de Combate com a de Construção é um tema bastante controverso, mas que, de forma indireta, o Ministério da Defesa e o Comando do Exército já vêm empregando na atual estrutura da Companhia de Engenharia de Força de Paz que se encontra em missão real no Haiti desde 2004 e, também, no 7˚ Batalhão de Engenharia de Combate (7˚ BE Cmb), situado em Natal-RN. Indagando-se sobre a origem dos debates sobre a questão da remodelagem da arma Azul-Turquesa (Engenharia), infere-se que ela surgiu da constatação da dificuldade de o Governo Federal priorizar recursos financeiros para a modernização das organizações

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O artigo levanta as principais tendências e os cenários futuros para a Engenharia Militar Brasileira.

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Page 1: Engenharia Militar Brasileira: tendências e cenários futuros

Engenharia Militar do Exército Brasileiro: tendências e cenários futuros.

“Só existe uma coisa mais difícil do que pôr na cabeça de um militar uma idéia nova, é tirar a antiga”. Liddel Hart

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A Engenharia Militar, como Arma do Exército Brasileiro, foi estabelecida pelo Decreto N° 6971, de 04 de janeiro de 1908. Porém o seu nascimento remonta à Guerra da Tríplice Aliança, ocorrida na segunda metade do século XIX. Sua estrutura e organização foram sendo aperfeiçoadas ao longo do século passado, sob influência da Missão Militar Francesa, da Doutrina Alemã, com os “Jovens Turcos” e, por fim, da Doutrina Americana, após a Segunda Guerra Mundial (II GM).

Do amalgama e da combinação dessas influências, formou-se o quadro que dispomos hoje para a Engenharia Militar do Exército Brasileiro (EB). Uma Engenharia que dispõe de duas vertentes: a Engenharia de Combate e a de Construção.

Alguns acreditam que essa separação é uma dicotomia que deveria desaparecer. Essa questão vem sendo discutida no âmbito no mais alto escalão de Engenharia da Força Terrestre do Exército: Departamento de Engenharia e Construção (DEC). É possível que isso seja uma tendência, uma vez que vêm sendo verificadas modificações que induzem a pensar que há uma transformação ocorrendo de forma natural no Sistema Engenharia. Como exemplo, pode-se citar a modificação organizacional do DEC e as alterações efetuadas nos Grupamento de Engenharia, que serão exploradas adiante.

O assunto é tão importante para a Força Terrestre que, no dia 28 de fevereiro de 2011, o Comando do Exército publicou, na Portaria nº 15-EME, a criação do Vetor de Transformação da Engenharia.

2 INTRODUÇÃO

O tema é de extrema relevância para o Ministério da Defesa e, particularmente, para Exército, haja vista que o mesmo vem sendo discutido em seminários e, também, pelo Alto-Comando da Força Terrestre.

Recentemente, sinalizando a possibilidade de mudanças na modelagem atual do Sistema Engenharia Militar, o Comando do Exército baixou portaria alterando a designação dos mais elevados níveis de Engenharia do EB. O DEC, que gerenciava apenas a vertente Construção da Engenharia, sofreu reestruturação, passando a ser designado Departamento de Engenharia e Construção (DEC), corrigindo um erro que induzia a uma interpretação enganosa de que o DEC gerenciava apenas a Eng de construção. Do mesmo modo, os Grupamentos de Engenharia de Construção (GEC) sofreram modificações, passando a integrar não somente Batalhões de Engenharia de Construção (BEC), como também os Batalhões de Engenharia de Combate (BE Cmb), sendo agora denominados de Grupamentos de Engenharia (Gpt E).

Por outro lado, a unificação da Engenharia de Combate com a de Construção é um tema bastante controverso, mas que, de forma indireta, o Ministério da Defesa e o Comando do Exército já vêm empregando na atual estrutura da Companhia de Engenharia de Força de Paz que se encontra em missão real no Haiti desde 2004 e, também, no 7˚ Batalhão de Engenharia de Combate (7˚ BE Cmb), situado em Natal-RN.

Indagando-se sobre a origem dos debates sobre a questão da remodelagem da arma Azul-Turquesa (Engenharia), infere-se que ela surgiu da constatação da dificuldade de o Governo Federal priorizar recursos financeiros para a modernização das organizações

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militares de engenharia. É sabido que, há mais de trinta anos, as unidades de engenharia de combate, especialmente, estão sofrendo com a obsolescência de seus equipamentos. Fato que gera grande obstáculo ao adestramento do militar de engenharia combatente.

No atual estágio de desenvolvimento nacional, a formação e o adestramento dessa mão-de-obra, somente com o orçamento militar no Ministério do Exército, parece-nos tarefa dificílima. (Luna, 1988, p. 23).

Por essa razão, muitos questionamentos têm sido feitos tanto pelo Alto-Comando do Exército, quanto pelos profissionais da Arma. Tais questionamentos, também discutidos nos recentes Simpósios de Engenharia, podem servir de base para contribuir na busca da melhoria do quadro atual:

- em que medida a Engenharia Militar está bem modelada para cumprir seu papel constitucional e subsidiário?

- a estrutura organizacional atual da Engenharia propicia as condições ideais para o cumprimento de seu dever?

- a separação em duas vertentes (combate e construção) é a forma mais adequada e moderna para a estruturação da Engenharia?

- o apoio de engenharia às Brigadas e Divisões, previsto na doutrina vigente, atende ás demandas em tempo de paz e de guerra?

- o sistema vigente facilita a alocação de recursos financeiros pela administração federal? O governo federal enxerga a Engenharia de Combate (Eng Cmb) com relevância?

- em que medida a unificação das Engenharia de Combate e de Construção (Cnst) favoreceria a aquisição dos equipamentos de engenharia? Realmente evitaria o sucateamento crescente dos meios de emprego militar e a dificuldade de adestramento das tropas?

- como se daria a reunião dessas duas vertentes?- o sistema da modularidade e da multifuncionalidade, empregados por outros

Exércitos, como dos EUA, se adequariam à nossa realidade?- sendo viáveis as transformações, quais os impactos de tais mudanças na doutrina

militar terrestre e no adestramento da tropa?Focando essa questão de se reestruturar ou não a Arma, verifica-se que existem pelo

menos três linhas de pensamentos distintos com relação ao atual modelo organizacional da Engenharia: tradicional, híbrido e modular.

De acordo com Marcelo (2009, p.30), a linha de pensamento tradicional acredita que seja conveniente a manutenção do paradigma atual e está fundamentada na doutrina atual da Força Terrestre. Sendo assim, não há necessidade de transformações no Vetor Engenharia, devendo ser mantido o status quo atual. Os militares que defendem essa idéia ressaltam que as limitações existentes no preparo e, por conseguinte, no emprego, são decorrentes das condicionantes políticas da conjuntura em vigor e das restrições orçamentárias do momento. Assim, eles advogam a manutenção da estrutura da engenharia sem introduzir mudanças ou transformações nos BE Cmb ou nos BEC, mantendo inalterada a situação ora vigente.

A linha que defende uma estrutura mista de Cmb e Cnst (híbrida) para os Batalhões de Engenharia fundamenta-se na doutrina atual da Força Terrestre, tendo como idéia básica a eliminação da dicotomia combate x construção. Nessa linha de ação, o pensamento prioritário é transformar os BEC e BE Cmb em batalhões de engenharia (BE). Com essa modificação, todos os BE poderiam ser empregados em ações subsidiárias de obras de engenharia e deveriam ser capazes de prestar o apoio de engenharia a todos os escalões da Força Terrestre no Teatro de Operações (TO). Em outras palavras, haveria uma tendência de se organizar os BE de forma mais robusta e com espectro de missões que poderiam abarcar, simultaneamente, tanto aquelas de natureza de combate quanto às de construção. Tal fato, na visão de Dantas (2009), iria favorecer as Brigadas e Divisões, uma vez que os BEC seriam transformados em Batalhões de Engenharia e ficariam em condições de serem empregados junto a estes escalões.

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A terceira linha de pensamento postula uma estrutura mais flexível, com alguma similaridade com a organização híbrida, porém com os BE constituídos por alocação de módulos (modular). Ela fundamenta-se na doutrina de outros exércitos, a exemplo dos EUA e, dela, se depreende que os BE seriam constituídos, permanentemente, com uma estrutura de comando e receberiam, temporariamente, do escalão enquadrante subunidades ou frações especializadas de acordo com a natureza da missão a ser realizada. Dessa forma, os BE se caracterizariam pela flexibilidade de adaptação à natureza das missões, sejam de combate, sejam de construção. (Brasil, 2011).

De qualquer modo, ainda que o Exército não tenha se posicionado a favor de nenhuma dessas correntes de pensamento, temos observado algumas tendências. E é esse fenômeno que será tratado no presente artigo.

“Apenas os tolos aprendem por experiência própria”. (Otton Von Bismark)

Ouvindo-se alguns especialistas neste campo do conhecimento militar, verificamos que as principais questões levantadas podem ser agrupadas em alguns vetores como doutrina, preparo e emprego, estrutura organizacional e aspectos econômico-administrativos.

3 ASPECTOS DOUTRINÁRIOS

No que tange à doutrina militar de emprego da engenharia, o principal questionamento dos especialistas refere-se ao modo como a engenharia se organiza para cumprir seu papel constitucional e subsidiário. Para alguns dos entrevistados, a organização atual cumpre muito bem seu papel. Ela foi concebida e testada durante a Segunda Guerra Mundial, baseada na doutrina americana. Para outros, no entanto, a atual doutrina não tem respondido às demandas existentes e alguns questionamentos têm sido feitos: será que realmente o apoio de engenharia às Brigadas e Divisões, previsto na doutrina vigente, atende ás demandas em tempo de paz e de guerra? Como seria o apoio de engenharia nas várias hipóteses de emprego? Quais organizações militares (OM) de Eng de Cmb apoiariam as Brigadas que hoje não contam com apoio da arma em caso de conflito?

Na doutrina vigente, o apoio de engenharia se divide em dois grandes conjuntos dentro do TO: engenharia da Zona de Combate (ZC) e engenharia da Zona de Administração (ZA). Na ZC, o apoio de Engenharia é subdividido em três subconjuntos: Engenharia das Bda, Engenharia Divisionária (ED) e Engenharia de Exército (EEx). No escalão Brigada, a engenharia é composta por Companhias de Engenharia de Combate de Bda (Cia E Cmb) ou por BE Cmb de Bda, dependendo da natureza da brigada. As blindadas e de Infantaria Mecanizada, a priori, devem ser compostas por batalhões e as demais por subunidades. As DE são compostas por BE Cmb divisionários e companhias especializadas, enquadrados por uma ED. A EEx é composta por Grupamentos de Engenharia (Gpt E), que é o primeiro escalão onde aparecem os BEC. Os Gpt E têm constituição variável e podem ser compostos de unidades de combate e de construção, além de subunidades especializadas, caracterizando-se como uma organização militar híbrida.

Segundo (DANTAS, 2010), em algumas partes do território nacional, uma parte das forças militares responsáveis pela reação imediata, não dispõem de engenharia orgânica, [...]. Esta é uma situação que poderá exigir o adestramento das OM de Eng Cnst, com meios voltados para a execução de trabalhos típicos das unidades de combate.

A questão acima parece óbvia, mas não é tão simples quanto parece. Os BEC não dispõem de meios de combate (pontes, equipamento de desminagem etc) para prestar adequadamente este apoio. Então, o que aconteceria se um batalhão de engenharia de construção, atuando sob comando de um Gpt E, na Zona de Ação (Z Aç) de uma Brigada, em

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apoio ao conjunto, se deparasse com um obstáculo de contramobilidade (campo de minas, fosso AC etc) lançado pelo inimigo?

De acordo com alguns especialistas entrevistados, os BEC devem estar preparados para atuar na zona de combate e para isso devem preparar uma fração para serem empregadas junto às Brigadas, à semelhança do que já ocorreu no passado com os BEC adestravam os PELOPES para esta finalidade. Mas, essa solução, já adotada no passado, não atendeu as expectativas do Exército.

Urge destacar que “a Engenharia de Construção tem a possibilidade de executar, em tempo de paz, as mesmas atividades, sob as mesmas condições que executaria em combate. Seu treinamento reveste-se, permanentemente, do realismo das ações. As obras realizadas são idênticas àquelas destinadas, em campanha, a uma unidade de construção. Tal treinamento proporciona uma elevada motivação em todos os níveis de comando e execução”. (Luna, 1988, p. 19).

O que Luna (1988, 9.19) disse é valido para justificar o emprego das OM Eng Cnst em obras do SOC. No entanto, há que se considerar a questão sob outra ótica também. As OM Eng Cnst serão capazes de atuar junto às Brigadas e Divisões quando da ativação da hipótese de emprego? Parece-nos que, na conjuntura atual isso não é possível, em virtude da especificidade dessas OM (material e pessoal).

Em 2009, Marcelo (2009, p. 233) entrevistou os estagiários do CPEAEx e os alunos do CCEM, os quais externaram o entendimento de que os BE Cnst têm a missão de atuar nas operações militares em apoio ao combate e de que os convênios e destaques contribuem para mitigar as restrições financeiras do EB, no tocante ao adestramento de suas tropas de engenharia de construção.

De igual forma, os BE Cmb devem estar capacitados para as atividades de construção. Segundo o Relatório de Avaliação de Engenharia escrito pelo EME, a existência de batalhões de engenharia capazes de atuar ao mesmo tempo nas atividades de combate e de construção traz benefícios ao adestramento das OM Eng Cmb por intermédio das operações de engenharia de construção, no contexto das obras de cooperação. (Apud Siqueira, 2007, p. 93).

Todavia, é mister observar que o emprego dos BE Cmb em atividades de construção poderá trazer alguns prejuízos à gestão dessas organizações. Segundo Olyntho (2010, p. 7), “a conjugação de missões de combate e construção em uma mesma Unidade, mesmo sendo possível e utilizada por outros exércitos, quando utilizada pelo EB, acarretou prejuízos para as atividades de combate”.

Olyntho (2010) emitiu seu parecer fundamentado no estudo de caso existente no contexto da pesquisa de Marcelo (2009), na qual consta uma suposta descaracterização do 7º Batalhão de Engenharia de Combate (7º BE Cmb), pela perda de operacionalidade após o seu emprego em atividades de construção.

Porém, na concepção de Mazzini (2009) – ex-comandante do 7º BE Cmb – o emprego daquele Batalhão, em operações de engenharia de construção, não compromete o apoio de engenharia de natureza de combate no âmbito do Comando Militar do Nordeste (CMNE), porque, em caso de demanda de apoio que requeira reduzir o esforço das missões do Sistema de Obras de Cooperação (SOC) ou, até mesmo, interromper essas missões, o comandante da Unidade poderá fazê-lo, a exemplo do que já foi executado em 2008, por ocasião da garantia da votação e da apuração das eleições.

Para Goes, Cruz, Dantas, Pupim e Leâo - oficiais da Arma de Engenharia do CPEAEx (2010), nesse caso específico, há de ser considerado que o momento da pesquisa promovida pelo Maj Marcelo foi inoportuno, tendo em vista que aquela unidade encontrava-se em processo de transformação (implantação da estrutura híbrida e mudança de subordinação) e dispunha de apenas uma subunidade de engenharia de combate. A partir do ano de 2008, a ordem de batalha do 7º BECmb passou a ser constituída por duas subunidades de combate, sendo uma destinada às operações de construção e a outra às de apoio ao combate. Deixa-se de citar no presente trabalho, por falta de dados oficiais, os ganhos dessa

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organização militar em meios de engenharia, no entusiasmo profissional dos seus quadros e no grau de operacionalidade alcançado após a adoção da estrutura híbrida, além das vantagens operacionais obtidas pelo CMNE.

Ramalho (2011), atual comandante do 7º BE Cmb, acredita que, embora a experiência venha sendo boa para a OM em termos financeiros, ela não encontra total respaldo na doutrina vigente.

“[...] não há resposta, por exemplo, para o seguinte questionamento - Como seria empregada a Companhia de Construção de um batalhão híbrido, na ZC, durante uma operação de transposição de curso d´água, ataque coordenado, aproveitamento do êxito, em uma Defesa Móvel ou em uma Defesa de Área”. (Ramalho, 2011).

Focando a questão por um outro ângulo, Dantas (2010) acredita que seja fundamental se adequar a base doutrinária da engenharia militar do Exército Brasileiro às especificidades do Brasil, em especial da região amazônica, e à Concepção Estratégica de Emprego da Força Terrestre. Para tal, considera-se factível a busca por uma racionalização e aproximação das estruturas das unidades de engenharia e propõe a criação de estruturas mistas de construção e de combate nessas unidades, que possa atender melhor à demanda existente.

Com uma estrutura híbrida de combate e de construção, as unidades de engenharia de construção poderiam apoiar as brigadas que não dispõem de engenharia orgânica e realizariam trabalhos de engenharia típicos de ZC, em proveito das forças em campanha. As demais unidades de construção, transformando-se em unidades de engenharia híbridas, distribuídas pelo Território Nacional, teriam melhores condições de garantir a impulsão dos deslocamentos das forças de emprego estratégico e de emprego geral durante a concentração e desconcentração estratégicas, por estarem dotadas de equipamentos especializados para transposição de obstáculos. (Dantas, 2010).

Elias (2011), da mesma forma, enxerga um cenário futuro com Engenharia Híbrida. Ele ressalta que esse tipo modelo não irá ferir a doutrina se for adotada essa linha de ação apenas para os batalhões divisionários.

“... a Engenharia Divisionária assume os trabalhos mais perenes, liberando a Engenharia das brigadas para os trabalhos mais imediatos. Normalmente, esses trabalhos perenes são aqueles que envolvem técnicas e materiais de construção. Portanto, considero doutrinária a formação de estruturas mistas (combate x construção).” (Elias, 2011).

Para Elias (2011), caso seja adotada uma estrutura híbrida para os batalhões, além do acréscimo de uma seção técnica, os mesmos devem receber um acréscimo no efetivo administrativo para se mobiliar uma seção de licitações. Na sua visão, há que se estudar melhor a questão do apoio às brigadas. Ele acredita que talvez as Cia Eng das brigadas não possam ser mistas. Os batalhões de brigadas blindadas e de infantaria mecanizada podem até ser mistos, mas cabem estudos mais aprofundados a cerca deles.

Diferentemente de Dantas (2010) e Elias (2011), Brasil (2011) acredita que o ideal seria dotar a Engenharia Militar de uma estrutura modular. Em suas pesquisas, após ter servido nos EUA, o militar observou a transformação realizada na Arma de Engenharia daquele país. Ele constatou que Exércitos de países que realmente estiveram ou estão sendo

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empregados em situações reais de combate, têm utilizado (ou estão perseguindo) o princípio da modularidade. Na visão do entrevistado, uma estrutura modular deve possuir uma seção de comando e controle, que possa tanto absorver missões de combate, como de construção etc. deve ter uma capacidade de apoio logístico, capaz de receber módulos específicos (por exemplo, manutenção pesada). Contar, também, com estruturas abertas, com predominância de meios (combate, construção, geomática, etc), conforme o ambiente operacional no qual se encontra. Como a estrutura é aberta, poderia receber módulos que pudessem suportar a execução de missões para as quais a Unidade não estava prioritariamente preparada. Dentro dessa idéia, ter-se-ia uma Unidade de Engenharia (Btl de Engenharia misto), que recebesse missões que demandassem uma expertise que ela não disporia, caberia ao Comando de Engenharia enquadrante (que poderia ser o Gpt E ou o Comando de Engenharia do Exército) atribuir módulos específicos que permitissem cumprimento da missão.

“Creio que há necessidade da visualização, dentro de cada ambiente fisiográfico-operacional, da definição das prioridades de módulos para a Engenharia. Por exemplo: para o CMS: há um predomínio de meios(módulos) para o Ap Cmb, mas isso não significa que uma OM como o 3º BE venha a receber módulos de equipamentos pesados, de asfalto, de bueiros, etc e realize a construção de trecho de estradas, de um aeródromo etc”. (Brasil, 2011).

Assim, sob a lente da teoria das organizações, parece estar surgindo um fenômeno que vem causando certa polêmica no âmbito do corpo de pesquisadores e especialistas no Sistema Engenharia Militar. A dificuldade de fornecer apoio de engenharia em tempo de paz e de planejar as hipóteses de emprego vem suscitando discussões no sentido de se estabelecer um novo paradigma para a Arma de Engenharia. Surgiram, nos Seminários de Engenharia, realizados desde a virada do século, três correntes distintas de pensamento: continuísta ou tradicional, modular e híbrida.

O que os pensadores modernos (modular e híbrido) observam é que não há como permanecer a situação atual. Para eles, alguma forma de prestar apoio de engenharia em qualquer uma das hipóteses de emprego deve emergir.

É certo que mudanças na estrutura organizacional poderão causar alterações em todo Sistema Engenharia. As conseqüências poderão ser observadas na formação e aperfeicoamento dos profissionais de Engenharia e no Quadro de Organização (base doutrinária, estruturas organizacionais e quadros de cargos e quadros de distribuição de material). (Brasil, 2011).

A doutrina militar do Exército Brasileiro, por possuir fundamentos doutrinários baseados na aculturação de experiências de combate de outros exércitos, necessita de adaptações sempre que a conjuntura (social, política, econômica, tecnológica) e os novos desafios que se impõem ao Estado implicarem mudanças nas hipóteses de emprego da Força Terrestre. Neste contexto, a crescente posição de destaque do Brasil no cenário internacional e o advento da Estratégia Nacional de Defesa constituem marcos para que se proceda a uma profunda modernização da estrutura e da organização do Exército Brasileiro. (Dantas, 2010).

À luz das modificações introduzidas em outros exércitos, destacam-se a experiência do Exército Argentino e Americano.

Siqueira (2007, p. 91) formula a seguinte descrição: “A Engenharia do Exército Argentino está organizada em: Comando de Engenharia; Batalhões de Engenharia Pesados; Batalhão Anfíbio; Batalhões de Engenharia Leve; Companhias de Engenharia e Companhia de Construção.”

Os Batalhões de Engenharia Pesado (BEP) são orgânicos dos escalões mais recuados da Engenharia do Exército Argentino. Essas unidades concentram equipamentos de engenharia

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de maior capacidade de trabalho e de produção, possuindo companhias de engenharia de construção e podem aumentar o apoio às brigadas. Os Batalhões de Engenharia Leve (BEL) são orgânicos dos escalões brigada. São unidades mais leves e dotadas de equipamentos com capacidade de apoiar, de forma mais adequada, as tropas mais avançadas.

Segundo Siqueira (2007), “[...] o Exército Argentino emprega organizações militares similares às de construção do EB diretamente na zona de combate (Z Cmb), permeando as atividades de combate e construção em um mesmo batalhão (BEP).”

De outro modo, a Engenharia do Exército dos Estados Unidos da América (USACE) é a maior organização pública de engenharia do mundo. Foi criada em 1775 e iniciou seu envolvimento em obras públicas em 1824, quando recebeu a missão de explorar e melhorar as vias terrestres e aquáticas da nação norte-americana. (SANTOS, 2005, p. 54),

A Engenharia Militar norte-americana não apresenta a distinção entre BE Cmb e BE Cnst. Contudo, até pouco tempo, possuía batalhões de engenharia pesado e batalhões de engenharia leve. Essas unidades cumpriam, primordialmente, missões que, na doutrina militar brasileira, corresponderiam à natureza de combate. Por outro lado, as unidades norte-americanas não realizavam as missões de natureza de construção. Isto, porque essas missões, levadas a cabo na Zona de Comunicações (equivalente a nossa ZA), vinham sendo executadas por empresas civis contratadas para essas tarefas nas operações de guerra. (Siqueira, 2007).

4 ASPECTOS RELATIVOS AO PREPARO E EMPREGO

A Engenharia Militar, responsável por proporcionar mobilidade à Força Terrestre por meio de suas organizações militares de engenharia de combate e de construção, não dispõe, na sua estrutura e articulação espacial, de meios que assegurem essa mobilidade nas melhores condições. Tal situação, além da possibilidade de comprometer o emprego da Força Terrestre, tem prejudicado o seu preparo ao negar ao combatente de engenharia os atributos e predicados exigidos pelo conceito de flexibilidade proposto pela Estratégia Nacional de Defesa. (Dantas, 2010)

Essa afirmação do Coronel Dantas é uma percepção unânime de todos especialistas entrevistados. A carência de recursos materiais impõe uma condição de estagnação, que prejudica sobremaneira o adestramento e o emprego das tropas de engenharia em missões reais. Tal fato, além de comprometer a preparação dos militares de engenharia, acaba por forçar uma desmotivação dos profissionais e, por que não dizer, da própria sociedade. Recentemente, por ocasião da tragédia que assolou a região serrana do Estado do Rio de Janeiro, observou-se as dificuldades em estabelecer as comunicações terrestres (mobilidade) daquela região com os demais municípios do Estado. O 2º Batalhão de Engenharia de Combate, sediado em São Paulo, foi deslocado de Pindamonhangaba-SP para prestar o apoio, haja vista a dificuldade de o Batalhão Escola de Engenharia prestar o socorro necessário por carência de equipamentos especializados.

Quais foram os tipos de missões executadas por ocasião daquela tragédia? Quais os equipamentos imprescindíveis para o cumprimento da missão? A tropa tinha o preparo para aquela atividade? O estudo daquele evento apontou que os principais trabalhos técnicos realizados foram o de desobstrução de estradas, construção de pontes e pontilhões, remoção de escombros e remoção da população ribeirinha das área de risco.

Será que estes tipos de trabalhos técnicos são mais afetos à engenharia de construção ou de combate? Na visão deste oficial, tais trabalhos são inerentes a qualquer uma das vertentes.

Quando do terremoto no Haiti, as missões da Companhia de Engenharia de Força de Paz Haiti (Cia E F Paz Haiti) tiveram alguma similaridade com as da tragédia da região serrana do Rio de Janeiro. Naquela ocasião, a Engenharia brasileira demonstrou bravamente seu valor, sendo citada como tropa de elevada capacidade operacional em periódicos da ONU.

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Em 2008, este autor participou ativamente da seleção de duzentos e cinqüenta militares para compor o 8º Contingente da Cia E F Paz Haiti. Naquela oportunidade, foram visitadas mais de dez OM de Eng, sendo elas de combate de construção. Foram entrevistados cerca de mil militares de engenharia na maior parte praças (sargentos, cabos e soldados). A comissão responsável pela seleção buscava militares com habilidades em ambas as vertentes. Dessa experiência, bastante proveitosa e desafiadora, pôde-se realizar algumas inferências. Em primeiro lugar, ficou patente a potencialidade extraordinária de parte significativa do pessoal de engenharia. Observou-se homens com capacidade pra executar múltiplas tarefas em qualquer uma das vertentes. Normalmente, estes militares já haviam servido tanto na engenharia de construção como na de combate. Por outro lado, aqueles que serviram somente em OM de combate, mas que tiveram oportunidades de trabalhar em obras verticais e horizontais, também, dispunham da multifuncionalidade. O mesmo verificou que, nas OM de Construção, onde foram encontrados militares que, além de ter habilidade paras as construções, detinham conhecimentos e expertise para as missões inerentes ao combate.

No entanto, ficou obviamente comprovado que, em geral, os militares locados nas OM de Construção estavam mais vocacionados para tarefas ligadas às construções verticais e horizontais, ao passo que os militares das OM de combate tinham mais habilidade para missões ligadas ao combate (desminagem, construção de pontes de equipagem, patrulhas de reconhecimentos, Postos de Bloqueio e Controle de Vias Urbanas, Segurança de Pontos Sensíveis etc).

Urge salientar que, com os treinamentos para a missão e com as práticas nos primeiros meses de missão no Haiti, todos os militares selecionados com esta capacidade multitarefa foram empregados em todas as atividades acima, demonstrando e comprovando que a multifuncionalidade, a flexibilidade e a capacidade de adaptação da tropa favorece o cumprimento de qualquer tipo de missão (combate ou construção).

Sob outra ótica sabe-se que os trabalhos realizados pelas organizações militares de construção, vinculadas tecnicamente ao Sistema de Obras de Cooperação (SOC), em tempo de paz, visam à obtenção da capacitação dos combatentes e ao adestramento das unidades de engenharia de construção. (Dantas, 2010)

Os processos de planejamento e as técnicas utilizadas pelos BEC para a construção de instalações, açudes, pontes e rodovias federais ou reparação e conservação de estradas são comuns aos processos empregados pelos batalhões e companhias de engenharia de combate nos trabalhos de apoio à mobilidade, à contramobilidade e à proteção em um TO. Portanto, as atividades desenvolvidas pelos BEC são essenciais para a qualificação dos quadros da arma de Engenharia. (Dantas, 2010)

Na visão da maioria dos especialistas entrevistados, a execução de obras públicas de infraestrutura pelas unidades de engenharia é necessária, tendo em vista que o Exército Brasileiro não dispõe de recursos orçamentários para esses tipos de trabalhos. Sendo assim, a melhor maneira de aprender a construir é construindo, e a maneira mais racional e econômica de praticar tal aprendizado é construir colaborando com o desenvolvimento nacional.

De acordo com Dantas (2010), o emprego de unidades de engenharia de combate em obras públicas permitiria a qualificação profissional de um maior número de oficiais da arma de Engenharia, a formação técnico-profissional dos praças e, principalmente, o adestramento das unidades em atividades de construção. Essa afirmação é corroborada por César (2011) que a afirma que uma das vantagens de se adotar uma estrutura híbrida, modular ou similar para as OM de engenharia é que haveria um número maior de especialistas nos batalhões.

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No atual estágio de desenvolvimento nacional, a formação e o adestramento dessa mão-de-obra, somente com o orçamento militar do Ministério do Exército, parece-nos tarefa dificílima. Portanto, a utilização pelo Exército, de recursos da União alocados por outros Ministérios para a realização de obras públicas, programadas e correspondentes a esses recursos, parece-nos uma solução vantajosa. Tal solução permite formar e adestrar a mão-de-obra especializada dos batalhões de engenharia de construção em excelentes condições e com o mínimo de dispêndio. (Luna, 1988, p. 23).

Para o Exército, um outro reflexo positivo de se adotar uma estrutura alternativa para o Sistema Engenharia consistiria na melhor distribuição espacial da Engenharia Militar no Território Nacional e na possibilidade de as unidades de engenharia de combate participarem da execução de obras de infraestrutura em prol do desenvolvimento Nacional, o que, consequentemente, reforçaria a projeção da imagem da Força no âmbito da sociedade brasileira. O emprego da engenharia de combate ou de construção em obras de cooperação está coerente com as Diretrizes do Comandante do Exército, no que se refere à utilização das atribuições subsidiárias para adestrar a tropa e projetar a imagem da Força e atende também às diretrizes da Estratégia Nacional de Defesa ao manter todas as unidades de engenharia em condições de contribuir para o incremento do nível de Segurança Nacional, com ênfase sobre as ações de defesa civil, a cargo do Ministério da Integração Nacional.

A Engenharia de Construção tem a possibilidade de executar, em tempo de paz, as mesmas atividades, sob as mesmas condições, executaria em combate. Seu treinamento reveste-se, permanentemente, do realismo das ações. As obras realizadas são idênticas àquelas destinadas, em campanha, a uma unidade de construção. Tal treinamento proporciona uma elevada motivação em todos os níveis de comando e execução.

Cabe salientar que os convênios têm possibilitado o preparo das tropas de engenharia de construção nas mesmas condições em que poderão ser exigidas em combate. Com efeito, fruto dos estudos do passado, os convênios têm sido consagrados como instrumentos que contribuem no preparo, especialmente no tocante às referidas tropas. (Marcelo, 2009, p.30).

Segundo o Relatório de Avaliação de Engenharia, escrito pelo EME, a existência de batalhões de engenharia capazes de atuar ao mesmo tempo nas atividades de combate e de construção traz benefícios ao adestramento das OM Eng Cmb por intermédio das operações de engenharia de construção, no contexto das obras de cooperação. (Apud Siqueira, 2007, p. 93)

Hoje, pode-se estudar, como laboratório, a atuação do 7° BE Cmb em obras de cooperação. O emprego daquela OM deve ser realizado combinando-se as missões tradicionais que a Unidade já vinha realizando quando era subordinada a 7ª RM/DE, com as operações de engenharia, seja atuando como executor direto das obras, seja apoiando as demais unidades de engenharia de construção do 1° Gpt E.

“Pela combinação de empregos, é possível adestrar a Unidade em diversos tipos de operações de engenharia, além de especializá-la em diferentes obras. Ao mesmo tempo, essa maneira de atuação proporciona ao comando do 1° Gpt E e do 7° BE Cmb flexibilidade de esforço de trabalho e de emprego do pessoal, dentro da capacidade mais adequada da Unidade”. (Mazzini, 2009).

Segundo Mazzini (2009), o preparo das pequenas frações, devido às operações de engenharia de construção, envolve todos os militares dos pelotões, abrangendo o planejamento, o equipamento e o deslocamento a distâncias de até 1.800 km para se cumprirem as missões, devendo manter-se fora da sede em torno de quarenta e cinco dias. Esses aspectos contribuem sobremaneira para o amadurecimento profissional dos militares mais jovens. Cabe salientar, ainda, que a permanência prolongada da tropa fora da Sede do 7°

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BE Cmb, nas operações de engenharia de construção, contribui para aumentar a rusticidade e a capacidade de trabalho dos militares.

Para Fontes (2009), os trabalhos que são de natureza engenharia de combate, levados a cabo pelo 7° BE Cmb, em decorrência das missões advindas do SOC, contribuem na qualificação do pessoal para a execução dos trabalhos técnicos de engenharia em apoio ao combate.

Todavia, Filho (2009) acredita que seria interessante adiantar a Instrução Individual Básica (IIB) do soldado para poder liberá-los, a fim de integrarem os diferentes canteiros de obras. Assim, segundo ele, este mesmo entrevistado diz que seria possível seguir o Programa de Instrução Militar (PIM), realizando-se adaptações em decorrência das operações de engenharia de construção, de forma que o 7° BE Cmb seja adestrado, formando-se o combatente básico e qualificando-o, principalmente, para as operações de engenharia de construção e para a GLO.

De acordo com seu ponto de vista, os trabalhos que o 7° BE Cmb vêm realizando não retiram a sua natureza combate, porque este continua procurando seguir o planejamento de instruções do COTER, mesmo tendo ganhado a capacidade de realizar obras de natureza construção. Portanto, não houve comprometimento sério na capacidade de realizar trabalhos de engenharia de combate. (Filho, 2009)

Um outro ponto importante é a questão do emprego do Exército Brasileiro em operações reais. Da análise das principais hipóteses de emprego da Força Terrestre, pode-se constatar que algumas unidades de engenharia de construção, especialmente as sediadas nas regiões Norte e Centro-Oeste do Brasil, estão localizadas nas proximidades das áreas de responsabilidade das forças de segurança estratégica e das de emprego regional e que, provavelmente, estarão inseridas nas ZC do teatro de operações delimitado em uma situação de conflito armado/guerra. Tal situação é decorrente das atribuições subsidiárias do Exército Brasileiro e da carência de infraestrutura de transportes nessas regiões. (Dantas, 2010).

Na visão de Goes, Cruz, Dantas, Pupim e Leâo - oficiais da Arma de Engenharia do CPEAEx (2010) - apesar da dosagem básica de apoio de engenharia para uma brigada ser de uma subunidade de engenharia, algumas brigadas que compõem as forças de segurança estratégicas e de emprego regional não dispõem de engenharia em sua estrutura organizacional, em especial as localizadas nas regiões Norte e Centro- Oeste do País. Portanto, há a premente necessidade de se criarem subunidades de engenharia para essas brigadas. Sendo assim, infere-se que a atual articulação da Engenharia não atende, em plenitude, às hipóteses de emprego do Exército Brasileiro. Caso a criação de tais subunidades não seja viável, na conjuntura atual, na visão deste autor, deve-se adotar alguma outra medida capaz de fornecer o apoio doutrinário previsto para as Brigadas e Divisões.

Por outro lado, a carência de recursos orçamentários voltados para a criação de novas OM impõem a necessidade de estudos que objetivem a racionalização e otimização do apoio de Eng, por meio da inserção de novas concepções doutrinárias. (Pesquisa Doutrinária Nr 2 – Sistema Operacional MCP. Parecer dos Oficiais da Arma de Engenharia do CPEAEx. ECEME. 2010)

Se observarmos essa questão sob a ótica tradicional, da linha de ação continuísta, é possível concluir que teremos que manter a atual estrutura e organização da engenharia e algumas Brigadas permanecerão sem apoio de engenharia até que sejam completadas as dosagens necessárias com a criação de subunidades da arma.

De outro ponto de vista, da linha de ação que advoga pela engenharia híbrida, infere-se que devemos optar por adestrar ao menos uma subunidade dos BEC para atuar junto às Brigadas que, hoje, não contam com o apoio de engenharia. Isso, na prática, segundo César (2011), dividirá a atenção do comandante da unidade, tirando-o do esforço principal. Para ele,

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essa é uma das principais desvantagens da estrutura híbrida: “ [...] o Cmt e sua OM serão exigidos por duas GU enquadrantes; essa situação não é confortável, pois cada Cmt GU tem suas atribuições, as quais são distintas umas das outras e poderia gerar alguma espécie de conflito profissional de agendas. Dessa forma, o Cmt da OM poderá se ver em uma situação complicada para priorizar os trabalhos.”

Por outro lado, observando o fato através das lentes da linha de ação que privilegia a modularidade, chegamos à mesma conclusão da linha de ação anterior (Híbrida), haveria necessidade de adestrar uma subunidade por BEC para compor as Brigadas ou aguardar a criação de novas subunidades especializadas.

É importante esclarecer que os BEC dispõem de pessoal especializado para desenvolver trabalhos em proveito das tropas empregadas em primeiro escalão. Todavia, atualmente, a falta de material de emprego militar e os compromissos relacionados às atribuições subsidiárias direcionam os seus esforços, exclusivamente, para a execução de obras de engenharia. (Dantas, 2010)

Da mesma forma, os BE Cmb têm capacidade de atuar em obras de cooperação, no entanto, a obsolescência dos equipamentos de engenharia é um dos fatores inibidores para o emprego mais contundente dos batalhões de combate nessas atividades.

Na visão de Dantas (2010), a adoção da estrutura híbrida ampliaria a possibilidade de emprego das unidades de engenharia nas ações de ajuda humanitária, em apoio à Defesa Civil, e contribuiriam para a projeção e credibilidade do Exército junto à sociedade brasileira e à administração pública, em todos os níveis. O Governo Federal passaria, então, a dispor de uma estrutura federal capacitada e disponível para planejar e atuar na área de infraestrutura em todo o Território Nacional. O Exército Brasileiro se constituiria em parâmetro de custo e qualidade para os órgãos da administração pública.

Assim, verificam-se muitas vantagens da adoção de uma linha de ação privilegie a extinção da “dicotomia combate x construção”. No entanto, há necessidade de se levar em consideração algumas críticas ao modelo. Por exemplo, “a criação irrestrita de organizações militares de engenharia com vocação simultânea tanto para as missões de natureza de construção quanto às de combate poderá gerar um óbice às últimas missões citadas, devido às fiscalizações e exigências impostas aos comandantes das unidades executoras de convênios e destaques de trabalhos de engenharia de grande vulto.” (Marcelo, p. 233, 2009).

César (2011) também se aprofundou na questão da Eng híbrida e afirmou que este modelo foi uma de suas propostas quando concluiu a experimentação doutrinária da Companhia de Engenharia de Selva, realizada em 2004, quando o mesmo trabalhava no EME. “Fizemos os exercícios no 6º BEC quando o Teixeira comandava. Nós tivemos a mesma impressão quando tudo terminou: o ideal era uma OM, valor Btl, forte em Cnst ou forte em Cmb, a variação poderia ocorrer no número de subunidades”.

Ocorre que, com o passar dos anos, eu comandei um BECnst que, no seu auge, chegou a executar 11 obras de engenharia, possuía 12 cozinhas, 4 usinas de asfalto produzindo diariamente milhões de reais. Nesse momento, o Cmt só tem cabeça para pensar em não ter prejuízo e concluir com os seus compromissos. Foi quando percebi que a opinião do então Cel Fróes valia muito: misturar Cmb com Cnst, enfraquece a Unidade e ela não é forte em nada. (César, 2011)

Já na concepção de Mazzini (2009), o emprego do 7° BE Cmb em operações de engenharia de construção não compromete o apoio de engenharia de natureza de combate no âmbito do CMNE, porque, em caso de demanda de apoio que requeira reduzir o esforço das missões do SOC ou, até mesmo, interromper essas missões, o comandante da Unidade poderá

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fazê-lo, a exemplo do que já foi executado em 2008, por ocasião da garantia da votação e da apuração das eleições.

Vendo a questão sob outra ótica, sabe-se que a Engenharia Militar forma, a cada ano, milhares de jovens, que se incorporam às suas fileiras e que, ao término do serviço militar, são devolvidos à vida civil com noções de cidadania e, sobretudo, qualificação profissional. Esses jovens são aproveitados pela iniciativa privada, que os absorve em seus quadros como mão-de-obra especializada. A adoção da estrutura híbrida nas unidades de engenharia de combate permitiria que parcela de seus combatentes tivesse oportunidade de participar de cursos e estágios promovidos pelo Departamento de Engenharia e Construção, com apoio do Centro de Instrução de Engenharia de Construção e do Sistema SENAI-SENAC, e, paralelamente, pudessem aplicar, de forma prática, os conhecimentos adquiridos nas obras de engenharia recebidas de órgãos públicos. Seriam criadas, dessa forma, condições para que esses jovens adquirissem conhecimentos técnicos mais profundos e realizassem treinamentos nas qualificações profissionais da engenharia de construção. (Dantas, 2010).

Particularidades da Multifuncionalidade e da Modularidade

Até que ponto o sistema da modularidade e da multifuncionalidade, empregados por outros Exércitos, se adequariam à nossa realidade?

Os experimentos de Dantas (2010), levaram-no a concluir que “os profissionais de engenharia que atuam nas unidades de engenharia de construção também estão aptos a executar operações militares em apoio ao combate e as obras de construção constituem-se apenas uma forma racional de qualificação dos quadros e adestramento das unidades”.

“[...] O Exército norte-americano está implementando a modularidade em suas tropas, inclusive a Engenharia. Este conceito permitirá a reunião dos meios necessários para determinada missão, por meio de alocação de módulos constituídos.” (Apud Siqueira, 2007, p. 102).

O Coronel Brasil (2011) conduziu estudos, observando exércitos de países que recentemente estiveram ou estão sendo empregados em combate e constatou a tendência da adoção dos princípio da modularidade. Em seu entendimento, uma estrutura modular é aquela que dispõe de uma seção de comando e controle, que possa tanto absorver missões de combate, construção, estabilidade etc; que tenha um setor capaz de prestar o apoio logístico adequado, capaz de receber módulos específicos (por exemplo manutenção pesada); e subunidades ou frações abertas, sem estrutura fixa, com predominância de meios (combate, construção, geomática, etc) conforme o ambiente operacional no qual se encontra. Como essa estrutura é aberta, poderá receber módulos que passem a suportar a execução de missões para as quais a Unidade não estava prioritariamente preparada. Dentro dessa idéia, ter-se-ia uma Unidade de Engenharia (Btl de Engenharia). Caso essa Unidade recebesse missões que demandassem uma expertise que ela não disporia, caberia ao Comando de Engenharia enquadrante (que poderia ser o Gpt E ou o Comando de Engenharia do Exército) atribuir módulos específicos que permitissem cumprir a missão.

Essa concepção requer a quebra de parâmetros como: quem executa obras é só a Engenharia de Construção; quem monta pontes é só a Engenharia de Combate e assim por diante. (Brasil, 2011)

Corroborando com as idéias acima, Mazzini (2009) afirma que houve maior flexibilidade quanto ao pessoal, em decorrência da subordinação do 7° BE Cmb ao 1° Gpt E, uma vez que se passou a ter a possibilidade de reforço com especialistas, a exemplo de engenheiros, topógrafos, operadores de máquina e chefes de campo.

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Da teoria geral dos sistemas, pode –se inferir que a dinâmica dessa interação do BE Cmb com o ambiente possibilita a consecução de transformações estruturais, e a elaboração de funções especializadas, ao invés de homeostase, como ressaltam BUCKLEY (1967), (DEUTSCH apud BUCKLEY, 1967) e KATZ & KAHN (1970). Isto posto, diante da proposição da multifinalidade e da equifinalidade concebidas por BUCKLEY (1967), deve-se monitorar o BE Cmb de modo que se reduzam as incertezas do seu processo evolutivo. (Marcelo, 2009, p.30).

Para Mazzini (2009) e Fontes (2009), os oficiais, subtenentes e sargentos que compõem as unidades de engenharia de combate são os mesmos que compõem as unidades de engenharia de construção, dentro da política de movimentação dos quadros do EB. Isso resulta ser a capacidade dos quadros a mesma em unidades de engenharia de qualquer natureza.

(Brasil, 2011), em sua entrevista, em relação à questão da multicapacitação dos homens também constatou que essa questão “tem sido uma tônica nas empresas civis e se transpõe para as unidades militares. Ou seja, não há como admitir que um funcionário ou um militar seja apenas especialista em uma tarefa. Esse problema está relacionado com o custo de manutenção do homem na frente de combate. Logo, em termos de conjunto, é lícito supor que as organizações também sejam consideradas multiuso, principalmente para quem tem pouco, como é o nosso caso”.

Porque construir?

Todavia, devido à obsolescência dos equipamentos de engenharia previstos nas unidades de combate e à falta de pessoal especializado para orientar os trabalhos que exigem técnica mais aprimorada, os batalhões de engenharia de combate deixam de realizar pequenas obras, solicitadas por órgãos públicos [.....], perdendo, desta forma, a oportunidade de qualificar os seus quadros e de adestrar a unidade. (Pesquisa Doutrinária Nr 2 – Sistema Operacional MCP. Parecer dos Oficiais da Arma de Engenharia do CPEAEx. ECEME. 2010)

Nesse ponto do texto, é mister caracterizar de modo mais contundente a similaridade entre as experiências adquiridas em obras civis e as requeridas pela Engenharia em tempo de guerra, destaca-se a seguir trecho de um artigo intitulado “Por que o Exército constrói”, escrito pelo Coronel Gerald E. Galloway, chefe de Distrito de Obras do Serviço de Engenharia do Exército dos EUA, em 1975:

À primeira vista, a maioria das pessoas tem a impressão de que existe pouca correlação entre a experiência ganha em obras civis e a requerida para o apoio de engenharia em tempo de guerra. Mas, na verdade, trata-se de uma experiência transferível. O processo de planejamento nas grandes obras civis é o mesmo utilizado pela engenharia nos trabalhos mais importantes que realiza em tempo de guerra. A experiência adquirida no campo civil no que diz respeito à coleta de dados, identificação das necessidades, avaliação dos recursos disponíveis, consideração das alternativas viáveis e determinação da melhor linha de ação é diretamente transferível para o campo militar. Além disso, a experiência advinda com obras civis é totalmente aplicável a situações de tempo de guerra, pois as técnicas de direção de pessoal e emprego do material, seja para uma represa ou um porto militar, são as mesmas. (Military Review, fevereiro de 1975, p. 82).

Para a maior parte dos entrevistados, o emprego das unidades de engenharia em obras de infraestrutura, com missões anuais e adequadas aos seus potenciais de trabalho, proporcionam

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à administração pública contribuições relevantes para a execução de seus programas governamentais.

“As atribuições subsidiárias [...] promovem a saudável integração das Forças Armadas com a sociedade. [...] constituem uma contribuição da Instituição para as ações governamentais em assuntos de natureza não-militar [...]; por força de lei, devem ser cumpridas sem prejuízo para a destinação constitucional das Forças Armadas”. (SIPLEx 4, 2008, p. 26-27).

Destaca-se que, em virtude de o Sistema de Obras de Cooperação empregar as OM de engenharia de construção na execução de obras públicas de infraestrutura, transparece, equivocadamente, para os públicos interno e externo, que os BEC não são empregados nas operações militares em apoio ao combate. Essa situação também denota, erroneamente, que aos BEC só interessam as “obras de construção”, enquanto que, na realidade, as obras constituem-se em apenas um dos aspectos do que se pode classificar como operação de não-guerra, prevista na concepção estratégica da força terrestre. (Dantas, 2010)

Na visão de Dantas (2010), o emprego de unidades de engenharia de combate em obras públicas permitiria a qualificação profissional de um maior número de oficiais da arma de Engenharia, a formação técnico-profissional dos praças e, principalmente, o adestramento das unidades em atividades de construção.

Marcelo (2009, p.29), também, observou essa questão e constatou em sua pesquisa que “que o orçamento institucional limitava o adestramento da unidade de engenharia de construção. Não obstante, foi verificado que o aporte de recursos de outros Ministérios proporcionaria uma possível solução para adestrar a tropa”.

A criação de uma estrutura híbrida de combate e construção não só viabilizaria o desenvolvimento de todas as capacidades previstas nas estruturas organizacionais das Unidades de Engenharia, mas também, permitiria a atuação dessas unidades, durante a fase do preparo, nos ambientes operacionais de provável emprego. Acrescente-se que as mesmas estariam em condições de realizar qualquer tipo de trabalhos de engenharia, guardadas as características e peculiaridades de cada unidade. (Pesquisa Doutrinária Nr 2 – Sistema Operacional MCP. Parecer dos Oficiais da Arma de Engenharia do CPEAEx. 2010)

5 ASPECTOS ECONÔMICO-ADMINISTRATIVOS

Em que medida cada uma das linhas de ação expostas (tradicional, híbrida e modular) poderia minimizar as dificuldades orçamentárias que acabam dificultando o adestramento da tropa de engenharia?

A unificação das Engenharia de Combate e de Construção favoreceria a aquisição dos equipamentos de engenharia? Evitaria o sucateamento crescente dos meios de emprego militar e a dificuldade de adestramento das tropas?

Em 2009, Marcelo (p. 233, 2009) entrevistou os estagiários do CPEAEx e os alunos do CCEM, os quais externaram o entendimento de que os BE Cnst têm a missão de atuar nas operações militares em apoio ao combate e que os convênios contribuem para mitigar as restrições financeiras do EB, no tocante ao adestramento de suas tropas de engenharia de construção.

Marcelo (2009, p.29), também, constatou que o orçamento institucional limita o adestramento da unidade de engenharia de construção. Não obstante, foi verificado que o aporte de recursos de outros Ministérios proporciona uma solução para adestrar a tropa.

Essa questão também está contida na Diretriz do Comandante do Exército de 2007. “A participação da Engenharia em obras de infraestrutura é benéfica para o Exército e para o

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País. Ao mesmo tempo em que cooperam com o desenvolvimento nacional, as unidades de Engenharia adestram os seus quadros, recompletam os seus equipamentos e contribuem para a projeção de uma imagem positiva da Instituição. Assim, a continuidade das parcerias com órgãos públicos e privados é bem-vinda e salutar”. (Diretriz Geral do Comandante do Exército, 2007, p.8).

Para Dantas (2010), a aquisição de viaturas e equipamentos modernos, com alto índice de tecnologia, permitiria a obtenção de um maior rendimento técnico na execução dos trabalhos de engenharia. O desenvolvimento de conhecimentos científicos relacionados à trafegabilidade em regiões de grande interesse para a Defesa e a possibilidade de experimentação de tais conhecimentos constituiriam aspectos relevantes na área da Ciência & Tecnologia.

“Alguns dos materiais de engenharia que seriam distribuídos entre as unidades - como os equipamentos de transposição de cursos d’água (botes, pontes flutuantes e semipermanentes) e de terraplenagem - poderiam ser adquiridos com recursos provenientes de órgãos da administração pública federal, portanto sem ônus para o Exército, e empregados como instrumentos de apoio à Defesa Civil, nos casos de calamidade pública ou ainda nas situações de interrupção do tráfego em rodovias e ferrovias brasileiras”. (Dantas, 2010).

É sabido que, nos dias de hoje, as unidades de engenharia de combate, estão sofrendo com a obsolescência de seus equipamentos. Observando-se esse fato com a lente de cada uma das linhas de ação discutidas nesse trabalho, chega-se ao seguinte entendimento. Na linha de ação tradicionalista, com a manutenção do status quo atual, a falta de recurso é conjuntural e tem prazo para terminar. Para essa linha de pensamento, o EB deveria priorizar recursos para a modernização da Engenharia. Estes recursos viriam, dentro dessa ótica, diretamente do orçamento da União. A crítica que se faz a esse pensamento é que não parece nada conjuntural uma carência de recursos que já dura mais de 30 anos. Parece existir uma dificuldade real de o Governo Federal descentralizar recursos para modernização das Forças Armadas nos montantes adequados.

Para os defensores de uma estrutura híbrida ou de uma modular, essa questão seria parcialmente resolvida se todas as unidades de engenharia tivessem estrutura adequada para o engajamento de parcela do Batalhão em Obras de Cooperação. Assim, a OM passaria a contar com “fontes de recursos diversificadas, quero dizer: o Btl contará com recursos do EB e de outros ministérios para custear suas despesas”. (César, 2011). Segundo o Coronel César, essa é uma das principais vantagens da adoção de uma estrutura híbrida para o Batalhão de Engenharia.

De acordo com Ramalho (2011), atual comandante 7º BE Cmb, a inserção do Batalhão no Sistema de Obras de Cooperação foi extremamente benéfica sob o ponto de vista financeiro.

“A inserção do Batalhão no SOC foi muito benéfica sob o ponto de vista financeiro, haja vista o fato de que a OM recebeu recursos, adquiriu equipamentos e viaturas e qualificou seus quadros de uma forma tão vantajosa que eu garanto que, caso esta designação híbrida não tivesse ocorrido – a OM estaria em situação muito difícil, assim como todas as outras OM Eng Combate”. (Ramalho, 2011).

Essa situação pode ser comprovada pelo estudo do emprego do 7º BE Cmb em Operações de Engenharia de construção. De acordo com Marcelo (2009), após o estudo dos Quadros de Dotação de Material, no tocante às viaturas, foi possível verificar que, em decorrência dos convênios e destaques em que o 7° BE Cmb atuou como executor, foi possível adquirir quase 50% dos caminhões basculante previstos para a Unidade. Além disso, quanto aos equipamentos mecânicos de engenharia, conseguiu-se adquirir, no ano de 2009, duas RE e uma ES, conferindo força de trabalho nesse tipo de equipamento superior em 50%

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do previsto para o Btl, ou seja: duas retroescavadeiras. Pôde-se, ainda, adquirir 25% dos tratores de esteiras previstos para a Unidade. O estudo dos Quadros supramencionados permite verificar que tem sido possível adquirir uma gama de viaturas e equipamentos que são mais comuns em obras de cooperação no contexto do SOC.

Cabe destacar que, segundo Dantas (2009), “devido à obsolescência dos equipamentos de engenharia de construção e à falta de pessoal especializado para orientar os trabalhos que exigem técnica mais aprimorada, os batalhões de engenharia de combate deixam de realizar pequenas obras, solicitadas pelos órgãos públicos, especialmente pelas prefeituras municipais, perdendo, desta forma, a oportunidade de qualificar, adequadamente, os seus quadros e de adestrar a unidade”.

À primeira vista, a criação de uma estrutura híbrida não requer alterações significativas no quadro organizacional das unidades de engenharia. A unidade de engenharia de combate dispõe de um pelotão de equipamentos e construção e de um pelotão de manutenção; precisaria também, dentre outros, da ativação dos cargos da seção técnica já existentes no estado-maior da unidade e da aquisição de materiais de análise e controle tecnológico. (Dantas, 2010).

A possibilidade de renovação, sem custos diretos para o Exército Brasileiro, dos equipamentos e viaturas das unidades de engenharia de combate, empregadas em atividades de construção, manteria o acervo dessas unidades permanentemente atualizado tecnologicamente e em condições de emprego imediato.

Da mesma forma, outra vantagem da adoção de uma das linhas de pensamento, distintas da tradicional, seria a economia de recursos para a criação de unidades, a fim de suprir a carência de OM Engenharia de combate em apoio às Brigadas que, até hoje, não contam com apoio de engenharia.

“A alteração na distribuição espacial da Engenharia Militar e a criação de uma estrutura híbrida de combate e de construção nas unidades otimizaria o apoio à Força Terrestre e às brigadas que não dispusessem de engenharia na sua estrutura organizacional, reduzindo custos de investimento, decorrentes da necessidade de criação de novas organizações militares”. (Dantas, 2010).

Em termos práticos, desde que não haja um desvirtuamento da idéia, OM Eng (atualmente de Cmb) teriam condições de reequipamento e adestramento com a execução de missões da atividade logística de construção. (Brasil, 2011)

No entanto, haveria necessidade de exercer controle sobre essas aquisições, com vistas a não causar discrepâncias, privilegiando uma vertente ou outra. No entendimento de Morais (2009), está ocorrendo um desequilíbrio no aparelhamento material do 7° BE Cmb, por exemplo: do número de viaturas existentes, onde se constata baixa proporção entre a operacionais e as administrativas. Esse aspecto pode fazer transparecer a tendência de se privilegiar mais a vertente construção do que a combate.

CONCLUSÃO

Do exposto, observa-se que há uma estrutura subjacente ao Sistema Engenharia. Tal estrutura é composta por elementos perenes que são: a doutrina o pessoal e o material. Entretanto, há elementos que são voláteis, os quais estão em constante ebulição e que estão causando uma movimentação, que não chega a abalar, mas estremece as estruturas aparentes da Engenharia de combate e da de construção.

Essa inquietação foi notada pelo Comando do Exército que, no dia 28 de fevereiro de 2011, publicou, na Portaria nº 15-EME, a criação do Vetor de Transformação da Engenharia.

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Com isso, o DEC, como coordenador do vetor, instituiu o Grupo de Trabalho Engenharia (GTE), que fará um diagnóstico da Arma na conjuntura atual e levantará os cenários futuros para tomada de decisão.

Um dos temas que possivelmente será tratado é este que foi superficialmente explorado neste artigo e que requer estudos mais aprofundados, tratando sobre uma possível remodelagem para a Arma de Engenharia.

A principal conclusão da presente pesquisa aponta para a existência de três cenários possíveis para Arma Azul-turquesa: a acomodação, a homeostase e a extinção da Arma.

A acomodação ou adaptação é o cenário atual, que leva à linha de pensamento tradicional e que poderá conduzir ao terceiro cenário que é a extinção da Engenharia, caso não se encontre uma solução para findar com a carência de recursos financeiros para o Sistema Engenharia.

O segundo cenário é o da homeostase, entendida como a capacidade de os seres vivos regularem o seu ambiente interno para se manterem estáveis e saudáveis. Nesse cenário, surgem duas linhas de pensamento: a híbrida e a modular. Ambas as linhas de ação têm como proposta trazer o equilíbrio necessário para Arma de Engenharia.

Para os pensadores do cenário da homeostase, há alguns aspectos que facilitam a transformação da arma: nossos oficiais e sargentos têm a formação que permite servir em OM de Cmb ou Cnst; há possibilidade de adestrar Eng Cmb em missões que, tradicionalmente, são ditas como de Eng Cnst, mas que fazem parte do rol de capacidades previstas para qualquer OM Eng, por exemplo manutenção de estradas, instalações de campanha (que requerem conhecimentos de alvenaria, hidráulica, eletricidade).

A intenção deste artigo foi fomentar idéias e aumentar a disponibilidade de subsídios científicos em apoio às lideranças e aos decisores de todos os níveis, a fim de que conduzam os destinos da Engenharia. Além disso, pretendeu-se fornecer subsídios, a fim de contribuir para a remodelagem e reestruturação da Arma.

O fato é que a concepção desejada para a Engenharia Militar só será alcançada quando a mesma tiver plenas condições de cumprir seu papel constitucional e subsidiário na exata proporção que o Estado almeja.

Deve-se estar atento ao verdadeiro potencial da nobre Arma, considerando sua capacidade em contribuir para o desenvolvimento nacional e para o controle de danos e calamidades. Há necessidade de o governo brasileiro modernizar os meios de emprego militar da Arma, a fim de maximizar o aproveitamento do seu elevado potencial.

O Major Carlos Eduardo Franco Azevedo é graduado pela Academia Militar das Agulhas Negras, na arma de Engenharia. É Mestre em Ciências Militares pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME) e em Operações Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais. Atualmente, é Doutorando em Administração pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Seriviu na Companhia de Engenharia de Força de Paz em Angola e no Haiti, onde foi subcomandante da Companhia. Foi Oficial de Pessoal 2º Grupamento de Engenharia e serviu em Unidades de Engenharia de Combate (5º BE Cmb) e de Construção (9º BE Cnst). Foi instrutor na Escola de Sargentos das Armas, no Centro de Preparação de Oficiais da Reserva do Rio de Janeiro e, atualmente, da Escola de Comando e Estado-Maior (ECEME).

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REFERÊNCIAS

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