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Boletim da Sociedade Brasileira de Meteorologia ISSN 1676-014X vol.31, n o .1, abril 2007 às às Desafios Desafios Associados Climáticas Mudanças Mudanças

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Boletim da Sociedade Brasileira de Meteorologia ISSN 1676-014X

vol.31, no.1, abril 2007

àsàs

Desafi os Desafi os Associados

ClimáticasMudançasMudanças

O Boletim da Sociedade Brasileira de Meteorologia (BSBMET) é uma publicação quadrimestral da SBMET (www.sbmet.org.br), com tiragem de 1.000 exemplares. O BSBMET aceita colaborações, na forma de artigos originais de divulgação de assuntos técnicos, científi cos ou profi ssionais e reproduções de matérias de interesse do Corpo Social, desde que não protegidos por direitos autorais, ou mediante autorização expressa do detentor destes direitos.

DIRETORIA EXECUTIVA PARA O BIÊNIO 2007/2008

Presidente: Maria Gertrudes Alvarez Justi da SilvaDiretor Financeiro: Isimar de Azevedo SantosDiretora Administrativa: Marley C. de Lima MoscatiDiretor Científi co: Pedro Leite da Silva DiasDiretor Profi ssional: Alfredo Silveira da Silva

Vice-Presidente: Bernardo Barbosa da SilvaVice-Diretor Financeiro: Jonas da Costa CarvalhoVice-Diretora Administrativa: Heloisa M. T. NunesVice-Diretor Científi co: Osvaldo Luiz Leal de MoraesVice-Diretor Profi ssional: Marilene de Lima

CONSELHO DELIBERATIVO

Efetivos José Marques – Presidente José Carlos FigueiredoFrancisca Maria Alves Pinheiro Luis Augusto Toledo MachadoFrancisco de Assis Diniz Marco Antonio JuseviciusHalley Soares Pinheiro Junior Maria Luiza Poci PintoJosé Antonio Marengo Orcini

SuplentesAdriano Marlisom Leão de Sousa Gerhard Held Rosane Rodrigues Chaves

Conselho Fiscal SuplenteElza Correia Sucharov – Presidente Mariana Palagano Ramalho SilvaEugênio José Ferreira NeivaJaci Maria Bilhalva Saraiva

Editor Responsável Editor AssistenteMarley Cavalcante de Lima Moscati Pedro Leite da Silva Dias INPE - Prédio da Meteorologia, Sala 26 USP-IAG – Depto de MeteorologiaAv. dos Astronautas, 1758, Jd. da Granja Rua do Matão, 1226, Cidade Universitária12.227-010 – São José dos Campos, SP 05508-900 – São Paulo, [email protected] [email protected]

Editores Colaboradores: Heloisa M. T. Nunes, Luiz Augusto T. Machado e Nelson Jesus FerreiraSetor de Normas e Legislação: Alfredo Silveira da SilvaSetor de Divulgação e Marketing: Marley Cavalcante de Lima Moscati

Distribuição dirigida e gratuita

EXPEDIENTECoordenação: Marley Cavalcante de Lima MoscatiProjeto Gráfi co e Prod. Gráfi ca: DigitalPress e Graftipo LtdaCapa: DigitalPressImpressão: Graftipo LtdaRevisão Editorial: Marley Cavalcante de Lima MoscatiFotografi as: (1) - Marley Moscati, (2) - B.I. , (3) - Marley Moscati, (4) - Marcus V. ToledoISSN 1676-014X.

Distribuição dirigida e gratuita

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EDITORIAL

No início de 2007, o relatório preliminar do IPCC divulgou a avaliação sobre o aquecimento global, despertando o mundo para um problema alarmante: nosso planeta está em sério risco e já começa a sentir os efeitos devastadores das mudanças climáticas, e alguns dos danos são irreversíveis. Desde então, especialistas de várias áreas do conhecimento e do mundo todo, além de setores governamentais, empresariais, entre outros, voltaram-se para uma ampla refl exão que o tema exige, tentando buscar alternativas que garantam um futuro melhor para o planeta. Como resultado dessas refl exões preliminares, constata-se que a situação atual é decorrente de escolhas, individuais ou coletivas, feitas ao longo dos anos e, principalmente, ao uso inadequado da tecnologia disponível. Com isso, patrimônios naturais inteiros estão em risco, nos próximos anos se espera eventos climáticos mais severos (secas e enchentes devastadoras, maior freqüência de furacões e com intensidade muito maior, etc), já constata-se a ocorrência de degelo em regiões nunca antes esperadas, pondo em risco cidades inteiras, a sobrevivência da fauna e da fl ora nativos, e da própria humanidade, ... Enfi m, há uma série de sinais alertando que a saúde do planeta inspira cuidados, e urgentes! O assunto também é tema deste número do Boletim da SBMET, que foca os desafi os associados às mudanças climáticas, com ênfase na América do Sul e no Brasil. A matéria do Dr. Carlos Nobre discute porque devemos nos preocupar com o aquecimento global. A matéria da Dra. Maria Assunção F. da Silva Dias e do Dr. Pedro Leite da Silva Dias trata sobre os efeitos regionais em cenários futuros, especifi camente nos padrões de precipitação, considerando os modelos de previsão de tempo e de clima atuais. O assunto também é discutido em outras matérias que tratam de aspectos distintos da questão, em algumas notícias divulgadas na internet, no texto da OMM para o Dia Meteorológico Mundial em 2007, entre outros, publicadas neste número do Boletim.

A participaçao da comunidade científi ca nos congressos de meteorologia tem crescido a cada edição desde o I Congresso Brasileiro de Meteorologia (CBMET), realizado em 1980. O formato da última edição, realizada em novembro de 2006, a Programação, as atividades desenvolvidas, a lista de premiação de trabalhos, além de uma avaliação dos resultados obtidos, estão relatados no Relatório Científi co e de Atividades do XIV CBMET.

Duas recentes conquistas de sócios da SBMET merecem destaque: A nomeação da Dra. Maria Assunção Faus da Silva Dias para a Academia Brasileira de Ciência e o Prêmio Conrado Wessel concedido ao Dr. Carlos Afonso Nobre. Nesta edição do boletim, a SBMET homenageia outros dois sócios, o Dr. Jesus Marden dos Santos e o Dr. Fernando Pimenta Alves, sócios beneméritos da SBMET, pelas contribuições dadas à área. Também, outros sócios merecem destaque, o Dr. Tércio Ambrizzi, que conclui seu mandado de quatro anos como Editor Responsável pela RBMET, onde fez um trabalho exemplar e reconhecido por todos, e o Dr. Manoel Alonso Gan, que assume o cargo para os próximos quatro anos, a quem desejamos sucesso em sua atuação. A SBMET se sente honrada por ter em seu quadro personalidades tão ilustres, parabeniza-as pelas conquistas e as agradece pelas contribuições.

A SBMET informa com pesar o falecimento do Prof. Obasi, um integrante da comunidade científi ca que trabalhou incansavelmente pela divulgação da meteorologia no mundo. Aqui é feita uma singela homenagem ao Prof. Obasi.

Há, ainda, muitas outras notícias interessantes a serem lidas, a agenda de eventos, assuntos de interesse dos sócios da SBMET, entre outros.

Desejo à todos uma boa leitura!!

Marley Cavalcante de Lima MoscatiEditora Responsável

Boletim da Sociedade Brasileira de Meteorologia Desafi os Associados às Mudanças Climáticasvol. 31, nº 1, abril 2007

Editorial ............................................................................................................... 01Marley Cavalcante de Lima Moscati

Palavra da Presidente da SBMET ................................................................................. 04Maria Gertrudes Alvarez Justi da Silva

Mudanças climáticas globais e o Brasil: porque devemos nos preocupar? ................................ 07Carlos Afonso Nobre

As incertezas regionais nos cenários de mudanças climáticas globais ..................................... 12Maria Assunção Faus da Silva Dias, Pedro Leite da Silva Dias

A incerteza científi ca e a opinião pública na balança das negociações sobre mudança de clima ...... 18Luis Antonio L. Aímola, Pedro Leite da Silva Dias

O Quarto Relatório do IPCC (IPCC AR4) e projeções de Mudança de Clima para o Brasil e América do Sul ..................................................................................................... 23Jose A. Marengo Orsini

Projeções do clima da América do Sul segundo o cenário “B1” do IPCC adotando um modelo acoplado oceano-atmosfera-vegetação-gelo marinho ......................................................... 29Flávio Justino, Marcelo Cid de Amorim

O desafi o das energias renováveis e suas implicações ambientais ......................................... 36Enio Bueno Pereira

Impactos Antrópicos no clima da região metropolitana de São Paulo ...................................... 48Augusto José Pereira Filho, Paulo Marques dos Santos, Ricardo de Camargo, Mário Festa, Frederico Luiz Funari, Sérgio Torre Salum, Carlos Teixeira de Oliveira, Edvaldo Mendes dos Santos, Pety Runha Lourenço, Edvaldo Gomes da Silva, Willians Garcia, Maria Aparecida Fialho

Mudanças climáticas e agricultura: um estudo de casos para as culturas do milho e do feijão em Minas Gerais ..................................................................................................... 57José Luiz C. Silva Júnior, Luiz Cláudio Costa, Marcelo Cid de Amorim, Flávio Justino Barbosa

O aquecimento global e a cafeicultura brasileira ............................................................... 65Hilton S. Pinto, Jurandir Zullo Junior, Eduardo D. Assad, Balbino A. Evangelista

O planeta Terra: Aquecimento global e mudanças climáticas ................................................. 73Teresinha de Maria Bezerra Sampaio Xavier, Airton Fontenele Sampaio Xavier

SUMÁRIO

Boletim SBMET abril 2007

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O Projeto TroCCiBras: Objetivos, resultados da Campanha 2004 e o futuro ................................ 81 Gerhard Held

Homenagem da SBMET aos seus sócios Beneméritos ......................................................... 90

Tema da OMM para o Dia Meteorológico Mundial de 2007,Meteorologia Polar: Entendendo os Impactos Globais ......................................................... 93Dimitrie Nechet

Comemoração do Dia Meteorológico Mundial de 2007 no Brasil ............................................. 96

Editor da Revista Brasileira de Meteorologia: uma experiência única ....................................... 97Tércio Ambrizzi

Posse da Diretora Executiva da SBMET (2007 - 2008) ........................................................101

Novos valores de anuidade para 2007 ...........................................................................105

Pagamento de anuidades com cartão de crédito ...............................................................105

Designação do novo Editor da RBMET ............................................................................106

Resultado da Eleição para o Conselho Fiscal da SBMET ......................................................107

RBMET online ........................................................................................................107

XIV Congresso Brasileiro de Meteorologia: Síntese dos relatórios Científi cos e de Atividades .............................................................108

XIV CBMET: Lista de premiação de trabalhos ...................................................................117

Isso foi Notícia .......................................................................................................120

Relatório síntese do Workshop para a defi nição das bases conceituadas para o SistemaBrasileiro de alerta Precoce de seca e desertifi cação (SAP) .................................................124

Coordenadora do CPTEC/INPE é eleita acadêmica da Associação Brasileira de Ciência (ABC) ........132

Carlos Nobre ganha Prêmio Conrado Wessel ...................................................................132

Seção Normas e Legislação: Colégio de Entidades Nacionais ...............................................133Alfredo Silveira da Silva

Agenda ................................................................................................................136

Falece o Professor Obasi, Ex-Secretário Geral da OMM, grande incentivador da Meteorologia .......143

Anunciantes ..........................................................................................................144

Política Editorial do Boletim da SBMET ..........................................................................145

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Boletim SBMET abril 2007MENSAGEM

Prezados sócios e amigos da SBMET,

Neste primeiro Boletim de 2007 gostaríamos de agradecer a todos os sócios a presença maciça ao XIV Congresso Brasileiro de Meteorologia, em Florianópolis, e o apoio dado por ocasião da eleição da nova Diretoria Executiva da SBMET que atuará no biênio 2007-2008.

A nova Diretoria está motivada e com o fi rme propósito de caminhar na consecução dos três objetivos básicos de sua proposta de trabalho: a) aumentar a visibilidade da Meteorologia Nacional, b) participar ativamente da organização da política da Meteorologia, c) buscar uma interação construtiva com todos os segmentos da sociedade brasileira, quer ao nível de pesquisa, quer na aplicação do conhecimento desenvolvido em nossa área. Com esses objetivos em mente gostaríamos de ressaltar algumas atividades em que a SBMET atuou fortemente neste início de 2007.

Em termos políticos, o ano de 2007 começou com uma grande notícia na área de Meteorologia: o Presidente da República assinou em 21 de março o Decreto 6065 que trata da criação da Comissão de Coordenação de Meteorologia, Climatologia e Hidrologia (CMCH). A SBMET vem liderando há anos ações que buscam uma organização do setor e considera a criação desta Comissão um passo importante neste sentido. Embora ainda não seja ideal, a composição da CMCH contempla quase todos os atores envolvidos na Meteorologia Nacional, como era desejo da SBMET. Compõem esta Comissão, além dos já tradicionais membros como o INMET, o INPE, a Aeronáutica e a Marinha, também membros novos, que consideramos atores importantes na coordenação da área, entre eles um representante dos Serviços Estaduais de Meteorologia, um representante das empresas prestadoras de serviços e um representante da indústria de partes, de equipamentos e de sistemas em Meteorologia. Também serão membros da CMCH os Presidentes da Sociedade Brasileira de Meteorologia (SBMET), da Sociedade Brasileira de Agrometeorologia (SBAgro) e da Associação Brasileira de Recursos Hídricos (ABRH). Acreditamos que a partir da sua primeira reunião, provavelmente em agosto deste ano, muitas questões que têm difi cultado o desenvolvimento da área serão tratadas de uma maneira organizada e objetiva e as soluções para os problemas existentes serão encontradas na forma de consenso entre todas as partes interessadas.

Com a divulgação do Quarto Relatório do IPCC, que revela com uma clareza acentuada a preocupação mundial dos cientistas com as Mudanças Climáticas Globais advindas do aumento dos gases do efeito estufa na atmosfera, a SBMET promoveu vários debates e discussões sobre o tema, além de participar de Grupos de Trabalho com o objetivo de fazer frente às mudanças previstas. Após a divulgação do Sumário Técnico do Grupo I do IPCC, a SBMET organizou três importantes discussões com parceiros signifi cativos. Foram eles: o evento “Mudanças Climáticas Globais e seus Efeitos na Agricultura, Recursos Hídricos e Saúde Pública”, organizado juntamente com o INMET, o INPE e a ANA, e realizado em Brasília em 28 de fevereiro; o Seminário “Os Resultados Recentes Sobre a Contribuição Humana á Mudança do Clima da Terra: Aspectos Físicos e Repercussões Sociais e Econômicas” realizado em conjunto com o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas no Rio de Janeiro em 6 de março, e o evento “Os Impactos Regionais e Setoriais das Mudanças no Clima”, realizado em São Paulo, juntamente com o Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP em 10 de março. Todos estes encontros foram fi lmados e as palestras podem ser vistas nos endereços divulgados nos Informes e no Portal da SBMET.

A SBMET e a SBAgro estão buscando uma aproximação maior através da troca de experiências e na

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Presidente da SBMET

realização conjunta de eventos científi cos. Por ocasião da realização do XV Congresso Brasileiro de Agrometeorologia, em Aracaju, foi realizada uma reunião que contou com as presenças da Presidente da SBMET e do Presidente eleito da SBAgro. Nessa reunião, acertaram algumas iniciativas que visam uma atuação mais integrada destas associações científi cas que, além de terem assento na CMCH, têm muitos objetivos e sócios em comum.

Em termos de realizações para o segundo semestre, a SBMET vai realizar o Simpósio de Ensino de Meteorologia do Mercosul, nos dias 16 e 17 de agosto do corrente ano. Este evento está inserido nas atividades da 64a Semana Ofi cial da Engenharia, Arquitetura e Agronomia, do Sistema CONFEA/CREA, que terá lugar no Rio Cidade Nova Convention Center, na cidade do Rio de Janeiro. O objetivo deste Simpósio é o de coordenar as ações dos Cursos de Meteorologia no sentido de possibilitar uma cooperação acadêmica efetiva e que aponte direções para um Consórcio de Ensino nas Ciências Atmosféricas, no âmbito de graduação e de pós-graduação, assim como possibilitar encaminhamentos da maior credibilidade dos Cursos de Meteorologia dos países pertencentes ao Mercosul.

Outra atividade que já se incorpora ao calendário de eventos da SBMET, alternando com nossos Congressos que se realizam em anos pares, é o Simpósio Internacional de Climatologia (SIC). Este ano o II SIC será em São Paulo, nos dias 2 e 3 de novembro, e terá como tema “Mudanças Climáticas: Detecção e Atribuição de Causas”.

No segundo semestre de 2007, a SBMET estará colaborando com a realização da “III Conferência Regional sobre Mudanças Globais: América do Sul”, que ocorrerá em São Paulo no período de 4 a 8 de novembro, com o “20 Simpósio Brasileiro de Desastres Naturais e Tecnológicos”, que acontecerá de 9 a 13 de dezembro em Santos, SP e com o “V Workshop de Micrometeorologia”, que ocorrerá em Santa Maria, RS, de 12 a 14 de dezembro.

Finalizando, julgamos importante reiterar nossa posição de que é indispensável a atuação dos sócios da SBMET para que a mesma se torne uma entidade cada vez mais atuante e conseqüentemente mais reconhecida e respeitada. Estamos aqui abertos às críticas e às sugestões esperando com isso aperfeiçoar os mecanismos de atuação da nossa Sociedade Brasileira de Meteorologia.

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MUDANÇAS CLIMÁTICAS GLOBAIS E O BRASIL:PORQUE DEVEMOS NOS PREOCUPAR (*)

Carlos Afonso NobrePesquisador Titular do INPE/Membro do Grupo de Trabalho II do IPCC

Pres. do Comitê Científico do Programa Internacional da Geosfera-Biosfera (IGBP)[email protected]

O recém lançado Quarto Relatório do Grupo de Trabalho I do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU é contundente ao afirmar, com 90% de confiança, que as atividades humanas são a causa principal do aquecimento global observado nos últimos 50 anos e aponta o acúmulo de gases de efeito estufa, notadamente o dióxido de carbono, o metano e o óxido nitroso, cujas concentrações atmosféricas são as mais altas em pelo menos 650 mil anos de história do planeta, como os principais responsáveis. É certo que o rápido aumento da concentração destes gases na atmosfera se deve à ação humana. Por exemplo, as emissões atuais de dióxido de carbono são 50 vezes maiores do que as emissões naturais da crosta terrestre ao longo da história geológica do planeta.

O relatório destaca igualmente que é inequívoco que o planeta vem aquecendo, 0,74oC em 100 anos, e que já são discerníveis uma série de mudanças climáticas como aumento das temperaturas do ar e dos oceanos, degelo de neve e gelo e aumento global do nível médio do mar de 17 cm durante o Século XX. Onze dos últimos doze anos no período de 1995 a 2006 foram os mais quentes do registro instrumental de temperaturas globais desde 1850. Associado ao aquecimento já registrado, já se observa intensificação de alguns tipos de fenômenos meteorológicos extremos, como ondas de calor, secas, chuvas intensas e ciclones tropicais. Em resumo, praticamente estão descartadas causas

naturais para o aquecimento das últimas décadas, o qual se deve, em sua quase totalidade, a mudança da composição da atmosfera por ações humanas.

O relatório projeta que o planeta continuará a aquecer numa taxa de 0,2oC por década nas próximas duas décadas, taxa esta que é, até certo ponto, independente do cenário de emissões de gases de efeito estufa. Até o final do Século XXI a temperatura média global pode subir de 2oC a mais de 4oC, o nível médio do mar, entre 28 cm e 59 cm, com o risco de se elevar mais de 1 m se for acelerada a tendência de degelo das grandes massas de gelo da Groelândia.

Algum grau de mudanças climáticas já se tornou inevitável, como enfatiza o Relatório do IPCC, pois não é mais possível reverter totalmente o aquecimento global. Os gases de efeito estufa presentes em excesso na atmosfera têm tempos de residência que variam de décadas a séculos e continuarão aquecendo a baixa atmosfera e superfície terrestre por séculos. O nível do mar continuará a subir por mais de mil anos, à medida que o aquecimento vai penetrando lentamente nas suas camadas mais profundas.

Estima-se subjetivamente que poderíamos evitar as conseqüências mais perigosas das mudanças climáticas se o aumento das temperaturas globais não ultrapassasse 2oC, em relação às temperaturas da época pré-industrial.

(*) Essa matéria foi apresentada em Workshop realizado durante o XIII Simpósio Brasileiro de Sensioriamento Remoto, divulgada no Jornal da Ciência, e-mail 3250, de 25 de abril de 2007. Autorizada a publicação na integra no Boletim da SBMET.

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Para na ficar acima deste valor, as concentrações de dióxido de carbono não poderão ultrapassar 550 partes por milhão em volume (ppmv) e tal concentração já atingiu 380 ppmv em 2006. As emissões atuais (queima de combustíveis fósseis e emissões advindas da mudança dos usos da terra) já chegam a quase 9 bilhões de toneladas de carbono anualmente e crescem a mais de 3% ao ano, nos últimos anos. Chegar à estabilização em 550 ppmv impõe um limite às emissões globais de CO2. Poder-se-ia emitir um máximo de 750 bilhões de toneladas de carbono durante todo o Século XXI. Em outras palavras, as emissões teriam que reduzir-se drasticamente e não ultrapassar 3 bilhões de toneladas anuais na segunda metade do Século, significando uma radical “descarbonização” da sociedade global, notadamente dos sistemas de produção de energia. Tarefa esta que se afigura como um objetivo de difícil consecução sem uma radical transformação dos sistemas de produção e consumo em escala global. Ademais, este cálculo considera que a fração do CO2 emitido pelas atividades humanas que permanece na atmosfera, cerca de 45% durante o Século XX, continua a mesma durante este Século. Entretanto, a capacidade dos oceanos e da biota terrestre de remover 55% do CO2 em excesso na atmosfera começa a dar sinais de saturação, isto é, a fração atmosférica provavelmente será maior no futuro, o que limitará o valor permitido de emissões para se chegar à estabilização da concentração na atmosfera para um valor que pode ser substancialmente menor do que 750 bilhões de toneladas.

É interessante observar que os valores de incerteza das estimativas para o clima futuro constantes dos relatórios do IPCC não têm variado substancialmente nos últimos três relatórios (1995, 2001 e 2007) ainda que tenha havido um gigantesco avanço científico na modelagem matemática do sistema climático, o qual envolve a atmosfera, os oceanos, a criosfera e a biosfera, incluindo o ciclo de carbono nos oceanos e na vegetação. Quando considerados todos os

modelos climáticos globais utilizados e todos os cenários futuros de emissões de gases de efeito estufa, a faixa de projeções para o aumento da temperatura global média até o final do Século situa-se entre aproximadamente 1,5 C e 6 C nos três últimos relatórios. Em números redondos, metade desta incerteza se deve às diferenças entre projeções dos modelos climáticos e metade dela vem por não sabermos a trajetória futura das emissões de gases de efeito estufa.

Hoje, a maioria das pessoas tem “certeza” de que este é um gravíssimo problema para a humanidade. Isto vem acontecendo de maneira rápida e, até certo ponto, independente do mais lento progresso na redução das incertezas científicas sobre o clima do futuro. Há vantagens de que assim o seja, pois incertezas científicas sobre como evoluirá o complexo sistema climático irão sempre existir, mas estas não devem servir de desculpa à inação.

Esta percepção é necessária para permitir a transição dos insustentáveis padrões atuais de produção e consumo para padrões sustentáveis no futuro, se quisermos estabilizar as emissões globais ainda neste século, transição esta que não ocorrerá de maneira indolor. Mesmo no país cujo governo tem se mostrado mais reticente em assumir compromissos para a mitigação das emissões, os EUA, as pesquisas de opinião não deixam dúvida de que a população está consciente sobre o problema ambiental do aquecimento global, ainda que possa estar inadvertidamente aguardando soluções com nítido viés tecnológico, já que tem sido este o viés das políticas governamentais de Bush para a “solução” da questão.

Ainda que seja imperativo mitigar as emissões como a única solução aceitável moralmente no longo prazo, a inevitabilidade de que algum grau de mudança climática acontecerá de qualquer maneira faz com que igual ênfase deve ser dada tanto à redução acelerada das emissões globais nas próximas décadas como à necessidade de

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adaptação às mudanças climáticas que já se tornaram inevitáveis. Poderá o Brasil atuar, com liderança, nestas duas frentes?

Sem considerar as emissões provenientes das mudanças dos usos da terra, a emissão de CO2 per capita do brasileiro estaria em torno de 0,5 toneladas de carbono por ano, bastante baixa em nível mundial, comparável àquelas da Índia, e bem abaixo daquelas dos países industrializados, tipicamente entre 2,5 e mais de 5 (EUA) toneladas por habitante por ano. Isto se deve à nossa matriz energética relativamente “limpa”. Porém, ao considerar que aproximadamente 75% das emissões brasileiras de gás carbônico –o principal gás de efeito estufa—provém dos desmatamentos, as emissões per capita ultrapassam 1,5 toneladas por ano, algo similar à emissão per capita da China, que vem crescendo exponencialmente nos últimos anos.

Decorre desta simples aritmética que a contribuição do Brasil ao esforço mundial de mitigação do aquecimento global passa obrigatoriamente por reduzir as emissões dos desmatamentos. Em princípio, é, sim, perfeitamente possível reduzir os desmatamentos da floresta Amazônica a valores próximos de zero, uma vez que existe um gigantesco estoque de áreas já desmatadas degradadas ou abandonadas em todo o país, mais de 150 mil km2 de áreas degradadas ou abandonadas somente na Amazônia, as quais, com o concurso de modernas técnicas agronômicas, devem servir ao crescimento da cadeia de produção agropecuária, da agricultura familiar ao agronegócio. Além disso, reflorestamentos em grande escala nas áreas desmatadas retiram gás carbônico da atmosfera através da fotossíntese e contribuem para a mitigação das emissões, podendo se tornar atraentes Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL) para o país.

A implementação de políticas públicas favorecendo a utilização de tais áreas para diminuir a pressão da expansão da fronteira

agrícola sobre a floresta permitiria se ganhar tempo para que se tentasse o desenvolvimento de um novo modelo para a Amazônia, explorando o potencial econômico e social da extraordinária biodiversidade dos ecossistemas tropicais. Não há paradigmas de desenvolvimento econômico e social baseado em recursos da biodiversidade em nenhum país tropical mega-diverso do mundo para serem copiados pelo Brasil. Mas para isso, há que se investir pesadamente em descentralização da infra-estrutura de C&T da região, expandido as atuais e criando novas unidades de pesquisa básica e aplicada e fixação maciça de pesquisadores e engenheiros nestas instituições. Esta é uma tecla na qual a própria SBPC vem batendo metódica e insistentemente nos últimos anos, mas os investimentos em C&T na Amazônia, incrementalmente crescentes, são completamente insuficientes para criar as bases para um novo modelo para a região.

Por outro lado, traz preocupação a constatação de que, no tocante à adaptação às mudanças climáticas, praticamente está tudo por fazer no Brasil. Os poucos estudos brasileiros sobre os impactos das mudanças climáticas nos ecossistemas naturais e agro-ecossistemas, nas zonas costeiras e na saúde humana não deixam dúvidas de que o país não sairá incólume. Tipicamente como na maioria dos países em desenvolvimento, a sociedade com larga população vivendo abaixo da linha de pobreza e baixo IDH, a economia fortemente baseada em recursos naturais e a exuberante Natureza são vulneráveis às mudanças climáticas atuais e mais ainda àquelas que estão por vir.

Aumento da temperatura de alguns graus traz embutido um palpável risco para o Nordeste, com claríssimas repercussões sociais: diminuição da disponibilidade hídrica no semi-árido, menor tempo de permanência da água no solo, isto é, aceleração de aridização, o que tornaria mais marginal a agricultura de sequeiro, meio de subsistência atual de milhões de habitantes da zona rural. Adicionalmente, aumentaria a

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intensidade das periódicas secas.

As políticas públicas de desenvolvimento regional do Nordeste, que, além da eliminação da pobreza como principal bandeira, já procuram aumentar a convivência com a seca como fator de resiliência da sociedade rural, terão que obrigatoriamente consideração um cenário de redução da disponibilidade hídrica no semi-árido para o futuro.

Para o extenso litoral brasileiro, é certo o aumento do nível do mar e da intensidade das ressacas em toda a zona costeira e há grande probabilidade de expressivo crescimento dos desastres naturais pelo aumento da ocorrência de chuvas intensas e secas, de maneira similar ao que vem acontecendo neste verão na região Sudeste. Em resumo, um quadro de mudanças climáticas preocupante para todo o país.

A questão dos impactos do aquecimento global na Amazônia é complexa e preocupante. Subsistem ameaças concretas de colapso de parte da floresta amazônica, especialmente na suas porções central e oriental, com erosão da rica biodiversidade. Aumentos acima de 3 a 4 graus centígrados nas temperaturas na Amazônia e no Centro-Oeste terão um impacto devastador na rica diversidade biológica da floresta e do cerrado. Estudos científicos indicam um risco de desaparecimento de mais de 50% das espécies arbóreas do cerrado e ameaças a mais de 90% das espécies arbóreas da Amazônia Oriental. Há que se considerar que aquecimento global não é a única ameaça ambiental à floresta tropical. A sinergia entre aquecimento global, desmatamento e crescente incidência de incêndios florestais ameaça entre 20 e 40% da floresta Amazônica de sério risco de desaparecimento ou substituição por um tipo de savana empobrecida.

Espécies da flora e da fauna, particularmente as endêmicas, dificilmente conseguiriam adaptar-se através de migrações à velocidade espantosa de décadas, em comparação ao ritmo

de mudanças naturais, com que ocorrem as alterações climáticas. Tristemente, extinção parece ser o caminho para um sem número delas. Em termos globais, no cenário mais pessimista de aquecimento, até 50% de todas as espécies de plantas e animais estarão ameaçadas até o final do século. O efeito das mudanças climáticas nos ecossistemas naturais coloca em foco que somente políticas de adaptação não resolvem. E que o esforço de mitigação das emissões tem que ser global, pois os países mega-diversos no seu conjunto contribuíram historicamente pouco para o acúmulo de gases na atmosfera, mas são os que mais perderão com a redução certa de riqueza biológica. No limite, os esforços do Brasil em reduzir desmatamentos na Amazônia e, por conseguinte, cortar suas emissões, têm sentido somente como parte de uma ação global de mitigação das emissões em todos os setores, principalmente com a descarbonização dos sistemas de geração de energia.

Após mais de uma década de quase letargia, há claros sinais de que a sociedade brasileira começa perceber a gravidade do problema e, ainda que de maneira tímida, se abre para discutir o problema. Os setores governamentais, empresariais e acadêmicos e a sociedade civil organizada vêm se articulando para aumentar a consciência sobre a questão e na busca de políticas ambientais conseqüentes e a prova disto é o surgimento de fóruns de mudanças climáticas em vários estados nos últimos anos. O Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas trouxe ao primeiro plano de discussão a importância da redução das emissões por desmatamentos, assunto que era considerado absoluto tabu no Governo Federal até alguns anos atrás.

Acima de tudo, o aquecimento global deve ser encarado com uma questão moral e ética: aqueles que menos contribuíram para o problema são os que vão sofrer as mais graves conseqüências.

Progresso tecnológico para a transição a uma nova sociedade, sustentável na utilização dos

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recursos naturais do planeta, é uma condição necessária para a habitabilidade a longo prazo do Homo sapiens e de todas as outras formas de vida, porém não suficiente. Há que haver conscientização sobre a gravidade da ameaça

do aquecimento do planeta em escala global. De nada adiantará qualquer esforço brasileiro em reduzir emissões se elas continuarem a subir em outras partes do mundo.

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AS INCERTEZAS REGIONAIS NOS CENÁRIOS DEMUDANÇAS CLIMÁTICAS GLOBAIS

Maria Assunção Faus da Silva Dias1, 2, Pedro Leite da Silva Dias2(1)Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE

Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos - CPTEC(2)Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas - IAG

Departamento de Ciências Atmosféricas - USPE-mails: [email protected] , [email protected]

Os cenários de mudanças climáticas relatados no 40 Relatório do IPCC AR4 (2007) apontam para uma série de mudanças climáticas globais na temperatura do ar à superfície e nos padrões de precipitação. A evolução anual das médias globais, assim como mapas que indicam os padrões espaciais esperados, tanto anualmente como do ponto de vista sazonal, são apresentados como os cenários mais prováveis para os próximos 100 anos. Esses cenários são baseados numa variedade de simulações com diferentes modelos que foram validados conforme sua capacidade de representar satisfatoriamente o clima do passado e do presente. O grande avanço observado entre o IPCC AR4 e seu antecessor, o terceiro relatório (publicado em 2001), está na maior segurança proporcionada pelos diversos modelos usados permitindo conclusões com maior grau de certeza (ou menor incerteza) com relação ao efeito das atividades humanas no clima da Terra.

Ao usar um conjunto de modelos de diferentes origens e com diferentes características, o IPCC AR4 procurou usar a diversidade dos modelos como um fator de defi nição de probabilidade de ocorrência, ou de grau de confi ança, principalmente quando enfocadas as diferentes regiões geográfi cas do globo e as diferentes estações do ano. De particular interesse é a mudança no regime de precipitação, nem sempre detectável no total anual, mas em muitos casos apresentando mudanças no comprimento da estação chuvosa. Tanto as alterações previstas na temperatura como no regime anual e sazonal da chuva podem ter impactos dramáticos na biodiversidade, nas atividades

agrícolas, na sobrevivência de biomas naturais, além do efeito direto na disponibilidade da água e no degelo em altas latitudes com refl exos no nível do mar que afeta diretamente as regiões costeiras.

A análise dos efeitos regionais nos cenários futuros, especifi camente no caso dos padrões de chuva, tem uma incerteza básica que é a própria representação da chuva: os modelos atuais de previsão de tempo e de previsão climática sazonal ainda têm problemas nesse sentido, o que aumenta sensivelmente a incerteza dos cenários futuros nas escalas de décadas a centenas de anos. Os principais problemas na simulação de chuva ainda são:

Resolução espacial das simulações numéricas;Interação aerossóis - radiação - microfísica de nuvens.

De forma menos direta, porém ainda relevante, tem-se aspectos de acoplamento oceano-atmosfera, biosfera-atmosfera e, por fi m, existem as próprias limitações atuais na representação da química atmosférica e dos ciclos biogeoquímicos, que afetam simulações em todas as escalas podendo afetar os padrões de temperatura à superfície e o regime de precipitação.

Levando em conta apenas os aspectos de resolução e da interação aerossóis – radiação - microfísica de nuvens, existe uma grande incerteza nos cenários de climas futuros do ponto de vista da precipitação, particularmente nas regiões tropicais onde os efeitos baroclínicos são de segunda ordem.

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As simulações numéricas usadas no IPCC AR4 para defi nir os cenários do clima futuro da Terra tem resolução típica de 100 km. O primeiro impacto da baixa resolução é na defi nição da condição de contorno na superfície em termos de topografi a, da defi nição das regiões cobertas por água (oceano, lagos, rios) e da cobertura vegetal.

Em regiões montanhosas a defi nição das encostas é bastante suavizada por essa resolução. Tanto o efeito mecânico de desvio das parcelas de ar que encontram as encostas, como o efeito térmico na produção de circulações vale-montanha são prejudicadas. Casos típicos são regiões com vales bem defi nidos, como o Vale do Rio São Francisco ou o Vale do Paraíba, cuja existência é praticamente eliminada com baixas resoluções.

A linha costeira também perde detalhamento. Regiões costeiras perto de montanhas como, por exemplo, a Serra do Mar, tem grandes problemas de representação da intensidade das circulações locais nas simulações numéricas de baixa resolução espacial, pois dependem dos gradientes horizontais de temperatura. A velocidade da circulação simulada é inversamente proporcional à resolução e, em geral, uma descrição adequada ocorre para resoluções inferiores a 10 km. No caso de brisa marítima, por exemplo, quanto maior a velocidade da frente de brisa, maior a convergência associada e, portanto, mais intensos devem ser os movimentos verticais que, em última instância, defi nem a taxa de condensação de vapor d’água nas nuvens. Localmente há impactos também em regiões onde os contrastes não são bem resolvidos pela grade do modelo. Contrastes de vegetação também produzem circulações locais não convencionais como o que é observado nas regiões de interface entre fl oresta e pastagens (Souza et al., 2000) , regiões com agricultura e solo nu, e em volta das grandes represas, grandes rios (Silva Dias et al., 2004) ou regiões alagadas como o Pantanal.

As circulações locais são o principal mecanismo produtor de chuvas nas regiões costeiras, especialmente nas baixas latitudes; no caso do Brasil, a costa do Nordeste e do Norte tem regime de chuvas

tipicamente defi nido pela brisa marítima, conforme descrito por Kousky (1980) e por Negri et al. (2002). Além da chuva local, vários autores têm enfocado a questão de que a brisa marítima serve como gatilho para disparo de linhas de instabilidade que podem ser costeiras ou propagar-se por grandes distâncias continente adentro (Cohen et al., 1985; Rickenbach, 2004).

A baixa resolução também exige que os processos de formação de nuvem, que tem escala sub-grade, sejam parametrizados. A parametrização da convecção tem sabidamente suas limitações na representação do processo de precipitação, principalmente para chuvas de nuvens quentes (muito comuns em regiões marítimas e costeiras) e no caso de Sistemas Convectivos de Mesoescala (SCM) – o caso das linhas de instabilidade, por exemplo. No caso das chuvas originadas de nuvens quentes, os modelos de baixa resolução não incluem o processo de produção de chuva. No entanto, em boa parte do litoral do Nordeste do Brasil, as nuvens rasas produzem chuva, basicamente por serem nuvem marítimas formadas por gotas grandes, nucleadas ao redor de sais marinhos higroscópicos. Estas contrastam com nuvens rasas continentais formadas por um grande número de gotículas pequenas, formadas a partir de um grande número de partículas de poeira ou poluição, que permanecem em suspensão no ar sem cair como chuva.

No caso dos SCM a sua reprodução em baixa resolução fi ca prejudicada pela impossibilidade de simular os processos dinâmicos das correntes descendentes que defi nem a propagação do sistema. Neste caso, um exemplo típico é a linha de instabilidade da Amazônia (Cohen et al., 1985). Essas linhas de instabilidade representam um caso crítico em simulações de baixa resolução: o início da formação da linha ocorre a partir da brisa marítima na costa norte e sua propagação como um SCM pode levá-las até milhares de quilômetros da costa, num extenso ciclo de vida com impacto em grandes áreas do leste e do centro da Amazônia. Ramos da Silva et al. (2007) mostram que as grandes linhas de instabilidade da Amazônia não são simuladas por

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modelos com resoluções superiores a 20 km.

É plausível especular sobre o papel da resolução dos modelos na geração de furacões. O caso do Oceano Atlântico Sul merece particular atenção. Vários modelos do IPCC AR4 indicam redução da intensidade da fonte de calor do Amazonas e Brasil Central. Sabe-se que esta fonte mantém o intenso cisalhamento vertical no Oceano Atlântico Sul (Gandu e Silva Dias, 1988) que impede a formação de furacões já que as temperaturas da superfície são propícias. A fonte de calor do Amazonas e Brasil Central também é responsável pela intensa subsidência que seca a média troposfera no Atlântico, tornando o ambiente ainda mais desfavorável para a gênese das tempestades tropicais. A redução da precipitação na parte tropical do Brasil deve, em tese, diminuir o cisalhamento e a subsidência no Oceano Atlântico Sul. Portanto, é plausível esperar um aumento da probabilidade de ocorrência de furacões no Oceano Atlântico Sul, sobretudo ao se considerar o aumento da temperatura da superfície do mar. Evidentemente, podem existir outros fatores, por exemplo, relacionados com a interação entre a fonte de calor da África (Gandu e Silva Dias, 1998), que podem tornar este processo mais complexo. Somente modelos de alta resolução espacial, da ordem de poucos km, têm os mecanismos para capturar esses processos que levam à formação de furacões.

Os aerossóis presentes na atmosfera têm diversos impactos na formação de nuvens e de chuva e são discutidos com bastante abrangência ao longo do IPC AR4, utilizando-se modelos de transferência radiativa desacoplados dos Modelos de Circulação Geral da atmosfera (MCG). Para incluir os aerossóis nos MCG é necessário um modelo de emissões. As emissões podem ocorrer a partir de levantamento de poeira em geral, emissões veiculares, industriais ou vegetais (compostos orgânicos voláteis com conversão gás-partícula), queimadas e erupções vulcânicas. Os MCG usados pelo IPCC somente incluem os efeitos climatológicos dos aerossóis que são estacionários. Um dos efeitos da presença de uma camada de aerossóis é a redução da incidência de radiação à superfície, identifi cado pelo IPCC AR4 como uma

forçante radiativa negativa, isto é, de resfriamento. Um efeito esperado de uma camada de aerossóis é um aumento da estabilidade termodinâmica reduzindo os movimento verticais e diminuindo a quantidade de chuva. Conforme mostrado por Freitas et al. (2000), a pluma de aerossóis emitidos por queimadas no Brasil Central pode atingir grandes áreas da América do Sul e do Oceano Atlântico Sul, ou seja, um efeito em escala continental que ao não ser incluído nos MCG leva a um aumento da incerteza dos resultados. Esse impacto pode ser relativamente grande ao longo do chamado jato de baixos níveis (Vera et al., 2006) que leva para latitudes médias tanto a umidade da Amazônia como os produtos da queima da biomassa do Brasil Central que alcançam a região das bacias do Paraná e do Prata. A heterogeneidade espacial dos aerossóis também pode gerar circulações locais não-convencionais que podem causar signifi cativo impacto na precipitação, eventualmente aumentando-a, apesar do efeito negativo associado ao impacto radiativo dos aerossóis (Vendrasco et al., 2007).

Outros efeitos dos aerossóis envolvem a interação com a microfísica das nuvens. Dentre os aerossóis há uma parcela que atua como Núcleos de Condensação de Nuvens (NCN). Para nuvens quentes é bastante claro que poucos NCN permitem a ocorrência de chuvas enquanto que muitos NCN inibem a chuva. No entanto, para nuvens frias, ou seja, aquelas em que existe a fase gelo além de gotas de água líquida, o efeito de aumento de NCN é extremamente não-linear e defi nido por fatores externos como o conteúdo de umidade no ar, a estabilidade atmosférica e o cisalhamento vertical do vento. Martins (2006) utilizou um modelo numérico com 1 km de resolução para analisar o efeito dos NCN na região Amazônica chegando à conclusão de que um número maior de NCN tem o efeito de tornar as chuvas mais intensas e localizadas, sem necessariamente alterar a chuva média na área. Quanto mais intensas e localizadas as chuvas, maior a probabilidade de eventos extremos associados como ventanias e inundações. E maiores os danos à vegetação e a agricultura, maior a probabilidade de deslizamentos de encostas. Estes efeitos dos aerossóis nas nuvens levam a uma grande incerteza relativa aos feitos regionais dos cenários climáticos.

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1. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Cohen, J.C.P., Silva Dias, M.A. F.; Nobre, C.A. Environmental conditions associated with Amazonian squall lines: a case study. Monthly Weather Review, 123(11):3163-3174, 1995.

Freitas, S.R.; Silva Dias, M.A. F.; Silva Dias, P.L.; Longo, K.M.; Artaxo, P.; Andreae, M.O.; Fischer, H. A convective kinematic trajectory technique for low-resolution atmospheric models. Journal of Geophysical Research, 105(D19):24375-24386, 2000.

Garstang, M.; Massie, Jr. H.L.; Halverson, J.; Grego, S.; Scala, J. Amazon coastal squall lines, Part I, Structure and kinematics. Monthly Weather Review, 122:608-622, 1994.

Reconhecendo as incertezas regionais dos cenários climáticos globais, várias iniciativas têm levado à produção de cenários mais detalhados, através do processo de enfoque em menores escalas, permitido por modelos regionais que utilizam os cenários de baixa resolução como condições de contorno. No entanto, sem chegar a resoluções bem menores que 10 km difi cilmente esses cenários de maior resolução terão reduzido as incertezas nos resultados. E mesmo chegando a resoluções da ordem de poucos quilômetros ainda resta o problema da interação não-linear entre escalas que existe na natureza e leva a um impacto das pequenas escalas nas maiores num processo de retro-alimentação positiva semelhante ao que explica em boa parte a sustentabilidade de furacões a partir do efeito coletivo das nuvens que os integram. Como a convecção e as circulações geradas num modelo regional reagem às condições de contorno do MCG, mas não são usadas para retroalimentar as circulações de grande escala, há novamente uma incerteza, especialmente em regiões com grandes conjuntos de nuvens como nas chamadas fontes tropicais de calor da Amazônia e da Indonésia, entre outras, e nas zonas de convergência associadas a grandes bandas de nuvens, como a Zona de Convergência Intertropical, a Zona de Convergência

do Atlântico Sul, entre outras que podem ter efeitos globais (Raupp e Silva Dias, 2004).

Para reduzir a incerteza associada à baixa resolução e ao desenvolvimento de nuvens e chuvas, a melhor opção é aumentar a resolução e incluir os processos microfísicos de nuvens e sua interação com aerossóis. Simulações de longo prazo como as necessárias para os cenários climáticos são proibitivas, do ponto de vista computacional sendo uma alternativa a análise detalhada de casos especiais para identifi cação de possíveis cenários locais associados aos sistemas sinóticos mais relevantes. Como exemplo, pode-se imaginar o caso dos complexos convectivos que afetam o norte da Argentina/Paraguai (Velasco e Fritsch, 1987). Simulações regionais longas com algumas dezenas de quilômetros de resolução não descrevem a evolução desses sistemas sinóticos. Estudos de caso, por outro lado, baseados em ambientes de grande escala produzidos pelos cenários futuros, com alta resolução (da ordem de poucos km), podem dar informações relevantes sobre as alterações no ciclo de vida e nos eventos extremos associados. Técnicas de mineração de dados podem apontar para situações de maior interesse para esses estudos de caso.

Gandu, A.W.; Silva Dias, P.L. Impact of Tropical Heat Sources on the South American Tropospheric Upper Circulation and Subsidence. Journal of Geophysical Research, 103:6001-6015, 1998.

IPCC AR4. Intergovernamental Panel for Climate Change – Assessment Report 4, 2007.

Kousky, V.E. Diurnal rainfall variation in Northeast Brazil. Monthly Weather Review, 108:488-498, 1980.

Martins, J.A. Efeitos de aerossóis da queima de biomassa no desenvolvimento da precipitação. Tese de Doutorado, IAG/USP, 181 pp, 2007.

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Negri, A.J.; Adler, R.F.; Xu, L. A TRMM calibrated infrared rainfall algorithm applied over Brazil. Journal of Geophysical Research – Atmospheres, 107(D20):16-1, 16-15, 2002.

Raupp, C.A.M.; Silva Dias, P.L. Effects of nonlinear processes on the inter-hemispheric energy propagation forced by tropical heat sources. Revista Brasileira de Medteorologia, 19(2):177-188, 2004.

Ramos da Silva, R.; Werth, D.; Avissar, R. The impacts of anticipated land-cover change on the wet-season in the Amazon: Part I –hydroclimatological changes. Aceito no Journal of Climate, 2007.

Rickenbach, T.M. Nocturnal Cloud Systems and the Diurnal Variation of Clouds and Rainfall in Southwestern Amazonia. Monthly Weather Review, 132(5):1201–1219, 2004.

Silva Dias, M.A.F.; Silva Dias, P.L.; Longo, M. Fitzjarrald, D.R.; Denning, A.S. River breeze circulation in eastern Amazon: observations and modeling results. Theoretical and Applied Climatology, 78(1-3):111-121, 2004.

Souza, E.P.; Rennó, N.O.; Silva Dias, M.A.F. Convective circulations induced by surface heterogeneities. Journal of Atmospheric Sciences, 57: 2915-2922, 2000.

Vera, C.; Baez, J.; Douglas, M.; Emanuel, C.B.; Orsini, J. A M.; Meitin, J.; Nicolini, M.; NoguesPaegles, J.; Paegle, J.; Penalba, O.; Salio, P.; Saulo, C.; Silva Dias, M.A.F., Silva Dias, P.; Zipser, E. The South American Low Level Jet Experiment (SALLJEX). Bulletin of the American Meteorological Society, 86, 1,63-77, 2006.

Velasco, I.; Fritsch, J.M. Mesoscale convective complexes in the Americas. Journal of Geophysical Research–Atmospheres, 92(D8):9591-9613, 1987.

Vendrasco, E.P.; Silva Dias, P.L.; Freitas, E.D. A Case Study of the radiative effect of biomass burning in the precipitation; the Cuiabá-Santarém (Eastern Amazon) Case. Submetido a publicação em Meteorology and Atmospheric Physics, 2007.

AGRADECIMENTOS

As pesquisas dos autores são fi nanciadas pela FAPESP, CNPq e FINEP.

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A INCERTEZA CIENTÍFICA E A OPINIÃO PÚBLICA NA BALANÇA DAS NEGOCIAÇÕES SOBRE MUDANÇA DE CLIMA

Luis Antonio L. Aímola1, Pedro Leite da Silva Dias2(1) Instituto de Estudos Avançados – Grupo de Ciências Ambientais – IEA/USP

(2)Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas –IAG/USPInstituto de Estudos Avançados/ Universidade de São Paulo (IEA - USP)

E-mails: [email protected], [email protected]

A mídia mundial tem chamado o ano de 2007 de “o ano das mudanças climáticas”. Isso se deve, primeiramente, ao fato do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (em inglês, Intergovernamental Panel on Climate Change - IPCC) estar publicando neste ano a quarta série de três relatórios de avaliação sobre o aquecimento global: o primeiro se concentra sobre as bases científi cas da mudança climática e já foi publicado em Paris em fevereiro último. O segundo, trata dos impactos das mudanças climáticas e das vulnerabilidades regionais a essas mudanças, e foi divulgado em abril. A última parte avalia como podemos mitigar as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) e saiu a público em maio. A principal mensagem desses relatórios é que as mudanças climáticas estão ocorrendo em uma velocidade sem precedentes na história e por isso é necessário tomar duas atitudes básicas: reduzir drasticamente as emissões globais de GEE e começar a se adaptar às mudanças que já se iniciaram.

Um outro motivo é porque vários especialistas em clima têm afi rmado que o efeito estufa conjugado com o fenômeno climático El Niño farão de 2007 o ano mais quente já registrado, com conseqüências para todo o planeta. Uma confi rmação parcial dessa previsão já parece ter se realizando: o último inverno no Hemisfério Norte foi o mais quente dos últimos 128 anos. A julgar pela grande cobertura dada pela mídia para a publicação do relatório em Paris, e sua ampla repercussão na sociedade, espera-se ainda muito mais discussão e mobilização de vários setores

da sociedade ainda este ano sobre o problema do aquecimento global.

O ano de 2007 também deve ser um ano de decisões políticas importantes nesta área. Logo depois da publicação do IPCC em Paris, a União Européia decidiu fi xar a meta de reduzir pelo menos 20% de suas emissões de GEE até 2020. Mas nem tudo neste ano pode representar avanços políticos nesta área. Discussões de bastidores para as próximas rodadas de negociações que defi nirão as políticas de reduções de emissões após o período de cumprimento do Protocolo de Kyoto, 2008-2012 tem indicado que, apesar de várias declarações recentes de muitos governos sobre a necessidade de ação mais vigorosa a partir de 2013, ainda existem muitas difi culdades a serem superadas até que se alcance um consenso sobre quem deve nessa próxima etapa reduzir suas emissões e de quanto.

Os EUA, o maior emissor mundial de GEE, se negou a participar do acordo de Kyoto e sua participação em um acordo após 2012 será muito importante para que haja políticas efi cazes de controle do aquecimento global, mas sua posição ainda é incerta. O Congresso norte americano tem há muito tempo condicionado um compromisso dos EUA em qualquer acordo global a que países em desenvolvimento tais como Índia, China e Brasil, também assumam metas obrigatórias. De outro lado, esses países ainda resistem fortemente a quaisquer obrigações de reduções de emissões,

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pois, argumentam, precisam crescer para resolver seus graves problemas sociais e cortar suas emissões representa um freio neste processo.

O caminho até a ratifi cação do Protocolo de Kyoto demonstrou que o consenso entre os países, e mesmo dentro deles, é difícil de ser obtido. E não parece que as negociações para o próximo período serão mais fáceis, embora aparentemente haja um momento mais propício a um consenso mais amplo, sobretudo pela publicação dos relatórios do IPCC. Sem dúvida todos esses acontecimentos poderão ter infl uência na 13a Conferência das Partes que acontecerá no fi nal deste ano em Bali. A esperança é que o ano termine com uma perspectiva de um acordo que amplie aquele já feito em Kyoto. Na realidade ainda é impossível prever o impacto que os documentos do IPCC terão sobre essas negociações.

O estado do conhecimento científi co sobre as mudanças climáticas expresso nos relatórios do IPCC tem sido a plataforma a partir da qual os governos, as Organizações não-Governamentais (ONG´s) e as corporações, tomam suas decisões sobre o que fazer para lidar com o problema das mudanças climáticas. Por isso, espera-se que a cada publicação desses relatórios assistamos a mudanças cada vez mais signifi cativas nas atitudes dos governos e no comportamento geral da sociedade em direção a uma política global efi caz de combate às mudanças climáticas. O motivo básico é a expectativa de que as incertezas científi cas sobre o aquecimento global e seus efeitos diminuam sistematicamente. Dessa forma, pensa-se, as negociações tenderão cada vez mais a acordos globais mais amplos. Será que a relação entre o avanço do conhecimento sobre mudança de clima e os acordos internacionais segue essa lógica simples?

Esses relatórios, embora contenham a melhor informação existente sobre o assunto, estão ainda repletos de incertezas sobre de quanto exatamente a temperatura global subiria se nada fi zéssemos para evitar o aquecimento. As incertezas se ampliam signifi cativamente quando tentamos prever essas elevações de temperatura para daqui a 20, 30, 50 ou 100 anos à frente. Uma cascata de incertezas é gerada

nos modelos de circulação geral oceano-biosfera-atmosfera acoplados por causa das incertezas nos valores de inúmeros dos seus parâmetros, levando a um largo espectro de situações possíveis quando se tenta prever quais exatamente seriam os níveis médios de precipitação, de elevação do nível médio do mar e a distribuição de impactos nos ecossistemas através do globo.

O sistema do clima é altamente complexo, envolve não-linearidades, muitas delas ainda não muito bem compreendidas, e o fenômeno do aquecimento global e as mudanças climáticas resultantes é de muito longo prazo. Quando estes modelos são usados para calibrar modelos climáticos de menor complexidade acoplados a modelos ecológicos e econômicos a situação piora, pois a cascata de incertezas se amplia ainda mais quando incorpora o elemento humano que é em muitos aspectos imprevisível. Em geral os cenários gerados por estes modelos apontam para futuros com inúmeros impactos negativos em extensas áreas do globo, caso nada seja feito. Mas a sua intensidade e época precisas em que ocorreriam são questões ainda sem resposta e não podem ser obtidas rapidamente. Para algumas questões as incertezas são intrínsecas e não simplesmente estatísticas, o que implica em nunca poderem ser reduzidas.

Parece despropositado falar das incertezas em um momento como este, pós-relatórios do IPCC, em que a sociedade parece estar alcançando uma conscientização sem precendentes, cuja mobilização pode pressionar muito os governos a tomarem medidas mais severas no combate ao aquecimento global. Mas os fatos mostram que os governos do mundo todo estão avançando muito pouco nos esforços para dar seqüência ao Protocolo de Kyoto mesmo diante da crescente preocupação da opinião pública com as mudanças climáticas e os alertas da ONU, de que o problema representa uma ameaça de dimensões semelhantes às de uma guerra. O fato é que a grande amplitude das incertezas científi cas sobre o tema ainda oferece muito espaço para que coexistam várias posições contrárias ao movimento de intensifi cação de reduções de emissões e permite que vários governos possam continuar a resistir a qualquer compromisso formal para isso.

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Estudos têm mostrado que os países formam suas posições nas negociações internacionais sobre mudanças climáticas a partir da avaliação de sua vulnerabilidade potencial àquelas mudanças e dos custos que incorreria se viesse a reduzir suas emissões. Essa conclusão tem sido chamada de teoria do auto-interesse dos países nas negociações ambientais internacionais, pois preconiza basicamente a idéia de que cada país forma suas posições visando unicamente seus interesses nacionais, em oposição a qualquer atitude altruísta que busque o bem estar de outras nações (Sprinz e Vaahatoranta, 1994).

Um país, segundo esta teoria, que estimasse para seu território danos climáticos altos e custos baixos para o abatimento de suas emissões domésticas, tomaria uma atitude promovedora de políticas mais severas de reduções. Daria o exemplo aos outros países assumindo voluntariamente metas mais ambiciosas de reduções e cobraria desses países atitudes semelhantes. Esse comportamento é o que observamos, por exemplo, na União Européia, que assumiu o compromisso acima indicado.

Um país que, ao contrário do primeiro tipo, estima danos climáticos baixos e custos de abatimento altos, seguiria o comportamento inverso: resistiria a qualquer acordo que o levasse a ter que assumir reduções intensas de emissões. Ele pode ser caracterizado por uma atitude procrastinadora nas negociações. O exemplo típico de um protelador é os EUA. Uma nação, por outro lado, que avalia danos climáticos altos, e custos de abatimento também altos, tem uma atitude intermediária entre os casos anteriores e sua atitude é na maior parte do tempo ambígua, procurando evitar assumir custos de abatimento, mas pressionando os outros países a reduzirem suas emissões. Este é o caso, por exemplo, da China, do Brasil e da Índia. Finalmente, o país que estima danos e custos baixos tem uma atitude expectadora, procurando se aproveitar das situações para fazer acordos que o benefi ciem em outras áreas. Este é o caso, por exemplo, da Rússia nas negociações do Protocolo de Kyoto.

1. UM MODELO DE NEGOCIAÇÕES SOBINCERTEZA

A partir dessa tipologia de comportamentos, o que podemos esperar daqui para frente em termos das negociações sobre a mudança de clima? Para tentar responder a esta pergunta, Aímola (2006) construiu um modelo matemático que representa as economias nacionais e suas emissões de GEE, as vulnerabilidades de cada país ao aquecimento global e a maneira como as expectativas de cada um, em função das incertezas científi cas, infl uenciam seu papel nas negociações. Aqui são discutidos alguns dos principais resultados obtidos por Aímola (2006).

No modelo de Aimola (2006), cada país foi representado como um agente que tem um modelo clima-economia no qual alguns de seus parâmetros-chave têm incertezas representadas por distribuições de probabilidades que mudam ao longo do tempo. O modelo é inovador, pois se baseia em um método ainda pouco utilizado para modelagem em mudanças climáticas, a Simulação de Sistemas Multiagentes. Nele, cada governo faz planos, usa uma metodologia para projetar cenários futuros de mudança de clima e de impactos econômicos, assim como um critério de decisão para escolher sua posição. Para modelar as negociações propriamente ditas, usou-se a Teoria dos Jogos, uma área da Ciência Econômica que trata do comportamento estratégico dos agentes.

Foram escolhidos alguns parâmetros-chave ainda altamente incertos, sobre os quais a resolução das incertezas, ainda que gradual, é crucial para antecipar o comportamento do clima e da economia, e levar à ação mais efi caz. Para o clima, foram escolhidos como parâmetros incertos a sensibilidade climática e a inércia térmica do oceano. Para as economias, a vulnerabilidade às mudanças climáticas e os custos marginais de abatimento de emissões de GEE. A partir dessa representação, o modelo explora cenários de evolução dos conhecimentos científi cos sobre o aquecimento global e sua infl uência no processo político internacional.

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O modelo permite realizar simulações variando-se com diferentes velocidades as distribuições de probabilidades para representar a redução das incertezas e os possíveis ritmos de tais reduções. É impossível prever como se dará a evolução do conhecimento científi co sobre o clima, a vulnerabilidade de cada país em seu território, bem como dos custos domésticos de abatimento de emissões, mas no modelo pode-se explorar diversos cenários de redução de incertezas e fazer uma análise global dos resultados de cada simulação.

O modelo é capaz de reproduzir a tipologia de comportamentos dos países nas negociações sobre mudança de clima como descritos pela teoria do auto-interesse para várias situações de incertezas. Com ele pode-se simular cenários em que a diminuição das incertezas se dá de forma lenta (5% por década), ou rápida (20% ou mais por década), o que signifi caria a resolução completa das incertezas na metade deste século, e observar a mudança de comportamento de cada país toda vez que negocia metas de reduções de emissões de GEE.

Assim, por exemplo, um país que inicialmente é “protelador” nas negociações, com a diminuição das incertezas sobre sua vulnerabilidade e seus custos, pode vir a adotar uma atitude “promovedora” de reduções de emissões. Países de comportamento intermediário podem passar a ter posição mais defi nida, seja pelo lado da ação vigorosa, seja pela procrastinação. “Promotores” podem manter suas atitudes, ou não, e países “indiferentes” podem se tornar “promotores” ou “proteladores”, dependendo do resultado fi nal da diminuição das incertezas dos impactos e dos custos esperados.

A partir dessas mudanças de papéis, que implicam diferentes distribuições de metas de reduções de emissões negociadas entre os países, é possível avaliar o efeito da diminuição das incertezas sobre o aquecimento global e a magnitude dos danos econômicos em cada território nacional.

Desenvolveu-se um programa de computador, o Proclin – Protótipo para Simular o Papel das Incertezas nas Negociações Climáticas para simular situações

simples, considerando inicialmente somente dois grandes blocos de países, representando as nações industrializadas e aquelas em desenvolvimento. Isto é, um dos blocos foi calibrado com parâmetros que representam um grupo de países ricos com emissões altas, enquanto o outro representa nações com renda mais baixa e emissões ainda reduzidas, mas crescendo rapidamente (Aímola, 2006).

O objetivo das simulações é saber sob que condições de diminuição das incertezas científi cas, as futuras negociações podem gerar políticas que evitem impactos climáticos severos ainda neste século em pelo menos um dos blocos de países. Considerou-se como dano econômico severo a situação em que o Produto Interno Bruto (PIB) de cada bloco começaria a declinar, levando à recessão econômica em virtude das perdas advindas do aquecimento global – destruição de infraestrutura, quebras de safras agrícolas, aumento drástico de doenças infecto contagiosas, etc, e os resultados obtidos são discutidos a seguir.

2. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados das simulações preliminares obtidas com o Proclin para a condição testada mostram que somente para reduções muito rápidas das incertezas, tal como 20% por década, as negociações evitam recessão econômica em ambos os blocos de países. No modelo, isso ocorre apenas em cenários onde o aquecimento se dá de forma muito lenta. Para elevações rápidas de temperatura, a recessão é inevitável para os dois blocos mesmo que as incertezas diminuam muito rapidamente.

Algumas simulações indicaram que se as incertezas não diminuíssem, ou se o fi zessem muito lentamente, as recessões econômicas viriam mais rápida e intensamente. Isso mostra que a pesquisa científi ca tem papel relevante nas negociações, mas limitado no que se refere à efi cácia das reduções negociadas. Ou seja, o clima pode reagir à quantidade de emissões mais rapidamente do que mudanças signifi cativas de posição dos países nas negociações. No modelo, é importante lembrar, as mudanças de

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posições ocorrem somente após os países obterem um conhecimento científi co mais seguro. As ações são tomadas a partir de nova informação.

Em um cenário de incertezas diminuindo lentamente e com países possuindo elevada aversão à recessão, a seqüência de negociações simulada evitou a contração do PIB. O resultado indica que a precaução quanto ao que de pior pode ocorrer é um fator relevante no processo, mesmo que esse cenário seja considerado de baixa probabilidade. Nesse caso, abre-se a oportunidade de uma postura proativa por parte de governos e sociedades, e o conhecimento avança junto com as ações preventivas.

Além da informação científi ca, a aversão ao risco é um fator chave para levar os governos a tratar o problema com a seriedade que ele merece e nesse sentido a percepção da sociedade com relação às ameaças das mudanças climáticas poderá ter um papel decisivo como elemento de pressão, para que se amplie o acordo de Kyoto. Na balança das negociações a mídia e o mega show Earth Live a ser realizado pelo ex-Vice-Presidente dos EUA, Al Gore, para julho deste ano, que alcançará dois bilhões de pessoas em todo o mundo pela TV e internet, poderão ser pesos decisivos.

3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Aimola, L. A. L. Cascata de Incertezas, Impactos Climáticos Perigosos e Negociações Internacionais de Mudança de Clima Global – Um Modelo Exploratório. Tese de Doutorado em Ciência Ambiental. São Paulo: PROCAM-USP, 2006.

Sprinz, D.; Vaahatoranta. The self-interest based explanation of International Environmental Policy. International Organization, vol. 48, n0 1, 1994.

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O QUARTO RELATÓRIO DO IPCC (IPCC AR4) E PROJEÇÕES DE MUDANÇA DE CLIMA PARA O BRASIL E AMÉRICA DO SUL

José Antonio Marengo OrsiniCentro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos – CPTEC/INPE

E-mail: [email protected]

Desde a década de 1980, evidências científi cas sobre a possibilidade de mudança de clima em nível mundial vêm despertando interesse crescente no público e na comunidade científi ca em geral. Em 1988, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) estabeleceram o Intergovernamental Panel on Climate Change (IPCC). O IPCC fi cou encarregado de apoiar com trabalhos científi cos as avaliações do clima e os cenários de mudanças climáticas para o futuro. Sua missão é “avaliar a informação científi ca, técnica e sócio-econômica relevante para entender os riscos induzidos pela mudança climática na população humana”. Esta tarefa é abordada com a participação de um grande número de pesquisadores das áreas de clima, Meteorologia, Hidrometeorologia, Biologia e ciências afi ns, que se reúnem regularmente a cada quatro anos e discutem as evidências científi cas mais recentes e atualizadas. Assim como os resultados do estado-da-arte de vários tipos de modelos (atmosféricos, acoplados oceano-atmosfera), com a meta de chegar a um consenso sobre as tendências mais recentes em termos de mudança de clima.

Os relatórios do IPCC, especialmente do GT1 sobre “As Bases Científi cas” fornecem uma revisão compreensiva e atualizada de todas as informações e estudos feitos na área de clima, oceanografi a, ecologia, entre outras ciências relacionadas à mudanças climáticas. Esta informação é apresentada para as comunidades científi cas, o público em geral e, em especial, para políticos e tomadores de

decisões, que precisam receber informação de forma compreensível. Para isto, o IPCC tem a tarefa de sumariar o conhecimento atual contido nos relatórios científi cos sobre as possíveis mudanças do clima no futuro para os tomadores de decisões. Este relatório é chamado de Summary for Policy Makers SPM, ou Relatório Sumário para Tomadores de Decisões (IPCC, 2001 a, b, c, d, 2007).

O Terceiro Relatório Científi co (TAR) mostra que “existem novas e fortes evidências de que a maior parte do aquecimento observado durante os últimos 50 anos é atribuída às atividades humana” (IPCC, 2001 a), o que foi amplamente anunciado em jornais e revistas científi cas da imprensa mundial. Entretanto, o TAR não trouxe conclusões sobre possíveis mudanças na freqüência e intensidade de eventos climáticos extremos.

O Quarto Relatório Científi co do IPCC AR4 foi liberado em fevereiro de 2007, e nele apresentam-se evidencias de mudanças de clima, especialmente nos extremos climáticos que podem afetar signifi cativamente o planeta, especialmente os paises menos desenvolvidos na região tropical. Novos modelos que incluem modelos acoplados com vegetação interativa e melhores representações de nuvens e aerossóis foram rodados, e uma maior atenção foi dada para a simulação de extremos climáticos e de variabilidade interdecadal. As principais conclusões desse relatório sugerem, com confi ança acima de 90%, que o aquecimento global dos últimos 50 anos é causado pelas atividades humanas. As avaliações

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observacionais e as projeções climáticas para o futuro e passado mostram novas evidências de tendências e processos que podem se resumir assim:

O aquecimento global tem sido agravado pela poluição humana, e a escala do problema não tem precedentes, pelo menos nos últimos 20 mil anos;

Há evidências esmagadoras de que o clima da Terra está sofrendo uma transformação dramática devido as atividades humanas;

As temperaturas médias globais neste século subirão entre 20 C e 4,50 C como resultado da duplicação das concentrações de dióxido de carbono na atmosfera em relação aos níveis pré-industriais, devido a emissões por atividades humanas (como a queima de petróleo e carvão e o desmatamento das fl orestas tropicais, como a Amazônia);

A isso poderia se somar mais 1,50 C como decorrência dos processos de realimentação positivos no clima, resultantes do derretimento do gelo marinho, do permafrost (solo e subsolo permanentemente congelado) e da acidifi cação dos oceanos;

Existem amplas evidências de aquecimento antropogênico do sistema climático no aquecimento global observado nos últimos 50 anos;

A mudança climática deve continuar por décadas e talvez séculos, mesmo se as emissões de gases-estufa forem cortadas.

O Brasil é vulnerável às mudanças climáticas atuais e mais ainda às que se projetam para o futuro, especialmente quanto aos extremos climáticos. As áreas mais vulneráveis compreendem a Amazônia e o Nordeste do Brasil, como mostrado em estudos recentes (Marengo, 2006; Ambrizzi et al., 2007; Marengo et al., 2007). Estas publicações destacam os principais estudos de tendências climáticas observadas no clima do presente para América do Sul e fazem também análises dos cenários climáticos

a)

b)

c)

d)

e)

f)

futuros previstos pelos modelos do IPCC para os cenários de altas e baixas emissões.

1. CLIMA DO PRESENTE: TENDÊNCIAS CLIMÁTICAS OBSERVADAS

Os mapas produzidos pelo IPCC AR4 (Figura 1) mostram para um período de 25 anos (1979-2005) a tendência de aquecimento de até 1,10 C/década no Sudeste da América do Sul, assim como a tendência de aquecimento no Nordeste e Amazônia. Para as chuvas, observa-se a tendência já detectada em estudos anteriores do IPCC (de aumento de até 30%/década da chuva na Bacia do Prata, e em algumas áreas isoladas do Nordeste. Para a Amazônia não aparece uma tendência clara de aumento ou redução nas chuvas, apresentando mais uma tendência de variações interdecadais contrastantes entre a Amazônia do Norte e do Sul (Marengo, 2006).

Para o Brasil, a temperatura média aumentou aproximadamente 0,750 C até o fi nal do Século XX (considerando a média anual de 1961-90 de 24,90 C), e sendo 1998 o ano mais quente no Brasil (aumento de até 0,950 C em relação à normal climatológica de 24,90 C). Ao nível regional, pode-se observar que para o período de 1951-2002, as temperaturas mínimas têm aumentado em todo o país, mostrando um aumento expressivo de até 1,40 C por década, enquanto as temperaturas máximas e médias têm aumentado em até 0,60 C e 0,4-0,60 C por década, respectivamente em quase todo o país (Obregon e Marengo, 2007). O fato das tendências positivas nas temperaturas mínimas anuais serem mais acentuadas do que as temperaturas máximas determinam as tendências negativas na amplitude térmica do ciclo diurno de temperaturas (Tmax-Tmin). As tendências de aquecimento são detectadas ao nível anual e sazonal, com maiores aquecimentos no inverno e primavera.

Em relação à precipitação, as análises observacionais no clima do presente não apontam para tendência de redução de chuvas na Amazônia (devido ao desmatamento). O que tem sido observado são variações interdecadais de períodos relativamente

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mais secos ou chuvosos no Brasil na Amazônia e Nordeste. Regionalmente, tem sido observado um aumento das chuvas no Sul e partes do Sul do Brasil, na Bacia do Paraná - Prata, desde 1950, consistente com tendências similares em outros países do Sudeste da América do Sul. No sudeste o total anual de precipitação parece não ter sofrido modifi cação perceptível nos últimos 50 anos.

Na Amazônia, observam-se as tendências positivas de chuva até +120 mm/década na maior parte do Sul e Sudeste do Brasil, assim como alguns postos pluviométricos com tendências negativas no Amazonas, na Bahia, em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. Com respeito aos valores sazonais de precipitação, a tendência de aumento de chuva no sul do Brasil é consistente durante todo o ano, ainda que esta tendência seja mais acentuada nos meses de inverno, chegando até +40 mm/década e, em segundo lugar, durante o verão. Para o Nordeste, as chuvas não apresentam tendências de chuva signifi cativas de aumento ou redução, e na Amazônia as tendências de chuva também não são muito claras a nível regional. O que pode se afi rmar é que estas regiões experimentam variações interdecadais, com períodos

de aproximadamente 25-30 anos, alternando épocas mais ou menos chuvosas (Marengo, 2006). Isto pode ser explicado pela variabilidade natural do clima na forma de variações decadais nos Oceanos Pacífi co e Atlântico tropical.

Em relação a vazões dos rios, as tendências de chuva observadas refl etem bem as tendências

na precipitação, com uma clara tendência de aumento nas vazões do Rio Paraná e outros rios no sudeste da América do Sul. Na Amazônia, Pantanal e Nordeste não foram observados tendências sistemáticas em longo prazo em direção a condições mais secas ou chuvosas, sendo mais importantes variações interanuais e interdecadais, associadas à variabilidade natural de clima na mesma escala temporal de variabilidade de fenômenos interdecadais dos Oceanos Pacífi co e Atlântico tropical. As análises de vazões de rios na América do Sul e no Brasil (Marengo, 2006) apontam para aumentos entre 2-30% na Bacia do Rio Paraná e nas regiões vizinhas no sudeste da América do Sul, consistente com as análises de tendência de chuva na região.

Não foram observadas tendências importantes nas vazões dos rios da Amazônia e da Bacia do Rio São Francisco. Na costa oeste do Peru, as tendências de chuva positivas podem ser explicadas pelos valores extremamente altos de chuvas e vazões durante os anos de El Niño de 1972, 1983, 1986 e 1998 que afetam sensivelmente as tendências. Algumas das vazões no Brasil (Amazônia, Sul do Brasil, norte do Nordeste) apresentam altas correlações com os campos de anomalias de temperatura de superfície do mar nos Oceanos Pacífi co e Atlântico Tropical, o que sugere uma possível associação entre vazões extremas e El Niño, ou um aquecimento no Oceano Atlântico Norte Tropical, como foi o caso, por exemplo, de 1998 com reduções nas vazões em Manaus e Óbidos e nos níveis baixos do Rio Solimões durante a recente seca de 2005 (Marengo, 2006).

Figura 1: Tendências observadas de: a) Temperatura média anual (1979-2005), expressa em 0 C/década, b) chuva (1979-2005), expressa em % , ambas em relação a 1961-90. Cores azul/vermelho indicam mais frio/mais quente e cores marrom/verde indicam mais seco/mais úmido. Fonte: IPCC AR4 (2007).

B)A)

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2. CLIMA DO FUTURO: PROJEÇÕES DO IPCC ATÉ2100

A temperatura média do ar para o Brasil, em 2100 pode aumentar até 28,9oC para o cenário de altas emissões A2 e até 26,3oC para o cenário de baixas emissões B2, considerando a média de 1961-90 de 25,0oC. Isso corresponderia a um aquecimento de 3,8oC para o cenário de altas emissões e de 1,3oC para o cenário de baixas emissões, com base em uma média de seis modelos climáticos globais do IPCC TAR (Marengo, 2006).

As projeções de mudança nos regimes e distribuição de chuva, derivadas dos modelos globais de IPCC AR4, para climas mais quentes no futuro não são conclusivas, e as incertezas ainda são grandes, pois dependem dos modelos e regiões consideradas (Marengo, 2006). Na Amazônia e Nordeste, ainda que alguns modelos climáticos globais do IPCCC AR4 apresentem reduções drásticas de precipitações, outros modelos apresentam aumento. A média de todos os modelos, por outro lado, é indicativa de maior probabilidade de redução de chuva em regiões como Amazônia de leste e Nordeste como conseqüência do aquecimento global. A Figura 2 mostra reduções de chuva no Norte e Nordeste

do Brasil durante os meses de inverno JJA o que pode comprometer a chuva na região leste de Nordeste, que apresenta o pico da estação chuvosa nessa época do ano. A fi gura corresponde a uma média dos modelos de IPCC AR4 para o Cenário intermédio A1B (IPCC, 2007).

Figura 3: Projeções de temperatura para os cenários de baixas emissões A2 e baixas emissões A2 para 2080-99 relativo a 1980-99. Anomalias expressas em mm dia-1.Fonte: IPCC (2007).

Cenário A1BCenário A1B, (2080-99)-(1980-99) DJF Cenário A1B, (2080-99)-(1980-99) JJAB)

Figure 2: Projeções de anomalias de chuva para 2080-99 relativo a 1980-99 em (%), para: a) DJF, b) JJA. Cores azul/vermelho mostram anomalias negativas/positivas de chuva. Cenário e A1B (Intermediário). Fonte: IPCC (2007).

A)

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Em latitudes mais altas, a região da Bacia do Prata apresenta projeções de possíveis aumentos na chuva e vazões até a segunda metade do Século XXI, de até 20% durante os meses de verão austral (DJF). Isto sugere que para esta região o futuro apresentaria uma continuidade da variabilidade de chuvas e vazões observadas durante os últimos 50 anos, o que talvez indique maior confi ança nestas projeções para esta região.

As projeções para temperatura do ar (Figura 3) são mais reveladoras, e a consistência entre os modelos é maior. No cenário otimista B2 o aquecimento a nível anual pode chegar ate 30 C no Brasil, em tanto que no cenário pessimista A2 o aquecimento pode chegar ate 50 C na parte sul da Amazônia, e em todo o Brasil o aquecimento varia entre 30 C e 50 C, sendo mais intenso na região tropical (IPCC, 2007).

As projeções de extremos segundo o IPCC AR4 sugerem para boa parte do Brasil aumentos na freqüência de extremos de chuva em todo o Brasil, principalmente na Amazônia do oeste, sul e sudeste do Brasil. Para o período de 2080-2099 em relação ao presente (1980-99), no cenário A1B, os eventos extremos de chuva intensa mostram um aumento na freqüência e na contribuição de dias muito chuvosos na Amazônia oeste, enquanto na Amazônia de leste e no nordeste a tendência é de aumento na freqüência de dias secos consecutivos, o que também se observa para o norte do Sudeste. No restante do sudeste e na região Sul do Brasil, assim como na Amazônia do Oeste as projeções de clima para o futuro mostram um aumento na precipitação intensa, o que também tem sido observado nos últimos 50 anos. Em relação a temperaturas, quase todo o País está sujeito a

aumento na freqüência de ondas de calor e de noites quentes, especialmente nas regiões Sudeste e Sul do Brasil. As projeções de extremos climáticos derivados dos modelos do IPCC AR4 aparecem em Marengo (2006).

3. DISCUSSÕES E RECOMENDAÇÕES

O estudo das mudanças climáticas globais deve ser analisado de forma interdisciplinar em função da própria natureza do sistema climático. A integração destes estudos se faz necessária a fi m de que se possam desenhar estratégias, tanto de mitigação quanto de adaptação, efi cazes para enfrentar mudanças adversas do clima. A questão de vulnerabilidade e adaptação deve ser tratada de maneira pragmática, inclusive com o desenvolvimento de modelos que levem em conta as necessidades dos países em desenvolvimento. Nesse esforço, é crucial a participação de técnicos e cientistas, bem como o fortalecimento das instituições dos países em desenvolvimento.

A experiência brasileira nesse domínio mostra a necessidade de se ajustar os métodos aplicáveis aos cenários de mudança do clima resultantes de modelos globais para projeções de escopo regional ou local. Esse ajuste seria útil para estudos sobre os impactos da mudança do clima em áreas como gerenciamento de recursos hídricos, ecossistemas, atividades agrícolas e mesmo a propagação de doenças. A maior resolução obtida em modelos de escopo regional ou local concorreria para uma previsão realista de alterações extremas e a uma melhoria substancial da avaliação da vulnerabilidade dos países à mudança do clima e de sua capacidade de adaptação.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Ambrizzi, T., Rocha, R., Marengo J, A. I. Pisnitchenko, L. Alves, Fernandez, J. P. 2007: Cenários regionalizados de clima no Brasil para o Século XXI: Projeções de clima usando três modelos regionais. Relatório 3. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE - MMA, SECRETARIA DE BIODIVERSIDADE E FLORESTAS

–SBF, DIRETORIA DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE – DCBio Mudanças Climáticas Globais e Efeitos sobre a Biodiversidade - Sub projeto: Caracterização do clima atual e definição das alterações climáticas para o território brasileiro ao longo do Século XXI. Brasília, Fevereiro 2007.

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Marengo, J, A. 2006: Mudanças climáticas globais e seus efeits sobre a biodiversidade - Caracterização do clima atual e defi nição das alterações climáticas para o território brasileiro ao longo do Século XXI. Ministério do Meio Ambiente MMA,Brasília., Brasil, 212 p.: il. color ; 21 cm. (Série Biodiversidade, v. 26) ISBN 85-7738-038-6

Marengo, J. A., Alves, L., Valverde, M., Rocha, R., Laborbe, R, 2007: Eventos extremos em cenários regionalizados de clima no Brasil e América do Sul para o Século XXI: Projeções de clima futuro usando três modelos regionais. Relatório 5, MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE - MMA, SECRETARIA DE BIODIVERSIDADE E FLORESTAS – SBF, DIRETORIA DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE – DCBio Mudanças Climáticas Globais e Efeitos sobre a Biodiversidade - Sub projeto: Caracterização do clima atual e defi nição das alterações climáticas para o território brasileiro ao longo do Século XXI. Brasília, Fevereiro 2007

Intergovernmental Panel on Climate Change IPCC. Climate Change 2001: The Scientifi c Basis-Contribution of Working Group 1 to the IPCC.

Third Assessment Report. Cambridge Univ. Press. 2001 a.

Intergovernmental Panel on Climate Change IPCC. Climate Change 2001: Impacts, Adaptation and Vulnerability - Contribution of Working Group 2 to the IPCC. Third Assessment Report. Cambridge Univ. Press. 2001 b.

Intergovernmental Panel on Climate Change IPCC. Climate Change 2001: The Scientifi c Basis - Summary for Policymakers and Technical Summary of the Working Group I Report. Cambridge Univ. Press. 2001 c. 98 p.

Intergovernmental Panel on Climate Change IPCC. Climate Change 2001: Impacts, Adaptation and Vulnerability - Summary for Policymakers and Technical Summary of the Working Group II Report. Cambridge Univ. Press. 2001 d, 86 pp.

Intergovernmental Panel on Climate Change - IPCC. Climate Change 2007: The Physical Science Basis, Summary for Policy Makers. IPCC, Genebra, 2007.

AGRADECIMENTOS

Este documento é derivado principalmente do resultado do projeto Caracterização do clima atual e definição das alterações climáticas para o território brasileiro ao longo do século XXI, apoiado pelo Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica

Brasileira – PROBIO, Com o apoio do MMA/BIRD/GEF/CNPq e pelo Global Opportunity Fund-GOF do Reino Unido, através do Projeto Using Regional Climate Change Scenarios for Studies on Vulnerability and Adaptation in Brazil and South America.

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PROJEÇÕES DO CLIMA DA AMÉRICA DO SUL SEGUNDO O CENÁRIO “B1” DO IPCC ADOTANDO UM MODELO ACOPLADO OCEANO-ATMOSFERA-

VEGETAÇÃO-GELO MARINHO

Flávio Justino, Marcelo Cid de AmorimUniversidade Federal de Viçosa, Departamento de Engenharia Agrícola, Av. P.H. Rolfs, S/N, Viçosa, MG

CEP 36570-000, Fone: (31) 3899-1870 – FAX (31) 3891-2745.E-mails: [email protected], [email protected]

RESUMO

A caracterização do clima a partir das previsões numéricas é inteiramente dependente das condições forçantes fornecidas aos modelos. Várias destas forçantes (cenários climáticos) foram estabelecidas pelo Painel Inter-governamental sobre as Mudanças Climáticas (IPCC). Neste estudo foram analisadas simulações climáticas acopladas a partir do cenário B1 do IPCC. Se comparado à média entre 1970 e 2000, os resultados apresentados mostram que a temperatura média anual na América do Sul para o período de 2070 a 2100 apresenta um padrão espacial variável, no qual a região central da América do Sul e a região Amazônica apresentam anomalias de temperatura em torno de 1 K e 0,6 K, respectivamente. Os resultados mostram ainda que a partir de 1880 na América do Sul, existe uma pequena diminuição na área coberta por fl orestas passando estas áreas a uma predominância de gramíneas. Esta mudança na vegetação se extende até o ano de 2100.Palavras-chave: Mudanças Climáticas, IPCC, América do Sul, Modelagem Climática.

ABSTRACT

Earth’s climate based upon modeling simulations are tightly linked to the set up of boundary and initial conditions. Several driving forcings have been established by the Intergovernmental Panel on Climate Change (IPPC). In this study, coupled climate simulations carried out with the B1 scenario of the IPCC are analyzed. Compared with mean conditions averaged between 1970 and 2000, these results show that the annual mean surface temperature in South America for the period from 2070 to 2100 exhibits different spatial patterns. In the sense that the central region of the South America and the Amazon region, show temperature anomalies of up to 1 K e 0.6 K, respectively. The results indicate, furthermore, that accompanying the Industrial Revolution (ca.1880), there exist a small reduction in the area covered by forests in South America which is followed by a predominance of grass. This change in the vegetation patterns do not cease until the year 2100.Key words:Climate Changes, IPCC, South America, Climate Modeling.

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1. INTRODUÇÃO

Há tempos os povos têm percebido a estreita relação entre o homem e o clima devido a infl uência de variações climáticas no bem-estar social. Acredita-se que o desaparecimento da civilização dos Maias, que ocorreu a cerca de 800 anos, está associado a variações bruscas de precipitação em escalas de décadas (Haug et al., 2001). Especula-se também que o aumento e a redução da população nas regiões montanhosas ao longo da Cordilheira dos Andes no Peru e Equador estão associadas a períodos secos e úmidos (Thompson e co-autores, 1995). O interesse em mudanças climáticas abruptas e graduais surge, então, com a detecção a partir de testemunhos de gelo que variações acentuadas na temperatura e precipitação foram marcantes no passado (Lowell et al., 1995).

Nas últimas décadas, o interesse pelos estudos das mudanças climáticas têm crescido substancialmente, sobretudo devido à associação de tais impactos na atividade humana. Os eventos climáticos extremos vêm recebendo total atenção da sociedade devido às perdas de vida humana, bem como, ao aumento exponencial crescente dos custos associados a estes eventos (Karl e Easterling, 1999). Por exemplo, enchentes e desmoronamentos associados ao furacão Mitch, em 1998, resultaram em mais de 10.000 mortes na América Central. Em 1995, as perdas econômicas nos Estados Unidos, devido aos furacões, foram orçadas em mais de cinco bilhões de dólares (Pielke e Landsea, 1998). Todavia, estes prejuízos não são características únicas do Hemisfério Norte (HN). Em 2004, o litoral de Santa Catarina foi seriamente afetado pela presença do furacão Catarina (Pezza e Simmonds, 2004), causando prejuízos materiais e ceifando vidas humanas.

Recentemente com a liberação do sumário do Painel Inter-governamental de Mudanças Climáticas (do inglês, Intergovernamental Panel on Climate Change - IPCC), torna-se evidente a necessidade de estudos visando o melhor entendimento das implicações do aumento dos gases de efeito estufa para o clima da terra. Embora exista um consenso

considerável com respeito às projeções climáticas provenientes dos modelos numéricos, pouco se vem discutindo sobre os cenários econômicos (B1, A1T, B2, A1B e A2) que servem como condições iniciais e forçantes para estruturar as projeções do clima. Como estes cenários estabelecem diferentes padrões no consumo de materiais fósseis, como combustíveis, para o período compreendido entre 1990 e 2100, faz-se necessário que nossas análises e discussões também tomem como premissa fundamental o cenário econômico utilizado como condição inicial e forçante. Por exemplo, projeções da temperatura média global para 2100 baseada no cenário B1, é 2 K menor que as projeções feitas se escolhido o cenário A2, um cenário mais pessimista (IPCC, 2007). Note-se que as diferenças na escala regional podem ser ainda mais signifi cativas.

No Brasil, a maior parte das projeções do clima futuro, têm como base o desenvolvimento econômico mais catastrófi co, os cenários da família A. Diante do exposto, o objetivo deste estudo é investigar as projeções do clima na América do Sul tendo como base o cenário B1, fazendo uso de um modelo acoplado de intermediária complexidade oceano-continente-atmosfera-vegetação-gelo marinho. A nosso ver este vem a ser o primeiro estudo feito no Brasil (já que não existe registro na literatura), com o uso de um modelo acoplado que envolve os cinco componentes do sistema climáticos: atmosfera, oceano, continente, vegetação e gelo marinho.

2. OS CENÁRIOS ECONÔMICOS E OSEXPERIMENTOS NUMÉRICOS

2.1 - Os Cenários Econômicos

Reproduzir e/ou modelar impactos futuros da atividade humana no clima é um tarefa extremamente complexa. As emissões antropogênicas de gases causadores do efeito estufa são afetadas por uma miríade de diferentes, contudo relacionadas, variáveis. As condições iniciais dos modelo climáticos devem

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incluir entradas socioeconômicas enfatizando, por exemplo, a taxa de crescimento populacional, o índice de desenvolvimento humano, o produto interno bruto e a escolha da forma de energia a ser usada. Estas condições iniciais são denominadas de “cenários” e serão descritas a abaixo.

2.1.1 - Os cenários da família A

O cenário “A1” retrata um mundo com uma taxa de crescimento econômica muito rápida, com crescimento baixo da população, e baseia-se na introdução acelerada de modernas e mais efi cientes tecnologias. O cenário A2 descreve um mundo heterogêneo; o crescimento da população é elevado e o crescimento econômico e a mudança tecnológica são mais lentos do que no cenário A1. Dentro do “A1” há quatro subcategorias, a saber: A1B, A1C, A1G, e A1T. Estas subcategorias correspondem a diferentes formas no uso dos recursos naturais e ao emprego de diferentes tecnologias para a geração de energia: “A1C” é um cenário com emissões elevadas, baseadas na queima de carvão; “A1G” também apresenta emissões elevadas, porém baseadas no consumo de óleo e gás. Os demais A1B e A1T são mais moderados e se baseiam no uso de combustíveis não-fósseis. A Figura 1 mostra o crescimento populacional e o consumo de combustíveis segundo o cenário “A2”.

São notáveis o crescimento populacional e o consumo de carvão quando se assumi estas condições iniciais. Este cenário produz a maior forçante radiativa segundo o IPCC (2007).

Figura 1: a) Crescimento populacional, b) consumo de combustíveis segundo o cenário “A2”.Fonte: http://www.manicore.com.

A)

B)

2.1.2 Os cenários da família B

O cenário “B1” descreve um mundo com taxa de crescimento populacional mais moderada, uma rápida mudança para uma economia da informação e de serviço, atrelada a uma tecnologia mais limpa e, substancialmente, menos dependente dos recursos naturais não renováveis. O cenário “B2” descreve um mundo baseado em soluções locais aos problemas globais; o crescimento da população é moderado, existem níveis intermediários para o desenvolvimento econômico e há uma mudança tecnológica mais diversa do que nos cenários “A1” ou “B1”. A Figura 2 retrata o crescimento populacional e as mudanças no consumo de combustíveis segundo o cenário “B1”. Uma inspeção dessa fi gura torna evidente a redução no consumo de óleo e carvão,

ao passo que fontes renováveis de energia passam a ser mais consumidas. O consumo de óleo e carvão praticamente cessa a partir de 2060.

O IPCC, do ponto de vista técnico e cientifi co, não acena, não valoriza ou faz menções e recomendações para qual cenário econômico seria adequado como condição inicial para projeções climáticas futuras. Assim, cabe ao pesquisador, subjetivamente, decidir que condições devem ser implementadas. Nossa investigação aqui apresentada tem como base o cenário “B1”. A etapa seguinte da pesquisa, em andamento, é reproduzir projeções a partir do cenário “A2”.

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2.1.3. Descrição do Modelo acoplado Oceano-Atmosfera-Vegetação-Gelo Marinho–LOVECLIM

O componente atmosférico do modelo acoplado LOVECLIM (LOch-Vecode-Ecbilt-CLio-agIsm Model), a saber ECBilt (Opsteegh et al.,1998), é um modelo de 3 camadas com um núcleo adiabático quase-geostrófi co atrelado a parametrizações físicas para o ciclo hidrológico, e um código simplifi cado para a radiação. ECBilt é um modelo spectral que funciona em um truncamento T21 triangular, o que corresponde a uma resolução horizontal aproximada de 5,6° de latitude e longitude. O componente oceânico do LOVECLIM é o modelo Clio. Este último é baseado nas equações primitivas e emprega uma superfície livre com parametrizações termodinâmicas/dinâmicas para o componente do gelo marinho. Parametrizações para difusividade vertical são empregadas, o que constitui uma simplifi cação do Esquema de Turbulência de Mellor e Yamada (Mellor e Yamada, 1982). O modelo oceânico também inclui processos de difusão

ao longo das isopicnais para capturar o impacto dos eddies de mesoescala no transporte. A resolução horizontal do modelo Clio é de aproximadamente 3° de latitude e longitude com 20 níveis verticais desigualmente espaçados. LOVECLIM possui um módulo de vegetação dinâmica (VECODE) que evolui de acordo com as condições de superfície (por exemplo, temperatura e precipitação). Desta forma, é possivel investigar o comportamento da fl oresta amazônica e outros biomas sob diferentes condições climáticas. A partir de valores médios anuais de diversas variáveis climáticas, o modelo VECODE computa a evolução da vegetação descrita como uma distribuição fracionária de deserto, fl orestas, e da grama em cada ponto da grade. Informações adicionais sobre o modelo podem ser obtidas no sítio http://www.knmi.nl/onderzk/CKO/ecbilt-papers.html.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados para o estudo aqui apresentado são mostrados a partir das comparações entre o clima simulado pelo modelo (LOVECLIM) entre os anos 1970-2000 e as projeções estruturadas para o período 2070-2100. Assim, foi conduzido um experimento numérico a partir do ano “1000” fi nalizando no ano “2500” – forçado a partir de condições iniciais de erupções vulcânicas como proposto por Crowley (2000) e considerando as variações orbitais propostas por Berger (1978). A evolução dos gases de efeito estufa é proveniente de reconstruções a partir de testemunhos de gelo (Goosse et al., 2005). Somando-se a isso, a infl uência dos aerossóis de sulfato devido à atividade antropogenica é implementada durante o período 1850-2000 como uma modifi cação do albedo de superfície (Charlson et al., 1991). As mudanças no uso do solo foi aplicada de acordo com Ramankutty e Foley (1999). Este experimento é similar a rodada numérica conduzida por Goosse et al. (2005). A Figura 3a, mostra a evolução dos gases de efeito estufa CO2, CH4 e N2O no último milênio. Entre o período de 1880 até 2100 as concentrações destes gases seguem observações e a tendência proposta no cenário “B1” do IPCC. Note-se que a partir de 2100 os mesmos foram matidos constantes.

Figura 2: a) Crescimento populacional, b) consumo de combustíveis segundo o cenário “B1”. Fonte: http://www.manicore.com.

A)

B)

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O aumento da concentração de CO2, CH4 e N2O na atmosfera é evidente a partir da revolução industrial, ou seja, por volta do ano 1880 (Figura 3a). De forma análoga, a Figura 3b, mostra a elevação na temperatura média global, no HN e no Hemisfério Sul (HS), e na Amazônia. É importante observar que a temperatura média areal no HS passa por um ajuste mais lento que as demais após a estabilização do CO2 em 2100. Isto se deve a substancial massa oceânica austral.

Figura 3: a) Evolução dos gases de efeito estufa [CO2, CH4 e N2O] no último milênio e suas projeções para 2100 segundo o cenário “B1” do IPCC. b) Evolução temporal da anomalia da temperatura [em K] média global na superfície, da temperatura média nos Hemisférios Norte e Sul , e sobre a Amazônia. c) e d) mostram a distribuição espacial das anomalias anuais de temperatura [em K] e precipitação [expressa em cm/ano], no período de 2070 a 2100 e no período de 1970 a 2000. A linha preta na Figura 3d separa os valores positivos dos negativos das anomalias.

A) B)

C) D)

Embora o modelo climático empregado seja de uma complexidade intermediária, quando comparado ao estado da arte dos AOGCMs empregados no IPCC, sua projeção de temperatura para 2100 está dentro da faixa dos resultados do IPCC. Nossos resultados, propõem um aquecimento em torno de 1 K para as temperaturas média global e do HN. Para o HS e a região Amazônica estes valores são um pouco menores, da ordem de 0,6 K e 0,5 K, respectivamente.

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Deve-se notar que o modelo foi capaz de reproduzir a queda de temperatura global, e do HN ocorrida na “pequena idade do gelo” no período entre 1650-1750 (Figura 3b).

A distribuição espacial das anomalias de temperatura é mostrada na Figura 3c. Com excessão da região extratropical onde anomalias de temperatura superiores a 1,5 K são evidentes, as demais regiões da América do Sul são dominadas por valores menores que 1 K. No continente, o maior aquecimento é projetado para região centro-sul do Brasil e sul da Argentina (de até 1 K), anomalias menores que 0,5 K são estimadas para as demais áreas.

De acordo com o IPCC (2007), as projeções para as precipitações entre os modelos exibem um alto grau de dispersão, o que leva a resultados com conclusões discutíveis. Por exemplo, para uma mesma região, alguns modelos predizem um aumento signifi cativo na quantidade das chuvas, enquanto outros propõem um quadro completamente antagônico, ou seja, condições mais áridas. Isto leva a difi culdades na interpretação dos resultados dos modelos. Nosso estudo mostra um aumento de precipitação na região norte, nordeste e central da América do Sul, o que inclui a parte norte da Amazônia. Estes resultados, todavia, devem ser vistos com cautela devido as limitações do modelo que emprega uma dinâmica quase-geostrófi ca e possui baixa resolução espacial e vertical. Justino et al. (2004) mostram que apesar da limitação teórica, devido a quase-geostrofi a, a resposta atmosférica associada a mudanças na temperatura da superfície do mar nos trópicos é qualitativamente bem capturada.

Estas mudanças da estrutura termal da atmosfera e do balanço hidrológico, também são reproduzidas pela cobertura vegetal (Figura 4a). A partir da revolução industrial existe uma redução gradual na área coberta por árvores de grande porte na região compreendida entre 15°N e 20°S, passando a ter uma predominância de gramíneas. Vale lembrar que esta modifi cação se dá praticamente na fronteira sul da região amazônica, não havendo mudanças sensíveis nas demais regiões. A partir de 2100 o modelo mostra um estado que pode ser caracterizado como uma situação de equilibrio para os dois biomas.

A)

B)

Figura 4: a) Evolução temporal da fração da área coberta por fl oresta e gramínias na região compreendida entre 15°N e 20°S, b) Área e volume do gelo marinho no HS.

Um outro elemento determinante para dinâmica no clima do planeta é o gelo marinho. A Figura 4b mostra que o aumento dos gases de efeito estufa trás como conseqüência uma diminuição na área e no volume do gelo no HS, em particular após 2100. Isto se deve a um substancial aquecimento na área compreendida entre 70 °S e o pólo sul (não mostrado). Um estudo que está em fase de desenvolvimento avaliará as respostas do impacto no gelo marinho associadas as forçantes antropogênicas.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Baseado em experimentos numéricos conduzidos com um modelo acoplado de intermediária complexidade, LOVECLIM, foi demonstrado que variações na composição atmosférica devido as erupções vulcânicas, ao aumento dos gases de efeito estufa e mudanças no uso do solo, estão associadas a severas mudanças na estrutura térmica da atmosfera e na precipitação. Os resultados mostram que a partir de 1880 na América do Sul, existe uma pequena diminuição na área coberta por fl orestas, passando estas áreas a uma maior predominância de gramíneas. Isto se deve em parte ao aquecimento simulado neste período. Para a região central da América do Sul e a região Amazônica, este aquecimento é em torno de 1 K e 0,6 K, respectivamente em 2100 (Figura 3c). Após 2100 com a fi xação nos níveis de CO2, CH4 e N2O, os biomas parecem encontrar o equilibrio dinâmico. Obviamente, as análises precisam ser mais aprofundadas no sentido que a vegetação não responde de uma forma linear as variações climáticas.

Os resultados têm como base o cenário “B1” do IPCC, que apresenta uma evolução da composição atmosférica mais branda se comparado aos demais cenários. Isto nos leva a concluir que todas as discussões envolvendo futuras mudanças climáticas devem ser tomadas com ressalvas e discutidas com base nas condições iniciais forçantes.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Berger, A. L. Long-term variations of daily insolation and quaternary climatic changes. J. Atm. Sci.., 35:2363– 2367, 1978.

Charlson, R. J., et al. Perturbation of the Northern Hemisphere radiative balance by backscattering from anthropogenic sulfate aerosols, Tellus, Ser. AB, 43:152– 163, 1991.

Crowley, T. J. Causes of climate change over the past 1000 years. Science, 289:270–277, 2000.

Haug, G.; Hughen, K.; Sigman, D.; Peterson, L.; Röhl, E U. Southward migration of the intertropical convergence zone through the Holocene. Science, 1304–1308, 2001.

Goosse, H. et al. Modelling the climate of the last millennium: What causes the differences between simulations? Geophys. Res. Lett., 32, L06710, doi:10.1029/2005GL022368, 2005.

IPCC - Climate Change 2007: The Physical Science Basis. Summary for Policymakers. http://www.ipcc.ch. (portal consultado em 10 de março de 2007).

Justino, F., Timmermann, A. Souza, E. E Merkel, U. Baroclinic reorganization of atmospheric fl ow during the Last Glacial Maximum. J. Climate., v.18, p.2826 - 2846, 2005.

Karl, T. R., D. R. Easterling. Climate extremes: Selected review and future research directions. Climatic Change, 42, 309–325, 1999.

Lowell et al. Inter-hemispheric correlation of late Pleistocene glacial events. Science, 269, 1541–1549, 1995.

Pezza, A. B., E Simmonds, I. The fi rst South Atlantic hurricane: Unprecedented blocking, low shear and climate change. Geophysical Res. Letters, 32, doi:10.1029/2005GL023390, 2004.

Pielke JR., R. E Landsea, C. Normalized Atlantic hurricane damage: 1925–1995. Wea. Forecasting, 12, 621–631, 1998.

Ramankutty, N. E Foley, J. A. Estimating historical changes in global land cover: Croplands from 1700 to 1992. Global Biogeochem Cycles, 13:997– 1027, 1999.

Thompson et al.. Late Glacial Stage e Holocene Tropical Ice Core Records from Huascaran, Peru. Science, 269, 46–50, 1995.

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O DESAFIO DAS ENERGIAS RENOVÁVEIS E SUAS IMPLICAÇÕES AMBIENTAIS

Enio Bueno Pereira

Instituto Nacional de Pesquisas espaciais - INPECentro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos – CPTEC

Divisão de Clima e Meio Ambiente - DMAE-mail: [email protected]

O Brasil é uma economia emergente e, como outros países nessa categoria, busca o seu desenvolvimento social e econômico. No seu segundo mandato, o Presidente Lula anunciou a nova meta 5% de crescimento econômico do país projetada no seu Plano de Aceleração do Crescimento (PAC 2007-2010). É sabido que o estágio de desenvolvimento de uma nação está fortemente relacionado com a sua demanda por energia (Goldemberg e Villanueva, 2003). Assim, por exemplo, enquanto o homem primitivo, há mais de 2000 anos, tinha um consumo per capita de energia estimado em 12 mil kcal dia-1, o homem moderno, ou tecnológico como é por alguns chamado, consome, em média, 230 mil kcal dia-1, um salto gigantesco de 2000%. Na realidade, esse salto foi praticamente todo ele ocorrido no curto intervalo de tempo entre o início da revolução industrial, no Século XIX, e hoje, o que torna esse pulo na demanda por energia ainda mais descomedido. Qual o impacto que esse crescimento exerce sobre o nosso meio ambiente? Já temos fortes indicativos quanto a isso, conforme demonstra o último relatório do Painel Inter-Governamental para mudanças Climáticas (do inglês, Intergovernamental Panel on Climate Change - IPCC), divulgado em fevereiro de 2007. Inicialmente toda essa demanda por fontes de energia recaiu nas formas mais facilmente disponível de energia com elevada densidade energética1, o carvão natural e, logo após o petróleo, ambos combustíveis fósseis e, portanto, capazes de liberar dióxido de carbono (CO2) para a atmosfera a uma taxa muito maior do que o ambiente terrestre (atmosfera, hidrosfera, litosfera e biosfera) é capaz de armazenar.

A concentração de CO2 vem aumentando gradativamente como mostra a Figura 1, gerada com dados do laboratório do vulcão Mauna Loa, no Havaí, obtidos da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA).

Figura 1: Crescimento (círculos vazados) e taxa de crescimento anual (linhas contínuas) da concentração de gás carbônico na atmosfera, medidos na estação da NOAA, no Havaí.Fonte: NOAA (2007).

Além do CO2, outros gases provenientes do consumo de combustíveis fósseis derivados do petróleo têm impactos signifi cantes na qualidade do meio ambiente. O ar poluído das grandes cidades é, talvez, o exemplo mais visível do uso dos combustíveis fósseis.

A preocupação com o aumento dos gases do efeito estufa desencadeou movimentos de Órgãos Não-Governamentais (ONG´s) e negociações em painéis internacionais, como aquela que resultou no Protocolo de Quioto, em vigência desde fevereiro de 2005, com a adesão de 166 países (http://pt.wikipedia.org/

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wiki/Lista_dos_países_membros_do_Protocolo_de_Quioto). Através desse tratado se propõe um calendário pelo qual os países desenvolvidos têm a obrigação de reduzir a quantidade de gases poluentes em, pelo menos, 5,2% até 2012, em relação aos níveis de 1990. Os países signatários terão que colocar em prática planos para reduzir a emissão desses gases entre 2008 e 2012. No entanto, um dos maiores protagonistas no cenário de emissões de gases do efeito estufa, os Estados Unidos da América (EUA), responsáveis por mais de 24% das emissões totais de CO2 para a atmosfera, parecem não ter a intenção de assinar esse tratado. Nesse país, os combustíveis consumidos por automóveis e caminhões são responsáveis pela emissão de 67% do monóxido de carbono (CO), 41% dos óxidos de nitrogênio (NOX), 51% dos gases orgânicos reativos, 23% dos materiais particulados, 5% do dióxido de enxofre (SO2) e por quase 30% das emissões de CO2 (Lima, 2004).

O fato que causa maior desconforto a nós brasileiros é que a parte principal da conta a ser paga pelos atuais níveis dos gases do efeito estufa na atmosfera, estará agora sendo cobrada dos países em desenvolvimento, já que estes são os que deverão provocar o maior crescimento da demanda energética nos próximos anos, caso os mecanismos propostos pelo Protocolo de Quioto não se consolidem globalmente.

A busca por fontes renováveis de energia se tornou palavra de ordem mundialmente, sobretudo após a divulgação do Quarto Relatório do IPCC (http://ipcc-wg1.ucar.edu/). Isso deverá repercutir fortemente sobre os países em desenvolvimento, não somente sob o ponto de vista dos impactos diretos e indiretos causados pelas mudanças climáticas em si, mas também devido às implicações geopolíticas. Vasconsellos e Vidal (1998), em seu livro “Poder dos Trópicos” já alertavam para a mudança do paradigma energético com o possível deslocamento dos principais centros produtores de recursos energéticos do oriente médio, como principal produtor do petróleo, para os

países tropicais, que detém os maiores mananciais de recursos renováveis (solar, biomassa e hídrico).

1. ENERGIA E DESENVOLVIMENTO

A Tabela 1 mostra comparativamente as taxas de emissões de CO2 para a atmosfera decorrente da produção de energia por vários países, comparadas com as do Brasil. O Brasil ostenta os menores valores de emissão, em todas as unidades medidas. Países altamente industrializados, como os EUA e o Japão mostram taxas de emissão por habitante até dez vezes maiores que as do Brasil. O Japão é o país que apresenta a maior taxa de emissão por unidade de área, destacando a enorme demanda energética desse país.

É instrutivo verifi car a evolução temporal da razão entre oferta (consumo) interna de energia e o PIB, já que essa razão é um importante sócio-indicador. A Figura 2 mostra essa razão para dois grupos de países, um grupo representando as economias emergentes e outro de países desenvolvidos. O Brasil apresenta um consumo interno de energia per capita2 de 52 GJ/hab, abaixo da média mundial (67 GJ/hab), e muito abaixo do que aquele apresentada pelos países desenvolvidos como os EUA (361GJ/hab). Em contrapartida, as razões entre os consumos de energia e os PIBs, também conhecidas como Intensidades Elétricas para os países desenvolvidos são maiores

Emissões de CO2 Brasil EUA Japão A. Latina Mundo

TCO2/hab. 1,77 19,6 9,47 1,98 3.89

TCO2/toe de SIE 1,62 2,47 2,33 1,97 2,32

TCO2/109 US$ do PIB 0,27 0,60 0,40 0,30 0,60

TCO2/km2 superfície 36,3 614 3198 46 119

As siglas SIE e PIB signifi cam Suprimento Interno de Energia e Produto Interno Bruto, respectivamente.Fonte: BEN (2004).

Tabela 1: Emissões de CO2 devidas à produção de energia primária.

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do que aquelas mostradas para o grupo dos países em desenvolvimento, ilustrados na Figura 2 pela Rússia, China, Índia e Brasil. Isso revela que cada incremento unitário no PIB desses países irá demandar uma oferta interna de energia maior do que no grupo dos países desenvolvidos.

O Brasil juntamente com os outros países em desenvolvimento, como a Índia e a China, caracteriza-se por valores relativamente elevados para esse indicador sócio-econômico e é conhecido com eletrointensivo, o que quer dizer que está incluído entre os que irão demandar, no futuro, investimentos maiores no setor de energia. Assim, o foco das preocupações mundiais sobre cenários de emissões de gases do efeito estufa tem recaído em boa parte sobre os países em desenvolvimento já que, segundo o raciocínio acima, estes apresentam uma ameaça adicional caso adotem o mesmo modelo de desenvolvimento empregado no passado pelos países desenvolvidos, baseado nas reservas fósseis de hidrocarbonetos.

Figura 2: Consumo per capita em Joules (colunas) e Intensidade Elétrica em Joules/dólar (linha sólida).Fonte: International Energy Annual (2004).

2. MATRIZES ENERGÉTICAS

Praticamente metade da oferta de energia interna primária3 no Brasil é oriunda de recursos renováveis. Isso foi possível por características climático-ambientais que nos conferem uma abundância de

recursos hídricos, mas também por algumas decisões governamentais acertadas no passado, como a criação do Proálcool, por exemplo. A Tabela 2 mostra quais as principais fontes de energia primária do país em valores de toneladas equivalentes de petróleo. O petróleo e seus derivados continuam sendo as principais fontes de energia nesse país, com uma parcela superior a 38% do total de energia.

Tabela 2: Estrutura da oferta de energia primária no Brasil em 106 toneladas equivalentes de petróleo (TOE).

Fonte: Relatório SWERA (2007).

Para a geração de energia elétrica, as renováveis atingem cerca de 88% da oferta interna, contra os 19% em média para o restante do mundo. A energia hidráulica representa a maior parte dessa oferta. A Figura 3 mostra como se distribui as diversas fontes de energia no Brasil e no mundo.

FONTES X 106 TOE

NÃO RENOVÁVEIS 120.953

PETRÓLEO E DERIVADOS 84.020

GÁS NATURAL 20.393

CARVÃO MINERAL 13.940

URÂNIO 2.600

RENOVÁVEIS 97.695

HIDROELETRICIDADE 32.691

LENHA E CARVÃO VEGETAL 28.560

ÁLCOOL 30.441

OUTROS (EÓLICO, SOLAR, ETC.) 6.002

TOTAL 218.648

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Figura 3: Matrizes de energia elétrica do Brasil e do resto do mundo.Fonte: BEN (2004).

A evolução do uso dos recursos renováveis no Brasil é bastante variável, como pode se notar na Figura 4. A despeito de sermos um dos países com a maior parcela de recursos renováveis na sua matriz energética, a evolução temporal desse padrão tem mostrado um ligeiro declínio desde a década de 70. Comparando com a evolução havida nos países mais desenvolvidos da OECD4, o Brasil sofreu uma redução na fração de renováveis de cerca de 31%, enquanto os países da OECD aumentaram sua dependência nos renováveis em mais de 23%. Isso signifi ca que nosso crescimento econômico tem sido baseado principalmente na intensifi cação do emprego das fontes não renováveis de energia, como o gás natural e a nuclear.

Figura 4: Variação temporal das frações de oferta de energia primária no Brasil.Fonte: Relatório SWERA (2007).

3. CENÁRIOS DAS ENERGIAS SOLAR, EÓLICA E BIODIESEL

Energia eólica

O Brasil apresenta diversas opções energéticas para impulsionar seu desenvolvimento, entre elas está a energia eólica. Segundo o Atlas do Potencial Eólico Brasileiro (Camargo et al., 2002), mais de 71.000 km2 do território nacional possui velocidades de vento ao nível de 50 m, que é a altura típica dos aerogeradores5, superior a 7 ms-1, o que propicia um potencial eólico da ordem de 272 TWh ano-1

de energia elétrica. Essa é uma cifra bastante signifi cativa considerando que o consumo nacional de energia elétrica é de 424 TWh ano-1. A maior parte desse potencial está na costa dos estados nordestinos, como conseqüência dos ventos alísios (Amarante et al., 2002). Além disso, o vento que sopra no Brasil possui característica excelente para a geração de energia, medida através de parâmetros estatísticos relacionados a sua estabilidade. A Figura 5a ilustra a distribuição das velocidades do vento a 50 m, para a região Nordeste. A Figura 5b mostra a distribuição do parâmetro de forma k da Distribuição de Weibull, que está relacionado à estabilidade do vento. Normalmente, valores de k acima de três são considerados excelentes para efeitos de geração de energia eólica.

Figura 5: a) Velocidades médias anual dos ventos a 50m; b) fatores de escala k, obtidos pelo Modelo Eta rodado no CPTEC/INPE, confi gurado para resolução de 10 km, com 38 camadas verticais e adaptado para entrada de dados topográfi cos e de cobertura vegetal em grade de 1 km e condições iniciais de reanalise do National Centers for Environmental Prediction (NCEP) atualizadas a cada 6 horas.Fonte: Projeto SONDA, desenvolvido no CPTEC/INPE (http://www.cptec.inpe.br/sonda/).

a) b)

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Estudos encomendados por concessionárias de energia dos estados do Nordeste e do sul brasileiro (Amarante et al., 2001), mostram que nos períodos em que os reservatórios normalmente atingem os níveis mais críticos, entre julho e outubro, são os que apresentam as maiores potenciais eólicos. Essa complementaridade é particularmente importante no mercado de energia, pois, propicia uma garantia de estabilização do preço e do fornecimento da energia pela diversifi cação da matriz de geração.

O governo, ciente desse fato, lançou em dezembro de 2006 a primeira fase do programa conhecido como PROINFA, de incentivo as energias de origem eólica, de biomassa e de pequenas centrais hidroelétricas. Nessa primeira fase, 1400 MW em projetos da iniciativa privada de geração eólica já foram previamente selecionados pela ELETROBRÁS para implantação, com garantia de compra da energia gerada por 20 anos apreços competitivos de mercado. Embora o programa já tenha incrementado a capacidade de geração eólica nacional em cerca de dez vezes (de 29MW para 208 MW), o alvo de 1400 MW está encontrando alguns obstáculos comerciais para ser atingido no prazo esperado.

Energia Solar

A despeito do enorme potencial energético solar do Brasil, com níveis de insolação entre 4 a 7 kWh/m2/dia contra 2,5 a 3,7 kWh m2 dia-1 na Alemanha, um dos países que mais tem investido em projetos e programas governamentais de inserção da energia solar na sua matriz de energia. A Figura 6 mostra as medias anuais por estação do ano da radiação solar global incidente sobre o território brasileiro obtidas do Atlas de Energia Solar do Brasil, realizado pelo INPE em 2007, com base no Modelo de Transferência Radiativa BRASIL-SR, alimentado com 10 anos de dados de satélite fornecidos pela Divisão de Satélites Ambientais (DSA) do CPTEC.

O potencial solar nacional é enorme. Para se ter uma idéia, a energia solar que poderia ser gerada por uma área equivalente a área inundada do reservatório da Usina de Balbina, com 2360 km2, localizada no estado do Amazonas, seria sufi ciente para suprir toda a demanda anual de energia elétrica nacional com enorme excedente. A Figura 7 ilustra uma projeção de produção de energia fotovoltaica6 pelas áreas equivalentes de inundação dos principais reservatórios de produção de hidroeletricidade nacionais.

Figura 7: Produção equivalente de energia solar fotovoltaica pelas áreas inundadas dos principais reservatórios de produção de hidroeletricidade.

Figura 6: Radiação solar global incidente na superfície com base em 10 anos de dados de satélites da série GOES. Fonte: Pereira et al. (2007).

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A energia fotovoltaica, ainda é pouco competitiva comercialmente, já que seu custo fi nal ao consumidor é cerca de 10 vezes superior ao da energia convencional hidroelétrica. Mas em regiões não supridas pela rede nacional de distribuição elétrica (Figura 8), gerenciada pelo Operador Nacional do Sistema (ONS), que inclui a maior parte da região norte do país, essa opção torna-se economicamente viável, seja como fonte primária de energia em sistemas isolados (pequenas comunidades, escolas, hospitais e residências), seja com forma de geração elétrica híbrida em conjunto com geradores diesel, com conseqüente economia de combustível e redução nas emissões de gases do efeito-estufa.

No que concerne as ações governamentais de incentivo a expansão da geração elétrica de origem

solar, ainda não existe atualmente um endereçamento direto. Contudo, o programa do governo conhecido como “Luz Para Todos” e gerenciado pela ELETROBRÁS deverá permitir, de forma indireta, essa expansão. Segundo o último censo, 5,5% da população brasileira ainda não tem acesso à eletricidade, a maior parte na região rural e menos desenvolvidas economicamente. Ademais, cerca de 17% das famílias brasileiras com renda abaixo de um salário mínimo não estão servidas pela rede nacional de distribuição de eletricidade. O papel do Programa “Luz Para Todos” é viabilizar o acesso à energia elétrica a toda a população brasileira. Exatamente nessas regiões mais remotas e distantes da rede nacional de distribuição elétrica é que a energia de origem solar, de forma isolada ou híbrida, torna-se economicamente viável.

Figura 8: Sistema nacional interligado de distribuição de energia elétrica.Fonte: Agência Nacional de Energia Elétrica, MME (2004). http://mme.gov.br

Já a energia solar térmica7, geralmente empregada para aquecimento de residências e outras edifi cações, é uma realidade econômica em crescimento modesto no país. No Brasil, o aquecimento da água nas residências, hotéis, hospitais, piscinas e outras instalações onde água aquecida é necessária, é realizado por gás natural

ou, pior ainda, por aquecedores elétricos. Ambos, de forma direta ou indireta, são potenciais contribuintes para a emissão de CO2. Os chuveiros elétricos, por exemplo, embora possuam um custo unitário muito baixo e acessível a toda população nacional de baixa renda, podem representar a metade dos gastos na

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conta de eletricidade dessas famílias. No entanto, um sistema compacto residencial de aquecimento de água, embora possua um custo inicial elevado, pode ser amortizado rapidamente pela economia mensal de eletricidade que propicia. Mas ainda existe grande resistência cultural para a adoção em massa desses sistemas pela população, seja por desconhecimento, seja por desconfi ança.

A Figura 9, obtida a partir dos dados de irradiação do Atlas Brasileiro de Energia Solar, dados de temperatura do ar e dados sócio-econômicos (Pereira et al., 2007; http://www.ibge.gov.br/home/), permite delimitar as regiões brasileiras onde a combinação dessas variáveis propiciam o mais rápido retorno do investimento inicial na instalação de um sistema compacto de aquecimento de água solar para uma família brasileira de quatro pessoas. Nota-se que uma enorme porção do território nacional, particularmente nas regiões Sudeste e Sul, onde se concentra a parcela de maior poder aquisitivo e as maiores densidades populacionais, o retorno do investimento é da ordem de três anos. Isso representa um enorme mercado para essa tecnologia limpa, ainda pouco explorado. O ganho em termos de redução das emissões do CO2 pela substituição completa dos chuveiros elétricos nessas regiões ainda não foi calculado, mas deve ser signifi cativo.

Figura 9: Tempo de retorno do investimento (PB – payback time) de um sistema coletor termo-solar compacto em anos.Fonte: SWERA (2007).

Biodiesel

O Brasil é um dos países no mundo que mais se destaca no uso de biocombustíveis. O ponto inicial foi em 1970 quando se implantou o Programa Nacional do Álcool (PROALCOOL). Este Programa surgiu em meio às crises do petróleo daquela década, e teve como objetivos garantir o suprimento de combustíveis para o país, substituir a gasolina por um combustível renovável e encorajar o desenvolvimento tecnológico da indústria de cana-de-açúcar e do álcool. Neste trabalho, não será abordado o uso do álcool combustível já que existe um grande número de publicações sobre esse tema, seja nos seus aspectos tecnológicos como nos seus impactos ambientais (Vasconsellos e Vidal, 1998; Goldemberg e Villanueva, 2003). O enfoque será dado ao biodiesel, já que se trata de um assunto ainda relativamente novo no contexto de sua inserção na matriz energética do pais.

O biodiesel é um combustível que recebeu essa denominação genérica devido a sua produção ser derivada de fontes biológicas renováveis tais como óleos vegetais (dendê, babaçu, soja, palma, mamona, entre outros) e gordura animal. É biodegradável e não tóxico, tem perfi l de baixa emissão de poluentes, tornando-o ambientalmente benéfi co (Ma e Hanna, 1999). As pesquisas com o biodiesel no Brasil tiveram seu início no ano de 1980 com os trabalhos do Professor Expedito Parente, da Universidade Federal do Ceará, que é autor da primeira patente mundial de biodiesel e de querosene vegetal de aviação.

Em termos de Brasil, o biodiesel pode se tornar um importante produto para exportação e para a independência energética nacional, associada à geração de emprego e renda nas regiões mais carentes do País (Lima, 2004). Em julho de 2003 o governo federal instituiu um Grupo de Trabalho Interministerial encarregado de realizar um estudo sobre a viabilidade do uso de biodiesel como fonte energética alternativa. Este grupo gerou um relatório que serviu como base para o governo estabelecer o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB) como ação estratégica e prioritária para o Brasil. O Programa tem como objetivo a implementação, de forma sustentável,

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tanto técnica, como economicamente, a produção e uso do biodiesel, com enfoque na inclusão social e no desenvolvimento regional, via geração de emprego e renda. Com o programa estabelecido foi promulgada uma lei em janeiro de 2005, que até 2008, obriga a adição percentual mínima de 2% de biodiesel ao óleo diesel comercializado ao consumidor; este percentual será aumentado para 5% até 2013.

Para atender os percentuais de mistura do biodiesel ao óleo diesel o PNPB estima que será necessário uma ampliação na área destinada ao plantio de oleaginosas. Para a mistura de 2% de biodiesel ao diesel de petróleo serão necessários cerca de 1,5 milhão de hectares, o que equivale a 1% dos 150 milhões de hectares plantados e disponíveis para agricultura no Brasil. Este número não inclui as regiões ocupadas por pastagens e fl orestas.

Alguns fatos aconteceram para revitalizar o biodiesel no Brasil, entre eles, a busca do governo em reduzir a importação do óleo diesel, com os preços em elevação no mercado internacional. Uma atitude do governo foi a criação do Programa Brasileiro de Desenvolvimento Tecnológico do Biodiesel (PROBIODIESEL) em outubro de 2002, por meio do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), que tem como principais objetivos desenvolver tecnologias de produção e estabelecer uma Rede Brasileira de Biodiesel que congregue e harmonize o desenvolvimento desse combustível. Um outro Programa, lançado por meio do Ministério de Minas e Energia, é o Programa Combustível Verde – Biodiesel, que teve seu início em julho de 2003 e tem como objetivo diversifi car a bolsa de combustíveis, diminuir a importação de óleo diesel e ainda criar emprego e renda no campo.

Um item preocupante para a indústria automobilística no Brasil é que a especifi cação para o biodiesel não tem características bem determinadas. Esse fato é alegado devido o Brasil possuir uma grande diversidade em oleaginosas podendo apresentar variações elevadas em suas características físicas e químicas.

O Ministério da Agricultura estabeleceu a agroenergia como prioridade, e assim elaborou um Plano Nacional de Agroenergia, com base na perspectiva da matriz energética mundial, que tem como objetivo organizar uma proposta de pesquisa, desenvolvimento, inovação e transferência de tecnologia com vistas a conferir sustentabilidade. Dentro desse plano o biodiesel é uma das principais cadeias produtivas que contemplará os estudos sócio-econômicos, capacitação de corpo técnico-científi co no âmbito de mecanismos de desenvolvimento limpo, incorporação na cultura dos programas de desenvolvimento científi co e tecnológico, elaboração dos balanços energéticos dos ciclos de vida das cadeias produtivas do agronegócio brasileiro e efetuar o zoneamento agroecológico de espécies vegetais importantes para agricultura de energia.

O biodiesel pode ser obtido por processos alternativos tais como o craqueamento térmico (pirólise) e transesterifi cação, que pode ser etílica, mediante o uso do álcool comum (etanol) ou metílica, com o emprego do metanol. A opção que parece ser estrategicamente mais vantajosa para o Brasil é o processo de transesterifi cação usando o etanol, o qual é produzido em larga escala a baixos custos O metanol, a opção alternativa, além de ser altamente tóxico, necessita ser importado ou produzido a partir de gás natural. A opção pela rota etílica de transesterifi cação pode ser considerada a mais benéfi ca para o meio ambiente, pois a emissão de dióxido de carbono decorrente da combustão do biodiesel pode ser reabsorvida pela fotossíntese, durante o crescimento das próximas safras da matéria-prima das quais se produz o óleo e o álcool. Na rota metílica, apenas parte das emissões de CO2 produzidos pela combustão do biodiesel é reabsorvida (PNA, 2006).

A atual produção nacional de biodiesel ainda é incipiente, resultando em uma produção em torno de 176 milhões de litros anuais. Esse nível de produção estimado constitui um grande desafi o para que sejam cumpridas as metas estabelecidas pelo PNPB, que necessita de, aproximadamente, 750 milhões de litros em sua fase inicial.

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O biodiesel deverá ser também um importante instrumento de inclusão social no Brasil, pois promoverá geração de emprego e renda no campo, além de permitir o suprimento de energia elétrica para comunidades isoladas, mediante o uso de geradores estacionários com ou sem o emprego das energias solar ou eólica de forma híbrida. Uma outra potencialidade do biodiesel é a redução das importações de petróleo e de óleo diesel, refl etindo-se na diversifi cação da matriz energética brasileira, na redução do dispêndio de divisas, na auto-sufi ciência, na questão geopolítica e também no adensamento de cadeias do agronegócio, permitindo à agricultura familiar atuar como produtora de matérias-primas, de óleos vegetais e de biodiesel.

O biodiesel está sendo considerado um combustível alternativo limpo que poderá reduzir as emissões de gases prejudiciais à atmosfera. Mas para se fazer uma avaliação completa e precisa dos benefícios ambientais é necessário analisar todo o ciclo de vida do biodiesel, que envolve a produção de sementes, fertilizantes, agrotóxicos, preparo do solo, plantio, processo produtivo, colheita, armazenamento, transporte e o seu consumo. Quanto aos impactos causados à atmosfera, deve-se avaliar a quantidade de gases emitidos em todas as fases desse ciclo e deduzi-la do volume capturado na fotossíntese da biomassa que é servida como matéria-prima.

Hidrogênio

O hidrogênio é o combustível renovável por excelência, já que sua combustão gera somente água. É conhecido pela sua alta densidade energética, 120 MJ kg-1 contra 46.9 MJ kg-1 da gasolina e 26,8 MJ kg-1 do etanol. Não obstante seu custo de produção, armazenamento e distribuição sejam ainda elevados, entre US$ 0,8 e US$ 3,4 por quilograma (http://www.solartoday.org/2004/may_june04/h2_afford_it.htm), esses valores podem ser competitivos com o preço da gasolina em termos energéticos, (Miller e Duffey, 2005). Hoje, a maior parte do hidrogênio é produzido a partir de combustíveis fósseis (96%), principalmente a partir da reforma do gás natural e

sua produção vem aumentando mundialmente em cerca de 10% ao ano. A crescente demanda e preços, alem da preocupação mundial com mecanismos de desenvolvimento limpo empregando fontes alternativas de energia, abrem novas perspectivas e cenários para esse combustível no futuro, principalmente em associação com as fontes de recursos renováveis solar e eólica.

Devido ao caráter intrinsecamente intermitente das fontes de energia solar e eólica, onde não se pode controlar a oferta primária, é importante buscar um mecanismo para seu armazenamento de forma a propiciar um balanço entre a oferta de fonte e a demanda. O hidrogênio tem sido apontado como uma das possíveis soluções para isso, por ser um vetor energético de amplo espectro de utilização. Uma vez armazenado, este hidrogênio viabiliza além da ampliação da sua oferta à indústria petroquímica e de fertilizantes, a viabilização do seu uso automotivo, além da geração de eletricidade, principalmente empregando-se células a combustível8. Com uma grande capacidade hidráulica e sucro-alcooleira, o Brasil poderá produzir hidrogênio sufi ciente para utilizar em suas próprias células a combustível e exportar o excedente.

As células a combustível terão uma grande importância principalmente na área automobilística - tradicionalmente uma grande consumidora de combustíveis fósseis, e uma das responsáveis, como vimos, pela emissão de grandes quantidades de CO2. Alem disso, conjuntamente com as energias solar e eólica, poderá servir para reduzir investimentos onerosos em linhas de transmissão para atingir localidades remotas e evitar o emprego de geradores movidos a combustível fóssil nesses locais.

O Programa Brasileiro de Sistemas de Células a Combustível, lançado pelo MCT em 2002 (www.mct.gov.br/index.php/content/view/5118.html) irá demandar uma atuação conjunta e articulada de diversos setores. No Programa, constam os primeiros subsídios para questões referentes a normas sobre propriedade intelectual, ética e de segurança dos experimentos a serem realizados nesta área.

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Efi ciência Energética

Uma das preocupações mundiais na direção de minimizar os impactos do desenvolvimento econômico de uma nação sobre o meio ambiente se refere a otimização dos processo energéticos ligados seu desenvolvimento. Essa efi ciência já tem sido um marco na indústria automobilística nacional, por exemplo, com o desenvolvimento de motores mais efi cientes e multi-combustíveis (fl ex-power). Também na indústria do álcool, os índices de efi ciência estão sendo buscados, agora com o reaproveitamento do bagaço da cana para aumentar a produção (Ereno e Cesar, 2007) e com o uso desse resíduo de bagaço no processo térmico de obtenção do álcool a partir do mosto (sumo de qualquer fruta que contenha açucar).

Na área de produção e consumo de energia, algumas aplicações imediatas dos recursos de energia solar abundantes no Brasil poderão levar a resultados importantes na redução do consumo de energia elétrica. Um desses exemplos já foi mencionado anteriormente, é através do emprego do aquecimento da água pela radiação solar. Embora o custo de um sistema de aquecimento solar seja da ordem de trinta vezes o custo de um chuveiro elétrico – amplamente usado em todo o país pelo seu baixo custo e alta confi abilidade – o custo pago pela empresa distribuidora de energia para atender a demanda de energia no pico causado pelo uso dos chuveiros elétricos no fi nal da tarde é repassado ao consumidor. Sob o ponto de vista ambiental, a economia na energia gerada terá, certamente um paralelo na redução das emissões dos gases do efeito estufa.

A iluminação pública é outra área que pode propiciar enorme oportunidade de redução no consumo energia elétrica, em decorrência disso, redução nas emissões desses gases.

Os limites para o acionamento e desligamento da iluminação pública são estabelecidos por normas da ABTN (Associação Brasileira de Normas Técnicas - NBR – 5123, 1998) com base nos níveis de iluminância dos crepúsculos matutinos (80 Lux) e vespertino (20 Lux). Tais limites foram defi nidos em função dos limites de sensibilidade do olho humano. No entanto, esses limites tem sido questionados e, muitas vezes, não obedecidos. Alem disso, devem servir apenas como valores de referência, já que os índices de iluminância mudam também por conta da época do ano e de variáveis ambientais como nebulosidade, topografi a e até mesmo ocultações em áreas de alta densidade de edifi cações. Aparte do problema da segurança pública e do conforto ambiental, em grandes metrópoles, apenas alguns minutos a mais no tempo de acionamento da iluminação pública podem refl etir em um enorme desperdício de energia, ou em termos econômicos, milhões de reais a mais nas contas das prefeituras dessas metrópoles. Por exemplo, um estudo realizado pelo autor desse artigo para a área de concessão de uma grande empresa de distribuição elétrica de São Paulo apontam valores da ordem de R$ 6.000.000,00 de perdas fi nanceiras anuais, para um desvio de apenas 30 minutos diários a mais no período de acionamento/desligamento do sistema de iluminação pública, caso tais variáveis ambientais e climáticas não sejam levadas em consideração. Certamente, desvios dessa ordem de magnitude podem também ser traduzidas em termos de emissões equivalente de CO2 para a atmosfera, nos casos de sistemas de geração termoelétrica.

A efi ciência energética é, talvez, o único caminho a ser buscado como solução remediadora de curto prazo para redução das emissões dos gases do efeito estufa, já que não há uma outra forma conhecida de se prover o desenvolvimento econômico de uma nação sem um aumento equivalente na sua demanda por energia.

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4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Amarante, O. C., Brower, M.; Zack, J. ; Sá, A. Atlas do Potencial Eólico Brasileiro. CEPEL/ ELETROBRÁS, MME - Brasília, 2002.

EAA Engenharia Automotiva e Aeroespacial, Uso do biodiesel avaliado em mesa-redonda. Engenharia Automotiva e Aeroespacial, ano 6, n0 28, SAE Brasil, 2006.

Ereno, D.; César, E. Álcool de Celulose. Revista FAPESP, 133, p9. 29-31, março 2007.

Goldemberg, J.; Villanueva, L.D. Energia, Meio Ambiente & Desenvolvimento. Editora Universidade de São Paulo, 2a. Edição, 2003, 226 p.

International Energy Annual 2004. Disponível em < http://www.eia.doe.gov/iea/>. Acessado em mar. 2007.

Lima, P.C.R. Biodiesel e a Inclusão Social, Consultoria Legislativa. Relatório, 2004. Disponível em <www.camara.gov.br>. Acessado em 01 jan. 2007.

Ma, F.; Hanna, M. A. Biodiesel production: a review. Bioresouce Technology, 70: 1-15, 1999.

Miller, A.I.; Duffey, R.B. Sustainable and economic hydrogen cogeneration from nuclear energy in competitive power markets, Energy, 30(14): 2690-2702, 2005.

NBR 5123 Relé Fotoelétrico e Tomada para Iluminação – especifi cação de Método de ensaio. ABNT, abril 1998.

NOAA, Earth System Reasearch Laboratory. Disponível em: < http://www.esrl.noaa.gov/gmd/ccgg/trends/>. Acessado em 26 mar. 2007.

Pereira, E.B.; Martins, F. R. ; Abreu, S. L.; Ruther, R. Atlas Brasileiro de Energia Solar. ISBN 978-85-17-00030-0, INPE, 2007, 60 p.

PNA-2006 Ministério da Agricultura, Plano Nacional de Agroenergia. Disponível em: <www.agricultura.gov.br>. Acesso em 05 jan. 2007.

SWERA Relatório brasileiro do Projeto SWERA/PNUMA/GEF. São José dos Campos, INPE/CPTEC, 2007. (no prelo)

Vasconsellos, G. F.; Bautista Vidal, J.W. O Poder dos Trópicos. Editora Casa Amarela, 1998. 303p.

AGRADECIMENTOS

O autor agradece a toda sua equipe de trabalho no CPTEC/INPE, em particular aos Drs. Fernando R. Martins, Márcio Augusto Ernesto de Moraes e a Sra. Silvia V. Pereira por importantes contribuições a redação, diagramação e edição desse trabalho.

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NOTAS DE RODAPÉ

Densidade energética é a quantidade de energia armazenada em um sistema por unidade de massa ou de volume. Fonte: International Energy Annual, 2004. Composição de todas as fontes de energia nacionais. Organização internacional dos países desenvolvidos e industrializados com os príncípios da democracia representativa e da economia de livre mercado. Também conhecidos por turbinas eólicas, compostos por pás aerodinâmicas acopladas através de um eixo a um gerador elétrico.

1.

2.

3.

4.

5.

Energia gerada pelo efeito fotoelétrico pela incidência dos raios solares em painéis recobertos por material fotoelétrico, normalmente o silício monocristalino.

Energia gerada diretamente na forma de calor por painéis, normalmente empregada para aquecimento de água.

Célula a combustível (Fuel Cell) é uma tecnologia que utiliza a combinação química entre oxigênio e hidrogênio para gerar energia elétrica, energia térmica e água.

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IMPACTOS ANTRÓPICOS NO CLIMA DA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO

Augusto José Pereira Filho, Paulo Marques dos Santos, Ricardo de Camargo,Mário Festa, Frederico Luiz Funari, Sérgio Torre Salum, Carlos Teixeira de Oliveira,

Edvaldo Mendes dos Santos, Pety Runha Lourenço, Edvaldo Gomes da Silva,Willians Garcia e Maria Aparecida Fialho

Universidade de São Paulo/Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (USP/IAG)Departamento de Ciências Atmosféricas, Rua do Matão, 1226, São Paulo, SP, 05508-090

E-mails: [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected].

usp.br, [email protected], [email protected], [email protected], [email protected]

RESUMO

Este trabalho analisa a evolução do clima na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) por meio de séries temporais de temperatura do ar, umidade relativa, insolação, precipitação, pressão atmosférica e vento medidos pela Estação Meteorológico (EM) do IAG/USP, no período de 1936 a 2005. Os resultados desta pesquisa foram publicados nos anais do XIV CBMET e revelam que neste período de 70 anos houve aumento da temperatura do ar em 2,1oC, aumento da precipitação em 395 mm, aumento do vento zonal (u) em 0,5 m s-1, decréscimo do vento meridional (v) em 1,0 m s-1 e decréscimo da umidade relativa em 7%. Sugere-se que as mudanças climáticas sejam de origem antrópica regional e global. A primeira seria causada pela diminuição de áreas vegetadas, expansão horizontal e vertical da área urbana, aumento da poluição do ar e, a segunda, menos signifi cativa, devida aos impactos globais dos gases do efeito estufa. A maioria dos eventos de enchente na RMSP está relacionada com a ilha de calor e circulação de brisa marítima no período chuvoso. Esses eventos têm grande impacto sobre a população de São Paulo, de mais de 18 milhões de habitantes.Palavras-chave: Clima urbano, climatologia urbana, estação meteorológica do IAG-USP.

ABSTRACT

This work presents a climate analysis of the Metropolitan Area of São Paulo (RMSP) through time series of air temperature, relative humidity, sunshine hours, rainfall, air pressure and winds measured by the weather stations at IAG/USP between 1936 and 2005. These results were published in the proceedings of the XIV Brazilian Meteorological Conference and reveal that in this period of 70 years the air temperature increased by 2.1o C, the precipitation increased by 395 mm and the zonal wind (u) increased by 0.5 m s-1, the meridional wind (v) decreased by 1,0 m s-1 and the relative humidity decreased by and 7% in the past 70 years. It is suggested that theses climate changes are due to regional and global antropic sources. The fi rst is related to chances in the microclimate due to a reduction in vegetation cover, an increase in urbanization and air pollution, and, the other, less signifi cant, is related to global greenhouse effects. Most fl ood events in RMSP are related to the urban heat island and the sea breeze during the rainy season. These events have a great impact over the local population of more than 18 million people. Key-words: Urban climate, urban climatology, weather station of IAG-USP.

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1. INTRODUÇÃO

O Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo (USP) faz medições de variáveis meteorológicas no Parque Estadual e Fontes do Ipiranga (PEFI) há quase 75 anos. Até 1930, a sede do Serviço Meteorológico do Estado de São Paulo era o Observatório Astronômico e Meteorológico da Capital, situado na Avenida Paulista, onde também funcionava sua Estação Meteorológica Central (Figura 1). Com o crescimento da cidade em volta da sede, procurou-se proceder a transferência da mesma para o Parque do Estado, Bairro da Água Funda na Capital Paulista, inclusive da Estação Central de modo que foi necessária a instalação de uma outra para substituí-la.

Essa nova Estação central foi instalada no local onde já havia iniciada a construção do novo Observatório, no centro do citado parque que por ser de propriedade do Estado, era uma garantia de que as condições locais poderiam ser preservadas por tempo indeterminado, bastando apenas que se conservasse esse patrimônio para a fi nalidade com que fosse destinado. A nova Estação Central foi inaugurada no dia 22 de novembro de 1932, com início das operações regulares no dia 10 de janeiro de 1933.

A conservação da reserva fl orestal do hoje PEFI (Figura 1) permitiu que no decorrer dos anos as condições físicas ambientais permanecessem praticamente constantes, propiciando uma boa consistência dos dados da longa série climatológica temporal ali medida a partir de 1933, de modo que quaisquer variações observadas serão devidas certamente às variações no clima da RMSP. A manutenção das atividades na área de Meteorologia no IAG/USP ao longo dos anos permitiu não somente a composição da série temporal climatológica como também para que mais tarde quando o IAG foi incorporado na USP em 1946 e se tornou Unidade de Ensino da mesma em 1972, fosse possível à criação do Departamento de Meteorologia, hoje Departamento de Ciências Atmosféricas.

Essa longa série temporal climatológica vem

sendo utilizada em trabalhos de pesquisa, tanto do lado aplicado no sentido de prestação de serviço à comunidade, quanto do lado acadêmico na elaboração de dissertações e teses da USP e de outras Universidades.

Este artigo apresenta as principais características da evolução do clima num ambiente urbano em expansão com degradação ambiental devido ao crescimento populacional e atividades humanas por meio desta série climatológica temporal no período de 1936 a 2005.

2. METODOLOGIA

A EM do IAG/USP, registrada na Organização Meteorológica Mundial (OMM) sob número 83004, tem posição geográfi ca de 23º39’S, 46º37’W e altitude de 799,22 m. A posicão geográfi ca da EM esta mostrada na Figura 1 pelo ponto vermelho com a sigla PEFI (Parque Estadual e Fontes do Ipiranga). Praticamente todas as variáveis meteorológicas são medidas à superfície com instrumentos clássicos convencionais. As medições e observações meteorológicas são, desde o início das mesmas, realizadas diariamente por observadores meteorológicos, das 0700h as 2400h, a cada hora. No período da madrugada os dados são medidos apenas pelos instrumentos registradores de cujos diagramas são extraídos os dados horários da madrugada para completar o período de 24 horas. A metodologia das medições e observações vem sendo mantida, com pequenas modifi cações que se fi zeram necessárias, de modo que a confi abilidade dos dados foi conservada dentro do possível. Adicionalmente, são registradas as observações de fenômenos meteorológicos (e.g., trovoada e granizo) observações. Os diagramas dos sensores de temperatura, pressão, umidade, vento, precipitação, e radiação solar registros originais das variáveis são arquivados e compreende cerca de 250.000 diagramas dos instrumentos registradores. As médias diárias de temperatura do ar, umidade relativa, intensidade e direção do vento, pressão

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atmosférica, insolação e precipitação diária da EM do IAG/USP foram utilizados nas análises climáticas para a RMSP, no período de 1936 a 2005, aqui apresentadas.

Obtiveram-se destas médias diárias e totais diários de precipitação as médias anuais de cada variável e totais anuais de precipitação, bem com as respectivas séries de anomalias defi nidas como a diferença entre a média (total no caso da precipitação) anual e a média de 70 anos de cada variável. Elaboraram-se análises da evolução temporal de cada variável por meio de gráfi cos 3D com o mês e ano no plano horizontal e a variável no eixo vertical. As curvas de nível destas foram obtidas a partir da interpolação bi-linear cúbica. Realizaram-se também análises espectrais a partir das séries temporais de dados de médias diárias e anuais das variáveis acima cujos resultados são apenas citados neste trabalho. Realizou-se também uma análise de agrupamento das variáveis por meio do método de distâncias Euclidianas simples (Johnson e Wichen, 1988), com o objetivo de avaliar o agrupamento entre as variáveis meteorológicas diariamente e anualmente.

Estimativas de chuva acumulada foram obtidas na área de abrangência do radar meteorológico de São Paulo (Figura 2). A precipitação acumulada é obtida da integração temporal das taxas de precipitação. A chuva acumulada total foi estimada apenas para os eventos de enchente associados com brisa marítima e ilha de calor entre 2002 e 2004 (Pereira Filho et al., 2004) conforme mostrado na Tabela 1.

Figura 1: Imagem MODIS/ACQUA da RMSP de 20 de julho de 2003. Pontos vermelhos mostram as localizações da EM do IAG/USP na Av. Paulista até 1932 (EC) e, depois, no Parque do Estado e Fontes do Ipiranga (PEFI). Cores marrons, verde escuro e claro indicam áreas urbanas, vegetadas e represas, respectivamente. Fonte: (http://visibleearth.nasa.gov).

Figura 2: Imagem IR do satélite GOES-12 às 1540 UTC de 29 de março de 2007. Escala de cores indica temperatura (oC) estimada. Circunferência mostra área de cobertura do radar meteorológico de São Paulo num raio de 240 km. Fonte: Imagem IR adaptada do Laboratório Master, IAG-USP (http://www.master.iag.usp.br).

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Data FSP VF PA RVF PCR DT TAI P max Norte Sul Centro Leste Oeste RADAR BM T

maxTd

max

20020324 SIM 21 SIM SIM SIM SIM FF 24.3 20.7

20020708 SIM SIM FF 18.1 10.020020920 SIM 23 SIM 198 39.5 SIM SIM SIM SIM SIM FF 25.8 18.220021029 SIM 8 80 33.5 SIM SIM SIM 32.4 21.220021128 SIM 51 SIM 154 SIM 81.0 SIM SIM SIM SIM 32.8 22.920021201 SIM 17 SIM SIM SIM SIM 33.5 20.420021217 SIM 2 41 93 SIM SIM SIM SIM SIM 29.2 21.120030102 SIM 23 SIM SIM SIM 32.3 21.620030103 SIM 37 SIM 15 SIM 113.0 SIM SIM SIM 28.6 21.120030116 SIM 30 SIM 66 SIM SIM SIM SIM 28.7 19.120030121 SIM 9 SIM SIM SIM 29.7 22.720030127 SIM 8 SIM SIM SIM FF 24.4 19.720030128 SIM 69 SIM SIM SIM FF 23.5 20.420030217 SIM SIM SIM FF 25.2 20.020030303 SIM 29 SIM SIM SIM 33.7 23.220030305 SIM 24 60 SIM 73.0 SIM SIM SIM 29.7 21.820030307 SIM 36 SIM 129 SIM SIM SIM 30.2 21.420031009 SIM 19 SIM 162 SIM SIM SIM 30.4 18.9

20031117 SIM SIM 89 SIM JJ 28.1 19.420031223 SIM 11 128 SIM SIM SI M FF 27.5 19.820040112 SIM SIM 98 SIM SIM SIM SIM 27.9 19.520040123 SIM 3 20 SIM 147 SIM SIM SIM SIM 27.8 20.120040130 SIM 33 SIM 151 SIM 62.4 SIM SIM SIM SIM 31.3 20.120040131 SIM 19 32.7 SIM SIM SIM 30.8 19.120040202 SIM 47 SIM 85 65.0 SIM SIM SIM SIM 32.3 22.720040204 SIM 32 SIM 73.3 SIM SIM SIM 32.6 21.020040219 SIM 14 SIM 106 SIM 43.7 SIM SIM SIM 32.6 18.320040222 SIM 26 SIM SIM FF 23.4 20.220040404 SIM 15 SIM SIM SIM SIM JJ 25.8 18.420040406 SIM 29 142 SIM 79.5 SIM SIM SIM SIM 26.3 20.620040421 SIM 1 13 SIM SIM SIM SIM SIM 25.2 19.8

A legenda, da esquerda para a direta, indica a data do evento (ano, mês, dia), disponibilidade de registro jornalístico da FSP, número de vítimas fatais (VF), pontos de alagamento (PA), ocorrência de rajadas de vento forte (RFV), pico de congestionamento registrado (PCR) em km, ocorrência de deslizamento de terra (DT), de descargas elétricas atmosféricas (DEA), de transporte aéreo interrompido (TAI), precipitação máxima (P max) em mm, regiões da PMSP atingidas (Norte, Sul, Centro, Leste e Oeste), disponibilidade de dados de radar (RADAR), ocorrência de brisa marítima (BM), temperatura do ar máxima (Tmax) e temperatura de ponto de orvalho máxima (Td max) em oC. Os símbolos JJ e FF se referem a eventos de jato de altos níveis e frente fria, respectivamente. Fonte: Pereira Filho et al. (2004).

Tabela 1: Eventos de enchentes na Cidade de São Paulo. Levantamento parcial realizado por meio de reportagens do Jornal Folha de São Paulo (FSP), dados do Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE) da Prefeitura de Município de São Paulo (PMSP), do radar meteorológico de São Paulo e da estação meteorológica do Departamento de Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo.

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3. RESULTADOS

A Figura 3 mostra a evolução temporal 3D das médias mensais de temperatura do ar, umidade relativa, insolação, pressão atmosférica mínima, precipitação e rosa dos ventos. Estas variáveis foram arbitrariamente selecionadas para sintetizar os resultados obtidos. Notam-se mudanças signifi cativas no ciclo anual das variáveis ao longo das últimas sete décadas com aumento da temperatura, precipitação, insolação e diminuição da umidade relativa do ar conforme indicado pela mudança nas escalas de cores de cada variável. Nota-se uma marcante mudança na pressão mínima diária ocorrida na década de setenta quando ocorreu uma mudança sazonal, com mínimas relativas no período de inverno e máximas relativas na primavera e verão. Nota-se uma queda na insolação diária média no mesmo período. A precipitação média diária mensal também aumentou signifi cativamente principalmente no período chuvoso. As magnitudes das mudanças de longo período são apresentadas adiante.

Estudos recentes (Pereira Filho et al., 2004; Xavier et al., 1994) mostram que as chuvas de verão são mais intensas na RMSP devido aos efeitos de ilha de calor e circulação de brisa marítima. A Figura 2 mostra uma imagem no canal infravermelho (IR) do dia 29 de março de 2007 onde se observa a ilha de calor da RMSP, que apresenta temperaturas acima de 30º C no início da tarde. As temperaturas nas bordas da RMSP são pelo menos 5º C menor em relação ao centro da ilha de calor urbano.

A Figura 4 mostra a composição da distribuição de chuva acumulada de 18 eventos de enchente relacionados com a ilha de calor e brisa marítima. Nota-se um núcleo de precipitação de até 650 mm sobre a RMSP com valores na periferia da RMSP da ordem de 300 mm. Nestes casos de enchente, a ilha de calor tende a produzir uma baixa térmica e convergência sobre a RMSP. Os resultados acima indicam que houve mudanças climáticas na RMSP com aumento da temperatura e precipitação e diminuição da umidade relativa (Figura 3). Sugere-se que essas mudanças sejam em parte devidas a fatores

locais como o aumento da área urbana horizontal e vertical. O primeiro tem efeito direto sobre o balanço energético superfi cial e, o segundo, sobre a rugosidade superfi cial e dinâmica da camada limite. Houve também aumento da poluição do ar e do material particulado que podem contribuir para mudanças na microfísica, eletricidade e termodinâmica de nuvens frias. Embora a EM esteja num ambiente rural preservado, as condições no entorno resultaram em mudanças locais signifi cativas. Estas mudanças têm um impacto negativo nas atividades sócio-econômicas da RMSP com dias mais quentes, secos e poluídos no outono e inverno e, recorrentes enchentes na primavera e verão. Resultados de Shein (2006) indicam um aumento da temperatura global de 0,5o C a partir da década de 70. Ele estima um aumento de até 0,5o C na região da RMSP, entre 1961 e 1990.

A Figura 5 apresenta a evolução temporal das anomalias de temperatura, umidade relativa, pressão atmosférica média, vento zonal e meridional, precipitação e insolação. A rápida expansão horizontal da Região Metropolitana de São Paulo até a década de 60 resultou num aumento da temperatura do ar, sem necessariamente um aumento concomitante da quantidade de vapor de água próxima à superfície ou, como se sugere, houve uma diminuição da quantidade de vapor de água em virtude da redução das áreas vegetadas. Desta forma, o aumento da temperatura do ar e manutenção ou diminuição da quantidade de vapor de água tem resultado num contínuo decréscimo da umidade relativa do ar mais signifi cativamente a partir da década de 60. Por outro lado, as anomalias de vento que eram de Sudoeste até a década de 70 mudaram para Nordeste. Sugere-se que essa mudança esteja relacionada com circulações térmicas induzidas pela ilha de calor. De qualquer forma, as anomalias de vento até a década de 70 traziam ar relativamente seco e frio e, depois da década de 70, ar relativamente quente e úmido. O aumento de temperatura do ar na RMSP no período de 1961 a 1991 medido pela EM do IAG/USP foi maior do que 1,0o C, acima da estimativa global em Shein (2006) de cerca de 0,5º C. Isto sugere que, somado ao aumento global da

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Figura 4: Composição da distribuição espacial de chuva acumulada estimada com o radar meteorológico de São Paulo, para 18 eventos de enchentes associados com brisa marítima e ilha de calor na RMSP, ocorridos no período de 2002 a 2004. Escala de cores indica total de chuva (mm). Estão indicados os contornos geográfi cos de São Paulo, sul de Minas Gerais e Rio de Janeiro. Circunferência indica o raio de abrangência do radar meteorológico de 240 km. Latitudes e longitudes estão também indicadas.Fonte: Pereira Filho at al. (2004).

temperatura, houve um aumento local da temperatura (mais signifi cativo), que contribuíram para as mudanças climáticas observadas na RMSP. As análises espectrais realizadas (não mostradas) com as séries de dados de temperatura do ar, pressão do ar, ventos zonal e meridional, umidade relativa, precipitação, e insolação da EM IAG/USP evidenciam, além dos ciclos insolação anual e sazonal intensos, ciclos de 2 a 11 anos com ciclos menos signifi cativos de mais longo prazo, maiores do que 30 anos, exceto para a temperatura média do ar que apresentou apenas ciclos mais curtos de 2 à 7 anos, possivelmente associados ao fenômeno El Niño/Oscilação do Sul (ENOS). Ou seja, há fatores de mudanças associadas a sistemas transientes globais e outros associados com mudanças locais de origem antrópica.

d) e) f)

a) b) c)

Figura 3: Evolução mensal e anual da média diária, no período de 1936 a 2005, da: A) temperatura do ar (oC); B) umidade relativa do ar (%), C) insolação (hora); D) pressão mínima (mb) e E) precipitação (mm). Rosa dos ventos (F) com freqüências de intensidades. Escala de cores indica respectivos valores das médias das variáveis. Fonte: Santos et al. (2006).

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Figura 5: Evolução temporal das anomalias de temperatura do ar, umidade relativa, componentes zonal e meridional do vento, pressão, precipitação e insolação, defi nidas a partir das médias anuais do período de 1936 a 2005 estimadas com os dados da Estação Meteorológica do IAG USP.

A análise de agrupamento das variáveis médias anuais (Figura 6) indica que o vento é altamente correlacionado com a temperatura média. Estas duas variáveis se relacionam com a umidade relativa e, estas, com a insolação. Agrupam-se a precipitação

e pressão com as demais variáveis. Desta forma, os resultados sugerem que embora a volume de precipitação dependa da umidade e da temperatura, a pressão atmosférica determina o volume total convertido em precipitação.

1

2

1

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3

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Os resultados aqui apresentados sugerem que talvez as grandes cidades tropicais do planeta sofram mais por causa da mudança do balanço energético na CLP, devido ao aumento das temperaturas mínimas em particular, decorrente da urbanização e, menos, por causa das mudanças globais devidas ao aumento dos gases do efeito estufa. Num cenário de aumento do gradiente de temperatura entre o centro geométrico da área urbana e sua periferia tenderia a concentrar mais sistemas convectivos isolados sobre ela. Menos precipitação haveria sobre as bacias de mananciais, que no caso da RMSP estão exatamente nas bordas da região metropolitana. Ainda, enchentes, rajadas de vento e descargas elétricas seriam mais intensas, com o agravamento dos conhecidos impactos negativos sobre a população da RMSP.

Eventos intensos de precipitação, rajadas de vento, descargas elétricas e granizo sobre a RMSP no período de verão e os eventos de intensa poluição e baixas umidades no outono e inverno têm impacto signifi cativo na população (Pereira Filho et al., 2004). O Programa Sistema Integrado de Hidrometeorologia do Estado de São Paulo da FAPESP está implementando novas plataformas observacionais e computacionais, por exemplo, a implantação de uma rede de estações meteorológicas automáticas na RMSP para o monitoramento e a previsão hidrometeorológica de modo a mitigar os impactos das mudanças antrópicas naquela região (Pereira Filho et al., 2005).

Figura 6: Diagrama de árvore de distâncias Euclidianas simples entre pressão média do ar (mb), precipitação (mm) e insolação (h), Temperatura média do ar (0 C), vento zonal e meridional (m s-1) e umidade relativa (%) medidas pela EM do IAG/USP, no período de 1936 a 2005.

4. CONCLUSÕES

Análises espectrais das séries temporais de dados (não apresentadas) indicam a existência de ciclos de 2 a 11 anos e outros de 21 anos ou mais longos na pressão do ar, ventos, umidade relativa e insolação e precipitação. Por outro lado, a temperatura do ar possui ciclos mais signifi cativos entre 2 e 7 anos apenas. Estes resultados sugerem um signifi cativo impacto dos eventos de El Niño, La Niña e Oscilação do Sul na RMSP. Por exemplo, as fortes anomalias positivas de 1976 e 1983 estão associadas com episódios de El Niño (Xavier, 2001). Os resultados sugerem ainda que a intensidade do anticiclone subtropical do Atlântico Sul infl uencie o total anual de precipitação. O deslocamento deste para oeste (leste) deve reduzir (aumentar) as chuvas.

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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem aos revisores anônimos deste artigo, que o melhoram muito com as suas correções, sugestões e comentários. O primeiro autor agradece ao CNPq e à FAPESP (Processos No

300456/2005-0 e No 01/13952-2, respectivamente) pelo suporte no desenvolvimento da pesquisa da qual faz parte este artigo.

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MUDANÇAS CLIMÁTICAS E AGRICULTURA: UM ESTUDO DE CASOS PARA AS CULTURAS DO

MILHO E DO FEIJÃO EM MINAS GERAIS

José Luiz C. Silva Júnior, Luiz Cláudio Costa, Marcelo Cid de Amorim, Flávio Justino BarbosaUniversidade Federal de Viçosa - Av. P.H Rolfs s/n - Viçosa, MG, 36.571 – 000, Brasil

Tel: +55 (31) 3899-1903 /Fax: +55 (31) 3899-2735E-mails: [email protected], [email protected], [email protected], [email protected]

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo principal avaliar os impactos das mudanças climáticas nas culturas do milho e do feijão, a partir da simulação dos processos físico-biológicos utilizando os modelos CROPGRO Dry-bean e CERES-MAIZE. Os resultados obtidos mostram que, tendo como base as projeções dos cenários de mudanças climáticas do IPCC, existe uma redução da produtividade da cultura do milho de até 15% para o cenário A2 e 10% para o B2. Para a cultura do feijão, o modelo apresenta um aumento de produtividade superior a 57% para o cenário B2 e de 45% para o A2.Palavras-chave: Mudanças climáticas, modelos, impactos.

ABSTRACT

The aim of this work is to assess the impacts of climate changes for maize and bean for the State of Minas Gerais, using the CROPGRO Dry-bean and CERES-MAIZE models. These experiments allow investigating modifi cations of the physical and biological processes in the crop. The results show that the A2 and B2 projections of the IPCC lead to a reduction of the productivity of the culture of maize of up to 15% for A2 and 10% for B2. Turning to beans, the model predicted an increase of production of up to 57 % for the scenario B2 and 45% in the A2. Key words: Climate change, models, impacts.

1. INTRODUÇÃO

O último relatório do International Panel on Climate Change (IPCC) mostra que as mudanças climáticas decorrentes da atividade humana já estão ocorrendo em uma escala global e que as previsões para o Século XXI são preocupantes. Apesar da certeza dos graves efeitos das mudanças climáticas na agricultura, muitas incertezas ainda existem na quantifi cação dos mesmos. Diversos estudos mostram que culturas como feijão, soja, arroz e trigo, respondem

de forma positiva a um aumento da concentração de CO2 na atmosfera, contrabalançando assim os efeitos negativos do aumento de temperatura, que reduz o período vegetativo e aumenta a taxa de respiração de manutenção na maioria das culturas, causando assim um impacto negativo na produtividade (Long et al., 2005; Slingo, et al., 2005). Vários estudos realizados em ambientes controlados mostram um aumento de 23% a 43% na produtividade das culturas C3 em

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resposta ao aumento do CO2 (Trnka et al., 2004). Tal efeito é conhecido na literatura como efeito fertilização do CO2 (Dhakhwa et al., 1997). Por outro lado, outros estudos indicam que o benefi cio do aumento de CO2 pode ser bem menores, entre 8% e 15%, quando consideradas outras condições ambientais como, por exemplo, o estresse hídrico e a disponibilidade de fertilizante (Trnka et al., 2004, Long et al. 2005).

Na busca do entendimento e na quantifi cação da complexa interação entre clima e cultura, têm-se observado nos últimos anos, um crescente aumento na utilização de modelos de simulação na agricultura. Tais modelos têm-se mostrado extremamente efi cientes na análise das fl utuações espaço-temporal e de cenários futuros na produtividade agrícola de diferentes culturas em respostas as mudanças climáticas (Betts et al., 2004; Hansen e Indeje, 2004; Popova e Kercheva, 2004; Trnka et al., 2004, Costa e Barros, 2001).

No entanto, poucos estudos foram realizados no Brasil utilizando modelos de simulação de crescimento de culturas para analisar os impactos das mudanças climáticas na produtividade das culturas. Assad e Luchiari Jr. (1989) e Siqueira et al. (1994, 2000) avaliaram as possíveis alterações de produtividade para as culturas de soja e milho em função dos cenários das mudanças climáticas, através do aumento de CO2 e da temperatura para algumas regiões do Brasil. Pinto et al. (1989 e 2001) avaliaram o impacto das mudanças do clima na produção regional, onde foi considerado o efeito das elevações das temperaturas e das chuvas no zoneamento do café para os estados de Minas Gerais, São Paulo e Goiás. Considerando as relações lineares entre elementos climáticos, principalmente temperatura, e cultura, os resultados indicaram uma drástica redução nas áreas com aptidão agroclimática (Pinto et al., 2002). Todavia, espera-se que a utilização de modelos de crescimento de culturas, que consideram as interações lineares e não-lineares entre a cultura e os elementos climáticos, permita uma análise mais detalhada dos possíveis impactos das mudanças climáticas na produtividade das culturas.

As culturas do milho (C4) e do feijão (C3) apresentam respostas diferenciadas de crescimento a variações de elementos climáticos como radiação, concentração de O2 e CO2, temperatura e umidade, o que permite a avaliação e quantifi cação da resposta fotossintética ao efeito do aumento na absorção do CO2 e da temperatura na produtividade. A cultura C3 é menos efi ciente do que a C4 devido a perda do CO2 pela fotorespiração (Rosemberg et al., 1990; Taiz e Zeiger, 1991, citados por Streck, 2005).

As culturas do milho e do feijão têm uma grande importância econômica para o Brasil, e em particular para Minas Gerais, o maior produtor de feijão e o segundo maior produtor de milho do país. Além da importância econômica, existe também o caráter social dessas culturas, consideradas de extrema importância para a população menos favorecida, sendo assim fundamentais para a segurança alimentar, uma das maiores preocupações mundial devido o crescimento populacional e a necessidade de se aumentar a produção de alimentos para suprir a demanda (Parry et al., 2004; FAO, 2005). Diante disto, o objetivo desse trabalho é estimar os impactos dos cenários das mudanças climáticas na produtividade das culturas do milho e do feijão para os anos de 2020, 2050 e 2080, de acordo com os Cenários A2 e B2 (IPCC, 2001).

2. DADOS E METODOLOGIA

A área de estudo considerada foi o Estado de Minas Gerias (Figura 1), localizada no sudeste do Brasil, entre 14º 13’57’’S e 22º 55’ 47’’S e entre 39º 51’ 27’’W e 51º 02’56’’W, com uma área total de 588.383 km2. O estado de Minas Gerais encontra-se numa zona de transição climática, com infl uência de vários elementos climáticos, principalmente a distribuição irregular da precipitação na região, com período chuvoso no verão e seco no inverno (Grimm e Ferraz, 1998). Os dados de temperaturas diárias máximas e mínimas (em ºC), precipitação (em mm) e radiação solar (em MJ.m-2.dia-1), são provenientes da série temporal do Instituo Nacional de Meteorologia (INMET), para o período de 1975 a 2004. Os dados

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diários da radiação solar foram calculados usando horas de brilho solar, a partir da Equação de Modelo de Angstrom-Prescott (Vianello e Alves, 1991).

Devido a grande variabilidade na classifi cação dos tipos de solos e pela dimensão do Estado de Minas Gerias, foi utilizada neste estudo o solo tipo 3. A avaliação dos impactos das mudanças climáticas nas culturas do milho e do feijão foi realizada através dos cenários pessimista e otimista (A2 e B2, respectivamente) para os anos 2020, 2050 e 2080 a partir dos modelos CROPGRO Dry-bean e CERES-MAIZE (Jones e Kiniry, 1986). O cenário A2 descreve um mundo heterogêneo, com crescimento da população elevado, e crescimento econômico e mudança tecnológica mais lentos. O cenário B2 descreve um mundo baseado em soluções locais aos problemas globais, com crescimento da população moderado, existindo níveis intermediários para o desenvolvimento econômico e uma mudança tecnológica mais diversa. Estes modelos determinísticos e baseados em processos que simulam os processos físicos, químicos e biológicos da cultura em resposta a variações do ambiente, estão incluídos no Sistema de Suporte para Transferência de Agrotecnologia (DSSAT v.4.0). Esses modelos consideram em seus resultados os parâmetros agronômicos e os processos fi siológicos em função do clima, solo e as condições de manejo. Os processos do modelo são orientados a considerar o desenvolvimento da cultura com o balanço de

carbono, balanço de nitrogênio no solo e balanço de água (Boote et al., 1998; Jones e Kiniry, 1986). Os modelos foram previamente calibrados para as

diferentes regiões de Minas Gerais com dados climáticos e de produtividade para o período de 1975 a 2004. As simulações foram realizadas considerando a data de plantio para 01 de outubro.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos para a cultura do milho (Figuras 2 a, c, e) dentro do cenário B2 indicam no ano de 2020 um ganho de até 5% da produtividade nas regiões do Vale do Jequitinhonha, Vale do Mucuri, Triângulo Mineiro e a região Sul/Sudeste. Na região Central mineira destaca-se com uma redução variando de 5 a 10%, e nas outras regiões reduções de até 5%. Para os anos de 2050 e 2080 o aumento da redução

das regiões mais centrais do estado abrangendo a Campos dos Vertentes até a Zona da Mata e o restante do Estado com reduções de até 5%. Os resultados estão de acordo com os resultados encontrados por Siqueira et al. (2000), que indicaram reduções de até 10% na produtividade da cultura do milho para algumas regiões do Brasil.

Para a cultura do feijão (Figuras 2 b, d, f) os resultados mostram um aumento signifi cativo de produtividade, indicando um efeito benéfi co do aumento da concentração de CO2 na produtividade da cultura. Tais resultados são coerentes com a hipótese do efeito fertilizante do CO2 que parte do princípio que a concentração atual de CO2 na atmosfera é limitante a capacidade fotossintética máxima das plantas C3, devido aos níveis atuais serem insufi ciente para saturar a enzima Rubisco (Bowes, 1991; Taiz e Zeiger, 1991; Vu et al., 1997, citado por Streck (2005)). Os aumentos mais signifi cativos são obtidos na região do Vale do Jequitinhonha, descendo até a Zona da Mata Mineira. Na região do Triângulo Mineiro verifi ca-se um comportamento muito similar ou com pouca variação nas projeções dos anos 2020, 2050 e 2080. Poucas variações são obtidas na parte mais central do Estado.

Figura 1: Localização das estações e das mesoregiões estudadas.

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CULTURA DO MILHO CULTURA DO FEIJÃO

Figura 2: Estimativas da redução de produtividade no Estado de Minas Gerias para as culturas do milho e do feijão, para os cenários B2, para os anos: a, b) 2020; c, d) 2050; e, f)2080

(a) (b)

(c) (d)

(e) (f)

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Para o CenárioA2, os resultados indicam uma acentuada redução da produtividade da cultura do milho nos anos de 2020, 2050 e 2080 em todas as regiões estudas (Figuras 3 a, c, e). Esta redução se intensifi ca da parte mais central até a região do Triângulo Mineiro, onde alcança reduções superiores a 15%.

Os resultados para a cultura do feijão (Figuras 3 b, d, f) indicam que para o Cenário A2, o efeito de fertilização do CO2 já não consegue manter o mesmo aumento de produtividade previsto para o Cenário B2, indicando que existe uma minimização do efeito positivo do aumento de CO2 devido ao aumento acentuado da temperatura. É importante salientar que os resultados encontrados para a cultura do feijão devem ser vistos com cautela e mostram a necessidade de estudos mais específi cos, uma vez não leva em consideração a interferência de possíveis eventos climáticos extremos, que irão ocorrer com mais freqüência em condições de mudanças climáticas, nem os fatores de condições de uso do solo, disponibilidade de nutrientes, doenças, pragas, competição de ervas daninha fatores que devem reduzir o efeito fertilização do aumento do CO2.

Supomos que os resultados do aumento da produtividade simulada da cultura do feijão para os dois cenários (A2 e B2) não tenham obtidos muita diferença entre eles, se devam principalmente pela pouca representatividade espaço-temporal de fatores como: a disponibilidade de nutrientes, doenças e pragas, e que o efeito fertilização do CO2 tenha prevalecido nos processos físico-biológicos de crescimento e desenvolvimento. Na cultura do milho, apesar da pouca diferença dos resultados nos distintos cenários, foi observado que o aumento da temperatura se evidenciou como o principal limitante na redução da produtividade simulada, pelas suas características fi siológicas e bem como os fatores anteriormente já mencionados.

Estudos considerando tais fatores e também os possíveis mecanismos de adaptação das culturas às mudanças climáticas estão sendo desenvolvidos pelo grupo de pesquisa em mudanças climáticas e seus impactos na agricultura da Universidade Federal de Viçosa em parceria com outros órgãos de pesquisa nacionais e internacionais. Os resultados desses estudos serão divulgados através de artigos publicados em revistas nacionais/internacionais a serem submetidos em breve.

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CULTURA DO MILHO CULTURA DO FEIJÃO

(c) (d)

(e) (f)

Figura 3: Estimativa da redução da produtividade no Estado de Minas Gerias, das culturas do milho e do feijão, para os cenários A2, para os anos: a, b) 2020; c, d) 2050; e, f)2080.

(a) (b)

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4. CONCLUSÕES

Em condições ótimas de manejo e nutrientes os resultados preliminares encontrados no presente trabalho indicam um efeito positivo do aumento de CO2 na produtividade da cultura do feijão em ambos os cenários A2 e B2. Para a cultura do milho os cenários A2 e B2 indicam uma redução na

produtividade que pode alcançar até 15% dos valores atuais. Mais estudos, tanto observacionais como de modelagem numérica e experimentos de campo, precisam ser realizados para o pleno entendimento dos mecanismos envoltos nas respostas das culturas às mudanças climáticas.

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O AQUECIMENTO GLOBAL E A CAFEICULTURA BRASILEIRA

Hilton S. Pinto¹, Jurandir Zullo Junior¹, Eduardo D. Assad², Balbino A. Evangelista³¹Cepagri/Unicamp. CNPq; ²Embrapa Informática Agropecuária. CNPq; ³Agroconsult Ltda.

E-mails: [email protected], [email protected], [email protected], [email protected]

RESUMO

A cultura do café no Brasil é caracterizada por plantas da espécie arábica (Coffea arabica L.), predominantes nas áreas com temperaturas médias anuais entre 18°C e 22°C, e por plantas da espécie robusta (Coffea canephora Pierre), cultivadas nas áreas com temperaturas médias anuais entre 22°C e 26°C. Temperaturas fora desses limites causam danos ao cultivo do café devido ao abortamento fl oral por ondas de calor ou por morte de tecidos devido a geadas. Considerando as perspectivas de aumento das temperaturas globais anunciadas pelo IPCC, o presente trabalho avalia, com base no comportamento eco-fi siológico das plantas, a adaptabilidade climática de ambas as espécies de café às novas condições de temperatura que poderão predominar no país, em especial entre as regiões Sudeste e Sul.Palavras-chave: Café arábica, café robusta, mudança climática.

ABSTRACT

According to the reports of the Intergovernmental Panel of Climatic Change – IPCC 2001 and 2007 - the global extreme temperature is supposed to increase to the end of the century from 1.2°C to 6,4°C and the total rainfall can increase about 15% in the tropical area. Using these parameters numerical models of productivity based on water balance and on physiological properties of the crops were developed for two species of coffee - Coffea Arabica L. and Coffea robusta Pierre. Therefore scenarios of the Brazilian coffee cultivation were established as simulated by three different levels of temperature (+1,0°C, +3,0°C and +5,8°C) and an increase of 15% of rainfall. The results showed a migration of coffee arabica from Southeast to South of the country and a possibility of robusta coffee cultivation in the Southeast.Keywords: Arabica coffee, robusta coffee, climate change.

1. INTRODUÇÃO

O relatório do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC, 2007) confi rmou e atualizou os resultados anteriores (IPCC 2001a, b), indicando uma situação inquietante quanto ao aumento da temperatura no planeta e seus efeitos na produção agrícola. Considerando as causas naturais e antropogênicas, a previsão é que a temperatura global deverá aumentar, até o fi nal do século vinte e um, entre 1,4°C e 5,8°C, tendo a média de 1961-

1990 como referência, com valores extremos da ordem de 1,2°C e 6,4°C, dependendo da localização do país considerado. Esses cenários complementam os estudos feitos anteriormente pelo próprio IPCC (IPCC, 1997) que estimou um incremento na temperatura de 0,05°C por década e observou um aumento de chuvas entre 0,5 a 1,0% por década, até o fi nal do século vinte, no Hemisfério Norte. No setor da região tropical compreendida entre 10oN e

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10oS, o incremento na precipitação detectado nos estudos do IPCC (IPCC, 1997) foi de 0,2 a 0,3%. Independentemente das críticas e sugestões aos relatórios do IPCC (Gray, 1997; Reilly et al., 2001; Webster et al., 2001; Wingley e Raper, 2001), qualquer aumento das temperaturas, nas diferentes regiões do globo terrestre, levará a alterações do comportamento agrícola, provocando uma mudança das fronteiras de exploração econômica ou de subsistência. O objetivo deste artigo é avaliar, com base no comportamento eco-fi siológico das plantas de café, a aptidão das espécies arábica e robusta às novas condições climáticas que poderão predominar nas regiões Sudeste e Sul do Brasil.

2. CLIMA E COMPORTAMENTO VEGETAL

No Brasil, até o ano 2001, foram poucos os estudos desenvolvidos sobre o efeito das mudanças climáticas e seus impactos na agricultura. Assad e Luchiari Jr. (1989) avaliaram as possíveis alterações de produtividade para as culturas de soja e milho em função de cenários de aumento e redução das temperaturas. Siqueira et al. (1994) apresentaram, para algumas regiões do Brasil, os efeitos das mudanças globais na produção de trigo, milho e soja. Uma primeira tentativa de identifi car o impacto das mudanças do clima na produção regional foi feita por Pinto et al. (1989 e 2001), que simularam os efeitos da elevação da temperatura do ar e da chuva no zoneamento do café para os Estados de São Paulo e Goiás. Novos trabalhos elaborados nos últimos cinco anos, no entanto, analisaram com detalhe o comportamento da agricultura nos cenários prognosticados pelo IPCC. Desses, podem ser citados os trabalhos desenvolvidos por Assad et al. (2004), Pinto et al. (2005) e Zullo et al. (2006), que tratam da alteração dos cultivos no Brasil em função dos cenários de aumento das temperaturas em 1,4°C, 3,0°C e 5,8°C.

O principal aspecto que condiciona a adaptabilidade biológica das culturas ao clima refere-se ao efeito direto nas plantas, do aumento da temperatura e da concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, que alteram, de forma signifi cativa, o

comportamento dos estômatos e, conseqüentemente, da fotossíntese. A concentração do CO2, sendo próxima de 300ppm, está bem abaixo da saturação para a maioria da plantas. Níveis excessivos, próximos de 1.000ppm passam a causar fi totoxidade. Nesse intervalo, de modo geral, o aumento do CO2 promove maior produtividade biológica nas plantas, conforme demonstraram Assad e Luchiari (1989). Da mesma forma, o aumento da temperatura do ar condiciona um comportamento biológico cada vez menos efi ciente à medida que as temperaturas se aproximam de 34°C, principalmente durante a fase de fl orescimento, como no caso da planta de café arábica (Figura 1), que causa o abortamento das fl ores, transformando-as no que são comumente chamadas de “estrelinhas” (Iaffe et al., 2003 a).

Figura 1: a) Botões fl orais normais; b) Botões abortados ou “estrelinhas”, devido à ocorrência de temperaturas elevadas observadas.Fonte: Iaffe et al. (2003 a).

(a)

(b)

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Temperaturas próximas a 40°C nas folhas tendem a causar uma diminuição gradual da fotossíntese nas plantas do tipo C3, conforme mostrado na Figura 2. A denominação C3 advém do fato da maioria das plantas verdes formarem como primeiro produto estável da cadeia bioquímica da fotossíntese o ácido 3-fosfoglicérico (3-PGA), uma molécula com três carbonos. As plantas C4 são assim chamadas por formarem como primeiro produto da fotossíntese o ácido oxalacético (4C), o qual é rapidamente reduzido a ácido málico e ácido aspártico, ambos com 4C, porém mais estáveis. Estruturalmente, outra diferença entre as plantas C3 e C4 é a presença, nestas últimas, de uma camada proeminente de células clorofi ladas envolvendo os feixes condutores da folha (“Anatomia Kranz” ou “Síndrome de Kranz”) (HERBÁRIO, 2007).

Figura 2: Efeito da temperatura no processo da fotossíntese em plantas dos tipos C3 (café e girassol, por exemplo) e C4 (cana-de-açúcar e milho, por exemplo).Fonte: http://www.herbario.com.br/cie/universi/teoriacont/1003fot.htm.

3. CONDIÇÕES CLIMÁTICAS ADEQUADAS AO CULTIVO DO CAFÉ NO BRASIL

Os limites para a defi nição da aptidão climática das espécies robusta e arábica de café no Brasil, que condicionam riscos de safras menores que 20%, são mostrados na Tabela 1. Esses valores são estabelecidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária

e Abastecimento (MAPA), com base no Zoneamento de Riscos Climáticos. Os cálculos das defi ciências hídricas mensais e anual foram feitos pelo método de Thornthwaite e Mather (1955), para armazenamento de água no solo igual a 125mm.

Tabela 1: Valores limites da defi ciência hídrica e da temperatura determinantes da aptidão climática dos cafés arábica e robusta no Brasil.

As siglas DHA, DHSet, DHOut-Mar, TMAno, TMNov signifi cam, respectivamente, Defi ciência Hídrica Anual, Defi ciência Hídrica no mês de Setembro, Defi ciência Hídrica entre Outubro e Março, Temperatura Média Anual e Temperatura Média no mês de Novembro.Fonte: http://extranet.agricultura.gov.br/sislegis-consulta/servlet/VisualizarAnexo?id=12485.

4. ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS NO SUL E SUDESTE DO BRASIL

Uma avaliação da variabilidade climática ao longo do tempo no Brasil mostra que, dependendo da região analisada, podem ocorrer alterações contínuas ou ciclos bem demarcados dos elementos meteorológicos, como a chuva e temperatura. No Estado de São Paulo, Pinto et al. (1989) analisaram o comportamento das chuvas médias anuais na região de Campinas (SP), de 1890 a 2000, e observaram que não existia uma tendência de aumento ou decréscimo nos totais pluviométricos, mas uma oscilação cíclica passando por um mínimo de 1.000 mm e um máximo de 1.700 mm em fases de cerca de 35 anos. Medidas diárias efetuadas entre 1940 e 1997, pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), em 391 estações pluviométricas distribuídas pelo Estado de São Paulo, após analisadas quanto à consistência, homogeneizadas e consolidadas em médias anuais, mostraram uma clara tendência de

Espécie DHA(mm)

DHSet(mm)

DHOut-Mar

(mm)

TMAno(°C)

TMNov(°C)

Arábica <150 - - >18 <23 <24

Robusta <200 <50 <10 >22 <26 <25

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aumento nesse período, coincidente com a curva da precipitação pluviométrica de Campinas, o que permitiu inferir que o comportamento hidrológico da região de Campinas poderia ser representativo do Estado.

A Figura 3, elaborada com dados termométricos observados entre 1890 e 2006 no Centro Experimental do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), exemplifi ca um acréscimo signifi cativo de cerca de 0,0225ºC/ano na temperatura média mínima anual, ou seja, um aumento de 2,6ºC nos últimos 116 anos. Outras análises efetuadas com séries climáticas de localidades no Sudeste e Sul do país mostraram tendências semelhantes para aumento das temperaturas da ordem de 0,02/ano em Sete Lagoas (MG) ou 0,008C/ano em Pelotas (RS). Em todos os casos citados, as maiores tendências de crescimento foram observadas nas temperaturas mínimas.

Considerando que a cultura do café é extremamente sensível a temperaturas elevadas na época do fl orescimento, o que acarreta o abortamento fl oral com conseqüente queda da produção, pode-se ter uma avaliação do comportamento regional da cultura em função principalmente das chamadas ondas de calor. Iaffe et al. (2003b) analisaram condições contrastantes de incidências de dias seqüenciais com temperaturas acima de 34°C e mostraram que a região noroeste de São Paulo tem uma probabilidade próxima a 25% de

ocorrência de pelo menos dois dias com temperaturas máximas iguais ou superiores a 34°C. Campinas, por exemplo, tem cerca de 3% de probabilidade para esse tipo de ocorrência.

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Trabalhos desenvolvidos por Assad et al. (2004), Pinto et al. (2005) e Zullo et al. (2006) mostram que o Brasil poderá perder cerca de 23% de sua área potencialmente apta ao cultivo do café arábica devido ao aumento de apenas 1,0°C na temperatura. A perda será de 58% caso a temperatura global aumente 3,0°C e o país perderá, aproximadamente, 92% da produção potencial de café arábica caso o prognóstico do IPCC de aumento de 5,8°C seja confi rmado para o fi nal do século. Observa-se, nos resultados obtidos por esses autores, que as áreas de inaptidão para a

cultura cafeeira em função das temperaturas máximas suportadas pelas plantas – 23ºC de média anual - aumentam signifi cativamente até o fi nal do século, deslocando a cultura progressivamente para o Sul do país e para áreas mais elevadas no Sudeste, em busca de clima mais ameno, assumindo a hipótese de redução da incidência de geadas com a elevação da temperatura global. No entanto, simulações preliminares para os cenários futuros de aumento das temperaturas no Sul do país mostram que essa alteração climática poderá benefi ciar o cultivo do café arábica em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul onde serão encontrados padrões de temperatura e chuva compatíveis com a biologia do cafeeiro.

Por outro lado, os Estados de São Paulo e Minas Gerais, embora perdendo grande parte da área com potencial ao cultivo do café arábica, deverão sofrer modifi cações que benefi ciarão o cultivo do café robusta, menos susceptível às altas temperaturas, conforme mostra a Tabela 2. Com exceção das condições atuais, as chuvas foram consideradas com 15% de aumento. Os cenários futuros são mostrados nas Figuras 4 e 5.

Figura 3: Variação das temperaturas mínimas médias anuais entre 1890 e 2006 na região de Campinas, SP. Dados do IAC/SAA.

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Figura 4: Mapas representativos das áreas com potencial ao cultivo do café robusta no Estado de São Paulo na condição climática atual (a) e cenários correspondentes a aumentos de 15% na chuva e 1,0°C (b), 3,0°C (c) e 5,8°C (d) na temperatura.

Figura 5: Mapas representativos das áreas com potencial ao cultivo do café robusta no Estado de Minas Gerais na condição climática atual (a) e cenários correspondentes a aumentos de 15% na chuva e 1,0°C (b), 3,0°C (c) e 5,8°C (d) na temperatura.

(a)

(b)

(c)

(d)

(a)

(b)

(c)

(d)

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Tabela 2: Porcentagem de áreas climaticamente aptas ao plantio de café robusta nos Estados de São Paulo e Minas Gerais, nas condições de temperatura atual e simulada para aumentos de temperatura de 1ºC, 3ºC e 5,8ºC e 15% na chuva.

Segundo os dados do IBGE, disponíveis em http://www.ibge.gov.br, tem-se que, entre 1990 e 2005, o Estado de São Paulo perdeu cerca de 61% das áreas com cultivo de café arábica. Uma avaliação mais detalhada desses dados mostra que as regiões com temperaturas mais elevadas, próximas ao limite de maior susceptibilidade do cafeeiro, perderam mais áreas com cultivo do que outras regiões onde as temperaturas são normalmente mais baixas, sugerindo que um ligeiro aumento das temperaturas observado nesses anos pode ter sido sufi ciente para afetar negativamente a produtividade, levando os cafeicultores a mudarem de cultura. Coincidentemente, nesse mesmo período, a área com cultivo de seringueira no Estado, uma planta resistente ao calor, cresceu cerca de 10 vezes, de 3.700 ha para 37.000 ha, estabelecendo-se, principalmente, nas áreas anteriormente ocupadas pela cafeicultura. Por outro lado, o estado de Minas Gerais possuía, em 1990, uma área plantada com café arábica da ordem de 984 mil hectares e passou para 1,04 milhões em 2005. Nesse caso, o Triângulo Mineiro, região limítrofe de temperatura potencial para o cafeeiro, passou de 156 mil hectares para 146 mil hectares, enquanto que o Sul e o Sudeste do Estado, com áreas mais frias, passou de 413 mil hectares para 443 mil hectares. Não há uma indicação efetiva de que a causa dessas migrações da cultura tenha sido uma ligeira alteração climática, mas pode ter havido uma opção dos agricultores por uma cultura mais rentável devido à diminuição de produtividade do café.

6. CONCLUSÕES

Resultados obtidos anteriormente por Assad et al. (2004), Pinto et al. (2005) e Zullo et al. (2006) mostraram uma clara tendência de diminuição das áreas aptas para o cultivo do café arábica no Sudeste do país, considerando os cenários futuros apresentados pelo IPCC e que o acréscimo das temperaturas seja homogêneo nessas áreas. O presente trabalho demonstra que a perda de áreas aptas para o café arábica no Sudeste do país poderá ser compensada pelo aparecimento de áreas com aptidão ao desenvolvimento do café robusta, hoje encontrado nas áreas baixas do Espírito Santo. Além disso, avaliações preliminares indicam que, considerando os padrões utilizados no Zoneamento de Riscos Climáticos do Brasil, o café arábica poderá encontrar condições de potencial climático para seu desenvolvimento econômico nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Considerando o cenário de aumento das temperaturas, pode-se admitir que, nas regiões climaticamente limítrofes àquelas de delimitação de cultivo adequado das plantas agrícolas, a anomalia positiva de temperatura que venha a ocorrer será desfavorável ao desenvolvimento vegetal. Quanto maior a anomalia, menos apta se tornará a região, até o limite máximo de tolerância biológica ao calor. Por outro lado, culturas mais resistentes a altas temperaturas, provavelmente, serão benefi ciadas, até o seu limite próprio de tolerância ao estresse térmico. No caso de baixas temperaturas, regiões que atualmente sejam limitantes ao desenvolvimento de culturas susceptíveis a geadas, com o aumento do nível térmico devido ao aquecimento global, passarão a exibir condições favoráveis ao desenvolvimento da planta. Um caso típico seria o da cultura cafeeira que poderá ser deslocada futuramente do Sudeste para o Sul do país.

EstadoÁrea Potencial

Atual +1,0°C +3,0°C +5,8°C

SP 31,1% 38,8% 29,6% 6,2%

MG 12,2% 20,5% 28,1% 0,0%

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O PLANETA TERRA: AQUECIMENTO GLOBAL E MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Teresinha de Maria Bezerra Sampaio XavierDiretora Científi ca da Academia Cearense de Ciências (ACECI)/

Profa. da Universidade Federal do Ceará/Engenharia Hidráulica e Ambiental

Airton Fontenele Sampaio XavierACECI, Prof. do Mestrado em Computação Profi ssionalizante - UECE/CEFET-CE

(sem vínculo empregatício)Rua Oswaldo Cruz 176 Ap. 400, Fortaleza-CE - CEP 60.125-150

E-mails: [email protected], [email protected]

Há cerca de um século, ou mais, vem ocorrendo aumento gradativo das temperaturas no planeta Terra, nitidamente a partir do início do século XX, porém de forma mais exacerbada no decorrer dos últimos trinta anos. Este aumento, detectável quanto às temperaturas do ar nos dois hemisférios, embora com predominância do Hemisfério Norte (HN), como ainda em função de aumento nítido e progressivo das temperaturas das águas oceânicas, tudo isto envolvendo em seu conjunto o fenômeno designado como aquecimento global.

Conforme foi confi rmado no último relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas - IPCC/UNEP/WMO (2007), recentemente aprovado, este aumento de temperaturas pode atribuir-se, primordialmente, ao “efeito estufa” devido ao acúmulo de gases poluentes, na atmosfera, como ozônio (O3), dióxido de carbono (CO2 ou gás carbônico excessivo), monóxido de carbono (CO), metano (CH4), óxido nitroso (N2O), e outros. Com efeito, estes gases, cujos teores na atmosfera tendem a crescer, vão constituir camada progressivamente “impermeável” à radiação que, de ordinário, seria devolvida ao espaço exterior sob a forma de radiação infra-vermelha. Daí, resultando o “aprisionamento” de calor e, em conseqüência, o aludido aumento das temperaturas no planeta.

À parte desses gases responsáveis pelo efeito estufa, deve-se ainda levar em conta o acúmulo de poeira e aerossóis na atmosfera. Quanto à poeira, cabe considerar a que é mobilizada pelo vento e originada de regiões desérticas e outras áreas degradadas. Principalmente, na Ásia e África, afetando centros urbanos populosos, como na China. Em menor escala, o problema detecta-se nas demais áreas continentais. A queima de combustíveis fósseis e as queimadas também contribuem para o aumento da concentração de aerossóis na atmosfera devido à condensação de compostos orgânicos voláteis emitidos no processo de combustão. Esses aerossóis em geral exercem um papel de resfriamento na atmosfera pois tendem a refl etir mais energia solar de volta para o espaço que absorvê-la. Entretanto, alguns aerossóis de queimadas podem conduzir ao aquecimento pelo seu aspecto escuro que favorece a absorção.

Outro mecanismo, somado ao primeiro (gases e aerossóis na atmosfera), refere-se à “ilha de calor” em áreas urbanas. Ora, a “junção” destas “ilhas” de temperaturas mais elevadas também contribuiria para o aumento progressivo das temperaturas na superfície da Terra. Trata-se de mecanismo que tem sido pouco explicitado, decerto pela circunstância de referir-se a uma origem local. Por outro lado, como ao nível das cidades são igualmente produzidos gases e aerossóis poluentes, em última análise os habitantes dos centros

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urbanos acabam partícipes, para não dizer grandes responsáveis pelo aquecimento global.

Enfi m o desmatamento, seguido da substituição por vegetação rasteira e de pequeno porte também pode levar a um aquecimento localizado. A construção de grandes reservatórios de água, por outro lado, pode levar a resfriamento, também localizado.

Lembremos que por ilha de calor entende-se a cúpula de ar aquecido sobre as cidades, mesmo as de menor talhe, em função do calor advindo da pavimentação (asfáltica, pedras, concreto, etc) e ainda das edifi cações ali existentes. O aquecimento em centros urbanos também provém de fontes de calor móveis, como os próprios veículos, e estacionárias, como no caso de aparelhos de ar condicionado e outras fontes de energia, principalmente industriais. Por outro lado, em urbes litorâneas, como Fortaleza, no Ceará, e outras cidades à beira-mar, a ilha de calor (e o desconforto térmico resultante) pode intensifi car-se pela verticalização urbana, máxime na orla marítima, decorrência da especulação imobiliária que conduz à construção de edifícios elevados e territorialmente adensados, ou seja, falésias artifi ciais servindo de barreira à penetração da brisa. Obviamente, a rarefação da cobertura vegetal nas áreas urbanas constitui outro fator concorrente.

Neste artigo, tratamos de apenas algumas questões ligadas ao aquecimento global e mudanças climáticas daí resultantes, com ênfase no aquecimento do Oceano Atlântico intertropical, capaz de afetar mais diretamente o clima brasileiro e, em especial, conduzir a impactos no Nordeste semi-árido; neste tocante, com referência a trabalhos prévios dos autores e colaboradores. Por motivo da pouca disponibilidade de espaço, omite-se a questão do papel das mudanças climáticas locais já mencionadas, características do meio urbano, remetendo-se a Xavier (2001), no Cap. 12. Por outro lado, discute-se brevemente sobre prognósticos e/ou previsões, bem como, sobre conseqüências do aquecimento global, entre as quais a possibilidade de expansão das áreas endêmicas das doenças tropicais.

1. PAPÉIS DOS DOIS HEMISFÉRIOS PARA O AQUECIMENTO GLOBAL

O aquecimento devido ao “efeito estufa” e aquele originado pelo somatório das ilhas de calor é sentido de maneira nítida no HN. Com efeito, este hemisfério é bem mais continental do que o Hemisfério Sul (HS). Por outro lado, a contribuição para a poluição atmosférica é muito mais importante nos países industriais daquele hemisfério, em vista dos altos níveis da poluição originada das fábricas e outras plantas industriais e, também, a partir da circulação automotora, etc. Em última análise, processos que se ligam à queima de combustíveis fósseis, como o carvão, o gás natural e o petróleo. Além disso, o somatório das ilhas de calor seria ainda maior, no referido hemisfério. Note-se que uma constatação do maior adensamento de centros urbanos, ao norte, pode ainda ser obtida da simples inspeção de imagens de satélite, trazendo uma distribuição dos pontos brilhantes correspondentes a sua iluminação artifi cial, noturna.

Numa imagem recente divulgada pela NASA, fi ca demonstrado que o aquecimento resulta realmente bem maior, no Hemisfério Norte. Veja-se, a respeito, a Figura 1. Com efeito, na maior parte do HN, em 2006, as anomalias (diferenças acima da média), na Figura 1, vão de 10 C até 40 C, aproximadamente. No HS, em geral, de 0,20 C a 10 C. Portanto, ao sul, detectam-se anomalias quatro a cinco vezes menores, em termos aproximados, comparando àquelas observadas ao norte do equador.

A partir da Figura 1, observa-se um aquecimento no extremo norte (e Ártico) mais intenso e generalizado que no extremo sul (e Antártida). Tais resultados são signifi cativos, pois não constituem meras simulações, mas observações reais a partir de imagens de satélites, a menos de mínimas distorções comuns em medidas indiretas.

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Figura 1: Anomalias das temperaturas em 2006.Fonte: NASA/Earth Observatory.

Estas constatações tornam-se importantes porque constituem indício claro de que a maior responsabilidade caberia ao HN, quando são comparadas suas anomalias para as temperaturas, em 2006, àquelas do HS. Não obstante, cabe lembrar que as pessoas habitando ao sul da linha equatorial são igualmente responsáveis pelo que venha a ocorrer no futuro, em termos de mudanças climáticas indesejáveis e limitantes à vida e/ou à sobrevivência humana, pois os mesmos mecanismos “predatórios” são também por elas exercidos, embora em menor escala, à parte de parâmetros já expressivos no tocante a uma agressão à cobertura vegetal (bosques e fl orestas), inclusive para fi ns agrícolas e pastoreio.

Outros argumentos e/ou contra-argumentos sobre estas mesmas questões são aqui omitidas. Em particular, quando se leva em conta outros fatores, como: (i) a efi ciência do processo de mistura do CO2 atmosférico dos dois hemisférios, de que resultam pequenas diferenças nos respectivos teores deste gás; (ii) o papel do albedo do gelo, no Ártico; e (iii) idem, da circulação oceânica vertical. Todos esses fatores, de certa forma, intervindo na assimetria entre os dois hemisférios.

2. AUMENTOS DRAMÁTICOS DA TEMPERATURA NO ATLÂNTICO

Mudanças climáticas no Atlântico intertropical norte e sul foram detectadas por Xavier, Xavier e Alves (2000), quanto à Temperatura da Superfície do Mar (TSM) e à Pseudo-Tensão do Vento de Superfície (PTVS). Foram indicadas infl uências também nítidas dos eventos El Niño-Oscilação do Sul (ENOS)/El Nino-Southern Oscillation (ENSO), em especial sobre a bacia do Atlântico norte. Por outro lado, o papel da Oscilação Decadal do Pacífi co (ODP)/Pacifi c Decadal Oscillation (PDO) para a TSM no Atlântico intertropical mostra-se pouco signifi cativa; veja-se Xavier e Xavier (2004). Ademais, sua possível infl uência nas chuvas no Nordeste setentrional (Ceará) inicia-se tardiamente, em março/abril de cada ano, a par de comportar sinal sempre bem mais fraco que o exercido pelo ENOS. Posteriormente, Xavier e Xavier (2005) re-analisaram as alterações da TSM no Atlântico, por sua vez conduzindo a outras comunicações, especialmente em Xavier et al. (2006 a).

A ênfase destes últimos trabalhos foi sobre alterações da TSM nas adjacências da costa africana: a) no HN, entre o equador e 20oN, área que comporta a MDR (Main Development Region), ainda incluindo o Golfo da Guiné; b) e no HS, do equador até 10oS, principalmente. Com relação às mudanças da TSM junto à costa da África foram referidos aumentos “dramáticos” da TSM nas últimas décadas, podendo inclusive explicar a maior atividade ciclônica no HN, em função de ondas de leste que se deslocam para o Caribe. No HS, também ondas de leste são responsáveis por episódios de chuvas intensas no litoral leste do Nordeste brasileiro (zona da mata), que em alguns anos implicam em chuvas intensas de pós-estação no semi-árido nordestino e, em particular, no Ceará; veja Xavier (2001), Cap. 11, p. 365-383.

Tem-se na Figura 2 um “box-plot” para a variação da TSM no Golfo de Guiné, em dezembro, com respeito a três sub-períodos consecutivos de treze anos cada, em 1964-2004 (à época eram disponíveis os dados somente até ao 1º semestre/2004). De fato,

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a análise de variância da TSM no Golfo de Guiné, em dezembro, alcançou elevada signifi cância estatística, com erro p=0,0000 apx. Por outro lado, o gráfi co mostra como variaram o quartil inferior, a mediana e o quartil superior, ao longo do período, permitindo melhor caracterizar os aumentos consecutivos das temperaturas. Em geral, ainda no Golfo da Guiné, ocorreram “aumentos dramáticos” da TSM de setembro a dezembro (2º semestre), que corresponde ao auge da estação dos furacões no HN; porém, também em março (20 semestre).

Figura 2: “Box-Plot” para o comportamento da TSM no Golfo de Guiné, em dezembro, para três classes (sub-períodos) de 1964-2004.Fonte: Xavier e Xavier (2005).

Lembremos que em cada “caixa” ou “box” daquela modalidade de gráfi co (Figura 2), a “base” e sua “tampa” representam os quartis inferior e superior, respectivamente. O segmento “intermédio” dentro de cada “caixa” representa sua mediana, desenhada em cinza mais claro. Por outro lado, os prolongamentos para cima ou para baixo referem-se às variações dos restantes valores numéricos. Note-se que do primeiro para o terceiro (e último) sub-período a mediana passou de um valor algo inferior a 27,6 °C para um valor acima de 28,4 °C, ou seja, com variação para as medianas da ordem de 10 C. Para as várias áreas no Atlântico intertropical interessadas na análise de variações da TSM no Atlântico, veja-se a Figura 3.

Figura 3: Áreas selecionadas para cálculos de temperatura no Atlântico intertropical (médias, medianas, etc).Fonte: Xavier (2001).

Na Figura 4 exibe-se o gráfi co de dispersão das observações (x=ano, y=tsmg12) para as TSM médias no Golfo da Guiné, para todos os dezembros, desde 1964. Através desta fi gura percebe-se que na primeira metade do período as médias da TSM em dezembro na área G são todas inferiores a 28,40C, ao passo que na segunda metade, a partir de 1985, de vinte observações, onze delas (52,4%) ultrapassaram aquele limiar; mais, desde 1993 dez dentre doze médias de temperaturas (83,3%) superaram os 28,40C.

Figura 4: Variação da TSM média na área G (Golfo da Guiné) nos meses de dezembro, desde 1964 até 2004.Fonte: Xavier e Xavier (2005).

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Sobre as tendências de aumento da TSM nas áreas C1, C2 e B1, são aqui omitidos os resultados, de certa forma análogos. Note-se que aumentos da TSM em D1, D2 e A1, na costa das Américas, possuem caráter menos dramático do que ocorre na costa africana. Ainda na mesma linha, dois artigos foram apresentados no XIV Congresso Brasileiro de Meteorologia, explorando recursos da “Linguagem R”; ou seja, por Xavier et al. (2006 b). Nestes dois artigos, os resultados foram bastante signifi cativos, porém se referem a uma análise exploratória das variações no Atlântico intertropical ao longo do período 1964-2005, agora utilizando de quatro e seis sub-períodos, mediante a aplicação da “linguagem R” (um dialeto da “linguagem S”).

Os resultados expostos referem-se às variações de temperaturas médias. Porém, foram também examinadas as variações para medianas e para quantis extremos, ao longo destes períodos; além do que se refere a extremos expressados como valores máximos, resultados esses aqui omitidos (veja-se a Figura 5, para a área C1).

Figura 5: Variação das médias nos sub-períodos consecutivos 1,2,3,4, para 1964-2005, nos meses junho a dezembro, na Área C1.Fonte: Xavier et al. (2006 b).

3. IMPACTOS SOBRE A SAÚDE HUMANA

Espera-se, no tocante a mudanças climáticas originadas do aquecimento global, uma extensão da zona de ocorrência das chamadas doenças tropicais, que em geral fi cam hoje adstritas à faixa intertropical, ou seja, entre o Trópico de Câncer (ao norte da linha equatorial) e o Trópico do Capricórnio (no HS). Este último, passando alguns quilômetros ao sul da cidade de São Paulo. De fato, no caso do dengue, focos da doença podem também ser detectados em localidades extratropicais, como tem ocorrido em Buenos Aires-Argentina. Contudo, é de esperar que as áreas endêmicas para muitas doenças tropicais, como o dengue, a malária, a melioidose e outras, sejam francamente expandidas para fora desta faixa intertropical. Aliás, no México, casos de malária foram detectados a altitudes onde antes o vetor não se encontrava, agora em função de aumentos progressivos e locais, das temperaturas. Muitas doenças infecciosas causadas por vírus (como no dengue) ou por outros patógenos (protozoários como na malária) exibem um comportamento sazonal característico em vista de seus vetores, os mosquitos, serem sensíveis a variações meteorológico-climáticas, em especial em função da chuva, da umidade e temperatura do ar; em alguns casos, ao vento. Não obstante, podendo apresentar variações interanuais que não se explicam, exclusivamente, pelas últimas condições citadas.

Na Figura 6 mostra-se de maneira indubitável como a curva porcentual da chuva costuma preceder de forma nítida a curva porcentual dos casos humanos de dengue. Apresenta-se o gráfi co para 2002, porém dispõe-se de todas as curvas a partir de 1998 até 2006, para a Região Metropolitana de Fortaleza-Ceará. Conforme mostraram Xavier et al. (2007). De fato (esta outra fi gura está omitida) pode-se ainda demonstrar que, em geral, as curvas porcentuais da chuva, dos focos do vetor e dos casos humanos também costumam preceder uma após a outra, o mais das vezes exatamente nesta ordem; ou seja: chuva � focos do vetor � casos humanos de dengue.

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4. DISCUSSÃO

Evidências a respeito de mudanças climáticas em curso, em função do aquecimento global, são fornecidas por várias fontes, no que se refere a aumentos das temperaturas do ar e dos oceanos, a par dos aumentos progressivos da emissão e o acúmulo de gases poluentes na atmosfera, etc. Consulte-se, a respeito: Oak Ridge (2003), IPCC/UNEP/WMO (2001), Hadley Center/Met Offi ce (2004). Remete-se, mais uma vez, a IPCC/UNEP/WMO (2007). Outros materiais de fontes autorizadas e confi áveis podem ser resgatadas da Internet e de periódicos científi cos. Veja-se, ainda, Xavier (2003).

Sobre mudanças climáticas na perspectiva do meio urbano, remete-se em particular a: Columbia Earth Institute (2001). Bem como, para mudanças climáticas em São Paulo e em Fortaleza-Ceará, a Xavier et al. (1994), Xavier et al. (1996), Xavier (2001). A respeito de mudanças climáticas nos oceanos, especialmente no Atlântico, consultem-se ainda as bibliografi as em Xavier et al. (2000), Xavier et al. (2006), Xavier et al. (2006 b). Trata-se, aí, também da questão da intensifi cação dos eventos ciclônicos e tempestades no Atlântico norte, inclusive com o aumento do número anual de furações, nas últimas décadas.

Um aspecto a considerar, que tem freqüentado a mídia, refere-se a algum exagero no que concerne a perspectivas sobre o aquecimento global e às conseqüências que daí podem advir. Sem dúvida, devido à gravidade da situação, um pouco de exagero é preferível à acomodação, ou ainda, à minimização dos possíveis perigos. Tal postura pode ser encontrada, inclusive, em meios científi cos sérios. Contudo, ainda pairam dúvidas em termos de ampla incerteza, quanto aos cenários para o futuro. Conforme especialistas, e esta é também nossa posição, seria necessário melhor selecionar os modelos de previsão que entram no IPCC. Assim, deveriam em

princípio ser excluídos os que fossem incapazes de reproduzir adequadamente o clima presente, a partir de cenários passados. Não estando bem claro se tais ressalvas foram, realmente, levadas em conta. De fato, a “calibração” cuidadosa de modelos de previsão evita conclusões precipitadas. A rigor, a “calibração” de modelos, hidrológicos, demográfi cos, epidemiológicos e em sistemas de apoio à decisão, etc., envolve um princípio universalmente aceito; donde valeria à pena aplicá-lo, seriamente, no que concerne ao clima.

Assim, as previsões sobre os aumentos progressivos de temperatura do ar e oceanos, como sobre alterações em termos das condições pluviométricas das áreas tropicais e sua produtividade agrícola, poderão estar super-dimensionadas, em especial que os modelos numéricos empregados são apenas indicativos, além de sujeitos a erros não sufi cientemente conhecidos. A par da circunstância de que os prognósticos são de caráter muito geral em termos geográfi cos, donde incapazes de considerar peculiaridades locais. Por exemplo, sobre a possível diminuição de chuvas e aumento das temperaturas no Nordeste semi-árido, cabe lembrar que o aumento das temperaturas no Atlântico inter-tropical poderá representar a intensifi cação de chuvas, pelo menos no litoral da região. Por outro lado, os aumentos de temperaturas

Figura 6: Chuva (1) e casos de dengue (2) em Fortaleza-CE, em 2002: curvas acumuladas das respectivas ordens porcentílicas.Fonte: Xavier et al. (2007).

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na costa da África, ao sul da linha equatorial, com a intensifi cação das ondas de leste, poderá representar tendência de chuvas intensas na zona da mata e, nos anos de maior força deste sistema, com chuvas copiosas no Nordeste setentrional semi-árido, de

“pré-“ e “pós-estação”. Com efeito, torna-se muito difícil de prever, com exatidão, o que poderá ocorrer em áreas mais limitadas, até o fi m do século XXI, ou mesmo nos seus meados.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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IPCC/UNEP/WMO Climate Change 2007, The Physical Basis – Summary for Policemakers. Approved at the 10th session of Working Group I of the IPCC, Paris, February 2007, IPCC-Secretariat c/o WMO, Geneva, 2007, 21 p.

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Xavier, T. de Ma. B. S.; Xavier, A.F.S; Silva-Dias, P.L. Temperature Changes at São Paulo. (Conference of Environmetrics on Brazil) 7th International Conference on Quantitative Methods on Environmental Sciences, Institute of Mathematics and Statistics – University of São Paulo, São Paulo-Brazil, July 22-26, p. C6-C7, 1996.

Xavier, T. de Ma. B. S.; Xavier, A.F.S. Alterações Climáticas Urbanas em Fortaleza-Ceará (1974-95). Congresso Brasileiro de Meteorologia. Anais. 1996.

Xavier, A.F.S.; Xavier, T.de Ma.B. S.; Alves, B.da S. Evidências de Variações Climáticas no Atlântico Intertropical no período 1964-1999, XI Congresso Brasileiro de Meteorologia, Rio de Janeiro. Anais. CD-ROM, 2000.

Xavier, T.de Ma.B. S. TEMPO DE CHUVA: Estudos Climáticos e de Previsão para o Ceará e Nordeste Setentrional. ABC Editora, Fortaleza-Ceará, 2001, 478 p.

Xavier, T. de Ma. B.S. O Dia Meteorológico Mundial 2003 e os Temas: O Nosso Clima Futuro e o Clima e a Fome. Boletim da Sociedade Brasileira de Meteorologia, 27(2):39-47, 2003.

Xavier, T. de Ma. B.S.; Xavier, A.F.S. A ODP-“Oscilação Decadal do Pacífi co” (PDO-“Pacifi c Decadal Oscillation”) e Eventos no Atlântico Inter-Tropical e no Nordeste Setentrional do Brasil. Cadernos Atena, n0 28, março de 2005, Fortaleza-Ceará, 2004, 12 p.

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Xavier, T. de Ma. B. S.; Xavier, A.F.S. Aumentos Dramáticos da TSM/SST em Áreas e Sub-Áreas do Atlântico Inter-tropical Leste: 1950/1964-2005. XII CBMET. Anais. CDROM, 2005, 8 p.

Xavier, T. de Ma. B. S., Xavier, A.F.S., Silva-Dias, P.L.; Silva-Dias, Ma. A. F. Aumentos Dramáticos da TSM na Costa Africana do Atlântico Inter-Tropical 1950/1964-2005 e Implicações sobre Eventos Climáticos nas Américas, 1ª CONFERÊNCIA LUSÓFONA SOBRE O SISTEMA TERRA, Lisboa, 22-24 de março de 2006 a. Anais. IGPB-Portugal.

Xavier, A.F.S.; Xavier, T. de Ma. B. S.; Alves, B. da S. Mudanças Climáticas no Atlântico e sua Análise Exploratória pela ´Linguagem´ R: 1. TSM nas Adjacências da Costa Africana 1964-2005; 2. TSM nas Proximidades das Américas 1964-2005. XIV Congresso Brasileiro de Meteorologia, Florianópolis. Anais. nov. 2006, CD-ROM. 2006 b.

Xavier, A,F.S.; Gomes, M.J. Negreiros, Lima, J.W.de O.; Pontes, R.J.S.; Xavier, T.de Ma.B.S.; Freire, L.A.de M. Interferência Climatológica na Ocorrência de Focos e Casos de Dengue em Fortaleza-Ceará-Nordeste do Brasil, 1. Pluviometria. Em fase de submissão, 2007.

6. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Prof. Dr. Pedro Leite da Silva Dias do DCA/IAG/USP e a Academia Brasileira de Ciências, pela revisão deste artigo e preciosas sugestões.

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O PROJETO TroCCiBras:OBJETIVOS, RESULTADOS DA CAMPANHA 2004 E O FUTURO

Gerhard Held1, Roberto Vicente Calheiros2, Ana Maria Gomes e TroCCiBras Team

Instituto de Pesquisas Meteorológicas, Caixa Postal 281, Bauru, São Paulo - 17033-360E-mails: [email protected], [email protected], [email protected]

1 Coordenador Geral; 2 Coordenador Científi co

RESUMO

O projeto TroCCiBras (Experimento sobre Cirros e Convecção Tropical no Brasil) foi concebido pelo IPMet com o propósito de conciliar dois projetos da União Européia, denominados TROCCINOX e HIBISCUS, com as necessidades dos grupos brasileiros de pesquisas, durante a campanha de campo conjunta realizada em 2004. Outrossim, o TroCCiBras objetivava regulamentar a troca entre os pesquisadores participantes de dados atmosféricos inéditos sobre a atmosfera no Brasil. Esses dados estão contidos em três bases separadas. O propósito deste artigo é o de apresentar alguns dos resultados obtidos, especialmente os das pesquisas em meteorologia com radar e descargas elétricas, e ao mesmo tempo, destacar os dados já publicados, sobre a investigação dos mecanismos de transporte entre a alta troposfera e a baixa estratosfera (UT-LS) e a importância da convecção para o balanço hídrico na baixa estratosfera.Palavras-chave: Convecção profunda, observações de radar Doppler, medidas na troposfera, Lidar.

ABSTRACT

The project TroCCiBras (Tropical Convection and Cirrus Brasil) was created by IPMet to coordinate the two European Union projects TROCCINOX and HIBISCUS with the needs of Brazilian research groups during a joint fi eld campaign in 2004, as well as to regulate the exchange of these unique data on the Brazilian atmosphere, residing in the three separate Data Bases, between the participating researchers. The purpose of this paper is to present some selected recent results, especially in the fi eld of radar meteorology and lightning research, while, at the same time, drawing attention to already published material on topics like transport mechanisms between the Upper Troposphere and Lower Stratosphere (UT-LS) and the importance of overshooting convection to the LS water budget.Key Words: Deep convection, Doppler radar observations, tropospheric measurements, lidar.

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1. INTRODUÇÃO

Em fevereiro de 2003 foi realizado um Workshop Internacional, em Bauru/SP, organizado pelo Instituto de Pesquisas Meteorológicas da Universidade Estadual Paulista (IPMet/UNESP) e os coordenadores dos projetos europeus TROCCINOX (Experimento sobre Convecção Tropical, Cirros e Óxidos de Nitrogênio) e HIBISCUS (Impacto da convecção tropical sobre a alta troposfera e a baixa estratosfera), que contou com a participação de cerca de 35 delegados, e nele fez-se representar a maioria dos grupos de pesquisa brasileiros especializados em ciências atmosféricas. Durante esse Workshop foi verifi cado o interesse de grupos de pesquisa do país na participação em um projeto de pesquisa multidisciplinar, que explorasse os dados de natureza única providos pelas Campanhas dos Projetos TROCCINOX e HIBISCUS. Propôs-se que todas as organizações e departamentos de Universidades com trabalhos relevantes nessa área fossem convidados a submeter uma breve proposta, indicando atividades pretendidas durante a campanha conjunta prevista para janeiro e fevereiro de 2004. A instituição líder, o IPMet/UNESP, coordenaria essas curtas propostas e subseqüentemente faria um convite para a submissão de propostas completas. Tais proposições foram então organizadas na denominada Proposta do TroCCiBras (Experimento sobre Cirros e Convecção Tropical no Brasil) para apresentação ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científi co e Tecnológico (CNPq) objetivando obter a respectiva autorização para a realização de uma “Expedição Científi ca” (Portaria N0 625, Presidência da República, 22 de dezembro de 2003, publicado no Diário Ofi cial da União N0 253, em 30 de dezembro de 2003), que era essencial para a concessão da necessária permissão do Governo Brasileiro para a operação no espaço aéreo nacional de aeronaves laboratório do projeto TROCCINOX.

2. OBJETIVOS

O objetivo geral do Projeto TroCCiBras é obter um conjunto único de medidas especiais através de toda a extensão da troposfera, chegando à baixa estratosfera, para atender necessidades específi cas de pesquisa de instituições brasileiras de investigação, através da execução do projeto TROCCINOX da União Européia e do projeto conjunto brasileiro-europeu HIBISCUS no Brasil. Os objetivos dos projetos TROCCINOX e HIBISCUS estão detalhados em Held et al. (2004 a, b).

Os diferentes sub-projetos de pesquisa, embora agrupados em três tópicos principais, a saber, “Meteorologia, Física Atmosférica e Previsão”, “Química Atmosférica” e “Validação de Sensores Remotos em Satélites e no Solo” constituem, de fato, um conjunto compreensivo. A Tabela 1 lista os vários sub-projetos e instituições responsáveis. A proposta completa do projeto TroCCiBras, como submetido à FAPESP em outubro de 2003 e outros documentos relevantes podem ser obtidos no endereço www.ipmet.unesp.br/troccibras/. Em que pese o investimento europeu (cerca de 11,6 milhões de euros) nos projetos TROCCINOX e HIBISCUS, os quais foram ainda complementados por contribuições individuais de Instituições participantes, não se logrou êxito quanto ao suporte solicitado à FAPESP (um valor de R$ 500.000,00) para execução do TroCCiBras.

ÁREAS DOSUB-PROJETO TÍTULO DO SUB-PROJETO INSTITUIÇÃO

RESPONSÁVEL

Meteorologia, FísicaAtmosférica e Previsão

Integração das observações de radar, descargas elétricas, modelos numéricos e Nowcasting IPMet/UNESP

Validação de modelos numéricos com componente de química da atmosfera CPTEC/INPE

Acoplamento entre camada limite e o início e intensifi cação da convecção úmida

CTA eCPTEC/INPE

Estudos de física de nuvens UECE

Estudos de eletricidade atmosférica e sprites ELAT/INPE

Poluição do ar, nuvens e interações climáticas IAG/USP

Química Atmosférica Distribuição vertical de aerosóis e gases traço entre o solo e a média troposfera IF/USP e MPIC

Validação de Sensores Embarcados e Terrestres

Medidas combinadas de diferentes sensores IPMet/UNESP

Detecção em ar claro e nuvens IPMet/UNESP

Quantifi cação de precipitação usando canais de microondas IPMet/UNESP

Obs.: Os tópicos em itálico não puderam ser executados devido a uma limitação de fundos.

Tabela 1: Projetos no âmbito do TroCCiBras com os sub-projetos específi cos.

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3. RESULTADOS

Todos os dados coletados no contexto do projeto TroCCiBras (21 de janeiro a 11 de março de 2004) foram agrupados em um banco de dados (Held et al., 2004 a), protegido por senha, cujo acesso aos pesquisadores participantes atende aos requisitos normalmente adotados para projetos da espécie.

Mais um Workshop Internacional foi realizado em Bauru/SP, em novembro de 2004, pelo IPMet e a coordenação dos projetos TROCCINOX e HIBISCUS. Este Workshop contou com a participação de 35 cientistas principais, sendo 16 da União Européia (França, Reino Unido, Itália, Alemanha, bem como da Suiça) e 19 do Brasil. Neste, foram apresentados 40 apresentações no total, com enfoques gerais sobre os Projetos TroCCiBras, HIBISCUS e TROCCINOX, estudos básicos relevantes para o Brasil e os primeiros resultados da Campanha (Held, 2004).

Radares do IPMet

As observações contínuas dos radares do IPMet, em Bauru e Presidente Prudente (Figura 1) compôs a espinha dorsal da campanha do TroCCiBras e resultou numa contribuição importante para os projetos internacionais, não só para o planejamento das atividades diárias do projeto, tais como lançamentos de balões e rotas das aeronaves, mas também para estudos de casos específi cos do TROCCINOX (Fehr et al., 2004), bem como complemento aos estudos de lidar, vapor d´agua, medidas com sondas-de-retroespalhamento e estudos de modelagem de nuvens do HIBISCUS (Donfrancesco et al., 2004; Pommereau et al., 2007; Durry et al., 2006; Nielsen et al., 2007; Grosvenor et al., 2005, 2006, 2007).

Climatologia das tempestades durante o período do TroCCiBras

Uma análise climatológica para as tempestades ocorridas durante a campanha do TroCCiBras foi iniciada por Gomes e Held (2004). Este estudo está sendo expandido, usando o sistema TITAN (Thunderstorm Identifi cation Tracking Analysis and Nowcasting) (Dixon and Wiener, 1993), que provê uma variedade de parâmetros relativos às tempestades durante um dado período. A Figura 2 mostra a freqüência de dias em que as tempestades penetraram através da tropopausa durante o mês de fevereiro para um período de 7 anos (1996-2002), em cotejo com o mês de fevereiro de 2004. O número de dias em que os topos das tempestades atingiram a baixa estratosfera durante o experimento fi cou entre os máximos, considerando os oito anos de observações, ou seja, em torno de 58,6% para o mês de fevereiro. Estudos detalhados enfocando topos dos ecos, variando os limiares de refl etividades (10-40 dBZ) e de volume (16 e 50 km3) revelaram ocorrências de máximos secundários para ambos os limiares de 10 e 35 dBZ e de volume 50 km3 (Figura 3). Os resultados destas informações estão sendo utilizados para determinar a freqüência de penetrações das torres de nuvens e sua contribuição para o conteúdo de água e gelo na baixa estratosfera, bem como os mecanismos associados ao transporte vertical (Pommereau and Held, 2006; Pommereau e Held, 2007).

Figura 2: Freqüência de dias em fevereiro quando uma ou mais torres de tempestades penetraram através da tropopausa (radar banda-S do IPMet/UNESP em Bauru, 240 km de raio; sem informação para estatística em 2003).

Figura 1: Rede de radares do IPMet (BRU = Bauru; PPR = Presidente Prudente), mostrando os anéis de 240 km e 450 km, assim como o Aeroporto de Gavião Peixoto (GPX), onde as aeronaves laboratório fi caram alocadas.

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Validação de Modelos Numéricos com Componente de Química da Atmosfera

Este sub-projeto, sob a coordenação do CPTEC/INPE, foi concebido como um projeto de análise pós-facto do TroCCiBras, mas até o presente ainda não se materializou, à exceção de alguns estudos colaborativos com cientistas do HIBISCUS (Huret et al., 2006).

Acoplamento entre Camada Limite e o Início e Intensifi cação da Convecção Úmida

Este sub-projeto foi proposto por pesquisadores (PIs) do CTA e do CPTEC/INPE. Não foi possível, à época, dispor-se da instrumentação prevista pelos pesquisadores proponentes (sodar, sistema de balão cativo, anemômetro sônico, bem como um sistema adicional de radiosonda), fi cando prejudicada a sua participação no experimento de campo. No entanto, durante o período do experimento foram realizadas um número de até seis radiossondagens por dia, sendo algumas delas com sensor de ozônio, resultando num total de 105 perfi s coletados. Estes dados estão sendo exaustivamente utilizados pelos grupos de cientistas do HIBISCUS e do IPMet/UNESP, para investigar os mecanismos de transporte entre a troposfera superior e a estratosfera inferior (UT-LS; Pommereau et al., 2007; Pommereau e Held, 2007; Nielsen et al., 2007),

e também para comparação com novos instrumentos de alta-resolução (Durry et al., 2006). Essas pesquisas mostram a importância das células convectivas, que penetram a tropopausa e contribuem para o balanço hídrico na baixa estratosfera.

Estudos de Física de Nuvens

Este sub-projeto, empregando uma aeronave Bandeirante, da UECE, especialmente instrumentada para pesquisas em física de nuvens, teria sido de grande valia para a verifi cação das medidas tri-dimensionais de radar (refl etividade e escoamento radial), bem como para estudos de topos de nuvens versus topo dos ecos de radar. No entanto, face à indisponibilidade dos respectivos recursos, constantes da solicitação à FAPESP como anteriormente mencionado, a participação do avião da UECE não pôde se concretizar nessa oportunidade.

Estudos de Eletricidade Atmosférica e Sprites

Dados da Rede Brasileira de Detecção de Descargas Elétricas (RINDAT) foram disponibilizados pelo ELAT/INPE para todo o período de coleta de dados do TroCCiBras. Algumas destas observações já foram utilizadas para estudos de casos específi cos (Fehr et al., 2004). Um estudo climatológico feito por Naccarato et al. (2004) dentro do raio de alcance de 450 km do radar de Bauru, o radar indicou que a atividade elétrica durante o período do TroCCiBras foi signifi cativamente abaixo da média dos cinco anos (1999-2003), ou seja, 37%, 58% e 75% menor que as médias durante os meses de janeiro, fevereiro e março, respectivamente.

Os estudos sobre Sprite não puderam ser conduzidos devido à insufi ciência de fundos. O Grupo LRGOU da Universidade de Osaka operou dois sistemas de banda larga DITF (Digital Interferometer) no período de 13 de fevereiro a 25 de maio de 2004, sendo um próximo ao radar de BRU e outro ao longo de uma linha de base de 28,6 km a sudeste do radar, de forma a detectar descargas em modo tridimensional (Held

Figura 3: Freqüência de topos médios e máximos (limiares de 10 dBZ e 35 dBZ, volume 50 km3; Bauru, 240 km de raio).

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et al., 2005). Quanto às análises em relação aos ecos de radar, face ao considerável tempo requerido para tal, foi trabalhada até o momento parte de um dia. As Figuras 4a-d mostram as observações usando uma única estação de coleta e a Figura 5 uma apresentação tridimensional, demonstrando claramente a origem das descargas elétricas na região de baixas

Figura 4: Exemplos do sistema 3-D DITF em 20 de fevereiro de 2004, com observações com uma única estação de fl ashes relativos aos ecos de radar (5 dBZ): a) CG (nuvem-terra), b, c) IC (entre-nuvens), d) CC (nuvem-nuvem). Fonte: Held et al. (2004b).

a) b)

c) d)

refl etividades acima dos topos dos ecos observados pelo radar. Portanto, observações tridimensionais de descargas elétricas são extremamente importantes para nowcasting, por serem indicadores de regiões de nuvens não-detectadas ainda pelo radar, onde a intensifi cação das células convectivas deverá ocorrer. As análises estão em andamento para outros dias.

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Poluição do Ar, Nuvens e Interações Climáticas

Este sub-projeto, proposto por pesquisadores (PIs) do IAG/USP foi planejado como um projeto de análise pós-facto, essencialmente para projetos de estudantes, mas até o presente ainda não se materializou.

Química Atmosférica:

Distribuição Vertical de Aerossóis e Gases Traço entre o Solo e a Média-Troposfera

Este sub-projeto, proposto em conjunto pelo IPMet/UNESP e por pesquisadores (PIs) do IF/USP e MPIC, teve apenas sete missões de vôo com a aeronave laboratório Bandeirante, devido à escassez de recursos e sem o suporte fi nanceiro da FAPESP. Alguns destes vôos foram coordenados com a aeronave Falcon do TROCCINOX e com aos lançamentos de balões do HIBISCUS. Resultados preliminares das medidas de gases e aerossóis foram apresentados por Thielman et al. (2004) e Artaxo et al. (2004), respectivamente. A Figura 6 mostra as

Figura 5: Representação 3-D de dois eventos de descargas de um-segundo relativos à varredura volumétrica do radar (10 dBZ).Fonte: Held et al. (2005).

concentrações de óxido de nitrogênio (NO) dentro da camada limite (até 2,4 km) durante um vôo efetuado no início da manhã e outro à tarde, para mapear as concentrações antes e depois do estabelecimento da convecção (e a atividade elétrica associada). Durante a manhã as concentrações são mais altas próximo do solo que no topo da camada limite, mas à tarde são baixas e a atmosfera está bem misturada. Estão em andamento estudos enfocando como estes poluentes da camada limite planetária são transportados para dentro de células convectivas e sua contribuição para a confi guração de mistura e transporte da UTLS.

A operação do sistema de Lidar de Aerosol do IPEN, instalado no IPMet/UNESP, também faz parte deste sub-projeto. Este Lidar monitorou a atmosfera até os 30 km ao nível médio do mar em diferentes períodos do dia e da noite, sempre que as condições atmosféricas permitiram. Alguns resultados preliminares foram publicados por Landulfo et al. (2004). O perfi l na Figura 7 é visualizado de 855 m até 21,5 km e mostra uma camada claramente visível de nuvens em torno de 4,5 km de altitude, assim como uma camada de aerossóis em torno de 3 km e 5 km. O topo da camada limite está acerca de 1850 m; todas as camadas mencionadas são discerníveis em níveis de verde e azul-claro. As análises estão em andamento para outros dias.

Validação de Sensores Embarcados e Terrestres

Os três sub-projetos: Medidas Combinadas de Diferentes Sensores, Detecção em Ar Claro e Nuvens e Quantifi cação de Precipitação Usando Canais de Microondas, foram propostos por PIs do IPMet/UNESP e as pesquisas estão em andamento. Alguns resultados preliminares, comparando perfi s de umidade determinados de sensores a bordo de satélite e do lidar DIAL H2O, embarcado na aeronave Falcon do TROCCINOX, foram apresentados por Calheiros et al. (2004). Adicionalmente, uma proposta de validação, para o Brasil, usando GPS e baseado nas medidas realizadas durante as campanhas do TroCCiBras e TROCCINOX também já foi publicada em Calheiros et al. (2005).

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em suma, pode-se dizer que o TroCCiBras atingiu seus objetivos, a despeito do fato de que o avião laboratório de vôo estratosférico, o M-55 Geophysica, não pode chegar a tempo para a campanha de janeiro a março de 2004. No entanto, durante fevereiro de 2005, uma segunda fase do TROCCINOX foi conduzida com a participação da aeronave M-55, tendo ocorrido fora do projeto original do TroCCiBras. No total, seis instituições brasileiras de pesquisa participaram ativamente no experimento de campo sob a coordenação do IPMet/UNESP, quais sejam, CPTEC/INPE, CLA/IPEN, IF/USP, INMET, ELAT/INPE, IAC, assim como o MPIC Alemãs e a Universidade de Osaka, Japão. Uma base única de dados foi estabelecida para o período experimental (21 de janeiro a 11 de março de 2004), a qual nunca esteve antes disponível no Estado de São Paulo. Esta base de dados se tornará pública em janeiro de 2008, um ano após o encerramento do projeto. A coordenação do TroCCiBras com os projetos da Comissão Européia, TROCCINOX e HIBISCUS, resultou em um conjunto geral de dados de valor extraordinário para o Brasil. As demais publicações podem ser encontradas no website do TroCCiBras (http://www.ipmet.unesp.br/troccibras/publicacoes.htm).

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CALHEIROS, R.V.; MACHADO, R; FLENTJE, H.; THOMPSON LEITE, C.A.F. Humidity profi les from satelite sensors and Lidar. Proceedings, HIBISCUS / TroCCiBras / TROCINOX / Workshop, Bauru, SP, p. 24, www.ipmet.unesp.br/troccibras/, 2004.

Figura 6: Concentrações de NO no dia 27 de fevereiro de 2004 durante a manhã (a) e à tarde (b) entre o solo e 2,4 km anmm (Thielman et al., 2004); tempos de amostragem são aproximados, hora local). A imagem do radar de Bauru mostra a atividade convectiva durante o vôo da tarde.

(a)

(b)

Figura 7: Perfi l de Lidar obtido no IPMet, Bauru, em 04 de março de 2004 entre 19:51 HL e 20:57 HL (Landulfo et al., 2004).

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LANDULFO, E.; FREITAS, A.Z.; PAPAYANNIS, A.; SOUZA, R.F.;POZZETTI, L.M.V.; LIMA, E.; BIRAL, A.R.P.; TORRES, A.S.; MATOS, C.A.; SAWAMURA, P.; ZEFERINO, J. Lidar measurements with IPEN’s Aerosol Lidar during the troCCiBras 2004 Campaign. Proceedings, HIBISCUS / TroCCiBras / TROCINOX Workshop, Bauru, SP, p. 10, www.ipmet.unesp.br/troccibras/, 2004.

NACCARATO, K.P.; PINTO Jr., O.; HELD, G.

Lightning climatology in the State of São Paulo in comparison to the TroCCiBras experimental period in 2004. Proceedings, HIBISCUS / TroCCiBras / TROCINOX Workshop, Bauru, SP, p. 10, www.ipmet.unesp.br/troccibras/, 2004.

NIELSEN, J.K.; LARSEN, N.; CAIRO, F.; Di DONFRANCESCO, G.; ROSEN, J.M.; DURRY, G.; HELD, G. Solid particles in the tropical lowest stratosphere. Atmos. Chem. Phys., v. 7 (Special HIBISCUS issue), p. 685-695, 2007.

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POMMEREAU, J.P.; GARNIER, A.; HELD, G.; GOMES, A.M.; GOUTAIL, F.; et. al. An overview of the HIBISCUS campaign. Atmos. Chem. Phys. Discuss., v. 7 (Special HIBISCUS issue), p. 2389-2475, 2007.

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THIELMANN, A.; WELLING, M.; ANDREAE, M.O. Trace gas measurements during TroCCiBras / TROCCINOX 2004. Proceedings, HIBISCUS / TroCCiBras / TROCINOX Workshop, Bauru, SP, p. 11, www.ipmet.unesp.br/troccibras/, 2004.

5. AGRADECIMENTOS

Agradece-se à UNESP e à Fundunesp pelo seu suporte fi nanceiro, permitindo que alguns sub-projetos e atividades do projeto TroCCiBras fossem executadas conjuntamente com o TROCCINOX e o HIBISCUS durante a campanha experimental, conforme proposto inicialmente. O CTA forneceu incalculável apoio logístico para obter as permissões necessárias do governo central em conexão com a admissão temporária do avião estrangeiro, enquanto destina-se à Embraer elevado reconhecimento e especiais agradecimentos por disponibilizar suas

instalações em Gavião Peixoto, para serem usadas como uma base para as aeronaves do TroCCiBras e do TROCCINOX, sem custos para o projeto. Agradece-se, outrossim, a Açucareira Zillo-Lorenzetti e a equipe da Usina São José, assim como a UNIP, Campus de Bauru, pela permissão de instalação das estações de descargas elétricas do LRGOU em suas dependências. O apoio do Ministério da Defesa e do Ministério de Ciência e Tecnologia (incluindo o CNPq) foram fundamentais para que o projeto pudesse se concretizar.

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HOMENAGEM DA SBMET AOS SEUS SÓCIOS BENEMÉRITOS

No encerramento da Assembléia Geral do V Congresso Brasileiro de Meteorologia, realizado no Rio de Janeiro, no período de 7 a 11 de novembro de 1988, a Diretoria Executiva (DE) e o Conselho Deliberativo (CD) da SBMET conferiram o título na categoria Sócio Benemérito às seguintes personalidades, por terem contribuído de forma invulgar para o desenvolvimento da SBMET ou para a salvaguarda dos seus interesses: Jesus Marden dos Santos, Yomar Morada de Souza, Everaldo Cavalcanti Bechara, Fábio de Alcântara e Fernando Pimenta Alves.

Passado-se quase vinte anos, a SBMET presta uma singela homenagem a essas personalidades em reconhecimento ao trabalho prestado e, que alguns deles ainda vem prestando á sociedade. Desta vez, na

forma de uma matéria curta publicada nesse número do Boletim da SBMET, destacando os principais aspectos de suas vidas profi ssionais em prol da Meteorologia.

Atualmente temos no quadro de associados na categoria Sócio Benemérito apenas três dessas personalidades mencionadas. São eles: Jesus Marden dos Santos, Everaldo Cavalcanti Bechara e Fernando Pimenta Alves. Os demais, infelizmente, já são falecidos, e a homenagem será in memorian. Apesar dos esforços empreendidos pela DE e pelo CD em contata-lo, só foi possível saber que o Sr. Bechara está residindo em Recife. Assim, devido à falta de informações mais atualizadas sobre a vida profi ssional desse sócio, sua homenagem será publicada em um próximo número do Boletim.

JESUS MARDEN DOS SANTOS

Nosso homenageado, Jesus Marden dos Santos, para os amigos e alunos que tiveram o privilégio de tê-lo como professor, Dr. Marden, é fi lho de Piracicaba, aprazível cidade do interior de São Paulo, cortada pelo rio de mesmo nome. Em 1952 foi diplomado como Engenheiro Agrônomo pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ)/USP; neste mesmo ano iniciou sua carreira docente junto ao seu Departamento de Física e Meteorologia (atualmente Departamento de Ciências Exatas). Por várias vezes exerceu a Chefi a deste Departamento. Quatro anos após, realizava o seu Mestrado em Climatologia Agrícola na Iowa State University nos EUA, e em 1957 obteve seu doutorado na ESALQ/USP. Entre 1963 e 1964, sob a supervisão de Tanner e Suomi realizou Estágio de Especialização na Universidade de Wisconsin/EUA e, usufruindo uma bolsa do Conselho Britânico, obteve o pós-doutorado trabalhando com Penman e Monteith. Quem já

“transitou” pelos domínios agrometeorológico e biometeorológico fi cou fascinado ao ler os trabalhos destes renomados pesquisadores. Cremos que somente os talentos privilegiados foram contemplados com a oportunidade única de sorverem os ensinamentos destes quatro luminares. E o Dr Marden foi um destes talentos.

O Dr. Marden obteve a Livre Docência em 1978 e passou a Prof. Adjunto em 1979. No âmbito específi co da Meteorologia foi Diretor do então Departamento Nacional de Meteorologia (DNMET), atual Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), no período de 1964 a 1967, o qual tinha sua sede no Rio de Janeiro. Foi nesta ocasião que, seguindo seu perfi l inovador e idealista, sedimentou as bases do primeiro Curso de Meteorologia do Brasil, instalado provisoriamente no Departamento de Física da Faculdade Nacional de Filosofi a (FNFi) da Universidade do Brasil (UB), conhecida hoje como Universidade Federal do Rio

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de Janeiro (UFRJ). Da primeira turma do Curso somos seu feliz componente e nos alegramos de lembrar aqueles momentos, ainda presentes na nossa memória, embora já passados 42 anos. Fazemos votos que, daqui a 42 anos, os calouros de Meteorologia de hoje tenham a oportunidade de comemorar com a mesma alegria esta fase de suas vidas profi ssionais, da mesma forma com que nós da primeira turma o fazemos.

Nossas atividades como alunos eram divididas entre as aulas na FNFi e no INMET na Praça XV. Como atividade integradora tivemos oportunidade de vivenciar um Serviço de Meteorologia, num ambiente onde se respirava a ciência meteorológica e do qual partilhávamos do esforço do Dr. Marden pela modernização do Órgão. Além de sala de aula, de um Laboratório de Análise e Previsão do Tempo e sala para as práticas da disciplina “Instrumentos Meteorológicos”, dispunhamos de cabines individuais com ar condicionado para realizarmos nossos estudos, rever as aulas, fazer nossos exercícios. Na ocasião o Dr. Marden nos lecionava as disciplinas “Instrumentos e Métodos de Observação” e “Climatologia”.

Desta forma, o Dr. Marden, com sua visão anos à frente, fez com que o INMET da época se transformasse, também, no nosso ponto de agradável convívio diário inclusive com os seus funcionários. Uma verdadeira revolução no conceito de ensino e treinamento em Meteorologia, na época.

Lembramos com satisfação quando, ainda estudantes, fomos instalados pelo Dr. Marden para participar da organização da Biblioteca do DNMET. Num trabalho de garimpagem e supervisionados pela bibliotecária Dulce Cardoso, de saudosa memória,

ajudamos na seleção, catalogação e organização dos milhares de documentos, publicações as mais variadas de Meteorologia e até cartas sinóticas da Rússia, que se encontravam amontoados na Biblioteca. Gostaríamos de continuar contando aqui, principalmente para os jovens alunos da Meteorologia, os muitos “causos” por nós vividos. Seriam muitas páginas a serem escritas, mas o espaço é curto e, assim, não será possível.

Ao longo dos anos e já profi ssionais, fomos testemunhas de sua atuação como Diretor (de 1967 a 1972), na modernização e consolidação da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias do Campus de Jaboticabal, SP, hoje reconhecida internacionalmente.

Em seu invejável curriculum vitae, destaca-se sua dedicação à formação acadêmica de novos meteorologistas. Além da criação de novas escolas, novos cursos, orientou dezenas de pesquisadores. Foi meu orientador no mestrado e doutorado na ESALQ/USP.

Para fi nalizar, tomamos a liberdade de pinçar trecho de uma menção feita ao Dr. Marden pela Sociedade Brasileira de Agrometeorologia (SBAgro), em seu Boletim, por ocasião da outorga do merecido título de Agrometeorolista Emérito: “Os seus trabalhos e esforços com certeza contribuíram decisivamente para modernizar os estudos e técnicas na Meteorologia, Agronomia, Meio Ambiente e Agrometeorologia, entre outros, e na formação de recursos humanos, criando o primeiro Curso de Pós-Graduação em Agrometeorologia no Brasil, junto a ESALQ, em 1972.”

Escrito por José Marques, Presidente do CD da SBMET.

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FERNANDO PIMENTA ALVES

Fernando Pimenta Alves nasceu no Rio de Janeiro em 03 de dezembro de 1921, cidade que reside atualmente. Em 1940, interrompeu o Curso de Química Industrial, na Universidade do Brasil, para fazer o Curso Superior em Meteorologia na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA-EUA). Para tal, conseguiu uma bolsa de estudos do United States Weather Bureau-EUA (de 1941 a 1944), e obteve os títulos de Meteorologista Profi ssional (Bacharel) e Mestrado em Meteorologia. Após concluir seu curso, fez estágio por seis meses no United States Weather Bureau, como Meteorologista-júnior no Aeroporto Internacional de Kansas City-EUA. Em 1945 ocupou o cargo de Meteorologista Sênior na Panair do Brasil S. A., sediada no Rio de Janeiro. Desde 1945 é Membro Profi sional da Sociedade Americana de Meteorologia. No período de 1946 até 1954, organizou e chefi ou a Seção de Meteorologia da Empresa de Transportes Aerovias Brasil S. A.

Foi nomeado Meteorologista Classe I do Serviço de Meteorologia do Ministério da Agricultura (INEMET) em 1951, com sede no Rio de Janeiro, sendo efetivado no cargo em 1953 após aprovado em concurso público. No INEMET exerceu vária funções no período de 1951 a 1990, podendo-se destacar a de Chefe da Seção de Meteorologia Sinótica e Marítima, Chefe da Seção de Rádio-Comunicação, Chefe da Divisão de Meteorologia Aplicada, Assessor do Diretor do INEMET, Coordenador do Programa Mundial do Clima e Diretor do 60 Distrito de Meteorologia, tendo sido dispensado dessa última função em março de 1990.

Enquanto estava no INEMET, foi posto à disposição da Organização Meteorológica Mundial (OMM), em resposta a convite do Secretário Geral da OMM. Assim, serviu à OMM de 13 de outubro de 1964 até 17 de janeiro de 1982, onde ocupou inicialmente o cargo de Ofi cial Técnico, passando em 1969 a Chefe da Divisão de Sistemas de Observação do Departamento de vigilância Meteorológica Mundial, permanecendo no cargo por 10 anos. Exerceu esse cargo até completar 60 anos, idade limite

dos funcionários da OMM, conforme regulamento da Organização. Durante todo o período de seu trabalho no Secretariado da OMM, executou suas funções e responsabilidades com grande efi ciência e conhecimento profi ssional. Suas relações dentro e fora do Secretariado foram excelentes, fazendo muitos amigos no mundo inteiro. Retornou ao Brasil em 21 de janeiro de 1982, reassumindo a função de Meteorologista do INEMET em 5 de fevereiro de 1982.

Também exerceu outras atividades profi ssionais, tais como Professor da disciplina Meteorologia Geral ministrada no curso regular de Técnico de Meteorologia, na Escola Técnica Nacional (em 1962), Professor de Inglês Técnico do curso avulso de Meteorologista do Curso de aperfeiçoamento, Especialização e Extensão do Ministério da Agricultura (em 1962), e Professor da disciplina Meteorologia, ministrada aos ofi ciais da DHN, em seu Curso de Especialização, em 1964. Foi Secretário do Comitê de Meteorologia na “ICAO South Atlantic Regional Session”, em 1947; Delegado do Brasil na Segunda Reunião da Associação Regional III (América do Sul) da OMM realizada em Caracas, em 1957; Presidente do Grupo de Trabalho de Telecomunicações da Associação Regional III (América do Sul), de 1957 até 1964; e Delegado do Brasil na Reunião da Comissão de Meteorologia Sinótica da OMM, realizada em Washington, em 1962.

Foi o primeiro Presidente eleito da Sociedade Brasileira de Meteorologia - SBMET (1960-1962), sendo reconduzido ao cargo por mais três biênios, a saber: 1983-1984, 1989-1990 e 1994-1996. Ocupou o cargo de Membro Suplente do Conselho Deliberativo no biênio 1987-1988. Também foi Membro Efetivo do Conselho Deliberativo em 1991 e nos biênios 1993-1994, 1996-1998 e 1998-2000. Exerceu o cargo de Presidente da Comissão Organizadora do VI Congresso Brasileiro de Meteorologia, realizado em Salvador, no período de 19 a 23 de novembro de 1990. Fernando Pimenta Alves realizou um trabalho exemplar na SBMET, com seu talento inovador e dedicação, o qual é reconhecido amplamente por toda a comunidade.

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TEMA DA OMM PARA O DIA METEOROLÓGICO MUNDIAL DE 2007

“METEOROLOGIA POLAR: ENTENDENDO OS IMPACTOS GLOBAIS”

Mensagem do Sr. M. Jarraud,Secretário geral da OMM

Tradução de Dimitrie NechetProfessor da UFPa

Todos os anos, no dia 23 março, a Organização Meteorológica Mundial (OMM), os seus 187 países membros e a comunidade meteorológica mundial celebram o Dia Meteorológico Mundial. Este Dia comemora a entrada, ofi cialmente, em 1950, da Convenção da OMM, criando a Organização. Subseqüentemente, em 1951, a OMM foi designada como uma agência especializada do Sistema das Nações Unidas.

Em 2005, por ocasião de sua sessão de número 57, o Conselho Executivo da OMM decidiu que o tema para o ano de 2007 seria “Meteorologia Polar: Entendendo os Impactos Globais”, em reconhecimento à importância do Ano Polar Internacional de 2007-2008, e como uma contribuição para esse ano, que está sendo patrocinado pela OMM e pelo Conselho Internacional para a Ciência (ICSU). Para assegurar que os pesquisadores possam trabalhar em ambas as regiões polares durante os meses de Verão e de Inverno, o evento na verdade, será mantido de março de 2007 a março de 2009. O objetivo fundamental do Ano Polar Internacional é um intenso trabalho de coordenação internacional, pesquisa científi ca interdisciplinar e observações focalizadas nas regiões polares da Terra e os seus efeitos globais de longo alcance.

Em recentes anos, houve interesse renovado no clima e as nas condições ambientais das regiões polares que têm alguns antecedentes históricos importantes, já que essas regiões desempenharam um papel decisivo, tradicionalmente, nas atividades da OMM e nas atividades da Organização que a antecedeu, a

Organização Meteorológico Internacional (OMI). Em 1879, o Segundo Congresso Meteorológico aprovou o objetivo de um Ano Polar Internacional, que foi mantido em 1882-1883. O segundo Ano Polar Internacional que também foi iniciado pela Organização Meteorológica Internacional aconteceu em 1932-1933. O sucesso do primeiro e do segundo Ano Polar Internacional conduziu ao desenvolvimento de um Ano Geofísico Internacional mais amplo, estendendo-se para englobar as latitudes mais baixas, em lugar de, simplesmente, um novo Ano Polar Internacional. Esse Ano Geofísico Internacional, que durou de 1 de julho de 1957 a 31 de dezembro de 1958 teve como conseqüências de longo alcance, em termos de pesquisas científi cas, pelo envolvimento de 80.000 cientistas de 67 países.

Através dos Serviços Nacionais de Meteorologia e Hidrologia e de outras instituições de seus países membros, a OMM estará fazendo contribuições signifi cativas ao novo Ano Polar Internacional nas áreas de, meteorologia polar, oceanografi a, glaciologia e hidrologia, em termos de pesquisa científi ca e de observações. Outra contribuição essencial para o Ano Polar Internacional será fornecido pelo programa espacial da OMM. Afi nal de contas, os resultados científi cos e operacionais do Ano Polar Internacional oferecerão benefícios a vários programas da OMM, gerando conjuntos completos de dados e conhecimento científi co de órgãos ofi ciais, para assegurar desenvolvimento adicional de monitoramento ambiental e previsão de sistemas, incluindo a previsão de tempo severo. Além disso, fornecerá valiosas contribuições na

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avaliação de mudança de clima e de seus impactos, em particular, se as redes de observação forem estabelecidas ou melhoradas durante o período do Ano Polar Internacional, para poderem ser mantidas, por muitos anos, de modo operacional.

Até agora as observações meteorológicas locais envolvidas nas regiões, polares são áreas menos densas de cobertura na Terra. Assim, a meteorologia polar tem confi ado extensivamente nos satélites de órbita polar. Dados anteriores de satélite meteorológicos obtidos destas regiões consistiram, principalmente, de imagem visível e de infravermelha, mas, em recentes anos, uma gama muito mais ampla de produtos fi cou disponível de instrumentos com microonda ativos e passivos, permitindo, em particular, a determinação de perfi s de temperatura e de umidade, até mesmo durante condições atmosféricas nubladas, bem como de ventos, da extensão e da concentração de gelo de mar e vários outros parâmetros. Além disso, esta falta relativa de observações no local, também foi compensado, parcialmente, pelo desenvolvimento de estações meteorológicas automáticas e de bóias fi xas e à deriva no gelo.

Embora as regiões polares sejam, geralmente, distantes de zonas amplamente povoadas, há uma grande necessidade por previsões seguras do tempo nessas áreas. Ao redor do Ártico, são necessárias as previsões para a proteção de comunidades indígenas e em defesa de operações marítimas, como também para a exploração e produção de óleo e gás. Na Antártica, são necessárias previsões seguras para as operações complexas de logística marítimas e aéreas, como também em defesa de programas de pesquisa científi ca e pela expansão da indústria de turismo. A previsão do tempo, em todas as partes do mundo, apresenta alguns desafi os sem igual, quando comparado às regiões extra-polares, mas os avanços notáveis fi zeram durante os recentes anos observações de sistemas para a previsão numérica do tempo, que tem levado à melhoria considerável na habilidade de previsões do tempo, incluindo essas regiões polares.

Durante as últimas décadas, foram descobertas mudanças signifi cativas no ambiente polar, como uma diminuição no gelo perene do mar, o derretimento de

algumas geleiras e das geadas permanentes e uma diminuição de gelo de rio e de lago. Estas mudanças que são até mesmo mais evidentes no Ártico do que na Antártica, estiveram sujeitas a consideráveis estudos. O Terceiro Relatório de Avaliação da OMM, em 2001 com o patrocínio do Painel Intergovernamental em Mudança de Clima (IPCC) indica que a temperatura de superfície global da Terra aumentou, por aproximadamente, 0.6°C durante o século 20. O Relatório, além disso, fez estimativas adicionais calculando, globalmente, a média de temperaturas de superfície, que estariam subindo de 1,4 a 5,8oC, no período de 1990-2100. No total, o IPCC calculou que, pelo ano de 2100, o nível do mar terá aumentado entre 9 cm e 88 cm que causaria um problema muito signifi cativo para muitos Estados em Desenvolvimento de Pequenas Ilhas e, em geral, para áreas de baixadas do mundo. Atualmente, o IPCC está no processo de preparação do seu Quarto Relatório de Avaliação, que será libertado durante o ano de 2007.

A diminuição do gelo do mar poderia induzir à mudanças sérias em ecossistemas marinhos, afetando mamíferos marinhos e as vastas populações de krill, que alimentam o grande número de aves marinhas, focas e baleias. A geada permanente também é sensível ao aquecimento atmosférico a longo prazo, e, assim, é provável ter um descongelamento progressivo nas superfícies congeladas, ao redor do Ártico, acompanhado pela expansão de superfícies molhadas e o potencial para o dano considerável para o suporte de edifi cações e da infra-estrutura. Este derretimento também teria implicações para o ciclo de carbono, através da liberação de um dos gases de estufa mais importantes, o metano, que é mantido dentro da geada permanente.

Ozônio é um gás estratosférico, extremamente,

importante já que ele protege a biosfera absorvendo radiação solar ultravioleta. O ozônio atmosférico foi primeiro medido na Antártica através de instrumentos baseados na superfície durante o Ano Polar Internacional de 1957-1958. Desde meados de1970, um padrão diferente foi descoberto ao término de invernos do Hemisfério Sul, já que o

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aumento de valores mais baixos de ozônio foi, consecutivamente, medido a cada ano até o início de aquecimento da primavera da estratosfera. De acordo com a descoberta do buraco de Ozônio da Antártica foi uma conseqüência importante do Ano Polar Internacional. Foi fi nalmente determinado que o “buraco” desenvolveu-se em grande parte, como resultado de emissões de alguns gases industriais extensivamente usados. Contudo, seguindo as medidas adotadas como resposta, parece estar estabilizando agora. Se as providências do Protocolo de 1987 nas substâncias que destruem a Camada de Ozônio forem adotadas, calcula-se que a camada de ozônio, em médias latitudes, estará recuperando seus valores normais, em meados do atual século e que, a recuperação da Antártica, exigirá uns 15 anos adicionais.

Contudo a importância do estudo da meteorologia

polar pode, por si só, estar impossibilitada, como um todo, enfatizar os impactos fundamentais das regiões polares, no sistema de clima global. As mudanças nas latitudes mais altas podem ter impactos signifi cativos, em todos os ecossistemas e em todas as sociedades humanas, independente da latitude geográfi ca. Assim, os impactos de meteorologia polar devem ser considerados dentro de um contexto mais amplo.

Realmente, há numerosos exemplos de infl uências

globais das consequências polares. Por exemplo, gelo polar constitui a cobertura térmica efetiva, que desempenha um papel crítico na manutenção da circulação oceânica global. Além disso, as regiões polares têm um papel primordial na determinação do sistema de clima global, que é dirigido pela energia recebido do Sol, principalmente nas latitudes mais baixas. Como um todo, o Equador recebe durante o ano, aproximadamente, cinco vezes mais energia calorífi ca do que os Polos, e a atmosfera e os oceanos respondem a esse grande gradiente térmico transportando esse calor para os Polos. Assim, as duas regiões polares são unidas ao resto do sistema de clima da Terra por caminhos bastante complexos, baseado em escoamento atmosférico combinado e na circulação oceânica.

O El Niño Oscilação Sul (ENOS) é a maior massa de fl utuação do Oceano Pacífi co tropical, que está associado com as variações periódicas nas temperaturas da superfície do mar do Este do Oceano Pacífi co. O ENOS é na realidade um grande ciclo climático e tem sido mostrado que afeta outras regiões, mesmo distantes da bacia do Pacífi co. Por exemplo, evidências estatísticas mostram que, em certas partes de África, o ENOS pode contribuir na discrepância das chuvas interanuais e até mesmo para a seca, como na realidade ocorreu, com o evento do Niño em 1991-1992, quando um episódio de seca devastadora ameaçou, em torno de 18 milhões de pessoas com a fome. As “Teleconexões” são defi nidas como interações atmosféricas entre regiões, grandemente, separadas e agora os pesquisadores estão investigando tais relações entre as condições de tempo polares e outros evento de tempo e clima.

O Ano Polar Internacional de 2007-2008, assim,

está endereçado a uma gama extensa de assuntos físicos, biológicos e sociais, direta ou indiretamente relacionados às regiões polares. A urgência e a complexidade das mudanças observadas nas regiões polares exigirão uma aproximação científi ca mais ampla e mais integrada. A colaboração internacional aumentada e as sociedades abertas são o resultado desse marco e do esforço científi co, sem nenhuma dúvida, estimulam e facilitam o acesso de dados irrestritos e iniciativas de pesquisas entrelaçadas. Através de um amplo esforço, o Ano Polar Internacional representará, também, um passo adiante na disponibilidade de conhecimento científi co com acesso ao público geral. Ao mesmo tempo, em relação à geada permanente, será o fato que os impactos derivados das regiões polares são, também, importantes para o sistema climático global, como um todo, de modo que muitas mudanças detectadas, nas latitudes mais altas serão achadas terem impactos signifi cativos no desempenho sustentável de todas as sociedades, independente da latitude geográfi ca.

A Meteorologia sempre foi reconhecida como

um paradigma de uma ciência sem fronteiras e a meteorologia polar é, talvez, o último exemplo deste princípio. Assim,, quando a comunidade meteorológica

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internacional celebra o Dia Meteorológico Mundial, em 2007, é meu desejo que todos os países membros da Organização Meteorológica Mundial reconheçam a importância da meteorologia polar e de seus impactos globais potenciais nas suas vidas, nas suas seguranças e nas suas prosperidades. Além disso, também é

minha expectativa que os resultados desse esforço possam contribuir para um melhor entendimento da variabilidade e da mudança de clima, como também, para o desenvolvimento e disponibilidade de muitas aplicações necessárias do clima, um dos maiores desafi os do século 21.

COMEMORAÇÃO DO DIA METEOROLÓGICO MUNDIAL DE 2007 NO BRASIL

Em 23 de março de 2007 foi comemorado o Dia Meteorológico Mundial, com o tema “Meteorologia Polar: Entendendo os Impactos Globais”. No Brasil, muitas instituições realizaram eventos conjuntos e enviaram à Secretaria da SBMET sua Programação de atividades em comemoração pela data. Essas Programações foram amplamente divulgada pela

SBMET no Informe e no Portal (www.sbmet.org.br). Os membros da Diretoria Executiva da SBMET se fi zeram presentes em vários desses eventos. As instituições que organizaram um evento específi co em comemoração ao Dia, e que suas programações foram divulgadas pela SBMET, foram:

CEPAGRI/UNICAMP e a EMBRAPA InformáticaCPTEC/INPECurso de graduação em Meteorologia e o Centro Estadual de Meteorologia e Hidrologia da Universidade do Estado do Amazonas (UEA)EPAGRI/CIRAMInstituto de Pesquisas Cientifi cas e Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA)/Núcleo de Hidrometeorologia e Energias Renováveis (NHMET)INMET-20 DISME, SIPAM, SECTAM, UFPA e INFRAEROINMET – 50 DISME-MGINMET – 100 DISME-GOIPMET/UNESP - BauruUFPEL, UFSM e INMET-8º DISMEUFCGUFALUSP e ATECHSIPAM-Porto VelhoSIPAM, UFPA e INMET

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ACONTECEU

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EDITOR DA REVISTA BRASILEIRA DE METEOROLOGIA: UMA EXPERIÊNCIA ÚNICA

Tércio AmbrizziDCA - IAG/USP

Editor Responsável da RBMET (2003-2006)[email protected]

Em 2007 a Revista Brasileira de Meteorologia (RBMET) completa 21 anos de existência. Dentro da sociedade civil, esta idade indica a maioridade plena e ao olhar a evolução da revista desde o lançamento do primeiro número em 1986, creio ser este o caso. Nos anos iniciais, a revista apresentou um número de edições não periódicas e poucos artigos por fascículo, acompanhando de certa forma o desenvolvimento da própria área de ciências atmosféricas no país. No entanto, aliado ao próprio desenvolvimento da Meteorologia brasileira e com o auxílio de algumas agências de fomento à pesquisa (CNPq, FAPESP, CAPES), nos últimos anos a RBMET conseguiu recuperar e atualizar sua publicação, tendo agora periodicidade quadrimestral. Atualmente, a RBMET apresenta um fl uxo contínuo de recebimento de artigos e já conta com trabalhos revisados para publicação em suas próximas edições.

Missão da Revista

A Revista Brasileira de Meteorologia, editada e publicada pela Sociedade Brasileira de Meteorologia (SBMET), é o órgão de divulgação das pesquisas em andamento pela Comunidade Meteorológica. As pesquisas divulgadas são resultados de trabalhos dos pesquisadores e professores da área de meteorologia e suas sub-áreas como climatologia, sinótica, hidrometeorologia, sensoriamento remoto, modelagem atmosférica e climática; abrangendo resultados novos de pesquisa e muitas vezes trabalhos

oriundos da área acadêmica (dissertações de mestrado e teses de doutorado). Os trabalhos abordam as características da atmosfera na região brasileira e de outras regiões do globo, onde além dos resultados de pesquisadores brasileiros, são publicados também artigos elaborados por colegas da comunidade latina americana e internacional de forma geral. Todos os artigos são revisados por profi ssionais especializados ( peer review process ) e mantidos no anonimato. Há também espaço para publicação de artigos científi cos de revisão, apresentando o estado da arte em um determinado assunto. Neste ultimo caso a revisão científi ca é normalmente solicitada a pesquisadores altamente qualifi cados ou então pesquisadores estrangeiros, uma vez que os artigos podem ser submetidos em língua inglesa, espanhola ou portuguesa, sendo que necessariamente os resumos e títulos devem aparecer em português e inglês.

Atualmente, em torno de 70% dos artigos são oriundos de trabalhos de pesquisa inéditos. Os outros 20% fazem parte de estudos desenvolvidos através de pesquisas advindas da área acadêmica, ou seja, são trabalhos de mestrado e parte de teses de doutorado. Aproximadamente 5% dos artigos, mostram estudos de caso de eventos particulares e que se destacaram dentro de uma determinada estação do ano. Conforme explicitado acima, trabalho de revisão do estado da arte de um tópico específi co e atual também são aceitos, mas são pouco freqüentes, representando menos de 5% correspondente as quatro últimas edições da revista.

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Ser Editor da RBMET

No XII Congresso Brasileiro de Meteorologia realizado na cidade de Foz do Iguaçu em 2002, a assembléia geral da SBMET votou uma mudança nas normas de administração da Revista Brasileira de Meteorologia, onde o mandato do Editor Responsável pela RBMET passaria de 2 para 4 anos, podendo inclusive ter uma recondução pelo mesmo período. Ficou determinado também que o Editor não poderia estar vinculado a Diretoria Executiva (DE). Estas modifi cações foram propostas com o intuito de fortalecer a revista e dar continuidade de trabalho independente dos diretores da SBMET. Sendo assim, através da indicação de meu nome, votação na Assembléia Geral e aceite, tornei-me responsável pela publicação da principal revista brasileira de divulgação de pesquisa na área de Ciências Atmosféricas.

Dando continuidade ao excelente trabalho que vinha sendo realizado pelos Editores Responsáveis de períodos anteriores, várias metas e ações foram atingidas ao longo do mandato de 2003 a 2006. Primeiramente, um time de pesquisadores doutores de alto nível e de diferentes instituições brasileiras foi convidado a fazer parte da RBMET, são eles: José Antonio Marengo Orsini (INPE/CPTEC – Editor Assistente); Enio Pereira de Sousa (UFCG); Gilberto Fisch (CTA/IAE); Osvaldo L. L. de Moraes (UFSM) e posteriormente Augusto José Pereira Filho (USP/IAG), como Editores Associados.

Com o intuito de tornar a RBMET conhecida internacionalmente, além dos editores responsáveis pela qualidade da revista dentro do Brasil, alguns outros pesquisadores renomados de instituições latino-americanas, dos Estados Unidos e Inglaterra, aceitaram participar do Corpo Editorial Internacional da revista como os Drs. Carolina S. Vera (UBA, Argentina), René D. Garreau (UCh, Chile); Victor Magaña (UNAM, México), Brant Liebmann (CIRES, Estados Unidos) e David

Stephenson (UR, Inglaterra). Estas primeiras ações tinham por objetivo estimular a qualidade e quantidade de artigos submetidos, onde a freqüência anual de publicação e seu reconhecimento internacional pudessem ser atingidos.

Apesar de todos os planos e metas, da motivação e suporte de toda a equipe de editores, uma das difi culdades encontradas ao longo do período foi quanto ao fi nanciamento da própria revista. Nas duas gestões da DE, ou seja, nos biênios 2002-2004 e 2004-2006, o suporte a RBMET foi amplo e irrestrito. Através de pedidos de auxílio à editoração ao CNPq e contribuição de alguns pesquisadores através de projetos de pesquisa, as edições da revista continuaram a ser publicadas dentro do período esperado. Conforme podemos ver pela Tabela 1, ao longo dos anos, o volume de artigos recebidos cresceu de forma signifi cante e, desta forma, a partir do ano de 2005, a RBMET começou a contar com três edições anuais. Recebendo artigos não somente de pesquisadores brasileiros, mas também de outros países latino-americanos, a qualidade dos mesmos também melhorou de forma excepcional, sendo que há vários anos a revista é considerada como Qualis Nível A Nacional da CAPES, ou seja, dentro do ranking das revistas em que a CAPES qualifi ca como importante e considera em suas avaliações de produção científi ca dos cursos de pós-graduação, particularmente na área de Meteorologia.

Ao longo do ultimo quadriênio, a RBMET se consolidou como uma revista de divulgação de

Descrição 2003 2004 2005 2006

Artigos Recebidos 24 32 56 87*

Artigos Aceitos 21 22 36 11Artigos Recusados 3 06 13 08Artigos Cancelados pelo Autor - 04 02 -

Artigos em Processo de Revisão - - 05 24

Tabela 1: Resumo geral dos artigos recebidos, aceitos, recusados, cancelados pelo autor e em processo de revisão ao longo do quadriênio 2003-2006

(*) O total de artigos recebidos em 2006 contém também a soma daqueles enviados para a edição especial do LBA (ver texto para detalhes).

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pesquisa altamente qualifi cada e de referencia nos meios acadêmicos. Com o aumento dos artigos submetidos e posteriormente aceitos, foi necessário não somente aumentar o número de edições por ano, fato este que se concretizou a partir de 2004, com edições em junho, agosto (durante o XIII Congresso Brasileiro de Meteorologia em Fortaleza, Ceará) e dezembro; mas também aumentar o número de artigos por edição, passando de 10 para 12 a partir da edição de dezembro de 2004 (Tabela 2).

A evolução do número de artigos ao longo da história da RBMET, bem como os principais editores responsáveis pela mesma podem ser apreciados através da Tabela 2. É interessante notar que o primeiro número publicado em 1986 continha apenas 4 artigos e o volume 21, números 3a e 3b, publicado em dezembro de 2006, contém no total 37. Na verdade, em relação a esta última edição, a confi ança alcançada

pela RBMET, seja em sua comprovada qualidade como em sua freqüência, culminou com uma edição especial de trabalhos ligados ao projeto Large-scale Biosphere-Atmosphere Experiment in Amazônia (LBA), o qual teve como editores especiais os Drs. Osvaldo L. L. de Moraes da Universidade Federal de Santa Maria e Antonio O. Manzi, do INPA.

Apesar da Tabela 2 conter apenas os nomes dos editores responsáveis pela RBMET ao longo destes últimos 20 anos, deve ser ressaltada a grande contribuição dos editores assistentes e associados em cada uma de suas fases. Destaque também é dado aos inúmeros revisores que tem contribuído diretamente para o aumento progressivo da qualidade dos artigos publicados. Neste caso, os autores estão de parabéns por submeterem seus artigos a nossa revista, por acreditarem em sua qualidade e capacidade de divulgação científi ca.

Volume Número Data Public. No artigo Editor Responsável

1 1-2 Junho/Dez/86 4-7 Antonio Divino Moura

2 1-2 Jun/Dez/87 8 Antonio Divino Moura

3 1 Jun/88 4 Antonio Divino Moura

3 2 Dez/88 4 Silvio de Oliveira

4 1-2 Jun/Dez/89 6 Silvio de Oliveira

5 1-2 Jun/Dez/90 6 Silvio de Oliveira

6 1-2 Jun/Dez/91 8 Maria Assunção F.S. Dias

7 1-2 Jun/Dez/92 8 Maria Assunção F.S. Dias

8/9 1-1 93/94 9 Maria Assunção F.S. Dias

10 1-2 Jun/Dez/95 8 Romisio G. B. André

11 1-2 Jun/Dez/96 10 Romisio G. B. André

12 1-2 Jun/Dez/97 6 Romisio G. B. André

13 1-2 Jun/Dez/98 7 Romisio G. B. André

14 1-2 Jun/Dez/99 7-8 Romisio G. B. André

15 1-2 Jun/Dez/00 11-10 Romisio G. B. André

16 1-2 Jun/Dez/01 10 Gilberto F. Fisch

17 1-2 Jun/Dez/02 10 Gilberto F. Fisch

18 1-2 Jun/Dez/03 10 Tércio Ambrizzi

19 1-3 Jun/Ago/Dez/04 10-10-12 Tércio Ambrizzi

Tabela 2: Descrição do volume, número, data de publicação, número de artigos por número e nome do Editor responsável pela RBMET ao longo dos últimos 20 anos de sua existência.

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Comentários Finais

Após a refl exão feita acima, onde de forma breve descrevi o histórico da RBMET, sua evolução ao longo do tempo e seu impacto em nossa sociedade, creio que o título do presente artigo não poderia estar mais correto, ou seja, ser editor da Revista Brasileira de Meteorologia é sem duvida alguma uma experiência única. Ao longo de meus quatro anos, pude criar laços não somente profi ssionais, mas também de amizade com os Editores que me acompanharam e ajudaram. Juntos tornamos a revista da Sociedade Brasileira de Meteorologia uma referência nacional e internacional. Erros foram cometidos e corrigidos o mais rápido possível, no entanto os acertos foram muito maiores. Neste período pude conhecer também vários membros de nossa comunidade científi ca que estavam sempre dispostos a colaborar com as revisões dos artigos. A eles meu muito obrigado.

Por fi m, de modo a continuar a modernizar a RBMET, tornando-a mais ágil e rápida em termos de tempo de publicação e para facilitar a transmissão dos conhecimentos para os futuros editores, o Portal da RBMET encontra-se pronto para acesso a todos os membros da comunidade científi ca. Através

do esforço do DE no biênio 2005-2006 e da nova diretoria (biênio 2007-2008), o site www.rbmet.org.br encontra-se totalmente implementado. Através deste portal é possível acessar os números antigos da RBMET, além de submeter e acompanhar o andamento de artigos pelos autores. Os editores da revista, bem como os revisores por eles escolhidos terão acesso especial e poderão fazer todo o processo de acompanhamento on line.

Concluo meu mandato com um misto de alegria e tristeza. Alegria porque pude acompanhar toda a evolução de nossa revista e o desenvolvimento científi co de nosso país na área de ciências atmosféricas, além de conviver com pesquisadores de altíssimo nível. Triste porque existem muitas outras coisas que poderia ter feito e não fi z. No entanto, estou certo de que o próximo Editor Responsável pela RBMET vai poder fazer muito mais do que fi z e a ele felicito por aceitar este importante e prazeroso desafi o de comandar a principal revista em Ciências Atmosféricas do Brasil ligada à Sociedade Brasileira de Meteorologia.

20 1-3 Abril/Ago/Dez/05 12 Tércio Ambrizzi

21 1-2 Abril/Ago/06 12 Tércio Ambrizzi

21 3a-3b Dez/06 17-20 Tércio Ambrizzi;Osvaldo L.L. Moraes; e Antonio O. Manzi

Volume Número Data Public. No artigo Editor Responsável

( continuação )

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POSSE DA DIRETORIA EXECUTIVA DA SBMET (2007-2008)

EXPEDIENTEda SBMET

A Diretoria Executiva da SBMET para o biênio 2007-2008 foi empossada em 26 de janeiro pp., em cerimônia realizada na sede do CREA-RJ, durante Assembléia Geral Extraordinária convocada para esse fi m. Estiveram presentes em torno de setenta participantes, incluindo sócios, representantes de instituições públicas e privadas, participantes do CREA, familiares e amigos, além do público em geral.

O encerramento da cerimônia foi coroado com um Coquetel oferecido aos presentes e patrocinado pela Empresa Hobeco Sudamericana Ltda., do sócio da SBMET Sr. Gilson Feitosa, que também prestigiou o evento de posse.

Também informamos que no dia 25 de janeiro pp. a Diretoria Executiva (DE) da SBMET para o biênio 2007-2008 e membros do Conselho Deliberativo (CD) da SBMET estiveram reunidos em um Jantar de Confraternização na Churrascaria PORCÃO, no Rio de Janeiro, patrocinado pela Empresa SIMTECH Representações. Na ocasião, os membros da DE e do CD foram recepcionados pelo Representante da SIMTECH, o Sócio Corporativo da SBMET, Sr. César Lynch.

A DE externa seus agradecimentos à HOBECO e à SIMTECH pela presença na cerimônia de posse dos novos membros da DE e do CD, e pelo patrocínio em ambas as confraternizações já mencionadas.

REGISTRO DA CERIMÔNIA DE POSSE (fotos cedidas por Marley Moscati)

Público presente durante a cerimônia de Posse.

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Assinatura do Termo de Posse, dos membros da nova Diretoria Executiva da SBMET

(a) (b) (c)

(d) (e) (f)

(g) (h) (i)

(j)

a) Isimar de Azevedo Santos (Dir. Financeiro)

b) Jonas da Costa Carvalho (Vice-Dir. Financ.)

c) Marley C. L. Moscati (Dir. Administrativa)

d) Heloisa M. T. Nunes (Vice-Dir. Admin.)

e) Alfredo Silveira da Silva (Dir. Profi ssional)

f) Marilene de Lima (Vice-Dir. Profi ssional)

g) Pedro Leite da Silva Dias (Dir. Científi co)

h) Osvaldo L. L. de Moraes ( Vice-Dir. Científi co)

i) Bernardo Barbosa da Silva (Vice-Presidente)

j) Maria Gertrudes A. Justi da Silva (Presidente)

EXPEDIENTEda SBMET

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Durante a cerimônia foi apresentada a Palestra “Um desafi o para a Meteorologia moderna: a interdisciplinaridade”, proferida pelo Dr. Pedro Leite da Silva Dias (foto 1). A platéia foi muito participativa (foto 2 em destaque Dr. Fernando Pimenta Alves), com uma ampla discussão sobre os assuntos apresentados pelo Dr. Pedro Dias.

COQUETEL OFERECIDO PELA HOBECO (fotos cedidas por Marley Moscati)

Justi (ao centro), com o anfi trião da Hobeco, Gilson Feitosa (à esquerda)

Nova DE da SBMET (2007-2008)(1) (2)

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Boletim SBMET abril 2007EXPEDIENTEda SBMET

Alguns convidados presentes ao coquetel oferecido pela Hobeco:

JANTAR DE CONFRATERNIZAÇÃO OFERECIDO PELA SIMTECH(Fotos cedidas por Marley Moscati)

Presidente da SBMET com anfi trião, Cesar Lynch

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O Conselho Deliberativo da SBMET em reunião realizada na Sede da SBMET, no Rio de Janeiro, em

NOVOS VALORES DE ANUIDADE PARA 2007

TRIMESTRESCLASSES DE SÓCIOS/VALORES (em R$)

ESTUDANTE COLABORADOR EFETIVO CORPORATIVO

Jan-Fev-Mar 23,00 45,00 90,00 180,00

Abr-Mai-Jun 25,00 48,00 95,00 190,00

Jul-Ago-Set 28,00 55,00 110,00 220,00

Out-Nov-Dez 30,00 60,00 120,00 240,00

Encontra-se disponível no Portal da SBMET (www.sbmet.org.br) o link para pagamento online da anuidade de 2007. O pagamento da anuidade deve ser feito exclusivamente via boleto bancário. Isso ajudará no controle dos depósitos feitos em nome da SBMET, pois, muitos depósitos bancários entram sem identifi cação do depositante (o sócio não faz depósito identifi cado).

Para a geração do boleto bancário acesse o link reservado aos sócios e informe seu e-mail e senha. Qualquer dúvida na geração do boleto bancário, favor contatar o Setor de Suporte do Portal, com Rogério Torres ([email protected]).

26 de janeiro de 2007, aprovou os seguintes valores para as anuidades de 2007, atualizados a cada trimestre:

Já está disponível no Portal da SBMET o pgamento de anuidades com cartão de crédito Américan Express (AMEX). É só acessar e conferir!

PAGAMENTO DE ANUIDADES COM CARTÃO DE CRÉDITO

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Devido ao fi m do mandato do Editor Responsável da Revista Brasileira de Meteorologia (RBMET), Dr. Tércio Ambrizzi, a SBMET abriu inscrições para o cargo mencionado. O sócio efetivo Manoel Alonso Gan, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais/Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (INPE/CPTEC), foi candidato único ao cargo supramencionado.

Em Reunião do Conselho Deliberativo (CD) realizada em 27 de abril de 2007, na Sede da SBMET, foi aprovada por unanimidade a designação do sócio Manoel Alonso Gan, como o novo Editor Responsável da RBMET, para o quadriênio 2007-2010.

O nome do novo Editor da RBMET foi submetido à aprovação dos sócios efetivos quites com a anuidade durante a Assembléia Geral Extraordinária, ocorrida em 27 de abril de 2007 na Sede do CREA-RJ, tendo sido aprovado por unanimidade pelos sócios presentes.

A SBMET agradece ao Dr. Tércio Ambrizzi pelo trabalho realizado como Editor da RBMET até essa data e dá as boas vindas ao Dr. Manoel Alonso Gan, desejando-lhe muito sucesso e um ótimo trabalho em seu mandato.

DESIGNAÇÃO DO NOVO EDITOR DA RBMET

Pesquisador Titular do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC)/Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Vem trabalhando no INPE na área de Meteorologia Sinótica e Climatologia Dinâmica desde março de 1982. Obteve o seu bacharelado em Física na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), o mestrado e o doutorado em Meteorologia no INPE, e o Pós-Doutorado no International Research Institute for Climate and Society (IRI).

Publicou artigos em revistas de circulação internacional sobre Ciclogênese, Vórtices Ciclônicos em Altos Níveis e Circulação da Monção na América do Sul. Recentemente foi Vice-Diretor Científi co da SBMET e atualmente é membro do Comitê Regional para o Hemisfério Sul do Programa THORPEX (THe Observing system Research and Predictability Experiment), da Organização Mundial de Meteorologia.

Curriculum Vitae Resumido do novo Editor da RBMET, MANOEL ALONSO GAN

Como proposta inicial de trabalho na RBMET, pretende:

Renovar o atual quadro de editores associados, se possível incluir alguns estrangeiros de renome internacional;Manter e, se possível, melhorar o atual nível da revista;Agilizar o processo de aceitação dos artigos;Procurar corrigir possíveis falhas que por ventura surjam no software de submissão on-line dos artigos (neste caso, conta com o apoio de todos para que seja informado de problemas encontrados).

Assim que outras melhorias que estão sendo discutidas, principalmente com o Dr. Nelson Jesus Ferreira (que será o Editor Assistente) forem defi nidas, estas serão comunicadas aos sócios da SBMET.

••

EXPEDIENTEda SBMET

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RESULTADO DA ELEIÇÃO PARA O CONSELHO FISCAL da SBMET

O resultado da eleição para o Conselho Fiscal (CF) para a conclusão do mandato do ano fi scal de 2007, realizada durante a Assembléia Geral Extraordinária

Candidatos Número de Votos

Elza Correia Sucharov 43

Eugênio José Ferreira Neiva 34

Fernando Pimenta Alves 21

Jaci Maria Bilhalva Saraiva 31

Mariana Palagano Ramalho Silva 26

Houve 06 votos nulos e 02 votos em branco. Assim, foram eleitos os seguintes sócios da SBMET, como membros do CF:

ocorrida em 27 de abril de 2007, na Sede do CREA-RJ, no Rio de Janeiro, segue abaixo:

Titulares:Elza Correia Sucharov - PresidenteEugênio José Ferreira NeivaJaci Maria Bilhalva saraiva

Suplente:Mariana Palagano Ramalho Silva

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Desde a abertura do XIV CBMET em Florianópolis, SC, está em funcionamento o Portal da RBMET (www.rbmet.org.br). Neste, todos os artigos publicados nas RBMET anteriores e atual

(volumes 18 (2003) até o último número de 2007 ), estão com acesso livre para download. Também está disponível o link para submissão online de artigos científi cos.

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XIV CONGRESSO BRASILEIRO DE METEOROLOGIA Síntese dos Relatórios Científi co e de Atividades

1. INTRODUÇÃO

Os Congressos Brasileiros de Meteorologia são eventos bianuais que vêm sendo promovidos, sistemática e ininterruptamente pela Sociedade Brasileira de Meteorologia (SBMET) desde 1980. Tais congressos têm tido grande êxito em promover o entendimento dos processos do meio ambiente atmosférico. Detalhes sobre estes encontros podem ser obtidos em seus respectivos anais publicados pela SBMET.

A Sociedade Brasileira de Meteorologia entendeu que era o momento oportuno de enfocar e priorizar as questões de aplicação e dedicou este XIV Congresso Brasileiro de Meteorologia (XIV CBMET) a este objetivo primordial, defi nindo como tema do evento “A Meteorologia a Serviço da Sociedade”.

No XIV CBMET foram destacadas as seguintes aplicações:

� Energia � Esporte, Turismo, Lazer e Cultura� Agricultura e Pesca� Saúde e Meio Ambiente� Economia, Indústria, Comércio, Transporte e

Comunicações� Defesas Civil e Militar

O objetivo do XIV CBMET, seguindo os passos das edições anteriores, foi o de reunir a comunidade científi ca para apresentar e discutir os resultados das novas descobertas na área de Meteorologia e áreas

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correlatas, enfocando os benefícios que esses resultados e descobertas podem trazer para a sociedade como um todo. Este XIV Congresso especifi camente se propôs a trazer visibilidade às diversas aplicações da Meteorologia, através da interação e do debate com os segmentos envolvidos.

Além de pesquisadores, professores e estudantes de meteorologia, agronomia, oceanografi a, geografi a e ecologia, entre outros, participaram efetivamente do evento, tomadores de decisão, engenheiros e responsáveis por instituições de defesa civil e de planejamento gerencial.

Os Congressos de Meteorologia no Brasil têm crescido a cada edição em dimensão e qualidade, inclusive atraindo grande interesse por parte de pesquisadores de países da América Latina e da Península Ibérica. Além disso, a participação maciça dos estudantes sinaliza para o progresso da área, por envolver as novas gerações nas questões da pesquisa e desenvolvimento. Na presente edição do Congresso, contou-se com 1010 trabalhos e 1563 participantes inscritos. Participaram do evento 357 estudantes de pós-graduação, 550 estudantes dos cursos de Técnico e de graduação, além de 16 participantes especiais (avaliadores dos trabalhos), e os demais inscritos, profi ssionais da área de Meteorologia e afi ns. Houve participantes de todas as instituições ligadas à Meteorologia e Climatologia do Brasil, tais como universidades, órgãos de Meteorologia Estaduais e Federais, empresas de Meteorologia e Ministérios. O evento também contou com a participação de representantes e convidados internacionais.

2. EQUIPE ORGANIZACIONAL DO EVENTO

2.1 - DIRETORIA EXECUTIVA DA SBMETMaria Gertrudes Alvarez Justi da Silva – PresidenteAugusto José Pereira Filho – Vice-PresidenteMarley Cavalcante de Lima Moscati – Diretora AdministrativaNelson Jesus Ferreira – Vice-Diretor AdministrativoIsimar de Azevedo Santos – Diretor FinanceiroAnne Moraes – Vice-Diretora FinanceiraTeresinha de Maria Bezerra Sampaio Xavier –

Diretora Científi caManoel Alonso Gan – Vice-Diretor Científi coAlfredo Silveira da Silva – Diretor Profi ssionalAna Lúcia Frony de Macedo – Vice-Diretora Profi ssional

2.2 – PRESIDENTE DO XIV CBMETMaria Gertrudes Alvarez Justi da Silva – UFRJ

2.3 – COMITÊ DE INFRA-ESTRUTURAAlfredo Silveira da Silva – UFRJAnne Moraes - UFRJClaudine Pereira Dereczynski - UFRJMarley Cavalcante de Lima Moscati – CPTEC/INPE

2.4 – COMITÊ DE FINANÇASIsimar de Azevedo Santos - UFRJHeloisa Moreira Torres Nunes - IGAM/SIMGEElza Correa Sucharov – SIMERJFrancisco de Assis Diniz - INMET

2.5 – COMITÊ LOCALHenrique de Melo Lisboa – UFSC (Coordenador)Reinaldo Haas – UFSCMário Francisco Leal Quadro – CEFET/SCMarcia Vetromilla Fuentes – CEFET/SCMarilene de Lima – CIRAM/EPAGRIRita Alvez – CIRAM/EPAGRIMarcelo Moraes – CIRAM/EPAGRIHelio dos Santos Silva – FURBSylvio Mantelli – INPE

2.6 – COMITÊ CIENTÍFICOAugusto José Pereira Filho – USPLuis Augusto Toledo Machado – CPTEC/INPEManoel Alonso Gan – CPTEC/INPENelson de Jesus Pereira – CPTEC/INPERegina Célia dos Santos Alvalá – CPTEC/INPETeresinha de Maria Bezerra Sampaio Xavier – UFC e ACECI

2.7 – COMITÊ DE MINICURSOSTeresinha de Maria Bezerra Sampaio Xavier – UFC e ACECI (Coordenadora)Regina Célia dos Santos Alvalá – CPTEC/INPEHenrique de Melo Lisboa – UFSCViviane Regina Algarve – CPTEC/INPE

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2.8 – COMITÊ ORGANIZADOR DAS ÁREAS DE APLICAÇÃO

ENERGIAEduardo Alvim Leite – SIMEPARÊnio Bueno Pereira – INPE

ESPORTE, TURISMO, LAZER E CULTURAMaria Assunção Faus da Silva Dias – CPTEC/INPEHélio dos Santos Silva – FURB

AGRICULTURA E PESCAAntônio Divino Moura – INMETJosé Antonio Lorenzzetti – INPE

SAÚDE E AMBIENTECarlos Afonso Nobre – INPEFábio Luiz Teixeira Gonçalves – USP

ECONOMIA, INDÚSTRIA, COMÉRCIO, TRANSPORTE E COMUNICAÇÕESOswaldo Massambani – USPEduardo Sávio Passos Rodrigues Martins – FUNCEME

DEFESAS CIVIL E MILITARRicardo Sarmento Tenório – UFALMárcio Luiz Alves – DCSC

2.9 – COMITÊ DE AVALIAÇÃO DOS TRABALHOS – ÁREAS TEMÁTICAS

CLIMA: DESCRIÇÃO, MODELAGEM, VARIABILIDADE E PREVISÃOAlice Marlene Grimm – UFPRLuiz Carlos Baldicero Molion – UFALGuillermo Obregon PárragaEdmilson Dias de FreitasSilvio Nilo FigueroaClóvis Angeli Sansigolo

HIDROMETEOROLOGIAAlexandre Güeter – SIMEPARFrancisco de Assis Salviano de Souza – UFCG

POLUIÇÃO E QUÍMICA DA ATMOSFERAMaria de Fátima Andrade – USPJonas Carvalho – ULBRA

INTERAÇÃO OCEANO-ATMOSFERARicardo de Camargo – USPManoel Gomes Filho – UFCG

AGROMETEOROLOGIA E PROCESSOS DE TROCA ENTRE SOLO-PLANTA-ATMOSFERARomísio Geraldo Bouhid André – UENFRoberto da Fonseca Lyra – UFAL

RADIAÇÃO E SENSORIAMENTO DA ATMOSFERAJosé Ricardo de Almeida França – UFRJGaldino Viana Mota – UFPA

SISTEMAS METEOROLÓGICOS E PREVISÃO DE TEMPOReinaldo Bonfi m Silveira – INMETMarcelo Seluchi – INPE

MODELAGEM ATMOSFÉRICAClemente Augusto Souza Tanajura – LNCC/RJJosé Paulo Bonatti – INPE

3. FONTES DE APOIO AO EVENTO

3.1 - ENTIDADES PROMOTORAS E CO-PARTICIPANTES

SBMET – (Organizadora)UFSC – (Co-participante)INPE/CPTEC - (Co-participante)UFRJ – (Co-participante)USP – (Co-participante)

3.2 - APOIO INSTITUCIONAL

EPAGRI/CIRAMCEFET-SCINMETFURB

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3.3 - PATROCINADORES

CAPESCNPqCREA-SC FAPERJ FAPESP PETROBRÁS FINEP CONFEA ANA OMM ONS

3.4 - EXPOSITORES

AGROSYSTEMCAMPBELL SCIENTIFICEPAGRI/CIRAMFUNCEMEHOBECOINMETINPE/CPTECPETROBRÁSSELLEXSIMEPAR SIMTECHSQUITTER DO BRASIL

4. PROGRAMAÇÃO

4.1 - ATIVIDADES DE ABERTURA

� Inscrições e entrega do material do Congresso – Hall de Exposições

� Abertura do Congresso com as autoridades presentes – Auditório Garapuvu

� Entrega dos Prêmios “Sampaio Ferraz” e “Adalberto Serra”

� Conferência Magna: A Meteorologia a Serviço da Sociedade

Conferencista: Dra. Maria Assunção Faus da Silva Dias (Coordenadora Geral do CPTEC/ INPE)� Momento de Confraternização no Hall de

Exposições

4.2 - DISCUSSÕES SOBRE POLÍTCAS E ESTRATÉGIAS PARA A METEOROLOGIA

Debate: Ensino de Meteorologia no BrasilMotivadores: Adilson José de Lara (CONFEA)Mário Francisco Leal de Quadro (CEFET-SC)Bernardo Barbosa da Silva (UFCG)Amauri Pereira de Oliveira (USP)

Discussão sobre Salário Mínimo Profi ssionalPalestra proferida pelo Dr. Fernando Elias Vieira Jogaid – Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (FISENGE).

Encontro dos Estudantes de MeteorologiaCoordenação: Prof Ms. Mario Francisco Leal Quadro (CEFET-SC)

Assembléias da Sociedade Brasileira de Meteorologia

4.3 - CICLOS DE PALESTRAS DE CONVIDADOS INTERNACIONAIS

Palestras com tradução simultânea:

Stefan L. Hastenrath (University of Wisconsin)Título: Mecanismos de circulação e de teleconexão das secas do Nordeste.

John J. Bates (NOAA/NESDIS)Título: Climate Data Records for Climate Studies from Existing and New Instruments Aboard NOAA Satellites.

Thomas M. Whittaker (Space Science and Engineering Center, Un. Wisconsin)Título: Using VISITview for Remote Collaborations and Training.

Palestras sem tradução simultânea:

Bart Kruit (Wageningen University & Research Centre, Wegeningen, Holanda)Título: Processos de Troca Solo-Planta-Atmosfera.

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Fedor Messinger (Earth System Science Interdisciplinary Center, Universidade de Maryland)Título: Modelagem de Mesoescala.

Patrício Aceituno (Universidade do Chile)Título: Anomalias Climáticas na América do Sul durante o El Niño 1987-1988.

Aleksis Kajava (Vaisala) Titulo: Novas Tecnologias para Projetos de Mesoescala – A Experiência do Teste BED.

Ed Bardo (Vaisala)Titulo: Monitoramento de Descargas Totais com Aplicacao em Previsao de Tempestades Severas.

4.4 - MINICURSOS

Foram oferecidos cinco mini-cursos (Tabela 1), com 141 inscritos e destes, 109 participaram efetivamente. Várias universidades se inscreveram, podendo-se citar USP, UFCG, UECE, UFJF, UFSC, CEFET - RJ, CEFET-BA, CEFET-SC, UnB, UFRJ, UFSM, UFPA, UFRGS, UENF, UFPE, UNISUL, UNICAMP, UFAL, UNISC, entre outras. Também participaram dos mini-cursos as seguintes instituições: EMBRAPA, CETREL, INFRAERO, FURNAS, ONS, COMAER, INPA, INPE, INMET, UNIVERDADE DA ALEMANHA, ESCOLA DE APRENDIZES-MARINHEIRO, UNESCO, DEFESA CIVIL-SP, além de interessados em meteorologia.

N0 MINI-CURSOS INSCRITOS (Participantes)

1Quantis e Eventos Extremos – Aplicações em Ciências da Terra e AmbientaisInstrutor: Teresinha M. B. Sampaio Xavier (UFCE e ACECI)

13 (13)

2Desastres Naturais – Inundação e Deslizamentos e Previsão Meteorológica para MitigaçãoInstrutores: Augusto José Pereira Filho (USP) e Massato Kobyama (ENS-UFSC)

17 (15)

3Interpretação de Imagens de SatélitesInstrutores: Nelson Jesus Ferreira eManoel Alonso Gan, do CPTEC/INPE

33 (26)

4Mudanças Climáticas GlobaisInstrutores: José Antônio Marengo Orsini (CPTEC/INPE), Pedro Leite da Silva Dias (USP), Tércio Ambrizzi (USP)

63 (43)

5Meteorologia Geral para Formação Profi ssional de Ensino MédioInstrutores: Ana Catarina Farah Perrella (UNIVAP) e Mário Francisco Leal de Quadros (CEFETSC)

15 (12)

Tabela 1: Mini-cursos ministrados durante o XIV CBMET.

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4.5 - SESSOES PLENÁRIAS

PLENÁRIA 1 – Energia Coordenador: Enio B. Pereira - CPTEC/INPERelator: Eduardo Alvim Leite – SIMEPAR

Palestra: “ Contribuição das energias renováveis na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas” Apresentadora: Laura Cristina Fonseca Porto, Diretora do Departamento de Desenvolvimento Energético, Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Energético, Ministério de Minas e Energia (MME)

PLENÁRIA 2 - Esporte, Turismo, Lazer e Cultura Coordenador: Dr. Hélio dos Santos Silva FURB Relator: Dra. Maria Assunção F. S. Dias INPE/CPTEC

Palestra: “A necessidade de informações meteorológicas adequadas para o Turismo, Esportes e Lazer”.Apresentadora: Dra. Ana Cristina P. C de Almeida – UFPA Palestra - “Os principais eventos turísticos de Santa Catarina e suas vulnerabilidades às informações meteorológicas”.Apresentador: Dr. Guilberto Chaplin Savedra / Secretário Estadual de Cultura, Turismo e Esportes – Santa Catarina (SC).

PLENÁRIA 3 - Agricultura e PescaCoordenadores: Dr. Antonio Divino Moura - INMET e Dr. João Antonio Lorenzzetti - INPERelator: Dr. Lauro Tadeu G. Fortes - Coordenação de Desenvolvimento e Pesquisa, INMET

Palestra - “ Comportamento Fenológico de culturas agrícolas e aquecimento global” Apresentador: Prof. Hilton Silveira Pinto- Cepagri/Unicamp

Palestra – Meteorologia e pesca: conceitos, aplicações e incertezas.Apresentadora: Profa. Patrícia Sunye - EPAGRI/CIRAM

PLENÁRIA 4 - Saúde e AmbienteCoordenador e Relator: Dr. Fábio Luiz Teixeira Gonçalves - USP/IAG

Palestra: “Malária e Mudanças Climáticas”Apresentador: Dr. Ulisses Confalonieri (Fiocruz)

PLENÁRIA 5 - Economia, Indústria, Comércio, Transporte e Comunicações Coordenador e Relator: Dr. Eduardo Sávio Passos Rodrigues Martins – FUNCEME

Palestra: “Impactos sócio-econômicos da variabilidade climática”Apresentador: Francisco de Assis de Souza Filho, IRI/Columbia University

PLENÁRIA 6 - Defesa Civil Coordenador: Dr. Ricardo Sarmento Tenório – UFALRelator: Márcio Luiz Alves – Capitão da Polícia Militar - Defesa Civil/SC

Palestra: “A Defesa civil e a importância da meteorologia nas suas ações“Apresentador: Coronel Pimentel – Secretário Nacional da Defesa Civil – Ministério da Integração Nacional.

4.6 - MESAS REDONDAS

MESA REDONDA 1: Projetos cooperativos entre o setor energético e a área de meteorologia – Temas prioritários e mecanismos de promoção Coordenador: Eduardo Alvim Leite, SIMEPARRelator: Enio B. Pereira, CPTEC/INPE

Participantes:Hemes Chipp - Diretor Geral do ONSIldo Sauer - Diretor de Gás e Energia da PetrobrásLaura Cristina Fonseca Porto (MME)Pedro Leite da Silva Dias, Professor Titular do IAG/ USP.

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MESA REDONDA 2: Como fornecer informações meteorológicas adequadas ao setor de Cultura, Turismo, Lazer e Esportes, para tomadas de decisão? Coordenador: Dra. Maria Assunção F. S. Dias INPE/CPTECRelator: Dr. Hélio dos Santos Silva FURB

Participantes:Dra. Ana Cristina P. C de Almeida - UFPADr. Guilberto Chaplin Savedra - Secretaria de Estado da Cultura, Turismo e Esportes – SC.Dr. Marcelo Enrique Seluchi - CPTEC-INPESr. Luiz Cavalcanti - INMET/DF

MESA REDONDA 3: Agricultura e Pesca: A Meteorologia na Produção de AlimentosCoordenadores: Dr. Antonio Divino Moura – INMET e Dr. João Antonio Lorenzzetti - INPERelator: Dr. Lauro Tadeu G. Fortes, Coordenação de Desenvolvimento e Pesquisa - INMET

Participantes:Prof. Hilton Silveira Pinto - UNICAMPDra. Patricia Sunye - EPAGRI/CIRAMDr. João Antonio Lorenzzetti - INPEDr. Antônio Divino Moura – INMET

MESA REDONDA 4: Saúde e Ambiente Coordenador e Relator: Dr. Fábio Luiz Teixeira Gonçalves - USP/IAG

Participantes:Palestra - Doenças respiratórias e mudanças climáticasApresentadora: Regina Cardoso Alves (USP/FSP) Palestra - Estudos sobre Radiação UV no Brasil: Uma amostra da necessidade imediata da conscientização da população quanto à proteção solar.Apresentador: Marcelo Correa (UNIFEI)

MESA REDONDA 5: Economia, Indústria, Comércio, Transporte e ComunicaçõesCoordenador e Relator: Dr. Eduardo Sávio Passos Rodrigues Martins – FUNCEME

Participantes:Palestra: Transporte Aéreo e MeteorologiaApresentadores: Capitão Robson Ressurreição e Capitão Adilson Cleomenes Rocha - DECEA

Palestra:Comunicação entre o gerador da informação climática/de tempo e o usuário fi nal: a relação meteorologia e sociedadeApresentador: Renzo Tadei, Yale University/IRI, Columbia University

MESA REDONDA 6: Defesa Civil Coordenadorç Dr. Ricardo Sarmento Tenório – Sistema de Radar Meteorológico de Alagoas – SIRMAL/Instituto de Ciências Atmosféricas – ICAT/ Universidade Federal de Alagoas – UFAL Relator: Márcio Luiz Alves – Capitão da Polícia Militar - Defesa Civil/SC

Participantes:Renato Igor – Repórter da CBN / RBS TVDr. Luiz Augusto Toledo Machado - Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos CPTEC/ Divisão de Satélites e Sistemas AmbientaisDr. Adriano Augusto de Araújo Jorge - Coordenadoria Municipal de Defesa Civil - COMDEC MACEIÓ

MESA REDONDA 7: A Meteorologia no Programa Espacial Brasileiro

Participantes:Palestra: “A Agencia Espacial Brasileira e a Meteorologia no Brasil”Apresentador: Dr. Raimundo Nonato MussiPalestra: “Programa do Satélite Geoestacionário Brasileiro”Apresentador: Dr. Osvaldo Catsumi Iamamura:

MESA REDONDA 8: Padrões para as Estações Automáticas HidrometeorológicasCoordenador: Mário Francisco Leal de Quadro (CEFET–SC)

Participantes: Renato Bréa VictoriaMauro Silvio Rodrigues

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4.7 - OUTRAS ATIVIDADES

Palestra: Cenários Regionais de Mudanças Climáticas no Brasil – Auditório GarapuvuApresentador: Dr. José Antonio Marengo Orsini

4.8 - TRABALHOS CIENTIFICOS APRESENTADOS

Trabalhos Científi cos por Áreas Temáticas

Reunião do GPM-Brasil – Sala Petúnia

5. CONCLUSÕES

As demandas pelas aplicações da Meteorologia têm sido crescentes, inclusive porque o país como um todo tem se desenvolvido, exigindo cada vez mais proteção e garantia de que os recursos alocados nos empreendimentos não sejam perdidos em função das adversidades do tempo

e do clima. Neste Congresso foi possível compilar as questões que afl igem o setor produtivo, trazendo-as aos especialistas das diversas áreas de aplicação da Meteorologia. A comunidade científi ca pôde demonstrar suas habilidades em transformar as pesquisas em

Áreas Temáticas Oral Poster Total

Clima: descrição, modelagem, variabilidade e previsão 32 288 320

Hidrometeorologia 8 56 64

Poluição e química da atmosfera 8 54 62

Interação oceano-atmosfera 4 34 38

Agrometeorologia e processos de troca entre solo-planta-atmosfera 16 122 138

Radiação e sensoriamento da atmosfera 16 96 112

Sistemas meteorológicos e previsão de tempo 24 149 173

Modelagem atmosférica 16 87 103

Total 124 886 1010

Trabalhos Científi cos por Áreas de Aplicação

Áreas Temáticas Total

Energia 175

Esporte, Turismo, Lazer e Cultura 12

Agricultura e Pesca 229

Saúde e Meio Ambiente 354

Economia, Indústria, Comércio, Transporte e Comunicações 109

Defesas Civil e Militar 131

Total 1010

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respostas práticas, adequadas à solução de problemas concretos, aumentando a visibilidade da Meteorologia brasileira pela interação com o setor produtivo.

Um dos avanços que se destacou no XIV CBMET foi o aumento signifi cativo do número de instituições que estão utilizando a modelagem numérica na pesquisa e na operação, elevando o nível da Meteorologia brasileira aos padrões internacionais. Estes avanços, evidenciados no Congresso, vão desde a modelagem atmosférica e dos oceanos até os modelos acoplados oceano-atmosfera, solo-planta-atmosfera, modelos hidrometeorológicos e modelos de química e dispersão de poluentes.

Outro avanço marcante observado neste Congresso foi a percepção de que os dados meteorológicos no Brasil têm se tornado mais disponíveis aos que deles necessitam. Observou-se que as demandas por dados ofi ciais foram mais facilmente atendidas e que grande empenho foi envidado para que dados nacionais e internacionais de interesse no Brasil pudessem ser disponibilizados com mais facilidade para uso em pesquisa e ensino. Percebeu-se também um signifi cativo aumento na quantidade e qualidade de dados gerados por parte dos Centros Estaduais de Meteorologia e por projetos específi cos, tais como o LBA e o PIRATA.

Nos últimos anos observou-se, e fi cou bastante evidente nas apresentações durante do Congresso, que a Meteorologia Brasileira cresceu no entendimento da física intrínseca dos processos atmosféricos em nossa região, resultando na melhoria dos diagnósticos climáticos e das previsões do tempo. Este avanço se deve certamente a uma mais adequada integração entre a teoria, a modelagem e a experimentação como fi cou evidenciado nos resultados dos experimentos LBA

e SALLJEX, por exemplo. Ficou claro ainda que a Meteorologia brasileira vem adquirindo know-how na aplicação de cenários regionais de mudanças climáticas, com perspectivas de aplicação na prevenção de crises ambientais e no planejamento da produção de alimentos, bens e energia.

Dentre os principais fatores intrínsecos da área que têm favorecido seu desenvolvimento conforme detectado durante o Congresso, pode-se ressaltar a visibilidade que a Meteorologia tem obtido através da imprensa, a percepção crescente por parte de órgãos governamentais e empresas da importância de se estudar o tempo e o clima para o entendimento das mudanças climáticas e seus efeitos sobre a vida.

Dentre os fatores que difi cultam o desenvolvimento da Meteorologia, evidenciou-se durante o Congresso que os investimentos na área ainda são insufi cientes (conforme relatado em várias Mesas Redondas e Plenárias do Congresso), são poucos os profi ssionais formados (Mesa Redonda: “Ensino de Meteorologia no Brasil”) e são ainda aviltados os salários pagos a estes profi ssionais (Mesa Redonda: “Ensino de Meteorologia no Brasil” e na Discussão Sobre Salário Mínimo Profi ssional).

Concluindo, este Congresso reuniu centenas de pesquisadores, profi ssionais da área operacional, professores e estudantes, atuantes em todas as regiões do país, tendo sido uma grande oportunidade para a troca de conhecimentos, equalização do conhecimento a nível nacional e internacional e congraçamento. O evento serviu ainda para a defi nição de políticas e estratégias que possam resultar no desenvolvimento da própria Meteorologia e na sua efetiva aplicação em favor da sociedade.

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XIV CBMET: LISTA DE PREMIAÇÃO DE TRABALHOS

(1) RADIAÇÃO. ATMOSFÉRICA E SENSORIAMENTO REMOTO

POSTER SÊNIOR Autores: Alexandre Correia e Carlos Pires.Título: Validation of aerossol optical depth retrievals by remoto sensing over Brazil and South América.

POSTER JUNIOR Autores: Eduardo Wilde Bárbaro, Amauri Pereira de Oliveira, Jacyra Ramos Soares e João Francisco EscobedoTítulo: Observational study of downward atmospheric longwave radiation at the surface in the city of São Paulo.

ORALAutores: Leonardo de Faria Peres, Renata Libonati dos Santos e Carlos do Carmo de Portugal e Castro Título: Land surface emissivity estimation in METEOSAT-8/SEVIRI TIR bands using MODIS data.

(2) INTERAÇÃO OCEANO-ATMOSFERA

POSTER SÊNIORAutores: Tânia Ocimoto OdaTítulo: Distribuição espaço-temporal dos campos de temperatura da supercície do mar e vorticidade geostrófi ca no Atlântico Sul.

POSTER JUNIORAutores: Ricardo Martins Campos e Ricardo de CamargoTítulo: Caracterização das condições sinóticas sobre o Atlântico Sudoeste associadas a marés meteorológicas no Porto de Santos.

ORALAutores: Alice Marlene Grimm e Angela Akie NatoriTítulo: Mudanças climáticas e o impacto de episódios El Nino e La Nina sobre a América do Sul.

(3) SISTEMAS METEOROLÓGICOS E PREVISÃO DO TEMPO

POSTER SÊNIOR Autores: Micheline de Sousa CoelhoTítulo: Análise de informações por doenças respiratórias em função de condições meteotrópicas na cidade de São Paulo.

POSTER JUNIORAutores: Clara Miho Narukawa Iwabe e Rosmeri Porfi rio da RochaTítulo: Contribuição da Dobra da Tropopausa na Intensifi cação de um Ciclone a Leste do Sul do Brasil.

ORAL Autores: Marcelo Enrique SeluchiTítulo: Padrões sinóticos associados a situações de deslizamentos de encostas na Serra do Mar.

(4) CLIMA: DESCRIÇÃO, MODELAGEM, VARIABILIDADE E PREVISÃO

POSTER SÊNIORAutores: Paulo Sérgio Lucio, Fábio Cunha Conde, Andréa Malheiros Ramos, Andréa de Oliveira Cardoso e Iracema Cavalcanti.Título: Reconstrução de séries meteorológicos via redes neurais artifi ciais.

POSTER JUNIORAutores: Michelle Simões ReboitaTítulo: Monitoramento dos ciclones extratropicais no hemisfério sul.

ORAL (DOIS TRABALHOS PREMIADOS)Autores: Rubens Leite VianelloTítulo: Cenários de mudanças climáticas e seus efeitos na ocorrência dos mosquitos da dengue em Belo Horizonte.

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Autores: Ieda Pscheidt e Alice Marlene Grimm Título: Impactos da variabilidade interanual e interdecadal na freqüência de eventos extremos sobre o sul do Brasil.

(5) POLUIÇÃO E QUÍMICA DA ATMOSFERA

POSTER SENIORAutores: Marcio Gledson Lopes Oliveira, Rosiberto Junior, Maria de Fátima Andrade, Edmilson Freitas, Eduardo Landulfo e Sandro Toshio Uehara.Título: Transporte de material particulado de queimadas para região metropolitana de São Paulo: um estudo de caso.

POSTER JUNIORAutores: Caroline Bertagnolli, Damaris Kirsch Pinheiro e Nelson Jesus Ferreira, Nelson Jorge SchuchTítulo: Aplicação de Ondeleta na Caracterização das Escalas de Variabilidade do Conteúdo Total de Ozônio no Sul do Brasil: 1997-2005.

ORALAutores: José Eduardo Gonçalves, André Luciano Malheiros, Ernani de Lima Nascimento, Selma Regina Maggiotto e Nelson Luis da Costa Dias.Título: Veículo aéreo não tripulado para perfi lamento atmosférico em alta resolução.

(6) MODELAGEM NUMÉRICA DA ATMOSFERA

POSTER SENIORAutores: Maria Cristina Lemos da Silva, Antonio Marcos Mendonça, José Paulo Bonatti e Maria Assunção Faus da Silva DiasTítulo: Previsão das Temperaturas Mínimas para o Centro-Sul do Brasil Utilizando a Previsão de tempo por ENSENBLE do CPTEC

POSTER JUNIORAutores: Otacilio Leandro de Menezes Neto, Juliana Lima Oliveira, Alexandre Araújo Costa e Sérgio Sousa SombraTítulo: Impactos da Circulação Geral em Casos de El Niño e La Nina no Potencial Eólico no Nordeste Brasileiro

ORALAutores: Rodrigo Gevaerd, Saulo Freitas e Karla LongoTítulo: Simulação numérica da emissão do transporte de biomassa de queimada durante o incêndio de Roraima de 1998.

(7) AGROMETEOROLOGIA E PROCESSOS DE TROCA ENTRE SOLO-PLANTA-ATMOSFERA

POSTER SENIORAutores: Cláudio de Castro PellegriniTítulo: A review perturbation technique applied to the study of stratifi ed atmospheric boundary layer.

POSTER JUNIORAutores: Alessandro Augusto dos Santos Michilis e Ralf GielowTítulo: Armazenamento e Balanço de Energia em Superfície para uma Área de Floresta no Sudoeste da Amazônia.

ORALAutores: Alessandro Lechinoski e Leonardo Deane de Abreu SáTítulo: Aspecto da Variabilidade Temporal das Trocas de CO2 e de Vapor d’água Acima da Floresta de Caxiuanã, PA.

(8) HIDROMETEOROLOGIA

POSTER SENIORAutores: Eduardo Alvin Leite e Otto Correa Rotunno FilhoTítulo: Análise de sensibilidade da previsão hidrológica em relação à informatividade da previsão de precipitação.

POSTER JUNIOR.Autores: Ana Claudia Fernandes Medeiros Braga, Carlos de Oliveira Galvão, Enio Pereira de Souza, Renato de Oliveira Fernandes, Enilson Palmeira Cavalcanti, Klecia Forte de OliveiraTítulo: Previsão de Escoamento em uma Bacia Hidrográfi ca Através Acoplamento do Modelo BRAMS e de um Modelo Hidrológico.

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ORALAutores: Autores Raquel Chinaglia Pereira dos Santos, Francisco Martins Fadiga Junior, Mario Tadeu Leme de Barros, João Eduardo Gonçalves Lopes e José Rodolfo Scarati Martins.

Título: Modelos de Previsão de vazões para a bacia incremental à Uheitaipu utilizando previsão de precipitação de curto prazo.

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CRESCE O DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS PARA A NEUTRALIZAÇÃO DE GASES POLUENTES, SEGUNDO EMPRESA CERTIFICADORA

ISSO FOINOTÍCIA

Os projetos mais desenvolvidos são relacionados à energia renovável como co-geração (aproveitamento local do calor residual originado) do bagaço de cana-de-açúcar, pequenas centrais hidroelétricas. Projetos de aterro sanitário (captação e queima do gás metano) e projetos de troca de combustível.

A preocupação com o superaquecimento global está cada vez mais em pauta em todo o mundo. As mudanças climáticas ocorridas nos últimos anos foram tão intensas que forçaram até o irredutível Presidente americano, George W. Bush, a admitir a necessidade de mudança na política climática dos Estados Unidos. Segundo a conselheira jurídica do Banco Mundial, Flávia Rosembuj, o fundo de créditos de carbono arrecadou em 2006 o dobro do valor alcançado em 2005, totalizando US$ 22 bilhões, frente aos US$ 11 bilhões de 2005. Cada tonelada de crédito de carbono custa em torno de US$ 10. A multa por tonelada excedida é de cerca de US$ 119.

De acordo com os dados do Ministério da Ciência e Tecnologia, há 1.597 projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) sendo estruturados em todo o mundo. O Brasil mantém a terceira posição em números de projetos, com 210. À frente estão a China, com 299 projetos, e a Índia, líder com 557.

Em termos de reduções de emissões projetadas, a terceira posição também é brasileira “ responsável pela redução de 195 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) e gases equivalentes ao CO2, o que corresponde a 8% do total mundial, para o primeiro período de obtenção de créditos. A China ocupa o primeiro lugar, com 1.056 milhões de toneladas de

CO2e a serem reduzidas (43%), seguida da Índia, com 548 milhões de toneladas, o que equivale a 22%.

A SGS do Brasil, multinacional suíça líder em testes, inspeções e certifi cações, foi designada pelos órgãos mundiais para validar e verifi car projetos. Como uma das principais empresas que presta esse serviço, a procura pela validação da SGS serve como termômetro de como está a evolução do mercado de carbono. E a procura, que tem crescido nos últimos tempos, demonstra que o mercado de carbono já começa a se tornar realidade.

De 2005 até agora, a empresa já validou 58 projetos e verifi cou 28. Devido à importância das discussões sobre o assunto e as solicitações de empresas interessadas nesse mercado, a empresa passou a atuar este ano em projetos CCX (Chicago Climate Exchange), na área fl orestal. “O investimento nesse setor é uma mina de ouro para o Brasil. Acompanhando a valorização dos créditos de carbono na Bolsa de Valores, a expectativa é que as demandas na SGS aumentem este ano em torno de 25% em relação a 2006”, diz o gerente da SGS, Fabian Gonçalves. Segundo estatísticas do Banco Mundial, entre 2005 e 2006, a Ásia foi responsável por 32% das negociações de créditos, e a América Latina respondeu por cerca de 28%. O potencial para a oferta de créditos está concentrado na Ásia (China, Índia e Coréia do Sul) e América Latina (Brasil e México).

FONTE: Ecopress com informações da Assessoria SGS- 07/03/07, às 12h01. Extraído do Website: http://www.jornaldomeioambiente.com.br, acessado em 8/3/2007.

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RELATÓRIO BRASILEIRO SOBRE DESERTIFICAÇÃO SERVIRÁ DE MODELO A OUTROS PAÍSES

Um relatório do governo brasileiro sobre desertifi cação deverá servir de modelo para outros países adotarem ações no combate a esse fenômeno que provoca miséria e distúrbios climáticos, como a falta de água e o aquecimento global.

RelatórioTrata-se do Relatório de Implementação de

Combate à Desertifi cação, documento elaborado durante três anos sob coordenação do Ministério do Meio Ambiente (MMA). Sua apresentação ofi cial ocorrerá em Buenos Aires, neste mês de março, durante a 5ª Sessão do CRIC (Comitê de Revisão da Implementação da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertifi cação).

Modelo InovadorSegundo o Coordenador-técnico do Programa de

Combate à Desertifi cação do MMA, José Roberto Lima, o relatório brasileiro é inovador por reunir estratégias do governo federal, de estados e da sociedade civil de uma forma inédita entre os países signatários da convenção. “O Brasil está realmente envolvido com o tema. O relatório não é meramente técnico, é um compromisso nacional que une o poder público e toda a sociedade”, diz José Roberto.Um dos consultores do relatório, Silvio Santana, da Fundação Grupo Esquel Brasil, afi rma que a política social do atual governo coincide com as metas de combate à desertifi cação, como, por exemplo, redução da pobreza, da fome e da desigualdade social, além de manter as populações em seus locais de origem. Segundo ele, o programa coincide quase literalmente com o texto da convenção. De acordo com Silvio Santana, os esforços pela elaboração do relatório reuniu ministérios, governos estaduais, organizações não-governamentais, universidades e empresas. “Não adianta trabalhar de forma setorizada. Precisa

haver uma plataforma de integração entre o governo e a sociedade. Somente o Grupo de Trabalho da Articulação do Semi-árido possui mais de mil entidades, inclusive igrejas e sindicatos”, afi rma. “Nenhum outro país constituiu um grupo de trabalho parlamentar de combate à desertifi cação. O Brasil está dando um exemplo”.

Desertifi cação no BrasilNo Brasil, as áreas suscetíveis à desertifi cação

abrangem 1.488 municípios dos nove estados do Nordeste. Também foram incluídos nesta classifi cação cidades do norte de Minas Gerais e noroeste do Espírito Santo. No total, ocupam uma área de 1.338.076 quilômetros quadrados, equivalentes a 15,7% do território nacional, onde vivem 32 milhões de pessoas, ou 18,6% da população brasileira. Metade desses municípios detêm os piores índices de desenvolvimento humano do País. No mundo, as regiões áridas, semi-áridas e subúmidas secas representam quase um terço da superfície terrestre, abrigam mais de 1 bilhão de seres humanos e são responsáveis por 22% da produção mundial de alimentos.

A ampliação dessas áreas, tanto no Brasil quanto no resto do planeta, é conseqüência do aquecimento global e da exploração inadequada dos recursos naturais, entre outros motivos. Os resultados são eventos climáticos extremos mais freqüentes, como inundações, ondas de calor, menor volume de chuva em regiões secas e incidência de furacões, tufões e ciclones.

FONTE: Ministério do meio Ambiente/ASCOM/ texto de Rafael Imolene. Website: http://www.institutoventuri.com.br/noticias1.htm, acessado em 08/03/2007.

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BRASIL APRESENTA NA ARGENTINA ATLAS SOBRE ÁREAS SUSCETÍVEIS À DESERTIFICAÇÃO

O Brasil apresenta nesta quinta-feira (15/03), na 5ª Sessão do CRIC - Comitê de Revisão da Implementação da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertifi cação, um atlas das áreas suscetíveis à desertifi cação no Brasil e um relatório de implementação do Programa de Ação Nacional de Combate à Desertifi cação (PAN). A informação é do Secretário de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente, João Bosco Senra, que participa do evento. A reunião, que acontece em Buenos Aires, na Argentina, encerra dia 21/03. No encontro, o governo brasileiro também anunciará ofi cialmente a

candidatura do economista Antonio Rocha Magalhães para comandar a Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertifi cação (UNCCD, na sigla em inglês). O CRIC foi criado pela quinta Conferência das Partes da UNCCD como órgão subsidiário para ajudar na revisão da implementação da convenção. (MMA)

FONTE: Matéria publicada no Boletim eletrônico Ambiente Brasil, em 14/03/07. (http://www.ambientebrasil.com.br/noticias/)

INSTALADA COMISSÃO MISTA SOBRE MUDANÇAS CLIMÁTICAS

No dia 13 de março, o Presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia (PT), instalou a comissão mista especial destinada a acompanhar, monitorar e fi scalizar as ações referentes às mudanças climáticas no Brasil. A instância será presidida pelo deputado Eduardo Gomes (PSDB-TO). A vice-presidência fi cará a cargo do senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) e a relatoria, com o senador Renato Casagrande (PSB-ES). O primeiro requerimento aprovado no âmbito do colegiado é de autoria do Senador Fernando Collor, sugerindo ao governo federal a realização, em 2012, da 3ª Conferência Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio +20), nos mesmos moldes da realizada na capital carioca em 1992, que fi cou conhecida como Eco-92. Outra sugestão aprovada é de autoria do deputado federal Sebastião Bala Rocha (PDT-AP). Em seu requerimento, o parlamentar solicita que a comissão seja integrada por 11 deputados e 11 senadores, em vez de sete deputados e sete senadores. Segundo ele, o aumento do número de integrantes objetiva incluir, no quadro da instância, mais deputados

da região amazônica e também mais senadoras ou deputadas. Até o momento foram indicados para compor a comissão os seguintes deputados: Iran Barbosa (PT-SE), João Pizzolatti (PP-SC), Rose de Freitas (PMDB-ES), Eduardo Gomes (PSDB-TO), Luiz Carreira (PFL-BA), Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) e Sarney Filho (PV-MA). Já os senadores são os seguintes: Fernando Collor de Mello (PTB-AL), João Ribeiro (PFL-MT), Romeu Tuma (PFL-SP), Inácio Arruda (PCdoB-CE), Renato Casagrande (PSB-ES), Jefferson Péres (PDT-AM) e Delcídio Amaral (PT-MS).

Em breve, os novos membros serão escolhidos pelos presidentes da Câmara e do Senado. De acordo com a Agência Câmara, na próxima terça-feira (20), às 14h, a comissão defi nirá sua agenda de trabalho, a partir da proposta do relator Renato Casagrande.

(Gestão C&T, nº 582)

FONTE: Boletim eletrônico do Jornal da Ciência, E-mail 3224, de 16 de março de 2007.

ISSO FOINOTÍCIA

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DECRETO N0 6.065, DE 21 DE MARÇO DE 2007 CRIA COMISSÃO DE COORDENAÇÃO DAS ATIVIDADES DE METEOROLOGIA,

CLIMATOLOGIA E HIDROLOGIA (CMCH)

A Edição N0 56 de 22/03/2007 do Diário Ofi cial traz o Decreto N0 6.065, de 21 de março de 2007 criando a Comissão de Coordenação das Atividades de Meteorologia, Climatologia e Hidrologia (CMCH). O Decreto pode ser encontrado no website:

http:/ /www.in.gov.br/materias/xml/do/secao1/2618251.xml.

FONTE: Divulgação feita no Informe da SBMET, em 30/03/07.

SÃO PAULO GANHA ESTAÇÃO PARA MEDIÇÃO DE POLUENTES ATMOSFÉRICOS

Com a inauguração de uma nova estação para medição de ozônio, nesta quinta-feira (29/3), em São Paulo, o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) passou a integrar ofi cialmente a rede de monitoramento da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB). Resultado de um convênio de cooperação científi ca entre as duas entidades, a estação, que irá monitorar a qualidade do ar para estudar os gases precursores do ozônio e do monóxido de carbono, está localizada no campus da USP, em local considerado favorável aos estudos de formação do gás, por localizar-se distante do fl uxo de veículos.

Diariamente, as amostras de ar coletadas serão analisadas, identifi cadas e quantifi cadas no laboratório do Centro de Química e Meio Ambiente do IPEN. Segundo o instituto, além de fazer parte da rede de monitoramento da CETESB, a estação fornecerá à comunidade científi ca um ponto privilegiado para os experimentos sobre a atmosfera. O ozônio é o poluente

que mais ultrapassa os parâmetros de qualidade do ar estabelecidos nas legislações federal e estadual, chegando a atingir níveis de concentrações elevadas que levam à má qualidade do ar na capital paulista.

A CETESB mantém 29 estações automáticas de monitoramento da qualidade do ar na região metropolitana de São Paulo, a maioria delas localizada em áreas de grande fl uxo de veículos. Os dados coletados pela nova estação já estão disponíveis no boletim da qualidade do ar da companhia, em www.cetesb.sp.gov.br. A nova estação para medição de ozônio se chamará IPEN-USP e estará disponível à comunidade científi ca para desenvolvimento de trabalhos conjuntos. Os pesquisadores interessados devem entrar em contato pelo e-mail [email protected].

FONTE: Boletim eletrônico Agência FAPESP, de 30/03/2007.

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Relatório Síntese doWORKSHOP PARA DEFINIÇÃO DAS BASES CONCEITUAIS

DO SISTEMA BRASILEIRO DE ALERTA PRECOCE DE SECA E DESERTIFICAÇÃO (SAP)

Coordenação Técnica de Combate à Desertifi cação – CTCSGAN 601, L 1, Ed. CODEVASF – Brasilia, DF

Fone: (61) 40091861/1295

Em 8 e 9 de fevereiro de 2007, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) - órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), promoveu em parceria com o Ministério do Meio Ambiente (MMA) um workshop com o objetivo discutir a elaboração de um Sistema capaz de prever períodos de seca no semiárido brasileiro e desenhar cenários atuais de vulnerabilidade resultantes do uso da terra - com ênfase nas questões de desertifi cação e cenários futuros em decorrência das mudanças climáticas.

Para levantar as condições de antecipar eventos críticos nas áreas suscetíveis à desertifi cação, estiveram presentes especialistas de entidades como defesa civil, climatologia, hidrologia, agricultura, recursos hídricos, demografi a, entre outras ligadas ao tema, levantando informações para um futuro sistema integrado de alerta para benefi ciar a sociedade.

Durante o Workshop elaborou-se um conjunto de recomendações para orientar o desenvolvimento de um Sistema Brasileiro de Alerta Precoce de Secas e Desertifi cação (SAP) e discutiram-se as restrições técnicas, científi cas, políticas e institucionais para a implantação do sistema.

Ao longo das discussões, fi cou claro que os sistemas de alerta contra as periódicas secas - extremos climáticos - encontram-se em um estágio mais avançado de desenvolvimento se comparados às diferentes iniciativas na área de diagnóstico e prevenção ao processo de desertifi cação.

A recomendação dos participantes foi no sentido de fazer uso sinérgico de programas de monitoramento, previsão, extensão e disseminação já existentes e em operação na região.

Sendo assim, o grupo recomendou que o futuro sistema de alerta precoce utilize como cerne os sistemas já operacionais na área de monitoramento e previsão de secas, exercitando e resgatando a rede de parcerias já existentes. Em relação ao futuro Sistema de Alerta Precoce, a sugestão foi de implementar inicialmente um programa piloto que servirá de experiência e ajudará a nortear o seu desenho defi nitivo. Indicadores de degradação serão gradualmente incorporados ao Sistema.

Paralelamente, sugeriu-se nomear um grupo de trabalho que irá defi nir, em detalhes, todas as necessidades, sob os pontos de vista institucional, fi nanceiro e de recursos humanos, para que o Sistema Brasileiro de Alerta Precoce de Secas e Desertifi cação seja plenamente implementado.

Relatório Consolidado dos Grupos de Trabalho (GT)

Para nortear as discussões, os três GT receberam um roteiro básico. A seguir, apresentam-se as recomendações consolidadas resultantes das atividades dos grupos.

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Por que precisamos de um sistema de alerta precoce?

- Minimizar impactos de agentes naturais capazes de causar danos às atividades socioeconômicas e aos recursos naturais;

- Embasar a tomada de decisões e para planejamento de políticas públicas.

Que tipo de problema precisamos resolver?

- Arranjo e articulação institucional;

- Promoção de transversalidade;

- Financiamento;

- Estabelecimento de parcerias;

- Coleta, disseminação e uso de dados;

- Conciliação de interesses institucionais;

- Capacitação profi ssional;

- Conscientização dos diversos segmentos da sociedade;

- Decisão e motivação política;

- Organização e mobilização social;

Quais os objetivos específi cos do sistema?

- O SAP deve estar orientado para eventos climáticos extremos (multi-riscos) e acompanhamento e projeção do processo de evolução (espacial e temporal) da desertifi cação nas ASD (Áreas Susceptíveis à Desertifi cação);

- O SAP deverá gerar dados e informações e produzir cenários e seus respectivos riscos e vulnerabilidades, das situações presente e futura (por exemplo, mudanças climáticas), para tomada de decisões, visando prevenir ou mitigar impactos de fenômenos adversos;

- O sistema tem por objetivo prevenir e minimizar os impactos de eventos críticos nas ASD, por meio do conhecimento prévio dos

riscos e das vulnerabilidades, monitoramento e alerta, disseminação inteligível deste alerta e preparação para agir;

- Expressar as informações do SAP em linguagem apropriada aos usuários e interessados, em seus diversos níveis.

Alerta precoce de quê? (tempo, clima, secas, fatores causadores de desertifi cação, segurança alimentar etc)

Os indicadores devem responder a aspectos físico-químico, biológicos e sócio-econômicos. Por exemplo, sugere-se:

* Indicadores físicos e biológicos- Precipitação pluviométrica;- Alteração do regime hidrológico;- Caracterização do solo e sua susceptibilidade

ao processo de degradação- Temperatura;- Umidade atmosférica;- Evapotranspiração;- Segurança hídrica;- Eventos extremos (secas, cheias e

inundações, granizo,veranicos);- Cobertura vegetal e uso da terra.

* Indicadores antropogênicos- Saúde;- Doenças de veiculação hídrica;- Doenças veiculadas por vetores;- Segurança alimentar;- Perda de biodiversidade

(desmatamento, queimadas);- Degradação do solo e assoreamento

dos cursos d’água;- Sobrepastoreio;- Atividades depredadoras;- Monitoramento sistemático dessas

variáveis, por meio de implementação de redes e observações.

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Quais seriam os usuários e benefi ciários de um SAP?

- Instituições de pesquisa e acadêmicas;- Agências e órgãos governamentais nos diversos

níveis;- Agências de fomento;- Organizações da sociedade civil;- Agentes econômicos de vários setores

(agricultura, mineradoras, serviços em geral);

Quais os componentes de um sistema de alerta precoce para secas, especialmente para ASD?

A) Conhecimento dos riscos

- Avaliar os indicadores de desertifi cação existentes e defi nir aqueles que se adequem às particularidades das ASD;

- Redefi nição das ASD, através de critérios mais adequados à realidade local e aos indicadores nacionais dos que aqueles preconizados pela UNCCD;

- Mapeamento das áreas sujeitas à inundação, seca, queimadas, etc;

- Caracterização e mapeamento das vulnerabilidades e potencialidades (ZEE) nas ASD.

B) Monitoramento e sistema de alerta

- Monitorar os indicadores de desertifi cação defi nidos;

- Ampliar a densidade e melhorar a distribuição espacial da rede de obtenção de dados básicos (climáticos, meteorológicos, hidrológicos, etc);

- Melhora a capacidade de previsão de eventos climáticos extremos bem como reduzir as margens de incertezas no que se refere a cenários de mudanças climáticas;

- Melhorar a rede de comunicação entre instituições.

C) Disseminação dos alertas

- Defesa Civil como elo entre o SAP e a população e, no caso na sua inexistência, articulação com outras representatividades municipais (prefeitura, conselhos, cooperativas, igrejas, polícia, bombeiros, rádios comunitárias, sindicatos, etc).

D) Preparação para resposta

- Fortalecimento institucional do Sistema Nacional de Defesa Civil e capacitação para os seus técnicos;

- Programa de educação da população da ASD para enfrentamento das situações de alerta.

Quais são os sistemas existentes que são relevantes para o SAP?

- Defesa Civil;

- Ministério da Integração;

- Vigilâncias Sanitárias animal e vegetal;

- Sistemas de Observação de Dados (por exemplo, meteorológicos, hidrológicos). Há a necessidade de se contar com um sistema de aquisição de dados em tempo real de informações reconhecidas com relevantes ao processo (tais como imagens de satélites no mapeamento de vegetação). Com relação aos dados históricos, é necessário tornar públicos os bancos de dados existentes;

- Sistemas de previsão sazonal; incluindo indicadores de variabilidade intrasazonal na esfera de monitoramento e previsão (Estados, INMET, INPE);

- SINIMA;

- SINDEC;

- Sistema de Monitoramento de Água no Solo – FUNCEME e PROCLIMA - INPE, EMBRAPA;

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- Sistemas de monitoramento de incêndios fl orestais e de campos (FUNCEME/IBAMA, Estados, INPE/IBAMA e INMET);

- Sistema de Geotecnologia do INPE;

- SIGA/ ASA, Sistema Articulação do Semi-Árido – SAS;

- Sistema de monitoramento de safras;

- SNIRH/ ANA incluindo sistemas operacionais da sala de situação;

- SIAGAS - CPRM e SIDRA - IBGE, bem como outros bancos de dados de interesse;

- Dados coletados pelas Universidades de interesse ao SAP;

- Dados coletados pelas ONGs e organizações civis em geral;

Aperfeiçoamento / fortalecimento de sistemas existentes ou novo sistema?

- Aperfeiçoar e fortalecer os sistemas de previsão e alerta meteorológico, hidrológico, de monitoramento de queimadas, e de defesa civil existentes. O SAP será concebido de uma maneira compartilhada com os sistemas relevantes existentes;

- Ampliar os sistemas existentes de maneira a incluir ferramentas de alerta precoce contra o problema da desertifi cação, criando sistemas complementares que venham a incorporar as questões relevantes no problema da desertifi cação (por exemplo, sistemas de previsão e detecção de colapso de safra, alerta sobre desmatamento de todos os biomas, a partir do mapeamento da vegetação);

- Garantir a interoperabilidade entre todos os sistemas;

- Nos problemas de desertifi cação, construir o sistema implica a necessidade de se atingir o consenso sobre os indicadores do processo. Sugere-se utilizar indicadores preliminares entre os grupos de estudo de desertifi cação da América do Sul. Há a necessidade de propor

vários indicadores, considerando que o alerta se baseia na convergência de fatores;

- Sistematizar os bancos de dados de maneira a adequá-los a esses indicadores. Numa fase inicial, sugere-se concentrar em um aspecto do processo (por exemplo, quebra de safra, ou ferramentas de diagnósticos já existentes de desertifi cação) para dar início ao sistema;

- Correção das bases de dados existentes de maneira a aumentar a consistência da informação;

- Há a necessidade de implantar algumas áreas pilotos para testar os indicadores em áreas pouco estudadas da região, bem como compatibilizar os critérios entre os estados no mapeamento já existentes das áreas sujeitas à desertifi cação. Sugere-se utilizar indicadores indiretos do problema, tais como o estudo de séries históricas de dados meteorológicos como indicativos das velocidades de mudanças;

- Apropriar-se de experiências já existentes na região sobre a recuperação de áreas degradadas.

População (e suas instituições) como “parceira” (agente, usuária e benefi ciária) do SAP (Exemplo: experiência da Defesa Civil)

- Estimular o envolvimento de comitês, conselhos, comissões já existentes com atribuições sobre a temática de desertifi cação (por exemplo, Comitês de Bacias Hidrográfi cas);

- Promover uma maior inserção nos setores do governo com a idéia de compatibilizar políticas públicas;

- Sensibilizar, articular e mobilizar todos os segmentos da sociedade;

- Promover educação ambiental de forma participativa, principalmente em questões relativas à desertifi cação;

- Promover e discutir, junto à sociedade, alternativas econômicas para minimizar os problemas de degradação;

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- Assegurar a participação da comunidade na gestão do SAP;

- Incorporar no sistema educacional ações de interesse para o sistema de alerta (por exemplo, envolver as escolas em coleta de informações básicas, palestras, treinamento) visando promover um maior nível de inserção da informação na educação formal;

- Promover a participação da mídia em diferentes estágios do SAP, inclusive em atividades de treinamento;

- Fomentar treinamentos entre os usuários da informação, e programas de transferência de tecnologia, com a fi nalidade de facilitar a apropriação da informação pelos usuários;

- É necessário criar mecanismos de respostas mais rápidas e efetivas. O sistema deve ser propositivo, e deve ser capaz de indicar que certos mecanismos colocados em práticas durante os eventos críticos trazem danos maiores no longo prazo. E essencial o desenvolvimento de planos de preparação, mitigação e contingência para todos os cenários;

- Preparar folhetos informativos, técnicos e científi cos sobre os índices de desertifi cação, como combatê-la e minimizar o processo.

Como capturar e comunicar as informações de alerta precoce junto:

aos tomadores de decisão;aos grupos sociais mais diretamente afetados; eà sociedade em geral.

- Transmitir a informação aos respectivos usuários em linguagem adequada, expressando de forma apropriada a magnitude e intensidade dos eventos;

- Sugere-se a criação de quadro normativo responsável por iniciar as ações EFETIVAS DE MITIGAÇÃO E PREVENÇÃO a partir

a)b)

c)

das recomendações técnicas do SAP, caso contrário o sistema terá alcance restrito;

- Sugerir ações que facilitem e fomentem a apropriação dos usuários e das próprias instituições públicas estaduais e federais (tomadores de decisão) das informações geradas pelo SAP;

- Utilizar de todos os meios de comunicação para divulgação e disseminação.

Como organizar a população para “estar preparada” e poder responder ao SAP com mínimo desgaste e maior efi cácia?

- Valendo-se de associações comunitárias (comitês de bacia, comissões de meio ambiente,...), motivar e incentivar a promoção e aceitação de temas relativos ao combate à desertifi cação;

- Comunicação em linguagem adequada, utilizando meios disponíveis da mídia;

- Incluir tema em programas de educação ambiental;

- Capacitar, inclusive à distância, grupos meta específi cos e de forma continuada em temas com enfoque no controle à desertifi cação.

Quais são os atores que têm um papel relevante no SAP?

- MMA, MS, MI, MAPA, MCT, órgãos de desenvolvimento regional (ADENE/SUDENE, DNOCS, CODEVASF...);

- Ministério Público;

- Associações comunitárias;

- Iniciativa privada;

- Órgãos estaduais e municipais;

- Órgãos de defesa civil;

- Instituições de ensino e pesquisa;

- ONGs, redes da sociedade civil;

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- INPE, INMET, INSA, EMBRAPA;

- Organismos de cooperação internacional;

- Agentes fi nanceiros e fundos setoriais.

Quais são os papéis do Governo Federal, dos Estados, dos Municípios e como articulá-los?

- Entendemos que as ações de coordenação em nível federal devam fi car no MMA. Cabe ao MMA defi nir, de forma participativa, o melhor arranjo institucional e a arquitetura do SAP e coordenar nacionalmente o sistema;

- Sugere-se uma Comissão de Coordenação do SAP: esfera federal (MMA/SRH, MI/ DNOCS e SEDEC, MCT/ INPE);

- A Comissão gestora federal deverá se articular com órgãos de atuação estaduais (Secretarias Estaduais de Recursos Hídricos e Meio Ambiente e Núcleos Regionais nas ASD do PMTCRH – CPTEC/ INPE). Recomenda-se resgatar o papel catalisador do MCT, com fi nanciamento para ações do diversos atores;

- Fortalecimento Institucional do MMA, através da elaboração da Política Nacional de Combate à Desertifi cação e criação do Conselho Nacional de Combate à Desertifi cação, já defi nidos no PAN. Como sugestão, tem-se a criação de uma Secretaria Nacional de Combate à Desertifi cação;

- Cabe aos governos estaduais identifi car as secretarias responsáveis pela coordenação do programa no estado e co-fi nanciar o sistema para maximizar seus benefícios;

- É papel dos municípios adaptar o SAP à realidade local, desenvolvendo a necessária articulação nesse nível;

- Em nível municipal, o órgão articulador seria a Defesa Civil, onde existir, e outros órgãos de representatividade local. Além da Defesa Civil, entendemos que é conveniente o envolvimento de órgãos tais como: Emater, Corpo de Bombeiros e Polícia Militar.

Quais são os papéis das universidades, instituições de pesquisa, entidades do setor privado, sociedade civil organizada, meios de comunicação?

- Universidades, Instituições de pesquisa e Centros Estaduais: pesquisa aplicada, dados sobre estudos de casos e novas metodologias. Capacitação técnica, disseminação das informações e ações de extensão junto às comunidades locais;

- Órgãos operacionais federais e estaduais: coleta de informações básicas e sua disponibilização, operacionalização e implantação de processos. Capacitação e difusão das informações;

- Entidades e organizações do setor privado: Informações, experiências, dados, avaliações. O setor privado tem um papel fundamental a desenvolver no co-fi nanciamento do sistema e na forma de apoio operacional. Cabe também ao setor privado a disseminação e apropriação das informações, e deve se envolver em atividades como treinamento, extensão e conscientização. No caso de organizações tais como as ONG, elas deveriam atuar em ações de mobilização, divulgação, implementação de iniciativas específi cas, e na adequação das informações às realidades locais. Fortalecimento da sociedade civil, especialmente das organizações comunitárias de base;

- Meios de comunicação: disseminação, conscientização e mobilização.

Qual o papel da Cooperação Internacional?

- WMO, IICA, FAO, UNESCO, WHO, UNICEF, GTZ, JICA, Banco Mundial, BID, União Européia, Cooperações Bilaterais, NOAA, USGS;

- Cooperação técnica (expertise, intercâmbio);

- Financiamento;

- Apoio ao dimensionamento do SAP.

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Quais são as alternativas de arranjos institucionais para o funcionamento de um efi ciente sistema de alerta precoce?

- RESGATAR E FORTALECER os arranjos institucionais já existentes;

- Explorar a incorporação de novos parceiros, particularmente os não-convencionais;

- No que se refere ao combate à desertifi cação, destinar ao MMA o papel de catalisador e articulador para identifi cação e defi nição das instituições que participarão da implementação do SAP;

- Estabelecer comissões de gestão integrada;

- Adequar o arranjo institucional do PAN-Brasil ao SAP (???);

Que recursos são necessários para o desenvolvimento, implementação e funcionamento de um efi ciente sistema de alerta precoce de secas, especialmente para as Áreas Susceptíveis à Desertifi cação?

o Institucionais;o Tecnológicos e Científi cos;o Financeiros;o Humanos;

- Os recursos iniciais do sistema devem ser sufi cientes para construir um protótipo do SAP. Se este protótipo for bem sucedido, irá criar novas demandas que conduzirão à ampliação do sistema;

- Este protótipo será construído a partir do conjunto de ferramentas já existentes para o monitoramento e previsão das secas periódicas. Esta sugestão se baseia no fato que já existe, sistemas operacionais, experiência e metodologias consolidadas sobre esse fenômeno. O protópo irá incluir alguns indicadores do processo de degradação ambiental, que será o cerne do SAP para a questão da desertifi cação;

- O sistema deve incluir cenários climáticos em formato tal que possam ser incorporados em ações tais como os ZEEs;

- Como ponto de partida, utilizar a infra-estrutura e os conhecimentos científi cos e tecnológicos existentes (estabelecimento/ fortalecimento de rede de instituições), complementando-os segundo as necessidades do SAP. Ao mesmo tempo, recomenda-se valorizar os conhecimentos tradicionais disponíveis;

- Inicialmente, utilizar os recursos humanos disponíveis. Entretanto, e mesmo no desenvolvimento deste protótipo, há a necessidade de contar com recursos humanos dedicados no SAP.

Para dimensionar o SAP em nível de detalhe, sugere-se:

- A criação de um Grupo de Trabalho sob a coordenação do MMA, quem irá defi nir uma instituição líder e estabelecer um arranjo institucional que contemple todas as áreas de atuação do SAP;

- Neste Grupo de Trabalho, deverá haver defi nição clara das atribuições e responsabilidades de cada instituição participante;

- Identifi car possíveis fontes fi nanceiras, internas e externas. Identifi car/mobilizar recursos em programas já existentes (por exemplo, ProÁgua, PCPR, Fundos Setoriais);

- Os recursos humanos serão complementando segundo as necessidades do SAP, a serem defi nidas pelo GT;

- Induzir a formação e fi xação de recursos humanos adequados às necessidade do SAP (fomento de bolsas CNPq, IICA, FAPs estaduais), inclusive pesquisas aplicadas, ressaltando que não apenas é sufi ciente formar esses recursos humanos mas também fi xá-los.

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Como viabilizar a decisão política e os recursos para a implantação ou adaptação do SAP?

- Apresentar sua concepção à Ministra de Meio Ambiente, sugerindo que, em articulação com o MI e MCT, seja levado à Casa Civil para constituição de um Grupo de Trabalho Interministerial para seu desenvolvimento e implementação. Destacar sua viabilidade técnicoeconômica e os prejuízos sociais, econômicos e ambientais decorrentes de sua não implementação (custo da desertifi cação);

- Incluí-lo no Orçamento Geral da União e dos Estados: previsão no PPA dos órgãos federais coordenadores e dos estados onde se localizam as ASD (para garantir contrapartida no caso de convênios);

- Criação de fundo setorial (exemplo: CT Petro, CT Hidro), já proposto anteriormente no PAN, bem como a busca de recursos nos fundos estaduais de recursos hídricos;

- Cabe ao CNPQ a elaboração de editais específi cos;

• - Compensação ambiental de empresas atuantes nas ASD – articulação com Conselho Nacional de Meio Ambiente (recurso poderá ir para o fundo específi co vinculado ao SAP);

- Imposto de renda de empresas;

- Recurso do Proágua contra a desertifi cação – MI;

- Submeter a proposta à Comissão de Meio Ambiente do Congresso Nacional, visando o apoio político e fi nanceiro para sua implementação.

Estabelecimento de agenda de implementação da proposta SAP

- Apresentação do conceito à Ministra de Meio Ambiente;

- Constituição do GTI;

- Preparação da proposta preliminar do SAP pelo GTI;

- Apresentação da proposta aos principais atores envolvidos, para efeito de validação;

- Implantação.

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COORDENADORA DO CPTEC/INPE É ELEITA ACADÊMICA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIÊNCIA (ABC)

Na última eleição da Academia Brasileira de Ciências (ABC), realizada em 30 de março, além da renovação da Diretoria para o período de 2007 a 2010, também foram eleitos 25 novos membros para a entidade. Entre estes, a Coordenadora do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), do INPE, Maria Assunção Faus da Silva Dias, que irá ocupar uma das duas cadeiras destinadas a cientistas da área de Ciências da Terra.

Na renovação da Diretoria da ABC, o matemático Jacob Palis passou a ocupar a Presidência da entidade no lugar do Professor Eduardo Krieger. Os 25 novos acadêmicos eleitos à parte irão integrar 11 áreas

científi cas. Para validar a candidatura a acadêmico da ABC, o nome do cientista deve ser indicado por membros da entidade.

A área de Ciências da Terra possui atualmente 72 membros, entre os quais o pesquisador Carlos Nobre, do INPE, eleito em 2003. No total, a ABC conta com mais de 600 membros. Entre os temas considerados prioritários pela nova Diretoria e que deverão ser foco de grandes estudos estão: Amazônia, mudanças climáticas e impactos ambientais.

FONTE: Boletim eletrônico do Jornal da Ciência 3235, de 02/04/2007.

CARLOS NOBRE GANHA PRÊMIO Conrado Wessel

A Fundação Conrado Wessel (website: www.fcw.org.br) anunciou nesta quarta-feira (18/4/2007) os nomes dos ganhadores do Prêmio FCW de Ciência e Cultura 2006, concedido a personalidades de reconhecimento nacional em seis categorias.

Os vencedores foram: Sérgio Mascarenhas Oliveira (Ciência geral), Ricardo Renzo Brentani (Medicina), Ruth Rocha (Literatura), Magno Antonio Patto Ramalho (Ciência aplicada ao campo), Carlos Afonso Nobre (Ciência aplicada ao meio ambiente) e Aldo Cunha Rebouças (Ciência aplicada à água). A cerimônia de entrega será realizada no dia 4 de junho,

na Sala São Paulo, a partir das 19h30. Os perfi s dos escolhidos, de acordo com a FCW, revela “qualidades de talento inovador, liderança, abrangência social, trabalho incansável, integridade e ética”. O prêmio concedido a cada ganhador foi de R$ 100 mil isentos de impostos.

Leia a matéria na íntegra em: http://www.agencia.fapesp.br/boletim_dentro.php?id=7024.

FONTE: Boletim eletrônico Agencia FAPESP, de 19/4/2007.

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COLÉGIO DE ENTIDADES NACIONAIS

Alfredo Silveira da SilvaDiretor Profi ssional da SBMET/Conselheiro do CREA-RJ

E-mail: [email protected]

O Colégio de Entidades Nacionais (CDEN) teve como marco inicial a Decisão do CONFEA n°CR-006/83, que aprovou o processo de discussão para a reformulação da legislação profi ssional, constituindo a Comissão Diretora das Entidades Nacionais.

A primeira reunião do Colegiado foi realizada em 28 de maio de 1983, na sede do CONFEA, em Brasília, contando com a participação do Presidente do CONFEA e dos representantes das Entidades Nacionais FNE (Federação Nacional de Engenheiros), FNA (Federação Nacional de Arquitetos e Urbanistas), IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil), FEBRAE (Federação Brasileira de Associações de Engenheiros), CONAGE (Coordenação Nacional de Geologia), AGB (Associação de Geógrafos do Brasil), CONATI (Conselho Nacional de Técnicos), FENATA (Federação Nacional de Técnicos Agrícolas), que elaboram o documento “Estratégica do Processo de Discussão da Legislação Profi ssional pela Comissão”, servindo de subsídios para o processo de discussão da Lei n° 5.194, de 24 de dezembro de 1966, na pauta do CONFEA. Em seguida, o Plenário do CONFEA aprovou, em outubro de 1983, o referido documento e no ano de 1984 foram realizados sete encontros nacionais, vinte e cinco regionais e cinco reuniões da Comissão Diretora.

Em março de 1986 foi realizada reunião do CDEN com participação de dezoito entidades Nacionais: ABEAS (Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior), ABEA (Associação de Brasileira de Engenheiros de Alimentos), ABEE (Associação Brasileira de Engenheiros Eletricistas), ABENC (Associação Brasileira de Engenheiros Civis),

ABEMEC (Associação Brasileira de Engenharia Mecânica e Industrial), AGB, CONAGE, CONTAE (Conselho Nacional das Associações de Técnicos Industriais), FAEAB (Federação das Associações de Engenheiros Agrônomos do Brasil), FEBRAE, FAEMI (Federação das Associações de Engenheiros de Minas do Brasil), FNA, FNE, FENATA, IAB, SBMET (Sociedade Brasileira de Meteorologia), SBEF (Sociedade Brasileira de Engenheiros Florestais). No encontro, discutiu-se a Minuta de Anteprojeto de Alteração da Lei n° 5.194, de 24 de dezembro de 1966, numa tentativa de consolidar os documentos gerados pelos grupos Arquitetura, Agronomia, Engenharia e Geociências.

Durante o Processo Constituinte 1991/1992, o CDEN teve papel fundamental na proposta de reorganização do Sistema e na revisão de sua legislação, culminando em 1994, com a Resolução n° 386, de 27 de julho de 1994, que criou o Colégio de Entidades Nacionais, regulamentando-o como Fórum Consultivo do Sistema/CONFEA.

Em 2005, o Plenário do CONFEA aprovou a Resolução n° 1011, de 24 de agosto de 2005, que fi xa os critérios para credenciamento das Entidades Nacionais no CONFEA, revogando a Resolução 386, de 27 de julho de 1994. A referida resolução estabelece o prazo de três anos, a contar da data de publicação, para que o CONFEA inicie a revisão do credenciamento das Entidades Nacionais.

Constituíram pauta do CDEN questões relacionadas ao funcionamento do Sistema, à uniformização de procedimentos, visando à

NORMAS eLEGISLAÇÃO

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Boletim SBMET abril 2007NORMAS eLEGISLAÇÃO

maximização da efi ciência e efi cácia do Sistema, posicionando-se diante de temas relacionados às profi ssões fi scalizadas, além da integração e desenvolvimento do Sistema CONFEA/CREA.

O Colégio de Entidades Nacionais é composto pelos Presidentes de Entidades Nacionais e, na sua ausência, pelos seus representantes credenciados, devendo a Coordenação do CDEN ser exercida, em caráter executivo, por um Coordenador e um Coordenador Adjunto eleitos por seus membros durante sua primeira reunião realizada obrigatoriamente, na sede do CONFEA, com um mandato de um ano, permitida uma única reeleição para quaisquer dos cargos. Sendo elegíveis para os cargos de Coordenado e Coordenador Adjunto, os Presidentes de Entidades Nacionais nos limites de vigência de seus respectivos mandatos nas Entidades de origem.

O CDEN reúne-se ordinariamente duas vezes por ano, sendo a primeira anual na sede do CONFEA e a segunda incorporada à programação da Semana Ofi cial da Engenharia, Arquitetura e Agronomia (SOEAA). A primeira reunião anual é instalada pelo Presidente do CONFEA e pelo Coordenador da Comissão de Assuntos Nacionais (CAN), ou seus representantes, que convocam o Coordenador em exercício para proceder ao relato das atividades desenvolvidas no período de seu mandato. Em seguida, procede à eleição dos Coordenadores.

O Presidente do CONFEA e o Coordenador da CAN ou seus representantes darão posse aos Coordenadores eleitos, passando a presidir os trabalhos o Coordenador eleito, dando seqüência à pauta da qual devem constar obrigatoriamente à defi nição do programa de trabalho e discussão de assuntos de interesse do CDEN.

O CDEN poderá convocar reuniões extraordinárias, com a defi nição prévia da pauta, a pedido do Coordenador, com prévia autorização do CONFEA; por iniciativa de 2/3 dos membros, com informação prévia de, no mínimo, quinze dias ao CONFEA; ou por iniciativa do CONFEA.

Compete ao Coordenador do CDEN: encaminhar ao CONFEA, para homologação, programação anual de trabalho, após sua aprovação na 1ª Reunião; organizar, dirigir e coordenar Reuniões Ordinárias e Extraordinárias; incentivar e apoiar as Entidades Nacionais nas ações que visem ao aprimoramento do CDEN e do Sistema CONFEA/CREA; tomar providências para a tramitação dos assuntos nos termos do seu Regimento; e apresentar ao CONFEA e às Entidades Nacionais relatórios contendo sugestões e recomendações emanadas das reuniões do CDEN para as providencias cabíveis.

A ordem dos trabalhos das reuniões consiste em: verifi cação do quorum; abertura da reunião, apreciação e aprovação da sú mula da reunião anterior, informes, leitura e aprovação da pauta e apreciação dos assuntos pautados.

Os serviços de secretaria e assessoria do Colegiado são desempenhados pela Gerência de Relações Institucionais (GRI), unidade de estrutura auxiliar do CONFEA que é responsável por sistematizar as sugestões de assuntos a serem incluídos na pauta das reuniões; encaminhar a convocação aos membros do CDEN; encaminhar a pauta das reuniões; formatar propostas apresentadas pelo CDEN; encaminhar as propostas geradas nas reuniões à comissão permanente responsável pela condução de assuntos nacionais para analisar, visando à consecução dos objetivos aos quais se destinam; acompanhar a tramitação dos documentos oriundos das reuniões; assessorar tecnicamente as reuniões; elaborar sumula das reuniões; e manter organizado o acervo documental.

Os posicionamentos do CDEN possuem instrumentos e numeração próprios, devidamente fundamentados, recomendando estudos e medidas por parte do CONFEA, relatando a situação existente, proposição, justifi cativa, fundamentação legal e sugestão de mecanismos para implementação.

As informações sobre o Colegiado, tais como Histórico, Estrutura, Funcionamento, Propostas, Deliberações, Calendário de Reuniões e Entidades Filiadas podem ser obtidas no site www.confea.org.br/cden.

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A Coordenação do CDEN é exercida em caráter executivo, por um Coordenador e um Adjunto, eleitos por seus membros. No ano de 1995 o Arquiteto Itamar Kalil, Presidente da ABEA, exerceu o cargo de Coordenador junto com o Eng. Agrônomo Carlos Pieta Filho da CONFAEAB, Coordenador Adjunto. Em 1996 a Coordenação manteve-se com o Arquiteto Itamar Kalil e o Coordenador Adjunto foi o Eng. Agrimensor Miguel Prieto, da FENEA. Nos anos de 1997 e 1998, a Coordenação fi cou com o Presidente da ABEAS, Eng. Agrônomo Helmut Forte Daltro, e a Coordenação Adjunta com o Presidente da FENEA, Eng. Agrimensor Ziocélito José Bardini. Em 1999, a Coordenação do CDEN veio a ser exercida pelo Eng. Florestal Fernando A. S. Bemerguy, Presidente da ABEAS, e o Presidente da FEBRAE, Eng. Civil José Ramalho Ortigão Jr., passou a ser o Coordenador Adjunto. No ano de 2000, o Colégio continuou sendo comandado pelo Eng. Florestal Fernando Bemerguy, Presidente da ABEAS e o Eng. Civil Pedro Lopes de Queiroz, Presidente da ABENGE, como Coordenador Adjunto. Durante o ano de 2001, o CDEN foi coordenado pelo Presidente da FISENGE, Eng. Eletricista Paulo Bubach, tendo com

Coordenado Adjunto o Eng. Eletricista Reynaldo Rocha Barros. Em 2002, a coordenação fi cou com o Presidente da FNA, Arquiteto e Urbanista Eduardo Bimbi, e a Coordenação Adjunta com a Eng. de Alimentos Márcia Ângela Nori. No ano de 2003, o Colégio continuou sendo comandado pelo mesmo arquiteto e tendo como Coordenador Adjunto o Presidente da SBEF, Eng. Florestal Carlos Adolfo Bantel. Em 2004, o CDEN foi coordenado pelo Presidente da CONFAEB, Eng. Agrônomo Antonio de Pádua Angelim e o Presidente da FAEP-BR, Eng. de Pesca Augusto José Nogueira. Em 2005, o CDEN foi coordenado pelo Presidente da CONFAEB e como Coordenador Adjunto o Presidente da CONTAE, Técnico Industrial Eletrônico Ricardo do Nascimento Alves. Em 2006, o Colégio foi Coordenado pelo Presidente da ANEST, Eng. Mec. Francisco Machado da Silva e como Coordenador Adjunto o Presidente da CONTAE, Técnico Industrial Eletrônico Ricardo do Nascimento Alves. Atualmente a Coordenação do CDEN continua com o mesmo Presidente da ANEST, tendo como Coordenador Adjunto o Eng. Agrônomo, Presidente da ABEAS José Geraldo Vasconcelos Bracuhy.

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ABRIL 2007

AGENDA

MAIO 2007

Special Session at the EGU General Assembly AS1.15: Aerosol-Precipitation Interactions

Período: 15 a 20 de abril de 2007Local: Vienna, AustriaWebsite: www.cosis.net/members/meetings/programme/overview_db.php?m_id=40

Fórum de Agronegócio - Biocombustível no Brasil

Período: 26 de abril de 2007Local: Campinas, SPWebsite: www.cori.unicamp.br/foruns/agro/foruns_agro.php

Congresso Ibero-americano sobre desenvolvimento sustentável (SUSTENTÁVEL 2007)

Período: 24 a 26 de abril de 2007Local: Auditório Ibirapuera, Avenida Pedro Álvares Cabral, s/nº, Parque do Ibirapuera - São Paulo - SPWebsite: www.sustentavel.org.br/local-do-evento.asp

Workshop de Monitoramento Ambiental

Período: 27 a 28 de abril de 2007Local: São Paulo, SPWebsite: www.edutechambiental.com.br/cursos_workshops/index.asp

Fórum sobre Aquecimento Global

Período: 03 de maio a 28 junho de 2007Local: Campinas, SPWebsite: www.canalenergia.com.br/zpublisher materias/Meio_Ambiente.asp?id=59023

Seminário “Mitigação das Mudanças Climáticas - Contribuições do Grupo de Trabalho III ao 4º Relatório do Painel Intergovernamental de Mudança Climática - IPCC”

Período: 08 de maio de 2007Local: Auditório do Programa de Planejamento Energético do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação COPPE-UFRJ/UFRJ, Centro de Tecnologia, Bloco C, Sala C-208, Ilha do Fundão - Rio de Janeiro - RJHorário: 10 horas

7th IEEE International Symposium on Cluster Computing and the Grid – CCGrid2007

Período: 14 a 17 de maio de 2007Local: Rio de Janeiro, RJWebsite: ccgrid07.lncc.br

1º Workshop de Interação Universidade-Empresa

Período: 18 de maio de 2007Local: Itatiba, SPWebsite: www.saofrancisco.edu.br

Palestra “Domínios Geoambientais da região de infl uência da barragem do Tijuco Alto, alto Vale do Ribeira: adequabilidades e limitações frente ao uso e ocupação”

Período: 19 de maio 2007Local: Campinas, SPWebsite: www.sbe.com.br/aberta.asp

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JUNHO 2007

III Encontro da Associação de Órgãos Municipais de Meio Ambiente do Estado do Rio de Janeiro (ANAMMA-RJ)

Período: 22 a 24 de maio 2007Local: Niterói, RJWebsite: www.anamma.com.br/contVisualizar.asp?id=960

Workshop Internacional sobre Qualidade da Água e Boas Práticas de Manejo para a Aqüicultura

Período: 22 a 25 de maio de 2007Local: Auditório da Reitoria da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Manaus.Contato por e-mail: [email protected] ou [email protected] Informações pelo telefone (92) 3643-3191.Website: www.inpa.gov.br Promoção: INPA, EMBRAPA, FAPEAM

AGU-SBGf Joint Meeting

Período: 22 a 25 de maio 2007Local: Acapulco, MéxicoWebsite: www.agu.org/meetings/ja07/

Seminário sobre Manejo Integrado de bacias hidrográfi cas em Florestas plantadas

Período: 23 e 24 de maio 2007Local: Viçosa, MGWebsite: www.sif.org.br

4º Congresso Nacional de Meio Ambiente – Perspectivas de Sobrevivência do Planeta neste Milênio

Período: 24 a 26 de maio 2007Local: Poços de Caldas, MGWebsite: www.meioambientepocos.com.br

Conferência “Agroenergia e Biocombustível”

Período: 25 de maio 2007Local: Botucatu, SPWebsite: www.iea.usp.br/iea/contato/contato98.html

II Workshop em Modelagem de Tempo e Clima utilizando o Modelo Eta: Aspectos Físicos e Numéricos

workshop: 29 de maio – 02 de junho de 2007, de terça a sábadomini-cursos: 28 de maio de 2007, segunda-feiraLocal: INPE - Cachoeira Paulista - SPOrganização: INPE e APLBAWebsite: [email protected] e www.cptec.inpe.br/worketa/evento.shtml

Simpósio sobre “Aquecimento Global e Responsabilidade Social”

Período: 29 a 31 de maio de 2007Local: Auditório Central - Campus I - Universidade Católica de Brasília, Brasília, DFWebsite: www.ucb.br/simposio

Workshop Passivo Ambiental

Período: 01 e 02 de junho de 2007Local: Rua Cubatão 1088/90, Paraíso, São Paulo, SPWebsite: www.edutechambiental.com.br/

• Summer School on Multiscale Modeling and Simulation in SciencePeríodo: 04 a 15 de junho de 2007Local: Bosön, StockholmWebsite: http://user.it.uu.se/~ngssc/ngssc_home//S2M2S2/http://www.atm.helsinki.fi /ILEAPSEmail: [email protected]

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Seminário “Impactos das Mudanças Climáticas e Cenários no Estado de São Paulo”

Período: 06 de junho de 2007Local: São Paulo, SPWebsite: www.iea.usp.br/contato

Comemorações do Dia Mundial do Meio Ambiente/ Evento Planeta Terra no Século XXI - Avanços e Conseqüências

Período: 05 e 06 de junho de 2007Local: Florianópolis, SCWebsite: ciram.epagri.sc.gov.br

Congresso Internacional de Agroenergia e Biocombustíveis

Período: 11 a 15 de junho de 2007Local: Teresina, PIWebsite: www.agendapromocoes.com.br/agrobioenergia/

IV Workshop on Lidar Measurements in Latin America

Período: 17 a 23 de junho de 2007Local: Ilhabela, SP, BrazilWebsite: www.cea.inpe.br/cea/lws/index.htm

Workshop em Assimilação de dados em Modelos Atmosféricos Aplicações Meteorológicas e HidrológicasPeríodo: 21 a 22 de junho de 2007Local: Fortaleza, CEWebsite: www.funceme.br/

I Seminário Internacional sobre Mudanças Climáticas e seus Impactos na Agricultura

Período: 21 a 23 de junho de 2007Local: Auditório da Biblioteca Central da UFV – Viçosa, MGWebsite: www.cpd.ufv.br/intranet/eventos/climaticas

II International Workshop on Climate Change and its impact on agriculture “linking regional climate model with crop growth model to analyze climate chance impacts on agriculture in Brazil”

Período: 21 a 23 de junho de 2007Local: Viçosa, MGWebsite: www.cpd.ufv.br/intranet/eventos/climaticasContato por email: Marcos Costa ([email protected])

The 2007 World Congress in Computer Science, Computer Engineering, and Applied Computing (WORLDCOMP’07) (composto de 24 Conferências)

Período: 25 a 28 de junho de 2007Local: Monte Carlo Resort Hotel, Las Vegas, Nevada, EUAContato por e-mail: H. R. Arabnia - [email protected]: www.worldacademyofscience.org/worldcomp07www.world-academy-of-science.org

II Encontro Sul-Brasileiro de Meteorologia/IV Jornada de Palestras dos Estudantes de Meteorologia - UFPel

Período: 25 a 29 de junho de 2007Local: Florianópolis, SCWebsite: www.cefetsc.edu.br/~meteoro/esbm/

AGENDA

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JULHO 2007

XV Congresso Brasileiro de Agrometeorologia

Tema: “A AGROMETEOROLOGIA NO SÉCULO XXI”Período: 02 a 05 de julho de 2007Local: Centro de Convenções do Hotel Parque dos Coqueiros, situado à Rua Francisco Rabelo Leite, nº 1075, Bairro Atalaia, Aracaju, SEWebsite: www.cbagro2007.com.br

Conferência Internacional de Educação a Distância com Apoio Computacional em Meteorologia e Hidrologia (CALMet) 2007

Período: 02 a 07 de julho de 2007Local: Beijing, ChinaWebsite: calmet.comet.ucar.edu/ Informações: Patrick Parrish ([email protected]), Vesa Nietosvaara ([email protected] ), Fan Hong ([email protected]), Dr. Ednaldo Oliveira dos Santos ([email protected]).

Joint conference of the International Association of Meteorology and Atmospheric Sciences (IAMAS) and the International Union of Geodesy and Geophysics (IUGG)

Período: 02 a 13 de julho de 2007Local: University of Perugia, ItáliaContato por E-mail: [email protected]: www.iugg2007perugia.it

59ª Reunião Anual da SBPC

Período: de 08 a 13 de julho de 2007Local: campus da Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém do ParáTema central: Amazônia: desafi o nacional . Website: www.sbpcnet.org.br/eventos/59ra. As inscrições para os minicursos serão abertas a partir de abril do próximo ano.

11th World Multi-conference on Systemics, Cybernetics and Informatics: WMSCI 2007

Período: 08 a 11 de julho de 2007Local: Orlando, Florida, EUAWebsite: www.iiis-cyber.org/wmsci2007

60 Simpósio Brasileiro de Captação e Manejo de Água de chuva

Período: 09 a 12 de julho de 2007Local: UFMG, Belo Horiznte, MGWebsite: www.abcmac.org.br

Session "IWG02" - 4rd AOGS Annual Meeting: "Modelling and Simulation ofDangerous Phenomena for Hazard Mapping"

Período: 30 de julho a 4 de agosto de 2007Local: Bangkok, ThailandiaWebsite: www.asiaoceania.org/aogs2007/ Contato por e-mail: Giulio Iovine: [email protected]; [email protected]; [email protected]

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AGOSTO 2007

33rd International Conference on Radar Meteorology

Período: 06 a 10 de agosto de 2007Local: Cairns Convention Centre, Cairns, AustráliaInformações: http://www.ametsoc.org/meet/index.htmlWebsite: www.tropicalaustralia.com.au/

Workshop Internacional de Satélites Meteorológicos para Usuários Sul-Americanos

Período: 20 a 24 de agosto 2007Local: Maceió, AlagoasData de inscrição: até 10 de maio 2007Website: www.evento.ufal.br/eumetsat/

Curso de Verão: “Land Surface - Atmosphere Interactions in a Changing Climate”

Período: 26 a 31 de agosto de 2007Local: Grindelwald, SwitzerlandData limite para submissão: 20 de dezembro de 2006 (notifi cacção de aceite em janeiro 2007)Website: www.nccr-climate.unibe.ch/summer_school/2007/

Second International Conference on Earth System Modeling Max Planck Institute for Meteorology

Período: 27 a 31 de agosto de 2007Inscrições online: outubro de 2006Website: www.mpimet.mpg.de/icesm

14th IUAPPA World Congress

Período: 09 a 13 de setembro de 2007Local: Brisbane, AustráliaWebsite: www.icms

The United Nations/Austria/European Space Agency Symposium on “Space Tools and Solutions for Monitoring the Atmosphere in Support of Sustainable Development ”

Período: 11 a 14 de setembro de 2007Local: Graz, AustriaWebsite: www.unoosa.org/oosa/SAP/act2007/graz/index.html

SETEMBRO 2007

Workshop Internacional sobre Clima, Recursos Naturais e Aplicações na CPLP

Período: 11 a 15 de setembro de 2007Local: CABO VERDE, Ilha do SalContato com Secretaria do Evento: [email protected] ou Dr. Sérgio Ferreira (Portugal) ([email protected])Centro Empresarial de Carnaxide, Avenida Tomás Ribeiro, 47 – 3 - 2790-463 Carnaxide, PortugalTel.: (+351) 93 373 4391 (Dr. Sérgio Ferreira)Fax: (+351) 21 418 3819

Congresso Internacional "A Global Vision of Forestry in the 21st Century"

Período: 30 de setembro a 03 de outubro de 2007Local: Toronto, CanadáWebsite: www.forestry.utoronto.ca/centennial/int_congress.htm

AGENDA

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Semana Nacional de Ciência e Tecnologia – 2007

Foi escolhido como lema para a Semana de 2007, Terra.Período: 01 a 07 de outubro de 2007

VIII Congresso Brasileiro de Redes Neurais

Período: 07 a 11 de outubro de 2007Local: Florianópolis, SCWebsite: http://www.ieb.ufsc.br/CBRN/

OUTUBRO 2007

I Simpósio Brasileiro de Inteligência Computacional

Período: 07 a 11 de outubro de 2007Local: Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SCWebsite: www.ieb.ufsc.br/SBIC

NOVEMBRO 2007

II Simpósio Internacional de Climatologia (SIC)/ III Conferência Regional sobre Mudanças Climáticas - “A detecção das mudanças climáticas e a atribuição de causas”

Período: 02 e 03 de novembro de 2007Local: São Paulo, SP

III Conferência Regional sobre Mudanças Globais

Período: 04 a 08 de novembro de 2007Local: São Paulo, SP

II Simpósio Internacional de Climatologia: “A detecção das mudanças climáticas e a atribuição de causas”

Período: 08 a 10 de novembro de 2007Local: São Paulo, SP

IX Simpósio Internacional de Proteção contra Descargas Atmosféricas (IX SIPDA)

Período: 26 a 30 de novembro de 2007Local: Foz do Iguaçu - PRWebsite: www.iee.usp.br/sipda E-mail para contato com Secretaria: [email protected])

DEZEMBRO 2007

IV Congresso Cubano de Meteorologia

Período: 04 a 08 de dezembro de 2007Local: Ciudad de La HabanaRecebimento de abstract: ate 31 de maio de 2007Envio cartas de aceite: à medida que for sendo recebido os resumos até 31 de julho 2007Envio do trabalho completo: até 31 de agosto de 2007O recebimento de abstracts e trabalhos deve ser feito por e-mail: [email protected]: www.insmet.cu/sometcuba/default.htm E-mail: [email protected]

• V Workshop de Micrometeorologia

Período: 12 a 14 de dezembro de 2007Local: UFSM, Santa MariaContato: Otavio Acevedo ([email protected])

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International Symposium on “Weather Radar and Hydrology”

Período: 10 a 15 de março de 2008Local: Grenoble, FranceWebsite: www.wrah-2008.com

MARÇO 2008 AGOSTO 2008

XV Congresso Brasileiro de Meteorologia

Período: 18 a 23 de agosto de 2008Local: A defi nirTema: a defi nirOrganização: SBMET

AGENDA

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OBITUÁRIO

FALECE O NOTÁVEL PROFESSOR OBASI, EX-SECRETÁRIO GERAL DA OMM, GRANDE INCENTIVADOR DA METEOROLOGIA

Godwin Patrick Olu Obasi (1933 - 2007)

O Professor Godwin Patrick Olu Obasi, Secretário Geral da Organização Meteorológica Mundial entre 01 de janeiro de 1984 e 31 de dezembro de 2003, faleceu em 03 de março de 2007, em Abuja, Nigéria.

O Professor Obasi nasceu em 24 de dezembro de 1933 em Ogori, Estado de Kogi, Nigéria. Recebeu os títulos de Bacharel em Ciências em Matemática e Física (1959, com honras) na Universidade de McGill, Montreal, Canadá; de Mestre em Ciências (1960) e de Doutor em Meteorologia (1963) no Massachusets Institute of Technology, EUA, tendo recebido o Prêmio Carl Rossby pela melhor Tese de Doutorado.

Após sua graduação, foi trabalhar no Serviço Meteorológico Nacional da Nigéria. Quatro anos depois, entrou no Corpo Docente da Universidade de Nairobi, onde posteriormente foi nomeado Chefe do Departamento de Meteorologia e Diretor da Faculdade de Ciências. Em 1978, mudou-se para Genebra para integrar o Secretariado da OMM como Diretor do Departamento de Educação e Treinamento. Em maio de 1983 foi eleito Secretário Geral da OMM pelo Congresso Meteorológico Mundial, com um mandato de quatro anos a partir de 01 de janeiro de 1984. Subseqüentemente foi re-eleito por mais quatro vezes (em 1987, 1991, 1995 e 1999). Completado o seu quinto mandato, tornou-se Secretário Geral Emérito, conforme decisão do 14o Congresso Meteorológico Mundial.

Durante seus mandatos, o Professor Obasi foi ativo na procura de soluções globais para problemas ambientais, com especial atenção para a atmosfera, a água doce e os oceanos. Ele esteve na vanguarda para chamar a atenção do mundo para o problema das mudanças globais, especialmente ao reunir a Segunda Conferência Mundial do Clima em Genebra, em 1990. Teve um papel importante nas negociações que levaram aos estabelecimentos da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, da

Foto tirada durante conferência em Évora, Portugal, em 2002.Da esquerda para a direita, Antonio Divino Moura (INMET), Prof. Obasi, Luiz Carlos Baldicero Molion (UFAL).

Convenção das Nações Unidas para Combater a Desertifi cação, do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), do Programa Mundial de Pesquisas Climáticas, do Sistema Global de Observação Climática, e da Convenção de Viena para a Proteção da Camada de Ozônio e seu Protocolo de Montreal.

O nome do Professor Obasi está intimamente associado a sucessos científi cos altamente relevantes em seu campo de especialização, a dinâmica da atmosfera, incluindo experimentos relacionados à pesquisa das Monções Oeste Africanas e da Atmosfera Global.

O Professor Obasi foi agraciado com honras por muitas sociedades profi ssionais de Meteorologia e de Hidrologia, academias de ciências e universidades em todo o mundo.

Nota da OMM, traduzida pelo Dr. Ralf Gielow, INPE/CPTEC.

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Boletim SBMET ago-nov 2006

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Política Editorial do Boletim da Sociedade Brasileira de Meteorologia

Instruções aos Autores:

1) Serão aceitos para publicação no BSBMET, artigos originais na área de meteorologia e áreas correlatas, não publicados anteriormente, versando sobre conclusões e andamentos de Projetos, opiniões sobre pontos de relevância na meteorologia e problemas atuais da meteorologia e do clima, além de matérias técnicas e profi ssionais de interesse.

2) Os manuscritos submetidos deverão ser enviados ao Editor Responsável do BSBMET via e-mail.

3) Os trabalhos devem ser organizados com a seguinte estrutura: TÍTULO, nome completo dos autores, as Instituições a que pertencem e o endereço postal, RESUMO/palavras chaves, ABSTRACT/Key words, 1. INTRODUÇÃO, 2. RESULTADOS E DISCUSSÃO, 3. CONCLUSÕES (ou CONSIDERAÇÕES FINAIS), 4. AGRADECIMENTOS, 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. As fi guras e tabelas deverão estar posicionadas dentro do texto conforme estipulados pelos autores. As referências bibliográfi cas, as equações e as unidades devem seguir as normas adotadas pela Revista Brasileira de Meteorologia.

4) O texto deve ter, no máximo, dez (10) páginas e ser escrito em formato A4 (297 x 210 mm), usando-se o Editor Word 6.0 ou posterior, fonte Times New Roman 12, espaço 1,5 cm, todas as margens de 2,5 cm e espaçamento duplo entre parágrafos.

Padrões para confecção e envio de arquivos eletrônicos dos anúncios:

1. Especifi cação de formatos:1.1 Anúncio ¼ de página, 8x12 cm sem sangria.1.2 Anúncio 1/2 página, 20 x13,25 cm sem sangria.1.3 Anúncio de página inteira, 17,5 x 24 cm com 4 mm de sangria.

2. Programas disponíveis para recepção de arquivos:2.1 CorelDraw 10 ou inferior, nas plataformas PC.2.2 PDF 5.0 (em alta resolução) ou inferior, nas plataformas PC.

3. Mídias para envio:3.1 CDR ou CDRW3.2 E-mail para arquivos menores que 5MB

Obs: (1) Para enviar arquivos, favor gravar todos os links e fontes utilizadas na mesma mídia, lembrando que a qualidade de imagens e calibração de cores é de inteira responsabilidade do anunciante. É imprescindível o acompanhamento de uma impressão colorida que possa demonstrar a expectativa de reprodução de arquivo. (2) Todas as imagens (fi guras, tabelas e fotos) devem ser enviadas em arquivos à parte, em JPG ou PDF, em alta resolução.

Endereço para envio: A/c Marley C. L. Moscati, INPE/CPTEC – Dept. Meteorologia, Sala 26, Av. dos Astronautas, 1758, Jd. Granja, São José dos Campos/ SP – 12227-010E-mail: [email protected], com cópia para [email protected].

Boletim da Sociedade Brasileira de Meteorologia ISSN 1676-014X

vol.30, no.4, abril 2007

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