enem amazonas gpi fascículo 7 – textos e contextos

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Page 1: ENEM Amazonas GPI Fascículo 7 – Textos e Contextos

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Caro estudante,

A Educação é um projeto de construção coletiva. Vislumbrando tal crescimento, nosso governo traçou, em sua política de gestão, diretrizes que possibilitam assegurar a qualidade da educação através do estudo dos fascículos de Língua Portuguesa, Geografi a, História, Matemática, Física, Química e Biologia, garantindo melhorias signifi cativas na vida dos jovens do nosso Estado.

Pensar a Educação como um projeto de transformação social requer de nós, governantes, amplo entendimento acerca dos conhecimentos necessários para a inclusão do cidadão no mercado de trabalho e a construção de sua plena cidadania.

Portanto, cabe à geração de hoje a responsabilidade de construir uma sociedade mais humana, igualitária, solidária e competente.

Que Deus o abençoe e lhe dê perseverança para enfrentar todos os desafi os que o futuro nos reservar.

E jamais esqueça: a Educação é o maior bem que o Homem pode ter.

Que todos tenham um bom desempenho no exame do ENEM.

CARLOS EDUARDO DE SOUZA BRAGA

Governador do Estado do Amazonas

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Código do fascículo:

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www.enemintensivo.com.br/amazonas

Neste material, vamos dispensar uma atenção especial à HABILIDADE 05.

No entanto, outras HABILIDADES serão contempladas porque vamos dedicar esforços ao estabelecimento de vínculos constantes com a interpretação de textos e, conseqüentemente, com as várias formas de linguagem empregadas no ato da comunicação.

Habilidade 04: Dada uma situação-problema, apresentada em uma linguagem de determinada área de conhecimento, relacioná-la com sua formulação em outras linguagens ou vice-versa.

Habilidade 05: A partir da leitura de textos literários consagrados e de informações sobre concepções artísticas, estabelecer relações entre eles e seu contexto histórico, social, político ou cultural, inferindo as escolhas dos temas, gêneros discursivos e recursos expressivos dos autores.

Habilidade 19: Confrontar interpretações diversas de situações ou fatos de natureza histórico-geográfi ca, técnico-científi ca, artístico-cultural ou do cotidiano, comparando diferentes pontos de vista, identifi cando os pressupostos de cada interpretação e analisando a validade dos argumentos utilizados.

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1 – TextoA palavra texto aparece com muita freqüência no nosso cotidiano lingüístico falado e escrito. Nós a usamos

em várias situações distintas e deixamos de utilizá-la em outras em que, expandindo o seu sentido, daríamos relevo a diversas manifestações humanas através da riqueza contida nessa palavra. Porque texto não pode restringir-se unicamente a uma manifestação em linguagem verbal, como comumente ocorre, mas também se refere às que se apresentam através de linguagem não verbal – e é evidente que iremos considerar as realizações em linguagem verbal e não verbal concomitantemente.

A linguagem verbal é a forma de comunicação mais presente no cotidiano. Utilizamos a palavra falada ou escrita para expor nossos pensamentos e idéias. Eis um tipo de código: a palavra.

A linguagem não verbal é um outro tipo de código e pode vir representada por desenhos, pinturas, fotos, sons, gestos, gráfi cos, dança, cores, trejeitos, os quais, da mesma maneira como ocorre com a linguagem verbal, precisam ser decodifi cados para que a comunicação comece a se processar.

Independentemente da situação em que ocorram, esses tipos de código geram uma mensagem a ser decifrada.

Observe os exemplos, a seguir.

Linguagem não verbal é aquela em que não se usa a palavra, seja a falada ou a escrita, para se expressar.

Linguagem verbal é aquela forma de expressão em que se usa apenas a palavra, falada ou escrita.

Observe o cartaz de rua, tipo de comunicação bastante comum em algumas cidades do Brasil – onde ainda não se proíbe tal veículo ou onde se burla a fiscalização. Nele a mensagem é enviada fundamentalmente através da linguagem verbal, embora não possamos ignorar formatos e cores das letras que também contribuem no sentido de persuadir quem passa diante dele.

O texto conjuga linguagem verbal e linguagem não verbal. O texto verbal dirige o leitor para a intenção do autor da foto, explicita o motivo que levou o veículo de informação a pretender levar ao seu público a reportagem que se fez sobre o assunto.

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UM OLHAR ESTRANGEIRO FOTOGRAFIA DE CAIO VILELA

O fotógrafo paulistano Caio Vilela, 37, enxerga o mundo com o olhar do estrangeiro. Nos últimos dez anos, percorreu mais de 40 países, coletando imagens, sons e impressões, documentadas e narradas em suas reportagens e relatos

As “casas-torre” do centro histórico da capital Sana´a, no Iêmen.

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Uma foto – linguagem não verbal – que expressa a postura de campeão do nosso ídolo e que nos provoca o sentimento de saudade que todos temos do grande Ayrton Senna.

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Um texto precisa conter uma mensagem que se quer levar a alguém; é uma forma de comunicação, com sentido pleno e alcançável por aquele com quem pretendemos manter contato. Daí, podemos entender como textos as seguintes manifestações conotativas ou denotativas, artísticas ou não:

Denotação é o emprego da palavra com o sentido dicionarizado, de maneira objetiva e direta. É a linguagem precisa e de signifi cação imediata.Conotação é o emprego da palavra com múltiplos signifi cados, que vão além do sentido comum. É a palavra utilizada de maneira artística, rica em expressividade.É a linguagem fi gurada.

I. Textos Informativos

Os textos informativos – os essencialmente denotativos – aparecem como textos-apoio de questões do ENEM...

Leia o pequeno texto que serviu de base ao enunciado para uma das questões da prova do ENEM 2002.

O milho verde recém-colhido tem um sabor adocicado. Já o milho verde comprado na feira, um ou dois dias depois de colhido, não é mais tão doce, pois cerca de 50% dos carboidratos responsáveis pelo sabor adocicado são convertidos em amido nas primeiras 24 horas.

A intenção do autor, ao elaborar esse enun-ciado, foi estabelecer um contato informativo com o candidato e fornecer dados necessários e sufi cientes para a questão, apresentada logo após esse enunciado, para que ela pudesse estar res-paldada. A intenção foi referencial.

Leia agora o depoimento que serviu de texto-apoio para uma das questões do ENEM 1999:

O Brasil, quinto país do mundo em extensão territorial, é o mais vasto do hemisfério Sul. Ele faz parte essencialmente do mundo tropical, à exceção de seus estados mais meridionais, ao sul de São Paulo. O Brasil dispõe de vastos territórios subpovoados, como o da Amazônia, conhece também um crescimento urbano extremamente rápido, índices de pobreza que não diminuem e uma das sociedades mais desiguais do mundo. Qualifi cado de “terra de contrastes”, o Brasil é um país moderno do Terceiro Mundo, com todas as contradições que isso tem por conseqüência.

([Adaptado de] DROULERS, Martine. Dictionnaire geopolitique des états. Organizado por Yves Lacoste. Paris: Éditions

Flamarion, 1995.)

TEXTO

tex.to(ês) sm (lat textu) 1 As próprias palavras de um autor, de que consta algum livro ou escrito. 2 Palavras que se citam para provar qualquer doutrina. 3 Passagem da Escritura que forma o assunto de um sermão. 4 Art Gráf A parte principal de um periódico ou livro, que contém a exposição da matéria. 5 Em propaganda, parte escrita de um anúncio, exceto o título. sm pl Coleções do direito romano ou canônico. T. de abertura: anúncio a ser lido no início de um programa de rádio. T. de chamada: texto de poucas palavras (5 a 20) com que se anuncia um programa de rádio. T. de encerramento: anúncio destinado ao final do programa radiofônico. T. de fluxo, Inform: texto que, ao ser inserido no formato de uma página num sistema de editoração eletrônica, preenche todos os espaços ao redor das figuras, e entre as margens.

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Mais uma vez constatamos o compromisso do emissor em veicular uma mensagem que cumprisse a missão de informar, portanto, registrando um discurso centrado no assunto. Tanto este exemplo quanto o anterior tratam de matéria técnica, o que justifi ca o seu enquadramento nos textos de caráter denotativo.

Você não pode esquecer que desenhos, diagramas, esquemas, fotos e gráfi cos são de natureza informativa e muito utilizados como textos-apoio, em especial, nas provas do ENEM.

2. Textos Criativos

Textos criativos – os de predominância conotativa – também são selecionados pela banca do ENEM e representados por meio de tirinhas, gravuras, desenhos e trechos da literatura.

Leia o texto imediatamente a seguir, escolhido para fi gurar como texto-apoio para uma das questões formuladas na prova do ENEM 2002.

“Agora, com a chegada da equipe imortal, as lágrimas rolam. Convenhamos que a seleção as merece. Merece por tudo: não só pelo futebol, que foi o mais belo que os olhos mortais já contemplaram, como também pelo seu maravilhoso índice disciplinar. Até este Campeonato, o brasileiro julgava-se um cafajeste nato e hereditário. Olhava o inglês e tinha-lhe inveja. Achava o inglês o sujeito mais fi no, mais sóbrio, de uma polidez e de uma cerimônia inenarráveis. E, súbito, há o Mundial. Todo mundo baixou o sarrafo no Brasil. Suecos, britânicos, alemães, franceses, checos, russos, davam botinadas em penca. Só o brasileiro se mantinha ferozmente dentro dos limites rígidos da esportividade. Então, se verifi cou o seguinte: o inglês, tal como o concebíamos, não existe. O único inglês que apareceu no Mundial foi o brasileiro. Por tantos motivos, vamos perder a vergonha (...), vamos sentar no meio-fi o e chorar. Porque é uma alegria ser brasileiro, amigos.”

O texto, extraído da crônica “A alegria de ser brasileiro”, que trata da vitória da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1958 e destaca a beleza do nosso futebol, apresenta-se em linguagem criativa, gerando um discurso poético, aquele em que se prestigia a mensagem, no qual se valoriza o “como se vai dizer” mais do que “o que se vai dizer”. E não esqueça que uma das marcas dessa linguagem conotativa é a presença da linguagem fi gurada. Essa função, a poética, pode existir em prosa ou em verso.

Reconheça, então, o discurso poético ou conotativo, agora em versos de Carlos Drummond de Andrade, num dos textos-apoio do ENEM 2001.

“O texto (do latim textum: tecido) é uma unidade básica de organização e transmissão de idéias, conceitos e informações de modo geral. Em sentido amplo, uma escultura, um quadro, um símbolo, um sinal de trânsito, uma foto, um fi lme, uma novela de televisão também são formas textuais. Tal como o texto escrito, todos esses objetos geram um todo de sentido, propriedade a partir da qual iniciaremos nossa refl exão sobre nosso objeto de estudo.”

(Prática de texto: leitura e redação, Luiz Roberto Dias de Melo & Celso Leopoldo Pagnan, W3 Editora / 2003)

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O MUNDO É GRANDE

O mundo é grande e cabeNesta janela sobre o mar.O mar é grande e cabeNa cama e no colchão de amar.O amor é grande e cabeNo breve espaço de beijar.

(ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983.)

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Neste poema, o poeta realizou a reiteração de determinadas construções e expressões lingüísticas, como o uso da mesma conjunção para estabelecer a relação entre as frases. Trata-se de uma opção estilística que concorre para que a conjunção empregada – e – não expresse o valor aditivo que comumente lhe emprestam, mas incorpore o valor de mas, porém, conectivos nitidamente de valor adversativo.Procure responder à pergunta: Se o mundo é grande, como caberia na janela sobre o mar? Eis que se estabelece, ao longo desse pequeno grande poema, na oposição – na verdade, muito mais contradição que oposição –, o discurso poético.

Vamos estudar uma questão de compreensão e interpretação de texto e desenvolver a percepção para uma habilidade que nos remete à interdisciplinaridade.

Interdisciplinaridade é o recurso em educação que utiliza os conhecimentos de várias disciplinas para resolver um problema ou compreender um determinado fenômeno sob diferentes pontos de vista.

Ano: 2003Habilidade: 19

A seguir, são apresentadas declarações de duas personalidades da História do Brasil a respeito da localização da capital do país, respectivamente um século e uma década antes da proposta de construção de Brasília como novo Distrito Federal.

Declaração I: José Bonifácio

Com a mudança da capital para o interior, fi ca a Corte livre de qualquer assalto de surpresa externa, e se chama para as províncias centrais o excesso de população vadia das cidades marítimas. Desta Corte central dever-se-ão logo abrir estradas para as diversas províncias e portos de mar.

(Carlos de Meira Matos. Geopolítica e modernidade: geopolítica brasileira.)

Declaração II: Eurico Gaspar Dutra

Na América do Sul, o Brasil possui uma grande área que se pode chamar também de Terra Central. Do ponto de vista da geopolítica sul-americana, sob a qual devemos encarar a segurança do Estado brasileiro, o que precisamos fazer quanto antes é realizar a ocupação da nossa Terra Central, mediante a interiorização da Capital.

(Adaptado de José W. Vesentini. A Capital da geopolítica.)

Considerando o contexto histórico que envolve as duas declarações e comparando as idéias nelas contidas, podemos dizer que:

(A) ambas limitam as vantagens estratégicas da defi nição de uma nova capital a questões econômicas;

(B) apenas a segunda considera a mudança da capital importante do ponto de vista da estratégia militar;

(C) ambas consideram militar e economicamente importante a localização da capital no interior do país;

(D) apenas a segunda considera a mudança da capital uma estratégia importante para a economia do país;

(E) nenhuma delas acredita na possibilidade real de desenvolver a região central do país a partir da mudança da capital.

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Gabarito – Letra C. A questão é, inegavelmente, um compromisso com a interpretação da mensagem, comprometendo, em suas opções, noções de falso e verdadeiro. A opção C terá apoio para justifi car a sua marcação como resposta os trechos “fi ca a Corte livre de qualquer assalto de surpresa externa” e “abrir estradas para as diversas províncias e portos de mar”, na primeira declaração, e “Do ponto de vista da geopolítica sul-americana”, na segunda declaração, comprovando, portanto, a mudança como importante militar e economicamente. Enquanto isso, os termos “limitam”, “apenas” e “nenhuma delas”, nas outras alternativas, fazem cessar qualquer dúvida a respeito da resposta certa.

Ano: 2003Habilidade: 04

O termo (ou expressão) destacado que está empregado em seu sentido próprio ocorre em:

(A) “(....)É de laço e de nó De gibeira o jiló Dessa vida, cumprida a sol (....)”

(Renato Teixeira. Romaria. Kuarup Discos, setembro de 1992.)

(B) “Protegendo os inocentes é que Deus, sábio demais, põe cenários diferentes nas impressões digitais.”

(Maria N. S. Carvalho. Evangelho da Trova. /s.n.b.)

(C) “O dicionário-padrão da língua e os dicionários unilíngües são os tipos mais comuns de dicionários. Em nossos dias, eles se tornaram um objeto de consumo obrigatório para as nações civilizadas e desenvolvidas.”

(Maria T. Camargo Biderman. O dicionário-padrão da língua. Alfa (28), 2743, 1974 Supl.)

(D)

(O Globo. O menino maluquinho, agosto de 2002.)

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(E) “Humorismo é a arte de fazer cócegas no raciocínio dos outros. Há duas espécies de humorismo: o trágico e o cômico. O trágico é o que não consegue fazer rir; o cômico é o que é verdadeiramente trágico para se fazer.”

(Leon Eliachar. www.mercadolivre.com.br. acessado em julho de 2005.)

Gabarito – Letra C. Não fi ca difícil defender a resposta apresentada para esta questão. Você não deixará de notar que o texto que compõe a opção C é um exemplar do discurso centrado nas funções referencial e metalingüística, pois a comunicação está centrada no assunto e no código, respectivamente: é a linguagem informando e funcionando sobre si própria. Nas outras opções, dê atenção às passagens “cumprida a sol”, “põe cenários diferentes nas impressões digitais”, “a bateria dele (do Menino Maluquinho) não acaba” e “fazer cócegas no raciocínio”, respectivamente, e você perceberá a presença da linguagem criativa, conotativa.

E para entendermos melhor o assunto... Leia o texto a seguir – uma tirinha – de autoria do quadrinista Renan Mota Lima.

Como podemos perceber, o texto se constitui de três partes. Tomássemos apenas o primeiro quadrinho, concluiríamos que o autor não quis tão-somente informar que alguém havia morrido por não ter seguido recomendação médica para que parasse de fumar. Mas não seria essa a única intenção do autor da tirinha, até porque um texto não pode ser tomado como sendo uma de suas partes. As partes de um texto não têm autonomia, elas formam um todo que é o texto. Repare agora que o segundo quadrinho, o que registra a fala do personagem de chapéu enterrado na cabeça, é o elo entre o que se diz no primeiro e o que se vai dizer no terceiro, ou seja, provoca a fala fi nal, a que traz para o texto o humor, situação essa que o autor pretendeu alcançar com a sua mensagem. Você, então, pode e deve concluir que a forma verbal afastasse, que deveria ser entendida como parar de fumar, foi acatada como se ao fumante bastasse, embora preservado o mau hábito, distanciar-se, usando a piteira, do cigarro.

Vamos fi xar o conceito em foco:

Quando cada um faz a sua parte, tudo se encaixa.(Metrô-Rio)

“uma das características é, como referimos, a do texto como um todo gerador de sentido, uma totalidade. Um fragmento, uma parte (frase, palavra) não possuem autonomia, não podem ser tomados isoladamente, na medida em que cada parte liga-se ao todo. Fora do contexto (o texto como um todo), uma determinada parte poderá ter seu sentido original alterado, impedindo a depreensão do que de fato se desejou transmitir – o real signifi cado do texto como expressão do autor. Há ainda uma propriedade básica na organização dos textos, que é a coesão; além dessa, há outra, identifi cada com os mecanismos de constituição de sentidos, que é a coerência.”

(Prática de texto: leitura e redação, Luiz Roberto Dias de Melo & Celso Leopoldo Pagnan, W3 Editora / 2003)

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“O todo sem a parte não é todo, A parte sem o todo não é parte,Mas se a parte o faz todo, sendo parte,Não se diga que é parte, sendo todo.”

(Gregório de Matos Guerra)

Em ambos os textos, podemos entrever a importância que seus autores concederam à organização do todo, que tem em suas partes a responsabilidade de compor o que se quer que seja o todo. No primeiro texto não se pode dizer o todo sem as partes, assim como não se mencionam as partes sem que o todo se faça presente; no segundo, tudo se harmoniza quando as partes se somam para, através delas, chegar-se a um resultado.

Texto é uma forma de comunicação, constituída de sentido, produzido por alguém num dado tempo e num dado espaço.

2 – ContextoLeia – e é leia mesmo, e que você não se iluda – o texto ao lado.

A leitura desse texto-pintura de Portinari faz-nos reconhecer com mais nitidez que não há nada no comportamento humano – ação e reação, criação e reprodução – que não esteja associado a um tempo e a um espaço.

Ao longo das várias épocas, nos chamados períodos históricos, o homem inspirou comportamentos e inspirou-se em comportamentos que refl etem seus desejos, ânsias e preocupações, em função de um dado momento político, econômico, social e/ou cultural, estando ele em um determinado espaço.

A força desse conjunto de situações atuando sobre o homem, interferindo em sua vida, leva-o a criar e a recriar o mundo, envolvido por circunstâncias que vão caracterizar e demarcar um

Após constatar o primeiro plano da pintura, um grupo de pessoas, aparentemente uma família que, estáticas, se amontoam como a se proteger de um inimigo, ou a se unir para, juntos, continuar a viagem, repare nos detalhes do entorno, como a terra seca, os pedaços de ossos espalhados, a presença de aves que parecem rondar os viajantes, o céu que, gradativamente, vai escurecendo. Pois bem, todos esses detalhes – partes do texto – vão se juntar ao que cada um dos personagens signifi ca na pintura e ao que, reunidos, comunicam, segundo intenções do seu autor.

Os traços com que foram compostos os personagens veiculam mensagem de desamparo e necessidades. O defi nhamento humano, a quase morte nos traços da magreza e do estado de abandono em que cada um parece se encontrar. A ausência de cores fortes contribui para essa interpretação. O tom fechado, a sisudez tristonha e ao mesmo tempo alarmante. A expressão da visão fatalista.

Inferimos que o tema é a seca, a seca e as conseqüências que ela acarreta: a fuga, a fome, a miséria e a morte.

Cândido Portinari. Retirantes.Centenário Portinari – 2003/2004 –www.Portinari.gov.Br)

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tempo e um espaço determinados. A esse conjunto de valores fi losófi cos, ideológicos, materiais e imateriais que interferem no comportamento humano é que podemos chamar contexto.

As manifestações da linguagem, artísticas ou não, estão indelevelmente marcadas por um tempo e por um espaço. Se forem de natureza artística, lá estarão os detalhes que denunciarão o contexto histórico de sua criação.

Assim, através da história da humanidade, estudando obras e autores, arte e artista, vamos reconhecendo os traços de construção que irão aproximar a obra do momento e do ambiente em que ela foi produzida e em que o artista viveu.

Seja através de palavras, na literatura, através das fortes expressões da escultura, por meio da combinação de cores e do correr do pincel, na pintura, seja pela harmonia do encontro das notas musicais, seja pelos traços curvilíneos e/ou retilíneos das formas arquitetônicas, estaremos colhendo dados de valor para compreender tempo e espaço da elaboração da obra.

Em se tratando do sentido que uma determinada palavra – ou um traço de composição – possui num texto (em qualquer tipo de texto), diremos que contexto é unidade maior em que uma unidade menor está inserida. É dessa forma que entendemos que, ao selecionar palavras e compor uma frase, cada palavra escolhida tem para contexto a frase, e é a combinação entre essas palavras que determinará o dado contexto. Reconheçamos o que se disse, nos exemplos seguintes:

Eu, mudo, olho os livros naquela estante velha.

Cada palavra transcrita no exemplo acima terá como contexto a frase em que se encontra, e o sentido de cada uma delas estará sujeito à situação em que foi empregada.

Os livros, mudos, naquela velha estante da sala, espreitam-me diariamente.

Bastou que selecionássemos algumas outras palavras, além das que no primeiro exemplo apareceram, bastou que deslocássemos a posição de algumas delas para que um novo contexto fi casse estabelecido e, conseqüentemente, novos sentidos se apresentassem. Mudos agora estão os livros. A estante deixou de ser antiga e caindo aos pedaços, como se fez supor, pois que no momento, como velha estante, traz para a frase um sentimento de aproximação entre pessoa e objeto. O olhar não assume tão forte poder de envolvimento que espreitar. E o fato, na segunda declaração, ocorre diariamente, o que talvez, por sua regularidade, leve algum incômodo ao autor da frase.

Mas sim, e a frase, qual seria o seu contexto? O parágrafo. E este teria, para contexto, o texto.

Contexto é o conjunto de valores que vai determinar um dado tipo de comportamento.

CONTEXTO

con.tex.to(ês) sm (lat contextu) 1 Encadeamento de idéias de um escrito. 2 Argumento. 3 Composição, contextura. 4 Bot Camada de células que se forma entre o himênio e o verdadeiro micélio de certos fungos.

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Observemos agora o texto – pintura-texto – ao lado, de Tarsila do Amaral, intitulada Os Operários.

O nome da consagrada artista já nos remete a uma determinada época, o início do século XX, e a um espaço em que a cultura proliferava através de novas formas de criar: São Paulo. Notemos juntos que no primeiro plano estão os personagens da obra, os operários. Aprofundando um pouco mais o nosso olhar, notaremos a diversidade de etnias – raças – que compõe o grupo. Seus rostos são reveladores. Rostos que se amontoam, superpostos em expectativa, à espera dos acontecimentos. São imigrantes em busca de trabalho nas fábricas que apitavam vorazmente em busca de progresso.

E lá está a fábrica, o prédio ao fundo, em um outro plano, fumaçando, símbolo do trabalho.

Eis uma possível leitura dessa obra da renomada artista do nosso Modernismo. Esse texto de Tarsila do Amaral foi selecionado para compor uma das questões do ENEM em 2004, acompanhando-o um outro, em linguagem verbal, e exemplifi cará uma outra leitura para a pintura-texto.

Ano: 2005Habilidade: 05

Desiguais na fi sionomia, na cor e na raça, o que lhes assegura identidade peculiar, são iguais enquanto frente de trabalho. Num dos cantos, as chaminés das indústrias se alçam verticalmente. No mais, em todo o quadro, rostos colados, um ao lado do outro em pirâmide que tende a se prolongar infi nitamente, como mercadoria que se acumula, pelo quadro afora.

(Nádia Gotlib. Tarsila do Amaral, a modernista.)

O texto aponta no quadro de Tarsila do Amaral um tema que também se encontra nos versos transcritos em:

(A) “Pensem nas meninas Cegas inexatas Pensem nas mulheres Rotas alteradas.” (Vinicius de Moraes)

TARSILA DO AMARAL

Artista plástica paulista nascida em Capivari, SP, seu quadro Abaporu (1928) inaugurou o movimento antropofágico na história das artes plásticas brasileiras. Uniu-se a Anita Malfatti, Menotti del Picchia, Mário de Andrade e Oswald de Andrade, formando o chamado Grupo dos Cinco, que defendia as idéias da Semana de Arte Moderna (1922). Casou-se com Oswald de Andrade em 1926 e realizou sua primeira exposição individual, na Galeria Percier, em Paris. Suas obras ganham fortes características primitivistas e nativistas e passam a ser associadas aos movimentos pau-brasil e antropofágico, idealizados pelo marido. Separada de Oswald em 1930, inicia uma fase de uma pintura mais ligada a temas sociais, da qual são exemplos as telas Os Operários e Segunda Classe (1933). Nos anos 50, voltou ao tema “pau-brasil”. Participou da I Bienal de São Paulo, em 1951, e de eventos internacionais como a XXXII Bienal de Veneza. Tarsila do Amaral faleceu em São Paulo no dia 17 de janeiro de 1973.

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(B) “Somos muitos severinos (D) “Não sou nada.

iguais em tudo e na sina: Nunca serei nada.

a de abrandar estas pedras Não posso querer ser nada.

suando-se muito em cima.” À parte isso, tenho em mim todos os

(João Cabral de Melo Neto) sonhos do mundo.”

(Fernando Pessoa)

(C) “O funcionário público (E) “Os inocentes do Leblon

não cabe no poema Não viram o navio entrar (...)

com seu salário de fome Os inocentes, defi nitivamente inocentes tudo

sua vida fechada em arquivos.” ignoravam,

(Ferreira Gullar) mas a areia é quente, e há um óleo suave

que eles passam pelas costas, e aquecem.”

(Carlos Drummond de Andrade)

Gabarito – Letra B. A obra de Tarsila do Amaral põe em foco a idéia de conjunto, agrupamento humano, com identifi cações aparentes de submissão a valores impostos por ideologias dominantes, por um tempo e por condições que igualam o homem diante da vida e das circunstâncias que ela estabelece. Assim também é no texto literário de João Cabral de Melo Neto. No de Tarsila os operários; no de João Cabral, os severinos – sertanejos de vida severa – os dois ajuntamentos humanos que têm que trabalhar duro pela sobrevivência. A resposta se concentra, portanto, nos marcadores signifi cativos grupo e trabalho, o que os outros fragmentos não apresentam concomitantemente.

Texto e Contexto articulam-se segundo a relação está contido e contém, respectivamente.

O Texto é o elemento determinado. O Contexto é o elemento determinante.

Momentos distintos da história produzem textos diferentes, mas que podem dialogar entre si, seja quanto ao tema, seja quanto aos aspectos estilísticos, seja quanto à intenção comunicativa.

É a intertextualidade.

Intertextualidade é a apreensão de um ou mais elementos que, de alguma maneira, revelem um

diálogo entre textos e contextos; é a percepção, através de uma leitura atenta, de características

comuns entre duas composições artísticas.

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Ano: 2005Habilidade: 05

Texto IAgora Fabiano conseguia arranjar as idéias. O que o segurava era a família. Vivia preso como um novilho amarrado ao mourão, suportando ferro quente. Se não fosse isso, um soldado amarelo não lhe pisava o pé não. (...) Tinha aqueles cambões pendurados ao pescoço. Deveria continuar a arrastá-los? Sinha Vitória dormia mal na cama de varas. Os meninos eram uns brutos, como o pai. Quando crescessem, guardariam as reses de um patrão invisível, seriam pisados, maltratados, machucados por um soldado amarelo.

(Graciliano Ramos. Vidas Secas. São Paulo: Martins, 23.ª ed., 1969, p. 75.)

Texto IIPara Graciliano, o roceiro pobre é um outro, enigmático, impermeável. Não há solução fácil para uma tentativa de incorporação dessa fi gura no campo da fi cção. É lidando com o impasse, ao invés de fáceis soluções, que Graciliano vai criar Vidas Secas, elaborando uma linguagem, uma estrutura romanesca, uma constituição de narrador em que narrador e criaturas se tocam, mas não se identifi cam. Em grande medida, o debate acontece porque, para a intelectualidade brasileira naquele momento, o pobre, a despeito de aparecer idealizado em certos aspectos, ainda é visto como um ser humano de segunda categoria, simples demais, incapaz de ter pensamentos demasiadamente complexos. O que Vidas Secas faz é, com pretenso não envolvimento da voz que controla a narrativa, dar conta de uma riqueza humana de que essas pessoas seriam plenamente capazes.

(Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In:Teresa. São Paulo: USP, n.° 2, 2001, p. 254.)

A partir do trecho de Vidas Secas (texto I) e das informações do texto II, relativas às concepções artísticas do romance social de 1930, avalie as seguintes afi rmativas:

I. O pobre, antes tratado de forma exótica e folclórica pelo regionalismo pitoresco, transforma-se em protagonista privilegiado do romance social de 30.

II. A incorporação do pobre e de outros marginalizados indica a tendência da fi cção brasileira da década de 30 de tentar superar a grande distância entre o intelectual e as camadas populares.

III. Graciliano Ramos e os demais autores da década de 30 conseguiram, com suas obras, modifi car a posição social do sertanejo na realidade nacional.

É correto apenas o que se afi rma em:

(A) I; (D) I e II;

(B) II; (E) II e III.

(C) III;

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Gabarito – Letra D. Nessa questão, merecerá mais comentários o item III, nitidamente construído em torno de uma afi rmativa errada, incoerente, visto que não se vai admitir que um grupo de escritores, por mais que se empenhem em suas formas de expressão conteudista, que se faça valer de um discurso contagiante e persuasivo, que comova seus leitores, irá “modifi car a posição social do sertanejo na realidade nacional”. A literatura dos anos trinta e início dos anos quarenta conquistou o público pelo discurso realista que seus autores empreenderam em seus romances, pelo senso crítico com que trataram os temas – em especial o da seca. Essa literatura incorpora, defi nitivamente, o sertanejo ao mundo fi ccional, confi rmando a presença desse personagem – e de todos os marginalizados socialmente – no universo das obras de fi cção.

Ano: 2005Habilidade: 04

Sobre a temática dos “Retirantes”, Portinari escreveu o seguinte poema:

(....)Os retirantes vêm vindo com trouxas e embrulhosVêm das terras secas e escuras; pedregulhosDoloridos como fagulhas de carvão acesoCorpos disformes, uns panos sujos,Rasgados e sem cor, dependuradosHomens de enorme ventre bojudoMulheres com trouxas caídas para o ladoPançudas, carregando ao colo um garotoChoramingando, remelento(....)

(Cândido Portinari. Poemas. Rio de Janeiro: J. Olympio,

1964.)

No texto de Portinari, algumas das pessoas descritas provavelmente estão infectadas com o verme Schistosoma mansoni. Os “homens de enorme ventre bojudo” corresponderiam aos doentes da chamada “barriga d’água”. O ciclo de vida do Schistosoma mansoni e as condições socioambientais de um local são fatores determinantes para maior ou menor incidência dessa doença. O aumento da incidência da esquistossomose deve-se à presença de:

(A) roedores, ao alto índice pluvial e à inexistência de programas de vacinação;

(B) insetos hospedeiros e indivíduos infectados e à inexistência de programas de vacinação;

(C) indivíduos infectados e de hospedeiros intermediários e à ausência de saneamento básico;

(D) mosquitos, à inexistência de programas de vacinação e à ausência de controle de águas paradas;

(E) gatos e de alimentos contaminados e à ausência de precauções higiênicas.

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Gabarito – Letra C. Nessa questão, vamos observar, na linguagem utilizada por Portinari (“ventre bojudo”), notadamente linguagem em construção literária, que remeteria o aluno a linguagens outras na área especialmente da Biologia. O aluno deveria conhecer que a esquistossomose é uma parasitose que independe de mosquitos, roedores e gatos, e o contágio acontece por contato direto de larvas do verme (eliminadas por um caramujo) com a pele humana. A incidência é maior em regiões onde não há saneamento básico ou este é defi ciente, como é o caso do Nordeste brasileiro, paisagem utilizada de pano de fundo para o poema em questão, sendo os personagens representados, os retirantes.

3 – Se é texto, tem de ser interpretado Quando se pronuncia a palavra texto haverá sempre

alguém pensando em interpretá-lo, saber o que ele diz, o que ele comunica.

E já que abordamos o assunto, não poderíamos deixar de contribuir com algumas informações relevantes e pertinentes.

O que é interpretar um texto?

Não são poucos os alunos que afi rmam que a interpretação depende de cada um, que cada um tem a sua própria interpretação para um texto. Nós sabemos que não é bem assim.

Um texto pode ter várias interpretações, mas não todas.”

Interpretar depende do que foi dito, do que está escrito ou foi falado por alguém, pelo autor do texto, porque vale o que está escrito e não o que achamos que está escrito, tampouco o que gostaríamos de ver escrito. Interpretar depende da mensagem enviada, saber o que ela expõe, depende daquilo que o autor do texto pretendeu alcançar, ou seja, da sua intencionalidade.

Podemos acrescentar que interpretar é traduzir, decodifi car a mensagem do autor.

Ler um texto é ser capaz de apreender os signifi cados instaurados no seu interior e de correlacionar esses signifi cados com o conjunto de experiências e vivências adquiridas a partir do meio social em que ele foi produzido, o contexto. Um texto estará sempre vinculado a um contexto.

Ler é captar mensagens através das linguagens utilizadas para a comunicação de idéias e sentimentos. Cabe-nos, a nós leitores, fazer uso da capacidade que temos de perceber correlações e articulações textuais para entender o que o autor tinha em mente ao produzir a sua mensagem e, através desse exercício, aumentar a nossa capacitação para interpretar e produzir textos.

lusi/s

xc.hu

INTERPRETAR

in.ter.pre.tar

1. fornecer o significado de algo; explicar, elucidar; 2. compreender de uma certa forma; 3.(Música, Artes Dramáticas) executar uma peça, dando-lhe um significado; 4. traduzir oralmente (via de regra de uma língua para outra); 5. (Informática) traduzir um programa escrito em linguagem de alto nível em comandos executáveis pelo computador.

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MOSQUITOS EXPOSTOS MOSQUITOS NÃO EXPOSTOS

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DIAS APÓS EXPOSIÇÃO

Sabemos que não é tarefa das mais fáceis a que implica a interpretação de qualquer tipo de texto.

Seja a interpretação de um simples gráfi co...

Ano: 2005Habilidade: 04

Foram publicados recentemente trabalhos relatando o uso de fungos como controle biológico de mosquitos transmissores da malária. Observou-se o percentual de sobrevivência dos mosquitos Anopheles sp. após exposição ou não a superfícies cobertas com fungos sabidamente pesticidas, ao longo de duas semanas. Os dados obtidos estão presentes no gráfi co ao lado. No grupo exposto aos fungos, o período em que houve 50% de sobrevivência ocorreu entre os dias:

(A) 2 e 4;

(B) 4 e 6;

(C) 6 e 8;

(D) 8 e 10;

(E) 10 e 12.

Gabarito – Letra D. Nesta questão, bastava ao candidato interpretar corretamente as informações fornecidas pelo gráfi co, que mostra a porcentagem de sobrevivência de 50% dentre os mosquitos expostos aos fungos entre o 8º e o 10º dias. Mas ainda assim, o candidato deveria ser capaz de dominar linguagens e enfrentar situações-problema no sentido de identifi car e analisar valores variáveis.

Seja a interpretação de um texto literário...

Erro de Português

Quando o português chegouDebaixo de uma bruta chuvaVestiu o índioQue pena! Fosse uma manhã de solO índio tinha despidoO português.

(Oswald de Andrade. Poesias Reunidas. Círculo do Livro/Editora Civilização Brasileira S. A. São Paulo, 1976. p. 197)

OSWALD DE ANDRADE POR TARSILA DO AMARAL

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Não cabe ao candidato apenas a leitura superfi cial; cabe traduzir a mensagem e relacionar informações a partir do reconhecimento de um poema identifi cado com a manifestação modernista da releitura de um fato histórico. Cabe ao candidato, lendo o texto, inferir valores que ele apresente e buscar em outros textos, informativos ou não, verbais ou não, situações expressas em outras épocas ou na mesma época, certifi cando-se de uma intertextualidade.

Esse texto aborda tema que traz à discussão um dos postulados do modernismo: a valorização da cultura brasileira, nele tratado de maneira bem humorada. A linguagem imagística remete o leitor ao descobrimento do Brasil, estabelecendo um contato entre manifestação artística e História.

Seja a interpretação de uma tirinha...

Ano: 2005Habilidade: 04

Nesta tirinha, a personagem faz referência a uma das mais conhecidas fi guras de linguagem para:

FRANK & ERNEST / Bob Thaves

(A) condenar a prática de exercícios físicos. (D) caracterizar o diálogo entre gerações.

(B) valorizar aspectos da vida moderna. (E) criticar a falta de perspectiva do pai.

(C) desestimular o uso das bicicletas.

Gabarito – Letra E. Ainda tendo que dominar linguagens, o candidato deveria reconhecer recurso expressivo utilizado pelo autor na construção de sua mensagem. Nessa questão, o candidato deveria fazer o reconhecimento de metáfora como a transferência de características de um ser para outro ser, aproximando-os por comparação. Dessa forma, ver o pai pedalando numa bicicleta ergométrica e sem sair do lugar – “nunca vai a lugar nenhum” – é, na compreensão do personagem infantil, o que o pai tem demonstrado ser no dia-a-dia, um homem sem vontade de progredir, sem visão de futuro, portanto, sem perspectivas aparentes.

Pois muito bem, que esses exemplos tenham sido apreciados como desafi os para que você possa enfrentar o que parece ser a dura tarefa de interpretar um texto.

Mas a nossa proposta vai mais longe. Oferecemos algumas dicas para minimizar as difi culdades surgidas desta prática tão importante de ler e compreender textos.

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Ao preparar-se para ler e interpretar um texto, recomendamos:

01 Inicie a leitura pela fonte indicada – reconhecer autor e a obra de onde se extraiu o texto pode ajudar a compreender a mensagem.

02 Leia o título do texto, pois ele é parte integrante da composição e, se bem selecionado, resume as suas idéias.

03 Pergunte qual a intencionalidade do autor, pois você estará direcionando suas atenções para a mensagem comunicada.

04 Procure reconhecer a tipologia textual (narrativo, descritivo, dissertativo, poético).

05 Sublinhe as palavras-chave do texto.

06 Assinale as palavras que estabelecem o processo de coesão textual.

07 Procure delimitar o tema e a abordagem temática.

08 Não interrompa a leitura se encontrar palavra cujo sentido seja desconhecido, procurando verificar em que contexto ela se estabelece.

09 Não imprima suas idéias ao texto, pois ele tem um autor que pretende comunicar as dele.

10 Se o texto for dissertativo, reconheça a tese, os argumentos e os recursos argumentativos.

4 – Redação é texto e precisa ser bem estruturadaVocê vem treinando redação não é de hoje. Em nossos

fascículos, sugerimos temas para que você pudesse desenvolver essa atividade voltada para o ENEM.

Agora, vamos fazer com que você reveja alguns importantes procedimentos e lembrar outros que contribuirão para que você possa elaborar um texto pertinente à situação.

Lembramos que o tipo de texto cobrado pela banca examinadora do ENEM é a dissertação.

São elementos de uma dissertação:

Tese – a idéia a ser defendida.

Argumento – procedimento lingüístico que visa a persuadir, convencer o leitor a aceitar aquilo que a mensagem contém.

Recursos argumentativos – elementos utilizados na linha estratégica que irá servir de sustentação do argumento ou dos argumentos e, conseqüentemente, da tese.

Dissertar é opinar, defender princípios, apresentar pontos de vistas a respeito de um dado tema, é analisar com objetividade esse tema, expressando uma ou mais posições através de uma seqüência lógica de idéias na tentativa de persuadir o leitor a partir de argumentos que irão servir para justifi car a teseque serádefendida.

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Podem ser utilizados como recursos argumentativos a exemplifi cação, a comparação, dados estatísticos, a citação dentre outros.

Vale aqui lembrar a estrutura da dissertação.

Introdução Consiste na apresentação da tese e dos argumentos que irão

sustentá-la.

Desenvolvimento Consiste na retomada de cada um dos argumentos e o

desenvolvimento de cada um deles, discutindo-os nos parágrafos destinados a esse fi m.

Conclusão Pode ser feita por uma síntese das idéias discutidas no

desenvolvimento.

Também será conveniente relacionarmos alguns passos importantes que aqui chamaremos de “DICAS” na construção do seu texto.

DICAS

01 Leia o “COMANDO” da prova; confirme: Dissertação ou Dissertação Argumentativa? Se a banca fixar o número de linhas, cumpra rigorosamente. Caso estabeleça mínimo e máximo, use a medida intermediária.

02 A despeito da solicitação, dê um título ao seu trabalho – texto pronto, corrigido e passado a limpo.

03 Leia o TEMA, interprete-o, assinalando as palavras-chave, que deverão constar de seu texto.

04 Leia, atentamente, o(s) texto(s)-apoio e assinale as passagens cujas idéias são significativas para o estabelecimento do seu planejamento: seu ponto de vista, seus argumentos e seus recursos argumentativos.

05 Registre 3 (três) teses possíveis e selecione uma, ou mescle-as, se for possível.

06 Registre 5 (cinco) argumentos e selecione 3 (três) deles, ou mescle-os, se for possível.

07 É importante utilizar recursos argumentativos nos parágrafos de desenvolvimento: exemplificações, comparações, dados estatísticos e discursos de autoridade.

08 É aconselhável fazer a redação utilizando a estrutura contendo 5 parágrafos. Construa o primeiro e o último parágrafo com 5 linhas no máximo, e o segundo, o terceiro e o quarto parágrafos com 6 linhas no máximo.

09 Faça rascunho.

10 Leia atentamente o seu trabalho antes de passar a limpo.

1º PARÁGRAFO: INTRODUÇÃO

Tese + 3 Argumentos

2º PARÁGRAFO

1º Argumento + Desenvolvimento

3º PARÁGRAFO:

2º Argumento + Desenvolvimento

4º PARÁGRAFO:

3º Argumento + Desenvolvimento

5º PARÁGRAFO: CONCLUSÃO

Síntese das idéias discutidas

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5 – Contexto da ArteA defi nição de ARTE tem sido buscada através dos tempos. No pensamento de Aristóteles, ARTE seria uma

forma de imitação da realidade. Tornando esse conceito clássico um pouco mais extenso, poder-se-ia dizer que ARTE é a análise e representação do pensamento humano numa determinada época da História. Dentro de tal conceito, dir-se-ia que o contexto da ARTE é a História. É isto que se pretende mostrar.

De acordo com o Professor Massaud Moisés, em seu livro A criação literária (São Paulo, Melhoramentos, 8ª edição, 1977, p. 23), “...cada arte se caracteriza pelo uso dum tipo de signo, a saber: som – Música; cor – Pintura; movimento – Coreografi a; volume – Escultura; espaço vazio – Arquitetura; palavra – Literatura.”

Nas imagens acima, encontramos exemplos de três obras: pintura, escultura e arquitetura, respectivamente.Ao modo como os diversos autores interpretam ou analisam a realidade de um determinado tempo dá-se

o nome de estilo de época. Assim, os diversos estilos de época subordinam-se, cada um de per si, a recursos expressivos que se relacionam com o homem e seus problemas daquela época, interpretando-os, representando-os, criticando-os, enaltecendo-os. Tomando por base a literatura numa postura mais prática, foi elaborado o quadro-resumo a seguir:

ESTILOS DE ÉPOCA MOMENTO PENSAMENTO HUMANO TRAÇOS DAS OBRAS

Barroco Contra-Reformaoscilando entre a matéria e

o espíritocontrastes

NeoclassicismoArcadismo

Revolução Industrialtendendo ao materialismo

clássicoobjetividade e simplicidade

Romantismo Revolução Francesasonhador, fugindo à realidade circundante

subjetividade e emotividade

Realismo Revolução Científica científico e crítico observação e análise

Modernismo Primeira Grande Guerra crítico e renovador nacionalismo crítico

O quadro acima exposto, é claro, trata genericamente dos estilos literários e se resume à Literatura Brasileira. Nele não se inseriram estilos que tiveram menos adeptos, como o simbolismo e o parnasianismo. O que é importante reconhecer é que a Literatura, enquanto arte, sempre teve seus diversos estilos ligados a contextos históricos, representados por seus respectivos marcos.

Leonardo da Vinci Dama do arminho

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Textos Comentados

1. Barroco

Soneto XIX

O todo sem a parte não é todo;A parte com o todo não é parte;Mas se a parte o faz todo sem a parte,Não se diga que é parte sendo todo.

Em todo o Sacramento está Deus todo,E todo assiste inteiro em qualquer parteE feito em partes todo, cada parteEm qualquer parte sempre fi ca todo.

COMENTÁRIO

Neste texto, encontramos as principais características do Barroco. O cultismo, ou jogo de palavras, quando joga com os opostos parte e todo; o conceptismo, ao conseguir igualar conceitos opostos: parte e todo; a representação do divino (espírito) por meio da matéria (o braço); o discurso virtualmente confuso, como se fosse acometido de um sentimento dilemático. Fica, assim, mostrado que o Barroco é o estilo dos contrastes, já que tenta aproximar valores antitéticos: medievais dos renascentistas.

2. Arcadismo

Lira 58

Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,que viva de guardar alheio gado, de tosco trato, de expressões grosseiro,dos frios gelos e dos sóis queimado.Tenho próprio casal e nele assisto;dá-me vinho, legume, fruta, azeite;das brancas ovelhinhas tiro o leitee mais as fi nas lãs, de que me visto.

Graças, Marília bela, graças à minha estrela!

O braço de Jesus não seja parte,Pois que feito Jesus em partes todo,O todo fi ca estando em sua parte.

Não se sabendo parte deste todo,Um braço que lhe acharam, sendo parte,Nos disse as partes todas deste todo.

(Gregório de Matos)

Eu vi o meu semblante numa fonte:dos anos inda não está cortado;os pastores que habitam este monterespeitam o poder do meu cajado.Com tal destreza toco a sanfoninha,que inveja até me tem o próprio Alceste*:ao som dela concerto a voz celestenem canto letra, que não seja minha.

Graças, Marília bela, graças à minha estrela!(...)

(Tomás Antônio Gonzaga)

Tanatos seduzindo Alceste*

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*Alceste: personagem da mitologia grega.

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COMENTÁRIO A ambientação, além da garantia do próprio sustento, coloca o campo como o ambiente ideal para a vida do homem, conforme pregava o Arcadismo. Isto é o bucolismo. Paralelamente a essa característica, nota-se a presença do pastoralismo, que indica a atividade que o homem deve ter. Tais traços nos pregam uma ideologia de simplicidade total. A referência mitológica (direta, feita com o nome de Alceste; e indireta, no comportamento do poeta perante a fonte, tal qual Narciso) relaciona o poema com o padrão clássico pretendido. A linguagem de diminutivos e do pronome este mostra a integração do homem à terra. A apologia da terra rural era como uma propaganda contra o êxodo para as cidades, principalmente causada pela descoberta do ouro, já que no Brasil a Revolução Industrial não se fez presente. O poeta, também, sente-se confi ante quanto ao seu destino (“graças à minha estrela”), afastando-se dos valores religiosos que impregnaram o estilo barroco.

3. RomantismoO Romantismo, por sua extensão e importância, está aqui representado por três textos, cada um situado em

cada um de seus três momentos. O primeiro momento, em que o estilo se implanta, é caracterizado principalmente pela religiosidade, o indianismo e o nacionalismo idealizantes (dada a proximidade da Independência) e a vassalagem perante a mulher — uma virgem entronada. O segundo, marcado pela poesia do mal-do-século, apresenta-se como uma onda de pessimismo e inconformismo melancólico, na qual quase tudo remete à idéia de morte. Já no terceiro momento, pintado de alguns traços realistas, ocorre a defesa emocionada da Abolição, da República, e a defesa de alguns valores sociais. Vale dizer que, em qualquer desses momentos, houve produção de textos tanto em verso quanto em prosa.

a) Primeiro Momento Romântico

Ainda uma vez – adeus!(fragmento)

Vivi; pois Deus me guardavaPara este lugar e hora!Depois de tanto, senhora,Ver-te e falar-te outra vez;Rever-me em teu rosto amigo,Pensar em quanto hei perdido,E este pranto doloridoDeixar correr a teus pés.

Mas que tens? Não me conheces?De mim afastas teu rosto?Pois tanto pôde o desgostoTransformar o rosto meu?Sei a afl ição quanto podeSei quanto ela desfi gura, E eu não vivi na aventura... Olha bem, que sou eu!

Gonçalves Dias

COMENTÁRIOPode-se notar, no comportamento e no tratamento que o poeta dá à mulher amada, a chamada vassalagem amorosa (“senhora”, “a teus pés”), além da religiosidade, expressa por meio da interferência divina.O emprego de expressões exclamatórias e a primeira pessoa, ao lado de expressões como “pranto dolorido”, “desgosto”, “afl ição”, revela a marcante presença da emotividade do poeta.No plano da forma, percebe-se a fuga do poeta ao modelo poético tradicional, o soneto de versos decassílabos: aqui, o poema está estruturado em redondilhas maiores (versos de sete sílabas poéticas) e em oitavas (estrofes de oito versos).

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b) Segundo Momento Romântico Se eu morresse amanhã

Se eu morresse amanhã, viria ao menosFechar meus olhos minha triste irmã;Minha mãe de saudades morreria Se eu morresse amanhã!

Quanta glória pressinto em meu futuro!Que aurora de porvir e que amanhã!Eu perdera chorando essas coroas Se eu morresse amanhã!

Que sol! que céu azul! que doce n´alvaAcorda a natureza mais louçã!Não me batera tanto amor no peito Se eu morresse amanhã!

Mas essa dor que da vida que devoraA ânsia de glória, o dolorido afã...A dor no peito emudecera ao menos Se eu morresse amanhã!

(Álvares de Azevedo)

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COMENTÁRIO O texto III bem representa a poesia do mal-do-século. A centralização de todos os aspectos na morte, que ceifa e é esperada, a “dor da vida”, a ânsia insatisfeita de uma glória desejada, o pessimismo dominante, o aspecto soturno, enfi m, tudo identifi ca esse poema com o segundo momento.Pode ser percebida, também, a ausência da mulher amada, que dá lugar à mãe e à irmã, únicas a acolher o poeta em seus dias fi nais. A emotividade romântica se faz presente no emprego da 1ª pessoa e nas infl exões exclamatórias.

c) Terceiro Momento Romântico MARIA

Onde vais à tardezinha,Mucama tão bonitinha,Morena fl or do sertão?A grama um beijo te furtaPor baixo da saia curtaQue a perna te esconde em vão...

Mimosa fl or das escravas!O bando das rolas bravas Voou com medo de ti!...Levas hoje algum segredo...Pois te voltaste com medoAo grito do bem-te-vi!

GABARITO Este poema de Castro Alves faz um retrato da escrava, ao mesmo tempo idealizado (“Mimosa fl or das escravas”) e sensualizado (“Por baixo da saia curta”).

Serão amores deveras?Ah! Quem dessas primaverasPudesse a fl or apanhar!E contigo, ao tom d´aragem,Sonhar na rede selvagem...sombra do azul palmar!

Bem feliz quem na violaTe ouviste a moda espanholaDa lua ao frouxo clarão...Com a luz dos astros — por círios,Por leito — um leito de lírios...Por tenda — a solidão!

(ALVES, Castro. Poesias completas. Rio de Janeiro, Tecnoprint, s/d, p. 156.)

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Nessa fase do Romantismo, destaca-se uma tendência à sensualidade por conta dos primeiros traços realistas, que já vão surgindo em nossa literatura. A par disso, permanecem ainda aquelas características típicas na mulher romântica: as metáforas com elementos da natureza (“fl or”), o tom emotivo do discurso (marcado pelas exclamações), a integração com os elementos do cenário natural (“A grama um beijo te furta”). Em outros poemas, cujo tema é a escravidão, podemos sentir um tom de denúncia do mau trato com o escravo, coisa que não ocorre com o presente poema.

4. RealismoO Realismo foi talvez mais uma escola do que um movimento

literário. Isto se justifi ca porque nele se incluem:

a) O Realismo propriamente dito — que buscava um retrato fi el e objetivo da realidade, principalmente social, elegendo como alvo de suas críticas as instituições sociais por ele julgadas decadentes como o clero, a burguesia, o casamento, a realeza. Esse realismo se buscou analisar o interior e o exterior do ser humano.

b) O Naturalismo, muitas vezes dito com um realismo exagerado, que tomou a si mais radicalmente os rumos das teorias científi cas surgidas na época, principalmente o determinismo.

c) O Parnasianismo, poesia que defendia a plasticidade, a descrição objetiva de objetos, de seres e de cenários; além disso, essa poesia era obsessiva pela perfeição formal do poema.

Em reação contra essa “onda” de materialismo literário, representado pelo Realismo, aparece, no mesmo período, o Simbolismo, uma poesia musical, de teor metafísico, que defendia a fuga da matéria como libertação rumo ao transcendental.

5. ModernismoO Modernismo brasileiro instalou-se defi nitivamente a partir de 1922, com

a Semana de Arte Moderna. Um grupo de jovens escritores, músicos, poetas e artistas plásticos, com apoio de alguns autores mais maduros, resolveu instituir mudanças expressivas na literatura brasileira.

Assim, podemos dizer que o Modernismo fez valer as seguintes principais características na literatura:

1) maior abrangência popular, adotando a linguagem do povo, além de temas do dia-a-dia;

2) posição totalmente nacionalista, não totalmente de exaltação, mas principalmente crítica;

3) completa liberdade de criação, tanto formal quanto temática;

4) rejeição dos princípios rígidos determinados pela literatura tradicional, quebrando vínculos com as regras literárias infl uenciadas pelas outras literaturas mundiais;

5) irreverência, com a introdução do chamado poema-piada, paródia de textos tradicionais e repúdio total ao nosso passado histórico, entre outras.

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Questão 01Questão 01Leia os textos que se apresentam a seguir (o poema e a reprodução de uma pintura respectivamente):

TEXTO I

POEMINHA SURREALISTA

Gostaria, querida,De ser inesperadoComo uma madrugada amanhecendoÀ noiteE engraçado, também, Como um pato num trem.

(Millôr Fernandes)

TEXTO II

(Sonho provocado pelo vôo de

uma abelha em torno de uma

romã, um segundo antes do

despertar, 1944 – Salvador

Dali)

A respeito do poema e da gravura, são feitas as seguintes afi rmações:

I. O título do poema remete o leitor à tendência artística de que a gravura é representativa.

II. O vocábulo inesperado congrega sob um mesmo olhar “um pato num trem” e o peixe abocanhando o tigre.

III. O simultaneísmo, que os versos 3 e 4 estabelecem, mantém relação de semelhança na composição da obra como ilogismo das cenas da gravura.

Sobre ela, podemos afi rmar que:

(A) somente I é verdadeira;

(B) somente II é verdadeira;

(C) somente III é verdadeira;

(D) apenas I e II são verdadeiras;

(E) todas são verdadeiras.

Questão 02Questão 02Leia o texto a seguir:

BRIGA NO BECO (Fragmento)

Encontrei meu marido às três horas da tardeCom uma loura oxidada.Tomavam guaraná e riam, os desavergonhados.Ataquei-os por trás com mão e palavrasQue nunca suspeitei conhecesse.Voaram três dentes e gritei, esmurrei-os e gritei,Gritei meu urro, a torrente de impropérios.Ajuntou gente, escureceu o sol, A poeira adensou como cortina.Ele me pegava nos braços, nas pernas, na cintura,Sem me reter, peixe-piranha, bicho pior, fêmea-ofendida,Uivava. (...)

No fragmento poético que constitui o texto, de autoria de Adélia Prado, na construção da mensagem, foram empregados alguns recursos expressivos, mas, dentre aqueles a seguir apresentados, um deles não será encontrado em seus versos. Aponte-o:

(A) repetição enfática, com a fi nalidade de realçar a cena;

(B) enumeração, objetivando dar seqüência a uma cena;

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(C) ironia, que consiste em dizer o contrário do que se pensa, com intenção de crítica;

(D) conotação, caracterizada pelo uso das palavras em seu sentido fi gurado;

(E) coordenação, processo estabelecido com a fi nalidade de emprestar dinamismo às ações.

Questão 03Questão 03TEXTO I TEXTO II

TEXTO III

RECORDO AINDA

Recordo ainda... E nada mais me importa... Aqueles dias de uma luz tão mansa Que me deixavam, sempre de lembrança, Algum brinquedo novo à minha porta...

Mas veio um vento de Desesperança Soprando cinzas pela noite morta! E eu pendurei na galharia torta Todos os meus brinquedos de criança...

Estrada afora após segui... Mas ai, Embora idade e senso eu aparente, Não vos iluda o velho que aqui vai:

Eu quero meus brinquedos novamente! Sou um pobre menino... acreditai... Que envelheceu, um dia, de repente!...

(“Poesias”. Ed. Globo, Porto Alegre, 1962.)

A alternativa que confi rma haver um diálogo entre as obras de Candido Portinari e o poema de Mário Quintana é:

(A) problematização de valores ligados à infância;

(B) reincorporação pelas artes de momentos distanciados no tempo;

(C) abordagem de tema dissonante da realidade cultural brasileira;

(D) incorporação de valores estrangeiros pela cultura nacional;

(E) valorização de situações lúdicas tratadas poeticamente.

Questão 04Questão 04Leia o fragmento a seguir, trecho da obra O Moço Loiro, de autoria de Joaquim Manuel de Macedo:

“Eu vi uma mulher verdadeiramente bela. Seus cabelos são negros e luzidios como azeviche; seus olhos grandes, pretos e ardentes dardejavam vistas de fogo tão penetrantes como o raio de sol.Sua fronte branca, elevada e lisa é o trono do mais nobre sossego; seu rosto pálido, melancólico e doce (...). Seus braços alvos e torneados...”

O texto lido constitui uma:

(A) narração de uma cena de teor amoroso envolvendo o narrador e a sua musa inspiradora;

(B) descrição de um ambiente bucólico freqüentado por uma linda mulher;

(C) dissertação envolvendo o tema da fi gura feminina e sua submissão aos desígnios patriarcalistas;

(D) descrição idealizada de uma fi gura feminina que tem suas características físicas exaltadas;

(E) narração da vida íntima de uma mulher que tem a vida controlada por um admirador.

Questão 05Questão 05Leia o fragmento poético a seguir, de autoria de Gonçalves Dias:

“E pois que és meu fi lho,Meus brios reveste;Tamoio nasceste,

Sê duro guerreiro,Robusto, fragueiro,Brasão dos tamoios,Na guerra e na paz.”

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A respeito de sua mensagem, podemos afi rmar que:

(A) exalta as proezas do índio em detrimento de outras raças;

(B) nega valores hereditários relativos à personalidade;

(C) identifi ca valores que o indígena deve desprezar;

(D) revela características comportamentais que um guerreiro terá;

(E) traduz a angústia de um pai diante da fragilidade do fi lho.

Questão 06Questão 06Considere os textos abaixo:

“(...) de modo particular, quero encorajar os crentes empenhados no campo da fi losofi a para que iluminem os diversos âmbitos da atividade humana, graças ao exercício de uma razão que se torna mais segura e perspicaz com o apoio que recebe da fé.”

(Papa João Paulo II, Carta Encíclica Fides et Ratio aos bispos

da igreja católica sobre as relações entre fé e razão, 1998.)

“As verdades da razão natural não contradizem as verdades da fé cristã.”

(São Tomás de Aquino – pensador medieval)

Refl etindo sobre os textos, pode-se concluir que:

(A) a encíclica papal está em contradição com o pensamento de São Tomás de Aquino, refl etindo a diferença de épocas;

(B) a encíclica papal procura complementar São Tomás de Aquino, pois este colocam a razão natural acima da fé;

(C) a Igreja medieval valoriza a razão mais do que a encíclica de João Paulo II;

(D) o pensamento teológico teve sua importância na Idade Média, mas, em nossos dias, não tem relação com o pensamento fi losófi co;

(E) tanto a encíclica papal como a frase de São Tomás de Aquino procuram conciliar os pensamentos sobre fé e razão.

Questão 07Questão 07

Leia o que disse João Cabral de Melo Neto, poeta pernambucano, sobre a função de seus textos:

“Falo somente com o que falo: a linguagem enxuta, contato denso; falo somente do que falo: a vida seca, áspera e clara do sertão; falo somente por quem falo: o homem sertanejo sobrevivendo na adversidade e na míngua. Falo somente para quem falo: para os que precisam ser alertados para a situação da miséria no Nordeste.”

Para João Cabral de Melo Neto, no texto literário:

(A) a linguagem do texto deve refl etir o tema, e a fala do autor deve denunciar o fato social para determinados leitores;

(B) a linguagem do texto não deve ter relação com o tema, e o autor deve ser imparcial para que seu texto seja lido;

(C) o escritor deve saber separar a linguagem do tema e a perspectiva pessoal da perspectiva do leitor;

(D) a linguagem pode ser separada do tema, e o escritor deve ser o delator do fato social para todos os leitores;

(E) a linguagem está além do tema, e o fato social deve ser a proposta do escritor para convencer o leitor.

Questão 08Questão 08“Poética”, de Manuel Bandeira, é quase um manifesto do movimento modernista brasileiro de 1922. No poema, o autor elabora críticas e propostas que representam o pensamento estético predominante na época.

POÉTICA

Estou farto do lirismo comedidoDo lirismo bem comportadoDo lirismo funcionário público com livro de ponto [expediente protocolo e manifestações de [apreço ao Sr. diretor.Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no [dicionário o cunho vernáculo de um vocábuloAbaixo os puristas......................................................................................

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Quero antes o lirismo dos loucosO lirismo dos bêbedosO lirismo difícil e pungente dos bêbedosO lirismo dos clowns de Shakespeare

– Não quero mais saber do lirismo que não é [libertação.

(BANDEIRA, Manuel, Poesia Completa e Prosa. Rio de

Janeiro, Aguilar, 1974.)

Com base na leitura abaixo do poema, podemos afi rmar corretamente que o poeta:

(A) critica o lirismo louco do movimento modernista;

(B) critica todo e qualquer lirismo na literatura;(C) propõe o retorno ao lirismo do movimento

clássico;(D) propõe o retorno ao lirismo do movimento

romântico;(E) propõe a criação de um novo lirismo.

Leia atentamente o texto transcrito do livro “Memórias póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis e, a seguir, responda às questões 09 e 10.

TEXTO I

Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fi m, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas coisas me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito fi caria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no cabo: a diferença radical entre este livro e o Pentateuco.”

(Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas)

Questão 09Questão 09Uma palavra pode resumir a atitude de Brás Cubas ao fazer analogia entre a gênese de seu livro de memórias e a do Pentateuco:

(A) imitação; (D) superação (B) presunção; (E) comparação.(C) emulação.

Questão 10Questão 10Segundo Brás Cubas, “a diferença radical” entre o Pentateuco e Memórias póstumas de Brás Cubas está neste fato:

(A) Moisés contou sua morte na narrativa bíblica, mas Cubas não o fez no seu livro de memórias.

(B) a morte do patriarca de Israel está no fi nal do Pentateuco, ao passo que a de Brás Cubas consta no início das Memórias póstumas.

(C) o amante de Virgília pôs sua morte no epílogo das Memórias, enquanto o condutor do povo judeu a omite na Sagrada Escritura.

(D) Moisés relatou sua morte no fi nal da Bíblia, contrariamente ao criador do famoso emplastro, que o fez no intróito da sua narrativa.

(E) o autor do Pentateuco já morreu há muito tempo, mas ele, Brás Cuba, continua viva.

Questão 11Questão 11Ao fazer irônico jogo de palavras com as expressões “defunto autor’ e “autor defunto”, Brás Cubas, o personagem-narrador:

(A) declara sua disposição de manter-se fi el ao ideário realista, propondo não deformar os fatos e garantir a verossimilhança da história;

(B) propõe-se a ferir no cerne as idealizações românticas, julgando e ironizando as contradições humanas, do pedestal de narrador onisciente.

(C) insinua, no início das memórias, seu propósito de fazer uma narração desinteressada e imparcial, mas ao longo delas é traído pelas fraquezas do indivíduo comum.

(D) explora inusitada possibilidade narrativa, manejando com mestria a técnica do distanciamento, para relatar a vida de um herói (ele próprio) empenhado na afi rmação da própria vontade.

(E) Estimula o leitor a seguir a narrativa como se acompanhasse o seu sepultamento.

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Leia com atenção os seguintes textos:

I“Qualquer pessoa tem sempre uma boa história para

contar, e faz parte da condição humana dividir um pouco da sua experiência com os outros.”

(Paulo Coelho. A leitura, a caneta e a palavra. Revista de Domingo. O Globo,

16/03/08.)

II“Só existem mesmo quatro histórias para serem contadas:

uma história de amor entre duas pessoas; uma história de amor entre três pessoas; a luta pelo poder; uma viagem.”

(Jorge Luis Borges)

III“À medida que a caneta vai traçando palavras no papel,

suas angústias desaparecem, e suas alegrias permanecem. Para tanto, é necessário ter coragem de olhar no fundo de si mesmo, trazer isso até o mundo exterior e ter mais coragem ainda para saber que um dia aquilo que escreveu poderá (e deverá) ser lido por alguém.

(...)Escrever é um ato de coragem. Mas vale a pena

arriscar.”(Paulo Coelho. O ato de escrever – O texto. Revista de Domingo. O Globo,

23/03/08)

IV“A leitura verdadeira me compromete de imediato

com o texto que a mim se dá e a que me dou e de cuja compreensão fundamental me vou tornando também sujeito. Ao ler não me acho no puro encalço da inteligência do texto como se fosse ela produção apenas de seu autor ou de sua autora. Essa forma viciada de ler não tem nada a ver, por isso mesmo, com o pensar certo e com o ensinar certo.”

(Paulo Freire. Pedagogia da Autonomia Editora Paz e Terra, 1999, p. 30)

Proposta de Redação:

Agora, com base nas idéias presentes nos textos anteriores e valendo-se de todo o conteúdo deste fascículo, redija uma dissertação sobre o tema:

Como garantir que o ato de escrever seja uma forma de intervenção no

mundo?

Ao desenvolver o tema proposto, procure utilizar os conhecimentos adquiridos e as refl exões feitas ao longo de sua formação. Selecione, organize e relacione argumentos, fatos e opiniões para defender seu ponto de vista e suas propostas, sem ferir os direitos humanos.

Recomendações do ENEM:

• Seu texto deve ser escrito na modalidade-padrão da língua portuguesa.

• O texto não deve ser escrito em forma de poema (versos) ou narração.

• O texto com até 15 (quinze) linhas escritas será considerado texto em branco.

• O ENEM admite que o candidato faça o rascunho na última página do caderno de provas, devendo a redação ser passada a limpo na folha própria e escrita a tinta.

Gabarito

FASCÍCULO 07

1) E 2) C 3) E 4) D 5) D

6) E 7) A 8) E 9) B 10) B 11) C

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