enem amazonas gpi fascículo 2 – a expressão lingüística

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FOLHA DE ROSTO

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Senha desta semana JN32KX7078

Caro estudante,

A Educação é um projeto de construção coletiva. Vislumbrando tal crescimento, nosso governo traçou, em sua política de gestão, diretrizes que possibilitam assegurar a qualidade da educação através do estudo dos fascículos de Língua Portuguesa, Geografi a, História, Matemática, Física, Química e Biologia, garantindo melhorias signifi cativas na vida dos jovens do nosso Estado.

Pensar a Educação como um projeto de transformação social requer de nós, governantes, amplo entendimento acerca dos conhecimentos necessários para a inclusão do cidadão no mercado de trabalho e a construção de sua plena cidadania.

Portanto, cabe à geração de hoje a responsabilidade de construir uma sociedade mais humana, igualitária, solidária e competente.

Que Deus o abençoe e lhe dê perseverança para enfrentar todos os desafi os que o futuro nos reservar.

E jamais esqueça: a Educação é o maior bem que o Homem pode ter.

Que todos tenham um bom desempenho no exame do ENEM.

CARLOS EDUARDO DE SOUZA BRAGA

Governador do Estado do Amazonas

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O conhecimento da língua portuguesa e de suas manifestações está presente de forma absolutamente expressiva nos certames do ENEM, seja através do evidente valor que neles se confere à Redação, seja no destaque que se dá aos aspectos interpretativos presentes nas competências e habilidades requeridas para a resolução das questões objetivas.

Você já sabe que a interdisciplinaridade é uma das marcas do ENEM, sabe que uma determinada questão pode exigir de você, para um desempenho positivo, conhecimentos de mais de uma área do saber. Contudo, não é menos verdade que, em função dos objetivos pretendidos, uma ou outra habilidade pode estar mais vinculada a esta ou àquela disciplina. É o caso das habilidades nos 5 e 6, que têm o texto e o seu estudo como base. Neste fascículo, pela sua importância e abrangência, dedicaremos especial atenção à habilidade 6, sem prejuízo de uma ou outra consideração sobre a habilidade 6.

Habilidade 6 – Com base em um texto, analisar as funções de linguagem, identifi car

marcas de variantes lingüísticas de natureza sociocultural, regional, de registro ou de estilo e explorar as relações entre as linguagens coloquial e formal.

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Código do Fascículo:

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www.enemintensivo.com.br/amazonas

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1 – Linguagem e ComunicaçãoPreliminarmente, e de forma bem sucinta, vejamos alguns conceitos que se vinculam ao assunto em destaque.

É amplo o conceito que se pode extrair do termo linguagem, e fascinante o debate que sobre ele se pode travar. Aqui, e correndo o risco de limitar esse conceito, preferimos dizer que linguagem, nos seres humanos, é a aptidão, a capacidade, a faculdade que eles têm de estabelecer, entre si, o exercício da comunicação, processo pelo qual se empreende a troca de informações.

Para que se possa exercer o ato comunicativo, alguns elementos terão de estar obrigatoriamente presentes.

“Comunicar” e “comunicação” são palavras que se vinculam ao adjetivo “comum”. Nesse sentido, comunicar é pôr algo em comum. Se entendermos isso como colocarmos à disposição de outrem o que nos pertence, perceberemos que, em termos lingüísticos, o que se disponibiliza para o outro são os sentimentos, as idéias, as emoções, através de um código, um sistema de signos e de normas. Em outras palavras: um emissor “codifi ca” uma mensagem para um receptor que a “decodifi ca”. É claro que, para isso, é necessário que ambos tenham conhecimento do código utilizado, seus signos e suas regras de uso.

2 – Os Elementos da ComunicaçãoEm função do que se expôs até aqui, a teoria vigente – a partir do lingüista Roman Jakobson – costuma

relacionar os seguintes elementos participantes do ato de comunicar:

EmissorElemento gerador do processo; é dele a iniciativa da comunicação. Pode ser uma pessoa, um grupo de

pessoas, uma instituição, uma fi rma.

ReceptorAquele que recebe a mensagem, decodifi cando-a. Pode ser uma pessoa, um grupo de pessoas.

CódigoConjunto de signos convencionais utilizados na mensagem, comuns ao emissor e ao receptor. Pode ser a

língua, em sua modalidade oral ou escrita, um sistema específi co como o código Braile ou o Morse, um conjunto de gestos ou de sons.

MensagemÉ o conteúdo da comunicação: um pensamento,

uma idéia que o emissor pretende transmitir ao receptor.

ContextoTambém denominado referente, é a situação a

que se refere a mensagem, envolvendo às vezes elementos temporais e espaciais.

CanalMeio físico ou virtual – as ondas sonoras, por exemplo – através do qual o emissor transmite sua mensagem

ao receptor. Deve o canal assegurar a efetivação do contato entre emissor e receptor.

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3 – Os elementos da Comunicação e asFunções da Linguagem

Os diversos atos de comunicação lingüística que diariamente produzimos geram “discursos”muito diferentes entre si. Diversos são os critérios para a classifi cação dessa variedade de atos. A mais conhecida, de Roman Jakobson, vincula-se de forma direta às chamadas funções da linguagem na comunicação. E tais funções da linguagem, por sua vez, atrelam-se aos elementos da comunicação, que já conhecemos. Veja como:

3.1 Função Emotiva ou ExpressivaPredomina, no discurso, o elemento emissor. Centrada no “eu” e sua apreciação subjetiva. Verbos e pronomes

da primeira pessoa do singular, adjetivação expressiva e interjeições são marcas gramaticais dessa função. A poesia lírica exemplifi ca-a bem.

“Oh! eu quero viver, beber perfumesNa fl or silvestre, que embalsama os ares;Ver minh’alma adejar pelo infi nito,Qual branca vela n’amplidão dos mares.No seio da mulher há tanto aroma...Nos seus beijos de fogo há tanta vida...— Árabe errante, vou dormir à tardeA sombra fresca da palmeira erguida.Mas uma voz responde-me sombria:Terás o sono sob a lájea fria.”

(Castro Alves, “Mocidade e Morte”)

3.2 Função Apelativa ou ConativaÉ um discurso de persuasão, centrado no receptor, que se pretende infl uenciar ou convencer, nele provocando

uma reação. As marcas gramaticais são os pronomes e verbos da segunda pessoa, o modo imperativo, o vocativo. Na propaganda política, na publicidade, em mensagens institucionais, encontramos exemplos dessa função.

Estátua de Castro AlvesAutor: Pasquale de Chirico (1923)Salvador – BA

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3.3 Função Referencial ou InformativaO discurso, aqui, é centrado no assunto, na informação, no objeto da mensagem. Caracteriza-o a objetividade

e o denotativo. A matéria jornalística e os textos de natureza técnica ou científi ca são exemplos dessa função.

RIO - A temporada 2008 da Fórmula-1 começou como terminou a de 2007: com o fi nlandês Kimi Raikkonen, da Ferrari, na frente. Foi dele o melhor tempo no primeiro dia de treinos livres para o Grande Prêmio da Austrália. O atual campeão mundial marcou 1min26s461 em sua volta mais rápida, na primeira sessão. O britânico Lewis Hamilton, da McLaren, foi o piloto que mais se aproximou de Raikkonen, com 1min26s559 obtido na segunda sessão. Felipe Massa, da Ferrari, teve o terceiro melhor tempo, com 1min26s958.

(matéria na internet, extraída do site www.globo.com)

3.4 Função FáticaEste é o discurso que “testa o canal”, verifi cando se o circuito efetivamente funciona. Estabelece, prolonga

ou encerra a comunicação. São exemplos desse emprego as saudações convencionais, certos momentos nas comunicações telefônicas, etc. Algumas interjeições são marcas gramaticais da função.

“Olá, como vai?Eu vou indo e você, tudo bem?Tudo bem, eu vou indo correndoPegar meu lugar no futuro, e você?”

(Paulinho da Viola, “Sinal Fechado”)

3.5 Função MetalingüísticaAqui, o código lingüístico é posto em foco: usa-se a língua para falar dela mesma. São exemplos do emprego dessa

função os dicionários, os textos que promovem a análise de outros textos, poesias que falam da arte poética, etc.

“Não rimarei a palavra sonocom a incorrespondente palavra outono.Rimarei com a palavra carneou qualquer outra, que todas me convêm.As palavras não nascem amarradas,elas saltam, se beijam, se dissolvem,no céu livre por vezes um desenho,são puras, largas, autênticas, indevassáveis.”

(Carlos Drummond de Andrade, “Considerações do Poema”)

3.6 Função PoéticaNela, o que se pretende é pôr em destaque a forma da mensagem. Mais do que “o que dizer”, importa “como

dizer”. Privilegia a inovação, o prazer estético.O predomínio aqui é da expressão conotativa, afetiva. A palavra é valorizada no seu emprego expressivo. As fi guras de linguagem exemplifi cam bem essa função, que pode existir em prosa ou em verso.

“ ‘Stamos em pleno mar. Doudo no espaçoBrinca o luar – dourada borboleta –E as vagas após ele correm... cansamComo turbas de infantes inquietas.”

(Castro Alves, “Tragédia no Mar”)

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Funções Finalidade Recursos

Emotiva Exprimir sentimentos e emoções.Emprego de adjetivos, interjeições,

superlativos, aumentativos, diminutivos, pronomes e verbos na primeira pessoa.

Conativa ou apelativa Persuadir, infl uenciar o destinatário. Frases imperativas, idéias indutivas, pedidos, súplicas.

PoéticaMostrar a realidade transfi gurada,

valorizar a linguagem como o meio de expressão.

Frases conotativas, presença de linguagem fi gurada, vocabulário sonoro.

Referencial Transmitir informações. Frases diretas, objetivas, denotativas.

Metalingüística Defi nir, explicar, esclarecer o código lingüístico. Frases conceituais, explicativas.

Fática Indicar, sustentar, favorecer a comunicação.

Frases de manutenção do diálogo, breves exclamações.

As funções da linguagem nunca estão isoladas em um texto. Elas se combinam e se interpenetram o tempo todo. O que há, quase sempre, é a predominância de uma sobre as outras, em função dos objetivos do discurso.

A página de um dicionário, por exemplo, dada a sua fi nalidade, obviamente privilegia a função metalingüística, mas é impossível não perceber nela a função referencial. Um “outdoor” que nos convida a comprar um produto privilegia, sem dúvida, a função apelativa da linguagem, mas a escolha das palavras pode muito bem confi gurar a função poética. Em um poema em que o eu lírico confessa o seu amor está presente, basicamente, a função emotiva, mas a forma como ele o faz, a expressividade que confere ao discurso, também revela a presença da função poética. E assim por diante.

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4 – A Linguagem Figurada Como importantes elementos exemplifi cativos da função emotiva ou afetiva da linguagem, situam-se as

fi guras, em que a linguagem assume uma nova característica com fi nalidades expressivas e, assim, afasta-se do valor lingüístico tradicional, desvia-se do “estado de dicionário” e contribui para tornar literário um texto.

Pela sua relevância para o ENEM, queremos que você conheça as principais. Destacaremos aqui as mais freqüentes fi guras semânticas nas construções literárias, correspondendo, também, àquelas que mais têm sido cobradas no ENEM.

Figuras Semânticas (ou de Palavras)

1. MetáforaEmprego de uma palavra ou expressão com

um sentido que lhe é atribuído por força de uma relação de semelhança de ordem subjetiva. É, por assim dizer, uma comparação implícita.

“Veja bem, nosso caso / É uma porta entreaberta.” (Luís Gonzaga Junior)

2. ComparaçãoTambém chamada símile, é o emprego explícito de palavra ou expressão que estabelece o confronto entre

qualidades ou ações dos seres.“Ver minh’alma adejar pelo infi nito / Qual branca vela na amplidão dos mares.” (Castro Alves)

3. MetonímiaEmprego de um termo em lugar de outro que com ele mantém uma relação de contigüidade (parte pelo

todo, todo pela parte, autor pela obra, continente pelo conteúdo, marca pelo produto, autor pela obra, causa pela conseqüência, conseqüência pela causa).

“A mão que toca um violão / Se for preciso faz a guerra (...) / A voz que canta uma canção / Se for preciso canta um hino / Louva a morte (...) / O mesmo pé que dança um samba / Se preciso vai à luta / Capoeira...” (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle)

4. Antítese

Emprego de palavras ou expressões que se opõem, com o objetivo de realçar pensamentos antagônicos. A idéia é de oposição.

“Desculpe-me por ter sido longo porque não tive tempo de ser breve.” (Vieira)

5. Paradoxo

Também chamado oxímoro, é o emprego de idéias contraditórias em um só pensamento. A idéia é de contradição. O paradoxo sugere o absurdo, o que não acontece com a antítese.

“Amor é dor que desatina sem doer.” (Camões)

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6. SinestesiaÉ emprego de palavra ou expressão que associa sensações captadas por sentidos diferentes.“Como um perfume a tudo perfumava. / Era um som feito luz, eram volatas / Em lânguida espiral que iluminava / Brancas sonoridades de cascatas ...” (Cruz e Souza)

7. IroniaEmprego de palavras, expressões ou frases que, considerados o contexto e a entonação com que são proferidas,

pretendem signifi car algo diferente do que expressariam em condições normais, geralmente o oposto.

“Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis.” (Machado de Assis)

8. Personifi caçãoTambém chamada prosopopéia ou animização, consiste na atribuição da condição de ser animado a quem

não o é.

“A lua, (...) Pedia a cada estrela fria / Um brilho de aluguel...” (João Bosco / Aldir Blanc)

9. HipérboleÉ a fi gura do exagero, através da qual se

pretende enfatizar uma determinada característica ou situação.

“E, olhos postos em ti, digo de rastros: / Ah! podem voar mundos, morrer astros, / Que tu és como Deus: princípio e fi m!...” (Florbela Espanca)

ATENÇÃO! Veja mais fi guras de linguagem no nosso site www.enemintensivo.com.br/amazonas, utilizando-se de sua senha.

Oxímoro (ou paradoxo) é uma construção textual que agrupa signifi cados que se excluem mutuamente. Para Garfi eld, a frase de saudação de John (tirinha abaixo) expressa o maior de todos os oxímoros.

Ano: 2001Habilidade: 06

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Nas alternativas abaixo, estão transcritos versos retirados do poema “O operário em construção”. Pode-se afi rmar que ocorre um oxímoro em:

(A) “Era ele que erguia casas Onde antes só havia chão.”

(B) “... a casa que ele fazia Sendo a sua liberdade Era a sua escravidão.”

(C) “Naquela casa vazia Que ele mesmo levantara Um mundo novo nascia De que sequer suspeitava.”

(D) “... o operário faz a coisa E a coisa faz o operário.”

(E) ”Ele, um humilde operário Um operário que sabia Exercer a profi ssão.”

(MORAES, Vinicius de. Antologia Poética. São Paulo:

Companhia das Letras, 1992.)

Gabarito – Letra B. Aqui, você deve ter percebido que o enunciado, ao reproduzir a defi nição da fi gura do paradoxo, facilita a resolução da questão, que seria muito complicada para alguns que não fi zessem a correta “leitura” da “tirinha”. Para Garfi eld, podemos presumir, uma afi rmação que mencione a segunda-feira como “feliz” é evidentemente um paradoxo (ou oxímoro), uma vez que a segunda é dia de trabalho, e, para o gato, essa não é uma atividade que o faça feliz, ocorrendo exatamente o contrário... Note-se que, ainda que não compreendendo o sentido irônico da “tirinha”, mas tendo presente a defi nição constante do enunciado, o candidato poderia chegar à resposta pela contradição que ali se estabelece ao afi rmar-se que “liberdade” pode ser “escravidão”.

A montanha pulverizada

Esta manhã acordo enão a encontro.Britada em bilhos de lascasdeslizando em correia transportadoraentupindo 150 vagõesno trem-monstro de 5 locomotivas— trem maior do mundo, tomem nota —foge minha serra, vaideixando no meu corpo a paisagemmísero pó de ferro, e este não passa.(Carlos Drummond de Andrade. Antologia poética. Rio de Janeiro: Record, 2000.)

A situação poeticamente descrita acima sinaliza, do ponto de vista ambiental, para a necessidade de:

I - manter-se rigoroso controle sobre os processos de instalação de novas mineradoras;

II - criarem-se estratégias para reduzir o impacto ambiental no ambiente degradado;

III - reaproveitarem-se materiais, reduzindo-se a necessidade de extração de minérios.

Ano: 2006Habilidade: 06

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É correto o que se afi rma:

(A) apenas em I;

(B) apenas em II;

(C) apenas em I e II;

(D) apenas em II e III;

(E) em I, II e III.

Gabarito – Letra E. A questão tem a marca da interdisciplinaridade preconizada pelo ENEM. Perceba que, embora se refi ra a assunto do campo da Geografi a, a sua apresentação sob a forma de um poema requer uma correta decodifi cação da mensagem, calcada na função poética, manifestada esta, inclusive, pela fi gura da personalização da montanha que “foge”, ou da hipérbole do “trem maior do mundo”, ambas a serviço da expressividade com que o poeta pretende denunciar o impacto ambiental no ambiente degradado (comentário II). Tal impacto,com vistas à preservação ambiental, deve ser controlado através das medidas mencionadas nos comentários I e III, o que nos leva à opção E, já que todos os comentários são pertinentes.

Cidade grande

Que beleza, Montes Claros.Como cresceu Montes Claros.Quanta indústria em Montes Claros.Montes Claros cresceu tanto,fi cou urbe tão notória,prima-rica do Rio de Janeiro,que já tem cinco favelaspor enquanto, e mais promete.

(Carlos Drummond de Andrade)

Entre os recursos expressivos empregados no texto, destaca-se a:

(A) metalinguagem, que consiste em fazer a linguagem referir-se à própria linguagem;

(B) intertextualidade, na qual o texto retoma e reelabora outros textos;

(C) ironia, que consiste em se dizer o contrário do que se pensa, com intenção crítica;

(D) denotação, caracterizada pelo uso das palavras em seu sentido próprio e objetivo;

(E) prosopopéia, que consiste em personifi car coisas inanimadas, atribuindo-lhes vida.

Ano: 2004Habilidade: 06

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Gabarito – Letra C. Novamente homenageamos o grande Carlos Drummond de Andrade, muito presente nos vestibulares em geral, não sendo diferente no ENEM. As alternativas da questão defi nem corretamente todos os termos ali apresentados, mas apenas um pode ser considerado recurso expressivo presente no texto: a ironia (letra C), que ocorre quando Drummond parece atribuir um crescimento positivo a Montes Claros, mas, em realidade, refere-se ao número de favelas que a cidade já tem, dizendo, pois, o contrário do que pensa, com objetivos críticos. Os demais recursos, mesmo que constem do texto (por exemplo, palavras empregadas denotativamente, ou uma certa personifi cação atribuída às cidades) não constituem destaque na sua formulação, como ocorre com a ironia.

ATENÇÃO! Veja mais questões sobre esse assunto no nosso site www.enemintensivo.com.br/amazonas, utilizando-se de sua senha.

Érico Veríssimo relata, em suas memórias, um episódio da adolescência que teve infl uência signifi cativa em sua carreira de escritor.

Lembro-me de que certa noite – eu teria uns quatorze anos, quando muito – encarregaram-me de segurar uma lâmpada elétrica à cabeceira da mesa de operações, enquanto um médico fazia os primeiros curativos num pobre-diabo que soldados da Polícia Municipal haviam carneado.. (...) Apesar do horror e da náusea, continuei fi rme onde estava, talvez pensando assim: se esse caboclo pode agüentar tudo isso sem gemer, por que não hei de poder fi car segurando esta lâmpada para ajudar o doutor a costurar esses talhos e salvar essa vida? (...)Desde que, adulto, comecei a escrever romances, tem-me animado até hoje a idéia de que o menos que o escritor pode fazer, numa época de atrocidades e injustiças como a nossa, é acender a sua lâmpada, fazer luz sobre a realidade de seu mundo, evitando que sobre ele caia a escuridão, propícia aos ladrões, aos assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a lâmpada, a despeito da náusea e do horror. Se não tivermos uma lâmpada elétrica, acendamos o nosso toco de vela ou, em último caso, risquemos fósforos repetidamente, como um sinal de que não desertamos nosso posto...

(VERÍSSIMO, Érico. Solo de Clarineta. Tomo I. Porto Alegre: Editora Globo, 1978.)

Neste texto, por meio da metáfora da lâmpada que ilumina a escuridão, Érico Veríssimo defi ne como uma das funções do escritor e, por extensão, da literatura:

(A) criar a fantasia;

(B) permitir o sonho;

(C) denunciar o real;

(D) criar o belo;

(E) fugir da náusea.

Ano: 2006Habilidade: 02

Gabarito – Letra C. A passagem metafórica “fazer luz sobre a realidade de seu mundo, evitando que sobre ele caia a escuridão” guarda inteira equivalência com a ação de “denunciar o real”, uma das missões que deve nortear o ato de escrever, segundo depreendemos do texto. Portanto, a resposta está na opção C. Evidentemente, descartam-se as alternativas A e B, que mencionam “fantasia” e “sonho”, palavras cujo valor semântico se opõe ao do vocábulo “realidade”. As demais opções, efetivamente, também não se enquadram, sendo de se registrar , na letra E, que a palavra “náusea”, vinculada a “horror”, é elemento que, no texto, confi gura-se como componente do campo signifi cativo da realidade a ser denunciada.

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5 – As variantes lingüísticas“É preciso ter na devida conta que unidade não é igualdade; no tecido lingüístico brasileiro, há, decerto, gradações de cores. Minucioso estudo de campo determinaria, com segurança, várias áreas. O que é certo, porém, é que o conjunto dos falares brasileiros se coaduna com o princípio da unidade na diversidade e da diversidade na unidade.”

(Serafi m da Silva Neto)

Para potencializar a capacidade de comunicar, o homem criou, no decurso de sua história, sistemas particulares de signos e regras, códigos que denominamos línguas. No caso da comunidade lusofônica a que pertencemos, o Português.

Apesar dos aspectos que a tornam comum a um conjunto de usuários, uma língua nunca é utilizada pelos seus falantes de maneira uniforme.

Seria ingenuidade esperar homogeneidade total em um meio de expressão que sofre infl uências do tempo, do espaço e de outros contextos em que seu emprego se manifesta.

Surgem então variedades na expressão de uma língua, que dela não retiram a condição de núcleo comum em torno do qual uma comunidade exerce a comunicação – não são línguas dentro de uma língua –, mas que possuem sua especifi cidade. Você convive com eles diariamente, ao fazer a leitura de um texto mais antigo, ao manter um diálogo com aquele seu amigo gaúcho, ao conversar dentro de casa com familiares e agregados, ao formular e apresentar aquele trabalho escolar. E você percebe que, de situação para situação, cada uma dessas manifestações guarda características lingüísticas peculiares. São as variantes lingüísticas.

Escolhendo uma dentre as diversas possibilidades de classifi cação dessas variantes, podemos identifi car, de uma forma geral, os seguintes tipos:

I – Variação Geográfi caOcorre de local para local, diferençando o uso da língua em uma determinada região. São os dialetos ou falares.

Pode ser mínimo o seu grau de afastamento da língua corrente (o jeito nordestino, gaúcho ou carioca de falar o Português), mas também pode ter características tais que difi cultem a comunicação no seio de uma própria língua, sem que, apesar disso, constituam uma outra língua (o nosso falar do Português em relação ao de Portugal).

II – Variação SocioculturalOcorre entre diferentes camadas ou grupos sociais e culturais de mesma língua, ainda que no mesmo espaço

geográfi co. No campo desse tipo de variação situam-se os níveis da língua, em suas modalidades oral e escrita, com predominância ora de uma, ora de outra.

III – Variação Profi ssional

Ditada pelo exercício de determinadas profi ssões que praticamente acabam por impor, em uso restrito, um jargão técnico, recheado de termos específi cos. São as “línguas” dos médicos, engenheiros, advogados, pedagogos, físicos e tantos outros profi ssionais.

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IV – Variação Expressiva

Aqui é a situação, o contexto, que determina o seu emprego. Há momentos de formalidade que exigem do indivíduo um discurso adequado (por exemplo, um defesa de tese de um estudante, ou a peça oratória de um promotor), como há situações em que deve predominar o expressar descontraído, informal (por exemplo, uma conversa de torcedores na arquibancada do Maracanã, ou os diálogos familiares que se travam no dia-a-dia). Neste âmbito de variação, podemos situar as modalidades falada e escrita da língua, nas quais se registram distinções signifi cativas, peculiariedades marcantes. Julgamos que aqui se possa também considerar a expressão literária da língua, forjada por preocupações de ordem estética e submetida à inventividade, à criatividade.

É importante registrar, uma vez mais, que todas essas variações compõem a nossa língua, incorporam-se a ela, e seu estudo e emprego não deve nem pode estar restrito a um registro padrão, elitista, conservador. A dinâmica da língua exige, isso sim, a ausência do preconceito ao tratar essa matéria e, ao contrário, o estímulo ao conhecimento do valor e da função atribuídos às variantes, cabendo ao falante a capacidade de selecionar, para cada contexto e situação, a que considere mais adequada.

De Evanildo Bechara, consagrado lingüista brasileiro: “temos que ser poliglotas em nossa própria língua”.

6 – Linguagem Formal e Linguagem ColoquialA habilidade 6 do ENEM fala em “explorar as relações entre as linguagens coloquial e formal”. Vamos, então,

estabelecer as diferenças e vinculações que se impõem entra ambas.

I - Linguagem FormalÉ a que se refere à língua-padrão e observa as normas ditadas pela gramática

tradicional. Seu uso impõe-se – o nome o diz – nas situações formais (palestras, textos técnico-científi cos, entrevistas, trabalhos escolares de redação, etc). Ela serve, é certo, para assinalar distanciamento, ausência de intimidade, mas as expressões respeitosas de cortesia também pertencem ao seu âmbito. É evidente que utilizá-la em contextos situacionais que não a imponham pode soar falso, frio e antipático.

II – Linguagem ColoquialÉ aquela empregada nas situações do cotidiano, de cunho mais popular

e que não obedece, necessariamente, às regras da gramática normativa. Ela revela certa intimidade, é típica das falas entre namorados e familiares e, do mesmo modo que a formal, temos que nos preocupar com a sua utilização fora dos contextos devidos, sob pena de nos colocarmos sob julgamentos negativos de quem nos ouve.

Veja algumas situações, colhidas aleatoriamente, que confi guram um emprego de linguagem coloquial:

• o uso da forma pronominal “a gente” (“A gente não vai mais brigar”, no lugar de “Nós não vamos mais brigar”);

• o emprego do pronome relativo sem observância a normas de regência (“Esta é a música que eu mais gosto ”, no lugar de “Esta é a música de que mais gosto”);

• retomada anafórica do objeto direto da terceira pessoa (“Estive lá, mas não encontrei ele”, no lugar de “Estive lá, mas não o encontrei”);

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• uso indevido da passiva sintética (“Não se escreve mais poemas como antigamente”, no lugar de “Não se escrevem mais poemas como antigamente”);

• uso do pronome reto como sujeito do infi nitivo (“Isto é para mim fazer”, no lugar de “Isto é para eu fazer”);

• regência em desacordo com o registro culto (“Vou na casa de Maria agora”, no lugar de “Vou à casa de Maria agora”);

• mistura de tratamento (“Eu te falei, você não quis ouvir”, no lugar de “Eu te falei, tu não quiseste ouvir” ou de “Eu lhe falei, você não quis ouvir”);

• emprego de pronome oblíquo no início da frase (“Me deixa em paz!”, no lugar de “Deixa-me em paz!”).

A gramática e as normas gramaticais não são um fi m em si mesmo e não se deve exaltar ou menosprezar unilateralmente o registro formal ou o coloquial.

Veja algumas questões do ENEM que versam sobre as variações lingüísticas:

No romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos, o vaqueiro Fabiano encontra-se com o patrão para receber o salário. Eis parte da cena:

“Não se conformou; devia haver engano. (…) Com certeza havia um erro no papel do branco. Não se descobriu o erro, e Fabiano perdeu os estribos. Passar a vida inteira assim no toco, entregando o que era dele de mão beijada! Estava direito aquilo? Trabalhar como negro e nunca arranjar carta de alforria?O patrão zangou-se, repeliu a insolência, achou bom que o vaqueiro fosse procurar serviço noutra fazenda.Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou. Bem, bem. Não era preciso barulho não.”

(Graciliano Ramos. Vidas Secas. 91ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2003.)

No fragmento transcrito, o padrão formal da linguagem convive com marcas de regionalismo e de coloquialismo no vocabulário. Pertence à variedade do padrão formal da linguagem o seguinte trecho:

(A) “Não se conformou: devia haver engano”

(B) “e Fabiano perdeu os estribos”

(C) “Passar a vida inteira assim no toco”

(D) “entregando o que era dele de mão beijada!”

(E) “Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou”

Gabarito – Letra A. Aqui se busca identifi car, dentre algumas alternativas que apresentam registros coloquiais ou do regionalismo, aquela que exemplifi ca o padrão formal. Ambos vinculam-se ao espaço geográfi co no qual se passa o romance de Graciliano, sendo de destacar a utilização do chamado discurso

Ano: 2006Habilidade: 06

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indireto livre, forma de expressão que, em vez de reproduzir as próprias palavras do personagem (discurso direto), ou de informar objetivamente o leitor sobre o que ele teria dito (discurso indireto), aproxima narrador e personagem, em uma espécie de voz mista. Evidentemente, a opcão A é a resposta, pois nela não surpreendemos nenhuma expressão regional ou coloquial. Nas demais opções, tal marca está presente em “perdeu os estribos” (B) = “descontrolou-se”; “passar a vida(...) no toco” (C) = viver a vida inteira explorado; “entregando (...) de mão beijada” (D) = entregando de graça, sem retribuição ou remuneração; “baixou a pancada e amunhecou” (E) = baixou o tom de revolta e acovardou-se.

O uso do pronome átono no início das frases é destacado por um poeta e por um gramático nos textos abaixo:

Pronominais

Dê-me um cigarroDiz a gramáticaDo professor e do alunoE do mulato sabidoMas o bom negro e o bom branco

Ano: 2000Habilidade: 06

Da Nação BrasileiraDizem todos os diasDeixa disso camaradaMe dá um cigarro

(ANDRADE, Oswald de. Seleção de textos. São Paulo: Nova Cultural, 1988.)

“Iniciar a frase com pronome átono só é lícito na conversação familiar, despreocupada, ou na língua escrita quando se deseja reproduzir a fala dos personagens (...)”

(CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa. São Paulo: Nacional, 1980.)

Comparando a explicação dada pelos autores sobre essa regra, pode-se afi rmar que ambos:

(A) condenam essa regra gramatical;

(B) acreditam que apenas os esclarecidos sabem essa regra;

(C) criticam a presença de regras na gramática;

(D) afi rmam que não há regras para uso de pronomes;

(E) relativizam essa regra gramatical.

Gabarito – Letra E. A questão, você já percebeu, cuida de algo que já mencionamos aqui. Há contextos que determinam a formalidade, o registro formal; e outros que “pedem” o coloquial. A colocação do pronome oblíquo átono no início da frase não é abonada pela norma culta, pela língua-padrão, que determina a ênclise, e constitui manifestação do registro coloquial. Nem por isso, contudo, deve ser discriminada, preconceituosamente. A regra gramatical existe, mas, como afi rmam o poeta e o gramático, deve ser relativizada. Ela não deve ser imposta em contextos informais, do cotidiano, em conversas familiares ou despreocupadas, ou mesmo quando, em textos literários, se quer reproduzir falas de personagens. Observe que as alternativas A e C falam em condenação ou crítica à norma gramatical, o que não é o caso. Tampouco existe a afi rmação de que a regra não existe (D) ou que apenas é conhecida pelos “mais esclarecidos” (o que confi guraria uma visão preconceituosa, que não cabe).

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Namorados

O rapaz chegou-se para junto da moça e disse:— Antônia, ainda não me acostumei com o seu[ corpo, com a sua cara.A moça olhou de lado e esperou.— Você não sabe quando a gente é criança e de[ repente vê uma lagarta listrada? A moça se lembrava: — A gente fi ca olhando...

A meninice brincou de novo nos olhos dela. O rapaz prosseguiu com muita doçura: — Antônia, você parece uma lagarta listrada.A moça arregalou os olhos, fez exclamações. O rapaz concluiu: — Antônia, você é engraçada! Você parece louca.

(Manuel Bandeira. Poesia completa & prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985.)

No poema de Bandeira, importante representante da poesia modernista, destaca-se como característica da escola literária dessa época:

(A) a reiteração de palavras como recurso de construção de rimas ricas;(B) a utilização expressiva da linguagem falada em situações do cotidiano; (C) a criativa simetria de versos para reproduzir o ritmo do tema abordado;(D) a escolha do tema do amor romântico, caracterizador do estilo literário dessa época;(E) o recurso ao diálogo, gênero discursivo típico do Realismo.

Gabarito – Letra B. Entre os postulados do Modernismo, do qual Manuel Bandeira é um dos representantes mais expressivos, está a aproximação entre o texto literário e a manifestação do coloquial. No caso, o coloquialismo está presente nas falas do personagem masculino, que traduzem uma ingênua e até mesmo pouco lógica declaração de amor, que aproxima a atração que Antônia lhe inspira ao fascínio que uma lagarta listrada tem para as crianças.

Veja agora alguns outros exercícios, que envolvem o humor das “tirinhas” e a presença de elementos de conteúdo constantes deste fascículo.

Exercício resolvido 01

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A fi gura anterior possui elementos de linguagem responsáveis pelo seu caráter humorístico, que podemos considerar, na sua totalidade, como representativos de:

(A) variações lingüísticas;

(B) irregularidades mórfi cas;

(C) expressões reprováveis;

(D) impropriedades semânticas;

(E) solecismos gramaticais.

Gabarito – Letra A. A fi gura apresenta inúmeras mensagens pertencentes ao linguajar adolescente, que constituem variações lingüísticas de ordem sociocultural. Considerá-las “impropriedades semânticas” ou “expressões reprováveis” ou “solescimos (erros) gramaticais” é uma visão preconceituosa, que contraria o próprio conceito de variantes. Não há que se cogitar, também, de irregularidades mórfi cas.

Exercício resolvido 02

O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, no verbete “sinistro”, registra a palavra como adjetivo com signifi cado de “esquerdo, canhoto”; “agourento, funesto”; “pernicioso, mau”; “assustador, temível” e outros termos pertencentes a esse campo semântico.

A propósito do emprego do vocábulo na “tirinha” acima, podemos afi rmar que:

(A) nas duas ocorrências, tem idêntico valor signifi cativo;

(B) no segundo quadrinho, apresenta valor semântico apreciativo;

(C) no segundo quadrinho, encontra-se empregado como se menciona no dicionário;

(D) em ambos os usos, ocorre uma exemplifi cação do registro culto da língua;

(E) os dois usos pertencem ao domínio rigorosamente informal da língua.

Gabarito – Letra A. Apenas na primeira ocorrência pode-se atribuir ao adjetivo signifi cado presente no verbete do dicionário (assustador, terrível). No segundo quadrinho, o emprego tipifi ca o registro informal da língua (não localizado entre os termos registrado no dicionário) e o sentido é mesmo elogiativo (apreciativo), o que faz com que esteja em B a resposta certa.

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7 – A expressão Lingüísticaem Outras Habilidades

Outras habilidades, como a de número 5 , envolvem a questão da expressão lingüística. Veja:

Habilidade 5 – A partir da leitura de textos literários consagrados e de informações sobre concepções artísticas, estabelecer relações entre eles e seu contexto histórico, social, político ou cultural, inferindo as escolhas dos temas, gêneros discursivos e recursos expressivos dos autores.

Essa habilidade será objeto de desenvolvimento mais minucioso no fascículo 7 da presente coleção. Por ora, alguns conceitos básicos a partir de expressões usadas no enunciado da habilidade, com exemplos de como esse assunto pode ser cobrado no ENEM.

TemaÉ o assunto que se quer desenvolver, a motivação do texto. Para a compreensão do tema, é necessário

delimitá-lo, fugindo das grandes generalizações. Aqui também se procura, de acordo com os princípios que inspiram as questões do ENEM, contextualizar o tema, vale dizer, abordá-lo de forma a identifi car a situação ou o contexto no qual o tema está sendo abordado.

Gêneros Discursivos (ou Textuais)Ocorrem em situações de comunicação social, compõem elementos das relações humanas, organizando a

comunicação entre as pessoas. Eles têm corrrespondência com certos padrões de construção de textos que se vinculam ao contexto em que se produzem, levando em consideração o público destinatário, os objetivos a que se destinam, o âmbito de seu alcance.

São exemplos de gêneros textuais/discursivos:

a) textos de divulgação científi ca: relatório, resenha, resumo.

b) textos do âmbito jornalístico: editoriais, reportagens, artigos, entrevistas.

c) textos com fi nalidades instrucionais: receitas, manuais de instrução, regulamentos.

d) textos de natureza jurídica: contratos, petições, requerimentos, atestados.

e) textos publicitários: anúncios, propagandas.

f) textos destinados ao lazer: histórias em quadrinho, charges, tirinhas.

g) textos de ordem interpessoal: cartas, cartas do leitor, manifestos.

h) textos de fi cção: fábulas, contos, crônicas, novelas, romances, poemas.

Recursos ExpressivosSão processos, utilizados pelos autores, para tornar o texto literário mais belo, instigante, sugestivo,

efi caz. Além das chamadas fi guras de linguagem, já objeto de estudo neste fascículo, procedimentos que envolvem repetições, redundâncias, associações, substituições, comparações etc. também exemplifi cam tais recursos.

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Parece-nos interessante complementar essa noção de recursos expressivos com outros elementos da chamada Estilística, que, grosso modo, podemos defi nir como a parte da Gramática que estuda as possibilidades de expressividade da língua.

A dinâmica da linguagem, a criatividade dos falantes, a necessidade de obter diferentes níveis de expressividade, tudo isso faz com que, às palavras, se possam acrescentar valores signifi cativos diferentes daqueles que normalmente apresentam. Veja alguns casos, entre os muitos que exemplifi cam essa afi rmação:

I. O substantivo pode assumir a carga expressiva de um verdadeiro adjetivo quando, em função típica de um adjunto adnominal, refere-se diretamente a outro substantivo que pretende caracterizar.

Ex.: “Menina veneno, O mundo é pequeno demais Pra nós dois” (Ritchie)

II. O artigo pode ser usado para exprimir generalização (tanto o defi nido quanto o indefi nido).Ex.: O português foi o carrasco do índio, no processo da Colonização. (Os portugueses) (dos índios)

III. O artigo defi nido é utilizado para colocar um substantivo em destaque, individualmente, em relação a outros da mesma espécie.

Ex.: Fernando Pessoa não é um poeta, ele é o poeta...

IV. A repetição do adjetivo assume valor de verdadeiro superlativo.Ex.: Ela estava triste, triste, triste...

V. O adjetivo anteposto pode também, em muitos casos, assumir um sentido fi gurado (conotativo) que não possui quando posposto.

Ex.: Um grande homem (compare com homem grande) Um pobre rapaz (compare com rapaz pobre) Um simples operário (compare com operário simples)

VI. O pronome pessoal oblíquo átono pode ser utilizado com objetivos enfáticos, constituindo um pleonasmo aceitável.

Ex.: A liberdade, nós a devemos desejar acima de tudo.

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VII. O pronome demonstrativo pode apresentar muitos valores chamados “afetivos”, com a ajuda da competente entonação. Veja:

• Admiração, apreço: Ex.: No fi nzinho, Romário marcou aquele gol, um golaço! • Sarcasmo, desprezo: Ex.: Como você teve coragem de namorar aquilo?!• Intensidade, superlatividade: Ex.: Ele saiu fazendo aquele barulho...

VIII. Quando, numa frase, temos dois advérbios terminados em (–mente) vinculados a uma mesma palavra, podemos, para tornar mais leve e dinâmico o enunciado, juntar o sufi xo tão somente ao último advérbio.

Ex.: Naquelas ocasiões, ela agia fria e racionalmente.

IX. Formas verbais são empregadas expressivamente, em uso que escapa ao que seria o normal. Veja:

A) Pode-se empregar o Presente do Indicativo para:

• Indicar ações e estados permanentes ou assim considerados (verdades científi cas, dogmas, artigos de lei), no que se pode chamar presente durativo.

Ex.: A Terra e os demais planetas do Sistema Solar giram em torno do Sol.

• Para expressar uma ação habitual ou uma característica, ainda que não exercidas no momento em que se produz a fala. É o presente freqüentativo.

Ex.: “O homem atrás do bigode é sério, simples e forte. Quase não conversa. Tem poucos, raros amigos o homem atrás dos óculos e do bigode.”

(Carlos Drummond de Andrade, “Poema de Sete Faces”)

• Para conferir vivacidade a fatos ocorridos no passado, aproximando-os do momento em que vive quem ouve ou quem lê. É chamado presente histórico ou narrativo.

Ex.: Então, Colombo fi nalmente desembarca em terras americanas.

B) Pode-se empregar o Imperfeito do Indicativo para:

• Denotar uma ação passada habitual ou repetida. É o imperfeito freqüentativo.Ex.: Ele fumava, então, dois maços de cigarro por dia.

C) Pode-se empregar o Futuro do Presente para:

• Exprimir possibilidade, dúvida, incerteza.Ex.: Terá ela forças para superar tais obstáculos?

• Indicar caráter imperativo.Ex.: Honrarás pai e mãe.

D) Pode-se empregar o Futuro do Pretérito para:

• Exprimir ação presente, de forma polida.Ex.: Sr. José, poderíamos usar o seu telefone?

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“Narizinho correu os olhos pela assistência. Não podia haver nada mais curioso. Besourinhos de fraque e fl ores na lapela conversavam com baratinhas de mantilha e miosótis nos cabelos. Abelhas douradas, verdes e azuis, falavam mal das vespas de cintura fi na, achando que era exagero usarem coletes tão apertados. Sardinhas aos centos criticavam os cuidados excessivos que as borboletas de toucados de gaze tinham com o pó das suas asas. Mamangavas de ferrões amarrados para não morderem. E canários cantando, e beija-fl ores beijando fl ores, e camarões camaronando, e caranguejos caranguejando, tudo que é pequenino e não morde, pequeninando e não mordendo...”

(LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. São Paulo: Brasiliense, 1947.)

No último período do trecho, há uma série de verbos no gerúndio que contribuem para caracterizar o ambiente fantástico descrito.

Expressões como camaronando, caranguejando e pequeninando e não mordendo. criam, principalmente, efeitos de:

(A) esvaziamento de sentido;

(B) monotonia do ambiente;

(C) estaticidade dos animais;

(D) interrupção dos movimentos;

(E) dinamicidade do cenário.

Gabarito – Letra E. O gerúndio, sabemos, é uma forma verbal de uma ação “se fazendo”, ou seja, em desenvolvimento. O autor se utiliza de formas gerundiais – algumas delas neologismos, vocábulos não dicionarizados – para exprimir, através delas, o efeito dinâmico criado pelos verbos e adequado à agitação do ambiente descrito.

O mundo é grandeO mundo é grande e cabeNesta janela sobre o mar.O mar é grande e cabeNa cama e no colchão de amar.O amor é grande e cabeNo breve espaço de beijar.

(ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1983.)

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Neste poema, o poeta realizou uma opção estilística: a reiteração de determinadas construções e expressões lingüísticas, como o uso da mesma conjunção para estabelecer a relação entre as frases. Essa conjunção estabelece, entre as idéias relacionadas, um sentido de:

(A) oposição. (D) alternância.

(B) comparação. (E) fi nalidade.

(C) conclusão.

Gabarito – Letra A. A conjunção de uso reiterado é a coordenativa “E”, que apresenta, no caso, um valor coesivo de oposição entre um “mundo grande” que “cabe na janela”, um “mar grande” que “cabe na cama”, um “amor grande” que “cabe no suave espaço de beijos”. Note-se que, no lugar do “E”, poderíamos ter qualquer das conjunções ditas adversativas (MAS, PORÉM, TODAVIA etc.) É esta oposição reiteradamente expressa que confere valoração estilística à mensagem de que trata.

Leia estes textos:.

Texto 1

Texto 2

Sonho Impossível

SonharMais um sonho impossívelLutarQuando é fácil cederVencer o inimigo invencívelNegar quando a regra é venderSofrer a tortura implacávelRomper a incabível prisãoVoar num limite improvávelTocar o inacessível chão

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É minha lei, é minha questãoVirar esse mundoCravar esse chãoNão me importa saberSe é terrível demaisQuantas guerras terei que vencerPor um pouco de pazE amanhã, se esse chão que eu beijeiFor meu leito e perdãoVou saber que valeu delirarE morrer de paixãoE assim, seja lá como forVai ter fi m a infi nita afl içãoE o mundo vai ver uma fl orBrotar do impossível chão

( J. Darione e H. Leigh - Versão de Chico Buarque e Ruy Guerra, 1972.)

A tirinha e a canção apresentam uma refl exão sobre o futuro da humanidade. É correto concluir que os dois textos:

(A) afi rmam que o homem é capaz de alcançar a paz;(B) concordam que o desarmamento é inatingível;(C) julgam que o sonho é um desafi o invencível;(D) têm visões diferentes sobre um possível mundo melhor;(E) transmitem uma mensagem de otimismo sobre a paz.

Gabarito – Letra D. Na questão, usam-se diferentes gêneros textuais: uma tirinha e um poema. Contudo, os dois têm mensagens sobre o mesmo tema, a obtenção da paz entre os homens, a conquista de um mundo melhor. Para a elaboração da mensagem, utilizam-se de recursos distintos, embora ambos se possam considerar metafóricos. Na “tirinha”, percebemos visualmente um “vôo” fracassado de um hipotético avião que leva a mensagem do desarmamento. A queda do avião é metáfora para o pessimismo em relação à paz. Já no texto de Chico, os versos fi nais são de natureza otimista, uma vez que afi rmam a possibilidade da paz – ainda que decorrente de intensa luta – através da metáfora da fl or que brota do chão “impossível”.

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Questão IQuestão ITexto I

Poema Enjoadinho (fragmento)

Filhos...Filhos?Melhor não tê-los!Mas se não temosComo sabê-lo?Se não os temosQue de consultaQuanto silêncioComo os queremos! (...)E então começaa aporrinhaçãococô está brancococô está pretoBebeu amoníacoComeu botãoFilhos? Filhosmelhor não tê-los (...)

(Vinicius de Moraes)

Texto II

Mãe (fragmento)

Renovadora e reveladora do mundoA humanidade se renova no teu ventre.Cria teus fi lhos,não os entregues à creche.Creche é fria, impessoal.Nunca será um larpara teu fi lho.Ele, pequenino, precisa de ti.Não o desligues da tua força maternal.

(Cora Coralina)

Agora é a sua vez. Formulamos algumas questões dentro do “espírito” do ENEM, a partir do conteúdo deste fascículo, e queremos que você as resolva. Leia-as com atenção, marque a alternativa que considere correta e, no próximo fascículo, forneceremos a resposta, que também será comentada no site da Internet a que você terá acesso com a sua senha. Vamos a elas:

Os dois textos tratam do mesmo tema, mas apresentam diferenças de abordagem.

Uma observação correta decorrente da comparação entre os dois é a seguinte:

(A) Nos dois textos, o tema está apresentado segundo ótica tradicionalmente presente na literatura, quando se mencionam os fi lhos.

(B) No primeiro texto, nota-se a ruptura, bem ao gosto da estética modernista, com a tradição literária, pela insólita abordagem temática e pela seleção vocabular.

(C) O primeiro texto deliberadamente não exemplifi ca qualquer manifestação lingüística que se possa considerar do domínio da norma culta.

(D) Apenas o segundo texto pode ser considerado como pertencente ao âmbito da literatura, uma vez que observa os princípios do discurso nobre e dos padrões lingüísticos.

(E) Nos dois textos, percebem-se marcas gramaticais que põem em relevo, predominantemente, a chamada função apelativa ou conativa da linguagem.

Questão 2Questão 2Escrevendo a Manuel Bandeira em outubro de 1924, provavelmente quando do término da primeira redação de Amar, verbo intransitivo, Mário de Andrade dá uma boa síntese do seu projeto, ressaltando sua opção: “O livro é uma mistura incrível. Tem tudo lá dentro. Crítica, teoria, psicologia, e até romance: sou eu. E eu pesquisador. Pronomes oblíquos começando a frase, ‘mandei ela’ e coisas assim, não na boca de personagens, mas na minha direta pena. Fugi do sistema português. Que me importa que o livro seja falho. Meu destino não é fi car.Meu destino é lembrar que existem mais coisas que as vistas e ouvidas por todos. Se conseguir

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que se escreva brasileiro sem por isso ser caipira mas sistematizando erros diários de conversação, idiotismos brasileiros e sobretudo psicologia brasileira, já cumpri o meu destino.”

(fragmento do prefácio de Telê Porto Ancona Lopez, ao livro “Amar, verbo

intransitivo”, de Mário de Andrade.)

Nas palavras de Mário de Andrade a Manuel Bandeira, o autor de “Amar, verbo intransitivo” menciona fatos de linguagem fora do “sistema português” e que surgem, no livro, “não na boca de personagens, mas na minha direta pena”. Seguem-se passagens retiradas do romance e, em uma delas, temos exemplifi cada essa afi rmação do escritor. Marque a alternativa em que isso se dá:

(A) “Deitou quinhentos réis na mão do motorista. Atravessou as roseiras festivas do jardim.”

(B) “O menino agarrara a irmã na boca do corredor. Brincalhão, bem disposto como sempre. E machucador. (....)

– Mamãe! Me largue, Carlos! Me largue!”

(C) “Se rindo do chuvisco dos tapinhas, carregando a irmã no braço esquerdo, Carlos ofereceu a mão livre à moça.”

(D) “Não vejo razão pra me chamarem vaidoso se imagino que o meu livro tem neste momento cinqüenta leitores. Comigo 51.”

(E) “ – Ora venha!... Você ensina piano pra mim, ensina?

– Carlos, não me incomode. – Então me ensine a pregar botões, vá!...me dá a

agulha... – Você me perturba , menino”

Questão 3Questão 3Não Tem Tradução

(Noel Rosa, Francisco Alves e Ismael Silva)

O cinema falado é o grande culpado da transformaçãoDessa gente que sente que um barracão prende mais

que o xadrezLá no morro, se eu fi zer uma falsetaA Risoleta desiste logo do francês e do InglêsA gíria que o nosso morro criouBem cedo a cidade aceitou e usouMais tarde o malandro deixou de sambar, dando pinote

Na gafi eira dançar o Fox-TroteEssa gente hoje em dia que tem a mania da exibiçãoNão entende que o samba não tem tradução no

idioma francêsTudo aquilo que o malandro pronunciaCom voz macia é brasileiro, já passou de portuguêsAmor lá no morro é amor pra chuchuAs rimas do samba não são I love youE esse negócio de alô, alô boy e alô JohnnySó pode ser conversa de telefone

A música popular brasileira, autêntica manifestação cultural de nossa gente, refl ete, em suas letras, situações do cotidiano e não raro, na sua simplicidade, revela o chamado “saber do povo”.

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Ilustração retratando Ismael Silva

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Ilustração retratando Noel Rosa

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Na composição anterior, da década de 30, seus autores formulam observações que os estudos lingüísticos consagram como verdadeiras. A propósito, fazem-se, a seguir, quatro afi rmações:I – O texto chama a atenção, em determinado

momento, para a transferência entre variantes sociais da língua.

II – O texto ratifi ca a concepção da linguagem como um fenômeno dinâmico, mutável no tempo e no espaço.

III – O texto afi rma a existência de uma língua brasileira, que nada tem a ver com suas origens portuguesas.

IV – O texto admite a existência de um modo de falar brasileiro, que se diferencia do português original.

Analisando-se tais afi rmativas, conclui-se que:

(A) apenas I e II estão corretas;

(B) todas estão corretas;

(C) I, II e IV estão corretas;

(D) I , II e III estão corretas;

(E) Apenas I e III estão corretas.

Questão 4Questão 4O Ferrageiro de Carmona

(João Cabral de Melo Neto)

Um ferrageiro de Carmonaque me informava de um balcão:“Aquilo? É ferro fundido,foi a fôrma que fez, não a mão.Só trabalho com ferro forjadoque é quando se trabalha ferro;então, corpo a corpo com ele,domo-o, dobro-o, até o onde quero.O ferro fundido é sem luta,é só derramá-lo na fôrma.Não há nele a queda-de-braçoe o cara-a-cara de uma forja.Existe grande diferençado ferro forjado ao fundido;é uma distância tão enormeque não pode medir-se a gritos.

Conhece a Giralda em Sevilha?De certo subiu lá em cima.Reparou nas fl ores de ferrodos quatro jarros das esquinas?Pois aquilo é ferro forjado.Flores criadas em outra língua.Nada têm das fl ores de fôrmamoldadas pelas das campinas.Dou-lhe aqui humilde receita,ao senhor que dizem ser poeta:o ferro não deve fundir-senem deve a voz ter diarréia.Forjar: domar o ferro à força,não até uma fl or já sabida,mas ao que parece ser fl orse fl or parece a quem o diga.”

Neste poema, João Cabral discorre sobre o fazer poético, a partir de uma metáfora (as atividades de um ferreiro).

Assinale, a propósito, a alternativa que traduz mais fi elmente aquilo que o poeta nos pretende passar a respeito do ofício de poeta:

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(A) O poeta, a exemplo do ferreiro – que administra simplesmente a fundição do ferro em uma fôrma –, não tem compromisso com a forma da poesia.

(B) O poeta deve buscar com denodo a verdadeira forma da poesia, a exemplo do ferreiro quando forja o ferro.

(C) O poeta e o ferreiro têm atividades diversas e diametralmente opostas, do ponto de vista da obtenção da forma adequada.

(D) O poeta não deve ser como os parnasianos, que se deixavam submeter a uma espécie de tirania da forma sobre o conteúdo, como fazem os ferreiros.

(E) O poeta deve imitar formas consagradas do fazer poético, exatamente como o ferreiro, que deixa a fôrma prevalecer sobre a mão.

Questão 5Questão 5 “Durante essas ruas paris de Barcelona, tão avenida entre uma gente meio londres urbanizada em mansas fi las”

(D) adjetivação objetiva;

(E) redundância desnecessária.

Questão 6Questão 6“Ele está na minha vida porque quer Eu estou pra o que der e vier Ele chega ao anoitecer Quando vem a madrugada ele some Ele é quem quer Ele é o homem Eu sou apenas uma mulher”

Trecho de “Esse Cara” (Caetano Veloso)

Catedral de La Sagrada Familia (Barcelona)

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Para referir-se a características especiais que, a seu ver, possui a cidade de Barcelona, o poeta João Cabral de Melo Neto, nas estrofe acima, utiliza-se do recurso do (da):

(A) ilogicismo;

(B) adjetivação do substantivo;

(C) substantivação do adjetivo;

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Os artigos usados por Caetano Veloso nos versos fi nais da estrofe acima possuem valor estilístico porque expressam:

(A) depreciação dos seres envolvidos;

(B) constraste qualitativo entre os personagens;

(C) ênfase nas qualidades positivas do eu-lírico;

(D) ênfase nas qualidades negativas da personagem feminina;

(E) ausência de diferenciação semântica.

Questão 7Questão 7Veja o trecho a seguir, fragmento de uma crônica de Martha Medeiros, “Veneno Antimonotonia” na revista de ‘O Globo” de 02/10/2005, e responda à questão:

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“ Até hoje pergunta-se: para que serve a arte, para que serve a poesia? Intelectuais se aprumam, pigarreiam, começam a responder dizendo “Veja bem...” e daí em diante é um blábláblá teórico que tenta explicar o inexplicável. Poesia serve exatamente para a mesma coisa que serve uma vaca no meio da calçada de uma agitada metrópole. Para alterar o curso do seu andar, para interromper um hábito, para evitar repetições, para provocar um estranhamento, para alegrar o seu dia, para fazê-lo pensar, para resgatá-lo do inferno que é viver todo santo dia sem nenhum assombro, sem nenhum encantamento.”

A colocação dos termos na frase pode constituir elemento de expressividade.

Que conjunto de duas palavras, dentre os adiante assinalados, retirados do texto, geraria, com a inversão de seus termos, um signifi cado diferente?

(A) “blábláblá teórico”

(B) “agitada metrópole”

(C) “santo dia”

(D) “nenhum assombro”

(E) “nenhum encantamento”

Questão 8Questão 8

“Nas festas do coronel José Paulino, toda a família de seu Lula chegava no Santa Rosa. Lá fi cavam D.Amélia e a fi lha para um canto, duras como se estivessem em castigo, carregadas de trancelins, de anéis. O coronel Lula de Holanda pouco conversava, as danças iam até tarde, e não havia rapaz que tivesse coragem de tirar a moça do Santa Fé para dançar.”

O Pretérito Imperfeito, forma verbal predominante no fragmento acima (de “Fogo Morto”, de José Lins do Rego), expressa:

(A) ações passadas, defi nitivamente encerradas;

(B) ações em processo, ainda no presente;

(C) ações habituais, típicas em eventos como os descritos;

(D) ações passadas , anteriores a outras descritas;

(E) ações exclusivamente restritas a um único momento.

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Gabarito

FASCÍCULO 02

1) B 2) C 3) C 4) B

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Veja um tema que poderia ser proposto pelo ENEM e que se vincula aos conteúdos deste fascículo. Leia a coletânea de textos e observe o que se pede e como se pede.

I“Os fatores constitutivos da nação são numerosos,

mas os principais são a raça, a língua, o meio físico, as recordações comuns e as tradições culturais. (...)

A língua cria uma comunidade muito forte, pois signifi ca um mecanismo mental particular, de tal modo que falar a mesma língua é, em larga medida, pensar da mesma maneira.

Fazer da língua o caráter distintivo da nacionalidade é uma idéia antiga.”

(Do artigo “Nação e nacionalidade”, de Máriton Silva Lima, publicado no

“Jornal da Cidade” (Caxias – MA), em 20/06/2004)

II“Todas as línguas são em si um discurso sobre o indivíduo

que fala, elas o identifi cam. A língua que eu uso para dizer quem eu sou já fala sobre mim, é, portanto, um instrumento de afi rmação da identidade. “As línguas são objetos históricos e estão sempre relacionadas inseparavelmente daqueles que as falam. É por isso que são elementos fortes no processo de identifi cação social dos grupos humanos”, explica Eduardo Guimarães, lingüista da Universidade Estadual de Campinas.”

(Patrícia Mariuzzo, do artigo “Uma língua, múltiplos falares”, na internet, no

site http://www.revista.iphan.gov.br)

III“A língua é a nacionalidade do pensamento como a

pátria é a nacionalidade do povo. Da mesma forma que instituições justas e racionais revelam um povo grande e livre, uma língua pura, nobre e rica anuncia a raça inteligente e ilustrada.”

(ALENCAR, José de. Pós-Escrito. Diva. Rio de Janeiro, Aguilar, 1965, V. I, p.

399,400, 01.)

IV“Fale fala brasileiraQue você enxerga bonito

Tanta luz nessa capoeiratal e qual numa gupiara.Misturo tudo num saco,Mas gaúcho maranhenseQue pára no Mato Grosso,Bate este angu de caroçoVer sopa de caruru”

(ANDRADE, Mário de. Poesias completas. São Paulo: Martins, 1955, p. 333-4.)

V“Pronomes? Escrevo brasileiro”

(Mário de Andrade)

Proposta de Redação:

A partir dos textos aqui apresentados, que têm caráter apenas motivador, redija um texto dissertativo a respeito do seguinte tema:

A língua como instrumento a serviço da nação e da cidadania.

Ao desenvolver o tema proposto, procure utilizar os conhecimentos adquiridos e as refl exões feitas ao longo de sua formação. Selecione, organize e relacione argumentos, fatos e opiniões para defender seu ponto de vista e suas propostas, sem ferir os direitos humanos.

Recomendações do ENEM:

• Seu texto deve ser escrito na modalidade-padrão da língua portuguesa.

• O texto não deve ser escrito em forma de poema (versos) ou narração.

• O texto com até 7 (sete) linhas escritas será considerado texto em branco.

• O ENEM admite que o candidato faça o rascunho na última página do caderno de provas, devendo a redação ser passada a limpo na folha própria e escrita a tinta.

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