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E M P R E S A C I D A D Ã 48 por Patrícia Mariuzzo Na ponta dos dedos, na ponta dos pés Luzes apagadas, silêncio. As crian- ças mantêm os olhos fixos na pequena caixa de papelão à frente da classe. Abrem- se as cortinas e o espetáculo começa. Entra em cena um personagem conhe- cido, o saci-pererê, negrinho de gorro ver- melho e de uma perna só. Desde setem- bro do ano passado, este e outros perso- nagens do folclore brasileiro se juntam à Branca de Neve e à Cinderela, em apre- sentações do teatro de fantoches que encanta centenas de crianças de escolas das redes municipal e estadual de Campinas, interior de São Paulo. Trata- se do projeto “Bonecas e histórias: tecen- do a cultura brasileira”, que tem o obje- tivo de oferecer aos educadores um ins- trumento pedagógico que ajude no pro- cesso de aprendizagem dos alunos e desenvolva o gosto pela leitura. O proje- to é patrocinado pela Bosch, multinacio- nal alemã do ramo de autopeças, por meio da Lei Rouanet. A empresa distribui um kit composto por um livro didático, um livro de estórias e quatro conjuntos de fantoches (36 bonecos), em 75 escolas de educação infantil e fundamental. O “Bonecas e histórias” foi idealiza- do pelo Grupo Primavera, ONG campinei- ra que mantém desde 1997 uma oficina de bonecas em sua sede. "A idéia que o Primavera nos trouxe ano passado uti- liza a cultura para melhorar a educação e incentivar a leitura. Isso vai de encon- tro aos objetivos da política social que pra- ticamos, por isso decidimos apoiar o pro- grama integralmente", conta Carlos Abdala, gerente de relações corporati- vas da multinacional e diretor adminis- trativo do Instituto Bosch. Segundo ele, os programas de responsabilidade social em que a empresa atua têm três frentes de ação: preservação do meio ambiente e saúde preventiva; educação, especial- mente para jovens e adultos, e incenti- vo à cultura. Os fantoches representam personagens do folclore brasileiro e dos contos de fadas. Para permitir um melhor aproveitamento do material o Grupo rea- liza oficinas de capacitação dos educa- dores, sobre técnicas de como contar his- tórias em sala de aula. Para Paula Hauptmann, responsável pela área de relações institucionais do Grupo Primavera, a qualificação dos educado- res é peça central para obter bons resul- tados. "Nos workshops de capacitação os professores aprendem como o fanto- che pode ser um poderoso recurso peda- gógico, uma ferramenta para a inserção dos mais variados conteúdos. O projeto não oferece soluções prontas, e sim meios para que o educador descubra formas de encantar seus alunos", diz. O kit que as escolas recebem tem ain- da alguns bonecos inacabados para que Crianças do projeto “Dança e Cidadania” em apresentação do espetáculo O quebra nozes, de Tchaikovsky BOSCH APOSTA NA EDUCAÇÃO E CULTURA PARA PROMOÇÃO SOCIAL Divulgação

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Page 1: EMPRESA CIDADÃ Na ponta dos dedos, na ponta dos pésinovacao.scielo.br/pdf/inov/v3n1/a25v03n1.pdf · res é peça central para obter bons resul-tados. "Nos workshops de capacitação

E M P R E S A C I D A D Ã

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por Patrícia Mariuzzo

Na ponta dos dedos, na ponta dos pés

Luzes apagadas, silêncio. As crian-ças mantêm os olhos fixos na pequenacaixa de papelão à frente da classe. Abrem-se as cortinas e o espetáculo começa.Entra em cena um personagem conhe-cido, o saci-pererê, negrinho de gorro ver-melho e de uma perna só. Desde setem-bro do ano passado, este e outros perso-nagens do folclore brasileiro se juntamà Branca de Neve e à Cinderela, em apre-sentações do teatro de fantoches queencanta centenas de crianças de escolasdas redes municipal e estadual deCampinas, interior de São Paulo. Trata-se do projeto “Bonecas e histórias: tecen-do a cultura brasileira”, que tem o obje-tivo de oferecer aos educadores um ins-trumento pedagógico que ajude no pro-cesso de aprendizagem dos alunos edesenvolva o gosto pela leitura. O proje-to é patrocinado pela Bosch, multinacio-nal alemã do ramo de autopeças, por meio

da Lei Rouanet. A empresa distribui umkit composto por um livro didático, umlivro de estórias e quatro conjuntos defantoches (36 bonecos), em 75 escolas deeducação infantil e fundamental.

O “Bonecas e histórias” foi idealiza-do pelo Grupo Primavera, ONG campinei-ra que mantém desde 1997 uma oficinade bonecas em sua sede. "A idéia que oPrimavera nos trouxe ano passado uti-liza a cultura para melhorar a educaçãoe incentivar a leitura. Isso vai de encon-tro aos objetivos da política social que pra-ticamos, por isso decidimos apoiar o pro-grama integralmente", conta CarlosAbdala, gerente de relações corporati-vas da multinacional e diretor adminis-trativo do Instituto Bosch. Segundo ele,os programas de responsabilidade socialem que a empresa atua têm três frentesde ação: preservação do meio ambientee saúde preventiva; educação, especial-

mente para jovens e adultos, e incenti-vo à cultura. Os fantoches representampersonagens do folclore brasileiro e doscontos de fadas. Para permitir um melhoraproveitamento do material o Grupo rea-liza oficinas de capacitação dos educa-dores, sobre técnicas de como contar his-tórias em sala de aula. Para PaulaHauptmann, responsável pela área derelações institucionais do GrupoPrimavera, a qualificação dos educado-res é peça central para obter bons resul-tados. "Nos workshops de capacitaçãoos professores aprendem como o fanto-che pode ser um poderoso recurso peda-gógico, uma ferramenta para a inserçãodos mais variados conteúdos. O projetonão oferece soluções prontas, e sim meiospara que o educador descubra formasde encantar seus alunos", diz.

O kit que as escolas recebem tem ain-da alguns bonecos inacabados para que

Crianças do projeto “Dança eCidadania” em apresentação

do espetáculo O quebranozes, de Tchaikovsky

BOSCH APOSTA NA EDUCAÇÃO E CULTURA PARA PROMOÇÃO SOCIAL

Divulgação

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Primavera investe na formação de jovensmulheres. Atualmente a ONG atende maisde 200 meninas com idade entre 11 e 17anos em projetos que vão de reforço esco-lar à capacitação profissional — váriastécnicas de bordado que são aplicadasna oficina de bonecas e treinamento paraformar recepcionistas que são encami-nhadas para grandes empresas. Todosos projetos desenvolvidos pelo Grupo sãopermeados pela noção de que a mulheré um agente de transformação social peloseu papel multiplicador, tanto na famí-lia como no trabalho.

NA PONTA DOS PÉSNa área de incentivo cultural, outro

projeto apoiado pela Bosch, em conjun-to com outras empresas, é o “Dança eCidadania”, que promove a inclusãosocial por meio da dança. Hoje 450 alu-nos têm aulas de balé clássico e sapa-teado americano em 33 escolas de bair-ros carentes de Campinas. Nas aulas sãomantidos os padrões de alta qualidadede ensino da dança; as crianças recebemuniforme, alimentação e transporte. Apartir do projeto inicial foi criada a Cia.de Dança de Campinas para abrigar osalunos mais talentosos. Para formar bai-larinos profissionais, a Cia. oferece for-mação completa: aulas diárias de dan-ça clássica e moderna, técnica teatral einglês, para 25 alunos. Lá também estãosendo treinados professores. "A idéia éter um morador dando aula em cada bair-

ro que atendemos", explica Lúcia Teixeira,diretora geral do projeto.

Um dos principais resultados de todoo trabalho é a montagem do espetáculoO quebra nozes, de Tchaikovsky. O elen-co é formado pelas crianças do "Dança eCidadania", os solistas são os bailarinosda Cia. de Dança de Campinas e a músi-ca é executada pela Orquestra SinfônicaMunicipal de Campinas, que tambémrecebe apoio da Bosch. O projeto envol-ve também os familiares em atividadesparalelas. Os pais dos alunos podem fazercursos de cenografia e iluminação de pal-co e as mães têm aulas de corte e costu-ra para ajudarem na confecção de figu-rinos dos pequenos bailarinos. Famíliasque nunca haviam entrado num teatropassam a freqüentá-lo, não só como espec-tadores, mas também como profissio-nais. "É importante a criança ter a famí-lia envolvida naquilo que ela está fazen-do; tem que ser um progresso conjunto,dentro e fora de casa", acredita Lúcia. Noano passado, o mesmo espetáculo tevecinco apresentações, todas lotadas.Segundo a professora, é um dos um dosúnicos espetáculos no mundo com acom-panhamento de orquestra e crianças nopalco. "Quando conseguimos colocar tan-ta gente fazendo balé, percebemos que ajustiça social se faz pela oportunidade.Quando as pessoas têm as mesmas opor-tunidades, conseguem levar os projetosadiante. Vence quem tem vontade e talen-to", completa Lúcia.

professores e alunos inventem seus pró-prios personagens e histórias. No finaldo ano, a melhor história ganha um com-putador. "A escola só se torna atraentepara o aluno quando os professores estãomotivados, qualificados e providos derecursos pedagógicos. É fato que essa éuma condição mais difícil de ser encon-trada na rede pública", acreditaHauptmann. Segundo ela, o projeto temtido boa recepção entre alunos e educa-dores. "Alguns depoimentos de professo-res são emocionantes, como os que rela-tam o "resgate" de alunos que já se encon-travam à margem do aprendizado", con-ta ela. A meta do projeto para este ano éampliar o programa para as creches domunicípio e para outras cidades da regiãometropolitana de Campinas.

FOCO EM JOVENS MULHERES"O ‘Bonecas e histórias’ tem forte

sinergia com a nossa oficina artesanal debonecas onde os fantoches são produzi-dos por 11 artesãs que um dia já passarampelos programas de formação doPrimavera e hoje são profissionais", expli-ca Hauptmann. Em 2006 a oficina, quefoi criada para ser uma das fontes de sus-tentabilidade da ONG, produziu 18 milfantoches para o projeto, e mais duas milbonecas e bonecos que são comerciali-zados em pontos de venda de Campinasou na sede do Grupo. Com mais de 20anos atuando numa das regiões maispobres e violentas de Campinas, o Grupo

Artesãs do Grupo Primavera confeccionam os fantoches que são distribuídos para escolas públicas de Campinas (SP) em projeto apoiado pela Bosch

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Grupo Prim

avera

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