em indicadores educacionais foco

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Indicadores Educacionais em Foco – 2012/08 (Novembro) © OCDE 2012 9 2012/09 (Novembro) 1 EM iNDICADORES eDUCACIONAIS FOCo dados da educação evidências da educação políticas da educação análises da educação estatísticas da educação Como o tamanho das turmas varia ao redor do mundo? Nas séries finais do ensino fundamental, o tamanho das turmas difere significativamente entre os países da OCDE e em outros países do G20… O tamanho da turma ainda está em primeiro plano na agenda política e educacional das escolas, distritos escolares, conselhos escolares, formuladores de políticas educacionais, pais e outros interessados. Na verdade, o tamanho da classe é um fator que pode influenciar a escolha dos pais ao optar por uma escola em detrimento de outra. A organização em turmas menores é geralmente vista como uma forma de permitir que os professores passem mais tempo com cada aluno e menos tempo organizando a turma, o que proporciona melhor ensino, adaptado às necessidades individuais dos alunos, e assegura um melhor desempenho. Nesse contexto, o tamanho da turma pode ser visto geralmente como um indicador da qualidade do sistema educacional. Nos países da OCDE que possuem dados comparáveis, o tamanho médio das turmas nas séries iniciais do ensino fundamental varia de 20 alunos ou menos, em países como Dinamarca, Estônia, Finlândia, Islândia, Luxemburgo, Eslovênia, Suíça (instituições públicas) e Reino Unido, até mais de 34 alunos, como na Coreia. O contraste é ainda maior em alguns países do G20 que forneceram dados (ex. Argentina, Brasil, China, Indonésia e Rússia); na China, por exemplo, o número de alunos por turma atinge a marca de 50 estudantes (ver Indicador D2, OCDE, 2012). Vale a pena notar que as turmas tendem a ser menores na educação primária e que o número de alunos por classe cresce o dobro ou mais entre as séries iniciais e as séries finais do ensino fundamental. Essa tendência se intensificou entre 2000 e 2010, particularmente entre os países que possuíam turmas maiores, como o Japão e a Coreia. Nos países da OCDE, o tamanho médio das turmas de ensino fundamental é de 23 alunos, mas há uma diferença significativa entre os países, variando entre mais de 32 alunos no Japão e na Coreia até 19 alunos ou menos na Estônia, Islândia, Luxemburgo, Eslovênia e Reino Unido. O tamanho das turmas, juntamente com o tempo de aula que os alunos recebem, a carga horária e o salário dos professores, representa uma das principais variáveis que os formuladores de políticas podem usar para controlar os gastos com a educação. Entre 2000 e 2009, muitos países investiram recursos adicionais para diminuir o tamanho das turmas; entretanto, isso resultou em melhor desempenho para apenas alguns poucos alunos. Reduzir o tamanho das turmas não é, por si só, política suficiente para alavancar um melhor desempenho do sistema educacional, pelo contrário, essa medida é menos eficiente do que melhorar a qualidade do ensino oferecido.

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Indicadores Educacionais em Foco – 2012/08 (Novembro) © OCDE 2012

92012/09 (Novembro)

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EM

iNDICADORES eDUCACIONAISFOCo

dados da educação evidências da educação políticas da educação análises da educação estatísticas da educação

Como o tamanho das turmas varia ao redor do mundo?

Nas séries finais do ensino fundamental, o tamanho das turmas difere significativamente entre os países da OCDE e em outros países do G20…

O tamanho da turma ainda está em primeiro plano na agenda política e educacional das escolas, distritos escolares, conselhos escolares, formuladores de políticas educacionais, pais e outros interessados. Na verdade, o tamanho da classe é um fator que pode influenciar a escolha dos pais ao optar por uma escola em detrimento de outra. A organização em turmas menores é geralmente vista como uma forma de permitir que os professores passem mais tempo com cada aluno e menos tempo organizando a turma, o que proporciona melhor ensino, adaptado às necessidades individuais dos alunos, e assegura um melhor desempenho. Nesse contexto, o tamanho da turma pode ser visto geralmente como um indicador da qualidade do sistema educacional.

Nos países da OCDE que possuem dados comparáveis, o tamanho médio das turmas nas séries iniciais do ensino fundamental varia de 20 alunos ou menos, em países como Dinamarca, Estônia, Finlândia, Islândia, Luxemburgo,

Eslovênia, Suíça (instituições públicas) e Reino Unido, até mais de 34 alunos, como na Coreia. O contraste é ainda maior em alguns países do G20 que forneceram dados (ex. Argentina,

Brasil, China, Indonésia e Rússia); na China, por exemplo, o número de alunos por turma atinge a marca de 50 estudantes (ver Indicador D2, OCDE, 2012).

Vale a pena notar que as turmas tendem a ser menores na educação primária e que o número de alunos por classe cresce o dobro ou mais entre as séries iniciais e as séries finais do ensino fundamental. Essa tendência se intensificou entre 2000 e 2010, particularmente entre os países que possuíam turmas maiores, como o Japão e a Coreia.

Nos países da OCDE, o tamanho médio das turmas de ensino fundamental é de 23 alunos, mas há uma diferença significativa entre os países, variando entre mais de 32 alunos no Japão e na Coreia até 19 alunos ou menos na Estônia, Islândia, Luxemburgo, Eslovênia e Reino Unido.

O tamanho das turmas, juntamente com o tempo de aula que os alunos recebem, a carga horária e o salário dos professores, representa uma das principais variáveis que os formuladores de políticas podem usar para controlar os gastos com a educação. Entre 2000 e 2009, muitos países investiram recursos adicionais para diminuir o tamanho das turmas; entretanto, isso resultou em melhor desempenho para apenas alguns poucos alunos.

Reduzir o tamanho das turmas não é, por si só, política suficiente para alavancar um melhor desempenho do sistema educacional, pelo contrário, essa medida é menos eficiente do que melhorar a qualidade do ensino oferecido.

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INDICADORES EDUCACIONAIS EM FOCOdados da educação evidências da educação políticas da educação análises da educação estatísticas da educação

© OCDE 2012 Indicadores Educacionais em Foco – 2012/08 (Novembro)

dados da educação evidências da educação políticas da educação análises da educação estatísticas da educação

60

50

40

30

20

10

0

Número de alunospor sala de aula

Tamanho médio das turmas nas escolas, por nível educacional (2010)

1. Ano de referência 2009, ao invés de 2010.2. Somente instituições públicas.Os países estão classi�cados em ordem decrescente do tamanho médio da classe no ensino fundamental.Fonte: OCDE. Argentina, China, Indonésia: Instituto de Estatísticas da UNESCO (World Education Indicators Programme). Tabela D2.1. Ver anexo 3 para notas (www.oecd.org/edu/eag2012)."

Ensino fundamental (séries �nais)

Educação Primária

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na

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Fr.)

Três indicadores usados no Education at a Glance: Tamanho da turma, tamanho estimado da turma e proporção aluno/professor

O tamanho da turma é calculado dividindo-se o número de alunos matriculados na escola pelo número de turmas. É necessário notar que o tamanho da classe é difícil de ser definido, quando o ensino é organizado em grupos menores que variam de tamanho de acordo com as matérias estudadas. No ensino médio, em que os alunos podem frequentar várias turmas dependendo da área temática, a medição e comparação do tamanho das turmas devem ser realizadas com muito cuidado. Portanto, esse artigo concentra-se no ensino fundamental onde os alunos são mais frequentemente agrupados na mesma sala de aula.

O tamanho estimado das turmas é uma representação utilizada para avaliar o número de estudantes para cada professor. O tamanho estimado das turmas leva em conta o número de horas dadas pelo professor e recebidas pelo aluno.

A proporção entre o número de alunos e o corpo docente (razão aluno/professor) é um indicador importante do nível de recursos empregados na educação. Ela é obtida pela divisão do número de alunos em tempo integral de um determinado nível educacional pelo número de professores em tempo integral nesse mesmo nível em instituições de ensino similares.

O tamanho estimado da turma = razão aluno/professor *(número de horas recebidas pelos alunos/número de horas dadas pelos professores).

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Indicadores Educacionais em Foco – 2012/08 (Novembro) © OCDE 2012 3

INDICADORES EDUCACIONAIS EM FOCOdados da educação evidências da educação políticas da educação análises da educação estatísticas da educação

Reduzir o tamanho das turmas e aumentar o salário dos professores foram duas das principais medidas tomadas pelos países da OCDE nas últimas décadas...

Entre os anos 2000 e 2010, o aumento do custo dos professores por aluno foi em grande parte influenciado por mudanças no salário dos professores e no tamanho estimado das turmas: nesse intervalo de tempo, o salário dos professores aumentou, em média, cerca de 14% nas séries finais do ensino fundamental, enquanto o tamanho estimado da turma diminuiu, em média, cerca de 7%.

O tamanho estimado da classe, juntamente com o salário dos professores, horas de aula recebidas pelos alunos e horas de aula dadas pelos professores, é um dos principais fatores do custo dos professores (veja a definição abaixo) e, consequentemente, da quantidade de recursos gastos com a educação. Com o intuito de controlar o orçamento, os governos têm que enfrentar vários trade-offs na tomada de decisões e podem associar essas variáveis de diferentes formas, o que explica porque os dados da OCDE não estabelecem uma relação significativa entre o gasto por aluno e o resultado médio da aprendizagem nos países. Entre os vários fatores mencionados acima, o tamanho estimado da turma é considerado o segundo fator que mais influencia o custo dos professores por aluno, depois do salário (ver Indicador B7, OCDE, 2012).

O custo dos professores por aluno é calculado com base nos salários dos professores, no número de horas-aula recebidas pelos alunos, no número de horas-aula dadas pelos professores e no tamanho estimado da turma.

40

30

20

10

0

Tamanho estimado da classe

Mudanças do tamanho estimado da classe no ensino fundamental entre 2000 e 2010.

Obs.: Os valores entre parênteses perto dos nomes dos países correspondem à variação (em porcentagem) entre 2000 e 2010 no tamanho da turma.Os países estão classi�cados em ordem decrescente de variação do tamanho estimado da turma no ensino fundamental, entre 2000 e 2010.Fonte: OCDE. Tabela B7.1b. Ver anexo 3 para notas (ww.oecd.org/edu/eag2012).

20002010

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1%)

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8%)

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9%)

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,4%

)

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(4,6

%)

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(6,2

%)

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ia (9

%)

A diferença entre as instituições públicas e privadas não confirma a crença comum de que escolas particulares possuem turmas menores. Em média nos países da OCDE, há no máximo um aluno a mais por classe nas escolas públicas, se comparado com as instituições privadas, no ensino fundamental. No entanto, a disponibilidade de recursos pedagógicos para os alunos (medida pela proporção entre o número de alunos por professor, ver Box 1) é levemente mais favorável em instituições privadas do que em intituições públicas. Isso é particularmente notável no México, por exemplo, onde há cerca de 17 alunos a mais por professor na escola pública, se comparada com a escola privada no nível fundamental.

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© OCDE 2012 Indicadores Educacionais em Foco – 2012/08 (Novembro)

A qualidade da tradução para o Português e sua fidelidade ao texto original são de responsabilidade do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – Inep, Brasil. Disponível em: www.inep.gov.br.

Em um período de crise econômica e achatamento do orçamento público, enquanto análises dos dados da OCDE não estabelecem uma relação significativa entre gasto por aluno e resultado médio da aprendizagem, os dados do PISA mostram que um maior desempenho do sistema educacional está comumente relacionado à priorização da qualidade dos professores ao invés de ao tamanho das turmas.

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INDICADORES EDUCACIONAIS EM FOCOdados da educação evidências da educação políticas da educação análises da educação estatísticas da educação

Nos últimos anos, inúmeros fatores desencadearam uma redução no tamanho das turmas em muito países da OCDE. Em alguns casos, isso foi resultado das mudanças demográficas e da diminuição do número de alunos, enquanto, em outros casos, variáveis geográficas estavam em jogo. Também houve uma pressão pública geral que partiu dos pais para diminuir o tamanho das classes. Entretanto, evidências da Pesquisa Internacional sobre Pesquisa e Aprendizagem (TALIS) mostraram que, independentemente do tamanho da turma, a falta de professores qualificados é uma grande preocupação em muitos países. Assim, em alguns países com turmas de tamanho abaixo da média (22 alunos), como Áustria, Estônia e Itália, uma porcentagem significante de professores trabalham em escolas onde foi relatado que a falta de professores qualificados prejudica o ensino (ver quadro 2.5, OCDE, 2009).

Além do mais, entre os países com classes de tamanho acima da média (ver quadro 2.4, OCDE, 2009), uma quantidade de diretores de escolas acima da média consideram que a falta de professores qualificados prejudica o ensino, principalmente no México (64%) e na Turquia (78%). Em contrapartida, na Coreia, outro país com classes de tamanho acima da média, apenas 19% dos professores trabalhavam em escolas cujo diretor informou que a falta de professores qualificados prejudica o ensino, uma das mais baixas porcentagens entre os países que participaram da TALIS.

Dessa forma, reduzir o tamanho das turmas não é suficiente para garantir melhorias na qualidade do sistema educacional. Mas qual o impacto no desempenho dos alunos?

Além de otimizar os recursos públicos, reduzir o tamanho das turmas para aumentar o sucesso dos alunos é uma abordagem que vem sendo testada, debatida e analisada há várias décadas. O tamanho da classe pode afetar o quanto de tempo e de atenção um professor pode dar aos alunos individualmente, assim como o entrosamento entre os estudantes.

Entretanto, o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) indica que os sistemas que priorizam o salário dos professores, ao invés de turmas menores, tendem a ter um melhor desempenho, o que confirma a pesquisa que mostra que aumentar o salário dos professores é uma medida mais efetiva para melhorar os resultados dos alunos. Os exemplos do Japão e da Coreia são contundentes: esses dois sistemas educacionais, que mostram nível de gastos relativamente elevados pelas instituições de ensino, tendem a priorizar o salário dos professores e não o tamanho das turmas. Os dois países possuem um desempenho no PISA acima da média (ver Figura IV.3.7, OECD, 2010).

… e parece que aumentar a qualidade do ensino é, na maioria das vezes, uma medida política mais eficaz do que reduzir o tamanho da classe.

Para concluir:

Visite:www.oecd.org/edu

Veja:OCDE (2009), Creating Effective Teaching and Learning environments: First Results from TALIS, Publicação da OCDE.OCDE (2010), Resultados do PISA 2009. O que faz uma escola bem-sucedida? Recursos, Políticas e Práticas (Volume IV), PISA, Publicação da OCDE. OCDE (2012), Education at a Glance 2012: Indicadores da OCDE, Publicação da OCDE. OCDE (2012), Education at a Glance 2012: Indicadores da OCDE, Publicação da OCDE.

Para mais informações, contate:Elisabeth Villoutreix ([email protected])

Próximo mês:Quais são os benefícios sociais da aprendizagem?

Photo credit: © Ghislain & Marie David de Lossy/Cultura /Getty Images