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10 2013/01 (Janeiro) 1 Indicadores Educacionais em Foco – 2013/01 (Janeiro) © OCDE 2013 EM iNDICADORES eDUCACIONAIS FOCo dados da educação evidências da educação políticas da educação análises da educação estatísticas da educação Quais são os benefícios sociais da aprendizagem? A educação traz amplos benefícios à sociedade. Por exemplo, a educação permite prever a longevidade… Qual é o objetivo final da educação? Os primeiros filósofos, como Aristóteles e Platão, destacaram que a educação era fundamental para a plena realização dos indivíduos e para o bem-estar da sociedade em que vivem. Nas últimas décadas, pesquisas têm legitimado essa sabedoria tradicional, revelando que a educação não apenas capacita as pessoas para o mercado de trabalho, mas também melhora sua saúde em geral, forma cidadãos mais atuantes e contém a violência. Esse artigo apresenta evidências sobre a relação entre a educação e os resultados sociais, incluindo saúde, comprometimento cívico e bem-estar, em vários países da OCDE. A expectativa de vida reflete uma longa trajetória de circunstâncias socioeconômicas das pessoas que afetam suas condições de saúde e outros riscos de mortalidade. Nos países da OCDE, a expectativa de vida, em média, chegou aos 80 anos em 2010. As mulheres vivem quase seis anos a mais que os homens, uma média de 83 anos contra 77 anos dos homens. Os dados mostram que a expectativa de vida está fortemente associada à educação. Em média, entre os 15 países da OCDE com dados disponíveis, um homem de 30 anos com ensino superior pode esperar viver oito anos a mais que um homem de 30 anos que não completou o ensino médio. Entre os homens, nos países da Europa Central, há grandes diferenças na expectativa de vida por nível educacional. Na República Tcheca, um homem de 30 anos de idade com ensino superior pode esperar viver 17 anos a mais do que um homem da mesma idade que não completou o ensino médio. Nos 15 países da OCDE analisados, diferenças na expectativa de vida por nível educacional são geralmente muito menores entre as mulheres. Em média, uma mulher com formação superior pode esperar viver quatro anos a mais que uma mulher sem o nível médio. Evidências colhidas nos Estados Unidos e na Europa sugerem que tais associações refletem efeitos causais. Por exemplo, Llras-Muney (2005) mostra que um ano a mais de escolaridade aumenta a expectativa de vida de uma pessoa de 35 anos em aproximadamente 1,7 anos. Em média, em 15 países da OCDE, um homem de 30 anos com ensino superior pode ter uma expectativa de viver mais 51 anos, enquanto um homem da mesma idade que não completou o ensino médio pode esperar viver mais 43 anos. Uma comparação similar feita entre mulheres que estavam nos dois grupos educacionais mostrou uma diferença menor do que entre os homens. Em 27 países da OCDE, há, em média, 80% de probabilidade de um jovem com ensino superior votar, enquanto a probabilidade de um jovem que não completou o ensino médio votar é de apenas 54%. Essa diferença nas taxas de votação de acordo com o nível educacional é bem menor entre pessoas mais velhas. A educação pode trazer benefícios significativos à sociedade, não apenas por meio de maiores oportunidades de trabalho e de salário, mas também pelo aprimoramento de habilidades, melhorias na condição social e acesso a redes. Ao reconhecer o poder da educação, os formuladores de políticas podem lidar melhor com a diversidade dos desafios sociais.

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102013/01 (Janeiro)

1Indicadores Educacionais em Foco – 2013/01 (Janeiro) © OCDE 2013

EM

iNDICADORES eDUCACIONAISFOCo

dados da educação evidências da educação políticas da educação análises da educação estatísticas da educação

Quais são os benefícios sociais da aprendizagem?

A educação traz amplos benefícios à sociedade.

Por exemplo, a educação permite prever a longevidade…

Qual é o objetivo final da educação? Os primeiros filósofos, como Aristóteles e Platão, destacaram que a educação era fundamental para a plena realização dos indivíduos e para o bem-estar da sociedade em que vivem. Nas últimas décadas, pesquisas têm legitimado essa sabedoria tradicional, revelando que a educação não apenas capacita as pessoas para o mercado de trabalho, mas também melhora sua saúde em geral, forma cidadãos mais atuantes e contém a violência. Esse artigo apresenta evidências sobre a relação entre a educação e os resultados sociais, incluindo saúde, comprometimento cívico e bem-estar, em vários países da OCDE.

A expectativa de vida reflete uma longa trajetória de circunstâncias socioeconômicas das pessoas que afetam suas condições de saúde e outros riscos de mortalidade. Nos países da OCDE, a expectativa de vida, em média, chegou aos 80 anos em 2010. As mulheres vivem quase seis anos a mais que os homens, uma média de 83 anos contra 77 anos dos homens.

Os dados mostram que a expectativa de vida está fortemente associada à educação. Em média, entre os 15 países da OCDE com dados disponíveis, um homem de 30 anos com ensino superior pode esperar viver oito anos a mais que um homem de 30 anos que não completou o ensino médio. Entre os homens, nos países da Europa Central, há grandes diferenças na expectativa de vida por nível educacional. Na República Tcheca, um homem de 30 anos de idade com ensino superior pode esperar viver 17 anos a mais do que um homem da mesma idade que não completou o ensino médio. Nos 15 países da OCDE analisados, diferenças na expectativa de vida por nível educacional são geralmente muito menores entre as mulheres. Em média, uma mulher com formação superior pode esperar viver quatro anos a mais que uma mulher sem o nível médio.

Evidências colhidas nos Estados Unidos e na Europa sugerem que tais associações refletem efeitos causais. Por exemplo, Llras-Muney (2005) mostra que um ano a mais de escolaridade aumenta a expectativa de vida de uma pessoa de 35 anos em aproximadamente 1,7 anos.

Em média, em 15 países da OCDE, um homem de 30 anos com ensino superior pode ter uma expectativa de viver mais 51 anos, enquanto um homem da mesma idade que não completou o ensino médio pode esperar viver mais 43 anos. Uma comparação similar feita entre mulheres que estavam nos dois grupos educacionais mostrou uma diferença menor do que entre os homens.

Em 27 países da OCDE, há, em média, 80% de probabilidade de um jovem com ensino superior votar, enquanto a probabilidade de um jovem que não completou o ensino médio votar é de apenas 54%. Essa diferença nas taxas de votação de acordo com o nível educacional é bem menor entre pessoas mais velhas.

A educação pode trazer benefícios significativos à sociedade, não apenas por meio de maiores oportunidades de trabalho e de salário, mas também pelo aprimoramento de habilidades, melhorias na condição social e acesso a redes. Ao reconhecer o poder da educação, os formuladores de políticas podem lidar melhor com a diversidade dos desafios sociais.

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© OCDE 2013 Indicadores Educacionais em Foco – 2013/01 (Janeiro) 2

dados da educação evidências da educação políticas da educação análises da educação estatísticas da educação

INDICADORES EDUCACIONAIS EM FOCO

…e, além do mais, a educação pressupõe bem-estar.

…a educação também deixa antever o comprometimento cívico…Uma sociedade coesa pode ser encontrada em países onde os cidadãos se engajam de forma ativa nas atividades cívicas, confiam uns nos outros e acreditam no funcionamento das instituições públicas.

Os dados mostram que adultos que alcançaram níveis mais altos de escolaridade são geralmente mais propensos do que aqueles que atingiram um nível de escolaridade mais baixo a apresentar maior comprometimento cívico, em termos de votação, de trabalho voluntário, de interesse político e de confiança interpessoal. Em média, entre os

25 países da OCDE com dados disponíveis, a diferença na taxa de votação entre adultos com alto e baixo nível de escolaridade é de 15 pontos percentuais. Essa diferença cresce consideravelmente, para uma porcentagem

de 27 pontos, entre adultos mais jovens (25-34 anos de idade). Para jovens adultos na Alemanha, o valor correspondente ultrapassa os 50 pontos percentuais.

Há também alguns estudos sugerindo que tais associações refletem efeitos causais da educação. Por exemplo, Milligan et al. (2004) sugere que o impacto da formação de nível médio na probabilidade de votar é por volta de 29 a 34 pontos percentuais.

Indicadores como satisfação de vida, felicidade e depressão também se tornaram referências importantes para avaliar até que ponto as políticas governamentais impactam no bem-estar das pessoas, além do que

pode ser identificado meramente através de medidas econômicas (ver também OCDE 2011).

Adultos que alcançaram níveis mais altos de formação possuem maior propensão a ter mais satisfação com a vida do que aqueles com menor formação educacional. Em média, a diferença na satisfação com a vida entre

Mulheres

18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 181614121086420Anos Anos

República TchecaEstoniaHungriaPolônia

Eslovênia¹EUA4

Média OCDE6

Irlanda3

NoruegaFinlândia

DinamarcaCanadáItália2

Holanda5

SuéciaPortugal

Nota: As �guras descrevem as diferenças de expectativa de vida aos 30 anos de idade, entre os diferentes níveis de educação. 1. Ano de referência: 2009. 2. Ano de referência: 2008. 3. Ano de referência: 2006. 4. Ano de referência: 2005. 5. Ano de referência: 2007-2010.

Os países estão classi�cados em ordem decrescente de diferença em expectativa de vida entre homens na idade de 30 anos.Fonte: OCDE. Education at a Glance 2012. Tabela A11.1. Veja Anexo 3 para notas (www.oecd.org/edu/eag2012).Statlink

Diferenças de expectativa de vida entre indivíduos de 30 anos de idade com alta e baixa escolaridade (2010)Diferenças de expectativa de vida entre aqueles com "educação superior

ou acima" e "educação abaixo do nível médio" aos 30 anos de idade, por gênero

Homens

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3Indicadores Educacionais em Foco – 2013/01 (Janeiro) © OCDE 2013

dados da educação evidências da educação políticas da educação análises da educação estatísticas da educação

INDICADORES EDUCACIONAIS EM FOCO

Os países estão classi�cados em ordem decrescente da proporção de adultos com idade entre 25 a 34 anos que declararam participação eleitoral.Fonte: OCDE. Education at a Glance 2012. Tabela A11.2. Veja Anexo 3 para notas (www.oecd.org/edu/eag2012).Statlink

Pontos Percentuais

Diferenças de votação de adultos com níveis de escolaridade altos e baixos (2008 e 2010)Diferenças na probabilidade de votar entre indivíduos com "educação superior" e com "educação inferior

ao ensino médio", considerando adultos mais jovens (25-34 anos) e mais velhos (54- 64 anos)

0 5 201510 50 55454035300520 15 1050Pontos Percentuais

55 45 40 35 30 25 25

Diferenças de votação entre adultos mais jovens com níveis de escolaridade altos e baixos

(25-34 anos de idade)

Diferenças de votação entre adultos mais velhos com níveis de escolaridade altos e baixos

(55-64 anos de idade)

EUAAlemanha

ÁustriaRepública Tcheca

FrançaSuíça

FinlândiaPolôniaEstônia

Reino UnidoSuécia

HolandaEslovêniaNoruegaCanadá

Média OCDEDinamarca

BélgicaPortugalRússiaIsrael

EslováquiaHungriaEspanha

BrasilTurquiaIrlandaGrécia

adultos com alta e baixa formação educacional é de 18 pontos percentuais. Os países nórdicos tendem a apresentar uma lacuna menor em comparação com os países da Europa Central. Isso pode ser um reflexo das diferenças regionais e de sistemas de bem-estar social que podem afetar o bem-estar da população menos favorecida.

Sabe-se que a educação afeta as medidas de bem-estar econômico (ex. renda e emprego) e de saúde. Há também algumas evidências que sugerem efeitos causais da educação na sensação individual de bem-estar. Por exemplo, Chevalier e Feinstein (2007) estimaram que ter uma formação secundária, no Reino Unido, reduz o risco de depressão (não clínica) em pessoas adultas em 5 a 7 pontos percentuais.

É importante notar que educação e competências não geram necessariamente melhores resultados sociais. Alguns estudos têm mostrado que quanto maior o nível de formação maior a probabilidade de um adulto se envolver em comportamentos abusivos, como o consumo excessivo de álcool.

Uma das formas pelas quais a educação ajuda as pessoas a obterem melhores condições sociais é melhorando sua renda. Os dados geralmente evidenciam os efeitos da educação sobre a renda, nos resultados sociais. Entretanto, os efeitos da educação na condição social geralmente permanecem mesmo depois de contabilizados os efeitos na renda. Assim, a educação pode ajudar as pessoas a

Por que a educação é importante?

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Referências:Chevalier, A. and L. Feinstein (2007), “Sheepskin or Prozac: The Causal Effect of Education on Mental Health”, IZA Discussion paper 2231.Lleras-Muney, A. (2005), “The Relationship between Education and Adult Mortality in the United States”, Review of Economic Studies, Vol. 72, pp. 189-221.Milligan, K., E. Moretti and P. Oreopoulos (2004), “Does Education Improve Citizenship? Evidence from the United States and the United Kingdom”, Journal of Public Economics, Vol. 88, pp. 1667-1695. OCDE (2010), Improving Health and Social Cohesion through Education, Publicação da OCDE.OCDE (2011), How’s Life, Publicação da OCDE.

OCDE (2012), Education at a Glance 2012: OECD Indicators, Publicação da OCDE.

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dados da educação evidências da educação políticas da educação análises da educação estatísticas da educação

INDICADORES EDUCACIONAIS EM FOCO

Para concluir:

desenvolverem habilidades, melhorarem sua condição social e acessarem redes que podem levar à melhoria dos resultados sociais, independentemente do efeito da educação sobre os rendimentos (OCDE, 2010).

Os países tendem a investir pouco em educação se a alocação orçamentária for feita sem levar em conta a magnitude e a diversidade dos benefícios que a educação pode trazer para a sociedade. Além disso, as políticas educacionais podem fazer parte das políticas sociais destinadas à saúde, à coesão social e ao combate à violência. É necessário levar em conta as abordagens educacionais na superação dos desafios sociais, ao se avaliar a relação custo-benefício dessas políticas.

Proporção de adultos satisfeitos com a vida, por nível educacional (2008)

100908070605040302010

0

%Ensino médio Educação inferior ao ensino médioEducação superior

1. Ano de referência: 2009.Os países estão classi�cados em ordem decrescente da proporção de adultos com idade entre 25 e 64 anos que relatam satisfação na vida, dentre aqueles que completaram o ensino médio.Fonte: OCDE. Tabela A11.1. Veja Anexo 3 para notas (www.oecd.org/edu/eag2011).

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Turq

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ça

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ia

Esto

nia

Rús

sia

Hun

gria

Próximo mês: Como educação e cuidados para a primeira infância (ECEC) variam em termos de políticas, sistemas e qualidade entre os países da OCDE?

Para mais informações, contate:Koji Miyamoto ([email protected])

Veja:O Education at a Glance 2012: Indicadores da OCDE

Better Life Index, OCDE, http://www.oecdbetterlifeindex.org

Visite:www.oecd.org/edu

A qualidade da tradução para o Português e sua fidelidade ao texto original são de responsabilidade do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – Inep, Brasil. Disponível em: www.inep.gov.br.

A educação tem o potencial de trazer benefícios significativos aos indivíduos e à sociedade, que vão muito além de sua contribuição para a empregabilidade ou a renda das pessoas. As competências são importantes canais por meio dos quais o poder da educação se manifesta em uma variedade de ambientes sociais. Os formuladores de políticas devem levar isso em conta ao alocar recursos em diferentes setores da política social, bem como na educação.

Photo credit: © Ghislain & Marie David de Lossy/Cultura /Getty Images