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4 04/2012 (Abril) 1 1 Indicadores Educacionais em Foco – 04/2012 (Abril) © OCDE 2012 EM Indicadores Educacionais FOCO dados da educação evidências da educação políticas da educação análises da educação estatísticas da educação Como está a desigualdade de renda pelo mundo – e como a educação pode reduzi-la? A desigualdade de renda aumentou na maioria dos países da OCDE nos últimos anos. Uma desigualdade elevada pode limitar as perspectivas das futuras gerações. A desigualdade de renda não é somente uma preocupação para o presente: pode afetar também as perspectivas de renda no futuro. Pesquisas da OCDE mostram que o nível de desigualdade de renda em um país está ligado ao nível de ganhos de mobilidade intergeracional. Independentemente de se ter um nível de desigualdade de renda alto ou baixo em determinado país, as habilidades individuais são um fator chave para determinar a obtenção de um bom emprego e subir na escala de renda. Em países com alto nível de desigualdade de renda, como a Itália, o Reino Unido e os Estados Unidos, a situação econômica futura de uma criança é diretamente relacionada com o nível de renda dos pais. Isso sugere que o meio socioeconômico tem um papel importante no desenvolvimento de habilidades e competências nas crianças desses países. Por outro lado, em países com nível de desigualdade de renda menor – como a Dinamarca, a Finlândia e a Noruega – a renda que um indivíduo terá quando adulto não está fortemente relacionada à renda da sua família quando Recentemente, as transformações do mercado de trabalho e a crise econômica colocaram o tema da desigualdade de renda no centro do debate – e com razão. Na maioria dos países da OCDE, a diferença de renda entre os ricos e os pobres aumentou nas últimas três décadas. Antes do início da crise, a renda dos 10% mais ricos da população era mais ou menos nove vezes a renda dos 10% mais pobres, em média entre os países do OCDE. Mesmo em países como a Alemanha, Dinamarca e Suécia, onde a desigualdade de renda tem sido historicamente menos pronunciada, a taxa de ganhos dos mais ricos comparada à dos mais pobres era 5 para 1 nos anos oitenta e cresceu a mais de 6 para 1 atualmente. Essa taxa é 10 para 1 na Itália, no Japão, na Coreia e no Reino Unido; 14 para 1 em Israel, Turquia e nos Estados Unidos; e mais de 25 para 1 no México e no Chile (apesar de a desigualdade de renda ter diminuído nesses dois países). Entre os países da OCDE, a renda média dos 10% mais ricos da população ficava em torno de nove vezes a renda dos 10% mais pobres antes da crise econômica global. Altos níveis de desigualdade de renda são associados a baixos níveis de ganhos de mobilidade entre gerações em diversos países. Políticas educacionais que promovem equidade e apoiam alunos desfavorecidos socioeconomicamente, a fim de obter melhores resultados acadêmicos, ajudam a reduzir a desigualdade de renda no futuro. Quatro dos países com melhor desempenho no PISA2009 – Canadá, Finlândia, Japão e Coreia – enfatizam a questão da equidade nos seus sistemas de ensino.

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404/2012 (Abril)

11Indicadores Educacionais em Foco – 04/2012 (Abril) © OCDE 2012

EM

Indicadores Educacionais FOCO

dados da educação evidências da educação políticas da educação análises da educação estatísticas da educação

Como está a desigualdade de renda pelo mundo – e como a educação pode reduzi-la?

A desigualdade de renda aumentou na maioria dos países da OCDE nos últimos anos.

Uma desigualdade elevada pode limitar as perspectivas das futuras gerações.A desigualdade de renda não é somente uma preocupação para o presente: pode afetar também as perspectivas de renda no futuro. Pesquisas da OCDE mostram que o nível de desigualdade de renda em um país está ligado ao nível de ganhos de mobilidade intergeracional.

Independentemente de se ter um nível de desigualdade de renda alto ou baixo em determinado país, as habilidades individuais são um fator chave para determinar a obtenção de um bom emprego e subir na escala de renda. Em países com alto nível de desigualdade de renda, como a Itália, o Reino Unido e os Estados Unidos, a situação econômica futura de uma criança é diretamente relacionada com o nível de renda dos pais. Isso sugere que o meio socioeconômico tem um papel importante no desenvolvimento de habilidades e competências nas crianças desses países.

Por outro lado, em países com nível de desigualdade de renda menor – como a Dinamarca, a Finlândia e a Noruega – a renda que um indivíduo terá quando adulto não está fortemente relacionada à renda da sua família quando

Recentemente, as transformações do mercado de trabalho e a crise econômica colocaram o tema da desigualdade de renda no centro do debate – e com razão. Na maioria dos países da OCDE, a diferença

de renda entre os ricos e os pobres aumentou nas últimas três décadas.

Antes do início da crise, a renda dos 10% mais ricos da população era mais ou menos nove vezes a renda dos 10% mais pobres, em média entre os países do OCDE. Mesmo em países como a Alemanha, Dinamarca e Suécia, onde a desigualdade de renda tem sido historicamente menos pronunciada, a taxa de ganhos dos mais ricos comparada à dos mais pobres era 5 para 1 nos anos oitenta e cresceu

a mais de 6 para 1 atualmente. Essa taxa é 10 para 1 na Itália, no Japão, na Coreia e no Reino Unido; 14 para 1 em Israel, Turquia e nos Estados Unidos; e mais de 25 para 1 no México e no Chile (apesar de

a desigualdade de renda ter diminuído nesses dois países).

Entre os países da OCDE, a renda média dos 10% mais ricos da população fi cava em torno de nove vezes a renda dos 10% mais pobres antes da crise econômica global.

Altos níveis de desigualdade de renda são associados a baixos níveis de ganhos de mobilidade entre gerações em diversos países.

Políticas educacionais que promovem equidade e apoiam alunos desfavorecidos socioeconomicamente, a fi m de obter melhores resultados acadêmicos, ajudam a reduzir a desigualdade de renda no futuro.

Quatro dos países com melhor desempenho no PISA2009 – Canadá, Finlândia, Japão e Coreia – enfatizam a questão da equidade nos seus sistemas de ensino.

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© OCDE 2012 Indicadores Educacionais em Foco – 04/2012 (Abril) 22

INDICADORES EDUCACIONAIS EM FOCOdados da educação evidências da educação políticas da educação análises da educação estatísticas da educação

Políticas educacionais baseadas na promoção da equidade podem ser uma ferramenta chave para reduzir a desigualdade de renda no futuro.

Alguns países já vislumbram a promessa de políticas focadas na equidade.

A desigualdade de renda é um problema complexo que demanda soluções políticas multifacetadas. No entanto, as políticas educacionais – particularmente as focadas em equidade – podem estar entre as alavancas mais poderosas de que os países dispõem para reduzi-la no futuro. Pesquisas da OCDE mostram que uma distribuição mais equitativa de oportunidades educacionais resulta em uma distribuição mais equitativa de renda proveniente do trabalho nos países. É claro que indivíduos com níveis mais elevados de educação têm vantagens competitivas no mercado de trabalho, em períodos econômicos bons e ruins. Além disso, políticas educacionais que priorizam a equidade – e que ajudam igualmente os alunos desfavorecidos e os mais favorecidos a alcançarem bons desempenhos acadêmicos, prosseguirem em níveis mais altos de educação e, eventualmente, conseguirem bons empregos – podem fomentar grandes ganhos de mobilidade intergeracional e reduzir a desigualdade de renda ao longo do tempo.

Na verdade, os resultados da avaliação do PISA indicam o potencial desse enfoque. Na avaliação de leitura do PISA 2009, por exemplo, Canadá, Finlândia, Japão e Coreia obtiveram os melhores desempenhos. Eles tiveram alta proporção de alunos com desempenho situado nos níveis mais elevados de proficiência, e relativamente poucos alunos nos níveis mais baixos.

Como ler esse gráficoO gráfico mostra a relação entre ganhos de mobilidade entre gerações de uma família, e a desigualdade de renda em diferentes países. Além disso, países com alto nível de desigualdade de renda tendem a ter ganhos de mobilidade intergeracional mais baixos, enquanto países com niveis de desigualdade de renda mais baixos tendem a ter ganhos de mobilidade mais altos.

criança, sugerindo que fatores socioeconômicos têm menor influência no desenvolvimento de habilidades e competências na criança. Isso implica que políticas que promovam oportunidades iguais para o desenvolvimento das habilidades individuais, independentemente de contexto socioeconômico, podem promover ganhos de mobilidade intergeracional e, em contrapartida, ajudar a reduzir a desigualdade de renda a longo prazo.

40

35

30

25

20

45 50 55 60 65 70 75 80 85 90

Desigualdade de renda (%)

Ganho de mobilidade Intergenerational (%)

Relação entre ganhos de mobilidade e desigualdade de renda

Fonte: Growing Unequal? Income Distribution and Poverty in OECD Countries and Anna d’Addio, “Mobilidade Social nos Países da OCDE: Evidências e Implicações Políticas” (www.oecd.org/els/social/inequality/GU).

Canadá Japão

Suécia

Espanha

França

Itália

Noruega

Finlândia

Austrália

Coreia

Dinamarca

Suiça

ReinoUnido

Estados Unidos

Nova Zelândia

Alemanha

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33Indicadores Educacionais em Foco – 04/2012 (Abril) © OCDE 2012

dados da educação evidências da educação políticas da educação análises da educação estatísticas da educação

INDICADORES EDUCACIONAIS EM FOCO

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Percentual de alunos resilientes

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Percentual de alunos desfavorecidos que são “resilientes”

Nota: Um aluno é considerado resiliente se estiver no quartil mais baixo do índice de status econômico, social e cultural do PISA no país avaliado e obtiver desempenho no quartil mais alto, considerando alunos de todos os países, após considerar o contexto socioeconômico.Fonte: Education at a Glance 2011: Indicadores da OCDE, Indicador A5 (www.oecd.org/edu/eag2011).

média OCDE = 31

550

500

450

400

Média

Percentual de variação no desempenho /explicado pelo índice de status econômico, social e cultural

informado no PISA (r-ao quadrado x 100)

Impacto do contexto socioeconômico dos alunos no desempenho do PISA 2009

30 25 20 15 10 5 0

Islândia

média OCDE

méd

ia O

CDE

Fonte: Education at a Glance 2011: Indicadores da OCDE, Indicador A5 (www.oecd.org/edu/eag2011).

Força nas relações entre desempenho e o contexto socioeconômico:

impacto abaixo da média OCDE

impacto sem diferenças estatíticas signi�cantes para a média OCDE

impacto acima da mádia OCDE

Bélgica

LuxemburgoTurquia

Hungria

Chile

Nova Zelândia

Holanda

Suiça

Reino Unido

Dinamarca

Suécia

Israel Áustria

Portugal

Espanha

México

GréciaEslováquia

Irlanda

Estados Unidos

França Austrália Japan

Itália

Noruega

FinlândiaCanadá

Coreia

Estônia

Desempenho em leitura acima da média /Impacto do contexto socioeconômico acima da média

Desempenho em leitura abaixo da média /Impacto do contexto socioeconômico acima da média

Desempenho em leitura acima da média /Impacto do contexto

socioeconômico abaixo da média

Desempenho em leitura abaixo da média /Impacto do contexto

socioeconômico abaixo da média

Eslovênia

Alemanha

Polônia

República Tcheca

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*A qualidade da tradução para o Português e sua fidelidade ao texto original são de responsabilidade do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - Inep, Brasil.

© OECD 2012 Indicadores Educacionais em Foco – 04/2012 (Abril)4

INDICADORES EDUCACIONAIS EM FOCOdados da educação evidências da educação políticas da educação análises da educação estatísticas da educação

Próximo número:De que forma está mudando o conjunto de talentos globais?

Para mais informações, entre em contato com:Ji Eun Chung ([email protected])

Veja:Education at a Glance 2011: OECD IndicatorsContinuamos divididos: por que a inequidade continua crescendo

Visite:www.oecd.org/edu

Para concluir:

Esses países também têm algo mais em comum: sistemas educacionais com forte ênfase na equidade. Do ponto de vista político, eles se esforçam para prover uma educação de qualidade para todos os alunos e para minimizar

as variações de desempenho das escolas por meio de uma distribuição de recursos e de oportunidades equitativa. No Japão e na Coreia, por exemplo, os professores e diretores são frequentemente

realocados em diferentes escolas para fomentar uma distribuição equitativa dos professores e diretores mais preparados. Na Finlândia, a profissão de professor é uma ocupação muito seletiva, com professores altamente competentes e bem treinados distribuídos por todo o país. As escolas finlandesas também oferecem professores especialmente formados para dar apoio aos alunos com dificuldades de aprendizado e risco de abandono escolar. No Canadá, os sistemas escolares trabalham para assegurar que escolas com alta proporção de alunos imigrantes tenham taxas equitativas de alunos por professor e de recursos educacionais, em comparação com outras escolas.

Em direção a uma estratégia de competências...Enquanto promover resultados educacionais equitativos é uma importante estratégia de longo

prazo para combater a desigualdade, os indivíduos precisam também de ajuda para a aquisição de competências necessárias para alcançar sucesso na competitividade global, na economia do

conhecimento. Os países necessitam de enfoques consistentes para produzir mais competências, para lidar com o envelhecimento da sociedade e com competências em declínio, para priorizar investimentos em recursos

escassos, e para lidar com oferta e demanda no mercado das competências. A OCDE está apoiando os esforços dos países para tratar dessas questões – e outras mais – por meio do lançamento do programa “Estratégia de Competências”, em maio de 2012.

Eles também apresentaram proporções de alunos “resilientes” acima da média – isto é, alunos com desempenho acima do previsto em função do seu ambiente socioeconômico. Em cada um desses países, a força da relação entre o desempenho dos alunos e suas condições socioeconômicas ficou abaixo da média da OCDE.

Em uma era de crescente desigualdade, políticas educacionais com foco na equidade podem ser uma maneira efetiva de aumentar a mobilidade entre gerações e reduzir as disparidades de renda no futuro.

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Photo credit: © Ghislain & Marie David de Lossy/Cultura /Getty Images