gestão democrática escolar, o sucesso escolar e os indicadores educacionais

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Dissertação de Mestrado em Ciências da Educação

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UNIVERSIDAD SAN LORENZO FACULTAD DE EDUCACIN Y HUMANIDADES

Maestra en Ciencias de la Educacin Tema: GESTO ESCOLAR DEMOCRTICA, O SUCESSO ESCOLAR E OS INDICADORES EDUCACIONAIS: O CASO DAS ESCOLAS PBLICAS ESTADUAIS EM MORADA NOVA, CEAR, BRASIL Autor: Tom e Silva Tutor: Lucidalva Pereira Bacelar

San Lorenzo Paraguay 2011

GESTO ESCOLAR DEMOCRTICA, O SUCESSO ESCOLAR E OS INDICADORES EDUCACIONAIS: O CASO DAS ESCOLAS PBLICAS ESTADUAIS EM MORADA NOVA, CEAR, BRASIL

Asuncin Paraguay 2011

I

TOM E SILVA

GESTO ESCOLAR DEMOCRTIVA, O SUCESSO ESCOLAR E OS INDICADORES EDUCACIONAIS: O CASO DAS ESCOLAS PBLICAS ESTADUAIS EM MORADA NOVA, CEAR, BRASIL

Dissertao apresentada a Universidad San Lorenzo, como parte dos requisitos para obteno do ttulo de mestre em Cincias da Educao.

rea de Concentrao: Poltica Educacional, Formao e Cultura Docente

Orientadora: Profa. Ms. Lucidalva Pereira Bacelar

Asuncin Paraguay 2011

II

UNIVERSIDADE SAN LORENZO FACULTADUniversidad San Lorenzo DE EDUCACION Y HUMANIDADES Mestrado em Cincias da Educao

Dissertao intitulada Gesto Escolar democrtica, o sucesso escolar e os indicadores educacionais: o caso das escolas pblicas estaduais em Morada Nova, Cear, Brasil, de autoria do mestrando Tom e Silva, aprovada pela Banca Examinadora constituda pelos seguintes professores:

III

Dedico Ana Clara

"Se fosse ensinar a uma criana a beleza da msica no comearia com partituras, notas e pautas. Ouviramos juntos as melodias mais gostosas e lhe contaria sobre os instrumentos que fazem a msica. A, encantada com a beleza da msica, ela mesma me pediria que lhe ensinasse o mistrio daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas. Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas so apenas ferramentas para a produo da beleza musical. A experincia da beleza tem de vir antes".

Rubem Alves

IV

AGRADECIMENTOS

Professora Mestra Lucidalva Pereira Bacelar, pela confiana e compromisso, tranquilidade e determinao que deixou transparecer ao longo da convivncia na Secretaria de Educao Bsica do Estado do Cear, e da orientao a esta pesquisa;

Aos Professores do Curso de Mestrado em Cincias da Educao;

Aos gestores das Escolas Pblicas Estaduais do Municpio de Morada Nova, Aurenir Mariano e Ftima Raulino, pela disponibilizao dos dados e acervo das escolas;

Aos professores, alunos, funcionrios e pais das Escolas de Ensino Mdio Egdia Cavalcante Chagas e Maria Emlia Rabelo, pela disponibilizao em participarem da pesquisa, atravs de questionrios e entrevistas;

minha me que, mesmo no tendo diplomas acadmicos, carrega uma experincia de vida pautada na honestidade e luta por uma vida melhor.

minha esposa e companheira, que acredita no meu sonho e comigo sonha com uma educao que torne as pessoas mais humanas e solidrias, e com a transformao da sociedade, para que seja mais justa e melhor de se viver coletivamente.

V

... educar e educar-se, na prtica da liberdade, tarefa daqueles que sabem que pouco sabem por isto sabem algo e podem assim chegar a saber mais em dilogo com aqueles que, quase sempre, pensam que nada sabem, para que estes, transformando seu pensar que nada sabem em saber que pouco sabem, possam igualmente saber mais

Paulo Freire

VI

RESUMO

A pesquisa investiga a gesto escolar a partir da instalao do modelo de gesto democrtica, das escolas da rede pblica estadual de ensino, implantado em todo o estado do Cear, buscando relacionar suas interferncias nos indicadores educacionais. O projeto de educao bsica implantado pela Secretaria de Educao Bsica do Estado do Cear, a partir de 1987, ano em que um novo grupo poltico de empresrios vence as eleies e passam a governar o estado, o incio do processo de abertura das escolas para vivncia da democracia, com criao de Conselhos Escolares e eleies diretas para Diretores Escolares. A discusso dos educadores e especialistas na rea de educao e gesto escolar proporcionou embasamento terico aos dados coletados e analisadas nas Escolas Estaduais no Municpio de Morada Nova, Cear, a saber: Escola de Ensino Mdio Egdia Cavalcante Chagas e Escola Estadual Maria Emlia Rabelo. O ambiente da pesquisa a escola, a sala de aula, as galerias, os laboratrios, e todos os espaos vivos da escola, onde encontramos seus sujeitos principais, os alunos. Os sujeitos que sero investigados, atravs de entrevistas e questionrios, so os professores, coordenadores, diretores, funcionrios, alunos e pais, em uma amostragem que contemple 10% de cada segmento escolar, abrangendo os trs turnos de funcionamento: manh, tarde e noite. As questes tratam do problema que norteia a pesquisa: o modelo de gesto democrtica com as eleies diretas para diretores escolares favoreceu ou dificultou a aprendizagem do alunado, de modo que contribusse para o sucesso escolar? Cruzamos os dados oficiais de desempenhos, como SAEB, SPAECE, IDEB; em nvel nacional, estadual e local; com os projetos pedaggicos das escolas, e as entrevistas com os membros da comunidade escolar, para desvendar nuances da gesto democrtica escolar, em que indicam elementos que elucidem os acertos desse projeto de educao, bem como vislumbrem contribuies e novos caminhos para a educao cearense, e para o sucesso do aluno e da escola. Palavras-chave: gesto escolar, democracia, autonomia, educao, aprendizagem.

VII

ABSTRACT

The research investigates the school management from the installation of the model of democratic management of public schools in the state education system, deployed throughout the State of Cear, seeking to relate their interference in educational indicators. The basic education project implemented by the Department of Basic Education of the State of Cear, in 1987, the year that a new political group of entrepreneurs win the elections and come to rule the state, is the beginning of the process of opening schools to experience the democracy, with the creation of school councils and direct elections for school boards. The discussion of educators and experts in education and school management provided a theoretical foundation to the data collected and analyzed in the public schools in the municipality of Morada Nova, Cear, namely: High School Egidi Cavalcante Chagas State School and Maria Emilia Rabelo. The research environment is the school, classrooms, galleries, laboratories, and all the living spaces of the school, where he found his main subject, the student. The subjects to be investigated through interviews and questionnaires, are the teachers, coordinators, directors, employees, students and parents in a sample covering 10% of school each segment, covering the three working shifts, morning, afternoon and evening . The questions deal with the problem that guided the research: the model of democratic management with direct elections for school boards promote or hinder the learning of students, so that contributed to success in school? We crossed the official data of performances, as SAEB SPAECE, IDEB, the national, state and local educational projects with schools, and interviews with members of the school community, and reveal nuances of democratic school management, stating elements which explains the successes of this project for education and envision new ways and contributions to education in Cear, as well as for student success and school. Keywords: school management, democracy, autonomy, education, learning.

VIII

LISTA DE ABREVIATURAS

AID Agency for International Development APEOC Associao dos Profissionais da Educao do Estado do Cear CE Cear CF Constituio Federal CNTE Confederao Nacional dos Trabalhadores em Educao CIC Centro Industrial do Cear CREDE Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educao DERES Delegacias Regionais de Educao EEFM Escola de Ensino Fundamental e Mdio EJA Educao de Jovens e Adultos ENEM Exame Nacional do Ensino Mdio FADE Fundo de Apoio ao Desenvolvimento da Escola FANOR Faculdade do Nordeste FCRS Faculdade Catlica Rainha do Serto FHC Fernando Henrique Cardoso FUNCEME Fundao Cearense de Meteorologia do Cear FUNDEB Fundo de Manuteno e Desenvolvimento da Educao Bsica e Valorizao dos Profissionais da Educao FUNDESCOLA Fundo de Fortalecimento da Escola GIDE Gesto Integrada da Escola IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica IDEB ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica no Brasil IDH ndice de Desenvolvimento Humano IDM ndice de Desenvolvimento Municipal IFCE Instituto Federal do Cear INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa em Educao IPECE Instituto de Pesquisas e Estratgia Econmica do Cear LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educao MEC Ministrio da Educao OBMEP Olimpadas Brasileiras de Matemtica das Escolas Pblicas PCA Professores Coordenadores de rea PCC Plano de Cargos e Carreiras PCN Parmetros Curriculares Nacionais

IX

PDE Plano de Desenvolvimento da Escola PDDE Programa Dinheiro Direto na Escola PNE Plano Nacional de Educao PPP Projeto Poltico Pedaggico PSDB Partido da Social Democracia Brasileira PROUNI Programa Universidade para todos RCB Referenciais Curriculares Bsicos RE Regimento Escolar SAEB Sistema de Avaliao da Educao Bsica SEDUC Secretaria de Educao do Estado do Cear SPAECE Sistema Permanente de Avaliao da Educao Bsica do Cear UECE Universidade Estadual do Cear UFC Universidade Federal do Cear UNONPAR Universidade Norte do Paran

X

LISTA DOS QUADROS

QUADRO I Governadores do Estado do Cear, de 1987 aos dias atuais ........................................ 37 QUADRO II Secretrios de Educao do Estado do Cear, de 1995 aos dias atuais ....................... 40 QUADRO III Eleio de Diretores Escolares no Estado do Cear .................................................... 42 QUADRO IV Prefeitos do Municpio de Morada Nova/ Governos do Estado do Cear, de 1988 aos dias atuais ..................................................................................................... 71 QUADRO V Secretrios de Educao do Municpio de Morada Nova, Cear, de 1988 aos dias atuais ................................................................................................................... 73 QUADRO VI Composio do Ncleo Gestor da EEM Egdia Cavalcante Chagas Eleio de Diretores Escolares, no perodo de 1995 aos dias atuais ............................... 81 QUADRO VII Composio do Ncleo Gestor da EEM Maria Emlia Rabelo Eleio de Diretores Escolares, no perodo de 1995 aos dias atuais ................................................. 86

XI

LISTA DAS TABELASTABELA I Mdias de Proficincia em Lngua Portuguesa, do SAEB, no perodo de 1995 a 2005 ....................................................................................................................... 57 TABELA II Mdias de Proficincia em Matemtica, do SAEB, no perodo de 1995 a 2005 ................................................................................................................................... 57 TABELA III Mdias de Proficincia em Lngua Portuguesa, do SAEB, por Regio e Estado, na 4. srie do Ensino Fundamental, no perodo de 1995 a 2005 ....................... 58 TABELA IV Mdias de Proficincia em Matemtica, do SAEB, por Regio e Estado, na 4. srie do Ensino Fundamental, no perodo de 1995 a 2005 ......................................... 58 TABELA V Mdias de Proficincia em Lngua Portuguesa, do SAEB, por Regio e Estado, na 8. srie do Ensino Fundamental, no perodo de 1995 a 2005 ....................... 58 TABELA VI Mdias de Proficincia em Matemtica, do SAEB, por Regio e Estado, na 8 srie do Ensino Fundamental, no perodo de 1995 a 2005 .......................................... 59 TABELA VII Mdias de Proficincia em Lngua Portuguesa, do SAEB, por Regio e Estado, na 3 srie do Ensino Mdio, no perodo de 1995 a 2005 ................................... 59 TABELA VIII Mdias de Proficincia em Matemtica, do SAEB, por Regio e Estado, na 3 srie do Ensino Mdio, no perodo de 1995 a 2005 ................................................ 59 TABELA IX Indicadores do IDEB, 2005, 2007, 2009 .......................................................................... 60 TABELA X Indicadores do IDEB, 2005, 2007, 2009, no Estado do Cear ......................................... 60 TABELA XI Indicadores do IDEB, 2005, 2007, 2009, no Municpio de Morada Nova, Estado do Cear ................................................................................................................ 61 TABELA XII Indicadores do IDEB, 2005, 2007, 2009, na EEM Egdia Cavalcante Chagas ............................................................................................................................... 61 TABELA XIII Nmero de Matrcula, no Estado do Cear, no perodo de 1998 a 2010 ...................... 62 TABELA XIV Abrangncia do SPAECE 2008, no Ensino Fundamental............................................. 63 TABELA XV Desempenho em Lngua Portuguesa no Ensino Fundamental, na rede pblica de ensino, SPAECE .............................................................................................. 64 TABELA XVI Desempenho em Matemtica no Ensino Fundamental, na rede pblica de ensino, SPAECE ........................................................................................................... 64 TABELA XVII Percentual de Alunos por Categorias de desempenho no 5 ano do Ensino Fundamental, em Lngua Portuguesa, na rede pblica de ensino, SPAECE ............................................................................................................................ 64 TABELA XVIII Percentual de Alunos por Categorias de desempenho no 9 ano do Ensino Fundamental, em Matemtica, na rede pblica de ensino, SPAECE ................... 65 TABELA XIX Nmero de Municpios por Categorias de desempenho no 5 ano do Ensino Fundamental em Lngua Portuguesa, SPAECE.................................................... 65

XII

TABELA XX Nmero de Municpios por Categorias de desempenho no 9 ano do Ensino Fundamental em Matemtica (SPAECE ............................................................... 65 TABELA XXI Percentual de Alunos no 5. ano do Ensino Fundamental, em Matemtica (SPAECE) .......................................................................................................................... 66 TABELA XXII Percentual de Alunos no 9. ano do Ensino Fundamental, em Matemtica, SPAECE ........................................................................................................ 66 TABELA XXIII Nmero de Municpios por Categorias de desempenho no 5 ano do Ensino Fundamental, em Matemtica, SPAECE .............................................................. 66 TABELA XXIV Nmero de Municpios por Categorias de desempenho no 9 ano do Ensino Fundamental, em Matemtica, SPAECE .............................................................. 67 TABELA XXV Desempenho em Lngua Portuguesa no Ensino Mdio, SPAECE, 2009.................... 67 TABELA XXVI Total de Alunos avaliados em Lngua Portuguesa no Ensino Mdio, SPAECE, 2009 .................................................................................................................. 68 TABELA XXVII- Desempenho em Matemtica no Ensino Mdio, SPAECE, 2009 ............................... 68 TABELA XXVIII Total de Alunos avaliados em Matemtica, no Ensino Mdio, SPAECE, 2009 ................................................................................................................................... 68 TABELA XXIX Nmero de Matrculas, no Municpio de Morada Nova, Cear, por dependncia administrativa, no perodo de 1997 a 2010.................................................. 73 TABELA XXX Nmero de Professores e Matrcula inicial, Morada Nova, CE, 2009 ......................... 76 TABELA XXXI Escolas com equipamentos e salas de aula, Morada Nova, Cear, 2009 ................. 76 TABELA XXXII Indicadores Educacionais no Ensino Fundamental e Ensino Mdio, Morada Nova, Cear, 2009 ............................................................................................... 77 TABELA XXXIII Percentual de Docentes com nvel Mdio e Superior na Educao Infantil, Morada Nova, Cear, 2009 ................................................................................... 77 TABELA XXXIV Percentual de Docentes com nvel Superior no Ensino Fundamental e Mdio, Morada Nova, Cear, 2009.................................................................................... 78 TABELA XXXV Nmero de Matrculas na Rede Municipal, por modalidade de ensino, Morada Nova, Cear, de 1995 a 2011 .............................................................................. 78 TABELA XXXVI Nmero de Matrculas na Escola de Ensino Fundamental e Mdio Egdia Cavalcante Chagas, 2005 a 2011 .......................................................................... 82 TABELA XXXVII Desempenho em Lngua Portuguesa no Ensino Mdio, SPAECE 2009 ................ 84 TABELA XXXVIII Desempenho em Matemtica no Ensino Mdio, SPAECE 2009 ........................... 85 TABELA XXXIX Desempenho em Lngua Portuguesa no Ensino Mdio, SPAECE 2010 ................. 85 TABELA XL Desempenho em Matemtica no Ensino Mdio, SPAECE 2010 ................................... 85 TABELA XLI Desempenho em Lngua Portuguesa no Ensino Mdio, SPAECE 2009 ...................... 91 TABELA XLII Desempenho em Matemtica no Ensino Mdio, SPAECE 2009 ................................. 92

XIII

TABELA XLIII Desempenho em Lngua Portuguesa no Ensino Mdio, SPAECE 2010 .................... 92 TABELA XLIV Desempenho em Matemtica no Ensino Mdio, SPAECE 2010 ................................ 92 TABELA XLV Desempenho em Lngua Portuguesa no Ensino Mdio, SPAECE ............................ 128 TABELA XLVI Desempenho em Matemtica no Ensino Mdio, SPAECE ....................................... 129

XIV

LISTA DOS GRFICOSGRFICO I: Indicadores de Aprovao, Reprovao e Abandono, no Ensino Mdio e EJA, por turno, na EEMMER, 2010 ................................................................................... 89 GRFICO II: A qualidade da formao inicial dos Gestores ................................................................. 96 GRFICO III: O Curso Superior o preparou para o exerccio da funo de Gestor Escolar ................. 97 GRFICO IV: Se os gestores tivessem mais autonomia, fariam na Escola .......................................... 98 GRFICO V: Como voc classificaria a atual situao da educao no estado do Cear ................... 99 GRFICO VI: Perspectivas da Educao do estado do Cear h 10 anos .......................................... 99 GRFICO VII: O Conselho Escolar conhece os programas do Governo Federal .............................. 106 GRFICO VIII: Toda comunidade escolar conhece a proposta pedaggica da escola ...................... 108 GRFICO IX: Participao dos alunos na definio e organizao da avaliao............................... 109 GRFICO X: A comunidade escolar participa da avaliao dos profissionais que trabalham na escola......................................................................................................... 110 GRFICO XI: A escola oferece oportunidades para alunos em dificuldade de aprendizagem .................................................................................................................. 113 GRFICO XII: So usados diferentes recursos em sala de aula ........................................................ 115 GRFICO XIII: As decises sobre reprovao e reagrupamento so discutidas por todos os professores ................................................................................................................. 116 GRFICO XIV: O significado dos indicadores discutido na escola .................................................. 118

XV

SUMRIO

INTRODUO ....................................................................................................................................... 17 Descrio do problema .......................................................................................................................... 18 Pergunta de investigao ...................................................................................................................... 18 Hipteses ............................................................................................................................................... 18 Objetivos gerais ..................................................................................................................................... 18 Objetivos especficos ............................................................................................................................. 18 CAPTULO I GESTO DEMOCRTICA NO CONTEXTO NACIONAL ........................................... 20 1.1. Breve Histrico ..................................................................................................................... 20 1.2. A democratizao da Gesto na Escola .............................................................................. 25 1.2.1. O papel do Gestor ................................................................................................... 29 1.2.2. O papel do Conselho Escolar .................................................................................. 33 CAPTULO II GESTO ESCOLAR DEMOCRTICA NO CONTEXTO ESTADUAL ....................... 37 2.1. Breve Histrico ..................................................................................................................... 37 2.2. Legislao sobre Gesto Escolar Democrtica ................................................................... 42 2.3. A implantao da Gesto Escolar Democrtica nas Escolas Cearenses ........................... 44 2.4. As competncias dos membros do Ncleo Gestor .............................................................. 49 2.5. O processo de criao dos Conselhos Escolares nas escolas cearenses ......................... 50 2.6. O papel dos Grmios Estudantis na democratizao da Gesto Escolar ............................ 53 CAPTULO III EDUCAO BRASILEIRA E OS RESULTADOS EDUCACIONAIS NO CEAR .............................................................................................................................. 56 3.1. Resultados do Sistema de Avaliao da Educao Bsica (SAEB) .................................... 56 3.2. Resultados do ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica(IDEB) .............................. 60 CAPTULO IV CONTEXTUALIZAO E OS RESULTADOS EDUCACIONAIS NO CEAR ............................................................................................................................. 62 4.1. Resultados do Sistema Permanente de Avaliao da Educao Bsica do Cear SPAECE ........................................................................................................................ 62 CAPTULO V CONTEXTUALIZAO E OS RESULTADOS EDUCACIONAIS NO MUNICPIO DE MORADA NOVA CEAR .................................................................... 69 5.1. A realidade educacional de Morada Nova ........................................................................... 72

XVI

CAPTULO VI METODOLOGIA DA PESQUISA ............................................................................... 80 6.1. Conhecendo a EEM Egdia Cavalcante Chagas ................................................................. 80 6.1.1. Os resultados educacionais da Escola Egdia C. Chagas ...................................... 84 6.2. Conhecendo a Escola de Ensino Mdio Maria Emlia Rabelo ............................................ 86 6.2.1. Os resultados educacionais da Escola Maria E. Rabelo ......................................... 91 CAPTULO VII RESULTADOS DA PESQUISA ................................................................................ 94 7.1. Indicadores de Evoluo ...................................................................................................... 95 7.2. Ncleo Gestor ...................................................................................................................... 95 7.3. Conselho Escolar ............................................................................................................... 102 7.4. Professores ........................................................................................................................ 107 7.5. Alunos ................................................................................................................................. 112 7.6. Resultados do trabalho de campo ...................................................................................... 118 CONSIDERAES FINAIS ................................................................................................................ 128 Constatao das Hipteses ................................................................................................................ 131 Contribuies para as Cincias da Educao ..................................................................................... 132 REFERNCIAS .................................................................................................................................. 134 APNDICES ........................................................................................................................................ 141 A. Legislao educacional citada na pesquisa ......................................................................... 142 B.Termo de Consentimento Livre e Esclarecido........................................................................ 144 C. Questionrio aplicado ao Ncleo Gestor das Escolas pblicas estaduais em Morada Nova, Cear, Brasil ............................................................................................ 145 D. Questionrio aplicado aos Professores das Escolas pblicas estaduais em Morada Nova, Cear, Brasil .......................................................................................................... 148 E. Questionrio aplicado aos Conselhos Escolares das Escolas pblicas estaduais em Morada Nova, Cear, Brasil ...................................................................................... 151 F. Questionrio aplicado aos Alunos das Escolas pblicas estaduais em Morada Nova, Cear, Brasil .......................................................................................................... 153

17

INTRODUO

O tema da gesto escolar democrtica tem sido alvo de debates no mbito acadmico e na sociedade, pois as polticas educacionais adotadas pelo Governo, desde a Lei de Diretrizes e Bases da Educao (LDB), Lei n. 9.394, de 20/12/96, tem enveredado enforos para democratizar a participao e as deliberaes dos agentes escolares, a saber, professores, alunos, funcionrios, pais e gestores. A busca por uma educao de qualidade, to propalada na sociedade, passa necessariamente pela mudana de paradigmas e atitudes de gestores, pois at pouco tempo, a prtica corriqueira era de um diretor centralizador que poldava a colaborao e interveno dos agentes escolares. A pesquisa tem como objetivo examinar os ndices dos resultados educacionais do estado do Cear, de 1995 aos dias atuais, perodo de implementao de nova poltica educacional no estado, como a gesto democrtica nas escolas pblicas. Para o desenvolvimento desse estudo, tomamos como espao emprico da pesquisa duas escolas da rede pblica estadual cearense, no municpio de Morada Nova, localizado na microrregio do Baixo Jaguaribe, e pertencente 10 Regio Administrativa do Estado do Cear. A pesquisa tem como suporte a anlise do contedo dos documentos da poltica educacional cearense, informaes de questionrios com questes abertas e fechadas, e entrevistas aplicadas junto a uma amostra dos segmentos escolares que estavam participando da gesto colegiada das referidas escolas, alm de termos realizado observaes diretas nas mesmas, com registros em dirio de campo. Muitos tericos tm contribudo no debate, cujas discusses tm mostrado novas posturas dos gestores escolares, que favoream a vivncia cotidiana da democracia na escola, o que, por sua vez, extrapola os muros e envereda pelos caminhos da sociedade, transformando-a e melhorando-a, proporcionando uma melhoria na educao. A problemtica que ora levanto na presente pesquisa surgiu em decorrncia da experincia pessoal vivenciada no momento de implantao da gesto democrtica, pelo Governo do Estado do Cear, no final dos anos de 1990, em toda rede de ensino pblica estadual. O processo de escolha de diretores, atravs de eleies diretas, desencadeou uma inquietao na comunidade local, que se envolveu nesse contexto de mudana para uma gesto escolar democrtica. Essa euforia despertou o envolvimento da poltica partidria, em que os lderes polticos passaram a intervir nessa discusso, declarando suas escolhas de candidatos a diretores. Enquanto participante e gestor escolhido pela comunidade escolar, essa conjuntura despertou-me a investigar a gesto democrtica na escola, por considerar de extrema relevncia para a educao, pois a qualidade da educao passa pela gesto democrtica.

18

Descrio do Problema A implantao e desenvolvimento do modelo de gesto escolar democrtica tem gerado debates e questionamentos sobre sua efetividade no processo de ensino e aprendizagem, consequentemente na melhoria da educao. A consolidao de uma prtica democrtica no ambiente escolar deve assegurar a participao dos alunos, pais, professores, funcionrios, coordenadores e diretores, tanto no Projeto Poltico Pedaggico quanto nas deliberaes pedaggicas, financeiras e administrativas. Assegurar a vez e a voz de todos que fazem a comunidade escolar e local exige esforo e fora de vontade dos gestores e equipe escolar, pois um exerccio cotidiano que necessita de participao nas discusses e decises mais banais, at as estruturais, desde as situaoes-problema que surgem no dia-a-dia aos projetos pedaggicos e administrativos. Investigar se esse modelo de gesto escolar democrtica assegura uma educao de qualidade permeia nossa pesquisa, e at que ponto ele ajuda na aprendizagem do aluno e no sucesso da escola. Pergunta de investigao O processo de gesto escolar democrtica, com escolha direta, atravs de eleio para diretores, contribuiu para a aprendizagem do aluno e o sucesso da escola? Hipteses A qualidade da educao estaria relacionada prtica da gesto escolar; A gesto escolar democrtica ajudaria no processo de aprendizagem do aluno, consequentemente, na melhoria dos indicadores educacionais da escola; A gesto escolar democrtica favoreceria um clima de motivao e comprometimento da comunidade escolar (gestores, professores, funcionrios, pais e alunos) para com o sucesso da escola (desempenho dos alunos em avaliaes internas e externas, premiaes, projetos pedaggicos, aprovaes em concursos, dentre outros). Objetivos Gerais Examinar os ndices dos resultados educacionais do estado do Cear, de 1995 aos dias atuais, perodo de implementao de nova poltica educacional no estado, como a gesto democrtica nas escolas pblicas. Objetivos Especficos Verificar os indicadores de aprendizagem das escolas pblicas estaduais de Morada Nova;

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Verificar situaes que favorecem o sucesso da escola (desempenho dos alunos em avaliaes internas e externas, premiaes, projetos pedaggicos, aprovaes em concursos, dentre outros); Analisar o papel desempenhado pela comunidade escolar (gestores, professores, funcionrios, pais, alunos) no processo de gesto escolar democrtica; Investigar se o processo de gesto escolar democrtica favoreceu a aprendizagem dos alunos e o sucesso da escola, atravs dos indicadores educacionais.

A dissertao est dividida nos seguintes captulos: no primeiro captulo, intitulado Gesto Democrtica no contexto nacional, fao uma discusso sobre a gesto democrtica no contexto nacional, as primeiras experincias, os movimentos de reivindicao pela implantao da democracia nas escolas pblicas, o papel do Gestor e do Conselho Escolar. No segundo captulo, Gesto Democrtica no contexto estadual, analisada a sua implantao, nas escolas pblicas da rede estadual de ensino, a partir da mudana do governo de 1987, quando se iniciam os primeiros passos de discusso e posterior implantao, de forma lenta e processual, entrelaado com a legislao de regulamentao na educao cearense. Ainda, ressalta-se o papel do Ncleo Gestor, a formao dos Conselhos Escolares como mecanismos de sustentao da democracia nas escolas, e o papel do Grmio Estudantil nesse contexto de mudana paradigmtica da educao. No terceiro captulo, Educao Brasileira e os resultados educacionais, apresenta-se os dados estatsticos dos resultados das avaliaes, com os indicadores de aprendizagem nacionais, como o SABE e o IDEB. No quarto captulo, Contextualizao e os resultados educacionais no Cear, apresenta-se os indicadores estaduais, no caso, o SPAECE, e as tentativas de melhoria destes. No quinto captulo, Contextualizao e os resultados educacionais no Municpio de Morada Nova, apresenta-se uma contextualizao da educao no Municpio de Morada Nova, e os indicadores de avaliao de aprendizagem da regio, no caso, 10 Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educao (CREDE), e no municpio. No sexto captulo, Metodologia de Pesquisa, apresenta-se a metodologia de pesquisa de campo, o histrico e as condies atuais das escolas da rede estadual de ensino existentes no Municpio de Morada Nova, a saber: as que foram pesquisadas, Egdia Cavalcante Chagas e Maria Emlia Rabelo; bem como os resultados alcanados nas realizaes das avaliao em nvel nacional, estadual, regional e local. No stimo captulo, Resultados da Pesquisa, analisa-se os resultados da pesquisa realizada nas escolas da rede estadual de ensino, atingindo 10% dos referidos segmentos: alunos, professores, Conselho Escolar e todo o Ncleo Gestor, atravs de aplicao de questionrios com perguntas objetivas e subjetivas, aos segmentos acima citados. Por fim, apresenta-se as consideraes finais da pesquisa, referncias e anexos; o ltimo contendo os questionrios e demais informaes relevantes. Com essa pesquisa objetiva-se contribuir para a melhoria dos indicadores educacionais e o processo de democracia efetiva nas escolas pblicas cearenses, partindo da anlise da realidade local.

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CAPTULO I GESTO DEMOCRTICA NO CONTEXTO NACIONAL

1.1.

Breve Histrico A Histria do Brasil Contemporneo permeada de conflitos e conturbaes que delineiam o

cenrio poltico, isso interfere na organizao do sistema socioeconmico e educacional. O breve Sculo XX, no dizer do historiador Eric Hobsbawn (2001), oscilou entre experincias revolucionrias e ditatoriais. No caso brasileiro, tivemos duas ditaduras, a do Estado Novo (1937-1945), cujo chefe, Getlio Vargas, j dominava o poder estatal desde 1930; e a ditadura militar (1964-1985) que masscrou toda e qualquer forma de manifestao popular, expurgando pensadores e opositores do regime. Nos primrdios da organizao escolar, nos anos de 1930 do sculo XX, utiliza-se o termo administrao escolar, entendida como o planejamento, organizao, gesto e controle de atividades educacionais. Nos anos de 1950, o termo gesto foi considerado mais abrangente; j nos anos de 1980, o termo mais utilizado foi organizao do trabalho escolar (Paro, 1986). Contudo, a administrao escolar estava atrelada concepo de administrao clssica, com hierarquia e normas a serem cumpridas. nos finais dos anos de 1980 e nos anos de 1990 que as crticas e questionamentos se acirram, fomentando uma viso mais democrtica da gesto escolar. A abertura democrtica, iniciada em meados dos anos de 1980, veio acompanhada de mudanas econmicas, polticas e sociais, com a emergncia de movimentos pela liberdade, isso fomentou o anseio por participao da sociedade. A proliferao de organizaes populares reivindicavam direitos e melhores condies de vida e trabalho, repercutindo em outras instncias sociais. No dizer de Carvalho (1998), os novos direitos consistiam em participar, opinar, decidir. Essa mobilizao social levou elaborao da Constituio Cidad, em 1988, e previa a participao direta de cidados atravs de conselhos, referendo, plebiscito, dentre outros. Com relao educao, a Carta Magna esclarece: Art. 205. A educao, direito de todos e dever do Estado e da famlia, ser promovida e incentivada com a colaborao da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exerccio da cidadania e sua qualificao para o trabalho. Art. 206. O ensino ser ministrado com base nos seguintes princpios: I igualdade de condies para o acesso e a permanncia na escola; [...] IV gratuidade do ensino pblico em estabelecimentos oficiais; [...] VI gesto democrtica do ensino pblico, na forma da lei.

Para Cury (2008), esses dois artigos asseguram a educao bsica como direito inviolvel do cidado. Esse direito foi aprofundado com a aprovao da lei que reforou a Constituio Federal

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(CF), como a Lei n. 11.274/06, pela qual o ensino fundamental obrigatrio passou a durar nove anos, iniciando-se aos 6 anos de idade. Contudo, a Lei n. 10.172/01, lei do Plano Nacional de Educao (PNE), esvaziou o compromisso financeiro que restringiu a boa vontade. A Emenda Constitucional 53/06, do Fundo de Manuteno e Desenvolvimento da Educao Bsica e Valorizao dos Profissionais da Educao (FUNDEB), j aprovada e seguida da Lei n.11.494/07, trouxe nova definio de educao bsica, tanto na composio e distribuio dos recursos em educao, quanto na abertura de mais portas para o atendimento do Ensino Mdio, da Educao Infantil e da Educao de Jovens e Adultos EJA. Historicamente, os educadores passaram a questionar o modelo de administrao escolar, e lutavam por democratizao do sistema educacional e das relaes no interior da escola. A gesto democrtica tornou-se bandeira de luta, reivindicando participao na deliberao sobre os recursos financeiros, administrativos, orientaes pedaggicas, condies materiais, que assegurassem uma qualidade de ensino. Logo, o surgimento da Gesto escolar democrtica foi decorrente de uma luta da sociedade civil organizada, das instituies educacionais, civis, polticas e religiosas, que aps 21 anos de ditadura militar (1964-1985), reorganizaram-se e encamparam a implantao de um regime democrtico no pas. Para compreendermos o processo de implantao da democracia na escola, vamos percorrer um breve histrico do perodo. Durante o perodo ditatorial, a educao no tinha a participao das organizaes sociais, educadores e famlias no planejamento da poltica educacional, cujo sistema de ensino era descentralizado, em que cada esfera, federal, estadual e municipal, conduzia sua sistemtica de ensino, desvinculada da realidade local e dos anseios sociais. A figura do diretor exercia um poder soberano sobre toda a comunidade escolar, cujo cargo era determinado por critrios clientelistas da poltica partidria. Como explica Romanelli (2003), houve um aumento da demanda social de educao, ao lado do conteno e da represso, que provocou um agravamento da crise do sistema educacional, que foi usada como justificativa para realizao de convnios entre o Ministrio da Educao e Cultura (MEC) e a Agency for International Development (AID), para assistncia tcnica e cooperao financeira dessa Agencia organizao do sistema educacional brasileiro (p. 196). Esses acordos abrangeram todo o sistema de ensino: os nveis primrio, mdio e superior; os ramos acadmico e profissional; o funcionamento da reestruturao administrativa, planejamento e treinamento de pessoal docente e tcnico; e o controle de contedo atravs de publicao e distribuio de livros tcnicos e didticos (Romanelli, 2003, p. 213). Quanto escola, cabia repassar contedos e promover uma educao para o trabalho. A escolha e demisso dos diretores dependia do poder de um chefe poltico, que nomeava ou destitua do cargo de acordo com seus interesses, desconsiderando o calendrio letivo escolar. As necessidades materiais e de infraestrutura eram encaminhadas s Secretarias de Educao, que atendiam e encaminhavam as solues de problemas surgidos na escola. Outra caracterstica diz respeito ao aspecto pedaggico, cujo trabalho era organizado de acordo com os livros didticos escolhidos e enviados pelo MEC para as escolas, sem consulta ou preparao dos professores. Os altos indices de analfabetismo, reprovao e evaso, a baixa qualidade de ensino, a desvalorizao

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dos profissionais do magistrio, o sucateamento da rede fsica, e o clientelismo na escolha de diretores, geraram um descontentamento geral dos educadores, que fomentou um movimento poltico e social, de questionamento da ditadura militar e encampamento de um regime democrtico, e, principalmente, de autonomia e liberdade na gesto escolar. Professores, pesquisadores da educao, universitrios, entidades sindicais dos trabalhadores em educao, discutiram e elaboraram propostas para uma gesto escolar democrtica, com a participao dos membros da comunidade, pais, alunos, professores e sociedade civil. No decorrer dos anos 1980, essa inquietao aprofundou-se no meio educacional, em que a prpria figura do diretor foi questionada, bem como o modelo de direo exercida por uma pessoa. Nesse contexto, como esclarece Warde (1992), surgiu a proposta de direo colegiada, formada por membros da comunidade escolar. Mello (1985) define trs eixos de ao para uma gesto democrtica:

A compreenso do papel do professor na melhoria da qualidade do ensino; a democratizao das relaes internas da escola e a participao dos professores no destino da educao; e as escolhas tericas que nortearo a organizao curricular e as aes de apoio tcnicopedaggico (p. 30). No final dos anos de 1980 o processo de redemocratizao foi coroado com as eleies diretas para presidente civil, e a elaborao da Constituio Cidad em 1988, em que define que a politica educacional deve ter como princpio fundamental a gesto democrtica de ensino (CF, Art. 206), no intuito de fomentar a participao da sociedadade na escola. A reforma do sistema educacional brasileiro iniciou com o governo de Fernando Collor, primeiro presidente civil aps a ditadura militar, com o Plano Decenal de Educao para Todos (19931994), mas as medidas concretas para a educao bsica vieram no governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC), com o lema Acorda Brasil, est na hora da escola! O programa para a educao implementou a Reforma Institucional, que consistia na redefinio das responsabilidades do Ministrio da Educao, dos padres de financiamento e de repasse dos recursos aos estados e municpios; adotou novos padres de gesto, como a descentralizao, autonomia das escolas e participao da comunidade; na educao bsica ampliou o acesso, os contedos curriculares e padres de aprendizagem, a formao de professores, o ensino distncia, o sistema nacional de avaliao do desempenho das escolas e dos sistemas educacionais, padres de qualidade do livro didtico, descentralizao da merenda. Consolidada nos anos de 1997-1998, essas aes acompanharam as tendncias internacionais, e receberam o financiamento mundial, com o Banco Mundial. Segundo Torres (1996),

O financiamento no o nico nem o mais importante papel do Banco Mundial em educao; o Banco Mundial transformou-se na principal agncia de assistencia tcnica em matria de educao para os pases em desenvolvimento e, ao mesmo tempo, a fim de sustentar tal funo tcnica, em fonte e referencial importante de pesquisa educacional no mbito mundial. (p.23)

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O financiamento da educao bsica, como indica Luiz Fernando Dourado (2007), tem que prezar pela qualidade nas suas diretrizes, metas e aes, de modo que assegure um processo pedaggico eficiente, efetivo socialmente, que contribua para a melhoria da aprendizagem dos alunos, articulado melhoria de vida da populao. A qualidade da educao no se refere somente a rendimento escolar, mas est relacionada com fatores internos e externos da escola, s condies de vida dos alunos, ao contexto scio-cultural e econmico, e prpria escola, professores, diretores, projeto pedaggico, recursos, instalaes, estrutura organizacional, ambiente escolar e relaes intersubjetivas no cotidiano escolar. Para tanto, necessrio um regime de colaborao entre as esferas do poder, Unio, estados, Distrito Federal e municpios, que contribui para assegurar um padro de acesso, permanncia e gesto na educao bsica, pautado por polticas e aes que promovam a educao democrtica e de qualidade social para todos. O neoliberalismo a cartilha dos pases industrializados, que tem a adeso dos pases perifricos, como o Brasil e outros da Amrica Latina. Quanto organizao da escola, o governo FHC atrela a gesto organizao empresarial, devendo a escola apresentar-se com boas condies de organizao, funcionamento, contedos e mtodos, materiais e equipamentos, informatizao etc., para favorecer uma melhor aprendizagem dos alunos. Nessa perspectiva, muitas escolas implantaram o Plano de Desenvolvimento da Escola PDE, com recursos do Banco Mundial. A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educao, n. 9.394/1996, redimensionou o sistema e promoveu mudanas significativas na gesto escolar, quanto ao seu princpio e diretrizes:

Os sistemas de ensino asseguraro s unidades escolares pblicas de educao que os intregram progressivos graus de autonomia pedaggica e administrativa e de gesto financeira, observadas as normas gerais de direito financeiro pblico (art.15); participao dos profissionais da educao na elaborao do projeto pedaggico da escola; participao das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes (art. 14). Ainda estabelece a autonomia das escolas, a organizao a partir da realidade local, e o processo de ensino e aprendizagem pautado nas necessidades locais (LDB, Art. 23). Logo, so previstas a progresso parcial (LDB, Art. 24), acelerao de estudos, aproveitamento de estudos e recuperao (LDB, Art. 24). Tais medidas visam o sucesso escolar. Para alguns crticos, a LDB deixa lacunas em aberto quanto gesto democrtica, ficando a cargo de cada sistema de ensino nos estados e municpios a implementao da democracia e da autonomia, o que no assegura sua efetividade. Ao contrrio, pode camuflar a vivncia democrtica com prticas autoritrias, em que as decises continuam sendo tomadas, a priori, pela figura do diretor, e acatadas pelas demais. Porm, como observa Libneo, por parte das polticas governamentais, essa perspectiva de descentralizao e autonomia restringiram-se em medidas de reduo dos gastos pblicos e omisso do Estado para com a educao. Ou seja, a participao da comunidade escolar e local nos conselhos escolares, e a gesto dos recursos financeiros, mostraram-se suficientes para uma gesto escolar democrtica, descartando o aspecto efetivo da gesto pedaggica, do processo de ensino e aprendizagem, da autonomia e das decides coletivas.

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Porm, preciso ressaltar que, como afirma Cury (2007), as medidas, como o financiamento da educao, a obrigatoriedade do ensino para crianas e jovens de 6 a 14 anos, a competncia privativa da certificao oficial para validade nacional, demonstram uma equalizao, ao mesmo tempo amortecem as polticas pblicas. necessrio uma proteo no mbito jurdico, assegurada na Constituio, que deve ser respeitada, incondicionalmente. Os anos de 1990 foram um marco na histria da educao do pas, pois as mudanas implementadas pelos governos nacional e estadual inauguraram um novo modelo de gesto educacional, pautado na descentralizao dos sistemas de ensino, e, em particular, das escolas. Tais mudanas, que ocorreram em nivel mundial, e, sobretudo, nos paises perifricos, foram uma tentativa de reagreg-la economia. O Brasil, por sua vez, cumprindo a agenda do capital internacional, adota uma reforma redirecionando as polticas pblicas, atravs da redistribuio de competncias entre as esferas estaduais, municipais e locais. Segundo Azevedo (2002), essa adoo de polticas por parte do Governo so divergentes das apresentadas pela sociedade civil organizada no movimento de redemocratizao do pas. Essas mudanas na politica educacional so colocadas como pressupostos de descentralizaao da educao, como a gesto escolar democrtica, atravs da escolha de diretores escolares, criao de colegiados etc. Porm, tais mudanas, implementadas no Governo de Fernando Henrique Cardoso, privilegiaram aspectos econmicos e gerenciais, apelando para eficcia e eficincia do sistema educacional, aproximando-as s empresas privadas. Conforme Fonseca, Toschi e Oliveira (2004), o Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) e o Fundo de Fortalecimento da Escola (FUNDESCOLA) tinham propsitos de melhorar os resultados educacionais, as condies de ensino, mas estavam condicionados ao nmero de matrculas. Tais programas tm os objetivos definidos, restando escola controlar sua execuo. A democracia uma questo presente nas relaes sociais que estabelecemos no dia-a-dia. No sentido poltico, significa que toda pessoa tem direito de participar das discusses e deliberaes polticas. A escola um espao por excelncia da vivncia democrtica, onde se dissemina os questionamentos, crticas, reivindicaes, embates tericos e conflitos diversos, que geram um novo pensar em fazer educao, um novo gestar da participao democrtica. Sendo assim, a escola no mais a detentora do conhecimento, e sim a fomentadora de conhecimentos que so construdos e compartilhados, devendo abrir-se para novos dilogos e diversidades multiculturais (Freitas, 2000). Contudo, Freitas (2000) continua explicando que a mudana de paradigma educacional recente no Brasil, a comear pelo modelo tradicional de administrao escolar, em que o diretor era o guardio da escola e gerente das operaes, apenas transmitia as orientaes, vigiava, controlava e mantinha um bom funcionamento da escola, de acordo com as normas estabelecidas pela Secretaria de Educao. As aes educativas eram traadas linearmente, assim como as decises, e os demais apenas acatavam de forma acrtica e irrefletida. A LDB (1996) um marco para a educao, pois institui um novo paradigma educacional baseado na democracia participativa, onde o administrador d lugar ao gestor, que tem um papel significativo no planejamento e na execuo das atividades educativas. Contudo, alguns fatores dificultam a participao efetiva da comunidade escolar, apontados por Figueir (2002), a saber: a

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cultura poltica brasileira, a relao escola comunidade e os diferentes espaos educativos. A primeira refere-se pouca participao e at represso a qualquer tentativa de participao; no interior da escola se reflete pelo autoritarismo e na verticalizao das relaes de poder. A transformao dessa cultura requer o afloramento dos espaos de participao, onde as pessoas expressem seus sentimentos e pensamentos, ampliem sua viso de mundo e todos reconheam a escola como espao pblico. O segundo fator diz respeito aos diferentes espaos educativos, que antes pensava apenas no prdio escolar, mas agora colocam muitos outros onde os alunos aprendem e constroem novos saberes, como os grmios estudantis, os espaos de arte, cultura, cinema, laboratrios de lnguas, cincias e informticas, dentre outros, imbudos de valores, saberes, afetos, relaes, que so fonte de saber, pesquisa, estudo e aprendizagem. O terceiro fator a condio de vida do educador, causada pela situao de desprezo da educao brasileira, baixa remunerao, pouco incentivo ao ensino e pesquisa, carga horria de trabalho extensiva, dentre outros. Uma das sadas pode ser a capacitao continuada, incentivo pesquisa e estudos, de forma que o professor possa desenvolver melhor seu trabalho educativo, voltado para uma gesto democrtica e participativa no seio escolar (Figueir, 2002). Entendemos por gesto participativa o processo de administrar com a participao e o envolvimento no planejamento, na organizao do trabalho, nas decises e nos resultados da organizao. Esse processo requer a participao de todos, pois participar fazer parte, ser agente ativo, tomar a iniciativa e fazer acontecer, de forma que quem participa sente-se construtor de algo, causando a motivao que melhora a autoestima, e, consequentemente, a qualidade do trabalho e as relaes com as pessoas e o meio. Nessa perspectiva o estudo de Rabelo (2009), que ressalta a importncia do envolvimento de todos os membros do ncleo gestor nas tarefas educativas.

1.2.

A democratizao da Gesto na Escola As propostas de gesto democrtica tm se revestido de diferentes sentidos, que por sua

vez, acontecem com prticas diferenciadas, que precisam ser investigadas para que tais mudanas na escola pblica no se restringam a nmeros, resintringindo os atores escolares a executores de planos. Para melhor compreender esse processo, recorremos a diversos autores que elucidaram tais prticas no sistema educacional. Um dos autores que tem desenvolvido pesquisa no mbito da gesto escolar democrtica, Veiga (2001), nos alerta que a democratizao da educao direito de todos os cidados, que deve ser assegurada no somente pelo Estado, mas tambm uma aspirao individual e coletiva, embora muitas vezes no se efetive de fato, sendo entravada ou negada por esses mesmos atores escolares e governamentais. nessa situao que a sociedade pode e deve exercer seu papel de fomentar e assegurar uma escola democrtica, preparando o cidado como ser capaz de exercer seu potencial de trabalho. Essa participao coletiva da sociedade necessria para fazer-se cumprir com competncia,

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flexibilidade e agilidade o sistema de ensino, para que a escola acompanhe e participe das solicitaes e do exerccio da autonomia, mecanismo imprescindvel na qualidade da educao. Algumas pesquisas revelam que existem dificuldades, por parte da comunidade escolar, na compreenso da organizao da gesto do trabalho pedaggico na escola pblica, pautada na gesto democrtica. Para Libneo (2001), o projeto educativo coletivo construdo coletivamente o construto da identidade escolar, considerado o instrumento fundamental que permite uma gesto democrtica. Para tanto, requer o aperfeioamento constante da equipe escolar, no aspecto profissional, poltico, cientfico e pedaggico. Ou seja, preciso pr as mos na massa, acompanhar o dia-a-dia da escola e sua mobilidade, exercer uma observao constante, avaliar o desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem, as metas de desempenho escolar, trocar experincias exitosas e buscar superar as dificuldades numa ao conjunta da comunidade escolar. Por isso entendemos que a realizao de um trabalho coletivo e participativo que favorece uma aprendizagem significativa, que viabilize o exerccio da democracia na escola pblica. Tornou-se evidente que a organizao do trabalho pedaggico um fator determinante para a qualidade da educao, devendo ser (re)construdo no cotidiano escolar, com autonomia, reflexo e decises para saber superar os problemas e encontrar as possveis solues. Luck (1998) reconhece a necessidade de mudanas pedaggicas no processo de ensino e aprendizagem, atravs da descentralizao e democratizao da educao, permeada pela participao, que fortalea a gesto democrtica. Para esse autor, a escola consegue avanar com a unidade do grupo, com envolvimento de cada membro da gesto escolar que sustenta o prprio processo educacional, o que, por sua vez, vai gerando uma conscincia social crtica voltada para a formao humana, tica e solidria. Mas somente uma gesto democrtica no assegura uma qualidade da educao, de acordo com Veiga (2001), o planejamento participativo e o projeto pedaggico contextualizado com a realidade escolar so igualmente imprescindveis para a melhoria na educao. O Projeto Poltico Pedaggico (PPP) deve ser permeado por valores humanos, ticos e solidrios, que auxiliem no trabalho educativo dos atores escolares, professores, alunos, pais, funcionrios e gestores, veiculado por uma comunicao dialgica, que permitam a flexibilizao de metodologias criativas e inovadoras. Para Veiga, isso possvel numa escola que seja autnoma, em que as relaes pedaggicas interagem com as relaes humanas, mais cooperativas e solidrias. Nesse sentido, a participao da comunidade uma ferramenta indispensvel para xito do desempenho escolar, visvel no somente nos ndices de aprovao, reprovao e abandono, mas tambm nos servios e demais projetos educativos. Como j dizia em reunies com a comunidade escolar, preciso derrubar os muros da escola, no sentido literal e figurativo da palavra. Porque a escola deve ser acolhedora, deve favorecer um ambiente agradvel a si e ao outro. Esconder a escola atrs dos muros cria mitos que bloqueiam a sua entrada e participao. Por isso, preciso que o carto postal da escola seja um jardim, para receber todas as pessoas com sua diversidade; que sua estrutura rgida d lugar a espaos criativos e convidativos de convvio e troca de

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experincias e saberes, de conflitos que favoream o respeito e a construo coletiva dos projetos didtico-pedaggicos. Nessa perspectiva, o planejamento exerce uma influncia fundamental para a gesto democrtica. Para Padilha (2001), o planejamento favorece o equilbrio entre meios e fins, recursos e objetivos, levando ao melhoramento do todo, pois planejar refletir, decidir, perceber as necessidades e os recursos, visando os objetivos e resultados almejados. Todavia, preciso haver um planejamento participativo na escola que envolva as questes financeiras, grade curricular, projetos pedaggicos, relaes interpessoais e liderana democrtica. No basta planejar por planejar, esse processo requer compromisso, competncia tcnica, humana, terica e poltica, pois, segundo os pedagogos, uma gesto escolar democrtica exige competncia cognitiva e afetiva, contextualizada com a realidade e os valores, hbitos, atitudes e conhecimentos, que favoream atitudes coletivas, de uma equipe escolar coesa, que tenha clareza dos objetivos, metas e estratgias para alcanar uma educao de qualidade. Logo, a funo social e pedaggica da escola assegurar o desenvolvimento das capacidades cognitivas, operativas, sociais e morais pelo seu empenho na dinamizao do currculo, no desenvolvimento dos processos de pensar, na formao da cidadania participativa a na formao tica (Libneo, 2004, p. 137). Contudo, no tem sido fcil implantar e desenvolver esse processo de gesto democrtica nas escolas pblicas. Alm dos vcios e convenincias costumeiras, existem os que optam pelo antigo modelo de administrao escolar, em que o diretor decidia sozinho e determinava as aes para realizar resultados, de forma autoritria, sem a participao da equipe escolar e da comunidade. Todavia, preciso considerar o contexto social no qual a escola est inserida, para iniciar o processo de democratizao da gesto escolar, que exige o estabelecimento de novas relaes sociais, e, principalmente, de novas prticas pedaggicas que fortaleam a autonomia e gerem vivncias democrticas mais amplas, tanto no mbito educacional quanto na sociedade como um todo. Paro (2002) ressalta que a participao democrtica no ocorre de forma espontnea, um processo histrico construdo coletivamente, logo, necessrio que a escola utilize mecanismos que incentivem e viabilizem a participao efetiva no interior da escola. Para uma escola ter uma gesto democrtica no basta somente ter uma prtica administrativa, mas essencialmente pedaggica e educativa, pois so as prticas cotidianas no interior da escola que extrapolam os muros e atingem sociedade; desse modo a educao entendida como instrumento de transformao social, pois suas prticas efetivas de democracia vo se alargando at serem efetivadas no meio em que vivem, numa relao interativa da comunidade escolar e local. Nesse sentido, Gadotti (1997) refora que a participao e a democratizao num sistema pblico de ensino a forma mais prtica de formao da cidadania, haja vista que a mesma d-se na participao, no processo de tomada de deciso. A cidadania no nasceu espontaneamente nem automaticamente, como ressalta Gadotti. A educao para a cidadania, no Brasil, surgiu

A partir de um movimento educacional concreto, acompanhado por uma particular corrente de pensamento pedaggico. Esse pensamento e essa prtica, sem deixar de apresentar suas contradies, caracterizam-se pela democratizao da educao em termos de acesso

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e permanncia, pela participao na gesto e escolha democrtica dos dirigentes educacionais e pela democratizao do prprio Estado (Gadotti, 2000, p. 1). Como fomentar a cidadania na escola? Como tornar a escola cidad? Paulo Freire nos indica caminhos para esse fim, cuja concepo citada por Gadotti (2000):

A Escola Cidad aquela que se assume como um centro de direitos e de deveres. O que caracteriza a formao para a cidadania. A Escola Cidad, ento, a escola que viabiliza a cidadania de quem est nela e de quem vem a ela. Ela no pode ser uma escola cidad em si e para si. Ela cidad na medida mesma em que se exercita na construo da cidadania de quem usa o seu espao. A Escola Cidad uma escola coerente com a liberdade. coerente com o seu discurso formador, libertador. toda escola que, brigando para ser ela mesma, luta para que os educandos educadores, tambm sejam eles mesmos. E como ningum pode ser s, a Escola Cidad uma escola de comunidade, de companheirismo. uma escola de produo comum do saber e da liberdade. uma escola que vive a experincia tensa da democracia. (p.47) Retomando Paro (2000), ele esclarece que esse processo ocorre a longo e curto prazo, pois acontece nas pequenas atitudes corriqueiras, oportunizando s pessoas opinarem e decidirem, e, respeitando essas atitudes, de modo que haja um bom relacionamento e saudvel ambiente escolar, com gestos de solidariedade, at aes conjuntas em questes sociais mais amplas, como a defesa da diversidade tnica, sexual e religiosa, ou direito das minorias, dentre outros. Como nos lembra o educador Paulo Freire (1997), o compromisso com a gesto democrtica um ato poltico porque modifica o mundo em que as pessoas vivem, superando desafios e conquistando espaos que favoream a cidadania. Esse deve ser o compromisso dos gestores, pois

A administrao escolar inspirada na cooperao recproca entre os homens deve ter como meta a constituio, na escola, de um novo trabalhador coletivo que, sem os constrangimentos da gerncia capitalista e da parcelarizao desumana do trabalho, seja uma decorrncia do trabalho cooperativo de todos os envolvidos no processo escolar, guiados por uma vontade coletiva, em direo ao alcance dos objetivos verdadeiramente educacionais da escola (Paro, 2006, p. 160). Novamente recorremos a Libneo (2004) para destacar os princpios da organizao da gesto escolar inter-relacionada com o trabalho pedaggico, na perspectiva democrtica, que so: autonomia das unidades escolares; autonomia da comunidade educativa; envolvimento da comunidade escolar nesse processo; formao continuada dos gestores, diretores, coordenadores, professores, funcionrios, e conselheiros, objetivando o desenvolvimento pessoal e profissional; avaliao compartilhada; planejamento coletivo; dentre outros. O desafio saber como desenvolver esses princpios no cotidiano escolar, entendendo autonomia como poder de deciso sobre a aplicao dos recursos financeiros, pedagogia de ensino, seus objetivos e formas de organizao, com a participao efetiva de todos os membros da comunidade escolar, alunos, pais, professores, funcionrios, coordenadores e gestores. Contudo, esse trabalho depende da postura do diretor, de aceitar, respeitar e viabilizar a participao de todos, e acatando as decises coletivas. Em suma, a

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autonomia e a participao so fundamentos imprescindveis para a construo da democracia na escola. Nessa perspectiva, a participao da comunidade indispensvel para a efetivao da democracia, no sentido de participar da tomada de decises, do planejamento, da execuo e avaliao, pois favorece a melhoria da educao como um todo, conforme explica Carneiro, Souza, Digenes e Bacelar (2005). A participao da comunidade processual e lenta, pois acarreta dois desafios, a abertura da escola para o dilogo, e a responsabilidade compartilhada de todos os segmentos.

1.2.1. O Papel do Gestor

De acordo com a abordagem dos Cadernos do MEC (Secretaria de Educao Bsica, 2004) existem diferentes formas de escolha dos dirigentes escolares: livre indicao dos poderes pblicos; listas trplices, sxtuplas ou processos mistos; concurso pblico; plano de carreira; eleio direta. Esta ltima parece aproximar-se mais do modelo de gesto democrtica na escola. Contudo, preciso considerar algumas exigncias para a escolha de diretor: participao efetiva da comunidade escolar e local, projeto pedaggico para a gesto e liderana do candidato a diretor. A indicao dos poderes pblicos est pautada no clientelismo, favoritismo e eliminao dos opositores, sendo a escola locus de autoritarismo e barganhas polticas, resultando em ingerncia escolar. O diretor de carreira concorre com critrios tipo: tempo de servio, merecimento e/ou distino, escolarizao etc. Esse modelo aproxima-se ao clientelismo no cotidiano escolar e ingerncia na gesto. O concurso pblico parece basear-se em mritos intelectuais. Porm, essa prtica tem sido restrita por compreender que a gesto democrtica no se reduz a tcnicas, mas por ser um ato poltico. Esse modelo restringe a gesto a atividades administrativas rotineiras e burocrticas, atrofiando a participao da comunidade escolar e local. A indicao por listas trplices ou sxtuplas, ou mista, consiste na escolha, pelo executivo, de um nome de uma lista elaborada pela comunidade. No modelo misto, passada essa fase, a segunda, o candidato realiza provas para avaliao cognitiva. E, por fim, a escolha do diretor. Nesse caso o papel da comunidade escolar pode ser uma cilada, no sentido de que pode legitimar o processo. As eleies diretas so consideradas as mais democrticas, apesar de haver controvrsias. Os defensores acreditam que os atores tm a deciso sobre os destinos da escola, pela prpria escola. H variados tipos de eleio, desde a definio do colgio eleitoral, se parte da comunidade escolar, ou toda, at a definio operacional como data, local, horrio, paridade dos votos etc. Ainda existe o modelo em que as eleies so associadas a provas especficas, planos de trabalho etc. Nesse modelo est assegurada a participao e deciso da comunidade escolar e local na escolha do diretor e na gesto escolar. Porm, preciso alertar que a simples eleio em si no assegura a democracia na escola. Paro (2001, p. 65-67) reconhece a importncia desse processo, pois diminuiu e/ou eliminou a interferncia de polticos, mas h situaes em que o clientelismo continuou a exercer influncia na

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escola. Por um lado, em alguns sistemas continuou a interferncia de agentes polticos, e por outro, essas prticas invadiram o interior da escola. Mas compreensvel, pois A incipiente prtica poltica introduzida pelas eleies de diretores no ter sido capaz de eliminar por completo essas expectativas e comportamentos clientelistas no pode levar a que se impete s eleies as causas desses males que nada mais so, na verdade, do que remanescentes de uma cultura tradicionalista que s a prtica democrtica e o exerccio autnomo da cidadadania podero superar. (Paro, 2001, p.51) Nesse contexto, o papel dos gestores de importncia fundamental nesse processo de construo da democracia no mbito escolar. Saber articular os diferentes atores, pensamentos e interesses que rondam a escola um desafio cotidiano, que requer uma liderana que respeite e seja respeitada pela comunidade escolar. Para tanto, a participao o instrumento necessrio e eficaz na construo desse processo. Como ressalta Libneo (2001), os gestores asseguram uma gesto democrtica, pois abrem espaos para a participao efetiva dos alunos, professores, pais, funcionrios e gestores, na tomada de decises e no funcionamneto da organizao escolar. Quando h a participao e integrao de toda a comunidade escolar, ela prpria coordena o desenvolvimento de uma educao de qualidade, discutindo e decidindo objetivos, metas e estratgias para a melhoria do processo de ensino e aprendizagem, bem como da prpria estrutura organizacional. Libneo (2001) atenta para o comprometimento dos gestores com a qualidade da educao e a transformao social, que possibilitem ao aluno a ampliao do universo de participao e interveno na sociedade, na poltica, na economia, exercendo uma liderana com formao intelectual, humana e solidria. Nesse contexto, faz-se necessrio a organizao de um trabalho didtico e pedaggico que conviva com as contradies sociais e as diferenas tnicas, raciais, sexuais e religiosas. Contudo, esse desafio possvel numa perspectiva democrtica. Paro (2001) reflete sobre os diretores eleitos, e afirma que

Parece que o diretor consegue perceber melhor, agora, sua situao contraditria, pelo fato de ser mais cobrado pelos que o elegeram. Esse um fato novo que no pode ser menosprezado. sua condio de responsvel ltimo pela escola e de preposto do Estado no que tange ao cumprimento da lei e da ordem na instituio escolar, soma-se agora seu novo papel de lider da escola, legitimado democraticamente pelo voto de seus comandados, que exige dele maior apelo aos interesses do pessoal escolar e dos usurios, em contraposio ao poder do Estado. Isto serviu para introduzir mudanas na conduta dos diretores eleitos, que passaram a conviver com as solicitaes de professores, funcionrios, estudantes e pais. (p. 69). Os gestores realizam diversas aes no cotidiano escolar, e muitas vezes perdem de vista o principal papel que deve exercer, pois resolvem pepinos pedaggicos, financeiros, administrativos e humanos, permanecendo em um ativismo cansativo. Contudo, proporciona uma srie de saberes do todo da escola, que ajudam na viabilizao de decises mais firmes e eficientes. Porm, a forma como os gestores desempenham suas funes determina as formas da convivncia, se autoritria ou solidria, com a comunidade escolar.

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[...] o diretor coordena, mobiliza, motiva, lidera, delega aos membros da equipe escolar, conforme suas atribuies especficas, as responsabilidades decorrentes das decises, acompanha o desenvolvimento das aes, presta contas e submete avaliao da equipe o desenvolvimento das decises tomadas coletivamente. (Libneo, 2003, p. 335).

As atribuies dos gestores so inmeras, porm, este no deve aglutinar todas as aes, pois a equipe escolar (coordenadores, professores etc.) tm seu papel a desempenhar, com consonncia com o gestor. Cada um tem sua funo distinta e diversificada, devendo desenvolv-la em um ambiente saudvel e interativo.

Entende-se, assim, como fundamental o papel do diretor de apoiar e de promover o profissionalismo interativo. Essa tarefa deve envolver o auxlio aos professores para que entendam sua prpria situao, de modo a oferecer [uma melhor compreenso] e recursos para o aprimoramento. (Fullan & Hargreaves, 2000, p. 105). Os gestores escolares so profissionais que devem ter uma viso do todo da escola e das pessoas que nela se relacionam, desde o professor, aluno, funcionrio at os pais; e saber lidar com a complexidade de cada segmento, dando-lhes ateno e apoio necessrio ao desenvolvimento de suas aes, para o fim de garantir um melhor xito, principalmente no processo de ensino e aprendizagem, mas, no menos importante, nas outras dimenses educativas. Pois, agindo com uma postura diferenciada, e tendo frente a responsabilidade pela unidade de ensino, seu foco principal deve ser o sucesso da escola, que depende do trabalho em conjunto com os demais agentes educacionais. Myrtes (1979) esclarece esse modo de ser dos gestores:

O papel do diretor fundamental para assegurar a unidade de propositor, bem como a implementao de todo o programa institucional. Como lder do corpo docente, deve estabelecer a tnica predominante no processo educacional global, transmitindo o seu entusiasmo e o interesse pelo progresso do ensino, estimulando o trabalho de equipes e assegurando as condies bsicas para um desempenho efetivo das funes essenciais. Nesse sentido o diretor ir atuar junto aos vrios especialistas, criando situaes favorveis ao seu trabalho, unindo esforos com eles para desenvolver novos projetos e manter atualizados os professores, localizando os pontos fracos do sistema e estudando solues convenientes (p. 151). Os gestores devem saber ouvir e respeitar as opinies diferentes e contrrias s suas, e at acatar as decises que no lhe agradam, pois a coletividade, se expressando de forma democrtica e participativa, deve ser considerada e levadas a cabo suas decises. So as divergncias que, muitas vezes, proporcionam um novo olhar e novas aes para antigos problemas. Por isso preciso o gestor ser e estar aberto aos novos desafios e saberes, e saber lidar com eles, com dinamismo e coerncia. A figura dos gestores alvo tanto dos elogios quanto das crticas, sendo-lhes atribudos os problemas da escola, como relata Fullan (2000):

O diretor um modelo de papel de colaborador dentro e fora da escola. ao mesmo tempo interessante e irnico que os diretores que partilham a autoridade e estabelecem condies que levam ao fortalecimento, na verdade, aumentem sua influncia sobre o que realizado

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na escola, uma vez que trabalham com os professores para que aconteam as melhorias (p. 112). Sendo os gestores as figuras mais visveis no mbito da instituio, sua postura, aes, decises e opinies tendem a ser seguidas pelos demais, desde o professor, servente, secretrio, pois sua influncia disseminada, como explica Luck (2005):

Devido a sua posio central na escola, o desempenho de seu papel exerce forte influncia (tanto positiva como negativa) sobre todos os setores e pessoas da escola. do seu desempenho e de sua habilidade em influenciar o ambiente que depende, em grande parte, a qualidade do ambiente e clima escola, o desempenho do seu pessoal e a qualidade do processo ensino-aprendizagem. (p. 16). Nessa discusso, preciso ressaltar que, uma das contribuies significativas do gestor deve estar voltada para o educando, pois seu crescimento, consequentemente, o da escola. O crescimento deve abranger todos os aspectos da vida dos educandos, dentro e fora da escola, de modo que a sociedade tenha mais seres humanos conscientes e solidrios com os outros e com o mundo, e assim se produza uma sociedade melhor. Enfrentar os novos desafios com clareza e perspiccia no tarefa fcil, mas as funes, caractersticas e contribuies do gestor so elencadas por Luck (2005) na tentativa de contribuir para o melhoramento das mesmas: do gestor da escola a responsabilidade mxima quanto consecuo eficaz da poltica educacional do sistema e desenvolvimento pleno dos objetivos educacionais, organizado, dinamizando e coordenando todos os recursos para tal (p. 16). Os gestores so quem proporcionam as mudanas da escola, fomentando o novo quanto aos objetivos, processos, estratgias, tecnologias etc. Sendo eminentemente agentes educadores, suas atitudes, orientaes e direes favorecem a mudana de comportamentos e atitudes dos que esto ao seu redor. Sendo precipuamente um agente cultural, o gestor desenvolve um estilo de gesto que, de algum modo, modifica a cultura existente na escola e na sociedade. Alm do mais, o gestor marca a vida das pessoas, pois se inter-relaciona com elas constantemente, interferindo no seu fazer. Libneo (2003) explica a dinamicidade desse processo:

A direo da escola, alm de ser uma das funes do processo organizacional, um imperativo social e pedaggico. O significado do termo direo, no contexto escolar, difere de outros processos direcionais, especialmente os empresariais. Ele vai alm da mobilizao das pessoas para a realizao eficaz das atividades, pois implica intencionalidade, definio de um rumo educativo, tomada de posio ante objetivos escolares sociais e polticos, em uma sociedade concreta (pp. 330-331). A complexidade de exercer a funo de gestor se desfaz no exerccio corriqueiro de saber ser, saber fazer, saber construir uma postura de lder democrtico, com abrangncia nas dimenses pedaggicas, administrativas e financeiras, de modo que, constantemente, tenha a capacidade de rever suas aes educacionais e gerenciais. Para tanto, necessrio uma (auto)reflexo e

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(re)construo de sua identidade, bem como da escola, priorizando o sucesso do educando e da instituio. Para tanto, o papel dos gestores se revestem de significados, pois deste profissional depende o sucesso da gesto e da escola. Gestar uma escola democraticamente exige alguns fatores, como autoridade, responsabilidade, deciso, disciplina e iniciativa, como ressalta Libneo (2004, p. 216). A autoridade deve ser compartilhada com todos os membros, de forma descentralizada, de modo que as decises passem pelo grupo, onde cada um co-responsavel pelo trabalho educativo. Cabe ao gestor proporcionar a interao, unindo esforos para que todos tenham uma mesma linguagem e trabalhem numa dinmica harminiosa em que uns fortifiquem os outros. Contudo, difcil:

Constituem, pois, desafios competncia de diretores, coordenadores pedaggicos e professores: saber gerir e, frequentemente, conciliar interesses pessoais e coletivos, peculiares, culturais e exigncias universais da convivncia humana; preocupar-se com as relaes humanas e com os objetivos pedaggicos e sociais a atingir; estabelecer formas participativas e a eficincia nos procedimentos administrativos (Libneo, 2003, p. 323). A conciliao uma prerrogativa que deve ser entendida como um entendimento entre os gestores escolares, de que a participao deve gerir o exerccio da democracia na escola, de modo que todos os alunos, professores, funcionrios e pais decidam, coletivamente, as aes educacionais que favoream o sucesso do educando e da escola. Portanto, uma gesto escolar democrtica para se efetivar, de fato, precisa de um gestor aberto, que exera liderana compartilhada, fazendo todos exercerem o compromisso com a escola, sua qualidade de ensino e aprendizagem, e uma melhor qualidade da educao.

1.2.2.

O papel do Conselho Escolar

Um dos referenciais no estudo dos Conselhos so os cadernos do Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares, do MEC (2004). No Brasil, at os anos de 1980, os conselhos eram formados com critrios de sabedoria, sendo escolhidos os mais notveis, tinham carter governamental, atuando na esfera estadual e nacional, principalmente nas reas da sade, educao, cultura e assistncia social, e se restringiam a questes de normatizao e credenciamento dos sistemas. Nessa mesma dcada, com o processo de redemocratizao e de elaborao da Constituio Cidad de 1988, em que foram criados conselhos gestores de polticas pblicas, em que era composto por representantes de categorias sociais, que almejavam participar da gesto das polticas pblicas. Eles existem na instncia municipal, estadual e nacional, e atuam em reas especficas, categorias sociais ou programas especficos. Nessa perspectiva de gesto democrtica das polticas pblicas, os conselhos so entendidos como mediadores entre o Estado e a sociedade civil organizada, que expressa suas

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necessidades e intencionalidades, buscando intervir, solucionar ou executar aes coletivas de grupos ou categorias sociais. Quanto aos Conselhos Escolares, as suas diretrizes esto previstas na LDB, art. 14: participao das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. Nesse item est visvel que os conselhos tm o poder, atravs da participao, de deliberar e aconselhar os dirigentes, sobre as aes que melhor contribuam para o desempenho da escola. Nessa perspectiva, o conselho traduz a voz da comunidade, e no o contrrio, a voz da direo. Ele representa a pluralidade dos atores sociais que o compem, logo, deve respeitar os diferentes pontos de vista e compartilhar as decises, dividindo responsabilidades, aumentando as chances de acertos. Os conselhos vinculados a polticas pblicas esto divididos em trs tipos: os de programas, associados aquisio de bens e servios, como o conselho de alimentao escolar; conselhos ligados ao sistema nacional, podendo planejar ou fiscalizar as aes de determinado grupo social. Por exemplo, conselhos de educao, de sade etc. Conselhos temticos que surgem por iniciativa local ou incentivo estadual, como conselho municipal de direitos da mulher, da criana e adolescente. (IBAM, IPEA, Comunidade Solidria, 1997). Ainda existem outras experincias de conselhos, que os distingue em comunitrios, populares e administrativos, de acordo com estudo de Teixeira (1996). O primeiro apresentava as demandas da comunidade ao governo; o segundo foi criado pelos movimentos sociais e no tem ligao com instituies; e o terceiro relaciona-se com entidades prestadoras de servios, como escolas, hospitais. A criao dos Conselhos Escolares constitui-se uma ferramenta no processo de democratizao da gesto escolar, preconizadas nas palavras de Vitor Paro (2002): gesto democrtica da escola, parece j estar necessariamente implcita a participao da populao em tal processo (p. 16), embora ele entenda que a participao efetiva s acontece quando existe partilha de poder e de tomada de decises. Retomando a concepo de conselho escolar utilizada por Paro (2001), ele constitui-se em espao permanente de debate, gerao de ideias, que dever proporcionar uma prtica democrtica das relaes estabelecidas na dinmica do sistema escolar. Essa efervescncia de pensamentos deve respeitar o diferente, o contraditrio, pois um lugar onde pais, professores, alunos, ncleo gestor e comunidade local discutem problemas e vislumbram solues, surgem diferentes opinies e solues, devendo ser amadurecidas e viabilizadas aquelas que melhor contribuem para o bom andamento da escola. Os Conselhos devem ter competncia deliberativa, em que tomam decises pedaggicas, administrativas-financeiras e de gesto; consultiva, posicionando-se sobre as referidas decises ou sugerindo, na perspectiva de melhorar a qualidade de ensino; normativa, emitindo normas referentes s citadas aes; avaliativa, em que avalia o trabalho dos envolvidos na escola; executiva, realizando os projetos e aes do Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE), Projeto Poltico-Pedaggico (PPP), Regimento Escolar (RE), em consonncia com o Ncleo Gestor; fiscalizadora, em que acompanha e fiscaliza a aplicao dos recursos e a prestao de contas; e mobilizadora, no sentido de apoiar, promover e estimular projetos educativos ou sociais.

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Os Cadernos do Conselho Escolar, desenvolvidos pelo MEC, apresentam uma viso abrangente das competncias dos conselhos presentes nos sistemas de ensino de gesto escolar democrtica, dos Estados da Federao, que consistem em: Deliberativas decidem sobre o PPP e outros projetos educativos. Interfere quanto ao Planejamento da Escola: plano de ao anual, diretrizes, metas e prioridades, calendrio escolar e avaliao do desempenho da escola; quanto ao Projeto Pedaggico: elaborao e aprovao, regimento escolar; Recursos fsicos e financeiros: plano de aplicao de recursos, plano de expanso da escola, contratao de servios, aceitao de doaes, utilizao de espaos; Relaes escolacomunidade: Programas de integrao escola-comunidade, parcerias e convnios, realizao de eventos culturais, criao de instituies auxiliares da escola; Questes administrativas e disciplinares: sindicncias e processos, penalidades disciplinares, estgio probatrio de servidores, destituio do diretor, designao e/ou dispensa de vice-diretor; Matrias diversas: matrias de interesse escolar, questes administrativas e pedaggicas, projeto de atendimento ao estudante, projetos de melhoria da escola, utilizao da merenda e materiais, relatrios anuais; quanto ao Conselho Escolar: elaborar regimento e estatuto, eleger seu presidente; Questes omissas; Eleio de diretor; Convocar Assembleia Geral. As competncias Consultivas tm um carter de assessoramento, sugerem e indicam solues que podem ou no ser acatadas pelo ncleo gestor. Podem atuar no Planejamento da escola: plano de ao anual, diretrizes, metas e prioridades, calendrio escolar, ao do desempenho da escola; no Projeto Pedaggico: elaborao e aprovao, execuo e avaliao, proposta curricular, regimento escolar; nos Recursos fsicos e financeiros: plano de aplicao de recursos, contratao de servios, utilizao de espaos; nas Relaes escola-comunidade: programas de integrao escola-comunidade, parcerias e convnios, realizao de eventos culturais; nas questes administrativas e disciplinares: sindicncias e processos, penalidades disciplinares, cumprimento de normas, designao e/ou dispensa de vice-diretor; Matrias diversas: matrias de interesse da escola, questes administrativas e pedaggicas, responder a consultas e representaes, indicao de cargos e desempenho, projetos de melhoria da escola, relatrios anuais e assistncia escolar; no Conselho Escolar: elaborar regimento e/ou estatuto, prestao de contas do conselho, desligamento dos membros do conselho; na Ao Mobilizadora: participao comunitria e criao de grmios; Questes Omissas. As competncias Fiscais acompanhamento e avaliao dos projetos escolares. Devem ser exercidas quando: quanto ao Planejamento da Escola: calendrio escolar, avaliao do desempenho da escola e superviso geral; quanto ao Projeto Pedaggico: a execuo e avaliao; quanto dos Recursos fsicos e financeiros: plano de expanso da escola, contratao de servios, captao de recursos; quanto s Relaes escola-comunidade: programas de integrao escola-comunidade, parcerias de convnios, realizao de eventos culturais, fortalecimento da escola; quanto s questes Administrativas e Disciplinares: sindicncias e processos, cumprimento de normas, folha de pagamento; quanto ao Conselho Escolar: capacitao de seus membros; quanto Ao Mobilizadora: fortalecimento da escola, participao comunitria, criao de grmios; questes omissas.

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A ltima competncia enumerada a Mobilizadora pressupe participao e envolvimento nas atividades educativas. Ela deve ser exercida quando: quanto ao planejamento da escola: calendrio escolar, avaliao do desempenho da escola e superviso geral; quanto ao Projeto Pedaggico: execuo e avaliao; quanto aos recursos fsicos e financeiros: plano de aplicao de recursos, prestao de contas, plano de expanso da escola, contratao de servios, realizao de obras; quanto s questes administrativas e disciplinares: cumprimento de normas e estatuto do magistrio; quanto s matrias diversas: utilizao da merenda e materiais, relatrios anuais. (Secretaria de Educao Bsica, Cadernos do Conselho Escolar, MEC, 2004, p.45-46) Quanto composio e funcionamento do Conselho Escolar no sistema de ensino, na maioria dos estados da Federao, apresentam as seguintes caractersticas: quanto proporcionalidade das categorias, a representao est dividida em partes iguais, sendo metade destinada aos trabalhadores da educao (direo, professores, servidores) e a outra pelos pais e alunos (alguns apresentam membros da comunidade local). A maioria dos conselhos analisados apresenta um determinado nmero de membros, de acordo com o tamanho da escola. Os mandatos variam de um a dois anos. A escolha se d por eleio das categorias, sendo que os alunos estabelecem limite de idade para direito a voto e representao. O diretor membro nato. O funcionamento explicitado minuciosamente, ocorrendo reunies peridicas, na maioria, bimestrais. Alm das reunies, devem realizar assembleias gerais, com a participao de toda a comunidade escolar, e da maioria dos membros do conselho. As decises da assembleia so soberanas, sendo que as discusses, votaes e decises devem ser registradas em atas, que devem ser lidas, aprovadas e assinadas por todos os presentes. A presidncia do Conselho exercida sob duas formas: pelo diretor ou eleita pelos participantes. Essa a mais comum, dos casos analisados. importante ressaltar que a escolha dos conselheiros deve possibilitar uma participao efetiva da comunidade escolar e local, todavia, esse processo requer representatividade, disponibilidade e compromisso por parte dos integrantes. A anlise dos 101 sistemas de conselho por parte da equipe do MEC (Secretaria de Educao Bsica, 2004) conclui que existe um envolvimento dos conselheiros no cotidiano da escola, exercendo um papel instituinte da cidadania ativa (p. 51). Contudo, preciso verificar a existncia de situaes castradoras da cidadania, como a relatada por Paro (1996), em que os conselhos apenas legitimam a vontade da direo.

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CAPTULO II GESTO ESCOLAR DEMOCRTICA NO CONTEXTO ESTADUAL

2.1. Breve Histrico O estado do Cear (CE), no perodo da Ditadura Militar (1964-1985), teve sua poltica comandada pelo clientelismo, articulada pelas relaes de compadrio e pelo autoritarismo. Foi a chamada poca dos coronis, em que trs lideranas polticas se revezaram no poder: Virglio Tvora, Csar Cals de Oliveira e Adauto Bezerra. Nos municpios predominavam o apadrinhamento, currais eleitorais, voto de cabresto, dentre outras prticas. Os coronis dominavam a poltica estatal, mas dentro do prprio estado, um grupo de empresrios que se beneficiavam dos recursos financeiros do Estado, organizados no Centro Industrial do Cear (CIC), comeam a interessar-se pelo controle do aparelho estatal. No perodo de abertura do regime ditatorial, nas eleies de 1986, esses empresrios vencem as eleies, prometendo modernidade e combate misria. Iniciava-se o governo das mudanas, que perdurou em cinco mandatos, de 1987 a 2006. Segundo Nobre (1999), esse grupo implantou o projeto de modernizao da administrao pblica, com carter neoliberal, compatvel com a poltica do governo federal e com a agenda da nova ordem econmica de acumulao do capital. A reestruturao da mquina administrativa adotou medidas de reduo do quadro de pessoal e controle dos gastos pblicos, retirando 40 mil contratos da folha, sendo 13 mil da educao, dando-lhe tratamento tcnico-burocrtico. Outra medida foram as privatizaes de empresas estatais, como a Telecear e a Coelce, no intuito de reduzir a interveno direta do poder pblico no mercado. Dessa forma, a economia local foi redirecionada para a globalizao, em que o Estado deve favorecer, indiretame