elisngela de ftima rosa - universidade federal do rio ... · como objetivo de pesquisa uma análise...

40
ELISÂNGELA DE FÁTIMA ROSA Programa Segundo Tempo no Colégio Estadual Garavelo Park: Limites e Possibilidades Goiânia 2007 ELISÂNGELA DE FÁTIMA ROSA UMA NOVA PERSPECTIVA PARA O ESPORTE NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA DO COLÉGIO GARAVELO PARK: POSSÍVEIS MUDANÇAS 1

Upload: others

Post on 23-Jan-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: ELISNGELA DE FTIMA ROSA - Universidade Federal do Rio ... · como objetivo de pesquisa uma análise sobre a abordagem do esporte nas aulas do Programa Segundo Tempo desenvolvido no

ELISÂNGELA DE FÁTIMA ROSA

Programa Segundo Tempo no Colégio Estadual Garavelo Park: Limites e

Possibilidades

Goiânia

2007

ELISÂNGELA DE FÁTIMA ROSA

UMA NOVA PERSPECTIVA PARA O ESPORTE NAS AULAS DE

EDUCAÇÃO FÍSICA DO COLÉGIO GARAVELO PARK: POSSÍVEIS

MUDANÇAS 1

Page 2: ELISNGELA DE FTIMA ROSA - Universidade Federal do Rio ... · como objetivo de pesquisa uma análise sobre a abordagem do esporte nas aulas do Programa Segundo Tempo desenvolvido no

Programa Segundo Tempo no Colégio Estadual Garavelo Park: Limites e

Possibilidades

Trabalho apresentado ao Curso de

Especialização em Esporte Escolar do

Centro de Educação à Distância da

Universidade de Brasília em parceria com o

Programa de Capacitação Continuada em

Esporte Escolar do Ministério do Esporte

para obtenção do título de Especialista em

Esporte Escolar.

Orientador:

Profª. Ms. Izabel Leal

Goiânia

2007

2

Page 3: ELISNGELA DE FTIMA ROSA - Universidade Federal do Rio ... · como objetivo de pesquisa uma análise sobre a abordagem do esporte nas aulas do Programa Segundo Tempo desenvolvido no

ROSA, Elisângela de Fátima

Uma nova perspectiva para o esporte nas aulas de Educação Física do Colégio

Garavelo Park: possíveis mudanças. Goiânia, 2007.48p.

Monografia (Especialização) – Universidade de Brasília. Centro de Educação a

Distância, 2007.

1. Perspectiva crítica 2. Esporte escolar 3. Programa Segundo Tempo.

UMA NOVA PERSPECTIVA PARA O ESPORTE NAS AULAS DE

EDUCAÇÃO FÍSICA DO COLÉGIO GARAVELO PARK: POSSÍVEIS

MUDANÇAS

3

Page 4: ELISNGELA DE FTIMA ROSA - Universidade Federal do Rio ... · como objetivo de pesquisa uma análise sobre a abordagem do esporte nas aulas do Programa Segundo Tempo desenvolvido no

Programa Segundo Tempo no Colégio Estadual Garavelo Park: Limites e

Possibilidades

Trabalho apresentado ao Curso de

Especialização em Esporte Escolar do

Centro de Educação à Distância da

Universidade de Brasília em parceria com o

Programa de Capacitação Continuada em

Esporte Escolar do Ministério do Esporte

para obtenção do título de Especialista em

Esporte Escolar, pela Comissão formada

pelos professores:

__________________________________________________________________

Professor

__________________________________________________________________

Professor

Goiânia, 16 de junho de 2007.

4

Page 5: ELISNGELA DE FTIMA ROSA - Universidade Federal do Rio ... · como objetivo de pesquisa uma análise sobre a abordagem do esporte nas aulas do Programa Segundo Tempo desenvolvido no

DEDICO primeiramente a Deus, pois sem ele

nada conseguiria alcançar, dedico também aos

meus pais, meu esposo e filhos.

5

Page 6: ELISNGELA DE FTIMA ROSA - Universidade Federal do Rio ... · como objetivo de pesquisa uma análise sobre a abordagem do esporte nas aulas do Programa Segundo Tempo desenvolvido no

AGRADECIMENTOS

AGRADEÇO a Profª. Ms. IZABEL LEAL, a equipe docente e discente do Colégio

Estadual Garavelo Park, e a todas as pessoas que mesmo de forma indireta me incentivaram

na realização desta.

6

Page 7: ELISNGELA DE FTIMA ROSA - Universidade Federal do Rio ... · como objetivo de pesquisa uma análise sobre a abordagem do esporte nas aulas do Programa Segundo Tempo desenvolvido no

“Não basta saber, é preferível saber aplicar”.

“Não é bastante querer, é preciso saber querer.”

Goethe

RESUMO

O presente estudo registra uma reflexão sobre a temática do Programa Segundo

Tempo no Colégio Estadual Garavelo Park do Município de Aparecida Goiânia buscamos

7

Page 8: ELISNGELA DE FTIMA ROSA - Universidade Federal do Rio ... · como objetivo de pesquisa uma análise sobre a abordagem do esporte nas aulas do Programa Segundo Tempo desenvolvido no

como objetivo de pesquisa uma análise sobre a abordagem do esporte nas aulas do

Programa Segundo Tempo desenvolvido no referido colégio, bem como a maneira com que

esse programa estava sendo oferecido para os alunos e se estava contribuindo para o

desenvolvimento global dos mesmos, sendo assim tivemos como eixo esta problemática de

investigação. Os sujeitos dessa pesquisa foram os alunos inscritos no Programa Segundo

Tempo, os professores estagiários e a professora/coordenadora envolvidos no programa. A

pesquisa de caráter qualitativo teve como instrumento de coleta de dados a observação e

entrevista. Buscamos realizar levantamentos de dados pertinentes à concepção e abordagem

teórica dos envolvidos neste programa, onde percebemos que há uma tendência a abordagens

de cunho técnico. Ciente que o esporte possui uma responsabilidade enorme na escola que é

de preparar o individuo para desempenhar seu papel de cidadão dentro de uma sociedade onde

as desigualdades sociais impedem na maioria das vezes uma autonomia coerente com o

discurso de cidadania oferecido pela educação. Desta forma, temos que repensar sobre a

implantação deste programa, pois, o mesmo precisa ser avaliado e reavaliado, para que atenda

a sua verdadeira função, ou seja, sua missão, que é a inclusão social de todos.

Palavras-chave: Concepção de Esporte, Esporte Escolar, Programa Segundo Tempo.

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO

2. CAPÍTULO I

2.1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

8

Page 9: ELISNGELA DE FTIMA ROSA - Universidade Federal do Rio ... · como objetivo de pesquisa uma análise sobre a abordagem do esporte nas aulas do Programa Segundo Tempo desenvolvido no

2.2 O ESPORTE ESCOLAR – UM BREVE RELATO HISTÓRICO

2.3 ESPORTE NA ESCOLA NUMA PERPESTIVA CRÍTICO – EMANCIPATÓRIA

2.4 REFLEXÃO – MOVIMENTO DE EMANCIPAÇÃO

2.5 ESCOLA – FUNÇÃO SOCIAL

2.6 UM AGIR COMUNICATIVO – COMPREENSÃO CRÍTICA DAS ENCENAÇÕES

ESPORTIVAS

2.7 UMA REFLEXÃO CRÍTICA SOBRE A PRÁTICA DO ESPORTE

3. CAPÍTULO 2

3.1 PERCURSO METODOLÓGICO

3.2 REFLEXÃO: POSSÍVEL TRATO PEDAGÓGICO PARA O ESPORTE

3.3 INSTITUIÇÃO E SUJEITOS INVESTIGADOS

3.4 INSTITUIÇÃO DE ENSINO SELECIONADA

3.5 PROFESSORES INVESTIGADOS

4. CAPÍTULO 3

4.1 ANÁLISE DE DISCUSSÃO DOS DADOS

4.2 INSTRUMENTOS UTILIZADOS NA COLETA DE DADOS

4.3 OBSERVAÇÃO

4.4 ANÁLISE DOCUMENTAL

4.5 ENTREVISTA

4.6 ANÁLISE DA PESQUISA

4.7 A POSTURA DO PROFESSOR – UM TRATO DIDÁTICO PEDAGÓGICO PARA

O ESPORTE

4.8 O ALUNO – UM SER EM FORMAÇÃO DENTRO DO CONTEXTO ESCOLAR

4.9 A FUNÇÃO SOCIAL DO ESPORTE

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

REFERÊNCIAS

ANEXOS

9

Page 10: ELISNGELA DE FTIMA ROSA - Universidade Federal do Rio ... · como objetivo de pesquisa uma análise sobre a abordagem do esporte nas aulas do Programa Segundo Tempo desenvolvido no

INTRODUÇÃO

O estudo proposto é proveniente de reflexões e questionamentos acerca de como vem

sendo abordado o conteúdo esporte nas aulas do Programa Segundo Tempo. Na perspectiva

de trazer discussões específicas sobre como vem sendo trabalhado à questão do esporte no

contexto do programa no ambiente escolar.

A função social do esporte na escola não é a de valorizar a técnica, a competição e o

rendimento, ou seja, ser um “celeiro” esportivo. Mas infelizmente esta não é uma prática,

quando deparamos com a realidade, fato este observado principalmente no Programa Segundo

Tempo.

Quando vamos a campo a competição é percebida como finalidade primordial das

aulas, onde o objetivo principal tem sido o de formar equipes aptas para competirem em

torneios esportivos, ou seja, o oposto do que teoricamente tem se proposto para a formação

educativa e sociabilizadora (inclusiva) do aluno tanto na escola quanto fora da escola.

Devido à necessidade de superação do esporte, sua apreensão como algo reedificado,

livre de condicionamentos que o transformam em um instrumento restrito de treinamento em

habilidades práticas é que pretendemos refletir sobre as possibilidades de uma nova

abordagem para seu ensino.

A partir do pressuposto de que uma abordagem crítica que propicie ao educando

condições de refletir sobre o esporte praticado dentro e fora da escola, adquirindo significação

para individuo, através do trato pedagógico, com possibilidades de ser analisado, obtendo

mudanças reais na prática pedagógica desse esporte, provocando e facilitando a reconstrução

de conhecimentos, atitudes e formas de conduta que levem os alunos a assimilarem as práticas

sociais é que optamos em esclarecer da melhor forma essa proposta.

Por acreditar na viabilidade do esporte como forma de inclusão social e que o

ambiente escolar e o contexto mais propício para promoção de cidadãos críticos, reflexivos e

participativos, sendo estes capazes de transformar a sociedade na qual estão inseridos. Esta

pesquisa justifica-se na medida em que ao realizamos a investigação dentro da escola

10

Page 11: ELISNGELA DE FTIMA ROSA - Universidade Federal do Rio ... · como objetivo de pesquisa uma análise sobre a abordagem do esporte nas aulas do Programa Segundo Tempo desenvolvido no

possibilita um verdadeiro olhar sobre uma realidade concreta onde podemos vislumbrar ações

de mudanças ou até mesmo de transformações.

O objetivo principal desse trabalho foi, portanto, analisar o conceito de esporte

dentro da referida proposta, sua real operacionalidade na escola visando novas perspectivas

para o mesmo. Nossa meta foi relacionar o esporte escolar dentro de uma perspectiva crítica

com sua prática atual realizada no Programa Segundo Tempo, desenvolvido na instituição

observada, verificando a possibilidade de reformular bases teóricas para um

redimensionamento pedagógico-cultural.

Para alcançarmos nossos objetivos, aprimoramos nossos conhecimentos através da

leitura, a cerca da abordagem em questão, onde recorremos dos principais estudiosos

referentes ao tema como: KUNZ 1998, 2001, Barbosa 1997, Coletivo de Autores 1991,

Oliveira 2000, Bracht 1996 e outros, para assim conseguirmos avaliar com segurança a

possibilidade de obter mudanças consistentes no trato com o esporte no âmbito escolar.

Objetivando viabilizar reflexões, caminhos diferenciados e estratégias diversificadas

é que direcionamos esta pesquisa para então, sermos capazes de: Analisar como está sendo

abordado o conteúdo esporte, nas aulas do Segundo Tempo; Viabilizar novos caminhos

mediante reflexões críticas sobre o esporte trabalhado nas aulas do Programa Segundo

Tempo.

Para tanto, buscamos realizar uma pesquisa com aspectos qualitativos. Com

perspectivas de promovermos no individuo a necessidade de analisar de maneira crítica o

fenômeno esportivo. Desenvolvemos a pesquisa de campo utilizando os instrumentos

metodológicos: a análise documental, observação e entrevista.

Mediante o problema observado nas aulas do Segundo Tempo, onde o esporte

rendimento está sendo priorizado pelos professores que desenvolvem esse projeto é que

resolvemos localizar os motivos que levaram esses profissionais a trabalharem com essa

concepção.

Para tanto, esta pesquisa foi divida em três capitulo. Onde no primeiro capitulo

tratamos do referencial teórico buscando fundamentar o esporte através de um contexto

histórico e também trouxemos reflexões crítica sobre a prática do esporte, bem como a função

social do mesmo.

11

Page 12: ELISNGELA DE FTIMA ROSA - Universidade Federal do Rio ... · como objetivo de pesquisa uma análise sobre a abordagem do esporte nas aulas do Programa Segundo Tempo desenvolvido no

No segundo capitulo tratamos dos caminhos metodológicos para realização da

presente investigação e no terceiro e último capitulo realizamos as analises e discussões de

dados e as principais considerações desta investigação.

A causa e a razão que nos levaram a realizar este estudo se deve a tantos

questionamentos provenientes do trato com o esporte dentro de uma proposta teoricamente

pedagógica, mas na realidade o que se percebe é a utilização desse esporte como instrumento

de dominação e alienação escolar. Resultando então, na necessidade de uma discussão sobre a

possibilidade de uma abordagem crítico-reflexiva para o esporte dentro do âmbito escolar.

Acreditamos que o ato de ensinar exige respeito à autonomia do educando, bom

senso e tolerância, pois, somente a partir do respeito ao aluno será possível intervir nos

fenômenos sociais e culturais instigando nesse educando sua própria autonomia.

CAPÍTULO I

12

Page 13: ELISNGELA DE FTIMA ROSA - Universidade Federal do Rio ... · como objetivo de pesquisa uma análise sobre a abordagem do esporte nas aulas do Programa Segundo Tempo desenvolvido no

2.1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.2 O ESPORTE ESCOLAR – UM BREVE RELATO HISTÓRICO

Para proporcionar ao leitor uma melhor compreensão da função social do esporte, no

contexto em que está inserido atualmente é que se faz necessário esse relato histórico.

O esporte, como um dos inúmeros conteúdos da Educação Física está presente no

processo educativo, possui função política determinada socialmente.

Ao longo da história, a humanidade em decorrência das mudanças que aconteceram

gerando diferenças sociais significativas, passa pelas dificuldades geradas pela oposição entre

a classe operária e a burguesia. A burguesia surge devido à consolidação do Estado Burguês.

“... a Europa de fins de século XVIII, e início de século XIX constituem-se

em palco da construção e consolidação de uma nova sociedade – a

sociedade capitalista onde os exercícios físicos terão um papel destacado”

(Coletivo de Autores, 1992:50 e 51).

No fim do século XVIII e início do século XIX a Europa apresenta o surgimento de

uma nova sociedade, capitalista onde os exercícios físicos são fundamentais para essa

sociedade que nasce na formação de um novo “modelo” de homem, mais forte, mais ágil e

empreendedor.

A produção da riqueza usufruída por uma pequena parte da sociedade requer a

utilização de mão de obra realizada pelos trabalhadores que utilizam os exercícios físicos

como receita capaz de torná-los fortes e viris com corpos saudáveis, hábeis e disciplinados.

Segundo a afirmação de Soares:

“Os exercícios físicos, então passaram a ser entendidos como “receita” e

“remédio”. Julgava-se que, através deles, e sem mudar as condições

materiais de vida a que estava sujeito o trabalhador daquela época, seria

possível adquirir o corpo saudável, ágil e disciplinado exigido pela nova

sociedade capitalista” (Coletivo de Autores, 1992, p.51).

Para a nova sociedade em construção onde a força de trabalho é fonte de lucro para a

burguesia, cuidar do corpo então, torna-se indispensável.

13

Page 14: ELISNGELA DE FTIMA ROSA - Universidade Federal do Rio ... · como objetivo de pesquisa uma análise sobre a abordagem do esporte nas aulas do Programa Segundo Tempo desenvolvido no

A Educação Física escolar, portanto, passa a ser vista como meio de preparar o

indivíduo tanto física como moralmente, capaz de contribuir para com o crescimento e

prosperidade da pátria.

“Para manter a sua hegemonia, a burguesia necessita, então, investir na

construção de um homem novo, um homem que possa suportar uma nova

ordem política, econômica e social, um novo modo de reproduzir a vida sob

novas bases. A construção desse homem novo, portanto, será integral, ela

“cuidará” igualmente dos aspectos mentais, intelectuais, culturais e físicos”

(SOARES, 2001, p.9).

A Educação Física em seu desenvolvimento conta com o importante papel do médico

higienista como responsável pelo conhecimento biológico. Conhecimento esse utilizado para

direcionar a função da Educação Física na escola que é a de desenvolver a aptidão física do

indivíduo.

As aulas de Educação Física eram ministradas por instrutores físicos que faziam

parte do exército, os métodos utilizados eram bastante rígidos, militares, disciplinadores e

hierárquicos.

Para a construção de homens disciplinados, submissos e respeitadores da hierarquia

social são utilizados atividades exclusivamente práticas, muito semelhantes às instruções

físicas militares.

Segundo o Coletivo de Autores:

“Destaca-se que, até essa época, os professores de Educação Física que

atuavam nas escolas eram os instrutores formados pelas instituições

militares. Somente em 1939 foi criada a primeira escola civil de formação

de professores de Educação Física” (Brasil). Decreto-lei (nº 1.212, de 17 de

abril de 1939), (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p.53).

Outras tendências surgem após a Segunda Guerra Mundial disputando o espaço

escolar. Um dos métodos que influenciou vários países, dentre eles o Brasil, o Método da

Educação Física Desportiva Generalizada, possui uma cultura européia como elemento

predominante da cultura corporal.

14

Page 15: ELISNGELA DE FTIMA ROSA - Universidade Federal do Rio ... · como objetivo de pesquisa uma análise sobre a abordagem do esporte nas aulas do Programa Segundo Tempo desenvolvido no

É um método que influenciou o domínio exacerbado do esporte na escola, onde sua

principal característica, o prolongamento da instituição esportiva cujos princípios se resumem

no rendimento atlético/desportivo, competições, comparação de rendimento e recordes,

regulamentação rígida, etc.

“O conceito de esporte que se vincula hoje à Educação Física é um conceito

restrito, pois se refere apenas ao esporte que tem como conteúdo o treino, a

competição, o atleta e o rendimento esportivo, este, aliás, é o conceito

“estrito” do esporte que aqui considero” (KUNZ, p. 63, 2004).

O esporte na escola, portanto, é como um prolongamento da instituição esportiva. O

esporte olímpico, sistema desportivo nacional e internacional como princípio da valorização

de competições do rendimento e também da vitória conseqüente do sucesso no esporte.

Na década de 70, no Brasil a Educação Física tem como base os princípios de uma

pedagogia tecnicista bastante difundida nessa época. A racionalização de meios que têm como

objetivos a eficiência e eficácia no esporte são os princípios dessa pedagogia.

“Já nessa época, nas décadas de 70 e 80 surgem movimentos renovadores,

entre eles o movimento denominado “humanista” que se caracterizava por

seus princípios filosóficos em torno do ser humano” (COLETIVO DE

AUTORES, 1991, p.55).

A concepção de “esporte para todos”, onde a autonomia do ser humano é colocada de

maneira privilegiada é uma outra tendência que surge. O individuo é que determina o tipo de

esporte que pretende realizar, suas regras, objetivos e em que condição o pratica.

A Educação Física no Brasil surgirá impregnada de ideais eugênicos, de apuração de

raça, fazendo parte de congressos médicos, nas propostas pedagógicas e discursos

parlamentares.

No ano de 1880 surgiram, em algumas regiões Européias como: Alemanha, Suécia,

França e Inglaterra vários métodos ginásticos e, consequentemente o Brasil teve uma maior

influência desses métodos.

Dentre essas, a Escola Alemã na perspectiva da ginástica para tornar-se um hábito e a

outra que foi fundamental para a construção histórica na consolidação da Educação Física foi

15

Page 16: ELISNGELA DE FTIMA ROSA - Universidade Federal do Rio ... · como objetivo de pesquisa uma análise sobre a abordagem do esporte nas aulas do Programa Segundo Tempo desenvolvido no

a Escola Francesa que tinha a função de formar indivíduos fortes e principalmente saudáveis e

disciplinados.

A seguir iremos abordar a concepção mais contemporânea do esporte da escola.

2.3 ESPORTE NA ESCOLA NUMA PERSPECTIVA CRÍTICO-EMANCIPATÓRIA

“Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser condicionado, mas,

consciente do inacabado sei que posso ir mais além dele”. Paulo Freire

Numa perspectiva de uma prática coerente com a teoria, onde o aluno tenha

condições de se apropriar de um conhecimento que lhe possibilite uma visão precisa,

consciente e universal de compreensão do mundo é que se pretende refletir sobre a real prática

pedagógica do esporte no ambiente escolar e também dentro do Programa Segundo Tempo.

Mediante a hipótese substancial do estudo realizado foi possível antecipar a ausência

de qualidade do ensino nas aulas de Educação Física nas escolas estaduais. Esse diagnóstico

foi percebido também no Programa Segundo tempo desenvolvido na maioria dessas escolas.

Se tratando de uma prática pedagógica onde professores, apesar de uma proposta d

aprendizagem que leve o aluno a refletir sobre o conteúdo trabalhado, na realidade o que

ocorre são práticas que envolvem apenas o treinamento visando a performance, sem um

direcionamento específico. É uma reflexão que se deve fazer como afirma Kunz (1998, p.25),

sob quais condições e de que forma o esporte deve e pode ser praticado na escola?

Segundo ele:

“A concepção do esporte que transita pelas aulas de Educação Física deve

ser analisada criticamente, sob aspectos de interação e significação sociais.

Assim, a suposta harmonia de sentido entre esporte dentro e fora da escola

reduz a interação como negociação de significados” (KUNZ, 2001, p.138).

Assim sendo, um trato diferenciado e crítico do esporte não deve afastar os alunos do

esporte dialogado, analisado, deve sim propiciar um contato pelo qual possam acontecer

“transformações” que assegurem a preservação do significado da ação, a vivência do sucesso

nas atividades e alterações de sentidos através da reflexão pedagógica. De acordo com Kunz:

Para o ensino da Educação Física escolar numa concepção crítico - emancipatória, o interesse

16

Page 17: ELISNGELA DE FTIMA ROSA - Universidade Federal do Rio ... · como objetivo de pesquisa uma análise sobre a abordagem do esporte nas aulas do Programa Segundo Tempo desenvolvido no

maior deve ser uma compreensão ampla das possibilidades educacionais pelo ensino do

esporte (2001, p.104).

2.4 REFLEXÃO - MOVIMENTO DE EMANCIPAÇÃO

É função de a Educação Física fazer com que os alunos apreendam o conhecimento

da técnica e ao mesmo tempo façam uma reflexão e compreendam qual o sentido tem essa

técnica para sua vida social.

A problematização do esporte como fenômeno sócio-cultural, segundo VAGO apud

OLIVEIRA (1996, p.13), parte do confronto dos valores e código que o tornam excludente e

seletivo, com valores e códigos “que privilegiem a participação, o respeito à corporeidade, o

coletivo e o lúdico”. O autor acredita que a escola produz uma outra forma de apropriação do

esporte, um outro conhecimento acerca do esporte. É impossível a escola se omitir de suas

tarefas então, é preciso debater o esporte, criticá-lo, produzi-lo... e, praticá-lo.

Um desafio que deve orientar nossos estudos e experiências é justamente identificar

formas diferenciadas do esporte e, em outro sentido, formas desse esporte modificado que

retorne à sociedade de maneira ampla provocando tensões e questionamentos.

Dentro de uma proposta de “Transformação didático-pedagógica”, Kunz (2001), diz

o seguinte:

“Trata-se, isto sim, em primeiro lugar, de uma mudança de concepção, tanto

do ensino como do esporte é necessária uma análise de seu estado atual,

como ele se oferece para essa possibilidade, e relacioná-lo com a sociedade

e o mundo em que foi constituído e em que é perpetuado. Isso implica,

também, assumir determinada concepção educacional e um compromisso

com as possibilidades “crítico-emancipatória” da escola, na formação dos

alunos.”.

Portanto, a tarefa da educação crítica é propiciar condições para que as estruturas

autoritárias e a imposição de uma linguagem distorcida possam ser eliminadas encaminhadas

no sentido de uma emancipação de acordo com a realidade.

2.5 ESCOLA – FUNÇÃO SOCIAL

17

Page 18: ELISNGELA DE FTIMA ROSA - Universidade Federal do Rio ... · como objetivo de pesquisa uma análise sobre a abordagem do esporte nas aulas do Programa Segundo Tempo desenvolvido no

Como instituição social, a escola é um lugar construído especialmente para promover

o desenvolvimento das capacidades dos indivíduos no sentido de favorecer a compreensão da

realidade, a sistematização do saber e a intervenção nos fenômenos sociais e culturais de

forma criativa. O propósito educativo tende-se ao compromisso de intervir efetivamente para

o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e igualitária.

A esse respeito Barbosa (1997, p.61), defende uma postura diferenciada por parte dos

profissionais de Educação Física que possibilite uma transformação dessa estrutura

socioeconômica injusta que oferece uma ideologia dominante através de uma disciplina que

tem como objetivo apenas o movimento corporal, sem propósitos coerentes com a realidade

da qual o indivíduo faz parte.

A tarefa central da escola é a de preparar e elevar o indivíduo ao domínio de

instrumentos científicos, culturais, profissionais, políticos, assim como de hábitos e valores,

para que possam atuar construtivamente na vida social, significando em outros termos, formar

para o exercício da cidadania social.

“O ensino escolar necessita, dessa forma, se basear numa concepção crítica,

pois é pelo questionamento crítico que se chega a compreender a estrutura

autoritária dos processos institucionalizados da sociedade e que formam as

falsas convicções, os falsos interesses e desejos” (KUNZ, 1998, p.122).

É preciso estimular no aluno o gosto pela pesquisa, contextualizando e

compreendendo o que foi descoberto através da pesquisa, com a possibilidade de cruzar as

informações adquirida de maneira real dentro de uma perspectiva crítica e emancipada.

“O objeto da pedagogia de Educação Física e dos esportes, assim, se

estende ao se - movimentar do homem, o que não implica num homem

abstrato, mas no homem que tem história, que tem contexto, que tem vida,

que tem classe social, enfim, um homem com inerente necessidade de se –

movimentar” (KUNZ, 2004, p.67).

Prepara o indivíduo não significa fazer dele um “depósito” de informações

insignificantes e descontextualizadas do lugar onde realiza a sua experiência de vida, mas

instrumentalizá-lo na formação de competências que possibilite uma melhor compreensão e

adequada intervenção junto à realidade social da qual faz parte.

18

Page 19: ELISNGELA DE FTIMA ROSA - Universidade Federal do Rio ... · como objetivo de pesquisa uma análise sobre a abordagem do esporte nas aulas do Programa Segundo Tempo desenvolvido no

“A escola não é uma ilha na sociedade. Não está totalmente determinada

por ela, mas não está totalmente livre dela. Entender os limites existentes

para a organização do trabalho pedagógico ajuda-nos a lutar contra eles:

desconsidera-los conduz à ingenuidade e ao romantismo” (FREITAS, 1995,

p.99).

2.6 UM AGIR COMUNICATIVO – COMPREENSÃO CRÍTICA DAS ENCENAÇÕES

ESPORTIVAS

“Enquanto sujeito histórico, o aluno será capaz de compreender e repensar

sua própria realidade, através da linguagem, podendo assim, entender de

forma crítica o fenômeno esportivo, como seu próprio mundo. Então,

significa conduzir o ensino na concepção crítico-emancipatória, com ênfase

na linguagem, é ensinar o aluno a ler, interpretar e criticar o fenômeno

sociocultural do esporte” (KUNZ, 1998, p.93).

O esporte escolar dentro de uma perspectiva crítico – emancipatória, neste sentido,

busca propiciar condições de compreensão crítica das várias formas da prática esportiva, seus

interesses e problemas anexados ao contexto sociopolítico.

A Educação Física então, além de propiciar o fazer (esporte), possui o papel de levar

o aluno a compreender o porquê, o para que e como fazer o esporte, as razões externas que

impõem as formas, os conteúdos, os significados e a própria lógica do esporte.

“O objetivo de ensino da Educação Física é assim, não apenas o desenvolvimento das

ações do esporte, mas propiciar a compreensão crítica das diferentes formas da encenação

esportiva, os seus interesses e os seus problemas vinculados ao contexto sociopolítico. É,

na prática, permitir apenas o desenvolvimento de formas de encenação do esporte que são

pedagogicamente relevantes” (Kunz, 1998, p.73).

Para uma prática diferenciada exige-se uma nova ação educativa onde a crítica e a

reflexão sejam elementos permanentes e permeadores do fazer e do pensar do educando desde

o esporte escolar até os demais conteúdos da cultura corporal. Significa dar sentidos e

significados aos conteúdos teóricos e experiências da atividade educativa relacionada ao

corpo e ao contexto do corpo na vida social.

19

Page 20: ELISNGELA DE FTIMA ROSA - Universidade Federal do Rio ... · como objetivo de pesquisa uma análise sobre a abordagem do esporte nas aulas do Programa Segundo Tempo desenvolvido no

As atividades corporais do educando refletem os condicionantes sociais que são

impostos pelas relações de poder com as classes dominantes no ambiente particular (família,

trabalho, lazer...), no qual está inserido.

Uma concepção crítico-emancipatória busca a relação existente nestes modelos e nas

práticas que dizem respeito ao mundo do qual o educando faz parte. Considerar os conteúdos

que proporcione aos alunos como ponto base, a partir da relação dialética entre continuidade e

ruptura, maior possibilidade de perceber a sociedade onde está inserido, de maneira real e

significativa.

Através do Programa Segundo Tempo, desenvolvido na escola, assim como nas aulas

de Educação Física, o aluno possa desenvolver sua forma de jogar enxergando as

necessidades de suas ações durante seu desempenho no jogo sentindo-se então, participativo e

atuante.

“Percebe-se, então, que não é só pela repetição dos elementos básicos de

cada esporte que o aluno poderá desenvolver sua forma de jogar. É preciso

entender o porquê de se movimentar atrás de uma bola, e muitas vezes sem

a bola. O aluno está apto para jogar desde o momento em que começa a

enxergar as necessidades de suas ações durante o jogo, e, então, pode se

sentir participativo” (NISTA-PICOLLO, 2001, p.86).

2.7 UMA REFLEXÃO CRÍTICA SOBRE A PRÁTICA DO ESPORTE

Para o processo de formação educacional o esporte deve ser tratado como um fator

sócio-cultural. O professor enquanto mediador do conhecimento deve adotar uma postura

baseada em princípios éticos que vivenciem a criatividade e a criticidade.

Novos estudos e experiências devem orientar diferentes formas de modificação do

esporte capaz de retornar a sociedade dentro de um cenário mais abrangente, provocando

tensões e questionamentos.

Vários autores entre eles Kunz, acreditam que embora o esporte seja um sistema

opressor, no ambiente escolar ele deve ser vivenciado de maneira crítica, apesar da

dificuldade de trabalhá-lo de outra forma. Para a grande maioria dos jovens, o esporte na

20

Page 21: ELISNGELA DE FTIMA ROSA - Universidade Federal do Rio ... · como objetivo de pesquisa uma análise sobre a abordagem do esporte nas aulas do Programa Segundo Tempo desenvolvido no

prática pode ser algo bastante coercitivo, pode ser um verdadeiro “massacre corporal” e,

mesmo assim é considerado pelos alunos, insubstituível (Kunz, 1998, p.44).

Dentro dessa perspectiva, cabe ao professor o papel de mediador do conhecimento

envolvendo o esporte, suas técnicas, porém com o cuidado de não atuar como técnico em

treinamento esportivo.

Sobre esse assunto Freire nos diz:

“O meu discurso sobre a Teoria deve ser o exemplo concreto, prático, da

teoria. Sua encarnação. Ao falar da construção do conhecimento, criticando

a sua extensão, já devo estar envolvido nela, e nela, a construção, estar

envolvendo os alunos”. (FREIRE, 1996, p.53).

Surge então, a necessidade de romper com o tradicionalismo aplicado no trabalho

com os alunos, privilegiando a aptidão física, o treinamento, o rendimento e a exclusão das

atividades em decorrência da incapacidade de se alcançar uma performance esportiva. Como

modelo, o eixo de uma ação pedagógica, uma perspectiva metodológica de ensino-

aprendizagem embasada no princípio da emancipação visando o desenvolvimento da

autonomia, da cooperação, da participação social afirmando os princípios e valores

democráticos. Segundo Freire (1996):

“... o professor deverá promover o “agir comunicativo” entre seus alunos,

possibilitada pelo uso da linguagem, para expressar entendimento do mundo

social, subjetivo e objetivo da interação para que todos possam participar

em todas as instâncias de decisão, na formulação de interesse e preferências,

e agir de acordo com as situações e as condições do grupo em que está

inserido e do trabalho no esforço de conhecer, desenvolver e apropriar-se da

cultura” (1996, p.122).

Uma abordagem crítica sobre o esporte de maneira diferenciada irá permitir ao aluno

condições de criticá-lo mediante uma participação ativa e comunicativa. O esporte

desenvolvido dentro do Projeto Segundo Tempo deve ser abordado dentro de uma perspectiva

que permita ao aluno resignificar as ações desempenhadas por ele e pela equipe.

21

Page 22: ELISNGELA DE FTIMA ROSA - Universidade Federal do Rio ... · como objetivo de pesquisa uma análise sobre a abordagem do esporte nas aulas do Programa Segundo Tempo desenvolvido no

Após termos feito um breve levantamento histórico do esporte, a seguir

apresentamos o percurso pelo qual tal pesquisa se deu.

22

Page 23: ELISNGELA DE FTIMA ROSA - Universidade Federal do Rio ... · como objetivo de pesquisa uma análise sobre a abordagem do esporte nas aulas do Programa Segundo Tempo desenvolvido no

CAPÍTULO 2

3.1 PERCURSO METODOLÓGICO

A necessidade de uma compreensão contextualizada do problema nos possibilitou a

um olhar para subjetividade, ou seja, a escolha do método de pesquisa que foi a abordagem

qualitativa, pois segundo Taylon e Bogdan a este método de pesquisa favorece:

“[...] nesses inúmeros estudos que combinam técnicas quantitativas e

qualitativas no desenho triangular, só raramente há uma tentativa de

integrar os dois componentes do estudo. Ao invés, eles são tratados

como dois estudos separados em um só projeto. Esse tratamento é

infeliz porque mesmo uma simples comparação dos resultados dos dois

componentes pode permitir a confirmação e, por conseguinte, fortalecer

o argumento” (p. 289).

3.2 REFLEXÃO: POSSÍVEL TRATO PEDAGÓGICO PARA O ESPORTE NO

COLÉGIO ESTADUAL GARAVELO PARK.

Nosso objetivo de estudo, nesta pesquisa é o esporte desenvolvido nas aulas do

Projeto Segundo Tempo dentro de uma perspectiva crítica no contexto do Colégio Estadual

Garavelo Park, situado na rede de ensino do Estado de Goiás.

Direcionamos para pesquisa de campo propiciando a fidelidade dos fatos observados

da maneira como aconteceram, sem intervenções que prejudicassem o desenvolvimento do

trabalho.

A necessidade de uma compreensão contextualizada do problema nos levou a

escolha de um método de pesquisa que possibilitasse resultados satisfatórios. Uma abordagem

23

Page 24: ELISNGELA DE FTIMA ROSA - Universidade Federal do Rio ... · como objetivo de pesquisa uma análise sobre a abordagem do esporte nas aulas do Programa Segundo Tempo desenvolvido no

qualitativa, sugerindo perspectivas propícias para o alcance de conhecimentos que envolvam a

prática pedagógica do esporte, contextualizando-se socialmente, contribuindo assim, para a

transformação de sua prática foi seguramente o que nos levou a escolha da pesquisa de

campo.

3.3 INSTITUIÇÃO E SUJEITOS INVESTIGADOS

Optamos pelo Colégio Estadual Garavelo Park como campo de pesquisa por

preencher os requisitos necessários para atender o que foi proposto pela pesquisa. Um dos

critérios fundamentais é o desenvolvimento do Projeto Segundo Tempo. Os sujeitos

investigados foram alunos do ensino fundamental do 3º ao 9º ano com idades variadas entre

10 e 18 anos.

A preocupação com a veracidade das informações a serem obtidas serviu de base

para análise precisa do universo investigado e, portanto, influenciou substancialmente na

escolha dos sujeitos que compõem esse universo.

3.4 INSTITUIÇÃO DE ENSINO SELECIONADA

Para uma maior concentração nas observações a serem realizadas foi selecionada a

instituição de ensino o então colégio supracitado como uma pequena amostra servindo de

cenário para a pesquisa empírica.

O Colégio Estadual Garavelo Park conta com 18 salas de aula, funcionando nos três

turnos, sendo que no período da manhã funciona o ensino fundamental (6º ao 9º ano) e o

ensino médio; no período da tarde apenas o ensino fundamental e no período da noite o ensino

fundamental e médio.

No total dos três turnos existem 79 funcionários, sendo 43 professores, 36 fazem os

serviços gerais e secretaria. Dos 43 professores apenas 5 ainda não concluíram o curso

superior.

O Programa Segundo Tempo conta com cinco turmas mistas, sendo 3 no período da

manhã e 2 no período da tarde.

24

Page 25: ELISNGELA DE FTIMA ROSA - Universidade Federal do Rio ... · como objetivo de pesquisa uma análise sobre a abordagem do esporte nas aulas do Programa Segundo Tempo desenvolvido no

As turmas do período matutino desenvolvem as modalidades de futsal e voleibol,

cada uma é formada por vinte alunos.

No período vespertino, duas turmas, cada uma com 15 alunos, entre meninos e

meninas, sendo uma de voleibol e a outra de futsal.

Todas as turmas são divididas de acordo com a faixa etária.

A escolha da escola dentre as várias que foram analisadas deu-se pelo fato de que

suas peculiaridades atendiam à nossa pesquisa, ou seja, de que forma o esporte é trabalhado

nas aulas de Educação Física e no Programa Segundo Tempo, como um esporte de alto

rendimento, tecnicista, promovendo com isso a exclusão. Outro aspecto que nos influenciou

bastante foi à facilidade do acesso, portanto, possibilitou a observação contínua.

Através da análise dos documentos existentes na escola em questão foi possível

analisar o currículo aplicado e também o Projeto Político Pedagógico (PPP). A Educação

Física está inserida no PPP como um componente curricular educativo e, portanto, embasado

em princípios didáticos pedagógicos, visando o compromisso com a formação do aluno como

um todo.

3.5 PROFESSORES INVESTIGADOS

Foram investigados 02 professores de Educação Física: um acadêmico da

Universidade Católica de Goiás (UCG) e o outro acadêmico da Universidade Estadual de

Goiás (ESEFFEGO) e a professora/coordenadora graduada pela Universidade Estadual de

Goiás (ESEFFEGO).

Para a obtenção de informações reais e verdadeiras é que selecionamos as pessoas

supracitadas e consequentemente, foi possível contar com a colaboração de todos.

25

Page 26: ELISNGELA DE FTIMA ROSA - Universidade Federal do Rio ... · como objetivo de pesquisa uma análise sobre a abordagem do esporte nas aulas do Programa Segundo Tempo desenvolvido no

CAPÍTULO 3

4.1 ANÁLISE DE DISCUSSÃO DOS DADOS

4.2 INSTRUMENTOS UTILIZADOS NA COLETA DE DADOS

Optamos pelo caráter qualitativo da pesquisa para que isso ocorresse os cuidados

com a maneira de abordar foram criteriosamente observados ao se utilizar os seguintes

instrumentos: as observações, análise documental e a entrevista.

4.3 OBSERVAÇÃO

De grande relevância para a pesquisa por possibilitar uma leitura crítica e ampla da

prática pedagógica do esporte escolar. Na maioria das vezes essa prática se mostrou

contraditória à fala dos entrevistados. Todas as turmas do Programa Segundo Tempo foram

observadas, duas vezes por semana, em horários diferenciados, o mais discretamente possível

buscando com isso o alcance de maior veracidade nos resultados.

O início das observações foi no começo do mês de agosto de 2005 se encerrando no

mês de outubro do mesmo ano.

As informações obtidas por intermédio dos professores foram adquiridas através de

uma pequena ficha contendo informações necessárias para a coleta de dados fundamentais no

desenvolvimento da pesquisa, como dados: planejamento, disciplina, motivação, ações

metodológicas e comunicação.

Todas as informações coletadas no dia-a-dia foram anotadas cuidadosamente em um

pequeno bloco próprio para esse fim.

4.4 ANÁLISE DOCUMENTAL

Os documentos analisados foram: o currículo da escola e o PPP (Projeto Político

Pedagógico) em confronto com as atividades curriculares realizadas pelos professores da

disciplina Educação Física e do Programa Segundo Tempo.

De suma importância para a compreensão da prática pedagógica desenvolvida pelos

profissionais da área, os ideais que servem de suporte para essa prática, relacionando-os com

26

Page 27: ELISNGELA DE FTIMA ROSA - Universidade Federal do Rio ... · como objetivo de pesquisa uma análise sobre a abordagem do esporte nas aulas do Programa Segundo Tempo desenvolvido no

o real cotidiano do âmbito escolar. A percepção do valor indiscutível desse procedimento de

análise é que nos fez realizar esse estudo.

4.5 QUESTIONÁRIO

Além dos alunos e professores, a diretora e coordenadores também foram

entrevistados com o propósito de maior consistência nas informações obtidas.

A entrevista ocorreu em grupos, separadamente para que não ocorresse influência de

qualquer espécie que viesse mudar a fala do entrevistado.

As informações obtidas através dos professores de Educação Física a cerca do

assunto relativo ao trato de cada um desses profissionais com o conteúdo esporte escolar

foram conseguidas por meio de um questionário.

O resultado obtido com a fidelidade das informações permitiu a qualidade esperada

em decorrência da relação existente entre a entrevista e a observação. Essa relação entre a

entrevista e a observação, possibilitou um entendimento mais concreto sobre o assunto

pesquisado.

As conversas informais ocorridas durante o período em que estávamos na escola

possibilitaram um melhor entendimento sobre a prática pedagógica do esporte realizado com

os alunos tanto nas aulas do Programa Segundo Tempo.

4.6 ANÁLISE DA PESQUISA

“Outro saber de que não posso duvidar um momento sequer na minha

prática educativo-crítica é o de que, como experiência especificamente

humana, a educação é uma forma de intervenção no mundo.” Freire.

O caráter qualitativo da pesquisa se baseia em três pontos fundamentais: a

observação, análise dos documentos como o Projeto Político Pedagógico, o currículo da

escola e entrevistas com os sujeitos investigados. O objetivo da pesquisa então, analisar o

esporte escolar, praticado nas aulas de Educação Física e também no Programa Segundo

Tempo, sua prática e desenvolvimento numa perspectiva crítica e redimensionada.

27

Page 28: ELISNGELA DE FTIMA ROSA - Universidade Federal do Rio ... · como objetivo de pesquisa uma análise sobre a abordagem do esporte nas aulas do Programa Segundo Tempo desenvolvido no

4.7 A POSTURA DO PROFESSOR – UM TRATO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO PARA O

ESPORTE

A análise documental foi iniciada pela verificação do currículo do colégio estadual

investigado, a Educação Física e o Programa Segundo Tempo desenvolvido com os alunos

dessa escola. Foi possível perceber a dicotomia teoria x prática que vigora nesse universo

escolar. A elaboração do PPP (Projeto Político Pedagógico) foi realizada com alguns

professores entre todos aqueles que fazem parte do quadro de funcionários da escola

consequentemente, a maior parte desconhece o conteúdo, muito menos a real proposta para

Educação Física.

Os currículos do ensino fundamental e médio segundo a Lei de Diretrizes e Bases

(LDB), devem ter uma base nacional comum a ser contemplada e em sistema de ensino e

estabelecimento escolar, uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e

locais da sociedade da cultura, da economia e da clientela. São pressupostos que reforçam

ainda mais a idéia da importância e da necessidade de se trabalhar com a Educação Física de

forma a ampliar e pedagogizar o universo de práticas do esporte que domina o ambiente da

escola.

O Programa Segundo Tempo possui uma proposta embasada em pressupostos

teóricos que viabilizam um trato diferenciado para o esporte, valorizando a criticidade na sua

abordagem através de uma reflexão pedagógica. É um programa que foi idealizado como uma

proposta de democratização do esporte para alunos dos 7 aos 17 anos que estudam em escolas

públicas.

No princípio, a proposta era atender escolas situadas em áreas consideradas de risco

e com instalações adequadas para realização de práticas esportivas para as comunidades

atendidas pelo programa.

O período a mais na escola afasta o aluno da rua, longe das drogas e da

criminalidade, onde as atividades são orientadas por professores de Educação Física das

Universidades locais através de atividades esportivas e recreativas previamente planejadas.

Através das informações obtidas por meio das conversas informais foi possível

visualizar a realidade que envolve todo o processo escolar constatando que o trabalho

28

Page 29: ELISNGELA DE FTIMA ROSA - Universidade Federal do Rio ... · como objetivo de pesquisa uma análise sobre a abordagem do esporte nas aulas do Programa Segundo Tempo desenvolvido no

pedagógico da escola e da aula é desvinculado da prática, tornando então, um trabalho

artificial, diferindo do que é colocado teoricamente no Planejamento Pedagógico.

A Educação Física deveria esclarecer essa problemática, onde o esporte é transmitido

apenas como ação competitiva, sua concepção de esporte rendimento prevalece.

“O esporte, pedagogicamente, é uma instância crítica como a escola, a

universidade e a aula. Então, ela deve refletir criticamente as conseqüências

dessas normas e regras do sistema. O esporte deve abrir as restrições de

significados comparativos para outros significados.” (KUNZ, 2001, p.137).

Por meio da fala dos professores, foi possível perceber os pontos conflitantes

causadores do dualismo teoria x prática. Foi possível perceber a incoerência existente entre as

respostas apresentadas em relação ao esporte e sua função escolar.

A fala de um dos professores investigados nos remete a um passado, não muito

longínquo, no qual o professor de Educação Física era nada mais, nada menos do que alguém

experiente em determinado esporte, na maioria das vezes um ex-atleta e, portanto, capaz de

empregar seus conhecimentos em atividades esportivas. Quando questionado sobre as

concepções pedagógicas que mais se identificam com a prática desenvolvida na escola,

principalmente quando o esporte é o conteúdo trabalhado, disse o seguinte:

“O esporte continua sendo trabalhado na escola como conteúdo. A escola tem que

ter base, apoio da sociedade, suporte, condições favoráveis para sua prática. Com

profissionais capacitados, que possam ensinar tudo sobre o esporte apresentado e

que o aluno aprenda de fato o esporte ensinado.”

A outra acadêmica investigada diz o seguinte, quando questionada sobre as

concepções que se identificam com a prática do esporte que é desenvolvido na escola:

“Eu, sinceramente desconheço essas concepções, mas eu acredito na importância

do aluno em aprender “tudo” sobre o esporte e, que esse saber seja estímulo para

desenvolver o pensamento crítico e lógico desse aluno levando-o a perceber melhor

o mundo em que vive”.

Já o acadêmico da Universidade Federal de Goiás afirma que:

29

Page 30: ELISNGELA DE FTIMA ROSA - Universidade Federal do Rio ... · como objetivo de pesquisa uma análise sobre a abordagem do esporte nas aulas do Programa Segundo Tempo desenvolvido no

“O esporte, quando todos os alunos têm acesso ao seu real significado, se torna

responsável pela socialização, pela auto-estima do aluno, permitindo assim que

todos através da comunicação possam contribuir de alguma forma para o

aprimoramento do próprio esporte".

Pela fala dos professores foi possível perceber que a preferência pelo esporte é

unânime entre eles. E como forma de justificativa pelo trabalho desenvolvido as críticas à

escola são várias como: a falta de espaço adequado, a falta de recursos (livros, bolas, etc.)

enfim, a estrutura da escola é a principal justificativa para as limitações impostas ao trabalho

realizado por esses profissionais.

Sobre as modalidades esportivas trabalhadas na escola e a exagerada importância

dedicada a elas, Kunz e Maristela Souza, chamam atenção para a necessidade de uma

transformação didático-pedagógica do esporte na escola.

“Trata-se, isto sim, em primeiro lugar, de uma mudança de concepção, tanto

do ensino como do esporte”. Para atender as possibilidades pedagógicas do

esporte é necessária uma análise do seu estado atual, como ele se oferece

para essa possibilidade, relaciona-lo com sociedade e o mundo em que foi

constituído e em que é perpetuado. Isso implica, também, assumir

determinada concepção educacional e um compromisso com as

possibilidades “crítico-emancipatórias” da escola, na formação dos alunos.

“(KUNZ et al, 2001, p.21)”.

Ao analisarmos as respostas obtidas por meio dos questionários foi possível perceber

que os professores, apesar de descreverem a concepção pedagógica da Educação Física cujo

trabalho está pautado em pressupostos teóricos, são muito contraditórios no trabalho que

desenvolvem com os alunos. O acadêmico da UFG foi o único que soube responder sobre as

concepções que permeiam o esporte trabalhado na escola embasado em autores condizentes

com a pergunta realizada. Quando questionado sobre a concepção pedagógica que mais se

identifica com a prática desenvolvida na escola respondeu sem maiores explicações que era a

crítico-superadora, enquanto os outros professores não souberam responder a respeito.

As informações fornecidas pelos professores apesar de valorizarem uma

comunicação do esporte numa perspectiva crítica, foi possível perceber certa incoerência

entre o que foi dito e o que foi observado na prática através das aulas ministradas.

30

Page 31: ELISNGELA DE FTIMA ROSA - Universidade Federal do Rio ... · como objetivo de pesquisa uma análise sobre a abordagem do esporte nas aulas do Programa Segundo Tempo desenvolvido no

Sobre a influência crítica do esporte na sociedade, quando questionados os

professores concordam em dizer que a prática do esporte estimula o raciocínio do aluno,

enquanto que o professor Paulo acredita que o esporte contribui para a socialização e auto-

estima do aluno.

“Quando ele atinge todos os alunos de forma que vá contribuir para a sua

socialização, melhorando sua auto-estima, enriquecendo de alguma forma as aulas,

posso sim dizer que o esporte contribui como elemento de crítica à sociedade”.

Com a ênfase nos conteúdos esportivos, a Educação Física se torna uma disciplina

isolada perdendo o caráter formador dentro do projeto pedagógico hegemônico da escola para

transformar numa mera atividade esportiva incluída no espaço institucional da escola.

Assim, a encenação temática do esporte não deve ser entendida como alternativa para

o esporte-espetáculo, mas medida ou estratégia didática para se desenvolver, conjuntamente

com os alunos pelo plano de entendimento, diferentes forma em que o esporte pode ser

encenado/apresentado para diferentes populações-alvo. Enfim, pretende-se selecionar aquelas

encenações/apresentações que têm relevância pedagógica para centrar o processo escolar do

ensino-aprendizagem da Educação Física (Kunz et al, 2001, p.30).

4.8 O ALUNO – UM SER EM FORMAÇÃO DENTRO DO CONTEXTO ESCOLAR

A visão do esporte escolar para alunos de 6º ao 9º ano da escola investigada é outro

ponto importante para a pesquisa. Quando interrogados sobre as aulas de Educação Física

ministradas na escola, dos vinte e cinco alunos entrevistados apenas cinco disseram estar

satisfeitos com o resultado, enquanto que os outros vinte afirmaram total indignação em

relação à não participação na aula prática por motivos diferenciados entre eles a falta de

materiais adequados.

Apesar de ser uma escola de porte médio, o prédio não possui espaço adequado para

as aulas práticas, pois, a quadra existente, além de pequena e não possuir cobertura está com o

piso bastante estragado dificultando as atividades práticas.

Para a maioria dos alunos o esporte desenvolvido na escola não atende a expectativa

deles, devido à forma de trabalho dos professores onde o conteúdo é ministrado de maneira

31

Page 32: ELISNGELA DE FTIMA ROSA - Universidade Federal do Rio ... · como objetivo de pesquisa uma análise sobre a abordagem do esporte nas aulas do Programa Segundo Tempo desenvolvido no

excludente e hierarquizado, na organização pedagógica da escola e nas atividades práticas nas

aulas de Educação Física escolar.

A racionalização dos meios, a eficiência e a eficácia considerada como elementos

próprios da identidade e do desenvolvimento esportivo se enquadram perfeitamente dentro da

perspectiva da pedagogia tecnicista aplicada a educação desenvolvida na escola.

Através de uma ótica cuja perspectiva é de resgatar o caráter formador por meio de

uma concepção crítica do esporte, fundamental para a aquisição de uma postura diferenciada

entre professores e alunos é possível um trabalho significativo com o conteúdo esporte.

“Orientamos-nos por uma concepção educacional que já é conhecida da

área e foi denominada de “crítico-emancipatória”, onde emancipação pode

ser entendida, resumidamente, como um processo interminável de

libertação do aluno das condições limitantes de suas capacidades racionais

críticas e, com isso, também, todo o seu agir no contexto sociocultural e

esportivo” (KUNZ, et al., 2001, p.24-25).

4.9 A FUNÇÃO SOCIAL DO ESPORTE

Outro ponto averiguado pela pesquisa que possibilitou uma visualização conceitual

do significado do esporte para alunos da escola investigada foi à relação existente entre as

meninas e o esporte, principalmente, se tratando do futebol. Tanto meninas, quanto meninos

afirmam ser o futebol um esporte só para homens, portanto, a participação das meninas seria

algo inconveniente afinal, para eles elas não sabem jogar.

As falas dos alunos confirmam isso:

“As meninas não sabem jogar bola...”.

“Meninas só atrapalham o jogo...”.

“A maioria das meninas não sabe chutar uma bola.”

“... meninas e bola não combinam.”

Esses depoimentos entre outros que foram oferecidos pelos meninos e também à fala

de algumas meninas foi possível perceber que a concepção de esportes que esses alunos

32

Page 33: ELISNGELA DE FTIMA ROSA - Universidade Federal do Rio ... · como objetivo de pesquisa uma análise sobre a abordagem do esporte nas aulas do Programa Segundo Tempo desenvolvido no

possuem é justamente a que defende o esporte rendimento, a competição, o esporte

espetáculo. Esse modelo de esporte desenvolvido na escola só quem sabe jogar participa.

“Mas é preciso mudar a intenção pedagógica do esporte, no sentido de

criticar as conseqüências motrizes e sociais do movimento. No entanto,

quando a escola é uma instituição que confirma e reforça o sistema social

vigorante, as possibilidades da educação são reduzidas. A Educação Física

escolar só esclarece um conceito do esporte, e o professor repassa,

tecnicamente, os modelos esportivos existentes” (KUNZ, et al., 2001,

p.141).

Os alunos não percebem muita diferença entre as brincadeiras de rua, com bola

principalmente, com o esporte praticado na escola, pois, eles chegam até a dizer que as ações

desenvolvidas são as mesmas, ou seja, o jogo da escola é tão descompromissado quanto

aquele que é praticado na rua.

As ações são realizadas de forma mecânica, sem análise sobre o que é praticado e

para quais fins são executadas.

Os movimentos praticados no esporte são voltados para o aperfeiçoamento do gesto

com a finalidade de melhorar cada vez mais o rendimento do esporte, com o objetivo

funcional apenas (Kunz, 1996, p.81).

Em decorrência da busca desenfreada de práticas que possibilitem à construção de

futuros campeões a especialização prematura do aluno leva a inibição do desenvolvimento do

potencial psico-afetivo, motor, cognitivo e social da criança.

Quando interrogados sobre as aulas praticadas, a possibilidade de uma totalidade na

participação de todos e o que poderia ser modificado para atingir a todos, melhorando com

isso a qualidade do processo, a maioria dos alunos responderam que a possibilidade da escola

oferecer condições para esse fim, oferecendo espaços e recursos necessários resolveriam o

problema.

Resta então, aos professores, a direção do ensino-aprendizagem e a disponibilização

dos instrumentos que garantam ao aluno a possibilidade de optar na construção de seu próprio

caminho.

33

Page 34: ELISNGELA DE FTIMA ROSA - Universidade Federal do Rio ... · como objetivo de pesquisa uma análise sobre a abordagem do esporte nas aulas do Programa Segundo Tempo desenvolvido no

O mais importante é o aluno e suas relações com o conteúdo proposto. O professor é

convidado a mediatizar essa relação, através do que, de maneira objetiva, professor e aluno,

identificarão seus elementos significativos centrais. Identificados, através da experiência, do

estudo, da reflexão e do diálogo, vale conceber arranjos e sugestões de aprendizagem que

envolva esses elementos prioritários. A partir daí, professores e alunos elaboraram um “plano

de entendimentos”, onde decidem as estratégias e diferentes papéis que cada participante

assumirá no processo (Kunz, et al., 2001, p. 60).

Dentro de uma concepção crítico-emancipatória é possível buscar a relação existente

entre os modelos e as práticas que dizem respeito ao mundo em que vivemos, ou seja, que

estejam em contato direto com o mundo do educando.

Sendo assim, a educação crítico-emancipatória valoriza o indivíduo e a sua

capacidade de emancipação, a consciência crítica como uma viável intervenção comprometida

e aliada ao processo de transformação.

34

Page 35: ELISNGELA DE FTIMA ROSA - Universidade Federal do Rio ... · como objetivo de pesquisa uma análise sobre a abordagem do esporte nas aulas do Programa Segundo Tempo desenvolvido no

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pretendemos através desse estudo, compreender o significado do esporte tanto para

os professores de Educação Física, quanto para os alunos.

Ao realizarmos essa pesquisa nossa intenção era refletir sobre a realidade do esporte

desenvolvido no Programa Segundo Tempo. A maneira como vem sendo reproduzido o

esporte no âmbito escolar foi à mola propulsora para o desenvolvimento de uma pesquisa que

nos apontasse o trabalho pedagógico realizado pelos professores de Educação Física em

relação ao conteúdo esporte.

Procuramos apresentar os pontos principais e relevantes para um entendimento

melhor do que está sendo abordado sobre o esporte, enquanto conteúdo de Educação Física.

A resistência dos professores ao fornecer informações requisitadas, principalmente

quando se tratava de respostas discursivas foi o primeiro ponto destacado. Uma certa

insegurança do professores ao responder determinadas perguntas foi percebida também

durante as entrevistas.

Nas aulas práticas e teóricas ministradas pelos professores de Educação Física foi

possível detectar uma realidade onde o conteúdo esporte é bastante privilegiado. É percebida

uma valorização extrema dedicada ao esporte rendimento.

Percebemos então, que o resultado desse posicionamento é decorrente da limitação

do conhecimento desses professores em relação ao esporte enquanto conteúdo, portanto, todos

trabalham com o esporte dentro da escola com um caráter competitivo com o objetivo de

despertar o interesse e um envolvimento maior dos alunos pelas aulas e modalidades

esportivas.

Os conteúdos educacionais quando direcionados apenas para o esporte deixam de ser

conhecimento de formação cultural, científico e social integrados aos demais conteúdos da

escola transformando-se em aquisições de habilidades e competências restritas ao rendimento

esportivo do indivíduo-atleta.

A proposta de trabalho através de uma abordagem crítica sugerida nesse trabalho

possui a intenção de auxiliar o professor no desempenho de seu papel mediante o processo

35

Page 36: ELISNGELA DE FTIMA ROSA - Universidade Federal do Rio ... · como objetivo de pesquisa uma análise sobre a abordagem do esporte nas aulas do Programa Segundo Tempo desenvolvido no

didático-pedagógico da Educação Física, oferecendo então, um instrumento que possibilita o

processo de socialização e de integração educativa no ambiente escolar na perspectiva da

inclusão social e da ação coletiva dos sujeitos no Programa Segundo Tempo.

Esta pesquisa não é um trabalho fechado às críticas e sugestões, ao contrário, é uma

proposta que está aberta a futuras alterações que venham a contribuir para o aperfeiçoamento

de sua execução no ambiente escolar.

É possível perceber que o conteúdo esporte abrange a função social de formação

educativa e inclusiva do aluno no Programa Segundo Tempo. Analisar, portanto, de forma

ampla as concepções e propostas de ensino dentro de um posicionamento progressista de

educação com possibilidade de intervenção comprometida e aliada ao processo de

transformação.

Em hipótese alguma pretendemos excluir o esporte da escola e sim garantir através

da organização do conhecimento a ser ensinado/aprendido na escola que o conteúdo esporte

viabilize ao aluno as condições de apropriar-se do mundo e para que isto ocorra, é necessário

transformar a própria disciplina Educação Física numa dimensão que supere e transforme seus

conteúdos e métodos para além de atividades meramente reprodutivas, condicionadas,

restritas e isoladas em conhecimentos técnico-esportivos.

36

Page 37: ELISNGELA DE FTIMA ROSA - Universidade Federal do Rio ... · como objetivo de pesquisa uma análise sobre a abordagem do esporte nas aulas do Programa Segundo Tempo desenvolvido no

REFERÊNCIAS

BARBOSA, Cláudio L. de Alvarenga. Educação Física Escolar – da alienação à

libertação: Petrópolis, RJ: Ed. Vozes, 1997.

COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino de Educação Física. São Paulo:

Cortez, 1991.

FREITAS, Luís Carlos. Crítica da organização do trabalho pedagógico e da didática:

Campinas, São Paulo: Papirus, 1995.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia – Saberes necessários à prática educativa. Ed.

14. São Paulo: Ed. Paz e Terra, 1996.

KUNZ, Elenor. Didática da Educação Física: ed. 2ª, Ijuí – Ed. Unijuí, 2001.

KUNZ, Elenor. Transformação didático-pedagógica do esporte. Ed. 2ª Ijuí-RS: Ed. Unijuí,

1998.

NISTA – PICCOLO (ORG.). Pedagogia dos Esportes. Campinas, SP: Ed. Papirus, 1999.

OLIVEIRA, Sávio Assis de. Escola e Esporte: Campos para ocupar, Resistir e produzir.

V.3, 1999; 2000.

SOARES, Carmem. Educação Física – Raízes Européias e Brasil: ed. 2ª, Campinas, SP:

Autores Associados, 2001.

VAGO, Tarcísio Mauro. O “esporte na escola” e o “esporte da escola”: da negação

radical para uma relação de tensão permanente – Um diálogo com Valter Bracht. Porto

Alegre: Ed. Movimento, 1996.

KUNZ, Elenor. Transformação didático-pedagógica do esporte. Ed. 2ª Ijuí-RS: Ed. Unijuí,

2004.

37

Page 38: ELISNGELA DE FTIMA ROSA - Universidade Federal do Rio ... · como objetivo de pesquisa uma análise sobre a abordagem do esporte nas aulas do Programa Segundo Tempo desenvolvido no

ANEXOS

ANEXO I – INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS

QUESTIONÁRIO APLICADO AOS PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA

1 – Nome completo: _________________________________________________

2 – Graduação: _____________________________________________________

3 – Nome da instituição onde cursou o curso de graduação: ___________________

4 – Qual sua concepção de esporte e como você percebe o esporte na escola?______

_________________________________________________________________

5 – Como está sendo trabalhado o esporte na escola?______________________

_________________________________________________________________

6 – Em qual concepção pedagógica da Educação Física está inserida a prática desenvolvida na

escola, tendo em vista o esporte enquanto conteúdo?________________________________

_________________________________________________________________________

7 – Quais as dificuldades apresentadas no cotidiano escolar para o trabalho com o conteúdo

esporte percebida por você enquanto professor?_____________________________________

_________________________________________________________________________

8 – Em sua opinião, de que forma o esporte pode contribuir como elemento crítico dentro da

sociedade em que vivemos? E em que circunstâncias?________________________________

9 – De que forma e sob quais condições o esporte deve ser praticado na

escola?____________________________________________________________________

38

Page 39: ELISNGELA DE FTIMA ROSA - Universidade Federal do Rio ... · como objetivo de pesquisa uma análise sobre a abordagem do esporte nas aulas do Programa Segundo Tempo desenvolvido no

10 – Qual a importância da comunicação numa perspectiva crítica do

esporte?____________________________________________________________________

ANEXO 2 – GUIA DE OBSERVAÇÃO DAS AULAS DO PROGRAMA SEGUNDO

TEMPO

Colégio Estadual Garavelo Park

Aparecida de Goiânia, _______ de _____________ de 2007.

Professor: __________________________________________________

Série/Turma/Turno: ____________________________________________________

• Disciplina:

1. Durante as aulas existem problemas de o tipo disciplinar:

( ) sim ( ) não ( ) às vezes

2. Motivação:

( ) bom ( ) não ( ) regular ( ) fraco

• Ações Metodológicas das Aulas

1. O ritmo de instrução é ajustado de modo a atender todos os alunos?

( ) bom ( ) não ( ) regular ( ) fraco

2. Os alunos são ativamente engajados nas atividades propostas?

( ) bom ( ) não ( ) regular ( ) fraco

3. O professor diversifica sua metodologia?

( ) bom ( ) não ( ) regular ( ) fraco

39

Page 40: ELISNGELA DE FTIMA ROSA - Universidade Federal do Rio ... · como objetivo de pesquisa uma análise sobre a abordagem do esporte nas aulas do Programa Segundo Tempo desenvolvido no

• Forma de Comunicação

1. Clara:

( ) bom ( ) não ( ) regular ( ) fraco

2. Promove a participação:

( ) bom ( ) não ( ) regular ( ) fraco

3. Promove a empatia:

( ) bom ( ) não ( ) regular ( ) fraco

• Planejamento:

1. Realiza-se?

( ) bom ( ) não ( ) regular ( ) fraco

40