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Claci Fátima Weirich Rosso UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS INSTITUTO DE PATOLOGIA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA A MORTALIDADE NEONATAL EM GOIÂNIA: FATORES PROGNÓSTICOS DE RECÉM-NASCIDOS DE RISCO Goiânia, abril de 2003.

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  • Claci Fátima Weirich Rosso

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS INSTITUTO DE PATOLOGIA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA

    A MORTALIDADE NEONATAL EM GOIÂNIA:

    FATORES PROGNÓSTICOS DE RECÉM-NASCIDOS DE RISCO

    Goiânia, abril de 2003.

  • Claci Fátima Weirich Rosso

    A MORTALIDADE NEONATAL EM GOIÂNIA:

    FATORES PROGNÓSTICOS DE RECÉM-NASCIDOS DE RISCO

    Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás para obtenção do título de Mestre em Medicina Tropical, área de concentração: Epidemiologia.

    a a Orientadora: Prof Dr Ana Lúcia S. S. de Andrade Co-Orientador: Prof. Dr. Otaliba Libânio de Morais Neto

    Goiânia, abril de 2003.

  • DEDICATÓRIA

    Esta dissertação é dedicada aos mais de dois mil recém-nascidos, que de forma anônima tornaram possível este estudo. Minha esperança é que a breve existência e o sofrimento prolongado não tenham sido em vão.

    i

  • AGRADECIMENTOS

    A construção deste trabalho foi possível pela colaboração de muitas pessoas e

    Instituições, agradeço a todos, e especialmente:

    A vida e ao Mestre Maior sempre!

    A minhas filhas Camila, Carla, Uliana é maravilhoso estarmos juntas.

    Ao Ademar pelo incentivo na realização deste “projeto profissional” abdicando de

    minha presença e apoiando nos momentos de dificuldade.

    A toda minha família que me honra como parceira nesta jornada.

    À Professora Doutora Ana Lúcia S. S. Andrade pela orientação neste trabalho, e

    principalmente por estimular a busca incansável de crescimento acadêmico e

    profissional pelo seu exemplo de dedicação e rigorosidade. Obrigada por novos e

    valiosos conhecimentos que me propiciou.

    Ao Professor Doutor Otaliba Libâneo Morais Neto pela sabedoria e respeito que

    participou desta orientação. Por acreditar em meu trabalho e tornar possível a

    concretização deste estudo.

    Á Direção do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública, ao Departamento de

    Saúde Coletiva e à Coordenação do Curso de Pós-graduação em Medicina Tropical,

    pelo compromisso com a nossa formação e produção científica da Universidade Federal

    de Goiás.

    À Direção e à Coordenação da Faculdade de Enfermagem (FEN), pela liberação de

    minhas atividades docentes e pelo incentivo nesta trajetória. Aos professores e alunos da

    ii

  • FEN, pela torcida e confiança no sucesso deste estudo, especialmente as professoras

    Márcia Maria, Ida, Mildes pelo apoio na carga horária de minhas atividades.

    A todos os professores e colegas do Curso de Pós-graduação, pelas trocas e reflexões

    conjuntas, as críticas construtivas, as experiências pedagógicas.

    À Profª Ruth pelo incrível desprendimento e importante ajuda em várias etapas deste

    estudo.

    À profª Simonne de Almeida Silva pelos conhecimentos compartilhados e contribuição

    neste estudo.

    A todos os profissionais das Instituições de Saúde de Goiânia, hospitais, clínicas,

    unidades básicas de saúde, que permitiram e se comprometeram com a coleta de dados

    viabilizando este estudo.

    À Superintendência de Ações Básicas de Saúde da Secretaria Estadual de Saúde do

    Estado de Goiás, pelo fornecimento dos arquivos de dados do SIM e do SINASC.

    À Divisão de Informação em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia,

    especialmente à Maria Ana e Carlos, por gentilmente disponibilizar os arquivos de

    dados do SIM e SINASC e fotocópias dos documentos.

    Aos Colegas do Projeto, Eliane, Solomar, Margareth, Noemi, Lícia, João Borges pela

    fundamental colaboração e cumplicidade em todas as fases do trabalho.

    Ao apoio financeiro da Secretaria de Saúde do Município de Goiânia, Fundação de

    Apoio a Pesquisa - FUNAPE/UFG e do CNPq.

    iii

  • SUMÁRIO

    DEDICATÓRIA ................................................................................................................ i AGRADECIMENTOS ..................................................................................................... ii APRESENTAÇÃO........................................................................................................... 2 PRIMEIRO ARTIGO: ...... 5Mortalidade neonatal: um desafio para os serviços de saúde SEGUNDO ARTIGO: Modelo de análise de fatores prognósticos de óbito neonatal para instrumentalizar programas de vigilância de recém-nascidos de risco............................... Resumo ........................................................................................................................... 16Summary......................................................................................................................... 17 Introdução ....................................................................................................................... 18 Material e Métodos ......................................................................................................... 20 Resultados....................................................................................................................... 26 Discussão ........................................................................................................................ 28 Referências Bibliográficas.............................................................................................. 33Tabela 1........................................................................................................................... 41 Tabela 2........................................................................................................................... 42 Figura 1 ........................................................................................................................... 43 Figura 2 ........................................................................................................................... 44 Figura 3 ........................................................................................................................... 45

  • APRESENTAÇÃO

    Altas taxas de mortalidade infantil refletem, geralmente, baixos níveis de saúde

    e de desenvolvimento socioeconômico. Crianças menores de um ano de idade são mais

    vulneráveis e sofrem diretamente as conseqüências das alterações ocorridas no ambiente

    social, econômico e das intervenções de saúde (Victora 2001). Taxas reduzidas também

    podem encobrir más condições de vida em segmentos sociais específicos (Rede

    Interagencial de Informações para a Saúde 2002a).

    A melhoria nas condições de vida, o declínio da fecundidade e o efeito de

    intervenções públicas nas áreas de saúde, saneamento e educação, entre outros aspectos,

    resultaram em consistente tendência de redução da mortalidade infantil em todas as

    regiões brasileiras (Rede Interagencial de Informações para a Saúde 2002a). No entanto,

    tem-se observado oscilações na velocidade de declínio da mortalidade infantil por

    região (Maranhão et al 1999). O declínio da mortalidade infantil, ocorrido

    principalmente nas áreas em desenvolvimento, deveu-se a uma redução no componente

    pós-neonatal (Mello Jorge et al. 2001), com grande variação entre os estados brasileiros,

    havendo maior participação do componente neonatal (Ministério da Saúde 2001).

    No município de Goiânia, estudos vêm sendo conduzidos para avaliar o padrão

    de distribuição da mortalidade neonatal e pós-neonatal, identificando áreas de risco nos

    diferentes distritos urbanos de Goiânia e investigando a relevância de infecções

    bacterianas na morbi-mortalidade na infância (Andrade 2002, Andrade et al. 2003,

    Morais Neto et al. 2001). No entanto, existe carência de investigações para identificar

    potenciais fatores associados ao risco de mortalidade neonatal em consonância com o

    contexto epidemiológico local. O racional para elaboração deste trabalho levou em

    conta que os programas de vigilância de recém-nascidos de risco devem ser

    permanentemente avaliados e aprimorados, buscando modelos adequados às diferenças

  • regionais, variações temporais dos fatores de risco intrapaís e dentro de um mesmo

    município. Assim, o presente manuscrito insere-se na linha de pesquisa de investigação

    de mortalidade infantil em Goiânia e é apresentado em forma de dois artigos. No

    primeiro deles - artigo de opinião recentemente publicado - descreve-se o perfil da

    mortalidade infantil neonatal no Brasil, incorporando aspectos da assistência à saúde

    prestada a gestante e recém-nascido pelos diferentes serviços de saúde no município de

    Goiânia. O segundo artigo identifica fatores prognósticos associados ao óbito neonatal,

    combinando sensibilidade e especificidade e, mostra o impacto desses fatores no tempo

    de sobrevida.

    Referências Bibliográficas

    Andrade ALSS 2002. Insights into the epidemiology of pneumococcal diseases in the

    developing world: Goiânia, Brazil. In Program & Abstracts Book of the 3rd

    International Symposium on Pneumococci and Pneumococcal Diseases.[Round

    Table, Abstract pg 19], Anchorage, Alaska May 5 to 8.

    Andrade ALSS, Silva SA, Oliveira RM, Morais Neto OL, Melo L, Ribeiro L, Costa

    MSN, Siqueira JB, Martelli CMT 2003. Spatial-based surveillance of acquired-

    community pneumonia among children in Central Brazil (submetido).

    Maranhão AG, Joaquim MMC, Siu C 1999. Mortalidade perinatal e neonatal no Brasil.

    Tema: 6-19.

    Mello Jorge MHP, Gotlieb SLD, Laurenti R, A saúde no Brasil: análise do período

    1996 a 1999. 2001, Organização Pan-Americana de Saúde: Brasília. p. 244.

    Ministério da Saúde 2001. Anuário estatístico de saúde do Brasil. http://portal.saude.

    gov.br/saude/aplicacoes/anuario2001/index.cfm 2002, 19/12/2002.

  • Morais Neto OL, Barros MBA, Martelli CMT, Silva SA, Cavenaghi SM, Siqueira Jr JB

    2001. Diferenças no padrão de ocorrência da mortalidade neonatal e pós-

    neonatal no Município de Goiânia, Brasil, 1992-1996: análise espacial para

    identificação das áreas de risco. Cad Saude Publica 17: 1241-1250.

    Rede Interagencial de Informações para a Saúde 2002a. Indicadores básicos para a

    saúde no Brasil: conceitos e aplicações. http://www.opas.org.br/sistema/

    arquivos/matriz.pdf. Acessado em 10/01/2003.

    Victora CG 2001. Intervenções para reduzir a mortalidade infantil pré-escolar e materna

    no Brasil. Rev Brasileira de Epidemiologia 4: 3-69.

  • 1

    MORTALIDADE NEONATAL: UM DESAFIO

    PARA OS SERVIÇOS DE SAÚDE

    1 WEIRICH, C.F.; DOMINGUES M.H.M.S. Mortalidade Neonatal um desafio para os Serviços de Saúde. Revista

    Eletrônica de Enfermagem (on-line), v.3, n.1, p. 1 (html), jan-jun. 2001. Disponível: http://www.fen.ufg.br/revista4

    http://www.fen.ufg.br/revista4

  • WEIRICH, C.F.; DOMINGUES M.H.M.S. Mortalidade Neonatal um desafio para os Serviços de Saúde. Revista Eletrônica de Enfermagem (on-line), v.3, n.1, p. 1 (html), jan-jun. 2001. Disponível: http://www.fen.ufg.br/revista4

    RESUMO: No Brasil, as ações

    desenvolvidas para a promoção da

    saúde da criança, promoveram um

    declínio na taxa de mortalidade infantil

    nas várias regiões do país. É

    preocupante o fato de que 90% da

    mortalidade de recém nascidos no

    mundo ainda ocorram em países em

    desenvolvimento, onde há poucos

    recursos, e a disponibilidade

    tecnológica da saúde tem diferentes

    prioridades. A redução da mortalidade

    infantil neonatal é ainda mais difícil,

    pois esta associada tanto a fatores

    biológicos como à assistência pré-natal,

    ao parto e ao recém-nascido; e sua

    prevenção envolve principalmente

    investimentos em serviços hospitalares

    6

    ARTIGO DE OPINIÃO

    MORTALIDADE NEONATAL: UM

    DESAFIO PARA OS SERVIÇOS DE

    SAÚDE

    Claci Fátima Weirich2

    Maria Hermínia Marques da Silva Domingues3

    2 Enfermeira. Professora Auxiliar da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás. Mestranda em Epidemiologia no Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública/UFG.

    3 Professora Doutora em Psicologia de Educação (PUC/SP), Docente da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás.

    de tecnologia mais complexa bem como

    em ações educativas e de saúde pública.

    Levando-se em consideração o fato da

    cidade de Goiânia ser a capital do Estado

    de Goiás, com grande demanda aos

    serviços de saúde, faz-se necessário uma

    maior qualidade dos serviços prestados,

    tanto nas unidades básicas de saúde bem

    como nas unidades hospitalares, buscando

    implementar programas de melhoramento

    dos serviços para garantir um atendimento

    de qualidade. Consideramos que as ações

    de educação e saúde são fatores

    importantes de intervenção para a redução

    e controle das taxas de mortalidade

    infantil, principalmente o seu componente

    neonatal e que toda relação profissional de

    saúde e paciente é uma relação

    pedagógica.

    PALAVRAS CHAVES: mortalidade

    infantil, neonatal, assistência pré-natal,

    recém nascido.

    SUMMARY: In Brazil, the children

    health promotion actions develop a

    decline in the infant mortality rate in the

    several areas of the country. It is

    preoccupying the fact that 90% of the

    neonatal mortality of the world still

  • WEIRICH, C.F.; DOMINGUES M.H.M.S. Mortalidade Neonatal um desafio para os Serviços de Saúde. Revista Eletrônica de Enfermagem (on-line), v.3, n.1, p. 1 (html), jan-jun. 2001. Disponível: http://www.fen.ufg.br/revista4

    KEY WORDS: infant mortality,

    neonatal, prenatal, newly born.

    7

    happens at countries in development,

    where there are few resources, and the

    technological readiness of the health

    has different priorities. The reduction of

    the neonatal mortality is still more

    difficult because this associated as to

    biological factor as to the prenatal, to

    the childbirth and the newly born

    attendance; and its prevention involves

    mainly investments in health services of

    more complex technology as well as in

    educational and public health actions.

    Considering the fact that Goiânia

    (capital of the State of Goiás) has great

    demand to the health services, it is

    necessary a larger quality of the

    rendered services as much in the basic

    units of health services as in the

    hospital, looking for to implement

    programs of improvement of services to

    guarantee the quality of attendance. We

    considered that the education actions

    and health are important factors of

    intervention for the reduction and

    control of the infant mortality rates,

    mainly your component neonatal and

    that all professional relationship of

    health and patient is a pedagogic

    relationship.

    INTRODUÇÃO

    A Mortalidade infantil pode ser

    considerada como um dos melhores

    indicadores da qualidade da assistência à

    saúde, bem como do nível sócio-

    econômico de uma população. Ela é

    composta pelo componente neonatal, que

    compreende os óbitos ocorridos até 27

    dias de vida, e o pós-neonatal ou infantil

    tardio, que abrange os óbitos ocorridos do

    28º dia até um dia antes de completar um

    ano de vida (Maranhão et al., 1999). O

    componente pós-neonatal é o responsável

    pela maior parte da redução da

    mortalidade infantil nas últimas décadas,

    porém o componente neonatal representa

    a maior parcela da taxa de mortalidade

    infantil (Maranhão et al., 1999). Bastante

    preocupante é o fato de que 90% da

    mortalidade de recém nascidos no mundo

    ainda ocorram em países em

    desenvolvimento, onde há poucos

    recursos, e a disponibilidade tecnológica

    da saúde tem diferentes prioridades.

    No Brasil, as ações desenvolvidas nos

    últimos anos para a promoção da saúde da

  • WEIRICH, C.F.; DOMINGUES M.H.M.S. Mortalidade Neonatal um desafio para os Serviços de Saúde. Revista Eletrônica de Enfermagem (on-line), v.3, n.1, p. 1 (html), jan-jun. 2001. Disponível: http://www.fen.ufg.br/revista4

    O Brasil faz parte do grupo de países

    com grandes diferenças regionais, com

    mais de 170 milhões de habitantes, e uma

    estimativa de mortalidade perinatal, óbito

    ocorrido na primeira semana de vida, de

    35 mortes por 1000 nascimentos, uma das

    mais altas na América Latina e área do

    Caribe (Zullini et al., 1997).

    8

    criança tais como campanhas de

    vacinação, enfrentamento das doenças

    diarréicas e a desnutrição; resultaram

    em queda na taxa de mortalidade

    infantil nas várias regiões do país.

    Mesmo prevalecendo a tendência

    declinante, dados do IBGE (1995)

    indicam períodos de estabilização e, até

    mesmo, de reversão desta tendência,

    com estabilização das taxas em algumas

    regiões e elevação em outras (Simões &

    Monteiro, 1995).

    No início dos anos 80, a mortalidade

    infantil no Brasil apresentava uma taxa

    de 85 óbitos por mil nascidos vivos,

    passando em 1996, para cerca de 37,5

    por mil nascidos vivos, significando

    uma redução de 44,1% entre 1980/1990

    e de 21,5% entre 1990/1996 (Maranhão

    et al., 1999). Além de alterações nas

    taxas de mortalidade infantil, houve

    também alteração no seu perfil, sendo

    que as causas perinatais e anomalias

    congênitas assumiram maiores

    proporções quando comparadas às

    doenças infecciosas e parasitárias e às

    doenças do aparelho respiratório

    (Morais Neto, 1996).

    A redução da mortalidade infantil

    neonatal é mais difícil, pois está

    associada, tanto a fatores biológicos como

    à assistência pré-natal, parto e ao recém-

    nascido. Sua prevenção envolve,

    principalmente, investimentos em serviços

    hospitalares de tecnologia mais complexa.

    Estudos epidemiológicos nos países

    desenvolvidos realizados nas últimas

    décadas observaram que a sobrevivência

    de recém-nascidos, em condições de risco,

    aumentou significativamente quando eles

    foram atendidos nas unidades de cuidados

    intensivos neonatais. Em decorrência,

    houve um aumento no custo dos cuidados

    e no risco pela excessiva manipulação e

    tratamento sendo necessário, portanto,

    maior concentração no avanço da

    tecnologia da saúde na área de cuidado

    perinatal, juntamente com uma adequação

    na utilização e qualidade dos cuidados

    recebidos e na melhor distribuição

    regional de serviços de alto nível (Zullini

    et. al. 1997).

  • WEIRICH, C.F.; DOMINGUES M.H.M.S. Mortalidade Neonatal um desafio para os Serviços de Saúde. Revista Eletrônica de Enfermagem (on-line), v.3, n.1, p. 1 (html), jan-jun. 2001. Disponível: http://www.fen.ufg.br/revista4

    Se houver uma otimização na utilização

    dos serviços de saúde que prestam

    assistência ao recém-nascido, aliado aos

    avanços da tecnologia, com certeza

    teremos quedas nas taxa de mortalidade

    neonatal muito próximo aos países da

    Europa de 13 óbitos por mil nascidos

    vivos e da América do Norte de 9 óbitos

    por mil nascidos vivos (OMS, 1996).

    9

    Na década de 60, com a expansão das

    Unidades de Cuidado Intensivo

    Neonatal (UCINs), principalmente nos

    países desenvolvidos, houve um

    decréscimo importante na mortalidade

    infantil neonatal, principalmente para

    crianças de baixo peso. Segundo

    Eggimann (1994), indicando a

    recomendação para a regionalização e

    melhor disponibilização na utilização

    das UCINs.

    Percebe-se, no entanto, que no Brasil há

    uma concentração de tecnologias mais

    avançadas nas capitais dos Estados e

    em cidades maiores. Tal fato gera

    dificuldades para os municípios que

    recebem os recém nascidos, pois

    sobrecarrega os serviços especializados

    criando dificuldades para administrar o

    sistema de saúde, sem contar que as

    famílias migram temporariamente para

    esses grandes centros para acompanhar

    os tratamentos de saúde. Portanto

    acarretando com isso, uma má

    distribuição da assistência com

    qualidade e de recursos necessários

    para o atendimento de recém nascidos

    de risco.

    Portanto alguns estudos vêm sendo

    realizados no sentido de avaliar a

    assistência prestada aos recém nascidos,

    internados em UCINs. Entre eles destaca-

    se a pesquisa de Bastos (1997), que indica

    a melhora gradativa na qualidade de

    assistência se deve principalmente ao

    avanço da tecnologia, a um melhor

    conhecimento da fisiopatologia e a

    introdução de novas terapêuticas na

    medicina pré-natal, como na neonatologia.

    Apesar dos consideráveis avanços já

    obtidos na assistência ao recém-nascido,

    no período neonatal, existem outros

    fatores que afetam a sobrevivência de

    recém nascidos nas UCINs. Com essa

    preocupação de conhecer não somente

    taxas de mortalidade neonatal o estudo

    apresentado por Zullini (1997), decorrente

    de pesquisa realizada em nove UCINs na

    cidade de São Paulo, encontrou uma

    mortalidade de 59 óbitos por mil

    neonatos, uma melhora na sobrevivência à

  • WEIRICH, C.F.; DOMINGUES M.H.M.S. Mortalidade Neonatal um desafio para os Serviços de Saúde. Revista Eletrônica de Enfermagem (on-line), v.3, n.1, p. 1 (html), jan-jun. 2001. Disponível: http://www.fen.ufg.br/revista4

    Mesmo com a melhora no

    conhecimento dos microorganismos

    infectantes, da fisiopatologia das

    doenças infecciosas mais comuns nas

    UCINS, e de melhores possibilidades

    terapêuticas, há dificuldade na redução da

    mortalidade causada por infecções

    específicas do período neonatal. Como

    nos coloca FREDDI (1994), existem

    fatores que aumentam o risco para

    infecções como a idade (dias de vida),

    maior tempo de permanecia nas UCINS,

    procedimentos invasivos, com maior

    tempo de persistência desses

    procedimentos e maior manipulação dos

    recém nascidos.

    10

    medida que aumentava a idade

    gestacional e o peso ao nascer, os dados

    indicam a importância do pré-natal ser

    realizado o mais precocemente

    possível.

    Em um outro estudo, realizado por

    Richardson (1999) em seis UCINS, em

    Massachusetts, verificou que existe

    uma diferença de morbidade e

    mortalidade entre as unidades de

    cuidados intensivos neonatais,

    principalmente pelas diferentes

    características obstétricas e práticas de

    cuidados perinatais que podem afetar a

    severidade das doenças dos recém-

    nascidos. O estudo de NAVA (1998)

    descreve vários fatores de risco para a

    mortalidade neonatal, alguns inerentes

    ao período da gestação, outros ao parto,

    outros relacionados com alterações e

    assistência do recém-nascido e indica

    como a segunda causa da mortalidade

    neonatal, as infecções, principalmente a

    septicemia, que contribuiu para o

    aumento da mortalidade nas UCINS.

    Embora se têm dados da mortalidade

    neonatal no Brasil e outros países, poucos

    estudos foram realizados na região centro-

    oeste e mais propriamente no município

    Goiânia que conta com nove UCINS, em

    hospitais públicos e privados, que

    recebem recém nascidos de todo Estado

    de Goiás e de municípios de outros

    Estados, no entanto conhecemos pouco a

    respeito da utilização dessas unidades,

    bem como a taxa de mortalidade neonatal

    e os vários fatores relacionados à

    gestação, à assistência pré-natal, ao parto

    e à assistência recebida durante o período

    neonatal.

    Os óbitos neonatais representam a maior

    parcela da mortalidade infantil, podendo

    ser considerados como evitáveis e

    passíveis de intervenção através do

  • WEIRICH, C.F.; DOMINGUES M.H.M.S. Mortalidade Neonatal um desafio para os Serviços de Saúde. Revista Eletrônica de Enfermagem (on-line), v.3, n.1, p. 1 (html), jan-jun. 2001. Disponível: http://www.fen.ufg.br/revista4

    Um aspecto a ser analisado no serviço

    de saúde é a adoção crescente de novas

    tecnologias, permitindo a sobrevivência

    de crianças cada vez mais prematuras,

    assistidas em UCINS, mas com uma

    preocupação em relação ao acesso e

    qualidade do atendimento prestado sendo

    necessário a capacitação e atualização das

    equipes de saúde.

    11

    conhecimento das causas e da melhoria

    na qualidade do cuidado prestado nos

    serviços de saúde, com destaque para a

    assistência nas UCINS (TAUCHER,

    1979).

    Em Goiânia, em 1996, dos 342 óbitos

    infantis (crianças que foram a óbito

    antes de completar um ano de vida),

    231 óbitos (67,5%) ocorreram no

    período neonatal (Morais Neto, 1996).

    É Preocupante o fato da transição da

    mortalidade infantil passar do seu

    componente pós-neonatal para o

    neonatal, tornando-se necessário

    conhecer melhor a realidade das

    UCINS, já que a grande maioria dos

    recém nascidos que necessitam de

    atendimento médico no período

    neonatal, utilizam esses serviços.

    Somente desta forma será possível

    concentrar esforços na redução da

    mortalidade neonatal.

    ALGUMAS CONSIDERAÇÕES:

    AÇÕES DE EDUCAÇÃO E SAÚDE

    COMO FATORES DE

    INTERVENÇÃO

    Levando-se em consideração o fato da

    cidade de Goiânia ser a capital do Estado

    de Goiás, uma região em pleno

    desenvolvimento, com grande demanda

    nos serviços de saúde, certamente se faz

    necessário conhecer com maior

    propriedade a qualidade dos serviços

    prestados, tanto nas unidades básicas de

    saúde bem como nas unidades

    hospitalares, a fim de implementar

    programa de melhoramento dos serviços

    para garantir um atendimento de

    qualidade.

    Se houvesse uma adequada assistência da

    mulher durante o período gestacional,

    identificando e reduzindo os riscos na

    gravidez e no parto, a demanda por

    tecnologia sofisticada poderia ser

    otimizada.

    A redução da mortalidade neonatal requer,

    portanto, medidas mais específicas, como:

    identificar gestações de alto risco e tratar

    precocemente as suas complicações;

  • WEIRICH, C.F.; DOMINGUES M.H.M.S. Mortalidade Neonatal um desafio para os Serviços de Saúde. Revista Eletrônica de Enfermagem (on-line), v.3, n.1, p. 1 (html), jan-jun. 2001. Disponível: http://www.fen.ufg.br/revista4

    Entende-se, que toda a relação entre

    profissional de saúde e paciente é uma

    relação pedagógica, o qual deverá ser

    construída reconhecendo que os

    participantes do processo sejam eles

    trabalhadores de saúde ou usuários do

    serviço devem ser considerados

    portadores de conhecimentos, e com

    capacidade crítica e, portanto sujeitos da

    ação.

    12

    melhorar a qualidade de atendimento ao

    parto, tanto á gestante quanto ao RN;

    prevenir a incidência de RN de baixo

    peso e, ainda dar o suporte adequado

    aos RN patológicos através das UCINS

    (Araújo, 1999).

    Para enfrentar a mortalidade neonatal se

    faz necessário o desenvolvimento de

    ações que garantam, para as gestantes,

    acesso às informações sobre fatores de

    risco na gravidez, orientação alimentar

    e sobre a amamentação, a preocupação

    para o momento do parto. Estas ações

    podem ser desenvolvidas durante o

    atendimento do pré-natal estimulando

    inclusive, a formação de grupos de

    gestantes, tanto para a mulher como

    para o companheiro.

    Essas ações, por sua vez, para terem

    impacto devem contar com o

    comprometimento dos profissionais de

    saúde, estes sendo vistos como

    trabalhadores sociais cuja prática é

    pedagógica.

    Com essa preocupação, Silva (1994)

    ressalta que é no cotidiano que se

    constroem relações pedagógicas

    permanentes em movimentos de

    construção e desconstrução cultural.

    Porém, muitas dificuldades são

    encontradas para o desenvolvimento desse

    trabalho educativo: a questão da

    disponibilidade de tempo, o envolvimento

    da equipe de saúde, práticas educativas

    tradicionais que não estimulam a

    participação, modelo de saúde vigente

    voltado principalmente para ações

    curativas. Quanto a isto, CHIESA (1995)

    coloca que a superação da problemática

    das práticas educativas não ocorrerá em

    curto prazo, porém é importante que se

    pense nas possibilidades de atendimento,

    se realmente considerarmos que a

    assistência pré-natal é um fator importante

    na redução das taxas de mortalidade

    neonatal, e conseqüentemente, entendendo

    esta redução como uma melhora dos

    indicadores de saúde do Município de

    Goiânia.

  • WEIRICH, C.F.; DOMINGUES M.H.M.S. Mortalidade Neonatal um desafio para os Serviços de Saúde. Revista Eletrônica de Enfermagem (on-line), v.3, n.1, p. 1 (html), jan-jun. 2001. Disponível: http://www.fen.ufg.br/revista4

    13

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  • MODELOS DE ANÁLISE DE FATORES

    PROGNÓSTICOS DE ÓBITO NEONATAL PARA

    INSTRUMENTALIZAR PROGRAMAS DE

    VIGILÂNCIA DE RECÉM-NASCIDOS DE RISCO

  • Resumo

    Objetivo: Identificar variáveis de prognóstico de risco para mortalidade neonatal e que

    apresentem alta sensibilidade e especificidade para uso em triagem de recém-nascidos

    (RNs) de risco no município de Goiânia.

    Material e Métodos: O estudo foi delineado como uma coorte prospectiva e incluiu

    nascidos vivos, residentes em Goiânia, que internaram no período neonatal em uma das

    nove unidades de cuidados intensivos neonatais (UCINs), de novembro de 1999 a

    outubro de 2000. Quatro fontes de dados secundárias foram utilizadas: Censo nas

    UCINs, Projeto monitoramento de óbitos, SIM e SINASC. O banco de dados final foi

    gerado a partir da vinculação destas bases de dados e incluiu variáveis potenciais de

    risco para óbito neonatal. Utilizou-se o modelo de regressão de riscos proporcionais de

    Cox para identificação de fatores prognósticos de mortalidade neonatal e a curva ROC

    para selecionar variáveis com a melhor combinação de sensibilidade e especificidade.

    Resultados: A coorte de estudo foi constituída de 875 RNs e a taxa de mortalidade

    neonatal foi de 11 óbitos por mil nascidos vivos. Peso ao nascer e Apgar no 1o minuto

    de vida foram os fatores prognósticos de maior acurácia estatisticamente associados ao

    óbito após análise multivariada. O peso ≤ 2.500 g apresentou sensibilidade de 70% na

    predição de óbito neonatal. As curvas de sobrevivência apresentaram diferenças

    significativas para valores de peso < 1.500g e ≥ 1.500g e índice de Apgar com valores ≤

    3 e > 3.

    Conclusão: O peso de nascimento foi a variável de melhor custo-benefício para

    utilização em programas de triagens de RNs de risco para óbito neonatal, pela sua

    factibilidade na rotina dos serviços de saúde, baixo custo e obtenção de resultados

    confiáveis na aferição.

    16

  • Summary

    Objetive: To identify predictors of neonatal mortality with high levels of sensitivity and

    specificity to be used as screening of newborn at risk for death in Goiânia.

    Methods: The study was designed as a prospective cohort and included newborns

    admitted in the neonatal intensive care units (NICUs) of the city, between

    November/1999 and October/2000. Four sources of data were used: a Census conducted

    in the NICUs, the ongoing “Project on Monitoring of Death in Childhood”, the National

    Database of Mortality and the Alive Newborn File. The final dataset was created by the

    linkage of all files and included potential risk variables for neonatal mortality. The Cox

    proportional hazard risk model was applied for identifying prognostic factors related to

    neonatal mortality. The ROC curve was used to assess variables with the best

    combination of sensitivity and specificity to be used as screening for newborn at risk.

    Results: The cohort study enrolled 875 newborns and the neonatal mortality rate was 11

    deaths per 1,000 live born infants. Birth weight and Apgar score at the 1st minute were

    the prognostic factors with the highest accuracy and statistically associated with

    neonatal mortality after multivariate analysis. Weight ≤ 2,500 g presented 70% of

    sensitivity in predicting neonatal deaths. The Cox survival curves differed significantly

    for newborn weight < 1,500 g and ≥ 1,500 g and for Apgar at 1st minute ≤ 3 and > 3.

    Conclusion: Birth weight was the best cost-effective predictor variable to be used as

    screening for newborn at risk of death, due to its sensitivity and feasibility to be

    incorporated into the routine practice, at low cost, and with reliable measurements.

    17

  • Modelos de análise de fatores prognósticos de óbito neonatal para

    instrumentalizar programas de vigilância de recém-nascidos de risco

    Introdução

    A mortalidade infantil é considerada um indicador de saúde de uma população,

    relacionada a fatores biológicos, sociais, econômicos e dos serviços de saúde, conforme

    documentado em estudos de várias regiões do mundo (Rutstein 2000, WHO 1996).

    Existe uma estreita relação entre a mortalidade infantil e as desigualdades sociais, que

    marcam a qualidade de vida e de saúde dos indivíduos. Crianças menores de um ano de

    idade apresentam maior vulnerabilidade e sofrem diretamente as conseqüências das

    alterações ocorridas no ambiente social, econômico e das intervenções de saúde

    (Claeson & Waldman 2000, Victora 2001, WHO 1996).

    Em países desenvolvidos, como Japão, Suécia e Espanha, para cada mil

    crianças que nascem, apenas 4 a 6 morrem no primeiro ano de vida (Ahmad et al. 2000).

    Na América Latina, dados da década de 1990, mostram que a taxa de mortalidade

    infantil foi de 32 óbitos por mil nascidos vivos, com uma estimativa de 48 óbitos para o

    Brasil (WHO 1996). Atualmente, de acordo com dados do último censo, a mortalidade

    infantil é estimada em 30 óbitos por mil nascidos vivos (IBGE 2000a).

    Existe uma tendência de declínio na mortalidade infantil, e que não ocorre de

    forma homogênea nas regiões e municípios brasileiros. Alguns estudos evidenciam

    grandes desigualdades nos coeficientes de mortalidade infantil nos centros

    metropolitanos, com bolsões intra-urbanos de altas taxas (Leal & Szwarcwald 1997). A

    utilização de uma taxa média para o município tende a mascarar as desigualdades

    sociais e carências dos serviços de saúde (Matos 2001, Morais Neto et al. 2001).

    O estudo da mortalidade infantil tem sido realizado levando-se em conta o

    período pós-neonatal, (28 a 364 dias de vida) e neonatal (0 a 27 dias de nascimento). O

    18

  • componente neonatal representa a maior parcela da mortalidade infantil em regiões com

    baixos índices de mortalidade. Parte considerável destas mortes ocorre por causas

    evitáveis, portanto passíveis de intervenção. No entanto, a redução da mortalidade

    neonatal é um processo difícil, pela complexa e estreita relação entre as causas

    biológicas, sociais e as baixas coberturas dos serviços de saúde, na assistência ao pré-

    natal, parto e período neonatal (Draper et al. 1999, Menezes et al. 1998, Rede

    Interagencial de Informações para a Saúde 2002a).

    No Brasil, as ações desenvolvidas para a promoção da saúde da criança, como

    campanhas de vacinação, programas para o controle de doenças diarréicas e estímulo ao

    aleitamento materno, têm proporcionado um maior impacto no componente pós-

    neonatal da mortalidade infantil (Leal & Szwarcwald 1996). Desta forma, a tendência

    atual é de predomínio cada vez maior do componente neonatal. No município de

    Goiânia, no ano de 1996, das 342 mortes infantis antes de completar um ano de vida,

    231 (67,5%) ocorreram no período neonatal (Morais Neto & Barros 2000).

    Nos países desenvolvidos os fatores de risco e/ou preditores de mortalidade

    hospitalar, incluem anomalias congênitas, qualidade da assistência hospitalar, idade

    gestacional e baixo peso de nascimento (Gould et al. 2000, Richardson et al. 1999,

    Tucker 2002, Wen et al. 2000). No entanto, fatores de risco de países desenvolvidos

    podem não ser representativos de fatores de risco de regiões em desenvolvimento.

    Tradicionalmente, os programas de vigilância de recém-nascidos de risco baseiam-se

    em pesquisas que utilizam modelos de análise dos fatores de risco que tendem a

    incorporar principalmente medidas de associação, como risco relativo e odds ratio

    (Almeida & Mello Jorge 1998, Monteiro et al. 2000, Morais Neto & Barros 2000,

    Richardson et al. 1999, Tucker 2002). Existe uma carência de abordagens alternativas

    na predição de óbitos de recém-nascidos de risco em áreas em desenvolvimento, cujas

    variáveis sejam, simultaneamente, de alta sensibilidade e especificidade. O modelo do

    escore “Clinical Risk Index for Babies” (CRIB) compara parâmetros clínicos e necessita

    de laboratório para realização de exame de gasometria (Kaaresen et al. 1998, Matsuoka

    et al. 1998). A utilização deste modelo é mais aplicável para serviços de saúde

    19

  • terciários, sendo necessária a busca de modelos de maior praticidade, simples, de fácil

    aplicação, apropriados às diferentes realidades regionais e variações temporais dos

    fatores de risco, dentro do mesmo município ou país.

    A partir da década de 90, alguns municípios brasileiros implementaram

    programas de vigilância do recém-nascido de risco. Estes programas utilizam critérios

    padronizados de definição de risco para identificar crianças-alvo para ações de suporte,

    garantindo atendimento diferenciado e prioritário na rotina dos serviços de saúde. A

    definição de recém-nascido de risco inclui a combinação de dois ou mais fatores, dentre

    eles, baixo peso ao nascer, prematuridade, baixo Apgar do 5º minuto, pequeno número

    de consultas de pré-natal e idade materna menor que 18 anos (Cesar 1998, Drumond Jr

    2001).

    Tendo em vista que os programas de vigilância de recém-nascidos de risco

    devem ser permanentemente avaliados e aprimorados, torna-se fundamental a busca de

    definições de risco com maior acurácia. O presente estudo utiliza modelos de análise de

    sobrevivência para identificação de variáveis de risco que combinem alta sensibilidade e

    especificidade para uso em triagem de recém-nascidos (RNs) de risco para programas

    de intervenção, em consonância com o cenário epidemiológico local.

    Material e Métodos

    Área e população de estudo

    O estudo foi realizado no município de Goiânia que conta com uma população

    estimada de 1.093.007 habitantes, 19.692 nascidos vivos e taxa de mortalidade infantil

    de 17,8 óbitos para mil nascidos vivos, de acordo com dados do último censo

    demográfico (IBGE 2000b).

    Delineamento do estudo

    A investigação foi delineada como uma coorte prospectiva. Foram

    considerados elegíveis para o estudo os nascidos vivos residentes no município e

    20

  • internados no período neonatal (0-28 dias de vida) em uma das nove Unidades de

    Cuidado Intensivo Neonatal (UCINs) de Goiânia durante o período de 1º de novembro

    de 1999 a 31 de outubro de 2000.

    Fonte de dados

    Foram utilizadas quatro fontes de dados secundárias:

    Censo nas UCINs. Um censo semanal foi realizado através de busca ativa das

    internações dos recém nascidos (RNs) no livro de registro. Goiânia dispõe de nove

    UCINs, sendo uma pública e oito privadas, que internam pacientes com convênio com o

    Sistema Único de Saúde (SUS) e também com outros convênios. A capacidade de

    atendimento destas UCINs é de 79 leitos para crianças do município de Goiânia e do

    Estado de Goiás (DATASUS 1999).

    Projeto Monitoramento de Óbitos Neonatais do município de Goiânia

    (PMON). Em novembro de 1999 teve início um projeto colaborativo entre a Secretaria

    Municipal de Saúde de Goiânia e a Universidade Federal de Goiás para monitoramento

    sistemático dos óbitos neonatais (Secretaria Municipal de Saúde 1999). O objetivo do

    projeto é a redução dos níveis de morbi-mortalidade, através da identificação dos

    recém-nascidos residentes no Município que foram a óbito nos primeiros 28 dias de

    vida e da investigação do tipo de assistência à saúde e características sócio-ambientais

    das famílias dos RNs. A investigação dos óbitos neonatais foi realizada pela equipe do

    projeto, junto à central de óbitos da Prefeitura de Goiânia e do Núcleo de Informações

    em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia. Um banco de dados foi criado a

    partir de fotocópias das declarações de óbitos (DOs). Para a validação das informações

    das DOs foram coletados dados nos prontuários dos hospitais de internação dos RNs,

    nos hospitais de nascimento, nos serviços de assistência ao pré-natal e realizada

    investigação domiciliar através de entrevistas com a mãe.

    Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC). A fonte de dados

    sobre os nascidos vivos no município de Goiânia foi a Declaração de Nascidos Vivos

    (DN) oriunda do SINASC, implantada no País em 1990. A cobertura em alguns

    21

  • municípios brasileiros chega a 100%, sendo que no município de Goiânia o sistema tem

    boa cobertura dos nascimentos hospitalares e domiciliares de crianças registradas em

    cartórios. Esta afirmativa pode ser feita com base em comparações com outras

    informações como as estatísticas do registro civil (IBGE 2000a). A validação das

    informações preenchidas na DN apresenta índices de concordância elevados, acima de

    90% para a maioria das variáveis (Mello-Jorge et al. 1993). As informações foram

    coletadas na Secretaria Estadual de Saúde e no Núcleo de Informações em Saúde da

    Secretaria Municipal de Saúde. Foram incluídos no estudo somente os RNs cujo código

    do município de residência nas DNs eram de Goiânia.

    Sistema de Informação de Mortalidade (SIM). Os dados sobre óbitos foram

    oriundos da Declaração de Óbito (DO), que alimentam o SIM.

    A Figura 1 esquematiza o fluxograma do estudo, e inclui as diferentes fontes de

    dados e a estratégia para vinculação das bases de dados.

    Vinculação entre os bancos de dados

    A base de dados do Censo realizado nas UCINs inclui um total de 2.235

    nascidos vivos internados no período neonatal. Este total de casos foi vinculado com a

    respectiva DN do banco de dados do SINASC. Para este procedimento realizamos busca

    automática no banco de dados dos nascidos vivos dos SINASC de Goiânia e do Estado

    de Goiás, utilizando campos comuns como nome da mãe e data de nascimento. Além

    destas variáveis utilizou-se também a instituição de nascimento e sexo do RN, para

    confirmar a etapa anterior.

    Foi possível obter-se a vinculação de 90% das variáveis entre os bancos de

    dados, resultando em 875 RNs residentes no município de Goiânia e internados nas

    UCINs, que formaram o terceiro banco de dados do estudo. Portanto, foram excluídos

    deste estudo 1.115 RNs por não residirem no município de Goiânia e 245 não foram

    encontrados no banco de dados do SINASC (Figura 1).

    22

  • Neste terceiro arquivo, identificou-se 708 RNs sobreviventes e 167 que

    evoluíram para óbito no período neonatal. Uma segunda vinculação foi realizada entre

    os 167 óbitos neonatais ocorridos nas UCINs, com os óbitos do banco de dados do

    projeto PMON, utilizando-se campos-comuns como, data do óbito, nome da mãe e,

    estabelecimento de ocorrência do óbito. O resultado desta vinculação detectou 144

    óbitos vinculados e 23 óbitos não identificados no banco de dados do projeto PMON.

    Após busca ativa nos prontuários das UCINs destes 23 óbitos, foram confirmados 18

    RNs como óbitos e 5 RNs como sobreviventes que foram incorporados aos respectivos

    grupos de estudo.

    O resultado final do processo de vinculação de todas as bases de dados

    totalizou 875 RNs e gerou a variável de efeito do presente estudo, com 162 óbitos e 713

    sobreviventes no período neonatal.

    Processamento e análise dos dados

    Para o processamento e análise foram utilizados os programas Foxpro (versão

    6.0), Epi Info 6.04d e o pacote estatístico SPSS versão 10.0.1.

    A variável dependente foi definida como a ocorrência ou não de óbito neonatal.

    Utilizou-se variáveis registradas nas DNs da forma com suas respectivas categorizae

    conseqüente categorizações padronizadas. As variáveis de exposição foram agrupadas

    em dois blocos: características relacionadas à criança e relacionadas à mãe.

    A categorização da variável índice de Apgar baseou-se na classificação

    proposta por Segre (1995): boas condições ao nascimento (Apgar entre oito e dez),

    anóxia leve (Apgar igual a sete), anóxia moderada (Apgar entre quatro e seis) e anóxia

    grave (Apgar entre zero e três). Este índice é um composto que mede a vitalidade do

    recém-nascido no primeiro e no quinto minuto após o nascimento, levando-se em conta

    a cor da pele, respiração, batimentos cardíacos, tônus muscular e resposta a estímulos

    nervosos.

    23

  • Para avaliar os fatores prognósticos de óbito neonatal optou-se pela utilização

    do modelo de regressão de riscos proporcionais de Cox, que avalia a sobrevivência sob

    o prisma da predição (Cox & Oakes 1984). Este modelo fornece as estimativas das

    razões de risco dos fatores estudados, podendo avaliar o impacto que alguns fatores

    prognósticos têm no tempo até a ocorrência do evento de interesse (Bustamante-

    Teixeira et al. 2002). Foram consideradas variáveis estatisticamente associadas ao óbito

    neonatal, aquelas com RR maior que 1,0 e IC 95% sem incluir a unidade (1,0) (Andrade

    & Zicker 1997).

    Inicialmente, procedeu-se à análise univariada incluindo-se todos os fatores

    potencialmente associados ao óbito. Para as variáveis contínuas - peso, índice de Apgar

    no 1º e 5º minuto e idade da mãe - a estratificação seguiu os padrões recomendados pela

    Organização Mundial de Saúde (WHO 1996). As variáveis estado civil e duração da

    gestação foram re-agrupadas em duas categorias.

    As variáveis estatisticamente associadas ao óbito no modelo univariado foram

    incluídas no modelo multivariado. Todas as variáveis passíveis de serem analisadas

    como variáveis contínuas foram assim tratadas para minimizar viés na interpretação dos

    resultados (Cumsille & Bangdiwala 2000). Os fatores que se mantiveram associados ao

    óbito foram analisados pelas curvas de sobrevivência, permitindo a observação das

    variações de cada fator, a tendência durante o período de seguimento e, a probabilidade

    de sobrevivência dos RNs expostos e não expostos a esses fatores.

    Análise posterior foi realizada, selecionando-se os fatores prognósticos de

    óbito neonatal que permaneceram estatisticamente significantes no modelo mulivariado

    de regressão de Cox, para a construção da curva Receiver Operating Characteristic

    (ROC) (Hanley & McNeil 1982). A utilização da curva ROC teve como objetivo

    comparar os fatores prognósticos na predição da mortalidade neonatal, mostrando a

    relação entre a sensibilidade e a especificidade das variáveis estudadas para predizer o

    óbito. A curva ROC viabiliza uma análise quantitativa do poder discriminatório de cada

    variável (Hanley 1988, Hanley & McNeil 1983), isto é, a capacidade da variável em

    24

  • classificar corretamente o risco para o óbito. A curva é a plotagem gráfica de valores de

    sensibilidade (eixo y) e de 1 – especificidade (eixo x) das variáveis estudadas. Quanto

    mais próximos estiverem os pontos do ângulo superior esquerdo, melhor a acurácia da

    variável (especificidade e sensibilidade de 100%). A comparação entre as curvas das

    variáveis teve como objetivo identificar a variável que apresentasse a maior área abaixo

    da curva ROC. A área abaixo da curva (Az) foi determinada pela fórmula (Hanley &

    McNeil 1982):

    ∑ −+−+

    = ),(1 xxseenn

    Az todas possíveis combinações

    de (x , x

    1, se x+ > x-

    s(x+,x-) = ½, se x+ = x-

    0, se x+ < x-

    Onde: n+ = tamanho da amostra de óbitos

    n- = tamanho da amostra de sobreviventes

    x+ = presença do evento (óbito)

    x- = ausência do evento (sobrevivente)

    Um preditor perfeito apresentaria Az de 1.0. Para a análise do poder

    discriminatório das áreas foram considerados os valores de 0.9 a 1.0 (alto poder), 0.7 a

    0.9 (moderado) e 0.5 a 0.7 (baixo). Valores abaixo de 0.5, foram interpretados como ao

    acaso (Brooker et al. 2002, Swets 1988). Portanto, intervalos que excluíram o valor 0,5

    foram considerados significativos. Diferenças entre as áreas das variáveis estudadas

    foram avaliadas pela comparação dos intervalos de 95% de confiança das respectivas

    áreas.

    + _ )

    25

  • Resultados

    Dos 875 recém-nascidos incluidos no estudo 162 (18,5%) evoluíram para óbito

    no período neonatal. De acordo com a Figura 1, a taxa de mortalidade infantil no

    período neonatal durante os 12 meses do estudo foi de 11 óbitos por mil nascidos vivos

    (216/19.692), sendo que 75% (162/216) dos óbitos ocorreram nas UCINs.

    Dentre os 162 RNs que foram a óbito nas UCINs, 119 (71%) tinham peso ao

    nascer menor que 2.500 g, 19 (11%) apresentaram índice de Apgar do primeiro minuto

    menor ou igual a 3 e em 107 (66%) a idade gestacional era menor que 37 semanas. Dos

    cinqüenta e quatro óbitos que ocorreram fora das UCINs, 39 (72%) pesavam menos que

    2.500 g ao nascimento, 30 (56%) tinham idade gestacional menor que 37 semanas e 25

    (46%) apresentavam escore de Apgar do 1º minuto de vida menor ou igual a 3. Algumas

    dessas crianças foram a óbito nos primeiros minutos de vida sem possibilidade de serem

    transferidas para UCINs.

    A análise univariada mostrou que dos fatores prognósticos relativos à criança,

    índices de Apgar (< 4) e peso de nascimento (< 2.500g) estiveram associados ao risco

    aumentado de óbito (Tabela 1). Dos fatores relacionados à mãe, número reduzido (1 a 3)

    ou ausência de consultas de pré-natal, duração da gestação (< 37 semanas) e parto

    espontâneo, estiveram associados ao óbito neonatal. As variáveis significativas do

    modelo univariado foram analisadas em modelo multivariado de regressão de risco

    proporcionais de Cox (Tabela 2). Os fatores prognósticos que permaneceram

    estatisticamente associados ao óbito foram peso ao nascer e Apgar do 1º minuto de vida.

    RNs com peso ao nascer ≤ 1.000 g apresentaram risco de 4,6 (IC95% 1,9–11,1) quando

    comparados aos RNs com peso ≥ 2.500 g. O Apgar do 1º minuto de vida menor que 4

    esteve associado a uma chance de óbito 2,5 vezes maior comparado a valores do Apgar

    maiores que 6.

    Na Figura 2 visualiza-se o impacto que cada fator prognóstico teve, em termos

    de velocidade de óbito, levando-se em conta os dias de internação nas UCINs até a

    26

  • ocorrência do óbito. As variáveis peso ao nascer e índice de Apgar do 1º minuto foram

    incluídas como variáveis contínuas na construção das curvas de sobrevivência, que

    foram ajustadas por ambas as variáveis. Observou-se padrões nitidamente diferentes

    quando se comparou as curvas dos RNs com peso < 1.500 g e ≥ 1.500 g. A proporção

    de sobreviventes diminuiu no tempo, para os recém-nascidos com peso ao nascer ≤

    1.000 g e/ou entre 1.000 g e 1.499 g, com declínio abrupto das respectivas curvas nos

    primeiros dias de vida, seguindo em descenso até o final do período neonatal (Figura

    2A). Este padrão de curva diferiu nitidamente das curvas observadas para os grupos de

    RNs com peso ≥ 2.500 g que apresentaram maior número de sobreviventes no período

    neonatal (p < 0,05). A curva de sobrevivência do Apgar do 1º minuto de vida também

    apresentou declínio abrupto para valores menor que 4 (p < 0,05) quando comparado às

    curvas obtidas com índices maiores ou iguais a 4 (Figura 2 B).

    Para identificar o melhor poder discriminatório ou prognóstico do peso ao

    nascer e índice de Apgar do 1º minuto de vida, em função das respectivas sensibilidades

    e especificidades, estas variáveis foram incluídas como variáveis contínuas, na

    construção da curva ROC (Figura 3). A expressão quantitativa do poder de cada fator

    prognóstico como marcador preditivo de óbito foi avaliada pela área que cada curva

    apresentou sob o espaço delimitado pelo gráfico. Não foram encontradas diferenças

    significativas entre as áreas produzidas abaixo da curva ROC quando se comparou o

    peso (Az = 0,71; IC95% 0,66-0,76) e índice de Apgar do 1º minuto (Az = 0,73; IC95%

    0,68-0,78) pois os intervalos de confiança apresentaram sobreposição.

    A Tabela 3 mostra a sensibilidade e especificidade obtidas para diferentes

    valores do peso ao nascer, utilizando os resultados pontuais gerados pela curva ROC.

    Por exemplo, utilizando-se o peso de nascimento menor que 2.500 g como ponto de

    corte para a seleção de RNs de risco, teríamos uma sensibilidade e especificidade

    respectivamente de 70% e 57% na predição de óbito neonatal.

    27

  • Discussão

    Os fatores determinantes da mortalidade neonatal têm sido amplamente

    estudados tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento (Daga et al. 1991,

    Richardson et al. 1999, Santos-Eggimann & Shapiro 1994, Sarinho et al. 2001, Tucker

    2002, Victora et al. 1996, Zullini et al. 1997). Este trabalho fornece as estimativas das

    razões de risco dos fatores associados ao óbito neonatal, utilizando o modelo de

    regressão de risco proporcional de Cox, para avaliar o impacto que cada fator

    prognóstico têm no tempo, até a ocorrência do óbito (velocidade em dias para a

    ocorrência do óbito). Esta metodologia tem sido pouco explorada para avaliação de

    fatores prognósticos de óbito em RNs (Brodie et al. 2000, Panaphut et al. 2002).

    Este estudo mostrou que o peso ao nascer e o Apgar do 1º minuto de vida

    permaneceram significantemente associados à mortalidade neonatal após análise

    multivariada. A idade gestacional não esteve estatisticamente relacionada ao óbito como

    observado em outros estudos (Morais Neto & Barros 2000, Sankaran et al. 2002), pois

    seria de se esperar uma maior proporção de óbitos de RNs muito prematuros, do que os

    RNs a termo. Uma explicação plausível para este fato seria uma maior taxa de

    mortalidade entre os RNs com retardo de crescimento intra-uterino do que entre pré-

    termos não pequenos para a idade gestacional, conforme achados de Almeida & Mello

    Jorge (1998) e Sankaran (2002). Isto possivelmente resultaria em diferenças nas taxas

    de mortalidade em regiões com incidência maior de RNs pequenos para a idade

    gestacional e/ou de RNs pré-termos. Uma das maiores dificuldades em realizar esta

    distinção deve-se ao fato da idade gestacional constar de forma categorizada, tanto na

    Declaração de Nascimento quanto na Declaração de Óbito.

    Estudo conduzido entre 1988 e 1996 em Dallas, EUA (McIntire et al. 1999),

    identificou aumento da mortalidade de neonatos a termo com o baixo peso, mas não de

    prematuros. Este fato, aliado à redução da mortalidade de prematuros pela introdução do

    surfactante no tratamento da imaturidade pulmonar (Horbar et al. 1993b), cuidados

    intensivos mais eficazes ao RN e melhores condições obstétricas (Richardson et al.

    28

  • 1998), sugere que a idade gestacional será cada vez menos relacionada ao óbito

    neonatal, exceto nos casos de extrema prematuridade. Resultados semelhantes ao nosso

    trabalho foram também observados em estudos conduzidos na Alemanha, nos quais a

    idade gestacional esteve associada ao óbito neonatal somente na análise univariada, não

    se constituindo em variável preditora de óbito em análise multivariada (Horbar et al.

    1993a, Maier et al. 1997). A recente introdução do surfactante no tratamento de RNs

    pré-termo e a disponibilidade de UCINs têm reduzido o risco de óbito neonatal

    (Goodman et al. 2002, Hamvas et al. 1996, Horbar et al. 1993b, Santos-Eggimann &

    Shapiro 1994), o que também poderia estar contribuindo para a diminuição de óbitos em

    RNs prematuros. Da mesma forma, pode-se aventar a hipótese de que o tratamento de

    RNs pré-termo com surfactante poderia atuar como uma variável modificadora de

    efeito, por diminuir o risco da mortalidade de RNs com retardo de crescimento intra-

    uterino (Almeida & Mello Jorge 1998, McIntire et al. 1999, Sankaran et al. 2002) e,

    conseqüentemente, de baixo peso.

    A melhora de sobrevivência com o aumento do peso de nascimento e do índice

    de Apgar, observada em nosso estudo, foi também verificada em outros trabalhos

    (Gomes & Santo 1997, Gould et al. 2000, Nascimento & Gotlieb 2001). Em paises em

    desenvolvimento crianças com menos de 2.500 g ao nascer estão associadas a maior

    morbi-mortalidade neonatal (Wilcox 2001), enquanto em países desenvolvidos, o risco

    de óbito está associado a crianças com peso menor de 1.500g (Gould et al. 2000,

    Richardson et al. 1998).

    Uma limitação deste estudo é que os dados foram coletados somente de

    crianças admitidas em UCINs e, portanto, a análise excluiu RNs que foram a óbito sem

    serem admitidos nas UCINs, provavelmente por serem muito pequenos ou doentes para

    sobreviver ao transporte de um hospital ou de um município para outro, ou por serem

    considerados saudáveis “sem justificativa” para serem transferidos, ou por terem

    sobrevivido por poucos minutos. A exclusão dos que não foram internados em UCINs

    se deve ao fato de esses RNs não receberem tratamento especializado e, portanto,

    representarem um viés de amostra.

    29

  • Em geral, estudos de avaliação de fatores de risco para óbito neonatal, tendem

    a explorar variáveis associadas ao binômio mãe-filho, viabilizando, portanto, ações

    individuais. Neste trabalho, avaliou-se também a variável com maior acurácia para

    triagem de RNs de risco, através da análise da curva ROC, como estratégia para uso

    populacional em saúde pública. Os fatores prognósticos avaliados, como peso ao nascer,

    Apgar do 1º e do 5º minuto de vida, número de consultas ao pré-natal, duração da

    gestação, tipo de parto e tipo de convênio, constituem passo importante na definição da

    melhor variável preditora de óbito neonatal e compõem um elenco de critérios

    potencialmente úteis para triagem de recém-nascidos de risco. Programas de

    monitoramento de recém-nascidos de risco vem sendo implementados nas cidades de

    Santos, Porto Alegre, Curitiba e Rio de Janeiro. No entanto, esses programas utilizam

    um grande número de variáveis, tornando a operacionalização mais difícil (Drumond Jr

    2001, Matos 2001). Neste trabalho as áreas abaixo da curva ROC foram comparadas

    para identificar variáveis com a melhor combinação de sensibilidade e especificidade na

    predição de óbito neonatal. O peso de nascimento e o índice de Apgar do primeiro

    minuto de vida mostraram bom poder discriminatório da mortalidade neonatal. O peso

    ao nascer apresentou uma área abaixo da curva ROC semelhante aos resultados de

    Kaaresen et al. (1998) na Noruega e de Sarquis (2002) no Paraná, Brasil, porém inferior

    à área de 0,83 encontrada por Matsuoka et al. (1998) em São Paulo, Brasil, e de Baumer

    et al. (1997) na Inglaterra. Essas diferenças podem estar relacionadas aos critérios de

    inclusão dos participantes desses estudos, ou seja, RNs com peso de nascimento igual

    ou inferior a 1.500 g. Neste estudo, incluímos todos os RNs admitidos nas UCINs

    independentemente do peso ao nascer.

    Em investigação conduzida em São Paulo, cidade altamente industrializada,

    Matsuoka et al. 1998 encontraram que o peso de nascimento < 1.000 g detectaria óbito

    neonatal com sensibilidade de 63%, o que estaria condizente com o padrão observado

    em paises industrializados, nos quais o risco de óbito está associado a crianças com peso

    menor de 1.500g. Nossos dados mostraram que, na cidade de Goiânia, considerada em

    desenvolvimento, selecionando-se RNs com valores de peso ≤ 2.500 g teríamos uma

    30

  • sensibilidade maior (70%) em predizer óbito neonatal, compatível com resultados de

    paises em desenvolvimento.

    A relação inversa entre Apgar e número de óbitos dos recém-nascidos

    observada nesta investigação, tem sido descrita por outros autores sempre associada a

    outros fatores prognósticos (Baumer et al. 1997, Casey et al. 2001, Grupo Colaborativo

    de Estudos Perinatais 1996, Richardson et al. 1999). O índice de Apgar, por apresentar

    critérios qualitativos de aferição e por exigir avaliação do neonatologista imediatamente

    após o nascimento, pode apresentar certo grau de imprecisão ou avaliação incorreta na

    ausência ocasional do pediatra no momento do parto. Além disso, o índice de Apgar do

    1o minuto de vida retrata o prognóstico no curto prazo e provavelmente seria mais

    sensível e específico em estudos de mortalidade neonatal precoce. No trabalho de Casey

    et al. (2001) os escores de 7 a 10 do Apgar do 5o minuto tiveram especificidade e valor

    preditivo negativo para o óbito neonatal maiores que 90%. Weinberger et al. (2000)

    ponderam que recém-nascidos podem obter um escore de Apgar normal no 1º e 5º

    minuto de vida como resultado de intervenções médicas. Esses estudos indicam que o

    escore de Apgar pode ser útil como preditor de sobrevivência, mas é preditor fraco para

    o óbito.

    O escore CRIB, utilizado para avaliar serviços de assistência neonatal, é

    considerado um melhor preditor para a mortalidade hospitalar do que o peso de

    nascimento e idade gestacional, porém de aplicação exclusiva para RNs de muito baixo

    peso e/ou muito prematuros (Bastos et al. 1997, Kaaresen et al. 1998, The International

    Neonatal Network 1993). Além disso, boa parcela dos nascimentos no Brasil ocorre em

    hospitais e/ou maternidades não terciários, onde não há disponibilidade de gasometria

    nas primeiras 12 horas de vida, portanto não factível para uso em saúde pública.

    As curvas de sobrevivência obtidas neste estudo contribuem para subsidiar

    profissionais de saúde na compreensão do impacto do peso ao nascer e do índice de

    Apgar no óbito neonatal, no decorrer do tempo. Nossos dados indicam que o peso é a

    melhor variável para predizer a morte de recém-nascidos, quando comparada as

    31

  • demais variáveis, pela sua factibilidade no uso diário, disponibilidade, baixo custo e

    aferição confiável e precisa. Levando-se em conta os valores de sensibilidade obtidos, e

    até que modelos preditivos mais acurados sejam desenvolvidos, melhor compreendidos

    e validados na região, este estudo sugere o uso do peso ≤ 2.500g, para triagem de RNs

    de risco em programas de vigilância de mortalidade neonatal.

    32

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  • Tabela 1. Fatores prognósticos de óbito de recém-nascidos internados em unidades de cuidado intensivo neonatal em Goiânia-Goiás.

    Óbitos Sobreviventes aFatores prognósticos RR (IC 95%) (n = 162) (n = 713) CRIANÇA

    Sexo b Feminino 57 293 1,0 Masculino 105 419 1,2 (0,9 – 1,8)

    Índice de Apgar 1c 7 – 10 50 438 1,0 4 – 6 40 193 1,7 (1,1 – 2,7) 0 – 3 65 61 5,2 (3,4 – 7,9)

    Índice de Apgar 5 d 7 – 10 83 589 1,0 4 – 6 52 89 2,7 (1,9 – 4,1) 0 – 3 19 18 3,7 (2,4 – 6,8)

    Peso ao nascer em gramas e 2.500 – 3.999 42 367 1,0 1.500 – 2.499 39 254 1,1 (0,7 – 1,0) 1.000 – 1.499 45 45 4,3 (2,7 – 7,1) < 1.000 31 7 9,9 (5,7 – 17,3)

    MÃE Idade da mãe em anos f

    < 20 37 166 1.0 (0,7 – 1,4) 20 – 34 108 485 1,0 > 34 16 51 1,3 (0,8 – 2,2)

    Estado civil g Casada 106 466 1,0 Solteira 54 211 1,1 (0,8 – 1,5)

    Instrução da mãe em anos h 32 163 1,0 ≥ 12

    8 – 11 56 223 1,2 (0,8 – 1,8) 4 - 7 53 199 1,2 (0,9 – 1,9) 0 – 3 14 51 1,3 (0,8 – 2,3)

    No de consultas de pré-natal i 84 453 1,0 ≥ 7

    4 - 6 40 165 1,1 (0,7 – 1,7) 1 - 3 22 38 2,0 (1,2 – 3,5) Nenhuma 6 4 5,3 (2,3 – 12,3)

    Duração da gestação j 37 – 41 semanas 43 367 1,0 < 37 semanas 107 308 2,3 (1,6 – 3,5)

    Tipo de parto l Cesariana 69 470 1,0 Espontâneo 92 238 2,0 (1,4 – 2,9)

    Tipo de convênio m Particular e outros 29 184 1,0 SUS 132 448 1,5 (1,0 – 2,5)

    a Risco Relativo por modelo de regressão de Cox. b 1 caso sem informação. c 28 casos sem informações. d 25 casos sem informações. e 45 casos sem informações. f 12 casos sem informações. g 38 casos sem informações. h 84 casos sem informações. i 63 casos sem informações. j 50 casos sem informações. l 6 casos sem informações. m 84 casos sem informações.

    41

  • Tabela 2. Fatores prognósticos de óbito de recém-nascidos internados em unidades de cuidado intensivo neonatal em Goiânia-Goiás, ajustado pelo modelo de riscos proporcionais de Cox.

    a bFATORES PROGNÓSTICOS RR (IC 95%) RR (IC 95%)

    Criança

    Índice de Apgar do 1o minuto 7 – 10 1,0 1,0* 4 – 6 1,7 (1,1 – 2,7) 1,1* (0,7 – 1,8) 0 – 3 5,2 (3,4 – 7,9) 3,2* (2,0 – 5,2)

    Índice de Apgar do 5o minuto 7 – 10 1,0 1,0** 4 – 6 2,7 (1,9 – 4,1) 1,1** (0,6 – 1,9) 0 – 3 3,7 (2,4 – 6,8) 1,4** (0,6 – 3,0)

    Peso ao nascer em gramas 2.500 – 3.999 1,0 1,0*** 1.500 – 2.499 1,1 (0,7 – 1,0) 1,0*** (0,5 – 2,0) 1.000 – 1.499 4,3 (2,7 – 7,1) 2,2*** (1,0 – 4,8) < 1.000 9,9 (5,7 – 17,3) 4,6*** (1,9 – 11,1)

    Mãe

    No de consultas de pré-natal ≥ 7 1,0 1,0**** 4 – 6 1,1 (0,7 – 1,7) 0,8**** (0,5 – 1,2) 1 – 3 2,0 (1,2 – 3,5) 0,8**** (0,4 – 1,4) Nenhuma 5,3 (2,3 – 12,3) 1,2**** (0,4 – 3,1)

    Duração da gestação 37 – 41 semanas 1,0 1,0**** < 37 semanas 2,3 (1,6 – 3,5) 1,1**** (0,6 – 2,0)

    Tipo de parto Cesariana 1,0 1,0**** Espontâneo 2,0 (1,4 – 2,9) 1,5**** (1,0 – 2,3)

    Tipo de convênio Particular e outros 1,0 1,0**** SUS 1,5 (1,0 – 2,5) 1,3**** (0,8 – 2,3)

    a Modelo de riscos proporcionais de Cox - Risco relativo não ajustado b Modelo de riscos propocionais de Cox - Risco relativo ajustado * Ajustado por peso contínuo e demais variáveis, exceto Apgar de 5o minuto ** Ajustado por peso e Apgar de 1o minuto contínuos e demais variáveis *** Ajustado por Apgar de 1o minuto contínuo e demais variáveis, exceto Apgar de 5o minuto **** Ajustado por Apgar de 1o minuto e peso contínuos SUS = Sistema Único de Saúde

    42

  • Busca nos prontuários das UCINs e no SIM

    Vinculação dos óbitos entre as fontes

    708 sobreviventes 167 óbitos

    RNs c internados nas nove UCINs de Goiânia n = 2.235

    Óbitos neonatais investigados do PMON n = 198

    Projeto de Monitoramento Óbitos Neonatais (PMON)

    Coleta de dados sobre a mãe e o RN c nos prontuários, nos domicílios, nos serviços de assistência ao parto e pré-natal de Goiânia

    Óbitos neonatais – DO a – SIM b

    5 sobreviventes 18 óbitos

    11 óbitos com DO encontrados

    Vinculação com SINASC d do estado e da capital (n = 19.692)

    RNs internados nas UCINs residentes em Goiânia