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ELETROBRÁS Centrais Elétricas Brasileiras S.A. Presidente José Antônio Muniz Lopes Diretor de Tecnologia Ubirajara Rocha Meira ELETROBRÁS PROCEL Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica Departamento de Projetos de Eficiência Energética Fernando Pinto Dias Perrone Divisão de Eficiência Energética em Edificações Solange Nogueira Puente Santos Equipe Técnica Estefânia Neiva de Melo Frederico Guilherme Souto Maior de Castro José Luiz Grünewald Miglievich Leduc Maria Tereza Marques da Silveira Rodrigo da Costa Casella IAB RJ Instituto de Arquitetos do Brasil Departamento Rio de Janeiro Presidente Dayse Góis Vice-Presidente e Diretor Financeiro Armando Mendes Diretora Administrativa Adriana Larangeira Diretor de Comissões Marco Leão Gelman Diretor Cultural Jorge Costa Ficha catalográfica c129 IAB RJ Caderno de boas práticas em arquitetura : eficiência energética nas edificações : Edificações Industriais- Rio de Janeiro : ELETROBRÁS : IAB, Departamento do Rio de Janeiro, 2009. 28.p.: il. (algumas col.) ; 21,0 x 29,7 cm. – (caderno de boas práticas em arquitetura : v.12) Inclui Bibliografia Publicado em co-edição com a RJ Planejamento Integrado Ltda. ISBN 1. Arquitetura e conservação de energia. 2. Energia elétrica e conforto ambiental. I. ELETROBRÁS. II. Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento do Rio de Janeiro. III. Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Brasil) IV. Série CDD 720.472

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Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética2

ELETROBRÁS

Centrais Elétricas Brasileiras S.A.

PresidenteJosé Antônio Muniz LopesDiretor de TecnologiaUbirajara Rocha Meira

ELETROBRÁS PROCEL

Programa Nacional de Conservação deEnergia Elétrica

Departamento de Projetos de Eficiência EnergéticaFernando Pinto Dias PerroneDivisão de Eficiência Energética em EdificaçõesSolange Nogueira Puente SantosEquipe TécnicaEstefânia Neiva de MeloFrederico Guilherme Souto Maior de CastroJosé Luiz Grünewald Miglievich LeducMaria Tereza Marques da SilveiraRodrigo da Costa Casella

IAB RJ

Instituto de Arquitetos do BrasilDepartamento Rio de Janeiro

PresidenteDayse GóisVice-Presidente e Diretor FinanceiroArmando MendesDiretora AdministrativaAdriana LarangeiraDiretor de ComissõesMarco Leão GelmanDiretor CulturalJorge Costa

Ficha catalográfica

c129 IAB RJ

Caderno de boas práticas em arquitetura : eficiência energética nas edificações :Edificações Industriais- Rio de Janeiro : ELETROBRÁS : IAB, Departamento do Rio de Janeiro, 2009.

28.p.: il. (algumas col.) ; 21,0 x 29,7 cm. – (caderno de boas práticas em arquitetura : v.12)

Inclui BibliografiaPublicado em co-edição com a RJ Planejamento Integrado Ltda.

ISBN

1. Arquitetura e conservação de energia. 2. Energia elétrica e conforto ambiental. I.ELETROBRÁS. II. Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento do Rio de Janeiro. III.Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Brasil) IV. Série

CDD 720.472

Milazzo
Typewritten Text
www.milazzo.com.br

3Edificações Industriais

APRESENTAÇÃO

É com grande satisfação que a Eletrobrás, por meio do Procel Edifica, se une ao Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) para apublicação deste “Caderno de Boas Práticas em Arquitetura”. A busca de soluções arquitetônicas sustentáveis é objeto do cuidadoda empresa há mais de 20 anos. As edificações são, atualmente, responsáveis por quase metade da energia elétrica gasta emnosso país, sobretudo em decorrência da utilização de sistemas artificiais de iluminação e climatização. Não se pode, portanto,desconsiderar esse importante segmento ao se investir na racionalização de energia – caminho mais seguro para o futuro energéticodo país.

O desenvolvimento tecnológico, ao longo da história, tem permitido ao homem vencer inúmeras limitações impostas pela natureza.Na arquitetura, a modernização se reflete em soluções nas quais os recursos técnicos substituem cada vez mais os elementosnaturais. Crescem o conforto e a independência das edificações em relação ao ambiente externo, mas também a demanda porenergia elétrica.

No Brasil, o incremento das estruturas para geração, transmissão e distribuição de energia se acentuou entre as décadas de 1950e 1960, como reflexo da demanda gerada pelo desenvolvimento industrial e o crescimento urbano. Nessa época, também marcadapela criação da Eletrobrás, o modelo de planejamento ainda trabalhava com a ideia de uma oferta sempre superior à demanda,assegurando confiabilidade no suprimento. Não havia preocupação com os desperdícios, nem tampouco conhecimento sobre omodo como a sociedade utilizava essa energia.

A história mostrou, no entanto, que a construção de grandes empreendimentos geradores de energia exige altos investimentos,além de produzir impactos significativos no meio ambiente. No caso do modelo brasileiro, apoiado essencialmente em hidrelétricas,as consequências incluem alagamento de áreas produtivas e necessidade de deslocamento de comunidades inteiras. O desenvol-vimento da consciência sobre os limites dos recursos naturais e financeiros transformou a racionalização em palavra-chave.

Para investir nessa ideia, foi criado, em 1985, o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel), com propostas deações para incentivar o uso eficiente da energia. A enorme representatividade do segmento de edificações no perfil do consumobrasileiro, por sua vez, motivou a criação do Procel Edifica – Eficiência Energética nas Edificações, que vem ampliando e direcionandoas ações da Eletrobrás em prol da racionalização do uso da energia e do aproveitamento dos recursos naturais nas edificações.

Por meio do Procel Edifica, a Eletrobrás investe nos requisitos básicos para uma arquitetura mais integrada ao meio ambiente e aosrecursos naturais, desenvolvendo indicadores de eficiência energética, certificação de materiais e equipamentos, procedimentospara regulamentação e projetos educacionais.

Disseminar boas práticas para soluções arquitetônicas sustentáveis é uma ação que vai ao encontro dos grandes ideais da empre-sa. A Eletrobrás acredita no aprendizado e na consciência como caminhos para o crescimento sustentável do país. E acredita,sobretudo, na capacidade humana de promover soluções que aliem o desenvolvimento tecnológico ao aproveitamento dos recur-sos ambientais na construção de um futuro limpo.

Diretoria da Eletrobrás

SUMÁRIO0303030303 Apresentação Diretoria da Eletrobrás0404040404 Editorial Presidente do IAB RJ0505050505 Documento Arquiteta Karina Daufenbach

Considerações sobre a arquitetura industrial de Hans Broos0909090909 Artigo Arquiteto Marco Milazzo

McLaren Technology Centre – Foster and Partners1111111111 Boas práticas Arquiteta Patrizia di Trapano

Forma e Qualidade Ambiental - O caso da fábrica da Natura – Cajamar - SP1515151515 Boas Práticas Sidonio Porto Arquitetos Associados

IPEL - Fábrica de pincéis e embalagens1717171717 Boas Práticas Arquiteta Cecilia Rodrigues dos Santos

Crisbi Indústrias Têxteis - Camaçari, Bahia, 19801919191919 Boas Práticas Arquiteto Marcello Dantas

Análise de galpões industriais situados em clima tropical, quente e úmido2525252525 Projetos Arquiteta Letícia Zambrano

Análise sistêmica para sustentabilidade em projetos de indústrias2727272727 Créditos

Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética4

EDITORIALPrezado(a) Leitor(a),

O Caderno de Eficiência Energética, dedicado aos projetos industriais, mostra a evolução da arquitetura no setor, não apenas emrelação à preocupação com a economia de energia, mas também em termos formais e ambientais. As novas edificações industriaisjá não possuem uma tipologia específica, e sim uma maior interação com o setor explorado, fazendo parte da estratégia demarketing destas empresas. As sedes das indústrias não se resumem mais a centros de produção. Elas são espaços dinâmicos,que envolvem pesquisa, tecnologia e cultura. Sua arquitetura atraente pode ser vista externa e internamente não apenas pelos quelá trabalham, mas também por seus visitantes, que encontram nesses espaços exposições temáticas, auditórios para cursos eeventos etc.

Se o setor é o de produtos de beleza, fabricados com sementes e frutos da Amazônia, caso da Natura, projeto de Roberto Loeb, tema ecologia presente desde a fabricação de seus cremes e perfumes até a própria arquitetura, que explora diversos recursos deiluminação e ventilação, proteção de fachadas, uso de materiais não poluentes, e principalmente o uso da água, componentefundamental de sua produção. Já o Centro de Tecnologia da McLaren, projeto do escritório de Norman Foster, inspira-se noscircuitos automobilísticos e também no símbolo chinês yin-yang, facilmente percebido em sua implantação. A qualidade dos espa-ços, os recursos de ventilação, refrigeração e iluminação, a tecnologia de reutilização da água da chuva e, sobretudo, a exploraçãodo lago especialmente construído como parte da infraestrutura de arrefecimento mostram a intensa pesquisa de Norman Fostersobre a chamada arquitetura verde, aplicada em todos os seus projetos, inclusive neste para uma indústria de carros de corrida,setor conhecido como pouco ecológico.

O projeto de Sidonio Porto para o Ipel, indústria de papéis e embalagens em São Paulo, premiado pelo IAB-SP, em 2002, tem comocaracterística principal a generosa ventilação natural e a exploração da iluminação natural indireta a partir da instalação de grandessheds na cobertura. Assim como os outros projetos, traz a preocupação com a reutilização da água de chuva, o tratamento deesgotos para reuso em vasos sanitários etc. Construção de grande impacto na paisagem em que se localiza, a edificação extrapolaa tipologia industrial tradicional e se revela mais uma obra que valoriza a arquitetura.

O artigo histórico resgata as indústrias Hering, projetos do arquiteto Hans Broos, que nas décadas de 1960 e 1970 já exploravarecursos de eficiência energética e conforto ambiental nos espaços de produção. Isto traz um diferencial para a arquitetura indus-trial no Brasil, ajustada às especificidades climáticas locais, seja em construções novas, seja em revitalizações de antigas edificações.

O interessante deste Caderno é mostrar que as grandes indústrias nacionais e estrangeiras têm investido em projetos de qualida-de, que priorizam a eficiência energética, o conforto ambiental, a pesquisa em novas tecnologias e materiais ecologicamente maisviáveis, sem abrir mão da arquitetura

Dayse Góis

Presidente do IAB RJ

5Edificações Industriais

CONSIDERAÇÕES SOBRE A ARQUITETURA INDUSTRIALDE HANS BROOS

Karine DaufenbachArquiteta, Mestre pela UFRJ e Doutoranda pela USP com bolsa Fapesp

Documento

É a partir de premissas projetuais, traba-lhando sobre uma mesma base opera-tiva, que o arquiteto Hans Broos conce-be seus projetos. Salvo questões progra-máticas e funcionais, as questões reca-em sempre em dois grandes pontos-cha-ve: o diálogo entre arquitetura e nature-za e o bem-estar do usuário. É com essafilosofia de trabalho que o arquiteto bus-ca solucionar os problemas propostos porcada projeto, seja uma casa, igreja ouuma fábrica.

Dedicando-se a várias áreas, o arquitetotem em seu currículo mais de 100 obrasconstruídas, entre residências, edifíciospúblicos, religiosos e indústrias. São es-tas, porém, as mais conhecidas e divul-gadas em sua carreira, pelo seu signifi-cativo número e pelas projeções que al-cançaram junto à crítica especializada.

Com o projeto e construção da IndústriaTêxtil Hering Matriz de Blumenau (1968-1975), o arquiteto deu início a uma par-ceria de trabalho de mais de 20 anos comas Indústrias Hering, na condição de ar-quiteto e consultor, o que lhe rendeu di-versos outros projetos de indústrias demenor porte em comparação a essa com-panhia nos arredores de Blumenau, aschamadas Unidades Satélite, e por fim,da Hering do Nordeste (1978-1987), nomunicípio pernambucano de Paulista.

Na Hering Matriz é impressionante o di-álogo estabelecido entre arquitetura enatureza. Uma arquitetura austera e deformas angulares que complementa e, aomesmo tempo, contrasta com o vale es-treito e cercado por montanhas onde seinsere, ou a convivência harmoniosa en-tre a arquitetura moderna e a antiga. NaUnidade Satélite de Rodeio, o edifício sepropõe a reproduzir os platôs do terre-no, transformando obra natural e cons-truída em um todo, único e reelaborado.Ou ainda, o aproveitamento dos ventosmarítimos na Hering do Nordeste, em

resposta à situação climática dessa re-gião, visando o bem-estar dos funcioná-rios. São estes projetos industriais, ondeo arquiteto alia seu profundo conheci-mento das necessidades funcionais eprogramáticas, com o desenho diversifi-cado e minucioso, o respeito à natureza,os espaços de encontro e lazer, a buscapelo conforto ambiental e pela animaçãopsicológica, que evidenciam sua lúcidacompreensão da fábrica entendida en-quanto lugar onde se trabalha e se vivesocialmente, para além de suas estritasexigências funcionais.

A Hering Matriz deBlumenau

Na Hering Matriz (1968-1975), o que nossurpreende é justamente essa noção deconjunto que os edifícios assumem, numestreito diálogo entre obra e natureza, emque os edifícios são inseridos com natu-ralidade, integrados à natureza, indis-sociáveis daquele espaço. A qualidadearquitetônica dos edifícios também é algo

marcante, assim como a dos espaçoscriados por essa arquitetura. Algo surpre-endente para a época de sua constru-ção, quando predominavam indústriasinstaladas em galpões antigos ou impro-visados, geralmente isolados, sem mai-ores preocupações em relação ao pla-nejamento físico da empresa e com ques-tões de atendimento social e conforto dosoperários.1

A Hering Matriz situa-se no bairro do BomRetiro, num vale entrecortado por mor-ros, hoje um bairro próximo ao centro dacidade de Blumenau, mesmo local ondeos irmãos Hering, imigrantes alemães,iniciaram uma tecelagem no final do sé-culo XIX. (imagem 1) Uma das questõesprincipais do projeto relaciona-se ao de-sejo da empresa de permanecer no sítiooriginal, preservando a história e os la-ços afetivos com o lugar de sua funda-ção. Para viabilizar a expansão da em-presa, foi adotado, assim, o sistema desatélites, que são núcleos produtivos res-ponsáveis somente pela confecção dosartigos. São seis as unidades satélites:

1 - Hans Broos: Hering Matriz. Vista do conjunto. Blumenau. 1968-1975.

Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética6

Água Verde e Itororó, em Blumenau; eas unidades nas cidades de Rodeio,Indaial, Ibirama e Gaspar, em SantaCatarina.

Na unidade matriz, as imposições natu-rais do meio e as premissas de projetoque conduziram à formulação do planodiretor foram diversas e atuaram de for-ma decisiva: organizar o plano diretor

para o conjunto fabril num vale de confi-guração estreita e alongada, preservan-do a paisagem e a vegetação natural;conciliar a inserção dos novos edifícioscom os prédios antigos da fundação daempresa com características da arquite-tura germânica existentes no local; pre-ver a construção em etapas, e por fim,conciliar a expansão da fábrica com oprocesso de produção em curso.

O complexo industrial compõe-se de vá-rios edifícios que guardam diferençasformais, funcionais e programáticas en-tre si, mas que revelam ao mesmo tem-po uma coerência e unidade de conjun-to. Guardam também, em comum, preo-cupações com o bem-estar dos usuári-os, e tiram daí sua própria expressivi-dade. Todos eles se abrem ao exterior,permitindo que o trabalhador esteja sem-pre em contato com o mundo externo.Os edifícios concentram as circulaçõesnas suas extremidades, sempre abertas,que protegem o interior da incidênciasolar direta e permitem a ventilação, alémde garantir um percurso protegido dachuva. Fazem uma espécie de interme-diação interior/ exterior que age direta-mente na expressividade do edifício, quesurge da relação de cheios e vazios, áre-

as iluminadas e sombreadas, que acen-tuam a horizontalidade do edifício e ame-nizam a massa construída. (imagem 2)

No edifício da Costura, a torre da esca-daria age como um contraponto à hori-zontalidade predominante deste edifícioe torna-se o marco visual do complexofabril. Ladeando o prédio histórico de1890, a fachada principal desse edifício

foi concebida apenas como uma simplesempena de concreto aparente. (imagem3) De fato, o arquiteto tinha um duplodesafio a resolver: articular o novo edifí-cio ao antigo e resolver de maneirasatisfatória, do ponto de vista do confor-to ambiental, a fachada voltada para les-te. O arquiteto concebe então uma fa-chada neutra, quase que totalmente ve-dada, a não ser pelos pequenos orifícioscirculares que permitem visão ao terra-ço-jardim à frente. Em contrapartida, afachada é cercada de aberturas de vidroe canais de ventilação pelas laterais eem sua base, que permitem plena ilumi-nação e ventilação natural. É nessa bus-ca por soluções de ordem estético-funci-onais que reside seu grande interesse ea compreendemos.

A fachada funciona como um plano so-breposto ao edifício, apoiado em vigaslaterais, e guarda um vão livre com o res-tante do prédio para ventilação (imagem4). Temos assim, uma empena de con-creto, leve, realçada em sua ínfima es-pessura, solta do chão, quase que sus-pensa. O arquiteto opera em contraste,neutralizando a fachada do novo edifíciopara valorizar o antigo; uma arquiteturaque é neutra, porém não hesitante, que

não deixa de ser incisiva e com “plenaconvicção do seu próprio valor e da le-gitimidade de sua filosofia”2, certo de quesomente uma arquitetura de qualidaderespeita e valoriza a arquitetura históri-ca.

É também através do uso do vidro e derecuos que o arquiteto desconstrói amassa e confere leveza ao bloco do Cen-

tro Social, tendo em vista a grande altu-ra da viga longitudinal, que suporta o ter-raço-jardim. Este edifício se estende des-de a entrada do complexo têxtil até à Pra-ça Histórica. São aproximadamente150m de comprimento e com um pavi-mento. O fechamento voltado para o jar-

2 - Hans Broos: Hering Matriz. Costura Nova. Blumenau.1968-1975.

3 - Hans Broos: Hering Matriz. Costura Antiga e Nova.Blumenau. 1968-1975.

4 - Hering Matriz - Edifício CosturaNova. Esquema corte longitudinal.

7Edificações Industriais

dim é de vidro, o que possibilita plena ilu-minação natural nesses ambientes, prin-cipalmente no refeitório, e contato com anatureza. Em contrapartida, o arquitetolança mão de uma grande cobertura quegarante aos usuários um percurso prote-gido desde a portaria à Praça Histórica edaí às unidades de produção.

A Praça Histórica (imagem 5) é um lugarde encontro entre os trabalhadores e oponto central do complexo fabril, tambémacesso ao terraço-jardim projetado porRoberto Burle Marx. Um local de conví-vio composto por diversos níveis, esca-das de diferentes desenhos, em ângu-los, espelho d’água e chafariz, perfazen-do um espaço dinâmico. O conjunto for-mado pelas velhas figueiras da praça,com o jardim que ladeia o Centro Sociale seu terraço-jardim, além da vegetaçãocircundante, gera uma bela continuida-de visual, numa verdadeira fusão entreobra natural e construída.

É nesse sentido que esta arquitetura ga-nha status de coisa viva, numa clara con-cepção de conjunto, onde arquitetura enatureza se complementam e se diferen-ciam reciprocamente; noção esta que oarquiteto repete em projetos posteriores,como na Unidade Satélite de Rodeio(1978), com a perfeita sintonia entre ar-quitetura e topografia (imagem 6). Aquipodemos apreender essa ideia da arqui-tetura formadora de um ambiente. Estaunidade é marcada por dois volumes deacentuada horizontalidade - a portaria ea fábrica -, concebidos em extensão, queacompanham os desníveis do terreno. Oprimeiro volume, da portaria, surge como

uma continuação, um prolongamentonatural do terreno, que além de se ade-quar, completa a paisagem. Tanto aquicomo na Hering Matriz, o valor maior doprojeto está concentrado na formação doambiente, onde mais importante que asfachadas são as relações volumétricasentre os edifícios e os espaços criadosatravés dessa arquitetura.

A Hering do Nordeste

A Hering do Nordeste (1978-1987) repre-senta outro projeto marcante na carreirado arquiteto; marca o ponto culminantede suas preocupações com questões deordem funcional e climáticas. O arquite-to se depara com uma situação ambientalbastante diversa daquela em que cons-truiu as demais fábricas da CompanhiaHering. E tais preocupações se refletemem uma nova linguagem formal, que fa-zem desse edifício um ponto de inflexãoem sua carreira. Se por um lado, a Heringdo Nordeste marca continuidades formaiscom obras anteriores – como a Satélitede Rodeio – entre elas a horizontalidadepredominante do volume, a definiçãovolumétrica maciça, a procura pelos gran-des vãos -, por outro, sinaliza uma ex-ploração na linguagem estrutural comonunca antes, não apenas em concretocomo nas demais obras, mas também naestrutura metálica, com a qual concebea cobertura do edifício, responsável porcaptar os ventos da região e amenizar oclima quente do Nordeste (imagem 7).

A Hering do Nordeste assenta-se sobreuma chapada situada a 10 km do litoralna cidade de Paulista, PE, onde tira pro-

veito dos ventos marítimos constantes.Todo o projeto foi concebido de modo aaproveitar da melhor forma possível osventos da região. Segundo o texto deapresentação do projeto: “o desejo de seaproveitar as condições naturais para osistema de ventilação e ambientação doedifício influenciou o projeto desde o tra-çado geral, isto é, desde a implantaçãoe orientação dos volumes no terreno até,e especialmente, a concepção da cober-tura”.3

É na estrutura da cobertura, portanto, quereside a maior atenção do projeto, umaestrutura metálica com 4,20m de alturaque cobre todo o edifício, e tem comoprincipal atribuição a captura e odirecionamento dos ventos para dentrodo edifício e também a eliminação do arquente através de aberturas também pre-sentes na cobertura. Sua forma resultoude estudos tanto no sentido da proteçãosolar como para a ventilação natural, e aexigência de vencer os grandes vãos doedifício (Imagem 8). A demanda pelosespaços contínuos e pelos grandes vãosque orientaram o projeto justifica-se pelanecessidade de flexibilização dos espa-ços internos. Além disso, permite maiorracionalidade do fluxo de produção e re-dução da área ocupada, ao concentrarno mesmo espaço todos os setores deprodução - beneficiamento da malha,corte e costura, e estocagem.

As paredes do edifício também colabo-ram para a constante ventilação internado prédio. Nenhuma parede externa émaciça. Todas são feitas de elementosvazados de concreto pré-moldado em di-

5 - Hans Broos: Hering Matriz. Praça Histórica. Blumenau.1968-1975.

6 - Hans Broos: Indústria Hering. Satélite de Rodeio. Rodeio.1978.

Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética8

ferentes formas e tamanhos e, de acor-do com a necessidade, recebem fecha-mento de cobogós, telas metálicas ouvidro, e são dispostas da melhor formapara o aproveitamento das correntes dear, mas também como proteção à inci-dência solar e à chuva. Por serem ele-mentos vazados, permitem o contínuocontato visual com o exterior. E são jus-tamente esses elementos dispostos nasfachadas e todos os seus detalhes que,entre outras questões, têm a missão deatuarem na diferenciação formal e naredução da escala do bloco. Algo de fun-damental importância quando se fala deum edifício com dimensões impressio-nantes: 216mx192m.

Todas as preocupações com ganhos deespaço e racionalização de seu uso aca-baram por tornar o edifício impessoal emsua escala, diferenciando-o drasticamen-te daqueles edifícios em Santa Catarina,onde a escala humana foi nitidamenteuma preocupação do arquiteto.

A Hering Nordeste parece comungar doímpeto construtivo que se manifestou nopaís na época de sua construção, osanos do chamado “milagre econômico”brasileiro, em que o país conheceu anosde pujança econômica sem precedentese com muita construção para um Brasilque se urbanizava de forma acelerada.“A arquitetura do início dos anos de 1970parece profundamente marcada pelademanda de massa, pelo nível técnicoatingido pela construção civil, aparelha-da para construir grandes estruturas epelo otimismo gerado pelo desenvolvi-mento do país.”4 Outra característica des-sa época, é a expressão das novas pos-

sibilidades tecnológicas e a assimilaçãode novos materiais na arquitetura, comoo aço, que agora poderia concorrer como concreto devido ao desenvolvimento daindústria siderúrgica nacional. Parte daarquitetura brasileira expressa essasnovas possibilidades na linguagem for-mal do edifício.

O projeto da Hering do Nordeste ostentatoda a desenvoltura tecnológica dos seusgrandes vãos e dos espaços contínuosde produção, que se revela na grandio-sidade da estrutura metálica da cobertu-ra. Esta, visível tanto do exterior quantodo interior, em contraposição ao restan-te do edifício em concreto aparente, tor-na-se a principal característica formal doprojeto. E mais que isso, é a própria leve-za de sua trama metálica contraposta àsolidez e consistência do concreto quedá a tônica do projeto.

Em que pese à grande escala do edifí-cio, o arquiteto buscou ao máximo o diá-logo com a natureza, seja na concepçãoindissociável entre obra e natureza naHering Matriz, seja no aproveitamentodas correntes marítimas no projeto da

Hans BroosO arquiteto Hans Broos (1921) nasceu em Gross-Lomnitz, atual Eslováquia. For-mou-se na Universidade Carolo-Wilhelmina, em Braunschweig, Alemanha, em 1947.Chegou ao Brasil em 1953, primeiramente em Blumenau, cidade de colonizaçãoalemã, em Santa Catarina. Desde então, realizou muitos projetos, em especialresidenciais, industriais e religiosos, além de educacionais e hospitalares. Em 1968,mudou-se para São Paulo, onde seu projeto de maior destaque é a Igreja e CentroParoquial São Bonifácio, na Vila Mariana. Em Santa Catarina, merecem ênfaseseus projetos industriais da Companhia Hering. Entre os vários prêmios recebidospelo arquiteto, destaca-se o Prêmio do IAB/ SP de 1983 para edifícios industriais aoprojeto da Hering do Nordeste.

Notas1 SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil 1900-1990. São Paulo: Edusp, 1997, p. 161.

2 BROOS, Hans. O homem e a cidade: Refle-xos mútuos. Texto da Palestra em 16/06/89. SãoPaulo, p. 14.

3 DAUFENBACH, Karina. O Complexo Têxtil daHering do Nordeste S/A Malhas. Apresentaçãodo projeto. Projeto n. 46, dez. 1982 p. 51-68.

4 BASTOS, Maria Alice Junqueira. Pós-Brasília:rumos da arquitetura brasileira. São Paulo: Pers-pectiva: Fapesp, 2003.

8 - Hans Broos: Hering do Nordeste. Paulista, PE. 1975-1978.7 - Hans Broos: Hering do Nordeste. Paulista, PE. 1975-1978.).

Hering do Nordeste. Se na primeira, orelevo agiu de forma tão impositiva eestruturadora no projeto. O contrárioaconteceu na última, onde o arquitetoteve total liberdade, desde a escolha doterreno até a concepção do partido ar-quitetônico. São situações opostas nes-se sentido, mas com o predomínio justa-mente dessa busca da relação com olugar, entendendo-se aí também as ques-tões climáticas, e que tem como fim últi-mo agir a favor do usuário, através daconcepção de um edifício agradável físi-co e psicologicamente, extraindo-se daítodas as motivações de ordem formal.

9Edificações Industriais

MCLAREN TECHNOLOGY CENTRE

FOSTER AND PARTNERS

Marco MilazzoArquiteto e Mestre em Conforto Ambiental e Eficiência Energética e Professor da Universidade Estácio de Sá.

Artigo

9 - Implantação do McLaren Centre

10 - Vista Aérea do McLaren Centre

Para o novo Centro de Tecnologia daMcLaren, o escritório de arquiteturaFoster and Partners enfrentou o desafiode criar uma sede para reunir a maioriados empregados do Grupo McLaren, an-teriormente dispersos em 18 localidadesdiferentes.

Localizado em um terreno de 50 hecta-res, a sudoeste de Londres, na cidadede Surrey, Inglaterra (51°20´ norte / 0°32´oeste), possui 57.000,00 m² de áreaconstruída, onde estão instalados labo-ratórios de pesquisa, estúdios de concep-ção, produção e montagem de automó-veis de fórmula 1 e um túnel de ventopara simulações.

Segundo Foster, “estamos obviamenteemocionados em estar envolvidos nes-se projeto. É uma daquelas raras ocasi-ões em que a natureza, o funcionamentoe a aparência de um edifício realmenteimportam, não apenas para quem vai tra-balhar lá, mas para quem a visita.McLaren veio até nós com uma série deconceitos - não sobre como o edifíciodeve parecer, mas mais sobre qual deveser o seu espírito, suas aspirações, eseus geradores sociais.”

Na visão do presidente da MacLaren, RonDennis, a nova sede deveria representar

os conceitos da empresa em relação àprodução automobilística, o que NormanFoster fez adotando diversas referênci-as estéticas da edificação a peçasautomotivas, a máxima eficiênciaenergética, e criando ambientes de altaqualidade para os funcionários.

A planta da edifi-cação possui umaforma sinuosa, co-mo uma pista decorrida, que emcomposição comum grande lagoartificial fechamum círculo, comono símbolo chinêsyin-yang, em quelago e edifício secompletam.

O lago é um dosprincipais compo-nentes da edifi-cação, possuindo

50.000 m³ de água e faz parte da infra-estrutura de ar-refecimento. Aágua é bombea-da para absorvero calor geradopelos chillers dosistema de condi-cionamento de ar,localizados na co-bertura, e depoisé recirculada poruma cascata de160m de compri-mento que circun-da todo o lago,onde novamentese resfria. Alémdisso, o movimento da água pelo lagopermite a sua oxigenação. Devido a estesistema, foram instaladas apenas duastorres de arrefecimento de água ao in-vés de sete, e mesmo assim somente sãousadas como backups.

O corpo principal do edifício é divididoem blocos de 18 metros, com corredo-res de 6 metros entre eles, chamados de“ruas”. Todas as ruas permitem a entra-da da luz natural e a vista para o lagopela fachada sudoeste, que é totalmen-te envidraçada. Dentro dos 11 metros depé-direito, as áreas administrativas e decriação foram implantadas em mezani-nos, separadas das áreas industriais. Emuma das pontas da edificação, fica loca-lizado o túnel de vento, um circuito re-tangular de 145 metros de comprimento,utilizado nos testes de aerodinâmica doscarros. No túnel, um grande ventiladorde 4 metros de diâmetro atinge velocida-des de até 600 rpm, sendo portanto res-ponsável por grande consumo de ener-gia. Dentre as áreas destinadas aos fun-cionários, há um restaurante para 700pessoas, uma piscina e uma academia.

A proteção da insolação direta é feita pelagrande cobertura em balanço que circun-da toda a edificação e pelo paisagismo.A altura da edificação foi limitada em 11

metros para que pudesse ser criado umgrande anel de árvores de proteção aoseu redor. Toda a água de chuva da co-bertura e das áreas pavimentadas é co-letada e tratada, para depois ser lançadano Rio Bourne, que corre próximo ao ter-reno.

Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética10

11 - Lago Artificial e fachada sudoeste 12 - Vista da marquise de cobertura

13 - Passarelas de ligação entre os mezaninos

14 - Diagrama de distribuição da energia (Visio-Energy Map.pdf)

Um centro de visitantes é localizado emuma edificação independente, na entra-da do complexo. Abriga exposições tem-porárias, instalações educativas e umteatro, e é conectada à edificação princi-pal pelo subsolo.

Um completo sistema de automação per-mite que a equipe de manutenção daedificação monitore e controle de formapermanente o consumo energético doCentro McLaren e planeje melhoriasconstantemente.

Ações monitoradas desde a inauguraçãodo Centro McLaren:

Desligamento das unidades condiciona-doras de ar (AHUs) – economia de700.000,00 kWh / ano;Otimização dos controles dos chillers –economia de 963.000,00 kWh / ano;Desligamento automático da iluminaçãoà noite e finais de semana - economiade 618.000,00 kWh / ano;Troca das lâmpadas halógenas pelas devapor metálico - economia de 45.000,00kWh / ano.Ações a serem implantadas nos próximosanos:Troca das lâmpadas existentes por leds;Otimização dos compressores de ar;Controle da velocidade variável do siste-ma de bombeamento de água do lago;Implantação de sensores de presençapara acionamento da iluminação.

Referências Bibliográficashttp://www.fosterandpartners.com/Projects/0995/Default.aspxhttp://www.mclaren.com/technology-centre/http://www.aerolab.com/h t t p : / / w w w. g l o b e s t . c o m / n e w s /1243_1243/insider/173892-1.htmlhttp://www.bdcnetwork.com/article/CA6613459.htmlSTRATTON, Michael.Industrial Buil-dings: Conservation and Regeneration.,2000, Taylor & Francis.ADAM, Jürgen; HAUSMANN, Katha-rina; JÜTTNER, Frank; IndustrialBuildings: A Design Manual. – 2004.Birkhäuser Basel.

11Edificações Industriais

FORMA E QUALIDADE AMBIENTALO caso da fábrica da Natura - Cajamar - SPArquiteta Patrízia Di TrapanoArquiteta pela USU, Mestre e Doutorado em Arquitetura pelo Proarq/FAU/UFRJ e Professora Adjunta EBA/UFRJ.

Boas Práticas

O avanço tecnológico ao longo dos anostrouxe inúmeros benefícios para a quali-dade de vida do homem, mas tambémdesencadeou outros problemas. Oconsumismo decorrente da RevoluçãoIndustrial, a evolução dos meios de pro-dução e a influência da mídia na era daglobalização levaram o planeta a eviden-tes sinais de exaustão dos recursos na-turais não renováveis, além de proble-mas ambientais tais como o efeito estufae a destruição da camada de ozônio.

O atual modelo de crescimento econô-mico gerou enormes desequilíbrios. Sepor um lado, nunca houve tanta riquezae fartura no mundo, por outro lado, a mi-séria, a degradação ambiental e a polui-ção aumentam dia a dia. Diante dessaconstatação, surge a ideia do desenvol-vimento sustentável, buscando conciliaro desenvolvimento econômico com a pre-servação ambiental e, ainda, o fim dapobreza no mundo.

O conceito de desenvolvimento susten-tável é complexo, pois para ser colocadoem prática exige mudanças fundamen-tais na maneira da sociedade pensar, vi-ver, produzir, consumir etc. Além dasquestões ambiental, tecnológica e eco-nômica, este conceito envolve tambémuma dimensão cultural e sóciopolítica,exigindo a participação democrática detodos os envolvidos no processo paratomadas de decisões e mudanças quese façam necessárias.

No campo da arquitetura, o conceito desustentabilidade significa, sobretudo, autilização da criação e do conhecimentotécnico para projetar e construir em har-monia com o meio ambiente, de modoque a edificação apresente mínimos im-pactos ambientais adversos, além de pro-ver uma qualidade para a vida das pes-soas. Nesse sentido, a utilização de fon-tes de energia renováveis, como a ener-gia solar, associada à ventilação natural,

iluminação natural, o aproveitamento daságuas pluviais, a reutilização das águasservidas são alvos que devem ser incor-porados ao processo de concepção.

A qualidade ambiental é uma denomina-ção empregada para caracterizar as con-dições dos ambientes – qualidade do ar,da água, do solo, dos ecossistemas, doconforto ambiental – segundo um con-junto de normas e padrões ambientaispré-estabelecidos.

Algumas considerações fazem-se neces-sárias quando se tem como meta umaarquitetura com qualidade ambiental. Oarquiteto deve observar para o sítio deimplantação da edificação, topografia,tipo de rugosidade do terreno, condiçõesdo entorno, condições climáticas, inso-lação e ventos. Além disso, outros pon-tos deverão ser contemplados, tais comoàs questões energética, ambiental, soci-al, cultural, econômica e a imagemrequerida para essa edificação.

Uma edificação com qualidade ambientalé aquela que apresenta um mínimo deimpacto nocivo ao meio ambiente, crian-do espaços salubres e confortáveis paraos usuários. Considera-se que as ques-tões ligadas à composição, configuração,estrutura, aspectos construtivos, funcio-nalidade, conceituação teórica já fazemparte do elenco de premissas projetuaisque o arquiteto prioriza na fase de con-cepção, acrescentando-se a essas, aquestão da qualidade ambiental tambémcomo estruturação interna da forma. Aresolução desse processo deve-se darde forma harmônica, sem que mais tar-de, quando da construção, serem acres-cidos sistemas ou dispositivos à formaarquitetônica já concebida e realizada.Assim, o ideal será de se considerar noprojeto a integração das necessidadesambientais, sem que haja perda da qua-lidade arquitetônica.

O Caso da Fábrica daNatura

A empresa Natura desejava um projetoque simbolizasse alguns dos conceitosbásicos da filosofia de trabalho e da ima-gem que expõe ao público: preservaçãoda natureza, o bem estar e o conforto doser humano. Vencedor da licitação paraa escolha do projeto, o arquiteto RobertoLoeb procurou criar elementos arquitetô-nicos que simbolizassem tais valores.Para isso, tomou como referência os con-ceitos do Green Building Challenge¹.

O levantamento desses conceitos esta-beleceu diretrizes que influenciaram nacomposição formal. Houve uma preocu-pação do arquiteto em criar uma relaçãoeficiente e estética entre funcionalidadee forma, buscando a integração dos sis-temas mecânicos e construtivos aliadosà tecnologia.

As considerações mais relevantes foram:facilidade para modificações de layout;acesso visual ao exterior (transparência);preocupação com os seus colaborado-res; fácil acesso e manutenção, tantopreventiva quanto corretiva dos sistemas;preservação da mata nativa; estação detratamento de água para produção, reti-rada de poço artesiano; redução de con-sumo de energia através da utilização daluz natural; criação de estação de trata-mento para efluentes líquidos e seu de-vido reaproveitamento; incineração deresíduos industriais e orgânicos.

O município de Cajamar está localizadona latitude 23° 21' 22'’S e longitude de46° 52' 37'’W, próximo ao trópico deCapricórnio. A média de altitude é de 735m, implicando numa realidade climáticade transição, entre os climas tropicaisúmidos de altitude, com período secodefinido, e aqueles subtropicais, per-manentemente úmidos do Brasil meridi-onal (TARIFA & ARMANI, 2000).

Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética12

A fábrica foi implantada num terreno deformato retangular (imagem 15), com amaior dimensão voltada para o vale e orio Juqueri, na direção norte. A distribui-ção dos edifícios priorizou o contato en-tre os espaços abertos e construídos, eo entrelaçamento das circulações feitopelas passarelas.

Com relação às orientações, o bloco Ad-ministrativo apresenta a fachada de maiordimensão com vidro reflexivo, voltadapara norte/sul. Já o bloco de Projetos &Desenvolvimento (P&D), com o mesmotipo de vidro, apresenta a maior dimen-são voltada para leste/oeste onde, nolado oeste, foi protegida externamentepor uma tela micro perfurada que permi-te a visão para o exterior durante o dia(imagem 16).

Esse tipo de proteção, constituída de umtecido com fios especiais de fibra de vi-

dro, carbono e borracha, não bloqueiatotalmente a iluminação natural.

Segundo Rivero (1986, p.98), a radiaçãosolar incidente (W/m2) com céu claro, nasfachadas leste/oeste, durante as quatrohoras de maior intensidade na latitude de23°27’S, no dia 22 de dezembro, é de

584W/m2. A fachada norte apresenta46W/m2, a sul 165 W/m2, a NE/NO 336W/m2 e a SE/SO 515 W/m2. Logo, emclimas tropicais, é desejável que aedificação apresente orientação norte/sulnas faces de maior dimensão.

As fachadas norte do prédio Administra-tivo e do P&D que apresentam peles devidro reflexivo (imagem 17), não recebe-ram proteção, assim como a grande em-pena de vidro temperado transparente,que fecha uma das laterais da passarela

de acesso aos edifícios de produção(imagem 18). Nesta fachada, o arquitetotrabalhou com o recurso da serigrafia, vi-sando atenuar o ofuscamento, mas aestratégia não resolveu o problema dainsolação.

A utilização dos fechamentos em vidrono projeto foi intencional devido ao pedi-do dos clientes de se obter o máximo detransparência e clareza, um dos princí-pios da Natura. Entretanto, sabe-se queos fechamentos transparentes em climastropicais são um ponto fraco na envol-vente do edifício, devido ao fator solar2

apresentado e à baixa inércia térmica. Autilização de vidros reflexivos em algu-mas fachadas críticas, visto que estesapresentam melhor performace median-te a aplicação de películas metálicas comalto coeficiente de reflexão, buscou a di-minuição do fator solar, atenuando o pro-blema da insolação.

A busca de soluções mais eficientes fazcom que o uso da tela na fachada oeste,como proteção externa aos vidros, sejaconsiderado um bom exemplo de dispo-sitivo arquitetônico agregado à forma,mostrando que estes devem fazer parteda composição formal, adequando aconstrução ao clima. Esta solução per-mite que os vidros sejam mantidos, me-lhorando o desempenho térmico daedificação.

Outro aspecto importante, que serviucomo premissa para o arquiteto quandoda implantação do edifício, foi o incenti-vo à circulação entre os espaços. A ne-cessidade de integração entre blocos

15 - Implantação e orientação

16 - Proteção com tela na fachada oeste do prédio P&D 17 - Fachadas norte do prédio administrativo e P&D

13Edificações Industriais

norteou a solução das passarelas, quese tornaram elementos de grande forçaestética do projeto (imagem 17). Essascirculações foram uma solução convida-tiva a uma experiência sensorial, propor-cionada pelo contraste de formas altas ebaixas, passando pela relação entre oopaco e a transparência, entre o cheio eo vazio, o iluminado e o escuro, além deser um elo eficiente para que os funcio-nários e visitantes sigam de um extremoa outro.

As áreas de trabalho não são confina-das em salas e, ao circular pela fábrica,observou-se algumas reuniões em pe-quenos postos de trabalho, corredores,no jardim das jabuticabeiras, nos bancosdas praças, etc. O contato humano éimportante para o estreitamento das re-lações entre as pessoas. Pode-se dizerque o apelo por uma arquitetura flexívele interativa restabeleceu neste projeto umelemento óbvio, mas há muito tempoesquecido: as pessoas.

A empresa Natura apresenta uma filoso-fia de trabalho que muito se aproxima daquestão social da sustentabilidade, queé a preocupação com o ser humano. Nafábrica, 80% são mulheres, existindo o

cuidado com seus filhos, que podem fi-car na creche sem a preocupação com operíodo de lactação. Tudo isso é comple-mentado por serviços especiais comomédicos, correios, loja de conveniência,área de repouso, lanchonete e restauran-te. A empresa oferece também um clubepara diversão, com serviços de ginásti-ca nos horários de almoço.

As questões voltadas para a gestão daágua foram atendidas por Loeb, ou seja,

reutilização de águas servidas, gestão deáguas pluviais, assim como a gestão dosrejeitos. Neste projeto existiu um grandecuidado em se adequar as edificaçõesàs características topográficas do terre-no, onde foram mantidos os desníveis edado um tratamento paisagístico ao en-torno dos edifícios. Houve também a pre-ocupação com a drenagem das águaspluviais através de canaletas laterais aoscaminhos com argila, e também com acriação de elementos decorativos empedra (imagem 18).

No aspecto de economia de energia, aclimatização do ambiente das fábricas,onde o pé direito é de 12,00 m, foi feitaapenas nos três primeiros metros, atra-

18 - Praça interna entre os blocos industriais

19 - Vista interna da área de produção com os totens para insuflamento

vés de sistemas de difusores, criando umcolchão de ar. Para conseguir esse re-sultado, foram instalados sob o piso doprocesso industrial das fábricas dutossubterrâneos que mandam o ar para ostotens de 2,50 m. O colchão de ar quefica na parte superior do prédio não écondicionado, sendo tratado por um sis-tema de filtragem, sem ser resfriado (ima-gem 19).

No município de Cajamar, não existe redepública de esgotos e a água é obtida atra-vés de poços artesianos. O consumo deágua na Natura é considerado um itemestratégico, já que esta faz parte da com-posição de todos os produtos. Por isso,existe uma estação de tratamento daágua retirada do poço artesiano. Encon-tram-se instalados numa torre os seguin-tes reservatórios: água potável para con-sumo humano, água industrial para a pro-dução e água tratada para combate aincêndio, irrigação e lavagem de ruas,etc. O sistema de esgoto é a vácuo e oconsumo de água por vaso sanitário de1,2 litros por descarga, 90% menor doque um sistema convencional.

Observa-se que muitos dos requisitos deuma edificação com qualidade ambientalguiaram o processo de concepção, sen-do considerados no projeto. Entretanto,a solução formal não se caracteriza comoresultado de um processo de concepçãofundamentado nesses requisitos. A arqui-tetura de Loeb ainda é marcada pela for-te influência do modernismo, reveladaatravés do seu próprio discurso. Nota-seque existia uma solução formal pré-defi-nida, que incluía a utilização de materi-ais como o concreto aparente, o vidro ea estrutura metálica como princípios deprojeto e não havia manifestação do ar-quiteto no sentido de trabalhar com ma-teriais alternativos ou até mesmo re-ciclados.

Neste projeto, a função e o programaeram muito importantes, e a forma, decerta maneira, se adequou a essa fun-ção, mas de um modo flexível e aberto,através de núcleos independentes inter-ligados com a natureza. “Pensei numaarquitetura do espaço aberto, definida porvolumes construídos. Era importante ha-ver esta conversa entre os volumes.” dizLoeb³.

Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética14

O partido adotado pelo arquiteto traz ouso sistemático de formas elementaresna composição arquitetônica, de modo aobter equilíbrio e regularidade no conjun-to (imagem 20). Além disso, a utilizaçãodo concreto aparente e da estrutura me-tálica, as coberturas planas, o despoja-mento da ornamentação, as grandes su-perfícies envidraçadas e a preocupaçãocom a funcionalidade do edifício consti-tuem pontos importantes da arquiteturaracionalista.

O efeito da reflexão (imagem 21) tam-bém se aplica a esse projeto sob diver-

Notas¹ O“Green Building Challenge” é um grupo depesquisa internacional que visa o desenvolvi-mento de ferramentas para a avaliação dos im-pactos ambientais das construções. Este pro-cesso envolve uma equipe internacional que de-termina quais os padrões de dimensionamentoe considerações que serão importantes para aperformace da edificação, tais como, energia,materiais, qualidade do ar.”

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TARIFA, Roberto José, ARMANI, Gustavo. AtlasAmbiental do Município de São Paulo. Secre-taria do Verde e do Meio Ambiente – SVMA/PMSP. Secretaria de Planejamento – SEMPLA/PMSP. FASE I:“Diagnósticos e Bases para aDefinição de Políticas Públicas para as ÁreasVerdes no Município de São Paulo. UnidadesClimáticas Urbanas da Cidade de São Paulo”.2000

sos ângulos. “Essa mistura da estruturaexistente com a imagem projetada resultaem uma superposição acidental que es-tabelece uma série de associações en-tre imagem e objeto, combina o óbviocom o inesperado e o estável com o fu-gaz.” (Schulz-Dornburg, 2002, p.76)

Em conclusão, trata-se de um projetoonde nitidamente existe uma continuida-de modernista, tanto no sentido da racio-nalidade quanto da funcionalidade, masque já demonstra como os arquitetosdessa geração estão agregando ao pro-cesso de concepção os requisitos de uma

edificação com qualidade ambiental. Esteprojeto evidencia, através de sua formae da implantação, a vontade de integraro espaço construído com o meio exteri-or, privilegiar a paisagem e os revesti-mentos externos, buscar enfim uma me-lhor relação do homem com a natureza,ao utilizar recursos naturais da ventila-ção e da luz do dia.

² Quantidade de energia solar em % (luz e ca-lor) transmitida pelo vidro somado à parcela daenergia solar que é absorvida pelo vidro, irradi-ada para o interior e exterior do edifício. Nota-se que quanto menor é o fator solar menor seráa interferência externa no meio ambiente e ogasto com ar-condicionado.

³ Entrevista feita pela autora ao arquiteto emOutubro/07.

20 - Vista geral de uma parte do complexo

21 - A fachada de vidro completa a imagem

15Edificações Industriais

IPEL FÁBRICA DE PINCÉIS E EMBALAGENS

Memorial do Projeto de Sidonio Porto Arquitetos Associados

A Ipel situa-se em um condomínio indus-trial na cidade de Cajamar/SP, em umterreno de 11 mil metros quadrados. Otratamento do entorno da obra e aintegração dos vários ambientes visapossibilitar um espaço de trabalho maisagradável e estimulante aos funcionári-os. “Procuramos atribuir generosidade

aos espaços de vivência, onde os funci-onários passariam grande parte do seudia, com a subsequente valorização doespaço cotidiano do indivíduo” – SidonioPorto

O respeito ao meio ambiente foi um dospontos fundamentais na concepção desteprojeto, além da procura de um espaçoadequado de atividades específicas deprodução. “A iluminação natural é umrecurso que procuramos explorar aomáximo, trazendo luminosidade e tam-bém leveza para o ambiente de traba-lho, contudo a ideia era explorar a luzindireta, evitando incômodos causadospela exposição à luminosidade excessi-va, o que foi alcançado com o empregode largos beirais, que orientam a clarida-de para uma incidência indireta, além deproporcionar uma solução adequada decobertura em dias de chuva, sem que-

brar a harmonia do desenho”- SidonioPorto

“Queríamos que a fábrica da Ipel fossenão somente uma simples edificação in-dustrial, mas uma verdadeira obra de ar-quitetura, que considerasse os anseios edesejos da proprietária.” – Sidonio Porto

O resultado foi uma construção com 4mil m² de área, com ares de moderni-dade, unindo o máximo de flexibilidade,condições de expansão futura e custos

compatíveis. O projeto prevê uma ruainterna que se inicia na entrada e corta aconstrução até as áreas de almoxari-fado, permitindo a entrega de materiaissem interferir nas demais atividades daindústria. Esta via forma um canal deventilação natural para as áreas internasdo edifício, confirmando assim os concei-tos de utilização dos recursos naturais.

“Sidonio conseguiu concretizar meu so-nho. A Ipel é uma indústria extremamen-te clara, um prédio moderno, dentro deuma área rústica. Meu verdadeiro paraí-so, aqui trabalho com prazer”, diz Már-cia Zaidman, proprietária da Ipel.

Do ponto de vista construtivo, detecta-se um mix de estrutura metálica paracobertura em shed e as vedações empainéis pré-moldados no concreto. “En-quanto fazíamos a fundação, as estrutu-ras já estavam sendo fabricadas, o quefoi superpositivo, pois pudemos fazer amudança da fábrica sem ter que pará-la”, conta Márcia.

Toda em vidro laminado que se encaixaem alumínio pintado de branco, a indús-tria possui a luminosidade desejada pelaproprietária. “Queria um lugar branco,que conferisse limpeza e claridade. Nosdias de céu claro, não precisamos acen-der uma única lâmpada”, finaliza a em-presária.

22 - Vista do Ipel.

23 - Corte esquemático.

Boas Práticas

Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética16

24 - Estrutura do Ipel.

26 - Interior do Ipel.

“Bela solução arquitetônica, com grandequalidade e habilidade compositiva. Jogobem orquestrado de formas curvas e vo-lumes retangulares articulados atravésde elementos estruturais metálicos deli-cados e eficientes. Sistema de ventila-ção e aberturas generosas e criativas.Excelente integração paisagística.” AtaPremiação IAB 2002 - ocasião na qual oprojeto foi agraciado com o Prêmio RinoLevi.

Foram previstos para execução em se-gunda etapa captação de águas pluviaiscom irrigação e tratamento de esgotospara reuso de água nos sanitários.

Para o Arquiteto Sidonio Porto, existe normalmente um processo inicial de informação como visita ao terreno com sua orienta-ção, ventos dominantes, condição de aprovação legal, estudo do programa, discussão do mesmo com o cliente, opções cons-trutivas, etc. Algum tempo depois, após um processo natural de maturação daquelas informações, passamos a dar forma àsideias que vem surgindo até a versão final. Os conceitos de ecoeficiência e sustentabilidade já são inerentes ao processo e seuescritório, sempre manteve uma preocupação crescente na busca de informação e experimentação no que se refere ao projetoe à sustentabilidade e eficiência energética.

Segundo ele, as decisões tomadas no projeto em relação à eficiência energética e à sustentabilidade nem sempre são bemaceitas pelos clientes, mesmo quando isso envolve um maior custo inicial de construção. Nos casos de projetos empresariais,os clientes, após algum tempo de uso, reconhecem e/ou verificam a economia energética que pode ser feita graças ao projetode arquitetura. Quanto ao projeto do Ipel, destaca a particular valorização do projeto arquitetônico por parte do cliente.

Quando questionado sobre sua perspectiva em relação ao futuro da arquitetura no Brasil em relação às modificações climáticase a necessidade de mudança em relação ao consumo de energia, fala sobre os custos crescentes da produção de energia quelevarão naturalmente a uma busca de soluções adequadas e coerentes com o clima, o local, valorizando com isso, a arquiteturae seus autores.

25 - Estrutura do Ipel.

A construção comseu alto grau deindustrializaçãopossibilitou que ocanteiro de obrasfosse um espaçobasicamente demontagem, tra-zendo com issosegurança no tra-balho, economiade material e di-minuição de resí-duos.

17Edificações Industriais

GRISBI INDÚSTRIAS TÊXTEISCAMAÇARI, BAHIA,1980Cecília Helena Godoy Rodrigues dos SantosArquiteta pela Universidade Presbiteriana Mackenzie; Mestre pela DEA - Université Paris X, Nanterre;Doutora pala FAU-USP, professora adjunta e pesquisadora da FAU da Universidade Presbiteriana Mackenzie

Boas Práticas

Os edifícios que deveriam abrigar a fia-ção e tecelagem, localizados no pólo in-dustrial de Camaçari, não constituemuma opera aperta, intencionalmente in-completa e concebida de maneira quecada observador ou fruidor participe desua criação. Nem uma opera incompiuta,resultado de um processo de concepçãoabandonado antes do termo. Trata-se deum projeto completo, cuja construção foiinterrompida pela venda do patrimônio epelo desinteresse do novo proprietário,que abandonou o canteiro em seguida,condenando-o ao estado permanente deruína precoce.

Mas mesmo incompleta, a obra já seapresenta como testemunho da concre-tização do projeto. Faltam caixilhos e aca-bamentos, falta a cerâmica vermelha nospisos, falta cor em alguns muros revesti-dos, faltam jardins sobre lajes, faltam al-guns elementos indispensáveis à insta-lação das funções industriais, mas ne-nhuma dessas faltas diminui a força deexpressão do conjunto de ossaturas ex-postas ao sol.

No projeto para as indústrias Grisbi, alémdo respeito ao programa de necessida-des funcionais e de desempenho tecno-

lógico, ponto de partida para o desenhode qualquer edifício destinado a abrigaratividades industriais, os arquitetos prio-rizaram a adequação do conjunto ao seumeio físico-geográfico e cultural. A con-sequência foi um projeto de forte expres-são arquitetônica e a previsão de econo-mia substancial, resultante da soma daeconomia na construção, devida ao em-prego de mão-de-obra e materiais da re-gião; da economia de consumo de ener-gia, graças a soluções de projeto queaumentavam o conforto térmico; da eco-nomia no processo de produção, decor-rente do estudo e racionalização dasplantas e do zoneamento das edificaçõesno lote industrial.

No prédio destinado às atividades admi-nistrativas, a solução construtiva adota-da para amenizar o calor nos ambientesde trabalho foram os sistemas duplos deproteção laje/laje ou laje/terraço. Umalaje de cobertura apoiada em estruturametálica independente, sem nenhum tra-tamento, é sobreposta, como um pára-sol, a 1,20 m de uma segunda laje, estasim tratada e impermeabilizada comoparte integrante da grande ossatura es-trutural do edifício. Esse grande pára-sol

pode receber ainda, sob sua sombra, umalinhamento desencontrado de caixas dealvenaria autoportante de tijolos com laje-jardim na cobertura. Salientes nas facha-das corridas de elementos vazados deconcreto, essas caixas circunscrevemsalas que se separam dos escritóriospanorâmicos centrais pelo grande hall decirculação vertical em pé-direito duplo.Entre a cortina de elementos vazadosque fazem o fechamento lateral do edifí-cio e a linha da caixilharia, foi previstoainda um espaço intermediário de jardins,garantia adicional de umidade e frescoraos ambientes de trabalho.

Elementos vazados de concreto em vá-rias modulações, desenhados pelos ar-quitetos e moldados no próprio canteiro,fazem-se filtro de luz, cortina de sombre-amento ou marcação de ventilação, es-tando presentes no fechamento lateral doedifício administrativo, ou na linha deventilação entre as duas lajes sobrepos-tas no edifício destinado ao vestiário, ouna parede de proteção do terraço de con-vívio em frente ao restaurante, ou nosegundo pavimento da oficina e do edifí-cio da manutenção. Emprestados à tra-

27 - Croqui do projeto.

Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética18

dição da arquitetura brasileira, esses ele-mentos amenizam o calor e co-laborarampara que o ar-condicionado só fosse pre-visto no galpão industrial, para atenderaos requisitos técnicos do equipamentoque seria instalado ali.

Também a pele dos edifícios deveria serresistente ao sol. Ao decidir pelo uso dotijolo na alvenaria autoportante ou devedação das grandes estruturas de con-creto, os arquitetos estavam mais do queestabelecendo a óbvia associação coma arquitetura das primeiras indústriasconstruídas no Brasil — estavam optan-do pela sabedoria local, pela facilidade epela economia. O tijolo em Camaçari ébarato e abundante, permitindo ainda autilização de mão-de-obra disponível enumerosa na região. As grandes super-fícies de paredes estruturais, que che-

gam a atingir 1000 m², como no galpãode produção, são paredes de um tijolode aspecto irregular justamente porquefazem uso de tijolos de confecçãoartesanal e diversificada, assentadoscom juntas largas. Essas superfíciesavermelhadas, irregulares na queima,regulares no ritmo e na repetição, são oprincipal elemento de unidade do conjun-to de construções, marcando a oposiçãofundamental entre a tradição e a realida-de locais e a tecnologia industrial trans-plantada.

Materiais econômicos, simplicidade naconstrução derivada da sofisticação dassoluções construtivas do projeto, progra-ma técnico funcional preciso são os ele-mentos que se combinaram para vencera barreira da banalidade das construçõesindustriais e estabelecer relações de efi-

28 - Vista geral da Grisbi.

Ficha técnicaGrisbi Industrias TêxteisEquipe: Francisco Fanucci, MarceloFerraz e Marcelo Suzuki.Data de início do projeto: 1980Data conclusão da obra: 1987(inacabada)Programa: unidade de policondensação,fiação e texturizaçãoÁrea: 25.781m²Local: Pólo Petroquímico de Camaçari,BA Publicações: Ópera Interrotta.Arquitetura e Urbanismo, São Paulo,1994, n.º 51, pág. 38/45

ciência funcional e de plasticidade. A lin-guagem é moderna e racional, internaci-onal. Mas o sotaque é local, feito de cita-ções do homem baiano e da sua cultura.O que faz com que essa arquitetura, nasua promessa quase cumprida, seja,antes de tudo, forte.

29 - Vista lateral da Grisbi. 30 - Vista do acesso da Grisbi.

19Edificações Industriais

ANÁLISE DE GALPÕES INDUSTRIAIS SITUADOS EMCLIMA TROPICAL, QUENTE E ÚMIDO

Marcello DantasArquiteto e Mestre pelo Proarq/FAU/UFRJ

Boas Práticas

INTRODUÇÃO

Cada época se distingue das demaispelas mudanças de atitude ou compor-tamento humano. Tivemos a RevoluçãoIndustrial que alterou os meios de pro-dução, as revoluções na matriz energé-tica que deram novo ritmo ao crescimen-to das economias, as revoluções sociaisque mudaram as formas de relaciona-mento entre as pessoas, as revoluçõestecnológicas que mudaram as noções detempo, informação e por fim estamos vi-vendo a Revolução Ambiental. É bemverdade que a última não foi uma mudan-ça que partiu do homem, mas verdadei-ramente do meio ambiente onde ele vive.Todos esses períodos tiveram em comuma marca de uma arquitetura que simboli-zava o pensamento de sua época.

Neste momento, o profissional a Arquite-tura mais uma vez tem grande poder deinfluência na formação do espaço cons-truído, na maneira de interagir com oambiente e na materialização do idealhumano. A princípio podemos pensar em

casas ecológicas, telhados com aquece-dores solares, supermercados verdes,edifícios de escritórios com coleta seleti-va e reuso de água e etc. Existe, porém,outro nicho de mercado com pouca visi-bilidade no Brasil, a “Arquitetural Indus-trial”. Como atuar como protagonista des-

se processo? Aplicando os conceitos daArquitetura Bioclimática no universo in-dustrial é um bom começo.

Nas regiões tropicais quentes e úmidas,principalmente em estações de verão,deve-se levar em conta a alta incidênciade radiação solar, as temperaturas exte-riores elevadas, as variações diárias, oefeito da umidade relativa do ar e a açãodos ventos. A questão do gasto energé-tico nos edifícios é fator muito importan-te na construção de uma Arquitetura Sus-tentável. O estudo sobre o uso adequa-do de elementos arquitetônicos e sua in-fluência sobre o conforto dos indivíduostambém são pontos de grande importân-cia para garantir maior eficiência ener-gética do edifício e saúde dos seus usuá-rios (conforto + energia).

O cuidado com a interação entre equipa-mentos, pessoas, produtos do processode fabricação e os ambientes próximosda edificação é de suma importância. Ascaracterísticas tecnológicas empregadasna fabricação interferem diretamente naconcepção do espaço construído, fazen-do com que, de certa forma, a edificação

31 - Pequenos grupos industrias também podem investir na qualidade de suasunidades

32 - Gráfico da quantidade de radiação solar global durante o dia.

Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética20

“vista” os equipamentos e o processo. Aprincípio esse fator não é negativo, mascom certeza traz questões novas a se-rem tratadas no projeto da edificação.

Com a evolução tecnológica nas linhasde produção, vários comandos em pro-cessos industriais passaram a ser con-trolados por meio de feixes de laser, foto-receptores e sensores. Muitos dessessensores são afetados pela incidênciadireta da luz, o que aumenta ainda maisa necessidade de controle dos elemen-tos translúcidos da cobertura e fachadas.Nesse momento, se vê que não só osequipamentos interferem no ambiente,mas o inverso também, em outras pala-vras os equipamentos podem, às vezes,ser vulneráveis à ação do ambiente.

Podemos ver um exemplo de possívelinterferência causada pelo ambiente noproduto em processos de laminação deaço, mais especificamente em leitos deresfriamento onde o material recém-laminado aguarda a liberação de sua car-ga térmica por radiação e convecçãonaturais. Barras e chapas delgadas po-dem sofrer empeno ou desalinhamentocaso haja resfriamento desigual e brus-co. Sendo assim, o posicionamento doleito de resfriamento deve se dar de for-ma a não ter sua ventilação natural blo-queada nem se dar de forma excessiva.

A automação dos processos de fabrica-ção trouxe complexidade para os siste-mas de produção, mas também benefí-

cios diretos aos operadores, pois permi-tiu a retirada do homem do contato dire-to com o produto e equipamentos, porvezes em condições de risco. Hoje, qua-se tudo pode ser controlado à distância,permitindo realocar pessoas para “púl-pitos de controle” climatizados ou regi-ões mais afastadas e com ambientesmenos agressivos à saúde dos trabalha-dores.

CONFORTO TÉRMICO

Segundo SCIGLIANO e HOLLO (2001),prédios que apresentam bom confortotérmico devem possuir as seguintes ca-racterísticas:

. Ventilação natural eficiente;

. Iluminação natural e artificial limitadas;

Na construção de galpões industriais, emespecial para laminação, para que apre-sentem bom conforto térmico, as cober-turas e fachadas devem ser dotadas deiluminação natural e artificial limitadas,

33 - Temperaturas de bulbo seco máximas, médias e mínimas no ano de 2002.

34 - Diagrama solar para a latitude 22O 54’ – Rio de Janeiro

21Edificações Industriais

ventilação natural eficiente e temperatu-ra interna, junto à cobertura, levementesuperior à temperatura externa.

Devem ser evitadas aberturas para pas-sagem de ar nas alturas médias e altasdas fachadas da construção, pois a en-trada de ar frio através delas irá prejudi-car o efeito termossifão e, consequen-temente, a ventilação natural.

Visando assegurar um conforto térmicoainda maior, é conveniente circundar aedificação com entradas de ar baixas,estas com bosques, jardins ou gramados,a fim de garantir a entrada do ar o maisfresco possível. Deve ser evitada a utili-zação de pisos asfálticos ou cimentadosjunto às entradas de ar no intuito de nãopré-aquecer o ar que entra no prédio.

Ventilação e qualidade do ar

Uma das principais metas a ser adotadano planejamento de edificações industri-ais deve ser a busca de uma solução pro-jetual que utilize preferencialmente a ven-tilação natural, movida pela diferença depressão no ar interno cujo “motor” é im-pulsionado pelo calor interno e pela ener-gia solar que penetra no prédio na formade luz e calor proveniente das fachadase do telhado.

Devido à geração interna de calor, osprédios industriais que não possuem boaventilação natural nem mecânica setransformam em verdadeiras estufas. Ageração de calor pelas máquinas, pes-soas, iluminação e outras fontes de ca-lor dentro de um ambiente termicamenteisolado e sem ventilação é semelhante

ao do interior de uma geladeira fechadacom seu sistema de refrigeração desli-gado. Assim, provoca-se um aumentocontínuo da temperatura do ar internotornando o ambiente insuportável para osusuários.

Em países como o Brasil, onde a ener-gia solar é abundante, devemos sempreque possível usar sistemas construtivosque permitam que ela penetre no prédiocom cautela, em proporção adequada ea utilizem para provocar a convecçãonatural. Não devemos ir contra a nature-za, mas sim buscar soluções onde estaseja nossa aliada. Devemos sempreaproveitar a energia solar para movimen-tar a convecção natural, obtendo-se des-sa maneira a ventilação e a despoluiçãodos ambientes. Soluções construtivasusuais nos países localizados em climastemperado e frio devem ser adaptadasàs nossas condições climáticas para pro-piciarem bom conforto térmico. Este con-ceito se aplica a futuras construções ounas reformas das já existentes a fim dese conseguir uma boa qualidade do arinterno.

É recomendável se observar que a ven-tilação natural eficiente depende da livrepassagem do ar pelo interior do edifíciopropiciada por aberturas de entrada e desaída de ar que facilitem esse fluxo. Parase obter uma ventilação natural eficien-te, a edificação deve possuir as seguin-tes características:

. Pé direito alto;

. Aberturas calculadas e posicionadasestrategicamente para garantir a entra-da e saída do ar de forma eficiente.

Em grandes depósitos, sempre que pos-sível, devemos dispor as linhas de es-tantes ou de pallets paralelamente aolado de menor comprimento do prédio deforma a permitir que o ar fresco externoatinja a região central, percorrendo amenor distância possível.

Os elementos mais comumente utiliza-dos nos edifícios industriais para permi-tir entrada de luz e proteger as aberturasde passagem de ar contra a entrada dechuva são os lanternins, sheds e exaus-tores gravitacionais. Devido às suas for-mas e à sua função de bloqueio de chu-

35 - Diagrama de Givoni

Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética22

va, apresentam graus variados de resis-tência à passagem do ar e seus desem-

penhos devem ser quantificados e con-siderados no estudo da ventilação.

A localização adequada das aberturaspara a saída do ar aquecido interno ficanos pontos mais altos da cobertura, ondese concentra o ar aquecido interno, queé menos denso (mais leve). Já a locali-zação adequada das aberturas para a en-trada do ar fresco externo fica na parteinferior das fachadas laterais, onde seconcentra o ar fresco externo (mais pe-sado).

Iluminação

Nas edificações com cobertura do tipozenital, os índices de iluminação naturalnão devem ultrapassar 12,5% da área dopiso e, nos prédios com cobertura do tipolanternim¹ ou shed, os índices de ilumi-nação não devem ultrapassar 20%. Ten-do em vista que toda entrada de luz so-lar no edifício gera um aquecimento in-terno, constatamos que é preciso limitara entrada desse tipo de luz ao mínimo

37 - Sugestão de captadores instalados sobre as venezianas

36 - Entorno da Edificação, canteiro central, piso cimentado claro e arbustos mais afastados

38 - Corte transversal - efeito da vazão dos ventos

23Edificações Industriais

necessário para se obter um aclaramentosatisfatório. Uma forma de evitar essesincômodos seria a utilização de sistemasde proteção externa (toldos, marquises,domus com lentes prismáticas, beirais,brises², etc.).

Um sistema de iluminação eficiente devefornecer as quantidades e qualidades es-pecíficas que favoreçam o desenvolvi-mento das atividades. Deve satisfazer amaior parte possível das necessidadesvisuais dos usuários. Em um ambientefechado, a iluminação deve proporcionaruma boa legibilidade de rótulos ou verifi-cação de não conformidades nos produ-tos, por exemplo. Não deve haver expec-tativa exagerada do desempenho visualdo ser humano e sim adequação do es-paço ao trabalhador.

39 - Corte transversal - efeito termossifão

41 - Iluminação

40 - Perfil do vento incidindo na fachada

Por esta razão, a iluminação é capaz deinterferir no rendimento e na qualidadedos serviços em uma edificação indus-trial, pois o homem está suscetível àssuas próprias ações e aos estímulos pro-venientes do meio, sendo que inúmerosestímulos podem influenciar seu rendi-mento.

Por fim, devemos fugir dos extremos doexcesso e carência de iluminação namesma área, pois o grande contraste en-tre a iluminação geral (muito fraca) e ailuminação de destaque (muito forte)pode causar um desconforto ao trabalha-dor.

Boa iluminação = bonsresultados para indústria

A iluminação deve estar sempre integra-da à arquitetura além de ser um elemen-to de segurança e de conforto, a luz estáassociada às estratégias de produtivida-de, pois é um suporte da percepção vi-sual. A luz pode ser utilizada como umaferramenta para influenciar impressõessubjetivas (visuais e emocionais) e, atra-vés dela, podemos criar efeitos que in-fluenciarão na maneira de perceber o queestá sendo mostrado ou ocultado.

Um bom projeto de iluminação completao espaço arquitetônico, pois valoriza assuas qualidades e cria ambientes de des-taque. As percepções afetam e contribu-em para determinar o estado de ser dotrabalhador.

Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética24

42 - Corte esquemático do exaustor e das aletas metálicas.

Notas¹ Lanternim - pequeno telhado sobreposto àscumeeiras, propiciando ventilação.

² Brise - Do francês brise-soleil; quebra-solcomposto de peças de madeira, concreto,plástico ou metal, instalado vertical ou hori-zontalmente diante de fachadas para atenuarou mesmo impedir a ação do sol sem perdera ventilação.

Um projeto de iluminação bem elabora-do se organiza em torno de três elemen-tos principais: a primeira impressão, atransição e a tarefa. A primeira impres-são é, na verdade, uma sucessão de vi-sões que devem funcionar como instan-tâneos fotográficos: desde a porta deentrada, ao dobrar um corredor para ointerior da fábrica, etc. A transição é feitaatravés da circulação do espaço e pelosestímulos que podem ser oferecidos nocaminho como os focos de interesse. Aluz deve facilitar e enfatizar a tarefa e,principalmente, deve atender à utilizaçãodo espaço.

Uma boa iluminação industrial de-ve pro-porcionar segurança, reduzindo os aci-dentes de trabalho e inibindo atos de si-nistros. Melhorar a iluminação de umainstalação industrial significa aumentar asegurança e estimular a produtividade,sendo assim um investimento com retor-no garantido.

Ruído

Questões de desconforto de ordem acús-tica estão presentes em inúmeras indús-trias, pois a operação e o funcionamentodos equipamentos, ocasionalmente, pro-duzem ruído acima da zona de confortohumano. A especi-ficação de equipamen-tos deveria levar em conta não só suaeficiência no processo mas também fa-tores como a geração de ruído. Máqui-nas que geram ruído com níveis maisbaixos, elementos construtivos absorven-tes e o posicionamento de barreiras ouchicanes acústicas no layout das fábri-cas são passos importantes na concep-ção de um espaço fabril.

CONCLUSÕES

Após aproximadamente 15 anos de de-dicação ao exercício da Arquitetura emIndústrias, percebo que alguns fatores e

necessidades se repetem não importa oramo industrial ou o credo da empresa.Produtividade com medida de sucesso,foco exclusivo na produção, segurançapara processos e pessoas, sigilo nassoluções empregadas e intenso trabalhode “catequese arquitetônica” são algunsdos desafios com que o profissional deprojeto, por vezes, tem pela frente.

Alternam-se momentos de transmissãode conhecimento para os clientes e oaprendizado com os próprios usuários deedificações existentes. Mesmo com umadiversidade muito grande dos ramos in-dustriais e processos produtivos presen-tes nos trabalhos que participei, foi pos-sível o desenvolvimento de diretrizesarquitetônicas capazes de auxiliar o pro-jeto de edifícios industriais compatíveiscom climas tropicais úmidos em especi-al aqueles com grande geração de calorinterno.

Parece-me que no Brasil estamos cami-nhando para um pensamento mais holís-tico e comprometido com o homem e omeio ambiente. Cada vez mais, perce-bemos uma sensibilização generalizadadiante de assuntos como ArquiteturaBioclimática, reservas minerais e biológi-cas, ecosfera e desenvolvimento susten-tável. Todos os setores da sociedade dis-cutem e buscam formas de tratar o as-sunto e chegam à conclusão de que amaneira como lidamos e interagimos como espaço onde vivemos define a qualida-de de vida que teremos. Nesse ponto, éque entra a arquitetura de forma maisplena, garantindo o desenvolvimento dasatividades a que se destina e garantin-do as boas condições ambientais aosusuários.

O profissional de arquitetura tem muito aaprender com a organização dos fluxos,conceitos e racionalização dos proces-sos industriais. Previsibilidade de resul-tados, utilização de grandezas men-

suráveis e constância nos resultados sãoelementos totalmente compatíveis como exercício da profissão.

Sustentabilidade e eficiência energéticanão devem ser pensadas apenas paragrandes complexos industriais, muitasdas vezes são pequenas indústrias inse-ridas na malha urbana e assim com di-versos aspectos ambientais a serem tra-tados em um projeto de retrofit por exem-plo. Acredito que unidades de pequenoporte são eventualmente desafios maio-res ao projetista que grandes complexosindustriais muitas vezes afastados deáreas residenciais ou espaços densa-mente ocupados. Essa bagagem e vivên-cia são capazes de extrapolar o univer-so das fábricas e dar ao arquiteto umalinguagem arquitetônica diferenciada.

Acredito que se resumirmos todos osdesafios e deveres do arquiteto inseridono meio industrial, podemos afirmar queo alto comprometimento, a coragem dequebrar paradigmas e o uso pleno desuas habilidades intrínsecas à profissãoserão capazes de recuperar grande par-cela do prestígio, reconhecimento e va-lorização profissionais, muitas das vezesmitigados. Talvez assim o arquiteto nãorecupere apenas o espaço perdido apósvários descaminhos conceituais, mas omais importante é que contribua de for-ma efetiva para a construção de uma so-ciedade consciente que convive bem noambiente onde vive e ajude o universoindustrial a se desenvolver de forma res-

25Edificações Industriais

Projetos

ANÁLISE SISTÊMICA PARA SUSTENTABILIDADE EMPROJETOS DE INDÚSTRIAS

Letícia Maria de Araújo ZambranoArquiteta e Doutora em Arquitetura, Professora Adjunta no Departamento de Arquitetura e Urbanismo daFaculdade de Engenharia da Universidade Federal de Juiz de Fora.

Diante do desafio da sustentabilidade, oprojeto de edificações industriais enfren-ta um risco: o foco principal da edificaçãoestá nos produtos e processos produ-tivos, mais do que nos usuários e no meioambiente, o que o coloca em face da a-meaça de insustentabilidade. O layout edemais elementos arquitetônicos daedificação são definidos em função daslinhas de produção e seus requisitos: aclimatização interior é calibrada pelasexigências do produto e os usuários mui-tas vezes veem-se diante de temperatu-ras abaixo dos níveis de conforto; a defi-nição das fontes energéticas sofre fortepressão econômica em função da equa-ção do custo final do produto. Porém,muito se pode fazer para que se tenhauma edificação industrial que apresenteboa qualidade ambiental e conforto esalubridade para os usuários.

A inclusão de princípios de sustentabili-dade nos projetos arquitetônicos indus-triais envolve, portanto, o desafio de en-frentar critérios de decisão pautados maispelas demandas do produto que muitasvezes confronta-se com o que seriam ca-racterísticas de qualidade ambiental e so-cial. O desafio desse tipo de projeto estáem se atingir o equilíbrio entre os inte-resses econômicos e prioridade pelo pro-duto, por um lado, e a garantia de con-forto e qualidade dos ambientes para oos trabalhadores e preservação ambien-tal e de recursos naturais, por outro lado.

Equacionar as necessidades relaciona-das à função e ao processo produtivo quea edificação irá abrigar, em equilíbrio comfatores de preservação e qualidade am-biental e de utilização para os usuáriosrequerem uma abordagem do projeto quepermita avaliar alternativas para os ele-mentos arquitetônicos que conduzam aum compromisso para melhores resulta-dos em todos os aspectos envolvidos.Cada decisão relacionada à definição deelementos do projeto concorre para oconsumo de recursos naturais e energé-

ticos, conforto dos usuários, geração deresíduos etc., definindo a qualidade finalda edificação em relação aos usuários eao meio ambiente.

As necessidades do projeto relacionadasao processo produtivo, quando avaliadassegundo seus impactos sobre os usuári-os e o meio ambiente permitem avaliaralternativas arquitetônicas que compor-tem os melhores resultados finais paraqualidade ambiental e de uso da edifi-cação. Trata-se de uma trama de crité-rios de decisão e impactos relacionadosque finalmente se apresentam como umacomplexa rede de interdependências aserem avaliadas para a tomada de de-cisão sobre as partes que compõem oprojeto.

A análise sistêmica comosuporte ao projeto

Diversos autores vêm apontando a teo-ria dos sistemas para favorecer a inte-gração da abordagem da sustentabi-lidade no sentido de visualizar, compre-ender e consequentemente tratar a com-plexidade da trama de interdependênciaspresentes no projeto sustentável (ZAM-BRANO, 2008).

A análise do projeto arquitetônico e ocontexto sociocultural, econômico e am-biental na forma de uma estrutura sistê-mica permitem identificar os elementosque compõem as interrelações existen-tes nesse grande sistema que inclui oedifício. A estrutura sistêmica compreen-de processos físicos e sociais, de inter-relações das partes entre si e com o todo,que vem a ser o ambiente. A imagem deuma edificação inteira pode, portanto, serfragmentada em processos físicos e so-ciais, que formam complexos subsiste-mas do sistema completo.

Os sistemas podem ser fechados ouabertos. Os sistemas fechados são aque-les onde os elementos que o compõem

interagem somente entre si, não influen-ciando nem sofrendo influências de am-bientes externos. Os sistemas abertosdependem também de outros sistemasou ambientes com os quais ele interage(WILLIAMSON, 2003). Katz & Katz(1966, apud WILLIAMSON, 2003) espe-cificam que o edifício é um sistema aber-to, apresentando as seguintes caracte-rísticas: a importação de energia ou in-formação do ambiente; a transformaçãodaquela energia em alguma forma que écaracterística do sistema; a exportaçãode produtos para o ambiente, e reintro-dução de energia no sistema de fontesdo ambiente.

Um dos objetivos comuns para a arqui-tetura sustentável é de criar sistemasmais fechados nos edifícios, através doreaproveitamento de rejeitos como for-ma de insumos, reduzindo assim as de-mandas de insumos do ambiente exter-no e a exportação de resíduos para esseambiente.

Williamson et al.(2003) partem do “tripéda sustentabilidade” como três subsis-temas conceituais do desenvolvimentosustentável: o subsistema ambiental, oeconômico e o subsistema sociocultural.Na ótica dos autores, estes subsistemasse relacionam com o sistema do edifício.

Segundo Yeang (1999), os impactos quepodem ser causados pelo ambiente cons-truído sobre o ambiente externo, segun-do suas interrelações, localizam-se nosintercâmbios de insumos (recursos) eprodutos, nas atividades exercidas nointerior do ambiente edificado e no ambi-ente externo.

Portanto, nas etapas iniciais do projetoimpõe-se a necessidade de predição detodas as interrelações que estarão pre-sentes entre o ambiente que será edifi-cado e o ambiente externo, no sentidode conduzir decisões que levem a me-nores impactos.

Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética26

Através da análise das interdependên-cias entre os sistemas e subsistemas en-volvidos e com base nos objetivos quese pretende atingir com a edificação, sepodem estabelecer as melhores estraté-gias de projeto que conduzam a edifica-ção no sentido da sustentabilidade. Taissistemas podem ser entendidos da se-guinte forma:

Sistema ambiental externoao empreendimento

Os ambientes externos são identificadosem termos de insumos, condições locaise outros dados de entrada, bem comoem termos dos impactos a que essesambientes podem ser submetidos porconta do empreendimento, direta ou in-diretamente. São eles: o sítio de implan-tação da edificação; o entorno imediato;o bairro; a cidade ou território onde o sí-tio se insere; a globalidade.

Sistema sociocultural (noqual o edifício se insere)

Elementos sociais, culturais e tecnoló-gicos presentes no contexto em que seinsere o projeto, que orientam e restrin-gem o universo de possibilidades paraas decisões de projeto. Este inclui osubsistema de atores envolvidos.

Sistema econômico (noqual o edifício se insere)

Elementos econômicos que orientam erestringem as decisões de projeto, no quese refere ao contexto geral em que estese insere. Representa o subsistema deorçamento disponível para o empreendi-mento. Este subsistema pode ser deta-lhado nos diversos itens do orçamentosegundo os temas da concepção.

O objeto (sistema)arquitetônico

Os subsistemas do objeto arquitetônico(que vem a ser o sistema maior que uneesses subsistemas) correspondem aoselementos que se articulam na composi-ção do(s) objeto(s) arquitetônico(s) quecompõem o empreendimento. Com basenos dados de entrada e nos objetivos

explicitados, através da articulação en-tre os subsistemas, identificando inter-dependências, e considerando os possí-veis impactos resultantes, se conduz àsmelhores soluções de projeto, capazesde responder a todos os condicionantesenvolvidos.

Nas primeiras etapas da composiçãoarquitetônica, esses subsistemas devemser abordados, verificando-se as impli-cações relativas ao sistema ambiental,ao sistema de atores envolvidos e aosdemais subsistemas do projeto, levandoa formalizar as principais estratégias ecaracterísticas do projeto. A essessubsistemas associam-se requisitos ecritérios de diversas naturezas, incluin-do os parâmetros definidos no programaarquitetônico, os critérios de desempe-nho ambiental, entre outros. Associam-se ainda os relacionamentos estimadoscom outros sistemas externos a esse,como o sistema sociocultural, o sistemaeconômico, o sistema ambiental, e ou-tros sistemas que se possam vislumbrar.Nas interrelações entre sistemas, tam-bém se encontram critérios, restrições eoportunidades, além de fluxos de mate-riais e produtos, na forma de insumos (re-cursos materiais ou energéticos) ou pro-dutos (rejeitos ou produtos para reapro-veitamento ou reciclagem).

Conforme o modelo proposto por Scaico(1978), a análise do projeto segundo omodelo de um sistema deve compreen-der três etapas: a) decomposição; b) en-cadeamento; c) balanceamento. A de-composição corresponde à compreensãodos elementos que interagem no proje-to. O encadeamento corresponde à umasequência de análises que começa comas entradas, passa para o exame doselementos processadores e suas rela-ções, e em seguida estuda as saídas, traznovos ângulos para um bom entendimen-to dos problemas e alternativas presen-tes. O autor indica que seja feita umaclassificação das decisões que podemser tomadas no sistema em camadashierarquizadas, de forma a orientar deci-sões. O balanceamento é a etapa deanálise das alternativas, indicando assoluções que apresentam melhores re-sultados de eficiência nos quesitos quesejam definidos como prioritários. E,numa visão mais abrangente, a escolha

pela solução que congregue a melhoreficácia, ou seja, num nível mais amplo,medindo a contribuição do sistema estu-dado no sistema global ao qual ele per-tence. Sugerem-se alguns instrumentoscomo auxílio à estruturação do proble-ma: tabelas de decisão, estruturas de flu-xogramas representando o processo aque o problema se refere, onde apare-çam os principais pontos de decisão;modelos de representação do sistemadescritivos (verbais ou gráficos), quanti-tativos (programações e simulações) oumistos (rede de precedências, de fluxos).

A abordagem sistêmica permite estru-turar as principais características do pro-jeto de forma a conduzi-lo do caminhodo melhor equilíbrio entre as necessida-des da linha de produção que irá abrigarao mesmo tempo em que garante o com-promisso de qualidade ambiental e deuso. Entende-se que o desenvolvimentodo detalhamento do projeto envolverá ou-tros níveis de tomadas de decisão rela-cionados ao detalhamento das partes doprojeto. Nestas etapas, destaca-se a im-portância de se lançar mão de instrumen-tos de auxílio ao projeto que sejam ca-pazes de simular desempenhos especí-ficos das partes do projeto. Softwares es-pecialistas podem apoiar decisões espe-cíficas relacionadas aos subsistemascom alto grau de detalha-mento, como éo caso dos sistemas de simulação térmi-ca, lumínica, acústica, energética, etc.

Finalmente, deve-se ter em conta quediante do objetivo de desempenho am-biental e de sustentabilidade, o projetoda edificação industrial deve prever ins-trumentos de monitoramento e controlede indicadores de desempenho quanti-tativo e qualitativo ao longo de sua vidaútil (ZAMBRANO, 2004). As indústriasresponsáveis em geral dispõem de ge-rências de qualidade, de gestão am-biental e de saúde dos trabalhadores eimplantam sistemas de gestão ambien-tal, de qualidade e de segurança e saú-de do trabalhador. O monitoramento con-tínuo do desempenho da edificação in-dustrial deve ser considerado no âmbitodessas esferas de controle de qualida-de. Este pode fazer parte dos relatóriosanuais de desempenho da empresa, po-dendo levar a certificações ou selos dequalidade e sustentabilidade.

27Edificações Industriais

ELETROBRÁS

Centrais Elétricas Brasileiras S.A.

Av. Presidente Vargas, 409 – 13°andarCentro – Rio de JaneiroCEP 20071-003Caixa Postal 1639Tel.: (21) [email protected]

ELETROBRÁS PROCEL

Programa Nacional de Conservação deEnergia Elétrica

Av. Rio Branco, 53 – 14°andarCentro – Rio de JaneiroCEP 20090-004Ligação gratuita: 0800.560.506www.eletrobras.com/[email protected]

ELETROBRÁS PROCEL EDIFICA

Eficiência Energética em Edificações

Av. Rio Branco, 53 – 15°andarCentro – Rio de JaneiroCEP 20090-004Fax: (21)2514.5767Ligação gratuita: 0800.560.506

IAB RJ

Instituto de Arquitetos do Brasil -Departamento Rio de Janeiro

Rua do Pinheiro, 10Flamengo - Rio de JaneiroCEP 22220-050Tel.: (21) 2557.4192 / (21) [email protected]

LISTA DE CADERNOS

1. Shopping Centers2. Edificações de Saúde3. Hospedagem4. Edificações Esportivas e de Lazer5. Edificações Unifamiliares6. Edificações Multifamiliares7. Ecovilas8. Edificações Educacionais9. Universidades10. Edificações Comerciais11. Edificações Culturais12. Edificações Industriais

EXPEDIENTE

Cadernos de Boas Práticas emArquitetura - Eficiência Energética nasEdificações

Conselho EditorialAna SeroaCarlos MurdochDayse GóisJorge HueMarco MilazzoVera HazanResponsável TécnicaRuth JurbergRJ Planejamento Integrado LtdaEditoraMariane AzevedoDiagramadoraLeila FernandesRevisoraClaudia JurbergCapaQualiurb Design

CRÉDITOS

1, 6 a 8. Arquivo do arquiteto, cedido pela autora2. Foto: Cristiano Mascaro in Projeto, n.60, fev. 1984, p. 48.3 e 5. Foto da Arquiteta Karine Daufenbach4. Esquema elaborado pela autora.9. Google Earth10, 13 e 14. Cedidas pela McLaren11. Fotógrafo JetSetJim, cedida pela McLaren12. Fotógrafo Mark McLaughlin, cedida pela McLaren15. Google Earth com interferência da autora16. Roberto Loeb Arquitetura17.18.19.21. Autora Patrízia Di Trapano20. Roberto Loeb Arquitetura com interferência da autora22 a 26. Fotógrafo Mauricio Pepê cedidas pelo escritório deSidonio Porto Arquitetos Associados.27. Cedido pelo escritório Brasil Arquitetura28 a 30. Foto do Arquiteto Marcelo Ferraz, cedido pelo escritó-rio Brasil Arquitetura.31, 36, 38, 39, 40 e 41. Cedidas pelo autor Marcello Dantas32. Elaboradas pelo software Luz do Sol da UFScar.33. Elaborado pelo autor através de dados obtidos na baseaérea de Santa Cruz-RJ.34. CORBELLA/YANNAS, Em busca de uma arquitetura sus-tentável para os trópicos, Rio de Janeiro: Editora Revan, 2003.35. Elaborado pelo autor através de dados obtidos na baseaérea de Santa Cruz – RJ.37. Arquivo produzido através de cálculos do autor.42. www.luz.philips.com/portalHomeProject.do?par=1283:2_2_4:358:1252:1283