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ELETROBRÁS Centrais Elétricas Brasileiras S.A. Presidente José Antônio Muniz Lopes Diretor de Tecnologia Ubirajara Rocha Meira ELETROBRÁS PROCEL Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica Departamento de Projetos de Eficiência Energética Fernando Pinto Dias Perrone Divisão de Eficiência Energética em Edificações Solange Nogueira Puente Santos Equipe Técnica Estefânia Neiva de Melo Frederico Guilherme Souto Maior de Castro José Luiz Grünewald Miglievich Leduc Maria Tereza Marques da Silveira Rodrigo da Costa Casella IAB RJ Instituto de Arquitetos do Brasil Departamento Rio de Janeiro Presidente Dayse Góis Vice-Presidente e Diretor Financeiro Armando Mendes Diretora Administrativa Adriana Larangeira Diretor de Comissões Marco Leão Gelman Diretor Cultural Jorge Costa Ficha catalográfica c129 IAB RJ Caderno de boas práticas em arquitetura : eficiência energética nas edificações : Edificações Culturais - Rio de Janeiro : ELETROBRÁS : IAB, Departamento do Rio de Janeiro, 2009. 28.p.: il. (algumas col.) ; 21,0 x 29,7 cm. – (caderno de boas práticas em arquitetura : v.11) Inclui Bibliografia Publicado em co-edição com a RJ Planejamento Integrado Ltda. ISBN 978-85-87083-19-7 1. Arquitetura e conservação de energia. 2. Energia elétrica e conforto ambiental. I. ELETROBRÁS. II. Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento do Rio de Janeiro. III. Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Brasil) IV. Série CDD 720.472

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Page 1: ELETROBRÁS IAB RJ Centrais Elétricas Brasileiras S.A ...milazzo.com.br/artigos/Caderno_de_boas_praticas_em... · Apresentação. Diretoria da Eletrobrás. 04. Editorial. Presidente

Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética2

ELETROBRÁS

Centrais Elétricas Brasileiras S.A.

PresidenteJosé Antônio Muniz Lopes

Diretor de TecnologiaUbirajara Rocha Meira

ELETROBRÁS PROCEL

Programa Nacional de Conservação deEnergia Elétrica

Departamento de Projetos de Eficiência EnergéticaFernando Pinto Dias Perrone

Divisão de Eficiência Energética em EdificaçõesSolange Nogueira Puente Santos

Equipe TécnicaEstefânia Neiva de MeloFrederico Guilherme Souto Maior de CastroJosé Luiz Grünewald Miglievich LeducMaria Tereza Marques da SilveiraRodrigo da Costa Casella

IAB RJ

Instituto de Arquitetos do BrasilDepartamento Rio de Janeiro

PresidenteDayse Góis

Vice-Presidente e Diretor FinanceiroArmando Mendes

Diretora AdministrativaAdriana Larangeira

Diretor de ComissõesMarco Leão Gelman

Diretor CulturalJorge Costa

Ficha catalográfica

c129 IAB RJ

Caderno de boas práticas em arquitetura : eficiência energética nas edificações :Edificações Culturais - Rio de Janeiro : ELETROBRÁS : IAB, Departamento do Rio de Janeiro, 2009.

28.p.: il. (algumas col.) ; 21,0 x 29,7 cm. – (caderno de boas práticas em arquitetura : v.11)

Inclui BibliografiaPublicado em co-edição com a RJ Planejamento Integrado Ltda.

ISBN 978-85-87083-19-7

1. Arquitetura e conservação de energia. 2. Energia elétrica e conforto ambiental. I.ELETROBRÁS. II. Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento do Rio de Janeiro. III.Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Brasil) IV. Série

CDD 720.472

Milazzo
Typewritten Text
www.milazzo.com.br
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3Edificações Culturais

APRESENTAÇÃO

É com grande satisfação que a Eletrobrás, por meio do Procel Edifica, se une ao Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) para apublicação deste “Caderno de Boas Práticas em Arquitetura”. A busca de soluções arquitetônicas sustentáveis é objeto do cuidadoda empresa há mais de 20 anos. As edificações são, atualmente, responsáveis por quase metade da energia elétrica gasta emnosso país, sobretudo em decorrência da utilização de sistemas artificiais de iluminação e climatização. Não se pode, portanto,desconsiderar esse importante segmento ao se investir na racionalização de energia – caminho mais seguro para o futuro energéticodo país.

O desenvolvimento tecnológico, ao longo da história, tem permitido ao homem vencer inúmeras limitações impostas pela natureza.Na arquitetura, a modernização se reflete em soluções nas quais os recursos técnicos substituem cada vez mais os elementosnaturais. Crescem o conforto e a independência das edificações em relação ao ambiente externo, mas também a demanda porenergia elétrica.

No Brasil, o incremento das estruturas para geração, transmissão e distribuição de energia se acentuou entre as décadas de 1950e 1960, como reflexo da demanda gerada pelo desenvolvimento industrial e o crescimento urbano. Nessa época, também marcadapela criação da Eletrobrás, o modelo de planejamento ainda trabalhava com a idéia de uma oferta sempre superior à demanda,assegurando confiabilidade no suprimento. Não havia preocupação com os desperdícios, nem tampouco conhecimento sobre omodo como a sociedade utilizava essa energia.

A história mostrou, no entanto, que a construção de grandes empreendimentos geradores de energia exige altos investimentos,além de produzir impactos significativos no meio ambiente. No caso do modelo brasileiro, apoiado essencialmente em hidrelétricas,as consequências incluem alagamento de áreas produtivas e necessidade de deslocamento de comunidades inteiras. O desenvol-vimento da consciência sobre os limites dos recursos naturais e financeiros transformou a racionalização em palavra-chave.

Para investir nessa idéia, foi criado, em 1985, o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel), com propostas deações para incentivar o uso eficiente da energia. A enorme representatividade do segmento de edificações no perfil do consumobrasileiro, por sua vez, motivou a criação do Procel Edifica – Eficiência Energética nas Edificações, que vem ampliando e direcionandoas ações da Eletrobrás em prol da racionalização do uso da energia e do aproveitamento dos recursos naturais nas edificações.

Por meio do Procel Edifica, a Eletrobrás investe nos requisitos básicos para uma arquitetura mais integrada ao meio ambiente e aosrecursos naturais, desenvolvendo indicadores de eficiência energética, certificação de materiais e equipamentos, procedimentospara regulamentação e projetos educacionais.

Disseminar boas práticas para soluções arquitetônicas sustentáveis é uma ação que vai ao encontro dos grandes ideais da empre-sa. A Eletrobrás acredita no aprendizado e na consciência como caminhos para o crescimento sustentável do país. E acredita,sobretudo, na capacidade humana de promover soluções que aliem o desenvolvimento tecnológico ao aproveitamento dos recur-sos ambientais na construção de um futuro limpo.

Diretoria da Eletrobrás

SUMÁRIO

0303030303 Apresentação Diretoria da Eletrobrás0404040404 Editorial Presidente do IAB RJ0505050505 Reportagem Jornalista Matilde Silveira

Acervo requer cuidado em edificações culturais0707070707 Documento Arquiteto Marcelo Santiago

MAM – Museu de Arte Moderna – Rio de Janeiro1111111111 Artigo Arquiteta Patrizia Di Trapano

Centro Cultural Jean-Marie Tijibaou – uma discussão sobre forma e qualidade ambiental1616161616 Boas práticas Arquiteto Marco Milazzo

Oi Futuro1818181818 Boas Práticas Arquiteto Luiz Laurent Bloch e Arquiteta Heloisa Lima Herkenhoff

Centro de documentação do Instituto de Economia da UNICAMP – Campinas – São Paulo2020202020 Boas Práticas Arquiteto Pedro Augusto Alves da Inda e Arquiteto Tiago Holzmann da Silva

Refúgio biológico Bella Vista: o pioneirismo de Itaipu na construção de ambientes menos impactantes2424242424 Projetos Arquiteta Barbara Valeixo

Academia de Ciências da Califórnia – um tributo aos princípios da sustentabilidade2727272727 Créditos

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Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética4

EDITORIAL

Prezado(a) Leitor(a),

Dayse Góis

Presidente do IAB RJ

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5Edificações Culturais

ACERVO REQUER CUIDADO EM EDIFICAÇÕESACERVO REQUER CUIDADO EM EDIFICAÇÕESACERVO REQUER CUIDADO EM EDIFICAÇÕESACERVO REQUER CUIDADO EM EDIFICAÇÕESACERVO REQUER CUIDADO EM EDIFICAÇÕESCULTURAISCULTURAISCULTURAISCULTURAISCULTURAIS

Matilde SilveiraJornalista

Reportagem

A busca por eficiência energética emedificações culturais é sempre um desa-fio para arquitetos e engenheiros no mo-mento da elaboração dos projetos porenvolver, além de todas as preocupaçõesinerentes a qualquer projeto, um cuida-do especial com seu ocupante mais ilus-tre: o acervo. Para discutir o tema, o IAB-RJ convidou para um debate virtual o ar-quiteto português Raul Moura, Mestre emAmbiente e Energia pela ArchitecturalAssociation, de Londres, onde lecionadesde 1999, e o arquiteto brasileiro San-dro Tubertini, Mestre em Projeto Ambien-talmente Sustentável, também pelaArchitetural Association. Ambos traba-lham no BDSP Partnership1, uma consul-toria de engenharia com sede em Lon-dres e que atua especialmente no desen-volvimento de projetos de edifícios sus-tentáveis e com baixo consumo de ener-gia. Os arquitetos Ana Seroa, CarlosMurdoch, Jorge Hue, Marco Milazzo eMariane Azevedo2 participaram do deba-te como representantes do IAB-RJ.

As particularidades que os edifícios cul-turais possuem em relação aos demais,no que diz respeito à relação entre o meioambiente, as obras de arte e os frequen-tadores, foi a primeira questão levanta-da durante o encontro. Sandro Tubertiniexplicou que o acervo é o aspecto maisimportante a ser considerado. Caso oprojeto seja o de um museu de arte mo-derna, com obras mais homogêneas, porexemplo, demandará um trabalho maishomogêneo também. Mas se o museuabrigar acervos de diferentes épocas, umestudo mais detalhado será necessáriopara permitir que cada obra, por suas ca-racterísticas distintas como idade, técni-cas e materiais utilizados, receba o tra-tamento bioclimático mais adequado.

Outro aspecto que interfere diretamentenas estratégias bioclimáticas a seremtraçadas durante o planejamento é a lo-calização da edificação, disse Tubertini.

“Se o museu estiver situado em um paísquente, haverá diferentes temperaturasnos diversos ambientes e externamen-te. Neste caso, será necessário criar umespaço de transição para que o visitantepasse, por exemplo, dos 35º C externospara os 22º C internos, temperatura ide-al para a maioria das obras. Já numagaleria de arte, que é um espaço menor,o projeto se inicia a partir dos tipos deobras que ficarão expostas: se forem pin-turas renascentistas, teremos uma solu-ção; se contemporâneas, a solução seráoutra, assim como se forem esculturas,a proposta deverá ser diferenciada” ex-plicou.

Um bom projeto bioclimático de edifica-ção cultural deve considerar outras pe-culiaridades, como clima, ventos, tempe-ratura do solo, topografia, segurança, tipode transporte existente, se o espaço éaberto ou densamente ocupado, comoexplicou o arquiteto português RaulMoura. Outro aspecto que impacta dire-tamente o planejamento é se o prédio queabrigará o acervo é novo ou antigo, poisa climatização dos ambientes demandainstalações elétricas que não haviam sidoprevistas num projeto arquitetônico ela-borado muitas décadas antes.

Um mesmo desafio pode ter várias res-postas. Segundo Moura, “é possível fa-zer várias configurações de um edifício:ele pode ser linear, com face voltada paranorte/sul, ou leste/oeste; ou ter uma con-figuração em ‘U’, contra o sol. Os resul-tados terão desempenhos climáticos eenergéticos diferentes. Um escudo desombreamento em um projeto pode serfundamental para atenuar a incidênciasolar. A estratégia de proteção ou expo-sição aos recursos naturais (onde aedificação será erguida) maximiza a suautilização e reduz a dependência energé-tica, a necessidade de água, e deve fa-zer parte do projeto arquitetônico”, sali-entou.

Outro aspecto destacado por Moura é aocupação dos espaços nas edificaçõesculturais. Ele comentou que, algumasvezes, uma boa distribuição arquitetônicapode não se traduzir em uma adequadadistribuição energética. “As funções de-vem ser distribuídas linearmente, no nú-cleo ou separadamente, da forma maiseficiente possível. É preciso, por exem-plo, optar por um sistema eficiente de cli-matização e o projeto deve começar porum edifício que não precise desse siste-ma. Se não pensarmos assim, vamosignorar todas as medidas e recursosarquitetônicos que estão ao nosso alcan-ce. A construção deve depender do mí-nimo necessário de climatização (aque-cimento ou ar-condicionado)”, frisou.

O fundamental no design de um edifício,na opinião de Moura, é que esteja ade-quado ao tipo de utilização que o clientefará quando o projeto for concluído. Sejanas edificações culturais, comerciais oude qualquer outro tipo. Quanto menos aconstrução precisar de energia, menorserá sua dependência das oscilações domercado energético. Como ele explica,é preciso integrar os sistemas de abas-tecimento de energia, pois deve havermassa crítica para justificar a implanta-ção de um só sistema. “Os painéis foto-voltaicos, por exemplo, não conseguemsustentar o consumo de um museu. Émelhor optar por outro sistema que real-mente proporcione uma eficiência ener-gética”, alertou Moura.

Para alcançar a melhor solução que ali-mentará o sistema energético, devem serlevadas em consideração as opções maiseficientes, conforme a localização do pro-jeto, buscando primeiramente as energi-as renováveis, como sol, vento, água,mar. Em seguida, deve-se priorizar as debaixa emissão de carbono, como bio-massa. Só em último caso, é que se esco-lherão as energias convencionais, maispoluentes. O arquiteto Sandro Tubertini

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Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética6

assinalou que não vale a pena começarum projeto preocupando-se em utilizarenergias renováveis e, ao mesmo tem-po, ignorar a economia energética. “Fa-zemos uma análise climática da regiãopara saber como vai impactar o projeto;mas se este já está definido, só se con-segue resolver problemas”, disse.

Muitas vezes, como explica Tubertini, sónuma fase mais avançada do projetoarquitetônico descobre-se um problema,que poderia ter sido evitado se o traba-lho tivesse sido elaborado de maneiraintegrada pelo arquiteto, o engenheiro eo consultor ou especialista em eficiênciaenergética e iluminação. “É importantebuscar soluções ao longo do processodo projeto. Frequentemente, um projetosai mais caro por falhas não percebidasno início”, disse Tubertini.

No embate de ideias entre arquitetos eengenheiros,Tubertini lembrou que hácerca de cinco anos era preciso conven-cer os arquitetos a usarem os serviçosoferecidos por uma consultoria especi-alizada em edifícios sustentáveis, comoa BDSP, mas que hoje “o diálogo é maisafinado, com menos luta”, ponderou, poisos arquitetos perceberam a importânciado trabalho realizado por essas empre-sas. Outra mudança assinalada nesseperíodo é em relação às limitações im-postas pela legislação inglesa, a Right toLight (literalmente, Direito à Luz). “Quan-do a nova lei entrou em vigor, foi um es-torvo, pois tornou-se mais um critériopara aprovação de projetos. Posterior-mente, percebeu-se que era uma vanta-gem adotá-la, pois o projeto era aprova-do rapidamente. A lei impulsionou o mer-cado a se desenvolver e hoje todos, en-genheiros e arquitetos, se sentam domesmo lado da mesa”, disse.

Quanto às certificações de prédiosambientalmente sustentáveis, Tubertiniassinalou que, como têm apelo comerci-al, não podem exigir demais das cons-truções. “Na verdade, exigem mais daparte mecânica que do design. É maisfácil, por exemplo, trocar o ar-condicio-nado velho por um novo, usar lâmpadasmais eficientes, reaproveitar a água paraganhar pontos... A própria reedição doLeed3 faz menos concessões à partemecânica que ao design. Temos que,cada vez mais, tornar a arquitetura um

diferencial nos projetos. No entanto, édifícil mensurar os benefícios arquitetô-nicos”, reconheceu.

Como lembrou Moura, na Suíça, é ne-cessário provar que o edifício precisarealmente de um sistema de ar-condici-onado para o projeto ser aprovado. “Emmatéria de certificação, está acontecen-do uma mudança interessante, desde2004/2005, quando foram publicadas asdiretrizes de consumo de energia, acertificação está deixando de ser apenasum objetivo para tornar-se uma conse-quência”, contou.

Em relação ao IPCC4 e ao aquecimentoglobal, Tubertini afirmou que a consultoriaBDSP não realiza cálculo de carbono e-quivalente em seus projetos, porque nãohá dados suficientes. “Mas na Inglaterradesenvolveu-se um estudo que calculaa média de carbono incorporado em ma-teriais da construção civil (ISO 14.041).Isso é importante porque há três modosde medir o carbono, da extração à depo-sição dos materiais, que, por sua vez, têmciclos de vida diferentes. No entanto, aindústria não libera informações impor-tantes, como de onde vem o minério equanto gasta para extraí-lo, por exem-plo. Sem esse cálculo de base, fica im-possível calcular o carbono incorporadodos projetos”, concluiu.

NOTAS1. Composto por arquitetos, engenheiros, ana-listas e programadores, o escritório é respon-sável pelas estratégias bioclimáticas e de en-genharia de alguns dos mais emblemáticos edi-fícios contemporâneos, como o 30 St. Mary Axe(Swiss RE) em Londres, projetado em parceriacom Foster + Partners; a Assembleia Nacionaldo País de Gales, em Cardif, em parceria comRogers Stirk Harbour + Partners; e o futuro Ve-lódromo para os Jogos Olímpicos de Londres,em 2012, com Hopkins Architects Ltd.

2. Ana Seroa, Doutora e Professora da Facul-dade de Arquitetura da UFF; Carlos Murdoch,Coordenador da Pós-Graduação em Arquitetu-ra Sustentável da Estácio de Sá; Jorge Eduar-do Hue, Arquiteto e MA. Sustainability Designpela Architeture Association; Marco Milazzo,Mestre em Conforto Ambiental e EficiênciaEnergética e Professor da Universidade Estáciode Sá e Mariane Azevedo, Mestre em ConfortoAmbiental e Eficiência Energética e Editora dosCadernos de Boas Práticas em Arquitetura.

3. O Leadership in Energy and EnvironmentalDesign é um selo criado pelo U.S. GreenBuilding Council, organização americana funda-da em 1993 e responsável pela certificação deedificações ambientalmente sustentáveis.

4. Intergovernmental Panel on Climate Changeou Painel Intergovernamental sobre MudançasClimáticas foi estabelecido em 1988 pela Orga-nização Meteorológica Mundial e o Programadas Nações Unidas para o Meio Ambiente parafornecer informações científicas, técnicas e só-cio-econômicas relevantes para o entendimen-to das mudanças climáticas.

Os projetos de museus (especialmente aqueles que abrigam obras raras anti-gas) são diferenciados em relação à aplicação de tecnologias de eficiênciaenergética, devido à atenção especial que deve ser tomada para a preservaçãodas peças. Tendo em mente, que as condições térmicas interiores ou exigênciasde preservação de artefatos antigos e sensíveis, nem sempre são as mesmasque as condições de conforto para os seres humanos (normalmente são maisrigorosas). Assim, o objetivo ao projetar essas intervenções não só busca reduziro consumo de energia, mas ao mesmo tempo, proporcionar condições de con-forto no interior do espaço para os visitantes, funcionários e para a preservaçãodos artefatos expostos.

Isso às vezes leva a restrições em relação ao potencial de aplicação de certastécnicas de eficiência energética específicas. Por exemplo, certos tipos de anti-guidades devem ser sempre mantidas em temperaturas fixas (ou muito baixas),sob baixa umidade e condições especiais de iluminação natural (para a baixaexposição à radiação UV).

Em outros casos, a aplicação de técnicas de arrefecimento passivo, como a ven-tilação noturna ou a utilização de ventiladores de teto, etc, podem ser inadequa-das, apesar do fato de proporcionarem conforto aos visitantes, e reduzir o consu-mo de energia, pois o uso dessas técnicas leva a condições que não satisfazemas exigências de preservação.

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7Edificações Culturais

MAM – MUSEU DE ARTE MODERNA – RIO DE JANEIRO

Marcello SantiagoArquiteto, Mestre em Ciências da Arquitetura Proarq/UFRJ, Professor da FAU-UNESA.

Documento

O Museu de Arte Moderna do Rio de Ja-neiro é um complexo arquitetônico pro-jetado por Affonso Eduardo Reidy, nadécada de 1950. Considerado um dosprojetos de arquitetura mais bem reali-zados no período áureo do Modernismono Brasil, o conjunto está localizado noParque do Flamengo, entre o AeroportoSantos Dumont e o Monumento aos Pra-cinhas mortos na Segunda Guerra Mun-dial (imagem 1).

BLOCOS E IMPLANTAÇÃO

O conjunto construído do MAM é com-posto pelo Bloco-Escola, o Pavilhão deExposição e o Teatro (imagem 2).

Com a sua obra concluída em 1958, oBloco-Escola abriga instalações de ensi-no de cursos, serviços administrativos,ateliês, cinemateca e cinema, café, loja,além de banheiros e copa.

No subsolo desse bloco, estão as áreasde montagem de exposição, catalogação,restauro e manutenção.

No terraço ajardinado, onde eventual-mente podem ser montadas exposiçõesde esculturas, também está localizado orestaurante.

Por problemas de falta de verbas, somen-te dez anos após a conclusão do Bloco-Escola (1968), é que foi concluído o Blo-co de Exposições. Este é um edifício ele-vado do solo por pilotis, que são na ver-dade grandes pórticos (imagem 03) que

liberam essa áreajunto ao solo, queconforma uma gran-de praça coberta(imagem 4) comoárea pública. Essebloco que se caracte-riza por ser umaconstrução extrema-mente horizontali-zada foi implantadano eixo leste-oeste,tendo consequente-mente grandes fa-chadas voltadas paranorte e para sul.

No térreo desse prédio, temos a praçacoberta ao centro, a conexão com o Blo-co-Escola do lado oeste e o acesso aofoyer da área de exposição do lado leste(imagem 2). Este prédio abriga, tanto notérreo como no segundo e terceiro pavi-mentos, áreas de exposições múltiplas,de diversos tamanhos e pés-direitos,permitindo uma grande variedade detipologias de exposições. Esse blocoenfrentou em 1982 um incêndio, ocasiãoem que teve grande parte do seu acervoperdido.

Em novembro de 2006, praticamente 40anos após a inauguração do Bloco deExposições, e 50 anos após o início dasobras do Bloco-Escola, foi inauguradoo teatro, que funciona como casa deshows. Seja por ser toda a área do Par-que do Flamengo tombada pelo patrimô-nio, seja por manter a identidade do con-junto desenvolvida por Reidy, o projetoseguiu as diretrizes originais, tanto emsua fachada, como nos espaços internos.

A PROPOSTA DEARQUITETURA DE REIDY

Nos anos 1950, trabalhando como funci-onário da prefeitura e respirando o gran-de momento da arquitetura moderna bra-

1 - Vista aérea do MAM

2 - Pavimento térreo do conjunto.

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Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética8

sileira, Affonso Reidy nos propõe um pro-jeto para o MAM que tem como base aca-dêmica os cinco pontos de Le Corbusierpara a arquitetura moderna, mas que, noentanto, trabalha esses cinco pontos deforma inteligente e diferenciada. Não sãoos preceitos do Modernismo que confe-rem forma e função à arquitetura. Ao con-trário, Reidy os usa conforme suas ne-cessidades formais, de implantação e defunção.

O projeto tem como ponto de partida aimplantação do prédio e a sua relaçãocom o entorno, como mostra o memorialjustificativo do projeto, em seu primeiroparágrafo:

“...a correspondência entre a obra Arqui-tetural e o ambiente físico que a envolveé sempre uma questão de maior impor-tância, no caso do Museu de Arte Mo-derna do Rio de Janeiro, essa condiçãoadquire ainda maior vulto...”

De fato, a proposta passa por desenvol-ver um prédio que não impactasse no seuentorno plural: de um lado o centro co-mercial do Rio de Janeiro com prédiosde gabaritos altos, e de outro a Baía deGuanabara e o futuro Parque do Flamen-go, que ainda não existia, mas que Reidyjá sabia de sua proposta futura.

Por outro lado, a concepção social e sim-bólica dos museus passava por uma di-ferenciação que os transformava, alémde um local destinado à guarda, restau-ro, e exposição, em um local que tam-bém promovia o ensino e a troca, não sóde informações técnicas, mas de novasrelações sociais.

Exemplificados por Frank Lloyd e oGuggenheim de Nova Iorque (1956-1959) e Le Corbusier com o Museu emAgmedabad, Índia (1953-1957), Reidy semostra atualizado com a nova tendên-cia, que perdura até hoje. Ele cria mu-seus que, além de símbolos, se transfor-mam em áreas (os prédios e seus entor-nos) de convivência social, política elazer.

De fato, como mostra Ana Maria Maga-lhães (atriz e cineasta) em seu documen-tário (Lembranças do Futuro/2005), aárea do MAM, mesmo ainda antes do mu-seu ter construído seu Bloco de Exposi-ção, possui efetivo movimento social coma escola, a cinemateca, e se transformaem local de visita obrigatória de políticose celebridades no Rio de Janeiro.

A partir desse conceito, Reidy propõeentão um bloco horizontal que não con-flite com a pluralidade no entorno exis-tente: cidade, parque e a Baía da Guana-bara. Também é desejo do arquiteto li-berar as visadas por sob o prédio e dedentro do prédio. Por sob o prédio, pro-põe então a praça coberta pela própria

área de exposições, suspensa em pilotis,integrando a cidade e a Baía da Guana-bara (imagem 5). De dentro do prédio,na área de exposições, faz uso das ja-nelas em fita que permitem integrar ex-terior e interior, trazendo para dentro doprédio as visadas do centro comercial doRio de Janeiro, da Baía de Guanabara edo Morro do Pão de Açúcar. Aconcretização desse partido só foi pos-

sível devido ao sistema estrutural inde-pendente proposto por Reidy. Dessemodo, Reidy usa os pontos de LeCorbusier para a arquitetura modernaquase que como respostas naturais àsnecessidades dos conceitos propostos.

O sistema estrutural para o MAM é com-posto por pilares circulares implantadosem malha estrutural para a área do Blo-co-Escola. O prédio que abriga a áreadas exposições precisou de uma soluçãodiferente, já que a intenção era que aplanta não possuísse nenhum pilar inter-no para que as exposições pudessem sermontadas com total liberdade de com-posições de espaços. A solução do ar-quiteto foi criar os grandes pórticos que

3 - Grandes pórticos durante a construção. 4 - Praça coberta sob bloco de exposições

5 - Visada sob o Pavilhão de Exposições.

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9Edificações Culturais

se tornaram símbolo do MAM. Essesgrandes pórticos (imagens 3 e 6) apói-am a laje do segundo pavimento por bai-xo, de modo que este pavimento nãopossui nenhum pilar (imagem 7). O mes-mo pórtico sustenta por cima, por meiode barras de aço, o terceiro pavimento,que dessa forma “flutua” sobre o segun-do pavimento.

Esse sistema liberou completamente apraça coberta (área de encontro, disper-são e eventual acumulação de pessoaspara o acesso ao museu). Além disso,também possibilitou o segundo pavimen-to, em uma área de 130m de extensãopor 26m de largura que permite qualquercomposição, desde uma grande área li-vre até uma série de salas contíguas.

Os módulos suspensos comportaramuma grande possibilidade de combina-ção de visadas e de pés-direitos que va-riam entre 3,60m e 8,00m.

ILUMINAÇÃO

O projeto busca tirarproveito da ilumina-ção natural, criandoum diferencial nasobras de arte com autil ização da luzdiurna. Dessa ma-neira, foi desenvol-vido um sistema desheds que provocauma iluminação ze-nital nas áreas depé-direito duplo etriplo. Essa luz pas-sa por difusores a-

crílicos e chega ao ambiente de formaneutra e uniforme, sem provocar som-bras. Esse sistema de iluminação pormeio dos sheds e lanternins foi parcial-mente modificado pela obra de reformaque aconteceu após o incêndio de 1982.

As áreas de pé-direito simples recebemiluminação natural direta pelas fachadas

em vidro. Essa iluminação lateral gerasombra e provoca o sentido de direçãodentro do espaço do museu.

A iluminação artificial indispensávelcomplementa a proposta de iluminaçãonatural do museu. Foram propostas lâm-padas incandescentes e fluorescentesdistribuídas pela área de exposição. Aslâmpadas fluorescentes foram colocadasatrás de um difusor plástico que projetauma luz uniforme e distribuída, manten-do o nível de luminância do ambientecomo um todo. As lâmpadas incandes-

centes aparecem em nichos em linhasespaçadas de dois em dois metros. Es-ses refletores são direcionáveis e permi-tem uma iluminação pontual sem ofus-camento.

Os ambientes de guarda de obras, re-serva técnica e depósitos apresentampanos de vidro fechados, e não apresen-tam vãos para ventilação, ficando isola-dos das condições de variação atmosfé-rica do exterior.

CONDIÇÕES AMBIENTAIS ESUSTENTABILIDADE

A preocupação do arquiteto com a rela-ção do projeto com o entorno ultrapassabastante os aspectos de composição for-mal e de impacto visual. Em relação àimplantação do edifício, Reidy opta porsituá-lo no eixo leste-oeste. Essa solu-ção cria uma fachada norte ensolaradae uma fachada sul em princípio sombre-ada. As fachadas leste e oeste não apre-sentam aberturas no Bloco de Exposição.O pórtico proposto por Reidy cria umaproteção para raios solares baixos (iní-cio da manhã e final da tarde) enquantoa marquise projetada de mais de 7,00mdefende a fachada dos raios solares maisaltos (na parte mediana do dia). A situa-ção é mais crítica naturalmente na facha-da norte, que consegue ter a sua áreaenvidraçada sombreada na maior partedo tempo (imagem 8). A fachada sul, quejá ficaria sombreada a maior parte doano, possui os mesmos aparatos de pro-teção, não sendo atingida diretamentepelo sol (imagem 9).

Soluções parecidas são dadas no Blo-co-Escola: fachada norte com reduzidonúmero de aberturas, voltadas para ocentro da cidade. Quando voltada para opátio interno, onde existe um espelhod’água, é tratada com cobogó cerâmico,que gera sombra no envelope. Em rela-ção ao conjunto de elementos que for-mam fachadas leste, são em sua maio-ria protegidos por marquises, ou entãonão possuem aberturas. As fachadas aosul do Bloco-Escola não são protegidas,as esquadrias foram projetadas para pro-piciar a ventilação cruzada. Essa venti-lação acontecia no nível das pessoas,com entrada a 1,00m do piso e saídamais alta. Entretanto, essa ventilação

6 - Sequência de pórticos e insolação.

7 - Corte do bloco de exposições.

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prejudicava o trabalho dos funcionários,porque provocava o voo de papéis queestavam sobre as mesas. Devido a essefato, os usuários optaram por manter asjanelas fechadas, e o interior é climatiza-do por aparelhos de ar-condicionado(CORBELLA, 2003).

O vento dominante na maior parte do anono local do museu é o vento sul. A implan-tação do prédio no sentido leste-oeste fazcom que a praça coberta (imagem 4) fi-que posicionada com sua maior dimen-são voltada para esse vento.

Quando o vento se projeta sobre a cons-trução, é direcionado para passar por sobo prédio, criando o que conhecemos por“efeito pilotis”, que aumenta a velocida-de do vento naquele trecho. Isso aconte-ce porque o estreitamento da seção deescoamento (efeito venturi) sob o prédiofaz com que o ar em movimento acelereainda mais.

Essa aceleração do vento traz duas des-vantagens diretas. Em alguns dias podecriar um incômodo aos usuários da pra-ça coberta, quando o vento fica muitoforte. E o aumento da velocidade do artambém contribui para aquecer o piso dasala de exposições, que precisa ter essacarga térmica compensada pelo sistemade condicionamento de ar (CORBELLA,2003).

CONCLUSÃO

A prática da boa arquitetura presume pro-duzir um edifício que responda perfeita-

BIBLIOGRAFIA CONSULTADABRUAND, Yves. Arquitetura Contemporâ-nea no Brasil, São Paulo, Ed. Perspecti-va, 4 ed., 2002, 398p.CORBELLA, Oscar & YANNAS, Simos.Em Busca de uma Arquitetura Sustentá-vel para os Trópicos, Rio de Janeiro, Ed.Revan, 2003, 288p. XAVIER, Alberto;BRITO, Alfredo; NOBRE, Ana Luiza.Arquitetura Moderna no Rio de Janeiro,São Paulo, Ed. Pini, 1991, 315p.Catálogo de Exposição PUC/RJ. AffonsoEduardo Reidy, Rio de Janeiro, Ed. IndexPromoções Culturais, 1985, 139p.Documentário, Lembranças do Futuro,Rio de Janeiro, Nova Era Produções deArte Ltda, 2005, 102min. Direção: AnaMaria Magalhães

mente ao seu entorno. Reidy traz comoprincipal conceito desse projeto o equilí-brio com o espaço em que se insere.Essa resposta vem por meio da relaçãoformal e funcional com o entorno, que fezcom que o projeto tivesse o reconheci-mento que tem hoje.

Mas parece que estabelecer formas, es-paços, relações de visadas e de cami-nhos, criar um símbolo, incentivar rela-ções sociais não foi suficiente para oautor. Foi preciso também estabeleceruma implantação que permitisse traba-lhar cuidadosamente a insolação e criarelementos de proteção solar que tambémfossem estruturais e simbólicos. Reidytambém trabalha a composição da luznatural com a artificial, não apenas como intuito de economizar energia, mas prin-cipalmente, para permitir uma variedademaior de combinações.

Nos ambientes onde é possível, Reidytrabalha a ventilação cruzada, evitandoo condicionamento de ar indiscriminado.

Olhando esse projeto com mais de 50anos, às vezes parece que os caminhosda sustentabilidade passam pelos cami-nhos da simplicidade. Talvez não preci-semos de tanta elaboração e desenvol-vimento de supertecnologias para eco-nomizar uma porcentagem de um todoque é supérfluo. A arquitetura conhecidahoje como bioclimática deveria ser con-siderada pré-requisito para qualquer ar-quitetura. E também o respeito ao espa-ço e aos materiais utilizados. Não é boa

aquela arquitetura em que há falta, comotambém não é boa aquela em que hásobra. O projeto do MAM nos mostra abeleza da justa conta. Espaços e ambi-entes agradáveis, volumes instigantes,não existem sobras nem exageros. A for-ma se une à função, separação que tal-vez jamais deveria ter sido feita.

8 - Fachada norte protegida pelo conjunto pórtico/marquise.20/04/2009 - 10:30hs

9 - Fachada sul sombreada. 20/04/2009 - 10:30hs

FICHA TÉCNICAOnde: Av. Infante Dom Henrique, s/nº,Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro / RJArquitetura: Affonso Eduardo ReidyEngenharia Carmen Portinho Estrutura:Emílio Baungart Construção: Bloco-Escola - 1954/1958; Bloco de Exposições– 1967/1968; Incêndio – 1978; Recons-trução – 1982

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11Edificações Culturais

CENTRO CULTURAL JEAN-MARIE TIJIBAOU – UMADISCUSSÃO SOBRE FORMA E QUALIDADE AMBIENTAL

Arquiteta Patrízia Di TrapanoArquiteta pela USU, Mestre e Doutorado em Arquitetura pelo Proarq/FAU/UFRJ e Professora Adjunta EBA/UFRJ.

Artigo

O Centro Cultural Jean-Marie Tjibaou lo-caliza-se em Nouméa, capital do territó-rio francês da Nova Caledônia, no Pací-fico Sul (imagem 10). A Nova Caledôniacompreende uma ilha principal de 418 kmde extensão, e uma série de ilhotas eatóis. A desigualdade econômica, o de-semprego e a questão da independênciasempre foram motivos de tensão entre apopulação indígena original e os france-ses, tendo como resultando uma históriade violência política.

O projeto foi concebido pelo arquitetoRenzo Piano em 1991, construído entre1993 e 1998, e homenageia o líder co-munitário Jean-Marie Tijibaou, assassi-nado em 1989. Tijibaou foi um líder domovimento pela independência da NovaCaledônia, lutando pelo respeito e pelasnecessidades do povo Kanak1, no quetange à tradição e a cultura. A culturaKanak entende a vida como uma harmo-nia entre a terra, o vento e o céu, sendoa ligação com a natureza um fator funda-mental de sua história. Em função disso,o Centro Cultural é semelhante às aldei-as nas quais as tribos de Kanak moram,e que normalmente são constituídas poruma série de cabanas que se distinguempelas funções e hierarquias.

Nesse sentido, Renzo Piano teve comodesafio coordenar esta filosofia e a liga-ção entre natureza e tecnologia, atravésde uma arquitetura que expressasse umarealidade regional a partir de uma lingua-gem contemporânea. A relação preten-dida entre a tradição Kanak e os recur-sos oferecidos pela técnica são desen-volvidos e mesclados no projeto, buscan-do uma nova síntese e despertando acompreensão consciente entre passadoe presente.

O conjunto é for-mado por dez uni-dades de váriostamanhos e fun-ções que apresen-tam finalidades etemas diferencia-dos, funcionandocomo anfiteatro,auditório, poden-do abrigar exposi-ções temporáriasou permanentes.Existem espaçospara atividades ar-tísticas regionais

como música, dança, pintura e escultu-ra, além de áreas de pesquisa, bibliote-ca, sala de conferências e departamen-to administrativo. Para tirar partido dapaisagem natural da ilha, os ambientesforam planejados com amplos espaçosarborizados, grandes vãos e passarelasinterligando as edificações.

Ao se analisar o corte esquemático (ima-gem 11), nota-se que existiu a intençãode se projetar elementos que tivessemsua maior força visual na vertical. Estecorte mostra a relação de altura desseselementos com a vegetação local e tam-bém a existência de uma grande horizon-talidade nos demais espaços do projeto.Através dessa primeira análise visual, etambém conhecendo a história do con-texto no qual o Centro Cultural esta inse-rido, pode-se partir da idéia do símbolocomo um dos elementos geradores daforma.

As fachadas das grandes cabanas reme-tem à ideia de tecedura, de trama, usan-do como referência visual a textura dosfechamentos das cabanas dos nativos(imagem 12). Nas cabanas criadas por

10 - Centro Cultural Jean Marie Tijibaou – entorno

11 - Centro Cultural Jean Marie Tijibaou – corte esquemático

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Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética12

Renzo Piano, a introdução da padroni-zação e do ritmo se deu através do ma-deiramento horizontal e vertical, acentu-ando a unidade visual, característica quenão existia na cabana original, uma vezque as palhas, que são tiradas da pró-pria natureza, não apresentam regulari-dade na sua configuração (imagem 13).

Outro elemento importante na composi-ção da forma é o contraste, evidente nes-ta obra, uma vez que diversas caracte-rísticas opostas foram reforçadas taiscomo vertical e horizontal, alto e baixo,côncavo e convexo, curva e reta (ima-gem 14).

É interessante dizer que, como imagemvisual, o edifício apresenta-se através dadimensão vertical, sendo a sua imagemdada pelo que é visto na sua aparência.Quando se projeta um edifício que tem afunção de se tornar um símbolo ou mo-numento segundo Arnhein (2001, p.46)“os aspectos essenciais estarão contidosna sua aparência, e a planta pouco nosprepara para o que vemos quando nosaproximamos” (imagem 15).

É correto afirmar também que o grandeafastamento entre os edifícios diminuiua densidade do intervalo e, consequen-temente, a relação entre eles. Para quese alcance a dinâmica visual desse edi-fício, é necessário que o observador man-tenha uma distância suficiente para acompreensão do volume e da forma dascabanas (imagem 16).

Analisando a confi-guração espacialidentificada emplanta baixa (ima-gem 17), pode-sedizer que o edifícioapresenta configu-ração linear, mar-cando uma direção,onde às formas dascabanas são adicio-nadas ao eixo prin-cipal. A adição dizrespeito à agrega-ção de unidadesvolumétricas paraformar um conjunto.Os espaços de ati-

vidades, simbolizando as cabanas, repre-sentam o clímax formal deste projeto, econsistem em plantas centralizadorasque agregam atividade, apresentandoconfiguração central e compactação.

Quando se analisa o espaço interno dascabanas, nota-se que existe uma gran-de diferenciação entre forma e função.Vistas do exterior, essas se mantém in-diferentes e neutras à função que dentro

se desenvolve. Os interiores resultam emabrigos que trazem a sensação de acon-chego, de bem-estar, mostrando-se inti-mistas e acolhedores, tal como as caba-nas dos nativos (imagem 18).

Existe outra linguagem de luz nas áreasde transição entre as grandes cabanas.Nestes espaços, a busca da utilização daluz natural teve o sentido de integração

12 - Cabana dos nativos.

13 - Centro Cultural Jean Marie Tijibaou– textura e ritmo das fachadas.

14 - Centro Cultural Jean Marie Tijibaou – relação decontrastes.

15 - Centro Cultural Jean Marie Tijibaou – horizontalidade x verticalidade.

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13Edificações Culturais

do interior com o exterior, de forma a fa-zer com que o observador tivesse a im-pressão de que ambos – ele e a arte ex-posta – eram parte do real e mutávelmundo exterior. Isto foi alcançado pelofato do visitante ser capaz de relacionar-se momentaneamente com a naturezaatravés de pequenas visões de árvores,da água, do sol iluminando, direta e indi-retamente, a arte e o observador (ima-gem 19).

Neste projeto, a ligação com o lugar émuito explícita, existindo a busca de umarelação arquétipa2 entre formas do es-paço privado e do espaço público, toman-do como referência a arquitetura primiti-

16 - Centro Cultural Jean Marie Tijibaou- relação com as cabanas nativas.

va, exigindo uma compreensão da cultu-ra local, e uma simbiótica relação com aarquitetura vernacular, através da cone-xão da linguagem das cabanas e respei-to pelo genius loci. Houve também a ten-tativa de conciliar organicismo, naturezae forma por um lado, com alta tecnologiade outro.

Segundo Montaner (2002b), os edifíciosdevem ser interpretados como um orga-nismo que capta energias renováveis,trocando informações com o meio atra-vés de seu próprio sistema poroso. Pode-se traduzir esse conceito através detipologias arquitetônicas que apresentemfachadas como membranas, pátios, edi-fícios escalonados, terraços, estruturasleves e recicláveis etc.

A FORMA E A QUALIDADEAMBIENTAL

O Centro Cultural Jean Marie Tijibaouestá localizado numa península de climaquente úmido, com latitude de 22° 16' S,atingida por fortes ventos no Oceano Pa-cífico e, por outro lado, uma calma la-goa. A forma das cabanas também é re-sultante dessa característica climática,apresentando volumes baixos orientadospara a lagoa e grandes fachadas volta-das para o mar, adaptadas às exigênci-as do clima.

Todo o programa foi elaborado pensan-do nas questões do conforto humano. Aforma da fachada foi criada não somen-te como uma solução estética, mas tam-bém como um elemento que se adequoua um sistema passivo. Foi realizado umprofundo estudo dos ventos monções3

através de umtúnel de vento,onde foi deter-minado que aforma mais a-propriada paraas cabanas se-ria a curva, re-sistindo melhora velocidadesde 240 km/h.

A fachada exter-na, voltada parao oceano, é for-mada por lâmi-nas de madeirahorizontal “iro-ko”4, servindocomo filtro para

18 - Centro Cultural Jean Marie Tijibaou– interior das cabanas. 19 - Interiores das galerias

17 - Centro Cultural Jean Marie Tijibaou – Implantação

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os fortes ventos que serão conduzidospara um segundo nível de fachada inte-rior composta de vidro e venezianas,operadas por sensores, que abrem oufecham de acordo com a velocidade dovento.

A dupla fachada também funciona comoum sistema convectivo, proporcionandoa renovação do ar. Durante o dia, o arquente sobe enquanto o ar frio entrasubstituindo-o. O ar resfriado desce epassa através de espaços vizinhos emais baixos, trazendo a brisa da lagoa.Esse sistema de ventilação foi desenvol-vido e testado através de computadores,que simularam situações de ventos fra-cos até ciclones. O telhado também apre-senta uma cobertura dupla onde o arpode circular livremente. Dependendo davelocidade do vento, clarabóias abrirãoou fecharão de forma a manter a pres-são do ar balanceada.

A imagem 20 mostra a situação mais co-mum de ventos dominantes, que normal-mente sopram do oceano em direção àlagoa, penetrando pelas cabanas, sen-do distribuídos pela edificação e saindopelas aberturas dos jardins internos.

A imagem 21 explica a situação de fra-cos ventos, quando então o espaço en-tre as fachadas provoca o efeito chami-né, retirando o ar quente de dentro dascabanas. A fachada interna das grandescabanas possui venezianas que podemser reguladas conforme necessidade deventilação.

As imagens 22 e 23 explicam esquemati-camente a situação de pressão e depres-são dos ventos. As venezianas superio-res deverão ficar sempre abertas paraque exista o balanceamento de ar inter-

no e externo nos casos de ciclone, e asvenezianas inferiores se manterão fecha-das.

Uma das grandes sensações perceptivasdeste projeto é o som, ou seja, o barulhodo vento, que só poderá ser experimen-tado no local, transcendendo qualquertipo de tecnologia empregada, uma vezque se tem a sensação de proteção porestar dentro das cabanas e, ao mesmotempo, muito próximo da natureza.

A identidade do Kanak é evidenciada nãosomente através da forma do edifício,mas também através da integração coma paisagem natural. A entrada para oCentro é um caminho enfileirado por jar-dins mitológicos que contam a história do“Tea Kanake”, que significa o ancião detodas as pessoas de Kanak. “Tea” repre-senta a primeira pessoa que nasceu nolugar e Kanake seria o seu nome, signifi-cando todos os tipos de mitologia doKanak, considerado então por todoscomo um herói.

CONCLUSÃO

Renzo Piano interou-se na busca e napesquisa das tradições para elaborar oseu projeto, tendo como objetivo mostraruma edificação que simbolizasse a cul-tura Kanak, sob uma ótica contemporâ-nea, e que ao mesmo tempo apresen-tasse alta tecnologia. Ele descreve suaobra como “(...) contâiners de aparênciaarcaica, que apresentam um interior equi-pado com todas as possibilidades da mo-derna tecnologia” (CORCIEGA, 2006,p.3). Isso pode ser demonstrado atravésda utilização das estruturas de madeiralaminada selecionada – Iroko – dando aestrutura resistência a chuvas, cupins e

ventos e, ao mesmo tempo, com umaaparência de cabana indígena análogaas existentes.

As fachadas das grandes cabanas sãolevemente curvadas e de tamanhos vari-ados no sentido de criar uma lembrançadas habitações tradicionais do Kanak etambém aos altos pinheiros da Noumea.Para Renzo Piano (MURPHY, 2002), asfachadas trariam a ideia de tecedura, detrama, uma espécie de parcimônia comrelação aos materiais. Usando referên-cias tais como vela de navio, esteiras, re-des de peixes, ele fez uma grande pes-quisa sobre como utilizar materiais demodo a obter varias tramas até criar afachada das cabanas, dando a sensaçãode cheios e vazios, de espaços de luz esombra. Um dos aspectos importantedesses fechamentos é a sensação deuma arquitetura incompleta, uma vez queas cabanas não se fecham no seu topo.Segundo Emmanuel Kasarhérou (apudMURPHY, 2002, p.85), isso significariaum modo de lembrar “que a cultura Kanaknão é estática, mas está sempre abertaa mudanças”.

A forma resultante é questionada pormuitos autores (AUSTIN, 2006) no senti-do de fugir da origem vernacular. Pordefinição a arquitetura que se diz verna-cular só poderia ser produzida atravésdo uso de materiais locais e explorandoas formas tradicionais, sem modificar assuas origens. Renzo Piano utiliza-se tam-bém da imagem das vilas e cabanas, quesão estereótipos da cultura do Pacífico,e tidas como a origem da arquitetura pri-mitiva. A forma das cabanas foi originá-ria das grandes casas dos nativos, em-bora modificada na sua essência quan-do retirada a importância da centralidade.

20 - Centro Cultural Jean Marie Tijibaou – situação normal. 21 - Centro Cultural Jean Marie Tijibaou – ventos fracos.

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15Edificações Culturais

Entretanto, no seu próprio discurso, Ren-zo Piano (MURPHY, 2002, p.84) explica:

“(...) o espírito do Pacífico é efêmero,assim como as suas construções. Elesnasceram em união com a natureza, uti-lizando materiais perecíveis que obti-nham. A continuidade das vilas nos diasde hoje não será baseada na duração daconstrução dos indivíduos, mas sim napreservação de uma topologia e padrãoda construção”.

Segundo depoimento de EmmanuelKasarhérou (MURPHY, 2002, p.82), di-retor cultural do Centro, em Maio de 1988na ocasião da inauguração:

“(...) a história do Centro deverá ser com-preendida através de uma larga visão euma reflexão sobre as relações desen-volvidas entre uma cultura local movi-mentando-se em direção a varias trans-formações frente a um universo em cons-tante movimento. O Centro questionasobre a globalização das culturas assimcomo a universalidade”.

Existe também nesse contexto um forteinteresse do arquiteto de chamar a aten-ção para a relação entre o signo e o usuá-rio. Pode-se dizer que a pragmática dosignificado teve conseqüuências para aforma do edifício, uma vez que tanto agrandiosidade quanto a monumentali-dade do projeto é diretamente ligada aoimpacto e ao peso que a obra signifi-caria.

Renzo Piano admite que toda essa es-trutura foi elaborada de modo a obter umsignificado simbólico, entretanto, as mo-dificações formais foram feitas no senti-do de melhor se adequarem às questões

climáticas. Nota-se através do seu dis-curso, que os requisitos ambientais ca-minharam juntos a uma solução formalpré-concebida, ou seja, a ideia formal dascabanas tem uma forte ligação com aestética das cabanas do local, entretan-to a forma foi modificada em função detestes realizados no túnel de vento:

“Eu decidi suavizar a semelhança comas cabanas reduzindo a dimensão doselementos verticais dando à casca umaforma mais aberta... as estruturas nãochegam sempre ao topo com a mesmadimensão como inicialmente havia sidoplanejado. Os estudos realizados no tú-nel de vento demonstraram que isto pro-duziria um grande efeito dinâmico para aventilação, provocando também grandesressonâncias, como se o vento surgisseatravés das ripas, dando às cabanas umavoz.” (Renzo Piano apud MCINSTRY,2006).

22 - Centro Cultural Jean Marie Tijibaou – situação pressão. 23 - Centro Cultural Jean Marie Tijibaou – situação depressão.

NOTAS1. Kanak são os habitantes de Melanesian indí-genas de Nova Caledônia, no Pacífico Sul.Kanaks incluem 45% da população total da NovaCaledônia. A palavra é derivada de kanakamaoli, de origem havaiana que era utilizada pe-los exploradores europeus, comerciantes e mis-sionários na região para qualquer não europeu,morador da ilha. Antes de contato europeu, nãohavia nenhum estado unificado na NovaCaledônia, assim como nenhuma denominaçãoque se referisse aos seus habitantes.

2 Os arquétipos referem-se a princípios formaisoriginais, lógicos, imutáveis, intemporais, bus-cando as formas essenciais e primogênitas daarquitetura tais como o arco, o templo, a caba-na.

3 Vento periódico, típico do sul e do sudeste, daÁsia, que no verão sopra do mar para o conti-nente (monção marítima) e, no inverno, soprado continente para o mar (monção continental).

4 É um tipo de madeira local que resiste a pu-trefação e também a fortes ventos.

Referências bibliográficasARNHEIN, Rudolf. La Forma Visual de laArquitectura. Barcelona: Editorial Gustavo Gilli,SA. AUSTIN, Mike. The Tijibaou Culture Center,2001. Disponível em http://www. thepander.co.nz/architecture/maustin8. php#note3. Acesso em04/08/2006.

BLASER, Werner.Cultural Center of the KanakPeople. Berlin: Birkhauser – Publisher forArchitecture, 2001.

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MCINSTRY, Sheila. Jean Marie Tijibaou Cultu-ral Center, 2006 . Disponível em: http://www.archiweb.c/buildings.php?type=11&action=show&id=422. Acesso em: 04/08/2006.

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MONTANER, Josep Maria. Depois do Movimen-to Moderno – Arquitetura da Segunda Metadedo século XX. Editorial Gustavo Gili SA, Barce-lona, 2002a.

__________________. As formas do século XX.Editorial Gustavo Gili SA, Barcelona, 2002b.__________________. A modernidade Supera-da. Editorial Gustavo Gili SA, Barcelona, 2001.

MURPHY, Berenice. Centre Culturel Tijibaou –A Museum and Arts Centre redefining NewCaledonia’s Cultural Future, 2002. Disponívelem: http://www.anu.edu.au/hrc/publications/hr/issue1_ 2002/download/Murphy.pdf. Acesso em:05/08/2006.

NESBITT, Kate. Uma nova agenda para a ar-quitetura – antologia teórica 1965-1995. SãoPaulo: Cosac&Naify, 2006.

REIS, Antônio Tarcísio. Repertório, análise e sín-tese: uma introdução ao projeto arquitetônico.Porto Alegre: Ed da UFRGS, 2002.

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Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética16

OI FUTURO

Marco MilazzoArquiteto e Mestre em Conforto Ambiental e Eficiência Energética e Professor da Universidade Estácio de Sá

Boas Práticas

O Instituto Oi Futuro promoveu um Con-curso Nacional de Arquitetura em parce-ria com o IAB-RJ, em 1999, para areformulação do antigo Museu doTelephone, edificação construída em1918, no Rio de Janeiro. Dentre os 63projetos de todo o Brasil, venceu a pro-posta dos arquitetos Ana Paula Polizzo,André Lompreta, Gustavo Martins, Mar-co Milazzo e Thorsten Nolte.

O conceito principal do projeto é o dialo-go entre o novo e o antigo. Apesar doprédio não ser tombado, as normas doconcurso pediam a manutenção da fa-chada principal. Porém o projeto não sópreservou a fachada como também par-te das lajes e vigas existentes, somenteampliando o edifício para os fundos doterreno, e definindo três zonas: o volu-me formado pelo edifício antigo, o volu-me novo, e um vão livre entre estes.

A fim de tornar o edifício acessível a to-dos, o antigo acesso ao Museu, que erafeito por um lance de escadas, foi trans-ferido para a rua lateral, onde a fachadaé de vidro e os níveis interno e externosão iguais, reforçando a ideia de conti-nuidade. Esse novo acesso foi projeta-

do recuado em re-lação ao alinha-mento, gerandouma fachada incli-nada, protegendoda insolação dire-ta.

A fachada preser-vada voltada parao norte possui u-ma alta inérciatérmica, por terespessura médiade 60 cm e serconstituída de pe-dra e óleo de ba-leia. As janelas devidro e madeirasão protegidaspela própria volu-metria da facha-

da. A fachada les-te é geminada aoIAB-RJ, sendoparcialmente pro-tegida pelo seu vi-zinho. A parte res-tante não possuiaberturas e tam-bém é constituídade paredes comalta inércia térmi-ca.

Na fachada sul, fi-cam destacadasa volumetria novae uma de concre-to da escada deemergência queprotegem da inso-lação um pano de

vidro recuado, onde foi criado um aces-so secundário para carga e descarga eentrada de funcionários.

O elo entre o edifício antigo e a nova in-tervenção se define pela criação de umvão livre, que corta o museu ao meio.

Este vão é evidenciado na fachada oes-te, por uma área envidraçada, e na co-bertura por uma claraboia com brisesautomatizados, permitindo a entrada deluz natural. Com a criação do vão, todosos pavimentos são interligados, como umambiente único. A área de vidro dessa

25 - Vista da Rua Dois de Dezembro.

24 - Planta de situação. 26 - Acesso principal.

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17Edificações Culturais

fachada é recuada, ficando protegidaparcialmente pelas paredes e por umgrande painel. Através desse painel dezinco, com rasgos contendo iluminação,é representada uma malha refletindo alinguagem digital. Entre as paredes e opainel, há circulações de 70 cm, ventila-das, formando “colchões de ar”, prote-gendo grande parte das fachadas oestee sul. As paredes dessas fachadas sãoconstituídas de blocos de concreto celu-lar, diminuindo o peso na estrutura e pro-movendo alta inércia térmica.

O pavimento de acesso é um local de re-cepção, por este motivo foi aproveitadoao máximo a luz natural. As galerias de

arte são menos iluminadas, com todasas paredes fechadas, o que permite mai-or área para as exposições. No ultimo pa-vimento, há um cyber-café com um ter-raço descoberto, permitindo a vista parao pão de açúcar. O cyber-café possui par-te da fachada envidraçada, mas protegi-da por brises de madeira horizontais, eas áreas de alvenaria são revestidas ex-teriormente por chapas de alumínio per-furadas, protegendo da insolação, maspermitindo a ventilação.

Todos os vidros utilizados nas fachadassão laminados de 8 mm+4 mm, promo-vendo um bom isolamento térmico e

acústico. O projeto de iluminação perma-nente do museu utiliza um sistema raci-onal, automatizado e com lâmpadas flu-orescentes. O sistema de condiciona-mento de ar também é automatizado epode ser acionado em etapas, dependen-do da quantidade de visitantes no mu-seu.

Nesse projeto, houve a preocupação emutilizar muita luz natural, já que o museusó pretendia expor obras contemporâne-as, que não precisam de proteção dosraios solares, mas muitas das exposiçõesutilizam vídeos e projeções, o que tor-nou necessária a instalação de cortinasblackout em todas as áreas envidraça-das, para controlar a quantidade de luz.

27 - Planta baixa do térreo e Nível 1. 28 - Corte transversal.

29 - Fachada oeste.

30 - Brieses de madeira do Cyber-café.

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Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética18

CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO DO INSTITUTO DEECONOMIA DA UNICAMP – CAMPINAS – SÃO PAULO

Luiz Laurent BlochArquiteto.

Heloisa Lima HerkenhoffArquiteta e Mestre em Arquitetura

Boas Práticas

O acervo de livros e revistas praticamentedobrara desde sua instalação, obrigan-do a ampliação de seu espaço. O progra-ma, que decorreu de várias reuniões, nãosó com os usuários mas, também, comespecialista na área de Biblioteconomia,continha os aspectos mais contemporâ-neos para um Centro de Documentação(Cedoc) universitário especializado eentendia que o novo espaço deveria sero suficiente flexível para atender eventu-ais ampliações.

Escorados em consultores em confortotérmico e acústico e luminotécnica, cria-mos um tubo retangular de seção de 7x12m, com uma das extremidades cone-tada ao Cedoc existente, onde permane-ceram, agora confortavelmente instala-das, as áreas administrativas e técnica.Na outra extremidade, com orientaçãonoroeste vedada por um conjunto caixi-lho-parasol; a ampliação se dá pela reti-rada desse conjunto, aumento do tubo ea sua recolocação na nova extremidade.

O prédio é todo protegido da incidênciasolar direta, inclusive nas paredes cegas(evitando-se excesso de luminosidadepara preservação do acervo); telhas me-tálicas tipo sanduíche são sustentadas

por leves treliças, também metálicas, emsistema shed voltados para sudeste. Es-ses sheds, além de participar da ilumi-nação natural, têm ventilação naturalregulável, assistida por anteparos exter-nos, posicionados para permitir renova-ção do ar interno com a máxima eficiên-cia. Caso desejável, existe sistema decondicionamento do ar.

Tanto as paredes internas quanto às ex-ternas são pintadas em cores claras para,respectivamente, refletir o calor e melho-rar a iluminação.

As luminárias são de alto desempenhoque, em conjunto com a iluminação na-tural e as paredes claras, economizamenergia. Tanto a lógica da construção,quanto a escolha dos materiais de áreaspróximas, e seu criterioso cálculo foramexecutados visando a segurança do tra-balhador e o mínimo de desperdício emanutenção.

31 - Fachada noroeste.

32 - Fachada noroeste.

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19Edificações Culturais

O novo prédio, com pé direito de 7m,além de recepção, áreas de apoio e sa-nitários, abriga no piso térreo área doacervo de livros e revistas com livre aces-so, espaços interno e externo para lei-tura, mediateca e pequenas salas deestudos. No mezzanino, que ocupa, emtorno de metade da área do térreo, estáo acervo de livros raros com acesso res-trito.

Todo o conjunto apresenta acessibilida-de universal desde a rampa externa, comos ambientes adaptados às pessoas comdeficiência, com plataforma instaladapara possibilitar visita ao acervo de livrosraros.

Ficha TécnicaCliente: Fecamp – Fundação Economiade CampinasDenominação da obra: Biblioteca doInstituto de Economia da UnicampEndereço completo: Cidade Universitá-ria, Zeferino Vaz, s/n.º - Campinas – SP.Área construída total: 863m2

Área reformada: 364m2

Data do projeto: 2000Data da execução da obra: 2001Autores: Luiz Laurent Bloch e HeloisaLima HerkenhoffColaboradores: Marcela Ferreira MarraConsultoria de biblioteca: MariaChristina Barbosa de AlmeidaLuminotécnica e acústica: AmbientalEstruturas: Cia de ProjetosSondagem: CepolinaElétrica e hidráulica: PexAr-condicionado: ArcoplanConstrução: Escritório Técnico deObras da UnicampFotos: Blair Alden

33 - Acervo da biblioteca em estruturasmetálicas e com sheds.

35 - Escada metálica de acesso ao mezanino.

37 - Rampa de acesso.

34 - Estudos

36 - Hall de leitura compé-direito duplo.

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Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética20

Boas Práticas

REFÚGIO BIOLÓGICO BELA VISTA: O PIONEIRISMO DEITAIPU NA CONSTRUÇÃO DE AMBIENTES MENOSIMPACTANTES

Pedro Augusto Alves de IndaArquiteto.

Tiago Holzmann da SilvaArquiteto

Os refúgios biológicos são unidades deconservação ambiental pertencentes àItaipu Binacional, e surgem como partedas medidas compensatórias que a Cen-tral Elétrica realizou devido ao impactoambiental causado por sua implantação.O Refúgio Biológico Bela Vista (RBV), emFoz do Iguaçu, é o mais importante dosrefúgios do lado brasileiro, tendo sido cri-ado para a produção de mudas e plantiode reflorestamento e criação e recupera-ção de espécies animais nativas para suareinserção no habitat natural.

Além dessas atividades originais, o RBVtem diversificado a sua atuação com oobjetivo de ampliar as atividades de edu-cação ambiental junto à comunidade eatrair parte dos turistas que visitam aCentral anualmente. Para tanto, a dire-ção de Itaipu Binacional, decidiu trans-formar o Refúgio em um local de visitaçãoaberto ao público e contratou, em 2000,

estudo para a construção de novas edifi-cações, urbanização e infraestrutura daárea que deveria ser concebida “dentrodo conceito de sustentabilidade e edu-cação ambiental”.

O escopo dos trabalhos definia a e-laboração de “Plano Diretor de Ocupa-ção e Uso do Solo, Anteprojeto de Arqui-tetura de Edificações, e outros” e, segun-do o termo de referência, “deveria serconcebido dentro dos conceitos desustentabilidade que exprimem ideias decomo transformar a convivência entre acultura humana e a natureza em um pro-cesso não destrutivo da mesma, tornan-do mínimos os impactos das constru-ções” (ITAIPU, 2000).

A sustentabilidade, naquele momento,era uma discussão restrita aos meiosacadêmicos não havendo ainda o enten-dimento da sociedade acerca da sua re-levância. A necessidade de conhecimen-to especializado no tema exigiu que osrepresentantes do Convênio UFPR/Itaipuconvidassem o Núcleo Orientado para aInovação em Edificação (Norie) da Uni-versidade Federal do Rio Grande do Sul(UFRGS), que desenvolve estudos e pro-jetos na área de sustentabilidade do am-

38 - Perspectiva do Refúgio Bela Vista.

39 - Refúgio Biológico Bela Vista. À esquerda, a esplanada com as principaisedificações: Centro de Recepção, Veterinária e Escritórios Administrativos. Ao centro,as áreas de produção de mudas e criadouros. E à direita a zona de visitação com os

recintos dos animais nativos.

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21Edificações Culturais

biente construído, possuindo diversas li-nhas de pesquisa entre elas “Edificaçõese Comunidades Sustentáveis”. A 3C Ar-quitetura e Urbanismo foi convidada peloNorie para atuar como equipe de desen-volvimento do projeto.

A área do Refúgio Biológico Bela Vistacompreende uma extensão de 1.920hacontínuos, tendo como limite sul a barra-gem de terra da Central Hidrelétrica; aleste, a Vila “C”, vila edificada para alojaros operários que construíram a barra-gem; a oeste, o reservatório e; a norte,áreas de reflorestamento e preservação.

O conceito de sustentabilidade e educa-ção ambiental determinou para a equipede projeto um novo paradigma: como pro-jetar edificações que, ao mesmo tempo,tivessem um baixo impacto ambiental efossem educativas. A diversidade foi agrande estratégia de projeto. Assim, aaplicação de soluções diferenciadas, des-de a concepção da base geométrica doprojeto até os sistemas de condiciona-mento, abastecimento de água e energia.

As edificações funcionais projetadas parao refúgio foram: Administração, Aloja-mentos, Veterinária e Laboratório deFauna, Quarentenário, Casa de Vegeta-ção, Casa de Sementes e Portinho. Asedificações e espaços abertos destina-dos às atividades de visitação e educa-ção ambiental foram: Centro de Recep-ção dos Visitantes, Portal, Choupana,área de Equipamentos Lúdicos, área deRecintos dos Animais e tri lhas in-

terpretativas inse-ridas na mata.

A estratégia deimplantação dasedificações e áre-as abertas ba-seou-se em so-brepor uma malharetangular, utiliza-da nas áreas fun-cionais existentesno RBV, à outraradial, relaciona-da às novas áre-as de visitação.

Atecnologia cons-trutiva determinoua escolha de ma-teriais menos im-pactantes ao am-biente e abundan-tes na região, combaixo consumoem sua produçãoe transporte: tijolo e telha cerâmica, ba-

salto das pedrei-ras locais ou desobras da obra dausina, madeira dereflorestamento.

O sistema de dis-tribuição de águae tratamento localde esgoto e de re-síduos foi aborda-do sob diversasformas: coleta daágua da chuva etratamento daságuas cinzas parareuso; utilização

41 - Diagrama que estabelece a geometria global do projetofundada na sobreposição de duas malhas: uma retangular,

utilizada nas áreas funcionais do RBV, e a outra radial,relacionada às áreas para o público visitante. Estas malhas

serviram de base para a posição e desenho das novasedificações, circulações, trilhas e edificações do refúgio.

de caixas de descarga em dois estágios;estação de tratamento de efluentes comsistemas naturais; separação e reutiliza-ção de resíduos; entre outros. A energiaeólica foi utilizada no projeto de aciona-mento de bombas d’água. Painéis cole-

40 - Diagrama síntese do conceito de projeto, representa aVida (linha negra) e seu percurso cíclico através dos

elementos: fogo, terra, água e ar.

42 - Materiais e técnicas construtivas empregadas na obra doRBV: zenitais, coberturas verdes,telhados ventilados,

alvenarias de pedra (inércia térmica), gárgulas, coleta e reusode água da chuva,tubulações de cerâmica (manilhas) e PEAD,

passarelas cobertas, materiais locais, trocadores de calor.

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Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética22

tores solares fotovoltáicos foram previs-tos para gerar energia na área dos recin-tos. Coletores solares aquecem a águado edifício da veterinária.

Tendo em vista o clima da região, teve-se a preocupação permanente durante oprojeto com a redução no uso de apare-lhos de ar-condicionado através da utili-zação de diversas soluções arquitetôni-cas para o condicionamento natural e ilu-minação, tais como: isolamento térmicodas coberturas com camada vegetal, comlâmina d’água e com camada de ar ven-tilado; paredes duplas e espessas; orien-tação, posição, dimensões e estanquei-dade das aberturas; utilização de troca-dores de calor por água e terra; ilumina-ção zenital natural; entre outras.

43 - Detalhes de soluções construtivas: fachadas sombreadas, isolamento térmico decoberturas com terra ou telhado ventilado, aberturas para ventilação cruzada, estudo

aprofundado das esquadrias (ventilação, iluminação, sombreamento, insetos,estanqueidade).

44 - Vista geral da Esplanada Bela Vista. Na imagem maior, em primeiro plano oPortal, ao centro a Recepção de Visitantes, ao lado a Administração e à esquerda a

Veterinária. Imagens menores, aspectos dos diversos edifícios.

O projeto do Refúgio Biológico Bela Vis-ta proporcionou a oportunidade de come-çar a investigação no sentido de se esta-belecer novos parâmetros para a elabo-ração de projetos de urbanismo e arqui-tetura. Entende-se que sua principal qua-lidade é tornar-se objeto de estudo emonitoramento, com vistas ao aprimora-mento da metodologia, bem como dosresultados práticos.

Evidentemente, não esgotaram-se aspossibilidades de exploração dessetema, mas comprovou-se que um proje-to sustentável não pode repetir a metodo-logia desenvolvida em projetos tradicio-nais, sob pena de estar repetindo suaspráticas e resultados condenáveis.

Considera-se, portanto, que o desenvol-vimento sustentável deve ser levado àprática profissional, cabendo a cada ca-tegoria rever sua forma de atuação ebuscar a nova maneira de agir, em con-formidade com o respeito ao ambiente eàs gerações futuras.

45 e 46 - Vista do acesso do Centro de Recepção dos visitantes e Ponto de Parada da trilha interpretativa.

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23Edificações Culturais

49 - Mapa das Zonas Bioclimáticas

Ficha Técnica:Anteprojeto e projeto executivo dearquitetura, urbanismo e paisagismopara a reformulação e ampliação doRefúgio Biológico Bela Vista, em Foz doIguaçu, Paraná.Cliente: Itaipu BinacionalProjeto: setembro a dezembro de 2000(anteprojeto); janeiro a abril de 2001(projeto executivo).Inauguração: dezembro de 2002Área total: 48ha (RBV 1.900ha); sendoárea construída aproximadamente5.000m² (37 edificações) e áreaurbanizada aproximadamente230.000m².

Equipe Técnica:Autores: Arq. Pedro Augusto Alves deInda e Arq. Tiago Holzmann da Silva(3C Arquitetura e Urbanismo).Coautores: Arq. Camilo Holzmann daSilva e Arq. Marco Antônio Lopes Maia.Colaboradores: Arqs. Letícia Rodrigues,Rafael Simões Mano, Carlos EduardoPaes Leme Nicolini, Hilton AlbanoFagundes, Letícia Thurman Prudente eDaniele Caron; Biol. Rodrigo Balbueno;Acads. Cristian Illanes, Cristiano Kunze,Luciana Ramos de Castilhos e Viníciusde Medeiros.Conceito geral e consultoria: Prof. Dr.Eng. Miguel Aloysio Sattler (Norie/UFRGS)

Contato:3C Arquitetura e Urbanismo Rua SantaTeresinha 35, Porto Alegre, RS (51)33122497 – www.3c.arq.br –[email protected]

47 - Vista da Administração: cobertura verde, zenitais, telhados ventilados, fachadassombreadas, coleta de águas pluviais. Decisões arquitetônicas que visam a redução

do impacto da edificação e seu consumo de energia.

48 - Implantação do RBV.

Zona 8: Rio de Janeiro– RJ Oi Futuro- Aberturas grandes para ventilação e com sombreamento.- Paredes externas e cobertura leves e refletoras. Coberturas com telhade barro sem forro poderão ser aceitas, desde que as telhas não sejampintadas ou esmaltadas. Também serão aceitas coberturas comtransmitâncias térmicas acima dos valores tabelados, desde que atendamàs seguintes exigências: contenham aberturas para ventilação em, nomínimo, dois beirais opostos; e as aberturas para ventilação ocupem todaa extensão das fachadas respectivas.- Nesses casos, em função da altura total para ventilação; e no verãodeve adotar ventilação cruzada permanente.

Zona 3: Campinas – SP Centro de Documentação UnicampFoz do Iguaçu – PR Refúgio Biológico Bela Vista

- Aberturas médias para ventilação e sombreamento de maneira quepermita o sol durante o inverno.- Paredes externas leves e refletoras e cobertura leve e isolada- No verão deve adotar ventilação cruzada como estratégias de condicio-namento térmico passivo; e no inverno aquecimento solar na edificação evedação interna pesada – inércia térmica.

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Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética24

ACADEMIA DE CIÊNCIAS DA CALIFÓRNIAUM TRIBUTO AOS PRINCÍPIOS DA SUSTENTABILIDADE

Barbara ValeixoArquiteta e Mestre em Conforto Ambienta e Eficiência Energética Proarq – FAU-UFRJ

Projetos

Projetada pelo arquiteto genovês RenzoPiano, vencedor do Prêmio Pritzker deArquitetura em 1998, a nova Academiareinaugurada em setembro de 2008, ficaao centro do Parque Golden Gate, emSão Francisco, CA. Vista pelo lado defora, a estrutura se integra com os toposarredondados das colinas da cidade ecom os extensos gramados do parque(imagem 50).

O objetivo do projeto era recuperar essegrande e magnífico complexo e retornarao abrigo 40 mil animais vivos e 20 mi-lhões de espécies para pesquisas, inclu-indo uma coleção de 700 mil borboletasque migraram do Parque para o centrode São Francisco. Ao invés dos 11 prédi-os neoclássicos construídos entre 1916e 1991, esses foram abrigados sob umacobertura viva, ondulada, de 10 mil m².

A antiga Academia de Ciências, substitu-ída por esse novo projeto, foi inauguradaem 1853. Em 1916, mudou-se para oparque Golden Gate, num terreno retan-

gular de 4,1 km² (0,7 km² maior que oCentral Park de Nova York) onde se ex-pandiu aos poucos com a construção denovos prédios. Em 1989, quando seusvisitantes passavam de meio milhão, aacademia foi arrasada pelo terremoto,que matou 63 pessoas na Baía de SãoFrancisco e deixou cerca de 12 mil desa-brigadas. A restauração dos antigos edi-fícios do museu seria inviável não ape-

nas econômica, mas também arquiteto-nicamente: a diferença entre o uso dosespaços e novas necessidades para exi-gências ambientais comprovaram queseria ideal construir um novo edifício. Seuacervo migrou para o centro de São Fran-cisco, em 1995, para que fosse demoli-da e em seu lugar se construísse o pro-jeto de Renzo Piano.

O uso de materiais reciclados começouna demolição dos prédios existentes:90% dos escombros foram reutilizados,9 mil toneladas de entulho na constru-ção de uma estrada e 12 mil toneladas

de aço na estrutura do novo prédio. Pai-néis de isolamento termoacústico foramfeitos com o algodão de jeans reciclados.O Conselho de Construção Ecológica dosEstados Unidos concedeu ao museu umcertificado “LEED Platina”, a mais eleva-da classificação que ele confere no quetange à sustentabilidade de uma obraarquitetônica.

O prédio é coberto por um teto verde complantas nativas da Califórnia e outrasselvagens. Tem 60.000 células foto-voltáicas, cobrindo a fachada envidraça-da e hospeda milhares de animais. Temainda um aquário, um planetário, um mu-seu de história natural e a primeira flo-resta tropical de São Francisco. O “tetovivo” irá coletar 7,5 milhões de litros deágua anualmente, que será usada paravários fins. O aquário irá usar água sal-gada, bombeada diretamente do Ocea-no Pacífico, e será purificada e reciclada(imagens 51 e 52).

50 - Vista da fachada principal da Academia.

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25Edificações Culturais

51 - Teto “verde”.

52 - Corte longitudinal.

A praça central é o coração do prédio;serve não só para exposições, mas pararecepções, festas e outros eventos pú-blicos ou privados. Sobre ela, a cobertu-ra viva é interrompida para dar espaço auma grande claraboia composta por pe-ças de vidro que, para não se quebra-rem durante um terremoto, movem-se in-dependentemente 15 centímetros emqualquer direção (imagem 53).

A leste e oeste da praça foram instala-dos dois domos de 27 metros de diâme-tro. Um deles é opaco e abriga um pla-netário em que são projetadas imagensfornecidas ao vivo pela Nasa; o outro é

transparente e expõeecossistemas de qua-tro diferentes flores-tas equatoriais e tro-picais: Borneo, Ma-dagascar, Costa Ricae Amazônia. Numapassarela espiraladaé possível caminharpelas copas de árvo-res. Um elevador levao visitante até o sub-solo, onde um painelde acrílico instaladoem um túnel sob aságuas amazônicas

53 - Praça central.

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Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética26

54 - Floresta tropical. 55 - Steinhart Aquarium.

permite ver pirarucus. Depois, o visitan-te toma um elevador que o conduz paraa cima, rumo a uma cúpula na qual pás-saros voam livremente sob um gigantes-co domo de vidro (imagem 54).

Nesse andar subterrâneo foi construídoum aquário com dois brejos e centenasde tanques para a exibição de quase 40mil animais de 900 espécies. Os seis mai-

ores somam 1.893 mil m³ de água e 82toneladas de painéis de acrílico. O princi-pal, com 8 m de profundidade e 802 m³,exibe corais vivos das Filipinas e dois milpeixes, inclusive tubarões (imagem 55).

A iluminação natural é feita através declaraboias instaladas na cobertura e pe-los panos de vidro de alta performanceda fachada, que limitam o ganho de ca-

lor por irradiação. Com isso, 90% dosespaços ocupados constantemente têmluz natural, enquanto a artificial só é aci-onada por fotossensores conforme escu-rece o dia (imagem 56).

A ideia era que o museu abrigasse o usu-ário tal como uma árvore que protege dotempo sem isolar do entorno. Todo o pe-rímetro da cobertura foi sombreado por

beirais com 60 mil cé-lulas fotovoltáicas queproduzem entre 5% e10% da energia do pré-dio (213 mil kWh porano).

Certa vez CharlesDarwin disse: “Não éa espécie mais forteque sobrevive, e nem amais inteligente, masaquela que respondecom mais eficiência àmudança”. Em meio àgrande variedade decriaturas coloridas ebem camufladas queestão em exposição, asede talvez seja o querepresente a melhorilustração para a defini-ção darwiniana.56 - Detalhes construtivos.

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27Edificações Culturais

ELETROBRÁS

Centrais Elétricas Brasileiras S.A.

Av. Presidente Vargas, 409 – 13°andarCentro – Rio de JaneiroCEP 20071-003Caixa Postal 1639Tel.: (21) [email protected]

ELETROBRÁS PROCEL

Programa Nacional de Conservação deEnergia Elétrica

Av. Rio Branco, 53 – 14°andarCentro – Rio de JaneiroCEP 20090-004Ligação gratuita: 0800.560.506www.eletrobras.com/[email protected]

ELETROBRÁS PROCEL EDIFICA

Eficiência Energética em Edificações

Av. Rio Branco, 53 – 15°andarCentro – Rio de JaneiroCEP 20090-004Fax: (21)2514.5767Ligação gratuita: 0800.560.506

IAB RJ

Instituto de Arquitetos do Brasil -Departamento Rio de Janeiro

Rua do Pinheiro, 10Flamengo - Rio de JaneiroCEP 22220-050Tel.: (21) 2557.4192 / (21) [email protected]

LISTA DE CADERNOS

1. Shopping Centers2. Edificações de Saúde3. Hospedagem4. Edificações Esportivas e de Lazer5. Edificações Unifamiliares6. Edificações Multifamiliares7. Ecovilas8. Edificações Educacionais9. Universidades10. Edificações Comerciais11. Edificações Culturais

EXPEDIENTE

Cadernos de Boas Práticas emArquitetura - Eficiência Energética nasEdificações

Conselho EditorialAna SeroaCarlos MurdochDayse GóisJorge HueMarco MilazzoVera Hazan

Responsável TécnicaRuth JurbergRJ Planejamento Integrado Ltda

EditoraMariane Azevedo

DiagramadoraLeila Fernandes

RevisoraClaudia Jurberg

CapaQualiurb Design

CRÉDITOS

1. Google Earth2 e 7. Desenvolvido pelo autor sobre desenho constante em“Arquitetura Moderna no Rio de Janeiro”3. Reproduzido do Documentário “Lembranças do Futuro”4, 6, 8 e 9. Foto do Autor5. Reproduzido do Catálogo de Exposição “Affonso EduardoReidy”10. Foto de John Goallig in www.rpbw.com11, 17, 20 a 23. BLASER, Werner. (2001).Cultural Center ofthe Kanak People. Berlin: Birkhauser – Publisher forArchitecture. ps. 29,26,70 e 7112. membres.lycos.fr/sylpress/VOYAGE/NCALEDONIE/NCAL02.HTM13, 16 e 18. www.rpbw.com14 e 19. www.galinsky.com/buildings/tjibaou/index.htm15. arquitecturad.forumotion.com/great-buildings-f12/renzo-pi-ano-centro-cultural-jean-marie-tjibaou-t37.htm24 a 30. Fotos e imagens elaboradas pelo arquiteto MarcoMilazzo31 a 37. Fotos de Blair Alden, cedidas pelos arquitetos LuizLaurent Bloch e Heloisa Lima Herkenhoff38, 40, 41, 43, 45 a 48. Cedidas pela 3C Arquitetura e Urbanis-mo39. Google Earth42. Diversas, cedidas pela 3C Arquitetura e Urbanismo44. Caio Colonel e 3C Arquitetura e Urbanismo49. Intervenção sobre mapa produzido pela NBR 15220-3.ABNT50. www.calacademy.org51. www.revistaau.com.br/arquitetura-urbanismo52. www.memorandu.blogspot.com/2008/09/academia-de-cincias-da-califrnia.html53, 54 e 56. www.calacademy.org55. www.academystudios.com/steinhert aquarium.