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1 EFEITOS SÓCIO-ESPACIAIS DE GRANDES PROJETOS NO SUDOESTE MARANHENSE: UMA ANÁLISE A PARTIR DA INSTALAÇÃO E FUNCIONAMENTO DA EMPRESA ALGAR/AGRO NO MUNICÍPIO DE PORTO FRANCO – MA Humberto Dias Soares Filho Universidade Estadual do Maranhão – CESI/UEMA [email protected] Jailson de Macedo Sousa Universidade Estadual do Maranhão - UEMA [email protected] Resumo É notório como o Brasil a partir da década de 1960 passa a incorporar características econômicas que ultrapassam suas fronteiras e adentram seu território em tempo otimizado. A difusão da globalização do sistema capitalista passou a atuar como elemento regulador da economia nacional, influenciando as ações do Estado e provocando a inserção da economia brasileira na lógica da produção internacional ditada pelos países capitalistas desenvolvidos. Dessa forma, o Brasil experimenta grandes transformações socioespaciais em seu território advindos de uma reorganização social da produção e consequentemente do trabalho. Nesse ínterim, novos espaços passam a integrar a pauta do planejamento estatal no sentido de desenvolver e ampliar as aptidões de reprodução do capital no território nacional. Com isso, espaços como a Amazônia brasileira incorporam a lógica de grandes e modernos empreendimentos que instalam-se atraídos por condições naturais favoráveis aliadas a grandes investimentos de capital oriundos principalmente do exterior. A partir disto, é complexo como as regiões brasileiras acabam sendo estruturadas para dar suporte a grandes e modernos projetos econômicos e os efeitos socioespaciais e ambientais reproduzidos em larga escala nas regiões e, especificamente, na Amazônia fragmentam o espaço e afirmam as disparidades sociais. Com vistas a entender este processo na Amazônia, este projeto objetiva estudar os efeitos socioespaciais no sudoeste maranhense a partir da instalação e funcionamento da empresa Algar Agro S/A em Porto Franco, que localiza-se na porção oriental da Amazônia brasileira e que espelha os reflexos dos grandes projetos modernizadores amplamente difundidos no território brasileiro. Palavras-chave: Efeitos sócio-espaciais. Grandes Projetos. Sudoeste Maranhense. Porto Franco. Algar Agro S/A. Introdução As ideias contidas nesse ensaio se fundamentam no Trabalho de Conclusão de Curso, que foi desenvolvido sob a orientação do Professor Doutorando Jailson de Macedo Sousa. O presente estudo analisa os recentes impactos sócioespaciais originários da implantação e funcionamento do empreendimento baseado no agronegócio da ALGAR AGRO na cidade de Porto Franco, localizado na porção sudoeste do estado do

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EFEITOS SÓCIO-ESPACIAIS DE GRANDES PROJETOS NO SUDOESTE MARANHENSE: UMA ANÁLISE A PARTIR DA INSTALAÇÃO E

FUNCIONAMENTO DA EMPRESA ALGAR/AGRO NO MUNICÍPIO DE PORTO FRANCO – MA

Humberto Dias Soares Filho Universidade Estadual do Maranhão – CESI/UEMA

[email protected]

Jailson de Macedo Sousa Universidade Estadual do Maranhão - UEMA

[email protected]

Resumo É notório como o Brasil a partir da década de 1960 passa a incorporar características econômicas que ultrapassam suas fronteiras e adentram seu território em tempo otimizado. A difusão da globalização do sistema capitalista passou a atuar como elemento regulador da economia nacional, influenciando as ações do Estado e provocando a inserção da economia brasileira na lógica da produção internacional ditada pelos países capitalistas desenvolvidos. Dessa forma, o Brasil experimenta grandes transformações socioespaciais em seu território advindos de uma reorganização social da produção e consequentemente do trabalho. Nesse ínterim, novos espaços passam a integrar a pauta do planejamento estatal no sentido de desenvolver e ampliar as aptidões de reprodução do capital no território nacional. Com isso, espaços como a Amazônia brasileira incorporam a lógica de grandes e modernos empreendimentos que instalam-se atraídos por condições naturais favoráveis aliadas a grandes investimentos de capital oriundos principalmente do exterior. A partir disto, é complexo como as regiões brasileiras acabam sendo estruturadas para dar suporte a grandes e modernos projetos econômicos e os efeitos socioespaciais e ambientais reproduzidos em larga escala nas regiões e, especificamente, na Amazônia fragmentam o espaço e afirmam as disparidades sociais. Com vistas a entender este processo na Amazônia, este projeto objetiva estudar os efeitos socioespaciais no sudoeste maranhense a partir da instalação e funcionamento da empresa Algar Agro S/A em Porto Franco, que localiza-se na porção oriental da Amazônia brasileira e que espelha os reflexos dos grandes projetos modernizadores amplamente difundidos no território brasileiro. Palavras-chave: Efeitos sócio-espaciais. Grandes Projetos. Sudoeste Maranhense. Porto Franco. Algar Agro S/A. Introdução As ideias contidas nesse ensaio se fundamentam no Trabalho de Conclusão de Curso,

que foi desenvolvido sob a orientação do Professor Doutorando Jailson de Macedo

Sousa. O presente estudo analisa os recentes impactos sócioespaciais originários da

implantação e funcionamento do empreendimento baseado no agronegócio da ALGAR

AGRO na cidade de Porto Franco, localizado na porção sudoeste do estado do

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Maranhão, com vistas a observar os impactos causados não só na cidade onde se

localiza a empresa em questão, mas em toda sua região de atuação e influência. O

estudo leva em consideração a linha de pesquisa empregada aos estudos dedicados à

Amazônia brasileira, já que o cerne desta pesquisa encontra-se localizado nas

delimitações da fronteira nacional amazônica.

O processo de modernização da agricultura tem adentrado as delimitações do campo e

da cidade, seguindo os moldes e intentos do capitalismo moderno, fortalecendo a

monocultura e endossando ainda mais as desigualdades sociais no espaço regional por

reforçar os modos de produção em larga escala, que necessitam de máquinas e

equipamentos sofisticados e de tecnologia e pesquisas avançadas.

A cidade de Porto Franco inserida neste contexto sócioespacial constitui-se então como

relevante para entender as transformações sócioespaciais acarretadas no sudoeste do

Maranhão localizado na Amazônia Oriental. Convém lembrar que a partir desta

inquietação surgiu com ela questões específicas que estão ligadas diretamente a este

problema e buscam entendê-lo sob a categoria geográfica da região. Então, esta

pesquisa busca investigar:

Quando se deu a instalação/funcionamento da empresa Algar Agro no município

de Porto Franco?

Como se caracteriza a atuação da referida empresa? Qual é sua área de atuação?

A presença da Algar Agro tem favorecido o desenvolvimento local/regional de

Porto Franco e região? De que forma?

Tem-se também a necessidade de entender de que forma a empresa tem

trabalhado para mitigar os impactos socioambientais gerados a partir de seu

funcionamento.

Esta problematização proporcionou delimitar os objetivos para realização da

pesquisa. Constituem-se os seguintes objetivos:

Geral:

Conhecer os efeitos sócioespaciais (positivos e negativos) advindos da instalação

e funcionamento da Algar Agro no município de Porto Franco;

Específicos:

Conhecer a configuração da empresa no município de Porto Franco - MA e nos

outros estados ou municípios que atua;

Estudar a organização estrutural da empresa em Porto Franco;

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Investigar suscintamente o licenciamento ambiental da empresa em Porto

Franco;

Levantar a opinião da população local acerca do empreendimento, procurando

saber se são favoráveis ou contra o mesmo;

Identificar as principais modificações espaciais e sócioambientais que surgiram a

partir da lógica da agricultura modernizada no sudoeste maranhense, através da

instalação e funcionamento da ALGAR/AGRO em Porto Franco – MA;

No que tange à abordagem trabalhada neste estudo, ressalta-se a utilização da

abordagem marxista sob o viés do materialismo dialético. Tanto esta abordagem quanto

o método dialético estão amparados nos pressupostos definidos por Trivinõs (1987) e

Gil (2008). Utilizou-se a observação não-participante e a entrevista estruturada, que são

instrumentos importantes de coleta de informações. Estas técnicas estão fundamentadas

nas ideias de Lakatos e Marconi (2006).

Efeitos sócioespaciais da agricultura moderna no município de porto franco-ma: uma reflexão a partir da instalação e funcionamento da ALGAR / AGRO Para a identificação dos principais impactos sócioespaciais advindos do

empreendimento da Algar em Porto Franco foi importante estudar as principais

características do empreendimento na cidade, as suas finalidades e investimentos.

De acordo com dados coletados no site oficial da empresa, (http://www.inco.com.br/,

2012), a Algar Agro constitui em: Um projeto que se instalou nesta região no ano 2007 com investimentos de 200 milhões de reais, com unidade que possui modernos equipamentos numa área de 200.000 m² e capacidade para armazenar 120 mil toneladas de soja e esmagar 500 mil toneladas do grão. Prevendo-se através deste investimento a instalação de uma indústria de refinamento e envase de óleo de soja, com investimentos na casa dos 77 milhões de reais. O projeto conta com matéria-prima advinda de plantios de soja na microrregião de gerais de Balsas e Porto Franco. Hoje a Algar Agro é a segunda maior exportadora do Maranhão. Toda a produção é transportada via ferrovia Norte-Sul, que segue até o Porto de Itaqui em São Luis. (ALGAR AGRO, 2012).

Em seu site oficial a empresa apresenta informações sobre sua atuação no mercado

brasileiro, segundo Algar Agro (2012) temos: A Algar é uma Holding, que atua nos setores de TI / Telecom, Agro, Serviços e Turismo. Fundada em 1954, por Alexandre Garcia, a Algar possui esse nome em homenagem a seu fundador. A matriz está localizada em Uberlândia (Minas Gerais). No Cenário nacional a empresa é pioneira na região do cerrado, e atua no processamento de soja desde 1978. A Algar é gerenciada pela empresa ABC

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INCO, um grupo genuinamente brasileiro, que possui 11.600 profissionais e receita líquida de R$ 1,5 bilhão em 2006. A ABC INCO contribui para o desenvolvimento da comunidade, dando apoio ao Instituto Algar de Responsabilidade Social, sendo que este coordena 15 projetos que beneficiam 39.731 alunos e 1244 educadores. (ALGAR AGRO, 2012).

Mapa 1: Localização geográfica das Microrregiões com destaque para Microrregião de Porto Franco

De acordo com as informações fornecidas pelo coordenador industrial Vilson Manaré

da Rosa: “Na cidade de Porto Franco, a empresa desenvolve o esmagamento e

exportação de soja. Em Julho de 2012 está previsto o star up do refinamento de soja.

Sendo que no restante da região Nordeste, a empresa, realiza apenas a compra e

exportação da soja”.

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Foto 8: Ilustrações do Pátio Fabril e Fachada Algar Agro em Porto Franco.

Fonte: Algar Agro.

Na cidade de Porto Franco a empresa produz o óleo degomado, que se constitui na

forma não refinada do óleo e o farelo para ser usado como ração para bovinos. A

produção visa o mercado nacional e o internacional, sendo que uma parte da produção

já foi exportada para a Holanda.

Este fato sugere que o empreendimento tem atraído e incentivado a vinda de grandes

produtores de soja para a região, principalmente devido a necessidade de qualidade que

o produto deve apresentar para ser comercializado com a empresa. A entrevista

realizada no dia 11/05/2012 na empresa Algar Agro, comprova isto. A empresa

destacou por meio Vilson Manaré da Rosa que: A empresa só trabalha com fornecedores licenciados, pois o produto que fornecemos deve ser legalizado para que possa ser comercializado. A nível de exportação, é preciso realizar auditorias da produção, nas fazendas. É feito um rastreamento para poder exportar o farelo; conhecer a origem, etapas de produção, insumos utilizados, etc. (Vilson Manaré da Rosa, coordenador industrial na empresa Algar Agro em Porto Franco, entrevista realizada em 11/05/2012).

De acordo com o coordenador industrial Vilson Manaré da Rosa, a empresa pretende

ampliar os investimentos em Porto Franco: Pretendemos triplicar a produção de soja no Maranhão. Em Porto Franco pretende-se construir novos armazéns de estocagem. Pretendemos construir refinarias de biodiesel. Temos prospecções para fabricação de margarina e temos investido na compra de fazendas para plantio de eucalipto, visando matriz energética interna. (Vilson Manaré da Rosa, entrevista realizada em 11/05/2012).

A compactação do solo provocada pelo movimento de máquinas e veículos automotores

influenciará no escoamento superficial das águas. Quanto aos recursos hídricos, os

impactos potenciais estão relacionados com a alteração na qualidade das águas

superficiais e subterrâneas em decorrência da utilização de insumos agrícolas

(defensivos e fertilizantes químicos) e do carreamento de sedimentos aos cursos d’água,

levados por processos erosivos consequentes do uso e ocupação do solo irresponsável.

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A fragmentação da biodiversidade, também, é algo a ser considerado. Em muitos casos

os proprietários de terras não respeitam a legislação ambiental no que tange a Áreas de

Reserva Legal e de Preservação Permanente, e quando o fazem, o zoneamento

ambiental não supre as necessidades de criação de corredores ecológicos para manter o

fluxo gênico. Isso impacta diretamente a fauna e a flora nessas biorregiões.

Nesta pesquisa, adotou-se a análise do discurso em função da necessidade de se

trabalhar com este método qualitativo. Este método enfatiza a importância existente no

discurso dos sujeitos envolvidos. Para Souza Júnior (2009, p. 37): o Discurso do Sujeito

Coletivo, apresenta-se como instrumental importante. Sua aplicação consiste na retirada

das expressões-chave e ideias centrais de forma a obter a fala social.

A partir disto, a significação da linguagem considerando a análise do discurso como

uma extensão da linguística instituiu-se como procedimento metodológico válido para

interpretação da realidade apreendida pelos sujeitos de uma determinada sociedade em

um determinado tempo.

A algar/agro e a difusão de discursos desenvolvimentistas em porto franco Assim como em todo o território nacional e principalmente na região designada de

MAPITOBA1, discursos desenvolvimentistas têm sido construídos em torno do

agronegócio. É notório que as grandes empresas nacionais e internacionais que atuam

no território nacional integraram em seu discurso de expansão a ideia do

desenvolvimento socioeconômico e ambiental.

Em reportagem recente à revista Dinheiro Rural (2012), o presidente do grupo Algar,

Luiz Alexandre Garcia, afirma que “a Algar está pronta para a briga no Nordeste”

referindo-se ao mais recente investimento da empresa, que instalou em Porto Franco

uma refinaria de óleo de soja com investimento na casa dos 65 milhões de reais. Na

mesma edição, Luiz Alexandre Garcia enfatiza: “não é apenas pelo negócio que estamos

no Nordeste. Também queremos desenvolver a região”.

Aqui, o discurso desenvolvimentista é empregado para endossar a instalação do

agronegócio. Ainda que pese o fato de que a realidade mostrar que crescimento

econômico e desenvolvimento são duas coisas distintas, mesmo assim o discurso

recheado de “símbolos de desenvolvimento” é vendido e imposto como a solução de

todos os problemas sociais.

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As vozes dos excluídos diante dos impactos da modernização agrícola conduzida pela algar/agro no município de porto franco Para a coleta de dados em campo, foram realizadas trinta entrevistas na porção urbana

de Porto Franco e vinte entrevistas na área rural do município.

Área urbana de Porto Franco – MA:

1. Qual sua opinião sobre a instalação de grandes empreendimentos baseados na

agroindústria em Porto Franco e região?

2. Qual sua opinião sobre o agronegócio conduzido pela Algar em Porto Franco? Em

sua opinião o que tem mudado na cidade a partir disso?

3. Você conhece, participa ou já ouviu comentários sobre algum programa social

desenvolvido pela Algar em Porto Franco? Em minha opinião, tem sido muito bom, por causa geração de emprego e renda. (Maria Rodrigues Ramos, entrevista realizada em 11/05/2012). Não. (Maria Rodrigues Ramos, entrevista realizada em 11/05/2012). A cidade está a cada dia mais forte economicamente. Com a economia aquecida, muitos empregos têm sido gerados. (Sheila Aguiar Franco Rocha. 43 anos. Microempresária, proprietária da “Drogaria Rocha”, entrevista realizada em 11/05/2012).

As informações coletadas nas entrevistas mostraram que todos os entrevistados veem

como positivo a instalação de grandes empresas de soja no município. A geração de

emprego e renda para a cidade é o fator mais lembrado quando se fala na instalação de

grandes empreendimentos da sojicultora em Porto Franco. Porém, quando perguntado

em relação a investimentos sociais a maioria desconhece, o que mostra a necessidade da

rediscussão de políticas públicas que conduzam a instalação de grandes

empreendimentos de maneira a potencializar não somente a geração de empregos e

aumento dos indicadores municipais, consequência natural, mas principalmente a

manutenção social da qualidade de dos sujeitos que compõem estes contextos.

4. Você acredita que o agronegócio implantado em Porto Franco tem causado impactos

à população da cidade e região? Comente sobre estes impactos (positivos/negativos).

5. Em sua opinião, a cidade de Porto Franco tem sido beneficiada socioeconomicamente

pelo agronegócio que nela tem sido atraído pela prefeitura local? De que forma? Somente positivos. Pois é uma empresa que gera empregos em épocas de safra, que é uma atividade que não necessita de mão-de-obra tão qualificada assim. Dessa forma gera-se empregos tanto para pessoas com qualificação profissional, quanto para pessoas sem tanta qualificação. (Maria Rodrigues Ramos, entrevista realizada em 11/05/2012).

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Sim positivos. Sinto que a população em geral está com mais dinheiro para comprar. Esse é um impacto muito positivo. (Eulina Duarte Rodrigues. 44 anos. Microempresária, proprietária “R.S Turismo – Agência de Turismo”, entrevista realizada em 11/05/2012).

Área rural de Porto Franco – MA

Para realização das entrevistas na parte rural do município de Porto Franco adotaram-se

os mesmos critérios metodológicos utilizados no processo de entrevistas realizadas no

território urbano de Porto Franco. A visita de campo ao Projeto de Assentamento Oziel,

localizado a 12 Km do perímetro urbano de Porto Franco, foi realizada no dia

14/05/2012.

1. Qual sua opinião sobre a instalação de grandes empreendimentos baseados na

agroindústria em Porto Franco e região?

2. Qual sua opinião sobre o agronegócio conduzido pela Algar em Porto Franco? Em

sua opinião o que tem mudado na cidade a partir disso?

3. Você conhece, participa ou já ouviu comentários sobre algum programa social

desenvolvido pela Algar em Porto Franco? Olha, a minha posição é o seguinte: pra mim que sou pequeno produtor, que moro aqui no campo, vejo como negativo, pois uma empresa como essa que tem muito dinheiro deveria proporcionar crescimento pra o pequeno produtor também, e não ficar só explorando a nossa terra. (Antônio Ruben do Nascimento. 40 anos. P.A Oziel, entrevista realizada em 14/05/2012). Em minha opinião, não sou muito a favor, principalmente pelo desmatamento e pelo uso de agrotóxicos, que afetam o solo da nossa região, sem contar os riachos. Sem contar que eles compram as melhores terras, e acredito que essa situação só vai piorar, porque soube que eles tão querendo expandir mais ainda. Aí quando o INCRA vai distribuir terra, é sempre as piores, pois as melhores já tão nas mãos do grande. (José Carlos Dantas da Silva. 36 anos. Presidente do Ass. Oziel. Entrevista realizada em 14/05/2012). Desconheço. (Antônio Ruben do Nascimento. 40 anos.).

4. Em sua opinião, Porto Franco tem sido beneficiada socioeconomicamente pelo

agronegócio que nela tem sido atraído pela prefeitura local? De que forma?

5. Você acredita que o agronegócio implantado em Porto Franco tem causado impactos

à população da cidade e região? Comente sobre estes impactos (positivos/negativos). A cidade, sim. Agora, aqui pra nois que tamo na luta trabalhando com a terra, as coisas continua do mesmo jeito. (Antônio Ruben do Nascimento. 40 anos. Assentado. P.A Oziel, entrevista realizada em 14/05/2012). Um impacto negativo que eu identifico é a dificuldade de trabalho que o pequeno produtor rural encontra quando vem embora para a cidade. Outro

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impacto muito comum na nossa cidade é a prostituição de jovens, pois os funcionários das empresas grandes vêm para a cidade e aqui encontrar adolescentes pobres e sem correta instrução. (Valdirene Barbosa Leal. 45 anos. Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Porto Franco, entrevista realizada em 14/05/2012). Sabemos que as empresas trazem benefícios. Porém, trazem impactos sociais, pois elas vem e compram as pequenas propriedades. Estas empresas trazem também impactos ambientais, pois não respeitama legislação, muitas delas acabam driblando e em muitas vezes comprando os órgãos ambientais. Com a chegada da tecnologia, o pequeno produtor se vê encurralado, sendo forçado a vir morar na área urbana, não tendo condições para trabalhar na cidade estes produtores começam a passar dificuldades e exploração no trabalho. (Wilson Carvalho dos Santos. 65 anos. P.A Oziel. Entrevista realizada em 14/05/2012).

Os impactos ambientais a partir do uso excessivo de agrotóxicos, problemas com a

prostituição das adolescentes que vão estudar na cidade, o desmatamento, os baixos

salários oferecidos para trabalho nas lavouras, a escassez de terras produtivas, o

enfraquecimento da produção de alimentos baseados em outras culturas diferentes da

soja, etc. Ou seja, a dicotomia dos discursos produzidos em Porto Franco mostra o

quanto tem sido fragmentadora a atuação de grandes empreendimentos no sudoeste

maranhense, sobretudo no que diz respeito aos aspectos socioambientais.

As entrevistas mostraram de uma forma geral, que o discurso “desenvolvimentista”

pregado por grandes empresas imposto por meio da simples geração de empregos

assalariados e do aumento da circulação de dinheiro na cidade, é considerado suficiente

para avaliar positivamente a instalação de grandes empreendimentos. Quando na

verdade, a geração de empregos assalariados e o aumento nas arrecadações municipais

impulsionados pelo ramo econômico do agronegócio constituem fatores básicos e

consequências naturais da chegada destes empreendimentos.

Notas 1 O termo MAPITOBA é a junção das siglas dos estados do Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia, que representam atualmente a nova fronteira agrícola que têm sido foco da difusão de grandes negócios.

Referências GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008. GOBBI, Wanderléia Aparecida de Oliveira. PESSÔA, Vera Lúcia Salazar. Pesquisa qualitativa em geografia: reflexões sobre o trabalho de campo. In: RAMIRES, Júlio

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Cesar de Lima. PESSÔA, Vera Lúcia Salazar. Geografia e pesquisa qualitativa: nas trilhas da investigação. (et. all). Uberlândia: Assis, 2009. LAKATOS, Eva Maria. MARCONI, Maria de Andrade. Técnicas de pesquisa: planejamento e execução de pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisa, elaboração, análise e interpretação de dados. 6º ed. São Paulo: Atlas, 2006. SOUZA JÚNIOR, Xisto Serafim de Santana. A análise do discurso como estratégia na identificação das intencionalidades e práticas espaciais dos movimentos sociais urbanos de João Pessoa – PB. In: RAMIRES, Júlio Cesar de Lima. PESSÔA, Vera Lúcia Salazar. Geografia e pesquisa qualitativa: nas trilhas da investigação. (et. all). Uberlândia: Assis, 2009. TRIVINÕS, Augusto Nibaldo da Silva. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987. LEONARDO, Attuch. Algar pronta para a briga no Nordeste: a agroindústria da Algar. Dinheiro Rural, São Paulo, nº 88, p. 35-41, fev. 2012. ALGAR, Agro. Unidade Porto Franco (Ma). Disponível em: www.inco.com.br. Acesso em: 27/05/2012.