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i
INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA – INPA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
BIOLOGIA DE ÁGUA DOCE E PESCA INTERIOR – BADPI
Efeito da época da indução hormonal sobre
a qualidade da desova em matrinxã
(Brycon amazonicus)
THIAGO MARINHO PEREIRA
Manaus, Amazonas
Junho, 2012
ii
Thiago Marinho Pereira
Efeito da época da indução hormonal sobre
a qualidade da desova em matrinxã
(Brycon amazonicus)
Orientador: CARLOS EDWAR DE CARVALHO FREITAS, D.Sc.
Dissertação apresentada ao Programa
de Pós-graduação em Biologia de
Água Doce e Pesca Interior do
Instituto Nacional de Pesquisa da
Amazônia, como parte dos requisitos
para obtenção do título de Mestre em
Ciências Biológicas, área de
concentração Biologia de Água Doce
e Pesca Interior.
Manaus, Amazonas
Junho, 2012
iii
A Deus, pelos momentos de perdão e proteção.
A meus pais, Maria do Socorro Marinho da
Silva e Sebastião Pereira, pelos ensinamentos e
pela confiança em mim depositados. A minha
amada, Nélly, pela paciência, amor e
dedicação.
DEDICO
iv
...posso nunca ter sido o melhor jogador do
mundo. Porém, ninguém treinou, para ser o
melhor do mundo, mais do que eu.
Oscar Schmidt, ex-jogador da
seleção brasileira de basquete.
v
P436 Pereira, Thiago Marinho
Efeito da época da indução hormonal sobre a qualidade da
desova em matrinxã (Brycon amazonicus) / Thiago Marinho
Pereira. --- Manaus : [s.n.], 2012.
xi, 52 f. : il. color.
Dissertação (mestrado) --- INPA, Manaus, 2012.
Orientador : Carlos Edwar de Carvalho Freitas
Área de Concentração : Biologia de Água Doce e Pesca
Interior
1. Brycon amazonicus. 2. Matrinxã – Reprodução induzida.
3. Matrinxã – Fecundidade. I. Título.
CDD 19. ed. 597.0929
vi
AGRADECIMENTOS
A Deus que me faz acordar todos os dias, sempre agradecendo por suas maravilhas.
A meus familiares, que estão aguardando pela formação e torcendo pela minha
prosperidade.
A meus amigos, que proporcionam o lazer e o descanso, que a mente tanto necessita.
A minha amada, Nélly, mulher dos meus sonhos e companheira de todas as horas.
Sempre acreditou em meus devaneios.
Ao Doutor Carlos Edwar de Carvalho Freitas, orientador, pela importância e apoio nos
momentos mais difíceis do meu mestrado.
Ao M.Sc. Alexandre Honczaryk pela iniciativa da proposta e pela cessão de suas
instalações para a realização do trabalho.
A Doutora Maria Anete Leite Rubim pela cessão de suas instalações e equipamentos.
Aos companheiros e amigos do PPG-BADPI, pela divisão de tarefas e momentos
durante as disciplinas.
Aos Doutores Luis David Soli-Murgas, Luis Antônio Kioshi Aoki Inoue e Paulo
Henrique Rocha Aride pelas contribuições e, consequente, enriquecimento deste trabalho.
Ao Doutor Bruno Adan Sagratzki Cavero, sempre orientador, grande mestre.
A todos que de uma forma ou de outra, ajudaram a tornar isso possível.
vii
Effect of the season of hormonal induction on the quality
of spawning in matrinxã (Brycon amazonicus)
ABSTRACT
The objective of this study was to identify the effects of the season of hormonal induction on
the quality of spawning in matrinxã (Brycon amazonicus). The females used in this
experiment were selected from the group at Fazenda Santo Antonio, Rio Preto da Eva/AM,
which was maintained at six ponds with an average size of 1,000 m2 and an average depth of
1.6 m each. The previous conditioning pond were divided by nets of plastic fiber, so that the
number of catches in trawls was halved, reducing the impact on the harvest entire lot.
Between the months of February and August, the latent period for gonad maturation of
matrinxã, females were subjected to a stocking density of one breeder per 10 m2 and fed
commercial extruded feed containing 40% crude protein, one day each two to 1.5% of
biomass. The experimental period began on September 13th
with the selection and induction
of the first group of breeders and ending on November 18th
with the extrusion of oocyte
fertilization of the last females chosen for the experiment. After spawning were collected
biometrics data (weight and length) and fecundity (egg production) and these reproductive
data enabled the characterization of the influence of biometric variables on fecundity relative
and absolute, identifying the ideal time for artificial reproduction of breeders, characterization
of the influence of edaphoclimatic conditions [atmospheric temperature data (° C) and
precipitation (mm)] on relative and absolute fecundity and evaluation of the condition factor
as a tool for selection of matrinxã breeders. At the experiment ending, 59 females (average
weight 1315.9 ± 307.04 g) spawned 7,057 g of oocyte mass. The weight.lenght-1
relation of
females was positive (y=0,1653x2,5067
; R2=0,8126). The average productivity of eggs per
female was 119.61 g, almost 10% of the live weight of animals. Relative fecundity was
important to estimate the time of the year most productive in relation to the number of eggs
produced. There was little interaction between fecundity and weight and length, but the closer
to the end of the experiment (November) was most the power of interaction between the
relations. The edaphoclimatic conditions influence the spawning of matrinxã (p<0.05), with
the wettest months tend to have better spawns. For the condition factor (Kn) statistical
differences were found in relation to the central value (Ho: Kn = 1.0, α = 0.05), however, do
not found direct relationship between the values of Kn and fecundity of animals. There was
no statistical difference between the fecundity of females that showed Kn>1.0 (45.8% of
females had an average fecundity of 126.4 g of eggs) and Kn<1.0 (54.2% of females had an
average fecundity of 117.13 g of eggs), although females with Kn<1.0 present a greater
deviation around the average fecundity. Among the months tested, the best month of the
average relative fecundity was November.
Keywords: Brycon amazonicus, fecundity, pluviosity, condition factor.
viii
Efeito da época da indução hormonal sobre a
qualidade da desova em matrinxã (Brycon amazonicus)
RESUMO
O objetivo deste trabalho foi o de identificar os efeitos da época da indução hormonal sobre a
qualidade da desova em matrinxã (Brycon amazonicus). As matrizes utilizadas neste
experimento foram selecionadas do plantel existente na Fazenda Santo Antônio, Rio Preto da
Eva/AM, as quais foram mantidas em seis viveiros semiescavados de terra com tamanho
médio de 1.000 m2 e profundidade média de 1,6 m, cada. Os viveiros de acondicionamento
prévio foram divididos por meio de telas de fibra plástica, a fim de que o número de capturas
nas redes de arrasto fosse reduzido à metade, diminuindo o impacto de despescas sobre a
totalidade do lote. Entre os meses de fevereiro e agosto, período latente para a maturação
gonadal da matrinxã, as matrizes foram submetidas a uma densidade de estocagem de um
reprodutor para cada 10 m2 e alimentadas com ração comercial extrusada com 40% de
proteína bruta, um dia a cada dois à 1,5% da biomassa. O período experimental teve início no
dia 13 de setembro, com a seleção e indução do primeiro grupo de reprodutores, e término no
dia 18 de novembro, com a extrusão e fertilização dos ovócitos das últimas matrizes
destinadas ao experimento. Após a desova dos animais, foram coletados dados biométricos
(peso e comprimento) e de fecundidade (produção de ovos) sendo que estes dados
reprodutivos possibilitaram a caracterização da influência das variáveis biométricas sobre a
fecundidade relativa e absoluta, a identificação da época ideal para a reprodução artificial de
reprodutores, caracterização da influência das condições edafoclimáticas [dados de
temperatura atmosférica (ºC) e precipitação (mm)] sobre a fecundidade relativa e absoluta e
avaliação do fator de condição como ferramenta para seleção de matrizes de matrinxã. Ao
final do experimento, 59 fêmeas (peso médio 1.315,9±307,04 g) desovaram 7.057 g de massa
ovocitária. A relação peso.comprimento-1
ajustada para as fêmeas de matrinxã teve fator de
condição igual a 0,0988 (intervalo de confiança a 95% de -0,0088 a 0,2065) e coeficiente de
alometria igual a 2,6506 (intervalo de confiança a 95% de 2,3489 a 2,9523). A produtividade
média de ovos por fêmea foi de 119,61 g. A fecundidade relativa foi importante para estimar a
época do ano mais produtiva em relação ao número de ovos produzidos. Houve pouca
interação entre a fecundidade e as variáveis peso e comprimento, porém, quanto mais próximo
do fim do experimento (mês de novembro) maior foi o poder de interação entre as relações.
As condições edafoclimáticas influenciaram na desova da matrinxã (p<0,05), sendo que os
meses mais chuvosos tendem a apresentar melhores desovas. Para o fator de condição (Kn)
foram encontradas diferenças estatísticas em relação ao valor centralizador (Ho: Kn = 1,0; α =
0,05), porém, não foi encontrada relação direta entre os valores de Kn e a fecundidade dos
animais testados. Não houve diferença estatística entre a fecundidade de fêmeas que
apresentaram Kn > 1,0 (45,8% das fêmeas apresentaram fecundidade média de 126,4 g de
ovos) e Kn < 1,0 (54,2% das fêmeas apresentaram fecundidade média de 117,13 g de ovos),
apesar das fêmeas com Kn < 1,0 apresentarem um maior desvio em torno da fecundidade
média. Dentre os meses testados, o mês de melhor fecundidade relativa média foi o de
novembro.
Palavras-chave: Brycon amazonicus, fecundidade, pluviosidade, fator de condição.
ix
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 - Imagem de satélite posicionando a Fazenda Santo Antônio em relação ao
município de Manaus e Rio Preto da Eva/AM ......................................................................... 24
Figura 02 - Imagem panorâmica da Fazenda Santo Antônio/AM ............................................ 25
Figura 03 - Despesca e seleção de matrizes .............................................................................. 26
Figura 04 - Despesca e seleção de matrizes .............................................................................. 26
Figura 05 - Características físicas do laboratório de reprodução .............................................. 26
Figura 06 - Relação peso.comprimento-1
e a curva ajustada para as fêmeas de matrinxã
(Brycon amazonicus) utilizadas no experimento ...................................................................... 30
Figura 07 - Frequência da fecundidade absoluta e relativa das fêmeas de matrinxã ................ 31
Figura 08 - Relação fecundidade.peso-1
das fêmeas de matrinxã ............................................. 32
Figura 09 - Relação fecundidade.comprimento-1
das fêmeas de matrinxã ............................... 32
Figura 10 - Representação gráfica da interação entre a fecundidade relativa e os meses
testados ...................................................................................................................................... 33
Figura 11 - Precipitação acumulada registrada no município de Manaus durante o ano de 2011
................................................................................................................................................... 34
Figura 12 - Temperaturas registradas no município de Manaus/AM durante o mês de setembro
de 2011 ...................................................................................................................................... 35
Figura 13 - Temperaturas registradas no município de Manaus/AM durante o mês de outubro
de 2011 ...................................................................................................................................... 35
Figura 14 - Temperaturas registradas no município de Manaus/AM durante o mês de
novembro de 2011 ..................................................................................................................... 35
Figura 15 - Representação gráfica do Teste T de Student aplicado nos valores de Kn, tendo
como referência o valor centralizador de 1,0 (H0 = 1,0) ........................................................... 36
Figura 16 - Relação Fator de Condição (Kn) e fecundidade (g) ............................................... 37
x
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 - Local de atuação e principais formas de indução utilizadas na propagação
artificial de peixes reofílicos ..................................................................................................... 22
Tabela 02 - Doses, intervalos e etapas necessárias para a reprodução artificial da matrinxã ... 27
Tabela 03 - Número de doses hormonais utilizadas na reprodução induzida da matrinxã ...... 27
Tabela 04 - Média e desvio padrão dos dados biométricos das fêmeas utilizadas no
experimento .............................................................................................................................. 30
Tabela 05 - Regressão linear simples e r-quadrado das relações fecundidade.peso-1
e
fecundidade.comprimento-1
obtidas em cada um dos meses experimentais ............................. 32
xi
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 12
2. REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................................. 15
2.1 Matrinxã, Brycon amazonicus............................................................................................. 15
2.2 Considerações sobre a reprodução de peixes nativos em cativeiro .................................... 18
2.2.1 – Ciclo reprodutivo e tipos de desova ......................................................................... 18
2.2.2 – Preparação e seleção de reprodutores ...................................................................... 19
2.2.3 – Aspectos fisiológicos relacionados à reprodução em peixes migradores ................ 20
2.2.3.1 – GnRH .................................................................................................................... 21
2.2.3.2 - Catecolaminas ........................................................................................................ 22
2.2.4 – Tipos de indução à maturação gonadal .................................................................... 23
3. OBJETIVOS ......................................................................................................................... 24
3.1 Objetivo Geral ..................................................................................................................... 24
3.2 Objetivos Específicos .......................................................................................................... 24
4. MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................................. 25
4.1 Local do Experimento ......................................................................................................... 25
4.2 Características dos Viveiros ................................................................................................ 25
4.3 Fase Pré-Experimental ........................................................................................................ 26
4.4 Período Experimental e Alimentação ................................................................................. 26
4.5 Condução do experimento .................................................................................................. 27
4.6 Identificação da época ideal para a reprodução artificial da matrinxã ................................ 29
4.7 Caracterização da influência das variáveis biométricas sobre a fecundidade relativa e
absoluta de matrinxã; ................................................................................................................ 29
4.8 Caracterização da influência das condições edafoclimáticas sobre a fecundidade relativa e
absoluta de matrinxã ................................................................................................................. 29
4.9 Avaliação do fator de condição (Kn) como ferramenta para seleção de matrizes de
matrinxã .................................................................................................................................... 30
4.10 Análise Estatística ............................................................................................................. 30
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................................................................................... 31
6. CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 39
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 40
12
1. INTRODUÇÃO
De acordo com a FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations), a
aquicultura é o setor da produção de alimentos que mais cresce em todo o mundo, com uma
média de 6,9% ao ano (FAO 2010). Entre os fatores determinantes do crescimento da
aquicultura mundial, pode-se citar: a alta relação produção de proteína por área e a baixa
conversão alimentar em comparação a outras culturas do agronegócio (Cavero et al. 2009;
Erthal et al. 2010; Ludwig et al. 2010) e a recente demanda por alimentos de melhor
qualidade nutricional (Casemiro et al. 2010; Godoy et al. 2010). Apesar do papel de destaque
na criação de organismos aquáticos na América Latina, a produção brasileira ainda se mostra
inexpressiva no cenário mundial, respondendo por apenas 0,75% da produção mundial da
aquicultura marinha, estuarina e continental (Brasil 2012).
Na Amazônia, a grande fonte de abastecimento do mercado consumidor pesqueiro é a
pesca extrativista, que é sujeita a condicionantes como sazonalidades e períodos de defeso
(Freitas e Rivas 2006). Uma alternativa que pode suprir, de maneira eficiente e perene, os
mercados e feiras da região é a prática da criação de peixes em cativeiro, propiciando um
maior equilíbrio entre oferta e demanda por meio da estabilização dos preços ao longo do ano.
Entretanto, ainda existem alguns entraves como falta de mão-de-obra especializada e insumos,
além da ausência de infraestrutura de escoamento da produção, que afetam diretamente a
competitividade da cadeia produtiva das principais espécies cultivadas (Santos e Santos
2005).
Para um maior desenvolvimento da piscicultura regional, a qualidade e a quantidade
dos alevinos disponíveis são cruciais para a obtenção de uma maior sobrevivência e
crescimento individual dos animais cultivados. Entretanto, a captura de alevinos em
ambientes naturais, além de ser proibida, inviabiliza um cultivo em larga escala, uma vez que
a disponibilidade e o ciclo reprodutivo sazonal das espécies de peixes amazônicos fariam com
que as fazendas, que praticam a criação comercial de peixes, também ficassem condicionadas
a estes fatores. Estes mecanismos ainda podem acarretar em uma elevada heterogeneidade que
é indesejável na produção de organismos cultivados.
Em geral, as espécies reofílicas ou migratórias (peixes que necessitam realizar
deslocamentos contra a correnteza dos rios para realizar desova), apresentam alta
fecundidade, com indivíduos da maioria das espécies liberando de algumas centenas a
13
milhões de ovócitos, anualmente (Nakatani et al. 2001; Hackbarth 2004). Para que a desova
dos peixes ocorra em cativeiro é necessária a utilização de técnicas de propagação artificial,
uma vez que o sistema endócrino da grande maioria dos peixes reofílicos é estritamente
relacionado a fatores ambientais e, consequentemente, a sazonalidade (Crepaldi et al. 2006a).
Dependendo do sistema a ser utilizado, de 20 a 70% dos ovos produzidos têm possibilidade
de se transformarem em juvenis, enquanto que, em condições naturais, a taxa de
sobrevivência, geralmente, é inferior a 1% (Woynarovich e Horváth, 1983; Honczaryk e
Inoue 2009).
Mudanças nas condições abióticas do ambiente natural são percebidas pelo sistema
nervoso central, desencadeando neurossecreções que regulam as atividades hipofisárias que
atuam sobre os órgãos reprodutores. Peixes mantidos em condições de cativeiro tendem a
apresentar disfunções reprodutivas, sendo que nas fêmeas os problemas estão relacionados
com a maturação final dos ovócitos, e nos machos existem deficiências relacionadas ao baixo
nível e qualidade espermática (Crepaldi et al. 2006b).
Entre as principais técnicas reprodutivas, destaca-se a reprodução induzida, através da
técnica de hipofisação, com espécies reofílicas, que pode ser compreendida como um
procedimento indutivo que utiliza aplicações intramusculares, de hormônio, proporcionais ao
peso do animal. Esta desova artificial ou induzida é realizada pelo emprego de indutores que
atuam diretamente no sistema endócrino do animal, sendo que o mais utilizado é o indutor de
hipófise de carpa (Cyprinus carpio), pois, atua diretamente nas gônadas que induzem a
maturação pela excreção da gonadotropina. Dependendo do sistema a ser utilizado, de 20 a
70% dos ovos produzidos têm possibilidade de se transformarem em juvenis, enquanto que,
em condições naturais, a taxa de sobrevivência, geralmente, é inferior a 1% (Woynarovich e
Horváth 1983; Honczaryk e Inoue 2009).
Entre as espécies reofílicas de interesse na aquicultura amazônica, a matrinxã (Brycon
amazonicus) é uma das espécies que apresentam dificuldades em termos de propagação
artificial, apresentando reotaxia positiva, ou seja, realiza migração contrária ao deslocamento
hídrico. É uma espécie de desova total que habita ambientes lacustres e fluviais, com estação
reprodutiva coincidente com o início da enchente, entre os meses de dezembro e fevereiro
(Val e Honczaryk 1995; Barthem e Fabré 2003). Por apresentar elevada fecundidade e tender
à onívora, a espécie exerce posição estratégica concernente à produção de alevinos em
cativeiro. Entretanto, existem dois grandes gargalos relacionados à produção de alevinos que
inviabilizam a cadeia produtiva da espécie: o elevado grau de canibalismo durante a fase
14
larval, a partir de 36 horas após a eclosão (Atencio-Garcia e Zaniboni-Filho 2006); e a
restrição causada pela sazonalidade na maturação gonadal das fêmeas, restringindo a indução
hormonal aos meses próximos à época de enchente na Bacia Amazônica, entre os meses de
dezembro e fevereiro) (Honczaryk e Inoue 2009).
Em se tratando de reprodução em cativeiro, a biologia reprodutiva da matrinxã sempre
indicou seu grande potencial para a produção de alevinos. Por apresentar elevado grau de
fecundidade relativa, além de características zootécnicas como: grande adaptabilidade às
condições de cativeiro, rápido crescimento e fácil comercialização, a matrinxã sempre foi
considerada uma espécie com grande potencial para a aquicultura (Zaniboni-Filho et al.,
2006).
Os fatores bióticos e abióticos dos viveiros destinados às matrizes influenciam
fortemente as condições reprodutivas de machos e fêmeas (Andrade e Yasui 2003), sendo
fundamental que se conheça as relações existentes entre as condições edafoclimáticas do local
e a produção de alevinos, pois, fatores como temperatura da água (ºC), pluviosidade (mm) e
fotoperíodo podem interferir no processo fisiológico reprodutivo. Dessa forma, este estudo
buscou obter informações sobre os efeitos da época da indução hormonal sobre os parâmetros
reprodutivos da matrinxã.
15
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Matrinxã, Brycon amazonicus
Considerado um dos peixes comerciais que apresentam grande apelo comercial, a
matrinxã (Brycon amazonicus) é um caracídeo originário da Bacia Amazônica. De grande
porte (os nativos da região amazônica atingem até 4 kg), possui o corpo alargado e,
geralmente, possui pigmentação ligeiramente escura na dorsal e nas laterais. Na natureza, se
alimenta de frutos, sementes, restos vegetais, insetos, dentre outros (Pizango-Paima 1997) e,
em cativeiro, apresenta boa aceitabilidade a rações extrusadas e peletizadas (Izel et al. 1996,
Zaniboni-Filho et al. 2006).
A grande importância da matrinxã para o estado do Amazonas foi determinada através
de estudos conduzidos no Terminal de Desembarque Pesqueiro da Panair, em Manaus, onde,
no ano de 1994, obteve o quarto lugar dentre o grupo de espécies mais comercializadas
(Batista 2003). Outro ponto de destaque está relacionado ao aproveitamento desta espécie pela
culinária da capital através da utilização de técnica da extração das estruturas ósseas
intramusculares. O emprego desta tecnologia local atraiu para o consumo do pescado uma
grande parte da população, em sua maioria migrantes, com receio de consumir o pescado in
natura, tornando a matrinxã a espécie de maior procura e valor agregado nas “peixarias” de
Manaus.
Para criação em cativeiro, vários trabalhos foram realizados com intuito de demonstrar
a viabilidade do cultivo da espécie. A seguir, estão relacionados alguns dos trabalhos que
auxiliaram no desenvolvimento da piscicultura da matrinxã no estado do Amazonas e que
demonstraram o bom aproveitamento que a espécie possui, se for cultivada em ambientes
propícios, sejam naturais ou artificiais.
a) Reimer (1982) demonstrou que a matrinxã apresenta uma capacidade metabólica
que se adapta aos diferentes tipos de alimentos ingeridos, elevando os níveis enzimáticos do
trato digestório em função do substrato consumido, seja proteína, carboidrato ou gordura.
Com isso, possui a característica de utilizar gorduras, carboidratos e proteínas como fonte de
energia para o correto desempenho de suas funções metabólicas.
b) Pereira-Filho et al. (1995) realizaram experimento com três níveis de proteína
combinados com três níveis de fibras em dietas para juvenis de matrinxã. O maior
crescimento observado foi dos juvenis alimentados com 31% de proteína bruta, entretanto,
16
estes níveis elevados de proteína aumentaram o conteúdo deste nutriente na carcaça,
diminuindo o conteúdo de gorduras e cinzas. Os peixes alimentados com os maiores níveis de
fibra apresentaram mais proteína e cinzas corporais na carcaça e menores níveis de gordura.
Os resultados alcançados foram importantes para corroborar a adição de subprodutos
agroindustriais, geralmente ricos em fibra bruta, na ração comercial ofertada para juvenis de
matrinxã.
b) Gomes et al. (2000) estudaram o efeito da densidade de estocagem na qualidade da
água, sobrevivência e crescimento de larvas de matrinxã em tanques escavados e concluíram
que um aumento na densidade de estocagem reduz o crescimento e a homogeneidade do lote.
Entretanto, o tratamento com a maior densidade de estocagem ainda apresentou maior
produção de larvas de matrinxã (120 larvas.m-2
). Estes resultados foram relevantes, pois,
forneceram subsídios à prática da larvicultura da matrinxã no estado do Amazonas, atividade
ainda restrita a poucos produtores locais e ao Centro de Treinamento, Tecnologia e Produção
em Aquiculura, localizado no município de Presidente Figueiredo e Vila de Balbina.
c) Arbeláez-Rojas et al. (2002) realizaram estudo para avaliar a composição corporal
do tambaqui e matrinxã cultivados em viveiros (sistema semi-intensivo) e canais-de-igarapé
(sistema intensivo). Este trabalho, além de apresentar resultados zootécnicos das espécies
após 170 dias de experimento, demonstrou que a matrinxã, ao contrário do que se pensava,
não apresenta diferenças significativas relacionadas ao ganho de peso entre os tipos de cultivo
testados.
e) Hackbarth (2004) avaliou as respostas metabólicas e de crescimento da matrinxã
submetidas ao exercício contínuo de longa duração. Apesar de apresentar respostas diferentes
ao longo do tempo, em todos os casos testados, o exercício trouxe benefícios aos peixes, pois,
os animais apresentaram maiores taxas de crescimento, com menores gastos protéicos para
manutenção energética. As alterações hematológicas demonstraram um melhor transporte de
oxigênio e nutrientes, apesar da maior demanda imposta pelo exercício.
f) Izel et al. (2004) avaliaram cinco dietas isocalóricas com diferentes níveis protéicos.
Após 210 dias de experimento, os melhores resultados de ganho de peso, conversão alimentar
e crescimento corporal foram alcançados através da utilização da dieta com 28% de proteína
bruta. Esses resultados foram importantes para a determinação dos níveis de proteína,
atualmente, utilizados na ração comercial para juvenis de matrinxã destinados à terminação.
g) Brandão et al. (2005) testando quatro diferentes densidades de estocagem na fase de
recria de matrinxã em tanque-rede durante 60 dias, não encontraram diferenças significativas
17
entre os tratamentos testados em relação aos parâmetros de crescimento, sobrevivência e
produtividade. A densidade de 500 peixes por m3 se mostrou bastante adequada, sendo, esta
informação, importante para os produtores interessados na criação da espécie, mas que não
possuem recursos para efetuar a recria em pequenos viveiros de terra.
h) Frascá-Scorvo et al. (2007) buscando avaliar o efeito do horário, da taxa e da
frequência alimentar no desempenho da matrinxã em ambiente de cultivo concluíram que o
arraçoamento diário, em qualquer horário, demonstrou resultados satisfatórios. Estes
resultados foram importantes para derrubar o mito de que é necessário dividir a alimentação,
oferecida a matrinxã, várias vezes ao dia, a fim de melhorar seus resultados zootécnicos.
Dos ambientes artificiais, o cultivo em barragens tem se mostrado como importante
alternativa de renda, principalmente, para propriedades situadas em margens de rodovias ou
vicinais, onde, devido à construção das vias de transporte, houve represamentos. Entretanto, o
canal-de-igarapé pode ser considerado o mais importante ambiente de cultivo da matrinxã no
estado do Amazonas, não pela quantidade de empreendimentos que utilizam este sistema, mas
pela inclusão de famílias com pouca capacidade de investimento na prática da piscicultura
como meio de sobrevivência.
Estudos, com este sistema, foram iniciados no final da década de 1990, como demanda
do setor produtivo pelo melhor aproveitamento dos corpos d’água existentes em detrimento
dos maiores investimentos exigidos para criação de peixes em viveiros de terra. Devido aos
ambientes que naturalmente habitam (Goulding 1979), os primeiros estudos demonstraram a
enorme viabilidade do cultivo da matrinxã em ambientes com as características dos canais-de-
igarapé, como: temperaturas entre 23 °C e 26 °C, correnteza, elevada taxa de renovação diária
de volume d’água, pH entre 4,5 e 5,5, oxigênio dissolvido próximo de 5,0 mg/L, baixa
condutividade, transparência total.
Os parâmetros produtivos que, atualmente, são sugeridos por técnicos e órgãos
extensionistas foram obtidos através de uma série de experimentos em escala de produção,
com destaque para os estudos e seminários realizados, a partir do ano de 2002, pela Embrapa
Amazônia Ocidental. Incentivados pelo governo e órgãos extensionistas, vários proprietários
de porções de terra passaram a utilizar seus corpos d’água para obter algum retorno financeiro
de seu empreendimento ou assentamento.
Porém, a explosão no número de propriedades que passaram a utilizar o canal-de-
igarapé, somada a ocupação inapropriada de nascentes, a destruição da mata ciliar destes
corpos d’água e a falta de orientação técnica proporcionaram um estado insustentável para
18
este tipo de criação, passando a ser cogitado a sua proibição no estado do Amazonas.
Evitando que vários produtores entrassem na ilegalidade, o que provocaria uma maior
dificuldade na comercialização do pescado e, em longo prazo, um problema social de grandes
proporções, sendo assim, foi criado a Resolução nº 01 de 03 de julho de 2008 do Conselho
Estadual de Meio Ambiente do Amazonas que resolve limitar a utilização do canal-de-igarapé
a microempreendimentos de aquicultura familiar, comunitária, de baixa renda e caráter social
e baixo impacto (Amazonas 2008).
Na comparação com o tambaqui, outra espécie de suma importância para a aquicultura
local, a matrinxã possui dois problemas intrínsecos na cadeia produtiva de alevinos:
1) apesar das taxas de fecundidade, fertilidade e dos níveis de hormônios aplicados nas
fêmeas serem basicamente os mesmos (Honczaryk e Inoue 2009; Murgas et al. 2009), a partir
da 36ª hora após a eclosão, a sobrevivência larval pode cair à zero em virtude de intenso
canibalismo (Atencio-Garcia e Zaniboni-Filho 2006; Leonardo et al. 2008);
2) devido a sazonalidade, as fêmeas de matrinxã atingem a maturação gonadal ideal entre os
meses de dezembro e fevereiro, restringindo a indução hormonal e, consequentemente, a
produção de alevinos. Essa época do ano equivale ao período de enchente na Bacia
Amazônica, ou seja, ao início do período das chuvas.
Atualmente, a matrinxã ocupa uma posição secundária na aquicultura amazonense,
que tem o tambaqui (Colossoma macropomum) como espécie mais cultivada. As dificuldades
relacionadas aos índices de desova induzida e fertilidade, sazonalidade do período reprodutivo
da espécie em cativeiro e o elevado nível de canibalismo durante o período larval fazem com
que se torne difícil sua propagação artificial, elevando o preço do milheiro do alevino e
restringindo sua disponibilidade aos grandes produtores.
2.2 Considerações sobre a reprodução de peixes nativos em cativeiro
2.2.1 – Ciclo reprodutivo e tipos de desova
Em peixes, geralmente, a reprodução é cíclica, ou seja, acontece de tempos em
tempos, correspondendo a um período de repouso intercalado com um período de maturação
gonadal (Murgas et al. 2009). Para haver sucesso no processo que envolve a reprodução
induzida é necessário um profundo conhecimento da melhor época para a indução hormonal
da espécie, sendo que a matrinxã, assim como a maioria dos peixes nativos, possui reprodução
sazonal. As variáveis bióticas e abióticas são as responsáveis pela determinação dos períodos
de repouso e de reprodução, aumentando a viabilidade dos gametas e favorecendo o
19
desenvolvimento inicial das larvas. O ciclo reprodutivo de peixes pode ser dividido em,
basicamente, quatro diferentes estágios de maturação gonadal (Bazzoli 2003):
I) repouso: menor tamanho registrado pelas gônadas;
II) em maturação: início do processo de gametogênese corresponde ao início do aumento no
tamanho e peso da gônada;
III) maduro: o dimorfismo sexual, que muitos peixes apresentam, fica evidente neste estádio.
Para as fêmeas, o ventre abaulado e as papilas genitais avermelhadas. Para os machos, leve
espermiação quando pressionado o abdome. Este é o estágio, teoricamente, mais indicado
para a indução hormonal em peixes.
IV) esgotado: é o período pós-desova, onde as gônadas apresentam flacidez e se reduzem de
tamanho após a eliminação dos gametas. Período responsável pela reorganização das gônadas
que em breve entrarão, novamente, em estado de repouso.
Os tipos de desova mais comuns são as desovas totais ou parceladas. Levando em
conta apenas um período reprodutivo, os peixes que possuem desova total liberam os ovócitos
maduros de uma só vez e os peixes que possuem desova parcelada os liberam ao longo do
período reprodutivo. A estratégia de liberação parcelada dos ovos se deve a fato que tende a
diminuir a predação da prole e a competição entre os indivíduos da prole por alimento e
abrigo (Godinho 2007).
2.2.2 – Preparação e seleção de reprodutores
A maioria das induções hormonais utiliza a hipófise desidratada de carpa (Cyprinus
carpio), diluída em soro fisiológico e aplicada em forma de extrato bruto. Entretanto, a
administração de hormônios não garante a postura. Para receber as doses hormonais é
necessário que as fêmeas e os machos se encontrem em estado final de maturação gonadal,
também conhecido como período de “dormência”, que consiste em uma condição gonadal
cíclica de sintonia entre as condições e estímulos ambientais e externos com os processos de
desova. Por isso, faz-se necessária a preparação e seleção dos reprodutores que garanta uma
maioria apta para a indução hormonal (Zaniboni-Filho e Weingartner 2007).
As condições bióticas e abióticas dos viveiros destinados às matrizes influenciam
fortemente as condições reprodutivas individuais de machos e fêmeas. Fatores como
temperatura da água, fotoperíodo, condutividade, oxigênio dissolvido, densidade de
20
estocagem, quantidade e qualidade do alimento podem interferir no processo fisiológico de
desenvolvimento, resultando em uma menor produção de alevinos. Vale ressaltar que um
correto manejo alimentar das matrizes impede a geração de ovos e larvas com quantidade de
vitelo insuficiente, o que pode comprometer a sobrevivência e um potencial zootécnico
inferior ao “pool” genético de origem (Andrade e Yasui 2003).
Apesar de ser vital para o processo produtivo de alevinos, a seleção dos reprodutores
aptos a indução hormonal ainda é feita por pessoas experientes e leva em consideração
dimorfismos sexuais aparentemente subjetivos. A sexagem, identificação de machos e fêmeas,
e a seleção dos reprodutores aptos à indução são realizadas ao mesmo tempo, geralmente, em
horário de pouca radiação solar e com uma quantidade mínima de peixes dentro da rede. As
fêmeas aptas à indução hormonal tendem a apresentar o abdômen abaulado e macio, além de
orifício genital proeminente e avermelhado. Para os machos, basta pressionar a cavidade
celomática que será expelida uma pequena quantidade de sêmen (Murgas et al. 2009).
Entretanto, existem trabalhos que abordaram formas menos subjetivas de avaliação do
momento reprodutivo destes animais, como a biópsia ovariana, para análise do diâmetro
médio dos ovócitos, distribuição de frequência dos diâmetros dos ovócitos (Fenerich-Verani
et al. 1984), posição do núcleo nos ovócitos, fator de condição relativo (Arias-Castellanos et
al. 2004) e, atualmente, a utilização da ultrassonografia tem sido empregada em algumas
espécies de clima temperado para a sexagem e determinação do estádio de maturação
gonadal, faltando ainda mais estudos com espécies de peixes nativos (Crepaldi et al. 2006b).
Mesmo assim, nem todos os indivíduos selecionados para a indução hormonal obtém sucesso
relativo à desova. É possível que fatores como estresse oriundo do manejo no momento da
sexagem e análise morfológica, além de condições abióticas dos viveiros destinados aos
reprodutores (temperatura, época do ano), contribuam para uma grande diferença entre o
potencial de ovos dos indivíduos selecionados e a desova final (Bock e Padovani 2000).
2.2.3 – Aspectos fisiológicos relacionados à reprodução em peixes migradores
O manejo de reprodutores envolve tanto a manipulação direta das condições
ambientais ou podem incluir o uso de hormônios exógenos. O tipo de hormônio, o protocolo
de administração desse hormônio e os procedimentos para a aquisição dos gametas podem
variar dependendo da biologia reprodutiva das espécies cultivadas, e um completo
entendimento do controle endócrino da gametogênese, maturação final e desova, é essencial
21
para o manejo apropriado das espécies. A proliferação, crescimento e diferenciação dos
gametas constituem a primeira fase reprodutiva (espermatogênese e vitelogênese), enquanto
que a maturação e preparação de oócitos e espermatozoides para liberação e fertilização
fazem parte da segunda fase reprodutiva.
Alguns peixes necessitam de estímulos ambientais para que o desenvolvimento
gonadal seja completado, pois, fatores ambientais relacionados à migração espacial,
profundidade e correnteza influenciam, diretamente, as glândulas responsáveis pela
sintetização e armazenamento de hormônios ligados ao processo reprodutivo. O sucesso na
reprodução não depende apenas de uma complexa interação entre o eixo cérebro-pituitária-
gônada e uma condição endócrina apropriada de um indivíduo, mas requer uma sincronização
entre dois indivíduos no momento exato da desova (Kah et al. 1993).
Para que o processo reprodutivo em peixes aconteça, os estímulos ambientais devem
ser identificados pelo hipotálamo, iniciando assim, a liberação de substâncias que atuam
diretamente sobre a liberação de gonadotrofinas, como os neuropeptídios (GnRH),
monoaminas (dopamina) e aminoácidos (GABA, taurina, glutamato e aspartato).
2.2.3.1 – GnRH
O GnRH é um decapeptídeo presente na maioria dos teleósteos e o principal
responsável pelo estímulo à hipófise para a liberação das gonadotrofinas FSH (hormônio
folículo estimulante, GtH I), responsável pela liberação de estradiol pelo ovário, pelo
crescimento gonadal, pela gametogênese e pela entrada de vitelogenina no ovócito, e o LH
(hormônio folículo estimulante, GtH II), importante para a maturação final dos ovócitos e dos
espermatozóides e sua liberação.
O controle do desenvolvimento e maturação gonadal é controlado pelo GtH I e II,
sendo que este é um dos aspectos mais estudados em relação aos mecanismos de ação do
GnRH. Uma relação inversa entre os níveis de GnRH cerebral (regiões bulbo-olfatórios,
telencéfalo, região pré–óptica e hipotálamo) e GtH–II pituitário em fêmeas próximas do
período de desova foi averiguado em algumas espécies (Peter e Yu 1997). Provavelmente, em
fêmeas e machos a ovulação e espermiação, respectivamente, somente ocorram em resposta à
liberação de GtH–II (Bombardelli et al. 2006).
As diferenças entre os padrões de expressão e liberação de GtH I e II apresentam
óbvias variações: serotonina e norepinefrina são estimulados pela liberação de GtH II
(Somoza e Peter 1991); β GtH I mRNAs estão presentes em todos os estágios da vitelogênese,
22
enquanto o β GtH II transcrito aumenta, principalmente, perto do período da ovulação (Weil
et al. 1995).
Três formas de GnRH (sGnRH, cGnRH–II, sbGnRH) presentes em “European Sea
Bass” (Dicentrarchus labrax, L.) permaneceram em níveis elevados durante o início da
diferenciação sexual, em comparação ao período de primeira maturação gonadal, o que parece
indicar que o GnRH parece controlar ou ativar o processo de diferenciação sexual em
telósteos (Rodríguez et al. 2000). Além de outras funções fisiológicas, como por exemplo, sua
ação estimulante olfatória (Andersen e Doving 1991), a presença de GnRH também está
relacionada com a síntese e secreção de GH, também conhecido como “hormônio do
crescimento” (Bombardelli et al. 2006), e em trutas arco-íris foi proposto que GnRH também
age como um estimulante olfatório
O aumento de estudos relacionados ao mapeamento do perfil de GnRH acarreta em
um maior conhecimento sobre o campo de atuação desse grupo de substâncias sobre a
fisiologia reprodutiva de peixes. O uso do GnRH nativo ou sintético (GnRHa) apresenta
diversas vantagens com relação ao uso de gonadotrofinas como forma de induzir a reprodução
em cativeiro: sintetizados quimicamente, não causam risco associado ao uso de pituitária de
carpa em peixes nativos; são capazes de proporcionar uma maior estimulação dos eventos
reprodutivos; aparentemente, são incapazes de desencadear resposta imune. A existência de
formas sintéticas de GnRHa traz consigo a capacidade de melhorar a resistência da circulação
sanguínea contra a degradação enzimática (Mylonas e Zohar 2001).
2.2.3.2 - Catecolaminas
Outro hormônio de elevada importância para a regulação do processo reprodutivo é a
dopamina. A dopamina age continuamente sobre o hipotálamo inibindo a liberação de GnRH
e, consequentemente, a maturação dos gametas sexuais. Se o hormônio inibidor (Dopamina)
não agisse continuamente sobre essa região do cérebro (hipotálamo), o GnRH seria liberado a
cada estímulo ambiental percebido. Quando os estímulos ambientais atingem níveis
otimamente recebidos pelo hipotálamo, o efeito inibitório da dopamina é eliminado e o GnRH
poderá agir nas glândulas hipofisárias, dando sequência no processo fisiológico da reprodução
(Fabbri et al. 1998).
23
2.2.4 – Tipos de indução à maturação gonadal
Os peixes reofílicos, ou seja, aqueles que invariavelmente migram para completar seu
ciclo reprodutivo necessitam de estímulos ambientais externos para que o sistema endócrino
ative a maturação gonadal final destes peixes. Como os sistemas aquícolas são lênticos, estes
estímulos externos não ocorrem, necessitando que haja estímulos artificiais. Na Tabela 01
estão descriminados os locais de atuação e as principais formas de indução de peixes
reofílicos (Andrade e Yasui 2003):
Tabela 01: Local de atuação e principais formas de indução utilizadas na propagação artificial de peixes
reofílicos
Local de Atuação Principais formas de indução
Hipotálamo Manipulação ambiental (fotoperíodo, temperatura, salinidade, condutividade),
anti-estrógenos, estresse, proporção macho:fêmea)
Hipófise Antagonistas de dopamina
Gônadas Hipófises desidratadas, gonadotropinas de peixe, gonadotropina coriônica
humana (hCG)
A aplicação hormonal intramuscular ou intrabdominal é realizada, principalmente, nas
posições abaixo das nadadeiras pélvicas e peitorais. A fase indicada para a administração
hormonal é durante a etapa final de maturação gonadal, ou seja, após a conclusão da
vitelogênese quando a atividade ovariana estabelece um período de “dormência” e entra em
sintonia com as condições ambientais e estímulos externos. Se não houver nenhum estímulo
ambiental ou hormonal, a maturação final e a desova não ocorrerão, gerando um estado de
reabsorção celular e reposicionamento gonadal. Havendo a indução hormonal ou ambiental,
haverá a migração do núcleo dos ovócitos para a periferia celular, sendo esta a fase final de
maturação dos ovócitos. A partir da liberação dos ovócitos, uma pequena hidratação romperá
o envelope folicular e completará o processo de ovulação (Godinho 2007).
24
3. OBJETIVOS
3.1 Objetivo Geral
Identificar os efeitos da época da indução hormonal sobre a qualidade da desova em
matrinxã (Brycon amazonicus).
3.2 Objetivos Específicos
3.2.1 Identificar a época ideal para a reprodução artificial de matrinxã;
3.2.2 Caracterizar a influência de condições edafoclimáticas sobre a fecundidade
relativa e absoluta de matrinxã;
3.2.3 Caracterizar a influência das variáveis biométricas sobre a fecundidade relativa e
absoluta de matrinxã;
3.2.4 Caracterizar o fator de condição (Kn) como ferramenta para seleção de matrizes
de matrinxã.
25
4. MATERIAL E MÉTODOS
4.1 Local do Experimento
O experimento foi desenvolvido nas instalações da Fazenda Santo Antônio (S
02°44’45,3 W 59°28’49,2), localizada na Rodovia Am-010, km 116 ME, Ramal do Procópio,
km 02 ME, município de Rio Preto da Eva/AM (Figura 01).
Figura 01: Imagem de satélite posicionando a Fazenda Santo Antônio em relação ao município de Manaus/AM e
Rio Preto da Eva/AM
4.2 Características dos Viveiros
As matrizes utilizadas neste experimento foram selecionadas do plantel existente na
propriedade, as quais foram mantidas em seis viveiros semiescavados de terra com tamanho
médio de 1.000 m2 e profundidade média de 1,6 m, cada. As matrinxãs utilizadas neste
experimento foram selecionadas do plantel existente na propriedade, as quais foram mantidas
em seis viveiros semiescavados de terra com tamanho médio de 1.000 m2 com profundidade
média de 1,6 m, na densidade de 10 animais para cada 100 m2. Os viveiros de
acondicionamento prévio foram divididos por meio de telas de fibra plástica, a fim de que o
número de capturas nas redes de arrasto fosse reduzido à metade, diminuindo o impacto de
despescas sobre a totalidade do lote. (Figura 02).
A água utilizada nestes viveiros foi proveniente de lençol freático, com renovação
reduzida, além de barragem à montante que auxilia no abastecimento. Os viveiros de
26
acondicionamento prévio das matrizes sofreram interferência da estação chuvosa (janeiro-
junho) e da estiagem (julho-dezembro). Em nenhum dos viveiros foi utilizado qualquer tipo
de aeração.
Figura 02: Imagem panorâmica da Fazenda Santo Antônio.
4.3 Fase Pré-Experimental
Todas as matrizes utilizadas no experimento fazem parte do plantel de reprodutores da
Fazenda Santo Antônio. Entre os meses de fevereiro e agosto, período latente para a
maturação gonadal da matrinxã, as matrinxãs foram submetidas a uma densidade de
estocagem de um reprodutor para cada 10 m2 e alimentadas com ração comercial extrusada
com 40% de proteína bruta, um dia a cada dois a 1,5% da biomassa (Honczaryk e Inoue
2009). Além do manejo alimentar e densidade de estocagem adequados, existe um
monitoramento relacionado a sanidade dos animais, sendo realizada inspeção sanitária
periódica em todos os viveiros destinados aos reprodutores. Os cuidados tomados pelo
proprietário do empreendimento no período de latência do sistema reprodutivo das matrizes
(fevereiro-agosto) é o que garante a viabilidade técnica e econômica da produção de alevinos
de matrinxã entre os meses de setembro e janeiro.
4.4 Período Experimental e Alimentação
O período experimental teve início no mês de setembro de 2011, com a seleção e
indução do primeiro grupo de reprodutores, e término em no mês de novembro de 2011, com
a extrusão e fertilização dos ovócitos das últimas matrizes destinadas ao experimento. A dieta
do plantel foi composta por ração comercial extrusada com 40% de proteína bruta, fornecida
diariamente a 1,5% da biomassa.
Barragem à montante
Telas plásticas
Galpão de Larvicultura
Viveiros acondicionamento prévio
Laboratório de Reprodução
27
4.5 Condução do experimento
O experimento foi iniciado por meio da observação de critérios morfológicos para
seleção de reprodutores: para as fêmeas buscou-se observar o abdômen levemente abaulado e
macio na parte posterior até a pélvis e papila genital proeminente e avermelhada. (Figuras 03
e 04).
Figuras 03 e 04: Despesca e seleção de matrizes.
Uma vez selecionados, os peixes foram transferidos em sacos plásticos para o
laboratório de reprodução (Figura 05), localizado na mesma propriedade, e estocados em
tanques de fibra de vidro, com volume de 1.400,0 L, renovação de água e aeração constante
(Compressor de ar BIG AIR A.420®) e cobertura com tela.
Figura 05: Características físicas do laboratório de reprodução.
Caixas de Fibra de Vidro, com tampa
Renovação de água
Aeração Constante
28
Todo o manejo necessário para a biometria das matrizes foi precedido de anestesia,
sendo o óleo de cravo (eugenol) utilizado como substância anestésica. A quantidade de 40
mg/L foi suficiente para anestesiar as matrizes durante o período de coleta dos dados
biométricos e extrusão dos ovos e sêmen (Inoue et al. 2003). Após a obtenção dos dados
biométricos, conforme a Tabela 02, foram calculadas as quantidades de EPC (mg.kg-1
de
matriz) (Extrato de Hipófise de Carpa) e soro fisiológico a ser aplicada em cada uma das
doses necessárias a reprodução artificial de matrinxã:
Tabela 02: Doses, intervalos e etapas necessárias para a reprodução artificial da matrinxã.
Etapas Intervalo Machos Fêmeas
1ª Dose Início - 0,25 mg.kg-1
2ª Dose 24 horas depois - 0,5 mg.kg-1
3ª Dose 36 horas depois 1,0 mg.kg-1
5,0 mg.kg-1
Desova e Fertilização A partir de 135 Horas Grau
Um ponto importante a ser destacado é a adaptação dos métodos de indução hormonal
descritos por Woynarovich e Hórvath (1983). Nos meses de setembro e outubro, o protocolo
de indução hormonal obedeceu à aplicação de três doses hormonais, seguidas de seus
intervalos e horas-grau necessários à eclosão dos ovos. Entretanto, a partir do mês de
novembro, foi aplicado o número de doses hormonais preconizado por Honczaryk e Inoue
(2009), onde a ausência de uma das três doses hormonais não alterou o sucesso das desovas
induzidas, contribuindo para um melhor aproveitamento dos recursos disponibilizados, como
tempo, mão-de-obra, soro fisiológico e EPC, dentre outros.
Tabela 03: Número de doses hormonais utilizadas na reprodução induzida da matrinxã.
Setembro e Outubro
Etapas Intervalos Machos(1)
Fêmeas
Primeira Dose Início - 0,25 mg.kg-1
Segunda Dose 24 horas depois - 0,50 mg.kg-1
Terceira Dose 36 horas depois 1,0 mg.kg-1
5,0 mg.kg-1
Desova e Fertilização A partir de 135 horas-grau
Novembro
Etapas Intervalos Machos Fêmeas
Primeira Dose Início - 0,50 mg.kg-1
Segunda Dose 12 horas depois 1,0 mg.kg-1
5,0 mg.kg-1
Desova e Fertilização A partir de 135 horas-grau
Durante a pesagem, os animais receberam marcas coloridas para que pudessem ser
facilmente identificados no decorrer da aplicação das doses hormonais. Após o cálculo das
dosagens para cada reprodutor e pesagem do EPC, de acordo com o peso de cada reprodutor
selecionado, as glândulas foram maceradas em cadinho juntamente com algumas gotas de
29
glicerina líquida até obtenção de uma mistura densa que, aos poucos, foi misturada com soro
fisiológico na proporção de 0,5 mL de mistura para cada quilo de reprodutor, sendo as
injeções aplicadas intraperitonealmente, abaixo da nadadeira peitoral (Woynarovich e
Horváth 1983).
As fêmeas foram separadas dos machos até o momento da aplicação da última dose
hormonal, sendo então agrupadas em tanques na proporção de duas fêmeas para cada macho.
A aplicação da solução hormonal de 1,0 mg de EPC.kg-1
nos machos aconteceu durante a
aplicação da dose final nas fêmeas apenas para haver um sincronismo entre o momento da
desova e o ápice da espermiação.
Foram realizados nove processos indutivos, sendo que 59 fêmeas desovaram com
sucesso. Durante os processos de indução hormonal das matrizes de matrinxã foram coletados
dados referentes ao número de doses preparatórias, dose hormonal, peso (g), comprimento
(cm) e massa ovocitária relacionada à fecundidade (g).
4.6 Identificação da época ideal para a reprodução artificial da matrinxã
Para identificar a época ideal para a reprodução artificial da matrinxã foram
considerados os dados de fecundidade absoluta FA (ovos extrusados (g)) e relativa FR (%)
([ovos extrusados(g)/peso da fêmea(g)]x100) das fêmeas. A partir da obtenção e análise
destes dados, pôde-se estimar a produção de ovos em cada um dos meses experimentais e em
todo o ciclo reprodutivo.
4.7 Caracterização da influência das variáveis biométricas sobre a fecundidade relativa e
absoluta de matrinxã;
Para caracterizar a influência das variáveis biométricas sobre a fecundidade relativa e
absoluta foram considerados o peso (cm), o comprimento (g) e a massa ovocitária (g)
extrusada por cada uma das matrizes. Os dados obtidos através destas correlações foram
comparados dentro de um mesmo mês e entre os meses experimentais.
4.8 Caracterização da influência das condições edafoclimáticas sobre a fecundidade relativa e
absoluta de matrinxã
Para caracterizar a influência dos fatores edafoclimáticos sobre fecundidade de
matrizes de matrinxã foram correlacionados os dados das desovas com os níveis
pluviométricos e de temperatura do ar (INMET 2012).
30
4.9 Avaliação do fator de condição (Kn) como ferramenta para seleção de matrizes de
matrinxã
Para caracterizar a influência dos fatores edafoclimáticos sobre fecundidade de
matrizes de matrinxã foram correlacionados os dados das desovas com os níveis
pluviométricos e de temperatura do ar (INMET 2012). Para avaliação das condições
fisiológicas das fêmeas utilizadas no experimento foi avaliado, individualmente, o fator de
condição relativo (Kn = Wt/We), por meio da razão entre o peso amostrado (Wt) e o peso
esperado (We), para um certo comprimento (Le Cren 1951). Os valores de peso (Wt) e
comprimento (Lt) das matrizes foram ajustadas conforme a relação Wt=a〖Lt〗^b, por meio de
estimação não-linear usando o algoritmo de Levenberg-Marquardt, no software Statistica 9.0
(StatSoft 2009). Os fatores de condição (Kn) obtidos através destas relações foram
comparados dentro de um mesmo mês e entre os outros meses experimentais.
4.10 Análise Estatística
Para determinação da época em que houve maior sucesso na produção de ovos, os
níveis de fecundidade relativa foram analisados por intermédio de ANOVA a 5% de
significância e para avaliar o fator de condição (Kn) foi aplicado o Teste t de Student a 5% de
significância em relação ao valor centralizador e análise de regressão simples para
identificação do grau de relação entre fecundidade e fator de condição (Bhujel 2008).
31
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A fecundidade total foi de 7.057 g de massa ovocitária, para fêmeas com o peso médio
de 1.315,9±307,04g. A produtividade média de ovos por fêmea foi de 119,61g, em média,
9,08% do peso vivo dos animais. A partir da obtenção dos dados biométricos (Tabela 03), a
relação peso.comprimento-1
ajustada para as fêmeas de matrinxã teve fator de condição igual
a 0,0988 (intervalo de confiança a 95% de -0,0088 a 0,2065) e coeficiente de alometria igual a
2,6506 (intervalo de confiança a 95% de 2,3489 a 2,9523) (Figura 06).
Tabela 04: Médias e desvio padrão dos dados biométricos das fêmeas utilizadas no experimento
Dados Biométricos Setembro Outubro Novembro Período Experimental
Peso (g) 1.211,4±201,8 1.427,8±345,1 1.217,6±256,7 1.315,9±307,0
Comprimento (cm) 35,6±1,9 36,6±3,0 34,5±2,9 35,8±2,8
Legenda: (g) = grama; (cm) = centímetros
22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44
L(cm)
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
2000
2200
2400
W(g
)
Figura 06: Relação peso.comprimento-1
e a curva ajustada para as fêmeas de matrinxã (Brycon amazonicus)
utilizadas no experimento
Aproximadamente 85% das fêmeas obtiveram desovas a partir de 60 g de massa
ovocitária e 46% das fêmeas apresentaram fecundidade relativa superior à 9,0 %, ou seja, em
geral, as fêmeas conseguiram converter, aproximadamente, 9,0% de seu peso vivo em ovos
(Figura 07). Testando algumas relações entre a fecundidade por fêmea (g) e os dados
biométricos coletados (Figura 08 e 09), pode-se afirmar que houve pouca interação entre a
fecundidade e as variáveis biométricas peso e comprimento pode-se afirmar que houve pouca
32
interação entre a fecundidade e as variáveis biométricas peso e comprimento. Resultado
semelhante foi obtido por Andrade et al. (2005), onde, analisando as características
reprodutivas de fêmeas de Leporinus copelandii em ambiente natural, consideraram que a
fecundidade correlaciona-se melhor com o peso das gônadas do que com fatores biométricos.
Figura 07: Frequência da fecundidade absoluta das fêmeas de matrinxã
Figura 08: Frequência da fecundidade relativa das fêmeas de matrinxã
0
2
4
6
8
10
12
Fre
quen
cia
Fecundidade Absoluta (g)
0
2
4
6
8
10
12
14
16
Fre
quen
cia
Fecundidade Relativa (%)
33
Figura 09: Relação fecundidade.peso-1
das fêmeas de matrinxã
Figura 10: Relação fecundidade.comprimento-1
das fêmeas de matrinxã
Analisando as relações fecundidade.peso-1
e fecundidade.comprimento-1
das induções
realizadas, pôde-se observar um crescimento gradativo e uniforme na interação dessas
variáveis, ou seja, quanto mais próximo do mês de novembro, maior foi o poder de interação
nas relações fecundidade.peso-1
e fecundidade.comprimento-1
(Tabela 05).
Tabela 05: Regressão linear simples e r-quadrado das relações fecundidade.peso-1
e fecundidade.comprimento-1
obtidas em cada um dos meses experimentais
Meses fecundidade.peso
-1 fecundidade.comprimento
-1
Regressão Linear R-quadrado Regressão Linear R-quadrado
Setembro y=-0,0105x+89,12 0,0034 y=-1,6635x+135,65 0,0073
Outubro y=0,043x+67,965 0,0849 y=6,3224x-102,05 0,1384
Novembro y=0,1377x-28,589 0,3725 y=12,122x-279,44 0,3618
y = 0,0621x + 37,932
R² = 0,1195
0
50
100
150
200
250
300
500 1000 1500 2000 2500
fecu
nd
idad
e (g
)
peso (g)
y = 6,3435x - 107,36
R² = 0,1064
0
50
100
150
200
250
300
30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43
fecu
nd
idad
e (g
)
comprimento (cm)
34
A reprodução induzida em cativeiro realizada por Dumont-Neto et al. (1997) na
Estação de Pesquisa e Desenvolvimento Ambiental de Volta Grande/MG utilizando matrizes
de dourado (Salminus maxillosus) também obteve as melhores desovas no mês de novembro,
porém, os autores não correlacionaram o resultado alcançado à fatores ambientais ou
sazonais.
A fecundidade relativa (razão entre a fecundidade (g) e o peso total (g)) foi importante
para estimar a época do ano mais produtiva em relação ao número de ovos produzidos. Após a
Análise de Variância, o valor de P<0,05 provou a diferença estatística entre as fecundidades
relativas médias dos meses amostrados e o gráfico de efeitos demonstrou que as fêmeas
induzidas no mês de novembro apresentaram melhor resultado produtivo que as fêmeas
induzidas nos meses anteriores, outubro e setembro, respectivamente (Figura 11).
Figura 11: Representação gráfica da interação entre a fecundidade relativa e os meses testados
Para explicar esta diferença na fecundidade foram utilizados os dados de temperatura
atmosférica (°C) e precipitação (mm) entre os meses de setembro e novembro (Figura 12, 13,
14 e 15) (INMET 2012). Analisando os dados médios de temperatura atmosférica, houve um
pequeno aumento entre setembro e novembro, porém, o aumento na produtividade de ovos
pode ser explicado pelo aumento no regime de chuvas. Se em setembro foi observada uma
precipitação acumulada de, aproximadamente, 50 mm, em outubro, o regime acumulado de
chuva aumentou para 150 mm, alcançando, no mês de novembro, o pico registrado no
período, com valor registrado de 250 mm. Ou seja, em dois meses, o índice pluviométrico
aumentou mais de 400%.
Gráfico de Efeitos
Meses
Fe
c__
Re
lativ
a
0.04
0.06
0.08
0.1
0.12
0.14
9 10 11Setembro Outubro Novembro
35
Variações sazonais na capacidade reprodutiva da matrinxã foram identificadas por
Soares et al. (2003) quando da análise do perfil bimestral de triiodotironina (T3) em matrizes
de Brycon cephalus. Após 16 meses e coleta de dados de 161 animais, concluíram que as
maiores concentrações de T3 coincidiram com o período de maior atividade reprodutiva e com
os meses com temperaturas mais elevadas.
Uma análise do comportamento reprodutivo da matrinxã, desenvolvida entre junho de
1998 e maio de 2000, foi realizada na parte central da Colômbia, ao norte da linha do
equador, que apresenta um regime de chuvas inverso ao observado na maior parte da
Amazônia brasileira. Levando em consideração os indicadores utilizados: índices
gonadossomático, hepatossomático e gorduro-viscerossomático, além da distribuição modal
do diâmetro dos ovócitos, Arias et al. (2006) concluíram que a época do ano que apresentou
os maiores níveis de pluviosidade, março a maio, coincidiu com o período de maior
fertilidade para machos e fêmeas desta espécie.
Do mesmo modo, Silva et al. (2009) avaliando características seminais e índices
reprodutivos de fêmeas e machos de curimba (Prochilodus lineatus) concluíram que as
melhores estimativas de fecundidade absoluta e taxa de fertilidade coincidiram com os meses
de dezembro e janeiro, quando ocorreu os maiores níveis de pluviosidade na região do estudo.
Figura 12: Precipitação acumulada registrada no município de Manaus durante o ano de 2011
36
Figura 13: Temperaturas registradas registrados no município de Manaus durante o mês de setembro de 2011
Figura 14: Temperaturas registradas no município de Manaus/AM durante o mês de outubro de 2011
Figura 15: Temperaturas registradas registrados no município de Manaus durante o mês de novembro de 2011
37
O fator de condição (Kn) é um indicador quantitativo do bem estar de um indivíduo,
refletindo nas condições nutricionais e nos gastos das reservas em atividades cíclicas
(Gomiero e Braga 2006; Tavares-Dias et al. 2008). Além disso é bastante utilizado na
avaliação da alimentação e de desequilíbrios ambientais, podendo, inclusive, indicar o período
reprodutivo e a viabilidade reprodutiva de algumas espécies de peixes (Gomiero e Braga,
2005).
Após a obtenção dos valores de Kn para todas as fêmeas (Figura 18), foi aplicado o
Teste t de Student para comparação estatística em relação ao valor centralizador (Ho: Kn =
1,0; α = 0,05) (Figura 16). A partir da análise estatística, pode ser concluído que houve
diferenças estatísticas significativas entre o Kn dos animais utilizados, porém, o fator de
condição (Kn) não demonstrou ser uma forma, totalmente, confiável de seleção de matrizes,
já que não foi encontrada relação entre os valores de Kn e a fecundidade dos animais (Figura
17). Não houve diferença estatística entre a fecundidade de fêmeas que apresentaram Kn > 1,0
(45,8% das fêmeas apresentaram fecundidade média de 126,4 g de ovos) e Kn < 1,0 (54,2%
das fêmeas apresentaram fecundidade média de 117,13 g de ovos), apesar das fêmeas com Kn
< 1,0 apresentarem um maior desvio em torno da fecundidade média.
Figura 16: Representação gráfica do Teste T de Student aplicado nos valores de Kn, tendo como referência o
valor centralizador de 1,0 (H0 = 1,0)
H0 = 1 Conf: 0,95 Hipótese: diferente de 1
0.5 1.0 1.5
38
Figura 17: Relação Fator de Condição (Kn) e fecundidade (g)
O estudo conduzido por Andrade-Talmelli et al. (1999) avaliou o fator de condição
relativo (Kn) como instrumento para seleção de fêmeas de piabanha (Brycon insignis) aptas à
indução hormonal. Entre os meses de dezembro/1995 e fevereiro/1996, 75 fêmeas foram
selecionadas para indução por meio de análise morfológica dos indivíduos e extração dos
ovócitos por canulação. Ao final do experimento, 84% das fêmeas que responderam
positivamente ao processo de desova apresentaram Kn > 1,0, e 100% das fêmeas que não
responderam ao processo de indução hormonal apresentaram Kn < 1,0.
Resultados semelhantes foram obtidos com o uso do fator de condição relativo (Kn)
como instrumento de seleção de fêmeas aptas à reprodução induzida em cinco espécies
reofílicas da bacia do rio São Francisco: Brycon lundii, Salminus brasiliensis, Leporinus
elongatus, Prochilodus affinis e Prochilodus marggravii (Verani et al., 1997). Da mesma
forma, Romagosa et al. (2001) concluíram que o fator de condição (Kn) acima de 1,0 garante
uma resposta positiva ao tratamento hormonal em fêmeas de matrinxã (Brycon cephalus),
além da alta taxa de fertilização e larvas de boa qualidade. Já algumas fêmeas que tiveram
respostas positivas frente ao processo de indução hormonal, mas, apresentaram Kn < 1,0,
finalizaram o processo de indução hormonal demonstrando baixas taxas de fertilização.
Todavia, ambos os trabalhos citados anteriormente não estudaram relações entre fecundidade
e Kn e não procuraram observar a relação existente entre matrizes e os fatores
edafoclimáticos, como temperatura e pluviosidade.
y = 105,68x0,5514
R² = 0,009
0
50
100
150
200
250
300
0,6 0,8 1 1,2 1,4
fecu
nd
idad
e (g
)
Kn
39
Trabalho conduzido por Tavares-Dias et al. (2008), utilizando juvenis de matrinxã
(Brycon amazonicus) e tambaqui (Colossoma macropomum) oriundos da Coordenação de
Pesquisa em Aquicultura (CPAQ) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA),
observaram a normalidade de ambas as espécies nas relações peso esplênico.peso corporal-1 e
peso hepático.peso corporal-1, considerando uma correlação positiva como um fator
importante nas características biológicas intrínsecas a proporcionalidade das espécies.
6. CONCLUSÃO
1) Entre os meses testados, o mês de melhor fecundidade relativa média é o de novembro;
2) Meses mais chuvosos favorecem melhores desovas;
3) As variáveis biométricas peso total, comprimento padrão e fator de condição (Kn) não
influenciam na fecundidade de matrinxã;
40
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48
ANEXOS
49
Dados biométricos das fêmeas de matrinxã
Fêmea Peso (g) Comprimento (cm) Fêmea Wt (g) Lt (cm)
09.01 1340 37 10.17 1015 32
09.02 1100 35 10.18 1593 38
09.03 920 34 10.19 1250 35
09.04 1540 40 10.20 1300 35
09.05 1460 34 10.21 1200 34
09.06 1400 36 10.22 1300 37
09.07 1100 36 10.23 1400 36
09.08 1400 37 10.24 1200 35
09.09 1200 35 10.25 1100 33
09.10 1100 34 10.26 1300 34
09.11 900 33 10.27 1000 33
09.12 1300 38 10.28 1340 36
09.13 1000 35 11.01 1550 39
09.14 1200 35 11.02 1550 39
10.01 1500 38 11.03 1100 33
10.02 1300 36 11.04 950 31
10.03 1000 33 11.05 1100 33
10.04 1400 37 11.06 1900 41
10.05 1500 37 11.07 1100 34
10.06 1700 39 11.08 1000 32
10.07 1500 40 11.09 1000 33
10.08 1200 36 11.10 1100 34
10.09 1500 38 11.11 950 32
10.10 2250 42 11.12 1300 34
10.11 1650 41 11.13 1300 36
10.12 2150 42 11.14 1400 37
10.13 2150 42 11.15 1100 32
10.14 1800 39 11.16 1200 34
10.15 900 32 11.17 1100 33
10.16 1480 35
Legenda: (Wt) = Peso; (Lt) = Comprimento
50
Fecundidade absoluta e relativa das fêmeas
Fêmea Fec. Absoluta (g) Fec. Relativa (%) Fêmea Fec. Absoluta (g) Fec. Relativa (%)
09.01 (Set) 40 2,99 10.17 (Out) 100 9,85
09.02 (Set) 60 5,45 10.18 (Out) 115 7,22
09.03 (Set) 56 6,09 10.19 (Out) 100 8,00
09.04 (Set) 40 2,60 10.20 (Out) 100 7,69
09.05 (Set) 37 2,53 10.21 (Out) 115 9,58
09.06 (Set) 80 5,71 10.22 (Out) 100 7,69
09.07 (Set) 60 5,45 10.23 (Out) 110 10,00
09.08 (Set) 155 11,07 10.24 (Out) 110 9,17
09.09 (Set) 130 10,83 10.25 (Out) 20 1,82
09.10 (Set) 125 11,36 10.26 (Out) 110 8,46
09.11 (Set) 70 7,78 10.27 (Out) 120 12,00
09.12 (Set) 80 6,15 10.28 (Out) 90 6,72
09.13 (Set) 80 8,00 11.01 (Nov) 210 13,55
09.14 (Set) 56 4,67 11.02 (Nov) 160 10,32
10.01 (Out) 120 8,00 11.03 (Nov) 90 8,18
10.02 (Out) 220 16,92 11.04 (Nov) 140 14,74
10.03 (Out) 250 25,00 11.05 (Nov) 30 2,73
10.04 (Out) 120 8,57 11.06 (Nov) 240 12,63
10.05 (Out) 180 12,00 11.07 (Nov) 50 4,55
10.06 (Out) 120 7,06 11.08 (Nov) 200 20,00
10.07 (Out) 175 11,67 11.09 (Nov) 100 10,00
10.08 (Out) 115 9,58 11.10 (Nov) 140 12,73
10.09 (Out) 46 3,07 11.11 (Nov) 120 12,63
10.10 (Out) 170 7,56 11.12 (Nov) 110 8,46
10.11 (Out) 210 12,73 11.13 (Nov) 200 15,38
10.12 (Out) 180 8,37 11.14 (Nov) 180 12,86
10.13 (Out) 187 8,70 11.15 (Nov) 120 10,91
10.14 (Out) 110 6,11 11.16 (Nov) 180 15,00
10.15 (Out) 120 13,33 11.17 (Nov) 95 8,64
10.16 (Out) 80 5,41
Legenda: (Set) = Setembro; (Out) = Outubro; (Nov) = Novembro; (Fec.) = Fecundidade
51
Relações fecundidade.peso-1
y = -0,0105x + 89,12 R² = 0,0034
0
50
100
150
200
250
300
500 1000 1500 2000 2500
fecu
nd
idad
e (g
)
peso das fêmeas (g)
setembro
y = 0,043x + 67,965 R² = 0,0849
0
50
100
150
200
250
300
500 1000 1500 2000 2500
fecu
nd
idad
e (g
)
peso das fêmeas (g)
outubro
y = 0,1377x - 28,589 R² = 0,3725
0
50
100
150
200
250
300
500 1000 1500 2000 2500
fecu
nd
idad
e (g
)
peso das fêmeas (g)
novembro
52
Relações fecundidade.comprimento-1
y = -1,6635x + 135,65 R² = 0,0073
0
50
100
150
200
250
300
30 32 34 36 38 40 42
fecu
nd
idad
e (g
)
comprimento das fêmeas (cm)
setembro
y = 6,3224x - 102,05 R² = 0,1384
0
50
100
150
200
250
300
30 32 34 36 38 40 42 44
fecu
nd
idad
e (g
)
comprimento das fêmeas (g)
outubro
y = 12,122x - 279,44 R² = 0,3618
0
50
100
150
200
250
300
30 32 34 36 38 40 42
fecu
nd
idad
e (g
)
comprimento das fêmeas (cm)
novembro