educaçao multicultural

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A EDUCAÇÃO MULTICULTURAL X A EDUCAÇÃO DOS POVOS INDÍGENAS DA AMAZÔNIA BRASILEIRA Airam da Silva Barros 1 Hebert José Balieiro Teixeira 2 Leonides Campos Garcia Filha 3 RESUMO: Este artigo elaborado para a disciplina de Sociedades Indígenas, do Curso de Pedagogia, da Universidade do Estado do Amazonas aborda a questão da pluralidade cultural no espaço escolar, tentando reduzir o olhar etnocêntrico sobre os povos nativos. A educação multicultural pretende enfrentar o desafio de manter o equilíbrio entre a cultura local e a universal. Mas, o acesso à educação ainda é de difícil acesso a alguns grupos por várias razões questionáveis, como por exemplo, os grupos indígenas que vivem nas cidades, que por terem uma cultura diferente do branco. Este estudo é de cunho bibliográfico, a qual foi realizada as leituras sobre o tema proposto e o fichamento das obras lidas a qual configurou na construção deste texto. Apresentando a realidade da educação multicultural na Amazônia e fazendo uma breve análise das políticas públicas para a educação indígena no Amazonas. Percebemos que alguns avanços para a inclusão das sociedades indígenas no processo educacional diferenciado contribuíram na diminuição da visão etnocentrista do homem branco sobre as sociedades indígenas, porém, há muito a ser realizado. Este trabalho é de grande relevância para a sociedade pelo fato de alertar sobre o olhar etnocêntrico do homem branco sobre o nativo e ainda de mostrar que o índio tem um olhar próprio diferente do homem branco, e que deve ser respeitado como diferente. PALAVRAS-CHAVE: Educação, Povos indígenas, Pluralidade cultural, educação multicultural, Políticas públicas. Introdução Os educadores percebem o contraste existente entre o material didático disponível sobre o assunto e as informações cotidianamente veiculadas sobre a atuação dos povos indígenas no cenário político nacional. Mesmo tratando estas populações de forma preconceituosa ou idealizada, os noticiários acabam revelando que os povos indígenas são nossos contemporâneos e fazem parte de nosso país. * Trabalho apresentado no Congresso Internacional de Estudantes Universitários (CIEURA), Polo UFAM, Benjamin Constant, Amazonas, Brasil, 2009. 1 2 3 Acadêmica do curso de Pedagogia da Universidade do Estado do Amazonas/UEA. Avenida Darcy Vargas, 2470, Chapada. 69050-010.

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Page 1: Educaçao multicultural

A EDUCAÇÃO MULTICULTURAL X A EDUCAÇÃO DOS POVOS

INDÍGENAS DA AMAZÔNIA BRASILEIRA

Airam da Silva Barros1 Hebert José Balieiro Teixeira2

Leonides Campos Garcia Filha3

RESUMO: Este artigo elaborado para a disciplina de Sociedades Indígenas, do Curso de Pedagogia,

da Universidade do Estado do Amazonas aborda a questão da pluralidade cultural no espaço escolar, tentando reduzir o olhar etnocêntrico sobre os povos nativos. A educação multicultural pretende enfrentar o desafio de manter o equilíbrio entre a cultura local e a universal. Mas, o acesso à educação ainda é de difícil acesso a alguns grupos por várias razões questionáveis, como por exemplo, os grupos indígenas que vivem nas cidades, que por terem uma cultura diferente do branco. Este estudo é de cunho bibliográfico, a qual foi realizada as leituras sobre o tema proposto e o fichamento das obras lidas a qual configurou na construção deste texto. Apresentando a realidade da educação multicultural na Amazônia e fazendo uma breve análise das políticas públicas para a educação indígena no Amazonas. Percebemos que alguns avanços para a inclusão das sociedades indígenas no processo educacional diferenciado contribuíram na diminuição da visão etnocentrista do homem branco sobre as sociedades indígenas, porém, há muito a ser realizado. Este trabalho é de grande relevância para a sociedade pelo fato de alertar sobre o olhar etnocêntrico do homem branco sobre o nativo e ainda de mostrar que o índio tem um olhar próprio diferente do homem branco, e que deve ser respeitado como diferente.

PALAVRAS-CHAVE: Educação, Povos indígenas, Pluralidade cultural, educação multicultural, Políticas públicas.

Introdução

Os educadores percebem o contraste existente entre o material didático

disponível sobre o assunto e as informações cotidianamente veiculadas sobre a

atuação dos povos indígenas no cenário político nacional. Mesmo tratando estas

populações de forma preconceituosa ou idealizada, os noticiários acabam revelando

que os povos indígenas são nossos contemporâneos e fazem parte de nosso país. * Trabalho apresentado no Congresso Internacional de Estudantes Universitários (CIEURA), Polo UFAM, Benjamin Constant, Amazonas, Brasil, 2009. 1

2

3 Acadêmica do curso de Pedagogia da Universidade do Estado do Amazonas/UEA. Avenida Darcy

Vargas, 2470, Chapada. 69050-010.

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O ensino aos alunos sobre a situação política, econômica e social do país, é

também fornecer-lhe informações mais corretas e menos preconceituosas a respeito

dos povos indígenas.

Trabalhar o tema indígena com os alunos é também fazê-los conhecer melhor a

realidade do país exercitando o respeito à diferença em geral. Será justamente da

diversidade cultural que podemos traçar um panorama das sociedades indígenas.

Pretendemos analisar o tema da diversidade cultural segundo os enfoques das

diferenças entre as sociedades indígenas e a sociedade dos “brancos”.

Alguns dos termos que nossa sociedade impõe às sociedades indígenas são

carregados de preconceitos, que valorizam o nosso modo de vida e relegam àquelas

sociedades que convencionamos chamar de indígenas.

É a partir desse contraste mais amplo com os “brancos”, que diferentes etnias

vêm assumindo esta identidade genérica de “índios”.

Reconhecemos como semelhantes aquelas características que são comuns à

espécie humana: Todos nós atribuímos significado ao mundo e às nossas ações, todos

nós vivemos em sociedades e estabelecemos maneiras de relacionamento entre as

pessoas, todos nós elaboramos formas de contar o tempo e de explicar o devir histórico

e não poderia ser diferente com os indígenas.

1. A pluralidade cultural Amazônica

A Amazônia é composta por uma vasta pluralidade cultural, pois existem várias

culturas em uma mesma região, numa área tão imensa a ponto de cada povo se

distinguir através da sua diversidade, como afirma Hébette (2000, p. 04)4, “A Amazônia”

é feita de diversas sociedades, muito diferentes: as sociedades indígenas (são muitas!),

as sociedades ribeirinhas (‘caboclas’), as sociedades em formação nas áreas de

colonização, para citar apenas alguns grandes agrupamentos”.

Quando a pluralidade cultural é abordada em debates educacionais, questões

são apresentadas sobre como trabalhar esse tema em uma sociedade que não valoriza

4 HÉBETTE, Jean. Que Amazônia foi construída nos últimos 25 anos? In: OLIVEIRA, José Aldemir e Pe.

Humberto Guidotti. A Igreja arma sua tenda na Amazônia. Manaus: Universidade do Amazonas, 2000.

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a cultura do outro. Nossa sociedade possui traços marcantes das diversas culturas

indígenas, que ao invés de serem valorizadas são discriminadas como culturas

inferiores. No olhar etnocêntrico do branco, o nativo ainda está em vias de

aperfeiçoamento e evolução, só pelo fato do mesmo estigmatizado por viver na floresta

e não em uma sociedade complexa e industrializada que a do branco.

Esta visão precisa ser mudada para que de fato este pensamento de ser superior

desenraize da ideia de que há culturas superiores e inferiores. Não há superioridade ou

inferioridade cultural, o que há é as diferentes culturas que correspondem aos

interesses particulares próprios de cada sociedade. Essa diferença é definida como

identidade cultural, ou seja, as particularidades que cada sociedade possui em relação

à outra cultura. Mas, como as sociedades indígenas são conhecidas?

Os povos indígenas possuem sua própria maneira de representar o mundo

sobrenatural, ou seja, aquilo que não pode ser explicado de forma racional e lógica,

uma delas é através das narrativas de conteúdo altamente simbólico que tratam das

origens do mundo, de tempos ancestrais diferentes do nosso, dos seres que nele

habitavam e que foram responsáveis pela criação da atual humanidade, pelas demais

espécies e por suas capacidades.

As várias esferas da vida social encontram-se imbricadas de tal forma que nunca

podemos analisá-las isoladamente. Não podemos atingir a dimensão de totalidade que

caracteriza a vida social dos povos indígenas a partir da nossa forma linear de escrita

que divide os fenômenos em suas várias partes para descrevê-lo.

Enquanto para a compreensão da nossa sociedade são adequados os temas

como economia, política e religião, outros podem ser mais explicativos para as

sociedades indígenas, como é o caso da relação do índio com a natureza, com o

mundo sobrenatural e com a sociedade, termos que aparecem em muitos estudos

sobre cosmologias indígenas e que por isso podem, em certa medida, ser considerados

pertinentes aos seus sistemas de classificação do mundo.

2. A escola regular e a educação multicultural

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A escola regular ainda tem o pensamento elitista reprodutora impondo os valores

e os conceitos da classe média à camada popular, não conseguindo unir a “cultura

elaborada” com a “cultura popular”, e por isso não conseguiu resolver a questão de uma

educação de qualidade e igualitária para todos.

Segundo Gadotti (1992, p. 20)5,

Apesar de muitas pesquisas e estudos, os nossos currículos não conseguiram equacionar adequadamente a relação entre a identidade cultural e o itinerário educativo dos alunos provenientes das camadas populares. Os nossos currículos ainda apresentam aos alunos um pacote de conhecimentos que eles devem aprender, tenham ou não significados para eles. Eles são avaliados – aprovados ou reprovados – em função da assimilação ou não desse pacote de conhecimentos.

A teoria de uma educação multicultural vem de contraponto ao nosso currículo

atual valorizando a capacidade de pensar com autonomia do estudante, essa teoria

prega o pluralismo e o respeito à cultura do estudante, propondo-se instaurar a

equidade e o respeito mútuo superando preconceitos.

Para Gadotti (1992, p. 21), “A educação multicultural pretende enfrentar o desafio

de manter o equilíbrio entre a cultura local, regional, própria de cada grupo social ou

minoria étnica, e uma cultura universal, patrimônio hoje da humanidade”. Mas, o acesso

à educação ainda é de difícil acesso a alguns grupos por várias razões questionáveis,

como por exemplo, os grupos indígenas que vivem nas cidades, que por terem uma

cultura diferente do branco são discriminados por professores mal qualificados, sendo

excluídos mesmo estando em sala de aula.

A educação multicultural pretende analisar os currículos atuais procurando

formar professores críticos, para que estes possam se despojar dos seus preconceitos

culturais e elaborarem novas metodologias para os estudantes das camadas populares,

compreendendo-as na totalidade da sua cultura e visão de mundo.

5 GADOTTI, Moacir – Diversidade Cultural e Educação para Todos. Rio de Janeiro: Graal, 1992, p. 19-

23.

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A educação multicultural procura resolver os problemas criados pelas diversas

culturas em sala de aula e ao mesmo tempo procura apontar estratégias para

superação desses problemas. Por isso a escola tem que ser local no seu ponto de

partida e sendo internacional e intercultural como ponto de chegada.

A autonomia de uma escola não significa que esteja isolada, fechada para outras

culturas. Escola autônoma significa escola ousada, curiosa, procurando dialogar com

outras culturas e concepções de mundo.

O pluralismo significa o diálogo com as outras culturas a partir de uma cultura

que se abre às demais como afirma Gadotti (1992, p. 23/24),

Mas a escola sozinha não pode dar conta dessa tarefa. Por isso, ela, numa perspectiva intercultural da educação, alia-se a outras instituições culturais. Daí a necessidade de ser autônoma sem autonomia não poderá ser multicultural. Ela deve possibilitar a seus alunos o contato com alunos de outras escolas, possibilitar viagens, encontro de toda sorte de projetos, próprios de cada escola , que a constituam num organismo vivo e atuante no seio da própria sociedade.

A escola isolada não pode participar do diálogo com as outras por se manter

fechada. Daí a necessidade da interculturalidade com as outras instituições e por isto a

escola deve ser autônoma possibilitando aos alunos o conhecimento das outras

culturas.

3. Políticas públicas para a educação indígena no Amazonas.

A educação nos moldes em que os povos indígenas sempre reivindicaram foi

uma conquista puramente do movimento indígena, sendo um desafio para o poder

público estadual e municipal amazonense assegurá-lo.

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De acordo com Albuquerque (2007, p. 64)6, “A especificidade da educação

indígena é um direito garantido pela legislação do país, e somente os indígenas,

detentores dessa especificidade, poderão dizer que modelo de educação e escola está

adequado a seus modos próprios de viver, pensar e ser”.

As políticas indigenistas amadureceram no país, pois deixaram de conceber o

índio fadado ao desaparecimento e passaram a reconhecer os índios como indivíduos

aptos ao exercício de seus direitos e deveres respeitando a sua diferença cultural. Pois

para Albuquerque (2007, p. 65/66),

Os princípios firmados nesses dispositivos refletem o amadurecimento da política indigenista do país, que deixa de conceber o índio como um segmento social fadado ao desaparecimento, passando a ser visto como indivíduos aptos ao exercício de seus direitos e de sua cidadania, visto que reconhecem os direitos dos povos indígenas e a “sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições”, enquanto sociedades diferenciadas, “e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam”.

No ensino fundamental regular para os povos indígenas é assegurada a

utilização de suas línguas maternas e da utilização de metodologias que facilitem a

aprendizagem de acordo com a sua tradição.

A escola indígena deve ser autônoma garantindo a participação de cada

comunidade indígena nas decisões relativas ao funcionamento da escola. Por sua vez,

a política educacional indígena no Estado do Amazonas vem se reorganizando e

buscando promover uma educação intercultural e diferenciada para os mesmos.

A responsabilidade estadual em assegurar a educação aos povos indígenas vem

garantindo, assim, a autonomia e soberania dos povos indígenas.

Segundo Albuquerque (2007, p. 87), “Outro ponto definido na Resolução

Estadual de 2001 é que a escola indígena será reconhecida como estabelecimento de

ensino no âmbito da educação básica localizada em terras indígenas”.

6 ALBUQUERQUE, Leonízia0 Santiago de. As políticas públicas para a educação Indígena no

Amazonas. In: MONTEIRO, Aída (org.) – Educação para Diversidade e Cidadania. Concurso Nacional de Monografias. MEC/SECAD- ANPED. Recife: Ed. Do Organizador, 2007.

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Correspondendo, desta feita, ao projeto de vida de cada etnia, e não mais o querer dos

etnocêntricos brancos.

O Projeto Político-Pedadagógico da escola indígena tem que respeitar a cultura

de cada etnia. E a formação dos professores indígenas propõe o conhecimento mais

próximo da realidade dos povos indígenas para facilitar a aprendizagem, através de

didáticas próprias ao currículo dos povos indígenas.

Considerações finais

Compreendemos que trabalhar este tema é também fazer com que a sociedade

conheça melhor a realidade do país exercitando o respeito à diferença em geral dos

diversos povos existentes em nossa nação.

A pluralidade cultural na escola busca não o modelo que prioriza ora os

conhecimentos da sociedade ocidental, ora os conhecimentos das sociedades

indígenas, mas garante que a escola seja um espaço que reflita a realidade de diversos

povos como no caos dos indígenas, na relação atual entre essas diferentes sociedades,

pensando em sua integração nos processos educacionais nas escolas estaduais,

municipais e nas aldeias.

Percebemos que alguns avanços para a inclusão das sociedades indígenas no

processo educacional diferenciado contribuíram na diminuição da visão etnocentrista do

homem branco sobre as sociedades indígenas, porém, há muito a ser realizado.