educação inclusiva
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inclusão na educação formalTRANSCRIPT
Educação inclusiva limites e perspectivas
OLIVEIRA, Marinalva
Mestranda do Programa de Pós Graduação em Gestão e Práticas Educacionais
Universidade Nove de Julho- UNINOVE
Linha de Pesquisa: Práticas Políticas Sociais.
Eixo temático: 13 - Políticas Públicas. Comunicação Oral
E-mail: [email protected]
Resumo
Trata-se de relato de uma atividade de intervenção, realizada no âmbito do Programa
Escola Cidadã desenvolvido na rede Municipal de Osasco. Referenciar o Manifesto dos
Pioneiros, (1932) é recorrer ao ideário de uma educação pública comprometida, com a
equiparação e o direito de aprender de todos. O município de Osasco atendendo a
política pública de educação Inclusiva implantou o Programa de Educação Inclusiva
(PEI) e com ele surgiu à experiência do atendimento domiciliar para um aluno com
deficiência, uma síndrome identificada como miopatia miotubular, este vive em home
care, respira com ajuda de respirador através da traqueostomia tem as funções
cognitivas preservadas. No segundo semestre de 2011 a mãe procurou a Secretaria de
educação com encaminhamento médico, solicitando a matricula no ensino fundamental.
Este atendimento era novidade para a rede, por meio de portaria específica, é
estabelecido critérios e normas para que se concretizasse a matricula. Em março de
2012 o atendimento teve inicio com a ida da professora duas vezes por semana na casa
da criança. Com as idas, a professora percebeu a facilidade que o menino tinha para
aprender, e sua vontade de ir á escola. Então resolvemos levar o ambiente da sala de
aula até o menino, e com a parceria da equipe escolar, instalamos na sala de aula um
data show com webcan para a transmissão das aulas, a iniciativa deu certo, a professora
continua visitando o menino em dois dias da semana e os outros compartilha a aula via
internet. O atendimento continua no mesmo modelo, com a mesma professora e a turma
que estão no segundo ano.
Palavras chave: Política Pública, Escola Cidadã, Educação Inclusiva.
Introdução
A experiência descrita neste trabalho é um caso de atendimento educacional domiciliar
realizado numa escola municipal da rede pública da cidade de Osasco1, município
paulista.
A gestão Municipal (durante os anos 2005-2012), por meio da secretaria de educação,
iniciou um trabalho intenso de problematização a respeito da situação da educação das
crianças com e sem deficiência, na faixa etária de atendimento da Educação Infantil e
do Ensino Fundamental (1º ao 5º ano, de acordo com a legislação do Ensino
Fundamental de nove anos). Nesta perspectiva, as diretrizes da política educacional
apontaram para: 1) democratização do acesso e garantia da permanência com qualidade
social; 2)democratização da gestão; 3) democratização do conhecimento na construção
da qualidade social da educação e; 4) Valorização dos profissionais da educação.
O desenvolvimento dessas Diretrizes impulsionou a implementação da escola cidadã e
inclusiva, visando ao atendimento da diversidade presente na rede municipal de ensino.
Os marcos legais referenciais que pautaram o desenvolvimento do currículo estão
presentes na: Constituição Federal (1988), Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB 93.94/96), Lei nº 10.639/032, Lei nº11. 645/08, Lei nº 11.274/06, na
Convenção da ONU de 2008 pelos Direitos das pessoas com deficiência, no Decreto
nº06.571 que dispõe sobre o Atendimento educacional especializado (AEE), no Estatuto
da criança e do Adolescente e na Política Nacional de Educação Especial na
perspectiva da educação Inclusiva, desenvolvida pelo Ministério da educação.
Foi sobre essas diretrizes e marcos legais que a política educacional se desenvolveu, e
com ela, a proposta de construção de uma escola pública de melhor qualidade que
pudesse atender e garantir aprendizagem significativa de todos os alunos, independente
de cor, religião, etnia, sexo, classe social, e deficiências. Para que possamos entender a
situação descrita é preciso buscar o contexto que desencadeou o que hoje é chamado de
política de educação inclusiva na rede municipal.
A política de educação inclusiva na cidade de Osasco constitui-se a partir do programa
Escola- Cidadã em parceria com o Instituto Paulo Freire, e desencadeou uma sequência
de ações nas escolas municipais, desde a elaboração do plano de trabalho anual (PTA) e
do Projeto político Pedagógico, que de forma inovadora incorpora a dimensão ‘eco”, até 1 É a sexta maior cidade do estado de São Paulo e a vigésima sexta cidade do País, com uma área de 64.935 Km² e 666.740 habitantes. (fonte IBGE-2011) 2 Lei que altera o artigo 24 da LDB e insere o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, nas escolas brasileiras e posteriormente a Lei 11.645 que dá nova orientação, quanto a temática indígena.
à ressignificação dos espaços para melhor atender as crianças de seis anos de idade, no
ensino fundamental de nove anos, alinhada a reorientação curricular da rede.
Modificando situações e rompendo paradigmas educacionais que estavam adormecidos,
a rede é chamada para repensar sua prática e discutir a formação do sujeito, a luz da
concepção, histórico- social na perspectiva freireana de educação.
Que geraram muitas perguntas e uma mais frequente era: Por que a opção por uma
escola cidadã? Uma rede composta por 136 unidades educacionais e aproximadamente
65.000 alunos de todas as modalidades, creche, pré-escola, ensino fundamental I e
educação de jovens e adultos, tinha como desafio a reestruturação da escola pública e o
entendimento que a educação é pré-condição para o desenvolvimento e estabelecimento
da justiça social. Por isso a opção por uma escola cidadã, que para Favarão (org.),
(2009, p.13). Ela é a escola que contribui para criar condições que viabilizem a
cidadania, por meio da socialização da informação, da discussão, da
transparência, da ética. Numa perspectiva cidadã, a escola deve educar
para ouvir, respeitar, valorizar e conviver com as diferenças. As
diferenças exigem uma nova escola, uma escola autônoma, capaz de
dar vida aos sonhos, capaz de construir sentido para a vida das
pessoas.
Foi com o objetivo de dar sentido à vida de mais de 60.000 crianças que a secretaria
municipal de educação, começou a modificar o cenário educacional de Osasco, que no
ano de 2005 denunciava uma rede que almejava por mudanças, das quais nos
atentaremos apenas para um aspecto que é a origem deste trabalho, implantação da
política de educação inclusiva nas escolas municipais. Com base na Lei de Diretrizes e
bases da Educação Nacional, especificamente no artigo Art. 59. Inciso I. “Os sistemas
de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais”.
I – “currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização, específicos, para
atender às suas necessidades” caberia então colocar em desenvolvimento estratégias e
ações que dessem conta do que está preconizado na lei, de fato a amplitude do trabalho
foi ocorrendo, e em 2007 a secretaria coerente, buscou parceria com a ONG Mais
Diferença.3 Surgiu o Programa de Educação inclusiva (PEI) neste as ações propostas
eram específicas para o atendimento das crianças com deficiência matriculadas na rede
3 A Mais Diferenças é uma associação qualificada como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) pelo Ministério da Justiça e como Entidade Promotora de Direitos Humanos, pela Secretaria de Justiça do Estado de São Paulo. Fundada em dezembro de 2005, tem como foco de atuação Educação e Cultura Inclusivas.
municipal, a formação dos profissionais da educação constitui o primeiro eixo do
programa, todos que pertenciam a comunidade escolar tiveram alguma formação
direcionada as questões da educação inclusiva. Diretores de escola, vice-diretores, pais
de alunos com deficiência, funcionários do apoio, coordenadores pedagógicos e
professores, com o titulo a “Construção do Nós”, a formação buscava sensibilizar os
sujeitos para o olhar atento para a pessoas e não simplesmente olhar a deficiência,
oferecia o desafio para a escola acolher a diferença e pensar sobre ela e suas atitudes e o
que era necessário para que pudesse ser uma escola verdadeiramente cidadã e inclusiva.
As ações imediatas da secretaria municipal foram recebidas de inicio com uma aversão
a ideia instituída, quando decidiu retirar da escola especial e matricular na rede regular
de ensino os alunos com deficiência eram quase 500 alunos, destes 223 não puderam
usufruir do trabalhos, pois estavam com idade superior a idade das crianças da rede
municipal permanecendo na escola especial. Um plano de ação foi estruturado para
atender os alunos que permaneceriam na escola especial, parcerias foram surgindo e
estes obtiveram uma escola inclusiva em sentido amplo.
Este trabalho não se deu de forma estanque foi criada pela secretaria uma equipe
multidisciplinar para acompanhar todo o processo de inclusão destas pessoas na rede
regular, paralelo a isso, a continuação das formações para a comunidade escolar. Bastou
o pontapé inicial para que familiares começassem a procurar matricula para crianças
com deficiência na rede regular de ensino, no entanto a escola via-se sem saber como
lidar com as deficiências, e a diversidade que com ela se apresentava, professores,
gestores e funcionários eram desafiados no dia a dia, para pensar em estratégias de
trabalho que dessem conta de cada aluno com e sem deficiência.
Muitos foram os avanços ao longo dos anos de implantação do PEI, a cada matricula
nova de criança com deficiência, surgiam dúvidas e incertezas do que fazer. Normal em
uma rede que respeita a individualidade e considerada a singularidade de cada sujeito,
não há como comparar situações, mas há o momento de aprender com cada novo
exemplo. É neste sentido que a Convenção sobre os direitos das pessoas com
deficiência reconhece em seu preambulo que “A deficiência é um conceito em evolução e que resulta da
interação entre pessoas com deficiência e as barreiras devidas às
atitudes e ao ambiente que impedem a plena e efetiva
participação dessas pessoas em igualdade de oportunidades com
as demais pessoas”.
Com base nesta definição, e nos princípios e concepções que estão dispostos no sistema
de ensino municipal, fomos procurados, na secretaria de educação por uma mãe, que
trouxe seus sonhos e expectativas junto ao pedido de matricula acompanhado de uma
declaração médica, que descrevia a deficiência, solicitando, atendimento educacional
domiciliar dada as condições de deficiência, miopatia miotubular4 que impede a
criança de frequentar fisicamente a sala de aula, mas não o impede de aprender tendo
em vista o desencadeamento da deficiência física e não neurológica, mais uma vez a
equipe da secretaria foi mobilizada no sentido de garantir que o direito a educação fosse
estendido a esta criança.
A primeira atitude da Secretaria de Educação foi publicar uma portaria fixando normas
para ser realizado o serviço, visto que era a primeira vez que recebíamos um pedido
desta natureza. A partir da publicação do documento, procuramos os gestores da escola
para relatarmos o caso, e combinarmos como seria a matricula, já que M. com 9 anos
nunca tinha frequentado escola.
Dotamos a escola com todas as informações necessárias, pois já tínhamos feito uma
entrevista com a mãe, que embora pela sua juventude (29 anos) mostrou uma coragem
em relação aos desafios vindos com a maternidade, teve filhos gêmeos um havia
falecido no ano anterior (2011) devido às fragilidades da deficiência, e esta sem saber o
que ocorreria relatou seu desejo em ver o filho realizar seu sonho de frequentar a escola.
Quando nos reunimos com a diretora e a coordenadora pedagógica da escola, escolhida
por sua proximidade com o endereço da residência da criança, vimos na equipe uma
disposição e uma vontade de aprender que nos trouxe muita confiança em relação ao
que viria. Orientamos a mãe para que se apresentasse à escola e combinasse com a
direção os processos burocráticos de matricula. No primeiro encontro relatado pela
Diretora da escola, a mãe não conseguia falar, dada a emoção do momento, somente
chorava. Mantoan (2006, p.24) Considera que: [...] a escola das diferenças rompe com o instituído na
instituição escolar e caminha pelas trilhas das identidades
móveis, pelos estudos culturais, adotando propostas sugeridas
por um ensino não disciplinar; transversal, e que configura uma
4 A miopatia miotubular é uma doença neuromuscular hereditária definida por numerosos núcleos
distribuídos centralmente na biopsia muscular e características clínicas de uma miopatia congénita.
rede complexa de relações entre os conhecimentos e os sentidos
atribuídos pelo sujeito a um dado objeto [...].
Passada a parte burocrática, faltava a parte que deixava a todos apreensivos, escolher
um professor ou uma professora. O espaço escolhido para a conversa foi o horário de
trabalho pedagógico (HTP) que concentra o maior número de professores da escola em
um mesmo horário, a diretora, e a coordenadora pedagógica, contaram aos professores o
novo desafio, e tal foi nossa surpresa, quando duas professoras do 1º ano se colocaram a
disposição para o trabalho. Neste momento a escola tinha somente a certeza que seria
um projeto novo na rede municipal, e que contaria com o apoio da secretaria de
educação e da equipe técnica para desenvolvê-lo.
M.T.A, foi matriculado em uma turma de 1°ano, após a matricula, a equipe
multidisciplinar, a coordenadora da escola e a professora( a escola manteve apenas uma
professora) fizeram uma visita à casa da criança, pois precisariam conhece-lo antes de
estabelecer o plano de trabalho. Nesta etapa contamos com assessoria técnica da Mais
Diferença, que trouxe pra nós da secretaria uma preocupação que até o momento não
tínhamos; devemos pensar também nas condições psicológicas desta professora,
oferecer a ela um suporte em todos os sentidos, diante de um diagnóstico transmitido
pela mãe à escola, “não sabemos quanto tempo o M. terá de vida, mas queremos que
neste tempo ele possa usufruir de seus direitos e de suas vontades enquanto criança.”
De inicio, a equipe realizou um estudo teórico para saber se encontrávamos algum
embasamento que poderia dar um suporte maior a prática da professora. Conforme
Severino (2012) “para que a ação humana seja criadora e transformadora, precisa ser
uma prática intencionalizada pela teoria e pela significação.”
Após vários encontros e discussões, o plano de trabalho foi estabelecido respeitando as
orientações médicas e a rotina vivida por M. naquele momento.
O aluno começou as aulas em março de 2012, com a professora Ana Paula5, que a
princípio iria duas vezes por semana num período de uma hora cada à casa de M. Com
o passar do tempo e com o desenvolvimento apresentado por ele houve a necessidade de
aumentar os dias, segundo a professora era surpreendente a vontade e a facilidade de
aprendizagem de M, diante das atividades propostas por ela, a cada ida a professora
voltava com o desafio de procurar atividades que envolvesse um grau maior de
dificuldade para a realização.
5 O nome da professora é citado, pois esta autoriza a divulgação.
Os desafios estavam sendo superados, e em uma manhã, numa reunião técnica, veio-me
a ideia de propormos para a escola a experiência de aula via web, já que a professora
queria muito contribuir com a realização dos desejos de M. e todas as vezes que
perguntávamos a ela sobre a experiência, ela nos respondia com olhos brilhando:
“precisamos fazer algo a mais, pois, a criança tem muita vontade de conhecer a escola e
aprende com muita facilidade”. Importante neste relato ressaltar que, para Vigotsky,
(2001) a educação não apenas influi em alguns processos de desenvolvimento, mas
reestrutura as funções do comportamento em toda sua plenitude. Temos que destacar a
postura da professora que neste processo reconhece o seu trabalho como elemento
fundamental para o reconhecimento desta criança enquanto sujeito de direitos. Podendo
recorrer a Freire (1996, p.13) que em seus escritos traz:
O educador democrático, não pode negar-se o dever de, na sua
prática docente, reforçar a capacidade critica do educando, sua
curiosidade, sua insubmissão. Uma de suas tarefas primordiais é
trabalhar com os educando a rigorosidade metódica com quem
devem se aproximar dos objetos cognoscíveis.
Novo desafio, e procuramos em nossos parceiros, desta vez com o Planeta Educação,
assessoria que desenvolve no município o programa “A escola vai para casa6” no
âmbito do ensino fundamental, e Informática educacional, para alunos e professores da
educação infantil, modalidade pré-escola. O apoio pra instalar na sala de aula o ponto de
internet e os equipamentos necessários para realização da aula.
Enquanto a parte técnica acontecia, a escola cuidou da parte das relações, fez uma
reunião com os familiares, que já sabiam do atendimento realizado pela professora,
abordou a importância do trabalho, explicou o projeto e pediu a colaboração de todos,
inclusive a autorização para o registro do processo, considerado como pioneiro em
nossa rede. Muitos familiares relataram as mudanças ocorridas no comportamento de
seus filhos ao relatar a preocupação e o cuidado com que estes contavam aos pais às
atividades que compartilhavam com M. Se a aprendizagem ocorre com a troca entre os
sujeitos e principalmente sobre as diferenças estabelecidas entre eles, não temos como
mensurar o ganho para estas crianças. Temos a certeza que estamos contribuindo para
6 Programa criado em 2009 na rede municipal para atender alunos do ensino fundamental, com visitas à residência dos alunos, previamente acordadas com os familiares, o objetivo do programa é a aproximação, escola/família e a busca da participação nos programas e projetos desenvolvidos pela escola.
formação de pessoas capazes de ver no outro, o seu reflexo, e diante disso respeitá-lo
como a si mesmo.
O primeiro dia de aula via Web, estava sendo esperado por todos com muita ansiedade,
a classe já conhecia o M. a professora contava aos alunos sobre ele, e levava para ele
recados, bilhetes e desenhos da turma que até aquele dia só se conheciam pelo relato da
professora. Na sala a relação com o nome dos alunos fixada na parede, M. já se fazia
presente.
Enfim o dia chegou e a experiência fez tanto sucesso que repercutiu na mídia, local, e
de forma positiva o primeiro contato com a apresentação de cada criança e o olhar
atento para saber quem seria aquele garotinho que como eles, cheios de sonhos e
energia, queria muito frequentar uma sala de aula. A aula transcorreu dentro do que era
esperado. Cada criança aproxima-se da câmera e falava seu nome olhando para imagem
de M. projetada na tela, que sempre que podia esboçava um sorriso. A escola quer
mais, não estão conformados em levar a aula apenas via web para M. querem agora
criar um momento de aproximação real entre eles e as outras crianças.
Surge por parte da professora à ideia de convidá-lo para a atividade que encerra o
projeto do 1º bimestre um passeio ao zoológico de São Paulo, a escola busca novamente
a parceria da secretaria de educação para planejar a saída de M. Quando a mãe recebeu
a proposta de levar M. ao zoológico, não acreditava nesta possibilidade, jamais
imaginara que a escola daria tanta importância ao seu filho, foi o que disse a diretora da
escola após ouvir a proposta.
Com o plano estratégico elaborado, e o levantamento dos recursos necessários, a família
e a escola deram as mãos, buscaram a secretaria de saúde e receberam o que precisaram
para o transporte da criança e sua ida ao zoológico ocorreu como o primeiro encontro
presencial de M. com as demais crianças da escola. Momento registrado com muito
carinho por todos da escola e por nós da secretaria de educação que quando lançamos o
desafio à escola, não dimensionávamos sua grandeza.
A experiência transcorre de forma positiva, a professora continua com a mesma turma,
foi um acordo feito com a escola quando iniciamos os trabalhos, pois diante da
delicadeza da proposta, queríamos a garantia da continuidade do processo de ensino
aprendizagem, além de reforçar os vínculos da turma com M. A professora não se opôs
ela também indicava para a escola sua vontade de continuar com a turma e dar
continuidade ao atendimento de M.
O atendimento a M. continua duas vezes por semana em sua residência, e os outros três
dias, ele participa da aula via web. Muitas ações foram desencadeadas a partir da
matricula de M. na escola, professores, alunos, funcionários, técnicos da secretaria de
educação estão cada vez mais convencidos de que a educação é mobilizadora de
atitudes quando a escola se relaciona com a família de forma a buscar em conjunto
soluções e estratégias para a ressignificação do currículo. M. gosta de participar das
atividades propostas pela professora, embora tenha este ano, em alguns momentos,
demonstrado sua rebeldia, em querer estar na escola, como qualquer outra criança, quer
muito estar com seus colegas, e quando há oportunidades a professora o convida para
aulas presenciais, como foi descrito pela coordenadora pedagógica: “Este ano na
homenagem do dia das mães, ele esteve na escola, participando com sua turma, um
momento que gera grande alegria em todos nós, não podíamos imaginar como este
trabalho nos mostraria tanta coisa diferente ao mesmo tempo”.
Alguns recursos de tecnologia assistiva7 foram necessários para melhorar o
aproveitamento de M. A equipe técnica desenvolveu para M, uma prancha de
comunicação, que dá suporte a fala, a escola fornece um notebook para as aulas via
web. Com isso fica a certeza de uma rede que busca atender todas as crianças sem
discriminação, há outros exemplos sendo desenvolvidos nas escolas municipais, mas
este foi escolhido, por sua especificidade, atendimento educacional domiciliar, algo que
nunca tínhamos feito nas escolas municipais.
A deficiência de M. em nenhum momento entrou como barreira para a limitação do seu
processo de aprendizagem, serviu para direcionar o olhar em busca da superação das
limitações que o impediam de ir à escola.
Este relato não tem a pretensão de esgotar as discussões acerca da educação inclusiva e
dos processos de ensino aprendizagem para crianças com deficiência, principalmente
aquelas que estão matriculadas em escolas públicas. Queremos evidenciar que o direito
a educação está posto, cabe a nós, para além da função que ocupamos, de professores,
diretores, coordenadores pedagógicos, vice-diretores, supervisores de ensino e gestores
públicos, buscar estratégias que garantam a inclusão de forma plena a todas as crianças.
Reafirmar o compromisso da escola pública, consolidar a importância da interação entre
a família e a escola. 7 Segundo o Comitê de Ajuda Técnica (CAT) Tecnologia assistiva é uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação, de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida.
Referências
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