educaÇÃo escolar de adultos em privaÇÃo de liberdade: limites e possibilidades elenice maria...

18
EDUCAÇÃO ESCOLAR DE ADULTOS EM PRIVAÇÃO DE LIBERDADE: LIMITES E POSSIBILIDADES ELENICE MARIA CAMMAROSANO ONOFRE – UFSCar/SP [email protected]

Upload: david-antonio-imperial-dreer

Post on 07-Apr-2016

219 views

Category:

Documents


4 download

TRANSCRIPT

Page 1: EDUCAÇÃO ESCOLAR DE ADULTOS EM PRIVAÇÃO DE LIBERDADE: LIMITES E POSSIBILIDADES ELENICE MARIA CAMMAROSANO ONOFRE – UFSCar/SP eleonofre@ufscar.br

EDUCAÇÃO ESCOLAR DE ADULTOS EM PRIVAÇÃO DE LIBERDADE:LIMITES E POSSIBILIDADES

ELENICE MARIA CAMMAROSANO ONOFRE – UFSCar/SP

[email protected]

Page 2: EDUCAÇÃO ESCOLAR DE ADULTOS EM PRIVAÇÃO DE LIBERDADE: LIMITES E POSSIBILIDADES ELENICE MARIA CAMMAROSANO ONOFRE – UFSCar/SP eleonofre@ufscar.br

Objetivo do estudo aprofundar discussões existentes em relação às possibilidades e limites da educação escolar no sistema prisional.Educação como princípio transformador escola como possibilidadeCultura prisional como princípio repressor espaço de adaptação ao cárcere.Escola como possibilidade de espaço diferenciado das prerrogativas carcerárias.

Page 3: EDUCAÇÃO ESCOLAR DE ADULTOS EM PRIVAÇÃO DE LIBERDADE: LIMITES E POSSIBILIDADES ELENICE MARIA CAMMAROSANO ONOFRE – UFSCar/SP eleonofre@ufscar.br

Estudos sobre a educação em prisõesArlindo da Silva LourençoElionaldo Fernandes JuliãoJosé Antonio Gonçalves LemeMaria Salete V. PoelMarieta Gouvêa de Oliveira PennaJosé Ribeiro LeiteManoel Rodrigues PortuguêsSilvio dos Santos

Autores brasileiros preocupados com a problemática do sistema penal

Sérgio AdornoEliana B. T. BordiniMyriam M. P. CastroEdmundo C. CoelhoRosa Maria FisherJosé Ricardo

RamalhoAntonio Luiz PaixãoLuís Carlos RochaGeraldo Ribeiro de

Literatura InternacionalErving GoffmanMichel FoucaultGresham M.

Sykes

Page 4: EDUCAÇÃO ESCOLAR DE ADULTOS EM PRIVAÇÃO DE LIBERDADE: LIMITES E POSSIBILIDADES ELENICE MARIA CAMMAROSANO ONOFRE – UFSCar/SP eleonofre@ufscar.br

Mapeamento da literatura indica

no dilema recuperar/punir, as prisões limitam-se a punir

arquitetura prisional ritos de chegadanormas institucionais

evidenciam o quanto a prisionalização dificulta os esforços em favor da ressocialização dos presos e as possibilidades de reabilitação

a reincidência criminal aponta que o papel de ressocialização e reeducação das prisões não tem sido atingido os estudos sobre educação escolar nos presídios são escassos.

Page 5: EDUCAÇÃO ESCOLAR DE ADULTOS EM PRIVAÇÃO DE LIBERDADE: LIMITES E POSSIBILIDADES ELENICE MARIA CAMMAROSANO ONOFRE – UFSCar/SP eleonofre@ufscar.br

Questões de pesquisa

• Como é a escola na prisão?• Que funções ela desempenha?• Por que os presos a procuram?• Qual é o papel dos educadores na escola da prisão?

Objetivos

• Caracterizar a escola dentro da unidade prisional • Esclarecer as razões que levam o preso a buscar a escola• Identificar os papéis da escola e dos professores

Page 6: EDUCAÇÃO ESCOLAR DE ADULTOS EM PRIVAÇÃO DE LIBERDADE: LIMITES E POSSIBILIDADES ELENICE MARIA CAMMAROSANO ONOFRE – UFSCar/SP eleonofre@ufscar.br

Sujeitos da pesquisa e procedimentos da coleta de dados

Recorte dos sujeitos de pesquisa alunos e professores

Selecionados 50 alunos: com inclusão em 2002; idade entre 20 e 30 anos e com famílias tidas como desestruturadas.

Entrevistados 18 alunos

Grupo de professores: 8 universitários

Coleta de dados através: * observação sistemática* entrevistas semi-estruturadas* estudo documental (Boletins de

Inclusão)

Page 7: EDUCAÇÃO ESCOLAR DE ADULTOS EM PRIVAÇÃO DE LIBERDADE: LIMITES E POSSIBILIDADES ELENICE MARIA CAMMAROSANO ONOFRE – UFSCar/SP eleonofre@ufscar.br

Perfil dos Sujeitos Investigados

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

nº pessoas

20 anos

22 anos

24 anos

26 anos

28 anos

30 anos

IDADE

30 anos 29 anos 28 anos 27 anos 26 anos25 anos24 anos23 anos22 anos21 anos20 anos

ESTADO CIVIL

61%

9%

29%

1%

Solteiros Solteiros com filhos Solteiros com companheira Divorciados

ESTRUTURA FAMILIAR14%

86%

Famíliaestruturada

Família nãoestruturada

Page 8: EDUCAÇÃO ESCOLAR DE ADULTOS EM PRIVAÇÃO DE LIBERDADE: LIMITES E POSSIBILIDADES ELENICE MARIA CAMMAROSANO ONOFRE – UFSCar/SP eleonofre@ufscar.br

PASSAGEM PELA FEBEM

54%

46%

Sim Não

PASSAGEM POR JUIZADO DE MENORES

12%

88%

Sim Não

MOTIVOS DAS PASSAGENS PELO JUIZADO DE MENORES

50%

17%10%

10%

7%2%

2%2%Furto

Assalto

Roubo

Vadiagem

Drogra

Alcoolismo

Homicídio

s/ Habilitação

Page 9: EDUCAÇÃO ESCOLAR DE ADULTOS EM PRIVAÇÃO DE LIBERDADE: LIMITES E POSSIBILIDADES ELENICE MARIA CAMMAROSANO ONOFRE – UFSCar/SP eleonofre@ufscar.br

IDADE DE INGRESSO NA ESCOLA

2% 3% 3%

51%5%

6%

22%

2% 6%

3 anos 5 anos 6 anos 7 anos 8 anos

9 anos 10 anos 11 anos Não se lembraSÉRIE DE INTERRUPÇÃO DOS ESTUDOS

10%

22%

6%

8%

10%16%

14%

14%

1ª Série 2ª Série 3ª Série 4ª Série 5ª Série 6ª Série 7ª Série 8ª Série

Page 10: EDUCAÇÃO ESCOLAR DE ADULTOS EM PRIVAÇÃO DE LIBERDADE: LIMITES E POSSIBILIDADES ELENICE MARIA CAMMAROSANO ONOFRE – UFSCar/SP eleonofre@ufscar.br

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

nº pessoas

8 anos

10 anos

13 anos

15 anos

17 anos

20 anos

23 anos

Não se lembra

IDADE DE INÍCIO NA VIDA DELITIVA MOTIVOS DE INÍCIO DA VIDA DELITIVA

1312

6

43 3

1 1 1 1 1 1 1

0

2

4

6

8

10

12

14

16

Drog

as

Más

compa

nhias

Dific

ulda

defin

ance

ira

Melho

rar n

avida Ro

ubo

Rrev

olta c/

família

Ave

ntura

Sepa

raçã

o do

spa

is

Defend

er mãe

Opç

ão própria

Ilusã

o

Vad

iage

m

s/ dad

os

nº pes

soas

EXPECTATIVA QUANDO EM LIBERDADE

26

7

4

3

3

3

2

1

1

1

1

1

1

1

0 4 8 12 16 20 24 28 32

Trabalhar

Começar nova vida

Voltar estudar

Viver com família

Construir família

Morar com namorada

Casar

Dificil planejar

Criar filhos

Ter vida melhor

Confuso p/ fazer plano

Cuidar da saúde

Construir casa

Ficar sossegado

nº pessoas

Page 11: EDUCAÇÃO ESCOLAR DE ADULTOS EM PRIVAÇÃO DE LIBERDADE: LIMITES E POSSIBILIDADES ELENICE MARIA CAMMAROSANO ONOFRE – UFSCar/SP eleonofre@ufscar.br

Na visão dos alunos

a prisão empobrece e confere um número ao aprisionado;

subjuga a uma estrutura autoritária e a uma rígida rotina;

deteriora a identidade do aprisionado forjando-lhe uma nova;

para proteger-se, o indivíduo assume posturas e discursos que dele se espera;

a sobrevivência depende da capacidade de dissimular, mentir e conter-se;

busca todas as alternativas possíveis para abreviar sua estada na prisão.

a escola é vista como possibilidade de melhoria de vida quando em liberdade;

como possibilidade de relacionar-se com o mundo externo;

espaço onde conversa com colegas de todos os pavilhões e com os professores, sentindo-se mais seguro;

oportunidade de aprendizado da leitura e da escrita para os não alfabetizados (significa ter mais liberdade, autonomia e privacidade)

Focos de Análise

Page 12: EDUCAÇÃO ESCOLAR DE ADULTOS EM PRIVAÇÃO DE LIBERDADE: LIMITES E POSSIBILIDADES ELENICE MARIA CAMMAROSANO ONOFRE – UFSCar/SP eleonofre@ufscar.br

Na visão dos professores

distância entre o proposto e o vivido; não são funcionários da unidade prisional; espaço escolar é pouco valorizado, servindo como regra

da casa. o papel do professor é conhecer o mundo prisional,

selecionar conteúdos significativos, adequar o conteúdo estabelecido à realidade;

o professor é a pessoa que oferece informações, ensinamentos que melhoram a qualidade de vida e as expectativas para quando os aprisionados estiverem em liberdade;

o papel do professor vai além de organizar o trabalho no interior da escola;

papel relevante da figura do professor alfabetizador.

Page 13: EDUCAÇÃO ESCOLAR DE ADULTOS EM PRIVAÇÃO DE LIBERDADE: LIMITES E POSSIBILIDADES ELENICE MARIA CAMMAROSANO ONOFRE – UFSCar/SP eleonofre@ufscar.br

Em busca de possibilidades

É preciso desmascarar mitos sobre os riscos de se lidar com a população carcerária;importância da mudança de foco em relação à reabilitação;escola como possibilidade de suavizar os rigores do confinamento e tolerar a carga psicológica do empobrecimento da prisão;papel da escola nesse resgate: professores e alunos evidenciam o significado e o valor da escola: é um lugar onde vivem experiências numa situação de interação, troca e cooperação;local onde as tensões podem ser aliviadas;espaço que acolhe: o pertencimento oferece a possibilidade de aprender uma outra postura;espaço onde se mostra sem máscaras: oportunidade de construção de identidade e resgate da cidadania perdida.

Page 14: EDUCAÇÃO ESCOLAR DE ADULTOS EM PRIVAÇÃO DE LIBERDADE: LIMITES E POSSIBILIDADES ELENICE MARIA CAMMAROSANO ONOFRE – UFSCar/SP eleonofre@ufscar.br

Reflexões finais:

Prisão é uma instituição falida caracterizada por

um punir exacerbado e o

prevenir e reintegrar como dois braços que

ainda não acontecemPorque

continuamos construindo

prisões?

O que estamos

esperando para prevenir e não isolar?

Page 15: EDUCAÇÃO ESCOLAR DE ADULTOS EM PRIVAÇÃO DE LIBERDADE: LIMITES E POSSIBILIDADES ELENICE MARIA CAMMAROSANO ONOFRE – UFSCar/SP eleonofre@ufscar.br

10% dos casos são

de aprisiona

dos violentos

Perfil do aprisionado: idade

entre 18 e 30 anos; pobres; 60% da população é de afro-descendentes

e 70% não tem ensino

fundamental completo = retrato de um modelo de

sociedade excludente

Page 16: EDUCAÇÃO ESCOLAR DE ADULTOS EM PRIVAÇÃO DE LIBERDADE: LIMITES E POSSIBILIDADES ELENICE MARIA CAMMAROSANO ONOFRE – UFSCar/SP eleonofre@ufscar.br

Qual o papel da mídia? Registrar

fatos episódicos e

imagens congeladas?

Qual a responsabilid

ade da sociedade?

Basta isolar?

Qual o papel dos

organismos governamenta

is?

Page 17: EDUCAÇÃO ESCOLAR DE ADULTOS EM PRIVAÇÃO DE LIBERDADE: LIMITES E POSSIBILIDADES ELENICE MARIA CAMMAROSANO ONOFRE – UFSCar/SP eleonofre@ufscar.br

Caminhos possíveis:

- Não ter medo do debate

- Trabalhar a auto-estima dos

profissionais que atuam em

unidades de privação de liberdade

Formação inicial e continuada dos

professores

Universidade: Modalidade EJA – fala-se

em EJA prisional? A

própria Universidade é resistente – nas

licenciaturas em Pedagogia é assunto fora de

pauta

Page 18: EDUCAÇÃO ESCOLAR DE ADULTOS EM PRIVAÇÃO DE LIBERDADE: LIMITES E POSSIBILIDADES ELENICE MARIA CAMMAROSANO ONOFRE – UFSCar/SP eleonofre@ufscar.br

Não estamos lidando com uma massa de privados de liberdade, mas com sujeitos em

formação: é preciso dar visibilidade a

esses rostos e sujeitos singulares

Saímos em defesa do capital ou em defesa da vida? Se saímos

em defesa da vida, é possível voltar à

sociedade excludente, com o desejo de construir uma sociedade mais humana, mais justa e

mais afirmativa