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O QUE É TRABALHO? O TRABALHO E SUAS CONTRADIÇÕES A ORGANIZAÇÃO DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS O TRABALHO HOJE E U E O TRABALHO EDUCAÇÃO E CIDADANIA UM PROGRAMA PARA ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RISCO SOCIAL 5

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O QUE É TRABALHO?�

O TRABALHO E SUASCONTRADIÇÕES

�A ORGANIZAÇÃO DOS

TRABALHADORES ETRABALHADORAS

�O TRABALHO HOJE

�EU E O TRABALHO

EDUCAÇÃOE CIDADANIA UM PROGRAMA PARA ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RISCO SOCIAL

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EDUCAÇÃOE CIDADANIA UM PROGRAMA PARA ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RISCO SOCIAL

5ORGANIZAÇÃO CURRICULAR PARA AS

UNIDADES DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIADA FEBEM/SP

MÓDULO DE ATIVIDADES ESCOLARES

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Secretaria de Estado da EducaçãoPraça da República, 53 Centro01045-903 São Paulo SPTelefone: (11) 3218-2000www.educacao.sp.gov.br

Governador do Estado de São PauloGeraldo AlckminSecretário de Estado da EducaçãoGabriel ChalitaSecretário AdjuntoPaulo Alexandre Pereira BarbosaChefe de GabineteMariléa Nunes ViannaCoordenadora de Estudos e Normas PedagógicasSonia Maria SilvaCoordenadoria de Ensino da Região Metropolitana da Grande São PauloAparecida Edna de MatosCoordenadoria de Ensino do InteriorElcio Antonio Selmi

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EDUCAÇÃOE CIDADANIA UM PROGRAMA PARA ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RISCO SOCIAL

5

Autoria

SECRETARIA DEESTADO DA EDUCAÇÃO

Realização

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CENPEC - CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS EMEDUCAÇÃO, CULTURA E AÇÃO COMUNITÁRIAR. Dante Carraro 68 Pinheiros05422-060 São Paulo SPhttp://www.cenpec.org.br

Diretora presidenteMaria Alice SetubalCoordenação geralMaria do Carmo Brant de Carvalho

Coordenação do Projeto (Equipe Currículo & Escola)Maria Silvia Bonini Tararam (Coord.)e-mail: [email protected] José Reginato RibeiroMarilda F. Ribeiro de MoraesAutoria do módulo O Trabalho em Nossas VidasAdriano PicarelliEdna AokiRegina Inês Villas Boas EstimaEquipe técnicaAmérica A.C.MarinhoElizabeth BarolliMarlene C. AlexandroffRonilde Rocha MachadoAssessoriaIsa Maria F. R. GuaráYara SayãoEdição de textoTina Amado

A equipe agradece a contribuição dos educadores daFEBEM/SP, participantes dos encontros de discussãoque subsidiaram a produção deste material entreoutubro de 2000 e fevereiro de 2001

Edição de arteEva Paraguassú de Arruda CâmaraJosé Ramos NétoCamilo de Arruda Câmara RamosIlustraçãoLuiz Maia

São Paulo, 2003

Coleção Educação e Cidadania, módulo 5Material produzido no âmbito do projetoElaboração e Implementação de Proposta Pedagógica para Adolescentes emSituação de Conflito com a Lei, desenvolvido pelo CENPEC paraa FEBEM/SP – Fundação para o Bem-Estar do Menor do Estado de São Paulo eSEE/SP - Secretaria de Estado da Educação

O trabalho em nossas vidas / Centro de Estudos e Pesquisas em Educação,Cultura e Ação Comunitária – CENPEC – São Paulo; CENPEC; FEBEM,SEE/SP; 2003. Coleção Educação e Cidadania.

Módulo de atividades escolares 5Ilustr.; 7 fichasISBN: 85-85786-27-2

Educação e Cidadania: proposta pedagógica 1. Educação, ponte para omundo 2. Família e relações sociais 3. Justiça e cidadania 4. Saúde,uma questão de cidadania 5. O trabalho em nossas vidas 6. Artesvisuais e cênicas 7. Conto 8.Correspondência 9. Educação ambiental:problemas globais, ações locais 10. Hora de se mexer 11. Jogos davida 12. Jornal 13. Música e movimento 14. Poesia 15. Ponto deencontro I. Título II. CENPEC III. FEBEM

CDD-370.11

Wagner Mendes Soares CRB-8 – 038/2002

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SUMÁRIO

Introdução 6

O que é trabalho? 10Atividade O que é trabalho para mim 10Identidade e personagem 11Atividade Várias formas de trabalho 14Formas passadas e presentes de trabalho no Brasil 13

O trabalho e suas contradições 15Alienação e riqueza 15Atividade Trabalhador em construção 16Atividade O trabalho e a cidade 18

A organização dos trabalhadores e trabalhadoras 19Atividade O sonho da terra 21Pequeno glossário da questão da terra 20Atividade O trabalho da mulher 23Cresce participação feminina no mercado de trabalho 24

O trabalho hoje 25Atividade Procurando emprego 25O trabalho hoje 26Atividade O mundo do trabalho 28

Eu e o trabalho 29Atividade O trabalho na lei 31Atividade Projeto de vida profissional 32

Referências bibliográficas 35Sugestões para o acervo da Unidade 35

Fichas 37

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6EDUCAÇÃO E CIDADANIA

1 Para saber mais sobre o materialismo histórico econceitos como trabalho, capitalismo e alienação,sugerimos a leitura do capítulo dedicado a Marx no livroUm toque de clássicos: Durkheim, Marx e Weber(Quintaneiro e cols., 1999).

INTRODUÇÃONão podemos conhecer a meta da história, nemsua necessidade (...). Mas podemos estabelecera possibilidade de um subseqüentedesenvolvimento dos valores, apoiar talpossibilidade e, desse modo, emprestar umsentido à nossa história.

Agnes Heller

Três eixos guiam a proposta de atividadessobre o tema trabalho: cidadania, identidade eética.

A questão da cidadania se faz presente, porexemplo, quando os jovens estudam aorganização dos trabalhadores e suasconquistas, na luta contra a exploraçãocapitalista do trabalho; quando discutem osentido dos direitos e deveres estabelecidosno ECA, Estatuto da Criança e do Adolescente;ou ao pensar em um projeto de vidaprofissional num contexto social mais amplo,levando em conta as organizações estatais,não-governamentais ou de trabalhadores quepodem auxiliá-los.

Focalizamos a identidade ao estimular essesjovens a refletir sobre suas experiências devida com o trabalho, evitando assim que, pelaatribuição do rótulo de “infratores”, a estesejam reduzidos; e o foco se mantém, porexemplo, quando são levados a ler um poemasobre o trabalhador que se identifica comoconstrutor “da casa, da cidade, da nação”,identificação essa que fundamenta mudançasem sua ação.

Na busca de um pensamento ético, entendidocomo reflexão a respeito da moral e não suamera reprodução, propomos atividades emque os alunos possam expressar e ouviropiniões diferentes, sendo estimulados arepensar idéias, a colocar-se no lugar dooutro, considerando sua posição na sociedadee, também, o contexto da realidade socialmais ampla.

Sustentando esses três eixos e nossasconcepções de sociedade e de ser humanoestá a perspectiva materialista histórica,segundo a qual a compreensão das relaçõessociais, da vida humana, tem como ponto de

partida o estudo do modo como os homensse organizam para produzir seus meios desubsistência, o estudo das forças produtivas,das relações sociais de produção, ou seja, oestudo do trabalho. Nessa perspectivadialética, a realidade é essencialmentemovimento, contradição, conflito, negação,síntese, superação; e o homem, produto eprodutor das relações materiais de produçãoe da história1.

Nessa perspectiva, entendemos que trabalhoé atividade humana que busca a satisfaçãode necessidades; pelo trabalho, os homensmodificam a natureza, relacionando-se unscom os outros, organizando formas de viverem sociedade. No trabalho, os próprioshomens se transformam porque aprendem(sobre a natureza, por exemplo), porquecriam (instrumentos, idéias, símbolos,linguagens, modos de pensar e agir, novasnecessidades), porque alteram a formahumana de viver (que não é determinada,mas aberta a infinitas possibilidades).Tomando esse conceito de modo amplo, aprópria atividade de estudo que aquipropomos também será trabalho. Esforçar-se para aprender sobre a sociedadebrasileira, suas desigualdades e o que nelaacontece com o trabalho, neste início doséculo XXI, é importante para lutar pelacidadania.

Contudo, no regime capitalista, fundado napropriedade privada dos meios de produção,a capacidade de trabalho é transformada emmercadoria, chamada força de trabalho.Para garantir a sobrevivência, o trabalhadorprecisa vender sua força de trabalho. E,como ele não é dono dos meios de produção,fica à margem das decisões sobre aprodução, sobre seu objetivo e o lucro queela gera, e não se reconhece no produto final– que também não lhe pertence. Assim,como o lucro em geral não cabe aotrabalhador, mas ao proprietário (da fábrica,das ferramentas, da matéria prima), osistema de produção capitalista gera

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7O TRABALHO EM NOSSAS VIDAS

desigualdade. Desse modo, o trabalho – umaatividade que poderia levar ao desenvolvimentodas potencialidades do homem, à satisfação denecessidades materiais e subjetivas, à suaauto-expressão, que poderia humanizá-lo –acaba por significar exploração, alienação,desumanização.

Mas, de modo dialético, a própria exploraçãojá traz em seu bojo o germe do contra-movimento de organização e luta dostrabalhadores (a respeito de sua importânciahistórica, ver Oliveira, 2000). A entrada deum jovem no mundo do trabalho podesignificar exploração, alienação, mas tambémpossibilidade de sobrevivência, de ajuda àfamília, de contato com organizações detrabalhadores, de maior compreensão denossa sociedade e de envolvimento em açõespara sua transformação.

São exatamente esses vários aspectos dotrabalho e suas contradições que propomos àreflexão dos jovens. Respeitando suacapacidade intelectual, propomos tratar otema de modo não-simplista ou maniqueísta,evitando a vertente de treinamento alienadopara o trabalho, pensando contribuir para aconstrução de sua cidadania.

Assim, as atividades aqui propostas têm osseguintes objetivos:

� envolver os jovens numa reflexão críticasobre o trabalho em nossa sociedade, ascontradições, os conflitos que o permeiam;

� destacar a importância do trabalho nahistória da humanidade e levá-los acompreender que, hoje, a realização dodireito ao trabalho é condição básica dacidadania;

� chamar sua atenção para a importânciada organização dos trabalhadores na lutacoletiva contra a exploração, quehistoricamente tem transformado osignificado da cidadania;

� ressaltar a importância dos estudos, daescola, para o desenvolvimento pessoal epara a vida no mundo do trabalho;

� propiciar informações úteis na procurapor trabalho: sobre seus direitos edeveres, o ECA, organizações que podem

ajudá-los na continuidade dos estudos ena profissionalização etc.

Ao final desse período de estudos, propomosestimulá-los a pensar num plano de ação paraquando saírem da FEBEM – que contempleassociação com pessoas, grupos ouinstituições. Com o estudo deste módulo,esperamos provocar reflexões e aprendizagensque contribuam para seu desenvolvimentopessoal, apontando para sua futura inserçãoprofissional de forma reflexiva e crítica.

Organização deste móduloOs conteúdos estão agrupados em cincosubtemas. O quadro à página seguinte resumeos subtemas e atividades propostas em cadaum. Foram elaboradas sete fichas para usodos alunos, reproduzidas ao final destefascículo (o arquivo para impressão das fichasencontra-se no CD que integra o módulo).Cada subtema comporta duas atividades eseções “Aprofundando”: estes são textos deapoio para sua reflexão; não são matéria paraaula expositiva, mas subsídios para você.Antes de cada atividade, indicam-se osmateriais necessários, de modo a facilitar seuplanejamento.

Orientações didáticasPara que o uso do material seja coerente coma proposta pedagógica que o fundamenta,alguns cuidados são necessários:

1 LEIA o módulo inteiro inicialmente, parater uma visão geral das idéias centraispropostas.

2 Antes de trabalhar cada subtema, leiacuidadosamente as orientações ePREPARE cada aula. Se preferir, faça umpequeno roteiro, destacando as noçõesprincipais e as sucessivas situações deaprendizagem: problematização inicial;momentos em que vai dirigir-se ao coletivoda turma, em que os jovens vão trabalharem grupos e individualmente; e ofechamento.

3 INICIE a aula anunciando à turma aproposta de estudo do dia: o objetivo daaula e as atividades que irão fazer. Osalunos precisam ter clareza do que se

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8EDUCAÇÃO E CIDADANIA

Quadro-sínteseSubtemas Atividades ObjetivosO que é trabalho? � alunos expressam idéias e narram � estímulo a narrativas de vivências� O que é trabalho experiências sobre trabalho; variadas (não ligadas à infração)

para mim � análise de figuras de várias formas � fortalecimento da identidade� Várias formas de de trabalho; � compreensão do conceito de

trabalho � discussão de significados que trabalhoemergiram e sistematização do conceito.

O trabalho e suas � leitura, discussão e desenho em torno � compreensão da importância decontradições de Operário em construção, de Vinícius refletir sobre trabalho para a� Trabalhador em de Moraes; identidade do trabalhador como

construção � análise de foto de espaço urbana. “construtor do mundo” e para a� O trabalho e a luta por justiça social

cidadeA organização dos � filme O sonho de Rose (de Tetê Moraes, � compreensão da necessidade detrabalhadores e das sobre luta do MST pela terra) e discussão; organização dos trabalhadorestrabalhadoras � leitura e discussão de depoimento de para combater a exploração e� O sonho da terra operária líder sindical. garantir direitos� O trabalho da mulher � compreensão da luta das

mulheres no mercado de trabalhoO trabalho hoje � levantamento de estratégias dos alunos � obtenção de informações sobre:� Procurando emprego para procurar trabalho; mercado de trabalho e suas� O mundo do trabalho � leitura de classificados de empregos; exigências, transformações que o

� dados de instituições que oferecem afetam; e sobre instituições queapoio e/ou cursos preparatórios podem apoiar após saída dap/ trabalho; Unidade

� leitura: o mercado de trabalho hoje; � compreensão da importância� dramatização de algumas ocupações da educação escolar e da

(em que consiste, requisitos etc.). necessidade de estabelecerrelações com quem possa ajudar

Eu e o trabalho � leitura de trecho do ECA; reflexão sobre � estímulo a pensar num projeto de� O trabalho na lei gostos, habilidades pessoais e vida envolvendo trabalho, estudo,� Projeto de vida exigências de empregadores; seus direitos e novas relações

profissional � elaboração de plano de intenções paraquando sair da Unidade; dramatizaçãode entrevista de seleção para uma vaga.

espera deles: isso os ajuda a organizar-see evita dispersão. Anote a pauta do dia nalousa.

Comece a aula com uma CONVERSA,motivando a turma a discutir o assunto emquestão: faça perguntas, provoque-os aexplicitar suas idéias e conhecimentosprévios. Só nos apropriamos deconhecimentos novos quando estes sãosignificativos para nós, isto é, quandoestabelecemos relação entre o que nos éproposto e o que já sabemos. Retomesempre, brevemente, o que já estudaram

nos subtemas anteriores, situando a novaaula no estudo do tema. Este também é omomento para acolher os alunos recém-chegados, incluindo-os no grupo esituando-os no Projeto, no tema e nasatividades em desenvolvimento.

4 Só aprendemos pela INTERAÇÃO: favoreçapermanentemente a troca de idéias, dosalunos com você e entre eles. Nasatividades propostas para grupos, mesmoque cada um deva, por exemplo, fazeranotações em sua própria ficha, incentivea discussão e a troca entre eles,

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9O TRABALHO EM NOSSAS VIDAS

passeando entre os grupos. O silêncio àtoda prova é inimigo da aprendizagem.

5 No final da aula, promova sempre umFECHAMENTO: “O que aprendemos hoje?”.Recorra à pauta anotada na lousa, senecessário. Destaque a idéia central doque tiver sido discutido. Faça com que aanotem nos cadernos (ou na ficha, casoisso tenha sido previsto). Mesmo que nãotenha concluído o subtema (veja o tópico7), promova o fechamento, explicitando aidéia central da aula. A cada dia os alunosdeverão sair da sala com a consciênciaclara das questões que foram estudadas.

6 Uso das FICHAS: as fichas foram pensadaspara propiciar aos alunos uma formaorganizada de registro do que tiveremestudado. Nunca comece a aula peladistribuição de fichas. É só no contextoproposto que elas adquirem significadopara os alunos, conforme o objetivo daatividade. Nas propostas de atividadessugere-se o momento ideal para essadistribuição: só as distribua no momentosugerido. Se os alunos já a tiverem emmãos antes, podem dispersar-se e nãoparticipar da forma prevista.

Lembre-os de guardar suas fichas noPORTFÓLIO, bem como as demaisproduções e anotações em folhas avulsas.

7 USO DO TEMPO: você deve gerenciá-lo deacordo com as características da turma.Um tema pode ocupar uma ou duassemanas de aula. Neste módulo indicamos,ao final de cada subtema, o tempo previstopara seu desenvolvimento em um mesmoperíodo. Mas não é necessário começar eacabar um subtema no mesmo dia. Omaterial traz muitas possibilidades deexploração e cada turma tem seu próprioritmo: adapte a este seu planejamento. E,cada vez que for dar o tema, releia omódulo para elaborar um plano diário quegaranta o máximo aproveitamento dotempo. Reduza ao mínimo o tempo parachamada e procedimentos afins,maximizando-o para o estudo do tema.

8 Experimente fazer também um REGISTROsobre sua própria atuação. Os professores

que já o fazem relatam que isso permiteaperfeiçoar a atuação com cada nova turma.

9 Finalmente, esteja atento aos ALUNOSNÃO-ALFABETIZADOS. A maioria dasatividades propostas prevê o domínio daleitura e escrita. Mas você certamenteterá em sala de aula jovens que ainda nãoas dominam. É fundamental que isso nãoos impeça de participar de todas asatividades. Nos momentos de leitura, cuidepara juntar no mesmo grupo ou dupla umleitor que tenha dificuldade com outromais experiente, para ajudá-lo, lendo paraele. Os que ainda não sabem escreverdevem ser incentivados a ditar o que têm adizer a você ou a um colega, ou registrarcomo souberem, inclusive por meio dedesenho. (O módulo de Educação e os dasoficinas de Poesia e Conto, entre outros,trazem na introdução mais dicas paraatender a esses alunos.) As atividadesdevem permitir a inclusão de todos econtribuir para a superação dasdificuldades de cada um.

Lembramos ainda que, ao realizar asatividades aqui propostas com os jovens, vocêestará não só desenvolvendo conteúdos, mastambém habilidades, atitudes, valores. Acimade tudo, os jovens precisam ser ouvidos edevem aprender a ouvir, respeitando amanifestação de opiniões diferentes. Suapostura de respeito e de estímulo ao diálogoserá uma das formas de desenvolver neles(novos) valores. Os jovens devem ser levadosa refletir e repensar seus juízos, a analisarsituações num quadro social mais amplo, aconsiderar o outro, a avaliar mais detidamentevantagens e desvantagens de opçõesindividualistas e imediatistas. E, embora osvalores subjacentes a esta proposta não sejamos ora dominantes – o trabalho para a vida,para desenvolver as potencialidades humanas,o trabalho produto e produtor do humano, otrabalho como luta por uma sociedade comjustiça social, relações solidárias, não-exploradoras, não-competitivas, não-interesseiras, mas interessadas no “outro”, nohumano – não deixe de afirmá-los claramente,pois são eles que “emprestam um sentido anossa história”.

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10EDUCAÇÃO E CIDADANIA

SUBTEMA 1O QUE ÉTRABALHO?As atividades deste primeiro subtemapermitirão a você e aos jovens refletir ediscutir a respeito do que é trabalho, osvários significados que ele pode assumir:ganha-pão, meio de sobrevivência, deindependência; trabalho como aprendizado,realização de potencialidades; trabalho comoprazer, como possibilidade de relacionar-secom pessoas diferentes, novos mundos;trabalho trazendo reconhecimento (pertencera um grupo) ou prestígio (status); trabalhosignificando exploração, alienação...

Propomos duas atividades: na primeira, aspróprias experiências dos jovens constituirãoo ponto de partida, enquanto na segunda asreflexões serão provocadas pela observaçãode figuras retratando diferentes tipos detrabalho. Durante o desenvolvimento deambas, você estará fazendo perguntas quelevem à abertura de novas perspectivas depensamento e também apresentará aos jovensidéias, para eles provavelmente novas.

ATIVIDADEO QUE É TRABALHO PARA MIMMaterial necessário: papel sulfite, cartolina oupapel cartão; cola, tesoura sem ponta; argila (depreferência) ou massinha de modelar; pincelatômico, lápis preto, borracha, lápis de cor, tintaguache; revistas para recortar; material de sucata(caixas de fósforo, palitos, garrafas plásticas,tampinhas, tubos de rolos de papel higiênico,barbante, caixas de sapato etc.)Comece fazendo uma breve introdução geral,esclarecendo que, durante a semana, o tema a serestudado será o trabalho. Diga aos jovens o queeles vão estudar em cada dia e o que espera queaprendam. O objetivo geral é propor discussõesque, com base nas experiências vividas por eles eem informações e conceitos trazidos por você,

levem à compreensão um pouco mais aprofundadaa respeito do trabalho em nossa sociedade(industrial, capitalista, marcada por profundasdesigualdades sociais e envolvida pelo processo deglobalização). Essa compreensão deve auxiliá-los avaler-se do trabalho para lutar coletivamente poruma vida digna, com cidadania, não apenas paraeles, mas para todos. Nesta aula, adiante que vocêsvão pensar no trabalho e definir mais precisamenteo que ele é.

Peça aos jovens que se lembrem de suasexperiências de trabalho. Se algum deles nuncatrabalhou, poderão lembrar-se das relações do paiou da mãe com o trabalho. Podem buscar namemória lembranças das pessoas com as quaistrabalharam; os momentos bons, de prazer, eaqueles desagradáveis; o que sentiram, quesignificados esses momentos tiveram. Expliqueque, a partir dessas recordações, deverão pensarsobre o que é trabalho, para eles. É um momentode introspecção, ninguém precisa falar nada, porenquanto. Deixe-os em silêncio um ou doisminutos.Então, proponha que, individualmente, mostrem oque pensam ou sentem sobre o trabalho, sobre oque é trabalho, por meio de um desenho, de algomodelado em argila ou massa, ou de uma colagem.Deixe à disposição uma variedade de materiais,para que suas produções sejam originais, ricas,diversificadas. Marque um tempo paracompletarem.Ao terminarem, cada um vai apresentar a sua efalar um pouco sobre ela: o que representa, comorepresenta... Nesse momento sua atuação é muitoimportante: a partir da fala do jovem, façaperguntas, dê estímulos para que narre suasexperiências em relação ao trabalho. Por exemplo,se alguém explicar que fez tal desenho para

VALORIZE AS PRODUÇÕESDOS ADOLESCENTES

Todas as suas produções devem ficar expostas nasala durante a semana e, depois, guardadas no oujunto com o portfólio individual, que conterá todasas fichas e outras produções realizadas no períodode permanência na Unidade.

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11O TRABALHO EM NOSSAS VIDAS

vem pode anunciar a intenção de substituir o perso-nagem “infrator” por um outro, tal como valorado so-cialmente, mas sem que ocorra superação, pois esta-rá apenas repetindo ou repondo papéis prescritos; ou,pode interagir com esse personagem de forma autô-noma, crítica e criativa, sem meramente repetir o quefoi interiorizado, ocorrendo então uma metamorfose.

A postura para com os jovens na Unidade deve visar,claramente, tal metamorfose – mas isso não necessaria-mente ocorrerá em curto espaço de tempo. O que po-demos fazer é, nas relações estabelecidas com os jo-vens, gerar condições de reflexão para que, dentro e forada instituição, possam criar alternativas de identidade,que passam pelo desenvolvimento de outros persona-gens – como o de “trabalhador”, por exemplo.

Em belo estudo que visou a compreensão do pro-cesso de construção da identidade, Cristina Almeidade Souza, com base na teoria de Ciampa, investigou aconstrução do personagem “trabalhador” entre jovensmarginalizados socialmente (alguns dos quais infrato-res), que estavam entrando no mundo do trabalho pormeio de programa de profissionalização de uma gran-de empresa. Seu estudo mostra como basicamentedois fatores contribuíram para transformações nos jo-vens: o oferecimento de alternativas concretas propi-ciadas pelo programa – condições dignas de trabalho,de remuneração e perspectivas de desenvolvimento,que permitem fazer planos, estabelecer projetos defuturo; e o novo olhar que lhes foi dirigido pelos pro-fissionais do programa, que passaram a reconhecerneles outras potencialidades, possibilitando a identifi-cação com novos personagens (Souza, 1994).

Essa teoria e esses estudos chamam nossa aten-ção para o equívoco de reduzir a identidade dos ado-lescentes a um papel social ou a um só personagem(como “delinqüente”): outras dimensões de sua iden-tidade podem ser resgatadas e favorecidas, visandosua metamorfose. (Para aprofundar essa questão, leiaA estória do Severino e a história da Severina, de Ciam-pa, 1996, e o trabalho de Souza, 1994 – veja as refe-rências ao final).

No trabalho com jovens da Unidade, a questão daidentidade está sempre presente. Em geral, a socie-dade tende a considerar identidade como algo estáti-co, imutável; a destacar um único aspecto e conside-rá-lo como o todo da pessoa – por exemplo, é fre-qüente rotular o jovem de “infrator” e considerá-loapenas como tal.

No entanto, a visão aqui adotada é a de identidadenão como traço estático do sujeito, mas como um pro-cesso dialético e contínuo de identificação: identida-de é movimento, transformação, ação, interação noseio de relações sociais históricas. Segundo essa teo-ria de identidade, proposta por Antonio da Costa Ciam-pa (1996) no âmbito da Psicologia Social, um conceitoimportante é o de personagem. Todos nós desempe-nhamos continuamente papéis sociais; o papel social(de professor, de mãe...) é algo prescrito, um modelo,um padrão. O personagem está relacionado a papéissociais, mas é diferente destes: para conhecer o per-sonagem, precisamos acompanhar a ação do sujeito,como ele desempenha o papel, mas não só: é neces-sário saber sua história, o modo como esse persona-gem foi construído e as relações que mantém comoutros personagens. Por exemplo, uma determinadaprofissão pode prescrever uma certa forma de agir;mas se considerarmos duas pessoas de mesma pro-fissão, poderemos estar diante de personagens dis-tintos, embora o papel seja o mesmo.

A identidade é a articulação de uma multiplicidadede personagens que se constituem reciprocamente,num processo dinâmico de transformação nas rela-ções sociais. Novos personagens vão sendo constru-ídos, outros ficando em segundo plano. E, mesmo soba aparência de não-transformação, há movimento.Quando há reposição da identidade, a pessoa podeestar repetindo o que foi interiorizado porque pressu-posto pelo olhar do outro, pelo contexto social; nessecaso, há movimento, mudança, mas não há supera-ção. E pode ocorrer transformação da identidade pelaadoção de novos personagens, pela superação dasprescrições dos papéis vigentes. Por exemplo, um jo-

DENTIDADE E PERSONAGEM

mostrar como gosta (ou não gosta) de tal trabalho,você pode perguntar “Por que gosta (ou nãogosta)? O que aconteceu, uma experiência boa (ouruim)? Você não quer nos contar um pouco mais?”Trazer para a reflexão essas experiências de vidacom o trabalho é fundamental, se pensamos naidentidade desses jovens. A sociedade, a instituiçãoe os educadores devem evitar reduzi-los aopersonagem de “infrator”. Esses jovens são

também alunos, em muitos casos trabalhadores,filhos, namorados apaixonados; às vezes, jovensesposos e pais etc. Suas identidades ainda sãomarcadas por sonhos de futuro, projetos...Portanto, este é o momento de deixar que umpouco dessa riqueza se manifeste (veja a respeito aseção Aprofundando, “Identidade e personagem”).Ao mesmo tempo que eles falam, vá anotando nalousa palavras chaves ou aspectos importantes de

APROFUNDANDO

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12EDUCAÇÃO E CIDADANIAcada fala. Por exemplo, “(Fulano) numa oficina,aprendeu a lidar com motores de automóveis”,“(Sicrano) frentista, o salário ajudava a manter afamília” etc. Lembre-se que, ao estimular osrelatos e fazer as anotações, seu objetivo éaproximá-los do conceito de trabalho, numalinguagem que compreendam. Trabalho tem váriossentidos: satisfação de necessidades, ganhomonetário, sobrevivência, aprendizagem, relaçõescom novos colegas, prazer, exploração, sofrimentoetc. Assim, quando terminarem as falas, os alunospoderão, observando as anotações da lousa,levantar os tipos e os significados de trabalhopresentes em suas narrativas (será só ir grifando,como sugerido acima). Nesse momento, pergunte,ainda, que outros significados seriam possíveispara o trabalho. Por exemplo, nas anotaçõesapareceu prazer? É possível experimentar prazerno trabalho? Proponha, também, que retomemsuas narrativas e procurem encontrar sentidosnovos em suas experiências com o trabalho, algoque antes lhes escapara.

Observando a lista, chame a atenção para avariedade de sentidos que o trabalho pode assumir.Para um representa um peso, exploração, paraoutro é realização, prazer, outro, ainda, considera-oapenas do ponto de vista financeiro... Também háos que o consideram tudo isso, ao mesmo tempo.Ao longo da vida, uma pessoa, com base em suasexperiências, representa-o de modos diversos.Quem nunca mudou de idéia ou sentimento quemantinha em relação ao trabalho? Portanto,destaque a importância de nos mantermos abertospara a transformação, para o aprendizado.Depois dessa sistematização, observe novamentecom os jovens as produções feitas no início do dia edeixe claro que também são trabalho. Estudartambém é trabalhar: é uma atividade que preenchenecessidades de conhecimentos que são básicospara a vida no mundo contemporâneo.Organize então uma discussão coletiva,assinalando que as produções dos alunos não sãoiguais. Chame a atenção para as diferenças entreelas (escolha do modo de expressão, do material,tipo de relação que o jovem mantém com ambos...)e pergunte por que as diferenças. Deixe que odebate flua o mais livremente possível, atue apenasno sentido de ajudar a organizá-lo, não emita suasopiniões nesse momento. Por outro lado, vocêprecisará fazer perguntas que permitam melhoresclarecimento das idéias apresentadas e tambémprovoquem maior reflexão. O objetivo é quepercebam que as produções são diferentes porqueas pessoas são diferentes, cada uma tem seu jeitode ser (modos de pensar, de sentir, habilidades,preferências...), cada sujeito tem sua história devida, que é única; os jovens deixaram sua marcanaquilo que criaram, um pouco do que são aparecenessas obras. Assim, o trabalho pode expressaralgo de nossa subjetividade, de nosso jeito de ser.Marque essa outra conclusão na lousa, de modobem simples, por exemplo: “o trabalho podeexpressar nosso jeito de ser”; ou, “no trabalhopodemos mostrar um pouco do que somos”.Pelo trabalho também construímos nossaidentidade, que nunca está pronta, acabada, masem permanente movimento, transformação.Explique que o trabalho permite que nosrelacionemos com homens e mulheres de nossotempo e de épocas passadas, que participemos da

LÍCITO X ILÍCITOSe os alunos fizerem referência a atividades ilícitas,que desenvolviam antes de chegar à Unidade, e ascaracterizarem como trabalho, explique que estãotratando apenas do trabalho lícito e retome ascaracterísticas do conceito de trabalho que estãoconstruindo. É um trabalho que:� é produto da criatividade humana;� é a favor de uma vida melhor e de um mundo

melhor;� não compromete a existência humana nem a

liberdade.

Para organizar as idéias das discussões realizadasaté esse ponto, comece por listar, noutra parte dalousa, os diversos significados, as diferentes idéiasde trabalho que apareceram. Essa lista seráretomada e enriquecida sempre que um novoconhecimento for construído.

Trabalho é:sustento da família /atividadepara satisfazer necessidadesaprenderconhecer novas pessoasexploração etc.

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13O TRABALHO EM NOSSAS VIDASAPROFUNDANDO

Estas informações podem ser úteis para contex-tualizar as figuras reproduzidas na ficha 1.

Trabalho escravo: esteve presente em vários perío-dos da história, em diversas civilizações, na Grécia eem Roma antigas, por exemplo. No Brasil, a escravi-dão, como base da produção e de acordo com as leis,durou mais de trezentos anos, de meados do séculoXVI até o final do século XIX. Aqui, foram escraviza-dos índios, africanos (trazidos para a produção deaçúcar e outros trabalhos nos períodos colonial e im-perial) e mestiços, todos tratados como coisas, mer-cadorias: eram vendidos e comprados. Naquela épo-ca (e nossa sociedade tem reflexos disso até hoje), otrabalho braçal, manual, era desprezado, era para es-cravos. Hoje, embora ilegal e não como forma predo-minante, ainda há trabalho escravo em nosso país.Vez por outra, lemos nos jornais notícias sobre traba-lhadores rurais impedidos de sair de fazendas vigia-das por pistoleiros a serviço dos proprietários. Sãopessoas muito pobres, “contratadas” por fazendeirosque lhes cobram caro por abrigo, alimentação e ins-trumentos de trabalho. Tão baixos são os salários queos trabalhadores nunca conseguem saldar as dívidase ficam reféns dos fazendeiros.

Trabalho em mutirão: sua presença, na periferiadas grandes cidades brasileiras, tem ganhado desta-que na imprensa. Ocorre, por exemplo, quando ami-gos, colegas ou vizinhos ajudam uma família na cons-trução de sua casa, sem esperar nada em troca, ex-ceto o mesmo tipo de solidariedade. Esse tipo de tra-balho é historicamente muito antigo e, aqui no Brasil,já era praticado no campo. O trabalho em mutirãoenvolve organização e pode ser uma política pública.

Trabalho na construção civil: abriga desde traba-lhos socialmente valorizados, como o dos engenhei-ros, até aqueles que exigem menor qualificação e sãomenos valorizados, como o de ajudante de pedreiro,encanador ou pintor. Muitos aprendem tais trabalhosna prática, realizando-os em precárias condições desegurança e sem os benefícios dos direitos trabalhis-tas. Mas também é possível que esses trabalhado-res, como autônomos, beneficiando-se dos estudose de informações sobre novas técnicas e seus direi-

ORMAS PASSADAS E PRESENTES DETRABALHO NO BRASIL

tos (o que implica participar de grupos organizados),se desenvolvam e conquistem uma vida melhor.

Trabalho informal: muitos trabalhadores não en-contram emprego (o que faz parte da lógica do capi-tal), por isso submetem-se a atividades na chamadaeconomia informal, que inclui trabalhos que não têmqualquer regulamentação legal: sem contrato, semregistro em carteira, sem previdência social, sem as-sistência médica, sem aposentadoria... A economiainformal, nas duas últimas décadas, foi um dos seto-res que mais cresceu, devido ao desemprego e à re-cessão. Nas grandes cidades, os vendedores ambu-lantes ou camelôs, em constante conflito com fiscaise a polícia, são exemplo disso. Em 1993, o Sindicatodos Trabalhadores na Economia Informal, na cidadede São Paulo, realizou uma pesquisa segundo a qualo comércio de ambulantes, na verdade, distribui novarejo mercadorias de grandes atacadistas, que seaproveitam desse setor para vender seus produtossem pagar impostos e encargos sociais. Isso questio-na o uso do termo “informal”, pois os produtos vendi-dos são da economia formal, ficando para o trabalha-dor a insegurança da informalidade.

Trabalho doméstico: em nossa sociedade, o tra-balho doméstico é desvalorizado e fica sob a respon-sabilidade quase exclusiva da mulher. Se realizado pelaesposa, ela não recebe remuneração. No entanto,esse trabalho envolve o cuidado da casa, das crian-ças, da alimentação, das roupas, enfim, da famíliatoda, ou seja, é um trabalho fundamental para a ma-nutenção e a reprodução da força de trabalho, o queinteressa ao capital. Quando a mulher trabalha fora, otrabalho doméstico representa para ela uma segundajornada.

Trabalho artístico: desenvolve diferentes lingua-gens (música, pintura, teatro, cinema, poesia, dança);expressa sentimentos e idéias (individuais ou coleti-vas), provoca sentimentos; pode criticar a ordem so-cial, os valores estabelecidos, apontar para mudan-ças, provocar reflexão. Grande parte desse trabalhoacontece antes da apresentação da obra ao público,exigindo dedicação, estudo e, muitas vezes, esforçosolitário.

DURAÇÃO DAS ATIVIDADESO tempo das atividades dependerá do número de jovens na sala e da participação deles. Por isso, neste primeirodia, sugerimos apenas duas atividades: na primeira, pode-se prever um tempo de 40 minutos para os jovensrealizarem suas produções; na segunda, 10 minutos serão suficientes para a discussão, em grupos, das figurasda ficha 1.

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14EDUCAÇÃO E CIDADANIAcultura da humanidade; o trabalho é possibilidadede humanização: se alguém utilizou papel para fazerum desenho, sabemos que esse papel foi produzidopor trabalhadores de hoje (os que plantam árvores,das quais utilizam-se as fibras de celulose; aquelesque trabalham nas indústrias e outros) e tambémque os chineses o inventaram, no século II d.C.Anote na lousa também este novo aspecto.Para fechar esta atividade, sugerimos queescrevam, coletivamente, um pequeno texto sobre oque é trabalho, levando em conta as característicasou aspectos que foram levantados, discutidos eanotados. Os alunos vão construindo esse texto,com sua ajuda naquilo que for necessário, e você oescreve na lousa, para que todos possam discuti-loe copiá-lo. Suas intervenções terão o sentido defacilitar a aproximação do conceito exposto naintrodução. (Lembre-os de que suas folhas deanotações também deverão ser guardadas noportfólio).

ATIVIDADEVÁRIAS FORMAS DE TRABALHOMaterial necessário: ficha 1Esta atividade é desenvolvida pela observação ediscussão das figuras da ficha 1. Note querepresentam, com alguns exemplos, a diversidadedo trabalho: escravo, em mutirão, na construçãocivil, “informal”, doméstico e artístico.Com esta atividade, pretendemos que os jovenscontinuem a refletir, de modo mais aprofundado,sobre o conceito de trabalho, compreendendo queo trabalho e seus significados transformam-sehistoricamente; e pensem de modo mais crítico navalorização ou desvalorização social que recai sobreos diferentes tipos de trabalho.Diga que continuarão a estudar o trabalho, masanalisando algumas figuras. Oriente-os para seorganizar, primeiro, em pequenos grupos (duas outrês pessoas). Distribua a ficha 1 e verifique, figurapor figura, se reconhecem do que se trata. Cadagrupo analisará apenas uma figura, discutindo oque ela representa, o que as pessoas do gruposabem daquele trabalho, o que pensam ou sentem arespeito dele, que opiniões têm. Durante a

discussão, deverão responder às três questões doverso da ficha: Como é esse trabalho? O que eletraz à(s) pessoa(s) que o realiza(m)? Em que oresultado deste trabalho beneficia outras pessoas?Essas reflexões serão apresentadas para toda a sala.Assim, os grupos devem preparar-se para, na horada exposição oral, não se esquecerem de nada queconsiderarem importante.A apresentação dos grupos poderá seguir a ordemdas figuras na ficha 1. Depois de cadaapresentação, se necessário, você fará uma ou outrapergunta de esclarecimento. Não será, ainda, aoportunidade para debates. Enquanto acompanhaas exposições, anote na lousa trechos queconsiderar relevantes. Por exemplo:

Trabalho escravo:os escravos eram vendidos comomercadoriaos escravos não recebiampagamento

Pelas apresentações, você terá idéia do andamentodas discussões nos grupos.Terminadas as apresentações, será hora para umdebate coletivo. Para iniciá-lo, ponha em discussãoas afirmações dos grupos. Se os jovens, em suasfalas, tiverem apenas reproduzido a desvalorizaçãosocial que recai sobre determinados trabalhos; setransferiram irrefletidamente tal desvalorizaçãopara pessoas que os realizam; se confundiramremuneração com importância do trabalho; se nãoviram nenhuma possibilidade de desenvolvimento,de criação, de prazer, mesmo nesses trabalhos;tudo isso será objeto de questões levantadas porvocê, levando-os a repensar seus juízos. Incentiveque eles próprios também façam suas perguntas,manifestem suas dúvidas. Aproveite para levarconhecimentos novos (nas apresentações, vocêperceberá o que já sabem, o que é necessáriocompletar ou corrigir etc.). Pergunte se apenas asatividades remuneradas são trabalho. Resuma comos jovens as principais idéias dessa atividade,anotando-as na lousa; eles as copiarão no espaçocorrespondente no verso da ficha 1.Em seguida, faça um fechamento do dia,permitindo que contem o que aprenderam e doque gostaram.

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15O TRABALHO EM NOSSAS VIDAS

LIENAÇÃOE RIQUEZA

Alienação e riqueza são dois conceitos impor-tantes nesta aula. Por isso apresentamos os sen-tidos em que os utilizamos.Alienação: não é um conceito simples e tem

significados diversos, dependendo dos autores.Três pensadores fundamentais na história desteconceito são Hegel, Feuerbach e Marx. No senti-do marxista, crítico em relação ao capitalismo,alienação implica que, na produção, não é o tra-balhador que decide o que produzir e como. Suacapacidade de trabalho foi transformada em mer-cadoria (força de trabalho), vendida e colocada aserviço do capital; o produto do trabalho tambémnão pertence ao trabalhador, não o expressa, aele se opõe. O trabalhador torna-se alheio, estra-nho aos outros trabalhadores, que lhe aparecemcomo competidores; alheia-se de si mesmo, desua humanidade (potencialidades, possibilidadeshumanas historicamente construídas). No proces-so de alienação, os objetos, as mercadorias, asrelações econômicas, a reprodução do capital“ganham” autonomia, já não são vistos como pro-duções sociais, históricas, e passam a dirigir oshomens. Como diz Wanderley Codo, enquantoàs mercadorias são atribuídas características hu-manas ou mágicas (pense no poder de seduçãoque o marketing associa às grifes), o homem per-de sua humanidade, a qual pensa recuperar pormeio do consumo.

“Nesse quadro de vida, a existência é vividanão tanto para a consagração de valores, mas paraa busca das coisas, o produtor se tornando sub-misso ao objeto produzido. É o produto que ga-nha em poder, enquanto o trabalhador se despo-ja do seu próprio poder, conforme já mostradopor Marx nos Manuscritos de 1844.” (Milton San-tos, 1987, p.37)Riqueza: aqui utilizamos riqueza no sentido

econômico de riqueza material, de acúmulo devalor, de valor de troca. E o valor está associadoao trabalho, ao tempo de trabalho socialmentenecessário para produzir certa mercadoria, que éo tempo médio de trabalho gasto na sua fabrica-ção, nas condições históricas de produção dedeterminada sociedade.

Educador, as definições que apresentamossão apenas para você e encontram-se bastantesimplificadas. Para aprofundar seus conhecimen-tos indicamos os livros de Bottomore, Codo e San-droni, na lista de referências ao final.

SUBTEMA 2O TRABALHO ESUAS CONTRADIÇÕESNa primeira aula, foram levantados váriossignificados de trabalho. Dentre as novasidéias que você apresentou, destacam-se otrabalho como possibilidade de expressão, decriação, de humanização.

Neste dia, por meio das atividades propostas,queremos que os jovens discutam o trabalhono capitalismo, como meio de exploração,criação e manutenção de desigualdadessociais, alienação da condição humana. Oobjetivo é permitir que percebam, na reflexãosobre o trabalho e sua organização, condiçõespara a luta por uma sociedade mais justa econtra a alienação. Para isso, propomos oestudo do poema O operário em construção,de Vinícius de Moraes, e a análise de umafotografia da cidade de São Paulo, para quevejam o trabalho e suas contradiçõesmaterializados no espaço urbano.

Para iniciar o segundo dia de atividades sobreo trabalho, será importante lembrar o objetivodos estudos da semana e também aquilo quefoi visto na aula anterior. Você poderá, porexemplo, pedir que os jovens presentes navéspera relatem aos novos, de modo geral, oque estudaram, o que aprenderam. Para isso,podem mostrar suas próprias produções,ainda expostas na sala.

Mostre que, no primeiro dia, vocêsdiscutiram o que é trabalho, os váriossignificados que pode ter, dependendo domodo como é organizado nas mais diversassociedades, da posição social e dascaracterísticas próprias de cada pessoa e,também, das particularidades de cadaatividade. Lembre os aspectos “bons” e“ruins” destacados pelos jovens, aonarrarem suas experiências com o trabalho.Chame a atenção para aquilo queprovavelmente nunca haviam pensado: porexemplo, o fato de que, pelo trabalho,entramos em contato com conhecimentos

APROFUNDANDO

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16EDUCAÇÃO E CIDADANIAproduzidos por diferentes civilizações, emdiferentes épocas.

Esse tipo de procedimento – que deve serrepetido no princípio de todos os dias –permite articular os novos estudos aosanteriores (aos conhecimentos já adquiridos) eavaliar em que medida há aproximação dosobjetivos propostos.

ATIVIDADETRABALHADOR EMCONSTRUÇÃOMaterial necessário: fichas 2A e 2B; papelsulfite; folhas de papel pardo, pincéis atômicos,lápis de corNesta atividade os jovens acompanharão omovimento de um operário que toma consciêncianão somente de sua exploração, mas ainda – e isso éo fundamental – de sua condição de construtor de“casa, cidade, nação”, de produtor de riqueza, oque lhe dá força para “dizer não”. Em outraspalavras, o operário deixa de ser objeto (das ações,do comando, da exploração capitalista) e passatambém a ser sujeito que, junto com outrostrabalhadores, pensa criticamente sua realidade eage sobre ela, buscando modificá-la. O movimentodo operário de Vinícius representa, poeticamente, omovimento histórico de construção da consciênciada classe trabalhadora enquanto tal.Aproveite a retomada da véspera para introduziresta atividade. Diga-lhes que estudarão hoje aexploração do trabalho em nossa sociedade e a lutados trabalhadores contra essa exploração. Essesestudos envolverão a análise de uma frase sobre otrabalho, de um poema e de uma fotografia dacidade de São Paulo (mostre aos jovens as fichas2A e 2B).Apresente duas perguntas para que os jovenspensem ao longo da atividade. Escreva-as nalousa, faça uma rápida discussão sobre a primeirae explique que ambas serão retomadas ao final dodia:

O título desta atividade é“Trabalhador em construção”.O que pode significar este título?

Que descoberta dá força aostrabalhadores para lutaremcontra a exploração?

Em seguida, proponha a análise da seguinte frase,que também deve ser registrada na lousa:

“Somente o trabalho produzriqueza.” (afirmação escrita nafachada de um grande banco)

Diga que o objetivo desse momento é trazer osconhecimentos que eles já têm a respeito darelação entre trabalho e riqueza. Peça que formempequenos grupos, de dois ou três, onde discutirãoesta frase, guiados pelas questões: O que pensamsobre ela, concordam com ela ou não? Por quê? Eo que acham do fato de a afirmação estar escrita nafrente de um grande banco?Estabeleça um tempo para a discussão e oriente-osa anotar suas conclusões, preparando-se paraapresentá-las. Enquanto discutem, você devepassar pelos grupos, tirando dúvidas, lançandoperguntas que ajudem a pensar etc. Ofundamental é estimular a reflexão, a troca deidéias, a manifestação de opiniões.Na seqüência, haverá apresentação das conclusõesdos grupos e um debate coletivo. Nessesmomentos, suas intervenções serão orientadaspelos objetivos da aula e dependerão das idéiasapresentadas pelos jovens. Por exemplo, eles talvezassociem produção de riqueza apenas a atividades,profissões ou profissionais que imaginam bemremunerados, mas não a trabalhadores que moramem bairros sem infra-estrutura adequada e cujosfilhos abandonam cedo a escola, porque precisamtrabalhar para aumentar a renda familiar. Caberá avocê levantar questões que provoquem reflexãosobre isso: As casas, os prédios, as mercadoriasque esses trabalhadores produzem não sãoriqueza? Como fecho da sensibilização, com aajuda dos jovens, organize na lousa as principaisidéias ou conclusões que apareceram. Esse resumoserá útil na continuidade da aula.Em seguida, anuncie que irão estudar o poema Ooperário em construção, de Vinícius de Moraes. Deinício, fale um pouco sobre o poeta (seria ideal sepudessem ouvir uma das inúmeras canções cujasletras são poemas dele).

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17O TRABALHO EM NOSSAS VIDAS

VINÍCIUS DE MORAESVinícius de Moraes nasceu em 19 de outubro de1913, no Rio de Janeiro. Estudou Literatura Inglesae Direito. Aos 20 anos publicou seu primeiro livro depoemas, O caminho para a distância. Dedicou-se àcarreira literária e também à diplomacia, tendotrabalhado em consulados e embaixadas do Brasilnos EUA e na França. Vinícius morreu em 9 de julhode 1980, em sua cidade natal.O poema O operário em construção foi publicadoem 1956 no quinzenário Para Todos, onde passou acolaborar, a convite de seu amigo Jorge Amado.Alguns de seus poemas mais conhecidos são:Soneto da fidelidade, O dia da criação, Soneto dadespedida, Poema de Natal, A rosa de Hiroxima.A partir do final da década de 50, compôs a letra degrandes sucessos da bossa nova (ele foi um dosfundadores desse movimento); seus parceiros maisfamosos foram Tom Jobim, João Gilberto, CarlosLira, Pixinguinha, Baden Powell, Edu Lobo, AryBarroso e Toquinho. Algumas músicas com letra deVinícius são: Chega de saudade, Felicidade, Setodos fossem iguais a você, Garota de Ipanema,Marcha da Quarta-feira de Cinzas, Minhanamorada.Fonte: Coutinho, 1986.

Converse um pouco com os jovens sobre poesia,veja se conhecem algum poema, se gostam ou nãode poesia e por quê. Se notar que há poucointeresse pelo tema, desafie-os argumentando queé preciso conhecer para gostar. Veja se identificamas letras de canções populares como poemas.Sobre este poema em particular, adiante que traz ahistória de um operário que tomou consciência daimportância de seu trabalho e da exploração de queera vítima. A primeira leitura deverá ser sua. Essaleitura é fundamental para a compreensão dopoema pelos alunos. Portanto, familiarize-se com opoema antecipadamente, ao planejar esta aula.Treine a leitura antes, para poder dar a entonação,o ritmo e a emoção adequados. Distribua a ficha2A, para os alunos poderem acompanhar.Para a segunda leitura, junte os alunos em duplas,sendo um dos dois leitor experiente. Vá lembrandoa necessidade de ritmo, entonação, sonoridade.Você pode sugerir que os alunos marquem o ritmode alguma forma, como acontece nas letras de rap.É um texto de grande impacto e certamente

deixará viva impressão. O crescimento daconsciência do operário não escapará dacompreensão dos alunos.Não é nossa pretensão dissecar estrofe por estrofedo poema, nem sair em busca dos significados detodas as palavras que os alunos desconhecem. Esteserá um encontro com a poesia, não vamos esgotá-la (na verdade, os significados de um poema,dados também pelo leitor, nunca findam). Mas,em uma segunda leitura, talvez seja precisoesclarecer algumas expressões ou apresentar outrasequivalentes, por exemplo: “Um dia tentou opatrão/ Dobrá-lo de modo vário”, ou seja, tentouvencer a resistência do operário de outra maneira.Aliás, nessa passagem, se quiser (se os alunosestranharem, ou se alguém se lembrar da passagembíblica), esclareça que o poeta faz alusão a umapassagem dos Evangelhos, de tentação de Jesus:“E o Diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos domudo. E disse-lhe o Diabo: – Dar-te-ei todo estepoder e sua glória, porque a mim me foi entregue edou-o a quem quero; portanto, se tu me adorares,tudo será teu. E Jesus, respondendo disse-lhe: –Vai-te, Satanás; porque está escrito: adorarás oSenhor teu Deus e só a Ele servirás.” (Lucas, Cap.V, versículos 5-8).Terminada a leitura, lance algumas questões gerais,perguntando se gostaram, de que trata o poema, sehá alguma palavra ou trecho que não entenderame, também, se querem uma nova leitura. Seráapenas uma breve apreciação inicial, que lhepermitirá avaliar como os jovens se relacionaramcom o poema.Para discutir mais detalhadamente o que aconteceucom o “operário em construção”, proponha aformação de três grupos. Utilizando papel pardo,cada grupo desenhará uma parte da história desseoperário: como ele era no início, a mudança pelaqual passou, e o que veio depois. Assim, cada grupoirá ler e representar apenas um trecho da poesia:Grupo 1: estrofes 1 e 2 (ou seja, do início até“Não fosse, eventualmente/ Um operário emconstrução);Grupo 2: da estrofe 3 até a 7 (de “Mas eledesconhecia/ Esse fato extraordinário” até“E o operário fez-se forte/ Na sua resolução”);

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18EDUCAÇÃO E CIDADANIAGrupo 3: da estrofe 8 até a penúltima (ou seja, até“- Mentira! Disse o operário/ Não podes dar-me oque é meu”).Combine um tempo para o trabalho nos grupos.Depois, os jovens vão ler o trecho querepresentaram do poema e expor seus desenhos,acompanhando-os de explicações, comentários.Peça que cada grupo dê um título a seu desenho,que será registrado no verso da ficha. Perceba quehaverá a retomada de todo o poema e que ainterpretação ganhará expressão por meio de outralinguagem (o desenho).Aproveite para conversar sobre versos que vocêconsidera importantes, ou belos. Peça que algunsleiam os trechos de que mais gostaram. Faça maisalgumas perguntas, como, O que quer dizer “ooperário começou a dizer não”? Observe seentenderam que a consciência da importância deseu trabalho deu força ao trabalhador: “Mas o quevia o operário/ (...) Via tudo o que fazia/ O lucrodo seu patrão/ E em cada coisa que via/Misteriosamente havia/ A marca de sua mão./E o operário disse: Não!”Então, reponha em discussão as duas questõesapresentadas no início do dia: o significado dotítulo e o que dá força aos trabalhadores paralutarem contra a exploração. Um breve comentárioa respeito da primeira questão: ela deve serpensada a partir da poesia e seu título:“trabalhador em construção” tem duplo sentido.O poeta usou uma expressão do senso comum(sentido de trabalhar em obra) para indicar osentido de formação, crescimento: o trabalhadorconstruindo sua compreensão do mundo, dasrelações econômicas, ampliando sua consciênciasobre o valor e a exploração de seu trabalho, sobreo fato de que sua condição é partilhada commilhões de outras pessoas. A mudança decomportamento do trabalhador sugere ainda sualuta coletiva por novas relações de trabalho. Findaa discussão dessas questões, e sempre relacionandoas novas informações à poesia, fale um pouco dealgumas características do capitalismo.Organize essas informações na lousa de formasimples, pedindo aos alunos para copiá-las. Nofechamento da atividade, retome o poema,resumindo a trajetória do operário e destacandocomo foi fundamental que ele pensasse a respeito

de seu trabalho e do significado desse trabalho paraele mesmo, operário, e para o mundo.A partir disso mudou sua ação. Não mais construirirrefletidamente uma casa aqui, um apartamentomais adiante, sempre para a riqueza do patrão.A ação, pode-se dizer, passou a ser, também, lutapor mudança nas relações sociais, econômicas, naprodução e distribuição da riqueza. E, nessa luta, ooperário já não estava mais sozinho. O poema, pormeio de um operário, diz da história da classetrabalhadora.A próxima atividade visa propiciar uma situaçãoque leve os jovens a pensar o espaço – no caso, oespaço urbano – e sua organização, levando emconsideração a organização do trabalho em nossasociedade.

ATIVIDADEO TRABALHO E A CIDADEMaterial necessário: ficha 2BA atividade envolve a observação da fotografia naficha 2B, em duplas ou trios. Os grupos deverãoobservar, analisar a foto e dar-lhe um título, nãoesquecendo de justificá-lo. Para criar esse título, osjovens também deverão levar em consideração oque aprenderam sobre trabalho durante asatividades do dia.Na introdução da atividade, explique aos alunosque, levando em conta o que perceberam da leiturado poema, o trabalho humano se materializa nosespaços habitados, e que isso ocorre de maneira

CAPITALISMOO objetivo da produção é o lucro, que fica com ospatrões, proprietários dos meios de produção(máquinas, instrumentos de trabalho, matérias-primas, terra etc.).Os trabalhadores, que não possuem os meios deprodução, dispõem apenas de sua força detrabalho para vender e, assim, garantir suasobrevivência.O trabalho produz riqueza, mas ela é distribuída demodo desigual; assim, o capitalismo é marcadopelo conflito entre capitalistas (proprietários dosmeios de produção) e trabalhadores.

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19O TRABALHO EM NOSSAS VIDAS

diversa conforme a história de ocupação de cadaespaço. Oriente-os para uma leitura geral da foto:que tipo de área ela retrata (cidade ou campo?), sea ocupação é toda igual ou se há diferenças, quediferenças são essas; e que formas de trabalhotransparecem na foto.Na hora da apresentação dos grupos, váorganizando um quadro na lousa, com o títulodado para a foto e a justificativa. Isso ajudará vocêa avaliar a aprendizagem dos alunos e, ainda, acomentar e discutir com eles os resultados daatividade.Para encerrar o dia, proponha aos jovens que,individualmente, escrevam sobre:� O que mais gostaram de fazer hoje?� O que aprenderam de mais importante?Reserve um tempo para comentarem suasrespostas.

DURAÇÃO DAS ATIVIDADESA duração das atividades, como sempre, dependerádo tamanho da turma, da participação dos jovens ede sua prática. A atividade principal, sobre o poema,poderá ocupar de uma hora e meia a duas horas.A sensibilização inicial (discussão da frase do banco)deve levar entre 30 e 40min, o mesmo tempo daatividade com a foto. Para quem dispõe deapenas 3h, talvez seja necessário adaptar adinâmica de sensibilização e/ou o trabalho com afoto, optando por passar diretamente para umadiscussão coletiva mais rápida, sem a discussão empequenos grupos, por exemplo.

SUBTEMA 3A ORGANIZAÇÃODOS TRABALHADORESE TRABALHADORASNa aula anterior, os alunos viram, entreoutras coisas, a importância da reflexão sobreo trabalho, caminho para compreender nãosomente a exploração, mas também aimportância dos trabalhadores. Do poemaO operário em construção, destacamos aampliação da consciência do trabalhador esua mudança de atitude. A luta coletiva,embora aparecesse, não foi o foco da atenção.

Hoje, os estudos estarão concentradosexatamente sobre a organização dostrabalhadores para a luta coletiva pordireitos, por trabalho, por cidadania.Desejamos que os alunos compreendam que,para enfrentar as desigualdades sociais quemarcam o capitalismo, em especial no nossopaís, é necessário sair do isolamento eparticipar de movimentos sociais, desindicatos, de grupos. Historicamente, osmovimentos sociais ampliam os significadosda cidadania por meio de lutas organizadas.

Propomos o estudo do MST – Movimento dosTrabalhadores Rurais Sem Terra, comoexemplo de organização dos trabalhadoresque teve maior repercussão política dosúltimos anos, no país. Propomos, também, oestudo de questões relativas à inserção damulher no mercado de trabalho: sua luta pelaigualdade de direitos e contra a discriminaçãoque essa parcela da população ainda enfrentano mundo do trabalho. Assim, uma dasatividades propostas será a discussão dofilme O sonho de Rose, de Tetê Moraes, queapresenta como viviam, dez anos depois, asfamílias que haviam participado, em 1985, daocupação da Fazenda Anonni, um latifúndiogaúcho improdutivo. Foi a partir da ocupaçãoque o Estado agilizou o processo dedesapropriação da fazenda e iniciou oassentamento das famílias, naquela e emoutras áreas do Rio Grande do Sul.

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20EDUCAÇÃO E CIDADANIA APROFUNDANDO

O sonho de Rose, ao mesmo tempo quediscute a situação das famílias depois deuma década, traz um resumo (por imagens)de outro filme da mesma diretora, Terra paraRose, que mostra a ocupação e os conflitosque se sucederam até a desapropriação da

MST: o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra foi fundado em 1984, na cidade de Casca-vel, PR, durante reunião de lideranças campone-sas de 16 estados. Hoje, o MST está presenteem praticamente todo o país, constituindo o prin-cipal movimento social do campo brasileiro. Sualuta pela reforma agrária – pela garantia de terra,trabalho e meios de subsistência para todosos trabalhadores do campo – é luta por justiça so-cial. Entre as ações do MST estão: organizaçãodos trabalhadores rurais que não têm terra; ocu-pações, caminhadas e vigílias para pressionar osgovernos pela reforma agrária; organização de co-operativas; cuidados com educação, formaçãotécnica e política de seus membros.

Latifúndio: são grandes propriedades de terra, algu-mas vezes com áreas maiores do que o territóriode alguns países. Não é incomum serem impro-dutivos. Segundo o geógrafo Ariovaldo de Olivei-ra (1995, p.534), convivemos, no Brasil, “com osmaiores latifúndios que a história já registrou”.

Reforma agrária: no Brasil, segundo o Censo Agro-pecuário de 1995-96, as propriedades rurais commais de 1.000ha representavam 1% do númerototal de propriedades, mas ocupavam 45,1% dasterras agrícolas. Em 1985, ano da ocupação daFazenda Anonni pelos Sem-Terra, a distribuição

EQUENO GLOSSÁRIO DA QUESTÃO AGRÁRIAdas terras agrícolas no Brasil era a seguinte:Reforma agrária é uma política do Estado contrá-ria a essa concentração de terra nas mãos de pou-cos, ou seja, uma política de democratização doacesso à terra, garantindo a função social destaúltima. “Reforma agrária é um conjunto de medi-das que garantam o acesso à terra, aos trabalha-dores sem terra: a desapropriação do latifúndio,para possibilitar esse acesso; crédito, para esseassentado conseguir produzir e se desenvolverna terra; é educação aos filhos dos assentados;é saúde a esses assentados; é um conjunto demedidas necessárias de mudança de políticaspara o campo. Nós acreditamos que se houves-se mais apoio, uma política global de governo,essa vida seria possível a todo trabalhador, pe-queno agricultor, porque ele conseguiria não aban-donar o campo e ir para a periferia das cidadestentar uma vida ilusória” (fala de Darci Maschio,assentado da Anonni, em O sonho de Rose).

Assentamento: depois que uma propriedade rural édesapropriada para fins de reforma agrária, ela édividida em lotes, destinados a famílias de traba-lhadores sem terra. Essas famílias são organiza-das em um ou váriosassentamentos, que preci-sam de infra-estrutura adequada, crédito, asses-soria técnica etc.

terra e sua liberação para fins de reformaagrária. Ao se preparar para desenvolvera atividade com os jovens, assista aos doisfilmes: isso lhe dará mais segurançapara orientá-los na análise d’ O sonhode Rose.

Distribuição de Terrasno Brasil, 1985

Fonte: Oliveira, A. U., 1995

área ocupada pelo totalde grande propriedades(164 milhões ha)área ocupada pelo totalde pequenas propriedades(10 milhões ha)

50 mil grandesproprietários

3 milhões depequenosproprietários

= 100 mil pessoas

94%

6%

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21O TRABALHO EM NOSSAS VIDAS

ATIVIDADEO SONHO DA TERRAMaterial necessário: ficha 3A (verso da ficha 2B);papel sulfite; filmes O sonho de Rose e Terra paraRose, de Tetê MoraesNo início da aula, depois da apresentação dosnovos, peça que os alunos presentes no dia anteriornarrem rapidamente o que foi estudado, asatividades realizadas. Lembre-se dos desenhosfeitos para a poesia.Então, diga que o assunto desta aula é algo muitoimportante para entender o mundo do trabalho: aorganização dos trabalhadores para a luta coletivapor direitos, entre os quais o próprio direito de terum trabalho que garanta a sobrevivência. Se, naaula passada, eles viram um trabalhadorcompreendendo como era explorado e, ao mesmotempo, a importância de seu trabalho, hojeestudarão como, a partir dessa compreensão, ostrabalhadores se encontram e se organizam com oobjetivo de mudar a realidade.Continue, adiantando que irão assistir a um filmechamado O sonho de Rose, sobre a luta de famíliasde trabalhadores rurais por um pedaço de terra.Pergunte se já ouviram falar do MST, se sabemalgo desse movimento. Deixe que se manifestem,que coloquem suas opiniões. Visando preparar osjovens, leia com eles o resumo que está na ficha 3A(no verso da ficha 2B). Destaque que,principalmente em seu início, O sonho de Rosemostra a ocupação da Fazenda Anonni, utilizandoimagens de outro filme da mesma diretora, Terrapara Rose. Você também pode reproduzir na lousa(de forma aproximada) o gráfico apresentado naseção “Aprofundando”, para ajudá-los a visualizar adisparidade da distribuição das terras entre grandese pequenos proprietários. Ainda antes de começar asessão, aproveite para ensinar o significado de algumaspalavras ou expressões que aparecem no filme.Durante a exibição d’ O sonho de Rose, vocêprecisará fazer algumas intervenções, por exemplo,chamando a atenção, logo no início, para a históriada ocupação, ou apontando em que momentos sãoretomadas imagens do primeiro filme (essesflashbacks terminam com imagem “congelada” e“envelhecida”, focada em algum personagem), ouesclarecendo trechos nos quais o som não estiver

bom, ou ainda demarcando quando se passa de umassentamento para outro. Por isso, é fundamentalque você assista ao filme antes, para poder planejarsuas intervenções. Veja na página seguinte umroteiro do vídeo com sugestões.Terminada a sessão, organize a análise do filme,com base no roteiro da ficha 3A. Primeiro,promova uma discussão coletiva, orientada porperguntas gerais (O que mais gostaram no filme?Por quê?/ De quem mais gostaram? Por quê?).Depois, os jovens formarão quatro grupos. Cadaum discutirá um bloco de questões do verso daficha. Marque um tempo de aproximadamente 10minutos para o debate nos grupos que, em seguida,apresentarão suas conclusões, o que poderá suscitarnova troca de idéias. Por fim, proponha a escritaindividual da resposta à última questão da ficha:Que lição eu tiro do filme O sonho de Rose. E garantaa leitura de pelo menos algumas dessas respostas.Ao fechar a discussão, destaque como aparticipação de todos enriqueceu a análise, já quecada um teve seu jeito de ver o filme, foi tocadopor determinados momentos. Essa diversidade depontos de vista é que dá sabor aos encontros, àsrelações humanas.No fechamento da aula, retome a história do filmee destaque que a ação dos Sem-Terra tornouprodutivas diversas fazendas e permitiu a centenasde famílias o acesso à terra – na verdade, o acessoao trabalho – satisfazendo tanto suas necessidadesquanto as da população das cidades. Saliente aindaque, na ação coletiva, os trabalhadores trocamidéias, experiências, conhecimentos, aprendem unscom os outros, ajudam-se mutuamente e ganhamforça. Direitos como limite de 8 horas para a jornadadiária de trabalho, descanso semanal, férias,pagamento diferenciado para horas-extras,aposentadoria, assistência médica, seguro-desemprego, proibição do trabalho infantil e outrosmais foram conquistados pelos trabalhadores em lutascoletivas, semelhantes àquelas dos Sem-Terra, emenfrentamentos que também envolveram sacrifíciosindividuais, em nome de objetivos coletivos, sociais.Se os alunos demonstrarem curiosidade de assistirao filme Terra para Rose, procure organizar estaatividade num outro horário, sempre planejandoantecipadamente o seu desenvolvimento (o quefarão antes e depois da sessão, com quais objetivos).

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22EDUCAÇÃO E CIDADANIA

O filme é um documentário, portanto requer informações paracontextualizá-lo (veja a ficha 3A). Consiste principalmente emdepoimentos de integrantes da ocupação da Fazenda Anonni, querelatam sua situação e dificuldades atuais (~1995), remetendo-se àsexperiências anteriores (a ocupação da fazenda, em 1985-6). Adiretora utiliza a técnica de congelamento da imagem nopersonagem para fazer a ponte entre o presente e o passado – nocaso, usando cenas do filme anterior Terra para Rose –,relacionando o que eram e fizeram há dez anos com o que são efazem. Isso permite reconstituir a trajetória dos integrantes do MST,mostrando como a luta interferiu na vida de cada família. Conversecom os jovens que se trata de pessoas comuns que, pela consciênciae mobilização, puderam transformar um sonho em realidade. Nestesentido, o filme também é um instrumento de consciência paraoutras pessoas, que enfrentam problemas semelhantes.

INÍCIO ATÉ 6 MIN� 1985, Fazenda Anonni, RS; área de 8.000 ha em processo de

desapropriação desde 1972; liberada em 1986 para oassentamento de 300 famílias

� 1.500 famílias sem terra.Ressalte como era e como está a Fazenda Anonni: de grande

propriedade considerada improdutiva (como muitas no país),transformou-se, pelo trabalho das famílias que a ocuparam,mediante muita luta e organização coletiva. A paisagem retratada éproduto desse trabalho e dessa luta.

MINUTO 6� Reencontro da diretora com as famílias assentadas em 1996;

confraternização.Você pode discutir o trabalho da cineasta, permitindo que tantos

conheçam essa forma de organização dos trabalhadores. Ressalte osaspectos de lazer e diversão entre as famílias, importantes para ogrupo na construção de sua identidade.

MINUTO 8� Depoimento da família Maschio: como a conquista da terra

mudou sua vida� O sonho coletivo nunca acaba: sonha-se mais, por uma

sociedade mais justa para todos.Cada um, tal como Darci e Lorene, tem seu papel nessa luta.

Com as dificuldades enfrentadas, pode-se aprender cada vez mais ecorrigir os erros.

MINUTO 13� Apresentação de uma das três cooperativas que se formaram na

fazenda (a Cooptar)� O trabalho e os meios de produção são coletivos� A produção é diversificada (em oposição ao modelo dominante

de monocultura).A cooperativa foi a forma que os assentados adotaram para

viabilizar a produção e distribuição, em contraponto às grandesempresas do mercado. Seus resultados derivam de decisões e dotrabalho coletivo; o custo de produção é menor, o que possibilitabaratear os produtos. A creche no assentamento mostra o trabalhocoletivo de mulheres. Ressalte como os filhos dos assentados podemreconhecer a importância do trabalho de seus pais e desfrutar dasmuitas conquistas alcançadas.

MINUTO 20� Seis escolas estaduais de ensino fundamental nos assentamentos

têm 400 alunos.Para obter a instalação das escolas também foram necessárias

muitas lutas: são os trabalhadores rurais defendendo o direito àeducação.

MINUTO 22� Depoimento da família Schwaab (Egon): diferenças entre os

“sonhos” de cada família.

O SONHO DE ROSE: SUGESTÕES PARA DISCUSSÃO DO FILMEEmbora cada família lute para realizar seu próprio sonho, a ação

coletiva revela respeito e solidariedade. As cenas também trazem àtona a questão do sentimento de pertença, referência para a própriaidentidade do jovem.

MINUTO 29� Outra cooperativa, a Cooanol

Destaque o depoimento de que, a cada etapa vencida, outra seinicia. Comente como a superação de novos desafios pode nostornar mais conscientes, favorecendo o desenvolvimento pessoal.

MINUTO 37� Outra família, a de João Fiorezzi: a transmissão às novas

gerações da busca por justiça social.Para os jovens esta pode ser ocasião de discutir a importância

dos mais velhos para apontar rumos do projeto de vida e de atuaçãono presente.

MINUTO 41 E SS:OUTROS ASSENTAMENTOS

� O encontro com famílias de outro assentamento, no municípiode Trindade do Sul

� A família Campigotto (Rita e Alceu)Nesse assentamento o conflito entre trabalho coletivo e individual

foi mais intenso, mas se busca sempre uma solução conjunta.� O assentamento de Nova Ramada� As famílias de Dilma Silva e Serli e José Piovesan

Depois da Anonni, continua-se lutando por outrosassentamentos. Outro exemplo da transferência de valores de lutapara os filhos.

MINUTO 66� Assentamentos próximos a Porto Alegre� A família Reichenbach (Cleusa e Paulo)

Uma vez conquistada a terra, é preciso continuar lutando, porsaúde, educação…

MINUTO 70-73� Famílias Brancher (Terezinha e Francisco), Vivian (M. Terezinha e

Idênio João), Oliveira (Juraci)Depoimentos que reforçam o significado de cooperação e da

vida em comunidade. A conquista da terra, da casa de madeira, daluz elétrica é resultado da mobilização e ação coletiva.

MINUTO 79� O significado de reforma agrária� A visão de Darci Maschio

O sentido da reforma agrária e o apoio necessário para que aspessoas possam ter garantido o acesso à terra e à produção, comdignidade.

MINUTO 82� O destino de outros participantes da luta de 1985

O depoimento de Luci, que vive e trabalha em Porto Alegre,revela como a participação no MST mudou sua forma de ver e atuarno mundo do trabalho. Para os jovens essa reflexão pode mostrarcomo a participação em movimentos organizados permite aconstrução de um outro olhar para a realidade, de maneira quepossam atuar na conquista de direitos e condições dignas detrabalho.

MINUTO 87� Entrevista com a família de Rose, liderança feminina fundamental

do movimento, mas cujos familiares não receberam um lote deterra.Afinal de que serviu O sonho de Rose? Simboliza a luta por uma

sociedade mais justa, revelando a necessidade da continuidade domovimento. Rose faleceu em 1987, atingida por um caminhãodesgovernado, em um dos conflitos pela posse da fazenda Anonni.

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23O TRABALHO EM NOSSAS VIDAS

ATIVIDADEO TRABALHO DA MULHERMaterial necessário: ficha 3B; papel sulfite.O estudo do trabalho feminino será realizado emdois momentos: apresentação de dados geraissobre a inserção da mulher brasileira no mercadode trabalho e estudo da história de vida de umametalúrgica, texto que se encontra na ficha 3B.Para abordar a situação do trabalho feminino hoje,no Brasil, é importante, que você apresente aosalunos, em uma exposição dialogada, alguns dadosque indicam o crescimento da inserção da mulherno mercado de trabalho, seu grau de instrução, adiferença de salários entre homens e mulheres,bem como as repercussões na sociedade dessamaior participação feminina no mercado detrabalho (veja seção Aprofundando, à páginaseguinte).Após a exposição dialogada, os alunos deverãorealizar a atividade proposta na ficha 3B. Estaficha traz um relato de trabalhadora metalúrgicaque mostra como a luta das trabalhadoras aconteceno cotidiano das empresas e dos sindicatos.Distribua a ficha, peça que leiam em duplas outrios. Esclareça dúvidas, verifique se há expressõesdesconhecidas. Com certeza, será preciso explicar“Não virei dirigente sindical nos salões daFIESP”: explique que os dirigentes dessaFederação (de patrões) sentam-se à mesa denegociações com dirigentes sindicais. Com essafrase, a autora quis dizer que não é pelega.“Pelego” é a expressão usada no meio sindical parareferir-se a sindicalistas que, em vez de atuar emprol dos trabalhadores, apóiam propostas dospatrões. Em seguida, devem responder asperguntas no verso da ficha. Se algum grupo achardifícil a terceira questão (que pede para “comentar”as formas de discriminação relatadas), ajudesugerindo um começo de frase: “Mulher ganharmenos que homem, fazendo o mesmo trabalho, é ...”.Quando terminarem, peça aos grupos que relatemoralmente suas respostas. As palavras registradasna resposta à última questão deverão ser anotadasna lousa e compor um painel (com títuloadequado, pode ser o mesmo da atividade), paraser comentado por você e pela classe. Verifique se

perceberam que a história de Lucy é representativada de muitas outras mulheres. Pergunte sobreoutras histórias parecidas, de mulheres que osalunos conheçam. Mostre que aqueles casos queparecem isolados, individuais, formam na verdadeum fenômeno social. E diga-lhes que as mulheresvêm se organizando em vários movimentos – nãosó no meio sindical – para fazer valer seus direitos.Em seguida, faça com os alunos o fechamento daatividade, garantindo que tenha havidocompreensão dos seguintes pontos:� cada vez mais há mulheres trabalhando, mas

elas continuam sendo discriminadas;� mulheres em geral têm de apresentar maiores

qualificações para concorrer com homens a ummesmo posto de trabalho;

� mulheres se organizam ou se inserem nasorganizações de trabalhadores para lutar tantopor melhores condições de trabalho como pelofim da discriminação contra elas;

� o preconceito contra mulheres persiste nasvárias instituições sociais, mesmo nos meiossindicais onde se pleiteia a igualdade;

� a maior participação da mulher no mercado detrabalho provoca mudanças em toda a sociedade.

No fechamento do dia, saliente o papel daorganização dos trabalhadores e trabalhadoras naluta por melhores condições de trabalho e vida, oque fica evidenciado na organização dos sem-terra(filme O sonho de Rose) e na história de vida dametalúrgica Lucy Aguiar. Essas são soluçõescoletivas que homens e mulheres, que acreditam navida e na liberdade, foram construindo ao longo dahistória para enfrentar a desigualdade social.

DURAÇÃO DAS ATIVIDADESA introdução da aula e a leitura da ficha 3A devemdurar perto de meia hora. O filme tem uma hora emeia de duração. Sua análise pode durar até umahora; o estudo do trabalho feminino e da ficha 3Btalvez leve mais de uma hora. Assim, será preferível,se possível, que os alunos vejam o filme em horárioanterior ao da aula. E, durante esta, vocêselecionará apenas algumas passagens parareverem juntos – nesse caso, para facilitar, será útilvocê anotar, em minutos e segundos, onde estão ascenas selecionadas.

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24EDUCAÇÃO E CIDADANIA APROFUNDANDO

No Brasil, em 1970, de cada 100 mulheres, 18estavam no mercado de trabalho; em 1983, esse nú-mero cresceu para 36 e, em 1995, chegou a 48 mu-lheres (dados do IBGE). Dados coletados em 1999(PNAD/IBGE) confirmam esse aumento da participa-ção feminina no mercado de trabalho. Veja como oquadro se apresenta atualmente na tabela abaixo.

Tabela:Participação feminina na PEA(população economicamente ativa), Brasil,1999Condição No absoluto Em relação Em relaçãode ocupação ao total da à PEA (%)

pop. (%)Mulheres 67.053.709 51,6 –(total pop.)Econ. ativas 32.834.366 25,2 41,4Ocupadas 28.863.205 22,2 36,4Desocupadas 3.971.161 3 5Não-econ. ativas 34.219.343 26,3 –Fonte: PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra deDomicílios) IBGE, 1999.PEA = População economicamente ativa = pessoas comidade de 10 anos ou mais que trabalham (ocupadas) ouprocuram trabalho (desocupadas).

Apesar desse crescimento quantitativo, a presen-ça das mulheres no mercado de trabalho não temsido sem conflitos, já que este ainda é dominado porleis que não são observadas, ou são “dribladas”, epela cultura e preconceitos masculinos. Por exem-plo, embora a lei assegure proteção à mulher que vaiser mãe, os patrões, ao contratar mulheres, exigemprovas de que não estão grávidas, ou mesmo exi-gem certificado de que foram esterilizadas.

Como a concorrência para os mesmos postos detrabalho é desigual, dado o preconceito de muitos

empregadores, o nível de exigências para contratarmulheres costuma ser maior. Assim, é comum umamulher tem mais escolaridade do que seu colegamasculino. O nível de instrução das mulheres ocupa-das é superior ao dos homens: em 1999, a propor-ção das que possuíam 8 ou mais anos de estudo erade 45,5%, enquanto essa mesma proporção, no casodos homens, era de 36,4%.

No entanto, no aspecto salarial, a mulher conti-nua sendo discriminada. Em todo o país em 1999,considerando-se a somatória dos salários auferidospor homens e mulheres, estas tiveram um rendimen-to médio de 320 reais, contra 534 reais dos homens,ou seja, 60% do rendimento masculino. Essa dife-rença varia conforme o setor e atividade profissio-nal: enquanto, em profissões de tipo executivo, a di-ferença quase não existe, em ocupações menos qua-lificadas ela é exacerbada; por exemplo, não é rarouma indústria contratar mulheres para determinadafunção, mas atribuindo-lhes cargo “inferior”, de modoa pagar-lhes menos.

Apesar dos preconceitos ainda vigentes, veladosou não, em relação ao trabalho feminino, a presençadas mulheres cresce sobretudo nos serviços bási-cos e nas funções de direção e de nível superior. Atu-almente, com a crescente escassez de postos de tra-balho, as mulheres com mais instrução têm logradovantagens para obter emprego. Mulheres ocuparam68% das vagas abertas entre 1989 e 1997, contra32% dos homens. No período anterior, de 1979 a1989, 52,2% das oportunidades eram dos homens e47,8%, das mulheres (IBGE, 1999).

Essa ampliação da ocupação feminina acarretadiversas mudanças na sociedade. Por estarem traba-lhando, muitas mulheres deixam para ter filhos “maistarde”, o que resulta no fenômeno conhecido por adia-mento da maternidade e maior distância etária entreas gerações; outras repercussões dessa maior parti-cipação feminina são a redução do número de filhos,aumento do padrão de consumo familiar e do inves-timento em educação.

ADA VEZ MAIS MULHERES NOMERCADO DE TRABALHO

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25O TRABALHO EM NOSSAS VIDAS

SUBTEMA 4O TRABALHO HOJEPretendemos nesta aula discutir com osjovens o mercado de trabalho na atualidade:qual a situação do mercado, como buscarinformações úteis para conseguir trabalho, queconhecimentos ou formação são necessáriospara exercer determinadas atividades.

Iniciamos com uma situação-problema,atividade de aquecimento, que envolverápensamento lógico e servirá para aproximaros jovens, estimular a cooperação e a troca deidéias. Em seguida, após um levantamentodas estratégias que os alunos utilizam paraprocurar emprego, irão pesquisar anúncios deemprego em jornais e ler sobre instituiçõesque podem auxiliá-los tanto na busca portrabalho como na continuidade dos estudos.Pensamos que, com essas atividades, osalunos irão enriquecer seus repertórios deconhecimentos e informações sobre oassunto. Depois, irão fazer uma dramatização,envolvendo a rotina de algumas profissões ouocupações. O objetivo é que aprendam aobservar mais detalhadamente aquilo que ascaracteriza, para poder fazer escolhas maisadequadas. Finalmente, farão a leitura dotexto “O mercado de trabalho hoje”, com baseno qual exercitarão noções de porcentagem.

Não abandone a discussão das contradiçõesque marcam o trabalho em nossa sociedade.Você deve retomá-la sempre que acharnecessário, no início do dia, durante asatividades e no fechamento da aula. Mesmoque cada aula dedicada ao tema tenha certaespecificidade, não se pode esquecer deapontar para os alunos as relações entre elas.Nesta quarta aula, por exemplo, a questão daorganização dos trabalhadores continuapresente. Os efeitos da globalização alcançamo próprio exercício da cidadania; os rumos dopaís são determinados por interesseseconômicos, sob forte pressão das empresasmultinacionais, por sua vez preocupadas com areprodução do capital e não com a qualidadede vida, emprego etc. Os trabalhadores

organizados, junto a outros movimentossociais, têm se batido pela defesa do direitoao trabalho, pondo a vida acima daacumulação de riquezas. Seu aluno terá maispossibilidades de encontrar emprego, decontinuar os estudos, de reivindicar, departicipar da cidade, se não atuar sozinho, sebuscar ajuda em grupos organizados, emsindicatos, centrais sindicais, ou mesmo emprefeituras progressistas.

Comece a aula retomando o dia anterior,pedindo que os jovens falem do filme e do queaprenderam a respeito da organização dostrabalhadores e trabalhadoras.

Diga-lhes que, hoje, discutirão sobre asformas de conseguir trabalho, as dificuldadese exigências do mercado, e que conhecerãoinstituições que se propõem a ajudar ostrabalhadores nesta questão. Pretendemosque conheçam diversas formas de procuraremprego e, ao mesmo tempo, aprendam aidentificar as transformações atuais domercado de trabalho.

ATIVIDADEPROCURANDO EMPREGOMaterial necessário: ficha 4A; cadernos deanúncios de empregos de qualquer jornal; papelsulfite, papel pardo.Faça uma introdução para a atividade deaquecimento e organize os alunos em duplas outrios, orientando-os na leitura do problema delógica da ficha 4A:

Pedro, Carlos, João e José são

amigos que trabalham no centro da

cidade em empregos diferentes:

lanchonete, padaria, pizzaria e

locadora de filmes.

Um dos amigos de Pedro é auxiliar do

padeiro. João e José não lidam com

filmes. O serviço de Carlos é entregar

pizza. O primeiro emprego de José foi

numa lanchonete, mas hoje ele já

mudou de serviço.

Onde José trabalha?

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26EDUCAÇÃO E CIDADANIA APROFUNDANDOVocê pode fazer uma leitura oral coletiva, ou deixarque ela seja feita nos grupos. É preciso garantirque todos compreendam o enunciado doproblema, de modo a assegurar a participaçãodaqueles que tenham dificuldades com a leitura.

PROBLEMA NÃO-CONVENCIONAL,PROBLEMA DE LÓGICA

Não-convencionais são os problemas que têmestrutura diferente daqueles geralmente propostosem livros didáticos. A busca de sua solução não seresume à aplicação direta de técnicas operatórias.Dentre os diversos tipos, destacamos aqui osproblemas de lógica: são aqueles sem dadosnuméricos, que exigem raciocínio dedutivo. Parasua solução, em geral, é preciso organizar os dadosem um quadro ou tabela; o caminho é levantarhipóteses e checá-las imediatamente. Com esse tipode problema, levamos os alunos a operar com umraciocínio do tipo “se..., então...” (raciocíniodedutivo), muito importante para que estabeleçamrelações lógicas na organização do pensamento.(Para saber mais sobre esses problemas, veja acoleção Ensinar e aprender Matemática –CENPEC, 1998 –, especialmente o volume Impulsoinicial, p.32-3.)

Este é um problema não-convencional, paramobilizar o raciocínio dedutivo. Nesse momento, éimportante incentivar a troca de idéias sobre aspossibilidades ou soluções pensadas, aargumentação para a defesa de ponto de vista, oregistro por desenhos, esquemas ou diagramas dosdados do problema e de sua solução.Dê um tempo para que o problema seja resolvido(cerca de 15 minutos) e, em seguida, peça quecada grupo descreva aos demais o caminhopercorrido para chegar à solução. Como há maisde um caminho, esse procedimento permite apercepção do outro, comparando diferentes pontosde vista. A proposição de situações desafiadoras e oconfronto de diferentes estratégias de resoluçãoconstituem oportunidade para que esses jovens sepercebam capazes de aprender, fortalecendo suaauto-estima.Após a socialização das soluções, ponha emdiscussão as seguintes questões: quem játrabalhou, como conseguiu esse emprego? Se um

O TRABALHO HOJEA partir da década de 70, acelerou-se a disputa das

empresas multinacionais pelo mercado mundial. Os avan-ços nas comunicações e nos transportes contribuíram paraisso, reduzindo as distâncias geográficas. O controle e asdecisões sobre a produção e sua distribuição ficaram cadavez mais restritos à sede das grandes empresas, em seuspaíses de origem.

Dessa forma, hoje, o funcionamento do mercado detrabalho está subordinado a essas decisões que estãomuito distantes da área de produção. Além de utilizaremtecnologia de ponta, que dispensa o trabalho de milharesde trabalhadores, as empresas também contam com a fa-cilidade de transferirem suas fábricas sempre que, em umdeterminado país ou região, aumentar a pressão por me-lhores condições de trabalho e melhores salários.

Esses mecanismos favorecem o pagamento de bai-xos salários e a manutenção do desemprego. Assim, omovimento sindical passa a ter novas dificuldades, o queo leva a reorganizar suas pautas reivindicatórias, na lutacontra o desemprego, pela diminuição da jornada de tra-balho (garantindo trabalho para maior número de pesso-as) e pela garantia de direitos conquistados historicamen-te (no Brasil, os garantidos pela CLT).

Assim, falar de mercado de trabalho, hoje, é falar tam-bém do desemprego, fenômeno comum a países de capi-talismo avançado, como os da Europa, e de industrializa-ção recente, como nosso país e outros da América Latina.No Brasil, desde 1990, pelo menos 2,5 milhões de traba-lhadores perderam o emprego formal e mais de 5 milhõespassaram a ser empregados sem carteira assinada (O Es-tado de S. Paulo, 25 out. 1998).

Nossa economia, muito dependente do capital estran-geiro, neste período de expansão do capitalismo passapor profundas transformações. A utilização crescente denovas tecnologias em todos os setores econômicos (áreaindustrial, agropecuária e serviços) tem permitido uma pro-dutividade do trabalho cada vez maior e diminuição decustos, também obtida por meio da dispensa de trabalha-dores e de arrocho salarial.

Novas formas de organização do trabalho apontampara novas relações entre trabalhadores e empresas. Em-pregos permanentes, para toda a vida, seguros e com sa-lários fixos estão cada vez mais raros. Surgem e se disse-minam relações de trabalho “alternativas”, tais como ocontrato por tempo determinado, por prestação de servi-ço, terceirização, estágios etc. Isso tudo sem falar do cres-cimento do trabalho informal.

Assim, os trabalhadores têm enfrentado perda de di-reitos historicamente adquiridos, como emprego formal,férias remuneradas, jornada de trabalho limitada, saláriosfixos e direito à aposentadoria.

São Paulo acompanha essa tendência. Conforme aFolha de S. Paulo de 25 jan. 2001, diminui o número deassalariados com carteira assinada e cresce a parcela detrabalhadores autônomos. Ainda em São Paulo, dados co-letados pela Fundação SEADE (1999) informam que, decada 100 trabalhadores, cerca de 4 tinham entre 10 e 17anos; que 3 desses 100 eram analfabetos e 33 não conse-guiram terminar o ensino fundamental.

Cada vez mais, exige-se uma maior qualificação naformação do trabalhador. Neste contexto, a educação écondição básica: se, por um lado, não garante emprego,por outro, sem ela é difícil inserir-se e permanecer nessemercado de trabalho.

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27O TRABALHO EM NOSSAS VIDAS

jovem estiver saindo da Unidade, tiver mais de 16anos e precisar trabalhar, que dicas vocês dariampara ele? Onde e a quem se dirigir? Vá anotandona lousa as possibilidades levantadas pelos alunos,ordenando os passos por eles apresentados.Provavelmente, a forma mais citada de conseguirum emprego será “por indicação de amigos ouparentes”. Você pode perguntar se alguémconhece, procurou e/ou recebeu auxílio de algumaassociação ou instituição na comunidade em quevive. Divulgar essas informações significa ampliaras possibilidades de quem precisa trabalhar.A dificuldade de conseguir emprego vaiprovavelmente estar presente nas falas dos jovens.Este será o momento para você conhecer como elesexplicam o desemprego: se atribuem a problemaindividual, de quem não tem estudo, de quem,como eles, passou pela FEBEM, ou se têm umaexplicação mais abrangente. Não deixe de anotaressas observações, que serão retomadas ao longodo dia.Pergunte quem já procurou emprego em jornais.Peça que relatem a experiência e complemente asinformações trazidas por eles, dizendo que osjornais publicam, nas seções de classificados,anúncios oferecendo vagas. Proponha então aexperiência de consultar um jornal para procuraremprego.Organize a classe em grupos de quatro alunos edistribua entre eles esses cadernos de classificadosque você selecionou (por terem várias ofertas deempregos adequadas aos alunos). Sugira quepesquisem e escolham anúncios de empregos paraos quais se sintam em condições de candidatar-se.Em seguida, em uma folha de sulfite, cada grupodeverá anotar o nome do cargo ou vaga oferecida,o que se faz nesse emprego e quais as exigências doempregador.Peça aos grupos que leiam o que pesquisaram eorganizem, com o material produzido, um painel deemprego, que pode ficar fixado numa parede daclasse. Neste momento, um ponto central aexplorar é a exigência de escolaridade, requisitadana maioria dos casos. Em muitas empresas, quemnão completou o ensino fundamental é impedido,até mesmo, de preencher a ficha de recrutamento.Postos de trabalho decorrentes da informatização

no setor de serviços (vendas por telefone, porexemplo) exigem o certificado de ensino médio.Passe então à leitura do texto da ficha 4A, “Omercado de trabalho hoje”. Proponha a leitura emduplas (os grupos podem permanecer organizadostal como antes, juntando-se para leitura aos pares)e retome coletivamente os principais pontos,esclarecendo dúvidas. Estimule eventuaiscomparações entre o que o texto sugere e asevidências que os alunos trazem de seu dia-a-dia eproponha a resposta individual à primeira questão.As três questões seguintes propõem trabalhar coma noção de porcentagem, em torno dos dados deescolaridade dos trabalhadores paulistas em 1999.(Note que o texto subentende, mas não explicita, aterceira porcentagem: 64% dos trabalhadorestinham pelo menos concluído o ensinofundamental.) Se precisar, releia as orientaçõespara atividades com porcentagem no Subtema 3 domódulo Educação, ponte para o mundo (p.26). Dadao uso generalizado de porcentagens e gráficos nosmeios de comunicação, é importante familiarizar osalunos com seu uso.Esses dados apontam para a importância doscertificados escolares na disputa por vagas nomercado. Entretanto, para além das exigênciasligadas à lógica do mercado, é necessário que osalunos compreendam o papel mais amplo da escolana construção da cidadania: “A educação não temcomo objetivo real armar o cidadão para umaguerra, a da competição com os demais. Suafinalidade, cada vez menos buscada e menosatingida, é a de formar gente capaz de se situarcorretamente no mundo e de influir para que seaperfeiçoe a sociedade humana como um todo.A educação feita mercadoria reproduz e amplia asdesigualdades, sem extirpar as mazelas daignorância. Educação apenas para a produçãosetorial, educação apenas profissional, educaçãoapenas consumista, cria, afinal, gente deseducadapara a vida” (Milton Santos, 1987, p.126).Em uma breve exposição dialogada, insista pois naimportância da escola para além do certificado: ésó pela freqüência à escola que os alunos terãoacesso à ampliação dos conhecimentos e horizontesculturais, aos aprendizados de convivência social,à preparação para o exercício da cidadania.

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28EDUCAÇÃO E CIDADANIA

encenação, depois que a classe reconhecer aatividade retratada, faça perguntas e vá montandoum quadro em papel pardo. Pergunte o que se faznessa atividade, qual a importância dela, queconhecimentos e habilidades é preciso ter paradesenvolvê-la, se é preciso estudar ou fazer algumcurso; se com essa atividade a pessoa podeaprender algo, aumentar conhecimentos, terprazer; e, finalmente, como se deveria fazer parapoder obter uma colocação nessa atividade.Um exemplo de quadro é reproduzido abaixo.Ao organizar essas observações, acrescenteinformações que considerar adequadas,desmistificando eventuais preconceitos e fantasias.Depois de pronto o quadro, coletivamente irãoestabelecer comparações, identificandosemelhanças e diferenças. Você pode problematizaras respostas dos alunos, confrontando-as com osdados do texto lido (ficha 4A e seção“Aprofundando”); associe as transformações domercado de trabalho ao movimento de um sistemaque persegue a maximização do lucro, peloaumento da produtividade e diminuição doscustos; e, finalmente, chame atenção para o papelda educação na inserção dos trabalhadores nomercado do trabalho.É importante reafirmar para os alunos que aescolarização é um valor e uma condição para ainserção na vida moderna. E, emboraextremamente necessária para o ingresso na vidado trabalho, não é por si só suficiente. Os alunosdevem compreender que é preciso constantementeatualizar conhecimentos, desenvolver habilidadese, também, interagir com diferentes instituiçõesque se propõem a dar apoio aos jovens.Distribua então a ficha 4B, que traz informaçõessobre instituições que oferecem cursos gratuitos

Na escola, nas diversas atividades com as váriasmatérias, desenvolvem-se muitas habilidadesnecessárias à vida de todo o dia – bem como àinserção no mundo do trabalho. (Se for oportuno,você pode mencionar o módulo Educação,anunciando-o ou relembrando-o, conforme ocaso.) Finalmente, coordene a redação coletiva deuma ou duas frases sintetizando: a crescenteescassez de emprego e aumento do trabalhoinformal; a importância da educação escolar para aobtenção de emprego – e para a vida. Lembre-osde registrar as conclusões no verso da ficha 4A.

ATIVIDADEO MUNDO DO TRABALHOMaterial necessário: ficha 4B; papel sulfite,papel pardo.O objetivo desta atividade é levar os alunos aperceber que, para buscar emprego, precisamos terinformações sobre as profissões: o que nelas se faz,que conhecimentos e habilidades são necessáriospara seu desempenho etc. Depois de apresentar esteobjetivo, proponha que cada grupo (os mesmos jáformados, ou subdivisões deles) organize umadramatização sobre um determinado tipo detrabalho (uma ocupação) que já tenham feito, queconheçam, tenham vontade de fazer ou curiosidadede conhecer; se um grupo demonstrar poucaexperiência de trabalho, sugira você mesmo/a umaocupação. Explique que, de preferência, devemexpressar a cena de um local de trabalho por meiode mímica, para que os demais possam reconhecera atividade representada.Dê um tempo (cinco minutos) para se preparareme coordene a apresentação, um a um. Após cada

Ocupação O que se faz Requisitos Outrasinformações

televendas vendas por telefone ensino médio comunicação orale escrita

digitadorauxiliar de escritórioetc.

Escolaridade Habilidades

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29O TRABALHO EM NOSSAS VIDAS

preparatórios para diversas atividades. A fichatraz apenas alguns exemplos, a maioria na cidadede São Paulo. No levantamento feito pelaUnidade, se tiverem colhido outras informaçõessemelhantes, acrescente-as. Explique que devemguardar essa ficha e a ela recorrer quando saíremda Unidade. Não é necessário lê-la inteira agora:certifique-se apenas de que compreendem aorganização textual (três blocos para cadainstituição: nome, o que oferece, endereço).No momento, você pode propor que verifiquem,nas linhas correspondentes aos cursos oferecidos,quais seriam do interesse de cada um; ou, no casodas Unidades fora da capital, nas linhascorrespondentes aos endereços, se há algumaorganização em sua região. A ficha traz espaçopara anotarem outras instituições, do levantamentofeito na Unidade.Lembre-se que a ficha traz apenas algunsexemplos, acrescentando que há instituiçõespúblicas e privadas que possibilitam trabalhodigno, com várias vantagens asseguradas: porexemplo, o Corpo de Bombeiros permite progressona escolarização, aprendizado de ofício e saúdecorporal em dia. Com certeza, os educadores daUnidade já terão levantado, em sua comunidade,outros exemplos como esse.Como fechamento, retome as idéias discutidas:para conseguir emprego, quais as estratégias maisadequadas? Relembre as idéias levantadas sobre odesemprego e pontue a necessidade decompreendê-lo de uma forma mais abrangente.E não deixe de reforçar a importância dafreqüência à escola: mais do que fornecer“canudo”, a (boa) escola prepara para a vida.Finalmente, peça para cada um registrar uma coisaimportante que aprendeu hoje. Garanta tempopara a leitura desses escritos.

DURAÇÃO DASATIVIDADES

Estimamos que a primeira atividade leve duashoras, incluindo a leitura do texto e as atividadesde Matemática. Conforme o tempo que ocupar,você irá dosar o tempo reservado à segundaatividade, de dramatização, previsto para duraruma hora.

SUBTEMA 5EU E O TRABALHONesta aula o objetivo é contribuir para que ojovem amplie a compreensão sobre si mesmo,reconhecendo-se como sujeito emdesenvolvimento, em transformação e comreais possibilidades de criar estratégias desobrevivência e se instrumentalizar parabuscar uma colocação no mercado de trabalhode forma digna.

Após refletir sobre o mercado de trabalho naatualidade, é tempo de analisar as principaiscaracterísticas de várias ocupações,relembrando os modos de buscar umemprego. Nesta aula, o jovem será chamado apensar nas relações que ele, pessoalmente,pode estabelecer com o mundo do trabalho.Entendemos que seu envolvimento edesempenho nas atividades propostas poderãoser interpretados como produto das vivências ereflexões trazidas pelos momentos anteriores.Nesse sentido, esta será uma aula de síntese.Está colocado para os jovens o grande desafiode buscar uma vida digna (cidadã), levando emconta suas potencialidades, energias ecompetências. O que não é tarefa fácil, nemdepende só da iniciativa individual do jovem.

O Estatuto da Criança e do Adolescente(ECA), no capítulo V, sob o título “Do Direito àProfissionalização e à Proteção no Trabalho”,define os parâmetros legais que devem balizaro trabalho do adolescente. (É recomendávelque você leia com antecedência o capítulo V.)O espírito do ECA, no contexto do mundo dotrabalho, é que a vida e seu desenvolvimentodevem ser valorizados acima de tudo.É evidente a necessidade de os jovens teremuma atividade remunerada que auxilie noorçamento familiar, ou na sua própriasobrevivência. Mas, seja qual for essaatividade, ela não poderá prejudicar seudesenvolvimento físico, intelectual, social epsicológico, nem a freqüência à escola. Oseducadores da FEBEM, lidando com jovensque precisam continuar seus estudos etambém se profissionalizar, deverão, na

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30EDUCAÇÃO E CIDADANIAmedida do possível, propor, encaminhar eviabilizar sua integração em programas oupolíticas que favoreçam a concretização dopretendido pela legislação. A integraçãodesses jovens no restrito mercado de trabalhodo mundo atual será favorecida se eles seconscientizarem de alguns fatores que acondicionam: transformações econômicas,legislação sobre trabalho do adolescente,escolaridade, auxílio de organizações etc.Oriente sua ação educativa tendo semprepresente a necessidade de dar indicações queauxiliem esses jovens na vida posterior àinternação.

Os três pontos que estarão permeando asatividades do dia e que sinalizam aos jovenscomo ampliar suas possibilidades de inserçãono mercado de trabalho são:

� participar de programas socioeducativosem entidades públicas ou privadas(igrejas, ONGs, grêmios, etc.);

� participar, em escolas ou outrasinstituições, de programas de orientaçãoeducacional ou vocacional que favoreçamo autoconhecimento e a auto-estima;

� aprender a expressar-se em diferenteslinguagens, levando em conta os diversoscontextos.

Passaremos de atividades iniciais de reflexãoa atividades práticas, que ampliem apercepção de possibilidades concretas deaproximação com o trabalho. Iniciamospropondo uma situação-problema, visandodiscutir as relações que os alunos estabelecementre trabalho e seu desenvolvimento pessoal,o valor que atribuem à escola formal e osconhecimentos que detêm a respeito de seusdireitos e deveres no exercício de umaprofissão. Essa reflexão é ponto de partidapara o estudo das leis que regem o trabalho dejovens de sua faixa etária. Em seguida, osalunos serão solicitados a fazer uma reflexãosobre si mesmos, para identificar habilidadese interesses que são referência importantepara a elaboração de um projeto de vidaprofissional. Finalmente, vivenciarão umasituação de entrevista para conseguir umemprego.

Você pode começar com uma conversa sobreos conhecimentos adquiridos na aula anterior.Assim, os alunos novos terão mais condiçõesde se integrar nas atividades. Diga-lhes que odia de hoje será dedicado a que cada um sesitue pessoalmente em relação ao trabalho,faça escolhas, conheça seus direitos edeveres, garantidos pela lei, e pense umpouco mais sobre o que fazer quando sair dainstituição.

Divida a classe em grupos de três ou quatroalunos e proponha que elaborem acontinuidade da história abaixo, completando-a com as informações que faltam para queseja possível decidir da forma mais adequada:

José, com 16 anos, trabalha numa

marcenaria perto de sua casa,

ganhando um salário mínimo

(R$180,00) por mês. Trabalha das 8h

às 17h e estuda das 19h às 22:30h.

Recebeu uma proposta de trabalho no

centro da cidade (longe de casa) por

R$220,00...

Dê um tempo para os grupos completarem ahistória. Você pode orientar as discussões,caso necessário, apresentando questões.Imagine que serviço é esse: O que vai exigirde José? Qual é a jornada diária de trabalho?José poderá continuar estudando? Quevantagens e desvantagens ele terá se trocarde trabalho?

Cada grupo apresentará sua história para aclasse e justificará seu final. Após asapresentações, você poderá destacarsemelhanças, diferenças e mostrar, porexemplo, como alguns grupos pensaram emconciliar trabalho e estudo, quais foram suasestratégias. É necessário valorizar os gruposque conseguirem olhar criticamente parasituações que, em princípio, a curto prazo,apresentam vantagens mas que, a médioprazo, poderão causar prejuízos para odesenvolvimento do jovem. Na situaçãoanalisada o maior prejuízo seria opersonagem não conseguir conciliar estudo etrabalho, optando por aquilo que trouxessebenefícios mais imediatos, ou seja, aremuneração.

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31O TRABALHO EM NOSSAS VIDAS

Outras questões que você pode acrescentarsão: O que significa o trabalho na vida de umjovem, em termos de seu desenvolvimentopessoal? Como conciliar as necessidades deescolarização com as exigências do mercadode trabalho? O que prevê a lei? No final dadiscussão, já introduzindo a atividade, digaque existem leis que buscam garantir o direitodos jovens à escolarização, à proteção notrabalho e à formação para o trabalho.

ATIVIDADEO TRABALHO NA LEIMaterial necessário: ficha 5; exemplares do ECANesse momento, inicie uma conversa sobre oECA, Estatuto da Criança e do Adolescente: o quesabem sobre ele? O que ele tem a ver com o queestamos discutindo? Informe que é uma Leifederal (n.8069, de 14 de julho de 1990) quedispõe sobre a proteção integral à criança e aoadolescente. (Se perguntarem, esclareça que oECA considera criança a pessoa de até 12 anos eadolescente, dos 12 aos 18 anos; no entanto, paraefeito das relações com trabalho, o ECA proibia otrabalho até a idade de 14, exceto como aprendiz,dos 12 aos 14; mas essa determinação foi superadapor outra Lei federal, que proíbe toda e qualquerforma de trabalho a menores de 14 e permitetrabalho entre 14 e 16 apenas na condição deaprendiz. Haverá momento para dar essaexplicação mais adiante.)Organize a classe em duplas e diga que o objetivodesta atividade é saber o que a lei conhecida comoECA dispõe quanto aos direitos dos jovens queprecisam trabalhar. No módulo Justiça e cidadania,uma seção “Aprofundando” oferece subsídios parafalar sobre o Estatuto (p.20-21). Na Unidade devehaver exemplares do ECA à disposição. Deixe-os àmão para eventuais consultas. Apresentebrevemente o Estatuto e distribua a ficha 5,explicando o que é texto legal e como é distribuídoem capítulos, artigos, parágrafos e incisos; essaorganização é necessária para podermos nos referira praticamente cada linha da lei.O texto legal é um texto prescritivo, que indicaações a ser realizadas e os passos a serem seguidos

para realizar essas ações. Tem uma estruturadetalhada; o texto persegue a clareza e evita aspossibilidades de dupla interpretação, mesmo quepara isso tenha de ser redundante e repetitivo.Além disso, textos legais como a Constituição ou oECA, devido a seu caráter genérico – aplicáveis atodos na sociedade – requerem regulamentaçõesposteriores – tanto mais numerosas quanto maisgenérica for a lei.Provavelmente os alunos levantarão questões sobreo distanciamento existente entre o texto legal e ofuncionamento das instituições sociais (umexemplo é a própria situação daqueles alunos queestiverem há mais de 45 dias aguardandojulgamento). Apesar de termos leis avançadas ecompetentes do ponto de vista técnico, em nossasociedade a existência das leis não garante oexercício dos direitos, dada nossa históricadesigualdade econômico-social. Se todos são iguaisperante a lei, os mais pobres não deveriam terdificuldade de acesso aos bens de direito. Aconstrução da cidadania no Brasil passa peloconhecimento das leis e por seu uso comoinstrumento de luta para se conquistar os direitos.É importante ler e interpretar a lei, pois a própriaexistência da lei revela a complexidade dasociedade. Além disso, o fato de termos leis justasmostra que há vários setores sociais interessadosem promover a justiça.Leia pausadamente para a classe o texto da ficha 5,enquanto eles acompanham pela ficha. Vá dando asexplicações necessárias. Se houver na classe umgrupo que domina bem a leitura e escrita, elespoderão trabalhar simultaneamente com o própriotexto do ECA, buscando reconhecer a qual ouquais artigos as frases do texto estão se referindo.Mas a linguagem legal é complexa, de difícilcompreensão mesmo para adultos letrados leigosno assunto.Após a leitura, faça uma breve recapitulação e dêum tempo para, em duplas, responderem àsquestões da frente da ficha. Socialize as respostas:um grupo fala e os outros complementam.Você também pode falar da Lei de Aprendizagem(Lei n.10.097/00), de dezembro de 2000. Elareformula a CLT e regulamenta o trabalho dosadolescentes como aprendizes. A partir dela, o

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32EDUCAÇÃO E CIDADANIA“Sistema S” (SENAC, SENAI etc.) deixa de ser oúnico autorizado a desenvolver cursos e programasde formação profissional. Entidades cadastradasno CMDCA – Conselho Municipal do Direito daCriança e do Adolescente podem oferecer taiscursos e fazer convênios com empresas, garantindoos direitos trabalhistas e previdenciários dosadolescentes. Além disso, a alíquota do FGTS –Fundo de Garantia por Tempo de Trabalho foireduzida para 2% no caso do aprendiz, o quedeveria estimular a contratação de adolescentespelas empresas.

FGTS DO APRENDIZO Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS)é uma parcela de 8% sobre o salário do funcionário,a qual o empregador deve depositar na CaixaEconômica Federal em favor do trabalhador.Exemplo: Se o salário do funcionário for de 300reais, o empregador deverá recolher 24 reais, pois8% de 300 (ou 8/100 de 300) é calculado daseguinte forma: 300 dividido por 100 é 3 (1% de300 = 3) e 8% é 3 x 8, ou seja, 24 reais.Caso o funcionário, por sua idade, seja contratadocomo aprendiz, o empregador recolherá apenas 2%do seu salário – no caso, para o mesmo salário,seriam apenas 6 reais.

Em seguida, sugira para debate a questão: Quebenefícios essas leis trazem para os jovens queprecisam trabalhar? Peça que, ainda em duplas,respondam às perguntas do verso da ficha. Vocêpode contrapor às possíveis manifestações dedescrença na lei as idéias discutidas anteriormentesobre a organização dos trabalhadores. As leis, porsi, já são expressão da luta dos diferentes setores dasociedade pela cidadania: a lei garante direitosbásicos e orienta os deveres sociais. A consolidaçãodas leis na vida prática, porém, depende deorganização e luta dos diferentes setores sociais.

ATIVIDADEPROJETO DE VIDAPROFISSIONALMaterial necessário: ficha 5; papel sulfite,papel pardo; três cartões previamente preparadoscom instruções para os três grupos dadramatização final.Inicie o segundo momento do dia com outraquestão: além de saber das características domercado de trabalho (assunto da aula passada), deconhecer seus direitos garantidos em lei (aula dehoje), o que mais vocês precisam levar em conta nahora de buscar um trabalho?Assinale que, para procurar um trabalho, éimportante considerar como somos e o quegostamos de fazer. Convide então os alunos arefletir, individualmente, sobre suas característicaspessoais e escrever em uma folha de sulfite:� Em que tipo de trabalho você acha que teria

um bom desempenho?� Três qualidades pessoais que você tem.� Três características que apontam dificuldades

que você precisa superar.Dê um tempo para o registro das respostas e, emseguida, escolha três alunos que queiram comentarsuas respostas com a classe.Nesse momento você pode destacar que:� na escolha de um trabalho – quando temos

possibilidade de escolha – é importante levarem conta nossas habilidades, nossapersonalidade, nosso temperamento;

� todos somos seres humanos em constantemudança, estamos sempre aprendendo coisasnovas, desenvolvendo novas habilidades enovos conhecimentos; portanto podemos, hoje,ter identificação com algumas atividades e, como passar do tempo, modificar essaspreferências;

� o fato de termos de optar por uma ocupaçãoprofissional menos valorizada pode serimportante para aquisição de experiência quenos habilite a outras ocupações maisinteressantes.

Então, chame a atenção dos alunos para o fato de

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33O TRABALHO EM NOSSAS VIDAS

que, se por um lado precisamos considerar nossascaracterísticas pessoais, por outro, o trabalho trazexigências, solicita nossa adaptação. Apresentepara a classe a seguinte situação: “Um jovemconsegue um determinado emprego. Que tipo deexigências o trabalho – quer dizer, sua organização,seu ambiente – vai fazer? Por exemplo, que tipo decomportamento vão esperar dele?”Deixe que sugiram um ou mais tipos de trabalhoe vá anotando, na lousa ou em uma folha de papelpardo, as contribuições dos alunos. Acrescenteexigências que porventura sejam esquecidas,como pontualidade, assiduidade; disciplina,determinação; boa relação com os colegas etc.Discuta a importância de cada uma dessasexigências, seu sentido. É muito provável quesurja a exigência de “boa aparência” ou “boaapresentação”. Será o momento de discutir comos jovens outra contradição: por um lado, essaexigência tem sido usada na prática, por váriosempregadores, como uma forma velada dediscriminação, especialmente contra pessoasnegras ou aquelas cujos recursos não permitemobter roupas “da moda”; por outro lado, para seraceito em um emprego, é preciso apresentar-se demaneira socialmente aceita em termos de limpezae correção, mesmo se temos de fazer concessões anossas preferências quanto a vestuário eaparência.Proponha em seguida que, considerando essasexigências, bem como as características pessoaisantes discutidas, cada um elabore um projetoestratégico para o período logo após a saída daFEBEM. Primeiro, defina a palavra projeto: “oque se tem a intenção de fazer, desígnio; intento,plano de realizar qualquer coisa” (LarousseCultural). Explique que este será um projeto deintenções profissionais, ou seja: considerando tudoo que estudaram sobre trabalho, irão planejar aobtenção de um “serviço”.Individualmente, cada aluno irá seguir o roteiro(que você pode anotar na lousa ou já trazer pronto,em um cartaz):Projeto de vida profissional

� Em que gostaria de trabalhar?

� O que será necessário para conseguir

esse trabalho?

� A curto prazo?

� A médio prazo?

� A longo prazo?

� Onde (ou com quem) posso encontrar

ajuda para realizar meu projeto?

Oriente a construção dos projetos, levando emconta a ocupação escolhida e, ao mesmo tempo,mostrando aos jovens a necessidade de pensar emsua escolaridade e qualificação. Um bom projetodeve apresentar conciliação entre estudo e trabalho,de modo a permitir o desenvolvimento da pessoa.Se for o caso e houver tempo, mencione aimportância de redigir cartas, preencherformulário e elaborar curriculum vitae (que sãoobjeto de estudo no módulo de oficinas deCorrespondência). Para responder ao último item doroteiro, sugira que retomem a ficha 4B e leiam,também, o box no verso da ficha 5, paraconhecerem programas oficiais que poderão ajudá-los na realização dos projetos.Solicite que dois ou três alunos relatem seus projetospara a classe. Destaque e valorize as estratégiascriadas por eles para conciliar escola e trabalho.Para finalizar com uma atividades descontraída,lembre que, ao procurarem um trabalho, elesseguramente terão de conversar com o empregadorque tem uma vaga. Essa conversa poderá sersimples, ou uma entrevista mais formal. Assim,proponha dramatizarem uma entrevista doprocesso de seleção de candidatos para vagas dedigitador, operador de telemarketing e auxiliar deescritório. Isso permitirá discutir como secomportar em tais ocasiões.Distribua-os em três grupos: o grupo A será o deentrevistadores, que representarão a empresa naentrevista (três ou quatro alunos); o grupo B serãoos três candidatos às três vagas; e o C (demaisalunos), os observadores. Cada grupo deverápreparar-se brevemente; logo haverá a encenação,seguida de discussão coletiva.Para os integrantes do Grupo A, entregue o cartãocom as instruções:1) Estabelecer as características da empresa e o

que ela espera de seus funcionários.2) Definir o que faz um digitador, um operador

de telemarketing e um auxiliar de escritório.

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34EDUCAÇÃO E CIDADANIA3) Entre as questões que vêm a seguir, escolher

três para cada candidato:� Por que você quer esse trabalho?� Você já fez esse trabalho?� Você acha que tem habilidades para sua

realização? Quais?� Você estuda? Será possível juntar trabalho e

estudo? Como?Grupo B

O grupo escolherá quem será o candidato acada função. Preparem-se imaginando o quepoderá ser perguntado e discutam como secomportar na entrevista. (Por exemplo, éimportante pensar nas habilidades que cadafunção exige.)

Grupo CVocês irão observar a encenação seguindo umroteiro: Como se comportaram os candidatos?Foram adequados? O que poderia melhorar?Será que conseguiram a vaga?

Coordene a encenação, que deve assumir um climaformal. Em seguida, todos devem manifestar-se.Os “candidatos” poderão falar de suas facilidades edificuldades para realizar a entrevista. Osobservadores farão seus comentários, arriscando“palpites” se os candidatos teriam ou não obtido avaga.No fechamento, ao agradecer a participação dosgrupos, destaque o desempenho daqueles que maisse aproximaram dos padrões de comportamentocombinados anteriormente. Aponte as dificuldadesdemonstradas, destacando a importância de osjovens se perceberem nas diferentes situações eambientes que encontram pela vida afora, assimcomo a necessidade de buscar uma adequação aosmesmos, sem comprometer a individualidade.Finalmente, faça uma rápida recapitulação do queaprenderam na semana. Definimos o que étrabalho, reportamo-nos à história dostrabalhadores e à situação das trabalhadoras,apresentamos algumas características do mundo dotrabalho atual e tentamos projetar nossa inserçãonesse mundo. Saliente que a ampliação constantede nossos conhecimentos, por meio daescolarização básica, por exemplo, facilita oenfrentamento das novas situações. Acentue que,na situação de aprendiz, devem preferir programas

e entidades que proporcionem oportunidades semcomprometer o prosseguimento dos estudos.Lembre que o fato de terem passado por umasituação provisória de internação não pode serimpedimento para se inserirem no mercado detrabalho. No entanto, é provável que ainda sedefrontem com preconceitos e discriminação.Daí a necessidade de buscar organizações que serevelaram atentas a seus direitos, tais como asindicadas na ficha.Lembre que trabalho digno é aquele que permite oatendimento das necessidades básicas, garantindoqualidade de vida e realização pessoal.

DURAÇÃO DAS ATIVIDADESEstimativa: Problematização: 30 minutos; leitura ediscussão da ficha 5: 30 min; reflexão sobre ascaracterísticas pessoais e o trabalho, pouco menosde meia hora. A elaboração do projeto de vidaprofissional deverá ocupar pouco menos de umahora (cerca de 45 min), tanto quanto adramatização da entrevista. Vá dosando o tempopara garantir minutos finais de fechamento dotema.

* * *

Buscamos, no desenvolvimento do tematrabalho,,,,, dar elementos para que, por meioda reflexão, os jovens possam ir construindosua identidade como trabalhadores. Noentanto, a abordagem do tema não serestringe às atividades propostas, tendocontinuidade em filmes e leituras (veja listasa seguir). Assim, o assunto trabalho nãoprecisa ficar limitado à semana ou períodoem que foi tomado como tema das aulas.

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35O TRABALHO EM NOSSAS VIDAS

ALBORNOZ, Suzana. O que é trabalho. 6.ed. São Paulo:Brasiliense, 1997. (Coleção Primeiros Passos, 171).

ALMANAQUE. São Paulo: Abril, 2001.

AGUIAR, Lucy P. [Lucy, a metalúrgica]. Veja, São Paulo,Supl. Especial Mulher – A grande mudança no Brasil,ago/set. 1994.

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STÉDILE, João Pedro, FERNANDES, B. M. Brava gente.São Paulo: Fund. Perseu Abramo, 1999.

SUGESTÕES PARA O ACERVODA UNIDADELivrosGÓRKI, Máximo. (Sugerimos dois livros autobiográficos;

há também outras edições, como as traduçõesde Boris Schnaiderman publicadas pela editoraBrasiliense.)

Ganhando meu pão. Rio de Janeiro: Mercado Aberto, s.d.

Minhas universidades. Rio de Janeiro: Ediouro, s.d.

HUSAK, Iolanda, AZEVEDO, Jô. Crianças de fibra. Riode Janeiro: Paz e Terra; OIT, 1994.

SKÁRMETA, António. O carteiro e o poeta. 11.ed. Rio deJaneiro: Record, 1977.

TASHLIN, Frank. Era urso? [Adapt. Esdras doNascimento]. Rio de Janeiro: Ediouro, 1994.

Filmes / vídeosAMAZÔNIA em chamas – The burning season (dir. John

Frankenheimer). Warner, 1994.

O filme (infelizmente falado em inglês, legendado)relata a história e as lutas do sindicalista ChicoMendes em favor dos trabalhadores da florestaamazônica. Seringueiro e líder ecológico, lutava pelautilização da floresta sem devastá-la, garantindo suapreservação. Este herói, símbolo da luta pelosdireitos do trabalhador da floresta, foi morto em umaemboscada a mando de latifundiários locais.

ELES NÃO usam black tie (dir. Leon Hirszman). Rio deJaneiro, 1981.

Baseado na peça homônima de GianfrancescoGuarnieri, este filme premiado retrata o dia-a- dia,os conflitos e contradições de trabalhadores naindústria, de uma geração que adquiriu a consciência

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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de que, para mudar, é preciso se organizar.

OS LIBERTÁRIOS (dir. Lauro Escorel Fo). São Paulo,1976.

O filme mostra as transformações socioeconômicasno Brasil do final do século XIX que prepararam osacontecimentos do século XX: a imigração italiana, o

Todos os textos e imagens de terceiros são aqui reproduzidos com a expressa autorização de seus autores ou de seusrepresentantes legais.O Cenpec e os autores deste módulo agradecem a gentil cessão de direito de uso do texto de Luci Aguiar, bem como aconcordância entusiasmada de Tetê Moraes.

desenvolvimento da agricultura e a industrializaçãodo Estado de São Paulo.

PROFISSÃO: criança (dir. Sandra Werneck). São Paulo:Abrinq, 1993.

Narra a história de quatro crianças trabalhadoras noRio de Janeiro, década de 1990.

36EDUCAÇÃO E CIDADANIA

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O que é trabalho?

Figura 1Escravos

movendo moendaFigura 2

Muitas pessoas, paraconstruir sua casa

própria, juntam-se emmutirão.

Figura 3Operários trabalhandona construção civil

Figura 4Vendedor ambulante

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Observe atentamenteestas figuras.

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Figura 5Trabalho doméstico

Figura 6Trabalho artístico

Analise apenas uma das figuras e responda as seguintes perguntas:� Refiro-me à figura ______.

Como é esse trabalho?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

O que traz para as pessoas que o realizam?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Em que o resultado deste trabalho beneficia outras pessoas?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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� Registre aqui as conclusões a que a classe chegou, sobre essas várias formas detrabalho.____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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ação

Aloísio

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Folha

Imag

em

FICHA 1 VERSOO TRABALHO EM NOSSAS VIDAS

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Era ele que erguia casasOnde antes só havia chão.Como um pássaro sem asasEle subia com as casasQue lhe brotavam da mão.Mas tudo desconheciaDe sua grande missão:Não sabia, por exemploQue a casa de um homem

é um temploUm templo sem religiãoComo tampouco sabiaQue a casa que ele faziaSendo a sua liberdadeEra a sua escravidão.

De fato, como podiaUm operário em construçãoCompreender por que um tijoloValia mais do que um pão?Tijolos ele empilhavaCom pá, cimento e esquadriaQuanto ao pão, ele o comia ...Mas fosse comer tijolo!E assim o operário iaCom suor e com cimentoErguendo uma casa aquiAdiante um apartamentoAlém uma igreja, à frenteUm quartel e uma prisão:Prisão de que sofreriaNão fosse, eventualmenteUm operário em construção.

Mas ele desconheciaEsse fato extraordinário:Que o operário faz a coisaE a coisa faz o operário.De forma que, certo diaÀ mesa, ao cortar o pãoO operário foi tomadoDe uma súbita emoçãoAo constatar assombradoQue tudo naquela mesa

Garrafa, prato, facão –Era ele quem os faziaEle, um humilde operário,Um operário em construção.Olhou em torno: gamelaBanco, enxerga, caldeirãoVidro, parede, janelaCasa, cidade, nação!Tudo, tudo o que existiaEra ele quem o faziaEle, um humilde operárioUm operário que sabiaExercer a profissão.

Ah, homens de pensamentoNão sabereis nunca o quantoAquele humilde operárioSoube naquele momento!Naquela casa vaziaQue ele mesmo levantaraUm mundo novo nasciaDe que sequer suspeitava.O operário emocionadoOlhou sua própria mãoSua rude mão de operárioDe operário em construçãoE olhando bem para elaTeve um segundo a impressãoDe que não havia no mundoCoisa que fosse mais bela.

Foi dentro da compreensãoDesse instante solitárioQue, tal sua construçãoCresceu também o operárioCresceu em alto e profundoEm largo e no coraçãoE como tudo que cresceEle não cresceu em vão.Pois além do que sabiaExercer a profissão –O operário adquiriuUma nova dimensão:A dimensão da poesia.

Trabalhador em construçãoLeia este poema, que foi escrito por um dos principais poetas brasileiros do século XX.OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃOVinícius de Moraes1

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Dia seguinte, o operárioAo sair da construçãoViu-se súbito cercadoDos homens da delaçãoE sofreu, por destinadoSua primeira agressão.Teve seu rosto cuspidoTeve seu braço quebradoMas quando foi perguntadoO operário disse: Não!

Em vão sofrera o operárioSua primeira agressãoMuitas outras se seguiramMuitas outras seguirão.Porém, por imprescindívelAo edifício em construçãoSeu trabalho prosseguiaE todo o seu sofrimentoMisturava-se ao cimentoDa construção que crescia.

Sentindo que a violênciaNão dobraria o operárioUm dia tentou o patrãoDobrá-lo de modo vário.De sorte que o foi levandoAo alto da construçãoE num momento de tempoMostrou-lhe toda a regiãoE apontando-a ao operárioFez-lhe esta declaração:Dar-te-ei todo esse poderE a sua satisfaçãoPorque a mim me foi entregueE dou-a a quem bem quiser.Dou-te tempo de lazerDou-te tempo de mulher.Portanto, tudo o que vêsSerá teu se me adoraresE, ainda mais, se abandonaresO que te faz dizer não.

Disse, e fitou o operárioQue olhava e que refletiaMas o que via o operárioO patrão nunca veria.O operário via as casasE dentro das estruturasVia coisas, objetosProdutos, manufaturas.Via tudo o que faziaO lucro do seu patrãoE em cada coisa que viaMisteriosamente haviaA marca de sua mão.E o operário disse: Não!

– Loucura! – gritou o patrãoNão vês o que te dou eu?– Mentira! – disse o operárioNão podes dar-me o que é meu.

E um grande silêncio fez-seDentro do seu coraçãoUm silêncio de martíriosUm silêncio de prisãoUm silêncio povoadoDe pedidos de perdãoUm silêncio apavoradoComo o medo em solidãoUm silêncio de torturasE gritos de maldiçãoUm silêncio de fraturasA se arrastarem no chão.E o operário ouviu a vozDe todos os seus irmãosOs seus irmãos que morreramPor outros que viverão.Uma esperança sinceraCresceu no seu coraçãoE dentro da tarde mansaAgigantou-se a razãoDe um homem pobre e esquecidoRazão porém que fizeraEm operário construídoO operário em construção.Extraído de Antologia poética(Moraes, 1977, p.205-10)

Registre aqui os números das estrofes que seu grupo representou e o título quederam a seu desenho:____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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E um fato novo se viuQue a todos admirava:O que o operário diziaOutro operário escutava.

E foi assim que o operárioDo edifício em construçãoQue sempre dizia simComeçou a dizer nãoE aprendeu a notar coisasA que não dava atenção:Notou que sua marmitaEra o prato do patrãoQue sua cerveja pretaEra o uísque do patrãoQue seu macacão de zuarteEra o terno do patrãoQue o casebre onde moravaEra a mansão do patrãoQue seus dois pés andarilhosEram as rodas do patrãoQue a dureza do seu diaEra a noite do patrãoQue sua imensa fadigaEra amiga do patrão.E o operário disse: Não!E o operário fez-se forteNa sua resolução.

Como era de se esperarAs bocas da delaçãoComeçaram a dizer coisasAos ouvidos do patrão.Mas o patrão não queriaNenhuma preocupação.– ”Convençam-no do contrário”–Disse ele sobre o operárioE ao dizer isso sorria.

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O espaço organizado pelo trabalhoObserve esta fotografia.

Escreva um título para ela, pensando no que você aprendeu hoje.

Célio Jr,/AE

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A organização dos trabalhadores esuas conquistasO SONHO DE TRABALHADORES RURAIS

Para discussão coletiva do filme O sonho de Rose:� O que você mais gostou no filme? Por quê?� De quem você mais gostou? Por quê?

Para discussão em grupos:� O que foi importante na luta dos sem-terra? Por quê? Depois da conquista da terra

acabaram os problemas?� Que tipos de trabalho aparecem no filme? Como os sem-terra se divertem? O que

lhes dá prazer? O que pensam da educação, da escola?� Como vocês julgam as ocupações de propriedades promovidas pelo MST? A luta

dos Sem Terra traz benefícios apenas para eles?� Vocês conhecem algum movimento parecido na cidade? Em sua cidade, pelo que

vale a pena lutar?Agora escreva que lição você tira do filme O sonho de Rose.____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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Em 1985, no mês de outubro, 1.500 famílias detrabalhadores rurais sem terra ocuparam aFazenda Anonni, uma grande propriedadeimprodutiva no Rio Grande do Sul. Essasfamílias, organizadas pelo MST, Movimento dosTrabalhadores Rurais Sem Terra, queriam adesapropriação da fazenda e o uso de suasterras. Desde 1972, a fazenda estava para serdesapropriada, mas na prática nada acontecia.Em junho de 1986, para pressionar o governo,300 dos trabalhadores sem-terra que ocupavama fazenda realizaram uma caminhada de 500 kmaté Porto Alegre, a capital do estado. Acaminhada durou 28 dias. Os trabalhadoresalojaram-se na Assembléia Legislativa do estadoaté outubro. Vários outros conflitosaconteceram até que, em novembro de 1986, aposse da fazenda foi dada ao INCRA – InstitutoNacional de Colonização e Reforma Agrária,órgão federal responsável pela execução dareforma agrária. A partir de então, as famíliascomeçaram a ser assentadas: 300 ficaram na

Fazenda Anonni e as demais em outras áreas doRio Grande do Sul. Algumas esperaram seteanos para receber um pedaço de terra.

O sonho de RoseO filme O sonho de Rose, que você assistiu ouirá assistir, logo no início faz um resumo daocupação da Fazenda Anonni e da luta pela suaposse. Em seguida, mostra a vida daquelasfamílias dez anos depois. “Rose” era o apelidode Roseli Correa da Silva, trabalhadora queparticipou da luta pela posse da Anonni e foiassassinada em 1987.Antes de O sonho de Rose, a cineasta TetêMoraes já fizera outro filme, Terra para Rose,contando a história da ocupação da fazenda, dacaminhada até Porto Alegre e dos conflitos queaconteceram até o início do assentamento dasfamílias. Foi o desejo de saber como estavamessas famílias que a levou a realizar o segundofilme, dez anos mais tarde.

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O trabalho feminino: uma história de vidaEste é o depoimento de Luci Aguiar, operária e líder sindical.

LUCI, A METALÚRGICALuci Aguiar

Depois de uma greve pauleira,voltar para casa e encontrar o marido ébom demais...

Vou contar o fato e o boato. Eu, Luci Paulino deAguiar, 33 anos, operária de fábrica, acabo de ser admi-tida na executiva nacional da CUT. Pois andam dizendoque o Vicente Paulo da Silva, sucessor do Meneguellina presidência da Central, cavou a minha promoção. Ocompanheiro Vicentinho não precisou cavar nada. Eu éque fui indicada pelos trabalhadores para assumir umaposição de comando na hierarquia sindical. E acho quefiz por merecer. Quero mais é lutar pelos direitos damulher trabalhadora. Temos que avançar e muito. (...)

Não virei dirigente sindical nos salões da Fiesp. Co-mecei por baixo. Lembro da primeira vez que participeide uma assembléia de metalúrgicos. Foi em 1984, noABC. Tomei o maior susto: só tinha homem. Um bandode machos. Quando cheguei, um gaiato gritou: “Olha láa gostosona!”. Todos me olharam. Fui para o fundo dosalão e quase morri de vergonha. Passei, então, a con-viver com os preconceitos desse mundo. Mulher sindi-calista, dizem, é feia, mal-amada, sem-vergonha ou sa-patão. Sobrevivo.

Primeiro aprendi a ser operária. Depois, sindicalis-ta. De 1978 a 1990, trabalhei no grupo Brosol, um pesopesado no setor de autopeças, com 4.000 funcioná-rios na base. Fui contratada pela unidade de Santo An-

dré, no ABC paulista. Me criei na linha de produção efui me apaixonando pela metalurgia. Fiz 14 cursos deespecialização no Senai até ocupar o posto de prepara-dora de máquinas. Eu explico: a função de prepararmáquinas, e, no meu caso, tornos automáticos, é tipi-camente masculina. O preparador precisa saber mon-tar, desmontar e programar o torno, sempre de acordocom a peça que se queira produzir. Essa é minha espe-cialidade. Conheço muito mais um torno de indústriado que um fogão de cozinha. Aprendi a limpar as en-grenagens, a me arrastar no chão da fábrica. Meu jale-co verde vivia sujo de graxa.

E como é que a operária padrão virou a sindicalistamodelo? O estalo aconteceu em 1984, durante umagreve na Brosol. Queríamos apenas formar uma comis-são de fábrica e os patrões nos responderam com 120demissões. Foi barra pesada. Eu já vinha sentindo adiscriminação da mulher na pele: quantas de nós éra-mos contratadas como auxiliares de montagem mas,na prática, trabalhávamos como montadoras, sem osalário merecido? As chefias, masculinas, controlavamo banheiro feminino. Só permitiam duas idas pela ma-nhã e duas à tarde. E rápido. Imagine a situação daoperária que menstrua ao longo do dia e que não ga-nha a chave do lavatório para trocar o seu modess. Mesenti humilhada e resolvi brigar.

Acho que a vida me treinou para a luta. Nasci naperiferia de São Paulo, filha de uma lavadeira e de umferreiro, que morreu quando eu tinha 5 anos. Comeceia trabalhar como empregada doméstica aos 9. Era tãopequena que precisava subir num banquinho para al-cançar a torneira do tanque.

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Agora responda:� Ao ler o depoimento de Luci, o que você destacaria como muito especial na vida

dessa mulher?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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� Você conhece outras mulheres com histórias parecidas? Quais?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

� No 4o parágrafo, a autora cita duas formas de discriminação sofridas por ela e suascolegas no local de trabalho. Comente-as.____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

� Que outras formas de discriminação sofridas pela mulher no trabalho vocêconhece?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

� Registre em uma palavra sua opinião sobre a maior participação das mulheres nomercado de trabalho.____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

VOCABULÁRIOCUT – Central Única de Trabalhadores é umaentidade que congrega sindicatos de váriascategorias profissionais de todo o Brasil.É dirigida por um presidente e um conselhochamado Executiva Nacional; há tambémexecutivas estaduais.FIESP – Federação das Indústrias do Estado deSão Paulo é uma organização que reúneproprietários e diretores de fábricas de todo oestado.

Aos 12, já com carteira assinada, trabalhei numa fá-brica de brinquedos, aparando rebarbas de carrinhos deplástico com uma faquinha. Depois trabalhei numa fá-brica de chocolates e também numa outra, de bolsas.Enfim, cresci no batente e não me queixo. Só me quei-xo de uma coisa: como acontece a milhares de criançasbrasileiras hoje em dia, eu também tive de parar de es-tudar muito cedo para ganhar a vida. Fiz o primário e medespedi dos livros. Golpe duro para uma boa aluna.A metalurgia foi uma boa escola para mim. Aprendimuito nos cursos técnicos – tornearia, usinagem, fresa-gem, retífica e vários outros – lá no Senai. Adoro cálcu-los. Agora, formação política, no duro, fui buscar no dia-a-dia sindical. Quero deixar claro: o sindicato não meformou. Eu é que me formei no sindicato. Já organizeigreve, já enfrentei a polícia, já parei fábrica. Nada dissome assusta. Também procurei ampliar meus conheci-mentos. Pois é, Luci, esta metalúrgica do ABC, conhe-ceu a União Soviética e já esteve na Alemanha e no Ca-nadá. Em 1989, grávida, passei um mês na então URSScom uma delegação de sindicalistas. Senti uma tremen-da saudade de casa, dependia de um intérprete o tem-po todo – só falo português –, mas não dei vexame.Guardo uma lembrança querida daquela viagem. (...)Sou casada com o Sandro, também metalúrgico.Criamos dois filhos e ganhamos praticamente a mesmacoisa: dez salários mínimos cada um. Ainda tem minhairmã, meu cunhado e um sobrinho dividindo o mesmoteto. Como boa parte das famílias do meu bairro, não

temos escritura da casa, mas duvido que nos expulsemdaqui. Vou abrir o jogo: sou péssima dona de casa euma mãe cheia de culpa. Durante as greves, já chegueia passar 15 dias sem voltar para casa. O casamentoagüenta, sim. (...) O Sandro me entende. Nessa vidacorrida, procuramos manter nossos momentos de agra-do. Vou contar um segredo: depois de uma greve pau-leira, voltar para casa e encontrar o marido é bom de-mais. Fortalece o romance. É como fazer amor termina-da a briga.(Extraído de Veja, ago/set. 1994 – Aguiar, 1994)

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Nota: A ascensão de Luci Aguiar não parou por aí. Em2003, Luci assumiu um cargo na Secretaria Nacionalde Articulação Social, um órgão da Secretaria Geralda Presidência da República, e trabalha hoje noPalácio do Planalto, em Brasília.

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O MERCADO DE TRABALHO HOJENo Brasil, desde 1990, pelo menos 2,5 milhões

de trabalhadores perderam o emprego formal e maisde 5 milhões passaram a ser empregados sem car-teira assinada (O Estado de S. Paulo, 25 out. 1998).São Paulo acompanha essa tendência. Conforme aFolha de S. Paulo (25 jan. 2001), diminui o númerode assalariados com carteira assinada e cresce ode trabalhadores autônomos.

Nos países desenvolvidos, cidadãos desempre-gados recebem ajuda do Estado para suas necessi-dades básicas; mas essa não é nossa realidade. Emnosso país, o desemprego é um dos grandes res-ponsáveis pelas mudanças que vêm aparecendo prin-cipalmente nas grandes cidades: vendedores ambu-lantes dos mais diversos produtos enchem as calça-das e as esquinas, transportadores clandestinos com-petem com ônibus e táxis, pessoas pedem esmolaem toda parte... Trabalhadores desempregados embusca de recolocação, ou jovens que precisam seauto-sustentar ou ajudar a família, tentando o primei-ro emprego, não conseguem vagas. Como nãoacham emprego, formam um verdadeiro exército depessoas desempregadas que passam a desenvolveressas atividades, chamadas de trabalho informal.

Em todo o mundo, a economia vem passandopor profundas transformações, num processo queé chamado de globalização. Nossa economia, mui-to dependente do capital estrangeiro, sofre as con-seqüências disso. E uma dessas conseqüências éo desemprego: em muitos casos, as “novidades”

tecnológicas permitem obter os mesmos produtoscom menor custo – e menos trabalhadores, daí adispensa, ou abertura de menos vagas de trabalho.Essa nova forma de organização do trabalho geranovas relações entre trabalhadores e empresas.Empregos para toda a vida, seguros e com saláriofixo estão cada vez mais raros, enquanto surgemformas de trabalho alternativas, tais como o contra-to por tempo determinado, por prestação de servi-ço, terceirização etc. E, como nossas leis trabalhis-tas só garantem direitos aos empregados com car-teira assinada, esses trabalhadores informais per-dem direitos que adquiriram historicamente, comoférias remuneradas, horário de trabalho limitado, sa-lário fixo, direito à aposentadoria...

O setor da economia que mais oferece vagasatualmente é o de serviços. Em 2000, de cada 100novos trabalhadores, 55 foram para o setor de ser-viços. E, como há muito menos vagas que candida-tos, a concorrência pelo emprego aumentou. Cadavez mais, leva vantagem o candidato com melhoreducação. Dados da Fundação SEADE mostram queem São Paulo, em 1999, em cada 100 trabalhado-res cerca de quatro tinham entre 10 e 17 anos; trêseram analfabetos e 33 não conseguiram terminar oensino fundamental. Veja a importância dos estu-dos: cada vez mais, os empregadores exigem maisqualificação do trabalhador. Sem educação, é prati-camente impossível entrar e permanecer no mer-cado de trabalho.

O trabalho hojeLeia, discuta com os colegas e resolva o problema:

� Pedro, Carlos, João e José são amigos que trabalham no centro da cidade emempregos diferentes: lanchonete, padaria, pizzaria e locadora de filmes.

� Um dos amigos de Pedro é auxiliar do padeiro.� João e José não lidam com filmes.� O serviço de Carlos é entregar pizza.� O primeiro emprego de José foi numa lanchonete, mas hoje ele já mudou de

serviço.Onde José trabalha?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Agora leia este texto para entender a dificuldade atual de conseguir emprego.

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� O texto fala de uma tendência: cada vez mais, as pessoas só conseguem trabalhoinformal. Pense, dentre as pessoas conhecidas no bairro onde você mora, quantastêm emprego fixo, quantas trabalham por conta própria e quantas estão fazendotrabalho informal. No seu bairro, essa tendência também se verifica? Expliqueporquê.____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

� Releia o último parágrafo e responda.Em cada 100 dos “felizardos” que tinham emprego em 1999, o texto diz que 3 eramanalfabetos. Pense: quantos deles tinham terminado pelo menos a oitava série?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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� Em Matemática, quando comparamos dados a um total de 100, essa relação podeser expressa na forma de porcentagem: 3% dos trabalhadores eram analfabetossignifica que 3 em cada grupo de 100 trabalhadores não sabiam ler. Agoracomplete: ... % não tinham concluído a oitava série e ...% tinham terminado pelomenos o ensino fundamental (antigo 1o grau).

� Usando essas informações, complete o quadro abaixo, calculando o que se pede,para grupos de mais de cem pessoas. Alguns dados já estão preenchidos, é sóvocê continuar.

ESCOLARIDADE DE TRABALHADORES, SÃO PAULO, 1999Em cada grupo de... eram analfabetos não concluíram o concluíram (pelo

ensino menos) o ensinofundamental fundamental

100 trabalhadores 64

300 trabalhadores 9

1000 trabalhadores 330

....* trabalhadores* Escolha um número de trabalhadores e faça os cálculos

� Registre abaixo a conclusão a que a classe chegou, sobre a relação entre educaçãoe emprego e sobre a importância da freqüência à escola.____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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Organizações de apoio a jovens e queoferecem cursosNa cidade e no estado de São Paulo há diversas instituições que atendem crianças ejovens de 6 a 17 anos, oferecendo cursos variados e outros serviços. As condições parainscrição e participação variam. Entre em contato com as que forem de seu interesse.APOT – Associação Promocional Oração e Trabalho

Projetos: apoio a crianças de rua, a jovens comdependência química e a familiares.Cursos: Marcenaria, Eletricidade, em convênio com oSENAI. Inscrições em julho e dezembro.Rua Dr. Quirino do Nascimento 1601 Jd. Boa Esperança13091-910 Campinas, tel. (19) 3251-5511.

Associação Mogicruzense para a Defesa da Criança e doAdolescenteCursos: Marcenaria e movelaria, Fiação e tecelagem.Rua Antônio Cordeiro 164 08715470 Mogi das Cruzes,tel. 4799-8644.

BRASCRI – Associação Suíço-Brasileira de Ajuda àCriançaCursos: Costura industrial, Panificação, Eletricidade,Mecânica de Usinagem, Manutenção demicrocomputadores. Os cursos gratuitos, apenas paraalunos matriculados em escola pública, são oferecidosem convênio com as unidades do SENAI de Santo Amaroe Bom Retiro. Inscrições apenas em julho e dezembro. Osalunos devem comprometer-se a dedicar-se ao curso,seguindo um regulamento interno que inclui participaçãoem reuniões periódicas.Rua Armando da Silva Prado 191 Vila Bélgica 04672-040São Paulo, tel. 5548-1646.

Cáritas Diocesana de GuarulhosCursos: Marcenaria e movelaria.Av Gilberto Dini 20 Bom Clima 07122-210 Guarulhos,tel. 603-2007.

CCNSA – Centro Comunitário Nossa Senhora AparecidaCursos: Informática, Alimentação, Marcenaria emovelaria, Serviços de escritório.Rua Condessa Amália Matarazzo 13 Jardim Peri 02652-000 São Paulo, tel. 6258-3555.

CDI SP – Comitê Para Democratização da InformáticaSão PauloOrganização que estabelece parcerias com diversasentidades para facilitar acesso ao mundo da informática.Várias dessas organizações ou escolas oferecem cursosde Informática: veja a localização delas na Grande SãoPaulo e telefone para o CDISP para mais informações.Rua das Carmelitas 140 Sé 01020-010 São Paulo, tel.3101-2475, 3101-2476.

CENTRO VELHOCEEP – Centro de Educação, Estudos e Pesquisa, SéZONA LESTEADZL – Associação dos Diabéticos da Zona Leste,Conj. Mascarenhas de Moraes; Associação dosMoradores dos Jardins Camargo e adjacências;ATRIA – Associação dos Trabalhadores deItaquera, Vila Santana; CEC São Paulo Apóstolo,Jardim Imperador; Conselho Comunitário deEducação Cultural e Social da Grande Leste de SP,São Miguel; Conselho Comunitário de Educação eAção Social de Itaquera e Cidade A.E.Carvalho,Itaquera; CPA – Centro de Profissionalização deAdolescentes, Jardim Iguatemi; E.T.E. Prof. MarthinLuther King, Vila Carrão; Grupo Espaço Negro –Agentes de Pastoral Negros, Parque Sta. Madalena;JUNTOS – Jardim Unidos num Trabalho de ObrasSociais, Jardim Marília; NADHU – Núcleo Assistencialde Desenvolvimento Humano, Vila Nhocuné.ZONA NORTEAção Comunitária “Amigo entre Amigos”, Vila Maria;Associação dos Sem-Terra da Zona Norte, Santana;Casa Dom Macário Fundação Lar São Bento, VilaMaria; Movimento Nacional de Luta pela Moradia, VilaAlbertina; PROMOVE – Centro de Habilitação, VilaGuilherme.ZONA OESTECasa da Criança e do Adolescente do JardimJaqueline, Morumbi; Centro Comunitário LudovicoPavoni, Real Parque; CHAPLIN – Núcleo de Assessoriae Apoio à Comunidade; POF - Posto de Orientação àFamília, Morumbi.ZONA SULAldeias Infantis SOS Brasil, Vila Mariana; CAMPS -Centro de Apoio Mário Pereira da Silva, Brooklin;CRUSA - Centro Comunitário e Recreativo SantaAmélia, Pedreira.REGIÃO DO ABCDACCSA - Associação Comunitária de Construção deSto. André, Santo André; CEEP Santo André, Santo

NOME DATA

FICHA 4BO TRABALHO EM NOSSAS VIDAS

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André; E.E. Daniel Pontes, Diadema; E.E. SoldadoJosé Yamamoto, São Bernardo do Campo; E.E. SylvioGueraro, São Bernardo do Campo.

CEDECA – Centro de Defesa da Criança e AdolescenteONG que mantém advogados a serviço da comunidade;há unidades em diversos bairros de São Paulo, comprogramas diferentes.CEDECA Félix Borges de Carvalho.Rua Cajati 65 Vila Brasilândia 02729-040 São Paulo, tel.3924-0020.

CEPRO – Centro de Ensino Profissionalizante RotaryCursos: Capacitação Básica para o Trabalho (CBT, 3meses), seguido de Capacitação Específica para oTrabalho (CET), com dez opções de profissão.Candidatos devem ter entre 14 e 18 anos e estarcursando pelo menos a 5a série em escola pública.Inscrições apenas em dezembro, mediante carteira deidentidade e comprovante de residência.Rod. Raposo Tavares km 24 (ao lado do Colégio RioBranco) Granja Viana 06700-000 Cotia, tel. 4612-0505.

Colméia – Instituição a Serviço da JuventudeCursos: Serviços domésticos, Educadores Infantis.Rua Marina Cintra 97 Jd. Europa 01446-060 São Paulo,tel. 3063-6103.

FAEP – Fundação de Amparo ao Ensino e Pesquisa(Universidade de Mogi das Cruzes)Cursos: Saúde, Serviços de Escritório, Mecânica.Av. Dr. Cândido Xavier de Almeida Souza 200 08780-210Mogi das Cruzes, tel. 4798-7222.

Fundação Gol de LetraProjetos: Esportes (Futebol), Artes, Educação (Leitura eescrita).Rua Antônio Simplício 170 Tremembé 02354-290 SãoPaulo, tel. 6262-2009.

Geledés – Instituto da Mulher NegraProjetos: Defesa dos direitos e conscientização dacondição da mulher negra.Cursos: Informática, Auxiliar de enfermagem.Rua Antônio Raposo 87 Lapa 05074-020 São Paulo, tel.3115-4582.

Obra Social São Francisco XavierCurso: Informática.Av. Antônio Piranga 1500 09911-160 Diadema, tel.4057-3216.

Projeto Âncora – Pelos Direitos da Criança, doAdolescente e do IdosoCursos: Informática, Serviços de escritório.Estrada Municipal do Espigão 1239 06710-500 Cotia, tel.4212-2576.

Projeto Cidade AprendizProjetos: Pintura de ladrilhos, Montagem de murais, TVAprendiz (produção de materiais com fins educacionaispara o canal Futura).Rua Belmiro Braga 146 Vila Madalena 05432-020 SãoPaulo, tel. 3819-9226, 3819-9225.

Reino da Garotada de PoáCursos: Marcenaria e movelariaRua Padre Eustáquio 347 08562-400 Poá, tel. 4638-2466,4636-2000.

UNAS – União de Núcleos, Associações e Sociedades deMoradores de Heliópolis e São João ClímacoCursos: área de Construção civil e afins.Rua da Mina 38 Heliópolis 04235-310 São Paulo, tel.272-1831, 272-3677.

UNIBES – União Brasileira Israelita do Bem-Estar SocialCurso: Informática.Rua Rodolfo Miranda 287 Bom Retiro 01121-010 SãoPaulo, tel. 3311-7300.

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� Use este espaço para anotar outrasindicações fornecidas pelos educadoresde sua Unidade:

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Eu e o trabalhoVocê já deve saber o que é o ECA, Estatuto da Criança e do Adolescente. Veja o que dizsobre o trabalho.

O ECA é a Lei federal 8069, de 14 de julho de1990. O seu capítulo V, “Do Direito à Profissionali-zação e à Proteção no Trabalho”, é dedicado ao tra-balho. Nele se definia a idade mínima de 14 anospara admissão ao trabalho, mas a Lei federal10.097, de 2000, diz que só podem trabalhar maio-res de 16 anos. Então é essa última que vale. O tra-balho de crianças de 0 a 14 anos permanece termi-nantemente proibido.

O adolescente entre 14 e 16 anos pode exercertrabalho só como aprendiz, e com muitas condi-ções. Os programas para aprendizes, chamados de“trabalho educativo”, mantidos por entidades dogoverno ou não-governamentais sem fins lucrati-vos, deverão “assegurar ao adolescente que deleparticipe condições de capacitação para o exercí-cio de atividade regular remunerada”. No “trabalhoeducativo”, a parte de educação deve pesar maisque a de produção. A instituição que oferece apren-dizagem deve ser credenciada e supervisionadapelos órgãos públicos. E o fato de o trabalho sereducativo não é desculpa para não ser pago: oadolescente tem direito à “remuneração (...) pelotrabalho efetuado ou à participação na venda dosprodutos do trabalho”.

O artigo 63 determina que, se você estiver se-guindo algum curso de “formação técnico-profis-sional”, você tem direito a:

(Art.63) “I - garantia de acesso e freqüência obri-

Discuta com um colega e responda.� De acordo com sua idade, o que o ECA prevê como possibilidades de trabalho?

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� Complete a frase abaixo dizendo em suas palavras dois direitos que os artigos 63 e65 garantem:Os patrões que têm empregados aprendizes (de mais de 14 anos) são obrigados a...____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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O TRABALHO NO ECAgatória ao ensino regular;

II - atividade compatível com o desenvolvimen-to do adolescente;

III - horário especial para o exercício das ativi-dades escolares.”

Veja o que diz o artigo 65: “Ao adolescenteaprendiz, maior de 14 anos, são assegurados osdireitos trabalhistas e previdenciários”.

Esses artigos claramente protegem os direitosdo adolescente no trabalho. O artigo 67, porém,protege o jovem de outra forma, ao proibi-lo derealizar determinados trabalhos (“vedado” quer di-zer “proibido”):

Art. 67. Ao adolescente empregado, aprendiz,em regime familiar de trabalho, aluno de escolatécnica, assistido em entidade governamental ounão-governamental, é vedado trabalho:

I - noturno, realizado entre as 22 horas de umdia e as 5 horas do dia seguinte;

II - perigoso, insalubre ou penoso;III - realizado em locais prejudiciais à sua for-

mação e ao seu desenvolvimento físico, psíquico,moral e social;

IV - realizado em horários e locais que não per-mitam a freqüência à escola.

– Por que será que esses tipos de trabalho sãoproibidos para adolescentes?

NOME DATA

FICHA 5O TRABALHO EM NOSSAS VIDAS

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EDUCAÇÃOE CIDADANIA

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Agora dê sua opinião:Releia os tipos de trabalho proibidos pelos itens do artigo 67 e complete estasfrases:

� Concordo com a proibição do item ..... porque...____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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� Discordo da proibição do item ..... porque...____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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Você acha que essas determinações do ECA são respeitadas na prática? Conhececasos para dar exemplo?____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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Você acha que pode usar esse capítulo do ECA a seu favor? Dê um exemplo.____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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Conselhos Tutelares – encaminham e orientam a resolução deproblemas que envolvem crianças e adolescentes. Buscarinformações nas prefeituras.

Secretarias Municipais de Ação ou Promoção Social –mantêm programas como Bolsa-Escola e Renda Mínima.Na cidade de São Paulo, a Secretaria Municipal deAssistência Social pode informar sobre os endereços etelefones de todos os equipamentos, em diferentes lugaresda cidade, que oferecem atividades ou cursos dequalificação profissional. Informe-se pelo telefone 5574-6216.Em outras cidades, procure informações com os professorese agentes na Unidade ou, fora dela, no Conselho Municipaldos Direitos da Criança e do Adolescente.

Central de Trabalho e Renda – ligada à CUT, oferece ajuda aostrabalhadores para inscrição em cursos de formaçãoprofissional, além de informações sobre seguro-desemprego, fundo de garantia, obtenção de carteira detrabalho; mantém programa de palestras e orientação para otrabalho.Endereço: Av. Artur de Queiroz, 720, Casablanca SantoAndré SP, telefone 4979-3600 (www.central.org.br).

PAT – Posto de Atendimento ao Trabalhador, da SERT –Secretaria Estadual do Emprego e Relações do Trabalho deSão Paulo

INSTITUIÇÕES QUE AJUDAM A PÔR EM PRÁTICA O ECAOU FORNECEM ORIENTAÇÃO PROFISSIONALNo PAT, o trabalhador tira carteira de trabalho, esclarecedúvidas sobre direitos trabalhistas, é encaminhado para cursosde qualificação profissional, dá entrada no seguro-desempregoe descobre novas alternativas de geração de renda. Já existemPATs em mais de 200 cidades de São Paulo.Endereço da SERT: Av. Angélica, 2582, Higienópolis São PauloSP (www.emprego.sp.gov.br)

PEQ - Programa Estadual de QualificaçãoO Governo do Estado, por meio da SERT, abriu 3.825 vagaspara cursos de qualificação e requalificação profissional (demanutenção predial, computação gráfica, balconista emontagem de vitrine), mediante convênios com instituiçõesque irão ministrar os cursos, em Guarulhos, Osasco, SãoBernardo do Campo e Campinas, além da capital. Inscriçõesnos PATs. Informações no PAT Casa do Trabalhador MárioCovas, tel. 3361-5100, 3361-6500.Endereço da SERT: Av. Angélica, 2582, Higienópolis São PauloSP (www.emprego.sp.gov.br)

Programa Jovem Cidadão: Meu Primeiro TrabalhoPrograma do governo estadual que facilita a entrada nomercado de jovens entre 16 e 21 anos que cursem o ensinomédio em escolas públicas estaduais, por meio de bolsas-estágio mensais no valor mínimo de R$ 130,00; o Governo doEstado de São Paulo paga R$ 65,00 mensais e a bolsa écomplementada pelo empregador. Nos PATs há informaçõessobre este programa. (www.emprego.sp.gov.br)

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ISBN 85-85786-27-2

Autoria

SECRETARIA DEESTADO DA EDUCAÇÃO

Realização