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JUSTIÇA E CIDADANIA JUSTIÇA, UM DEVER ÉTICO F ALANDO DE DIREITOS E RESPONSABILIDADES NA UIP... E AGORA ? C IDADANIA E VIDA ALÇANDO OUTROS VÔOS EDUCAÇÃO E CIDADANIA UM PROGRAMA PARA ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RISCO SOCIAL 3

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JUSTIÇA ECIDADANIA

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�ALÇANDO OUTROS VÔOS

EDUCAÇÃOE CIDADANIA UM PROGRAMA PARA ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RISCO SOCIAL

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EDUCAÇÃOE CIDADANIA UM PROGRAMA PARA ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RISCO SOCIAL

3ORGANIZAÇÃO CURRICULAR PARA AS

UNIDADES DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIADA FEBEM/SP

MÓDULO DE ATIVIDADES ESCOLARES

Secretaria de Estado da EducaçãoPraça da República, 53 Centro01045-903 São Paulo SPTelefone: (11) 3218-2000www.educacao.sp.gov.br

Governador do Estado de São PauloGeraldo AlckminSecretário de Estado da EducaçãoGabriel ChalitaSecretário AdjuntoPaulo Alexandre Pereira BarbosaChefe de GabineteMariléa Nunes ViannaCoordenadora de Estudos e Normas PedagógicasSonia Maria SilvaCoordenadoria de Ensino da Região Metropolitana da Grande São PauloAparecida Edna de MatosCoordenadoria de Ensino do InteriorElcio Antonio Selmi

EDUCAÇÃOE CIDADANIA UM PROGRAMA PARA ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RISCO SOCIAL

3

Autoria

SECRETARIA DEESTADO DA EDUCAÇÃO

Realização

Coleção Educação e Cidadania, módulo 3Material produzido no âmbito do projetoElaboração e Implementação de Proposta Pedagógica para Adolescentes emSituação de Conflito com a Lei, desenvolvido pelo CENPEC paraa FEBEM/SP – Fundação para o Bem-Estar do Menor do Estado de São Paulo eSEE/SP - Secretaria de Estado da Educação

CENPEC - CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS EMEDUCAÇÃO, CULTURA E AÇÃO COMUNITÁRIAR. Dante Carraro 68 Pinheiros05422-060 São Paulo SPhttp://www.cenpec.org.br

Diretora presidenteMaria Alice SetubalCoordenação geralMaria do Carmo Brant de Carvalho

Coordenação do projeto (Equipe Currículo & Escola)Maria Silvia Bonini Tararam (Coord.)e-mail: [email protected] José Reginato RibeiroMarilda F. Ribeiro de MoraesAutoria do módulo Justiça e CidadaniaAlexandre IsaacRonilde Rocha MachadoColaboraçãoEdna Aoki (Matemática no estudo da Justiça)Helder Greco (História em quadrinhos)Nelson Machado (Jogo: O que pode acontecer comigo?)Equipe técnicaAmérica A.C.MarinhoElizabeth BarolliMarlene AlexandroffRonilde Rocha MachadoEdição de textoTina Amado

A equipe agradece a contribuição dos educadores daFEBEM/SP, participantes dos encontros de discussãoque subsidiaram a produção deste material entreoutubro de 2000 e fevereiro de 2001

Edição de arteEva Paraguassú de Arruda CâmaraJosé Ramos NétoCamilo de Arruda Câmara RamosIlustraçãoLuiz Maia

São Paulo, 2003

Justiça e cidadania / Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Culturae Ação Comunitária – CENPEC – São Paulo; CENPEC; FEBEM, SEE/SP; 2003. Coleção Educação e Cidadania.

Módulo de atividades escolares 3Ilustr.; 11 fichas, 1 jogoISBN: 85-85786-25-6

Educação e Cidadania: proposta pedagógica 1. Educação, ponte para omundo 2. Família e relações sociais 3. Justiça e cidadania 4. Saúde,uma questão de cidadania 5. O trabalho em nossas vidas 6. Artesvisuais e cênicas 7. Conto 8.Correspondência 9. Educação ambiental:problemas globais, ações locais 10. Hora de se mexer 11. Jogos davida 12. Jornal 13. Música e movimento 14. Poesia 15. Ponto deencontro I. Título II. CENPEC III. FEBEM

CDD-370.11

Wagner Mendes Soares CRB-8 – 038/2002

SUMÁRIO

Introdução 6

Justiça, um dever ético 9Atividade Construindo a convivência 9Nenhum homem é uma ilha 10Justiça 13Atividade Justo e injusto (O xis da questão) 14Atividade Divisão justa? 16

Falando de direitos e responsabilidades 18Atividade Apresentando o ECA 19O Estatuto da Criança e do Adolescente 20Atividade Direitos... e responsabilidade 23Atividade Cadeira mágica 25

Na UIP... e agora? 28Justiça e lei 28O ato infracional, de acordo com o ECA 29Atividade Vôo cego 30Jogo O que pode acontecer comigo 31Atividade E agora? 32

Cidadania e vida 33Cidadania 34Atividade Cidadania em movimento 36Atividade Lutas que valem a pena 37

Alçando outros vôos 38Atividade Guerra de garotos 38Atividade Apontando para um projeto de vida 40

Referências bibliográficas 43Sugestões para o acervo da Unidade 43

Fichas 45

Folhas de jogo 67

6EDUCAÇÃO E CIDADANIA

INTRODUÇÃOSão precisos cinqüenta anospara fazer um homem.

Platão, República (540 a.C.)

O que distingue o homem do animal? Aresposta mais coerente a essa pergunta talvezseja: o homem caracteriza-se pelo trabalho,pela linguagem, ou pela cultura. No entanto,não existe trabalho, linguagem, e tampoucocultura, se não por meio da educação. Ofilósofo alemão Immanuel Kant dizia que o quedistingue o homem do animal é que “o homemnão pode tornar-se homem senão pelaeducação”. A educação é concernente aodestino dos jovens que nos são confiados epor isso, ao mesmo tempo, ao destino dahumanidade.

“Educar é sempre uma aposta no outro.Ao contrário do ceticismo dos que querem‘ver para crer’, costuma-se dizer que oeducador é aquele que buscará sempre‘crer para ver’. De fato, quem não apostar queexistam, nas crianças e nos jovens com quemtrabalhamos, qualidades que muitas vezesnão se fazem evidentes nos seus atos, não sepresta, verdadeiramente, ao trabalhoeducativo. Apostar no educando em situaçãode dificuldade pessoal e social implicaalgumas atitudes e posturas básicas por partedo educador (Costa, 1991, p.47-8):

Procurar ver, em primeiro lugar, emcada jovem a quem dirigimos o trabalho,não aquilo que os separa ou osdiferencia das demais crianças e jovensde sua idade, mas sim tudo aquilo quetêm em comum com os demais.

Não perguntar o que o educando nãosabe, o que ele não tem, o que ele nãotraz de sua vida familiar oucomunitária. Ao contrário, procurardescobrir o que o educando é, o quesabe, o que traz consigo, o que ele semostra capaz de fazer. Só assimevitaremos comparar ‘nossos’ meninose meninas com um suposto padrão denormalidade em nossas cabeças,traçando deles um perfil inteiramentenegativo.

Jamais permitir que a visão do ladrão,do homicida, do traficante, da prostitutaou do viciado, existente nos prontuáriose relatórios, nos impeça de ver o jovemque temos diante de nós”.

O que é certo? O que é errado? Como agir?Segundo quais critérios? Essas são perguntasque freqüentemente permeiam a vida damaioria das pessoas. A busca de uma vidapautada por critérios de justiça e a luta poruma sociedade mais justa e igualitária fazeme fizeram parte das preocupações de diversaspessoas em momentos distintos da história dahumanidade. Especificamente nas condiçõeshistóricas da sociedade brasileira, permeadapor flagrantes situações de injustiça edesigualdade e por diversos exemplos deações individuais orientadas por parâmetrosaltamente condenáveis do ponto de vistaético, impõe-se a absoluta necessidade dadiscussão do tema “Justiça e Cidadania”.

Se essa discussão é importante para asociedade como um todo, obviamentetambém o é para os adolescentes aos quaisfoi atribuída a prática de ato infracional. Emalgum momento de suas histórias de vida,faltaram-lhes recursos para se posicionarfrente a estas questões: O que é certo? O queé errado? Como agir? Segundo quaiscritérios?

Para desenvolver esse tema optamos por umaabordagem mais abrangente da questão dajustiça, evitando uma vinculação direta eimediata com a lei enquanto punição.

Iniciamos o estudo com discussões sobreconvivência, ética e cidadania, por acreditarque essas questões são estruturantes para osjovens de maneira geral e, particularmente,para aqueles em situação de risco pessoal esocial. Também quisemos fazer uma distinçãoentre justiça e lei. Justiça, Direito e lei têmuma relação bastante estreita,mas não podem ser reduzidas um a outra.

Nossa aposta é que, na participação ereflexão em atividades envolvendo regras deconvivência, dilemas relacionados a justiça einjustiça, relação entre direito eresponsabilidade, cidadania e caminhos pelosquais possam sentir-se respeitados na

7JUSTIÇA E CIDADANIA

situação em que se encontram, os alunosintroduzam novos questionamentos em seumodo de pensar e agir, repensando algumasde suas escolhas. Além disso, acreditamosque a importância conferida ao diálogo, àtroca de opiniões e ao respeito aosdiferentes posicionamentos possam ajudar osjovens a se incluir numa perspectiva decidadania e participação em busca de umavida melhor.

Este fascículo integra o conjunto de módulosdestinados ao trabalho com adolescentes emsituação de internação provisória, numProjeto que visa dar cumprimento ao dispostono Estatuto da Criança e do Adolescente.Essa lei garante, entre outros, o direito àeducação aos jovens em internação provisóriaou no cumprimento de medida socioeducativade internação. Ressalte-se que, na situaçãoem que se encontram, esses jovens estãoprivados apenas do direito de ir e vir, devendoser-lhes assegurados todos os demaisdireitos.

ORGANIZAÇÃO DESTE MÓDULOO módulo Justiça e Cidadania é formado poreste fascículo para o professor, 11 fichas parao aluno e um jogo, O que pode acontecercomigo?. Os conteúdos acham-se distribuídosem cinco subtemas:

1 Justiça, um dever ético (Construindo aconvivência; Justo e injusto);

2 Falando de direitos e responsabilidades(O ECA: os direitos da criança e doadolescente);

3 Na UIP... e agora? (Justiça e lei; O atoinfracional de acordo com o ECA)

4 Cidadania e vida (Conceito de cidadania;Espaços e possibilidades de participação).

5 Alçando outros vôos (sistematização;Apontando para um projeto de vida).

Neste fascículo, além de orientaçõesdetalhadas para o desenvolvimento dasatividades, você encontrará textos para sesubsidiar (seção “Aprofundando”), de modo apoder ampliar e enriquecer o repertório dosalunos. Você saberá em que momento da aulairá abordar as idéias e informações aícontidas, lembrando que esses textos não

foram pensados para ser lidos, muito menosmatéria para aula expositiva: são textos deapoio para você preparar-se. Na próximapágina, agrupamos orientações didáticas elembretes para facilitar suas aulas.

Ao planejá-las, naturalmente você levará emconta as possibilidades cognitivas e deorganização para o estudo dos alunos,escolhendo e dosando as atividades e asdiscussões, para que as aulas, além deprazerosas e interessantes, proporcionemcondições para que os jovens aprendam apensar sobre si mesmos e sobre o mundo demaneira mais consistente; aprendam a exporsuas idéias e a dialogar, defendendo seupensamento e respeitando o do outro. E issorequer, de sua parte, tempo e paciência, afetoe acolhimento, senso crítico e coerência.

Uma questão que irá merecer atençãoespecial de sua parte é a situação dos alunosque não dominam totalmente a leitura e aescrita. Não se esqueça de verificar a cadadia, entre os alunos novos, quais delesapresentam essa dificuldade. Nesse caso,peça a outro colega para ler os textos – emvoz baixa e acompanhando as palavras com odedo indicador, calmamente. Assim, ajuda ocompanheiro a se familiarizar com aspalavras e, quem sabe, retomar um processointerrompido de aprendizagem da leitura.

É também pensando que a maioria dos jovenstêm alguma experiência escolar que cadamódulo traz uma atividade envolvendoaprendizagem matemática. Neste caso, aatividade proposta (p.15) visa propiciarreflexão sobre princípios éticos, mediante umproblema matemático envolvendo a operaçãodivisão e a noção de fração.

Por fim, esperamos que este material, aliadoa seus conhecimentos e experiência, possacontribuir para o desenvolvimento de umtrabalho que tem grande importância, pois,com o atendimento educativo aqui proposto,você estará participando de um processomuito maior, que envolve a luta histórica demuitas pessoas pela efetivação não só dosdireitos da criança e do adolescente, mas dosdireitos humanos, buscando a construção deuma sociedade mais justa, igualitária edemocrática para todos.

8EDUCAÇÃO E CIDADANIA

ORIENTAÇÕES DIDÁTICASPara que o uso do material seja coerente com a proposta pedagógica que o fundamenta,

alguns cuidados são necessários:1 FAÇA uma leitura geral do módulo inteiro

inicialmente, para ter uma visão do conjunto dasidéias centrais da proposta.2 Antes de trabalhar cada subtema, LEIA

cuidadosamente as orientações e PREPARE cadaaula. Se preferir, faça um pequeno roteiro pessoal,destacando as noções principais e as sucessivassituações de aprendizagem: problematizaçãoinicial; momentos em que vai dirigir-se ao coletivoda turma, em que os jovens vão trabalhar emgrupos e individualmente; e o fechamento.3 INICIE a aula anunciando à turma a proposta de

trabalho do dia: o objetivo da aula e as atividadesque irão fazer. Os alunos precisam ter clareza doque se espera deles: isso os ajuda a organizar-se.Anote a pauta do dia na lousa.Comece a aula com uma CONVERSA, motivandoa turma a discutir o assunto em questão: façaperguntas, provoque-os a explicitar suas idéias econhecimentos prévios. Só nos apropriamos deconhecimentos novos quando estes sãosignificativos para nós, isto é, quandoestabelecemos relação entre o que nos é propostoe o que já sabemos. Retome sempre, brevemente,o que já estudaram nos subtemas anteriores,situando a nova aula no estudo do tema. Estetambém é o momento para acolher os alunosrecém-chegados, incluindo-os no grupo esituando-os no Projeto, no tema e nas atividadesem desenvolvimento. Recorra à ajuda de outrosalunos para isso.4 Só aprendemos pela INTERAÇÃO: favoreça

permanentemente a troca de idéias, dos alunoscom você e entre eles. Nas atividades propostaspara grupos, mesmo que cada um deva, porexemplo, fazer anotações em sua própria ficha,incentive a discussão e a troca entre eles,passeando entre os grupos. O silêncio à todaprova é inimigo da aprendizagem.5 No final da aula, promova sempre um

FECHAMENTO: “O que aprendemos hoje?”.Recorra à pauta anotada na lousa, se necessário.Destaque a idéia central do que tiver sidodiscutido. Faça com que a anotem nos cadernos

(ou na ficha, caso isso tenha sido previsto).Mesmo que não tenha concluído o subtema (veja otópico 7), promova o fechamento, explicitando aidéia central da aula. A cada dia os alunos deverãosair da sala com a consciência clara das questõesque foram trabalhadas.

6 Uso das FICHAS: as fichas foram pensadas parapropiciar aos alunos uma forma organizada deregistro do que tiverem estudado. (Nem todas asatividades prevêem seu uso: nas atividades quenão têm ficha, não esqueça de promover oregistro em caderno ou folha avulsa.) NÃOcomece a aula pela distribuição de fichas. É só nocontexto proposto que elas adquirem significadopara os alunos, conforme o objetivo da atividade.Em cada subtema, sugere-se o momento idealpara essa distribuição: só a distribua no momentosugerido. Se os alunos já a tiverem nas mãosantes, podem dispersar-se e não participar daforma prevista. No caso de conter letra de música,por exemplo, é ideal que os alunos ouçam umavez a canção sem ter a ficha nas mãos. Após aprimeira audição, faça perguntas para verificar apercepção e, se necessário, promova umasegunda audição, ainda sem a ficha. Só depois éque deverão ouvir acompanhando a letra na ficha.

7 USO DO TEMPO: você deve gerenciá-lo deacordo com as características da turma. Um temapode ocupar uma ou duas semanas de aula,conforme o caso. Não é necessário começar eacabar um subtema no mesmo dia. O materialapresenta muitas possibilidades de exploração ecada turma tem seu próprio ritmo. Dependendodas condições, poderá haver muitosdesdobramentos. Cada vez que for trabalhar otema, releia o módulo para poder elaborar umplano diário que garanta o máximoaproveitamento do tempo. Reserve o mínimo detempo possível para os procedimentosadministrativos, maximizando-o para o trabalhocom o Projeto.

8 Experimente fazer também um REGISTRO sobresua própria atuação. Os professores que já ofazem relatam que isso permite aperfeiçoar aatuação com cada nova turma.

9JUSTIÇA E CIDADANIA

SUBTEMA 1JUSTIÇA,UM DEVER ÉTICONão podemos mais invocar as barreiras,nacionais, raciais ou ideológicas que nosseparam, sem repercussões destrutivas.Dentro do contexto de nossa novainterdependência, considerar osinteresses dos outros é claramente amelhor forma de auto-interesse.

XIV Dalai Lama, Tenzin Gyatso

Educador, esta é a primeira aula, sobre otema que lhe dá título. Escolhemos abordar“Justiça: um dever ético” a partir de umadiscussão sobre regras de convívio social, porconsiderarmos que a convivência é a base daconstrução de uma noção de justiça pautadaem valores éticos. Trata-se de propiciar umareflexão com os alunos considerando asseguintes idéias:

A noção de justiça só se constrói narelação com o outro, portanto naconvivência familiar, comunitária esocial.

A concepção de justiça e os valoreséticos podem se transformar, assim comoa sociedade também se transforma.

A internalização de parâmetros éticos éimportante para nortear as escolhas eações da vida cotidiana.

Para propiciar essas reflexões, os alunos irãoparticipar da atividade “Construindo aconvivência” (ficha 1A), que traz um roteirocom situações desafiadoras, envolvendo aconvivência numa ilha imaginária. E daatividade “O xis da questão” (ficha 1B), quepropicia reflexão sobre coisas justas einjustas, na sociedade e no cotidiano. Alémdisso, os alunos irão desenvolver umainteressante atividade de Matemática,“Divisão justa? As três divisões do homem quecalculava” (ficha 1C).

Finalmente estamos indicando, para leituraem momentos extra-aula, o livro O que fazer?Falando de convivência (Iacocca, 1999), quediscute, de maneira divertida e inteligente, aimportância da convivência nas relaçõescotidianas, atualmente e em outros momentosda história humana.

ATIVIDADECONSTRUINDO A CONVIVÊNCIADesde que nascemos, necessitamos e dependemosuns dos outros. O objetivo desta atividade éjustamente fazer os jovens perceberem apossibilidade de convivência pacífica e solidáriacom o “outro”.Esta atividade possibilita aos alunos aoportunidade de constituir uma “mini-sociedade”,de elaborar leis, regras de convivência, administrarconflitos, dividir tarefas, enfim, de serem autores eatores de sua história. Embora se trate de umasituação fictícia, na ilha deserta, eles estarão otempo todo lidando com seus valores, suas crençase sua visão de mundo. Além disso, é importanteficar atento para que os alunos compreendamalgumas questões:

As regras não são imutáveis, elas mudam aolongo da história e são produto da açãohumana.As regras de convivência e as leis existempara regular a vida social. Geralmente asregras de convivência estão ligadas àspráticas cotidianas e são informais eflexíveis, enquanto as leis são formalizadas edevem valer para todo o conjunto de umadeterminada sociedade.Apesar de vivermos em um mundo onde acompetição permeia a vida em sociedade(competição nos esportes, no mercadoglobalizado, no trabalho, na escola), existemmaneiras alternativas e eficientes desolucionar problemas, tanto no cotidiano,como na própria sociedade, por meio dacooperação. É preciso considerar tambémque nem toda competição é perversa (nosesportes, por exemplo).

10EDUCAÇÃO E CIDADANIA APROFUNDANDO

A convivência é uma condição absolutamentefundamental, tanto nas relações pessoais cotidia-nas como nas relações entre grupos, classes epartidos. A consideração do interesse do outro –grupo ou indivíduo – tem um contraponto na ga-rantia de que as minhas idéias, pensamentos e rei-vindicações também devem ser levadas em conta.

Valorizar a convivência não significa mascararas contradições de uma sociedade cada vez maiscompetitiva e excludente, nem anular-se pessoal-mente. Tanto no plano social como no individualexistem conflitos, contradições e lutas. Não se tra-ta de abafar o conflito. Muito pelo contrário, astransformações pessoais, sociais, políticas e eco-nômicas são resultado de muitas lutas em queentram em jogo interesses individuais e de diver-sos setores da sociedade. No entanto, na maioriadas vezes, só a partir das negociações e acordosé que se tornam possíveis algumas mudanças.

A partir de que momento, na história da huma-nidade, os homens passaram a estabelecer regrasde convivência? Por que surgiram as primeiras re-gras e leis que regulam a vida societária? São per-guntas que nos fazem pensar sobre o sentido davida em sociedade. Esse tema tem sido objeto dereflexão por parte de pensadores em diversas épo-cas.

Para Thomas Hobbes, filósofo inglês do sécu-lo XVII, os homens são “tão iguais” que, apesar dealgumas diferenças, como a maior força física dealguns, ou a maior habilidade de outros, de ne-nhuma maneira homem algum pode triunfar so-bre o outro. Segundo Hobbes, os homens viviamsem poder e sem organização, que surgiram so-mente depois de um pacto firmado por eles, esta-belecendo as regras de convívio social e de su-bordinação política.

Sem um pacto social, os homens são absolu-tamente livres e, portanto, têm direito de fazer to-das as coisas que quiserem, até tirar a vida de ou-tro para obtenção de vantagens. Essa situação ge-raria, para Hobbes, a generalização da guerra detodos contra todos, ou seja, a minha liberdade defazer qualquer coisa e a liberdade do outro de tam-bém fazê-lo, aliado ao fato de sermos basicamen-te iguais, detonaria uma guerra generalizada naqual todos sairiam perdendo. Assim, o pacto é “as-sinado” entre todos os homens, que em nome dapreservação da vida, garantida após a formaliza-ção do acordo, abdicam da liberdade de fazer to-

ENHUM HOMEMÉ UMA ILHA

das as coisas. Supostamente, é nesse momentoque nasceriam as primeiras regras de convivênciae um primeiro corpo de leis que regulariam a con-duta humana. O Estado tal qual conhecemos hojeseria resultado desse primeiro acordo entre os ho-mens. Ao Estado caberia, num primeiro momen-to, preservar e garantir a vida de todos os homense conseqüentemente a paz social.

Para John Locke, outro teórico inglês do sécu-lo XVII, esse pacto de consentimento, em que aspessoas concordam livremente em formar a socie-dade civil, teria por objetivo preservar e consolidaro direito à vida, à liberdade e à propriedade que,sob o amparo da lei e do árbitro da força, estariammelhor protegidos.

Essas são construções ideais, ou seja, ninguémacredita que os homens se sentaram em círculo eresolveram criar as primeiras regras sociais. Essaabstração serve para facilitar a compreensão decomo teria surgido esse primeiro conjunto de re-gras e leis que instituíram o Estado e fundaram asociedade.

Para Karl Marx, filósofo alemão que viveu noséculo XIX, essa teoria nada mais é que a justifica-tiva histórica da constituição de um Estado calca-do na dominação de classes. Ou seja, todo esseaparato de leis que regulam a nossa vida em socie-dade não passa de um corpo administrativo quegerencia os negócios comuns da burguesia, istoé, dos industriais, comerciantes e outros grandesproprietários. Nas mãos da burguesia, o Estadoseria um instrumento para assegurar seus própri-os interesses e principalmente garantir a proprie-dade privada. É a partir da divisão social do traba-lho em que cada indivíduo assume uma atividadeexclusiva, como caçar, pescar ou trabalhar na fá-brica, que aquele que detém a propriedade priva-da dos meios de produção assume uma domina-ção sobre os outros. Surgem então duas classessociais, condicionadas pela divisão do trabalho edivididas entre os proprietários das terras e de-pois das máquinas e aqueles que vendem sua for-ça de trabalho.

Obviamente, existem outras teorias que expli-cam tanto o surgimento das regras sociais comodas próprias leis e do Estado. Vários estudiosospertencentes a diversas correntes do pensamen-to, inseridas em disciplinas como História, Antro-pologia e Sociologia, se debruçaram sobre essaquestão.

11JUSTIÇA E CIDADANIA

Para introduzir esta atividade, converse com osalunos sobre os grupos de convivência dos quais elesparticipam: família, escola, amigos, igreja, vizinhançae outros. Peça que contem como é essa convivência:pacífica, conflituosa, prazerosa, desagradável...Nessa conversa, fique atento e registre todas aspistas fornecidas por eles para você retomar –problematizando – no decorrer da atividade.Nesse momento, não se preocupe em questionar eaprofundar as idéias dos alunos: incentive-os afalar, ouça-os com atenção e interfira apenas parasolicitar maior clareza em sua apresentação.Em seguida, leia para os alunos o texto “Numailha deserta”, na ficha 1A. Não distribua a fichaaos alunos ainda. Estimule a turma, verifique secompreenderam a história, fazendo-os realmenteimaginar que estarão vivendo a situação,detalhando paisagens ou cenários de filmes comoLagoa azul, por exemplo.Organize a classe em círculo e promova o início daatividade, desafiando os alunos a pensar em comosobreviver nesse cenário adverso. Deixe-os àvontade para sentir o desafio e discutir brevementea situação. Se achar necessário, faça perguntascomo as sugeridas no verso da ficha. Dê um tempopara se organizarem e, em seguida, leia para elesum a um os dois desafios (também no verso daficha), com um pequeno intervalo, deixando-osnovamente livres para refletir sobre cada um.Poderão, se quiserem, fazer anotações em folhasavulsas ou no caderno.Caso eles apresentem dificuldade de desenvolver aatividade, incentive-os com perguntas como: Qualseria a primeira coisa que você diria para o grupo?Como vocês dividiriam as tarefas? Quem caça?Quem cozinha? Como vão se abrigar e protegercontra o frio, chuva e ataques dos animais? Nocaso de alguém ficar doente, o que fazer? Todas aspessoas devem trabalhar? Como seria a divisão dotrabalho? O que fariam com o lixo produzido aolongo do período em que vivessem na ilha?Incentive-os a usar o espaço da sala de aula pararealizar certas atividades, movimentando-se umpouco. O círculo inicial pode ser o acampamento,onde todos se reúnem e combinam o que fazer e parao qual retornam após a realização das atividades.Observe atentamente as discussões, decisões eações dos membros do grupo e interfira, sempre

que necessário, problematizando-as, tendo emvista as sete aprendizagens para a convivência, nobox “Convivência social: uma questão deaprendizagem” apresentado adiante.Incentive-os a imaginar que vão viver nesse lugar,talvez para sempre. Então, é preciso refletir e agircom uma visão de futuro (a atividade perderámuito do seu sentido desafiador, se os alunos sededicarem apenas a pensar em formas de sair dailha). Estimule os alunos a serem imaginativos ecriadores e evite dar as suas soluções. Discuta como grupo a necessidade de posicionamentos firmes,em caso de reiterado descumprimento de acordos.Pode ser que os alunos se envolvam bastante e aatividade se estenda por mais tempo do que oplanejado por você. De qualquer forma, após arealização da atividade, é interessante promover umareflexão sobre as questões indicadas na ficha dosalunos. Uma delas diz respeito à necessidade deliderança para organizar a convivência, que podesuscitar interesse, pois é um tema bastante candentena vida cotidiana deles. Nesse caso, é importanteressaltar que a liderança, numa perspectivademocrática, não deve estar incorporada numaúnica pessoa: é um lugar que pode ser ocupadopor diversos atores em diferentes momentos. É ahabilidade e a competência de cada um que definequem vai ocupar o lugar de líder, neste ou naqueleprocesso. Algumas pessoas têm habilidadesadministrativas, enquanto outras são maisarticuladoras. Há pessoas muito criativas, enquantooutras são mais empreendedoras. Enfim, cada umtem uma habilidade e capacidade que pode servirpara liderar uma situação, dependendo do desafioa ser enfrentado. Mas, não se esqueça, cadahabilidade pode ser aprendida: não é porque umapessoa não fala em público que não pode aprender; equem não é muito organizado pode aprender a sê-lo.Por fim, esse é o momento para você retomar suasobservações e explicitar aspectos importantes quenão tenham sido considerados por eles. Distribua aficha 1A e promova a leitura coletiva do texto“Viver uns com os outros, em vez de uns contra osoutros”. Ajude-os a estabelecer relação entre essetexto e a atividade que acabaram de fazer. Anote nalousa as principais conclusões da atividade e peçaque os alunos a registrem no verso da ficha.Lembre-os também de anotar, na ficha, como ogrupo enfrentou os desafios.

12EDUCAÇÃO E CIDADANIA

CONVIVÊNCIA SOCIAL:UMA QUESTÃO DE APRENDIZAGEM

O educador colombiano José Bernardo Toro (1995) afirma que “a convivência social, por não sernatural, requer aprendizagens básicas que devem ser ensinadas, aprendidas e desenvolvidas

todos os dias”. E estabelece sete regras básicas para a convivência social. São estas regras que devemorientar o educador no encaminhamento da atividade “Ilha deserta”.

“APRENDER A NÃO AGREDIR O OUTRO”. Oshomens precisam ser ensinados a não agredir,nem física nem psicologicamente, os outros sereshumanos. Não devemos aceitar com normalidadexingamentos, espancamentos, homem que bateem mulher, irmão que desconhece irmão, políciaque agride cidadão, briga de gangues, torcidasuniformizadas que se agridem mutuamente, aviolência no trânsito, as discriminações, a fome,as guerras ou a injustiça. O que está por trás davalorização da não-agressão é o princípio davida. Ao valorizar a minha vida e a do outro,estou valorizando a humanidade.“APRENDER A COMUNICAR-SE”. As pessoasdevem exercitar a comunicação: é o pressupostopara o entendimento, para o acordo, para aresolução de conflitos e para a convivência. Pormeio da comunicação constrói-se uma novavisão de mundo e um novo “jeito de olhar”. Aslinguagens oral, escrita, artística devem serentendidas como instrumentos para se vivermelhor.“APRENDER A INTERAGIR”. Interagir é agir emsintonia com o outro, aprendendo a concordar ediscordar sem romper a convivência. Respeitar asconvicções políticas, religiosas, a condiçãosocial, a situação econômica, o time de futebol,o jeito de vestir, de pensar e de agir do outro.“APRENDER A DECIDIR EM GRUPO”. Decidir ascoisas em grupo é mais difícil do que decidirsozinho. O exercício da democracia não é fácil eexige muita disciplina; no entanto, são inúmerasas vantagens de se decidirem as coisas emgrupo. O comprometimento coletivo, a certezade que todos puderam ser considerados, arapidez e eficiência nos resultados são exemplosdessas vantagens.“APRENDER A SE CUIDAR”. “Respirar bemfundo e devagar, que a energia tá no ar. Bomé não fumar, beber só pelo paladar, comer detudo que for bem natural, e só fazer muito

amor, que amor não faz mal” (Joyce, cantora ecompositora da música popular brasileira).Novamente, estamos falando da valorização davida. Cuidar do corpo, da mente e do espíritoé sinal de respeito consigo mesmo. É precisovalorizar os hábitos de higiene, a prevençãocontra doenças, valorizar o hábito de não fumar,valorizar a prática de esportes e de lazer.“APRENDER A CUIDAR DO LUGAR EM QUEVIVEMOS”. Os seres humanos vêmhistoricamente destruindo todos os recursos daTerra. A contaminação dos rios e dos mares, apoluição do ar que respiramos, a extraçãodescontrolada dos recursos minerais, adevastação das matas e a extinção de algumasespécies de animais são exemplos da destruiçãodos recursos da Terra. Ao mesmo tempo quedevemos compreender por que e para quealguns homens estão destruindo esses recursos,devemos lutar pela preservação deles. O que estápor trás dessa luta é o compromisso ético comnossa vida e com a das futuras gerações. Cuidardo lugar onde vivemos não se restringe apreservar os recursos da Terra: é no cotidianoque cuidamos da nossa casa, da nossa rua, dosequipamentos públicos como escolas, hospitais,praças, parques, telefones públicos.“APRENDER A VALORIZAR O SABER SOCIAL”.Quando nascemos, muitas coisas já estão dadas,ou seja, já existe um conjunto de regras, valores,práticas culturais e tradições que formam ahistória do grupo social. É assim que oconhecimento produzido por uma geração dehomens e mulheres é “transmitido” para asgerações futuras e partilhado com elas. Por meioda família, da escola, da comunidade, da igreja,dos meios de comunicação é que acessamos ecompartilhamos esse conhecimento acumulado.Temos de aprender a valorizar o saber social, masdevemos utilizar a reflexão ética para questionaras regras, valores e práticas culturais que nosforam passadas de uma geração a outra.

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13JUSTIÇA E CIDADANIAAPROFUNDANDO

USTIÇAA idéia de justiça tem sido tema de diversos pen-

sadores nos campos da Filosofia, da Jurisprudência,da Ética, da Política e outros. As diversas civilizaçõesao longo da história da humanidade desenvolveram eimplementaram seus sistemas de justiça.

Na Grécia antiga, a idéia de justiça nasce conco-mitante à noção de sociedade. Os gregos acredita-vam que a sociabilidade dos seres humanos era umacoisa natural e havia necessidade de assegurar queas relações entre os cidadãos fossem justas. Para-doxalmente, sua divisão social do trabalho – entretrabalhadores, guerreiros e filósofos – com a qualjulgavam estabelecer as bases de uma sociedadeharmoniosa e justa, em que cada um teria uma fun-ção conforme as aptidões individuais, aceitava aescravidão como um “fato natural” e não a questio-navam como justa ou injusta. Uma justiça das desi-gualdades?

Os romanos, assim como os gregos, aceitavame justificavam a escravidão. Sêneca, filósofo roma-no, argumentava que o direito natural não admitia aescravatura, mas o direito civil, sim. A Jurisprudên-cia, ciência que se debruça sobre a experiência hu-mana do justo, é uma criação da civilização romana.Eles acreditavam que a justiça era um valor que de-veria ser medido.

No Cristianismo, a idéia de justiça perpassa doismundos: a justiça divina e a justiça dos homens. SãoTomás de Aquino, filósofo cristão, afirmava que odireito deve assegurar o estabelecimento de relaçõesjustas. Entretanto, dizia, a justiça humana é contin-gencial e, para ele, a verdadeira justiça é fundamen-tada pela lei divina.

Na Idade Moderna, entre 1453 e 1789, o surgi-mento da concepção de nação, os grandes desco-brimentos, a expansão comercial, o surgimento daburguesia, a reforma protestante e a contra-reformacatólica lançaram as bases da moderna idéia de jus-tiça. Aos poucos, os rigores da disciplina católicamedieval e a idéia de um Deus que, acima de tudo,punia os desobedientes, foi dando lugar a uma con-cepção de que deveria existir uma justiça dos ho-mens.

Autores como Hobbes, Locke, Rousseau e Mon-tesquieu rompem com a tradicional submissão dapolítica à religião. Em seu célebre O espírito das leis,Montesquieu, ao definir lei como “relações neces-sárias que derivam da natureza das coisas”, traz apolítica para fora do campo da Teologia. Nesse senti-do, as concepções de certo e de errado, de justo einjusto, passam a ser estabelecidas entre os homensnas próprias relações sociais. O liberalismo, ao ex-por as idéias de liberdade e de direito individual,desafiava a ordem estabelecida. No entanto, uma

vez no poder, a burguesia tratou de abandonar seupróprio ideário e, principalmente, a idéia de justiçasocial.Na tradição socialista, segundo Marx e Engels, oDireito, para ser justo, deve ser universalmente váli-do; mas, ainda segundo eles, o Direito é particular etemporário, pois apenas representa os interesses daclasse dominante. Para Marx, o Direito é a vontade,feita lei, da classe dominante que, por meio de seuspostulados ideológicos, pretende transformá-lo emexpressão da justiça.

A JUSTIÇA COMO IDEAL ÉTICOComo agir? Agir buscando o quê? Qual seria o

ideal da vida ética? Obviamente, as respostas nãosão as mesmas ao longo da história da humanida-de.

Na Grécia antiga, muitos filósofos se ocuparamcom essa questão. Para alguns, a busca do bem eda felicidade, em uma vida ordenada e virtuosa, cons-tituíam ideais éticos, enquanto outros pregavam aidéia de que a vida devia estar voltada para o prazer.

O Cristianismo inaugurou ideais éticos vincula-dos a valores religiosos: viver uma vida de amor efraternidade, conhecendo, amando e servindo aDeus.

O Renascimento e o Iluminismo trouxeram osideais éticos da liberdade, da igualdade e da frater-nidade. O filósofo alemão Immanuel Kant procuroudemonstrar que o progresso da humanidade só podeser um aperfeiçoamento moral é ético. “Aja sempreem conformidade com o princípio subjetivo, tal que,para você, ele deva ao mesmo tempo transformar-se em lei universal”. Kant afirma que o imperativocategórico “não mentirás” não deve ser obedecidoem razão das conseqüências do seu cumprimento –apesar de existirem situações em que seja vantajo-so mentir –, mas porque não poderíamos racional-mente desejar que a mentira, e não a verdade, setransformasse em norma geral de conduta.

Muitos pensadores e filósofos do século XX in-sistiram na liberdade como ideal ético a ser busca-do. O pensamento social, também expressão depensadores desse século, desenvolveu a idéia deque o ideal ético a ser perseguido é o ideal de justiça.A superação de injustiças sociais, econômicas e polí-ticas, bem como a construção de um mundo basea-do na redistribuição das riquezas e no reconhecimen-to das diferenças culturais e étnicas são ideais a se-rem perseguidos aqui na Terra e não mais em umavida após a morte. Hoje, um dos grandes desafioscolocados é uma justa distribuição dos bens comunsda humanidade como, por exemplo, água, terra, ali-mento, moradia, informação e conhecimento.

14EDUCAÇÃO E CIDADANIAATIVIDADEJUSTO E INJUSTO(O XIS DA QUESTÃO)Livre para sempre estar onde o justoestiver, a todo momento escolher comacerto e precisão a melhor direção...

(Beto Guedes e Fernando Brant)

Agora, propomos uma discussão sobre a justiçacomo um dever a ser perseguido por todas aspessoas. Os alunos terão oportunidade de refletirsobre os parâmetros de justiça, tanto na vidacotidiana como na sociedade em geral.No cotidiano, quando um fato qualquer chega anosso conhecimento, temos a tendência de emitirjuízos sobre ele. Independentemente de o fato terou não ter relação conosco, parece que existe algodentro da gente sempre querendo saber: Isso éjusto? Aquilo é injusto?Diversas situações recebem o rótulo de seremjustas ou injustas. Tanto as leis, instituições,sistemas sociais, como também ações individuaisde diversas ordens estão a todo o momento sendojulgadas pelas pessoas. Normalmente, quandotomamos conhecimento de algo que consideramosinjusto, somos tomados por um sentimento deindignação. No entanto, só a indignação não ésuficiente. Só existe justiça e conquista de direitosse houver a prática da reivindicação. A indignaçãoe a reivindicação, tanto nas relações maiselementares do cotidiano como nas relações maiscomplexas da sociedade, são básicas para alcançarjustiça nas relações humanas.Para sensibilizar os alunos e conhecer um poucoda sua concepção de justiça, pergunte a eles, porexemplo: O que é justo? O que é injusto? Vocêpode dividir a lousa em duas partes e anotar asrespostas a essas perguntas, solicitando a eles queanotem no caderno. Nesse momento, optamospor deixar as perguntas genéricas, para propiciarque os jovens se manifestem de forma abrangentesobre o assunto.Também é um momento importante para vocêidentificar, nas falas dos alunos, questões paraserem retomadas e problematizadas durante adiscussão a ser feita a seguir.

Para essa atividade, será necessário providenciarseis cartões, com tamanho de 20cm X 10cm. Emdois deles, escreva com letra de forma: JUSTIÇA;em outros dois, escreva INJUSTIÇA; e, nosrestantes, um ? (ponto de interrogação).Esta atividade deve propiciar uma reflexão arespeito das seguintes idéias:

Cada um de nós desenvolve, de acordo comnossa história, um certo senso de justiça,que nos induz a julgar as coisas como justasou injustas.A noção de justiça se constrói na relaçãocom o outro (amigo, membro da família,vizinho, educador...). Isso só é possívelquando partilhamos com esse outro asnossas dúvidas, nossos dilemas ou quandopermitimos que esse outro nos ajude arefletir sobre as escolhas e decisões quetomamos.A justiça deve ter um fim social, isto é, umaprocura constante do razoável, da harmoniae do bem comum.A ação humana deve-se pautar peloprincípio da universalidade, ou seja, aoagirmos, devemos considerar se nossa açãopoderia ser uma ação de todas as pessoas.As idéias de justiça e de valores éticospodem se transformar, assim como asociedade se transforma.

Para desenvolver a atividade, é necessário que vocêleia atentamente cada uma das frases que constamda ficha 1B. Selecione algumas delas, levando emconta o tempo disponível de aula e a adequação aoseu grupo de alunos.Em classe, explique aos alunos que irão participarde uma atividade que os ajudará a pensar sobredecisões difíceis. Irão conversar sobre situaçõesdescritas em algumas frases da ficha 1B, paraverificar se podem ser consideradas justas, injustasou de caráter ambíguo, isto é, se comportam asduas possibilidades. Também, algumas delaspodem ser consideradas “certas” (éticas) ouerradas, não necessariamente justas ou injustas.Organize a classe em dois grupos para participarda atividade e entregue a cada grupo um conjunto

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de três cartões (contendo as palavras Justiça,Injustiça e ?); este último será utilizado quandonão conseguirem decidir, ou quando a situação forambígua; de acordo com a conclusão do grupo,usarão um desses cartões. Distribua aos alunos aficha 1B e peça que façam a leitura silenciosa dasfrases que você selecionou para discussão,cuidando para que os que não dominam a leiturasejam ajudados por um colega.Peça para um dos alunos de um grupo ler em vozalta a primeira frase selecionada.Dê um tempo para os grupos refletirem sobre assituações descritas nas frases, a fim de que elesinterpretem se as situações podem ser consideradasjustas, injustas ou ambíguas. Em seguida, peça acada grupo que apresente suas conclusões,levantando o cartão correspondente e explicandopor que chegaram a essa conclusão. Aproveitetambém para perguntar ao grupo: O que fariam seestivessem no lugar da pessoa envolvida nasituação em discussão? Por exemplo, na situaçãoque envolve o garoto Gabriel, é interessanteperguntar: O que você faria se fosse o Gabriel?Defenderia o garoto que está sendo pressionado?Ficaria quieto, pois não você não tem nada a vercom a história?. Esse mesmo procedimento podeser adotado para as demais situações.A seguir, fazemos comentários a propósito dealgumas das frases contidas na ficha dos alunos.Você pode utilizar outras fontes de pesquisa, paradesenvolver as situações não comentadas aqui,recorrendo à bibliografia indicada no final destevolume.Na situação 2, por exemplo, o ato de completacrueldade cometido pelos garotos não parece terjustificativa alguma; no entanto, a Justiça conseguiuatenuar a pena alegando que os jovens não tinhama intenção de matar. Ora, qual seria a intenção ematear fogo numa pessoa? Um dos garotos aindatentou justificar-se, dizendo que pensavam ser ummendigo e não um índio. Como se atear fogo nummendigo fosse menos grave do que em um índio.Talvez seus alunos fiquem indignados com a decisãoda Justiça; no entanto, você pode conduzir aconversa para refletir sobre a questão do direito àvida, que acreditamos ser o ponto central dessa frase.Na situação 3, a mentira do garoto Jorge não

parece ter provocado grandes conseqüências para avida das pessoas. Entretanto, a questão colocada éo princípio da universalidade da ação. Pode-seimaginar inclusive situações em seja vantajosomentir, porém não podemos racionalmente desejarque a mentira, e não a verdade, se transforme emnorma geral de conduta. Imagine todas as pessoasmentindo o tempo todo.Na situação 4, a corrupção do guarda é umaatitude ilegal e anti-ética, e pode ser combatidacom diversos tipos de medidas. Já o motorista,além de transgredir o código de trânsito, coloca emrisco sua própria vida e a de outras pessoas.Na situação 5, estamos diante de um problema decidadania. D. Maria, ao pensar na higiene elimpeza de sua casa, o que aliás é absolutamentelouvável, não considera o problema da escassez deágua, um bem essencial à vida humana, nem a faltaque ela faria a outras pessoas.Na situação 9, estamos diante de dois direitosinalienáveis do homem – o direito ao trabalho e odireito à qualidade de vida – que não podem estarem contraposição, ou seja, não podemos abdicar deum em favor do outro. Você pode discutir com osalunos que possibilidades haveria para que fossegarantido o direito ao trabalho daqueles moradorese, ao mesmo tempo, que a fábrica não poluísse o rio.A situação 10 traz mais uma vez a questão dodireito à vida. Você pode desenvolver com osalunos a idéia de que tirar a vida de outra pessoa aimpossibilita de seguir seu caminho, de amar, debrincar, de ser feliz, de ter filhos, de envelhecer,entre outras coisas, e que isso é absolutamenteirremediável, não sendo possível voltar atrás nesseerro. Talvez, só na legítima defesa possa serjustificável tirar a vida de outra pessoa – mas,enfim, qual o critério para legítima defesa?Na situação 13, apesar de não parecer haverconexão entre as frases, elas são importantes paraajudar os alunos a refletir por que governos eempresas gastam tanto com armamentos, ao invésde tentar combater o problema da fome no mundo.Você também pode retomar com eles a discussãopública ocorrida no Brasil sobre o desarmamento.Além disso, você deve lembrar de um fato daatualidade em que os EUA, que estãointermediando o conflito no Oriente Médio entre

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judeus e palestinos, fornecem, por meio de suaindústria de armamentos, material bélico para oconflito.Em nem todas as situações é preciso chegar a umconsenso, pois algumas delas podem ser resultadode diferentes visões de mundo e distintos pontosde vista. Pois cada um de nós, de acordo comnossa história, nossa visão de mundo e asinformações que temos sobre determinadasituação, estabelecemos uma concepção de justiça einjustiça. No entanto, algumas situações sãoinequívocas quanto ao seu caráter injusto e cabe avocê conduzir a discussão de maneira que issofique bem claro. São as situações que envolvemassassinatos, como os do índio Pataxó e de Aníbal(fictícia), além da situação de racismo sofrida pelogaroto Everton. Essas são situações de flagrantesinjustiças e não pode haver dúvidas a esse respeito.

ATIVIDADEDIVISÃO JUSTA?AS TRÊS DIVISÕES DO HOMEMQUE CALCULAVAEsta atividade permitirá discutir princípios éticosque orientam nossas ações em determinadassituações, por meio da solução de um problemamatemático envolvendo a divisão e a noção defração. O problema sobre as três divisões foiadaptado da obra O homem que calculava, escritopor Malba Tahan, pseudônimo do professor eescritor brasileiro Júlio César de Mello e Souza.Trata-se de uma situação lúdica e desafiadora, quepossibilitará ao aluno entrar em contato com opensamento do outro, aprender a escutar eargumentar em favor de um ponto de vista.Em grupos de três, os alunos vão resolver oproblema proposto na ficha 1B.Inicie a atividade perguntando se já ouviram falarem Bagdá. Se não conhecerem, explique que aatual capital do Iraque é uma cidade muito antiga,que foi por muito tempo (esp. do século VIII aoXIII) a principal cidade do império persa,importante pólo de instrução e cultura. É nela quesão ambientadas muitas das conhecidas lendas d’Asmil e uma noites (histórias como as de Ali Babá e os

SIGNIFICADOS DAS PALAVRASJUSTIÇA, DIREITO E LEIA PALAVRA “DIREITO” tem sua origem etimológicano latim directum e significa aquilo que é reto.Historicamente, essa palavra foi adquirindo umsentido mais abrangente, a ponto de confundir-secom a palavra “lei” e até com a própria ciência quetrata do assunto. No cotidiano, quando falamos quealguma coisa não está direita, é porque ela não estácerta, ou seja, não está acontecendo como deveriaacontecer. Os nossos direitos, via de regra, estãoexpressos em um conjunto de normas e regras quecostumamos chamar de “lei”. Se não conhecermosnossos direitos, como vamos saber quando elesestão sendo desrespeitados?Antigamente, A PALAVRA LEI estava vinculada àidéia de imutabilidade, ou seja, a um conjunto decoisas que não mudam nunca (vide as leis divinas,as leis da natureza). Os seres humanos, ao seapropriar da palavra lei, estão querendo fazer de umconjunto de regras e normas uma coisa imutável.Entretanto, como sabemos, essas regras e normasmudam ao longo do tempo e são distintas empaíses e culturas diferentes.A PALAVRA JUSTIÇA transcende a ordemmeramente jurídica. Vários pensadores tentaramchegar a uma definição ou a um conceito – desdeos romanos, “dar a cada um o que é seu”,incluindo os cristãos, “faz o bem e evita o mal”, atéos dias de hoje, “aquilo que está em conformidadecom o Direito”, cada cultura e cada sociedadediscute e reflete sobre o conceito de justiça. Aetimologia da palavra nos remete ao sânscrito,antiga língua clássica da Índia, cujo radical (ju)significa unir e atar. Em latim, jungere e jugumsignificam jugo, submissão, opressão, autoridade.Ainda em sânscrito, a palavra yóh, encontrada nolivro dos Vedas, livro sagrado dos hindus (como aBíblia para os cristãos, o Tora para os judeus e oCorão para os muçulmanos) corresponde à idéia desalvação. Na Idade Moderna, as antigas divindadessupremas de Zeus (grega) e Júpiter (romana) foramassociadas à idéia de justiça. As primeiras noçõesde justiça revelam uma relação intrínseca com anoção de proteção divina.

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40 ladrões, O tapete voador, O gênio da garrafa). Faletambém um pouco sobre o povo árabe e suarelação com a Matemática (quem sabe algumaluno se lembre de que os algarismos que usamossão “arábicos” – em contraposição aos romanos?).Faça uma leitura coletiva da ficha 1B (frente),pedindo que assinalem as palavras que nãoentenderem. Tente aproximá-los dos sentidos pelocontexto e, dependendo das habilidades de leiturae escrita do grupo, proponha procurarem osignificado no dicionário ou explique-as.Em seguida, peça que leiam as perguntas ao finaldo texto e que as discutam no grupo. Incentive atroca de idéias sobre as possibilidades pensadas, aargumentação para a defesa de um ponto de vista,o registro na forma de desenhos, esquemas oudiagramas dos dados do problema e de suasolução.Dê um tempo para resolverem o problema (10 a15 minutos) e, em seguida, peça que cada grupodescreva aos demais o caminho percorrido parachegar à solução. Se perceber muita dificuldade,peça a algum aluno ou grupo que tenhaconseguido para explicá-lo à classe, ouproblematize a divisão de 8 pães entre 3 pessoas.Você também pode dramatizar a cena, usando oitofolhas de papel com um pão desenhado em cadauma (as folhas poderão ser rasgadas em trêspedaços, como os pães).A seguir, proponha a leitura do verso da ficha 1B,ainda nos grupos. Fique atento/a para que todostomem conhecimento do texto, pela leituraindividual ou coletiva, de modo a assegurar aparticipação daqueles que têm dificuldades com aleitura. Peça que discutam e respondam àsquestões propostas.Durante a discussão coletiva das respostas,procure favorecer a explicitação do que elesrealmente pensam e acreditam, mesmo que sejadiferente dos seus referenciais. Conforme o caso,sua intervenção será contraponto às falas dosgrupos, ou assumirá a forma de questionamentosegundo as idéias expostas acima (em “Justiça, umdever ético”).Proponha a elaboração coletiva de um texto sobre“o que aprendi hoje”, que ficará exposto durante asemana.

OS ÁRABES EA MATEMÁTICA

FOI NOTÁVEL A CONTRIBUIÇÃO DOS ÁRABESpara o progresso da Matemática. Não só pelastraduções e larga divulgação das obras de Euclides,Menelau, Apolônio etc., como também pelasnotáveis renovações metodológicas no cálculo,quando se apropriaram da escrita numérica dosistema hindu, hoje conhecido entre nós comosistema indo-arábico.A INVENÇÃO DO ZERO, por exemplo, é atribuídaao árabe Mohammed Ibn Ahmad (século X), que emseu livro Chave da ciência aconselhava: “Sempreque não houver um número para representar asdezenas, ponha um pequeno círculo para guardar olugar”.OS ÁRABES COLABORARAM prodigiosamente parao progresso da Aritmética, da Álgebra, daAstronomia. Foram árabes que inventaram aTrigonometria Plana e a Trigonometria Esférica.

Finalmente, para sistematizar as aprendizagensdessa aula, retome com eles as anotações docaderno sobre: O que é justo? O que é injusto?Peça que pensem um pouco sobre o quediscutiram, em todas as atividades realizadas.Então, convide-os a rever seus registros,confirmando, ampliando ou desconsiderando seusconceitos iniciais. Peça que anotem as novas idéiase avise-os que irão retomá-las nas aulas seguintes.

18EDUCAÇÃO E CIDADANIA

SUBTEMA 2FALANDO DEDIREITOS ERESPONSABILIDADESPara o planejamento e realização desta aula,além da leitura atenta de todo o texto, énecessário que você providencie exemplaresdo Estatuto da Criança e do Adolescente,para serem consultados por você e pelosalunos. Isso porque esse documento é umareferência básica para as discussões eatividades a serem realizadas.

A intenção de discutir os direitos da criança edo adolescente, de forma geral, na situaçãoem que seus alunos se encontram, é favorecerreflexões e práticas cotidianas que os mobilizempara se incluírem (e serem incluídos,obviamente) numa perspectiva ampla decidadania, que os fortaleça para vislumbraremoutras alternativas de vida, menos destrutivaspara si mesmos e para os outros. Não setrata, no entanto, de discutir esse assuntoapenas para cobrar deles os direitos dosoutros que eles não tenham respeitado.

Trata-se de fortalecê-los no que é fundamentalpara a vivência de cidadania: ser protagonistade sua própria história de vida e participarcoletivamente da construção de um mundomelhor. Basicamente, trata-se de dialogar comeles em torno das seguintes idéias:

Os direitos da criança e do adolescenteintegram o elenco de direitos da pessoahumana. Foram propostos, no casobrasileiro, para chamar a atenção detodos para a situação específica daspessoas na faixa de 0 a 18 anos,pessoas em desenvolvimento, quenecessitam de proteção especial. Foramalçados à condição de lei, no ECA –Estatuto da Criança e do Adolescente,pelo esforço e atuação de grupos depessoas e de movimentos sociais.

O ECA baseia-se na filosofia dos direitoshumanos, que, por sua vez, representam

uma conquista histórica, resultado daatuação coletiva de muitas pessoas, emmovimentos sociais, desde o século XVIII.Incluir-se nessa comunidade de pessoasque conhece, respeita, valoriza ereivindica sua efetivação é continuaressa luta de gerações que nosprecederam e, em muitos casos, atémorreram para que essas idéiaspudessem ser reconhecidas e aceitas.

Não há como falar de direitos sem falarnas obrigações pessoais que o uso oucumprimento do direito requer. Quandose diz que os direitos são universais, éjustamente para reforçar a idéia de quedevem ser partilhados por todos, semdistinção de espécie alguma.

Não é possível hierarquizar direitos, épreciso defender e exigir ocumprimento de todos eles: acesso aosbens e serviços de interesse público(educação, saúde, moradia e outros);trabalho e salário justo (ressalvando-seo específico da situação doadolescente, de acordo com aConstituição brasileira); liberdade eparticipação política; meio ambientesaudável e equilibrado, entre outros.

Há, contudo, um direito quecorresponde a uma necessidadehumana primordial: o direito à vidadireito à vidadireito à vidadireito à vidadireito à vida.Este deve ser objeto de atenção ecuidado especial (a própria vida e a dooutro), pois constitui um suportefundamental para o exercício dosdemais direitos. Atentar contra isso énegar a si mesmo e a outros umaoportunidade única: partilhar dessadesafiadora experiência de viver econviver, criar, aprender coisas e amarpessoas, nesse nosso solitário planeta.

As freqüentes e absurdas violações dosdireitos de todos os segmentosvulneráveis da população, no Brasil eem outros países, não devem sertomadas como razão para descréditonas leis que os afirmam (ou nasdeclarações), mas como encorajamento

19JUSTIÇA E CIDADANIA

para buscar transformar –coletivamente – as condições que gerama sua não-observância. No plano dasrelações pessoais, é fundamental buscarcondutas norteadas pelo respeito a simesmo e ao outro, condição básica paraviver sob o signo dos direitos.

Aproximar-se de pessoas, grupos,entidades e instituições que pautam suaatuação pela observância dos direitosda pessoa humana é uma alternativapara reconstruir uma rede de relaçõesque amplie os horizontes de atuação,buscando uma existência com dignidadee uma vida melhor.

Para favorecer essas reflexões, propomos umtrabalho com a ficha 2A, que trazdepoimentos de jovens participantes demovimentos pelos direitos da criança e doadolescente e um quadro, na ficha 2B, comuma síntese dos direitos estabelecidos noECA. Além disso, a atividade “Cadeira mágica”propõe uma situação em que os adolescentesdiscutem situações-problema que, entreoutras coisas, envolvem direitos eresponsabilidades, sob vários pontos de vista.

Para essas atividades, será necessárioprovidenciar papel sulfite, lápis coloridos,tesoura, cola e revistas para recorte deimagens; papel pardo e pincel atômico; papelcartão branco, um envelope tamanho ofício,giz de cera, além de um toca-discos e CDs.

Finalmente, indicamos como leituracomplementar dois interessantes livros: umaadaptação infanto-juvenil da DeclaraçãoUniversal dos Direitos Humanos feita pelaescritora Ruth Rocha (Rocha & Roth, 1995) e opoema Estatuto do homem (Mello, 1986), queaborda os direitos humanos de maneiracriativa e sensível.

ATIVIDADEAPRESENTANDO O ECA:DIREITOS E MEDIDAS DEPROTEÇÃO DA CRIANÇA E DOADOLESCENTEO objetivo desta atividade é conversar com osjovens sobre o fato de que eles são sujeitos de direitose as decorrências dessa condição, de acordo com oEstatuto da Criança e do Adolescente. Paradesenvolvê-la, propomos a leitura de doisdepoimentos e o estudo de alguns artigos do ECA,a fim de propiciar uma reflexão em torno de:

direitos que são garantidos — direito à vida,à saúde, à alimentação, às convivênciasfamiliar e comunitária, à educação, aoesporte, ao lazer, à cultura, à preparaçãopara o trabalho, à dignidade, ao respeito, àliberdade;identificação clara e ampla dos responsáveispor assegurar a efetivação desses direitos edos encaminhamentos necessários no casoda sua violação: a família, a comunidade, asociedade em geral e o poder público;conscientização de que, face aos direitos quelhe são assegurados, é responsabilidade doadolescente cumpri-los — ir à escola, cuidarda própria saúde, respeitar para exigirrespeito;enorme distância existente entre o que diz alei e a realidade vivida por muitas crianças ejovens brasileiros.

No planejamento desta atividade, é necessário quevocê leia com atenção, no Livro I do ECA, osTítulos I e II, que apresentam e detalham osdireitos fundamentais, para fornecer maisinformações aos alunos, caso necessário.Para sensibilizá-los, você pode começar perguntandoo que sabem sobre o ECA, do que trata, se é umalei “a favor” das crianças e adolescentes ou não.Nesse momento, não se preocupe em darrespostas ou dialogar com eles em torno dasopiniões que manifestarem. Trata-se apenas desondar o que pensam e sabem sobre o assunto,numa conversa solta e, principalmente, de escutarsuas falas e retirar delas situações ou elementos

20EDUCAÇÃO E CIDADANIA APROFUNDANDO

Contrariando a tradição brasileira de estabele-cer o ordenamento jurídico a partir do “alto”, qua-se sempre atendendo aos interesses dos segmen-tos dominantes da sociedade, o ECA é uma leique resultou de um processo de discussão emobilização dos setores sociais comprometidoscom a mudança – tanto na maneira de “ver” a cri-ança e o adolescente quanto no atendimento aser dedicado a eles pela sociedade e pelo poderpúblico.

Ao longo da década de 1980, especialmentena segunda metade, ganharam corpo e visibilida-de nacional movimentos sociais de luta pelos di-reitos da criança e do adolescente, integrados,entre outros, por profissionais que atuavam noatendimento a esse segmento: setores ligados àIgreja Católica, através da Pastoral do Menor; oMNMMR (Movimento Nacional de Meninos eMeninas de Rua), formado por educadores socaise crianças/adolescentes em situação de rua, alémde muitas outras entidades e movimentos de ex-pressão regional. Vivia-se um momento de gran-des mobilizações pela conquista de direitos decidadania, estrangulados pelas práticas repressi-vas decorrentes, em parte, do ordenamento jurí-dico conservador que predominou nos anos daditadura militar (1964-1985) e, também, da tradi-ção histórica do país. Tais mobilizações pressio-naram a convocação de uma Assembléia Nacio-nal Constituinte para elaborar uma nova Consti-tuição, substituindo o ordenamento autoritário econservador que predominara durante a ditadura.A pressão de entidades e organizações popula-res e sindicais fez inscrever no texto da nova Cons-tituição (elaborada por um Congresso e não poruma Assembléia Constituinte, no jogo de forçaspossível da época) temas que traduziam anseios,demandas e reivindicações dos dominados, comoa questão indígena, a função social da proprieda-de da terra e a condenação explícita do precon-ceito e da discriminação contra os negros, entreoutros.

Mas o grande tema que garantiu à nova Cons-tituição o epíteto de “constituição cidadã” foi aafirmação dos direitos políticos e sociais, funda-mentos da organização democrática da socieda-de. O “direito a ter direitos” passou a instrumen-

talizar a forma pela qual os setores populares esegmentos da classe média se apresentam à so-ciedade e ao Estado, exigindo melhores condiçõesde vida e de trabalho, liberdade de organização,manifestação e pensamento.

A despeito de uma estrutura social marcadapela desigualdade e pela exclusão de muitos bra-sileiros dos benefícios mínimos para uma vida dig-na, a inclusão dos direitos fundamentais da pes-soa humana e a afirmação de liberdades no textoconstitucional garantiram as condições para quea organização e a luta para a mudança possamacontecer sem os traumas e repressões do perí-odo ditatorial.

Mas a inclusão desses direitos no texto consti-tucional não significou sua imediata observância,por parte do Estado e da sociedade. A manuten-ção das condições de extrema pobreza de milhõesde brasileiros, o aprofundamento da concentra-ção da renda e da desigualdade social, entre ou-tros aspectos, têm contribuído para a existênciade um verdadeiro abismo entre o que é determi-nado na lei maior e a realidade.

No contexto das mobilizações do período daAssembléia Constituinte (1985-1988), o movimen-to pelos direitos da criança e do adolescente atuouno sentido de estender à criança e ao adolescen-te os direitos sociais básicos, em discussão paraa população adulta. Realizando debates, seminá-rios, manifestações públicas, coleta de assinatu-ras e contatos com parlamentares constituintes,garantiu-se que as emendas propostas fossemaprovadas pela quase totalidade dos parlamenta-res presentes no dia da votação (435 a favor e 8contrários). Assim, o artigo 227 da Constituiçãode 1988 dispõe que:

“É dever da família, da sociedade e do Estadoassegurar à criança e ao adolescente, com abso-luta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimen-tação, à educação, ao lazer, à profissionalização,à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e àconvivência familiar e comunitária, além de colo-cá-los a salvo de toda forma de negligência, dis-criminação, exploração, violência, crueldade eopressão.”

Os desdobramentos desse artigo contêm já o

O ESTATUTO DA CRIANÇA EDO ADOLESCENTE

21JUSTIÇA E CIDADANIA

núcleo central das preocupações presentes noECA: a promoção, pelo Estado, de programas deassistência integral à saúde da criança e do ado-lescente; o detalhamento do direito à proteçãoespecial (que inclui idade mínima de 14 anos paraadmissão ao trabalho1 , garantia de direitos previ-denciários e trabalhistas, garantias processuais eoutros); o conceito de adolescente como pessoaem desenvolvimento; o respectivo respeito a essacondição peculiar e a inimputabilidade penal paraos menores de 18 anos.

Promulgada a Constituição, os debates e mo-bilizações continuaram, reivindicando uma lei es-pecífica, detalhando os direitos e as medidas deproteção aos direitos da criança e do adolescen-te. Isso ocorreu com a assinatura da Lei n.8069,de 13/07/1990, o Estatuto da Criança e do Ado-lescente. O ECA, como é conhecido, está dividi-do da seguinte maneira:� Livro I, que apresenta os direitos fundamen-

tais da criança e do adolescente e o dever daprevenção contra a ocorrência de ameaça ouviolação desses direitos;

� Livro II, que trata da política de atendimento,das medidas de proteção, da prática do atoinfracional, das medidas pertinentes aos paise responsáveis, do acesso à justiça e dos cri-mes e infrações administrativas.Essa lei representa uma mudança de paradig-

ma na área da infância e da juventude, incorpo-rando uma nova concepção de criança e adoles-cente – sujeitos de direitos – na perspectiva dadoutrina da proteção integral.

Pensar a infância e a adolescência nessa pers-pectiva significa reconhecer que, nessa fase davida, em que estão em desenvolvimento, crian-ças e adolescentes necessitam de atendimentoe cuidados especiais, para se desenvolveremplenamente. Essas necessidades são postas emtermos de direitos, estendendo-se ao conjunto des-se segmento, sem discriminação de qualquer tipo.Cabe ao poder público, à família, à comunidade eà sociedade, de maneira geral, assegurar com ab-soluta prioridade a efetivação desses direitos, rela-tivos à sobrevivência, ao desenvolvimento pessoale social e à integridade física e psicológica.

A referência maior para essa forma de com-preender a questão da infância e da juventudefoi a Convenção dos Direitos da Criança, adota-da pela Assembléia Geral das Nações Unidas em1989. A Convenção da ONU representa o coroa-mento do esforço de grupos de defesa dos di-reitos da criança e do adolescente em todo omundo, que vinham discutindo e chamando a

atenção da opinião pública internacional para asituação da infância.

Quando se fala em mudança de paradigma, épreciso esclarecer que, pelo menos no texto le-gal, houve uma alteração substancial entre o ECAe as legislações anteriores (os Códigos de Meno-res de 1927 e 1979) que, guardadas as diferen-ças, concebiam crianças e adolescentes como“menores”, objeto da ação do poder público, prin-cipalmente em casos de abandono e/ou delin-qüência.

O termo “menor”, de larga utilização no sensocomum, na imprensa e mesmo na pesquisa cien-tífica, era inicialmente associado à idade, quandose queria definir a responsabilidade de um indiví-duo perante a lei. Na passagem do século XIX parao XX, passou a designar principalmente criançaspobres e abandonadas ou que incorriam em deli-tos. “Cunhado, no Brasil, pela medicina legal ereconhecido pelo direito público para dividir a po-pulação entre responsáveis e irresponsáveis, se-gundo o critério do discernimento moral e do de-senvolvimento psicológico, seu emprego generali-zou-se para designar um tipo específico de crian-ça, aquela proveniente das classes populares, emsituação de miséria absoluta, expulsa da escoladesde tenra idade, que faz da rua seu habitat elugar privilegiado de reprodução cotidiana e imedi-ata de existência” (Adorno, 1993, p.183-4).

A legislação anterior ao ECA trazia a marcadesse modo de olhar crianças e adolescentes,priorizando medidas assistencialistas, segregado-ras e repressivas, tais como: cassação do pátrio-poder e internação em virtude de “desestrutura-ção familiar”; políticas de atendimento comanda-das pelo poder judiciário e executadas por insti-tuições de caridade e de ações da segurança pú-blica (Código de 1929) e possibilidade de prisãocautelar (inexistente para adultos); situação irre-gular como paradigma para a cassação do pátriopoder e para a internação; tratamento judicial amenores carentes, abandonados e infratores,igualmente (Código de 1979). Ou seja, tomavam-se crianças e adolescentes pobres como aban-donados e delinqüentes, objeto de vigilância daautoridade pública (juiz), como no Código de Me-nores de 1927, ou portadores de carências e emsituação irregular, objeto de medidas judiciais,como no Código de Menores de 1979.

A ponte que faz a mudança entre a concepçãode criança e adolescente como portadores de ca-rências para a de cidadãos, sujeitos de direitos,tem sido difícil de ser atravessada. Isso ocorreporque esse tipo de mudança caminha na contra-mão de velhas práticas (manipulação, subjugação

22EDUCAÇÃO E CIDADANIA

para uma problematização, no decorrer da aula.De todo modo, é necessário um registro (na lousae no caderno deles) das principais respostas:quantos já ouviram falar do Estatuto; aspectos doconteúdo que foram levantados e opiniões arespeito da lei como um todo. Diga a eles que irãoretomar essas anotações no final da aula.Em seguida, distribua a ficha 2A, “Participandodas lutas sociais”, que traz, na frente, depoimentosde pessoas que participaram, nas décadas de 1980e 90, de movimentos sociais visando a conquista dacidadania para crianças e jovens no Brasil. Peça-lhes que façam uma leitura silenciosa e depois oraldos depoimentos. Após o esclarecimento depossíveis dúvidas, organize-os em grupos paradiscutir e preencher o quadro sobre osdepoimentos.Quando terminarem, organize a classe em círculopara a discussão dos depoimentos. Nessemomento, é importante que os alunos percebam adimensão histórica do ECA, como resultado demovimentos sociais que contaram com aparticipação de um grande número de pessoas –envolvidas ou não – com a questão do atendimentoà criança e ao adolescente. O aspecto coletivo dosmovimentos deve ser sempre ressaltado, pois fazparte da natureza da participação no espaçopúblico: juntas, as pessoas conversam, combinamcoisas, trocam suas indignações, divergem eelaboram formas de atuação para mudar – ou parapreservar – aspectos da realidade social. Isto écidadania.Também é importante explorar o fato de que,embora os depoimentos sejam individuais, depessoas específicas, elas não estão falando por sipróprias: o que elas falam traz a força domovimento do qual participam ou participaram,traz o eco da palavra dos outros, incorporada numprocesso de trocas que só a participação coletivapossibilita.O depoimento 1 traz uma novidade que precisa serressaltada: a participação de adolescentes em ummovimento social, o MNMMR – MovimentoNacional de Meninos e Meninas de Rua – que foimuito atuante nos anos 80 e início dos 90 epermanece marcando presença nas lutas sociais.Naquele momento, talvez pela primeira vez na

1 Ressalvando que a Emenda Constitucionalno 20 (15/12/98) alterou o disposto no Estatuto aesse respeito; e a Lei (federal) 10.097 de 20 dedezembro de 2000 determina que “É proibido qualquertrabalho a menores de 16 anos de idade, salvo nacondição de aprendiz, a partir dos 14 anos”; tambémproíbe terminantemente o trabalho noturno, perigosoou insalubre a menores de 18 anos (Brasil, 2000).

e controle dos pobres) incrustadas profunda-mente na nossa sociedade, expressando-se par-ticularmente na “estrutura, no funcionamento ena cultura organizacional dos nossos órgãos einstituições responsáveis pelo atendimento àpopulação de baixa renda”. Para mudar essasrelações, faz-se necessário substituir o assis-tencialismo por um novo tipo de trabalho sociale educativo emancipado, baseado na noção decidadania, “mudando profundamente o enten-dimento e as ações ainda prevalecentes nessaárea. Só assim será possível a nossas criançase adolescentes transitar das necessidades paraos direitos, da condição de menor (diminuídosocial) para a condição de cidadão, detentor dodireito de ter direitos” (Costa, s.d., p.27).

Para viabilizar essa mudança, o ECA intro-duz significativas mudanças na gestão das polí-ticas de atendimento à infância e à juventudeno Brasil. Entre essas, ressaltam-se os Conse-lhos: o dos Direitos e o Tutelar. O primeiro, or-ganizado nas esferas federal, estadual e muni-cipal, é responsável pelas diretrizes e políticasrelacionadas à criança e ao adolescente. Suacomposição é paritária, sendo integrado porrepresentantes do Poder Público e de entida-des da sociedade civil, constituindo, portanto,um espaço de participação popular. Já o Con-selho Tutelar atua apenas na esfera municipal,buscando a garantia efetiva dos direitos asse-gurados no ECA. Compõe-se de uma equipe decinco membros, eleitos pelos cidadãos locaispara um mandato de três anos. Ambos repre-sentam o intento de envolver a sociedade naproteção aos direitos da criança e do adoles-cente, juntamente com o poder público e coma família.

Por fim, é importante ressaltar que, na ques-tão dos direitos da criança e do adolescente, oBrasil tem-se destacado duplamente: como pio-neiro na consagração dos princípios sobre a in-fância (Constituição de 1988, antes, portanto, dasua internacionalização pela ONU, que se deu apartir de 1989) e como um dos países campe-ões no desrespeito a esses mesmos princípios.

23JUSTIÇA E CIDADANIA

história do Brasil, muitos jovens em situação derisco pessoal e social (abandono ou extremadificuldade de sobrevivência da família, falta deescola, exclusão da mesma e outros) foramprotagonistas de sua própria história, tornandopúblicas suas reivindicações. Fizeram uma escolha:estar juntos e juntos lutar para mudar suascondições de vida. Realizaram vários encontrosnacionais, foram para a mídia defender o Estatuto,realizando votações simbólicas e debatendo comparlamentares.O depoimento 2 é de autoria de um salesiano, oPe. Bruno, um dos fundadores da “República doPequeno Vendedor” em Belém e, na época, um doscoordenadores do Fórum DCA – Fórum dosDireitos da Criança e do Adolescente. Suasexperiências na luta pelos direitos dos meninos derua de Belém ajudaram a organizar movimentos eentidades em outras regiões do país.Explore com eles alguns dos lugares de atuaçãodos meninos, nos dois depoimentos: a CâmaraFederal e o palácio do governador. Certamenteficarão admirados com essa “ousadia”. Explique aeles que todo cidadão, jovem ou adulto, pode edeve ir a esses lugares, de forma organizada,apresentar suas reivindicações e propostas. Nesses“lugares de política”, tomam-se decisões queafetam a vida de todos e muitas delas ignoram asnecessidades e interesses da maioria. É por issoque é importante participar, de maneira coletiva,lembrando que há muitos outros “lugares depolítica”: a rua, a praça, o salão da associação demoradores e muitos outros. Também vale ressaltara separação das funções do Estado em umademocracia. O Senado Federal e as Câmaras(federal, estaduais e municipais) constituem opoder legislativo; os prefeitos, governadores e opresidente integram o poder executivo; e os juízese tribunais, o poder judiciário.Após a discussão, para tentar tornar mais concretasas noções dos jovens sobre direitos eresponsabilidades, proponha uma atividade dedesenho ou colagem. Anote na lousa uma síntesedo artigo 4o do ECA, que estabelece praticamentetodos os direitos fundamentais das crianças eadolescentes (a síntese consta da ficha 2B, que seráusada adiante):

� direito à vida, à saúde, à alimentação� direito à educação, cultura e lazer� direito à dignidade e respeito, à liberdade, à

convivência familiar e comunitária.Fale um pouco sobre esses direitos (peça que dêemexemplos) e sugira aos alunos que escolham umdeles e o representem em duas situações: sendoobservado plenamente e sendo violado. Para acolagem, providencie revistas e jornais. Incentive-os, no caso de desenho, a usar elementos dagrafitagem ou outros recursos que fazem parte deseu universo cultural; lembre-os também deassinar suas produções, no verso. Terminada essatarefa, organize com eles um grande painel, numadas paredes da sala. (Depois da aula, peça queretirem suas produções da parede e as guardem noportfólio.) Finalmente, peça para observarem opainel e fazerem comentários sobre a maneiracomo o grupo expressou sua compreensão e seussentimentos sobre esses direitos.

ATIVIDADEDIREITOS… ERESPONDABILIDADEDistribua em seguida a ficha 2B (“Direitos... eresponsabilidade”), que traz um quadro com osdireitos fundamentais da criança e do adolescente.Faça uma leitura pausada do quadro, explicitandoas relações entre as colunas: a cada tipo denecessidade corresponde um direito, que deve serassegurado por…; cada direito tem comocontrapartida a responsabilidade de…, para quetodos possam efetivamente exercê-lo. Senecessário, dê um exemplo simples dessacontrapartida: suponhamos que, em um conjuntohabitacional, o regulamento reza que “Todos têm odireito de ouvir seu próprio som (música)” – se euouvir o meu som no volume máximo, o vizinhopoderá estar ouvindo o dele? Então, para quetodos os moradores possam exercer esse direito,cada um deve pôr música em um volume que nãodê para ser ouvido pelo vizinho – essa é acontrapartida da responsabilidade individual.Após a leitura e o esclarecimento de possíveisdúvidas, converse com eles sobre o significado de

24EDUCAÇÃO E CIDADANIAcada um dos direitos, solicitando que osexemplifiquem em situações concretas. Nessemomento, é importante ressaltar:� situações prováveis ou conhecidas de violação

de direitos;� identificação do agente violador;� possíveis ações reparadoras (ou a quem recorrer

para que o direito seja assegurado).Por exemplo, se uma criança ou adolescenteprecisa fazer uma cirurgia de urgência e nãoconsegue vaga nos hospitais da cidade ou região,seu direito à saúde está sendo violado e até odireito à vida está ameaçado. O agente violador, nocaso, é o Estado (governo federal, estadual oumunicipal), responsável pelos hospitais existentes.Nesse caso, pode-se recorrer ao Conselho deSaúde da região (se houver), ao Conselho Tutelar,à Secretaria de Saúde e a entidades de defesa dosdireitos da criança e do adolescente. Também épossível acionar a Associação de Moradores e/ouas Comissões de Saúde do Poder Legislativo(Assembléia Legislativa e Câmara de Vereadores),para reivindicar, a médio prazo, o aumento daoferta de vagas nos hospitais da região.No que se refere ao trabalho, explique a eles que,embora o ECA tenha definido a idade mínima de14 anos para a admissão ao trabalho, lei federalposterior (a Lei 10.097, assinada em dezembro de2000 – Brasil, 2000) determinou a idade mínimade 16 anos; o trabalho da criança de 0 a 14 anospermanece terminantemente proibido e oadolescente entre os 14 e 16 anos só pode exercertrabalho remunerado na condição de aprendiz,com direitos trabalhistas garantidos – então, é essalei que vale. Veja com eles o que diz o Estatuto aesse respeito, explicando que deve prevalecer o queestá disposto na lei, que se baseia numa emenda àConstituição feita em 1998.Depois dessa conversa, peça para responderem,individualmente, as questões da ficha, lembrandoque a última delas deve ser feita em duplas.Retome e discuta com eles as respostas dadas,que podem indicar o grau de compreensão quetiveram dos deveres da família, da sociedade e dopoder público em assegurar os direitos dascrianças e adolescentes. É provável que alguns

alunos manifestem descrença na concretudedesses direitos, face aos inúmeros casos deviolação que vivem ou viveram em seu cotidiano,ou de que já ouviram falar. Se isso não acontecer,o problema precisa ser colocado: Será que todosesses direitos são assegurados às crianças e aosjovens do Brasil? Em caso negativo, por que issoacontece? Não se esqueça de registrar na lousa ashipóteses dos alunos e pedir que anotem noscadernos.Outro aspecto muito importante na discussão dosdireitos é a contrapartida, a outra face que a posseplena do direito coloca para o adolescente, sujeitodos mesmos. Ser portador do direito implicaresponsabilidade na sua preservação, para si epara os outros! Precisa ficar muito claro nessaconversa que os direitos são universais, isto é, sãoválidos para todas as crianças e jovens e queexercer o próprio direito significa assegurar que odireito do outro seja respeitado e nunca violá-lo.Pensamos que essa forma de colocar a questão –vinculando direito e obrigação pessoal como facesde uma mesma moeda, é mais coerente com osprincípios do Estatuto do que a tradicional noçãode dever, pensada como uma via de mão única,calcada na mera submissão e sem a garantia dedireitos. “A figura do direito tem como correlata afigura da obrigação. Assim como não existe paisem filho e vice-versa, também não existe direitosem obrigação e vice-versa” (Bobbio, 1992,p.80).Portanto, na discussão da ficha, é importanteretomar com eles de que maneira eles própriospodem atuar para garantir a si mesmos e aos outrosa observância dos direitos e como podem seresponsabilizar pessoalmente pelo direitoassegurado. Por exemplo: se o meu direito àeducação é assegurado pelo Estado, minhaobrigação frente a isso é freqüentar a escola, emqualquer circunstância. Argumentos de que oensino não é interessante ou as relações na escolanão são respeitosas ou democráticas podem serobjeto de discussão, no sentido de pensarcoletivamente de que forma essas situações podemser modificadas. Jamais podem ser justificativaspara ausentar-se da escola e descumprir um direitoassegurado: o direito à educação.

25JUSTIÇA E CIDADANIA

Uma opção para ressaltar o binômio direito Xresponsabilidade pessoal do adolescente é arealização de uma “árvore dos direitos e dasresponsabilidades”, da seguinte maneira:

Fixe na parede oito folhas de papel pardo,formando um grande painel;Após a discussão com a classe sobre odireito considerado por eles como maisimportante, um dos alunos (escolhido peloscolegas) desenha o tronco da árvore nopainel, com pincel atômico ou giz de cera.No espaço interno ao tronco, escreverá odireito e o que pode ser feito para que sejacumprido e respeitado por todos.Depois, discutem-se e indicam-se outrosdireitos, para comporem os galhos daárvore, sempre contrapondo ao direito aresponsabilidade pessoal (eu e o outro) eanotando no painel;Terminando, peça para embelezarem aárvore, colocando frutos ou flores; devemanotar no caderno o que foi escrito no painel;No espaço interno aos frutos e/ou flores,você pode desafiá-los a pensar e registrar osefeitos ou conseqüências de um viverpautado pela reivindicação dos direitos nãoconseguidos e pelo respeito e cumprimentodos já assegurados.

ATIVIDADECADEIRA MÁGICAOutra atividade interessante que pode ser realizadaé a da “Cadeira mágica”. Foi pensada com opropósito de promover reflexão com base emsituações pertinentes à vida social, próximas darealidade do aluno, possibilitando: aplicação dasnoções relativas aos direitos e responsabilidades dacriança e do adolescente; análise de uma situaçãodo ponto de vista dos diferentes sujeitos nelaenvolvidos (colocar-se no lugar do outro) efamiliaridade com a prática do diálogo, numasituação de grupo.Essa atividade constará de duas rodadas, sendoa primeira mais simples, para os alunosperceberem sua dinâmica.

Para desenvolvê-la, é preciso providenciarpreviamente o material necessário:

Aparelho de som e um disco com músicabem animada (escolha um gêneroapreciado por eles, como pagode, rap, hip-hop...).Cartões de cartolina, com nomes e função/condição dos personagens que os alunosirão assumir. Sugestões: João – criança;Francisca – jovem; Rogério – jovem;D. Maria – mãe de João; Padre Gil – daIgreja Católica; Seu Miguel – daAssociação de Moradores; D. Isabel – donade um bar; Seu Alonso – administradorregional; Seu Ivo – da Diretoria de Ensino;Davi – operário da construção civil.Esclareça as atribuições de cada personagem(o que faz um Diretor Regional deEnsino?). Conforme o tamanho da classe,serão acrescentados personagens (outrosmoradores, colegas de João etc.) pelospróprios alunos, no início da atividade.

Prepare os alunos para essa atividade explicandoque irão discutir situações-problema da vidacotidiana, do ponto de vista de diferentespersonagens que serão assumidos por eles.Explique que, nessa discussão, irão pensar,construir, apresentar argumentos e considerar osargumentos dos colegas, concordando,discordando, acrescentando e ressalvando.Deverão fazer isso respeitando a palavra do outro,sem desqualificá-la ou censurá-la e obedecendo asregras do trabalho em grupo, de maneira geral(levantar a mão como sinal de que quer falar;esperar a sua vez de fazer isso; não interromperquem está falando etc.).Organize a sala para o início da atividade,dispondo as cadeiras em círculo. Sobre o assentode dez delas coloque os cartões, com a faceescrita virada para baixo, para não ser visualizada.Nas demais cadeiras, deixe um cartão em branco.Peça aos alunos que dêem algumas voltas em tornodas cadeiras, ao som da música escolhida. Quandoa música for interrompida (por você), escolherãouma cadeira para se sentar. Nesse momento, terãode retirar o cartão do assento e, sem que os colegas

26EDUCAÇÃO E CIDADANIAvejam, lerão o nome do personagem e sua respectivafunção ou condição. Oriente os que ficaram comcartão em branco para escolher nome e função deum personagem e escrever nesse cartão. Ofereça-sediscretamente para ser escriba e leitor/a dos alunosque não dominarem essas habilidades.Nessa primeira rodada, ao receber o cartãoindicando o nome do personagem, só deverãorevelar o nome, procurando “pensar por ele”, massem dizer qual sua função. Por exemplo: o alunoque ficou com o cartão escrito “João - criança”deverá apenas dizer o nome e se colocar no pontode vista de uma criança, mas sem revelar essacondição. No final da rodada, tentarão descobrir afunção ou a condição de cada personagem.Apresente, então, a Situação 1: Num bairro daperiferia da cidade, formado em um loteamentorecente, sem asfalto nem esgoto, há muitas criançasem idade escolar, mas não há escolas. O que fazer?Os alunos deverão discutir e propor alternativaspara resolver essa situação-problema, assumindo onome e a função (o ponto de vista) do personagemescrito no seu cartão. Devem mencionar ao grupoapenas seu nome, com o qual serão identificados.Você representará o papel de condutor da atividadee “consciência crítica do grupo”, questionando asopções colocadas e contrapondo outras (sem imporuma forma “correta”, evidentemente). No decorrerda discussão, incentive todos a se colocar frente àsituação, priorizando a perspectiva dos direitos quenão estão sendo cumpridos e o que pode ser feitopara que o sejam. As opções sugeridas devempassar por um questionamento ético (É justo?É correto? E os direitos das outras pessoas? Quaisas vantagens da decisão para o grupo? Quais osriscos?). Além disso, problematize, por exemplo,soluções que levem em conta o interesse específicode algumas pessoas e não o do conjunto.Quando perceber que a situação-problema foi bemdimensionada, peça aos alunos para tentardescobrir a função de cada personagem assumidopelos colegas e encerre a rodada propondo outra, aser feita com algumas modificações.Para a segunda rodada, além do material jáutilizado, providencie também:

SITUAÇÕES PARA A CADEIRAMÁGICA (SITUAÇÃO 2)

Estas são as sugestões de encaminhamentos aserem colocados nas tiras (sem as referênciasao ECA, que foram ressaltadas apenas para

facilitar seu trabalho):� CARTA À CASA DE JOÃO, comunicando que

ele não freqüenta a escola há 21 dias (ECA:“...compete ao poder público...zelar, junto aospais ou responsáveis, pela freqüência à escola”);

� CARTA AO CONSELHO TUTELAR,comunicando a ausência de João da escola e afalta de providência dos pais (ECA: “...competeaos diretores de escola notificar o ConselhoTutelar de reiteração de faltas injustificadas ouevasão escolar”);

� APLICAÇÃO DE UMA GRANDE SURRA nogaroto, para que ele se decida a ir à escola. (ECA:“...todos devem zelar pela dignidade ... semsubmeter a tratamento desumano, violento etc.”);

� OFERECIMENTO DE DINHEIRO a João paraque ele volte à escola. Em troca, deverá fazeruns “favores” a quem ofereceu. João deveráaceitar? Por quê? (ECA: “...direito à integridademoral, preservação da imagem, da autonomia edos valores; mercantilização do direito...”);

� OFERECIMENTO DE EMPREGO a João, das16h às 24h, já que ele não quer mesmo estudar.É correto que ele aceite? (ECA: “...direito àeducação e responsabilidade de freqüentar aescola”; lei brasileira: proibido trabalho amenores de 16 anos; proibido trabalho noturnoa menores de 18 anos);

� VISITA À CASA DE JOÃO e conversa com ele esua família, para aconselhá-lo a voltar à escola(mas não volta). (ECA: “...é atribuição do ConselhoTutelar aconselhar os pais ou responsáveis.”).

� CONVERSA COM JOÃO, perguntando por queele não quer ir à escola. João diz que foiespancado e ameaçado de morte por um garotomais velho, na porta da escola, e está commedo. (ECA: “...nenhuma criança será objeto deviolência, crueldade, etc.”);

� CONVOCAÇÃO DE UMA REUNIÃO daAssociação de Moradores, convidando pessoase entidades da comunidade e a família do Joãopara pensar juntos uma forma de se aproximar econversar com o garoto que fez as ameaças,porque ele também necessita de orientação eajuda. João fica mais tranqüilo e volta à escola.(ECA: todos os direitos, nesse caso, estão sendoobservados, da vítima e do agressor.).

27JUSTIÇA E CIDADANIA

Dois cartões suplementares, com os nomesde: Davina, professora do João e Lúcia,diretora da escola.Reprodução, em tiras de papel, de sugestõesde frases com encaminhamentos para asituação 2, a ser discutida (veja-as no box àpágina anterior).Envelope tipo ofício para acondicionar astiras de papel.

Dê início a essa rodada explicando aos alunosque, desta vez, uma cadeira ficará vazia, será a“cadeira mágica’. Nela deve ficar o envelopecontendo as tiras de papel com encaminhamentosde diversos tipos para a situação-problema a serdiscutida.Os alunos darão uma volta em torno das cadeiras,procedendo da mesma forma que na rodadaanterior. Quando a música cessar, não poderão,nesse momento, sentar-se na cadeira mágica.Uma vez sentados, deverão assumir o nome e afunção (e o ponto de vista) do personagem escritono cartão, também como na rodada anterior.Explique que não haverá problemas se alguém,coincidentemente, “ficar” com o mesmopersonagem da rodada anterior.Apresente, então, a Situação 2: “Conseguiu-se aescola para o bairro, que está funcionandonormalmente, mas João deixou de ir à escola 21dias, sem que a família soubesse. O que estáhavendo? O que fazer para que João volte afreqüentar a escola?”Durante a discussão, qualquer um dospersonagens, por qualquer razão, pode escolhersentar-se na cadeira mágica, retirar uma tira depapel do envelope e ler alto o encaminhamento,que será discutido com o grupo.Cada aluno tem direito a recorrer apenas uma vezà cadeira mágica, durante essa rodada. Nessecaso, ele deixa de assumir o papel querepresentava (indicado no seu cartão) e passa adirigir a atividade, com a ajuda do educador,enquanto estiver em discussão o encaminhamentolido por ele. Terminando, volta ao seu lugar,reassume seu personagem, a discussão continua ea cadeira mágica pode ser ocupada por outrapessoa.

As soluções propostas nas tiras nem sempre serãoaceitáveis, do ponto de vista ético (ou por nãocontemplarem os direitos da criança e doadolescente), devendo você observar a discussão eintervir sempre que não houver questionamentosdas mesmas por parte dos alunos.É provável que a discussão sobre a situação dogaroto que ameaçou João se estenda mais, pois ébem parecida com o que ocorre muitas vezes comos próprios alunos (foram autores ou vítimas deameaças desse tipo). Nesse caso, seria interessanteinformá-los das medidas específicas de proteção,previstas no artigo 101 do ECA, que podem sertomadas pela comunidade, por meio do ConselhoTutelar: encaminhamento aos pais ou responsável,mediante termo de responsabilidade; orientação,apoio e acompanhamento temporários; matrícula efreqüência obrigatórias em estabelecimento oficialde ensino fundamental; inclusão em programacomunitário ou oficial de auxílio à família, àcriança e ao adolescente; requisição de tratamentomédico, psicológico ou psiquiátrico, em regimehospitalar ou ambulatorial; inclusão em programaoficial ou comunitário de auxílio, orientação etratamento a alcoólatras e toxicômanos; abrigo ementidade, entre outros.É importante ressaltar que essas medidas sedestinam a proteger os adolescentes em quaisquersituações, uma vez que são aplicáveis em razão daação ou omissão da sociedade ou do Estado; porfalta, omissão ou abuso dos pais ou responsáveis eem razão da conduta do adolescente. Além disso, háoutras ações que os membros da comunidadepodem realizar, como, por exemplo, aconselhamentoe inclusão do jovem em atividades da Igreja e daAssociação de Moradores. Na verdade, a“descoberta” do jovem que fez as ameaças,praticamente, dá margem a um recomeço do ciclode discussões, para que ele também seja cuidado epossa inserir-se construtivamente na comunidade.Cabe a você avaliar a continuidade ou não do jogo,com novas rodadas que podem surgir, em funçãodas questões colocadas pelos alunos. Caso surjamsituações delicadas ou para as quais você não sesente preparado para discutir, não se esqueça deque pode solicitar ajuda dos profissionais técnicosque trabalham na Unidade.

SUBTEMA 3NA UIP... E AGORA?Além da questão dos direitos, que são básicosna formação para a cidadania de qualquerpessoa, trataremos a seguir de algumas dasinformações do ECA que incidem diretamentesobre o ato infracional, que é o que explica apresença dos adolescentes na instituição.Tendo em vista as necessidades manifestadaspor eles mesmos e a provisoriedade de suapermanência na UIP (Unidade de InternaçãoProvisória), trata-se de informar e propiciarreflexões sobre:

O que é considerado ato infracional esua atribuição na condição peculiar doadolescente.

Os direitos individuais e as garantiasprocessuais.

As medidas socioeducativas previstas eos responsáveis pela sua execução.

Os operadores do Direito (juiz,promotor, advogado), suas respectivasfunções e a relação do adolescente comos mesmos.

Nessa aula, os alunos irão trabalhar com asfichas 3A e 3B, que trazem uma históriailustrada abordando os direitos, garantias edemais procedimentos, na fase judicial. O jogoO que pode acontecer comigo? os ajudará acompreender os principais encaminhamentosprevistos pelo ECA aos adolescentes a quemfoi atribuída a prática de ato infracional.Propõe-se também atividade com a cançãoO que é, o que é, de Gonzaguinha (ficha 3C),um samba-enredo alegre e otimista,verdadeiro hino de amor à vida.

Não se esqueça de providenciar o materialnecessário: aparelho de som, o CDGonzaguinha (Série Meus Momentos, EMI-Odeon, 1994) e material de desenho. Essamúsica também pode ser encontrada no CDSobre todas as coisas, de Zizi Possi. Para ojogo, integram este material o tabuleiro efichas, aqui chamadas “folhas de jogo”, que

O conjunto de leis de uma sociedade cons-titui aquilo que chamamos de ordem jurídica.Toda sociedade estabelece uma certa ordemjurídica, ou seja, um conjunto de leis que regu-lam a vida das pessoas e das instituições. Aordem jurídica de uma sociedade é um fenô-meno cultural, que se modifica historicamen-te. Esse conjunto de leis se apresenta para asociedade como uma idéia daquilo que é jus-to, embora nem todas as coisas que estão ins-critas na lei e nem toda decisão judicial sejamjustas. Por exemplo, a reintegração de possedada a um grande proprietário de terras emdetrimento da possibilidade de uma famíliapobre ter direito à habitação e ao trabalho podenão ser justa do ponto de vista ético, mas éjusta do ponto de vista legal. Poderíamos des-crever outros exemplos em que decisões judi-ciais configuram ações injustas do ponto devista ético. As leis são a materialização da con-cepção de justiça de uma sociedade. Elas de-vem regular o comportamento das pessoas,impelindo-as a praticar ou não determinadosatos. Quando os mecanismos de auto-regula-ção ou a autonomia moral das pessoas falham,a lei deve constituir o último mecanismo decontrole das ações individuais.

A cada dia são promulgadas novas leis,decretos e regulamentos, que a maioria daspessoas não consegue compreender. No en-tanto, todas as pessoas estão sujeitas a essasleis e não podem alegar o desconhecimentodelas, em caso de descumprimento. Apesarde não conhecermos, por exemplo, as leis fis-cais, todos estamos sujeitos à taxação.

As leis mudam à medida que muda a pró-pria sociedade: se, recentemente, o Congres-so Nacional votou a lei da informática, é por-que a informatização da sociedade passou aser uma realidade que exigiu regulamentação.

Muitas vezes, a luta por justiça pode e deveultrapassar a ordem jurídica estabelecida. Aefetivação da justiça não deve ficar restrita àobservância da legalidade: impõe a cada um oexercício constante de construção de um idealde sociedade. Quando uma pessoa ou conjun-to de pessoas desafiam uma decisão judicialsob a alegação de que a lei à qual desobede-ceram é injusta, estamos diante de um impas-se que revela o grau de justiça de uma certaordem jurídica.

USTIÇA E LEI

APROFUNDANDO28

O ATO INFRACIONALDE ACORDO COM O ECA

29JUSTIÇA E CIDADANIA

A Lei Federal n.8.069, de 1990 – Estatuto daCriança e do Adolescente – é um instrumento legalque trata da proteção integral de todas as crianças ejovens, independentemente de sua situação econô-mica, social ou familiar, considerando-os “pessoasem desenvolvimento”. Também dispõe sobre a prá-tica de ato infracional e prevê a aplicação de medi-das socioeducativas em decorrência dessa prática.

O ECA considera ato infracional a conduta des-crita como crime ou contravenção penal. Nessecaso, a legislação de referência é o Código Penal,que define os crimes contra o patrimônio (roubo,furto, formação de quadrilha e outros), contra a pes-soa (lesão corporal, homicídio e outros) e contra-venções (posse de arma, falta de habilitação paradirigir veículo, disparo de arma de fogo e outros).

Considerar o adolescente pessoa em desenvol-vimento não significa atribuir-lhe incapacidade ouirresponsabilidade. Significa admitir que ele respon-de por seus atos, mediante o cumprimento de me-didas socioeducativas. Essas medidas podem sercompreendidas numa dupla dimensão: pedagógi-ca porque, se bem proporcionadas, devem garantira aprendizagem de um posicionamento crítico eresponsável em relação às suas condutas, ajudan-do-o a preparar-se para uma convivência social maisconstrutiva; e coercitiva, porque implica uma sançãoao adolescente, que é obrigado a cumpri-la (Volpi,1998; Barbosa, 2000).

São medidas socioeducativas: advertência (ad-moestação verbal); obrigação de reparar o dano (res-tituição); ressarcimento do dano (compensação doprejuízo da vítima); prestação de serviços à comu-nidade (realização de tarefas gratuitas, de interessegeral) por até seis meses, conforme as aptidões esem prejudicar a freqüência à escola ou jornada nor-mal de trabalho; liberdade assistida (acompanha-mento e orientação, por pessoa autorizada, peloprazo mínimo de seis meses); inserção em regimede semiliberdade (realização de atividades externas,como estudo e trabalho) e internação em estabele-cimento educacional (período máximo de três anos,em caso de grave ameaça ou violência à pessoa,reincidência de faltas graves e descumprimento demedidas anteriores).

No momento em que entram no circuito do judi-ciário, por meio da atribuição de ato infracional, oECA afirma aos adolescentes (tanto quanto a Cons-tituição brasileira garante aos adultos) os direitosindividuais (artigos 106 a 109 e seus parágrafos úni-cos) e as garantias processuais (artigo 111 e seusincisos). São direitos individuais: prisão apenas em

flagrante ou por ordem escrita da autoridade judi-ciária; identificação dos responsáveis pela apreen-são, com informe acerca dos direitos; comunica-ção imediata, à autoridade judiciária e à família, daapreensão do adolescente e do local onde ele seencontra; e privação de liberdade antes da senten-ça apenas nos casos considerados graves, no pra-zo máximo de 45 dias.

Quanto às garantias processuais, destacam-se:privação de liberdade apenas decorrente de proces-so legal; pleno conhecimento do ato infracional atri-buído; igualdade na relação processual; ser defen-dido por um advogado; assistência judiciária gratui-ta aos que necessitarem; ser ouvido pessoalmentepela autoridade competente e solicitar a presençados pais ou responsáveis, em qualquer fase do pro-cesso.

É importante que os alunos sejam informadossobre o instrumento jurídico habeas corpus, criadohá mais de 2.000 anos pelos romanos e incorpora-do ao Direito da maioria dos países do mundo. Ga-rantido na Constituição brasileira (artigo 5o incisoLXVIII) e no ECA, o H.C., como é conhecido no meiojurídico, representa uma defesa do cidadão contraviolência ou coação da liberdade de ir e vir (prisão),por ilegalidade ou abuso de poder. Qualquer pes-soa, adulta ou adolescente, pode requerer um ha-beas corpus, inclusive de próprio punho, nas seguin-tes situações, previstas no ECA: internação provi-sória por mais de 45 dias; cumprimento de medidasocioeducativa por mais de três anos; apreensãopor autoridade policial sem flagrante delito ou semum mandado judicial; não-encaminhamento do ado-lescente ao Promotor de Justiça no prazo de 24horas; e no caso de cumprimento de medida socio-educativa em estabelecimento prisional (delegaciade polícia e penitenciária), entre outros.

Por fim, é importante ressaltar que, em caso deprivação da liberdade, o adolescente tem direitosespecíficos, conforme os artigos 124 e 125 do ECA.Dentre esses direitos, destaca-se: entrevistar-sepessoalmente com Promotor de Justiça; fazer peti-ções a qualquer autoridade; entrevistar-se reserva-damente com um advogado; ser informado da suasituação processual; ser tratado com respeito e dig-nidade; receber visitas e corresponder-se com fa-miliares e amigos; receber escolarização, atividadesculturais e de lazer; receber assistência religiosa,entre outros. Em suma, o direito de que o adoles-cente internado é privado é o direito de ir e vir: osdemais devem ser respeitados pela instituição queo recebe.

APROFUNDANDO

30EDUCAÇÃO E CIDADANIA

Em seguida, apresente a eles as fichas 3A e 3Bcom uma história ilustrada com as informaçõesbásicas a respeito dos direitos e garantias, na faseprocessual, e os direitos, quando da aplicação damedida socioeducativa de internação. Diga aosalunos para fazerem uma leitura silenciosa,assinalando possíveis dúvidas. Depois proceda aoesclarecimento das dúvidas e peça que comentem oque acham mais significativo.Nesse momento, a intenção não é discutir anatureza ou as razões do ato infracional atribuído aeles (muito embora não se possa furtar a fazer isso,caso o adolescente espontaneamente o coloque empauta). Com certeza você experimentará situaçõesbastante delicadas, por vezes tensas, em queprecisará usar toda a sua sensibilidade, paracolocar-se ao lado deles e transmitir-lhes, compalavras e gestos, a confiança de que você estádisposto/a a ajudá-los a repensar suas escolhas ecompreender melhor a situação que estão vivendo– mas como adulto responsável, sempre deixandoclaro que você não concorda com as açõeseventualmente praticadas por eles.Além das informações específicas do ECA, paranortear a discussão com os alunos, é importanteconsiderar as seguintes questões:

Embora a maioria dos pesquisadores recuseuma relação mecânica e imediata entrepobreza e delinqüência, também não épossível ignorar o fato de que a situação doBrasil, país campeão da desigualdade social,tem provocado, historicamente, a exclusãosocial de milhares de famílias. O desalentopela falta do emprego, pelos baixos saláriosou pela ausência dos direitos sociais básicos,entre outros fatores, traduz-se na falta deperspectiva de inserção social de muitosjovens, que acabam por fazer escolhasinadequadas, para si e para outras pessoas.Não há como escapar da questão dadesigual aplicação da justiça em nosso paísque, regra geral, alcança, criminaliza echama de violentos os atos perpetrados porpessoas das camadas populares,desconsiderando, na maioria das vezes, oscrimes contra o tesouro público, contra aeconomia popular ou toda a sorte de crimeorganizado de que participam pessoas dos

incluem um “Minidicionário” jurídico; aUnidade deverá ter providenciado dado deseis faces e fichas de plástico coloridas.

Além disso, estamos sugerindo como leituracomplementar, para os horários de lazer, olivro Esmeralda: por que não dancei (Ortiz,2000). Esse livro traz um relato autobiográficode Esmeralda do Carmo Ortiz, uma garota queviveu muitos anos na rua. É um retrato aomesmo tempo da grandeza – o esforço deEsmeralda para “emergir” – e da misériahumana – uma sociedade que “deixa” umacriança viver nas terríveis condições em queela viveu. Leia você também esse livro, leveum exemplar para a sala de aula, mostre-oaos alunos e leia alguns trechos parasensibilizá-los. Pelo menos os adolescentesque ficarem mais tempo na instituiçãopoderão lê-lo em seus momentos livres eperceber o “segredo” de Esmeralda (por queela não “dançou”): uma vontade louca decontinuar viva, de não morrer e a decisão dese deixar envolver numa rede de proteção ede afeto, por parte de pessoas e entidades deapoio à criança e ao adolescente.

Antes de entrar especificamente na discussãosobre o ato infracional e as medidassocioeducativas, tema central desta aula, vamosconversar brevemente sobre o que chamamosde justiça legal. Nas aulas anteriores, falamosde justiça como um ideal ético a ser buscadopelas pessoas e pela sociedade ou, ainda,sobre a noção e concepções de justiça.

ATIVIDADEVÔO CEGOPara iniciar esta atividade, converse com os alunossobre sua situação na instituição: se foraminformados dos encaminhamentos jurídicos aserem dados, enquanto esperam na UIP; a quemirão se apresentar e por quê, bem como quaispossíveis medidas socioeducativas podem serdeterminadas pelo juiz. Isso possibilitará avaliar ograu de conhecimento dos adolescentes em relaçãoàs disposições do ECA sobre o ato infracional.Registre as principais respostas dos alunos na lousae peça para registrarem no caderno.

31JUSTIÇA E CIDADANIA

segmentos dominantes da sociedade – o queconstitui exemplo nada edificante para osjovens. Mudar essa situação é compromissopelo qual muitos estão lutando, inclusiveentre os operadores do Direito.É sempre importante explorar com osjovens que há outras alternativas paraenfrentar os problemas advindos dascarências de direitos sociais básicos, taiscomo a participação e a luta pela mudançadas condições de vida, de maneira coletiva epartilhada. Frente a qualquer dificuldadeporventura existente na família, devem lutarpara “não afundar junto”, manter-se inteiroe buscar alternativas de sobrevivência quepreservem o respeito a si mesmo e aos outros.De igual forma, é importante distinguir asnecessidades básicas de sobrevivência (quenão se resumem apenas a alimentação eabrigo) das necessidades e desejos artificiaise incontrolados, gerados pela sociedade deconsumo. Uma atitude de vida que mantémsob controle os desejos de consumosupérfluo faz parte da experiência educativade muitas famílias, em todos os segmentossociais. A questão não é se os membros dafamília podem ou não consumirdeterminados bens, mas se eles realmentenecessitam desse bem para viverem e seremfelizes. Em nossa sociedade ainda não existeuma discussão pública e um posicionamentoético a respeito da publicidade veiculadapela mídia, que associa o consumo dedeterminados objetos a poder, felicidade eprestígio. Portanto, os desejos precisampassar por uma apreciação interior queresulte em decisões do tipo: “isso eu possoagora”; “isso fica para depois, possoesperar”; “isso, nunca”.Também é preciso reconhecer o adolescente“como sujeito de seu tempo, de sua história,pessoa capaz de construir o novo, pessoaque sente, pensa, é capaz de sonhar, deamar, de adquirir valores, de reconhecerseus erros assim como suas qualidades epotencialidades” (Silva, 1998, p.7).Nesse sentido, é importante a clareza de quesempre há chances de refazer, reconstruir e

planejar de novo a vida, principalmentequando se é jovem e quando se tem diantede si a possibilidade de ser protagonista naconstrução de seu projeto de vida.Finalmente, é preciso explicitar sempre aaceitação incondicional do adolescente, basepara estabelecer um vínculo de naturezaafetivo-emocional, o que não quer dizerconcordar com o ato infracional porventuracometido por ele. Considerar que “a práticado ato infracional não é incorporada comoinerente à sua identidade, mas vista comouma circunstância de vida que pode sermodificada” (Volpi, 1997, p.7) . Essesjovens em internação provisóriapossivelmente estão “em conflito com a lei”,mas não são criminosos: essa condição nãofaz parte de sua natureza. A relação comeles, portanto, nem deve ser de paternalismo,nem de culpabilização e sim de acolhimento.

Após esse momento de discussão, solicite aosalunos que respondam às perguntas no verso daficha 3B, em pequenos grupos. Peça a uma pessoade cada grupo que leia as conclusões a quechegaram. Observe se as respostas são criativas, seestão realmente fazendo uma reflexão e se estãoincorporando noções e conceitos trabalhados nasaulas anteriores. Dado o pouco tempo em que vocêestará com eles, essa é a única garantia de que asaprendizagens irão contar positivamente no seuprocesso de reinserção social.

JOGOO QUE PODE ACONTECER COMIGO?Segundo depoimentos de estudiosos etrabalhadores da instituição, uma das grandesansiedades dos internos é saber o que vai acontecercom eles, a partir da internação; com quem terãode “lidar” e como se comportar no mundo dojudiciário. Atender a essa necessidade significainformá-los sobre: o fluxo de procedimentos,desde o momento da sua entrada no “sistema” atéser decidida – e cumprida - a medidasocioeducativa; os principais conceitos explicativosdas situações que irão enfrentar; e a função dosoperadores do Direito com quem terão contato.

32EDUCAÇÃO E CIDADANIA

observadores jogarão, enquanto os jogadores dapartida anterior fazem o acompanhamento e asconsultas. Esse é um momento bastanteimportante para você se aproximar deles e animar ojogo, torcendo por eles, incentivandocompromissos e reforçando situações (ainda quehipotéticas), que os ajudem a afastar-se dasescolhas que os fizeram ir parar na instituição.Se perceber que entenderam bem a sistemática dojogo e que há interesse em continuar jogando,proponha jogarem após a aula; ou, se quiser, umgrupo pode jogar enquanto outro grupodesenvolve atividade com fichas, por exemplo,invertendo-se os grupos em seguida. Durante arealização do jogo, aproveite para circular, observarse estão seguindo as regras e se estãocompreendendo as situações descritas.Como você pode perceber, não se trata de um jogocompetitivo, ninguém ganha pontos ou sai vencedor.O objetivo do jogo é conquistar a liberdade, échegar à última casa. E todos chegam a essa últimacasa, apenas alguns chegarão antes. Ao participardo jogo, os alunos estarão conhecendo um poucodesse mundo da “justiça legal” e, quem sabe,menos ansiosos e mais disponíveis para refletirsobre seu “estar no mundo”, sobre o que queremfazer da sua vida e do seu futuro.

ATIVIDADEE AGORA?Terminando o jogo, organize a classe em círculo edistribua a ficha 3C com a letra da música: O que é,o que é, de Gonzaguinha. Como se trata de umamúsica bastante conhecida, promova uma audiçãoe peça para acompanharem a letra. Se quiseremcantar junto, também será interessante. Conversecom eles se gostaram, se já conheciam, do quegostaram mais. Peça para fazerem uma leitura oraldos versos, com cada aluno lendo alguns deles.Depois, solicite que respondam, individualmente,as questões da ficha. Terminando, retome aconversa, solicitando a eles que comentem asrespostas dadas. O mesmo desenho da questão“Brincando com as palavras” pode ser feito nalousa e incluir as respostas de todos. Nesse caso, acomanda seria: está dentro/está fora, do desenho.

A proposta é desenvolver essas questões por meiodo jogo de percurso O que pode acontecer comigo?.Nesse jogo, os alunos irão percorrer as situaçõesprevistas no Estatuto, a partir da atribuição de atoinfracional. Como irão jogar com dado, o percursoque farão não necessariamente estará relacionado àinfração específica que cada um pode ter cometido.No entanto, não é simplesmente um jogo de sorte,onde o jogador lança o dado e percorre o númerotirado. Isso porque, quando o jovem entra nessecircuito ato infracional-Delegacia-Febem-audiência, já existe um caminho a ser trilhado,tanto pelo jovem como pelo processo aberto; coisasdiferentes podem acontecer, mas tudo dentro deum percurso determinado pela Justiça. Paramaiores esclarecimentos aos alunos, as situaçõesincluídas no jogo estão contidas nos artigos 171 a190 do ECA.O material do jogo consiste em um tabuleiro depercurso, a ser formado por duas fichas coladas emcartolina ou cartão; instruções e um“minidicionário” jurídico, nas folhas de jogo(últimas fichas, não-numeradas); um dado (de seisfaces) de jogar e marcadores diferentes (fichas oupeças pequenas). Além disso, providencie umacópia do Estatuto para consultas, se necessário.Para iniciar o jogo, leia com os alunos as regras ecertifique-se de que todos as entenderam. Deveráser jogado em grupos de quatro ou cinco alunos,sendo que o grupo deve escolher um mestre. Opapel do mestre será coordenar o desenvolvimentodo jogo, observando o respeito às regras e fazendoconsultas ao Minidicionário jurídico, paraesclarecer os termos e noções utilizadas, além dafunção dos operadores do Direito. É também omestre que, a cada jogada, consulta as instruçõespara verificar o destino do jogador, conforme onúmero que tiver tirado no dado. Assim, épreferível que os mestres sejam alunos comrazoável domínio da leitura.Para que os alunos possam jogar comdesenvoltura, proponha uma primeira rodada comtoda a classe, da seguinte maneira: metade dosalunos participa do jogo e a outra metade observa,acompanha e faz as consultas ao dicionáriojurídico. Você faz o papel de mestre, coordenandoo desenvolvimento do jogo. Se necessário, procedaa uma segunda rodada, desta vez trocando: os

33JUSTIÇA E CIDADANIA

Há coisas muito profundas nessa letra, que podemser problematizadas com os alunos, como osversos: Há quem diga que a vida da gente é um nadano mundo/ É uma ponta, é um tempo que nem dá umsegundo (a desvalorização da vida); ou Somos nós quefazemos a vida, como der/ Ou puder, ou quiser(podemos ser sujeitos da nossa história ou não);ou, ainda, Viver e não ter a vergonha de ser feliz/Cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eternoaprendiz. Sílvio Gallo (1998, p.96) resume bem osentido dessa música: “Trata-se de encarar a vidacomo uma matéria-prima na qual vamosimprimindo as formas, esculpindo os contornos, talcomo o escultor Michelângelo em sua pedra demármore. A vida é nosso mármore, devemosesculpi-lo, criar um estilo, uma forma de viver, umjeito de ser feliz e, assim, de afirmar a beleza. Darforma à vida é a tarefa ética que nos compete comoseres humanos. Nisso exercemos nossa liberdade.Somos livres para fazer de nossas vidas uma obrade arte. Instaurar a beleza com todas as suasmúltiplas formas”. Isso, apesar das condiçõesadversas, que não podemos deixar de lado, mas àsquais também não podemos sucumbir, adverte ele.Por fim, como fechamento, peça aos alunos parafalar de uma coisa bonita que fizeram ou aprenderamnessa aula; duas coisas importantes, das quais nãopodem se esquecer; e duas coisas com as quais nãoconcordam. Registre as respostas na lousa e peçaaos alunos para registrarem no caderno, com otítulo: “Somos nós que fazemos a vida”.

SUBTEMA 4CIDADANIA E VIDANa aula do subtema 2, “Falando de direitos eresponsabilidades”, os alunos tiveramoportunidade de informar-se e refletir sobre osdireitos assegurados à criança e ao adolescente esobre os direitos humanos, de forma geral.Naquele momento, deve ter ficado clara paraeles a importância de uma vida em sociedaderespeitando os direitos dos outros, além danecessidade da luta pelos direitos ainda nãoassegurados a todos os brasileiros – crianças,jovens e adultos. Também devem ter percebidoque o “direito a ter direitos” é condiçãoessencial para o exercício da cidadania.

Agora, iremos tratar da cidadania de um outroângulo, focalizando a participação daspessoas na vida da cidade, portanto no espaçopúblico, deixando claro que o espaço públicopode ser tanto o lugar de vivência cotidiana ecomunitária quanto o do governo da cidade oudo país – ambos permeados pela esferapolítica. Nesta aula, desejamos que os alunosse aproximem e reflitam sobre as seguintesquestões:

A importância do compromisso de todoscom os espaços e equipamentoscoletivos (ruas, praças, escolas, centrosde lazer, de cultura, de saúde, decomunicação – orelhões – e outros).Esse compromisso envolve apossibilidade do acesso, como umdireito de cidadania e o uso/conservação, como umaresponsabilidade frente a esse direito.

Apesar de a cidadania ser exercitada nacoletividade, cada um de nós,individualmente, pode ajudar atransformar o mundo em que vivemos.Lembre os alunos do provérbio chinês,“se cada um varrer a porta da sua casa,a rua inteira fica limpa”.

A conquista de direitos por meio doexercício da cidadania é resultado deum processo histórico.

34EDUCAÇÃO E CIDADANIA APROFUNDANDO

A participação das pessoas na vidasocial, política e econômica de um povoé a melhor maneira de garantir osdireitos adquiridos historicamente e delutar pela conquista e generalização denovos direitos.

A idéia de cidadania também pode sertraduzida para os alunos como sinônimode participação em movimentos sociais,tais como: de defesa da ecologia, dedireitos humanos, de melhoria dascondições no bairro, movimentos pelapaz, grupos de jovens (teatro, música,capoeira, dança, artes), integração emgrupos de igrejas, voluntariado (emcreches, entidades assistenciais,Conselho Tutelar, ONGs); participaçãoem partidos políticos e sindicatos, entreoutros.

A cidadania pode ser exercida emespaços institucionais e não-institucionais; há possibilidades tantoindividuais como coletivas de exercíciode cidadania.

Só pelo exercício da cidadania é que sepode construir coletivamente umprojeto de uma sociedade melhor paratodas as pessoas.

“Ser cidadão significa estar na vida e nomundo, sentindo-se parte integrante dogênero humano, peça singular doquebra-cabeça da história, deixando poronde passa suas marcas. É mais do quesobreviver, é mais do que viver comprazer, é gozar da existência.”(Aprendendo a ser e a conviver, Serrão& Baleeiro, 1999).

Para propiciar essas reflexões e mobilizar osjovens a uma participação cidadã, propomos aatividade “Cidadania em movimento” (ficha4A), de análise da canção Rua da Passagem,de Arnaldo Antunes e Lenine, além dacriação de uma canção pelos próprios alunos.Lembre-se de que a música é sempre umrecurso interessante no trabalho desensibilização e reflexão com jovens, devido asua enorme força de mobilização. O verso da

IDADANIAA palavra cidadania parece refletir um pouco

essa situação. Tente responder você mesmo: oque é cidadania? Parece haver várias interpreta-ções em jogo, podemos delinear concepções di-ferentes e até mesmo opostas sobre o conceito.Vamos tentar brevemente historiar o conceito decidadania.

A palavra cidadania está vinculada ao surgi-mento da vida na cidade e à habilidade das pes-soas em exercer direitos e deveres. Historicamen-te, a origem de cidadania está na pólis grega, ondehomens livres, com participação política e viven-do numa democracia direta, exerciam seus direi-tos e deveres na coletividade. Como vimos ante-riormente, as sociedades grega e romana, apesarde serem escravistas, promoviam, para uma par-cela da sociedade, a possibilidade de um certoexercício de cidadania. Contudo, somente com odesenvolvimento da sociedade capitalista e a as-censão da burguesia enquanto classe dirigente éque, paulatinamente, a idéia de cidadania é reto-mada e desenvolvida. Não devemos esquecerque, nesse período, a burguesia tinha um caráterrevolucionário e encarnava a luta entre a velhasociedade burocrático-feudal e a moderna socie-dade burguesa. Com a ascensão do capitalismoe a consolidação do poder da burguesia, a socie-dade ocidental desenvolveu uma nova visão demundo e uma nova forma de viver, absolutamen-te distinta daquelas da sociedade feudal, umanova racionalidade, uma nova ideologia. No en-tanto, ao deixar de ser uma classe revolucionária,pois agora está no poder e quer consolidar e es-tender sua dominação, a burguesia passa a vin-cular a idéia de direitos humanos e de cidadaniasomente àqueles que têm propriedade.

No século XIX, com o incremento da industria-lização nos países europeus, o avanço da organi-zação dos trabalhadores colocou novos proble-mas em discussão, que estiveram no cerne daslutas sociais. Um deles foi o questionamento daenorme distância entre os direitos formulados atéentão e a dura realidade vivida pelos trabalhado-res nas cidades. Novos direitos, então, foram rei-vindicados e conquistados, configurando os cha-mados direitos sociais: entre eles, ao trabalho, àmoradia e à educação.

Hoje, podemos afirmar sem medo de come-ter equívoco que ser cidadão é ter direitos e de-veres. A Carta de Direitos da Organização dasNações Unidas (ONU), de 1948, que estabeleceseus princípios a partir das cartas de Direitos doEstados Unidos (1776) e da Revolução Francesa

35JUSTIÇA E CIDADANIA

(1789), afirma que todos os homens são iguais pe-rante a lei, sem discriminação de raça, credo ou cor.Garante a todos o direito de um salário condizentepara promover a própria vida, o direito à educação,à saúde, à habitação e ao lazer. Garante ainda, odireito de expressar-se livremente, de militar empartidos políticos, sindicatos, movimentos e orga-nizações da sociedade civil. No que diz concerne aseus deveres, cabe às pessoas: promover o respei-to aos direitos de todas as pessoas, ter responsabi-lidade em conjunto pela coletividade, respeitar ecumprir as normas e leis elaboradas e decididascoletivamente.

É preciso, contudo, não se esquecer da ambiva-lência do sistema capitalista. Se, por um lado, osdireitos civis, políticos e sociais conquistados ten-dem a generalizar-se para toda a população e tor-nar-se reivindicáveis por qualquer cidadão, de ou-tro, assistimos todos os dias, na imprensa escrita,falada e televisiva, a situações de exploração, desi-gualdade e injustiça, que atentam contra a legisla-ção sobre os direitos humanos. É exatamente essacontradição que dificulta o exercício da cidadania,principalmente em países com contrastes maisgritantes. Alguns setores da população desses paí-ses perceberam que não eram atendidos em suasreivindicações não só porque as classes dominantesrecusavam-se a isso mas, simultaneamente, porqueseus próprios países também eram explorados. Nes-ses países, em contraposição ao exercício de cida-dania plena e ativa, desenvolveu-se um conceito decidadania mais esvaziado, calcado principalmente naquestão do cidadão consumidor. Com ênfase ape-nas no consumo, a cidadania assume um conteúdorestrito, de conformismo e de preocupação com aaquisição de bens materiais, não importando se essaaquisição está sendo possível a todo o conjunto dapopulação. A estimulação desenfreada do consumogera a neutralização das pessoas enquanto sujeitosatuantes e desmobiliza, em grande parte, todas asorganizações sociais reivindicatórias.

Já a idéia de cidadania plena deve promover atransformação do cotidiano das pessoas. Esse tipode cidadania só existe quando sujeitos se organi-zam para agir e lutar pelos seus direitos, tanto nasfábricas, sindicatos, partidos, como no bairro, naescola, na empresa, na família, nas ruas. É precisotornar públicas todas essas discussões, para que ocotidiano se transforme historicamente em algomelhor, sob condições que respeitem a vida e a iden-tidade de cada indivíduo.

Uma das coisas mais importantes sobre a idéiade cidadania – e que o educador deve compartilharcom os alunos – é que, se existe um problema emsua rua ou bairro, não importa de que ordem seja,não se deve esperar que seja resolvido simplesmen-te porque é um direito, ou porque é garantido porlei: é preciso organizar-se, reivindicar, buscar solu-ções e pressionar os órgãos governamentais com-petentes. Direitos não são “dados”; historicamen-

te, foram resultado de muitas lutas e, ainda hoje,com constituições modernas e democráticas, é pre-ciso lutar para que os direitos expressos nas leissejam efetivamente garantidos na vida cotidiana.

O filósofo alemão Immanuel Kant afirmava que oshomens devem obedecer às normas e às leis; no en-tanto, enquanto seres dotados de racionalidade, de-vem fazer uso público da razão e promover um pro-cesso contínuo de crítica às leis, na medida que asconsiderem injustas. Herbert de Souza, sociólogo emilitante político brasileiro, popularmente conhecidocomo Betinho, foi uma das pessoas que melhor com-preendeu e lutou pela questão da cidadania. Veja oque ele pensa a respeito desse assunto:

A idéia de cidadania generalizou-se. Está naboca de todo mundo, dá título a movimentos eorganizações, fundamenta valores e conceitose reflete uma profunda mudança democráticana sociedade brasileira. Deixamos de serempregadores e empregados, militantes edirigentes, eleitores e eleitos. Estamos sendo,cada vez mais uma sociedade de cidadãos ecidadãs.Cidadania é o valor básico de uma sociedadedemocrática, construída por todos e paratodos e fundada em cinco princípios éticosfundamentais: igualdade, liberdade,solidariedade, participação e diversidade.Estes princípios são suficientes para orientar asolução de todos os graves problemas sociaise políticos que nos acompanham, desde ostempos coloniais. Eles não têm, no entanto,uma ordem obrigatória: primeiro, a liberdade,depois, a igualdade, ou a diversidade. Ariqueza da democracia reside exatamente empostular a simultaneidade desses princípios notempo e no espaço. Um é sempre incompletosem os outros quatro e a falta de umcompromete a realização de todos. É umtremendo desafio pensar e agir com essescinco princípios simultaneamente. Mas éexatamente isso que torna a democracia omais fascinante desafio da história dahumanidade.A história se move quando esses princípiosestão em ação, e ela estanca ou retrocedequando um ou todos são negados peloprocesso político. Foi assim no tempo dasditaduras militares na América Latina. Foiassim também, no chamado mundo do“socialismo real”, que sacrificava a liberdade ea participação em nome da igualdade. Por isso,quando olhamos a realidade complexa e, àsvezes, confusa de nosso país, é preciso veralém dos grandes espetáculos de massa, quesão como ondas – vêm, mas também passam.É vital atentar para o modo como os valoresbásicos da cidadania vão se imiscuindo nocotidiano das pessoas.(Souza, 1997).

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é esse compositor, acrescentando que é elogiadopelos críticos porque consegue fazer músicasinovadoras sem perder de vista a tradicionalmúsica nordestina.Peça que formem um círculo e, de olhos fechados,escutem a música com atenção. Terminando,pergunte se gostaram e do que gostaram mais(letra, melodia, arranjos etc.). Distribua então aficha 4A (Cidadania em movimento) e promovauma segunda audição. Dessa vez, peça paraacompanharem a letra e cantarolarem baixinho, sequiserem. Proponha que façam uma leitura oral,com um aluno lendo uma estrofe e depoisindicando um colega para ler outra. Em seguida,peça para responderem, individualmente, asquestões da ficha.Feito isso, organize a classe em círculo novamentee solicite aos alunos que apresentem o trecho deque mais gostaram, da forma como escolheram.Não se esqueça de pedir a eles para justificar aescolha. Em seguida, coloque em discussão asrespostas da questão 4, ajudando-os a estabeleceruma relação entre a letra da música e a questão dosdireitos humanos e da cidadania.Organize a classe em grupos e peça para lerem oque anotaram sobre uma música composta doponto de vista do pedestre, trocando idéias arespeito do assunto. Deverão escolher o ritmo paraa sua composição: rap, pagode, rock, forró e outros.Depois, oriente-os a criar a música, usando suasanotações da ficha para compor os versos,inventando uma melodia. Se for difícil, proponhaque encaixem os versos na própria melodia doLenine. Quando ficar tudo pronto, peça paracantarem sua criação.Para ajudar os alunos a sistematizar o queaprenderam de cidadania, solicite que leiam, emduplas, o texto na ficha 4A verso, assinalando asexpressões desconhecidas. Depois dosesclarecimentos, peça para responderem asquestões da frente da ficha 4B. (Note que o versodessa ficha só será utilizado no subtema seguinte –é a única ficha do subtema 5.)Em seguida, exponha os desenhos na lousa ouparede e peça aos alunos que comentem suasproduções. Depois, ponha em discussão asrespostas dadas às questões da ficha, terminando

ficha 4A, “Cidadania e direitos”, traz um textode Gilberto Dimenstein sobre o direito a terdireitos, cuja discussão e reflexão devepropiciar o preenchimento da ficha 4B,“Cidadania no cotidiano”. Para essa aula, seránecessário um gravador com toca-fitas (osalunos irão ouvir uma música e criar outras,que precisam ser gravadas). Além disso,providencie um CD ou fita cassete com amúsica de Lenine.

Cidadania é uma dessas palavras quetomaram conta do nosso cotidiano; estápresente no discurso de vários atores sociaise está acima de qualquer suspeita. “A idéia decidadania generalizou-se. Está na boca detodo mundo, dá título a movimentos eorganizações, fundamenta valores e conceitose reflete uma profunda mudança democráticana sociedade brasileira.” (Herbert de Souza)

No entanto, o educador deve ficar atento parao que chamamos de esvaziamento do conceito,ou seja: de tanto pronunciarmos uma palavra,ela perde sua significação original e torna-sebanalizada. Quando exprimimos umsentimento ou um conceito por palavras,estamos querendo indicar o significado dessapalavra. Por exemplo, ao dizer a frase “eu teamo”, a palavra amor é tomada como símbolodo fato amor, mas na medida em que épronunciada, ela tende a assumir vida própria,tornando-se ela mesma uma realidade. Tem-sea impressão ou ilusão de que pronunciar apalavra substitui ou equivale a ter aexperiência. Corre-se o risco de dizer apalavra sem nada sentir, de expressar oconceito sem compreendê-lo. A palavra faladatende a substituir a experiência vivida.

ATIVIDADECIDADANIA EM MOVIMENTOPara reforçar a importância da cidadania como umdireito de participação no espaço público, pensadocomo espaço de vivência – a rua, a praça, a cidade–, propomos inicialmente o trabalho com a músicaRua da Passagem (Trânsito), do compositorpernambucano Lenine. Explique aos alunos quem

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com uma pergunta para a classe: O que é sercidadão? Anote as respostas na lousa e peça pararegistrarem no caderno.

ATIVIDADELUTAS QUE VALEM A PENAPor fim, proponha a eles a elaboração de umprojeto – Lutas que valem a pena –, isto é, aconstrução imaginária de algo para fazer durantesua estada ou após sua saída da instituição. Vocêpode aproveitar esse momento para distribuir aficha 4C, “Com quem você pode contar lá fora”.Explique que esta não é uma ficha de trabalhocomo as outras: trata-se de uma lista de instituiçõese respectivos endereços para cada um guardar elevar para casa quando sair. Não é necessário queleiam agora todos os endereços. Leia com a classea explicação no alto da ficha e peça que tentemidentificar, no verso, alguma organização queconheçam. Dê alguns esclarecimentos sobre asONGs – organizações não-governamentais; se suaUnidade não fica na capital, informe-sepreviamente sobre o Conselho Tutelar e outrasorganizações locais, para passar para a classe.Aproveite para falar também de algum outroprojeto em desenvolvimento no momento naprópria FEBEM. Com isso, poderão quem sabeobter idéias para o projeto que irão redigir emseguida.Explique brevemente o que é um projeto: um textocontendo o plano de ação sobre uma determinadaquestão. Um projeto costuma ter as seguintesseções: uma frase inicial explicando o nome doprojeto; uma justificativa (por que escolhemos estaquestão); objetivo (o que pretendemos, para quevai servir esse projeto); e o “como”, isto é, quemvai fazer o quê, quando, com que recursos etc.Seguem-se algumas orientações:

Em grupos, os alunos escolhem uma “lutaque vale a pena”: movimento ou grupo dejovens, voluntariado, ou outro qualquer(grupo de rap, time de futebol), inventandoum nome ou título; e explicitam para quevai servir: a favor do quê? contra o quê?Também explicam, por escrito, as razões daescolha feita.

Depois é preciso pensar no quepretendem com ele, quem vai participar(quem queremos junto conosco nessaempreitada?) fazendo o quê, regras etc.Pensar nos recursos necessários (espaço,papel, tinta, bola e rede, se for time defutebol) e nos apoios necessários:entidades de assistência a adolescentes;órgãos públicos (alertá-los para oclientelismo de alguns políticos que “dãocoisas” em troca do voto dos eleitores – oavesso da cidadania); igrejas; escolas;vizinhos etc.Pensar na importância do “financiamentopróprio” da atividade escolhida, ou seja, opróprio grupo – de forma lícita, é claro –deve propor maneiras de prover parte dosrecursos necessários: confecção e venda deobjetos artesanais, reciclagem de papel,latas ou garrafas, organização de bailes naassociação de moradores e muitas outrasatividades.Podem também criar um logotipo, cartaz,desenho para camiseta do projeto,planejar campanhas de adesão eesclarecimento.

Quando pronto, cada grupo apresenta seuprojeto aos demais. Proponha montar um painelou outra forma de tornar os projetos públicospara todo o conjunto da Unidade. Para isso, serápreciso que você faça, com os grupos, umarevisão dos textos, pois não é conveniente havererros de português.O painel pode chamar-se “Lutas que valem apena”.

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SUBTEMA 5ALÇANDO OUTROSVÔOSEducador, esta é nossa última aula sobre otema Justiça e Cidadania. Escolhemos umfilme que trata de adolescentes e proporcionadiscussões interessantes a respeito dasquestões trabalhadas no âmbito desse tema.Esperamos que seus alunos gostem. Trata-sede uma cópia em VHS do filme Guerra dosbotões, do diretor John Roberts, feito em1993, uma adaptação do romance de mesmotítulo do início do século XX (1912), doescritor francês Louis Pergoud.

O filme conta a história de dois grupos degarotos, entre mais ou menos 7 e 14 anos, dedois pequenos vilarejos irlandeses, osCarricks e os Ballys. Nas sua horas de lazer,os meninos se dedicam a um grande efascinante jogo de guerra. Combinam formasde combater o inimigo, driblar o professor eenfrentar os pais ao chegar tarde e sujos emcasa. Logo após a primeira “grande batalha”,o grupo vencedor decide que, para simbolizarsua vitória, deveria arrancar os botões dacamisa e das calças de menino do grupoderrotado. Toda a história gira em torno dasbatalhas entre os dois grupos de meninos emeninas, até que uma atitude inconseqüentede um dos garotos põe fim à brincadeira eatrai a interferência dos adultos, com suassoluções nem sempre justas e conseqüentes.

Para os alunos que estiveram com você desdeo início das atividades desse assunto, essaaula tem um caráter de sistematização dosconhecimentos. Ou seja, espera-se que elespossam retomar algumas das noções econceitos desenvolvidos nas aulas anteriores,utilizando-as para reconhecer, analisar,interpretar situações postas no filme. Aspossibilidades quanto a conseguir fazer issosão inúmeras e acreditamos que os alunos (deforma diversa, é claro) se aproximarãobastante delas.

De qualquer forma, considerando-se que você

pode ter um grupo ou a totalidade de alunosnovos, ou mesmo que a turma “antiga” tenhamaiores dificuldades, você pode ajudá-losnessa tarefa, a de reconhecer, analisar einterpretar cenas que apresentam situaçõesde conflito, ou que remetam às noçõesdesenvolvidas neste tema.

Se for possível, na organização do cotidianoda Unidade, seria interessante que os alunospudessem assistir ao filme antes da aula (nodia anterior, à noite, por exemplo), com avantagem de poderem dispor de um tempomaior para: voltar a fita e rever cenas; pararpara fazer anotações; ver o filme inteiro edepois rever algumas cenas ou até ver o filmeduas vezes! Caso isso não seja possível,organize-se para passar o filme no momentoda aula, lembrando-se de que ele dura 94minutos.

ATIVIDADEGUERRA DE GAROTOSPara que essa atividade tenha o máximo desucesso, é importante o trabalho anterior depreparação, seu e dos alunos. Durante a semana,anuncie a eles que o assunto da última aula sobre otema Cidadania e Justiça será a discussão de umfilme sobre adolescentes chamado Guerra dos botões.Procure criar expectativas em torno dessa aula,perguntando aos alunos se gostam de assistir afilmes e de que tipo gostam, se já assistiram aofilme em questão e, se não o conhecerem, peça queimaginem do que trata, a partir do título. Alémdisso, para um melhor aproveitamento das idéiasdo filme, devem ler com antecedência a ficha 5 (no verso da ficha 4B), que traz algumasinformações para a identificação do filme e umroteiro de discussão. Peça a eles que façam umaleitura silenciosa das questões da ficha, para saberse compreenderam bem o que é solicitado e avise-os que, ao assistir ao filme, procurem lembrar-sedo que foi pedido na ficha. Isso é importante paraajudar na leitura e apreciação da história contada.Se reclamarem, avise-os que, embora o filme sejauma boa diversão, ele está sendo utilizado parauma sessão de estudos e você tem aresponsabilidade de orientá-los sobre a melhor

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escolham uma das selecionadas e comentadasadiante). Procure conduzir o debate de forma aincentivar os alunos a relacionar as situações dahistória com o que foi discutido em aula, nestetema. Insista para que a palavra circule, isto é, quetodos se coloquem a respeito do que está sendodiscutido. Evite dar respostas prontas, mas façamuitas perguntas e vá conduzindo o debate paraque exercitem o pensar a respeito do que estiversendo discutido.Pode ser que os próprios alunos tenham escolhidotrechos da história que contenham questões centraisa serem discutidas, pode ser que não. Então,pensamos que, na continuidade da aula, você podeselecionar algumas cenas dentre as relacionadas aseguir, para que os alunos revejam e façam reflexões.Fica a seu critério discutir ou não qualquer daspassagens propostas, pois isso depende dadinâmica da aula e da demanda dos jovens.De qualquer maneira, é importante que suaescolha contemple a possibilidade de discussão dosseguintes aspectos:

O princípio ético da valorização da vida.A vida como um direito fundamental eessencial de todo ser humano, a própria vidae a do outro.O ideal de justiça. Conceito em formação nopróprio cotidiano, do jogo de guerra dosjovens. Percebe-se claramente que, frente asituações de dilema, eles refletem e fazemescolhas pautadas por critérios de justiça(não machucar o outro, atitudes desolidariedade, se desculpar com o outroquando a regra do jogo é quebrada).Noções de cidadania e democracia. Nasdiversas situações vividas pelos garotos, elesexperimentam formas de resolver problemaspautadas por essas questões, absorvendo-asem sala de aula e reelaborando-ascriativamente nas suas brincadeiras. (Hámuita troca de idéias; às vezes votam, àsvezes seguem ou contestam o líder, fazemuma discussão sobre a igualdade edemocracia; se identificam com a história dolugar, os costumes e a cultura do seu povo).A relação com o mundo dos adultos. O filmemostra exemplos tanto de rejeição e

forma de participarem de maneira interessantedesse estudo.No planejamento da aula, leia com antecedência obox às páginas 39-40, pois traz muitas orientaçõesa respeito do que pode ser discutido no filme.Também é importante assistir ao filme previamente,para fazer a sua própria leitura e, eventualmente,acrescentar pontos para a discussão, tendo em vistao conhecimento e a vivência com os alunos.No dia planejado para essa aula, após a projeção dofilme (caso os alunos não o tenham assistido antes),faça uma breve conversa com eles para esclarecerpossíveis dúvidas e para saber se gostaram ou não epor quê. Também pergunte se a história eraparecida ou diferente do que imaginaram, na aulaanterior. Depois, peça para responderemindividualmente as questões da ficha.Em seguida, organize-os em grupos para:� Conversar livremente sobre a história contada

no filme, durante uns 10 minutos;� Contar uns aos outros a cena de que mais

gostaram, com base no que foi pedido naquestão 4 da ficha do aluno, explicando oporquê;

� Escolher uma dessas cenas (a que acharemmais importante ou interessante), para serapresentada aos demais colegas, sempreexplicando o porquê.

Aproveite esse momento para circular nospequenos grupos, observando as argumentações eescolhas feitas pelos alunos, pois elas podem serreveladoras das preocupações, anseios e desejosdeles, já que fizeram uma escolha livre epossivelmente relacionada a situações com as quaisse identificam. Observe os critérios que utilizampara decidir sobre a cena que irá ser levada aocoletivo, verificando se estão preocupados comsituações de justiça/injustiça, respeito ao outro,limites/transgressões, dilemas, cidadania e outros.Em seguida, organize a classe numa roda e peça aum aluno de cada grupo para apresentar aoscolegas a cena escolhida pelo grupo, expondo asrazões da escolha. Se for necessário, ajude-os acompreender de forma mais profunda, osignificado (ou uma leitura possível) da situaçãoescolhida. Aproveite para iniciar uma conversaacerca das questões sobre as cenas (é possível que

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desrespeito (o pai de um dos garotos,Fergus), quanto de acolhimento e proteção(o professor, a mãe de Fergus, o serviçopúblico da cidade, que resgata o garoto dopenhasco, a instituição que acolheu osgarotos).As angústias do adolescente quanto ao seu lugarno mundo. Mostra o adolescente como umindivíduo em desenvolvimento tantobiológico como psicológico e social.(Preocupações de Fergus quanto ao que égrave e o que não é e que lhe criariamproblemas, caso manifestadas ao professor).

Além dos itens ressaltados acima você tambémpode promover uma reflexão sobre os direitoshumanos, incentivando os alunos a relacionar oque aprenderam em aulas anteriores com situaçõesdo filme.

Os direitos que as crianças estão exercendoe/ou respeitando, na história da Guerra debotões: o direito de brincar (nas brincadeiras,os jovens recriam o mundo dos adultos edesenvolvem sua criatividade, imaginação eelaboram referenciais de justiça, cidadania,entre outros); o direito à educação (todosvão à escola); o importante papel doprofessor como mediador entre oconhecimento, a cultura e os meninos; odireito à vida e à integridade física do outro(mesmo em se tratando de uma guerra, quecomporta, às vezes, ações fortes ouconstrangedoras, há limites e princípios naação dos jovens).Direitos que não estão sendo assegurados: àconvivência familiar e comunitária, como nocaso do garoto Fergus, que é espancado erejeitado pelo pai.

ATIVIDADEAPONTANDO PARAUM PROJETO DE VIDAPor fim (como você sempre fez nas aulasanteriores), a atividade de fechamento, da aula e dotema, será direcionada para a elaboração de umconjunto de intenções e propósitos de perspectivade futuro dos jovens, durante e/ou após a saída dainstituição. Chame essa atividade de “pacto para odia seguinte” e ressalte a importância dessemomento. Explique a eles que será um pactocoletivo, a partir das suas intenções e desejosindividuais. Não pode ser esquecido, esteja ondeestiver cada um deles.Inicialmente, proponha aos alunos que,individualmente, pensem um pouco na seguintequestão: – De todas as aprendizagens eexperiências relacionadas ao tema Justiça eCidadania, o que pretendo levar em conta, paraorientar minhas escolhas e decisões, na vida,dentro e fora da instituição?Deixe-os pensando por uns dez minutos e, depois,proponha que formem uma frase sintetizando oque pensaram e a anotem no caderno.Em seguida, peça a cada um para transcrever suafrase na lousa. Quando terminarem, confirme comcada menino ou menina se aceitariam para si oconjunto das frases anotadas. Caso hajadiscordâncias, promova um momento denegociação entre eles, apenas se o conteúdo dafrase for inaceitável, do ponto de vista ético.Lembre-os de que você está propondo aconstrução coletiva de uma espécie de “acordo”, aser considerado no projeto de vida futura. Entãoprecisa haver a concordância e a adesão de todos.Peça a eles para anotarem todas as frases nocaderno. Convide-os, mais uma vez, a assumiremconsigo mesmos – e com o grupo – ocompromisso de levar em conta o que foi decidido,nas escolhas, decisões e dilemas da vida cotidiana.Para terminar a aula de uma forma mais lúdica e,quem sabe, tornar esse momento inesquecível paravocê e para os alunos, peça a eles que se dêem asmãos e juntos cantem as frases, em ritmo de rap,pagode ou outro gênero musical do agrado deles.Isso se houver um clima favorável, é claro!

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PROPOSTA DE DISCUSSÃO DE CENAS DO FILMEGUERRA DOS BOTÕES“Não me machuquem, não me torturem”. Nada de malacontece ao garoto, ele só tem seus botões arrancados e ésolto. Essa cena traz um elemento importante, que podechamar a atenção dos jovens e que você pode desenvolverna aula. Um garoto dos Carricks fala “volte para seu pai se éque já descobriu quem é”. Isso causa um certo mal estar, atémesmo entre os Carricks, pois eles percebem que existemcertas coisas que não podem ser ditas, coisas da vida íntimadas pessoas que podem ferir sentimentos. Afinal todostemos nossos problemas familiares e não queremos vê-lossendo discutidos em público.

AOS 32’50”Essa cena pode chamar muito a atenção dos jovens e

suscitar algumas considerações dos alunos. É a cena onde opadrasto, a mãe e o filho discutem seriamente e o garotoacaba levando uma surra. Muitos dos garotos devem tervivido situações semelhantes e podem querer falar sobre oassunto. Será que o garoto deveria ter levado uma surra?O menino deveria ter contado quem arrancou-lhe os botões?Discuta, sob o ponto de vista da justiça, o papel de cada umna cena em questão.

AOS 34’56”Mais uma vez estamos em uma cena de sala de aula.

O garoto Fergus pergunta ao professor “Preciso saber umacoisa; o que é grave e o que não é? O que me criariaproblemas?” Essa solicitação do menino é absolutamenteimportante. Ele está vivendo uma fase de transformaçõesbiológicas, psicológicas e sociais. Ele não é mais umacriança, mas também ainda não é um adulto. Seu corpo esua mente estão mudando. A família quer que ele trabalhe.A escola exige mais disciplina. Fergus quer saber qual seupapel no mundo. Essa cena é muito rica e pode provocardiversas discussões sobre projeto de vida, sobre trabalho,sobre habilidades e competências.

AOS 36’40”Os adultos sabem da “guerra” dos garotos, mas não

intervêm, pois parecem saber o limite dos meninos.A “guerra” parece ser uma brincadeira compartilhada portodas as gerações. Parece ser natural brincar de guerrear,para um povo acostumado a grandes batalhas históricas.

AOS 39’50”Após a “batalha” onde os Ballys ficam nus para provocar

os garotos de Carricks, eles vão para o celeiro e começamuma discussão, que pode ser retomada com os alunos. Elesdiscutem sobre ter vergonha do próprio corpo, e sobre oconstrangimento com o olhar das meninas. Discutemtambém sobre estarem em um país livre e não aceitaremtodas as ordens do líder do grupo. Talvez você possa discutircom os meninos a questão da responsabilidade do líderperante o grupo.

AOS 41’40”Os Ballys estão tendo aula de História. Os garotos

prestam atenção, mas ao mesmo tempo, trocam recadinhos,por meio de bilhetes na sala de aula. Você já deve ter vividosituação semelhante. O que pode ser retomado com seus

Caso se mostre necessário rever alguma passagem dofilme, indicamos o tempo de entrada de cada cena. Não seesqueça de deixar o indicador de tempo da fita zerado aoiniciar as discussões, nesse momento de continuidade da aula.

AOS 4’20”Essa parece ser a primeira cena importante do filme.

A ponte que une as duas vilas tem uma marcação no chãoindicando o lado dos Ballys e o lado dos Carricks.Os garotos levam isso bastante a sério e estão disputandopara ver quem vai vender a rifa ao carteiro que assiste àdiscussão dos meninos e permanece indiferente. Já existeuma simbologia na divisão inscrita no chão. Proponha queos alunos se coloquem no lugar do carteiro. O que elesfariam, se fossem o carteiro e presenciassem a cena em queo garoto ameaça jogar o outro da ponte?

AOS 10’55”Essa é a primeira cena, no filme, em que os garotos

discutem sobre a liderança do grupo. Ocorre uma votaçãonão muito convencional, mas já significa a internalização deuma regra do mundo dos adultos utilizada pelos garotos.

AOS 23’40”É a partir dessa cena que começa a guerra dos botões.

Quando um dos garotos da vila dos Carricks é “capturado”pelos meninos da vila dos Ballys, começa a simbologia daguerra dos meninos. Nessa guerra, o objetivo não émachucar ou destruir o rival, mas sim arrancar-lhe os botõesda camisa e das calças.

AOS 25’56”Nessa cena, o professor vai se reconhecer. Ela mostra a

primeira aula dos garotos de Ballys, onde inicialmente sedesenvolve a idéia de cidadania e de democracia.O professor do filme fala sobre as quatro exigências quevalidam o voto e afirma que todas elas estão relacionadascom a cidadania. O texto de Gilberto Dimenstein,O direito de ter direitos, é de fácil compreensão para osalunos, você pode reproduzi-lo e entregar aos jovens.O professor do filme fala “homens morreram por isso, e porDeus farei com que respeitem esse fato”. A idéia é mostrarque a cidadania é uma conquista e uma luta constante.Cada geração tem que dar sua contribuição por um mundomais justo e democrático.

AOS 29’57”É preciso atentar para uma sutileza que há nessa cena.

Um dos garotos dos Ballys está acuado em cima de umaárvore e não pode descer, pois os Carricks estão todos láembaixo. Um dos garotos, ao utilizar o estilingue, atinge omenino no rosto e pede desculpas por isso. Mais uma vez,revela-se o princípio maior que está por trás dessa guerra.

AOS 30’40”O líder dos Ballys é capturado pelos meninos de

Carricks. Você pode utilizar essa cena para demonstrar quetodos temem pela própria vida, como diz Gonzaguinha,compositor popular, “Ninguém quer a morte, só saúde esorte”. O líder dos Ballys demonstra sua fragilidade e fala

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alunos é a questão da língua nativa e da manutenção doscostumes. Os irlandeses parecem dar muita importânciapara isto. E nós aqui no Brasil? Pergunte aos garotos qualnossa língua nativa. O que se falava aqui, antes dacolonização Portuguesa?

AOS 43’15”Esta cena é uma das principais passagens do filme.

Os Ballys estão discutindo como poderiam obter recursospara a compra de mais botões. Não se esqueça de que esseé o grande troféu na “guerra dos meninos e meninas”.O que está em jogo nessa cena é a construção de algunsconceitos como democracia, justiça, igualdade e república.Os garotos estão, no cotidiano, discutindo coisas como“Não somos iguais, alguns tem grana, outros não”, “Porqueos pobres ficam no banheiro? Isto não é justo!”, “Não háigualdade, se uns podem pagar e outros, não”, “Somente,se todos pagarem o mesmo”.

Você pode, juntamente com os alunos, discutir osconceitos de igualdade econômica, jurídica, política e social,bem como explicar-lhes o que significa a palavra república.Res-publica, res = coisa, publica = do povo, em latim,coisa do povo. Pode também relembrar, das nossasprimeiras lições, de onde vem a palavra justiça.

AOS 48’10”Nessa cena, os garotos matam uma raposa, para

conseguir recursos para a compra de botões. Todos ficamconstrangidos com o que acabam de fazer. A sensibilidade eo respeito com a vida parecem estar acima dos propósitosda “guerra”. Você pode discutir com os alunos se achamjusto tirar a vida de um animal, para conseguir dinheiro.É eticamente correto caçar e pescar somente para acomercialização? É justo caçar baleias, jacarés e outrosanimais que caçamos, não para nos alimentar, mas só paracomercializar? Vale lembrar a sensibilidade feminina quandoa garota fala “Vocês mataram por dinheiro e por puroprazer”.

AOS 54’00”Nessa altura do filme, os garotos estão fazendo uma

“guerra de mamonas”. Pergunte aos alunos quem já brincoude guerra de mamonas na infância. O que é importantedestacar, nessa cena, é o que podemos chamar derompimento da regra. Um dos garotos de Carricks atira umapedra, em vez de uma mamona, o que faz com que seestabeleça uma trégua. A pedra feriu um coelho e poderia terferido um dos garotos. Por alguns instantes, os dois gruposse unem para cuidar da vida do coelho ferido. Reflita com osalunos sobre as conseqüências de se romper uma regra.O garoto que atirou a pedra deveria ser punido? Éimportante pensar antes de agir? Procure trazer elementosque promovam uma discussão sobre a importância dapreservação da vida, tanto de seres humanos, como deanimais e plantas.

AOS 59’00”Essa passagem talvez não precise nem ser retomada

com os alunos. Mais uma aula de história, onde o professordiscute as relações entre Inglaterra e Irlanda. O que chama aatenção é o fato de a escola se responsabilizar por discutir,com os jovens, a história do lugar, os costumes e a culturado povo. É a escola sendo vista como um lugar privilegiadopara discussão e reflexão sobre esses temas.

A 1H 02’00”A guerra dos botões está chegando ao final. Parece que

essa batalha foi vencida pelos Ballys e, novamente, os troféussão os botões da camisa e da calça do líder dos Carricks.Ao que parece, ninguém sai seriamente ferido. Quem dera setodas as guerras fossem assim!

1H 12’00”Essa passagem do filme merece uma discussão com os

alunos. O líder dos Carricks, inconformado com a derrotana última batalha, resolve agir de maneira inconseqüente,ao destruir o galpão onde estão todos os meninos e meninasde Ballys. Discuta com os alunos a atitude irresponsável dogaroto. Alguém poderia sair seriamente ferido, caso todosnão saíssem do galpão antes da passagem do trator.A atitude do garoto poderia ter ferido o princípio depreservação da vida, respeitado durante toda a “guerra”,além de causar danos materiais para outras pessoas.

A seqüência dessa cena também é muitoimportante para ser discutida com os alunos. Mesmo ogaroto que traiu o grupo dos Ballys, emprestandoo trator ao líder dos Carricks, tem seu corpo e sua vidapreservados: simbolicamente, o grupo queima as roupas dogaroto e o manda embora. “Apesar do que você fez, nãovamos torturá-lo ou machucá-lo”. Fergus assumeo papel de líder responsável e evita que o grupo machuque ogaroto.

1H 15’00”Nessa altura do filme, os adultos entram em cena

definitivamente. A brincadeira dos garotos e garotas invade omundo dos adultos. Até então estava tudo sob controle;agora, a propriedade e a honra foram questionadas.“Aquele menino não tem jeito mesmo e sempre os paispagam o pato”, é a fala de uma das mulheres.

Educador, atente para o fato de que, desde o início dofilme, parece haver dois mundos, o dos adultos e o dosjovens; eles raramente se misturam. Agora, alguém deve serculpado pela situação e o garoto passa a ser visto como umperigo para a sociedade. “Precisamos achá-lo, antes que elemate alguém.” é a fala de um dos adultos. Essa fala revela oquanto os adultos, às vezes, desconhecem o que se passacom os jovens: quem acompanhou o filme percebeu que ogaroto seria incapaz de matar outra pessoa.

A guerra dos meninos e meninas tem sua própria lógica,sua racionalidade e, fundamentalmente, seus própriosprincípios.

1H 21’40”Chegamos quase no final do filme. Os garotos

estão fugindo com medo de assumir as conseqüências doque fizeram. A solidariedade continua presente, elesreconhecem o coelho que feriram e depois salvaram edividem a comida. Refletem por que fizeram aquela guerra.Fergus salva o outro garoto que está correndo perigo,ao escorregar do penhasco. Parece estar começando umarelação de amizade entre os dois meninos.

Depois que os garotos são salvos, eles ficam internadosem uma instituição, tal qual estão nossos meninos daFEBEM. Reflita com os alunos se a medida aplicada aosgarotos foi justa e se eles tivessem pesado as conseqüênciasde suas ações aquilo teria acontecido.

43JUSTIÇA E CIDADANIA

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

EDUCADOR, ESPERAMOS TÊ-LO

AJUDADO NESSE IMPORTANTE

TRABALHO EDUCATIVO QUE VOCÊ

ESCOLHEU REALIZAR, NESSA

INSTITUIÇÃO. ACREDITAMOS MUITO

QUE, COM A SUA DEDICAÇÃO E

COMPROMISSO, VOCÊ ESTÁ

CONTRIBUINDO PARA AJUDAR SEUS

JOVENS ALUNOS A REPENSAR A VIDA,

AS ESCOLHAS FEITAS E A VISLUMBRAR

MAIS POSSIBILIDADES DE SE

CONSTITUÍREM COMO SUJEITOS DE

SUA HISTÓRIA – AUTORES E

ATORES DO SEU DESTINO.

Todos os textos e imagens de terceiros são aqui reproduzidos com a expressa autorização de seus autores ou de seusrepresentantes legais.O Cenpec e os autores deste módulo agradecem a gentil cessão de direito de uso de textos de Gilberto Dimenstein, MalbaTahan e Padre Bruno.

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Filme / vídeoO SENHOR das moscas – Lord of the flies (dir. Peter

Brook). Inglaterra: Continental, 1963.

Transcrição para a tela do clássico de WilliamGolding: únicos remanescentes de um naufrágio, semqualquer adulto, meninos vêm dar a uma ilha deserta,onde devem organizar-se para sobreviver. Nessaparábola da tensão entre civilização e barbárie, osjovens resvalam para a selvageria.

FICHA 1AJUSTIÇA E CIDADANIA

45

EDUCAÇÃOE CIDADANIA

Todas as coisas que você conhece hoje,mesmo as mais simples, como a água datorneira, a luz que você acende, a roupaque você veste, a televisão a que vocêassiste, o jornal que você lê e tantas outrassão resultado da cooperação humana.Ao longo da história da humanidade, o serhumano percebeu as vantagens de viverem sociedade, ou seja, em troca dapossível liberdade de se fazer tudo o quequer e correr o risco constante de perder avida, os homens passaram a colaborar unscom os outros, cada um desenvolvendouma habilidade específica ecompartilhando com os outros. Unscolhem o algodão, outros o transformamem fios, depois vem a tecelagem, aconfecção e o comércio, até que a roupafique pronta para você usar.No entanto, as coisas não são tão simplesassim. Você sabe que tanto na vidacotidiana como na vida em sociedadeexistem brigas e conflitos. Você já deve terouvido falar em patrões que exploramempregados ou em fazendeiros queexploram trabalhadores rurais. E, até nasua vida cotidiana, há pessoas que batemem suas companheiras ou companheiros efilhos, há brigas de gangues e de torcidas,entre outras. Isso porque as pessoas têminteresses e opiniões diferentes que, àsvezes, não são bem resolvidos. Essesinteresses particulares e coletivos estãopresentes o tempo todo em nossa vida. Noentanto, são inúmeras as vantagens de seviver em sociedade, principalmente secooperarmos uns com os outros.

Construindo a convivênciaLeia com atenção o texto a seguir.

VIVER UNS COM OSOUTROS, EM VEZ DE UNSCONTRA OS OUTROS

NOME DATA

Agora, imagine que você está,juntamente com um grupo de garotose garotas, viajando de navio em umcruzeiro de férias. São poucos osadultos a bordo, e tudo parecetranscorrer na maior normalidadepossível. Como no filme Titanic, derepente o navio começa a naufragar eas pessoas procuramdesenfreadamente os botes salva-vidas. Um grupo de 20 meninos emeninas, incluindo você, conseguemse acomodar em um dos botes esalvam-se.Após horas de medo e fome, semsaber o que os aguardava, chegamfinalmente a uma ilha deserta. Igualàquela do filme Lagoa azul, onde duascrianças pequenas crescem sozinhasem uma ilha, sem a presença denenhum adulto. Ninguém sabe o quepode acontecer, e a probabilidade devocês serem encontrados rapidamenteé muito pequena. Vocês sentam-se àbeira da praia e ficam alguns minutosem silêncio. Aliviados por estarem emterra firme e temerosos pela incertezado futuro.É aí que tudo começa: cada um por siou vamos tentar sobreviver juntos?Como organizar um modo de viver?Como construir uma “sociedade” emque todos sobrevivam e continuemsobrevivendo nesse lugar? Uns sabemcozinhar, outros sabem caçar; enfim,cada um tem uma habilidade que ooutro pode não ter.

NUMA ILHA DESERTA

NA ILHA DESERTAVocês são garotos e garotas que vão ficar por um longo tempo na ilha deserta.A grande pergunta é “o que fazer?”. Outras perguntas são:� Quais as necessidades que vocês têm para sobreviver nesse lugar?� Como vão se organizar para suprir essas necessidades?� Que regras de convivência o grupo estabeleceria?Desafio 1Um dos garotos encontrou uma árvore com muitos frutos. Colheu, comeu eresolveu não contar aos outros. O que pode ser combinado no grupo para evitaressa atitude?________________________________________________________________________________________________________________________________________

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Desafio 2Um dos garotos recusa-se a ajudar nas tarefas para a sobrevivência do grupo, poisquer ficar sozinho. O que fazer quando ele aparece com fome e frio, pedindoauxílio?________________________________________________________________________________________________________________________________________

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Questões para reflexãoAgora vocês conseguiram sair da ilha sãos e salvos e estão voltando para casa. Dasexperiências vividas:� Quais delas você diria que foram importantes para a convivência em grupo e em

sociedade? Por quê?� Quais dificultaram a boa convivência? Por quê?� Como vocês se organizaram? Escolheram líder? Criaram regras? Como?� Na situação imaginada, o que aconteceu quando alguém infringiu alguma regra?Registre aqui as conclusões a que o grupo tiver chegado:________________________________________________________________________________________________________________________________________

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FICHA 1A VERSOJUSTIÇA E CIDADANIA

46

EDUCAÇÃOE CIDADANIA

NOME DATA

O “xis” da questãoDiscuta com seu grupo as frases a seguir, uma por vez, verificando se elascontêm situações de: justiça, injustiça ou situações em que fica difícil decidir. Acada frase, o grupo deve explicar por que chegou a esta conclusão.Após a discussão, apresente o resultado para a classe, utilizando um dos cartõesque você recebeu, da seguinte maneira:

Cartão “JUSTIÇA” – Se o grupo decidiu que a frase revela uma situação justa.Cartão “INJUSTIÇA” – Se o grupo decidiu que a situação descrita na frase é injusta.Cartão “?” – Se o grupo não conseguir decidir, a partir do que está escrito, ouquando uma mesma situação for qualificada como justa ou injusta, dependendo doponto de vista.1 No Brasil, cerca de 1% dos proprietários detêm 44% das terras. Outros 67% dosproprietários detêm 6% das terras. A Constituição brasileira garante o direito depropriedade, desde que se cumpra sua função social, isto é, que as terras sejamprodutivas. O movimento de trabalhadores rurais invade terras improdutivas.

a) É justa a distribuição de terras no país?b) É justo invadir propriedades improdutivas?2 “Na madrugada de 20/04/1997, cinco jovens de classe média de Brasília atearamfogo no índio Pataxó Galdino Jesus dos Santos, que dormia em uma parada deônibus nessa cidade. Galdino morreu horas depois, com queimaduras de 2o e 3ograus”.O Tribunal de Justiça do Distrito Federal decidiu que não houve homicídio, que aintenção dos jovens não era matar. Você acha justo o que os rapazes fizeramcom Galdino? Você acha justa a decisão do Tribunal – “lesão corporal, seguidade morte”?3 A mãe de Jorge deu-lhe R$ 20,00 para comprar material escolar. Jorge usoutodo o dinheiro para jogar fliperama. Na escola, disse que a mãe não tinhadinheiro para comprar material. O que você acha dessa atitude de Jorge?4 Um homem, sua mulher e filhos viajam por uma estrada, em alta velocidade.São parados por um guarda rodoviário que, ao invés de aplicar multa, exigedinheiro para liberar o veículo sem multa. O motorista dá uma gorjeta e vaiembora sem ser multado.

a) É ética a atitude do motorista?b) E a do guarda?5 É verão e o abastecimento de água da sua cidade está racionado. Da. Maria lavao quintal, garagem e calçada todos os dias, usando a mangueira. Aos quereclamam, alega que tem dinheiro para pagar a conta. É justo o que ela faz?Seria correto se todas as pessoas procedessem dessa maneira?6 Maria, de 16 anos, está grávida. Seu namorado não quer assumir a paternidadee sua família não tem condições financeiras de manter mais uma criança.Ela procura uma clínica clandestina, para realizar um aborto. Você acha justa aatitude de Maria?

FICHA 1BJUSTIÇA E CIDADANIA

47

EDUCAÇÃOE CIDADANIA

7 Gileno fugiu da prisão, onde cumpria pena de 10 anos. Mudou-se para outra cidade,trocou de nome, arrumou emprego. Depois de oito anos, conseguiu montar seupróprio negócio; trabalhava honestamente e atendia bem aos funcionários e clientes.Um dia, porém, foi reconhecido e denunciado por um antigo vizinho que sabia dasua história.a) Você acha justa a atitude de Gileno (fugir da prisão)?b) E a atitude do vizinho de Gileno?

8 Na final do campeonato brasileiro entre São Caetano e Vasco da Gama (2000), umacidente deixou várias pessoas feridas, algumas em estado grave. Você achou justa adecisão de se interromper a partida, após o acidente?9 Uma indústria é instalada numa pequena cidade. Propicia emprego para osmoradores e paga salários justos. Porém, despeja lixo tóxico no rio que abastece acasa de todos os moradores da cidade. É justo que eles denunciem a empresa elutem pela saúde de todos, mesmo correndo o risco de perderem seus empregos?10 Aníbal pediu dinheiro emprestado a uma pessoa da comunidade e não conseguiudevolvê-lo na data prevista. Numa discussão, na qual tentava explicar por que nãoconseguira quitar sua dívida, Aníbal foi assassinado. É justo matar alguém por esseou qualquer outro motivo?11 Aílton sofreu um grave acidente e foi constatada pelos médicos sua morte cerebral.No quarto ao lado do hospital, há pessoas necessitando de órgãos como coração,rins, fígado, córnea e outros. Depois de muita conversa, a família não autorizou omédico a desligar o aparelho e a fazer a doação dos órgãos. Você acha justa a atitudeda família?12 Num jogo de basquete, Carmem comete uma falta violenta e Laura,ao sofrer a falta, resolve tirar satisfação, empurrando a adversária. O juiz, que nãoacompanhou atentamente a cena, expulsa as duas jogadoras.

a) O que você acha da atitude das jogadoras?b) E o que você acha da atitude do juiz?13 No início da década de 90, 72.000 pessoas morriam de fome por dia, no mundo. Poroutro lado, gastavam-se US$ 1.440.000,00 por dia com a comercialização de armas.Você acha essa situação justa?14 Milton trabalhou o dia inteiro como contínuo, ficou com dores nas pernas e muitocansado. Entrou no ônibus e sentou-se no único lugar vazio. Em seguida, uma pessoaidosa e com muitas sacolas parou a seu lado, no corredor. Milton fingiu estardormindo, para não oferecer o assento à senhora. Você acha a atitude de Milton justa?15 Um grupo de jovens, voltando de uma festa às 2h da madrugada, é abordado poruma viatura da polícia. O policial procede à revista e todos os garotos estão semdocumentos. Um dos garotos (Everton), que é negro, foi colocado na viatura elevado ao distrito policial. O que você acha da atitude do policial?16 Em uma sala de aula, Gabriel está sendo pressionado a passar cola para outros dois.O professor percebe e pune os três garotos.

a) Você acha justa a atitude do professor?b) E a dos garotos que pressionaram Gabriel?17 Segundo pesquisa da Fundação SEADE, a média dos rendimentos obtidos pormulheres na Grande São Paulo, em 1997, foi de R$ 631,00, enquanto que a doshomens foi R$ 1.026,00. Além disso, as mulheres são obrigadas a estudar três vezesmais tempo para obter um rendimento superior ao dos homens. Você acha essasituação justa?

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FICHA 1B VERSOJUSTIÇA E CIDADANIA

EDUCAÇÃOE CIDADANIA

NOME DATA

Leia esta interessante história, do livro O homem que calculava,de Malba Tahan*. Depois, discuta com seu grupo as questões sugeridas.

Divisão justa?

AS TRÊS DIVISÕES DO HOMEM QUE CALCULAVA:A DIVISÃO SIMPLES, A CORRETA EA DIVISÃO PERFEITANuma antiga aldeia nos arredores deBagdá, Beremiz e seu companheiro deviagem encontraram um pobre viajante,roto e ferido.Socorreram o infeliz e tomaramconhecimento de sua desgraça: era umbem-sucedido mercador de Bagdá queviajava numa caravana que tinha sidoatacada por nômades do deserto.Todos os seus companheiros tinhamperecido e ele, milagrosamente, tinhaconseguido escapar ao se fingir demorto.Ao concluir sua narrativa, pediu algumacoisa para comer, pois estava quase amorrer de fome.Beremiz tinha 5 pães e seucompanheiro, 3 pães.O mercador fez a proposta decompartilhar esses pães entre eles eque, quando chegasse a Bagdá, pagaria8 moedas de ouro pelo pão quecomesse.Assim fizeram. No dia seguinte, ao cairda tarde, chegaram na célebre cidadede Bagdá, a pérola do Oriente.Como tinha prometido, o mercador quisentregar 5 moedas a Beremiz e 3 a seucompanheiro. Com grande surpresa,recebeu a seguinte resposta: – Perdão, meu senhor. A divisão, feitadesse modo, pode ser muito simples,mas não é matematicamente correta.

Se eu dei 5 pães devo receber 7moedas; o meu companheiro, que deu3 pães, deve receber apenas umamoeda. – Pelo nome de Maomé! Retrucou omercador. – Como justificar, óestrangeiro, tão disparatada forma depagar 8 pães com 8 moedas? Secontribuíste com 5 pães, por que exiges7 moedas? Se o teu amigo contribuiucom 3 pães, por que afirmas que eledeve receber uma única moeda?* Malba Tahan era o pseudônimo de Júlio César de

Mello e Souza, um professor de Matemática (viveu de1895 a 1974 em Queluz, SP, e no Rio de Janeiro) queficou famoso pelos vários livros que escreveu, comhistórias desse personagem. O livro O homem quecalculava foi publicado pela primeira vez em 1946.

Discuta com seu grupo as seguintesquestões:

Você concorda ou não com omercador? Por quê?Procure descobrir como Beremiz, ohomem que calculava, fez a divisãomatematicamente correta, cujoresultado garante 7 moedas a ele eapenas uma ao seu companheiro.

FICHA 1CJUSTIÇA E CIDADANIA

49

EDUCAÇÃOE CIDADANIA

A DIVISÃO MATEMATICAMENTECORRETA E A DIVISÃO PERFEITA

Questões para reflexãoConverse com os colegas sobre:

� Em nome de quais princípios (idéias) você acha que Beremiz dividiu as moedasem duas partes iguais?

� Você concorda ou não com essa divisão? Por quê?

O Homem que Calculava aproximou-sedo mercador e falou:– Vou provar-vos, ó senhor, que adivisão das 8 moedas, pela forma pormim proposta, é matematicamentecorreta. Quando, durante a viagem,tínhamos fome, eu tirava um pão dacaixa em que estavam guardados erepartia-o em três pedaços. Se eu dei 5pães, dei, é claro, 15 pedaços; se omeu companheiro deu 3 pães,contribuiu com 9 pedaços. Houve,assim, um total de 24 pedaços,cabendo portanto, 8 pedaços para cadaum. Dos 15 pedaços que dei, comi 8;dei na realidade 7; o meu companheirodeu, como disse, 9 pedaços e comeu,também, 8; logo deu apenas um. Os 7pedaços que eu dei e o que ele

forneceu formaram os 8 pedaços quecouberam a você, mercador.Maravilhado, o mercador reconheceuque era lógica, perfeita e irrefutável ademonstração apresentada pelomatemático Beremiz e imediatamente sedispôs a pagar da forma que tinha sidodefendida.– Esta divisão – retorquiu o calculista –de sete moedas para mim e uma parameu amigo, conforme provei, ématematicamente correta, mas não éperfeita de acordo com meus princípios.E tomando as moedas do mercador,dividiu-as em duas partes iguais.Deu para seu companheiro quatromoedas, guardando para si as quatrorestantes.

(Continuação)50

FICHA 1C VERSOJUSTIÇA E CIDADANIA

EDUCAÇÃOE CIDADANIA

NOME DATA

Participando das lutas sociaisOs textos a seguir trazem depoimentos de pessoas – jovens e adultas – queparticiparam de movimentos sociais, buscando construir um novo modo de pensarsobre as crianças e sobre os adolescentes. Dessa luta, resultou o ECA – Estatuto daCriança e do Adolescente, uma lei que existe para assegurar a proteçãointegral de todos os brasileiros, na faixa de 0 a 18 anos. Vamos ver o que dizem osautores dos depoimentos?

Depoimento de um menino, naCâmara Federal, durante o IIEncontro Nacional de Meninos eMeninas de Rua, realizado nadécada de 1980

O menor não deve trabalhar, pelomenos até a idade de 14 anos. Nestafase, seu “trabalho” é estudar. O que agente vê é que menores, váriosmenores, milhões de menores, estãopelas ruas do Brasil, procurando ajudarseus pais, como meio de sobrevivência.Então, nós estamos, sim, aqui emBrasília, mas nós queremos garantirnossos direitos. Que não fique só nopapel, que seja verdadeiramentecumprido, porque nós somos o futuro.Então, não é justo que as pessoas quechamam a gente de futuro desprezem opresente. É isto que nós queremos. (...)Então é isso. Não basta ficar no papel.Queremos justiça, isto é o quequeremos.(Extraído de Barbetta, 1993, p.4)

Depoimento de Padre Bruno,responsável pela República doPequeno Vendedor, umaexperiência junto a crianças eadolescentes em situação de rua,apoiada pela Igreja Católica emBelém, no Pará

Próximo aos anos 80, ocorreu aprimeira manifestação dos meninos,organizada durante a preparação dafesta do Círio de Nazaré, festa essareligiosa. (...) Na época do Círio*, apolícia sempre fazia operação pentefino, para tirar os meninos das ruas.Eles se organizaram na Praça da Sé, emBelém, ao todo mais de 300 meninos, eforam em passeata até a frente doPalácio do Governo. Escolheram umacomissão e foram recebidos pelogovernador. Nós, como animadores dogrupo, fomos junto, mas eles é quefalaram. Disseram ao governador:“Não somos nós o lixo da cidade”.Foi a primeira vez, o primeiro fato deque se tem notícia, no Brasil, de umamanifestação de meninos para garantirsua própria dignidade.(Extraído de Pereira, 1998, p.129).

* “O Círio” é a festa do Círio de Nazaré, a festividademáxima de Belém, comemorada a partir do segundodomingo de outubro.

FICHA 2AJUSTIÇA E CIDADANIA

51

EDUCAÇÃOE CIDADANIA

Discutindo o textoAgora, complete o quadro e responda as duas perguntas a seguir:

Depoimento 1 Depoimento 2

Autor

Tempo e lugar

Do que trata?

Idéia com a qualconcordo epor quê

Idéia da qualdiscordo epor quê

� Com qual desses depoimentos você mais se identificou? Por quê?________________________________________________________________________________________________________________________________________

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� Se você vivesse nessa época, escolheria participar de um dos movimentoscitados? Por quê?________________________________________________________________________________________________________________________________________

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FICHA 2A VERSOJUSTIÇA E CIDADANIA

EDUCAÇÃOE CIDADANIA

NOME DATA

Necessi- Direitos Exemplos A quem Minha responsabilidade para garantir odades cabe direito de todos

assegurarSobrevi- Direito à � Ter acesso a atendimento Família,vência vida, médico. sociedade,

à saúde, à � Em caso de internação, Estadoalimentação permanência dos pais ou

responsáveis no hospital.� Atendimento específico a

gestantes e mães.� Atendimento especializado

aos portadores de deficiência.� Casos de maus-tratos

informados ao ConselhoTutelar local.

Desenvol- Direito à � Ter acesso a escola pública e Família,vimento educação, gratuita perto de casa; sociedade,pessoal cultura, lazer ter vaga e direito a ficar Estadoe social e profissio- na escola.

nalização � Ser respeitado peloseducadores; contestarcritérios avaliativos.� Organizar-se e participar de

entidades estudantis.� Não poder trabalhar com

menos de 16 anos (dos 14aos 16, só como aprendiz);não exercer trabalho noturno,perigoso, nem que impeçade freqüentar a escola

Integri- Direito à � Liberdade de ir e vir, de Família,dade dignidade, opinião e religião. sociedade,física, ao respeito, � Poder brincar, praticar Estadopsico- à liberdade e esportes e divertir-se; poderlógica à convivência buscar auxílio e proteção.e moral familiar e � Respeito: ter preservada a

comunitária imagem, a identidade,a autonomia e valores.� Dignidade: ser protegido de

qualquer tratamentodesumano, violento,vexatório ou constrangedor.� Viver com a família natural ou

substituta, sem a presençade usuários de entorpecentes.� Não-discriminação de filhos

adotivos.

Direitos... e responsabilidadeEste quadro traz uma síntese dos direitos da criança e do adolescente, de acordo com oque está estabelecido no ECA. Leia-o com atenção e depois responda às questões no verso:

FICHA 2BJUSTIÇA E CIDADANIA

53

EDUCAÇÃOE CIDADANIA

Discutindo o texto� Depois de ler o quadro, escolha um dos direitos que você considera bem

importante e anote aqui:________________________________________________________________________________________________________________________________________

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� Pense um pouco e verifique quem é responsável por fazer valer o direito que vocêescolheu:________________________________________________________________________________________________________________________________________

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� Será que esse direito é assegurado a todas as crianças e adolescentes de nossopaís? Por quê?________________________________________________________________________________________________________________________________________

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� Releia novamente a 2a coluna, a dos direitos. Depois, complete a última coluna doquadro, com as responsabilidades que você acha importantes, ou seja, qual a suaparte na tarefa de assegurar para si e para os outros esses direitos.

� Terminando, escolha um colega e conversem sobre o que cada um respondeu. Hásemelhanças ou diferenças nas repostas? Por quê?________________________________________________________________________________________________________________________________________

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FICHA 2B VERSOJUSTIÇA E CIDADANIA

EDUCAÇÃOE CIDADANIA

NOME DATA

Na UIP... e agora?Veja com atenção esta história em quadrinhos. Depois, com o professor e os colegas,você irá comentá-la.

“EU PREOCUPAVA AS PESSOAS COM MEUS VÔOS,TANTO QUE ELAS VIVIAM ATRÁS DE MIM. PESSOASQUE EU GOSTAVA E OUTRAS QUE NEM CONHECIA.”

VÔO CEGO por Helder Greco

“COMEÇARAMA FALAR MAISRUDEMENTECOMIGO. OUELES NÃOCONSEGUIAMME EXPLICARDIREITO OUERA EU QUEAINDA NÃOPODIA VER OQUE ESTAVADIANTE DEMIM.”

“ALGUÉM FALOU NOMOMENTO DE MINHAAPREENSÃO QUE OÚNICO DIREITO DO QUALEU SERIA PRIVADO ERAO DIREITO À LIBERDADE,E QUE TODOS OSOUTROS ESTARIAMGARANTIDOS. TINHA ODIREITO DE SER OUVIDOPELO JUDICIÁRIO EM 24HORAS. MAS EU AINDANÃO VIA NISSONENHUMA VANTAGEM.SÓ PENSAVA EM ESTARSOLTO.”

TIRA O BONÉDOS OLHOS!

NA DELEGACIA

“NAQUELE TEMPO EU ME SENTIA LIVRE E NÃOGOSTAVA QUE DISSESSEM O QUE EU DEVERIA FAZER.ERA COMO UM PÁSSARO MAS NUM VÔO CEGO.”

“A PRIMEIRA VEZ QUE PENSEI NA PALAVRALIBERDADE FOI EXATAMENTE QUANDO A PERDI.MAS ELA APARECEU PARA MIM COMOSINÔNIMO DE ESTAR SOLTO.”

FICHA 3AJUSTIÇA E CIDADANIA

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EDUCAÇÃOE CIDADANIA

NA AUDIÊNCIA

“PARA GARANTIR QUEA JUSTIÇA FOSSEFEITA, UM GRUPO SEREUNIA PARA DECIDIRSOBRE MINHA VIDA.ENQUANTO UMHOMEM, OPROMOTOR, DEFENDIAA SOCIEDADE DE ATOSCOMO OS MEUS, UMOUTRO, O ADVOGADO,OBSERVAVA OS MEUSDIREITOS. EU TAMBÉMERA OUVIDO E PODIADAR A MINHA VERSÃO.EM FRENTE A TODOSNÓS FICAVA O JUÍZ,QUE OUVIAATENTAMENTE TODOSOS ARGUMENTOS…”

O SEU BONÉESTÁ NOS

OLHOS, RAPAZ!

“…E DAVA O SEU VEREDICTO BASEADO NASLEIS. MAS E EU AINDA NÃO CONSEGUIA VER.”

“QUANDO FUI INTERNADO,COMO PARTE DAGARANTIA DE MEUSDIREITOS, COLOCARAM-ME NA ESCOLA. MASCOMO? ALÉM DE ESTARINTERNADO NUMAUNIDADE, ESTAVA PRESOUMA SEGUNDA VEZ,AGORA NA SALA DE AULA.ELES CHAMAVAM ISSO DE“MEUS DIREITOS”, E EUNÃO PODIA PARAR DEPENSAR EM SAIR PARAEXERCER A ÚNICA COISAQUE EU REALMENTEGOSTAVA – JOGAR MEUFUTEBOL.”

INTERNADO!O BONÉ TÁNO OLHO

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FICHA 3A VERSOJUSTIÇA E CIDADANIA

EDUCAÇÃOE CIDADANIA

NOME DATA

Na UIP... e agora? (Continuação)

“NAQUELE MOMENTO EU PUDE VER! ONDE EUESTAVA TODO O TEMPO? INJUSTIÇAS DOPRESENTE E DO PASSADO APARECERAMDIANTE DE MIM. AINDA ESTAVA INTERNADOQUANDO COMECEI A SENTIR O VERDADEIROSENTIDO DA PALAVRA LIBERDADE. COMECEI APENSAR QUE TODOS OS DIREITOS SÃOFRUTOS DE CONQUISTAS REALIZADAS COMMUITA LUTA POR PESSOAS QUE FORAMVIOLADAS OU IMPOSSIBILITADAS DEIGUALDADE. LOGO, ENTENDI QUE O DIREITO ÀEDUCAÇÃO OU A UMA AUDIÊNCIA JUSTA SÃOFATORES DE JUSTIÇA SOCIAL.”

“NO PÁTIO EXERCIA MEU DIREITO À ATIVIDADEFÍSICA. GERALMENTE EU ERA MELHOR QUE MEUSCOLEGAS E NÃO RARAS VEZES SOFRIA FALTAS DADEFESA. QUASE NÃO CONSEGUIA JOGAR. FOINUMA DESTAS JOGADAS QUE COMECEI AENTENDER O QUE ERA LIBERDADE. SOFRIPÊNALTI NA DECISÃO DO CAMPEONATO INTERNO,E O TIME ADVERSÁRIO DIZIA QUE NÃO TINHASIDO NADA. SE NÃO FOSSE O ÁRBITRO, QUECONHECIA AS REGRAS DO JOGO, JAMAISTERÍAMOS GANHADO AQUELA PARTIDA. ELESRECLAMARAM, MAS NÃO ADIANTOU NADA. OÁRBITRO MANTEVE-SE FIEL À REGRA ESTIPULADAGARANTINDO NÃO APENAS A NOSSA VITÓRIA,MAS A PRÓPRIA EXISTÊNCIA DO JOGO.”

“AINDA FALTA ALGUM TEMPO PARA SAIR DAQUI, MASQUANDO EU SAIR SERÁ DIFERENTE. PARA MIM, HOJE,LIBERDADE NÃO É APENAS SINÔNIMO DE ESTAR SOLTO,LIVRE PARA FAZER O QUE QUISER. LIBERDADE É UMABUSCA QUE SÓ PODE SER CONQUISTADA EM CONJUNTO,NA RELAÇÃO ENTRE OS HOMENS, ONDE O RESPEITO AODIREITO DO OUTRO GARANTE O MEU PRÓPRIO DIREITO, AMINHA LIBERDADE. CADA VEZ QUE RESPEITO OS OUTROS EOS OUTROS ME RESPEITAM, ESTAMOS AJUDANDO ACONSTRUIR UM MUNDO MELHOR. HOJE EU TAMBÉM SEIQUE QUANDO ESTOU NA SALA DE AULA, SEI QUE EXERÇOUM DIREITO QUE NÃO FOI ME DADO DE GRAÇA. NÃO ÉUMA OBRIGAÇÃO, MAS UMA CONQUISTA.”FIM

GOSTOU DA HISTÓRIA? ACHA QUE ELA O AJUDOUA ENTENDER UM POUCO MAIS DO MUNDO DO

JUDICIÁRIO? ESPERAMOS QUE SIM!

FICHA 3BJUSTIÇA E CIDADANIA

57

EDUCAÇÃOE CIDADANIA

Discutindo o textoCom base nestas questões, reflita inicialmente sozinho, depois com os colegas:

� Na delegacia e na audiência, o garoto parecia entender bem o que estavaacontecendo com ele? Se você fosse o delegado ou o juiz, o que você diria a ele,para explicar o que estava acontecendo?

� Na história, o jogo de futebol mostrou uma situação onde a presença de um árbitrofoi importante. Que outras situações você já vivenciou, em que alguém teve dejulgar ou decidir, para estabelecer justiça?

� Na história, o autor parece dar muita importância ao boné do garoto.O que você acha que o boné está representando? Porque as pessoas viviamdizendo para o garoto tirar o boné dos olhos?

� Quais os direitos que você já conhece do Estatuto da Criança e do Adolescente, deque a história também trata?

� Que injustiças do passado e do presente você percebeu no decorrer da história?Registre abaixo suas respostas e reflexões.________________________________________________________________________________________________________________________________________

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FICHA 3B VERSOJUSTIÇA E CIDADANIA

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EDUCAÇÃOE CIDADANIA

E agora? Viver... e cantara beleza de ser um eterno aprendizLeia com atenção estes versos de Gonzaguinha.Depois, responda as questões propostas.

NOME DATA

O QUE É, O QUE ÉE a vidaE a vida, o que é? Diga lá, meu irmão!Ela é a batida de um coraçãoEla é uma doce ilusão?E a vida...Ela é a maravida ou é sofrimento?Ela é alegria ou lamento?O que é, o que é meu irmão?Há quem diga que a vida da gente é um nada no mundoÉ uma ponta, é um tempo que nem dá um segundo...Há quem fale que é um divino mistério profundoÉ o sopro do Criador, numa atitude repleta de amor.Você diz que é luta e prazer, ele diz que a vida é viverEla diz que melhor é morrer, pois amada não ée o verbo é sofrer...Eu só sei que acredito na moça e na moça eu ponho a força da fé:Somos nós que fazemos a vida, como derOu puder, ou quiser,Sempre desejada, por mais que esteja errada.Ninguém quer a morte, só saúde e sorteE a pergunta rola e a cabeça agitaEu fico com a pureza das respostas das criançasÉ a vida, é bonita, e é bonitaViver... e não ter a vergonha de ser felizCantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz!Eu sei, que a vida devia ser bem melhor, e será!Mas isto não impede que eu repita:É bonita, é bonita e é bonita.Extraído do CD Preferência nacional (Gonzaguinha, 1994)

Gonzaguinha, nome artístico de Luiz Gonzaga do Nascimento Jr.,filho do famoso sanfoneiro nordestino Luiz Gonzaga,nasceu em 29/08/1945 e faleceu em 29/04/1991,em um acidente de carro, no auge da carreira.

FICHA 3CJUSTIÇA E CIDADANIA

59

EDUCAÇÃOE CIDADANIA

Discutindo a cançãoVamos brincar com as palavras dessa composição de Gonzaguinha?

� Escolha a palavra que você acha mais importante e escreva no centro do desenhoabaixo. Faça de conta que dentro do desenho é o seu mundo, o que você querpara você – hoje, amanhã, para sempre...

� Escolha mais cinco palavras que você quer colocar dentro do desenho e ligueumas com as outras com setas, do jeito que você achar que combina.

� Depois, escolha três palavras que você não quer no seu mundo, e as escreva forado desenho.

Gonzaguinha fala de diferentes jeitos em que se pode pensar a vida.� Passe um traço embaixo dos versos em que ele fala de cada um desses jeitos.� Copie a seguir um verso que mencione um jeito de pensar a vida com que você

não concorda e não quer para você:________________________________________________________________________________________________________________________________________

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� Agora, copie um verso que fale de um modo de pensar a vida que acha que podeajudar você a viver melhor:________________________________________________________________________________________________________________________________________

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Gonzaguinha não usa a palavra “direitos”, mas menciona duas coisas que sãodireitos fundamentais de todo ser humano. Quais seriam essas coisas?________________________________________________________________________________________________________________________________________

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Faça um desenho de algo que pode tornar a sua vida bonita e, fazendo sua vidabonita, pode fazer a vida de todo mundo ficar bonita também.

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FICHA 3C VERSOJUSTIÇA E CIDADANIA

EDUCAÇÃOE CIDADANIA

NOME DATA

Cidadania em movimentoRua da Passagem (Trânsito)Lenine e Arnaldo AntunesOs curiosos atrapalham o trânsitoGentileza é fundamentalNão adianta esquentar a cabeçaNão precisa avançar o sinalDando seta pra mudar de pistaOu pra entrar na transversalPisca alerta pra encostar na guiaPara brisa para o temporalJá buzinou, espere, não insistaDesencoste o seu do meu metalDevagar para contemplar a vistaMenos peso no pé do pedalNão se deve atropelar cachorroNem qualquer outro animal

Todo mundo tem direito à vidaTodo mundo tem direito igual

Motoqueiro, caminhão, pedestreCarro importado, carro nacionalMas tem que dirigir direitoPra não congestionar o localTanto faz você chegar primeiroO primeiro foi seu ancestralÉ melhor você chegar inteiroCom seu venoso e seu arterial.A cidade é tanto do mendigoQuanto do policial

Todo mundo tem direito à vidaTodo mundo tem direito igual

Travesti, trabalhador, turistaSolitário, família, casal,

Todo mundo tem direito à vidaTodo mundo tem direito igual

Sem ter medo de andar na rua,Porque a rua é seu quintal

Todo mundo tem direito à vidaTodo mundo tem direito igual

Boa noite, tudo bem, bom diaGentileza é fundamental

Todo mundo tem direito à vidaTodo mundo tem direito igual

Pisca alerta pra encostar na guiaCom licença, obrigado, até logo,

TchauTodo mundo tem direito à vidaTodo mundo tem direito igual

Extraído do CD Na pressão: Lenine(Lenine & Antunes, 1999)

Discutindo o textoEscolha o trecho da música de que você maisgostou ou que chamou mais sua atenção.� Escreva a seguir por que você escolheu

esse trecho.____________________________________________________________________________

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Copie ou desenhe ou pense outra forma decontar esse trecho a seus colegas. Pode sermímica, encenação, ou mesmo canto.Agora, responda:� Qual o principal assunto

tratado nos versos de Arnaldo Antunes?____________________________________________________________________________

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� Os versos expressam o ponto de vista dequem, no trânsito?____________________________________________________________________________

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� Copie os conselhos, dadospelo autor, que você acha importantes.____________________________________________________________________________

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Pense em como seria uma música, cujo pontode vista fosse o do pedestre. Escreva o quevocê gostaria que tivesse nessa música.____________________________________________________________________________

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FICHA 4AJUSTIÇA E CIDADANIA

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EDUCAÇÃOE CIDADANIA

Cidadania e direitosLeia o texto a seguir, juntamente com o professor.

O DIREITO A TER DIREITOSGilberto Dimenstein

É muito importante entender bem o que écidadania. É uma palavra usada todos os diase tem vários sentidos. Mas hoje significa, emessência, o direito de viver decentemente.Cidadania é o direito de ter uma idéia e poderexpressá-la. É poder votar em quem quisersem constrangimento. É processar ummédico que cometa um erro. É devolver umproduto estragado e receber o dinheiro devolta. É o direito de ser negro, sem serdiscriminado; de praticar uma religião, semser perseguido.Há detalhes que parecem ser insignificantes,mas revelam estágios de cidadania: respeitaro sinal vermelho no trânsito, não jogar papelna rua, não destruir telefones públicos. Portrás desse comportamento está o respeito àcoisa pública.O direito de ter direitos é uma conquista dahumanidade – da mesma forma que aanestesia, as vacinas, o computador, amáquina de lavar, a pasta de dente, otransplante do coração.Foi uma conquista dura. Muita gente lutou emorreu, para que tivéssemos o direito devotar. E outros batalharam para você votaraos 16 anos. Lutou-se pela idéia de quetodos os homens merecem a liberdade e deque todos são iguais diante da Lei.Pessoas deram a vida combatendo aconcepção de que o Rei tudo podia, porquetinha poderes divinos e aos outros cabiaobedecer. No século XVIII, a rebeldia contraessa situação detonou a Revolução Francesa,um marco na história da liberdade dohomem. No mesmo século, surgiu um paísfundado na idéia de liberdade individual: osEstados Unidos. Foi com esse projetorevolucionário que eles se tornaramindependentes da Inglaterra.Desde então, os direitos foram se alargando,

se aprimorando, a escravidão foi abolida.Alguém consegue imaginar um paísdefendendo a importância dos escravos paraa economia? Mas esse argumento foi usadodurante muito tempo no Brasil. Os donos daterra alegavam que, sem escravos, o paíssofreria uma catástrofe. Eles se achavam nodireito de bater e até de matar os escravosque fugissem. Nessa época, o voto era umprivilégio: só podia votar quem tivessedinheiro. E, para se candidatar a deputado, sócom muita riqueza em terras.No mundo, trabalhadores ganharam direitos.Imagine que, no século passado, na Europa,crianças chegavam a trabalhar até quinzehoras por dia. E não tinham férias. Asmulheres, relegadas a segundo plano,passaram a poder votar, símbolo máximo dacidadania. Até há pouco tempo, justificava-seo direito do marido de bater na mulher e atématá-la.Em 1948, a ONU proclamou a DeclaraçãoUniversal dos Direitos do Homem, ainda naemoção da vitória contra as forçastotalitárias, lideradas pelo nazismo na Europa.Com essa declaração, solidificou-se a visãode que, além da liberdade de votar, de nãoser perseguido por suas convicções, ohomem tem o direito a uma vida digna. É odireito ao bem-estar.A onda dos direitos mudou a cara e o mapado mundo neste final de milênio. Assistimosà derrocada dos regimes comunistas, com aextinção da União Soviética. Os países doleste europeu converteram-se à democracia.A América Latina, tão viciada em ditadores,viu surgir na década de 1980 uma geração depresidentes eleitos democraticamente.No final da mesma década e início daseguinte, na África do Sul desfez-se o odiosoregime de segregação racial – o apartheid.(Extraído de Dimenstein, 1997)

62

FICHA 4A VERSOJUSTIÇA E CIDADANIA

EDUCAÇÃOE CIDADANIA

NOME DATA

Cidadania no cotidianoDiscutindo a partir do texto

Agora responda as seguintes questões:� Por que respeitar o sinal vermelho no trânsito, não jogar papel na rua e não

destruir telefones públicos são consideradas atitudes de cidadania?________________________________________________________________________________________________________________________________________

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� Faça uma lista de outras atitudes, individuais ou coletivas, que você achaimportantes para a cidadania.

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Imagine um lugar qualquer da cidade onde você mora.� Em um dos quadros abaixo, desenhe ou descreva situações em que você acha

que a cidadania está sendo exercida.� No outro, situações em que não há prática de cidadania.� Dê um título a cada um dos quadros.

FICHA 4BJUSTIÇA E CIDADANIA

63

EDUCAÇÃOE CIDADANIA

NOME DATA

Você vai assistir a um filme muito interessante, sobre um grupo de adolescentesque moram em vilas diferentes de uma mesma cidade. Trata-se de A guerra dosbotões, feito em 1993. Seu diretor é John Roberts e o filme é uma produçãofranco-britânica.Tente prestar atenção, durante todo o filme, para responder as perguntas a seguir.Também porque a imagem precisa ser “lida”, cada cena traz uma quantidade deinformações muito maior do que aparenta. Faça isso e verá que você vai descobrircoisas novas, cada vez que assistir a outros filmes com bastante atenção.� Em qual país se desenvolve a história? (Preste atenção no nome das vilas, tente

identificar a língua que eles falam, pelos nomes dos meninos e das meninas).________________________________________________________________________________________________________________________________________

� Em qual época? (Para saber a época, preste atenção na roupa dos meninos emeninas, no estilo das construções, dos carros e na própria paisagem do lugar).

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� Quem está narrando a história? Qual o seu papel no filme?________________________________________________________________________________________________________________________________________

� Qual a cena de que você mais gostou? Descreva-a ou desenhe-a.________________________________________________________________________________________________________________________________________

� As músicas, a dança e os instrumentos musicais que aparecem no filme sãosemelhantes ou diferentes dos que você conhece?

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Sistematizando conhecimentos� Cite duas coisas que você aprendeu nas aulas sobre Justiça e Cidadania que

aparecem na história.________________________________________________________________________________________________________________________________________

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O que é certo? O que é errado?64

FICHA 5JUSTIÇA E CIDADANIA

EDUCAÇÃOE CIDADANIA

NOME DATA

Você nem imagina quantos lugares existem com pessoas que lutam para fazer valeros direitos de todas as crianças e adolescentes no Brasil. Talvez você não tenhapercebido, mas até mesmo perto de sua casa existem lugares onde você pode serouvido, fazer denúncias, lutar por direitos e exercer sua cidadania. Além disso,também existem espaços da Prefeitura, do Estado e de organizações não-governamentais onde você pode praticar atividades esportivas, educacionais eculturais. Lembra-se da aula “Lutas que valem a pena”? Você vai descobrirmovimentos sociais em defesa da ecologia, dos direitos humanos, de melhoria dascondições no bairro, movimentos pela paz e outros. E também pode participar degrupos de jovens ligados a música, capoeira, dança, teatro e tantos outros.Já ouviu falar dos Conselhos Tutelares: eles existem para fazer valer os seus direitos.Quando você sentir que seus direitos ou os de qualquer criança e adolescente nãoestiverem sendo respeitados, pode procurar os Conselhos Tutelares.

A cidade de São Paulo tem 20 Conselhos Tutelares. Aqui estão os telefones eendereços de seis deles:Conselho Tutelar de São Miguel – Rua Dona Ana Flora Pinheiro de Souza, 76,CEP 08060-150 – telefone 6956-9961 e 6956-9173, ramal. 347.Conselho Tutelar de Guaianazes – Rua Professor Cosme Deodato Tadeu, 136,CEP 08450-380 – telefone 207-8764Conselho Tutelar de Santo Amaro – Rua Padre José de Anchieta, 646,CEP 04742-000 – telefone 5548-2382Conselho Tutelar de Campo Limpo – Rua Haroldo de Azevedo, 100,CEP 05787-230 – telefone 5841-3437Conselho Tutelar de Perus/Pirituba – Rua Ylídio Figueiredo, 349,CEP 05204-020 – telefone 3917-0823Conselho Tutelar da Sé – Praça da República, 154,CEP 01045-000 – telefone 259-3144 ramal 151

Ainda existem os Conselhos Tutelares dos bairros Butantã, Capela do Socorro, Freguesia do Ó,Ipiranga, Itaquera, Lapa, Moóca, Pinheiros, Santana/Tucuruvi, São Matheus, Vila Maria/VilaGuilherme, Vila Prudente, Vila Mariana e Penha. Para saber os telefones e endereços dessesConselhos, você pode ligar para o CMDCA (Conselho Municipal dos Direitos da Criança e doAdolescente – 227-6971 ou 3315-9077).Se você não é do Município de São Paulo, saiba que toda cidade tem um Conselho Municipaldos Direitos da Criança e do Adolescente e pelo menos um Conselho Tutelar. Procure saber osendereços deles em sua cidade.

Com quem você pode contar lá foraEsta não é uma ficha para atividades, como as outras que você járecebeu nas aulas sobre Justiça e Cidadania. Aqui trazemosinformações e endereços de lugares e pessoas com as quais vocêpoderá contar, quando estiver exercendo seu direito de ir e vir paraqualquer lugar, enfim, quando estiver em liberdade.

FICHA 4CJUSTIÇA E CIDADANIA

65

EDUCAÇÃOE CIDADANIA

Na cidade de São Paulo há diversas instituições que atendem crianças e jovens de6 a 17 anos, oferecendo atividades de educação, cultura, lazer e esporte. Sãoprojetos socioeducativos da Prefeitura, do governo do estado e de organizaçõesnão-governamentais. Veja alguns deles:Centro de Defesa dos Direitos da Criança e Adolescente - CEDECA Luiz Gonzaga Júnior –Projeto Fala Garoto. Rua Dona Beatriz Correia, 63, Santana.Centro de Defesa dos Direitos da Criança e Adolescente - CEDECA Mônica P. Trevisan –Projeto Nasci para Voar. Avenida Dr. Paulo Colombo Ferreira de Queiroz, 363,Parque Santa Madalena, Sapopemba, telefone 6703-8203.Instituto Juvenil de Iniciação, Formação e Capacitação Profissional Daniel Comboni –Projeto Cultural de Dança Afro. Rua Manoel Nunes de Siqueira, Jardim Mimar, Sapopemba.Instituto Cultural Bata-Koto – Projeto Cultural de Dança Afro. Rua Frei Claude D’Auberville, 195,Butantã, telefone 3782-0083.Cáritas Diocesana de Santo Amaro – Projeto Centro de Convivência da Praça.Praça Salim Farah Maluf, 180, Santo Amaro, telefone 5522-1404.Associação Meninos do Morumbi. Rua José Janarelli, 485, Vila Progredior, Morumbi,telefone 3722-1664.Projeto Quixote. Rua Prof. Francisco de Castro, 92, Vila Clementino,telefones 5576-4386 e 5571-9476.Cidade-Escola Aprendiz. Rua Belmiro Braga, 146/154, Vila Madalena, telefone 3813-7719.Projeto Travessia. Rua São Bento, 365, 18º andar, Centro, telefones 3105-1059 e 3105-1050Instituto Sou da Paz – Projeto Espaço Criança Esperança. Rua dos Clarins s/n, Jardim Ângela,telefones 5831-5662 e 5831-1746.Na cidade de São Paulo, a Secretaria de Assistência Social (SAS) pode informarendereços de todos os equipamentos existentes, nas diferentes regiões da cidade,que oferecem essas atividades ou cursos profissionalizantes. Basta telefonar para oposto da SAS em sua região:POSTO SAS DA REGIÃO DE TELEFONEButantã / Pinheiros 3742-5099, 3773-4921, 3772-6078Campo Limpo 5841-6833, 5841-1356, 5841-0102, 5854-2340Capela do Socorro 5666-9503, 5666-9840, 5666-9624, 5666-9270Freguesia do Ó 3932-0444, 3932-1621, 3932-4922Ipiranga 215-1281, 273-8898, 273-2178Itaquera / Guaianazes 6286-0016, 6286-0024, 205-0916, 205-9169Moóca / Aricanduva 296-0135, 296-1028, 296-8871, (fax) 296-1750Penha / Ermelino Matarazzo 6091-6699, 6957-9275, 6957-2268Perus / Pirituba 3974-8913, 3974-8138, 3974-7228Santana / Tremembé /Tucuruvi 6977-3384, 6977-0367, 6959-8387Santo Amaro 247-6821, 247-4194, 247-4238São Mateus 6919-4812, 6919-5553, 6919-2586São Miguel Paulista 6137-2498, 297-6173, 297-0040Sé / Lapa 3311-7144, 3311-7265, 3311-7267, 228-2871Vila Maria / Vila Guilherme 201-5910, 201-5149, 201-5744Vila Mariana / Jabaquara 5071-8213, 5071-3675, 5071-6989, 5071-8215Vila Prudente 274-9981, 274-8406, 274-9802, 215-6064

Se você mora em outra cidade, peça ao pessoal da Unidade uma listados equipamentos sociais de sua região, para você procurar quando estiver em

liberdade. Se existirem poucos equipamentos, mais uma razão para vocêorganizar-se com colegas e reivindicá-los à prefeitura.

66

FICHA 4C VERSOJUSTIÇA E CIDADANIA

EDUCAÇÃOE CIDADANIA

NOME DATA

InstruçõesCom este jogo, você poderá se informar sobre a seqüência de procedimentosprevistos no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) para a situação de umapessoa a quem foi atribuída a prática de ato infracional. Ninguém ganha ouperde. O jogo termina quando o último jogador conquista a liberdade. Para jogá-lo, leia as regras a seguir.Material: Um tabuleiro com percurso; um dado; seis marcadores diferentes(fichas, pequenos objetos); esta folha de instruções; e o Minidicionário jurídico.Número de participantes: mínimo de dois e máximo de seis jogadores; um dosjogadores (pode ser em rodízio) será escolhido para “mestre”.Modo de jogar� Os jogadores reunidos escolhem o “mestre”, aquele que vai coordenar o

jogo.� Cada jogador recebe uma ficha colorida (ou outro marcador) para

“caminhar” nas casas.� Decide-se a ordem de entrada dos jogadores lançando os dados. Quem tirar

o número maior, joga primeiro e, em ordem decrescente, entram os outrosjogadores. Se houver empate, o mestre promove outra rodada de dadosentre os que empataram.

� Todos os jogadores começam na casa “Ato infracional” e vão fazendo opercurso de acordo com o número que tirarem no dado. Em cada casa ondesua ficha chegar, o jogador (ou o mestre) lê em voz alta o que está escrito,verificando se todos entenderam.

� Consultando o quadro no verso, o mestre verifica, em cada jogada, paraonde deve ir cada jogador, conforme o valor tirado no dado.

No sistema judiciário usam-se palavras diferentes das usadas no dia-a-dia. Consulteo “Minidicionário jurídico” a seguir para esclarecer o significado desses termos.

Bom divertimento!

O que podeacontecercomigo?

JOGO – FOLHA 1JUSTIÇA E CIDADANIA

67

EDUCAÇÃOE CIDADANIA

PARTIDAAto Infracional

1Indícios de participação

na prática deAto Infracional

2Apreensão em

flagrante

3Falta grave:

Auto de Apreensãodos produtos e dos

instrumentos

4Falta leve: lavra-se o

Boletim de Ocorrência(BO)

5Comparecimentos dos pais ou

responsáveis na Delegacia6

Os pais ouresponsáveis não

comparecem

7Liberado da Delegacia

(processo em andamento)

8Não liberado

9Unidade policial,em dependência

separada10

Unidade deAtendimento

11A autoridade

policial envia aoMinistério

Público cópia doBO, Auto de

Apreensão ouRelatório

Investigativo

12Convocação do

adolescente pelorepresentante doMinistério Público

13Apresentação

do adolescente aorepresentante doMinistério Público

para oitiva 14Arquivamento

dos autos

O que podeO que podeO que podeO que podeO que podeacontecer comigo?acontecer comigo?acontecer comigo?acontecer comigo?acontecer comigo?

PART

E INTEG

RANT

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O E CI

DADA

NIA68

EDUCAÇÃOE CIDADANIA

15Concessão da remissão,pelo representante do

Ministério Público

16Representaçãoà autoridade

judicial,propondo

aplicação demedida sócio-

educativa

17Designação de audiência paraapresentação do adolescente à

autoridade judiciária

18Decretação oumanutençãoda internação

19Liberação

aguardandoaudiência

20Adolescente não

comparece àaudiência

21Expedição deMandado de

Busca eApreensão

22Comparecimento à audiência:

oitiva do adolescente, pais e opinião de

profissional qualificado

23Concessão de Remissão

24Falta grave:

sujeito a medida deinternação

Contratação de advogadoNomeação de Defensor

PúblicoDesignação de audiência

de continuação

25Defesa prévia

(3 dias)

26Audiência emcontinuação

27Concessão de Remissão

28Arquivamento dos

autos,por falta de provas

29Aplicação e cumprimento de

medida de internação ousemiliberdade

30Aplicação das medidas de:

Advertência,Obrigação de reparar o dano,

Prestação de serviços àcomunidade, ou

Liberdade assistida

LIBERDADE

JOGOJUSTIÇA E CIDADANIA

69

QUADRO DE DESTINO

PARTIDA

CASAONDE O

JOGADORESTÁ

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

14

15

16

17

18

19

20

21

22

23

24

25

26

27

28

29

30

casa 1

casa 11

casa 3

casa 5

casa 6

casa 7

casa 7

casa 12

casa 13

casa 9

demais valores

qualquer valor

ouou

Fica uma rodada sem jogar, enquantoo BO chega ao Ministério Público;na seguinte, com qualquer valor

QUANTO TIROUNO DADO

VAIPARA

...VAI

PARA...

QUANTO TIROUNO DADO

CASAONDE O

JOGADORESTÁ

casa 2

casa 4

casa 6

casa 5

ouou

ouou

casa 8

casa 8

ou

ou

ou

casa 10

casa 11

qualquer valor

qualquer valor

qualquer valor

qualquer valor

casa 13

casa 12

casa 13

casa 14

casa 15

casa 16

qualquer valor LIBERDADEFica uma rodada sem jogar;

na seguinte, com qualquer valor LIBERDADE

Fica uma rodada sem jogar;na seguinte, com qualquer valor LIBERDADE

qualquer valor LIBERDADE

casa 27

casa 28

casa 29

qualquer valor casa 26

qualquer valor casa 25

qualquer valor casa 22

qualquer valor casa 21

qualquer valor casa 22

qualquer valor casa 17

casa 30

LIBERDADE

casa 18

casa 19

casa 30

LIBERDADE

casa 30

LIBERDADE

casa 23

casa 24

casa 20ouou casa 22

ouou

ouou

ou

ou

ou

ou

ou

ou

ou

ou

ou

ou

ouou

70

EDUCAÇÃOE CIDADANIA

JOGO – FOLHA 1 VERSOJUSTIÇA E CIDADANIA

NOME DATA

Advogado – Indivíduo que advoga, istoé, presta assistência profissional aoutros em assunto jurídico,defendendo seus interesses peranteum juiz. Ninguém pode serprocessado sem defesa, sejaadolescente ou adulto.

Arquivamento dos autos – significaencerrar o processo, que ficaguardado em dependência (arquivo)do judiciário.

Ato infracional – É o mesmo que crimeou contravenção penal. Crimes sãoatos ilegais, descritos no CódigoPenal ou em leis especiais.Exemplos: matar alguém (homicídio);ferir alguém (lesão corporal); vendermaconha, cocaína e outrassubstâncias entorpecentes é crimeprevisto na Lei dos Tóxicos.

Audiência de apresentação – É aprimeira audiência do adolescentecom o juiz. Nela são ouvidos: oadolescente, os pais ouresponsáveis. Devem também estarpresentes: o advogado ou defensorpúblico, o Promotor de justiça e oescrivão.

Audiência de continuação – Nessaaudiência, o juiz ouve astestemunhas de acusação e defesa,na presença do promotor e doadvogado, que fazem asargumentações finais. Depois disso,o juiz decide se absolve oadolescente da acusação ou seaplica uma medida educativa.

Minidicionário jurídicoAutoridade judicial – O mesmo que

juiz de direito. Até 18 anos, os atosinfracionais cometidos poradolescentes são apurados e depoisjulgados por um Juiz da Infância e daJuventude.

Autoridade policial – o mesmo quedelegado de polícia.

Contravenção penal – É um delito quenão representa grave ameaça àpessoa humana, como: depredar opatrimônio público (destruir“orelhões”, pichar monumentos eoutros); portar e usar drogas; furtar;adquirir, receber ou esconder coisas,sabendo que são roubadas oufurtadas etc.

Defensor público – Advogadocontratado pelo poder judiciário paradefender as pessoas que não podempagar um defensor particular.

Defesa prévia – É a primeira defesa aque o adolescente tem direito.Depois da audiência de apresentação,o advogado particular ou defensorpúblico tem 3 dias para apresentarao juiz a lista de testemunhas dedefesa e solicitar o que fornecessário para a defesa.

Falta grave – São os crimes contra apessoa (roubar, matar, estuprar eoutros). Além disso, o ECA considerafalta grave deixar de cumprir (semmotivo justificado) uma medidaeducativa imposta antes, mesmoque tenha sido aplicada por causa defalta leve.

EDUCAÇÃOE CIDADANIA

JOGO - FOLHA 2JUSTIÇA E CIDADANIA

71

Falta leve – O mesmo quecontravenção penal.

Habeas corpus - expressão latina quesignifica “que tenhas teu corpo” ou “corpo livre”. Ou seja, o corpo dapessoa humana livre de apreensãoilegal e abusiva.

Juiz de Direito – autoridade do poderjudiciário responsável pela conduçãodo processo de apuração de atoinfracional. É quem preside asaudiências, decide sobre os pedidosdo Promotor e do Defensor e dá asentença, aplicando ou não umamedida socioeducativa aoadolescente.

Ministério Público – Instituição da qualfaz parte o Promotor. É encarregadada defesa da ordem jurídica, doregime democrático e dos interessessociais e individuais indisponíveis.No ECA está previsto, entre outrascoisas, zelar pelo respeito aosdireitos e garantias legaisassegurados às crianças eadolescentes.

Oitiva – o mesmo que “ato de ouvir”.Promotor – Representante do

Ministério Público que, em nome doEstado, encaminha ao juiz o pedidopara aplicação de medidasocioeducativa ao adolescente aquem se atribui a prática de atoinfracional. Em caso de prisão, oadolescente deve ser apresentado aoPromotor de Justiça em 24 horas,para ser ouvido informalmente (não éaudiência).

Relatório das investigações – Quandoa prisão não for em flagrante, mashouver algum sinal de participaçãoem ato infracional, o delegado enviaum relato ao promotor, com oresultado das investigaçõesrealizadas.

Remissão – Antes do procedimentojudicial, o Promotor de Justiça podeexcluir o jovem de umarepresentação, após considerar ascondições do fato acontecido, asituação social, a personalidade doadolescente e sua poucaparticipação no ato infracional. Casoo procedimento já tenha sidoiniciado, a remissão significa o fimou a suspensão do processo (nessecaso, a remissão só pode ser dadapelo juiz).

Representação – É um relato escritopelo Promotor da Infância e daJuventude, contando ao juiz sobre osfatos, explicando em qual ou quaisartigos do Código Penal se enquadrao ato infracional praticado e pedindoao juiz que aplique uma medidasocioeducativa ao jovem.

Unidade de atendimento –Dependência sob responsabilidadedo poder público, destinada a abrigaradolescentes em conflito com a lei,provisoriamente ou cumprindomedida de internação.

Unidade policial – Delegacia de polícia.Fontes: Dicionário Aurélio; Silva, Paulo Sérgio Frota.Guia do adolescente internado. Belém: Juizado daInfância e da Juventude, 24a vara cível; UNAMA; UNICEF,1998.

Minidicionário jurídico (continuação)

JOGO - FOLHA 2 VERSOJUSTIÇA E CIDADANIA

EDUCAÇÃOE CIDADANIA

72

40

ISBN 85-85786-25-6

Autoria

SECRETARIA DEESTADO DA EDUCAÇÃO

Realização