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Page 1: EDUCAÇAO INTERNACIONAL · 6 Educação Internacional Mas o fato é que a pratica da guerra se transformou em teoria, em ciência, em tecnologia da guerra - de tal modo que os belômanos,

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PAZ E DIREITOS HUMANOS

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INTRODUÇÃOIr------:-:----=---"'r ntonio Houaiss

I STITUTO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E CULTURA- ' -

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íNDICE

1. PREFÁCIO. 3

2. INTRODUÇÃO. 5Antonio Houaiss

3. OS DIREITOS HUMANOS E O DIREITO DOS POVOS NA BUSCADA PAZ MUNDIAL. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 9Theotônio dos Santos

4. AS PRINCIPAIS TEND':NCIAS DA NOVA ORDEM INTERNACIONAL. ..... 17Sônia de Camargo

DIRETORIA DO IBECC

Presidente:Dr. Cleantho de Paiva Leite

Vice-Presidentes:Pr~f.essor Aristides Azevedo Pacheco LeãoMinistro He~r.ique Rodrigues Valle Junior

Ministro Mário SantosProfessor Cleuler de Barros LoyolaProfessor Oswaldo Campos MelloProfessor José Pelúcio Ferreira

Dr. Luiz Simões LopesSecretário Executivo: .E ~ Y

Joaquim Caetano Gentil Netto

5. UTILIZAÇÃO DO ÁTOMO PARA FINS PAC(FICOS 25Zieli Outra Thome Filho

6. OS CIGANOS: MINORIA ~TNICA DISCRIMINADA. 39Ático Vilas-Boas da Mota

7. MOVIMENTO SOCIAL E PARTIDOS POLlIICOS: O INFORMAL E O FORMALNA PARTICIPAÇÃO POLlIICA DAS MULHERES. 67Leila de Andrade Linhares Barsted

8. OS PROGRAMAS NUCLEARES DO BRASIL E DA ARGENTINA •......... 75Luiz Pinguelli Rosa

9. A PAZ E A ORDEM INTERNACIONAL. ... ". . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 81Cleantho de Paiva Leite

Secretariado:Sonla Cotrirn da Cunha

Mariuska de los Angeles Bezerra de MenezesSandra Maria Gomes Faria

A r:".atériadeste boletim pode ser livrementeutilizada, desde que seja indicada a origem.

ANEXOS

1. Recomendação da Unesco sobre Educação para a Paz. . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 91

2. Declaração Universal dos Direitos do Homem 101

3. Encíclica "Sollicitudo Rei Sociales" do Papa João Paulo 11. ..•............ 107

4. Dicionário Ambienta/. 111

Desenvolvimento e Sobrevivência Coletiva - Inga Thorson. . 117

Declaração Universal dos Direitos da Criança. . .. '0iQ'e ':To..§ :,r 125, Principais Instrumentos Internacionais Relativos aoros Homens 127

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INTRODUÇÃO

Antônio HouaissAtravés dos tempos - desde que há tradição, isto é, transmissão do fazer e do saber,

o é, mais modernamente, memória, no caso a só memória humana do humano e do nãohumano =, a paz tem sido o componente talvez fundamental da Idade Áurea, aqueletempo mítico que, homens, vivemos nas origens: seu louvor era de um bem social quetodos usufruiam coletiva e individualmente.

Depois, esse louvor se fez mais empenhado, quando a paz não pôde deixar de serassociada à sua contrapartida - a guerra. E, num dado momento, essa indissociabilidadese fez tão inarredável, que se pensou ou se passou a pensar que a guerra tivesse sempreavido nos passados, sempre haveria nos presentes e seria inevitável nos futuros. E esse é o

ponto de desespero em que grande parte dos seres humanos se debate hoje em dia: não apoderemos descartar da paisagem terrestre e humana, da paisagem cósmica e humana?

Entretanto, é disputabilfssimo que tenhamos razão de reputar a guerra uma decor-rência de necessidades psíquicas e sociais intrínsecas ao homem, do mesmo modo que nãohá possibilidades de provar que o homem sempre praticou a guerra: as opções flutuamnesse universo de valores mentais e opiniões com que, no presente, uns coonestam suaíntima vontade de eliminar os que (em seu ponto de vista) são maus, enquanto outrosesperam que uma ordem de tolerância mútua venha a espancar a guerra como necessidadeou como solução.

Não há, que fugir ao fato de que, cada vez mais, os estudiosos do grande passadohumano (os estudiosos desse ser que, como Homo sapiens, já deve existir há mais de 120mil anos e como genus, Homo, há cerca de 3 milhões de anos) tendem a crer que não sónas origens não houve a guerra, senão que, mais, prevaleceu a solidariedade como uma dascondições da sobrevivência da espécie e do indivíduo. A guerra institucionalizada pareceser, assim, algo de muita modernidade, isto é, de não mais que de 10-8 mil anos para cá.

Mas essa modernidade é aterradora. Se houve uma vitória biológica do homem nocenário da Terra, ela não foi obtida sem sacrifícios, gerados pela natureza e pelos frutos erebentos e artimanhas e contingências da natureza mesma nas suas manifestações con-correntes de vida vegetal e vida animal. E. a partir do momento em que - na série desacrifícios - se incluiu também o da guerra, esta não cessou de requintar-se em poder dematança, quantitativamente, ininterruptamente, pertinazmente, assustadoramente, ate r-radoramente, totalitariamente, holisticamente - de tal modo que, hoje em dia, nãotemê-Ia é um ato de insensatez, de bruteza, de ignorância supremas ou de suprema náuseacom gozo jubilante para os que querem desaparecer e consigo levar a humanidade. De-penderá a sobrevivência humana da só patologia humana?

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Mas o fato é que a pratica da guerra se transformou em teoria, em ciência, emtecnologia da guerra - de tal modo que os belômanos, os belicistas, os polemósofos, osassassinolóqos. os assassinófilos de todos os tempos sempre acharam que a inserção daguerra no cotidiano humano foi fonte de conquistas científicas e técnicas inovadoras paraa humanidade: era, assim, um mal muito relativo, que gerava bens muito positivos, haven-do não poucos que misticamente a viam como catarse, depuração, purgação da huma-nidade, em que a seu ver (não esqueçamos que eram os sobreviventes, em geral nãoengajados na guerra real, que falavam) morriam de preferência os que não mereciam viver,os fracos, os pobres de bens e de espírito, os ineptos, os doentes - repitamos, tor-pemente, os que não mereciam viver. A guerra chegou, assim, a ser praticada por povosque, mercê de iluminados belóloqos. se deixaram impregnar por idéias, convicções, cer-tezas e ambições de guerra como prática eficaz de obtenção, por essa via, daquilo que deoutro modo exigiria trabalho e trabalho e trabalho - coisa que, para certos opiniáticos,era, é, será maldição dos céus por sobre os que não sabem exaltar a guerra.

Assim, se houve progresso - pelo menos produtivo e de produtividade - na huma-nidade, em conexão com a vitória biolágico-demográfica, houve muito mais estupendos"progressos" da prática guerreira, culminados (com um ápice cuja ultrapassagem estáinterditada) pelas bombinhas de Hiroxima e Nagasaki.

É que, ao longo do passado bélico humano, os guerreiros, guerreadores, guerreantes,guerrastas, guerreófilos, sonham com a arma absoluta - que não s6 fosse a absoluta anteas possibilidades do seu tempo, mas fosse também absoluta na pertemporalidade, aqui(não tenhamos ilusão) estamos: os pactos, acordos, entendimentos, protocolos e nego-ciações diplomáticos não escondem a perfídia com que os espertos, os sagazes, os matrei-ros, os inteligentinhos, os astutos buscam - por debaixo do tapete - a arma absoluta,esquecidos de que já a temos.

Com efeito, para que tal arma emergisse seria necessário que, no ato de usá-Ia, seusefeitos fossem, sucessivamente, primeiro a neutralização instantânea da possibilidade derepresália com as bombas e as meqabornbas já estocadas, segundo, seu uso fosse tal que,vencendo o inimigo, o inimigo fosse destruído fisicamente sob um novo padrão de des-truição - por neutronização ou neutrimização - que fosse confinada no espaço e notempo, isto é, sem os riscos de o feitiço voltar-se contra o feiticeiro.

Por isso, a competição da corrida armamentista foi tomando tal vulto, que hoje emdia a humanidade gasta em objetos e serviços bélicos não-utilizáveis, uma cota parteponderável do que, literalmente, jogados no lixo, com a particularidade de serem talvez osmais requintadamente produzidos e geridos dentre todos os bens que a humanidadeproduz ... Não-utilizáveis porque - por exemplo - se os EE.UU.A. ou a URSS utilizaremum décimo dos seus arsenais de bombas atômicas é certo que a humanidade toda inteiraterá enorme probabilidade de desaparecer ou de, sobrevivendo parcialmente, lamentar nãoter desaparecido, tão tremendos serão os sofrimentos coletivos dos que ficarem previ-soriamen te sobreviventes.

Assim, a arma absoluta praticamente possível nesta conjuntura já existe. Destarte, asguerras hoje em dia possíveis não podem ser absolutamente modernas. E a{ há o risco. Éque tecnologia é coisa que se aprende. Os detentores de arsenais bélicos atômicos sabemmuito bem disso. A sobrevivência humana - dizem - pode de repente ficar na depen-dência de um louco na fórmula seguida que os dirigentes de certos pafses apontam os deoutros países (esquecendo-se de que a recíproca é verdadeira e não sabendo, -assirn, entretais os dirigentes, quem não é louco).

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o trágico em tudo isso é que a guerra que não pode acontecer continua a pesar comoalgo que pode acontecer - porque a corrida armamentista tem a lógica do absoluto, numaconcorrência em que entram racional idade/irracional idade, piedade/impiedade, ingenuida-de/pecaminosidade e sobretudo proveito/desproveito. Um exemplo gritante é dado peloJapão: enquanto os EE.UU.A. gastam cerca de 6% do seu produto interno bruto para oarmamentismo, enquanto a URSS gasta outro tanto ou um pouco mais, o Japão -arrasadoramente vencido - teve como preço não ter armas ponderáveis: hoje (quandocomeça a arcar-se, diga-se de passagem) não gasta sequer 1%. Quarenta anos disso deu noque deu: o Japão é o que é - embora tenha sido pago o preço de Hiroxima e Nagasaki ...

Do modo por que as coisas vão, compreende-se que possa haver guerrilhas, guerrinhase até mesmo guerras - como a contemporaneidade exibe em mais de quarenta focos (ouquatrocentos ou quatro mil, se se acrescentam os do tipo urbano) da Terra. Mas ahumanidade não está ainda bem compenetrada do que pode ocorrer com a GUERRA, a jáchamada terceira guerra mundial tão prospectivamente trágica que seu sinônimo poderáser última guerra mundial ou apenas última guerra.

Os cinco mil milhões - ou noutros termos - os cinco bilhões de seres que já somos, eem rápida progressão, somos em grande número tão contemporâneos do passado que,muito freqüentemente, nem sabemos se há ou não guerras, se houve ou não guerras, sepoderá ou não haver guerras. É que umas das falhas mais fundamentais do chamadoprogresso humano está na ignorância de si mesmo, na imensa ruptura da transmissão dosaber social, de que o Brasil - por exemplo =, com sua triste malha de ensino primário,dá um exemplo tão triste. Ora, hoje em dia, lutar contra a perspectiva de guerra, contra asanha armamentista, contra o monopólio do estudo da guerra por eventuais decisões daguerra, contra essas tendências não apenas homicidas mas humanicidas, é um dever detodos - pessoas, instituições, estados, religiões, partidos =, mas um dever (reconheçamos)pouco praticado.

Foi dentro dessa convicção que o IBECC - sob a direção desse homem de estado ehomem de espírito público que é o nosso compatriota Cleantho de Paiva Leite - aceitousugestão da UNESCO, a fim de promover algo entre nós que pudesse iniciar o debate emtorno do tema, na esperança de que, algum dia, ele se torne tão exigente e apaixonanteque venha a ser - com o concurso de todos - reputado necessário na vida social, atétornar-se uma disciplina de todos os cursos secundários e superiores. Debate eminen-temente cultural, sem cores partidárias nem proselitismos de facção, não foi difícil -antes pelo contrário - obter o patrocfnio, além da UNESCO, da Secretaria Estadual daEducação e Cultura, na pessoa de Raphael de Almeida Magalhães, e do Reitor da Univer-sidsde do Estado do Rio de Janeiro, Professor Ivo Barbieri, para que um primeiro ciclosobre a questão - sem exclusivismos temáticos nem orientações prévias programáticas outendenciosas - fosse realizado no csrnpus da Universidade em causa.

Este livro encerra, assim, a matéria que foi objeto - por parte de estudiosos ecientistas brasileiros de competência e devoção comprovada à coisa pública - de confe-rências sobre temas diversos mas conexos com a questão crucial - crucial dentre ascruciais - da guerra e da paz no mundo contemporâneo, questão que, se bem defendidapelos interessados - isto é, todas as mulheres, homens e crianças, acima das diferenças decor, religião, padrão econômico, idéias, convicções, esperanças - poderá permitir quecontinuemos a usufruir da Vida e da esperança de uma vida melhor para todos os homensde boa vontade.