edição de julho de 2004

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Page 1: Edição de julho de 2004
Page 2: Edição de julho de 2004

Os custos desta edição são cobertos pelo Fundo Rotativo de Estímuloà Pesquisa Agropecuária do Estado de Santa Catarina – Fepa.

Epagri participa de exposição em Brasília .............................................A melancia como fonte de licopeno ......................................................Contribuições do rádio como meio de comunicação na Epagri ........Valor da exportação de mel cresce 14.000% em três anos ..............Pesquisa participativa em batata no Litoral Sul Catarinense .................Fecoagro inaugura fábrica de fertilizantes ............................................Primeiras cultivares brasileiras de uva sem semente ..........................Perguntas e respostas sobre a gripe do frango ..................................Colespor – nova ferramenta para pesquisar doenças em plantas ....Desidratação osmótica de alimentos .....................................................Parasitoses no Planalto Catarinense ......................................................

O grande desafio do agronegócio no Brasil (Altamiro Borges) ........

Sustentabilidade no espaço rural: um novo paradigma organizacional– II (Francisco da Cunha Silva) ..............................................................

O Furacão Catarina ..................................................................................Quivi orgânico – Produto saudável no campo nativo .........................Piscicultura – Mercado impulsiona a produção ..................................Cebola agroecológica – Mais saúde, mais renda ao produtor e proteçãoao meio ambiente ....................................................................................O sucesso do Sítio Nossa Senhora do Caravagio ...............................Missioneira gigante – A grama catarinense ..........................................

Adaptação de cultivares de pereira no Sul do Brasil e a sua relação como "abortamento" floral (Ivan Dagoberto Faoro) .....................................Cultivo do morangueiro em hidroponia vertical: relação entre alocalização das plantas e a qualidade dos frutos (André Nunes LoulaTôrres; Gilson José Marcinichen Gallotti e Alvadi Antonio BalbinotJunior) ......................................................................................................Importância do gesso agrícola na agricultura (Névio João Nuernberg)Relação entre a freqüência de pulverizações de oxicloreto de cobre ea incidência do cancro cítrico em folhas de laranjeira-doce (LuizAugusto Ferreira Verona; Gustavo de Faria Theodoro e Cristiano NunesNesi) ..........................................................................................................Correlação do peso de abate de cordeiros com rendimento, peso ecompacidade da carcaça (Volney Silveira de Avila; Guilherme CaldeiraCoutinho; Vilson Korol; Anildon de Oliveira Ribeiro; José Luiz GarciaQuadro e Fabricio Afonso Costa ............................................................

Lesmas: pragas da agricultura e ameaça à saúde humana (Luís AntonioChiaradia, José Maria Milanez, Carlos Graeff-Teixeira e José WillibaldoThomé) .....................................................................................................Profundidade de semeadura na germinação e emergência de ervilhacacomum e nabo forrageiro (Alvadi Antonio Balbinot Junior; RogérioLuiz Backes; André Nunes Loula Tôrres e Gilson José MarcinichenGallotti) ......................................................................................................Produção de leite em pastagem de capim-elefante-anão no Alto Valedo Itajaí (Edison Xavier de Almeida e Elena Apezteguía Setelich Baade)

Diversidade da flora apícola de Santa Catarina (James Arruda Salomée Afonso Inácio Orth) ..............................................................................Efeito da concentração inicial de inóculo do nematóide Heteroderaglycines no desenvolvimento do feijoeiro comum (Walter FerreiraBecker e Silamar Ferraz) .........................................................................

Editorial .....................................................................................................Lançamentos editoriais ............................................................................Normas para publicação ..........................................................................

As matérias assinadas não expressamnecessariamente a opinião da revista e são

de inteira responsabilidade dos autores.A sua reprodução ou aproveitamento,mesmo que parcial, só será permitida

mediante a citação da fonte e dos autores.

Seções

Registro

Opinião

Conjuntura

Reportagem

Informativo Técnico

Artigo Científico

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Sumário

Transgenia

Plantas bioativas

Plantas aromáticas para cultivo em Santa Catarina (Airton RodriguesSalerno; Andrey Martinez Rebelo e Antônio Amaury Silva Junior) .....

Plantas transgênicas (Luiz Gonzaga Esteves Vieira e Luiz Filipe ProtasioPereira .......................................................................................................

Nota Técnica

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4 Agropec. Catarin., v.17, n.2, jul. 2004

REVISTA QUADRIMESTRAL COMITÊ DE PUBLICAÇÕES TÉCNICAS:Presidente: Anísio Pedro Camilo, Secretário: Roger Delmar Flesch,Membros: César Itaqui Ramos, Eduardo Rodrigues Hickel, GilsonJosé Marcinichen Gallotti, Jefferson Araújo Flaresso, José ÂngeloRebelo, Luis Carlos Vieira, Luiz Augusto Martins Peruch, FredericoDenardi, Valdir Bonin

COLABORARAM COMO REVISORES TÉCNICOS NESTA EDI-ÇÃO: Anísio Pedro Camilo, Amaro Hillesheim, Antonio CarlosFerreira da Silva, Áurea Teresa Schmitt, Clori Basso, DarciCamelatto, Edison Xavier de Almeida, Eliane Rute de Andrade,Eloi Ehard Scherer, Faustino Andreola, Fernando Adami Tcacenco,Frederico Denardi, Gilberto Luiz Dalagnol, João Lari Félix Cordei-ro, João Américo Wordell Filho, Jonas Ternes dos Anjos, Leandrodo Prado Wildner, Luiz Alberto Lichtemberg, Lucas Miura, LuizAugusto Martins Peruch, Mário Miranda, Nelson Eduardo Prestes,Osvino Leonardo Koller, Pedro Boff, Renato Arcangelo Pegoraro,Robert Harri Hinz, Roger Delmar Flesch, Yoshinori Katsurayama

JORNALISTA: Márcia Corrêa Sampaio (MTb 14.695/SP)

ARTE: Vilton Jorge de Souza

ARTE-FINAL: Janice da Silva Alves

PADRONIZAÇÃO: Rita de Cassia Philippi

REVISÃO DE PORTUGUÊS: Vânia Maria Carpes

CAPA: Foto de satélite da Nasa

PRODUÇÃO EDITORIAL: Anderson Luiz Rodrigues, Daniel Pe-reira, Maria Teresinha Andrade da Silva, Manoella Werlich (esta-giária), Mariza Martins, Marlete Maria da Silveira Segalin, PauloSergio Tagliari, Selma Rosângela Vieira, Zilma Maria Vasco

DOCUMENTAÇÃO: Ivete Teresinha Veit

ASSINATURA/EXPEDIÇÃO: Ivete Ana de Oliveira e Zulma MariaVasco Amorim - GMC/Epagri, C.P. 502, fones: (048) 239-5595 e 239-5535, fax: (048) 239-5597, e-mail: [email protected], 88034-901 Florianópolis, SC.Assinatura anual (3 edições): R$ 22,00 à vista.

PUBLICIDADE: Laertes Rebelo: GMC/Epagri - fone: (048)239-5520, fax: (048) 239-5597 Agropecuária Catarinense - v.1 (1988) - Florianópolis: Empresa Catarinense de Pesquisa Agropecuária 1988 - 1991)

Editada pela Epagri (1991 - )TrimestralA partir de março/2000 a periodicidade passou a ser

quadrimestral1. Agropecuária - Brasil - SC - Periódicos. I. Empresa Catari-

nense de Pesquisa Agropecuária, Florianópolis, SC. II. Empresade Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina,Florianópolis, SC.

15 DE JULHO DE 2004

AGROPECUÁRIA CATARINENSE é uma publicação da Empre-sa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa CatarinaS.A. – Epagri –, Rodovia Admar Gonzaga, 1.347, Itacorubi, CaixaPostal 502, 88034-901 Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, fone:(048) 239-5500, fax: (048) 239-5597, internet: www.epagri.rct-sc.br, e-mail: [email protected]

DIRETORIA EXECUTIVA DA EPAGRI: Presidente: Athos deAlmeida Lopes, Diretores: Anselmo Benvindo Cadorin, José An-tônio da Silva, Valdemar Hercilio de Freitas, Zenório Piana

EDITORAÇÃO:Editor-chefe: Dorvalino Furtado FilhoEditor: Anísio Pedro CamiloEditores-assistentes: Ivani Salete Piccinin Villarroel, RogerDelmar Flesch, Paulo Henrique Simon

CONSELHO EDITORIAL: Anísio Pedro Camilo, Hamilton JustinoVieira, Mário Ângelo Vidor, Paulo Henrique Simon, Roger DelmarFlesch, Sérgio Leite Guimarães Pinheiro

A Epagri é uma empresa da Secretaria de Estado da Agricultura e Política Rural.

ISSN 0103-0779

Impressão: Coan CDD 630.5

Furacão Catarina foi umfenômeno atípico que asso-lou o sul de Santa Catarina

no final de março deste ano ecausou enormes prejuízos àscomunidades litorâneas. Além deperdas de vida humana, espe-cialmente de pescadores que aindaestavam no mar, o Catarinacausou enormes estragos àspopulações, destruindo casas eplantações.

Os ciclones extratropicais (comofoi caracterizado o Catarina) sãocomuns no sul do Brasil e têm umatrajetória de deslocamento docontinente para o oceano. No casodo Catarina, aconteceu o inverso.Esse fenômeno, por sua carac-terística, foi alvo da atenção demeteorologistas de todas as partesdo mundo e é nossa reportagemprincipal.

Ainda na seção Reportagem sãoabordados seis temas, destacando-se a cultura do quivi – uma frutarústica que dispensa o uso deagroquímicos, prestando-se para o

cultivo orgânico e agroecológico; apiscicultura mostrada em todo oseu potencial na região do AltoVale do Itajaí, em Santa Catarina,e a grama Missioneira Gigante,um cruzamento natural entre agrama missioneira e o gramãoque ocorreu de forma natural noAlto Vale do Itajaí, com grandepotencial para a pecuária sul-bra-sileira.

Na matéria sobre transgênicoso autor procura desmistificar oassunto, mostrando ao leitor comosão obtidas novas plantasgeneticamente modificadas, seusriscos, seus benefícios e suasimplicações sociais e econômicas.

Na seção Registro é mostradauma matéria sobre a melancia comofonte de licopeno, um poderosoantioxidante natural encontradoem algumas frutas e hortaliças eque possui ação contra doençasdegenerativas. Esta seção trás,também, uma matéria sobre asnovas cultivares de uva de mesasem sementes desenvolvidas pelaEmbrapa, destinadas ao plantioem regiões tropicais (Noroeste deSão Paulo, Norte de Minas Geraise Vale do São Francisco).

Na seção Opinião é abordada adeficiência do transporte dosprodutos de nossa safra, umproblema crônico do agronegóciobrasileiro. Discute-se a preca-riedade de nossas estradas, a poucautilização dos mais de 8 mil km denosso litoral e o potencial denavegabilidade de alguns denossos rios.

Outra matéria interessantetrata das plantas aromáticas, e sãoenfocadas quatro espécies usadasna produção de óleos essenciais:citronela, capim-limão “gigante”,palma-rosa e patchuli.

Na seção técnico-científica sãoabordados assuntos como oproblema da morte de gemas dapereira japonesa, o cultivo domorangueiro em hidroponiavertical, o emprego do gesso naagricultura, o cancro cítrico, oproblema das lesmas como pragasda agricultura e da saúde humana,a diversificação de plantasmelíferas em Santa Catarina, oproblema de nematóides comopraga do feijoeiro, entre outros.

Tenham todos uma boa leitura.

O editor

O

catarinense

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Agropec. Catarin., v.17, n.2, jul. 2004 5

Avaliação de cultivares para oEstado de Santa Catarina 2004/2005.2004. 141p.

A edição anual da Epagri “Avaliaçãode cultivares para o Estado de SantaCatarina” traz informações cujo objetivoé melhorar e facilitar as atividadesagropecuárias, quer seja no plane-jamento, quer em consultoria ou emoutros serviços relativos. Representa abusca dos pesquisadores da Epagri pormaior produtividade, qualidade ecompetitividade dos produtos agro-pecuários do Estado de Santa Catarina.

Contato: [email protected].

Construção de viveiros parapiscicultura. 2004. 58p.

“Construção de viveiros parapiscicultura” é a mais recentepublicação da Epagri na área deAqüicultura. A publicação trazinformações tais como a escolha dolocal para construção de um viveiro,qualidade da água, solo, topografia,tipos de construções, legislaçãoambiental e outras. Constitui-se pois,numa excelente fonte de consulta parainteressados no assunto.

Contato: [email protected].

Parasitoses de bovinos eovinos: epidemiologia e con-trole em Santa Catarina. 2004.55p.

O presente Boletim Técnicoteve como principal objetivo faci-litar a obtenção e difusão de infor-mações técnicas produzidas pelaspesquisas para o controle eficazdas parasitoses em Santa Catarina.Reuniu-se, de uma forma sucintae didática, a maior parte dostrabalhos já publicados sobreparasitoses no Estado.

Contato: [email protected].

Pastoreio Racional Voisin:tecnologia agroecológica parao terceiro milênio. 2004. 314p.

Este livro oferece novos rumospara a produção à base de pasto.Pode-se destacar alguns aspectosinovadores, como a lei dafertilidade crescente dos solos, atransmutação dos elementos combaixa energia, o ciclo etileno, osbebedouros circulares e o novoconceito da água ir ao animal. Otexto descreve, detalhadamente,a verdadeira conduta agroeco-lógica, que resulta na produçãoorgânica de carne e/ou leite.

Contato: [email protected].

Resistência genética a insetos emespécies florestais: revisão sobre ogênero Eucalyptus. 2000. 192p.

Muito antes da descoberta dosinseticidas químicos, a resistênciaconstituía a espinha dorsal da proteção dasplantas contra insetos e doenças. Plantas einsetos fitófagos têm coexistido e evoluídoconjuntamente por milhões de anos. Assim,não é nenhuma surpresa que as plantastenham desenvolvido uma variedade dedefesas contra insetos. Nesta publicaçãoabordam-se a análise dos hospedeiros, anatureza da resistência e suas causas, osmecanismos químicos e físicos de defesa, adefesa induzida e os efeitos tóxicos destegênero.

Contato: www.editora.furb.br.

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A

A melancia como fonte de licopenoA melancia como fonte de licopenoA melancia como fonte de licopenoA melancia como fonte de licopenoA melancia como fonte de licopenoconsumo de frutas e vegetaistem sido fortemente relacio-nado com a diminuição de

riscos de doenças degenerativas. Olicopeno (carotenóide) é umfitoquímico encontrado em algumasfrutas e hortaliças que ganhadestaque pela sua alta eficiência comoantioxidante natural e sua possívelação contra doenças degenerativas,com evidências mais fortes paracâncer de próstata, estômago epulmão. A fonte de licopeno maisconhecida é o tomate, mas eletambém é encontrado na goiabavermelha, no mamão vermelho e napitanga.

Em um trabalho publicadorecentemente na Revista InstitutoAdolfo Lutz, a melancia, que devesua cor vermelha ao licopeno, teveeste carotenóide quantificado e seusvalores comparados aos de outrasfrutas já estudadas. Os resultadosencontrados apontam para umconteúdo de licopeno na melanciasemelhante ao encontrado no tomatecultivar Carmen, evidenciando amelancia como uma importante fontedeste carotenóide. Em relação àsoutras fontes de licopeno, o conteúdona melancia foi maior do que no

Tabela 1. Fontes e teores de licopeno

Fonte Cultivar Origem da amostra Licopeno

µg/g

Melancia Crimson Sweet São Paulo 36 ± 5

Goiás 35 ± 2

Goiaba IAC-4 São Paulo 53 ± 6

Paluma São Paulo 69 ± 5

Ogawa São Paulo 58 ± 9

Mamão Solo Bahia 21 ± 16

Formosa Bahia 26 ± 3

Tailândia Bahia 40 ± 6

Pitanga Pernambuco 73 ± 1

Tomate Santa Cruz São Paulo 31 ± 20

Carmen São Paulo 35 ± 10

Adaptado de Niizu & Rodriguez – Amaya (2003).Fonte: Revista Instituto Adolfo Lutz, v.62, n.3, p.195-199, 2003.

mamão e menor do que na goiaba ena pitanga (Tabela 1). Sendo umafruta encontrada durante todo o anoem nossos mercados, a melancia

pode ser recomendada como umaimportante fonte de licopeno parafazer frente e diminuir os riscos quealgumas doenças podem causar.

Epagri participa de eEpagri participa de eEpagri participa de eEpagri participa de eEpagri participa de exposiçãoxposiçãoxposiçãoxposiçãoxposiçãoem Brasíliaem Brasíliaem Brasíliaem Brasíliaem Brasília

Epagri esteve presente noevento “Ciência para a Vida”,em Brasília, DF, nos dias 18

a 23 de maio, cujo tema principaldeste ano foi agricultura familiar,mostrando os avanços tecnológicosnas áreas de arroz, aqüicultura epesca, maçã, mel e campo nativo.Publicações, amostra de produtos ematerial visual, fruto do trabalhodos pesquisadores e extensionistascatarinenses, foram divulgados edistribuídos aos visitantes einteressados.

O evento “Ciênciapara a Vida”, que érealizado bianualmente,é uma prestação de contasda Embrapa e dasempresas estaduais depesquisa à sociedadebrasileira. Nessa ocasião,o público urbano e o ruraltêm oportunidade de conhecer evalorizar a contribuição da pesquisaagropecuária para o aumento daprodução e da produtividade, para amelhoria da qualidade dos alimentos,

para a melhoria da competitividadedos produtos brasileiros exportados,bem como promover o agronegócio eo desenvolvimento da ciência e datecnologia.

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Agropec. Catarin., v.17, n.2, jul. 2004 7

Contribuições doContribuições doContribuições doContribuições doContribuições dorádio como meiorádio como meiorádio como meiorádio como meiorádio como meiode comunicaçãode comunicaçãode comunicaçãode comunicaçãode comunicaçãona Epagrina Epagrina Epagrina Epagrina Epagri

rádio faz parte do serviço deextensão rural de Santa Cata-rina desde seu início. A

Associação de Crédito e Assis-tência Rural de Santa Catarina –Acaresc –, criada em 1956, visualizoua importância deste meio decomunicação como uma de suasmetodologias de trabalho para fazerchegar aos produtores rurais asinformações sobre extensão rural.

Assim foi criado o programa de rádioPanorama Agrícola, transmitidodurante 21 anos pela Rádio Guarujá.Com o aumento do número de emis-soras de rádio no Estado, a Acarescdecidiu, em 1978, instalar um estúdiopara gravação diária do programa.Inicialmente, 30 emissoras de rádiotransmitiam o programa. Hoje, aEpagri mantém parceria com cememissoras e cobre praticamente todoo Estado catarinense.

Além destas cem emissoras, 60equipes de extensionistas rurais,regionais e/ou municipais, produzemprogramas locais de rádio, levandoao agricultor e a sua famíliainformações ligadas ao seu dia-a-dia.A linguagem dos programas ésimples, direta e de fácil enten-dimento, para que a mensagem possaser compreendida por ouvintes dosmais diferentes níveis culturais.

Depois do fogão, o rádio é outensílio que os brasileiros mais têmem casa, seguido pela televisão epela geladeira. O maior poder depenetração desse meio de comuni-cação é no meio rural. De acordocom a pesquisa do Instituto Brasi-leiro de Geografia e Estatística –IBGE –, o homem do campo prefereo rádio à televisão.

Em pesquisa realizada em SantaCatarina pelo Instituto Cepa/SC, orádio aparece como o principal veí-culo de informação utilizado pelasfamílias rurais e pesqueiras. Em1991, cerca de 91% dos proprietáriosrurais possuíam rádio, e em 1998,este percentual aumentou para 96%.Isto vem demonstrar a necessidadede se utilizar com maior eficácia esseveículo de informação.

O rádio sempre foi um veículobastante utilizado pelos extensio-nistas rurais para transmitir infor-mações às famílias dos agricultores.O rádio multiplica a mensagemrapidamente e é um veículo decomunicação que está presente nagrande maioria dos lares de SantaCatarina, destacando-se como ummeio valioso na divulgação deinformações ligadas à agricultura, àpecuária, ao meio ambiente, à pesca,como também, experiências de vidados catarinenses. Estas informaçõesservem como fonte inicial demotivação para as famílias na buscade melhor qualidade de vida. É porestas razões que a Epagri sempre fezuso do rádio como um importanteveículo de apoio na difusão deinformações para as famílias ruraise pesqueiras.

apicultura – criação de abe-lhas para produção de mel ederivados – vem experimen-

tando um “boom” no Brasil. Asexportações brasileiras de melatingiram, no período de 2000 a 2003,um aumento de 14.000% em valor,saltando de US$ 231 mil para US$45,5 milhões. Os dados são daSecretaria de Comércio Exterior doMinistério do Desenvolvimento,Indústria e Comércio Exterior. Em2003, o Brasil exportou 19,3 miltoneladas de mel, sendo que, destetotal, 10,6 mil toneladas destinaram--se ao mercado alemão e 6,8 miltoneladas, ao mercado americano.

A Confederação Brasileira de

Apicultura – CBA – estima que aprodução de mel no Brasil tenhaatingido 25 mil toneladas em 2003. OEstado de São Paulo é o maiorprodutor para exportação; são 6,3mil toneladas de mel, seguido porSanta Catarina com 4 mil toneladas,Piauí com 3 mil e Ceará com 2,3 miltoneladas.

Ainda segundo dados da CBA,existem no País cerca de 4 milhõesde colméias e aproximadamente 500mil apicultores. O presidente daentidade, Joail Humberto Rocha,acredita que apenas 40% delesrealizam manejo correto do mel esomente 15% vivem exclusivamenteda profissão. “Há uma preocupação

muito grande com a pureza doproduto e, principalmente, com aqualidade higiênica de processa-mento do mel”, disse.

Joail lembra que a China, maiorprodutora mundial de mel, foiproibida, em 2001, de exportar suaprodução por ter utilizado agrotóxicose antibióticos na produção. “Comisso, outros países ganharamvisibilidade e o Brasil foi um deles.Mas também tivemos que ficar maisatentos à busca e à manutenção daqualidade do produto final”, disse.

Fonte: XV Congresso Brasileirode Apicultura: www.congressodeapicultura.com.br, Sebrae, fone:0800-842020.

O

VVVVValor da ealor da ealor da ealor da ealor da exportação de melxportação de melxportação de melxportação de melxportação de melcresce 14.000% em três anoscresce 14.000% em três anoscresce 14.000% em três anoscresce 14.000% em três anoscresce 14.000% em três anos

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8 Agropec. Catarin., v.17, n.2, jul. 2004

PPPPPesquisa participativa em batata noesquisa participativa em batata noesquisa participativa em batata noesquisa participativa em batata noesquisa participativa em batata noLitoral Sul CatarinenseLitoral Sul CatarinenseLitoral Sul CatarinenseLitoral Sul CatarinenseLitoral Sul Catarinense

Figura 1. Avaliação de pesquisa participativa: cultivares de batata

Região do Litoral Sul Catari-nense cultiva cerca de2.500ha de batata para o con-

sumo, representando em torno de17% da produção estadual. A maio-ria dos produtores utiliza "semente"própria, infectada de viroses, ou en-tão a adquire de outras regiões, semgarantia da qualidade fitossanitária.Este fato, aliado ao uso de cultivaresnão adaptadas às condições de culti-vo, é o principal fator que determinao baixo rendimento obtido no Es-tado (11,2t/ha), inferior ao do País(17,3t/ha), na média das últimas sa-fras (Síntese..., 2002).

Com o objetivo de validar resul-tados de pesquisas e difundirtecnologias para a cultura da batata,pesquisadores da Epagri/Estação Ex-perimental de Urussanga, juntamen-te com técnicos da extensão rural eprodutores, conduziram e avaliaraminúmeras unidades de observação edemonstrativas em propriedadesagrícolas no Litoral Sul Catarinense(Figura 1).

Resultados obtidos

No período de 1994 a 2001 foramavaliadas 29 unidades implantadasem propriedades de agricultores. Osresultados obtidos e incorporados no

sistema de produção (Epagri, 2002)foram publicados na revistaAgropecuária Catarinense e divulga-dos anualmente nos Encontros Sul-Catarinenses de Bataticultores. Osprincipais resultados estão sintetiza-dos a seguir.

Avaliação de cultivarespara os plantios de outo-no e inverno

O objetivo deste trabalho foi ava-liar o desempenho da nova cultivarEpagri 361-Catucha e outras cultiva-res de batata (Silva et al., 1995), bemcomo evidenciar a importância daqualidade da batata-semente. Foramconduzidas oito unidades, sendo cin-co no plantio de inverno/94 e três noplantio de outono/95, em Urussanga,Pedras Grandes, São Ludgero, Bra-ço do Norte, Armazém e SãoMartinho. Os principais resultadosobtidos foram:

• Dentre as cultivares testadas,a Epagri 361-Catucha, Monte Bonitoe Elvira foram as mais promissoraspara o plantio de outono.

• No plantio de inverno destaca-ram-se a Elvira, Monte Bonito, Ba-ronesa, Baraka, Monalisa e Catu-cha, com rendimentos superiores a20t/ha.

A prática do corte dotubérculo-semente

O trabalho objetivou a valida-ção de resultados de pesquisa sobreo corte de batata-semente visando aprodução de batata-consumo (Silva etal., 1988). Foram conduzidas e ava-liadas três unidades no plantio de in-verno/95, em Urussanga, Criciúmae São Martinho (Figura 2). Os prin-cipais resultados foram:

• A prática do corte viabilizou téc-nica e economicamente o uso de "se-mente" do tipo graúdo, de boa quali-dade fitossanitária.

• O corte de "semente" do tipo II(40 a 50mm) e, principalmente, tipoI (50 a 60mm) é uma boa opção paraos pequenos produtores de batata--consumo aumentarem o rendimen-to das lavouras, com menor custo deprodução.

Qualidade da "semente",adubação e irrigação decultivares de batata

O objetivo deste trabalho foi vali-dar resultados de pesquisas sobreadubação (Silva et al., 1996) e irriga-ção (Althoff et al., 1998) na produçãode batata-consumo, bem como de-monstrar a importância da qualida-de da "semente" e da escolha corretada cultivar. A unidade foi conduzidano plantio de outono/97, em PedrasGrandes. Os resultados de destaqueforam:

• A adubação recomendada, ba-seada na análise do solo, proporcio-nou o maior rendimento e a melhorqualidade de tubérculos; a aplicaçãodo dobro da adubação recomendadareduziu o rendimento e a qualidadedos tubérculos de todas as cultiva-res.

• A suplementação de água porirrigação aumentou a produtividadede tubérculos, especialmente quan-do houve deficiência de macro emicronutrientes.

Pedras Grandes, SC São Martinho, SC

A

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Agropec. Catarin., v.17, n.2, jul. 2004 9

• Tecnologias como adubação e ir-rigação adequadas não tiveram influ-ência no rendimento de tubérculos,quando se utilizou "semente" de bai-xa qualidade.

Conclusão

Os resultados obtidos permitemconcluir que:

• A adoção de tecnologias como"semente" de boa qualidadefitossanitária de uma cultivar adap-tada, adubação recomendada e irri-gação adequada, pode melhorar con-sideravelmente a qualidade da bata-

Figura 2. Aspecto geral da pesquisaparticipativa: corte de tubérculos-se-mente, em Criciúma, SC

ta e o rendimento médio das lavou-ras em Santa Catarina.

• A prática do corte de sementedos tipos graúdos (I e II) é uma al-ternativa viável para que os peque-nos produtores aumentem o rendi-mento de batata-consumo com me-nor custo de produção.

Literatura citada

1. ALTHOFF, D.A .; SILVA, A.C.F. da. O efei-to da irrigação na cultura da batata noLitoral Sul Catarinense. AgropecuáriaCatarinense, Florianópolis, v.11, n.4, p.27-32, dez. 1998.

2. EPAGRI. Sistemas de produção para ba-tata-consumo e batata-semente em San-ta Catarina. 3.ed. rev. atual. Floria-nópolis, 2002. 123p. (Epagri. Sistema deProdução, 2).

3. SILVA, A.C.F. da; MULLER, J.J.V.;AGOSTINI, I.; MIURA, L. Tecnologiasreduzem o custo de produção de batata--consumo. Agropecuária Catarinense,Florianópolis, v.1, n.1, p.14-18, 1988.

4. SILVA, A.C.F. da; SOUZA, Z. da S.;

MULLER, J.J.V.; VIZZOTTO, V.J.; RE-BELO, J.A.; ZANINI NETO, J.A.; COS-TA, D.M. da; BERTONCINI, O. Epagri361-Catucha: nova cultivar de batatapara Santa Catarina. AgropecuáriaCatarinense, Florianópolis, v.8, n.3, p.22-25, 1995.

5. SILVA, A.C.F. da; REBELO, J.A.;VIZZOTTO, V.J. Efeito da adubação mi-neral sobre a produção de batata e inci-dência de pinta-preta, no LitoralCatarinense. In: REUNIÃO TÉCNICAANUAL DE PESQUISA E EXTENSÃODA CULTURA DA BATATA NO RIOGRANDE DO SUL E SANTACATARINA, 3., 1996, Santa Maria.Anais... Santa Maria, RS:UFSM/Emater/SAA, 1996. p.33.

6. SINTESE ANUAL DA AGRICULTURADE SANTA CATARINA 2001-2002.Florianópolis: Instituto Cepa, 2002. 204p.

Mais informações com AntonioCarlos Ferreira da Silva, eng. agr.,M.Sc., Epagri/Estação Experimentalde Urussanga, C.P. 49, 88840-000Urussanga, SC, fone/fax: (048) 465-1209, e-mail: [email protected].

Fecoagro inaugura fábrica de fertilizantesFecoagro inaugura fábrica de fertilizantesFecoagro inaugura fábrica de fertilizantesFecoagro inaugura fábrica de fertilizantesFecoagro inaugura fábrica de fertilizantesFederação das CooperativasAgropecuárias do Estado deSanta Catarina – Fecoagro –

inaugurou em abril de 2004 suaunidade misturadora de fertilizantes,localizada em São Francisco do Sul.A fábrica tem capacidade paraprocessar 150 mil toneladas defertilizantes e custou R$ 10 milhões,dos quais 80% são financiados peloBanco Regional de Desenvolvimentodo Extremo Sul – BRDE –, comrecursos do Banco Nacional deDesenvolvimento Econômico e Social– BNDES –, no Programa deDesenvolvimento de CooperativasAgropecuárias – Prodecoop.

Para este ano, já estãocontratadas 90 mil toneladas defertilizantes. Os agricultorescatarinenses devem adquirir em2004, através do sistema decooperativas, 220 mil toneladas defertilizantes. O restante deverá sercomprado de outros fornecedoresatravés da Central de Compras daFederação das CooperativasAgropecuárias do Estado de Santa

Catarina Ltda. – Fecoagro –, que ficaem Chapecó.

está instalada em São Francisco doSul por uma questão estratégica.Além da facilidade de escoamento doproduto para várias cidades de SantaCatarina, o porto do município é oque oferece melhores condições nomomento. Ainda de acordo com opresidente da Fecoagro, estainiciativa visa a aumentar a rendados agricultores catarinenses, alémde ampliar a competitividade dosprodutos no mercado internacional.

Os fertilizantes têm um pesoexpressivo nos custos de produção.Os habituais altos preços inibem ouso, com prejuízos à produtividade eà renda dos agricultores. Com ainauguração da fábrica, a Fecoagroespera retirar da cadeia produtiva oscustos de intermediação e ofereceraos agricultores associados maisqualidade e melhores preços.

Além destes benefícios, ainiciativa contribui para odesenvolvimento do setor agrícola,a geração de novos empregos,impostos e a movimentação daeconomia catarinense.

De acordo com o presidente daFecoagro, Neivor Canton, a unidade

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10 Agropec. Catarin., v.17, n.2, jul. 2004

PPPPPrimeiras cultivares brasileiras de uva sem sementerimeiras cultivares brasileiras de uva sem sementerimeiras cultivares brasileiras de uva sem sementerimeiras cultivares brasileiras de uva sem sementerimeiras cultivares brasileiras de uva sem sementeLinda, Clara e Morena estão disponíveis desde abril de 2004 para produtores de todo o país.

s primeiras cultivares de uvade mesa sem sementes de-senvolvidas especialmente

para o solo e o clima brasileirosforam lançadas pela EmpresaBrasileira de Pesquisa Agropecuária– Embrapa –, vinculada aoMinistério da Agricultura, Pecuáriae Abastecimento – Mapa –, emdezembro de 2003, depois de seteanos de pesquisa de laboratório e decampo. Duas – a BRS Linda e a BRSClara – são de uva branca. A outra,a BRS Morena, de uva preta.

As cultivares foram desenvolvidaspela Embrapa Uva e Vinho (BentoGonçalves, RS) por meio domelhoramento genético tradicional,sem utilização de técnicas detransgenia; são recomendadas paraplantio no Noroeste de São Paulo,Norte de Minas Gerais e no Vale doSubmédio do São Francisco, pois sãoadaptadas ao cultivo em regiõestropicais. As três são indicadas comouvas para consumo in natura e paracomercialização tanto no mercadointerno quanto no externo.

Características – A BRS Claraé uma cultivar vigorosa e fértil,obtida através de cruzamento entreas uvas 154-147 x CentennialSeedless (1998); destaca-se pelosabor moscatel (suave e agradável),pela coloração verde-amarelada epela textura crocante da polpa;possui produtividade elevada (30t/ha/ano) e os cachos apresentam boaconformação, sendo naturalmentecheios, de tamanho médio a grande.

A BRS Linda é uma cultivarvigorosa, com ótima adaptação àsregiões testadas; foi obtida por meiode cruzamento entre as uvas 154-90x Saturn (1998); tem coloração ver-de, preferida por certos mercadoscomo a Grã-Bretanha, e fertilidadealta, normalmente dois cachos porramo e pode produzir o equivalentea 47t/ha. O cacho atinge facilmentede 450 a 600g (tamanho grande) e apolpa é firme e crocante. O sabor éneutro, bem aceito pelo consumidorbrasileiro, que normalmente preferefrutas menos ácidas. A acidez e oaçúcar baixo permitem sua caracte-

rização, para efeito comercial, comouma uva “light” ou “diet”.

A BRS Morena é uma cultivarprecoce, com alta fertilidade (doiscachos por ramo, de tamanho médioa grande), vigor moderado e produ-tividade na ordem de 20 a 25t/ha; foiobtida a partir do cruzamento en-tre as uvas Marroo Seedless xCentennial Seedless (1998); possuium ótimo sabor (com bom equilíbrioentre açúcar e acidez) e polpa comtextura firme e crocante. Como asuvas se soltam com facilidade (fracaaderência ao pedicelo), é reco-mendado embalar as frutas em sacosplásticos ou cumbucas (que depoissão acondicionados em caixas) paraevitar problemas com a comer-cialização.

Mais informações com JoséFernando da Silva Protas e UmbertoAlmeida Camargo, pesquisadores daEmbrapa Uva e Vinho, RuaLivramento 515, 95700-000 BentoGonçalves, RS, fone: (054) 455-8084,fax (054) 451-2792, internet:www.cnpuv.embrapa.br.

BRS LindaBRS Clara BRS Morena

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• O que é gripe do frango?É uma doença causada por uma

cepa (linhagem) do vírus Influenza,conhecida pela sigla H5NI. Foi ini-cialmente identificada na Itália, hámais de cem anos, e desde entãoocorreram casos em vários países.Mais recentemente foi constatadana Holanda, Bélgica e em paísesasiáticos.

• A doença existe no Brasil?Não. A doença é exótica e nunca

ocorreu em aves no território nacio-nal. Porém, é altamente contagiosa,infecciosa e de rápida difusão.

• Outros animais podem serafetados pelo vírus Influenza?

Sim. Existem vários tipos devírus Influenza, os quais podem afe-tar, além das aves domésticas e sil-vestres, os suínos, os eqüinos, os ma-míferos aquáticos e, inclusive, ohomem.

• Quais são os principais sinais dadoença das aves?

Corrimento nasal e ocular; cabe-ça, crista e barbela inchadas; diar-réia, plumagem arrepiada e diminui-ção da postura de ovos. Esses sinaispodem estar presentes no caso deoutras doenças nas aves, e muitasvezes a morte súbita acontecesem apresentar qualquer sinal dadoença.

• Como o vírus Influenza se trans-mite para as aves?

A principal via de transmissãosão as aves migratórias e pessoasque entram em contato com aves in-fectadas, por meio de roupas, calça-dos, cabelo, mãos, etc.

• Como deixar inativo o vírus?À temperatura de 56oC por 3

horas ou a 60oC por 30 minutos, empH ácido, com agentes oxidantes,dodecil sulfato sódico, solventeslipídicos e beta-propiolactona ecompostos à base de formol e iodo.Sua sobrevivência continua porlongos períodos em tecidos, fezes,água, à temperatura de refrige-ração. À temperatura de 20oC,permanece ativo por até sete dias, equando fica conservado, por períodoindeterminado.

• Quais são os principaishospedeiros e fontes do vírus?

Os primeiros isolamentos dainfluenza aviária de alta patogeni-cidade ocorreram em galinhas eperus. Presume-se que todas asespécies de aves sejam suscetíveis àinfecção. As aves silvestres emigratórias, palmípedes e psitací-deos são consideradas reservatóriosdo vírus. O vírus pode permanecerativo por longos períodos em fezesinfectadas, assim como em tecidos ena água.

• Existe o risco de o homemcontraí-la?

Sim. Mas até o momento sóocorreram casos em pessoas quetiveram contato direto com avesdoentes. Não foi comprovado ne-nhum caso de contaminação peloconsumo de carne de aves e ovos.Os processos de cozimento e de fri-tura eliminam totalmente o vírus.A doença não é infecciosa entre aspessoas. O vírus não passa de umindivíduo para outro. A OMS temeque o vírus sofra mutação e sedissemine entre os seres huma-nos.

• A doença pode chegar ao Brasil?

Sim. O Ministério da Agricultura,Pecuária e Abastecimento estáadotando rotineiramente uma sériede medidas para evitar a entrada damesma no território nacional, pormeio de:

- proibição da importação de avese seus produtos de países onde ocorraa doença;

- fiscalização nos pontos de entrada(portos, aeroportos e postos defronteira);

- realização de exames em avesmigratórias e nas granjas de frangos,perus e galinhas;

- divulgação de informações sobrea doença para o setor avícola e apopulação em geral;

- treinamentos para os médicosveterinários dos serviços oficiais eda iniciativa privada.

• Como evitar a introdução dainfluenza no Brasil?

Ao visitar países onde estáocorrendo a doença, as pessoasdevem evitar o contato com aves. Asroupas e os calçados utilizados devemser bem lavados e, ao regressar aoBrasil, deve-se evitar o contato comaves por pelo menos uma semana.Em hipótese alguma, as pessoasdevem trazer alimentos de origemanimal de qualquer país. É muitoimportante também que qualquersuspeita da doença seja imediata-mente comunicada aos órgãosoficiais (Ministério da Agricultura,Pecuária e Abastecimento eSecretarias de Agricultura e Saúdedos Estados).

Fonte: Revista de Agronegóciosda FGV – Agroanalysis, março de2004.

PPPPPerguntas eerguntas eerguntas eerguntas eerguntas erespostasrespostasrespostasrespostasrespostassobre a gripesobre a gripesobre a gripesobre a gripesobre a gripedo frangodo frangodo frangodo frangodo frango

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Colespor – nova ferramenta paraColespor – nova ferramenta paraColespor – nova ferramenta paraColespor – nova ferramenta paraColespor – nova ferramenta parapesquisar doenças em plantaspesquisar doenças em plantaspesquisar doenças em plantaspesquisar doenças em plantaspesquisar doenças em plantas

esenvolvido pelo fitopatolo-gista Onofre Berton, naEpagri/Estação Experimen-

tal de Caçador, o coletor de esporos(Colespor) é um equipamento quetem como principal objetivodeterminar a liberação de esporosde fungos causadores de doenças emplantas. A recente constatação denovas espécies de Botryosphaeria e adescoberta inédita da ocorrência dafase perfeita do fungo, nas condi-ções climáticas do Meio-OesteCatarinense, foram possíveis graçasao uso do colespor.

Testado nos anos de 2002 e 2003,o Colespor simula o que ocorre nanatureza por meio do uso de quatrofatores (a água, a temperatura, a luze o vento) que interferem nos proces-sos de liberação e disseminação dosesporos de fungos.

O Colespor, como mostra a Figu-ra 1, consiste em um corpo formadopor um tubo de PVC de 100mm dediâmetro. O corpo está montadohorizontalmente em uma caixa demadeira com as duas aberturas nahorizontal e a terceira abertura navertical, formando um T invertido.As três aberturas estão vedadas comtampão de PVC, que pode serremovido para os ajustes necessáriosao funcionamento do equipamento.

Dos fatores necessários para aliberação de esporos de fungos, aágua é o mais importante. Ela éfundamental para a maioria dosfungos liberarem seus esporos.Alguns importantes fitopatógenosproduzem esporos envoltos emmassas mucilaginosas bastantecompactas e resistentes quandosecas. A água dissolve a mucilageme os esporos são liberados e tambémdisseminados a alguma distânciapelos respingos da chuva. NoColespor, a água entra pela aberturasuperior, sendo forçada a passar porum pequeno orifício. A aberturadeste orifício ainda pode ser reguladapela ponta de uma agulha,

produzindo assim finíssimos jatos deágua sobre a amostra a ser estudada.Após diversos ensaios, obtiveram-sesignificativas descargas de esporoscom uma vazão de 54ml/min. Aamostra escolhida para o estudo écolocada sobre uma tela de metalinoxidável e fica exposta ao mini-chuveiro durante todo o tempo dedescarga. Ao passar pela amostra, aágua deixa o equipamento por umaabertura localizada na sua base,saindo por gravidade para umamangueira até um reservatório.Nessas condições, a umidade relativado ar no interior do Colespor é de100%, com presença de água livre naamostra durante todo o tempo,simulando o que ocorre durante umachuva de determinada intensidade.

A liberação de esporos, na grandemaioria dos fungos, ocorre nor-malmente em temperaturas ao redorde 20oC. O Colespor foi projetadopara trabalhar em temperaturaambiente no interior do laboratóriono período correspondente ao finalda primavera e início do verão. Aspequenas variações que podemocorrer não devem afetar a eficiênciade seu funcionamento.

O aparelho está equipado comuma lâmpada fluorescente compactaPhillips de 13W “Cool White”, locali-zada na torre ao lado da entrada daágua, incidindo sua luz sobre a amos-tra a ser testada. A luz fluorescenteé branca e não interfere na variaçãoda temperatura no interior do corpoda máquina. A lâmpada apresentoubons resultados para algunsimportantes fitopatógenos emfruticultura de clima temperado, e aintensidade luminosa provavelmenteatenda à maioria dos fungos queliberam seus esporos em presençade luz. No caso de fungos que exijammaior intensidade luminosa, aadaptação de uma fibra ótica ligada auma fonte luminosa externa e a umreostato de impedância resistiva seráde muita facilidade.

No Colespor, uma corrente de argerada por um pequeno compressorelétrico entra pelo centro da aberturaesquerda após passar por um filtropara a retenção das impurezas do ar,principalmente poeira. Diferentesfluxos foram testados, sendo que ode 20L/min foi o que apresentou osmelhores resultados para os fungosVenturia inaequalis, Botryosphaeriaspp. e Colletotrichum spp. Com óti-mos resultados para esses fungos, épossível dizer que esse fluxo deveatender satisfatoriamente à maioriados fitopatógenos.

No centro do tampão do ladodireito do Colespor há uma aberturade 20mm de comprimento por 2mmde largura, por onde sai o fluxo de arimpulsionado pelo compressor. Nacoleta de esporos, a uma distânciaaproximada de 1mm dessa abertura,coloca-se uma lâmina de microscopialevemente besuntada de vaselina. Alâmina, que fica perpendicular àabertura, pode ser movimentadahorizontalmente, expondo a super-fície da lâmina, no sentido do seucomprimento, a posições diferentespelo tempo que se julgar necessário.Por exemplo, pode-se coletar osesporos, em uma parte da lâmina,durante os primeiros 20 minutos e,logo após a primeira coleta, movi-mentar a lâmina para outra posiçãopara o próximo período de coleta.Esta movimentação da lâmina podeser feita durante todo o tempo defuncionamento do equipamento.

Para estudos mais avançados, épossível instalar no Colespor um me-canismo de relógio com cilindro rota-tivo e expor uma fita plástica emlugar da lâmina de microscopia. Apósa remoção da fita, a mesma poderáser cortada em tamanhos que repre-sentem um determinado espaço detempo e montada sobre uma lâminade microscopia para estudar qual ocomportamento da liberação dosesporos em função do tempo, da lu-minosidade, da temperatura, etc.,

DFigura 1. Coletor de esporos (Colespor)

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marcando-se a posição inicial na fitae utilizando-se as tarrachas de movi-mentação micrométrica do micros-cópio.

Para dar funcionamento ao Coles-por, uma amostra representativa domaterial a ser estudado (folhas, ra-mos, etc.) é preparada e colocada nointerior do equipamento sobre umatela inoxidável. O aparelho é ligadoe os fluxos de água e ar são calibradospara a vazão desejada. A lâmina écuidadosamente colocada na posiçãoescolhida pelo usuário. O funciona-mento da máquina dura em torno de1 a 2 horas. Ao final deste período, o

aparelho é desligado e a lâmina épreparada para a leitura no micros-cópio. Durante o seu funcionamento,a água que cai sobre a amostra liberaos esporos, auxiliada, se necessário,pela luminosidade. Os esporos sãocarregados pelo fluxo de ar impul-sionado na direção da abertura contraa lâmina de microscopia, sendo captu-rados pela película de vaselina apli-cada sobre a lâmina. A água liberadaque passa pela amostra sai por umaabertura localizada na base do Coles-por, mas o ar impulsionado para den-tro do corpo da máquina é impedidode sair junto com a água devido a um

sifão colocado após a saída. Nele,certa quantidade de água é acu-mulada, impedindo a saída do ar.Com alguns equipamentos extrascomo termostato, umidostato, cro-nômetro e válvula solenóide, o Coles-por pode ser programado para fun-cionar de acordo com as necessidadesda pesquisa a qualquer hora do diaou da noite, de forma auto-mática.

Mais informações com OnofreBerton, eng. agr., Ph.D., Epagri/Estação Experimental de Caçador,C.P. 591, 89500-000 Caçador, SC,fone: (049) 563-0211, e-mail:[email protected].

Desidratação osmótica de alimentosDesidratação osmótica de alimentosDesidratação osmótica de alimentosDesidratação osmótica de alimentosDesidratação osmótica de alimentosaralelamente à preocupaçãocom a qualidade dos produtosque vão à mesa do brasileiro

para consumo, o Laboratório de En-genharia de Processos, da Facul-dade de Engenharia de Alimentos– FEA –, na Universidade Estadualde Campinas – Unicamp –, desen-volve pesquisas sobre a desidrataçãoosmótica, um processo que consistebasicamente na retirada da águacontida em certos alimentos, quepodem ser frutas, legumes ou carnes.O principal objetivo desse processo émanter a qualidade o mais próximopossível do produto fresco.

Para a desidratação de frutas,normalmente utiliza-se uma soluçãoconcentrada de sacarose. Já para ascarnes vermelhas, os peixes e algunslegumes, as soluções mais usadassão as de sal (cloreto de sódio).

O processo de desidrataçãoosmótica funciona de maneira que aestrutura da parede celular dosalimentos age como se fosse umamembrana semipermeável (significaque ela não é completamenteseletiva), resultando em dois fluxosde transferência de massa em sentidocontrário: a difusão da água doalimento para a solução e a difusãodo soluto (sal ou açúcar que seencontra dissolvido em água) dasolução para o alimento. Nesseprocesso pode ocorrer uma perdamínima dos solutos naturais doalimento, como açúcares, ácidosorgânicos e minerais, entre outros,que pode ser desprezível do ponto devista de transferência de massa.

De acordo com a professoraMiriam Dupas Hubinger, do Labora-tório de Engenharia de Processos da

FEA, a redução dos teores protéicosdos alimentos, com a retirada daágua por desidratação osmótica, nãoocorre sempre. O que pode ocorrer éa desnaturação das proteínas doalimento, dependendo da quantidadeda salmoura utilizada.

Outro fator que pode influenciarna desnaturação de proteínas é aalta temperatura. No caso da des-naturação de carnes e peixes, a alter-nativa é trabalhar com soluções desal em concentrações e temperaturasque não afetem os tipos de proteínaspresentes nos alimentos.

Geralmente, a desidrataçãoosmótica é realizada com pressãoatmosférica e temperaturas nasfaixas de 20 a 50oC para frutas elegumes. Ao utilizar altas tempe-raturas, a transferência de massa éfavorecida, o que eleva a quantidadede água retirada. No entanto, autilização de temperaturas em tornode 50oC começa a destruir a paredecelular do fruto, prejudicando atextura e o sabor do mesmo. Nessascondições, a desidratação podeocasionar a degradação da cororiginal do fruto em questão. Paracarnes e peixes são utilizadastemperaturas entre 10 e 20oC, o queevita a degradação do produto e odesenvolvimento e a proliferação demicrorganismos.

Benefícios da desidrataçãoosmótica

De acordo com a professoraMiriam, os tratamentos osmóticosvêm sendo utilizados principalmentecomo um pré-tratamento introduzidoa alguns processos convencionais,

como secagem a ar e congelamento,com a intenção de melhorar aqualidade do produto final, reduzircustos de energia ou até mesmoformular novos produtos. Miriam dizque com esse estudo busca-se obterfrutas processadas saudáveis,naturais e saborosas, com duraçãomuito maior nas prateleiras desupermercados do que a da frutaapenas cortada e embalada sobatmosfera modificada. Um estudofeito com metade de uma goiabaresultou em uma vida útil de 24 diaspara a desidratada osmoticamente,contra dez dias para outra metade degoiaba sem nenhum pré-tratamento.O que difere o produto osmotica-mente desidratado do produto sempré-tratamento é a resistência àcontaminação de microrganismos.

No caso dos produtos secos, semnenhum pré-tratamento, a vida naprateleira dura bem menos do que ados produtos desidratados, resul-tando no desenvolvimento de fungos(mofo) e leveduras, o que impossi-bilita o consumo, enquanto que ososmoticamente desidratados eposteriormente secos apresentammelhor textura, maior retenção devitaminas, melhor sabor e estabili-dade de cor e maior vida de prateleira,que pode variar de seis meses a umano.

Os produtos osmoticamentedesidratados podem também repre-sentar um bom método no desen-volvimento de alimentos funcionais,como, por exemplo, fornecer umaquantidade maior de fibras aoorganismo ou possuir propriedadesanticancerígenas.

Fonte: Jornal da Unicamp/SP –26 de abril a 2 de maio de 2004.

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PPPPParasitoses no Planalto Catarinensearasitoses no Planalto Catarinensearasitoses no Planalto Catarinensearasitoses no Planalto Catarinensearasitoses no Planalto Catarinense

s parasitoses de um modo ge-ral, tanto os ectoparasitascomo os endoparasitas,

sofrem influências no seu desen-volvimento, principalmente devidoàs condições climáticas, ao relevo,ao manejo adotado, às espécies deanimais explorados, além de outrosfatores também importantes para oseu estabelecimento. Para entendertoda esta complexidade e atuar deforma adequada no seu controle,foram necessários muitos anos depesquisas de campo e de laboratório.

Ectoparasitas

Entre os ectoparasitas causado-res de perdas significativas naprodução da pecuária catarinensedestacam-se o carrapato (Boophilusmicroplus), seguido pelo berne(Dermatobia hominis) e, maisrecentemente, a mosca-dos-chifres(Haematobia irritans).

Por essa razão é que os trabalhosde pesquisa foram iniciados com ocarrapato, tendo como objetivo

principal conhecer a flutuaçãoestacional da fase parasitária e dafase de vida livre desse ectoparasita(Figuras 1 e 2) no PlanaltoCatarinense, clima Cfb (Climatemperado propriamente dito:temperatura média no mês mais frioabaixo de 18oC, com verões frescos,temperatura média no mês maisquente abaixo de 22oC e sem estaçãoseca definida), e no Vale do Itajaí,clima Cfa (Clima subtropical:temperatura média no mês maisfrio inferior a 18oC e temperaturamédia no mês mais quente acima de22oC, com verões quentes, geadaspouco freqüentes e tendência de con-centração das chuvas nos meses deverão, contudo sem estação secadefinida). A informação maisimportante obtida foi que o clima friodo Planalto Catarinense controla afase de vida livre no solo durante osmeses de abril a agosto.

Continuando os trabalhos, vi-sando o controle através do manejode pastagens, verificou-se que o mêsde dezembro seria a melhor época

Figura 1. Bovino infestado comcarrapato

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Figura 2. Fêmeas de carrapatos em posturas no solo

do ano para se realizar adescontaminação necessária de umaárea (potreiro ou invernada) comlarvas de carrapatos, se estapermanecer por 60 a 80 dias semanimais (Figura 3). Medidas comoesta, que reduzem a dependência douso de carrapaticidas, possibilitamo retardo no desenvolvimento decepas resistentes.

Endoparasitas

Conduziram-se estudos sobre ocomportamento dos nematóidesgastrintestinais e pulmonares dosanimais, levando-se em contafatores relacionados com o meioambiente, hospedeiro e os para-sitas, procurando conhecer suasflutuações estacionais e as corre-lações com o clima, manejo e am-biente.

Além da fase parasitária, eranecessário o conhecimento da fasede vida livre dos parasitas, desde oovo até a formação de larvasinfectantes. Trabalho semelhante ao

Teleóginas3o dia depostura

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Agropec. Catarin., v.17, n.2, jul. 2004 15

Figura 3. Larvas de carrapatos nasfolhas de pastos prontas para subirnos animais

Figura 4. Infestação por mosca-dos-chifres, comprovando a preferência porpelagem escura

Figura 5. Nódulos de bernes em bovinos

que foi elaborado com larvas decarrapatos foi também executadocom as larvas de helmintos (vermes),observando o tempo de vida destasnos pastos. Verificou-se que ocontrole da maioria das larvasinfectantes foi através da mesmaépoca de descanso indicada para aslarvas de carrapato. A adoção desomente esta tecnologia representamais de 95% do controle de toda apopulação de carrapatos e deverminoses no sistema produtivo.

Mosca-dos-chifres

Com relação às moscas-dos-chi-fres (H. irritans), verificaram-sepopulações sempre abaixo de 200moscas por animal, demonstrandopouca importância quanto aos danosna produção. Nos rebanhos debovinos, cerca de 30% dos animaisestão sempre com mais de 60% dapopulação dessas moscas, repetindo--se na maioria das contagens sempreos mesmos animais. Trabalho depesquisa comprovou que o uso demosquicidas dirigidos apenas nestesanimais com maiores infestações(30%) controlou 89,36% da população(Figura 4).

Outra linha de pesquisa que seestá trabalhando é o controle naturaldeste inseto, por meio da confecçãode uma armadilha para evitar oureduzir drasticamente o uso deprodutos químicos.

Controle integrado docarrapato, do berne e daverminose bovina

O conhecimento gerado com aspesquisas em parasitoses noPlanalto Catarinense, tanto na fasede vida livre como nos animais,possibilitou avançar na busca deoutras tecnologias que pudessematingir o controle adequado dosparasitas mais importantes econo-micamente, com menor uso deprodutos químicos e de mão-de-obra,priorizando-se o manejo. Com basenestas premissas, executou-se acampo uma proposta de controleestratégico integrado do carrapato(B. microplus), do berne (D.hominis) (Figura 5), bem como dasinfecções por helmintos gastrintes-tinais e pulmonares em bovinos decorte no Planalto Catarinense. Oresultado encontrado mostrou-se

totalmente adequado, somente como uso de medicações para inter-romper o ciclo biológico destesparasitas nos bovinos, por umperíodo de aproximadamente 70dias, a contar da segunda quinzenade janeiro até o final de março. Ascargas destes parasitas permane-ceram durante o ano em níveisbaixos, suportáveis pelos bovinos.Tudo isto com menor custo emmedicamentos e mão-de-obra, alémde diminuir a contaminação nosanimais e no meio ambiente.

Todas estas informações estãodisponíveis no Boletim Técnico 121da Epagri, já à disposição dosinteressados.

Mais informações com CésarItaqui Ramos, méd. vet., Epagri/Estação Experimental de Lages, C.P.181, 88502-970, Lages, SC, fone/fax:(049) 224-4400,e-mail: [email protected].

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18 Agropec. Catarin., v.17, n.2, jul. 2004

Conferência das Nações Uni-das para o Comércio e Desen-volvimento – Unctad – prevê

que o Brasil será o maior país agrícolado mundo em dez anos, porémexistem alguns problemas a seremsolucionados. Em média, o Brasilestoca suas mercadorias 33 dias amais do que os Estados Unidos,representando aproximadamenteR$ 230 bilhões parados ao ano, porcausa das condições precárias dainfra-estrutura dos transportesbrasileiros, é o que diz um estudofeito pela consultoria Economática,com as principais companhias doterritório nacional e americano epelo diretor do Centro de Logísticada Universidade Federal do Rio deJaneiro – UFRJ –, Paulo Fleury, quetambém realizou pesquisa sobre estesetor.

O agronegócio é o setor que maissofre com a ineficiência dos canais detransportes – as mercadorias ficamestocadas nas carretas e noscaminhões estacionados nasrodovias, resultando em aumentodos custos e redução da compe-titividade do produto brasileiro noexterior, pois as “encomendas”chegam com atrasos. O próprioMinistério da Agricultura já admitiuque a safra de grãos de 2004 podeenfrentar sérios problemas deescoamento por causa da falta deinvestimentos no setor.

O gargalo logístico envolvepraticamente toda a infra-estruturade transporte do País. De acordocom a Confederação Nacional dosTransportes – CNT –, 82% dasestradas brasileiras apresentamsérias deficiências, entre elas maisde 8 mil quilômetros com trechos deburacos e afundamentos. Acrescente--se a idade avançada da nossa frotade caminhões (18 anos) paradescobrir por que a velocidade médiados veículos das estradas para osportos foi reduzida em 40% nosúltimos anos.

Por outro lado, as ferrovias,embora tenham recebido inves-timentos com a privatização, aindaestão longe de suprir a demanda dosetor de agronegócio e se consolidar

1Presidente da Associação Brasileira de Logística – Aslog –, e-mail:[email protected].

O grande desafio doO grande desafio doO grande desafio doO grande desafio doO grande desafio doagronegócio no Brasilagronegócio no Brasilagronegócio no Brasilagronegócio no Brasilagronegócio no Brasil

Os obstáculos que o setor deve enfrentarpara se tornar líder mundial nospróximos dez anos

Altamiro Borges1

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Agropec. Catarin., v.17, n.2, jul. 2004 19

como uma alternativa viável aotransporte rodoviário. Além daampliação da malha de 30 milquilômetros de extensão (pratica-mente igual à do Japão, país 22 vezesmenor que o Brasil) é urgente amodernização do maquinário. Comos trens e bitolas atuais, a velocidademédia das composições nãoultrapassa lentos 25km/h.

Ao mesmo tempo, deixamos defazer uso de canais de transporte degrande potencial, caso dos 42 milquilômetros de hidrovias, em queapenas 10 mil quilômetros sãoefetivamente utilizados. Comoresultado, em sistema como o doTietê-Paraná, com 2,4 mil qui-lômetros e que consumiu US$ 2bilhões em investimentos públicosem vários governos, escoa apenas 2milhões de toneladas de carga porano, apenas 10% de sua capacidadetotal.

No transporte marítimo decabotagem assistimos a uma situaçãosemelhante. Embora a privatiza-ção tenha contribuído para amodernização dos portos, o excessode mão-de-obra (que chega a ser de

três a nove vezes superior à dosportos europeus e sul-americanos)ainda mantém os padrões deprodutividade baixos. Enquanto oíndice internacional de movi-mentação é de 40 contêineres porhora, nos portos brasileiros essamédia é de 27. É um dos motivospelos quais todos os anos caminhõesformam filas de até 150km deextensão para descarregar suascargas no porto de Paranaguá, PR.

Consciente de que sozinho nãoconseguirá reverter esse quadro, ogoverno federal já busca o apoio dainiciativa privada. Por meio do planode Parceria Público-Privada,pretende investir R$ 13,68 bilhõesem 23 projetos de reformas emrodovias, ferrovias, portos e canaisde irrigação até 2007.

É preciso destacar também que ainiciativa privada ainda tem muito acontribuir para o desenvolvimentoda infra-estrutura do País, incen-tivando a criação de pólos inter-modais de transporte para reduçãode custos e aumento do nível deserviços.

Um exemplo do potencial desses

pólos é representado por um estudoda Empresa Brasileira dePlanejamento de Transportes(Geipot), ligada ao Ministério dosTransportes. Já em 2000, a empresaalertava que o melhor aprovei-tamento e a utilização racional doscanais de transporte seriam capazesde economizar cerca de US$ 75milhões nos custos anuais deescoamento de grãos. Para ilustrar oque estamos falando, basta destacarque um único comboio na hidroviaRio Madeira tem capacidade para 18mil toneladas de grãos, substituindo600 carretas de 30t nos eixos Cuiabá,MS/Santos, SP, e Cuiabá, MS/Paranaguá, PR.

Como se vê, os obstáculos para ocrescimento do agronegóciobrasileiro são imensos, mas assoluções também existem e estãoprontas para serem colocadas emprática. O que esperamos, comoempresários, executivos e profissio-nais ligados à logística, é que tanto ogoverno quanto a iniciativa privadamantenham a sua determinação emmodernizar a infra-estruturabrasileira.

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Sustentabilidade no espaço rural: um novoSustentabilidade no espaço rural: um novoSustentabilidade no espaço rural: um novoSustentabilidade no espaço rural: um novoSustentabilidade no espaço rural: um novoparadigma organizacional – IIparadigma organizacional – IIparadigma organizacional – IIparadigma organizacional – IIparadigma organizacional – II11111

Francisco da Cunha Silva2

discurso da modernidade,alimentado pela corrente dopensamento utilitarista que

permeia a sociedade industrial (on-de os negócios, a eficiência e o su-cesso assumiram papel central), vemmodelando o modo de vida na esteirade uma sociedade centrada nomercado. Nesse contexto, o meiorural e as pessoas que ali vivem sãoenquadradas no domínio do ethos domercado provocando, ao lado docrescimento da produção e da pro-dutividade agrícolas, outras exter-nalidades tais como o esvaziamentodos campos, a degradação ambiental,o crescimento da miséria e violêncianos centros urbanos, a desagregaçãode valores substantivos, o aumentodo contingente de desempregados eexcluídos e gerações de “deformados”pela hipertrofia da dimensãoeconômica.

A partir da II Guerra Mundial, osistema de mercado assumiu umpapel cada vez mais central emodelador da mente e da vida doscidadãos. A grande transformação aser creditada ao sistema de mercadofoi a transformação da produçãonuma atividade científica e o pro-vimento da sociedade de capacidadede processamento com alta produ-tividade. No entanto, a deformaçãodo ser humano foi o preço psicológicopago por essa grande transformação,que criou uma logística de abundânciade bens primordiais.

O episódio histórico da moder-nidade ensejou uma proposta deorganização da vida humana funda-mentada na prevalência da dimensão

econômica sobre as dimensõespolítica, social e cultural que, atéentão, sempre coexistiram de formaintegrada: as dimensões política ecultural ordenando e viabilizando avida humana, tanto de caráterindividual quanto associada, e asdimensões econômica e socialatendendo aos imperativos dasubsistência e da gregariedadeintrínsecas à condição humana.

Numa perspectiva multidimen-sional, as áreas da saúde e educaçãorefletem alguns dos efeitos perversosda “ideologia da modernidade” tantono espaço rural como nos centrosurbanos. A associação da “medica-lização da vida” e do “terrorismomédico” vem “sabotando o sabor daexistência”. Muitos médicos “per-deram o contato com os pacientes,não os ouvem como deveriam e osnovos candidatos a médicos têmcaracterísticas cada vez mais técnicase menos humanitárias”. O pacienteé tratado como uma estatística, comoalguém desprovido de vontade e deuma existência, numa medicina quesegue o padrão da indústria médicados Estados Unidos preconizando,“num efeito bola de neve, o maiornúmero possível de exames einternações hospitalares” (Londres,2002).

Um outro aspecto dessa medicinaindustrial, imersa na dimensãoperdida da cura, é a “doençaiatrogênica” resultante de “compli-cações cirúrgicas, medicação errada,efeitos colaterais de remédios eoutros tratamentos, e dos debili-tantes efeitos da hospitalização”

(Ferguson, 2000). A “iatrogenia” estámais presente do que nunca nachamada “agricultura moderna”conduzida à base de agrotóxicos efertilizantes de síntese química, emque as relações entre substânciasnitrogenadas e glicídios intensificama suscetibilidade das plantas aoataque de patógenos.

Na área da educação, o sistemaeducacional vigente está, dentreoutras distorções, desvinculado darealidade vivida pelo educando,comprometendo o processo ensino--aprendizagem. A questão doconhecimento e da aprendizagem éabordada por alguns autores de formacontundente:

“Se não questionarmos a suposiçãode que o conhecimento é umamercadoria que, sob certas circuns-tâncias, pode ser infringida aoconsumidor, a sociedade será cadavez mais dominada por sinistraspseudo-escolas e totalitários gerentesde informação. Os terapeutaspedagógicos doparão sempre maisseus alunos com a finalidade deensiná-los melhor; os estudantestomarão mais drogas para sealiviarem das pressões dosprofessores e da corrida para osdiplomas. Número crescente deburocratas vai arvorar-se emprofessores. A linguagem do homemde escola já foi escolhida pelopublicitário. [...] Nossa opção ésuficientemente clara. Ou continua-mos a acreditar que a aprendizageminstitucionalizada é um produto quejustifica investimentos ilimitados3 ouredescobrimos que a legislação, o

1Estudo extraído da dissertação de mestrado “Políticas públicas para uma vida rural sustentável: estudo à luz da Teoria da Delimitaçãodos Sistemas Sociais”, de autoria de Francisco da Cunha Silva e orientada pelo professor José Francisco Salm, Ph.D., UFSC/CSE/CPGA.Este é o segundo de uma série de três artigos.2Eng. agr., M.Sc., professor adjunto da UFSC, Florianópolis, SC, fone: (048) 246-2818, e-mail: [email protected] Brasil, o negócio da educação representa 9% do PIB – R$ 90 bilhões, dos quais R$ 44 bilhões do setor privado – equivalente à soma dofaturamento dos setores de telecomunicações e energia.

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planejamento e o investimento – sefor possível dar-lhes um lugar naeducação formal – devem ser usadosprincipalmente para derrubar asbarreiras que atravancam asoportunidades de aprendizagem.Estas últimas são exclusivamenteatividades pessoais’’ (Illich, 1979).

Em termos físicos, econômicos esociais, dois outros abismos ameaçama sustentabilidade do planeta: adegradação do ambiente naturale a miséria.

A sociedade de mercado, em suanova dimensão globalizante, põe emrisco e destrói inúmeras comuni-dades locais pelo mundo inteiro; e,“no exercício de uma biotecnologiamal-pensada, violou o caráter sa-grado da vida e procurou transformara diversidade em monocultura, aecologia em engenharia e a própriavida numa mercadoria” (Capra, 2002).

A disponibilidade e a qualidade da“água potável” é uma das tantasexternalidades da ‘ ‘degradaçãoambiental’’. É uma questão que afetasignificativamente a perspectiva dedesenvolvimento sustentável. Emvirtude da poluição provocada pelaatividade econômica, da fatia da águadisponível para consumo humano(2,3% do total), a metade tornou-seimprestável para consumo. Aescassez de água potável já atinge40% da população mundial e, casonão sejam tomadas medidasurgentes, deverá afetar a metadedos 8 bilhões de habitantes do planetaprevistos para os próximos 25 anos.Cerca de 70% da água utilizada pelohomem é destinada à agricultura,sendo que mais da metade é perdidaem sistemas de irrigação ineficientes.Uma terça parte das maiores baciashidrográficas perderam mais dametade de sua cobertura vegetal,reduzindo a qualidade da água eaumentando os riscos de enchente.Nos ecossistemas de água doce, ‘‘pelomenos 20% das 10 mil espécies deorganismos aquáticos já foram ou

estão sob ameaça de extinção” (Teich,2002).

No caso catarinense, o manejoinadequado dos solos, o despejo dedejetos suínos no ambiente rural e ouso de agrotóxicos e fertilizantesquímicos vêm intensificando a ero-são, o assoreamento dos rios e a con-taminação das fontes e dos cursosd’água. Cerca de 80% das águas emSanta Catarina estão, de alguma for-ma, comprometidas em sua quali-dade (Instituto Cepa/SC, 2002).

Em Santa Catarina, a intensamigração rural-urbana, a concen-tração da produção e o uso detecnologias inadequadas vêm, deforma simultânea, provocando oesvaziamento dos campos e adegradação dos recursos naturais.

Na questão demográfica oesvaziamento do meio rural énotório. Uma quinta parte (21,3%)dos 5,33 milhões de habitantes doterritório catarinense ainda vivemno meio rural ( 2000). No entanto, há40 anos (1960), eram mais de doisterços (67,7%). Na última década ofenômeno do êxodo rural foi aindamais intenso: entre 1991 e 2000, apopulação rural catarinense sofreuuma redução, em termos absolutos,de 194,3 mil habitantes, cor-respondendo a uma taxa média anualde migração rural–urbana da ordemde 3,2%.

Nas décadas anteriores, o poderde atração e o fascínio que os centrosurbanos exerciam sobre as comuni-dades rurais eram fatores determi-nantes do êxodo rural. No entanto,nos anos 90 foram as condições intrín-secas da vida rural e a busca de me-lhores oportunidades e de acesso abens culturais que provocaram aaceleração dos fluxos migratórios.

A modernização da agricultura eseu desdobramento no êxodo rural“favoreceram a indústria e ocomércio urbanos, e não a massa dosagricultores, principalmente ospequenos produtores, aceleraram a

proletarização e agudeceram a po-breza absoluta e a relativa dapopulação trabalhadora dos campos”(Olinger, 1991).

No Brasil pontifica um quadrosombrio para a questão da miséria.Estudo recente, conduzido peloInstituto de Pesquisa EconômicaAplicada – Ipea –, citado porLamounier & Figueiredo (2002),revela que 53 milhões de brasileirosviviam (em 1999) abaixo da linha depobreza, dos quais, 23 milhões nemsequer atingiam a faixa de indi-gência4. No último relatório do BancoMundial, o Brasil figurou em penúl-timo lugar no tocante à distribuiçãode renda (só ganhando de SerraLeoa), apesar de o governo retermais de 40% de toda a riquezaproduzida no País através deimpostos diretos e indiretos. Ainda,segundo o relatório, a dívida externajá ultrapassou a barreira dos US$210 bilhões e a dívida interna equivalea 61% do PIB nacional (Sabino, 2002).

Os resultados de um censorealizado pela Epagri e pelo InstitutoCepa/SC5 em 17 municípios do OesteCatarinense (1997 a 1999) revelamque 71% dos agricultores estão empleno processo ou em risco deexclusão do meio rural, em funçãoda baixa rentabilidade econômica deseus empreendimentos agrícolas.

O pesquisador francês IgnacySachs formulou os seis princípiosbásicos de uma nova política dedesenvolvimento centrada nasustentabilidade: “satisfação dasnecessidades básicas; solidariedadecom as gerações futuras; participaçãoda população envolvida; preservaçãodos recursos naturais e do meioambiente; elaboração de um sistemagarantindo emprego, segurança erespeito a outras culturas;programas de educação” (Sachs,citado por Brüseke, 2001).

Schumacher (1977) entende quea agricultura deve ter um enfoquemais amplo, que transcenda a

4Para o Ipea, a faixa abaixo da qual se definiu linha de pobreza em 1999 foi de R$ 115 mensais, equivalente a “uma cesta de bens e serviços(alimentos, transporte, moradia, etc.) à qual todos deveriam ter acesso”. Para a linha de miséria (indigência) foi de R$ 60, equivalente tãosomente aos “alimentos mínimos necessários para que a pessoa permaneça viva, de acordo com os padrões da Organização Mundial daSaúde” (Lamounier & Figueiredo, 2002). Os números da Fundação Getúlio Vargas – FGV – são mais estarrecedores. Lamounier &Figueiredo (2002) revelam que, no lugar dos 23 milhões de miseráveis identificados pelo Ipea, a FGV contrapôs com 50 milhões,correspondendo a cerca de 30% da população do País.5O censo indicou que 42% dos produtores obtiveram um valor agregado (diferença entre o valor bruto da produção e os custos variáveis)inferior a um salário mínimo mensal; 29%, de um a três salários mínimos; 13%, mais que três salários mínimos; 14,5% com predomínio derendas não-agrícolas e 1,5% de agricultores patronais (Silvestro, 2001). No Brasil, cerca de 70% dos 4,3 milhões de estabelecimentos ruraiscom menos de 100ha auferem renda familiar inferior a dois salários mínimos mensais.

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produção de alimentos e de matérias--primas. A partir dessa visão, consi-dera que a agricultura é o vetor paraligar o homem mais intimamente ànatureza; é o habitat capaz de huma-nizar a vida individual e comunitária;e a atividade produtiva capaz deproporcionar alimentos saudáveispara uma vida condigna.

“A administração da terra deveser orientada primordialmente paratrês metas – saúde, beleza e perma-nência. A quarta meta – a única acei-ta pelos técnicos –, produtividade,será alcançada quase como umsubproduto” (Schumacher, 1977).

A complexidade da questão dasustentabilidade deve consideraruma multiplicidade de abordagens eações, devidamente articuladas,voltadas para a conquista e manu-tenção da sustentabilidade em suasdimensões econômica, ambiental,social, cultural e política.

Apesar da miríade de definições,a sustentabilidade vai muito alémde um simples atributo de um certotipo de desenvolvimento. É umprojeto de sociedade alicerçado naconsciência crítica do que existe,bem como num processo de cons-trução do futuro, que leva em contao ser humano e o mundo natural.Trata-se, portanto, de uma forçafundadora e instauradora de umanova ordem, de um novo paradigma.

A partir das idéias e estratégiasinerentes ao processo de desenvol-vimento territorial6, destacam-seaquelas vinculadas ao desenvol-vimento local e à globalização.

Milton Santos destaca que aabordagem local remete à busca deum sentido, enquanto que a globalbusca resultados. Observa ainda queo campo não consegue resistir aoprocesso de globalização tanto quan-to a cidade, visto que, com a moder-nização do campo, é cada vez maispróxima e intensa sua relação com omercado global. Ao analisar a questãodo êxodo rural, afirma que “a conta-minação do capitalismo no campovai reduzir a possibilidade de per-manência [...] porque não é a pro-dução que comanda, mas a circu-lação” (Santos, 2000). Ou seja, a idéiacentral é de que se produza local-mente e se venda globalmente,

assumindo a globalização de cimapara baixo.

No mundo globalizado, o meiotécnico-científico-informacional vemtransformando o território brasileirosob a égide do sistema de mercado. Oterritório ganha novos conteúdos eimpõe novas atitudes. Graças àirradiação do meio técnico-científico--informacional ampliam-se as possibi-lidades da produção, através da circu-lação dos insumos, dos produtos, dodinheiro, das idéias, das informações,das ordens e dos próprios sereshumanos (Santos, 2000).

Nessa configuração territorial, aagricultura brasileira ingressa, emdeterminadas áreas, na chamada“agricultura de precisão”, em que seconsolidam cinturões especializadosno cultivo e na industrialização defrutas, cana-de-açúcar, soja, trigo,algodão, milho, arroz, fumo, uva,bem como na produção e noprocessamento de suínos, aves e leite.O potencial produtivo dessas culturase criações pode ser avaliado atravésdo exemplo da avicultura (Abranches,2003): em 12 anos a produçãobrasileira de frango por habitantecresceu quase 150% ao passar de13,6kg (1990) para 33,8kg (2002). Nosúltimos cinco anos (1997 a 2002) aexportação brasileira de aves cresceu4,3%, colocando o País como osegundo maior exportador mundial,abaixo apenas dos Estados Unidos.

A modernização da agriculturadesencadeada pela Revolução Verdecanalizou para a indústria e ocomércio a fatia maior dos resultadosfinanceiros derivados das atividadesque envolvem produção, manipu-lação e distribuição dos alimentos.Restou ao agricultor os riscos e asincertezas próprias de seu trabalho.

Nessa perspectiva, o agricultormoderno não passa de uma minús-cula peça dominada por umamacroestrutura técnica, financeira,administrativa e legislativa. Essa ma-croestrutura estende seus tentáculosdesde os complexos petrolíferos, pas-sando pelas indústrias química, me-talúrgica, de alimentos e matérias--primas, até o mercado financeiro,supermercados, centros comerciais,com o suporte de universidades,serviços de pesquisa e extensão rural

e uma gigantesca infra-estrutura detransportes, armazéns, energia etelecomunicações.

Os atuais conhecimentos cien-tíficos e os novos avanços da tecno-logia podem fazer com que a vida nocampo seja muito mais saudável econfortável que a vida nos grandesconglomerados urbanos. No entanto,a sustentabilidade da vida ruralimplica em mudança paradigmáticae não apenas em reformas conjun-turais e pontuais.

Literatura citada

1. ABRANCHES, S. A inteligência daagricultura. Veja, São Paulo, n. 1.803, p.32,21 mai. 2003.

2. BRÜSEKE, F.J. O problema dodesenvolvimento sustentável. In:CAVALCANTI, C. (org.) Desenvolvimento enatureza estudos para uma sociedadesustentável. São Paulo: Cortez; Recife:Fundação Joaquim Nabuco, 2001. p. 29-40.

3. CAPRA, F. As conexões ocultas: ciência parauma vida sustentável. São Paulo: Cultrix,2002. 296p.

4. FERGUSON, M. A conspiração aquariana:transformações pessoais e sociais nos anos80. 12.ed. Rio de Janeiro: Record; Nova Era,2000. 411p.

5. ILLICH, I.D. Sociedade sem escolas. 5.ed.Petrópolis, RJ: Vozes, 1979. 186p.

6. INSTITUTO CEPA/SC. Perspectivas para aagricultura familiar: horizonte 2010.Florianópolis, 2002. 112p.

7. LAMOUNIER, B.; FIGUEIREDO, R. (org). Aera FHC, um balanço. São Paulo: CulturaEditores, 2002. 692p.

8. LONDRES, L.R. Médicos ditadores. Veja,São Paulo, n.1.768, p.11-15, 11 set. 2002.

9. OLINGER, G. Êxodo rural: campo ou cidade?Florianópolis: Epagri, 1991. 108p.

10. SABINO, M. Lulalice no país dasmaravilhas. Veja, n.1.762, p.30-32, 31 jul.2002.

11. SANTOS, M. Território e sociedade. SãoPaulo: Fundação Perseu Abramo, 2000.

12. SCHUMACHER, E.F. O negócio é ser pequeno:um estudo de economia que leva em contaas pessoas. Rio de Janeiro: Zahar, 1977.261p.

13. SILVESTRO, M.L.; ABRAMOVAY, R.;MELLO, M.A. de.; DORIGON, C.;BALDISSERA, I.T. Os impasses sociais dasucessão hereditária na agricultura familiar.Florianópolis: Epagri; Brasília: Naed, 2001.

14. TEICH, D. H. A terra pede socorro. Veja. SãoPaulo, n.1.765, p.80-87, 21 ago. 2002.

6Dentro de um determinado contexto histórico, o “território”, na conceituação de Santos (2000), é usado como sinônimo de espaço geográfico,sendo afetado por sistemas técnicos (divisão territorial do trabalho, recursos naturais, ciência, tecnologia, informação), pela infra-estrutura(sistemas de engenharia), bem como pelo dinamismo da economia e da sociedade (atores sociais).

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Maria Laura Rodrigues1 e Gilsânia Araújo2

1Meteorologista, Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (048) 239-8053, fax: (048) 334-1204, e-mail: [email protected], Epagri, e-mail: [email protected].

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as semanas que se se-guiram ao Catarina,veio a polêmica: fura-

cão ou ciclone? Passados algunsmeses, imprensa e públicoainda procuram os meteo-rologistas da Epagri em buscade mais informações sobre ofenômeno que, na madrugadado dia 28 de março de 2004,atingiu a costa Sul do Brasil,mobilizando a atenção demeteorologistas e imprensainternacional. Sem dúvida, estefoi um dos mais comentados ediscutidos fatos na história dameteorologia no Brasil. ParaSanta Catarina, um episódiomarcado por momentos detensão e angústia dosmoradores do Litoral SulCatarinense. Para a meteo-rologia do Estado, a conquistadefinitiva da confiança dapopulação catarinense e oreconhecimento de umtrabalho em nível nacional.

Mas afinal, o que foi oCatarina? Como atuaram osmeteorologistas durante oevento? Estavam preparadospara prever e/ou monitorarfenômenos como este?

N

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Figura 1. Perturbação atmosféricacom características ciclônicas,observada em alto-mar no dia 25

Figura 2. Sistema adquirindocaracterísticas de furacão, com “olho”bem definido, no dia 26

Figura 3. Catarina se aproximandoda costa catarinense no dia 27

1Meteorologista, Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (048) 239-8053, fax: (048) 334-1204, e-mail: [email protected].

Como os meteorologistasda Epagri monitoraram ofenômeno

No dia 25 de março, umaperturbação atmosférica comcaracterísticas ciclônicas (ventos emsuperfície girando em sentidohorário) era observada no OceanoAtlântico, a cerca de 1.000km dacosta Sul do Brasil (Figura 1), echamava a atenção dos meteoro-logistas.

Na manhã do dia seguinte (26,sexta-feira) já era possível observara intensificação deste sistema, quenas imagens de satélite apresen-tava um formato circular e um“olho” bem definido (Figura 2). Maisdo que isto, era perceptível seudeslocamento em direção aocontinente. A equipe de previsão detempo tinha dúvidas em relação àscaracterísticas daquele sistema tãodiferente, mas de uma coisa tinhacerteza: a necessidade de contatar

com a Defesa Civil do Estado e emitirà população os primeiros alertas dechuva e vento forte para o LitoralSul Catarinense. “Os ciclonesextratropicais são sistemas comunsno Sul do Brasil que seguem umatrajetória de deslocamento docontinente em direção ao OceanoAtlântico. Este apresentava umdeslocamento atípico, do mar para ocontinente. Percebia-se que algo forado padrão estava ocorrendo. Alémdisto, os modelos de previsão de

Imagem tridimensional do Catarina, no dia 27 de março de 2004, às 8h, vista por satélite que combina sensor demicroondas e radar espacial de precipitação e disponibilizada pela NASA

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27Agropec. Catarin., v.17, n.2, jul. 2004

Figura 4. O fenômeno atinge a costacatarinense na madrugada dodia 28

Figura 5. O Catarina começa a sedissipar dentro do continente namanhã do dia 28

tempo indicavam que o sistemaatingiria as áreas litorâneas daGrande Florianópolis ao Sul doEstado, entre as próximas 24 e 48horas, o que exigia uma ação rápidados meteorologistas, que em nenhummomento desprezaram a força comque o fenômeno poderia atingir acosta.” A explicação é de GilsâniaAraújo, uma das meteorologistas queacompanharam todo o trabalho demonitoramento do evento.

No restante do dia, o setor demeteorologia da Epagri mantevesuas atenções totalmente voltadaspara este sistema, contatandocentros de previsão estaduais enacionais na busca de informações.Ainda no dia 26, a Marinha e aAeronáutica brasileiras receberamum alerta do Centro Nacional deFuracões da NOAA (National Oceanicand Atmospheric Administration),localizado na Flórida, EUA, o qualpassou a monitorar o fenômeno,classificando-o como um furacão deCategoria 1 (escala Saffir-Simpsonde ventos de 120 a 150km/h). Nanoite deste mesmo dia, o fenômenojá era amplamente divulgado namídia internacional. Os meteo-rologistas da Epagri o batizaramcomo Catarina e, em conjunto com aDefesa Civil, notificaram o gover-nador de Santa Catarina, queimediatamente decretou estado dealerta no início da madrugada do dia27. Na Epagri, os técnicos iniciavamum plantão de trabalho ininterruptono Centro de Previsão de Tempo,que duraria até a noite do dia 28.

Figura 6. Plantações estiveram entre as atividades mais prejudicadas

O Dia C

Durante o dia 27 (sábado), asimagens de satélite mostravam oCatarina cada vez mais próximo docontinente (Figura 3) e os ventosintensificavam-se em toda a costa.As previsões do modelo de furacão(GFDL – Geophysical FluidDynamics Laboratory) da NOAA,disponibilizadas pela Universidadedo Estado da Pensilvânia, EUA,especialmente para a área deatuação do Catarina, indicavam oLitoral Sul Catarinense e o LitoralNorte do Rio Grande do Sul comoáreas de risco a serem atingidas ànoite, com chuva forte e ventos de120 a 150km/h.

Na sede da Defesa Civil do Estado,que providenciava o deslocamentode 3 mil homens para o Litoral Sul,

um meteorologista da Epagripermaneceu de plantão por umperíodo de 36 horas, enquanto osdemais membros da equiperevezavam-se no Centro de Previsãode tempo, para atender população eimprensa. O número de ligaçõestelefônicas pulou de 155, no diaanterior (sexta-feira), para cerca de3 mil durante o sábado (27), quandoa imprensa fazia plantão no local.Para o meteorologista DanielCalearo, “foram momentos de tensãoe cansaço, com a preocupação deatender o público sem causar pânico,mesmo sabendo que o pior estavapor vir, mas mesmo assim foicompensador; uma experiência parajamais ser esquecida, principalmentepelo resultado obtido”.

Na noite do dia 27 (sábado) emadrugada do dia 28 (domingo), oCatarina efetivamente atingiu osmunicípios do Litoral Sul (Figura 4),especialmente os localizados entreLaguna, SC e Torres, RS. Primeiro,chegaram os fortes ventos do sul, demais de 100km/h, a partir das 23horas, acompanhados de chuva forte.Na passagem do “olho” do furacão,estimada entre 1 e 3 horas damadrugada do dia 28, conformerelatos da população e dados obtidosde estações meteorológicas,verificou-se um período de calmariae céu estrelado. No entanto, a partirdas 3 horas, os ventos ficaram aindamais intensos, soprando doquadrante norte e novamenteacompanhados de chuva forte. Naestação meteorológica localizada em

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Figura 7. Muitas famílias perderam suas casas

Siderópolis, de propriedade da Casane monitorada pela Epagri, foramregistradas rajadas de vento de150km/h, em torno das 3 horas. Parao meteorologista Clóvis Correa, quepermaneceu de plantão na DefesaCivil exatamente na madrugada emque o Catarina atingiu o continente,uma das maiores preocupações era apassagem do “olho” do furacão:“Nesse momento de calmaria,quando muitos acreditaram que osistema já havia passado totalmente,era natural que as pessoas saíssemde seus abrigos. Era preciso alertá--las para que não fossem pegasdesprotegidas pela próxima bordado furacão, com chuvas e ventosfortes”.

A passagem do Catarina foi rápidapelo Estado. Na manhã do dia 28(domingo), por volta das 6 horas,quase todo dentro do continente(Figura 5), o sistema perde força e o“olho” começa a desfazer-se.Diminuem a força dos ventos e aintensidade da chuva. No Centro dePrevisão de Tempo da Epagri e naDefesa Civil do Estado, as equipes deplantão tranqüilizam a população. Opior já havia passado. Agora restavacontabilizar os prejuízos.

No seu rastro avassalador, oCatarina arrasou municípios comoos de Arroio do Silva, Araranguá,Sombrio, Rincão, Criciúma (Figu-ras 6 e 7), com destelhamento decasas e queda de árvores em umadimensão assombrosa. Ondas de5m foram observadas próximo àcosta e a ressaca atingiu boaparte do Litoral Sul Catarinense,danificando construções à beira--mar. Para a agricultura da região,um prejuízo nas plantações de arroze nos bananais, totalmentedestruídos.

A história dos pescadores

Um trabalho à parte foi realizadoentre meteorologistas e pescadoresem alto-mar, através do operador dabase de radiocomunicação da Epagriem Passo de Torres, Amilton LopesRoldão. Os meteorologistas dire-cionaram as embarcações para áreasde menor risco, enquanto ospescadores relataram as condiçõesde vento e mar da costa sul do Brasil,

informações que fizeram a diferençano monitoramento do Catarina. Atrajetória do fenômeno no AtlânticoSul, desde o dia 23 até atingir a costacatarinense, e as respectivas veloci-dades de vento registradas por saté-lite podem ser vistas na Figura 8.

A partir do dia 26, as embarcaçõespesqueiras começaram a receber osalertas dos meteorologistas daEpagri e passaram a informar sobrea ocorrência de temporais no mar,com rajadas de vento de 70km/h eondas de 3m. Os pescadores queainda estavam no mar, no dia 27,estimaram velocidades de vento emtorno de 100km/h e ondas de mais de4m de altura, que provocaram avariasem suas embarcações, com materialde pesca perdido, vidros quebrados,antenas de rádio e borda de barcoarrancadas. À tarde deste dia, asbarras de acesso ao Porto de Lagunae Passo de Torres foram fechadasdevido à forte agitação marítima.Cinco embarcações que nãoconseguiram entrar na barra, emPasso de Torres, salvaram-seseguindo a orientação dedeslocamento para o Rio Grande doSul, como única opção de fuga darota do Catarina, que avançava emdireção à Laguna.

No dia 28, foi contabilizado onaufrágio de duas embarcações, aVálio II e a Antônio Venâncio, na

área próxima à Lage de Campo Bom,ao sul do Cabo de Santa Marta. Dos12 tripulantes, quatro ainda foramresgatados com vida para contaremsua história de sobrevivência a umfenômeno único nas águas doAtlântico Sul.

Ciclone ou furacão

Quanto ao nome técnico para ofenômeno, o meteorologista MarceloMartins explica que um furacãotambém é um ciclone: “Os ciclonestropicais, que ocorrem dentro daregião dos trópicos, entre 23oN e23oS, são denominados furacão outufão, conforme a região de atuação.Já os ciclones extratropicais sãoassim denominados por atuarem emuma região fora dos trópicos, emlatitudes entre 23oS e 60oS, noHemisfério Sul. Ciclones, na verdade,são sistemas de baixa pressão, cujosventos em superfície giram emsentido horário em nosso hemis-fério”. Assim, segundo o meteoro-logista, o Catarina é um ciclone, maspara uma definição sobre a qual grupopertence, de acordo com suas carac-terísticas, caberia uma discussãoentre especialistas.

Para os meteorologistas daEpagri, ao avançar para o continente,o fenômeno apresentou caracte-rísticas de furacão e, com certeza,

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Figura 8. Trajetória do fenômeno no Atlântico Sul, até atingir a costa

Nota: Kts = nós = 1,8km/h.

muito diferentes dos ciclonesextratropicais, comuns no Sul doBrasil. A definição é difícil porque oCatarina foi um sistema totalmenteatípico e nada igual parece ter sidoregistrado antes no Atlântico Sul. Sesua definição não se enquadra total-mente na de um furacão, tambémnão se enquadra na de um cicloneextratropical. Mas para a equipe deprevisão, a questão principal, duranteo episódio do Catarina, não era adefinição técnica e sim monitorar osistema e manter população,imprensa e Defesa Civil informadas.E o Centro de Previsão de Tempo daEpagri cumpriu o seu papel. A fúriade um fenômeno como este não podeser evitada, mas com certeza seusefeitos foram minimizados.

A discussão sobre o fenômeno járendeu palestras e artigos técnicosnão só no Brasil, mas também noexterior. Para o meteorologista

Maurici Monteiro, muitos estudosainda serão feitos a respeito dofenômeno e ninguém descarta apossibilidade de voltar a acontecer.

O que não dá para afirmar é se istoserá no próximo mês, no próximoano, na próxima década ou nopróximo milênio.

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Quivi orgânicoQuivi orgânicoQuivi orgânicoQuivi orgânicoQuivi orgânicoPPPPProduto saudável no campo nativoroduto saudável no campo nativoroduto saudável no campo nativoroduto saudável no campo nativoroduto saudável no campo nativo

produção orgânica de alimentos ganha

cada vez mais espaço no meio rural.

Uma das razões para o crescimento desta

forma de produzir deve-se ao mercado e,

também, à consciência dos produtores.

No Planalto Serrano, a produção de quivi

orgânico começa a dar resultados.

1Eng. agr., M.Sc., Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (048) 239-5593, fax: (048) 239-5597, e-mail: [email protected].

A

Reportagem de Celívio Holz1

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A sociedade

Luismar, Lucilda e Odelírio,acompanhados do técnico Luiz, daEpagri, observam a plantação de quivique está esperando o ponto ideal decolheita. Os três são sócios nestenovo empreendimento: a produçãodo quivi orgânico, no Sítio Vale doTigre, município de Cerro Negro.Odelírio Marion, técnico agrícolaresponsável pela produção, cuida daervilhaca que começa a brotar nomeio da grama nativa e da aveia;significa que o solo vai melhorar dequalidade. Bom para o solo e para aprodução de frutos.

Químico, nem pensar

Produto químico aqui é proibido,nada se perde, tudo se transforma. Agrama que é cortada vira adubo; apalha do feijão também é apro-veitada; assim acontece com a palhada soja e com o esterco de ovinos;tudo é transformado em compostoorgânico, adubo principal destaplantação de quivi. E Odelírio nãopára um só instante, logo já vaibotando a mão na pá para prepararde 25 a 30kg de composto que sãodistribuídos na coroa de cada planta,

uma vez por ano. Como responsávelpela produção, ele está atento a tudo,principalmente às misturas. Amistura neste caso é feita para formaro composto, começando com a palhade soja ou feijão, esterco e depois osepilho, e assim por diante, atéformar uma altura de 1 a 1,20m.Cerca de 90 dias depois o composto jáestá formado e pronto para sercolocado na plantação.

O minhocário instalado napropriedade ajuda a acelerar aprodução de composto e a melhorara qualidade do solo, que fica maisporoso e fértil com o trabalho dasminhocas.

O manejo

Quem observa os frutos parelhosno tamanho não imagina os cuidadospara chegar até ali. Se apareceralguma praga, nada de venenoquímico, somente água de alho,arruda, catinga-de-mulata, fumo ou,no máximo, um óleo mineral paraa cochonilha. Outra prática im-portante no manejo é o raleio dosfrutos, feito entre novembro edezembro. Odelírio diz que é paratornar a produção mais homogênea;os frutos ficam com um tamanho

parecido: “Dá até pena tirar quaseum terço dos frutos de cada“cachopa”, mas vale a pena peloresultado final,” complementa.

O sistema de condução do quivi édo tipo latada, também usado naprodução de uva. Esta que era umaárea de pecuária, recebeu no iníciouma correção do solo com calcário. Oespaçamento usado aqui é de 6 por6m entre plantas e entre linhas. Oinício da produção comercial se deuno quarto ano de cultivo. Hoje são10ha de quivi plantados, da variedadeBruno, sendo que 7ha estão produ-zindo cerca de 50t/ano. A meta é che-gar a 200t daqui a três anos, quandoas plantas completarem oito anos.

Odelírio sempre testa o ponto decolheita, medindo o grau Brix, quedá o teor de açúcar no fruto. O pontoideal é 6,5; abaixo disso, o fruto nãoamadurece e fica com gostoavinagrado. E a colheita é feita comtodos os cuidados para não machucaros frutos; por isso os colhedores usamluvas.

Produto com garantiade origem

Lucilda Pereira, responsável pelacomercialização da produção, mostracom orgulho o certificado do InstitutoBiodinâmico que dá condições,inclusive, de exportar o quiviproduzido no Vale do Tigre. Na áreade comercialização, existe a preo-cupação em selecionar os frutos,embalá-los adequadamente eidentificá-los, dando ao consumidora garantia de saber a origem doproduto.

Além do quivi, no Sítio do Vale doTigre existe também a produçãoorgânica de milho, feijão e até deuma fruta não muito conhecida nomercado, o kino, de origem africana.Muito boa para suco e de preçoanimador. Uma nova área já estásendo preparada para ampliar oplantio de quivi, sinal de que onegócio está bem encaminhado epronto para novos investimentos queserão necessários.

Luismar Martins Pinto, outrosócio, diz que o próximo investimentoserá uma câmara fria que vai darsuporte ao pós-colheita, propor-cionando maior durabilidade aoproduto que vai para o mercado.Qualidade serve de exemplo a outros produtores da região

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Quivi agroecológicoQuivi agroecológicoQuivi agroecológicoQuivi agroecológicoQuivi agroecológico

Unidade de observação: Estação Experimental de Ituporanga.

Técnico responsável: João Debarba, fone: (047) 533-1409, e-mail:[email protected].

Cultivares utilizadas: Bruno, Allison e Monty. Também estão sendotestadas novas cultivares como a Yellow Queen e a Golden King.

Área cultivada: 1.500m2.

Adubação utilizada: composto ou esterco de suínos. A área já está nosexto ano de produção. Nesta última safra não foi preciso adubar.Utilizaram-se adubos verdes de inverno (ervilhaca, nabo forrageiro,aveia, azevém) e ervas espontâneas no verão. Se necessário, utiliza-secomposto ou esterco, conforme análise.

Manejo utilizado: realiza-se poda curta e aplica-se calda sulfocálcica nabase de 60L/ha, após a poda, em duas aplicações e efetua-se a roçada davegetação espontânea.

Insumos utilizados: nesta safra só foi necessária a utilização de caldasulfocálcica.

Produção obtida por hectare: calculada pelo pesquisador em 15 a20t/ha.

Valor recebido por hectare: o quivi foi vendido ao preço de R$ 1,60/kg.Logo, 15.000kg x 1,60 = R$ 24.000,00.

Dinheiro gasto na produção de 1ha: os gastos financeiros resumem--se, nesta safra, ao custo da aplicação de calda sulfocálcica (R$ 120,00) portrabalhador com pulverizador costal manual. Considerou-se a utilizaçãoda mão-de-obra da propriedade (sem custo financeiro). Apesar de não tersido necessário, considerou-se, outrossim, que foram aplicadas 10t deesterco ou composto ao preço de R$ 20,00 a tonelada (20,00 x 10 = R$200,00). Também não está computada a amortização da implantação de1ha de quivi, que custa em torno de R$ 15 mil/ha. Estima-se que a partirdo terceiro ou quarto ano o produtor consegue amortizar o custo com asvendas. Total de desembolso = R$ 320,00.

Sobra (diferença entre o valor recebido e o gasto): R$ 24.000,00 –320,00 = R$ 23.680,00.

Nota: Os dados econômicos estão simplificados para facilitar oentendimento. Considera-se gasto ou custo de produção somente odesembolso de dinheiro do produtor. O quivi necessita clima frio parafrutificar, na base de 450 horas abaixo de 7,2oC. Outro ponto que oprodutor deve considerar na implantação do parreiral é a utilização decultivares polinizadoras entremeadas com as produtoras, pois o quivi templantas machos e fêmeas.

O exemplo

Esta plantação de quivi orgânicoestá servindo de exemplo para outrosprodutores da região. A Epagriacompanha o trabalho de perto como objetivo de aprimorar as técnicas edivulgar os resultados conquistadoscom muito esforço dos novosinvestidores. “Dá para mostrar aquinesta propriedade que a produçãoorgânica é possível, mesmo emgrandes áreas”, declara o técnicoagrícola da Epagri Luiz Carlos daSilva. E ele reforça que “este é umexemplo para o município e para aregião porque a produção orgânicanão está aqui apenas por umdiferencial de preço, e sim por umaquestão de consciência dosprodutores.” E para confirmar,Odelírio arremata: “O solo tambémé vida, então, estamos preservandoa vida deste solo.” “É uma maneirade estar em paz com a natureza”,reforça Luismar. Quem agradece é oconsumidor.

E as questões técnica eeconômica?

O pesquisador João Debarba, daEpagri/Estação Experimental deItuporanga, instalou uma unidadede observação e tem dados técnicos eeconômicos da cultura do quivi nosistema que ele denomina deagroecológico. Analise você mesmoos dados calculados por Debarba.

Fruta de qualidade e boa procedência

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Paulo Sergio Tagliari

1Eng. agr., M.Sc., Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (048) 239-5534, fax: (048) 239-5597, e-mail: [email protected].

os últimos anos tem-se veri-ficado a preocupação crescen-te dos consumidores, em todo

o mundo, na busca de umaalimentação mais natural, de melhorqualidade biológica, com produtospreferencialmente sem contami-nantes químicos. Um dos melhoresalimentos disponíveis para o homem,sem dúvida, tem sido o pescado, sejaoriundo do mar, seja de águasinteriores. Os médicos e nutri-cionistas recomendam, entre ascarnes, em primeiro lugar a carne depeixe, pelo alto valor nutricional,

A piscicultura é um setor que está em franco crescimento no Brasil e no mundo. Alémdo pescado marítimo, a piscicultura de água doce, integrada a outras práticasagropecuárias tradicionais, está atraindo muitos produtores rurais, com mercadoscativos e bons preços. A evolução deste setor na Região do Alto Vale do Itajaí, emSanta Catarina, é o motivo desta reportagem.

PisciculturaPisciculturaPisciculturaPisciculturaPisciculturaMercado impulsiona a produçãoMercado impulsiona a produçãoMercado impulsiona a produçãoMercado impulsiona a produçãoMercado impulsiona a produçãoPisciculturaPisciculturaPisciculturaPisciculturaPisciculturaMercado impulsiona a produçãoMercado impulsiona a produçãoMercado impulsiona a produçãoMercado impulsiona a produçãoMercado impulsiona a produção

baixo índice de gorduras saturadas econtendo os chamados antioxidantes,como Ômega 3 e Ômega 6, vitaminaE, etc., que ajudam a prevenir doen-ças do coração e o câncer.

Um pouco de história

Pesquisa recente no Brasil,revelada pela revista Quatro Rodas,demonstra que os brasileiros dãopreferência ao peixe (42%) entrevários pratos de restaurante, seguidode carnes (29%) e massas (11%).Outro levantamento aponta que o

churrasco recebeu 26% daspreferências, mas somando peixe(14%) e camarão (13%) o resultado é27% para o pescado.

Segundo o Instituto Cepa/SC,Santa Catarina se destaca no cenárionacional quanto à produção depescado, sendo que em 2001 o valorbruto da produção (VBP) atingiu R$47,2 milhões, sendo R$ 27,6 milhõespara peixes de águas interiores, R$7,3 milhões para mexilhões, R$ 6,7milhões para ostras e, por último, R$5,6 milhões para camarão. Ainda,segundo o Instituto, em 1992, o

N

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Estado produzia 2 mil toneladas depeixes de água doce, passando para19,5 mil toneladas em 2002.

Historicamente, a pisciculturanasceu na China, há mais de 4 milanos, e existem registros de que jáera praticada também pelos antigosegípcios e romanos. Na China antigao desenvolvimento da pisciculturadeveu-se ao cultivo do bicho da seda,cujas larvas e pupas e resíduos destecultivo eram utilizados na alimen-tação dos peixes. Mais tardepassaram a criar peixes associadoscom resíduos de animais como suínose aves. Em Santa Catarina, a pisci-cultura já era praticada de formaextensiva, sem uso de muita técnica,nas regiões de colonização alemã.Com a criação do serviço de extensãopesqueira, em 1968, quando foraminiciadas atividades de assistênciatécnica e extensão, através da entãoAcarpesc, houve o desenvolvimentodo setor. Mais tarde, em 1991, coma fusão dos serviços de extensãorural, pesqueira e pesquisa(Acaresc, Acarpesc e Empasc), apiscicultura tomou impulso aindamaior, pela difusão de tecnologiasque aprimoraram a produção, produ-tividade e qualidade do pescado deáguas interiores. Paralelamente aeste desenvolvimento, também seestruturou o segmento de suporte –produção de alevinos, insumos,equipamentos, etc. – e treinamentosque viabilizaram o atendimento dacrescente demanda de pesque-pa-gues, restaurantes e indústrias deprocessamento.

Segundo o pesquisador Sergio Ta-

massia, especialista em pisciculturade águas interiores, da Epagri/Estação Experimental de Ituporanga,uma grande virada na produção equalidade do pescado de água doceocorreu em 1998, no Alto Vale doItajaí, com uma semana de treina-mento em que diversos produtoresdo Alto Vale se reuniram paradiscutir os rumos da piscicultura naregião. A partir desta reunião deplanejamento, que foi coordenadapelo engenheiro agrônomo VoltaireMesquisa César, da Epagri/Sede, foielaborado o documento Plano de AçãoSintético para o Desenvolvimento

Santa Catarina aumentou em dez vezes a produção de peixes de água doce nosúltimos anos

da Piscicultura Integrada. EstePlano, que planejou mais de 30 cursosdurante dois anos, teve a intensaparticipação dos técnicos da EpagriSergio Tamassia, Vitor Kniess(recentemente falecido – ver boxanexo) e Claudemir Luiz Schappo.Como resultado houve padroni-zação das normas de construção dosviveiros, das técnicas de manejo daágua e das espécies a seremutilizadas, etc.

“Um dos pontos altos do Plano foienfatizar e reforçar a organizaçãodos piscicultores”, aponta SergioTamassia, e completa: “hoje a pis-cicultura do Alto Vale é forte porquenossos piscicultores (hoje somammais de cem na região) estão unidos;cada município tem sua associação,que juntas formam a AssociaçãoRegional dos Aquacultores do AltoVale do Itajaí”. Por meio dasassociações, os produtores conse-guem comprar insumos em conjuntoe baratear os custos, participamconstantemente de reuniões, cursosde atualização, enfim, conseguem seaprimorar técnica e economicamentee, assim, buscar melhores mercadose preços.

Paralelamente, na época, ONGsdenunciaram que a piscicultura esta-va incentivando a ocorrência de bor-rachudos, uma verdadeira praga paraquem mora perto de rios, córregos eoutras fontes de água corrente. Na

O Modelo Alto Vale de Piscicultura Integrada utiliza os subprodutos dossuínos, de maneira ambientalmente correta, na alimentação dos peixes

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verdade, a denúncia partia do fato deque os piscicultores, ao utilizarem osresíduos de suínos e aves paraaumentar a produção e oferta dealimentos naturais no viveiro, nãocuidavam do controle da água nosviveiros de criação, deixando sair amatéria orgânica que poluía as águascorrentes e favorecia a procriaçãodos insetos. Isto era verdade emparte, pois piscicultores que seguiamtécnicas modernas preconizadas pelapesquisa e extensão conseguiamcontrolar a qualidade e a saída daágua, ao passo que outros quepraticavam uma piscicultura semcuidados técnicos tornaram de máfama a chamada produção orgânicade peixes. Este evento, todavia,forçou a pesquisa e extensãocatarinense a aperfeiçoar as técnicaspiscícolas, e hoje o chamado ModeloAlto Vale do Itajaí de PisciculturaIntegrada – Mavipi – é reconhecidonacionalmente como exemplar.

Modernas técnicas ajudamos piscicultores

A piscicultura do Modelo Alto Valebaseia-se na utilização dos resíduosou dejetos de suínos que são criadosem pequenas granjas colocadas nasbeiradas dos viveiros onde os ani-mais vivem, comem e despejam seussubprodutos diretamente na águaonde estão os peixes. Aí está um dossegredos deste empreendimento.Estes subprodutos são transfor-mados, pela ação de microrga-nismos como algas, bactérias, fun-gos, protozoários, etc., em pro-dutos naturais que servem dealimento aos peixes em cultivo.Por sua vez, as algas produzem ooxigênio necessário para a res-piração dos peixes e também servemde suporte essencial para a for-mação da cadeia alimentar nosviveiros.

O pesquisador Sergio Tamassiaexplica que o Mavipi adotado pelospiscicultores da região, que englobaprincipalmente os municípios deAurora, Ituporanga, Atalanta,Presidente Nereu, TrombudoCentral e Agrolândia, segue normasespecíficas de produção. Por exemplo,os tipos de peixes mais adequados, aintegração com suínos, a utilizaçãode aeradores mecânicos, o controleda água, a despesca controlada e,muito importante, a construção dos

viveiros. Existe o ditado o “olho dodono engorda o boi”, mas napiscicultura o produtor não enxergao peixe, que está dentro da água doviveiro. Porém os piscicultorestecnificados mensalmente realizama prática da biometria, ou seja, pesaramostras de peixe para acompanharo crescimento e saber se é precisodar mais alimento ou não, ou seexiste algum problema. Além dossubprodutos dos suínos, tambémuma complementação com raçãobalanceada é necessária na engordafinal do pescado.

Sergio destaca que um viveirobem feito resolve 80% dos problemasda boa piscicultura. Ele conta quehoje a técnica recomenda a cons-trução de viveiros de peixes, nãomais em brejos ou várzeas alagadas,mas sim em áreas mais nobres esecas. Inclusive, piscicultores tecni-ficados atualmente estão deixandode lado os cultivos agrícolas paraconstruir viveiros de peixes nasmelhores terras da propriedade.“Nosso objetivo como técnicos daEpagri é orientar aquelas pessoasque quiserem investir na modernapiscicultura para que, em primeirolugar, desistam da idéia de que criarpeixes é usar tanques ou brejos e aílargar os peixes deixando que anatureza tome seu curso. Muitodiferente, nossa assistência técnicaé destinada àqueles que desejam seprofissionalizar, seguir técnicasrigorosas de manejo e produção,tendo a piscicultura como principalobjetivo de sua exploração, e com a

obtenção de uma renda atrativa quemotive a continuar e investir naatividade”, ressalta o técnico. Aspróprias granjas de suínos des-tinadas aos viveiros de peixe têmplantas específicas, com o detalhe daentrada de uma lâmina dáguadentro da construção, formando umapiscina onde os animais podem sebanhar e se refrescar, o que temcontribuído para aumentar o nívelde conforto (ver planta da granja aseguir).

Com a implantação do ModeloAlto Vale, a produção e a produ-tividade na piscicultura tiveram umgrande salto, passando de 1.000t depescado em 1996 para 2.890t em2002. No município de Aurora, em1996, produzia-se 24t de peixes em35ha, o que dava uma média de0,7t/ha, e em 2003 passou-se a ter17,2ha com uma produção de 141,9t,um rendimento de 8,25t/ha e umincremento de 1.178% em oito anos.Mas não pára por aí. Em 2004, aexpectativa é de elevar a áreacultivada para 26,3ha e a produçãopara 216t.

Empreendimentos exitosos

O casal José Tarcísio e LorenaClasen, de Faxinal Vila Nova, nomunicípio de Ituporanga, não só estáentusiasmado com a piscicultura,como também resolveu montar umrestaurante próximo a dois viveirosde peixes, que funcionavam comoum pesque-pague, numa área de30.000m2. Isto aconteceu em 1995,

Viveiros onde são criados os peixes obedecem técnicas rigorosas deconstrução, além de uma legislação ambiental específica

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quando José, após sofrer gravecontaminação por agrotóxicos emsuas lavouras de cebola e batata,resolveu trocar para a piscicultura.“Além da renda garantida, a pisci-cultura é uma atividade que pro-tege o meio ambiente e é saudávelpara nossa família e para as pessoasque vêm visitar nosso empre-endimento”, conta satisfeito oempresário.

Nos últimos anos, José e Lorena,junto com seus três filhos, ampliarama área, que já atinge 70.000m2, com16 viveiros. Afora o pesque-pague erestaurante, a propriedade possuiuma pousada com 17 chalés, quadrasesportivas, piscina com bar e umauditório para reuniões e eventos.No inverno trabalha com quatrofuncionários e no verão chega a ter15 pessoas, além da famíla. O restau-rante é um dos mais requisitados domunicípio, atendendo festas defamília, encontros de empresas econsumidores de outras regiões.Lorena Clasen comenta que hoje oseu “buffet”, que contém pratosdiversos à base de peixes, é um dospreferidos na região. “Muito deste

sucesso eu devo ao curso profissio-nalizante de processamento depescado realizado pela Epagri,coordenado pela extensionistaVilma Peters”, assinala Lorena.Peixe assado na grelha, filé de tilápia,lazanha de peixe, pastelão, strogo-noff, bolinho, muqueca, pastel, caldoe muitos outros compõem a lista depratos servidos.

José Tarcísio explica que a maiorparte de sua renda está ligada àparte turística de seu empreen-dimento, mas depende muito daprodução do seus próprios viveirosformados de 80% de tilápia, 10% decarpas (capim, húngara, prateada ecabeça-grande), 5% de traíra, 3% depacu e 2% de “catfish”. Ele tambémadquire parte do pescado fora,principalmente a tilápia.

Além da parceria entre marido eesposa, outro empreendimento,neste caso entre pai e filho, estádando resultado. Trata-se dapropriedade de Amilton Luiz, naComunidade Lageado Águas Negras,também em Ituporanga. A área totalé de 8ha, com 12 viveiros, e cadaviveiro possui uma granja ou unidade

de confinamento de suínos. Cadaunidade é subdividida em baias ourepartições para evitar brigas entreos suínos. A área construída dasgranjas totaliza 820m2, com capa-cidade para 800 suínos a cada ciclo(média de 90 dias). O filho do seuAmilton, o Maikon, explica que foramcolocados 3,2 alevinos/m2 nosviveiros, totalizando 255 mil alevinos.Cada viveiro tem entre 0,7 e 1ha. Oideal, diz Maikon, é não menos que0,5ha e não mais que 1 a 1,5ha, poisassim facilita na despesca. Se a áreafor muito grande, prejudica naretirada dos peixes. No futuro, comequipamentos mais adequados emodernos, poderão ser feitos viveirosmaiores, como já existem em algunspaíses.

Os suínos chegam na propriedadecom 25kg, em média, e saem depoisde 90 dias, vendidos a frigoríficos,com 100kg de peso. É uma rendacomplementar. Na verdade, os suínosnão pertencem ao piscicultor. Fazemparte de uma parceria com unidadesintegradoras. O produtor disponi-biliza a unidade de confinamento e amão-de-obra, a integradora disponibi-liza os leitões, a ração e a assistênciatécnica para a suinocultura e pagapor conversão alimentar, em média,

Família Clasen, de Ituporanga: peixevirou atração turística e trouxe bomretorno financeiro

Modelo de granja para criação de suínos integrada à piscicultura, comassoalho ripado e lâmina d´água, sem sala de ração

Viveiro com 1ha = 60suínos para terminação e

engorda

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R$ 8,00/cabeça de suíno. Mas é nopeixe que Amilton e Maikon vãofaturar grande, mesmo em setratando de um empreendimentonovo, ou seja é o primeiro ciclo deprodução. A primeira despescadeverá resultar em 70.000kg no totalda área, quase 9t/ha. O preço decomercialização para pesque-paguee indústria se situa entre R$ 1,60 eR$ 2,00 o quilo do pescado, ficandoR$ 1,80 na média. Como o customédio por quilo fica em R$ 1,10, logoR$ 0,70 x 70.000kg = R$ 49.000,00,fora o ganho com a venda dos suínos.O empreendimento é financiado peloBanco do Brasil, através de umalinha específica para a pisciculturacom recursos do Banco Nacional deDesenvolvimento Econômico e Social– BNDES –, tendo dois anos decarência e prazo para pagamento decinco anos. “É um investimento quevale a pena”, diz o pesquisador SergioTamassia, que orienta o empreen-dimento, e completa: “pena que oBanco exige tanta burocracia ehipotecas, pois muitos produtorespoderiam se beneficiar desta linhade crédito”.

Quem não está preocupado comfinanciamento bancário é o pisci-cultor Celso Sebold, da ComunidadeSanta Tereza, do município deAurora, ao lado de Ituporanga. Ele éassistido tecnicamente peloextensionista da Epagri, ClaudemirLuiz Schappo, que orienta trêsviveiros de engorda e um de alevinão.O produtor é aposentado, trabalhou32 anos comprando e revendendocebola e também era agricultor.“Peixe é mais tranqüilo de produzir,eu gosto de tratar o pescado e delidar com os suínos’’, confessa Celso,que tem o apoio constante de suaesposa, dona Maria.

O piscicultor conta que no começode sua produção, em 1998, teve difi-culdades na produção, não conheciatoda a técnica, mas com o apoio dostécnicos Tamassia e Schappo hojeconsegue tirar tranqüilamente 8t depescado/ha.

Sergio Tamassia resume todo otrabalho da piscicultura na região doAlto Vale em uma palavra: organi-zação. Segundo ele, não fosse oentusiasmo dos produtores, a atençãodos técnicos e o aprimoramentoconstante em seminários e cursos,Santa Catarina não teria hoje esteparque piscícola pujante e ainda em

crescimento. “Mas não temosgarantia de que logo adiante tudocontinuará tranqüilo. Com a asso-ciação forte dos piscicultores estamosconseguindo baixar custos em

Vitor Kniess partiu em 7 demaio de 2004. A sua despedidarealizada em Trombudo Central eTaió foi o retrato do que construiu.Centenas de pessoas foram lhe dizeradeus, sobretudo piscicultores detodos os municípios do Alto Vale doItajaí.

Vitor, que desenvolveu todo oseu trabalho atuando como umverdadeiro educador, é a prova deque a sabedoria não é virtude dosidosos. Apesar de ter nos deixadotão jovem, a sua partida pode sercomparada a uma valiosa bibliotecaque queimou. Porém, além de tercompartilhado os seus conhe-cimentos, ele nos deixa uma históriaque é uma referência. A sua

passagem está marcada nos corações e nas vidas de centenas de piscicultoresque puderam ter uma vida melhor com a família, pelo fato de contarem coma sua constante presença nas reuniões das associações, nas visitas deorientação, no incansável trabalho de promoção da aproximação dosrepresentantes dos diferentes segmentos que integram a piscicultura.

Vitor deixa saudades em seus familiares, colegas, amigos e produtoresque contavam com o seu assessoramento. Deixa, ainda, o ensinamento deque a vida só vale a pena quando nos dedicamos à realização de sonhos quesão sonhados coletivamente, mesmo quando em dado momento parecemser impossíveis de serem realizados. Hoje, o fruto do seu trabalho, o sonhorealizado que ele ajudou a construir, pode ser visto em todo o Alto Vale doItajaí.

Pesquisador Sergio Tamassia e o casal Sebold, de Aurora: pequeno produtor,mas com alta produtividade

VitorVitorVitorVitorVitor, um e, um e, um e, um e, um exxxxxemplo de dedicaçãoemplo de dedicaçãoemplo de dedicaçãoemplo de dedicaçãoemplo de dedicação

compras conjuntas, atingindo bonsmercados, bons preços, mas temosque procurar novos nichos, comproduto de boa qualidade ecompetitividade”, finaliza.

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38 Agropec. Catarin., v.17, n.2, jul. 2004

ais de 15 mil famílias catari-nenses têm no cultivo da ce-bola sua principal atividade

econômica. A cebola é a principalhortaliça produzida no Estado, comum volume ultrapassando as 400 miltoneladas. A produtividade dahortaliça, que normalmente nãopassa das 15t/ha, nesta última safra,mercê de um clima muito favorávelno período de formação do bulbo e dacolheita, atingiu um valor excep-cional de 19t/ha em pouco mais de 21mil hectares.

A cultura da cebola, que é decunho basicamente familiar, estáconcentrada, principalmente, naRegião do Alto Vale do Itajaí,destacando-se os municípios de

Ituporanga, Alfredo Wagner,Leoberto Leal, Aurora, Imbuia,Petrolândia e Atalanta como osmaiores produtores desta hortaliçaem Santa Catarina.

Apesar da importância destaatividade, a região cebolicultoracatarinense vem sofrendo adegradação dos solos pelo manejoinadequado no cultivo das áreas e osagricultores sofrem contaminaçãopor agrotóxicos, que contaminamtambém mananciais de água ecausam desequilíbrios na flora e nafauna. Nesta reportagem serãodiscutidas as alternativas detecnologias ambientalmente maiscorretas que a Epagri está desen-volvendo na região, destacando-se o

lançamento pioneiro da cebolaagroecológica pela Estação Experi-mental de Ituporanga.

Degradação dos solos econtaminação química

Observa-se, nos últimos anos, queos produtores de cebola vêmaumentando o uso de insumosquímicos, principalmente fertili-zantes e agrotóxicos, mas com baixoretorno em aumentos de pro-dutividade. A erosão dos solos e omanejo inadequado têm levado aoesgotamento das terras, forçando osagricultores a utilizarem doseselevadas de adubos de manutenção(alguns chegam a utilizar cerca de

1Eng. agr., M.Sc., Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (048) 239-5534, fax: (048) 239-5597, e-mail: [email protected].

Paulo Sergio Tagliari1

Alternativas tecnológicas ambientais estão trazendo nova esperança para a regiãocebolicultora catarinense. O lançamento da cebola agroecológica e um conjunto depráticas de manejo orgânico para as lavouras garantem redução da contaminaçãoquímica, sem descuidar da renda.

M

Mais saúde, mais renda ao produtorMais saúde, mais renda ao produtorMais saúde, mais renda ao produtorMais saúde, mais renda ao produtorMais saúde, mais renda ao produtore proteção ao meio ambientee proteção ao meio ambientee proteção ao meio ambientee proteção ao meio ambientee proteção ao meio ambienteMais saúde, mais renda ao produtorMais saúde, mais renda ao produtorMais saúde, mais renda ao produtorMais saúde, mais renda ao produtorMais saúde, mais renda ao produtore proteção ao meio ambientee proteção ao meio ambientee proteção ao meio ambientee proteção ao meio ambientee proteção ao meio ambiente

Cebola agroecológicaCebola agroecológicaCebola agroecológicaCebola agroecológicaCebola agroecológicaCebola agroecológicaCebola agroecológicaCebola agroecológicaCebola agroecológicaCebola agroecológica

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Agropec. Catarin., v.17, n.2, jul. 2004 39

35 sacos/ha). A cobertura do solopela cultura da cebola é muitodeficiente, e o preparo da terra,visando facilitar práticas culturaiscomo transplante e controle deinvasoras, é excessivo. Estes fatores,associados a um relevo muitoacidentado e à ocorrência de chuvaspesadas durante os meses de cultivo,contribuem para a degradação dosolo por erosão e para a contaminaçãodas nascentes e dos rios da região.

A contaminação dos sereshumanos, principalmente os própriosagricultores e suas famílias, tem sidocrescente na região. Há mais de 15anos, um levantamento na regiãoconduzido pela Fundacentro,Secretaria Estadual da Saúde e aentão Acaresc mostrou que quase60% dos produtores rurais estavamcontaminados por agrotóxicos. Note--se que o exame feito na época, ochamado teste da acetil-coli-nesterase, só detectava a conta-minação por inseticidas fosforados ecarbamatos. Inseticidas do grupo dospiretróides (estes muito utilizadosnos últimos anos), além de fungicidase herbicidas, não eram detectadospelo teste, o que leva à conclusão quea contaminação das pessoas pode sermaior do que se supunha.

Tecnologias ambientaispara a cebola

Diante da intensa erosão dos solosna região cebolicultora catarinensee devido à contaminação da água dosrios e dos córregos, bem como àintoxicação dos produtores, a Epagriresolveu investir em pesquisas etrabalhos que desenvolvem tecno-logias de baixo impacto ambiental e,ao mesmo tempo, sejam rentáveis.No biênio 1996/97, a Epagri/EstaçãoExperimental de Ituporanga lançoua cebola agroecológica, que tambémteve a participação, no início, doCentro de Ciências Agrárias daUniversidade Federal de SantaCatarina – CCA/UFSC. É um projetopioneiro que procura atender àsnecessidades dos cebolicultorescatarinenses, tanto no retornoeconômico quanto na preservaçãoda saúde da família rural e do meioambiente que cerca a região.

No primeiro ano de cultivoexperimental, a cebola atingiu orendimento de 11t/ha e passou a

24-25t nas últimas safras. A princípio,o cultivo da cebola no sistemaorgânico/agroecológico de produçãofoi olhado com desconfiança eincerteza pelos agricultores etécnicos de Ituporanga e região,porém atualmente, com os custoscrescentes dos insumos e os bonsresultados da pesquisa, maiscebolicultores estão aderindo ao novosistema de cultivo.

A partir de 1998, a Epagri criou oProjeto Desenvolvimento de Sis-temas Agroecológicos para a Agri-cultura Familiar de Santa Catarinaou Projeto de Agroecologia. NesteProjeto, que atualmente envolve 15subprojetos de pesquisa, destaca-seo Subprojeto Viabilidade da Produçãode Cebola no Sistema Agroecológico,tendo como técnico responsável opesquisador e engenheiro agrônomoErnildo Rowe. Como apoio a estesubprojeto, o pesquisador eengenheiro agrônomo Paulo Antôniode Souza Gonçalves desenvolve oSubprojeto Manejo Agroecológico deTripes, que busca medidas decontrole ao inseto tripes (principalpraga da cultura), com baixo ounenhum impacto ambiental. Aspesquisas são desenvolvidas naEpagri/Estação Experimental deItuporanga, mas também possuemum enfoque participativo, ou seja, ostrabalhos investigativos contam como apoio e a participação de exten-sionistas rurais e agricultores e sãotambém desenvolvidos em proprie-dades de cebolicultores. Estasinvestigações nas propriedades deagricultores são denominadas deunidades de pesquisa participativa.

Em suma, as pesquisas visamimplantar sistemas de produção decebola, com base na Agroecologia,permitindo aos produtores a colheitade produtos orgânicos, sadios, dealto valor biológico, isentos deagrotóxicos. Também almeja-se umproduto com alto padrão comercial ea preços acessíveis aos consumidores,e mantendo, ao mesmo tempo, oequilíbrio biológico nos sistemasprodutivos e a preservação do meioambiente. No Subprojeto da CebolaAgroecológica alguns resultadosimportantes já estão sendoconseguidos, como, por exemplo, ocruzamento de duas variedades decebola, a Superprecoce e a BolaPrecoce, para obtenção deprecocidade e alta capacidade de

armazenamento. Também está-setrabalhando com a cultivar CrioulaRoxa para buscar rusticidade. Já seconclui que é possível produzir mudasde cebola sadias e com alto índice depega somente com adubos orgânicose sem agrotóxicos. Em vários testescom diferentes tipos de adubosorgânicos, além da compostagem, oesterco de suínos (com certaabundância e de preço baixo naregião) tem demonstrado bonsresultados, tanto no canteiro desementes para produzir mudas(principalmente composto) como nacultura a campo já transplantada.Outro trabalho interessante dizrespeito ao uso de adubos verdesanterior à cultura, pois estes vegetais,tanto leguminosas como gramínease outras espécies, além de adubarema terra, incrementando o nível dematéria orgânica, também protegemo solo da erosão. Ainda com dadosnão-conclusivos, alguns materiaistêm se destacado. Foram testadas asespécies de plantas de cobertura deinverno para cultivo mínimo decebola orgânica, tendo-se compor-tado melhor: aveia-preta, centeio,triticale e cevada forrageira. Tam-bém testou-se o chamado coquetelde adubos verdes (tanto de inverno

Consumidores no mundo inteiro dãopreferência aos alimentos orgânicos

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40 Agropec. Catarin., v.17, n.2, jul. 2004

quanto de verão), em que são coloca-das várias espécies na área ao mesmotempo, como Crotalaria juncea, mi-lheto, girassol, feijão-de-porco(espécies de verão), aveia-preta, cen-teio, nabo forrageiro, ervilha forra-geira e ervilhaca (espécies de inver-no). Existem algumas dificuldades,principalmente no preparo do terrenoem cultivo mínimo, dado a enormemassa vegetal que tem que sertrabalhada.

Em relação ao controle de tripes,os trabalhos de investigação de-monstram que, com o equilíbrio nafertilidade do solo, através daspráticas de adubação orgânica comestercos, compostagem e adubaçãoverde promove-se um controlenatural da praga. Práticas queutilizam caldas e extratos vegetais

também têm demonstrado apoio nocontrole do inseto, e, somado a isto,tem-se observado que o uso debordaduras na lavoura com plantasrepelentes, tipo nabo forrageiro, temapresentado bom efeito contra otripes. Atualmente estão sendoiniciados testes com preparadoshomeopáticos e biodinâmicos.

Agricultor utilizapráticas agroecológicas

Além das pesquisas, que sãoimportantes instrumentos paraviabilizar a cultura da cebolaagroecológica/orgânica aos cebo-licultores catarinenses, tambémconcorrem os trabalhos de extensão(dias de campo e assistência técnicadireta) e de capacitação (cursos e

seminários técnicos). Agricultores,como o Sr. Baldoíno Schütz, daComunidade Rio do Norte, emItuporanga, SC, estão se beneficiandodos resultados obtidos com aspesquisas e a difusão da cebolaagroecológica. O Sr. Baldoíno, quepossui propriedade de 33ha, semprefoi produtor convencional, mas agorapretende cultivar toda a área nomodo agroecológico/orgânico. Nestaúltima safra da cebola, ele cultivou1ha de cebola orgânica com ascultivares Bola Precoce e Crioula eobteve um rendimento de 10t; uti-lizou 2,5t de esterco de aviário(normalmente, como é primeiro anoque planta, usaria mais quantidade,mas o solo já possuía fertilidaderazoável) e parte da área ficou compalha da cultura anterior, o centeio.Para controle de doenças e pragasutilizou calda bordalesa e extratosvegetais (nabo forrageiro e sa-mambaia) e o biofertilizante su-permagro para revitalizar a planta.No controle das ervas espontâ-neas pratica capinas manual e àtração animal, e para o ano pre-tende introduzir a capina motori-zada.

“Muitos agricultores aqui daregião, mesmo não sendo orgânicos/agroecológicos, já estão reduzindosensivelmente o uso de agrotóxicos”,informa o cebolicultor e observa queseu desembolso no cultivoagroecológico é menor que noconvencional, porém utiliza maismão-de-obra familiar. Já o

Pesquisas da Epagri/Estação Experimental de Ituporanga testam medidasde controle contra o tripes, principal praga da cebola

Pesquisas da Epagri demonstram a eficiência dacompostagem como adubo orgânico na cebola

Inimigos naturais da tripes(área sem agrotóxico

Produtor Baldoíno Schütz e o pesquisador Ernildo Rowecom a cultivar de cebola orgânica Bola Precoce

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Agropec. Catarin., v.17, n.2, jul. 2004 41

pesquisador Ernildo Rowe, quejunto com o técnico Édio ZuninoSgrott, da Secretaria Municipal deAgricultura de Ituporanga, acom-panha tecnicamente a propriedadedo senhor Baldoíno, revela que,levando-se em conta somente odesembolso financeiro, o custo porquilo da cebola agroecológica/orgânica ficou em R$ 0,15 (aconvencional é de R$ 0,15 a R$ 0,18),mas se incluir o custo da mão-de--obra, vai para R$ 0,25. Por outrolado, o senhor Baldoíno comercializou(até a data da reportagem, final deabril) 7t da cebola orgânica, rece-bendo R$ 1,40/kg, enquanto que coma convencional recebeu a metadedeste valor. “Uma grande vantagemda produção orgânica é que agoraposso levar meus filhos e filhas paraa lavoura, sem receio de contami-nação pelos químicos. Podemostrabalhar sem a preocupação deusar máscaras e equipamentos deproteção que, no verão e na pri-mavera, são de difícil utilização emfunção do calor intenso”, assinala oprodutor.

Para a próxima safra, o ceboli-cultor pretende cultivar 8ha da cebolano sistema agroecológico. Mas nãoquer ficar só na cebola, pois pretendediversificar sua propriedade e repetir

e ampliar o que já plantou de lavouraorgânica nesta última safra, ou seja,batata, milho, feijão e hortaliçasdiversas. “Não pretendo investirnuma só cultura, apesar de a cebolaser importante para mim, mas arotação, a sucessão e a diversificaçãode culturas é importante para oagricultor familiar”, aposta o senhorBaldoíno Schütz. Ele também criavacas leiteiras, sendo parte daprodução do leite para consumofamiliar e o resto ele comercializa naregião. Segundo o pesquisadorErnildo Rowe, a maior dificuldadeencontrada pelo agricultor não se

Baldoíno Schütz diversifica a produção. Na foto, colheita de batata orgânica

refere à tecnologia de produção, massim à comercialização, já que aindanão há uma estrutura para absorvermaiores quantidades de produtosorgânicos/agroecológicos na região.

As pessoas interessadas eminformações mais detalhadas sobreo assunto desta reportagem podemcontatar o pesquisador Ernildo Rowepelo fone: (047) 533-1409 e e-mail:[email protected], o pesquisadorPaulo Antônio de Souza Gonçalvespelo mesmo fone e e-mail:[email protected] e o agricultorBaldoíno Schutz pelo fone: (047)591-7835.

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42 Agropec. Catarin., v.17, n.2, jul. 2004

A

Profissionalizado,estabelecido próximo domercado e comcomprador fixo, OlívioFrasson deixou o fumopara fazer sucesso nahorticultura

1Jornalista, contrato Epagri/Cootragel, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (048) 9967-7200, e-mail: [email protected].

Homero M. Franco 1

Seus irmãos, estabelecidos empropriedades contíguas, aindaproduzem fumo e servem detestemunhas entre as duasatividades. “Sim, a gente compara,principalmente quanto ao rendi-

cultor, na transição do fumo para ashortaliças, foi com a formaçãoprofissional. Ele fez três cursos noscentros de treinamentos da Epagri:Administração, Irrigação e Oleri-cultura. Sua esposa, Olívia, fez dois:Industrialização Caseira de Frutase Hortaliças e Agroecologia. Apropriedade ainda conta com otrabalho dos dois filhos jovens:Giovani e Mislaine.

O Sítio Nossa Senhora doCaravagio é acompanhado peloengenheiro agrônomo RobertoFrancisco Longhi, integrante doProjeto de Administração Rural daEpagri e responsável pela aplicaçãodo programa de computador“Contagri”. Vale dizer que o proprie-tário optou por planejar, organizar,controlar e avaliar todas as suasatividades, inclusive realizando acontabilidade agrícola, como demons-tra a Tabela 1. E são os números

família de Olívio Frasson, deNovo Caravaggio, Içara, ser-ve de exemplo aos agricul-

tores familiares de Santa Catarina.Até 1988, ele plantava mandioca eproduzia farinha na propriedade dopai, em companhia de outros trêsirmãos. Casou-se e passou a produzirfumo, mas, desde 1998, abandonoua fumicultura para dedicar-se àhorticultura, mais especificamenteà produção de alface, couve-flor,brócolis e milho-verde.

mento obtido por pé de fumo e decouve-flor. A quantidade por área éa mesma. A couve chega a R$ 0,80por pé, e o fumo nunca alcança R$0,50 por pé”, segundo as contas deOlívio.

A grande preocupação do agri-

A grande preocupaçãodo agricultor, na

transição do fumo paraas hortaliças, foi com aformação profissional

O sucesso do SítioO sucesso do SítioO sucesso do SítioO sucesso do SítioO sucesso do SítioNossa Senhora do CaravagioNossa Senhora do CaravagioNossa Senhora do CaravagioNossa Senhora do CaravagioNossa Senhora do CaravagioO sucesso do SítioO sucesso do SítioO sucesso do SítioO sucesso do SítioO sucesso do SítioNossa Senhora do CaravagioNossa Senhora do CaravagioNossa Senhora do CaravagioNossa Senhora do CaravagioNossa Senhora do Caravagio

Page 42: Edição de julho de 2004

Agropec. Catarin., v.17, n.1, mar. 2004 43Agropec. Catarin., v.17, n.2, jul. 2004 43

Tabela 1. Avaliação anual da propriedade: área cultivada, desempenho econômico e margem bruta(1)

Ano agrícolaCultura

93/94 94/95 95/96 96/97 97/98 98/99 99/00 00/01 01/02 02/03

...............................................................ha.....................................................................

Fumo 2,8 2,8 2 2,8 2,1 - - - - -

Feijão/milho 8,3 9,3 8 4,8 4,1 7,8 3,1 2 - -

Hortaliças 0,5 0,5 1 1,5 2,4 2 2,2 3,5 3,5 3,5

Eucalipto 1 1 4 4 4 4 4 4 4 3,8

Bovinos 6 6 3,3 3,3 3,3 3 3 3 3 3

Milho Verde - - - - - - - - 2 2

Desempenho econômico(2)

...................................................................R$..................................................................

Renda bruta 47.463 37.801 53.225 55.473 64.492 73.794 43.481 68.473 61.723 63.389

Custo variável 11.417 9.849 11.658 13.030 12.489 6.365 6.771 16.021 12.883 12.164

Margem bruta 36.046 27.966 41.567 42.444 52.003 67.429 36.722 52.452 48.840 51.224

Custo fixo 31.128 31.704 23.651 20.359 20.150 17.366 15.518 15.636 16.183 17.298

Lucro 4.918 -3.739 17.916 22.094 31.854 50.062 21.204 36.816 32.657 33.926

Margem bruta

...................................................................%..................................................................

Fumo 32 46 47 35 11 - - - - -

Feijão/milho 38 41 18 17 10 12 11 3 - -

Hortaliças 4 2 35 47 76 86 80 82 87 83

Milho verde - - - - - - - - 9 10

Outros 26 11 - 1 3 9 15 4 7

(1)Tabela preparada por Roberto Francisco Longhi.(2)Atualizado pelo IGPdi de junho de 2003.

contábeis que revelam: a famíliaFrasson mexeu no perfil produtivoda propriedade a partir da safra1994/95. Naquele momento, dos19,6ha cultivados, 14,28% eramocupados pelo fumo; 47,4% eramocupados por milho e feijão; 2,5%com hortaliças; 5,1% com eucalipto;30,6% com pastagem (bovinos deleite). O uso e o tamanho da áreacultivada foram mudando progres-sivamente, como se observa. Nasafra 2002/03, eram cultivados12,3ha totais, e os seus númerosforam os seguintes: fumo, feijão emilho tradicional desaparecem comoculturas; 28,4% da área foramusados com hortaliças; 30,8%, comeucalipto; 24,3%, com pastagem(bovinos de leite) e 16,2%, com milhoverde. Na safra de 1994/95, a

propriedade obtinha uma rendalíquida negativa (prejuízo) de R$3.739,00 e em 2002/03 obteve umarenda líquida positiva (lucro) de R$33.926,00. A renda do Sítio em 2002/03 era composta de 83% comhortaliças, 10% com milho verde e7% com as outras atividades. Umagrande virada, já que em 1995/96o fumo representava 47% da rendada propriedade.

Quanto ao milho verde, a pro-dução e a venda proporcionam aoagricultor uma boa renda e poucotrabalho. Um comprador garante aele o escoamento de produçãoajustada; a colheita e o transportedas espigas é o comprador quem fazpara abastecer supermercados epraias da região. Na safra 2003/04,cada espiga rende R$ 0,25, bruto.

Quando questionado sobre o quehavia feito para atingir o mercado,Olívio disse que enquanto crescia ocultivo de hortaliças e reduzia a áreade plantio do fumo, ele prospectavamercados. Mas, como todo princi-piante, sofreu com a inconstância ea instabilidade da oferta e daprocura. Iniciou sem possuir telefonee veículo apropriado. Vendeu suaprodução às verdureiras e mer-cearias da região, fez contatos,demonstrou qualidade e garantiuquantidades perante um grandesupermercado de Criciúma. Hoje aparceria está firme, os contatos sãofeitos por telefone e o caminhão dosFrasson faz as entregas diretamentena loja de Criciúma e na distribui-dora regional dessa rede supermer-cadista.

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44 Agropec. Catarin., v.17, n.2, jul. 2004

1Jornalista, contrato Epagri/Cootragel, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (048) 9967-7200, e-mail: [email protected].

cruzamento natural entre agrama missioneira (A. jesui-ticus) e o gramão (A.

scoparius), ocorrido no Alto Vale doItajaí, presenteou a pecuária sul--americana com uma espécie híbridaadaptada às condições climáticassubtropicais, porém já disseminadae também ajustada a climas um poucomais frios, como na Argentina, combons resultados. E foram os relatosfavoráveis de bons resultados obtidospelos produtores que entusiasmaramos pesquisadores na montagem deexperimentos capazes de determinarcom segurança as vantagens destagramínea.

Uma equipe da Epagri/EstaçãoExperimental de Urussanga,formada pelos pesquisadores JorgeHomero Dufloth, Simeão AlanoVieira (este já aposentado) e pelo

responsável pela difusão e extensãodos trabalhos do subprojeto empecuária, Cleyton José Pereira,desenvolveu o experimento com amissioneira gigante, em pastejocontínuo, com novilhos precoces.

terceira, híbrida, descendente,“missioneira gigante” (Axonopuscatharinensis Valls), triplóide (2n =30), com pareamento irregular. Aesterilidade do híbrido não impedesua propagação eficiente, realizadapor via vegetativa.

As características agronômicas daplanta apontam-na como umagramínea perene de verão, comhábito de crescimento estolonífero(baraço), que apresenta altaresistência ao frio e ao pisoteioanimal; tem alta palatabilidade, altaresposta à fertilização orgânica equímica, alta competição com plantasinvasoras, boa tolerância à umidadedo solo e produção de 11t/ha deforragem seca na primavera/verão ede 7t/ha no outono/inverno. E não étudo. O teor médio de proteína é de13,1%, a digestibilidade da matériaorgânica é de 66,2% e os nutrientesdigestíveis totais ficam em 62%.Comparada com outras forrageiras,como as espécies de braquiárias,capim-elefante, panicum e paspalum,as quais têm uma média de 9,6% deproteína, 45,8% de digestibilidade da

Homero M. Franco 1

A natureza dá umagramínea perene deverão, resistente à seca eao frio

A ficha técnica

A planta é o resultado docruzamento de duas espécies: “gramamissioneira” (A. jesuiticus),estolonífera, tetraplóide (2n = 40),originária da Bacia Platina e“gramão” (A. scoparius), espéciecespitosa, diplóide (2n = 20), da BaciaAmazônica, dando origem a uma

O Comparada com outrasforrageiras, não há

dúvidas de que odesempenho da

missioneira giganteé melhor

Missioneira giganteA grama catarinense

Missioneira giganteA grama catarinense

Page 44: Edição de julho de 2004

Agropec. Catarin., v.17, n.2, jul. 2004 45

Técnicos da Epagri em visita ao canteiro de mudas da gramínea

matéria orgânica e não produzem noinverno, mesmo sendo comparáveisà missioneira no verão, não hádúvidas de que o desempenho damissioneira gigante é melhor.

Os resultados do experimentoestão sendo divulgados em paralelocom o encaminhamento do processopara seu respectivo registro pelapesquisa agropecuária.

Como foi

Em área do Campo Experimentalde São Pedro, a 9km da sede daEpagri/Estação Experimental deUrussanga, com a pastagem insta-lada, os pesquisadores introduziramanimais, cruza nelore x charolês,com peso inicial de 161kg aos oitomeses de idade. O experimentocomeçou em maio de 2001. Aavaliação de rendimento animal,realizada aos 20 meses de idade,revelou o peso médio final de 435kge o ganho médio diário de 750g poranimal.

A implantação da pastagem se dápor muda, durante o ano todo, e porestolão (baraço), no período frio. Aépoca preferencial para o plantio vaide agosto a fevereiro. A formação dapastagem leva de seis a dez meses e,no início, pode ser em consórcio commilho e feijão. A lotação do pastocomeça com 600kg de peso vivo/haem junho e alcança 2 mil quilos emmaio do ano seguinte.

Carne e leite à base de pastoA Secretaria de Estado da Agricultura e Política Rural está

preparando dez programas destinados ao desenvolvimento integradodo setor primário, um deles com o desafio de produzir carne e leite apasto, o qual irá beneficiar todas as regiões do Estado. A concepção doprograma surgiu justamente a partir dos excelentes resultadosapresentados pela grama missioneira gigante.

Os técnicos da Secretaria e do Instituto Cepa/SC estão elaborando osalcances e metas do programa, mas uma coisa é certa: a gramamissioneira gigante prestará um serviço à economia do Estado a partirda implementação do citado programa.

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Plantas aromáticas para cultivo em Santa CatarinaPlantas aromáticas para cultivo em Santa CatarinaPlantas aromáticas para cultivo em Santa CatarinaPlantas aromáticas para cultivo em Santa CatarinaPlantas aromáticas para cultivo em Santa Catarina

Airton Rodrigues Salerno1; Andrey Martinez Rebelo2 eAntônio Amaury Silva Junior1

s plantas que contêm óleosessenciais em quantidadessignificativas podem ser

chamadas de aromáticas. Esses óleossão produzidos em células espe-cializadas que constituem estruturasde armazenamento ou de secreção,localizadas na epiderme, consti-tuindo os tricomas glandulares, oumais internamente entre as célulasdo tecido parenquimático. Esseúltimo é um tecido permanente,constituído de células isodiamétricase que geralmente está relacionadocom a armazenagem e distribuiçãode substâncias nutritivas. Nacomposição dos diversos tipos de óleoessencial encontram-se inúmerassubstâncias, sendo algumas emmaior quantidade, as quais conferemos aromas característicos. O aromado limão é caracterizado pelo citral,substância também presente noóleo essencial do capim-limão(Cymbopogon citratus). O aroma derosa é conferido pelo geraniol,presente nas flores da roseira (Rosaspp.), do gerânio (Pelargoniumodoratissimum) e do capim palma--rosa (Cymbopogon martinii).

A função dos óleos essenciais nasplantas era desconhecida até metadedo século passado. Hoje já se sabeque as funções são diversas, deacordo com a composição do óleopresente nas diferentes espéciesvegetais. Em algumas plantas, osóleos essenciais conferem a elasproteção contra o ataque de animaise parasitas; em outras, atuam para

atrair insetos úteis na polinização.Às vezes podem coexistir, nacomposição do óleo essencial de umúnico vegetal, substâncias queatraem insetos polinizadores e cau-sam repelência a insetos predadores.Nas atividades humanas esses óleosapresentam ampla gama de utili-zação, especialmente na indústria decosméticos, desinfetantes, alimen-tos, medicamentos, repelentes edefensivos agrícolas.

Extração dos óleosessenciais

Na maioria das espécies aro-máticas, a extração dos óleosessenciais é feita a partir de plantasfrescas ou parcialmente secas, paraevitar perdas por volatilização ou poralteração química dos componentes.Em alguns casos é importante aocorrência de um processofermentativo para aumentar oconteúdo do componente maisimportante. Há, ainda, algumasespécies que não sofrem prejuízosna qualidade, mesmo passandopelo processo de secagem. Isso émais comum nas cascas de caules,raízes e em alguns tipos de folhasmais espessas ou carnosas. Ahidrodestilação é um métodosimples e, por isso, constitui-se numdos meios mais utilizados para aobtenção de óleos essenciais (Figura1). Neste processo, o óleo essencialé volatilizado juntamente comvapores d’água e condensado em um

sistema fechado. Posteriormente, acamada de óleo é separada da água.Existem três tipos de hidro-destilação:

• Destilação com água: orecipiente, contendo o materialvegetal e a água misturados, éaquecido por fogo direto ou poralgum tipo de manta de aqueci-mento. Esse tipo de extração éindicado para os materiais quedevem ficar imersos em água paraevitar a aglutinação, o que dificul-taria a extração. Essa é a formamais simples e de uso mais geralpelos agricultores e suas formasassociativas.

• Destilação com água e vapor: omaterial vegetal é colocado numcesto perfurado, localizado acima deum recipiente contendo a água queserá aquecida. O vapor produzidopelo aquecimento da água passa pelomaterial vegetal (a temperatura aquipode ser até maior, pois a águalíquida só chega a 100oC, e na formade vapor pode superar facilmenteesta marca) e a planta não fica emcontato direto com a água fervente.

• Destilação com vapor: nestaextração o recipiente com água ficadistante. O vapor é injetado em umrecipiente perfurado contendo omaterial vegetal. Neste caso o vaporpode estar superaquecido e freqüen-temente apresenta pressão maiorque a atmosférica, como aquelegerado por caldeiras.

Não há diferença marcante entreos três processos extrativos, porém

1Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88301-970 Itajaí, SC, fone: (047) 341-5244, fax: (047) 341-5255, e-mail:[email protected]êutico industrial, M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, e-mail: [email protected]. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, e-mail: [email protected].

A

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Agropec. Catarin., v.17, n.2, jul. 2004 47

Figura 1. Esquema de destilação por arraste a vapor

podem ocorrer reações comohidrólise e decomposição durante adestilação. Como os componentesnaturais apresentam estabilidadesdiferentes, a composição de cadaplanta deve ser levada emconsideração para a escolha do tipode processo a ser utilizado.

Há ainda outros processos deextração de óleo essencial, como aextração supercrítica com gáscarbônico e a extração a vácuo.

Pesquisas na Epagri

A Epagri/Estação Experimentalde Itajaí – EEI – está avaliando odesenvolvimento e a adaptação deplantas aromáticas, medicinais epara outros usos industriais noLitoral Norte de Santa Catarina.Esse trabalho iniciou em 1992 eentre as aromáticas, adaptadas àregião, existem quatro espécies comdemanda pela indústria de óleosessenciais. Com base nesseinteresse, manifestado em reuniõesentre técnicos da Epagri, industriaisdo setor e agricultores, foramelaboradas e publicadas as normastécnicas para o cultivo dessas plantase estabelecidos experimentos na EEIe em propriedades particulares. Asquatro espécies objeto do trabalhosão: capim citronela (Cymbopogonwinterianus Jowitt), capim-limão(Cymbopogon citratus (D.C.) Stapf),capim palma-rosa (Cymbopogon

martinii Stapf) e patchuli(Pogostemon cablin Bent.). As trêsprimeiras pertencem à família dasGramíneas, atualmente denominadade Poáceas, enquanto o patchuliconstitui-se numa Labiada. Asquatro espécies são originárias daÁsia tropical e suas principaiscaracterísticas são descritas a seguir.

Citronela

Forma touceiras altas, com folhasdecumbentes (com as pontas das

folhas voltadas para baixo), verde--claras, agudas, escabrosas (ás-peras) em ambas as faces,apresentando aroma de eucalipto. Ainflo-rescência é do tipo panícula,em geral com 25 a 30cm decomprimento, composta de espigaspequenas e escuras e espiguetasesverdeadas. Em Santa Catarina, acitronela emite poucas inflo-rescências e as sementes, quando seformam, são estéreis. Assim, a plantaé propagada através dos perfilhos datouceira e por segmentos nodais dosrizomas. A espécie mais aparentadaé a Cymbopogon nardus, conhecidapopularmente como citronela-do--ceilão.

O óleo de citronela é aromático,amarelo pálido, com sabor de limão,sendo utilizado na fabricação debebidas, perfumes, sabonetes,detergentes, desodorantes, cremese outros cosméticos. A polpa daplanta é utilizada na fabricação depapel resistente e o rizoma pode serutilizado como clareador epreservador dental. Para isso usa--se mastigá-lo, o que ajuda tambéma matar a sede. As folhas sãoutilizadas como condimento de carnee sopa e também para o tratamentohumano, no caso de doençasinfecciosas, dor de cabeça,enxaqueca, sinusite e cansaço. Oóleo essencial apresenta atividaderepelente de insetos (mosquitos,

Citronela

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borrachudos, traças e formigas), éfungicida e também desodorizador deambientes. Sabe-se que pessoassensíveis aos componentes contidosno óleo desta planta podem sentirmal-estar e sensação de queda depressão quando em contato porperíodo curto ou prolongado, porisso, devem suspender o uso aoperceberem estes sintomas.

Capim-limão “gigante”

O capim-limão é também conhe-cido como capim-cheiroso, capim-ci-dró, cana-de-cheiro, chá-de-estradae outros nomes. É planta perene,forma touceiras e emite estolões eatinge 1 a 2m de altura. As folhasmedem 0,60 a 1m de comprimentopor 1,5 a 2cm de largura, são ásperasnas duas faces, com bordo liso ecortante; são recobertas por umafina camada de cera esbranquiçada eexalam odor de limão; são maisestreitas e apresentam tonalidademais clara que as folhas de citronela.O florescimento é muito raro e asflores eventualmente formadas sãoestéreis. Na literatura há o registroda existência de dois tipos químicos,em relação à composição do óleoessencial. As plantas originárias doleste da Índia apresentam-se comcerca de 38% de mirceno e 47% decitral, enquanto o material prove-niente do oeste da Índia contém pouco

ou nada de mirceno (zero a 12%) e86% de citral. A espécie maisaparentada é o capim-limão “gigante”(Cymbopogon flexuosus), queapresenta aroma similar, porémporte muito maior, além de produzirsementes viáveis. Essa espécie estáem avaliação na EEI quanto àadaptação, produtividade e qualidadedo óleo essencial e produção desementes.

O capim-limão “comum” adapta--se aos mais distintos tipos de solos,mas prefere os arenosos, com bomteor de umidade, drenados e férteis.Solos argilosos ou encharcados nãose prestam para o seu cultivo. O óleoessencial apresenta coloraçãoamarelada, é aromático e ardente,sendo usado em perfumaria eindústria de cosméticos; no corpohumano tem ação na diminuição dosmovimentos corporais e no aumentodo período de sono, sendo tambémanticonvulsivo e analgésico. A plantaé utilizada em apicultura para atrairabelhas, e as suas raízes, na formade chás, inibem o desenvolvimentode vermes intestinais. As folhaspicadas e acondicionadas em saqui-nhos aromatizam roupas e repeleminsetos; são utilizadas também emculinária, e a infusão, servida fria, ébebida como refrigerante. O óleoessencial apresenta ação antibac-teriana e antifúngica. O citral, obtidoda planta, é empregado como

flavorizante, isto é, intensifica o saborou aroma de alimentos e cosméticos,além de servir como matéria-primana síntese da vitamina A.

Palma-rosa

É planta perene e na literaturaaparecem referências a duasvariedades: Motia e Sofia, sendo aprimeira mais comum nas citações,contendo cerca de 82% de geraniol,componente principal do óleoessencial de palma-rosa. A segundaapresenta aroma e propriedades bemdiferentes, semelhantes às do capim--limão.

Na Índia, onde vegeta natural-mente, o palma-rosa desenvolve-sena maioria dos Estados, desde quehaja precipitação pluviométrica depelo menos 900mm anuais. Ogeraniol, maior componente do seuóleo essencial, é intensivamenteusado nas indústrias de perfumaria,condimentos alimentares e decosméticos.

Como medicinal, a plantaapresenta propriedades digestivas,estimula o apetite, favorece arestauração da flora intestinal, éusada nos casos de anorexia e infecçãointestinal, estimula a regeneraçãodas células epiteliais e reduz oestresse. O capim palma-rosa éindicado também como eficientecontra Aspergillus parasiticus, fungocontaminante de milho estocado.

Patchuli

A planta constitui-se numa ervaperene, de 0,60 a 1m de altura, comfolhas opostas, ovaladas e queexalam fragrância característica,perfumada, quando atritadas;apresenta flores esbranquiçadas comtonalidade avermelhada e que sedesenvolvem em espigas axilares eapicais. Na Indonésia a espécie nãoapresenta florescimento, o queacontece esporadicamente na regiãosubtropical do Estado de SantaCatarina.

O óleo de patchuli é utilizado emperfumes e em sabonetes muito apre-ciados na Ásia. Também são feitossaquinhos aproveitando as folhasresiduais, danificadas e não utiliza-das na extração do óleo, para prote-ção de roupas do ataque de insetos.Capim-limão

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Em aromaterapia, o óleo depatchuli é usado para aliviar ocansaço, a tensão, tratarqueimaduras, acne, caspa, eczema,pele oleosa e como estimulante dasensualidade.

O óleo essencial de patchuli, emmisturas com naftaleno ou cânfora,apresenta repelência a determi-nados insetos como caruncho-do-mi-lho (Sitophilus zeamays ), sendousado também para o controle deformigas, traças, mosquitos e outrosinsetos.

Cultivo em Santa Catarina

As quatro espécies preferemambientes quentes, com tempe-

ratura média anual igual ou superiora 20 oC e com precipitaçãopluviométrica igual ou superior a1.600mm anuais, condições exis-tentes no Médio e Baixo Vale doItajaí e Litoral Norte Catarinense.O capim-limão e o citronela sãocultivados artesanalmente tambémem regiões frias do Estado, comoChapecó e Lages. As geadasqueimam suas folhas, mas asplantas rebrotam na primavera.Certamente, a produção de folhas,onde se concentra o óleo essencial, émenor nesses locais do que emambientes mais quentes. No entanto,a concentração do óleo, nessacondição de estresse, pode ser maior.O cultivo dessas espécies no sistemaorgânico também não é conhecido,especialmente para obtenção domaior rendimento técnico/econômiconas condições locais. Essasinformações deverão estar dispo-

níveis em futuro próximo, comotambém os dados sobre ocomportamento agronômico dopatchuli e do capim palma-rosa, aindanão conhecidos nas regiões mais friasdo Estado.

Literatura Consultada

1. SAITO, M.L.; SCRAMIN, S. Plantasaromáticas e seu uso na agricultura.Jaguariúna: Embrapa Meio Ambiente,2000. 48p. (Embrapa Meio Ambiente.Documentos, 20).

2. SALERNO, A.R.; AGOSTINI, I.; SILVAJUNIOR, A.A. Normas técnicas paracultivo do capim-limão, citronela,palma-rosa e patchuli . Florianópolis:Epagri, 2004. 58p. (Epagri. Sistemas deProdução, 37).

3. SILVA JUNIOR, A.A. Essentia herba –Plantas bioativas . Florianópolis: Epagri,2003. 441p.

Palma-rosa

Patchuli

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Plantas transgênicasPlantas transgênicasPlantas transgênicasPlantas transgênicasPlantas transgênicas

Luiz Gonzaga Esteves Vieira1 eLuiz Filipe Protasio Pereira2

ser humano, ao longo de to-da a sua história, tem aplica-do sua engenhosidade para

ter acesso à variabilidade genéticadisponível em plantas usandodiversos métodos, entre eles mu-tações, seleção artificial, hibridi-zações e, recentemente, a transgenia.Até há pouco tempo não era comumque mudanças tecnológicas provo-cassem grandes discussões nasociedade. Entretanto, a transgeniatem causado preocupações etransformações, seja de carátercientífico, seja de caráter social,econômico ou cultural. Por suanovidade, esta tecnologia não seadapta a qualquer dos esquemasclassificatórios já propostos, o quedificulta a definição de conceitos enomenclaturas para a sua expli-cação, resultando em debates simpli-ficados ou polarizados.

A imprecisão e vagueza da palavratransgênico e a distorção do sig-nificado de “natural” leva a articu-lação de alegorias que não sãoancoradas em nenhuma razãoobjetiva, tal como descrever oresultado da tecnologia de trans-formação de plantas como umorganismo exógeno com caracte-rísticas inerentemente prejudiciaisao homem. Por isso, ainda hoje,cerca de 17 anos após o primeiroteste em campo de uma plantatransgênica, há opiniões conflitantesentre diversos segmentos dasociedade sobre as característicasbásicas de um organismo desse tipo,especialmente os aspectos relativosa mudanças genéticas aleatórias, à

transposição das barreiras entreespécies e aos impactos no ambientee na saúde humana.

Inevitavelmente, a introdução denovas tecnologias sempre causapreocupações e transformações, querde caráter científico, quer de carátersocial, econômico ou cultural. Assim,para evitar debates simplificados,distorcidos ou alegóricos, é funda-mental definir claramente conceitose nomenclaturas e, ainda, explicitar,de forma simples e objetiva, infor-mações sobre as técnicas usadas paraa obtenção de plantas geneticamentemodificadas.

Transferência de genesentre espécies

Há muitos séculos que osagricultores vêm selecionando,semeando e colhendo sementes paraproduzir colheitas mais abundantese de melhor qualidade, mesmo sementender toda a ciência envolvida nasua ação. Híbridos entre diferentesvariedades já eram conhecidos noséculo 16, quando agricultoresselecionavam plantas com mais altorendimento e com maior resistênciaa pragas e doenças. No entanto, foiapenas há menos de um século emeio que o monge austríaco GregorMendel (1822-1884) estabeleceu abase para a moderna biotecnologia,ao demonstrar a transmissão, degeração em geração, de “unidades dehereditariedade” (hoje conhecidascomo genes). Mas a relação entre oácido desoxirribonucléico (DNA) eos genes, que direcionam o desen-

volvimento e o crescimento de todosos organismos vivos, só seriaestabelecida pela ciência em meadosdo século 20. A partir daí, iniciaram--se trabalhos de manipulação ge-nética para transferir genes, ousegmentos de DNA, de um organismopara outro, o que se tornou possívelnos anos 80 com o aprimoramentoda tecnologia do DNA recombinante.Colocado de maneira simples, amanipulação genética consiste emcortar o DNA em segmentos pormeio de enzimas, isolar seletiva-mente um segmento de interesse(clonagem), unir este segmento aoutro DNA que servirá como portador(vetor) e, finalmente, introduzir amolécula de DNA resultante destaunião em um outro organismo(transformação genética) (Figura 1).Essa tecnologia levou à obtenção dosprimeiros organismos genetica-mente modificados (OGMs). Plantas,animais e microrganismos nos quaisforam introduzidos (ou removidos)trechos de DNA são designadosOGMs. No caso em que o materialgenético de um OGM for alteradopela inserção de segmentos de DNAde um outro organismo, este é deno-minado “organismo transgênico”.

Plantas geneticamentemodificadas

A transformação genética deplantas é um dos maiores avançosligados à tecnologia agrícola nos úl-timos anos. A produção de plantasgeneticamente modificadas (PGMs)tem uma grande importância

1Eng. agr., Ph.D., Iapar/Área de Melhoramento e Genética, C.P. 481, 86001-970 Londrina, PR, fone: (043) 3376-2429, e-mail: [email protected]ólogo, Ph.D., Embrapa Café/Laboratório de Biotecnologia Vegetal, Iapar, C.P. 481, 86001-970 Londrina, PR, fone: (043) 3376-2399, e-mail: [email protected].

O

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econômica pela possibilidade deincorporar novas característicasagronômicas às plantas cultivadas.Atualmente, a área global cultivadacom PGMs é cerca de 67 milhões dehectares, com a soja, o milho, acanola e o algodão representando98% deste mercado. Em um futuropróximo, PGMs de batata, tomate,melão, mamão, alfafa, arroz e tabaco,entre outras, devem começar a sercultivadas em escala comercial.

As plantas geneticamentemodificadas nada mais são do que asespécies e variedades tradicio-nalmente cultivadas, às quais foramacrescentados um ou mais genes,introduzidos por meio de técnicas detransformação genética. O início doprocesso de transformação genéticade plantas envolve a construção devetores contendo a construção gênicade interesse. Os vetores normal-mente utilizados são os plasmídeosde bactérias – moléculas de DNAcircular existentes nesses mi-crorganismos, fora dos seuscromossomos, e capazes de sereplicar de modo independente. Asconstruções gênicas, feitas atravésdas reações enzimáticas que cortame ligam o DNA em fragmentosespecíficos, são geralmentecompostas de três partes principaisdos genes: a região promotora, aregião codificadora e a regiãoterminal. Cada uma dessas regiões,no fragmento a ser transplantado,pode ter como origem um organismodiferente (Figura 1).

A obtenção de PGMs foipossibilitada no início dos anos 80,quando se descobriu que umabactéria do solo (Agrobacteriumtumefaciens) tinha a capacidade detransferir segmentos de seu próprioDNA para certas plantas. Estefenômeno natural de transferênciade genes entre espécies mostrou apossibilidade de usar essa bactériapara transferir genes responsáveispor características desejáveis, taiscomo resistência a pragas e doenças.Portanto, a bactéria serve como umvetor biológico para transformação,e somente os genes com caracte-rísticas de interesse agronômico sãotransferidos para a célula vegetal(Figura 2).

Três anos após esses trabalhos,novos métodos para obter PGMsforam desenvolvidos, incluindo obombardeamento de células vegetais

com partículas de metal recobertascom DNA (biobalística). Este métodode transformação vegetal consistena introdução de DNA em células etecidos associado a pequenaspartículas de metal. As partículassão aceleradas em alta velocidadeem direção ao tecido vegetal atravésde equipamentos diversos utilizandosistemas de cartuchos com pólvora,de pressão a gás ou descarga elétrica(Figura 3).

Através da cultura de tecidos,aquelas células que receberam osgenes via Agrobacterium ou viabiobalística são selecionadas eregeneradas produzindo as plantastransgênicas. A regeneração deplantas in vitro nada mais é do que acultura de tecidos vegetais, quepermite a produção de plantas em

larga escala a partir de tecidosvegetais como pedaços de folha,hipocótilos ou cotilédones (Figura4).

Atualmente, estas e outrastécnicas também capazes de eliminar,inserir e transferir genes possi-bilitam a construção de diversos tiposde PGMs com características es-peciais, como resistência ao ataquede pragas e doenças, tolerância adiversos estresses ambientais comoseca, frio e salinidade, maiores teoresde aminoácidos essenciais, devitaminas e de compostos com açãofarmacológica, além de alteraçõesna coloração, no sabor ou em aspectosfísicos e químicos dos alimentos.

A principal característica quedetermina a diferença entre plantastransgênicas e não-transgênicas é a

Figura 1. (A) Construção de molécula de DNA recombinante. (B) Montagemde uma construção gênica para transformação de plantas. Após obtenção dogene de interesse (1) são adicionados promotor e terminador (2). Casonecessário, um gene seletivo é adicionado na construção (3), que posteriormenteé inserida em um plasmídeo para transformação

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possibilidade de incorporar materialgenético ultrapassando barreirasnaturais. De modo geral, omelhoramento convencional deplantas é baseado na transferênciade material genético entre indivíduosda mesma espécie. As técnicas dabiotecnologia permitem queseqüências de DNA codificandocaracterísticas que nunca, ousomente em casos extremamenteraros, seriam observadas emdeterminada espécie possam serintroduzidas no material genéticoda planta-alvo. Apesar destadiferença óbvia entre plantastransgênicas e não-transgênicas, é anova característica, ou propriedadeadquirida pela planta modificada, e asua interação com o meio ambienteque devem ser consideradas naanálise dos potenciais riscos do usode uma planta transgênica, e não ométodo utilizado para a introduçãodessa característica.

Riscos e benefícios

O potencial de benefícios a seremgerados pelo uso de plantasgeneticamente modificadas tem sidoamplamente exposto em diversosforos. Em conjunto com outrastecnologias, o uso dessas plantaspoderá trazer diversos benefícios aosconsumidores e proporcionarsustentabilidade ao setor agrícola.Por exemplo, a aplicação deagrotóxicos poderá ser reduzidaatravés de plantas resistentes apragas e doenças, tendo comoconseqüências a diminuição do custode produção, a queda no número de

intoxicações e a redução dacontaminação dos alimentos.Também, plantas com altacapacidade de aproveitamento denutrientes ajudariam a viabilizar aprodução de alimentos em áreasmarginais. É possível usar abiotecnologia para desenvolverplantas com maior tolerância adiversos estresses ambientais, taiscomo seca, frio, salinidade, etc. Ainda,alimentos com maior capacidade desuportar longos períodos de

armazenamento garantiriam maiorsegurança alimentar, e vegetais commaiores teores de aminoácidosessenciais, de vitaminas e decompostos com ação farmacológicapoderiam ser utilizados paramelhorar as condições de nutrição esaúde da população.

Um dos principais questio-namentos sobre o uso de PGMsrefere-se ao seu impacto sobre osagrossistemas envolvidos naprodução agrícola e a biodiversidade.Experiências passadas com aintrodução de novas espécies emambientes nos quais estas não eramnaturalmente presentes (no Brasil,este é o caso do trigo, da soja, doalgodão, do café, do arroz, etc.)mostraram que problemas potenciaispodem ocorrer. Entretanto, oscuidados aplicados para evitar adiminuição da biodiversidade quandoda introdução de plantasgeneticamente modificadas não sãoessencialmente diferentes dosrecomendados para a introdução denovas espécies em ambientesdiferentes daqueles onde foramoriginadas.

Até o momento, mais de 15 miltestes de campo com plantasgeneticamente modificadas já foram

Figura 2. Transformação de plantas via Agrobacterium tumefaciens

Figura 3. (A) Equipamento de aceleração de partículas (BioRad™) comprincipais componentes. (B) Corte Transversal mostrando sistema deaceleração de partículas. O tubo de aceleração é preenchido com gás, querompe a membrana a uma determinada pressão. O fluxo de gás impulsionaas partículas e o DNA, colocados em uma segunda membrana, na direção dotecido vegetal. Uma tela de proteção bloqueia as membranas e somente oDNA com as partículas atingem o tecido

Agrobacterium complasmídeo Ti

Célula de tabaco

Célulatransformada

Culturadecélulas

PlântulaPlanta detabacotransgênica

Célula deplantatransgênica

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Agropec. Catarin., v.17, n.2, jul. 2004 53

conduzidos em todo o mundo,representando um grande acúmulode experiência sobre o assunto.Entretanto, ainda são necessáriosmais experimentos em condições querepresentem situações de plantio emlarga escala para evitar que dadosobtidos em parcelas experimentaissejam considerados como represen-tativos para a avaliação dos impactosda utilização de plantas geneti-camente modificadas.

Implicações sociais eeconômicas

Talvez o maior impacto do uso deplantas geneticamente modificadasdar-se-á no âmbito econômico e social.Os potenciais benefícios que estatecnologia poderá trazer dependemmenos das suas característicastécnicas do que da forma como asprioridades de pesquisa sãoestabelecidas e como as decisõessobre as suas conseqüências sãotomadas. Até o momento, os grandesinvestimentos do setor privado têmsido responsáveis pela geração denovos produtos biotecnológicos.Desta maneira, é possível que a visãoorientada somente para o lucro e aobtenção de resultados em curtoprazo façam com que as necessidadesimediatas dos agricultores econsumidores não sejam sempreconsideradas.

Por outro lado, a utilização dePGMs tem grande potencial paracontribuir com o aperfeiçoamentodos sistemas agrícolas além dosatuais paradigmas. Entretanto, énecessário entender que odesenvolvimento de PGMs, por seruma atividade essencialmentebaseada no conhecimento, dependede grandes esforços de pesquisa. Aenorme vantagem competitiva dospaíses líderes em biotecnologia deve--se em grande parte à compreensãoda necessidade de promover acapacidade local de desenvolver estatecnologia. Em comparação compaíses desenvolvidos, o número depesquisadores atuando em biotec-nologia vegetal no Brasil ainda épequeno, os recursos são limitados eas ligações entre pesquisa pública esetor privado são quase inexistentes,fatores que poderão impedir maiorarticulação com o setor privadonacional, aumentando o fossotecnológico nesta área.

É evidente que o uso de PGMs iráafetar as relações sociais eeconômicas existentes no setoragrícola e de alimentos. Introduçõesde novas tecnologias semprecausaram transformações, quer decaráter científico, quer de carátersocial, econômico ou cultural. Estesprocessos geram alguns ganhos comotambém perdas, não havendonenhuma razão para crer que com asplantas geneticamente modificadasisto será diferente. Naturalmente, énecessário estabelecer mecanismosque assegurem que os benefíciosdesta tecnologia sejam amplamentesuperiores aos eventuais custos, poisna maioria das vezes seus efeitosdependem da maneira como estaserá utilizada.

Percepção pública

Até pouco tempo atrás, não eracomum que mudanças tecnológicasprovocassem grandes discussões nasociedade em geral. Assim, acontrovérsia provocada pelo uso deplantas geneticamente modificadasmerece ser considerada como umamudança na percepção pública sobrea ciência e na maneira da sociedadeparticipar das decisões sobre asconseqüências das aplicaçõestecnológicas derivadas de novasdescobertas.

Pelos argumentos apresentadosnas discussões sobre o plantio dePGMs e o consumo de alimentostransgênicos, observa-se que ainsegurança do público deve-se a

alguns pontos fundamentais: a realnecessidade de plantas gene-ticamente modificadas e os benefíciosprevistos, os efeitos adversos para asaúde humana e o meio ambiente nolongo prazo em comparação com ossistemas atualmente utilizados, asimplicações econômicas e sociais nosvários elos da cadeia produtiva, ograu de controle da sociedade sobreas organizações que dominam atecnologia e a transparência dasinstituições governamentais queregulam e fiscalizam o uso dessatecnologia.

Embora os problemas inicial-mente levantados em relação aouso de PGMs não tenham sematerializado, é necessário mantermedidas de precaução para asse-gurar o menor risco possível. Éessencial que todos os envolvidosneste tema – pesquisadores dossetores público e privado, organi-zações profissionais e não-gover-namentais, agricultores, comer-ciantes e consumidores – tomemparte em discussões sobre a uti-lização desta tecnologia. Nestedebate, é indispensável que asociedade tenha acesso a todas asinformações disponíveis sobre oassunto de maneira isenta,independente e responsável,evitando tanto aqueles que pregam autopia tecnológica, em que tudo seráresolvido pelos avanços da ciência,como também dos que, através douso de informações falsas ealarmistas, visualizam o final dostempos.

Figura 4. Processo de obtenção de plantas transgênicas de laranja a partir detecido maduro

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54 Agropec. Catarin., v.17, n.2, jul. 2004

Adaptação de cultivares de pereira no Sul do Brasil e aAdaptação de cultivares de pereira no Sul do Brasil e aAdaptação de cultivares de pereira no Sul do Brasil e aAdaptação de cultivares de pereira no Sul do Brasil e aAdaptação de cultivares de pereira no Sul do Brasil e asua relação com o "abortamento" floralsua relação com o "abortamento" floralsua relação com o "abortamento" floralsua relação com o "abortamento" floralsua relação com o "abortamento" floral

Ivan Dagoberto Faoro 1

pesar de inúmeras tentati-vas, a pereira é uma das pou-cas frutíferas de clima tem-

perado que ainda não despontou noBrasil como uma cultura de expres-são econômica.

Alguns fatores são responsáveispela falta de interesse dos fruticulto-res para a implantação desta cultu-ra, principalmente os relacionadoscom a falta de adaptação às condi-ções climáticas brasileiras das culti-

Resumo – O Brasil praticamente importa a totalidade da pêra consumida in natura devido à falta de cultivaresadaptadas às suas condições edafoclimáticas. Isso se deve ao fato de a pereira ser originária de regiões muito frias eas cultivares de alta qualidade terem sido selecionadas para essas condições. Acredita-se que a pouca quantidade defrio hibernal e a alternância diária da temperatura no inverno, existentes no Sul do Brasil, são os principais fatoresque induzem as pereiras a alterar os processos bioquímicos/fisiológicos, resultando em menor quantidade de gemasflorais/planta, baixo número de flores/gema, necrose e até queda da gema, sintomas designados como "abortamento"ou "necrose" de gemas. Este artigo comenta esse assunto e sugere a realização de pesquisas e a obtenção de cultiva-res de alta qualidade comercial, com menor exigência em frio hibernal e tolerantes às alterações climáticas diárias.Termos para indexação: Pyrus spp., flutuação de temperatura, gemas florais, mortalidade.

Climatic adaptation of pear cultivars in Southern Brazil and itseffects on floral bud abortion

Abstract – Brazil imports almost all pear fruits necessary to supply it's need. The insufficient local pear productionis due to the lack of climatic adaptation of the currently planted cultivars. Most of them are from colder climatescompared to that of Southern Brazil. It is supposed that the lack of chilling hours and the daily temperature fluctuationduring the winter are the main factors involved on biochemical and physiological process changes. This results inreduction of floral buds/tree, low number of flowers/floral bud, necrosis and even drop of buds. These symptoms areknown as ‘bud abortion' or ‘bud necrosis'. This paper discusses this subject and suggests to carry out more researchand to breed new high fruit quality pear cultivars that have lower chilling requirement and tolerance to dailytemperature fluctuations, very common in Southern of Brazil.Index terms: Pyrus spp., temperature fluctuation, flower bud, mortality.

vares de alta qualidade comercial ea demora para entrar em produçãocomercial, geralmente cinco a seisanos após o plantio.

A falta de adaptação climática sereflete no "abortamento" de gemasflorais (Faoro, 2001), cujo sintoma éa necrose parcial ou total dosprimórdios florais. As escamas dasgemas ficam dessecadas e frouxas.Os sintomas iniciam antes do in-verno e se intensificam próximo à

brotação das gemas, resultando emmenor quantidade de gemas flo-rais/planta, baixa quantidade deflores/gema, flores pequenas edébeis e, muitas vezes, queda dagema (Figura 1).

Neste trabalho serão comentadosalguns dos fatores que influenciam aexpressão do "abortamento" floral,com o objetivo de informar os profis-sionais que atuam ou pretendematuar na cultura da pereira.

1Eng. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Caçador, C.P. 591, 89500-000 Caçador, SC, fone: (049) 563-0211, fax: (049) 563-3211,e-mail: [email protected].

A

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Agropec. Catarin., v.17, n.2, jul. 2004 55

Clima

A importância do plantio da perei-ra em regiões frias se deve à sua ori-gem. As cultivares de alta qualidadecomercial atualmente plantadas noBrasil foram obtidas em países declima temperado, onde o frio hibernalé mais rigoroso. Desta forma, cadacultivar é geneticamente hábil parase adaptar e viver nas condições cli-máticas na qual seus antepassadostiveram origem. Logo, com qualquervariação climática adversa à essa,ocorrem alterações fisiológicas quepodem afetar o comportamento daplanta, especialmente na qualidadee produtividade de frutos.

O plantio da pereira ocorre prin-cipalmente nos Estados do Sul doBrasil, São Paulo e Minas Gerais, emregiões onde existe maior quantida-de de frio durante o inverno. Namaioria dessas regiões há instabili-dade climática e intensa flutuaçãotérmica diária, ocorrendo poucaquantidade de horas de frio no outo-no e inverno para suprir as necessi-dades fisiológicas naturais das culti-vares de pereira com frutos de altaqualidade comercial. Isso pode gerar,em conseqüência, falta de adaptaçãoe causar o "abortamento" das gemasflorais (Nakasu et al., 1995; Hauagge& Cummins, 2000), que varia entrecultivares, anos e locais.

No entanto, algumas pesquisasnão evidenciaram a influência da am-plitude térmica durante o períodohibernal no "abortamento", pois apartir de março já é possível obser-var os sintomas, com agravamentomáximo na floração (Marodin, 1998).

Além da quantidade de horas defrio, outro fator de extrema impor-tância é a “qualidade” do frio, ou seja,a influência de determinada tempe-ratura sobre a planta. Tem sido de-monstrado que, para a ‘Nijisseiki', atemperatura de 5oC é a mais efetivana indução da "quebra" dadormência, seguida de zero e 10oC.As temperaturas de zero e 5oC têm omesmo efeito até 1.200 horas de frio(Tamura et al., 1995). De modo ge-ral, a melhor temperatura para sa-tisfazer a dormência das frutíferas declima temperado é de 6o C(Camelatto, 1990).

Em regiões como a de São Joa-quim, SC, a incidência do"abortamento" é menor do que emVacaria, RS, e Caçador, SC. Recente-

mente, foi detectado que em regiõesmais quentes, como em Pelotas, RS,e Vacaria, ocorre bifurcação da gemae formação de maior número deprimórdios florais/gema, provavel-mente devido aos fatores climáticosdurante a fase de diferenciação flo-ral ou no período de repouso (outo-no e inverno). Em média, a ‘Housui'apresentou 8,9 primórdios em SãoJoaquim, 13,6 em Vacaria e 15,6 emPelotas; já a ‘Nijisseiki' apresentou10,7 primórdios em São Joaquim,16,4 em Vacaria e 13,3 em Pelotas.A ‘Nijisseiki' foi a que apresentoumaior taxa de abortamento e tam-bém alto teor de boro nas gemas flo-rais. Neste caso, foi levantada a hi-pótese de que o abortamento possaestar relacionado com a toxidez e nãocom a deficiência deste nutriente(Veríssimo, 2002). É importante des-tacar que o maior número deprimórdios florais formados não in-dica, na floração, maior produção deflores por gema, mas somente umaanormalidade morfológica causadapor um desequilíbrio fisiológico.

A pouca quantidade de friohibernal tende a aumentar o"abortamento", já que uma quanti-dade insuficiente de horas de friopara completar a "quebra" dadormência ocasiona atraso e reduçãoda brotação das gemas laterais,maior dominância apical, forte cres-cimento de ramos terminais, pouca

emissão de ramos e esporões late-rais, floração desuniforme, menorenfolhamento e redução das reser-vas das plantas e, conseqüentemen-te, menor produtividade (Hauagge &Cummins, 2000; Camelatto, 1990).Tais situações são observadas nospomares de pereira na maioria dasregiões do Sul do Brasil.

No Japão, as gemas floríferasapresentam, em média, 20 brácteas,e, após a formação destas, são for-mados os primórdios florais. Quan-do inicia a redução da temperatura edo fotoperíodo, antes da queda dasfolhas, cessa a emissão dessesprimórdios. Segundo H. Fukuda (in-formação pessoal, 2003), no Brasil,em regiões com temperaturas maiselevadas no final de outono em rela-ção ao que ocorre no Japão nestamesma fase fisiológica da planta, pos-sivelmente a quantidade de frio sejainsuficiente para induzir a parada daemissão de primórdios florais nasgemas, sendo essa a causa mais pro-vável do abortamento floral. Segun-do Fukuda, tal situação provoca ocontínuo crescimento da região apicalda gema, promovendo maior quanti-dade de primórdios florais, os quais,por força mecânica, fazem com queas brácteas fiquem mais abertas eassim expondo os primórdios às con-dições climáticas externas. Ficandoos primórdios expostos, danos dire-tos ocasionados pelas baixas tempe-

Figura 1. Emissão de uma única flor devido ao ‘‘abortamento’’ floral dapereira ‘Nijisseiki’

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raturas ou pela desidratação dos te-cidos provocada pelo aumento da tem-peratura durante o dia podem oca-sionar a necrose e eventual mortede primórdios. Tal teoria poderia ex-plicar a presença de maior númerode primórdios florais por gema de-tectado em pesquisa citada anterior-mente, maior tamanho das gemas ebrácteas ligeiramente mais abertasem gemas com sintomas de"abortamento". Esse dano é acen-tuado principalmente próximo à

floração. No Brasil, tal situação ocor-re em menor escala em regiões commaior quantidade de frio hibernal,como em São Joaquim, onde foi cons-tatado que as gemas floríferas pos-suem menor diâmetro, menor pesoseco e são mais firmes que as gemasdas regiões com menor quantidadede frio, como em Vacaria (Veríssimo,2002). No entanto, para confirmaçãodessa teoria, ainda há necessidade demais estudos.

Outro aspecto relacionado com a

qualidade da floração é a insolação.Foi demonstrado que plantas de‘Anjou' e ‘William's' apresentarammaior relação flores/folha quandoplantadas no sentido norte-sul (mé-dia de 13,3 flores/folha) que no leste--oeste (10,9 flores/folha), mas o nú-mero de frutos e a frutificação efeti-va não foram afetados (Lombard &Westwood, 1977). Tal situação temlevado à adoção de diferentes formasde condução das plantas de pereira,como os sistemas de condução em "V"e em "latada" ou em forma de lídercentral, mas sempre com o arranjodos ramos de maneira que possibili-tem a entrada abundante de luz nointerior da planta.

Felizmente, em locais onde foramdetectadas taxas elevadas de"abortamento" também existem cul-tivares que produzem grande núme-ro de gemas com flor e grande quan-tidade de flores/gema, como a ‘Yali',a ‘Kousui' (Figura 2) e a ‘Carrick', emanos com maior ou com menor quan-tidade de unidades de frio. Isso indi-ca que o melhoramento genéticopode resolver ou amenizar esse pro-blema, pois existe variabilidade ge-nética. Desta forma, a variação naintensidade e na severidade do"abortamento" depende da cultivar e,possivelmente, a indução se deve àação da temperatura pouco antes oudurante o período de dormência.Devido à pouca quantidade de friohibernal e às flutuações térmicas diá-rias, as plantas de cultivares comdeficiência adaptativa não entramem dormência "profunda" e, em con-seqüência, pouco reduzem a taxa derespiração, o que as leva a consumirgrande quantidade de açúcar e, porisso, armazenar menor quantidadede carboidratos solúveis. Assim, amaior parte dos carboidratos produ-zidos durante o dia é consumida ànoite, mesmo durante a dormência.Aliado a isso, na saída do períodohibernal da planta, as raízes já estãoativas, aumentando o consumo des-ses carboidratos, mesmo com a copacontinuando em dormência. Poste-riormente, também competem peloscarboidratos os ramos e os frutos emdesenvolvimento. Como resultado,ocorre brotação e floração deficien-tes e os demais sintomas do "aborta-mento". A iniciação e o desenvolvi-mento floral para a safra seguinteficam afetados e há formação demaior quantidade de primórdios

Figura 2. Emissão normal de flores na ‘Kousui’, sem dano ocasionado pelo‘‘abortamento’’ floral

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florais/gema, possivelmente devidoao estresse da planta ocasionado pe-las condições climáticas. No entan-to, o maior número de primórdiosflorais possivelmente ocasiona ain-da um desequilíbrio hormonal enutricional que, submetido às condi-ções adversas climáticas, induz ànecrose parcial ou total dosprimórdios, formando menor núme-ro de flores/gema ou mesmo ocasio-nando a queda da gema floral, quesão expressões do "abortamento".Isso implica que, somente com a ob-tenção de cultivares-copa de menorexigência de frio hibernal e toleran-tes aos eventuais danos ocasionadospelas variações térmicas diárias serápossível resolver de forma parcial oudefinitiva este problema.

Cultivares

As cultivares de alta qualidademais plantadas no Brasil possuemmédia a alta exigência em friohibernal.

Foi detectado na Nova Zelândiaque o "abortamento" é maior emplantas novas, com menos de seis aoito anos, sendo que há forte asso-ciação desta desordem com as condi-ções meteorológicas.

Apesar de alguns autores citaremque o "abortamento" pode reduzir aprodutividade da pereira, tem sidodemonstrado que, mesmo ocorren-do este problema, em algumas re-giões no Sul do Brasil, os resultadostêm sido animadores. Plantas adul-tas apresentando em torno de 50%de gemas florais abortadas podemresultar numa produtividade muitoboa de 40 a 100t/ha (Marodin, 1998).Tal situação tem sido observada empomares em São Joaquim.

Porta-enxertos

Porta-enxertos ananizantes res-tringem o crescimento vegetativo e,por isso, tendem a induzir melhorbrotação e floração (Erez, 2000), poisramos mais curtos necessitam me-nor quantidade de frio hibernal.Existem alguns porta-enxertos demarmeleiro sendo utilizados no Bra-sil, com destaque para ‘EM C',‘Adams' e ‘BA 29', os quais são indi-cados somente para pereiras do tipoeuropéia, pois apresentam incompa-tibilidade com as cultivares japone-sas. No futuro, com o lançamento de

novos porta-enxertos ananizantes depereira, existe boa expectativa quan-to ao efeito benéfico no aumento dafloração e produtividade das cultiva-res de alta exigência em frio, em con-dições de inverno ameno. Um dosefeitos positivos dos porta-enxertosanões é a redução do crescimento dacopa, que diminui a dominânciaapical e resulta em melhor brotaçãodas gemas laterais.

Doenças

Outro fator que tem sido detecta-do junto às gemas florais abortadas,no Brasil, é a ocorrência da bactériaPseudomonas syringae pv. syringae(Marodin, 1998), a qual, de algumaforma, pode estar envolvida comoum dos fatores indutores secun-dários. No entanto, trabalhos maisrecentes têm demonstrado inconsis-tência da presença e da concentra-ção da Pseudomonas syringae sobreo nível do "abortamento" (Mon-tesinos & Vilardell, 2001; Berton &Denardi, 2003).

Considerações

Para o Sul do Brasil, a saída viá-vel para resolver o problema do"abortamento" floral é a criação decultivares adaptadas, através do me-lhoramento genético. No entanto,como esta solução é demorada, hánecessidade de rapidamente seremdesenvolvidas técnicas que ameni-zem o baixo número de gemasfloríferas e de flores/gema, tais comoo uso de porta-enxertos ananizantes,a melhoria na condução e no mane-jo das plantas e o uso de produtos/hormônios que melhorem a floração.

Atualmente, não existe tecnologiasuficiente para permitir o plantio decultivares européias de alta qualida-de, como por exemplo a ‘Packham´sTriumph' e a ‘Williams' (=‘Bartlett'),em altitudes abaixo de 1.200m. Emregiões abaixo dessa altitude é pos-sível plantar algumas cultivares ja-ponesas, como por exemplo a‘Housui' e ‘Kousui', mas não a‘Nijisseiki', que apresenta menorcrescimento e alta taxa de"abortamento" de gemas.

Literatura citada

1. BERTON, O.; DENARDI, F. Efeito doaliette e da calda bordalesa no controle

do abortamento de gemas floríferas empereira. Agropecuária Catarinense ,Florianópolis, v.16, n.1, p.41-44, 2003.

2. CAMELATTO, D. Dormência em frutei-ras de clima temperado. HortiSul, v.1,n.3, p.12-17, 1990.

3. EREZ, A. Bud dormancy: phenomenon,problems and solutions in the tropics andsubtropics. In: EREZ, A. (Ed.) Temperatefruit crops in warm climates .Netherlands: Kluwer AcademicPublishers, 2000. p.17-48.

4. FAORO, I.D. Morfologia e fisiologia, In:EPAGRI. Nashi, a pêra japonesa.Florianópolis: Epagri/Jica, 2001. p.67-94.

5. HAUAGGE, R.; CUMMINS, J.N. Pomefruit genetic pool for production in warmclimates. In: EREZ, A. (Ed.) Temperatefruit crops in warm climates .Netherlands: Kluwer Academic Press,2000. p.267-303.

6. LOMBARD, P.B.; WESTWOOD, M.N.Effect of hedgerow orientation on pearfruiting. Acta Horticulturae, n.69, p.175-182, 1977.

7. MARODIN, G.A.B. Época e intensidadede abortamento de gemas florais em pe-reiras (Pyrus communis) cv. Packham´sTriumph em ambientes com distintascondições climáticas. 1998. 191f. Disser-tação (Doutorado em Agronomia). Uni-versidade Federal do Rio Grande do Sul,Porto Alegre, RS.

8. MONTESINOS, E.; VILARDELL, P.Effect of bactericides, phosphonates andnutrient amendments on blast ofdormant flower buds of pear: a fieldevaluation for disease control. EuropeanJournal of Plant Pathology, n.107, p. 787-794, 2001.

9. NAKASU, B.H.; HERTER, F.G.; LEITE,D.L.; RASEIRA, M.C.B. Pear flower budabortion in Southern Brazil. ActaHorticulturae, n.395, p.185-192, 1995.

10. TAMURA, F.; TANABE, K.; ITAI, A.Effect of interruption of chilling on budbreak in japanese pear. ActaHorticulturae, n.395, p.135-140, 1995.

11. VERÍSSIMO, V. Caracterização deparâmetros físicos, químicos emorfológicos de gemas florais de perei-ra no sul do Brasil, e sua relação com oabortamento. 2002. 58f. Dissertação(Mestrado em Agronomia). Universida-de Federal de Pelotas, Pelotas, RS.

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Cultivo do morangueiro em hidroponia vertical: relaçãoCultivo do morangueiro em hidroponia vertical: relaçãoCultivo do morangueiro em hidroponia vertical: relaçãoCultivo do morangueiro em hidroponia vertical: relaçãoCultivo do morangueiro em hidroponia vertical: relaçãoentre a localização das plantas e a qualidade dos frutosentre a localização das plantas e a qualidade dos frutosentre a localização das plantas e a qualidade dos frutosentre a localização das plantas e a qualidade dos frutosentre a localização das plantas e a qualidade dos frutos

André Nunes Loula Tôrres1; Gilson José Marcinichen Gallotti2 eAlvadi Antonio Balbinot Junior3

morango (Fragaria ananassaDutch) vem sendo cultivadoem ambiente protegido, a

partir de matrizes livres de vírus,que possibilitam altas produções como mínimo uso de agrotóxicos.

Vários são os arranjos de plantasdentro dos abrigos, podendo-seplantar as mudas diretamente nosolo ou cultivá-las em hidroponia.Na cultura do morango o sistemahidropônico que melhor se adaptoufoi a hidroponia vertical, quemaximiza o uso da área e reduzcustos (Furlani, 2001).

Resumo – O cultivo do morangueiro em ambiente protegido possibilita a obtenção de elevadas produções defrutos com baixo uso de agroquímicos. Várias são as possibilidades de cultivo do morango, sendo o sistema hidropônicoem posição vertical uma opção que maximiza o uso da área. O objetivo do presente trabalho foi verificar o efeito dalocalização das plantas em relação ao nível do solo e da disposição das plantas em relação aos pontos cardeais, naqualidade dos frutos. A exposição noroeste (NO) possibilitou o maior acúmulo de açúcar nos frutos, enquanto que aposição sudeste (SE) conferiu o menor acúmulo de açúcar. As plantas situadas na parte superior das sacolas produziramfrutos com maior teor de açúcar e maior peso médio do fruto, quando comparadas às plantas situadas na parteinferior.Termos para indexação: Fragaria ananassa , cultivo protegido, hidroponia em colunas, pontos cardeais.

Strawberry production in vertical hydroponic system: relationship betweenplant localization and fruit quality

Abstract – The protected cropping of strawberry makes possible to get high yield with low use of chemicals.There are several possibilities to grow strawberry, being the hydroponic system in vertical position an option thatmaximizes the use of the area. The aim of the present work was to evaluate the sugar content and the averageweight of fruits influenced by the height of the plants in relation to the ground and the disposition of plants inrelation to the cardinal points. The sugar content in fruits with northwest exposition was superior to southeast,however, it was not different from northeast and southwest exposition. Fruits from the superior part of the bagshad higher sugar contents and average weight, compared to fruits from the inferior part of the bags.Index terms: Fragaria ananassa, protected culture, vertical hydroponic, cardinal points.

Apesar de seus pontos positivos,é importante otimizar a interaçãoentre os fatores que influenciam ocrescimento, o desenvolvimento e acomposição das plantas. Tais fatoressão nutrientes, água, luz, CO2, O2 etemperatura que devem estardisponíveis em intensidade equantidades adequadas para cadagenótipo de planta (Tôrres et al.,2004). A luz é de significativaimportância para o sistema decultivo em hidroponia vertical, poishá sobreposição de plantas e, conse-qüentemente, competição por luz.

O objetivo deste trabalho foiavaliar o teor de açúcar e o peso dosfrutos no cultivo do morangueiro emhidroponia vertical, em função dalocalização das plantas em relaçãoao nível do solo e da disposição dasplantas em relação aos pontoscardeais.

O trabalho foi conduzido empropriedade assistida pela Epagri,pertencente ao senhor Jaime Sele-me, localizada no município de Ca-noinhas, SC. O experimento foi insta-lado no mês de maio de 2003, numaárea de 110m2, em cultivo protegido.

1Eng. agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, C.P. 216, 89460-000 Canoinhas, SC, fone: (047) 624-1144, fax: (047) 624-1079,e-mail: [email protected]. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, e-mail: [email protected]. agr., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, e-mail: [email protected].

O

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Foram utilizadas plantas demorango cultivar Camarosa, as quaisforam transplantadas no dia 12/5/2003 para sacolas plásticas comcapacidade para 63dm3 de substrato.A injeção de solução nutritiva foifeita por meio de três difusores porsacola, localizados aos 2,10, 1,40 e0,60m em relação ao nível do solo,constituindo desta forma o sistemade hidroponia vertical. O substratoutilizado foi a mistura de casca dearroz carbonizada e substratoagrícola marca Plantmax® naproporção de 1:1.

Em cada sacola foram trans-plantadas 28 mudas, sendo 7 porlinha vertical e 4 nas linhas radiais,distribuídas de forma eqüidistante(Figuras 1 e 2). O espaçamento entreas sacolas foi de 1,00 x 1,00m e asfilas de sacolas foram colocadas nosentido nordeste-sudoeste, acompa-nhando a orientação do abrigo.

Foram utilizados dois tipos desoluções nutritivas: solução decrescimento, durante os primeiros30 dias após o transplante, e soluçãode frutificação, após o uso daprimeira solução (Tabela 1). Após

diluição, a solução estoque foifracionada em duas vezes ao dia,com 3 a 6L/sacola, conforme oestádio de desenvolvimento dasmudas e da taxa de evapotrans-piração.

O delineamento experimentalutilizado foi o inteiramentecasualizado, com três repetições,num arranjo fatorial 4 x 3, sendoutilizados como fatores a disposiçãodas plantas em relação aos pontos

cardeais (nordeste, noroeste, sudestee sudoeste) (Figura 3) e a localizaçãodas plantas em relação ao nível dosolo (0,30, 1,20 e 2,10m).

As avaliações do teor de açúcar(oBrix) e do peso médio dos frutos (g)foram realizadas no dia 1o de outubrode 2003. Avaliou-se o teor de açúcar,por meio de um refratômetro, emdois frutos por parcela, que eraconstituída de três plantas. Para adeterminação do peso médio dos

Figura 1. Sacolas de plantio com 28plantas, sendo sete por linha verticale quatro nas linhas radiais

Figura 2. Detalhe das plantas radiais uniformemente distribuídas na sacola

Tabela 1. Soluções concentradas de crescimento e frutificação utilizadasna cultura do morango sob abrigo plástico. Canoinhas, SC, 2003

Solução concentradaSais oufertilizantes Solução de crescimento Solução de frutificação

Estoque A Estoque B Estoque A Estoque C

...........................................g/10L............................................

Nitrato de cálcio 1.600,0 0,0 1.600,0 0,0

Nitrato de potássio 0,0 1.000,0 0,0 1.000,0

Fosfato monoamônio 0,0 300,0 0,0 0,0

Fosfato monopotássio 0,0 360,0 0,0 720,0

Sulfato de magnésio 0,0 1.200,0 0,0 1.200,0

Ácido bórico 6,0 0,0 6,0 0,0

Sulfato de cobre 0,6 0,0 0,6 0,0

Sulfato de manganês 4,0 0,0 4,0 0,0

Sulfato de zinco 2,0 0,0 2,0 0,0

Molibdato de sódio 0,6 0,0 0,6 0,0

Tenso Fe 120,0 0,0 120,0 0,0

Fonte: Furlani & Fernandes Jr. (2001).

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Tabela 3. Teor de açúcar e peso médio dos frutos de morango em hidroponiavertical, em relação ao nível do solo(1)

Localização da planta Teor de açúcar Peso médio por fruto

m oBrix g

2,10 5,28 a 16,57 a

1,20 4,72 ab 14,34 ab

0,30 4,44 b 10,10 b

CV (%) 13,05 37,64

(1)Médias seguidas pela mesma letra na mesma coluna não diferemestatisticamente entre si, pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Tabela 2. Teor de açúcar e peso médio dos frutos de morango em hidroponiavertical, em função da exposição solar (1)

Orientação Teor de açúcar Peso médio por fruto

oBrix g

Noroeste 5,32a 16,41a

Nordeste 5,02ab 11,91a

Sudoeste 4,57ab 13,67a

Sudeste 4,35 b 12,68a

CV (%) 13,05 37,64

(1)Médias seguidas pela mesma letra nas colunas não diferemestatisticamente entre si, pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Figura 3. Disposição das plantas emrelação aos pontos cardeais

frutos fez-se a colheita total e acontagem dos frutos por planta, osquais tiveram o somatório dos seuspesos dividido pelo número de frutoscolhidos. Os dados do teor de açúcar(oBrix) e do peso médio dos frutos (g)foram submetidos à análise devariância, aplicando-se o teste deTukey a 5% de probabilidade paracomparação das médias.

Independentemente da locali-zação das plantas em relação ao nível

do solo, a orientação das mesmas emrelação ao sol influenciousignificativamente no aumento doteor médio de açúcar nos frutos(Tabela 2). A exposição das plantasque proporcionou o maior teor deaçúcar foi a noroeste, embora nãotenha diferido das exposiçõesnordeste e sudoeste. A maiorinsolação das plantas, principalmentenas exposições noroeste e nordeste,explicam em parte os resultadosobtidos. A exposição sudeste foi amais prejudicada, em função da faltade insolação no período da manhã namaioria dos dias, devido à altanebulosidade neste período e pornão receber incidência do sol noperíodo da tarde.

Por outro lado, a exposição dasplantas não influenciou significa-tivamente no peso médio dos frutos(Tabela 2).

A localização das plantas emrelação ao nível do solo (Tabela 3)influenciou no teor de açúcar e nopeso médio dos frutos. À medida queas plantas se distanciavam do solo,

independentemente de sua exposiçãoem relação ao sol, constatavam-semaiores pesos e teor de açúcar nosfrutos. Provavelmente isto tenhaocorrido devido à maior incidênciade luz nas plantas situadas na posiçãosuperior das sacolas.

Observou-se ainda que no cultivohidropônico vertical, sob ambienteprotegido, ocorreu reduzida inci-dência e severidade de doençasfúngicas (sendo a redução tanto maiorquanto maior a distância das plantasdo nível do solo). As doenças fúngicasdiagnosticadas nas folhas foram amancha-de-micosferela (Mycosphae-rella fragariae) e a mancha-de-den-drofoma (Dendrophoma obscurans),enquanto nos frutos diagnosticou-seo mofo cinzento (Botrytis cinerea).As folhas e os frutos doentes forameliminados por catação manual, nãohavendo necessidade do controlequímico.

Conclusões

A orientação do sol em relação àsplantas não influencia o peso médiodos frutos de morango.

A exposição solar das plantas queproporciona o maior teor de açúcar éa noroeste e o menor, a sudeste.

As plantas cultivadas na partesuperior da sacola apresentam maiorteor de açúcar e peso médio de fruto.

Agradecimentos

Agradecemos ao senhor JaimeSeleme por ceder os abrigos comcultivo hidropônico do morango epossibilitar a realização destetrabalho.

Literatura citada

1. FURLANI, P.R.; FERNANDES JÚNIOR,F. Cultivo de morango por hidroponiaNFT e vertical em substratos. Campinas:Instituto Agronômico, 2001. 4p.

2. FURLANI, P.R. Hidroponia vertical: novaopção para produção de morango noBrasil. O agronômico, Campinas, v.53,n.2, p.26-28, 2001.

3. TÔRRES, A.N.L.; PEREIRA, P.R.G.;TÔRRES, J.T.; GALLOTTI, G.J.M.;PILATI, G.; REBELO, J.A.; HENKELS,H. A salinidade e suas implicações nocultivo de plantas. Florianópolis: Epagri,2004. 66p. (Epagri. Documentos). Noprelo.

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Agropec. Catarin., v.17, n.2, jul. 2004 61

Importância do gesso agrícola na agriculturaImportância do gesso agrícola na agriculturaImportância do gesso agrícola na agriculturaImportância do gesso agrícola na agriculturaImportância do gesso agrícola na agricultura

Névio João Nuernberg1

o passado, por falta de conhe-cimento no assunto, muitosagricultores utilizaram o

gesso agrícola (sulfato de cálciodiidratado) como corretivo da acidezdo solo em substituição ao calcário enão obtiveram a resposta esperada.O calcário e o gesso propiciamresultados distintos. O calcário,quando aplicado no solo, atuadiretamente sobre as fontes deacidez, eleva o pH na camada ondefoi incorporado e promove umaresposta imediata da cultura. O gessoagrícola, além de ser uma fonte denutrientes (cálcio, de 17% a 20%, eenxofre, de 14% a 17%) para asplantas, atua como condicionadorfísico e químico do solo, princi-palmente abaixo da camada de solocorrigida pela calagem (Sumner etal., 1990). O gesso agrícola atua sobreas fontes de acidez sem alterar o pH.

A resposta das plantas nemsempre é imediata no rendimento dalavoura. Todavia, a melhoria daqualidade do produto colhido(principalmente frutas) pode ocorrerjá no primeiro ano. Normalmente,as diferenças nos rendimentos daslavouras são observadas nos anosque ocorrem má distribuição daschuvas ou naqueles com estiagensprolongadas (Nuernberg & Pandolfo,

Resumo – No solo, o gesso atua como condicionador físico-químico. Além de ser fonte de cálcio e enxofre, ele atuasobre as fontes de acidez em camadas mais profundas do solo e alivia a resistência mecânica de camadas adensadasà penetração das raízes.Termos para indexação: acidez do solo, crescimento de raízes.

Gypsum importance for agriculture

Abstract – Gypsum acts as physical-chemical soil conditioner. Gypsum is a source of calcium and sulfur, alleviatessoil acidity agents in the soil horizons, and improves rooting on the soil layers with mechanical impedance.Index terms: soil acidity, root growth.

2002). Isto pode ter sido uma dascausas do pouco interesse do uso dogesso na agricultura no Sul doBrasil, onde o regime de chuvas éconsiderado uniforme. No entanto,ocorrem períodos de estiagem maisou menos prolongados como o queocorreu no início deste ano (2004).Quando ocorre estiagem longa, osprejuízos por ela causados sãomenores nas lavouras onde o gessotem sido aplicado.

Preocupado com isso, umprodutor de grãos de Campos Novos,SC, acompanhado por pesquisadoresda Epagri, aplicou na superfície dosolo em sua lavoura quatro doses degesso agrícola (zero, 1, 2 e 4t/ha), emfaixas de 17m de largura por 60m decomprimento, nos anos de 1994, 1996e 1999, perfazendo um total de 3, 6 e12t/ha. A terra era cultivada nosistema plantio direto, sendo asanotações e as observações feitasdurante oito anos. A primeiraresposta na cultura do milho foiobservada no quarto ano após aaplicação do gesso (safra 1997/98).Naquela safra, ocorreram pre-cipitações pluviométricas acima damédia, contudo, uma estiagem de 15dias durante a floração do milho(estádio mais crucial para essacultura) foi suficiente para promover

uma redução na produtividade. Apartir dessa safra, tanto o milhoquanto a soja (culturas sucessivas)apresentaram resposta ao gessosempre que a quantidade de chuvaera insuficiente ou mal distribuídadurante o ciclo (Nuernberg et al.,1999; Nuernberg & Pandolfo, 2002).Essa resposta deve ser entendidacomo a menor expressão dacapacidade produtiva das culturas nosanos com períodos de estiagemprolongada.

Considerando-se que nas lavourasmodernas de milho a densidade desemeadura é maior, existe um riscode que os prejuízos causados pelaestiagem sejam maiores comoconseqüência do maior consumo deágua, visto que as raízes das plantasem áreas com subsolo ácido só têmpossibilidade de se desenvolveremadequadamente na camada de terracorrigida com calcário. Por isto, écomum observar-se o murchamentorápido das plantas após poucos diasde falta de chuva. A planta murchadiminui ou interrompe o seucrescimento. O resultado pode serimediato, dependendo do estádio dedesenvolvimento da cultura. Asolução para minorar, ou atéeliminar esse problema, é melhoraras condições físico-químicas em

1Eng. agr., Ph.D., Epagri/Gerência Técnica e de Planejamento, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (048) 239 5590, e-mail:[email protected].

N

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62 Agropec. Catarin., v.17, n.2, jul. 2004

camadas de solo mais profundas(subsolo) para que as raízes dasplantas possam crescer e absorver aágua antes não disponível, comomostram as Figuras 1 e 2.

A incorporação profunda docalcário é uma alternativa parapropiciar maior volume de soloexplorado pelas raízes das plantas.Essa alternativa, porém, éimpraticável devido ao alto custo daoperação e da necessidade deequipamentos especiais. Outrapossibilidade é aplicar o gessoagrícola, mesmo que na superfície,e aguardar para que os resultadosapareçam. Nos subsolos de solosácidos e inférteis, o gesso alivia osdanos causados pela acidez, visto queele inibe a toxicidade do alumínio,desloca cálcio, magnésio e potássioao longo do perfil do solo, criandomelhores condições para odesenvolvimento das raízes (Figura2).

Em solos com camadas com-pactadas, seja pelo uso continuadode máquinas pesadas ou devido aoelevado teor de argila, que impedemo crescimento das raízes, o gessodiminui a resistência mecânica queelas encontram para crescer emprofundidade (Sumner et al., 1990).Em Campos Novos, num soloLatossolo com 70% de argila, essaresistência foi diminuída em mais de10kg/cm2, na profundidade de 40cm,

com a aplicação damaior dose de gesso(Figura 3), ou seja, asraízes das plantastestemunha teriamque exercer uma forçadez vezes maior que adas plantas que sedesenvolveram naárea que recebeu trêsaplicações de 4t/ha degesso (Nuernberg &Pandolfo, 2002).

O resultado eco-nômico do uso dogesso, para esseprodutor de CamposNovos, foi altamenteinteressante, visto tersido observada umaresposta linear àsdoses de gesso, ouseja, para cada tone-lada de gesso aplicadahouve um retorno deR$ 115,62/ha/ano (so-ma dos valores mone-tários dos oito cultivose aos preços de feve-reiro de 2002).

Para a macieira eoutras fruteiras, o usodo gesso agrícola é recomendado paramelhorar a relação cálcio/magnésiono solo e, com isto, beneficiar aabsorção de cálcio e diminuir aincidência de distúrbios fisiológicos

Figura 1. Plantas de alfafa mostrando que as raízes desenvolvem-se(A) horizontalmente na camada de solo onde o calcário é incorporado e(B) verticalmente quando o solo não apresenta subsolo ácido, mesmo semcalagem

Figura 2. Aprofundamento das raízes de milho emresposta ao gesso agrícola no oitavo ano após aprimeira aplicação superficial. A avaliação foi feitaem fevereiro de 2002, em Campos Novos, SC

dos frutos, muitos dos quais semanifestam somente após aarmazenagem. No melhoramento docampo nativo, o estabelecimento dasleguminosas introduzidas ébeneficiado quando o gesso é aplicadoassociado ao calcário (Ritter &Sorrenson, 1985).

Em Santa Catarina, como emmuito outros locais do Brasil e domundo, o gesso agrícola disponívelfoi gerado como um subproduto daprodução de fertilizantes minerais.A partir de resultados de pesqui-sas desenvolvidas, inicialmente naÁfrica do Sul, em outros países eaqui no Brasil, que o gesso passou aser reconhecido como um insumoagrícola importante, como fonte decálcio e enxofre e como melhoradorde características físicas e quí-micas de solos. O seu uso, noentanto, deve ser sempre reco-mendado e acompanhado por umprofissional.

Além do que foi apresentado nestaNota Técnica, o gesso tem muitosoutros benefícios e usos, que o leitorpode verificar no Boletim Técnico122, de Nuernberg et al., 2002,publicado pela Epagri.

Doses de gesso (t/ha)

0 1+1+1 2+2+2 4+4+4

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100P

rofu

ndid

ade

do s

olo

(cm

)

Solo Nitossolo – subsolo ácido(Lages, SC)

Solo Cambissolo – subsolo neutro(São José do Cerrito, SC)

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Figura 3. Redução da resistência do solo à penetração das raízes (A) sem gessoe (B) com três aplicações de 4t/ha de gesso (1994, 1996 e 1999). O gessopromoveu a diminuição da resistência do solo à penetração das raízes ao longodo perfil. Local de avaliação: Campos Novos, SC

Literatura citada

1. NUERNBERG, N.J.; PANDOLFO, C.M.;NUERNBERG, D. Resposta de milho esoja ao gesso agrícola em Latossolo BrunoRoxo, sob plantio direto. In: REUNIÃOTÉCNICA CATARINENSE DE MILHOE FEIJÃO, 2., 1999, Lages, SC. Resumos...Lages: Udesc/Epagri, 1999. p.172-176.

2. NUERNBERG, N.J.; PANDOLFO, C.M.Gesso agrícola e plantio direto: unidospara reduzir os prejuízos da seca. In:REUNIÃO SUL-BRASILEIRA DECIÊNCIA DO SOLO, 4., 2002, PortoAlegre, RS. Solo e QualidadeAmbiental: Resumos expandidos... PortoAlegre: SBCS, 2002. CD-Rom.

3. NUERNBERG, N.J.; RECH, T.D.;BASSO. C. Usos do gesso agrícola.Florianópolis, Epagri, 2002. 32p. (Epagri.Boletim Técnico, 122).

4. RITTER, W.; SORRENSON, W.J.Produção de bovinos no Planalto deSanta Catarina, Brasil: Situação atual eperspectivas. Eschborn, GTZ;Florianópolis: Empasc, 1985. p.105-109.

5. SUMNER, M. E.; RADCLIFFE, D. E.;McCRAY, M.; CARTER, E.; CLARK, R.L.Gypsum as an ameliorant for subsoilhardpans. Soil Technology, v. 3, p. 253-258, 1990.

Resistência do solo à penetração da raiz (kg/cm2)

6 9 12 15 18 21 240

20

40

60

80

100

Pro

fund

idad

e (c

m)

0

20

40

60

80

100

Pro

fund

idad

e (c

m)

6 9 12 15 18 21 24

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64 Agropec. Catarin., v.17, n.2, jul. 2004

RRRRRelação entre a freqüência de pulverizações de oelação entre a freqüência de pulverizações de oelação entre a freqüência de pulverizações de oelação entre a freqüência de pulverizações de oelação entre a freqüência de pulverizações de oxicloretoxicloretoxicloretoxicloretoxicloretode cobre e a incidência do cancro cítricode cobre e a incidência do cancro cítricode cobre e a incidência do cancro cítricode cobre e a incidência do cancro cítricode cobre e a incidência do cancro cítrico

em folhas de laranjeira-em folhas de laranjeira-em folhas de laranjeira-em folhas de laranjeira-em folhas de laranjeira-docedocedocedocedoce

Luiz Augusto Ferreira Verona1; Gustavo de Faria Theodoro 2 eCristiano Nunes Nesi 3

cancro cítrico, causado porXanthomonas axonopodis pv.citri (XAC), possui grande

importância por estar presente emvárias regiões do mundo e causarsérios danos (Stall & Seymour, 1983).

No Brasil, esta doença foiprimeiramente relatada nomunicípio de Presidente Prudente,SP, em 1957. Apesar da adoção demedidas de erradicação, o cancrocítrico foi disseminado para outrasregiões citrícolas e atualmente podeser encontrado nos Estados de Goiás,Paraná, Mato Grosso do Sul, MatoGrosso, Minas Gerais e Rio Grandedo Sul. O cancro cítrico foi constatadoem Santa Catarina em 1985

Resumo – Avaliou-se a relação entre a freqüência de pulverizações de oxicloreto de cobre e a incidência de cancrocítrico, causado por Xanthomonas axonopodis pv. citri. Foram empregadas quatro, sete e 11 aplicações de oxicloretode cobre, em um pomar de laranja doce, cultivar Valência, localizado no município de Marema, SC, de 1997 a 1999.Os resultados indicaram que a eficiência de controle do cancro cítrico foi satisfatória a partir de quatro aplicações deoxicloreto de cobre, durante o período de brotação, em intervalos de 30 dias.Termos para indexação: Xanthomonas axonopodis pv. citri, cancro cítrico asiático, manejo integrado.

Relationship between the frequency of copper oxychloride sprays and theincidence of citrus canker in sweet orange leaves

Abstract – It was studied the relationship between the frequency of copper oxychloride sprays and the incidenceof citrus canker in sweet orange leaves, caused by Xanthomonas axonopodis pv. citri . Four, seven and 11 sprays ofcopper oxychloride were used in a sweet orange orchard, cv. Valência, located in Marema, SC, Brasil, from 1997 to1999. It was found that the control of citrus canker starting from four sprays of copper oxychloride in 30-day intervalsduring the growth season, was satisfactory.Index terms: Xanthomonas axonopodis pv. citri , asiatic citrus canker, integrated management.

(Namekata, 1988) e, desde então, foiadotada a integração de diferentesmétodos de controle para se obter aerradicação da doença localmente(Leite Júnior et al., 2001). Estaestratégia de controle se tornouessencial no estabelecimento dacitricultura na Região Oeste de SantaCatarina, caracterizada pelaprevalência do cultivo de laranjeiras--doces em pequenos estabeleci-mentos rurais, com emprego de mão--de-obra familiar.

O cancro cítrico causa lesõesnecróticas de cor palha oupardacentas, eruptivas, de aspectocorticoso, e pode ocorrer em frutos,folhas e ramos (Figuras 1, 2 e 3).

Infecções no campo geralmenteocorrem em tecidos jovens e as lesõesgeradas podem ser visualizadas após14 dias do início da infecção. Emcondições favoráveis, podem serformadas centenas de lesões nosórgãos afetados. Nas folhas, a doençaaparece como manchas claras quedepois ficam com o centro necrosadoe com um característico halo clorótico.As infecções pelos estômatosraramente ocorrem após as folhasatingirem cerca de 85% do seutamanho final, ocorrendo somenteatravés de ferimentos. Os frutos sãosuscetíveis ao cancro cítrico por umperíodo maior do que as folhas(Rossetti, 2001).

1Eng. agr., M.Sc., Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar – Cepaf –, C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (049) 361-0600,fax: (049) 361-0633, e-mail: [email protected]. agr., M.Sc., Epagri/Cepaf, e-mail: [email protected]. agr., M.Sc., Epagri/Cepaf, e-mail: [email protected].

O

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Agropec. Catarin., v.17, n.2, jul. 2004 65

A temperatura ótima para odesenvolvimento do cancro cítricose encontra ao redor de 30oC, sendoa mínima de 5oC e a máxima de 35oC.A ocorrência de chuvas gera umacamada de água livre na superfíciedas folhas e favorece a exsudaçãobacteriana das lesões e a posteriordisseminação do patógeno. A doençanormalmente adquire proporçõesseveras quando a chuva éacompanhada por ventos develocidade média superior a 8m/s,intensa brotação das plantas,presença de frutos novos e deferimentos causados pela lagartaminadora dos citros (Leite Júnior,1990; Gottwald et al., 1997).

No Paraná foi reduzida em cercade 90% a incidência do cancro cítricocom emprego de cinco a seisaplicações de fungicidas cúpricos emcultivares resistentes a mode-radamente resistentes à XAC,demonstrando a eficiência e apossibilidade de adoção de umprograma integrado de controle(Leite Júnior et al., 1987). Dentro dogrupo dos fungicidas cúpricos,aqueles que empregam o oxicloretode cobre como ingrediente ativoparecem ser os mais eficientes nocontrole do cancro cítrico. SegundoGraham et al. (2002), foi verificadoque, sob uma alta pressão de inóculo,o controle do cancro cítrico comaplicações de oxicloreto de cobre, emintervalos de 30 a 45 dias, foi superior

ao obtido pelo hidróxido de cobre epela indução de resistência sistêmica.

Na literatura internacional, podeser encontrada grande variação narecomendação do número deaplicações de cobre para que hajauma eficiente proteção dos tecidosjovens de plantas cítricas. O númerode tratamentos cúpricos deve serdeterminado em função daintensidade da precipitaçãopluviométrica durante o período debrotação e da resistência da cultivar(Stall, 1993).

O objetivo deste trabalho foiavaliar o efeito do número depulverizações de oxicloreto de cobreno controle de XAC.

O experimento foi conduzidonos anos agrícolas de 1997/98e 1998/99, em um pomarcomercial de laranjeira-docecom seis anos de idade, cultivarValência, enxertada em ‘limão--cravo’, localizado no muni-cípio de Marema, SC. Ostratamentos foram repre-sentados por ausência (tes-temunha), quatro, sete e 11pulverizações de oxicloreto decobre (160g i.a./100L), ini-ciadas quando as floresapresentavam ausência dedois terços das pétalas e emintervalos de 20 a 30 dias,utilizando um pulverizador compistola manual (300kgf/cm2).Foram empregados 10L de

calda fungicida por planta e otratamento-testemunha foi re-presentado pela ausência depulverizações. O delineamentoexperimental empregado foi o deblocos ao acaso, com quatro re-petições, e a área útil da parcela foicomposta por duas plantas portratamento. Foram realizadas seteavaliações por ano agrícola, emintervalos médios de 30 a 45 dias,procedendo-se à contagem e àestimativa do percentual médio defolhas doentes (% FD), em oito ramospor planta. Os valores de % FD portratamento foram submetidos àanálise de variância e, em segui-da, efetuou-se a análise de regres-são, selecionando o modelo queapresentou melhor ajuste aos dados.O controle de ácaros e pragasagrícolas foi realizado empregando--se defensivos agrícolas recomenda-dos para a cultura. A temperaturamédia (19,85oC), a umidade relativado ar média (75,58%) e, prin-cipalmente, as precipitações anuaismédias (2.764,8mm) que ocorreramdurante a condução do experimentoforam favoráveis ao desenvolvimentoda doença.

De acordo com os resultadosobtidos (Figura 4), foi possívelconstatar que houve redução da% FD em todos os anos agrícolas coma aplicação de oxicloreto de cobre. Oincremento de zero para 11pulverizações diminuiu linearmentea % FD nos anos analisados. Paracada pulverização realizada, a % FDdiminuiu 1,96% na safra 1997/98 e2,78% na safra 1998/99. Observou-seque quatro, sete e 11 aplicações de

Figura 1. Sintoma de cancro cítrico em frutos de laranjeira-doce

Figura 2. Sintoma de cancro cítrico emfolhas de laranjeira-doce

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66 Agropec. Catarin., v.17, n.2, jul. 2004

oxicloreto de cobre reduziram aincidência da doença em cerca de25%, 30% e 41% em relação à teste-munha, respectivamente.

No ano agrícola de 1998/99, cons-tatou-se que quatro pulverizaçõesforam suficientes para reduzir emaproximadamente 25% a incidênciada doença em relação à testemunha,havendo concordância com os dadosobservados no ano anterior. Nestasafra, nos tratamentos com sete e 11pulverizações houve uma eficiênciade controle de 42% e 51%, respec-tivamente. Avaliando-se de formaconjunta os dados obtidos durante operíodo de condução do experimento(1997 a 1999), notou-se que aeficiência de controle per-maneceu amesma para todos os tratamentosutilizados (25%, 36% e 47%).

No Paraná, Leite Júnior et al.(1987) verificaram uma redução emtorno de 66% na incidência de folhascom cancro cítrico na cultivar

Figura 3. Sintoma de cancro cítrico em ramos delaranjeira-doce

Valência (safra 1982/83), com cinco a seisaplicações de oxiclo-reto de cobre. Foiobservado que bacte-ricidas cúpricos re-duziram efetivamen-te o desenvolvimen-to do cancro cítrico eque as cultivares decitros com níveis in-termediários deresistência apresen-

taram as maiores reduções naincidência de cancro pela aplicaçãode bactericidas.

Seis a sete aplicações de fungi-cidas cúpricos foram suficientes paraa proteção de brotações novas contraXAC no Japão (Stall & Seymour,1983). Avaliando-se o efeito dediferentes bactericidas no controledo cancro cítrico na Argentina, veri-ficou-se que, além de serem os maiseficazes em reduzir a severidade dadoença, três aplicações de compostosà base de cobre influenciaramnegativamente na sobrevivênciaepífita de XAC nas folhas e nos frutosde plantas cítricas (McGuire, 1988).

Os resultados do presente tra-balho indicam que a eficiência decontrole do cancro cítrico se eleva apartir de quatro aplicações deoxicloreto de cobre durante o períodode brotação das plantas cítricas, emintervalos de aproximadamente 30dias. Todavia, deve-se ressaltar que

o controle químico é apenas uma dasferramentas no manejo do cancrocítrico. O uso integrado do controlequímico, de quebra-ventos perma-nentes ou temporários e de cultivarescom maiores níveis de resistênciapode oferecer um adequado con-trole desta doença (Leite Júnior,1990).

Literatura citada

1. GOTTWALD, T.R.; GRAHAM, J.H.;SCHUBERT, T.S. An epidemiologicalanalysis of the spread of citrus canker inurban Miami, Florida, and synergisticinteraction with the Asian citrusleafminer. Fruits, Paris, v.52, n.6, p.383-390, out. 1997.

2. GRAHAM, J.H.; LEITE JÚNIOR, R.P.;DROUILLARD, D.L. Control of citrusbacterial diseases by induced systemicresistance. Phytopathology, St. Paul,v.92, n.6, (Supplement), p.31, 2002.

3. LEITE JÚNIOR, R.P. Cancro cítrico:prevenção e controle no Paraná.Londrina: IAPAR, 1990. 51p. (Circular61).

4. LEITE JÚNIOR, R.P.; MOHAN, S.K.;PEREIRA, A.L.G.; CAMPACI, C.A.Controle integrado de cancro cítrico –efeito da resistência genética e daaplicação de bactericidas. FitopatologiaBrasileira, Brasília, v.12, n.3, p.257-263,set. 1987.

5. LEITE JÚNIOR., R.P.; VERONA, L.A.F.;HUANG, G.F. Controle do cancro cítricono Oeste Catarinense. AgropecuáriaCatarinense , Florianópolis, v.14, n.2,p.11-13, jul. 2001.

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8. ROSSETTI, V.V. Manual ilustrado dedoenças dos citros. Piracicaba: FEALQ/FUNDECITROS, 2001. 207p.

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Figura 4. Porcentagem média de folhas com sintomas de cancro cítrico emfunção do número de aplicações de oxicloreto de cobre no município deMarema, SC

y = -2,78x + 56,08 R2 = 0,95

y = -1,96x + 52,07

R2 = 0,93

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

55

60

65

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Número de aplicações

Por

cent

agem

de

folh

as d

oen

tes

Safra 1997/98 Safra 1998/99

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Correlação do peso de abate de cordeiros comCorrelação do peso de abate de cordeiros comCorrelação do peso de abate de cordeiros comCorrelação do peso de abate de cordeiros comCorrelação do peso de abate de cordeiros comrendimento, peso e compacidade da carcaçarendimento, peso e compacidade da carcaçarendimento, peso e compacidade da carcaçarendimento, peso e compacidade da carcaçarendimento, peso e compacidade da carcaça

Volney Silveira de Avila1; Guilherme Caldeira Coutinho 2; Vilson Korol3; Anildon de Oliveira Ribeiro 4;José Luiz Garcia Quadro5 e Fabricio Afonso Costa6

crescente demanda de carneovina no Estado de SantaCatarina associada à baixa

oferta do produto tem feito com queo preço recebido pelo produtoratinja valores bem acima domercado de outras regiões doPaís. Este comportamento domercado vem estimulando osprodutores a melhorar e ampliarseus rebanhos.

A qualidade da carcaça e da carnecomo parâmetro comercial ainda épouco utilizada no mercado brasi-leiro, porém em outros mercados ocomércio de animais é realizado combase na carcaça e não no animal empé. Com isso, carcaças oriundas

Resumo – Este trabalho teve o objetivo de avaliar a correlação entre o peso vivo no abate e o peso da carcaça fria,rendimento comercial e compacidade das carcaças de 50 cordeiros machos, castrados, sendo 12 da raça Ille deFrance, 32 Texel e seis Suffolk, com idade entre 120 e 150 dias, criados em pastagem cultivada perene de inverno.Na média geral, entre os cordeiros das três raças, verificou-se uma correlação linear e positiva do peso vivo noabate com as variáveis analisadas.Termos para indexação: ovino, carcaça, raças.

Correlation of live weight at slaughter of lambs with yield, weight andcompactness of carcass

Abstract – This study aimed to evaluate the correlation between live weight at slaughter and cold carcassweight, commercial carcass yield, and carcass compactness of 50 castrated male lambs, consisting of 12 Ille deFrance, 32 Texel, and six Suffolk. All lambs ranging from 120 to 150 days old and raised on winter perennialpasture. In average, the lambs had a linear and positive correlation between live weight at slaughter and all othersstudied traits.Index terms: sheep, carcass, races.

de animais mais próximos à ma-turidade fisiológica apresentammaior porcentagem de peças desegunda categoria. Sendo a carcaçao principal produto de cordeirosdestinados ao abate, o conhecimentodas suas variações frente a umdiferencial de peso vivo no momentodo sacrifício (principal parâmetroconsiderado para venda decordeiros) constitui importânciaeconômica. Da mesma forma, deveser considerada sua qualidade ouseus determinantes de qualidadecomercial, o que seria o conjunto decaracterísticas cuja importânciarelativa confere à carcaça umamáxima aceitação e um maior preço

no mercado (Figura 1).O rendimento da carcaça pode ser

considerado como um bomadiantamento da sua qualidade, oque determina que muitas vezes sejaincluído juntamente com outrosdados em sistemas de avaliação(Yeates, 1967). A alimentação é umdos fatores que influem nesterendimento por afetar o maior oumenor desenvolvimento do aparelhodigestivo (Reid et al., 1968).

Segundo Figueiró (1979), emboraa comercialização se faça com baseno peso vivo, a medida real dematéria disponível para o consumoserá dada pelo peso da carcaça fria.De acordo com Spedding (1968), a

1Méd. vet., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Lages, C.P. 181, 88502-970 Lages, SC, fone/fax: (049) 224-4400, e-mail: [email protected]éd. vet., M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Lages, fone/fax: (049) 224-4400, e-mail: [email protected]éd. vet., Epagri, C.P. 27, 89650-000 Treze Tílias, SC, fone: (049) 537-0844, fax: (049) 537-0166.4Eng. agr., Epagri, C.P. 202, 89520-000 Curitibanos, SC, fone: (049) 245-0849.5Graduando em med. vet., UFPEL, Pelotas, RS.6Zootecnista, produtor rural, Curitibanos, SC, fone: (049) 245-0157.

A

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simples análise do aumento de pesodo animal não é suficiente paradescrever o crescimento; éimportante considerar também aproporção de desenvolvimento dosdiferentes componentes corporais,que afeta sobremaneira o ren-dimento da carcaça e a obtenção demaior quantidade da porçãocomestível.

Este trabalho foi conduzido como objetivo de avaliar a correlaçãoentre o peso vivo no abate e o pesoda carcaça fria, rendimentocomercial e compacidade de carcaça.

Foram utilizados 50 cordeirosmachos, castrados, nascidos entrejulho e agosto de 1999, queparticiparam do Concurso deCarcaça de Cordeiros, realizado emCuritibanos pela Epagri e pelaAssociação Catarinense de Criadoresde Ovinos – ACCO. Dos 50 cordeiros,12 pertenciam à raça Ille de France,32 à raça Texel e seis à raça Suffolk.Todos os animais foram terminadosem pastagem perene de invernocomposta predominantemente deaveia (Avena spp.), azevém (Loliummultiflorum) e trevo-branco(Trifolium repens). Os cordeirosapresentavam idades entre quatro ecinco meses e peso vivo variando de30,5 a 58kg. Os animais foram

pesados e abatidos sem jejum prévio,sendo as carcaças pesadas 12 horasapós o abate para que fosse obtido opeso da carcaça fria (PCF). Orendimento comercial da carcaça (R)foi calculado através da relaçãopercentual entre o peso vivo no abate(PVA) e o peso da carcaça fria (PCF).O índice de compacidade da carcaça(CC) foi determinado através dadivisão do peso da carcaça fria(PCF) pelo comprimento internoda carcaça (L). Os dados foramanalisados pelo programa Sigma-

plot para determinar a correlaçãoentre o peso vivo no abate e o pesoda carcaça fria, rendimento ecompacidade da carcaça.

Os resultados do rendimento dacarcaça (Tabela 1) foram seme-lhantes nas três raças, variandoentre 42,1% e 55,3%. Foi observadauma correlação entre o peso vivo noabate e o rendimento da carcaça,sendo significativa para as raçasTexel (P < 0,05) e Suffolk (P < 0,01),não sendo observado o mesmo com-portamento na raça Ille de France,provavelmente devido à variaçãode peso de abate entre os indiví-duos (32 e 58kg). Estes resultadosforam semelhantes aos encontra-dos por Everitt & Jury (1966),Galmez & Santisteban (1970) eConstanzi (1998) e superiores aosobtidos por Figueiró (1976) e Buenoet al. (2000). As médias derendimento de carcaça verificadasneste trabalho foram elevadas, poisOliveira et al. (2001), avaliandodiferentes pesos vivos no abate,verificaram que animais maispesados apresentam maior rendi-mento de carcaça.

A correlação entre o índice decompacidade ou carnosidade dacarcaça e o peso vivo no abate foialtamente significativo (P < 0,01)para as três raças (Tabela 1), evi-denciando um aumento linear dacompacidade da carcaça com o pesovivo de abate, indicando umaadequada distribuição de carne e degordura por área.

Os índices de compacidade dastrês raças foram superiores aosencontrados por outros autores

Figura 1. Carcaças avaliadas quanto ao peso, ao rendimento e à compacidade

Tabela 1. Características de carcaças de três raças ovinas abatidas comdiferentes pesos, médias (M), amplitudes (A), coeficiente de correlação (r) esignificância estatística (P)

Raça Variável M A r P

Ille de France Peso no abate (kg) 45,2 32,0 – 58,0 - -

Peso carcaça fria (kg) 20,4 14,0 – 24,6 0,90 * *

Rendimento (%) 47,4 43,7 – 51,4 0,41 ns

Compacidade (kg/cm3) 0,348 0,246 – 0,430 0,94 * *

Texel Peso no abate (kg) 37,6 30,5 – 53,4 - -

Peso carcaça fria (kg) 18,4 14,3 – 27,9 0,94 * *

Rendimento (%) 49,0 42,9 – 55,3 0,35 *

Compacidade (kg/cm3) 0,354 0,254 – 0,520 0,85 * *

Suffolk Peso no abate (kg) 42,2 35,0 – 47,6 - -

Peso carcaça fria (kg) 20,5 14,7 – 25,7 0,99 * *

Rendimento (%) 48,1 42,1 – 54,0 0,98 * *

Compacidade (kg/cm3) 0,353 0,238 – 0,460 0,99 * *

ns = não-significativo a 5%* significativo a 5%** significativo a 1%

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(Ávila, 1995; Garcia et al., 1999),indicando uma melhor conformaçãodas carcaças. Provavelmente estefato esteja relacionado ao maior pesodas carcaças, pois, segundo Tovar(1984), quanto maior o peso dacarcaça maior o índice decompacidade.

Conclusões

Quanto maior o peso vivo deabate dos cordeiros, maior orendimento e a compacidade dascarcaças.

Na raça Ille de France, oaumento de peso vivo não afeta deforma significativa o rendimento decarcaça.

Literatura citada

1. AVILA, V.S. Crescimento e influênciado sexo sobre os componentes do pesovivo em cordeiros . 1995. 212p. Tese(Mestrado) – Universidade Federal dePelotas, Pelotas., RS.

2. BUENO, M.S.; CUNHA, E.A.; SANTOS,L.E. Santa Inês Sheep Breed in theintensive lamb meat production in theSoutheast Region of Brasil. In: GLOBALCONFERENCE ON CONSERVATIONOF DOMESTIC ANIMAL RESOURCES,5., Brasília. Proceedings… Brasília:Embrapa, 2000. CD-Rom.

3. CONSTANZI, A.R. Estação de pesquisae produção de Vacaria: Histórico econtribuições à pesquisa agropecuária.Porto Alegre, RS: Fepagro, 1998. 86p.(Fepagro. Circular Técnica, 17).

4. EVERITT, G.C.; JURY, K.E. Effects ofsex and ganadectomy on the growth anddevelopment of South-Down x RomneyCross lambs. II. Effects on carcass grades,measurements and chemicalcomposition. Journal AgriculturalScience, v.66, p.15-26, 1966.

5. FIGUEIRÓ, P.R.P. Rendimento decarcaça em ovinos no Rio Grande do Sul.In: JORNADA TÉCNICA DEPRODUÇÃO OVINA NO RIO GRANDEDO SUL, 1, 1979, Bagé: Anais... Bagé:Embrapa – UEPAE de Bagé, 1979.p.65-67.

6. FIGUEIRÓ, P.R.P Cruzamentoindustrial da raça Hampshire Down eRomney Marsh na produção de cordeirospara abate. In: REUNIÃO DASOCIEDADE BRASILEIRA DEZOOTECNIA, 13., 1976. Salvador, BA.Anais... Salvador, BA: SBZ, 1976. p.88-89.

7. GALMEZ, J.; SANTISTEBAN, E. Efectodel peso de sacrificio sobre el peso,rendimiento y composición de lacanal de corderos Merino PrecozFrancés. Agricultura Técnica , v.31, n.1,1970.

8. GARCIA, C.A.; SILVA SOBRINHO, S.;GASTALDI, K. A Influência dasdiferentes relações volumosas:concentrado e pesos de abate de

cordeiros confinados. 2. Medidasobjetivas e subjetivas das carcaças.REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADEBRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 36,1999, Porto Alegre. Anais.. . PortoAlegre: SBZ, 1999. CD-Rom.

9. OLIVEIRA, N.M.; MARTINS, R.C.R.;OSÓRIO, J.C.S. Proporção dosprincipais cortes da carcaça de cordeiroscorriedale e ideal segundo o peso deabate. Bagé, RS. Embrapa – CPPSUL,2001. (Embrapa – CPPSUL.Comunicado Técnico, 29).

10. REID, J.T.; BENSADOUN, A.; BULL,L. S.; BURTON, J.H.; GLEESON, P.A.;HAN, I.K.; JOO, Y.D.; JOHNSON, D.E.;McMANUS, W.R.; PALADINES, O.L.;STROUD, J.W.; TYRRELL, H.F.;NIEKERK, VAN B.D.H.; WELLING-TON, G.W. Some peculiarities in thebody composition of animals. In: BODYcomposition in animals and Man.Washington: National Academy ofScience, 1968. p.19-44, Publication no

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12. TOVAR, J.J. Composición tisular ycrecimiento relativo de órganos decorderos de raza Merina española. 1984.363p. Tese (Doutorado). Facultad deVeterinaria/Universidad de Cordova.España.

13. YEATES, N.T.M. Avances en zootecnia.Zaragoza: Acribia, 1967. 403p.

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Lesmas: pragas da agricultura e ameaçaLesmas: pragas da agricultura e ameaçaLesmas: pragas da agricultura e ameaçaLesmas: pragas da agricultura e ameaçaLesmas: pragas da agricultura e ameaçaà saúde humanaà saúde humanaà saúde humanaà saúde humanaà saúde humana

Luís Antonio Chiaradia1, José Maria Milanez 2, Carlos Graeff-Teixeira3 eJosé Willibaldo Thomé4

Introdução

As lesmas são moluscos que secaracterizam pela redução ouausência total de concha. Estesgastrópodes possuem pé, manto ecabeça. Na cabeça ocorrem doispares de tentáculos, sendo um maiscurto, onde se localizam os órgãosdo olfato, e o outro onde estão osolhos. A boca está situada na parte

Resumo – As lesmas são pragas agrícolas e transmitem o parasita humano Angiostrongylus costaricensis. Aslesmas Sarasinula linguaeformis, Phyllocaulis variegatus, Deroceras spp. e Limax maximus ocorrem no Oeste doEstado de Santa Catarina. Esta pesquisa teve por objetivo estudar a parasitose e fornecer informações para o manejointegrado destas pragas. A doença se caracterizou como sendo uma infecção assintomática, de baixa morbidade e comcura espontânea em menos de um ano. No laboratório, a S. linguaeformis alcançou a fase reprodutiva com 179 ± 11dias, realizou posturas a cada 20 dias, com média de 49,2 ± 7,2 ovos, que incubaram em 16 ± 0,5 dias e apresentaramviabilidade de 98,9%. Esta lesma não apresentou preferência alimentar por plântulas de sorgo, milho, mandioca, alho,tomate e por mudas de diversas essências florestais. Cartap (250g/ha) e sulfato de cobre (2%) apresentaram efeitorepelente às lesmas, e as iscas tóxicas à base de metaldeído e tiodicarbe e iscas caseiras, formuladas com 3% a 5%de ácido bórico, são recomendadas no controle destes moluscos.Termos para indexação: moluscos, pragas, parasita humano, manejo integrado.

Slugs: agricultural pests and threats to the human health

Abstract – The slugs are agricultural pests that transmit to human being the parasitic nematode Angiostrongyluscostaricensis. Slugs like Sarasinula linguaeformis, Phyllocaulis variegatus, Deroceras spp. and Limax maximusfrequently occur in Western Santa Catarina, Brazil. This research was carried out in order to study the parasiteinfection and disease and to produce knowledge to support the integrated management of these pests. The parasitosisoccured as an asymptomatic infection of low morbidity and with spontaneous cure in less than one year. In laboratoryS. linguaeformis attained the reproductive phase with 179 ± 11 days, laid every 20 days with the average of 49,2 ±7,2 eggs and incubated in 16 ± 0,5 days with viability of 98,9%. This slug had no preference for sorghum, corn, cassava,garlic, tomato plants and several forest species. Cartap (250g/ha) and copper sulfate (2%) had slugs repellent effects.Toxics baits formulated either with metaldehyde and thiodicarb or with boric acid (3% to 5%) are recommended tocontrol these mollusks.Index terms: mollusks, pests, human disease, integrated management.

antero-inferior do corpo, e dentro háuma lingüeta denominada rádula,que é revestida por uma lâmina deconquiliolina, denticulada como umaraspadeira, usada para triturar osalimentos e que pode auxiliar nadeterminação das espécies (Thomé,1993).

As lesmas são polífagas,hermafroditas, ovíparas e produzemmuco, sobre o qual se deslocam. São

mais ativas à noite e nas horasamenas do dia, protegendo-se do soldebaixo de substratos em locaisúmidos ou enterrando-se no solo,em profundidades que podemalcançar mais de 0,5m. Estesmoluscos podem hibernar e entrarem quiescência nos períodos debaixas temperaturas e de estiagemprolongada, respectivamente(Milanez & Chiaradia, 1999a).

1Eng. agr., M.Sc., Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar – Cepaf –, C.P. 791, 89801-970 Chapecó, SC, fone: (049) 323-4877,fax: (049) 323-0600, e-mail: [email protected]. agr., Ph.D., Epagri/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar – Cepaf –, e-mail: [email protected]édico, Dr., PUCRS/Fac. de Biociências/Dep. de Ciências Microbiológicas, Av. Ipiranga, 6.681, prédio 12 C, sala 282, Partenon, 90619-900Porto Alegre, RS, fone: (051) 3320-3500, e-mail: [email protected]ólogo, Dr., PUCRS/Fac. de Biociências/Dep. de Biologia, Av. Ipiranga, 6.681, prédio 12 D, sala 340, Partenon, 90619-900 Porto Alegre,RS, fone: (051) 3320-3500, e-mail: [email protected].

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Danos provocados por lesmastêm aumentado nos últimos anos emlavouras de milho, soja e feijão,principalmente naquelas cultivadasno sistema de plantio direto sobre apalha, onde estes moluscosencontram abrigo, alimento econdições adequadas de umidade (DiStefano, 1998).

As lesmas podem ser vetores depatógenos para as plantas, caso daPhytophthora infestans embatatinha e Mycosphaerellabrassicicola em repolho (Alfaro,1983). Também podem serhospedeiros intermediários donematódeo Angiostrongyluscostaricensis (Metastrongylida,Angiostrongylidae), parasita quepode provocar a angiostrongilíaseabdominal (Graeff-Teixeira et al.,1991).

Para o sucesso no manejo depragas é fundamental conhecer asespécies e as práticas recomendadasde controle. Assim, lesmas deocorrência freqüente na Região OesteCatarinense foram identificadas naPontifícia Universidade Católica doRio Grande do Sul – PUCRS. NaEpagri/Centro de Pesquisa paraAgricultura Familiar – Cepaf – foiestudada a biologia da Sarasinulalinguaeformis (Stylommatophora,Veronicellidae) (Figura 1) e foramidentificadas algumas substânciasatrativas, repelentes e tóxicas paraos moluscos, destinadas a formulariscas e proteger as culturas.

Estudos da parasitose foramconduzidos por pesquisadores daPUCRS, com a participação do doutorKentaro Yoshimura e da doutoraHiroko Shimada (in memoriam), daAkita University School of Medicinedo Japão. Participaram tambémfuncionários do Laboratório deAnálises Clínicas Bergmann deChapecó, as equipes dos setores daSaúde e Agricultura e a população domunicípio de Nova Itaberaba. Estapesquisa teve por objetivo estudar aangiostrongilíase abdominal efornecer informações para aprimoraro manejo integrado destas pragas.

Espécies de lesmas maisfreqüentes no OesteCatarinense

A S. linguaeformis é uma lesmanativa no Brasil, mas consideradaexótica no Oeste Catarinense. Os

espécimens adultos atingem até10cm de comprimento e são decoloração pardo-clara a preta. Suaocorrência na região foi relatada em1993, quando causou danos emlavouras de feijão e soja em NovaItaberaba (Moro & Hemp, 1995).Atualmente, esta espécie infestamais de 1.500ha de lavouras e ocorretambém em áreas urbanas dosmunicípios de Planalto Alegre, NovaItaberaba e Chapecó.

Outra lesma nativa que ocorrecom freqüência, mas em baixosníveis populacionais, possivelmentedevido à ação de inimigos naturais,é a Phyllocaulis variegatus(Stylommatophora, Veronicellidae).Este molusco atinge até 12cm decomprimento, apresenta o dorso decor parda e a parte inferior do corpoamarelada.

Recentemente e com freqüência,estão ocorrendo infestações delesmas em lavouras de milho, queconsomem as plântulas logo após aemergência, exigindo o replantio.Estes moluscos, que na fase adultaatingem até 4cm de comprimento esão de cor pardo-escura, foramidentificados como Deroceras spp.(Stylommatophora, Agrolimacidae),lesmas de origem européia(Chiaradia, 2000).

A espécie Limax maximus(Stylommatophora, Limacidae), quetambém é originária da Europa,freqüentemente ocorre em hortassituadas na área urbana domunicípio de Chapecó. Este moluscopode atingir 10cm de compri-

mento e é de coloração esbran-quiçada, com manchas cinza-escurasno dorso.

Caracterização dadoença causada pelonematódeo

Roedores silvestres são hos-pedeiros definitivos e adaptados donematódeo A. costaricensis, quealojam o parasita no interior deramos da sua artéria mesentérica.As lesmas da família Veronicellidaesão os seus principais hospedeirosintermediários, embora os moluscosem geral sejam suscetíveis àinfecção. As lesmas adquirem overme consumindo fezes deroedores ou se deslocando sobresuperfícies infestadas. As larvas donematódeo se instalam no seu tecidomuscular e, ao atingirem o terceiroínstar, são liberadas no mucoproduzido pelos moluscos. O ciclobiológico deste verme se completaquando os roedores se alimentam delesmas ou consomem alimentosimpregnados com muco conta-minado. As pessoas podem se tornarhospedeiros acidentais ao ingeriremlarvas do nematódeo (Graeff-Teixeira et al., 1991; Mendonça,1999).

A presença do verme no sistemavascular humano causa trombose,forma granulomas e aumenta oseosinófilos. Ocorre também intensareação inflamatória, que retém osovos do parasita na parede dointestino delgado, provocando o seu

Figura 1. Espécimes da lesma Sarasinula linguaeformis

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espessamento e, conseqüentemente,sua obstrução. Pessoas infectadasgeralmente manifestam mal-estar,anorexia, dor abdominal noquadrante inferior direito, náusea,vômito, diarréia, febre e constipaçãointestinal, podendo inclusive havera perfuração do intestino, causandoperitonite e sepse (intoxicaçãodecorrente da putrefação), compossibilidade de resultar em óbito.A comprovação do diagnóstico dadoença necessita de sorologiaespecífica. Não existe tratamentorecomendado e os anti-helmínticosatualmente disponíveis devem serevitados, pois podem induzir àmigração errática do nematódeo,que pode agravar os distúrbios elesões (Graeff-Teixeira et al., 1991).

O cozimento dos alimentosprovenientes de áreas infestadaspor moluscos e/ou sua imersãoem uma solução formulada com1,5% de hipoclorito de sódio por 12horas são medidas recomendadaspara prevenir a doença. Os cara-cóis utilizados na alimentação hu-mana devem ser bem cozidos epreferencialmente oriundos decriações confinadas, o que reduz apossibilidade de estarem parasitados.Deve ser evitada também a utili-zação de moluscos como iscas empescarias e devem ser impedidas asbrincadeiras de crianças com estesanimais (Zanini & Graeff-Teixeira,1995).

A incidência da parasitose napopulação residente em áreasinfestadas por S. linguaeformis ,obtida por exames sorológicos, foide até 52%, mas que se reduziuespontaneamente para 13%,possivelmente pela população teradotado as medidas profiláticasorientadas. As pessoas infectadaspelo nematódeo, de modo geral,não manifestaram sintomas clíni-cos da doença, permitindo concluirque esta zoonose geralmente seexpressa de forma assintomática,com baixa morbidade e apresentacura espontânea em menos de12 meses (Graeff-Teixeira et al.,2003).

A incidência de larvas de A.costaricensis foi estudada em lesmascoletadas mensalmente em quatrolocais durante dois anos. Nolaboratório, os moluscos forameviscerados, macerados e deixadospor uma hora numa solução com

0,3% de pepsina e 0,7% de ácidoclorídrico, mantida a 37oC, condiçãosemelhante àquela do estômagohumano durante a digestão dosalimentos. A solução foi filtrada emgaze, depositada por 2 horas emfunis de Berlesi e transferida para“vidros-relógio”, sendo as larvasrecuperadas pela triagem emmicroscópio estereoscópico de até 40aumentos. Camundongos “Swiss”foram infectados com as larvas e,após 60 dias, através da dissecaçãodas suas artérias, os vermes adultosforam recuperados. O índice deparasitose nas lesmas foi de até 86%,com cargas individuais de até 7.720larvas, sendo mais elevadas nosmeses quentes, o que sugere asazonalidade da transmissão doparasita no Sul do Brasil (Graeff-Teixeira et al., 2001).

Biologia da lesmaSarasinula linguaeformis

O estudo da biologia da S.linguaeformis foi conduzido noLaboratório de Fitossanidade daEpagri/Cepaf, numa sala climatizadacom temperatura de 26 ± 1 oC efotofase de 12 horas. As matrizesforam coletadas em Nova Itaberaba,sendo acondicionadas em caixasplásticas (31,5 x 23 x 11cm) com

respiradouro (perfuração na tampavedada por tela metálica), contendouma camada de 3cm de terralevemente umedecida e com altoteor de matéria orgânica. Aslesmas foram alimentadas complântulas de feijoeiro, fornecidas àvontade e repostas três vezes porsemana. O acompanhamento dodesenvolvimento dos moluscos foiconduzido por 230 dias, utilizando1.176 indivíduos provenientes deposturas obtidas no laboratório. Asmedições dos seus comprimentos elarguras, em repouso e movimento,foram realizadas com auxílio de umpaquímetro, forçando os moluscos ase deslocarem sobre uma telametálica aquecida por uma lâmpadade 40 watts.

As lesmas atingiram a fasereprodutiva com 179 ± 11 dias,sendo, então, separados 50indivíduos para continuidade dosestudos. Estes indivíduos realizaramposturas a cada 20 dias, com médiade 49,2 ± 7,2 ovos, que apresentaramum período médio de incubação de16 ± 0,5 dias e viabilidade de 98,9%

(Cortina et al., 2003) (Figura 2). Altosíndices de fecundidade e fertilidadeexplicam, de certa forma, por que

ocorrem elevados níveis popu-lacionais desta praga nas áreasinfestadas.

Figura 2. Ciclo biológico da lesma Sarasinula linguaeformis

Período de incubação16,0 ± 0,5 dias

Fase reprodutiva

179 ± 11 dias

Espécime adulto

Postura

Eclosão

Lesmas

jovens

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Manejo integrado daslesmas

O controle de lesmas através depráticas isoladas geralmente éineficaz, sendo necessário utilizarmétodos integrados, visando manteras suas populações em níveis quenão causem danos econômicos(Milanez & Chiaradia, 1999a).

O controle biológico natural daslesmas, principalmente das espéciesexóticas, normalmente é insufi-ciente para manter suas populaçõesem equilíbrio, embora ocorra a açãode predadores (aranhas, insetos,crustáceos, anfíbios, répteis, aves emamíferos), parasitóides (larvas demoscas e nematóides) e patógenos(protozoários, bactérias e fungos)(Alfaro, 1983).

Armadilhas são recomendadaspara o controle de lesmas empequenas áreas. Madeira, telhas,tijolos, sacos de aniagem umede-cidos ou amontoados de vegetaçãosemidecomposta podem ser utili-zados como armadilhas, dispondo-assobre o solo ao entardecer, preferen-cialmente associadas com atrativosalimentares, para serem inspecio-nadas pela manhã. Cercar as áreascom água, sal, cinza, cal ou calcárioe a inspeção noturna, esmagando ouperfurando as lesmas, também sãopráticas recomendadas para ocontrole destas pragas em hortas,

jardins e pomares caseiros (Milanez& Chiaradia, 1999a).

Algumas práticas são recomen-dadas para o manejo de lesmas emáreas extensas, tais como rotação deculturas, antecipação da semea-dura, destruição dos restos dasculturas, redução da irrigação,coberturas vegetal e morta e preparodo solo pelo sistema “convencional”,ao menos durante algum tempo(Quintela, 2002).

A preferência alimentar da lesmaS. linguaeformis foi estudada emdiversos ensaios conduzidos naEpagri/Cepaf, testando culturasanuais econômicas e de subsistên-

cia, hortaliças e mudas de essênciasflorestais. Porções de plântulas demassa conhecida foram fornecidas àslesmas (Figura 3), sendo avaliado oconsumo após 24, 48 e 72 horas. Estaespécie se alimentou preferen-cialmente de leguminosas (feijão,soja e amendoim), curcubitáceas(abóbora, melancia e pepino), brás-sicas (repolho, couve e mostarda),alface e batatinha, mas não consu-miu plântulas de milho, sorgo,mandioca, alho e tomate (Chiaradia,2001a; Chiaradia & Milanez, 2002a).O cinamomo foi a essência florestalmais consumida, seguida da uva-do--japão e do cedro. Bracatinga, cana-fístula, louro, canela-preta e opinheiro-brasileiro tiveram poucoconsumo. As lesmas não se alimen-taram de angico, açoita-cavalo,grevílea-robusta, pínus, erva-mate eeucalipto, sugerindo serem alterna-tivas para reflorestar as áreasinfestadas pela praga (Chiaradia &Milanez, 2002b).

Outros ensaios foram conduzidospara identificar substâncias comação tóxica e repelente para aslesmas. Constatou-se que hidróxidode sódio (2%), querosene (3%),creolina (2%) e sal amoníaco (3%)provocaram elevada mortalidadequando aplicados diretamente sobreos moluscos (Chiaradia & Milanez,1999). A aplicação de agrotóxicossobre o alimento fornecido às lesmas(Figura 4) caracterizou o efeitorepelente do cartap (250g/ha) e dosulfato de cobre (2%), constituindo--se em alternativas para proteger cul-turas instaladas (Chiaradia, 2001b).

Iscas tóxicas comerciais, à base

Figura 3. Parcelas de experimento para avaliar a preferência alimentar dalesma Sarasinula linguaeformis

Figura 4. Porções de folhas de feijão tratadas com agrotóxicos destinadas aavaliar o efeito repelente para os moluscos

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de metaldeído e tiodicarbe, sãousadas no controle destes moluscos,tendo as últimas efeito tóxico resi-dual mais prolongado. Estas iscasdevem ser utilizadas com precauçãodevido a sua toxicidade paramamíferos, aves, répteis, anfíbios epeixes. A necessidades de aplicardiversas doses de 20 a 40kg/ha deisca num mesmo ano geralmenteinviabiliza a sua utilização em áreasextensas (Chiaradia, 2001c;Quintela, 2002).

Iscas tóxicas elaboradas com ácidobórico podem se constituir numaalternativa para combater lesmasem pequenas áreas. Estas iscasdevem ser formuladas com o pro-cedimento utilizado na fabricaçãode macarrão, misturando-se setepartes de farinha de trigo, trêspartes de farinha de milho, 3% a 5%de ácido bórico e adicionando ovospara aglomerar os ingredientes. Apasta resultante deve ser fila-mentada, seca à sombra, frag-mentada em pedaços de aproxi-madamente 0,5cm de comprimentoe distribuída na área infestada(Milanez & Chiaradia, 1999b). Testesrealizados comprovaram a atrati-vidade e eficiência desta isca nocontrole da lesma S. linguaeformis(Figura 5).

Outra alternativa para combaterlesmas consiste na aplicação noturnade aproximadamente 200L/ha decalda formulada com 20% de uréia,que provoca a morte das lesmas pordesidratação. Esta prática, contudo,deve ser usada com cautela pois podecausar toxicidade às plantas(Quintela, 2002).

Literatura citada

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PPPPProfundidade de semeadura na germinação erofundidade de semeadura na germinação erofundidade de semeadura na germinação erofundidade de semeadura na germinação erofundidade de semeadura na germinação eemergência de ervilhaca comum e nabo forrageiroemergência de ervilhaca comum e nabo forrageiroemergência de ervilhaca comum e nabo forrageiroemergência de ervilhaca comum e nabo forrageiroemergência de ervilhaca comum e nabo forrageiro

Alvadi Antonio Balbinot Junior1; Rogério Luiz Backes2;André Nunes Loula Tôrres3 e Gilson José Marcinichen Gallotti4

Introdução

O cultivo de plantas de coberturado solo durante o inverno melhoraas condições químicas, físicas e bio-lógicas do solo, bem como reduz pro-blemas com plantas daninhas emculturas estivais (Yenish et al., 1996;Biederbeck et al., 1998). O naboforrageiro é uma espécie que tem sedestacado como excelente coberturado solo no inverno, em especial pelaelevada capacidade de reciclagem denutrientes, principalmente nitrogê-nio e fósforo (Crochemore & Piza,1994). Já a ervilhaca se destaca pela

Resumo – Diante da dificuldade de produção e aquisição de sementes de ervilhaca e de nabo forrageiro, é necessá-rio otimizar a utilização desse insumo. A semeadura na profundidade adequada constitui-se em importante práticacultural para implantação correta dessas culturas de cobertura do solo. O objetivo desse trabalho foi avaliar o efeitode cinco profundidades de semeadura sobre a germinação e a velocidade de emergência e de crescimento de plântulasde ervilhaca comum e nabo forrageiro. Para tanto, foi conduzido um experimento sob condições de abrigo na Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, SC. Constatou-se que as profundidades de semeadura compreendidas entre 2 e6cm proporcionaram adequada porcentagem de germinação de sementes, velocidade de emergência e crescimentoinicial de plântulas de ervilhaca comum e de nabo forrageiro.Termos para indexação: Vicia sativa L., Raphanus sativus L., culturas de cobertura do solo, sementes, plantiodireto.

Sowing depth on germination and emergency of commonvetch and wild radish

Abstract – It is very difficult to produce and to get common vetch and wild radish seeds, so it is necessary tooptimize the use of these seeds. The sowing at adequate depth is an important cultural practice to these cover crops.The aim of this work was to evaluate the effect of five sowing depth on the germination and on the emergency andgrowth rate of common vetch and wild radish seedlings. An experiment was carried out in a green house at Epagri/Experiment Station of Canoinhas, SC, Brazil. Sowing depths between 2 and 6cm are adequate for germination ofseeds, emergency and early growth rate in seedlings of common vetch and wild radish.Index terms: Vicia sativa L., Raphanus sativus L., cover crops, seeds, no tillage.

elevada capacidade em fixar nitrogê-nio da atmosfera.

Nessas culturas, grande parte daspesquisas referem-se à produção desementes, à velocidade de cresci-mento das plantas e à determinaçãoda concentração de nutrientes nafitomassa (Derpsch et al., 1991). Noentanto, informações que indiquema profundidade adequada de semea-dura das sementes de ervilhaca co-mum e de nabo forrageiro são escas-sas. Essas informações tornam-seimportantes à medida que o custopara aquisição das sementes aumen-ta, criando a necessidade de otimi-

zação do uso desse insumo. Além dis-so, diante do crescente aumento douso de consorciação de espécies, faz--se necessário avaliar a possibilida-de de semeadura de ervilhaca e naboforrageiro na mesma profundidade,sem prejuízo da emergência dasplântulas.

Sabe-se que a habilidade das se-mentes em germinar quando dispos-tas em maiores profundidades podeestar relacionada à quantidade de re-servas contidas nas mesmas (Kigel& Galili, 1995) ou, ainda, ao seu vi-gor. Além disso, condições de ambien-te como grau de compactação, teor

1Eng. agr, M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, C.P. 216, 89460-000 Canoinhas, SC, fone: (047) 624-1144, fax: (047) 624-1079,e-mail: [email protected]. agr, M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, e-mail: [email protected]. agr, M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, e-mail: [email protected]. agr, M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, e-mail: [email protected].

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de umidade e temperatura do soloapresentam influência direta sobrea capacidade de germinação de se-mentes em diferentes profundidades(Popinigis, 1977).

Nesse contexto, o objetivo dessetrabalho foi avaliar o efeito de dife-rentes profundidades de semeadurasobre a germinação das sementes, avelocidade de emergência e o cresci-mento inicial das plântulas de ervi-lhaca comum e de nabo forrageiro.

Material e métodos

O experimento foi conduzido emabrigo, na Epagri/Estação Experi-mental de Canoinhas. As sementesde ervilhaca comum (Vicia sativa) enabo forrageiro (Raphanus sativus)foram semeadas em vasos contendo2L de solo oriundo de uma horta,classificado como Latossolo Verme-lho distrófico (Embrapa, 1999), comas seguintes características: argila =29%; pHágua = 5,5; P = 50mg/dm3;K = 979mg/dm3; M.O. = 7,8%;Ca = 10,4cmolc/dm3; Mg = 5,1cmolc/dm3. As sementes de ervilhaca e denabo forrageiro apresentavam podergerminativo de 70%.

O delineamento experimental uti-lizado foi o inteiramente casualizado,em esquema fatorial 2 x 5, com qua-tro repetições. As profundidades desemeadura utilizadas foram: 0, 2, 4,6 e 8cm, colocando-se 20 sementespor vaso, de ambas as espécies. Op-tou-se por estas profundidades poisse enquadram no intervalo de pro-fundidade praticado pelos agri-cultores. No momento da semea-dura, os vasos foram irrigados comuma lâmina de água de 20mm, pro-porcionando adequada umidade dosolo para a germinação das semen-tes.

O experimento foi conduzido en-tre os dias 16 de junho e 4 de julhode 2003. Durante este período foramrealizadas as seguintes avaliações:a) germinação, determinada pela pro-porção de sementes germinadas, ex-pressa em porcentagem; b) Índice deVelocidade de Emergência (IVE), de-terminado pela equação sugerida porMaguire (1962); c) tempo médio degerminação, determinado pela equa-ção sugerida por Labouriau (1983);d) estatura das plântulas, determi-nada pela mensuração da altura daparte aérea das plântulas aos 18 diasapós a semeadura (DAS); e) massa

seca da parte aérea, coletando-se aparte aérea das plântulas aos 18DAS, com posterior secagem em es-tufa em circulação forçada de ar àtemperatura de 65oC, até atingirpeso constante, quando foi pesada.

Os dados foram submetidos à aná-lise de variância, por meio do testeF. Após, foi realizada análise de re-gressão polinomial. Em ambas asanálises, adotou-se o nível de 5% deprobabilidade do erro.

Resultados e discussão

A semeadura realizada na super-fície do solo reduziu a germinação dassementes, tanto de ervilhaca quan-to de nabo forrageiro (Figura 1). Como aumento da profundidade de se-meadura, houve tendência de au-mento da porcentagem de germina-ção até 4cm. Nas demais profundi-

Figura 1. Porcentagem de germinação de sementes de ervilhaca comum e denabo forrageiro em diferentes profundidades de semeadura

Figura 2. Índice de Velocidade de Emergência (IVE) de plântulas de ervilhacacomum e de nabo forrageiro em diferentes profundidades de semeadura

dades houve tendência de reduçãodessa variável. Contudo, houve pou-ca variação de germinação entre asprofundidades de 2 e 6cm, indicandoque tanto a ervilhaca quanto o naboforrageiro apresentam elevada flexi-bilidade para germinar em diferen-tes profundidades, sob condições ade-quadas à germinação.

Além da germinação, também éimportante considerar a velocidadede emergência das plântulas, a qualconstitui-se numa variável ampla-mente utilizada em pesquisas agrá-rias (Santana & Ranal, 2000) e, ge-ralmente, é determinada pelo IVE.O comportamento do IVE foi similarao da germinação, pois tanto para asemeadura na superfície do soloquanto para a profundidade de 8cmo IVE foi baixo, em ambas as espé-cies (Figura 2). Além disso, consta-tou-se que nessas duas profundida-

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des ocorreram os maiores temposmédios de germinação (Figura 3). Pe-la análise de regressão, o menor tem-po médio de germinação, nas duasespécies, ocorreria a 3cm de profun-didade. Assim sendo, pode-se indicara mesma profundidade de semeadu-ra para ervilhaca e nabo forrageiro,cultivadas em sistema de consórcio,sem diminuir a porcentagem de ger-minação e a velocidade de emergên-cia das plântulas.

Com relação ao crescimento ini-cial das plântulas, em ambas as es-pécies, verificou-se que nas semea-duras compreendidas entre 2 e 6cmde profundidade houve aumento daestatura das plântulas e maioracúmulo de fitomassa (Figuras 4e 5 e Tabela 1). Assim, em geral, pro-fundidades que conferiram maior por-centagem de germinação de semen-tes e maior velocidade de emergên-cia também proporcionaram maiorvelocidade de crescimento inicial dasplântulas. Observou-se, ainda, que onabo forrageiro acumulou maiorfitomassa em relação à ervilhaca (Fi-gura 5), demonstrando possuir cres-cimento inicial mais rápido que aervilhaca, fato já relatado na litera-tura (Derpsch et al., 1991). No en-tanto, as plântulas de ervilhaca apre-sentaram maior estatura em relaçãoàs plântulas de nabo forrageiro (Fi-gura 4) até 18 dias após a semeadu-ra.

Nesse contexto, sob condiçõesadequadas à germinação de semen-tes, semeaduras realizadas sobre asuperfície do solo e em profundida-des superiores a 6cm não são apro-priadas para ervilhaca comum e naboforrageiro, já que provocaram baixagerminação das sementes e reduzi-da velocidade de emergência e cres-cimento das plântulas. Isso pode oca-sionar falhas, desuniformidade eatraso na formação da cobertura dosolo no inverno.

Conclusões

A profundidade de semeadura in-fluencia na germinação de sementese na velocidade de emergência e decrescimento inicial de plântulas deervilhaca comum e nabo forrageiro.

Profundidades de semeadura com-preendidas entre 2 e 6cm proporcio-nam germinação de sementes próxi-ma a 60% para o nabo forrageiro e50% para a ervilhaca comum, além

Figura 3. Tempo médio de germinação de sementes de ervilhaca comum e denabo forrageiro em diferentes profundidades de semeadura

Figura 4. Estatura de plântulas de ervilhaca comum e de nabo forrageiro aos18 dias após a semeadura, em diferentes profundidades

Figura 5. Massa seca da parte aérea em plântulas de ervilhaca comum e denabo forrageiro aos 18 dias após a semeadura, em diferentes profundidades

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Tabela 1. Crescimento de plântulas de ervilhaca comum aos 15 dias após a semeadura e de nabo forrageiro aos 12dias após a semeadura, em diferentes profundidades

Profundidade Ervilhaca comum Nabo forrageirocm (15 dias após a semeadura) (12 dias após a semeadura)

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de conferir elevada velocidade deemergência e de crescimento inicialdas plântulas de ambas as espécies.

Semeadura sem incorporação dassementes propicia germinação deapenas 40% no caso do nabo forra-geiro e 30% no caso da ervilhacacomum, além de proporcionar redu-zida velocidade de emergência e decrescimento inicial de plântulas deambas as espécies.

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PPPPProdução de leite em pastagem de capim-rodução de leite em pastagem de capim-rodução de leite em pastagem de capim-rodução de leite em pastagem de capim-rodução de leite em pastagem de capim-elefanteelefanteelefanteelefanteelefante-anão-anão-anão-anão-anãono Alto Vno Alto Vno Alto Vno Alto Vno Alto Vale do Itajaíale do Itajaíale do Itajaíale do Itajaíale do Itajaí11111

Edison Xavier de Almeida2 eElena Apezteguía Setelich Baade3

Introdução

O Alto Vale do Itajaí, SC, écaracterizado por um relevoacidentado e solos com baixafertilidade natural. A estratificaçãofundiária regional mostra que 64,1%das propriedades possuem até 20ha,

Resumo – No período de janeiro a abril de 2000 foi conduzido um experimento no Alto Vale do Itajaí, SC, com oobjetivo de avaliar o potencial de produção de leite em pastagem de capim-elefante-anão, tendo como referênciacomparativa o sistema de produção em semiconfinamento. As vacas em pastejo receberam uma oferta de forragemde 10kg de matéria seca (MS) de lâminas verdes/100kg de peso vivo (PV)/dia, pastejando em faixas diárias. As vacasem semiconfinamento receberam uma dieta composta por silagem de milho, resíduos industriais, forragens picadas,ração balanceada e acesso limitado a pastagens, consumindo em média 23kg de MS/dia, além de pastagem de capim--elefante-anão, que sustentou uma carga animal média de 1.415kg de PV/ha com rendimentos individuais de 11,4kgde leite/dia, resultando numa produção de 7.000kg de leite/ha, considerando um período potencial de utilização de200 dias. As vacas em semiconfinamento tiveram uma produção média de 17,3kg de leite/vaca/dia. A composição doleite somente se diferenciou no teor de gordura, com valores de 3,85% e 3,42% para o lote em pastejo e confinado,respectivamente. As vacas em semiconfinamento apresentaram maior incidência de mastite, com valores decontagem de células somáticas no leite três vezes maiores que os registrados nas vacas em pastejo. Vacas pastejandocapim-elefante-anão tiveram um custo de alimentação de apenas 23,3% em relação às vacas semiconfinadas, o quepossibilitou um maior retorno por vaca.Termos para indexação: composição do leite, semiconfinamento, custos, forragem, pastejo.

Potential milk production on dwarf elephantgrass pasturein Alto Vale do Itajaí, Brazil

Abstract – The study was carried out to evaluate the milk production potential of ‘Mott’ elephantgrass pastureduring january-april/2000 in Alto Vale do Itajaí, Santa Catarina. The free stall used in the farm was the controlproduction system. The grazing cows were fed with 10kg of dry matter of leaf blade/100kg LW/day of forage in dailystrip pasture. The free stall dairy cows were fed with a diet based on corn silage, industrial by-products, forage andconcentrate with 23kg/day of dry matter intake. The stocking rate sustained for ‘Mott’ elephantgrass pasture was1.415kg LW/ha with individual production of 11,4kg milk/day, resulting in an milk potencial production of 7.000kg/ha during 200 grazing days. The free stall cows produced 17,3kg milk/cow. Differences were found in milk fat contentwith mean values of 3,85% and 3,42% for grazing and free stall cows, respectively. The free stall cows had highermastitis incidence and milk somatic cell contents three times greater than grazing cows. The grazing system reducedfeed cost and increased return per cow.Index terms: costs, forage, free stall, grazing, milk composition.

com sistemas de produçãodiversificados. A atividade leiteiraenvolve a grande maioria dosagricultores e é responsável por10,1% do valor bruto da produçãoagrícola do Estado, com umaprodutividade média de 1.730kg deleite/vaca/ano (Síntese..., 2001). Na

região predominam sistemas desemiconfinamento com uma altaproporção da dieta animal repre-sentada por diversas forrageirasmanejadas sob corte e fornecidas nococho, bem como suplementosenergéticos. As áreas de pastejo estãorepresentadas majoritariamente por

1Artigo publicado em parte na 40ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia, 21 a 24 de julho de 2003, Santa Maria, RS.2Eng. agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Ituporanga, C.P. 121, 88400-000 Ituporanga, SC, fone: (047) 533-1409, fax: (047) 533-1364, e-mail: [email protected]. agr., Dr., Escola Agrotécnica Federal de Rio do Sul, C.P. 441, 89160-000 Rio do Sul, SC, fone: (047) 521-3700.

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pastagens naturalizadas de baixaprodutividade e qualidade.

Os preços médios do leite rece-bidos pelos produtores catarinensesestão num dos menores patamaresda história (Síntese..., 2001). Logo, aavaliação de alternativas de produçãode leite a pasto torna-se relevantecomo forma de redução dos custos dealimentação e aumento do retornolíquido por vaca. Nesse sentido, ocapim-elefante-anão (CEA) tem sedestacado como uma forrageira adap-tada às condições edafoclimáticasregionais. Trabalhos conduzidos naEpagri/Estação Experimental deItuporanga têm mostrado seupotencial para produção de carne sobpastejo, sendo possível produzir1.100kg de carne/ha com ganhosmédios diários de 1kg por animal,num período de utilização deaproximadamente 200 dias (Almeida,1997). O presente trabalho tem comoobjetivo avaliar o potencial do capim--elefante-anão para produção de leiteem bovinos.

Material e métodos

O experimento foi conduzido noperíodo de janeiro a abril de 2000 empropriedade particular, localizada nomunicípio de Braço do Trombudo,SC. O clima é do tipo Cfa (subtropicalúmido), com temperatura média de17oC e precipitação anual de1.500mm. Em março de 1999 foramimplantados 4ha de capim-elefante--anão cultivar Mott numa área desolos degradados, com valores depH(água) = 5, P = 6mg/dm3, K =60mg/dm3, matéria orgânica (MO) =

1,6%, Al = 3me/dl e capacidade detroca de cátions (CTC) = 17,4me/dl.Previamente ao plantio foi realizadacalagem para elevação do pH a 5,5.Durante o período de crescimentoda pastagem foram aplicados 158kgde N/ha na forma de uréia.

As condições de estiagem regis-tradas no período de implantação dapastagem obrigaram o replantio dealgumas áreas em agosto de 1999 e aretardar o início do pastejo, sendoque o mês de dezembro foi utilizadocomo período de adaptação das vacasà pastagem. A fase experimentalestendeu-se de 1o/1/2000 até 30/4/2000. Durante esse período de ensaioa pastagem produziu 16.000kg deMS/ha, sendo 41% correspondentes

a lâminas foliares. Foi mantida umaoferta de forragem (OF) média de10,4kg de matéria seca de lâminasverdes (MSLV)/100kg de PV/dia, quecorrespondeu a uma carga animalmédia de 1.415kg de PV/ha.

Como animais experimentais,selecionou-se um grupo de dez vacasda raça holandesa que estavam emmédia com 105 dias de lactação(out./99), com uma produção médiadiária de 21,3kg de leite/vaca e 502kgde PV. Desse grupo, cinco vacasconstituíram o lote experimental,submetidas a pastejo exclusivo deCEA com suplementação a campo desal mineral (Figuras 1 e 2). O pastejofoi realizado diariamente em faixasde tamanho variável, visando manteruma OF constante de 10kg de MS deMSLV/100kg de PV/dia. As outrascinco vacas constituíram o lote-tes-temunha e foram manejadasconforme o sistema de semicon-finamento utilizado na propriedade,com acesso à pastagem limitado a1h30min a 2h diárias.

As vacas do lote-testemunhamantiveram um consumo médio dealimentos de 23kg de MS/diafornecidos no cocho, com um aportede pastejo direto consideradodesprezível. A dieta esteve inte-grada por silagem de milho (42%),resíduos industriais à base decevada e mandioca (30%), capim--elefante e cana-de-açúcar picados(10%), além de ração balanceadacom 19% de proteína bruta e 70%

Figura 1. Vacas na pastagem de capim-elefante-anão (CEA)

Figura 2. (A) Vacas entram no piquete com pastagem de 1m de altura e (B)saem deixando resíduo de 50cm

AB

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de nutrientes digestíveis totais(18%).

Ambos os lotes foram ordenhadosduas vezes por dia, às 6 e 16 horas. Aevolução do peso vivo dos animais eo controle leiteiro foram efetuadossemanalmente com coleta deamostra individual de leite paraanálise laboratorial (gordura,proteína, lactose, sólidos totais econtagem de células somáticas –CCS).

Na pastagem foi avaliada, a cadaduas semanas, a disponibilidade deMSLV pelo método de duplaamostragem proposto por Haydock& Shaw (1975). A taxa de acúmulo deMSLV foi estimada com auxílio desete gaiolas de exclusão nas quais,quinzenalmente, serealizaram estima-tivas visuais dedisponibilidade deMSLV. As estima-tivas foram utili-zadas para a deter-minação do tama-nho das faixas diá-rias visando mantera OF constante. Ocontrole da ali-mentação do lote-testemunha foi rea-lizado por pesagemdo alimento forne-cido e das sobras,duas vezes por se-mana. A produçãoindividual de leite, acomposição do leitee o peso vivo dasvacas foram medi-dos semanalmente.Os dados foramanalisados utili-zando o proce-dimento GLM (Sta-tistics..., 1985) paramedições repetidasno tempo.

Resultados ediscussão

Os principaisresultados obtidossão apresentados naTabela 1. A produçãode leite obtida compastejo de CEA( 1 1 , 4 k g / v a c a / d i a )pode ser consideradaa mínima esperada,

pois não houve pas-tejo durante apri-mavera, período em que o CEAcarac-teriza-se por melhor qualidadeda for-ragem disponível. A produçãotambém foi comprometida peloestágio avançado de lactação dasvacas utilizadas. Esses fatoresacarretaram a redução mensal daprodução diária de 0,86kg de leite/vaca, sem que houvesse diferençasentre os lotes.

Com base em vários resultadosde pesquisas efetuadas com CEAem Santa Catarina (Baade &Almeida, 2004), nos quais verifica--se um período de utilização po-tencial da pastagem de no mínimo210 dias por ano (out./maio), pode--se afirmar que pastagens de CEA

manejadas com altas ofertas deforragem (três vacas/ha) compor-tam produções mínimas de 11,4kgde leite/vaca/dia e 7.000kg de lei-te/ha/ano.

Produções diárias de 13,2kg deleite/vaca em pastagens de CEAforam obtidas por Silva et al. (1994),utili-zando vacas mestiças com suple-mentação de 2kg de concentrado/vaca/dia. Stradiotti Jr. (1995) obteveproduções médias de 14,4; 11,8 e13,2kg de leite/vaca/dia com vacasmestiças pastejando CEA com OF de7; 5 e 3kg de MS/100kg de PV/diae 2 kg/vaca/dia de ração concentrada,respectivamente.

As vacas sob pastejo produziramleite com maior teor de gordura,

Tabela 1. Produção de leite, composição do leite, evolução do peso vivo e custo de alimentaçãode vacas pastejando capim-elefante-anão (CEA) e vacas em semiconfinamento, durante operíodo de janeiro a abril de 2000

Variável CEA Semicon- Teste Ffinamento Grupos

Tempo G x T

.............................kg/vaca/dia..............................

Produção de leite 11,4 17,3 * * * * NS

Prod. de leite(1) 4% de gordura 11,2 15,8 * * * * NS

......................................%.....................................

Gordura 3,85 3,42 * * NS NS

Proteína 3,09 3,27 NS NS NS

Lactose 4,47 4,42 NS * NS

Sólidos totais 12,50 12,55 NS NS NS

................................nº x 1.000...............................

CCS(2) 408 1.255 * * NS NS

................................kg/dia...................................

Evolução do peso vivo +0,240 +0,200 NS * * NS

...........................R$/kg de leite...........................

A: Custo de alimentação(3) 0,12 0,34

...............................R$/vaca/dia...........................

B: Custo de alimentação 1,37 5,88

C: Receita do leite(4) 4,97 7,54

Diferença(5) C - B 3,60 1,66(1)Leite 4% de gordura = 0,4 x rendimento leite (kg/dia) + 15 x rendimento gordura (kg/dia).(2)Contagem de células somáticas.(3)Sem incluir gastos com mão-de-obra.(4)R$ 0,436/kg de leite.(5)Margem bruta.* Teste F significativo a 5% de probabilidade.** Teste F significativo a 1% de probabilidade.NS = diferença não-significativa.

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provavelmente em conseqüência deuma dieta mais fibrosa (Tabela 1). Osistema semiconfinado apresentoumaior incidência de mastite clínica esubclínica, refletida nos valores decontagem de células somáticas noleite. Esses resultados prova-velmente se associem, entre outrascausas, às dificuldades de manu-tenção de condições higiênicas nasinstalações de semiconfinamento.Fontaneli & Fontaneli (2000) tam-bém determinaram um maiornúmero de células somáticas noleite produzido por vacas emsemiconfinamento quando compa-radas com sistemas de produção empastejo.

Não houve diferenças entre lotesna evolução do peso vivo, registrando--se ganhos a partir do final de março(Tabela 1). A ausência de perdas depeso no lote em pastejo justifica-sepela elevada OF utilizada, além dosmoderados níveis de produçãoregistrados. Quanto ao custo deprodução de leite, apesar de as vacasem semiconfinamento produzirem6kg de leite a mais por dia,considerando os custos de produção,a margem bruta (diferença entre areceita do leite e o custo dealimentação) foi de R$ 1,66/vaca/dia,enquanto que para as vacas empastejo foi de R$ 3,60/vaca/dia. Asvacas em pastejo tiveram um custode alimentação de apenas 23,3% emrelação às vacas do sistemaconfinado, bem abaixo dos resultadosobtidos por Vilela et al. (1996) eFontaneli & Fontaneli (2000), queencontraram reduções próximas a50% no custo de alimentação nos

sistemas a pasto, mostrando alucratividade dos mesmos em relaçãoaos sistemas confinados.

Conclusões

Pastagens de capim-elefante-anãomanejadas com altas ofertas deforragem (três vacas/ha) comportamproduções mínimas de 11,4kg deleite/vaca/dia e 7.000kg de leite/hanum período de utilização potencialde até 210 dias por ano, semcomprometimento produtivo dorebanho.

Sistemas de produção a pastopermitem produzir leite dentro dospadrões qualitativos exigidos pelaindústria e com reduções substan-ciais nos custos de alimentação.

Literatura citada

1. ALMEIDA, E.X. de. Oferta de forragemde capim elefante anão (Pennisetumpurpureum Schum. cv. Mott), dinâmicada pastagem e sua relação com orendimento animal no Alto Vale do Itajaí,Santa Catarina . 1997. 112p. Tese(Doutorado em Zootecnia) – Univer-sidade Federal de Rio Grande do Sul,Porto Alegre, RS.

2. BAADE, E.A.S.; ALMEIDA, E.X. de.2004. Tecnologia para produção de leiteem base sustentada para regiões de climasubtropical. In: FÓRUM CATARINENSESOBRE PRODUÇÃO DE RUMINAN-TES: PRODUÇÃO DE LEITE ESUSTENTABILIDADE, 3., 2004. Lages,SC. Anais... Lages: Epagri; CAV/UDESC,2004. p.38-50.

3. FONTANELI, R.S.; FONTANELI R.S.Sistemas de produção de leite a pastopodem ser mais econômicos do que em

semiconfinamento – Uma contribuiçãoao desenvolvimento do sistema sul-brasileiro. In: KOCHHANN, R.; TOMM,G.A.; FONTANELI, R.S. (Org.). Sistemasde produção de leite baseado empastagens sob plantio direto . PassoFundo, RS: Procisur/Embrapa, 2000.p.229-252.

4. HAYDOCK, K.H.; SHAW, N.H. Thecomparative yields method forestimating dry matter yields of pasture.Australian Journal of ExperimentalAgriculture and Animal Husbandry,Victoria, v.15, n.76, p.663-670, 1975.

5. SÍNTESE ANUAL DA AGRICULTURADE SANTA CATARINA: 2000-2001.Florianópolis: Instituto CEPA/SC, 2001.248p.

6. SILVA, D.S.; GOMIDE, J.; QUEIROZ,C. Pressão de pastejo em pastagem decapim elefante anão (“Pennisetumpurpureum, Schum’’ C.V. Mott): 2 Efeitosobre o valor nutritivo, consumo de pastoe produção de leite. Revista da SociedadeBrasileira de Zootecnia , Viçosa, v.23,n.3, p.453-464, 1994.

7. STATISTICS Analysis System. 6.ed.Cary, NC: SAS Institute INC: USA, 1985.429p.

8. STRADIOTTI JÚNIOR, D. Consumo eprodução de leite de vacas sob três ofertasde pasto, em pastagem de capim-elefanteanão (Pennisetum purpureum Schum,cv. Mott). 1995. 60f. Dissertação(Mestrado em Zootecnia) – UniversidadeFederal de Viçosa, Viçosa, MG.

9. VILELA, D.; ALVIM, M.J.; CAMPOS, F.;REZENDE, J.C. Produção de leite devacas holandesas em semi-confinamentoou em pastagem de coast-cross. Revistada Sociedade Brasileira de Zootecnia,Viçosa, v.25, n.6, p.1.228-1.244, 1996.

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Diversidade da flora apícola de Santa CatarinaDiversidade da flora apícola de Santa CatarinaDiversidade da flora apícola de Santa CatarinaDiversidade da flora apícola de Santa CatarinaDiversidade da flora apícola de Santa Catarina

James Arruda Salomé1 e Afonso Inácio Orth2

Introdução

Entende-se por flora apícola oconjunto de espécies vegetais,nativas, exóticas ou cultivadascapazes de atrair abelhas para acoleta de néctar, pólen e/ousubstâncias açucaradas (melatos).Para que uma planta sejaconsiderada de interesse do ponto devista apícola, deve ser abundante e

Resumo – As plantas fontes de néctar e pólen para as abelhas são o ponto-chave de uma exploração apícola. Acaracterização da diversidade de espécies apícolas determina a distribuição das colméias em diferentes regiões.Este trabalho foi realizado no período de 1998 a 2001 nas seis mesorregiões do Estado de Santa Catarina, em 27municípios, envolvendo 578 apicultores, por meio de um levantamento de campo. A identificação preliminar dasespécies de plantas apícolas foi realizada pelos apicultores e, posteriormente, as espécies foram herborizadas eidentificadas na Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Na listagem de plantas apícolas, agrupadas porfamílias, aparece a família Asteraceae como predominante (16 espécies), seguida pela família Myrtaceae (noveespécies), de um total de 70 espécies coletadas. As plantas apícolas mais freqüentes neste estudo estão em estágiossucessionais iniciais, podendo as formações secundárias, desta forma, ser utilizadas e manejadas para a apicultura.Os maiores índices de similaridade de Sorensen (IS) encontram-se entre municípios próximos geograficamente elocalizados na mesma mesorregião, como Rio do Oeste e Vitor Meireles, com IS = 0,75, Imbuia e Vidal Ramos, comIS = 0,84, Monte Castelo e Itaiópolis, com IS = 0,77, e Urubici e São Joaquim, com IS = 0,80.Termos para indexação: apicultura, apibotânica, índices de similaridade, biodiversidade.

Diversity of the bee botany of Santa Catarina State, Brazil

Abstract – Plants which supply nectar and pollen to honeybees are a key issue in apiculture. The characterizationof the diversity of the nectar producing plants determine the distribution of the honeybee colonies in each region.The present work was carried out from 1998 through 2001 in six mesoregions of Santa Catarina State and in 27municipalities, involving 578 beekeepers through a participative investigation. The preliminary identification ofthe flowering plants was performed by the beekeepers. Later, specimens of plants were prepared and theiridentification confirmed at the Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. The 70 nectar and/or pollenproducing plant species collected in this study were grouped per family. The family Asteraceae was the mostabundant, represented by 16 species, followed by Myrtaceae, with nine species. The most frequent honeybee plantsupplying resources were found in the early successional stages of the forest. Therefore, the secondary forestscould be managed for beekeeping purposes. Among 27 municipalities surveyed, the highest indices ofsimilarity (IS – Sorensen index) in melittophilous plants were found in municipalities located closely and in thesame mesoregion, like Rio do Oeste and Vitor Meireles, with an IS = 0,75, Imbuia and Vidal Ramos, with an IS =0,84, Monte Castelo and Itaiópolis, with an IS = 0,77 and Urubici and São Joaquim with an IS = 0,80.Index terms: apiculture, bee botany, similarity indexes, biodiversity.

conter de forma regular pólen e/ounéctar em quantidade e/ou qualidadesuficientes. O valor apícola de umadeterminada espécie está associadoàs características e às condições decada região, de tal forma quealgumas espécies de plantas podemser de pouco interesse em umambiente, porém de fundamentalimportância em outros (Daners,1996).

As relações ecológicas entre asplantas com síndrome de polinizaçãoentomófila e as abelhas datam de 80milhões de anos. As plantasoferecem às abelhas néctar e pólen,produtos de sua dieta, e estas, emtroca, realizam a polinização cruzadadas plantas que visitam. Afecundação cruzada oferece àsplantas uma descendência muitomais variável do ponto de vista

1Biólogo, M.Sc., Senar, Rua Tobias Barreto, 158, 88075-210 Florianópolis, SC, fone: (048) 244-0131, e-mail: [email protected]. agr., Ph.D., UFSC/CCA, fone: (048) 331-5421, e-mail: [email protected].

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genético, com possibilidades deproduzir variedades para adaptar-sea novos ambientes, competir comoutras espécies e ocupar novasposições ecológicas. A polinizaçãoentomófila é de suma importânciano equilíbrio ecológico, devido aoenvolvimento de grande número deespécies (Basualdo, 1996).Entretanto, este equilíbrio darelação planta-polinizador vemsofrendo sérias ameaças, e isto sedeve principalmente às profundasmodificações que o homem impôs aomeio ambiente. Estas modificaçõesreduziram drasticamente apopulação de insetos nativos, quecolaboravam de forma anônima napolinização, tanto de plantassilvestres como das plantascultivadas. Sem dúvida, osagroecossistemas têm sofrido com aescassez de polinizadores naturais,o que deixa os cultivos e mesmo asplantas silvestres, tanto para aprodução quanto para a suasobrevivência, dependentes de umapolinização dirigida. Para isto, Apismellifera tem sido muito útil (Couto,1996).

Os componentes do néctaradquirem importância comercialquando, na colméia, o excesso deágua é eliminado e há transformaçãoem mel, já que a fonte de origem donéctar proporciona sabor, aroma ecaracterísticas particulares àsdiferentes classes de mel, de acordocom as flores das plantas visitadaspelas abelhas (Howes, 1953).

Devido à importância comercialdas características de determinadotipo de mel, e também para oadequado planejamento da atividadeapícola em relação aos diferentesmanejos das colméias em apiáriosfixos e a movimentação das mesmasem apicultura migratória, váriosestudos têm sido realizados nosentido de determinar a origembotânica dos recursos disponíveis àsabelhas e do mel colhido emcolméias. Desta forma, objetiva-seneste trabalho caracterizar asprincipais espécies de plantasapícolas em diferentes microrre-giões do Estado de Santa Catarina,através de um levantamento decampo no qual os apicultores destasmicrorregiões auxiliaram naelaboração das listas de plantas quetêm importância na exploraçãoapícola.

Material e métodos

Os dados de distribuição dasplantas de interesse apícola foramlevantados em 27 municípiospertencentes a 11 microrregiões,que englobam todas as seismesorregiões do Estado de SantaCatarina. Este trabalho delevantamento dos dados junto aosapicultores foi realizado de acordocom a periodicidade de treinamentosa grupos de apicultores realizadospela empresa Apícola J.E.L. Ltda.,no período de 1998 a 2001.

Um total de 578 apicultoresparticipou da coleta de dados. Aatividade foi realizada em grupos, ouseja, um formulário foi preenchidoconjuntamente por todos osparticipantes de um determinadotreinamento. Somente foramregistradas as plantas apícolas queobtiveram aprovação para seremincluídas no formulário de todos osapicultores presentes nos encontrosde treinamento.

Amostras de ramos com folhas eflores das espécies indicadas pelosapicultores nos formulários foramcoletadas em campo, em cada umadas regiões, e levadas ao Laboratóriode Entomologia Agrícola do Centrode Ciências Agrárias da UFSC, ondeforam herborizadas e identificadasem nível de espécie ou de gênerocom o auxílio do professor DanielFalkenberg, do Departamento deBotânica do Centro de CiênciasBiológicas, também da UFSC, e coma utilização de bibliografiasespecíficas.

Após a identificação e aelaboração da lista das plantasapícolas de cada localidade, foipossível estabelecer o padrão desimilaridade (ou dissimilaridade)entre as composições florísticas deduas comunidades diferentes. Paraquantificar este padrão, foiconfeccionado um dendrogramarepresentando as similaridadesentre os municípios, utilizando-se amédia das distâncias entre todos ospares de itens que formam cadagrupo (Alfenas, 1998). Este índice desimilaridade (IS), também conhecidopor índice de similaridade deSorensen, pode variar de zero,quando duas regiões não têmnenhuma planta em comum, até 1,quando todas as plantas apícolas sãocomuns às duas regiões.

Resultados e discussão

Espécies de plantas apícolas

Foram listadas através destelevantamento 70 espécies de plantasapícolas, pertencentes a 30 famíliasdiferentes de plantas (Tabela 1). Nopresente trabalho, 22,85% ou 16espécies pertencem à famíliaAsteraceae, o que confere com osdados de um trabalho realizado sobreas plantas apícolas no Rio Grande doSul (Juliano, 1972), onde obtiveram--se 21,05% de espécies desta família.

Além da família Asteraceae, noveespécies pertencem à famíliaMyrtaceae e oito espécies pertencemà família Fabaceae. Estas trêsfamílias representam 47,14% detodas as espécies identificadas comosendo de interesse para os apicultoresparticipantes deste estudo.

Oito espécies de plantas apícolassão comuns às seis mesorregiões doEstado. São elas: Piptocarphaangustifolia (vassourão-branco) D.,Piptocarpha tomentosa B. (pau--toucinho), Baccharis dracunculifoliaDC. (vassoura-branca), Baccharisuncinella DC. (vassoura lageana),Baccharis sp. (carqueja), Seneciobrasiliensis L. (maria-mole), Mimosascabrella B. (bracatinga) e Myrciarostrata DC. (guamirim). Seis dasoito espécies em questão pertencemà família Asteraceae. Esta família éuma das maiores, em número deespécies, dentro da botânica. Asespécies mencionadas caracterizam--se por aparecerem nos campos,campos sujos, ou aparecerem comoinvasoras de culturas. Quanto aohábito, são predominantementeervas, subarbustos ou arbustos. Estasespécies são ricas em néctar e pólen,e podem ocorrer nos primeirosestágios de sucessão, após aintervenção antrópica nas matas, ouem culturas abandonadas (Juliano,1972).

A bracatinga (M. scabrella B.)aparece em todas as mesorregiõesdo Estado de Santa Catarina, emáreas da Floresta Ombrófila Mista,apresentando-se como espéciepioneira e apta para colonizarterrenos nus, via sementes. Ela émuito comum na vegetaçãosecundária, principalmente emcapoeira e capoeirões, e na florestasecundária, às vezes formandoassociações puras, conhecidas como

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Tabela 1. Relação de espécies de plantas apícolas e os seus respectivos nomes populares, organizadas por famílias,indicadas pelos apicultores como aquelas que mais contribuem para a produção de mel no Estado de Santa Catarina

Família e espécies Nome popular Família e espécies Nome popular

AnacardiaceaeSchinus molle Linnaeus AroeiraSchinus terebinthifolius – Raddi AroeiraLithraea molleoides Miers BugreiroAquifoliaceaeIlex brevicuspis Reiss. CaúnaIlex cf. dumosa Reiss. CongonhaArecaceae (Palmae)Arecastrum romanzoffianum(Cham.) Beccari var. romanzoffianum CoqueiroButia capitata Beccari var. odorata Butiá-de-praiaEuterpe edulis Mart. PalmitoAsteraceae (Compositae)Acanthospermum brasilum Schrank CarrapichoBaccharis cf. dracunculifolia DC. Vassoura-brancaBaccharis uncinella DC. Vassoura-lageanaBaccharis sp. DC. CarquejaBaccharisdastrum triplinervium VassouraBaccharisdastrum sp. 1 Erva-de-santa-

-mariaEupatorium sp L. VassouraGochnatia polymorpha (Less.) Cabr. CambaráMikania hirsutissima DC. CipóPiptocarpha angustifólia Dusen Vassourão-brancoPiptocarpha cf. tomentosa Baker Pau-toucinhoAsteraceaeSenecio brasiliensis Less. Maria-moleSolidago chilensis Meyen Vara-de-fogueteVernonia discolor (Spr.) Less. Vassourão-pretoVernonia polyanthes Lam. Pers. Mata-pastoVernonia scorpioides Lam. Pers. Cipó-são-simãoBignoniaceaePyrostegia venusta Miers. Cipó-são-joãoBoraginaceaeCordia trichotoma (Vell.) Arrb.ex. Steud. Louro-pardoCruciferaeRapanus sativus L. Nabo-forrageiroCunoniaceaeLamononia speciosa (Camb.)L. B. Smith. GuaraperêElaocarpaceaeSloanea grackeana K. Schum. SapopemaEuphorbiaceaeCroton celtidifolius Baill. SangueiroHieronyma alchorneoides Fr. Allem. IcuranaSebastiana klotzschiana Müll. Arg.var. klotzschiana BranquilhoFabaceae (Leguminosae)Acacia mearnsii De Willd. Acácia-negraDalbergia brasiliensis Vogel. MarmeleiroInga cf. marginata Willd. IngáMimosa scabrella Bentham Bracatinga

Myrocarpus frondosus Freire Allemão. CabreúvaParapiptadenia rigida (Benth.) Brenan AngicoSchizolobium parahyba (Vell.) Blake GuarapuvuTrifolium repens Lin. Trevo-brancoFlacourtiaceaeCasearia cf. decandra Jacq. GuaçatungaCasearia silvestris Sw. Cafeeiro-do-matoMelastomataceaeMiconia cinnamomifolia (DC.) Naud. JacatirãoMoraceaeRubus sp.1 Amoreira-bravaMyrsinaceaeRapanea ferruginea (R. & P.) Mez. CapororocaMyrtaceaeCampomanesia xanthocarpa Berg. GuabirobaEucaliptus robusta Smith. EucaliptoEugenia brasiliensis Lam. GrumixamaEugenia involucrata DC. CerejeiraEugenia myrtifolia Camb. CambuimEugenia pyriformis Camb. UvaiaEugenia uniflora L. PitangaMyrcia rostrata DC. GuamirimPsidium cattleianum Sab. AraçáPhytolaccaceaeSeguieria cf. glaziovii Briq. Limoeiro-do-matoRhamanaceaeHovenia dulcis Thunb. Uva-do-japãoRosaceaeHirtella hebeclada Mart. CinzeiroPrunus sellowii Koehn. Pessegueiro-bravoRutaceaeCitrus spp. L. CitrosZanthoxylum rhoifolium Lam. Mamica-de-cadelaSalicaceaeSalix humbodtiana Willd. SalseiroSapindaceaeMatayba elaegnoides Radl. CamboatáSaxifragaceaeEscallonia montevidensis C. & Sch. Canudo-de-pitoSterculiaceaeByttneria australis St. Hil. Unha-de-gatoStyracaceaeStyrax leprosus Hook. & Arn. Carne-de-vacaTiliaceaeLuehea divaricata Mart. AçoitaUlmaceaeTrema micrantha (L.) Blume. GrandiúvaVerbenaceaeCupania aglongifolia Camb. Miguel-pintadoVitex megapotamica (Spreng.) Mold. TarumãWinteraceaeDrimys brasiliensis var. sylvaticaMiers. Casca-d’anta

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bracatingais. Essas formaçõesexprimem a capacidade invasora daespécie após a ação antrópica(Carvalho, 1994).

O vassourão-branco (P.angustifolia D.) e o pau-toucinho (P.tomentosa B.) estão intimamenteassociados ao mesmo ambiente emque aparece a bracatinga (M. scabrellaB.), principalmente nas regiões doPlanalto do Estado, ou em áreas detransição entre a Floresta OmbrófilaDensa e Mista, como no municípiode Grão Pará. Estas espéciespertencem ao grupo sucessional dasespécies pioneiras, características davegetação secundária, comum nasclareiras, nos capoeirões e na florestasecundária. São indicadoras devegetação semidevastada no PlanaltoSul Brasileiro.

As plantas apícolas mais comunsno Estado de Santa Catarina estãoem estágios sucessionais iniciais.Portanto, neste estudo o néctar e opólen não são fornecidos de maneiramais abundante por espécies deflorestas primárias. Campos sujos evegetação secundária podempropiciar maior qualidade equantidade de recursos tróficos paraos visitantes florais.

Sob o ponto de vista de con-servação, as espécies componentesdas formações secundárias são degrande importância, uma vez quefaziam parte das florestas pri-márias e são as responsáveis pelaadequação do ambiente para oretorno de florestas que re-presentem novamente situações declímax. O manejo das formaçõessecundárias representa um dosmaiores potenciais para o aumentoda conservação da biodiversi-dade, recuperando populações eambientes degradados (Reis et al.,1992).

A Floresta Ombrófila Densarepresentava um terço da superfícietotal do território catarinense.Fitofisionomicamente, é carac-terizada por um número rela-tivamente pequeno de espéciesmuito abundantes, entre as quais,árvores e arvoretas pertencentes àfamília Myrtaceae (Klein, 1978), querepresentam neste trabalho asegunda família mais abundante deplantas apícolas.

Algumas das espécies de plantasapícolas levantadas neste estudo sãobastante freqüentes, como, por

exemplo, Citrus spp. L. (citros emgeral), que ocorre em 17 municípiosdas seis mesorregiões. Outra espéciebem freqüente é a uva-do-japão(Hovenia dulcis Thunb.), que ocorreem 18 municípios de quatro das seismesorregiões.

Duas das seis espécies exóticas(Eucaliptus robusta Smith. eHovenia dulcis Thunb.) apa-rentemente estão relacionadas àrecuperação de áreas degradadas. Oeucalipto (Eucaliptus robustaSmith.) foi plantado principalmentepara a recuperação de áreasocupadas anteriormente commineração de carvão e para aprodução de lenha no Sul do Estadode Santa Catarina. A uva-do-japão(H. dulcis ) aparece maisfreqüentemente na MesorregiãoOeste, onde anteriormente apareciaa Floresta Estacional Decidual, eque, sob pressão antrópica, setransformou em área agrícola.Florestamentos com esta espécieforam implantados com a finalidadede obtenção de madeira e lenha.Esta espécie já está se estabelecendonaturalmente em formaçõessecundárias por todo o Estado.

Em alguns municípios, como emRio Fortuna e Grão Pará, aparecemespécies de plantas apícolas querepresentam sistemas de transiçãoentre a Floresta Ombrófila Densa ea Floresta Ombrófila Mista.Exemplo disso é que em ambos osmunicípios aparece o jacatirão(Miconia cinnamomifolia DC.), queé uma planta característica daFloresta Ombrófila Densa,distribuindo-se pelo litoral, do nortedo Estado até o sul, na altura deTubarão, lado a lado com ovassourão-branco (P. angustifoliaDusen), o pau-toucinho (P.tomentosa Baker), e o vassourão--preto (Vernonia discolor Less),espécies características da matasecundária da Floresta OmbrófilaMista (Figura 1). Para a apiculturaeste fato representa maior oferta derecursos tróficos oriundos destasdiferentes espécies de plantasapícolas. Nestas áreas, porconseguinte, há maior potencialpara a produção de mel e menorperda de colméias na entressafra.

Nas observações relacionadas àsáreas de transição entre as florestas(Reis et al., 1996), há mistura dasespécies, que dificulta, mesmo

quanto à estrutura, a delimitaçãoreal de cada tipologia florestal.

O desenvolvimento da vegetaçãoestá intimamente vinculado àscaracterísticas do ambiente onde seencontra e depende, entre outrosfatores, dos índices de umidade,luminosidade, calor, fertilidade e deoutros fatores do substrato. Acobertura vegetal é sempre o reflexodas condições ambientais (clima,solo, relevo).

Índices de similaridade

A composição das espécies deplantas ou animais em comunidadespode ser comparada entre elas pordiferentes índices denominadosíndices de similaridade decomunidades. Estes índices, porém,devem ser utilizados com cuidado,uma vez que não levam emconsideração a abundância relativadas espécies apícolas presentes, esim, somente a sua presença ouausência.

Na Figura 2 verifica-se oagrupamento dos 27 municípiosabrangidos pela presente pesquisapelo índice de similaridade deSorensen (IS), tomando comoparâmetro a presença ou a ausência

Figura 1. Área de transição entre aFloresta Ombrófila Mista e a FlorestaOmbrófila Densa no município deGrão Pará, pertencente à MesorregiãoSul. (A) Vernonia discolor Less.; (B)Miconia cinnamomifolia DC

A B

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das espécies de plantas de interesseapícola, conforme metodologiaproposta por Alfenas (1998). Com IS= 0,25 aparece a formação de doisgrandes blocos, sendo que um éformado apenas pelos municípios deIndaial e Imbituba e o outro éformado pelos demais 25 municípios.Com IS de 0,30, os dois municípiosdo primeiro bloco dividem-se,formando dois pontos distintos,denotando que estes municípiosapresentam particularidades entre siem relação às espécies de plantasapícolas.

A partir do IS 0,50, aparecem trêsblocos distintos representados pelastrês grandes formações vegetais doEstado de Santa Catarina (FlorestaOmbrófila Densa, FlorestaOmbrófila Mista e FlorestaEstacional Decidual). O primeirobloco é representado pelosmunicípios do Oeste, o segundo, doAlto Vale do Itajaí e Sul e o terceiro,do Planalto Norte e da região dosCampos de Lages.

Mesmo que os IS se apresentemmaiores entre municípios maispróximos, no presente trabalho, osmunicípios de Tangará e Aurora,pertencentes a diferentes mesor-regiões e relativamente distantes,apresentam grande similaridadequanto às espécies de plantasapícolas apontadas pelos apicultores,chegando a 13 espécies comunsentre estes municípios, e apresen-tam um IS igual a 0,81.

Os maiores IS, excetuando oexemplo citado, estão entre Rio doOeste e Vitor Meireles, com 0,75,Imbuia e Vidal Ramos, com 0,84,Itaiópolis e Monte Castelo, com 0,77,e Urubici e São Joaquim, com 0,80(Figura 2). Todos estes municípiossão próximos geograficamente eapresentam condições ambientaissemelhantes que, aparentemente,refletem-se na similaridade do tipode vegetação encontrado nestasregiões.

A grande diversidade de espéciesde plantas apícolas no Estado de

Santa Catarina, suaabundância e ospadrões de distribuiçãonas diferentes mesor-regiões conferem ca-racterísticas própriaspara o desenvol-vimento da apiculturano Estado. Tal conhe-cimento é imprescin-dível para viabilizare c o n o m i c a m e n t e ,ecologicamente e so-cialmente a exploraçãoapícola.

Conclusões

Apenas oito es-pécies de plantasapícolas nativas sedistribuem pelas seismesorregiões estu-dadas, das quais seisespécies pertencem àfamília Asteraceae.

As plantas emestágios sucessionaisiniciais da floresta sãomais importantes paraa apicultura do que asflorestas primárias esua preservação deveser incentivada.

De um modogeral, a similaridade,

em relação à presença de espéciesde plantas apícolas, é maior entremunicípios da mesma mesorregião.

As áreas de transição entre aFloresta Ombrófila Densa e aFloresta Ombrófila Mistacompartilham espécies apícolascomuns a ambas as formações.

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Figura 2. Dendrograma construído a partir dosíndices de similaridade de Sorensen em relação àdistribuição das espécies de plantas apícolas em 27municípios do Estado de Santa Catarina

Campo ErêEntre RiosConcórdiaUnião do OesteArmazémLebon RégisTangaráAuroraRio das AntasRio do OesteVitor MeirelesImbuiaVidal RamosRio FortunaGrão ParáOrleansFraiburgoMajor VieiraItaiópolisMonte CasteloSanta TerezinhaItuporangaRancho QueimadoUrubiciSão JoaquimIndaialImbituba

Índice de similaridade de Sorensen (IS)0 0,25 0,50 0,75

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Efeito da concentração inicial de inóculo doEfeito da concentração inicial de inóculo doEfeito da concentração inicial de inóculo doEfeito da concentração inicial de inóculo doEfeito da concentração inicial de inóculo donematóide nematóide nematóide nematóide nematóide Heterodera glycinesHeterodera glycinesHeterodera glycinesHeterodera glycinesHeterodera glycines no desenvolvimento no desenvolvimento no desenvolvimento no desenvolvimento no desenvolvimento

do feijoeiro comumdo feijoeiro comumdo feijoeiro comumdo feijoeiro comumdo feijoeiro comum

Walter Ferreira Becker1 e Silamar Ferraz2

Introdução

O nematóide de cisto da soja(NCS), Heterodera glycines Ichinohe,um importante patógeno na culturada soja, pode infectar várias espéciesde feijoeiro (Riggs & Hamblen,1962). Nos Estados Unidos, a cons-tatação da doença em campos comer-ciais de feijoeiro data de 1981, quandoforam observados os sintomas deatrofiamento e clorose semelhantesaos ocorridos em soja. No Brasil,existe um risco potencial destadoença para o feijoeiro, uma vez que

Resumo – A patogenicidade de Heterodera glycines ao feijoeiro (Phaseolus vulgaris) cultivar Ouro foi testada comseis concentrações de inóculo (0, 1.200, 2.400, 4.800, 9.600 e 19.200 ovos/planta ) comparando-a com a soja (GlycineMax) cultivar FT-Cristalina. A redução na produção de grãos do feijoeiro foi de 14,9% quando inoculado com 5.600ovos/planta e a redução no peso de raiz seca atingiu 40,8% na concentração de 12.660 ovos/planta. Os teores declorofila e dos nutrientes fósforo, potássio, ferro, manganês, zinco e cobre não diferiram com a concentração deinóculo. Na soja, a maior concentração de inóculo (19.200 ovos/planta) provocou redução na produção de grãos de84,1% e o peso de raiz seca foi reduzido em 46,8%.Termos para indexação: nematóide de cisto; Phaseolus vulgaris, feijão.

Initial inoculum concentration of nematode Heterodera glycines affecting thedevelopment of common bean

Abstract – To determine the effect of inoculum concentration on the patogenicity of Heterodera glycines to thecommom bean plants (Phaseolus vulgaris L.) cultivar Ouro six concentrations (0, 1,200; 2,400; 4.800; 9,600 and 19,200eggs/plant) were tested in comparison to soybean cultivar FT-Cristalina. On common beans the largest yieldreduction was 14,9% when inoculated with 5,600 eggs/plant. There was a reduction of 40,8% in the root dry weightat the level of 12,600 eggs/plant. The chlorophyll content and the amount of phosphorous, potassium, iron,manganese, zinc and copper did not differ with inoculum concentration. On soybean the largest reduction in grainproduction was 84,1% when the concentration was 19,200 eggs/plant and the largest reduction in the root weight was46,8%.Index terms: cyst nematode, Phaseolus vulgaris, common bean.

este nematóide foi constatado nasprincipais regiões produtoras de soja(Lordello et al., 1992) que tambémse dedicam à produção de feijão.

A produtividade de culturasanuais em relação às populações decertas espécies de nematóidesdepende da infestação inicial, sendoque baixas infestações podemfavorecer altos incrementos (Barker& Olthoff, 1976). Lownsbery & Peter(1955) observaram que baixaspopulações de Heteroderarostochiensis Wollenweber e H.tabacum Lownsbery & Lownsbery

podem incrementar o crescimentoda planta hospedeira. Entretanto,na soja ‘Forrest’, Francl & Dropkin(1986) estimaram como sendo de trêscistos ou 470 ovos/kg de solo o nívelde tolerância ao NCS. O conheci-mento das relações quantitativasentre a densidade do nematóide e odesenvolvimento da planta éessencial para o planejamento deprogramas de manejo integrado(Barker & Nusbaum, 1971). Oobjetivo deste trabalho foideterminar a eficiência do feijoeirocomo hospedeiro e definir a relação

1Eng. agr., Dr., Epagri/Estação Experimental de Caçador, C.P. 591, 89500-000 Caçador, SC, fone: (049) 563-0211, fax: (049) 563-3211,e-mail: [email protected]. agr., Dr., professor da Universidade Federal de Viçosa, 36571-000 Viçosa, MG.

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entre a população inicial do patógenono solo e o desenvolvimento daplanta.

Material e métodos

Em casa de vegetação daUniversidade Federal de Viçosa –UFV – foi conduzido um experimentoenvolvendo o NCS e o feijoeiro ‘Ouro’,tendo a soja ‘FT-Cristalina’ comotestemunha de suscetibilidade. Oinóculo foi obtido a partir de umapopulação de H. glycines, raça 3,coletada no município de Nova Ponte,MG, e mantida sob constantemultiplicação em plantas de soja ‘FT-Cristalina’. Após 35 dias dagerminação, as raízes foram lavadassob jato de água para remoção doscistos e coleta em peneirassobrepostas de 0,84mm (20Mesh) e0,149mm (100Mesh). Os cistos retidosna peneira 100 foram esmagados porfricção, em almofariz, para liberaçãodos ovos. Este material foi suspensoem água e passado através de umapeneira de 0,025mm (500Mesh) edesta, com auxílio de uma solução desacarose (480g/L de água), para tubose centrifugado por 1 minuto a 420gravidades. A calibragem dasuspensão de ovos foi realizada emalíquotas de 1ml colocadas emcâmara de Peters, sob microscópioestereoscópico.

O experimento foi conduzido emdelineamento inteiramente casua-lizado com seis tratamentos(concentrações de inóculo) e seterepetições. As sementes de feijoeiroe de soja foram desinfetadasexternamente em solução dehipoclorito de sódio (NaOCl) 0,25% eapós a germinação fez-se a seleçãopara uniformidade de comprimentode radícula (30 a 40mm) etransferência das plântulasselecionadas para vasos comcapacidade de 3,5kg. O substrato dosvasos foi composto de uma misturade solo e areia na proporção 3:1,corrigido com 6,8t/ha de calcárioequivalente e adubado com a fórmulaNPK 4-14-8, equivalente a 1,42t/ha.A inoculação foi realizada dois diasapós o transplante e antes da aberturadas folhas primárias. Os tratamentosconsistiram na ausência dainoculação (concentração zero) e desuspensões cuja concentração final

correspondeu a de 1.200, 2.400,4.800, 9.600 e 19.200 ovos e/oujuvenis de segundo estádio (J

2) do

nematóide/ml, colocados com auxíliode uma pipeta através de dois orifíciosde 2,5cm de profundidade feitos nosubstrato, de cada lado da planta. Asplantas foram avaliadas quanto aonúmero de vagens e ao peso dassementes, da parte aérea e das raízes.A quantidade de fêmeas nas raízesfoi avaliada após a extração em jatode água e peneira e para os cistos foiusado o método de Dunn (1969) parauma amostra de 100ml de solo. Asfêmeas e os cistos foram contadoscom auxílio de microscópioestereoscópico.

Aos 78 dias após o transplante foiavaliado o teor de clorofila total (CT)nas folhas do terço médio superiordas plantas de feijoeiro e da soja. Dequatro repetições por tratamento foiretirado, com auxílio de um furadorde rolha, um disco de tecido foliarcom 11mm de diâmetro de cada folíoloda penúltima folha trifoliolada. Osdiscos destacados foram colocadosem tubos à prova de luz para prevenira foto-oxidação e mantidos emgeladeira por um período não-su-perior a 2 horas. Após a pesagem, osdiscos foram macerados em soluçãode acetona (80%) para extração daclorofila pelo método de Strain et al.(1971) e filtrados em papel Whatmann o 1, seguindo-se a leitura emespectrofotômetro Perkin-ElmerColeman 11, com comprimento deonda de 663nm. O teor de clorofilafoi calculado pelo método de Arnon(1946).

A análise foliar dos nutrientes foirealizada apenas para o feijoeiro, jáque para a soja estes dados são citadosna literatura. Cerca de cinco folhastrifolioladas, a partir da penúltimafolha, de cima para baixo, foramsecadas por três dias a 70oC e moídas.De cada amostra foi utilizado 0,5gem 50ml de extrato para o fósforo,potássio, ferro, cobre, zinco emanganês. A digestão do materialvegetal foi processada pelo métodonítrico-perclórico, sendo oselementos nutrientes avaliadosatravés do espectrofotômetro dechama (Jones et al., 1991), exceto ofósforo, que foi avaliado pelo métodocolorimétrico (Braga & Defelipo,1972).

Os dados obtidos foramsubmetidos à análise de variância.Os modelos de regressão (linear eraiz quadrada) foram utilizados paradeterminar o comportamento dasvariáveis estudadas em função daconcentração de inóculo, enquantoos teores dos elementos nutrientesforam submetidos à análise devariância.

Resultados e discussão

As plantas de feijoeiro, quandoinoculadas com o nematóide H.glycines, tiveram seu desenvol-vimento reduzido (Figura 1). Houveum efeito significativo daconcentração de inóculo (C) sobre opeso de grãos no feijão e na soja. Nofeijão, o modelo quadrático foi o quemelhor se ajustou aos dados destavariável (Figura 2). O peso de grãosdiminuiu em 14,9% com oincremento do inóculo até 5.600ovos/planta e em apenas 4,1% apartir desta concentração até ainoculação máxima. Na soja, omodelo matemático que melhor seajustou aos dados foi o da equaçãolinear. Houve uma redução de 84,1%no peso de grãos na inoculação de19.200 ovos/planta, confirmandouma correlação negativa (r = -0,93)(Figura 2). Na cultivar Forrest desoja, o nível de tolerância em cultivoé de 470 ovos/kg de solo (Francl &Dropkin, 1986).

A importância da concentraçãoinicial de inóculo em relação àprodução tem sido demonstrada paramuitas interações patógeno–hospedeiro (Wallace, 1971). Avariação na concentração de inóculode H. glycines proporcionou maioresdanos na soja do que no feijoeiro.Epps & Chamber (1966) verificaramque a taxa de reprodução de H.glycines em vários hospedeiros,inclusive em feijoeiro cultivarContender, foi similar àquelaocorrida em soja. Riggs & Hamblen(1962) relataram que, no caso dofeijoeiro, a maior parte das cultivarestestadas foi suscetível. A reação aonematóide H. glycines em feijoeiromanifesta-se em cultivares tãosuscetíveis quanto à soja e aténaquelas mais resistentes (Meltonet al, 1985). Por outro lado, como ociclo vegetativo da soja foi completado

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Figura 1. Desenvolvimento de plantas de feijoeiro ‘Ouro’ na ausência donematóide (esquerda) e na concentração de 19.200 ovos/ml de Heteroderaglycines (direita)

Figura 2. Efeito da concentração de inóculo (C) de Heterodera glycines naprodução de feijão e soja

com o dobro de dias do feijoeiro,houve possibilidade de maiorocorrência de reinfestação naquelacultura.

Na raiz do feijoeiro houvediminuição do peso seco em funçãodo acréscimo de inóculo (Figura 3).O melhor ajuste entre estes dadosfoi obtido com o modelo quadrático(Figura 4). O ponto de mínima dacurva, ou seja, a concentração deinóculo que ocasionou um menorpeso da raiz, com redução de 40,8%,foi de 12.660 ovos/planta. Para osníveis de 9.600 e 19.200 ovos/plantas,as reduções foram de 40,1% e 38,6%,respectivamente. Com relação àsoja, a correlação foi negativa(r = -0,92). Os dados se ajustaram aomodelo de regressão linear (Figura4), havendo uma redução de 46,8%no peso seco da raiz quando aconcentração de inóculo foi de 19.200ovos/planta. Este resultado diferiudo observado por Abawi & Jacobsen(1984), que demonstraram não havercorrelação entre a densidade de

inóculo e o desenvolvimento dofeijoeiro, mas sim para a soja.

Na época da colheita, aquantidade de fêmeas de H. glycinesrecuperadas na raiz do feijoeiro foiquase 1% do total de ovos inoculadose a diferença (P ≤ 0,001) no númerodaquelas foi proporcional aoincremento do inóculo. Estes dadosajustaram-se ao modelo da equaçãode primeiro grau (y = 2,63 +0,00045C; r2 = 0,97). Na soja, onúmero de fêmeas nas raízes apre-sentou o ajuste dos dados ao modeloqua-drático, com coeficiente dedeterminação (r2) de 0,77. Para estavariável houve um incremento atéas densidades de 8.100 ovos/planta,decrescendo a partir deste nível.

Epps & Chambers (1966)verificaram ao comparar a taxa dereprodução de H. glycines em várioshospedeiros, inclusive o feijão‘Contender’, que a reprodução erasimilar àquela que ocorria na soja,porém ocorreram casos em que areprodução havia sido menor nofeijão. Fato este também observadopor Riggs & Hamblen (1962) em seusexperimentos, nos quais a maioriadas cultivares de feijoeiro foisuscetível ao nematóide. Como

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Figura 3. Desenvolvimento do sistema radicular de feijoeiro ‘Ouro’ naausência do nematóide (0) e nas concentrações de 1.200(1), 2.400(2), 4.800(3),9.600(4) e 19.200(5) ovos/ml de Heterodera glycines

decorrência, aquelas áreas de sojacontaminadas com o nematóide decisto deveriam ser evitadas para ocultivo com feijão e mantidas sobrotação e monitoramento até aliberação para um plantio seguro.

Figura 4 - Efeito da concentração de inóculo (C) de Heterodera glycines sobreo peso da raiz seca de feijão e da soja

O teor de clorofila totalencontrado nas folhas de feijoeironão diferiu significativamente emfunção da concentração do inóculo(Tabela 1). Nas folhas da soja oconteúdo total de clorofila (Tabe-

la 1) decresceu significativamente(r = -0,98; P ≤ 0,001) com o aumentodo inóculo, e o modelo matemáticoque melhor se ajustou aos dados foio linear (Y = 5,0 – 0,00009C; r2 =0,97). O inóculo de 19.200 ovos/plantaresultou em uma redução de 36,2%no teor de clorofila. A restrição noteor de clorofila total nas folhas desoja pode ser atribuída à demandanutricional do nematóide cominterferência sobre a absorção e otransporte de nutrientes na planta,com reflexos na formação daclorofila (Wallace, 1974). Poskuta etal. (1986) verificaram a interferêncianegativa na síntese da clorofila emsoja parasitada por H. glycines.

Não houve correlação entre osteores, nas folhas do feijão, dosnutrientes fósforo, potássio, ferro,zinco e cobre e a concentração defêmeas encontradas no sistemaradicular em função do inóculo. Aconcentração do cobre ficou abaixodo nível de sensibilidade doespectrofotômetro. Provavelmente obaixo nível de infestação resultantenão foi suficiente para causarvariações significativas dosnutrientes (Tabela 1). Embora oferro não tenha apresentadodiferença significativa entre ostratamentos, houve um aumentodeste elemento quando foi utilizadaa maior concentração de inóculo,indicando uma tendência similar àinteração feijoeiro-Meloidogyneincognita verificada por Melake-berhan et al. (1985). Na interaçãosoja-H. glycines , Blevins et al. (1995)observaram redução na concen-tração de potássio e magnésio naraiz, enquanto na folha o cálcio e omagnésio aumentaram.

Conclusão

• O feijoeiro se constitui emhospedeiro favorável ao nematóideHeterodera glycines.

• A concentração de 5.600ovos/ml causa danos econômicossigni-ficativos na ordem de 14,9% daprodução de grãos.

• O nematóide H. glycines é umapraga que deve ser evitada noscultivos comerciais de feijoeiro.

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Agropec. Catarin., v.17, n.1, mar. 2004 93Agropec. Catarin., v.17, n.2, jul. 2004 93

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NEMATOLOGIA, 16., 1992, Lavras.

Tabela 1. Teor de clorofila no feijoeiro e na soja e de elementos nutrientesem folhas do feijoeiro aos 78 dias após a inoculação das plantas comdiferentes concentrações de ovos de Heterodera glycines

Clorofila Nutrientes em folhas de feijoeiroTratamento(1)

Feijão Soja P K Fe Mn Zn

........mg/g....... ........%....... .............ppm.............

0 4,1 4,9 0,26 2,71 667,2 145,4 21,3

1.200 4,0 4,8 0,24 3,08 556,5 150,4 29,9

2.400 3,9 4,8 0,24 2,86 404,5 142,0 21,5

4.800 4,0 4,5 0,28 2,73 524,0 146,1 23,2

9.600 4,3 4,3 0,28 2,78 647,2 134,5 22,8

19.200 4,0 3,1 0,28 2,80 988,1 145,2 23,9

Teste F ns * * ns ns ns ns ns

(1)Concentração de inóculo (número de ovos/ml de Heterodera glycines).ns = não-significativo.**Significativo a 1% de probabilidade.

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68.72447.38745.03767.93648.31359.50593.037

64.316

64.129 -

Tabela 1. Peso médio dos frutos no período de 1993 a 1995 e produção média desses trêsanos, em plantas de macieira, cultivar Gala, tratadas com diferentes volumes de caldade raleantes químicos(1)

Tratamento Peso médio dos frutos Produção

média

TestemunhaRaleio manual16L/ha300L/ha430L/ha950L/ha1.300L/ha1.900L/hac/pulverizadormanual1.900L/hac/turboatomizador

C.V. (%)Probabilidade >F 0,0002(**) 0,0011(**0,0004 (** ) - -

(1) Médias seguidas pela mesma letra, nas colunas, não diferem entre si pelo teste de Duncan a 5% de probalidade.(**) Teste F significativo a 1% de probabilidade.

Fonte: Camilo & Palladini. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.35, n.11, nov. 2000.

113 d122 cd131abc134ab122 cd128abc138a

125 bc

133ab

4,8

95 d110 bc121a109 bc100 cd107 bc115ab

106bc

109bc

6,4

80 d100ab 91 bc 94 bc 88 cd 92 bc104a

94 kbc

95abc

6,1

96,0110,7114,3112,3103,3109,0119,0

108,4

112,3 -

1993 1994 1995 Média

.............................g............................. .......kg/ha.....

Normas para publicação na revistaAgropecuária Catarinense – RAC

A revista Agropecuária Catari-nense aceita, para publicação,matérias ligadas à agropecuária e àpesca, desde que se enquadrem nasseguintes normas:

1. As matérias para as seções ArtigoCientífico, Germoplasma e Lan-çamento de Cultivares, Infor-mativo Técnico e Nota Técnicadevem ser originais e redigidasem português com resumos emportuguês e em inglês. Acom-panhando as cópias, o autor deveanexar uma carta afirmando queaquela é uma matéria enviadacom exclusividade à RAC.

2. O Artigo Científico deve serconclusivo, oriundo de umapesquisa já encerrada. A NotaTécnica refere-se a trabalho aindaem andamento ou outros assuntostécnicos que mereçam serdifundidos. O Informativo Técniconão segue o formato científico,

podendo ser o relato de mais deum experimento para difundirtecnologias.

3. O Artigo Científico deve estarorganizado em Título, Nomecompleto dos autores (semabreviação), Resumo (máximo de20 linhas, incluindo Termos paraindexação), Introdução, Materiale métodos, Resultados e discussão,Conclusão, Agradecimentos(opcional), Literatura citada,tabelas e figuras. As matériasdevem ser submetidas a revisõesde português e inglês e a doisrevisores de escolha do autor antesde serem encaminhadas à RAC.Uma versão em inglês do Título,do Resumo (Abstract) e dosTermos para indexação (Indexterms) deve ser inserida notrabalho logo após o resumo emportuguês. Os termos paraindexação não devem conterpalavras já existentes no título e

nem ultrapassar cinco palavras.Nomes científicos que foremcitados no título não devem contero nome do identificador da espécie.

4. Há um limite de 12 páginas paraArtigo Científico, Germoplasma eLançamento de Cultivares e paraInformativo Técnico, incluindotabelas e figuras. Para NotaTécnica, o limite máximo é de seispáginas, em texto corrido, ou seja,sem destacar Introdução, Materiale métodos, etc.

5. A seção Germoplasma e Lança-mento de Cultivares deve conterIntrodução, Origem (incluindopedigree), Descrição (planta,brotação, floração, fruto, folha,sistema radicular, tabela comdados comparativos e outrosquando pertinentes), Perspectivase problemas da nova cultivar ougermoplasma, Disponibilidade dematerial e Literatura citada.

6. Devem constar no rodapé daprimeira página formaçãoprofissional, títulos de graduaçãoe pós-graduação (Especialização,M.Sc., Dr., Ph.D., conformeconstar no diploma), nome dainstituição em que trabalha,endereço, telefone para contato eendereço eletrônico. Se bolsista,mestrando ou doutorando, fazer adevida citação.

7. As citações de autores no textodevem ser feitas por sobrenome eano, com apenas a primeira letramaiúscula, separadas por “&”,quando dois autores; se mais dedois, citar o primeiro seguido por“et al.” (sem itálico).

8. Tabelas e figuras devem vir emfolhas separadas no final damatéria com as devidas legendas.As tabelas devem vir acompa-

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Agropec. Catarin. , v.17, n.1, mar. 2004 95Agropec. Catarin., v.17, n.2, jul. 2004 95

nhadas de título objetivo e seremauto-explicativas, bem como deinformações sobre a fonte.Recomenda-se limitar o númerode dados da tabela, a fim de torná--la de fácil compreensão, e nume-rá-la conforme a sua apresentaçãono texto. As abreviaturas, quandonecessárias, devem ser explicadasquando aparecerem pela primeiravez. As tabelas devem ser abertasà esquerda e à direita, sem linhasverticais e horizontais, comexceção daquelas para a separaçãodo cabeçalho e do fechamento,evitando-se o uso de linhas duplas.As chamadas devem ser feitas emalgarismos arábicos sobrescritos,entre parênteses e em ordemcrescente (ver modelo).

9. As figuras (fotos e gráficos) devemser numeradas em ordem cres-cente e acompanhadas de legendasclaras e objetivas, contendo todosos elementos que permitam suacompreensão. Os títulos devemser auto-explicativos e colocadosabaixo das figuras.

10. As fotografias devem ser empapel fotográfico ou em diapo-sitivo e acompanhadas dasrespectivas legendas. Serãoaceitas fotos digitalizadas, desdeque em alta resolução (300dpi).

11. As matérias apresentadas paraas seções Opinião, Registro eConjuntura devem ser exclusivase se orientar pelas normas doitem 12 no que se refere àsmargens, aos parágrafos e aotamanho de letras.

11.1 Opinião – as matérias para essaseção devem discorrer sobreassuntos que expressam aopinião pessoal do autor sobre ofato em foco e não devem termais que quatro páginas.

11.2 Registro – são publicadas nessaseção as matérias que tratamde fatos oportunos que mereçamser divulgados. Seu conteúdo éa notícia que, apesar de atual,não chega a merecer o destaquede uma reportagem. Não devemter mais que quatro páginas.

11.3 Conjuntura – são enquadradasnessa seção as matérias que

enfocam fatos atuais com baseem análise econômica, socialou política, cuja divulgação éoportuna. Não devem ter maisque seis páginas.

12. Os trabalhos devem serencaminhados em quatro vias,impressas em papel A4, letraarial, tamanho 12, espaço duplo,sendo três vias sem o(s) nome(s)do(s) autor(es) para seremutilizadas pelos consultores euma via completa para arquivo.As cópias em papel devem possuirmargens superior, inferior e late-rais de 2,5cm e com linhas e pági-nas numeradas. Apenas a versãofinal deve vir acompanhada dedisquete ou CD, usando oprograma “Word for Windows”.

13.Literatura citada

As referências bibliográficasdevem estar restritas à literaturacitada no texto e de acordo com aABNT.

• Periódicos

AUTOR(ES). Título da matéria.Título do periódico , local, volume,número, paginação inicial-final, mêse ano de publicação.

Exemplos:

– Periódico

ANUÁRIO ESTATÍSTICO DOBRASIL-1999. Rio de Janeiro: IBGE,v.59, 2000.

CENSO AGROPECUÁRIO 1995-1996: Santa Catarina. Rio de Janeiro:IBGE, n.21, 1997.

– Artigo de periódico

STUKER, H.; BOFF, P. Tamanho daamostra na avaliação da queima--acinzentada em canteiros de cebola.Horticultura Brasileira , Brasília,v.16, n.1, p.10-13, maio 1998.

FIORAVANÇO, J.C. Podridão estilarda lima ácida “Tahiti”. RevistaBrasileira de Fruticultura, Cruz dasAlmas, v.17, n.2, p.7-15, jun. 1995.

– Artigo de periódico em meioeletrônico

SILVA, S.J. O melhor caminho paraatualização. PC world, São Paulo,n.75, set. 1998. Disponível em: www.idg.com.br/abre.htm>. Acesso em:10 set. 1998.

SILVA, I.G. da. Pena de morte parao nascituro. O Estado de São Paulo,São Paulo, 19 set. 1998. Disponívelem: <http:/www. providalfamilia.org/pena_morte_nascituro.htm>. Acessoem: 19 set. 1998.

• Livros

AUTOR(ES). Título : subtítulo.Edição. Local de publicação: editora,ano de publicação, volume ou totalde páginas (nota de série).

Exemplo:

SILVA, S.P. Frutas Brasil. São Paulo:Empresa das Artes, 1991. 166p.

• Capítulo de livro

AUTOR(ES). Título do capítulo ouda parte citada. In: AUTOR(ES).Título da publicação no todo.Edição. Local de publicação: editora,ano de publicação, volume, númerodo capítulo e página inicial-final daparte citada.

Exemplo:

SCHNATHORST, W.C. Verticilliumwilt. In: WATKINS, G.M. (Ed.)Compendium of cotton diseases. St.Paul: The American Phytopa-thological Society, 1981. part 1, p.41-44.

• Tese

AUTOR. Título , data, número defolhas. Categoria da Tese (Grau eÁrea de Concentração) – Instituição,Universidade, Local.

Exemplo:

CAVICHIOLLI, J.C. Efeitos dailuminação artificial sobre o cultivodo maracujazeiro amarelo (Passifloraedulis Sims f. flavicarpa Deg.), 1998.134f. Dissertação (Mestrado emProdução Vegetal), Faculdade deCiências Agrárias e Veterinárias,Universidade Estadual Paulista,Jaboticabal, SP.