jornal o ponto - julho de 2004

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J O R N A L L A B O R A T Ó R I O D O C U R S O D E C O M U N I C A Ç Ã O S O C I A L D A F A C U L D A D E D E C I Ê N C I A S H U M A N A S - F U M E C Ano 5 | Número 40 | Julho/Agosto de 2004 | Belo Horizonte/MG distribuição GRATUITA Jogadores brasileiros se destacam na Europa Colapso do Estado em MG leva a parcerias PAI promove eventos e beneficia alunos [ página 3] [ página 10 ] [ página 15 ] É um consenso dizer que a polícia brasileira é violenta e que não existe segurança pública. Mas qualquer ato indevido da mesma polícia é motivo para insatisfação da sociedade. A mídia explora quando um policial se en- volve em alguma situação de abuso de poder, agressão ou morte. Mas de quem é a culpa se a polícia é condenada como despreparada e vio- lenta? A sociedade tem um papel importante na bus- ca por um modelo adequado de policiar, assim como a mídia e, principalmente, o Estado. Observações, como a da tenente da Polícia Militar de MInas Gerais, Paola Lo- pes, precisam ser refletidas. “A sociedade brasileira pede que a polícia seja violenta na proteção de seus bens, mas quan- do ela age assim contra o vizinho, o parente, ela toma ou- tras posições”. Páginas 8 e 9 Quem te protege? Maria Fiuza Morte de Brizola faz lembrar anos de ditadura no Brasil Em 1964, a capital minei- ra estava prestes a ouvir Leo- nel Brizola falar em um comí- cio invadido pela direita. O episódio, conhecido como “a noite das cadeiradas”, acabou em pancadaria envolvendo a polícia que repreendeu a mul- tidão com gases . O presidente nacional do Partido Democrático Traba- lhista foi marcado pelo radi- calismo e valentia durante to- dos os anos que esteve pre- sente. Faleceu aos 82 anos no último dia 21. página 3 Direitos dos domésticos são descumpridos por patrões Muitos empregadores ain- da insistem em não assinar a carteira de trabalho de pes- soas que atuam em casas de família. Outras exigências também não são cumpridas, como férias e 13º salário, pre- vistas na Consolidação das Leis Trabalhistas. Desde 11 de dezembro de 1972 a lei 5.859 está em vigor no Brasil, mas muitos não des- frutam dela. Só em Minas Ge- rais existiam, em 2000, mais de 600 mil trabalhadores desta área. página 7 Aumento da frota de veículos dificulta controle de tráfego Dados do Departamento de Trânsito de Minas Gerais constatam aumento do nú- mero de veículos e conduto- res na capital mineira. De 2002 para 2003 foram mais 41 mil automóveis trafegando em Belo Horizonte. No último dado constam 792 mil. A consequência é o trânsi- to caótico e constantes con- gestionamentos nas vias da ci- dade. A falta de espaços para estacionamento também se torna um problema, princi- palmente na região do hiper- centro. página 6 Indústria de leite e derivados polui mais em Minas Minas Gerais é responsá- vel por cerca de 30% da pro- dução nacional de laticínios, por isso, é também o estado que mais joga resíduos sólidos e poluentes nos rios e na at- mosfera. O engenheiro am- biental Augusto Machado Soa- res diz que o maior responsá- vel pelos impactos é o soro do leite que resta da produção de queijos. “Ele tem o potencial poluidor cem vezes maior do que o esgoto doméstico”, afir- ma. página 13 Jornal dos Bairros ainda é símbolo da voz do povo Fundado em 1976 na re- gião do Barreiro, em Belo Ho- rizonte, o Jornal dos Bairros durou apenas até 1983, mas se perpetuou como ícone da luta popular por igualdade e justiça social. Símbolo da comunicação popular, ele era feito por jor- nalistas e pela própria comu- nidade. Se caracterizou como um instrumento de mobiliza- ção e contraposição ao gover- no imposto pelos militares no Brasil. página 16 Arquivo O Ponto A poluição visual ainda é um problema que afeta a maioria das cidades brasileiras. Em Belo Horizonte, a falta de políticas públicas é reflexo do governo que se anula diante do caos. Três secretarias municipais são responsáveis, mas nenhuma delas sabe informar sobre o assunto. páginas 4 e 5 CAPITAL IMUNDA

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Jornal laboratório do curso de Jornalismo da Universidade Fumec - Belo Horizonte - MG

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Page 1: Jornal O Ponto - julho de 2004

J O R N A L L A B O R A T Ó R I O D O C U R S O D E C O M U N I C A Ç Ã O S O C I A L D A F A C U L D A D E D E C I Ê N C I A S H U M A N A S - F U M E C

A n o 5 | N ú m e r o 4 0 | J u l h o / A g o s t o d e 2 0 0 4 | B e l o H o r i z o n t e / M G

d i s t r i b u i ç ã oG R A T U I T A

Jogadores brasileiros

se destacam na Europa

Colapso do Estado em

MG leva a parcerias

PAI promove eventos

e beneficia alunos[ página 3][ página 10 ] [ página 15 ]

É um consenso dizerque a políciabrasileira éviolenta e quenão existesegurançapública. Masqualquer atoindevido damesma polícia émotivo para

insatisfação dasociedade.

A mídia explora quando um policial se en-volve em alguma situação de abuso de poder,

agressão ou morte. Mas de quem é a culpa se apolícia é condenada como despreparada e vio-

lenta? A sociedade tem um papel importante na bus-ca por um modelo adequado de policiar, assim como

a mídia e, principalmente, o Estado. Observações, comoa da tenente da Polícia Militar de MInas Gerais, Paola Lo-pes, precisam ser refletidas. “A sociedade brasileira pede quea polícia seja violenta na proteção de seus bens, mas quan-do ela age assim contra o vizinho, o parente, ela toma ou-tras posições”. Páginas 8 e 9

Quem te protege?Maria Fiuza

Morte de Brizola faz lembraranos de ditadura no Brasil

Em 1964, a capital minei-ra estava prestes a ouvir Leo-nel Brizola falar em um comí-cio invadido pela direita. Oepisódio, conhecido como “anoite das cadeiradas”, acabouem pancadaria envolvendo apolícia que repreendeu a mul-

tidão com gases . O presidente nacional do

Partido Democrático Traba-lhista foi marcado pelo radi-calismo e valentia durante to-dos os anos que esteve pre-sente. Faleceu aos 82 anos noúltimo dia 21. página 3

Direitos dos domésticos sãodescumpridos por patrões

Muitos empregadores ain-da insistem em não assinar acarteira de trabalho de pes-soas que atuam em casas defamília. Outras exigênciastambém não são cumpridas,como férias e 13º salário, pre-vistas na Consolidação das

Leis Trabalhistas.Desde 11 de dezembro de

1972 a lei 5.859 está em vigorno Brasil, mas muitos não des-frutam dela. Só em Minas Ge-rais existiam, em 2000, mais de600 mil trabalhadores destaárea. página 7

Aumento da frota de veículosdificulta controle de tráfego

Dados do Departamentode Trânsito de Minas Geraisconstatam aumento do nú-mero de veículos e conduto-res na capital mineira. De2002 para 2003 foram mais41 mil automóveis trafegandoem Belo Horizonte. No últimodado constam 792 mil.

A consequência é o trânsi-to caótico e constantes con-gestionamentos nas vias da ci-dade. A falta de espaços paraestacionamento também setorna um problema, princi-palmente na região do hiper-centro.

página 6

Indústria de leitee derivados poluimais em Minas

Minas Gerais é responsá-vel por cerca de 30% da pro-dução nacional de laticínios,por isso, é também o estadoque mais joga resíduos sólidose poluentes nos rios e na at-mosfera. O engenheiro am-biental Augusto Machado Soa-res diz que o maior responsá-vel pelos impactos é o soro doleite que resta da produção dequeijos. “Ele tem o potencialpoluidor cem vezes maior doque o esgoto doméstico”, afir-ma. página 13

Jornal dos Bairrosainda é símboloda voz do povo

Fundado em 1976 na re-gião do Barreiro, em Belo Ho-rizonte, o Jornal dos Bairrosdurou apenas até 1983, masse perpetuou como ícone daluta popular por igualdade ejustiça social.

Símbolo da comunicaçãopopular, ele era feito por jor-nalistas e pela própria comu-nidade. Se caracterizou comoum instrumento de mobiliza-ção e contraposição ao gover-no imposto pelos militares noBrasil. página 16

Arquivo O Ponto

A poluição visual ainda é um problema que afeta a maioria das cidades brasileiras. Em

Belo Horizonte, a falta de políticas públicas é reflexo do governo que se anula diante

do caos. Três secretarias municipais são responsáveis, mas nenhuma delas sabe informar

sobre o assunto. páginas 4 e 5

CAPITAL IMUNDA

01 - Capa - Patrícia 7/2/04 11:53 AM Page 1

Page 2: Jornal O Ponto - julho de 2004

O PONTOBelo Horizonte – Julho/Agosto/2004

Editor e diagramador da página: Carlos Fillipe Azevedo

2 OPINIÃO

Coordenação Editorial: Profª.Ana Paola Valente (Jornalismo Impresso) e

Prof. Leovegildo P. Leal (Redação Modelo)

Monitoras do Jornalismo Impresso:Patrícia Giudice e Sinária Ferreira

Monitor da Redação Modelo: Renato Torres

Monitores da Produção Gráfica:Rafael Werkema e Marcelo Bruzzi

Projeto Gráfico:Prof. José Augusto da Silveira Filho

Tiragem desta edição:3000 exemplares

Lab. de Jornalismo Impresso: 3228-3127e-mail: [email protected]

Centro Universitário Fumec Rua Cobre, 200 - Cruzeiro

BH/MG

Prof. Eugênio Frederico Macedo ParizziPresidente do Conselho Curador

Profª. Divina S. Lara VivasReitora do Centro Universitário Fumec

Prof. Amâncio F. CaixetaDiretor Geral da FCH/Fumec

Profª. Audineta Alves de CarvalhoDiretora de Ensino

Prof. Benjamin Alves Rabello FilhoDiretor Administrativo

Prof. Alexandre FreireCoordenador do Curso de Comunicação Social

Jornal Laboratório do curso de Comunicação Social da Faculdade de Ciências Humanas-Fumec

Os artigos publicados nesta página não expressam necessariamente a opinião do jornal e visam refletir as diversas tendências do pensamento

Carlos Fillipe Azevedo5º período

Na sociedade em que vive-mos uma das principais formasde poder atuante é o podersimbólico e os recursos utiliza-dos por ele são os meios deinformação e de comunicação.Esse poder tem, através dosmeios de comunicação, a capa-cidade de moldar as relaçõessociais e a também de intervire mudar os rumos dos aconte-cimentos de nossa sociedade.

É nesse contexto que surgea Indústria Cultural, que éfruto de uma sociedade capita-lista e industrializada, ondeaté mesmo a cultura e o conhe-cimento é comercializado. Osprodutos da mídia nos trazemuma realidade fragmentada, queconsiste no que é interessante aela transmitir, com objetivo deatingir na maioria das vezes oaumento do lucro.

A partir do momento emque vivemos essa realidade re-cortada a mídia irá reforçar asnormas sociais vigentes emnossa sociedade, promovendoum conformismo funcional napopulação.

Ao consumirmos os produ-tos da Indústria Cultural ocor-re o processo de despolitizaçãodo indivíduo que o tornaalienado, ou seja, o individuonão é levado a pensar sobre oque está acontecendo com ele

e nem sobre a totalidade dosfatos ao seu redor. Sendo assimos meios de comunicação assu-mem uma postura autoritária,dirigindo o consumidor aoinvés de colocar-se a sua dis-posição. O homem passa a sertão manupulado e ideologiza-do que até mesmo o seu lazerse torna uma extensão do seutrabalho.

As pessoas estão cada vezmais preocupadas em estarrecebendo o maior númeropossível de informações damídia e não necessariamentecom o conteúdo dessas infor-mações, o que interessa é estar“bem informado”.

A todo o momento somos“bombardeados” por informa-ções, porém não são todas elasque irão nos trazer o conheci-mento das coisas que estamosprocurando. O conhecimentopassa a ser uma coisa funcional,ou seja, aprendemos algo paradeterminado momento.

Os consumidores dos pro-dutos da mídia não podemperder a capacidade de se indi-ginar com o que está aconteceem sua volta e de tentar mudara situação vigente. Se todoscontinuarmos a ser as “mario-netes” da industria culturalnosso destino vai continuar omesmo. Continuaremos a se-guir os modismos impostospela a maioria dos meios decomunicação.

Rafael Werkema6º período

87,7%: esta é o porcentagemsegundo os dados IBGE , de fa-mílias que possuem televisoresem casa no Brasil. No primeiromomento, este número não pa-rece assustador, já que estamosno século XXI e pressupomosque estamos na era da tecnolo-gia. E isso não deixa de ser ver-dade. Mas essa porcentagem pas-sa a ser preocupante a partir domomento em que ela, segundoo IBGE, supera a quantidade defogões e geladeiras nas residên-cias dos brasileiros. Isto signifi-ca: o brasileiro tem tevê em ca-sa mas não têm geladeira, fogão,saneamento básico, etc. E a par-tir daí começa-se a questionar:que papel a televisão exerce nonosso país?

Para iniciarmos um debatesobre a televisão, precisamos,primeiramente, falarmos da im-portância da “imagem” na so-ciedade. Contrariando a propa-ganda de uma marca de refrige-rante, imagem é tudo sim. Te-mos, por natureza (desde os pri-mórdios, com os desenhos nascavernas), a atração por imagens.Conseguimos associar as coisascom mais facilidade através deimagens. A mensagem, com-posta por imagens, é mais fácilde ser entendida. Daí é possívelentender o poder da tevê não sóno Brasil, mas no mundo todo.Quando escutamos alguma no-tícia no rádio, nossa mente trans-forma tudo aquilo em uma ima-gem. Temos tempo para imagi-nar, raciocinar. Na televisão émais complicado fazer isso. Elajá nos dá a imagem toda masti-gada, pronta para ser consumi-da sem abrir espaço para nossaimaginação.

A tevê no Brasil tem um pa-pel de entretermento. Ela divertee informa a população. Atravésdas novelas, ela emociona, co-move. Mas ela também possuium papel muito mais importantedo que entreter e informar: elaforma a opinião da população.Quem não se lembra do dia emque o Brasil inteiro chorou amorte de um presidente que nãochegou a governar? Ou então dofamoso caso em que a principalrede de televisão, a Globo, ele-geu o presidente Fernando Col-lor de Melo?

A influência da tevê sobre asociedade brasileira é assustado-ra. Ela ultrapassa a função de di-vertir e informar. Mas quando fa-lamos de formar opinião, pareceque estamos falando em um sen-tido otimista. Pelo contrário: atelevisão pode ser vista, para aTeoria Crítica, como uma formade reforçar o domínio de umaelite hegemônica. Usando as pa-lavras de Adorno, a televisão rei-fica um fato e o torna uma reali-dade natural para o ser humano.

A população, ao ver tevê, po-de até se chocar com a cena deum assalto. Mas a televisão nãonos dá espaço para questionaressa realidade.

Nova versão de PalhaçadaTereza Perazza

7º período

A votação do valor do salário mínimo naCâmara e no Senado foi, no mínimo –perdoe o trocadilho necessário -, uma mos-tra de pior espécie do escárnio absurdo queacontece na política brasileira atualmente. Aoposição comemorou os R$ 275; a baseretrocedeu aos R$ 260. De forma séria, comodisse Lula. Se por séria ele quer dizer com amesma seriedade com que uma criança decinco anos chora e rouba um pirulito deoutra que puxou o seu cabelo, então a vota-ção foi séria, sim. Painéis no Rio e em BHacompanhavam a guerra de braço para defi-nir quem é mais forte, alto e loiro naqueleninho de cobras.

Essa votação serviu para comprovar algoque todos já sabíamos: o menor interesse emqualquer votação de projetos do Legislativoé com o projeto em si. O valor do mínimotanto faz como tanto fez. A todo o momentoda votação, estavam cuspindo nas nossascaras. A questão nunca foi se os 180 milhõesde famintos e pobres no Brasil iam conseguircomprar uma pizza no final do mês comesse aumento irrisório. A questão foi, e é, qualé o poder da bancada do governo no Senadoe na Câmara; qual é o poder da oposição equem tem mais força para manipular quem.

Quantas obras receberam verbas para umaprática inexistente, em troca de votos? Quan-

tas casas de praias de prefeitos, deputados etodas as outras cobras, ganharam auxílio deverba pública para a construção de sua pisci-na? Piscina na qual estes e seus filhos irãonadar e mijar: aprendendo desde pequeno amijar no Brasil. Enquanto isso, projetosimportantes como a regionalização daprogramação da mídia (PL 256/1991) e adespenalização do aborto (PL 1135/1991)estão há 13 anos parados, esperando entrarna pauta de votação do dia. Contrapondo, ossenadores estão correndo contra o tempo pa-ra votar a diminuição de 5.062 cadeiras devereadores (PEC 55-A/2001) até o dia quatrode julho, para que não entre em vigor a me-dida do Tribunal Superior Eleitoral, dimi-nuindo em 8.528 as vagas de vereadores noBrasil. Não... Perder a mamata? Jamais!

É disso que se faz a nossa política: deinteresses, de jogatina... O Brasil, afundadoem infantilidades, retrocedeu e esqueceu osentido de política, do fazer política. Foi-se otempo em que existia a política grega, acivilidade. Hoje temos é malandragem,sacanagem, corrupção e falta de ética, onderojetos de interesse da sociedade são ignora-dos pelos políticos e nem fazem parte dapauta de discussão da mídia, da roda de bar,das organizações sociais... Como conseqüên-cia, e com conivência (nunca esqueça quesomos coniventes: eu, você...), 180 milhõescom cara de palhaço, pinta de palhaço. Seráesse o amargo fim?

Mineiros no brasileirãoBernardo Motta

5º Período

O Campeonato Brasileiro de 2004 estásendo um dos mais equilibrados dos últimosanos. Não que todos os times estão demons-trando um ótimo futebol, mas sim pela faltade um grande time. Perdendo seus grandesjogadores para países europeus, os timesbrasileiros estão passando por um momentodifícil e o que resta a eles, é apostar nascategorias de base, em jogadores em fim decarreira ou em desconhecidos. A briga pelotítulo brasileiro este ano promete ser acirra-da e dificilmente veremos o que aconteceuano passado onde o Cruzeiro e o Santosdispararam e o campeão foi conhecido de for-ma antecipada. Outra disputa que prometemuita emoção e a disputa do rebaixamento,onde neste ano, quatro times irão para asegunda divisão.

O Cruzeiro espera neste ano repetir ofeito do ano passado e novamente sercampeão brasileiro. Muitas mudanças ocor-reram do time do ano anterior para o desteano. As principais alterações foram às saídasdo técnico Luxemburgo e a do “talento azul”Alex. A equipe agora dirigida pelo técnicoEmerson Leão possui um bom elenco e adiretoria promete ainda a contratação de umzagueiro e de um camisa dez para substituiro ex-ídolo da torcida. Dentre as equipes que

estão na primeira divisão, o Cruzeiro é umdos favoritos para ganhar o título já quepossui uma boa base, e é uma das poucasequipes no futebol brasileiro que cumpre suasresponsabilidades financeiras em dia. A úni-ca dúvida que fica na cabeça do torcedorcruzeirense e de saber quais jogadores aindaserão negociados.

Para os atleticanos o campeonato brasi-leiro não é das melhores. Depois de perder oMineiro para o seu maior rival e do começoirregular do time no Campeonato Brasileiro,a torcida alvinegra esta desconfiada da equi-pe. Com um “caminhão” de contrataçõesfeitas pela diretoria para este ano, na grandemaioria de jogadores desconhecidos, e otreinador ainda não definiu quais são osjogadores titulares da equipe. O Atlético pre-cisa de um camisa dez que possa chegar eresolver os problemas de criação da equipe,já que a torcida não agüenta as inconstantesapresentações entre Tucho e Dejair. Outroproblema do Galo está no ataque que atéagora não achou um companheiro para o AlexMineiro, sendo assim a torcida ainda comprauma contratação de um matador.

Em resumo, o Cruzeiro tem tudo para bri-gar pelo título ou pelo menos por uma vagana Libertadores, já o Atlético, se continuar dojeito que está, vai ficar lutando para não cairou no máximo almejar uma vaga para aCopa Sulamericana do ano que vem.

Papel da televisãopara a sociedadebrasileira atual

Poder da mídia naindústria cultural

Mariana Alves4º Período

“Quem matou Lineu?” Essafoi a grande pergunta da mídiaas vésperas do último capítuloda novela global. Celebridaderepresenta mais uma concretainserção da banalidade e des-valorização humana na televi-são. Porém, esse (apesar da im-portância do tema) não é o pon-to central, pelo menos não é oque deu impacto aos jornais desexta e sábado. O que indignaaqueles que tem uma preocu-pação maior com o que estáacontecendo com os meios decomunicação brasileiros. A co-bertura dada, não só pela Glo-bo, e tão pouco pelos adeptosda “imprensa marrom”, mas pe-los veículos que se colocam dolado “sério” do jornalismo, foitão grande que mereceu até acapa de alguns jornais. O quefaz o jornal dar grandes espa-ços para coberturas como essa?Será que a desculpa vai cair denovo no povo? Ou será que al-gum editor desinformado vaidizer que não tinha outra coisamais importante para colocar. O que aconteceu foi um assas-sinato da informação e da fun-ção do jornalista, que não seriacobrir fim de novel. Mas pare-ce que para a grande mídia es-se papel do jornalismo é bemnaturalizado.

Este tipo de assunto sai doentretenimento para ganhar o

jornal sem nenhum estranha-mento. E não dá mais para acre-ditar que eles publicam o queo povo quer (aliás, posição de-fendida pelos personagens des-sa novela).

Enquanto os veículos jor-nalísticos abriram para taispublicações, incluindo tambémos jornais mineiros, algunsoutros assuntos ficam cercea-dos por outros interesses. A tris-te situação para um leitor de taisjornais é que sua informaçãoestá, cada vez mais, sendo en-golida pela Indústria Cultural.E para o profissional, outro alar-mante estado, que jornal estátão vendido para o mercado quenem mesmo consegue susten-tar matérias de domínio públi-co que não seja o último capí-tulo de Celebridade. O entrete-nimento (e aqui não estou fa-lando de qualidade) não é par-te do jornalismo e ponto final.Não se pode aceitar uma inver-são de significados tão brutal,com tanta naturalidade.

Pior do que ter uma socie-dade desigual, é ter a banaliza-ção disso, e ainda, sendo reifi-cado por aqueles que nos in-formam. Aqueles que são o pri-meiro a dizer que representama sociedade, que zelam pela cre-dibilidade. Pra quê?

Parece que os empresáriosda mídia pouco se preocupamcomos assuntos de interesse pú-blico, que perde espaço para aficcional e ladainha das 9h.

Quem matou ainformação?

ERRATAChe Guevara é de nacionali-dade argentina e não cubanaconforme a edição anterior.

02 - Opinião - Carlos Fillipe 7/2/04 11:55 AM Page 1

Page 3: Jornal O Ponto - julho de 2004

O PONTOBelo Horizonte – Julho/Agosto/2004

Editora e diagramadora da página: Patrícia Giudice

POLÍTICA 3Morte de Brizola relembra ditaduraJosé Maria Rabêlo conta quando a direita invadiu um comício em 1964 e impediu Leonel de falar

Rafaela Araújo6º período

Faleceu na noite do dia 21de junho, aos 82 anos, o ex-go-vernador do Rio Grande do Sule do Rio de Janeiro, Leonel deMoura Brizola. Figura de gran-de expressão na história políti-ca do país, Brizola participoudos mais importantes aconteci-mentos políticos do Brasil nosúltimos 60 anos. Entrou na po-lítica com apenas 23 anos fun-dando o Partido Trabalhista Bra-sileiro. Antes de sua morte, eraocupava o cargo de presidentenacional do PDT, partido quefundou em 1979, quando vol-tou do exílio.

A notícia de sua morte co-moveu o país e desencadou ma-nifestações de pesar de váriascamadas da sociedade. Até mes-mos os brasileiros que jamaisvotaram nele, foram tocadospor uma lembrança carinhosa.Em todas as regiões do país po-líticos de todos os partidos etendências fizeram homenagensa um dos maiores líderes da es-querda brasileira.

Seu papelPara o jornalista Délio Ro-

cha, Brizola foi uma importan-te figura política, "não há o quenegar, seja você a favor ou con-tra". Segundo ele a Cadeia daLegalidade de 61 "foi o feito po-lítico que transformou Brizolaem uma liderança nacional”. Omovimento liderado por Brizo-la, a partir de suas proclamaçõesna Rádio Guaíba de Porto Ale-gre, convocou o país a reagircontra o golpe que tentou im-pedir a posse de João Goulart naPresidência da República, apósa renúncia de Jânio Quadros, em25 de agosto de 61.

Personalista e carismáticoBrizola colecionava aliados e ini-migos políticos. Sonhou comum socialismo, feito de liber-

dade e educação para todos, ecom um Estado forte e centra-lizado. Posicionou-se contra-riamente ao regime militar, ba-talhou pela anistia aos exiladospolíticos da ditadura. Teve pa-pel fundamental na luta pelasdiretas-já e em outros embatespor um país mais justo e de fa-to democrático. Por todo estepassado, Brizola cumpriu o seupapel na construção da socie-dade brasileira.

Quase um comíssioJosé Maria Rabêlo, jornalis-

ta e companheiro de Brizoladesde 1958, conta que em 1964Brizola esteve em Belo Hori-zonte para realizar um Comícioda Frente Parlamentar Nacio-nalista, que seria realizado naSecretaria de Estado da Saúde,onde é hoje o Minascentro. Se-gundo o jornalista, a direita co-meçou a ocupar o auditório dasecretaria desde as 5 horas datarde, 3 horas antes do início docomício. A esquerda indignadacom a postura de seus oposito-res decidiu tomar o palco e deuinício a um conflito que ficouconhecido como "a noite das ca-deiradas". Com o pretexto deacabar com o episódio de pan-cadaria a polícia invadiu o au-ditório e utilizou gases para dis-persar a multidão que se en-contrava no local. Brizola dis-cursou nas escadarias. Rabeloafirma que Brizola era um "umhomem incorruptível, destemi-do e com grande visão políti-ca." Qualidades que segundoele "distinguem Brizola damaioria dos políticos brasilei-ros".

Para José Maria Rabelo, a im-prensa mineira deveria, com amorte do político, ter retomadotoda a longa história que ele vi-veu entre a política e o Estado.“Acho que a mídia não cumpriuseu papel na cobertura da mor-te de Brizola”, reclama o amigo.

"Novas ilhas, novos rios,

novos vulcões fazem de

[ nosso continente

uma nova geografia.

Queremos, nova

[ agricultura,

outras forças juvenis,

uma sociedade mais

[ pura,

novos protagonistas da

[ história que está

[ nascendo

e que temos o dever de

[ construir.

Quem pode estar contra

[ a nova vida?

Celebramos a chegada

[ de Brizola no cenário

[ da América

como uma deslumbrante

[ aparição de nossas

[ esperanças.

Estamos cansados da

[ rotina de miséria,

de ignorância, de

[ injustiça econômica:

abramos o caminho

[ àqueles que encaram

[hoje

a possível construção do

[ futuro."

Pablo Neruda

Sua primeira atuação na po-lítica nacional foi aos 23 anos,em 1945, no então fundadoPartido Trabalhista Brasileiro,seguindo os passos de GetúlioVargas. Tinha orgulho de suasraízes populares e, durante auniversidade de engenharia, eraavesso ao discurso elitista damaioria dos alunos.

Em 1954 foi eleito deputa-do federal pelo PTB gaúcho. Em55, se tornou prefeito de Porto

Alegre e em 1958 iniciou seumandato como governador doRio Grande do Sul. Sua trajetó-ria, desde este início até o fim,foi marcada por coragem e ra-dicalismo.

Já no Rio de Janeiro comodeputado federal, em 1964, te-ve Carlos Lacerda como seu ri-val político, mas perdeu para osmilitares e foi cassado. Foi exi-lado e voltou ao Brasil em 1979fundando do Partido Demo-

crático Trabalhista (PDT). Go-vernou o Rio duas vezes e per-deus outras duas as eleições pa-ra presidente.

Nos últimos dez anos, seupartido perdeu força na esquer-da nacional. Sua última atuação,além de presidente do PDT, foia ferrenha oposição ao atual pre-sidente e ao Partido dos Traba-lhadores, sendo citado comofonte no escândalo publicadono New York Times sobre Lula.

PPP beneficia setores

Segundo Jô Moraes, o projeto de Minas tem o caráter de beneficiar as empresas privadas

Mariana Alves e Guillermo Tangari

4º período

Para tentar reverter o quadrode colapso do Estado, o gover-no federal elaborou o Projeto deLei de Parceria Público-Privado(PPP), que está em tramitaçãono Senado. A expectativa é quese aprovado, contará com umaverba de cerca de R$36 bilhõesde reais. O projeto trata-se desubstituir o investimento pú-blico para o setor privado.

Para o deputado estadual doPT, Chico Simões, a parceria re-trata a situação em que o gover-no federal se encontra, devido àlógica neoliberal implanta nos úl-timos governos. “O Estado estána falência, fruto dessa políticaimplementada, principalmente,no fim da década de 80 e inícioda de 90”. Ele ressalta que o pro-jeto beneficiará o setor privadoe não a sociedade civil. “O quemove a iniciativa privada é o lu-cro. Jamais ela irá participar dequalquer parceria se não tiver umretorno garantido”, completa.

InvestimentosO projeto já foi aprovado pe-

lo Congresso Nacional, e espe-ra a votação no Senado Federal.Para o governo as parcerias pú-blico-privado permitem váriasoportunidades de investimen-tos, suprindo demandas de áreascomo segurança pública e infra-estrutura. A perspectiva é colo-car o setor público e o setor pri-vado mais eficientes, buscandomelhores resultados e reduçãodos prazos de execução.

Para o economista Fernan-do Nogueira, a solução não es-tá no PPP, e sim na reestrutura-ção dos autos juros, que preju-dicam o crescimento do país.“Acredito que a parceria não se-ja a melhor saída principal-mente porque ela vem do pen-samento liberal,mas devido àconjuntura atual é aceitável.”

Para Chico Simões, com aimplantação das parcerias o Es-tado acaba perdendo o seu sig-nificado. “Desde Fernando Col-lor o conceito de Estado mudouaqui no Brasil trazendo o polí-tica de diminuí-lo. Chegandoao ponto de ridicularizar asações do Estado para ganhar aopinião pública” diz.

Minas x BrasilSegundo a Deputada Esta-

dual Jô Moraes (PCdoB), as par-cerias refletem a derrota da po-lítica neoliberal já que o setorprivado não se interessa por es-te projeto e atenta para as dife-renças do aprovado em Minase o que está em tramitação noSenado. “O projeto que o Aécioapresentou tinha um caráter debeneficiar as empresas em de-trimento do Estado, o que nãoacontece com o projeto nacio-nal que estabelece critérios pa-ra o privado”.

Um dos aspectos do PPPno Brasil é que os procedi-mentos de contratação devemrespeitar a Lei de Responsabi-lidade Fiscal, e garantir que ospagamentos sejam criados pormeio de fundos específicos deativos públicos, geridos pelosetor privado.

Resultado não é igual em todos os paísesO modelo de Parceria Pú-

blico-Privado já foi adotado porvários países tendo a Inglaterracomo pioneira. A experiênciainternacional conta com um his-tórico de mais de uma década.A criação do PPP em países co-mo Portugal, Holanda, África doSul, Canadá, e ainda em paísesda América Latina, o México eChile, teve diferentes resultados.

O governo português se as-sociou a empreendedores priva-dos para a exportação de rodo-vias e lhes garantiu retorno mí-nimo da receita dos pedágios.Com a garantia, os projetos fo-ram superdimensionados, pre-vendo um tráfego que só ocor-rerá a longo prazo. Em conse-qüência, o Estado deverá de-

sembolsar recursos não previs-tos no Orçamento, com o pre-juízo de outros serviços que de-verá prestar à população. Comas notícias trazidas de Portugal,setores do governo federal, acon-selharam a reestruturação do pro-jeto. Para a deputada estadual JôMoraes (PCdoB), o Estado temque garantir o controle sobre osetor privado. “É preciso estabe-lecer critérios na implatação doPPP para que o Estado não fiquena mão da iniciativa privada”.

O governo inglês, em2001havia assumido compromissosda ordem de 100 bilhões de li-bras em contratos de PPP comvencimentos até 2026. O com-promisso decorreu de utilidadesjá consumidas ou recursos já des-

pendidos. Mas as obrigações con-tratuais que se tornaram devidasna medida em que os serviçoscontratados junto à iniciativa pri-vada sejam entregues deverãoobedecer a parâmetros de quali-dade acordados. Para o advoga-do, especialista em experiênciainternacional, Antônio CorrêaMeyer, “essa característica da PPPprivilegia a eficiência, pois só ha-verá desembolso do estado me-diante contrapartidas previa-mente definidas.” Já para a JôMoraes essa política neoliberalestabelece uma relação prejudi-cial para o Estado. “Esta lógicade parcerias, não é interessantepara o Estado nem para a inicia-tiva privada, que só a fará em re-tornos à curto prazo”.

Minas é pioneirade implantação doprojeto no Brasil

O governo mineiro anun-ciou em dezembro de 2003 umconjunto de medidas que de-ram início à implementação daPrograma de Parceria Público-Privada (PPP) no Estado. O go-vernador Aécio Neves sancio-nou a lei que institui o PPP eautoriza a constituição do Fun-do de Capitalização do progra-ma criando a Companhia deDesenvolvimento de Minas Ge-rais (Codemig). O orçamentoinicial para o projeto é de R$ 70milhões referentes a capitaliza-ção de 1,5 bilhões de ações pre-ferenciais da Companhia Ener-gética de Minas Gerais, Cemig.

O programa possibilita con-tratos de colaboração entre o Es-tado e iniciativa privada, no qualo setor produtivo participa daimplantação e desenvolvimentode obras, serviços ou empreen-dimentos públicos, bem como aexploração e gestão de ativida-des geradas pelos investimentos.

O governo vai buscar apoioda iniciativa privada para cincoprojetos prioritários definidoscomo a construção de seis pe-nitenciárias, obras de sanea-mento básico nas regiões de me-nor IDH (Índice de Desenvol-vimento Humano), recupera-ção da infra-estrutura da MG-050, construção do Centro Ad-ministrativo do governo e docampus Universidade Estadual(Uemg) em Belo Horizonte.

Divulgação

Político carismático, Leonel Brizola lutou desde 1945 por socialismo e igualdade no Brasil

59 anos de atuação política

03 - Política -Patrícia 7/2/04 12:00 PM Page 1

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O PONTOBelo Horizonte – Julho/Agosto/2004

Editor e diagramador da página: Rafael Werkema

4 CIDADE

VISUALPOLUIÇÃO

“Áreas públicas, cyberespaçoe todos os tipos de espaçosestão cada vez maissobrecarregados deinformação. Tal informaçãonão está, necessariamente,fazendo seu trabalho decomunicar, e de fato podeestar fazendo exatamente ooposto. Alguns lugares nouniverso urbano setornaram cidades repletas deluzes, anúncios e letreirosque ofuscam e nocyberespaço deparamo-noscom um piscar mareante deimagens, efeitos emensagens. A tecnologiatornou estas mensagens maisfáceis de produzir, mas nãonecessariamente maiscomunicativas. É necessárioincorporar boas técnicas decomunicação, começandopor entender a hierarquia damensagem no contexto geraldo projeto. Comunicação setorna poluição quandomensagens críticas sãoobliteradas através devolume, quando existe tantainformação que o receptor jánão vê nada. Se você querque as pessoas recebam umamensagem, oferecer umaavalanche de informaçãonão é o caminho, porque seelas são inundadas commuitas mensagens podemacabar não captandonenhuma delas.”

Propaganda agressiva: ruas de Belo Horizonte repletas de placas e faixas, descaracterizando a capital

Publicidade irregular desrespeita construções tradicionais de Belo Horizonte e agride os olhos dos cidadãos

Arquivo O Ponto

Arquivo O Ponto

Texto da diretora de marketing Roseane Severo,retirado no site www.htmistaff.org/artigos/178.pbp

04 e 05 - Cidade - Werkema 7/2/04 11:59 AM Page 1

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O PONTOBelo Horizonte – Julho/Agosto/2004

Editor e diagramador da página: Rafael Werkema

CIDADE 5

CEGUEIRA

Bárbara Albuquerque, Renata Quintão e Thiago Lemos6º período

As palavras de Roseane Severo abrem espaço para a discus-são sobre um problema que atinge Belo Horizonte e outras ci-dades do país: a poluição visual. Os belorizontinos que passampor avenidas como Raja Gabáglia, Pedro II, Afonso Pena e Ama-zonas se deparam diariamente com uma propaganda irregularque torna ainda mais caótica a poluição visual da cidade. “Man-ter a cidade limpa”: essa é uma frase muito falada pelas autori-dades. Mas a falta de iniciativa do poder público é tão visívelquanto o problema. Quando três secretarias públicas se mos-tram despreparadas para assistir e fiscalizar o que é “visual”,comprova o que a cegueira autoritária não quer ver. As secre-tarias de Meio Ambiente, Regulação Urbana e Atividades Ur-banas se perdem em meio à desorganização e à falta de infor-mação sobre a questão. A palavra lixo se torna muito amplaquando consideramos os problemas de poluição dos centrosurbanos. E a poluição visual talvez seja uma das maiores difi-culdades enfrentadas nas cidades. Ganha-se em excesso de in-formação e perde-se em conhecimento real. O grande númerode cartazes e propagandas acaba por interferir no entendimen-to da informação, além de ser uma invasão à privacidade do ci-dadão. Os problemas causados à comunidade pela poluição vi-sual ficam claros, mas fica a dúvida se as autoridades respon-sáveis conseguem enxergar isso.

A Secretaria de Serviços Urbanos possui, desde 1977, um se-tor para tratar da elaboração de um código de posturas. Segun-do Marieta Cardoso, integrante do Conselho Municipal de MeioAmbiente (Comam), existiam decretos sobre a questão imobiliá-ria, passeios e edificações, contudo, não adiantava nada ter a le-gislação de uma norma se não havia fiscalização. O órgão públi-co responsável pela fiscalização é a Prefeitura Municipal de BeloHorizonte (PBH). Segundo Marieta, a Câmara Municipal sim-plesmente legisla, e a prefeitura é responsável pela implantaçãodessa lei. E isso não ocorre como deveria. Com o crescimentocontínuo e descontrolado da cidade, a PBH não manteve recur-sos para controlar a questão visual da cidade da forma como erafeita em 1977. “É preciso criar um órgão responsável pela fisca-lização para que o código de posturas, que foi regulamentado emjulho do ano passado, seja cumprido”, afirma. O novo código deposturas reportou antigos decretos e elaborou outros novos pa-ra que houvesse uma adequação às mudanças sociais de Belo Ho-rizonte. Essas mudanças e a evolução geográfica acarretam dife-rentes mudanças na estrutura da cidade. “A prefeitura precisaevoluir junto com esse processo”, alerta.

Para Marieta, uma das alternativas possíveis para a soluçãodesse problema seria a democratização da legislação. “A po-pulação não tem conhecimento nem do problema da poluiçãoquanto mais da solução”. Uma alternativa para o problema se-ria a divulgação do código de posturas em escolas, universi-dades, veículos de comunicação e associação de bairros. Masa questão atual é a de que acesso das leis é restrito a quem àsfaz. Marieta Cardoso acredita que, se a questão da poluição vi-sual seguisse o exemplo da divulgação do programa de meioambiente, o assunto, com certeza, cairia nas mãos e consciên-cia do próprio cidadão, que é o mais eficiente fiscalizador da

cidade. O órgão responsável pela fiscalização dentro da Pre-feitura é a Secretaria de Atividades Urbanas. Mas faltam ini-ciativas para cuidar de um problema grave, totalmente igno-rado pelas autoridades.

As leis federais, estaduais e municipais sobre os temas, mes-mo sem acompanhar o crescimento da cidade, são claras, po-rém as irregularidades são comuns e o poder público não temestrutura para resolver o problema. Não existe controle efeti-vo sobre propagandas irregulares e sons prejudiciais ao meioambiente. Leonardo Castriota, ex-presidente do Instituto dosArquitetos do Brasil (IAB) conta que, antes do código de pos-turas, as legislações sobre a poluição visual ficavam perdidasdentro das diversas leis e decretos que deveriam ser executa-dos pela prefeitura, mas não foram. Agora que o código foi re-gulamentado, a questão continua encoberta. Mas Leonardoacredita que a população poderia ajudar a colocar em práticaa fiscalização e estimular a “limpeza visual” dos centros urba-nos. “A população não cuida do espaço que usufrui pelo sim-ples fato de não ser motivada e penalizada pela infração quecomete todos os dias nos espaços públicos. É necessário umprograma de conscientização para que o próprio cidadão aju-de a prefeitura na fiscalização”, afirma. Um bom exemplo éCuritiba, onde foi desenvolvido um projeto de revitalizaçãodo patrimônio, no qual a prefeitura isentava os comerciantesque cumprissem o projeto e penalizava aqueles que não o fi-zessem. Leonardo diz ainda que “Ética é um exercício diário,se todos os dias a população fosse educada para não poluir, aincidência de um simples papel no chão reduziria considera-velmente. Já foi provado que quando o espaço é bem conser-vado o indivíduo se sente constrangido em sujar e poluir es-se espaço”, conta. A estação de metrô de Belo Horizonte é umaboa demonstração disso. Como o espaço é bem conservado,o usuário mantém a limpeza e conservação das estações. Se-gundo Leonardo, isso refuta a idéia de que as classes média ebaixa são as que menos se preocupam com a estética urbana.É necessário que a prefeitura desenvolva um projeto de revi-talização no centro de BH, mostrando que a melhor propa-ganda é a conservação do espaço de vendas. “É preciso mos-trar a população quão bonito é o centro da cidade e que, sebem conservado e bem tratado, será a própria propaganda docomércio central”, finaliza.

A discussão da fiscalização sobre a poluição visual é polê-mica e obscura. Segundo o gerente da Secretaria de Fiscaliza-ção Urbana da Regional Sul, Willian Rodrigues, a real fiscaliza-ção é feita pelas denúncias. Só com a ajuda do cidadão pode ha-ver uma solução. A pessoa que quiser denunciar qualquer tipode poluição deve entrar em contato com a regional referente aseu bairro. Em abril, foram registradas 262 denúncias em todasas regionais. Só na região centro-sul foram 56 denúncias. Maso maior problema, segundo Willian, é que não existe um con-trole específico da poluição visual, pelo menos enquanto me-didas não forem tomadas.

É justamente essa falta de medidas que torna o problema ain-da mais grave. Como não existe uma entidade definida comoresponsável pelo problema, a situação perde o controle. A pre-feitura não assume a responsabilidade da falta de organização e,como os outros órgãos, “empurra o problema com a barriga”.

Na Lei Orgânica de Belo Horizonte não existe referência so-bre a questão da poluição visual. Há apenas a lei 4253 de de-zembro de 1985, decreto nº 5893 de julho de 1988, que pos-sui os artigos nº 75 e 76 que compreendem a questão da po-luição visual. Acontece que nada é feito e, como o Comam é umórgão deliberativo, só libera licenciamentos para projetos am-bientais. Nada se faz para sanar o problema. Por isso, em 2003,foi criado o código de posturas. Nesse código constam váriasnormas para solucionar a poluição visual, só que, mais uma vez,não há fiscalização. Com isso, o problema acumula. Ninguémse responsabiliza e a questão é repassada de secretaria em se-cretaria, buscando um suposto responsável. A dificuldade emtornar possível uma estrutura que funcione faz com que os cen-tros urbanos se tornem verdadeiros “lixões visuais”.

A regulamentação do Código de Posturas de nada adiantou.Sérgio Olímpio, gerente da empresa Cor & Arte Propagandas,admite conhecer a lei, mas nunca foi informado nem notificadopela fiscalização da Secretaria de Fiscalização de sua regional.Sérgio afirma que apesar dos seus clientes saberem sobre a pos-

sibilidade de multas, não deixam de fazer publicidade irregular.“Na avenida Pedro II, nos finais de semana, costuma se obser-var um número exagerado de faixas de uma mesma empresa atra-vessadas de um canto ao outro da rua. Atrapalha até a sinaliza-ção de trânsito. Mas acho que não deveriam existir multas, poisgeralmente não existe fiscalização adequada”, relata.

O comerciante Adriano Ângelo, proprietário do restauranteMineiro Grill, diz que as propagandas não atrapalham o espaçopúblico. “Era melhor se pudesse colocar em qualquer lugar, masa prefeitura não deixa. As faixas deixam o lugar mais bonito, maiscolorido. O problema é que a própria prefeitura não cumpre alei, a BHtrans coloca cartazes em qualquer lugar”, indigna-se.

A falta de informação com relação às leis é a principal aliadada poluição visual. A prefeitura de Belo Horizonte deveria desen-volver um projeto de conscientização para que a própria popula-ção possa ajudar a combater todo tipo de poluição. Se nem mes-mo a prefeitura se organiza e divulga as chamadas “leis”, como éque a população poderá cumpri-la? Mais uma vez a falta fiscali-zação e organização são os pecados de uma administração falha.

“É necessário um programa deconscientização para que ocidadão ajude a prefeitura nafiscalização”

Leonardo Castriota, ex-presidente do Instituto dos Arquitetos

do Brasil (IAB)

“É preciso criar um órgãoresponsável pela fiscalização paraque o código de posturas, que foiregulamentado em julho do anopassado, seja cumprido”

Marieta Cardoso, integrante do Conselho Municipal do Meio

Ambiente (Comam)

Ignorância e descasoagravam o problema

Artigo 75 - Compete à Secretaria Municipal deMeio Ambiente julgar casos de situações exis-tentes e sobre a conveniência de implantação dequalquer obra, equipamento ou atividade que ve-nha a causar uma intrusão visual significativa,capaz de agredir a estética urbana, inclusive asagressões ao vernáculo, causar poluição visualou interferir em monumentos históricos e na qua-lidade de vida dos cidadãos.

Artigo 76 - Todo e qualquer plano de interven-ção urbana para disciplinar a colocação de veí-culos de divulgação de anúncios ao público de-verá ser submetido à aprovação do COMAM.”

LegislaçãoVisual

Daniel Gomes

Daniel Gomes

PÚBLICA

04 e 05 - Cidade - Werkema 7/2/04 11:59 AM Page 2

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O PONTOBelo Horizonte – Julho/Agosto/2004

Editor e diagramador da página: Daniel Gomes

6 CIDADE

Aumento da frota de veículos em Belo Horizonte dificulta organização e controle do tráfego

Escassez de vagas gera desconfortoMariana Hilbert

5º período

Mais de 792 mil veículos cir-cularam mensalmente por BeloHorizonte no ano de 2003. Em2002, foram cerca de 751 milveículos. Dados como este, dosetor de estatística do Departa-mento de Trânsito de Minas Ge-rais (Detran-MG), revelam queo aumento gradativo de veícu-los e, conseqüentemente, decondutores, faz com que o sis-tema de trânsito da capital fiquecada vez mais caótico e dificul-te a organização e controle doslocais de estacionamento nasprincipais vias públicas.

Uma das categorias que maisconvivem com essa dificuldadeé a dos taxistas. Humberto Pra-do, que trabalha há 21 anos noramo em Belo Horizonte, diz quetodas as vias da capital ficam su-perlotadas em determinados pe-ríodos do dia. Ele enfatiza aindaque o local onde encontra maisproblemas para estacionar é aavenida Afonso Pena. Já PauloLoureiro Juliano, taxista, acredi-ta que a solução para esse pro-blema seria o uso de transportesalternativos como forma de de-sobstruir as vias de maior circu-lação de veículos. “As pessoas de-veriam usar mais o metrô, o ôni-bus e o táxi. Só assim o proble-ma de estacionamento seria so-lucionado em BH”, afirma.

Uma das formas para atenuaro problema de escassez de vagas,utilizada em Belo Horizonte é ouso do sistema de estaciona-mento rotativo. De acordo coma supervisora de apoio gerencialdo departamento de estaciona-mento rotativo da BHTrans, Sil-vana Barcelos Guimarães, o sis-

tema de talões só é implantadonas vias onde a demanda é maiorque a oferta de vagas, tais comoas regiões hospitalares, centro eda Assembléia Legislativa e osbairros, Savassi, São Pedro, Fun-cionários, Barro Preto, Barreiro,Mangabeiras, Floresta, Barroca eVenda Nova. “As regiões de co-mércio, hospitalares ou de ban-cos sempre são as mais movi-mentadas e o rotativo é um pe-dido da comunidade”, explica.

A implantação do rotativo éfeita através de estudos dos há-bitos de trânsito nas vias da ci-dade. Segundo Silvana, “as re-giões com alto índice de não-cumprimento das regras detrânsito passam a ser controla-das pelo sistema rotativo. As ir-regularidades mais comuns sãoa fila dupla, parada em pontode ônibus ou locais de estacio-namento proibido”.

Para a supervisora daBHTrans, o sistema melhora con-sideravelmente a oferta de vagas,mas ainda existe um alto índicede infrações porque muitos mo-toristas arriscam e não colocamo talão. Outro problema aponta-do por Silvana é a atuação dosflanelinhas. “Eles não contribueme muitas vezes incentivam os mo-toristas a não colocar o talão. Aprefeitura tem um sistema devenda de talões mais baratos pa-ra os guardadores para que elespossam revender por um preçomais justo, mas eles continuama cobrar um preço abusivo”.

Situação se agrava a ca-da ano

Além da grande dificuldadede encontrar vagas no centro deBelo Horizonte, o cidadão ain-da tem de arcar com o aumen-

to indiscriminado da frota deveículos na capital mineira.

Segundo o Relatório Con-solidado da Pesquisa Origem eDestino 2001/2002, divulgadono mês de junho pela Funda-ção João Pinheiro, de 1991 a2002, a taxa de crescimento dafrota de carros de Belo Hori-zonte foi 4,16% ao ano. Já o au-mento da população em si foide apenas 1,07%.

Para agravar ainda mais a si-tuação, de acordo com o relató-rio, o belo-horizontino está an-dando mais de carro. O índicedo uso de automóveis comomeio de deslocamento aumen-tou 7,4%, enquanto o aumentodo uso dos transportes coletivoscomo o ônibus e o metrô foi de3,9% e 4,1% respectivamente.

O relatório mostra que BeloHorizonte abriga hoje uma fro-ta de 751.085 carros. Há umamédia de três habitantes por veí-culo, já que a cidade conta comuma população de 2,27 milhões.

Para o engenheiro de trans-portes da BHTrans, João Erna-ni Antunes, o resultado do re-latório mostrou que as condi-ções para uma saturação do trá-fego na região metropolitana deBelo Horizonte tendem a seagravar em poucos anos. “A sa-turação também gera poluição,aumento de acidentes, desper-dício de tempo e combustível,sem contar o estresse causadopelo trânsito”, alerta.

Segundo Antunes, as pre-feituras da Grande BH precisamdar continuidade aos projetosde implantação de rede inte-grada de transporte com prio-ridade ao uso do ônibus.Issopode contribuir para que o pro-blema seja solucionado.

Relação carro/vaga no hipercentro de BH

Fonte: FJP e BHTRANS

Crescimento da frota de veículos (1991-2002)

Frota de veículos na capital (2002)

Quarteirões regulamentados

Vagas físicas

Vagas rotativas

Rotatividade média (veículo/vaga)

Taxa de ocupação média

4.16%/ano

751.085

473

12.459

67.721

3,5 (Abril/04)

50,9% (abril/04)

Privativos lucram com vagas

Flanelinhas fazem curso paratrabalharem em Belo Horizonte

As atividades de lavador eguardador de carros são regu-lamentadas no município des-de 1994. De acordo com o idea-lizador do projeto de creden-ciamento desta categoria em Be-lo Horizonte, Raul Guilherme,hoje são quase 1.500 trabalha-dores cadastrados.

A capacitação é feita em par-ceria com o Centro Universitáriode Ciências Gerenciais (UNA),através de um curso realizado acada três meses, no qual os alu-nos recebem noções de aborda-gem e ética, cidadania, relaçõeshumanas, direitos do consumi-dor, noções dos códigos civil epenal e das leis de trânsito.

Raul Guilherme enfatiza quea prefeitura não se responsabi-

liza por qualquer dano causa-do por aqueles credenciadosnesse projeto e não estipula ovalor a ser cobrado. “A PBHapenas se responsabiliza pelo li-cenciamento. Os possíveis da-nos causados a um veículo sãoresponsabilidade dos flaneli-nhas”

Outro aspecto enfatizadopelo curso é o fato de o paga-mento ser opcional. O advoga-do Marcos Lorenço explica que“o flanelinha não pode exigirqualquer tipo de pagamento. Is-so é considerado crime de ex-torsão com uma pena de qua-tro à dez anos de prisão e mul-ta”, alerta.

Na opinião do professor Jo-sé Márcio Ribeiro, o projeto de

credenciamento elaborado pe-la prefeitura não é eficaz e ape-nas reafirma a situação atual. “Asociedade não precisa da figu-ra do guardador de carros por-que para suprir a segurança dasvias públicas existe a polícia. Aatividade de flanelinha não de-veria existir e na minha opiniãoa prefeitura apenas oficializouum problema”, constata.

Claudinei Alves, flanelinhacredenciado, acha que a ativi-dade é importante. “Além de to-mar conta dos carros nós evita-mos que os motoristas sejammultados. No curso de capaci-tação da prefeitura nós apren-demos as regras de trânsito e,na rua, sabemos orientar as pes-soas”, defende.

O grande número de veícu-los que circulam por Belo Hori-zonte contribui para o aumentodo uso de estacionamentos-ga-ragem. Os principais motivos pa-ra o uso desses estacionamentossão a escassez de vagas no hiper-centro e a falta de segurança nasvias públicas. Apesar de ser umaalternativa cada vez mais utili-zada, o preço cobrado nestes lo-cais é considerado abusivo.

A supervisora de apoio ge-rencial do departamento de es-tacionamento rotativo daBHTrans, Silvana Barcelos Gui-marães, afirma que “a vantagemdo talão de rotativo é que a pes-soa pode ficar uma, duas oucinco horas e o preço é o mes-mo, diferente dos estaciona-mentos-garagem, que cobrampela hora fracionada”. Para ten-tar minimizar esse problema, a

BHTrans faz uma pesquisa en-tre esses estacionamentos paraencontrar o preço mais justo pa-ra o consumidor.

O advogado Marcos Loren-ço Capanema alerta para o fatode que não existe nenhuma leique regulamente um preço má-ximo a ser cobrado pelos esta-cionamentos. Para ele os preçossão abusivos. “O consumidordeve pagar somente por aquiloque ele usa. Com o sistema dehora fracionada isso não ocor-re”, explica Lorenço.

De acordo com WellingtonSilva, funcionário de um esta-cionamento-garagem na ruaAlagoas, no bairro Savassi, osusuários questionam o preçocobrado mas mesmo cobrandotaxas altas, os estacionamentosda capital estão sempre cheios.Segundo Wellington, cerca de

300 veículos utilizam diaria-mente o estacionamento emque ele trabalha.

A estudante Bárbara Campo-lina Carvalho Silva diz que nãotinha o costume de utilizar esta-cionamentos-garagem, mas mu-dou o hábito depois de ter seucarro arrombado na rua Ubera-ba. “Depois de ter meu carro ar-rombado fiquei preocupada coma segurança. No final das contaso preço pago nestes estaciona-mentos vale a pena”, defende.

Para o professor de admi-nistração, José Márcio Ribeiro,a maior dificuldade é encontrarestacionamento e sentir-se se-guro com o carro na rua. “Op-tei por utilizar os estaciona-mentos pagos por causa da di-ficuldade de encontrar vagas eda insegurança de deixar o veí-culo em via pública”, lamenta.

Coletivos são criticados“Outra forma de desconges-

tionar as ruas é estimular o usodo transporte público e apostarno aperfeiçoamento e manu-tenção das frotas”. Esta é a opi-nião da supervisora da BHTrans,Silvana Barcelos. “Acabamos decolocar 200 ônibus novos nasruas, o que colabora com a di-minuição do tempo das viagense faz com que as pessoas deixemos carros em casa e utilizem otransporte coletivo”, esclarece.

O Sistema de TransporteColetivo conduz diariamenteum milhão e 400 mil usuáriospor ônibus em BH. A estruturaenvolve 300 linhas controladaspor 50 empresas, que operamuma frota de 2.874 mil veícu-los com idade média de cincoanos e oito meses.

Apesar do grande número deveículos para atender a popula-

ção, falta eficiência. A diarista Ma-ria Margareth Gomes, que nãopossui carro e tem que ir do cen-tro à Nova Contagem, se queixaprincipalmente da conservaçãoe pontualidade dos carros. “Amaioria dos ônibus que pego es-tá com problemas de conserva-ção. Se não bastasse isso, aindatenho que esperar horas no pon-to. Isto é um absurdo, inclusiveporque muitas pessoas como eudependem do ônibus”.

A fisioterapeuta Sandra Ma-ra Paim também reclama dotransporte público da capital,mas acredita que a melhor for-ma de ir ao centro é de ônibus.“Sempre que tenho que ir aocentro, opto por deixar o carroem casa e uso o ônibus. Alémde achar dificuldade para esta-cionar acho as ruas perigosasdemais para parar o carro”.

Um recurso utilizado para amanutenção contínua da frotasão as vistorias feitas em todosos veículos. As principais fon-tes de financiamento para essaoperação são a tarifa do trans-porte coletivo, que cobre 99,8%dos custos, e a cessão de espa-ços para veiculação de propa-gandas nos ônibus, responsávelpelos outros 0,2%.

Já o serviço de táxi conta commais de seis mil veículos, quetransportam diariamente 120 milpassageiros, enquanto o metrôatende 108 mil pessoas. Além de-les, o belo-horizontino dispõe dotransporte suplementar. Das 38linhas existentes, 27 estão emoperação com uma frota de 239veículos. Elas ligam bairros sempassar pelo centro da cidade,cumprindo horários e itineráriosestabelecidos pela Prefeitura.

Aumento da frota de carros na capital agrava o problema da escassez de vagas

Arquivo O Ponto

Arquivo O Ponto

Flanelinhas credenciados são uma segurança para os motoristas que param nas ruas

06 - Cidade - Daniel 7/2/04 12:02 PM Page 1

Page 7: Jornal O Ponto - julho de 2004

O PONTOBelo Horizonte – Julho/Agosto2004

Editora: Renata Quintão / Diagramador: Flávio Peixe

ECONOMIA 7Domésticos: classe sem direitosMaioria dos empregados do setor tem direitos desrespeitados

Anderson Azevedo, Sônia Bitencourt, Solange Leal6º período

Depois de seis anos de trabalho em uma casa de família, aempregada doméstica identificada pelo nome fictício de Mariaresolveu acionar a justiça para receber os seus direitos. “A mi-nha ex-patroa disse que eu não tinha direito a carteira assina-da. Nunca reclamei, pois tinha medo de perder o meu empre-go”. Quando foi demitida, há três anos, Maria resolveu se in-formar dos seus direitos e descobriu as trapaças da patroa. Ca-sos iguais a esse ainda são realidade e rendem milhares de pro-cessos semanais na justiça do trabalho. Apesar da lei que regu-lamenta a profissão dos empregados domésticas ter entrado emvigor no ano de 1972, ainda hoje ela não é respeitada e conti-nua apenas no papel.

Empregada ou empregado doméstico é todo aquele que pres-ta serviços de natureza contínua e de finalidade não lucrativa àpessoa ou família, que pode ser tanto na residência principal oude lazer, como casa de praia, de campo, sítio, etc. Assim, en-quadram-se também como empregados domésticos os motoris-tas particulares, vigias, caseiros, babás, faxineiras e outros. Se-gundo dados do IBGE, somente no estado de Minas Gerais, ha-via no ano de 2000, cerca de 623 mil pessoas desenvolvendoserviços domésticos.

A luta pelos direitos dos domésticos tem sido árdua e mui-tas vezes ignorada. Com tratamento legal diferenciado do tra-balhador comum, as dúvidas são sempre constantes quando sefaz relação com os direitos previstos na lei 5.859 de 11/12/1972.Segundo o professor de Direito do Trabalho da Universidade Fu-mec e diretor da 27º Vara da Justiça do Trabalho de Minas Ge-rais, Márcio Rocha Branco, esta desigualdade se encerra devidoà proximidade entre o empregador e o empregado, laços de ami-zade e fidelidade. Ele destaca porém, que essa relação está evo-luindo. “A relação entre a família e a empregada doméstica mu-dou no sentido de ser mais profissional. Hoje a pessoa exerce aprofissão não somente como uma válvula de escape para umapessoa não qualificada”.

Os direitos do trabalhador doméstico ainda não podem sercolocados no mesmo patamar dos profissionais comuns, devidoà estrutura da função. Porém uma revisão na lei faz-se necessá-ria. Geralda Lopes de Oliveira, do Movimento de Donas de Ca-sas (MDC), em Belo Horizonte, afirma que a legislação não écompleta. “Há muitos itens que o empregado seletista tem di-reito e que o empregado doméstico não tem. Por exemplo, o aci-dente doméstico”, lamenta. A lei de regulamentação do empre-gado tem pontos incoerentes. Na questão referente à férias, a leiestabelece 20 dias, porém há um adendo que diz que a “Justiçavem entendendo” que o doméstico tem direito a 30 dias. Para odescanso somente é dado um dia de folga, preferencialmente aos

domingos, mas a “Justiça vem entendendo” que o doméstico temdireito a folga nos feriados e dias santos. A Justiça entende e nãoregulamenta pontos que são importantes e já estão sendo colo-cados em prática por alguns empregadores. A questão fica a mer-cê da interpretação do juiz e da tendência da jurisprudência do-minante, caso a empregada entre com um processo contra o pa-trão. De outro modo, não tem direitos.

O professor Márcio Branco acredita, entretanto, que a ten-dência é que haja a equiparação de direitos e que a relação dotrabalhador doméstico vai se aprimorar cada vez mais.

Mas a atual situação desses trabalhadores do lar ainda é maispreocupante, pois os empregadores não cumprem a legislaçãoexistente, que dirá itens facultativos e que não estão normatiza-dos. Hélio Chagas, há 17 anos no setor de recebimento de re-clamações verbais da Justiça do Trabalho de Belo Horizonte con-ta que a maioria das reclamações são oriundas da não assinatu-ra da Consolidação das Leis de Trabalho (CLT). Benefícios co-mo FGTS, concedidos em termos facultativos, podem estar lon-ge de serem cumpridos. Marcio Branco acredita que esses itensvão se tornar obrigatórios. “O 13º (salário) não apareceu de umdia para o outro. Ele era uma faculdade para os empregadores,que teve a necessidade de ser normatizado, porque cada em-pregador estava dando a gratificação de forma diferenciada”, ex-plica o professor.

A convivência da empregada doméstica com a família faz comque exista uma troca afetiva entre empregador e empregado,criando vínculos que fazem com que este último seja tratado co-mo um membro da família. Lucilene Cardoso, 37 anos, trabalhahá dez meses no bairro Santa Lúcia, em Belo Horizonte, e con-ta que tem uma ótima relação com seu patrão.“Quando meu pa-trão viaja a casa fica sob minha responsabilidade. Durante o pe-ríodo em que ele está fora mudo para lá com minha família”.

Antes se de tornar a tia que encantou as crianças com seusprogramas na TV, a apresentadora Tia Dulce também trabalhoucomo empregada doméstica. “Comecei com 12 anos e naquelaépoca era comum meninas pobres trabalharem em casa de fa-mília. Meus patrões eram muito meus amigos. O meu salárioquem recebia era a minha mãe, porém, sempre me davam res-tos de comida para levar para casa”, lembra Dulce, que exerceuessa profissão por três anos.

Agora a situação se inverteu. A ex-apresentadora de TV vi-rou patroa e vê a profissão com seriedade. “Acho a função deempregada doméstica uma das atividades mais bonita que se temna categoria de trabalho. Pois são a elas que entregamos as coi-sas mais importantes da nossas vidas, que é são nossa família enosso lar”. Já a advogada do MDC, Geralda Lopes Oliveira, aler-ta sobre a relação entre patrão e empregados. “Apesar de incen-tivar os laços de amizades é importante que a relação não subs-titua os direitos do trabalhador

Principais direitos do empregado doméstico

•Carteira de trabalho devidamente assinada e anotada desde o primeiro dia de trabalho;

•Salário mensal nunca inferior ao salário mínimo fixado em lei;•Férias a cada 12 meses de serviço, devendo ser concedida nos 12 meses que se seguirem ao vencimento, a critério do empregador;

•Um dia de repouso por semana, depreferência aos domingos;•Décimo terceiro salário (gratificação de natal), a ser pago 50% da remuneração do mês anterior, entre os meses de fevereiro e novembro e o saldo restante até o dia 20 de dezembro;

•Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) opcional - empregador decide.

Segundo a presidente doSindicato dos TrabalhadoresDomésticos de BH, Maria Il-ma Ricardo, o movimento, queé responsável pela lei que re-gulariza a profissão, está sen-do reestruturado. “Por motivode saúde, tive que fechar a suasede. Porém ele nunca parou,pois na minha casa continueiesclarecendo, por telefone, asdúvidas sobre a profissão”, in-forma a presidente.

A idéia de montar o sindi-cato surgiu quando Maria Il-ma, em 1973, participou daterceira edição do Congressode Trabalhadores Domésticos.A aceitação do movimento foigrande e as empregadas do-mésticas passaram a ganhar es-paço na mídia. “Cheguei a par-ticipar por dois anos de umquadro semanal no programa‘O Povo na TV’ produzido pe-la TV Alterosa. Graças a esseprograma conseguimos atingiro interior do estado e abrir as-sociações em várias cidades.Viajávamos para Brasília paralutar pelos nossos direitos”, re-lembra.

Entre as reivindicações dosindicato, estão a obrigatorie-dade do fundo de garantia, oseguro desemprego e a defini-

ção da jornada de trabalho,que atualmente é feita numacordo verbal entre emprega-do e empregador. “A luta égrande e temos que levar emconsideração que as leis sãocriadas pelos nossos patrões.Nossas conquistas contaramcom a participação de todopaís”, ressalta.

ConscientizarSegundo Maria Ilma, o sin-

dicato atualmente trabalha pa-ra conscientizar a doméstica doseu valor como pessoa e profis-sional. “Sofremos discrimina-ção porque somos mulheres edomésticas, muitas vezes porsermos negras e às vezes pormorarmos em uma favela”, la-menta. A conscientização éapontada pelo sindicato comoo primeiro passo para mudaressa realidade.

Segundo o especialista emDireito do Trabalho, MárcioBranco, o direito na justiça dotrabalho em relação ao assédiosexual também está sendo maisexercido. “A conscientização dese fazer exercer seu direito tra-duz um aumento significativodo conhecimento desta falta,porque ela existe e muitas ve-zes não é denunciada”, afirma.

O número de agências deempregos para domésticos temcrescido consideravelmentenos últimos anos em Belo Ho-rizonte. Para atrair a atençãodos empregadores algumasadotam métodos que garantema credibilidade do serviço.

Na agência SOS Patroa &Doméstica, o cuidado com ascandidatas ao emprego é rigo-roso. “Exigimos todos os do-cumentos, checamos as refe-rências e pedimos um atesta-do de antecedentes criminais.No surgimento de qualquerdúvida em relação ao caráterda futura empregada, ela édescartada”, explica a pro-prietária Maria Lúcia Lima.

SeleçãoQuando a agência iniciou

as suas atividades há oito anos,havia um projeto de cursos deespecialização para formaçãodo empregado. “Esse projetonão foi adiante porque as pa-troas não abriam mão das em-pregadas durante o serviço”,justifica a proprietária.

Na seleção de pessoal, acontratante passa as caracte-rísticas da pessoa que procu-ra para o emprego. Através daficha de cadastro é analisado

quem se encaixa nesse requi-sito. “Trabalhar com perfil éperfeito pois a patroa passa oque ela quer e oferecemos pes-soas compatíveis aos interes-ses”, diz Maria Lúcia.

AuxílioO Movimento das Donas

de Casas e Consumidores deMinas Gerais vem realizandouma prestação de serviço in-formando as empregadas do-mésticas mineiras sobre osseus direitos trabalhistas pre-vistos em lei. “Trata-se de umaconsultoria sobre a legislação,com esclarecimento dos direi-tos e deveres do empregado eempregador”, explica SandraMedeiros, diretora adminis-trativa do movimento.

Segundo Geralda LopesOliveira, advogada responsá-vel pelo serviço, o sistema ten-ta melhorar a relação entre am-bas as partes. “A empregadadoméstica é uma pessoa que apatroa deve tratar como ami-ga, pois é muito estreito o re-lacionamento da profissionalcom a família. Com o tempoela toma conhecimento da vi-da dos patrões e vai criandouma ligação que pode até serafetiva”, ressalta.

Sindicato conscientizaclasse de seus direitos

Agências facilitamseleção de pessoal

“As domésticas estãosatisfeitas com aquilo quenão é repeitado e por issonão participam da nossaassociação”

Maria Ilma - presidente do Sindicato dos Emprega-

dos Domésticos

“A função de empregadodoméstico não é somenteuma válvula de escape parauma pessoa nãoqualificada”

Márcio Rocha Azevedo Branco - Professor de Direito

do Trabaho da Universidade Fumec e diretor da 27º

Vara da Justiça do Trabalho de Minas Gerais

“As diaristas se autodiscriminam e não gostamque assinem suas carteirascomo domésticas”

Tia Dulce - ex doméstica

Arte: Marcelo Bruzzi

Anderson Azevedo

Anderson Azevedo

Anderson Azevedo

07 - Economia - Renata Quintão 7/2/04 12:06 PM Page 1

Page 8: Jornal O Ponto - julho de 2004

Daniel Gomes2º Período

Apolícia brasileira é violenta. Esse é umconsenso geral no que diz respeito à se-gurança pública no Brasil. E quando a

polícia age de forma indevida, a primeira ma-nifestação social contra aquele ato parte da mí-dia, em sua função de fiscalizar e denunciar er-ros dos órgãos públicos. A distorção dos fatosatrapalha a credibilidade da polícia. É manchetenos jornais, nas rádios e na TV, o fato de umpolicial ter agredido um infrator, ter matado atiros um traficante ou ter abusado de sua au-toridade em alguma situação. “A mídia buscao pior caso que ela puder encontrar com as pio-res fotos para poder publicar”, diz o sociólogoespecialista em segurança pública e pesquisa-dor da Fundação João Pinheiro, Eduardo Bati-tucci. Mas afinal, quais são as razões para a po-pulação e a própria mídia concluírem que a po-lícia é violenta? E qual o papel desses dois agen-tes na construção de uma polícia mais eficien-te e justa? Na cobertura das violações policiaisde qualquer natureza, a mídia tende a abordarapenas o fato em si, desconsiderando as causase as próprias conseqüências da ação. SegundoBatitucci, “na medida em que a mídia é res-ponsável e contextualiza os problemas com osquais está lidando, ela contribui de uma formamuito clara para poder aumentar a capacidadedo cidadão de pensar os problemas da socie-dade”. O sociólogo afirma que a polícia faz oque a sociedade quer que ela faça. “A genteacha muito ruím que a polícia seja violenta, masa gente acha muito bom que ela proteja de for-ma violenta a nossa propriedade”, diz.

A tenente e psicóloga da Polícia Militar de

Mi-nas Gerais, Paola Lopes,ressalta a incoerência dasociedade brasileira. “Ela pedeque a polícia seja violenta na prote-ção de seus bens, mas quando a mesmaage com violência contra o vizinho, o parente,ela toma outra posição”, acusa. De acordo comFrederico Marinho, pesquisador do Centro deEstudos de Criminalidade e Segurança Públi-ca (Crisp), existe uma pressão por parte da opi-nião pública e da mídia no sentido de acharque o crime deve ser combatido de forma vio-lenta. “Quando a mídia enfoca a polícia ou ocrime, ela é sempre muito pontual, é o homi-cídio que aconteceu ontem”, salienta.

Batitucci acredita que o comportamento damídia tende a criar um consenso. “Ou a pessoafica a favor da polícia, pois acha que ela deveser violenta mesmo, ou fica a favor de quem éreprimido por ela. Isso cria uma visão na qualnão existe meio termo e não permite chegar auma conclusão para que aquilo mude”.

O sociólogo diz que o policial que mata du-rante uma ação não é o profissional especiali-zado para ações mais enérgicas. “Esse policialtem um preparo diferenciado do policial co-mum que está ali para ser visto, para pro-mover uma segurança subjetiva. É o cha-mado policiamento preventivo ou osten-sivo”, revela. Segundo a tenente Lopes, “opessoal especializado do GATE (Grupode Ações Táticas Especiais), da Rotam (Ro-ta Ostensiva Municipal), tem uma açãomais enérgica. Deles se exige essa postu-ra”, afirma. A responsável pela Delegaciade Mulheres de Belo Horizonte, delegadaJoana Margareth, acredita que o uso daviolência e da tortura físicae psicológica é desneces-sária na apuração de cri-mes. “Há diversos poli-ciais que investigam crimescom uma té

c-nica

apu-rada sem

ter que usarda violência”,

avalia.As condi-

ções de trabalhodo policial brasi-

leiro geram insatisa-fações tanto na popula-

ção que os olham como in-cacitados no combate ao crime;

quanto para o segmento que embate em grevese manifestações por melhores condições de tra-balho e salários. Um dos parâmetros mais uti-lizados para comparação são as polícias dos paí-ses de primeiro mundo. No entanto, esse tipode comparação, se não identifica o problema,o piora ainda mais. Eduardo Batitucci crê quenão se pode comparar. “Não se pode comparara polícia americana com a brasileira. Os con-textos, as formas de trabalhar, os valores da so-ciedade, tudo é completamente diferente”, res-salta. “Claro que existem casos de abuso de po-der, de violência, mas a cada dia as polícias fi-cam mais violentas porque a sociedade fica maisviolenta e exige o mesmo da polícia”. Uma coi-sa alimenta a outra”, conclui.

O sociólogo afirma que o oficial americanomorreria em três dias trabalhando no Brasil. “O

treinamento do policial ameri-cano não é adequado para o

contexto da nossasociedade”, ressal-ta. Segundo ele,um policial ame-ricano em iníciode carreira ganhaem torno de R$10mil por mês. Paraos padrões ameri-canos, não é umbom salário mas opolicial pode vivercom o mínimo de

conforto. “Já no Brasil, é impossívelviver com conforto com R$1200, e é is-

so o que ganha um soldado da polí-cia com 10 anos de corporação”, de-

nuncia.A situação do policial se complica quando

é obrigado a se instalar com sua família nomeio de uma favela e, portanto, ao lado do tra-ficante a quem ele combate. “Se ele prende otraficante durante o dia, a noite sua esposa e fi-lhos estão mortos”, explica Batitucci. “O poli-cial é esperado nas esquinas por pessoas quequerem se vingar dele. Eles precisam morarbem até por uma questão de segurança”, re-clama a delegada Joana Margareth.

O sociólogo Batitucci destaca a importân-cia do profissional da polícia na sociedade e oquanto ele é desvalorizado. “O policial é umapessoa autorizada a fazer uso legítimo da vio-lência, então ele precisa ter tranqüilidade parafazer isso”, diz. Segundo a delegada Joana Mar-gareth, “se você dá poder para uma pessoa de-sestruturada, isso pode gerar graves conse-qüências”. Ela afirma que o policial deveria serafastado do serviço mais freqüentemente paraaliviar o estresse da profissão. Segundo ela, osmaus salários e moradias não justificam a faltade profissionalismo, mas devem ser pensadosmeios de mudar isso.

A psicóloga da PMMG, Paola Lopes, revelaque “nós temos problemas dentro da polícia,como alcoolismo e o próprio estresse, que é in-trínseco à profissão. Então temos de acompa-nhar para prevenir desvios”, completa.

A delegada Joana Margareth afirma que co-nhece policiais que tomam remédios controla-dos, fazem terapia por conta própria, mas con-tinuam trabalhando porque têm que sobrevi-ver. “Eles tinham de ser avaliados e, enquantonão tivessem estrutura para voltarem às ruas,não o fariam”, sugere. Frederico Marinho, pes-quisador do Crisp, crê que exista uma pressãodentro das instituições para a prevenção e re-solução dos crimes. “Esse é o trabalho da polí-cia, complexo e difícil de avaliar. Um erro dapolícia é muito mais sério do que o de outroprofissional qualquer. Os eventos onde a polí-cia foi o agente da violência têm um impactonegativo forte na população”, revela.

Para a tenente Lopes, é um erro pensar queo responsável pela segurança pública é apenasa PM, ou o sistema de segurança pública comoum todo. “Pelo contrário, a sociedade tem quesair desse lugar e estabelecer parcerias”, argu-menta. Os Conselhos de Segurança Pública(Conseps), são criados em bairros ou regionaise, junto da PM, fazem reuniões e direcionam otrabalho da polícia. “É esse o caminho para queas parcerias dêem certo”, afirma.

O Belo Horizonte

Editora e diagramadora da pág

8 ESPECIAL

Ação asseguA sociedade exige segurança e ações maisenérgicas no combate ao crime; ao mesmotempo condena o uso da força e da violênciada polícia mostrada pela mídia. Qual oequilíbrio dessa ações na atividade policial?

População tem medo da políciaO Centro de Estudos de Criminalidade e

Segurança Pública da UFMG (Crisp) realizouo primeiro estudo de vitimização na capital mi-neira no ano de 2002. O estudo consiste emtraduzir os crimes que não recebem ocorrên-cias policial, a chamada “cifra negra”. A pes-quisa é feita em diversos países europeus, alémdos Estados Unidos e Canadá.

Segundo o pesquisador do Crisp, Frederi-co Marinho, há uma diferença entre a taxa devitimização e a taxa oficial de crimes. “Inva-riavelmente, a primeira será maior do que a se-gunda em qualquer lugar do mundo”, afirma.A primeira pesquisa de vitimização de Belo Ho-rizonte aponta uma diferença grande entre ataxa de vitimização e a taxa de crimes oficiais.“Essa é uma forma de avaliar a polícia”, se-gundo Marinho. “Se a razão entre uma taxa eoutra é muito maior do que o padrão encon-trado em outros países, significa que o de-sempenho da polícia é insuficiente”, conclui.

Salvo casos como agressões domésticas ou navizinhança, que são resolvidos sem interven-ção externa, o que se conclui é que a popula-ção não confia plenamente na polícia e acabanão reportando o crime ou a agressão. “Noquestionário perguntamos se a pessoa foi víti-ma de agressão ou extorção por parte da polí-cia”, explica o pesquisador. Segundo Marinho,essas pesquisas feitas com a população sobreo desempenho da polícia, geralmente apon-tam para a insatisfação com o trabalho de se-gurança pública. As avaliações das polícias Ci-vil e Militar são separadas e as respostas indi-cam um despreparo das polícias.

Ao se fazer uma análise dos crimes em Mi-nas Gerais, percebe-se que os crimes violen-tos estão aumentando. De acordo com Mari-nho, “isso implica necessariamente que as es-tratégias adotadas pelas instituições de segu-rança pública são, em alguma medida, inefi-cazes”, revela. “A legitimidade das institui-

ções de segurança pública junto à populaçãonão é alta. As pessoas se sentem inseguras”,completa Marinho.

Marinho acredita que para se construir umapolítica de controle do crime, mais importan-te do que ter recursos é fazer um diagnóstico.Para isso, o Crisp oferece cursos para profis-sionais da área de segurança, como o de Ana-lista de Crimes. Com um diagnóstico precisoatravés de análise de dados disponíveis, é maisfácil abordar o problema. “No curso, oferece-mos ferramentas para o policial trabalhar comas informações que as próprias organizaçõesproduzem”, conta. Segundo o pesquisador, ocurso já foi dado no Mato Grosso, no Rio Gran-de do Sul, em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Marinho revela que Belo Horizonte está di-vidida em três setores: bairros, favelas e fave-las violentas, onde a incidência de crimes émaior. Segundo ele, o crescimento da taxa decrimes se restringe a algumas áreas da capital.

“Algumas áreas da capital, que tem um perfilmuito específico, que é o homem, jovem, declasses D e E, estão sujeitas a uma taxa muitomais elevada de crimes do que a da Colômbia,por exemplo”, compara. De posse de dados co-mo esse, um bom analista pode encontrar so-luções mais eficazes e duradouras.

O Crisp atua também na análise do bancode dados da Ouvidoria. “O relatório da anali-se não está pronto, em linhas gerais, faz umaanálise do perfil do policial agressor, a nature-za da agressão, o percentual de casos encami-nhados para o Ministério Público e casos ar-quivados”, relata o pesquisador. Para marinho,o sistema prisional brasileiro é fálido. “De umaforma geral existe uma cultura de que a pu-nição tem de acontecer antes mesmo da pessoaser condenada ou chegar na penitenciária”. Se-gundo ele, nas pesquisas de opinião é fácil per-ceber que a sociedade aprova a pena de mortee o trabalho braçal na prisão.

08 e 09 - Especial - Sinária 7/2/04 12:42 PM Page 1

Page 9: Jornal O Ponto - julho de 2004

PONTO– Julho/Agosto/2004

gina: Sinária Ferreira / Fotos: Maria Fiuza

ESPECIAL 9

ra proteção?União das políciasCivil e Militar

Daniel Simão e Sérgio NicácioPeríodo

Situações como a ocorrida em Belo Horizon-te, quando tropas do exército a pedido do gover-nador Aécio Neves começaram a patrulhar as ruasda capital mineira, tem sido um tanto quanto ra-ras, desde a queda do regime militar nos anos 80.Policiais militares, civis, e parte dos bombeiros eagentes penitenciários de Minas paralisaram suasatividades no início de junho deste ano, insatis-feitos com o aumento dos salários de 6% fixadopelo governo mineiro para as categorias. Em 1997quando cabos e soldados de baixa patente se re-voltaram contra um reajuste concedido apenaspara os oficiais pelo então governador EduardoAzeredo, cerca de 87% das incursões militares sejustificavam na necessidade de conter ou de pe-lo menos acalmar sublevações violentas. De acor-do com dados do Departamento de Assuntos Cul-turais do Exército (DAC), nunca foram constata-das intervenções como as ocorridas em Minas vi-sando a manutenção da ordem pública, devido afalta de policiamento adequado decorrente de gre-ve, que durou até meados de junho de 2004. Pes-quisa feita no ano de 2002 pelo mesmo órgão, jáapontava para a diversificação das formas de uti-lização do exército em todo o Brasil.

Os acontecimentos em Minas Gerais, pare-cem ter gerado uma nova concepção de utiliza-ção do exército. O Brigadeiro aposentado, Geor-ge Almeida Magalhães, participante da segundaguerra mundial, afirma que nunca imaginou vero exército agindo de forma tão diferenciada co-mo tem visto ultimamente. “Na minha épocao exército aplicava a ordem e a lei de outraforma. Não se via militares circulando emcidades por falta de policiamento”. Para oex-comandante da marinha Ernesto Vin-gues Marques, não se pode permitir que oexército seja utilizado como mero instru-mento político, sendo convocado para fazero papel que não é dele por incompetência dosgovernos. “Não se pode utilizar o exército pa-ra encobrir lacunas políticas”, afirma. No en-tanto o Senado, durante a intervenção em BeloHorizonte aprovou o projeto de lei que garante

a participação do Exército, Marinha e Aeronáu-tica na defesa da segurança pública e no comba-te ao crime organizado. O ministro da defesa, Jo-sé Viegas, afirma que o projeto não concede aoexército poder de polícia. “Não é verdade que oexército disponha de poder de polícia em áreasurbanas. Isso não está contemplado no projeto”.O comandante do Exército, general Francisco Al-buquerque, destacou a importância da nova leie acentuou que ‘‘ela dá o suporte legal necessá-rio para que as forças possam cumprir sua mis-são constitucional’’.

A decisão do legislativo, explicitou a incapa-cidade dos governos federais de conterem a cres-cente onda de violência observada nos últimosanos. Segundo dados do Instituto Nacional deCriminalidade, ações criminosas têm se tornadocada vez mais freqüentes nas grandes capitais etem se espalhado para o interior. Em São Pauloo índice de criminalidade subiu 7% no períodode janeiro de 2002 a março de 2004, número pa-recido com os coletados em Porto Alegre e Sal-vador, que tiveram a violência aumentada em 5e 6% respectivamente . A cidade do Rio de Ja-neiro teve o maior aumento 8,5%.

Outra questão reside no fato de que a dispo-nibilização de contingente militar para ações decombate ao crime nos estados, pode dificultarainda mais as negociações históricas envolvendopolicias e governos. Isso porque as reivindica-ções salariais e melhoria nas condições detrabalho são

pautas policiais. De acordo com o cabo da PMMG,Júlio César a situação está se tornando insusten-tável para o policial. “Policial tem filho para criare família para cuidar, e corre risco de vida o tem-po todo”, afirma. Discutível ou não, exemplos deintervenção militar como a ocorrida em Minaspode dar novos rumos à política nacional contraa violência. Para Júlio César, independentemen-te da questão salarial o auxílio no combate ao cri-me pelo exército sempre será bem vindo. “Quan-to mais gente, melhor”, conclui.

Segundo, o Instituto Mineiro de Dados 42%dos mineiros concordam com a atuação das tro-pas militares e julgam que elas são necessáriaspara manutenção da ordem, em virtude da gre-ve das polícias. Os outros 58% acham, no en-tanto, que o desembarque de tropas no estado édesnecessário, e que isso de alguma forma, de-monstra a incapacidade do governo de impedirque situações como a atual falta de segurança pú-blica, chegue a extremos. Para Carlos BonidesLacerda, ex-comandante do exército região su-deste, os governos sabendo da existência do exér-cito, muitas vezes não se esforçam para resolveresse tipo de questão. “Não adianta questionar ouso do exército nessas situações, mas a posturados governos”, afirma.

Daniel Gomes2º Período

A integração entre as polícias Civil e Mi-litar, a exemplo do que ocorre em vários paí-ses, teoricamente poderia facilitar a resoluçãoe prevenção de crimes nas grandes capitais.A PM tem cerca de 40 mil e a PC cerca de 10mil homens no Estado. Entretanto, profis-sionais das polícias e especialistas são contraa idéia de junção das duas forças.

A delegada Joana Margareth não acha quea união seja possível pois a PM é uma políciaostensiva e a PC é uma polícia científica. “APM tem sua distinção Militar. A PC não, elatrabalha em silêncio. Acho difícil haver umajunção das duas pela disparidade no coman-do”, diz. A delegada afirma que um grande pas-so foi dado pela união do Centro de Informa-ções da PM e o Centro de Processamento daPC. Dessa forma, as informações são cruzadasrapidamente. De acordo com Frederico Mari-nho, pesquisador do Crisp, “a comunicação, ainteligência das polícias, quem trabalha comanálise de dados tem de trocar informações”.A psicóloga da PMMG, Paola Lopes, acreditaque as polícias estão caminhando muito bem.“Acho que a criação da Secretaria de DefesaSocial foi uma boa medida e ela consegue jun-tar os esforços de uma forma eficiente”. Se-gundo ela, na Academia de Polícia, é promo-vido um treinamento integrado entre cada ba-talhão e sua respectiva seccional da PC. “Sa-bemos que isso é um grão de areia, mas o pri-meiro passo é a integração”, esclarece.

O sociólogo Eduardo Batitucci aponta o ca-minho: “O que tem de ser feito é integrar ope-racionalmente as duas organizações e apararas arestas que elas têm. Onde começa uma eacaba a outra. O conflito entre as duas se en-contra aí”. Para ele, as polícias podem funcio-nar de forma independente. “Quando há se-guimento da ação da PM, essa ação vai desa-guar na PC”. Para ele o erro da sociedade é en-xergar apenas as polícias. “A polícia faz parte

da estratégia do Estado para controlar ocrime”, conclui.

Daniel Gomes2º Período

O oficial da Polícia Militar, ao sair da Academiatem graduação que equivale a um curso superior.A formação dura quatro anos, o que inclui um anode estágio monitorado. Segundo a tenente e psi-cóloga da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG),Paola Lopes uma das responsáveis pela formaçãodos policiais que vão às ruas, o Ministério da Jus-tiça elaborou um documento que norteia todas aspolícias no que diz respeito às suas bases curricu-lares. “As bases são comuns e o que permeia essasbases, orientando a formação, são os direitos hu-manos e a polícia comunitária,” afirma.

Segundo a tenente, o maior público das aca-demias é jovens entre 20 e 25 anos. Ela afirma queos policiais veteranos por ter experiência de práti-ca podem ser um empecilho na formação dos maisnovos. “O contato do aspirante com os veteranosfaz com que eles se desviem um pouco de sua for-mação acadêmica, mas acredito que essa nova for-ma de fazer polícia está sendo disseminada por no-vos oficiais, que tem uma cabeça nova”, avalia. Se-gundo a tenente, pessoas com um nível sócio-eco-nômico e cultural mais elevado estão procurandoas corporações militares, o que torna a preparaçãomais eficiente. “Mais de 50% dos novos alunos queentraram na academia já passaram pela faculdadee alguns têm até pós-graduação”. A psicóloga acre-dita que isso se deve ao mercado de trabalho satu-rado e à estabilidade que o emprego garante.

Em2003,uma comis-são mapeouas competên-cias da PM -conhecimento,habilidade e ati-tude. Segundo atenente Lopes, omapeamento mos-trou que o profissionaldeve saber conversar eter um forte poder de ar-gumentação. “Ele vai ad-ministrar conflitos o tem-po todo. Em ocasiões espe-cíficas, ele vai fazer o uso daforça e das armas, mas tudodentro do contexto dos direi-tos humanos”. A psicóloga afir-ma que o currículo policial estásendo direcionado com base nomapeamento para indicar a boaformação do profissional. “Ele nãopode querer fazer justiça com aspróprias mãos. O policial, quan-do não está preparado se vê emuma situação crítica, faz uso da for-ça. Acredito que se ele estiver se-guro e for bom profissional, nãovai ter esse descontrole”, conclui.

Nova formação dosprofissionais da PMMG

Aécio Neves recorre à força doExército para patrulhar a capital

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O PONTOBelo Horizonte – Julho/Agosto/2004

Editor e diagramador da página: Rodrigo Fuscaldi

10 ESPORTESEuropa se rende aos jogadores brasileirosNa última temporada, brasileiros conquistam títulos nos principais campeonatos europeus

João Paulo da Pieve e Vinícius Almeida

4º período

A última temporada do fu-tebol europeu teve como des-taque grandes craques brasilei-ros, tanto nos campeonatos na-cionais, quanto nas principaiscopas européias.

Os maiores campeonatosnacionais da Europa foram con-quistados por times que conta-ram com jogadores “brazucas”em seus elencos. Na Itália, o Mi-lan sagrou-se campeão comKaká, Serginho, Dida e Cafu.Na Espanha, o Valência venceucom o futebol de Fábio Aurélioe Ricardo Oliveira. Na Alema-nha, o Weber Bremen, do arti-lheiro Aílton, conquistou o tí-tulo. Na Campeonato Francês,o Lyon, de Cláudio Caçapa, Ju-ninho Pernambucano e SonyAnderson, chegou na frente.

A Copa dos Campeões, con-siderado o torneio mais impor-tante do continente, foi venci-do pelo Porto, de Portugal, quetem quatro jogadores brasilei-ros em seu elenco, Derlei, Ma-ciel, Carlos Alberto e Deco. Oúltimo, inclusive, foi conside-rado o melhor jogador da com-petição e já está nas cogitaçõesdo Chelsea, da Inglaterra.

Não é de hoje que brasilei-ros vêm alcançando o sucessono velho mundo. Na década de90, nada mais nada menos quetrês atletas ganharam o título demelhor jogador do mundo, emeleição feita pela Fifa. Coinci-dentemente, os três vencerama eleição quando atuavam peloBarcelona, da Espanha. Romá-rio conquistou em 94, Rivaldoem 99 e Ronaldo em 96 e 97.

O fenômeno, como é co-nhecido Ronaldo, voltou a re-ceber o prêmio em 2002, quan-do atuava pelo Real Madri e sesagrou campeão Mundial e ar-tilheiro daquela Copa pela Se-leção Brasileira. Além do mais,

foi o único jogador mundial areceber a honra três vezes.

Esse ano, dois atletas con-quistaram um maior prestígioainda encantando toda Europacom seus gols e dribles descon-certantes. Já são, inclusive, osfavoritos a receber o prêmio daFifa em 2004. São eles, Ronal-dinho Gaúcho, do Barcelona, eKaká, do Milan, que durante aúltima temporada européia, sur-preenderam todo o mundo suasjogadas desconcertantes.

Para Douglas Vieira, estu-dante de jornalismo, esse su-cesso deve-se à estrutura en-contrada nos clubes, além dossalários em dia e uma maiorobediência tática. “Os jogado-res chegam lá, treinam e jogamem campos maravilhosos, rece-bem em dia, recebem atençãomuito especial no clube, tendoum melhor rendimento dentrode campo”, analisa Douglas.

Já para o jornalista AndréKfouri, o calendário ajuda mui-to, além dos brasileiros real-mente serem os melhores domundo: “Lá se joga apenas umavez por semana e os jogadoresbrasileiros, sendo bem prepa-rados como são, ganhando mas-sa muscular, explosão, não tempra ninguém. Nós somos osmelhores do mundo”, afirma.

Mesmo com toda estruturae todo dinheiro que o futeboleuropeu oferece, alguns brasi-leiros não se adaptam. Às ve-zes,o motivo á o clima, a culi-nária, a dificuldade de se co-municar ou, até mesmo, a sau-dade de amigos e familiares.“Mesmo com todos os fatores afavor, alguns não se adaptampor vários motivos.

Grandes jogadores comgrande potencial não alcança-ram o sucesso na Europa. Alexé um grande exemplo, já queteve uma passagem ruim na Itá-lia, voltou ao Brasil e foi o me-lhor jogador do ano de 2003”,relata André Kfouri. Alex se transferiu para o futebol da Turquia, depois de ter sido o melhor jogador do ano de 2003, pelo Cruzeiro

Empresaspatrocinamcraques da bola

Além dos salários exor-bitantes, alguns jogadores defutebol, quando estão de fol-ga, “mudam” de profissão eassumem um cargo que, apouco tempo, não se imagi-nava que fossem assumir.

Os craques que estão emevidência no cenário mun-dial do futebol são os novosgarotos propaganda dasgrandes empresas, princi-palmente, de material es-portivo.

A maior fornecedora dematerial esportivo do mun-do, a Nike, investe muito empublicidade e aposta nosgrandes craques do futebol,como Ronaldinho Gaúcho,Roberto Carlos, Totti e Figo,para gravar seus comerciaiscom a idéia de que os me-lhores usam a melhor mar-ca.

Já a Adidas aposta emKaká e Zidane. Mas essescraques não “vendem” ape-nas material esportivo. Suaimagem é utilizada em co-merciais de refrigerantes, ce-lulares e, também, no mun-do da moda.

O último catálogo da gri-fe “Dolce & Gabbana”, umadas marcas de alta-costuramais famosas do mundo, te-ve, ao invés de modelos, jo-gadores de futebol como vi-trine. Os brasileiros Cafu,Adriano e Kaká, ao lado dositalianos Vieri e Canavarro,foram as estrelas.

Antônio Carvalhaes

Perdidos no anonimatoCada vez mais cedo, joga-

dores brasileiros saem do paísprecocemente para jogar fora.Esse mercado de jogadores,que antes se concentrava nosprincipais países da Europa, seexpandiu. Países de menor ex-pressão no futebol, como Ja-pão, Arábia Saudita, Suécia eRússia contratam craques dofutebol brasileiro.

Alguns são levados aindaantes de chegar à idade de pro-fissional. Tanto que foi criadauma lei, que impede que o jo-vem saia do país antes de com-pletar 18 anos.

De acordo com o site daConfederação Brasileira de Fu-tebol, CBF, desde junho de2003 até agora, 27 jogadoresforam negociados com exte-rior, sendo que 19 deles emtimes de países pouco tradi-cionais no futebol. São os ca-sos do meia Theco, ex-Coriti-ba, que atua na Arábia Saudi-ta; do atacante Marques, ex-Atlético-MG, atualmente no Ja-pão, além do lateral esquerdoKleber e do meia Souza, quejogam na Rússia.

Esses jogadores são sedu-zidos pelas enormes ofertas sa-lariais oferecidas com a opor-tunidade de se estabelecer fi-nanceiramente, mesmo que aconsequência seja sumir damídia brasileira e mundial.

O especialista e estudiosodo futebol, Marcelo TadeuFreitas, discorda de negocia-ções precoces de jogadorescom times desconhecidos:“Muitos desses jogadores quevão embora tem qualidade pa-ra chegar até à Seleção, mas se

“escondem” nesses times e nãosão observados. É muito difí-cil de obter muitas informa-ções sobre esses jogadores”,afirma Tadeu.

A maioria das pessoas quevivem dentro do futebol tem aopinião de que os jogadoresque se aventuram nesses paí-ses sem tradição no futebol es-tão em busca de um paraíso.Entretanto, a decepção é qua-se certa, já que a promessa deum boa vida e boas condiçõesde trabalho quase nunca é ver-dadeiramente cumprida.

O caso do zagueiro Cris,ex-jogador do Cruzeiro, é umótimo exemplo. O atleta que,recentemente, se transferiu pa-ra o longínquo futebol daUcrânia, foi atraído pela ótimaproposta financeira.

O próprio Cris já teve umapassagem pela Europa. Há al-guns anos, o jogador se trans-feriu do Cruzeiro para o BayerLeverkussen, da Alemanha. Apossibilidade de uma grandecarreira no continente europeunão se concretizou devido àfalta de adaptação do atleta.

O clima, a distância da fa-mília e dos amigos, além dafalta da mídia do futebol, sãoos maiores fatores de desis-tência.

Essas negociações são faci-litadas pela má fase financeiraque se encontram os clubesbrasileiros. Basta o jogador sedestacar em uma temporadapara ser negociado.

Nos dias atuais, os jogado-res não são mais um patrimô-nio do clube e sim uma moe-da de troca.

Rodrigo Fuscaldi6º período

O ano de 2003 marcou orecorde de exportação de jo-gadores de futebol brasileiroschamados "clandestinos".

De acordo com documen-tos do Departamento de Re-gistro e Transferência da CBF,363 jogadores sem registro naentidade deixaram o país paraatuar no exterior.

Apesar de atuarem de for-ma lícita nos países onde es-tão radicados, os jogadores defutebol recebem o rótulo de"clandestinos" pelofato de as transferên-cias terem sido con-cretizadas, inicial-mente, sem o conhe-cimento da CBF, queage como um cartó-rio do futebol brasi-leiro.

O número é qua-se a metade ao de jo-gadores oficialmente transferi-dos para o exterior em 2003,736. Este grupo é formado poratletas que já eram reconheci-dos pela CBF antes de saíremdo território brasileiro.

Os "clandestinos" revelamuma outra realidade do futebolnacional. A maioria dos atletasatuava no país no futebol devárzea, à margem do registroformal.

A CBF só consegue identi-ficar os atletas de futebol noexterior porque seus clubesprocuram registrá-los no Bra-sil depois de contratá-los.

Desde 1998, a CBF faz

anualmente um censo dos jo-gadores "clandestinos". Naépoca, 253 atletas sem registrona entidade foram atuar no ex-terior. Nos dois anos seguin-tes, 312 jogadores "clandesti-nos" embarcaram para a o con-tinente europeu.

A Alemanha foi o destinomais frequente em 2003. Nototal, 91 atletas "clandestinos"deixaram o Brasil para tentar acarreira no exterior em 34 paí-ses. O segundo lugar no ran-king ficou com Portugal, com64 jogadores. O terceiro foi aSuíça, com 60.

Além de países que notada-mente investem em futebol, al-guns atletas "clandestinos" foramatuar em destinos consideradosexóticos para o mundo da bola,como Moçambique e Líbia.

A maioria dos "clandesti-nos" também deixa o paíspara jogar em clubes semexpressão e de paíse de peri-feria no exterior. No caso daAlemanha, quase todos os atle-tas foram jogar em times quedisputam ligas regionais. Osalemães lideram o ranking dos"clandestinos" desde a pri-meira edição do levantamen-to da CBF.

Em 1998, 93 atletas sem re-gistro foram jogar no país. Em1999, foram 88. Em 2000, osalemães contrataram 80 atletas"clandestinos".

No ano passado, os alemãesficaram em terceiro lugar noranking de transferências ofi-ciais da CBF, com 41 jogado-res contratados.

Os salários não são milio-nários, já que a maioria recebecerca de US$ 1.000.

Em 2001, Portugal foi opaís europeu que mais contra-tou atletas brasileiros "oficiais".Os clubes portugueses levaram

171 atletas do Brasilpara jogar no seupaís. O Japão ficouem segundo lugar noranking, com 45 jo-gadores brasileiroscontratados. Portugaltambém ficou emprimeiro no rankingda volta. Ou seja, 64atletas de futebol dei-

xaram o futebol português pa-ra o Brasil. No total, 363 joga-dores fizeram o caminho in-verso em 2003. A Suíça ficouem segundo lugar, 60 jogado-res voltaram de lá.

O chefe do Departamentode Registro e Transferência daCBF, Álvaro Quintino, disseque não existe uma forma deconter esse tipo de transferên-cia. “Os atletas não são fede-rados, não são registrados. Pa-ra a CBF, não estão vivos. Sebem que essa aventura nospaíses europeus nem semprese pode considerar vida”, iro-niza Álvaro.

Clandestinos invadem Europa

“Essa aventura nos paíseseuropeus nem semprepode ser considerada umaexperiência de vida”

Álvaro Quintino

10 - Esportes - Fuscaldi 7/2/04 12:09 PM Page 1

Page 11: Jornal O Ponto - julho de 2004

O PONTOBelo Horizonte – Julho/Agosto/2004

Editor e diagramador da página: Rodrigo Fuscaldi

ESPORTES 11Falta de apoio prejudica esporte adaptadoInvestimentos escassos contribuem para o sucateamento do esporte para deficientes físicos

Daniela Reis e PaulaEmmanuella4º período

A falta de apoio do governoestadual na área esportiva paradeficientes físicos dificulta otreinamento, devido ao preçoelevado dos aparelhos necessá-rios. Segundo o presidente daAssociação do Deficiente deContagem, Maurício Alves Pe-çanha, a falta de investimentodos governos estadual e muni-cipal faz com que seja precisopedir ajuda às empresas priva-das. Entretanto, o patrocínio,assim como em todos os es-portes, é muito difícil.

Chegou a propor às autori-dades na Conferência Nacionaldo Esporte, realizada em Brasí-lia, no último mês de junho,que as entidades que incenti-varem o esporte serão isentasde impostos. Propôs, também,que as entidades do esporteadaptado recebam incentivosdas loterias estaduais e federais.

Segundo a assessora dePlanejamento e Esporte do Es-tado de Minas Gerais, Rose-mary Teixeira, a Secretaria deEsportes disponibiliza, porano, aproximadamente R$ 18milhões para investimentos ematividades esportivas, incluin-do projetos sociais como o “Se-gundo Tempo” e “Curumins”.O problema é que não há re-cursos específicos destinadosao esporte adaptado, o quepiora a situação.

Giovani Eustáquio, que te-ve as pernas amputadas quan-do criança, pratica o basqueteespecializado. Ele afirma que,mesmo adorando o esporte, asituação está caótica. A ativi-dade, segundo Giovani, ne-cessita de um maior investi-mento, devido aos altos cus-tos de equipamentos, cadeirasde rodas, profissionais e infra-estrutura.

De acordo com o Censo2000, realizado pelo InstitutoBrasileiro de Geografia e Esta-tística (IBGE), o Brasil possuicerca de 24,5 milhões de defi-cientes físicos, ou seja, a cada100 brasileiros, 14 possuem al-gum tipo de deficiência (ce-gueira, paralisia cerebral, sur-dez, dentre outros). Apesar denão haver dados oficiais, esti-mativas feitas por entidades li-gadas ao deficiente afirmam queapenas 10% têm acesso ao es-porte adaptado.

O número de atletas é tãopequeno que associações bus-cam recursos, divulgações eapoios para melhoria dos cen-tros adaptados, para contribuirna evolução dos atletas e do es-porte. Um exemplo disso é achegada do vôlei adaptado emcadeiras de rodas à MinasGerais, experiência que erarealizada apenas no Rio de Ja-neiro. “ O esporte mudou mi-nha vida tanto na parte física e,principalmente, na psicológica,pois me ajudou a reintegrar nasociedade”, afirmou Giovani.

Segundo fontes do IBGE, oesporte adaptado surgiu comatividades competitivas paraportadores de deficiência audi-tiva. Entretanto, só no final daSegunda Guerra Mundial ofi-cializou-se o esporte para defi-cientes físicos, devido as muti-lações e amputações sofridas pe-los soldados.

O esporte chegou ao Brasilem 1958, com a fundação declubes no Rio de Janeiro e emSão Paulo. Atualmente, estima-se que apenas 10% dos porta-dores de deficiências físicaspratiquem esporte.

As modalidades como atle-tismo, arco e flecha, basquete,bocha, ciclismo, futebol e hi-pismo não são convencionais,embora exista uma preocupa-ção dos professores e técnicospara que o esporte não seja des-caracterizado, visando sempreo bem-estar do esportista.

A prática do esporte adap-tado desenvolve em seus por-tadores a independência, a au-to-estima. Revela, ainda, po-tencialidades e limitações, me-lhora a força e a resistência mus-cular, aprimora a coordenaçãomotora, previne deficiênciassecundárias, além de contribiuircom a socialização com outrosgrupos esportivos.

Esporte é a saídapara deficientesfísicos

A Associação Mineira de Deficientes Físicos incentiva a prática do esporte adaptado

Renata Quintão

Desprestígio é a marca datradicional Copa América

Bernardo Macedo e Rafael Francisco

4º período

A Copa América 2004, quevai ser disputada no Peru do dia6 ao 25 de julho, está sendobastante questionada. O inte-resse mercadológico da com-petição desperta desconfiançaem torcedores e na imprensa.

A Copa vai ser disputadaquase simultaneamente com aseliminatórias. Com isso, a co-missão técnica da Seleção Bra-sileira decidiu dar um descan-so para os principais atletas dotime, que já estavam desgasta-dos devido à forte temporadaeuropéia que enfrentaram. Asausências de Cafu, Roberto Car-los, Ronaldo, Kaká e Ronaldi-nho Gaúcho confirmam que atradicional Copa América já nãoseduz tanto os brasileiros.

O desprestígio das grandesseleções sul-americanas em re-lação à Copa América abre umadiscussão sobre a necessidadede se disputar essa competiçãoa cada dois anos. O interessedos patrocinadores parece falarmais alto e a disputa aconte-cendo nesse curto intervalo detempo acaba desgastando a suaimagem e sua qualidade. Assimcomo o Brasil, a Argentina tam-bém não contará com todas assuas estrelas. A disputa daOlimpíada de Atenas deve serpriorizada e alguns jogadoresimportantes no cenário de fu-tebol devem ficar em repouso.

À partir de 1987, a CopaAmérica passou a ser disputa-da a cada 2 anos. As edições an-teriores aconteciam de 4 em 4anos, como a Copa do Mundo.A 42ª edição da Copa, queacontece esse ano, será sediadapelo Peru. Para muitos especia-listas, a antiga fórmula deixavaa competição mais disputada evalorizada. Muitas opiniões seformam ao redor dessa questãoe algumas hipóteses acabamsendo levantadas.

As emissoras de TV e os pa-trocinadores parecem se apro-veitar da precária situação fi-nanceira do futebol sul-ameri-cano e dominam o calendáriodo continente. Seleções de pe-so, como o Brasil e a Argentina,tem a maioria de seus jogado-res atuando na Europa, onde atemporada terminou recente-mente. O período de férias des-ses atletas é prejudicado em de-corrência da Copa América.Além disso, a disputa por umavaga nas Eliminatória da Copado Mundo de 2006 está em ple-no andamento.

A inconveniência que umtorneio como esse causa paraesse países acaba deixando acompetição com caráter de umtorneio “caça-níquel”, como sediz na gíria do futebol. O jor-nalista Alberto Rodrigues já co-briu a Copa América e revela osmotivos da disputa estar tãodesmotivada: “As confederaçõesde futebol têm um claro inte-resse financeiro na promoçãoda Copa América. As emissorasde TV têm o poder de definiraté os horários dos jogos, por-que no final das contas, são elase os patrocinadores que pro-porcionam a receita do cam-peonato”, conta o radialista.

O lateral Dedê, do BorussiaDortmund, está de férias em Be-lo Horizonte e conta que algunsjogadores que querem con-quistar seu espaço abririam mãodas férias para servir à Seleção:“O Brasil tem muitos jogadoresem condições de jogar na Sele-ção e, como titulares não esta-rão presentes, os convocadostentarão agarrar essa chance pa-ra não sair mais”, conta o ex-jo-gador do Atlético.

O aposentado Carlos Silva,torcedor brasileiro, esteve pre-sente na edição de 1989, quefoi disputada no Brasil, e disseque a Copa América deveria sermais organizada. Ele lembra quepara as Seleções mais fracas adisputa sul-americana é a chan-

ce de conquista de títulos: “Al-gumas Seleções evoluíram mui-to, como é o caso da Venezue-la. Como esses times têm mui-tos jogadores jovens, a CopaAmérica serve como uma chan-ce de ganhar experiência”, dis-se o torcedor.

A Confederação Brasileirade Futebol, CBF, não se pro-nuncia sobre o assuntos econfirma a participação do Bra-sil. A Copa América 2004 serádisputada por 12 países: Peru,Colômbia, Venezuela, Bolívia,Argentina, Uruguai, México,Equador, Brasil, Paraguai, Cos-ta Rica e Chile.

GoleadasA Copa América sempre foi

marcada pela rivalidade entreos países sul-americanos.Apesar dessa característica dedisputa, a Copa América játeve grandes goleadas. O ra-dialista Alberto Rodrigues fezquestão de ressaltar a goleadado Brasil sobre a Costa Rica,em 1977: “Ronaldinho e Ro-mário formavam o ataque des-sa Seleção e, nesse ano, o Bra-sil levou o título”, relembra olocutor. A Seleção Brasileiravenceu por 5 a 0.

As grandes goleadas da Co-pa América foram as seguintes:1º) Argentina 12 x 0 Equador(Uruguai, 1942)2º) Argentina 11 x 0 Venezue-la (Argentina, 1975)3º) Brasil 10 x 1 Bolívia (Brasil,1949)4º) Uruguai 9 x 0 Bolívia (Pe-ru, 1927)5º) Brasil 9 x 0 Colômbia (Pe-ru, 1957)6º) Argentina 9 x 1 Colômbia(Chile, 1945)7º) Brasil 9 x 1 Equador (Bra-sil, 1949)8º) Brasil 9 x 2 Equador (Chi-le, 1945)9º) Argentina 8 x 0 Paraguai(Chile, 1926)10º) Brasil 8 x 1 Bolívia (Peru,1956)

Seleção Brasileirabusca sexto título

Frederico Cadar e Vinícius Azevedo

4º período

Entre os dias 6 e 25 de ju-lho será disputada a 41ª edi-ção da Copa América. O Peruserá o país sede do campeo-nato, que vai contar com a par-ticipação de 12 países da Amé-rica Latina. Na 1ª fase, os paí-ses latino-americanos se divi-dirão em três chaves, com qua-tro seleções em cada, classifi-cando- se os dois primeiros decada grupo e os dois melhoresterceiros colocados. Na 2ªfase, se enfrentam num siste-ma de mata-mata, de onde sai-rá o campeão do torneio.

Argentina e Uruguai, com14 títulos cada, são os maio-res vencedores do principaltorneio das Américas. O Bra-sil, com seis conquistas, Para-guai e Peru, com dois troféuscada um, Bolívia e Colômbia,com um título cada, são os ou-tros ganhadores da competi-ção.Em 1975, a competiçãoconhecida como CampeonatoSul-Americano de Seleções,passou a ser chamado oficial-mente de Copa América.

Em 1987, a competiçãopassou a ser disputada a cadadois anos. Na edição de 1989,o anfitrião Brasil quebrou umjejum de 40 anos, e ficou como título. No Chile, em 1991, aArgentina venceu o Brasil econquistou o seu 13º título dacompetição. Em 1993, a CopaAmérica ganhou mais doisconvidados por edição, visan-do ampliar a disputa para aAmérica Latina. México e Es-tados Unidos, da Concacaf, en-traram na disputa. Neste mes-mo ano, o México, calouro nacompetição, chegou à final,mas acaba sendo derrotado pe-la forte Seleção da Argentina,então bicampeã.

Nos anos seguintes, Japão,Honduras e Costa Rica foramalgumas seleções convidadas

pela Conmebol. Em 1995, oUruguai, atuando em casa,venceu o Brasil na final e con-quistou seu 14º título e seigualou à Argentina em nú-mero de conquistas. Na Bolí-via, em 1997, o Brasil venceuos donos da casa na final e sa-grou-se campeão da CopaAmérica daquele ano. Em1999, no Paraguai, a SeleçãoBrasileira derrotou os uru-guaios na decisão e conquis-tou o bicampeonato e o 6º tí-tulo da sua história na com-petição. Já em 2001, atuandoem casa, a Colômbia venceu oMéxico na final e conquistouseu 1º título na Copa Améri-ca. Os mexicanos, juntamen-te com a Seleção da Costa Ri-ca, representarão o futebol daAmérica Central, nesta ediçãoda Copa América.

Lima, Trujillo, Chiclayo,Piura, Tacna e Arequipa são ascidades que receberão os jo-gos da competição. A finalacontecerá no dia 25 de julho,na capital Lima. A Seleção Bra-sileira, na 1ª fase, ficará hos-pedada em Arequipa, cidadehá 2.335 metros de altitude.Juntam-se ao Brasil na chaveC, Paraguai, Chile e Costa Ri-ca. O Brasil, juntamente coma Argentina, são os principaisfavoritos ao título.

O Peru, que atua em casa,juntamente com Colômbia,Venezuela e Bolívia, que fazemboas campanhas nas elimina-tórias, correm por fora. Alémdeles, os mexicanos, que sem-pre se apresentam bem nacompetição, também têmchance. O Uruguai, que fazpéssima campanha nas elimi-natórias sul-americanas e pas-sa por uma crise, provavel-mente deve apenas ser um dosfigurantes da competição, jun-tamente com Costa Rica, Co-lômbia, Equador e Bolivia. Se-rá mais uma edição, onde to-da a tradição do futebol dasAméricas entrará em campo.

Regulamento dacompetiçãoajuda pequenos

Confira o confrontos en-tre as Seleções, pela primei-ra fase da Copa América:

1 ª fase:

Grupo A:

06/07 Venezuela x Colôm-bia 06/07 - Peru x Bolívia09/07 - Peru x Venezuela09/07 - Colômbia x Bolívia12/07 - Peru x Colômbia 12/07- Venezuela x Bolívia

Grupo B:

07/07 - Argentina x Equador07/07 - México x Uruguai10/07 - Argentina x México10/07 - Uruguai x Equador13/07 - Argentina x Uruguai13/07 - México x Equador

Grupo C:

08/07 - Brasil x Chile08/07 - Costa Rica x Para-guai11/07 - Brasil x Costa Rica11/07 - Paraguai x Chile14/07 - Brasil x Paraguai14/07 - Costa Rica x Chile

Na segunda fase, cha-mada de quartas-de-final, o2º colocado do Grupo A en-frenta o 2º do Grupo B. O1º do Grupo A joga contrao 2º melhor colocado entreos terceiros de todos os gru-pos. O 1º do Grupo C en-frenta o melhor terceiro co-locado. E, fechando os con-frontos das quartas-de-fi-nal, o 1º colocado do Gru-po B enfrenta o 2º do Gru-po C.

As disputas das partidassemifinais e final da CopaAmérica de futebol serão dis-putadas na capital do Peru,Lima. A definição dos ter-ceiro e quarto colocados dacompetição será conhecidana cidade de Cuzco.

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O PONTOBelo Horizonte – Julho/Agosto/2004

Editor e diagramador da página: Carlos Fillipe Azevedo

12 SAÚDE

Cirurgias de estômago estão em altaForma radical de controle de peso é usada indiscriminadamente no combate à obesidade

Rafael Amaral Mendonça eVanessa Roland

4º Período

A obesidade é um dos maio-res problemas da atualidade echega a atingir um terço dapopulação mundial. Seja poruma alimentação inadequada,ou por problemas genéticos,hormonais, metabólicos ou ain-da em pessoas que possuemalgum distúrbio psiquiátricos.Essas pessoas que apresentamuma quantidade de quilos aci-ma do ideal e que não conse-guem perder peso com ativida-des fisicas ou dietas, estão re-correndo a um método dediminuição de peso radical queé a diminuição do estômago.Segundo o Dr. Garrido Junior,um dos maiores especialistas dopaís na área, a cirurgia temaumentado nos últimos anos.Calcula-se que já foram feitasno Brasil uma média de 12 miloperações e que o número decirurgiões especialistas da áreatenha subido de 140 para 500médicos nos últimos anos.

Os médicos alertam que acirurgia somente é indicada àspessoas que sofrem de obesi-dade mórbida, ou seja, pessoasque estão com muitos quilosacima do ideal e correm riscode morte em decorrência disso.Muitas pessoas com dificulda-de de perder peso, e por ques-tão de estética e vaidade, fazemo uso desse recurso para perderpeso facilmente mas neste casoa cirurgia não é indicada.

O principal critério para aindicação da operação é parapessoas que apresentarem umexcesso de 50% do peso ideal.O IMC( índice de massa cor-poral) é outro indicativo, esseíndice é calculado da seguinteconta: divisão do peso pelaaltura ao quadrado, se o resul-

tado for acima de 35 a opera-ção é permitida. Segundo oendocrinologista, Dr. MarcosPereira “o principal objetivo dacirurgia é a melhora na quali-dade de vida e condições desaúde dos pacientes, e não aaparência, nem a solução paraos problemas emocionais oupara a elevação da auto-estima”.

Apesar do novo estilo devida e do cardápio mais leve osobesos comemoram os resulta-dos da operação e demonstramum aumento na auto-estima.João Álvares, 55, fez a cirurgiaem julho de 2003 que perdeu45 quilos diz que “ Minha vidamudou totalmente, passei a mealimentar menos e não sinto amenor fome”, ele também afir-ma que chegou em uma faseque está perdendo pouco pesoe por isso procura se alimentarde maneira mais saudável.

Os médicos recomendamuma preparação e um acompa-nhamento psicológico. Para omédico endocrinologista Már-cio Mancini, presidente da As-sociação brasileira para o estu-do da obesidade (Abeso), aler-ta que é comum uma dificul-dade de adaptação alimentardos pacientes, por isso afirmaser importante fazer uma tria-gem psicológica antes da cirur-gia.

Mesmo com complicaçõesque podem ocorrer por causadessa operação, a satisfação daspessoas é muito grande. Apublicitária Maria José Braga,35, que pesava 120 quilos ereduziu o seu peso para 84quilos. Ela ficou em coma pordois meses, passando por umsério risco de morrer e não searrependeu, “toda cirurgia temriscos, eu tinha sérios proble-mas de saúde, que poderiam metirar a vida, por isso foi melhorarriscar”, disse Maria.

Cresce o número de pessoas obessas que procuram cirurgias para redução de estômago no Brasil

PSF atua em 713 cidades mineirasClarissa Guarçoni e

Maria Cristina Chaves4º Período

O programa Saúde da famí-lia (PSF) foi implantado em1994 com o objetivo de fazer aconversão do modelo assisten-cial vigente, introduzindo naUnidade Básica de Saúde umaequipe constituída por agentescomunitários, um médico, umenfermeiro e um auxiliar deenfermagem.

A diretora da atenção bási-ca/PSF, Maria Rizoneide deAraújo, destaca que o principaldesafio do programa é mudar oparadigma da doença para asaúde. O foco do trabalho pas-sa a ser a saúde, compreendidade uma forma mais ampla, deacordo com a Maria “ temos quenos preocupar com a vida daspessoas, saber ouvir, conhecera história das famílias, seus pro-blemas e sonhos. tudo isso fazparte da saúde do ser humano”.

Atualmente, 2.571 equipesdo Saúde da Família atuam noEstado em 713 cidades, cercade 80% dos munincípios. Masa população de cada localidadeainda não é totalmente con-templada. Estima-se que dos 18milhões de habitantes de MinasGerais, 48% estão recebendoatendimento ofertado pelasequipes do PSF.

Para a enfermeira MaríliaDolores Peres, que atua na pro-fissão há mais de 20 anos, nosconta como foi a experiência deser coordenadora do PSF nointerior de Minas, “trabalhei nomunicípio de Taquaraçu deMinas, existe uma grande dife-rença entre o PSF do interior e

na capital. Deveriam ser criadosdois programas distintos. Nointerior, são os idosos que sãomais beneficiados. A equipe éformada por um médico, pormim e um agente de saúde.Cada agente deve visitar de 600casas por mês, caso essa metanão seja cumprida, o programaé suspenso na cidade”, relata.

Marília aponta que na zonarural a locomoção, condiçõesdas estradas dificultam o traba-lho, os agentes de saúde são malremunerados e muitas vezesnão possuem o preparo sufi-ciente. O critério de seleção dosagentes é ter mais de 18 anos eresidir na cidade, “os agentesfazem apenas uma semana detreinamento na capital. Acredi-to que o ideal seria que cada umfizesse um curso de reciclagempara ficar capacitado e bemmais preparado” diz Marília.

A experiência brasileiracom o modelo de atenção vol-tado para o PSF tem propor-cionado mudanças positivas narelação entre os profissionaisde saúde, na estruturação dosserviços de saúde.

O Ministério da Saúde vemapliando suas parcerias com asSecretárias Estaduais e Muni-cipais de Saúde para o desen-vovimento do PSF através dosPólos de Capacitação, de mo-do aumentar o processo dequalificação em serviços dosprofissonais que compõe oSaúde da Família.

O Programa se destaca pelaestratégia de reorganização daatenção básica, na lógica davigilância à saúde centrada namelhora da qualidade de vidada população.

Enfermeiras que atuam no Saúde da Família estão mais próximas dos pacientes

Arquivo O Ponto

A importânciados profissionaisna prática do PSF

O Programa Saúde daFamilia no interior funciona daseguinte forma: a cidade édividida em microrregiões. Apartir disso, define-se o núme-ro de integrantes das equipes,lembrando que existe um mé-dico e uma enfermeira, o quevaria é o número de agentes. Oagente faz o cadastro das famí-lias e todas são visitadas, tendoou não necessidade. No interiorpopulação sempre é muitoreceptiva com a equipe do PSF.

Pensa-se na possibilidadede um assistente social e umpsicólogo compor a equioe doPSF. Isto porque, em muitoscasos, o problema não é só asaúde. Deve-se levar em con-ta o lado psicológico do pa-ciente. Muitas vezes, os pró-prios médicos e enfermeirosfazem esse papel de psicólo-gos escutando os problemasdos pacientes.

É importante destacar a atua-ção dos enfermeiros, entre oscomponentes da equipe, po-de-se afirmar que esse pro-fissional tem a formação maispróxima do desejado para otrabalho no Saúde da Família.A atuação dos profissionais é deextrema relevância para a con-solidação do programa.

Cabe ao profissional deenfermagem a organização daprestação da assistência, plane-jamento e supervições e nasações de diagnósticos dacomunidade.

O PSF se destaca comoestrátegia de reorganização daatenção básica, representandouma concepção de saúde cen-trada na qualidade de vida.

do PSFAs conquistas•Aumento da homogeneidade das coberturas vacinais em crianças menores de um ano

de idade (com vacinas do calendário básico), atingindo na maioria dos municípios a meta

de 95%.

•Ampliação da faixa do aleitamento materno. Hoje 69% das mães atendidas pelas

equipes que amamentam seus bebês até os quatro meses.

•Maior controle dos diabéticos e hipertensos, o que demonstra um maior cuidado com a

população de risco.

•Ampliação da realização do exame do teste do pezinho, que é feito em 100% dos bebês

atendidos pelas equipes do PSF.

•Aumento do número de consultas, principalmente, pediátricas e ginecológicas.

•Aumento das visitas domiciliares. Cada família recebe no mínimo uma visita mensal.

Fonte: Sistema de Informação de Atenção Básica - SIAB

Flávio Peixe

Principais técnicas de redução de estômago

Prótese de silicone é "amarrada” no estômago criandouma câmara de 20ml, com passagem de 1,2cm.

O estômago é cortado e grampeado, reduzindo suacapacidade para 20ml.

O estômago é reduzido a 1/4 do seu tamanho ereligado ao intestino num ponto onde a absorção doalimento é menor.

Um balão de silicone introduzido e depois inflado comcerca de 400 a 600ml de solução fisiológica ocupando1/3 do esômago.

OPERAÇÃO MÉTODO UTILIZADO REDUÇÃO

Banda Gástrica

Foto-Capella

Scopinaro

Balão Intragástrico

20% do peso

35 a 40% do peso

30 a 35% do peso

10 a 15% do peso

Infográfico: Rafael Werkema

12 - Saúde - Carlos Fillipe 7/2/04 12:14 PM Page 1

Page 13: Jornal O Ponto - julho de 2004

O PONTOBelo Horizonte – Julho/Agosto/2004

Editor e diagramador da página: Flávio Peixe

AMBIENTE 13

Falta de tratamento de esgoto das indústrias de lactoderivados aumenta os níveis de poluição

Laticínios entre os que mais poluem

Para resolver o problema dapoluição pelos laticínios, a Co-pasa desenvolveu ETEs (estaçõesde tratamento de esgoto) do Ri-beirão Arrudas e do Córrego doOnça. A ETE do Arrudas, locali-zada na região da Margazânia(Sabará),ocupa uma área de63,84m2 e atende a uma poula-ção inicial de um milhão de pes-soas. A estação do Córrego doOnça será construída na regiãodo Ribeiro de Abreu, com inves-timento de 48 milhões de reais.A conclusão das obras está pre-vista para setembro de 2004.Com essas duas estações em fun-cionamento, os esgotos de BeloHorizonte e de Contagem serãotratados antes de serem lançadosno Rio das Velhas.

O tratamento consiste em se-parar a parte líquida da sólida doesgoto e tratar cada uma delas,reduzindo ao máximo a carga po-luidora. Outra medida acordadaentre os governos foi a realizaçãode uma série de projetos na áreade Proteção Ambiental Urbana eIndustrial, dando início ao Pro-jeto Minas Ambiente, cujo obje-tivo consiste em buscar soluçõespara tipologias industriais, pre-viamente selecionadas e abran-ge indústrias de pequeno e mé-dio porte instaladas em Minas.

Bruna Cruz e Daniel Ferreira4º Período

A Cadeia Agroindustrial doLeite no Brasil é uma das maisimportantes na economia dopaís. Minas Gerais é o estado quemais produz, cerca de 30%, se-guido por São Paulo, Rio Gran-de do Sul, Goiânia e Paraná quejuntos representam os outros70% do total. Esses dados seriamanimadores se não fosse o fato deque a indústria de laticínios éconsiderada uma das que maispolui. Isso porque gera efluenteslíquidos, resíduos sólidos e emis-sões atmosféricas; poluentes ori-ginários de diversas atividadesexercidas nas indústrias. Ao se-rem lançados no meio ambientesão seriamente impactantes.

Segundo dados do Sebrae-MG, a produção de leite em2002 foi de 21.1 milhões de li-tros, sendo o consumo de127,4 litros por habitante aoano. Em 2001 o Brasil expor-tou 2,3 toneladas de queijo,correspondendo aproximada-mente a 12% das exportaçõesde lacticínios.

Os efluentes líquidos são con-siderados os principais respon-sáveis pela poluição por laticí-nios. Essas substâncias, geral-mente jogadas nos rios, são des-de o leite ácido, perdas de pro-dutos, água, produtos usados emlimpezas de equipamentos, tu-bulações, lubrificantes, sem con-tar os esgotos sanitários.

De acordo com o engenhei-ro ambiental Augusto MachadoSoares, o soro do leite, resultan-te da produção de queijos, é omaior vilão, pois tem potencialpoluidor cem vezes maior do queo do esgoto doméstico. “Uma fá-brica que produz uma média de300 mil litros de soro por dia po-lui mais do que uma cidade decem mil habitantes”. Machado,que desenvolve um projeto so-bre poluição ambiental no lestede Minas, alerta ainda que o es-tado possui mais de 1.200 laticí-nios sem qualquer tratamento deseus resíduos, que são lançadosà revelia no meio ambiente.

Há também a poluição at-mosférica causada pela queimade óleo das caldeiras que emi-tem os óxidos de enxofre, nitro-gênio, hidrocarbonetos, monó-xidos de carbono, entre outros.“O problema está nas más con-dições das caldeiras, na maioriados laticínios, que eliminam fu-ligens e causam danos aos habi-tantes das cidades próximas”acrescenta Augusto.

Pouco se discute a respeitodo problema, os efluente conti-nuam a ser despejados nos riossem tratamento. A legislação vi-gente sobre as águas nacionaisbaseia-se na Resolução nº 20 doConama, que estabelece normase padrões para a qualidade daságuas e o lançamento de efluen-tes nos corpos das águas, o pro-blema recai sempre sobre a máfiscalização.

Willian Chaves4º Período

Preocupado com a forma-ção dos profissionais que atuamna área ambiental brasileira, ogoverno federal vai oferecer ca-pacitação a professores e estu-dantes, através da Coordenaçãode Educação Ambiental (Coea),da Secretaria de Educação Con-tinuada e Diversidade (Se-cad/MEC). Serão oferecidos oscursos de Formadores I e II quepossibilitarão aos participantesatuar em pólos regionais das es-colas, multiplicando informa-ções sobre o meio ambiente.

Ainda esse mês o MEC vairealizar em Brasília uma oficinapara construir a metodologia deformação e material didático. Pa-ra o engenheiro ambiental e coor-denador do curso de Engenha-ria Ambiental da UniversidadeFumec, Sérgio Roman, o proje-to é uma ótima proposta para aconscientização da população naproteção ao meio ambiente. “Osprojetos idealizados pelo gover-no ou até mesmo pela iniciativaprivada deve começar sempre pe-las escolas, porque a educaçãoem crianças é mais resultante quea reeducação adultos, as própriascrianças já com uma concepção

de preservação acabam por cha-mar atenção de seus pais ou qual-quer adulto, provocando um sen-timento de ‘vergonha’ nesse adul-to determinando assim que elemude seu comportamento”, re-lata Roman.

A turma Formadores I teráde quatro a seis técnicos por es-tado, que serão responsáveis pa-ra passar as informações em suaregião, ou seja, serão os interlo-cutores do MEC para programasde educação ambiental. Essestécnicos serão indicados pelassecretarias de Educação e MeioAmbiente estaduais e munici-pais, mas com pré-requisitos deque trabalhem com educaçãoambiental e que tenham práti-ca de formação de professores.Participarão outras instituiçõescomo: ONGs e representantesde conselhos das Comissões Or-ganizadoras de Meio Ambiente.

Segundo Roman, a integra-ção entre ONGs e estudantes,viabiliza o processo de mudan-ça de comportamento, poden-do assim a organizações traba-lharem com liberdade e recur-sos. “A união de governos fe-deral, estadual e municipal e aparticipação de ONGs, faz comque o projeto se torne mais efi-caz e com resultados positivos,

integrando também a grandepeça chave desse projeto que éo estudante, tornando-o umparticipante ativo na contribui-ção da preservação do meio am-biente”. O curso formadores IIserá ministrado a professoresescolhidos pela secretaria esta-dual de Educação que vão atuardiretamente com professores ealunos da rede pública.

Além da criação do progra-ma, o MEC ainda vai contribuircom doação de livros e materialdidático-pedagógico para os par-ticipantes além de uma ajuda decusto, como passagens e diárias,para os professores que partici-parem do programa de capacita-ção. Com a Cartilha de Meio Am-biente e Qualidade de Vida naEscola, o governo dá seqüênciaà Conferência Infanto-Juvenil deMeio Ambiente, realizada no fi-nal ano passado em 16 mil es-colas de educação básica.

Os projetos visam parceriascontra a degradação e o rea-proveitamento de material re-ciclável. Futuramente se rãocriadas, em quase todo territó-rio brasileiro, indústrias de rea-proveitamento de material,coordenado pelas comissõesformadas pelos cursos de capa-citação do MEC.

Governo lança novo projeto paraformar educadores ambientais

PensamentoOO sseeuu nnããoo éé ddee mmaaiiss nniinngguuéémm..

VVooccêê ddeecciiddee ffaallaarr,, gguuaarrddaarr,, mmuuddaarr.. BBaassttaa ppeennssaarr..

CCoommbbiinnaarr iiddééiiaass,, ccrriiaarr iimmaaggeennss,,ppeennssaarr oo ccoolleettiivvoo,, oo ppoollííttiiccoo..

PPeennssaarr éé ccrriiaarr uummaa bbooaa iiddééiiaa,, uumm ffiinnaall ffeelliizz,, vviivveerr uumm bbeelloo ssoonnhhoo,, uummaa ppoossiiççããoo ffoorrttee..

AAffiirrmmaa ee nneeggaa oo qquuee vvooccêê qquuiisseerr..EEllooggiiaa ee ccrriittiiccaa qquuaallqquueerr ccooiissaa..SSóó vvooccêê éé ccaappaazz ddee eexxpprreessssáá--lloo..

BBaassttaa vvooccêê ppeennssaarr.... ..IImmaaggiinnee ssee vvooccêê nnããoo ppuuddeessssee ppeennssaarr??

PPooiiss éé..

14 de julho - Dia da Liberdade de Pensamento

Ações buscamminimizarproblemas

Novo projeto do governo atenta para questões da educação ambiental

Arquivo O Ponto

Falta de tratamento de esgoto gerado pela produção de laticínios aumenta poluição

Flávio Peixe

13 - Ambiente - Peixe 7/2/04 12:16 PM Page 1

Page 14: Jornal O Ponto - julho de 2004

O PONTOBelo Horizonte – Julho/Agosto/2004

Editor e diagramador da página: Anderson Azevedo

14 CULTURA

Fim de gafieira entristece o públicoApós 62 anos de funcionamento, a mais tradicional gafieira de Belo Horizonte, fecha as portas Cristiano Batista, Alexis Lino e

Cleyton Ferreira 6º PerÍodo

Com uma denominação pe-jorativa, devido as “gafes” queeram cometidas nesses locais,as gafieiras são salões de dan-ças populares com pistas gran-des de tacos. No passado, eramfreqüentados por pessoas debaixa renda, e depois da déca-da de 60, um público mais bemsucedido passou a tomar gostopor essas casas. Isso porque aGafieira era considerada umadança ousada para os padrõesde bailados de salão. A dança émarcada pela sensualidade e pe-las tradições corporais, deriva-da do maxixe, uma dança vo-luptuosa de origem africana quefoi se enriquecendo com o pas-sar dos anos. As músicas são derepertório europeu, destaquepara o Tango, Mazurcas, Valsa,Quadrilhas e Polca.

Atualmente esses locais vi-vem um momento de declíniodesde o fechamento da Elite, em2002, uma das mais famosas ca-sas de Gafieira de Belo Hori-zonte. Apesar disso, formoumuitos bailarinos e amantes dossalões de bailes, que chegarama criar suas próprias casas dedança. Para o bailarino DaniloGonçalves Silva, que aprendeua dançar no Elite com 18 anos,o local deixou grandes recorda-ções. “Às vezes as pessoas quecompareciam ficavam sentadasobservando para aprender. Dan-ço há 30 anos e o que mais te-nho saudade do Elite é das ami-zades que foram se afastandocom o fim da Gafieira”, afirmaDanilo, que atualmente lecionaaulas particulares de dança.

O amor pela dança fez comque o bombeiro hidráulico Val-dir Siqueira perdesse o empre-go. “Comecei a dançar em mea-dos de 1968, aos 17 anos deidade, freqüentava uma boateque tinha no bairro Concórdia.Chegava constantemente em ca-sa as três horas da manhã, e pa-ra acordar cedo e ir trabalhar eramuito difícil”, justifica. Naque-la época, Siqueira começou achamar a atenção dos freqüen-tadores por seu estilo peculiarde dançar, usava um terno de li-nho branco, calça preta e sapa-to bico fino, impecável. Chegoua ganhar vários concursos pro-

movidos pela Elite, foi conside-rado o “rei” da Gafieira em BeloHorizonte. “A Elite foi um ber-ço para mim, vivi alguns demeus melhores dias lá”.

Inês Mota, artista plástica eprofessora de dança de salão,também é uma personalidadede destaque na história da ga-fieira. Ao contrário dos outros,começou a dançar em 1988quando tinha 46 anos. “Fui con-vidada por uma amiga, e gosteimuito”. Inês conta que as pes-soas que freqüentavam os bai-les, perceberam o interesse quealguns tinham em aprender adançar corretamente e fizeramdisso algo rentável, abriram aca-demias e alguns dão aulas atehoje. “As pessoas chegavam nosbailes e anotavam os nomes noquadro negro que lá existia, osdançarinos chegavam, liam osnomes e chamavam os inscritospara dançar”, explica Inês querelembra as danças que tevecom o Alaércio Pereira Santos,um dos melhores dançarinos doEstado e que hoje trabalha naacademia de Inês.

EliteA casa noturna Elite fechou

as portas depois de 62 anos defuncionamento. Fundada em1940, a gafieira Elite era uma ca-sa de danças que ofereciam au-las nas noites de segunda a sex-ta-feira. Nos finais de semanaeram realizados os tradicionaisbailes que varavam a madruga-da, sobre o som de bandas aovivo, como a Brasil, Valdir Sil-va, Via Expressa, entre outras.

A Elite teve um grande pres-tígio em seu auge, na década de80, pois a política favorecia oambiente. Na época, o entãoprefeito de Belo Horizonte,Mauricio Campos, apadrinhoua casa de dança e tornou a filo-sofia da boate diferente, e o am-biente, mais serio.

Segundo Osvaldo Martinsda Costa, que foi proprietárioda casa por 38 anos, o local eravisitado por muitos políticos.“Lembro da presença de Jusce-lino Kubschek, Mauricio Cam-pos, Genésio Bernadino e vá-rios outros”, relembra.

O Elite foi fechado em 2002por dificuldades financeiras.“Tenho saudades daquele lugar,afinal 38 anos é uma vida”, la-menta Oswaldo.

Em fase de final de produçãoo vídeo documentário “Luz davida inteira” vai desvendar todaa tradição da gafieira em Belo Ho-rizonte e a paixão de seus perso-nagens pela dança. A responsá-vel pela produção é a produtoraindependente e também profes-sora da disciplina de Cinema eVídeo do curso de ComunicaçãoSocial, da FCH/Fumec, Maria deFátima Augusto. Segundo ela aidéia surgiu quando produziuum documentário sobre as garis.“Lembro que no local onde as ga-ris trocavam de roupa e faziamsuas refeições era próximo deuma casa de gafieira. Comecei aobservar as pessoas que fre-qüentavam aquela casa. Eramtrabalhadores comuns e que denoite gostavam de ir ali dançar”,recorda a produtora.

As filmagens aconteceramnas extintas “Elite” e “Estrela” enas casas dos personagens. Se-gundo a produtora, todo o fil-me é feito em linguagem de do-cumentário trabalhado em doismomentos distintos: o primei-ro falando sobre a noite em si eos bailes da zona boêmia. Numsegundo momento são desta-cadas toda a magia e sensuali-dade que envolvia os dançari-nos amadores. “Procuramosmostrar a gafieira na visão deseus freqüentadores. Conversa-mos com os dançarinos e aspessoas que freqüentavam o Eli-te em busca das histórias queaconteciam nos bailes”.

Um momento de destaqueserá os depoimentos dos “reisda Elite”, Alaércio Pereira, Val-dir Birosca e da “rainha” Marle-ne Rodrigues. “Eles tiveram deser proibidos de participar dosconcursos para que outros ti-vessem chance” conta Maria deFátima, O documentário foiproduzido durante um ano, en-tre pesquisa de campo e as fil-magens. “Temos mais de 80 ho-ras de filmagens, entre depoi-mentos e bailes. A previsão delançamento do filme é no iní-cio do ano que vem, e quere-mos fazer um baile com a pre-sença dos personagens do fil-me”, prevê a produtora.

Filme conta ahistória daGafieira Elite

Divulgação

A professora de dança, Inês Mota, reelembra os passos que aprendeu na gafieira Elite

A vida detrás da Bonequinha PretaTereza Perazza

7º PerÍodo

A escritora e educadora Alaí-de Lisboa comemrou, em 22 deabril, 100 anos de vida e 66 ali-mentando o imaginário infan-til. Foi em 1938 que a mineirade Lambari lançou as primeirasedições de “O Bonequinho Do-ce” e “ A Bonequinha Preta”, li-vros que até hoje fazem parteda literatura infantil. As obrasjá foram lidas por mais de ummilhão de pessoas e já passarampr seis gerações.

Dona de uma personalida-de inquieta, Alaíde se aventu-rou por várias áreas de conhe-cimento e fez da sua vida umaluta política. Sendo a bone-quinha preta, e não loira deolhos azuis, a escritora já da-va um um sinal do seu enga-gamento social. Alaíde muitasvezes gosta de citar diálogosde filmes os livros nas suasconversas. Chegou a questio-nar porque a nossa falta temde ser linear, se a vida não o é,referência que tirou do fime OAno passado em Marienbad,uma mostra do sua política deconstante aprendizado.

Alaíde Lisboa se formou naprestigiada Escola de Aperfei-çoamento Pedagógico de BeloHorizonte, que trabalhava umavisão de vanguarda da educação,com seus professores formadosna Universidade de Columbia,nos Estados Unidos. Esse títulolhe levou a lecionar Didática Ge-ral e Especial na Faculdade deEducação (FAE) da UFMG, mi-nistrar aulas no curso de pós-graduação na Escola de Medici-na e na FAE,esta última a qualfoi vice-diretora e organizou ocurso de mestrado da área.Fezparte da Associação de Profes-sores Públicos de Minas Gerais.

Em 1949 assumiu o postode vereadora da Belo Horizon-te, do qual era primeira suplen-te desde 47. Foi a primeira mu-lher a participar da composiçãoda Câmara dos Vereadores dacidade. Dedicou seu mandatoàs questões educacionais e deassistência social, militando pe-la implantação de esolas públi-cas na periferia. Em 1976 ga-nhou o título de Cidadã Hono-rária, dado pela Câmara de Ve-readores. Pela mesma época, em1979, recebeu a nomeação deProfessora Emérita da UFMG.

Renata Monteiro6º Período

Dentro das comemoraçõesdo centenário de Alaíde Lisboa,as editoras Versão Brasileira, deSão Paulo e a Editora Lê, de Be-lo Horizonte, lançaram publica-ções especiais das peripécias dabonequinha. A primeira lançouum cd-rom contado a históriada personagem mais famosos daliteratura infantil. Já a editora Lêlançou uma nova edição do li-vro com novas ilustrações e umaedição especial com fragmentosdo arquivo da autora.

A autora foi homenageadapela Academia Mineira de Le-tras, que preparou um série defestejos, como missa e exposi-ções com as obras de Alaíde Lis-boa. A Universidade Federal deMinas Gerais realizou cerimôniasolene em celebração à escrito-ra no dia dois de junho, data quetambém marca a abertura de ummês de exposição na bibliotecado Centro de Referência do Pro-fessor, na Secretaria de Educa-ção de Minas Gerais, com mos-tra de livros, fotos e objetos pes-soais de Alaíde Lisboa. A Bonequinha Preta ganhou novo visual em edição especial do livro lançado neste ano

Centenário daescritora ganhahomenagensDivulgação

14 - Cultura- Anderson Azevedo 7/2/04 12:18 PM Page 1

Page 15: Jornal O Ponto - julho de 2004

Tereza Perazza7º período

A Faculdade de CiênciasHumanas (FCH) da Universi-dade Fumec possui, desde2001, um setor específico pa-ra a promoção e realização deeventos acadêmicos do cursode Comunicação Social, o qualpoucos alunos conhecem. Tra-ta-se do Programa de Apoio In-terinstitucional (PAI), que exis-te há apenas três anos, mas jápossui uma agenda fixa deeventos que promove. A divi-são nasceu entre conversas doentão coordenador de curso,Leovegildo Leal, e a professo-ra Lúcia Lamounier (que setornou coordenadora do PAI)nas quais discutiam a falta deum setor que centralizasse asquestões acadêmicas. A partirdestas reflexões, em 2001, nas-ceu o PAI, que já recebeu umafunção anual: realizar a Sema-na da Comunicação da FCH,evento do qual é responsávelaté hoje.

No comando da então coor-denadora do PAI, Lúcia La-mounier, foram implantadoseventos fixos: o Projeto Visitase o Intercâmbio Acadêmico. Oprimeiro realiza visitas acadê-micas dos alunos do curso deComunicação Social. Em 2003os estudantes foram conheceros estúdios da Rede Globo nocomplexo Projac, no Rio de Ja-neiro: visitaram a redação doJornal Nacional e conversaramcom os repórteres William Bon-

ner e Fátima Bernardes (entre-vista a qual pode ser lida da edi-ção de Julho de 2003 do jornalO Ponto). Nesse mesmo ano co-nheceram a redação da RedeGlobo Minas. Em 2004 o Pro-jeto Visitas levou os estudantesde Jornalismo e Publicidade pa-ra ver a exposição Picasso naOca, no Parque Ibirapuera, emSão Paulo. Os alunos tiveramaulas de História da Arte antesda visita e foram acompanha-dos pela professora Zahira Sou-ki, atual coordenadora do PAI,que assumiu o cargo no come-ço deste ano.

Já o Intercâmbio Acadêmi-co permite que alunos de Co-municação Social cursem ummês de aulas na Escola Supe-rior de Tecnologia de Abrantes(ESTA), na cidade de Abrantes,em Portugal. O convênio ES-TA/Fumec existe desde o anopassado, quando a primeira tur-ma de alunos portugueses veioassistir aulas na FCH, em agos-to de 2003. Em janeiro desteano a primeira turma de brasi-leiros foi a Abrantes. Em agos-to de 2004 chega a segunda tur-ma de alunos portugueses. Osnove estudantes da ESTA e doInstituto Politécnico de Tomarvirão acompanhados de trêsprofessores e da presidente daCâmara de Vereadores deAbrantes, Isilda Jana.

O PAI também oferece aosalunos do curso de Comunica-ção a chance de estagiarem nosetor, através da política de mo-nitoria da faculdade. A cada

ano um estudante é escolhidopara o cargo, depois de passarpor seleção eliminatória. Sãoquatro horas diárias de estágio(11h às 15h) e o salário é re-passado como desconto no va-lor da mensalidade da faculda-de. Já fizeram parte da equiperesponsável pelo PAI os alunosSabrina Braga, Úrsula Rosële eMaria Cecília Caetano. No se-gundo semestre de 2004 o no-

vo monitor será Moisés Lopes.Atualmente o PAI é coordena-do pela professora Zahira Sou-ki, depois de ficar dois anos soba direção da professora LúciaLamounier. A coordenação pre-vê mudar a direção do PAI acada ano, medida ainda em dis-cussão.

Segundo Cecília Caetano,atual monitora, o Programa deApoio Interinstitucional fun-

ciona como uma ponte entre ainstituição e os alunos da FCH.Porém as demandas estudan-tis são discutidas pelo orgão derepresentação, o D.A.. “O es-tudante se identifica mais como diretório por ser organizadopor estudantes. A falta de di-vulgação dos projetos do PAItorna mais dificil o reconheci-mento do corpo discente” co-menta Cecília.

O PONTOBelo Horizonte – Julho/Agosto/2004

Editora e diagramadora da página: Mariana Alves

FUMEC 15

As férias chegaram para relaxar,repensar e recarregar as baterias.

Aproveite ao máximo esse tempo paravoltar às aulas com força total.

Tempo de recarregar suas energias

PAI cria oportunidades para alunosEm seus três anos o Programa de Apoio Interinstitucional promove eventos de visitas e intercâmbio

O PAI possui um sistema decadastro dos ex-alunos do cur-so de Comunicação Social queconta, atualmente, com 500 no-mes. O objetivo é manter umaatualização da situação profis-sional do aluno além de apro-ximá-los da universidade pro-movendo acesso ao acervo dabiblioteca e enviando os infor-mativos da FCH, como o Cur-tas. Para este próximo semes-tre de 2004 o objetivo é come-çar a enviar também o jornal OPonto a esses alunos, jornal fei-to especificamente pelos alunosde Comunicação Social.

Está em projeto também acriação da Associação de Ex-Alunos, que possibilitará des-contos e facilidades na conti-nuação acadêmica (pós-gra-duação, mestrado etc), além deencontros entre os ex-alunos. Adireção da Associação será for-mada pelos próprios ex-alunos,que ficaram a cargo de todo oprocesso administrativo e exe-cutivo, servindo a FCH e o PAIsó para o fornecimento de umeventual apoio, simplesmentefazendo a ligação entre os ex-alunos e a associação. Ainda nopapel, a Associação já nascecom o cadastro dos 500 ex-alunos de Comunicação Socialmantidos pelo PAI.

Associação de ex-alunos trará facilidades

Arquivo O Ponto

Comunicação mudaestrutura curricularCarlos Fillipe e Carolina Lara

5º e 3º período

Os alunos que passaram novestibular no início do ano de2004 estão experimentandouma nova fase do projeto pe-dagógico do curso de comuni-cação social, já que eles estãousando a nova grade curricular.Essa é a primeira mudançaocorrida desde a implantaçãodo curso pela Universidade Fu-mec. O novo currículo surgiucom o objetivo de passar umensino com uma concepçãomais humanística aos estudan-tes, no sentido de formar sujei-tos críticos e pensantes sobre arealidade que está em sua vol-ta. De acordo com o coordena-dor do curso Alexandre Freirenão é possível garantir a entra-da do aluno no mercado so-mente a partir da formação téc-nica, “isso é uma ilusão, paraproduzir, seja em qualquer pro-fissão, antes de se utilizar à téc-nica é necessário pensar, e é es-se o diferencial para o nossoaluno”.

Esse projeto começou a serdesenvolvido pelo antigo coor-denador do curso de comuni-cação Social, Leovegildo Leal,juntamente com o corpo do-

cente, professores, diretórioacadêmico e parcialmente pe-los alunos e foi muito discuti-do antes da sua implementação.Uma das mudanças pode serconstatada com o fim da disci-plina Produção de mídia ele-trônica /rádio e T.V. que possuíauma carga horária de 64 horasdividida entre as duas matérias,rádio e televisão. Os conteúdosdelas foram transferidos para asdisciplinas telejornalismo I e ra-diojornalismo I, abrindo espa-ço na grade uma nova cadeiraque é a Introdução ao Jornalis-mo e Introdução a Publicidadee propaganda, dependendo dahabilitação do aluno. Essa no-va disciplina foi criada de acor-do com Alexandre Freire paracolocar os estudantes mais pró-ximos do que é o curso, nãoapenas do ponto de vista da teo-ria, mas também mostrando arealidade do mercado de traba-lho, os desafios, e a função doprofissional para a sociedade.

Outros remanejamentos fo-ram feitos também para socio-logia e economia que agora pas-sam a ser ministrada nos doisprimeiros períodos com um au-mento do conteúdo, importan-te para a formação do sujeitocrítico. Porém dentre as mu-

danças não foi deixado de ladoàs disciplinas voltadas para acomunicação e nem para a téc-nica que também importantespara a formação dos alunos.

Para o coordenador do cur-so de Comunicação Social Ale-xandre Freire afirma que não háprevisão para os alunos que es-tão cursando o antigo projetode poderem complementar seuscurrículos com as novas disci-plinas. “A mudança de grade éuma coisa normal dentro daUniversidade, mas dependen-do do interesse desses alunospode ser estudada uma formade que esse complemento sejarealizado. Uma forma para queisso ocorra pode ser através deuma possibilidade que já estásendo estudada pela diretória,que a é matricula por discipli-nas isoladas. Onde os atuais alu-nos poderiam cursar as novasmatérias depois de formarem”.

Para a estudante que cursajornalismo ainda com a gradeanterior, Isabella Melo, a mu-dança foi necessária, mas acre-dita que as disciplinas que fo-ram retiradas também são im-portnates. “ Foram inseridasmatérias que são fundamentais,mas não deveria ter tiradas asoutras” diz.

Arquivo O Ponto

Alunos de jornalismo fazem visita a redação do jornal para conhecer a rotina de trabalho

Alunos do curso de Comunicação Social terão um ensino mais humano

15 - Fumec - Mariana Alves 7/2/04 12:20 PM Page 1

Page 16: Jornal O Ponto - julho de 2004

O PONTOBelo Horizonte – Julho/Agosto/2004

Editor e diagramador da página: Rafael Werkema

16 MÍDIA

Instrumento de luta contraa desigualdade social noRegime Militar, o Jornaldos Bairros ainda éexemplo do bom jornalismo

Patrícia Giudice e Sinária Ferreira8º período

A primeira edição do Jornal dos Bairros foi lançada em1976, ano em que a perseguição política e a censura sobrea imprensa eram acirradas. O último a chegar no jornal,mas que tomou a frente trabalhando como editor-chefe eidealizador do projeto, foi o jornalista Edson Martins. Alémdele estavam Tilden Santiago e Nilmário Miranda - que ha-viam saído recentemente da prisão -, José Amaro Ciqueira(Zinho), Fernando Miranda e Tito Guimarães. Edson Mar-tins explica que a primeira idéia foi fazer política, mas co-mo Tilden e Nilmário haviam sido presos por causa de mo-bilização política, decidiram mudar a linha do jornal. “En-tão surgiu nossa intenção de fazer um jornal popular. Que-ríamos criar, a partir de um núcleo de pessoas, o surgimentode lideranças populares em lutas localizadas, estimular acriação de associações comunitárias. Essas associações co-letivamente começariam a criar expectativas e demandaslocais, ou seja, o ônibus era horrível, não tinha asfalto, as-sistência à saúde, tudo era muito ruim”, relata.

O local onde implantar e fazer circular um jornal de li-nhas populares foi uma decisão importante, segundo Mar-tins. Ele afirma que a equipe escolheu o Barreiro porque aregião concentra um grande número de trabalhadores, is-to é, a classe operária, o que se encaixava muito bem coma identidade do Jornal. Além disso, o editor-chefe diz queo periódico precisava contar com o apoio de entidades quejá existiam, como os sindicatos. “Nós tinhamos que contarcom todos que pudessem colaborar com nossa luta, e a lu-ta não tinha chefia, era a luta do povo”, relembra.

O Barreiro também foi escolhido, segundo Martins, de-vido à sua antigüidade em relação à cidade de Belo Horizontee a sua fragilidade em termos de infra-estrutura. “Vimos quehavia muitas demandas que o jornal podia atender. Até 1980,nosso temor era o de que o Jornal dos Bairros não resistissea qualquer ameaça de censura e fechasse. A repressão à im-prensa de oposição era intensa e qualificada”, conta.

Participação da comunidadeTambém participaram da produção do Jornal dos Bair-

ros estudantes de diversos cursos da Universidade Federal.Édson Martins diz que ao longo do tempo foram juntandopessoas de grupos políticos do passado, mas a idéia não eraa de substituir o povo, no sentindo de impor uma classesobre a outra. “Queríamos que eles enxergassem que erapossível reivindicar mudanças. Tivemos algumas vitórias,sensação de coletivamente buscar mudanças”.

Os jornalistas estimulavam os líderes comunitários e osjovens, que depois passaram a sugerir o que a equipe de-veria fazer. “Eles se comportavam como jornalistas, comorepórteres. Líderes comunitários davam toques políticos”,conta. O Jornal dos Bairros, apesar da participação de to-dos, tinha um grupo fixo de redação, cerca de oito pessoas.Martins trabalhava à tarde e à noite.“Na segunda-feira demanhã eu ia para o jornal, fazia as articulações, e quinta-feira fechávamos a edição. Uma pessoa se responsabiliza-va pela arte final, pegava o ônibus e ia para o Rio de Janei-ro, São Paulo ou Juiz de Fora”.

O povo se calouQuinzenalmente, durante sete anos, dez mil exempla-

res do Jornal dos Bairros circularam nos bairros Amazonas,Inconfidentes, Flamengo, Bandeirantes, Riacho das Pedras,Jardim Riacho das Pedras, Novo Riacho das Pedras, NovoEldorado, Eldorado, JK, Itaú, Bairro Industrial, Jardim In-dustrial, Vila São Paulo, Vila Betânia, Bairro das Indústrias,Barreiro, Tirol, Jatobá, Vale do Jatobá, Lindéia, Ibirité, La-goa Seca e Betim.

O Jornal dos Bairros parou de circular em 1983. Segun-do Martins, com a legalização dos partidos políticos, conse-qüência do enfraquecimento da ditadura militar, cada inte-grante do jornal foi fundar o seu partido. Nessa época foi fun-dado o Partido dos Trabalhadores (PT) e a Central Única dosTrabalhadores (CUT). “A maioria que participou do jornaldos bairros foram para o PT, outros PC do B. Muitos foramsindicalistas, depois viraram políticos” finaliza.

A preocupação social ultrapassava os limites da comunidade. Além de denunciar, de convocar a populaçãopara resolver os problemas, o Jornal dos Bairros atuava como uma força mobilizadora contra as injustiçasimpostas pelo Regime Militar. Um exemplo foi a campanha sobre a prisão de Flávia. As ilustrações, chargese quadrinhos eram críticas às políticas públicas, ao Estado e à sociedade.

16 - Mídia - Sinária 7/2/04 12:22 PM Page 1