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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO, ARTE E HISTÓRIA DA CULTURA EDI SARTORI UATU UNIVERSIDADE ABERTA DO TEMPO ÚTIL UMA REDE DE SABERES COMPARTILHADOS SÃO PAULO 2012

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1

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO, ARTE E HISTÓRIA DA

CULTURA

EDI SARTORI

UATU – UNIVERSIDADE ABERTA DO TEMPO ÚTIL

UMA REDE DE SABERES COMPARTILHADOS

SÃO PAULO

2012

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2

EDI SARTORI

UATU – UNIVERSIDADE ABERTA DO TEMPO ÚTIL:

UMA REDE DE SABERES COMPARTILHADOS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação

em Educação, Arte e História da Cultura da Universidade

Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial à

obtenção do título de Mestre em Educação, Arte e História

da Cultura.

Orientadora: Profª. Drª. Regina Célia Faria Amaro Giora

SÃO PAULO

2012

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3

S251u Sartori, Edi. UATU Universidade Aberta do Tempo Útil - uma rede de

saberes compartilhados / Edi Sartori. - 247 f.: il.; 30 cm.

Dissertação (Mestrado em Educação, Arte e História da Cultura) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2011.

Bibliografia: f. 136-140.

1. Educação continuada. 2. Idoso. 3. Qualidade de vida. I. Título.

CDD 378

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4

EDI SARTORI

UATU – UNIVERSIDADE ABERTA DO TEMPO ÚTIL:

UMA REDE DE SABERES COMPARTILHADOS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação

em Educação, Arte e História da Cultura da Universidade

Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial à

obtenção do título de Mestre em Educação, Arte e História

da Cultura.

Aprovado em:

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________________

Profª. Drª. Regina Célia Faria Amaro Giora – Orientadora

Universidade Presbiteriana Mackenzie

_____________________________________________________

Profª. Drª. Patricia Pazinato

Faculdade Teológica Baptista - FTB

_____________________________________________________

Profª. Drª. Petra Sanchez Sanchez

Universidade Presbiteriana Mackenzie

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5

A meu esposo Ricardo Taschetto, que, sem medir

esforços, esteve ao meu lado em todos os momentos, e que

sempre acreditou no meu trabalho.

A minha mãe, especialmente, que nunca mediu

esforços para que não parássemos de estudar.

A todos os idosos do mundo, que nos ensinaram o

valor da vida.

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6

Agradeço ao MACKPESQUISA – Fundo Mackenzie de Pesquisa –,

que financiou em parte este trabalho.

Page 7: Edi Sartori.pdf

7

AGRADECIMENTOS

A Deus, por me permitir realizar sonhos e me manter forte até o fim do trabalho,

possibilitando-me concluí-lo da melhor maneira possível.

A toda minha família, que soube compreender os momentos de afastamento e reclusão para

que este trabalho se concretizasse.

A todos os alunos idosos participantes do programa de educação continuada da UATU, fonte

de inspiração e colaboração na realização da pesquisa.

A todos os professores, especialmente aos professores do Mackenzie, que estiveram

presentes em minha formação intelectual e que de alguma forma colaboraram para meu

crescimento.

Com carinho, a todos os colegas de curso que compartilharam suas experiências,

ensinamentos e conquistas, unindo forças para chegarmos ao fim de mais uma jornada.

Em especial, à professora orientadora desta pesquisa, Profª Draª Regina Giora, que, além

do seu trabalho de orientar, me incentivou a pensar, a ser mais crítica, me fez crescer como

pessoa, auxiliando-me no desenvolvimento de um trabalho em prol da humanidade.

Ao Prof. Dr Marcos Rizolli, que sempre esteve presente desde os momentos mais duvidosos

até a colaboração no desenvolvimento desta pesquisa, auxiliando, apoiando e acreditando no

trabalho.

Também, de forma especial, às professoras Petra S. Sanches e Patrícia Pazinato, pela

dedicação e colaboração no desenvolvimento, sugerindo e dando diretrizes para que o

trabalho pudesse ser realizado de forma coerente.

Agradeço, ainda, a todos os alunos da UATU/UPM pelos momentos agradáveis que passamos

juntos, pelo acolhimento, pela colaboração e pelo aprendizado compartilhado, bem como pela

oportunidade de troca de experiência entre gerações.

E, ainda, a todos os professores e funcionários da Universidade Presbiteriana Mackenzie,

pelos ensinamentos e pelo apoio prestados.

Page 8: Edi Sartori.pdf

8

Realmente não parei;

mas o tempo, a seu turno, tampouco parou.

Os anos acumularam-se, sucederam-se,

parecendo os meses mais curtos e os dias

paradoxalmente mais longos

por mais horas desperto ficar.

Justamente aquela atividade continuada prevista

foi que me tem levado a ignorar e a não sentir a passagem do tempo.

A concentrar-me em realizações,

a dar asas à imaginação, a fazer e refazer,

a viver dedilhando trabalhos em minha portátil,

consequentemente, sempre absorto em algo,

não tive, destarte, vagares para contabilizar o tempo que se ia indo e

raramente detive-me a calcular o que me restaria.

Paiva Gonçalves, em “O Direito e o Avesso da Velhice”

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9

RESUMO

Este trabalho discorre sobre o impacto de um programa de extensão em educação continuada

na vida do idoso. Para esta análise, foi escolhido o Programa de Inclusão Social denominado

Universidade Aberta do Tempo Útil, oferecido pela Universidade Presbiteriana

Mackenzie/SP, que tem como principais objetivos: proporcionar atividades educacionais

voltadas à atualização e à aquisição de conhecimento em diversas áreas do saber; desenvolver

habilidades socioculturais, privilegiando a alegria e o prazer da convivência com a cultura, e

promover a integração do idoso nos vários segmentos da sociedade. O trabalho teve como

objetivo geral compreender os vários aspectos que implicam a mudança de comportamento do

idoso ao frequentar o programa de educação continuada. Os objetivos específicos foram:

apontar as principais contribuições feitas pelos estudos recentes na área; identificar e

caracterizar na legislação brasileira as diretivas voltadas para o idoso; descrever os principais

aspectos cognitivos, afetivos e sociais observados nas representações elaboradas pelos

próprios sujeitos; analisar, a partir dessas representações, quais as alterações sociais, políticas

e econômicas que essa nova fase da vida propõe. O método utilizado foi de caráter descritivo

e análise qualitativa exploratória. Como resultado, observou-se que os estudos até então

desenvolvidos estão relacionados principalmente a medicina, psicologia e fisioterapia, tendo

como principal foco o indicador cronológico. O programa de inclusão social pesquisado tem

se demonstrado um diferencial na vida dos idosos, proporcionando-lhes melhor qualidade de

vida, possibilitando-lhes inovar e criar novas amizades, bem como enriquecendo-lhes a troca

de experiências. No que tange às políticas públicas, muito ainda se tem a fazer pela população

de idosos brasileiros, principalmente no que se refere aos aspectos voltados à melhoria da

qualidade de vida e educação. Os relatos também nos mostraram que a participação no

programa de extensão tem “desmistificado” preconceitos e terminologias antes vistas como

excludentes pela sociedade, bem como pelos alunos mais jovens. Os aspectos cognitivos,

afetivos e sociais apresentaram melhoria da qualidade de vida dos idosos em vários aspectos,

principalmente nos aspectos qualidade de vida, conhecimento, arte e “sentir-se útil”. A

pesquisa configurou-se como uma ação “isolada”, inovando a pesquisa e apresentando uma

realidade pouco explorada e difundida, na qual o interesse restringe-se a demandas específicas

e direcionadas ao interesse da medicina, afastando outras possibilidades que complementem a

melhoria da qualidade de vida da população e a educação, especialmente dos idosos.

Palavras-chave: educação continuada; idoso; qualidade de vida

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10

ABSTRACT

This Project mentions about the impact of an extension program in continued education in the

life of elderly. For this analysis it was chosen the Social Inclusion Program denominated

Open University of Useful time ( Universidade Aberta do Tempo Útil ) offered by

Universidade Presbiteriana Mackenzie/SP, that has as main goals : Giving educational

activities focused to the update and knowledge‟s acquisition in many knowledge areas,

develop sociocultural abilities, privileging the happiness and the pleasure of getting along

with the culture and promote the integration of the elderly in many segments of the society .

The project had as general objective comprehend the various aspects that implicate in the

changes of the elderly‟s behavior when frequenting the continued education program. The

specific objectives were: show the main contributions made by the recent studies in the area,

identify and characterize in the Brazilian legislation the directives targeted to the elderly,

describe the main cognitive aspects, affection and social observed in the representations

elaborated by them, and analyze from these representations what the changes for social,

political and economic that this new phase of the life proposes. The method used was based

on descriptive and exploration qualitative analysis. As result, it was observed that the studies

so far developed are related mainly to the medicine area, psychology, physiotherapy taking as

main focus the chronological indicator. The program of social inclusion researched has

demonstrated by itself a differential in the elderlies‟ life, giving them better quality of life,

innovating and creating new friendship, as well as enriching the experiences exchange.

Regarding to the public policies it still has a lot to do for the population of Brazilian elderlies

mainly the aspects targeted for the improvement of quality life and education. The reports

show us as well that the participation in the program of extension has “demystified”

prejudices and terminologies before seen as exclusion by society and by the younger students

as well. The cognitive aspects, affection and social have presented improvement in the

elderlies‟ quality of life in many aspects, mainly the aspect for quality of life, knowledge, arts

and “feel them useful”. The research has set up itself as an “isolated” action, innovating the

research and presenting a reality little explored and spread, where the interest restricts only to

specific demands and targeted to the interest of medicine area, moving away other

possibilities that complement the improvement from the population‟s quality of life and the

education, especially from the elderlies.

Key-words: continued education; elderly; quality of life

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11

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12

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1. Localização da Universidade Presbiteriana Mackenzie em São Paulo,

campus Higienópolis..........................................................................................................

28

FIGURA 2. Campus da Universidade Presbiteriana Mackenzie - Higienópolis hoje............ 29

FIGURA 3. Universidade Presbiteriana Mackenzie/SP hoje................................................... 29

FIGURA 4. Capa do Folder da UATU.............................................................................. 35

FIGURA 5. Edifício Escolar.............................................................................................. 36

FIGURA 6. Corredor de acesso às salas de aula do Edifício Escolar............................... 36

FIGURA 7. Carteira de estudante...................................................................................... 42

FIGURA 7A. Carteira de estudante................................................................................... 42

FIGURA 8. Passeio a Campos do Jordão/2002................................................................. 43

FIGURA 9. Almoço de confraternização em Campos do Jordão - Natal/2002...................... 43

FIGURA 10. Exposição Aquarelando - outubro/2012. Hall do Edifício João Calvino -

Mackenzie .........................................................................................................................

52

FIGURA 11. Convite – capa ............................................................................................. 53

FIGURA 12. Convite – parte interna ................................................................................ 54

FIGURA 13. Texto de aluna publicado............................................................................. 55

FIGURA 13A. Manuscritos de aluna ............................................................................... 56

FIGURA 14. Foto do Coral............................................................................................... 57

FIGURA 15. Foto dos componentes do Coral................................................................... 57

FIGURA 16. Foto do Coral – Apresentação internacional – Chile................................... 57

FIGURA 17. Foto do Coral – Apresentação internacional – Argentina ........................... 57

FIGURA 18. Foto da visita ao museu em Paris................................................................. 61

FIGURA 19. Exposição Aquarelando UATU/2012.......................................................... 61

FIGURA 20. Foto da Exposição Aquarelando/2003......................................................... 62

FIGURA 21. Foto da Exposição Aquarelando/2003......................................................... 62

FIGURA 22. Foto de objeto da Exposição Aquarelando................................................... 62

FIGURA 23. Exposição Aquarelando 2012...................................................................... 64

FIGURA 24. Atriz Bibi Ferreira........................................................................................ 69

FIGURA 25. Arquiteto Oscar Niemeyer aos 104 anos..................................................... 69

FIGURA 26. Memory........................................................................................................ 77

FIGURA 27. Adesivo-símbolo do idoso............................................................................ 84

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13

FIGURA 28. Adesivo-símbolo do idoso........................................................................... 84

FIGURA 29. Novos símbolos sugeridos para os idosos.................................................... 84

FIGURA 30. Idosos........................................................................................................... 94

FIGURA 31. Convivência em foco................................................................................... 119

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14

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1. Cursos oferecidos no 1º semestre de 2010................................................... 49

QUADRO 2. Cursos oferecidos no 2º semestre de 2012................................................... 49

QUADRO 3. Projeção da população, em porcentagem, por grupo de idade em 2060 na

França................................................................................................................................

96

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15

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1. Matrículas na UATU/UPM 2003/2012...................................................... 48

GRÁFICO 2. Cursos ofertados e número de professores ................................................ 49

GRÁFICO 3. Distribuição etária da população de 2000 a 2040........................................ 67

GRÁFICO 4. Projeção da população em Portugal em 2060............................................. 98

GRÁFICO 5. Taxa de analfabetismo população de 15 a 64 anos1 – Brasil, Grandes

Regiões e UFs - 2009 e 2004.............................................................................................

120

GRÁFICO 6. Taxas de analfabetismo da população com 65 anos ou mais – Brasil,

Grandes Regiões e UFs- 2004 e 2009................................................................................

121

1 Os dados de 15 a 64 anos, segundo o IPEA, foram divididos de acordo com o que seria a faixa etária de pessoas em idade produtiva; e de 65 anos ou mais, correspondente à categoria de idosos. Mais informações, consultar Comunicado do IPEA nº 70 – Evolução do analfabetismo e do analfabetismo funcional no Brasil – Período 2004-2009, divulgado em dezembro/2010. Disponível em: http://agencia.ipea.gov.br/images/stories/PDFs/comunicado/101209_comunicadoipea70.pdf.> Acesso em:

01out2012.

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16

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ........................................................................................ 17

INTRODUÇÃO ............................................................................................. 19

CAPÍTULO 1 – A PESQUISA E SEU CONTEXTO ................................................ 23

1.1 OBJETIVOS.............................................................................................................. 23

1.1.1 Objetivo Geral........................................................................................................ 23

1.2.2 Objetivos Específicos............................................................................................. 23

1.2 METODOLOGIA DA PESQUISA .......................................................................... 24

1.3 DELIMITAÇÃO....................................................................................................... 25

1.4 MËTODO: MODALIDADES DA ENTREVISTA.................................................. 25

1.5 PERFIL DOS SUJEITOS.......................................................................................... 26

1.6 ANÁLISE DOS DADOS OBTIDOS ....................................................................... 26

CAPÍTULO 2 - A UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE........... 27

2.1 UM POUCO DA HISTÓRIA INSTITUCIONAL.................................................... 27

2.1.2 Por que Comunitária............................................................................................... 30

2.1.3 Uma Universidade Confessional............................................................................ 32

2.2 A ESCOLA .............................................................................................................. 35

2.2.1 História................................................................................................................... 38

2.2.2 O Desenvolvimento................................................................................................ 52

2.3 CORAL DA UATU .................................................................................................. 57

2.4 O ESTADO DA ARTE COM RELAÇÃO AO IDOSO........................................... 58

CAPÍTULO 3 – ASPECTOS GERAIS DO IDOSO .................................................. 67

3.1 UM POUCO DA HISTÓRIA DA VELHICE..................................................... 67

3.2 ESTEREÓTIPOS ..................................................................................................... 71

3.3 A NOMENCLATURA UTILIZADA....................................................................... 73

3.4 MEMÓRIA .............................................................................................................. . 76

3.5 O IDOSO NA SOCIEDADE .................................................................................... 82

3.5.1 Trabalho................................................................................................. ........ 87

3.5.1.1 O idoso no mercado de trabalho.......................................................................... 87

3.4.1.2 A idosa no mercado de trabalho: uma questão de gênero................................... 91

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17

3.6 IDOSOS NA FRANÇA E NO MUNDO ................................................................. 94

3.7 TRAJETÓRIA DA INDUSTRIALIZAÇÃO COM A MULHER............................ 100

3.8 IDOSO E QUALIDADE DE VIDA......................................................................... 102

3.8.1 Definições .............................................................................................................. 102

3.9 UMA ABORDAGEM PSICOSSOCIAL .......................................................... 109

3.10 LEGISLAÇÃO....................................................................................................... 114

3.10.1 Política Nacional do Idoso.................................................................................... 115

3.10.2 Estatuto do Idoso.................................................................................................. 122

3.10.3 Políticas Públicas.................................................................................................. 129

CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................ 132

REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 136

ANEXOS......................................................................................................................... 142

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18

APRESENTAÇÃO

O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada.

Caminhando e semeando, no fim terás o que colher.

Cora Coralina

A escolha pelo tema surgiu após várias conversas, pesquisas e inquietações ocorridas

durante o processo de pesquisa da disciplina de projeto do curso de mestrado. Inquietações

que por muitas vezes fizeram com que, diante das inúmeras possibilidades a serem estudadas,

eu me encontrasse sem saber o que fazer e como fazer.

As provocações e dúvidas me levaram ao conhecimento da existência da UATU/ UPM

– Universidade Aberta do Tempo Útil, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, destinada a

todas as pessoas com mais de 18 anos interessadas em participar de um programa de educação

continuada.

Cheia de dúvidas sobre o tema, pois ele até então me era “desconhecido” – assim

como o é para a grande maioria da população –, descobri que o grande número de

frequentadores da UATU/UPM eram pessoas da terceira idade, ou idosos, como os

conhecemos. A descoberta fez com que eu me conscientizasse da importância e da relevância

do tema para a academia, sonhando, a partir de então, sobre a sua importância para o mundo.

A possibilidade de estudar o retorno dos idosos à universidade, após algumas

discussões e compreensão sobre eles, as provocações e reflexões acerca do significado do

processo de envelhecimento e a pronta disponibilidade da Profa

Regina Giora, unida à

“facilidade” na realização das pesquisas dentro da própria universidade, onde ocorriam os

cursos para a terceira idade, determinaram o tema a ser pesquisado: UATU – Universidade

Aberta do Tempo Útil - Uma Rede de Saberes Compartilhados.

As lembranças, vivências e trabalhos realizados durante a vida profissional também

foram responsáveis pela decisão na escolha do tema. A vivência no ambiente hospital, com os

avós, parentes e familiares, complementou a paixão que tomava conta da certeza da escolha.

Os relatos dos nonos2 nos filós

3, como eram chamados, as histórias que contavam

sobre seu passado, foram se (re)apresentando de forma quase que espontânea, ou como se a

2 Nono ou nona: para os italianos, avô ou avó. 3 Expressão utilizada por imigrantes italianos ao se reunirem à noite, na casa dos vizinhos, parentes ou amigos para

compartilhar alimentos, rezar, cantar, tomar chimarrão, jogar cartas e colocar a conversa em dia.

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19

vivência tivesse retornado ao passado sem ter vivido o presente, algo que não se explica,

(re)vive-se. De acordo com Bosi (1994), revivi sem rupturas.

Quando criança, a vivência entre os idosos era comum, natural, não existiam

diferenças entre idosos e jovens: eles faziam parte da nossa vida, assim como as crianças

faziam parte da vida deles. Éramos criados por nossos nonos, idosos, sem discriminação,

apenas respeito.

O convívio me impulsionou ao passado, quando os idosos não tinham educação

escolar, mas tinham o conhecimento adquirido pela prática ao longo dos anos, conhecimento

cuja passagem era obrigatória de pai pra filho. Não havia receitas: apenas a função de lembrar

e aconselhar (BOSI, 1994, p. 18). A velhice pertencia ao dia a dia, não era vista como um

problema.

Orientada a participar das aulas na UATU/UPM, em meio a uma geração de nonos –

assim considerada por mim –, aprendi que ser idoso é aproveitar as oportunidades que nos são

apresentadas a cada momento, que não existe vergonha em não saber: existe sede de

conhecimento, de desenvoltura, existe memória, experiência e união.

Apesar do estranhamento causado num primeiro momento, fui aprendendo a (re)viver

e a conviver com uma geração cheia de vida, de vontade de aprender, de fazer novas

amizades, e mais: que as provocações em torno do professor com suas dúvidas e seus

conhecimentos faziam parte da aprendizagem, diferentemente da aprendizagem que eu mesma

vivi em sala de aula, quando criança, onde apenas o professor tinha vez e voz.

Ao unirmos nossa vivência e aprendizado neste trabalho, nos propusemos analisar o

impacto de um programa de extensão em educação continuada na vida do idoso. Para esta

análise foi escolhido o Programa de Inclusão Social denominado Universidade Aberta do

Tempo Útil, oferecido pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, que tem como principais

objetivos: proporcionar atividades educacionais voltadas à atualização e à aquisição de

conhecimento em diversas áreas do saber, desenvolver habilidades socioculturais,

privilegiando a alegria e o prazer da convivência com a cultura, e promover a integração do

idoso nos vários segmentos da sociedade.

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20

INTRODUÇÃO

Somos sempre o jovem ou o velho em relação a alguém.

Pierre Bourdieu

O tema idoso tem nos chamado a atenção devido ao grande aumento desta população

especialmente nas últimas décadas, ou mais precisamente nos últimos 50 anos, quando, de

acordo com os dados do IBGE4, a população de idosos brasileiros com 60 anos ou mais saltou

de 4,7% (1960), correspondentes a 3,3 milhões, para 10,8% (2010), ou 20,5 milhões,

resultado da redução dos níveis de fecundidade e mortalidade.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, entre o ano 2000 e o 2050, a

população mundial de idosos com mais de 60 anos ir á duplicar, passando de 11% para 22%.

Durante o mesmo período, o número absoluto de pessoas com 60 ou mais anos de idade

aumentará, muito provavelmente, de 605 milhões para dois bilhões, ou seja, uma pessoa em

cada quatro terá mais de 60 anos, sendo que duas pessoas em cada três viverão em países em

desenvolvimento5 - esses países, segundo a OMS, absorverão 80% das pessoas idosas

existentes no mundo.

Com isso a OMS necessita conhecer a demanda desses países, pois a preocupação com

a necessidade deles devido à transição demográfica tem levado a OMS a identificar novas

possíveis soluções e descobertas das reais necessidades para a construção de infraestrutura

que melhore a segurança das pessoas idosas.6

Para melhorar a estrutura, a OMS conta com a ajuda da tecnologia, de especialistas e

de dispositivos que permitam "identificar as necessidades das pessoas e, em seguida,

desenvolver a tecnologia",7 assumindo uma persperctiva evolutiva de acordo com cada

necessidade, já que, segundo Neri (1995, p 11), “não há ganho sem perda, nem perda sem

ganho”.

No dia Internacional da Pessoa Idosa, 1o de outubro, o Fundo de População das

Nações Unidas (UNFPA), pela HelpAge International, afirmou que o número de pessoas

idosas está aumentando mais rapidamente que qualquer outra faixa etária.

4 Fonte: <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_impressao.php?id_noticia=2170>. Acesso em

28ago2012. 5 Manual es para organizaciones y personas que organizan un Abrazo Mundial dentro de su comunidad. Disponível em: <http://www.who.int/hpr/globalmovement>. Acesso em 23jul2012. Tradução da autora. 6 Disponível em: <http://www.who.int/bulletin/volumes/90/3/12-020312/es/>. Acesso em 23jul2012. Tradução da autora. 7 Ibidem.

Page 21: Edi Sartori.pdf

21

Para compreender melhor a demanda do sistema, necessitamos compreender o

significado das palavras velhice, terceira idade ou idosos, palavras com significados e

interpretações diferentes, repletas de implicações e estereótipos, como, por exemplo, a

necessidade de aprender novas tarefas, de lidar com o novo e principalmente a cessação da

vida útil, ou seja, a chegada da aposentadoria.

Néri (1995, p. 28) relata o envelhecimento como “uma interação dos fatores genético-

biológicos do ser humano com as outras espécies”.

De acordo com Peixoto (1998), no século XIX, na França, o termo velho era usado

para a população pobre, pessoa decadente. Já o termo idoso era destinado a uma classe social

mais abastada, dando a impressão de que as pessoas mais velhas e com prestígio social não

eram consideradas velhas.

Para Barros (2003, p. 14), o termo velho seria utilizado para pessoas “aparentemente

marginais”, enquanto o termo idoso nos passa uma noção de respeito para com as pessoas que

já viveram mais de 60 anos, e a terceira idade nos remete ao pensamento da idade do lazer ou

de aposentadoria ativa.

Para Bosi (1994, p. 18/79), em nossa sociedade, “ser velho é lutar para continuar

sendo homem; é um fator natural como a cor da pele, é tomada preconceituosamente pelo

outro”.

Já o termo Terceira Idade, segundo Debert (1999), é uma construção das sociedades

contemporâneas e vem sendo empregado por se acreditar que é “isento de conotações

depreciativas”.

Guimarães (2006) ressalta que o processo de envelhecimento populacional acarreta

uma série de implicações nas mais distintas esferas – econômica, social, política, dentre outras

–, sendo um desafio para toda a sociedade, inclusive para os próprios idosos.

Sabemos que o envelhecimento biológico é inerente a todo organismo vivo, em

especial, ao ser humano, cujas alterações físicas demonstram a idade ou a velhice, e não pode

estar associado à rejeição e a qualquer tipo de discriminação ou preconceito, o que prevê

penas severas pela legislação. Prova dessa severidade pode ser encontrada na Política

Nacional do Idoso (Lei 8.842, de 4 de janeiro de 1994) e no Estatuto do Idoso (Lei 10.741, de

1º de outubro de 2003).

“A vida apresenta coisas reais e, às vezes, ensaiada” (GOFMAN, 2009, p. 9). Nela

presenciamos transformações, tendências... questionamos, aprendemos, crescemos,

compartilhamos experiências, nos identificamos e até representamos.

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22

Mas qual é o real sentido da vida? Cada um de nós deve descobri-lo. Para Bauman

(2009, p. 33), “é a alegria que faz as dores valerem a pena”, ou seja, o crescimento, o

conhecimento e a vivência é que nos mostrarão o sentido da vida.

Vivemos em uma transição demográfica, a da longevidade, momento este em que nos

deparamos com uma população chamada idosa, velha ou geração da terceira idade, como

mencionado. Os estereótipos são dos mais variados: pessoas de cabelos brancos, curvadas,

usando bengalas, com dificuldades para andar e muitas vezes dependentes de terceiros e até

marginalizadas pela sociedade.

A aposentadoria é uma palavra que leva à ideia de pessoa inútil e sem serventia ao

trabalho. Lembra-nos a imagem negativa do homem.

A aposentadoria decreta funcionalmente a velhice, ainda que o indivíduo não

seja velho sob o ponto de vista biológico. Por outro lado, a aposentadoria manteve uma relação direta com a questão da produtividade. Os

trabalhadores idosos, seja pela perda da força física, seja pelo

desconhecimento ou inadaptação às novas técnicas, são menos preferidos.

Assim, a aposentadoria é uma forma de produzir a rotatividade da mão-de-obra no trabalho, pela troca de gerações (SALGADO, 1989, apud

MEDEIRO, 1992, p.4)

Nas últimas duas décadas, observamos um aumento da população idosa, como já dito.

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), o período de 1975 a 2015 será

lembrado pela “Era do Envelhecimento”. O mundo terá mais de “2 bilhões de pessoas com

mais de 60 anos em 2050 - e 80% delas estarão nos países em desenvolvimento”. Esse fato se

deve, principalmente, ao controle da natalidade e ao aumento da expectativa de vida (LEME,

1997).

Neste trabalho contrariamos o que até então era visto com preconceito. Apresentamos

uma geração de cabelos brancos, incansável, que viaja, tem sua independência, diverte-se,

estuda, namora e apresenta mudanças significativas no comportamento, demonstrando que

essa nova fase da vida deve ser vivida com intensidade, aproveitada como as outras fases e

que a alma ainda é jovem, dando espaço à qualidade de vida, à felicidade, ao entusiasmo de

viver.

Segundo Néri (2001, p. 7), “durante o século XX, por mais de 50 anos, a gerontologia

considerou o envelhecimento como a antítese do desenvolvimento.” Hoje, ainda de acordo

com a mesma autora, a gerontologia “ocupa um lugar de destaque entre as várias disciplinas

Page 23: Edi Sartori.pdf

23

científicas (...), é considerada como campo multifuncional, pois considera a educação parte

integrante da última etapa da vida”.8

O desenvolvimento do ser humano deve ser constante e contínuo, por isso estudos

sobre a nova fase da vida, idosos ou velhos, vêm ganhando espaço e destaque no mundo todo,

não só nos domínios da vida privada, como também em espaços públicos.

Neste trabalho entendemos como idoso a pessoa que representa de forma estereotipada

as condições e as circunstâncias que envolvem a velhice, isto é, o indivíduo que possui suas

habilidades reduzidas, seja nos reflexos, seja na capacidade visual, auditiva, a pele enrugada e

dificuldade de locomoção devido a doenças biológicas.

8 Artigo Educação e gerontologia: desafios e oportunidades. RBCEH – Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento

Humano, Passo Fundo, 99-115 – jan./jun.2004.

Page 24: Edi Sartori.pdf

24

CAPÍTULO 1

A PESQUISA E SEU CONTEXTO

1.1 OBJETIVOS

Para a realização deste trabalho, traçamos objetivos gerais e específicos.

1.1.1 Objetivos Gerais

Compreender os vários aspectos que implicam a mudança de comportamento do idoso

ao frequentar o programa de educação continuada da Universidade Aberta do Tempo

Útil da Universidade Presbiteriana Mackenzie - UATU/UPM.

Realizar um trabalho teórico que não estivesse distanciado da realidade, contribuindo

para futuros estudos no campo da velhice e na educação continuada.

Atrelar a produção de conhecimento e os relacionamentos interpessoais à realidade

vivida pelos participantes da terceira idade na universidade.

1.1.2 Objetivos Específicos

Apontar as principais contribuições feitas pelos estudos recentes na área.

Identificar e caracterizar na legislação brasileira as normativas voltadas para o idoso.

Descrever os principais aspectos cognitivos, afetivos e sociais observados nas

representações elaboradas pelos próprios sujeitos.

Analisar, a partir dessas representações, quais as alterações sociais, políticas e

econômicas que essa nova fase da vida propõe.

Subsidiar projetos socioeducativos para idosos.

Identificar práticas socioeducativas e criativas que promovam a inclusão social do

idoso.

Identificar indicadores de qualidade de vida nos processos sociais e educacionais dos

idosos.

Investigar o sentido e o impacto das experiências de criatividade nos idosos.

Identificar a construção dos sentidos de ser idoso nas sociedades pós-modernas.

Page 25: Edi Sartori.pdf

25

1.2 METODOLOGIA DA PESQUISA

A metodologia utilizada neste trabalho foi a pesquisa de campo, de caráter descritivo,

com análise qualitativa exploratória, um método que, segundo Hagette (1987, p. 55), "enfatiza

as especificidades de um fenômeno em termos de suas origens e sua razão de ser".

Para Rea e Parker (2000, p.13), uma pesquisa é um processo de construção do

conhecimento, que tem como metas principais gerar novos conhecimentos através da

observação de fatos e fenômenos exatamente como ocorrem na realidade.

Os fenômenos estudados na pesquisa qualitativa privilegiaram o discurso dos

participantes dos cursos oferecidos pela Universidade Aberta do Tempo Útil da Universidade

Presbiteriana Mackenzie (UATU/UPM), com o intuito de observar in loco os benefícios

trazidos aos alunos pela universidade e pelas relações interpessoais de aspectos cognitivos,

afetivos e sociais.

A pesquisa de campo realizada na UATU/UPM contou com a presença da

pesquisadora, que esteve observando, participando e convivendo com os alunos em seu

ambiente de aprendizagem e em sala de aula, bem como partiu de um levantamento

bibliográfico, com registros fotográficos, além de documentos fornecidos pelos autores do

programa, e exigiu a determinação das técnicas de coletas de dados mais apropriadas à

natureza do tema, para que pudéssemos realizar a análise, pois uma pesquisa é sempre

empreendida por um sujeito cujo olhar deve vasculhar lugares já visitados, mas com um modo

diferente de olhar e pensar, partindo de uma experiência e de uma apropriação do

conhecimento bastante pessoal.

Minayo (1994, p. 21-22) reforça a pesquisa qualitativa pelo fato de responder a

questões muito particulares, preocupando-se “com um nível de realidade que não pode ser

quantificado”, além de investigar o “[...] universo de significados, motivos, aspirações,

crenças, valores e atitudes”, destacando com isso a exclusividade dos participantes.

Esta pesquisa tem como objetivo contribuir para a construção de novos

conhecimentos, abordando relações valiosas nas diversas situações sociais, educacionais,

como a importância da Universidade para a terceira idade, a família, o aumento populacional

do idoso, os aspectos demográficos, sociais, biológicos, intelectuais, bem como as mudanças

comportamentais diante da sociedade, tecendo relações com a educação continuada no

Programa de Inclusão Social de Educação Continuada do Tempo Útil.

O objetivo principal da realização desta pesquisa qualitativa foi o de compreender os

vários aspectos que implicam a mudança de comportamento do idoso ao frequentar o

Page 26: Edi Sartori.pdf

26

programa de educação continuada, a fim de realizar um trabalho teórico que não estivesse

distanciado da realidade, contribuindo para futuros estudos no campo da velhice e na

educação continuada.

Através desta pesquisa, somamos esforços no sentido de conseguir atrelar a produção

de conhecimento e os relacionamentos interpessoais à realidade vivida pelos participantes da

terceira idade na universidade.

Debert (1988) assinala que, ao utilizarmos histórias de vida, estamos possibilitando o

estabelecimento de um diálogo entre informante e analista, sendo que o primeiro nos fornece

novas dimensões sobre o objeto de análise, para que assim possamos reformular pressupostos

e hipóteses sobre determinado assunto.

1.3 DELIMITAÇÃO

A pesquisa foi desenvolvida no principal campus da Universidade Presbiteriana

Mackenzie, onde funciona a UATU/UPM, e envolveu alunos, professores e a coordenadora da

UATU/UPM, bem como um médico geriatra.

1.4 MÉTODO: MODALIDADES DA ENTREVISTA

Algumas entrevistas foram realizadas de forma semiestruturada; outras foram

realizadas de forma livre, dando voz aos entrevistados, guiando-os e/ou questionando-os

quando houve necessidade.

As entrevistas realizadas de forma semiestruturada obedeceram às seguintes diretrizes:

Dados caracterizadores dos entrevistados: nome; idade.

Dados relativos à Universidade: como ficou sabendo do curso;

narrativa sobre o curso desde o momento em que chegou à

universidade; a vivência na universidade; as mudanças ocorridas na

universidade nesse período; as reivindicações, as amizades.

Dados relativos às viagens; exposições; coral; comemorações da

terceira idade; qualidade do programa; qualidade de vida; motivação; a

experiência de estar na terceira idade; o futuro.

Page 27: Edi Sartori.pdf

27

1.5 PERFIL DOS SUJEITOS

Participaram da pesquisa três alunas da UATU/UPM, todas com idade acima de 60

anos, aposentadas, do sexo feminino, que frequentavam os cursos desde o momento em que a

universidade passou a funcionar ou desde os primeiros semestres em que ela iniciou as

atividades.

Buscou-se a preferência por esses sujeitos pelo fato de estarem há mais de 10 anos na

universidade e pelo fato de terem participado de quase todas as modificações pelas quais

passaram a universidade e os cursos desde sua abertura.

A opção por entrevistar apenas mulheres deve-se ao fato de serem elas maioria neste

programa e também para facilitar a análise dos dados, pois, caso contrário, mais uma variável

seria adicionada (a questão do gênero).

A escolha das alunas entrevistadas e a utilização de seus depoimentos foram feitas por

indicação da orientadora, que, por um determinado período, também foi professora e

coordenadora da UATU/UPM.

Também foram entrevistados um professor de história da arte brasileira; a atual

coordenadora da UATU/UPM; um médico geriatra e a ex-coordenadora do programa.

1.6 ANÁLISE DOS DADOS OBTIDOS

A análise dos dados obtidos e o material do trabalho de campo coletado serão

distribuídos pelos capítulos deste trabalho. A opção pela distribuição dos relatos dos

entrevistados teve como foco principal a participação de cada um deles na totalidade do

trabalho, já que o significado da fala de cada um dos entrevistados se deu dentro de um

contexto histórico, social e cultural, visando a compreensão do universo em que estavam

inseridos.

Page 28: Edi Sartori.pdf

28

CAPÍTULO 2

A UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE (UPM)

Às vezes pensamos que podemos alcançar facilmente

as riquezas e as honras com nossos próprios esforços, ou por meio do favor dos demais; porém, tenhamos sempre presente

que estas coisas não são nada em si mesmas, e que não

poderemos abrir caminho por nossos próprios meios, a menos

que o Senhor queira nos prosperar. João Calvino

2.1 UM POUCO DA HISTÓRIA INSTITUCIONAL

Considerada uma das maiores universidades de São Paulo e a melhor universidade

privada do Estado de São Paulo9, a instituição tem mais de 140 anos de história e 40 mil

alunos matriculados10

em seus 44 cursos disponíveis nas mais diversas áreas11

. Seu corpo

decente conta com aproximadamente 1780 profissionais, 1.527 colaboradores das mais

diversas áreas.12

Fundada em 16 de abril de 1952, com quatro faculdades consolidadas (Escola de

Engenharia, Faculdade de Arquitetura, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras e Faculdade

de Ciências Econômicas), a Universidade preserva e apoia o contínuo desenvolvimento do ser

humano. Investe em pesquisas de ponta e orgulha-se de estar presente em seis cidades

brasileiras, sendo reconhecida como um das melhores universidades do País. Possui campi de

graduação e pós-graduação em São Paulo (campus Higienópolis), Barueri (campus

Alphaville), Brasília, Campinas, Recife e Rio de Janeiro (como Faculdade Morais Júnior -

Mackenzie Rio).

Localizado na Rua da Consolação nº 930, no bairro de Higienópolis, um dos mais

nobres da cidade de São Paulo, o campus onde são oferecidos os cursos de graduação e pós-

graduação possui mais de 50 prédios.

9 Informação disponível em: <http://ruf.folha.uol.com.br/rankings/rankingporcursos/>. Acesso em 4set2012. Para avaliar a

aceitação dos cursos das instituições de ensino superior no mercado de trabalho, o Datafolha entrevistou 1.212 diretores, gerentes ou profissionais responsáveis pelos recursos humanos de empresas e instituições brasileiras. Foram contatadas aquelas que contrataram egressos de algum dos 20 cursos que mais formaram profissionais em 2010. 10 Informações obtidas da entrevista com o reitor, Dr. Benedito Aguiar, para a revista Mackenzie. Publicação do Instituto

Presbiteriano Mackenzie. Ano XIII – nº 52. Para mais informações, consultar: www.mackenzie.com.br. 11 Fonte: Assessoria de Comunicação. Disponível em

<http://www.mackenzie.br/portal/dhtm/assessoria_comunicacao/imprensa/institucional.php>. Acesso em 28ago2012. 12 Balanço Social 2010. Disponível em: <http://www.mackenzie.br/balancosocial.html>. Acesso em 10ago2012.

Page 29: Edi Sartori.pdf

29

Pode-se observar no mapa de São Paulo (FIG. 1) a localização da UPM e o seu

entorno. As setas indicam os acessos às estações de metrô mais próximas, bem como as ruas

Dona Veridiana Valéria da Silva Prado (Rua Dona Veridiana) e Dona Maria Antônia da Silva

Ramos (Rua Maria Antônia)13

, nomes de duas das três senhoras consideradas fundadoras do

bairro de Higienópolis.

Vale lembrar que São Paulo é considerada a sexta cidade mais populosa do Brasil14

,

sendo o principal centro corporativo, financeiro e mercantil da América Latina. Também

concentra a maior população de idosos do país, segundo dados do IBGE 2010: só a região

paulistana de Higienópolis congrega quase 15 mil pessoas com 60 anos ou mais.

FIGURA 1. Localização da Universidade Presbiteriana Mackenzie em São Paulo, campus Higienópolis

Fonte: <http://www.mackenzie.br/mapadaregiao.html>. Acesso em 4setembro2012.

A Universidade Presbiteriana Mackenzie atua em cursos que vão da Educação Infantil

à Pós-Graduação, em níveis de especialização, mestrado e doutorado, com ênfase especial na

produção de pesquisas acadêmicas. Instituição de caráter confessional, buscou, ao longo do

tempo, a melhoria em suas atividades. Cresceu com o país e sempre buscou satisfazer às

necessidades educacionais, mesmo estando diante de uma população que adotava o

catolicismo romano como religião.

Segundo seu atual reitor, Dr. Benedito Guimarães Aguiar Neto, a UPM possui foco em

três grandes objetivos: buscar a excelência no ensino, ampliar a inserção internacional e

13 Homem, M.C.N., Higienópolis, História dos Bairros de São Paulo. 14 Para mais informações, consultar IBGE/DPE/COPIS/GEADD.

Page 30: Edi Sartori.pdf

30

consolidar núcleos de excelência em pesquisa nas unidades com programas de pós-graduação

stricto sensu. Assim, o compromisso da Universidade Presbiteriana Mackenzie é o de

estimular e produzir o conhecimento das "ciências humanas e divinas".

Não há dúvida quanto aos princípios seguidos pela UPM quanto à preocupação com o

futuro do homem, pois foi com o espírito de crescimento de uma universidade moderna que

criou a Universidade Aberta do Tempo Útil, privilegiando alunos maiores de 18 anos, sem a

exigência de formação acadêmica.

FIGURA 2: Campus da Universidade Presbiteriana Mackenzie - Higienópolis hoje.

Fonte: http://www.mackenzie.br/universidade.html. Acesso em 4setembro2012

FIGURA 3. Universidade Presbiteriana Mackenzie/SP hoje. Na foto os primeiros edifícios construídos pela

Instituição, hoje reformados.

Fonte: http://www.encontrahigienopolis.com.br/higienopolis/universidade-mackenzie.shtml. Acesso em:

20ago2012.

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31

2.1.1 Por que Comunitária

Na década de 1940, as Instituições de Ensino Superior Comunitárias surgiram a passos

lentos15

, sendo somente em 1944 que o país fundou a primeira universidade confessional, a

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. As universidades comunitárias

consolidam-se apenas na década de 1980 (VANNUCCHI, 2011, p. 9), estando, em sua

maioria, concentradas no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina16

, onde constituíram marca

importante na afirmação de universidade comunitária:

... a ideia de universidade comunitária [surgiu] tendo em vista aquilo que já existia no Rio Grande do Sul, entre algumas universidades, repito,

tipicamente comunitárias. (...) Ficou o nome comunitário pela estrutura das

próprias universidades e pelos serviços prestados. Está escrito aqui: por que comunitárias? „São aquelas que são instituídas por grupos de pessoas ou por

uma ou mais pessoas jurídicas, inclusive cooperativa de professores e

alunos, que incluam na sua entidade mantenedora representantes da comunidade‟, por isso foi chamada de comunitárias. Então ficou esse nome

para distingui-las das demais particulares. (Pe. MARIONI, 1997)

De acordo com Vannucchi (2011, p 36-37), as universidades comunitárias são

“comuns; diferentes das estatais e das empresariais; pertencentes à comunidade e para a

comunidade; dirigidas por representantes internos e externos da comunidade; não possuem

fins lucrativos; não são estatais, no entanto executam serviço público”.

Para Ronca17

, presidente da ABRUC, existem diferenças entre as universidades, “até

mesmo entre as católicas”, mas o mais importante não é que as comunitárias formem um

“bloco homogêneo”, mas sim que elas tenham “objetivos comuns”:

O que eu acho é que as universidades comunitárias têm que ter (...) uma

identidade de princípios, de diretrizes, podemos até ter divergências (...)

dentre todo o conjunto das universidades comunitárias, existem algumas que têm mais uma marca [do que] outras. Se você pegar a PUC do Rio e a PUC

de São Paulo, que são duas universidades de excelência, elas têm diferenças

significativas (...), nós temos que preservar as nossas autonomias, as nossas idiossincrasias e as nossas características próprias (...). O que eu quero é que

haja princípios que a gente estabeleça como metas a seguir. Nesse sentido, a

fundação da ABRUC foi muito importante, porque nós começamos a perceber objetivos comuns.” (Entrevista, 1997).

15 Em 1931 inicia-se a criação da PUCRS. Surgem na década de 40, por exemplo, a Unicruz – Universidade de Cruz Alta e a

UCS – Universidade de Caxias do Sul, que se iniciou com movimentos isolados. Em 1949, por exemplo, tem início a Escola Superior de Belas Artes. 16 MACHADO, Ana Maria Netto. Universidades Comunitárias: um modelo brasileiro para interiorizar educação superior. In: SCHMITD, João Pedro. Instituições Comunitárias: instituições públicas não estatais. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2009, p. 79-80. 17

Antonio Carlos Ronca. Presidente da ABRUC – Associação Brasileira das Universidades Comunitárias.

Page 32: Edi Sartori.pdf

32

Como se pode observar, não existe uma definição clara, ou seja, a universidade

comunitária é alternativa, não é nem pública nem privada, é pública não-estatal18

, ou seja, as

universidades comunitárias não apresentam um formato único. Sua função é ensinar:

independentemente do sistema, as universidades devem ter seu foco no ensino, na pesquisa,

na extensão e na dissociabilidade, prevalecendo os interesses da comunidade.

Para Frantz (2002, p.17-18), o surgimento das universidades comunitárias ocorre num

contexto de "ausência do poder público no espaço de organização do ensino superior",

podendo ser entendidas como um “esforço pela construção de novos espaços públicos de

educação" (p.17), esforço este caracterizado como "experiência fundante de uma natureza

pública não-estatal" (p.18). Logo, o caráter público deriva da sociedade e não do Estado.

Vannucchi (2001, p. 26) afirma que o conceito de comunidade

ultrapassa de longe o mero conceito de sociedade, associação, agrupamento,

coletividade [...] tem um conceito próprio que se manifesta em estruturas

adequadas e consistentes [...] não se instrumentaliza ninguém, todos são tratados como pessoas[...] numa partilha contínua de suas experiências de

vida, e não apenas na convivência física.

O mesmo autor ainda se refere ao artigo 213 da Constituição Federal de 1988, que faz

menção às escolas comunitárias, mostrando que, independentemente de elas serem

confessionais ou filantrópicas, não podem ser lucrativas, devendo, portanto, aplicar os seus

excedentes financeiros em educação e em seu patrimônio; contudo, caso venham a encerrar

suas atividades, elas poderão destinar seu patrimônio a outra instituição congênere ou até

mesmo ao poder público.19

De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) nº.

9.394/96, as instituições privadas de ensino podem ser classificadas em: particulares (as

privadas trazem a ideia de individual e não de público); comunitárias (estas, por sua vez, são

aquelas que têm por base „o comum à comunidade‟, ao coletivo); confessionais (possuem

18 Para mais esclarecimentos, consultar Vannucchi, 2004, A Universidade Comunitária. 19 Art. 213 - Os recursos públicos serão destinados às escolas públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias,

confessionais ou filantrópicas, definidas em lei, que: I - comprovem finalidade não lucrativa e apliquem seus excedentes financeiros em educação: II - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder Público, no caso de encerramento de suas atividades. § 1° Os recursos de que trata este artigo poderão ser destinados a bolsas de estudo para o ensino fundamental e médio, na forma da lei, para os que demonstrarem insuficiência de recursos, quando houver falta de vagas e cursos regulares da rede pública na localidade da residência do educando, ficando o Poder Público obrigado a investir prioritariamente na expansão de sue rede na localidade.

§ 2° As atividades universitárias de pesquisa e extensão poderão receber apoio financeiro do Poder Público.

Page 33: Edi Sartori.pdf

33

cunho religioso ou filosófico) e, por fim, filantrópicas (estas têm ligação com ações

humanitárias).20

O que se percebe é que o conceito de comunitária é ambíguo, capaz de expressar

vários significados, não devendo ser compreendido como uma categoria estática, pois se

busca evidenciar que o processo de sua construção de identidade é mais elevado, atinge seu

mais alto nível, considerado “quase um apostolado profissional, uma verdadeira mística de

traços seculares” (VANNUCCHI, 2011, p. 40), ou seja, “a universidade autenticamente

comunitária deve ser medida pelo nível de fidelidade à sua missão.” (IDEM).

Poderíamos concluir que as “instituições comunitárias são as que, criadas com ou

sem interveniência do poder público local, são organizadas por comunidades nelas atuantes e

a elas vinculadas por seus objetivos educacionais”. (SAMPAIO, 1998, p. 210).

Como afirmado no texto do Manifesto das Universidades Comunitárias na Comissão

de Educação da Câmara dos Deputados: “Confessionais são as instituições vinculadas a

confissões religiosas legalmente constituídas ou a associações religiosas a elas ligadas,

também reconhecidas legalmente” (SAMPAIO, 1998, p. 210).

A Universidade Presbiteriana Mackenzie é uma instituição de ensino superior, de

direito privado, de caráter confessional e comunitário, sem fins lucrativos, de finalidade

educacional e filantrópica. É mantida pelo Instituto Presbiteriano Mackenzie, que tem como

associado vitalício exclusivo a Igreja Presbiteriana do Brasil.

Com suas raízes regidas por princípios éticos e cristãos de natureza calvinista, valoriza

as relações interpessoais, que, segundo a carta de Princípios Éticos21

, “contribuem para a

edificação de uma sociedade sadia, nos aspectos físico, social e espiritual.

2.1.2 Uma Universidade Confessional

A Universidade Presbiteriana Mackenzie tem fundamentação calvinista-presbiteriana.

O calvinismo surgiu durante uma Reforma Protestante, tornando-se uma das principais

religiões, tendo Lutero como um dos principais influenciadores.

Pensador e estudioso, Martinho Lutero fez com que a Bíblia fosse divulgada por todo

lugar, tendo como principal meta ensinar a população a enxergar a verdade através da palavra

de Deus.

20 LDB- Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Disponível em <http//www.portal.sinpeto.com.br>. Acesso em 11set2012. 21 Informação disponível em: <http://www.mackenzie.br/ano2000.html?&L=0>. Acesso em 13ago.2012.

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34

Calvino, juntamente com Lutero, foi um dos grandes pensadores e um dos mais

importantes teórico-práticos da didática, da pedagogia ocidental e até da sociologia escolar,

nas palavras de Gomes (s/d, p. 32-33). Tinha como ideal formar cidadãos do bem, com a

mente voltada ao ensino cristão e humanista, pois, acima de tudo, sempre teve um profundo

compromisso com aquilo que é humano. Sempre viu o ser humano como alguém que aprende

inerentemente, desde o mais simples camponês ao indivíduo mais instruído nas artes

liberais.22

Considerado o último humanista protestante, João Calvino nasceu na cidade de

Noyon, em 1509, ao norte da França, e morreu em 1564, em Genebra.

Como aspectos relevantes e decisivos para o preparo de Calvino, podemos destacar

sua formação na Universidade de Paris e ter conhecido os ideais da Reforma Protestante. Foi

convertido ao protestantismo da mesma forma que Lutero.

No contexto da criação das escolas e dedicação à educação, com o propósito de

realizar a sua obra reformadora político-religiosa, Calvino pode ser comparado a Comenius,

pois ambos se engajam na reforma da educação e na democratização do ensino, ensino este

que decorre da fé cristã e exige engajamento ético concreto, envolvendo a vida política,

econômica e social, aspectos relevantes no conceito calvinista de educação.

A Universidade Presbiteriana Mackenzie está firmada nos ensinamentos de Calvino:

busca interpretar e construir novos modos de organização e de relações sociais, bem como sua

relação com o humanismo, traço que valoriza os princípios proporcionando liberdade ao

estudante. Assim, prega pelos mais variados ensinamentos diante do ensino e da pesquisa,

como reza sua Missão:

Educar o ser humano, criado à imagem de Deus, para o exercício pleno

da cidadania, contribuindo para o desenvolvimento do ser e da sociedade, por meio de ensino, pesquisa e extensão, e de atividades culturais,

esportivas, sociais e espirituais, em ambiente de fé cristã reformada.23

Educar o ser humano para ele ser livre e produtivo como um todo, seja nos esportes,

na educação, no ambiente ou na fé cristã, seja ela qual for. Nesse sentido, cabe aqui ressaltar

que a Universidade Presbiteriana Mackenzie, por ser uma entidade educacional de natureza

confessional presbiteriana, recebe alunos de todas as religiões, credos ou crenças, como rezam

alguns de seus princípios:

22 Calvino, João. Institutas da Religião Cristã. 23 Disponível em: <http://www.mackenzie.br/missao.html>. Acesso em 13ago2012.

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35

Na sociedade: participação e prestação de serviços à comunidade.

E, em todas as circunstâncias, agir com amor, que é o vínculo da

perfeição.

No relacionamento interpessoal: lealdade, respeito mútuo,

compreensão, honestidade e humildade24

.

Devemos lembrar que o calvinismo ganhou diferentes nomes nas regiões da Europa.

Na Escócia, os calvinistas ficaram conhecidos como presbiterianos; na França, como

huguenotes; na Inglaterra, foram chamados de puritanos.

A educação calvinista brasileira, no entanto, fundamenta-se sob o pensamento

calvinista nas questões educacionais, que compunham o ensino cristão no currículo, na

melhor educação, para que as escolas tivessem os melhores mestres do ensino, e no

relacionamento com o aluno.

Aspectos como planejar e conhecer seu bairro, seu aluno, sua família, educando e

construindo conhecimento, também fazem parte de uma formação integral ou “ampla”, como

a de Calvino. Nesse contexto, a Universidade Presbiteriana Mackenzie tem como princípio de

Visão a formação integral do ser humano,

ser reconhecida pela sociedade como instituição confessional presbiteriana, filantrópica e de perfil comunitário, que se dedica às ciências divinas e

humanas; caracterizando-se pela busca contínua da excelência em ensino,

pesquisa e extensão; primando pela formação integral do ser humano, em

ambiente de fé cristã reformada.25

Comenius (1992), que viveu de 1592 a 1670, em sua obra “Didactica Magna” (1657),

indica as bases para uma educação universal, a partir da didática vista como a “arte de ensinar

tudo a todos”. Sua pedagogia está impregnada de uma forte conotação ético-religiosa para a

formação do “homem virtuoso”. Essa formação tem como exigência preparar o aluno de

forma integral para um mundo em constante transformação, primando por valores humanos,

formação ética, cristã e moral. Assim, a Universidade Presbiteriana Mackenzie trabalha com

três pilares de sustentação: “Confessionalidade; Compromisso com a Excelência de Ensino e

Gestão Eficiente”26

.

Mas não basta que a Universidade forme o ser humano de forma integral: de acordo

com Comenius (1992, p. 77), o homem também necessita refletir sua posição, preocupar-se

24 Disponível em <http://www.mackenzie.br/principios.html>. Acesso em 13ago.2012 25 Disponível em <http://www.mackenzie.br/visao.html. Acesso em 13ago.2012. 26 Hésio Cesar de Souza Maciel, diretor-presidente do Instituto Presbiteriano Mackenzie, em entrevista concedida à Revista

Mackenzie – edição especial 60 anos da UPM. Publicação do Instituto Presbiteriano Mackenzie. Ano XIII – nº 52.

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36

com o futuro, com a criação, com o espírito, pois o objetivo final do homem é viver na

eternidade com o Criador (LOPES; ARCI, 2010, p. 45).

2.2. A ESCOLA

[...] Quero encontrar o caminho que me leve ao centro de tudo,

Para viver a alegria de ser humano-aprendiz.

Maria Esther Pancer Zuliani27

FIGURA 5 – Capa do Folder da UATU/UPM

É de portas abertas que a Universidade Aberta do Tempo Útil (UATU/UPM) recebe

seus alunos. A porta entreaberta implica adentrar em territórios para pensar, pesquisar,

crescer, realizar sonhos, conhecer pessoas, fazer novas amizades, trocar experiências, interagir

e até (re)viver. (Re)Viver novos tempos, novos momentos, bem como delinear novas formas

de relações. Como diz Basaglia (1983, p. 43): “não temos a chave, mas, ao contrário, temos o

risco da relação, que é sempre aberto, e que é nossa habilidade manter aberto e não fechado”.

As portas que representam a UATU/UPM em seu manual, segundo Giora28

, foram

pensadas com “muito cuidado para que as pessoas percebessem que o Mackenzie estava

abrindo as suas portas para a comunidade”, ou seja, a universidade está bem representada de

acordo com seus princípios calvinistas, éticos e educacionais que zelam pelo contexto

comunitário confessional – ela deve existir para suprir as necessidades da comunidade

valorizando a educação.

27 Aluna da AUTU desde 1999. Jornal Geração Útil. Dez/1999. 28 Profa. Regina Giora, ex-coordenadora do programa. Vide entrevista anexa (p.185)

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37

Livre de chaves, as portas sempre abertas da UATU/UPM significam a “entrada para

que todos os filhos de Deus outorguem acesso à correta e cabal compreensão da Santa

Escritura”, como citado por Calvino em As Institutas29

, no sentido de que todos tenham fácil

acesso ao conhecimento, à aprendizagem, à cultura e à sociabilidade. Assim, essas portas

receberam o séc. XXI, modificado, reestruturado e redesenhado.

Diante de um cenário de modificações, como vem ocorrendo com a longevidade,

algumas universidades têm se preocupado em resgatar valores e criar programas voltados à

terceira idade, constituindo importantes centros de integração social ao idoso, com programas

educativos e de lazer. Esses programas oferecidos pela UATU/UPM são diferenciados dos

programas até então oferecidos para auxiliar os idosos.

A UATU/UPM dá oportunidade para todos os interessados a partir dos 18 anos, ou

seja, atende pessoas de diferentes faixas etárias, credos e camadas sociais, sem distinção de

raça ou cor, não constituindo “um programa de exclusão”. No entanto, a maioria dos

frequentadores do programa é de maiores de 60 anos, seleção esta que se “fez naturalmente”,

pois, se o limite de idade fosse, naquele momento, determinante, estaria “excluindo a

possibilidade das trocas de experiência entre os mais novos e os mais velhos”, afirma Giora.

Hoje as aulas ocorrem no Edificio Modesto Carvalhosa, situado dentro da

Universidade Presbiteriana Mackenzie, cujo nome homenageia aquele que foi diretor da

Escola Americana no início do século passado. Em seus seis pavimentos, há amplas salas de

aula, corredores também amplos, iluminados e bem equipados, com rampa, elevadores e

banheiros.

FIGURA 5. Edifício Escolar. FIGURA 6. Corredor de acesso às salas de aula Fonte: http://www.arcoweb.com.br/arquitetura/spadoni Fonte: http://www.arcoweb.com.br/arquitetura/spadoni -amp-associados-edificio-escolar-20-04-2007.html. -amp-associados-edificio-escolar-20-04-2007.html Acesso em 12out.2012. Acesso em 12out.2012.

29 O Pensamento de João Calvino/(apresentação Cláudio Lembo) – São Paulo: Editora Mackenzie, 2000-(Série

Colóquios; v.2), p.38.

Page 38: Edi Sartori.pdf

38

Além de toda essa infraestrutura, os alunos frequentadores da UATU/UPM têm o

privilégio de frequentá-la sem a exigência de formação acadêmica.

Outro benefício oferecido aos alunos da UATU/UPM é o valor simbólico pago por

eles. Não se trata de bolsa de estudos: a universidade é mantida pelo Instituto Mackenzie, que

complementa o valor da mensalidade em dois terços do valor total, ou seja, “sendo rico ou

pobre, o valor é mesmo para todos”30

os frequentadores da UATU/UPM. Afinal, o objetivo é

que num mesmo espaço possam estar reunidas pessoas de diversos níveis sociais e de várias

categorias de escolaridade.

A UATU/UPM hoje está vinculada ao Centro de Educação, Filosofia e Teologia –

CEFT, localizado no prédio 12, com a secretaria no andar térreo do mesmo edifício, sob a

coordenação da Profa. Ms. Maria Elisa Pereira Lopes

31. Disponibiliza 73 cursos à

comunidade32

, com 44 professores, permitindo melhorar a qualidade de vida, em especial dos

idosos, nos seus relacionamentos interpessoais, na sua expectativa de vida e,

consequentemente, na troca de experiências.

Esse interesse deve servir não só como apoio, mas também para se obter o máximo de

resultado de vida ativa desta população, concedendo-lhe maior independência de seus

familiares; oferecendo ao idoso a aquisição de conhecimentos, atualização e elevação da

autoestima; contribuindo para a melhoria da qualidade de vida e do exercício da cidadania;

dando maior significado à expressão Universidade Aberta do Tempo Útil.

De acordo com o Manual da UATU/UPM33

, são oferecidos cursos nas seguintes áreas:

Ciências Humanas e Sociais; Ciências Tecnológicas; Ciências Exatas e da Terra; Ciências da

Saúde; Linguística, Letras e Artes.

Seus objetivos são:

• Oferecer experiências educacionais voltadas à atualização, à capacitação e

à descoberta de novas competências. • Desenvolver habilidades socioculturais, bem como promover um espaço

para a sociabilidade e o crescimento pessoal com vistas ao pleno exercício

da cidadania. • Privilegiar a alegria e o prazer nos relacionamentos interpessoais,

oportunizados pela convivência com a cultura e com a arte.34

Os cursos ocorrem de forma semestral, contemplando um mínimo de 16 encontros

(aulas). Os interessados podem se inscrever-se em quantos cursos desejarem35

. Cada

30 Para mais informações, vide entrevista com Prof. Regina Giora, no anexo, p.185. 31 Formada em pedagogia pela PUC/SP, coordena a UATU/UPM desde 2007. 32 Conforme Manual Informativo da UATU/UPM – 2º Semestre de 2012. 33 Vide manual no anexo. 34 Ibidem.

Page 39: Edi Sartori.pdf

39

encontro/aula tem duração de 90 minutos, nos horários das 10h40 às 12h10, das 13h às 14h30,

das 14h35 às 16h05 e das 16h10 às 17h40, de segunda a sexta-feira. Somente os cursos de

Cerâmica, Aquarela, Pintura e Desenho é que funcionam em tempo dobrado, das 14h35 às

17h40.36

2.2.1 História

Inicialmente a UATU/UPM soube direcionar muito bem seus cursos, quando iniciou

suas atividades com pouco mais de trinta alunos, no ano de 1997, após uma visita à França

com o intuito de conhecer o modelo de universidade aberta daquele país.

Foi em 1973 que Pierre Vellas, a partir de sua experiência de vida com pessoas idosas,

instituiu na cidade de Toulouse, a Université du Troisième Age, um curso totalmente voltado

para os idosos37

. De acordo com Cachioni (1999), o programa havia sido criado para recém-

aposentados, denominados com a expressão “terceira idade”, porém não é este o foco da

UATU/UPM.

No Brasil, a primeira escola voltada à terceira idade foi fundada em 1977, no SESC-

SP38

, por técnicos que retornaram da França após intercâmbio na Université du Troisième

Age. Entretanto, a partir da década de 80, as universidades passaram a observar e a

desenvolver interesses voltados à população idosa. Segundo a pesquisa realizada sobre O

Perfil das Universidades da Terceira Idade no Estado de São Paulo39

,

O primeiro programa brasileiro de Universidade da Terceira Idade aconteceu

em Florianópolis, no ano de 1982, por meio do Núcleo de Estudos da Terceira Idade da Universidade Federal de Santa Catarina, tendo os objetivos

de realizar estudos e pesquisas, divulgar conhecimentos técnico-científicos

sobre o envelhecimento.

Na cidade de São Paulo, o pioneirismo coube à PUC/SP, em setembro de 199140

,

quando, por iniciativa do professor Jordão Netto, foi posto em prática um projeto piloto com o

35 Idem. 36 Idem. 37 Tinha por intuito verificar a possibilidade de propiciar às pessoas idosas uma melhoria na condição de vida. Com o apoio de voluntários dispostos a cooperar com seus organizadores, utilizava os recursos ociosos da universidade, salas de aulas, anfiteatros e equipamentos de ensino (PACHECO E SILVA, 1983). 38 O SESC, instituição criada em 1946, para servir como o braço paraestatal de serviço social no Brasil, patrocinou sua primeira atividade destinada a idosos não institucionalizados em 1963, em São Paulo (ASSIS, 1979). 39 ARRUDA, Ivan Eduardo de Abreu. Estudos sobre envelhecimento. Revista A Terceira Idade. São Paulo. v. 21. n. 47. p. 7-19. mar. 2010 40 Antecedida somente pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas - PUCCAMP, no Estado de São Paulo, criada em 1990 com o nome de Universidade Aberta para a Terceira Idade. Disponível em:

<http://revistaensinosuperior.uol.com.br/textos.asp?codigo=11220>. Acesso em jul.2012.

Page 40: Edi Sartori.pdf

40

nome de "Universidade Aberta à Terceira Idade". (Vale lembrar que a Pontifícia Universidade

Católica atende somente alunos com idade superior a 45 anos41

).

E foi em 1997 que a UPM criou um programa de educação continuada denominado

Universidade Aberta do Tempo Útil (UATU/UPM), tendo como foco incentivar pessoas com

idade acima de 60 anos, ou seja, seguir o modelo francês. Iniciou, de acordo com Giora

(2003) com pouco mais 30 alunos, vinculada à Faculdade de Filosofia, Letras e Educação.

Com o passar do tempo, a universidade passa a abrir espaço a todas as pessoas com idade

acima de 18 anos, tornando a UATU/UPM uma universidade diferenciada das demais, pois

não “excluia” ninguém, ela seria “aberta a todas as pessoas adultas, considerando que adultas

fossem as pessoas acima de 18 anos”42

, ou como regulamentado pela Política Nacional do

Idoso (Lei 8842/94) em seu artigo quarto,

[...] viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e convívio dos idosos com as demais gerações.

Ou seja, assegura os direitos e cria condições, integrando e promovendo a participação

da pessoa na comunidade, na família e na sociedade. Motivo mais importante na

reestruturação da UATU/UPM, pois “se constituiria um espaço de convívio”, onde “eles

podiam ampliar as suas habilidades sociais conhecendo outras pessoas.”43

Em 2000, após o término de seu pós-doutorado em Psicologia Social, a Profa

Regina

Giora, integrante da coordenação da UATU/UPM, passou a observar e analisar a dinâmica do

programa oferecido pela universidade e seu público participante, em sua maioria mulheres,

constando que “mudanças profundas levaram ao crescimento e expansão do programa”.

Alguns dos principais itens que estruturaram a Universidade Aberta, nas palavras da

Profa Regina Giora:

“1º Constituir um programa que não excluísse, por isso chamar-se Universidade

Aberta do Tempo Útil.

2º Não ser um programa especificamente para idosos.

3º Enfatizar que o mínimo de escolaridade seria o necessário.

4º Estender os „direitos‟ deles e reconhecê-los como alunos da Universidade.

5º Constituir um espaço de convívio para que eles pudessem ampliar suas habilidades

sociais, conhecer outras pessoas e conhecer outros lugares.

41 Informações disponíveis em: <http://inclusao.ibict.br/index.php/noticias/1104-sao-paulo-sp-universidades-oferecem-cursos-especificos-para-a-terceira-idade>. Acesso em 8mai2012. 42 Vide entrevista Prof. Drª Regina Giora no anexo. 43 Ibidem

Page 41: Edi Sartori.pdf

41

6º Incentivar as aulas de artes e a constituição do coral.

7º Ter o pensamento voltado à psicologia dos adultos.

8º Oportunizar e, isso ocorreu de forma natural, a todos aqueles que estavam

terminando seu doutorado ou seu mestrado e que tinham grande interesse em transmitir o

tema por que tinham optado na sua tese ou dissertação para a Universidade Aberta.”

Atenta às expectativas e às necessidades dos participantes, a Profa Regina passa a

colocar em prática o que considera de mais importante para seus alunos, fazendo com que os

professores que os atendiam também passassem a ser conhecidos e reconhecidos, além de

proceder a novas contratações de professores recém-titulados como mestres ou doutores, que

tivessem compatibilidade e domínio com os cursos oferecidos. Esse incentivo acabou por

ampliar o leque de ofertas dos cursos ministrados na UATU/UPM.

O curso de Artes foi um dos destaques, sob a responsabilidade do Prof. Rizolli, que

está na UATU/UPM há 11 anos, e que reforça o interesse por sua contratação após finalizar o

doutorado e ser contratado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, compondo também o

quadro de professores da UATU/UPM:

Logo quando eu cheguei aqui na universidade, um dos

primeiros contatos que eu tive foi com a professora Regina Giora

[...]então coordenadora da UATU. Ela me convidou, ao me

conhecer [...], para o módulo de História da Arte, onde eu lecionei

talvez por uns dois semestres, e então a gente percebeu que o

campo de história das artes poderia ser desenvolvido como um

curso independente [...] Eu fiz essa proposta e desde então venho

sendo professor de diversos cursos da UATU/UPM.

A partir dessa inovação, as ofertas ampliaram-se de forma a retomar o conhecimento

da nossa própria língua, o português, nossa língua-mãe, assim como outros vários cursos de

idiomas, como inglês, francês, italiano, espanhol, alemão, que estavam sendo ofertados

naquele momento, já que vários alunos estrangeiros frequentavam a universidade. De

imediato se percebeu que a melhor maneira de ensinar novas expressões aos brasileiros e

melhorar a fala dos estrangeiros seria inserir no cronograma a língua portuguesa, com aulas de

gramática, ortografia e redação.

Ações de inovação e ampliação também foram tomadas: expansão do número de

cursos, incluindo modalidades de Arte (de fotografia a escultura); Comunicação e Expressão;

Page 42: Edi Sartori.pdf

42

Informática e Humanidades; oportunidade dada aos alunos de usufruir de todos os espaços

acadêmicos: laboratórios, oficinas, academias de educação física, bibliotecas, colônia de

férias, recursos midiáticos; incentivo para que participassem de todas as atividades extras, de

cunho sociocultural: visitas a museus, exposições, viagens, participação em coral, entre

outras.44

Cabe salientar que a Universidade Presbiteriana Mackenzie possui um Centro de

Línguas Estrangeiras – Mackenzie, o CLEM. No entanto, o objetivo da UATU/UPM era

capacitar os alunos a conseguirem aprender sem a sofisticação oferecida pelo CLEM, de

forma instrumental, possibilitando-lhes conversar em situações coloquiais.

Dentre tantas mudanças, avanços, inovações e, especialmente, o acolhimento

oferecido pela coordenadora, Profa Regina Giora, com auxílio da comunidade interna da

universidade, o programa passa a ser divulgado dentro da Universidade Presbiteriana

Mackenzie, salientando-se que a UATU/UPM era um programa de extensão inclusivo que

todos podiam frequentar, que não havia restrição de público, dele podendo participar desde

donas de casa até empresários, desde que fossem maiores de 18 anos.

A partir dessa divulgação, vários alunos das unidades do Mackenzie passaram a se

interessar pelo programa e a frequentar as atividades, desmistificando a ideia de que a

universidade aberta se destinava somente às pessoas idosas, além de haver maior valorização

dos cursos de línguas.

Com o objetivo de crescimento e com o interesse em ampliar o programa, a Profa

Regina Giora, em seu primeiro ano de coordenadoria, propôs mudanças profundas. Após

compreender melhor o público participante e analisar a dinâmica do programa, passou a

solicitar aos professores recém-titulados, mestres e doutores, interessados em divulgar seus

conhecimentos, que apresentassem sugestões de cursos, em especial no âmbito de sua

especialização, buscando focar áreas até então negligenciadas. Com isso o programa foi

ganhando novos professores, que viam a possibilidade de continuar ali com seu objeto de

pesquisa do mestrado ou do doutorado.

Sempre atenta ao desenvolvimento, interessada em ampliar o conhecimento por meio

de uma qualificação e capacitação contínua, a professora coordenadora Regina Giora reforça a

integração entre jovens e idosos de diferentes classes sociais, conhecimentos e gêneros,

passando a representar a diversidade entre jovens e idosos de forma a enriquecer cada vez

mais a universidade e seus alunos, onde eles se sentiam acolhidos e valorizados.

44 Informações retiradas do trabalho Qualidade de vida e educação continuada, apresentado no III Congresso Ibero-

americano de Psicogerontologia, em 2009, pela Profa Dra Regina Célia Faria Amaro Giora.

Page 43: Edi Sartori.pdf

43

Acolhimento e valorização também foram descritos pelo professor Rizolli, quando se

refere aos alunos da UATU/UPM:

Eu estou interagindo com pessoas com altíssimo repertório

[...] enquanto eu ensino também estou aprendendo [...] A relação

afetiva eu acho que é algo muito importante [...] o aluno que tá

fazendo meu quarto curso, é quase que tem a crença naquilo que

eu estou oferecendo, mas tem também a vontade, o desejo de estar

com o professor.

Além dos cursos regulares, a UATU/UPM passou a oferecer atividades

complementares, como coral, teatro, visitas a museus e mostras de arte, palestras, fóruns,

oficinas, enfim, uma extensa programação gratuita para dar maior sustentação à teoria das

salas de aula.

A fim de facilitar ainda mais o acesso às atividades externas, a coordenadora

conquistou mais um diferencial: a carteirinha de estudantes aos alunos participantes do

programa de extensão:

FIGURA 7. Carteira de estudante. FIGURA 7A. Carteira de estudante. Do arquivo pessoal da aluna Maria Esther A. P. Zuliani Arquivo pessoal da aluna Maria Esther A. P. Zuliani

A partir desses avanços, a coordenadora Regina Giora pela primeira vez conquista o

“passaporte” para os idosos da UATU/UPM, com o qual eles realizaram sua primeira viagem

a Campos do Jordão, hospedando-se na Colônia de Férias do Mackenzie, com taxas de estada

irrisórias – mais um diferencial da UATU/UPM. Essa viagem aproximou os alunos,

reforçando e criando novas amizades, desenvolvendo o bem-estar e felicidade com qualidade

de vida, como podemos observar nos registros abaixo.

Page 44: Edi Sartori.pdf

44

FIGURA 8. Passeio a Campos do Jordão/2002 FIGURA 9. Almoço de confraternização em C.J. Natal/2002

Fonte: Arquivo pessoal Profa. Regina Giora Fonte: Arquivo pessoal Profa. Regina Giora

Lembro-me muito bem de quando esta história foi contada por Regina Giora em sala

de aula. O que me chamou a atenção foi o fato de as alunas terem de compartilhar os mesmos

aposentos e estes, por sua vez, terem camas beliche. As alunas questionaram se iriam dormir

na parte de cima da cama, demonstrando ao mesmo tempo “medo” e estranheza pelo fato de

nunca terem tido tal necessidade, “disputando”, inclusive, sobre quem dormiria no “andar”

superior da cama.

Destacamos mais uma vez a importância do papel que a UATU/UPM exerce sobre

suas alunas, sem distinção de classe econômica, social, intelectual, raça ou credo.

Com os avanços e oportunidades criados pela visão empreendedora da coordenadora

geral do projeto, a UATU/UPM passa a destacar-se e a tomar dimensões de caráter afetivo, e

a procura por novos cursos de interesse dos alunos aumenta consideravelmente.

Novos horizontes, a descoberta de que a idade não era obstáculo e a independência

conquistada após algumas aulas foram suficientes para que as estratégias postas em prática

pela então coordenadora levassem as alunas, que antes tinham medo do mouse, a buscar no

curso de informática aprofundamento de seus conhecimentos, o que ocorreu também com os

cursos de línguas.

Nas palavras de Giora,

Eles aprendiam [...] a entrar na internet e buscar outros

espaços onde eles podiam se conectar. Foi uma coisa fantástica

e como era um pessoal, ou que, precisava voltar pro mercado de

trabalho, ou estava em casa ocioso, isto aqui passou a ser uma

experiência fantástica ao ponto de as primeiras turmas, assim

que terminava o básico (que antes eram três semestres só,

terminou o básico, terminou), começar a exigir coisas mais

Page 45: Edi Sartori.pdf

45

sofisticadas dadas pela disciplina. Quer dizer, isso foi uma

experiência e tanto.

O que eu percebi também foi o número de pessoas que vinham

contar pra mim que elas tinham voltado a trabalhar fora em

decorrência daquilo que a Universidade Aberta tinha

possibilitado. O conhecimento, mínimo que fosse, mas básico de

línguas e o conhecimento de informática. (Cf.entrevista anexa)

Contrariando os estereótipos de uma sociedade culturalmente criada para viver entre

jovens e “descartar” os idosos, em 2009 a UATU/UPM ofereceu 85 cursos, com quase 1000

matrículas45

. Exemplo de iniciativa na melhoria da qualidade de vida, criatividade e, acima de

tudo, exemplo de humanidade e respeito.

De acordo com Giora, esse aumento se deve ao fato de que os alunos começaram a

participar das atividades de divulgação – no início, principalmente, a propaganda era boca a

boca, nas salas de aulas dos centros da Universidade –, com a intensificação dos

conhecimentos feitos in loco (visitas a museus, exposições e viagens). Também contribuíram

para o aumento o entusiasmo dos professores recém-formados e o entusiasmo da própria

coordenadora, por estar realizando algo ousado e inovador em todos os sentidos.

A motivação foi um dos pontos fortes que fez com muitas pessoas/alunos/professores

se sentissem atraídos, para que sentimentos de solidão, inutilidade, incapacidade e

desesperança, especialmente entre os idosos, não permeassem aquele ambiente e a vida das

pessoas. Para Comfort (apud CALDAS, 1998, p.28), “os idosos têm necessidade de participar

das atividades de lazer para não se sentirem sozinho”.

Ou seja, a UATU/UPM estimula as pessoas e/ou os idosos a frequentá-la, pois oferece

espaço para compartilharem suas vivências e permite a troca de experiências entre as mais

variadas fases da vida, possibilitando que possam aprender coisas novas, contrariando a visão

de Barros (2003, p. 132), quando se refere ao agrupamento ou à seleção por ocasião da

interação e da sociabilidade: “a seleção deve ser realizada de tal forma que combine com a

identidade assumida pelo outro indivíduo ou grupo na relação social, caso contrário a relação

não se estabelece”.

45

Informações disponíveis em: <http://www.geracoes.org.br/arquivos_dados/foto_alta/arquivo_1_id-154.pdf.>. Acesso em

07 de setembro de 2012.

Page 46: Edi Sartori.pdf

46

O motivo desse sucesso também se deve ao fato de que as pessoas participantes dos

cursos, além de conquistarem e fazerem novas amizades, acabam por descobrir novas

habilidades, sociabilidade e novos talentos.

Esses talentos transformaram uma classe. Mesmo sem “perceber o comprometimento

do programa com elas”46

, as pessoas expandiam suas amizades, conhecimentos, trocavam

experiências, conviviam com jovens, e tornaram-se grandes estudiosas: “elas tinham (e têm

até hoje) grupos de estudos onde o pessoal que participava do grupo tinha a idade dos filhos”.

Condição favorável para que a autoestima se (re)desenvolvesse, para que voltassem a

viver, houvesse resultados positivos na qualidade de vida. Muitas até saíram do estado

depressivo em que se encontravam e, consequentemente, alegravam-se e cultivavam o

conhecimento de quem as cercava com suas histórias de vida.

O fator família também teve seu processo de estranheza “atingido” pelo “furacão

UATU/UPM”. As estratégias inovadoras e ousadas de Giora levaram alguns familiares até a

universidade para esclarecimentos sobre o que estava acontecendo com suas esposas para tal

“transformação”:

O marido [...] de uma delas veio tirar satisfação comigo,

querendo saber o que eu estava fazendo com a mulher dele.

Falei: eu não estou fazendo nada, só estou dando pra ela a

oportunidade, aqui na universidade, dela voltar a viver. É isso,

só voltar a viver.

Voltar a viver “significava dar chance a si própria de aumentar sua autoestima”47

e

consequentemente passar a viver de forma mais independente, como lembrado por Busse48

,

que reforça o fato de que, para que as pessoas possam viver mais e com qualidade de vida,

elas devem manter seus laços de amizade, com familiares ou com colegas universitários, e,

para que haja um “aumento de funcionalidade [...], elas têm de reconstruir pra não sentir a

solidão, [...] devem buscar reconstruir na comunidade, seja na comunidade religiosa, ou na

universidade, ou em novas perspectivas para não ficar dependente”.

46 Cf. entrevista Profa Giora. 47 Cf. entrevista anexa, p.143. 48 Prof. Dr. Alexandre Busse. Doutor pela FMUSP, Geriatra do Serviço de Gerontologia do Hospital Sírio-Libanês. Pesquisador na área de Envelhecimento Saudável e Atividade Física junto ao grupo da USP participando do Grupo de

Pesquisa do CNPq.

Page 47: Edi Sartori.pdf

47

Além da conquista da independência e do aumento da qualidade de vida, as alunas

também se beneficiavam com o baixo custo das mensalidades, devido ao compromisso social

da Universidade abrir-se para a comunidade. Como o Instituto49

assume o compromisso

financeiro no que corresponde a dois terços do valor das mensalidades dos cursos da

UATU/UPM, declaram-se otimistas e mais dispostas à convivência em grupo.

Alguns apresentavam mais qualidade de vida – mesmo com diagnósticos médicos de

pouco tempo de sobrevivência, constatava-se a sobrevida de até dois anos –; outros

apresentavam relatos de que haviam perdido a esperança de viver após o falecimento de um

familiar, especialmente no caso de esposas e maridos, e que, após frequentar o programa,

passaram a sentir mais vontade de viver, de acordo com Giora, o que reforça o quão

gratificante se tornava continuar apostando no programa e no recriar.

Após nove anos afastada das atividades da UATU/UPM, Regina Giorgia estabelece

parceria com o grupo de pesquisa e estudo sobre criatividade, vinculado ao Programa de Pós-

graduação em Educação, Arte e História da Cultura da Universidade Presbiteriana Mackenzie,

e realiza o I Encontro de Criatividade na Arte, na Ciência e no Cotidiano, com a

finalidade de proporcionar a divulgação dos estudos realizados na Universidade e para que

todos os alunos recém-formados mestres ou doutores apresentassem seus trabalhos à

comunidade interna e externa da universidade. Ao todo foram 22 trabalhos apresentados e

distribuídos entre 3 salas do mesmo edifício onde ocorrem as aulas da UATU/UPM.

Cabe observar que, nos últimos anos, especialmente a partir da década de 1990, outras

instituições de ensino superior, públicas ou privadas, abriram espaço para os programas de

extensão para terceira idade. Dentre estas universidades podemos destacar a Universidade de

São Paulo (USP)50

, que atende alunos com idade mínima de 60 anos; a Pontificia

Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP)51

, que atende somente pessoas acima de 45

anos; a Universidade Metodista de São Paulo (UMESP)52

, que disponibiliza cursos para

pessoas com 50 anos ou mais; as Faculdades Integradas de Santo André (FEFISA)53

, com

cursos de extensão somente para pessoas acima de 45 anos. Contudo, apenas a UATU

possibilita essa interação entre gerações, já que em todas as universidades citadas e

pesquisadas a extensão privilegia somente pessoas a partir dos 45 anos.

49 Instituto Presbiteriano Mackenzie. 50 Informações disponíveis em: <http://www.prceu.usp.br/programas/3idade/index.php>. Acesso em 8maio2012. 51Informações disponíveis em: <http://inclusao.ibict.br/index.php/noticias/1104-sao-paulo-sp-universidades-oferecem-cursos-especificos-para-a-terceira-idade>. Acesso em 8mai2012. 52Informações disponíveis em: <http://noticias.universia.com.br/destaque/noticia/2005/01/27/490688/universidade-da-terceira-idade-da-umesp-recebe-inscries.html>. Acesso em 08maio2012. 53 Disponível em: http://www.fefisa.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=126&Itemid=160. Acesso em

8maio2012.

Page 48: Edi Sartori.pdf

48

Mesmo diante de tantas alterações na sociedade, envelhecer, hoje, não significa mais

“aposentar-se”, como se pensava no século passado, porém a “defasagem” em trabalhos sobre

educação continuada na terceira idade, em que esses sujeitos dão voz ao estudo, chama a

atenção e foi o que nos estimulou para esta pesquisa, relatando e publicando resultados desses

sujeitos com potencialidades para este vasto e complexo campo, pouco explorado: a educação

continuada na terceira idade.

Temas como cultura, ambiente social, família, escola, mídia, identidade e economia

complementam o trabalho, facilitando o “intercâmbio” das visões transversais, conduzindo-

nos aos conceitos elaborados por Japiassu (1976): multidisciplinaridade, pluridisciplinaridade,

interdisciplinaridade e transdisciplinaridade, bem como nos levam a compreender a trajetória

desses indivíduos, pois cada um tem seu cenário, sua percepção, imaginação, cultura,

vivência, codifica o mundo à sua maneira, à sua forma, aos seus valores histórico-culturais, de

acordo com o cenário em que viveu, e desses cenários reúne forças, histórias e resultados,

positivos ou não.

O impacto da ousadia, da criatividade e da iniciativa causado pela UATU/UPM, levou,

na época, a coordenadora Profa Dr

a Regina Giora a receber o troféu de uma das 10 mulheres

mais importantes da comunidade, outorgado pela comunidade de Higienópolis/SP. Deve-se

salientar que foi a única mulher até então a ganhar destaque na comunidade por um trabalho

acadêmico.

De acordo com a própria Profa Regina Giora,

Hoje você vê a UATU/UPM atingindo vários bairros, até

pessoas de outras cidadezinhas [mas, na época,] quando as

pessoas falavam na UATU/UPM, isso tinha um peso muito

grande, uma importância muito grande, porque eu tinha uma

consciência muito clara que nós não tínhamos que atender

apenas as carências econômicas.

A experiência multicultural é sempre muito enriquecedora, além das relações afetivas

e sociais encontradas na UATU/UPM, independentemente da idade.

O que acabamos de apresentar foram apenas algumas das criações que desenvolveram

e propiciaram o crescimento da UATU/UPM, o que nos permite ousar salientar que muito

deve ser feito para que esta universidade se desenvolva e continue a crescer.

Page 49: Edi Sartori.pdf

49

Um dos fatores que devem ser levados em consideração no sentido de que devemos

unir forças para alavancar a UATU/UPM são os números das matrículas, que atualmente

(2012/2º semestre) correspondem a 800,54

com 550 alunos, sendo que em 2003 o número de

matrículas realizadas foi de 1179, com 600 alunos, 35 cursos e 39 professores55

, conforme

gráfico 1:

GRÁFICO 1 – Matrículas na UATU/UPM - 2003/2012

Ou seja, a UATU/UPM não está “redonda”, precisa de ajustes rápidos, pois, caso isso

não ocorra, ela será como nos primórdios franceses: os espaços utilizados serão somente

aqueles ociosos da universidade. Investimentos são necessários, tanto no sentido financeiro,

patrimonial quanto intelectual, já que o número de cursos sofreu redução em relação aos anos

anteriores, assim como o número de matrículas, que tiveram uma queda de 47% em relação ao

ano de 2003.

Outro fator a ser ressaltado são as opções de cursos ofertados e o número de

professores, analisados entre os anos de 2010 (1º semestre) e 2012 (2º semestre). Em 2010,

havia 79 cursos com 73 professores e, em 2012, foram ofertados apenas 73 cursos, com 44

professores56

, queda de 9% em relação aos cursos e 60,27% em relação aos professores.57

54 Número relatado pela coordenadora do programa. 55 Disponível em: < http://www.mackenzie.br/fileadmin/IPM/Responsabilidade_Social/balanco/balanco2003.pdf>. Acesso em 07setembro2012. 56 Não tivemos acesso aos dados reais referentes a todos os anos de existência da UATU/UPM. Devido à falta de

informações, trabalhamos somente com esses dados. 57 Salientamos novamente que o número de alunos, matrículas e professores analisados foram somente referentes aos anos

dos quais foi possível obter informação (De acordo com a professora Misa, atual coordenadora do programa, seu superior imediato não permitiu a divulgação dos dados, por serem sigilosos. Encontramos algumas referências no balanço Social, que,

no entanto, não foram suficientes para que pudéssemos realizar uma análise mais detalhada sobre o assunto.)

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

2003 2012

matrículas

alunos

Page 50: Edi Sartori.pdf

50

GRÁFICO 2 – Cursos ofertados e número de professores

Cursos oferecidos no 1º semestre de 2010

Cursos oferecidos no 2º semestre de 2012

Curso Quantidade Professores

Curso Quantidade Professores

Artes 5 4

Artes 4 4

Exatas

Exatas 2 2

Humanas/Psicologia 22 16

Humanas/Psicologia 14 12

Cinema 5 3

Cinema 1 1

Informática 8 5

Informática 9 5

Língua e Estrangeira 30 15

Língua Estrangeira 35 13

Alemão 1 1

Alemão 2 1

Espanhol 7 2

Espanhol 7 2

Francês 5 4

Francês 6 3

Inglês 12 15

Inglês 15 6

Italiano 5 1

Italiano 5 1

Língua Portuguesa 1 1

Português

Saúde e Bem Estar 8 6

Saúde e Bem Estar 8 7

Total 79 73

Total 73 44 QUADRO 1 - Cursos oferecidos no 1º semestre de 2010 QUADRO 2 - Cursos oferecidos no 2º semestre de 2012

Percebe-se que os cursos com maior variedade de opções são os de Língua

Estrangeira, com duração de três semestres para cada módulo (em cada idioma), denominados

Básico I, Básico II e Básico III. Além do Básico, é oferecido um curso instrumental em

Língua Estrangeira, visando o aprimoramento de vocabulário das situações da vida

cotidiana58

.

58 Informações obtidas no Manual Informativo da UATU/UPM – 2º Semestre de 2012. Disponíveis também em

<http://www.mackenzie.br/uatu.html>. Acesso em: 07setembro2012

0

20

40

60

80

100

2010 2012

Cursos

Professores

Page 51: Edi Sartori.pdf

51

Segundo a Coordenadora do programa59

, os cursos de línguas são os cursos com maior

procura:

[...] demanda bastante grande [...] porque [...] esses cursos são

livres, o aluno que vem fazer os cursos de línguas não passa por

nenhum teste [...].

Todos os cursos funcionam com um número mínimo de alunos:

Tem que ter mais de 10 alunos, com algumas exceções.60

Percebe-se um equívoco ou contradição nas informações, pois nas entrevistas as

alunas nos relataram que:

Línguas é muito interessante, é benéfico, mas houve restrição

nas outras áreas de psicologia. Aquarela é razoável. Eu

sugeriria isso, a gente ser atendida na parte de cultura geral,

entretenimento.

Eu quero uma coisa que me entusiasme, que me deixe pra cima.

Cursos de línguas eu não preciso, porque conheço varias línguas.

As professoras de psicologia que eram famosas no Mackenzie

continuam fazendo no consultório delas, e como a gente gostava

muito delas...

O curso de português também não está sendo oferecido neste semestre. O ideal seria

que a nossa língua-mãe se mantivesse, pois o programa não é destinado apenas a brasileiros.

Com a globalização, devemos estar preparados para atender a todo tipo de demanda, inclusive

de estrangeiros. Cabe destacar que o português é uma língua difícil, cheia de regras e não

59 Vide entrevista anexa. 60 Ibidem.

Page 52: Edi Sartori.pdf

52

poderíamos dispensá-la, afinal, sua importância é tanto quanto se não maior do que as outras

línguas.

Não podemos estar despreparados nesse sentido, pois o programa já recebeu como

aluna a última sobrevivente da “Lista de Schindler”, uma experiência extraordinariamente

rica, no sentido de vivências e conhecimentos para o grupo presente, em que um enriquecia o

outro, um alimentava o outro com suas vivências, causando impacto até na sociedade.

Devemos estar sempre atentos à população participante. Ajustar, trocar, alterar,

modificar os temas, os cursos e ampliar a grade curricular são fatores determinantes para que

a UATU/UPM continue a crescer, a se desenvolver, a se destacar e a beneficiar a sociedade,

especialmente a população do bairro Higienópolis, a mais próxima da universidade, que

comporta mais de 65 mil pessoas com idade superior a 60 anos, segundo dados do IBGE

2010.

O número de profissionais disponíveis na secretaria deve estar adequado para

atendimento à demanda, pois esta população quer “ser olhada nos olhos, quer atenção”61

e,

como lembrado pela coordenadora:

a demanda é muito grande pelo número de funcionários que a

gente tem.

A mobília também deve estar adequada, de acordo com a ergonomia, para atender as

pessoas idosas, já que elas, quando não saudáveis, podem apresentar dificuldades decorrentes

de postura, por exemplo, como lembrado por uma das entrevistadas:

O inferno da sala de aula são as carteiras, porque não são

feitas pra gente de (...) que passou dos 30 (anos) vamos dizer. É

muito incômodo sentar-se, levantar-se... é muito incômodo, é

muito incômodo.

Lembramos que isso também pode ocorrer com indivíduos jovens, pois o

envelhecimento é um processo contínuo na vida das pessoas, e as dificuldades podem se

manifestar em diferentes idades.

61 Professora Regina Giora, em entrevista anexa.

Page 53: Edi Sartori.pdf

53

Sendo um programa “maravilhoso”62

, que merece atenção e que “vem crescendo e

cumprindo um papel social muito importante, oferecendo cursos de qualidade”63

, a

UATU/UPM desenvolveu neste semestre um questionário para saber dos alunos “o que eles

acham que a universidade poderia melhorar.”64

De acordo com a coordenadora Misa, normalmente isso é feito in loco, mas,

especialmente neste semestre, a pesquisa foi feita no formato de questionário aberto, para que

os alunos pudessem se expressar melhor.65

2.2.2 Desenvolvimento

Os alunos/estudantes-aprendizes e veteranos do curso de aquarela da UATU/UPM

expuseram seus trabalhos no hall do Edifício João Calvino, no Campus Higienópolis da

Universidade Presbiteriana Mackenzie, na exposição intitulada Aquarelando 201266

.

FIGURA 10. Exposição Aquarelando - outubro/2012. Hall do Edifício João Calvino- Mackenzie

Fonte: Arquivo pessoal.

62 Segundo a coordenadora, em entrevista anexa. 63 Ibidem 64 Ibidem 65 Modelo do formulário da pesquisa, apresentado para que fosse preenchido pelos alunos, encontra-se no anexo. 66 A exposição ocorreu entre os dias 23 de agosto e 9 de setembro de 2010 e foi aberta à visitação externa nos seguintes

horários: de segunda a sexta-feira, das 9 às 21h, e aos sábados das 9 às 16h. Disponível em:

<http://www.mackenzie.br/portal/dhtm/assessoria_comunicacao/imprensa/releases.php?ass=1115&ano=2011>. Acesso em

1agosto2012. Vide folder na pág. 232.

Page 54: Edi Sartori.pdf

54

Apresentamos aqui um trabalho realizado pela aluna Maria Esther em 2008, sobre

Aquarela. Ela desenvolveu uma pintura que foi referência e escolhida para compor o convite

dos 10 anos da Universidade, como podemos observar no detalhe das figuras 11 e 12.

FIGURA 11. Convite - capa.

Fonte: Cedido pela autora

Page 55: Edi Sartori.pdf

55

FIGURA 12. Convite - parte interna.

Fonte: Cedido pela autora

Page 56: Edi Sartori.pdf

56

A mesma autora também apresenta outros trabalhos realizados nas aulas de Aquarela,

declarando a paixão pela pintura,67

, além do artigo publicado no jornal68

.

FIGURA 13. Texto de aluna publicado.

Não podemos deixar de falar das anotações de relatos que ela faz para, quem sabe um

dia, tornar-se um livro para que seus familiares e amigos possam degustar o saber do que é

viver para o bem, para o belo e para o bom.

67 Vide entrevista anexa. 68 Jornal Laboratório elaborado pelos alunos do Módulo II da Oficina de Jornalismo da Universidade Aberta do Tempo Útil

da Universidade Presbiteriana Mackenzie – Dezembro de 1999.

Page 57: Edi Sartori.pdf

57

Figura 13A - Manuscritos de aluna

Page 58: Edi Sartori.pdf

58

2.3 CORAL DA UATU/UPM

FIGURA 14 – Foto do Coral FIGURA 15 – Foto dos componentes do Coral Fonte: http://www.mackenzie.br/coral_uatu.html. Fonte: http://www.mackenzie.br/coral_uatu.html Acesso em 1set.2012 Acesso em 1set.2012

FIGURA 16 – Foto do Coral – Apresentação FIGURA 17 – Foto do Coral - Apresentação internacional -

internacional – Chile Argentina

Fonte: http://www.mackenzie.br/coral_uatu.html. Fonte: http://www.mackenzie.br/coral_uatu.html Acesso em 1set.2012 Acesso em 1set.2012

A constituição do coral da UATU/UPM, de acordo com a Profa Regina Giora em sua

entrevista, teve o objetivo de eles “se perceberem também como participando de outras

atividades que eu chamava extras”. Atividades estas “que não eram específicas, mas que

faziam parte do todo”.

As atividades extracurriculares tomaram uma dimensão inesperada, pois hoje o coral

já se apresenta em outros países, como foi o caso do Chile e da Argentina em 2011:

Entre os dias 19 e 29 de Outubro de 2011, trinta e três pessoas integrantes dos corais da UATU/UPM, coral feminino e

Terceira Idade da Divisão de Arte e Cultura, fizeram uma

viagem cultural pelo Chile e Argentina. O grupo foi acompanhado pela sua regente, profa. Junia Chagas, a pianista

Sandra Boletti Vargas e pelo violonista Ricardo Arruda. Entre

outros lugares, o grupo visitou Santiago, Vina Del Mar,

Fonte:

http://www.mackenzie.br

/coral_uatu.html

Consulta 01 de setembro

de 2012.

Regente: Sandra Vargas

Preparadora Vocal:

Silvana Neres

dra Vargas

Preparadora

Vocal: Silvana

Neres

Page 59: Edi Sartori.pdf

59

Valparaíso, Puerto Montt, Puerto Varas, Frutillar, Bariloche e

Buenos Aires.69

Enfim, uma universidade de caráter e importância social relevantes, que necessita de

atenção, de preparo, de sensibilidade para atender a todos, sem distinção, com total atenção

aos idosos que dela fazem parte.

O caráter humano e sensível de quem a lidera, de quem a coordena, bem como de seus

professores e de toda a comunidade interna, deve fazer a diferença, deve ser destaque para que

ela seja reconhecida nacional e internacionalmente. Os benefícios e as promoções culturais

devem ser partilhados e compartilhados com toda a sociedade.

A UATU/UPM deve ter como:

Missão: “Colaborar no desenvolvimento e na transformação do ser humano

dentro de um ambiente de fé cristã reformada, oferecendo à sociedade serviços educacionais adequados ao seu desenvolvimento, crescimento e

bem-estar social.”

Visão: “Ser uma instituição reconhecida nacional e internacionalmente pela ênfase no atendimento a toda a comunidade, sem distinção, de maneira

inovadora, tendo como referência confessional o ambiente cristão.”

Valores: “Inovação, integridade, respeito ao indivíduo e ao crescimento

pessoal, mantendo a qualidade na educação voltada ao programa de

educação continuada para o tempo útil.”

Para Drucker (1999), uma empresa não se define pelo seu nome, ela se define pela sua

missão, e somente uma pessoa obcecada por uma missão é a responsável pela concretização

de seu objetivo.

2.4 O ESTADO DA ARTE COM RELAÇÃO AO IDOSO

O conceito de arte é amplo e divergente, especialmente entre historiadores e críticos.

No entanto era entre os filósofos que ocorriam as características questionadoras. Sócrates,

dizia que arte “é tudo o que é belo e útil”. Platão (427 - 348 a. C.) conceituou a arte como

“obra feita segundo modelo que o artista tem na mente” ou ainda “arte é a imitação, cópia

69 Disponível em: <http://www.mackenzie.br/coral_uatu.html>. Acesso em 10ago2012.

Page 60: Edi Sartori.pdf

60

imperfeita da natureza – habilidade humana”. Já Aristóteles afirmava que “arte pode ser

qualquer ideia preestabelecida pelo artista."

Porém, com o avanço das tendências culturais, a arte sofreu transformações

significativas, especialmente após a Segunda Guerra Mundial, quando a contemporaneidade

exerceu profundas mudanças de ruptura de novas linguagens.

De acordo com Rizolli (2005, p. 12-13), “a arte encontra-se, então, diante de novos

comportamentos criativos, sígnicos e estéticos, relacionando Dada e a Pop Art [...],

reforçando que os focos de análise serão sempre os valores da linguagem pictórica”.

Por isso torna-se necessário conhecê-la profundamente para que possamos

problematizar propostas a fim de desenvolver projetos consistentes de acordo com as

transformações, as necessidades e a preferência das pessoas, bem como seu aprimoramento,

organizando atividades como ouvir, ver, tocar, transformar, organizar, dentre outras.

Segundo Ferraz e Fusari (1992, p. 71):

Para desenvolver um bom trabalho de Arte, o professor precisa descobrir quais são os interesses, vivências, linguagens, modos de conhecimento de

arte e prática de vida de seus alunos. Conhecer os estudantes na sua relação

com a própria região, com o Brasil e com o mundo, é um ponto de partida

imprescindível para um trabalho de educação escolar em Arte que realmente mobilize uma assimilação e uma apreensão de informações na área artística.

É nessa relação com o mundo que os estudantes desenvolvem as suas

experiências estéticas e artísticas, tanto com as referentes de cada um dos assuntos abordados no programa de Arte, quanto com as áreas da linguagem

desenvolvida pelo professor. (Artes plásticas, Desenho, Música, Artes

Cênicas).

E foi dentro desta perspectiva que, em 2010, o Prof. Rizolli desenvolveu com os

alunos da UATU/UPM, com o auxílio e a colaboração da coordenadora do programa, uma

disciplina chamada História da Arte nos Museus Parisienses, e levou sua turma de alunos

para visitar os museus de Paris, uma das cidades com maior concentração de museus, tendo

como destaque os do Louvre e D‟Orsay. A viagem teve duração de uma semana e, de acordo

com Rizolli,

foi uma experiência riquíssima [...] tanto como professor, como

[...] visitante e [...] me provocou a me aprofundar mais e mais

nos diferentes museus que a gente iria conhecer, dos diferentes

acervos que a gente iria tratar, a visitar e também no processo

de selecionar as obras, os artistas, fazer todo um mapeamento

da cidade, um mapeamento da própria planta do museu pra que

Page 61: Edi Sartori.pdf

61

não se perdesse tempo dentro dos espaços, dos ambientes... e o

grupo foi assim, extremamente feliz. As pessoas que decidiram

ir com a gente, foram pessoas incríveis, absolutamente

humanas, onde todo mundo, o tempo todo ficava tentando se

auxiliar, tentando se ajudar, minimizando o cansaço, porque

você passar um dia no museu, você nem percebe, mas você anda

quilômetros dentro de um museu, né, e pessoas de idade, mas foi

sempre assim, uma [...] um jogo muito simpático [...] muito

prazeroso.

Para a professora coordenadora Misa,

Foi maravilhoso até pras alunas [...] o convívio porque o

Marcos Rizolli é maravilhoso [...] Pra falar de arte. Então foi

[...] uma viagem que deu super certo [...]. As alunas adoraram.

Graças a Deus fomos e voltamos muito bem, sem problema

nenhum.

Em síntese, a UATU/UPM, movida por um instrumento que tende a promover o

diferencial de seus alunos, formula suas propostas “artísticas” a fim de que os alunos estudem

e conheçam a arte, diferenciando conceitos, materiais e formas de trabalho de cada artista e

suas obras, transformando o conceito em linguagem e em personagens. Como se percebe na

atenção dos alunos voltada às obras nos museus de Paris (FIG. 18).

Page 62: Edi Sartori.pdf

62

FIGURA 18 – Foto da visita ao museu em Paris

Fonte: http://www.mackenzie.br/21198.html. Acesso em 18 de outubro de 2012.

Como exemplo deste empenho e aprendizado constante, podemos observar os

trabalhos realizados no módulo “Aquarela” e expostos para que toda comunidade interna da

universidade pudesse apreciar.

FIGURA 19. Exposição Aquarelando UATU/2012

Fonte: arquivo pessoal

Cabe salientar que esse sucesso teve início no ano de 2003, quando a UATU/UPM

começou a “promover atividades educacionais que visavam à atualização de conhecimento e

ao desenvolvimento de novas habilidades”70

, como se pode apreciar por alguns registros

(FIGS. 20, 21, 22).

70 Disponível em <http://www.mackenzie.br/fileadmin/IPM/Responsabilidade_Social/balanco/balanco2003.pdf.> Acesso em

19out.2012.

Page 63: Edi Sartori.pdf

63

FIGURA 20. Foto da Exposição Aquarelando FIGURA 21. Foto da Exposição Aquarelando

Figura 22. Foto de objeto da Exposição Aquarelando.

Fonte: Balanço social 2003

Essa exposição hoje chama-se Aquarelando, mas no “passado chamava-se Aquarela e

que, pelo fato de haver muita demanda pelo curso”71

, acontece “uma vez por ano [...] essa

exposição [...] é um dia bastante festivo na abertura, que eu chamo o coral da UATU/UPM, a

gente faz um lanche coletivo.”

No que tange a valores e qualidade de vida, a UATU/UPM tem se demonstrado eficaz,

como mostra o depoimento de uma aluna sobre artes72

: “Comecei a descobrir outros nichos”

[...] “faço uma porção de cursos, inclusive artes” [...] “encho a cabeça de coisas boas”.

Como se observa, essas pessoas ainda possuem projetos de vida, querem continuar

crescendo, mantêm seus sonhos vivos mesmo após a aposentadoria, preservando suas

71 Segundo informações da professora coordenadora Misa, entrevista anexa. 72 Entrevista anexa. Realizada para o artigo apresentado pela autora no Congresso WCCA em Portugal.

Page 64: Edi Sartori.pdf

64

habilidades intelectuais. Ou seja, viver implica um aprendizado eterno, e a universidade

auxilia neste processo.

Rizolli (2005, p. 8-10) relata que, “desde o tempo de artesão até a mais absoluta

profissionalização, o conceito de artista se firma diante da obra de arte, com isso percebe que

a ideia de artista sempre esteve subordinada à função social”, esclarecendo ainda que “a arte

seria um método de universalidade”, contrariando Moore (1998), para quem: “Toda arte tem

poder mágico [...] é filosoficamente significativa e pessoalmente expressiva, ou pode ter o

poder especial de evocar e transmitir um espírito particular àqueles que entram em contato

com ela”.

Nesse contexto, a arte é um elemento vitalizador, independentemente de raça, cor,

sexo ou posição social, pois cada indivíduo a percebe das mais diversas formas e situações,

relacionando-a, muitas vezes, com seu passado, com seu presente ou experiências reais,

provando com isso do mais inusitado espaço de autonomia expressiva, deixando seus

conceitos se transformarem em espaços de criação particulares.

Ruggiero (1964, p. 347) afirma que “o que caracteriza uma obra de arte – ou as formas

artísticas – é a sua cogitação original e maravilhosa que forja a matéria de modo inusitado, no

sentido de correspondência com a imaginação”, ou seja, imaginação representada de forma

sensível e especial pelos alunos da Universidade Aberta.

Segundo Warhol (1981, p. 98), artista é aquele que “produz certas coisas – imagens,

significados, figuras, formas, efeitos [...] que a gente não tem necessidade nem sequer

interesse. Nem sabemos por que, mas, por qualquer razão, ele insiste em criar e oferecer”.

Por algum momento, alunos da terceira idade nem se quer imaginavam oferecer seu

significado e atrair os olhares para as obras realizadas, poder expor seus sentimentos através

da arte depois da aposentadoria:

Agora com um olhar um pouco mais amplo do que

anteriormente [...] percebo coisas que eu não percebia antes

[...] o que a arte sempre trabalhou.

E nos apresentam sua própria arte, diferente dos conceitos.

Essa forma de criar e oferecer nos remete aos trabalhos artísticos realizados

manualmente por pessoas da terceira idade, que de alguma forma buscam se ocupar do tempo

livre após o afastamento das obrigações diárias promovido pela aposentadoria.

Page 65: Edi Sartori.pdf

65

FIGURA 23 - Exposição Aquarelando 201273.

Arquivo pessoal

O tempo livre decorrente da aposentadoria também permite que as pessoas se

dediquem a atividades antes “impossíveis”, como lembrado por uma das entrevistadas quando

nos conta das coisas que mais gosta de fazer, entre as quais está “pintar”. Com isso, a vida

ganha mais sentido, se modifica diante do que antes era considerado imutável. A arte também

pode influenciar no comportamento dos idosos, potencializando a sensibilidade e o

conhecimento.

Exemplos desses trabalhos não faltam, podemos encontrar à venda ou expostos em

diversos locais, como exposições, encontros de idosos ou feiras de artesanato. Produzidos

com o puro intuito de fazer arte sob a forma simples, única ou exclusiva.

Grupos apresentam seus trabalhos como artes encantadoras provenientes da descoberta

de uma nova fase da vida74

, ou pela própria necessidade de angariar fundos com intuito de

proporcionar maior remuneração familiar. Remuneração esta que sustenta, de acordo com os

dados do IBGE/2010, cerca de 38% da população das grandes capitais, ou seja, os idosos das

grandes capitais é que são responsáveis pelo sustento da família, responsabilidade esta

73 Mais fotos da exposição estão disponíveis nos anexos, ps.254 e 255. 74 Cf. fotos da exposição exposta no hall do edifício João Calvino, no Mackenzie, ps.63 e 64.

Page 66: Edi Sartori.pdf

66

garantida pela aposentadoria. Mesmo com a resistência do mercado de trabalho, muitos desses

idosos continuam trabalhando, especialmente quando possuem nível superior, enquanto a

maioria, considerada velha pelo mercado de trabalho, aposenta-se.

Esta “reconfiguração” familiar é muito lembrada por teóricos e especialistas da

medicina, ainda assim pouco atendida, pois a prática ainda não é compatível com a atitude.

Cabe salientar que o idoso não apenas traz consigo problemas, doenças, preocupações.

Ele também carrega inúmeros benefícios, e como exemplos podemos citar Cora Carolina75

,

doceira de profissão, que publicou seu livro quando tinha quase 76 anos de idade,

demonstrando a força da arte através da poesia:

Sou mais doceira e cozinheira

Do que escritora, sendo a culinária

a mais nobre de todas as Artes:

[...]Sobrevivi, me recompondo aos bocados, à dura compreensão dos

rígidos preconceitos do passado.

Preconceitos de classe.

Preconceitos de cor e de família.

Preconceitos econômicos.76

Não é só através da poesia que Cora Coralina expressa seus distintos momentos de

humanidade, mas foi através deles que teve seu reconhecimento. Superando o preconceito,

inclusive, de ser mulher.

Esses preconceitos, até a primeira metade do século passado, afetaram drasticamente o

sexo feminino: as mulheres eram destinadas ao casamento, à formação de uma família, ao

cuidado da casa e do marido, sem poder gozar de privilégios, fossem quais fossem.

Contrariando a mulher de hoje, que como bem citado por Silva (1969, p. 112), está “bem

integrada na realidade do mundo atual, moderna, evoluída, gozando de privilégio que a época

lhe outorga e aceitando as correspondentes responsabilidades”. Responsabilidades que até

então eram destinadas somente aos homens.

Neste trabalho estamos mostrando que, mesmo sendo fonte de “problema” para

muitos, o envelhecimento nos apresenta seu lado “novo”; que a arte de viver a terceira idade

tece um panorama inusitado – a idade é um simples fator de caminho natural, que tem seus

pontos negativos e positivos, e tudo vai depender do percurso de cada indivíduo.

75 Cora Coralina, pseudônimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, foi uma poeta e contista brasileira. Considerada uma das principais escritoras brasileiras, teve seu primeiro livro publicado em junho de 1965 (Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais), quando já tinha quase 76 anos de idade. Doceira de profissão, alheia a modismos literários, produziu uma obra poética rica em motivos do cotidiano do interior brasileiro, em particular dos becos e ruas históricas de Goiás. 76 Parte do Poema retirado do livro - Meu Livro de Cordel, p.73 -76, 8ª ed., 1998.

Page 67: Edi Sartori.pdf

67

A preocupação com a qualidade de vida (QV) na terceira idade também necessita de

atenção. O idoso deve ter sua autonomia e independência, bem como sua autoestima

valorizada. Como o Brasil não é mais um país jovem, fica aqui a pergunta: Quando é que a

geração da terceira idade passará a ser mais valorizada?

Rica em seus conhecimentos, valores e sabedoria, a idade traz consigo uma bagagem

repleta de emoções complexas que dominam a esfera afetiva, tornando o idoso um ser

sensível. Precisamos usufruir desses conhecimentos em benefício da humanidade.

Não só na poesia e na arte de pintar a terceira idade está sendo lembrada, mas também

na arte de viver, de ver a vida, de ser “jovem”. A mídia e o marketing têm reavaliado seu foco

e priorizado os consumidores conhecidos como idosos, pois é através deles que muitas

empresas conseguem se manter no mercado, com a garantia dos salários da aposentadoria que

esta geração potencializa.

Page 68: Edi Sartori.pdf

68

CAPÍTULO 3

ASPECTOS GERAIS DO IDOSO

3.1 UM POUCO DA HISTÓRIA DA VELHICE

A conversa evocativa de um velho é sempre uma

experiência profunda.

Ecléa Bosi

Uma experiência pela qual todos seremos afetados de alguma forma será a do

envelhecimento. Este fato deve-se, em especial, à queda de nascimentos e ao aumento da

expectativa de vida, fator este influenciado pelas descobertas de novas vacinas, pelo avanço

de novos estudos, pelo aumento do saneamento básico, pelos avanços da medicina e das

novas tecnologias, que têm levado as pessoas a viver mais e mais saudáveis.

O gráfico 3 mostra a distribuição etária da população brasileira entre os anos de 2000 e

2040, de acordo como os dados do IBGE 2010. Nele podemos observar como será o

crescimento do número de pessoas idosas, especialmente o número de mulheres octogenárias.

GRÁFICO 3 – Distribuição etária da população de 2000 a 2040

Fonte: IBGE/2010.

De acordo com Peixoto (1998), no século XIX, na França, o termo “velho” era usado para

a população pobre, pessoa decadente; já o termo “idoso” era usado para uma classe social

Page 69: Edi Sartori.pdf

69

mais abastada, como se as pessoas mais velhas e com prestígio social não fossem velhas. Para

Barros (2003, p. 14), o termo “velho” seria utilizado para pessoas “aparentemente marginais”,

enquanto o termo “idoso” passa uma noção de respeito para com as pessoas que já viveram

mais de 60 anos, ao passo que a terceira idade – termo criado pelo gerontologista francês

Huet, para que os sistemas legislativos instituíssem a aposentadoria, ou seja, um princípio

cronológico com data para o sistema legislativo instituir a aposentadoria – remete ao

pensamento da idade do lazer ou da aposentadoria ativa. Nesse contexto de aposentadoria,

alguns estereótipos também são lançados, como “velhinho aposentado”, termo sugerido por

Morin, 1997 (apud FARIA, 2006).

Simões (2003), ao tratar, em sua pesquisa, dos estereótipos da velhice, revela uma

mudança na imagem das pessoas de mais idade. O que antes se relacionava à apatia e à

caduquice agora dá lugar ao discernimento. O “velho que só pensa em comer, dormir,

reclamar e dar palpite” e que era um peso para filhos ou parentes mais jovens, tornou-se, hoje,

para muitas famílias, seu provedor.

Os idosos estão refazendo sua vida, repensando o futuro, estudando e concluindo

cursos universitários, como muito bem citado por Busse em sua entrevista:

Tem pacientes terminando uma segunda faculdade [...]

pacientes com 80 anos, 86 anos, ainda planejando [...]

tem pacientes que fazem outras línguas ou que

começam a estudar instrumentos.

Os estereótipos, os preconceitos e os pensamentos são dos mais variados: velho, idoso,

geronte, gerontino, velhote, ancião, da terceira idade, aposentado... Indivíduos com larga

experiência de vida, mas com dificuldades para andar, muitas vezes se tornam desmotivados,

sem expectativa de vida, ou até decadentes por conta da aparência ou de patologias adquiridas

ao longo do tempo e, por isso, muitas vezes são abandonados por seus familiares e amigos.

Goldmann (2000) afirma que essas terminologias são resultado de uma sociedade

regida pelo capitalismo, na qual as pessoas tendem a ser transformadas em mercadorias

descartáveis, como é o caso da terceira idade.

A palavra velhice é carregada de preconceitos, se a traduzimos pela imagem que

evoca: a de um ser demente, sem serventia, doente, aposentado ou enfermo no leito de morte.

A imagem da velhice varia de cultura para cultura, de ambiente, vivência e até da

história de vida da pessoa, como se pode observar pelas figuras 24 e 25:

Page 70: Edi Sartori.pdf

70

Figura 24 – Atriz Bibi Ferreira77

Figura 25 - Oscar Niemeyer, arquiteto, aos 104 anos

Fonte: <http://www.sempretops.com/famosos/bibi-ferreira/ Fonte: <http://odia.ig.com.br/portal/rio/estou-doido-

Acesso em 15out2012 para-ir-para-casa-e-trabalhar-diz-oscar-niemeyer-

1.439008>. Acesso em 15out2012

O que queremos mostrar aqui é que a velhice nos acompanha ao longo da vida, O

único78

limite é a nossa incapacidade física, segundo Minois (1999), um historiador

interessado nas questões do envelhecimento populacional. Sua obra A história da velhice no

ocidente traz questões sobre o envelhecimento populacional, o papel dos velhos na sociedade

medieval e no Renascimento, quando os velhos eram minoria, e derruba a tese de

Delumeaus79

, para quem,

[..] os velhos da idade Média eram quantitativamente minoritários e não poderiam representar um papel importante na sociedade medieval. Ora,

independentemente do caso inacreditável de Aliênor de Aquitânia, cuja

carreira pessoal começa aos 69 anos, conta-se inúmeros papas nos séculos

XI-XIII [ ...] que eram homens idosos.

Minois ainda relata que, na Idade Média, o velho desempenhava seu papel enquanto

podia manejar o hissope, a espada, o arado ou o livro de contas.

Na Grécia antiga, Sócrates temia ser velho e pagar o tributo que vinha com a velhice,

como a cegueira, a surdez e a falta de memória. Aristóteles tinha os anciões como pessimistas,

inconstantes, temerosos, melancólicos e egoístas, e resumiu suas concepções em seu Tratado

Sobre Retórica, onde vê a decadência do corpo.

77 Aos 90 anos, a atriz, compositora e cantora tem uma carreira linda e de sucesso. 78 Grifos meus. 79 DELUMEAUS, Jean. Prefácio. In: MINOIS, 1999, p, 6.

Page 71: Edi Sartori.pdf

71

Nas palavras de Minois80

, é a partir do “Século XIV que o peso dos velhos na

sociedade aumenta e tem como consequência o recrudescer da crítica contra os velhos, e os

jovens voltam a estar na moda”. (Não é o caso do Japão, onde os velhos são tratados com

respeito e atenção pela vasta experiência acumulada nos anos de vida, onde são sinônimo de

respeito e sabedoria.)

Sobre a preocupação com os velhos e a exaltação dos jovens, Néri (2012, p. 105)

reforça a tese de que os velhos “constituem desafios a todas as sociedades humanas (...),

sobretudo no mundo moderno, cuja dimensão social encontra-se centrada na juventude”.

Como se pode observar, a velhice é um fenômeno multifacetado, encontra-se

dificuldade em estabelecer um marco cronológico para o seu início. Néri (1995) relata que

demarcar uma idade para a velhice é controverso, pois as discussões são controversas e

poderemos demarcar a cronologia indiscriminadamente. Como exemplo, podemos citar a

antiga China, onde o filósofo Confúcio (que viveu entre os anos 551–479 a.C) já apregoava

que as famílias deveriam obedecer e respeitar os indivíduos mais idosos.

Busse também reforça essa ideia controversa e ressalta que “alguma idade tem que ter

um corte [...] a lei do envelhecimento existe, ao mesmo tempo que o desenvolvimento”, ou

seja, o idoso é uma invenção social das ideologias dominantes, dos valores e das culturas.

Para Giora81

, demarcar a velhice imaginando um único “indicador cronológico”, isso

sim seria fator “para excluir as pessoas”, porque cada idade tem suas necessidades diferentes.

De acordo com Baltes & Baltes (1990), o envelhecimento é um processo

multidimensional. Já para Peixoto (1998, p. 76), hoje “o antigo retrato preto e branco de uma

velhice decadente toma o colorido de uma velhice associada à arte de bem viver”.

Não podemos deixar de salientar que este marco ou demarcação de vida de um

idoso/um não-idoso, mesmo suscitando objeções do ponto de vista científico, biológico,

social, histórico e/ou literário, é importante para os formuladores de políticas públicas.

Nas palavras de Beauvoir, a velhice

é um fenômeno biológico: o organismo do homem idoso apresenta certas

singularidades. Acarreta consequências psicológicas: determinadas condutas, com justa razão, são consideradas típicas da idade avançada.

Tem uma dimensão existencial como todas as situações humanas:

modifica a relação do homem no tempo e, portanto, seu relacionamento com o mundo e com sua própria história. Por outro lado, o homem nunca

vive em estado natural: seu estatuto lhe é imposto tanto na velhice como

80 Disponível em: <http://portaldoenvelhecimento.org.br/noticias/publicacoes/historia-da-velhice-no-ocidente.html>. Acesso

em 11ago2012. 81 Vide entrevista anexa.

Page 72: Edi Sartori.pdf

72

em todas as idades, pela sociedade a que pertence. A complexidade da

questão é devida à estreita interdependência desses pontos de vista

(BEAUVOIR, 1976, p.13).

E ainda: ... a sociedade determina o lugar e o papel do velho, levando em conta

suas idiossincrasias individuais: sua impotência, sua experiência;

reciprocamente, o indivíduo é condicionado pela atitude prática e

ideológica da sociedade a seu respeito. De modo que, uma descrição analítica dos diversos aspectos da velhice não pode ser suficiente: cada

um deles reage sobre todos os outros e é por eles afetado (IBIDEM, p.13-

14).

Mesmo sendo “apenas” um fenômeno biológico, devemos levar em conta que os

indivíduos do mundo todo devem envelhecer com dignidade, segurança, humanidade,

respeito, assistência à saúde digna, disponível e acessível a todos, para que todos desfrutem da

vida com qualidade, prazer e alegria. Para que isto ocorra, as políticas públicas devem tomar

consciência e lançar estratégias urgentes, planos e leis que sejam cumpridas, pois o

envelhecimento não começa aos 60 anos. Os jovens de hoje serão os velhos do amanhã,

cabendo a eles as mudanças que deverão ser parte do presente do velho, e essas ações devem

estar fundamentadas em uma visão de longo prazo, juntamente com compromissos políticos e

orçamentos assegurados.

3.2 ESTEREÓTIPOS

Os fatos sociais consistem em modos de agir, pensar e sentir,

exteriores ao indivíduo e dotados de um poder coercitivo pelo

qual se lhe impõem.

Émile Durkhein

A partir do momento em que definimos o campo de estudo e iniciaram-se as

investigações, passamos a observar os estereótipos usados pela população e os encontrados

dentro da literatura estudada e analisada. A nomenclatura utilizada pela população em geral

causou intriga e dúvida sobre qual o termo – ou qual a forma de categorização – mais

adequado para este trabalho: “velho”, “idoso”, “terceira idade”?

Percebemos, então, que tudo dependia da contextualização, do ambiente, dos autores e

da literatura. Pudemos perceber que o termo “idoso” era pouco utilizado, “terceira idade ou

melhor idade” havia se tornado alvo de categorias políticas, principalmente quando se

referiam a políticas públicas e, em especial, as da saúde.

Page 73: Edi Sartori.pdf

73

Nas pesquisas e nas leituras realizadas, o termo “velho” aparecia referindo-se a

indivíduos desprovidos das necessidades básicas de saúde ou incapacidade funcional,

enfermidades e até desprovidos de educação.

Já durante as aulas observadas e acompanhadas na UATU/UPM, como não tínhamos

definição sobre as pessoas que já haviam atingido ou passado dos 60 anos, somente quando os

próprios alunos se identificavam como velhos é que a terminologia aparecia, pois eles

mesmos diziam que eram velhos por não conseguirem esconder a aparência, pois sua idade

mental era de um indivíduo jovem.

Em entrevista82

, uma aluna respondeu da seguinte forma quando perguntado se ela se

lembrava do momento em que começou a envelhecer:

Eu só envelheço por fora [...] a gente vai ficando feia, os

cabelos brancos [...] Os cabelos vão ficando atravessados [...]

Mas eu sei, eu sou velha, não digo que sou idosa, eu digo que tô

velha, graças a Deus. Gosto de ser.

O envelhecimento traz características e alterações visuais, bem como alterações

físicas. Os cabelos brancos são os primeiros sinais de que o ser humano está envelhecendo, as

modificações físicas se acentuam e o corpo vai “perdendo” suas capacidades e agilidades

motoras, apresentando, também, sinais visíveis na pele.

Para Busse,

A lei do envelhecimento existe ao mesmo tempo que o

desenvolvimento, que a fase onde a criança vai se

desenvolvendo, ela está envelhecendo também, mas é uma fase

de desenvolvimento dos órgãos e chega ao máximo das suas

potencialidades, de funcionalidades em torno dos 20 anos.

Logo, deveríamos então dizer que passados os 20 anos, iniciamos a caminhada em

direção à velhice?

82 Entrevista utilizada para realização do artigo publicado e apresentado no V World Congress on Communication and Arts -

WCCA'2012, Educação e Qualidade de Vida. Portugal/2012. Mais informações na entrevista anexa.

Page 74: Edi Sartori.pdf

74

Essa necessidade de usar o “melhor” ou “mais adequado termo” nos levou a um

levantamento de dados sobre o real significado de cada palavra, se é que podemos afirmar sua

existência.

3.3 A NOMENCLATURA UTILIZADA

O tema terceira idade vem sendo estudado por pesquisadores das mais diversas áreas,

especialmente da medicina, da gerontologia e da geriatria, enquanto os avanços nas pesquisas

educacionais e interdisciplinares continuam de certa forma obscuros. Nesse sentido, Novaes

(1997) aposta em uma reestruturação da sociedade para modificá-los.

Barros (2003, p.116) ressalta que, na década de 60, “praticamente não havia um estudo

sociológico importante sobre a velhice e os velhos, estando toda a literatura sobre o assunto

relacionada às áreas da medicina e da biologia”.

Analisando os dados do IBGE, observamos que esses estudos não estavam sendo

realizados devido ao baixo índice de idosos, “apenas 5%”:

A partir de 1960 que o grupo com 60 ou mais anos é o que mais cresce

proporcionalmente no Brasil, enquanto a população jovem encontra-se em processo de desaceleração de crescimento, mais notadamente a partir

de 1970. quando o crescimento foi de 18% (1970-80).83

Ainda segundo Barros (2003, p.116), as pesquisas sobre o envelhecimento foram

intensificadas apenas nos países “onde as preocupações com o envelhecimento começaram a

se intensificar”. Ressalta ainda que “a velhice não é uma categoria natural, envolve o

nascimento, o crescimento e a morte” (p. 50).

Em boa parte dos manuais, velhice, terceira idade ou idosos são palavras com

significados e interpretações diferentes, repletas de implicações, como, por exemplo, a

necessidade de aprender novas tarefas, de lidar com o novo e, principalmente, a cessação da

vida útil, ou seja, chegada da aposentadoria e mais a perda de memória, que leva(va) ao

isolamento e, consequentemente, ao estado de “velho”.

Para Peixoto (2006), velho, historicamente, é uma palavra que tem sido associada a

pessoas que não têm condições de prover-se, relacionada à decadência. É confundida com

83 RAMOS, L.R. et al. Envelhecimento populacional: uma realidade brasileira. Rev. Saúde pública, S. Paulo, 21: 211-24,

1987.

Page 75: Edi Sartori.pdf

75

incapacidade ou, então, pertencer à categoria de indivíduos pobres. Já para Barros (2003, p.

14), o termo velho seria utilizado para pessoas “aparentemente marginais”.

Barros relata que, ao longo do tempo, tem havido várias alterações e modificações,

especialmente nas políticas públicas e sociais, adequando os termos a uma nova percepção.

Surge, então, o termo idoso, que nos passa uma noção de respeito para com as pessoas que já

viveram mais de 60 anos, e a terceira idade, que nos remete ao pensamento da idade do lazer

ou da ideia de aposentadoria ativa.

Cabe lembrar que o envelhecimento cronológico “é um importante indicador dos

processos de desenvolvimento e de envelhecimento” (NÉRI, 2012, p. 25), no entanto ele não

causa nem desenvolvimento nem envelhecimento, serve apenas como “escala de tempo”

(IDEM).

Ainda sobre a velhice, Fedrigo (1999) a considera como um processo dinâmico e

progressivo, no qual há alterações morfológicas, funcionais e bioquímicas, que vão deixando

o organismo, progressivamente, mais susceptível a agressões.

De acordo com Bosi (1994, p. 18), ser idoso “é lembrar, aconselhar, unir o começo ao

fim, ligando o que foi e por vir”. Biologicamente, o envelhecimento é um processo natural,

em que os tecidos se desgastam ao longo do tempo. Diríamos até que a velhice pode assustar,

se não estivermos preparados.

Como podemos perceber, as nomenclaturas são um simples fator de caminho natural,

o que importa é que o indivíduo se sinta útil e valorizado como ser humano, especialmente

essa geração da terceira idade, que ainda necessita vencer barreiras e mostrar diariamente sua

importância como ser humano ativo e não como velhos aposentados.

Ressaltamos ainda que, por ser um fenômeno em evidência, essa população merece

mais atenção e tratamento igualitário perante a sociedade, que precisa buscar novas formas de

vivências para a integração dos sujeitos, tornando-os presentes em nosso meio.

Vale mais uma vez dizer que as atribuições ou rótulos dados às pessoas que

apresentam ou aparentam alterações físicas, demonstrando ter idade superior a 60 anos, não

poderão estar associados à rejeição ou discriminação. A legislação – Política Nacional do

Idoso (Lei 8.842, de 4 de janeiro de 1994) e o Estatuto do Idoso (Lei 10.741, de 1º de outubro

de 2003) – prevê penas severas por tal desrespeito.

Para Mazo, Lopes, Benedetti (2004), é importante salientar e ter consciência dos

diversos fatores que influenciam e interferem nas transformações, que são gerais e gradativas,

e se relacionam a quatro diferentes tipos de envelhecimento: o biológico, o social, o

intelectual e o funcional. A compreensão desses tipos se liga, segundo Fontaine (2000), à

Page 76: Edi Sartori.pdf

76

existência de três categorias de condições para a velhice ser bem-sucedida: a saúde, a

manutenção elevada do nível de atividade e a participação social.

Já a Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica o envelhecimento em quatro

estágios: meia-idade: 45 a 59 anos; idoso(a): 60 a 74 anos; ancião: 75 a 90 anos e aquele que

compreende a velhice extrema: 90 anos em diante. A OMS considera, ainda, limites de idade

entre países em desenvolvimento e desenvolvidos: 65 anos de idade em países desenvolvidos

e com mais de 60 anos de idade em países em desenvolvimento. Ou seja, a OMS tem

parâmetros diferenciados para definir o processo de envelhecimento.

Biologicamente, o envelhecimento é um processo natural: os tecidos se desgastam ao

longo do tempo, desgaste gradativo que se acelera com o passar dos anos, ou seja, um

indicador do tempo que resta a um indivíduo para viver, num dado momento de sua vida.

De acordo com Rocha84

, esses fatores biológicos também podem ser associados à

perda dos sentidos, como audição, visão, massa muscular, postura (o idoso torna-se mais

curvado), diminuição da capacidade de respirar, dificuldade de memória, dentre outros

aspectos. Mas a idade traz suas vantagens, e uma delas, de acordo com Beauvoir (1999, p. 43-

45), “é que ela [ a idade] permite captar a curva de determinadas vidas em sua continuidade e

seus desenvolvimentos imprevistos.” Para ela, “a passagem dos anos acarreta modificações

na situação de um indivíduo, onde (sic) seus comportamentos são afetados” (pág. 45).

Comportamentos esses a que não só as mulheres, mas também os homens passaram a dar

mais valor, e a que chamaremos de valorização da beleza. As novas tendências vêm ganhando

espaço, temperando atitudes e (re)moldando novos padrões de comportamento, reconstruindo

e despertando novos interesses, antes menos valorizados, por motivos culturais, sociais ou até

mesmo financeiros.

Para Almeida, “a realidade brasileira marginaliza as pessoas idosas. Isso não costuma

ocorrer em outras culturas, como por exemplo, na cultura oriental, que integra intensamente

os idosos à vida social” – nos países desenvolvidos, os velhos são considerados pessoas

sábias. Bosi (2010, p. 81), referindo-se ao cotidiano da geração de idosos de sua pesquisa,

escreve: “O velho não tem armas. Nós é que temos de lutar por ele”. Essa luta à qual a autora

se refere em seu livro Memória e Sociedade nos remete ao passado, quando os idosos eram

abandonados e não lutavam por seus direitos.

No entanto, cabe deixar claro que os termos classificatórios não definem o estágio do

indivíduo, muito menos sua posição social, apenas descrevem os processos e relatam as várias

84 Frederico M. A. Rocha (Médico) - Escola Federal de Odontologia de Alfenas (EFOA) – Disponível em: <http://www.idosoamado.com/artigo1.htm>. Acesso em 6março2012.

Page 77: Edi Sartori.pdf

77

formas em que estamos inseridos no meio cultural, social, ou sob as mais diversas

perspectivas em que as gerações são continuamente construídas, desconstruídas e

reconstruídas:

Nas pesquisas sobre as etapas da vida em geral e o envelhecimento em

particular, a busca de universais é prejudicada também pela dificuldade de definir a especificidade e precisar os limites dessa etapa. Na pesquisa

antropológica, muitas vezes é a impressão que o pesquisar tem sobre a

aparência do pesquisado que o leva a caracterizar os indivíduos como velhos. Outras vezes, é a autodefinição de informante e, na maioria das

vezes, uma determinação aproximada de sua idade cronológica.

(BARROS, 2003, p. 55).

Neste trabalho descreveremos como idosas as pessoas que representam de forma

estereotipada as condições e as circunstâncias que envolvem a velhice, ou seja, o indivíduo

que possui suas habilidades reduzidas, seja nos reflexos, seja na capacidade visual, auditiva,

com a pele enrugada e com dificuldade de locomoção devido a doenças biológicas.

3.4 MEMÓRIA

Quando era criança

Vivi, sem saber,

Só para hoje ter

Aquela lembrança.

É hoje que

Sinto aquilo que fui.

Fernando Pessoa, 1933

Um dos temas mais complexos ainda existentes no mundo da comunidade acadêmica está

relacionado com a memória. Existem vários tipos dela. Nosso cérebro é um mistério. Mesmo

podendo fazer dele o mesmo que fazemos com nosso corpo, ele nos limita. Tem anatomia e

funcionamento próprios. Pode ser, e é, em determinados espaços de tempo, influenciado por

processos cognitivos como atenção, percepção, inteligência e aprendizagem. Ou seja, a

memória humana é diferente da memória de outras espécies.

Page 78: Edi Sartori.pdf

78

Figura 26 – Memory

Fonte: http://www.webjam.com/psigeneral/tema10

Para Bueno, a memória humana pode ser dividida em três partes, cada uma com

diferentes características:

Memória Rápida ou de Curto Termo (dura exatamente o tempo necessário para que a

memória de longa duração comece a se consolidar)

Memória de Trabalho ou Temporária (dura apenas alguns minutos, não produz

“arquivos”)

Memória Permanente ou de Longo Termo (memória de longo tempo e ilimitada)

A memória rápida ou de curto termo é aquela que recebe as informações de

entrada captadas pelos olhos, ouvidos, olfato e tato e os passa ao sistema cognitivo. É nela também que são depositadas as informações de saída, ou

seja, as informações que se expressa com a fala, movimentos e ações.

(BUENO, 2012)

Mas é pela memória, seja ela qual for, que nos mantemos vivos, esperançosos, que nos

surpreendemos diariamente. É ela que nos traz recordações, vivências, que nos ensina e que

nos conta histórias de que falaremos neste trabalho.

Mesmo a memória sendo um mistério ou até um ou espelho que reflete

incessantemente nossos movimentos, aprendizados, conquistas, decepções, ambições, ações e

reações, é ela que (re)apresenta nosso viver, pois é através dela que recordamos o passado.

Page 79: Edi Sartori.pdf

79

Cientistas de todas as especialidades tentam a todo instante desvendar os mistérios da

memória humana. Para Bosi (2010, p. 39), a memória “é um cabedal infinito do qual só

registramos um fragmento”, “lembrança puxa lembrança”, e assim se tornam infinitos os

contos, pois quando nos propomos a lembrar é que percebemos o quanto registramos durante

nossas vidas.

Exemplos claros são os fatos que as entrevistadas nos relataram durante o período de

entrevistas, quando ouvimos histórias de quando elas eram crianças. Elas nos contaram sobre

o cotidiano, o dia a dia da infância, como se os fatos tivessem ocorrido naquele dia:

Desde pequena, sempre gostei da estética, da decoração [...]

meu pai, primeira vez que foi pro RJ, trouxe uma caixa de lápis

de 24 cores [...] Eu desenhava e ele sentava comigo e ficava.

Me incentivava.

ou mesmo lembranças ruins:

Traumas de guerra [...] de pessoas que a gente perde [...] isso marca.

Soares85

relata que, com o passar dos anos, perdemos um pouco da nossa memória, e

que, com o aumento da população idosa nos últimos anos, especialmente idosos com mais de

80 anos, essa preocupação aumenta, mesmo quando os idosos se encontram em condições

clínicas satisfatórias.

O mesmo médico ainda salienta que é mais fácil nos lembrarmos dos acontecimentos

da infância do que dos acontecimentos recentes, o que preocupa os familiares.

O que queremos apresentar aqui são as memórias trazidas e/ou recuperadas pelas

alunas participantes da oficina e que nos proporcionaram alguns momentos de interação e

conhecimento da história de suas vidas durante as entrevistas concedidas para que

pudéssemos realizar este trabalho.

Durante as aulas realizadas no 2º semestre do ano de 2002 com a professora Renata86

,

na disciplina “Oficinas da Memória”, a função de relembrar ganhou espaço, intensidade e

atenção. O trabalho teve como função relembrar. Como sabemos, este não é um trabalho fácil,

85 Alberto de Macedo Soares, médico geriatra. Trabalha no serviço de geriatria do Hospital das Clínicas de São Paulo e é

professor de Geriatria da Faculdade de Medicina de Santos. Entrevista disponível em

<http://drauziovarella.com.br/envelhecimento/memoria-nos-idosos-3/>. Acesso em 26set2012. 86 Renata Machado Coelho. Psicóloga e professora do curso de Pedagogia do Mackenzie.

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80

pois há recordações boas e ruins, e nem sempre estamos dispostos a expor nossos medos,

realizações, angústias e vivências, principalmente em meio a pessoas “desconhecidas” (até

então, alunos da turma ainda não tinham tido contato entre si, pelo menos a maioria).

As lembranças foram conduzidas e direcionadas a fatos do cotidiano, como por

exemplo: a origem do nome, lembranças de cheiros, dos sons, dos sabores, do corpo, das

paisagens, do tempo de escola, das cores, da infância, dos sonhos, das fotos, dos objetos...

Para finalizar, foi apresentado um questionário para saber como os alunos viam, observavam

ou trabalhavam sua memória e qual sua opinião em relação à atividade.

Para Bosi (2010, p. 55), “na maior parte das vezes, lembrar não é reviver, mas refazer,

reconstruir, repensar, com imagens e ideias de hoje, as experiências do passado. A memória

não é sonho, é trabalho”. O trabalho, desenvolvido com os alunos e o regaste do passado,

reconstruiu e trouxe à tona as vivências do passado, fatos que estavam “arquivados”.

A atividade fez com que os participantes “remexessem caixas”, “revissem fotos”,

“buscassem registros” ou mesmo colocassem somente a “cabeça” para funcionar. Os alunos

nos ensinaram que a memória é uma “coisa” feita de coisas quentes, doces, cores e sabores. A

atividade fez com que eles recontassem a história vivenciada na infância, ou seja, o semestre

reinventou a vida e trouxe um novo sentido à história.

De acordo com Bueno,

a memória de longo prazo tem o objetivo de formar arquivos e consolidá-

los em nossas mentes, e estas informações podem durar de minutos e horas a meses e décadas. São exemplos desse tipo de memória as nossas

lembranças da infância ou de conhecimentos que adquirimos na escola.

E foi o que aconteceu. Arquivos escolares trouxeram relatos de alegrias e tristezas:

Chorava muito porque minhas irmãs iam à escola e eu ainda

não tinha idade para isso.

Tenho ótimas recordações de uma professora cearense [...] à

qual devo o gosto pela leitura, pelo escrever e pelo representar,

pois tínhamos teatrinho depois da aula, muito bom!

Eu fui uma boa aluna. Infelizmente não sabia desenhar bem –

perdia notas/pontos nas matérias de geografia, desenho e

biologia.

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81

Tinha duas amigas que não gostavam de estudar [...] a gente

fazia uma troca, ela me ajudava nos desenhos e eu em certas

matérias que ela não gostava.

Tudo mudou, se transformou, se (re)escreveu, mas as lembranças parecem estar vivas,

resistiram ao tempo e, mesmo sendo tristes ou alegres, não mudaram o curso do destino,

tampouco restringiram o sucesso da vida.

Bosi (2010, p. 452) diz que o “tempo pode arrasar as casas, mudar o curso das ruas,

mudar as pedras de lugar, mas não destrói os vínculos com que os homens se ligavam a elas.”

Já nas lembranças do cheiro ou na memória sensorial, percebemos que as recordações

proporcionaram um belo retrato da infância, como recordar o café torrado, a torrefação que

havia perto da residência, ou o cheiro do mar, apontando a falta que ele faz:

Até hoje gosto de tomar um café torrado na hora.

O cheiro do mar [...] este cheiro pra mim, é como se meu

organismo e os meus sentidos precisassem deste cheiro e sentem

muita falta dele.

O cheiro que traz recordações boas e ruins, que pode influenciar na vida cotidiana ou

que traz uma enxurrada de lembranças que nos influenciam quase que instantaneamente,

como ocorreu com as alunas da UATU/UPM.

Mas ficam algumas dúvidas e questionamentos. A memória tem cheiro? Neste caso,

por ser um dos sentidos mais primitivos, o olfato nos leva a lembranças de forma instintiva.

Para Duchamp (1887-1968), artista revolucionário para a sua época, o cheiro é a prova

da memória, captou dentro de um frasco a atmosfera parisiense. A cidade luz teve seu cheiro

sentido pelo artista e difundido de forma “mágica”87

.

Se memória tem cheiro, pode ter som também. Para nossas entrevistadas, o som

repercutiu de forma notável e tomou conta da série histórica que as levou a relacioná-la com

as fases de sua vida. E foi do som das lembranças que as alunas evocaram os acontecimentos

do passado. Os sons aqui descritos trouxeram lembranças que as deixaram tensas, irritadas ou

com vontade de fugir, pelo fato de lembrar-se do barulho da guerra ou do som das sirenes:

87 Conforme obra Ar de Paris (1919). Duchamp evoca sua memória afetiva na obra Ar de Paris (1919). Dimensões: 253 x

360 cm – 12 kg . Nos seus ready-mades utilizou a estratégia do descolamento (que consiste em apropriar-se de objeto do uso cotidiano, industrializado ou não, e levá-lo para o mundo das artes). Fonte: <http://purpurarosa.blogspot.com.>. Acesso em

27 de setembro de 2012.

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82

Me irritam. Fico tensa porque lembro da guerra.

Mas nem sempre o apito as fez recordar das tristezas. O apito do trem também as fez

lembrar das brincadeiras com os amigos nos trilhos.

Canções, músicas de heavy metal, trovoadas, chuva, rádio,

discos. Tudo bem baixinho. Pode influenciar no meu humor.

Me acalmam porque lembro de paixões.

O barulho do apito do trem lembra minha infância, das

brincadeiras na linha do trem pulando dormentes. Esperávamos

o trem chegar até a última cancela para sairmos da linha.

Para Halbwachs (1990), a memória individual se apoia na história vivida, não na história

aprendida. Também deixa traços profundos no pensamento, pois evoca acontecimentos de

fenômenos que, quando lembrados, afastam o indivíduo de si, reintroduzindo-o ao passado.

Passado que não foi vivido individualmente, que construiu identidade, mas não apenas

identidade individual, antes de tudo, coletiva. Assim, “cada memória individual é um ponto

de vista sobre a memória coletiva, [...] este ponto de vista muda conforme o lugar que ali eu

ocupo, e [...] este lugar mesmo muda segundo as relações que mantenho com outros meios”

(HALBWACHS, 1990, p. 51).

Os sabores trouxeram à tona recordações dos amigos que tinham os mesmos gostos

pelo “sorvete de limão, bolo de chocolate ou pastel de queijo”, que eram saboreados na

presença de familiares ou amigos.

Alimentos não degustados também têm “lembrança” de sabor, mas um “sabor

imaginário”, pois, pela falta de condições em adquirir certos produtos, o cheiro proporcionava

que a imaginação desvendasse o sabor: “Não comi, mãe, mas vi comerem”, referindo-se ao

pão com queijo.

A memória coletiva, como reforça Halbwachs (1990, p. 51), “muda conforme o lugar

que ali eu ocupo, e [...] este lugar mesmo muda segundo as relações que mantenho com outros

meios”, ou pelo modo de ser dos que acreditam identificarem-se a partir dos lugares e grupos

sociais expressos no momento.

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83

Para Nora (1993), a memória empenha-se em vincular a leitura enquanto um 'lugar de

memória'. Nesse sentido, é fundamental o entendimento amplo do conceito, que abrange:

... museus, arquivos, cemitérios e coleções, festas, aniversários, tratados,

processos verbais, monumentos, santuários, associações [...]. Os lugares de

memória nascem e vivem do sentimento que não há memória espontânea, que é preciso criar arquivos, que é preciso manter aniversários, organizar

celebrações, pronunciar elogios fúnebres, notariar atas, porque essas

operações não são naturais (NORA, 1993, p.13).

Com isso, a memória precisa ser alimentada no cotidiano, porque o óbvio não é a

lembrança, mas sim o esquecimento. A memória não é um dado natural, mas uma construção

humana datada, razão pela qual “se enraíza no concreto, no espaço, no gesto, na imagem, no

objeto. A história só se liga a continuidades temporais, às evoluções, e às relações das coisas.

A memória é o absoluto, e a história o relativo” (NORA, 1993, p.09). O absoluto, a data e a

imagem estão gravados na memória das alunas da UATU/UPM, quando descreveram a

experiência relatando fatos ocorridos no passado.

Não queremos aqui finalizar o tempo no tempo ou os fatos, até porque memória se

constrói todos os dias com todos os fatos, momentos marcantes e vivências. Memória é algo

que não se relembra somente em sala de aula, mas também se vive, se compartilha.

As experiências dos grupos aos quais pertencemos refletem a história de um tempo.

Tempo vivido para ser contado e recordado junto das novas gerações, seja sobre o

aprendizado contínuo e desenvolvido na sala de aula da UATU/UPM, seja sobre as amizades

conquistadas e preservadas no mesmo espaço.

A história de vida de todas as pessoas é valiosa, merece ser preservada e socializada.

3.5 O IDOSO NA SOCIEDADE

A sociedade judaico-cristã é parte de uma geração para a qual a cultura, as crenças, as

histórias, as vivências e os costumes eram transmitidos de pai para filho, de geração para

geração. No entanto, com o passar dos tempos, a história foi se transformando e com ela os

costumes e as crenças foram se “perdendo”. A tecnologia e a industrialização trouxeram as

facilidades que os antepassados não tinham.

Diante de tantas transformações, mitos, realidades, teses e discussões, nós nos

deparamos com os meios de comunicação, responsáveis pelo aumento na construção e

divulgação dos resultados de pesquisas, na valorização apresentada através das telas, uma

Page 84: Edi Sartori.pdf

84

ruptura construída com o tempo que não percebemos passar, que deixa marcas, histórias,

valores formando uma espécie de curva suntuosa, moldada e remoldada pelos idosos, que um

dia já foram crianças e hoje ocupam grande espaço em nossa sociedade88

.

Dentre essas transformações, encontramos a chegada da televisão, do cinema, do

teatro e o avanço da tecnologia, que toma conta de nossos espaços, as conquistas obtidas pelas

mulheres como protótipos de comportamento favorecendo sua sexualidade e destacando o

fator aparência que tem despertado mudanças significativas quanto ao aspecto “estar bem

apresentável”.

Para Néri (1995, p. 11), não seremos surpreendidos “se o avanço da pesquisa e da

prática psicológica com adultos maduros e idosos vier a propiciar a ocorrência de novos

insights sobre os princípios que regem o comportamento e sobre a dinâmica da vida.” Ou

seria a dinâmica da mídia?

A mídia, com o crescimento da população de idosos, vem demonstrando cada vez

mais interesse por esse público, especialmente no que tange à indústria do entretenimento.

Novelas, filmes, jornais e programas específicos para essa fase da vida, assim como o

teatro, estão cada vez mais apresentando e dando voz à geração de “cabelos brancos”, geração

exigente que transforma o mercado publicitário, que tem poder de decisão e de compra devido

ao poder aquisitivo garantido pela aposentadoria, mudando com isso os gostos, os hábitos e

muitas vezes o estilo de vida.

Com tantas transformações sociais, o idoso tem visto seus hábitos alterados, assim

como os costumes das famílias brasileiras: ele vem sendo tratado com indiferença pelos

jovens, há sua exclusão na sociedade, que valoriza mais o jovem, alegando-se que “os mais

jovens também precisam viver a sua vida” ou que “os velhos já viveram a sua” (COSTA,

1998, p. 12). Apesar do foco midiático, a sociedade ainda demonstra certo desprezo pelos

idosos. Como eles possuem necessidades especiais, muitos preferem ignorá-los ou maltratá-

los.

Necessitamos mais uma vez agir contra a forma de expô-los discriminadamente ou

apresentá-los de forma pejorativa, como é o caso das vagas direcionadas a idosos. O símbolo

por si só já é discriminatório, rege uma “postura” de que os idosos são velhos com

necessidades e dificuldades de locomoção, como se observa nas placas indicativas para vagas

destinadas à pessoa idosa (Figuras 27 e 28), o que muitas vezes não é real.

88 Segundo relatório do Fundo de População das Nações Unidas (sigla em inglês – UNFPA), o número de idosos hoje no

Brasil é de 21 milhões (correspondente a 10% do total da população em 2012) e pode chegar a 2050 em 64 milhões

(correspondente a 29% da população em 2050).

Page 85: Edi Sartori.pdf

85

Figura 27 - Adesivo-símbolo do idoso Figura 28 - Adesivo-símbolo do idoso Fonte: <http://produto.mercadolivre.com.br/ Fonte: <http://produto.mercadolivre.com.br/ MLB-441681683-3-adesivos-simbolo-idoso MLB-441681683-3-adesivos-simbolo-idoso- -frete-gratis-_JM> frete-gratis-_JM>

Esses símbolos são os utilizados para identificar não só vagas de estacionamento, mas

também sanitários, telefones públicos, entre outros. Cabe salientar que, de acordo com o

Conselho Nacional dos Direitos do Idoso, o uso deste símbolo não é lei, é convenção, e que já

existe uma campanha lançada com sugestões para que eles sejam modificados/alterados,

iniciativa da empresa Garage (junto com o ItsNOON e o Catarse), que convidou o Up date or

Die para participar e apoiar o projeto “Nova Cara da Terceira Idade”. A ideia é dar um up

date no símbolo que representa os idosos no Brasil. E como fazer isso? Através de um

concurso de design.89

Após o lançamento da campanha, acontecerá a etapa de escolha dos 10 finalistas, os

símbolos serão espalhados pelas principais cidades do País na tentativa de provocar reflexão.

Alguns símbolos já foram sugeridos:90

Figura 29 – Novos símbolos sugeridos para os idosos

89 Mais informações, disponíveis em: <http://www.updateordie.com/2012/05/02/o-simbolo-que-representa-os-idosos-

precisa-de-um-update/>. Acesso em 10out.2012. 90 Ibidem.

Page 86: Edi Sartori.pdf

86

Como a campanha ainda não encerrou, “espera-se que novos símbolos sejam

sugeridos”, quem sabe com mais ênfase na humanização do idoso do que maior ênfase na

idade.

No tocante à consciência universal da condição humana diante do envelhecimento,

Beauvoir destaca que:

A sociedade só se preocupa com o indivíduo na medida em que este rende. Os jovens sabem disso. Sua ansiedade no momento em que

abordam a vida social é simétrica à angústia dos velhos no momento em

que são excluídos dela. Nesse meio tempo, a rotina mascara os

problemas. O jovem teme essa máquina que vai tragá-lo e tenta, por vezes, defender-se com pedradas; o velho, rejeitado por ela, esgotado, nu,

não tem mais que os olhos para chorar. Entre os dois, a máquina gira,

esmagando homens que se deixam esmagar porque nem sequer imaginam que podem escapar. Quando compreendemos o que é a condição dos

velhos, não podemos contentar-nos em reivindicar uma „política da

velhice‟ mais generosa, uma elevação das pensões, habitações sadias, lazeres organizados. É todo o sistema que está em jogo e a reivindicação

só pode ser radical: mudar a vida. (BEAUVOIR, 1990, p. 665).

Diríamos mais: mudar a educação, pois necessitamos manter o idoso junto do nosso

lar, a família não deve afastar o indivíduo que lhe deu a vida, não pode jogá-lo a um grupo

social desconhecido, deve ter atitudes e respeito. Ou seja, a sociabilidade e a educação devem

ser a esperança do idoso de hoje e do futuro.

As famílias e a sociedade em geral devem valorizá-lo e apoiá-lo para que seu papel

continue sendo primordial e determinante, não continuando a transformar a produtividade e a

atividade profissional como fatores determinantes para a vida. O idoso não pode ser visto

como um fardo. Ele deve se sentir útil, seja para sociedade seja para a família.

Não necessitamos de normas e leis para que os idosos sejam respeitados e tenham

dignidade para viver na sociedade que ele mesmo construiu. Também não deveríamos a todo

instante ter de provar essa capacidade.

Para atender às reivindicações que os idosos fazem, bem como às necessidades deles,

devemos desenvolver políticas públicas e, acima de tudo, colocá-las em prática, fazer com

atendam à demanda dessa classe, principalmente na área da saúde e do social.

A conscientização sobre a importância do idoso no meio coletivo deve almejar

melhoria para todos, pois no futuro estaremos no lugar dele hoje, envelheceremos – a

juventude é só um momento de transição, só é vivida por um período curto de tempo de nossa

vida.

Page 87: Edi Sartori.pdf

87

3.5.1 Trabalho

No mundo industrial falta o vínculo entre o trabalho e o

resto da vida, assim muitas vezes se separa totalmente o

trabalho do prazer, da renovação, do preenchimento e da satisfação.

Albornoz, 2004, p. 9

O trabalho é definido pelo dicionário Aurélio como:

1. Aplicação das forças e faculdades humanas para alcançar um

determinado fim. 2. Atividade coordenada de caráter físico e/ou

intelectual, necessária à realização de qualquer tarefa, serviço ou

empreendimento. 3. Trabalho remunerado ou assalariado: serviço,

emprego. 4. Local onde se exerce essa atividade 5. Qualquer

atividade realizada 6.Lida, labuta.

A palavra trabalho vem do latim tripalium: instrumento feito de três paus aguçados,

com o qual os agricultores batiam o trigo; era usado também para prática de tortura. (SOUZA,

1995). Na sua origem, o termo trabalho era relacionado a dureza, punição, tarefa árdua e sem

liberdade. Souza diz que, para Hegel (1770-1831), o trabalho passou a ter importância capital

no processo pelo qual o homem toma responsabilidade por si mesmo, surge como conquista

da subjetividade.

Atualmente o trabalho é o mesmo que atividade física ou intelectual, realizado pelo ser

humano em troca de algo. Para outros, o trabalho está diretamente relacionado ao capital,

levando em conta a troca prestada por serviços intelectuais ou braçais. Vale lembrar que o

trabalho intelectual modifica pessoas e ideias, enquanto o trabalho físico ou braçal modifica

propriedades.

Existe, além do trabalho, o emprego. O primeiro envolve a atividade executada em si;

o segundo, numa sociedade capitalista, refere-se ao cargo ou ocupação de um indivíduo numa

empresa ou órgão público.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), trabalho significa:

Ocupação econômica remunerada em dinheiro, produtos, outras formas

monetárias, ou a ocupação econômica sem remuneração, exercida pelo

menos durante 15 horas na semana, em ajuda a membro da unidade domiciliar em sua atividade econômica, ou a instruções religiosas

beneficentes, aprendiz ou estagiários.91

91 Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/trabalhoerendimento/pme/pmemet2.shtm>. Acesso

em 15set2012.

Page 88: Edi Sartori.pdf

88

Langer (2004) define trabalho na sociedade contemporânea como um fato relacionado

a todas as atividades humanas realizadas e remuneradas na forma de se melhorar de vida.

Essas atividades integram uma ordem social, levando a uma total desconsideração de todas as

atividades que não forem exercidas em troca de um salário.

3.5.1.1 O idoso no mercado de trabalho

No Brasil, o número de idosos no mercado de trabalho vem aumentando

consideravelmente, seja por motivos financeiros seja por puro prazer em trabalhar e manter-se

em atividade, bem como pela falta de mão de obra qualificada. Com o aquecimento do

mercado de trabalho, as empresas estão tendo de recorrer aos profissionais mais velhos para

preencher vagas de nível técnico mais alto, como relata o diretor de Operações da Consultoria

de Recursos Humanos Human Brasil, Fernando Monteiro da Costa:

Existia no mercado uma onda dizendo que as pessoas mais jovens têm mais energia, disposição. Depois da crise econômica, houve uma mudança e

passou-se a valorizar também a experiência. Os selecionadores começaram a

enxergar as pessoas mais seniores e também uma distribuição maior entre

jovens e seniores nas equipes.92

Segundo estatísticas do PEA93

, “com o aquecimento da economia, milhões de

brasileiros, em todas as regiões, muitos deles já aposentados, continuam fazendo parte da

população economicamente ativa”.

Outro recorte nos dados do Censo 2010 mostra forte tendência de envelhecimento do

trabalhador brasileiro na última década. A quantidade de pessoas com mais de 60 anos que

está no mercado de trabalho cresceu 63% desde 2000. O número pulou de 3,3 milhões para

5,4 milhões em 2010.

O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA sigla em inglês) aponta que, no

Brasil, existem 47% dos homens e 24% das mulheres idosas no mercado de trabalho.

Todos esses dados caracterizam as transformações sofridas no século XX e

contrapõem o que nunca antes na história havia sido registrado: um contingente elevado de

idosos que desde 2000 supera o número de crianças com menos de 5 anos94

.

92 Disponível em: <http://www.ideas.org.br/pdf/artigos%20interessantes%20103%20_jan%20%202012_.pdf.>. Acesso em

10set2012. 93 População Economicamente Ativa.

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89

Esse número tem sido significativo em todas as regiões brasileiras, tendo como líderes

o Distrito Federal (151%) e os Estados do Amapá (135%) e Santa Catarina (104,7%), sendo

que as regiões Norte e Centro-Oeste possuem quase 30% da sua população economicamente

ativa com mais de 60 anos, diferentemente da sociedade ocidental, em que o conceito de

velhice ainda é visto como um fator complexo, associado à aposentadoria e à falta de

produção.

Segundo Lopes (2010), as empresas consideram-se beneficiadas ao contratar um

trabalhador idoso: ganham pela sua experiência, sabedoria e na maioria das vezes é uma mão

de obra mais barata, pois, como eles têm mais dificuldade para conseguir emprego, acabam

aceitando uma remuneração menor.

O especialista e gerente de recrutamento André Magro95

comenta que

é comum as empresas, por questões estratégicas, optarem por trocar dois

profissionais juniores por um sênior, que trará mais expertise para o

negócio. Principalmente quando a companhia passa por um período de contenção de gastos e precisa dar uma guinada no mercado.

Para Magro, “aposentados e seniores serão muito requisitados. Além de dominarem

perfeitamente a sua área, trazem resultados imediatos à corporação”96

. As oportunidades são

vastas no mercado no mercado de trabalho, já que o aquecimento tende a manter-se pelos

próximos oito anos, ainda segundo informações de Magro. No entanto, apesar de oportunizar

vantagens ao idoso, como manter-se ativos e em contínuo desenvolvimento, não podemos

deixar de observar que as empresas tendem a explorar a geração de aposentados ou idosos por

sua larga experiência com o intuito de reduzir custos.

Em São Paulo, o Grupo Pão de Açúcar97

contrata pessoas idosas desde 2004. De

acordo com a gerente de Recursos Humanos do Grupo, Vandreia Oliveira, “a porta de entrada

principal para os idosos na empresa é o cargo de empacotador, mas nada impede que um

profissional dessa idade comece já em cargos de gerência, dependendo do perfil”.

94 Dados da UNFPA. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/geral,em-dez-anos-mundo-tera-mais-de-1-bilhao-

de-idosos-diz-onu,938376,0.htm>. Acesso em 2out.2012. 95 André Magro - Gerente e Chefe de Negócios - Recursos Humanos - Varejo em Hays, empresa especializada em recrutar profissionais para média e alta gerência, líder no mercado mundial e reconhecida como a maior empresa do setor listada na Bolsa de Valores de Londres (LSE). 96 Entrevista cedida à Folha de São Paulo. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,idosos-voltam-ao-

mercado-de-trabalho-,850072,0.htm>. Acesso em: 10set2012. 97 O Grupo Pão de Açúcar é formado pelas redes Extra, Pão de Açúcar, Ponto Frio e Assaí. Hoje a rede possui 1,7 mil

profissionais com 60 anos ou mais trabalhando em suas quatro bandeiras, o que representa pouco mais de 1% da força de trabalho total. Disponível em: <http://invertia.terra.com.br/empreendedor/noticias/0,,OI6012637-EI19588,00-

Veja+os+beneficios+da+contratacao+de+profissionais+idosos.html>. Acesso em 10out2012.

Page 90: Edi Sartori.pdf

90

O grupo possui um programa focado na contratação de profissionais da terceira idade.

Segundo Oliveira, uma das políticas da empresa é focar na diversidade. "Desenvolvemos

programas de inclusão social e percebemos, na prática, o quão benéfico é possuir um time de

colaboradores composto por pessoas diferentes98

", diz.

Hoje em dia ela considera-se uma "obrigação moral" das empresas contratarem esses

profissionais, pois eles são mais “maduros e responsáveis até para garantir que o ambiente de

trabalho seja mais equilibrado do ponto de vista comportamental.”

Diríamos que os idosos não são e não podem ser considerados, de forma alguma,

pessoas diferentes. Devemos ter consciência de que são pessoas qualificadas em todos os

sentidos, pois já viveram as mais diversas experiências, já enfrentaram os mais diversos

obstáculos durante sua vida e não podem continuar sendo explorados pelo mercado de

trabalho devido ao déficit de mão de obra especializada ou pelo fato de poderem substituir

dois profissionais juniores. Foram explorados enquanto jovens pela falta de experiência, e são

explorados enquanto idosos pelo excesso de conhecimento.

Mesmo diante do aumento de idosos no mercado de trabalho, as empresas ainda não se

deram conta de que, além da experiência que o idoso carrega consigo, do impacto da

economia e da possibilidade de permanecer no mercado de trabalho, ele passa a ter maior

qualidade de vida, independência financeira e socialização pelo fato de permanecer ativo.

Segundo Busse, o idoso quando em atividade “acaba vivendo com mais intensidade”,

pois “mantém a mente ativa, não cai em depressão” e aumenta a “qualidade de vida”.

Ora, se os benefícios são tantos e não diferentes dos benefícios dos quais a população

mais jovem necessita, este idoso não pode ser considerado diferente de ninguém. Pelo

contrário, deve ser ainda mais valorizado, pois, com essas vantagens todas, vai depender

menos de medicação e hospitais, e vai prolongar sua vida com mais felicidade e autonomia.

A humanidade precisa (re)pensar a forma de tratar, lidar, conviver e valorizar o idoso

enquanto sujeito ativo que se inclui na sociedade em que vive. Não podemos explorar sua

capacidade e/ou necessidade, mas sim aproveitar a oportunidade de convivência e valorização

dos seus conhecimentos e experiências adquiridas ao longo dos anos. Para isso é

indispensável o respeito e a colaboração de todos para a (re)integração social.

Dentre essas transformações, não podemos deixar de destacar o mercado imobiliário,

que viu crescer sua demanda na busca por imóveis adequados para receber os idosos. Esses

exigentes compradores, muitas vezes com limitações, procuram edificações novas e que

98 Grifos meus.

Page 91: Edi Sartori.pdf

91

propiciem comodidade e facilidade de locomoção. Mais um “problema” a ser enfrentado, pois

o País, bem como seus prestadores de serviços, não está preparado com a necessária e devida

infraestrutura para atender o idoso. Apesar de haver empreendimentos, não são suficientes.

Um estudo realizado no setor da construção civil apontou a necessidade de se trazer

profissionais de engenharia de volta ao mercado. "Eles conhecem as técnicas que foram feitas

antes do advento do computador. Sabem montar na mão um desenho de um mapa

esquemático, de um sistema, de uma planta. E isso vem sendo valorizado no mercado."

(MIRANDA99

, 2012). Acrescentaríamos ainda que, além de conhecer as técnicas, esses

profissionais adaptariam de forma adequada os novos imóveis, construídos e destinados à

geração de idosos, de acordo com suas necessidades.

Salientamos, no entanto, que essa realidade ainda se encontra distante das

necessidades, as possibilidades são ainda de que os imóveis poderão ser adaptados100

.

Novamente nos encontramos diante de uma gama de contradições, inúmeras necessidades

sem perspectivas ou previsões para as habitações sejam (re)adaptadas de forma urgente.

Vivemos num país de terceiro mundo, onde as necessidades mais urgentes não estão

direcionadas às pessoas mais velhas – políticas, normas e leis não saem do papel.

Educação, responsabilidade, empregabilidade, respeito e desigualdades sociais ainda

são fatores que merecem muito estudo, dedicação e, principalmente, conscientização para que

possamos atender a uma demanda básica: vida digna.

Diante de tantos “desencontros”, como sugere De Masi (2000), vivemos como se

ainda estivéssemos cem anos atrás. Diante de novas tecnologias, poderíamos ter mais conforto

e tempo livre. Para De Masi, se, em nossa sociedade, conhecer conta mais do que fazer, a

conclusão a que se chega é que desenvolve melhor o seu trabalho quem cultiva outros

interesses.

3.4.3 A idosa no mercado de trabalho: uma questão de gênero

O mercado de trabalho também conta com a experiência e a eficiência das mulheres.

Segundo informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), o número

de mulheres idosas no mercado de trabalho passou de 42% para 47,2%, entre os anos de 1998

99 Suyen Miranda - Diretora da consultoria de Recursos Humanos da Solução Labor, em entrevista ao jornal Estado de São

Paulo, em 18 de março de 2012, sobre a volta dos idosos ao mercado de trabalho. 100 Grifos meus.

Page 92: Edi Sartori.pdf

92

e 2008, colocando o Brasil, juntamente com o México e a Argentina, em destaque no cenário

internacional101

.

No entanto, o relatório divulgado pela UNFPA ressalta que, além da discriminação

sofrida pelos idosos, as mulheres ocupam apenas 24% dos postos de trabalho. Mais um alerta.

Não temos dados “confiáveis”, necessitamos trabalhar de forma mais segura para que a

população mundial se sinta mais “confortável” e para que possamos desenvolver políticas

públicas, estudos, medidas de proteção e educação de forma a direcionar, principalmente os

jovens, em prol de uma sociedade mais digna.

Com a emancipação feminina, a partir do final do século XIX, resultante das lutas dos

movimentos feministas, na Europa e nos Estados Unidos, a mulher brasileira também ganhou

significativo espaço na esfera social, política e trabalhista. Em contínuo desenvolvimento,

assume papéis importantes na sociedade, além de participar de atividades extradomésticas: a

mulher faz viagens, cursos de especialização, dentre outras atividades, antes consideradas

com preconceitos.

Segundo Rodrigues (2008, p. 1-4), as mulheres passaram a assumir responsabilidades

profissionais de igual pra igual como o homem, além de ocupar-se dos trabalhos domésticos e

voluntários nas comunidades, realizando, assim, dupla e tripla jornada de trabalho.

Em face do aumento da expectativa de vida, a mulher idosa ganha novos espaços, seja

na universidade, seja no trabalho. Ela aproveita seu tempo livre, muitas vezes conquistado

pelo fator tecnológico, que facilitou a vida de uma forma geral, já que não precisa mais lavar

suas roupas à mão, por exemplo. Seus filhos já não dependem mais dela, os alimentos podem

ser comprados prontos ou semiprontos.

A automatização dos utensílios tem trazido benefícios e transformado a vida das

mulheres. Ela hoje faz parte de uma nova fase no ciclo da sua vida, seja como celebridade,

seja como anônima. Ela faz valer a pena o tempo livre, e este tempo dá nome à Universidade

Aberta do Tempo Útil. Ela aproveita oportunidades, realiza sonhos, viaja, consome, trabalha

em casa ou no mercado formal, é escolarizada, professora, doméstica ou empresária.

Mesmo sendo vista como estereótipo da sua capacidade profissional, hoje, a mulher é

mais livre, independente e resolvida, conquistou espaço para realizar sonhos e objetivos.

Como é caso da atual Presidente da República, Dilma Rousseff (64 anos), representante do

Estado Maior, chefe do poder executivo, demonstrando pulso firme e competência diante de

conglomerado de congressistas, em sua maioria do sexo masculino, que lhe devem respeito e

101 Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Disponível em: <http: www.tse.gov.br>. Acesso em 8maio2012.

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93

“obediência”. Mas, como bem sabemos, não é assim que funciona. Beauvoir (1970, p.74)

complementa que “se o mínimo necessário não é superior às capacidades da mulher, ela torna-

se igual ao homem no trabalho”.

Indubitavelmente, desde a década de 1970 a mulher rompe barreiras, “numerosas

transformações não deixaram dúvidas quanto ao assunto [...] desde a pílula à liberação da

palavra, os corpos nus expostos na mídia, mudaram a vida das pessoas” (PRIORE, 2006, p.

13), especialmente das mulheres, que até então eram vistas como protagonistas apenas de seu

próprio destino.

Na sociedade a mulher tinha uma “simples participação indireta, fazia dela um peso

morto social, ou, o que é pior ainda, um elemento negativo” (SILVA, 1969, p 73) ou “objeto

sexual, usável e descartável, não obedecendo às regras estipuladas pela camada social”

(PRIORE, 2006, p. 166).

Hoje as mulheres conquistaram seu espaço tanto na sociedade quanto na família, seu

destaque é visivelmente respeitoso, igualou-se aos homens e, em determinados momentos,

superou-se a eles em vários quesitos. Além de assumir dupla jornada, supera o homem no

quesito educação e informação. Adquire novas funções no mercado de trabalho e desencadeia

um processo de mudanças complexas.

Tudo indica que essas mudanças de comportamento se devem à influência da mídia,

que a partir da Revolução Industrial ganha força e racionalismo, transformando o humano em

“máquina, um conjunto de cilindros, de fusos, de rodas.” (BEAUVOIR, 1990, p. 27).

Diferentes são as considerações de Bauman (2008, p. 99), para quem, “em nosso

mundo líquido-moderno”, as mudanças devem ocorrer permanentemente e devemos ser “uma

pessoa diferente daquela que se tem sido até então”, ou seja, devemos ser mais flexíveis e

aceitar as mudanças, pois elas transformarão nosso mundo, nossa sociedade e até mesmo o

ambiente em que vivemos.

Flexibilização e transformação que vêm ocorrendo em países da UE, que aplicam

normas de acessibilidade, com a promoção de homens e mulheres idosas no mercado de

trabalho, onde, segundo o Comitê das Regiões, têm melhor desempenho e apresentam maior

taxa de emprego102

.

No Brasil podemos destacar como exemplos de superação e destaque feminino a

escritora, romancista, poeta e tradutora gaúcha Lya Luft, e Mirian Goldenberg, escritora,

102 A maior taxa de emprego está nos países que adaptaram seus ambientes para receber as pessoas idosas. Destaque para a

Suécia. Com isso a economia alavanca trazendo benefícios sociais e econômicos globais, nas palavras da Presidente do Comitê das Regiões, Mercedes Bresso, em 4 de abril de 2012. Disponível em: <http://eur-

lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=OJ:C:2012:225:0046:0051:PT:PDF>. Acesso em 30set2012.

Page 94: Edi Sartori.pdf

94

antropóloga, orientadora de diversos trabalhos nas áreas de gênero, corpo, sexualidade e

novas conjugalidades na cultura brasileira, inclusive sobre envelhecimento e felicidade.

Embora fossem necessárias várias páginas para descrevermos a atuação feminina em

destaque, não podemos deixar de lembrar as pioneiras do feminismo, como Heleieth Saffioti,

socióloga e militante, falecida aos 76 anos em São Paulo; Betty Friedan, ativista feminista

estadunidense do século XX; Nísia Floresta, educadora, escritora e poeta brasileira,

considerada uma pioneira do feminismo no Brasil; Simone de Beauvoir, escritora, filósofa

existencialista e feminista francesa; Carmen da Silva, definida como "um dos símbolos da

modernização da imprensa e da sociedade brasileira contemporânea" (DUARTE, 2006); e,

especialmente, Ecléa Bosi, imortal da Academia Brasileira de Letras, crítica e historiadora de

literatura brasileira.

Todas essas mulheres feministas, defensoras de seus direitos, consideradas símbolos

da modernização, intelectuais, pioneiras, corajosas, merecem nosso respeito e admiração.

Merecem destaque por serem ou terem sido enfáticas, incansáveis, críticas e persistentes nas

conquistas de um espaço antes somente “usufruído” por homens, como é o caso da aluna

entrevistada frequentadora das aulas da UATU/UPM, que teve uma vida cheia de atividades,

com formação acadêmica, podendo desenvolver suas atividades sem deixar o espaço do lar.

Ela relata sua vida com orgulho:

Tenho 77 anos. Sou nascida e criada em São Paulo. Minha

formação é psicopedagoga. Trabalhei em várias universidades,

como a USP e a PUC, com reabilitação e educação nos

esportes.

Atualmente sou aposentada há mais de 10 anos e frequento as

aulas da UATU no Mackenzie em várias áreas. No momento eu

faço Cinema e Criatividade.103

As mulheres conquistaram seu espaço no século XX e com ele vieram as

reivindicações e as conquistas da inserção no mercado do trabalho e o ingresso nas

universidades.

Nesse sentido, Beauvoir (1980, p. 292) reafirma ainda que a mulher:

reclama hoje o direito de participar do movimento pelo qual a

humanidade tenta incessantemente justificar-se, em se superando; ela só

103 Vide entrevista anexa.

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95

pode consentir em dar vida se a vida tem um sentido; não poderia ser mãe

sem tentar desempenhar um papel na vida econômica, política, social.

Observamos que o número de idosos no mercado de trabalho brasileiro vem

crescendo, seja pela sobrevivência financeira, seja pelo fato de estarem socialmente ativos.

Essa vitória deve ser celebrada, pois as pessoas idosas que contribuíram e continuam

contribuindo com a sociedade merecem nosso respeito e admiração.

3.6 IDOSOS NA FRANÇA E NO MUNDO

Figura 30 – Idosos Fonte: http://www1.ionline.pt/conteudo/129126-populacao-da-ue-atinge-o-pico-em- 2040-e-uma-em-cada-oito-pessoas-tera-mais-80-anos.Acesso em: 12out2012.

Neste trabalho discorremos especialmente sobre a população francesa em relação à

brasileira, já que a UATU/UPM teve seu início baseada nos moldes daquele país, bem como

em outros países do mundo.

A população francesa representa 13,6% do total da Europa, estimada em 62,9 milhões

de habitantes104

, mantendo o posto de terceiro maior país do continente, depois da Rússia e da

Alemanha, segundo informações da Câmara de Comércio e Indústria Franco-Portuguesa

(CCIFP).

O país, que inclui ilhas e é formado por mares, cadeias montanhosas, alpes e uma

grande variedade de paisagens, já foi considerado a sexta potência econômica mundial, mas

atravessa hoje um período frágil e de recessão no cenário econômico.

104 Câmara de Comércio e Indústria Franco-Portuguesa. Disponível em:

<http://www.ccifp.fr/pt/centro_documentacao/franca/populacao>. Acesso em 02out.2012.

Page 96: Edi Sartori.pdf

96

Na União Europeia (UE), em 2050, o número de pessoas com 65 anos ou mais deverá

crescer em 70%; o de pessoas com idade superior a 80 anos, 170%105

, enquanto o número de

pessoas dependentes com idade entre 60 e 79 anos irá crescer de 7 a 8%106

; a população com

80 anos ou mais crescerá aproximadamente 10% entre os anos de 2005 e 2015. Isso acarretará

desafios no que tange à promoção do envelhecimento sadio e saudável, pois a longevidade

exige mudanças, especialmente nos serviços de saúde, que necessitam se adaptar às demandas

dessa população em crescimento.

Para isso, a UE conta com o apoio da população, do poder local e regional, os três

pilares, como são chamados107

, dessa parceria, para que toda a sociedade se adapte e se

capacite para desfrutar de direitos iguais e oportunidades em todas as fases da vida,

independentemente da idade, do sexo, da raça ou da origem étnica.

A OMS defende como pilares o indivíduo, a sociedade e o Estado, que deverão estar

unidos em prol dos programas e políticas de envelhecimento, dividindo responsabilidades

entre si. Os indivíduos devem ser responsáveis pelo cuidado com a sua saúde, embora isso

dependa de “ambientes de apoio”, como a própria OMS definiu, entendidos como a familia e

a sociedade, e diríamos mais: não só a familia e a sociedade, mas o Estado com políticas

públicas. Ou seja, os três pilares não podem se separar.

De acordo com a European Comision (EC), “o principal desafio será o de promover o

envelhecimento ativo e saudável para os cidadãos europeus”, o que significa mais qualidade

de vida e independência dos idosos, impactando de forma positiva no crescimento econômico

da Europa.

Com esse crescimento em ritmo constante, a medicina deve atuar de forma a proteger

as pessoas contra as doenças vulneráveis à população idosa, como doenças do coração108

e

demências, aumentando com isso a expectativa de vida, oferendo um estilo de vida melhor e

economizando nos futuros custos com os cuidados com a saúde.109

105 Disponível em: <http://ec.europa.eu/health-eu/my_health/elderly/ms_pt_en.htm>. Acesso em 07ago.2012 – Tradução da autora. 106 Dados do INSEE. Disponível em: <http://www.insee.fr/fr/themes/document.asp?reg_id=19&ref_id=10441#inter4.> Acesso em 02out.2012. Tradução da autora. 107 Jornal Oficial da União Europeia. Parecer do Comité das Regiões – Envelhecimento ativo – de 27 de julho de 2012. Disponível em: <http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=OJ:C:2012:225:0046:0051:PT:PDF>. Acesso em: 30set2012. Tradução da autora. 108 As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte na União Europeia. Disponível em: <http://www.my-health-world.com/blog/2012/03/05/life-expectancy-grows/>. Acesso em 05jul.2012. Tradução da autora. 109 Disponível em: http://www.my-health-world.com/blog/2012/03/05/life-expectancy-grows/>. Acesso em 05jul.2012.

Tradução da autora.

Page 97: Edi Sartori.pdf

97

Devido a esses dados, a European Comision (EC) designou o ano de 2012 como o

“Ano Europeu do Envelhecimento Activo e da Solidariedade entre Gerações”110

, com o

objetivo de facilitar a cultura entre as pessoas idosas na Europa, procurando com isso

envolver e incluir as pessoas idosas na sociedade e afastar a possibilidade de uma possível

exclusão, já que “[...] o velho aparece aos indivíduos ativos como uma 'espécie estranha', na

qual eles não se reconhecem” (BEAUVOIR, 1990, p. 266).

A França possui uma “esperança de vida cada vez maior - 91 anos para as mulheres e

86 anos para os homens –, o número de franceses inativos vai ultrapassar rapidamente o

número de ativos”111

. A previsão de uma população de 32% de sêniors (como podemos

observar no quadro abaixo) causa preocupação para as autoridades quanto ao sistema de

aposentadorias.

Projection de population par grand groupe d'âge en 2060 en %

Populatio au 1er

janvier

(en millions)

Moins de

20 ans

20 ans à

59 ans

60 ans à

74 ans

75 ans

ou plus

2015 64,5 24,2 51,0 15,5 9,3

2020 66,0 23,9 49,6 17,0 9,4

2025 67,3 23,5 48,4 17,2 10,9

2030 68,5 23,0 47,5 17,1 12,3

2035 69,7 22,6 46,7 17,1 13,6

2040 70,7 22,4 46,6 16,3 14,7

2050 72,3 22,3 45,9 15,9 16,0

2060 73,6 22,1 45,8 15,9 16,2 QUADRO 3 – Projeção da população, em porcentagem, por grupo de idade em 2060 na França

Fonte: Champ: France métropolitaine - Source: Insee, projetions de population 2007-2060.

Ainda de acordo com o INSEE112

, órgão responsável pelas estatísticas oficiais

francesas, a

França terá 200 mil pessoas com mais de 100 anos em 2060, contra 15 mil

centenários vivendo no país no início deste ano, um recorde na Europa, à

frente da Espanha, do Reino Unido e da Alemanha. 90% dos centenários são mulheres, um cenário que não deve mudar nos próximos 50 anos.

110 Disponível em: <http://epp.eurostat.ec.europa.eu/portal/page/portal/product_details/publication?p_product_code=KS-EP-11-001. Acesso em 07ago2012. Tradução da autora. 111 Disponível em: <http://www.portugues.rfi.fr/franca/20101027-franca-tera-um-numero-recorde-de-idosos-em-2060>. Acesso em 07ago2012. 112 Disponível em: <http://www.insee.fr/fr/>. Acesso em 07agode 2012. Tradução da autora.

Page 98: Edi Sartori.pdf

98

Esse número merece atenção e preocupação das autoridades, assim como também por

parte dos jovens, pois será com essa “nova” população/geração que a convivência se dará nas

próximas décadas. A preocupação das autoridades está diretamente relacionada aos gastos

com Seguridade e Saúde Pública, questões como prevenção e controle das doenças.

Mobilidade dos profissionais da saúde faz parte das atividades da Comissão Europeia113

.

O esforço dar-se-á especialmente no sentido de promover um envelhecimento

saudável aos franceses, bem como mais qualidade de vida, mais autonomia para que eles se

mantenham ativos e os serviços em saúde se tornem menos requisitados.

Ainda segundo a Comissão Europeia, nos termos do Tratado, as ações voltadas à

saúde pública são no sentido de prevenir doenças e epidemias, além de identificar focos que

coloquem em risco a saúde humana.

Nesse aspecto de prevenção, a UE está desenvolvendo um sistema de informações

globais atualizadas sobre importantes temas de saúde, tendo como principal objetivo reforçar

a saúde publica e agir de forma eficaz na resposta às ameaças das doenças infecciosas.

Ainda de acordo com as políticas de saúde pública da Comissão Europeia, os

investimentos visam contribuir para a redução das desigualdades114

, contando ainda com o

apoio de uma parceria com todas as partes interessadas: autoridades nacionais, Parlamento

Europeu, Conselho da União Europeia, Comitê das Regiões, agências na área da saúde e

outros grupos de interesse dos cidadãos.

A UE também reforça a atenção que deverá ser destinada às regiões menos avançadas,

contando com o apoio da comunidade e do poder público, no sentido de despertar as pessoas

para a nova realidade. O reforço às políticas de educação e formação será importante para

apoiar o envelhecimento saudável.

Para a UE, todas as regiões são iguais em termos de envelhecimento da população,

mesmo havendo enormes disparidades entre países e regiões no que diz respeito à dívida

soberana.

A prevenção global, mesmo sem “intenção”, tende a atingir, além dos idosos, os

jovens, já que, para desfrutar de boa saúde quando idosos, é preciso cultivar uma boa saúde.

Já na Alemanha, a população idosa atingirá, até o ano 2030, 26% dos alemães. Eles

terão mais de 65 anos (quase 29 % das mulheres e 23,4 % dos homens). Em 2050, prevê-se

113 Disponível em: <http://ec.europa.eu/health_in_the_eu/policies/index_pt.htm#>. Acesso em 17set2012. 114 Disponível em: <http://ec.europa.eu/health_in_the_eu/policies/index_pt.htm#>. Acesso em 17set2012.

Page 99: Edi Sartori.pdf

99

que uma em cada três mulheres (32 %) e um em cada quatro homens (25 %) tenham mais de

65 anos.

Em Portugal, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), a população

idosa, com idade superior a 65 anos, cresceu cerca de 19% na última década, contabilizando,

em 2011, 2,023 milhões de idosos, sendo que, desses, 60% vivem sozinhos ou apenas na

companhia de outros idosos. Justifica ainda o Instituto que este fenômeno tem a ver com “o

aumento da esperança média de vida, a desertificação do país e a transformação do papel da

família nas sociedades modernas”, como apresenta o gráfico 4.

Gráfico 4 – Projeção da população em Portugal em 2060

Fonte:http://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_publicacoes&PUBLICACOESpub_boui=136077

007&PUBLICACOEStema=55466&PUBLICACOESmodo=2. Estatísticas Demográficas 2010. Acesso em

29ago2012. Tradução da autora.

O INE ainda alerta para o decréscimo da população jovem: entre “2005 e 2010, a

proporção de jovens (população dos 0 aos14 anos de idade) decresceu de 15,6% para 15,1% e

a de indivíduos em idade ativa (população dos 15 aos 64 anos de idade) reduziu-se de 67,3%

para 66,7%”115

. Com isso cresce a preocupação das autoridades com o equilíbrio do sistema

de aposentadorias, pois não haverá força de trabalho para compensar as aposentadorias que o

Estado oferece aos idosos franceses e também aos imigrantes.

A França implementa meios para que idosos, franceses e imigrantes, permaneçam em

atividade. Exemplo são as Universidades para a Terceira Idade, que já existem há quase meio

século.

115 Disponível em: <http://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_publicacoes&PUBLICACOESpub_boui=136077007&PUBLICACOEStema=55466&PUBLICACOESmodo=2.> Estatísticas Demográficas 2010. Ano de edição 2012. Acesso em 29ago.2012.

Tradução da autora.

Page 100: Edi Sartori.pdf

100

A preocupação da UE também está diretamente ligada à redução da taxa de

natalidade. A oferta de mão de obra e o emprego diminuirão, o que afetará o crescimento

econômico. Por isso trabalha com soluções para criar um mercado único eficaz de bens e

serviços concebidos para todos. Isso importa ponderar desde a criação de incentivos

financeiros até adaptações a habitações já existentes, apoiando os investimentos em soluções

inovadoras e a vida cada vez mais autônoma da população idosa.

O envelhecimento ativo e saudável é um dos principais objetivos da Estratégia Europa

2020. O desafio, até 2060, é a garantia de que homens e mulheres permaneçam na vida ativa

durante mais tempo, reduzindo a procura de cuidados e de assistência.

Mas a França, assim como a Europa não tem somente a preocupação com o

envelhecimento saudável no sentido de cuidados com a saúde. A França, que sempre foi

modelo em seguridade social, hoje, fragilizada, prevê seu tempo de contribuição para 40 anos

e para 42 anos até 2020116

.

No Brasil a aposentadoria possui uma variedade de benefícios e tipologias, como a

aposentadoria compulsória (utilizada como uma forma de "sanção" para juízes que tenham

atuado de forma incompatível com o cargo, ou mesmo cometido falta grave, crime ou

qualquer outro delito), aposentadoria especial (concedida ao segurado que tenha trabalhado

em condições prejudiciais à saúde ou à integridade física), por idade (70 anos de idade para

os homens e 65 para as mulheres), por invalidez (indivíduo considerado incapaz para o

trabalho, não sendo suscetível de reabilitação ou outra atividade que garanta sua subsistência)

e por tempo de contribuição (35 anos para os homens e 30 para as mulheres).

Os valores também são dos mais variados, e todos com algum tipo de ressalva,

iniciando pelo valor do salário mínimo (que também varia de Estado para Estado) até o teto

máximo pago pelo Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), que é de R$ 3.912,00 (três

mil, novecentos e doze reais), para trabalhadores da iniciativa privada, bem como os altos

salários pagos aos juízes e funcionários públicos que recebem sua aposentadoria de forma

integral117

.

Salientamos que o foco não é este, mas necessitamos nos embasar para o cenário em

destaque, que também precisa levar em conta as despesas e o déficit provocado pelas

116 A França possui, diferentemente do Brasil, a aposentadoria integral, equivalente a 75% da média do salário do contribuinte durante os últimos seis meses de carreira. Esse cálculo é válido também para os juízes. Em 2008 o tempo de contribuição que era de 37,5 anos passou para 40 anos. Em 2012, o tempo de contribuição passará a ser de 41 anos e 42 anos em 2020. Esse tempo refere-se tanto para o setor público quanto privado. De acordo com o Ministério do Trabalho francês, o valor médio das aposentadorias na França é de 1,2 mil euros (cerca de R$ 3.120,00). Apesar da idade mínima legal para ter direito à pensão ser de 60 anos (tanto para homens como mulheres), os funcionários franceses se aposentam, em média, aos

57 anos, devido às categorias com regimes diferentes. Disponível em: <http://osha.europa.eu/pt>. Acesso em 02out.2012. 117 Está tramitando no Senado um projeto para acabar com a aposentadoria integral do funcionalismo público.

Page 101: Edi Sartori.pdf

101

aposentadorias, principalmente do setor público que, segundo informações da Previdência,

crescerão a um ritmo de 10% ao ano. Logo, as desigualdades deverão passar por um processo

de correção urgente, visto que os recursos arrecadados não são suficientes para suprir a

necessidade do pagamento das aposentadorias existentes.

Os governos, seja da França, do Brasil ou de qualquer outro país, deverão, como uma

das primícias, entender a questão do envelhecimento, diagnosticar sua complexidade para

capacitação de profissionais das mais diversas áreas para atuarem e trabalharem o tema em

discussão, especialmente profissionais que possam estabelecer uma política econômica

favorável ao seu desenvolvimento.

A economia é o principal fator que influencia e desencadeia a demanda de

profissionais em todas as áreas. Com o crescimento do número de idosos e,

consequentemente, as aposentadorias, os investimentos entre países podem favorecer os

países com menor número de idosos – o déficit ocasionado pela previdência acarretará menor

número de investimentos por parte do governo, já que o número de contribuições será menor.

Se cada país fizer seu dever de casa, melhorando as medidas tangíveis com

planejamento, organização e contribuição em todos os níveis, sejam elas nas áreas

educacional, fiscal, trabalhista, tecnológica e de previdência, automaticamente a economia se

ampliará e os investimentos em cuidados com saúde e qualidade de vida de toda a população

não sofrerão alterações bruscas, como é o caso dos países europeus.

As previsões realizadas em 2005, dentro das análises e perspectivas do “Brasil 2020 –

Os desafios da economia global”118

, já alertavam para a reestruturação previdenciária,

financeira, social e econômica. Precisamos agora arcar com os “deslizes” e (re)planejarmos o

futuro no tempo que nos resta para não entrarmos numa economia tão frágil quanto a da

Europa.

3.7 TRAJETÓRIA DA INDUSTRIALIZAÇÃO COM A MULHER

Não há árvore boa que dê mau fruto; tampouco árvore má que dê bom

fruto. Cada árvore é conhecida pelo seu próprio fruto. Porque não se colhem figos de espinheiros nem dos abrolhos se vindimam uvas. A

mulher sábia do bom tesouro do coração tira o bem, e a ignorante do

mau tesouro tira o mal porque a boca fala do que está cheio o coração. Lucas 6, 43 a 45

118 Analises & Perspectivas Brasil 2020 – Os desafios da Economia Global. Disponível em:

http://pt.scribd.com/doc/58724996/Brasil-2020-Os-Desafios-Da-Economia-Global-ERNST-amp-YOUNG-2006>. Acesso em

10out2012.

Page 102: Edi Sartori.pdf

102

Na perspectiva da formação judaico-cristã, a mulher sempre foi vista como imperfeita,

como objeto, criada para casar, obedecer, cuidar dos filhos e do marido e, quando não os

tinha, era “crucificada”, pois “ela era o equilíbrio das forças produtoras e reprodutoras (...) seu

papel era perpetuar a espécie” (BEAUVOIR, 1980, p. 56).

Rocha-Coutinho (1994, p.29) nos remete à realidade do séc. XVIII, reforçando a tese

de que “a mulher passa a viver para o amor: amor a seus filhos, a seu esposo, a sua casa. Para

tanto, ela deveria se manter pura, distante dos problemas e das tentações do mundo exterior –

o mundo do trabalho –, que deveria ficar sob o encargo do homem”.

No entanto, a mulher sempre desejou ir além do mundo que a mantinha sob a condição

de mãe e esposa, pois nunca esteve alheia ao trabalho. Mesmo antes da industrialização, a

mulher sempre esteve na ativa.

Mas é no século XVIII, segundo Beauvoir (p. 154-162), que se inicia um forte

desenvolvimento na França para restringir o número de filhos, quando começam a se

desenvolver métodos contraceptivos. Da burguesia às populações rurais, a prática do coitus

interruptos expande-se. Um dos primeiros avanços rumo à liberdade feminina. Beauvoir (p.

157) ressalta que foi durante o século XIX que a mulher “libertou-se da Natureza: torna-se

senhora de seu corpo”, devido à “liberdade da servidão de reprodução”, podendo com isso

“passar a desempenhar papéis econômicos.”

De acordo com Beauvoir, a partir de 1950 nos alimentávamos da literatura francesa,

tínhamos acesso às ideias, e estas reforçaram academicamente o que os movimentos de

mulheres proletárias já faziam nos Estados Unidos, encontrando-se mais emancipadas que as

europeias, pois assumiam o trabalho executado pelos homens quando estes serviam na guerra.

A partir do século XIX, início do século XX, as mulheres reivindicam o direito ao

voto, que ocorreu em tempos diversos no mundo – no Brasil, segundo Álvares (1980),

ocorreu apenas a partir de 1934 e com o auxílio da Igreja Católica –, alegando condições para

isso, pois, além de educarem, queriam participar das decisões sobre sua valorização como

mulher.

Foi também no decorrer do século XX que as mulheres obtiveram suas maiores

conquistas, quando a industrialização teve sua crescente importância, aumentado sua

participação no mercado de trabalho. Perrot (1990, p. 15-16) relata que as mulheres

trabalhavam em dupla jornada, sem acesso à educação e aos direitos legais, além de ganharem

salários inferiores aos dos homens.

Um marco histórico também se deu no decorrer do século XX. Além do advento da

Segunda Guerra Mundial, Simone de Beauvoir escreve seu livro chamado “O Segundo Sexo”,

Page 103: Edi Sartori.pdf

103

muito citado neste trabalho e que serve como referência de feminismo no mundo ainda nos

dias de hoje.

A partir desse momento, com o crescimento da participação das mulheres no mundo,

no mercado de trabalho, na escola, na família, seus interesses e conquistas começam a ser

vistos de forma a questionar sua vivência no mundo, sua posição social, bem como

delimitando igualdades entre sexos. Uma verdadeira revolução para a época e uma ruptura

nos conceitos histórico-culturais, dentre os quais destacamos a valorização da mulher, que

rompeu e conquistou seu espaço como membro essencial na família, contrariando a história

do século XX de que as mulheres “deveriam ser donas de casa, além de mães”. (PRIORE,

2006, p 284)

A maior expectativa de vida, o acesso à informação, as inúmeras possibilidades

oferecidas, sejam elas através da educação, conscientização da sociedade, do crescimento

econômico, do avanço da medicina, dentre outros aspectos, como maior participação no

mercado de trabalho e, consequentemente, maior contribuição para o rendimento familiar,

mesmo tendo seus salários inferiores aos dos homens, têm tornado a mulher alvo de

discussões favoráveis para seu contínuo desenvolvimento.

3.8 IDOSO E QUALIDADE DE VIDA

3.8.1 Definições

Qualidade de vida é a qualidade de nossas vidas em cada ponto do tempo

entre o nascimento e a morte. (TORRANCE, 1987).

Qualidade de vida é quanto vale a pena a vida de uma pessoa, para a

própria pessoa. (SANDOE E KAPPEL, 1994).

Qualidade de vida é um estado de capacidade absoluta para a realização

de tarefas. (PARSONS, 1958).

Qualidade de vida é o grau de satisfação ou insatisfação, sentido pela

pessoa, com vários aspectos da sua vida. (ABRAMS, 1973).

Vários são os significados desta palavra que cada vez mais ganha atenção,

especialmente em se tratando da qualidade de vida da terceira idade. No entanto, quando

Page 104: Edi Sartori.pdf

104

ouvimos as palavras qualidade de vida (QV), logo nos vêm à mente lazer, tranquilidade,

segurança, alegria, família, estabilidade financeira, bens e até poder.

Desde os anos 60, o termo QV tem sido muito utilizado e abrangente, no entanto o

maior enfoque e interesse têm sido nas áreas sociais e políticas, tornando seu uso ambíguo: de

um lado visa o ambiente, a estética, o grupo familiar; de outro, visa as particularidades éticas

e sociais, ou seja, distingue-se pelo momento histórico-cultural em que o indivíduo se

encontra.

O conceito de QV também engloba as condições e os estilos de vida de um

determinado grupo, os direitos humanos, a saúde, os fatores biológicos, patológicos e

psicossociais.

A saúde, em especial, tem sido muito usada como parâmetro para distinguir pacientes

com qualidade de vida ou não, pois as perdas e a dependência causadas pelas doenças e

inatividades levam o idoso ao processo de insatisfação, o que pode causar depressão,

“sentimentos de inferioridade e (...) desajustamento pessoal e social do idoso”. Ou seja, “o

senso de bem-estar pessoal afeta a percepção de qualidade de vida” (NERI, 1993, p. 16-17).

No contexto saúde, a autonomia, a independência e as boas condições de saúde,

segundo Busse, são as questões mais importantes para que a pessoa tenha qualidade de vida.

Sabemos que indivíduos independentes e felizes possuem melhor qualidade de vida,

no entanto é importante ressaltar que a QV percebida e medida pelo próprio indivíduo é

fundamental, pois, quando as pessoas não estão felizes, realizadas ou não estão satisfeitas

consigo mesmas, podem relatar que não possuem QV, ou seja, para melhor descrevermos

sobre o aspecto QV, deveríamos avaliar conforme julgamento pessoal e enquadrar cada

indivíduo a seu modelo. Mas isso não seria possível.

O conceito de QV pode variar de autor para autor e, além disso, é um conceito

subjetivo, que varia muito em razão da cultura de cada indivíduo ou do ambiente em que ele

vive, bem como da faixa etária em que este indivíduo se encontra.

Sob a perspectiva psicológica, à QV estão relacionadas a imagem corporal, a

profissão, a capacidade de desempenho das atividades diárias, a motricidade, a capacidade de

manutenção de relações, a saúde.

Na perspectiva pessoal, a definição de QV é quase impossível de ser definida, sendo

muitas vezes associada à felicidade ou à satisfação, associadas ao pensamento positivo, aos

relacionamentos dos que os cercam, bem como ao respeito mútuo.

Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), “qualidade de vida é a percepção que o

indivíduo tem da sua posição na vida, de acordo com o contexto cultural e os sistemas de

Page 105: Edi Sartori.pdf

105

valores nos quais vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”

(WHOQOL GROUP, 1994, p. 28)119

. Já Néri (1993, p 9-10) descreve como um desafio a

identificação do significado de QV, principalmente quando se trata do idoso, e a avalia como

“viver de maneira positiva”, sendo que essa vivência “resulta da qualidade da interação entre

pessoas em mudança”. Mudança gerada pela sociedade, que se transforma diariamente, que

se desenvolve ao longo do tempo. Em outras palavras, “avaliar a QV na velhice implica a

adoção de múltiplos critérios de natureza biológica, psicológica e socioestrutural”. (NÉRI,

1993).

Após a Segunda Guerra Mundial, com a chegada da industrialização, QV tem sido

relacionada à “boa vida”, à conquista de bens materiais, como máquinas e equipamentos, casa

própria, eletrodomésticos, viagens e até a conquista da aposentadoria, ou seja, o

desenvolvimento econômico e a conquista da independência financeira passam a ser

sinônimos de QV.

Os conceitos e as perspectivas são muitos, no entanto não podemos deixar de salientar

que vivemos de forma a pensar que a velhice é vista como um processo de “degeneração” do

indivíduo, em que há a perda das capacidades físicas, biológicas e, principalmente, a

incapacidade e a “desqualificação” do indivíduo perante a sociedade, que não (re)conhece seu

idoso e o excluí socialmente.

No entanto, diante das adversidades, ainda é possível encontrar idosos que se sentem

felizes e vivem em sociedade. É o caso da aluna da UATU/UPM, que revela que, ao participar

das aulas, começou a

...conhecer melhor o ser humano (...) e a aceitar melhor as

diferenças.

Eu tinha dificuldade, hoje eu aceito melhor, é um exercício.

Com 77 anos, ainda se diz aprendiz, pois adaptar-se a ambientes é viver em constante

aprendizado.

O ambiente, o conhecimento, as adversidades, as conquistas são produtos de bem-estar

entre os alunos da AUTU/UPM, pois as atividades desenvolvidas no programa fazem com

que mantenham sua mente ativa, seu corpo sadio e até querendo e sugerindo mais atividades

para os cursos.

119 A primeira versão em língua portuguesa do WHOQOL-100 foi desenvolvida para Português do Brasil, em Porto Alegre

(Fleck et al., 1999a, 1999b, 2000).

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106

Sobre o bem-estar, as alunas, no início das atividades, reivindicaram modificações,

adaptações e espaços:

Fomos reivindicando e fomos conseguindo[...] prédio tinha que

ter elevador [...] rampa para cadeira de rodas [...]lutamos

muito e conseguimos.

De acordo com Busse, para termos QV no Brasil, necessitamos de

projetos mais inteligentes [...] olhar mais pra educação.

Acredito que não adianta só [...] ter saúde, só pensar em saúde,

você precisa pensar em educação. Quanto mais educada [...]

melhor as condições de ter uma qualidade de vida melhor.

O auxílio ao próximo também é sinônimo de QV. Destacamos o relato de uma aluna

que diz sentir-se feliz em poder “ajudar os outros”. Diz, ainda, como sugestão, que gostaria

de discutir em sala de aula e que seria “interessante” que tivessem o que

... em inglês se chama General Knowledge (...) cultura geral, é

conhecimento geral do dia a dia, o que tá acontecendo na

América do Sul, na América do Norte (...) o que se refere ao

Brasil... que te deixe (...) querendo saber mais.

Querer saber mais é sinônimo de crescimento, de mente aberta, sadia e de felicidade:

“pessoas felizes tendem a construir suas situações de vida de forma mais positiva e são mais

capazes de obter bons resultados em suas relações interpessoais”. (NÉRI,1993, p.17).

Percebe-se a diversidade de interesses e a dimensão de importância que o curso traz

aos alunos da terceira idade, bem como a desmistificação de que idoso é o que está

aposentado, que não tem expectativa de futuro.

Esses relatos nos mostram que o

desempenho na velhice pode ser melhor do que o dos jovens. Quando sob

ótimas condições de saúde e ambiente, pessoas mais velhas podem:

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107

1. Reter altos níveis de desempenho, comparáveis aos de quando

eram jovens.

2. Adquirir novos conhecimentos. 3. Aprimorar capacidades de auto-regulação.

4. Manter interações sociais significativas. (IBIDEM, p.40)

Qualidade de Vida na velhice pode ser avaliada, dentre outros aspectos, como a forma

como a UATU/UPM idealiza e amplia a rede de relacionamentos entre seus alunos, ao

oferecer cursos das mais diversas áreas do conhecimento e proporcionar ao indivíduo maduro

oportunidade de socialização, aprendizado e constante crescimento, adquirindo novos

conhecimentos e aprimorando-os, bem como promovendo a troca de experiências entre

indivíduos das mais diversas idades. Os ganhos em conhecimento, crescimento ou mesmo a

interação social são “uma poderosa fonte de enriquecimento e modulação da inteligência em

qualquer época da vida humana.” (NÉRI, 1993, p. 42).

A socialização, a estabilização de contatos e o constante estabelecimento de vínculos,

unidos à produção de atividade diária, têm significados satisfatórios para o bem-estar

emocional dos indivíduos. É o que nos relata em entrevista uma das alunas da UATU/UPM,

ao referir-se à satisfação de participar do curso, pois para isso ela necessita estar “bem e feliz”,

estendendo este entusiasmo aos seus familiares. Refere-se à forma como o esposo a descreve:

... ela sai de casa sorrindo e chega gargalhando. E isso ele fala

pra todo mundo, que faz muito bem pra mim (o curso). Ele gosta

de ver eu me arrumar, com uma pontinha de ciúmes, mas ele

fala que é positivo.

A qualidade de vida que a aluna nos relata por estar fazendo parte da universidade

aberta é somente um dos aspectos que o envelhecimento bem-sucedido traz à família e/ou à

sociedade como um todo. Ou seja, o idoso deve estar de bem com a vida, além de cuidar da

sua autoestima, contrariando a discussão dos estereótipos em relação à velhice de que eles

representam dificuldade.

A UATU/UPM, nesse sentido, realiza várias atividades que trazem satisfação ao

aluno, apropriadas para essa fase da vida, com programas voltados à saúde e ao bem-estar,

como a prática de exercícios físicos, dança e conceitos básicos de nutrição para uma

alimentação saudável.

Page 108: Edi Sartori.pdf

108

É importante ressaltar que a universidade aberta não só forma, educa ou atualiza seus

alunos: ela também é um importante fio condutor de realizações pessoais e motivadora de

prazer e alegria, oportunizando desafios e relações interpessoais.

Exemplo disso são os relatos das alunas que descrevem as vivências após o ingresso

na universidade, apontando que as aulas “envolvem as pessoas”, ao referirem-se à forma

como são expostos os conhecimentos dos professores, ou então, ao referirem-se às novas

amizades: “eu fiz muita amizade (...) nos reencontramos no shopping”.

Outros relatos positivos sobre o que a UATU/UPM trouxe estão relacionados à

importância de o idoso ocupar seu tempo, motivo que ocasionou mudança com o convívio

entre colegas. D. Esther120

relata:

...colegas que chegaram com depressão, não arrumavam o

cabelo, vinham desarrumadinhas e, de repente, cortam o

cabelinho, passam um batonzinho, põem um brinquinho, isso é

também um ponto muito positivo.

As mudanças visíveis e a participação em sociedade resultam na motivação, no prazer

e na vontade de viver.

Sobre a prevenção do estresse e depressão, Néri (1993, p. 62-63) relata que as

“atividades grupais e a satisfação pessoal, associadas a recursos psicológicos fornecidos por

familiares e amigos, ajudam os indivíduos idosos a manterem um autoconceito positivo,

podendo reduzir o estresse e ampliando a interação social.”

Integração, motivação e convivência em grupo são os fatores mais valorizados que a

UATU/UPM tem como objetivo preservar em seu “currículo escolar”. Os exemplos são dos

mais variados, iniciando pelo relato da Profa Regina Giora, quando descreve que os alunos

idosos melhoravam seu desempenho após realizar as aulas de informática e que a motivação

dos alunos enquanto aprendizes fazia com que eles exigissem aprofundamento, com sugestões

de cursos mais avançados.

A motivação pela convivência, aprendizado e valorização enquanto ser humano

permitiu que doenças como depressão fossem afastadas, pois as alunas começavam a se

arrumar, pintar os lábios, reunir-se para tomar café e até namorar, em alguns casos.

120 Vide entrevista anexa .

Page 109: Edi Sartori.pdf

109

Percebe-se que a valorização do idoso em espaços de sociabilidade, bem como com

familiares, traduz o que todos querem, “serem tratados como gente”, nas palavras de Giora,

“simplesmente tratados como gente”, e isso a UATU/UPM soube fazer muito bem.

Não haver distinção de raça, cor, sexo, religião e, principalmente idade, faz com que

os alunos se sintam mais “jovens”. Essa juventude é vista no olhar, no andar, na convivência,

na participação e no interesse em sala de aula, onde eles demonstram a insaciável sede de

conhecimento, questionam, participam e o índice de faltas é praticamente zero.

Isso pode e deve ser considerado fator de Qualidade de Vida. Portanto, QV pode, sim,

ser considerada a soma de vários fatores, principalmente a preservação do prazer, da

felicidade, do bem-estar em todos os seus aspectos, além de ser uma consequência das

reflexões sobre a própria vida, sobre as sensações e as emoções. Seu significado pode variar

ao longo do tempo. É uma medida subjetiva usada na construção social, que inclui o

desenvolvimento na educação, formação, cuidados de saúde e reabilitação.

Poderíamos, então, descrever ou classificar os aspectos que compõem as palavras

Qualidade de Vida, para – quem sabe – podermos melhor compreender seu significado.

Quando falamos em qualidade, logo refletimos sobre o que é melhor, pensamos sobre

a forma de produção e seu acabamento. No entanto, aqui, ao falarmos sobre qualidade, nós

nos referimos à forma de viver e ver a vida.

Os dicionários definem a palavra Qualidade como sendo “propriedade de uma coisa,

predicado, virtude, característica, peculiaridade”121

. Por outro lado, Qualidade, segundo o

dicionário Aurélio122

, é “propriedade, atributo ou condição das coisas ou das pessoas que as

distingue das outras e lhes determina a natureza” (p. 1165).

E Vida. O que é vida? Poderíamos aqui logo responder que vida é respirar. No entanto,

de acordo com Ferreira (1986), vida é “existência, ato de viver, entusiasmo”, sendo

“existência, o espaço de tempo que decorre do nascimento até a morte”.

Sabemos que a vida é um dos maiores bens, senão o maior bem, a ser preservado.

Nosso primeiro direito. O direito à vida, a uma vida digna. Logo, poderíamos aqui considerar

que QV é um conjunto de bens dos quais necessitamos para viver e que todos os seres

existentes deveriam ter sua vida guiada por uma qualidade digna. Isso incluiria o direito à

vida, à educação, à saúde, ao bem-estar e à socialização, sem preconceitos, estereótipos,

discriminação e ou exclusão.

121 Dicionário escolar da língua portuguesa/compilado por Alfredo Scottini – Blumenau: Edições Todo Livro, 1998. 500p. 122 Ferreira, A.B.H. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; 1986.

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110

3.9 UMA ABORDAGEM PSICOSSOCIAL

Os destaques das últimas décadas são para as questões da velhice que ocupam as

primeiras posições no rol das discussões científicas e governamentais, mas é no universo

sociocultural que são produzidas as representações culturais.

Segundo Moscovici (2003), é no universo sociocultural que estão e são continuamente

produzidas as representações sociais. As relações sociais e a forma de comportamento do dia

a dia frente a pessoas e objetos são medidas pela percepção e pelas representações sociais que

fazemos delas.

Sabemos que o processo de envelhecimento implica uma série de mudanças. Segundo

Néri (1995), essas mudanças acontecem em tempos diferentes, não podendo ser generalizadas

para todos os indivíduos, pois o envelhecimento é intrínseco. Como o indivíduo trabalhará

essas mudanças é que fará a diferença ao pensarmos o envelhecimento de uma ou mais

pessoas.

A mesma autora ainda salienta que mais importante que a idade cronológica é a forma

como os anos foram vividos, as construções que foram feitas e a maneira como esse idoso se

sente e se percebe. Reforça a ideia de que necessitamos saber o que é ser velho e envelhecer.

De acordo com Morais (2007), deve-se pensar em um olhar que supra as demandas

desses velhos, para que assim eles possam manter a sua autonomia e usufruir de uma

qualidade de vida mais satisfatória.

No entanto,

Envelhecer é mais um aspecto da dialética do mesmo e do outro na tensão entre vida e morte, entre o desejo da permanência e a inexorabilidade da

destruição. O signo dessa tensão é a finitude que se reconhece no existir

humano, na dialética da facticidade e da transcendência. O fato

experimentado do envelhecer nos confronta diretamente com nossos limites. (ZUBEN, in LIBERALESSO, 2001, p. 160).

Velho ou idoso, são palavras que, em nossa cultura, nos remetem ao ciclo final da vida

ou à ideia imediata de algo que perdeu o uso, que deve ser descartado. No entanto, a palavra

velho quer dizer que a pessoa ganhou idade, tem outro significado, outra conotação.

Ao pesquisar a palavra na língua inglesa, a palavra old significa velho. Para

envelhecer usa-se aging, palavra que tem como radical age, que na tradução para o português

é idade. Logo, aging significa acrescentar idade.

Page 111: Edi Sartori.pdf

111

Com mais de 30 milhões de habitantes acima dos 65 anos, 24,1% do total de sua

população, os japoneses utilizam o termo Karei. Este tem como radical Kawaeru, que

significa somar, acrescentar, e rei, que significa tempo de vida. No Japão sua população idosa

é sinônimo de sabedoria e respeito.

Busse123

reforça a tese de que o envelhecimento é caracterizado pela heterogenicidade

e não pela faixa etária:

tem desde pessoas que já não pensam em mais nada, que vêm

aqui [...] falam que acabou, mesmo sem estar deprimidas, só

esperando a morte [...], até gente que com 80 anos, 86 anos,

ainda planejam, buscam novas coisas, querem viajar, querem

um(a) novo(a) parceiro(a), um novo negócio. Tem toda essa

heterogenicidade.

A heterogenicidade também foi encontrada no grupo de alunos frequentadores da

UATU/UPM, grupo que podemos classificar como parte da população que envelhece de

forma saudável. Apresentam independência e autonomia, elementos para uma promoção de

um envelhecimento bem-sucedido:

Velhice bem-sucedida é assim uma condição individual e grupal de bem-

estar físico e social, referenciada aos ideais da sociedade, às condições e aos valores existentes no ambiente em que o individuo envelhece e às

circunstâncias de sua historia pessoal e de seu grupo etário. (NÉRI,

1995, p. 34).

Kachar (2003) reforça que a atualização faz parte de uma nova inserção social para

esses idosos, pois eles mostram que são capazes de se manter ativos, não aceitando estigmas

de que ser idoso é ser resignado e não acompanhar mudanças.

Essas mudanças vieram acompanhadas de novidades e atualizações por parte dos

idosos da UATU/UPM. As entrevistadas relatam estarem atualizadas, especialmente nos

cursos de informática e línguas, apontando a sua importância, como é o caso da entrevistada

M. E.:

...é interessante, eu acho que a informática faz parte da vida de

qualquer um dos idosos também, das pessoas que têm netos, pra

123 Vide entrevista anexa.

Page 112: Edi Sartori.pdf

112

acompanhar e pra gente mesmo é uma fonte de informação

maravilhosa [...] acho isso ótimo, e línguas também eu acho que

é muito interessante você saber e é bom pra memória.

Tais aprendizados não só trazem independência como apresentam as potencialidades

na velhice. Ajudam os idosos a não se sentirem constrangidos perante os netos ou pessoas

mais jovens, como também contribuem para a aproximação com sua família. As aulas, o

aprendizado e a convivência em grupo auxiliam tanto o idoso quanto as pessoas que

convivem com ele.

Segundo Kristensen (2006), compreender e respeitar esses aspectos relativos ao

aprendizado e peculiares à velhice é fundamental para que os idosos possam se sentir à

vontade para que este aprendizado ocorra.

A atualização para os idosos faz parte de uma nova inserção social, além de

representar um grito de potência para os idosos. De acordo com Kachar (2003), ele mostra

que é capaz de manter-se ativo, não aceitando estigmas de que ser idoso é ser resignado e não

acompanhar mudanças.

Percebe-se aqui a busca pelo novo, pela atualização ou pelo fato de querer manter-se

ativo. Essas necessidades são eternas, não fazem parte somente da vida dos jovens, mas

também dos idosos. Diferencial este que os idosos nos apresentam “diariamente” como

evidência do seu contínuo desenvolvimento, apresentando níveis compatíveis com o

aprendizado dos jovens. Como é o caso dos alunos da UATU/UPM, que questionam o

professor sobre os próximos cursos: Que curso o Sr. vai dar o semestre que vem?

Isso após, de acordo com o professor de arte, “me acompanharem há algum tempo e

adquirirem, pela convivência, um bom repertório sobre arte”.

Néri (2003, p.39) nos chama a atenção: "o envelhecimento resguarda o potencial de

desenvolvimento, dentro dos limites da plasticidade individual". Ou seja, muitos idosos

mantêm sua capacidade intelectual, podendo, inclusive, adquirir novos conhecimentos, os

quais fazem com que os professores se atualizem a cada semestre, se reinventem e fiquem

“encantados”, como reforçou o mesmo professor da UATU/UPM sobre o estudo de um novo

programa, ainda em desenvolvimento no campo das artes, que ele pretende criar:

Um curso que está chamando preliminarmente [...] de “Atelier

de História da Arte” [...] eu quero transformar processos e

Page 113: Edi Sartori.pdf

113

procedimentos artísticos, métodos criativos em ações de ensino

e aprendizagem sobre a História da Arte.

Desafiador, mas condizente com o nível de alunado que frequenta o curso, como ele

mesmo diz:

... um conjunto de alunos formado por pessoas com grandes

referências.

No que tange à psicologia, seus estudos apresentam a busca por uma velhice bem-

sucedida: fatores que valorizam a experiência de vida, personalidade, saúde física e mental,

autonomia e envolvimento ativo com a vida pessoal, a família, os amigos, o ócio, o tempo

livre e as relações interpessoais (NÉRI, 2003), para diminuir o impacto das alterações do

corpo, dentre outros aspectos que podem mudar a adaptação dos indivíduos ao ambiente,

redução quanto a aspectos motivacionais, levando a alterações psíquicas que exigem

tratamento, depressão, hipocondria, somatização, paranoia, suicídios (ZIMERMAN, 2000).

Vieira (2004) ressalta que outras causas podem promover alterações psicológicas e

comportamentais: dor, problemas físicos associados a doença, constipação, infecção e

prejuízos sensoriais.

No entanto, características positivas também são encontradas em indivíduos idosos,

como sabedoria, emoção e capacidade para desenvolvimento contínuo.

Foram esses aspectos que nos levaram a estudar esta geração de velhos dentro da

universidade (UATU/UPM), onde, acredita-se, o envolvimento entre amigos, colegas, o

encontro diário, as discussões e novas aprendizagens tendem a afastar o mal-estar ou o

“prejuízo” que o envelhecimento traz consigo quando não bem-sucedido, conforme Zimerman

(2000), para quem o envelhecimento social da população traz uma modificação no status do

velho e no relacionamento dele com outras pessoas em função de: crise de identidade,

mudanças de papéis, aposentadoria, perdas diversas e diminuição dos contatos sociais.

Sabemos que esse papel da universidade que leva o idoso ao positivismo psicológico

ainda não está acessível a todos, bem como não estamos aqui garantindo que a escola é

produtora de benefícios e responsável pelo bem-estar da população, mas queremos, sim,

apresentar conceitos e reforçar que os encontros, o aprendizado, as novidades, a cultura, a

diversão, as interações sociais, dentre outros aspectos, fazem com que o ser humano, bem

como o idoso, tenha uma vida saudável, autônoma e feliz. O acolhimento que recebem da

Page 114: Edi Sartori.pdf

114

universidade faz com que se sintam cada vez mais úteis e menos discriminados pela

sociedade, que não tem a cultura do respeito ao velho.

A escola e a educação continuada cumprem seu papel na inserção do idoso na

sociedade, na família, “garantindo-lhes” o bem-estar e a autonomia, mesmo sabendo que esta

corre o risco de ser perdida.

Não poderíamos deixar de mencionar o fator econômico para a socialização, aspecto

relevante na vida do idoso. Indivíduos com fonte de renda baixa, sem acesso à informação,

com baixo grau de escolaridade, possuem dificuldade no acesso aos serviços sociais, assim

como ao atendimento médico.

Para Vieira (2004), na falta de subsídios econômicos, o idoso, diante da sociedade que

está voltada a interesses diferentes, sente-se uma “pessoa marginal”. Aumenta a dificuldade

de inserção grupal, o que o leva a se “fechar” em seus pares ou isolar-se socialmente, evitando

conflitos que possam surgir desta diversidade de interesses e hábitos.

A esse respeito, Maciel e Guerra (2007) reforçam a ideia de que aspectos sociais e

demográficos são descobertos e avaliados através da zona de domicílio em que vivem, idade,

sexo, cor, escolaridade, estado civil, atividade laboral, ocorrência de atividades nas horas

livres (interação social) e tamanho da família.

A diferenciação social e a econômica não são fatores “relevantes” e evidenciados na

Universidade Aberta do Tempo Útil da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UATU/UPM),

porque ela está situada em uma das regiões mais valorizadas da cidade de São Paulo, com

grande concentração de riqueza, e seus alunos, na grande maioria, são residentes no próprio

bairro. Alunos com larga experiência de vida, aposentados, frequentam a universidade com o

intuito de manter-se socializados, com o prazer de interagir entre as mais diversas culturas e

socializar-se com pessoas das mais diversas idades, como bem lembrado por uma das alunas

entrevistadas quando perguntado sobre o que mudou/melhorou em sua vida após o ingresso

na UATU/UPM:

...melhorou [...] agora você está no meio de pessoas. Você vai num

banco, passa na praça de alimentação.

Aqui na UATU/UPM, quando você anda pelo Mackenzie, você vê

gente que tem ainda um futuro, que vai ter um futuro, que tá pensando

num futuro. Essa é a grande diferença.

Você não fica fazendo crochê, não fica em frente à televisão.

Você quer aprender.

Page 115: Edi Sartori.pdf

115

Aprender, viver em meio a pessoas, independentemente de sua idade, classe social,

raça, cor, sexo ou religião, é o que os idosos querem. “A exemplo do que ocorre na

adolescência, as relações e o apego são a base necessária de segurança que facilita o

desenvolvimento e mantêm a autonomia” (NÉRI, 1995, p. 109).

Observamos que os aspectos biopsicossociais possuem grande influência no processo

de envelhecimento, seja em maior ou menor relevância, o que vai influenciar são as alterações

desses aspectos ao longo da vida, podendo influenciar na qualidade de vida do idoso.

3.10 LEGISLAÇÃO

Nas últimas décadas o Brasil vem sofrendo grande mudança em termos de

longevidade. A nossa população de jovens está dando espaço a uma população mais velha,

provocando transformações na pirâmide demográfica. Isso se deve em grande parte à redução

da taxa de natalidade, bem como às melhorias das condições de vida, ocasionada em grande

parte pelas novas tecnologias médicas.

De acordo com a legislação brasileira, o idoso tem seu espaço assim como qualquer

outro cidadão. No entanto, contamos com leis direcionadas especialmente à proteção de

idosos, como a Política Nacional do Idoso (Lei 8.842, de 4 de janeiro de 1994) e o Estatuto do

Idoso (Lei 10.741, de 1º de outubro de 2003).

As leis e as políticas públicas não acompanharam o crescimento da mesma forma e

deixam a desejar quanto à coerência na interpretação das normas referentes aos idosos,

especialmente quanto à definição de quem são as pessoas idosas, como podemos observar na

sequência.

As mudanças na legislação são recentes, e o tempo de seu desenvolvimento foi

moroso, como é o caso do Estatuto do Idoso, só instituído em 1º de outubro de 2003, e a

Política Nacional do Idoso, de 04 de janeiro de 1994124

, considerada um marco histórico na

sociedade brasileira.

De acordo com Borges (2002), definir políticas públicas significa estabelecer

competências e priorizar metas delimitando o grau de intervenção do Estado.

124 Com possibilidade de alteração e readequação segundo o Relatório Nacional do Estado Brasileiro apresentado no mecanismo de revisão periódica universal do conselho de direitos humanos das nações unidas – 2012. Estatuto do Idoso (Lei nº 12.461/2011), quanto ao estabelecimento e a notificação compulsória dos atos de violência praticados contra o idoso atendido em serviço de saúde; e, em relação ao direito de aposentadoria de trabalhadores domésticos de baixa renda, a redução da contribuição previdenciária facultativa de 11% para 5% do salário mínimo. Para mais informações, consultar Lei

n° 12.470, de 31 de agosto de 2011.

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116

Salientamos ainda que até o ano de 1994 não existia no Brasil uma política nacional

para o idoso; o que havia era um conjunto de iniciativas privadas e algumas medidas públicas

destinadas a idosos carentes (SCHONS; PALMA, 2000).

3.10.1 Política Nacional do Idoso

[...] a velhice, como todas as situações humanas, tem uma dimensão

existencial: modifica a relação com o mundo e com sua própria história. Por outro lado, o homem nunca vive em estado natural: na sua velhice,

como em qualquer idade, um estatuto lhe é imposto pela sociedade a

qual pertence125

. (BEAUVOIR,1990, p.15).

Promulgada pela Constituição de 1988, a primeira lei que surgiu para atender às

necessidades dos idosos foi a de n° 8.842, de 4 de janeiro de 1994, estabelecendo a Política

Nacional do Idoso (PNI), regulamentada pelo Decreto Federal n° 1.948, de 3 de julho de

1996, a qual garantiu a todos os cidadãos o respeito à dignidade.

Com a finalidade de assegurar os direitos sociais do idoso, em seu art. 2º, considera

pessoa idosa aquela com idade maior a 60 anos (sessenta anos), criando condições para

promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade (Cap. I – art. I).

A PNI veio para normatizar os direitos sociais dos idosos, garantindo a eles

autonomia, integração e participação efetiva como instrumento de cidadania, assegurando que

“o processo de envelhecimento diz respeito à sociedade em geral” (art. 3º, II).

Sabe-se que essas determinações nem sempre são cumpridas, seja por motivos

financeiros, educacionais e/ou culturais, pois os idosos ainda necessitam provar sua

existência. Os jovens têm muito a ganhar com sua participação, mas, para isso, a sociedade

necessita mudar sua visão em relação ao idoso – as leis por si só não modificam o ser

humano.

Costa (1996) defende a tese de que essa política está norteada por cinco princípios:

1 – a família, a sociedade e o estado têm o dever de assegurar ao idoso todos os

direitos da cidadania, garantindo sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade,

bem-estar e o direito à vida;

2 – o processo de envelhecimento diz respeito à sociedade em geral, devendo ser

objetivo de conhecimento e informação para todos;

3 – o idoso não deve sofrer discriminação de qualquer natureza;

125 Grifos meus.

Page 117: Edi Sartori.pdf

117

4 – o idoso deve ser o principal agente e o destinatário das transformações a serem

efetivadas através dessa política;

5 – as diferenças econômicas, regionais e, particularmente, as contradições entre o

meio rural e o urbano do Brasil deverão ser observadas pelos poderes públicos e a sociedade

em geral na aplicação dessa lei.

A análise nos permite afirmar que o que implica não é somente a garantia de renda,

mas o mínimo de proteção social e respeito ao ser humano.

A Política Nacional do Idoso, na condição de instrumento legal e legítimo, tem como

diretrizes:

I. viabilizar formas alternativas de participação, ocupação e convívio do idoso,

proporcionando-lhe integração às demais gerações;

II. promover a participação e a integração do idoso, por intermédio de suas

organizações representativas, na formulação, implementação e avaliação das políticas, planos,

programas e projetos a serem desenvolvidos;

III. priorizar o atendimento ao idoso, por intermédio de suas próprias famílias, em

detrimento do atendimento asilar, à exceção dos idosos que não possuam condições de

garantir sua sobrevivência;

IV. descentralizar as ações político-administrativas;

V. capacitar e reciclar os recursos humanos nas áreas de geriatria e gerontologia;

VI. implementar o sistema de informações que permita a divulgação da política, dos

serviços oferecidos, dos planos e programas em cada nível de governo;

VII. estabelecer mecanismos que favoreçam a divulgação de informações de caráter

educativo sobre os aspectos biopsicossociais do envelhecimento;

VIII. priorizar o atendimento ao idoso em órgãos públicos e privados prestadores do

serviço e apoiar estudos e pesquisas sobre as questões do envelhecimento.

Cabe ressaltar que existem outras medidas de benefícios ao idoso, como: apoio em

atividades culturais, universidade aberta, direito a educação, cultura, esporte, lazer, diversões,

espetáculos, produtos e serviços que respeitem sua peculiar condição de idade126

. No entanto,

retomamos aqui as contradições entre a realidade e o que está proposto pela legislação. O art.

I da PNI, por exemplo, reza a “viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e

convívio do idoso, proporcionando-lhe integração às demais gerações”, mas não é o que se

observa nas instituições de ensino com cursos ou programações voltadas ao idoso, onde a

126 Estatuto do Idoso. Lei no 10.741, de 1o de outubro de 2003.

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118

idade do aluno obrigatoriamente deve ser acima de 60 anos127

, o que, de certa forma, não lhe

permite viver com pessoas mais jovens.

As casas de repouso também não condizem com a proposta da PNI, pois os idosos

convivem entre si e não há integração, ainda que seja com os cuidadores.

O apoio às questões do envelhecimento, no que tange às pesquisas, tem pouquíssimas

verbas – quando existe, é para a área da pesquisa educacional. Os dados do IBGE/2010

mostram o número de idosos analfabetos existentes no país.

Já no quesito medicina, nas áreas geriátrica e gerontológica, não se observa muito

sucesso. Há defasagem desses profissionais, que é assumida pela própria Associação

Brasileira de Geriatria e Gerontologia128

. E essas especialidades deveriam estar à frente no

processo de pesquisa, pois estudam e definem desde políticas públicas até mudanças no

comportamento das pessoas, fenômeno que vem ocorrendo não só em nosso país, mas no

mundo todo.

Descrevemos aqui como mudanças: a disseminação e o conhecimento das inúmeras

doenças que possam afetar tal população, bem como seu modo de vida, sua educação, as

políticas públicas de saúde e bem-estar da sociedade. Os exemplos são dos mais variados.

Poderíamos aqui citar o exemplo da “mumificação” das pessoas, pelo fato de não se

movimentarem, não se exercitarem, fazendo com que o número de obesos aumente de forma

desequilibrada, potencializando o aumento de doenças como colesterol e diabetes,

ocasionadas, muitas vezes, pelo desconhecimento ou pela falta de acesso e condições que

proporcionem uma alimentação correta e adequada.

Somente com uma reformulação, adequação e conscientização dos órgãos públicos,

das políticas públicas de saúde e educação, bem como dos governantes, legisladores e

formuladores de normas e leis que venham a colocar em prática o que já está regulamentado e

o que venha a ser promulgado ou sancionado, é que essa população passará a ter uma vida

com mais qualidade.

Outro exemplo que merece atenção e que deve ser melhorado é o transporte público

coletivo, destinado a idosos. Por lei, eles teriam prioridade, no entanto, o que ocorre é que,

frequentemente, o transporte disponibilizado não condiz com a necessidade do idoso: muitas

vezes, diante das dificuldades, eles não conseguem subir no ônibus, ou pela falta de auxílio

dos funcionários da empresa de transportes, que muitas vezes não são treinados para esta

127 Esses cursos e instituições referem-se às universidade aqui citadas, onde os cursos são estritamente voltados à

geração da terceira idade, ou que tenham idade superior a 60 anos. 128 Entrevista cedida pela coordenadora da associação, já descrita anteriormente.

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119

finalidade, ou mesmo pela falta de condições do “carros”,. É certo que as vagas destinadas aos

idosos no transporte público coletivo têm um número mínimo estipulado, mas é insuficiente

para atender tal demanda: apenas 10% dos assentos dos “carros”, ou seja, cada “carro”/ônibus

possui somente 2 assentos reservados a essa população.129

Sobre o transporte público na cidade de São Paulo, matéria publicada pela Folha de

São Paulo aponta que os motoristas de ônibus são considerados os “piores inimigos”130

.

Segundo a mesma reportagem, “um projeto para treiná-los está em andamento.”

Destaque ainda para a falta de manutenção das calçadas ou passeios/passagens

públicos, que se encontram sem manutenção, dificultando a passagem e muitas vezes

causando riscos de queda pela má conservação131

.

A falta de interesse por parte dos jovens em contribuir para que as leis sejam

cumpridas também afeta o desenvolvimento e o cumprimento da legislação. Afinal, não

podemos deixar que os idosos potencializem movimentos a fim de continuar cobrando

melhorias e atitudes do Estado e da sociedade em relação a seus direitos.

Podemos observar que, na prática, os direitos são completamente diferentes: será

somente através da educação que poderemos conquistar rupturas no que tange aos valores e

ao respeito ao idoso. Afinal, os jovens serão os idosos do amanhã.

A Lei 8.842/94 visa a melhoria da qualidade de vida dos idosos em todos os aspectos,

por meio de ações públicas e órgãos governamentais ou não; regulamentação dos direitos,

como assistência judiciária, saúde, habitação, promoção da autonomia, e sua participação

efetiva na sociedade, destacando o acesso à educação como direito garantido (art. 10):

Art. 10 § III – a) Adequar currículos, metodologias e material didático aos programas educacionais destinados ao idoso.

Adequar os currículos escolares é dever das escolas e universidades. Nesse sentido, a

UPM/SP contribui idealizando atividades através da UATU/UPM, onde os idosos participam

das atividades interdisciplinares com o objetivo de melhoria na qualidade de vida. Com o

129

Estatuto do Idoso. Art. 40 § I - No sistema de transporte coletivo interestadual observar-se-á, nos termos da legislação

específica: (Regulamento). I – a reserva de 2 (duas) vagas gratuitas por veículo para idosos com renda igual ou inferior a 2

(dois) salários-mínimos; 130 Entrevista realizada pelo jornal Folha de São Paulo em 09 de setembro de 2012. Disponível em: <www1.folha.uol.com.br/revista/saopaulo/sp09092012.htm>. Acesso em 09 de setembro de 2012. 131 No Estado de São Paulo existem 32 leis que regulamentam a manutenção/recuperação das calçadas. As subprefeituras iniciaram, em novembro de 2005, a recuperação dos passeios municipais adotando o desenho padrão da prefeitura: blocos intertravados de cores distintas, compondo as faixas de diferenciação de usos nas calçadas. Neste ano, foram reconstruídos mais de 108.000m² de calçadas em 187 próprios municipais, distribuídos por todas as zonas da cidade. Mais informações, disponíveis em: <http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/calcadas/index.php?p=36957>. Acesso

em 02 de outubro de 2012.

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120

benefício de que não somente os idosos participam, mas todas as pessoas da comunidade com

idade superior a 18 anos têm a oportunidade de relacionar-se e construir novos conhecimentos

num mesmo ambiente, sem discriminação. Ou seja, a entidade cumpre com seu papel social,

segue as diretrizes da política nacional do idoso, especialmente no que diz respeito à

integração do idoso com as demais gerações.

I – Viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e

convívio do idoso, que proporcionem sua integração às demais gerações

(Art. 4º, da Lei 8.842/94. PNI)

Figura 31 – Convivência em foco

Fonte: desconhecida

Convívio entre gerações que reduz a discriminação, que desenvolve o

ensino/aprendizagem com a troca de cultura, que estimula o respeito e que surpreende.

As políticas de proteção ao idoso, seu estatuto, a legislação, suas normas e

procedimentos são contraditórios, discriminatórios e até mesmo preconceituosos, pois

apresentam em seus textos a falta de conhecimento e até de atitudes dos envolvidos em sua

elaboração (políticos e ou/profissionais dos grupos organizadores). Fato esse que ocorre

especialmente no que tange à educação, cuja política é “desenvolver programas de educação a

distância” (Art. 10 §III-e). Como desenvolver educação a distância se o acesso à internet não

está acessível a todos? Seu custo é elevado, os salários da maioria dos aposentados estão

defasados – 70% dos aposentados e pensionistas do INSS recebem apenas um salário mínimo

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121

mensal (GOLDMAN, 2004), sendo este muitas vezes a única fonte de renda da família.

Assim, fica inviável o processo de ensino-aprendizagem.

Ainda há o fato de que a maioria dos idosos não teve acesso à educação ou teve pouco

acesso à educação formal. Com isso verificam-se profundas desigualdades sociais (CANÔAS,

1995). Aqui o quesito educação é preocupante, pois os idosos de hoje foram os jovens do

passado que não tiveram acesso à escola, como podemos observar nos dados sobre

analfabetismo divulgados pelo IPEA em 2010.

De acordo com o Estudo do IPEA, entre os idosos, o maior número de analfabetos se

situa na faixa etária superior a 65 anos, na qual teria havido um aumento de analfabetos na

ordem de 490 mil132

.

GRÁFICO 5 - Taxa de analfabetismo população de 15 a 64 anos133 – Brasil, Grandes Regiões e UFs - 2009 e 2004

Fonte: IPEA. Disponível em: <http:agencia.ipea.gov.br/images/stories/PDFs/comunicado/101209_comunicado ipea70.pdf.>. Acesso em 2out.2012.

No gráfico acima, pode-se observar que as “taxas de analfabetismo são bastante

desiguais entre as UFs. Enquanto o Amapá já atingiu patamar de indivíduos alfabetizados

próximo ao de países ricos, em Alagoas a taxa de analfabetismo é cerca de três vezes maior

que a média nacional”.

132

Em grande medida, tal crescimento se deve à mudança de faixa etária de pessoas analfabetas que se encontravam, em

2004, com idade entre 60 e 64 anos. 133 Os dados de 15 a 64 anos, segundo o IPEA, foram divididos de acordo com o que seria a faixa etária de pessoas em idade produtiva; e de 65 anos ou mais, correspondente à categoria de idosos. Mais informações, consultar Comunicado do IPEA nº 70 – Evolução do analfabetismo e do analfabetismo funcional no Brasil – Período 2004-2009, divulgado em dezembro/2010. Disponível em http://agencia.ipea.gov.br/images/stories/PDFs/comunicado/101209_comunicadoipea70.pdf.> Acesso em:

01out2012.

Page 122: Edi Sartori.pdf

122

Já as taxas de analfabetismo da população com 65 anos ou mais – Brasil, Grandes

Regiões e UFs- 2004 e 2009 – reduziu-se de 34,4% para 30,8%, como podemos observar no

gráfico a seguir.

Segundo o mesmo relatório do IPEA, “apesar disso, houve aumento em números

absolutos da ordem de 490 mil analfabetos. Tal crescimento se deve à mudança de faixa etária

de pessoas analfabetas que se encontravam, em 2004, com idade entre 60 e 64 anos.”

GRÁFICO 6 - Taxas de analfabetismo da população com 65 anos ou mais – Brasil, Grandes Regiões e UFs - 2004 e 2009 Fonte: IPEA. Disponível em: <http: agencia.ipea.gov.br/images/stories/PDFs/comunicado/101209_comunicadoipea70.pdf.>.

Acesso em 2out.2012.

Percebemos que é vasto o campo a ser percorrido e exigirá profundas modificações até

que o idoso e a sociedade sejam vistos de forma igualitária, sem discriminação de raça, cor,

sexo, idade ou status social, ou mesmo que atinja o mínimo possível de instrução para que

possamos nos tornar uma sociedade no mínimo igualitária em termos de educação.

Não podemos deixar de mencionar o 5º principio da PNI, que prevê o “incentivo e a

criação de programas de lazer, esporte e atividades físicas, que proporcionem a melhoria da

qualidade de vida do idoso e estimulem sua participação na comunidade.” Destacamos ainda

o principio IV da referida lei: "O idoso deve ser o principal agente e o destinatário das

transformações a serem efetivadas através desta política". Política esta que deve buscar

assegurar-lhes os direitos à cidadania, à informação do processo de envelhecimento e,

principalmente, valorizar o idoso como agente e destinatário das ações políticas que versam

sobre seu lugar.

Page 123: Edi Sartori.pdf

123

A legislação em seu conteúdo é excelente, no entanto a qualidade de vida também

depende de investimentos e incentivos aos programas de saúde e educação ao longo da vida.

Esses investimentos devem partir do governo, mas não é o que ocorre. Os idosos não são

lembrados e, quando o são, é pela Previdência Social, que, pela falta de administração e

legislação, está em colapso por gerar ônus social e nos remete à associação de velhice com

problemas econômicos e financeiros, quando esses deveriam ter sido pensados e repensados

quando essa população ainda se encontrava na juventude.

Ou seja, a velhice é vista como uma questão de peso para a sociedade, e a

aposentadoria é vista como momento de crise. Necessitamos ressignificar o envelhecimento.

A educação é a balança para o equilíbrio. Atitudes urgentes devem ser tomadas para que

possamos nos equilibrar diante de tantos obstáculos e diferenças sociais.

Dar voz ao idoso significa lhe dar a possibilidade para que ele próprio possa discutir

suas necessidades, ou seja, sua colocação enquanto pessoa, sem discriminação. Fazer valer a

legislação, conforme seus textos, confere-lhe um novo ânimo.

3.10.2 Estatuto do Idoso

...As pessoas idosas desejam e podem permanecer ativas e independentes por tanto tempo quanto for possível se o apoio

adequado lhes for proporcionado.

Renato P. Veras

Criado com o objetivo de garantir melhores condições de vida, dignidade ao idoso, foi

aprovado pelo Senado Federal e sancionado pelo Presidente da República em 1° de outubro

de 2003 o Estatuto do Idoso, que apresenta um grande avanço na legislação brasileira.

O documento estabelece que a pessoa idosa é aquela com idade superior ou igual a 60

anos (sessenta anos), idade que é alterada de acordo com a Assistência Social em seu capítulo

VIII – Art. 34, quando estabelece a idade para 65 (sessenta e cinco anos) aos idosos carentes,

aqueles “que não possuam meios para sua subsistência.”

O Estatuto do Idoso, após seis longos anos de espera, foi sancionado pelo então

Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. Ele é o resultado da junção dos Projetos de

Lei n° 3.561, de 1997; n° 183, de 1999; n° 942, de 1999; n° 2.420, de 2000; n° 2.241; n°

2.426, de 2000; n° 2.427, de 2000; e o de n° 2.638, de 2000.

Logo, o Estatuto do Idoso é o reflexo de leis anteriores que já vinham discutindo o

assunto sobre o idoso. A pioneira delas foi a Constituição de 1988. Segundo Ceneviva (2004,

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124

p. 12), esta foi “o campo apropriado e original de catalogação específica do idoso como um

subsistema individuado no universo do direito”.

Braga (2005, p. 186) destaca a importância do Estatuto do Idoso:

Esta lei é um marco importante no estudo dos direitos dos idosos

brasileiros. Tanto assim que merece estudo próprio e individualizado, no entanto, é impossível deixar de citar, ao menos, alguns de seus pontos

importantes. E uma vez definida a pretensão, podemos afirmar que sua

maior contribuição é, sem dúvida alguma, a publicidade dada à temática do envelhecimento. A sociedade começa a perceber-se como envelhecida

e os índices já divulgados pelos institutos de pesquisa passam a ser

notados. O Estatuto do Idoso é um instrumento que proporciona autoestima e

fortalecimento a uma classe de brasileiros que precisa assumir uma

identidade social. Ou seja, o idoso brasileiro precisa aparecer! Precisa se

inserir na sociedade e, assim, passar a ser respeitado como indivíduo, cidadão e partícipe da estrutura politicamente ativa.

O autor reforça que o Estatuto do Idoso, apesar de ser um marco importante na vida

do idoso, tende a conduzir a sociedade a valorizar o indivíduo pela idade e, ainda, dá a

entender que o idoso necessita de leis para ser inserido em sua própria sociedade, ou seja, na

sociedade, no ambiente que ele mesmo construiu.

Braga, em seu livro Envelhecimento, ética e cidadania (2001), destaca a importância

de que os idosos não precisam e não poderiam ser diferenciados, pois isso seria

discriminatório e, mais, que os direitos do cidadão não mudam de acordo com o passar dos

anos, ressaltando a importância da identidade das pessoas, independentemente da idade que

venham a ter.

Quanto à questão da discriminação, o Estatuto deixa claro em seu Art. 3º - III que “o

idoso não deve sofrer discriminação de qualquer natureza”; bem como a Declaração Universal

dos Direitos Humanos - 1948 - Artigo 6º - apregoa que “Toda pessoa tem o direito de ser, em

todos os lugares, reconhecida como pessoa perante a lei”.

Sousa (2004, p. 179) também destaca com respeito às garantias trazidas pelo Estatuto

do Idoso no Brasil:

O Estatuto do Idoso, uma legislação contemporânea com o objetivo protetivo assistencial quanto às pessoas com idade igual ou superior a 60

(sessenta) anos, assegurou-lhes, com tutela legal ou por outros meios,

todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em

condições de liberdade e dignidade. Sedimentando assim a obrigação da

família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público de assegurar

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125

com absoluta prioridade a efetivação do direito à vida, à saúde, à

alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à

cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. Com essa legislação, nenhum idoso será objeto de qualquer

tipo de negligência, discriminação, violência, crueldade ou opressão, e

todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão, será punido na

forma da lei.

Observamos mais uma vez que a problemática do idoso, na sociedade brasileira, não é

nova. Autores como Salgado (1991), Fernandes (1997), Oliveira (1999), Palma (2000) dizem

que a Constituição Federal de 1988 (artigos 229 e 230) apenas aponta diretrizes e

principios lógicos acerca do tema, mas não determina políticas específicas para esta parcela

da população.134

Novamente nos confrontamos com desafios. Mesmo, em alguns momentos, a

legislação sendo clara em seus textos, objetiva e considerada um marco histórico, a

pesquisadora Néri (2005) alerta que os direitos sociais não abrangeriam de forma adequada as

necessidades e expectativas dessa população.

Com 118 artigos dispostos em sete capítulos, o Estatuto do Idoso, gerado por iniciativa

do movimento de aposentados135

, explicita um conjunto de diretrizes e regulamentações às

pessoas idosas com 60 anos ou mais.

Destacamos aqui os arts. 21 e 25, que se referem à educação e às universidades para o

idoso:

Art. 21º O Poder Público criará oportunidades de acesso do idoso à

educação, adequando currículos, metodologias e material didático aos

programas educacionais a ele destinados; e

Art. 25º O Poder Público apoiará a criação de universidade aberta para

as pessoas idosas e incentivará a publicação de livros e periódicos, de

conteúdo e padrão editorial adequados ao idoso, que facilitem a

leitura, considerada a natural redução da capacidade visual.

Ora, se o Poder Público, conforme o enunciado, tem atribuição de criar oportunidades

e adequar os currículos escolares, que atribuições caberiam às escolas? E, se realmente essas

atribuições fossem preconizadas, os idosos teriam a liberdade de escolha de seus cursos ou

trabalhos a serem realizados dentro do currículo escolar? Formariam eles um grupo

homogêneo? Os idosos seriam discriminados e desrespeitados, pois isso desrespeitaria o art.

2º do referido Estatuto, quando reza sobre seus direitos: “facilitar a preservação física e

mental [...] moral, intelectual e social”.

134 Grifos meus. 135 Neri, A.L. A Terceira Idade (SESC), vol 16 (nº 34), outubro de 2005, p. 7-24.

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126

Cabe ressaltar que também o art. 25º do órgão governamental discrimina o idoso

quando incentiva a produzir publicações adequadas ao idoso, que facilitem a leitura.

Facilitar a leitura é produzir em letras garrafais ou diferenciadas, e isso infringe a lei

estabelecida pelo próprio governo quando alega o direito à saúde. Esse direito, como está

estipulado no art. 15, assegura a prevenção, a promoção, a proteção e a recuperação da saúde,

ou seja, o idoso com sua visão comprometida deveria ter seu direito garantido e gratuito a

consultas e avaliações com médicos especialistas. Com a garantia de assistência, ele corrige

seu “problema” e, com seu beneficio, também garantido, adquire a medicação quando o

especialista julga necessário ou estipula o tratamento.

Novamente nos encontramos indefesos diante de uma legislação que, mesmo

considerada clara e objetiva por alguns especialistas, não nos oferece condições necessárias

para que possamos usufruir dos benefícios e direitos determinados pela legislação vigente.

Sabemos que não é assim que a funciona a realidade. O idoso pobre, carente e sem

instrução não tem acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS) para consultas com especialistas,

bem como sua aposentadoria não é suficiente para o atendimento das necessidades básicas.

Isso sem levarmos em consideração a falta de profissionais médicos geriatras e

gerontólogos que se disponibilizem a atender essa população, especialmente quando nos

referimos ao atendimento pelo SUS.

Cabe apontar o número de especialistas que o Brasil forma a cada ano e quantos

deveria formar. Nas palavras de Silvia Pereira, presidente da SBGG,

o número de profissionais voltados para o tratamento do idoso ainda é

insuficiente. “A cada ano são formados apenas 60 geriatras no Brasil”.

Atualmente há apenas 922 profissionais da área em atuação. Seriam necessários ao menos cinco mil médicos para o volume de idosos, o que

significa um geriatra para cada mil brasileiros.136

Ora, as estatísticas realizadas pelo IPEA e pelo IBGE, já no Censo de 2000,

apontavam um grande aumento da população idosa137

e projeções longevas com qualidade de

vida à população pertencente à terceira idade e aos que dela fariam parte. Por que, então, não

programar e incentivar as universidades e seus estudantes de medicina a se especializarem nas

136 Entrevista realizada pelo jornal Repórter Diário, em 26 de junho de 2011. Disponível em: <http://www.reporterdiario.com.br/Noticia/294210/faltam-geriatras-no-pais/>. Acesso em 09outubro2012. 137 Segundo dados do IBGE/2002, o número de pessoas idosas no Brasil era de quase 15 milhões, ou seja, 8,6% da população brasileira, sendo que 1 milhão de idosos estavam vivendo no Estado de São Paulo. O IBGE, no mesmo ano, também

prospectou uma população para 2020 equivalente a 13% dos brasileiros, e o Censo/2010 divulgou resultado de que esta população havia chegado a 12% (18 milhões de pessoas idosas). Disponível em:

<http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/25072002pidoso.shtm>. Acesso em 10outubro2012.

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127

áreas mais necessitadas para que o atendimento à população idosa possa ser suprido ou pelo

menos mitigar a demanda?

Questionamentos como esses devem ser levados em conta no momento das

(re)formulações de propostas e políticas públicas voltadas à população da terceira idade.

Pessoas especializadas na área deveriam se envolver com a elaboração de tais propostas,

fazendo com que a população de estudantes e a sociedade se comprometessem com

determinadas previsões.

A escola como um todo, especialmente as universidades, e a Sociedade Brasileira de

Geriatria deveriam alertar e trabalhar seus alunos em prol dos benefícios que esses poderiam

trazer para a sociedade, para sua família e para si mesmos, pois os jovens também tendem a

envelhecer.

De acordo com Lara Miguel Quirino, geriatra da Unifesp138

, “a profissão de geriatria é

desvalorizada, e essa defasagem não ocorre só no Brasil, mas em países da Europa também há

defasagem” na área citada.

Diríamos também que a profissão deveria ser relevante em todos os aspectos, pois,

dentro de poucos anos, conforme previsões do IBGE/2010, a população de idosos terá um

número generoso de aproximadamente 63 milhões, e eles serão portadores de novas doenças,

apesar da melhoria na qualidade de vida. A possibilidade de estudar essas doenças e elas

serem reconhecidas mundialmente será um tanto quanto desafiadora.

Percebe-se que as contradições são inúmeras, que o sistema é falho e deixa a desejar,

visto que não há coerência na sistematização. O que se percebe também é que as leis são

formuladas e reformuladas sem embasamento da real necessidade, e o governo sempre acaba

por confundir as obrigações da sociedade com as suas.

Profissionais especializados em envelhecimento, geriatras, gerontólogos e a própria

população, representada por alguns idosos, deveriam reformular as leis existentes.

O Estatuto em seu art. 3º - IV preza a heterogeneidade, a ocupação e o convívio do

idoso com as demais gerações, no entanto não estabelece regras e normas específicas quanto

aos anúncios divulgados na busca por profissionais, os quais deixam claro que “o candidato

deve ter boa aparência, ser ágil” e muitas vezes estipulam a idade inferior a 35 anos. Isso é

discriminação, infringe o art. 27º:

138 Entrevista realizada pelo jornal Repórter Diário em 26 de junho de 2011. Disponível em:

<http://www.reporterdiario.com.br/Noticia/294210/faltam-geriatras-no-pais/>. Acesso em 09out.2012.

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128

Na admissão do idoso em qualquer trabalho ou emprego, é vedada a

discriminação e a fixação de limite máximo de idade, inclusive para

concursos, ressalvados os casos em que a natureza do cargo o exigir.

As ressalvas acabam por “salvar” as determinações, pois sempre haverá um porém. Há

discriminação no próprio texto, que ocorre com adultos em idade produtiva, especialmente

quando o nível de escolaridade é baixo.

Quando analisados criteriosamente, os direitos dos idosos são contraditórios também

no Código Civil. Dele podemos destacar os artigos 11 a 21, referentes a dignidade, respeito,

saúde, transporte, segurança e liberdade física e intelectual:

(a) O atendimento preferencial e imediato junto aos órgãos públicos e

privados;

(b) Garantia de acesso à assistência social e aos serviços de saúde; (c) O direito à pensão alimentícia, para famílias com dificuldades

financeiras;

(d) Estimulação de empresas privadas com redução em suas cargas tributárias para a contratação de pessoas que já estejam nesta faixa etária;

(e) Transporte coletivo gratuito para os que contam 65 (sessenta e cinco)

anos, embora o tema seja tratado, geralmente, por meio de leis

municipais; (f) Prioridade na tramitação de processos judiciais ou administrativos;

(g) Planos de saúde que não podem cobrar valores mais elevados para os

idosos; (h) Redução da idade de 67 (sessenta e sete) para 65 (sessenta e cinco)

anos para que os idosos carentes se beneficiem com 1 salário mínimo,

como previsto na Lei 8.742 de 7 de dezembro de 1993 que dispõe sobre a

organização da Assistência Social e dá outras providências (no Estatuto, vide art. 34)

(i) Atendimento preferencial no Sistema Único de Saúde - SUS;

(j) O cidadão passa a ter a obrigação de comunicar qualquer tipo de violação que o idoso vier a sofrer, às autoridades competentes;

(k) Prioridade nos programas habitacionais, sendo-lhes reservados 3%

(três por cento) das anuidades. (l) As empresas prestadoras de serviços públicos deverão ter em seus

quadros um mínimo de 20% (vinte por cento) de trabalhadores com 45

anos ou mais.

A contradição ou até a discriminação desses serviços se inicia com a própria

legislação, como já descrevemos acima, pois sabemos que o atendimento imediato junto a

órgãos públicos é inviável. Com o acúmulo de processos existentes, levará anos para serem

colocados em dia; quanto aos serviços em saúde, estão disponíveis de imediato somente à

população que disponibiliza de meios para pagá-los, e quando bem pagos; no que tange a

empresas, sabe-se que muitas delas têm em suas normas e procedimentos desligar o

funcionário ao completar 60 ou 70 anos, como é o caso da própria universidade estudada; a

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129

obrigação para que as empresas públicas mantivessem um mínimo de 20% do seu quadro

funcional destinado a pessoas com idade acima de 45 anos é automaticamente discriminatório,

pois, vivendo em democracia, temos o direito de fazer nossas próprias escolhas; quanto aos

planos de saúde, além de não respeitarem a legislação, não são penalizados. Quando isso

ocorre, a legislação possui “brechas” que permitem o reajuste dos planos, fazendo com isso

que muitos usuários passem a reduzir seus diretos de uso junto a instituições de saúde; quanto

ao atendimento SUS, este não disponibiliza nem médicos, muitas vezes, imaginem-se, então,

especialistas para atendimento a idosos. Quando, em caso de urgência, o idoso procura

hospitais privados para suprir a urgência, só consegue através de determinação judicial.

Poderíamos descrever uma infinidade de processos e procedimentos que desrespeitam

os idosos e, muitas vezes, a comunidade em geral. Néri (2005) resume que as políticas são

baseadas em suposições indevidas, que podem contribuir para o desenvolvimento ou a

intensificação de preconceitos negativos e para a ocorrência de práticas sociais

discriminatórias em relação aos idosos.

A mesma autora salienta ainda que, se o nível educacional e o bem-estar da população

melhorassem, fossem adequados e aperfeiçoados, nivelando, quem sabe, a população através

da democracia, não necessitaríamos de Leis, Normas, Estatutos e Políticas de proteção ao

idoso. Com isso, fica nossa esperança de que os idosos sejam vistos de forma igualitária, sem

necessidades de legislação para respeitá-los. Que possamos vê-los como o espelho do nosso

futuro.

Embora o foco do trabalho não tenha sido este, se levássemos às críticas toda a

legislação, poderíamos observar as inúmeras e as infindáveis normas estabelecidas e não

cumpridas, desrespeitadas e não cobradas, seja por órgãos públicos competentes,

governamentais ou não, seja pela comunidade\sociedade em geral, mesmo que esta falta de

cumprimento acarrete multas.

Destaque ainda maior para os fatos que ocorrem nas grandes cidades ou metrópoles,

justamente onde há as maiores concentrações de idosos. São Paulo, Rio de Janeiro, Belo

Horizonte e Porto Alegre são as capitais que concentram maior população de idosos, segundo

dados do IBGE 2010, e não estão preparadas para receber os idosos, especialmente São Paulo,

de acordo com Kalache139

: “não são amigas do idoso, há pouca área verde e ofertas de lazer

para os idosos. Necessitamos de educação continuada, para aprender coisas novas, interagir,

necessitamos de transporte público adequado. O idoso precisa participar da sociedade”.

139 Alexandre Kalache, 66 anos, consultor do programa São Paulo Amigo do Idoso em entrevista ao jornal Folha de São

Paulo em 09de setembro de 2012.

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130

Novamente aparecem as críticas voltadas à sociedade como um todo, que não está

preparada para receber essa geração de “cabelos brancos”. Não podemos ficar à mercê das

políticas públicas, do governo e da legislação. Precisamos agir com vontade própria e lutar

para adaptar as cidades e os grandes centros, não em desafios, mas em grandes exemplos de

qualidade de vida.

3.10.3 Políticas Públicas

O foco do trabalho não está voltado à implementação de Políticas Públicas, mas não

poderíamos deixar de mencioná-las como complemento, chamando a atenção sobre as

Políticas Públicas vistas como uma janela de oportunidades para fazer a diferença na e para a

sociedade em que vivemos.

Políticas Públicas são princípios norteados pelo poder público; são regras ou

procedimentos estabelecidos entre sociedade e poder público ou o Estado que, normalmente,

envolvem recursos públicos.

Uma das propostas levantadas para que toda a população de idosos prolongue ou

postergue os cuidados e os torne paliativos é a implementação e disseminação de

Universidades Abertas para que esses idosos não percam o contato com os mais jovens,

passem a (re)viver junto deles, troquem experiências e com isso evitem doenças, como a

depressão, causada, muitas vezes, pelo isolamento, abandono ou falta de convívio com os

amigos que foram se perdendo ao logo do tempo por inúmeros motivos.

De acordo com Busse140

, o afastamento, seja por parte da família, dos amigos, ou pela

própria característica de vida da pessoa, faz com que as elas “se sintam muito sozinhas, não

tendo a formação de uma rede social.”

Essa reconstrução deve fazer parte constante da vida da pessoa, porque “ela vai

perdendo os laços familiares, os laços de amizade, às vezes até já perdeu seus filhos. Ela tem

que reconstruir pra não sentir a solidão.”

Percebemos, durante os estudos realizados na UATU/UPM, que a convivência entre

jovens e adultos é fundamental para que o ser humano possa viver com qualidade de vida, ou

seja, a convivência e a troca de experiência têm trazido resultados positivos na vida dos

idosos.

140 Entrevista realizada para compor o trabalho de mestrado da autora-orientanda.

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131

Essa conclusão se deu ao analisarmos depoimentos colhidos de alunos da

UATU/UPM, os quais mostraram que, apesar do envelhecimento vir acompanhado de

declínios, os idosos podem manter preservadas as habilidades intelectuais, independentemente

do nível educacional e dos fatores genético-biológicos, como observado por Néri (2004).

Esses depoimentos descortinaram o que até então vinha sendo demonstrado como

desafiante. Os idosos merecem um olhar digno, de relações positivas, sem discriminação e

sim com vivências de relações interpessoais e humanas.

Necessitamos de uma gestão que indique e fortaleça as relações entre Estado e

Sociedade, para que possamos enfrentar os desafios contemporâneos.

Para que esta “ligação” ocorra, necessitamos não só discutir as Políticas Públicas, mas,

acima de tudo, colocá-las em prática para que toda a sociedade possa se beneficiar em termos

intelectuais e conhecimentos gerais, desde os mais complexos até os mais simplistas,

mantendo com isso o interesse do Estado em construir o melhor para sua população.

Dentro de um panorama ainda em desenvolvimento, mas inédito, queremos discutir

algumas Politicas Públicas que deverão auxiliar no envelhecimento e auxiliar para que a

independência e a autonomia da pessoa idosa se prolonguem por mais tempo:

a) Desenvolver com toda comunidade universitária um programa de educação continuada

que seja aberto a toda a comunidade, sem distinção ou discriminação;

b) Valorizar, dentro destes, os idosos, e promover a educação através do convívio com os

jovens reeducando a sociedade para que esta não tenha uma visão estereotipada do

idoso;

c) Atuar de forma interdisciplinar para que possamos identificar o processo de

envelhecimento como um avanço e não como um arquétipo;

d) Promover a formação dos cuidadores no mesmo universo em que os idosos se

encontram, para que se possa observar a realidade, suas contradições e estudar o

envelhecimento como um processo multidirecional, visando um olhar atento e

detalhado ao ser humano;

e) Estudar e analisar o fenômeno in loco para que possamos, de forma interdisciplinar,

compreender os conceitos de tempo e espaço do idoso sem que ele se sinta invadido.

Com frequência, a discussão sobre Políticas Públicas/Sociais limita-se a registrar sua

existência, mas “não exprime um significado técnico ou um conteúdo teórico preciso, é

apenas uma categoria descritiva dos fenômenos que abarca. Não chega, assim, a se constituir

Page 132: Edi Sartori.pdf

132

como conceito ou a apresentar dimensão explicativa” (MARSHALL, 1967; KOWARICK,

1985).

Sabendo dessa “limitação”, cremos que ainda seja possível a colocação de alguns

pontos para uma análise dessas políticas, como um “instrumento de controle dos

antagonismos sociais” (SANTOS, 1979).

Page 133: Edi Sartori.pdf

133

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa ocorreu na Universidade Presbiteriana Mackenzie, uma universidade

comunitária confessional, que valoriza a participação da comunidade e dialoga com ela.

De acordo com o levantamento bibliográfico que fundamentou o estudo ora

apresentado e com a análise das entrevistas que complementaram a especificidade desse

estudo dos idosos na Universidade Aberta, enquanto programa de extensão vinculado à

Universidade Presbiteriana Mackenzie, pode-se dizer que os idosos fazem parte de um

segmento heterogêneo, que se configura como um tema complexo na contemporaneidade.

O fato de trabalharmos com um grupo seleto de sujeitos em tempo integral nos

permitiu, inclusive, participar das atividades que eles frequentam, observando-os,

conversando e dialogando com os professores e a coordenadora, não somente de maneira

sistemática, como também de maneira informal. Assim, pudemos analisar profundamente suas

apresentações, suas falas e conhecermos um pouco melhor a riqueza e o impacto que este

programa tem em suas vidas.

Também observamos que poucos estudos sistemáticos dedicados à área da educação

continuada e sua relação com o idoso foram desenvolvidos, o que indica a necessidade de

aprofundamento do tema.

Algumas observações foram possíveis a partir da participação da pesquisadora, por

um período de seis meses, nas atividades que eram colocadas para os alunos, relacionando-se

dentro e fora da universidade com eles e seus professores, conversando com os sujeitos por

toda parte:

As atividades extracurriculares, tais como exposições de obras de arte, de esculturas,

apresentação de canto, de coral, são extremamente valorizadas. Abertas ao público

interno da universidade, elas acontecem no hall do Edifício João Calvino, onde se

encontra a administração da Universidade – um espaço nobre. Essas atividades

poderiam ser mais divulgadas, inclusive para toda a comunidade externa, a fim de

que a UATU/UPM pudesse ser compreendida não como uma universidade para a

terceira idade, mas sim como ela realmente é: uma Universidade Aberta a toda a

comunidade.

O coral da UATU/UPM se apresenta em vários eventos, inclusive em outros países.

Há um crescimento do programa: o número atual de alunos é superior a quinhentos.

Page 134: Edi Sartori.pdf

134

Os espaços oferecidos às necessidades dos alunos hoje é privilegiado, oferece salas

amplas, equipadas e acessibilidade adequada, com rampas e elevadores. A criação de

um espaço no qual o programa pudesse ser expandido, não só dentro da universidade,

mas em outros espaços e instituições, mostraria o quanto nós estaríamos contribuindo

para a qualidade de vida da pessoa idosa, sendo exemplo para outras instituições

reproduzirem o modelo que nós estamos ainda elaborando. Ao potencializar a

divulgação desse programa, iríamos ao encontro do compromisso social estabelecido

pelos princípios e valores da universidade comunitária confessional, como já foi

observado.

O ambiente de convívio proporcionado pelo programa – onde as pessoas se sentem

valorizadas e não excluídas, conhecem pessoas novas, fazem e constroem novas

amizades, identificam-se com novos objetivos, acabam formando outros grupos – vai

reproduzir situações que melhoram sua qualidade de vida e as ajudam a ver mais

sentido na vida.

A educação continuada é importante em todas as áreas do cotidiano, quer seja na

administração da sua própria casa, na decoração, quer seja nas necessidades diárias

para garantir ou prolongar sua vida. Para isso sugerimos a oferta de cursos de

administração – opção identificada entre a preferência dos alunos –, pois este seria

um beneficio e uma oportunidade para que pudessem aprender, ou reaprender, a

organizar-se financeiramente ou mesmo aprender a se prepararem para a

aposentadoria, a fim de que seus recursos pudessem se multiplicar. Cursos de

raciocínio lógico, finanças, bem como o uso variado das redes sociais, em especial a

criação de blogs, também são importantes e podem, ao mesmo tempo, divulgar o

programa e alimentar a alma dos indivíduos com a criatividade, inovação e novos

desafios, ou até, quem sabe, ser uma nova fonte de renda, já que os cursos acima

fazem parte do nosso dia a dia, da nossa vida. Outra sugestão identificada entre a

preferência dos alunos seria a oferta do curso de jornalismo, como sugerido por uma

das entrevistadas. Para muitos – ou por serem idosos e muitas vezes não

compreenderem o significado da notícia, ou por serem jovens e não terem o tempo

necessário à dedicação das leituras jornalísticas –, esse curso pode ser uma fonte de

informação valorizada.

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135

A linguagem utilizada nos resumos para divulgação dos cursos a serem ofertados

poderiam ser descritos de forma mais clara, objetiva e explicativa, para que sejam

de fácil compreensão por todos os interessados.

Há uma discrepância entre as disciplinas oferecidas e as disciplinas da preferência

apontadas pelos alunos.

Em síntese, muito ainda tem a ser feito pelo e para os alunos do programa da

UATU/UPM, especialmente por fazerem parte de uma heterogeneidade.

Considerando a transição demográfica para os próximos 20 anos, observam-se as

oportunidades que se abrem. As reformas e as inovações conduzem à necessidade de se seguir

um padrão mínimo para que a UATU/UPM se torne nacional e internacionalmente

(re)conhecida.

Inovações como as propostas e implantadas por alguns professores do programa, cujas

experiências foram bem-sucedidas, podem servir para reforçar mudanças e comportamentos

inovadores na instituição como um todo, servindo como modelo e fidelizando os alunos.

Espaços junto aos jovens graduandos, sem especificidade de cursos, também seriam

uma opção de inovação para que a troca de experiências fosse realmente compartilhada entre

todos os alunos mackenzistas. Afinal, com tantas experiências e vivências por parte de alguns

idosos, as aulas podem ser alimentadas ou complementadas com relatos de pessoas que

vivenciaram os fatos in loco.

O grupo de estudos que “atua” em paralelo às aulas da UATU/UPM, composto por

alunos interessados em ampliar e reforçar seus conhecimentos com os conhecimentos dos

professores, pode receber auxílio e atenção para que esses encontros sejam registrados por

meio de artigos, publicação de livros ou mesmo compartilhados com outros alunos da

universidade.

Observa-se a necessidade de potencializar a comunicação dos cursos, das disciplinas e

oficinas da UATU/UPM, mesmo no âmbito interno da universidade, para que haja um

aumento significativo na divulgação do programa e este passe automaticamente a conquistar o

interesse de novos professores, inovando-se constantemente.

Atividades de extensão, para que todos os alunos do programa possam participar de

outras atividades extracurriculares. Atividades como o “I Encontro de Criatividade na Arte,

na Ciência e no Cotidiano”, realizado durante o segundo semestre de 2012, podem ser

adaptadas e integradas no currículo do programa.

Page 136: Edi Sartori.pdf

136

Inovação e criação são os fatores necessários e indispensáveis para que a universidade,

seja ela qual for, especialmente aquela que se dedica a atender a comunidade e tem sua missão

voltada à educação, se torne excelência na área, exemplo para as demais, continue crescendo e

especialmente continue atendendo à população de idosos que vem aumentando a olhos vistos,

ano após ano, no país e no mundo.

Como já foi observado, o estudo aponta um aumento significativo da população idosa,

especialmente no bairro Higienópolis, no qual a universidade se encontra, considerado um dos

bairros mais nobres da cidade de São Paulo. Com isso a UATU/UPM pode apresentar-se e

destacar-se, ampliando seu leque de atuação de forma a superar e servir como exemplo às

demais universidades do País e – quem sabe – do mundo.

O programa da UATU/UPM pode ser um exemplo a ser seguido e ser reconhecido

mundialmente por sua excelência; pode ser motivo e exemplo a ser utilizado nas mudanças

das políticas públicas, na legislação e nas convenções destinadas ao atendimento de idosos.

As pessoas responsáveis por ele devem agir de forma ágil, para que não se perca e conquiste

novas riquezas humanas e com elas partilhe e compartilhe os conhecimentos produzidos na

universidade.

Por se tratar de um tema complexo, o fenômeno da maturidade, que envolve várias

áreas do conhecimento, deve ser estudado com os olhares voltados aos estudos

interdisciplinares.

Page 137: Edi Sartori.pdf

137

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143

A N E X O S

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ANEXO 1

Entrevista realizada em 24 de julho de 2012 com Dr Alexandre Busse.

E gostaria que o Sr se apresentasse, contasse sobre sua vida, falasse sobre seus estudos,

porque escolheu essa área.

A entrevista é aberta, não tem perguntas específicas, o Sr fale sobre seu conhecimento e

eu vou interferindo quando eu achar necessário.

Dr. Alexandre. Sou Dr Alexandre Leopoldi Busse, sou geriatra, trabalho atualmente no

Hospital da Clinicas e no Hospital Sírio Libanês. Pra chegar como geriatra eu fiz 2 anos de

clinica geral, na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e, em um dos estágios, tive contato

com pacientes idosos, geriatria, me interessei, tive contato com geriatras, me interessei por

geriatria, prestei e passei, e fiz dois anos de geriatria. Acabei concursando e ficando como

médico contratado desde 2000.

De lá pra cá fiz o doutorado, fiz pesquisa sobre memória e exercício físico, principalmente

exercício musculação. Verificamos o efeito da musculação durante 9 meses em pacientes com

alteração de memória se existia benefício. Publicamos os estudos.

Hoje eu participo no Hospital da Clinicas deste ambulatório de memória, chama Ambulatório

Memória do Idoso, a gente faz pesquisas, já tem diversas publicações na área.

Faço parte também de um outro grupo de estudos em, atividade física e envelhecimento e

promoção de saúde.

A gente montou uma academia no hospital, estamos terminando de montar um laboratório de

avaliação funcional, é onde os idosos então vão ser recrutados para estudos clínicos e vão ser

submetidos a avaliações neste laboratório.

Agora também tenho atividades relacionadas a ensino, então a gente da aula para alunos do

quarto ano da faculdade de medicina. Temos contato com residentes e especializados.

Atualmente a gente tá 32 residentes em cada ano. A gente tem bastante residentes

especializados mais a orientação e também algumas partes, como responsável e também como

orientador que algumas pesquisas que esses residentes precisam realizar.

Atualmente estou como responsável de pelo menos 6 pesquisas relacionadas a atividade

física, relacionadas a promoção de saúde.

No Hospital Sírio Libanês a gente tem um grupo de gerontologia, a gente tem uma equipe

multidisciplinar que a gente pensa em ações em geriatria e gerontologia para o Hospital, para

os diversos níveis de prevenção, de educação, de capacitação dos funcionários, capacitação da

própria equipe. A gente tem reuniões semanais científicas e, temos também um simpósio que

a gente tem já há 4 anos.

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Nesses encontros, nessas pesquisas que o Sr estuda sobre (vamos chamar) a nova

geração, sobre os velhos, idosos. O que eles relatam para o Sr sobre o sentido da vida.

Como eles vêem o futuro ou o próprio presente deles como velhos?

Dr Alexandre. Veja! Uma das coisas que caracteriza o envelhecimento nessa faixa etária é a

heterogenicidade, tem desde pessoas que já não pensam em mais nada, que vem aqui, sentam

ai nessa cadeira e falam que acabou pra elas, mesmo sem estar deprimidas, só esperando a

morte, porque já deu tudo o que tinha que dar nessa vida, estão só esperando morrer, até

gente que com 80 anos, 86 anos, ta ainda planejando, ainda buscando novas coisas,

querendo viajar, querendo uma nova parceira, um novo parceiro, um novo negócio, então

tem, tem toda essa heterogenicidade, tem desde idosos com, sei lá, com a mesma faixa etária

que estão acamados, dependentes, até idosos com a mesma faixa etária que estão ai,

autônomos, morando sozinhos ou cuidando de netos, é uma heterogenicidade muito ... não da

pra dizer assim, este é o pensamento dos idosos, este é o pensamento dessa faixa etária.

Mas tem algum ponto que define esse idoso que não tem expectativa nenhuma do outro

idoso que esta pensando em viajar, que continua o planejamento de vida? Algum

diferencial de condição social, ambiente em que vive? Tem algum fator que se possa lá

em algum momento definir ou dizer a diferença.. ?

Dr Alexandre. Olha! cada vez mais a gente vê que aquelas pessoas que tem uma

personalidade em que elas se caracterizam por um otimismo, então, elas acabam vendo a vida

diferente e acabam vivendo mais. Isso é uma coisa a favor delas, elas acabam vivendo mais

intensamente, por outro lado, as pessoas que sabem se adaptar as novas fases da vida, as

perdas. A pessoa perde não se abala, continua a ir em frente. (pausa para atender ao

telefone)...

...então....se tinha algum fator que determinava a condição....

ah, sim, claro, tem diversos fatores que atuam na qualidade de vida né, então, certamente um

dos mais importantes é a questão da autonomia e da independência, isso é importante pra

pessoa continuar com qualidade de vida, tem alguns outros determinantes, a própria condição

da saúde, né.

Ter saúde é uma coisa que eles consideram importante pra serem considerados saudáveis,

considerados com qualidade de vida. Ter bom contato com família, bom contato com filhos

principalmente. Contato que seja agradável, que seja (...) que não seja aquela relação onde

tenha trabalho, esse tipo de coisa. Continuar sendo útil, útil pra sociedade, útil pra família,

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146

então tem alguns aspectos (...) e é claro, a questão financeira, ter o mínimo pra ter

tranquilidade, também é importante.

Algum paciente seu estuda, está na universidade? Faz algum tipo de curso,

aperfeiçoamento?

Dr. Alexandre. Tem, tem pacientes terminando uma segunda faculdade, pacientes que fazem

UNATI (Universidade Aberta da Terceira Idade), pacientes que fazem outras línguas ou que

começam estudar instrumentos, tem diversos (...)

O Sr consegue perceber uma diferença desses pacientes que estão na atividade, na

educação de outros pacientes que não freqüentam a universidade ou cursos ou não

fazem línguas por qualquer outro motivo?

Dr Alexandre. Ah sim, é a questão de manter a mente ativa, então, a gente vê que acaba

sendo um fator protetor pra pessoa não cair em depressão, não ficar esquecido, porque o

desuso acaba levando a pessoa a ficar esquecido. Porque se a pessoa tiver uma predisposição

a ficar com a demência de Alzheimer, por exemplo, bem mais pra frente, pelo desuso acaba

vindo antes a doença, não que provoca a doença, mas acaba fazendo com que se manifeste

mais rapidamente (...) e acaba sendo um determinante de qualidade de vida também.

A pessoa acaba sendo mais ativa mentalmente e acaba também sendo mais ativa fisicamente

porque ela tem que se locomover até o local, estuda mais, esta atrás do que é importante pra

ela se manter ativa, então, também essa questão da educação, de saúde, acaba sendo também

um aspecto importante.

Vocês no Hospital (grupo de estudos), tem algum tipo de estudo que esteja relacionado

com a UNATI, por exemplo?

Dr Alexandre. A gente uma (...) eu mesmo, já dei algumas aulas pra um grupo, então a

medicina, ela faz parte dentro da USP né, de uma série de palestras pra idosos, desde a

geriatria ate outras disciplinas. Também dei duas vezes aula, dois anos consecutivos, sobre

atividade física, aspectos psicológicos, aspectos físicos (...) bastante interesse, sala cheia.

Em geral, assim, pessoa que acaba de engajando nisso, se engaja em diversas outras coisas

também, é a mesma que vai no SESC, é a mesma que vai em aulas de Tai Chi, então, não é

que (...) toda população idosa ela ta atrás disso, é uma parcela, e essa parcela, vai atrás de

diversas coisas e vai preenchendo sua semana, vai (...) então uma coisa que a gente deveria

eventualmente é tentar atingir mais, principalmente o gênero masculino porque a gente vê

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147

que as mulheres participam muito mais do que os homens (...) não sei se a gente não atinge

adequadamente essa parcela de idosos do sexo masculino ou se eles tem uma característica

diferente, não vão atrás.

Talvez pouca divulgação também (eu percebo).

Dr Alexandre. Ou falta de adequação também, ter programas adequados pra esses idosos.

Nós vivemos em um país em desenvolvimento. Pra nós a terceira idade inicia após aos 60

anos. O que o Sr acha dessa idade determinante? Após aos 60 anos de idade a pessoa

passa a ser idosa?

Dr Alexandre. Ela é simplesmente uma convenção né, o envelhecimento não começa aos 60.

O envelhecimento (...) o tempo todo a gente esta envelhecendo.

Agora, existe uma fase onde existe (...)

A lei do envelhecimento existe ao mesmo tempo o desenvolvimento, que a fase onde a

criança vai se desenvolvendo, ela esta envelhecendo também, mas é uma fase de

desenvolvimento dos órgão e chega ao máximo das suas potencialidades, de funcionalidades,

ai entorno dos 20 anos. E a partir dos 20 anos é considerada adulta também, então, será que a

partir dos 18 anos não é adulta, aos 16? Então é uma questão de (...) alguma idade tem que ter

um corte.

Talvez nas próximas décadas, também, novamente a gente seja considerado, seja igualado aos

países desenvolvidos. Vai ter tanto idoso aqui (...) que também (...) quer dizer, a população

idosa vai quase que ficar maior que a da população até os 20 anos, isso em 2050 vai ser uma

realidade, então isso talvez seja convencionado a voltar, o mundo inteiro ficar aos 65 anos,

isso facilita também né. Facilita pra todo mundo nos estudos, nas comparações, como se fosse

tudo uma coisa só.

Mas como muitos países ainda atualmente, a parcela de idosos e a expectativa de vida é

menor do que os países desenvolvidos, teve essa convenção de ser aos 60 anos.

E o Sr teria alguma mudança que a legislação deveria atuar rapidamente, alguma

modificação que a gente poderia fazer, que deveria ser feito pra nos atendermos melhor

essa população?

Dr Alexandre. Na legislação basicamente não sei dizer, posso dizer de políticas de saúde né.

Políticas de saúde que tenham um olhar pra doenças crônicas, pra funcionalidade, pra

quedas, pra osteoporose, pra faturas, pra dependências, formação de cuidadores, né, maiores

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148

recursos (...) é (...) pra idosos como a dependência, doença de Alzheimer, então, esse olhar (...)

e tentando mais medidas preventivas porque muitos idosos vão ficar dependentes.

Então, a pesar da gente vai ter uma transformação, onde a gente vai ter muitos idosos, mas

vão ser muitos idosos que vão estar numa condição de maior dependência e isso fatalmente

vai deslocar alguém da família pra cuidar desse idosos.

Atualmente a gente não tem, por exemplo, instituições de longa permanência. Os hospitais

atualmente estão lotados de idosos principalmente que ficam por longa permanência nos

hospitais e não se sabe muito bem como fazer pra dar alta pra eles. Então, é tudo (...) é uma

série de coisas que precisam ser feitas, não diria que é só uma lei ou uma legislação eu

resolveria isso. Precisam ser políticas mesmo de saúde.

A OMS, os pesquisadores definem a velhice como um processo biológico, patológico ou

psicossocial. Como o Sr define, hoje pra nós, velhice?

Dr Alexandre. A gente gosta, nós geriatras, gerontólogos. Tem a questão da senescência e a

senilidade. Então, a senescência seria o envelhecimento fisiológico, quer dizer, não é o

patológico, não é o fisiológico, onde é caracterizado por uma diminuição da reserva

funcional, então existem alterações anatômicas, moleculares, que vão levar a uma menor

reserva de determinados órgãos e sistemas, mas não necessariamente vai levar a perda total de

função ou levar a uma doença.

Agora, por outro lado existe a senilidade, então, a senilidade, por exemplo, voltando na

senescência existe o exemplo, então o músculo do coração vai ficando mais endurecido com o

envelhecimento, mas não necessariamente isso vai dar um problema, uma insuficiência

cardíaca, alguma coisa assim, mas ele predispõe a uma descompensação frente a uma doença

que leve a uma maior sobrecarga do coração.

Existe a senilidade, a senilidade são as doenças que freqüentemente acompanham o processo

de envelhecimento e interferem no processo de envelhecimento, então, hipertensão, diabetes,

são freqüentes nos idosos, mas isso não é relacionado ao processo natural de envelhecimento.

A diminuição da visão, a diminuição da audição, ela faz parte do envelhecimento (...) então

tem diversas coisas que (...) ah a ciência tá cada vez estudando mais e vendo qual é o limite

entre o que é considerado doença e o que é considerado fisiológico. Isso é importante pra

poder saber ate onde a gente vai poder intervir né, ou então, se alguma coisa que a gente tá

achando: isso é normal da idade, como as vezes falava-se da pressão arterial por exemplo ou

falava-se das alterações da memória, e hoje em dia a gente sabe que não. Não são normais da

idade que a gente deve ir atrás procurar saber o que esta acontecendo, tratar, tudo (...)

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149

Sim, até crianças tem problemas de pressão alta

isso, isso..

O Sr caracterizaria um velho como uma pessoa que é completamente dependente de

terceiros? Digamos assim.

Dr. Alexandre. Não necessariamente. A gente tem idosos que não são dependentes. O ideal

do envelhecimento é esse: que a pessoa envelheça. Vamos dizer assim: que o envelhecimento

bem sucedido. Ela envelheça, ela vai perder funções, ela não vai correr como antes, ela não

vai conseguir a mesma agilidade de raciocínio que antes, né, se ela ficar doente ela não vai

responder tão bem quanto uma criança ou quanto a um jovem, né. Mas o ideal é que ela venha

a falecer antes mesmo de ficar dependente. Isso seria o ideal, ou então, ficar dependente muito

próximo da sua morte. Esse que seria o ideal.

Então, a geriatria e a gerontologia atuando com os diversos profissionais de maneira

interdisciplinar tem como objetivo principal esse. Promover o aumento de funcionalidade,

uma preservação da função dos diversos órgãos e sistemas, da parte mental, social, familiar.

E esses seus pacientes, que chegam aqui, aguardando a morte, que o Sr relatou no início.

São pessoas geralmente dependentes?

Dr. Alexandre. Não necessariamente. Eu ate me lembrei de uma paciente que recentemente

falou nisso e ela não é dependente e tem a mente boa, esta pra fazer 90 anos.

E o Sr diria que o que leva ela a pensar isso?

Dr Alexandre. É a característica da personalidade dela e da história de vida dela que levou

ela até aqui. Ela se sente muito sozinha, muita solidão, ela acabou não tendo uma (...) uma

formação de uma rede social, ela não teve uma reconstrução de uma rede social. Isso é uma

coisa que a pessoa precisa no decorrer da vida. Precisa fazer uma reconstrução porque ela vai

perdendo os laços né. As vezes perde os laços familiares, perde os laços de amizade. A pessoa

que chega aos 90 anos de idade, ás vezes perdeu vários familiares, ás vezes perdeu os filhos e

ás vezes já perdeu a maioria dos amigos, então ela tem que reconstruir pra não sentir a

solidão, que não foi o que aconteceu com esta senhora.

Então, o fato das pessoas buscarem na comunidade, seja na comunidade religiosa, ou na

universidade, ou em novas perspectivas onde você tenha o convívio com novas pessoas, você

faz novos laços sociais e isso é importante pra pessoa não se sentir sozinha.

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150

Na área da gerontologia que o Sr pesquisa. Quais foram as partes em que os idosos

foram observados? Os conhecimentos, os estudos realizados. O que o Sr acha ou

indicaria para uma melhor qualidade de vida? O que mais se desenvolveu neles, tanto

na educação, quanto no acompanhamento médico, quanto nessa parte de vida, de

aposentadoria mesmo? Como é que a gente deslocaria essa pessoa pra fazer com que ela

renove esses laços.

Dr Alexandre. As pessoas que são aposentados você diz?

Porque o Sr. acabou de falar que a gente precisa renovar esses laços.

Dr Alexandre. Isso.

Como é que a gente encaminharia essas pessoas pra que isso aconteça dentro da área da

saúde? No caso, o Sr poderia encaminhar essa idosa de 90 anos pra uma universidade?

Dr Alexandre. Sim, então, os grupos onde existem outras pessoas, não necessariamente

precisam ser todos idosos, mas também outras pessoas que formem grupos, que formem

laços, é uma perspectiva. Então é, em geral, eu tento recomendar através da atividade física,

então eu acho que atividade física, alem de trazer todos os benefícios biológicos, ela tem

esse fator social, esse fator psicológico que contribui bastante, então eu tento verificar onde a

pessoa se enquadraria melhor, qual tipo de atividade física e tento encaminhar. Se não é por

esse lado, pelo lado de é (...) do trabalho, pelo lado do voluntariado ou lado da parte cultural.

Eu já encaminhei várias pessoas pra Universidade Aberta da Terceira Idade, da USP que eu

conheço mais, mas tem também a São Judas Tadeu que eu conheço. Também depende de

onde a pessoa mora, tem o SESI, o SESC, ou unidades de referência da prefeitura mesmo né.

Tem alguns centros de convivência chamados SECOS na rede pública, tem clubes. Eu já dei

aula em alguns clubes, inclusive no Rotary. Então, são grupos que se formam e que (...) eu já

dei aula em um grupo do magistrado, para magistratura, no clube da magistratura.

Como que o Sr escolhe, o Sr ou o seu grupo de estudos essas pessoas a serem estudadas

ou analisadas?

Dr Alexandre. Lá no hospital, ás vezes a gente vai por ambulatórios. Os idosos já fazem

segmento lá no hospital ou então a gente faz uma divulgação na comunidade, então, a gente

faz uma divulgação em rádio ou em jornais de bairro pra recrutar essas pessoas pra

participarem de um estudo, pra participarem de uma pesquisa.

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151

E quanto tempo tem duração esse trabalho?

Dr Alexandre. Então, normalmente tem, varia dependendo da (...) os que são seguidos em

ambulatório é coisa de anos né. Então tem já pacientes seguidos em ambulatório já tem

paciente com 5 anos, mais de 5 anos os que são de estudos de observação né, e os que são de

estudos de intervenção, normalmente um ano. Mais ou menos um ano de intervenção. Tem

grupos com tai chi shu an a gente faz, tem grupos com musculação, tem outros grupos que é

só com alguma intervenção alimentar, suplementação.

E o estudo de observação. Como funciona. As pessoas vão até lá semanalmente?

Dr Alexandre. Olha,esse estudo que eu estou te falando é específico de dois ambulatórios

que eu participo, é um segmento. Um deles é com idoso com alteração de memória, então, são

idosos que não estão demenciados, mas que tem uma alteração que é fora do normal.

Alteração de memória. Então a gente faz testes de memória de 6 em 6 meses e vamos

acompanhando, seguindo de doenças também, tratando de doenças, prevenção e tudo mais.

E o outro ambulatório, são idosos sem doenças, ate é uma coisa inédita no Hospital das

Clinicas, que em geral atende pacientes muito doentes, e a gente faz um acompanhamento de

idosos sem doenças graves, eles podem ter uma doença artrose, osteoporose ou colesterol

alterado, mas não doenças que trazem maior debilidade como hipertensão, diabetes,

tabagismo, obesidade, alterações endocrinológicas e assim por diante. E daí a gente vai

acompanhando eles e também colhendo exames de sangue, fazendo prevenção. Tem um

protocolo de prevenção e tudo, também de 6 em 6 meses.

O Sr poderia falar um pouco mais sobre a questão memória?

Dr Alexandre. Da memória? Então, o envelhecimento senescência, o envelhecimento

fisiológico, ele trás algumas mudanças com o envelhecimento, ele pode trazer uma dimensão

do processamento da informação, diminui um pouco a capacidade de aprendizado, então, ás

vezes você precisa ter um pouco mais de tempo pro idoso aprender algumas coisas, ás vezes

você precisa ter mais repetição pra aprender. Quando vai evocar não tem tantos detalhes

quanto o mais jovem, não consegue, né, trazer mais detalhes de uma situação familiar ou de

um encontro a um ano atrás ou do capitulo da novela da semana passada. Então, é uma coisa

que realmente acontece com o envelhecimento, até a atenção diminui um pouco,

principalmente a atenção quando você esta fazendo duas tarefas ao mesmo tempo, esse tipo de

atenção diminui o nível com o envelhecimento.

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152

O outro tipo é memória de trabalho. Então,memória de trabalho é quando você precisa

manipular uma informação e usar ao mesmo tempo, então, na leitura você faz isso ou quando

você esta dando seu número de telefone, eu tenho que discar, preciso manter na cabeça, pode

estar diminuindo um pouco no envelhecimento, mas em geral é preservado de modo que a

pessoa consiga desempenhar suas tarefas normalmente, desempenhar suas atividades de vida

diária, ser independente. Então não é normal uma alteração de memória mais importante onde

a pessoa tenha um comprometimento.

Qual trabalho vocês fazem de aconselhamento pra pessoa manter a memória ativa?

Dr Alexandre. Uma das coisas mais importantes é manter a mente ativa mesmo, é, então, se

manter a mente ativo lendo, com papel na sociedade, participando da família, de conversas,

mantendo os órgãos sensoriais ok, então visão boa, audição boa, porque se isso diminui,

também diminuem os estímulos do cérebro e atividade física. São as coisas mais importantes

na pesquisa na questão de prevenção e cuidar de doenças crônicas, principalmente doenças

que podem afetar os órgãos vasculares né, o coração, os vasos, acho que isso vai levar a

alterações no cérebro também.

O Sr tem pacientes idosos que lembram a vida toda. Se questionar qualquer momento

da vida toda, ele vai lembrar. E tem pacientes que já ocultaram alguns momentos de sua

vida. Eles não lembram. Existe uma diferenciação entre esses dois pacientes, algum

relato na consulta com o Sr. Em algum momento eles relataram isso...

Dr Alexandre. Em geral a gente fica mais preocupado quando a pessoa não está lembrando

de coisas recentes. O fato da gente não lembrar de coisas mais antigas, isso não é muito

grave, porque as vezes, é uma coisa que é normal de acontecer com o ser humano. Se tem

uma informação que não é reforçada, aquele caminho neural ate a informação não é

reforçado, ele vai sendo esquecido. A gente estuda várias coisas na escola que hoje em dia a

gente não lembra. Só lembra aquela pessoa que continuou estudando sobre aquele assunto,

então isso é uma coisa normal que acontece.

Agora o problema é se a pessoa não sabe o que comeu ontem a noite, não lembra o que

comeu ontem a noite, não lembra como foi o capitulo da novela de ontem ou o que deu a meia

hora a trás, então isso passa a ser problemático.

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Para o paciente isso pode levá-lo ao extremo e ele acaba caindo em depressão?

Dr Alexandre. Em geral isso é inicio da doença de Alzheimer. Com alteração da memória

recente, depois acaba evoluindo pra outras alterações neurológicas, linguagem, cálculo,

planejamento.

Alguma mensagem que o Sr gostaria de deixar?

Dr Alexandre. Olha! Eu acho que, assim! Algumas coisas são interessantes quando a gente ta

estudando a população idosa. Primeiro não taxá-las, como: o idoso é assim (...) Porque é uma

heterogenicidade muito grande. Então até algumas leis falam que o idoso tem direito ah! Tem

direito a um atendimento preferencial no caixa, por exemplo, do banco, mas de que idoso nos

estamos falando.

A mesma coisa da grávida né, mas de que grávida nos estamos falando. Da grávida de um

mês? Será que ela precisa dessa preferência? Será que um idoso de 60 anos e 2 dias que está

ainda trabalhando, ele precisa dessa diferenciação?

Então na verdade as pessoas que planejaram isso taxaram o idoso como sendo todos eles

dependentes, de bengala, né, e que precisam de um atendimento diferenciado. Então eu acho

que isso é uma coisa importante, não pode generalizar.

A outra coisa é: o idoso não volta a ser criança. Ele não é e não pode ser comparado a uma

criança. Então, as vezes, algumas pessoas infantilizam o idoso, usando diminutivos ou então

quando vai propor alguma atividade colocam o idoso fazendo atividades mais adequadas pra

criança e isso não é adequado. Tentar não substimar.

Então, aqui eu tenho uma regra. Quando o idoso vem aqui acompanhado, já está me

mostrando que ele tem uma certa fragilidade, mas ele é o foco da consulta, ele que deve ser

ouvido, ele que deve ser priorizado e não começar de cara ouvindo o familiar que as vezes

acha que mais rapidamente ele vai expor a situação, sob o ponto de vista dele. Então é

respeitar que o idoso é o foco e ele deve ser ouvido e priorizado. Isso é importante. São esses

três pontos que eu queria colocar.

Se fosse proposto um novo estudo pra Sr começar a desenvolver. Qual seria?

Dr Alexandre. Hum, olha eu estou estudando bastante atividade física né. Só que a gente vê

cada vez mais os benefícios da atividade física na promoção do envelhecimento saudável. Só

que mesmo assim agente não consegue atingir uma parcela adequada da população, então, se

fosse pra ter um estudo, eu gostaria de estudar melhor os fatores que determinam a pessoa, se

ela vai ser sedentária ou não e que fatores eu posso conseguir mudar pra que ela vire uma

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pessoa ativa. Quais as estratégias a gente pode usar e não novamente estudar mais um

beneficio da atividade física.

O Sr estuda um envelhecimento saudável. E pra quem já está velho. Pra quem já

envelheceu. Não teve esse envelhecimento saudável. De que forma a gente pode ajudar?

Dr Alexandre. É daí é, a gente atua na (...) a pessoa não teve o envelhecimento saudável, a

gente tem que atuar nas diversas formas né. A gente continua atuando na prevenção, que ela

tem outros órgãos que precisam se prevenidos, daí você já tem que ir um pouco pra

reabilitação, se ela não teve um envelhecimento saudável alguma coisa está acontecendo,

provavelmente ela teve uma queda, ou ela teve uma fratura, ou um AVC, você vai ter que

reabilitar e trazer o máximo de qualidade de vida pra pessoa na realidade em que ela se

encontra né, então tem que fazer adaptações, emitir coisas pra que essa pessoa tenha o

máximo de qualidade de vida possível.

Em termos de qualidade de vida. O Brasil precisa de?

Dr Alexandre. Acho que precisa de mais (...) de projetos mais inteligentes, acho que precisa

de olhar mais pra educação, acredito, porque não adianta só (...) pra ter saúde não adianta só

pensar em saúde, você precisa pensar em educação. Quanto mais educada, do ponto de vista

não só em saúde mas em educação geral, as pessoas tem melhores condições de ter uma

qualidade de vida melhor.

Então, como a gente fala, em ter melhor saúde, a gente tem que começar com a educação

desde pequeno. Porque se a pessoa entende o que ela pode fazer pra ficar bem, pra envelhecer

bem, não adiante (...) quando ela chegar aos 60 anos querer mudar hábitos se ela a vida toda

não foi implementada.

Questão da obesidade é uma coisa muito grave, que a gente vai ter repercussões lá na frente.

Questão do sedentarismo que esta cada vez mais crescente. Se a gente pensar em Alzheimer,

vai ser uma coisa que vai estourar uma epidemia nas próximas décadas ai.

Uma das coisas que a gente sabe que previne é a escolarização e a gente sabe o índice de

analfabetismo no país é muito alto ainda, é 27%, então, se a gente escolarizar toda a

população, a gente vai tá prevenindo milhões ou até bilhões no mundo todo, fazendo com que

pessoas não venham a ter um comprometimento cognitivo mais grave.

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155

Agradeço Dr, obrigada, desculpe tomar seu tempo, tenho certeza que será de grande

valia esta entrevista, vou aproveitar, depois envio a entrevista transcrita. Se tiver

alguma duvida, posso encaminhar por email?

Dr. Alexandre . Sim.

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156

Primeira entrevista com aluna da UATU

Vou pedir que a Srª se identifique e que a Srª fale sobre sua formação.

Eu sou M. E. , tenho 77 anos, sou nascida e criada em São Paulo.

Minha formação é psicopedagoga. Trabalhei em várias universidades particulares. Estudei na

USP e na PUC. Trabalhei com reabilitação, trabalhei com educação nos esportes, atualmente

sou aposentada a mais de 10 anos e frequento as aulas da UATU no Mackenzie em varias

áreas. No momento eu faço Cinema e Criatividade.

Como a sra ficou sabendo do curso da UATU?

Fui informada em casa por mala direta.

A Senhora pode nos contar um pouco do curso, desde o momento em que a Sra chegou

até aqui, as etapas que a Sra for lembrando. Pode trazer um pouco dessa vivência?

Fui uma das primeiras turmas, os cursos eram dados em módulos e as escolhas eram feitas

assim, livremente e geralmente os módulos duravam 6 meses ou as vezes 3 meses, com vários

professores que davam as aulas.

Tinha modulo de arte, modulo psicologia, modulo de línguas.

Com o tempo foi transformando e os cursos começaram a ser semestrais como são agora e

ultimamente fazemos parte da grade. Então houve uma mudança grande, inclusive nos

horários porque os professores que dão aula na UATU eles dão aula nos cursos regulares não

é?

As vezes os professores não podiam dar aula porque chocavam os horários e saiam atrasados

e então agora é tudo uniformizados.

Ultimamente estão nesse formato, já faz algum tempo.

A mudança que houve assim, foi mais nas escolhas de você fazer um curso de 6 meses e

continuação, de você fazer o modulo I, modulo II e haver assim uma continuidade.

Eu penso que quando eles criaram a UATU, eles pensaram que os alunos fossem fazer um

semestre e pronto, deixasse. E houve um interesse que tem Cinema I, II, III, psicologia I, II,

III e as turmas vão acompanhando. Penso que isso foi uma das mudanças maiores né.

E a senhora se adequou a estas mudanças? A Sra acha vantajoso isso?

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157

Eu acho por questão de horário, porque houve mais abertura para horários, porque nas aulas,

antes começavam uma e meia e agora tão começando a uma hora o primeiro modulo da tarde

e depois tem (...) é uma hora e meia mais ou menos de duração a cada aula né e, assim, até

quatro e meia (...) das quatro as cinco e meia é a último.

São três módulos, poderiam fazer três turnos.

Eu fazia sempre dois , achava bom, agora já não faço mais, acho que já me canso um pouco,

faço um e geralmente este no meio da tarde, das duas e meia até as quatro que é o horário que

da pra eu fazer minhas coisas em casa e se eu tiver que fazer alguma coisa da pra fazer.

A sra lembra o ano em que entrou aqui?

1999.

E nesse tempo houveram viagens, comemorações. O que a Sra tem a nos relatar sobre

isso?

Sim. Tinham muitas atividades, eles tem uma colônia em Campos do Jordão, o pessoal ia

muito. Eu não vou porque tenho uma casa lá (só pra constar), mas o pessoal formava turma

pra passar fim de semana em Campos do Jordão. Atividades assim culturais algumas, teatro,

também de música e depois foi (...) não digo que terminaram, mas eu não faço parte. Fiz

parte do dia do voluntário, fui numa (...) e isso já fiz parte (...) e (...) as atividades eram mais

freqüentes e agora, pra mim, eu acho que sobrecarrega muito se eu fizer muitas coisas. Eu

faço dois cursos, sempre fiz dois cursos. É isso. Do grupo não vou falar porque (...)

E sobre as adaptações de espaços, reivindicações (...) O que a Sra pode nos trazer?

Sim, sim, isso é bastante (...) nós, eu acho que fomos reivindicando e fomos conseguindo,

porque os prédios aqui são muito variados, uns são mais antigos, outros são mais modernos e

não tinha condições pra receber pessoas assim que (...) não tivessem ondulações, que

pudessem se locomover né, então um dos critérios que nos, todo prédio tinha que ter em todo

prédio era elevador, não é? E ter rampa e cadeira de rodas, isso é inacessível pro pessoal da

(...) Embora tenha já alguns prédios que já tem esses requisitos né? Pra pessoa poder fazer o

curso né, mas nós lutamos muito de curso (...) De prédio, acho que conheço quase todos aqui

e a gente batalhou muito (...) e fomos atendidos assim e em parte a gente foi atendido,

ultimamente (...) também nos cansamos de (...) estamos a mais tempo aqui, temos um grupo,

não é fechado o grupo, mas entra as vezes uma pessoa ou outra, mas a gente tem aquela

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158

turma que já (...) cansamos de pedir, reivindicar, e as coisas estão (...). Aquele prédio que nos

estamos ta muito bom, não tem do que se queixar.

A Sra acha, então que está de certa forma adequado pra receber a turma da terceira

idade?

Sim, ta. Embora não sei se tem rampa aquele prédio.

Tem.

Eu não reparei, por não ter necessidade, então eu não tenha reparado né, mas (...) eu acho que

hoje estão oferecendo, assim (...) em termos de adequação, atende sim.

Agora a nossa queixa maior é quanto aos professores que muitos deixaram de dar aula, não

se enquadraram nessa (...) embora a grade seja a mesma né (...) mas o resto (...) a gente ainda

garimpando acha cursos bons. Antigamente era uma oferta muito maior.

Se a Sra tivesse que sugerir alguma modificação, alteração. O que a Sra solicitaria?

Solicitação (...) que restringiram muito o leque de opções, embora ela tenha dito hoje (sobre a

aula da prof Regina de criatividade) que é interessante, eu acho que a informática faz parte da

vida de qualquer um dos idosos também, das pessoas que tem netos, pra acompanhar e pra

gente mesmo é uma (...) fonte de informação maravilhosa. Eu não contesto isso (...) embora

ela diga que isso é (...) eu também acho que isso seja ótimo, e as línguas também eu acho que

é muito interessante você saber e é bom pra memória, tudo, você aprender um (...) diz que é

bom você aprender uma palavra de um idioma todo dia né, então eu acho que é benéfico, mas

houve restrição nas outras áreas, de psicologia, artes tem, o curso é razoável, de aquarela.

Ate tem mais opções assim (...) nessas áreas mais (...) de humanidades tem, de filosofia,

literatura (...) eu acho (...) que as pessoas de mais idade eu acho que escolhem um pouco isso,

quem tem o habito de ler, gosta de continuar a ler, então eu sugeriria isso né, a gente ser

atendida nessa parte, cultura geral, didática muito bom também, cinema tá bom assim, nessas

áreas, humanidades e entretenimento (aqui refere-se a mais opções nas áreas de humanas,

filosofia). Num certo nível né.

Se você fizer assim, uma enquete, você veria que todas as pessoas aqui tem um nível muito

bom.

Pena que não tenha, teria que ter um curso pra pessoas se adequarem, assim ou melhorar o

conhecimento, não digo no nível universitário, assim né, alto, mas no nível padrão, bom de

compreensão, de debate, não (...)

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159

A senhora fala num curso de nivelamento por exemplo?

Como assim, nivelamento de (...)

De pessoas, de cultura, num conhecimento básico?

Mas ai vai cair no que as outras fazem, não pode. Eu acho que tem que ser aberta mesmo, ai

vai quebrar um pouco esse né? (...) Porque se vai falar, só pode fazer quem tem nível superior

ou quem terminou o segundo grau, primeiro grau, eu acho que ai você (...)

Não, eu digo, nivelamento pra qualquer pessoa que entre aqui, ela não deixa de ser uma

universidade aberta, mas digamos, num curso de cultura a gente vai fazer as duas

primeiras, por exemplo, vamos tentar nivelar a turma num nível de conhecimento

razoável pra que a gente possa continuar dando aula? É disso que a senhora fala?

(...) eu acho que há uma seleção natural.

Natural?

Eu acho que sim.

Que as pessoas quando, não sei se é bom isso ou se é ruim, porque quando as pessoas não

atingem um nível assim de compreensão ou de se sentir bem, que aquilo da pra levantar, tá

elaborando, eu acho que (...) essas pessoas, senão (...) elas mesmo se (...) não sei se isso é

bom? É uma pergunta né? Que eu coloco.

Porque áh! Não tô, não acompanho hã!? As pessoas ás vezes falam, há não acompanho (...) já

tivemos muitas, há não acompanho, isso é interessante, você me despertou agora pra isso.

Mas que há uma seleção assim, a própria pessoa desiste. Eu acho que não é bom. Né?

Ótimo.

E como é que a senhora descreve a qualidade do programa.

Atual?

Isso.

O atual?

Isso.

Hoje?

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160

Por exemplo, eu estou chegando de fora. Nós não nos conhecemos, eu estou chegando

pra AUTU e encontro coma senhora e gostaria que a senhora me trouxesse um pouco,

algumas informações sobre o curso (...) ai (...)

Bom, primeiro eu ia ver sua área de interesse né, o que você gosta, não gosta, o que você

espera e o que você tá procurando, assim (...) embora esteja mais restrito o leque, ainda você

tem opções, pode ser que você não se interesse, eu gosto muito de cinema. A professora é

ótima, esse já é acho que é o 4º modulo que a gente faz em 6 meses com ela. Ela enfoca

sempre um autor, um diretor , um cineasta né, tá muito bom, a turma tá fiel e acompanha,

agora tem pessoas que não gostam de cinema.

Literatura o nível era ótimo, o professor, ele dava assim (...) ou dava literatura brasileira,

agora nós não temos...

O que eu perguntei pra senhora foi sobre qualidade, do programa, qualidade no geral,

do programa.

Batendo nessa mesma tecla que eu tô, do leque restrito, ainda temos bons professores (isso

que você quer saber?) ainda temos bons professores, com bom nível e satisfaz a necessidade.

Tá.

E as mudanças que poderiam ocorrem então seria a abertura de um leque maior e

voltar algumas matérias que haviam nos outros semestres como literatura, filosofia, é

isso?

É, filosofia eu acho que só uns dois cursos, psicologia também,..hã..

Agora tem uma (...) eu sinto que tem uma (...) formam-se grupos de interesse, então são as

mesmas pessoas que os mesmos cursos com os mesmos professores, não sei se é por falta de

alternativa ou porque vem de encontro com suas necessidades né! Agora eu sempre me pauto

por isso, eu gosto de cinema, vou fazer de cinema, gosto de literatura, vou fazer um curso de

literatura. Agora nunca fiz um curso por fazer, ou porque alguém me disse que é bom. Eu vou

constatar se é bom.

Acontece muito isso. Que curso você vai fazer? Eu vou fazer um curso que eu gosto e que eu

quero. Não vou fazer porque você vai fazer. Entende? Agora tem um pouco disso. Acho que é

natural também essa (...) órgãos (risos), mas acho que no geral, eu falando por mim, eu

procuro satisfazer as minhas necessidades, preencher as minhas lacunas. Não é?

Page 161: Edi Sartori.pdf

161

Com o material que eles fornecem aqui e eu amplio também, porque não é adianta fica

restrito, porque como você viu hoje, quantos livros ela já indicou (referindo-se novamente a

aula da Prof. Regina). Eu tô com um aqui, li e vou reler, mas se você não procurar por si,

estender, você não cresce.

Eu transitei por muitos cursos aqui, eu ampliei muito meu conhecimento, porque eu além de

(...) eles aqui dão as dicas e eu fui procurar né! E isso que é importante, que tem um efeito

cascata, a gente vai procurando sempre (...) se você gosta (...) tem o filme de Woody Allen,

por exemplo, já assisti vários filmes dele, mas eu fui procurar a biografia dele, peguei alguns

filmes antigos dele pra ver, e isso enriquece, quando eu assisto um filme, que eu já li a

respeito, fica muito mais rico, e no livro também, na literatura também em todas as áreas.

Eu gosto muito de pintar. Eu fiz o curso de aquarela, acho muito gostoso porque aquarela

condiz muito com a minha natureza, fluida, não é uma coisa certinha, eu não sei te explicar.

Você conhece aquarela né? Então é muito fluida, é uma coisa assim insinuada, não é nada

muito marcada. Eu tenho uma personalidade assim, mais (...) eu gosto de conhecer as coisas,

me aprofundo sim nas coisas que me interessam, mas existe essa fluidez. E a aquarela me

identifiquei muito, mas eu fui, comprei livros e me exercitei, fui fazer tudo até chegar aquilo

que me satisfaça. Eu hoje pinto sem professor, mas eu já trouxe isso de fora, eu pintava a óleo

a muitos anos, então eu acho que é aqui (...) se você, oque você quiser, tem que aprofundar

por você, porque eles te dão a base, te dão as dicas. Muito bom.

Agora ficar só naquilo ou vir fazer o social, ai fica pobre. Não pode só fazer o social. É muito

importe, fiz muitas amizades. Tenho amigas que não estão mais aqui, que eu continuo

encontrando, tudo (...) mas não dá pra ficar (...) se você só (...) tá aqui pra matar o tempo, que

eu acho horrível falar isso. Tem gente que fala, eu não mato meu tempo. Né? Eu não sou

assassina da vida. Não é? (risos) eu não mato, eu enriqueço meu tempo e sempre procuro

fazer substituições porque na vida você vai envelhecendo, você vai mudando, tudo muda né

na tua vida. Então você tem que fazer as substituições certas pra você não ficar com

depressão, não ficar insatisfeita.

Quando levantar de manhã falar que dia horrível, não né (...) você tem que fazer as

substituições certas, isso é muito individual.

Agora! (...) pra mim satisfaz porque eu faço esse prolongamento, eu tenho esse

prolongamento, eu dou esse extensivo pra minha vida. O que eu faço aqui eu estendo pra

minha vida, pra minha vida social, pra minha vida intelectual, artística “isso já falei”

(lembrando de que já havia comentado anteriormente). Em tudo, eu acho que ela é

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162

abrangente, todo conhecimento sempre te leva pra (...) estender pra sua vida. Até de

relacionamento. É muito importante.

A senhora antes falou sobre as amizades que construiu aqui dentro. A senhora poderia

falar um pouco mais sobre isso pra nós? O que foi que mudou em relação as suas

amizades, na sua vida depois que a senhora ingressou nesses cursos?

A gente começa a conhecer melhor o ser humano não é! E começa a aceitar melhor as

diferenças. Eu acho que eu tinha dificuldade, um pouco assim, nesse sentido de não (...) de ser

um pouco, assim (...) rígida nesse sentido, de achar que certas coisas não (...) não aceitava. E

agora eu aceito, então é um exercício que eu faço, aqui é serviço de laboratório porque

respeitar as pessoas como elas são, eu acho que isso você aprende nas humanidades, você

aprende nas artes, você aprende na tecnologia, na fotografia, mesmo na computação, você vai

aprendendo a conhecer melhor a si e aos outros e (...) problema muito (...) problema não, uma

situação muito interessante é da auto-estima.

“Eu tive colegas aqui que chegaram com depressão e não arrumavam o cabelo, vinham

desarrumadinhas e tal e derrepente, corta o cabelinho, passa um batonzinho, põe um

brinquinho e vem toda (...) então eu acho que também, isso é também um ponto muito

positivo.

Sobre qualidade de vida, depois que a senhora ingressou no curso. A senhora acha que

melhorou, motivou mais. Como que a senhora sente isso.

Acho que ajudou eu manter, porque eu sempre, modéstia parte eu sempre cuidei muito de

alimentação, de saúde, assim, sempre fui muito cuidadosa com a minha saúde. Eu estou com

77 anos, eu não tenho nada. Acabei de fazer um Check up, to bem.

Não sou depressiva, não sou (...) e isso tudo eu (...) e aqui me ajudou a manter.

Meu marido fala uma coisa muito boa. Ele diz que eu saio de casa sorrindo e chego

gargalhando e isso ele fala pra todo mundo que faz muito bem pra mim vir aqui. Ele gosta de

ver eu me arrumar pra vir aqui, com uma pontinha de ciúmes, mas ele fala que é positivo.

Não é!.

E como é que a senhora via o futuro antes de ingressar no programa e como a senhora

vê o futuro hoje?

O futuro é hoje pra mim, porque na minha idade, oque passou, passou.

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163

Eu já trilhei acho que (risos) (...) vamos dividir a vida em 4 e um terço já trilhei a minha vida

né, não sei, não tenho medo, eu procuro viver o dia de hoje.

Se antes eu me preocupava o que eu vou fazer amanha, como vai ser amanhã, hoje eu falo, a

amanhã eu penso, amanhã é outro dia.

Eu procuro mais assim, eu acho que agucei os meus sentidos para o hoje. Acho que isso é

muito importante.

Então eu posso dizer que o sentido de vida da sua vida é hoje?

Hoje, eu diria bem, eu sou pelo bem, pelo belo e pelo bom. Os três B‟s.

Ótimo

Você se pautando por isso você tem um bom dia não é!?

A senhora em algum momento sentiu que a velhice estava chegando? Qual foi esse

momento. Ou a senhora continuou ...

Claro que eu sentia (risos), opa (...) !!! bate de vez enquando, sim, nossa (...)

Não foi hoje nem ontem, foi bem lá pra trás, a gente (...) acho que isso é próprio da (...) é

próprio do ser humano né, sentir assim (...)

A primeira vez que me chamaram de senhora fiquei chocada (risos) né, era moça, moça,

moça, moça, derrepente senhora. Quando começaram a me dar lugar, assim, aquela

preferencia que não é muito benigna não é, de falar: a senhora senta, a senhora faz assim, ai

você se toca, né!

Ai, eu acho que a gente tem consciência não é!

Eu olho, eu tenho espelho em casa, eu tenho boa vista, eu vejo as modificações, mas ai é que

esta, a gente tem que aproveitar essas modificações e tirar proveito delas, não é!

Eu acho que melhorei. Que eu sou muito melhor agora que tenho idade, do que quando eu era

muito jovem, porque é aquela cabeça atrabalhoada que você tinha, você não tinha muita

certeza de fazer curso, fazer (...) oque que eu vou fazer da minha vida.

Hoje eu tô contente com que eu fiz. Eu não (...) claro que tem coisas que eu gostaria de fazer

né. Eu tenho me pego no escritório, hoje mesmo eu falei pro meu marido. As duas coisas que

eu mais gosto de fazer eu não estou fazendo. Ele falou oque que é. Pintar e ir a Campos do

Jordão.

Eu não tô pintado agora. Não tenho tido vontade de pintar, ate o ano passado pintei os Ipês

aqui que ficam no (...) eu sempre pinto. Tenho uma lá em casa vou trazer pra você e ir a

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164

Campos do Jordão que eu tenho uma casinha lá. Conseguimos com muito trabalho. Foi um

dos sonhos meus realizados né. E (...)

Eu não vou dizer pra você que eu tenho tudo oque eu sonhei, mas eu sonhei tudo oque eu

tenho ate agora né.

Tá um pouquinho de lado lá por circunstância não é? Então acho que (...risos...não lembro

mais sua pergunta...)

Se a senhora em algum momento percebeu a velhice chegando. E qual foi..

Sinto as vezes em observar meu marido porque nós estamos envelhecendo juntos (...) isso da

um medinho, até fico emocionada (...)

Haaaa!! mas a senhora tem muito que ensinar pra gente, muito, muito, muito...

Eu acho, na minha percepção de observadora e nas minhas vivências com a geração da

terceira idade, que a gente chama hoje, que vocês não envelhecem. Vocês ficam cada vez

mais experientes e cada vez mais a gente precisa aprender com vocês.

Risos...

Eu fiquei emocionada

Pode ficar a vontade

Solicita não gravar (emoção)

Vamos falar de coisas boas então?

Vamos.

A senhora falou de estética.

Estética.

Isso. O que que senhora tem a nos dizer sobre isso

Do Bem, do Belo e do Bom.

Ai. Eu sempre fui pela estética, desde pequena, sempre (...)

Olha! Eu vou te contar uma coisa, é que você não conhece bem SP. Eu morava na Zona

Norte, eu vinha ao dentista aqui na Rua Venceslau Brás, que é uma travessinha da Praça da

Sé. Então eu vinha do Bairro pro Centro. Vinha de ônibus ou de bonde e o trajeto do ônibus

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165

tinha uma várzea, ali perto do campo de Marte (você não conhece é uma pena) e tinha uns

campinhos assim, e tinha uns campinhos de futebol, era feio ali sabe, era um valão assim,

úmido, sabe, eu pequena, falava ai como ficava bonito aqui se fizessem um jardim. Hoje está.

Depois de tantos anos fizeram uma bela avenida, que é a Avenida Santos Dumond. Porque

tem a praça Santos Dumond, com a replica do 14 bis e tem, o Campo de Marte que é onde

pousam os aviões, porque tem três aeroportos que é o campo de Marte, Congonhas e o

Guarulhos. E então, eu sempre, desde pequena, sempre gostei da estética, da decoração. Essa

semana, mudei todos os móveis da minha sala. Mudo. Que delicia. Eu mudo né..

Então eu sempre quando (...) tem vezes que eu tenho (...) tenho muito quadro, muita coisa,

uma vida né (...) ganho muito presente. Agora não quero mais presente, só quero coisas pra

mim. Me deem coisas pra mim. Flores, bombons, ou coisas pra mim. Roupa pra mim. Pra

casa não quero mais nada porque tenho muita coisa.

Então eu mudo, eu tenho (...) senso estético sempre eu tive, sempre gostei de desenhar. Tive

um professor de desenho que eu acho ainda tenho o caderno (...) sempre (...) meu pai,

primeira vez que foi pro RJ trouxe uma caixa de lápis de 24 cores, de lápis.

Eu desenhava e ele sentava comigo e ficava. Me incentivava. Ele era um comerciante, mas

(...) lia, só jornal e escutava rádio, não tinha assim, cultura, mas ele tinha sensibilidade.

Eu sempre (...) desde de pequena (...)

E a estética corporal. A senhora acha que quando chegamos na terceira idade a gente

deve modificar. O que a senhora tem a nos dizer sobre isso. A pessoa deve deixar o

envelhecimento (...) naturalmente.

Eu a única coisa que eu faço, eu faço as minhas mechas. Não, eu acho que camuflar a idade

não. Não, não, não deve, nem fazer plástica, só se fosse uma coisa corretiva assim.

Tem que conservar, fazer sua unha, você andar arrumadinha, combinar as coisas, isso eu

gosto, tem que manter sim. Não é aquele conceito de chinelo e (...) não tá com nada.

Minha vó foi uma grande estilista. Ótima costureira ela era. Quem cuidava da cozinha era

meu avô. E ela falava, enquanto ele faz um almoço eu alinhavo um vestido nos manequins,

que ela tinha.

Naquele tempo tinha os manequins das freguesas, que as freguesas não vinham toda hora.

Então ela tinha (...)

Ela falava, enquanto ele faz um almoço eu alinhavo, que naquele tempo alinhavava tudo (...)

Era aqui na USP, aqui pertinho, aqui na minha rua onde eu moro.

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Então eu acho que isso eu puxei dela. O exemplo dela. Minha mãe também era uma mulher

bem arrumadinha. Morreu com 86 anos, mas (...) assim (...). Nós somos uma família de que

não ficamos, ah! (...) que (...)

Uma família alto astral?

É, não somos derrotistas assim (...) da idade (...)

Somos otimistas, somos assim (...) bastante (...)

Minhas irmãs também. Tem uma com 84 e uma com 86. Uma tá bem doentinha, ficou comigo

neste final de semana.

É uma maneira de estar no mundo mais otimistas sabe, não somos nem muito religiosas, nada

disso. Não somos apegadas a essas coisas, esses amuletos, não sabe?

Nós temos uma boa filosofia de vida. Encaramos a vida com (...) não nos desesperamos por

nada quando acontece. Somos muito solidárias, nos ajudamos muito. Não é aquele grude mas

(...) somos muito solidarias.

A senhora poderia nos deixar uma mensagem?

Difícil ...Sobre?!...(risos)

O que a senhora achar mais importante.

Mais importante... Viva intensamente levando em conta os três B‟s, o Belo o Bom e (risos,

esqueceu..eu busco depois o terceiro B)...os meus três B‟s, o Belo, o Bom e o Bem

Eu tenho um livro que estou escrevendo, de vez em quando eu escrevo, todo dia que tenho

vontade...

O Bom, o Belo e o ...(não lembrou)

Então, procurar viver e apreciar a vida, a vida é feita de momentos. Aproveitar. Você ter a

sensibilidade pra você captar que aquele que é um bom momento da sua vida e viver.

Ótimo

Não foi ótimo não (risos)

Foi ótimo, faz parte.

Novamente quero agradecer a senhora pela colaboração e a gente vai se encontrando

semanalmente.

Tá bom.

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Segunda entrevista com aluna da UATU

Eu vou pedir que a Senhora se apresente. Fale seu nome, sua qualificação e fale um

pouco sobre a Senhora.

Meu nome é L. Eu nasci em Alexandria no Egito, tive que sair do país por causa de guerra.

Outra coisa, eu nasci lá no Egito e tinha nacionalidade egípcia e quando eu sai, tive que sair,

eu tive que devolver a nacionalidade e, viajei com passaporte de ida sem volta, mas agora

depois de 5 anos que eu cheguei no Brasil eu pedi nacionalidade e claro, me deram

nacionalidade brasileira. Eu posso voltar, mas eu não voltei. O primeiro passaporte tava

escrito assim: naturalizada brasileira, o segundo já era nacionalidade brasileira, isso foi muito

importante pra mim né?

A Senhora é formada? Tem graduação?

Veja bem, te escrevi lá no relatório. Os cursos não equivalem aos daqui, então é difícil dizer

onde eu cheguei lá, então eu coloco assim, segundo grau completo, mas eu não saberia. Um

não equivale a outro.

Quanto tempo faz que a Senhora esta no Brasil?

Fez mês passado, se não me engano, 54 anos.

Como a Senhora ficou sabendo do programa da UATU?

A UATU é o seguinte: eu dou aulas de inglês, depois de me aposentar.

Eu estudei no colégio britânico, sempre trabalhei em multinacionais então eu queria fazer

alguma coisa e eu tava dando aulas pra uma moça que estudava no Mackenzie e numa

conversa falei, ai quem me dera poder voltar a estudar numa faculdade, mas como não estudei

aqui (...) assim, numa conversa assim, ela falou, ah por que que você não vai no Mackenzie.

Eles tem uma universidade, assim pra gente de mais idade, então eu segui a orientação o

conselho dela e conheci a UATU.

E a quantos anos a Senhora está na UATU?

Olha! Até tava escrito lá neste questionário (questionário entregue pela Prof.ª Regina em aula,

a pedido da coordenação da AUTU referente avaliação do curso. Vide anexo), eu não me

lembro se foi em 2001 ou 2002, mas também eu parei um semestre aqui, um semestre ali, mas

(...) em geral foi pouco tempo que eu parei.

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E o que a Senhora acha do programa? A senhora pode contar um pouco da vivência

durante esse tempo todo aqui?

Olha! Eu gostei muito do programa. No começo (...) não é que eu queira criticar, mas tô só

explicando como era no começo.

Primeiro dia que eu entrei na sala de aula tava até com medo, mas teve uma colega muito

gentil que se aproximou de mim, a Dulce. Falou, olha L., não fique nervosa, que a gente é

amiga, etc. Nós saímos depois pra tomar um café e aos poucos eu me enturmei.

Diferente do que tá acontecendo agora. Quando (...) no começo a gente fez a (...) tem sempre

panelinha, aquelas coisa né?

Então quando recebia o programa pro semestre seguinte (...) às vezes agente entrava no curso

só porque as amigas entravam ou só por causa do professor ou da professora que a gente

tinha gostado, então era assim, realmente uma amizade muito profunda né a pesar de sermos

assim (...) diferentes no sentido de colégio e de estudos, mas era um ambiente bem amigo, não

tô dizendo que agora tenha inimigos, não, mas era outra coisa. A gente parecia que era mais

criança. Entende? Ah! Você vai fazer tal curso (...) ah também. Ou a gente telefonava. Que

você decidiu: ah vou fazer, vou fazer isso. Quem é o professor? Quem é a professora? Ah

melhor ainda (...) e assim por diante.

E hoje como a Senhora escolhe o curso?

Olha! Eu sempre gostei de psicologia, mas (...) agora realmente os professores que eu

conhecia não tão mais aqui.

Agora, a Regina (Giora) foi um caso muito especial. Ela fazia umas palestras que a gente não

ouvia uma mosca voar e ela anima, ela tem aquela vibração, aquele entusiasmo que me

contagia e (...) e acho que não é só a mim, não é! É pra muitas pessoas né?

Então eu tinha me inscrito num outro curso, mas eu não gostei. Eu falei, ah não! Eu vou fazer

esse da Regina. Eu quero uma coisa que me entusiasme, que me deixe pra cima. Ai, ela é de

fato né?

Sim, ela é especial.

Eu acho que ela é fabulosa, eu gostaria de ter um décimo dos conhecimentos dela.

E as viagens, as apresentações, exposições. A Senhora chegou a participar?

Olha! Cheguei a participar daqueles de pintura (...)

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As palestras da Regina naquele tempo que ela fazia, eu acho que participei de todas ou quase

todas. Eu gosto demais dela. E (...) bom (...)

Viagens eu não fiz. Pra Campos do Jordao não, mas (...)

Enfim, eu sei que eu fiz muita amizade aqui e ate agora né?

Algumas a gente perde de vista, mas ainda continuamos amigas. A gente não se vê com

frequência, mas telefona, se encontra no shopping e é um reencontro super agradável.

Hoje vocês não tem mais intervalo entre uma aula e outra. O que tinha lá no início.

É muitas vezes ahh! (...) muitos semestres eu fiz dois cursos. Mas já uns anos que eu faço

apenas um.

E a Senhora sente falta desses intervalos? A Senhora tinha mais encontros com os

amigos?

Olha! Na verdade oque era mais interessante, justamente a gente encontrava antes da aula, no

intervalo, depois da aula.

Agora pelo que eu tô percebendo é apenas depois da aula que a gente vai lá na praça de

alimentação tomar café.

E a Senhora acha que esfriou um pouco isso? Houve um afastamento por quê?

Esfriou um pouquinho. Esfriou porque as pessoas já não tão mais juntas. Tem muitas pessoas

que deixaram o Mackenzie, tão fazendo outros cursos.

Eu também fiz. Tô fazendo. São professoras que eram famosas no Mackenzie e como a gente

gostava muito delas... elas fazem... tô falando de cursos de psicologia. Que elas faziam e

continuam fazendo no consultório delas.

Entendi. E a Senhora tem alguma sugestão pra que a gente faça um reaquecimento?

É! Eu até já escrevi lá no formulário. Agora (...) a maioria são cursos de informática... e

cursos de línguas. Cursos de línguas eu não preciso porque conheço varias línguas. Então!...

E sabe, tinha aquela coisa do mesmo professor, que a gente gostava do jeito que ele ou ela

dava aula, então isso (...) sabe! Chamava mais atenção. E também, cada um com seus afazeres

às vezes a gente tem muita vontade de fazer e por uma razão da própria pessoa não pode vir

fazer.

Não quer, não pode, não sei.

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Então a gente pode dizer que os professores ou os cursos a Senhora já fez muitos deles,

ou!?

Sabe. Eu já cansei de psicologia, não sei quantos anos. Né! Agora com uma professora que

nem a Regina, você vê, ela pula de um assunto pro outro. Ela envolve a pessoa. Entende?

Enquanto os outros são sempre o mesmo título, fala iiii (...) já conheço isso, eu já sei isso.

Como a Senhora descreve o ambiente do programa, assim, as salas de aula, o prédio?

Olha! O inferno da sala de aula são as carteiras, porque não são feitas pra gente de (...) que

passou dos 30 (anos) vamos dizer. É muito incômodo sentar-se levantar-se, é muito

incômodo, é muito incômodo.

E o restante, a principio, tudo certo?

Ahhh! (...) agora tá tudo certo sim.

A qualidade do programa, a Senhora acha que decaiu com a saída de alguns professores

qualificados que tinha no inicio?

Tá muito repetido. Oque que eu digo de repetido. Quando você abre o programa e lê (...)

como é que diz (...) o resumo do que vai ser dado.

Pode não ser, mas o resumo (...) oh! Sê fala ai, outra vez!?

Ai desanima?

(sinaliza com olhos que sim)

Eu fiz curso de espanhol, fiz outro da memória, que era oficina da memória. Adorei esse

curso, fiz duas vezes. E assim né!

A Senhora poderia citar pra nós mudanças que poderiam ocorrer pra melhorar esse

programa?

Veja bem. Eu tô falando por mim. É (...) eu acho que na (...) a essas alturas do campeonato, na

minha idade. Eu não quero mais filosofia (...) ou (...) não sei. Eu quero, assim, uma coisa.

Sabe. Que dê vontade de (...) e uma coisa mais light (...) eeee (...) eu tenho amigas que

adoram filosofia, história isso, história daquilo (...) toma nota. Agora o que eu tô dizendo, é,

sou eu.

Mas realmente eu queria, sei lá (...)

Uma coisa. Pode ser (...)

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Eu sei que tem uma instituição que toda semana tem uma professora, acho que ela é jornalista.

E ela faz (...) ela dá o resumo da semana, então (...) quem não consegue ler muito jornal,

quem não consegue ver muito televisão, quem não tem internet, fica por dentro do que tá

acontecendo. Entende?

Isso seria interessante, acho que todo mundo (...) eu leio Estadão. Tudo isso, mas assim

mesmo, eu não posso dizer que tô por dentro de tudo. Mas seria interessante. Em inglês se

chama General Knowledge, quer dizer, cultura geral, é conhecimento geral do dia-a-dia, o

que tá acontecendo na América do sul, na América do Norte. Sabe? Oque se refere ao Brasil.

Uma coisa assim, que te deixe, sabe! Querendo saber mais. Esta é aminha opinião. Não sei.

E porque que você me escolheu hein? Com tantas pessoas.

Eu escolhi a Senhora porque a Senhora é privilegiada, é uma pessoa especial. Tá aqui na

universidade há muito tempo.

Mas você não me conhece menina.

Conheço a Senhora através da professora Regina

Ahhh!!! (risos)

A Senhora não esperava que fossemos escolher a Senhora?

Olha! Por coincidência. Não quero me jogar flores não. Eu faço parte de uma associação e

eles tão querendo escrever um livro sobre “memórias do coração” e tô fazendo outras

entrevistas por causa disso.

Não tô me jogando flores não. Não sou assim.

E a Senhora tá gostando desse trabalho?

Eu gosto sabe! Enquanto não invade minha intimidade. Isso não gosto.

É uma coisa geral assim, se pode servir enquanto experiência da vida. Porque a gente diz

assim: eu digo sempre assim: quando você vai na escola. Você paga. Então você quer ir, não

quer ir. É problema seu. Agora, depois você entra na faculdade da vida. Faculdade. Tem 3, 4,

5 matérias. Depois entra na universidade da vida. Ser mais. Depois da escola você vai

trabalhar. Trabalha. Quer tá doente, tá com de cabeça, não tá com vontade, queira não queira.

Você tem que ir porque te pagam. Não pode dizer, ah hoje tá frio, ah hoje tá chovendo, ah

hoje não posso ir. Não quero ir. Né!

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Nós achamos (...) a professora sugeriu que eu conversasse com a Senhora porque isso vai

ficar pra universidade. É um registro que a gente vai ter da UATU.

Se pode ajudar alguém. Fico feliz.

E como a Senhora está muito tempo aqui. Praticamente dede o início. Então a Senhora

poderia nos relatar os prós e contras.

É. Isso é a minha opinião. Claro né, não sei oque os outros pensam.

Quer dizer. Você vê. A minha turminha pensa a mesma coisa.

Sim. E depois que a Senhora entrou aqui na universidade, na UATU, que a Senhora

passou a se ocupar em determinado momento da sua vida. A Senhora acha que

melhorou que mudou alguma coisa na sua vida?

Melhorou, vou te dizer por quê. Porque aposentada, é como. Acabou. Vai dentro do arquivo

morto. Acabou.

Agora quando você tá no meio de pessoas.

Que sê faz pra passar o tempo? Ah, eu estudo na faculdade, no Mackenzie.

Ahhh!! Você é vista de uma outra maneira. Quer dizer; não vai lá fazer crochê, ficar em

frente à televisão e acabou. Não. Você quer aprender. Aprende. Quer dizer, não tem memória

pra aprender, mas oque aprender tá muito bom.

Conhece gente nova.

Exatamente

Toma um café diferente.

Exatamente. Exatamente. Isso que eu digo.

Que aqui, digamos, é que 2 horas de aula, vamos dizer. Mas você vai num banco, você passa

na praça de alimentação.

E tem outra coisa!

Aqui na UATU é, quando você anda pelo Mackenzie, você vê gente que tem ainda um futuro,

que vai ter um futuro, que tá pensando num futuro.

Agora, quando você vai naquelas reuniões de pessoal de idade (...) é (...) isso pra quê, isso pra

lá (...) não quero, já estamos velhos, bá, bá (...) essa é a grande diferença.

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E agora que a Senhora falou em futuro. Oque que a Senhora pensa sobre ele?

Bom, eu agora não penso nada. Cada dia a mais é um dia de ganho, mas eu acho que me

contagia de ver esses jovens. Sabe? Que eu tô no meio. Eu me pergunto às vezes. Que que eu

tô fazendo no meio desta turma? Mas é uma ilusão que não machuca ninguém e eu também

estar no meio deles.

Mas esses jovens geram uma expectativa de um futuro, de um amanhã melhor.

Exato. Espero que seja melhor.

Isso. Quando eu falo futuro pra Senhora não precisa ser um futuro pra daqui a 10, 20,

30 anos.

Não, não, não (...) justamente. Isso que digo, futuro já, a curto termo, a curtíssimo termo..

Isso. Mas gera uma felicidade. Também

Exatamente. Eu vou lá, vejo gente ainda forte, que come.

2ª parte da entrevista.

... como te falei, a universidade da vida.

E as amizades que a Senhora construiu aqui. Como a Senhora descreve pra nós. Tem

um diferencial das amizades que a Senhora construiu lá fora? Ou é outro momento que

a Senhora vive aqui.

Não, não. São pessoas diferentes. Em que sentido? Que querem (...) Saber mais. Não precisa

de diploma (...) de nada. São pessoas (...) que (...) não vou dizer que não aceita a idade, não.

Aceita a idade, mas acha que se pode aprender algo mais (...)

A gente fala assim: as minhocas não entram na cabeça.

Faz parte né?

Qual é sentido de vida pra Senhora?

Como assim?

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Como é viver, estar vivendo em meio a isso tudo. Qual o sentido que faz isso?

Olha! Isso depende do momento. Porque a gente tem que admitir com letras maiúsculas que

cada ano que passa diminui a força física, intelectual. Eu acho muita bobagem dizer ahhh (...)

idade na cabeça.

Muitas coisas que a gente fazia não pode fazer mais, (...) nem com tanto vigor, nem (...) é só

(...) tem que aceitar.

Uma vez que a pessoa aceita suas limitações. Tá tudo bem.

O complicado é quem não quer aceitar as suas limitações.

Isso. Já passamos para uma qualidade de vida. O meio em que a gente vive. Mas a

Senhora, aparentemente, tá vivendo uma velhice sadia, tranquila, com qualidade.

Olha! Eu digo assim; cada um usa uma máscara, algumas sabem bem pintar bem essa

máscara, outras não.

Agora, eu quando estou fora, tento assim, me mostrar mais animada, que todo mundo tem

tantos problemas, que se você encontrar alguém vai começar a choramingar. Resultado.

Ninguém vai querer você (...) chega com meus problemas, não quero ouvir os problemas dos

outros ou das outras, mas não é assim. Não (...)

A gente não se sente assim (...) vai porque vai, porque vai (...) como falei (...) tenta né?

E assim.

A gente esta falando de velhice né. A Senhora fala que o corpo é a parte que mais sente.

O corpo, a cabeça, tudo.

Como que a Senhora relata esse processo de vida que vem crescendo junto com a

Senhora. Quando a Senhora percebeu que a velhice começou a chegar.

Olha! Na aula de hoje da Regina, ela falou muito em traumas e, eu acredito muito em

traumas, mas tem muita gente que não quer nem ouvir falar. O que que é isso (...) passou,

passou. Não. Não é. Não, não é assim.

Trauma de guerra. Trauma de pessoas que a gente perde. Eu perdi meu pai muito jovem.

Tudo isso marca. Marca fundo. Sabe? Você não pode comparar um com outro. Cada tem a

história, cada um reage de uma maneira, cada um sente de uma maneira.

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Depende realmente do contexto e do histórico em que a gente vive e viveu.

Claro, claro. Quem viveu, quem vive. Ser quase expulsa da sua própria casa. Me diz como é

que fica isso.

Queira não queira, isso marca.

Nasci no outro lado do mundo. Tô aqui. Mudei línguas, costumes, comida, temperatura, tudo.

É uma adaptação violenta que a gente (...)

Até voltando a Regina, ela falou uma coisa nesse sentido (...) que (...) mais jovem você faz

essas mudanças radicais, melhor (...) que chega um ponto onde você não aguenta.

Sim, com certeza, se fosse hoje, talvez a Senhora pensasse um milhão de vezes.

Sim, com certeza.

Bom, tá bom?

A Senhora quer deixar uma mensagem?

Olha! Eu tenho uma expressão que muita gente usa agora. Eu falo. Coragem. Tenha coragem.

É tudo.

Muito obrigada

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Entrevista Professor Marcos Rizolli – 04 de outubro de 2012.

Eu gostaria que o Sr se apresentasse e falasse sobre sua formação.

Prof.: Eu sou Marcos Rizolli, sou formado em artes plásticas pela PUC de Campinas em

1980, depois eu realizei mestrado e doutorado em comunicação semiótica na de PUC/SP, no

período de doutorado eu realizei um estágio de pesquisa, bolsa CNPQ na universidade de

Bolonha, junto do departamento ao departamento de artes visuais, o que manteve meu vinculo

de pesquisa e de cultura com a Itália.

O meu doutorado eu finalizei em 1999 e em 2002 eu já iniciei a minha carreira de professor

de pós graduação Stricto Sensu aqui na universidade Mackenzie/SP, no programa de

Educação, arte e História da Cultura.

A quanto tempo o Sr. está na UATU?

Prof.: na UATU eu estou desde o primeiro semestre de 2002, logo quando eu cheguei aqui na

universidade, um dos primeiros contatos que eu tive, foi com a professora Regina Giora, que

então coordenadora da UATU e, naquela época havia uma disciplina de história de música,

do cinema e das artes. Ela me convidou, ao me conhecer, automaticamente ela me convidou

para o modulo de História da Arte, onde eu lecionei talvez por uns dois semestres e então a

gente percebeu que o campo de história das artes poderia ser desenvolvido como um curso

independente, e dai eu fiz essa proposta e desde então venho sendo professor de diversos

cursos da UATU.

O primeiro deles foi história da arte, depois eu dei a linguagem da arte, no semestre passado

eu dei um dos cursos que eu mais fiquei encantado, artistas e obras de arte que devemos

conhecer e atualmente eu estou dando um curso no modulo de história da arte brasileira.

A UATU tem essa peculiaridade. Os alunos quando satisfeitos com um professor e com o seu

método de ensino, eles acabam querendo acompanhar o professor por mais de um semestre,

né. Então, e eu também querendo que eles me acompanhem, porque eu acho que a troca

sempre é muito positiva, eu venho gerando um conjunto de cursos onde, eu ofereço em

rodízios, e dai o aluno que quiser, ele vai poder ficar comigo ao longo de dois anos, digamos

assim, sempre fazendo um curso novo, né.

Houve situações em que alunos decidiram repetir o curso que já haviam feito.

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177

Como o Sr. Descreve a experiência em dar aula na UATU.

Bem, eu sou professor desde sempre. Então, no meu inicio de carreira eu dei aula pra

crianças, de 5º a 8ª série, já dei aula de artes em curso de magistério, depois, na universidade

onde eu sou professor a muitos anos, primeiro na PUC de Campinas, eu dei aula por 22 anos e

aqui no Mackenzie já a 11 anos, né. Então, eu conheço, digamos, todo o universo de alunado.

A UATU tem um caráter muito especial, primeiro porque as pessoas dessa chamada terceira

idade ou melhor idade, né, ou pessoas com sabedoria e tal, elas são pessoas que não querem

perder tempo, elas não querem fazer qualquer coisa porque não tem oque fazer, pelo

contrário, o nível de solicitação, de interação com o professor é sempre muito grande. Então

nos exige sempre um rigor de conteúdos muito sérios, nos exige um desenho metodológico

com as aulas, recursos de aula sempre muito atualizados, porque o alunado cobra mesmo, né.

Isso é muito bom porque a gente acaba tendo um cenário que nos leva a ser continuamente

melhores como professor, como teórico, como alguém que quer divulgar um determinado

campo de conhecimento humano.

A relação afetiva eu acho que é algo muito importante. É importante, é quando eu digo, o

aluno que tá fazendo meu quarto curso, é quase que tem a crença naquilo que eu estou

oferecendo, mas tem também a vontade, o desejo de estar com o professor. Então isso é muito

interessante, até mesmo agora que a gente já está no meio do segundo semestre de 2012, né, já

começam a surgir ás especulações. Que curso o Sr. vai dar o semestre que vem? E eu estou

pretendendo criar um curso que eu estou chamando preliminarmente, eu tenho um tempo

ainda pra lapidar a ideia, onde, eu estou querendo chamar “Atelier de História da Arte”,

onde ai sim, esses alunos, essas alunas, que me acompanham a algum tempo e que

adquiriram, pela convivência, um bom repertorio sobre arte, talvez o que falte ainda pra eles

seja ter um relacionamento criativo com a História da Arte.

Então eu quero transformar processos e procedimentos artísticos, métodos criativos em ações

de ensino e aprendizagem sobre a História da Arte. Mas ai não vai ser mais de uma dimensão

estética contemplativa, e sim, no sentido de produzir linguagem, se expressar nos

instrumentos do próprio sujeito humano. É a deia que eu estou começando a construir.

E nestes anos todos de experiência, o Sr. acha então que a diferença entre o aluno

“normal” da graduação, da pós, do colegiado e os alunos da terceira idade, como os

nossos da UATU, é realmente essa cede que eles tem de continuar na ativa e o

aprendizado que eles tem devido a essa disciplina?

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178

E em especial, no caso do Mackenzista, né. O conjunto de alunos da UATU, é formado por

pessoas com grandes referencias. São pessoas que viajam muito, que tiveram uma história de

vida muito interessante, que tiveram uma história profissional de sucesso, se arrojo, então,

isso é um diferencial também, né. Você sempre tem que oferecer um discurso sempre muito

elevado pra esses alunos. Você não consegue, eles não aceitariam, imagino eu, um professor

que viesse com coisas muito simplistas, muito rasas né. Tanto é que muitas vezes, né, a gente

cita artistas, principalmente agora, que eu estou dando curso de arte brasileira, as vezes eu cito

artistas que elas conheceram, ou que conviveram, ou que tem obras adquiridas desses artistas,

então é um trabalho muito vivido no sentido de que eu estou interagindo com pessoas com

altíssimo repertório. E é sempre aquela relação muito, muito favorável do seu professor, né,

que enquanto ele ensina você também esta aprendendo e na UATU isso é muito nítido.

E nesses 11 anos de UATU, o Sr. tem vários alunos que praticamente estão com o Sr.

desde o inicio, vem acompanhando o Sr. O Sr. consegue perceber a diferença desses

alunos do momento em que ele chegou aqui na UATU, ele foi se desenvolvendo, como ele

se desenvolveu ate os dias de hoje.

Eu acho que sim, eu acho que a vivencia na AUTU, não necessariamente no campo

especifico da arte, mas na vivencia mas como um todo, no campo da filosofia, das novas

tecnologias, das línguas que eles estudam, a própria dimensão psicologia de algumas

disciplinas. Vão trazendo pra eles um nível de consciência, um nível de conhecimento muito

agudo, né, e eu percebo sempre isso. Por exemplo, alguns alunos, que são alunos de primeira

vez comigo, normalmente eles querem ate meio que se desculpar ou se justificar, dizendo que

de arte eles não entendem nada, que sempre gostaram, mas não entendem. E estão ai pro

professor abrir as janelas pra eles e tal e depois a gente vai percebendo que no segundo curso,

no terceiro curso, eles já começam a ter uma interação com a gente ou até com conteúdos que

a gente apresenta já dentro de uma dimensão mais critica, mais analítica, né.

Então, acredito que a UATU tenha sim esse papel não só de convivência, de relação humana,

mas é um ambiente altamente instrumental, de altíssima formação pra essas pessoas, eu acho

muito legal isso.

Eles poderiam estar, digamos, abotoando os pijamas né, como se diz na aposentadoria e tal,

mas estão pra ainda ter um mundo revelado pra eles, eu acho isso muito legal, essa disposição

para continuar vivendo em sintonia com as demandas contemporâneas né. Isso a gente vê

claramente.

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179

E influência muito a qualidade de vida deles também ?

Sem dúvida, sem dúvida. Não só vovó, vovô, ter o que dizer pros netos, pros filhos, pros

amigos, então acho que isso é uma coisa que os faz sentir-se úteis, tanto é que o nome da

universidade aberta do tempo útil é exatamente isso, só que eu acho que não é uma utilidade

restrita ao senso comum, a responsabilidade da UATU é no sentido muito mais expandido,

né, é a emancipação do sujeito, é a potencialização da possibilidade de interação com o

mundo. Eu acho que isso é fundamental quando a gente pensa os cursos pra UATU, sempre

pensando nessas possibilidades de tornar o universo desses alunos cada vez mais amplo,

cada vez mais ativo no sentido de interelacionamentos mesmo, tanto com pessoas quanto com

objetos de ensino, de aprendizado.

Principalmente porque não é só a terceira idade, tem jovens também que participam do

programa. O nível de relacionamento que eles com pessoas de outras idades também

influencia.

É, eu tive acho que a uns dois semestres atrás, uma aluna que é já veterana da UATU e sua

sobrinha. Quando a sobrinha soube que eu daria um curso de linguem da arte, ela aluna de

arquitetura, ela veio fazer. É um fenômeno cada vez mais presente na UATU.

Eu me lembro que quando eu cheguei na UATU, basicamente eu tinha alunos de terceira

idade, hoje em dia, o mix esta ficando cada vez mais perceptível, né. Existem jovens

senhoras, jovens senhores, alunos da universidade que descobrem os cursos e vem as vezes

até como ouvintes, pra poder percebem como é o tipo de trabalho que se desenvolve. Tem

sido uma convivência cada vez mais misturada, vamos dizer assim.

É, a gente tem poucos homens né na sala de aula.

Poucos é verdade. Poucos.

O Sr. como homem, como professor. Oque que o Sr. acha que teríamos que fazer para

trazer esses homens, jovens homens ou idosos pra sala de aula?

É, eu não sei exatamente oque a gente faria. Veja, eu tenho em especial um aluno que ele fez

dois cursos comigo, dai quando ele tava terminando já o semestre desse segundo curso que ele

tava fazendo, ele chegou pra mim e falou. Olha! Ele me deu a sugestão de dar um curso de

História da Arte Brasileira.

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180

Olha! Isso é uma coisa que você ainda não tratou e que seria muito bacana, então, foi ele, pela

indução dele que eu decidi dar o curso de História da Arte Brasileira e que está sendo feito

neste semestre.

Então, eles são presenças poucas, mas com presenças muito marcantes, principalmente

quando um aluno homem, decide fazer o curso de artes, de História da Arte, porque

normalmente as pessoas acham que fazer um curso de história da arte serve pra, digamos,

adquirir um verniz cultural e, não é exatamente assim que a gente trabalha. O que a gente quer

é que eles reconheçam formas que o homem encontrou pra se comunicar com o mundo, com

as outras pessoas, com os objetos, né, como um recurso de comunicação humana mesmo, de

linguagem ne´. Quando eles percebem que é essa a ideia, dai eles não se restringem não, dai

eles vem, eles gostam, eles ficam, interagem tranquilamente.

Mas de fato é, talvez abrir demandas pra cursos mais específicos como na área de esportes,

de atividade física que não seja somente recreação ou postural, né. Talvez fosse (...), talvez

tivesse um mecanismo a ser explorado ainda, mas não saberia, dentro do meu limite de

participação da UATU, eu não saberia ariscar qual seria a ponta, que fio a gente deveria puxar

pra trazer mais alunos homens pra UATU.

Como que o Sr. vê a UATU no futuro, dentro de 10 anos?

Pois é! O ser humano está envelhecendo, vivendo cada vez mais e, vivendo melhor cada vez

mais também, né. Então, eu acredito que por outro lado, o homem vai ter de (...) eu acho que o

Brasil vai conhecendo essa demanda que ta ai no horizonte, né.

As pessoas não poderão se aposentar ou se livrar do trabalho tão cedo. Então, acredito que

nós teremos cada vez mais uma demanda que, ao mesmo tempo que empurra as idades, né,

dos participantes da UATU, por outro lado tem também o inverso, cada vez mais jovens,

pessoas adultas de média idade já estão atuando na UATU, né. Então, eu inclusive já tive

situações de ter alunas que trabalhavam. Elas trabalhavam ou de manhã, ou a noite e a tarde

elas vinham pra faculdade, né, como qualquer estudante trabalhador faz, né. Então, acho que

tem também essa questão.

Acho que quanto mais a AUTU se elaborar em termos de tride, de cursos a serem oferecidos,

a gente vai ter cada vez mais um campo de atração expandido e daí a gente não ter mais

aquela pessoa que na última etapa da sua vida cuidando de desejos que talvez ao longo da

vida não tivesse tido chance de cumprir, apetites novos que vão surgindo, né. Eu acho que

não, a UATU tende a ser um ambiente de extensão integrado as demandas gerais da

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181

universidade. Eu acho que ela não será uma célula a parte. Ela vai estar cada vez mais

interconectada e interdependente das relações universitárias gerais.

Como o Sr. elabora os planos dos cursos. Como é que eles são encaminhados, como é que

eles são escolhidos. Como é que funciona nesse programa?

Bem, eu atualmente trabalho a elaboração dos planos a luz da minha própria experiência e do

retorno que eu tenho tido, tanto dos alunos quanto da coordenação da UATU. Então, os meus

cursos tem alta demanda, numericamente falando. Tem também retorno qualitativo muito

significativo, oque me deixa muito satisfeito e instigado a gerar novas proposições pra esse

ambiente e tal. Por outro lado, eu acho que é uma coisa bacana também, é independência, a

autonomia que o professor tem na geração de uma proposta de curso, né. Por outro lado, essa

autonomia, essa independência, elas devem estar sempre revestidas da experiência e de uma

leitura de contexto do que é a UATU pra gente não oferecer algo que seja absolutamente

estranho ou inócuo pra esse ambiente. Então acho que é mais assim, a decisão da construção

de um curso, se dá na interação com a coordenação e na interação mesmo de prospectiva né,

daquilo que o campo onde eu atuo, no caso as artes, pode ainda ou também oferecer como

um hiperdimencionamento das informações que a gente quer trazer. Nesse sentido, do teórico

ao experimental, do filosófico ao (...). A gente tem que tá trabalhando sempre nessa dimensão.

Primeiro o contexto e propor a longo oque o contexto ainda não tem, no sentido de ampliar e

gerar uma tessitura né, cada vez mais precisa, cada vez mais aguda para a Universidade

Aberta do Tempo Útil como um todo.

O Sr. em algum momento chegou a fazer viagens, conhecer museus, com esses alunos?

Ah sim. Uma das atividades que mais me trouxeram satisfação foi em 2010 quando eu levei

um grupo de alunas da UATU, junto com a professora Misa, a coordenadora, para um curso –

modulo internacional, que eu chamei de “História da Arte nos Museus Parisienses”.

Nós ficamos ao longo de uma semana, a cada dia, visitando um ou dois museus porque Paris

é uma das cidades que tem uma das maiores concentrações de museus e a importância que

eles tem, como o Museu do Louvre, Museu D‟orsay, e a gente queria (...) então, alguns

museus a gente tinha o dia todo pra visitar e outros que são museus menores, ou mais

especializados nos seus acervos, a gente fazia manhã e tarde pra poder ocupar o dia-a-dia do

trabalho. Foi uma experiência riquíssima, foi um, eu diria assim, foi um encontro, não só um

encontro com a professora Misa que foi minha parceira em todas as decisões, tanto no período

de geração do curso, de concepção do próprio curso, na condição de todas as estratégias que

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182

nos trouxeram segurança, que eliminasse qualquer tipo de risco pra que o grupo ficasse em

um outro país, em outro continente, estudando arte vivencialmente.

Foi uma experiência muito rica. Primeiro pra mim como professor. Obviamente eu tive a

sorte de conhecer os museus, bons museus do mundo e quando você tem uma postura de ir ao

museu, não como visitante, por mais instruído que você seja como visitante, mas você esta lá

como professor, conduzindo um grupo a perceber o acervo, a perceber a própria arquitetura

do museu, a história daquele espaço expositivo. Isso pra mim foi absolutamente enriquecedor.

Porque primeiro me provocou a me aprofundar mais e mais nos diferentes museus que a gente

iria conhecer, dos diferentes acervos que a gente iria tratar, a visitar e também no processo de

selecionar as obras, os artistas, fazer todo um mapeamento da cidade, um mapeamento da

própria planta do museu pra que não se perdesse tempo dentro dos espaços, dos ambientes e o

grupo foi assim, extremamente feliz. As pessoas que decidiram ir com a gente, foram pessoas

incríveis, absolutamente humanas, onde todo mundo, o tempo todo ficava tentando se

auxiliar, tentando se ajudar, minimizando o cansaço porque você passar um dia no museu,

você nem percebe, mas você anda quilômetros dentro de um museu, né, e pessoas de idade,

mas foi sempre assim, uma (...) um jogo muito simpático, muito prazeroso né.

Recentemente eu propus uma réplica dessa experiência para os museus de Nova Iorque, mas

por enquanto a gente ainda não conseguiu estabelecer uma boa parceria com uma agencia de

intercambio que nos leve pra lá com a mesma segurança com que fomos pra Paris e com os

mesmos baixos custos que naquela época a gente conseguiu também. Mas é um sonho que tá

no horizonte, tanto meu quanto da coordenação da UATU e ai, a gente vai de algum modo

insistir pra que essa experiência de NY também aconteça.

E aqui em São Paulo. Não se pensou em algum momento em levar esses alunos?

Sim, é, nos diferentes cursos que eu ofereço, a gente faz uma prospecção de boas exposições

que estejam ocorrendo no período de oferta dos cursos e a gente vai sim.

Por exemplo, possivelmente, agora na segunda quinzena de outubro, eu vá com o grupo de

História da Arte Brasileira, visitar a bienal de São Paulo. Embora a bienal seja um espaço de

arte internacional, existem brasileiros representados na coletiva e é um espaço de uma bienal

que se realiza em território brasileiro. Então, faz parte do nosso holl conhecer. A gente já foi

ao Masp, já fomos na pinacoteca do Estado, então, a gente tá sempre estimulando os alunos

que de forma independente também estejam nos museus, que levem familiares, pessoas

amigas e tal, então isso sempre a gente tá insistindo pra que eles estejam aproveitando a vida

cultural paulistana.

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E em outros momentos a gente vai de uma maneira mais esquematizada o grupo todo com o

professor visitar determinadas exposições que de algum modo a gente vai fazer dessa

exposição um recurso didático pedagógico para o conhecimento que o curso ta oferecendo.

E a opinião desses alunos. Como que é o retorno, o reencontro na sala de aula?

Olha! Existe um retorno em tempo real. Acho que isso é uma outra questão muito interessante

também. Porque quando você faz uma graduação, por exemplo, o aluno vive aquele momento

de sala de aula, pensando no seu aproveitamento futuro dessa formação. Na UATU não, eles

não estão pensando em um aproveitamento futuro no processo de profissionalização. Eles

querem em tempo real aquilo que a gente está oferecendo pra eles, então, eu acho que isso é

também peculiar na UATU no sentido de que a gente realiza coisas de agora pra agora e eles

querem saber do que esta acontecendo, muitos vem com recortes de jornais, de revistas sobre

argumentos que a gente vai tratando na aula passada, por exemplo, ah o Sr. falou do Van

Gogh e saiu uma reportagem na revista então eu recortei e trouxe pro Sr., então, eles me

alimentam também de uma serie de objetos, de uma serie de referencias muito interessantes

né.

Mas eu acho que tem essa questão mesmo, do caráter em tempo real, do relacionamento

professor-aluno ou conteúdo-conhecimento. No sentido de que as coisas são para serem

desfrutadas nesse momento, é como você pegar uma fruta no pé pra comer na hora.

Isso mesmo. E o Sr faz registros destes passeios todos?

Sim. O de Paris, a gente fotografou, tanto eu quanto a professora Misa, dai nós trocamos os

nossos álbuns digitais e esses registros que inclusive eu até uso, esses registros, como

ilustração e aulas que eu ofereço, inclusive no mestrado e doutorado Educação, Arte e

História da Cultura pra mostrar para os alunos do nosso programa, o quanto a formação

cultural é tão importante como a formação técnica. Principalmente pensando no campo das

humanidades, é claro que diferentes profissões são mais técnicas do que as outras, mais

tecnológicas, mais instrumentais, mais ferramentais do que outras, mas a gente tem sim que

ter a disponibilidade pra se lambuzar das questões que a humanidade trouxe como patrimônio

universal pra gente.

Então, eu uso sim sempre, esses registros como exemplificação de atividades, de visitação.

Por exemplo, quando eu trato nas aulas sobre questões de percepção, é uma percepção

contemplativa, que é aquela típica contemplação do museu tradicional, e uma percepção

mais ativa, mais participativa que é típico da nova arte, das tecnologias, interacionista e

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interativas e tal. Então, eu mostro o grupo se relacionando com as obras nos diferentes

museus de Paris, né, que a gente visitou desde o Louvre, que é um museu de tradição até o

Georges Pompidou, que é um museu de prospecção da arte contemporânea, e o nível de

relacionamento que elas tinham e é incrível o quanto a gente percebe que num determinado

museu também determina o nosso comportamento, né. O museu Beaubourg que é um museu

de arte contemporânea cuja ludicidade das próprias obras são mais evidentes, elas também

se comportavam mais como meninas, brincando inclusive com os diferentes objetos artísticos,

mas e eu também, eu também, eu não me via, eu só via o comportamento delas, mas eu

também certamente, também sou influenciado pelo cenário museugráfico que se coloca né.

Nesse sentido é bastante interessante a gente perceber o quanto a arte altera a nossa

percepção, os nossos comportamentos. Isso é muito interessante perceber num grupo tão

especial quanto a UATU.

E o que que os alunos da pós acham dessa convivência, desse momento, dessa fartura de

conhecimento que o Sr. apresenta pra eles quando viaja com o grupo da terceira idade?

Primeiro que eles ficam um pouco enciumados (risos), tenho que confessar, ah porque que o

Sr. não faz isso com a gente, né. Por outro lado é difícil a gente, digamos, congelar a vida

dos nossos alunos de mestrado e doutorado que tem (...) muitos já são profissionais numa

atuação acelerada, você parar ai uma semana pra se deslocar pra outro país, pra colocar a

vida em parênteses, como se diz, né e tem todo um custo, a gente sabe que fazer um mestrado

e doutorado exige um alto investimento financeiro, é humano, pessoal, familiar, né. Então é

difícil, mas a gente percebe claramente que eles gostariam também de ter a chance dessa

experiência né. E quem sabe a gente não consegue né? Conforme a própria universidade vai

cada vez mais amadurecendo seus procedimentos e perspectivas em extensão de ensino, eu

acho que a gente pode ai criar alguns dispositivos muito interessantes pro próprio decanato

de extensão, através do seu coordenador de atividades especiais, vem dialogando comigo

sobre as possibilidades de criação e estabelecimento de módulos internacionais para os

alunos de modo geral da universidade. E quem sabe a gente consegue.

Quem sabe os dois grupos juntos não é?

Sem dúvida, seria o ideal né porque a gente não deve colocar as pessoas em gavetinhas

especificas com a riqueza nas portas não é? Eu acho que seria bacana mesmo essa

convivência de diferentes tempos, diferentes reflexões, diferentes idades, diferentes

repertórios, não é? A gente cresce pelas diferenças.

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É verdade, e bastante.

Então é isso. O Sr gostaria de deixar uma mensagem pros alunos, pro programa como um

todo?

Pra você eu deixaria uma mensagem de elogio ao decidir enfrentar uma pesquisa como essa,

que é uma pesquisa difícil, que afinal de contas, se a UATU tem já uma história, ela é uma

história em continuo redesenho, então, você como pesquisadora encontrar uma metodologia

que considere essa dinâmica, essa organicidade do objeto com o qual você esta trabalhando,

é algo elogiável. Um risco, mas que merece um elogio.

Obrigada

E pros alunos da UATU é sempre assim. O gosto, o bom sabor que eu tenho em conviver com

eles, isso é sempre, é uma constante. Talvez numa segunda entrevista eu te fale outras coisas

(risos)

Obrigada pela colaboração.

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Entrevista Prof. Regina Giora – 11/10/2012 – Obs.: a entrevista de fato inicia no tempo

1’35seg. após orientar-me sobre algumas questões referente ao depoimento a ser tomado

sobre a construção da UATU.

A entrevista inicia-se sem questionamentos. Sabendo do motivo, a professora Regina

Giora, inicia seu relato.

Enfatizo a necessidade de abrir para a comunidade a partir dos 18 anos.

Um dos fatores mais importantes que eu observo, quando eu assumi a coordenadoria, foi o

fato de eu ter enfatizado que a Universidade, pelo próprio fato, de se chamar Universidade

Aberta do Tempo Útil ela não se constituiria num programa de exclusão. Isto é, o que a gente

imaginou naquele momento era que se ela é aberta e nós temos tantas carências de toda

ordem, então seria interessante que ela de fato fosse aberta a todos os adultos. Considerando

adultas as pessoas de 18 anos pra cima.

Ai você vai me dizer: bom! Mas de qualquer forma, o que se observa são pessoas de mais

idade. Sim. Mas eu deixei que essa seleção fosse natural, não fosse uma coisa imposta, como

eram os outros modelos que existiam e ainda existem universidades aqui, onde existe uma

idade mínima pra frequentar determinadas classes, uma idade mínima.

Então, pra mim isto não funciona, seria a gente reproduzir a exclusão. Se eu digo, só pessoas

de 60 anos pra cima vão participar desse programa, então eu tô excluindo todos os outros e tô

excluindo a possibilidade das trocas de experiência entre os mais novos e os mais velhos.

Então eu estaria o que! Sem querer citar Bourdieu, mas já citando, a escola reproduzindo a

exclusão.

Então, a ideia era, se aberta, aberta pra todos.

Nesse ponto eu acho que foi uma ênfase legal e eu ia repetindo isso de classe em classe, pra

todos o tempo inteiro, pra tirar a ideia da cabeça que era uma universidade especificamente

pra idosos. Isso foi uma coisa muito interessante.

A segunda coisa é o fato de eu enfatizar que não tinha necessidade de ter o mínimo de nível

acadêmico, escolaridade, então, numa mesma classe, que eu observei sempre, foi que tinha

gente com graduação, com graduação incompleta, gente que tinha parado no antigo colegial,

clássico, científico, sei lá, gente que mal tinha terminado o primário e isto foi

interessantíssimo. Então isso foi a segunda coisa, a segunda mudança que eu acho que deu um

gás quando eu assumi a coordenadoria.

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187

A outra coisa foi estender os “direitos” deles e reconhecê-los como alunos da universidade,

isto significa que eles passaram a ter carteirinha, né! Então, eles tinham um número nessa

carteirinha e eles poderiam fazer uso, por exemplo, da biblioteca.

Também lutei pra que eles tivessem acesso a nossa Colônia de Férias em Campos do Jordão.

Então, esse programa da Universidade Aberta passou a ser um programa que desenvolvia

atividades, não apenas no sentido de montar cursos específicos, de áreas especificas, mas

também, se constituir um espaço de convívio e no espaço onde eles podiam ampliar as suas

habilidades, chamemos assim, sociais. Conhecer outras pessoas, conhecer outros lugares e

perceber também, pelo próprio fato de ela se chamar aberta, perceber também, que a atividade

que a gente sugeria aqui, não significava que ela deveria ser especificamente aqui dentro,

poderia ser, como eu levei várias vezes, a museus, a exposições, a viagens, etc, etc. então,

quando a gente saia, por exemplo, pra ir a uma exposição, suponhamos na Alvares Penteado

(fugiu o nome da universidade).

Eles se percebiam juntos numa atividade externa, mas que era da universidade, então eles

ficavam muito entusiasmados.

A outra coisa que eu acho que foi extremamente interessante, foi o incentivo as aulas de

artes, de todas as áreas, foi altamente estimulado e também a constituição do coral, então, o

coral passou a ter (...) naquela época passou a ter uns 18 corais no Mackenzie, desde o coralito

das criancinhas até o coral dos mais velhos, moradores de rua. Não sei se temos tudo isso

ainda, mas uma das coisas mais interessantes, foi justamente eles se perceberem também

como participando de outras atividades que eu chamava extras, que não eram especificas, mas

que eram atividades que faziam parte do todo.

E o que que aconteceu com essas mudanças todas. Aconteceu que elas passaram a ter grupos

que até formavam grupos de estudo, como acontece até hoje.

E a propaganda nesses anos de 2000, que eu assumi, 2001, 2002 e 2003, deixei em 2003, era

uma propaganda, no início, basicamente boca a boca. Era assim, da minha parte, do pessoal

que trabalhava comigo, a Eunice sabe, que um tempo ela foi assistente da coordenação, ela

lembra que eu contei, por exemplo, com o apoio de todos os diretores das faculdades, das

unidades aqui dentro e que eu ia, as vezes, sala por sala, toda vez que ia abrir o curso,

comentando com os alunos, a possibilidade, não só deles frequentarem principalmente o

curso de línguas, que eles precisavam pra proficiência e outras coisas mais, mas que eles

passassem isso pros amigos, passassem pra família, enfim, conhecidos, então foi uma

iniciativa, onde a propaganda, inicialmente, foi uma propaganda boca a boca.

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188

Até o folder que você tem hoje, que é a porta da universidade do edifício mais antigo se

abrindo, foi pensada com muito cuidado. Foi que, as pessoas olhassem aquela imagem do

Mackenzie e percebessem que o Mackenzie estava abrindo as suas portas para a

comunidade, e, você deve ter lido, sobre a universidade comunitária, onde a universidade

comunitária, ela existe para servir a comunidade, as necessidades da comunidade.

Se ela é uma comunitária confessional, ela é regida por alguns princípios, alguns valores, isso

não significa que todas as pessoas que estão aqui necessitam ser protestantes. Pelo contrário,

ela é aberta a todos. Mas ela tem um quadro de valores sobre o qual ela se inspira, né! Ai a

inspiração, você também deve ter visto, os princípios calvinistas que eles dão uma ênfase

muito grande a educação, né!

E o que a gente pensou que a educação, vista como alguma coisa mais ampla, ela não deveria,

principalmente no momento do ano 2000 pra cá, que a gente vê o aumento de pessoas idosas

crescendo, né! Ela não deveria se instituir apenas com a educação privilegiada da criança e do

adolescente. Nós deveríamos começar a pensar na psicologia dos adultos, né!

Que foi uma coisa que muitos psicólogos, houve uma ênfase muito grande em psicologia no

Brasil, nos anos 60, anos 70, que privilegiava a criança e o adolescente, mas ninguém

“percebia” que o contingente de pessoas maduras estava aumentando como você vê hoje,

hoje sim você já vê no jornal, você já vê em televisão, que no mundo inteiro, mas no Brasil,

que ninguém imaginava, poxa no Brasil, um país jovem e tal, ninguém imaginava esse

fenômeno, nós vamos ter isso pela frente como um grande problema, porque não foram

construídas políticas públicas em nenhum sentido que pudesse atender essa população.

Então não adianta construir, sei lá, 2000 espaços comunitários, porque eu tenho de colocar

gente qualificada pra trabalhar nesses espaços.

Eu tenho de fazer uma comunicação pras pessoas com mais idade sobre como elas chegam até

aquele espaço, a condução pra esse espaço. Eu tenho de ter assistência médica muito mais

cuidadosa das que eu teria em outras condições, então isso é uma coisa importante.

E não se viu também, eu já percebia isso no ano de 2000, a necessidade de qualificar muitas

das pessoas que estavam, por exemplo, na faixa dos 30 e poucos, 40 e poucos, 50 e poucos

anos, que precisavam continuar trabalhando, mas elas estavam marginalizadas no trabalho, no

mercado de trabalho, porque elas, por exemplo, não tinham a mínima noção de computação,

informática.

Não tinham, por exemplo, um português adequado.

Não tinham o mínimo conhecimento de inglês, espanhol, que eram línguas fundamentais.

Então isso foram coisas, por exemplo, eu saquei logo de inicio.

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189

Alguns aqui falavam pra mim: você é louca Regina, magina estimular pra vários cursos de

informática. Eles são idosos. E eles mesmos quando vinham falar, chegavam pra mim e

falavam: não, imagina, naquele tempo os computadores eram maiores, diferentes e tal,

pareciam um bicho de sete cabeças. Quando eles olhavam o mouse, eles ficavam

desesperados.

E ai eu com um grupo de professores de informática, inclusive um colega seu, o Plinio, ele foi

um dos professores, na época, que mais nos ajudou e teve um monte de gente bacana, um

monte de gente bacana e que mostrou que com uma estratégia adequada, de transferência de

conhecimento, a informática se transformava pra eles numa ferramenta extremamente valiosa.

Não só porque melhorava o desempenho deles em várias atividades. Eles aprendiam por

exemplo a digitar, então eles vinham pra mim e diziam: olha! Agora eu tô digitando trabalho

pros meus netos, pros meu filhos, meu marido, bla, bla, bla...

Eles aprendiam por exemplo, nos momentos de estarem sozinhos, a entrar na internet e

buscar outros espaços, onde eles podiam se conectar.

Foi uma coisa fantástica e como era um pessoal, ou que, precisava voltar pro mercado de

trabalho, ou estava em casa ocioso, isto aqui passou a ser uma experiência fantástica ao ponto

de as primeiras turmas, assim que terminava o básico (que antes eram três semestres só,

terminou o básico, terminou), começar a exigir coisas mais sofisticadas dadas pela disciplina.

Quer dizer, isso foi uma experiência e tanto.

E ai, o que eu percebi também, foi o número de pessoas que vinham contar pra mim, que elas

tinham voltado a trabalhar fora em decorrência daquilo que a Universidade Aberta tinha

possibilitado. Que era o conhecimento, mínimo que fosse, mas básico de línguas e era o

conhecimento de informática.

Muitas delas começaram a perceber o quanto elas ainda eram úteis a despeito do que os

estereótipos burlavam ai, nas mídias principalmente (você vê aquelas bengalinhas, de espaço

de estacionamento).

Elas perceberam que pessoalmente elas ainda tinham muito pra viver. E esse muito pra viver,

significava na realidade, elas acreditarem que elas ainda podiam aprender coisas novas, elas

podiam amar de novo, elas podiam ter grupos de amizade expandido, muitas, muitas, eu falo

delas porque a maioria sempre foram mulheres ali e, muitas eu observo, que chocaram a

família, porque começaram a ter um desempenho que a família nem suspeitava.

Nossa! Mamãe esta se arrumando pra ir aonde!

De repente o marido, teve um camarada, marido de uma delas, que veio tirar satisfação

comigo, querendo saber o que eu estava fazendo com a mulher dele. Falei: eu não estou

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190

fazendo nada, só estou dando pra ela a oportunidade, aqui na universidade, dela voltar a

viver. É isso, só voltar a viver.

E eles começaram a perceber também. Isso também é muito importante, que esse voltar a

viver, significava dar chance a si própria de aumentar sua auto-estima.

Pessoas, por exemplo, que vinham andando de forma arqueada e que chegada e dizia, ah! Mas

eu não sirvo mais pra nada e tal, e de repente, percebiam-se já como pessoas, que estavam

dominando conhecimentos de língua estrangeira e falando com a colega, viajando, usando

esta língua.

Foi fantástico, pra auto-estima delas pessoalmente foi maravilhoso.

Sei que foi um abalo pra algumas famílias que não esperavam.

Então, nas próprias famílias, elas vieram, as vezes discriminadas pelos filhos, pelos amigos

dos filhos e, chegavam aqui, elas tinham grupos de estudos aonde o pessoal que participava

do grupo de estudos, tinha a idade dos filhos.

Isto era uma contradição fantástica e que pra auto-estima delas era formidável de observar,

né!

Então, isso foi uma experiência que eu achei tanto (...)

E esses resultados positivos, eles foram se refletindo no processo de divulgação do programa.

Então, uma contava pra outra, que contava pra outra e, assim: não havia, nunca houve, pelo

menos no período que eu estive lá, nenhuma configuração de segmento de sociedade ser

privilegiado.

Então, pra mim, tava pouco me lixando, se a pessoa era empresária, milionária e se a outra era

empregada doméstica. Nunca separei. Isso é temperamento meu e você sabe disso, eu trato

todo mundo exatamente igual e sou extremamente delicada com todo mundo, amorosa com

todo mundo, isso pode ser com a menina que trabalha aqui, pode ser o reitor, pode ser vocês,

pra mim é a mesma coisa.

Então, isso foi muito interessante porque essas pessoas se sentiram muito acolhidas, elas

começaram a não se sentir estranhas dentro da universidade.

Quando eu entrei pela primeira vez aqui no programa da UATU, eu ouvia, por exemplo, entre

os graduandos, a coisa. Ah! Olha o cheiro de mofo! Com relação a elas. De repente, mudou.

De repente se observava, que lógico, como eles eram universitários da graduação, eles vinham

todos arrumadinhos e, poxa! Era assim, eles se constituíam num grupo seleto de pessoas vir a

universidade era rito.

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191

Pro aluno comum, ele podia vir de calça jeans e tênis. Não! Pra elas era um acontecimento.

Então, também na universidade isso causou um certo estranhamento, mas assim, no sentido

muito bom.

E a aquelas primeiras, quando eu comecei o programa, o que acontece é que haviam poucos

alunos. Como eu disse, a maioria sempre mulheres.

Elas não percebiam o comprometimento do programa com elas, no sentido, assim, de ser uma

coisa absolutamente séria.

Pra começar, os professores que iam dar aula nas poucas disciplinas que haviam, eram

professores que queriam completar sua carga horária.

E quando eu entrei, a primeira coisa que eu fiz, foi de ser muito atenta a qual perfil desse

professor que eu necessito.

É aquele que vem completar a carga horária? Não.

Eu fui “selecionando” no sentido de travar conhecimento com todos aqueles que estavam

terminando seu doutorado, terminando seu mestrado, enfim, pessoas que adoravam o tema

que eles haviam optado e chamando essas pessoas e dizendo, durante e depois, que elas

tinham seu passaporte acadêmico, se elas estavam interessadas em dar o assunto da sua tese

ou da sua dissertação pra Universidade Aberta.

E ai, era óbvio, que essas pessoas, muitas delas davam disciplinas que não tinham nada a ver

com a dissertação e com a tese, elas encontravam uma oportunidade imensa de unir o útil ao

agradável.

Então começaram a ser oferecidos vários cursos que fugiam completamente daqueles

chavões, então ampliou completamente o leque e essa experiência foi extremamente positiva

porque o professor entrava muito contentinho na classe porque a final de contas, ele estava

falando de um assunto que ele havia estudado nos últimos anos, e que tava, em fim, mais do

que (...) era mais do que competente para fazê-lo.

E por outro lado, as pessoas perceberam que ao estar ali com prazer, elas também passaram a

partilhar desse prazer e também socializar os seus conhecimentos.

Você viu na última aula, por exemplo, com a Lola contando a experiência dela, como

pertencente a uma família judia, no Egito, né!

Então, nós passamos a ter por exemplo, essa história contada, oralizada, presente, até como

material, que possivelmente possa servir, como você tá esta servindo hoje em dia pra

conhecer um pouco mais o universo dessas pessoas que vem e mostrar que é possível sim, ter

um dialogo entre saberes, entre e aquele saber sistemático acadêmico construído aqui dentro e

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192

esse saber que vem da experiência do dia-a-dia, do cotidiano, que é tão, ou as vezes, mais

importante que isso aqui dentro.

E para os professores, foi também importante, porque eles começaram a entender que, aqueles

anos que eles se prepararam pra ser mestres ou doutores, o conhecimento deles não serviria

apenas para os graduandos, mas serviria também pra ser socializado com um público maior.

Isto foi muito bom. Porque as pessoas não eram obrigadas a escolher os cursos, elas tinham

um leque maior de opções, consequentemente, elas acabavam tendo, assim, acesso ao

conhecimento que era privilegiadíssimo.

Conhecimentos, por exemplo, de psicologia, eram fantásticos, porque tinham professores de

todas as linhas de psicologia. Até hoje, mas nós tínhamos um número muito maior.

A experiência de termos várias disciplinas e várias disciplinas que socializavam um

conhecimento produzido acadêmico, mas socializado e trocava, dialogava com o

conhecimento da comunidade, foi um fator também muito importante, porque eles percebiam

que o fato deles não terem tido acesso a universidade, não terem feito o curso de graduação,

muitos deles, não queria dizer que eles não conseguiam acompanhar o que era produzido nas

ciências, na filosofia, então você tinha naquela época, o que eu te falei, professoras de várias

escolas e psicologia, não é?

Então você tinha a Renata, você tinha a Patrícia (as duas não estão mais aqui), a Silvana, que

era (...), tinha um reconhecimento internacional. Todas essas doutoras. A Nora, eu.

Eles entravam em classe também com a auto-estima muito preservada, porque eles sabiam

que não era uma coisa menor que ia ser dadas a eles, pelo contrário, era uma coisa que

estava acontecendo, nós levávamos sempre o conhecimento do aqui e do agora e da

atualidade.

O que eu falo hoje com vocês e o que eu faço na classe, de sugerir filmes, de sugerir filmes,

pá, pá, pá, isso sempre foi uma constante entre nós todos.

Nessa época, por exemplo, o próprio Rizolli entrou pra dar aula e ele deve ter dado

depoimento, que ele conta e, é pra nós uma experiência maravilhosa, porque a Universidade

de como ela inspirada no modelo Ronboltiano, modelo europeu e no modelo americano, ela é

uma Universidade onde significa, o conhecimento é uma coisa que se exige suor e lágrimas,

né, sofrimento, tanto que em francês, j'étudie eu estudo, né. É uma coisa louquíssima. E é uma

coisa que exclui o prazer. E eles pela primeira vez, observaram, que o prazer decorrente da

troca de experiências, na área do conhecimento, é uma coisa insubstituível, então, eram

pessoas que começavam levar pra sua vidinha pessoal essa experiência e, por exemplo,

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comprar livros, a ir mais a teatro, a se interessar por exposições, a querer aprender, por

exemplo, aquarela, escultura.

Até hoje, eu morro de vontade de fazer o curso e no futuro eu vou ser, vou ser aluna da

UATU, daqui a algum tempo.

Mas mostrou, apontou caminhos que normalmente uma Universidade para o aluno de

graduação não aponta, então, você está muito ligada aquela coisa de avaliação e, o fato de lá

não ter uma avaliação sistemática, não ter nota, também é uma coisa fantástica e, apontou

para uma coisa impressionante, que as pessoas, ah se não vai ter nota, então não vou levar a

serio. Mostrou justamente o oposto, mostrou justamente o oposto, que pelo fato de não ter

avaliação, uma avaliação formal, eles se sentiam muito mais compromissados a produzir,

porque os resultados desse compromisso traziam muito prazer, né!

Ao passo que você pega um aluno e fala oh! que saco eu tenho que ler tal livro porque eu vou

ter prova e tal...

Eles vinham com o conhecimento afinado porque eles sabiam que a alegria estava em

partilhar.

E aquelas pessoas que ouviam sempre, ah! Você já está gagá, 50 anos, você tem que ser avó,

cuidar dos netos (...) para com isso (...) de repente elas perceberam que isso não era uma

verdade, que elas não tinham que acreditar nisso porque não era uma verdade.

E hoje se a memória falha, não me falha tanto em função da idade, é falha porque há um

excesso de informação que nós temos.

Eu tenho de decorar 8/10 senhas, então, não é a Regina com 63 anos que vai ter essa

dificuldade, mas uma moça, por exemplo, de 30 anos, 40 anos, vai ter também essa

dificuldade porque é muita informação. É muita informação. É muita informação.

Resumindo, eu acho que a experiência mostrou que o espaço vital delas, ao ser ampliado ele

trouxe um ganho pra sociedade muito grande, é o que eu falei, quando fui escolhida como

uma das 10 mulheres, aqui da comunidade de Higienópolis, eu não fui escolhida por ser

simpática, bonitinha, agradável, nada disso, mas pelo impacto que o programa tinha causado

na comunidade.

Hoje, que eu digo hoje, nos últimos anos, você vê a UATU atingindo vários bairros, até

pessoas de outras cidadezinhas que ficam sabendo. Mas naquela época não, naquela época

era basicamente Higienópolis. Higienópolis era já um bairro elitizado, entretanto a própria

empregada doméstica do Reitor, era nossa aluna.

Olha que interessante, quer dizer, não era um espaço onde você dizia: bom! Aqui é um espaço

onde só entra elite de São Paulo, está num bairro elitizado, uma universidade elitizada. Não!

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194

Eles perceberam que eles também podiam participar da vida da universidade. E a

universidade passou a ser uma coisa mais quente, mais gostosa, né! E a imagem, obviamente,

foi extremamente positiva, porque quando as pessoas falavam na UATU, no Mackenzie, em

todo lugar que eu ia tinha assim, um peso muito grande, uma importância muito grande.

Porque eu tinha uma consciência muito clara, que nós não tínhamos que atender a penas as

carências econômicas e falo isso porque na universidade, praticamente todos tem bolsa, 2/3 é

custeado pelo Instituto. Então você pode ser rico, você pode ser pobre, você vai pagar a

mesma coisa, então não tem bolsa, mas tem bolsa pra todo mundo.

Mas eu falo de outros tipos de carência que esses segmentos que a população tem, então isto é

uma coisa extremamente importante, eu era sensível naquele momento, sou até hoje, mas

naquele momento especificamente eu falei: poxa vida! Nós temos o espaço. Nós temos

condições de desenvolver esse programa. Nós temos pessoas interessadas. Nós temos recursos

humanos que são os professores, os melhores que nós temos. Meu deus, porque não juntar

todas essas coisas e ousar, ousar. Eu acho que foi uma experiência ousada. Foi uma

experiência extremamente criativa. Claro que eu corria o risco de não dar certo, claro que

sim, claro sim, mas o risco de dar certo era maior. Isso também eu tenho clareza.

E o mais importante que isso é que aquelas, primeiras pessoas com as quais eu tive contato,

ou elas vinham aqui tendo a universidade como coisa menor, elas mesmo saíram e não

voltaram mais. Permaneceram aquelas que entenderam a nossa proposta.

E outra coisa que eu posso dizer de importante. Os eventos que a gente fazia. Por exemplo, na

semana de voluntariado, de várias empresas, a gente fazia parcerias, muitas delas

participaram desses eventos, elas ficaram maravilhadas de acreditar que o trabalho delas

como voluntárias, que fosse um dia, dois dias, mas era um trabalho importante. Muitas

passaram a fazer parte do grupo de voluntários, eu abri o curso que a Renata deu, que era

justamente sobre voluntariado. Que é ser voluntário.

Então, teve muitas que tinham tempo ocioso, fizeram esse curso eu sei que tão trabalhando no

voluntariado até hoje.

Então, foram assim, são experiências interessantes, mas são experiências que no todo, nem

haveria a possibilidade de registrar tudo. Foram experiências extremamente ricas.

Se me preguntassem hoje, o que que eu julgo de mais importante nesses quase 21 anos de

Mackenzie, que pese o fato de eu achar que estar na pós graduação, de ter vindo para cá pra

pós graduação em 92, que seja uma coisa importante, mas o retorno que eu vi desse programa

foi uma coisa absurda, tanto que quando eu fui Decano de Extensão, logo depois eu fui

Decano de Extensão. Decano é a mesma coisa que Pró-Reitor, é que na época a nomina não

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195

podia ser Pró-Reitor. Eu expandi os programas de extensão, não só da Universidade Aberta,

mas de vários outros programas, pra toda Universidade daqui e dos outros campi, né! Então é

uma coisa que já está dentro de mim, eu sou assim por excelência extencionista.

Eu não acredito que o conhecimento produzido deva ficar aqui dentro.

Eu não acredito que o que a gente pesquisa deva ser alguma coisa estéril.

Esses compromissos, que eu tenho sempre com o social, mesmo pela minha própria formação

ai fora como gente, determine isso.

Eu acredito que a Universidade é um caminho, um espaço privilegiado pra você se qualificar,

mas, mas pra você fazer mais.

Se eu fiz USP, se eu tenho doutorado de USP, nunca paguei nada pelo meu doutorado, o

mínimo que eu tenho de fazer é partilhar esse meu expertise com pessoas, principalmente

pessoas, que estão nesse grupo mais carentes. Pessoas de mais idade, pessoas sem noção do

que é cidadania, pessoas que são pobres. Eu acho que isso é um papel fundamental,

principalmente numa Universidade Comunitária.

Então nesse ponto eu acho que essa experiência de extensão num programa maior como o da

UATU, mas ele se estendeu quando eu fui Decano, pra outros programas também

interessantíssimo.

A Cartilha do Cidadão feita em quadrinhos, feita pela faculdade de direito.

A Cartilha dos Direitos Humanos. Direito constitucional também, feita em quadrinhos.

Nossa! Foram tantos, tantos os projetos em parcerias com os órgãos públicos e particulares,

que eu precisaria, assim, um tempo pra pegar esses registros de todas essas coisas.

Muitas coisas estão registradas no Decanato, mas tem muita coisa ainda que foi feita, né!

Então eu acho que foi uma experiência e tanto.

E qual era a minha preocupação, quando eu deixei a coordenadoria da UATU.

A minha preocupação era, quem vai me seguir? Porque não só uma pessoa que fosse

competente intelectualmente. Eu tinha de ter alguém com esse perfil. Com esta coisa mais

calorosa, mais amiga, de estender mesmo a mão e trazer para.

E ai a Misa foi uma das pessoas que eu indiquei, ela tinha um perfil extremamente

interessante, sempre foi uma moça assim, muito gostosa de se relacionar. Foi uma indicação

minha sim e acho que não errei.

O que eu lamento. O que deu errado. Não. Não é nem o que deu errado. É que nós

precisaríamos de uma estrutura maior pra Universidade Aberta. Porque já nas minhas mãos

ela havia se tornado muito maior do que muitas unidades aqui dentro. É obvio.

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Tínhamos muito mais alunos na UATU do que em muitos cursos. Muito mais professores

naquela época, doutores e mestres na UATU do que nos outros cursos.

Isso era um indicador interessante.

E um programa dessa natureza ele precisa cada vez mais de sustância. Cada vez mais de

apoio institucional. Então, lutar, por exemplo, pra ter uma sala só deles, é de ter registro

absoluto de tudo, não no decanato apenas, mas deles. De ter não 1, 2, 3 secretárias. Não

importa quantas. Não só a Misa, a Misa, coitada, ela faz o máximo que ela pode, mas ela tem

de dar aula, ela tem de coordenar, ela tem de fazer 200 coisas, é o que você tá vendo, nós

todos temos de fazer (...) e lá toma muito tempo, porque aquele público, ele quer ser atendido

pessoalmente. Ele quer ser olhado nos olhos. Eu não tô lidando com um público qualquer. É

um outro público, que, precisa sim de atenção.

Quantas vezes, eu ouvia das pessoas mais ricas, atitudes extremamente arrogantes e

prepotentes.

Eu lembro da primeira vez que eu entrei no prédio 11, eu fiquei como pedel, sentada no

corredor e elas entravam e falavam pra mim. Olha moça! Precisa apagar e lousa. Não tem

problema. Eu ia. Sem nunca ter dito. Olha! Você esta lidando com a coordenadora que tem

pós doutorado, nunca falei isso! Nunca. Nunca.

Elas foram descobrir isso aos poucos.

Mas em nenhum momento elas tinham ideia de quem eu era ali dentro.

Porque que ia pros corredores. Porque que eu ia pros toaletes. Porque que eu ia pras

lanchonetes. Porque eu queria uma observação mais detalhada do comportamento daquele

público.

E perceber muito bem de como aquelas pessoas mais pobres, elas eram também mais

humildes e exigiam menos, e as mais ricas, pela própria postura, elas eram mais altivas. Mais

prepotentes. Como se dissessem com as semióticas outras, não apenas da palavra. Você sabe

com quem você está falando?

Eram elas que não sabiam com quem elas estavam falando.

Mas também eu não as culpo porque elas são produto de uma cultura, de uma cultura ainda

que tem ainda a mentalidade de que aquele que é simplesinho, que não se coloca, que não tá

cheio de grifes, que sorri pra todo mundo, é alguma coisa menor.

Eu me lembro que uma vez eu estava num elevador e, eu entrei no elevador e o casal estava

falando português e quando eu entrei eles começaram a falar alemão. Ai eu morri de rir

porque quando parou o elevador, eu que me dirigi a eles em alemão.

Quer dizer, era uma coisa impensável.

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197

Em outra oportunidade, eu estava num lobby de um hotel, numa recepção, num Check-in,

Check-out, essas coisas e, a moça tinha um inglês péssimo e não entendia o que o americano

queria dizer, ele tentava se explicar e não saia e eu tava do lado e falei. Can I help? Ouve um

espanto. A moça não conseguiu controlar mais o você. Como se dissesse. Poxa quem é você?

Não é?

Então as pessoas na sociedade, elas decodificam muito rapidamente pelas linguagens do

corpo, vestuário, classe social a qual você está.

E ai, é inconscientemente, por hábitus mesmo, produzidos pelo meio social, elas te

discriminam até com o olhar. Elas não precisam dizer com quem você está falando. Mas na

forma de olhar, elas já te arrastam.

Então, essa percepção minha, dessas diferentes linguagens, desses diferentes relacionamentos.

Foi uma coisa assim, muito poderosa pra eu fazer os acertos e ter ali, na coordenação,

alguém que tivesse a paciência suficiente pra lidar tanto com pessoas extremamente

arrogantes e prepotentes, quanto aquela pessoa extremamente humilde e que era incapaz de

exigir o que quer que fosse.

Então é uma experiência, pra quem trabalha lá dentro, de uma envergadura, de uma riqueza,

que nenhum laboratório de psicologia pode oferecer.

Você começa a entender o humano na sua mais ampla dimensão.

Você começa a observar a importância de todas as linguagens que a pessoa usa pra se

relacionar.

Eu tive, uma vez, uma experiência interessante, que na mesma sala, tava a patroa e tava

empregada doméstica. Interessantíssimo porque naquele espaço elas eram extremamente

iguais. Não havia distinção nenhuma, de ordem nenhuma.

Quer dizer, uma acabava descobrindo a dimensão humana da outra e não mais a dimensão da

patroa e a patroa da empregada.

Imagina o quanto isso afetava as relações. É isso. Eu acho que foi uma experiência

formidável. Pra elas também, tanto que eu sinto que elas tem carinho por mim até hoje.

Elas se referem a mim, elas lembram de experiências que foram muito marcantes, mas elas

acham que foram experiências muito marcantes só pra elas. Não. Não foram. Foram pra mim

também.

Foram pra mim também, porque mostrou inclusive pra universidade que havia um caminho

pra universidade se colocar na comunidade de uma maneira politicamente mais acertiva, mais

correta. Que não era só através da religião, porque quantos judeus eu tenho aqui, vários. Não

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era só através da religião. Mas era através do humanismo, era através de ter um

comportamento ético com todos. Só isso. Ninguém quer do que isso.

As pessoas querem ser acolhidas, queridas, amadas, aceitas, tá! As pessoas só querem isso.

Ricos, pobres, pretos, brancos, velhos, moços. Eis o segredo.

Então não adianta colocar uma liderança na UATU ou na universidade como um todo

autoritária, que não funciona.

O chicotinho funciona? Sim. Você acaba respondendo a uma exigência do seu “superior”?

Sim. Mas nutre uma coisa ruim que é ressentimento, a raiva, é a má vontade. Porque que eu

tenho de fazer isso! Poxa! Porque eu tenho de fazer relatório. O meu tempo eu preciso

estudar. Quer dizer! Mas se você tem um chicotinho atrás, você faz. Mas não alimenta sua

alma de emoções positivas.

Ao passo que numa universidade como a UATU, num programa desse, mostrou

tranquilamente que você respeitando o outro, você permitindo que o outro exponha sem medo

de ser punido. O tempo todo sendo olhado. Você permite uma relação muito mais gostosa e

você não alimenta emoções de maledicência, de inveja.

Duzentas vezes eu dizia pra eles, olha! Cada um de nós tem uma estrela. Cada um de nós tem

uma graça. Cada um de nós tem o dom. Ninguém é perfeito, ninguém tem tudo. Eu posso ser

ótima numa coisa e péssima em outra. Eu posso ser pior ainda em outra, mas eu posso ser um

pouquinho menos péssima ou “menos boa” em outra.

Quer dizer: Mostrei a relatividade. Como nós somos. Mais importante do que isso, como nós

somos seres incompletos e como é deslocada qualquer tipo de prepotência, seja intelectual,

seja social, seja econômica em qualquer espaço. Porque nos dias de hoje, principalmente,

você não sabe com quem você está falando. Você não sabe.

Eu acho que contei pra você a experiência que eu tive esses dias no paulistano, do cara,

psiquiatra, que foi falar. Ele ficou sem voz, porque num primeiro momento, alguém como eu.

Quem era eu? Alguém que tava ali, no cantinho, ouvindo.

Não passava pela cabeça dele que naquele grupo elitizado, de um clube rico, pudesse haver

alguém que tivesse cabeça. Preconceito dele também. Porque hoje você não sabe com quem

esta falando.

Olha o Presidente do Tribunal superior. O Barbosa. Um negro, que teve uma infância difícil.

É um homem que fala fluentemente 4 línguas estrangeiras. Pois muito bem. Se esse negro

tiver sem a roupa dele e sem as pessoas conhecerem a função dele, ele vai ser tratado com

alguma coisa menor. Resultado de uma cultura escravagista que nós tivemos, fomos o último

país a libertar os escravos. O que que ele é. Um negro. Apenas um negro.

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Então, você não vai mudar, você não tira os preconceitos e atitudes, isso não muda de uma

hora pra outra.

Isso que eu to querendo dizer, que num programa que aceita todo mundo. Você não sabe.

Então não subestime. Porque você não sabe quem esta na sua frente.

Como são muitos judeus aqui, quantas experiências eu tive com judeus que passaram pelo

campo de concentração.

A última sobrevivente lembra da Lista de Schindler, a Ulaman Wilhelm foi nossa aluna.

Então, quem sou eu, na minha arrogância, pra dar uma aula, achando que é a melhor aula do

mundo, sobre campo de concentração, se eu tenho ali vários que passaram pela experiência e

que podem me dar detalhes, que não estão registrados nos livros oficiais.

Eu acho que é uma experiência criativa, no sentido de ter proposto um modelo novo. É um

modelo novo que eu propuz. Muito distante daqueles modelos que eu via nas outras

universidades com relação a oferta de cursos de programas.

Foi um modelo ousado porque podia dar errado sim, podia. Mas eu apostei que não iria dar

errado.

Durante os três anos que eu coordenei da UATU, eu respirava UATU, eu almoçava, jantava

UATU.

Não que eu necessitasse, que eu fosse paga por mais das 40 horas. Não. Mas não havia

momento que eles não me encontrassem pelo campus zanzando e fazendo coisas pra UATU.

Quer dizer, o tempo eu vivia concentrada na UATU.

Foram 3 anos dedicados exclusivamente a este programa. Todos os dias, as vezes fim de

semana porque ia pra Campos ou tinha passeio e nunca ninguém me viu me queixando. Pelo

contrario, eu fazia isso com enorme prazer.

Não é pelo fato de eu já ter terminado o pós doc e enfim, já ter (...) que eu achava que poxa!

Eu é que me esforcei, magine coisa menor, nunca me passou isso pela cabeça, pelo contrário,

é a coisa que eu mais tenho orgulho aqui dentro.

No geral, é um trabalho que eu fiz na UATU e o fato de ter institucionalizado a extensão

Mackenzie. Não havia extensão Mackenzie. Quem institucionalizou a extensão fui eu. Isso tá

ai na biblioteca, no livro. Então é a experiência que eu conto no livro.

Essas são realmente as grandes experiências e tem outras experiências, que são grandes, mas

não tão grandes quanto essa, porque não teve o impacto que eu esperava.

É com relação a você estar ajudando a formar mestres e doutores. Mas isso é partilhado com

vários. Não é uma coisa que eu reconheça como meu trabalho, essencialmente meu trabalho.

E a UATU não, eu reconheço em vários aspectos a minha cara.

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200

Nos programas de extensão eu reconheço aquilo que era meu pessoal, ali.

Pra mim não significava, eu nunca vi, nunca mesmo, é pouco, não interessa, mas eu nunca vi

um adicional de função, quanto é que vinha ou deixava de vir. Eu nunca, nunca me preocupei

com isso.

Eu fazia sim, acredite se quiser, por amor a arte. Uma dedicação absoluta e exclusiva.

Agora, que eu tenho algumas coisas de temperamento que são esquisitas. São. Eu sou

sistemática. Eu programo na minha cabeça algumas coisas e assim: quando eu sei onde eu

quero chegar, eu programo e eu chego. Eu chego. Pode é claro ter surpresas, uns acidentes de

percurso. É claro que pode. Mas eu sou persistente. Determinada. Nada me derruba. Nada me

derruba.

Antes de ontem, eu vim com uma crise hipertensão, mas vim. Eu estava aqui, porque eu tinha

meu compromisso, assumi. Acabou.

Tomo meu remédio e acabou. As vezes até sou ousada demais, porque tem certos programas,

certas ações, que se você não tiver determinação, elas não vão acontecer, e ai você diz, não

consegui, deu errado. Deu errado porque não teve determinação.

Então eu acho que você tem de criar, principalmente pra programas dessa natureza, não é

criar motivação, motivação você tem de ter, tem de ser uma coisa intrínseca.

Você tem de criar, você tem de ter seu planejamento. É uma coisa nesse ponto de disciplina.

Eu tenho tempo pra fazer isso e eu vou fazer isso.

Quando eu percebi que a minha contribuição na UATU tinha sido encerrada. Eu fui a primeira

a chegar pra diretora e falar, a partir do ano que vem eu não ficarei mais na UATU. Naquele

momento o meu papel tava encerrado.

O que tava feito, já tava feito, que outros viessem e complementassem ótimo. Ótimo, mas a

minha contribuição, por grande ou pequena que fosse, o que eu podia fazer, fiz o melhor que

eu pude naquele momento.

O que veio depois melhorou aqui, melhorou ali, teve ajuste aqui, teve ajuste ali, mas ainda

precisa fazer-se muito por esse programa.

Precisa se fazer muito e, acho que é um modelo a ser, sem gozação, exportado. Exportado.

E ai a capacitação dos coordenadores, dos professores, não é tanto no sentido de prepará-los

para ter um comportamento fracional o tempo todo. Não. É educá-los pra sensibilidade.

É educá-los acima de tudo pra sensibilidade. Aprender a lidar com gente. E perceber que

gente quer ser tratada como gente.

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201

E que, quando você trata qualquer um como máquina, como não são máquinas, essas

pessoas, elas, se irritam. Tem uma reação que não é melhor e fazem coisas que não são boas.

É muito simples, não tem segredo.

O que que você quer saber mais?

Meu Deus.

Meu Deus... é você vai ver.

Faça isso, vê o que que te sobra. Várias vezes você esteve comigo quando eu comentei sobre a

UATU, então, os detalhes você tem todos.

Todos os alunos mencionam a sua falta. Todos eles lembram muito da Senhora, assim

como outas professoras, a Renata e a Patrícia. O que que a Sra. acha disso. É carisma?

É carisma, é carisma e o dom da graça. O dom da graça todo mundo tem. Cada um tem seu

carisma.

Digamos que eu encontrei uma atividade profissional da qual eu sou extremamente autentica,

verdadeira e faço o melhor que eu posso. Alias, em tudo. Não adianta falar assim, ah tem

carisma e só carisma resolve. Não. Tem de ter carisma, aproveitar esse carisma e ter

competência.

Eu adoro cozinhar. Pois muito bem. Eu cozinho desde os 5 anos de idade. Sempre gostei de

cozinhar. Não significa que eu sou a melhor cozinheira do mundo, nem nada. Significa que a

cada momento eu estou buscando aprender mais coisas a esse respeito.

Então na UATU foi o momento de me ensinar a aprimorar minha relação com as pessoas.

Então, se existe carisma, é no sentido de eu ser extremamente afetuosa e acolhedora com todo

mundo. Isso, você sai na universidade inteira, você vai observar que todos os funcionários,

todos me conhecem, mas por uma simples razão. Porque se você passa comigo pelo campus

eu vou cumprimentando todos. Eu vou brincando com todos. Eu vou sempre dando um

sorriso que seja, um thauzinho que seja. E as pessoas querem tão pouco. Eu não faço isso

porque eu não sou candidata a nada. Eu faço isso porque eu sou assim aqui, eu sou assim na

minha casa, eu sou assim com as pessoas do meu relacionamento.

É meu. Esta característica é minha.

Se isso é uma graça na nossa cultura, então, chamemos que isso é um dom carismático. Mas

não é uma coisa falsa. Não é uma coisa produzida.

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202

Chega a ser chocante por uma camada mais elitizada que não compreende que eu os trate

exatamente no mesmo padrão daqueles que estão muito abaixo.

Então nesse ponto, sim.

Eu acho que passa a ser até, nossa!

Uma vez aqui, nesse andar mesmo, eu segurei o elevador, estávamos passando, eu, mais uma

outra professora e vinha uma funcionária com balde. Eu segurei pros 2 claro, professores.

Como eu faria normalmente. Só que eu segurei também pra pessoa. Pra moça que estava com

o balde. Não, não, pode soltar, foi o comentário da professora. Não, não, pode soltar. Como

pode soltar?

Noutra ocasião, eu fui pegar o elevador, nesse edifício mesmo e, tinha um juiz, professor da

faculdade de direito. Nós temos 4 elevadores, 2 do lado de lá, mas 1 é de serviço, eles usam

acolchoado pra (...). Chegou, eu entrei e perguntei. O Sr. não vai entrar? Não. Esse ai é de

serviço.

As pessoas não são culpadas. Elas são resultado de uma sociedade que permitiu que alguns

tivessem muitos privilégios que a maioria não tivesse nada.

Então você olha pras pessoas humildes, elas tem até medo de olhar para o outro. Elas tem

medo de encarar. Elas tem vergonha. Quer dizer, tem medo de suspirar perto do outro.

Até o momento em que, numa situação, como esse programa da UATU, elas percebem que o

outro que está do lado (...)

Ás vezes agem assim até por medo de amar e serem amadas.

Essa arrogância esconde às vezes uma personalidade frágil.

Não sabe com quem você tá falando?

Principalmente com a experiência da UATU, eu percebi que, justamente aquelas pessoas,

principalmente os intelectuais que se colocavam mais acima, eram os mais carentes. Eram os

mais “desprotegidos” pessoalmente e que, atrás do belo currículo lattes, havia alguém que não

tinha currículo afetivo. Não tinha mais com quem tomar um cafezinho sem compromisso,

bater papo, falar bobagem, confessar uma vilania, né, e é uma pena porque somos pessoas em

tese.

Não adianta, por mais que eu goste da área, por mais que eu goste dos meus livros, da minha

música, pombas, existem outras personagens dentro de mim e outras pessoas com as quais eu

preciso me relacionar.

Imagina se eu chegar pros meus amigos jantando e querer agir como professora ou como

orientadora num jantar, eu vou ser uma pessoa intragável.

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203

Eu tenho amigos até hoje que nem se quer sabem que eu sou professora universitária. Eu acho

isso ótimo. Ótimo. Perfeito.

Esses dias num cabelereiro do clube, a moça olhou pra mim e falou assim: nossa! Mas essa

daqui é você?

Ela tinha pego na biblioteca o livro.

Mas essa daqui é você?

Eu falei é!

Nossa! Você já tem um livro?

Pensei comigo. Tenho. Tenho. Parou por ai. Porque as pessoas, elas (...). Que me veem toda

pirua numa noite de Rotary da vida, ou enfim, num espaço social, jamais imagina. Só falta ser

loira e já fui. Mas jamais imagina que tem um cérebro.

O máximo que eles podem dizer; olha! Que Sra. simpatiquinha e como tá arrumadinha, mas

não imagina o que vem atrás.

E é isso que eu tenho mostrado o tempo inteiro pra todo mundo aqui no programa, fora do

programa, pra todos vocês, que nós somos muitos. Nós somos muitos.

E você só amplia o seu espaço vital, quando você se desarma. Quando você começa se

relacionar com todos e você só ganha se relacionando com todos. Você não perde nunca.

Nunca. Você ganha experiência, você ganha conhecimento, sabe. Porque a pessoa que fica

muito no pé, só vendo defeito, defeito, defeito, chega num determinado momento esses

defeitos que ela viu no outro cria uma barreira que ela fica sozinha. Não. Todos tem defeitos,

eu sou a única perfeita. Todos são ignorantes, eu sou a única sabia, sou a única intelectual.

Isso não é verdade. Não é uma verdade.

Tem uma professora aqui, acho que eu te apresentei, a professora Eliza, uma senhorinha já, é

uma sumidade, um doce de pessoa, um doce de professora. Ela é professora do meu alter ego.

Quer dizer, é a professora em que tem uma doçura necessária, o Paulo Freire, o Paulo Freire,

que eu tive a experiência de conhecer e ter aula. Paulo Freire é outro exemplo, de beleza

mesmo ele não era bonito, mas ele era bonito. Deu pra entender?

Era uma coisa tão forte que vinha de dentro dele, que você não via os defeitos. Quer dizer,

você via os defeitos físicos, mas eles ficavam tão menores, era uma coisa tão (...) que você

nem (...) e eu nunca vi ele em sala de aula, o Paulo Freire, qualquer ranço de ego inflado,

qualquer coisa nesse sentido. Nunca ví.

Se ele tava lá com os amigos, bonezinho dele, tomando cafezinho, conversando numa boa.

Eis a questão e dai sim, uma coisa importante.

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204

Dai apareceu a minha ideia também, no programa de pós graduação, de oferecer o curso,

pedagogia da sensibilidade.

Pedagogia da sensibilidade apareceu dessa minha experiência com a UATU.

Eu percebi que nós não tínhamos uma pedagogia da sensibilidade em nenhum nível. Que o

professor sempre era A Autoridade. O Personagem Principal dentro da sala de aula. O que

recebia ordem dos de cima e O que dava ordens aos abaixo.

E a pedagogia da sensibilidade quebra tudo isso. Ela mostra o outro lado das várias

dimensões nossas e, não é pelo fato de eu chorar, de estar mais triste num dia, mais irritada

noutro dia, que vocês vão me avaliar. Vocês vão perceber que são dimensões do humano. Só

isso. Só isso. Mais nada.

E como ser humano, eu não posso, não quero e, exijo não ser testada como uma máquina e

posso fazer conscientemente as minha opções.

Na medida do possível eu dirijo a minha vida.

Ah isso é panelinha agora. Você pode se aposentar. Não. Pelo contrario. Enquanto eu tiver

pique, tesão, vontade e condição, eu estarei fazendo exatamente aquilo que eu adoro fazer.

Tanto que eu voltei a dar aula na UATU. Poderia ter pego outra disciplina.

Tem filosofia e direito pra graduação e tem tanta coisa. Não. Eu dei uma disciplina pra

professora Aparecida Aquino. Eu tinha quatro no CCE, justamente pra ter oportunidade de

voltar a ter contato com esse povo em que eles foram sim a inspiração pra eu criar a

disciplina pedagogia da sensibilidade.

E acho que acertei. Acho que foi um tiro absolutamente certeiro e eu tive um desafio.

Nas primeiras turmas da UATU, as duas alunas minhas eram, 1 era filha e a outra mulher do

Chanceler que estavam na universidade. Então, e veja, e foi delas mesmo que eu tive o retorno

mais positivo. Porque eu poderia me aterrorizar e dizer: nossa! A mulher do Chanceler e a

filha tão aqui presentes, preciso tomar um cuidado. Não. Não. Pelo contrário, elas perceberam

o alcance daquilo que eu estava fazendo e adoravam as aulas. Elas foram as primeiras na

primeira turma a viajar comigo pra Campos do Jordão.

Então veja, era um programa que atingia a todos, sem distinção de qualquer natureza.

Acho que isto é o meu papel enquanto profissional.

O dia que você me ver voltada apenas pra uma elite, seja econômica, seja social, seja

intelectual. Você pode estar certa de que eu enlouqueci. Me interna porque esse não é o meu

perfil. Não adianta forçar.

Mostro sim, que eu posso estar de jeans, rasteirinha, sem maquilagem, cabelo sem lavar, sem

tingir e amanhã eu posso aparecer com salto 15, empiruada, cabelo pintado, chiquérrima. Mas

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205

eu sou a mesma. São personagens diferentes em situações diferentes e que, justamente pela

variedade de personagens é que fazem a minha riqueza como ser humano, como faz a riqueza

de todo mundo.

O militar, ele não pode dormir de farda, tá?

Então você tem papéis que você exerce e esses papéis tem até que ser certo ponto, que serem

respeitados.

Eu não posso vir dar aula de mini-saia. Porque? Porque não é apropriado. Mas se estou na

praia, pelo amor de Deus. O inapropriado seria eu estar formalmente arrumada. Espera-se que

na praia eu esteja de shorts, esteja de maiô, esteja de sandália havaiana. Seria inapropriado.

Então os papéis exigem da gente, semióticas diferentes e você ter flexibilidade pra isso.

Ótimo.

Agora, não haverá uma pessoa por apenas um personagem que ela é naquele momento,

porque eu não conheço as outras dimensões dela e a UATU permitia isso, da gente brincar

com essas várias dimensões e isso era mais do que formidável.

Volto a dizer, o exemplo acabado que eu vi essa semana, a capa da Veja, com a foto do

Barbosa menino.

Quer dizer, não da pra tirar a cor da pele. Não dá. Mas deu, pra ele sem falar nada, dizer pro

mundo, que ele não era diferente, que, pelo contrário, ele podia até se superar.

Eu não lembro qual foi dos Pedro‟s nas Rússia que ganhou de presente de um conquistador,

um negrinho e o negrinho foi trazido pra ele como se fosse um animal. As pessoas que

conquistaram o espaço na África, não sabiam que aqueles negros eram pessoas e pegaram

uma criancinha negra e trouxeram pro Pedro da Rússia, o Grande e deram pra ele. E quando

ele olha aquele “animal”, ele percebe que aquele animal aprendia com muita facilidade.

Só pra resumir a história, este “animal” negro, que ele ganhou pequenininho, se transformou

num grande comandante do exército dele.

Então, eis que eu acho assim, é uma experiência que eu adoraria ver contada sempre, porque

eu acho que, deu certo, ela pode ser replicada em várias situações.

Não é uma experiência especificamente para Brasil. É uma experiência que você pode

aplicar, meu Deus do céu, em qualquer parte do mundo. Em qualquer parte do mundo.

Você olha as políticas, por exemplo, voltadas pra idosos na Europa, você que são políticas de

exclusão, né! De exclusão, porque não estimulam a interação e transferência, pelo contrário,

a partir de 62 anos X, a partir de 70 anos Y.

O que tem de se fazer sim, é dar apoio e atender as necessidades das pessoas. Isso sim.

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Isso sim porque cada idade tem suas necessidades diferentes, mas imaginar que o indicador

cronológico é único, que sirva para excluir as pessoas, isso é de uma pobreza de espírito

assombrosa.

Você não quer mais saber.

Muito obrigada. Tudo o que eu pensava em lhe perguntar, a Sra. Foi automaticamente

respondendo.

Isso que eu falei pra você, porque essa é também uma forma metodológica que eu tenho de

entender o estudo de um fenômeno, é quando você pergunta menos, deixa que o entrevistado

fale, porque ele mesmo vai selecionando, ai se faltar alguma coisa, você pergunta.

Mas deixa porque as coisas vão brotando de acordo com sua relevância daquele que você

escolheu pra entrevistar.

Pode ser que você entreviste a professora Misa e a professora Eunice, sejam experiências

muito diferentes da minha. Apreensões do fenômeno muito diferentes da minha e ai sim, são

três pessoas com suas diferenças individuais.

Cada um é um.

Agora, como você tem oportunidade de estar comigo o tempo todo e ser minha orientanda,

você pode ratificar suas observações em loco nas várias experiências, que as coisas que eu

disse, são como elas são.

Não sou melhor nem pior que ninguém.

Não sou a carismática, tenho uma luz em alguns aspectos que pra esse programa funcionou.

Só isso.

Pode ser que pra outro eu seja péssima.

Mas pra isso sempre foi assim. Sim.

Características de personalidade são quase que imutáveis. Coisas minhas. Forjadas no meu

histórico de vida desde o nascimento, tá. Mas as pessoas são diferentes.

Mas quem dera a Universidade Aberta, tivesse mais gestores com esse tipo de carisma

voltado para uma pedagogia da sensibilidade.

E apostando sempre no outro, apostando que o outro pode ser um sucesso. Apostando que o

outro pode fazer e não deixando a peteca cair, ou seja, você ajudando o outro a tirar o melhor

dele, sempre com palavras de estímulo, sempre com sorriso, porque a pior coisa do mundo é

você destruir o outro com palavra.

Não você não chegará a lugar nenhum, você não vai conseguir, ta péssimo, não.

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207

Pode melhorar. Pode melhorar! Pode melhorar! E pode melhorar sempre.

Desistir nunca.

Nenhum do Premio Nobel que ganha, nenhum desses cientistas o faz sem tesão pelo que eles

fazem. Nenhum.

Então quando você escolhe na vida uma coisa pela qual você é apaixonado, o tempo flui.

Falar que eu trabalhava 100 horas por semana, pra mim isso não refletia em termos de salário.

Não ganhava um centavo nem a mais, nem a menos. Não refletia. Mas em termos de ganho

pessoal, era até maior, que o que vinha era menor.

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ENTREVISTA REALIZADA PARA COMPOR O ARTIGO APRESENTADO NO

WCCA/2012.

(...) Eu tenho uma amiga com 96 anos.

Como a atividade artística alterou sua vida após a UATU?

Eu comecei a frequentar a UATU pra aprender italiano, aprendi de tal forma que quando

cheguei na minha comunidade na Itália, eu falava italiano (não gramaticalmente correto), mas

eu me comunicava com as pessoas. Com a vinda pro italiano, eu comecei a descobrir outros

nichos e faço uma porção de cursos, inclusive artes, com a professora Denise (esqueci o

sobrenome dela) e com o professor (Rizolli) já estou na segunda etapa. Sempre visitei muitos

museus, sempre gostei demais, agora com um olhar um pouco mais amplo do que

anteriormente, eu via porque gostava, agora percebo coisas mais, que eu não percebia antes.

Por exemplo?

No último museu que eu fui, em Portugal, já vi diversas vezes o museu, mas os quadros do

impressionismo, estavam fazendo uma exposição especial, então dava pra perceber época e

detalhes que antes eu só via bonito. Ali eu via o trabalho que eles fizeram. Isso já faz um

tempo. Esses exóticos (da aula de hoje...risos) eu nunca vi, sempre os mais clássicos (não é

bem a palavra), mas o que a arte sempre trabalhou.

Quanto tempo a Srª participa da UATU?.

Já faz muito tempo (mais de 3 anos) que estou aqui e não perco nenhum semestre, estou

sempre pronta pra outros assuntos, então eu venho porque gosto muito.

A Srª pode falar um pouco da relação família antes e depois da UATU?

Bom. ! Somos só meu marido e eu, meus filhos tem outra vida, vivemos só nós dois, ele é

muito papo cabeça, ele dirige um curso de pós-graduação, tem 74 anos, ele da aula, tem

atividade cientifica na academia de policia, então se ele tem a mente aberta, eu também tenho

que ter pra conversar alguns assuntos.

Esta semana na academia de policia, uma palestra sobre a posição do negro no Brasil e o meu

tema na faculdade, minha aula modelo de sociologia foi o negro na cultura brasileira, então eu

pretendo ir lá, ele não gosta que eu me misture com as coisas de lá porque eu dou muito

palpite errado (pede pra não escrever isso...risos).

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Além da UATU a Srª frequenta outro curso?

Não. Eu me aposentei quando meu neto nasceu, ele tem 18 anos. Quando ele fez um ano eu

me aposentei, mas eu fiquei mais tempo do que um professor fica, porque era o que eu

gostava de fazer, era uma profissão prazerosa e gratificante, eu gosto muito.

Sua formação?

Sou formada em pedagogia e estudos sociais.

Como pedagogia no tempo em que eu me formei, tinha uma lista enorme de matérias que eu

poderia lecionar, inclusive matemática, que eu nem sei porque 2 mais 2 são 4. não tenho nem

ideia, tinha uma porção de coisas que eu poderia lecionar. Como os cursos de formação de

professor foram diminuindo, era o básico do meu estudo, eu precisei, por exemplo, fazer

curso de estudos sociais, pra poder dar aquilo que eu mais gostei. Educação Moral e Cívica,

OSPB, e conduzia o Centro Cívico da escola. Eu fiz teatro com eles (os alunos).

Tenho um aluno que tá na Alemanha, ele é o diretor do museu pedagógico de Berlim, ele é o

meu ponto positivo, de vez enquando eu vou lá visitá-lo.

Uma vez nos fizemos com uma amiga alemã que é casada com um brasileiro do meu grupo de

teatro, fizemos uma viagem pra Praga naqueles lugarzinhos de trem, que cabem só as pessoas

ali, nós fomos cantando o Saltimbanco de Chico Buarque daqui até lá. Nós ouvíamos, eles são

loucos (risos), porque era a nossa vida artística né.

Tenho uma honra muito grande, ele é diretor pedagógico do museu de arte, alias ele vinha

fazer uma entrevista aqui, ia dar uma aula no curso do professor, de tanto que eu falo dele, o

professor ia levar, mas não deu certo, ele tinha um compromisso religioso e não deu certo,

mas ele vai escrever um artigo, meu marido vai tornar técnico e vai trazer pro professor.

Numa próxima vez que ele vier eles vão se encontrar, um vai gostar muito do outro. São até

parecidos (fisicamente).

Então, e aqui é meu lugar de diversão, sabe. A professora não de arte, mas de italiano é uma

moça maravilhosa, ela nos faz ficar a vontade. O ano passado quando ela falou que não ia

mais lecionar, eu chorei na frente dos outros de perder a professora, ela ficou meio...

Agora ela vai deixar, tá com o curso mais adiantado, mas eu vou continuar. Aqui é melhor do

que um teatro, é melhor do que um cinema, só não é melhor do que uma viagem (risos), é meu

ponto assim de me firmar. Gosto muito de ler, então ainda tem mais essas condições, vou aos

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concertos da orquestra sinfônica. Nos primeiros 10 anos nós íamos todos os sábados, agora

vamos só em dois, porque também, tem outras coisas pra fazer.

Aqui em SP da essa oportunidade, Campinas, de onde eu sou, era um pouco mais

provinciano, balé demora um pouco mais pra chegar, o teatro, aqui é mais espaçoso, aqui a

cidade permite muito mais né.

Tem uma orquestra sinfônica da favela de Heliópolis, o Roberto Misupe (?) ele pôs o pessoal

da cracolândia, como coral de Jesus, qualquer coisa nesse estilo, meu, é uma coisa

maravilhosa. Tem gente que sabe fazer.

Como a Srª conta à relação amizade

Olha...esse ano quebrou um pouco, mas do italiano, por exemplo, todo final de ano nós íamos

no Ed Itália, uma vez no Terraço Itália, mas mais em conta era no restaurante. Todos os anos

íamos lá, mas esse ano falhou. Eu tenho amigas, já encontrei uma companheira de faculdade,

de política universitária com aula, não lembro, eu me encontrei com ela. Ela namorava o

tesoureiro e eu o secretário e éramos de Campinas. Retomamos a amizade aqui na UATU.

Minhas companheiras de italiano...

Aqui de artes ainda não ...só conversamos aqui, não tomamos café, mas antigamente todo

final de ano, íamos tomar um cafezinho lá embaixo. Na aula de italiano nos saímos para tomar

um cafezinho lá em baixo

Agora dispersou, umas ficaram com uma professora, outras com outra, então dispersou um

pouco, mas nos telefonamos.

Como a Srª descreve suas amizades antes da UATU e depois da UATU?

Bom, como eu era “estrangeira” (risos), de Campinas, era os amigos do meu marido e agora

um pouquinho mais independente. Ele não conhece, a não ser quando encontro na rua,

apresento. Principalmente a professora. Ah tem uma coisa interessante, eu moro aqui em

frente à Santa Casa e nós vamos todos os dias no Shopping, de repente tem uma me

cumprimentando, ah! ...da UATU, esqueci o nome, mas é da UATU, encontro à professora

Irene que também leciona no consulado italiano, nos encontramos no Shopping, às vezes pra

tomar café, então realmente preenche essa necessidade que a gente tem de contar.

Ainda mais que eu morava num apart-hotel, então era muito...agora se transformou num

prédio comum, mas são moços, médicos, não da minha faixa etária, são agradáveis e tal, mas

são de tomar café, não existe isso, a diferença é muito grande, eles estão trabalhando eu não

né´.

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Então assim, aqui é muito bom, eu recomendo pra todo mundo viu?

E tenho um medo que isso aqui feche. Quando você tratar do assunto diz que isso aqui é pra

eternizar. (risos-emoção nos olhos)

Que tipo de mudança a Srª pode pontuar que ocorreram na sua vida após começar a

frequentar a UATU?

Bom, como eu vou uma vez por ano a Itália, eu consigo me comunicar com as pessoas,

porque era difícil né. Era difícil, eu sabia uma ou outra palavrinha, uma frase e agora não,

...isso foi gratificante pra mim. CONSEGUI e tenho 72 anos né, não sou uma mocinha que

aprende fácil. Essa foi uma vitória. Porque as pessoas nos conheciam, sabiam o chocolate que

tomávamos naquele bar, o sorvete, mas não dava pra conversar e tal...

Eu já li romances em italiano, não tratado cientifico, romances, também não quero tratado

cientifico nem em português, né..(risos)

A Srª pode nos citar agrados e desagrados da universidade?

Desagrado só quando eles cortam os cursos, só isso.

O negócio é só prazer, sim tem matéria que a gente assina um pouco mais, o professor, o

estilo de dar aula, então, alguns eu me entroso mais e os professores...

Teve algum momento na sua vida que a Srª começou a perceber que estava

envelhecendo? Que a Srª olhou pra si e disse, estou envelhecendo? Existiu esse momento

na sua vida?

Só por fora, eu só envelheço por fora, ah sim aparecem doenças, a gente vai ficando feia, os

cabelos brancos e ficando doente também, né.

Os cabelos vão ficando atravessados, agora não tem um que não tente me convencer que eu

deva tingir essa porcaria desse cabelo, eu tô enjoada até. Mas eu sei, eu sou velha, não digo

que sou idosa, eu digo que tô velha, graças a Deus. Gosto de ser. Não tem outra opção.

Quando a Srª parou de trabalhar, quando aposentou. A Srª se sentiu “mal”, pensou

agora vou ter que parar de trabalhar, eu parei, não consigo mais...?

Eu senti porque deixei a escola, mas eu vim cuidar do meu primeiro neto aqui, minha filha é

perita criminal, nós achamos que criança precisa ser cuidada, não que nós tivéssemos um

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sucesso maravilhoso, eu vim cuidar dele aqui. Fechei minha casa, confortável, bonita, vim

morar aqui nos muquifozinhos, numa coisa mais...deixei meus amigo lá, uma vida, né.

Eu consigo conservar amigos em diversos lugares, mesmo morando em cidade diferente, eu

conservo.

Depois que ele cresceu (o neto). Não sei como é que eu descobri isso aqui viu. Eu sei que eu

vim e estou aqui, gosto muito.

Como a Srª define sociedade, lazer e amigos aqui na UATU? Existe uma definição pra

estes três pontos?

Olha! Eu acho que por causa da idade e da situação que cada um de nós alunos tem, então eles

já estão estruturados, amigos, família, às vezes moram longe, então fica mais restrito ao

período e a vizinhança, fica mais restrito.

Não é como quando a gente tava na escola, que eu tenho minhas amigas da escola, do curso

normal ate hoje né.

Mesmo que a gente não se veja muito ainda é, mas, primeiro que a gente vai esquecendo, isso

é um defeito. Meu marido sempre ficou bravo comigo e agora com a cabeça que ele tem ainda

ta..opa..opa...já chega um, você não pode esquecer das coisas, você é um trabalhador, né,

então, fica um pouco restrito aqui dentro da UATU.

Então, se encontra na rua, conversa e tal, mas não continua a vida social, era mais fácil

quando você é mais nova né. Às vezes à distância. Eu como moro aqui pertinho fica mais

fácil, mas os outros moram mais longe, tomam condução. Então às vezes eu tenho uma amiga,

ela ficou doente, eu ate telefono, ela ficou no semestre anterior todo sem frequentar e este

também porque ela não pode mais. Com ela eu mantenho contato. Tinha uma outra também,

ela tinha um trabalho interessante, ela cuidava de tuberculose, era voluntária, eu conversava

também, mas as pessoas não retornam, eu acho que to incomodado. Agora essa que ta doente,

eu sei que ela precisa do meu telefonema, do meu papo furado.(risos)

Vocês fazem excursões, turismo, visitam exposições pela UATU.

Eu não faço, porque não gosto de dividir banheiro com quem tenho relacionamento

superficial, por isso eu não vou. Gosto de banheiro particular.

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Mas em teatros, lugares próximos...

Olha...eu nem sei quem era a professora. Nos fomos no Ibirapuera, uma das exposições, acho

que era dos músculos (...), ai eu fui em duas exposições aqui, mas dormir fora não, com

pessoas de conhecimento superficial, eu não vou.

Não no sentido de viagens longas, nestas próximas mesmo. O que a Srª achou dos

passeios. Do Ibirapuera por exemplo. A convivência, o sair juntos, o grupo...

São ótimos. Mulher você sabe como é né. Mulher conversa até com parede, poste, foi

interessante, comentava, cada uma viu sob um aspecto, então (...).

Foi uma exposição de arte, eu não lembro.

Mas o clima, foi interessante, é diferente. Você ir numa excursão com crianças por exemplo,

você...ou ensina (eu não estou mais na época de ensinar), e depois não tem diálogo. Mas como

essas aqui, depois a gente vem comentando né. Cada uma percebeu alguma coisa, bem

interessante. Pessoas que já viveram. Faixa etária, mesmo que não seja tão próxima, são

pessoas que já viveram.

Em relação à qualidade de vida. O que a Srª poderia me contar/descrever depois que

começou a participar da UATU. Mudou?

O melhor é encher a cabeça de coisas boas. É o melhor que tem. É ter o compromisso, tal, tal

e tal dia, tem uma atividade. Isso. Mas principalmente a aprender, eu comecei a aprender

desde o jardim da infância, de repente eu paro.

O meu marido é um desafio pra isso, porque ele ta sempre aprendendo, ele tá sempre

aprendendo. Como não sou da área dele eu falo pouco e falo bobagem (risos). Ele acha que

eu sou um pouco crítica, ele não entende a coisa, ele não me deixa assistir uma palestra dele.

Então, assim oh, nos vamos pra Portugal, ele da palestra lá, eu fico pra fora, o pessoal acha

gozadissimo. Não entende. Porque como eu tive muita didática.

Tinha uma didática adequada, sempre inventei coisas novas, as aulas eram diferentes uma da

outra. Eu acho que quando você da aula, fala alto, fala baixo, fala com um, com outro...o

fulano... ou mesmo com o olhar, e ele usa o tom de voz baixo, eu falo Aroldo entusiasmo,

força no que você ta falando.

Ele achava que eu tava criticando, e eu estava ensinando, ele não entendeu o tipo da coisa,

então, de vez enquando eu fico ouvindo, como lá em Portugal, eu fico fora do lugar da

palestra, mas fico de orelha em pé, tem microfone e eu ouço um pouco, mas não consigo

ensinar nada não.

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A minha técnica didática era muito variada. Era uma coisa que eu sabia e ele não. Ele achou

que era crítica, não era crítica, era auxilio.

Transmissão daquilo que eu vivi, eu sou filha de professora e neta de professora, minha mãe é

da segunda turma de normalistas de Casa Branca. Escola de Casa Branca, era famosíssima.

Tinha o Caetano de Campos, Carlos Gomes em campinas e Casa Branca, só essas três pra

formação de professores. Ela nasceu em 1914, você já viu há quanto tempo ela estudou né?

Então, é inato, eu sempre estudei muito pra ter, sempre quis fazer diferente. Acho que como

um artista de teatro, a gente faz teatro na aula. O artista vai sempre procurando uma forma

melhor e eu sempre tive isso e sempre consegui.

Eu fazia por exemplo, em história, era muito decoreba, então era assim. Por exemplo, eu tinha

assim os presidentes da república velha e os acontecimentos da república velha, como é uma

coisa muito mecânica, depois a gente trabalhava o assunto, então era assim José do conserto

nº 1, Floriano Peixoto nº 2, etc. era uma forma de tornar mais alegre o que era maçante e às

vezes até incompreensível.

Fiz campanha uma vez na 8ª série da minha escola, trabalhei o ano inteiro pra nós irmos a

Brasília pra ver a assembleia constituinte. Nós juntamos dinheiro, fizemos um estrago lá pra

pegar dinheiro. Meu marido arrumou alojamento em Brasília de graça, e comida também. Nós

não conseguimos o dinheiro pra pagar o ônibus. Essa é a minha maior frustração profissional.

Ai sabe o que que eu fiz? Vamos conhecer o RJ, não era pra aprendizado, mas era um

fechamento da coisa né. Saímos de Campinas a meia noite, meu marido foi me levar,

combinamos com os pais que eu ia telefonar pra ele e ela ia telefonar pra 2/3 pais quando

estaríamos provavelmente chegando, no último posto de gasolina da estrada antes de chegar

ao RJ eu telefonaria.

Lá fomos nós. Fomos no Corcovado, quando chegamos lá começou a chegar gente e eu falei:

olha nós chegamos aqui primeiro e vamos entrar no vagão em primeiro lugar, eu estou com

uma escola e a minha responsabilidade é muito grande.

Ai quando saímos um taxista disse que meu ônibus tinha batido no carro dele. Mentira!! Ele

queria que eu fizesse uma coleta de dinheiro com as crianças. Eu falei, se tivéssemos dinheiro

a esta hora estaríamos em Brasília na Constituinte não aqui no Corcovado. Ele insist iu. Como

meu marido tinha mandado um policia com 2 revolvão. Eu falei pra ele. Segura o ônibus e as

crianças que eu vou telefonar Dr beltrano, Dr cicrano...rarara. eram os grandes delegados do

RJ. Sabe o que aconteceu? Nem precisei o cara foi embora.

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Fomos no corcovado, pão de acuar, museu da 5ª da boa vista, no museu da 2ª grande guerra

(eles não gostaram muito), pegamos a balsa pra ir até Niterói, o ônibus foi nos buscar pra

podermos ir pelo mar, tantas outras coisa mais, Copacabana e voltamos no outro dia, no

horário que tínhamos saído, sem dormir, sem nada, porque eu tinha que ficar atenta com eles.

Era comida, não sei oq, tatatã...meu marido disse que dormi de bruços, sem me mexer a noite

inteira (risos) ele lembra até hoje.

Isso aqui é minha segunda casa, eu não poderia ficar longe de escola. Isso aqui é a

continuação da minha atividade profissional. O meu ambiente profissional.

E a filosofia, eles são religiosos, eles tem no-hall pra levar uma coisa dessas e o mais

interessante, eu já vi o pessoal (os velhos né) que vão à PUC, na USP, eles entram como se

fosse universidade, aprendem e vão embora.

Aqui não. Aqui tem vida. Tem amizade. Em alegria.

Esse professor...não preciso dizer nada né..ele nasceu 20 anos depois de mim e entrou na

mesma faculdade que eu estudei ...

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Entrevista Coordenadora da UATU – 11/10/2012

Eu gostaria que a Srª se identificasse e falasse um pouco sobre sua formação.

Meu nome é Maria Elisa Pereira Lopes (...). Minha formação foi no curso de pedagogia, eu

me formei em 1983 na PUC São Paulo. To aqui no Mackenzie a 19 anos, né! Sempre

lecionando no curso de pedagogia, nas licenciaturas e em alguns cursos de Lacto Sensu.

Meu mestrado é em estudos do desenvolvimento.

Eu assumi a coordenação da UATU em 2007, então de lá pra cá, muitas mudanças

aconteceram.

A UATU é um programa de extensão do decanato de Extensão vinculado ao CETF – Centro

de Educação Teologia e Filosofia.

Hoje a UATU é um programa de extensão muito grande. Nós temos sempre em média de 800,

já chegamos a 800, 900 matrículas, né. Nós temos um número menor de alunos e um número

maior de matrículas. Porque o aluno que faz matrícula na UATU, ele faz matrícula em 1, 2, 3

em quantos cursos ele quiser, né! Então, hoje, nesse semestre nós temos em torno de 600

alunos perfazendo um total de 820 matrículas, né?

E o meu trabalho aqui compõe toda a organização da UATU, desde ir atrás de professores pra

ministrarem os cursos da UATU, ouvir nos alunos da UATU, que cursos eles gostariam e ai

eu saio a campo aqui no Mackenzie procurando esses professores e nesse semestre nos

fizemos oficialmente uma pesquisa pra saber o que eles gostariam de (...) cursos eles

gostariam, então em cima dessa pesquisa a gente já tá organizando o primeiro semestre de

2013, né!

Nós resolvemos coisas recentes da matrícula online, o aluno pode fazer a matrícula online ou

presencial, né! Pois a demanda é muito grande pelo número de funcionários que a gente tem,

então, quando a matrícula não era online a gente ficava com aquela fila enorme de alunos pra

fazer a matrícula, então a matrícula online facilitou bastante até porque esses alunos, eles já

estão caminhando na informática, né! O curso de informática que a gente oferece, a gente

chama de Informática I Básico. Todo semestre, já fazem uns três semestres que a gente

oferece e que esses cursos nem se formam porque não há demanda, então o que me faz supor

que o aluno da UATU já tá transitando ai por essa área, né! Então...

E essa pesquisa que a Srª faz, que aconteceu esse semestre. Ela é feita em todos os

semestres?

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217

Não. Normalmente eu vou a sala de aula e escuto os alunos né? O que eles gostariam,

satisfação, insatisfação, o que eles acham que poderiam melhorar e ai este semestre nós

resolvemos fazer essa pesquisa.

Uma pesquisa com questões abertas. Eles podem estar dizendo ai onde e como conheceram a

UATU. Quanto tempo eles estudam aqui, né? A gente tem uma grande maioria que tá aqui a

muito tempo, né? Alunos estão aqui dentro desde a fundação da UATU.

E nesses 5 anos de coordenação, como a Srª descreve o programa?

Ah, eu acho que é um programa maravilhoso, né! Tanto que é um programa que só vem

crescendo, certo? E eu acho que cumpre um papel social muito importante, que é tá

recebendo toda essa população aqui dentro da universidade, oferecemos cursos de qualidade

que nos oferecemos.

Eu estive conversando com o professor Rizolli e ele me falou que a Srª acompanhou os

alunos juntamente com ele pra exposições pra fora do país, não é? E está acontecendo

também uma exposição no Hall do Ed. JC sobre Aquarela. Eu gostaria que a Srª falasse

um pouco sobre a organização dessas exposições, dessas feiras, eventos que são

realizadas junto com esses alunos.

Tá. Então, a UATU, a exposição Aquarelando, ela antes tinha exposição de arte, ai nos

começamos a (...) A aquarela um curso que tinha na UATU já a muito tempo e ai uma

demanda muito grande desses alunos, né. De muitas coisas bonitas e ai houve a proposta de tá

até mudando o nome porque ficou uma exposição só de aquarela, só desse grupo de alunos.

Uma vez por ano nós fazemos essa exposição, né! E assim, é um dia bastante festivo na

abertura, que eu chamo o coral da UATU, a gente faz um lanche coletivo.

É um momento de encontro e se você foi lá olhar você viu quanta tela né. Quanta coisa bonita

a gente tem lá né pra (...) e trabalha pros nossos alunos, né? Então, demanda né! Toda uma

organização, desde espaço físico, a solicitação de tudo, de biombos, de blocos, tudo. Tudo é

feito aqui pela secretaria da UATU.

E como que a Srª descreve a experiência de ter viajado pra fora do país com esses

alunos.

Tá. Foi muito interessante também. Foi uma (...). Essa viagem aconteceu em 2010, foi ligada

a disciplina do Marcos Rizolli e nós chamamos de (não lembra o nome, solicita a secretária

que verifique), Módulo Internacional, ela vai pegar o nome específico de como chamava a

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218

disciplina. E ai nos ficamos 10 dias fora, né? Seguindo ai todo um roteiro. Saímos daqui com

um roteiro já organizado, de visitas, com horários, né! E foi maravilhoso, né! Maravilhoso até

pras alunas foi maravilhoso o convívio e maravilhoso porque o Marcos Rizolli é maravilhoso,

né! Pra falar de arte. Então foi (...) então foi uma viagem que deu super certo, né. As alunas

adoraram, né. Graças a Deus fomos e voltamos muito bem, sem problema nenhum.

Como que acontece a escolha dos cursos durante o semestre?

Então, como são cursos livres né, os professores oferecem os cursos que (...) da sua expertise

ou não. Você tem um curso de dança de salão que era um desejo da UATU eu fui procurar,

né, na (...) conversando na arquitetura, na escola de arquitetura tem uma professora que é

dançarina embora dê aula

Pára para informar o nome da disciplina oferecida pelo professor Rizolli no ano em

ocorreu a viagem internacional.

História da Arte nos Museus Parisienses, chamava o curso

Então ela é professora da arquitetura, mas é dançarina, então ela vem dar o curso de dança

na UATU, entendeu? Que era uma vontade, um desejo dos alunos. Então eu tenho sempre de

tá saindo procurando a demanda. Tentando atender a demanda dos alunos da UATU.

Mas a UATU não é divulgada pra que essa “correria” não aconteça, digamos assim,

todos os semestres. Não é divulgada entre os professores?

Não, não tem correria, é um movimento muito comum da UATU, atá porque independente da

divulgação, você pode divulgar mas não ter a demanda específica, né. Então. O que eu

preciso. Curso de dança. Se não tem curso de dança. Como é que eu fui achar uma dançarina

no curso de arquitetura? Procurando. Então assim, jamais ela mandaria dentro das nossas

questões oferecendo o curso de dança, por exemplo, né?

Xadrez. Né. O Mackenzie não tem xadrez, é um curso de xadrez que foi dado por muito

tempo pro professor do CCL (Centro de Comunicação e Letras), tem xadrista. Então assim,

a gente vai procurando, né. Eu me comunico por email com a maioria dos professores do

Mackenzie. Conto um pouquinho quem nós somos e dependendo eu vou até as faculdades e

pergunto aos professores, né? Que o Mackenzie não atende todas as demandas ou cursos

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219

disponíveis. Então, tem ser alguém mesmo que faça essa ponte, que vá buscar essas

especificidades, né.

Eu estive olhando o manual do segundo semestre e existem 15 cursos direcionados para

línguas. Isso foi escolha dos alunos, ou...?!

É escolha dos alunos. Porque esses alunos são muito (...) Os cursos de línguas tem uma

demanda bastante grande, né? Bastante grande. Por que? Embora nós, a UATU não é um

curso de língua mas, esses cursos são livres, então o aluno que vem fazer os cursos de línguas,

ele não passa por nenhum teste, não tem teste. É escolha dele né? Ele olha o plano do

professor, ele olha, ele acha o que mais ou menos, em que curso ele se enquadra e realiza essa

matrícula, né?

Quando, de vez enquando acontece de ele tá indo pro curso que não era bem aquele, e ai, a

gente reorganiza, porque depois do início das aulas ele tem um mês, o aluno que já está

matriculado, pra trocar de curso, caso ele não se adeque, não se sinta bem naquele grupo,

naquele curso. Então ele nos procura, nos sentamos ai e verificamos qual seria o melhor curso

pra ele.

Mas tem uma demanda pela área de línguas enorme.

Qual é a media de alunos por turma?

Então, a média, nós temos, porque o curso pra que ele funcione tem que ter o mínimo de 10

alunos, né? Então todos os cursos tem que ter mais de 10 alunos. Algumas exceções, por

exemplo, alemão que não é uma língua muito procurada, ai a gente tenta compensar com um

curso que tem 20, eu posso montar um curso com 8 alunos do alemão, por exemplo, pra não

perder a língua ou o curso de arte, que tá começando agora, eu tô com 8 alunos, mas ai eu

tenho outro curso com 20 ou com 30, eu tento manter esse curso pra que relancem a

oportunidade de conhecer o professor, conhecer o curso né! Ele tá se empenhando, do que se

trata.

Como que é feita a divulgação da UATU hoje?

A divulgação é feita pelo site e pelo nosso manual informativo, né? E algumas entrevistas.

A pouco tempo saiu uma entrevista enorme na Folha de São Paulo, no encarte da Folha de

São Paulo e tem vindo, hoje mesmo já teve 2 pessoas que diz ter visto encarte da Folha de São

Paulo. Aquele encarte da Revista da Folha de São Paulo, saiu uma reportagem enorme lá.

Inclusive com fotos aqui dos alunos da UATU, então. Assim, não era matéria paga né, era

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interesse do jornal, o jornal tava falando sobre essa faixa etária e nos procurou, e ai

permitimos que eles viessem e tiraram fotos dos alunos e foi bem bacana.

Existe algum projeto futuro, algum tipo de reestruturação a ser feita desse programa?

Não. Ele ta super redondo. Logicamente que ele não vai poder continuar assim, né? As

mudanças que nós fizemos foram bastante recentes. Então a gente tá se acostumando com

todas elas, né! A gente, fizemos muitas reformulações e eu acho que tudo é muito bem vindo,

né, e tem funcionado de uma forma bem redonda, o que não quer dizer que não tenhamos

questões a melhorar, né! Mas nada assim pontual pra 2013.

Quais as reformas foram feitas recentemente?

Nossa! A matrícula online e o contrato, né. Quando eu me dei conta, eu entrei aqui em 2007

não tinha contrato nenhum. Por exemplo, aqui é pago, né? Então assim, quais as

responsabilidades financeiras do aluno, então, organizamos junto ao jurídico todo um contrato

de prestação de serviços. São muito acertos não é? Pra que ela ficasse assim da forma como

ela está.

A Srª faria alguma mudança específica hoje no programa?

Não. Não. Hoje não. Só ampliação de horários talvez, porque a gente tem espaço físico

bastante comprometido né, por isso ela funciona a tarde. Mas eu tenho visto que pra atender

uma população mais jovem, se a gente tivesse o curso a noite, talvez a gente tivesse mais

procura.

Porque a UATU não é terceira idade, né? Basta ter 18 anos pra estar na UATU.

Embora eu tenha feito agora, não fechando um levantamento de idade, eu sinto que mantemos

o Sr de 90, né. O número de Srs. tem aumentado, mas assim, a faixa etária também tem ficado

muito entorno de 55, de 60, entendeu? Tem tido muita procura. Eu tenho sentido que se a

gente tivesse a noite, talvez a gente também, tivesse procura, né.

Mas tem cursos no horário da manha também, né?

É, no último horário da manhã. Foi o horário que nós conseguimos, às quartas-feiras, às

10hs40.

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Alguns alunos têm relatado a falta de alguns professores que esse afastaram por

quaisquer que sejam os motivos. Como é feita a escolha deles? Sabendo que a Sra já

falou que envia email, entra em contato com alguns cursos novos. Como foi o caso desse

curso novo de dança.

Como assim professores que se afastaram!

É alguns professores que saíram da própria universidade.

É eu não tenho o que fazer né? Tá certo? Porque a UATU não contrata professores e nem

demite professores, né?

Ela presta esse serviço e portanto o professor é demitido da onde ele tá lotado, ele não tem

como ficar na UATU pra dar. Nem o MEC permite isso, né?

A gente tem que tá atendendo ai essa legislação. Digamos que eu contrate ai um professor pra

dar aula, 1 aula, 2 aulas semanais. Isso não existe, né? Então isso é, é uma questão difícil da

gente tá lidando em função de que eu não posso contratar um professor pra dar 2 horas aula,

por exemplo, né? Eu trabalho com os professores da casa, desde educação infantil até a pós-

graduação. Todos podem lecionar na UATU.

E esse comunicado, essa busca é feita através do email?

Do email, visitas regulares que eu faço aos outros centros, né? Me apresentando,

apresentando a UATU, dizendo quem somos, as possibilidades de trabalho aqui, né? Então

além do email eu também faço visitas regulares aos outros centros, né?

Além dessas visitações aos outros centros, como na própria UATU que a Sra faz. Como

a Sra percebe que a qualidade de vida dessas pessoas, depois do ingresso ou mesmo

entre a convivência da UATU.

Eu posso te falar empiricamente, dos relatos. Os relatos são de que não saem daqui, que aqui

é maravilhoso né! Que crescem muito né! Gostam de estudar. Então eu acho que os relatos

são sempre muito produtivos.

Tem um grupo de estudos em paralelo com os cursos da UATU.

Tem. Tem um grupo de estudos que esse semestre deu uma, uma. Se desorganizou um

pouquinho.

Você fez entrevistas com os alunos da UATU? Fiz.

Então, ai teria que passar por aqui. Você não deixou nenhum documento né? Não.

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Pra entrevistar os alunos do UATU é legal que a gente tenha a origem dessa pesquisa, porque

eu tenho aqui (...) é tudo documentado, né? Porque eu também sou cobrada do quanto a

UATU presta serviço pra própria universidade, né? Isso eu coloco no meu relatório. Então

assim, as vezes tem os meninos do jornalismo sempre com o pedido do que se trata e ai eu

tenho a minha pastinha de tudo o que foi feito aqui na UATU, né? Então eu peço que você me

encaminhe rapidamente quantos alunos você ouviu na UATU, etc e tal que a gente costuma

avisar os alunos, olha! Vai te procurar uma pesquisadora ai etc e tal, a gente faz estas pontes

também. É importante que você deixe aqui alguma coisa pra eu ter registro né?

Pesquisa tal, da onde é, e a gente. Tem de toda comunidade, se é um pesquisador do

Mackenzie, a gente atende toda a comunidade.

Então este grupo, em paralelo, a gente teve a perda de um dos alunos, então é um grupo que

as vezes tá. Tá voltando a se reorganizar, né! Uma das pessoas do grupo faleceu de uma hora

pra outra e o grupo ficou bastante desestruturado.

Como que a Sra acha que essas discussões do grupo podem ser aproveitadas?

Olha! Com certeza eles aproveitam muito essas discussões até nas próprias disciplinas que

eles cursam, né? Nos próprios cursos que eles realizam, né! Porque eles vem e trazem esse

(...) Esse grupo ele acaba acontecendo sempre com uma orientação não formal. Informal de

alguns professores que sugerem leituras, né! Dependendo do interesse do grupo. Esse é um

grupo que tem interesse na área da psicologia e filosofia, né! Então os professores dessas

áreas sempre estão fazendo alguma indicação, indicação de leitura. Mas eles estão reunido

pouco né Elis o grupo? (questão realizada a secretária)

Então, deram uma desestruturada por causa do Sr Manoel, que era uma pessoa tão

importante nesse grupo, que faleceu de repente, então foi bastante triste, né. Então (...)

O que que a Sra acha da ideia de compartilhar o espaço da UATU com os alunos da

graduação?

Eu acho. A gente tem que compartilhar sempre nesse sentido, como eu te disse, né! Então,

pesquisas, alguns professores da graduação trazem os seus alunos pra assistir as aulas da

UATU. Que são comuns, né! Não é qualquer professor. Professores da graduação que tá

trabalhando essas questões de publicidade e propaganda. Tem uma professora que é lotada no

curso de publicidade e propaganda, quando ela ta trabalhando no curso de graduação um

tema que envolva, né! Estes alunos da UATU, ela traz o aluno pra assistir aula, ai ter esse

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convívio ai né? Então eu acho que muito saudável, esse envolvimento da graduação com a

UATU. Eu acho que é saudável pros 2 lados.

Com certeza.

A Sra poderia disponibilizar pra gente, poderia ser desde o início, desde a abertura da

UATU, semestralmente ou anualmente o número de alunos matriculados?

Eu preciso checar com a minha direção se eu posso, né! Eu não teria problema até porque a

gente tem tudo isso, mas eu preciso estar checando pra ver se isso pode ser público, né! Pode

ser. A gente sempre fala entorno de! Mas! Eu acredito que seria não seria problema não, mas

eu só preciso checar.

Não tem problema.

A Sra poderia deixar uma mensagem ou gostaria de deixar uma mensagem aos alunos

da UATU?

É. Eu acho que é um movimento extremamente saudável aqui dentro da universidade. Eu

acho que envelhecer pesquisando, convivendo com outras pessoas, partilhando, lidando com

a adversidade.

Eu acho que é extremamente enriquecedor pro sujeito humano.

Eu acho que os sujeitos que frequentam a UATU eles tem essa disponibilidade, né! De tá

junto com o outro.

Eu acho que o início da vida é isso, a gente tem o dever de estar junto do outro.

Ninguém feliz sozinho, a gente só pode ser feliz no coletivo. Nessas condições que barram

tanto os outros, né!

Em uma palavra a Sra descreveria a UATU!?

Aprendizado compartilhado – se podem ser duas.

Muito obrigada

Magina! Obrigada você.

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Manual Informativo 2º semestre de 2012 - Campus São Paulo

Universidade Presbiteriana Mackenzie Decanato de Extensão - DEX

Centro de Educação, Filosofia e Teologia – CEFT

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INSTITUTO PRESBITERIANO MACKENZIE

Dr. Hesio Cesar de Souza Maciel Diretor Presidente

Dr. Francisco Solano Portela Neto

Diretor de Planejamento e Finanças

Dr. José Paulo Fernandes Júnior

Diretor de Ensino e Desenvolvimento

Dr. Wallace Tesch Sabaini

Diretor de Administração e Gestão de Pessoas

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

Rev. Dr. Augustus Nicodemus Gomes Lopes

Chanceler

Prof. Dr. Benedito Guimarães Aguiar Neto Reitor

Prof. Dr. Marcel Mendes

Vice-Reitor

Profa. Dra. Esmeralda Rizzo Decano Acadêmico

Prof. Dr. Cleverson Pereira de Almeida

Decano de Extensão

Prof. Dr. Moises Ari Zilber Decano de Pesquisa e Pós Graduação

CENTRO DE EDUCAÇÃO, FILOSOFIA E TEOLOGIA - CEFT

Prof. Dr. Marcelo Martins Bueno

Diretor

Profa. Ms. Maria Elisa Pereira Lopes

Coordenadora da UATU

Élida Jacomini Nunes

Revisora

Centro de Educação, Filosofia e Teologia

Secretaria da UATU – Prédio 12 / Térreo – Tel. 2114-8730 Internet: www.mackenzie.br/uatu.html

e-mail: [email protected];

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226

UNIVERSIDADE ABERTA DO TEMPO ÚTIL – UATU

Sejam bem-vindos à Universidade Aberta do Tempo Útil

APRESENTAÇÃO A Universidade Aberta do Tempo Útil - UATU - é um programa de extensão aberto a todas as pessoas da comunidade, maiores de 18 anos, interessadas em participar de um programa de educação continuada.

Configura-se como uma rede de saberes compartilhados, oferecendo educação continuada às pessoas interessadas em ampliar tanto suas vivências de aprendizagem, quanto seu relacionamento social. OBJETIVOS

• Oferecer experiências educacionais voltadas à atualização, à capacitação e à descoberta de novas competências.

• Desenvolver habilidades socioculturais, bem como promover um espaço para a sociabilidade e crescimento pessoal com vistas ao pleno exercício da cidadania.

• Privilegiar a alegria e o prazer nos relacionamentos interpessoais, oportunizados pela convivência com a cultura e com a arte. PÚBLICO-ALVO O público da UATU é formado por pessoas com idade superior a 18 anos, que tenham tempo disponível e queiram continuar seus estudos ou retornar a eles, ampliando seus conhecimentos e a rede de relacionamentos. PROGRAMAÇÃO São oferecidos cursos nas seguintes áreas: Ciências Humanas e Sociais; Ciências Tecnológicas; Ciências Exatas e da Terra; Ciências da Saúde; Linguística, Letras e Artes.

Os cursos contemplarão um mínimo de 16 encontros (aulas), sendo que cada encontro (aula) tem duração de 90 minutos. Os horários oferecidos são: das 10h40min às 12h10min; das 13h às14h30min; das 14h35min às 16h05 ou das 16h10min às 17h40min. Somente os cursos de Artes têm a duração de 180 minutos.

Os interessados podem se inscrever em quantos cursos desejarem.

Além dos cursos regulares, a UATU oferece atividades complementares e atividades extracurriculares.

Dentre as atividades complementares, encontra-se o Coral, cujo trabalho é fruto de parceria com a Divisão de Arte e Cultura do Instituto Presbiteriano Mackenzie. Essas atividades desenvolvem-se fora do horário regular de aula e são totalmente gratuitas. As inscrições para elas são feitas no início do semestre, sempre com os respectivos professores responsáveis.

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As atividades extracurriculares compreendem fóruns, palestras, seminários, viagens, passeios e visitas a exposições, com propósito do enriquecimento cultural e de novas possibilidades de relacionamentos interpessoais. A responsabilidade financeira de tais atividades e dos respectivos materiais didático-pedagógicos é exclusiva dos alunos, não estando, portanto, incluída no custo dos cursos. INFORMAÇÕES GERAIS 1. Inscrições e efetivação da matrícula.

• Data / Local:

Matrícula Presencial: 11 a 14/06 e de 18/06 a 13/07/2012 – prédio 12 /

térreo.

Matrícula On line: 11/06 a 10/08/2012 (a partir de 16/06/2012, vagas

remanescentes).

• Horário: das 09h às 12h e das 13h às 16h.

• Documentos necessários: Carteira de Identidade, CPF e comprovante de

residência. Para os alunos antigos, além dos documentos citados, é necessário informar o seu código de matrícula.

O valor total de cada curso será dividido em ATÉ (5) parcelas. A EFETIVAÇÃO DA MATRICULA ESTÁ CONDICIONADA AO PAGAMENTO DA 1ª PARCELA.

As informações sobre o conteúdo programático de cada curso não serão fornecidas por telefone. 2. Observações

• Após o término regular das matriculas, o aluno poderá incluir outros cursos

em seu horário, caso haja vagas remanescentes e depois de paga a 1ª parcela.

• O prazo permitido para a inclusão de novos cursos se encerrará no último

dia útil do mês de início das aulas.

• A solicitação de exclusão ou de cancelamento de curso(s) poderá ser feita

a qualquer momento, mantendo-se, porém, a obrigatoriedade do pagamento da parcela com data de vencimento no mês em que esta ocorreu. Em ambos os casos, o aluno deverá se dirigir, de segunda a sexta-feira, das 08h às 17h, à Secretaria da UATU (prédio 12 / térreo) e preencher requerimento específico.

• O funcionamento de qualquer curso está condicionado ao mínimo de 10

alunos na turma.

• Na ficha de inscrição, O ALUNO DEVERÁ ESCOLHER cursos, de acordo

com a ordem de sua preferência, para um possível remanejamento, no caso da não formação de turma, relativa ao curso escolhido. Caso o aluno não explicite sua opção na ficha, será, consequentemente, considerado desistente.

• O remanejamento ou a desistência deverão ser efetivados pelo próprio

aluno, mediante requerimento à secretaria da UATU.

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• É vedada a presença de pessoas, nas salas de aulas da UATU, que não

estejam regularmente matriculadas no curso ali ministrado.

• O aluno ou outra pessoa que não esteja matriculado em um curso da UATU

e deseje participar de uma de suas aulas, deverá solicitar, antes de seu início, autorização na secretaria da UATU e entregá-la ao professor responsável.

• Para os alunos inscritos nos cursos que propõem atividades físicas, é

imprescindível a apresentação de um atestado médico de aptidão, antes do início das aulas.

• O aluno que comparecer em pelo menos 75% dos encontros do curso, em

que está matriculado, receberá certificado de participação, desde que não haja pendência pecuniária ou de documentos pessoais.

CAMPUS SÃO PAULO

CURSOS OFERECIDOS NO 2º SEMESTRE DE 2012

ÁREA: ARTES 1. Aquarela Professora: Elianete Martini de Campos

Aulas práticas com conteúdo individualizado, dependendo do estado de evolução técnica de cada aluno.

2. Desenho e Composição Professora: Flávia Rudge Ramos

O curso tem como objetivo desenvolver a expressão gráfica do aluno, através da apresentação das técnicas e do estimulo à sensibilidade criativa.

3. História da Arte Brasileira Professor: Marcos Rizolli

O curso pretende apresentar o cenário cultural brasileiro, destacando as artes visuais e a cultura popular, desde o período pré-cabralino até os dias contemporâneos. Pretende, ainda, apresentar os principais artistas plásticos e as obras de arte mais significativas de nossa cultura.

4. Processos Pictóricos: Tinta a Óleo, Tinta Acrílica e Têmpera Vinílica Professor: Norberto Stori Com o curso, tem-se por proposito oferecer aos alunos uma breve história da pintura ocidental e os processos pictóricos da Tinta a óleo, da Tinta acrílica e da Têmpera vinílica. Serão estimuladas a sensibilização e a criatividade com relação aos tais processos pictóricos As aulas serão práticas complementadas pela teoria e História da Arte. Estão previstas aulas em museus, galerias de arte e espaços culturais.

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ÁREA: CIÊNCIAS EXATAS 5. Administrando Finanças Pessoais Professor: Luiz Carlos Jacob Perera

Mostrar o valor do dinheiro no tempo e ensinar as melhores práticas para administrar as disponibilidades financeiras pessoais.

6. Finanças Descomplicadas Professor: José Matias Filho

O objetivo do curso é apresentar aos alunos alguns dos principais temas em finanças empresariais, habilitando-os a compreender de que forma funciona uma empresa do ponto de vista financeiro, capacitando-os a atuar nas diversas áreas financeiras da empresa ou discutir seus principais aspectos com os gestores dessas áreas. ÁREA: CIÊNCIAS HUMANAS / PSICOLOGIA 7. A Cidadania na Era Digital: conheça seus principais direitos e deveres Professora: Ana Cristina Azevedo Pontes de Carvalho O curso apresenta os novos cenários surgidos com o desenvolvimento da tecnologia e mostra como o Direito disciplina os fatos ali ocorridos, com ênfase nos direitos e deveres do cidadão, ao utilizar as ferramentas tecnológicas em cada um dos ramos do Direito.

8. A Mitologia Grega e a Visão Fenomenológica Professor: Robson Jesus Rusche Pretende-se compreender conceitos da fenomenologia por meio da interpretação de histórias da mitologia grega.

9. A Vida como Obra de Arte: práticas de cuidado de si – da antiguidade à modernidade Professora: Adriana Rodrigues Domingues

Análise do conceito de “estética da existência” em dois momentos históricos – a Antiguidade Clássica e a Modernidade, tomando por base as ideias do filósofo francês Michel Foucault, discutidas no curso A Hermenêutica do Sujeito.

10. Criatividade na Arte, na Ciência e no Cotidiano Professora: Regina Célia Faria Amaro Giora O curso tem por objetivos principais: discutir os conceitos atuais de criatividade sob a ótica das humanidades; apontar a importância do estudo da criatividade na contemporaneidade em todas as dimensões da vida humana; caracterizar os processos criativos e apresentar casos exemplares de atividade criadora na arte, na ciência e no cotidiano.

11. Dilemas entre Repressão Política e Oposição no Brasil Contemporâneo: O Regime Militar Brasileiro (1964-1985) Professora: Maria Aparecida de Aquino Silva

Em 1964, o Brasil sofreu um golpe de Estado que instaurou um Estado Autoritário. A partir desse momento passou a existir uma constante oposição entre as forças

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autoritárias de repressão política e os grupos organizados que não aceitavam a imposição antidemocrática. Esse equilíbrio precário de forças irá definir esse período que se prolonga até 1985 quando, finalmente, após um longo período de “transição” o poder será devolvido aos civis. Este curso estuda os meandros desse difícil momento da história brasileira.

12. Fenomenologia do Olhar: fotografia, escrita de si e construção de sentidos Professor: Altivir João Volpe

Apresentar e conhecer alguns pressupostos da fenomenologia na articulação psicologia, arte e estética do olhar. Desenvolver uma prática de observação, criação e leitura de imagens, de fotos e da história cotidiana. A partir do trabalho no grupo, construir escritas de si e das experiências desveladas por meio de fotografias, filmes, obras artísticas e da observação da vida na cidade, entre olhar e ver.

13. Geopolítica da América Latina: do Passado Colonial ao Populismo de Hugo Chavez Professora: Denise Wanderley Paes de Barros Traçar um panorama geopolítico, econômico e cultural da região, destacando os espaços nacionais que a compõem e as práticas políticas neles desenvolvidas. Abordar a forte influência externa no contexto da evolução política e a consequente dependência da América Latina, ainda hoje presente, ao capital estrangeiro e as intervenções políticas para defender o mesmo em assuntos nacionais. A emergência de governos populistas durante as décadas de 1930-1960. O combate ao neoliberalismo na política dos governos de Hugo Chavez, Evo Morales e Rafael Correa.

14. História do Conceito de Natureza na História da Filosofia Professor: José Fernando da Silva Partindo do célebre aforismo de Heráclito, “a natureza ama esconder-se”. Ao longo dos séculos, “natureza” apresentou diferentes significados que, conforme o curso pretende-se demonstrar, legitimaram o que se pode chamar de “atitude prometéica” (o homem como senhor e possuidor da natureza) quanto a atitude órfica (a natureza possui um véu inatingível ao discurso científico, que apenas o poeta e o místico podem desvelar).

15. Introdução à Filosofia Contemporânea Professor: Roger Fernandes Campato Com o curso pretende-se examinar as principais características fundamentais presentes nas reflexões desenvolvidas por Max Horkheimer e por Theodor Adorno.

16. Machado de Assis: Ficção, História e Influências Professor: Luiz Fernando Pinto Bahia - Analisar a importância do grande escritor Machado de Assis mediante uma abordagem analítica de alguns textos ficcionais. - Contextualizar no campo histórico o significado de sua obra. - Compreender as influências do estilo machadiano.

17. O Inventário Emocional, as Memórias e os Recomeços Professora: Nora Rosa Rabinovich Comprometidos com o sentido e com a busca de significado, esta disciplina propõe retomar a importância da nossa história pessoal à luz do presente. Ao compreender a origem dos modelos que herdamos, podemos rever hábitos de comportamento que resultam de repetição de padrões conscientes e inconscientes com os quais nos

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identificamos. Discutiremos a importância e os questionamentos que surgem, ao delimitar o espaço do eu e do outro, da individualidade e do compartilhar.

18. O Público e o Privado no Século XIX Professora: Denise Wanderley Paes de Barros Por meio de uma análise histórica entender as múltiplas consequências decorrentes da Revolução Industrial, principalmente no campo social e as implicações para a vida do homem moderno, tanto no âmbito privado quanto na vida pública. Compreender como o corpo é moldado para um novo tipo de convívio social e para as necessidades de uma sociedade tecnológica e veloz.

19. Psicanálise e Personalidade Professor: João Garção Discutir os principais postulados da psicanálise frente ao desenvolvimento da personalidade. Possíveis definições sobre personalidade, questões bio-psiquico-social, que afetam e interagem no desenvolvimento da personalidade. Teorias da personalidade considerando a psicanálise.

20. Viver para Contar: “sou Humano e Contemporâneo” Professora: Nora Rosa Rabinovich

A trama do nosso psiquismo se constrói a partir de influências bio-psico-sociais. É necessário construir uma ponte entre o mundo interno, os pensamentos, as emoções e o mundo externo que muitas vezes nos surpreende. O amadurecimento psicológico depende dessa interação. Como lidar com um mundo que muitas vezes questiona e confronta nossos recursos psíquicos? A proposta da disciplina é possibilitar a compreensão do indivíduo e de alguns dilemas da atualidade, estudando e compreendo os fatores que por vezes confrontam, complementam ou enriquecem a nossa subjetividade individual e social. ÁREA: CINEMA 21. Mestres do Cinema: Billy Wilder II Professora: Ana Paulo Calvo O curso se propõe a analisar os filmes de Billy Wilder. Um dos “enfants terribles” de Hollywood, Billy Wilder foi roteirista e diretor de todos os seus filmes, autonomia rara e invejável dentro do sistema de estúdios hollywoodiano, ainda mais se considerarmos que seus filmes e diálogos, fossem dramas ou comédias, estavam sempre prontos a revelar as piores facetas do ser humano. ÁREA: INFORMÁTICA Observação: As aulas serão ministradas pela equipe de professores: Alice Mayumi Kotani; Ângela Hum Tchemra; Plínio Carelli Netto e Vilar R. Figueiredo.

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22. Informática I

O Curso básico é direcionado aos alunos com pouca ou nenhuma experiência na área. Tem o objetivo de habilitar os alunos na identificação dos principais recursos dos microcomputadores, e capacitá-los na utilização do Sistema Operacional Windows e nos recursos básicos do Processador de Textos Word. Conteúdo: Conceitos básicos de informática; Componentes de um microcomputador; Sistema Operacional Windows; Acessórios do Windows: Calculadora, Paint e WordPad; Processador de Textos: Microsoft Word (Word).

23. Informática II

Curso recomendado para alunos que já cursaram Informática I ou que têm algum conhecimento sobre o Word, pois o objetivo do curso é aprofundar e capacitar o educando no uso de recursos mais avançados desse programa. Conteúdo: Revisão dos conceitos básicos de informática; Processador de Textos:

Microsoft Word; Revisão dos recursos básicos do Word; Criação de tabelas no Word; Mala direta no Word; Criação de etiquetas no Word; Recursos para criação de cartões.

24. Informática III

O curso Informática III objetiva capacitar o aluno para o uso dos recursos da Planilha Microsoft Excel (Excel), para a elaboração de trabalhos que exijam cálculos simples ou complexos e a criação de gráficos. A disciplina exige como pré-requisito a disciplina Informática II. Conteúdo: Revisão dos conceitos básicos de informática; Planilha Eletrônica Excel:

conceitos e recursos; Entrada e correção de dados na planilha Excel; Formatação da planilha; Cálculos e funções do Excel; Classificação de dados; Elaboração de gráficos no Excel; Impressão de planilhas.

25. Internet I

O curso Internet I objetiva habilitar e capacitar o aluno a navegar no sistema e utilizar os principais recursos que a rede oferece. O curso Internet I exige como pré-requisito a disciplina Informática II. Conteúdo: Windows Explorer; Internet: conceitos básicos; Internet Explorer:

recursos básicos; Acesso às páginas da Internet; Pesquisa na Internet; Correio eletrônico; Download de arquivos; Cartões virtuais; Serviços.

26. Internet II Este curso tem por objetivo rever os principais recursos da Internet e outros recursos mais avançados. O curso Internet II exige como pré-requisito a disciplina Internet I. Conteúdo: Recursos do Internet Explorer; Correio eletrônico; Menu Favoritos;

Pesquisa na Internet; Download de arquivos; Segurança. Vírus e antivírus; Compactar e descompactar arquivos; Entretenimentos na Internet; Serviços.

27. Photoshop O curso visa capacitar o aluno a utilizar os recursos básicos do software de tratamento de imagens Photoshop e habilitar o aluno a identificar as possibilidades de aplicações e integração do Photoshop com outros softwares. Pré-requisitos: Ter cursado Informática I E II e Internet I.

28. PowerPoint I

No curso sobre o Microsoft PowerPoint, objetiva-se o aprendizado da criação de apresentações coloridas e animadas, integrando os conhecimentos adquiridos nos cursos de Word e, opcionalmente, nos cursos de Excel e Internet.

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Conteúdo: Software PowerPoint: conceito; Criação e estrutura de uma

apresentação; Aparência dos slides; Modelos e padrões de slides; Efeitos de transição de slides; Apresentações personalizadas; Recursos para o uso de sons; Integração do PowerPoint com outros softwares; Impressão das apresentações.

29. PowerPoint II

O curso de PowerPoint II tem por objetivo complementar o curso de PowerPoint e capacitar o aluno no uso de recursos avançados do software. É feita uma revisão dos recursos básicos, tais como: criação e estrutura de uma apresentação, modelos, padrões e formatação de slides e apresentações personalizadas. Conteúdo: Inclusão de recursos avançados: botões de ação e links; recursos para o uso de sons e vídeos; inclusão de imagens, formas e gráficos. Integração do PowerPoint com outros softwares e com a Internet. Recursos de impressão das apresentações.

30. Redes Sociais na Internet Professor: Rubens de Camargo Visa-se dar continuidade aos cursos atuais de Internet I e II, o objetivo é explorar os recursos disponíveis nas principais Redes Sociais da Internet. ÁREA: LÍNGUAS ESTRANGEIRAS

Os cursos de Língua Portuguesa, oferecidos pela UATU, têm como objetivo principal o aprimoramento das expressões oral e escrita.

Os cursos de Línguas Estrangeiras oferecidos pela UATU são os seguintes: Inglês, Espanhol, Francês, Alemão e Italiano. Possuem duração de três semestres para cada módulo (em cada idioma), denominados Básico I, Básico II e Básico III. Além do básico, é oferecido, também, um curso instrumental em Língua Estrangeira, visando o aprimoramento de vocabulário das situações da vida cotidiana. Os alunos que quiserem aprofundar seus conhecimentos, depois de concluído o curso regular da UATU, poderão matricular-se no Centro de Línguas Estrangeiras Mackenzie (CLEM).

Idioma: Alemão

31. Alemão Básico I Professora: Juliana da Silva Gomes Possibilitar ao aluno o conhecimento da língua alemã através de textos, músicas, vídeos e exercícios. Desenvolver a expressão e a compreensão oral e escrita em língua alemã. O aluno é estimulado a falar desde os primeiros estágios do curso.

32. Alemão Básico III Professora: Juliana da Silva Gomes

Com o curso de alemão, no módulo III, visa-se dar continuidade ao desenvolvimento das quatro habilidades, atribuindo-se a ouvir e a falar maior ênfase para que sejam feitas de uma forma mais autônoma. Gramática e a oralidade serão praticadas em conjunto. A prática do idioma é estimulada através de vídeos e músicas alemãs.

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Idioma: Espanhol

33. Aspectos Culturais e Linguísticos da Língua Espanhola Professora: Rosa Maria Oliveira Justo

Com o curso, visa-se desenvolver as quatro habilidades: compreensão leitora, auditiva, escrita e oral, a partir de temas cotidianos; ampliar o léxico e temas gramaticais importantes para que o aluno tenha ferramentas para melhorar a capacidade linguística. Além de tratar de aspectos culturais da América Latina e da Espanha.

34. Compreensão, Gramática e Expressão da Língua Espanhola Professora: Rosa Maria Oliveira Justo

Neste curso, objetiva-se desenvolver a expressão e a compreensão oral, escrita e leitora na língua espanhola, permitir a aprendizagem da língua espanhola inserida em seus diversos contextos de uso, ampliar e revisar aspectos gramaticais importantes para o desenvolvimento linguístico. O curso terá como base a abordagem comunicativa, enfatizando as quatro habilidades: a compreensão oral, leitora, escrita e auditiva.

35. Compreensão Textual, Oral e Escrita da Língua Espanhola Professora: Rosa Maria Oliveira Justo

O curso visa desenvolver as quatro habilidades: compreensão leitora, auditiva, escrita e oral, a partir de temas cotidianos; ampliar o léxico e temas gramaticais importantes para que o aluno tenha ferramentas para melhorar a capacidade linguística. Além de tratar de aspectos culturais da América Latina e da Espanha.

36. Espanhol Básico I Professora: Katia Maria Fernandes e Rosa Maria Oliveira Justo

O Curso visa desenvolver a compreensão oral, escrita e leitora, bem como a competência comunicativa na língua estrangeira.

37. Espanhol Básico II Professora: Katia Maria Fernandes

Desenvolver a expressão e a compreensão oral e escrita na língua espanhola; permitir a aprendizagem da língua espanhola, inserida em seus diferentes contextos de uso. O curso terá como base a abordagem comunicativa, ou seja, o enfoque das quatro habilidades: a compreensão oral, leitora, escrita e auditiva; bem como o estudo de aspectos gramaticais importantes para o desenvolvimento linguístico.

38. Espanhol Básico III Professora: Rosa Maria Oliveira Justo Com o curso Espanhol Básico III, tem-se por objetivo desenvolver a expressão e a compreensão oral e escrita na língua espanhola, permitir a aprendizagem da língua espanhola inserida em seus diferentes contextos de uso.

39. Habla Español Professora: Katia Maria Fernandes

Ampliar a compreensão oral e auditiva para enriquecer a competência comunicativa na língua estrangeira.

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Idioma: Francês

40. Aperfeiçoamento em Língua Francesa II Professora: Cirene de Castro Camus Através de aulas dinâmicas, interativas e comunicativas do método Métro Saint Michel, propiciar ao aluno a possibilidade de se comunicar em situações concretas

da vida cotidiana francesa. Levar em conta os aspectos interculturais.

41. Francês Aperfeiçoamento Professora: Raquel Lima Botelho Casillo Vieira Através de aulas dinâmicas, interativas e comunicativas ancoradas pelo método “Latitudes 2”, propiciar ao aluno a possibilidade de se comunicar de maneira mais desenvolta e aprofundada além de desenvolver suas potencialidades em situações concretas da vida cotidiana. Trabalham-se ainda aspectos interculturais.

42. Francês Básico I Professora: Raquel Lima Botelho Casillo Vieira

Através de aulas dinâmicas, interativas e comunicativas ancoradas pelo método “Alter Ego 1”, propiciar ao aluno a possibilidade de falar sobre si e sobre o outro de maneira simples e ainda de desenvolver suas habilidades em situações concretas da vida cotidiana. Trabalham-se ainda aspectos interculturais.

43. Francês Básico II Professora: Raquel Lima Botelho Casillo Vieira Através de aulas dinâmicas, interativas e comunicativas ancoradas pelo método “Alter Ego 1”, propiciar ao aluno a possibilidade de falar sobre si e sobre o outro de maneira simples e ainda de desenvolver suas habilidades em situações concretas da vida cotidiana. Trabalham-se ainda aspectos interculturais.

44. La France des Régions Professor: Luciano Magnoni Tocaia Apresentação geral da França (identidade, história e imagem). Estudo das paisagens, de seus monumentos, de sua arte e da maneira de viver francesa.

45. Um Tour por Paris Professora: Cirene de Castro Camus Proposta de um roteiro pelos inúmeros museus, jardins, catedrais, parques e outros, introduzindo um vocabulário próprio para um viajante em seus diferentes contextos de fala.

Idioma: Inglês

46. Aperfeiçoando o Inglês Professoras: Sílvia Helena Marques Thalacker

O curso tem como objetivo propiciar o desenvolvimento das estruturas básicas, do vocabulário, da compreensão auditiva e da fluência, ao aluno que já tem um conhecimento médio da língua inglesa. Será adotado o livro Smart Choice 2, da editora Oxford.

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47. Conversation Practice in English Professora: Sílvia Helena Marques Thalacker O objetivo do curso é desenvolver a habilidade de conversação por meio da discussão de tópicos de interesse coletivo.

48. Desenvolvendo o Inglês Professora: Sílvia Helena Marques Thalacker A proposta do curso é propiciar o desenvolvimento das estruturas básicas, do vocabulário, da compreensão auditiva e da fluência, ao aluno que já tem um conhecimento médio da língua inglesa. Será adotado o livro Smart Choice 1, da editora Oxford.

49. Inglês Básico I Professores: Viviane Fernandes de Almeida Oliveira Este curso destina-se a alunos que não possuem nenhum conhecimento prévio da Língua Inglesa. A partir das aulas, o aluno irá estabelecer os primeiros contatos com a língua, desenvolvendo as habilidades escrita e a oral (falada e auditiva) do idioma.

50. Inglês Básico II Professoras: Sônia Maria Gomes Gerais

O objetivo deste curso é propiciar ao aluno a compreensão, aprimoramento e ampliação do vocabulário, de elementos gramaticais, introduzindo conhecimentos da cultura inglesa por meio de conversação, leitura, escrita utilizando estruturas simples, filmes, músicas e áudio.

51. Inglês Básico III Professoras: Sônia Maria Gomes Gerais e Viviane Fernandes de Almeida Oliveira

Este curso tem objetivo de propiciar ao aluno a ampliação, aprofundamento e a utilização da língua inglesa, aprimoramento do vocabulário, por meio de atividades de comunicação cotidiana, conversação, leitura de textos reais e autênticos, escrita, filmes, músicas e áudio.

52. Inglês com Música, Trechos de filmes e Vídeos Professora: Paula Cristina Correia Laxer

Aprimorar o conhecimento da Língua Inglesa por meio de musicas, vídeos e trechos de filmes, com ênfase na audição e conversação.

53. Inglês - Conversando e Revisando Professora: Paula Cristina Correia Laxer

O curso possibilita ao aluno que já tem conhecimento intermediário (ou superior) da língua inglesa revisar e aprofundar sua compreensão do idioma, por meio de atividades que privilegiam a comunicação oral.

54. Inglês - Conversando e Revisando Professora: Thaís Helena Affonso Verdolini O curso possibilita ao aluno, que já tem um conhecimento intermediário ou superior da língua inglesa, o aprimoramento e manutenção do idioma. As aulas enfocam a habilidade oral por meio de textos, diálogos, músicas e exercícios, sem deixar de lado breve revisão gramatical. É importante que o aluno tenha no mínimo um nível intermediário (semi-fluente) do idioma para poder acompanhar

melhor as aulas, que são ministradas totalmente em inglês.

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55. Inglês - Gramática e Conversação Professora: Thaís Helena Affonso Verdolini O curso possibilita ao aluno que já tem um conhecimento pré-intermediário da língua inglesa praticá-la oralmente e aprofundar sua compreensão gramatical do idioma. Utilizando moderno livro-texto, o curso conta com atividades gramaticais, leituras de textos, músicas, vídeos, exercícios de compreensão auditiva e debates orais. É importante que o aluno tenha conhecimento pré-intermediário do idioma. As

aulas são ministradas primordialmente em inglês.

56. Inglês para Viagem Professora: Soraya Rozendo Vancini Saldanha Propiciar ao aluno a compreensão da Língua Inglesa em diferentes situações em viagens tais como: aeroporto, hotel, agencia de viagens, transporte, restaurantes, negócios, hospital, compras, lazer.

57. Inglês - Revisando a Estrutura da Língua Professora: Sônia Maria Gomes Gerais

Através do ensino da língua inglesa, o curso tem o objetivo de desenvolver no aluno a valorização não só da língua estrangeira em si, mas também de outros hábitos, costumes e culturas de outros países.

58. Ouvindo e Falando Inglês Professora: Sílvia Helena Marques Thalacker O objetivo do curso é desenvolver o conhecimento de vocabulário e aquisição de estruturas da língua inglesa por meio da audição de textos, seguida de discussão sobre os mesmos com vistas ao desenvolvimento de conversação.

59. Progredindo no Inglês Professora: Silvia Helena Marques Thalacker O objetivo deste curso é proporcionar aos alunos de nível intermediário o desenvolvimento das habilidades de compreensão auditiva, compreensão de leitura, redação e conversação da Língua Inglesa.

60. Revisando a Gramática da Língua Inglesa Professora: Viviane Fernandes de Almeida Oliveira

Este curso destina-se a alunos que visam ampliar o conhecimento prévio da Língua Inglesa, destinado a alunos que já tenham cursado o nível básico. A partir das aulas, o aluno irá desenvolver as habilidades escrita, de leitura oral e auditiva do idioma. As primeiras aulas fazem uma breve revisão de teor gramatical.

Idioma: Italiano

61. Italiano Básico I Professora: Irene Soares Thiago

O curso apresenta as principais regras de singular e plural, os artigos, verbos conjugados no Indicativo Presente e os pronomes possessivos. E, ao fim do semestre, conhecerão os modos de dar informações sobre eles mesmos e falar sobre o seu cotidiano. (Lições 1 a 5 do Livro do aluno Rete!1).

62. Italiano Básico II Professora: Irene Soares Thiago

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No curso, apresentam-se os verbos conjugados no Pretérito Perfeito, os pronomes diretos e indiretos e ao fim do semestre serão capazes de falar sobre atividades passadas. (Lições 6 a 10 do Livro do aluno Rete!1).

63. Italiano Básico III Professora: Irene Soares Thiago

No Curso, apresentam-se o Pretérito Imperfeito e o Futuro, regras sobre a utilização de pronomes diretos e indiretos com tempos compostos e serão capazes de falar de seu presente, passado e de seus planos para o futuro. (Lições 11 a 15 do Livro do aluno Rete!1).

64. Revendo o Italiano através de Canções Professora: Irene Soares Thiago

Estão previstas, no curso, atividades didáticas de níveis progressivos com revisão de pontos gramaticais, tais como: artigos, tempos e modos verbais, pronomes, advérbios e preposições. (Livro didático: Canta che ti passa – Unidades 11 a 15).

65. Revisando o Italiano Professora: Irene Soares Thiago Estão previstas, no curso, atividades didáticas de níveis progressivos com revisão de pontos gramaticais, tais como: pronomes e tempos verbais compostos. (Livro didático: Quaderni d´Italiano – Capítulos 4 a 7). ÁREA: SAÚDE E BEM-ESTAR Observações para práticas de exercícios físicos:

Proibido o uso de qualquer calçado.

Podem-se utilizar sapatilhas, meias ou “antiderrapantes”.

Obrigatório apresentar atestado médico atualizado para fazer as aulas.

Utilizar roupas próprias para exercícios físicos, como por exemplo: calça de agasalho ou “leg” e camisetas de algodão ou “dryfit”.

66. Alimentação para Prevenção de Doenças e Promoção da Saúde Professora: Márcia Nacif Pinheiros Com o curso, visa-se promover o aprendizado dos conceitos básicos de nutrição, incluindo noções fundamentais sobre os nutrientes e os grupos de alimentos e características de uma alimentação saudável.

67. Conhecendo Melhor o Meio Ambiente e sua Relação com a Saúde Professora: Petra Sanchez Sanchez

Compreender como funciona o meio ambiente e conhecer as principais questões ambientais e sua relação com a saúde. Analisar o papel individual e coletivo na construção de uma sociedade ambientalmente sustentável.

68. Dança Expressão Rítmica Professora: Evanilde Muniz Silva

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Desenvolver o ritmo, a orientação espaço-temporal, a cooperação, integração, criatividade, movimentos coreográficos e autoestima.

69. Danças e Ritmos Professora: Marina Ribeiro Albuquerque Neste curso, trabalham-se com os alunos diferentes estilos de músicas e ritmos, desenvolvendo um trabalho sensorial e motor. Possibilita-se a relação social, interagindo com o outro, em duplas, trios e grande grupo.

70. Diabetes: Mitos, Prevenção e Auxílio Professor: Horácio Bernardo Rosário

Visa-se discutir os mitos e as características do diabetes mellitus tipo 1 ou (DID) e do diabetes mellitus tipo 2 ou (DNID). Discutir textos da bibliografia, referentes ao diabétes. Desenvolver e realizar exercícios das técnicas preventivas de aconselhamento genético. Discutir os diferentes tipos de prevenção do diabetes realizados por profissionais especializados da ANAD (Associação Nacional de Assistência ao Diabético), instituição filantrópica conveniada com a Universidade Presbiteriana Mackenzie.

71. Estimulando a Memória e Raciocínio I Professora: Daniela de Oliveira Toyama A melhor maneira de ter bom desempenho na vida é ter uma boa memória e um bom raciocínio e isso se consegue treinando o cérebro regularmente. Este curso tem por finalidade ampliar o nível de atenção, a capacidade de memorização e a aprendizagem por meio de exercícios, destinados a promover ganhos de memória, concentração e agilidade mental.

72. Estimulando a Memória e Raciocínio II Professora: Daniela de Oliveira Toyama A memorização só é alcançada quando estimulamos de maneira adequada nosso cérebro. Uma vida saudável, com bons hábitos é fundamental para manutenção da saúde mental. Este curso tem por finalidade explorar os estímulos sensoriais, fazendo com que isso contribua para melhorar a capacidade de memorização e raciocínio.

73. Viva Melhor: Conheça seus Medicamentos e as Terapias Alternativas Professora: Margarete Akemi Kishi Promover o aprendizado dos conceitos básicos de saúde e doença incluindo noções fundamentais sobre os medicamentos, bem como a utilização das Práticas Integrativas e Complementares (Terapias Alternativas) como aliados da Saúde.

HORÁRIO E MATRIZ CURRICULAR

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Segunda-feira

INTEGRAL Das 14h às 17h

Das 10h40 às 12h10

2. Desenho e

Composição (Flávia)

46. Aperfeiçoando o Inglês (Sílvia)

51. Inglês Básico III (Sônia)

62. Italiano Básico II (Irene)

Das 13h às 14h30

50. Inglês Básico II (Sônia) 59. Progredindo no Inglês (Sílvia)

Das 14h35 às 16h05

47. Conversation Practice in English (Sílvia) 10. Criatividade na Arte, na Ciência e no Cotidiano (Regina Giora) 11. Dilemas entre Repressão Política e Oposição no Brasil

Contemporâneo: O Regime Militar Brasileiro (1964 - 1985) (Maria Aparecida de Aquino) 3. História da Arte Brasileira (Marcos Rizolli)

63. Italiano Básico III (Irene)

73. Viva Melhor: Conheça seus Medicamentos e as Terapias Alternativas

(Margarete)

Das 16h10 às 17h40

31. Alemão Básico I (Juliana)

13. Geopolítica da América Latina: do Passado Colonial ao Populismo de

Hugo Chavez (Denise)

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Terça-feira

INTEGRAL Das 14h às 17h

Das 10h40 às 12h10

4. Processos Pictóricos: Tinta a Óleo, Tinta Acrílica e Têmpera Vinílica

(Norberto)

67. Conhecendo Melhor o Meio Ambiente e sua Relação com a

Saúde (Petra) 41. Francês Aperfeiçoamento (Raquel)

Das 13h às 14h30

35. Compreensão Textual, Oral e Escrita na Língua Espanhola

(Rosa) 71. Estimulando a Memória e o Raciocínio I (Daniela) 22. Informática I (Alice) 23. Informática II (Ângela) 49. Inglês Básico I (Viviane) 54. Inglês – Conversando e Revisando (Thaís) 44. La France des Régions (Luciano) 45. Um Tour por Paris (Cirene)

Das 14h35 às 16h05

5. Administrando Finanças Pessoais (Luiz Carlos) 40. Aperfeiçoamento em Língua Francesa II (Cirene) 34. Compreensão Gramática e Expressão da Língua Espanhola

(Rosa) 69. Danças e Ritmos (Marina) 70. Diabetes: mitos, prevenção e auxílio (Horácio) 37. Espanhol Básico II (Kátia) 72. Estimulando a Memória e o Raciocínio II (Daniela) 22. Informática I (Vilar) 24. Informática III (Plínio) 53. Inglês – Conversando e Revisando (Paula) 55. Inglês – Gramática e Conversação (Thaís) 57. Inglês – Revisando a Estrutura da Língua (Sônia) 26. Internet II (Ângela) 21. Mestres do Cinema: Billy Wilder II (Ana Paula) 27. Photoshop (Alice) 60. Revisando a Gramática da Língua Inglesa (Viviane)

Das 16h10 às 17h40

7. A Cidadania na Era Digital: conheça seus principais direitos e

deveres (Ana Cristina) 8. A Mitologia Grega e a Visão Fenomenológica (Robson) 25. Internet I (Alice) 21. Mestres do Cinema: Billy Wilder II (Ana Paula)

Quarta-feira

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INTEGRAL Das 13h às 16h05

Das 10h40 às 12h10

7. A Cidadania na Era Digital: conheça seus principais direitos e

deveres (Ana Cristina)

9. A Vida como Obra de Arte: práticas de cuidado de si – da

antiguidade à modernidade (Adriana)

48. Desenvolvendo o Inglês (Sílvia)

36. Espanhol Básico I (Rosa)

22. Informática I (Alice)

19. Psicanálise e Personalidade (João Garção)

65. Revisando o Italiano (Irene)

Das 13h às 14h30

6. Finanças Descomplicadas (José Matias)

42. Francês Básico I (Raquel)

22. Informática I (Plínio)

25. Internet I (Ângela)

17. O inventário emocional, as memórias e os recomeços (Nora)

58. Ouvindo e Falando Inglês (Sílvia)

27. Photoshop (Alice)

30. Redes Sociais na Internet (Rubens)

Das 14h35 às 16h05

43. Francês Básico II (Raquel)

14. História do Conceito de Natureza na História da Filosofia (José

Fernando)

56. Inglês para Viagem (Soraya)

26. Internet II (Vilar)

16. Machado de Assis: Ficção, História e Influências (Bahia)

28. PowerPoint I (Alice)

29. PowerPoint II (Ângela)

59. Progredindo no Inglês (Sílvia)

64. Revendo o Italiano através de Canções (Irene)

Das 16h10 às 17h40

32. Alemão Básico III (Juliana)

Quinta-feira

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INTEGRAL Das 14h35 às 17h40

Das 10h40 às 12h10

1. Aquarela

39. Habla Español (Kátia)

49. Inglês Básico I (Viviane)

61. Italiano Básico I (Irene)

Das 13h às 14h30

66. Alimentação para prevenção de doenças e promoção da saúde

(Márcia) 33. Aspectos Culturais e Linguísticos da Língua Espanhola (Rosa) 70. Diabetes: mitos, prevenção e auxílio (Horácio) 14. História do Conceito de Natureza na História da Filosofia (José Fernando) 22. Informática I (Plínio) 15. Introdução à Filosofia Contemporânea (Roger) 20. Viver para contar: “sou humano e contemporâneo” (Nora)

Das 14h35 às 16h05

36. Espanhol Básico I (Kátia) 38. Espanhol Básico III (Rosa)

12. Fenomenologia do Olhar: fotografia, escrita de si e construção de

sentidos (Volpe)

6. Finanças Descomplicadas (José Matias)

23. Informática II (Plínio)

51. Inglês Básico III (Viviane)

53. Inglês - Conversando e Revisando (Paula)

18. O Público e o Privado no Século XIX (Denise)

Das 16h10 às 17h40

24. Informática III (Plínio)

52. Inglês com Música, Trechos de Filmes e Vídeos (Paula)

Sexta-feira

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INTEGRAL Das 14h35 às 17h40

Das 10h40 às 12h10

Das 13h às 14h30

Das 14h35 às 16h05

68. Dança Expressão Rítmica (Evanilde)

Das 16h10 às 17h40

CALENDÁRIO

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ATIVIDADES DA UATU

Mês Dia Atividade

AGOSTO

06 (Segunda-feira)

Início das Aulas

Observação: A distribuição do Espaço Físico estará disponível no site www.mackenzie.br/uatu.html

09 (Quinta-feira)

Aula Magna

Palestrante: Margarete Akemi Kishi

Tema: Até onde o Medicamento Faz Bem?

Horário: 14h às 17h

Auditório: Benedicto Novaes Garcez – Prédio 09

27 (segunda-feira)

Cine-Mack UATU

Filme: As Pontes de Madison

Horário: 14h30 às 17h

Auditório: Benedicto Novaes Garcez – Prédio 09

OUTUBRO 29 (Segunda-feira)

Cine-Mack UATU

Filme: Diário de Uma Paixão

Horário: 14h30 às 17h

Auditório: Benedicto Novaes Garcez – Prédio 09

DEZEMBRO 15 (Sexta-feira) Encerramento do Semestre

DIAS FAUSTOS

SETEMBRO 07 (Sexta-feira) Aulas Suspensas – Independência

OUTUBRO 12 (Sexta-feira) Aulas Suspensas - Feriado Nacional

15 (Segunda-feira) Aulas Suspensas - Dia do Professor

NO

VEMBRO

02 (Sexta-feira) Aulas Suspensas – Finados

15 (Quinta-feira) Aulas Suspensas - Feriado Nacional

16 (Sexta-feira) Aulas Suspensas – Dia Pós Feriado

19 (Segunda-feira) Aulas Suspensas – Dia que Antecede Feriado

20 (Terça-feira) Aulas Suspensas – Feriado Municipal

FOTOS EXPOSIÇÃO ED. JOAO CALVINO/2012.

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Foto 1 – Exposição Aquarelando

Foto 2 – Exposição Aquarelando Foto 3 – Exposição Aquarelando

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Foto 4– Exposição Aquarelando

Foto 5– Exposição Aquarelando

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AUTORIZAÇÃO PARA USO DE IMAGEM E VOZ

Eu, _________________________________________, portador da cédula de identidade nº

__________________________ e CPF:_____________________, autorizo e cedo o uso de

minha voz e imagem para o INSTITUTO PRESBITERIANO MACKENZIE e a

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE, sem qualquer custo, por tempo

indeterminado, nos programas da TV MACKENZIE, bem como para consultas acadêmicas e

reproduções sem fins comerciais.

Para que surta os efeitos legais, e estando de pleno acordo com esta autorização, firmo a

presente em duas vias de igual teor, juntamente com duas testemunhas.

São Paulo, ___ de ________________ de ________

__________________________________

Cedente

__________________________________

Pai ou responsável (se for o caso)

Testemunhas:

_____________________________________

_____________________________________