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1
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
CASSIANE TASSO SARTORI
EXECUÇÃO:
A Evolução da Penhora on line
Tijucas
2009
2
CASSIANE TASSO SARTORI
EXECUÇÃO:
A Evolução da Penhora on line
Monografia apresentada como requisito parcial para a
obtenção do título de Bacharel em Direito, pela
Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências
Sociais e Jurídicas, campus Tijucas.
Orientador: Esp. Aldo Bonatto Filho.
Tijucas
2009
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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
CASSIANE TASSO SARTORI
EXECUÇÃO:
A Evolução da Penhora on line
Tijucas
2009
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CASSIANE TASSO SARTORI
EXECUÇÃO:
A Evolução da Penhora on line
Monografia apresentada como requisito parcial para a
obtenção do título de Bacharel em Direito, pela
Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências
Sociais e Jurídicas, campus Tijucas.
Orientador: Esp. Aldo Bonatto Filho.
Tijucas
2009
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CASSIANE TASSO SARTORI
EXECUÇÃO:
A Evolução da Penhora on line
Esta Monografia foi julgada adequada para obtenção do título de Bacharel em Direito e
aprovada pelo Curso de Direito do Centro de Ciências Sociais e Jurídicas, campus Tijucas.
Direito Público/Direito Processual Civil
Tijucas, 29 de junho de 2009.
Esp. Aldo Bonatto Filho
Orientador
Prof. MSc. Marcos Alberto Carvalho de Freitas
Responsável pelo Núcleo de Prática Jurídica
6
A
Dedico esta monografia àqueles que se uniram e se empenharam para
que eu tivesse uma graduação superior (Minha família).
Por toda a história de vida, por todas as lutas, por todas as alegrias
comemoradas e proporcionadas, Dedico a quem dedicou tudo para
mim, MEUS PAIS!
7
AGRADECIMENTOS
A Deus, que em todos os momentos me acompanha e, nos mais difíceis carregou-me em seus
braços.
Agradeço àqueles que me ensinaram como ser uma pessoa melhor; que me ensinaram a ter
profissionalismo; que me ensinaram a ter um pouco mais de paciência; que me ensinaram a
ser compreensivo; que me ensinaram que o próximo passo pode sim ser dado; que me
ensinaram que eu posso dar sempre um pouco mais de mim; que me ensinaram que os dias
ficam bem melhores com sorrisos; que me ensinaram que as oportunidades também podem
ser conquistadas, não é apenas golpe de sorte; que me ensinaram que educação vem de casa, e
agradeço àqueles que me deram tão boa educação.
Agradeço imensamente ao meu orientador professor Especialista Aldo Bonatto Filho e a todo
corpo docente da Univali, que me proporcionaram tanto conhecimento,
Agradeço Especialmente ao meu noivo, JOTA LINHARES pela sua compreensão, pelo seu
incentivo diário, e principalmente por fazer com que a cada dia eu me torne uma pessoa
melhor!
Agradeço em especial aos meus sogros ELMO E MARCIA LINHARES pelo carinho, pela
amizade, pelo apoio, pela atenção e principalmente por me incentivarem a concretizar meus
sonhos, e por acreditarem em mim.
AGRADEÇO MUITO aos meus preciosos pais, que me ensinaram que acima de tudo há um
DEUS; que a vontade é a força que te leva a concretizar sonhos e que os nossos atos devem
ser medidos por aquilo que acreditamos e não apenas pelos resultados.
Por que os meus atos me trouxeram até aqui, e estão me impulsionando para muito além!
8
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte
ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí –
UNIVALI, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca
do mesmo.
Tijucas, 29 de junho de 2009.
Cassiane Tasso Sartori
Graduando(a)
9
RESUMO
Esta monografia possui como tema a Evolução da Penhora on line na Execução Processual
Civil. A instigação à pesquisa do instituto, realizado via Bacen Jud, deve-se ao fato de ser
recente, aliado às divergências existentes entre doutrinadores e juristas, que alegam a (in)
constitucionalidade da Penhora on line, e a ordem preferencial da medida, eis que enquanto
uns aplicavam-na como medida primeira; outros, tão somente quando esgotadas as demais
formas de constrição. O desenvolvimento do tema foi delineado inicialmente com a evolução
da Execução a partir do direito romano, chegando ao Brasil, onde foram mantidas as vias de
execução fixadas pelo Código de Napoleão, sendo alteradas com o advento do Código de
Processo Civil em 1973, chegando-se às últimas alterações procedidas, tal como a
implementação da fase de cumprimento de sentença, eliminando o processo autônomo até
então existente, para a execução de título executivo judicial, surgindo assim duas vias de
execução: cumprimento de sentença e ação de execução. Após apresenta-se os requisitos para
propositura e as fases processuais da execução. Chegando-se ao ápice da pesquisa que é o
estudo da Penhora on line e do Bacen Jud, viabilizando a exposição da Evolução da Penhora
eletrônica, demonstrando-se a metodologia dedutiva empregada, concluindo que apesar de
aparentemente estar fixado que os magistrados devem aplicar o instituto penhora on line com
precedência às demais formas de constrição, o instituto está em constante evolução. É o que
se observa com a tentativa da ANAMATRA, de vetar a aprovação de lei que altera a ordem
estabelecida em determinado caso.
Palavra-chave: Penhora on line. Bacen Jud. Execução Processual Civil.
10
ABSTRACT
This paper studies the evolution of the On Line Distraint in the Civil Procedure Execution.
The interest in researching this theme, done via Bacen Jud, is due to the fact that this is a
recent procedure, besides there are disagreements between writers and jurists who claim the
On Line Distraint to be unconstitutional. There are also disagreements concerning the
preferencial order of this procedure: some use it as the first procedure while others only when
the rest of the constriction acts have already been used. The development of the subject began
with the study of the evolution of the Enforcement Acts in the Roman Law and later, in Brazil
, where the Enforcement Acts existing in Napoleon Code were maintened. It continues with
the Civil Procedure Code of 1973, when they were altered, getting to the latest changes: the
implementation of the fase of sentence execution, which eliminated the autonomous process
which existed until then, being substituted by the execution of judicial executive title. Two
means of execution came forth: sentence execution and execution lawsuit. Next, the
requirements for the initial proposition and the enforcement procedures fases are presented.
Thus comes the research mainspring which is the On Line Distraint and the Bacen Jud
beginning with the Evolution of the Electronic Distraint, continuing with the deductive
methodology used, concluding that although it seems to be established that judges should
apply the On Line Distraint preceeding the other constriction forms, this institute is in
constant evolution. This can be observed by the ANAMATRA effort to veto the approval of
the law which alters the established order in a specific case.
Key Words: On Line Distraint. Bacen Jud. Civil Procedure Execution.
11
LISTA DE CATEGORIAS E SEUS CONCEITOS OPERACIONAIS
Ação Executiva
É a nomenclatura dada às ações de execução de título executivo extrajudicial, neste trabalho,
não sendo levada à risca a categoria, eis que, em conformidade com esclarecimento de Araken
de Assis as duas vias de execução são executivas, enquanto uma é Ação Executiva no que
tange à força a outra é executiva no que tange aos efeitos1.
Cumprimento de Sentença
É a fase de Execução de título executivo judicial, que deriva de uma fase cognitiva, que
resulta na emissão da sentença, e não havendo o cumprimento voluntário da condenação pelo
derrotado, dá-se início à fase de Cumprimento de Sentença. Tal fase segue em linhas gerais os
parâmetros típicos do processo executivo do Livro II do Código de Processo Civil2.
Execução
A Execução por quantia certa tem por objeto expropriar bens do devedor a fim de satisfazer o
direito do credor3.
Penhora
―A penhora é procedimento de segregação dos bens que efetivamente se sujeitarão à
execução, respondendo pela dívida inadimplida. [...] Assim, a penhora é o ato processual pelo
qual determinados bens do devedor (ou de terceiro responsável) sujeitam-se diretamente à
execução.‖ (grifo do autor)4.
Penhora on line
É o meio pelo qual o juiz, por via eletrônica, realiza o bloqueio de valor em dinheiro
(depósitos ou aplicações) junto ao Banco Central5.
Bacen Jud
É o acesso do Poder Judiciário de imediato, via internet, ao Sistema de Informações Banco
Central – SISBACEN6.
1 ASSIS, Araken de. Manual da execução. 11.ed.rev., ampl. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.
p.108. 2 WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.); ALMEIDA, Flavio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo;. Curso
avançado de processo civil. Volume 2: processo de execução. 9.ed. Vol. 2. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2007. p. 43. 3 BRASIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO. Por Humberto Theodoro Júnior: colaboradores,
Humberto Theodoro Neto, Adriana Mandim Theodoro de Mello. 12.ed. rev, ampl. e atual. Rio de Janeiro:
Forense, 2008. p.540. 4 MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de processo civil. v.3. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 251.
5 THEODORO Júnior, Humberto. A reforma da execução do título extrajudicial. Rio de Janeiro: Forense,
2007. 279 p. 76. 6 SILVA, José Ronemberg Travassos da. A penhora realizada através do Bacen Jud. Breves apontamentos.
JUSNAVIGANDI. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8751>. Acesso em: 11 maio
2009.
12
SUMÁRIO
RESUMO ................................................................................................................................... 9
ABSTRACT ............................................................................................................................ 10
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 15
2 PRIMEIRO CAPÍTULO – A EXECUÇÃO ................................................................ 18
2.1 BREVE HISTÓRICO DA EXECUÇÃO ........................................................................... 18
2.2 REQUISITOS DA EXECUÇÃO ....................................................................................... 23
2.2.1 TÍTULO EXECUTIVO ................................................................................................... 24
2.2.1.1 TÍTULO EXECUTIVO JUDICIAL ............................................................................... 27
2.2.1.1.1 SENTENÇA CIVIL – OBRIGAÇÃO DE FAZER, NÃO FAZER, ENTREGAR
COISA OU PAGAR QUANTIA .............................................................................................. 28
2.2.1.1.2 SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA TRANSITADA EM JULGADO ........... 30
2.2.1.1.3 SENTENÇA HOMOLOGATÓRIA DE CONCILIAÇÃO OU TRANSAÇÃO ....... 31
2.2.1.1.4 SENTENÇA ARBITRAL ......................................................................................... 32
2.2.1.1.5 ACORDO EXTRAJUDICIAL, HOMOLOGADO JUDICIALMENTE .................. 33
2.2.1.1.6 SENTENÇA ESTRANGEIRA HOMOLOGADA PELO STJ ................................. 33
2.2.1.1.7 FORMAL E CERTIDÃO DE PARTILHA .............................................................. 35
2.2.1.2 TITULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL ................................................................... 37
2.2.1.2.1 A LETRA DE CÂMBIO, A NOTA PROMISSÓRIA, A DUPLICATA, A
DEBÊNTURE E O CHEQUE .................................................................................................. 38
2.2.1.2.2 A ESCRITURA PÚBLICA OU OUTRO DOCUMENTO PÚBLICO ASSINADO
PELO DEVEDOR; O DOCUMENTO PARTICULAR ASSINADO PELO DEVEDOR E
POR DUAS TESTEMUNHAS; O INSTRUMENTO DE TRANSAÇÃO REFERENDADO
PELO MINISTÉRIO PÚBLICO, PELA DEFENSORIA PÚBLICA OU PELOS
ADVOGADOS DOS TRANSATORES .................................................................................. 40
2.2.1.2.3 OS CONTRATOS GARANTIDOS POR HIPOTECA, PENHOR, ANTICRESE E
CAUÇÃO, BEM COMO OS DE SEGURO DE VIDA ........................................................... 43
2.2.1.2.4 O CRÉDITO DECORRENTE DE FORO E LAUDÊMIO ....................................... 45
2.2.1.2.5 O CRÉDITO, DOCUMENTALMENTE COMPROVADO, DECORRENTE DE
ALUGUEL DE IMÓVEL, BEM COMO DE ENCARGOS ACESSÓRIOS, TAIS COMO
TAXAS E DESPESAS DE CONDOMÍNIO ........................................................................... 45
2.2.1.2.6 O CRÉDITO DE SERVENTUÁRIO DE JUSTIÇA, DE PERITO, DE
INTÉRPRETE, OU DE TRADUTOR, QUANDO AS CUSTAS, EMOLUMENTOS OU
HONORÁRIOS FOREM APROVADOS POR DECISÃO JUDICIAL .................................. 46
2.2.1.2.7 A CERTIDÃO DE DÍVIDA ATIVA DA FAZENDA PÚBLICA DA UNIÃO, DOS
ESTADOS, DO DISTRITO FEDERAL, DOS TERRITÓRIOS E DOS MUNICÍPIOS,
CORRESPONDENTE AOS CRÉDITOS INSCRITOS NA FORMA DA LEI ..................... 47
13
2.2.1.2.8 TODOS OS DEMAIS TÍTULOS A QUE, POR DISPOSIÇÃO EXPRESSA, A LEI
ATRIBUIR FORÇA EXECUTIVA ......................................................................................... 48
2.2.2 INADIMPLEMENTO DO DEVEDOR .......................................................................... 49
2.3 VIAS DE EXECUÇÃO ...................................................................................................... 51
2.3.1 CUMPRIMENTO DE SENTENÇA ............................................................................... 54
2.3.2 AÇÃO EXECUTIVA ...................................................................................................... 54
3 SEGUNDO CAPÍTULO – EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA ......................... 57
3.1 PRINCÍPIOS DA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA ............................................... 58
3.2 FASE INICIAL ................................................................................................................. 63
3.2.1 CUMPRIMENTO DE SENTENÇA ............................................................................... 63
3.2.2 AÇÃO EXECUTIVA ...................................................................................................... 68
3.3 FASE PREPARATÓRIA OU INSTRUTÓRIA ................................................................ 72
3.3.1 PENHORA ...................................................................................................................... 72
3.3.1.1 PROCEDIMENTO DA PENHORA .............................................................................. 74
3.3.2 AVALIAÇÃO ................................................................................................................. 79
3.3.3 ATOS PREPARATÓRIOS À SATISFAÇÃO. ............................................................... 81
3.3.3.1 ADJUDICAÇÃO ........................................................................................................... 82
3.3.3.2 ALIENAÇÃO POR INICIATIVA PARTICULAR .......................................................... 83
3.3.3.3 ALIENAÇÃO POR HASTA PÚBLICA ......................................................................... 84
3.3.3.4 USUFRUTO DE BEM MÓVEL OU IMÓVEL ............................................................. 85
3.4 FASE FINAL OU SATISFATIVA .................................................................................... 86
3.4.1 EXPROPRIAÇÃO .......................................................................................................... 87
3.4.1.1 ADJUDICAÇÃO ........................................................................................................... 87
3.4.1.2 USUFRUTO DE BEM MÓVEL OU IMÓVEL ............................................................. 88
3.4.1.3 ENTREGA DO DINHEIRO ......................................................................................... 88
3.4.2 REMIÇÃO ....................................................................................................................... 90
4 TERCEIRO CAPÍTULO – EVOLUÇÃO DA APLICAÇÃO DO BACEN JUD .......... 92
4.1 PENHORA ON LINE ......................................................................................................... 92
4.2 BACEN JUD ...................................................................................................................... 98
4.3 EVOLUÇÃO DA PENHORA ON LINE VIA BACEN JUD .......................................... 106
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 110
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 114
ANEXO I .........................................................................................................................118
ANEXO II .........................................................................................................................127
ANEXO III .........................................................................................................................130
ANEXO IV .........................................................................................................................136
ANEXO V .........................................................................................................................137
ANEXO VI .........................................................................................................................139
ANEXO VII .........................................................................................................................142
ANEXO VIII .........................................................................................................................145
ANEXO IX .........................................................................................................................146
ANEXO X .........................................................................................................................149
ANEXO XI .........................................................................................................................157
ANEXO XII .........................................................................................................................159
14
ANEXO XIII .........................................................................................................................161
ANEXO XIV..........................................................................................................................164
15
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem por objeto o estudo da evolução da Penhora on line, ou seja, o
estudo da Penhora realizada via Bacen Jud.
A importância deste tema reside no fato de este instituto estar em constante evolução,
mesmo após quase dez anos de utilização pelo Poder Judiciário.
Ressalte-se que, além de ser requisito imprescindível à conclusão do curso de Direito
na Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, o presente relatório monográfico também vem
colaborar para o conhecimento de um tema que, apesar de não poder ser tratado como
novidade no campo jurídico (Penhora), na dimensão social-prática a penhora on line ainda
pode ser tratado como elemento novo e repleto de nuances a serem destacadas pelos
intérpretes jurídicos.
O presente tema, na atualidade, encontra-se em evolução, apesar de aparentemente ter
solidificado suas bases com o advento da Lei 11.382/2006.
A escolha do tema é fruto do interesse pessoal do pesquisador no processo de
Execução, em específico na Execução por quantia certa contra devedor solvente,
aprofundando assim o saber jurídico do tema Penhora on line, assim como para instigar novas
contribuições para estes direitos, na compreensão dos fenômenos jurídicos-políticos,
especialmente no âmbito de atuação do Direito Processual Civil.
Em vista do parâmetro delineado, constitui-se como objetivo geral deste trabalho
demonstrar dentro do processo de Execução por quantia certa contra devedor solvente, a
evolução da medida de constrição judicial, a Penhora realizada no modo eletrônico, conhecida
como Penhora on line.
O objetivo institucional da presente Monografia é a obtenção do Título de Bacharel
em Direito, pela Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas,
campus de Tijucas.
16
Como objetivo específico, pretende-se demonstrar a evolução da Penhora on line,
tendo em vista que tal instituto foi defendido e atacado por correntes doutrinárias. Enquanto
determinada corrente o elenca como avanço do processo civil, outra o rotula de
inconstitucional. E tal divergência, reflete diretamente as decisões judiciárias, eis que podem
realizar a Penhora on line, como modo primeiro de constrição judicial, como podem realizá-la
tão somente quando esgotadas todas as demais modalidades de constrição.
Não é o propósito deste trabalho suprir ou esgotar o estudo sobre o instituto, até por
que, por certo não se estabelecerá um ponto final em referida discussão, eis que o instituto
Penhora on line ainda está em processo de evolução. Pretende-se, tão-somente, aclarar o
pensamento existente sobre o tema.
Para o desenvolvimento da presente pesquisa foram formulados aos seguintes
questionamentos:
a) A penhora on line é uma nova modalidade de penhora?
b) A penhora on line é inconstitucional?
c) A penhora on line deve preceder às demais formas de constrição?
Já as hipóteses consideradas, são as seguintes:
a) Não, porque a penhora é instituto único;
b) Não, porque não fere a Constituição Federal ou seus princípios;
c) Sim, respeitando-se a ordem preferencial estabelecida.
O relatório final da pesquisa foi estruturado em três capítulos, podendo-se, inclusive,
delineá-los como três molduras distintas, mas conexas: a primeira, atinente a Execução; a
segunda, Execução por Quantia Certa; e, por derradeiro, a Evolução da Aplicação do Bacen
Jud.
Quanto à metodologia empregada, registra-se que, na fase de investigação foi utilizado
o método dedutivo, e, o relatório dos resultados expresso na presente monografia é composto
na base lógica dedutiva, já que se parte de uma formulação geral do problema, buscando-se
posições científicas que os sustentem ou neguem, para que, ao final, seja apontada a
prevalência, ou não, das hipóteses elencadas.
17
Nas diversas fases da pesquisa, foram acionadas as técnicas do referente, da categoria,
do conceito operacional e da pesquisa bibliográfica.
Os acordos semânticos que procuram resguardar a linha lógica do relatório da pesquisa
e respectivas categorias, por opção metodológica, estão apresentados na Lista de Categorias e
seus Conceitos Operacionais, muito embora algumas delas tenham seus conceitos mais
aprofundados no corpo da pesquisa
A estrutura metodológica e as técnicas aplicadas nesta monografia estão em
conformidade com o padrão normativo da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)
e com as regras apresentadas no Guia de Referência Monografia Tijucas, e subsidiariamente,
com as regras do Caderno de Ensino: formação continuada, Ano 2, número 4; assim como nas
obras de Cezar Luiz Pasold, Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis ao
pesquisador do Direito e Valdir Francisco Colzani; Guia para redação do trabalho científico.
A presente monografia se encerra com as Considerações Finais, nas quais são
apresentados pontos conclusivos destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos
estudos e das reflexões sobre a Evolução da Penhora on line.
Com este itinerário, espera-se alcançar o intuito que ensejou a preferência por este
estudo: Execução: A Evolução da Penhora on line.
18
2 PRIMEIRO CAPÍTULO – A EXECUÇÃO
2.1 BREVE HISTÓRICO DA EXECUÇÃO
De maneira a melhor compreender os institutos da Execução e do Cumprimento de
Sentença, e a sua ligação, eis que enquanto a Execução é ação autônoma, o Cumprimento de
Sentença é procedimento, mister se faz a apresentação breve da origem histórica destes
institutos.
Primeiramente, porém, compete salientar, em consonância com Moacyr Amaral
Santos7, que ambos os institutos de Execução e Cumprimento de Sentença tem função
sancionadora. Tal função emerge do inadimplemento da obrigação, seja ela oriunda de título
judicial ou extrajudicial8.
A função sancionadora é observada desde os primórdios do ordenamento jurídico. No
direito romano antigo, a prestação jurisdicional executiva só era realizada mediante
confirmação do direito do credor, por sentença. Nesta época havia a figura do praetor (agente
detentor do imperium9) e do iudex (jurista a quem o praetor delegava o julgamento da
controvérsia – iudicium). O iudex proferia a sentença, que segundo Humberto Theodoro
Júnior era um parecer10
.
7 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. 21.ed.vol.3.São Paulo: Saraiva,
2003. Foi professor de Direito e Legislação da Escola de Engenharia da Universidade Mackenzie (1950-1956);
Professor Catedrático da Faculdade de Direito da Universidade Mackenzie (1956); Professor de Teoria Geral do
Estado e Teoria Geral do Processo do curso de especialização da Faculdade de Direito de São Paulo – Curso
Doutorado (1966-1967). Foi Presidente do Instituto de Direito Processual Civil, Seção de São Paulo, e Direitos
da ―Revista de Direito Processual Civil‖, editada pelo mesmo órgão.Membro e Conselheiro do Instituto dos
Advogados de São Paulo; membro do Conselho Diretor do Instituto Latino-Americano de Direito Processual e
do Conselho Consultivo do Instituto de Direitos Humanos de São Paulo. Foi Ministro do Supremo Tribunal
Federal.Integrou o Tribunal Superior Eleitoral, como Juiz Substituto, a partir de 6 de novembro de 1969 e, como
Juiz Efetivo, depois de 11 de fevereiro de 1971 até passas à inatividade. Aposentou-se. Faleceu em 16 de outubro
de 1983. 8 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p.211-213.
9 ―[...]designava o conceito romano de autoridade [...] Na antiga constituição romana o imperium era conferido
aos reis [...]‖ IMPERIUM. Wikipedia. Disponível em:<http://pt.wikipedia.org/wiki/Imperium>. Acesso em: 05
fev. 2009. 10
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e Cumprimento
de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. 40.ed.vol. II. Rio de Janeiro: Forense, 2006.p.08.
19
Diante disso, verifica-se que a função do magistrado era apenas ―liberar a atividade do
credor‖11
, ou seja, autorizava o credor a efetuar a cobrança, devendo o inadimplente realizar o
pagamento no prazo de 30 (trinta) dias, contados a partir da prolação da sentença. Caso o
devedor não cumprisse a obrigação no tempus iudicati (prazo de trinta dias), o credor poderia
conduzir, utilizando-se inclusive da força, o inadimplente ao magistrado que autorizava então,
o encarceramento do devedor. O credor devia, a partir de então apregoar o prisioneiro em três
feiras de nove em nove dias. Caso não resgatasse pelo valor da condenação, poderia vendê-lo
fora da cidade (transTiberim). Poderia ainda matar o devedor.12
O devedor nesta ―situação
perdia a condição de cidadão, status civitatis, a de membro de uma família, status familiae, e
a condição de liberdade, status libertatis, transformando-se em coisa, res‖13
.
A partir da Lei Poetelia, o devedor podia ser adjudicado, pagando a condenação com o
produto do seu trabalho14
.
A Execução patrimonial surge com a pignoris capio (agarrar pela Penhora), no ano
636 de Roma, segundo Moacyr Amaral Santos15
, e significa a apreensão de todos16
os bens do
devedor como pena. Destacando-se a função sancionadora. Os bens eram vendidos em praça
pública bonorum venditio (separação dos bens), a fim de satisfazer o crédito do credor ou dos
credores17
.
Com o Lex Aebutia18
, 114 a.C., surgem as primeiras formas de Execução patrimonial,
passando a figurar o bonorum distractio, ―em favor de certas autoridades, sem infâmia, e de
bens suficientes dentro do limite dos créditos, com a possibilidade da bonorum cessio (cessão
dos bens) para se efetuar o pagamento, livrando-se o devedor das demais conseqüências da
Execução.‖19
.
11
GRECO Filho, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. 19.ed.rev.atual.vol.3.São Paulo: Saraiva,
2008.p.10. 12
SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p.214. 13
GRECO Filho, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p.10. 14
SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p.215. 15
SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p.215. 16
Independente do valor da dívida, todos os bens do devedor eram apreendidos e vendidos em praça pública. 17
SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p.215. 18
Lei que introduziu o sistema formular romano, em substituição ao das legis actiones (as ações da lei). 19
GRECO Filho, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p.11.
20
Com o regime cognitio extraordinária, a apreensão dos bens do devedor reduziu ao
limite da dívida, ou seja, penhoravam-se bens suficientes à satisfação da condenação pignus
ex causa iudicati captum20
e 21
.
Nota-se que apesar da evolução, o objetivo que persistia à época era constranger o
devedor a adimplir sua dívida, diferentemente da atualidade onde o objetivo é a satisfação do
crédito. Com a queda de Roma do Ocidente, o direito intermédio dominou a Europa. O
conhecido processo germano-barbárico22
era violento, de coação real e psicológica sobre o
devedor23
. O inadimplemento era considerado ―ofensa à pessoa do credor, era este, sem
dependência de qualquer autoridade, a que não precisava dirigir-se, autorizado a penhorar,
mesmo usando de suas próprias forças, os bens do devedor a fim de pagar-se ou constrangê-lo
ao pagamento.‖24
.
Cabia ao devedor, que discordando da Execução, recorresse às autoridades
formulando impugnação. Nesta fase observou-se a inversão das fases, ou seja, antes do
processo de conhecimento (autorização para executar), vinha a Execução, que antes da queda
de Roma era a actio iudicati25
.
No século XI, com o renascimento do direito romano e influência das universidades,
houve a conciliação dos métodos, sendo restabelecida à condição da Execução, ser posterior à
ação cognitiva, todavia, sendo dispensada a actio iudicati, ou seja, nas palavras de Moacyr
Amaral Santos:
Reconheceram os juristas que à execução devia preceder a condenação,
como no processo romano, mas que, proferida a sentença condenatória,
dispensável se fazia a actio iudicati, com fundamento no julgado, e que dava
lugar a novo contraditório, com o respectivo conhecimento e julgamento do
direito do credor [...] Assim se instituiu a execução per officium iudicis,
havida como procedimento em prosseguimento ao em que se proferira a
sentença condenatória26
.
20
Pignus = Penhora; Ex Causa = Por razão da causa; Iudicati = julgado; Captum = Tomar. Tal expressão em
latim, significa a penhora realizada em razão do julgamento. 21
SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p.215. 22
Termo utilizado por Moacyr Amaral Santos (in: SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito
processual civil. p.216). 23
GRECO Filho, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p.11. 24
SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p.216. 25
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e Cumprimento
de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.09. 26
SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p.217.
21
Para Humberto Theodoro Júnior:
[...] eliminou-se a duplicidade de ações que o direito romano tanto cultivara.
O cumprimento de sentença passou a não sujeitar-se à abertura de um novo
juízo. Cabia ao juiz, depois de sentenciar, tomar, simplesmente, como dever
de ofício, as providências para fazer cumprir sua decisão, tudo com ato do
próprio processo em que a pretensão do credor fosse acolhida27
.
A actio iudicati passou a ser usada, segundo Vicente Greco Filho28
, para a ―execução
por juros posteriores à sentença ou para a execução de sentença ilíquida.‖29
.
Com o surgimento do intercambio comercial na Idade Moderna, foi introduzido no
mercado os títulos de crédito. Assim adotando-se o mecanismo de equiparação da força do
título de crédito à da sentença, dispensou-se então, a fase de cognição, partindo-se da
Execução, adotando-se novamente a actio iudicati para o caso.
Assim, perduraram as duas formas de Execução30
até o século XVIII. Com o Código
de Napoleão o Cumprimento de Sentença retomou o velho procedimento. Foi a unificação da
Execução. As sentenças voltaram a ter a necessidade da actio iudicati para Execução de
sentença condenatória31
.
O Código de Processo Civil Brasileiro de 1939 manteve a Execução de sentença32
e a
Ação Executiva33
. Em atenção às doutrinas mais modernas da época, a Lei 5.869 de 11 de
27
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e Cumprimento
de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.09-10. 28
GRECO Filho, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. 19.ed.rev.atual.vol.3.São Paulo: Saraiva, 2008.
Professor Associado de Direito Processual e Titular de Direito Penal da Faculdade de Direito da Universidade de
São Paulo. Professor Titular de Direito Processual Civil da Faculdade de Direito da Universidade Mackenzie,
Professor Titular de Direito Processual Civil da Faculdade de Direito de Sorocaba e Procurador de Justiça,
aposentado, de São Paulo. 29
GRECO Filho, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p.12. 30
Execução per officium iudicis – Cumprimento de Sentença, e Execução por actio iudicati – execução de título
de crédito. 31
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e Cumprimento
de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.10. 32
SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p.218. ―A execução de sentença,
também conhecida por execução forçada, e por LIEBMAN denominada ação executória, era o processo normal
de execução. Fundava-se na sentença condenatória e visava a realizar a sanção na mesma imposta ao devedor
por não satisfazer a obrigação (de dar, fazer ou não fazer) a que fora condenado. Seu procedimento se
desenvolvia por meio de atos executórios, tendentes a realizar praticamente o direito do credor, pela atuação da
sanção a que a sentença tornara sujeito o condenado, não obstante aí interferissem diversos procedimentos
incidentes, provocados pelo executado ou mesmo por terceiros. 33
A Ação Executiva, incluída pelo Código entre as ações especiais se fundamentava em créditos a que a lei
atribuia eficácia de título executivo. O processo executivo seguia um procedimento todo especial, em que ao ato
executório da penhora se sucediam o procedimento ordinário dos processos de conhecimento, destinado ao
22
janeiro de 1973 que instituiu o Código de Processo Civil Brasileiro, trouxe profundas
alterações no tocante à Execução, dentre elas verificou-se a unificação executiva, ou seja, a
Execução tornou-se única tanto para o Cumprimento de Sentença quanto para a Execução de
título extrajudicial34
.
A diferença se dava quanto à qualidade do título, que sendo proveniente de sentença,
era título executivo judicial, e título executivo extrajudicial àqueles a que a lei lhe atribuía.
E até o advento da Lei 11.232/05, a Execução era processo autônomo em relação ao
processo de conhecimento sendo considerados títulos executivos, tanto os judiciais quanto os
extrajudiciais, ou seja, existia apenas uma ação de Execução que não se distinguia pela
natureza do título.
A Lei 11.23235
, de 22 de dezembro de 2005, aboliu o processo autônomo de Execução
de sentença, assim voltando à tona o Cumprimento de Sentença.
Neste caso,
[...] o juiz assinará na sentença o prazo em que o devedor haverá de realizar
a prestação devida36
. Ultrapassado dito termo sem o pagamento voluntário,
seguir-se-á, na mesma relação processual em que a sentença foi proferida, a
expedição do mandado de penhora e avaliação para preparar a expropriação
dos bens necessários à satisfação do direito do credor (no art. 475-J)37
.
Em suma, hodiernamente o direito processual civil brasileiro, quanto às vias de
Execução possui duas formas: a) Processo de Execução, para títulos extrajudiciais; e b)
Cumprimento de Sentença, para títulos judiciais38
.
acertamento da relação processual, e, após a sentença, atos executórios conforme o procedimento da execução de
sentença. 34
SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p.218. 35
Altera a Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 – Código de Processo Civil, para estabelecer a fase de
cumprimento das sentenças no processo de conhecimento e revogar dispositivos relativos à execução fundada
em título judicial, e dá outras providências. 36
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e Cumprimento
de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.12. ―O artigo 475-J introduzido no CPC pela Lei nº
11.232, de 22.12.2005, fixa em 15 dias o prazo para cumprir a sentença que condena a pagamento de quantia
certa. No caso de condenação ilíquida, dito prazo será contado da decisão que fixar o quantum debeatur no
procedimento de liquidação da sentença (arts. 475-A à 475-H)‖. 37
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e Cumprimento
de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.12-13. 38
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e Cumprimento
de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.13.
23
Ocorre que, em razão de o processo de Execução de títulos extrajudiciais possuir a
mesma nomenclatura da Execução, que abrange as duas vias recém citadas; e, igualmente
para evitar quaisquer confusão entre os institutos, será utilizada durante toda a exposição a
definição de Liebman, citada por Araken de Assis:
Após o advento da lei 11.232/2005, tornou-se atual, subitamente, a
nomenclatura que Liebman introduziu entre nós, na vigência do CPC de
1939, distinguindo a ação executória proveniente do título judicial e a ação
executiva originada do título extrajudicial39
. (grifou-se).
Assim, será utilizada a nomenclatura de Ação Executiva40
, sempre que se fizer
referência à ação ou processo de Execução como via de Execução de títulos executivos
extrajudiciais, e Cumprimento de Sentença41
ao fazer referência à fase processual de
Execução de títulos executivos judiciais.
2.2 REQUISITOS DA EXECUÇÃO
A Execução tem importância extraordinária, eis que ―sem ela, o titular de um direito
estaria privado da possibilidade de satisfazer-se sem a colaboração do devedor.‖42
.
Salienta-se que, em conformidade com o exposto no Primeiro Capítulo, item 2.143
, que
tratou do breve histórico da Execução, existem duas vias de Execução: a Ação Executiva, que
é processo autônomo de Execução, previsto no Livro II – Títulos I à VI do Código de
Processo Civil; e o Cumprimento de Sentença que é fase do processo de conhecimento,
previsto no Capítulo X do Título VIII do Livro I do Codex Processual Civil.
Para ambas as vias, há os pressupostos necessários de qualquer trâmite processual
como a legitimidade das partes, os princípios processuais que as regem e igualmente há
39
ASSIS, Araken de. Manual da execução. p.108. 40
Importante ressaltar que Ação Executiva é a nomenclatura dada às ações de execução de título executivo
extrajudicial, neste trabalho, não sendo levada à risca, a categoria, eis que, em conformidade com esclarecimento
de Araken de Assis (in: ASSIS, Araken de. Manual da execução. p.108), as duas vias de execução são
executivas, enquanto uma é Ação Executiva no que tange à força a outra é executiva no que tange aos efeitos. 41
Cumprimento de Sentença é a nomenclatura dada à fase processual de execução do título executivo judicial,
denotados no artigo 475-N do Código de Processo Civil. É proveniente da alteração advinda da lei 11.232 de 22
de dezembro de 2005. 42
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Processo de Execução e cautelar. 5.ed. vol. 12. São Paulo: Saraiva,
2004. p.01. 43
Primeiro Capítulo, item 2.1, Página 13-18.
24
requisitos inerentes à Execução que serão a seguir expostos. Destaca-se que os requisitos são
necessários e comuns a Ação Executiva e ao Cumprimento de Sentença.
2.2.1 Título executivo
Quanto ao requisito da Execução, título executivo, o Código de Processo Civil
dispunha no artigo 583 que ―Toda execução tem por base título executivo judicial ou
extrajudicial‖44
, sendo que tal dispositivo foi revogado pela Lei 11.232/05, que institui o
Cumprimento de Sentença. Sobre tal revogação merece destaque a exposição de Humberto
Theodoro Júnior:
A reforma, no tocante ao dispositivo sub cogitatione, dá a impressão de que
a regulamentação do Livro II teria ficado restrita tão-somente aos títulos
extrajudiciais.
Não havia, contudo, necessidade nem conveniência da supressão do art. 583,
visto que o cumprimento da sentença não deixa de ser forma de execução
forçada, e por isso continua subordinado à existência de título executivo
(art.475-N). Além do mais, no próprio Livro II continuam existindo
hipóteses de submissão de títulos judiciais ao processo de execução em seus
moldes tradicionais de autonomia, como é o caso das sentenças
condenatórias de prestações devidas pela Fazenda Pública e pelo obrigado a
alimentos. Dessa maneira, continua sendo correto o texto revogado, na
previsão de que ‗toda execução tem por base título executivo judicial ou
extrajudicial45
.
O título executivo é pressuposto específico da Execução46
, previsto no artigo 580 do
Código de Processo Civil que dispõe: ―Art. 580. A Execução pode ser instaurada caso o
devedor não satisfaça a obrigação certa, líquida e exigível, consubstanciada em título
executivo‖47
.
Para Vicente Greco Filho, com base nas teorias documental48
e do ato49
, o título
executivo é documento ou ato documentado que consagra obrigação certa e que permite a
utilização direta da via executiva50
.
44
THEODORO Júnior, Humberto. A reforma da execução título extrajudicial. Rio de Janeiro: Forense,
2007.p.17. 45
THEODORO Júnior, Humberto. A reforma da execução do título extrajudicial. p.17. 46
SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p.224. 47
BRASIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO. p.471. 48
GRECO Filho, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p.24. ―[...] é predominante na qualificação do
título o seu aspecto de documento, cuja função é a de provar o direito subjetivo substancial de maneira cabal e
inconteste (Carnelutti, Rosenberg, Goldschmidt) [...]‖.(in: DINAMARCO, Candido Rangel.A execução na teoria
geral do direito civil. Em edição comercial, A execução civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1974.p. 175-
176).
25
Para Moacyr Santos Amaral:
Título executivo consiste no documento que ao mesmo tempo em que
qualifica a pessoa do credor, o legitima a promover a execução. [...] No
título estão compreendidos o objeto, os limites e a extensão da execução.
[...]51
.
O título executivo é imprescindível eis que nulla executio sine titulo52
, além disso, o
título é o limitador, é ele que dá os contornos e limites da Execução53
.
Diz-se que é o título que define o fim da execução por que é ele que revela
qual foi a obrigação contraída pelo devedor e qual a sanção que corresponde
a seu inadimplemento, apontando, dessa forma, o fim a ser alcançado no
procedimento executivo. Assim, se a obrigação é de pagar uma soma em
dinheiro, o procedimento corresponderá à execução por quantia certa; se a
obrigação é de dar, executar-se-á sob o rito de execução para entrega de
coisa; se a obrigação é de prestar fato, caberá a execução prevista para as
obrigações de fazer54
.
Destaca-se que o título executivo tem requisitos que também devem estar completos
para que seja possível a Execução. O título executivo deve representar uma obrigação líquida,
certa e exigível, em consonância com o artigo 586 do Código de Processo Civil55
e reforçando
a indispensabilidade dos requisitos, o artigo 618, I do Código de Processo Civil corrobora, eis
que expressa: ―Art. 618. É nula a execução: I - se o título executivo extrajudicial não
corresponder a obrigação certa, líquida e exigível (art. 586)‖56
.
Os requisitos de certeza, liquidez e exigibilidade do título executivo, proporcionam
elementos para definição da existência e limites objetivos e subjetivos ao órgão judicial57
.
Em sumas palavras Moacyr Amaral Santos destaca que:
49
GRECO Filho, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p.25. ―[...] o título é o ato ao qual a lei liga a
eficácia de aplicar a vontade sancionatória (Liebman, Andrioli).‖ (in: DINAMARCO, Candido Rangel.A
execução na teoria geral do direito civil. Em edição comercial, A execução civil. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1974.p. 175-176). 50
GRECO Filho, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p.24. 51
SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p.225. 52
Nula é a execução sem título. 53
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Processo de Execução e cautelar. p.15. 54
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e Cumprimento
de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.149. 55
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Processo de Execução e cautelar. p.22-23. 56
BRASIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO. p. 507. 57
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e Cumprimento
de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.151.
26
[...] certeza diz respeito à existência da obrigação; liquidez corresponde à
determinação do valor ou da individuação do objeto da obrigação, conforme
se trate da obrigação de pagar em dinheiro, de entrega de coisa, de fazer ou
não fazer; exigibilidade tem o sentido de que a obrigação, que se executa,
não depende de termo ou condição, nem está sujeita a outras limitações58
.
Humberto Theodoro Júnior expressa:
[...] Esses requisitos indispensáveis do título a que a lei atribui força
executiva, são definidos por Carnelutti nos seguintes termos: O direito do
credor é certo quando o título não deixa dúvida em torno de sua existência;
liquido quando o título não deixa dúvida em torno de seu objeto; exigível
quando não deixa dúvida em torno de sua atualidade59
. (grifo do autor).
Expressa ainda que ao magistrado não cabe pesquisar, tão somente lhe cabe formar
seu convencimento utilizando-se das fontes encontradas no título executivo apresentado.
A simples leitura do escrito – na lição de Amílcar de Castro – deve pôr o juiz
em condições de saber quem seja o credor, quem seja o devedor, qual seja o
bem devido e quando ele seja devido [...]60
.
Por óbvio, ao juiz não cabe a pesquisa, conforme indica também Humberto Theodoro
Júnior61
. Porém mister se faz indicar Wambier62
que expressa de forma mais nítida que o
título:
58
SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p.229. 59
CARNELUTTI, 1956 apud THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de
Execução e Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.151. 60
CASTRO, 1974 apud THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de
Execução e Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.151. 61
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e Cumprimento
de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.151. 62
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.); ALMEIDA, Flavio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso
avançado de processo civil. Volume 2: processo de execução. 9.ed. Vol. 2. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2007. Luiz Rodrigues Wambier. Doutor em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo –
PUC/SP. Mestre em Direito pela Universidade Estadual de Londrina – UEL. Professor no curso de mestrado em
Direito da Universidade de Ribeirão Preto – UNAERP e no curso de especialização em Direito Processual Civil
da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP. Ex professor dos cursos de graduação,
especialização e mestrado na Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG. Membro do Instituto Brasileiro
de Direito Processual – IBDP. Em conjunto com Flávio Renato Correia de Almeida, Professor de Direito
Processual Civil na Escola da Magistratura do Paraná – EMAP e na Universidade Estadual de Ponta Grossa –
UEPG. Juiz de Direito do Paraná; E com Eduardo Talamini, Doutor e Mestre pela Faculdade de Direito da
Universidade de São Paulo – USP. Professor de Direito Processual Civil e Processo Constitucional. Coordenador
e professor no Curso de pós-graduação em Direito Processual Civil no Instituto de Direito R.F. Bacellar –
UNIBRASIL. Membro do Instituto Ibero-Americano de Direito Processual e do Insituto Brasileiro de Direito
Processual – IBDP, do Conselho de Redação da Revista de Processo – RePro e do Conselho Diretor da Revista
de Direito Processual Civil. Advogado no Paraná e em São Paulo. Juntos elaboraram a obra Curso Avançado de
Processo civil sob a coordenação de Luiz Rodrigues Wambier.
27
[...] afasta a necessidade de qualquer investigação, no bojo da execução,
acerca da existência do direito. É, então, ato jurídico estabelecido pela lei
como apto a ensejar a execução e dispensar a execução sobre a existência do
crédito. [...] Por isso, no processo de execução e na fase de cumprimento da
sentença, além do exame dos pressupostos processuais e condições da ação
gerais, há apenas a análise formal da presença desse título. O juiz só verifica
se o exeqüente juntou o documento representativo de algum daqueles atos
catalogados na lei como título executivo, líquido, certo e exigível. Se juntou,
é o que basta: o juiz defere a execução63
.
Em suma, o juiz verificará os pressupostos de propositura da ação, além dos requisitos
essenciais, peculiares à Execução, tanto à ação executiva quanto o cumprimento de sentença.
Estando presentes a liquidez, certeza e exigibilidade do título executado, cabe ao juiz deferir a
Execução.
2.2.1.1 Título executivo judicial
Os títulos executivos judiciais estão denotados no artigo 475-N, com redação da Lei
11.232 de 22 de dezembro de 2005, que dispõe:
Art. 475-N. São títulos executivos judiciais:
I – a sentença proferida no processo civil que reconheça a existência de
obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia;
II – a sentença penal condenatória transitada em julgado;
III – a sentença homologatória de conciliação ou de transação, ainda que
inclua matéria não posta em juízo;
IV – a sentença arbitral;
V – o acordo extrajudicial, de qualquer natureza, homologado judicialmente;
VI – a sentença estrangeira, homologada pelo Superior Tribunal de Justiça;
VII – o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao
inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título singular ou universal.
Parágrafo único. Nos casos dos incisos II, IV e VI, o mandado inicial (art.
475-J) incluirá a ordem de citação do devedor, no juízo cível, para
liquidação ou execução, conforme o caso64
.
Os títulos judiciais denotados tem em comum a característica da coisa julgada, sendo
imutável e indiscutível o seu conteúdo, restringindo, portanto, a defesa realizada por
impugnação à Execução65
.
Importa salientar que as impugnações não podem ultrapassar os limites impostos pelo
artigo 475-L do Código de Processo Civil, que dispõe:
63
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.58. 64
BRASIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO. p. 354-355. 65
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e Cumprimento
de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.66.
28
Art. 475-L. A impugnação somente poderá versar sobre:
I – falta ou nulidade da citação, se o processo correu à revelia;
II – inexigibilidade do título;
III – penhora incorreta ou avaliação errônea;
IV – ilegitimidade das partes;
V – excesso de execução;
VI – qualquer causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação,
como pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição, desde
que superveniente à sentença.
§ 1o Para efeito do disposto no inciso II do caput deste artigo, considera-se
também inexigível o título judicial fundado em lei ou ato normativo
declarados inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em
aplicação ou interpretação da lei ou ato normativo tidas pelo Supremo
Tribunal Federal como incompatíveis com a Constituição Federal.
§ 2o Quando o executado alegar que o exeqüente, em excesso de execução,
pleiteia quantia superior à resultante da sentença, cumprir-lhe-á declarar de
imediato o valor que entende correto, sob pena de rejeição liminar dessa
impugnação 66
.
Neste diapasão, compete aprofundar cada um dos títulos executivos judiciais
indicados.
2.2.1.1.1 Sentença civil – obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia
(artigo 475-N, I do Código de Processo Civil)
Compete primeiramente identificar a sentença proferida no processo civil, como
passível de Execução, eis que existem sentenças declaratórias, constitutivas e condenatórias.
Em que pese as sentenças declaratórias e constitutivas, estas, respectivamente, tem
como fim a declaração de certeza da existência ou inexistência da relação jurídica67
e a
criação de situação jurídica nova para as partes, em regra, não há o que executar. Não ao
menos quanto ao objeto da ação, podendo, porém, existir condenação, nestas ações, quanto
aos encargos processuais68
, que autorizam a Execução do título executivo judicial.
A sentença condenatória, mesmo que não derivada de ação com o mesmo nome69
, é a
maneira de impor coativamente o cumprimento da obrigação, eis que o cumprimento da
66
BRASIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO. p.353. 67
O artigo 4º do Código de Processo Civil dispõe: Art. 4o O interesse do autor pode limitar-se à declaração: I -
da existência ou da inexistência de relação jurídica;II - da autenticidade ou falsidade de documento. Parágrafo
único. É admissível a ação declaratória, ainda que tenha ocorrido a violação do direito. 68
Custas processuais e honorários advocatícios. 69
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e Cumprimento
de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.70. A sentença condenatória pode ser proveniente de
ações não condenatórias. Nas palavras de Humberto Theodoro Júnior: ―Para autorizar a execução, não se deve
considerar sentença condenatória apenas a proferida na ação de igual nome. A parte dispositiva de todas as
29
sentença é o procedimento utilizado quando persistir a ―[...] inércia ou resistência do devedor
quanto à sua satisfação [...]‖70
.
Para ter força executiva é necessário o trânsito em julgado, obtendo-se assim a
Execução definitiva. Caso contrário terminar-se-á a Execução provisória, que ocorre quando
estiver pendente apelação da sentença de improcedência dos embargos do executado quando
recebidos com efeito suspensivo71
.
Ressalta-se, com palavras de Humberto Theodoro Júnior, que:
A sentença exeqüível, outrossim, tanto pode provir do processo de
conhecimento, como de processo cautelar, pouco importando que o
procedimento tenha sido ordinário, sumário ou especial. [...] O que importa é
conter o julgado o reconhecimento de alguma prestação a ser cumprida pela
parte vencida72
.
Destaca-se quanto ao procedimento de Cumprimento de Sentença, lições de Wambier:
[...] no que tange à atividade jurisdicional executiva, tem-se, a partir da Lei
11.232/2005, o seguinte panorama: [...]
b) sentença condenatória ao pagamento de quantia proferida em processo
judicial civil, que é um título judicial, é executada dentro do próprio
processo em que for proferida, em uma fase subsequente à cognitiva. É
denominada fase de cumprimento de sentença. Depende de requerimento do
credor para iniciar-se, embora [...] não implique a instauração de um novo
processo. Seu procedimento apresenta algumas peculiaridades na etapa
inicial, mas, no geral, no que tange aos atos expropriatórios, incidem
subsidiariamente as regras do Livro II atinentes à execução por quantia certa;
[...]73
.
Merece destaque ainda as palavras de Humberto Theodoro Júnior citando Pontes de
Miranda ao referir-se a sentenças condenatórias contra a Fazenda Pública:
sentenças, inclusive das declaratórias e constitutivas, contém sempre provimentos de condenação relativos aos
encargos processuais (custas e honorários de advogado), e, neste passo, legitimam o vencedor a promover a
execução forçada, assumindo o caráter de título executivo judicial, também como sentença condenatória.‖ 70
GRECO Filho, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p.27. 71
SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p. 226. 72
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e Cumprimento
de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p. 71. 73
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.282.
30
Pela impossibilidade de penhora sobre bens públicos lembra Pontes de
Miranda que a sentença condenatória passada contra a Fazenda Pública é,
excepcionalmente, desprovida de força executiva74
.
Destacando-se que a sentença condenatória é desprovida de força executiva quando se
tratar de Execução por quantia certa contra Fazenda Pública75
, sendo conhecida como
Execução imprópria seguindo, então os trâmites dos artigos 730 e 731 do Código Processo
civil76
.
2.2.1.1.2 Sentença penal condenatória transitada em julgado (artigo 475-N, II do Código de
Processo Civil)
A sentença penal condenatória transitada em julgado, elencada no inciso II do artigo
475-N do Código de Processo Civil é título executivo judicial, tendo como fim a reparação do
dano causado pelo crime, em consonância com os efeitos da condenação, denotada no inciso I
do artigo 9177
do Código Penal.
Segundo Humberto Theodoro Júnior:
Essa reparação tanto pode consistir restituição do bem que a vítima foi
privada em conseqüência do delito como no ressarcimento de um valor
equivalente aos prejuízos suportados78
.
Importa destacar neste momento, que o título executivo só pode ser aproveitado pelo
ofendido79
, seu representante legal ou herdeiros80
conforme artigo 63 do Código de Processo
74
MIRANDA, 1961 apud THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de
Execução e Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p. 71. 75
A execução imprópria é aplicada tão somente em razão da impossibilidade de penhora e expropriar bens
públicos, e não por se tratar de obrigação pecuniária, conforme se observa nos artigos 730 e 731 do Código de
Processo Civil que dispõe: Art. 730. Na execução por quantia certa contra a Fazenda Pública, citar-se-á a
devedora para opor embargos em 10 (dez) dias; se esta não os opuser, no prazo legal, observar-se-ão as seguintes
regras: I - o juiz requisitará o pagamento por intermédio do presidente do tribunal competente; II - far-se-á o
pagamento na ordem de apresentação do precatório e à conta do respectivo crédito. Art. 731. Se o credor for
preterido no seu direito de preferência, o presidente do tribunal, que expediu a ordem, poderá, depois de ouvido
o chefe do Ministério Público, ordenar o seqüestro da quantia necessária para satisfazer o débito. 76
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e Cumprimento
de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p. 71. 77
BRASIL. VADEMECUM. p.556. ―Art. 91 - São efeitos da condenação: I - tornar certa a obrigação de
indenizar o dano causado pelo crime;‖. 78
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e Cumprimento
de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.76. 79
Vítima do crime. 80
Herdeiros nos casos de vítima fatal.
31
Penal81
, para executar, com intuito indenizatório, o condenado, pelo crime cometido. Não
podendo ser aproveitado contra terceiro responsável civil, devendo para tanto ingressar com
ação própria cível a fim de ser indenizada, reparada, ressarcida ou restituída.
[...] quando se pretender a indenização perante outros responsáveis cíveis
que não a pessoa condenada na esfera penal (exemplo: Código Civil, artigo
932, III), a sentença penal não servirá de título executivo, sob pena de ofensa
ao devido processo legal, à ampla defesa e ao contraditório (Constituição
Federal, artigo 5º, LIV e LV): frente aos que não foram parte no processo
penal, será necessário a obtenção de prévia sentença cível condenatória
mediante processo de conhecimento82
.
Salienta-se ainda que, apesar de ser título executivo judicial, a sentença penal
condenatória tem a característica penal, não podendo, portanto, ser executada civilmente no
processo em que foi proferida, exigindo a ―instauração de um específico processo civil
destinado à liquidação e à Execução. Esse processo terá que ser instaurado por iniciativa do
credor, mediante ação proposta perante o juiz competente, e nele o executado haverá de ser
citado (artigo 475-N, parágrafo único, acrescido pela Lei 11.232).‖83
.
Assim, verifica-se que apesar de seguir todos os trâmites da fase de Cumprimento de
Sentença, o procedimento se submeterá à instauração de novo processo, tendo, o executado,
que ser citado em consonância com o parágrafo único do artigo 475-N, do Código de
Processo Civil. Porém, com as ressalvas indicadas, o procedimento segue os trâmites da fase
de Cumprimento de Sentença.
2.2.1.1.3 Sentença homologatória de conciliação ou transação (artigo 475-N, III do Código de
Processo Civil)
A sentença homologatória de conciliação ou de transação prevista no artigo 475-N, III
do Código de Processo Civil, obtém o título de sentença judicial, apesar de resultar da vontade
das partes e não do julgamento do juiz. ―A intervenção do juiz é apenas para chancelar o
acordo de vontades dos interessados (transação e conciliação), limitando-se a fiscalização dos
aspectos formais do negócio jurídico (o acordo ou transação é, segundo a lei civil, um
81
BRASIL. VADEMECUM. p.634. ―Art. 63. Transitada em julgado a sentença condenatória, poderão
promover-lhe a execução, no juízo cível, para o efeito da reparação do dano, o ofendido, seu representante legal
ou seus herdeiros.‖ 82
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.63. 83
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.63.
32
contrato)‖84
. Destacando-se que tanto a conciliação quanto a transação, o resultado é a
extinção do processo com resolução do mérito, todavia, se faz mister que exista, na
conciliação ou transação, a obrigação de qualquer das partes de dar, fazer ou não fazer85
para
possibilitar a Execução.
A parte final do inciso III, que expressa: ―ainda que inclua matéria não posta em
juízo.‖ Indica que a conciliação e transação podem abranger matéria não inclusa na ação
ajuizada, portanto, não sendo limitada ao objeto da demanda86
.
Importa salientar que em conformidade com Wambier a sentença homologatória,
assim como a arbitral ―são executadas em um processo próprio, mas que segue basicamente as
peculiaridades procedimentais iniciais do Cumprimento de Sentença‖87
.
Verifica-se, quanto ao Cumprimento de Sentença do título elencado no inciso III, bem
como do inciso IV do artigo 475-N do Código de Processo Civil, que além da instauração de
processo, apresenta ainda a peculiaridade de o Executado ser citado para impugnar a
demanda, eis que não há um processo originário para prosseguir a fase de Cumprimento de
Sentença.
Gonçalves destaca a diferenciação entre conciliação e transação, onde a primeira é
realizada por iniciativa do juiz e a segunda é proveniente da iniciativa das partes, podendo
ocorrer fora do processo88
.
2.2.1.1.4 Sentença arbitral (artigo 475-N, IV do Código de Processo Civil)
A sentença arbitral que anterior a Lei 9.307 só era considerada título executivo judicial
após a homologação em juízo, passou, com o advento da referida lei, em 23 de setembro de
1996, a ter exeqüibilidade com o disposto no artigo 3189
, in verbis:
Lei 9.307/96.
84
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e Cumprimento
de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.77. 85
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Processo de Execução e cautelar. p.19. 86
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e Cumprimento
de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.78. 87
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.282. 88
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil: execução e processo
cautelar.v.3.São Paulo: Saraiva, 2008. p. 61. 89
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e Cumprimento
de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.78-79.
33
Art. 31. A sentença arbitral produz, entre as partes e seus sucessores, os
mesmos efeitos da sentença proferida pelos órgãos do Poder Judiciário e,
sendo condenatória, constitui título executivo90
.
A exceção reside quando se deparar com sentença arbitral estrangeira, que deverá ser
submetida à apreciação e homologação do Superior Tribunal de Justiça, para sofrer Execução
na justiça brasileira91
.
Em razão de a sentença não ser realizada pelo Poder Judiciário é imprescindível a
instauração de processo específico para a Execução da sentença arbitral, sendo que será
faculdade do credor, dependendo a instauração exclusivamente dele92
.
2.2.1.1.5 Acordo extrajudicial, homologado judicialmente (artigo 475-N, V do Código de
Processo Civil)
O acordo extrajudicial, ajustado fora dos autos, submetido à homologação judicial é
considerado título executivo judicial em consonância com o disposto no inciso V do artigo
475-N do Código de Processo Civil.
A indicação aludida no rol de títulos executivos judiciais se deu para que fosse defeso
ao juiz, se recusar a ―homologar a transação sob pretexto de inexistir processo em curso entre
as partes. O pedido de homologação, in casu, deve ser processado como expediente de
jurisdição voluntária (art. 1.103).‖93
.
2.2.1.1.6 Sentença estrangeira homologada pelo STJ (artigo 475-N, VI do Código de Processo
Civil)
A sentença estrangeira que era homologada pelo Supremo Tribunal Federal, com a
alteração do artigo 105, I, i da Constituição Federal, dada pela Emenda Constitucional nº 45
de 08.12.2004, passou a ser de competência do Superior Tribunal de Justiça.
Sem a homologação, a sentença estrangeira, por si só, não tem eficácia, em
decorrência da soberania nacional brasileira.
90
BRASIL. VADEMECUM. p.1553 e BRASIL. Lei nº 9.307 de 23 de setembro de 1996: Dispõe sobre a
arbitragem. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9307.htm> Acesso em 11/02/2009. 91
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e Cumprimento
de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.79. 92
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.66-67. 93
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e Cumprimento
de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.78.
34
Com a homologação a sentença estrangeira se torna título executivo judicial, e
conforme expressa Humberto Theodoro Júnior, ao citar o artigo 484 do Código de Processo
Civil: ―Na verdade, o título executivo é a carta de sentença94
extraída dos autos da
homologação (art. 484)‖95
.
A Execução do título executivo judicial sentença estrangeira homologada pelo
Superior Tribunal de Justiça tem como órgão competente a Justiça Federal de primeiro grau96
,
conforme dispõe o artigo 109, X da Constituição Federal:
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
[...];
X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a
execução de carta rogatória, após o "exequatur", e de sentença estrangeira,
após a homologação, as causas referentes à nacionalidade, inclusive a
respectiva opção, e à naturalização;97
.
Wambier destaca ainda:
[...] embora se trate de título executivo judicial, haverá a necessidade de
instauração de um novo e específico processo destinado à liquidação da
sentença, se for o caso, e à execução, perante o competente juiz federal de
primeiro grau. Nesse novo processo, será imprescindível a citação do
executado (art. 475-N, parágrafo único, acrescido pela Lei 11.232/2005). Se
a condenação tiver por objeto pagamento de quantia, aplicar-se-ão nesse
processo as regras do art. 475-J e seguintes (sobre o cumprimento de
sentença). Se tiver por objeto fazer, não fazer ou entrega de coisa, serão
seguidas as regras do Livro II atinentes aos processos de execução dessas
obrigações98
Sucintamente Gonçalves expressa que a Execução da sentença estrangeira
homologada pelo Superior Tribunal de Justiça, será feita em processo autônomo, sendo citado
94
Carta de sentença é ―[...]uma coletânea de peças de um processo, que habilita a parte a executar
provisoriamente a sentença e que só é formada porque os autos principais subirão à instância superior para
conhecimento do recurso da parte vencida, recurso esse que não é dotado de efeito suspensivo.‖ AMORIM, José
Roberto Neves. Professor Amorim. Dicionário Jurídico. Disponível em:
<http://www.professoramorim.com.br/amorim/texto.asp?id=214>. Acesso em: 21 abr. 2009. 95
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e Cumprimento
de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.79. 96
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.65. 97
BRASIL. VADEMECUM. p.41-42. 98
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.65.
35
o devedor99
, conforme consubstanciado no parágrafo único do artigo 475-N do Código de
Processo Civil.
2.2.1.1.7 Formal e certidão de partilha (artigo 475-N, VII do Código de Processo Civil)
Formal e certidão de partilha, títulos executivos judiciais, segundo Wambier ―São
documentos que retratam a adjudicação de quinhão sucessório, formalizando a transferência
da titularidade de bens em virtude de sucessão causa mortis‖100
.
A Execução do título executivo judicial formal/certidão de partilha, previsto no inciso
VII do artigo 475-N emerge quando o herdeiro, em não recebendo os bens exige-os pela via
executiva, utilizando-se do título hábil101
.
Ressalta-se que se o bem estiver na posse de pessoa que não seja o inventariante, o
herdeiro ou sucessor, não poderá o titular do formal/certidão de partilha se utilizar da via
executiva, deverá pleitear em processo de conhecimento a condenação para ser-lhe entregue a
coisa102
.
Destaca Moacyr Amaral Santos:
A certidão de partilha tem força executiva quando substitutiva do formal de
partilha, nos termos do parágrafo único do art. 1.027 do referido Código103
:
‗O formal de partilha poderá ser substituído por certidão do pagamento do
quinhão hereditário, quando este não exceder cinco vezes o salário mínimo
vigente na sede do juízo.‘104
.
Em que pese à identificação do título executivo judicial formal de partilha,diante da
explicação concedida a certidão, tem-se que:
99
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil: execução e processo
cautelar. p. 63. 100
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.65. 101
SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p. 227. 102
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Processo de Execução e cautelar. p.20. 103
―O referido Código‖ indicado na citação refere-se ao Código de Processo Civil Brasileiro. 104
SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p. 227.
36
Formal de partilha ‗é a carta de sentença extraída dos autos de inventário,
com as formalidades legais, para título e conservação do direito do
interessado, a favor de quem ela foi passada‘105
.
Importante ainda ressaltar a introdução do artigo 461-A com a redação dada pela Lei
10.444 de 07 de maio de 2002, verifica-se que não há necessidade de propositura de nova
ação para Execução de sentença para entrega de coisa. Com o advento do referido artigo o
cumprimento se dá de plano106
em consonância com o artigo 475-I, que dispõe:
Art. 475-I. O cumprimento da sentença far-se-á conforme os arts. 461 e
461-A desta Lei ou, tratando-se de obrigação por quantia certa, por
execução, nos termos dos demais artigos deste Capítulo107
. (grifou-se).
Por fim, denota-se a Lei 11.441/2007 que autorizou a realização de inventário e
partilha extrajudicialmente. Para tanto deve ser feito, ―perante tabelião, quando não houver
testamento e todos os interessados forem capazes e não tiverem nenhuma divergência quanto
à partilha.‖108
.
Merece destaque tal denotação em razão de que a escritura resultante do inventário ou
partilha não tem caráter de título executivo judicial. Assim para assumir tal característica,
deverá ―ser homologada, nos termos do artigo 1.031 do Código.‖109
.
O Código a que se refere Wambier é o Código de Processo Civil, e o artigo 1.031
dispõe:
Art. 1.031. A partilha amigável, celebrada entre partes capazes, nos termos
do art. 2.015 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil, será
homologada de plano pelo juiz, mediante a prova da quitação dos tributos
relativos aos bens do espólio e às suas rendas, com observância dos arts.
1.032 a 1.035 desta Lei110
.
105
OLIVEIRA, Itabaiana apud THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo
de Execução e Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.80. Humberto
Theodoro Júnior cita Itabaiana de Oliveira in: Elementos de Direito das Sucessões, p.602. 106
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.80. 107
BRASIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO. p.350. 108
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.66. 109
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.66. 110
BRASIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO. p.793.
37
Portanto, após verificação dos requisitos formais e da verificação do recolhimento dos
tributos pertinentes, o juiz chancela o plano de partilha, a partir de então tornando-se título
executivo judicial111
.
2.2.1.2 Titulo executivo extrajudicial
Conforme já indicado o título executivo extrajudicial teve origem na Idade Média,
quando alguns instrumentos de crédito passaram a ter força executiva112
.
Os títulos executivos extrajudiciais podem ser provenientes de documento público ou
particular, todavia, independente da origem, só serão considerados àqueles, denotados na
legislação, que cumprirem os requisitos e formalidades dados pela lei113
.
Importa que o título executivo extrajudicial segue a exigência do artigo 586, sendo
indispensável a certeza, liquidez e exigibilidade da obrigação. Se ausente qualquer dos
requisitos, mister se faz a ação de conhecimento.
Destaca Vicente Greco Filho:
Tem sido objeto de discussão nos tribunais a situação de liquidez, ou não, de
títulos de crédito em índices variáveis, como as hoje extintas OTN –
Obrigações do Tesouro Nacional, ou UPC – Unidade Padrão de Capital, do
sistema Financeiro da Habitação, e mesmo o dólar. [...] O verdadeiro
problema está em saber se é legítima a substituição da moeda real, de
circulação obrigatória e exclusiva, por outros tipos de moeda móvel, tanto
sob o aspecto da formalidade do título [...] quanto sob o aspecto econômico
da proibição da adoção de unidade monetária diferente do real. [...] O
mesmo problema existe em relação aos contratos em moeda estrangeira. Se
em quantia fixa, não deixam de ser líquidos, mas podem ser nulos se não se
enquadrarem na legislação que regula o pagamento em moeda estrangeira no
Brasil114
.
111
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.66. Ainda acrescenta Wambier
que a escritura por si só, do inventário/partilha ―[...] terá apenas valor e eficácia de título executivo extrajudicial
(art. 585, II) [...]‖, enquanto não realizados os trâmites para dar-lhe a configuração de título executivo judicial. 112
GRECO Filho, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p.32. 113
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.207. Ainda expressa que: ―a)
particular é o título originado de negócio jurídico privado e elaborado pelas próprias partes; b) público é o que
se constitui através de documento oficial emanado de algum órgão da administração pública.‖ 114
GRECO Filho, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p.33-34.
38
Os títulos executivos extrajudiciais ―são atos que abstratamente indicam alta
probabilidade de violação de norma ensejadora de sanção e que, por isso, recebem força
executiva.‖115
. Estão elencados no artigo 585 do Código de Processo Civil, in verbis:
Art. 585. São títulos executivos extrajudiciais:
I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque;
II - a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor; o
documento particular assinado pelo devedor e por duas testemunhas; o
instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela
Defensoria Pública ou pelos advogados dos transatores;
III - os contratos garantidos por hipoteca, penhor, anticrese e caução, bem
como os de seguro de vida;
IV - o crédito decorrente de foro e laudêmio;
V - o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de
imóvel, bem como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas de
condomínio;
VI - o crédito de serventuário de justiça, de perito, de intérprete, ou de
tradutor, quando as custas, emolumentos ou honorários forem aprovados por
decisão judicial;
VII - a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados,
do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, correspondente aos
créditos inscritos na forma da lei;
VIII - todos os demais títulos a que, por disposição expressa, a lei atribuir
força executiva116
.
De forma a melhor compreensão, a seguir serão analisados brevemente, cada um dos
títulos executivos extrajudiciais denotados no artigo 585 do Código de Processo Civil, recém
citado.
2.2.1.2.1 A letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque (artigo
585, I do Código de Processo Civil)
São os títulos de crédito mais comuns117
. Todos apresentam sob certo prisma, os
requisitos liquidez e certeza da obrigação pelo seu conteúdo.
Cada um dos títulos cambiários enumerados pelo art. 585, nº I, acha-se
regulado em lei material própria, sendo que, com relação ao cheque, à letra
de câmbio e à nota promissória, a legislação nacional (Dec. nº 2.591, de
1912, e Dec. nº 2.044, de 1908) acha-se grandemente alterada pela adesão do
Brasil à Convenção de Genebra para adoção de leis uniformes, que foram
115
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.67. 116
BRASIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO. p.474-475. 117
GRECO Filho, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p.34.
39
postas em vigor, entre nós, pelos Decretos nºs 57.595 e 57.663, de 07 e 24 de
janeiro de 1966, respectivamente118
.
Ressalta-se que é imprescindível na Execução de título executivo extrajudicial, ―em
relação aos títulos cambiários, [...] exibição do original do título executivo, não sendo tolerada
a utilização de fotocópias. Estando, porém, o título no bojo de outro processo, de onde não
seja permitido o seu desentranhamento, a jurisprudência tem admitido a execução mediante
certidão.‖119
.
O original é indispensável tendo em vista tratar-se de título de crédito, negociável,
podendo ser colocado no mercado a qualquer tempo, prejudicando assim a Ação Executiva se
assim proceder o credor/autor da Execução.
Em suma, tem-se:
a) Letra de Câmbio: ―a letra de câmbio é ordem de pagamento, à vista ou a prazo,
que alguém (sacador) dirige a outrem (sacado) para pagar a terceiro (beneficiário da
ordem).‖120
.
b) Nota promissória:
A nota promissória [...] Trata-se de promessa de pagamento emitida
diretamente pelo devedor de modo que sua força executiva perante este (e
eventual avalista) independe de protesto. O protesto será necessário apenas
para tornar a promissória exigível frente a endossadores e respectivos
avalistas121
.
c) Duplicata: A duplicata deste inciso I, para Vicente Greco Filho, é aquela aceita,
sendo a duplicata não aceita remetida ao inciso VIII do mesmo artigo 585 do Código de
Processo Civil122
. Já Wambier no mesmo posicionamento de Gonçalves e Humberto
Theodoro Júnior123
:
118
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.207. 119
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.208. 120
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.68. 121
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.68. 122
GRECO Filho, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p.34. 123
WAMBIER, Luiz Rodrigues, (coord.). Curso avançado de processo civil. p.67-68; GONÇALVES, Marcus
Vinicius Rios, Processo de Execução e cautelar. p.20; THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito
Processual Civil. Processo de Execução e Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de
Urgência. p.208.
40
Para que funcione como título executivo, precisa estar aceita pelo sacado
(Lei 5.474/68, art.15, I). Se não aceita para ter força executiva (i) deverá
estar protestada, (ii) acompanhada do comprovante de entrega do produto ou
da efetiva prestação do serviço (bem como, nesse segundo caso, do vínculo
contratual que a autorizou) e (iii) não poderá ter havido recusa de aceite,
pelos meios e nas condições legalmente previstos (Lei 5.474/68, art. 15,
II)124
.
d) Debêntures: ―debêntures são títulos de crédito emitidos em série por sociedades
anônimas a fim de obter empréstimos junto ao público (Lei 6.404/76[...]) [...] A força
executiva da debênture independe de protesto.‖125
.
e) Cheque: ―o cheque é uma ordem de pagamento a vista.‖126
.
O cheque igualmente independe de protesto ou outras formalidades para que
sirva de título executivo perante o emitente e seu avalista (Lei 7.357/85, art.
47, I). Já contra os endossantes e seus avalistas, poderá ser promovida a
execução se o ‗cheque apresentado em tempo hábil e a recusa de pagamento
é comprovada pelo protesto ou por declaração do sacado, escrita e datada
sobre o cheque, com indicação do dia de apresentação, ou, ainda, por
declaração escrita e datada por câmara de compensação.‘ (Lei 7.357/85, art.
47, II)127
.
O cheque tem como legislação base a Lei 7.357/85. Ainda tem prazo prescricional de
seis meses. Ultrapassado o prazo prescricional poderá o credor, em dois anos, pleitear
judicialmente o reconhecimento obtendo a legitimação para exercer atos executivos128
.
2.2.1.2.2 A escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor; o documento
particular assinado pelo devedor e por duas testemunhas; o instrumento de transação
referendado pelo ministério público, pela defensoria pública ou pelos advogados dos
transatores (artigo 585, II do Código de Processo Civil)
O inciso II do artigo 585 foi alterado pela Lei 8.953/94. Sendo que a nova disposição
extinguiu a limitação anterior que permitia a Execução somente de ―documento público ou
124
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.67-68. 125
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.68-69. 126
BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: tutela jurisdicional
executiva. v.3. São Paulo: Saraiva, 2008. p.94. 127
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.68. 128
BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: tutela jurisdicional
executiva. p.94.
41
particular subscrito por testemunhas, que contivesse obrigação de pagar determinada quantia,
ou de entregar coisa fungível.‖129
.
Os títulos denotados neste inciso podem agora, ―ter por objeto também as obrigações
de entregar coisa infungível, fazer e não fazer‖130
.
Importa destacar que a obrigação de dar coisa certa ou genérica, de fazer ou não fazer
ou de dar quantia certa contida em qualquer dos títulos executivos extrajudiciais denotados no
inciso II do artigo 585 do Código de Processo Civil, podem ser exigidas na Ação Executiva,
desde que cumpram os requisitos de certeza, liquidez e exigibilidade e ―inexistam condições
dependentes de fatos por apurar‖131
.
Humberto Theodoro Júnior chama atenção quanto ao documento particular assinado
por devedor analfabeto, tendo em vista que tal título só poderá ser firmado de próprio punho
ou por procurador com mandato por escritura pública, não tendo validade a assinatura a rogo,
mesmo que na presença de duas testemunhas132
. É aceito tão somente no documento
público133
.
Imprescindível destacar que há divergência quanto à qualidade das testemunhas que
exaram o documento particular assinado pelo devedor.
A primeira corrente, defende que as testemunhas devem ser presenciais, ou seja:
[...] Estas testemunhas destinam-se a servir como prova em caso de eventual
impugnação do teor do documento ou da vontade livre de um dos pactuantes
no momento da sua elaboração. Assim, tal testemunha deve ter condição de
ulteriormente prestar prova testemunhal em juízo, não podendo estar
marcada por qualquer das causas de incapacidade, impedimento e suspeição
presentes no art. 405 do CPC. Quanto aos documentos particulares, deverão
estar assinados por duas testemunhas, presentes à elaboração do instrumento.
Não havendo esta cautela, sua exeqüibilidade depende da chancela do
129
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Processo de Execução e cautelar. p.21. 130
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.69. 131
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.209. 132
Vicente Greco Filho atenta para os riscos da ampliação, expressando (in: GRECO Filho, Vicente. Direito
Processual Civil Brasileiro. p.35): ―De um lado, a ampliação dá maior efetividade aos negócios jurídicos
privados e, consequentemente, à atuação judicial, mas, de outro, corre-se o risco de serem esses negócios
inexeqüíveis, quando lhes faltar clareza, por exemplo, ou abusivos, quando realizados entre partes em
desequilíbrio econômico.‖ 133
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.210.
42
Ministério Público, da Defensoria Pública ou dos advogados de todas as
partes envolvidas134
. (grifo do autor).
No mesmo sentido Gonçalves expressa que a assinatura das testemunhas, é exigida,
justamente para que possa comprovar em juízo que presenciou a manifestação de vontade do
devedor135
.
Cassio Scarpinella Bueno136
indica que as testemunhas não são meramente
instrumentais, ―[...] devem ser presenciais ao ato de assinatura do documento pelo devedor
[...]‖137
.
Ainda sobre esta corrente, nota-se em casos específicos, o embasamento proveniente
de súmulas, como é o caso do contrato de adesão (bancário) subscrito por duas
testemunhas138
, senão vejamos:
Súmula 233 do Superior Tribunal de Justiça. O contrato de abertura de
crédito, ainda que acompanhado de extrato da conta corrente, não é título
executivo139
.
Gonçalves conclui indicando que se as testemunhas forem consideradas meramente
instrumentais, melhor dispensá-las, eis que são as testemunhas que revestem o título de
certeza, não podendo, portanto, exararem posteriormente à confecção do contrato, sendo
necessário que tenham conhecimento do instrumento, tendo presenciado-o140
.
134
MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de processo civil. p.429. 135
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil: execução e processo
cautelar. p. 68. 136
BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: tutela jurisdicional
executiva. v.3. São Paulo: Saraiva, 2008. Mestre, Doutor e Livre-docente em Direito Processual Civil da
Faculdade de Direito da PUC/SP. Professor de Direito Processual civil nos cursos de Graduação, Especialização,
Mestrado e Doutorado da Faculdade de Direito da PUC/SP. Professor visitante do curso de Mestrado das
Faculdades das Faculdades Integradas de Vitória (FDV). Membro do Instituto Brasileiro de Direito Processual e
do Instituto Ibero-americano do Direito Processual. Advogado em São Paulo. 137
BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: tutela jurisdicional
executiva. p.95. 138
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil: execução e processo
cautelar. p. 69. 139
BRASIL. VADEMECUM. p.1720. 140
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil: execução e processo
cautelar. p. 70.
43
Em contrapartida existe uma segunda corrente que defende que as testemunhas são
meramente instrumentárias. Sobre o assunto, leciona José Miguel Garcia Medina141
:
[...] Neste caso, entende-se que a assinatura das testemunhas é indispensável,
salvo se a Lei expressamente preterir tal requisito. Já se decidiu, no entanto,
que tais testemunhas são meramente instrumentárias (isto é, não precisam ter
assinado o documento contemporaneamente ao devedor), e que a falta de
identificação das mesmas ou o fato de estarem as suas assinaturas ilegíveis
não afeta a higidez do título executivo.Vê-se, portanto, que a jurisprudência
tem sido flexível, quanto à formação do título executivo no caso ora
analisado o que, segundo pensamos, decorre do fato de ter-se adotado, em tal
hipótese, um tipo aberto para a configuração do título executivo. Isso
permite que um ato jurídico, formulado para configurar um título previsto
em um tipo fechado, venha, ainda assim, a ser considerado um título
executivo, se, residualmente, acabar se ajustando à previsão contida em um
tipo aberto142
. (grifo do autor).
Portanto, a segunda corrente, que indica que as testemunhas são meramente
instrumentais funda-se na interpretação literal ao texto da lei143
.
2.2.1.2.3 Os contratos garantidos por hipoteca, penhor, anticrese e caução, bem como os de
seguro de vida (artigo 585, III do Código de Processo Civil)
O inciso III do artigo 585 do Código de Processo Civil foi alterado pela Lei
11.382/2006, tendo-lhe sido acrescido o termo garantido, ou seja, no texto anterior os
contratos de hipoteca, de penhor, de anticrese e de caução eram títulos executivos
extrajudiciais. Já com o advento da Lei 11.382/2006, os títulos são os contratos garantidos por
hipoteca, penhor, anticrese e caução. Assim ―o que se executa é o crédito constituído pelo
141
MEDINA, José Miguel Garcia. Execução. v.3. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. Doutor e mestre em
Direito Processual Civil pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP. Professor de Direito
Processual Civil no curso de graduação da Universidade Estadual de Maringá – UEM, nos cursos de mestrado da
Universidade Paranaense – UNIPAR e da Universidade de Ribeirão Preto – UNAERP, e nos cursos de pós
graduação lato sensu da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP. Membro do Conselho de
Redação da Revista de Processo – RePro e do Conselho Editorial da Revista Brasileira de Direito Processual –
RBDPro. Membro do Instituto Brasileiro de Direito Processual – IBDP, da Academia Brasileira de Direito
Processual Civil – ABDPC, do Instituto Brasileiro de Ciências Jurídicas – IBCJ e do Instituto Panamericano de
Derecho Procesal – IPDP. Advogado. Conselheiro Estadual da Ordem dos Advogados do Brasil, seção do
Paraná. 142
MEDINA, José Miguel Garcia. Execução.p. 88-89. 143
MEDINA, José Miguel Garcia. Execução.p. 88-89. Ainda, o autor cita como fundamentação os
entendimentos do Superior Tribunal de Justiça: STJ, 3ª T. REsp 137.895/PE, rel. p/ acórdão Min. Humberto
Gomes de Barros, j. 20.10.2005, DJ 19.12.2005, p.392; STJ, 4ª T. REsp 541.267/RJ, rel. Min. Jorge Scartezzini,
j. 20.09.2005, DJ 17.10.2005, p.298; STJ, 4ª T. REsp 159.747/SP, rel. Min. Barros Monteiro, j. 18.10.2005, DJ
12.12.2005, p.386; STJ, 4ª T. REsp 225.071/SP, rel. Min. Fernando Gonçalves, j. 01.04.2004, DJ 19.04.2004,
p.200.
44
contrato. A garantia é apenas o instrumento de facilitação da exigência do direito do
credor.‖144
.
As garantias podem ser reais ou pessoais, ―[...] podem ser constituídas por
antecipação, [...] e até podem ser outorgadas por pessoa diversa da do devedor [...]‖145
. Assim
se a garantia for dada por terceiro (fiador/avalista), este pode ser executado pela dívida
garantida com a garantia dada, não podendo ser o terceiro responsabilizado solidariamente
pela dívida. Assim a responsabilidade patrimonial do terceiro garantidor é limitada à garantia,
não respondendo este por quaisquer acréscimos além daquele garantido pelo terceiro
garantidor146
.
Ressalta-se que é totalmente inadmissível pretender-se executar apenas o
devedor principal e fazer a penhora recair sobre o bem do terceiro garante.
Se a execução vai atingir o bem dado em caução real pelo não-devedor, este
forçosamente terá de ser parte na relação processual executiva, quer
isoladamente, quer em litisconsórcio com o devedor. Jamais poderá suportar
a expropriação executiva sem ser parte no processo, como é óbvio147
.
A garantia pode ser convencional e legal para o penhor, e convencional, legal e
judicial para a hipoteca, conforme leciona Humberto Theodoro Júnior. Convencional, quando
derivada de contrato; Legal, de lei (hóspede e hospedeiro, locador e locatário); e Judicial,
quando derivada de sentença condenatória148
.
A anticrese ―é o direito real de garantia sobre ‗os frutos e rendimentos‘ de um
imóvel‖149
. Está em desuso.
A caução é garantia real (penhor, hipoteca e anticrese) ou fidejussória150
(fiança)151
.
144
THEODORO Júnior, Humberto. A reforma da execução do título extrajudicial. p.19. 145
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.212. 146
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.212-213. 147
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.213. 148
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.215. 149
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.215. 150
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.216. 151
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.216. ―A caução fidejussória consiste
na fiança, garantia tipicamente pessoal e que pode ser convencional, legal e judicial […]‖.
45
Os contratos de seguro de vida são as apólices, que são consideradas título executivo
extrajudicial, comparados com a prova do óbito do segurado.
Wambier destaca que a apólice pode ser substituída por outros documentos152
,
―[...]diante da essencialidade de que o crédito se reveste‖153
.
2.2.1.2.4 O crédito decorrente de foro e laudêmio (artigo 585, IV do Código de Processo
Civil)
Em palavras de Vicente Greco Filho:
Foro e laudêmio são créditos decorrentes do contrato de enfiteuse. O foro é
uma prestação anual que o foreiro ou o enfiteuta, titular do domínio útil,
paga ao titular da propriedade pura; o laudêmio é o pagamento devido pelo
enfiteuta quando transfere o domínio útil154
.
Ocorre que o instituto enfiteuse foi terminantemente proibido pelo artigo 2.038, caput,
do Código Civil. Assim o inciso IV permanece em razão das enfiteuses que ainda existem,
subordinando-se aos dispositivos do Código Civil de 1.916155
.
2.2.1.2.5 O crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de imóvel, bem
como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas de condomínio (artigo 585, V do
Código de Processo Civil)
O texto do inciso V do artigo 585 do Código de Processo Civil permite que qualquer
documento comprobatório da locação seja título hábil a promover a Ação Executiva, eis que o
aluguel é ―[...] crédito periódico a que faz jus o locador, nos contratos de locação.‖156
.
Anteriormente se fazia mister o contrato de locação, hodiernamente, porém,
apresentando documentos que sejam provas cabais da existência do contrato, mesmo que
verbal, há como proceder a Ação Executiva157
.
Expressa Vicente Greco Filho:
152
―Aceitação de proposta da seguradora, correspondências que noticiem a existência do seguro etc.‖ 153
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.70. 154
GRECO Filho, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p.36. 155
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.71. 156
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.71. 157
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.71.
46
A falta de pagamento de alugueres pode permitir a ação de despejo com esse
fundamento; decretado o despejo e efetivada a desocupação, é adequada a
execução para a cobrança de alugueres e demais despesas. [...] Observa-se,
porém, que [...] os alugueres continuam como título executivo extrajudicial e
não judicial, porque sua cobrança não é objeto da ação de despejo e,
portanto, não se torna indiscutível pela coisa julgada158
.
Quanto aos encargos acessórios a que se refere o inciso V do artigo 585 do Código de
Processo Civil, Humberto Theodoro Júnior indica que é muito claro, eis que sendo acessório
do crédito decorrente de aluguel de imóvel, somente na qualidade de acessório que segue o
principal é que se revestirá de força executiva159
.
Ainda:
Fora do contrato locatício, os encargos, como dívida do condômino ao
condomínio, não gozam isoladamente de semelhante força jurídica. Tem,
pois, o condomínio de sujeitar-se à ação do artigo 275, II, b, qual seja, a ação
de conhecimento de procedimento sumário, para haver em juízo as
contribuições devidas pelos comunheiros160
.
Tal denotação é de suma importância, eis que a dívida de condomínio é caracterizada
como título executivo extrajudicial, desde que seja acessório do aluguel, em consonância com
o disposto no inciso V do artigo 585 do Código de Processo Civil161
. Todavia, quando isolada
a dívida, não é considerado título executivo extrajudicial, devendo seguir os trâmites do artigo
275, II, b do Código de Processo Civil, ressaltando que a cobrança se dará contra o
proprietário do imóvel, que é o titular da dívida, podendo reaver o valor do inquilino,
inclusive as despesas oriundas162
, através de Execução de título extrajudicial, na forma do
inciso V do artigo 585 do Código de Processo Civil.
2.2.1.2.6 O crédito de serventuário de justiça, de perito, de intérprete, ou de tradutor, quando
as custas, emolumentos ou honorários forem aprovados por decisão judicial (artigo 585, VI do
Código de Processo Civil)
158
GRECO Filho, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p.37. 159
THEODORO Júnior, Humberto. A reforma da execução do título extrajudicial. 2007, p.20. 160
THEODORO Júnior, Humberto. A reforma da execução do título extrajudicial. p.21. 161
THEODORO Júnior, Humberto. A reforma da execução do título extrajudicial. p.21. 162
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil: execução e processo
cautelar. p. 74-76.
47
Os referidos créditos, apesar de provenientes de decisão judicial são títulos executivos
extrajudiciais eis que ―não é sentença ditada em contraditórios, por isso não tem força de
coisa julgada.‖163
.
Humberto Theodoro Júnior indica que não havendo relação processual entre o
serventuário permanente164
ou eventual165
e a parte devedora, a Execução das custas
dependem da aprovação por decisão judicial executando-se o título executivo extrajudicial
oriundo da referida decisão166
.
2.2.1.2.7 A certidão de dívida ativa da fazenda pública da União, dos Estados, do Distrito
Federal, dos Territórios e dos Municípios, correspondente aos créditos inscritos na forma da
lei (artigo 585, VII do Código de Processo Civil)
O título executivo extrajudicial denotado no inciso VII do artigo 585 do Código de
Processo Civil, é a certidão de dívida ativa, e está regulada por disposição legislativa especial,
Lei nº 6.830/80167
.
Preleciona Wambier:
A inscrição em dívida ativa, conquanto, em si, seja ato unilateral da Fazenda
Pública, e precedida de procedimento administrativo em que se garante a
participação em contraditório do administrado (CF, art. 5º, LV) [...]168
.
Importa destacar que a dívida ativa tem amplitude, abrangendo não só as receitas
definidas como tributárias, mas toda e qualquer receita, de qualquer valor, que após
procedimentos administrativos concernentes, persista impaga ou inconteste pelo devedor, que
acarreta na inscrição em dívida ativa169
.
163
GRECO Filho, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p.37. 164
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.218. Serventuários permanentes são
escrivães, escreventes, distribuidores, contadores, tesoureiros, oficiais de justiça, depositários, avaliadores,
tabeliães , oficiais de registro etc. 165
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.218. Eventuais são os peritos, o
intérprete e o tradutor. 166
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.218. 167
GRECO Filho, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 37. 168
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.73. 169
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.218-219.
48
Leciona ainda Humberto Theodoro Júnior:
A omissão de qualquer dos requisitos170
da certidão, ou erro a eles relativo
são causas de ‗nulidade da inscrição e do processo de cobrança dela
decorrente‘ (CTN, art. 203). Admite-se, porém, a substituição do documento
defeituoso no curso da execução, reabrindo-se ao devedor o prazo de defesa,
a qual, no entanto, somente poderá versar sobre a parte modificada [...]171
.
Importa ressaltar que a certidão deve ser expedida consubstanciada no artigo 2º172
da
mencionada Lei 6.830/80, sendo correto afirmar que o procedimento segue a lei especial,
respeitados os pressupostos da Execução de título extrajudicial173
.
2.2.1.2.8 Todos os demais títulos a que, por disposição expressa, a lei atribuir força executiva
(artigo 585, VIII do Código de Processo Civil)
―Apenas a lei federal poderá instituir títulos executivos, uma vez que é da União a
competência para legislar sobre processo (CF, art. 22, I).‖174
.
Exemplos de títulos a que se refere o inciso VIII do artigo 585 do Código de Processo
Civil: ―cédula de crédito rural (Dec.-Lei 167/67, art. 41), industrial (Dec.-Lei 413/69, art. 10)
e comercial (Lei 6.840/80 c/c o Dec.-Lei 413/69); [...] o instrumento de contrato garantido por
alienação fiduciária (Dec.-Lei 911/69, art. 5º) [...]‖175
; ―[...] o contrato de honorários de
advogado (Lei nº 8.906/94, art. 24), os créditos da Previdência Social (Lei 8.212/91, art. 39,
§1º)‖176
.
170
Os requisitos da certidão estão no artigo 202 do Código Tributário Nacional e no artigo 2º, §5º da Lei
6.830/80. 171
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.219. Peculiaridades: ―[...] O crédito
fiscal é preferencial e goza, inclusive de preferência sobre o do credor hipotecário e pignoratício [...] A mulher
casada não assiste o direito de opor embargos de terceiro para excluir sua meação [...]. A Fazenda Pública não
está sujeira ao pagamento de custas e emolumentos [...] Aplica-se [...] ao executivo fiscal a regra comum da
sucumbência [...].‖ 172
Art. 2º - Constitui Dívida Ativa da Fazenda Pública aquela definida como tributária ou não tributária na Lei nº
4.320, de 17 de março de 1964, com as alterações posteriores, que estatui normas gerais de direito financeiro
para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito
Federal. [...]. 173
BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: tutela jurisdicional
executiva. p.102. 174
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.73. 175
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.73. 176
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.222.
49
Desta forma todos os demais títulos executivos, estarão instituídos em legislação, não
existindo título com força executiva, sem disposição expressa em lei177
.
2.2.2 Inadimplemento do devedor
Zavascki178
indica Liebman179
como influenciador direto ao Código de Processo Civil
no que tange aos requisitos específicos da Execução: inadimplemento do devedor e título
executivo.
Segundo a doutrina liebmiana [...] ‗A situação de fato que pode dar lugar à
execução [...] consiste sempre na falta de cumprimento de uma obrigação
por parte do obrigado. [...] a existência de um crédito insatisfeito não é
porém suficiente para que possa pedir-se a execução‘180
.
Assim visivelmente se faz necessária a conjugação dos dois requisitos para ser viável
Ação Executiva ou o Cumprimento de Sentença181
.
O inadimplemento do devedor, como requisito específico necessário à propositura da
Ação Executiva ou o Cumprimento de Sentença tem seu conceito brevemente indicada no
artigo 580 do Código de Processo Civil, como sendo o descumprimento da obrigação certa,
líquida e exigível. In verbis:
Art. 580. A execução pode ser instaurada caso o devedor não satisfaça a
obrigação certa, líquida e exigível, consubstanciada em título executivo182
.
Vicente Greco Filho expressa que a obrigação é considerada cumprida, quando
totalmente satisfeita pelo devedor, e
[...] Igualmente, se a prestação feita pelo devedor não corresponde ao direito
ou obrigação, pode o credor recusá-la propondo a execução ou nela
prosseguindo (581). É o caso, por exemplo, do art. 313 do Código Civil de
177
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil: execução e processo
cautelar. p. 78. 178
TEORI ALBINO ZAVASCKI é Desembargador Federal. Tomou posse no TRF 4ª Região em 30 de março de
1989. Vice Presidente do TRF de 20/06/1997 até 20/06/1999; Presidente do TRF 4ª Região de 21/06/2001 até
07/05/2003, Ministro do STJ desde 08 de maio de 2003. 179
ENRICO TULIO LIEBMAN. 180
ZAVASCKI, Teori Albino; SILVA, Ovídio Araújo Baptista da (coord.). Comentários ao Código de
Processo Civil. Vol. 8. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p.158. 181
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.152. 182
BRASIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO. p.471.
50
2002: ‗O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é
devida, ainda que mais valiosa‘183
.
No mesmo sentido Humberto Theodoro Júnior complementa:
A discussão em torno da regularidade e perfeição do pagamento, se anterior
à execução, deverá ser objeto do processo incidente (mas à parte) dos
embargos à execução [...], se se tratar de execução fundada em título
extrajudicial ou de execução contra a Fazenda Pública. Será tratada a matéria
em impugnação quando a execução forçada estiver sendo processada como
‗cumprimento de sentença‘184
.
No que tange à defesa do devedor, leciona Wambier, que
[...] uma vez afirmado o inadimplemento pelo exeqüente, a alegação e a
demonstração do contrário pelo executado terão de ser feitas,
necessariamente, em embargos (processo de conhecimento autônomo,
embora incidental ao processo de execução) ou em impugnação ao
cumprimento da sentença (incidente processual de conhecimento, cabível na
fase de cumprimento de sentença, instituído pela Lei 11.232/2005)185
.
Wambier ressalta ainda que quando houverem obrigações recíprocas, não se poderá
exigir uma sem o implemento da outra. E se ocorrer a Execução de uma parte, aplicar-se-á o
parágrafo único do artigo 582186
do Código de Processo Civil que dispõe:
Art. 582. Em todos os casos em que é defeso a um contraente, antes de
cumprida a sua obrigação, exigir o implemento da do outro, não se procederá
à execução, se o devedor se propõe satisfazer a prestação, com meios
considerados idôneos pelo juiz, mediante a execução da contraprestação pelo
credor, e este, sem justo motivo, recusar a oferta.
Parágrafo único. O devedor poderá, entretanto, exonerar-se da obrigação,
depositando em juízo a prestação ou a coisa; caso em que o juiz suspenderá a
execução, não permitindo que o credor a receba, sem cumprir a
contraprestação, que Ihe tocar187
.
183
GRECO Filho, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 23-24. 184
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.153. 185
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.78. 186
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.78. 187
BRASIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO. p.472.
51
O referido artigo trata da ―aplicação ao processo de execução, da exceptio non
adimpleti contractus188
, [...] que terá lugar sempre que o credor pretender executar o devedor,
sem a prévia ou a concomitante realização da contraprestação a seu cargo.‖189
.
Tal exceção, frustra a Execução pela ausência do inadimplemento, eis que a recusa do
devedor ao pagamento será justa, e, portanto o credor enquanto não implementar sua
prestação será carecedor de pressuposto necessário à propositura da ação190
.
Merece destaque ainda, eis que em se tratando de obrigações recíprocas, derivadas de
um mesmo título, se a parte exeqüente não cumprir a sua prestação, esta poderá ser exigida
pelo devedor, que ao cumprir a sua obrigação, permitirá ao juiz proceder a suspensão da
Execução, sendo permitido ao exeqüente/credor o respectivo levantamento se cumprir a
obrigação que lhe toca191
.
2.3 VIAS DE EXECUÇÃO
Hodiernamente com o advento da Lei 11.232 de 22 de dezembro de 2005, o Código de
Processo Civil passou a ter duas vias de Execução: a Ação Executiva de títulos executivos
extrajudiciais e o Cumprimento de Sentença na hipótese de títulos judiciais192
.
É bem verdade que tal alteração advém de um ciclo de alterações no Código de
Processo Civil, como bem expressa Wambier:
Essa orientação começou a modificar-se com o novo modelo de tutela para
as obrigações de fazer e de não fazer, pelo qual a sentença que impõe o
cumprimento de deveres dessa natureza é efetivada no próprio processo em
que proferida (CPC, art. 461, na redação dada pela Lei 8.952/94).
A mudança prosseguiu com a extensão do regime do art. 461 às obrigações
de entrega de coisa (art. 461-A, introduzido pela Lei 10.444/2002).
As regras acerca do cumprimento da sentença condenatória ao pagamento de
quantia, instituídas pela Lei 11.232/2005, completam esse ciclo de
188
Exceção de contrato não cumprido. 189
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.154. 190
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.154. 191
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.154. 192
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.13.
52
transformação. [...] a circunstância de não implicar a instauração de novo
processo193
.
Importante, neste momento destacar, com relação à alteração proposta pela Lei
11.232/2005, a ―Exposição de Motivos194
do Ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos‖195
:
[...] 3. É tempo, já agora, de passarmos do pensamento à ação em tema de
melhoria dos procedimentos executivos. A execução permanece o 'calcanhar
de Aquiles' do processo. Nada mais difícil, com freqüência, do que impor no
mundo dos fatos os preceitos abstratamente formulados no mundo do direito.
Com efeito: após o longo contraditório no processo de conhecimento,
ultrapassados todos os percalços, vencidos os sucessivos recursos, sofridos
os prejuízos decorrentes da demora (quando menos o 'damno marginale in
senso stretto' de que nos fala Ítalo Andolina), o demandante logra obter alfim
a prestação jurisdicional definitiva, com o trânsito em julgado da condenação
da parte adversa. Recebe então a parte vitoriosa, de imediato, sem tardança
maior, o 'bem da vida' a que tem direito? Triste engano: a sentença
condenatória é título executivo, mas não se reveste de preponderante eficácia
executiva. Se o vencido não se dispõe a cumprir a sentença, haverá iniciar o
processo de execução, efetuar nova citação, sujeitar-se à contrariedade do
executado mediante 'embargos', com sentença e a
possibilidade de novos e sucessivos recursos.
Tudo superado, só então o credor poderá iniciar os atos executórios
propriamente ditos, com a expropriação do bem penhorado, o que não raro
propicia mais incidentes e agravos.
Ponderando, inclusive, o reduzido número de magistrados atuantes em nosso
país, sob índice de litigiosidade sempre crescente (pelas ações tradicionais e
pelas decorrentes da moderna tutela aos direitos transindividuais), impõe-se
buscar maneiras de melhorar o desempenho processual (sem fórmulas
mágicas, que não as há), ainda que devamos, em certas matérias (e por que
não?), retomar por vezes caminhos antigos (e aqui o exemplo do
procedimentos do agravo, em sua atual técnica, versão atualizada das antigas
'cartas diretas' (...), ainda que expungidos rituais e formalismos já
anacrônicos.
4. Lembremos que Alcalá-Zamora combate o tecnicismo da dualidade,
artificialmente criada no direito processual, entre processo de conhecimento
e processo de execução. Sustenta ser mais exato falar apenas de fase
processual de conhecimento e de fase processual de execução, que de
processo de uma e outra classe. Isso porque "a unidade da relação jurídica e
da função processual se
estende ao longo de todo o procedimento, em vez de romper-se em dado
momento" (Proceso, autocomposicióny autodefensa, UNAM, 2a ed., 1970,
n. 81, p. 149). [...]
A dicotomia atualmente existente, adverte a doutrina, importa na paralisação
da prestação jurisdicional logo após a sentença e na complicada instauração
de um novo procedimento, para que o vencedor possa finalmente tentar
impor ao vencido o comando soberano contido no decisório judicial. Há,
193
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.44. 194
Anexo I. 195
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.13-15.
53
destarte, um longo intervalo entre a definição do direito subjetivo lesado e
sua necessária restauração, isso por pura imposição do sistema
procedimental, sem nenhuma justificativa, quer que de ordem lógica, quer
teórica, quer de ordem prática (ob. cit., p. 149 e passim).
5. O presente Anteprojeto foi amplamente debatido em reunião de
processualistas realizada nesta Capital, no segundo semestre de 2002, e
buscou inspiração em muitas críticas construtivas formuladas em sede
doutrinária e também nas experiências reveladas em sede jurisprudencial.
As posições fundamentais defendidas são as seguintes:
a) Na esteira de precedentes reformas, os artigos do CPC em princípio
mantém sua numeração; mas os acrescidos são identificados por letras, e
assim também os modificados se necessário incluí-los em diverso Título ou
Capítulo;
b) a ´efetivação` forçada da sentença condenatória será feita como
etapa final do processo de conhecimento, após um ´tempus iudicati´, sem
necessidade de um ´processo autônomo` de execução (afastam-se princípios
teóricos em homenagem à eficiência e brevidade); processo ´sincrético`, no
dizer de autorizado processualista. Assim, no plano doutrinário, são alteradas
as ´cargas de eficácia` da sentença condenatória, cuja ´executividade` passa a
um primeiro plano; em decorrência, ´sentença` passa a ser o ato ―de
julgamento da causa, com ou sem apreciação do mérito‖;
c) a liquidação de sentença é posta em seu devido lugar, como Título
do Livro I, e se caracteriza como ´procedimento` incidental, deixando de ser
uma ´ação` incidental; destarte, a decisão que fixa o ´quantum debeatur`
passa a ser impugnável por agravo de instrumento, não mais por apelação; é
permitida, outrossim, a liquidação ´provisória`, procedida em autos
apartados enquanto pendente recurso dotado de efeito suspensivo;
d) não haverá ―embargos do executado‖ na etapa de cumprimento da
sentença, devendo qualquer objeção do réu ser veiculada mediante mero
incidente de ´impugnação`, à cuja decisão será oponível agravo de
instrumento;
e) o Livro II passa a regrar somente as execuções por título extrajudicial,
cujas normas, todavia, se aplicam subsidiariamente ao procedimento de
‗cumprimento de sentença;
f) a alteração sistemática impõe a alteração dos artigos 162, 269 e 463, uma
vez que a sentença não mais ´põe fim` ao processo‖.
4. Assim, Senhor Presidente, submeto ao elevado descortino de V.
Excelência o anexo projeto de lei, acreditando que, se aceito, estará o Brasil
adotando uma sistemática mais célere, menos onerosa e mais eficiente às
execuções de sentença que condena ao pagamento de quantia certa.
Respeitosamente,
MÁRCIO THOMAZ BASTOS
Ministro de Estado da Justiça196
.
Com tais transformações, reitera-se que o resultado, foi o surgimento de duas vias de
Execução e diante disso passaremos a analisá-las individualmente, identificando-as.
196
Exposição de Motivos nº 0034, de Marcio Thomaz Bastos, Ministro de Estado da Justiça. Referente ao
Projeto de Lei 3.253/2004, que altera a Lei 5.869/73 Código de Processo Civil. Disponível em:
<http://www.trf4.jus.br/trf4/upload/arquivos/emagis_prog_cursos/projeto_de_lei_3523-2004.pdf>. Acesso em:
14 mar. 2009. Complementado com Humberto Theodoro Júnior (in: THEODORO Júnior, Humberto. Curso de
Direito Processual Civil. Processo de Execução e Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela
de Urgência. p. 13-15).
54
2.3.1 Cumprimento de Sentença
Em consonância com a Lei 11.232/2005, o Cumprimento de Sentença foi inserido no
Código de Processo Civil no Capítulo X do Título VIII do Livro I, artigos 475-I à 475-N197
.
Wambier expressa, quanto ao Cumprimento de Sentença, ser fase processual,
diferentemente da Ação Executiva:
Atualmente, a generalidade das sentenças que determinam cumprimento de
obrigações de fazer, não fazer e entrega de coisa revestem-se de eficácia
executiva e mandamental, sendo executadas no próprio processo em que
proferidas (art. 461 e 461-A [...])
[...] Além disso, com a Lei 11.232/2005 (em vigor desde 23.06.2006)
também as sentenças condenatórias ao pagamento de quantia passaram a ser
executadas na mesma relação processual em que foram admitidas. Depois da
fase cognitiva, que resulta na emissão da sentença, e não havendo o
cumprimento voluntário da condenação pelo derrotado, tem vez uma fase
executiva (que segue, em linhas gerais, os parâmetros típicos do processo
executivo do Livro II do Código)198
.
Assim verifica-se que da mesma forma que a Ação Executiva, o Cumprimento de
Sentença compreende as obrigações de fazer ou não fazer e obrigação por quantia certa, senão
vejamos o artigo 475-I do Capítulo X do Título VIII do Livro I do Código de Processo Civil:
Art. 475-I. O cumprimento da sentença far-se-á conforme os arts. 461 e 461-
A desta Lei ou, tratando-se de obrigação por quantia certa, por execução, nos
termos dos demais artigos deste Capítulo199
.
Em razão de interessar, a este trabalho, somente a segunda parte do caput do artigo
475-I, que trata do Cumprimento de Sentença por quantia certa, prescindível é o texto dos
dispositivos legais 461 e 461-A denotados no artigo recém transcrito, razão pela qual não
serão citados.
2.3.2 Ação Executiva
Conforme já mencionado a Ação Executiva identificada no Código de Processo Civil,
Livro II, Título I à VI, tem como objeto o título executivo extrajudicial200
.
197
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.13. 198
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.43. 199
BRASIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO. p.350.
55
Para propositura da ação, mister se faz que haja o inadimplemento do devedor e que o
título executivo extrajudicial seja certo, líquido e exigível201
.
É notório que o título executivo extrajudicial possui uma obrigação assumida pelo
devedor, e quando não cumprida essa obrigação, possibilita, aliado aos demais pressupostos, a
propositura da ação competente. Destaca-se que a ação é definida em conformidade com a
obrigação contida no título executivo extrajudicial.
Expressa Humberto Theodoro Júnior:
O Código regulou separadamente as execuções tendo em vista a natureza da
prestação a ser obtida do devedor, classificando-as em:
a) Execução de entrega de coisa;
b) Execução das obrigações de fazer e não fazer; e
c) Execução por quantia certa, esta subdividida em modalidades distintas
conforme o devedor seja solvente ou insolvente202
.
Wambier classifica:
a) Por quantia certa (art. 646 e seguintes e art. 748 e seguintes);
b) Obrigação de entregar coisa incerta (art. 629 e seguintes);
c) Obrigação de entregar coisa certa (art. 621 e seguintes);
d) Obrigação de fazer (art. 632 e seguintes); e
e) Obrigação de não fazer203
.
Importa ressaltar que a espécie de Execução, das recém expostas, deter-se-á, neste
trabalho, à Execução por quantia certa.
Encerrado este primeiro capítulo, onde restou destacado uma breve evolução histórica
da Execução chegando às duas vias de Execução existentes (Cumprimento de Sentença e
Ação Executiva), seguida pela denotação dos requisitos da Execução (título executivo e
inadimplemento do devedor), concluindo com uma breve exposição das vias de Execução
200
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.120. 201
Com base no artigo 580 do Código de Processo Civil. In verbis: Art. 580. A execução pode ser instaurada
caso o devedor não satisfaça a obrigação certa, líquida e exigível, consubstanciada em título executivo. 202
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.224. 203
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.159.
56
Cumprimento de Sentença e Ação Executiva, passar-se-á exposição do segundo capítulo onde
será abordada a Execução por quantia certa, aprofundando-se em todas as fases processuais.
Fase inicial, preparatória e satisfativa.
57
3 SEGUNDO CAPÍTULO – EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA
―A Execução por quantia certa tem por objeto expropriar bens do devedor a fim de
satisfazer o direito do credor (art. 646).‖204
205
.
Em princípio, destaca Moacyr Amaral Santos, a Execução por quantia certa é aquela
que tem como obrigação o pagamento em dinheiro e em quantia certa206
. E, prossegue:
Também se dá a execução por quantia certa em substituição à execução por
coisa certa ou em espécie ou à execução de fazer ou não fazer, quando estas
se verificarem impossíveis e o devedor tenha que ser constrangido ao
pagamento das perdas e danos correspondentes207
.
No mesmo sentido Humberto Theodoro Júnior expressa:
Pode a execução por quantia certa fundar-se tanto em título judicial208
[...]
como em título extrajudicial209
[...]. Pode, também, decorrer da substituição
de obrigação de entrega de coisa e da obrigação de fazer ou não fazer,
quando a realização específica dessas prestações mostrar-se impossível ou
quando o credor optar pelas equivalentes perdas e danos (arts. 627, 633 e
638, parágrafo único, do Código de Processo Civil)210
. (grifo do autor).
Wambier classifica a Execução por quantia certa como uma Execução genérica211
, isto
porque, os demais tipos de Execução, são tipos de Execução específica, pois visam bem
jurídico diferente de quantia em dinheiro, todavia, quando infrutífera a Execução específica,
204
GRECO Filho, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p.70. 205
O artigo 646 que faz referência o Autor, é aquele do Código de Processo Civil. 206
SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p. 279-280. 207
SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p. 280. 208
Por Cumprimento de Sentença por quantia certa. 209
Por ação de execução por quantia certa. 210
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.264. 211
Execução genérica é a que busca a obtenção em dinheiro. Se não encontrada a quantia pecuniária no
patrimônio do devedor, tal execução poderá atingir qualquer bem abrangido pela responsabilidade patrimonial,
que será alienado judicialmente, conseguindo-se assim dinheiro para a satisfação do crédito.
58
ela é considerada impossível, e ―Neste caso, poderá ser substituída pela Execução genérica,
que terá por objeto obrigação de pagamento das perdas e danos.‖212
.
A Execução por quantia certa, no que tange às duas vias, Ação Executiva e
Cumprimento de Sentença, tem peculiaridades, todavia, é uníssono o entendimento que ambas
possuem as mesmas fases. Assim utilizando-se da doutrina de Wambier, sendo
complementado com outros, tais como THEDORO JÚNIOR, GRECO FILHO, ARAKEN DE
ASSIS, tem-se:
Açã
o E
xec
uti
va
Petição Inicial
Citação
Arresto (Pré penhora)
Penhora (Embargos)
Avaliação
Atos preparatórios à
satisfação
Expropriação ou remição
Satisfação do credor
Extinção normal da
Execução
Diante do exposto, far-se-á uma breve análise dos princípios que regem a Execução
por quantia certa, passando-se à análise das categorias mencionadas, comparando-se as vias
de Execução no que lhes for peculiar, aprofundando-se o assunto no que tange à Penhora.
3.1 PRINCÍPIOS DA EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA
212
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.159.
FASE INICIAL FASE PREPARATÓRIA ou
INSTRUTÓRIA
FASE FINAL ou
SATISFATIVA
Cum
pri
men
to d
e S
ente
nça
Requerimento do credor
Penhora (Impugnação)
Avaliação
Atos preparatórios à
satisfação
Expropriação ou remição
(Satisfação do credor e
extinção normal da
Execução)
59
Indica-se como princípios da Execução por quantia certa213
: Princípio da realidade da
Execução, Princípio da satisfatividade, Princípio da máxima utilidade, Princípio do menor
sacrifício ao executado, Princípio do contraditório, Princípio do ônus da Execução e Princípio
do respeito à dignidade humana.
Wambier destaca quanto ao princípio da realidade da Execução que é ―[...] expressão
com a qual se procura destacar que a execução civil recai precipuamente sobre o patrimônio
do executado, e não sobre a sua pessoa (mas há exceções: pense-se, por exemplo, na remoção,
com uso de força, do devedor de bem imóvel objeto de execução),‖214
ou seja, a atividade
jurisdicional executiva incide direta e exclusivamente sobre o patrimônio e não sobre a pessoa
do devedor215
.
Este princípio segundo Wambier é notório na disposição do artigo 591 do Código de
Processo Civil, in verbis:
Art. 591. O devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações, com
todos os seus bens presentes e futuros, salvo as restrições estabelecidas em
lei216
.
O princípio da satisfatividade, indicado por Humberto Theodoro Júnior, expressa que:
[...] A idéia que toda execução tem por finalidade apenas a satisfação do
direito do credor corresponde à limitação que se impõe à atividade
jurisdicional executiva, cuja incidência sobre o patrimônio do devedor há de
se fazer [...] apenas a porção indispensável para a realização do direito do
credor217
.
Para Gonçalves, este mesmo princípio é conhecido como princípio da
patrimonialidade. Acrescentando que ―[...] Ressalvadas as exceções constitucionais (CF, art.
5º, LXVII) do devedor de alimentos, e do depositário infiel, não se admite a prisão civil por
dívidas [...].‖218
.
213
Princípios informativos segundo THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil.
Processo de Execução e Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.130, e
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.143-147. 214
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.122. 215
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.130. 216
BRASIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO. p.485. 217
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.131. 218
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Processo de Execução e cautelar. p.06.
60
Apesar do entendimento doutrinário retro citado, importa esclarecer que o Supremo
Tribunal Federal, em julgamento aos Recursos Extraordinários 349703 e 466343, ocorrido em
data de 03.12.2008, em que se firmou entendimento de que a prisão civil por dívida é
aplicável apenas na hipótese de inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação
alimentícia219
.
Na sequência Wambier destaca o princípio da máxima utilidade da Execução, que
segundo leciona está ―sintetizada na célebre afirmação de que o processo deve dar a quem tem
direito tudo aquilo e exatamente aquilo a que tem direito, inerente à garantia da
inafastabilidade da adequada tutela jurisdicional (CF, art. 5º XXXV).‖220
.
Acrescenta-se ainda o que expressa Gonçalves: ―Não se admite o uso da execução
apenas para trazer prejuízo ao devedor, quando desse prejuízo não revertam benefícios ao
credor.‖221
.
Sobre o princípio do menor sacrifício do executado, este também pode ser notado no
Código de Processo Civil, no artigo 620, que expressa:
Art. 620. Quando por vários meios o credor puder promover a execução, o
juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o devedor222
.
Wambier indica que ―ao lado da preocupação com a efetividade da execução em prol
do credor, deve-se buscar sempre o caminho menos oneroso para o devedor. [...] O objetivo
da execução civil é a atuação da sanção mediante a satisfação do credor. Não se busca, pelos
meios executivos civis, a punição do devedor.‖223
.
Humberto Theodoro Júnior faz uma junção dos princípios recém colacionados
indicando-os como princípio da utilidade e da economia da execução, expressando que este
219
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. RExt nº 349703. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/
processo/verProcessoAndamento.asp?numero=349703&classe=RE&origem=AP&recurso=0&tipoJulgamento=
M>. Acesso em: 22 maio 2009. e BRASIL. Supremo Tribunal Federal. RExt nº 466343. Disponível em:<http://
www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?numero=466343&classe=RE&origem=AP&recurso
=0&tipoJulgamento=M>. Acesso em: 22 maio 2009. 220
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.143. 221
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Processo de Execução e cautelar. p.07. 222
BRASIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO. p.509. 223
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.144.
61
princípio indica que a execução deve ser útil, necessária, evitando que seja apenas ―[...]
instrumento de simples castigo ou sacrifício do devedor.‖224
.
E entende que a economia da Execução deriva da possibilidade de realizar a Execução
de modo ―que, satisfazendo o direito do credor, seja o menos prejudicial possível ao
devedor.‖225
.
Denota-se ainda o princípio do contraditório que, conforme Wambier, já restou
superado o equívoco da inexistência de contraditório na Execução, eis que o que não se
discute é o mérito do crédito, já que este se encontra devidamente constituído, seja pelo título
extrajudicial ou judicial226
.
Apropriadamente Gonçalves indica:
[...] A doutrina da inexistência do contraditório no processo de execução foi
sustentada, muitas vezes, com o argumento de que não há julgamento de
mérito, como no processo de conhecimento. [...] No curso do processo de
execução, o juiz emite uma série de juízos de valor [...] o juiz profere, no
curso da execução, diversas decisões, devendo assegurar às partes a
possibilidade de manifestação. A Constituição Federal garantiu a adoção do
contraditório em todos os processos judiciais (CF, art. 5º, LV), sem fazer
qualquer ressalva, o que torna incontroversa a sua aplicação ao processo
executivo [...].‖227
.
O contraditório é verificado, quando o executado é citado, manifestando-se, por
exemplo, quanto à avaliação do bem em desconformidade com o valor real, quando não
observado os princípios da Execução, quanto à ausência de pressupostos, condições da ação,
validade dos atos da Execução, exceção de pré-executividade etc.228
.
Sobre o princípio do ônus da Execução, entende Humberto Theodoro Júnior que em
razão de o executado ser o causador do descumprimento que originou a busca pela tutela
jurisdicional, pois restou inadimplente, deve então:
[...] suportar todas as conseqüências do retardamento da prestação, de sorte
que só se libertará do vínculo obrigacional se reparar, além da dívida
224
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.131. 225
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.131. 226
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.145-147. 227
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Processo de Execução e cautelar. p.07-09. 228
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.145-147.
62
principal, todos os prejuízos que a mora houver acarretado para o credor,
compreendidos nestes os juros, a atualização monetária e os honorários de
advogado (CC 2002, arts. 395 e 401 [...])229
.
Segundo lições de Humberto Theodoro Júnior a Execução não pode resultar na ruína
do executado, a ponto de resultar em situação incompatível com a dignidade humana. Por esta
razão, o Codex processual instituiu a impenhorabilidade de determinados bens230
elencados no
artigo 649 do Código de Processo Civil, in verbis:
Art. 649. São absolutamente impenhoráveis:
I - os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à
execução;
II - os móveis, pertences e utilidades domésticas que guarnecem a residência
do executado, salvo os de elevado valor ou que ultrapassem as necessidades
comuns correspondentes a um médio padrão de vida;
III - os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do executado,
salvo se de elevado valor;
IV - os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de
aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas por
liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua família, os
ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal,
observado o disposto no § 3o deste artigo; V - os livros, as máquinas, as
ferramentas, os utensílios, os instrumentos ou outros bens móveis
necessários ou úteis ao exercício de qualquer profissão;
VI - o seguro de vida;
VII - os materiais necessários para obras em andamento, salvo se essas
forem penhoradas;
VIII - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que
trabalhada pela família;
IX - os recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação
compulsória em educação, saúde ou assistência social;
X - até o limite de 40 (quarenta) salários mínimos, a quantia depositada em
caderneta de poupança.
XI - os recursos públicos do fundo partidário recebidos, nos termos da lei,
por partido político.
§ 1o A impenhorabilidade não é oponível à cobrança do crédito concedido
para a aquisição do próprio bem.
§ 2o O disposto no inciso IV do caput deste artigo não se aplica no caso de
penhora para pagamento de prestação alimentícia.
§ 3o (VETADO)
231.
Encerrada a exposição dos princípios que regem a Execução, iniciar-se-á a exposição
das fases inicial, instrutória e satisfativa com a análise de todas as categorias, ressaltando-se
229
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.132. 230
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.133. 231
BRASIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO. p.521-522.
63
que em ambas as vias de Execução a obrigação pertinente será a de pagamento por quantia
certa232
.
3.2 FASE INICIAL
3.2.1 Cumprimento de Sentença
Com o advento da Lei 11.232/2005, a Execução de título executivo judicial passou a
ser incidente do processo de conhecimento. Assim não enseja petição inicial, tampouco nova
citação, com exceção do parágrafo único do artigo 475-N233
do Código de Processo Civil, que
dispõe:
Art. 475-N. São títulos executivos judiciais:
I – a sentença proferida no processo civil que reconheça a existência de
obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia;
II – a sentença penal condenatória transitada em julgado;
III – a sentença homologatória de conciliação ou de transação, ainda que
inclua matéria não posta em juízo;
IV – a sentença arbitral;
V – o acordo extrajudicial, de qualquer natureza, homologado judicialmente;
VI – a sentença estrangeira, homologada pelo Superior Tribunal de Justiça;
VII – o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao
inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título singular ou universal.
Parágrafo único. Nos casos dos incisos II, IV e VI, o mandado inicial (art.
475-J) incluirá a ordem de citação do devedor, no juízo cível, para
liquidação ou execução, conforme o caso234
.
No que tange à particularidade do Parágrafo único do artigo 475-N, Wambier destaca
que a forma do Cumprimento de Sentença é diversa, tendo em vista que não há um processo
em andamento, como processo cível, o que impossibilitaria a aplicação da fase de
Cumprimento de Sentença. Assim, os títulos judiciais denotados nos incisos II, IV e VI do
artigo 475-N do Código de Processo Civil ―[...] são executados em um processo próprio, mas
que segue basicamente as peculiaridades procedimentais iniciais do cumprimento da sentença
232
Sobre a execução por quantia certa, Humberto Theodoro Júnior expressa: ―Nosso Código tratou diversamente
a execução por quantia certa, conforme a situação econômico financeira do devedor. [...] a execução do devedor
solvente (artigos 646 a 735) [...] Regulou, contudo, outro procedimento para o caso de devedor insolvente [...], a
chamada par condicio creditorum (art. 748 a 786). No primeiro caso, o ato expropriatório executivo inicia-se
pela penhora e restringe-se aos bens estritamente necessários à solução da dívida ajuizada. No segundo, há, ad
instar da falência do comerciante, uma arrecadação geral de todos os bens penhoráveis do devedor para
satisfação da universalidade dos credores.‖(in: THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual
Civil. Processo de Execução e Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.265). 233
ASSIS, Araken de. Manual da execução. p.572. 234
BRASIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO. p.354-355.
64
[...]‖. Destacando-se que são aplicadas subsidiariamente as regras do Livro II do Código de
Processo Civil, no que diz respeito à Execução por quantia certa.
Leciona Humberto Theodoro Júnior:
O prazo para cumprimento voluntário independe de citação ou intimação do
devedor. A própria sentença (de condenação ou de liquidação) implica a
abertura dos 15 dias legais para pagamento do valor da condenação. [...]
Passado in albis o prazo de pagamento sem que o devedor o tenha realizado,
o credor requererá, em petição simples, a expedição do mandado de
cumprimento forçado da condenação, que se destinará a penhorar e avaliar
os bens a serem expropriados para satisfação do crédito constante da
sentença235
.
Nota-se que apesar de indicar que deve a petição ser ―simples‖, por ser incidental, o
início da Execução no Cumprimento de Sentença, que segundo Araken de Assis, se dá por
requerimento, deverá conter os requisitos pertinentes236
.
Araken de Assis ainda menciona que ―Um dos requisitos específicos do requerimento
consiste na indicação de bens (art. 475-J, §3º; art. 652, §2º)‖237
. (grifo do autor).
Essa faculdade do credor dependerá do conhecimento acerca do patrimônio do
devedor e dos dados constantes dos registros públicos. Observando-se ainda a ordem do artigo
655 do Código de Processo Civil238
.
Ainda mister se faz a apresentação da memória de cálculo, para que o devedor efetue o
pagamento239
.
Para Araken de Assis:
Fundando-se a execução em título judicial, cujo valor talvez se apure através
de simples operações aritméticas, reza o art. 475-B, caput, que o credor a
requererá, instruindo a inicial com a memória discriminada e atualizada do
cálculo [...]. Toda a controvérsia sobre o quantum debeatur, portanto, fica
reservada [...] à impugnação (art. 475-L, V). [...] Evidentemente, não bastará
o demonstrativo sumário consignando o valor do principal e dos respectivos
acessórios. É necessário que o credor explicite os elementos e critérios
235
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.53. 236
ASSIS, Araken de. Manual da execução. p.428. 237
ASSIS, Araken de. Manual da execução. p.428. 238
ASSIS, Araken de. Manual da execução. p.435. 239
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.53.
65
empregados240
para atingir tal montante (p. ex., a taxa de juros e a forma de
capitalização; o índice de correção monetária aplicado e sua base de
cálculo)241
. (grifo do autor).
Humberto Theodoro Júnior ressalta que:
[...] Caso o credor não requeira a execução no prazo de seis meses contados
da sentença exeqüível, o juiz mandará arquivar os autos. Isto, contudo, não
prejudicará o direito do credor, já que este a qualquer tempo, terá o direito de
promover o desarquivamento do feito e dar início ao procedimento de
cumprimento forçado da condenação (art. 475-J, §5º).
Na inércia do credor, o devedor, para evitar a multa legal, pode tomar a
iniciativa de calcular o montante atual da condenação, e depositá-la em
juízo, liberando-se, assim, da obrigação242
.
A referida multa está prevista no artigo 475-J que dispõe:
Art. 475-J. Caso o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa ou já
fixada em liquidação, não o efetue no prazo de quinze dias, o montante da
condenação será acrescido de multa no percentual de dez por cento e, a
requerimento do credor e observado o disposto no art. 614, inciso II, desta
Lei, expedir-se-á mandado de penhora e avaliação243
.
Tal multa, segundo Wambier, em concordância com Humberto Theodoro Júnior, é
anterior ao início da fase de Cumprimento de Sentença eis que ―[...] A incidência da multa
subordina-se à liquidez da condenação‖244
.
Ainda indica Wambier:
[...] O dispositivo legal não deixa claro se a multa aplica-se ao
descumprimento da condenação ainda provisória (isso é, aquela sujeita a
recurso sem efeito suspensivo) ou apenas da condenação já definitiva (isso é,
depois do trânsito em julgado). [...] Não seria razoável impor o
cumprimento, sob pena de multa, de uma sentença ainda passível de
mudança. Mas a questão é ainda controvertida.
240
Importa ressaltar que os elementos e critérios empregados para todas as planilhas de cálculo, segundo Araken
de Assis (in: ASSIS, Araken de. Manual da execução. p.288-289) podem ter como diretriz o artigo 28, §2º, I, da
Lei 10.931/04 aplicável à cédula de crédito bancário, que reza: ―Os cálculos realizados deverão evidenciar de
modo claro, preciso e de fácil entendimento e compreensão, o valor principal da dívida, seus encargos e despesas
contratuais devidos, a parcela de juros e os critérios de sua incidência, a parcela de atualização monetária ou
cambial, a parcela correspondente a multas e demais penalidades contratuais, as despesas de cobrança e de
honorários advocatícios devidos até a data do cálculo e, por fim, o valor total da dívida‖. 241
ASSIS, Araken de. Manual da execução. p.433-434. 242
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.53. 243
BRASIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO. p.351. 244
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.283.
66
Também ainda é objeto de muito debate a questão atinente ao termo inicial
do prazo para o cumprimento sob pena de multa245
.
Araken de Assis expressa:
Apesar das resistências hauridas de bastiões reformistas, o prazo flui da data
em que a condenação se tornar exigível. Logo, se aplicará tanto na execução
definitiva, quanto na provisória. [...] Não se previu qualquer intimação
pessoal do executado, ou do advogado, como termo inicial do prazo [...]246
.
Importante destacar que o requerimento pode ser feito eletronicamente, desde que
preenchidos os requisitos da lei 11.419/2006247
e os requisitos da regulamentação dos
tribunais248
.
Por fim reza o artigo 652-A que:
Art. 652-A. Ao despachar a inicial, o juiz fixará, de plano, os honorários de
advogado a serem pagos pelo executado (art. 20, § 4o).
Parágrafo único. No caso de integral pagamento no prazo de 3 (três) dias, a
verba honorária será reduzida pela metade249
.
Ressalta-se por oportuno, que o Egrégio Superior Tribunal de Justiça firmou
entendimento que o referido dispositivo legal deve ser aplicado, de forma subsidiária à fase
processual de Cumprimento de Sentença. A decisão do Superior Tribunal de Justiça, sobre o
assunto foi publicada em 05 de março de 2009, trazendo o seguinte texto:
PROCESSO CIVIL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. NOVA
SISTEMÁTICA IMPOSTA PELA LEI Nº 11.232/05. CONDENAÇÃO EM
HONORÁRIOS. POSSIBILIDADE.
- A alteração da natureza da execução de sentença, que deixou de ser
tratada como processo autônomo e passou a ser mera fase complementar do
mesmo processo em que o provimento é assegurado, não traz nenhuma
modificação no que tange aos honorários advocatícios.
- A própria interpretação literal do art. 20, § 4º, do CPC não deixa margem
para dúvidas. Consoante expressa dicção do referido dispositivo legal, os
honorários são devidos “nas execuções, embargadas ou não”.
- O art. 475-I, do CPC, é expresso em afirmar que o cumprimento da
sentença, nos casos de obrigação pecuniária, se faz por execução. Ora, se
nos termos do art. 20, § 4º, do CPC, a execução comporta o arbitramento de
honorários e se, de acordo com o art. 475, I, do CPC, o cumprimento da
245
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.283-284. 246
ASSIS, Araken de. Manual da execução. p.193. 247
Anexo XIV. 248
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.285. 249
BRASIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO. p.531.
67
sentença é realizado via execução, decorre logicamente destes dois
postulados que deverá haver a fixação de verba honorária na fase de
cumprimento da sentença.
- Ademais, a verba honorária fixada na fase de cognição leva em
consideração apenas o trabalho realizado pelo advogado até então.
- Por derradeiro, também na fase de cumprimento de sentença, há de se
considerar o próprio espírito condutor das alterações pretendidas com a Lei
nº 11.232/05, em especial a multa de 10% prevista no art. 475-J do CPC.
Seria inútil a instituição da multa do art. 475-J do CPC se, em
contrapartida, fosse abolida a condenação em honorários, arbitrada no
percentual de 10% a 20% sobre o valor da condenação.
Recurso especial conhecido e provido. (REsp 1.028.855 – SC
(2008/0030395-2, Rel. Ministra Nancy Andrighi, j. em 27.11.2008,
publicado em 05.03.2009)250
.
Sobre o assunto, Araken de Assis menciona que o arbitramento dos honorários
advocatícios deve ser procedido no momento do deferimento do requerimento ou quando da
última análise, devendo ser expedido alvará no montante fixado, em nome do advogado.
Ainda indica que ―[...] O artigo 652 – A e, principalmente, a redução contemplada no
respectivo parágrafo único [...] não impedem acréscimos ulteriores [...] Nada impede que, no
estágio final da entrega do dinheiro, o órgão judiciário reexamine a verba inicialmente
arbitrada [...].‖251
.
Destaca-se que o chamamento do devedor e o arresto não são características do
Cumprimento de Sentença. Quanto ao primeiro, em razão de ter como peculiaridade não só a
ausência de oportunidade de o devedor indicar bens passíveis de Penhora, como também está
ausente ―[...] o último convite para pagamento espontâneo. Vale dizer, o devedor não é
cientificado para pagar ou nomear bens à penhora. [...]‖252
.
Quanto ao arresto, expressa Araken de Assis, que somente pode ocorrer na Execução
de título executivo extrajudicial, ou seja, somente na Ação Executiva, tendo em vista que
somente nesta haverá a necessidade de citação do devedor, o que, na hipótese de não ser
encontrado, ensejaria a possibilidade de aplicação do arresto os termos dos artigos 653 e 654
do Código de Processo Civil253
.
250
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp 1.028.855 – SC (2008/0030395-2), da Corte Especial do
Superior Tribunal de Justiça, Rel. Ministra Nancy Andrighi, j. em 27.11.2008, publicado em
05.03.2009. 251
ASSIS, Araken de. Manual da execução. p.499. 252
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.285-286. 253
ASSIS, Araken de. Manual da execução. p.584.
68
Assim, compreendida a fase inicial do Cumprimento de Sentença, passar-se-á a
analisar a fase inicial da Ação Executiva por quantia certa.
3.2.2 Ação Executiva
Para Humberto Theodoro Júnior:
A execução por quantia certa contra o devedor dito solvente consiste em
expropriar-lhe tantos bens quantos necessários para a satisfação do credor
(art. 591 do Código de Processo Civil). [...]
Após a provocação do credor (petição inicial) e a convocação do devedor
(citação para pagar ou garantir a execução), os aos que integram o
procedimento em causa consistem, especialmente, na apreensão de bens do
devedor (penhora), sua transformação em dinheiro mediante desapropriação
(arrematação) e entrega do produto ao exeqüente (pagamento).
Essas providências correspondem as fases da proposição (petição inicial e
citação) da instrução (penhora e arrematação) e da entrega do produto ao
credor (pagamento), segundo a clássica divisão do procedimento executivo
recomendada por Liebman254
. (grifou-se).
Assim na Ação Executiva, diferentemente do Cumprimento de Sentença, a propositura
da demanda é feita ―mediante petição inicial, que, com as devidas adaptações, deverá conter
os requisitos do art. 282.‖255
.
A aplicação do expediente hermenêutico pelo artigo 598256
do Código de Processo
Civil, autoriza a utilização subsidiária à Execução, dos artigos que regem o processo de
conhecimento257
.
Importa destacar que além dos requisitos do artigo 282, faz-se mister atentar-se ao
artigo 614 do mesmo Codexprocessual, in verbis:
Art. 614. Cumpre ao credor, ao requerer a execução, pedir a citação do
devedor e instruir a petição inicial:
I - com o título executivo extrajudicial;
II - com o demonstrativo do débito atualizado até a data da propositura da
ação, quando se tratar de execução por quantia certa;
254
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.268. No mesmo sentido: SANTOS,
Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p. 282. 255
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.268. 256
Art. 598. Aplicam-se subsidiariamente à execução as disposições que regem o processo de conhecimento. 257
ASSIS, Araken de. Manual da execução. p.428.
69
III - com a prova de que se verificou a condição, ou ocorreu o termo (art.
572)258
.
Expressa Fernando Sacco Neto259
, quanto à alteração do inciso I do recém citado
artigo 614, advinda da Lei 11.382/2006, que:
A alteração do inc. I do art. 614 tem como correta justificativa a intenção do
legislador de harmonizar tal dispositivo com as mudanças trazidas ao CPC
por meio da Lei 11.232/2005, pois, a partir da entrada em vigor dessa
referida lei, a execução de título executivo judicial como processo autônomo
deixou de existir e passou a ser desenvolvida como uma fase do processo de
conhecimento denominada Do cumprimento da sentença. Pertinente, então, a
mudança do inc. I do art. 614, retirando-se a menção que se fazia à
sentença260
. (grifo do autor).
Superada a análise da recente alteração a Ação Executiva tem peculiaridades na fase
inicial que merecem ser denotadas, dentre as quais indica-se que a inicial deve conter: ―(I) a
menção e exibição do título executivo; (II) a narrativa e comprovação da exigibilidade do
título; (III) a narrativa do inadimplemento do devedor; (IV) o demonstrativo especificado do
débito, atualizado até a data da propositura da ação.‖261
.
A apresentação do demonstrativo de cálculo deve ser de forma analítica, ou seja,
detalhada. Deve conter o valor capital (principal), juros, multas, taxas, indexadores
(acessórios), permitindo assim a conclusão do valor, bem como a possibilidade de o devedor
―defender-se contra pretensões eventualmente abusivas ou exorbitantes do título e da lei.‖262
.
O demonstrativo segue os mesmos trâmites que o Cumprimento de Sentença, e,
portanto, tem como diretriz o artigo 28, §2º263
da Lei 10.931/2004264
.
258
BRASIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO. p.503. 259
SACCO Neto, Fernando. [et.al]. Nova execução de título extrajudicial. Lei 11.382/2006, comentada artigo
por artigo. São Paulo: Método, 2007. Fernando Sacco Neto. Mestre e doutorando em Direito Processual Civil
pela PUC/SP, professor de Direito Processual Civil e advogado em São Paulo. 260
SACCO Neto, Fernando. [et.al]. Nova execução de título extrajudicial. Lei 11.382/2006, comentada artigo
por artigo. p. 51. 261
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.172. 262
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.268. 263
Dispõe o §2º do artigo 28 da Lei 10.931/04: ―Os cálculos realizados deverão evidenciar de modo claro,
preciso e de fácil entendimento e compreensão, o valor principal da dívida, seus encargos e despesas contratuais
devidos, a parcela de juros e os critérios de sua incidência, a parcela de atualização monetária ou cambial, a
parcela correspondente a multas e demais penalidades contratuais, as despesas de cobrança e de honorários
advocatícios devidos até a data do cálculo e, por fim, o valor total da dívida.‖ 264
ASSIS, Araken de. Manual da execução. p.434.
70
Outra peculiaridade é a indicação do valor que seguirá o disposto nos artigos 598 c/c
282, V, 258 e seguintes do Código de Processo Civil, in verbis:265
.
Art. 598. Aplicam-se subsidiariamente à execução as disposições que regem
o processo de conhecimento266
.
Art. 282. A petição inicial indicará:
[...];
V - o valor da causa;
[...]267
.
Art. 258. A toda causa será atribuído um valor certo, ainda que não tenha
conteúdo econômico imediato.
Art. 259. O valor da causa constará sempre da petição inicial e será:
I - na ação de cobrança de dívida, a soma do principal, da pena e dos juros
vencidos até a propositura da ação;
II - havendo cumulação de pedidos, a quantia correspondente à soma dos
valores de todos eles;
III - sendo alternativos os pedidos, o de maior valor;
IV - se houver também pedido subsidiário, o valor do pedido principal;
V - quando o litígio tiver por objeto a existência, validade, cumprimento,
modificação ou rescisão de negócio jurídico, o valor do contrato;
VI - na ação de alimentos, a soma de 12 (doze) prestações mensais, pedidas
pelo autor;
VII - na ação de divisão, de demarcação e de reivindicação, a estimativa
oficial para lançamento do imposto.
Art. 260. Quando se pedirem prestações vencidas e vincendas, tomar-se-á
em consideração o valor de umas e outras. O valor das prestações vincendas
será igual a uma prestação anual, se a obrigação for por tempo
indeterminado, ou por tempo superior a 1 (um) ano; se, por tempo inferior,
será igual à soma das prestações.
Art. 261. O réu poderá impugnar, no prazo da contestação, o valor atribuído
à causa pelo autor. A impugnação será autuada em apenso, ouvindo-se o
autor no prazo de 5 (cinco) dias. Em seguida o juiz, sem suspender o
processo, servindo-se, quando necessário, do auxílio de perito, determinará,
no prazo de 10 (dez) dias, o valor da causa.
Parágrafo único. Não havendo impugnação, presume-se aceito o valor
atribuído à causa na petição inicial268
.
Sobre o requerimento de produção de provas na inicial executiva, Araken de Assis
expressa:
Com alarmante freqüência e desembaraço, infelizmente, assevera-se que o
requerimento de produção de provas na inicial da demanda executória
constitui grave impropriedade. A generalizante afirmativa é improcedente269
.
265
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.173. 266
BRASIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO. p.492. 267
BRASIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO. p.230. 268
BRASIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO. p.196-200.
71
Assevera ainda, Araken de Assis, que é possível a necessidade de o credor ter que
apresentar provas durante a Execução, e cita o exemplo de o credor que, no decorrer da
Execução precisa provar o domínio de determinado bem pelo executado para fins de
expropriação e consequente satisfação do crédito270
.
Em contra partida Wambier leciona:
Não é necessário (nem há espaço) para requerimento de provas na inicial
executiva. Não há discussão quanto ao mérito da execução. Não se
estabelece investigação sobre a existência do crédito. Cabe ao credor, já na
inicial, apresentar o título com a comprovação de que ele é exigível e o
demonstrativo do cálculo. Como não haverá nenhum exame probatório do
mérito, não há necessidade de requerimento liminar de provas271
.
Quanto ao surgimento de dúvida em relação a algum ato processual, pressupostos etc.,
Wambier indica que haverá a necessidade da produção de prova, todavia será superveniente,
motivo pelo qual não haverá como indicá-las na inicial272
.
Concluído os principais pontos do desenvolvimento da inicial da Ação Executiva,
compete esclarecer que a citação ―[...] do devedor é especificamente para pagar [...],
conferindo-lhe, dessa forma uma última273
oportunidade de cumprir sua obrigação[...].‖274
.
Insta esclarecer que esta última oportunidade a que a doutrina indica, refere-se à
última oportunidade de pagamento antes da penhora e dos atos expropriatórios, vez que, a teor
do artigo 651 do Código de Processo Civil, o pagamento poderá ser efetuado a todo tempo.
Ressalta-se que é o credor que indica bens a Penhora275
, em consonância com o artigo
652, §2º do Código de Processo Civil que dispõe:
Art. 652. O executado será citado para, no prazo de 3 (três) dias, efetuar o
pagamento da dívida.
§ 1o [...]
269
ASSIS, Araken de. Manual da execução. p.431. 270
ASSIS, Araken de. Manual da execução. p.431. 271
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.173. 272
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.173. 273
Na verdade não é a última oportunidade, tendo em vista o instituto da remição, disposto no artigo 651 do
Código de Processo Civil, que oportuniza ao executado o cumprimento da obrigação até momentos antes da
expropriação. 274
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.269. 275
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.176.
72
§ 2o O credor poderá, na inicial da execução, indicar bens a serem
penhorados (art. 655)276
.
O devedor pode ser intimado para indicar bens passíveis de Penhora, em conformidade
com o §3º do artigo 652277
do Código de Processo Civil. ―Mas isso em nada se assemelha à
antiga possibilidade de nomeação de bens pelo devedor. Trata-se apenas de uma imposição de
que o executado colabore com o juízo executivo.‖278
.
Reitera-se que não se trata de dar ao devedor a oportunidade de nomear bens à
Penhora, é um dever imposto pelo juiz, e em caso de descumprimento o devedor incorre em
ato atentatório à dignidade da justiça279
, podendo ser-lhe aplicado uma multa280
, limitada a
20% (vinte por cento) do valor atualizado do débito.
3.3 FASE PREPARATÓRIA OU INSTRUTÓRIA
Em razão de a fase preparatória apresentar poucas diferenças entre o Cumprimento de
Sentença e a Ação Executiva, far-se-á uma exposição geral destacando-se as peculiaridades
das vias de Execução.
A fase preparatória ou instrutória abrange a Penhora, a avaliação dos bens e os atos
preparatórios à satisfação, categorias que passam, neste instante a serem analisadas.
3.3.1 Penhora
A Penhora, ato da fase preparatória ou instrutória da Execução, em quaisquer de suas
vias de Execução (Ação Executiva e Cumprimento de Sentença), consiste, segundo Moacyr
276
BRASIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO. p.530. 277
Art. 652. [...] § 3o O juiz poderá, de ofício ou a requerimento do exeqüente, determinar, a qualquer tempo, a
intimação do executado para indicar bens passíveis de penhora. 278
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.176. 279
―Art. 600. Considera-se atentatório à dignidade da Justiça o ato do executado que: [...] IV - intimado, não
indica ao juiz, em 5 (cinco) dias, quais são e onde se encontram os bens sujeitos à penhora e seus respectivos
valores.‖(in: BRASIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO. p.492-493). 280
―Art. 601. Nos casos previstos no artigo anterior, o devedor incidirá em multa fixada pelo juiz, em montante
não superior a 20% (vinte por cento) do valor atualizado do débito em execução, sem prejuízo de outras sanções
de natureza processual ou material, multa essa que reverterá em proveito do credor, exigível na própria
execução.‖ (in: BRASIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO. p.494).
73
Amaral Santos, em um ato que tem como função ―fixar a responsabilidade executória sobre os
bens por elas abrangidos‖281
. Destacando ainda que a Penhora é:
[...] ato inicial de expropriação do processo de execução, para individualizar
a responsabilidade executória, mediante a apreensão material, direta ou
indireta, de bens do patrimônio do devedor282
.
Citando Gabriel de Rezende Filho:
[...] ato pelo qual são apreendidos e depositados tantos bens do executado
quantos bastem para a segurança da execução283
.
Vicente Greco Filho leciona:
A penhora é o ato de apreensão de bens com a finalidade executiva e que dá
início ao conjunto de medidas tendentes à expropriação de bens do devedor
para pagamento do credor284
.
Marinoni define:
A penhora é procedimento de segregação dos bens que efetivamente se
sujeitarão à execução, respondendo pela dívida inadimplida. [...] Assim, a
penhora é o ato processual pelo qual determinados bens do devedor (ou de
terceiro responsável) sujeitam-se diretamente à execução285
. (grifo do
autor).
Dentre tantos outros doutrinadores, o alcance do conceito de Penhora sempre tem o
mesmo sentido de ser um ato executivo donde resta afetado determinado bem, ou
determinados bens, a fim de ulterior expropriação, tendo como efeito a ineficácia dos atos de
disposição do proprietário diante da Execução286
.
Com propriedade Moacyr Amaral Santos expressa que a Penhora de bens do
executado mesmo quando haja apreensão, não indica a perda do domínio, apenas ficam
281
SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil.p. 298. 282
FREDERICO MARQUES apud SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil.p.
299. 283
GABRIEL DE REZENDE FILHO apud SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual
civil.p. 299. 284
GRECO Filho, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p.82. 285
MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de processo civil. p. 251. 286
ASSIS, Araken de. Manual da execução. p.592.
74
sujeitos ―[...] ao poder sancionatório do Estado, para satisfação do credor (LIEBMAN)‖287
.
Prossegue, destacando a terminologia vínculo para indicar que apesar de o executado não
perder os direitos sobre os bens penhorados, estes ficam vinculados como objeto da
responsabilidade executória, à satisfação do credor288
.
Medina indica que a Penhora, apesar de ser o ato executivo mais importante nesta
fase, não é necessariamente o primeiro ato executivo realizado289
.
Demonstra, fazendo menção aos artigos 600, IV, 652, §3º e 655-A, caput, do Código
de Processo Civil, que pode determinar ao executado a indicação de bens passíveis de
Penhora, bem como, se proceda a indisponibilidade de dinheiro e aplicações financeiras;
Ainda ressalta o disposto no artigo 615-A do mesmo Codex Processual que trata da averbação
da certidão de Execução anterior a Penhora, evidenciando que a Penhora enfim, nem sempre é
o primeiro ato executivo realizado na fase preparatória ou instrutória290
.
Humberto Theodoro Júnior indica que a Penhora tem tríplice função: a) Individualizar
e apreender os bens destinados ao fim da Execução; b) Conservar ditos bens, evitando sua
deterioração ou desvio; c) Criar a preferência para o exeqüente, sem prejuízo das prelações de
direito material estabelecida anteriormente291
.
Mais sucintamente sobre a função da Penhora, Araken de Assis cita Carnelutti
expressando que a Penhora tem uma ―[...] função principal [...] que é ‗determinar o bem sobre
o qual se realizará a expropriação e fixar sua sujeição à Ação Executiva292
.
Em outros termos, a função é delimitar ou determinar qual ou quais os bens passíveis
de expropriação como forma de garantir a Execução.
3.3.1.1 Procedimento da Penhora
287
SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil.p. 298. 288
SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil.p. 298. 289
MEDINA, José Miguel Garcia. Execução. p. 142. 290
MEDINA, José Miguel Garcia. Execução.p. 142. 291
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.275. Humberto Theodoro Júnior ainda
expressa que: ―[...] uma primeira penhora não impede que outras, de diversos credores, venham atingir o mesmo
bem. Mas a ordem ou gradação das penhoras [...] a ordem de preferência para os pagamentos [...]. Por fim, [...] a
preferência da penhora [...] não exclui os privilégios e preferências instituídos anteriormente à ela (art. 709, II, do
CPC) [...]‖. 292
CARNELUTTI, 1956 apud ASSIS, Araken de. Manual da execução. p.590.
75
Conforme já mencionado, interessa ao desenvolvimento do presente trabalho, a
Execução por quantia certa contra devedor solvente. Assim, para prosseguimento, mister se
faz, neste momento, a exposição do artigo 655 do Código de Processo Civil, que trata da
ordem preferencial293
dos bens para Penhora:
Art. 655. A penhora observará, preferencialmente, a seguinte ordem:
I - dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em instituição
financeira;
II - veículos de via terrestre294
;
III - bens móveis em geral295
;
IV - bens imóveis296
;
V - navios e aeronaves297
;
VI - ações e quotas de sociedades empresárias298
;
VII - percentual do faturamento de empresa devedora299
;
VIII - pedras e metais preciosos300
;
293
A ordem preferencial da penhora, segundo MEDINA (in: MEDINA, José Miguel Garcia. Execução. p. 161):
―[...] não precisa ser observada de maneira absoluta, podendo ceder sempre que se apresentarem circunstâncias
especiais, que autorizem concluir que outra é a gradação a ser adotada, no caso‖. As circunstâncias são
efetividade e menor onerosidade. 294
A indicação de veículos como segunda hipótese na ordem preferencial, é proveniente da alteração advinda da
Lei 11.382/06, e conforme Rogério Licastro Torres de Mello (in: SACCO Neto, Fernando. [et.al]. Nova
execução de título extrajudicial. Lei 11.382/2006, comentada artigo por artigo. p. 96.): ―A mudança em
apreço, aliás, é benfazeja: são raras as situações de pessoas que conservam consigo pedras e metais preciosos, ao
passo que os veículos [...] são bens de uso cada vez mais disseminado [...].‖ Hodiernamente, é possível a
constrição judicial de veículo, realizada pelo próprio juiz através do RENAJUD (Anexo II).
295 São aqueles destacados no Código Civil, artigos 82 e 83. (in: SACCO Neto, Fernando. [et.al]. Nova execução
de título extrajudicial. Lei 11.382/2006, comentada artigo por artigo. p. 97). 296
Na ordem de preferência, os bens imóveis passaram do inciso VIII para o inciso IV do artigo 655 do Código
de Processo Civil. E, são aqueles indicados no Código Civil, artigo 79 e 80. (in: SACCO Neto, Fernando. [et.al].
Nova execução de título extrajudicial. Lei 11.382/2006, comentada artigo por artigo. p. 98). 297
―[...] Para fins de legislação civil, são bens móveis por força do disposto no art. 82 do Código Civil [...],
contudo, não estão incluídos no inciso III do art. 655 do CPC, porque existe clara intenção do legislador
processual de, antes de se cogitar de sua apreensão executiva, franquear ao exeqüente o requerimento de
constrição de bens móveis outros, de maior liquidez‖. (in: SACCO Neto, Fernando. [et.al]. Nova execução de
título extrajudicial. Lei 11.382/2006, comentada artigo por artigo. p. 100). 298
A nova redação [...]traz maior especificidade e refere-se exclusivamente às sociedades empresárias. [...] A
questão mostra-se [...] intrincada diante da necessária affectio societatis que deve atrair os sócios da pessoa
jurídica, de modo a desenvolverem atividade empresarial conjunta. Com efeito, como adequar aos interesses da
sociedade a inclusão de novo sócio que tenha arrematado as quotas da sociedade em leilão executivo? A solução
que se tem dado ao tema privilegia o interesse do exeqüente em detrimento dos interesses da sociedade [...]‖. (in:
SACCO Neto, Fernando. [et.al]. Nova execução de título extrajudicial. Lei 11.382/2006, comentada artigo
por artigo. p. 101). 299
[...] a enorme diferença experimentada atualmente é que, com sua inserção no rol de bens penhoráveis do art.
655 do CPC, deixará a penhora de faturamento de pessoa jurídica devedora de ser ato processual excepcional [...]
como ocorria anteriormente à Lei 11.382/2006. Determinada a penhora de faturamento de pessoa jurídica, sua
concretização se dará mediante designação de depositário – administrador, vale dizer, alguém de confiança do
juízo que detenha conhecimentos técnicos quantum sufficit à condução da penhora decretada, para o que deverá
apresentar plano de administração (CPC, art. 677, caput) [...]‖. (in: SACCO Neto, Fernando. [et.al]. Nova
execução de título extrajudicial. Lei 11.382/2006, comentada artigo por artigo. p. 102). 300
A reordenação que colocou as pedras e metais preciosos do inciso II para o inciso VIII, tem justificação na
evolução histórica, eis que à época da elaboração do Código de Processo Civil, ano 1973, era comum a mantença
de pedras e metais, diferentemente dos dias atuais o que originou a reordenação diante da dificuldade de
comercialização e liquidez. Rogério Licastro Torres de Mello atenta ainda sobre ―a verificação de autenticidade
76
IX - títulos da dívida pública da União, Estados e Distrito Federal com
cotação em mercado301
;
X - títulos e valores mobiliários com cotação em mercado;
XI - outros direitos 302
.
Denotado o artigo 655 do Código de Processo Civil, importa salientar que será
restringido o desenvolvimento deste trabalho ao procedimento da Penhora ao inciso I, que
trata da Penhora em dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em instituição
financeira. Sendo imprescindível ao prosseguimento, ressaltar o inciso IV, em termos o inciso
VI, o inciso X e o §2º, todos do artigo 649 do Código de Processo Civil. In verbis:
Art. 649. São absolutamente impenhoráveis:
[...]
IV - os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de
aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas por
liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua família, os
ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal,
observado o disposto no § 3o deste artigo
303;
[...]
VI - o seguro de vida;
[...]
X - até o limite de 40 (quarenta) salários mínimos, a quantia depositada em
caderneta de poupança.
[...]
§ 2o O disposto no inciso IV do caput deste artigo não se aplica no caso de
penhora para pagamento de prestação alimentícia 304
.
Em que pese o inciso IV recém exposto, Ernane Fidélis dos Santos esclarece:
Pensão é a renda anual ou mensal que a pessoa recebe por certo tempo ou
durante sua vida. Pecúlio é forma de se destinar parte dos ganhos à reserva
e a avaliação de pedras e metais preciosos [...] em que nem sempre bastará a figura do oficial avaliador previsto
no art. 143 do CPC.‖ (in: SACCO Neto, Fernando. [et.al]. Nova execução de título extrajudicial. Lei
11.382/2006, comentada artigo por artigo. p. 103-104). 301
―Sua natural dificuldade de liquidação e a notória inadimplência do Poder Público tornaram tal espécie
patrimonial útil quase que tão-somente em execuções fiscais, quanto o executado pode apresentar como garantia
do juízo um crédito mantido em face do Poder público, ou representado por título da dívida pública. [...] A
penhora de títulos referida no inciso IX do artigo 655 do Código de Processo Civil poderá dar-se mediante
expedição de ofício à CBLC (Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia – entidade responsável pela
guarda de títulos e valores imobiliários, inclusive ações) e à CVM (Comissão de Valores Mobiliários – entidade
que pode redirecionar a ordem de penhora para todas as entidades custodiantes do Brasil).‖ (in: SACCO Neto,
Fernando. [et.al]. Nova execução de título extrajudicial. Lei 11.382/2006, comentada artigo por artigo. p.
104-105). 302
BRASIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO. p.533. 303
SACCO Neto, Fernando. [et.al]. Nova execução de título extrajudicial. Lei 11.382/2006, comentada artigo
por artigo. p. 75. Destaca Luís Otávio Sequeira de Cerqueira: ―Como o §3º foi vetado, na redação final da lei
faltou o legislador suprimir na parte final do inc. IV a referência ao dispositivo, que por conta do veto, perdeu o
sentido de estar ali.‖ 304
BRASIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO. p.521-522.
77
patrimonial, geralmente procedendo-se a depósito de parte do recebimento
com entidade própria. Montepio é espécie de seguro mediante o qual
alguém, pagando determinada importância, cria para outro obrigação de
pensionar pessoas que indica, por ocasião de sua morte. As pensões
alimentares se incluem nos proventos de terceiro, muito embora, em grande
número de vezes, o pagamento seja forçado e não por liberalidade.‖305
.
Em razão dos pagamentos de valores ditos impenhoráveis, no mais das vezes, serem
realizados por via de sistema bancário (depósitos, conta-trabalho etc.), é possível deparar-se
com a Penhora destes valores, cabendo ao indivíduo que sofreu a constrição, alegar a
impenhorabilidade dos valores bloqueados, comprovando a origem306 e 307.
Importa destacar que a impenhorabilidade perde razão quando houver movimentação
financeira com depósitos provenientes de outras rendas e saques que impossibilitam e
confundem a identificação de que o valor remanescente na conta, penhorado, é um daqueles
denotados no artigo 649 do Código de Processo Civil308
.
No que tange ao inciso VI do artigo 649 do Código Processual Civil, utilizou-se a
expressão ―em termos‖, tendo em vista que:
Falecendo o segurado, o segurador fica, todavia, na obrigação de pagar o
beneficiário. A importância que corresponde ao seguro de vida passará a
fazer parte do patrimônio do beneficiário e, como tal, é impenhorável [...]
Recebida, porém, a importância do seguro, com o dinheiro integrando o
patrimônio do beneficiário, que pode, inclusive, adquirir outros bens, a
impenhorabilidade poderá desaparecer se a importância perder a identidade
resguardada da indenização securitária, não se podendo, em princípio, falar
em sub-rogação309
.
Com relação ao inciso X do artigo 649 do CodexProcessual Civil, citado, segundo
Luís Otávio Sequeira de Cerqueira, apenas teve o intuito de estimular a aplicação em
cadernetas de poupança sendo revertido à política governamental na área de habitação310
.
305
SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de Direito Processual Civil: execução e processo cautelar.
v.2.11.ed.rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. p.122. 306
SACCO Neto, Fernando. [et.al]. Nova execução de título extrajudicial. Lei 11.382/2006, comentada artigo
por artigo. p. 75. 307
Conforme §2º do artigo 655-A do Código de Processo Civil. 308
SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de Direito Processual Civil: execução e processo cautelar. p. 123. 309
SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de Direito Processual Civil: execução e processo cautelar. p. 124-
125. 310
SACCO Neto, Fernando. [et.al]. Nova execução de título extrajudicial. Lei 11.382/2006, comentada artigo
por artigo. p. 77.
78
Ressalta que ―[...] embora óbvio, não podemos deixar de registrar que a
impenhorabilidade se limita a quarenta salários mínimos, não sendo possível a alegação de
impenhorabilidade nesse limite para cada caderneta, na eventualidade de o executado possuir
mais de uma.‖311
.
Concluídas as ressalvas das hipóteses de impenhorabilidade de dinheiro, em espécie
ou em depósito ou aplicação em instituição financeira, indica-se que o procedimento da
Penhora tem início com a propositura da Ação Executiva por petição inicial312
ou
requerimento313
em caso de Cumprimento de Sentença; Ao receber a inicial ou o
requerimento, o juiz determinará que o executado efetue o pagamento em três dias (artigo
652, caput, do Código de Processo Civil); e caso não efetue o pagamento, o oficial de justiça
munido da segunda via do mandado, efetuará a Penhora de bens (artigo 652, §1º do Código de
Processo Civil)314
.
Ressalta-se que poderá o credor indicar os bens a serem penhorados na inicial,
inclusive aquela descrita no inciso I do artigo 655 do Código de Processo Civil315
.
Expressa o §2º, do artigo 652, do CodexProcessual Civil, para a Ação Executiva:
Art. 652. O executado será citado para, no prazo de 3 (três) dias, efetuar o
pagamento da dívida.
§ 1o [...].
§ 2o O credor poderá, na inicial da execução, indicar bens a serem
penhorados (art. 655)316
.
E o artigo 655-A, do mesmo Códex, para o Cumprimento de Sentença:
Art. 655-A. Para possibilitar a penhora de dinheiro em depósito ou
aplicação financeira, o juiz, a requerimento do exeqüente, requisitará à
autoridade supervisora do sistema bancário, preferencialmente por meio
eletrônico, informações sobre a existência de ativos em nome do executado,
311
SACCO Neto, Fernando. [et.al]. Nova execução de título extrajudicial. Lei 11.382/2006, comentada artigo
por artigo. p.77. 312
BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: tutela jurisdicional
executiva. p.196. 313
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.283. 314
SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de Direito Processual Civil: execução e processo cautelar. p. 131. 315
SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de Direito Processual Civil: execução e processo cautelar. p. 132. 316
BRASIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO. p.530.
79
podendo no mesmo ato determinar sua indisponibilidade, até o valor
indicado na execução317
.
Este mesmo artigo denota a autorização dada ao juiz para ―requisitar informações à
autoridade supervisora do sistema financeiro, preferencialmente por via eletrônica, sobre
ativos do executado. Pode o juiz, no mesmo ato, determinar a indisponibilidade dos valores
localizados, observando o valor da execução.‖318
.
Este assunto será abordado no Capítulo 3, onde haverá então o aprofundamento da
Penhora on line realizada via Bacen Jud.
3.3.2 Avaliação
A avaliação dos bens penhorados é ato preparatório à satisfação do crédito, e segundo
leciona Wambier: ―consiste em perícia pela qual se define o valor dos bens penhorados.‖319
.
Com o advento das Leis 11.232/2006 e 11.382/2006, a avaliação é realizada, pelo
oficial de justiça320
, consubstanciado nos artigos 143, V; artigo 475-J, §2º e artigo 652, §1º,
todos do Código de Processo Civil, in verbis:
Art. 143. Incumbe ao oficial de justiça:
V - efetuar avaliações321
.
Art. 475-J. Caso o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa ou já
fixada em liquidação, não o efetue no prazo de quinze dias, o montante da
condenação será acrescido de multa no percentual de dez por cento e, a
requerimento do credor e observado o disposto no art. 614, inciso II, desta
Lei, expedir-se-á mandado de penhora e avaliação.
§ 1o [...].
§ 2o Caso o oficial de justiça não possa proceder à avaliação, por depender
de conhecimentos especializados, o juiz, de imediato, nomeará avaliador,
assinando-lhe breve prazo para a entrega do laudo322
.
Art. 652. O executado será citado para, no prazo de 3 (três) dias, efetuar o
pagamento da dívida.
317
BRASIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO. p.538-539. 318
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil: execução e processo
cautelar. p. 152. 319
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.215. 320
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.215. 321
BRASIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO. p.125. 322
BRASIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO. p.351.
80
§ 1o Não efetuado o pagamento, munido da segunda via do mandado, o
oficial de justiça procederá de imediato à penhora de bens e a sua avaliação,
lavrando-se o respectivo auto e de tais atos intimando, na mesma
oportunidade, o executado323
.
Assim, destaca-se que quando o oficial de justiça verificar que não tem elementos,
tanto quanto necessário para proceder a avaliação, ou seja, se verificar que a avaliação exige
conhecimentos técnicos, fará a comunicação ao juiz ―que nomeará perito para promovê-la.
Isso deve ser excepcional [...]‖324
.
Desta forma tem-se em regra, que a avaliação é feita pelo oficial de justiça e a
excepcionalidade consiste na avaliação feita por perito. Em consonância, Paulo Hoffman:
―O que era regra (a nomeação do perito avaliador, com a redação do art. 680
revogado325
) passou a ser exceção (nova redação do art. 680326
), o que
significa economia de tempo e também de dinheiro, dado que o exequente
não se verá compelido ao custeio de perícias avaliadoras elaboradas por
perito nomeado.‖327
.
Já Medina assenta que:
―De acordo com o que instituir o art. 680 do CPC, o oficial de justiça
somente poderá realizar avaliações quando desnecessários conhecimentos
especializados. Assim, a avaliação realizada pelo oficial de justiça não se
equipara, nem pode equiparar-se, à avaliação realizada por perito.‖328
.
(grifou-se).
Segundo Wambier a avaliação pode ser dispensada quando: a) o credor aceitar a
estimativa feita pelo devedor (artigos 680329
e 684, I330
do Código de Processo Civil)331
; b)
323
BRASIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO. p.530. 324
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil: execução e processo
cautelar. p. 160. 325
―Art. 680 [redação anterior]. Prosseguindo a execução, e não configurada qualquer das hipóteses do art. 684,
o juiz nomeará perito para estimar os bens penhorados, se não houver, na comarca, avaliador oficial, ressalvada a
existência de avaliação anterior (art. 655, § 1o, V).‖
326 ―Art. 680 [Lei 11.382/2006]. A avaliação será feita pelo oficial de justiça (art. 652), ressalvada a aceitação do
valor estimado pelo executado (art. 668, parágrafo único, inciso V); caso sejam necessários conhecimentos
especializados, o juiz nomeará avaliador, fixando-lhe prazo não superior a 10 (dez) dias para entrega do laudo.‖ 327
SACCO Neto, Fernando. [et.al]. Nova execução de título extrajudicial. Lei 11.382/2006, comentada artigo
por artigo. p.23. 328
MEDINA, José Miguel Garcia. Execução. p.172. 329
Artigo 680 do Código de Processo Civil. ―Art. 680. A avaliação será feita pelo oficial de justiça (art. 652),
ressalvada a aceitação do valor estimado pelo executado (art. 668, parágrafo único, inciso V); caso sejam
necessários conhecimentos especializados, o juiz nomeará avaliador, fixando-lhe prazo não superior a 10 (dez)
dias para entrega do laudo.‖
81
―se for título com cotação oficial em bolsa (art. 684, II332
)‖333
em que se utilizará a cotação do
dia; c) o imóvel se apresentar em partes (artigo 681, parágrafo único334
do Código de Processo
Civil) ―providência que se destina a permitir posterior alienação parcial do bem (art. 702335
),
que pode trazer mais vantagens para o credor e o devedor [...]‖336
; e d) há vários bens
penhorados (avaliação individualizada). A expropriação deve ser feita separadamente (art.
692, parágrafo único do Código de Processo Civil337
). 338
Já Gonçalves expressa que a dispensa se dá tão somente se:
[...] 1) o credor aceitar a estimativa feita pelo executado, ao postular a
substituição do bem inicialmente penhorado; 2) tratar-se de títulos ou
mercadorias que tenham cotação em bolsa comprovada por certidão ou
publicação oficial. A avaliação é desnecessária porque é possível, de
imediato, conhecer o valor do bem, bastando que se verifique a sua
cotação339
.
Em razão de a Penhora em dinheiro não necessitar de avaliação, passar-se-á à análise
dos atos preparatórios à satisfação do credor.
3.3.3 Atos preparatórios à satisfação.
330
Artigo 684, I do Código de Processo Civil. ―Art. 684. Não se procederá à avaliação se: I - o exeqüente aceitar
a estimativa feita pelo executado (art. 668, parágrafo único, inciso V);‖ 331
Destaca-se ainda pelo fato de o valor ter ficado defasado, devido ao tempo decorrido, não correspondendo
mais ao valor real, devendo, então se proceder a avaliação. 332
Artigo 684, II do Código de Processo Civil. ―Art. 684. Não se procederá à avaliação se: [...] II - se tratar de
títulos ou de mercadorias, que tenham cotação em bolsa, comprovada por certidão ou publicação oficial;‖ 333
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.216. 334
Artigo 681, parágrafo único do Código de Processo Civil. ―Art. 681. O laudo da avaliação integrará o auto de
penhora ou, em caso de perícia (art. 680), será apresentado no prazo fixado pelo juiz, devendo conter: [...]
Parágrafo único. Quando o imóvel for suscetível de cômoda divisão, o avaliador, tendo em conta o crédito
reclamado, o avaliará em partes, sugerindo os possíveis desmembramentos.‖ 335
Artigo 702 do Código de Processo Civil. ―Art. 702. Quando o imóvel admitir cômoda divisão, o juiz, a
requerimento do devedor, ordenará a alienação judicial de parte dele, desde que suficiente para pagar o credor.‖ 336
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.216. 337
Artigo 692, parágrafo único do Código de Processo Civil. Art. 692. Não será aceito lanço que, em segunda
praça ou leilão, ofereça preço vil. Parágrafo único. Será suspensa a arrematação logo que o produto da alienação
dos bens bastar para o pagamento do credor. 338
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.216-217. 339
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil: execução e processo
cautelar. p. 161.
82
Após a avaliação dos bens penhorados, independente de ser a Ação Executiva ou
Cumprimento de Sentença340
, se observará os atos preparatórios à satisfação do credor341
que
estão elencados no artigo 647 do Código de Processo Civil, in verbis:
Art. 647. A expropriação consiste:
I - na adjudicação em favor do exeqüente ou das pessoas indicadas no § 2o
do art. 685-A desta Lei;
II - na alienação por iniciativa particular;
III - na alienação em hasta pública;
IV - no usufruto de bem móvel ou imóvel.342
A adjudicação é tratada no Código de Processo Civil, nos artigos 685-A e 685-B, a
alienação por iniciativa particular, no artigo 685-C, a alienação em hasta pública, nos artigos
686 à 707 e o usufruto de bens móveis e imóveis, nos artigos 716 à 724 do Código de
Processo Civil.343
3.3.3.1 Adjudicação (artigo 647, I do Código de Processo Civil)
O ato de expropriação preferencial que era a alienação por hasta pública, com o
advento da Lei 11.382/2006 passou a ser a adjudicação344
. E, esta, em palavras de Marinoni
―Corresponde ao recebimento do bem penhorado pelo exeqüente, descontando-se o valor da
execução do valor da coisa.‖345
.
A adjudicação deve ser requerida ao juízo por petição simples, devendo constar o
valor ofertado pelo bem penhorado e avaliado. Se o valor do bem for maior deverá ser feito
depósito da diferença pelo adjudicante346
.
Ressalta-se que tem legitimidade para adjudicar o bem penhorado o exequente, o
credor com garantia real, os credores concorrentes que hajam penhorado o mesmo bem, o
340
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.223-224. 341
BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: tutela jurisdicional
executiva. p.271. 342
BRASIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO. p.520. 343
BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: tutela jurisdicional
executiva. p.271. 344
SACCO Neto, Fernando. [et.al]. Nova execução de título extrajudicial. Lei 11.382/2006, comentada artigo
por artigo. p.65. 345
MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de processo civil. p. 314. 346
MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de processo civil. p. 315-316.
83
cônjuge, descendente ou ascendentes do executado, conforme dispõe o §2º347
do artigo 685-A.
ainda inclui-se no rol de legitimidade, os sócios, consubstanciado no artigo 685-A, §4º348
do
Código de Processo Civil.349
3.3.3.2 Alienação por iniciativa particular (artigo 647, II do Código de Processo Civil)
A alienação por iniciativa do particular é uma nova modalidade de ato de expropriação
e consiste na alienação de bens pelo exeqüente350
, conforme o disposto no artigo 685-C do
Código de Processo Civil que dispõe:
Art. 685-C. Não realizada a adjudicação dos bens penhorados, o exeqüente
poderá requerer sejam eles alienados por sua própria iniciativa ou por
intermédio de corretor credenciado perante a autoridade judiciária351
.
Para realizar a alienação por iniciativa particular, basta que não tenha havido a
adjudicação, conforme expressa Bueno: ―O que basta para esta modalidade expropriatória é o
fato objetivo de que a adjudicação não se realizou ou que ele, exeqüente, não pretende ou não
pretendeu adjudicar os bens penhorados [...]‖352
.
Paulo Hoffman ressalta que tal ato expropriatório visa tornar mais rápido o processo
judicial, ―[...]É tendência moderna a busca pela desjurisdicionalidade353
[...]‖354
. (grifou-se).
A formalização se dá por termo nos autos, assinado, conforme disposto no artigo 685-
C, caput e §2º355
, indicando se o exeqüente mesmo o fará ou contratará corretor credenciado
perante o Poder Judiciário356
.
347
Art. 685-A. É lícito ao exeqüente, oferecendo preço não inferior ao da avaliação, requerer lhe sejam
adjudicados os bens penhorados.[...] § 2o Idêntico direito pode ser exercido pelo credor com garantia real, pelos
credores concorrentes que hajam penhorado o mesmo bem, pelo cônjuge, pelos descendentes ou ascendentes do
executado. 348
Art. 685-A. É lícito ao exeqüente, oferecendo preço não inferior ao da avaliação, requerer lhe sejam
adjudicados os bens penhorados.[...] § 4o No caso de penhora de quota, procedida por exeqüente alheio à
sociedade, esta será intimada, assegurando preferência aos sócios. 349
BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: tutela jurisdicional
executiva. p.273. 350
SACCO Neto, Fernando. [et.al]. Nova execução de título extrajudicial. Lei 11.382/2006, comentada artigo
por artigo. p.69. 351
BRASIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO. p.560. 352
BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: tutela jurisdicional
executiva. p.285. 353
Desjurisdicionalidade é um neologismo. 354
SACCO Neto, Fernando. [et.al]. Nova execução de título extrajudicial. Lei 11.382/2006, comentada artigo
por artigo. p.161.
84
3.3.3.3 Alienação por hasta pública (artigo 647, III do Código de Processo Civil)
Ocorre o ato expropriatório de alienação por hasta pública condicionado a não
ocorrência da adjudicação e da não ocorrência da alienação particular do bem penhorado.357
Em razão da publicidade que visa alcançar o maior número de pessoas para
oferecimento de lanço, o ato exige o edital de hasta pública358
, que deverá conter o disposto
no artigo 686 do Código de Processo Civil, in verbis:
Art. 686. Não requerida a adjudicação e não realizada a alienação particular
do bem penhorado, será expedido o edital de hasta pública, que conterá:
I - a descrição do bem penhorado, com suas características e, tratando-se de
imóvel, a situação e divisas, com remissão à matrícula e aos registros;
II - o valor do bem;
III - o lugar onde estiverem os móveis, veículos e semoventes; e, sendo
direito e ação, os autos do processo, em que foram penhorados;
IV - o dia e a hora de realização da praça, se bem imóvel, ou o local, dia e
hora de realização do leilão, se bem móvel;
V - menção da existência de ônus, recurso ou causa pendente sobre os bens a
serem arrematados;
VI - a comunicação de que, se o bem não alcançar lanço superior à
importância da avaliação, seguir-se-á, em dia e hora que forem desde logo
designados entre os dez e os vinte dias seguintes, a sua alienação pelo maior
lanço (art. 692)359
.
Segundo leciona Medina, ―A hasta pública é o procedimento complexo formado por
vários atos que, concateados, têm por objetivo propiciar a arrematação, isto é, a alienação
judicial do bem.‖360
.
Quanto à legitimidade, o artigo 690-A, veda a arrematação pelo advogado, bem como
ao funcionário que se encontrar lotado no local em que for realizado o ato361
.
355
Art. 685-C. Não realizada a adjudicação dos bens penhorados, o exeqüente poderá requerer sejam eles
alienados por sua própria iniciativa ou por intermédio de corretor credenciado perante a autoridade judiciária.
[...]§ 2o A alienação será formalizada por termo nos autos, assinado pelo juiz, pelo exeqüente, pelo adquirente e,
se for presente, pelo executado, expedindo-se carta de alienação do imóvel para o devido registro imobiliário, ou,
se bem móvel, mandado de entrega ao adquirente. 356
GRECO Filho, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p.97. 357
SACCO Neto, Fernando. [et.al]. Nova execução de título extrajudicial. Lei 11.382/2006, comentada artigo
por artigo. p.165. 358
MEDINA, José Miguel Garcia. Execução. p.186. 359
BRASIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO. p.561. 360
MEDINA, José Miguel Garcia. Execução. p.185.
361
MEDINA, José Miguel Garcia. Execução. p.189.
85
Expressa Luís Otávio Sequeira de Cerqueira que fica clara a intenção do legislador em
combater a alienação por preço vil362
, eis que dispõe o artigo 692363
, a vedação, tornando sem
efeito a arrematação, conforme o disposto no inciso V364
do §1º do art. 694 do Código de
Processo Civil.
Em decorrência de a Penhora em dinheiro não utilizar este instituto, prescinde-se
maiores explicações.
3.3.3.4 Usufruto de bem móvel ou imóvel (artigo 647, IV do Código de Processo Civil)
O ato de satisfação pode ser realizado pelo usufruto de bem móvel ou imóvel tendo
legitimidade para requerer, somente o exeqüente, o qual será deferido pelo juízo quando se
verificar que é suficiente ao pagamento ao da dívida e o modo menos gravoso ao
executado365
.
Medina leciona que o usufruto é direito real descrito no artigo 1.225, IV do Código
Civil. Mediante o usufruto o exeqüente terá direito ―[...] a posse, ao uso, à administração e à
percepção dos frutos (art. 1.394 do Código Civil).‖366
.
Marinoni expressa que ―[...] O usufruto de móvel ou imóvel se limita a expropriar
temporariamente, o direito ao uso e aos frutos de bem, pagando-se o exeqüente com a renda
produzida. [...]‖367
.
Ernane Fidélis dos Santos ainda indica que:
362
Segundo Marinoni: ―Não há parâmetro para definir o que é considerado preço vil, exceto em um caso
particular (artigo 701 do Código de Processo Civil, que dispõe: ―Quando o imóvel de incapaz não alcançar em
praça pelo menos 80% (oitenta por cento) do valor da avaliação, o juiz o confiará à guarda e administração de
depositário idôneo, adiando a alienação por prazo não superior a 1(um) ano.‖). Na realidade, apenas a
consideração do caso concreto pode determinar esta circunstância, devendo-se analisar se a oferta é
absolutamente incompatível com o valor do bem, de modo a caracterizar apenas o oportunismo do terceiro. [...]
Em regra, para presumir o preço como vil, toma-se como parâmetro a metade do valor atualizado da avaliação
(STJ, 4ªT., REsp 839856/SC, rel. Min. Jorge Scartezzini, DJU 02.10.2006, p. 277). Ou seja, quando o preço é
menor do que a metade do valor atualizado da avaliação, presume-se como regra apriorística, que o valor seja
vil.‖ (in: MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de processo civil. p. 323-324). 363
BRASIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO. p.567. Art. 692. Não será aceito lanço que, em
segunda praça ou leilão, ofereça preço vil. 364
BRASIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO. p.569. Art. 694. Assinado o auto pelo juiz, pelo
arrematante e pelo serventuário da justiça ou leiloeiro, a arrematação considerar-se-á perfeita, acabada e
irretratável, ainda que venham a ser julgados procedentes os embargos do executado. § 1o A arrematação
poderá, no entanto, ser tornada sem efeito: [...] V - quando realizada por preço vil (art. 692). 365
SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de Direito Processual Civil: execução e processo cautelar. p. 209. 366
MEDINA, José Miguel Garcia. Execução. p.196. 367
MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de processo civil. p.311.
86
―Decretado o usufruto por decisão judicial, perde o executado o gozo do
móvel ou do imóvel, até que o exeqüente seja pago do principal, juros,
custas e honorários advocatícios (art. 717368
, redação da Lei n. 11.382/2006),
passando a ter eficácia com relação ao executado e aos terceiros, inclusive
credores anteriores (art. 718369
, nova redação dada pela Lei n.
11.382/2006).‖370
É salutar indicar que a ordem indicada no artigo 647 do Código de Processo Civil, não
inclui o usufruto, como medida a ser utilizada se infrutífera quaisquer das anteriores,
denotadas nos incisos I, II e III do artigo 647 do Código de Processo Civil, eis que verificado
que a medida satisfará o crédito e sendo o modo menos gravoso ao devedor, pode ser aplicado
o ato preparatório à satisfação expresso no inciso IV do artigo 647, do Código de Processo
Civil371
.
Concluída a fase preparatória, onde foram denotados os principais pontos, passar-se-á
a análise da Fase Final ou Satisfativa, dando-se destaque à Execução por quantia certa contra
devedor solvente e à Penhora, em dinheiro, analisando as duas vias de Execução (Ação
Executiva e Cumprimento de Sentença).
3.4 FASE FINAL OU SATISFATIVA
A última fase do processo de Execução, em suas duas vias de Execução Cumprimento
de Sentença e Ação Executiva, compreende a expropriação ou remição, a satisfação do credor
e a extinção normal da Execução que serão analisadas individualmente, sempre enfatizando a
Execução por quantia certa contra devedor solvente, e a Penhora em dinheiro.
Antes de dar início à análise das categorias que compõem a fase final da Execução,
ressalta-se Marinoni:
Após a penhora e avaliação, o executado terá oportunidade para apresentar a
sua defesa[...] que em regra, não deve ser recebida no efeito suspensivo e,
portanto, não deverá suspender a execução. O juiz apenas deve dar efeito
suspensivo à impugnação em casos excepcionais, quando, além de
relevantes os seus fundamentos, o prosseguimento da execução for
manifestamente suscetível de causar ao executado grave dano de difícil ou
368
BRASIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO. p.581. Art. 717. Decretado o usufruto, perde o
executado o gozo do móvel ou imóvel, até que o exeqüente seja pago do principal, juros, custas e honorários
advocatícios. 369
BRASIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO. p.581. Art. 718. O usufruto tem eficácia, assim
em relação ao executado como a terceiros, a partir da publicação da decisão que o conceda. 370
SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de Direito Processual Civil: execução e processo cautelar. p. 209. 371
MEDINA, José Miguel Garcia. Execução. p.197.
87
incerta reparação. (art. 475-M) [...] Assim a execução caminhará para a
expropriação dos bens [...]372
. (grifo do autor).
Em que pese a Penhora de dinheiro objeto de estudo deste trabalho, mister se faz
esclarecer que para tal instituto ―[...] nenhum desses caminhos será seguido, limitando-se o
juiz a autorizar o exeqüente a levantar o montante devido [...]‖373
. Todavia, necessário se faz
mencionar todas as formas de expropriação, incluindo a derivada da Penhora em dinheiro.
Conforme já mencionado na fase preparatória ou instrutória, os meios de expropriação
são: a adjudicação, a alienação em hasta pública, o usufruto de bem móvel ou imóvel374
, e
agora inclui-se na fase final, a entrega do dinheiro ao credor.
3.4.1 Expropriação
A expropriação é ―[...] a técnica executiva por excelência do processo executivo‖375
.
Visa o pagamento do credor. E em consonância com o dispositivo no artigo 708 do
Código de Processo Civil, temos que poderá ser realizado em três hipóteses376
, senão
vejamos:
Art. 708. O pagamento ao credor far-se-á:
I - pela entrega do dinheiro;
II - pela adjudicação dos bens penhorados;
III - pelo usufruto de bem imóvel ou de empresa.377
3.4.1.1 Adjudicação(artigo 708, II do Código de Processo Civil)
A adjudicação é modo de expropriação de bem móvel ou imóvel que visa à satisfação
do credor, e só conduzirá à extinção da Execução, quando o valor do bem satisfizer o crédito
do exeqüente378
. Se for menor, a Execução prosseguirá quanto ao saldo remanescente379
.
372
MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de processo civil. p.311. 373
MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de processo civil. p.312. 374
GRECO Filho, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 95. 375
ASSIS, Araken de. Manual da execução. p.572. 376
GRECO Filho, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 105. 377
BRASIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO. p.576. 378
Destaca-se que se o valor for superior, o exeqüente poderá adjudicar depositando o valor a maior (in:
MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de processo civil. p.315-316). 379
MEDINA, José Miguel Garcia. Execução. p.200.
88
Vista como ato expropriatório da fase final da Execução se dá ―Com a lavratura do
auto, que deve ser imediata, e respectiva assinatura pelo juiz, pelo adjudicante e pelo escrivão,
e se for presente, pelo executado, expede-se a respectiva carta, se o bem for imóvel, e o
mandado de entrega ao adjudicante, se móvel (art. 685-B, com redação da Lei n.
11.382/2006).‖380
.
Ressalta-se que entre a entrega dos bens se dão cinco dias após o aperfeiçoamento do
ato translativo, tendo em vista o direito que o executado tem de opor embargos,
consubstanciado no artigo 746 do Código de Processo Civil381
, ditos embargos de segunda
fase.
3.4.1.2 Usufruto de bem móvel ou imóvel (artigo 708, III do Código de Processo Civil)
Ressalta-se que tal instituto, se limita a expropriar temporariamente o bem do
executado382
, passando ao credor os direitos reais383
sobre o bem, até que seja adimplido o
débito total, incluído juros, multa, honorários advocatícios e custas a que for executado o
devedor384
.
Satisfeito integralmente o crédito do exeqüente, extinguir-se-á o usufruto, sendo
restituídos os poderes (direitos reais), sobre os bens, ao respectivo titular385
.
3.4.1.3 Entrega do dinheiro (artigo 708, I do Código de Processo Civil)
Para efetivar a satisfação do credor, o procedimento, segundo informa Marinoni, é
simples, expedindo-se o alvará ao exeqüente mediante requerimento para que este levante o
valor que lhe é devido386
. Ocorre que poderá ser complexo387
.
380
SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de Direito Processual Civil: execução e processo cautelar. p. 168. 381
GRECO Filho, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 135. 382
MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de processo civil. p.311. 383
MEDINA, José Miguel Garcia. Execução. p.196. 384
SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de Direito Processual Civil: execução e processo cautelar. p. 209. 385
MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de processo civil. p.328. 386
Levanta-se o valor que é devido, eis que, em havendo remanescente, este pertence ao devedor. Expressa
Humberto Theodoro Júnior (in: THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo
de Execução e Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.342): ―[...] O direito
do credor, de levantar o dinheiro depositado, não compreende toda a soma existente, mas apenas o
correspondente ao principal da dívida, juros, custas e honorários advocatícios. [...] Efetuado o pagamento, se
houver remanescente, deverá ser restituído ao devedor.‖ 387
MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de processo civil. p.328-329.
89
Expressa Vicente Greco Filho à respeito:
―Se sobre os bens alienados havia apenas Penhora de um credor singular, o juiz
autorizará que este levante o dinheiro depositado [...] Se, todavia, houver sobre os bens algum
privilégio ou preferência, instituído anteriormente à penhora [...] ou ainda houver outras
penhoras, institui-se um concurso limitado e parcial sobre o valor produto dos bens, concurso
que deve ser decidido pelo juiz, não se autorizando o levantamento do dinheiro
imediatamente.‖388
Ressalta-se que o levantamento de valores implica em pagamento parcial ou total ao
credor.389
A entrega de dinheiro, denotada no inciso I do artigo 708, comporta também, além do
dinheiro proveniente da alienação por iniciativa do particular e alienação em hasta pública, a
entrega do dinheiro em espécie ou depósito ou aplicação em instituição financeira, oriundo da
Penhora on line, disposta no artigo 655, I do Código de Processo Civil390
.
Conforme leciona Bueno: ―[...] É clara acerca dessa distinção a redação do final do
caput do dispositivo quando faz menção ao ‗dinheiro depositado para segurar o juízo‘ ou ‗o
produto dos bens alienados‘‖391
. (grifo do autor).
Faz menção ao artigo 655, I do Código de Processo Civil, qualificando a entrega de
dinheiro penhorado via Bacen Jud, como ato expropriatório para satisfação do credor,
configurando-o como incluso na modalidade disposta no inciso I do artigo 708 do Código de
Processo Civil, destacando que ―Pela lei [...] não há autorização imediata para levantamento
ou para transferência destes valores; tão-somente, para a decretação de sua indisponibilidade,
de seu ‗bloqueio‘. A chamada ‗Penhora on line‘, por isto mesmo, não é, ela própria, ato
expropriatório‖ 392
.
388
GRECO Filho, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. p. 105. 389
BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: tutela jurisdicional
executiva. p.349. 390
BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: tutela jurisdicional
executiva. p.350. 391
BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: tutela jurisdicional
executiva. p.350. 392
BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: tutela jurisdicional
executiva. p.243.
90
Marinoni indica que quando a Penhora recai sobre dinheiro393
, nenhum dos caminhos
denotados nos incisos do artigo 647 do Código de Processo Civil será seguido, tendo em vista
que o juiz somente autorizará o exeqüente a levantar o valor que lhe é devido.394
3.4.2 Remição
Primeiramente compete esclarecer que a remição tratada neste item, como integrante
da fase final da Execução é aquela indicada no artigo 651 do Código de Processo Civil, in
verbis:
Art. 651. Antes de adjudicados ou alienados os bens, pode o executado, a
todo tempo, remir a execução, pagando ou consignando a importância
atualizada da dívida, mais juros, custas e honorários advocatícios.395
Destaca-se esta informação, tendo em vista que a remição da Execução diverge da
remição de bens que estava disposta nos artigos 787-790, revogados pela Lei nº
11.382/2006.396
Bueno indica que o verbo remir constante no artigo 651, tem significado de resgate,
tratando-se de adimplemento tardio da obrigação397
.
Segundo Humberto Theodoro Júnior:
Remição da execução é, porém o resgate da dívida exeqüenda, mediante
pagamento ou depósito do principal, mais juros, custas e honorários
advocatícios, o que é motivo de extinção do processo executivo (art. 794, nº
I) [...]398
.
Luís Otávio Sequeira de Cerqueira indica que ―A remição da execução permite ao
executado preservar seu patrimônio mediante o pagamento ou a consignação (depósito
393
Artigo 655, I Código de Processo Civil. 394
MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de processo civil. p.312. 395
BRASIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO. p.529. 396
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p. 267. 397
BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: tutela jurisdicional
executiva. p.346. 398
THEODORO Júnior, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Processo de Execução e
Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. p.334.
91
judicial) em dinheiro do valor da dívida, devidamente atualizado e acrescido de juros, custas e
honorários advocatícios‖399
.
Para Wambier, a remição da Execução, portanto, ―[...] Consiste no pagamento do
valor total do crédito objeto da Execução, incluindo todos os acessórios. É adimplemento
tardio da obrigação, que a extingue e, consequentemente, serve de causa extintiva da
execução.‖400
.
Segundo Bueno, ―[...] a remição da execução pressupõe o transcurso in albis dos
prazos que o caput do art. 475-J e o caput do art.652 reservam para que o executado pague o
valor reclamado pelo exeqüente.‖401
.
Salienta-se ainda que apesar de o dispositivo expressar tão somente a figura do
executado, qualquer terceiro interessado poderá fazê-lo, respeitado o prazo, que embora
disponha a todo tempo tem limitações402
.
A limitação inicial é o término do prazo de três dias denotado no artigo 475-J, caput403
e 652, caput404
do Código de Processo Civil; e final, ―a lavratura do auto (ou termo) de
adjudicação, alienação por iniciativa particular ou alienação em hasta pública [...]. Lavrado o
auto (ou o termo), não cabe mais a remição da execução.‖405
.
É importante frisar que a remição realizada após a lavratura do auto, será incabível por
intempestividade.
Desta forma restou demonstrado os meios de satisfação do credor, e conseqüente
extinção da Execução, encerrada com a fase final ou satisfativa, estando, portanto, também
concluído este capítulo. A partir de então abordar-se-á os temas específicos no capítulo 3 com
a demonstração da evolução da Penhora on line.
399
SACCO Neto, Fernando. [et.al]. Nova execução de título extrajudicial. Lei 11.382/2006, comentada artigo
por artigo. p.83. 400
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p. 265. 401
BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: tutela jurisdicional
executiva. p.346. 402
SACCO Neto, Fernando. [et.al]. Nova execução de título extrajudicial. Lei 11.382/2006, comentada artigo
por artigo. p.83. 403
Cumprimento de Sentença. 404
Ação Executiva. 405
BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: tutela jurisdicional
executiva. p.346-347.
92
4 TERCEIRO CAPÍTULO – EVOLUÇÃO DA APLICAÇÃO DO BACEN JUD
4.1 PENHORA ON LINE
Superada a exposição da evolução histórica, requisitos, vias e fases da Execução, para
analisar a evolução da Penhora on line, imprescindível aprofundar este instituto, e para tanto
faz-se mister destacar o artigo 655, I do Código de Processo Civil, que dispõe:
Art. 655. A penhora observará, preferencialmente, a seguinte ordem:
I - dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em instituição
financeira;
[...]406
.
Humberto Theodoro Júnior expressa que a Penhora on line é o meio pelo qual o juiz,
por via eletrônica, realiza o bloqueio de valor em dinheiro (depósitos ou aplicações) junto ao
Banco Central407
.
Bueno leciona:
Substancialmente a chamada ‗penhora on line408
‘ nada mais é do que a
possibilidade de o magistrado [...] ter acesso a informações que, por serem
sigilosas, não seriam de seu conhecimento se não expressamente autorizadas.
Tais informações dizem respeito à identificação de dinheiro ou, mais
amplamente, depósitos ou aplicações em instituições financeiras (art. 655, I),
sem exclusão das cadernetas de poupança (art. 655, X), para viabilizar a sua
penhora [...]409
.
Gonçalves indica que a Penhora on line é a Penhora sobre os ativos do executado, por
via eletrônica, realizado pelo juiz410
, que requisita informações e bloqueia valores, através do
Bacen Jud que é um ―[...] instrumento útil para tentar alcançar bens do devedor, em princípio
406
BRASIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO. p.533. 407
THEODORO Júnior, Humberto. A reforma da execução título extrajudicial. Rio de Janeiro: Forense,
2007.p.76. 408
Bueno menciona que a penhora on line não é ato expropriatório, mas sim penhora que se realiza por meio do
Bacen Jud. 409
BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: tutela jurisdicional
executiva. p.242-243. 410
A requerimento do exeqüente.
93
adotado pela Justiça do Trabalho, e hoje pela justiça comum411
. É fruto de um convênio entre
o Judiciário e o Banco Central [...]‖412
.
Segundo Marinoni ―[...] A penhora em dinheiro é a melhor forma de viabilizar a
realização do direito de crédito [...]‖413
, eis que elimina maiores procedimentos, tornando a
Execução mais célere e de menores gastos, bem como permite a Penhora do valor necessário
à satisfação do crédito, ao contrário do que ocorre com a Penhora de bens imóveis, por
exemplo414
.
Diante de todos os conceitos, verifica-se indiscutivelmente que a Penhora on line, em
suma, é a Penhora de dinheiro (em depósito ou aplicação financeira) realizada pelo juiz
através de Bacen Jud.
Bacen Jud415
é o meio eletrônico utilizado pelo juiz, e o procedimento está
consubstanciado no Código de Processo Civil, no artigo 655-A, in verbis:
Art. 655-A. Para possibilitar a penhora de dinheiro em depósito ou
aplicação financeira, o juiz, a requerimento do exeqüente, requisitará à
autoridade supervisora do sistema bancário, preferencialmente por meio
eletrônico, informações sobre a existência de ativos em nome do executado,
podendo no mesmo ato determinar sua indisponibilidade, até o valor
indicado na execução416
.
Compete destacar oportunamente que para realizar a Penhora on line ―[...] é necessário
que o tribunal seja signatário de convênio com o Banco Central e que o juiz de primeiro grau
faça cadastro e obtenha senha de acesso, junto ao respectivo tribunal. [...]‖417
418
.
Gonçalves ressalta que ―[...] o juiz, por meio de uma senha, expede uma determinação
ao Banco Central, para que ele ordene a todas as instituições financeiras do País que
identifiquem e bloqueiem as contas bancários do devedor [...]‖419
.
411
Da mesma forma pela Justiça Federal. 412
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil: execução e processo
cautelar. p. 152-153. 413
MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de processo civil. p.270. 414
MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de processo civil. p.270. 415
Este instituto será abordado neste capítulo, em item específico, pois é imprescindível o aprofundamento. 416
BRASIL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ANOTADO. p.538-539. 417
MEDINA, José Miguel Garcia. Execução. p.164. 418
O Ofício Circular nº25/2008, datado de 25 de abril de 2008, da Corregedoria Geral da Justiça – Poder
Judiciário – Estado de Santa Catarina, oficiou sobre a decisão do Conselho Nacional de Justiça que tornou
obrigatório o cadastramento dos juízes no Sistema Bacen Jud. Anexo X.
94
Medina expressa:
―Através do Bacen Jud, possibilita-se o encaminhamento, por via eletrônica
(internet), de ordens judiciais de bloqueio e transferência de valores
existentes em contas correntes e outros ativos financeiros, por intermédio do
Banco Central, às instituições financeiras420
. (grifo do autor).
Humberto Theodoro Júnior expressa que na requisição enviada por meio eletrônico, o
juiz informará o montante necessário a cobrir a quantia exeqüenda, comportando o débito
atualizado, com estimativa de honorários, custas e acessórios eventuais, em consonância com
o dispositivo421
do Código de Processo Civil, artigo 659422
.
Sendo positivo o bloqueio, ou seja, tendo saldo a penhorar e realizada a
indisponibilidade dos valores, proceder-se-á a lavratura do termo de Penhora e posterior
intimação423
do executado em consonância com o artigo 652, §1º do Código de Processo
Civil424
. Cabendo ao executado, conforme já mencionado, a comprovação, quando existente,
da impenhorabilidade do valor, por enquadramento nas hipóteses compatíveis elencadas no
rol do artigo 649 do Código de Processo Civil. Comprovação consubstanciada no §2º do
artigo 655-A425
.
Reitera-se que o bloqueio é limitado ao valor da Execução, não se fará, portanto, a
indisponibilidade de todo o saldo, de todas as contas ou aplicações, tão somente o suficiente à
satisfação do crédito426
.
Salienta-se que:
―Há na jurisprudência427
, decisões no sentido de que o cadastramento que
autoriza o juiz a proceder a penhora on line, embora possível, nos casos em
419
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil: execução e processo
cautelar. p. 152-153. 420
MEDINA, José Miguel Garcia. Execução. p.164. 421
THEODORO Júnior, Humberto. A reforma da execução título extrajudicial. Rio de Janeiro: Forense,
2007.p.76. 422
Art. 659. A penhora deverá incidir em tantos bens quantos bastem para o pagamento do principal atualizado,
juros, custas e honorários advocatícios. 423
A intimação poderá ser feita na pessoa do advogado do executado. 424
THEODORO Júnior, Humberto. A reforma da execução título extrajudicial. Rio de Janeiro: Forense,
2007.p.77. 425
MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de processo civil. p.272. 426
BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: tutela jurisdicional
executiva. p.243-244. 427
MEDINA indica, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina: Agravo de Instrumento nº 310371-3, rel. Des.
Celso Seikiti Saito, j. 23.11.2005.
95
que há convênio entre o Tribunal e o Banco Central, não pode ser imposto ao
juiz da causa, que, discricionariamente, poderá ou não adotar tal
procedimento ‗no âmbito de sua jurisdição‘‖ 428
. (grifo do autor).
Ressalta-se quanto ao recém citado, que tal limitação contraria o princípio
constitucional da celeridade processual e o princípio infraconstitucional da economia
processual429
, eis que dispõe o inciso LXXVIII430
do artigo 5º da Constituição Federal, que
estão garantidos a todos, os meios de celeridade da tramitação431
.
Quanto à celeridade, Gonçalves denota que ―A penhora on line tem sido instrumento
eficaz para localização dos bens do devedor [...], por sua rapidez, muitas vezes consegue
efetivar a constrição antes que o devedor tenha tido tempo hábil para retirar o dinheiro, em
detrimento do credor.‖432
.
É importante destacar que o procedimento é célere, e não atinge a intimidade do
executado. Nota-se que em consonância com palavras de Marinoni, o exeqüente é informado
tão somente da existência de depósito ou aplicação financeira, não se tendo acesso aos
movimentos bancários do executado433
. Tal procedimento visa o sigilo bancário, que Ernane
Fidélis dos Santos, destaca apropriadamente: ―Para resguardo do sigilo bancário, as
informações da entidade devem limitar-se à existência ou não de depósito ou aplicação, até o
valor indicado na Execução (§1º do art. 655-A)‖434
.
Indira Fábia dos Santos Meirelles435
, expressa que para alguns a Penhora on line é uma
temeridade, e para outros, um avanço. Denota que a corrente desfavorável a Penhora on line
defende que há ofensa a dignidade do devedor, violação da intimidade, dos princípios da
ampla defesa, do devido processo legal e do contraditório bem como ofende o princípio do
428
MEDINA, José Miguel Garcia. Execução. p.164. 429
MEIRELES, Indira Fábia dos Santos. Penhora on line: Avanço ou Temeridade? Revista Jurídica Consulex,
nº 278, 15agosto2008, ANO XII. p.63. 430
―Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: [...] LXXVIII – a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados
a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.‖ 431
MEDINA, José Miguel Garcia. Execução. p.164-165. 432
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil: execução e processo
cautelar. p. 153. 433
MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de processo civil. p.272. 434
SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de Direito Processual Civil: execução e processo cautelar. p. 124-
135. 435
Juíza de Direito no Estado da Bahia.
96
modo menos gravoso ao devedor. Ainda afeta o giro empresarial, quando indisponibilizado o
capital depositado ou aplicado em instituição financeira.436
Por outro lado, prossegue a juíza, a defesa daqueles que indicam a Penhora on line
como avanço processual, expressam que é ―[...] um mecanismo de efetivação dos princípios
da legalidade437
, do acesso à justiça438
e da celeridade processual439
, consagrados em nossa
Constituição Federal como cláusulas pétreas, pois que situados no título que trata dos
princípios fundamentais [...]‖440
. Ainda contra-argumenta a corrente contrária sustentando que
não há ofensa à dignidade do executado, e de que há disponibilização de informações a
pessoas autorizadas. Sendo assim, como não há acesso a movimentação bancária, não há que
se falar em quebra de sigilo bancário, tão pouco de violação de intimidade441
.
No mesmo sentido José Ronemberg Travassos da Silva442
indica:
[...] Quebra de sigilo bancário haveria, em tese, apenas na hipótese de acesso
a informações sobre movimentações financeiras do devedor; o que, diga-se
de passagem, não é o caso do Bacen Jud, que disponibiliza aos Juízes,
unicamente, os números das contas bancárias existentes em nomes dos
executados e os seus respectivos saldos [...] pois, como sabido, é
prerrogativa do Juízo a quebra dessa restrição, conforme prescrito na
legislação infraconstitucional e na própria Constituição da República443
[...]444
.
436
MEIRELES, Indira Fábia dos Santos. Penhora on line: Avanço ou Temeridade? Revista Jurídica Consulex,
nº 278, 15agosto2008, ANO XII. p.64. 437
Art. 5º, II da Constituição Federal - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em
virtude de lei; 438
Art. 5º, XXXV da Constituição Federal - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça
a direito; 439
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:[...] 440
MEIRELES, Indira Fábia dos Santos. Penhora on line: Avanço ou Temeridade? Revista Jurídica Consulex,
nº 278, 15agosto2008, ANO XII. p.64. 441
MEIRELES, Indira Fábia dos Santos. Penhora on line: Avanço ou Temeridade? Revista Jurídica Consulex,
nº 278, 15agosto2008, ANO XII. p.64. 442
José Ronemberg Travassos da Silva. Especialista em direito Processual Civil Lato Sensu pela Faculdade de
Direito de Caruaru – FADIC; Mestrando em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP;
Professor Universitário e Juiz de Direito do Tribunal de Justiça de Pernambuco. 443
Nesse sentido: ―[...]EMENTA RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC.
INOCORRÊNCIA. EXECUÇÃO FISCAL. SIGILO BANCÁRIO. SISTEMA BACEN JUD. (...) o sistema
BACEN JUD agiliza a consecução dos fins da execução fiscal, porquanto permite ao juiz ter acesso à existência
de dados do devedor, viabilizando a constrição patrimonial do art. 11, da Lei n. 6.830/80. Deveras é uma forma
de diligenciar acerca dos bens do devedor, sendo certo que, atividade empreendida pelo juízo, e que, por si só,
torna despiciendo imaginar-se um prévio pedido de quebra de sigilo, não só porque a medida é limitada, mas
também porque é o próprio juízo que, em ativismo desejável, colabora para a rápida prestação da justiça. (...)
Destarte, a iniciativa judicial, in casu, conspira a favor da ratio essendido do convênio. Acaso a constrição
97
Quanto ao princípio do contraditório e ampla defesa é notório que não há violação,
posto que há citação/intimação do executado, podendo pagar ou indicar bens, não havendo
surpresa, sendo-lhe garantida a arguição de impenhorabilidade dos valores bloqueados, e
excesso quando existentes. No que tange ao devido processo legal este é visível eis que há o
requerimento do exeqüente445
, e somente assim o magistrado utiliza a medida eletrônica para
verificar ativos financeiros e posterior bloqueio da quantia. Por fim expressa que não ofende o
princípio da menor onerosidade em razão de o princípio não ser absoluto, bem como
dependerá da situação das partes, ainda não pode ser interpretado como meio de
impenhorabilidade destacando que: ―[...] Deve-se sempre contrapor o princípio da menor
onerosidade dos princípios da celeridade e economia processual, utilizando-se a
proporcionalidade para solucionar o caso posto em análise [...]‖446
.
Em que pese à violação de intimidade, Marinoni, de forma a sanar quaisquer dúvidas,
leciona:
[...]é preciso deixar claro que o exeqüente tem o direito de saber se o
executado possui dinheiro depositado em instituição financeira pela mesma
razão que possui o direito de saber se o executado é proprietário de bem
imóvel ou móvel [...].Como é óbvio, não há qualquer violação de intimidade
ao se obter informações a respeito da existência de conta corrente ou
aplicação financeira.‖447
.
Ressalta-se que o procedimento da Penhora on line é igual para ambas as vias de
Execução (Ação Executiva e Cumprimento de Sentença), todavia, há diferentes maneiras de
ciência do executado. Enquanto na Ação Executiva o executado é citado da Execução, e
passado o posteriormente se dará a realização de intimação da Penhora on line, no
Cumprimento de Sentença, abre-se o prazo para impugnação já com a intimação da Penhora
on line448
.
implique em impenhorabilidade, caberá ao executado opor-se pela via própria em juízo." (STJ. REsp.
666.419/SC. Rel. Min. Luiz Fux. J. em 14/06/2005).(in: SILVA, José Ronemberg Travassos da. A penhora
realizada através do Bacen Jud. Breves apontamentos. JUSNAVIGANDI. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8751>. Acesso em: 11 maio 2009). 444
SILVA, José Ronemberg Travassos da. A penhora realizada através do Bacen Jud. Breves apontamentos.
JUSNAVIGANDI. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8751>. Acesso em: 11 maio
2009. 445
Não podendo o juiz de ofício, proceder a penhora on line. 446
MEIRELES, Indira Fábia dos Santos. Penhora on line: Avanço ou Temeridade? Revista Jurídica Consulex,
nº 278, 15agosto2008, ANO XII. p.65. 447
MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de processo civil. p.272. 448
WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil. p.287.
98
Superados os esclarecimentos sobre a Penhora on line, faz-se necessário o
aprofundamento do instituto Bacen Jud, para então abordar-se a evolução da Penhora on line,
que se dá via Bacen Jud.
4.2 BACEN JUD
Mister se faz inicialmente, indicar que, com o intuito de reduzir o grande fluxo de
solicitações escritas, bem como os custos operacionais das respostas, que eram realizadas por
ofícios despendendo expedientes burocráticos, o Banco Central do Brasil implementou o
Bacen Jud, permitindo ―[...] ao Poder Judiciário o acesso imediato, via internet, ao Sistema de
Informações Banco Central – SISBACEN [...]‖449
. (grifo do autor).
Isto posto, fica claro que a Penhora realizada via Bacen Jud, a qual se dá o nome de
Penhora on line, é a Penhora: ―[...] ato executivo que afeta determinado bem à execução,
permitindo sua ulterior expropriação, e torna os atos de disposição do seu proprietário
ineficazes em face do processo. [...]‖450
, realizada por meio eletrônico ou virtual451
.
Assim, o Bacen Jud teve como propósito o acesso imediato do Poder Judiciário ao
SISBACEN – Sistema de Informações Banco Central 452
, e proporciona Rapidez453
,
Segurança454
e Economia455
, conforme indica o Sistema Bacen Jud456
.
Marinoni indica:
449
SILVA, José Ronemberg Travassos da. A penhora realizada através do Bacen Jud. Breves apontamentos.
JUSNAVIGANDI. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8751>. Acesso em: 11 maio
2009. 450
ASSIS, Araken de. Manual da execução. p.592. 451
SILVA, José Ronemberg Travassos da. A penhora realizada através do Bacen Jud. Breves apontamentos.
JUSNAVIGANDI. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8751>. Acesso em: 11 maio
2009. 452
MEIRELES, Indira Fábia dos Santos. Penhora on line: Avanço ou Temeridade? Revista Jurídica Consulex,
nº 278, 15agosto2008, ANO XII. p.65. 453
―O Juiz de Direito, de posse de uma senha previamente cadastrada, preenche um formulário na Internet,
solicitando as informações necessárias ao processo. O Bacen Jud, então, repassa automaticamente as ordens
judiciais para os bancos, diminuindo o tempo de tramitação‖. (in: BRASIL. Banco Central do Brasil. Sistema
Bacen Jud. Disponível em: < http://www.bcb.gov.br/?BCJUDINTRO>. Acesso em: 11 maio 2009). 454
―No trânsito das informações entre a Justiça, o Banco Central e as instituições financeiras, será garantida a
máxima segurança, com a utilização de sofisticada tecnologia de criptografia de dados‖. (in: BRASIL. Banco
Central do Brasil. Sistema Bacen Jud. Disponível em: < http://www.bcb.gov.br/?BCJUDINTRO>. Acesso em:
11 maio 2009). 455
―Com a utilização da Internet, serão sensivelmente reduzidos os custos com recursos humanos e materiais‖.
(in: BRASIL. Banco Central do Brasil. Sistema Bacen Jud. Disponível em: <
http://www.bcb.gov.br/?BCJUDINTRO>. Acesso em: 11 maio 2009). 456
BRASIL. Banco Central do Brasil. Sistema Bacen Jud. Disponível em: <
http://www.bcb.gov.br/?BCJUDINTRO>. Acesso em: 11 maio 2009.
99
[...] Ora, se o exeqüente, para penhorar dinheiro, necessita saber se o
executado possui – e em que local – dinheiro depositado em instituição
financeira, ele deve ter ao seu dispor uma forma que lhe garanta esta
verificação. Para viabilizar o acesso a tais informações, o Superior Tribunal
de Justiça, o Tribunal Superior do Trabalho e o Conselho da Justiça Federal
firmaram convênio com o Banco Central – há bastante tempo457
–, por meio
do qual os juízes com senhas cadastradas têm acesso, através da internet, a
um sistema de consultas – desenvolvido pelo Banco Central do Brasil e
denominado de Bacen Jud. [...]‖458
.
Em conformidade com informações do próprio Banco Central do Brasil, este vem
prestando um relevante serviço ao Poder Judiciário desde o início de 1990, fornecendo dados,
refletindo em celeridade das demandas processuais. Com o acumulo dos ofícios do Poder
Judiciário, fez-se necessário informatizar o procedimento, dando assim origem ao Bacen Jud
1.0459
no ano de 2001460
.
Com o aperfeiçoamento do sistema, foi desenvolvido o Sistema Bacen Jud 2.0, sendo
implementado em duas fases. A primeira, FASE I, em dezembro de 2005, compreendeu ―[...]
as funcionalidades de bloqueio, desbloqueio, transferência de valores para conta de depósito
judicial e controle de respostas das instituições financeiras pelo magistrado‖461
.
Importante destacar que após a implementação da FASE I:
―[...] foram firmados convênios com o Tribunal Superior do Trabalho,
Superior Tribunal de Justiça, Conselho de Justiça Federal e Superior
Tribunal Militar e termos de adesão com todos os 24 Tribunais Regionais do
Trabalho, os 5 Tribunais Regionais Federais e 26 Tribunais de Justiça
Estaduais‖462
.
457
Existe desde maio de 2001. 458
MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de processo civil. p. 271-272. 459
―O sistema informatizado Bacen Jud não importou na alteração das regras processuais preexistentes, mas
apenas informatizou um procedimento já existente utilizado pelos magistrados por meio de ofício em papel‖. (in:
BRASIL. Banco Central do Brasil. Sistema Bacen Jud. Disponível em: <
http://www.bcb.gov.br/?BCJUDINTRO>. Acesso em: 11 maio 2009). 460
BRASIL. Banco Central do Brasil. Sistema Bacen Jud. Disponível em: <
http://www.bcb.gov.br/?BCJUDINTRO>. Acesso em: 11 maio 2009. 461
BRASIL. Banco Central do Brasil. Sistema Bacen Jud. Disponível em: <
http://www.bcb.gov.br/?BCJUDINTRO>. Acesso em: 11 maio 2009. ―As grandes inovações desse aplicativo
foram o retorno de respostas das instituições financeiras para os magistrados pelo próprio sistema e o respectivo
controle pelas autoridades judiciárias, bem como a transferência de valores bloqueados para conta de depósito
judicial, funcionalidades inexistentes no sistema anterior - Bacen Jud 1.0‖. 462
BRASIL. Banco Central do Brasil. Sistema Bacen Jud. Disponível em: <
http://www.bcb.gov.br/?BCJUDINTRO>. Acesso em: 11 maio 2009.
100
Dentre os Tribunais de Justiça Estaduais que aderiram ao Bacen Jud, está o Tribunal
de Justiça de Santa Catarina, que assinou463
, o Termo de Adesão em 10 de novembro de
2005464
.
A FASE II compreende duas funcionalidades: prioritárias e complementares, e foram
recentemente instituídas, 29 de fevereiro de 2008. Dentre as funcionalidades implementadas
estão: A Requisição de informações onde o magistrado poderá obter dados bancários de
clientes do Sistema Financeiro Nacional; Automação do processo de transferência de valor
bloqueado para conta de depósito judicial e outras melhorias para facilitar o uso do sistema
pelo usuário do Poder Judiciário; Inserção dos bancos de investimentos e bancos múltiplos
sem carteira comercial no rol das instituições que recebem os arquivos do sistema Bacen Jud
2.0 contendo ordens judiciais; e Cadastro atualizado de varas/juízos e de nomes dos
representantes das instituições financeiras.
Assim, como já resta recém implementada a FASE II do Sistema Bacen Jud 2.0,
poderão haver, no decorrer da utilização, novas teses de inconstitucionalidade da Penhora,
tendo em vista que o Sistema Bacen Jud 2.0 permitirá o acesso à extratos bancários, conforme
alínea c465
do artigo 15 do Regulamento Bacen Jud 2.0, o que, conforme já denotado,
acarretará em quebra de sigilo bancário, e consequentemente acarretará em novas Ações de
Inconstitucionalidades, como há pouco ocorreu466
. Todavia, não sendo objeto do presente
trabalho, prosseguir-se-á com a estrutura Bacen Jud.
O Sistema Bacen Jud 2.0 tem Regulamento467
próprio, instituído pelo Banco Central
do Brasil, e traz em seu teor no artigo 1º468
que a regulamentação visa disciplinar a
operacionalização, bem como padronizar os procedimentos com intuito de evitar divergência
e equívocos de interpretação.
463
À época, pelo Presidente do Tribunal de Justiça de Santa Catarina Desembargador Jorge Mussi. 464
Anexo VIII. 465
―ARTIGO 15 - O sistema BACEN JUD 2.0 permitirá ao Poder Judiciário requisitar as seguintes informações
: [...] c) extrato de contas (corrente, poupança e investimento), de aplicações financeiras e de outros ativos
bloqueáveis;[...]‖. 466
ADIn 3091 ajuizada pelo Partido da Frente Liberal – PFL, em 17/12/2003, e ADIn 3203 ajuizada pela
Confederação Nacional dos Transportes – CNT, em 15/05/2004. (in: SILVA, José Ronemberg Travassos da. A
penhora realizada através do Bacen Jud. Breves apontamentos. JUSNAVIGANDI. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8751>. Acesso em: 11 maio 2009). 467
Anexo III. 468
ARTIGO 1º - A presente regulamentação visa a disciplinar a operacionalização e utilização do sistema
BACEN JUD 2.0, bem como padronizar os procedimentos a fim de evitar divergências e equívocos de
interpretação.
101
A utilização do Bacen Jud, como se pode verificar, tem exigências mínimas, bem
como traz Roteiro Técnico que deve ser respeitado pelos conveniados469
e pelos que
aderiram470
ao Sistema.
A utilização do Sistema Bacen Jud, no Estado de Santa Catarina, foi autorizada pelo
PROVIMENTO Nº 05/2006471
, onde constam em forma de recomendações (artigo 1º),
esclarecimentos (artigo 2º) e determinações (artigo 3º), que entraram em vigor na data de 1º
de junho de 2006. Momento em que, através das estatísticas poderão ser visualizados os dados
de utilização do sistema pelo Poder Judiciário do Estado.
Os dados estatísticos são surpreendentes. Em estatística consolidada472
, pode-se
observar um crescimento de mais de 500% (quinhentos por cento), passando de 6.384 (seis
mil trezentos e oitenta e quatro) ofícios em papel enviados do Poder Judiciário ao Banco
Central do Brasil, no ano de 1998, para 3.671.735 (três milhões seiscentos e setenta e um mil,
setecentos e trinta e cinco) consultas, incluindo ofícios em papel e Sistema Bacen Jud 1.0 e
Bacen Jud 2.0473
.
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Total
Ofícios em papel 6 384 54 515 71 461 80 586 99 697 118 505 116 350 128 856 134 114 75 838 59 907 4 098 950 311
BacenJud 1.0 0 0 0 524 44 756 262 892 473 198 615 870 62 149 79 908 64 194 0 1 603 491
BacenJud 2.0 0 0 0 0 0 0 0 61 946 1 320 289 2 693 576 3 547 634 214 913 7 838 358
Total 6 384 54 515 71 461 81 110 144 453 381 397 589 548 806 672 1 516 552 2 849 322 3 671 735 219 011 10 392 160
Atendimento ao Poder Judiciário
Decic - Departamento de Prevenção a Ilícitos Financeiros e de Atendimento de Demandas de Informações do Sistema Financeiro
Difis - Diretoria de Fiscalização
1998 até janeiro/2009
0
500 000
1 000 000
1 500 000
2 000 000
2 500 000
3 000 000
3 500 000
4 000 000
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
BacenJud 2.0 BacenJud 1.0 Ofícios em papel
É imprescindível destacar que os números indicados acima fazem referência aos totais
de todo o país, incluindo a Justiça Estadual, a Justiça Federal, Militar e do Trabalho. Todavia
em consonância com a Execução processual civil abordada, faz-se mister destacar os números
provenientes da Justiça Estadual e Federal, em específico do Estado de Santa Catarina. Assim,
obteve-se as seguintes estatísticas:
469
Tribunal Superior do Trabalho, Superior Tribunal de Justiça, Conselho de Justiça Federal e Superior Tribunal
Militar. 470
Aderiram ao Sistema os 24 Tribunais Regionais do Trabalho, os 5 Tribunais Regionais Federais e 26
Tribunais de Justiça Estaduais. 471
Anexo IX. 472
Anexo IV. 473
BRASIL. Banco Central do Brasil. Sistema Bacen Jud. Disponível em: <
http://www.bcb.gov.br/?BCJUDESTATISTICAS >. Acesso em: 11 maio 2009.
102
Ofícios em papel474
, em Santa Catarina, entre os anos 1998-2009475
: 18.563476
.
Nota-se um crescimento até o ano de 2003, caindo consideravelmente nos anos
subseqüentes, chegando ao corrente ano de 2009, com o irrisório número de 44 ofícios.
Bacen Jud 1.0477
, em Santa Catarina, entre os anos 2001-2008478
: 665479
.
474
Anexo V. 475
BRASIL. Banco Central do Brasil. Sistema Bacen Jud. Disponível em: <
http://www.bcb.gov.br/Fis/pedjud/ftp/Estatisticas/Oficios%20em%20Papel/1998_a_2009_Of%EDcios_em_Pape
l.xls>. Acesso em: 11 maio 2009. 476
Estão inclusos os ofícios da Justiça do Trabalho. 477
Anexo VI. 478
BRASIL. Banco Central do Brasil. Sistema Bacen Jud. Disponível em: <
http://www.bcb.gov.br/Fis/pedjud/ftp/Estatisticas/Bacen%20Jud%201.0/2001_a_2008_BacenJud_1.xls >.
Acesso em: 11 maio 2009. 479
Dados somente da Justiça Estadual.
Total
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
AC 3 19 23 8 19 37 25 19 6 3 17 0 179
AL 6 35 55 48 160 250 114 134 100 99 126 6 1 127
AM 143 527 319 264 182 212 133 96 74 52 37 3 2 039
AP 0 5 5 55 22 22 76 37 13 24 13 1 272
BA 316 2 580 3 805 3 903 3 185 1 336 1 684 1 995 2 404 1 933 1 309 65 24 450
CE 53 362 312 322 343 537 406 490 757 859 368 57 4 809
DF 31 250 361 487 795 728 708 391 342 704 918 143 5 715
ES 52 428 593 638 471 476 694 838 980 826 591 60 6 587
GO 141 1 220 1 726 1 710 2 111 1 055 545 456 474 575 363 53 10 376
MA 44 412 1 046 1 483 1 296 912 415 502 550 562 321 40 7 543
MG 652 3 669 3 999 5 707 6 326 7 805 6 246 7 529 10 707 20 833 14 947 936 88 420
MS 106 1 120 1 493 1 689 3 107 7 752 3 013 1 140 1 507 1 324 292 28 22 543
MT 13 246 255 77 139 281 437 590 761 490 271 39 3 560
PA 48 584 824 1 248 1 454 1 870 1 124 1 088 626 302 437 19 9 605
PB 21 159 282 267 335 543 509 381 350 345 216 26 3 408
PE 780 5 475 6 028 7 241 8 736 8 079 4 729 3 380 2 016 1 326 1 212 137 49 002
PI 0 36 70 124 359 368 180 220 183 330 462 8 2 332
PR 446 3 836 3 359 3 821 4 199 4 972 5 194 5 599 6 812 10 000 10 310 464 58 548
RJ 228 2 461 3 077 4 545 6 352 11 156 21 120 19 885 17 186 13 977 8 866 574 108 853
RN 38 460 447 173 198 435 260 323 466 333 265 14 3 398
RO 6 79 59 30 136 88 88 117 170 33 23 8 829
RR 1 8 7 5 10 73 30 15 8 10 8 18 175
RS 372 2 723 4 583 7 506 7 867 5 075 4 123 5 338 7 355 10 431 14 221 928 69 594
SC 176 1 655 2 674 3 197 3 600 3 923 1 109 740 670 549 270 44 18 563
SE 8 99 69 23 35 92 160 250 149 280 111 11 1 276
SP 2 695 26 014 35 964 35 997 48 246 60 392 63 208 77 194 79 209 9 602 3 899 414 442 420
TO 5 53 26 18 14 36 20 109 239 36 34 2 590
Total 6 384 54 515 71 461 80 586 99 697 118 505 116 350 128 856 134 114 75 838 59 907 4 098 946 213
Difis - Diretoria de FiscalizaçãoDecic - Departamento de Prevenção a Ilícitos Financeiros e de Atendimento de Demandas de Informações do Sistema Financeiro
Quantidade de solicitações via ofícios em papel
UF1998 até janeiro/2009
103
Ressalta-se que o indicativo 0, nos anos de 2007 e 2008, não significam a não
utilização do Sistema Bacen Jud, mas sim o fim da utilização do Sistema Bacen Jud 1.0, e
início da utilização do Sistema Bacen Jud 2.0, que a seguir é denotado.
Bacen Jud 2.0480
, em Santa Catarina, entre os anos 2005-2009481
: 164.696482
.
480
Anexo VII. 481
BRASIL. Banco Central do Brasil. Sistema Bacen Jud. Disponível em: <
http://www.bcb.gov.br/Fis/pedjud/ftp/Estatisticas/Bacen%20Jud%202.0/2005_a_2009_BacenJud_2.xls >.
Acesso em: 11 maio 2009. 482
Dados somente da Justiça Estadual.
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
AC 0 0 0 0 1 940 215 312 12 2 479
AL 0 0 18 843 1 383 162 49 4 2 459
AM 1 30 65 273 266 85 3 2 725
AP 1 284 244 938 1 564 1 262 1 397 336 6 026
BA 0 0 0 0 0 0 12 0 12
CE 0 0 0 0 0 0 6 0 6
DF 108 182 124 718 3 210 502 340 33 5 217
ES 0 0 0 0 0 0 0 1 1
GO 0 0 0 0 0 0 0 0 0
MA 0 0 0 7 86 0 0 0 93
MG 0 7 428 341 3 433 1 865 1 351 288 7 713
MS 0 0 2 91 1 057 400 234 36 1 820
MT 0 0 0 154 1 790 38 10 2 1 994
PA 0 0 0 0 411 35 1 8 455
PB 0 26 1 485 3 481 5 120 235 58 13 10 418
PE 0 0 0 0 874 49 0 6 929
PR 0 23 268 921 8 092 1 870 1 805 276 13 255
RJ 22 177 319 1 371 9 066 1 395 435 62 12 847
RN 0 0 0 34 2 019 262 70 26 2 411
RO 0 18 10 69 903 59 91 11 1 161
RR 0 0 1 1 120 2 527 95 75 26 3 844
RS 9 97 437 501 2 595 762 525 45 4 971
SC 15 4 29 127 447 43 0 0 665
SE 9 30 247 887 1 758 763 813 249 4 756
SP 0 1 643 7 787 26 598 13 578 51 018 11 882 111 507
TO 0 0 0 0 1 536 92 20 4 1 652
Total 165 879 4 320 19 663 76 675 23 767 58 625 13 322 197 416
Difis - Diretoria de FiscalizaçãoDecic - Departamento de Prevenção a Ilícitos Financeiros e de Atendimento de Demandas de Informações do Sistema Financeiro
Solicitações do Poder Judiciário via Bacen Jud 1.0
Justiça
EstadualUF Total
2001 até dezembro/2008
104
Diante da exposição dos números de consultas realizadas via Bacen Jud, é possível
constatar o avanço processual defendido por tantos doutrinadores, como expõe Indira Fábia
dos Santos Meirelles483
:
[...] Para estes484
, a ―penhora on line representa um grande avanço nas
soluções processuais para o grave problema da morosidade da justiça,
apresentando-se como um mecanismo de efetivação dos princípios da
legalidade, do acesso à justiça e da celeridade processual, consagrados em
nossa Constituição Federal [...]485
.
483
MEIRELES, Indira Fábia dos Santos. Penhora on line: Avanço ou Temeridade? Revista Jurídica Consulex,
nº 278, 15agosto2008, ANO XII. p.64-65. 484
Doutrinadores defensores da penhora on line. 485
MEIRELES, Indira Fábia dos Santos. Penhora on line: Avanço ou Temeridade? Revista Jurídica Consulex,
nº 278, 15agosto2008, ANO XII. p.64.
2005 2006 2007 2008 2009
AC 22 4 310 9 546 9 168 517 23 046
AL 0 2 509 6 628 7 543 515 16 680
AM 0 1 193 4 476 9 442 545 15 111
AP 0 1 434 3 869 7 454 649 12 757
BA 0 233 10 578 27 539 1 848 38 350
CE 0 0 4 515 14 422 425 18 937
DF 89 9 052 28 185 44 338 3 236 81 664
ES 0 4 462 16 029 30 117 1 366 50 608
GO 59 23 049 47 322 58 340 3 170 128 770
MA 0 0 3 945 17 959 1 234 21 904
MG 0 12 242 79 480 158 035 11 669 249 757
MS 0 2 570 12 390 24 293 1 179 39 253
MT 0 2 547 13 543 24 117 1 347 40 207
PA 0 2 327 3 338 5 325 247 10 990
PB 0 7 083 14 528 17 270 773 38 881
PE 0 3 545 8 057 11 137 803 22 739
PR 46 24 069 52 623 100 972 6 153 177 710
RJ 166 44 531 103 665 121 496 8 212 269 858
RN 0 8 044 14 556 20 300 1 130 42 900
RO 0 8 831 21 192 24 983 1 591 55 006
RR 0 2 553 4 294 4 420 225 11 267
RS 0 14 831 70 917 119 133 8 720 204 881
SC 0 19 274 60 826 84 596 3 283 164 696
SE 0 3 576 8 906 13 848 852 26 330
SP 614 112 168 568 787 755 787 42 619 1437 356
TO 0 2 358 3 913 6 889 495 13 160
Total 996 316 791 1176 108 1718 923 102 803 3 212 818
Difis - Diretoria de FiscalizaçãoDecic - Departamento de Prevenção a Ilícitos Financeiros e de Atendimento de Demandas de Informações do Sistema Financeiro
Solicitações do Poder Judiciário via Bacen Jud 2.0
TotalJustiça
EstadualUF
2005 até janeiro/2009
105
Por fim, importante destacar que este instituto tão conhecido da Justiça do Trabalho,
que há muito utiliza o Sistema Bacen Jud, no que tange à dados de utilização, está quase
sendo alcançado pela Justiça Estadual, que após a informatização, e o advento de novos
dispositivos legais, passou a proceder mais frequentemente a Penhora on line, que acaba de
atingir 42% contra 53% da Justiça do Trabalho486
.
Assim, compete neste momento interligar a Execução Processual Civil, com o Sistema
Bacen Jud, por conseguinte a Penhora realizada eletronicamente, para enfim apresentar o
desenvolvimento, a evolução da Penhora on line, realizada pelo Sistema Bacen Jud.
486
BRASIL. Banco Central do Brasil. Sistema Bacen Jud. Disponível em: <
http://www.bcb.gov.br/Fis/pedjud/ftp/Estatisticas/Bacen%20Jud%202.0/2005_a_2009_BacenJud_2.xls >.
Acesso em: 11 maio 2009.
106
4.3 EVOLUÇÃO DA PENHORA ON LINE VIA BACEN JUD
Compete inicialmente indicar que apesar de a Penhora on line estar disponível desde
maio de 2001487
, tal instituto foi lenta e gradativamente sendo utilizado na esfera cível,
conforme pode-se verificar pelos demonstrativos488
recém explicitados.
Conforme já mencionado, interessa ao desenvolvimento do presente trabalho, a
evolução deste instituto, Penhora, realizado por meio do Sistema Bacen Jud, e estando
claramente identificadas as categorias Execução, Execução por quantia certa contra devedor
solvente, Vias de Execução, Fases da Execução, Penhora e finalmente Penhora on line, pode-
se então passar à Evolução deste último instituto (Penhora on line), levando-se em conta as
mais diversas discussões a respeito de que a Penhora on line deveria prevalecer diante das
demais possibilidades de constrição, ou, se aplicaria tão somente, quando esgotadas todas as
demais possibilidades de Penhora.
Marinoni, esclarece:
[...]o que realmente impedia a penhora de dinheiro, até recentemente, era a
equivocada interpretação do art. 655, I, do CPC, que dizia apenas que
incumbia ―ao devedor, ao fazer a nomeação de bens, observar a seguinte
ordem: I – dinheiro; ...‖. Supunha-se que o devedor era obrigado a indicar à
penhora apenas dinheiro em espécie e não dinheiro que estivesse depositado
em banco. Tal interpretação, como é óbvio, inviabilizava a penhora de
dinheiro, deixando o devedor livre para indicar outro bem. Isto não só feria o
princípio do meio idôneo como dava oportunidade para o devedor retardar a
satisfação do direito do exeqüente489
.
Denota Medina que, sobre o assunto já se decidiu que a Penhora on line equivale à
Penhora realizada em desfavor de estabelecimento comercial, e desta forma, ―[...] somente em
situações excepcionais e devidamente fundamentadas é que se admite a especial forma de
constrição‖490
, em consonância as jurisprudências: STJ, 2ª T., REsp 863.773/SP, rel. Min.
Eliana Calmon, j. 21.09.2006, DJ 03.10.2006, p. 202; e STJ, 2ª T., AgRg no REsp
575.515/SP, rel. Min. Franciulli Netto, j. 21.06.2005, DJ 05.12.2005, p.281491
. Ressaltando:
487
MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de processo civil. p. 271-272. Ver notas de rodapé nº 447 e 448. 488
Anexos IV, V, VI e VII. 489
MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de processo civil. p. 270-271. 490
MEDINA, José Miguel Garcia. Execução. p.162-163. 491
MEDINA, José Miguel Garcia. Execução. p.162-163.
107
[...] A propósito, consolidou-se a jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça no sentido de que é possível a expedição de ofício ao Banco Central
para se obterem informações acerca da existência de ativos financeiros do
executado. Tem-se exigido, no entanto, que, antes, sejam esgotados outros
meios para localizar bens penhoráveis. Nesse mesmo sentido já se decidiu na
jurisprudência, acerca da penhora on line, após a reforma da Lei
11.382/2006492
. (grifou-se).
Já Bueno, indica que o equívoco dos magistrados ao aplicar a Penhora on line como
último meio de constrição, ou seja, tão somente quando todos os outros restassem esgotados,
tem razão na exigência do requerimento do exeqüente, presente no dispositivo legal493
, haja
vista que ―a regra deve ser entendida, em função desta exigência, no sentido de que uma tal
modalidade de penhora pressupõe o esgotamento de outros meios de localização dos bens
penhorados e que, relatados os malogros das diligências para este fim, o magistrado autorize
excepcionalmente o bloqueio eletrônico dos ativos do executado.‖494
O que se ressalta é que a aplicação pelos magistrados, como última forma de
constrição, permaneceu até final do ano de 2006. Rogério Licastro Torres de Mello coaduna,
indicando que, em sendo a finalidade da execução por quantia certa contra devedor solvente, a
satisfação pecuniária, não poderia ser diferente a ordem preferencial ser o dinheiro, ou
aplicação financeira495
.
Neste sentido, Fernando Sacco Neto expressa:
[...] A partir da entrada em vigor da Lei 11.382/2006, acreditamos que os
juízes não poderão condicionar o deferimento da penhora de dinheiro em
depósito ou em aplicações financeiras ao eventual insucesso das tentativas
do exeqüente de encontrar outros bens penhoráveis. Em outras palavras, não
mais precisarão os exeqüentes provar a inexistência de outros bens
penhoráveis [...] como condição para obter a penhora on line de dinheiro em
depósito e de aplicações financeiras.
Há que se ressaltar que a corrente majoritária, entende que houve um equívoco dos
magistrados ao procederem de forma a conceder a Penhora on line tão somente quando
esgotadas todas as outras possibilidades de constrição. Todavia, a corrente minoritária,
492
MEDINA, José Miguel Garcia. Execução. p.163-164. 493
Artigo 655-A do Código de Processo Civil. 494
BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: tutela jurisdicional
executiva. p.244. 495
SACCO Neto, Fernando. [et.al]. Nova execução de título extrajudicial. Lei 11.382/2006, comentada artigo
por artigo. p. 94.
108
prossegue incansável na busca de invalidar a Penhora via Bacen Jud. Kiyoshi Harada496
indica
que a subordinação dos magistrados ao princípio da menor onerosidade ao devedor não é
faculdade e sim imposição497
.
A corrente majoritária defende-se alegando que:
―De acordo com o Superior Tribunal de Justiça, o objetivo dessa norma ‗é
evitar a prática de atos executivos desnecessariamente onerosos ao
executado‘ (AGA 483.789/MG) [...] Nesse sentido, o executado não pode
ter, por exemplo, todos os seus imóveis hipotecados para o pagamento de
uma dívida de valor bastante inferior a eles. Porém o princípio do ‗favor
redibitoris‘ não pode, como qualquer outra norma, ser interpretado de forma
absoluta. Se assim o fosse, a satisfação do crédito [...] tornar-se-ia inviável.
Por isso mesmo, o STJ tem entendido que se deve levar em conta ‗a
harmonia entre o objetivo de satisfação do crédito e a forma menos onerosa
para o devedor‘ (AgRg no Ag 777.351/SP). [...]498
.
A discussão ainda envolve o Provimento 05/2006499
, tendo em vista que este dispõe
em seu artigo 2º, II, que o juiz poderá emitir ordem judicial de bloqueio, se no processo de
Execução o executado não nomear bens à Penhora, subentendendo que somente esgotadas as
demais modalidades de Penhora, é que seria possível a procedência da Penhora on line. A
Resolução nº 524500
do Conselho da Justiça Federal, de 28 de setembro de 2006, que
institucionalizou a utilização do Sistema Bacen Jud 2.0 no âmbito da Justiça Federal de
primeiro e segundos grau, veio a sanar eventual equívoco, expressando no Parágrafo único do
artigo 1º que no processo de Execução, o exeqüente pode pleitear a Penhora via Bacen Jud
frente ao não pagamento da dívida, tendo a Penhora on line precedência sobre as demais
formas de constrição.
Desta forma parecia concluso que o procedimento prescinde a exigibilidade de esgotar
todas as demais possibilidades de Penhora. Todavia, recentemente, a ANAMATRA –
Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho, por seu presidente Claudio José
496
Jurista, Professor e especialista em Direito Financeiro e Tributário pela USP. 497
HARADA, Kiyoshi. Penhora on line. JUSNAVIGANDI. Disponível em
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=10540>. Acesso em: 16 maio 2009. ―[...] Art. 620 do CPC, que
assim prescreve: ‗Quando por vários meios o credor puder promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo
modo menos gravoso para o devedor.‘ Como se vê, o juiz é o destinatário dessa norma de caráter impositivo.
Não se trata de mera faculdade.[...]‖. 498
AGUIAR, Alexandre Magno Fernandes Moreira. A compatibilidade entre a penhora on line e o princípio
da menor onerosidade para o executado. JUSNAVIGANDI. Disponível em: <
http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9935>. Acesso em: 16 maio 2009. 499
Anexo IX. 500
Anexo XI.
109
Montesso, participou de audiências, no dia 21 de maio de 2009, a fim de discutir a proposta
de veto ao artigo 70 do Projeto de Lei de Conversão nº 2 de 2009501
, que traz em seu texto que
a Penhora on line fica condicionada ao exaurimento das possibilidades de constrição, nas
execuções das micro, pequenas ou médias empresas.
Expõe a ANAMATRA – Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do
Trabalho, em ofício502
enviado em 08 de maio de 2009, ao Presidente Luiz Inácio Lula da
Silva que é imprescindível o veto ao artigo, eis que em não sendo vetado, abrirá precedentes
totalmente contrários ao que se vem praticando nos Tribunais, depois de tantas discussões.
Desta forma, conclui-se o presente trabalho, enfatizando que a Penhora on line apesar
de existir há praticamente 10 (dez) anos, está em constante evolução, pois as mudanças ainda
não tiveram um período de estabilidade ao ponto de se concretizar, e, portanto, em constante
modificação, pode-se afirmar que este instituto, Penhora on line, ainda tem muito a ser
pesquisado, concluindo que este trabalho não supre ou exaure o estudo sobre o instituto, tão
pouco sobre a Evolução da Penhora via Bacen Jud.
501
Anexo XII. 502
Anexo XIII.
110
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme exposto na Introdução, o presente trabalho teve como objeto o estudo da
evolução da Penhora on line, dando a relevada importância que este instituto vem tendo no
processo civil, ao longo destes quase dez anos de existência.
A evolução do instituto Penhora realizado através do Bacen Jud, conhecido como
Penhora on line tem suma importância, tendo em vista que o mesmo foi defendido e atacado
por correntes doutrinárias. Enquanto determinada corrente o elencava como avanço do
processo civil, outra o rotulava de inconstitucional. E tal divergência, ecoou às decisões
judiciárias, que somente procediam a Penhora on line, quando esgotadas todas as demais
modalidades de constrição.
Desta forma, consubstanciado na Introdução, o desenvolvimento da presente pesquisa
teve como primeiro questionamento, se a Penhora on line seria uma nova modalidade de
Penhora. Em que pese as hipóteses consideradas, estas se resumiram em negá-la, por ser a
penhora um instituto único.
Em análise a hipótese, observou-se que a Penhora on line não seria uma nova
modalidade de Penhora, em razão de que o instituto é único, ou seja, a Penhora tem conceitos
diversos, mas com definição única. Assim, a Penhora on line não diverge das demais formas
de constrição, sendo a Penhora de imóveis, por exemplo, a mesma Penhora que se faz à
dinheiro, conhecida como Penhora on line.
Nota-se que a diferença entre a Penhora de imóveis, por exemplo, e a Penhora on line
(de dinheiro, ou aplicação em instituição financeira), tão somente diz respeito à forma de
efetuá-la, ou seja. o que faz diferença é a via pela qual se faz a constrição, eis que enquanto à
Penhora de imóveis é realizada por oficial de justiça, em posse de mandado de penhora de
bens, e a constrição se proceda mediante averbação junto à matrícula do imóvel na Serventia
de Registro de Imóveis, a Penhora de dinheiro, ou aplicação em instituição financeira, é
realizada pelo juiz, mediante requerimento do exequente, por via eletrônica, qual seja o
Sistema Bacen Jud.
111
Corrobora ainda ao afastamento de qualquer afirmação de que a Penhora seria uma
nova modalidade de Penhora, necessitando de regulamentação, o fato de que a Penhora de
dinheiro existe há muitos anos, e sempre foi realizada, o que se alterou, foi a forma de
procedê-la: de ofícios para eletronicamente. Ressalta-se que com o intuito de reduzir o grande
fluxo de solicitações escritas, bem como os custos operacionais das respostas, que eram
realizadas por ofícios despendendo expedientes burocráticos, o Banco Central do Brasil
informatizou o procedimento, oportunizando ao Poder Judiciário, através do Bacen Jud, o
acesso via internet ao SISBACEN – Sistema de Informações Banco Central, realizando com
eficiência, segurança e celeridade o procedimento da penhora via Bacen Jud, conhecida como
Penhora on line.
Assim, conclui-se que a Penhora on line, em definitivo, não se trata de nova
modalidade de Penhora, tão somente é uma Penhora realizada eletronicamente, via Bacen Jud,
portanto, não necessita de regulamentação específica para procedê-la, confirmando-se assim a
hipótese considerada de que a penhora on line não é nova modalidade de penhora, porque é
instituto único.
O segundo questionamento limitou-se à inconstitucionalidade da Penhora on line,
tendo como hipótese considerada a negação da assertiva.
Ao longo da pesquisa notou-se a divergência doutrinária a respeito, permanecendo na
atualidade a dicotomia. Enquanto uma corrente afirma a inconstitucionalidade da Penhora on
line em razão de tal instituto ferir princípios constitucionais, tais como a dignidade do
devedor, a violação da intimidade, princípios da ampla defesa, do devido processo legal e do
contraditório bem como o princípio do modo menos gravoso ao devedor; a outra corrente, que
vem, a princípio, obtendo vantagem, defende que a Penhora on line é um avanço processual,
que vem efetivando os princípios da celeridade, da legalidade e do acesso à justiça. Ainda
contra-argumenta que não há ofensa aos princípios constitucionais, rebatendo-as, afirmando
que: 1) Não há ofensa ao princípio da dignidade do executado, pois há disponibilização de
informações somente à pessoa autorizada; 2) Não há violação da intimidade do executado, eis
que além de autorizado, há somente acesso aos saldos bancários, não tendo acesso às
movimentações bancárias, e, portanto, não havendo violação de intimidade; 3) Não há
violação dos princípios da ampla defesa, devido processo legal e contraditório, pois é notório
que há citação/intimação do executado; que o juiz não atua de ofício, dependendo de
requerimento do exequente, sendo visível o devido processo legal, eis que além de o
112
magistrado utilizar a medida eletrônica apenas para verificar ativos financeiros e após realizar
o bloqueio da quantia, o executado pode mediante intimação da Penhora, pagar, indicar outros
bens, pedindo substituição, argüir a impenhorabilidade dos valores ou excesso à execução; 4)
Não fere o princípio do modo menos gravoso ao devedor, pois este não é constitucional, e tão
pouco absoluto.
Em conclusão, o segundo questionamento teve a hipótese confirmada, ou seja, a
penhora on line não é inconstitucional, porque não fere a Constituição Federal, nem fere
quaisquer princípios constitucionais, sendo, portanto, instituto constitucional.
Por fim o terceiro e último questionamento que diz respeito a precedência da Penhora
on line sobre as demais formas de constrição. Obteve-se como hipótese de cabimento a
afirmação da assertiva, ou seja, que deve prevalecer a Penhora on line sobre as demais formas
de constrição.
Com este questionamento observou-se que a Penhora on line, passa por um processo
de adaptação, após o advento das novas leis processuais. Em que pese a aplicação da Penhora
on line, tão somente quando esgotadas todas as demais formas de constrição, esta foi
observada até o ano 2006, tendo o Conselho Nacional de Justiça, através de Resolução
(Resolução 524/2006), esclarecido que a Penhora on line deveria preceder as demais. Tal
resolução teve a colaboração imediata da legislação, que se deu com o advento da Lei
11.382/06, que trouxe em seu teor o dispositivo 655, estabelecendo a ordem preferencial
sobre dinheiro, reforçando a precedência da Penhora on line sobre as demais formas de
constrição. E, não poderia ser diferente, eis que a Execução por quantia certa contra devedor
solvente visa a satisfação pecuniária do credor/exequente.
Apesar de aparentemente estar consolidada, a corrente divergente, que entende que a
Penhora on line deve procedida, tão somente, quando esgotadas todas as demais formas de
constrição, persiste na contrariedade das disposições, afirmando que o princípio da menor
onerosidade ao devedor, não é faculdade do magistrado, mas sim imposição legislativa.
Assim, o que aparentemente parecia estar estabilizado, pode ser rompido a qualquer
momento, eis que o artigo 70 do Projeto de Lei de Conversão nº 2 de 2009, traz em seu texto
que a Penhora on line fica condicionada ao exaurimento das possibilidades de constrição, nas
execuções das micro, pequenas ou médias empresas. Tal artigo, se não vetado, conforme
expõe a ANAMATRA – Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho, em
ofício enviado em 08 de maio de 2009, ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, abrirá
113
precedentes totalmente contrários ao que se vem sendo praticado nos Tribunais, depois de
tantas discussões a respeito da prevalência ou não da Penhora on line sobre as demais formas
de constrição.
Desta forma, enfatizando-se que a Penhora on line apesar de existir há praticamente 10
(dez) anos, está em constante evolução, tendo muito a ser pesquisado, conclui-se que a
hipótese está temporariamente confirmada, sendo que este trabalho não supre ou exaure o
estudo sobre o instituto, tão pouco sobre a Evolução da Penhora on line, Penhora realizada via
Bacen Jud.
114
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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line e o princípio da menor onerosidade para o executado. JUSNAVIGANDI. Disponível
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www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?numero=466343&classe=RE&ori
gem=AP&recurso=0&tipoJulgamento=M>. Acesso em: 22 maio 2009.
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Código de Processo Civil. Vol. 8. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. 542p.
117
APÊNDICES
ANEXO I) Exposição de motivos.
ANEXO II) RENAJUD – Provimento 30/2008.
ANEXO III) Regulamento Bacen Jud 2.0.
ANEXO IV) Estatísticas – Dados Consolidados 1998 a 2009;
ANEXO V) Estatísticas – Ofício de papel 1998-2009.
ANEXO VI) Estatísticas – Bacen Jud 1.0 2001-2008.
ANEXO VII) Estatísticas – Bacen Jud 2.0 2005-2009.
ANEXO VIII) Termo de Adesão do Tribunal de Justiça de Santa Catarina ao Bacen Jud.
ANEXO IX) Provimento 05/2006.
ANEXO X) Oficio Circular 25/2008.
ANEXO XI) Resolução 524/2006.
ANEXO XII) Projeto de Lei de conversão nº 2 de 2009.
ANEXO XIII) Ofício ANAMATRA ao Presidente da República.
ANEXO XIV) Lei nº 11.419/2006.