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A Política Brasileira de Nanotecnologia: avanços e desafios para um Brasil mais igualitário Dra. Noela Invernizzi UFPR International Seminar: “Innovation Policies and Structural Change in a Context of Growth and Crisis Rio de Janeiro, 13 -15 September, 2011

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A Política Brasileira de Nanotecnologia: avanços e desafios para um Brasil mais

igualitário

Dra. Noela Invernizzi

UFPR

International Seminar: “Innovation Policies and Structural Change in a Context of Growth and Crisis” Rio de Janeiro, 13 -15 September, 2011

ReLANSwww.estudiosdeldesarrollo.net/~webrelans/

• Rede acadêmica criada em novembro de 2006

• Propósito: analisar e promover discussão sobre o desenvolvimento da nanotecnologia na América Latina e suas implicações políticas, econômicas, sociais, ambientais, legais e éticas no contexto da região

• Composta por 40 pesquisadores de 12 países da América Latina, com formação nas ciências sociais e naturais

• Coordenação bilateral, na UAZ, México, e na UFPR, Brasil

• Varias publicações disponíveis na pagina web

Contexto global

Investimentos em P&D

• Iniciativas em nanotecnologia são um fenômeno global• Investimento público global em P&D 2000-2011: 65.000

milhões US$, com liderança dos EUA• Investimentos públicos medidos em PPP colocam China,

Rússia e Japão disputando a liderança com EUA• Investimentos públicos + privados devem chegar a 250.000

milhões em 2015

• Tendências: Investimentos em P&D crescem nos EUA e na Europa,

todavia crescem mais aceleradamente na ÁsiaRússia aumentou enormemente os investimentos

(2007+), melhorando a posição da Europa

Fonte: Científica (2011)

Crescente financiamento global da P&D

Liderança disputada

Mercado

Projeções para 2015

NSF – 1 trilhão de dólaresCientifica , Lux Research – ~ 2,5 - 2,9 trilhões de dólares (perto de 15 % do produto manufatureiro global)

Há controvérsias!

Segundo o reporte de expertos ao presidente dos EUA (PCAST 2010), o mercado global em 2009 chegou a

US$ 224 mil milhões de dólares(valor total dos produtos que incorporam NT)

Em que fase se encontra a nanotecnologia?

Entrada nos processos produtivos, com inovações ainda mais incrementais do que radicais

Indicadores

1. Aumento do número de empresas atuando em nanotecnologia

2. A comercialização mantém tendência de crescimento

3. Penetração em indústrias críticas

4. Força de trabalho começa a se ampliar para além de P&D

5. Aumento da produtividade e volumes de produção de nanomateriais chave

1. Crescente número de empresas atuando em NT

• 17.600 empresas de 87 países com publicações e patentes em NT entre 1990-2008

• Diretório de Empresas de NT Nanowerk: 2146 empresas em 48 países, metade nos EUA

• Dados nacionais sugerem número maior: ex. Alemanha: 860, China: 900; Japão: 586, Brasil: 150, Itália: 86, Israel: 80, Irã: 47

• Surveys em Austrália, Canadá, Finlândia, Alemanha, Itália, Japão e EUA indicam:

Predominam pequenas e médias empresas (exceto em Japão)

Grande variedade de setores envolvidos, sendo nanomateriais, nanobiotecnologia e nanoeletrônica os mais representativos.

• Grandes empresas concentram as maiores porções de investimento em P&D, patentes , e produção de vários nanomateriais

2. Aumento da comercialização de produtos baseados em nanotecnologia

• Mercado de produtos finais contendo nanotecnologia

2005 - US$30 bi 2009 - US$224 bi X 8Mercado de intermediários US$29 bi (2009)

• Participação por país:

USA (36%), Europa (31%), Ásia (27 %), resto do mundo (6%)Fonte. PCAST (2010)

• Inventários de produtos no mercadoPEN –WWC – 1300+ produtos (2010)Helmut Kaiser – 2500 produtos (2010)

• Empresas de vários países declaram que comercialização aumentará nos próximos anos (surveys)

• Efeito desacelerador da recessão

3. Penetração em indústrias críticas

• Catálise com materiais nanoestruturados em uso em 30–40% das industrias de petróleo e química nos EUA

• Semicondutores com traços abaixo de 100 nm constituem mais de 30% desse mercado no mundo e 60% no mercado dos EUA

4. Incorporação de setores de força de trabalho para além de P&D

• EUA - 160.000 pesquisadores e trabalhadores em NT, com 25% de incremento anual (Roco, 2010)

• Alemanha - 63,000 empregos diretos em 860 empresas em 2008 (BMBF, 2009)

• EUA e UE: temor de escassez de força de trabalho qualificada

• Que empregos estão sendo demandados?

Manufatura, controle de qualidade, documentação, marketing, distribuição

P&D

Cientistas e engenheiros Engenheiros, técnicos, trabalhadores qualificados

Obstáculos para uma maior difusão

• Dificuldades na escalabilidade de processos

• Alto custo de vários nanomateriais

• Dificuldades no controle de qualidade

• Escassez de venture capital –recessão

• Temor a rejeição pública – ex. setor alimentos

• Incerteza quanto à regulação

A política de nanotecnologia no

Brasil

1. Ágil atuação do MCT para fundar as bases de uma política nacional de N&N

2001 – Organização de redes de pesquisa cooperativas nacionais

2003 – Programa para o Desenvolvimento da Nanociência e Nanotecnologia (MCT - PPA 2004-2007). RRHH e infra-estrutura de pesquisa

2004 - Política Tecnológica, Industrial e de Comércio Exterior – coordenação de política de CTI e industrial

2005 – Programa Nacional de Nanotecnologia

2008 – Política de Desenvolvimento Produtivo - Crescente incorporação de agencias do governo na execução da política

2009 – Fórum de Competitividade em Nanotecnologia (Mercado, RRHH, regulação, cooperação internacional)

Financiamento: Recursos do MCT entre 2004 e 2009: ~ 314 milhões de reais

2. Vantagens historicamente construídas

Condições iniciais Política sistemática de desenvolvimento de RRHH desde a

década de 1960. Capacidade de multiplicação e vínculos internacionais.

Boa infra-estrutura de pesquisa Vários laboratórios e empresas públicas orientados ao

desenvolvimento de C&T com foco em problemas nacionais (Fiocruz, Embrapa, Petrobras)

+Política Nacional de Nanotecnologia

Re-equipamento de laboratórios e novos laboratórios em 2006-2011. Melhor infra-estrutura de pesquisa em NT da AL.

Organização em redes de Pesquisa conectaram pesquisadores de várias regiões, otimizando uso compartilhado da infra-estrutura

3. Foco: impulsionar a competitividade

“O objetivo do Programa é criar e desenvolver novos produtos e processos em Nanotecnologia, implementando-os para aumentar a competitividade da indústria nacional e capacitando pessoal para o aproveitamento das oportunidades econômicas, tecnológicas e científicas da Nanotecnologia” (MCT, 2003).

• Contexto: baixo nível de inovação industrial e mudanças no marco institucional das atividades de CTI

• Objetivo se instrumentaliza mediante uma articulação coerente das políticas de CTI e da política industrial (NT como área estratégica na PICTE e PDP)

• Se expressa na sua implementação com a orientação de fundos de P&D para empresas e na demanda de cooperação universidade-empresa na maioria dos editais

• Se escolhem áreas prioritárias (muitas??)

Quais são os resultados?

Pujante desenvolvimento de capacidade científica

• Rápido desenvolvimento de recursos humanos

2001 – 192 pesquisadores na área

2010 – 3300 pesquisadores (incl. 2000 alunos de PG)

• Diretório de Grupos de Pesquisa CNPq : 3502 pesquisadores em 469 grupos em N&N, em 24 estados e 104 instituições

• Política de promoção de maior igualdade regional na distribuição de recursos e conexão em rede

• Publicações em NT: em 2006, Brasil ocupou a 18ª posição mundial no SCI e a primeira posição na América Latina ( Albornoz et al, 2010)

• Patentes em NT depositadas entre 2003 e 2006: 43.887, sendo 100 de países da AL e 45 brasileiras (Albornoz et al 2010 com base em Patent CooperationTreaty )

150 empresas com atividades em NT

Fonte: Elaborado pela autora com base em editais do CNPq e FINEP, reportes do MCT sobre atividades em nanotecnologia, publicações e sites sobre inovação, e sites de empresas e de organizações empresariais. Março 2010.

Fase de desenvolvimento das atividades em nanotecnologia em empresas brasileiras

Fonte: Elaborado pela autora com base em editais do CNPq e FINEP, reportes do MCT sobre atividades em nanotecnologia, publicações e sites sobre inovação, e sites de empresas e de organizações empresariais.

Empresas brasileiras com atividades em nanotecnologia, por setor industrial e fase de desenvolvimento dessas atividades

Fonte: Elaborado pela autora com base em editais do CNPq e FINEP, reportes do MCT sobre atividades em nanotecnologia, publicações e sites sobre inovação, e sites de empresas e de organizações empresariais.

• Um número considerável de empresas brasileiras envolvidas em NT, em diversos setores e fases da cadeia produtiva

• Lançamento de produtos ao mesmo tempo que outras empresas no mercado global

• Empresas que já eram inovadoras?

• Quais as perspectivas das pequenas, muitas spin offse incubadas?

• Quão sustentáveis são as atividades em NT após as colaborações U-E e financiamento público?

• Quanto se produz de NT e quanto se importa?

Limites e desafios da política de nanotecnologia para um desenvolvimento do país com vistas a maior igualdade social

1. Foco na competitividade não é suficiente. Num pais com histórica desigualdade social e incipientes políticas de redistribuição de renda, os efeitos de derrame não asseguram aumento na qualidade de vida da população

2. E necessário incluir objetivos que enfoquem diretamentea solução de problemas sociais

3. É possível compatibilizar áreas prioritárias que conjuguem potencialidades econômicas e sociais? Importante: mercado interno, maior conjugação com as políticas sociais, autonomia tecnológica em áreas chave

1. Limitações nos objetivos

2. Escassa importância dada à avaliação das implicações sociais

• Os documentos centrais da política de NT fazem referencias muito escassas a aspectos ELSI (Ethical, Legal and Social Implications), e elas não tiveram maior incidência em ações

“Informar a sociedade sobre os impactos da nanotecnologia na vida dos cidadãos e sobre as novas oportunidades e riscos de obsolescência que a nova tecnologia pode trazer para os produtos e processos atuais” (MCT, 2003: 9).

“Estabelecer políticas sobre questões éticas e os impactos sociais dos produtos baseados em nanotecnologia” (PPA 2007-2010MCT 2007: 144).

• Documentos mais recentes, por ex. CGEE (2008) e ABDI (2010) fazem mais referencia a aspectos ELSI

2. Escassa importância dada à avaliação das implicações sociais (cont.)

Importância marginal em ações concretas:

Um único chamado de pesquisa específico para essas questões (2004)

Os editais para formação de redes incluíram o tema das implicações sociais, éticas e ambientais. Todavia, não há redes financiadas com foco nessas áreas

Apesar da ênfase em constituir equipes multidisciplinares, nenhum edital induziu a formação de equipes de pesquisa incluindo cientistas sociais e das humanidades de modo a integrar a análise das dimensões éticas e sociais de forma integrada à pesquisa em NT (Alimentação em tempo real).

3. Iniciativas para avaliação de riscos são ainda muito deficientes

• A questão foi praticamente ignorada até recentemente, com certo reconhecimento a partir do relatório de RS&RAE (2004)

• Ex. Edital sobre riscos do CNPq, que deveria ter saído em 2007, foi inúmeras vezes reformulado e acabou não sendo lançado.

• As evidencias científicas sobre potenciais riscos foram aumentando. Cf. Royal Society & RAE (2004), Banco de dados da Rice University e da NanoCEO

• O tema passou a ser tratado mais ativamente a partir da discussão sobre regulação iniciada pela OECD e de estandardização pela ISO.

• A agenda do GT Regulação do Fórum de Competitividade evidencia preocupação com a saúde dos trabalhadores, consumidores, meio ambiente e qualidade dos produtos nanotecnológicos.

• O tema é complexo, requer recursos, ação decisiva do Estado, informação por parte das empresas e participação ampla de potenciais usuários e afetados

4. O modelo de governança da nanotecnologia é ultrapassado e excludente

• Nanotecnologia emerge num contexto de conflitos ciência-sociedade: há diversas perspectivas, valores e interesses em relação ao desenvolvimento científico-tecnológico

• Em países mais industrializados: transição para um novo modelo de governança da C&T que envolve maior participação social (incipiente, imaturo, em experimentação)

• PNN- atores continuam os mesmos: Estado-Academia-Empresários

• Consumidores, Trabalhadores e ONGs representam outros interesses e visões quanto ao desenvolvimento da nanotecnologia

• Um modelo mais democrático de governança da nanotecnologia tem mais chances de contribuir para um desenvolvimento que reduza as desigualdades, assegure maior qualidade de vida e sustentabilidade.

5. A estratégia top-down na formação de recursos humanos é perigosa

• A formação de RRHH de alto nível tem sido a prioridade da política de NT e bem sucedida

• A formação da força de trabalho é essencial para a inovação, para o desenvolvimento seguro da nanotecnologia nos locais de trabalho e para não ampliar o gap educacional. No país, 60 % da força de trabalho industrial não completou a educação básica

• Analisar o impacto da convergência científica nos currículos escolares

Conclusões

1. Brasil iniciou cedo ações para promover a NT, junto com muitos países mais industrializados

2. Foi articulada uma política nacional de CTI, articulada com a política industrial, e foram investidos consideráveis recursos. Diversas agencias do governo somaram à execução da política

3. Rápidos resultados em termos ampliar a capacidade de pesquisa (RRHH, infraestrutura) e a produção científica na área

4. Como resultado, Brasil ocupa a posição de liderança na AL

Conclusões

• No obstante tais avanços, a política de nanotecnologia se defronta com dois tipos de desafios:

Em relação aos seus próprios objetivos

Em relação a aspectos pouco considerados

Conclusões

Objetivo: elevar a competitividade nacional

• Contexto nacional: Escasso dinamismo inovador da indústria

• Contexto global: Acirrada corrida e desenvolvimento concentrado da nanotecnologia barreiras

• Incipiente participação industrial em NT gera várias perguntas:

As empresas mais inovadoras são as que já eram inovadoras?

Qual a capacidade de sobrevivência das empresas pequenas, incubadas, fora alguns casos de sucesso ?

Qual o aporte para o desenvolvimento do país das empresas que somente agregam componentes importados? Poderiam ser produzidos no país ?

• Há condições de apostar a várias áreas estratégicas? Focalizar mais ?

• Força de trabalho industrial escassamente priorizada como fator competitivo

Conclusões

Ampliação de objetivos

• Ultrapassar a ideia de linearidade na obtenção de benefícios sociais. Crescimento e competitividade não garantem uso do potencial da nanotecnologia para satisfazer necessidades sociais

• Direcionamento para problemas sociais concretos. Maior articulação com políticas sociais, ambientais e de saúde. Em alguns setores é importante o papel do Estado para fechar a cadeia pesquisa- produção-consumo.

• Maior foco no mercado interno em ampliação

• Incorporar pesquisa em implicações econômicas, sociais, legais e éticas, e reforçar estudos sobre riscos para a saúde e o ambiente prevenir novas formas de desigualdade

Obrigada!

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