UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
MANDADO DE SEGURANÇA – ERRO NA AUTORIDADE
IMPETRADA
Por: Luiz Maurício Dias
Orientador
Prof. Jean Alves Pereira Almeida
Rio de Janeiro
2007
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
MANDADO DE SEGURANÇA – ERRO NA AUTORIDADE
IMPETRADA
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Processo Civil
Por: Luiz Maurício Dias
3
AGRADECIMENTOS
Aos amigos e professores do Projeto A
Vez do Mestre meus sinceros
agradecimentos pelas precisas
orientações.
4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus amigos de
Classe do Projeto A Vez do Mestre.
5
RESUMO
O Mandado de Segurança está ligado diretamente ao princípio básico
Universal de Liberdade em suas diversas expressões. Sendo um dos pilares
do Estado Democrático de Direito a sua existência é imprescindível para a
transparência dos atos políticos, administrativos e jurídicos das autoridades
responsáveis pelo funcionamento da base administrativa e democrática do
Estado Brasileiro. Na América Latina, cujo passado é norteado por bravatas de
caudilhos que passam por cima das leis e regulamentos o Mandado de
Segurança surge como um anteparo ante essas aberrações.
O erro na autoridade impetrada acarreta efeitos não pacificados entre a
Doutrina e a Jurisprudência. Mas tal divergência poderá afetar o ideal básico
desse instituto tão útil a sociedade e a democracia. O que alguns
doutrinadores não levam em conta é que um erro simplista não pode de forma
alguma alterar a essência da finalidade do Mandado de Segurança. Neste
Trabalho apontaremos essas divergências e os seus reflexos na
jurisprudência.
6
METODOLOGIA
O Trabalho foi desenvolvido tendo por base o enfoque Empírico
trabalhando diretamente com o real. Foram feitas pesquisas bibliográficas,
explorativas e descritivas com a coleta de dados em livros, periódicos,
impressos e mídia magnética.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - A Concessão 15
CAPÍTULO II - Autoridade Coatora 19
CAPÍTULO III – Legitimação e Competência 20
CAPÍTULO IV – Erro na Autoridade Impetrada 25
CAPÍTULO V - Execução 29 CONCLUSÃO 32
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 38
ANEXOS 33
ÍNDICE 39
FOLHA DE AVALIAÇÃO 40
8
INTRODUÇÃO
No Brasil, as primeiras propostas de criação do Mandado de
Segurança remontam à década de 20, logo após a revisão constitucional que
definitivamente eliminou as construções destinadas a dar sentido mais amplo
ao Habeas Corpus, restringindo o seu emprego em relação ao dispositivo que
o regulava anteriormente (o Artigo 72, § 22 da C.F. de 1891).
Até meados da década citada anteriormente, não existia uma
teoria brasileira específica para o Mandado de Segurança no Processo Civil,
visto que, diante da inexistência de institutos específicos para a proteção dos
brasileiros contra atos extremos praticados por autoridades, utilizava-se uma
teoria de origem Norte-Americana, ensejada no Processo Penal, para a
reparação ou preservação de situações judiciais, além das violações contra a
liberdade individual.
Na década de 30 foi dissolvido o Congresso e, até 1933, com a
nova Constituição, nada ocorreu de importante no que tange à criação do novo
instituto.
9
Sua instituição veio finalmente ocorrer, depois de acaloradas
discussões na Câmara, através da Constituição de 1934, que consagrou o
Mandado de Segurança, no Capítulo que tratava dos direitos e garantias
individuais (art. 113, § 33), da seguinte forma:
“Dar-se-á mandado de segurança para a defesa
do direito, certo e incontestável, ameaçado ou
violado por ato manifestamente inconstitucional
ou ilegal de qualquer autoridade. O processo
será o mesmo do habeas corpus, devendo ser
sempre ouvida parte do direito público
interessada. O mandado não prejudica as ações
petitórias competentes.”
As primeiras aplicações jurisprudenciais, adstritas ao rito do
Mandado de Segurança figura processual, como diriam mais tarde os
Deputados Constituintes, traçaram rumos que o legislador não seguiu, nos
moldes largos, estendendo-o aos atos judiciais e legislativos e ampliando a
órbita dos atos do Executivo, até alcançar as pessoas privadas na execução de
serviços públicos, no entendimento que deu à locução “atos de qualquer
autoridade”.
10
Se consideradas as necessidades de tutela cujo atendimento antes
se buscava com os “embargos à primeira”, o habeas corpus em sua leitura
mais ampla ou nas ações possessórias empregadas na proteção de direitos
pessoais, nota-se que o suprimento foi apenas parcial, já que o instrumento
criado restringiu-se basicamente às relações de direito público (proteção de
direitos contra lesões ou ameaças advindas de atos do Poder Público ou quem
lhe fizesse às vezes).
A providência legislativa regulamentar não tardou a surgir. Em 16
de janeiro de 1936, por intermédio da Lei n.º 191, trouxe uma série de
inovações relativas ao novo instituto processual que os Tribunais pátrios
encararam com certo cuidado face à total ausência de dispositivos anteriores
ou semelhantes ao meio de defesa imaginado pelos juristas brasileiros.
A Lei n.º 191 foi o primeiro diploma legislativo que regulamentou
infraconstitucionalmente o procedimento do mandado de segurança que
conservou em suas linhas gerais a estrutura procedimental do habeas corpus.
Mantiveram-se presentes as características da sumariedade, da
mandamentalidade e da produção de tutela específica.
Não era uma lei de índole apenas processual, ao contrário,
continha preceitos gerais, inclusive de direito substantivo, enumerando não só
as hipóteses de cabimento, como também a natureza do ato coator, que
poderia ser examinado por seu intermédio.
11
Com a Constituição de 1937, o mandado de segurança não foi
incluído como garantia constitucional, eis que aquela carta política silenciou a
respeito, omitindo de seu texto a possibilidade de defesa, por intermédio do
writ. Porém, mesmo durante o Estado Novo, o mandado de segurança
continuou a vigorar, ainda que como remédio constitucional e com restrições
quanto ao seu alcance (Decreto-lei, de 16.11.1937, e, depois artigos 319 a 331
do Código de Processo Civil de 1939).
Com a entrada em vigor do Código de Processo Civil, em 1939,
deu contornos praticamente definidos ao instituto, restringindo o seu uso em
alguns casos. O artigo 319 do Código de Processo Civil de 1939, excluía a
apreciação judicial através do mandado de segurança os atos do Presidente
da República, dos Ministros dos Estados, Governadores e interventores, contra
atos que coubesse recurso administrativo com efeito suspensivo
independentemente de caução, contra ato disciplinar e contra impostos de
taxas.
12
Voltou a ser previsto na Constituição de 1964, em seu o § 24 do
artigo 141, sendo assim disciplinado o remédio heróico:
“Para proteger direito líquido e certo, não amparado
por habeas corpus, conceder-se-á mandado de
segurança seja qual for a autoridade responsável pela
ilegalidade ou abuso de poder”.
A amenização dos termos constitucionais, já que a Carta de 34
referia a “direito certo e incontestável, ameaçado ou violado por ato
manifestamente inconstitucional ou ilegal de qualquer autoridade”, a
Constituição de 1964 falava em “direito líquido e certo”, contra a “ilegalidade ou
abuso de poder”, veio dar um elastério bastante acentuado ao uso do
mandado de segurança, traçando-lhe destarte, por meio de terminologia
branda, um caráter bem mais rotineiro e geral, e amplitude mais coerente com
a natureza do interesse que ele pode defender.
Generalizando-se assim, o emprego do Mandado de Segurança
contra as violações de direito individual, praticadas por autoridades, sendo
regulamentado pela Lei n.º 1.533, de 31.12.1951.
A Constituição de 1937 omitiu o Mandado de Segurança e o
Decreto-Lei 6, de 16/11/1937 proibiu o uso do remédio heróico contra atos do
Presidente da republica , Ministros de estado, Governadores e Interventores .
Adquirindo o Mandado de Segurança seu status , a partir da Constituição de
1946.
13
A ação mandamental se constitui em cláusula pétrea, inserta que foi
pelo legislador constitucional de 1988, no inciso LXIX do art. 5º, sendo
inadmissível sua supressão até por meio de Emenda Constitucional, dada à
vedação constante do art. 60, § 4º, IV, do mesmo texto constitucional. O § 4º e
o inciso mencionado têm a seguinte redação: Não será objeto de deliberação
a proposta de emenda tendente a abolir: os direitos e garantias individuais.
É ela cabível para proteger direitos individual e coletivo, incisos
LXIX e LXX, art. 5º, quando a violação do direito líquido e certo resultar de ato
de ilegalidade ou abuso de poder por parte de autoridade pública ou por
agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público.
O Mandado de Segurança pela sua própria natureza, que é
constitucional-mandamental, é de rito sumário regulado pela Lei nº. 1.533, de
31 de dezembro de 1951. Quando da impetração, o titular deverá fazer a
prova do seu direito líquido e certo e a violação dele, em momento único, salvo
se o documento necessário à prova se ache em repartição ou estabelecimento
público, ou em poder de autoridade que recuse fornecê-lo por certidão,
hipótese em que o juiz ordenará, preliminarmente, por ofício, a exibição desse
documento em original ou em cópia autentica, parágrafo único do art. 6ª da Lei
retro citada. O mandado de segurança não admite réplica e nem alegações
finais. Impetrada a garantia, o juiz suspende ou não o ato impugnado, ordena
a notificação da autoridade para prestar informações, ouve o ministério público
e em seguida decide.
14
O legislador constitucional na redação do inciso LXIX do art. 5º da
CF empregou a expressão direito líquido e certo e não é sem razão. No inciso
citado encontramos: “LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para
proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas
data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade
pública ou agente de pessoa Jurídica no exercício de atribuições do Poder
Publico”.
O legislador ordinário no art. 1º da Lei nº. 1.533/1951, repete a
norma primária e prevê o uso de forma preventiva e reparativa de direitos.
Num ou noutro caso, exige-se a prova do direito líquido e certo e sua violação.
15
CAPÍTULO I
A CONCESSÃO
Direito liquido e certo é o que se apresenta manifesto na sua
existência , delimitando sua extensão e apto a ser exercitado no momento da
impetração. O direito invocado, para ser amparado por mandado de segurança
é preciso ser expresso em norma legal e trazer em si todos os requisitos e
condições da sua aplicação ao impetrante. Se sua existência for duvidosa, se
seu exercício depender de situações e fatos não esclarecidos nos autos , não
rende ensejo a segurança , embora possa ser defendido por outros meios
judiciais. Segundo Hely Lopes Meirelles :
" direito liquido e certo e direito comprovado de
plano. Se depender de comprovação posterior , não
é liquido e nem certo, para fins de segurança”.
Ao despachar a inicial o juiz ordenara a suspensão do ato que deu
motivo ao pedido, quando for relevante o fundamento e do ato impugnado
puder resultar a ineficácia da medida caso seja deferida. ( art. 7 º II, da Lei
1.533/51 ) tendo eficácia a medida pelo prazo de 90 dias a contar da data da
respectiva concessão, prorrogável por 30 dias quando provadamente o
acumulo de processos pendentes de julgamento justificar a prorrogação.
16
A concessão de medida liminar e procedimento Cautelar que exige
certos pressupostos , quais sejam: a relevância dos motivos alegados pelo
impetrante;
a possibilidade de a parte sofrer grave e irreparável lesão , caso seu direito
venha a ser, posteriormente , reconhecido. A liminar tem função social por
excelência. Faz cessar temporariamente os efeitos do ato impugnado , evita
que o Judiciário cometa error in judicando.
Extinguir-se-á o direito de requerer Mandado de Segurança,
ocorridos 120 dias contados da ciência , pelo interessado do ato impugnado.
Art. 18 da lei 1.533/51. O prazo é decadencial e por isso mesmo, o Código de
Processo mais propriamente preferiu dizer "extinguir-se-á". O prazo não se
interrompe nem se suspende e corrente e improrrogável. De conformidade
com a lei, a autoridade coatora terá 10 dias para prestar informações . Doutrina
Hely Lopes Meirelles que a omissão das informações pode importar confissão
ficta dos fatos argüidos na inicial, se a isto autorizar a prova oferecida pelo
impetrante.
17
Othon Sidon dispõe:
" A autoridade apontada com coatora que descumpre o pedido de
informação, em Mandado de Segurança , deixando de acudir ,
implicitamente , ao chamado a Juízo, torna-se revel na melhor
conceituação, arrastando a entidade de direito Publico as
conseqüências patrimoniais acaso decorrentes da sua contumácia.”
Não cabe mandado de Segurança contra decisão judicial com
transito em julgado. ( Sumula 268 do STF ), na mesma trilha segue o TST,
através do enunciado 33: " Não cabe Mandado de Segurança. "O pressuposto
hábil a invocação do remédio heróico e a existência de ilegalidade ou de abuso
de poder. Entretanto, se o erro aflora claro do abuso de podre e se a
ilegalidade cometida se apresenta como dano potencial iminente, não vemos
como recusar -se o uso do manamos, face aos preceitos do art. 489 do CPC.
18
CAPÍTULO I I
AUTORIDADE COATORA
Entende-se que, para o efeito de Mandado de Segurança,
autoridade coatora é toda pessoa investida do poder de decisão; É a que
apresenta competência para desfazer o ato que estiver sendo atacado. È à
autoridade da qual emana o ato ilegal ou abusivo de poder e legítima para
dispor de condições para restaurar o ato praticado. Não pode ser confundido
com agente público, que, quando muito, praticam atos executórios por ordem
superior. Estes não respondem a Mandado de Segurança.
A jurisprudência tende a considerar a autoridade coatora como
parte passiva na ação de mandado de segurança. Em sede de Mandado se
Segurança deve figurara no pólo passivo da impetração a autoridade
responsável pela prática do ato impugnado.
A Constituição Federal também permitiu aos particulares prestadores de
serviços públicos figurarem no pólo passivo do mandado se segurança, desde
que, estejam eles no exercício dessa atividade pública, ou sejam, na prática de
atos decorrentes da delegação.
O conceito de autoridade pública, para fins de Mandado de Segurança é
bastante amplo, pode alcançar também aqueles que desempenham atividades
em nome de pessoas jurídicas de direito privado cujo capital social seja pelo
menos em sua maioria de controle do Poder Público.
19
Todos aquelas pessoas vinculadas às sociedades de economia mista e
às empresas públicas, quando na prática de atos regidos pelo direito público
poderão ter seus atos controlados pela via mandamental. Podemos então
estabelecer que para fins de Mandado de Segurança, pode-se enquadrar no
conceito de autoridade pública os agentes de pessoas jurídicas da
administração direta e indireta, os sujeitos que atuam em nome de empresas
públicas e de sociedades de economia mista quando se encontrarem seus
atos regidos pelo direito público e os particulares que exerçam atividade
pública.
A segurança deve ser impetrada contra autoridade que detenha
poderes capazes de neutralizar o ato atacado. Não é autoridade coatora o
simples executor. Como doutrina Hely Lopes Meirelles diz que:
" Considera-se autoridade coatora a pessoa
que pratica o ato impugnado e não o superior
que recomenda ou baixa normas para a
execução. Coatora é a autoridade autônoma
que ordena, concreta e especificamente . a
execução ou inexecução do ato impugnado e
responde pelas suas conseqüências
administrativas. Executor é o agente
subordinado que cumpre a ordem por dever
hierárquico, sem se responsabilizar por ela “.
20
CAPÍTULO III
LEGITIMAÇÃO E COMPETÊNCIA
O Impetrado é a autoridade pública, inclusive agente particular
que atua por delegação no exercício de função pública. Entende-se, que a
parte ré é o ente ao qual se encontra vinculada a autoridade coatora e não ela
própria, cabendo, desta forma, à pessoa jurídica em nome da qual o ato foi
praticado não apenas o oferecimento de contestação e o manejo de recursos,
mas também suportar os efeitos, em especial patrimoniais, da impetração.
A Doutrina tem o seguinte posicionamento conforme nos revela
Lúcia Valle Figueiredo :
“ O sujeito passivo do Mandado de Segurança
será sempre a pessoa jurídica que deverá
suportar os encargos da decisão”.
A autoridade é convocada para prestar as informações de que
trata o Art 7º, I, da lei nº 1533/51, na qualidade de representante judicial da
pessoa jurídica a que pertence. Não tutela direito seu ou exclusivamente seu,
porque seu agir corresponde ao ato da pessoa a cujo quadro está vinculada.
É na verdade uma exceção ao sistema de representação judicial
das pessoas jurídicas regulado pelo art. 12 do CPC.
21
O Art 3º da Lei nº 4348/64, na sua redação original, impunha que
a autoridade coatora, ao receber a notificação, deveria providenciar seu
encaminhamento ao Órgão de representação judicial da pessoa jurídica de que
faz parte, não somente para eventual suspensão da medida, mas também,
para a defesa do ato apontado como ilegal ou abusivo do poder.
Esta diretriz está preservada na atual redação do dispositivo,
dada pela Lei nº 10.910/00 que prescreve o seguinte:
“ Os representantes judiciais da União, dos
Estados , do Distrito Federal, do Municípios
ou de suas respectivas autarquias e
fundações serão intimados pessoalmente
pelo juiz, no prazo de 48 (quarenta e oito)
horas, das decisões judiciais em que suas
autoridades administrativas figurem como
coatoras, com a entrega de cópias dos
documentos nelas mencionados, para
eventual suspensão da decisão e defesa
do ato apontado como ilegal ou abusivo do
poder “
22
A legislação é expressa no sentido de que não apenas deverá a
pessoa jurídica ser chamada pessoalmente para integrar a relação processual,
mas também que cabe a ela, porque parte, tanto a interposição de recursos
como, querendo, apresentação de contestação.
Nesse sentido afirma Sérgio Ferraz :
“ Em suma, na nossa visão, sujeito
passivo, no Mandado de Segurança, é a
pessoa jurídica de direito público que vai
suportar os efeitos defluentes da ação “.
A competência para julgamento da ação mandamental é aferida
com base na qualidade da autoridade pública ou da delegação titularizada pelo
particular. Do ponto de vista territorial, deve a impetração ter lugar no local
onde a autoridade exerce suas funções. Trata-se de competência funcional e ,
portanto, absoluta.
Caso exista mais de uma autoridade impetrada e exercendo ela
atividades em locais diversos, não possuindo qualquer delas foro privilegiado,
ou sendo o mesmo o foro privilegiado que ostentem, por aplicação analógica
do parágrafo 4º, do art. 94 do CPC, poderá a impetração ter lugar em qualquer
dos domicílios funcionais.
23
Os TRF e os TJ são competentes para processamento e
julgamento de mandados de segurança contra atos imputados aos seus
Desembargadores, já tendo neste sentido sumulado entendimento. O Superior
Tribunal de Justiça pacifica na Súmula 41 :
“ O STJ não tem competência para processar e
julgar, originariamente, Mandado de Segurança
contra ato de outros tribunais ou dos
respectivos Órgãos”.
O Supremo Tribunal Federal pacifica na Súmula 330 :
“ O STF não é competente para conhecer de
Mandado de Segurança contra atos dos
Tribunais de Justiça dos Estados “
24
A impetração pressupõe a apresentação, pelo jurisdicionado, de
petição inicial válida. Ação mandamental deverá respeitar os requisitos dos arts
282 2 283 do CPC, com as peculiaridades de que as vias destinadas à
notificação da autoridade impetrada e à intimação da pessoa jurídica a qual ela
se encontra vinculada deverão vir acompanhadas de todos os documentos
carreados aos autos com o preambular ( Art 6º, da Lei nº 1533/51 c/c Art 3º, da
Lei nº 4348/64, redação que lhe foi atribuída pela Lei nº 10.910/04).
A modificação operada na Lei 4.348/64 teve o intuito de deixar
claro que a parte ré no Mandado de Segurança é a pessoa jurídica a que
pertence a autoridade coatora. É de registrar que este entendimento já era
majoritário antes da modificação.
Havendo vícios sanáveis na inicial, entendemos ser perfeitamente
aplicável à ação mandamental o disposto no art 284 do CPC. Este
entendimento está diretamente ligado ao questionamento posto à evidência
com este Trabalho que é o saneamento do erro na autoridade impetrada pelo
impetrante.
25
CAPÍTULO I V
ERRO NA AUTORIDADE IMPETRADA
Há uma questão emblemática e não pacificada entre a Doutrina e
a Jurisprudência no que diz respeito às conseqüências do erro na indicação da
autoridade impetrada pelo impetrante no Mandado de Segurança.
Essas divergências acabam por dificultar a pacificação
jurisprudencial.
Para Eduardo Sodré nos casos em que a alteração da autoridade
impetrada gere como conseqüência, a modificação da parte ré, na medida que
em que a autoridade erroneamente indicada encontra-se ligada a pessoa
jurídica diversa daquela em nome da qual atua o correto agente coator, o
processo deverá ser extinto e não haverá julgamento do mérito. Esse
entendimento encontra amparo em dispositivo legal, pois só poderá haver
modificação das partes nos casos previstos no Art 264 do CPC. Entretanto,
quando a modificação da autoridade impetrada não alterar o pólo passivo da
impetração, baseado no interesse público e na economia processual o
magistrado poderá corrigir a irregularidade.
26
Outra posição diferente na Doutrina encontramos com o professor
Cássio Scarpinella, que defende a tese de que mesmo nos casos em que a
ilegitimidade for bem clara e de pleno conhecimento do magistrado, ou seja, a
indicação errada da pessoa jurídica a que pertence a autoridade tida como
coatora, não deverá o juiz extinguir o processo sem julgamento do mérito e sim
corrigir às irregularidades e dar prosseguimento normal ao processo.
Apesar desses dois posicionamentos serem bem claros e definirem
de forma concisa entendimentos sobre o erro num determinado procedimento
jurídico, há ainda uma outra vertente que apresenta-se como intermediária
entre os dois posicionamentos descritos acima.
Tal posicionamento é defendido por Lúcia Valle Figueiredo que
entende que a autoridade coatora deve ser sempre indicada corretamente e
que o juiz não deverá prestar tutela caso a autoridade designada não esteja
sob sua jurisdição. Mas ocorrendo falhas de pequeno teor como erro no cargo
ou função ocupada pelo coator ou de pronome de tratamento e sendo possível
a identificação da autoridade coatora, poderá o juiz dar prosseguimento ao
processo, pois extinguí-lo seria mero preciosismo.
27
No tocante ao entendimento jurisprudencial encontramos em uma
decisão o voto proferido pelo Ministro Luiz Fux que expressa o seguinte
entendimento :
“ A errônea indicação da autoridade coatora
não implica ilegitimidade ad causam passiva se
aquela pertence à mesma pessoa jurídica de
direito público; porquanto, nesse caso não se
altera a polarização processual, o que reserva
a condição da ação. “ ( STJ, 1ª Turma, recurso
em MS nº 17889/RS, Rel. Min. Luiz Fux, j. em
07/12/2004, Dj de 28/12/2005, p.187)
Caso muito comum de erro na impetração de Mandado de
Segurança contra autoridades militares é o da indicação como coator de
autoridade hierarquicamente superior à efetivamente responsável pela prática
do ato atacado pela via mandamental.
28
A jurisprudência diz que é desnecessária a correção da
irregularidade pelo juiz se o agente trazido ao processo assumir de pronto a
defesa do ato de seu subordinado. Trata-se do fundamento da encampação,
demonstrado na seguinte jurisprudência :
“ Aplica-se a teoria da encampação quando a
autoridade apontada como coatora, ao prestar
suas informações, não se limita a alegar sua
ilegitimidade, mas defende o mérito do ato
impugnado, requerendo a denegação da
segurança, assumindo a legitimatio ad causam
passiva”. ( STJ, 1ª turma, recurso em MS nº
17889/RS, Rel Min. Luiz Fux, j. em )7/12/2004,
Dj de 28/12/2005, p.187)
29
CAPÍTULO V
EXECUÇÃO
A sentença que concede Mandado de Segurança é de cunho
mandamental, razão pela qual o seu cumprimento deve ser realizado
imediatamente, independentemente de processo próprio, sob pena de
configuração de crime de desobediência (Art.330 CP).
Scarpinella entende o seguinte :
“ Mais célere eficaz do que a
persecução criminal pode ser a utilização
dos mecanismos constantes dos parágrafos
4º,5º e 6º do art. 461 do CPC, para compelir
a autoridade coatora, que é quem
representa, para todos os fins, o réu do
Mandado de Segurança em juízo, ao
cumprimento específico de ordem “
30
Outra forma que assegura a mandamentabilidade inerente ao
Mandado de segurança é a regra constante do Art. 14 do CPC. A finalidade
inequívoca desses dispositvos é tornar mais efetiva a tutela jurisdicional,
buscando, como regra, a prestação in natura do bem da vida que se pretende
ver tutelado em juízo. Trata-se, pois de instrumental afinadíssimo com a razão
de ser do Mandado de Segurança, e que deve ser prestigiada para o
cumprimento das decisãoes proferidas nessa ação, liminares ou finais.
Como instrumento de coerção, inobstante a matéria seja
controvertida, entende-se possível a fixação de multa pecuniária em desfavor
da pessoa jurídica à qual se encontra vinculada a autoridade coatora. E mais,
cumulativamente com a imposição de multa diária à pessoa jurídica que figura
no pólo passivo da relação processual mandamental, pode e deve o
magistrado, se as circunstãncias concretas do caso recomendarem, direcionar
à autoridade coatora, nas hipóteses de descumprimento do preceito
mandamental, também sanção pecuniária, nos termos do Art. 14 do CPC, com
as introduções trazidas pela Lei 10358/01.
Por outro lado, considerando que a sentença proferida em sede
de Mandado de Segurança produz efeitos pecuniários após a impetração,
revela-se incomum na praxe forense execução, como processo autônomo, de
título executivo judicial formado em Mandado de Segurança.
31
Quanto à impossibilidade de retroação de efeitos econômicos
diretos da segurança concedida, o Supremo Tribunal Federal as Súmulas 269
e 271 respectivamente :
“ O Mandado de Segurança não é substitutivo
de ação de cobrança”
“ Concessão de Mandado de Segurança não
produz efeitos patrimoniais em relação a período
pretérito, os quais devem ser reclamados
administrativamente ou pela via judicial “.
As parcelas vencidas, todavia, entre a propositura do Mandado de
Segurança implementação de eventual ordem da segurança deverão ser
objeto de execução contra a Fazenda Pública, demanda que tramitará de
acordo com a disciplina do art. 730 do CPC.
No que se refere à desistência do direito da ação, consolidou-se
corrente jurisprudencial segundo a qual seria ele sempre direito potestativo do
impetrante e que por isso, deve ser homologado independentemente da
existência de consentimento da demanda.
32
CONCLUSÃO
Por razões históricas de cunho principalmente político, a
implantação e implementação do Mandado de Segurança no Brasil foi
conquistada por meio de lutas históricas no meio judicial e acadêmico, que se
convenceu por meio de debates e reflexões de ordem social que sem esse
Instituto não há consolidação plena do Estado Democrático de Direito.
Tal entendimento refletiu no meio político e nos leva a
dimensionar o elevado grau de importância do Mandado de Segurança no seio
de nossa sociedade.
Não existe ainda um entendimento pleno e consolidado entre a
doutrina e a jurisprudência no caso de erro na indicação da autoridade
impetrada no Mandado de Segurança. A falta desse entendimento prejudica o
andamento do processo. Que poderá ser extinto sem julgamento do mérito.
Questionamentos e posicionamentos de Doutrinadores e Juízes
são importantes no sentido de buscar o aperfeiçoamento do sistema legal, mas
não podem de forma alguma por preciosismos afetar conquistas da sociedade
diretamente ligadas com a liberdade e a democracia.
33
ANEXOS
Anexo 1 - Jurisprudência ( RMS 15863 / MT ; RECURSO ORDINÁRIO EM
MANDADO DE SEGURANÇA )
2003/0003245-4;
Anexo 2 - Jurisprudência ( Ag Rg no Ag 769282 / SC ; AGRAVO
REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO
2006/0089239-6
34
ANEXO 1
Processo RMS 15863 / MT ; RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA 2003/0003245-4
Relator(a) Ministra DENISE ARRUDA (1126)
Órgão Julgador T1 - PRIMEIRA TURMA
Data do Julgamento 14/11/2006
Data da Publicação/Fonte DJ 30.11.2006 p. 147
Ementa RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. DESPROVIMENTO. 1. O mandado de segurança está a impugnar, de forma preventiva, lei reputada de efeitos concretos (Lei Estadual 7.263/2000), a qual "cria o Fundo de Transportes e Habitação – FETHAB –, estabelece condições para o diferimento do ICMS em operações internas com os produtos agropecuários que elenca, fixa obrigações para os contribuintes substitutos nas operações com combustíveis e dá outras providências" (fl. 20). 2. O Dr. Juiz de Direito decidiu pela ilegitimidade passiva ad causam da autoridade indicada como coatora – o chefe da unidade local do Instituto de Defesa Agropecuária do Estado de Mato Grosso (INDEA/MT) –, pois a legislação de regência do FETHAB refere-se a essa autarquia como mero órgão arrecadador, conforme os arts. 7º, § 2º, II, da Lei Estadual 7.263/2000, e 22, §§ 1º e 2º, do respectivo regulamento (Decreto 1.261/2000). 3. O Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso declarou a extinção do processo, por ilegitimidade passiva ad causam, e determinou a devolução, para fins de arquivamento, dos autos do mandado de segurança que lhe haviam sido remetidos pelo Juiz de primeira instância, que se declarara incompetente ao considerar como autoridade coatora o Governador daquele Estado. 4. Ao consignar que "autoridade coatora, in casu, é o chefe do serviço que arrecada o tributo e impõe as sanções fiscais
35
respectivas, usando do seu poder de decisão", o Tribunal de origem não se referiu ao chefe da unidade local do INDEA/MT, e sim ao chefe do serviço subordinado à Secretaria de Estado da Fazenda, que, nos termos dos arts. 16 e 19 da Lei Estadual 7.263/2000, controla a arrecadação da contribuição para o FETHAB e impõe as sanções fiscais respectivas. 5. O acórdão recorrido está em conformidade com a jurisprudência dominante deste Superior Tribunal de Justiça, no sentido de que a competência para processar e julgar o mandado de segurança é fixada em face da qualificação da autoridade impetrada, de modo que, uma vez constatada a ilegitimidade passiva da autoridade indicada na petição inicial, o processo deve ser extinto sem julgamento do mérito, nos termos do art. 267, VI, do Código de Processo Civil, não cabendo ao juiz promover, de ofício, a substituição processual a fim de corrigir eventual erro na indicação feita pelo impetrante, com a conseqüente declinação da competência. 6. Recurso ordinário desprovido.
Acórdão Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da PRIMEIRA TURMA do Superior Tribunal de Justiça: A Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso em mandado de segurança, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. Os Srs. Ministros Luiz Fux e Teori Albino Zavascki votaram com a Sra. Ministra Relatora. Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros José Delgado e Francisco Falcão.
36
ANEXO 2
Processo
AgRg no Ag 769282 / SC ; AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO 2006/0089239-6
Relator(a) Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA (1123)
Órgão Julgador T2 - SEGUNDA TURMA
Data do Julgamento 19/09/2006
Data da Publicação/Fonte DJ 25.10.2006 p. 189
Ementa AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. ERRÔNEA INDICAÇÃO DA AUTORIDADE COATORA. EXTINÇÃO DO PROCESSO. PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA N. 211 DO STJ. ENCAMPAÇÃO NÃO-CONFIGURADA. PRECEDENTES. 1. A autoridade coatora é aquela competente para omitir ou praticar o ato inquinado como ilegal e ostentar o poder de revê-lo voluntária ou compulsoriamente. 2. A jurisprudência do STJ firmou-se no sentido de que, havendo erro na indicação da autoridade coatora, deve o juiz extinguir o processo sem julgamento de mérito, a teor do art. 267, inciso VI, do Código de Processo Civil, sendo vedada a substituição do pólo passivo. 3. "Inadmissível recurso especial quanto à questão que, a despeito da oposição de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo Tribunal a quo" (Súmula n. 211 do STJ). 4. O acesso à via excepcional, nos casos em que o Tribunal a quo, a despeito da oposição de embargos declaratórios, não soluciona a omissão apontada, depende da veiculação, nas razões do recurso especial, de ofensa ao art. 535 do Código de Processo Civil. Precedentes do STJ.
37
5. A teoria da encampação somente é plausível nos casos em que a impetração volta-se contra autoridade coatora hierarquicamente superior, que encampa o ato ao oferecer informações para autoridade inferior. 6. Agravo regimental improvido.
Acórdão Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar provimento ao agravo regimental nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Castro Meira, Herman Benjamin e Eliana Calmon votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Humberto Martins Presidiu o julgamento o Sr. Ministro João Otávio de Noronha.
38
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
MEIRELLES, Hely Lopes, Mandado de Segurança, Ação Popular, Ação Civil
Pública, Mandado de Injunção e Habeas Data, 16ª Edição, Malheiros, 1995;
OTHON Sido, As garantias Ativas dos Direitos Coletivos, segundo a nova
Constituição, Rio de janeiro, 1989;
Ferraz, Sérgio. Direito Administrativo . São Paulo: Malheiros, 2002.
BUENO, Cássio Scarpinella, Mandado de Segurança, editora Saraiva, São
Paulo, 2002;
SODRÉ, Eduardo. Direito Processual Civil,. Salvador: Juspodivm, 2004;
FIGUEIREDO, Lucia Valle. Curso de Direito Administrativo, 2ª ed., Malheiros,
1994.
39
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I 15
CAPÍTULO I I 19
CAPÍTULO I I I 20
CAPÍTULO I V 25
CAPÍTULO V 29
CONCLUSÃO 32
ANEXOS 33
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 38
ÍNDICE 39
40
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES – PROJETO A
VEZ DO MESTRE
Título da Monografia: MANDADO DE SEGURANÇA – ERRO NA
AUTORIDADE IMPETRADA
Autor: LUIZ MAURÍCIO DIAS
Data da entrega:
Avaliado por: Conceito: