dor crÔnica e automedicaÇÃo autorreferidas em … · a dor crônica é um ... contribuir com o...

16
17 Anhanguera Educacional S.A. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, SP - CEP 13278-181 [email protected] [email protected] Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Publicação: 5 de março de 2010 Trabalho realizado com o incentivo e fomento da Anhanguera Educacional S.A. Dayane Furtado de Oliveira Simone Souza Nascimento Professora Orientadora: Ms. Marina Morato Stival Curso: Enfermagem FACULDADE ANHANGUERA DE ANÁPOLIS Trabalho apresentado no 9º Congresso Nacional de Iniciação Científica – CONIC. Participou do Encontro Interno do PIC - 2009. RESUMO A dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a danos teciduais reais ou potenciais, que pode agravar-se se não avaliada adequadamente. A dor crônica é um problema de saúde pública e pode levar à incapacitação e a prática de terapias sem orientação médica. A automedicação tem sido uma prática comum entre estudantes de cursos da área da saúde, mesmo reconhecendo que esta é potencialmente prejudicial à saúde individual e coletiva, o que reflete o descuidado dos profissionais de enfermagem para com sua própria saúde. Objetivou-se descrever a epidemiologia da dor crônica e automedicação auto-referidas em estudantes de um curso de graduação em Enfermagem. Trata-se de um estudo epidemiológico, descritivo exploratório com delineamento transversal, realizado com 300 estudantes, com idade entre 18 e 54 anos, regularmente matriculados nos diversos períodos do curso de graduação em Enfermagem. A dor foi prevalente em 287 (95,7%) estudantes, dos quais 208 (72,5%) foram classificados como dor crônica. Para obter o alívio da dor foi observada uma prevalência de 229 (79,8%) com uso de medicamentos, dos quais 70 (30,6%) referem automedicação. Quanto ao prejuízo muito pequeno, moderado, total e grande, observou-se maiores freqüências em níveis de prejuízo, humor, sono, capacidade de concentração e realização de atividades práticas. Os resultados encontrados permitem inferir que a dor diminui a qualidade de vida de causa prejuízos na vida acadêmica, e pode ainda ser um fator que diminua a eficácia da assistência de enfermagem junto ao cliente. Palavras-Chave: dor crônica; automedicação; estudantes de Enfermagem. ANUÁRIO DA PRODUÇÃO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DISCENTE Vol. XII, Nº. 13, Ano 2009 DOR CRÔNICA E AUTOMEDICAÇÃO AUTORREFERIDAS EM ESTUDANTES DE UM CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM ANUIC_N13_miolo_marcas.pdf 17 13/4/2010 12:25:19

Upload: truongdiep

Post on 20-Jan-2019

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

17

Anhanguera Educacional S.A. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, SP - CEP 13278-181 [email protected] [email protected] Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Publicação: 5 de março de 2010

Trabalho realizado com o incentivo e fomento da Anhanguera Educacional S.A.

Dayane Furtado de Oliveira Simone Souza Nascimento

Professora Orientadora: Ms. Marina Morato Stival

Curso: Enfermagem

FACULDADE ANHANGUERA DE ANÁPOLIS

Trabalho apresentado no 9º Congresso Nacional de Iniciação Científica – CONIC.

Participou do Encontro Interno do PIC - 2009.

RESUMO

A dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a danos teciduais reais ou potenciais, que pode agravar-se se não avaliada adequadamente. A dor crônica é um problema de saúde pública e pode levar à incapacitação e a prática de terapias sem orientação médica. A automedicação tem sido uma prática comum entre estudantes de cursos da área da saúde, mesmo reconhecendo que esta é potencialmente prejudicial à saúde individual e coletiva, o que reflete o descuidado dos profissionais de enfermagem para com sua própria saúde. Objetivou-se descrever a epidemiologia da dor crônica e automedicação auto-referidas em estudantes de um curso de graduação em Enfermagem. Trata-se de um estudo epidemiológico, descritivo exploratório com delineamento transversal, realizado com 300 estudantes, com idade entre 18 e 54 anos, regularmente matriculados nos diversos períodos do curso de graduação em Enfermagem. A dor foi prevalente em 287 (95,7%) estudantes, dos quais 208 (72,5%) foram classificados como dor crônica. Para obter o alívio da dor foi observada uma prevalência de 229 (79,8%) com uso de medicamentos, dos quais 70 (30,6%) referem automedicação. Quanto ao prejuízo muito pequeno, moderado, total e grande, observou-se maiores freqüências em níveis de prejuízo, humor, sono, capacidade de concentração e realização de atividades práticas. Os resultados encontrados permitem inferir que a dor diminui a qualidade de vida de causa prejuízos na vida acadêmica, e pode ainda ser um fator que diminua a eficácia da assistência de enfermagem junto ao cliente.

Palavras-Chave: dor crônica; automedicação; estudantes de Enfermagem.

ANUÁRIO DA PRODUÇÃO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DISCENTE

Vol. XII, Nº. 13, Ano 2009

DOR CRÔNICA E AUTOMEDICAÇÃO AUTORREFERIDAS EM ESTUDANTES DE UM CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

ANUIC_N13_miolo_marcas.pdf 17 13/4/2010 12:25:19

18 Dor crônica e automedicação autorreferidas em estudantes de um curso de graduação em Enfermagem

Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. XII, Nº. 13, Ano 2009 • p. 17-32

1. INTRODUÇÃO

A dor é conceituada pela International Association for Study of Pain (IASP) – Associação

Internacional para Estudos da Dor – (1994) como uma experiência sensorial e emocional

desagradável associada a danos teciduais reais ou potenciais podendo ser descrita em

termos desses danos ou por ambas as características. É uma experiência multidimensional

e subjetiva, associada a sintoma com características agudas ou crônicas, que pode agravar-

se se não avaliada adequadamente (PIMENTA; TEIXEIRA, 1996; HORTENSE;

ZAMBRANO; SOUSA, 2008).

Segundo Teixeira (2009) a dor é classificada em dois tipos: aguda e crônica. A

NANDA – North American Nurnsing Diagnoses Association (2008) define a dor aguda como

de início súbito ou lento, de intensidade leve à intensa, com término antecipado ou

previsível e duração de menos de seis meses, diferenciando-se da dor crônica que, por sua

vez, é constante ou recorrente, sem um término antecipado ou previsível e com duração

de mais de seis meses.

A dor crônica é um problema de saúde pública e a crescente incidência dessa

experiência na sociedade pode estar associada aos novos hábitos de vida, maior

longevidade, sobrevida prolongada. Isso ocorre, especialmente, nas afecções crônico-

degenerativas, modificações no meio ambiente, condições inadequadas de trabalho e

variáveis psicológicas (TEIXEIRA et al., 1999).

No Brasil, 50% das consultas médicas estão relacionadas à dor crônica e 50% dos

doentes que a vivenciam podem ficar incapacitados. O controle da dor, na maioria das

vezes, é realizado por meio do uso de medicamentos, principalmente analgésicos e anti-

inflamatórios não-esteróides (AINEs), e pode ser associado ainda as terapias físicas,

cognitivo-comportamentais, bloqueios anestésicos e procedimentos cirúrgicas, sendo que

intervenções múltiplas melhoram a qualidade da terapêutica (TEIXEIRA et al., 2003;

CHAVES, 2009).

Para Musial, Dutra e Becker (2007) a automedicação é potencialmente prejudicial

à saúde individual e coletiva, pois nenhum medicamento é inócuo a saúde. O uso

inadequado de drogas, incluindo os medicamentos de venda livre, tais como os

analgésicos, pode acarretar diversas conseqüências, tais como reações de

hipersensibilidade, estímulo para a produção de anticorpos sem a devida necessidade,

dependência do medicamento sem a real precisão, hemorragias digestivas, gastos

supérfluos, atraso no diagnóstico e na terapêutica adequada (NASCIMENTO, 2005;

MUSIAL; DUTRA; BECKER, 2007).

ANUIC_N13_miolo_marcas.pdf 18 13/4/2010 12:25:19

Simone Souza Nascimento, Dayane Furtado de Oliveira 19

Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. XII, Nº. 13, Ano 2009 • p. 17-32

Isto posto, considerou-se importante realizar este estudo, com o propósito de

contribuir com o avanço dos conhecimentos sobre a epidemiologia da dor crônica no

Brasil, buscando conhecer a extensão do sintoma entre universitários, seu impacto nas

atividades cotidianas dessa população e os riscos de se iniciar uma terapia

medicamentosa sem orientação médica, uma vez que a experiência dolorosa acarreta

prejuízos na qualidade de vida do indivíduo que a vivencia.

2. OBJETIVO

2.1. Geral

• Descrever a epidemiologia da dor crônica e automedicação auto-referidas em estudantes de um curso de Graduação em Enfermagem.

2.2. Específicos

• Caracterizar os estudantes do curso de Graduação em Enfermagem, segundo variáveis sociais, econômicas, demográficas e acadêmicas.

• Descrever a dor crônica auto-referida pelos universitários, segundo a intensidade e qualidade.

• Estimar a prevalência de dor crônica auto-referida e de automedicação em estudantes do curso de Graduação em Enfermagem e identificar os fármacos mais utilizados pelos estudantes para seu alívio e a fonte geradora da dessa prática.

• Mensurar o prejuízo da dor crônica auto-referida pelos universitários.

3. METODOLOGIA

Trata-se de um estudo epidemiológico observacional, com delineamento transversal,

realizado na Faculdade Anhanguera de Anápolis, Anápolis-GO, 300 estudantes, com

idades entre 18 e 54 anos, sendo a maioria do sexo feminino, regularmente matriculados

nos diversos períodos do Curso de Graduação em Enfermagem.

As variáveis do estudo foram: sexo, idade, situação socioeconômica e conjugal,

número de filhos, prejuízo nas atividades cotidianas, incluindo as acadêmicas, dor e suas

características, automedicação e tratamento para dor e alívio obtido. A situação sócio-

econômica foi analisada com base na quantidade de bens que possui, de acordo com a

“Chave de Correção da Classificação de Classes Socioeconômicas no Brasil”

(ABA/ABIPEME - 2008), que categoriza as classes em A1, A2, B1, B2, C1, C2, D e E.

Dor crônica foi caracterizada como aquela que existe há mais de 6 meses

(NANDA, 2008). Em relação às características da dor, a intensidade foi medida em uma

ANUIC_N13_miolo_marcas.pdf 19 13/4/2010 12:25:19

20 Dor crônica e automedicação autorreferidas em estudantes de um curso de graduação em Enfermagem

Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. XII, Nº. 13, Ano 2009 • p. 17-32

Escala Numérica (EN): de 0 (zero) a 10 (dez), na qual 0 (zero) significou sem dor e 10 (dez)

a pior dor imaginável. Nesse estudo, a EN foi utilizada de forma escrita, ou seja, o próprio

estudante fez a anotação do escore que representava a intensidade da dor sentida. A

localização foi feita através de diagramas corporais.

A qualidade da dor foi investigada por meio do Questionário para Dor de McGill

(MPQ), o qual contém 78 descritores distribuídos em 4 grandes grupos (sensitivo, afetivo,

avaliativo e misto) e 20 subgrupos. Observa-se significativa utilização do MPQ no meio

científico, visando à caracterização das dores crônicas e agudas e à discriminação de

diversas síndromes dolorosas (PIMENTA; TEIXEIRA, 1996). A magnitude do prejuízo

causado pela dor nas atividades cotidianas dos estudantes foi mensurada através de uma

Escala de copos de 5 pontos, onde um copo vazio corresponderia a nenhum prejuízo e o

copo cheio a prejuízo total.

Os dados foram coletados na Faculdade Anhanguera de Anápolis, em momentos

de disponibilidade dos estudantes, nos corredores ou salas de aulas, em um período de

um mês. Os estudantes foram abordados pelas pesquisadoras, que informaram sobre a

pesquisa e esclareceram quanto aos objetivos. Concordando em participar, assinaram o

termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Logo após, preencheram o questionário

composto de itens referentes a dados de identificação, características da dor, prejuízo nas

atividades cotidianas e prática da automedicação. O estudante foi informado sobre o

tempo necessário para o preenchimento do instrumento (aproximadamente 15 minutos) e

as tarefas a serem realizadas (mensuração), podendo livremente retirar o consentimento,

sem nenhum prejuízo para si. Os estudantes que apresentaram relato de dor foram

orientados a procurarem atendimento nas Unidades de Saúde de Anápolis para

tratamento. Com o objetivo de verificar adequação da análise estatística proposta e

clareza, objetividade e adequação do instrumento de coleta de dados, foi realizado um

teste piloto. Participaram 6 estudantes do curso de enfermagem, todos ingênuos quanto

ao método de mensuração utilizado.

Os dados foram registrados no instrumento de coleta de dados e posteriormente

organizados em planilhas eletrônicas em arquivo do software Statistical Package for the

Social Sciences (SPSS) versão 15.0. Foi realizada, inicialmente, uma análise exploratória dos

dados (descritiva). As variáveis numéricas foram exploradas pelas medidas descritivas de

centralidade (média, mediana) e de dispersão (mínimo, máximo, desvio padrão e

coeficiente de variação) e as variáveis categóricas foram exploradas por freqüências

simples absolutas e percentuais. Os resultados das análises foram organizados em tabelas.

As associações entre duas variáveis categóricas foram estudadas a partir da construção de

ANUIC_N13_miolo_marcas.pdf 20 13/4/2010 12:25:19

Simone Souza Nascimento, Dayane Furtado de Oliveira 21

Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. XII, Nº. 13, Ano 2009 • p. 17-32

tabelas de contingência em seguida foram aplicados os testes não paramétricos de

associações como o qui-quadrado (corrigido de Yates e Mantel-Hanzel). No caso de

associação entre duas variáveis numéricas utilizamos inicialmente coeficiente de

correlação de Pearson, caso os dados apresentem distribuição normal e de Spearman, caso

contrário. Quando a variável categórica apresentou apenas dois níveis utilizamos o teste t-

Student se as suposições de normalidade e homogeneidade forem satisfeitas, caso

contrário, aplicamos o teste não paramétrico de Mann-Whitney. O nível de significância

para todos os testes foi de alfa=5%.

4. DESENVOLVIMENTO

A dor é um fenômeno universal, sua percepção é subjetiva e individual e a cronicidade

dessa experiência caracteriza-se por presença constante e intermitente, associada à

duração prolongada.

A elevada prevalência das condições dolorosas crônicas em diversos países

aponta a importância de estudos sobre a epidemiologia dessa experiência com a

finalidade de elaboração de programas de cuidados, destinados à profilaxia e ao

tratamento dos indivíduos que padecem dor (MOREIRA JUNIOR; SOUZA, 2003).

Neste contexto, e concordando com Elliott et al. (1999) quando afirmaram que as

pessoas com dor, utilizam 5 vezes mais os serviços de saúde do que aquelas que não

sentem dor crônica, considerou-se relevante ressaltar que o adequado controle dessa

experiência é fundamental para a redução dos custos e manutenção da qualidade de vida

dessa população. Esse controle inclui a terapêutica farmacológica que deve ser prescrita

de forma individualizada, com acompanhamento dos clientes que necessitam de

tratamento prolongado, devido a risco de reações adversas (YENG et al., 2003; ALVES;

AZEVEDO; CARVALHO, 2004; SILVA; LEÃO, 2004).

Para Pimenta e Teixeira (1996), a avaliação da dor visa aferir qualidade, duração,

e o impacto desta no aspecto psico-afetivo do indivíduo, além de determinar sua

intensidade. Traz ainda que a avaliação auxilia no diagnóstico, ajuda na escolha da

tratamento e quantifica a eficácia da terapêutica implementada.

No entanto, nos países subdesenvolvidos, devido a custos elevados das

consultas médicas e demora no atendimento prestado pelos equipamentos de saúde, os

indivíduos procuram resolver sua dor praticando a automedicação. Por vezes, fazendo

uso de prescrições médicas antigas, orientações de pessoas leigas, amigos íntimos,

ANUIC_N13_miolo_marcas.pdf 21 13/4/2010 12:25:19

22 Dor crônica e automedicação autorreferidas em estudantes de um curso de graduação em Enfermagem

Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. XII, Nº. 13, Ano 2009 • p. 17-32

parentes mais experientes ou mesmo com o farmacêutico amigo, em busca de solução

medicamentosa para sua dor (HAAK 1989; KAMAT et al., 1998).

Estudo populacional desenvolvido na Austrália, envolvendo 17.543 entrevistas

realizadas por telefone, mostrou prevalência de dor crônica de 17% para os homens e de

20% para as mulheres. Ademais, 11% dos homens e 13,5% das mulheres relataram que a

dor foi responsável por algum grau de prejuízo nas suas atividades cotidianas. Os

resultados apontaram que a dor crônica impacta uma grande proporção da população

australiana, particularmente as pessoas mais velhas; mulheres; com nível socioeconômico

mais baixo (BLYTH et al., 2001).

Estudos epidemiológicos que investigaram a prevalência de dor crônica em

adultos trabalhadores no Brasil apontaram maior freqüência de relatos entre 30 e 50 anos,

com prevalência para o sexo feminino, com companheiro (KRELING, 2000; PEREIRA et

al., 2007).

Na Espanha, a prevalência de dor lombar entre 174 estudantes do curso de

enfermagem revelou um aumento dessa dor de 31% no ano de ingresso dos estudantes

para 72% no último ano de graduação. O aumento da prevalência foi associado a uma

maior carga física ocupacional no último ano em relação ao primeiro (VIDEMAN et al.,

2005). A dor crônica foi uma das principais causas de incapacidade física e funcional,

limitando mais de 1/3 da população, também no estudo de Teixeira et al. (1999).

Assim, faz sentido ressaltar que indivíduos com dor crônica apresentam

prevalência elevada de comorbidades do tipo transtornos depressivos e ansiosos (YENG;

TEIXEIRA, 2004). Castro et al. (2006) avaliaram a prevalência de ansiedade e depressão

em 91 pacientes com dor crônica, com idades entre 18 e 50 anos, 87,9% do sexo feminino e

identificaram prevalência de 61,8% para ansiedade e 81,6% para depressão, confirmando

as colocações de Yeng e Teixeira (2004).

Dados relacionados à frequência com que as situações cotidianas foram

prejudicadas pela dor, no estudo de Pereira et al. (2007) apontou-se o sono, a disposição

para fazer as coisas que gosta, realizar as atividades domésticas e o humor como as

situações mais frequentemente referidas pelos usuários, entre as 13 investigadas, com 46,0

(9,48%), 45,0 (9,27%), 43,0 (8,86%) e 40,0 (8,24%) escolhas, respectivamente, dentre as 485

escolhas realizadas pelos participantes. Esse prejuízo foi mensurado e sua intensidade

representada pela mediana, mínima e máxima dos escores. Medianas iguais ou superiores

a 3,0 (em escala de 0 a 4), que classificam o prejuízo da dor nas situações da vida diária

como muito grande foram estimadas para sono, disposição para fazer as coisas que gosta,

realizar as atividades domésticas, humor, lazer, viajar e realizar atividade física.

ANUIC_N13_miolo_marcas.pdf 22 13/4/2010 12:25:19

Simone Souza Nascimento, Dayane Furtado de Oliveira 23

Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. XII, Nº. 13, Ano 2009 • p. 17-32

Outros estudos relatam que a dor crônica é uma das principais causas de

incapacidade, levando à exacerbação das manifestações de sintomas como alterações no

padrão de sono, apetite e libido, manifestações de irritabilidade, alterações de energia,

diminuição da capacidade de concentração, alterações no sono, humor, auto-estima,

restrições na capacidade para as atividades sexuais, familiares, profissionais e sociais

(TEIXEIRA et al., 2003, PEDROSO; CELICH, 2006).

Observa-se que a automedicação, tem se mostrado uma prática comum entre os

universitários, mesmo estes conhecendo os riscos que a mesma oferece. A automedicação,

baseada na formação e prática dos sujeitos, desvela o descuidado de si dos profissionais

de enfermagem que buscam minimizar sintomas físicos ou psíquicos sem a recomendação

médica adequada (BAGGIO; FORMAGGIO, 2009).

No Brasil, estudos mostraram que 54% das drogas utilizadas na automedicação

para a dor eram analgésicos, sendo eles: dipirona (17,8%), ácido acetilsalicílico (12,1%),

ácido acetilsalicílico em associação (8%), paracetamol (5,3%), dipirona em associação

(3,3%) e outros analgésicos (8,3%) (14). A dipirona também foi uma das drogas mais

utilizadas (7,1%) entre os analgésicos (17,3%) em perfil epidemiológico da automedicação

no referido país (ARRAIS et al., 1997). Entre universitários, no Estado de Minas Gerais

constatou-se que 89,9% dos estudantes da área da saúde já haviam se automedicado com

analgésicos (PENNA et al., 2004).

Diante do exposto, propôs-se estudar este tema, visto que a dor, atualmente

considerada como quinto sinal vital, causa prejuízos de caráter físico, psicológico e social,

e agrava a prática da automedicação.

5. RESULTADOS

A caracterização dos estudantes do curso de Graduação em Enfermagem, segundo

variáveis sociais, econômicas, demográficas e acadêmicas estão demonstradas na Tabela 1.

É possível observar que há maior prevalência de indivíduos do sexo feminino (87,7%), o

que é esperado por a enfermagem ainda ser considerada uma área predominantemente

feminina, concordando com o estudo de Melo e Ludwig (2004).

A idade variou de 18 a 54 anos (M= 25,04 anos), com 153 (51%) indivíduos entre

18 a 22 anos de idade. Quanto ao estado civil 210 (70%) eram solteiros, e 223 (74,3%) não

tinham filhos. A maioria (64,3%) não trabalha e 65 (21,7%) já atuam como técnicos e

auxiliares de enfermagem. A prática de exercícios físicos foi referida por apenas 81 (27%)

ANUIC_N13_miolo_marcas.pdf 23 13/4/2010 12:25:19

24 Dor crônica e automedicação autorreferidas em estudantes de um curso de graduação em Enfermagem

Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. XII, Nº. 13, Ano 2009 • p. 17-32

indivíduos. A classe econômica prevalente foi C1 (30,0%), seguida da B2 (26,3%) e C2

(20,7%).

Os participantes estavam distribuídos no primeiro, terceiro, quinto e sétimo

períodos da graduação, com maior prevalência de respondentes no primeiro período

(31,7%). Foram identificados que 232 (77,3%) e 175 (58,3%) estudantes não fazem estágio e

não realizam atividades extracurriculares, respectivamente. Esta seção se destina a

apresentar, a discutir e a comentar os resultados obtidos na pesquisa. Podem existir

conjecturas e interpretações acerca dos estudos anteriores, assim como, uma nova

concepção do problema recorrente da pesquisa realizada.

Tabela 1 – Caracterização social, econômica, demográfica e acadêmica dos estudantes do curso de enfermagem. Anápolis-GO, fevereiro a junho de 2009. (n=300).

Caracterização social, econômica, demográfica e acadêmica

Sexo n % Frequência de atividades físicas n %

Feminino 263 87,7 Não pratica 219 73,0 Masculino 37 12,3 1 a 2 x por semana 21 7,0

Faixa etária (em anos) 3 a 4 x por semana 43 14,3 18 a 22 153 51,0 > 4 x por semana 17 5,7 23 a 27 66 22,0 ABA 28 a 32 40 13,3 Classe A1 2 0,7 33 a 37 18 6,0 Classe A2 9 3,0 38 a 42 13 4,4 Classe B1 36 12,0 > 42 10 3,3 Classe B2 79 26,3

Estado civil Classe C1 90 30,0 Solteiro 210 70,0 Classe C2 62 20,7 Casado 79 26,3 Classe D 22 7,3 Divorciado 9 3,0 Período do curso Viúvo 2 0,7 1º 95 31,7

Número de filhos 3º 72 24,0 Nenhum 223 74,3 5° 67 22,3 Um 37 12,3 7° 66 22,0 Dois 27 9,0 Estágio Extracurricular Três 13 4,4 Sim 68 22,7

Trabalha Não 232 77,3 Não 193 64,3 Atividades extracurriculares Téc./Aux. de Enf. 65 21,7 Sim 125 41,7 Outros 42 14,0

Não 175 58,3 Legenda: Téc. = Técnico; Aux. = Auxiliar; Enf.= Enfermagem.

Neste estudo foi considerado dor crônica aquela com mais de seis meses de

duração (NANDA, 2008). Quanto a variável existência de dor, 287 (95,7%) estudantes a

referiram dos quais 208 (72,5%) foram classificados como dor crônica e 79 (27,5%) com dor

aguda, conforme demonstrado na Tabela 2. Ressalta-se que dos 208 com dor crônica, 64

(30,8%) eram do 1° período (p=0,04).

Ainda na Tabela 2 é possível observar os valores encontrados de intensidade de

dor por meio da Escala Numérica (EN 0-10) para avaliação da dor, na qual 0 (zero)

significa nenhuma dor e 10 (dez) a pior dor possível.

ANUIC_N13_miolo_marcas.pdf 24 13/4/2010 12:25:19

Simone Souza Nascimento, Dayane Furtado de Oliveira 25

Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. XII, Nº. 13, Ano 2009 • p. 17-32

Observou-se que estudantes que apresentaram dor crônica atribuíram maiores

escores na EN (M= 6,3 e Mo= 7) (p<0,001). Em estudo realizado por Kurita e Pimenta

(2004), foi identificada mediana 7 para a intensidade da dor, o que ratifica que indivíduos

com dor crônica tendem a apresentar dor intensa, tornando válidos os valores

encontrados neste estudo (KURITA; PIMENTA, 2004).

Tabela 2 – Medidas descritivas dos escores atribuídos a dor por meio da Escala Numérica de Dor (EN- 0-10) pelos estudantes de enfermagem. Anápolis-GO, fevereiro a junho de 2009. (n=287)

Intensidade da dor Tipo de Dor n % Média Mediana Moda Máxima Mínima P

Aguda 79 27,5 5,1 5 4 10 2 < 0,001* Crônica 208 72,5 6,3 7 7 10 1

Ainda considerando a intensidade da dor pela utilização da EN, é possível

recategorizar a intensidade de dor em quatro tipos: 1 a 3 por dor leve; 4 a 6 por dor

moderada; 7 a 9 por dor intensa e 10 por pior dor possível conforme demonstrado na

Figura 1.

6,0%13,2%8,0%

0,3%

9,1%

26,8%

31,4%

5,2%

0,010,020,030,040,050,060,070,080,0

Dor aguda Dor crônica

p<0,01

Pior dor possívelDor intensaDor moderadaDor leve

Figura 1 – Distribuição da classificação de dor dos estudantes de enfermagem por intensidade de dor

atribuídas por meio da EN – (0 a 10). Anápolis-GO, fevereiro a junho de 2009. (n=287).

As principais dores referidas foram de cabeça e face (105; 35,0%) e dores na

coluna (61; 20,3%), o que corrobora com o estudo de Damasceno et al. (2007) no qual a dor

de cabeça foi a principal dor referida por estudantes.

Um dos instrumentos utilizados para avaliação da qualidade da dor é o MPQ

(McGill Pain Questionnary). Pimenta e Teixeira (1996) e Sousa e Silva (2005) afirmam que

este é um dos melhores instrumentos avaliativos da dor. O MPQ foi elaborado a partir de

estudos com a obtenção de 102 palavras para descrever a dor. Estas foram organizadas em

quatro grupos (sensitivo, afetivo, avaliativo e miscelânia) e 20 subgrupos composto por 78

descritores. O grupo sensitivo refere-se às propriedades mecânicas, térmicas, de vividez e

espaciais da dor. O afetivo compreende as dimensões afetivas nos aspectos de tensão,

medo e respostas neurovegetativas. Os descritores do grupo avaliativo permite ao

ANUIC_N13_miolo_marcas.pdf 25 13/4/2010 12:25:19

26 Dor crônica e automedicação autorreferidas em estudantes de um curso de graduação em Enfermagem

Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. XII, Nº. 13, Ano 2009 • p. 17-32

indivíduo avaliar e expressar a experiência de dor. O grupo miscelânia contém descritores

qualitativamente similares, porém com magnitudes diferentes (CHAVES, 2009;

PIMENTA; TEIXEIRA, 1996).

A Tabela 3 expõe descritores representantes de cada subgrupo e que tiveram

maior freqüência na escolha dos estudantes. Independente dos descritores escolhidos é

possível observar que há sempre maior predominância da descrição quando a dor é

crônica.

Tabela 3 – Descritores da qualidade da dor segundo MPQ nos estudantes do curso de enfermagem. Anápolis-GO, fevereiro a junho de 2009. (n=287)

Dor aguda Dor crônica Total Grupo Descritores n % n % n Latejante 44 30,8 99 69,2 143 Pontada 44 27,1 118 72,9 162 Dolorida 29 33,7 57 66,3 86 Fisgada 25 28,4 63 71,6 88 Cólica 20 27,4 53 72,6 73 Fina 17 21,2 63 78,8 80 Agulhada 16 20,5 62 79,5 78 Calor 14 26,4 39 73,6 53 Sensível 14 26,4 39 73,6 53

Sensitivo

Ferroada 15 23,4 49 76,6 64 Cansativa 35 31,0 78 69,0 113 Enjoada 30 24,6 92 75,4 122 Miserável 17 23,9 54 76,1 71 Atormenta 16 22,9 54 77,1 70

Afetivo

Amedrontadora 13 21,3 48 78,7 61 Avaliativo Que incomoda 30 30,6 68 69,4 98

Aperta 22 30,5 50 69,5 72 Aborrecida 17 30,9 38 69,1 55 Penetra 16 27,6 42 72,4 58 Fria 10 20,0 40 80,0 50

Miscelânia

Dá náusea 13 21,3 48 78,7 61

Em um estudo realizado por, Siega et al. (2006), observaram que quanto à

qualidade da dor as palavras mais freqüentemente escolhidas pelos participantes (33% ou

mais) para descrever a dor crônica não oncológica, considerando aquelas contidas no

Questionário de Dor de McGill (MPQ), no agrupamento sensitivo, foram: latejante (59%),

queimação (47%), agulhada (47%), fisgada (41%), formigamento (39%), doída (37%),

pontada (33%), ferroada (31%); no agrupamento afetivo: cansativa (59%), sufocante (51%),

enlouquecedora (41%), enjoada (39%), atormenta (39%), exaustiva (33%) e no

agrupamento avaliativo: insuportável (39%).

Os descritores latejante (50,0% e 48,4%), pontada (45,5% e 33,0%), enjoada (63,6%

e 46,0%), cansativa (45,5% e 36,6%) e que incomoda (40,9% e 39,5%) foram apontadas

como os mais freqüentemente escolhidas para descrever a dor crônica no estudo de

Pereira et al. (2007).

ANUIC_N13_miolo_marcas.pdf 26 13/4/2010 12:25:20

Simone Souza Nascimento, Dayane Furtado de Oliveira 27

Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. XII, Nº. 13, Ano 2009 • p. 17-32

Assim, aponta-se a mensuração da qualidade da experiência dolorosa como

ponto fundamental na avaliação da dor, pois permite compreender a

multidimensionalidade da experiência dolorosa e tornar ampliadas as possibilidades de

sucesso no adequado alívio da dor no pós-operatório de cirurgia cardíaca. Esta

mensuração tem sido sensível a diferentes terapias analgésicas, e eficaz em discriminar

tipos específicos de dor (SOUSA; PEREIRA; HORTENSE, 2009).

A Figura 2 demonstra o prejuízo que a dor causa aos estudantes. O prejuízo foi

mensurado com a utilização de uma escala de copos que tinha como escores: prejuízo

muito pequeno (até 25%), prejuízo moderado (até 50%), prejuízo grande (75%) e prejuízo

total (100%). É importante enfatizar o prejuízo referido pelos estudantes em situações que

podem interferir no desempenho durante a graduação, como capacidade de concentração

referida por 160 (55,7%), avaliações das disciplinas por 77 (26,8%) e relacionamento com

os colegas por 64 (22,3%). Quanto ao prejuízo total, houve referência significativas no que

diz respeito ao humor (7,0%) e sono (4,2%) o que corrobora com resultados de outros

estudos (PEREIRA et al., 2007; TEIXEIRA et al., 2003; PEDROSO; CELICH, 2006).

0 10 20 30 40 50 60 70

Capacidade de concentração

Humor

Participação de atividades sócio-recreativas

Realização atividades diárias

Relações com outras pessoas

Sono

Capacidade de aproveitar a vida

Desenvolvimento de habilidades cognitivas

Desenvolvimento de habilidades psico-motoras

Relacionamento com os co legas

Avaliações das disciplinas

Realização de atividades práticas

Dor leve Dor moderada Dor intensa Pior dor possível Figura 2 – Distribuição do prejuízo da dor nos estudantes de enfermagem.

Anápolis-GO, fevereiro a junho de 2009. (n=287)

Dados relacionados à freqüência com que as situações cotidianas foram

prejudicadas pela dor, no estudo de Pereira et al. (2007) apontou-se o sono, a disposição

para fazer as coisas que gosta, realizar as atividades domésticas e o humor como as

situações mais freqüentemente referidas pelos usuários, entre as 13 investigadas, com 46

(9,48%), 45,0 (9,27%), 43 (8,86%) e 40 (8,24%) escolhas, respectivamente, dentre as 485

escolhas realizadas pelos participantes.

Outros estudos relatam que a dor crônica é uma das principais causas de

incapacidade, levando à exacerbação das manifestações de sintomas como alterações no

ANUIC_N13_miolo_marcas.pdf 27 13/4/2010 12:25:20

28 Dor crônica e automedicação autorreferidas em estudantes de um curso de graduação em Enfermagem

Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. XII, Nº. 13, Ano 2009 • p. 17-32

padrão de sono, apetite e libido, manifestações de irritabilidade, alterações de energia,

diminuição da capacidade de concentração, alterações no sono, humor, auto-estima,

restrições na capacidade para as atividades sexuais, familiares, profissionais e sociais

(TEIXEIRA et al., 2003; PEDROSO; CELICH, 2006).

Para obter o alívio da dor foi observada uma prevalência de 79,8% no uso de

medicamentos, os quais foram distribuídos em classes conforme a Tabela 4. É possível

observar que a maioria das pessoas utilizava analgésicos (57,2%) como principal

medicamento para alívio da dor, o que corrobora com os resultados do estudo de

Cerqueira et al. (2005). No estudo de Damasceno et al. (2007) a incidência de

automedicação por acadêmicos do curso de Enfermagem 91,2%, justificada pelo fato de

usarem os conhecimentos adquiridos durante a graduação.

Os estudantes com dor crônica utilizam mais analgésicos e AINES que aqueles

com dor aguda (p=0,03) conforme mostra a Tabela 4. Os medicamentos mais utilizados,

sejam isolados ou em associação, foram a dipirona, o paracetamol, diclofenaco e ácido

acetil salicílico. Estes resultados são compatíveis aos do estudo realizado com estudantes

universitários de enfermagem, farmácia e odontologia e por Damasceno et al. (2007).

A categoria outros inclui medicamentos citados que foram de menor ocorrência,

como protetores gástricos, opióides, anti-espasmódicos, relaxantes musculares,

contraceptivos, laxantes, e anti-depressivos e ansiolíticos, provavelmente utilizados em

concomitância aos analgésicos na tentativa de potencializar o efeito terapêutico do

mesmo.

Tabela 4 – Classe de medicamentos utilizados para o alívio da dor conforme caracterização da dor nos estudantes de enfermagem. Anápolis-GO, fevereiro a junho de 2009. (n=229)

Medicamentos utilizados Analg. AINE Analg. + AINE Outros X²

Classificação da dor

n % n % n % n % P Dor aguda 42 18,3 4 1,8 5 2,2 8 3,5 0,03 Dor crônica 89 38,9 32 14,0 15 6,5 34 14,8 Total 131 57,2 36 15,8 20 8,7 42 18,3

Legenda: Analg. = analgésicos; AINE: Anti-inflamatório não-esteróide.

No Brasil, estudos mostraram que 54% das drogas utilizadas na automedicação

para a dor eram analgésicos, sendo eles: dipirona (17,8%), ácido acetilsalicílico (12,1%),

ácido acetilsalicílico em associação (8%), paracetamol (5,3%), dipirona em associação

(3,3%) e outros analgésicos (8,3%) (14). A dipirona também foi uma das drogas mais

utilizadas (7,1%) entre os analgésicos (17,3%) em perfil epidemiológico da automedicação

no referido país (ARRAIS et al., 1997). Entre universitários, no Estado de Minas Gerais

ANUIC_N13_miolo_marcas.pdf 28 13/4/2010 12:25:20

Simone Souza Nascimento, Dayane Furtado de Oliveira 29

Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. XII, Nº. 13, Ano 2009 • p. 17-32

constatou-se que 89,9% dos estudantes da área da saúde já haviam se automedicado com

analgésicos (PENNA et al., 2004).

Dos 229 (79,8%) que utilizam algum tipo de medicamento para alívio da dor, 70

(30,6%) referem automedicação, conforme demonstrado na Figura 3. A prática de

automedicação entre estudantes de enfermagem e demais cursos da área da saúde é uma

variável crescente, pois independente do quanto o indivíduo saiba sobre farmacologia, o

simples fato de conhecer a indicação do medicamento o faz usar sem necessidade de

prescrição médica, independente dos efeitos adversos que possam resultar da prática.

Esta prática deve ser extinta dentre os profissionais da área da saúde uma vez

que cabe a estes a orientação para a redução dessa prática e, consequentemente, para a

diminuição dos agravos na saúde dos que se automedicam, ratificando o que foi descrito

por Damasceno et al. (2007).

13,6%

8,7%

1,3%

44,5%

1,3%

30,6%

Médico para queixa atual

Farmacêutico

Alguém da família

Amigo

Você mesmo apósinformar-seMédico em outra ocasiãosemelhante

Figura 3 – Indicação da medicação utilizada pelos estudantes de enfermagem que referiram tratamento medicamentoso para o alívio da dor. Anápolis-GO, fevereiro a junho de 2009. (n=229)

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A dor foi prevalente em 287 (95,7%) estudantes, dos quais 208 (72,5%) foram classificados

como dor crônica. Para obter o alívio da dor foi observada uma prevalência de 229 (79,8%)

com uso de medicamentos, dos quais 70 (30,6%) referem automedicação. Quanto ao

prejuízo muito pequeno, moderado, total e grande, observou-se maiores freqüências em

níveis de prejuízo, humor, sono, capacidade de concentração e realização de atividades

práticas.

A dor é um fenômeno universal, sua percepção é subjetiva e individual e a

cronicidade dessa experiência caracteriza-se por presença constante e intermitente,

associada à duração prolongada. O estudo identificou que há maior prevalência de dor

crônica na população acadêmica. A intensidade da dor variou de leve a pior dor possível,

ANUIC_N13_miolo_marcas.pdf 29 13/4/2010 12:25:20

30 Dor crônica e automedicação autorreferidas em estudantes de um curso de graduação em Enfermagem

Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. XII, Nº. 13, Ano 2009 • p. 17-32

com predominância de dor intensa tanto na dor aguda quanto na crônica. A dor é

relacionada a prejuízos no desenvolvimento de atividades cotidianas e acadêmicas, o que,

ainda, favorece a prática da automedicação.

Os resultados encontrados permitem inferir que a dor diminui a qualidade de

vida de causa prejuízos na vida acadêmica, e pode ainda ser um fator que diminua a

eficácia da assistência de enfermagem junto ao cliente.

PARECER DE APROVAÇÃO DE COMITÊ

Pesquisa autorizada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Anhanguera Educacional S/A –

(CEUA ou CEP)/AESA - aprovado por meio do parecer: 006/2009.

REFERÊNCIAS

ALVES, T. C. A.; AZEVEDO, G. S.; CARVALHO, E. S. Pharmacological treatment of trigeminal neuralgia: systematic review and metanalysis. Rev. Bras. Anestesiol, v.54, n.6, p.836-849, 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-70942004000600015&lng=en&nrm=iso>. DOI: 10.1590/S0034-70942004000600015.

ARRAIS, P. S. D. et al. Perfil da automedicação no Brasil. Rev. Saúde Pública, v.31, n.1, p. 71-77. ISSN 0034-8910. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rsp/ v31n1/2212.pdf>. Acesso em: 31 jul. 2009.

BAGGIO, M. A.; FORMAGGIO, F. M. Automedicação: desvelando o descuidado de si dos profissionais de enfermagem. Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 224-228, abr/jun, 2009. Disponível em: <http://www.facenf.uerj.br/v17n2/v17n2a15.pdf>. Acesso em: 07 nov. 2009.

BLYTH, F. M. et al. Chronic pain in Australia: a prevalence study. Pain Jan, v.89, p.127-134, 2001.

CASTRO M. et al. Prevalência de ansiedade, depressão e características clínico-epidemiológicas em pacientes com dor crônica. Revista Baiana de Saúde Publica, v. 30, n. 2, p. 211-223, 2006.

CERQUEIRA G. S. et al. Perfil da automedicação em acadêmicos de enfermagem na cidade de João Pessoa. Conceitos, jul 2004/jul 2005, p.123-126. Disponível em: <http://www.adufpb.org.br/publica/conceitos/11/art17.pdf>. Acesso em: 31 jul. 2009.

CHAVES, L. D. Dor como 5º sinal vital. In: ALVES NETO, O. et al. Rev. DOR. Porto Alegre: Artmed, 2009. p.109-114.

DAMASCENO, D. D. et al. Automedicação entre graduandos de enfermagem, farmácia e odontologia da Universidade Federal de Alfenas. REME – Rev. Min. Enf., v. 11, n. 1, p. 48-52, jan/mar, 2007. ISSN 1415-2762. Disponível em: <http://www.revenf.bvs.br/pdf/reme/v11n1/ v11n1a08.pdf>. Acesso em: 31 jul. 2009.

ELLIOTT, A. M. et al. The epidemiology of chronic pain in the community. Lancet.; v. 354, n. 9186, p. 1248-1252, 1999.

HAAK, H. Padrões de consumo de medicamentos em dois povoados da Bahia (Brasil). Rev. Saúde Pública, v. 23, n. 2, p. 143-51, 1989.

HORTENSE, P.; ZAMBRANO, E.; SOUSA, F. A. E. F. Validação da escala de razão dos diferentes tipos de dor. Rev. Latino-Am. Enfermagem, v. 16, n.4, jul-ago, 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rlae/v16n4/pt_11.pdf>. Acesso em: 01 ago. 2009.

ANUIC_N13_miolo_marcas.pdf 30 13/4/2010 12:25:20

Simone Souza Nascimento, Dayane Furtado de Oliveira 31

Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. XII, Nº. 13, Ano 2009 • p. 17-32

IASP. International Association for Study of Pain. Concensus development conference statement: the integrated aproach to the management of pain. J Accid Emerg Med., v .6, n. 3, 1994 (document number – 491-292).

KAMAT, V. R. et al. Pharmacies, self-medication and pharmaceutical marketing in Bombay, India. Soc. Sci. Méd, v. 47, n.6, p.779-94, 1998.

KRELING, M. G. D. Prevalência de dor crônica em adultos trabalhadores. São Paulo, 2000. Dissertação (mestrado em Enfermagem Fundamental) Escola de Enfermagem. Universidade de São Paulo.

KURITA, G. P.; PIMENTA, C. A. de M. Adesão ao tratamento da dor crônica e o locus de controle da saúde. Rev. esc. enferm. USP, v. 38, n. 3, p. 254-261, 2004. ISSN 0080-6234. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v38n3/03.pdf>. Acesso em: 31 jul. 2009.

MELO, A. de; LUDWIG, M. L. M. A prática da Automedicação entre acadêmicos de enfermagem. In: 56º Congresso Brasileiro de Enfermagem, Livro-temas IBSN 85-87582-23-2, Gramado, 2004.

MOREIRA JR, E. D.; SOUZA, M. C. Epidemiologia da dor crônica e dor neuropática: desenvolvimento de questionário para inquéritos populacionais. RBM - Revista Brasileira de Medicina, v. 60, p. 610-615, 2003.

MUSIAL, D. C.; DUTRA, J. S.; BECKER, T. C. A. A Automedicação entre os brasileiros. SaBios-Rev. Saúde e Biologia, v. 2, n. 2, jul/dez, 2007, ISSN:1980-0002. Disponível em: <http://revista.grupointegrado.br/revista/index.php/sabios2/article/view/85>. Acesso em: 31 jul. 2009.

NANDA. (Org.). Diagnósticos de enfermagem da NANDA: definições e classificação 2007-2008. Trad. Jeanne Liliane Marlene Michel. Porto Alegre: Artmed, 2008.

NASCIMENTO, M. C. Medicamentos ou apoio à saúde? Rio de Janeiro: Vieira e Lent; 2003.

PEDROSO, R. A.; CELICH, K. L. S. DOR: quinto sinal vital, um desafio para o cuidar em Enfermagem. Texto & contexto enferm., v. 15, n. 2, p. 270-276, abr-jun, 2006. Disponível em: <http://148.215.1.166:89/redalyc/pdf/714/71415211.pdf>. Acesso em: 01 ago. 2009.

PENNA A. B. et al. Análise da Prática da Automedicação em Universitários do Campus Magnus-UNIPAC-Barbacena, MG. Anais do 2º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária, set, 2004.

PEREIRA, L. V. et al. Dor crônica: prevalência, mensuração e impacto nas atividades laborais de servidores federais In: IV Congresso de Pesquisa, ensino e extensão - Anais IV CONPEEX, Goiânia, 2007.

PIMENTA, C. A. M.; TEIXEIRA, M. J. Questionário de dor McGill: proposta de adaptação para a língua portuguesa. Revista Escola Enfermagem USP, v. 30, n. 3, p. 473-483, 1996. Disponível em: <http://www.ee.usp.br/reeusp/upload/pdf/361.pdf>. Acesso em: 31 jul. 2009.

SIEGA, M. R. A. et al. Dor crônica: localização, intensidade, qualidade e impacto nas atividades diárias de usuários de uma clínica de dor. In: Anais X Jornada de Iniciação Científica da UFTM, 2006.

SILVA, M. J. P.; LEÃO, E. R. Práticas Complementares no alívio da dor. In: Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor. Dor 5º Sinal Vital: Reflexões e Intervenções de Enfermagem. 1. ed. Curitiba (PR): Maio; 2004.

SOUSA, F.A.E.F; PEREIRA, L. V.; HORTENSE, P. Avaliação e mensuração da percepção da dor. In: ALVES NETO, O et al. Dor: princípios e prática. Porto Alegre: Artmed, 2009.

SOUSA, F.A.E.F.; SILVA, J. A. da. A métrica da dor (dormetria): problemas teóricos e metodológicos. Rev. DOR, v. 6, n. 1, p. 469-513, jan/fev/mar, 2005. ISSN 1806-0013. Disponível em: <http://www.dor.org.br/revistador/Dor/2005/volume_6/n%C3%BAmero _1/f-.htm>. Acesso em: 01 ago. 2009.

TEIXEIRA, M. J. Fisiopatologia da dor. In: ALVES NETO, O. et al. Rev. DOR. Porto Alegre: Artmed, 2009. p.145.

TEIXEIRA, M. J. et al. Dor - contexto interdisciplinar. Curitiba: Maio, 2003; 804 p.

TEIXEIRA, M. J. et al. Epidemiologia clínica da dor. Revista Medicina, v. 78, n. 2, p. 36-52, 1999.

ANUIC_N13_miolo_marcas.pdf 31 13/4/2010 12:25:20

32 Dor crônica e automedicação autorreferidas em estudantes de um curso de graduação em Enfermagem

Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. XII, Nº. 13, Ano 2009 • p. 17-32

VIDEMANT T. et al. Low Back Pain Among Nurses: A Follow-up Beginning at Entry to the Nursing School. Spine Oct, v. 30, n. 20, p. 2334-2341, 2005.

YENG, L.T.; TEIXEIRA, M. J. Tratamento multidisciplinar dos doentes com dor crônica. Prática Hospitalar, v. 35, p. 21- 24, 2004.

YENG, L. T. et al. Medicina Física e Reabilitação em Doentes com Dor Crônica. In: Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor. Dor: Contexto Interdisciplinar. 1. ed. Curitiba (PR): Maio; 2003.

ANUIC_N13_miolo_marcas.pdf 32 13/4/2010 12:25:20