diretrizes sobre dor pÉlvica crÔnica

24
1 DIRETRIZES SOBRE DOR PÉLVICA CRÔNICA (atualização limitada do texto em abril 2010) M. Fall (presidente), A. P. Baranowski, D. Engeler, S. Elneil, J. Hughes, E. J. Messelink, F. Oberpenning, A.C. de C. Williams Eur Urol 2004;46(6):681-9 Eur Urol 2010;57(1):35-48 Diagnóstico e classificação da DPC A dor crônica (ou persistente) é aquela que ocorre há pelo menos três meses. Está associada a alterações no sistema nervoso central (SNC), que pode manter a percepção de dor na ausência de lesão aguda. Estas alterações também podem magnificar a percepção de maneira que estímulos não dolorosos são percebidos como dolorosos (alodínea) e os estímulos dolorosos se tornem mais intensos do que o esperado (hiperalgesia). Os músculos principais, por exemplo, os músculos do assoalho pélvico, podem se tornar hiperalgésicos com múltiplos pontos de gatilho desencadeantes. Outros órgãos também podem se tornar sensíveis, por exemplo, o útero com dispareunia e dismenorréia, ou o intestino com sintomas de cólon irritável. As alterações no SNC ocorrem em todo o neuroeixo e as alterações sensoriais resultam tanto de alterações funcionais (por exemplo, sintomas de intestino irritável) como de alterações estruturais (por exemplo, edema neurogênico em alguns pacientes com síndrome de dor vesical). As alterações centrais também podem ser responsáveis por algumas conseqüências psicológicas que por si mesmas também modificam os mecanismos de dor. São realizadas investigações básicas para excluir “patologias bem definidas”. Os resultados negativos significam que é improvável a presença de uma patologia “bem definida”. Quaisquer investigações adicionais são realizadas apenas para indicações específicas, por exemplo, subdivisão de uma síndrome dolorosa. As diretrizes da EAU evitam termos diagnósticos inadequados, que estão associados a investigações inapropriadas, tratamentos e expectativas dos pacientes errôneos e em última instância, uma pior perspectiva de prognóstico.

Upload: others

Post on 15-Jul-2022

4 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: DIRETRIZES SOBRE DOR PÉLVICA CRÔNICA

1

DIRETRIZES SOBRE DOR PÉLVICA CRÔNICA

(atualização limitada do texto em abril 2010)

M. Fall (presidente), A. P. Baranowski, D. Engeler, S. Elneil, J. Hughes, E. J.

Messelink, F. Oberpenning, A.C. de C. Williams

Eur Urol 2004;46(6):681-9

Eur Urol 2010;57(1):35-48

Diagnóstico e classificação da DPC

A dor crônica (ou persistente) é aquela que ocorre há pelo menos três meses.

Está associada a alterações no sistema nervoso central (SNC), que pode

manter a percepção de dor na ausência de lesão aguda. Estas alterações

também podem magnificar a percepção de maneira que estímulos não

dolorosos são percebidos como dolorosos (alodínea) e os estímulos dolorosos

se tornem mais intensos do que o esperado (hiperalgesia). Os músculos

principais, por exemplo, os músculos do assoalho pélvico, podem se tornar

hiperalgésicos com múltiplos pontos de gatilho desencadeantes. Outros órgãos

também podem se tornar sensíveis, por exemplo, o útero com dispareunia e

dismenorréia, ou o intestino com sintomas de cólon irritável.

As alterações no SNC ocorrem em todo o neuroeixo e as alterações sensoriais

resultam tanto de alterações funcionais (por exemplo, sintomas de intestino

irritável) como de alterações estruturais (por exemplo, edema neurogênico em

alguns pacientes com síndrome de dor vesical). As alterações centrais também

podem ser responsáveis por algumas conseqüências psicológicas que por si

mesmas também modificam os mecanismos de dor.

São realizadas investigações básicas para excluir “patologias bem definidas”.

Os resultados negativos significam que é improvável a presença de uma

patologia “bem definida”. Quaisquer investigações adicionais são realizadas

apenas para indicações específicas, por exemplo, subdivisão de uma síndrome

dolorosa. As diretrizes da EAU evitam termos diagnósticos inadequados, que

estão associados a investigações inapropriadas, tratamentos e expectativas

dos pacientes errôneos e em última instância, uma pior perspectiva de

prognóstico.

Page 2: DIRETRIZES SOBRE DOR PÉLVICA CRÔNICA

2

A classificação na Tabela 1 enfoca as síndromes urológicas dolorosas. Ela

reconhece a sobreposição de mecanismos e sintomas entre as diferentes

condições e seus tratamentos através de uma abordagem multidisciplinar. Um

médico utilizando a Tabela 1 deve iniciar pelo lado esquerdo da tabela e

proceder para a direita apenas se puder confirmar de forma confiável que a dor

foi percebida no sistema e órgão apropriados. Geralmente pode ser impossível

definir uma condição além da “síndrome de dor pélvica”. A tabela 2 define a

terminologia utilizada na dor pélvica crônica (DPC).

A Figura 1 fornece um algoritmo para o diagnóstico e tratamento da DPC. Siga

as etapas 1 a 6 ( Tabela 3) baseando-se nas colunas corretas do algoritmo (

Figura 1).

Tabela 1: Classificação das síndromes de dor pélvic a crônica

Região do Eixo 1 Sistema do

Eixo II

Eixo III

Órgão alvo com síndrome de dor

identificado pela história, exame

físico e exames laboratoriais

Dor

pélvica

crônica

Síndrome

de dor

pélvica

Urológica Síndrome de dor vesical

(ver na Tabela 5 classificação ESSIC)

Síndrome de dor uretral

Síndrome

de dor

prostática

Tipo A inflamatória

Tipo B não inflamatória

Síndrome

de dor

escrotal

Síndrome de dor

testicular

Síndrome de dor

epididimária

Síndrome de dor após

vasectomia

Síndrome de dor peniana

Ginecológica Endometriose associada a síndrome

dolorosa

Síndrome de dor vaginal

Page 3: DIRETRIZES SOBRE DOR PÉLVICA CRÔNICA

3

Síndrome

de dor

vulvar

Síndrome de dor vulvar

generalizada

Síndrome

de dor

vulvar

localizada

Síndrome

de dor

vestibular

Síndrome

de dor

clitoriana

Anorretal

Neurológica p.ex

Síndrome

de dor

pudenda

Muscular

Síndrome

de dor não

pélvica

p.ex.

neurológica

p.ex.

neuralgia

do pudendo

p.ex.

urológica

Eixo IV

Característica

s da dor

referida

Eixo V

Característi

cas

temporais

Eixo VI

Caráter

Eixo VII

Sintomas

associados

Eixo VIII

Sintomas

psicológicos

Suprapúbica

Inguinal

Uretral

Peniana/clitori

ana

Perineal

Retal

Lombar

Nádegas

INÍCIO

Aguda

Crônica

DURAÇÃO

Esporádica

Cíclica

Contínua

OCASIÃO

Enchimento

Peso

Queimaç

ão

Pontada

Elétrica

Outras

URINÁRIOS

Frequência

Noctúria

Hesitação

Baixo fluxo

Pis en deux

Urgência

Incontinência

Outro

ANSIEDADE

Sobre a dor ou a

possível causa

da dor

Outros

DEPRESSÃO

Atribuída a dor/

impacto da dor

Page 4: DIRETRIZES SOBRE DOR PÉLVICA CRÔNICA

4

Esvaziament

o

Imediata

Após

Tardia após

PROVOCAD

A

GINECOLÓGIC

OS

p.ex. menstrual

SEXUAIS

p.ex.

dispareunia

feminina

Impotência

Gastrointestinal

MUSCULARES

Hiperalgesia

CUTÂNEOS

Alodínea

Atribuida a

outras causas ou

não atribuida

VERGONHA/CU

LPA relacionada

a experiência

sexual exposta

ou oculta

SINTOMAS DE

SÍNDROME DE

ESTRESSE

PÓS-

TRAUMÁTICO

Re-experiência

Negação

Hiperexcitação

Tabela 2: Definição da terminologia da dor pélvica crônica

Terminologia Descrição

Dor pélvica crônica Dor não maligna percebida em estruturas relacionadas a

pelve tanto em homens como em mulheres. No caso de

dor nociceptiva documentada que se torna crônica, a dor

deve ser contínua ou recidivante por pelo menos 6

meses. Se os mecanismos sensibilizantes centrais, não

agudos, forem bem documentados, a dor deve ser

considerada crônica, independentemente do período de

tempo. Em todos os casos, em geral estão associadas

consequências negativas cognitivas comportamentais,

sexuais e emocionais.

Síndrome da dor Episódios de dor pélvica recidivantes ou persistentes com

Page 5: DIRETRIZES SOBRE DOR PÉLVICA CRÔNICA

5

pélvica sintomas que sugerem disfunção do trato urinário inferior,

sexuais, intestinais ou ginecológicas. Não há infecção ou

outra patologia evidente comprovada (adotado do

relatório de 2002 da ICS).

Síndrome de dor

vesical

A dor suprapúbica está relacionada ao enchimento

vesical, acompanhada de outros sintomas como aumento

da freqüência urinária diurna ou noturna. Não há infecção

urinária comprovada ou outra patologia evidente. Este

termo foi adotado no relatório de 2002 da ICS, quando foi

utilizado o termo síndrome da bexiga dolorosa; o nome

foi alterado para síndrome de dor vesical para adequar-se

a terminologia utilizada em outras síndromes de dor. A

publicação da European Society for the Study of IC/PBS

(ESSIC) – Sociedade Européia para o Estudo da Cistite

Intersticial /Síndrome da Dor Vesical- dá grande ênfase

se a dor for percebida na bexiga.

Síndrome de dor

uretral

Dor uretral episódica recidivante, geralmente durante a

micção, com polaciúria e noctúria. Ausência de infecção

ou outra patologia evidente comprovada.

Síndrome de dor

peniana

Dor no pênis que não está primariamente localizada na

uretra. Ausência de infecção ou outra patologia evidente

comprovada

Síndrome de dor

prostática

Episódios recidivantes ou persistentes de dor prostática

associada a sintomas sugestivos de disfunção do trato

urinário e/ou disfunção sexual. Ausência de infecção ou

outra patologia comprovada. A definição do consenso e a

classificação de prostatite adaptada do National Institutes

of Health (NIH) – Institutos Nacionais de Saúde -inclui as

condições descritas como “síndrome da dor pélvica

crônica”. Utilizando o sistema de classificação do NIH, a

síndrome de dor na próstata pode ser subdividida em tipo

A (inflamatória) e tipo B (não inflamatória).

Síndrome de dor Dor persistente ou episódios recidivantes de dor escrotal

Page 6: DIRETRIZES SOBRE DOR PÉLVICA CRÔNICA

6

escrotal associada a sintomas sugestivos de disfunção do trato

urinário ou disfunção sexual. Sem orquiepididimite ou

outra patologia evidente comprovada.

Síndrome de dor

testicular

Dor episódica persistente ou recidivante de dor

localizada nos testículos ao exame, associada a sintomas

sugestivos de disfunção urinária ou disfunção sexual.

Sem orquiepididimite ou outra patologia evidente

comprovada. É uma definição mais específica do que a

síndrome de dor escrotal

Síndrome de dor

pós –vasectomia

Síndrome de dor escrotal que ocorre após vasectomia

Síndrome de dor

epididimária

Dor persistente ou episódios recidivantes de dor

localizada no epidídimo ao exame. Associada a sintomas

sugestivos de disfunção do trato urinário ou disfunção

sexual. Sem orquiepididimite ou outra patologia evidente

comprovada (uma definição mais específica do que a

síndrome de dor escrotal).

Síndrome de dor

associada a

endometriose

Dor crônica ou recorrente pélvica na presença de

endometriose, porém esta não explica completamente os

sintomas.

Síndrome de dor

vaginal

Dor persistente ou episódios recidivantes de dor vaginal

associada a sintomas sugestivos de disfunção do trato

urinário ou disfunção sexual. Sem infecção vaginal ou

outra patologia evidente comprovada.

Síndrome de dor

vulvar

Dor persistente ou episódios recidivantes de dor vulvar,

relacionada a micção ou sintomas sugestivos de

disfunção do trato urinário ou disfunção sexual. Não há

infecção ou outra patologia evidente comprovada.

Síndrome de dor

vulvar generalizada

Ardor ou dor vulvar que não pode ser localizada

consistentemente e adequadamente em um local

(antigamente mapeamento de pressão através da

aplicação de um cotonete ou vulvodinea incaracterística).

O vestíbulo vulvar pode estar envolvido porém o

Page 7: DIRETRIZES SOBRE DOR PÉLVICA CRÔNICA

7

desconforto não é limitado ao vestíbulo. Clinicamente a

dor pode ocorrer com ou sem desencadeantes (toque,

pressão ou fricção).

Síndrome de dor

vulvar localizada

Dor consistentemente e adequadamente localizada pelo

mapeamento por pressão em um ou mais pontos da

vulva. Clinicamente, a dor geralmente ocorre como

resultado de um desencadeante (toque, pressão ou

fricção)

Síndrome de dor

vestibular

Dor localizada por mapeamento de pressão em uma ou

mais porções da vulva-vestibulo (antigamente vestibulite

vulvar) .

Síndrome de dor

clitoridiana

Dor localizada no clitóris pelo mapeamento de pressão

Síndrome de dor

anorretal

Dor persistente ou episódios recidivantes de dor retal,

com pontos desencadeantes retais/dolorimentos

relacionados a sintomas de disfunção intestinal. Não há

infecção ou outra patologia evidente comprovada.

Síndrome de dor

pudenda

Dor do tipo neuropática que surge na região do nervo

pudendo com sintomas e sinais de disfunção retal, do

trato urinário ou sexual. Sem patologia evidente

comprovada (Não é a mesma condição definida como

neuralgia do pudendo)

Síndrome de dor

perineal

Dor perineal persistente ou episódios recidivantes de dor,

relacionada a micção ou a sintomas sugestivos de

disfunção do trato urinário ou disfunção sexual. Não há

infecção ou outra patologia evidente comprovada.

Síndrome de dor

da musculatura do

assoalho pélvico

Dor persistente ou episódios recidivantes de dor no

assoalho pélvico com pontos-gatilho desencadeantes,

que está relacionada a micção ou a sintomas sugestivos

de disfunção do trato urinário, intestinal ou disfunção

sexual. Não há infecção ou outra patologia evidente

comprovada.

Page 8: DIRETRIZES SOBRE DOR PÉLVICA CRÔNICA

8

Figura 1: Algoritmo para diagnóstico e tratamento d e DPC

Dor pélvica crônica

Urológica Cistite

Prostatite

Uretrite

Epididimit

e

Tratar de acordo com as

diretrizes

As ações adicionais que

devem ser tomadas quando

este tratamento falha baseiam-

se na localização da dor

Se o

tratame

nto da

patologi

a

encontr

ada não

for

eficaz

ou

Se não

for

encontr

ada

patologi

a

Encamin

har para

o grupo

de dor

Outras

dores

localizada

s em:

Bexiga→cistoscopia/biópsia

próstata→USTR/PSA

Uretra→uretroscopia

Escroto→US

Todos os casos→palpação

MAP

Ginecológi

ca

Endometri

ose

Tratar de acordo com as

diretrizes

As ações adicionais que

devem ser tomadas quando

este tratamento falha baseiam-

se na localização da dor

Outras

dores

localizada

s em:

Abdome→histeroscopia/laparo

scopia/US vaginal

Vulva→exame interno

Vagina→inspeção/exame de

toque

Todos os casos→palpação

MAP

Anorretal Proctite

Fissur

anal

Tratar de acordo com as

diretrizes

As ações adicionais que

Se o

tratame

nto da

Page 9: DIRETRIZES SOBRE DOR PÉLVICA CRÔNICA

9

Hemorróid

as

devem ser tomadas quando

este tratamento falha são

baseadas na localização da

dor

patologi

a

encontr

ada não

for

eficaz

ou

Se não

for

encontr

ada

patologi

a

Encamin

har para

o grupo

de dor

Outras

dores

localizada

s em:

Reto→endoscopia/TR

ânus→US endo-anal/TR

todos os casos→palpação

MAP

Neuromusc

ular

Neuropati

a do

pudendo

Patologia

da medula

espinhal

sacral

Tratar de acordo com as

diretrizes

As ações adicionais que

devem ser tomadas quando

este tratamento falha baseiam-

se na localização da dor

Outras

dores

localizada

s em:

Assoalho pélvico→palpação

Abdominal→palpação

Períneo→US

Outros locais→exames

neurofisiológicos

Todos os casos→procurar

pontos desencadeantes

Outros

Equipe de dor

Básica: anestesista especializado em

tratamento da dor, especialista de

enfermagem

Adicional: psicólogo, sexólogo

Encamin

har para

o grupo

de dor

TR= toque retal; US=ultrassom; MAP=músculos do assoalho pélvico

Tabela 3:Guia para utilização do algoritmo da Figur a 1 para o diagnóstico

e tratamento de DPC

Etapa Ação Algoritmo

Page 10: DIRETRIZES SOBRE DOR PÉLVICA CRÔNICA

10

1 Iniciar considerando o sistema de órgãos onde os

sintomas parecem ser percebidos inicialmente

Primeira coluna

2 Condições “bem definidas” como cistites devem

ser diagnosticadas e tratadas de acordo com as

diretrizes nacionais ou internacionais

Segunda coluna e

porção superior

da terceira coluna

3 Quando o tratamento não teve efeito sobre a dor,

devem ser realizados exames adicionais (p.ex

cistoscopia ou ultrassom)

Porção inferior da

terceira coluna

4 Quando estes exames revelarem uma patologia,

esta deve ser tratada apropriadamente

Quarta coluna

5 Quando o tratamento não teve efeito, o paciente

deve ser encaminhado para o grupo de dor

Quinta coluna

6 Se não houver presença de nenhuma condição

bem definida, ou quando não é encontrada

nenhuma patologia pelos exames adicionais, o

paciente também deve ser encaminhado para o

grupo de dor.

Quinta coluna

Síndrome de dor prostática (SDP)

Com base em uma definição mais geral (ver tabela 2), o termo síndrome de

dor prostática (SDP) é utilizado em substituição ao termo prostatite/síndrome

de dor pélvica crônica do “Institute of Diabetes and Digestive and Kidney

Diseases (NIDDK)”. A SDP corresponde ao desconforto persistente ou dor na

região pélvica com amostras de culturas estéreis e contagem de leucócitos

significativa ou não significativa em amostras especificamente relacionadas a

próstata (isto é, sêmen, secreção colhida após expressão da próstata e urina

coletada após massagem prostática). Como não há diagnóstico clinicamente

relevante ou conseqüências terapêuticas distintas em relação a diferenciação

entre os subtipos inflamatório e não inflamatório, a SDP pode ser conbsiderada

como uma entidade única.

O diagnóstico é baseado em uma história de três meses de dor geniturinária e

ausência de patologias do trato urinário inferior. Pode ser confirmado de forma

eficaz do ponto de vista dos custos pelo teste de duas amostras ou teste pré e

Page 11: DIRETRIZES SOBRE DOR PÉLVICA CRÔNICA

11

pós –massagem prostática (TPPM), que identifica com precisão 96% dos

pacientes.

O tratamento em geral é anedótico, tendo em vista a etiologia desconhecida da

SDP. A maioria dos pacientes necessita de tratamento multimodal visando os

principais sintomas e considerando as co-morbidades. Os resultados recentes

de estudos controlados randomizados levaram a alguns avanços na

compreensão das diferentes opções de tratamento (Tabela 4).

Síndrome de dor vesical/cistite intersticial (SDV/ CI)

Este espectro heterogêneo de doenças ainda é mal definido. A inflamação é

uma característica importante apenas em um subgrupo de pacientes. A SDV

refere-se a dor percebida na região da bexiga e CI refere-se a um tipo especial

de inflamação crônica da bexiga.

Tabela 4: Tratamento da síndrome de dor prostática (SDP)

Drogas NE GR Comentário

Αlfa-bloqueadores - - Não são eficazes, de acordo

com estudo controlado

randomizado recente

Tratamento antimicrobianao 3 B Administrar quinolonas apenas

se não tiver sido realizado

tratamento antibiótico prévio;

reavaliar após 2-3 semanas;

duração 4-6 semanas

Opióides 3 C Como parte do tratamento

multimodal para tratamento de

dor refratária em colaboração

com o grupo de dor

Drogas antiinflamatórias não

esteróides

1b B Os efeitos colaterais a longo

prazo devem ser considerados

Inibidores de 5α –redutase 1b3 B Na presença de hiperplasia

prostática benigna

Fitoterápicos 1b B

Page 12: DIRETRIZES SOBRE DOR PÉLVICA CRÔNICA

12

Biofeedback, exercícios de

relaxamenrto, alterações do estilo

de vida, tratamento com

massagem, tratamento com

quiroprático, acupuntura e

meditação

2a -

3

B Como tratamentos de segunda

linha e suporte

NE= nível de evidência; GR= grau de recomendação; NIH-CPSI= índice de

sintomas de prostatite do NIH

Uma grande variedade de critérios diagnósticos tem sido utilizada devido a

dificuldade em estabelecer definições distintas, como os critérios propostos no

consenso do NIDDKK no final dos anos de 1980. A European Society for the

Study of IC/PBS (ESSIC) – Sociedade Européia para o Estudo da Cistite

Intersticial/Síndrome da Dor Vesical - sugeriu recentemente critérios

diagnósticos padronizados para tornar mais fácil a comparação entre os

diferentes estudos. Sugere-se que a SDV deva ser diagnosticada com base na

dor percebida na bexiga urinária, acompanhada de pelo menos um outro

sintoma, como polaciúria diurna e/ou noctúria. As doenças que possam

confundir devem ser excluídas como causas dos sintomas. A cistoscopia com

hidrodistensâo e biópsia pode ser indicada (Tabela 5).

Tabela 5: Classificação da SDV da ESSIC baseada na cistoscopia com

hidrodistensão e biópsia

Cistoscopia com hidrodistensão

Biópsia Não

realizada

Normal Glomerulações

(grau 2-3)

Lesões de

Hunner com ou

sem

glomerulações

• Não realizada XX 1X 2X 3X

• Normal XA 1 A 2A 3 A

• Inconclusiva XB 1 B 2B 3B

• Positiva* XC 1C 2C 3C

*Histologia mostrando infiltrados inflamatórios e/ou mastocitose no detrusor

Page 13: DIRETRIZES SOBRE DOR PÉLVICA CRÔNICA

13

e/ou tecido de granulação e/ou fibrose intrafascicular

O diagnóstico é realizado baseando-se nos sintomas, exame físico, exame de

urina e cistoscopia com hidrodistensão e biópsia (Figura 2). Os pacientes

apresentam dor característica e aumento da frequência urinária, que algumas

vezes é grave e sempre inclui noctúria. A dor é o sintoma principal. Ela está

relacionada com o grau de enchimento vesical, tipicamente aumentando

conforme aumenta o conteúdo da bexiga e é localizada na região suprapúbica,

algumas vezes irradiada para a região inguinal, vagina, reto ou sacro. Apesar

da dor ser aliviada pela micção, ela logo retorna.

As duas principais entidades, doença clássica ( de Hunner ) e doença não

ulcerada, mostram apresentações clínicas e distribuição de idade distintas .

Os dois tipos respondem diferentemente ao tratamento e apresentam

diferentes características histopatológicas, imunológicas e neurobiológicas. As

recomendações para o tratamento da SDV/CI estão listadas nas Tabelas 6 e 7.

Tabela 6: Tratamento clínico de SDV/CI

Droga NE GR Comentário

Analgésicos 2b C Limitados a casos que estão aguardando

outros tratamentos

Hidroxizine 1b A Tratamento padrão, mesmo com eficácia

limitada demonstradas em estudos

controlados randomizados (ECR)

Amitriptilina 1 b A Tratamento padrão

Pentosanpolisulfato

sódico (PPS)

1a A Tratamento padrão; dados contraditórios

Ciclosporina A 1b A ECRs mostraram superioridade em relação

ao PPS, mas com mais efeitos colaterais

NE= nível de evidência; GR= grau de recomendação; ECR= estudo clínico

controlado randomizado; CI= cistite intersticial; PPS= pentosanpolisulfato

sódico

Tabela 7: Tratamentos para SDV/CI intravesical, int ervencionista,

Page 14: DIRETRIZES SOBRE DOR PÉLVICA CRÔNICA

14

alternativo e cirúrgico

Tratamento NE GR Comentário

PPS intravesical 1b A

Ácido hialurônico

intravesical

2b B

Sulfato de condroitina

intravesical

DMSO intravesical

2b

1b

B

A

Distensão vesical 3 C

Administração de droga

eletromotiva

Ressecção transuretral

(coagulação e laser)

3

NA

B

NA

Apenas em lesões de Hunner. Ver

o texto completo

Bloqueio de nervos

epidurais/bombas para

dor

3 C Para interevenção em crises; afeta

apenas a dor

Treinamento vesical

Terapia manual e

fisioterapia

Tratamento psicológico

3

3

3

B

B

B

Paciente com pouca dor

Tratamento cirúrgico NA NA Dados muito variáveis, ultima

ratio, apenas cirurgiões

experientes. Consultar o texto

completo

NE= nível de evidência; GR= grau de recomendação; PPS=

pentosanpolisulfato sódico; DMSO=dimetil sulfoxido; NA= tipo de evidência não

aplicável, pois ECRs são anti-éticos em tais procedimentos cirúrgicos

Figura 2 Fluxograma para o diagnóstico e Tratamento da SDV/CI

SDV/CI

Dor relacionada à bexiga urinária acompanhada pelo menos um outro sintoma

urinário

Page 15: DIRETRIZES SOBRE DOR PÉLVICA CRÔNICA

15

Clássica • História

detalhada,escor

e ICSI

• Diário miccional

• Cistografia

• Cistoscopia com

hidrodistensão

sob anestesia,

biópsia

(indicação

ESSIC)

Sem úlcera

RTU/LASER Tratamento não

invasivo

• Agentes

orais,TENS

• Tratamentos

complementares

Resposta

adequada

Seguimento sob

demanda

Continuar/repetir

o tratamento

eficaz

Resposta

inadequada

Resposta inadequada

Tratamento

intravesical

PPS, ácido hialurônico

Sulfato de condroitina

DMSO, EMDA

Experimental

Botox

Neuromodulação sacral

Tratamentos complementares

Resposta inadequada Ultima(!) ratio:

Considerar

ressecção cirúrgica

para sintomas

Grupo de dor

Tratamento multimodal

da dor

Page 16: DIRETRIZES SOBRE DOR PÉLVICA CRÔNICA

16

Resposta inadequada refratários

debilitantes no

estágio final da

doença

ulcerativa/Bexigas

com pequena

capacidade (apenas

por cirurgiões

experientes)

Síndrome da dor escrotal

Sempre deve ser realizado exame físico, incluindo a palpação cuidadosa de

cada componente do escroto e exame de toque retal para verificar

anormalidades na próstata e na musculatura do assoalho pélvico. O ultrassom

do escroto tem valor limitado para encontrar a causa da dor. A dor escrotal

pode se originar de pontos de gatilho no assoalho pélvico ou na musculatura

abdominal inferior.

Síndrome da dor uretral

A síndrome da dor uretral é uma entidade mal definida. Os sinais incluem dor

ou dolorimento uretral a palpação e encontro de inflamação da mucosa uretral

na endoscopia. Os pacientes apresentam dor e desconforto durante a micção

na ausência de infecção urinária. A “ausência de infecção urinária” causa

problemas diagnósticos, pois os métodos utilizados para identificar infecção

urinária são insensíveis. Não há consenso sobre o tratamento. O tratamento

pode necessitar uma abordagem multidisciplinar.

Dor pélvica na prática ginecológica

Uma história clínica completa, exame físico e investigações apropriadas (por

exemplo, raspados genitais, exames de imagem pélvicos e laparoscopia

diagnóstica) são necessários para identificar qualquer causa que possa ser

tratada. Entretanto, nenhuma é encontrada em 30% das pacientes. As

condições mais comuns de dor ginecológica habitualmente incluem

Page 17: DIRETRIZES SOBRE DOR PÉLVICA CRÔNICA

17

dismenorréia, infecções pélvicas e endometriose. As infecções pélvicas

respondem ao tratamento com antibióticos, porém a cirurgia pode ser

necessária em casos de longa duração. As doenças malignas ginecológicas

em geral apresentam-se com sintomas semelhantes a SDV.

A disfunção sexual associada a dor pélvica pode necessitar atenção especial.

A disfunção sexual masculina é discutida em detalhes em outro local das

diretrizes da EAU. A disfunção sexual feminina é mais difícil de ser tratada,

mas é afetada por problemas do parceiro do sexo masculino. Recomenda-se

que a mulher seja avaliada dentro do contexto de um casal na clínica de

medicina sexual.

Condições neurogênicas

Quando a DPC não é explicada por nenhuma patologia pélvica local, deve ser

solicitada uma avaliação com neurologista para exclusão de qualquer forma de

patologia radicular sacral ou cone. O exame de ressonância magnética é a

investigação de escolha para avaliar tanto o tecido neural, como as estruturas

adjacentes. Se todos os exames e investigações não mostrarem

anormalidades, considerar uma síndrome de dor focal, por exemplo

aprisionamento do nervo pudendo. O tratamento para cada condição deve ser

individualizado.

Função e disfunção do assoalho pélvico

O assoalho pélvico tem três funções: suporte, contração e relaxamento. A

disfunção do assoalho pélvico deve ser classificada de acordo com “ a

padronização da terminologia da função e disfunção do assoalho pélvico”,

publicada pela “International Continence Society” (ICS) – Sociedade

Internacional de Continência. Como em todas as padronizações da ICS, a

classificação baseia-se na tríade de sintomas, sinais e condição. Os sintomas

são aqueles mencionados pelos pacientes; os sinais são encontrados no

exame físico. A palpação é utilizada para avaliar a contração e o relaxamento

dos músculos do assoalho pélvico. Com base nos resultados, os músculos do

assoalho pélvico são classificados como normais, hiperativos e hipoativos ou

não funcionantes. A hiperatividade dos músculos do assoalho pélvico pode

causar DPC.

Page 18: DIRETRIZES SOBRE DOR PÉLVICA CRÔNICA

18

Sobrecarga muscular crônica ou repetida pode ativar pontos de gatilho no

músculo. Os pontos de gatilho são definidos como locais de hiperirritabilidade

associados a um nódulo palpável hiperssensível em uma faixa definida. A dor

que surge nos pontos de gatilho é agravada por movimentos específicos e

aliviada em certas posições. A dor é agravada pela pressão sobre o ponto de

gatilho (por exemplo, dor relacionada a relação sexual) e por contrações

mantidas ou repetidas (por exemplo, dor relacionada a micção ou a

evacuação). No exame físico, os pontos de gatilho podem ser palpados e a

compressão mostrar a dor local e referida. Em pacientes com DPC, os pontos

de gatilho são encontrados em músculos relacionados a pelve, como músculos

abdominais, glúteos e piriformes.

O tratamento da hiperatividade do assoalho pélvico deve ser considerada em

casos de DPC. A fisioterapia especializada pode melhorar a função e a

coordenação da musculatura pélvica.

Fatores psicológicos em DPC

Os fatores psicológicos afetam o desenvolvimento e a manutenção da dor

pélvica persistente, a adaptação a dor e o resultado do tratamento. A dor causa

desconforto e incapacidade para atividades valorizadas. Os pacientes também

se preocupam com lesões, doenças e sofrimento prolongado. Há uma forte

evidência do envolvimento de processos cognitivos e emocionais no

processamento da dor. Não há base de evidência para o modelo alternativo ,

disseminado, de doença dolorosa com somatização/somatoforme. A ausência

de sinais físicos significativos não é uma evidência substancial para causa

psicológica.

Em mulheres, a ansiedade, depressão e problemas sexuais são comuns em

DPC e devem ser avaliadas e tratadas. Uma história de abuso sexual ou físico

é bastante comum, mas o encontro de outras doenças e uma relação causal é

pouco provável. Em homens, a depressão está associada a sintomas

urológicos e a ansiedade e a depressão podem levar a suspensão de

atividades normais; os problemas sexuais são prováveis.

A avaliação psicológica (Tabela 8) é muito mais fácil de ser realizada se o

clínico puder contar a ajuda de um psicólogo ou outro especialista equivalente.

Formular questões diretas sobre o que o paciente pensa que está mal ou que

Page 19: DIRETRIZES SOBRE DOR PÉLVICA CRÔNICA

19

o está preocupando é mais útil do que utilizar um questionário de ansiedade. O

paciente que admite um humor deprimido e atribui a dor a este estado de

espírito pode responder a um tratamento da dor baseado em terapia

psicológica. Qualquer caso descoberto de abuso físico ou sexual deve ser

imediatamente encaminhado para os serviços competentes.Todo o tratamento

deve ser avaliado quanto ao seu impacto sobre a qualidade de vida. Existem

poucos estudos sobre o tratamento psicológico. A dor pélvica feminina

apresenta uma taxa significativa de remissão espontânea dos sintomas. O uso

tanto de tratamento físico como psicológico leva a maior a probabilidade

melhores resultados tanto em homens como em mulheres.

Tabela 8: Fatores psicológicos na avaliação da DPC

Avaliação NE GR Comentário

Ansiedade sobre a causa da dor;

perguntar: ”Você está preocupado com

o que está causando a dor?”

1a C Apenas estudos com

mulheres: a ansiedade

nos homens não foi

estudada

Depressão atribuída a dor, perguntar:”

Como a dor afeta a sua vida?”, “Como

a dor faz você se sentir

emocionalmente?”

1a C Estudo apenas em

mulheres: a ansiedade

nos homens não foi

estudada

Sintomas físicos múltiplos/saúde em

geral

1a C

História de abuso físico/sexual 1a C Abuso atual/recente pode

ser mais importante

NE=nível de evidência; GR= grau de recomendação

Tabela 9: Tratamento físico e psicológico na aborda gem da DPC

Tratamento NE GR Comentário

Redução da tensão;

relaxamento para

redução da dor

1b A Relaxamento±

biofeedback±

fisioterapia;

Page 20: DIRETRIZES SOBRE DOR PÉLVICA CRÔNICA

20

principalmente na dor pélvica masculina

Tratamento

multidisciplinar da dor

para o bem-estar

(1a) (A) Pacientes com dor pélvica tratados com

abordagem de base psicológica; poucos

estudos específicos para dor pélvica

NE=nível de evidência; GR= grau de recomendação

Tratamento geral da DPC

Existem poucas evidências sobre o uso de analgésicos ou co-analgésicos em

DPC. A recomendação aqui fornecida deriva da literatura geral sobre dor

crônica com base no fato de que a DPC seja provavelmente modulada por

mecanismo similar ao das dores somáticas, viscerais e neuropáticas. A tabela

10 resume o tratamento geral.

Analgésicos simples

O paracetamol é bem tolerado com poucos efeitos colaterais. Pode ser uma

alternativa ou associado a AINEs. Entretanto , existem muito poucas evidências

para a utilização de AINEs em DPC. A maioria dos estudos com analgésicos

investigaram dismenorréia, e neles, os AINEs foram superiores ao placebo e

possivelmente paracetamol.

Analgésicos neuropáticos e antidepressivos tricíclicos

Nas lesões de nervos e sensibilização central, se possível, considerar o

algorítimo da figura 3. Os tricíclicos são eficazes nas dores neuropáticas.

Existem poucas evidências sobre a utilização de inibidores seletivos da

recaptura de serotonina e evidências insuficientes em relação a outros

antidepressivos.

Anticonvulsivantes

Os anticonvulsivantes têm sido utilizados para o tratamento da dor há muitos

anos. Eles podem ser úteis na dor, que pode ser neuropática ou por

sensibilização central. A gabapentina é liberada em alguns países para uso em

Page 21: DIRETRIZES SOBRE DOR PÉLVICA CRÔNICA

21

dor neuropática crônica. A gabapentina tem menos efeitos colaterais quando

comparada a anticonvulsivantes mais antigos. Os anticonvulsivantes não

atuam em dores agudas.

Opiódes

O uso de opióides em dores urogenitais é mal definido. Sua urtilização em dor

neuropática não foi esclarecida, apesar de uma meta-análise sugerir benefícios

clínicos importantes.

Figura 3 Diretrizes para o uso de analgésicos neuro páticos

Diretrizes para o uso de analgésicos neuropáticos

Antidepressivos

Drogas de primeira

linha a menos que

sejam

contraindicados

SIM Dor descrita em

termos

neuropáticos

com sintomas

neuropáticos?

NÃO Analgésicos

nociceptivos simples

Estudo com opióides

Antidepressivos

Sem contraindicações (infarto

recente, arritmias, doença

hepática/renal grave)

Amitriptilina

Antidepressivo de primeira

linha

Inicialmente 10mg a noite

Aumento de 10mg a cada 5-7

dias na ausência de efeitos

colaterais

Máximo 150mg/dia

Efeitos colaterais

ou ausência de

benefícios

A partir de

150mg/dia por 6

Contraindicações

relativas

Idosos,

operação/condução de

máquinas ou dirigir,

Page 22: DIRETRIZES SOBRE DOR PÉLVICA CRÔNICA

22

semanas

boca seca indesejável

(p.ex. câncer oral)

Considerar:

Fluoxetina : 20mg pela manhã, podendo ser aumentada para 40mg.

Recomendada para pacientes deprimidos e para aqueles aonde a sedação não

é recomendada, pode não ser útil em dores neuropáticas verdadeiras.

Dotiepina : 25mg a noite, até 150mg. Considerar para dor neuropática

associada à ansiedade.

Imipramina : 10mg a noite até 150mg. Considerar para dor associada a

hiperatividade do detrusor

Nortriptilina : iniciar com 10mg a noite e aumentar progressivamente para

30mg, 50mg, 75mg até 100mg

Contraindicações, efeitos colaterais, falha do trat amento

Considerar antiepilépticos

Diretrizes para utilização de analgésicos neuropáticos 2

Tabela 10: Tratamento farmacológico da DPC

Droga Tipo de dor NE GR Comentários

Paracetamol Dor somática 1b A O benefício é limitado e

baseado no uso de dor em

artrite

Antagonistas de

COX2

1b A Evitar em pacientes com

fatores de risco

cardiovascular

AINEs Dismenorréia 1a B Melhores do que placebo

porém não é possível

diferenciar os diferentes

AINEs.

Antidepressivos

tricíclicos

Dor

neuropática

1a A

Dor pélvica 3 C Evidências sugerem que a

dor pélvica é semelhante a

dor neuropática

Page 23: DIRETRIZES SOBRE DOR PÉLVICA CRÔNICA

23

Anticonvulsivantes

Gabapentina

Dor

neuropática

1a A

Opióides Dor crônica

não maligna

1a A Dados de longo prazo

limitados; devem ser

utilizados apenas por clínicos

com experiência na sua

utilização

Dor

neuropática

1a A Benefício é provavelmente

clinicamente significativo.

Cuidado na utilização, como

acima

NE=nível de evidência; GR= grau de recomendação; COX= ciclo-oxigenase;

AINEs= drogas antiinflamatórias não esteróides.

Bloqueio de nervos

Em geral, o bloqueio de nervos é realizado para o diagnóstico e/ou tratamento

por um especialista em tratamento de dor ou anestesista. Os bloqueios

diagnósticos podem ser de difícil interpretação devido aos vários mecanismos

de atuação que o bloqueio pode ter. Todos os bloqueios de nervos devem ser

realizados com a máxima segurança possível, utilizando equipe de apoio

habilidosa, com monitorização e equipamento para reanimação. Deve-se

utilizar equipamento correto para o procedimento, especialmente agulhas

corretas de bloqueio, dispositivos para localização dos nervos e escolha de

imagens (por exemplo, intensificador de imagens radiológicas, ultrassom ou

tomografia computadorizada).

Estimulação elétrica nervosa transcutânea suprapúb ica (TENS –

“transcutaneous electrical nerve stimulation”)

O maior estudo de TENS suprapúbico envolvendo 60 pacientes (33 com CI

clássica, 27 com doença sem úlcera) demonstrou que 54% dos pacientes com

CI clássica foram auxiliados pela TENS. Resultados menos favoráveis foram

obtidos em casos de CI sem úlcera. É difícil avaliar a eficácia de TENS em

SDV/CI com precisão. Os estudos controlados são de desenho difícil, já que a

Page 24: DIRETRIZES SOBRE DOR PÉLVICA CRÔNICA

24

estimulação de alta intensidade deve ser administrada em locais específicos

em um período de tempo muito prolongado.

Neuromodulação sacral em síndromes de dor pélvica

A dor neuropática e as síndrome complexas de dor regional foram tratadas com

sucesso através de neuroestimulação da coluna dorsal e dos nervos

periféricos. A neuromodulação pode ter um papel na DPC.

Resumo

A dor pélvica crônica compreende um grande número de apresentações e

condições clínicas. A etiologia e a patogênese em geral são obscuras. O

tratamento bem sucedido requer uma história detalhada, exame físico

cuidadoso apoiado por exames de laboratório apropriados e uma atitude

cuidadosa em relação ao tratamento, iniciando-se com o tratamento menos

lesivo e evoluindo para procedimentos mais invasivos, de acordo com

algoritmos estabelecidos, contemplando a cirurgia apenas quando houver falha

de todas as outras opções.

Este texto resumido baseia-se nas diretrizes mais abrangentes da EAU (ISBN 978-90-

79754-70-0),disponíveis para todos os membros da European Association of Urology

no website-http:⁄ ⁄www.uroweb.org⁄guidelines⁄online-guidelines⁄.