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Biológico, São Paulo, v.72, n.1, p.31-37, jan./jun., 2010 DIVULGAÇÃO TÉCNICA DOENÇAS FÚNGICAS DAS PLANTAS MEDICINAIS, AROMÁTICAS E CONDIMENTARES – PARTE AÉREA O.M.R. Russomanno; P.C. Kruppa Instituto Biológico, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Vegetal, Av. Cons. Rodrigues Alves, 1252, CEP 04014-002, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: [email protected] RESUMO O presente trabalho traz informações sobre os fungos causadores de doenças na parte aérea de plantas medicinais, condimentares e aromáticas, incluindo as medidas de controle a serem adotadas para cada tipo de doença. PALAVRAS-CHAVE: Fungos fitopatogênicos, doenças fúngicas, plantas medicinais, aromáticas e condimentares, métodos de controle. ABSTRACT FUNGI DISEASES ON MEDICINAL, AROMATIC AND SPICE PLANTS. This paper brings informations about fungi diseases on aerial parts of medicinal, aromatic and spice plants, including the control methods for each disease. KEY WORDS: Phytopathogenic fungi; fungi diseases; medicinal, aromatic and spice plants; control methods. As plantas medicinais, condimentares e aromáti- cas tiveram, recentemente, um aumento no seu cultivo e comercialização, tanto pelas inúmeras pesquisas que demonstram seus efeitos fitoterápicos, como pelo emprego de algumas delas na culinária, proporcio- nando aroma e sabor agradáveis aos alimentos. Com isso, tornou-se inevitável o surgimento de problemas fitossanitários relacionados a doenças fúngicas. Es- ses patógenos, além de ocasionarem perdas na pro- dução agrícola, podem, ainda, provocar alterações nos compostos químicos da planta e reduzir suas propriedades terapêuticas. Entre as ocorrências de doenças fúngicas da parte aérea (caule, ramo, folha, inflorescência, flor, fruto e semente) em plantas medicinais, condimentares e aromáticas, no Brasil, destacam-se as manchas foliares e ferrugens, seguindo-se os oídios e míldios. Manchas foliares Os sintomas das manchas e crestamentos foliares se manifestam pela destruição do tecido vegetal, de- vido à formação de lesões de diferentes tamanhos, formas e colorações, que variam conforme o patógeno e o hospedeiro envolvidos. Os fungos causadores de manchas reduzem a capacidade fotossintética da planta, resultando em menor desenvolvimento vegetativo. Como consequências, podem ocorrer que- da prematura de folhas, flores e frutos ou a má forma- ção de frutos e sementes, reduzindo o rendimento e a qualidade da produção. Plantas, quando severamen- te atacadas nos estádios iniciais de crescimento, po- dem morrer. É grande o número de gêneros de fungos que causam manchas foliares, porém, podem-se destacar Alternaria, Colletotrichum e Cercospora, como os de maiores ocorrências. São parasitas facultativos que, na fase saprofítica, sobrevivem em restos de cultura, na matéria orgânica do solo, em sementes, em hospe- deiros alternativos ou na própria planta, no caso de hospedeiros perenes. As manchas foliares se manifestam, geralmente, em condições de clima quente e úmido, sendo a umi- dade o fator mais importante. Em condições de umi- dade adequada, a doença pode ocorrer dentro de uma ampla faixa de temperatura. As ocorrências mais frequentes de doenças que provocam manchas em plantas medicinais, condi- mentares e aromáticas são as seguintes: - Antracnose (Colletotrichum spp.) - em agrião-do- norte ( Spilanthes acmella), assa-peixe (Vernonia polyanthes), babosa (Aloe vera) (Fig. 1), capuchinha (Tropaeolum majus) (Fig. 2), carqueja (Baccharis trimera) (Fig. 3), chá-preto ( Camellia sinensis ), coentro ( Coriandrum sativum), cupuaçu ( Theobroma grandiflorum), erva-mate (Ilex paraguariensis), graviola

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Biológico, São Paulo, v.72, n.1, p.31-37, jan./jun., 2010

Doenças fúngicas das plantas medicinais, aromáticas e condimentares – parte aérea.DIVULGAÇÃO TÉCNICA

DOENÇAS FÚNGICAS DAS PLANTAS MEDICINAIS,AROMÁTICAS E CONDIMENTARES – PARTE AÉREA

O.M.R. Russomanno; P.C. Kruppa

Instituto Biológico, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Vegetal, Av. Cons. Rodrigues Alves,1252, CEP 04014-002, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: [email protected]

RESUMO

O presente trabalho traz informações sobre os fungos causadores de doenças na parte aéreade plantas medicinais, condimentares e aromáticas, incluindo as medidas de controle a seremadotadas para cada tipo de doença.

PALAVRAS-CHAVE: Fungos fitopatogênicos, doenças fúngicas, plantas medicinais, aromáticase condimentares, métodos de controle.

ABSTRACT

FUNGI DISEASES ON MEDICINAL, AROMATIC AND SPICE PLANTS. This paper bringsinformations about fungi diseases on aerial parts of medicinal, aromatic and spice plants,including the control methods for each disease.

KEY WORDS: Phytopathogenic fungi; fungi diseases; medicinal, aromatic and spice plants; controlmethods.

As plantas medicinais, condimentares e aromáti-cas tiveram, recentemente, um aumento no seu cultivoe comercialização, tanto pelas inúmeras pesquisasque demonstram seus efeitos fitoterápicos, como peloemprego de algumas delas na culinária, proporcio-nando aroma e sabor agradáveis aos alimentos. Comisso, tornou-se inevitável o surgimento de problemasfitossanitários relacionados a doenças fúngicas. Es-ses patógenos, além de ocasionarem perdas na pro-dução agrícola, podem, ainda, provocar alteraçõesnos compostos químicos da planta e reduzir suaspropriedades terapêuticas.

Entre as ocorrências de doenças fúngicas da parteaérea (caule, ramo, folha, inflorescência, flor, fruto esemente) em plantas medicinais, condimentares earomáticas, no Brasil, destacam-se as manchas foliarese ferrugens, seguindo-se os oídios e míldios.

Manchas foliares

Os sintomas das manchas e crestamentos foliaresse manifestam pela destruição do tecido vegetal, de-vido à formação de lesões de diferentes tamanhos,formas e colorações, que variam conforme o patógenoe o hospedeiro envolvidos. Os fungos causadores demanchas reduzem a capacidade fotossintética daplanta, resultando em menor desenvolvimentovegetativo. Como consequências, podem ocorrer que-

da prematura de folhas, flores e frutos ou a má forma-ção de frutos e sementes, reduzindo o rendimento e aqualidade da produção. Plantas, quando severamen-te atacadas nos estádios iniciais de crescimento, po-dem morrer.

É grande o número de gêneros de fungos quecausam manchas foliares, porém, podem-se destacarAlternaria, Colletotrichum e Cercospora, como os demaiores ocorrências. São parasitas facultativos que,na fase saprofítica, sobrevivem em restos de cultura,na matéria orgânica do solo, em sementes, em hospe-deiros alternativos ou na própria planta, no caso dehospedeiros perenes.

As manchas foliares se manifestam, geralmente,em condições de clima quente e úmido, sendo a umi-dade o fator mais importante. Em condições de umi-dade adequada, a doença pode ocorrer dentro de umaampla faixa de temperatura.

As ocorrências mais frequentes de doenças queprovocam manchas em plantas medicinais, condi-mentares e aromáticas são as seguintes:- Antracnose (Colletotrichum spp.) - em agrião-do-norte (Spilanthes acmella), assa-peixe (Vernoniapolyanthes), babosa (Aloe vera) (Fig. 1), capuchinha(Tropaeolum majus) (Fig. 2), carqueja (Baccharis trimera)(Fig. 3), chá-preto (Camellia sinensis), coentro(Coriandrum sativum), cupuaçu (Theobromagrandiflorum), erva-mate (Ilex paraguariensis), graviola

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(Annona muricata), guaco (Mikania spp.) (Fig. 4),guaraná (Paullinia cupana), insulina-vegetal (Cissusverticillata) (Fig. 5), maracujá (Passiflora spp.),pariparoba (Pothomorphe umbellata) (Fig. 6), pimenta-do-reino (Piper nigrum) e urucum (Bixa orellana);- Cercosporiose (Cercospora spp. e Pseudocercosporaspp.) - em alcachofra (Cynara scolymus), alfavaca-cheiro-de-anis (Ocimum selloi) (Fig. 7), calêndula(Calendula officinalis), coentro (Coriandrum sativum),cajueiro-do-campo (Anacardium humile), erva-cidreira-de-arbusto (Lippia alba), erva-mate (Ilex paraguariensis),estragão (Artemisia dracunculus), fedegoso (Cassiaoccidentalis), gengibre (Zingiber officinale), gergelim(Sesamum indicum), hortelã (Mentha spp.), joá-de-ca-pote (Physalis angulata), losna (Artemisia absinthium),malva-rosa (Althea rosea), mamona (Ricinus communis),manjericão (Ocimum basilicum) (Fig. 8), manjericão-anão (Ocimum minimum) (Fig. 9), maria-pretinha(Solanum americanum), pimenta (Capsicum sp.), pimen-ta-longa (Piper hispidinervium), salsa (Petroselinumspp.), trombeteiro (Datura suaveolens) e urucum (Bixaorellana);

- Mancha de alternaria (Alternaria spp.) - em aneto(Anethum graveolens), confrei (Symphytum peregrinam),erva-cidreira-de-arbusto (Lippia alba), erva-de-santa-maria (Chenopodium ambrosioides), estramônio (Daturastramonium), fazendeiro (Galinsoga parviflora), funcho(Foeniculum vulgare), gergelim (Sesamum indicum), horte-lã (Mentha spp.), mamona (Ricinus communis), maracujá(Passiflora spp.), maria-pretinha (Solanum americanum),picão (Bidens pilosa), pimenta (Capsicum sp.), salsa(Petroselinum spp.) e tanchagem (Plantago spp.).

Ferrugens

A planta atacada pela ferrugem apresenta lesõesamareladas, de aspectos ferruginosos, recobertos poruma densa camada pulverulenta. Os sintomas mani-festam-se na face superior da folha com o aparecimen-to de manchas amareladas e formação de pústulas naface inferior. Esses sintomas podem ocorrer tambémem ramos novos, colmos, flores e frutos em início dedesenvolvimento. As manchas, com o decorrer dotempo, podem se tornar necróticas.

Fig. 4 – Antracnose (Colletotrichum sp.) em guaco (Mikaniaspp.).

Fig. 3 – Antracnose (Colletotrichum sp.) em carqueja(Baccharis trimera).

Fig. 2 – Antracnose (Colletotrichum sp.) em capuchinha(Tropaeolum majus).

Fig. 1 – Antracnose (Colletotrichum sp.) em babosa (Aloevera).

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A ferrugem afeta o processo fotossintético da plan-ta devido à destruição da área foliar, decorrente daformação de pústulas e da queda de folhas provocadapelo fungo. Também podem ocorrer necrose de brota-ções e queda prematura de flores e frutos. Ataques

severos causam a morte de plantas jovens, enfraque-cimento de plantas adultas e, consequentemente, re-dução na produção de frutos e sementes.

Os patógenos responsáveis pelas ferrugens sãofungos basidiomicetos pertencentes à ordem

Fig. 9 – Cercosporiose (Pseudocercospora ocimicola) emmanjericão-anão (Ocimum minimum).

Fig. 5 – Antracnose (Colletotrichum sp.) em insulina-vege-tal (Cissus verticillata).

Fig. 6 – Antracnose (Colletotrichum sp.) em pariparoba(Pothomorphe umbellata).

Fig. 7 – Cercosporiose (Pseudocercospora ocimicola) emalfavava-cheiro-de-anis (Ocimum selloi).

Fig. 8 – Cercosporiose (Pseudocercospora ocimicola) emmanjericão (Ocimum basilicum).

Fig. 10 – Ferrugem (Puccinia sp.) em capim-limão(Cymbopogon citratus).

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Uredinales, com espécies dos gêneros Puccinia,Uromyces, Uredo, Phakopsora e Coleosporium, ocorren-do em plantas medicinais, condimentares e aromáti-cas no Brasil. São parasitas obrigatórios, necessitan-do do hospedeiro para o seu desenvolvimento e,devido a sua especialização em relação à plantaatacada, geralmente não possuem hospedeiros alter-nativos e nem apresentam fase saprofítica em seuciclo vital.

As ferrugens estão distribuídas nas regiões tempe-radas e tropicais. As condições climáticas que favore-cem o desenvolvimento da doença no país são altaumidade relativa e temperaturas amenas.

Os fungos que causam ferrugens são os seguintes:- Coleosporium tussilaginis em calêndula (Calendulaofficinalis);- Phakopsora spp. em gengibre (Zingiber officinale) equebra-pedra (Phyllanthus spp.);

- Puccinia spp. em acariçoba (Hydrocotyle umbellata),agrião-do-norte (Spilanthes acmella), alcachofra (Cynarascolymus), arnica-paulista (Porophyllum ruderale), assa-peixe (Vemonia polyanthes), capim-limão (Cymbopogoncitratus) (Fig. 10), cordão-de-frade (Leonotis nepetifolia),erva-cidreira (Melissa officinalis), erva-cidreira-de-ar-busto (Lippia alba) (Fig. 11), hortelã (Mentha piperita),hortelã-japonesa (Mentha arvensis), hortelãzinho(Mentha spicata), malva (Malva spp.), malva-rosa(Althaea rosea), maracujá (Passiflora edulis), pimenta(Capsicum sp.), sálvia (Salvia spp.) e trevo (Oxalisoxyptera);- Uredo spp. em fumo-bravo (Elephantopus mollis),quebra-pedra (Phyllanthus spp.) e sálvia (Salviaspp.);- Uromyces spp. em estévia (Stevia rebaudiana), ginseng-brasileiro (Pfaffia glomerata), leiteira (Euphorbiapilulifera) e tanchagem-maior (Plantago major).

Fig. 13 – Oídio (Oidium sp.) em manjericão (Ocimumgratissimum).

Fig. 12 – Oídio (Oidium asteris-punicei) em hortelã-pimenta(Mentha piperita).

Fig. 11 – Ferrugem (Puccinia lantanae) em erva-cidreira-de-arbusto (Lippia alba).

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Oídios

Os sintomas dos oídios caracterizam-se pelo apa-recimento de um bolor pulverulento, de coloraçãobranca ou levemente cinza, principalmente na facesuperior das folhas, mas pode, também, ocorrer emramos jovens, flores e frutos novos.

O efeito prejudicial da doença, devido à diminui-ção da área fotossintética, se manifesta pela reduçãono desenvolvimento e produção da planta. Ataquesseveros podem provocar retorcimento, subdesenvol-vimento, queda de folhas, morte de ramos novos,queda de flores e frutos, subdesenvolvimento e defor-mação de frutos jovens.

Os oídios são fungos da família Erysiphaceae e osgêneros mais comumente associados às plantas me-dicinais, condimentares e aromáticas no Brasil sãoErysiphe e Sphaerotheca. A fase imperfeita ou assexuadadestes fungos corresponde ao gênero Oidium, que é oprincipal responsável pela ocorrência da doença emnossas condições. São parasitas obrigatórios e, por-tanto, dependem do hospedeiro para a sua sobrevi-vência, crescimento e reprodução. Sobrevivem emplantas perenes, voluntárias ou em ervas daninhas eespécies silvestres. Nas nossas condições, a doença éfavorecida em locais ou períodos quentes (20-25º C) esecos.

Os fungos causadores de oídio são os seguintes:- Erysiphe spp. em alcachofra (Cynara scolymus) ehortelã-japonesa (Mentha arvensis);- Oidiopsis spp. em alcachofra (Cynara scolymus) earruda (Ruta graveolens);- Oidium spp. em alecrim (Rosmarinus officinalis),buchinha (Luffa operculata), falso-jaborandi (Piperaduncum), fedegoso (Cassia occidentalis), hortelã-pi-menta (Mentha piperita) (Fig. 12), leiteira (Euphorbiapilulifera), manjericão (Ocimum gratissimum) (Fig. 13),mussabê (Cleome spinosa), picão (Bidens pilosa), que-bra-pedra (Euphorbia brasiliensis) e urucum (Bixaorellana);- Sphaerotheca fuliginea em gergelim (Sesamum indicum).

Míldios

As doenças conhecidas por míldios são caracteri-zadas pelo aparecimento de bolor pulverulentoesbranquiçado, posteriormente acinzentado que, ge-ralmente, aparece na superfície inferior da folha. Afe-ta as folhas, reduzindo a capacidade fotossintética,retarda o desenvolvimento da planta, provoca a que-da de flores, folhas e frutos e causa a morte de ramosnovos e pecíolos, implicando em danos à produção.

Os fungos que causam os míldios pertencem àfamília Peronosporaceae e as ocorrências mais im-portantes para as condições brasileiras são encontra-das nos gêneros Peronospora e Bremia. São parasitasobrigatórios e necessitam da planta para sobreviver.

O míldio ocorre, preferencialmente, em regiões detemperatura amena e alta umidade. Locais sujeitos aneblina e presença de orvalho favorecem o desenvolvi-mento da doença. Assim, plantas suscetíveis instala-das em regiões serranas ou em áreas de baixada podemsofrer danos em função da doença. Nas regiões declima temperado, o patógeno consegue sobreviver pormeio de estruturas de resistência presentes em restos decultura, plantas voluntárias ou hospedeiros alternati-vos. Nas regiões de clima tropical ou subtropical, opatógeno sobrevive em hospedeiros alternativos, emplantas voluntárias ou hospedeiro perene.

Os fungos causadores de míldio são os seguintes:- Peronospora sp. em erva-de-santa-maria (Chenopodiumambrosioides) e manjericão (Ocimum spp.) (Fig. 14);- Bremia lactucae em alcachofra (Cynara scolymus).

Disseminação

A disseminação das doenças da parte aérea ocor-re, principalmente, pelo vento, água, insetos e semen-tes contaminadas. O vento e as sementes contaminadassão responsáveis pela dispersão a longas distâncias,enquanto a água, na forma de respingos, tem papelimportante na disseminação dos esporos nas folhase plantas vizinhas.

Fig. 14 – Míldio (Peronospora sp.) em manjericão (Ocimumbasilicum).

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Controle

Em função da produtividade, o controle de doen-ças de plantas de interesse econômico envolve fatorescomo clima, solo, variedade, adubação, tratos cultu-rais, pragas, erva-daninha etc. Sem o devido controle,as doenças de plantas podem ocasionar prejuízos àagricultura nacional.

O controle das doenças fúngicas da parte aérea deplantas medicinais, condimentares e aromáticas deveser feito, preferencialmente, pelo emprego de varieda-des resistentes e pelo uso de sementes, mudas e mate-rial propagativo livres de fungos, em locais sem ocor-rência de doenças. O emprego de sementes sadias e dealto vigor evita a introdução de patógenos nos cantei-ros, viveiros e no campo e, quando semeadas a umaprofundidade adequada, possibilitam a rápida emer-gência e crescimento da planta, permanecendo pormenos tempo suscetíveis aos patógenos.

Quando não existirem variedades resistentes, autilização de técnicas culturais de controle pode co-laborar na redução dos danos causados pelas doen-ças. Nesse aspecto, o uso de fungicidas deve serevitado, devido ao impacto que causam ao ambientee à saúde humana, pela poluição de seus resíduosquímicos. Além disso, não há informação suficientedo efeito do fungicida no metabolismo dos princípiosativos, terapêuticos e condimentares e nem da presen-ça de resíduos tóxicos nos extratos usados para finsmedicinais e culinários.

Atualmente, novas estratégias de controle de do-enças na agricultura têm-se voltado ao uso de méto-dos menos agressivos ao ambiente. O controle bioló-gico, utilizando organismos antagônicos comoTrichoderma ou simbiontes como as micorrizas, apli-cados no solo, em sementes ou material propagativo,podem constituir-se em medidas para o controle depatógenos. A utilização de extratos vegetais brutos ouóleos essenciais também se mostra promissora nocontrole de fitopatógenos.

A rotação de culturas, utilizando plantas nãohospedeiras ao patógeno, a eliminação de restosculturais e de plantas daninhas, ajuda a diminuira fonte de inóculo no campo e evitam a sobrevivên-cia do fungo próxima às áreas de plantio; o empregode adubação equilibrada, sem excesso de nitrogê-nio, torna a planta menos predisposta ao ataquedos patógenos; o espaçamento correto, evitandoalta densidade de plantas no viveiro e no campo,além de desfavorecer a disseminação do patógenoa partir de uma planta doente, evita a criação demicroclimas favoráveis à doença; a poda de ramosem arbustos e árvores e a retirada de porções doen-tes auxiliam no bom arejamento da planta e naeliminação da fonte de inóculo do fungo; o plantioem solos com boa drenagem, sem excesso de umida-

de, pode colaborar na redução dos danos causadospelas doenças.

Ainda, outras medidas de controle como adesinfestação de ferramentas utilizadas nas opera-ções de tratos culturais e o controle de insetos vetorese de nematoides, que auxiliam a dispersão e penetra-ção dos patógenos, devem ser empregadas. Em al-guns casos, a inundação da área infestada pelopatógeno ou a aração profunda, visando enterrar osrestos de cultura, pode dar bons resultados.

Obviamente, a utilização dessas medidas estácondicionada a determinados fatores, como custo deoperação, eficiência do controle, viabilidade de exe-cução e natureza do hospedeiro e do patógeno envol-vidos.

O Laboratório de Micologia Fitopatológica, doCentro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanida-de Vegetal do Instituto Biológico, vem realizandodiagnósticos de fungos em sementes e em plantasmedicinais, condimentares e aromáticas. Algu-mas das doenças descritas foram detectadas emmateriais procedentes de diversas regiões do Bra-sil e enviadas por produtores na forma de consul-tas. Os pesquisadores desse laboratório estão, tam-bém desenvolvendo pesquisas visando ao controlealternativo de doenças fúngicas das plantas medi-cinais, condimentares e aromáticas, através doemprego de extratos vegetais e seus respectivosóleos essenciais.

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Recebido em 20/5/09Aceito em 5/5//10