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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS - GRADUAÇÃO LATU SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
O FRACASSO ESCOLAR NO PROCEESSO APRENDIZAGEM
EVILENE FERREIRA DA SILVA
ORIENTADORA: FABIANE MUNIZ
CAMPOS BELOS-GOIÁS
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS - GRADUAÇÃO LATU SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
O FRACASSO ESCOLAR NO PROCESSO APRENDIZAGEM
Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do Mestre – Universidade Cândido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialização em psicopedagogia Institucional. Por: Evilene Ferreira da Silva.
CAMPOS BELOS-GO 2011
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AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus quer o mentor de todas as minhas ações e reflexões, ao meu esposo, filhos, mãe, colegas e minha cunhada Lucia e que nos deram forças e auxilio nesta caminhada em busca de novos conhecimentos. E a minha orientadora Fabiane Muniz que esteve sempre à disposição nos momentos de dúvidas.
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DEDICATÓRIA
Dedico a Deus, por sempre ter-me concedido o dom da sabedoria. E ao meu esposo Zezito, meus filhos: Thiago, Letícia, Maysa, aos meus colegas de trabalho, a minha amiga Joanildes, que estávamos sempre juntas para sanar as dificuldades. A minha mãe que está sempre do lado.
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RESUMO
Ultimamente podemos perceber com mais frequência nos debates e discussões
de profissionais e especialistas em educação acerca do fracasso escolar, um problema
que tem atingido crianças, jovens e adultos em todos os níveis de escolaridade. E
quanto, o assunto é fracasso escolar é impossível, dissocia-lo da dificuldade de
aprendizagem, um elemento presente no processo educativo. E todas essas questões
fazem parte de um longo processo que exige a participação ativa de várias pessoas que
se inicia na família, estendendo se a escola e consequentemente aqueles profissionais
que estão mais intimamente ligados aos problemas da educação como é o caso da
psicopedagogia que se encarrega entre outras funções, de prevenir as dificuldades de
aprendizagem e propor alternativas para a superação das deficiências não somente dos
alunos mas dos educadores e demais envolvidos no processo, englobando as habilidades
cognitivas, perspectivas e os fatores socioculturais.
Para aprofundamento dessa reflexão é de suma relevância é evidenciar que a
falta de preparação e de flexibilidade do professor, a inadequação da prática avaliativa,
a ausência de parceria entre escola e família, a falta de autonomia da escola e de um
projeto pedagógico elaborado em equipe são fatores que conduzem o aluno ao
insucesso.
Neste sentido, um dos papéis da psicopedagogia hoje, é contribuir para que os
profissionais da educação entendam que a escola precisa estar atenta às reais
necessidades do aluno e adotar uma postura de dinamismo e, a abertura às mudanças e
de flexibilidade em frente aos problemas. Além disso, adotar procedimentos é
intervenções pedagógicas adequadas para auxiliar a criança na superação de suas
dificuldades e limitações. Enfim, o que a escola esteja consciente de sua relevância na
formação de indivíduos para uma sociedade humana, já que esta instituição contribui
também para o desenvolvimento pessoal e a socialização da criança e do jovem como
um todo.
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METODOLOGIA
Esta monografia foi elaborada a partir da análise bibliográfica de vários
autores que versam sobre diferentes abordagens teóricas e que serviram de
embasamento para a construção desse trabalho.
Um referencial que merece destaque como fundamentação teórica é a Edith
Rubinstein. Ela trata de forma clara e objetiva sobre a importância da atuação do pisco
pedagogo no processo ensino-aprendizagem, enfatizando a ligação da dificuldade de
aprendizagem, ao fracasso escolar. Também é imprescindível mencionar a rica
contribuição de Nádia Bossa que além de abordar sobre a dificuldade de aprendizagem,
trata também das diferentes atribuições do psicopedagogo e do o objeto central de
estudo da psicopedagogia de modo geral.
Para refletir sobre os elementos que auxiliam na superação ou prevenção do
fracasso escolar foram analisadas as importantes abordagens teóricas de Içami Tiba que
discute sobre o papel da família na formação e na aprendizagem dos filhos. Além disso,
foram mencionados a Clarice Hito e Imideo Nerice que reflete sobre a questão familiar
no processo educativo.
A questão avaliativa foi mencionada a partir do referencial teórico de Pedro
demo Cipriano Luckesi, e Conceição Cabrini, autores que concebem o processo
avaliativo, como uma forma de ajudar o aluno na superação das dificuldades de
aprendizagem de reavaliação do trabalho do professor que deve colocar o sucesso do
educando acima de toda e qualquer formação burocrática.
O Projeto Político Pedagógico, também foi evidenciado a luz a LDB, que prevê
a obrigatoriedade do plano de trabalho (artigo 13) e do Projeto Pedagógico (artigo 14).
Também foram mencionados Moacir Gadotti, Ilma Passos, Carlos Libâneo, Vitor
Henrique Paro, que tratam tanto do Projeto Político Pedagógico quanto da autonomia da
escola como contribuição na redução do fracasso escolar.
Além dos autores mencionados anteriormente, serviram de referencial
anteriormente, serviram de referencial teórico Anny Cordie, Celso Antunes, Jussara
Holfman, Maria Helena Pato, Fernandez Maria Tereza Estrela, entre outros.
Através das pesquisas e reflexões realizadas, espera-se que as pessoas
envolvidas mais diretamente com o processo educativo e mais precisamente com o
desempenho acadêmico do aluno, possam se engajar na luta pela redução e/ou
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prevenção do fracasso escolar e contribuir na formação de cidadãos conscientes de seus
direitos e deveres e perceber que o trabalho fragmentado dificulta a sistematização do
ensino-aprendizagem e consequentemente, o trabalho do professor e do processo
educativo como um todo.
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SUMÁRIO
RESUMO ......................................................................................................................... 5
METODOLOGIA ........................................................................................................... 6
INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 9
CAPÍTULO I ................................................................................................................. 11
O FRACASSO ESCOLAR NAS PRIMEIRAS SÉRIES DO ENSINO FUNDAMENTAL E SUA RELAÇÃO COM A DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM ....................................................................................................... 11
1.1 O Fracasso Escolar na Alfabetização .................................................................... 16
1.2 Fatores que Conduzem o Aluno ao Fracasso Escolar ........................................... 17
1.3 Inadequação da Prática Avaliativa ....................................................................... 20
CAPÍTULO II ............................................................................................................... 23
ELEMENTOS QUE AUXILIAM NA PREVENÇÃO DO FRACASSO ESCOLAR ........................................................................................................................................ 23
2.1 Projeto Politico Pedagógico .................................................................................... 23
2.2 Participação da Família na Redução do Fracasso Escolar .................................... 25
2.3 Autonomia da Escola como Contribuição na Redução do Fracasso Escolar. ...... 29
CAPÍTULO III .............................................................................................................. 32
A VISÃO DA PSICOPEDAGOGIA SOBRE O FRACASSO ESCOLAR. ............. 32
3.1 A psicopedagogia hoje .......................................................................................... 35
CONCLUSÃO ............................................................................................................... 38
BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................ 39
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INTRODUÇÃO
A questão do fracasso escolar está entre um dos assuntos mais discutidos por
teóricos, profissionais da educação e especialistas de modo geral. Pesquisas revelam que
a qualidade do ensino no Brasil precisa ser melhorada, pois 25% (vinte e cinco por
cento) dos jovens que concluem o ensino fundamental não conseguem ler e interpretar
bem um determinado texto. Sem falar no grande número de reprovação que atinge os
alunos desde as primeiras séries do ensino fundamental.
Estas constatações têm aumentado ainda mais a preocupação de gestores de
professores que se veem na obrigação de criar mecanismos que possam contribuir na
erradicação desse problema. Entretanto, a escola continua convivendo com essa
realidade, pois o fracasso escolar está intimamente ligado a questões relacionadas à
dificuldade de aprendizagem, um elemento presente no processo educativo. E como a
escola, na maioria das vezes não encontra soluções para os alunos que apresentam baixo
desempenho, a criança termina sofrendo os efeitos do fracasso escolar que podem
estigmatiza-la por acreditar que não tem condição de aprender ou construir seu próprio
conhecimento. E segundo Cordie (1996): “são portanto os bons resultados dos alunos
que fazem os bons mestres serem reconhecidos pela hierarquia, direção, inspeção,
academia, etc... e pelos pais de alunos” e quando o resultado é o contrário, há uma
frustração geral e o maior prejudicado é o aluno.
É um tema de fundamental relevância, pois é o ambiente escolar que deve
surgir os mecanismos de superação das deficiências, dificuldades e limitações do aluno.
E esse empenho com a aprendizagem da criança e do jovem deve acontecer desde as
primeiras séries do ensino fundamental, sobretudo de 1º ao 5º ano uma vez que nesta
faixa etária que existe maior dedicação por parte do professor e dos pais de modo geral,
no sentido de incentivar o aluno para desenvolver suas habilidades e potencialidades
com autonomia, liberdade e criatividade. Assim sendo o objetivo principal dessa
pesquisa é refletir sobre o fracasso escolar nas primeiras séries do ensino fundamental e
propor alternativas, que possam contribuir para a sua prevenção no processo ensino-
aprendizagem.
A presente monografia está dividida em três capítulos versando sobre temas
que se interligam em torno de uma questão central: o fracasso escolar. Para isso, este
tema será abordado no primeiro capítulo enfatizando sua relação com a dificuldade de
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aprendizagem. Também será mencionado fracasso escolar na alfabetização,
evidenciando a indisciplina e a inadequação da pratica avaliativa como elementos que
contribuem negativamente para o bom desempenho do aluno.
Em seguida, no segundo capítulo será tratada do Projeto Político Pedagógico,
participação da família e à autonomia da escola como elementos contribuidores na
relação do fracasso escolar.
Finalmente, no terceiro capítulo, será realizada uma reflexão acerca da visão da
psicopedagogia sobre o fracasso escolar e sua atuação no processo ensino-aprendizagem
nos dias atuais. Enfim, são reflexões que ajudam a descobrir caminhos e alternativas
que promovam o desenvolvimento pelo e o bem estar da criança e do jovem.
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CAPÍTULO I
O FRACASSO ESCOLAR NAS PRIMEIRAS SÉRIES DO ENSINO FUNDAMENTAL E SUA RELAÇÃO COM A DIFICULDADE DE
APRENDIZAGEM
De alguns anos para cá tem aumentado significativamente o número de
pesquisas e levantamentos sobre a escolarização, não somente no Brasil, mas em todos
os continentes tais como Estados Unidos e tantos outros na Europa e América Latina. E
os resultados têm apontado como problemas principais da educação formal
contemporânea a disciplina/indisciplina e a avaliação/reprovação dos alunos.
Esta constatação tem provocado questionamentos por professor, técnicos, pais
especialistas e os teóricos em educação na tentativa de encontrar respostas sobre o
verdadeiro culpado pelas deficiências ou falhas no sistema de ensino desenvolvido.
No Brasil, em particular tais questões vêm tomando contornos alarmantes e os
professores, como agentes imediatos da instituição escolar, vêm se cada vez mais
atônitos frente às novas exigências do seu cotidiano profissional. E com isso aumenta a
preocupação dessa categoria quando se constata a estatística de baixo desenvolvimento
dos educadores, como tem sido mostrada pelo IDEB (Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica).
Esta é uma questão que deve ser amplamente discutida, sobretudo no que se
refere a séries iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º ano). Pois o sucesso ou insucesso
do aluno em todos os níveis e/ou modalidades de ensino, dependerá do seu desempenho
como aluno, como cidadão ativo capaz de participar do seu próprio Processo de
conhecimento. “E se isso não acontece, ele pode estar fadado ao fracasso e ainda ser
considerado arbitrariamente como “Aluno- problema” como analisa Aquino (1997, p.9),
“ não é possível que continuemos a ter dois pesos para duas medidas”. Aquilo que se diz
problema ou impedimento para o trabalho de sala de aula não pode ser considerado
senão como um efeito, igualmente concreto, das práticas que o conduziram. “Sob esse
olhar, o sucesso e o fracasso, assim como o erro e o êxito pedagógicos, só podem ser
compreendidos como efeitos duplos, e antagônicos, das mesmas relações que o
constituíram”.
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Percebe-se pela a afirmação acima, a exigência da instituição escolar repensar
seu papel como responsável pela formação integral do aluno, uma vez que o seu
desenvolvimento depende em grande parte da forma como professor desenvolver as
ações ou atividades que possam reduzir o aluno ao aprendizado e ao sucesso. Além
disso, a questão do fracasso ou sucesso escolar do aluno está intimamente ligada à
facilidade e/ou dificuldade de aprendizagem.
É comum se ouvir nas conversas entre educadores ainda não início do ano
letivo quem são os alunos “bons ou ruins”. E na maioria das vezes não há um esforço
para descobrir as causas que provocam a dificuldade em aprender de algumas crianças.
Em uma definição Kirk aponta:
“Uma dificuldade de aprendizagem refere-se a um retardamento, transtorno ou desenvolvimento lento em um ou mais processos da fala, linguagens, leitura escrita, aritmética ou outras áreas escolares, resultante de um handicap causado por uma possível disfunção cerebral e/ou condutal. Não é o resultado de retardamento mental de privação sensorial ou fatores culturais e instrucionais” (Kirk Apud Jésus N. Garcia, 1998, p. 8).
Podemos notar que pelo fato da criança apresentar dificuldade de
aprendizagem não significa que ela possa desenvolver seu potencial cognitivo e
aprender assim como aquelas que demonstram mais habilidades nas atividades. Porém,
exige maior empenho e dedicação por parte do professor que é o principal agente desse
processo.
Para a psicologia o desenvolvimento cognitivo de uma criança envolve uma
série de fatores intelectuais que interferem na aprendizagem ou no comportamento da
pessoa e sua relação com o grupo que convive. E essas mesmas construções cognitivas
podem ser considerados universais porque comum a todos os indivíduos, embora possa
apresentar certas defasagens em algumas pessoas. É nisso que consiste a dificuldade de
aprendizagem observada em alguns alunos, pois a aprendizagem caracteriza-se como
um processo que segundo Weiss (1992) integra o pensar, o sentir, o falar e o agir sendo
que as rupturas e inibições neste processo implicam dificuldades.
Neste sentido pode-se concluir que o atraso escolar e o baixo rendimento
escolar surgem como consequência destas dificuldades envolvendo uma complexidade
de fatores. Martin e Marchesi (1995) ao analisarem o processo de aprendizagem
enfatizam que a aquisição de informação depende tanto do conjunto de habilidades e
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conhecimentos prévios do indivíduo quanto do conjunto de habilidades cognitivas.
Segundo Fernandez:
“O fracasso escolar pode ser relacionado a causas externas e internas, a estruturas familiares e individuais da criança. As causas externas ligadas a uma ação educativa inadequada favoreciam problemas relativos de aprendizagem, enquanto fatores internos, relacionados a história pessoal da criança, favoreciam os problemas de aprendizagem como sintomas de inibição que restringem as potencialidades cognitivas, caracterizando um aprisionamento da inteligência e a perda do desejo de aprender” (FERNANDEZ, 1990, p. 66)
Verifica-se que as causas que provocam a dificuldade de aprendizagem e
consequentemente ao fracasso escolar podem afetar toda a vida das pessoas, não
podendo restringir a infância, a manifestação desses fenômenos. Fica claro que não só
as crianças podem ter seu dia-a-dia afetado pelas dificuldades de aprendizagem,
adolescentes e adultos também estão sujeitos a este problema que tem provocado
questionamentos e a busca constante de respostas que possam auxiliar na redução dessa
realidade. Smithe Strick citam quatro áreas básicas que são imprescindíveis à
aprendizagem, mas ao sofrerem interferências negativas, pode dificultar o
processamento de informações atenção, percepção visual, processamento da linguagem
e coordenação muscular. E citam também, o quadro de deficiência de processamento de
informações que podem causar a dificuldade de aprendizagem:
1 – Transtorno de déficit de atenção/ hiperatividade
2 – Deficiência da percepção visual
3 – Deficiência de processamento da linguagem
4 – Deficiências motoras finas.
Conforme escrevem Smith e Strick:
“é importante ter em mente que todos os tipos de dificuldades de aprendizagem podem variar imensamente em termos de gravidade. Enquanto alguns têm um pacto razoavelmente global sobre a aquisição escolar, muitas deficiências são tão sutis e específicas que interferem apenas em uma faixa muito estreita de atividades. Também é importante recordar que as dificuldades de aprendizagem frequentemente se sobrepõem e ocorrem em combinações quase intermináveis: um aluno com deficiência de processamento da linguagem ( compreensão) complicada por TDAH pode parecer ter pouco em comum com um estudante que tem deficiência de processamento da linguagem ( recuperação de palavras/ complicadas por
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déficits motores finos. Na verdade cada estudante com dificuldade de aprendizagem é praticamente único – uma realidade que pode tornar a identificação um desafio. (2001, p. 57)
Ao analisar as áreas consideradas indispensáveis para a aprendizagem é
possível ter a noção de quantas vezes a escola julga erroneamente o grau de dificuldade
apresentado por algumas crianças. E em vez de propor alternativas para a superação dos
transtornos detectados ao longo do processo ensino-aprendizagem fica mais cômodo
rotulá-las como “fracas” “ruins” ou “alunos problemas”.
Por esse motivo é necessário que os educadores procurem atuar de forma
consciente e responsável e acreditar que é possível solucionar ou amenizar os problemas
que muitas vezes julgamos irreversíveis. E sobre esta questão é imprescindível o apoio
emocional, a valorização do esforço da adesão ao trabalho e auto avaliação constante no
desempenho de sua profissão. O ponto chave aqui é o desenvolvimento tanto da auto
aceitação, da autoestima, tanto do professor quanto do aluno, pois as respostas que
buscamos para os problemas, dificuldades e questionamentos não são prontamente
dadas e é preciso tempo e tolerância para aguarda-las. Assim, o professor precisa lidar
com as frustrações para não ficar muito ansioso a ponto de prejudicar sua relação com
os alunos. Segundo Koller (1996) trata-se do fortalecimento da resiliência emocional.
As questões mencionadas anteriormente, como se sabe, não se resolvem em um
passe de mágica, mas, podem se concretizar com a efetivação do esforço da
coletividade, envolvendo o aluno, pois, escola e outros segmentos da sociedade que
contribuem para o desenvolvimento da criança. Sem falar da relevância do trabalho do
psicopedagogo que busca propor mecanismos que o auxiliem o trabalho do professor e
o mais importante: o sucesso do aluno, pois como afirma Luckesi (2010 p. 121), “O
objetivo da ação educativa, seja ela qual for é ter interesse em que o educando aprenda e
se desenvolva”.
Esse empenho com a aprendizagem do aluno deve acontecer desde as primeiras
séries do ensino fundamental, sobretudo de 1º ao 5º ano, uma vez que nesta faixa etária
exige maior empenho e dedicação por parte do professor e dos pais de modo geral, no
sentido de incentivar o aluno a desenvolver suas habilidades e potencialidades e ainda
encorajar aqueles que porventura apresentarem certo grau de dificuldade. Infelizmente
na realidade educacional brasileira a escola ainda privilegia a visão capitalista e
excludente e desde o ingresso da criança na instituição escolar existe uma diferenciação
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entre o modo de tratar e definir os níveis de habilidades da mesma. Assim, o que o
professor espera de seu aluno, a partir de impressões iniciais, é o que ele obterá. Os
alunos para os quais se constroem boas expectativas progridem e aqueles em relação aos
quais se têm expectativas, apresentam pouco ou nenhum progresso, independente de seu
potencial. Carvalho (1984), assim demonstra:
“ a prática do professor de separar os alunos em “ fortes” e “ fracos”, investir nos primeiros e deixar os outros à própria sorte tem sido fraco gente bastante prejudicial. Acaba ainda por constituir-se num fator contribuinte para o fracasso e à evasão escolar. É obviamente mais fácil trabalhar com um aluno que já domina boa parte do conteúdo da fase inicial de escolarização. Mesmo sem um planejamento para que isso aconteça até ajudando o professor na medida em que for procurado por companheiros para solucionar suas dúvidas. Por outro lado, a diferenciação é necessária para que o professor atenda as necessidades individuais do aluno. O investimento real do professor é que fará a diferença entre as duas formas de utilizar um mesmo procedimento” (CRAQVALHO, 1984, p. 27 – 42)
Neste sentido percebe-se a necessidade da flexibilidade, compromisso e
desempenho profissional por parte do educador, mesmo que as diferenças em relação à
aprendizagem existam é possível realizar um bom trabalho. E para isso por pessoa
precisa dar uma atenção especial aos alunos com dificuldades, promover uma gradação
no conteúdo de forma que o aluno possa ser bem-sucedido nas tentativas de
cumprimento das tarefas, manifestar carinho e elogios verbais em momentos em que
eles são necessários. Aliás, estes elementos são imprescindíveis na relação professor/ e
aluno desde as séries iniciais, período em que se concretiza o ato de ler e escrever. E se
não houver, de fato, um conjunto de elementos que propiciem a aprendizagem, o aluno
sofrerá as consequência pelo resto da vida.
Dessa forma, a pedagogia, em sua essência deve propor uma prática
transformadora, tanto do sujeito quanto do social. Mas para o educador agir de forma
transformadora é necessário criar condições de aprendizagem a partir do que já existe
em cada criança, respeitar as diferenças e o grau de facilidade ou dificuldade ou
demonstrada por cada uma delas, dotando-a de critérios que favoreçam sua autonomia
e inserção social.
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1.1 O Fracasso Escolar na Alfabetização
Desde o surgimento dos primeiros núcleos educacionais, o ato de ler e escrever
sempre ganhou o papel de destaque por serem considerados elementos prioritários na
formação do indivíduo. A aprendizagem da leitura e escrita constitui-se uma das tarefas
básicas propostas à educação. Aparentemente simples essa tarefa constitui, no entanto,
um dos problemas educacionais da atualidade que mais chama a atenção. Por isso tem
sido objeto de estudo e muito questionado por parte de país, professores e especialistas
em educação não só que diz respeito o domínio da escrita, mas as repercussões dessa
aprendizagem nos vários aspectos da escolaridade. Cagliari (1992), afirma que
“Primordialmente, a alfabetização é a aprendizagem da escrita e da leitura. Mas ler e
escrever são atos linguísticos; no entanto só recentemente tem havido a participação de
linguistas em projeto educacional”.
Quando uma criança ingressa na escola, sua primeira tarefa é aprender a ler e
escrever sendo a alfabetização o centro das expectativas de pais e professores. Os pais e
a própria criança não tem, em geral, razão para duvidar do sucesso nessa nova
aprendizagem. No entanto, o que muitas vezes os pais e professores não consideram, é
que a leitura e escrita são habilidades que exigem da criança a atenção para aspectos da
linguagem aos quais ela não precisa da importância, até o momento em que começa a
aprender a ler e escrever. Por isso, toda criança encontra alguma dificuldade na
aprendizagem da leitura e da escrita. A aprender a ler exigem novas habilidades, novos
desafios à criança com relação ao seu conhecimento da linguagem. Por isso, aprender a
ler é uma tarefa complexa e difícil para todas as crianças. Quando as crianças não
conseguem atender as expectativas da professora supõe-se e conclui-se que elas têm
problemas, pois a escola constrói um modelo de bom aluno, mas nem todas crianças se
adaptam dentro desse modelo, quando isso acontece os professores recorrem às muletas
para explicar tal situação: “Essas crianças não podem aprender porque não há ajuda
familiar, falta de maturidade, suposta lesão cerebral, mínima ou transtorno do tipo:
psicomotora, na formação, percepção, etc...” (FERREIRO; 1989, p. 73).
Percebe-se que boa parte das crianças em fase de alfabetização não desenvolve
as habilidades de ler e escrever e o que poderia se tornar uma atividade prazerosa para
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elas, termina contribuindo para sua exclusão dentro do grupo e no ambiente escolar,
pois não consegue responder às expectativas professores da escola como um todo.
Ao se deparar com essa realidade estas crianças acabam aprendendo que não
são mesmo capazes de aprender, e tentam buscar estratégias próprias para continuarem
convivendo com o grupo, apesar das dificuldades. Tentam adequar-se as normas e
realizam atividades mecânicas sem saber o significado daquilo que copiam. Sobre essa
questão, Carolina Araújo acrescenta:
“As crianças com baixo desempenho escolar, por sua vez, além das dificuldades de aprendizagem, também se jogou menos capazes, criam para si um ato com alto conceito negativo, característico das crianças com dificuldades de aprendizagem” (Araújo 2008, p. 72)
A partir da abordagem acima, conclui-se que a escola deve repensar seu papel
como instituição responsável pela formação integral da criança e favorecer o
desenvolvimento do aluno nos vários aspectos do seu cotidiano e ajuda-lo a superar as
dificuldades encontradas ao longo do período escolar. Pois pesquisas afirmam que o
fracasso na leitura constitui uma das principais causas de repetência ou atraso escolar.
Segundo FERREIRO, 1989, p. 73). “A escola geralmente, ineficiente para introduzir as
crianças no mundo da língua escrita, é, contudo extremamente eficiente para conseguir
fazer com que assuma a culpa de seu próprio fracasso: um dos maiores danos que se
pode fazer uma criança elevá-la a perceber a confiança em sua capacidade de pensar”.
Nota-se que os efeitos dessa ineficiência são evidentes, não apenas nos índices
de evasão e repetência, mas nos resultados de uma alfabetização sem sentido que
produz uma atividade sem consciência desvinculada da realidade e desprovida de
sentido, tornando a escrita um instrumento seletivo, dominador e alienador.
1.2 Fatores que Conduzem o Aluno ao Fracasso Escolar
Sabe-se que muitas são as causas que podem levar o educando a não adequar se
há uma postura desejável no ambiente escolar. Diante disso, as escolas juntamente com
os professores deverão observar o que leva alguns alunos a indisciplina. Cabe ressaltar
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que grande parte das intempéries familiares vem influenciando o desempenho escolar
dos alunos, principalmente dos discentes advindos de famílias pobres.
Nesta perspectiva, os fatores que contribuem para os atos de indisciplina estão,
sobretudo, relacionados a problemas psicoemocionais, neurológico familiares, bem
como o uso de substância alucinógenas como o álcool, drogas ( todas do gênero), brigas
e dificuldade de relacionamento. Tiba nessa conjuntura ressalta:
Cada a adolescente já tem a sua a própria história, e suas manifestações com as respectivas consequências relacionais podem variar conforme as etapas de desenvolvimento – cerebral e mental – em situações pelas quais está passando. Seus professores e pais tivessem conhecimento do que se passa com seus alunos e filhos provavelmente muitos conflitos deixariam de existir. (TIBA, 2006 p. 145)
O problema indisciplinar é um fator que surge na fase infantil e pode se
estender até a vida adulta. Segundo Tiba (2006), é no período da adolescência que o
mau comportamento emerge com maior intensidade. Isso acontece devido à falta de
limites, conflitos, curiosidades e desrespeito às leis morais por parte dos jovens.
A Criança que desde muito cedo foi bem orientada sobre suas ações terá mais
facilidade em adequar-se as transformações que viram no futuro, por isso é importante
que os pais é os professores amadureçam junto ao desenvolvimento sócio educativo do
aluno/ filho. Se ambos agirem contra isso, o jovem não amadurecerá facilmente, neste
enfoque é natural presenciar mães e pais tratando no filho adulto como se ele ainda
fosse um bebê, permitindo atitudes erradas e aprovando situações muitas vezes imorais.
Tiba (2006) enfatiza que existem muitos que culpam a escola, os professores e o mundo
por tudo, porém, nunca enxerga as irresponsabilidade dos filhos e a escola erra quando
consente com tais atitudes de pais mal preparados.
Vale ressaltar que de acordo com Tiba (2006), a indisciplina pode surgir com
uma birra, pequenos furtos, beliscões e mordidas. E por isso que a fase infantil deve ser
trabalhada com seriedade cautela. A criança não terá um a orientação correta se não
houver um trabalho incessante dos pais. Conforme Antunes:
Utiliza de espirituosa estrutura, o professor e sua conduta e o aluno e a bagunça. Dependendo da disponibilidade existente, atacam se os três focos ao mesmo tempo ou um de cada vez (ANTUNES, 2002, p. 75)
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Neste sentido, tudo o que está envolvido ao sistema educacional ajuda ou
estraga. Assim um aluno que já vivenciou um momento de tensão na escola traz consigo
um trauma e um medo no seu psicológico, por isso o professor deve ter muita sutileza
de espírito para lidar com alunos que possuem problemas dessa natureza. É certo o que
muitos desses traumas se dão pelas brigas frequência das escolas e, geralmente o aluno
que sofre agressão torna-se motivo de chacota, piadinhas de mau gosto, o que causa
grande revolta e desconforto emocional. Nos casos mais extremos, este aluno perde até
vontade de ir à escola. Sobre essa questão do desconforto emocional, completa Carolina
Araújo (2008)
Uma atmosfera emocional positiva na família se caracteriza por processos interpessoais com elevada coesão, a ausência de hostilidade e uma relação afetiva apoiadora com a criança. Essas características favorecem a superação de traumas e o desenvolvimento pela criança de um senso de permanência e estabilidade de sua base afetiva, tendo efeito protetor diante da adversidade (ARAÚJO, 2008, p.80)
Nota-se que o clima emocional no lar é o principal elemento na formação
cognitiva e no processo de aprendizagem da criança. Quando as práticas educativas, os
pais que são afetuosos e controladores, sem serem restritos demais, que costuma utilizar
explicações para justificar as regras que governam a vida cotidiana da família; e que
animam a criança a ser independente e responsável contribuem para maior
autorregulação na escola melhor desempenho escolar de melhor ajustamento em sala de
aula e no relacionamento com o grupo.
Portanto, é preciso que a família engaje-se junto à escola com a intenção de
oportunizar ao educando a assimilação dos princípios e valores necessários a vivência
em sociedade. Assim a família informa as condutas adequadas em casa e a escola
desenvolve por meio de atividades, palestras e outros mecanismos que são abordem
exemplo de cidadania, ética, elementos que devem ser apreendidos desde cedo para
atingir o objetivo almejada de se ter uma vida num ambiente familiar, escolar e social.
A partir da análise das abordagens teóricas percebe-se que a indisciplina é um
problema comportamental que está ligado ao fracasso escolar, pois, seja qual o fator que
a determina ele interfere de forma negativa, no desempenho e na aprendizagem do
aluno. E por isso, é imprescindível, que toda a estrutura seja ela familiar, escolar é a
própria sociedade proponha alternativas que possam auxiliar na superação de tal
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problema, pois um deve ser a continuação do trabalho do outro. E todos juntos em prol
do desenvolvimento e do bem-estar da criança e do jovem.
1.3 Inadequação da Prática Avaliativa
Vivemos uma época em que muitos questionamentos são feitos com relação à
avaliação, sua função, a aplicabilidade e resultados do processo ensino-aprendizagem.
Mas apesar disso, ela é ainda reconhecida como um elemento que possibilita dentre
outras coisas, fornecer informações relevantes para o planejamento curricular e, para o
auxílio na administração escolar, nas atividades de sala de aula, no planejamento de
ensino, o que pode favorecer aprendizagem do aluno e um rendimento do trabalho do
professor.
Como afirma (Demo, 1995, p. 327) “ avaliar é um processo permanente de
sustentação da aprendizagem do aluno, agindo de forma preventiva e estratégias para
que o saber possa ser apropriado por todos”. Sobre essa questão há a necessidade de
refletir até que ponto a avaliação é utilizada a favor do conhecimento do aluno ou como
o julgamento de resultado, uma vez que a precariedade em tal procedimento pode
contribuir negativamente para o fracasso de um aluno, pois na maioria das vezes ela
possui função classificatória todo o poder nas mãos do professor que define
“Arbitrariamente” o destino escolar do aluno.
Para isso vê-se a urgência de reformulação da praticar paliativa no interior das
escolas, principalmente sobre a flexibilidade que ela adquiriu na organização das
práticas escolares e discutirmos alternativas que possam estar de acordo com as ações
delineada do Projeto Político e Pedagógico e a real necessidade do educando, pois na
visão de Luckesi (1995), avaliação:
Significa desenvolver um trabalho escolar em que o conhecimento seja tratado, não como agrupamento e ordenação de dados ou conceitos a ser assimilados e repetidos pelos alunos, mas como produto de sua relação e interpretação da realidade vivida, que ultrapassa a apropriação e supõe a construção pelos sujeitos, de respostas de propostas que expressem seus compromissos sociais e políticos com o processo histórico e sociocultural do educando. (LUCKESI, 1995, p. 38)
21
De fato devemos reconhecer que a avaliação do professor ensino-aprendizagem
não pode se dar somente pela verificação do domínio de conteúdo no momento da
realização de provas, pois nesse processo existem muitos outros aspectos que podem e
devem ser levados em consideração tais como a participação nas atividades propostas
pela escola, o comportamento em sala de aula, exercícios extra – classe entre outros.
Além disso, as atividades devem ser diversificadas para que haja maior possibilidade de
aprendizagem é de conhecimento global do educando.
A avaliação deve ir além da concepção de que a mesma é apenas instrumento
de mensuração dos conteúdos e as atividades devem partir do contexto de um projeto
pedagógico consciente da realidade dos seus alunos e das suas limitações como ser
humano. Maria Cristina Louro (2007, p. 4) acrescenta: “A avaliação deve servir para
ajudar o aluno no processo de aprendizagem, identificando dificuldades, pontos a serem
trabalhados assim como habilidades, potencialidades, ganhos que o aluno tenha
alcançado”.
Percebe-se que o entendimento inadequado do processo avaliativo na escola
pode gerar equívocos na prática avaliativa dos educadores e da escola de modo geral,
provocando posições estereotipadas e preconceituosas e, como por exemplo: rotular
alunos de “Fracos”, “Fortes”, “Incompetentes”, etc. distribuir prêmios e castigos
conforme expectativas pessoais conferir notas e/ou conceitos em caráter absoluto, e,
consequentemente o aumento do índice de evasão e fracasso escolar ( repetências), uma
vez que, em última instância, são critérios e procedimentos de avaliação que irão decidir
o destino do aluno.
A avaliação nos parece a ponto mais espinhoso do ensino/ e aprendizagem, seja
ela em nível se dê, pois segundo Freitas (2002), “A cultura de avaliação que tem
dominado a cena pedagógica permanece centrada no aluno e no quanto se esforçou por
aprender aquilo que foi “ensinado” tal como foi ensinado”. Se a nossa preocupação é
fundamentalmente com a reflexão e o desenvolvimento integral do aluno, com a
produção por parte dele de algum conhecimento, é importantíssimo para nós o momento
da avaliação dessa reflexão. Como podemos avaliar o aproveitamento de um aluno?
Obviamente é pela performance do professor ao nível de exposições brilhantes, o
relacionamento humano, positivo, ETC. não podemos desqualificar a importância
22
desses fatores, mas não considera-los como um termômetro de tais resultados.
Conceição Cabrine (1994) Salienta:
“A avaliação deve ser vista como um momento de se perceber o avanço do aluno em relação aos objetivos de um curso”. Eis porque é importante que seus objetivos sejam explicados e conversados entre os seus interessados. É necessário pensar em uma forma de explicar ao aluno que ele mesmo tem de perceber se está caminhando ou não dentro da sua proposta de trabalho. (CABRINE, 1994, p. 50)
Como se sabe temos desde 1996, uma nova Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB). Diferentemente da anterior (Lei 5692171) esta é uma lei que
permite ampla flexibilidade na condução dos assuntos escolares e juntamente por esse
motivo vem provocando forte impacto na organização dos sistemas de ensino e das
escolas. Essa flexibilidade tem uma razão de ser: pretende colocar a qualidade da
aprendizagem e o sucesso do aluno acima de toda e qualquer formalidade burocrática.
Para que isso aconteça é necessário que a escola reflita sobre suas concepções
de ensino de aprendizagem e, em especial de avaliação de aprendizagem. O professor
precisa criar um clima de confiança que leve os alunos a expor suas dúvidas e seus
problemas; os alunos precisam se convencer de que podem cooperar com o professor na
luta contra o fracasso escolar e entender que a avaliação não serve para classificar, punir
ou recompensar, mas ajudar o aluno a aprender e reaprender sempre.
23
CAPÍTULO II
ELEMENTOS QUE AUXILIAM NA PREVENÇÃO DO FRACASSO ESCOLAR
2.1 Projeto Politico Pedagógico
A sociedade atual passa por constantes transformações. E isso exige das
pessoas uma série de adaptações às mudanças que surgem. “Junto com as
transformações vem a crise dos paradigmas” (Brandão, 2001, p. 15). E a crise de esses
paradigmas atinge também a escola e ela se pergunta sobre si mesmo, sobre seu papel
como instituição numa sociedade pós-moderna e pós-industrial e caracterizada pela
globalização da economia da comunicação e da educação e cultura, pelo pluralismo
político, pela emergência do poder local.
Tanto no ambiente escolar como na sociedade de um modo geral, cresce a reivindicação pela participação autonomia a e o desejo de afirmação da singularidade de cada região. (GADOTTI , 1997).
É baseado nesse pressuposto que surge a necessidade de abordar o projeto
político pedagógico, um documento que pode ser considerado um dos elementos que
auxilia na redução do fracasso escolar, pois nele está delineado o conjunto de ações
objetivadas pela coletividade da escola, tendo como principal meta, o sucesso do aluno.
Quanto a sua concepção, Gadotti declara que a um projeto pedagógico de
qualidade deve apresentar algumas características como: ser um processo participativo
de decisões; preocupar-se e instaurar uma forma de organização do trabalho que desvele
os conflitos e contradições; e explicitar princípios baseados na autonomia da escola e no
estímulo à autonomia da escola e no estímulo à participação de todos em sua
elaboração; conter opções explícitas na direção da superação de problemas existentes; é
explicitar o compromisso como a formação do cidadão.
A Nova LDB, Lei nº 9304/96 – prevê no seu artigo 12 inciso I que os
estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de
ensino, terão a incumbência de elaborar e executar sua proposta pedagógica (art. 12 e
13) o plano de trabalho (art. 13) Projeto Político Pedagógico (art. 14). Isso tem por
24
vezes, causado certas confusões em termos conceituais e operacionais por parte de
muitos funcionários. Para Ilma Passos (1995)
A Proposta pedagógica com o projeto pedagógico relaciona-se a ordem exação do trabalho pedagógico da escola; o plano de trabalho está ligado à organização na sala de aula e as outras atividades pedagógicas e administrativas e um projeto político e pedagógico aponta um rumo, uma direção, um sentido explícito para um compromisso estabelecido coletivamente. (ILMA PASSOS, 1995p. 180).
Para que a construção do projeto pedagógico seja possível, não é necessário
sobrecarregar os funcionários da escola, forçando os a trabalhar mais, mas propiciar
situações que lhe permitam aprender a pensar em realizar o fazer pedagógico de forma
coerente com as propostas nele apresentadas.
Como se vê a construção do projeto político e pedagógico é um ato deliberado
dos sujeitos envolvidos com o processo educativo da escola. Entende-se que ele é o
resultado de um complexo de debate cuja concepção demanda não só o tempo, mas
também estudo, reflexão e aprendizagem do trabalho coletivo. Se por um lado, a
coordenação do processo de elaboração do projeto pedagógico é tarefa de corpo de
eletivo e da equipe técnica, por outro é corresponsabilidade de professores, dos pais, dos
alunos, no local, contando, ainda com a colaboração e a assessoria afetiva de
profissionais ligados à educação.
De acordo com Libâneo (2003), “Sem planejamento a gestão corre ao sabor
das circunstâncias, as ações são improvisadas, os resultados não são avaliados”. O
sucesso ou fracasso do aluno. E o seu resultado recairá sobre a identidade do gestor pelo
fato de ser considerado o principal elemento no direcionamento da atividade pertinente
à escola. E aqueles que supervisionaram e orientam, também são responsáveis pelo
sucesso do projeto pedagógico da escola, pois fazem parte de sua elaboração. Para a
Libâneo para que o sucesso aconteça é necessário que a direção e os professores
inteirem em acordo sobre as práticas de gestão e inteirem em um consenso mínimo em
todas as decisões tomadas na escola, sobretudo no que se refere a aprendizagem do
aluno.
A autonomia da escola é outro fator importante para o bom desempenho do
projeto político e pedagógico, apesar de não ser um valor absoluto. Para a escola ser
considerada a autônoma não significa que ela deve carregar sozinha todas as
25
dificuldades e despesas existentes, mas também não pode depender somente dos
escalões superiores para que as mudanças ocorram. Ela deve conceder sua proposta ou
projeto pedagógico e ter autonomia para executá-lo, avalia-lo ao assumir uma nova
atitude de liderança no sentido de refletir sobre as finalidades sócio políticas e culturais
da escola. Enfim, essa autonomia interligada entre si; administrativa, jurídica, e
financeira e pedagógica. Como afirma Ilma Passos:
“Um dos pontos mais importantes a se observar na construção do projeto político e pedagógico é a busca da autonomia da escola e de sua capacidade de delinear sua própria identidade” (VEIGA, 1995, p.152)
Daí a necessidade de cada escola construir seu projeto, sem ter como base,
modelos já instituídos, pois cada escola tem suas características próprias que também é
marcada pela diversidade, pelo desenvolvimento e pelas contradições. O resultado
satisfatório de um trabalho realizado por equipe escolar depende da ousadia de seus
agentes e de cada escola tem assumir sua identidade demonstrando abertura e tentativa
de adaptação às mudanças e desafios que surgem a cada dia. Dessa forma ao projeto
político e pedagógico, sem dúvida, passa a ser um dos elementos de combate ao
fracasso escolar e facilitador do saber, da aprendizagem, da reflexão crítica e autonomia
da criança e do jovem.
2.2 Participação da Família na Redução do Fracasso Escolar
A relação entre família e escola atualmente recebe forte ênfase na busca de
reduzir os índices de reprovação, evasão e baixo nível de conhecimento. Durante muito
a culpa dor fracasso escolar ora se deslocava para os pais, ora para a escola.
Progressivamente tem-se buscado a interação entre as duas instituições. Cada vez mais
emerge a preocupação com a participação dos pais na escola participação esta que
transforma a própria organização da escola. Assim, é urgente a necessidade de refletir
sobre a influência da participação da família no aprendizado escolar.
O ambiente familiar é a primeira instituição em que a criança convive, ou seja,
o primeiro grupo social em que ela se relaciona e é onde ela ganha subsídios para se
preparar para a vida em sociedade. Dessa forma Tiba (2002) afirma: “Se um recém-
26
nascido não consegue estabelecer vínculos com um adulto muito provavelmente ela não
irá sobreviver”. Desde o início da vida da criança estabelece um vínculo afetivo com os
adultos e vice-versa degola o que contribui para o bom desenvolvimento físico e
psicológico da criança. Sobre essa questão, Hito; Bueno enfatiza:
A família é normalmente o primeiro grupo social a que pertence o ser humano e o que as instituições sociais é aquela pela qual se realiza contatos mais íntimos já que grande parte da vida e os acontecimentos importantes em geral ( nascimento, casamento, morte) são vividos na família. Pelas funções que desempenha, ela é considerada instituição fundamental a sociedade (HITO BUENO, 2004, p. 23)
Percebe-se que a família tem uma função de suma importância. E nela que a
criança aprende os valores indispensáveis para sua sobrevivência e sociedades, bem
como o respeito às diferenças, o amor ao próximo, dentre outros. Nesse sentido, é na
família que se forma o caráter do indivíduo. Sob a ótica de Nerici (1972), “A influência
da família, no entanto é básica e fundamental no processo educativo do imaturo e
nenhuma outra instituição está em condição de substituí-la”.
Independentemente da forma como a família se organiza ela desempenha um
papel decisivo na aprendizagem tanto formal quanto informal das crianças
influenciando significa mente no desenvolvimento de sua personalidade.
Portanto, a família é a base de todo o processo educativo, e como a escola é
responsável pela continuidade desse processo é necessário que ambas, escola em família
sejam parceiras nessa relação experiências, e ideias do seu cotidiano. Todavia a família
e escola cada qual com seus valores, mas com objetivos comuns na educação de uma
criança ou adolescentes necessitam de estarem juntas, uma complementando a outra.
Segundo Vasconcelos (2000) as famílias juntamente com a escola deverão
ajudar se mutuamente, pois o que ocorre frequentemente São controvérsias no qual um
culpa o outro pelo pouco rendimento escolar dos filhos/alunos e em virtude disso nada
se resolve geralmente os pais são os que mais cobram da escola.
Nessa perspectiva Tila afirma:
Há pais que querem mudar as regras da escola para que seus filhos não fiquem contrariados. Outros pedirão “um pontinho” na média das notas para que seus pênis não sejam reprovados. Outros ainda fazem lições de trabalhos para e pelos filhos todas essas “ajudas” podem estar na verdade ajudando a formar mais um transgressor que o cidadão. (TIBA, 2000p.124)
27
Diariamente pode-se observar o descaso familiar com relação à formação
educacional dos filhos, frisa se que não é por falta de conscientização que isso acontece.
A escola tem cobrado tal atitude familiar, no entanto, a transferência de
responsabilidade torna o rendimento da criança um fracasso e que permanente. Isto
porque, a família deveria ser a principal interessada com a vida escolar dos filhos, o que
muitas vezes não ocorre.
Nessa perspectiva, a família deve compreender que tem sua importância na
educação das crianças e, portanto precisa necessariamente acompanhar a vida escolar do
educando, não somente na questão comportamental nas atividades por ele desenvolvidas
dentro e fora da sala de aula.
Estudar em casa é um dos meios mais eficazes para assimilar o que o professor
promoveu dentro da sala de aula, pode ser um aprendizado com companhias ou sozinho
e até mesmo com alguém cobrando do lado aqui no caso com os pais.
A divisão da maneira de estudar está vinculada ao desenvolvimento cognitivo
de cada indivíduo o estudo acompanhado dá-se com a participação da família que trata-
se de reforça o que foi passado pelo professor. O cobrado ou vigiado ocorre quando a
criança não consegue realizar com facilidade os exercícios propostos e mesmo não se
findando pensam em desistir, daí surge essa parceria dos pais para cobrar e reanimar,
evitando gradativamente o fracasso escolar. O estudo sozinho é possibilitado quando a
criança consegue resolver os problemas com facilidade e sem maiores intervenções,
dentro dessa perspectiva Tiba (2006) frisa que esta é a maneira ideal.
O estudo é uma atitude nobre, e uma obrigação. Algumas vezes acontece por
condições ou negociações com os pais prometem regalias aos filhos se estes
conseguirem boas notas. Boa nota não diz tudo. É preciso verificar se um aprendizado
realmente aconteceu, pois a obtenção de notas pode ocorrer com meios mais “fáceis”,
como a cola, trapaça ou pura sorte. Os pais não devem somente introduzir com horários
para os estudos, o essencial é promover como filho uma explanação dos conteúdos
estudados e fazer uma demonstração na prática. Seu filho tiver embasamento teórico e
prático significa que o aprendizado surtiu efeito caso isto não aconteça a criança correrá
o risco de fracassar e não responder às suas aspirações e expectativas desejadas.
Deste modo, estudar seja em casa, no quarto, em praças públicas requerem antes
de tudo, disciplina, comprometimento, parceria da família e responsabilidade. Ninguém
28
consegue adaptar-se a sociedade globalizada sem embasamento teórico, por isso o
estudo em parceria com a escola e a família é essencial.
Por isso é fundamental que a família e a escola tenham o mesmo objetivo e a
mesma linha de conduta com as crianças e jovens. E em casa que a criança adquire as
características de sua personalidade, a escola, por sua vez, às complementam. Sobre
essa questão Tiba afirma:
A escola sozinha não é responsável pela formação da personalidade, mas tem um papel complementar ao da família. Por mais que a escola infantil propicie um clima familiar a criança ainda assim é apenas uma escola (a escola oferece condições de educação muito diferentes das existentes na família ) (TIBA, 2003, p.181-182)
Neste sentido a participação dos pais na vida educacional dos filhos pode
proporcionar uma estrutura equilibrada para estes adquirirem um bom desempenho
escolar, o que servirá de subsídio à para se tornarem cidadãos críticos participativos. Os
pais devem demonstrar interesse pelos estudos de seus filhos, cobrando os e buscando
informar-se sobre as atitudes escolares, e isso contribuirá para que as crianças se sintam
estimuladas o que se refletirá no seu processo de aprendizagem escolar.
De acordo com Oliveira, (2008), na revista Mundo Jovem (1991, p.15), “A
educação não acontece só na escola, mas durante a vida inteira e, também, fora dela
através das experiências vividas e discutidas”.
Entretanto, o autor faz perceber que educar não acontece por etapa, mas sim,
ocorre como um processo que desenvolve a todo tempo. Pois, para Caetana (2008), “A
coisa mais difícil que existe nesta vida é educar um ser humano, pois demanda a nossa
atenção por um tempo que deixamos de perceber por que até o último momento
podemos receber educação”.
Por isso, a efetiva interferência dos pais no dia-a-dia dos filhos estabelecendo
limites e ensinando valores, são atitudes que interferem diretamente na aprendizagem
escolar. Então, a parceria entre família e escola se mostra tão necessária.
A parceria entre família e a escola não deve somente cobrar dos pais ou
responsáveis atitudes de acompanhamento dos alunos, mas deve garantir espaço que
proporcione diálogo entre os pais e a escola. De modo, que os mesmos possam expor
seus problemas, angústias e apontarem possíveis soluções dos problemas de
29
aprendizagem dos seus filhos. A escola com esse espaço deve parecer um ambiente que
ajude também os professores a refletirem sobre suas práticas de ensino.
Portanto é papel primordial da família e da escola educar com responsabilidade e
compromisso as futuras gerações. E é sabido que os pais precisam estar atentos aos
comportamentos de seus filhos, para promover uma educação satisfatória em parceria
com a escola. Sabe-se no entanto os problemas da educação não propriamente da
educação e da escola, são antes de tudo manifestações de problemas de ordem social,
política e econômica.
2.3 Autonomia da Escola como Contribuição na Redução do Fracasso Escolar.
Ao refletir sobre o fracasso escolar, é comum encontrarmos diferentes teorias
que abordam esse problema. Porém, não há receitas prontas para soluciona-lo. Uma
maioria arrisca algumas alternativas que propõem soluções em torno dessa questão, mas
muitas vezes distanciadas do conhecimento das práticas cotidianas da escola mesmo que
seus autores façam parte da rede escolar.
Para José Carlos Manzano e Nívea Gordo, quase sempre se forma um hiato
entre as propostas teóricas e sua efetiva aplicação na prática escolar que, no mais das
vezes, acaba produzindo desalento dos professores, os mais diretamente envolvidos com
o problema, e as famílias que veem o fracasso dos seus filhos na escola como um sinal
de que não possuem “Jeito” para o estudo.
Na busca da melhoria do ensino, um aspecto nem sempre lembrado, mas que
assume especial relevância, é o que se refere ao dimensionamento no papel formativo
da escola, principalmente nos dias atuais em que amplia e se aprimoram as demais
agências informativas, especialmente, a imprensa, a televisão e a Internet.
Nessas condições torna-se imprescindível definir os limites da ação formativa
da escola, ou seja, é preciso resgatar a concepção de escola como um meio de instrução
capaz de transmitir conhecimentos que sirvam de base para a aquisição de uma cultura
geral. Assim completa Azanha (1995);
“O currículo oferecido nas escolas de primeiro grau, atualmente conhecido como ensino fundamental deve conter o essencial; a língua materna, a matemática, a história, a geografia. O mais vivia, quando fosse possível. Quando não for, todo o horário escolar será preenchido com esses
30
instrumentos fundamentais do saber. Na verdade, muitas vezes, o acréscimo ao essencial são um conjunto de informações de almanaque que apenas desvia a criança de aprendizados importantes nas matérias fundamentais” (AZANHA, 1995, p. 34)
Percebe-se pela afirmação que é preciso romper com a ideia de que a escola
ideal deve dispor de um currículo amplo, integrado com as mais diversas atividades
intra esclarecedoras. Pelo contrário, o currículo recomendável deve ser o mais simples
possível constituído de um mínimo básico e comum a todos conforme dispõe na nova
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB).
Um dos temas mais recorrentes dos estudos atuais sobre escola é a
descentralização, segundo Libâneo (2001, p. 132) implica a autonomia da escola, isto é
as escolas e os professores estariam assumindo seu poder de decisão, mediante a
autonomia pedagógico e financeira.
Sobre esse assunto Victor Henrique Paro, (2002, p. 45) declara que esta
autonomia e a participação coletiva sobre a decisão do conjunto de atividades e/ou
projetos adequados à instituição se dificulta desde a formação do conselho, pois o
diretor vive uma contraditória e difícil situação da escola hoje.
De fato, é que se observa, de um lado, ele é considerada autoridade máxima no
interior da escola, tendo que cumprir as leis e por outro lado ele deve deter uma
competência técnica e um conhecimento dos princípios e métodos necessários a uma
moderna e adequada administração dos recursos da escola, mas por outro lado, a sua
falta de autonomia em relação aos escalões superiores e a precariedade das condições
concretas em que se desenvolvem as atividades no interior da escola tornam uma
quimera a utilização dos belos métodos e técnicas adquiridas (pelo menos
supostamente) em sua formação de administrador escolar já que o problema da escola
pública no país não é na verdade, o de administrar recursos, mas a falta de recursos. E
sobre a participação, o compartilhamento de ideias e decisões didático-pedagógicas,
afirma Naura Syria (2000)
“Pelo menos teoricamente, elas estão garantidas por meio do funcionamento do Conselho de Escola cuja forma atual é o resultado de uma longa e dura política que data do início de 80, como sentido de dotar a escola de autonomia para poder elaborar e executar seu projeto educativo” (NAURA SYRIA, 2000, p.60)
31
Para que haja, de fato esta autonomia em relação ao processo ensino-
aprendizagem é necessário que a escola e a educação nos dias atuais, sejam vistas como
elemento de força para a transformação da sociedade. Assim, os valores trabalhados
pela escola precisam ser modificados. Não mais obediência passiva e, a aceitação
inquestionável dos conhecimentos, respeito submissão.
O professor, agente de transformação social, trabalha reflexivamente,
participativamente, tendo em vista a modificação da realidade, por meio do
desenvolvimento de valores, tais como criticidade, a autonomia, liberdade de
pensamento e ação.
Portanto, a qualidade social da escola se manifesta na garantia da qualidade
cognitiva e operativa das aprendizagens para a produção de saberes para o que se
mobiliza o currículo, a gestão e o desenvolvimento profissional dos professores. Pois
como afirma Azanha “A autonomia da escola é algo que se põe com relação à liberdade
de formular e executar um projeto educativo”.
32
CAPÍTULO III
A VISÃO DA PSICOPEDAGOGIA SOBRE O FRACASSO ESCOLAR.
As instituições escolares, sobretudo nos países subdesenvolvidos vêm sofrendo
duras críticas em relação ao baixo índice de aprendizagem constatada pelas diferentes
pesquisas na área educacional. No Brasil, apenas cerca de 27% das crianças que
ingressam na 1ª série concluem o 1º grau (cf. Helene, 1991).
A partir dessa constatação pode-se afirmar que nosso sistema educacional é
seletivo. Muitas crianças vivem uma história de fracasso escolar e na maioria das vezes
são diagnosticadas ou avaliadas de forma errada ao olhar da escola e dos pais. Algumas
delas são encaminhadas por um psicólogo, pediatra, psicopedagogo e outros
profissionais, que desenvolvem várias formas de avaliar, atender e tratar as crianças que
fracassam.
Dentre os profissionais citados acima, é importante ressaltar a figura do pisco
pedagogo que segundo o projeto de lei nº 312/97 do deputado Barbosa neto, que
regulamenta essa profissão, “Este é um profissional que auxilia na identificação e
resolução dos problemas no processo de aprender”.
De acordo com a psicopedagogia o psicopedagogo, dentre as diversas
atribuições, é um especialista que:
1 – possibilita intervenção, visando a solução dos problemas de aprendizagem
e tendo como enfoque o aprendiz ou instituição de ensino público ou privado.
2 – realiza o diagnóstico e intervenção psicopedagógico, utilizando métodos,
instrumentos e técnicas próprias da psicopedagógico.
3 – atua nos problemas de aprendizagem.
4 – desenvolve pesquisas e estudos científicos relacionados ao fracasso de
aprendizagem e seus problemas.
5 – oferece assessoria psicopedagógico aos trabalhos realizados em espaços
institucionais.
Tendo em vista a importância desse profissional no processo educativo, pode-
se dizer que é um profissional cuja função está voltada para a prevenção das
33
dificuldades de aprendizagem e prevenção do fracasso escolar não só do aluno, mas
também dos educadores e demais envolvidos no processo.
De acordo com Escott (2001, p. 201), o fracasso escolar está alicerçado
basicamente sobre duas dimensões que se influenciam numa relação dialética: a
individual, que diz respeito ao aluno e suas vivências, pertencente a uma estrutura
familiar, e outra externa, que corresponde a escola e aos aspectos culturais, ideológicas
e sociais da aprendizagem. Assim confirma Bossa.
“O são objeto central de estudo da psicopedagogia está estruturado em torno do processo de aprendizagem e humanas: seus padrões evolutivos normais e patológicos, bem como a influência do meio ( família, escola, sociedade) no seu desenvolvimento” (BOSSA 2000, p. 52)
Diante da abordagem acima, percebe-se a necessidade cada vez maior da
atuação do psicopedagogo nas instituições escolares, onde ele possa desenvolver,
juntamente com a escola, um conjunto de ações preventivas e adotar uma postura crítica
frente ao fracasso escolar, visando a melhoria da prática pedagógica nas escolas para
resolver o fracasso escolar Otto é necessário um engodo de medidas tanto para o aluno
quanto para o professor no sentido de buscar soluções para os problemas identificados.
Além disso, batalhar para que o professor possa ensinar com prazer, a para que seu
aluno possa também aprender com prazer.
Dessa forma, é possível denunciar a violência encoberta e aberta instalada no
sistema educativo, um problema que tem contribuído segundo especialistas na área para
o fracasso escolar de muitas crianças. Além disso, sabemos que a qualidade de ensino
nem sempre garante o sucesso nos estudos, pois vários fatores são considerados quanto
se trata da dificuldade de aprendizagem.
Anny Cordié (1996) ressalta:
“já podemos salientar o quanto à rapidez da transformação social inverteu os velhos esquemas de transmissão da herança cultural. Muitas vezes, a discordância entre tradições familiares e os novos modos de vida. Essa ruptura brutal implica conflitos que são eles próprios fonte de fracasso escolar”. (CORDIÉ, 1996, p. 19)
34
Segundo Mary Sue Pereira (2007, p. 06), aprendizagem e não aprendizagem
serão determinadas pela dinâmica possível entre fatores simbólicos e cognitivos,
inseparáveis das relações de aprendizagem, expressos através do desenho da linguagem
corporal, da linguagem falada dos gestos da falta do que não é dito. Assim confirma
Escott (2001, p. 201) “A aprendizagem é um desenvolvimento da criança, do educador
e também dos pais é a tradução ativa de uma rede de relações sadias entre os diversos
grupos que diz respeito ao conhecimento”
Sobre essa questão Machado (1996) acrescenta:
“muitas são as práticas do dia-a-dia escolar, que podem ajudar ou prejudicar uma criança. Primeiro produzimos algumas crianças que passam a se sentir menos desvalorizadas ( as crianças especiais, as crianças problemas), e outras que sentem que os problemas daquelas que não aprendem são individuais e não lhe diz respeito ( as crianças normais) depois inventamos práticas visando resgatar uma autoestima que não pode ser desenvolvida nas primeiras e produzir a atitude de solidariedade e respeito na segundas como se o sentimento de incapacidade e a discriminação não estivesse sendo produzida por nossas práticas” (MACHADO 1996, p. 68)
Para Mary Sue, entender melhor a atuação da psicopedagogia, dividindo a em
duas áreas:
a) Psicopedagogia Terapêutica » institucional cuja função é procurar readaptar e
reintegrar o aluno a sala de aula, entendendo seu ritmo de suas necessidades.
b) Psicopedagogia Preventiva » que o tem como objetivo redefinir o processo
pedagógico e através da aprendizagem nas diversas áreas do conhecimento,
promover a integração afetiva, cognitiva e trabalhar as questões que estejam
relacionadas ao vínculo o professor e aluno.
Analisando as duas áreas de atuação psicopedagógico percebe-se que a escola
fica a incumbência de garantir a aprendizagem de certas habilidades de conteúdos que
são necessárias para a vida em sociedade.
Portanto a instituição escolar, quanto a família, devem agir no sentido de
favorecer o desenvolvimento da personalidade da criança e do adolescente, ajudando a
conseguir um bom índice de ajustamento de ajudar a superar as dificuldades de traumas
encontradas ao longo do período escolar, baseada numa relação em de respeito,
confiança, amor e compreensão.
35
3.1 A psicopedagogia hoje
A sociedade atual tem exigido das pessoas de modo geral a capacidade de lidar
com os diversos problemas existentes nos diferentes setores. A questão educativa não
foge a essa realidade ao se deparar com diversos obstáculos, mas, sobretudo com a
problemática que provoca a indagação. Porque muitos alunos não conseguem aprender
se estes participam das mesmas atividades desenvolvidas em sala de aula?
Segundo Rubinstein (1996) a aprendizagem é o processo através do qual o
sujeito interage com o meio e incorpora as informações oferecidas por este, de acordo
com suas necessidades e interesses. Percebe-se na afirmação acima que há uma íntima
relação entre o sujeito (aluno), o contexto sociocultural, dos elementos cognitivos que o
propicia o saber, entre eles o desejo de aprender. E se a criança não manifesta esse
desejo? Esta é uma questão que tem levantado muitos questionamentos no que se refere
à aprendizagem.
O fenômeno de estudo da psicopedagogia esse segundo Escott (2001, p. 201)
“O aprender e o não aprender, podendo ajudar na ressignificação das relações de
aprendizagem na escola, através de uma ação interdisciplinar com os demais
profissionais que nela atuam”.
Diante disso, como deve ser a atuação dos educadores e responsáveis pelo
processo educativo frente às necessidades educativas? Somente a informação basta?
Sabe-se que não. O que fará diferença é a forma como a pessoa integra uma informação,
transforma em aprendizagem e a coloca a serviço da comunidade. Nessa perspectiva a
frequência à escola não garante o salto qualitativo que requer o movimento social.
É neste ponto que entra a pisco pedagogia que tem por objeto de estudo a
aprendizagem como um processo individual. Sua preocupação maior é o ser que
aprender, o ser cognoscente e o seu objetivo geral é desenvolver e trabalhar esse ser de
forma a potencializa-lo como uma pessoa autora construtora de sua história, de
conhecimento, e adequadamente inserida em um contexto social. Para Louro Maria:
“A psicopedagogia é uma estratégia de ajudar que situa na fronteira da psicologia da pedagogia e tem como objeto de estudo o processo de aprendizagem formal. O psicopedagogo analisa os diferentes processos da aprendizagem e os fatores que determinam a evolução ou o bloqueio desse comportamento. Assim, a área de atuação do pisco pedagogo engloba as habilidades cognitivas, perspectivas, motoras, linguísticas e os fatores
36
socioculturais que se relacionam com o processo de aprendizagem” (MARY, 2007 p. 4)
Nota-se na definição acima a importância do psicopedagogo nas questões
ligadas à educação e em mais precisamente os problemas relacionados à aprendizagem
atualmente, pois se entende que o trabalho pisco pedagógico, implica a compreender a
situação de aprendizagem do sujeito dentro do seu próprio contexto. E tal compressão
requer uma modalidade particular de atuação para a situação em estudo, o que significa
que não há procedimentos predeterminados. O psicopedagogo busca o significado de
dados que lhe permitirá dar sentido ao observado. E na instituição escolar, a prática
psicopedagógico também precisa ter um olhar clínico, uma vez que ele pesquisa as
condições para que se produza a aprendizagem do conteúdo escolar identificando os
obstáculos e os elementos facilitadores, numa a abordagem preventiva, pois “a
Psicopedagogia tem como meta compreender a complexidade dos múltiplos fatores
envolvidos nesse processo” (RUBINSTEIN, 1996, p. 127)
Outra questão que necessita ser evidenciada sobre a importante atuação do
pisco pedagogo e sua relevância para a sociedade nos dias de hoje é que esse
profissional não atua somente em instituições escolares, mas em clínicas, em
atendimentos individuais, hospitais e empresas onde se promova a aprendizagem. Os
recursos utilizados são os que possibilita entender quando as dificuldades que aquele
aprendiz está enfrentando para aprender e quais possibilidades para a mudança que ele
apresenta. Enfim, são atividades que valorize o que a criança sabe que estimula em que
a expressão pessoal, o desejo de aprender e sua possibilidade de amadurecer, vencer
situações em resolver problemas. E a escola, sendo um dos locais de atuação do pisco
pedagogo deve trabalhar numa perspectiva de mudança, pois, como afirma Fernandes e
Pain:
É a escola, indubitavelmente, a principal responsável pelo grande número de crianças encaminhadas ao consultório por problemas de aprendizagem. Assim é extremamente importante que a pisco pedagogia de ter a sua contribuição à escola de, seja no sentido de promover a aprendizagem ou mesmo tratar de distúrbios nesse processo, uma vez que todo pensamento, todo comportamento humano, remete-nos à sua estrutura inconsciente como produção inteligente e, simultaneamente como produção simbólica (PAIN, 1985, p. 233)
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De fato, a escola precisa estar atenta a postura adotada por seus profissionais
frente ao processo ensino aprendizagem e aos procedimentos intervenções pedagógicas
utilizadas para auxiliar a criança a superar suas dificuldades, suas limitações. E ainda
que o fazer psicopedagógico, na atualidade tenha o propósito de centralizar seus
esforços na prática escolar. Entenda que a dimensão instituída pela escola, dentro do
marco sócio histórico-cultural ainda represente um dado de grande relevância na
formação de indivíduos para uma sociedade humana, já que esta instituição contribui,
também para o desenvolvimento pessoal e a socialização da criança e do jovem como
um todo.
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CONCLUSÃO
Discutir sobre o fracasso escolar é uma forma de tratar sobre os diversos
problemas que a escola vem enfrentando ultimamente. E ao analisar as várias
abordagens pelos diferentes autores, percebe-se que não há uma receita pronta para a
solução desse problema que vem atingindo uma dimensão alarmante em nosso país.
Não se trata de encontrar o culpado pelo fracasso do aluno, mas segundo alguns autores
trata-se de uma busca constante de alternativas que visem a superação dos problemas
evidenciados na escola, sobretudo no que diz respeito à dificuldade de aprendizagem .
Sabe-se que são diversos fatores que interferem na aprendizagem do educando
e entre eles estão os cognitivos, os emocionais, familiares e as causas externas, ligadas a
ações educativas inadequadas. E talvez a escola seja a maior responsável pelo insucesso
do aluno, pois a maioria das vezes o ambiente escolar em vez de contribuir para a
transformação do aluno ela exclui e o discrimina, contribuindo negativamente para o
seu desenvolvimento físico, mental e social.
A realização desse trabalho contribui uma maior reflexão sobre a atuação do
trabalho do professor que deve estar cada vez mais atento a necessidade de dinamizar
sua prática educativa em função das diferentes realidades vivenciadas no interior da
escola. E para que haja a transformação é necessário que toda estrutura seja ela familiar,
escolar e a própria sociedade trabalhem juntos, alternativas para a superação desse
problema de forma que haja uma integração de todos os responsáveis pela formação do
aluno e aconteça de fato seu desenvolvimento pleno como cidadão capaz de construir
seu próprio processo de conhecimento e colaborar na construção de uma sociedade mais
justa, fraterna e participativa no ambiente social.
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