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UCAM UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR A FANTASIA E A REALIDADE NA PRODUÇÃO TEXTUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL PROFESSOR ORIENTADOR NELSOM MAGALHÃES DISCENTE JANE BRAGA MOREIRA MELO TURMA T:NN102 Niterói, 2005

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UCAM – UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO

DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR

A FANTASIA E A REALIDADE NA PRODUÇÃO

TEXTUAL NO ENSINO FUNDAMENTAL

PROFESSOR ORIENTADOR

NELSOM MAGALHÃES

DISCENTE

JANE BRAGA MOREIRA MELO

TURMA – T:NN102

Niterói, 2005

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho acadêmico monográfico à minha

família, que me aturou em todas as dificuldades da minha T.P.M.

(tensão pré-monográfica) e durante as minhas insônias pré-textuais.

Dedico também ao corpo docente do curso de Pós-

Graduação e aos alunos do Colégio Salesiano Santa Rosa que

colaboraram para a realização deste trabalho.

Finalmente, dedico aos meus pais, Jayme José Moreira (In

memoriam) e Joanna Braga Moreira, meus primeiros professores na

universidade da vida.

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EPÍGRAFE

Esta monografia tem o objetivo de entender e reconhecer a

mensagem que nos é passada pelos jovens nas suas produções

textuais. E como o jovem é o futuro, é preciso acreditar e ajudar.

“Não existe alguém

que nunca teve um professor na vida,

assim como não há ninguém

que nunca tenha tido um aluno.

Se existem analfabetos,

provavelmente não é por vontade dos professores.

Se existem letrados,

é porque um dia tiveram seus professores.

Se existem Prêmios Nobel,

é porque alunos superaram seus professores.

Se existem grandes sábios,

é porque transcenderam suas funções de professores.

Quanto mais se aprende, mais se quer ensinar.

Quanto mais se ensina, mais se quer aprender.

(IÇAMI ,TIBA Quem ama, aprende)

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Resumo

Quando se levantam hipóteses, elas naturalmente passam a requerer

confirmação ou contestação. É preciso averiguar, interpretar, coletar, provar.

O objetivo deste trabalho é, através da visão psicopedagógica, confirmar que

a fantasia e a realidade se entrelaçam como fios numa rede.

A produção escrita dos aprendentes (alunos de 8ª série do Ensino

Fundamental) explicita que todo ser humano pode interagir, dando pistas, através

das palavras.

A leitura, entendimento e percepção destes sinais enviados para nós,

professores e/ou psicopedagogos, serão de muito valor para ajudá-los, ouvi-los e

encaminhá-los.

Ao identificar e analisar o que foi sinalizado (conflito, queixa, desilusão,

problemas de aprendizagem e familiares), o professor terá o poder para acionar a

cura, a solução.

Fica bem claro que as mensagens são passadas pelos aprendentes nas

suas produções escritas e podem ser decodificadas assim como um sorriso, ou um

choro, ou um canto de pássaro, ou um pedido de socorro.

Como a escrita é marca, ao escrever o adolescente revela-se, partilha os

segredos, as verdades, as fantasias e as realidades.

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SUMÁRIO Dedicatória

Epígrafe

Resumo

Introdução

1. A luta pelo significado

1.1.Conceituando o significado 1.2. A vida interior

1.3. A vida exterior

2. Fantasia e realidade 2.1.Conceituando fantasia e realidade 2.2. A escola e a vida 2.3. A construção do texto 3. Os caminhos do conhecimento 3.1. Conceituando o conhecimento 3.2. O conhecimento da verdade: A reconstrução do texto 3.3. Transcendendo a adolescência Conclusão Referências Anexo A Anexo B Anexo C

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Anexo D Anexo E Anexo F Anexo G Anexo H

Introdução

Durante a minha experiência profissional tenho observado a produção

textual dos meus alunos.

Graduada em Letras, leciono há trinta anos no ensino médio e fundamental

e venho percebendo durante a realização de textos solicitados nas aulas de redação

que nem tudo que é escrito pelos alunos é irreal ou fantasioso.

Parando para pensar, veio à minha mente a estorinha de Jack, o estripador.

Ele queria porque queria conhecer o ser humano, seu corpo, sua alma. Ele queria

conhecer o sentido do SER HUMANO. Sabe o que ele fazia? Saía à noite à procura

de espécimens humanos. Encontrava-os, levava-os para seu escuro castelo e

matava-os. Em seu castelo, munido de afiados facões e cortantes machados, ia

separando cada parte das pessoas capturadas. Cortava-lhes a cabeça e dela

arrancava os miolos, dividia cada miolo, um por um, para ver de que eram

compostos. Ia colocando cada parte e cada parte da parte numa enorme bancada

de mármore branco. Observava-as uma por uma separadamente. Tinha até um

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método científico de observação pois ele havia feito um curso de pós-graduação em

pesquisa numa conceituada universidade de um país de primeiro mundo.

Depois era a vez do tronco, dos membros, das pernas, dos pés.

Levou anos capturando corpos inteiros e dividindo suas partes e as partes

de suas partes. Ao final de cada operação feita em cada corpo, punha-se de longe,

olhando, observando as partes expostas na bancada de mármore. Ficava intrigado:

nem mais os corpos conseguia reconhecer; a alma, essa sequer foi vista. Nunca. Só

via partes que eram tão partidas que, às vezes, nem sabia se as tinha tirado da

cabeça, do tronco ou dos membros. Tudo aquilo só se tornou um amontoado de

carne cortada, esfaqueada, estripada.

Como nunca usei esta estratégia e sabendo a que produção escrita pode ser

contaminada pela visão de mundo dos seus autores, posso e pretendo mostrar que

a visão psicopedagógica enriquece a observação destes textos que não são neutros

para quem os produz ou lê.

Sabendo que a psicopedagogia pretende explicar também que na fabricação

do problema de aprendizagem como sintoma intervêm questões que dizem respeito

à significação inconsciente do conhecer e do aprender e ao posicionamento diante

do oculto, fica enfatizado também que a exploração e compreensão destes textos

produzidos pelo aprendente podem ajudar a reconhecer sua alma de

aprendente/ensinante, o que Jack, o estripador não conseguiu das suas vítimas

mutiladas.

Nesse momento, em que o aluno imprime o seu próprio pensamento e

saber, registrado na própria palavra, a visão psicopedagógica encontra pistas que

podem ser inconscientes ou não, mas são pistas sobre os processos de apropriação

e autoria de pensamento.

O trabalho psicopedagógico junto com a produção textual será menos

enigmático pois pode-se identificar, antecipar e pesquisar o que já foi registrado na

palavra.

“... Uma pedra lançada em um pântano provoca ondas na

superfície da água, envolvendo em seu movimento, com

distâncias e efeitos diversos, os golfões, as

taboas{(planta aquática)} e o barquinho de papel. Objetos

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que estavam ali por conta própria, na sua paz ou no seu

sono, são como que chamados para a vida, obrigados a

reagir , a se relacionar. Outros movimentos invisíveis

propagam-se na profundidade, em todas as direções,

enquanto a pedra se precipita agitando algas, assustando

peixes, causando sempre novas alterações moleculares.

Quando toca o fundo, revolve a areia, encontra objetos ali

esquecidos, desenterrando alguns e recobrindo outros.

Em um tempo brevíssimo, inúmeros eventos sucedem-

se, sem que possamos registrá-los

Da mesma forma, uma palavra escolhida ao acaso, e

lançada à mente, produz ondas de superfície e de

profundidade, provoca uma série infinita de reações em

cadeia, agitando em sua queda sons e imagens, analogia

e recordações, significados e sonhos, em um movimento

que toca a experiência e a memória, a fantasia e o

inconsciente, e que se complica pelo fato de que essa

mente não assiste passiva à representação, mas nela

intervêm continuamente, para aceitar e rejeitar, relacionar

e censurar, construir e destruir.” (Rodari,.1982, 14).

Retornando a Jack, que não conseguiu conhecer a alma humana e que não

foi tão eficaz com seus facões e machados, poderemos através de uma folha de

papel em branco, um lápis, uma idéia, e muita realidade/experiência verificar que o

sujeito oferece a sua história, o seu conhecimento através da linguagem escrita.

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1. A luta pelo significado

1.1. Conceituando o significado

Observo, através de textos produzidos, que a grande maioria dos

adolescentes ao iniciar a produção textual diz que não tem nada na cabeça, está

sem idéia para escrever.

Falo para eles que para escrever é importante ler, até bula de remédios vale.

A literatura traz informação, emoção, desenvolve a mente e a personalidade,

estimula e sempre acrescenta algo a nossas vidas.

Através de textos, dos contos de fadas, das crônicas e das poesias o jovem

encontrará soluções para enfrentar a vida que a cada dia que passa torna-se mais

tumultuada.

Nessa mistura de sentimentos, contradições, culpas, fracassos,

incompreensões e mistério o jovem busca se conhecer e aprender a seguir o

caminho que lhe parece assustador.

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O que se lê só terá significado se acrescentar algo a sua vida,

conhecimento/aprender, assim como uma pedra que jogada no rio trará outras que

construirão e definirão os sentimentos, os significados que trarão as soluções.

No ato de ler, antes da relação entre leitor e autor, existe outra fundamental:

entre leitor virtual, aquele imaginado pelo autor no ato da escrita e leitor real, que na

escola se identifica com o aluno cujo texto eu tento compreender.

A relação será entre o dito e o não-dito, pois o aprendente é o produtor de

sua história que depende de sua vida, de sua classe social, seus hábitos, códigos e

de imagens que ele faz das coisas do mundo.

Sabemos que todo discurso nasce em outro (sua matéria-prima) e aponta

para outro (seu futuro discursivo):, que o sujeito (aprendente) não é a fonte exclusiva

do seu dizer: que a linguagem é incompleta: que, quando se lê, considera-se não

apenas o que está dito, mas também o que está implícito pois é ai que se sustenta o

que está dito.

Baseado nos fatos expostos, os textos produzidos pelos adolescentes são

polissêmicos e todos os sentidos são possíveis, dependendo da história de quem os

escreve.

O professor de Redação tem um compromisso com o entendimento do que

está escrito também nas entrelinhas, pois a linguagem não pode perder a sua

natureza de ação entre interlocutores (escritor-leitor) podendo ver que há uma

relação instaurada entre sujeitos (professor e autor), mediados pela interação

ensino-aprendizagem.

A materialidade lingüística do texto(palavras, frases) é apenas um aspecto.

O mais importante é procurar intenções, não-ditos, implícitos, pressuposições,

conhecimento de mundo e afetividade do aluno escritor.

“O eixo para se ajudar a escrever e ler deve estar na

pessoa que forma as palavras”, pois é ela quem outorga

significados, significados, significações e dá sentido.

O eixo está neste ser humano que aprende colocando

em jogos seu organismos, seu corpo, sua inteligência,

seu desejo inconsciente, seu querer, isto é, uma máquina

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desejante – imaginativa - pensante”.(Fernandez

2001,151)

1.2. A vida interior

Escrever é eleger, decidir, mostrar-se (Fernandez.)

Escrever é marcar. A palavra está ligada ao corpo. Pode-se remeter ao ato

de expulsar urina e fezes, a fazer sair a saliva e o esperma.

Escrever vem e sai como a sucção do leite materno.

Escrever é um fluxo que tem como ponto de partida o interior, o psíquico, a

matéria orgânica de qual é feita o indivíduo.

A atividade do pensamento na produção escrita está relacionada como os

fios de uma teia de aranha. Não sendo invisível e sendo sempre ligados à vida

interior de quem a escreve.

Os significados atravessam a pele, saem na ponta do lápis e se transformam

em palavras.

O ser humano precisa de alimento para viver assim como precisa de sonhos

e sentimentos para escrever.

Escrever é revelar-se, deixar sair o segredo, partilhar as verdades, as

dúvidas, as fantasias e as realidades.

Recorrendo a Freud que mencionava uma “fonte somática” do afeto citando

o seio materno como primeiro objeto erótico da criança e que o amor se engendra

sustentado na necessidade de nutrição satisfeita, podemos relacionar vida interior à

produção de textos.

Haverá prazer de escrever se houver prazer ao se alimentar neste seio .

Haverá relação/conexão com sua máquina desejante – imaginativa - pensante se

houve afeto neste mesmo ato de sucção que gerou o alimento que hoje, pode

tornar-se palavra escrita.

Como sabemos que todo ser tem aspectos físicos, biológicos, mentais,

psicológicos, culturais e sociais diferentes, também sabemos que sua produção

escrita será reflexo dessa miscelância, dessa multidimensão que compõe sua vida.

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O olhar diferenciador pressupõe o conhecimento de vidas interiores díspares que

conduzem à produções escritas únicas e marcadas pelo toque individual do

aprendente escritor.

“Por isso escrevo e escreverei: para instigar o meu leitor

imaginário – substituto dos amigos imaginários da

infância? – a buscar em si e compartir comigo tantas

inquietações quanto ao que estamos fazendo com o

tempo que nos é dado.” (LUFT, Lia – 2003 - capa)

O nosso amadurecimento psíquico e social acompanha o nosso

amadurecimento lingüístico. Através do exercício da linguagem, nos afirmamos não

só como pessoas, mas como cidadãos, num processo contínuo de busca da

liberdade.

O caráter privado da fala seria a utilização que cada indivíduo faz da língua.

É o aspecto individual da linguagem humana. a língua é o lado público e coletivo da

linguagem humana, ao passo que a fala/escrita é seu lado privado e individual.

Sendo um bem privado, é um ato individual. Cada falante (aprendente) pode usá-la

como bem lhe aprouver dentro das regras preestabelecidas pelo contrato coletivo

ajustado com os demais falantes.

Constatamos que apesar da grande invasão das imagens no mundo da

comunicação, ainda somos uma civilização da escrita. Os antigos romanos já diziam:

“verba volant: scripta manent”, isto é, as palavras voam, aquilo que está escrito

permanece.

Solicitamos aos alunos de 8ª série do Colégio Salesiano Santa Rosa que

criassem uma história que apresentasse algum tipo de conflito. A faixa etária é de 14

anos, os nomes foram omitidos e não foram feitas correções ortográficas. Os textos

estão no ANEXO A.

1.3. A vida exterior

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Sabemos que há aspectos de fora do texto (extralingüísticos) que

determinam a sua produção. O conhecimento da língua é apenas uma parte do

necessário para a compreensão do que se lê e escreve.

Não é só o trabalho de se juntar as palavras e frases que darão o resultado

final na elaboração de uma redação.

No momento em que o aprendente lê um livro ou uma crônica e a ele é

solicitado que a reescreva, mudando o final, o início, ou o meio, neste momento, ele

poderá identificar-se com um dos protagonistas do texto e passará a agir como ele

próprio, na sua vida real.

As situações da sua vida exterior entrarão na composição do que lhe foi

solicitado e é nessa exterorização que poderemos tomar conhecimento dos seus

problemas mais íntimos e reais.

A catarse será um processo transformador através das palavras colocadas

no texto, carregadas de significados e determinantes para que juntemos os fatos à

solução.

A externalização pode ser o único caminho pelo qual o adolescente parece

mostrar controle ou descontrole desta ou daquela situação, sempre através dos

textos (produzidos) escritos.

Os conflitos da vida cotidiana, a violência, os relacionamentos com pais,

professores e amigos são produtos da vida exterior que se refletem na palavra , no

texto.

O mundo, a História, a existência, o ser humano na sua dimensão cósmica

tornam-se “pano de fundo” no ato de escrever. É nesse movimento de análise crítica

dos conhecimentos externos que ocorrem e na transformação que eles ocasionam

que surgem a idéia, a palavra, a redação.

Após ouvirem a música “Tô nem aí”, propusemos a adolescentes de 8ªsérie

que escrevessem dois parágrafos: Tô aí.... e Tô nem aí. A faixa etária é de 14 anos

e são alunos do Colégio Salesiano Santa Rosa

Os parágrafos selecionados encontram-se no ANEXO B, e os nomes foram

omitidos assim como não foram feitas correções ortográficas.

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ANEXO A – A vida interior

Eu sou X X X X estudo no Colégio Salesiano Santa Rosa de Niterói no

Estado do Rio de Janeiro. Sou um garoto muito bagunceiro, por isso sou muito

marcado na escola, então qualquer coisinha o primeiro a tomar esporro sou eu.

Um dia resolvi ficar queto, mudar de comportamento, prestar atenção nas

aulas etc. Só que eu percebi que não adianta muito, porque as pessoas podem estar

conversando como eu, mas só eu tomo esporro.

Tento melhorar só que me da raiva as pessoas fazendo coisas piores que

eu, e os professores nem ligando, só que quando eu abro a boca já tomo esporro.

As vezes acabo perdendo a cabeça e não penso no que faço.

É isso o conflito de aluno bagunceiro.com aluno.

Ciúme

Naquele dia ensolarado, exatamente numa manhã de domingo, Manuela e

João resolveram ir à praia com os amigos. Manuela, uma adolescente que sente

muitos ciúmes do namorado, já foi avisando para ele ficar do lado dela na areia ou

em qualquer outro lugar. João, apavorado com o que a namorada podia fazer, logo

falou que ficaria só com ela e não com os amigos.

Mas aconteceu exatamente o contrário, João chegou na praia e deixou

Manuela para trás com a amiga dela. Já foi tirando a camisa e correu para a água

com dois amigos.

De repente, quando Manuela chegou na praia e viu que seu namorado

estava com os amigos conversando com umas meninas na água. Pronto! Manuela

fez um escândalo e correu para a água para tirar satisfação.

Então, João que já não aguentava mais essa crise de ciúmes deu um fora

em Manuela e disse que ela não manda na vida dele e que ele poderia ficar com

quem ele quisesse. Furioso, Manuela terminou tudo com João, e este super contente

com a notícia, ficou com os amigos na praia, deixou Manuela sozinha e arrumou

outra namorada lá mesmo.

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Um Casal Perfeito

Carla, era uma mulher muito bonita. Tinha cabelos negros e longos, olhos

verdes e corpo escultural. Era o sonho de qualquer homem, mas apenas um tinha

essa sorte. O nome dele é Rafael. Ele também é muito bonito. Todos diziam que

eles faziam um casal perfeito.

Eles eram noivos, já moravam juntos em uma casa na Barra da Tijuca e não

tinham filhos, mas pretendiam ter três. Sempre saiam juntos. Os dois tinham um

ótimo humor, eram sempre alegres, sorridentes, uma ótima companhia para

qualquer programa.

Eles não brigavam por nada, afinal não tinham nenhum motivo para

desconfianças. O amor deles era maior do que essas besteiras.

Um dia, quando Rafael chegou do trabalho, viu Carla chorando. Nervoso, ele

perguntou o que havia acontecido. Carla falou que nunca esperava isso dele e que

nunca mais queria vê-lo, jogando com força a aliança no chão.

Rafael não sabia o que fazer, afinal ele não havia feito nada. Carla jogou as

roupas dele na cama até que ele conseguiu acalma-la um pouco.

Ela contou que uma amiga lhe enviou fotos por email dele com outra mulher.

Ele examinou as fotos e percebeu que tudo aquilo foi feito através de uma

montagem. Ele mostrou para ela que tudo era uma farça. Arrependida, Carla pediu

desculpas e arrumou toda a bagunça que havia feito. Ela prometeu que nunca mais

o acusaria sem antes conversar.

Depois disso, eles voltaram a ser um casal perfeito, porém com uma

amizade a menos.

ANEXO B – A vida exterior

Tô nem aí... para minha madrasta, pro meu ex, para os que não gostam de mim, para o

Bush .

Tô aí... para os meus estudos, para os meus amigos, para minha família, para quem eu

gosto e para os que me amam.

Tô nem aí... para os amigos falso, para a minha casa, para o colégio, para o futuro...

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Tô aí... para meus amigo, para sair, me divertir, curtir a vida, curtir o presente...

Tô nem aí... para o que as pessoas dizem

Tô aí... para as pessoas que querem o meu bem

Tô nem aí... pras drogas pros estudos pros problemas

Tô aí... pra diversão pro surf pra praia pras noitadas pras brincadeiras

Tô nem aí... pro que os outros pensam de mim, pra falsidade, tristeza, para o mundo,

inveja, inimigos, dinheiro...

Tô aí... pra família, para os amigos, para viver, para aproveitar tudo, de bom, esquecer tudo

de ruim, errar, acertar, praia, para as mulheres...

Tô nem aí... para quem não gosta de mim, para pessoas mal-educadas, para as pessoas

que falam mal de mim, para as políticas, para os EUA, para o que pensam de mim(+/-).

Tô aí... para o estudo, para a vida, para ser feliz, para me divertir, para ser eu mesma, para

beijo na boca, para curtir, para descobrir os mistérios da vida, para dar amor a quem precisa, para

fazer mais e mais amigos, para ”tudo’, para pizza, lazanha...

Tô nem aí... para o B quero o esquecer!

Não vou sofrer por ele

Não tô nem aí para a chuva!

Tô aí... para o showzinho do F.D. que vai ser hoje e estou muito aí para o show. E para

minha família, amigos e estudo.

Tô nem aí... pra chatice, homonxualidade, depressão, baixo astral, drogas, inveja, egoísmo

e angústia.

Tô aí... pra música, mulheres, instrumentos, amigos, alegria, diversão, comédia e arte.

Tô nem aí... para o tédio, para as pessoas chatas para drogas.

Tô aí... para pegar onda, ir para praia, ouvir música boa e aproveitar a vida.

Tô nem aí... para o que as pessoas falam de mim, só quero me divertir, tô nem aí para os

outros garotos, tenho um namorado que amo, tô nem aí para as pessoas falsas, por que tenho

amizades verdadeiras e puras, tô nem aí para a vida, porque tenho tudo que quero...

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2 Fantasia ou Realidade

2.1. Conceituando fantasia e realidade

Existe a fantasia. Existe a realidade. A palavra se constrói e se entrelaça entre ambas.

Qual é o limite da realidade? Onde está a fantasia?

Quase todos os textos lidos pelos alunos são atribuídos a um autor e os textos escritos

pelos alunos na escola, a partir de uma proposta dada pelo professor têm origem neles, alguém

que, num momento qualquer de sua vida, pára e escreve sobre algo que o estimula, ou lhe

interessa, ou o preocupa.

Quando o(s) alunos(s) escreve(m), tudo que escreve(m) sai única e exclusivamente

dele(s)? Ou estes textos têm relação com outros textos já escritos? Ou, naquele momento,

naquele texto, aproveitando a deixa, aparecem os conflitos, as desilusões, as queixas, os

problemas?

Sabemos que a palavra libera e tem valor. Ser criativo é saber usar a imaginação,

enriquecendo e revelando ao passar pelos caminhos da fantasia o que na verdade pode ser a

realidade e não o sonho.

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A entrada na realidade será realizada através da fantasia, porque é muito mais fácil

“fazer de conta”, sem qualquer controle externo, sem noção temporal, mas cheia de

significados facilmente identificáveis.

Sem estar consciente disso, o adolescente pode contar através de outro personagem

suas aflições, dúvidas, tristezas, frustrações.

A lógica pode estar na fantasia ou na realidade. O texto pode ser escrito com

intenção de revelar através da fantasia o que perturba um adolescente, assim como pode estar

impregnado de realidade refletindo a verdade nua e crua.

Podemos pressupor que a verdade pode ser relativa e que em vários momentos a

escrita é uma constante para organizar os referenciais da própria sobrevivência. Neste

momento entram as próprias vivências e as necessidades do momento, aí entra a realidade.

Os alunos estimulados a escrever com liberdade o que estão pensando e de acordo

com o exposto, aparecem a intencionalidade, a situcionalidade, a intertextualidade e a

informatividade.

Após a leitura do livro “O diário de Tati” de Heloísa Perissé, solicitamos aos alunos

de 8ªsérie que reescrevessem a última página do livro lido. Os textos selecionados estão no

ANEXO C, e não foram feitas correções ortográficas, sendo os nomes omitidos.

2.2. A escola e a vida

Vimos nascer o tema fantástico- a primeira inspiração para uma estória – através de

uma única palavra. Tudo não passou, porém, de uma ilusão de ótica. Na realidade, não basta

um pólo elétrico pra provocar uma faísca, são precisos dois. Uma única palavra “age”.

(“Sopre-o. E o nome age...” disse Montale) apenas quando encontra uma outra que a provoca,

que a obriga a sair do seu cotidiano binário e se redescobrir em novos significados. Não há

vida onde não há luta.

Isto está intrinsecamente ligado ao fato de que a imaginação não é uma faculdade

qualquer, separada da mente: é a própria mente, na sua interação, a qual, solicitada por uma

atividade mais que por outra, serve-se sempre, dos mesmos procedimentos. E a mente nasce

na luta e não na paz. Henry Wallon escreveu em seu livro Le origini del pensiere nel

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bambino, que o pensamento forma-se em dupla. a idéia de ‘mole’ não se forma nem antes

nem depois da idéia de ‘duro’, mas contemporaneamente, em um encontra quando:

”O elemento fundamental do pensamento é esta estrutura

binária, não apenas os elementos que a compõe. a dupla, os

pares, são anteriores ao elemento isolado.”.(Rodari, ,1982, 21)

Práticas atuais, presentes em muitas escolas, elas nada mais são do que idéias

defendidas e aplicadas pelo educador Célestin Freinet desde os anos 20 do século passado, na

França. ‘Ele propunha uma mudança da escola, que considerava teórica, desligada da vida.’

explica Marisa Del Cioppo Elias, professora do Departamento de Tecnologia da Educação da

Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. ‘Sua sala de aula

era prazerosa e bastante ativa. O trabalho é o grande motor de sua pedagogia.’

A partir do momento em que o aluno vive na escola o que está acontecendo fora dela,

está havendo aprendizagem. Se aproximamos os alunos dos conhecimentos da comunidade

elas podem transformá-los e, assim modificar a sociedade em que vive. Ao ler um livro e

recriá- lo, apresentando-o ao seu colega, o produto deste trabalho é a socialização, um trabalho

de cidadania, é a pedagogia do êxito. (ANEXO C)

2.3. Construção do Texto

O adolescente, atravessa um momento extremamente conturbado de sua vida pois à

puberdade física corresponde o início de uma fase intelectual nova.

Segundo Piaget, a partir de doze anos de idade as crianças estão entrando na etapa do

raciocínio operatório e do pensamento abstrato. Essa fase também apresenta o

desenvolvimento da linguagem conceitual e socializada. Este processo de evolução, contudo,

não é igual para todos e sabemos que além das características mencionadas, durante a

adolescência o indivíduo tende à dispersão, à fantasia e ao egocentrismo.

A construção do texto deve ser feita de forma crítica e transformadora.

Após a leitura de “As mentiras que os homens contam” de Luís Fernando Veríssimo

e o “Diário de Tati” de Heloísa Périssé, propusemos aos alunos da 8ª série do colégio

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Salesiano Santa Rosa a criação de textos baseados nos livros lidos. A faixa etária desses

aprendentes é de 14 anos.

Os textos selecionado encontram-se no ANEXO D e não foram feitas correções

ortográficas e/ou de coesão textuais, assim como os nomes foram omitidos. O importante é o

relato da idéia e a contribuição dos aprendentes para a comprovação de que realidade e

fantasia formam uma rede, uma interligação e que o olhar psicopedagógico poderá sempre

interferir e ajudar nesta interação entre a experiência (realidade) e a fantasia (criação).

O material recolhido é riquíssimo e contribui para a análise de problemas familiares,

comportamentais e escolares.

Jack, o Estripador queria conhecer o sentido do SER HUMANO multilando-os,

dividindo-os, observando-os mortos, separados em partes mínimas, intrigado com aquele

amontoado de carnes.

Enquanto isso, com a produção dos textos e com a leitura mais atenta podemos

entender a alma humana, principalmente a dos nossos adolescentes que a todo momento nos

dão “pistas”, sinalizando como faróis nas ilhas desconhecidas, nos portos do subterrâneo do

conhecimento humano.

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3 Os Caminhos do Conhecimento

3.1. Conceituando o conhecimento

Neste processo de criação e autoria do conhecimento, através da produção textual, há

possibilidade de se realizar um diagnóstico psicopedagógico e interpretar a mensagem do

aprendente.

Podemos encontrar as razões, as motivações psicológicas, os significados

emocionais, a função de divertimento e a linguagem simbólica do inconsciente que aparecem

na produção textual do aprendente.

“Em psicopedagogia, não falamos tanto dos conhecimentos, mas

do conhecer. A informação (que está fora do sujeito) transforma-se

em conhecimento quando o sujeito chega a conhecê-la.”

...A informação é sempre um dado terminado, recortado e

recortável, separável da pessoa que o produziu. Em troca, o

conhecer é um processo que, embora seja consciente e

transmissível através principalmente de conceitos

(conhecimentos), tem suas fronteiras menos definidas. Pode

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diferenciar-se das pessoas que o produziram, mas mantém uma

relação possível ou pelo menos indicativa de seus autores.

...Quando transmitimos um conhecimento, para nós é uma

construção mas enquanto o transmitimos, ele se transforma em

um signo, o qual aparece como informação. A partir daí, o

aprendente precisará construir o conhecimento. Para fazer essa

produção de conhecimento a partir da informação que o

ensinante lhe dá, precisa recorrer ao seu próprio saber que será

o que vai dar sentido àquela informação. A construção de

conhecimento inclui todo esse procedimento, e a essa

construção própria eu chamo aprender”. (Fernández, 2001, 72)

O saber em jogo

“A inteligência não se constrói no vazio: ela se nutre da

experiência de prazer pela autoria. Por sua vez, nas próprias

experiências de aprendizagem, o sujeito vai construindo a autoria

de pensamento e o reconhecimento de que é capaz de transformar

a realidade e a si mesmo. É sobre a dramática do sujeito, com o

suporte das significações, que a inteligência trabalha” (Fernández.

2001, 82)

“O pensamento não é autônomo; ao contrário, é por suas ligações

com o desejo(e daí com o outro) e por tal relação com os limites do

real que é necessário e urgente ao sujeito situar-se como o autor de

seu pensar. Sendo assim, poderá ir deixando de ser objeto do

desejo do outro para ser sujeito de seu próprio desejo, ou, melhor

ainda, para reconhecer-se como sujeito desejante. Quando digo

reconhecer-se, estou sublinhando dois aspectos: a atividade do

pensamento e a necessária conexão com os limites da realidade

que delimitam o espaço em que pensar tornou-se necessário e, ao

mesmo tempo possível. É nesse limite que vai trabalhar o pensar...

Dessa forma, a intervenção do psicopedagogo, na maioria dos

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tratamentos psicopedagógicos, busca proporcionar(na transferência

com e frente ao objeto de conhecimento e com e frente ao

psicopedagogo) um espaço onde esse reconhecimento seja

possível”

(Fernández ,2001, 90)

Durante uma aula de Redação, propôs-se a alunos de 8ª série do Colégio Salesiano

Santa Rosa que trouxessem uma foto qualquer (pessoas, animais, paisagens) e que relatassem

o que aconteceu naquele dia, as emoções sentidas, o porquê do foto, quem eram as pessoas da

foto.

Foram selecionadas algumas redações que se encontram no ANEXO E. Os nomes

foram omitidos e não foram feitas as correções ortográficas e/ou de coesão textual.

3.2. O Conhecimento da Verdade: a reconstrução do texto.

Por falar em fantasia e em verdade, lembrei-me da fábula dos cegos e do elefante.

Eram cinco cegos que não conheciam o elefante, e um dia foram apresentados a ele. Um dos

cegos apalpou as patas e concluiu: o animal se assemelha a grossas colunas. Outro tomou a

tromba e pensou ser ele semelhante a uma cobra, sinuosa e flexível. O terceiro, pegando a

cauda, imaginou o elefante como um chicote, fino e com fios na extremidade. Já o quarto,

tateando as presas, imaginou-o como um bastão maciço. O último cego, ao apalpar as orelhas

do animal, ponderou que ele mais parecia um leque maleável.

Como eram cegos, perceberam o elefante através de outros elementos de percepção.

A realidade para eles era a imaginação, a comparação, a fantasia, a criatividade.

Ao buscar a resposta através da coerência e da consistência, montaram raciocínios

para chegar a uma conclusão.

Assim como os cegos, quanto mais buscamos conhecer, mais concluímos que

permanecemos numa imensidão de inexplicabilidade.

Chamamos Realidade ao que tem sentido para nossa consciência.

A lógica pode estar na fantasia ou na realidade?

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“A mente de uma criancinha contém um conjunto de impressões,

com freqüência mal ordenadas e apenas parcialmente integradas,

que se expande rapidamente: alguns aspectos da realidade vistos

corretamente, mas muito mais elementos completamente

dominados pela fantasia. a fantasia preenche as enormes lacunas

na compreensão de uma criança que são devidas à maturidade de

seu pensamento e à sua falta de informação pertinente. Outras

distorções são conseqüência de pressões externas que levam a

falsas interpretações das percepções infantis.”

(Bettelheim, 2003, .77)

“O conto de fadas, a partir de seu começo mundano e simples,

arremessa-se em situações fantásticas. Mas por maiores que sejam

os desvios – à diferença da mente não instruída da criança, ou de

um sonho – o processo da estória não se perde. Tendo levado a

criança numa viagem a um mundo fabuloso, no final o conto

devolve a criança à realidade, da forma mais reasseguradora

possível. Isto lhe ensina o que mais necessita saber neste estágio de

desenvolvimento: que não é prejudicial permitir que a fantasia nos

domine um pouco, desde que não permaneçamos presos a ela

permanentemente. No final da estória o herói retorna à realidade –

uma realidade feliz, mas destituída de mágica.”

(Bettelheim, 2003, 79)

Nossos adolescentes não são como os cegos, mas registram através das palavras as

pistas sobre os processos de apropriação e autoria de pensamento. Ao montar/desmontar

raciocínios redescobrem através da fantasia a sua realidade, a sua experiência de vida.

A produção textual carrega todo o processo evolutivo, perceptivo, real ou imaginário

que o aprendente transporta para o papel. Nessa re(criação) do mundo o adolescente se liberta

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e se renova, expondo-se nos seus relatos únicos por onde se revelam os segredos, as dúvidas,

as verdades e as fantasias.

“A psicopedagoogia clínica dirige-se a um sujeito aprendente,

assim como a psicanálise dirige-se a um sujeito desejante e a

epistemologia genética a um sujeito cognoscente.

O nodal de sua visão não se dirige à inteligência, mas à articulação

entre o organismo, o corpo, a inteligência e o desejo, numa inter-

relação que constitui o terreno onde a ensinagem – aprendizagem

acontece.”

(Fernández, 2001, 146)

Após a leitura do livro “As mentiras que os homens contam”, propusemos a alunos

da 8ª série do Colégio Salesiano Santa Rosa a criação de textos baseados no livro lido.

A faixa etária desses aprendentes é de 14 anos.

Os textos selecionados encontram-se no ANEXO F. Os nomes dos alunos foram

omitidos e não foram feitas correções ortográficas e/ou coesão textual.

3.3. Transcendendo a adolescência com a ajuda da fantasia.

A psicopedagogia tem por objeto de estudo a aprendizagem como um processo

individual, em que a trajetória da construção do conhecimento é valorizada e entendida como

parte do resultado final. A preocupação maior da psicopedagogia é o ser que aprende, o ser

cognoscente, e o seu objetivo geral é desenvolver e trabalhar esse ser de forma que seja

potencializado como uma pessoa autora, construtora da sua história, de conhecimentos, e

adequadamente inserida em um contexto social.

O psicopedagogo é um profissional, com outro referencial, com outro conhecimento

e com outro olhar.

A psicopedagogia, hoje, é entendida num contexto de interdisciplinaridade, sem,

contudo, perder de vista que os diferentes níveis de realidades são acessíveis ao conhecimento

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humano graças à existência de diferentes níveis de percepção, que se acham em

correspondência biunívoca com os níveis de realidade... sem jamais esgotá- la completamente.

“A mente é uma só. Sua criatividade pode ser cultivada em muitas

direções. As fábulas (escutadas ou inventadas) não são “tudo” que

concerne à criança. O livre uso de todas as possibilidades da língua

não representa senão uma das direções em que a criatividade pode

expandir-se.”

(Rodari, 1982,139)

“A gênese do escrever – e seu sentido – remontam a gênese do

falar: mostrar a própria palavra e, nesse mostrar- enunciar,

reconstruí-la (reconstruir o pensamento e o desejo), primeiro, na

devolução especular e depois na simbólica, cujo sentido ocorre a

partir da escuta que o outro aposta.

Lacan diz algo assim como que a voz se ouve, o significante se

escuta e o que se lê do que se escuta é o significado.

Do mesmo modo, em relação à leitura, poderíamos dizer que as

letras são visitas, as palavras são olhadas, e o que se pode ler é o

significado. Este significado vai se construindo e reconstruindo

cada vez que alguém lê o que está escrito, tenha sido escrito por ele

ou por outro. As letras são desenhadas; só as palavras se escrevem.

(Fernández. 2001, 150,151.)

Será que aquele que lê mais, escreve melhor? Será que aquele que fantasia

mais, produz um texto mais interessante?

Está claro que precisamos desenvolver nos nossos alunos o hábito da leitura. O

amor à leitura tem em comum o prazer.

“Esse movimento dinâmico é, para Paulo Freire, um dos aspectos

centrais no processo de alfabetização. Podemos ir mais longe e

dizer que a leitura da palavra é antecedida não só pela leitura de

mundo, mas por uma certa forma de escrevê-lo ou de reescrevê-lo

– de transformá-lo a partir de nossa prática consciente.

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Através da leitura, portanto, reconhecemos parte da humanidade e

não seres isolados, somos capazes de tecer a própria

individualidade a partir do e com o outro. Por isso a importância

das palavras “grávidas de mundo” utilizadas por Paulo Freire no

processo de alfabetização, e a íntima relação que esse processo

estabelece com a cidadania”

(Gurgel, 2002,210)

“É compreensível então que, quando solicitada a mencionar alguns

de seus contos de fadas prediletos, raramente a criança escolha

algum conto moderno. Muitos dos novos contos têm finais tristes,

que não conseguem prover o escape e o consolo que os eventos

amedrontadores no conto de fadas fazem necessários, para

fortificar a criança no seu defrontamento com as intempéries de

sua vida. Sem estas conclusões encorajadoras, a criança, depois de

ouvir a estória, se sentiria sem nenhuma esperança verdadeira de se

desvencilhar dos desesperos de sua vida”

(Bettelheim 2003,177)

Após a leitura do livro “Capitães da Areia”, de Jorge Amado, solicitamos aos alunos

da 8ª série do Colégio Salesiano Santa Rosa que criassem um personagem capitão da areia de

Niterói e o entrevistasse. Pedimos também que criasse outro personagem e, contasse a sua

história, como menino(a) de rua de Niterói, assim como os personagens do livro lido.

A faixa etária dos alunos é de 14 anos e os textos e entrevistas selecionados

encontram-se no ANEXO G. Os nomes dos aprendentes foram omitidos e não foram feitas

correções ortográficas e/ou coesão textual.

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Conclusão

Segundo várias teorias, só é considerado livre o ser humano autônomo, capaz de

pensar por si mesmo – dando respostas originais ao mundo e a si próprio.

O significado etimológico da palavra pensar vem do latim “pendere” (ficar em

suspenso, suspender, estar ou ficar pendente ou pendurado).

O pensamento faz com que nos familiarizemos com o mundo, buscando

compreender o significado dos objetos e das pessoas, das relações entre uns e outros, das

relações entre o aprendente e o ensinante.

Diante do real, que sabemos existir, mas que se oculta muitas vezes além de nossas

percepções e do nosso pensamento, sentimos estranhamento.

Buscamos, então, a fantasia, e através dela, em dados momentos de nossa vida,

mesmo não nos dando conta, entramos e saímos dos processos criativos.

Além do impulsos do consciente, o impulso elementar e a força vital para criar se

originam nas áreas ocultas do ser.

Ao fazer as pesquisas para a realização deste trabalho, lendo e relendo os textos dos

meus alunos, descobri os fios que se entrelaçam e se tecem entre acertos e erros, tristezas e

alegrias, dúvidas e sofrimentos, problemas e soluções.

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Toda teoria é uma visão. Toda aprendizagem implica aquisição de uma visão nova.

Toda palavra, cada texto pode vir impregnado de fantasia e realidade.

Revelar a significância deles, não é tarefa das mais fáceis, pois nenhum caminho é

lógico na medida que montar um quebra-cabeça leva tempo, sensibilidade, imaginação e

paciência.

Relembrando o Jack, lá do início, que não chegou à conclusão alguma ao

despedaçar suas vítimas, acreditamos que a visão psicopedagógica na avaliação da

produção de textos nos ajudará a redescobrir uma idéia, um saber, um conhecer que

o sujeito aprendente está nos oferecendo através da linguagem escrita.

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Referências

¨ BAJARD, Elie. Ler e Dizer Compreensão e comunicação do texto escrito. 3ª ed. Cortez Editora, São Paulo, S.P., 1994.

¨ BETTELHEIM, Bruno. A Psicanálise dos contos de fadas. 17ª ed. Paz e Terra, Rio

de Janeiro, R.J., 2003.

¨ FERNÁNDEZ, Alicia. A Inteligência Aprimorada. Artmed Editora, Porto Alegre, R.S.,1991.

¨ ___________. A Mulher Escondida na Professora – 2 reimpressão. Artmed, Porto

Alegre, R.S., 2001.

¨ ___________. O saber em Jogo. Artmed, Porto Alegre, R.S., 2001.

¨ ___________. Os Idioma do aprendente. Artmed Editora, Porto Alegre, R.S., 2001.

¨ ___________. Psicopedagogia em Psicodrama: morando no brincar. 2ªed. Editora Vozes, Petrópolis, RJ,2002.

¨ LUFT, Lya. Perdas & Ganhos. 10ª ed. Rio de Janeiro, RJ, 2003.

¨ RICHE, Rosa. Oficina da Palavra: ler e escreve bem para viver melhor. 3ªed. ,São

Paulo, S.P.. FTD, 1990.

¨ RODARI, Gianni. Gramática da fantasia. São Paulo, S.P., Summus, 1982.

¨ TERRA, Ernani. Linguagem, língua e fala. São Paulo, S.P., Editora Scipione, 1997.

¨ TIBA, Içami. Quem Ama, Educa! 30ª ed. Editora Gente, São Paulo, S.P., 2002.

¨ VALENTE, André. Aulas de Português. Perspectivas inovadoras, 5ªed. Editora Vozes, Petrópolis, R.J., 2002.

¨ VANOYE, Francis. Usos da Linguagem – problemas e técnicas na produção oral e

escrita, 11�6 ed. Martins Fontes, São Paulo, S.P., 2002.

¨ WANDSWORTH, Barry Jr. Inteligência e Afetividades da Criança na Teorias de Piaget. 5ªed.Pioneira Thomson Learning, são Paulo, S.P., 2001.

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ANEXO A – A vida interior

Eu sou X X X X estudo no Colégio Salesiano Santa Rosa de Niterói no Estado do

Rio de Janeiro. Sou um garoto muito bagunceiro, por isso sou muito marcado na escola, então

qualquer coisinha o primeiro a tomar esporro sou eu.

Um dia resolvi ficar queto, mudar de comportamento, prestar atenção nas aulas etc.

Só que eu percebi que não adianta muito, porque as pessoas podem estar conversando como

eu, mas só eu tomo esporro.

Tento melhorar só que me da raiva as pessoas fazendo coisas piores que eu, e os professores nem ligando, só que quando eu abro a boca já tomo esporro.

As vezes acabo perdendo a cabeça e não penso no que faço.

É isso o conflito de aluno bagunceiro.com aluno.

Ciúme Naquele dia ensolarado, exatamente numa manhã de domingo, Manuela e João resolveram

ir à praia com os amigos. Manuela, uma adolescente que sente muitos ciúmes do namorado, já foi avisando para ele ficar do lado dela na areia ou em qualquer outro lugar. João, apavorado com o que a namorada podia fazer, logo falou que ficaria só com ela e não com os amigos.

Mas aconteceu exatamente o contrário, João chegou na praia e deixou Manuela para

trás com a amiga dela. Já foi tirando a camisa e correu para a água com dois amigos.

De repente, quando Manuela chegou na praia e viu que seu namorado estava com os

amigos conversando com umas meninas na água. Pronto! Manuela fez um escândalo e correu

para a água para tirar satisfação.

Então, João que já não aguentava mais essa crise de ciúmes deu um fora em Manuela

e disse que ela não manda na vida dele e que ele poderia ficar com quem ele quisesse.

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Furioso, Manuela terminou tudo com João, e este super contente com a notícia, ficou com os

amigos na praia, deixou Manuela sozinha e arrumou outra namorada lá mesmo.

Um Casal Perfeito Carla, era uma mulher muito bonita. Tinha cabelos negros e longos, olhos verdes e

corpo escultural. Era o sonho de qualquer homem, mas apenas um tinha essa sorte. O nome

dele é Rafael. Ele também é muito bonito. Todos diziam que eles faziam um casal perfeito.

Eles eram noivos, já moravam juntos em uma casa na Barra da Tijuca e não tinham

filhos, mas pretendiam ter três. Sempre saiam juntos. Os dois tinham um ótimo humor, eram

sempre alegres, sorridentes, uma ótima companhia para qualquer programa.

Eles não brigavam por nada, afinal não tinham nenhum motivo para desconfianças.

O amor deles era maior do que essas besteiras.

Um dia, quando Rafael chegou do trabalho, viu Carla chorando. Nervoso, ele

perguntou o que havia acontecido. Carla falou que nunca esperava isso dele e que nunca mais

queria vê- lo, jogando com força a aliança no chão.

Rafael não sabia o que fazer, afinal ele não havia feito nada. Carla jogou as roupas

dele na cama até que ele conseguiu acalma- la um pouco.

Ela contou que uma amiga lhe enviou fotos por email dele com outra mulher. Ele

examinou as fotos e percebeu que tudo aquilo foi feito através de uma montagem. Ele

mostrou para ela que tudo era uma farça. Arrependida, Carla pediu desculpas e arrumou toda

a bagunça que havia feito. Ela prometeu que nunca mais o acusaria sem antes conversar.

Depois disso, eles voltaram a ser um casal perfeito, porém com uma amizade a

menos.

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ANEXO B – A vida exterior

Tô nem aí... para minha madrasta, pro meu ex, para os que não gostam de mim, para o Bush .

Tô aí... para os meus estudos, para os meus amigos, para minha família, para quem eu gosto e

para os que me amam.

Tô nem aí... para os amigos falso, para a minha casa, para o colégio, para o futuro...

Tô aí... para meus amigo, para sair, me divertir, curtir a vida, curtir o presente...

Tô nem aí... para o que as pessoas dizem

Tô aí... para as pessoas que querem o meu bem

Tô nem aí... pras drogas pros estudos pros problemas

Tô aí... pra diversão pro surf pra praia pras noitadas pras brincadeiras

Tô nem aí... pro que os outros pensam de mim, pra falsidade, tristeza, para o mundo, inveja,

inimigos, dinheiro...

Tô aí... pra família, para os amigos, para viver, para aproveitar tudo, de bom, esquecer tudo

de ruim, errar, acertar, praia, para as mulheres...

Tô nem aí... para quem não gosta de mim, para pessoas mal-educadas, para as pessoas que

falam mal de mim, para as políticas, para os EUA, para o que pensam de mim(+/-).

Tô aí... para o estudo, para a vida, para ser feliz, para me divertir, para ser eu mesma, para

beijo na boca, para curtir, para descobrir os mistérios da vida, para dar amor a quem precisa,

para fazer mais e mais amigos, para ”tudo’, para pizza, lazanha...

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Tô nem aí... para o B quero o esquecer!

Não vou sofrer por ele

Não tô nem aí para a chuva!

Tô aí... para o showzinho do F.D. que vai ser hoje e estou muito aí para o show. E para minha

família, amigos e estudo.

Tô nem aí... pra chatice, homonxualidade, depressão, baixo astral, drogas, inveja, egoísmo e

angústia.

Tô aí... pra música, mulheres, instrumentos, amigos, alegria, diversão, comédia e arte.

Tô nem aí... para o tédio, para as pessoas chatas para drogas.

Tô aí... para pegar onda, ir para praia, ouvir música boa e aproveitar a vida.

Tô nem aí... para o que as pessoas falam de mim, só quero me divertir, tô nem aí para os

outros garotos, tenho um namorado que amo, tô nem aí para as pessoas falsas, por que tenho

amizades verdadeiras e puras, tô nem aí para a vida, porque tenho tudo que quero...

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ANEXO C – Conceituando fantasia e realidade

30 De Abril, Quarta-feira Di, não estou mais ficando com o Maurinho. Terminei tudo com ele e descobri que bom mesmo é curtir minha adolescência. Estou suuupeerrrr atrasada! Tô terminando de me arrumar, porque vou sair pra dançar com minhas amigas. Quando encontrar um tempo, te conto todos os babados, rolos e lances descolados. Não pensa que estou te deixando de lado não, Di. Você nunca traiu minha confiança. TE AMO, DI.

Final - 30 de abril, quarta-feira

Po Dí, tipo assim, foi mal, foi mal mesmo por esse tempão sem trocar umas idéias

com você, Dí na verdade o que tá pegando é que minha mãe tá de rolo com um inglês, o velho

é chato pra caramba, todo caretão, mas é cheio da grana. Tô gostando da Inglaterra e mesmo

se não tivesse gostando teria que aprender a gostar, eu tô é com saudades do Murinho, mas

meu novo pai prometeu que meus amigos vão poder passar as férias aqui em casa. Dí, falo

sério, meu irmão, filho do inglês é tudo de bom e tem cada amigo, tipo assim, muito gato.

Mas pode deixar que eu não vou deixar, eu nunca vou te esquecer de sempre te contar os

babados. Por falar nisso tem uma mocréia na minha sala que ninguém merece, vive mandando

ko sobre mim pra galera e se acha, na verdade aquela garota é uma invejosa só porque todos

os gatos estão na minha.

Sabe Dí, noite passada estava malzona, mal mesmo, tipo assim, devorei uma panela

de brigadeiro, fala sério, devo ter engordado uns 100 quilos, estava com saudades das minhas

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amigas, nossos segredos, nossas confusões, nossas baladas, aí Dí, já tô ficando emocionada de

novo. Vamos mudar de assunto.

Aqui o pessoal é muito parado, tô tentando descolar uma reve para o finde. Aqui os

gatinhos são todos brancos com os olhos claros, são todos muito parecidos, não rola nenhum

mais Brasil, um Alexandre Pires da vida, fala sério. Por falar em gatos lembrei do Maurinho,

aqui ele ia fazer o maior sucesso, o meu mano postiço é super gente boa, já até peguei uns

amigos dele, super maneiros também, minhas amigas agora querem vir para minha casa todos

os dias. Às vezes, quando não tenho nada para fazer, vamos para a sala de vídeo e assistimos

filme, ele é tão maneiro.

Aí, Dí, será que eu tô gostando do meu irmão? Só faltava essa, perdi o Maurinho,

minhas amigas, a minha vida praticamente, comecei tudo do zero e ainda do gostando do meu

irmão? E pior de tudo ele me vê como uma irmãzinha mais nova, a amiguinha dele.

Sabe Dí, tô pensando aqui se eu gosto mesmo dele tenho que ir a luta, ah, e eu li na

revista, no meu horóscopo que esse é o mês da conquista. Vou partir pra cima se colar, colou

e se não colar parto pra outra.

Sabe Dí devemos sempre assumir os nossos sentimentos e aceitar as consequências,

ok?

Hoje dia 30/04/2013 estou aqui vestida de noiva indo casar com o homem da minha

vida.

Quando eu estava saindo do quarto bateu uma saudade da minha adolescência,

resolvi mexer em todas as minhas coisas do passado e acabei encontrando o meu diário, quer

dizer, o “Dí”. Cara eu encontrei tantas coisas, tantas cartinhas de namorados, pô acho que vou

guardar isso para sempre estou recordando de tantas travessuras que eu já fiz... a mais maneira

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foi aquela viagem muito louca que resolvemos dar uma de “No Limite” em busca de nossa

própria comida e acabamos comendo só manga foi muito engraçado.

Cara lembra daquela Camila que eu odiava? Então hoje ela é a minha melhor amiga e

inclusive será madrinha do meu casamento, como as coisas mudam!!!

Sabe com quem eu vou casar “Di”? Com o primo do Maurinho, como o mundo é

pequeno... quando eu era adolescente era apaixonada por esse menino(Maurinho), agora por

muita coincidência ireime casar com o primo dele.

Ihh “Di”, caraca acabei perdendo a hora tenho que ir para o meu casamento pô eu Tô

tão nervosa...

Depois quando eu chegar da minha “lua de mel” pode deixar que eu te conto os

mínimos detalhes, quer dizer nem todos né!?

FUIII

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ANEXO D – A construção do texto

O Anel Certo dia, Ana foi à casa de seu namorado, fazer uma surpresa. Ela chegou e Diego, seu

namorado, ficou surpreso em vê- la. Ela entrou foi para o quarto dele, quando a mãe de Diego pede a ele para trocar uma lâmpada queimada.

Ana como é curiosa começou a mexer nas coisas de Diego. Depois de tanto mexer

ela encontrou um cartão e um anel, achando ser para ela começou a beijar e abraçar Diego.

Diego não entendendo, perguntou o que havia acontecido. Ela disse que foi o anel

mas lindo que já ganhou, mas ela não sabia que o anel não era pra ela. Como Diego não podia

falar que era para outra garota ele deu pra ela.

Anoiteceu, Ana foi pra casa, e no dia seguinte Ana chama Diego pra ir a uma festa,

mas ele diz que sua avó está doente, que não vai dar.

Ana então vai à festa, ela dança, conversa etc. Começa a tocar uma música que ela e

Diego dizem ser deles, com saudades dele e preocupada com a avó ela liga para o celular dele,

e quando ele atende, ela escuta a mesma música e uma barulheira imensa.

Quando ela olhou pra trás estava Diego com a mesma garota pra quem ele ia dar o

anel.

Como dizem: “Mentira tem perna curta”.

A Viagem Fábio namora Patrícia há dois anos, ele gosta muito dela, só que ele é muito festeiro,

vive saindo e conta várias mentiras. Ele mora em Niterói, e ela no Rio de Janeiro, isso facilita

(e muito) as mentiras. E o pior, a família entra nas mentiras, a irmã, o pai, a mãe mente e

Patrícia acredita.

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Fábio estava fazendo um curso para trabalhar em cruzeiros, o salário era bom ele iria

conhecer 12 países! O lado ruim era que ele tinha que passar sete meses trabalhando direto,

Natal, Ano Novo, Feriado, Aniversário e etc...

Patrícia ficou muito triste, pois seriam muitos meses sem se ver. Porém ela

reconheceu que era uma grande oportunidade de trabalho, e que Fábio não poderia perde- la.

ele viajou e a única forma de Fábio se comunicar com a família e com Patrícia era através de

e-mails. Ele mandou um e-mail para Patrícia dizendo que só votava em agosto, em 17 de

junho, Fabio desembarca.

Ele mentiu, pois marcou de viajar com os amigos, chegou à noite, e na tarde do dia

seguinte, viajou. Votou no domingo, e na segunda feira foi fazer uma surpresa no seu

trabalho.

Ela acha que ele foi romântico, ele acha que foi esperto, eles continuam juntos e

felizes!

Recuperação

Nos dias de hoje, seria quase impossível sobreviver sem as mentiras do dia-a-dia.

Todas as pessoas mentem, por menos que seja a mentira, e quem disser que consegue viver

sem mentir, está mentindo. Porém essa historinha é sobre quando a mentira passa do limite.

Paulinho era um garoto comum, um estudante comum, que levava uma vida

estudantil comum e que cursava a 8ª série do ensino fundamental. Sempre contou algumas

mentiras sobre seu desempenho em algumas matérias, mas nada comparado ao que acontecia

agora.

Assim quem recebeu seu boletim, constatou que havia ficado em recuperação em

português. E agora? Ele que nunca fora o melhor dos alunos, mas que sempre se salvara na

última hora, havia ficado pela primeira vez em recuperação. A notícia cairia como uma

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bomba em casa, e Paulinho perderia uma série de privilégios, e isso ele não poderia deixar de

forma alguma acontecer. E então resolveu dar seu jeito.

Para a mãe, ele disse que o colégio estava com problemas na impressão dos boletins

e que a entrega ficaria adiada por pelo menos um mês. Para o colégio, ele falsificou a

assinatura da mãe, e falsificou muito bem, já que perdera horas treinando a rubrica.

Então começaram as aulas de recuperação. A mãe de Paulinho achava que o filho

havia começado a ir mais ao colégio fora do turno de aula para jogar bola, ou conversar com

os amigos, ou fazer trabalhos, conforme foi passado a ela pelo filho. Cada dia era uma

história. Os comunicados passados a mãe de Paulinho, nunca eram entregues pelo garoto a

ela, era mais fácil dizer a mãe nunca lembrava de assinar. O menino chegou até a imitar a voz

da mãe quando ligaram do colégio querendo falar com ela.

A história toda inventada por Paulinho não estava perfeita, mas estava indo bem e ele

seria capaz de mantê- la até a recuperar sua nota. apesar da história estar colando, mentira tem

perna curta, e com uma coisa ele não contava. O fator azar.

A mãe do menino estava enrolada com a mensalidade do colégio. Então, apara

resolver logo o problema foi à escola de Paulinho pagar de uma vez, pessoalmente.

No colégio , ela cruzou com a assistente de turma, que lhe informou sobre a situação.

Ela se mostrou surpresa, pois não sabia de nada e iría falar com o garoto em casa.

Quando chegou em casa, Paulinho não teve escapatória. Ouviu tudo que havia

evitado e ainda perdeu todas as suas mordomias e mais um pouco.

No final de tudo, Paulinho ficou pior do que houvesse dito a verdade. Ele não falou

uma mentira boba que qualquer um falaria, ele foi criando uma situação fictícia em cima de

outra, que foi o que acabou o comprometendo.

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ANEXO E – Conceituando o conhecimento

Recordar é viver...

Nesta foto, eu tinha apenas três anos. Este lugar em que apareço é a minha ex-escola. Era época de festa junina e nós tínhamos que ir vestidas a carater. Esse dia foi inesquecível, pois foi a primeira vez que dancei quadrilha e foi também minha primeira festa junina. Eu estava muito feliz.

Sinto muita saudade dessa época, fez muitas amigas e adorava ir as aulas.

Até os dias de hoje, sinto muita falta das minhas amigas que nunca mais vi e também

do Colégio São Vicente de Paulo, onde estudei até a sétima série.

Essa época era muito divertida; não tinha nenhuma responsabilidade e brincava

muito.

O tempo passa!

Uma viagem ao mundo do cinema Este foi um dia muito especial!

Nesta foto, estou com meus amigos em um concerto na UFF. O título do concerto era

“Banda Sinfônica visita o mundo do cinema”.

O concerto foi feito com muito trabalho e muita dedicação. Nós ficamos dois meses

ensaiando as músicas para o concerto, mas não foram poucas músicas, foram muitas. As

músicas foram Lost in Space, Selections from E T, A Disney Espetacular, Titanic, Jurassick

Park, Riders march, Italiana e Star Wars.

No concerto tinhamos iluminação e as imagens dos filmes das músicas . Foi muito

bom!

Durante o concerto, um senhor fez um retrato meu, somente me olhando. Não é

incrível?!

Depois do concerto teve um churrasco dos músicos lá no salesianos.

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Eu cheguei no churrasco à tarde, mas aproveitei muito bem.

Meus amigos e eu jogamos volei e futebol, não esquecemos de comer!

O ruim foi que algumas pessoas que não são muito bem vindas foram ao churrasco e

isto me deixou muito chateada, mas não estragou o dia.

Quando o churrasco estava acabando, nós fomos para a portaria e ficamos

conversando.

À noite, xxxxx e eu fomos embora juntas.

Este foi um dos melhores dias deste ano e da minha vida também.

O Melhor Ano

Esta foto é praticamente a única lembrança do melhor ano escolar de muitas das

pessoas que estudaram nessa turma.

A nossa turma foi completada por algumas pessoas que vieram de outras turmas.

Desdo início do ano a turma já era alegre, feliz e unida. Ela era uma turma normal,

mas todos que conviviam com ela a amavam.

Nós éramos bagunceiros, não deixavamos nenhum professor dar aula, só Marquinhos

que também entrava nas brincadeiras.

Tinha na turma todos os tipos de alunos, os bagunceiros, os nerds, os amantes e até

os pagodeiros que sentavam-se ao meu lado e cantaram Os Travessos todos os dias.

Mas no final como a turma era divertida e falante demais os professores resolveram

separarnos e na 7ª série, uns saíram do colégio, outros, alias todos foram para turmas

separadas e eu fui para a 7ªE que hoje é a 8ª E, mas me tiraram mais uma vez da turma em que

eu estava e vim para na 8ª A.

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Todas as pessoas que estudaram na 6ª C, e que falam comigo até hoje, pensam a

mesma coisa do que , eu, aquilo foi a melhor turma em que eu já estudei até hoje.

ANEXO F – O conhecimento da verdade: a reconstrução do texto

Mentira sobre dever de casa!

Uma das mentiras que as escolas contam é a tarefa para casa. De onde eles tiraram

que o aluno tem que fazer tarefa de casa? Onde isso está escrito?

Se já não bastasse ter que fazer dever de aula, ficar dentro de uma mesma sala o ano

todo para assistir uma longa e dura aula que no meu ponto de vista deveria durar no máximo

20 minutinhos, mas não, eles maltratam a gente. Imagine ficar mais de 50 minutos dentro de

uma sala tendo que ficar ouvindo uma professora chata falando sobre uma matéria que não vai

me adiantar de nada quando eu crescer. Até quando nós vamos ter que agüentar isso? Alguém

tem que tomar uma atitude.

Mas voltando o assunto tarefa de casa precisamos fazer com que as escolas parem de

mentir, imagine obrigar uma criança a fazer um dever de casa, enquanto a criança podia

brincar e além do mais se a criança não fizer a tarefa de casa ela fica com ponto negativo, leva

comunicação.

É por isso que esse mundo está assim, eles falam que os jovens são o “futuro do

nosso país” só que os jovem crescem revoltados por causa do “dever de casa”, mas por

enquanto nós vamos ter que continuar com essa tarefa de casa, porém pode ter certeza que

um dia nós ainda vamos nos livrar da terrível “tarefa de casa”.

O olho mais que a barriga

Quando minha mãe era pequena, sempre passava as férias com seus irmãos na cidade

Norte-Fluminense de Natividade. A avó dela morava lá e era excelente cozinheira.

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Eles ficavam em um sítio onde andavam a cavalo, tomavam banho de rio, brincavam

com os bichos que lá habitavam e se deliciavam com o cardápio da avó.

Apesar de magra, minha mãe era uma criança muito gulosa. Durante a viagem de

volta, um gostoso lanche fora preparado para ser comido no piquenique em Teresópolis, no

caminho de volta. Certa vez, a avó da minha mãe preparou uma lata de quibes douradinhos.

Acomodou-os no porta-malas do carro e seguiram viagem. No início, minha mãe dormiu um

pouco mas depois, segundo ela, as coisas começaram a ficar monótonas e a fome bateu. Logo,

ela pediu algo para comer à sua mãe que, por sua vez, mandou-a esperar até chegarem ao tal

parque de Teresópolis.

Aos pouquinhos, minha mãe foi comendo os quibes sem que ninguém percebesse.

Ela foi se empolgando e quando enfiou a mão na lata para pegar mais um, percebeu que havia

acabado.

Enfim chegaram no local do piquenique e todos descobriram que os quibes haviam

sido roubados e, minha mãe, esperta, ficou calada. Todos desconfiaram dela incluindo seu pai,

que a obrigou a comer quibe numa lanchonete próxima. ela não agüentou, confessou o

“crime” e todos ficaram furiosos.

As mentiras que as filhas contam

Uma certa noite Bianca queria ir para uma festa com o seu namorado, só que sua mãe

não havia deixado. Ela fez de tudo para ver se sua mãe deixava mas isso só a irritou mais.

Então ela se arrumou toda e falou para sua mãe que ia na casa do seu namorado e já voltava.

Quando chegou lá seu namorado já estava pronto só esperando ela e seus amigos.

Então assim que os amigos dele chegaram, eles foram para a festa e a mãe dela não sabia de

nada. Quando deu 10:30 da noite, a mãe de Bianca ligou para a casa do namorado da filha

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para pedir a ela que voltasse para casa, mas a mãe do namorado de Bianca atendeu e disse que

eles foram para uma festa.

Enquanto isso, Bianca se divertia lá na boate. Dançava, cantava, bebia, fumava...

Quando já passavam das 4:30 da manhã, ela saiu da boate muito bêbada, e foi pra

casa. Chegou em casa às 5 horas da manhã, e encontrou sua mãe super preocupada, sem

dormir por causa da filha e quis saber onde ela estava. Bianca explicou que queria ir a festa e

como sua mãe não tinha deixado, ela foi escondida.

A mãe dela lhe deu uma bronca, a deixou de castigo e a proibiu de sair com o

namorado por um bom tempo.

ANEXO G – Transcendendo a adolescência com a ajuda da fantasia.

Ainda há esperança

Felicidade ainda habita as favelas. Maria José, de dez anos de idade, se diz uma

menina feliz. ela vende bala nos sinais do Rio de Janeiro. Não se diz marginalizada, se sente

como qualquer outra criança, que ainda pode brincar sem ser interrompida. Tem várias

amigas, brica com elas todos os dias. Vê televisão como qualquer outra criança.

Disse-me que tinha vários motivos para ser feliz, como por exemplo, a esperança que

ainda habita o coração dela, e principalmente a vida que ela leva, que apesar de difícil, é

digna. Ela quer ser professora, e me contou que quer atuar com as crianças carentes, e que lá

no morro aonde ela mora as professoras pararam de dar aula, pois certa vez enquanto estavam

em aula, começou um tiroteio entre a polícia e os traficantes, e que os traficantes invadiram o

colégio e fizeram todos ficarem quietos senão seria “bala na lata”. Percebi que Maria, ou

melhor Zezé, como gostava de ser chamada, ficou triste enquanto relatou-me aquele caso.

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Perguntei a ela o que seria e ela disse que naquele dia sua professora foi morta pelos

traficantes, e que ela sabe que o sonho dela é ser professora lá no morro, ela terá que enfrentar

isso, e que sabe que também pode morrer.

É bom saber que ainda existem crianças como Zezé, que apesar de todo o pesadelo

diário que ela enfrenta, ainda tem esperança, felicidade e vontade de viver.

Chico e sua família

Nós entrevistamos um garoto que se chama Chico e tem 13 anos. Ele mora num

barraco, com sua mãe e seu irmão de 3 anos. Seu pai está preso por ter sido pego com drogas.

Chico já usou drogas, duas vezes, por influência de “amigos”. Ele disse que não se interessa

muito por drogas.

Chico vende balas, cada saco custa R$0,70. O dinheiro que ele ganha com a venda

das balas ajuda a família porém sua mãe também trabalha. Ela é empregada doméstica, recebe

R$180,00 por mês. Com o total de dinheiro, sua mãe compra om pouco de comida, paga as

contas, e tenta sustentar a família.

Chico diz ser uma pessoa feliz, pois muita gente não tem o que comer, onde morar,

nem o mais importante de tudo: uma família. Mas ele vai aproveitar a vida, quando seu pai

sair da cadeia, transformando uma família incompleta em uma família completa, uma família

que estará disposta a enfrentar qualquer problema.

A História de Wellington Agora eu vou contar a história de Wellington, que é um menino de rua de quatorze

anos que vende balas na rua. Wellington mora no morro do Cavalão, em São Francisco.

Wellington tem três irmãs. Os quatro sofrem muito em casa. Se não venderem todas

as balas, apanham muito e são obrigados a compensarem no dia seguinte. Wellington não

estuda, teve que parar na segunda série quando o seu pai ficou desempregado e a necessidade

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de dinheiro aumentou. Ele é revoltado com a situação do país. Viu sua mãe ser morta e diz

que quando crescer irá fazer justiça ao criminoso com as próprias mãos. Ele já foi preso por

estar guardando drogas para um traficante, que disse que droga era uma coisa boa. Como ele

recusou, o traficante obrigou-o a guardá- las ameaçando-o de morte e Wellington foi preso

pela polícia e levado para a delegacia. Ele teve sorte de ser um menor de idade e não ser

preso, mas o pai de Wellington ficou furioso e o espancou. Wellington prometeu nunca se

meter em confusões.

Os planos que Wellington tem para o futuro são, primeiramente, voltar a estudar.

Depois, ele quer fazer o vestibular e se formar em medicina. Wellington diz que não gosta de

ver pessoas doentes, por isso quer virar médico e salvar muitas vidas, mesmo que ele não

receba muito por isso.

Narrativa 2

Meu nome é Thatiellen, tenho 11 anos, moro no “Lixão”, nossa casa é feita de

papelão e de objetos que encontramos aqui; moro com meus pais e mais três irmãos: Thomas

(17 anos), Thatiane (7 anos) e Thaianne (5 anos). Eu e Thomas não estudamos, pois não

temos tempo, mas minhas irmãs mais novas: Thaianne e Thatianne estudam numa escola aqui

perto. As pessoas têm muito preconceito com a gente, elas pensam que nós escolhemos ser

assim. Meus pais fazem tudo para que nós sejamos felizes, mas mesmo assim o dinheiro que

ganhamos aqui mal dá para comer. Nós todos aqui em casa nos damos muito bem! O único

problema é o meu irmão que bebe muito e as vezes cheira cola, minha mãe é muito triste por

causa disso, ela vive doente. Não sei se sou totalmente feliz, pois amo meu irmão e ele tem

nos deixado muito tristes, mas eu tenho uma família boa, nós tentamos ser felizes. Meu maior

sonho é que meu irmão volte a ser legal e alegre como era antes, ter uma casa grande, ser

professora, ter muitos filhos e casar com um homem muito rico.

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ANEXO H