documento protegido pela lei de direito autoral · foram utilizados artigos científicos sobre o...
TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
AVM FACULDADE INTEGRADA
A GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA SOB O OLHAR DO
ENFERMEIRO
MELINA FLÁVIA ANDREATA ANTONINI D’AMATO
Orientadora: Prof. Ms. Maria da Conceição Maggioni Poppe.
VITÓRIA
2013
DOCU
MENTO
PRO
TEGID
O PEL
A LE
I DE D
IREIT
O AUTO
RAL
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
AVM FACULDADE INTEGRADA
A GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA SOB O OLHAR DO
ENFERMEIRO
Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do Mestre
– Universidade Candido Mendes como requisito parcial
para obtenção do grau de especialista em Saúde da
Família.
Por: Melina Flávia Andreata Antonini D’Amato
3
RESUMO
O presente trabalho aborda o tema da gravidez na adolescência. Os capítulos
foram desenvolvidos conceituando-se adolescência, como é vista a
sexualidade na adolescência pelo jovem, e como ele lida com a mesma, o que
leva a uma gravidez precoce, suas causas e consequências. Tem como
objetivos, identificar as causas que levam a uma gravidez precoce e suas
consequências; analisar o impacto da gravidez adolescente na vida da jovem
pós-parto; identificar as características sócio-econômicas das adolescentes e
descrever o papel do enfermeiro como educador. Através do presente trabalho,
podemos concluir que grande parte das adolescentes grávidas, voltam a
exercer o papel antigo de mãe e dona de casa, que não estuda, não trabalha,
não tem chances de mudar de vida, reproduzindo os passos que sua mãe
cometeu, ao engravidar na adolescência. Sendo o profissional Enfermeiro um
educador, sua formação holística o capacita a atuar nos diversos cenários da
sociedade, contribuindo desta forma para assegurar a estes jovens,
informações e apoio para iniciar sua vida sexual de forma responsável, sem
correr riscos causados pela falta de informação ou informação errada.
Palavras chave: Gravidez, Adolescência, papel do Enfermeiro, Saúde da
Família.
4
METODOLOGIA
O trabalho teve um estudo descritivo, realizado sob a forma de revisão
bibliográfica. Foram utilizados artigos científicos sobre o tema gravidez na
adolescência. Seu objetivo foi responder a pergunta “o que leva a gravidez
adolescente?”, visto que atualmente existem muitos meios de prevenção
acessíveis à população.
Segundo Figueiredo (2009), as pesquisas descritivas têm como principal
objetivo a descrição das características de determinada população ou
fenômeno.
Os principais autores utilizados nesta pesquisa foram: G. M. P. JÚNIOR, F.R.G.
NETO; C.T.B., LIMA; A. M., ALMEIDA, que tiveram uma grande contribuição
para a produção desta monografia, pois abordam questões da
gravidez/maternidade na adolescência.
Lima (2004), aborda as questões sobre o despreparo dos adolescentes ao
iniciar sua vida sexual.
Já, Júnior; Neto (2004), falam sobre as diversas implicações que a gravidez
precoce causa na vida das adolescentes.
Almeida (2003) discute as causas e consequências da gravidez na
adolescência.
5
SUMÁRIO INTRODUÇÃO............................................................................................................6
CAPÍTULO I - ADOLESCÊNCIA E SEXUALIDADE.....................................................9 CAPÍTULO II - GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA, AS CARACTERÍSTICAS SÓCIO-
ECONÔMICAS DAS ADOLESCENTES E SEU IMPACTO NA SOCIEDADE.............14
CAPÍTULO III - CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DA GRAVIDEZ PRECOCE.............18
CAPÍTULO IV - A GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA SOB O OLHAR DO ENFERMEIRO E SEU PAPEL COMO EDUCADOR....................................................23
CONCLUSÃO...............................................................................................................27
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................30
6
INTRODUÇÃO
O presente trabalho abordará o tema da gravidez na adolescência. Os
capítulos serão desenvolvidos conceituando-se adolescência, como é vista a
sexualidade na adolescência pelo jovem, e como ele lida com a mesma, o que
leva a uma gravidez precoce, suas causas e conseqüências, e qual o impacto
da gravidez na adolescência na sociedade.
O que muda na vida desta jovem mãe? Como lidar com esse problema
de saúde pública? Como podemos prevenir a gravidez adolescente? Qual o
papel do enfermeiro como educador e sua visão da gravidez na adolescência?
Através destes questionamentos serão desenvolvidos os capítulos deste
trabalho sobre este relevante tema.
O motivo da pesquisa deste tema é devido ao grande número de
adolescentes que estão engravidando cada vez mais cedo, e pelo fato de
muitos jovens estarem se contaminando com doenças sexualmente
transmissíveis, devido ao uso inadequado dos preservativos ou ao seu não uso
(VIEIRA, et al., 2006).
[...] os motivos pelos quais as adolescentes engravidam são diversos destacando-se a falta de informação, fatores sociais, falta de acesso a serviços específicos para atender essa faixa etária, o início cada vez mais precoce de experiências sexuais, e a insegurança do adolescente em utilizar métodos contraceptivos [...] (VIEIRA, et al., 2006, p. 3).
A adolescência é um período de grandes transformações na vida de um
jovem. São mudanças que acontecem no corpo, na mente, no jeito de ser de
cada um. As emoções estão à flor da pele, os hormônios estão agindo cada
vez com mais intensidade, e os desejos precisam ser concretizados (VIEIRA, et
al., 2006).
7 Podemos dizer que os adolescentes ficam tão eufóricos com o momento
que antecede a relação sexual, que se esquecem dos riscos que correm por
não usarem o preservativo, risco que não é somente uma gravidez indesejada,
mas também uma DST que poderá deixar marcas para o resto de suas vidas
(VILLELA; DORETO, 2006).
[...] as mudanças físicas ocorrem rapidamente na adolescência. A maturação sexual acontece com o desenvolvimento dos caracteres sexuais primários e secundários. As características primárias são as mudanças físicas e hormonais necessárias à reprodução, e os caracteres secundários diferenciam externamente o sexo masculino do feminino [...] (BAYLOR, 2004, p. 180).
Atualmente, os adolescentes têm uma definição diferente do que é o
relacionamento amoroso, onde não existe um compromisso entre duas
pessoas, eles se conhecem, se beijam, abraçam, e podem até mesmo chegar
a transar, e no final da noite, ambos vão para suas casas como se nada tivesse
acontecido. No dia seguinte, se eles se cruzarem pelas ruas, poderão dizer um
simples “oi”, ou mesmo virar a cara fingindo que nem se conhecem (SILVA,
2002).
[...] a sexualidade na adolescência é importante, e os profissionais da saúde devem estar preparados para respeitar a autonomia de livre escolha e oferecer informações e acompanhamento adequado, lhes garantindo assistência de qualidade. Destaca-se também que a idade não deve constituir restrição ao uso de qualquer método anticoncepcional na adolescência depois da menarca [...] (VIEIRA et al. 2006, p.5).
Com o início das atividades sexuais precocemente entre os jovens, a
educação sexual passou a constituir-se numa importante estratégia,
influenciando no modo como os adolescentes reagem às questões sexuais e
na maneira como a vivenciam (SIQUEIRA, et al, 2005).
Apesar do início da atividade sexual ocorrer cada vez mais cedo, esta
freqüentemente ocorre sem a devida utilização de métodos contraceptivos, o
8 que vem ocasionando o elevado número de mães adolescentes nas
maternidades brasileiras (PAIVA, et al, 2004).
Apesar da maioria dos adolescentes possuírem conhecimentos sobre os
métodos contraceptivos, suas relações sexuais são desprotegidas, expondo-os
a uma gravidez indesejada e não planejada (VIEIRA, et al, 2006).
Quando o enfermeiro promove a educação em saúde, ele interage com
as adolescentes, compreendendo melhor suas dificuldades e os momentos
pelos quais estão passando em suas vidas, vivenciando juntamente com as
adolescentes, a sua realidade (SIQUEIRA; et al., 2005).
Este trabalho teve como objetivos Identificar as causas que levam a uma
gravidez precoce e suas consequências, analisar o impacto da gravidez
adolescente na vida da jovem pós-parto, identificar as características sócio-
econômicas das adolescentes e descrever o papel do enfermeiro como
educador.
Diante da importância do tema, este estudo será dividido em quatro
capítulos.
O primeiro capítulo abordou o conceito de adolescência e a sexualidade
dos adolescentes.
O segundo capítulo abordou as características sócio-econômicas das
adolescentes e seu impacto na sociedade.
O terceiro capítulo relatou as causas e consequências da gravidez
precoce, e o quarto capítulo falou sobre o papel do enfermeiro como educador
e sua importância na educação em saúde.
9
CAPÍTULO I
ADOLESCÊNCIA E SEXUALIDADE
A adolescência é uma fase de descobertas, onde um novo mundo se
abre aos olhos dos adolescentes, cheios de curiosidades, vontades e desejos
(SOUSA; FERNANDES; BARROSO, 2006).
Segundo Ferreira et al., (2004, p.1), adolescência , palavra derivada do
latim adolescere, tem como significado “crescer” ou “aquele que está em
crescimento”.
Para Dadoorian (2000), apud Ferreira et.al (2004, p.1), é o período do
ciclo da vida humana situado entre a puberdade e a virilidade; a mocidade e
juventude.
Como ocorrem muitas transformações físicas e emocionais na
adolescência, muitos a definem como sinônimo de crises: de idade, familiar, de
relacionamento, de projeto de vida, que estão ligadas ao ser que está em crise
e ao ambiente que o circunda (FERREIRA et al., 2004).
Para Ferreira, o adolescente é o ser que está em desenvolvimento,
vivendo diversas transformações em sua vida, enquanto Dadoorian entende
como o período entre a mocidade e a juventude do adolescente.
“[...] fisicamente, o adolescente está sob intensas transformações estimuladas pela ação hormonal característica da puberdade, com acontecimentos como a menarca e a semenarca, cada vez mais precoces, dentre outras alterações biológicas as quais propiciam uma série de eventos psicológicos que culminam na aquisição de sua identidade sexual. Ao final desta transformação os indivíduos estão aptos para a reprodução, entretanto, a grande maioria não desenvolveu as habilidades emocionais necessárias para isso [...]” (JARDIM; BRÊTAS, 2006, p. 157).
Com a menarca chegando cada vez mais cedo, as meninas de 10 anos
largam suas bonecas e tem sua atenção voltada para os meninos. Elas se
10 maquiam, usam saltos altos, arrumam os cabelos e usam roupas sensuais,
apressando os ciclos de suas vidas (JARDIM; BRETAS, 2006).
Esta fase tem sido marcada por intensas mudanças no seu
comportamento individual e coletivo, o que tem exposto o adolescente a muitos
riscos físicos, psíquicos e sociais (JARDIM; BRETAS, 2006, p. 157).
As meninas entram na adolescência com a chegada da menarca, que é
um evento biológico, onde muitos atribuem à menarca, significados culturais.
Quando existe comunicação a respeito da menarca entre mãe e filha, ocorre
uma transmissão de normas, valores e conhecimentos sobre comportamentos
preventivos. As adolescentes cujas mães conversaram sobre menstruação
antes da menarca, engravidaram menos. (AQUINO et al., 2003).
A queda da idade média da menarca, e a iniciação sexual precoce são
fatores que influenciam na gravidez na adolescência, bem como a falta de
informação sobre os métodos contraceptivos e a dificuldade de acesso a estes
(CABRAL, 2003).
A entrada na sexualidade é um processo de experimentação física e
relacional, que se inicia antes e se estende até depois da primeira relação
sexual, de acordo com Aquino et al., (2003, p. 383).
Para os adolescentes, as novas experiências, podem desencadear
sentimentos de medo e insegurança. Sendo o sexo algo desconhecido para os
adolescentes, estes iniciam cada vez mais precocemente a sua prática, que
muitas vezes é influenciada pelo grupo social do qual fazem parte (SOUSA;
FERNANDES; BARROSO, 2006).
Quando o adolescente não encontra as informações que procura dentro
de casa, ele busca encontrá-las com outros adolescentes também imaturos, o
que contribui para a prática do sexo de forma insegura (SOUSA; FERNANDES;
BARROSO, 2006).
11
Segundo Aquino, as adolescentes que possuem maior diálogo em casa
engravidaram menos. Cabral diz que a queda na idade da menarca e em
consequência, a iniciação sexual precoce, são fatores que influenciam na
gravidez adolescente.
De acordo com Ferreira et al., (2004, p.1), a sexualidade é a energia que
incita o ser humano para o prazer e a vida, e o sexo é a forma mais completa
de relacionamento entre dois seres.
[...] para a jovem, apesar de acreditar no seu direito em ter e realizar desejos sexuais, o início de suas relações amorosas é, por vezes, precoce, determinado por pressões externas alheias a sua vontade; enquanto para o jovem, a despeito de querer ser leal e fiel a sua parceira, é psicologicamente direcionado ao papel de conquistador [...] (FERREIRA et al., 2004, p.1).
Segundo Rieth (2002, p. 4), a primeira relação sexual é relatada pelas
jovens como uma oportunidade que se apresenta “de repente”, não existindo
qualquer planejamento, embora não seja inesperada. Esta relação costuma
ocorrer quando o casal está sozinho em casa, ou no quarto, o que lhes dá um
tom de aventura quando há mais alguém em casa (RIETH, 2002).
A primeira relação sexual para muitas meninas acontece devido à
insistência do parceiro, e em geral, ocorre de forma desprotegida (PANTOJA,
2003).
A iniciação sexual aparece como uma consequência do namoro. Nesse
sentido contemplam-se as expectativas das jovens de se “entregar” para uma
pessoa de quem gostem e que por isso se tornou conhecida (RIETH, 2002,
p.10).
Rieth relata que a iniciação sexual dos jovens acontece de repente, sem
nenhum preparo, e segundo Pantoja, a primeira relação sexual, para as
meninas, acontece na maioria das vezes devido a insistência dos parceiros.
12
Os adolescentes dão o primeiro beijo na faixa etária de 10 a 14 anos,
onde ocorre também o namoro, e a primeira relação sexual ocorre por volta dos
15 anos de idade (BORGES; SCHOR, 2005).
[...] existem as experiências pré-sexuais, ou seja, que antecedem o início da vida sexual, como o beijar, o “ficar” e o namorar. Considerando que as adolescentes, principalmente as mais jovens, são majoritariamente solteiras, o namoro passa a ser um episódio que merece atenção, pois além de ser a relação afetiva mais comum e esperada nesse grupo, é nesse contexto que geralmente se dá o início da vida sexual, possibilitando que outras decorrências de uma vida sexual ativa, como as DST, AIDS, a gravidez e o aborto, sejam relacionadas também ao namoro e não apenas às uniões (legais ou consensuais) ou a relacionamentos esporádicos (BORGES, SCHOR; 2005, p. 3).
Um aspecto que merece atenção no relacionamento amoroso entre os
jovens, é a idade dos primeiros parceiros das adolescentes, que geralmente
são mais velhos do que elas. Esta diferença entre as idades aumenta de
acordo com a severidade do evento, como no primeiro beijo, os parceiros são
em média dois anos mais velhos, e na primeira união, são aproximadamente
seis anos mais velhos. Esta diferença de idade pode acarretar em perdas no
poder de negociação e autonomia de decisão sobre o momento de iniciar a
vida sexual e sobre o uso e escolha do método anticoncepcional a ser utilizado
(BORGES, SCHOR; 2005).
[...] quando o relacionamento atinge o estágio do “namoro” ou “namoro firme”, prevalece o não uso da camisinha, atitude que denota valores correspondentes à fidelidade e confiança entre os parceiros. Para os rapazes a fidelidade é mais valorizada do que a virgindade, sendo cobrada da parceira durante a relação (PANTOJA; 2003, p. 339).
Com a desvalorização da iniciação sexual, muitos jovens procuram ter
relações sexuais sem estarem suficientemente preparados (LIMA et al., 2004).
[...] os diferentes padrões de relações afetivo-sexuais coexistem com a responsabilização da mulher na esfera da contracepção e as suas dificuldades para negociar o sexo seguro, quando não faz a opção
13
pelo uso de métodos contraceptivos femininos (LIMA et al., 2004, p. 6).
As adolescentes que estão envolvidas no seu processo de iniciação
sexual, com suas dúvidas e decisões a serem tomadas, precisam receber uma
educação sexual adequada, onde poderão tirar suas dúvidas e a partir daí
poder usufruir da sua sexualidade de modo saudável, com respeito mútuo e
sem discriminações (LIMA et al., 2004).
14
CAPÍTULO II
GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA, AS CARACTERÍSTICAS
SÓCIO-ECONÔMICAS DAS ADOLESCENTES E SEU IMPACTO
NA SOCIEDADE
Atualmente, a gravidez na adolescência tem se tornado um grande
problema de saúde pública, assumindo proporções significativas. A
maternidade precoce pode acarretar muitos problemas na saúde das
adolescentes, que param de estudar, não conseguem obter sua independência
financeira e passam a ter problemas sociais (YAZLLE et al., 2002).
[...] a gravidez na adolescência traz sérias implicações biológicas, familiares, psicológicas e econômicas além das jurídico-sociais, que atingem o indivíduo adolescente e a sociedade como um todo, limitando ou adiando as possibilidades de desenvolver o engajamento destas jovens na sociedade (JÚNIOR; NETO, 2004, p. 3).
Hoje, quando uma jovem inicia sua vida reprodutiva entre os 15 e 20
anos, como na época de suas avós e bisavós, tem-se o sentimento que ela
está deixando de aproveitar as oportunidades que o mundo lhe oferece,
principalmente em relação ao estudo e ao trabalho. Para os rapazes, que
assumem juntamente com a parceira a gravidez, acontece o mesmo, tendo que
parar de estudar e começar a trabalhar para sustentar a sua nova família
(VILLELA; DORETO, 2006).
A gravidez na adolescência é desestruturante, pois apresenta pesada
carga emocional, física e social, onde importantes estágios de maturação
psicossexual não são vivenciados (JÚNIOR; NETO, 2004).
15
Quando a adolescente possui acesso à educação, maior escolaridade e
mais oportunidades de obtenção de renda, ela possui menos chances de ter
uma gravidez não planejada (JÚNIOR; NETO, 2004).
Em estudo realizado pela UNESCO, constatou-se que meninas
escolarizadas acreditam que a gravidez precoce leva a jovem ao abandono
escolar e a necessidade de cuidar do filho, atrapalha o estudo. Os dados
revelam que 25% das adolescentes que interromperam os estudos retornaram
após a gravidez e apenas 17,3% pararam de estudar definitivamente.
Importante ressaltar que 79,8% das adolescentes que engravidaram antes dos
20 anos viveram esta experiência em decorrência de um relacionamento
estável, ou seja, estavam ou sentiam-se casadas (VILLELA; DORETO, 2006).
Muitas vezes, a evasão escolar é anterior à gravidez, sendo inclusive
condição de risco para a ocorrência de uma gravidez na adolescência (YAZLLE
et al., 2002).
De acordo com Takiuti (1997) apud Júnior e Neto (2004, p. 2), estima-se
que no Brasil, um milhão de nascidos vivos, a cada ano, tem mães com idade
entre 10 e 19 anos, número que corresponde a 20% do total de nascidos vivos
em nosso país.
Entre cinco jovens que engravidaram na adolescência, uma engravida
novamente, sem planejamento, o que demonstra que nem mesmo a vivência
da gestação e suas consequências são efetivas para o desenvolvimento de um
comportamento sexual responsável (CHALEM et al., 2007).
Para Yazlle a gravidez na adolescência é um problema de saúde
pública. Ferreira diz que a gravidez adolescente é um problema sócio cultural,
onde famílias mais favorecidas possuem melhores condições de cuidar da
criança e da mãe adolescente, já Chalem, relata que a cada cinco
16 adolescentes que engravidam uma volta a engravidar sem planejamento, ainda
na adolescência.
Sendo uma questão sócio-cultural, a gravidez na adolescência é
enfrentada de diferentes maneiras nas classes sociais. A adolescente que
pertence a uma classe mais favorecida é protegida, tem o apoio da família,
continua seus estudos e não depende dos serviços públicos de saúde. Já
aquelas que pertencem às classes menos favorecidas, onde precisam lutar
pela sua sobrevivência, tem que parar de estudar, possuem mais dificuldades
de conseguir um emprego, e são abandonadas à sua própria sorte (FERREIRA
et al., 2004).
[...] culturalmente, verifica-se uma contradição na definição de responsabilidades, onde a imprudência é entendida como de responsabilidade da adolescente e não pelo seu parceiro, o que pode ser reflexo da educação tradicional que privilegia atitudes e responsabilidades diferentes aos dois gêneros (FERREIRA et al., 2004, p. 2).
As mães adolescentes, normalmente apresentam o mesmo perfil, e a
gravidez geralmente é indesejada e não planejada. Na maioria das vezes
engravidam dos namorados e possuem poucos parceiros sexuais. As
adolescentes começam a namorar cedo e normalmente engravidam logo após
a iniciação sexual, com idades entre 13 a 19 anos, sendo a idade mediana da
primeira gestação em torno de 17 anos (RAMOS; MONTICELLI; NITSCHKE,
2000).
Pesquisas revelam que a idade média da menarca das adolescentes
que engravidaram precocemente ocorreu entre 10 e 13 anos e que apesar de
muitas vezes conhecerem algum método anticoncepcional, não faziam uso
deles (JÚNIOR; NETO, 2004).
Com relação ao perfil econômico a maioria das adolescentes que
engravidam precocemente pertencem a classes menos favorecidas, com renda
familiar mensal de até quatro salários mínimos, sendo que a principal fonte de
17 sustento da família provém do companheiro ou dos pais da adolescente
(CHALEM et al., 2007).
As adolescentes mais jovens não apresentam trabalho remunerado, são
dependentes da família ou do namorado, mas quando elas estabelecem união
com parceiros adolescentes, desempregados, sua condição econômica torna-
se ainda pior (SABROZA et al., 2004).
[...] pesquisas mostraram a relação entre educação, pobreza e maternidade adolescente: apenas 23% das jovens que tiveram um filho antes dos 20 anos de idade haviam estudado além da oitava série, em comparação com 44% daquelas que não tiveram filhos. Adolescentes cuja renda familiar é inferior a um salário mínimo quase não têm chances de completar o segundo grau após o nascimento do filho (LIMA et al., 2004, p. 5).
Porém, quando a adolescente possui certa estrutura familiar, consegue
continuar seus estudos após o parto (LIMA et al., 2004).
A cada ano, 14 a 15 milhões de adolescentes com idade entre 15 a 19
anos, dão a luz, representando mais de 10% dos nascimentos em todo o
mundo (WHO, 2006, p. 4, tradução nossa).
18
CAPÍTULO III
CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DA GRAVIDEZ PRECOCE
Entre os fatores que explicam as causas da gravidez na adolescência,
estão as classes sociais menos favorecidas, a ausência de escolaridade, a
queda na idade da menarca, a iniciação sexual precoce e a falta de
informações sobre os métodos anticoncepcionais, bem como o acesso a eles
(CABRAL, 2003).
Para algumas jovens, a gravidez faz parte de um projeto de vida, onde
elas tentam alcançar autonomia econômica e emocional em relação a sua
família. A baixa auto-estima destas jovens e a vontade de se tornarem adultas
logo, também influenciam na ocorrência da gravidez precoce (LIMA et al.,
2004).
A gestação precoce para muitas adolescentes é vista como uma
oportunidade de realizar o sonho do casamento e alcançar autonomia
financeira em relação à sua família. Para aquelas em que o casamento não faz
parte dos seus sonhos, muitas vezes tem que ser realizado, sendo a única
oportunidade da adolescente conseguir recuperar sua dignidade (SABROZA et
al., 2004).
As adolescentes que possuem vida conjugal com o pai da criança fazem
maior utilização de métodos contraceptivos do que aquelas que foram
abandonadas pelo parceiro. Quanto mais jovem for a adolescente, maior será a
probabilidade de se tornar multípara (SABROZA et al., 2004).
Lima e Sabroza concordam que para muitas jovens, a gravidez
adolescente faz parte de um projeto de vida, uma oportunidade para realizar o
sonho do casamento e também para melhorar a baixa auto estima que
algumas adolescentes possuem, querendo tornar-se adultas logo.
19
Destaca-se ainda como causa da gravidez precoce, a falta de projetos
de vida e a ociosidade pela não frequência escolar, muitas vezes influenciada
por famílias desestruturadas, falta de atenção e apoio dos pais, além da
vontade que essas adolescentes possuem de romper este ciclo familiar instável
e construir um novo ciclo familiar, porém, muitas das vezes esse desejo não se
concretiza (ALMEIDA et al., 2003).
A gravidez precoce traz sérias conseqüências para a adolescente, para
o filho que ela está esperando e para a sociedade em geral, pois existe um
grande índice de evasão escolar, tirando destas jovens, as poucas chances
que elas teriam de se inserirem na sociedade como profissionais (CHALEM et
al., 2007).
Quando o parceiro assume a paternidade e continua mantendo um
relacionamento com a adolescente, e ambos não possuem independência
financeira, vão morar com a família dela ou dele, passando a existir em uma
única casa, vários núcleos familiares, dividindo o mesmo espaço físico, a
mesma renda financeira, e as mesmas dificuldades, sem perspectivas de
melhora (CHALEM et al., 2007).
Muitas famílias podem rejeitar a gravidez da filha, tomando atitudes
radicais, como expulsar de casa, induzir a jovem ao aborto ou até mesmo
forçá-la a realizá-lo, exigir o casamento e que a jovem assuma sua
responsabilidade materna. Já em outras famílias, pode acontecer uma
aceitação melhor da gravidez, onde há uma negociação sobre quem vai
assumir a criança e onde a adolescente e seu parceiro irão morar (LIMA et al.,
2004).
A adolescente ao saber que está grávida e não tem apoio do parceiro e
da família, pode entrar num processo de ansiedade e depressão, que em
alguns casos a mesma pode ter ideação suicida (JÚNIOR; NETO, 2004, p. 12).
20
De acordo com Júnior e Neto (2004, p. 14), a violência na gravidez traz
sequelas tanto para a mãe como para o feto. Vale ressaltar que a violência
física leva a outro tipo de violência, que é a psicológica.
A adolescente grávida desperdiça muitas oportunidades que poderiam
surgir em sua vida, voltando a exercer um papel antigo de mãe e dona de casa,
que não estuda, não trabalha fora e não têm chances de mudar de vida, e na
maioria das vezes, ela está cometendo os mesmos erros que sua mãe
cometeu ao engravidar precocemente, tornando-se um ciclo, que passa de
geração a geração (HEILBORN et al., 2002).
[...] é como se as mães adolescentes, além de desmerecerem as supostas novas chances oferecidas aos jovens em geral, se encontrassem em uma dupla contramão: na das mudanças demográficas e na da emancipação feminina, aumentando, assim, a visibilidade e também a indignação dirigida à gravidez na adolescência (HEILBORN et al., 2002, p. 4).
A gravidez na adolescência pode agravar a situação de marginalidade
social e econômica, pois com o abandono escolar e a dificuldade de se inserir
no mercado de trabalho, a população de baixa renda aumenta e não tem
condições de sobreviver (HEILBORN et al., 2002).
Um dos fatores que dificulta o retorno das adolescentes aos estudos
após o nascimento da criança é a falta de organização dos espaços escolares,
uma vez que as escolas não contam com creches para dar suporte e cuidados
aos filhos das adolescentes (ALMEIDA et al., 2003).
Mesmo em países onde há regras para que as adolescentes grávidas
continuem estudando, a pressão social faz com que elas abandonem os
estudos (WHO, 2006).
21
Muitas adolescentes abandonam os estudos pois sentem vergonha de
assumir a gravidez para os colegas e professores, tendo que enfrentar sozinha
a realidade pela qual estão passando (GODINHO et al., 2000).
Muitos filhos de mães adolescentes possuem mal-formação fetal, são
prematuros, tem baixo peso ao nascer, e são criados pela família da
adolescente, pois na maioria das vezes, a adolescente não tem condições
psicológicas para cuidar de uma criança, e para ela, é como se fosse “brincar
de boneca”, não possuindo responsabilidades maternas. Outras adolescentes
recorrem ao aborto com medo da reação de seus familiares e namorado, ou
são influenciadas pela família e parceiro a praticarem o aborto, correndo sérios
riscos de vida (HEILBORN et al., 2002).
[...] quando esta gravidez ocorreu contrária à vontade da adolescente, ou sem o apoio social e familiar, a gravidez frequentemente leva estas adolescentes à prática do aborto ilegal e em condições impróprias, constituindo-se este em uma das principais causas de óbitos por problemas relacionados à gravidez. Só no ano de 1998 mais de 50 mil adolescentes foram atendidas em hospitais públicos para curetagem pós-aborto, sendo cerca de 3 mil realizadas entre jovens com idade entre 10 e 14 anos (BRASIL, 1999, apud JÚNIOR; NETO, 2004, p. 3).
O aborto ainda é praticado com frequência entre as adolescentes,
através de meios clandestinos pelas clínicas, ou pelo uso do Citotec
(medicamento que contém misoprostol, produto sintético análogo a
prostaglandina), fazendo com que haja contração da musculatura uterina,
provocando sangramento e expulsão parcial ou completa do embrião. As
adolescentes tomam este medicamento escondido dos seus pais, e geralmente
adquirem através de amigas ou nas farmácias. Quando o abortamento através
do medicamento não é completo, as adolescentes têm que se submeter à
curetagem. O psicológico dessas meninas fica abalado, pois após sentirem um
certo alívio, vêm o sentimento de culpa, medo de ser descoberta e solidão
(SOUZA et al., 2001).
22
[...] sobre o concepto, existem riscos tanto físicos, imediatos, quanto psicossociais, que se manifestam a longo prazo, nos filhos de adolescentes. Devido à dificuldade em adaptar-se a sua nova condição, a mãe adolescente pode vir a abandonar o filho, dando-o a adoção, e quando o recém-nascido não é abandonado, está mais sujeito, em relação à população geral, a maus-tratos (JÚNIOR; NETO, 2004, p. 4).
Outro fato que não podemos ignorar é que muitas adolescentes também
morrem por complicações que poderiam ser evitadas durante a gravidez, se
estas tivessem a oportunidade de fazer um pré-natal de qualidade.
Complicações durante o parto ou puerpério também podem aumentar os riscos
de morte (JÚNIOR; NETO, 2004).
Para milhares de adolescentes a gravidez não é planejada, sendo uma
experiência que ocorre muito cedo, trazendo medo e sofrimento (WHO, 2006).
Durante o período de gravidez, a adolescente experimenta um período
de muitas perdas, tanto em seu desenvolvimento, quanto em sua identidade.
Acresce ainda a interrupção dos estudos, a perda de confiabilidade da família,
outras vezes a perda do parceiro que não assumiu a gestação. Por fim, a
adolescente perde a proteção familiar e as expectativas do futuro (JÚNIOR;
NETO, 2004).
23
CAPÍTULO IV
A GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA SOB O OLHAR DO ENFERMEIRO E SEU PAPEL COMO EDUCADOR
A educação sexual é uma grande estratégia para prevenção de
problemas como gravidez na adolescência, e o melhor local para o adolescente
aprender sobre sua sexualidade é na escola, onde ele passa a maior parte do
seu tempo (JARDIM; BRÊTAS, 2006).
O profissional de enfermagem é um educador, e como tal, deve
promover a educação em saúde com os adolescentes, ensinando os meios de
prevenção da gravidez e das DST’s aos jovens que muitas vezes tem
dificuldades no acesso a estas informações (SIQUEIRA et al., 2005).
Muitas adolescentes vivem uma vida sexual não autorizada, sem o
conhecimento da família. Diante deste fato, os profissionais da saúde,
necessitam compreender que não basta somente informar as adolescentes
sobre os métodos, mas sim, entender a visão romântica que as adolescentes
possuem sobre o sexo, suas dificuldades e seus medos acerca da vida sexual,
bem como sobre o pensamento mágico que muitas possuem acreditando que
não vão engravidar (ALMEIDA et al., 2003).
Para Jardim; Brêtas, a educação sexual é uma grande estratégia para a
prevenção da gravidez na adolescência, enquanto Siqueira, trata o profissional
de enfermagem como um educador que deve promover a educação em saúde
para os adolescentes.
A atuação e a atenção do enfermeiro na saúde dos adolescentes deve
ser desenvolvida de maneira especial, pois ele pode identificar diferentes
comportamentos de risco na atitude destes adolescentes, atuar nos diversos
cenários sociais contribuindo para a otimização da assistência à saúde dos
24 adolescentes carentes de cuidados, informações e apoio (SIQUEIRA et al.,
2005).
O grande objetivo da política de educação permanente em saúde é
garantir que a atenção à saúde seja de qualidade, que a população possa
desenvolver autonomia em relação a sua própria saúde, onde estará
satisfazendo suas necessidades de saúde e educação em saúde, sendo capaz
de exercer conscientemente sua participação popular no controle social das
políticas públicas (BRASIL, 2005).
É preciso também que em cada território sejam formuladas políticas de
saúde de acordo com as reais necessidades de cada população,
desenvolvendo estratégias de prioridade na atenção básica à saúde (BRASIL,
2005).
A educação permanente acontece no cotidiano das pessoas e das
organizações, sendo realizada a partir dos problemas enfrentados na realidade,
conhecimento e experiência de cada um (BRASIL, 2005).
Para que seja garantida a qualidade no atendimento prestado à
população, é necessária a capacitação dos profissionais da saúde, para que
estes possam desenvolver a educação em saúde entre suas respectivas
equipes, e a partir dessa qualificação, possam transmitir seus conhecimentos
para a população necessitada de informações a respeito de sua saúde
(BRASIL, 2005).
[...] todos juntos, interagindo, poderão identificar as necessidades e construir as estratégias e as políticas no campo da formação e do desenvolvimento, sempre buscando melhorar a qualidade da gestão, aperfeiçoar a atenção integral à saúde, popularizar o conceito ampliado de saúde e fortalecer o controle social (BRASIL, 2005, p. 16).
Se hoje em dia a saúde é vista como qualidade de vida, ela não
depende apenas das questões biológicas, mas depende também do estilo de
25 vida que cada um leva, de suas condições econômicas, sociais, culturais,
históricas, ambientais, do trabalho de cada um, de como são seus
relacionamentos, e seus pensamentos em relação ao futuro (BRASIL, 2005).
O sistema de saúde precisa ser humanizado, acolhendo seus pacientes
e familiares, prestando um atendimento integral à saúde da população carente
e dando um tratamento contínuo para seus pacientes (BRASIL, 2005).
Os serviços de saúde precisam compreender as necessidades das
adolescentes e facilitar o acesso delas aos seus serviços, para que estas
adolescentes possam começar a ter um atendimento de pré-natal adequado
desde o início de sua gravidez, ajudando-as a planejarem seus partos e
identificar possíveis intercorrências durante a gestação (WHO, 2006).
A educação sexual deve ser exercida como uma oportunidade de auto-
reflexão, onde o indivíduo pode se estabelecer como sujeito e exercer uma
visão crítica sobre sua sexualidade, respeitando o outro e a si mesmo
(JEOLÁS; FERRARI, 2003).
[...] as ações deveriam ser contínuas e articuladas interinstitucionalmente, por exemplo, capacitando os profissionais das entidades sociais (escolas, entidades e programas sociais) que encaminham os adolescentes para as oficinas no serviço de saúde, com o intuito de formar multiplicadores em seus locais de trabalho, para que eles dêem o prosseguimento às ações de prevenção, baseadas em metodologia participativa, em suas próprias instituições de origem (AYRES, 1999, apud JEOLÁS; FERRARI, 2003, p. 13).
Considerando que a escola é o local onde os adolescentes passam a
maior parte do seu tempo, deveriam ser direcionadas orientações e discussões
a respeito das transformações que acontecem no corpo dos adolescentes e
temas como gravidez na adolescência, sexualidade, contracepção e doenças
sexualmente transmissíveis, pois, se a educação sexual começar desde cedo
26 na escola, os adolescentes estarão preparados para iniciar sua vida sexual de
forma responsável sem ter que enfrentar possíveis problemas que muitas
vezes são causados pela falta de informação ou pela informação errada
(SIQUEIRA et al., 2005).
O enfermeiro deve promover a educação sexual para as adolescentes,
esclarecendo todas as suas dúvidas e ensinando os meios de prevenção. Sua
atuação deve ser contínua, juntamente com a família e com a comunidade na
qual a adolescente está inserida (WHO, 2004).
Juntos, a escola, a família e o profissional de enfermagem, deveriam
atuar de forma integrada, para que a educação continuada encontre o devido
respaldo e consiga transformar o conhecimento dos jovens em atitudes, e as
atitudes em comportamento, fazendo com que os adolescentes reflitam sobre
sua sexualidade e sobre a forma como pretendem vivenciá-la em suas vidas
(GUIMARÃES; VIEIRA; PALMEIRA, 2003).
27
CONCLUSÃO
A adolescência é a fase compreendida entre os 10 e 19 anos de idade,
período caracterizado por intensas transformações biopsicossociais,
acarretadas pela ação dos hormônios sexuais, ocorrendo mudanças no
comportamento individual e coletivo, expondo os adolescentes a riscos físicos,
psíquicos e sociais. As meninas entram na adolescência com a chegada da
menarca, que ocorre cada vez mais cedo, fazendo com que elas deixem de
lado seus brinquedos, passem a ter sua atenção voltada para os meninos,
tornando-se mais vaidosas e apressando os ciclos de suas vidas.
Nesta fase, com as mudanças ocorrendo no corpo, as emoções à flor da
pele, e o desejo impulsionado pela ação dos hormônios, aliado às mudanças
de comportamento, onde o relacionamento amoroso não significa
compromisso, podendo os jovens se conhecerem, se beijarem, chegando a
transar, e depois, indo cada um para seu lado, sem envolvimento posterior.
Este início da atividade sexual vem ocorrendo cada vez mais cedo,
frequentemente sem a utilização de métodos contraceptivos, fazendo crescer o
número de adolescentes grávidas nas maternidades brasileiras.
A iniciação precoce na vida reprodutiva faz com que estas adolescentes
e seus parceiros deixem de aproveitar as oportunidades oferecidas em relação
aos estudos e ao trabalho. Algumas adolescentes vêem no casamento a
oportunidade de conseguir autonomia financeira em relação a sua família, e
outras como a única oportunidade de conseguir recuperar sua dignidade.
A gravidez na adolescência, quando ocorre nas classes sociais menos
favorecidas, pode levar ao abortamento clandestino, correndo as jovens sérios
riscos de vida, podendo também agravar a situação de marginalidade social e
econômica, uma vez que o abandono escolar, comum para a maioria das
28 jovens, resulta em dificuldades de inserção no mercado de trabalho e o
abandono dos sonhos.
As adolescentes que possuem maior escolaridade acreditam que a
gravidez precoce leva ao abandono escolar e atrapalha os estudos, pois
passam a ter seu tempo dividido entre cuidar da casa e do filho.
Muitas adolescentes não possuem renda familiar acima de cinco salários
mínimos, de onde se conclui que o maior número de gravidez na adolescência
ocorre nas camadas sociais mais pobres.
Muitas destas jovens voltam a exercer o papel antigo de mãe e dona de
casa, que não estuda, não trabalha, não tem chances de mudar de vida,
reproduzindo os passos que sua mãe cometeu, ao engravidar na adolescência.
No presente estudo, podemos concluir que a faixa etária de maior
predominância de gravidez na adolescência se situa entre os 15 a 19 anos. A
maioria das adolescentes são filhas de pais separados, suas mães também
engravidaram na adolescência.
Quanto ao conhecimento e utilização dos métodos contraceptivos pelas
adolescentes, a maioria conhece a pílula e o preservativo como métodos
contraceptivos; porém, poucos a utilizam. Poucas adolescentes fazem uso do
preservativo. Algumas adolescentes conhecem os métodos, mas ignoram a
forma correta de fazer uso dos mesmos.
A educação sexual deve ser instituída como uma estratégia de
prevenção de problemas como gravidez na adolescência e DST’s, sendo a
escola o melhor local para que a mesma seja exercida, através de auto-
reflexão, onde o indivíduo possa se reconhecer como sujeito, desenvolvendo
uma visão crítica sobre sua sexualidade, aprendendo a respeitar o outro e a si
mesmo.
29
Através dos estudos, conclui-se que a maioria das adolescentes
possuem acesso a praticamente todos os meios de comunicação, mas mesmo
assim, continuam engravidando, demonstrando que muitas vezes a informação
não é transmitida corretamente, onde os programas voltados para os
adolescentes, mostram o sexo liberal, e muitas vezes esquecem de mostrar os
meios de prevenção da gravidez e DST’s, como a camisinha, que deve ser
utilizada em associação com outro método contraceptivo, garantindo uma dupla
proteção para a adolescente e seu parceiro.
O profissional Enfermeiro é um educador, sua formação holística o
capacita a atuar nos diversos cenários da sociedade, contribuindo desta forma
para assegurar a estes jovens, informações e apoio para iniciar sua vida sexual
de forma responsável, sem correr riscos causados pela falta de informação ou
informação errada.
A educação sexual deve ser uma ação conjunta onde o profissional
Enfermeiro, a família, a escola e os governantes, consigam transformar o
conhecimento dos jovens em atitudes e as atitudes em comportamento,
levando-os a refletir sobre sua sexualidade, a forma como pretendem vivenciá-
la em suas vidas, considerando todos os aspectos envolvidos neste
comportamento.
30
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, A. M., et al. Maternidade na adolescência: um desafio a ser enfrentado. Rev. Brasileira de Enfermagem. Brasília, v. 56, n. 05, p. 513-518, set. /out. 2003.
AQUINO, E. M. L., et al. Adolescência e reprodução no Brasil: a heterogeneidade dos perfis sociais. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 19, sup. 2, 2003.
BAYLOR, J. K. Da concepção à adolescência. In:____. Fundamentos de Enfermagem. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. cap. 10, p. 145-187.
BRASIL. A educação permanente entra na roda: pólos de educação permanente em saúde: conceitos e caminhos a percorrer. Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Departamento de Gestão da Educação na Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2005.
CABRAL, C. S. Contracepção e gravidez na adolescência na perspectiva de jovens pais de uma comunidade favelada do Rio de Janeiro. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 19, sup. 2, 2003.
CHALEM, E., et al. Gravidez na adolescência: perfil sócio-demográfico e comportamental de uma população da periferia de São Paulo, Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 23, n. 1, jan. 2007.
31 FERREIRA, E. C. B. et al. A educação em saúde como estratégia na prevenção da gravidez na adolescência. Um estudo de caso em Formoso do Araguaia (TO). Rev. da UFG, v. 6, n. especial, dez. 2004.
FIGUEIREDO, N. M. A. Método e Metodologia na Pesquisa Científica. 3. Ed. São Paulo: Yendis Editora, 2009.
HEILBORN, M. L. et al. Aproximações socioantropológicas sobre a gravidez na adolescência. Horiz. Antropol. , Porto Alegre, v. 8, n. 17, jun. 2002.
JARDIM, D. P.; BRÊTAS, J. R. S. Orientação sexual na escola: a concepção dos professores de Jandira – SP. Rev. Brasileira de Enfermagem, São Paulo, v. 59, n. 02, 2006.
JEOLÁS, L. S.; FERRARI, R. A . P. Oficinas de prevenção em um serviço de saúde para adolescentes: espaço de reflexão e de conhecimento compartilhado. Ciênc. Saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 8, n. 2, 2003.
JÚNIOR, G. M. P. ; NETO, F. R. G. X. Gravidez na adolescência no município de Santana do Acaraú – Ceará – Brasil: uma análise das causas e riscos. Rev. Eletrônica de Enfermagem, v. 06, n. 01, 2004.
LIMA, C. T. B., et al. Percepções e práticas de adolescentes grávidas e de familiares em relação à gestação. Rev. Bras. Saúde Mater. Infant., Recife, v. 4, n. 1, jan./mar. 2004.
PAIVA, L. C. et al. Perfil social, reprodutivo e sexual de adolescentes atendidas em um ambulatório de ginecologia. Rev. Ciên. Méd., Campinas, v. 13, n. 4, p. 297-305, out./dez., 2004.
PANTOJA, A. L. N. “Ser alguém na vida”: uma análise sócio-antropológica da gravidez/maternidade na adolescência, em Belém do Pará, Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 19(Sup. 2), p. 335-343, 2003.
32 RAMOS, F. R. S., MONTICELLI, M., NITSCHKE, R. G. Projeto Acolher: um encontro da enfermagem com o adolescente brasileiro. Brasília: Aben/Governo Federal, 2000.
SABROZA, A. R., et al. Algumas repercussões emocionais negativas da gravidez precoce em adolescentes do Município do Rio de Janeiro (1999-2001). Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 20, supl. 1, 2004.
SILVA, S. P. Considerações sobre o relacionamento amoroso entre adolescentes. Cad. CEDES, Campinas, v. 22, n. 57, ago. 2002.
SIQUEIRA, K. M. et al. Adolescer Saudável: estratégia de cuidado à saúde de adolescentes escolares. Rev. Nursing, Goiás, v. 87, n. 8, p. 371-374, ago. 2005.
SOUSA, L. B.; FERNANDES, J. F. P.; BARROSO, M. G. T. Sexualidade na adolescência: análise da influência de fatores culturais presentes no contexto familiar. Acta. Pau.l Enferm. , v. 19, n. 4. Fortaleza, CE: out/dez. 2006.
VIEIRA, L. M., et al. Reflexões sobre a anticoncepção na adolescência no Brasil. Rev. Bras. Saúde Mater. Infant., Recife, v. 6, n. 1, jan./mar. 2006.
VILLELA, W. V., DORETO, D. T. Sobre a experiência sexual dos jovens. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 22, n. 11, nov. 2006.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Adolescent health and development: in nursing and midwifery education. Disponível em:<http://www.who.int/reproductive-health/docs/adolescent_health_dvpt_in_nursing_midfwifery_education.pdf>. Acesso em: 15 nov. 2012.
YAZLLE, M. E. H. D., et al. A adolescente grávida: alguns indicadores sociais. Rev. Bras. Ginecol. Obstet., Rio de Janeiro, v. 24, n. 9, out. 2002.
33
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
RESUMO 3
METODOLOGIA 4
SUMÁRIO 5
INTRODUÇÃO 6
CAPÍTULO I 9
CAPÍTULO II 14
CAPÍTULO III 18
CAPÍTULO IV 23
CONCLUSÃO 27
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 30
ÍNDICE 33