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Direito Processual Penal Prof. Elisa Pittaro
DIREITO PROCESSUAL PENAL
Principios Gerais e Constitucionais do Processo Penal
1) Princípio da Dignidade da Pessoa Humana
OBS: Por volta do século XII, havia uma crença de que o crime era uma
manifestação do diabo, sendo missão dos juízes evitar que o demonônio tomasse
conta do mundo. Por conta disso, tudo era admitido na descoberta da verdade. Por
volta dos século XVIII, com o surgimento das idéias iluministas de Beccaria e
Rousseu, surge uma grande contestação do arbítrio, com o homem sendo colocado
no centro das relações. Essa preocupação vai para o processo penal levando à
adoção do sistema acusatório. Porém, não adiantava adotar esse sistema se o réu
ainda ocupava uma posição de inferioridade perante a acusação. Dentro deste
contexto Wach e Bullow desenvolveram a teoria dos pressupostos processuais.
Assim, este princípio, além de levar a adoção de um novo sistema processual,
fomentou um processo mais equilibrado, mais justo com o surgimento de outros
princípios que lhe são consectarios.
2) Princípio Constitucional da Ampla Defesa (art. 5, LV, CF)
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Todos aqueles submetidos a um processo criminal podem utilizar todos os
instrumentos em prol de sua defesa. A ampla defesa é exercida no processo penal
de duas formas:
i) defesa técnica – feita pelo operador do Direito.
ii) autodefesa – feita pelo próprio réu. Se subdivide em :
a) direito de audiência – direito do réu de ser levado à presença do juiz e
narrar a sua versão do fato criminoso.
b) direito de presença – direito do réu de acompanhar toda a instrução
probatória.
Réu preso precisa ser requisitado para participar de diligência no juízo
deprecado?
1ª orientação – Não há necessidade de requisição, pois a ampla defesa será
exercida através da defesa técnica. Orientação que prevalece nos TJs locais
2 ª orientação – Se ele não for requisitado, a nulidade será relativa, devendo a
parte interessada demonstrar o prejuízo. Orientação do STJ e STF atual
3 ª orientação – O réu deverá ser requisitado, sob pena de nulidade absoluta,
pois a ampla defesa é exercida também através do direito de presença. Posição
antiga no STF
O interrogatório por videoconferência é compatível com a ampla defesa?
Até a entrada em vigor da lei 11.900/2009, esta forma de interrogatório era
inconstitucional por dois motivos: primeiro, violaria o devido processo legal, pois o
art. 792,CPP estabelece que os atos processuais devem ser realizados na sede dos
juízes; segundo, violaria a ampla defesa, no que se refere ao direito do réu de ser
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levado à presença do juiz e narrar a sua versão do fato criminoso. O STF se
manifestou sobre a questão afirmando que todos os interrogatórios por
videoconferência realizados antes Lei 11.900 são nulos por ofensa ao devido
processo legal, os realizados posteriormente são válidos. Aury Lopes Jr. Critica
duramente essa forma de interrogatório por ofensa a ampla defesa.
Até que ponto o réu deve ceder à instrução probatória sem prejudicar a ampla
defesa?
Intervenção corporal é a obtenção de prova no corpo do investigado.
Doutrina e jurisprudência discutem até que ponto o réu deve tolerar esta
atividade probató. No Brasil a nossa constituição não proíbe a auto incriminação,
ela apenas garante o direito ao silêncio . A doutrina e jurisprudência associam o
direito ao silêncio a ampla defesa, de forma que o investigado pode se recusar a
realizar quase todas as diligências investigatórias .
Maria Elizabeth Queijo entende que nestes casos estão em conflito o interesse
público que existe em toda persecução criminal e a ampla defesa, o pacto de São
José da Costa Rica. Se considerarmos apenas o interesse público, isso fomentaria
um sistema onde o réu estaria indefeso. Porém se considerarmos apenas o Pacto
San Jose da Costa Rica e a ampla defesa, isso acabará fometando impunidade. Ou
seja, o ideal é um modelo equilibrado. a partir daí a autora classifica as
intervenções da seguinte forma:
a) intervenções corporais invasivas – são aquelas onde há a penetração no
corpo do acusado. Ex: exame de sangue, coleta de material genético. Em relação a
esse tipo de prova, a posição pacífica na jurisprudência é que o réu pode
validamente se recusar a realizar, sem sofrer qualquer consequência processual.
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b) intervenções corporais não invasivas – são aquelas onde a prova é obtida na
superfície do corpo do investigado. Ex: coleta de fios, fibras, pelos, pele embaixo
dos unhas. Em relação a esse tipo de prova, o que prevalece é o interesse público
de forma que o agente deva tolerar essa atividade probatória.
c) provas que exigem uma cooperação ativa do investigado – são aquelas que,
para serem realizadas, o investigado deve agir ativamente. Se ele não se comportar
ativamente, a diligência não será realizada. Ex: participar de um reconhecimento,
soprar o bafômetro, acareação. O que prevalece é que o investigado pode
validamente se recusar a realizar, sem sofrer qualquer consequência processual.
d) provas que exigem uma cooperação passiva do investigado – são aquelas
que o investigado não faz nada, ele apenas tolera atividade probatória. Ex:
reconhecimento, exame de raio-x. O que prevalece na jurisprudência é que ele deve
ceder a essa atividade probatória.
Segundo Eugenio Pacceli a atividade probatória do réu está associada ao
princípio da presunção de inocência, ou seja, o que esta atividade não pode é
colocar o investigado na posição de culpado, como por exemplo, na reconstituição.
Além disso, essa diligência não pode ofender a sua dignidade, ou seja, não pode ser
dolorosa ou vexatória. Além dos dois requisitos anteriores, o autor entende que a
diligência deve ter previsão legal, pois de acordo com o princípio da legalidade,
ninguém é obrigado a fazer ou não fazer algo senão em virtude de lei.
Então para Pacceli a exigência do bafômetro é válida. Mas se o investigado se
recusar a realizar, deve ocorrer a inversã do ônus da prova, ou seja, caberá agora ao
réu provar que não estava dirigindo embriagado. Isso cabe para qualquer recusa do
investigado.
3) Princípio Constitucional da Presunção de Inocência (art. 5, LVII, CF)
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Até o trânsito em julgado de uma sentença condenatória o indivíduo é
considerado inocente. Este princípio traz consigo duas regras que repercutem em
todo processo penal:
1) regra de tratamento – o indivíduo deve ser tratado como inocente, com
todas as consequências que isso acarrete. Isso repercute diretamente na questão da
prisão.
Aqui vale frisar que o CPP de 1941 foi todo elaborado a partir de um juízo de
antecipação da culpabilidade, ou seja, uma pessoa presa em flagrante ficaria presa
até o trânsito em julgado, salvo se pudesse prestar fiança. Além disso, o CPP
permitia prisões automáticas, prisões a partir de acontecimentos processuais, como
a prisão decorrente da pronúncia. Esse sistema prisional foi impactado pela
Constituição de 1988, que passou a exigir a fundamentação das decisões judiciais e
trouxe o princípio da presunção de inocência. Por conta disso, toda a prisão que
anteceda o trânsito em julgado, só pode ser decretada em bases cautelares e em
caráter excepcional.
Questões polêmicas :
Prisão temporária –Tem natureza cautelar? Segundo Paulo Rangel a prisão
temporária surgiu para substituir a antiga prisão para averigações, onde primeiro o
indivíduo era preso para depois ser investigado, quando na verdade deveria ocorrer
o oposto. Além disso, essa prisão surgiu a partir da Medida Provisória 111, ou seja,
poder executivo legislando sobre processo penal, surgindo aqui a chamada
inconstitucionalidade orgânica. Porém é pacífico na doutrina e na jurisprudência
que essa prisão é válida, desde que decretada em bases cautelares.
Lei 7960/89 – lei da prisão temporária – quais são os requisitos da prisão
temporária?
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a) Damásio e Capez – precisamos sempre da presença do inciso III do art. 1
da Lei, que caracteriza o fumus mais os incisos I ou II, que caracterizam o
periculum. Posicionamento majoritário.
b) Vicente Greco – a prisão temporária poderá ser decretada quando presentes
o requisitos da preventiva, uma vez que o art. 312, CPP engloba todas as hipóteses
em que uma prisão é necessária para o processo.
c) Mirabete – os incisos do art. 1 da Lei 7960 são alternativos, ou seja, ou o I,
ou o II ou o III.
d) Marcellus Polastre e Eugenio Pacceli – precisamos sempre da presença dos
incisos um e três. O inciso dois é redundante e está contido no inciso I.
Prisão preventiva –Preventiva decretada como garantia da ordem pública tem
natureza constitucional?
Segundo Aury Lopes Jr. esta prisão surgiu na Alemanha nazista e era uma
espécie de carta branca dada por Hitler aos seus soldados para prender todos que
fossem contrários ao sistema, ou seja, é uma expressão tão vaga e tão discricionária
que normalmente é utilizada para fomentar arbitrariedades. Além disso toda
medida cautelar deve ser instrumental, ou seja, deve atender aos fins do processo e
não algo alheio a ele como a segurança pública. Desta forma, por não ser
instrumental, ela não é cautelar, sendo incompatível com a Constituição.
2) regra probatória – de quem é o ônus da prova no proceso penal?
Segundo Aury Lopes Jr. como a Constituição presume que o agente é
inocente, todo o ônus da prova é da acusação, cabendo ao MP comprovar que o
fato é típico, ilícito e culpável. A posição do réu no campo da prova é de assunção
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de riscos, ou seja, ele assume o risco de ser condenado se permanecer inerte na fase
instrutória, mas sem que isso seja um ônus.
Segundo doutrina clássica, como Tourinho, cabe ao MP provar autoria e
materialidade delitivas, e a defesa comprovar a presença de eventuais excludentes
por ela alegadas. Literalidade do art. 156, CPP.
Juiz pode produzir provas no processo penal?
Primeira orientação - em nome do princípio da verdade real, o juiz não se
limita a atividade probatória das partes, ou seja, ele pode produzir provas.
Segunda orientação – Geraldo Prado – em regra o juiz não tem atividade
probatória, salvo pró réu para equilibrar as forças do processo.
Terceira orientação – Aury Lopes Jr. – juiz não tem nenhuma atividade
probatória, isso porque ele não precisa, pois na dúvida ele deve absolver. Quando
ele produz provas é porque quer condenar, transformando-se em juiz inquisitor o
que é incompatível com o sistema acusatório.
Quarta orientação – Eugenio Pacceli – durante o inquérito não é possível essa
atividade por ser incompatível com o sistema acusatório. Porém, durante o
processo, nada impede essa atividade pois o juiz age dessa forma para dar maior
efetividade.
A atividade probatória do juiz durante o processo é compatível com o sistema
acusatório?
Não existe um único modelo de sistema acusatório. Acusatório é todo model
que não for inquisitivo. Porém, existem hoje dois principais modelos de sistemas
acusatórios : adversarial system, modelo norte –americano, no qual o andamento
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do processo e a produção de provas são funções que recaem sobre as partes, o juiz
apenas administra o “duelo”; inquisitorial system, modelo europeu, no qual o
andamento do processo e a produção de provas são funções que recaem sobre o
juiz, uma vez que o processo tem um forte cunho publicista que é a pacificação de
conflitos de interesse, que não se confunde com o direito das partes. Desta forma é
missão dos juízes estimular o contraditório.
O processo penal brasileiro é diferente de todos pois o nosso CPP é
inquisitivo, porém ele foi impactado pelo sistema acusatório adotado pela CF de
1988. Ademas, é tendência no Brasil o juiz concentrar, centralizar em suas mãos o
andamento do processo com uma série de poderes de iniciativas autorizados
expressamente pelo CPP. Por outro lado, em várias reformas o CPPtá fonte de
inspiração foi o modelo americano, afastando o juiz do centro do processo,
conforme a atual redação do art. 212. Desta forma, essa atividade probatória no
Brasil não é incompatível com o nosso sistema acusatório.
4) Princípio do Juiz Natural (art. 5, XXXVII e LIII)
O princípio do Juiz Natural foi adotado de forma plena no Brasil?
Este princípio surgiu no direito anglo saxão trazendo consigo três
subprincípios que lhe são consectários: garante o processo em julgamento perante
juiz competente; proibe a criação de tribunais de exceção; proibe a criação de
justiça especializada.
Os dois primeiros subprincípios estão presentes na CF mas o terceiro
subprincípio nao foi adotado pois justiça especializada é tradição no Brasil. Ou
seja, não foi adotado de forma plena no Brasil.
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A foi processado e absolvido com sentença transitada em julgado na justiça
estadual pela prática de um crime de competência da justiça federal. Quando o
MPF tomar conhecimento do feito, existe algo que ele possa fazer?
Primeria orientação: Pacceli – a violação de regra de competência prevista na
CF é causa de nulidade por violação de pressuposto processual de validade. Como
não existe instrumento capaz de desconstituir a coisa julgada na hipótese de
absolvição, não há nada a ser feito.
Segunda orientação: STF – a violação de regra de competência fixada na CF é
causa de inexistência jurídica por violação ao princípio do juiz natural que é um
pressuposto processual de existência. Como o ato inexistente não produz qualquer
efeito, é incapaz de formar coisa julgada. Logo nada impede que uma nova ação
seja ajuizada.
Terceira orientação: Ada Pellegrini – apesar do vício ser a inexistência
jurídica, o Pacto de San Jose da Costa Rica proibe o bis in iden, logo não há nada a
ser feito.
5) Princípio Constitucional do Contraditório
Significa a necessidade de informação com possibilidade de reação.
OBS: O art. 297 do CTB, que criou a multa reparatória e o art. 20 da L.
9605/98 e a atual redação do art. 387, IV do CPP, criaram a
possibilidade/obrigatoriedade do juiz criminal condenar o acusado também ao
pagamento de uma verba, cujo valor reverteria para a vítima. Como compatibilizar
estes institutos com o contraditório e a ampla defesa?
Primeira orientação – TJRJ – como não houve pedido de condenação em
verbas indenizatórias, essa parte da sentença seria extra petita e como tal nula.
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Segunda orientação – Desemb. Alexandre Câmara – o processo penal não se
presta a discutir verbas indenizatórias. Condenar alguém a pagar uma quantia sem
que essa pessoa tenha tido a possibilidade de discutir o valor do prejuízo fere o
contraditório e a ampla defesa, sendo portanto inconstitucional.
Terceira orientação – Polastre – a reforma do CPP neste aspecto adotou o
sistema da adesão, onde a vítima obtem a reparação dos danos na esfera criminal.
O princípio da adesão pode ser obrigatório, onde o juiz sempre se manifesta sobre a
reparação dos danos independente de pedido da vítima ou facultativo, onde o juiz
só se manifesta se houver pedido da vítima. O CTB, a legislação ambiental e o CPP
adotaram a adesão obrigatória e para que não haja ofensa a qualquer princípio
constitucional bastaria que o MP ao longo da ação penal produzisse provas
voltadas a apurar o valor do prejuízo, dando ao réu a contra-prova.
6) Inviolabilidades Pessoais
a) “Art. 5, XII, CF - é inviolável o sigilo da correspondência e das
comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no
último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer
para fins de investigação criminal ou instrução processual penal.”
Modalidades de interceptação telefônica
i. interceptação telefônica em sentido estrito – ocorre quando há duas ou mais
pessoas conversando e um terceiro interceptando sem o conhecimento dos
interlocutores. Atendidos os requisitos da lei 9296 e com prêvia ordem judicial, ela
é válida.
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ii. escuta - ocorre quando há duas ou mais pessoas conversando e um terceiro
interceptando com o conhecimento de um dos interlocutores. É possível trabalhar
com a escuta no processo penal?
Primeira orientação – Polastre e Antonio Scaranci – a escuta não é
modalidade de interceptação telefônica e portanto não pode ser utlizada no
processo penal, isso porque se um dos interlocutores sabe da gravação ele poderá
conduzir a conversa para aquele ponto que interessa a investigação.
Segunda orientação – a escuta é modalidade de interceptação telefônica e
desde que atenda aos requisitos da lei 9296/96 ela é válida. Orientação que
prevalece.
iii. gravação clandestina de conversa telefônica – ocorre quando há duas ou
mais pessoas conversando e um dos interlocutores está gravando a conversa. Não é
interceptação telefônica, não está tratada pelo art. 5, XII da CF, mas sim pelo art. 5,
X, CF que trata do direito à intimidade. Essa gravação viola ou não o direito à
intimidade?
Atualmente a jurisprudência entende que essa prova é ilícita por afronta à
intimidade, podendo ser utilizada excepcionalmente quando a pessoa estiver sendo
vítima de crime, e utiliza essa gravação para se defender. Ada Pellgrini chama isso
de direito de defesa em sentido amplo.
OBS: em relação a gravação ambiental, som e imagem, a lei de crime
organizado exige prévia autorização judicial. Porém, fora das hipóteses dessa lei,
doutrina e jurisprudência discutem se essa gravação é ou não compatível com a CF.
Segundo Daniel Sarmento, independente do local em que a conversa esta sendo
captada, devemos verificar se na hipótese há ou não expectativa de intimidade para
que a conversa seja válida.
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É possível utilizar o laudo de degravação de uma interceptação telefônica
como prova emprestada em processo não criminal?
Primeira orientação – Ada Pellegrini – não pode pois o art. 5, XII, CF somente
permitiu a utilização desta prova em processos criminais dada a sua
excepcionalidade.
Segunda Orientação – Polastre – todo o processo é uno, ou seja, seja ele cível
ou criminal o seu objetivo é a pacificação de conflitos de interesse. Logo, não há
razão para distinções.
Terceira Orientação – precedentes na jurisprudência do STF e STJ– o Estado
já teve conhecimento desta prova no processo criminal, não faz sentido o mesmo
Estado ignorá-la em processo administrativo disciplinar instaurado para apurar a
participação de juízes.
O que significa a expressão “em útlimo caso” no art. 5, XII, CF? A CF
permitiu a interceptação de dados?
Primeira orientação – doutrina paulista – a expressão “último caso” significa
comunicação telefônica, e esta deve ser compreendida como tudo aquilo feito via
cabo telefônico.
Segunda orientação – Ada Pellegrini – “’ultimo caso” significa apenas
comunicação telefônica, ou seja, a conversa realizada pelo telefone, pois de todas
as formas de comunicação esta é a única que se não for captada no momento da
conversa não pode mais ser recuperada.
Terceira orientação – Tourinho e STF – “último caso” é tudo que esta entre
vírgulas, ou seja, dados e comunicação telefônica, por isso que o art. 1, parágrafo
único da Lei 9296/96 é válido.
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Quarta orientação – Lenio Streck e Polastre – A CF de 1988 não tinha como
prever o avanço na área de telecomunicações, então devemos realizar uma
interpretação conforme, ou seja, todas as formas de comunicação telefônica
(celular, radio, skype) podem ser objeto de interceptação. Último caso é somente
para as comunicações telefônicas, não engloba dados.
OBS: Dado estanque é diferente de interceptação de dados. A interceptação
pressupõe uma movimentação e a validade dessa interceptação dependerá do
posicionamento adotado e explicado supra. Em relação aos dados estanques, ou
seja, aqueles que foram enviados e estão armazenados no computador, podem ser
validamente apreendidos e periciados desde que haja prévia ordem judicial.
Qual o prazo para a interceptação? A Lei 9296/96 preve um prazo de 15 dias,
podendo ser prorrogado por mais 15 dias.
A posição atual do STF e do STJ é que o prazo da interpectação é
indeterminado, porém submetido a consecutivas renovações de 15 em 15 dias.
Autorizada a interceptação telefônica para apurar um crime de homicídio, as
autoridades chegam a conclusão sobre a existência de um outro crime (tráfico de
drogas). É possível utilizar a interceptação como prova do tráfico? (encontro
fortuito na interceptação telefônica)
Primeira orientação – Luiz Flávio Gomes – não pode, sem prejuízo dessa
gravação servir como notícia-crime para deflagrar outra investigação.
Segunda orientação – Polastre e Antonio Scaranci – será possível desde que
haja uma conexão, ligação entre os crimes.
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Terceira orientação – STF – o Estado já teve conhecimento do conteúdo desta
conversa, não fazendo sentido o mesmo Estado ignorá-la, desde que o outro crime
também seja punido com reclusão, a prova é válida.
b) “Art. 5, XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo
penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou
desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial”
Qual é o alcance da expressão “flagrante delito”?
Primeira posição – Geraldo Prado – tratando-se de uma regra excepcional, a
sua interpretação deve ser restritiva, ou seja, só é possível o ingresso no domicílio
quando houver um contato visual com a prática do crime, o que só ocorre no
flagrante próprio conforme artigo 302, I e II, CPP.
Segunda posição – prevalece na jurisprudência – a CF não fez restrições, ou
seja, todas as hipóteses de flagrante permitem o ingresso no domicílio sem
autorização judicial.
É possível mandado de busca e apreensão genérico em comunidade?
Em regra, a ordem de busca e apreensão deve ser precisa em relação ao local
da diligência, como também àquilo que será apreendido, sob pena de esvaziarmos a
garantia constitucional. Porém, em situações excepcionais, quando a medida tiver
por objetivo inclusive proteger os moradores daquela localidade (da criminalidade
organizada), deve ser autorizada.
Autorizada uma busca e apreensão para apreender documentação contábil, as
autoridades acabam encontrando uma faca e roupas sujas de sangue. É possível,
com esse mesmo mandado, apreender estes objetos que não estavam descritos?
(encontro fortuito em busca e apreensão).
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Primeira orientação: Geraldo Prado – não é possível, pois a ordem deve ser
cumprida nos exatos limites do mandado sob pena de esvaziarmos a garantia
constitucional.
Segunda orientação: Paccelli – devemos verificar se a diligência transcorreu
de forma regular, para que a apreensão seja ou não válida.
Terceira orientação: STF – a garantia constitucional já foi validamente
violada, não faz sentido ignorarmos essa prova.
c) Proibição de provas ilícitas
“Art. 5, LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios
ilícitos”
Normalmente a ilicitude de uma prova surge da forma como ela ingressa no
processo penal. Porém, existem provas que são origináriamente ilícitas e não
podem ser utilizadas no processo penal, nem pró réu. São as chamadas provas
científicas, ou seja, aquelas baseadas em crença sobrenatural, soro da verdade,
detector de mentiras, etc. Além de duvidosas quanto ao seu resultado, essas provas
violam a liberdade moral do acusado, a sua dignidade, a racionalidade, não
podendo ser utilizadas nem a favor do réu.
Existem alguns precedentes na jurisprudência admitindo a utilização de carta
psicografada no plenário do Juri, tendo como fundamento a plenitude de defesa
garantida no art. 5, XXXVIII, ‘a’, CF. Porém, como essas provas violam a
dignidade, nem mesmo nessa hipótese elas poderiam ser admitidas.
A inadmissibilidade de prova ilícita no processo penal é absoluta?
Pró réu:
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Para Afranio Silva Jardim e Paulo Rangel o réu estaria agindo em estado de
necessidade, excludente de ilicitude, o que transformaria a prova em lícita. Para o
STF é possível pois devemos ponderar entre a proibição de provas ilícitas e a
ampla defesa e a liberdade individual, prestigiando os últimos.
Contra o réu:
Primeira posição: prevalece na jurisprudência – a utilização de provas ilíctas
era típica em sistemas inquisitivos. Com a adoção do sistema acusatório, não
podemos mais trabalhar com essa prova no processo penal, sem contar que
tratando-se de uma garantia individual a sua aplicação deve ser a mais ampla
possível.
Segunda posição – muito minoritária: Fernando Capez e Polastre – nenhuma
garantia constitucional tem valor absoluto, de forma a aniquilar outra que tenha o
mesmo valor. Na hipótese concreta devemos ponderar entre a proibição de provas
ilícitas e o direito a vida, ao patrimônio, prestigiando os últimos.
OBS: Segundo Paccelli, essa regra constitucional teve como inspiração a
Constituição Americana, onde os destinatários dessa limitação são aqueles orgãos
oficiais que tem a incumbência da percepção criminal, de forma a desencorajá-los a
obter uma prova dessa forma. Assim, um particular poderia ter acesso a esses
elementos e levá-los à autoridade. Porém, no Brasil, não trabalhamos dessa forma,
pois aplicação desse dispositivo constitucional é a mais ampla possível
independente de quem tenha tido acesso a essa prova.
7) Princípio da Proporcionalidade
Este princípio surgiu como um princípio jurídico de índole constitucional por
volta do século XVIII, impulsionado pelo Direito Administrativo. Os primeiros
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autores que mencionaram na esfera criminal foram Montesquieu e Beccaria onde
enfrentaram a proporcionalidade entre os crimes e as penas. Ele significa que cada
restrição a uma liberdade garantida constitucional por um direito fundamental deve
ser adequada, necessária e proporcional a proteção de um direito ou bem jurídico.
Adequação impõe que a medida adotada para a realização de um interesse
público deva ser apropriada a obtenção dos seus fins. Segundo Paccelli não
podemos manter preso preventivamente aquelas pessoas que mesmo sendo
condenadas permanecerão em liberdade, pois nesse caso a medida ganharia ares
punitivos, superando o resultado final do processo, violando o princípio da
proporcionalidade. Desta forma, sempre que verificarmos a possibilidade de
suspensão condicional do processo, regime aberto, pena restritiva de direitos, etc.,
não será possível a prisão cautelar.
Necessidade significa qualquer restrição à liberdade individual deve ser útil
aos fins do processo e, havendo possibilidade de escolha, o juiz deverá sempre
optar por aquele meio que cause o menor dano. Essa valoração é muito subjetiva e
não ocorre muito na prática.
Proporcionalidade em sentido estrito é a necessidade de confrontar na situação
concreta qual direito ou garantia irá prevalecer. Lidamos muito com isso em
relação à prova ilícita.
Inquérito Policial
Conceito: é o conjunto de diligências realizadas pela polícia judiciária para
apurar um crime e a respectiva autoria.
Natureza Jurídica: procedimento administrativo. Nele não incide nenhum
princípio ou garantia típica da instrução criminal.
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O juiz pode formar a sua conficção com base nos elementos do inquérito?
Em regra não, com as seguintes exceções (art. 155, CPP):
1) prova não repitível – aquela que não pode ser renovada. Realizada aquela
prova ela se esgota. Ex: corpo de delito. Essas provas se submetem a um
contraditório diferido ou retardado, ou seja, ele ocorre durante a ação penal.
2) prova cautelar – busca e apreensão, interceptação telefônica, etc. Essas
provas também se submetem a um contraditório diferido ou retardado, ou seja,
durante a ação penal
3) prova antecipada – é uma espécie de prova cautelar. É antecipada para
assegurar a produção de uma determinada prova e se submete ao contraditório
porque é feita perante ao juiz, ao defensor público e o MP. O legislador separou
essa prova das demais cautelares pois neste caso o contraditório não é diferido, ele
ocorre durante a realização da diligência.
Caracterísiticas:
a) O inquérito é inquisitivo – CUIDADO: essa característica possui um
duplo significado: (1) ser inquisito significa que ele não se subordina ao
contraditório e (2) não existe um rito pré determinado no inquérito, o delegado
conduz discricionariamente as investigações.
b) o inquérito é sigiloso:
i. Sigilo externo – pessoas alheias a investigação não podem ter
acesso aos autos do inquérito. Serve tanto para preservar a investigação
quanto para preservar a imagem das pessoas que estão sendo
investigadas.
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ii. Sigilo interno – é aquele voltado pros sujeitos processuais, MP,
juiz e advogado. Não existe sigilo interno nem para o MP, que é o
destinatário do inquérito, nem ao juiz. É possível negar acesso aos autos
do inquérito ao advogado do investigado?
De acordo com a Súmula Vinculante n° 14 não será possível negar
o acesso ao advogado desde que: seja certa a pessoa que está sendo
investigada ou então que já exista um ato formal de indiciamento, uma
vez que a súmula existe para preservar a ampla defesa do agente; e é
necessário que a prova já tenha sido produzida e que esteja documentada
nos autos do inquérito, pois se houve diligência em andamento será
possível negar o acesso momentâneo ao advogado.
c) o inquérito é escrito.
Por que o inquérito é escrito? O IP é escrito pois não possui um fim em si
mesmo, sendo seu objetivo dar ao MP justa causa para ação penal.
d) o inquérito é unidirecional – terminada as investigações do inquérito, o
delegado se limita a elaborar um relatório, sem emitir juízo de valor, sob pena de
ingressar em uma esfera de atribuição que é exclusiva do MP. Porém, o próprio
CPP autoriza o delegado à lavrar auto de resistência ao invés do flagrante, quando
verfificar indícios de excludente de ilicitude. Además, a autoridade policial
também possui a sua opinio, ainda que provisória e que possa ser superada pela
opinio do promotor.
e) o inquérito é indisponível – o delegado não pode arquivar o inquérito ou de
qualquer forma dispor das investigações, pois qualquer providência relacionada a
isso exige pedido do MP e decisão judicial sobre o arquivamento.
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f) o inquérito policial é dispensável – é uma característica voltada para o MP,
ou seja, o MP pode dispensar total ou parcialmente o inquérito policial, desde que
ele possua justa causa.
Conceito e natureza jurídica de justa causa:
1 – Afrânio Silva Jardim – justa causa é o suporte probatório mínimo sobre
autoria e materialidade delitivas. Possui natureza jurídica de uma quarta condição
da ação.
2 – Tourinho – justa causa é legítimo interesse da demanda, ou seja, não
possui existência autônoma, estando dentro no interesse de agir.
3 – Polastre – justa causa não é uma quarta condição da ação, mas sim algo
inerente à toda ação penal, ou seja, trata-se de condição especial para oferecimento
da denúncia.
Outras formas de obtenção de justa causa:
i. através do IPM (inquérito policial militar) – é instaurado para apurar um
crime militar, mas no final, no momento do relatório, eles concluem que não se
trata de crime militar, mas sim de crime comum. Desta forma, o IPM será remetido
ao MP para oferecimento da denúncia.
ii. através do inquérito parlamentar instaurado no âmbito das CPIs – art. 58,
§3°, CF estabelece que as CPIs tem o mesmo poder de investigação das autoridades
policiais.
Uma CPI pode, sem ordem judicial, determinar uma busca e apreensão ou
uma interceptação telefônica? NÃO, pois são garantias protegidas pela cláusula de
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reserva de jurisdição, ou seja, determinadas garantias individuais que só podem ser
violadas com prévia ordem judicial.
A CPI pode quebrar o sigilo de dados telefônicos. CPI municipal pode quebrar
sigilo de dados telefônicos? Há duas orientações opostas no próprio STF: a
primeira nega afirmando não ser possível pois, como não existe um judiciário
municipal para fazer a equiparação exigida pelo art. 58, §3°, CF ela deverá sempre
se reportar ao Judiciário. A segunda entende ser possível pois o poder de investigar
é inerente ao de legislar.
iii. investigação direta promovida pelo MP – A posição do STJ e do STF é de
que o MP pode investigar.
Argumentos contrários: 1) Quando o art. 144, CF organizou as polícias deu
exclusividade à polícia federal para exercer a função de polícia judiciária da União.
Argumento contrário: A correta interpretação do art.
144 é a seguinte: entre todas as polícias a única que pode
exercer o papel de polícia judiciária da União é a polícia
federal. É um dispositivo voltado para as polícias.
2) O MP é parte e, como parte, não exerceria uma
investigação de forma isenta.
Argumento contrário: O MP é uma parte multiforme no
processo penal, ou seja, ele é parte e fiscal da lei e na
qualidade de custus legis ele pode conduzir uma
investigação de forma isenta.
3) O CPP não deu ao MP poderes para presidir inquérito.
Essa função é exclusiva do delegado.
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Argumento contrário: O MP não irá presidir inquérito,
mas sim um procedimento próprio regulamentado pelo
CNMP
4) Os projetos de CPP sempre tentaram dar ao MP
poderes investigatórios, o que vem sendo vetado em
clara opção constitucional e legal de negar essa
investigação pelo MP.
Argumento contrário: Se a CF deu ao MP a
exclusividade da ação penal, isso significa que ela deu
ao parquet todos os meios para exercer essa função
(teoria dos poderes implícitos).
iv. VPIs. As VPIs podem ser uma forma de obtenção da justa causa?
Parte da doutrina aponta o art. 5 §3° como o dispositivo que autoriza as VPIs.
Porém, ainda que isso esteja correto, a grande crítica feita às VPIs gira em torno da
impossibilidade de fiscalização do membro do MP.
Formas de instauração do inquérito policial
Dependerá da espécie de ação penal.
Crimes de ação pública incondicionada
Existem 5 formas:
i. de ofício (art. 5, I, CPP) – de ofício significa espontâneamente, sem
provocação. Assim que tomar conhecimento de um fato criminoso, o
delegado deve instaurar inquérito.
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ii. requisição do juiz (art. 5, II, primeira parte)
Este dispositivo foi recepcionado pela CF? Juiz não tem nenhuma
ingerência no inquérito policial, isso para não comprometer a sua
imparcialidade. Logo, esse dispositivo não foi recepcionado pela
Constituição. É o posicionamento majoritário na doutrina. Contudo,
Geraldo Prado diz que o que fere o sistema acusatório é o juiz determinar o
andamento das investigações. Se ele determina a instauração de inquérito e
se afasta não há qualquer ofensa ao sistema acusatório.
iii. requisição do MP (art. 5, II, segunda parte) – essa requisição
obriga o delegado a instaurar porque a atividade da polícia é meio para a
atividade fim do MP.
iv. requerimento da vítima (art. 5, II, parte final) – é a vítima
pedindo inquérito policial. A única liberdade aqui é o delegado analisar se
é ou não caso de crime. Sendo crime o delegado tem que instaurar o
inquérito. O que deverá ser feito se o requerimento for indeferido? Caberá
recurso administrativo para o chefe de polícia civil ou então a vítima pode
procurar o membro do MP.
v. APF (art. 304, CPP) – auto de prisão em flagrante (noticia crime de
cognição coercitiva).
Crimes de ação pública condicionada à representação
O inquérito somente poderá ser instaurado a partir da representação
da vítima.
Conceito de representação: é uma espécie de pedido autorização
para que seja instaurado o inquérito e a respectiva ação penal.
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Natureza jurídica da representação: condição de procedibilidade.
Forma da representação: é um ato informal, sendo pacífico tanto na
doutrina quanto na jurisprudência que o comparecimento espontâneo da
vítima à DP, para narrar o fato criminoso, deve ser considerado uma
representação.
OBS: O STF vem entendendo que o simples fato da vítima não
manifestar oposição à persecussão subentende-se que ela representou, ou
seja, ainda que a vítima não tenha comparecido espontâneamente
(inquérito instaurado de ofício) mas durante todo o inquérito a vítima se
mostrava interessada, comparecendo ao inquérito e auxiliando a seu
andamento entende-se que houve representação.
A representação é voltada a apuração do fato criminoso, independente
de quem sejam os autores. Ou seja, a vítima pode apenas ter mencionado
um dos autores, o delegado poderá instaurar o inquérito contra os demais
porque o inquérito esta voltado para apurar o fato criminoso.
Qual a natureza da ação penal no crime de abuso de autoridade?
Todos os crimes da L. 4898/65 possuem ação penal incondicionada.
A representação mencionada na lei é mera delação, comunicação não
condicionando o exercício da ação penal.
Qual a natureza da ação penal na contravenção vias de fato?
Todas as contravenções são ações penais incondicioandas. Porém,
como a vias de fato se assemelha a lesão corporal que requer a
representação, surgiram duas posições:
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1- para que não haja ofensa ao princípio da proporcionalidade, a ação
penal é pública condicionada à representação, pois se a lesão corporal leve
exige representação, com muito mais razão a contravenção vias de fato.
(posição adotada pelos JECRIMs)
2- a lei 9099/95 não alterou a lei de contravenções penais, ou seja,
todas elas possuem ação pública incondicionada.
Qual a natureza da ação penal no crime de violência doméstica contra
a mulher? (Lei Maria da Penha). Qual o alcance do art. 41 da Lei 11.340?
1ª posição - STF diz que o art. 41 da L. 11.340 é válido uma vez que
objetivo da Lei foi dar uma proteção integral à mulher. Desta forma, a ação
penal é pública incondicionada, não cabendo transação, composição nem
suspensão condicional do processo.
2ª posição – Min. Maria Tereza (STJ) – o objetivo do art. 41 foi
afastar a aplicação das medidas despenalizadoras, e não alterar a natureza
da ação penal que continua sendo pública condicionada à representação.
3ª posição – o obejtivo do art. 41 foi afastar a aplicação das medidas
típicas dos delitos de menor potencial ofensivo, ou seja, transação e
composição. Em relação às demais, representação e suspensão condicional
do processo, é possível a aplicação.
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4ª posição – Luiz Gustavo Grandinete – o art. 41 é inconstitucional
por afronta a isonomia, uma vez que estabelece tratamento diferenciado
simplesmente em razão do sexo da vítima.
Qual a natureza da ação penal no crime de estupro com resultado
morte se a vítima tiver mais de 18?
De acordo com o art. 225, CP a ação penal nos crimes sexuais é, em
regra, ação penal pública condicionada à representação. Porém,
excepcionalmente, será incondicionada quando a vítima for menor de 18
anos ou pessoa vulnerável assim definido no art. 217-A do CP. Desta
forma, no crime de estupro com resultado morte, cuja vítima tenha mais de
18 anos, a ação penal será condicionada à representação.
O dispositivo é objeto de ADI. Porém, enquando a questão não é
solucionada devemos aplicar analogicamente a Súmula 608, STF de forma
que a ação penal seja incondicionada.
Crimes de ação penal privada.
O inquérito será instaurado com o pedido da vítima. Porém esse
pedido não interrompe o prazo decadencial para o oferecimento da queixa.
Diligências Investigatórias do Inquérito (art. 6, CPP)
“Art. 6o, CPP - Logo que tiver conhecimento da prática da infração
penal, a autoridade policial deverá:
I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o
estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais
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II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após
liberados pelos peritos criminais;
III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do
fato e suas circunstâncias;
IV - ouvir o ofendido;
V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do
disposto no Capítulo III do Título Vll, deste Livro, devendo o
respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que Ihe tenham
ouvido a leitura;
VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações;
VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de
delito e a quaisquer outras perícias;
VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo
datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de
antecedentes;
IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista
individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e
estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer
outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu
temperamento e caráter.”
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OBS: O art. 6, II, CPP - a apreensão é feita de ofício e administrativamente pela
própria polícia, sem necessidade de ordem judicial de busca e apreensão. Segundo
Polastre trata-se de medida acautelatória da prova.
Todas as diligências realizadas durante o inquérito devem observar, na medida
do possível, os dispositivos do CPP relacionados à instrução probatória. Porém,
isso é feito na medida do possível pois não existem contraditório nem ampla defesa
no inquérito policial.
Quais são as perícicas que o delegado não pode realizar? O delegado, em
regra, encaminha o agente ou os objetos para realização de qualquer perícia salvo,
exame para verificação de doença mental e o exame para constatação de
dependência química, quando então haverá necessidade de instauração de
incidentes processuais.
O art. 6 não é taxativo. A autoridade policial pode requerer a produção de
medidas cautelares, como busca e apreensão e interceptação telefônica, sempre
com autorização judicial.
Prisões do inquérito policial
Prisão temporária – é a prisão específica para as investigações do inquérito
policial, ou qualquer outro procedimento investigatório. Em regra dura 5 dias
podendo ser prorrogada por mais 5 ou então 30 dias podendo ser prorrogado por
mais 30 nos crimes hediondos.
Decretada a prisão temporária por 5 dias e em seguida a sua renovação, no 9°
dia de prisão o delegado conclui o inquérito remetendo os autos ao MP junto com a
sua representação pela prisão preventiva. Quanto tempo o MP terá para oferecer
denúncia e opinar pela prisão com o indivíduo preso?
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O art. 2, §7° da L. 7960/89 estabelece que findo o prazo da temporária, o
indivíduo será posto imediatamente em liberdade, desta forma o promotor terá
apenas 1 dia para denunciar e se manifestar sobre a prisão, não se aplicando aqui o
prazo para o oferecimento da denúncia previsto no art. 46, CPP.
Prisão preventiva – Cabe preventiva durante o inquérito policial?
Antes das alterações promovidas pela Lei 12.403, havia forte corrente
jurisprudencial negando preventiva durante o inquérito, pois quando presentes os
seus requisitos (indícios de autoria e prova de materialidade) isso significa que o
MP já possui elementos suficientes para deflagrar a ação penal. Com as alterações
legais, a prisão em flagrante passa a ter natureza pré cautelar, durando apenas 24
horas cujo verdadeiro objetivo é viabilizar a preventiva ou outra cautelar restritiva.
Desta forma, quando o juiz receber o APF e resolver manter o agente preso, deverá
converter o flagrante em preventiva conforme art. 310, II, CPP.
Devemos fazer uma comparação com os indícios de autoria e a prova de
materialidade que são exigidos pela L. 7960/89 para o juiz decretar a temporária.
Os indícios que surgem nesse momento e que autorizam a temporária ainda são
insuficientes para o MP deflagrar a ação, ou seja, há a necessidade de aprofundar as
investigações do inquérito. No momento da conversão do flagrante em preventiva,
os indícios que existem são suficientes apenas para a conversão, há a necessidade
de prosseguir com as investigações para que a ação penal seja deflagrada de forma
satisfatória.
Pode o juiz, durante o inquérito, determinar a conversão da prisão em
flagrante em prisão preventiva de ofício?
Para que não haja ofensa ao sistema acusatório, o juiz determinará a
conversão do flagrante em preventiva após a manifestação do membro do MP,
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mesmo porque, o art. 306, CPP exige a remessa de cópia do APF ao MP. Devemos
conjugar os arts. 306 c/c art. 310, II c/c art. 311, CPP.
Indiciamento
Ocorre quando todas as diligências do inquérito apontam para alguém como
sendo o suposto autor do fato criminoso. A partir desse momento, o indiciado passa
a ser o centro das investigações. O indiciamento não é obrigatório para que o MP
deflagre a ação penal, como também não vincula a atuação do MP, ou seja, com ou
sem ele o MP poderá denunciar.
A consequência prática do indiciamento é a anotação na FAC.
O indiciamento, segundo STF, tem um caráter ambíguo, pois se por um lado
ele é uma fonte de garantias constitucionais, como direito ao silêncio, direito a um
advogado e etc., por outro lado ele traz todo o constrangimento inerente ao
indiciamento.
A autoridade policial pode indiciar quem tem foro por prerrogativa de função?
Em relação a membros do MP e da magistratura, a LONMP e a LOMA
estabelecem que cabe respectivamente à Procuradoria de Justiça e ao Conselho da
Magistratura investigarem seus membros. Además, se essas pessoas receberam
prerrogativa de função, só podem ser presas em flagrante por crime inafiançavel,
este indiciamento feito pela polícia, de certa, forma, acabaria violando as garantias
decorrente da prerrogativa de função.
A tendência no STF é de que não é possível indiciar alguém que tem foro por
prerrogativa de função.
Arquivamento do Inquérito
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Ocorre quando, encerradas as investigações, não foi possível colher um
mínimo de elementos que autorizassem o membro do MP a deflagrar a ação penal.
A idéia é arquivar por falta de provas.
Decisão que arquiva inquérito faz coisa julgada?
1ª orientação – Ada Pellegrini e Afrânio Silva Jardim – toda vez que a decisão
de arquivamento envolver mérito, como por exemplo, excludente de ilicitude,
excludente de culpabilidade e etc., isso equivale a um julgamento antecipado da
lide, capaz de formar coisa julgada material.
2ª orientação – Promotor Vauzi – coisa julgada é algo inerente a processo,
ação penal, o que não existe em um inquérito policial. Logo, em hipótese alguma,
essa decisão fará coisa julgada.
3ª orientação – STF e Polastre – em regra, essa decisão não faz coisa julgada,
salvo nas hipóteses de atipicidade e extinção da punibilidade, quando então fará
coisa julgada material.
O STF estava discutindo outra hipótese de incluir neste rol também a
excludente de ilicitude, mas isso ainda não ocorreu.
Cabe ao MP formular o pedido de arquivamento que será analisado pelo juiz.
Se o juiz discordar ele aplicará o art. 28, CPP remetendo o feito ao PGJ
(Procurador-Geral de Justiça). Isso ocorre porque o juiz está exercendo a função
anômala de fiscalizar o princípio da obrigatoriedade chamado pela doutrina de
princípio da devolução. O PGJ terá três opções: concorda com o arquivamento,
sendo o feito arquivado; discorda do arquivamento e ele próprio oferece denúncia;
discorda do arquivamento e designa outro membro para oferecer denúncia.
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Esse promotor designado pelo PGJ para denunciar pode se recusar a deflagrar
a ação penal?
1ª orientação – Carvalhinho (RJ) – esse promotor está agindo por delegação
do PGJ, ou seja, ele é um longamnus, logo ele não pode ser recusar a denunciar.
2ª orientação – Polastre – por conta do princípio da independência funcional,
nada obriga esse promotor a concordar com o PGJ, porém, para evitar que isso
ocorra, a designação deve recair sobre a sua assessoria.
O art 7 da L. 1521/51 estabelece que a decisão que arquiva inquérito nos
crimes contra a economia popular devem ser objeto de recurso de ofício. Esse
dispositivo foi recepcionado pelo CF?
1ª orientação – Frederico Marques – o dispositivo é válido. Se o Tribunal
entender que deve ser oferecida a denúncia, o MP está obrigado a denunciar.
2ª orientação – Paulo Rangel – trata-se de mais uma cautela do legislador,
pois se o Tribunal discordar do arquivamento, eles devem aplicar o art. 28 do CPP.
Geraldo Prado diz que o recurso de ofício é um resquício do sistema
inquisitivo, pois o legislador desconfiava de decisões que beneficiassem o réu e
exigia a sua confirmação pelo Tribunal. Com a adoção do sistema acusatório não
existe mais recurso de ofício.
Espécies de arquivamento
Arquivamento objetivo – é aquele cujo o objeto são fatos investigados.
Arquivamento subjetivo – é aquele cujo o objeto são pessoas investigadas.
Arquivamento implícito – para Afrânio Silva Jardim, Paulo Rangel,
Pacceli, entre outros, essa forma de arquivamento ocorreria quando o MP
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se omitisse na denúncia em relação à algum fato ou autor, e o juiz
recebesse a inicial sem perceber a omissão. Nesse momento teria ocorrido
o arquivamento implícito, de forma que só será possível aditar a denúncia
ou ofertar uma nova denúncia se algum dia surgir prova nova. Segundo o
STF, não existe arquivamento implícito, pois tanto a Súmula 524, STF
como o art. 28, CPP exigem pedido expresso e manifestação judicial
também expressa sobre arquivamento. Además, o próprio princípio da
obrigatoriedade exige o aditamento por parte do MP.
Arquivamento indireto –
OBS: Diferença entre conflito de competência e conflito de atribuições:
Segundo Paulo Cesar Pinheiro Carneiro não importa a qualidade das
autoridades em conflito, mas sim a natureza do ato que será praticado.
Durante o inquérito policial esse conflito será sempre de atribuições, salvo
se já existir alguma cautelar decretada, quando então o conflito será de
competência. Durante a ação penal, em regra, o conflito é de competência,
salvo em situações excepcionais, como na hipótese de um promotor e um
procurador estarem discutindo quem tem a atribuição para apresentar
razões recursais, quando então o conflito é de atribuições.
O promotor da comarca A pede ao seu juiz a remessa dos autos de um
inquérito para a comarca B, por entender que B é a comarca competente. O
que o juiz da comarca A deverá fazer se discordar do pedido de remessa
(conflito de atribuição)?
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Ele deverá receber esse pedido de remessa como uma espécie de
arquivamento indireto do feito de sua competência e, em razão
da discordância, aplicar o art. 28, CPP.
Nutti e Tourinho – de nada adianta aplicar o art. 28, CPP porque
a opinio do PGJ não subordina o juiz. A solução será forçar o
promotor a denunciar para após ser suscitado o conflito de
competência.
Polastre – o juiz não deve ter nenhuma participação na remessa
do inquérito, uma vez que não existe qualquer atividade
jurisdicional. Porém, se surgir eventual conflito, a solução será
aplicar o art. 28, CPP.
Cabe HC para trancar inquérito?
A jurisprudência admite alegando que o juiz atua como garantidor dos
princípios constitucionais. É admitido quando não houver justa causa para o
inquérito.
Para Polastre, em regra, isso não deve ser admitido, pois esse HC tira do MP a
possibilidade dele formar a sua opinio, salvo em situações teratológicas, como na
hipótese do delegado estar perseguindo o investigado.
Depois de arquivado o inquérito policial duas situações podem surgir:
a) surge notícia de prova nova – a notícia de prova nova leva ao pedido de
desarquivamento de inquerito policial porque a notícia de prova nova exige o
prosseguimento das investgações. Como o inquérito está arquivado, há a
necessidade do seu desarquivamento.
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Quem desarquiva o inquerito policial?
No RJ por força de lei complementar estadual 106/2003 quem desarquiva é o
PGJ. Em outros locais isso não esta definido, razão pela qual muitas vezes é o juiz
quem desarquiva, ou até mesmo o próprio delegado.
b) surge a prova nova – prova nova é aquela que é capaz de por si só deflagrar
a ação penal. Nesse caso, não há razão para desarquivar o inquérito, mas sim
oferecer imediatamente a denúncia. Isso está consignado na Súmula 524, STF.